Capítulo 8 - Ecologia e Gestão Ambiental
Capítulo 8 - Ecologia e Gestão Ambiental
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Se a Belo Monte é realmente economicamente viável<br />
sem Babaquara, como afirma a ELETRONORTE, isto<br />
não diminuiria o perigo da história se desdobrar<br />
para produzir os desastres ambientais e sociais implícitos<br />
no esquema de Babaquara. Isto porque,<br />
depois da conclusão de Belo Monte, o processo<br />
de tomada de decisão sobre a construção de Babaquara<br />
seria dominado por argumentos de que a<br />
Babaquara seria altamente lucrativa como meio de<br />
aumentar o potencial elétrico de Belo Monte.<br />
Porém, a Belo Monte poderia conduzir a um resultado<br />
diferente. Antes de se decidir sobre a construção<br />
de Belo Monte, o sistema de tomada de<br />
decisão sobre barragens hidrelétricas deve ser<br />
mudado radicalmente. Devem ser enfrentadas as<br />
perguntas básicas sobre o que é feito com a energia,<br />
assim como também a questão de quanta energia<br />
realmente é necessária. O governo brasileiro<br />
deveria deixar de encorajar a expansão de indústrias<br />
intensivas de energia. Além disso, estas indústrias,<br />
especialmente a de alumínio, deveriam ser<br />
fortemente penalizadas, cobrando-as pelo dano<br />
ambiental que o uso intensivo de energia implica.<br />
Ademais, o governo brasileiro precisa desenvolver<br />
uma base institucional confiável, por meio da qual<br />
um compromisso possa ser feito para não se construir<br />
nenhuma das barragens planejadas a montante<br />
de Belo Monte. Devido à série de precedentes<br />
na história recente de construção de barragens<br />
no Brasil, onde o resultado oposto aconteceu, uma<br />
estrutura institucional requereria alguns testes reais<br />
antes de ganhar credibilidade adequada para<br />
controlar um caso como Belo Monte, onde as tentações<br />
para voltar atrás em qualquer promessa<br />
desse tipo são extraordinariamente poderosas.<br />
Esperar a evolução das instituições ambientais para<br />
poder lidar com a Belo Monte não implica a perda<br />
do seu potencial futuro: se nenhuma barragem<br />
for construída no local de Belo Monte nos próximas<br />
anos, a opção de se construir uma barragem<br />
lá ainda permanecerá aberta.<br />
Também são necessárias mudanças para conter o<br />
papel das empresas de construção em influenciar<br />
as prioridades de desenvolvimento no favorecimento<br />
de grandes obras de infra-estrutura. A grande<br />
atratividade que a Belo Monte tem para a comunidade<br />
de barrageiros, poderia servir, potencialmente,<br />
como um bom motivo para induzir todas estas<br />
reformulações. Porém, os perigos são múltiplos, e<br />
o risco de dar impulso à construção da Babaquara<br />
paira como uma espada pendurada em cima de<br />
todas as discussões de Belo Monte.<br />
Entre os muitos impactos das represas a montante<br />
que devem ser avaliados, um é o papel delas na<br />
emissão de gases de efeito estufa. Na presente análise,<br />
serão apresentadas estimativas preliminares<br />
para as emissões de Belo Monte e de Babaquara.<br />
Se as outras quatro barragens planejadas forem<br />
construídas, elas teriam impactos adicionais a serem<br />
considerados.<br />
II. Hidrelétricas e Emissões de Gases de<br />
Efeito Estufa<br />
A Belo Monte está no centro das controvérsias em<br />
curso sobre a magnitude do impacto no aquecimento<br />
global das represas hidrelétricas e sobre a maneira<br />
apropriada deste impacto ser quantificado e considerado<br />
no processo de tomada de decisão. Quando<br />
os primeiros cálculos de emissão de gases de efeito<br />
estufa das represas existentes na Amazônia brasileira<br />
indicaram impacto significativo (Fearnside,<br />
1995a), esta conclusão foi atacada, apresentando<br />
um caso hipotético que correspondeu à Belo Monte,<br />
com uma densidade energética de mais de 10<br />
Watts de capacidade instalada por m2 de área de<br />
superfície de reservatório (Rosa et al., 1996). Além<br />
de a metodologia adotada provocar cálculos hipotéticos<br />
que subestimem o impacto sobre emissão<br />
de gases de efeito estufa, o problema principal é<br />
omitir as emissões da hidrelétrica de Babaquara,<br />
com 6.140 km2 rio acima de Belo Monte (Fearnside,<br />
1996a). Este problema básico permanece hoje,<br />
mesmo depois de muitos avanços em estimativas de<br />
emissões de gases de efeito estufa.<br />
A área relativamente pequena da hidrelétrica de<br />
Belo Monte, sozinha, indica que as emissões de<br />
gases de efeito estufa da superfície do reservatório<br />
serão modestas, e quando estas emissões são<br />
divididas pelos 11,181 MW de capacidade instalada<br />
da barragem, o impacto parece ser baixo em<br />
comparação aos benefícios. Esta é a razão de se<br />
usar a “densidade energética” (Watts de capacidade<br />
instalada por metro quadrado de área d’água)<br />
como a medida do impacto de uma represa sobre<br />
o aquecimento global. Apresentando a Belo Monte<br />
como uma represa ideal sob uma perspectiva<br />
de aquecimento global, Luis Pinguelli Rosa e colaboradores<br />
(1996) calcularam esta relação como<br />
excedendo ligeiramente 10 W/m 2 , baseado na área<br />
do reservatório originalmente planejada de 1.225<br />
km 2 (o índice seria de 25 W/m 2 sob as mesmas<br />
hipóteses, quando considerada a área atualmente<br />
planejada de 440 km 2 ).<br />
Os regulamentos do Mecanismo de Desenvolvimento<br />
Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto atualmente<br />
permitem crédito de carbono para grandes<br />
represas sem restrições, más foi proposto pelo<br />
Hidrelétricas planejadas no rio Xingu como fontes de gases do efeito Estufa: Belo Monte (Kararaô) e ... Tenotã-Mõ - Parte III - <strong>Capítulo</strong> 8<br />
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