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A Maldição De Shay - CloudMe

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A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong><br />

Embrace The Darkness<br />

Alexandra Ivy<br />

Será ele o inimigo... ou o homem que salvará sua vida?<br />

<strong>Shay</strong> é a última de sua espécie. Seu sangue é um afrodisíaco para os vampiros, que o<br />

consideram mais precioso que ouro. Mas uma maldição a leva a ser vendida num leilão de<br />

escravos, e seu destino se torna incerto...<br />

Viper, o carismático chefe de um perigoso clã de vampiros, não consegue explicar o<br />

desejo irrefreável de possuir a bela mulher que um dia salvou sua vida. Agora ele está<br />

livre para fazer com ela o que quiser, mas, por mais que deseje <strong>Shay</strong>, ele quer que ela se<br />

entregue por livre e espontânea vontade...<br />

Um mal oculto parece perseguir <strong>Shay</strong> desde que ela deixou o mercado de escravos ao<br />

lado de Viper, um mal que põe em perigo a existência de toda a espécie dos vampiros, e<br />

não faz sentido ele correr tamanho risco apenas para ficar com ela. Mas o amor que sente<br />

por <strong>Shay</strong> é suficiente para fazer Viper ir até o inferno e voltar, se isso significar tê-la em<br />

seus braços por toda a eternidade...<br />

Digitalização: Crysty<br />

Revisão: Regina Celi


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Querida leitora,<br />

Viper, líder do clã dos vampiros, está habituado a conseguir tudo o que deseja.<br />

Mas essa expectativa se frustra quando ele adquire a bela <strong>Shay</strong> num leilão de<br />

escravas. <strong>Shay</strong> foi recentemente libertada de seu vínculo a um bando de bruxas más,<br />

mas ainda está presa a uma maldição, por isso é obrigada a aceitar o leilão, embora<br />

pretenda escapar em seguida. A atração entre Viper e <strong>Shay</strong> é imediata e evidente,<br />

porém nenhum dos dois espera a interferência de uma terceira pessoa, disposta a<br />

tudo para obter <strong>Shay</strong> e seu sangue afrodisíaco...<br />

Leonice Pomponio Editora<br />

Copyright ©2007 por <strong>De</strong>bbie Raleigh<br />

Originalmente publicado em 2007 por Kensington Publishing Corp.<br />

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.<br />

NY. NY-USA Todos os direitos reservados.<br />

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas<br />

ou mortas terá sido mera coincidência.<br />

TÍTULO ORIGINAL: EMBRACE THE DARKNESS<br />

EDITHORA Leonice Pomponio<br />

ASSISTENTES EDITORIAIS<br />

Patrícia Chaves<br />

Paula Rotta<br />

Vânia Canto Buchala<br />

EDIÇÃO/TEXTO<br />

Tradução: Elizabeth Arantes Bueno<br />

Revisão: Leonice Pomponio<br />

ARTE Mônica Maldonado<br />

MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA Sônia Sassi<br />

PAGINAÇÃO Gustavo Moura<br />

© 2009 Editora Nova Cultural Ltda.<br />

Rua Paes Leme, 524 — 10° andar — CEP 05424-010 — São Paulo - SP<br />

www.novacultural.com.br<br />

Premedia, impressão e acabamento: RR Donnelley<br />

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Capítulo I<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

A casa de leilões nos arredores de Chicago não era nenhum pardieiro. Atrás das<br />

grades de ferro, a elegante construção de tijolos se apresentava em toda a sua<br />

arrogância. Os aposentos eram enormes, com tetos abobadados, lindos murais e<br />

elegantes candelabros. Seguindo a orientação de um profissional, eles tinham sido<br />

decorados com carpete e almofadas da mais fina qualidade, além de mobília entalhada<br />

à mão.<br />

Era uma atmosfera típica daquelas que somente o dinheiro podia comprar.<br />

Montanhas de dinheiro. <strong>De</strong>via conter pinturas famosas, jóias caríssimas e objetos de<br />

museus.<br />

Em vez disso, era mais como um mercado. Um lugar onde demônios eram vendidos<br />

como carne em açougue.<br />

Não havia nada de agradável quanto ao mercado de escravos. Tratava-se de um<br />

negócio sórdido, que atraía cada ser vivo decadente do país.<br />

Eles vinham por todo tipo de razão. Havia aqueles que compravam demônios para<br />

lhes servirem de mercenários ou seguranças. Outros eram viciados em sexo exótico.<br />

Havia, ainda, os que acreditavam que o sangue dos demônios podia lhes trazer vida<br />

eterna. Também existiam os compradores que queriam soltar esses demônios em suas<br />

terras e caçá-los como animais selvagens.<br />

Os leiloeiros eram homens e mulheres sem consciência ou moral. Seu único<br />

interesse era ganhar o máximo de dinheiro para saciar seus prazeres bizarros.<br />

E, no topo dessa sujeira toda, estava o dono da casa, Evor. Ele era um troll, uma<br />

daquelas criaturas gigantescas e nômades, que fazia fortuna com a desgraça dos<br />

outros, enquanto exibia um sorriso nos lábios.<br />

Algum dia, <strong>Shay</strong> pretendia matar Evor. Quem sabe naquela mesma noite.<br />

Vestida com ridículas calças de escrava de harém, e um top burlesco que mais<br />

revelava do que escondia alguma coisa, ela esperava o leilão começar, andando de um<br />

lado para o outro, à beira do descontrole. Seus longos cabelos negros tinham sido<br />

presos para trás em uma trança que chegava quase à cintura. Assim estavam mais<br />

expostos os seus olhos de um tom dourado, a delicadeza de suas feições e sua pele<br />

bronzeada, que a distinguia como algo não humano.<br />

Menos de dois meses antes, havia sido feito prisioneira por bruxas que<br />

pretendiam acabar com todos os demônios. E o pior viera a seguir, quando fora<br />

entregue a Evor. Melhor se tivesse morrido, claro.<br />

Sem pensar, <strong>Shay</strong> chutou com incrível força uma mesinha, que saiu voando e<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

terminou se espatifando contra as barras de ferro da cela.<br />

Ouviu um suspiro pesado, vindo de um pequeno gárgula escondido atrás de uma<br />

cadeira, em um dos cantos da cela.<br />

Levet não era um gárgula muito expressivo. Possuía as feições grotescas<br />

tradicionais: pele grossa e acinzentada, olhos de réptil, chifres e unhas bem afiadas.<br />

Possuía até um rabo longo, que ele polia e exibia com grande orgulho. Infelizmente,<br />

apesar de sua aparência assustadora, tinha pouco mais de um metro de altura. E pior:<br />

possuía um par de asas delicadas, mais condizente com uma fada do que com uma letal<br />

criatura das trevas. Não bastasse isso, seus poderes eram imprevisíveis, na melhor<br />

das circunstâncias, e sua coragem sempre faltava na hora "H".<br />

Não era de surpreender, pois, que houvesse sido excluído do seu reino, e forçado<br />

a se virar por conta própria. Haviam-no declarado uma vergonha para sua comunidade,<br />

e ninguém tinha levantado um dedo para ajudá-lo quando Evor o havia capturado e<br />

feito dele seu escravo.<br />

<strong>Shay</strong> colocara essa criatura patética sob sua proteção. Não somente porque tinha<br />

uma lamentável tendência a defender os mais fracos, mas porque sabia que Evor se<br />

irritava ao ver seu brinquedinho favorito ligado a mais alguém.<br />

O troll podia mantê-la submissa a ele, mas se a provocasse demais correria o<br />

risco de <strong>Shay</strong> perder a paciência e matá-lo, mesmo que isso fosse fatal para ela.<br />

— Queridinha, por acaso a mesinha fez algo contra você que eu não vi? - Levet<br />

perguntou, forçando um sotaque afrancesado. Nada, aliás, que pudesse melhorar o seu<br />

status entre o seu povo.<br />

<strong>Shay</strong> acabou rindo.<br />

— Eu imaginei que a mesa era Evor.<br />

— Estranho, não vejo semelhança alguma entre os dois.<br />

— É que tenho uma excelente imaginação. Levet ficou pensativo.<br />

— Neste caso, eu poderia esperar que me imaginasse como um Brad Pitt?<br />

— Sou boa nisso, mas não tanto assim, gárgula.<br />

— Pena.<br />

O riso de <strong>Shay</strong> acabou.<br />

— Pena que aquilo ali era uma mesa e não Evor, isso sim.<br />

— Seria ótimo, mas não passa de um sonho. - Levet semicerrou os olhos.<br />

— A não ser que esteja pretendendo fazer algo ainda mais estúpido.<br />

— Quem, eu?<br />

— Mon Dieu - o demônio resmungou.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Você pretende lutar contra Evor!<br />

— Não posso lutar contra ele. Não enquanto estiver debaixo da maldição.<br />

— Como se isso alguma vez a tivesse impedido de fazer alguma doidice. - O rabo<br />

de Levet batia de um lado para o outro, sinal claro de aborrecimento.<br />

— Não pode matar Evor, mas isso nunca a impediu de tentar chutar o traseiro<br />

dele.<br />

— Isso passa com o tempo.<br />

—E a deixa gritando em agonia por horas. - Subitamente ele deu de ombros.<br />

— Cherie, não aguento vê-la desse jeito. Não de novo. É insano lutar contra o<br />

destino.<br />

<strong>Shay</strong> torceu os lábios. Como parte da praga, ela era punida por qualquer tentativa<br />

de ferir o seu senhor. A dor que tomava conta de seu corpo era aterradora e a<br />

deixava inconsciente por horas.<br />

Puxou a trança com força, sinal de que estava frustrada além da conta.<br />

— Acha que eu deveria desistir? Aceitar a derrota?<br />

— Que outra chance tem? Que escolha tem qualquer um de nós?<br />

<strong>Shay</strong> rangeu os dentes enquanto olhava de volta para as grades de ferro que a<br />

mantinham cativa.<br />

— Droga. Odeio isso. Odeio Evor. Odeio esta cela. Odeio aqueles demônios<br />

patéticos, que estão lá me esperando para fazerem seus lances. Talvez tivesse sido<br />

melhor morrer nas mãos das bruxas.<br />

— Não vou argumentar contra isso, minha doce <strong>Shay</strong> - Levet concordou com um<br />

suspiro.<br />

— Ser escravo é de fato uma droga.<br />

<strong>Shay</strong> fechou os olhos. Estava cansada e frustrada demais, mas não era covarde.<br />

Só o fato de ter conseguido sobreviver pelo século anterior já provava isso.<br />

— Não - ela resmungou.<br />

— Não! Levet mexeu as asas.<br />

— E por que não? Estamos aqui presos como ratos em um labirinto, até que<br />

sejamos vendidos a quem der o maior lance. O que poderia ser pior do que isto?<br />

<strong>Shay</strong> sorriu sem animação.<br />

— Dar a chance ao destino de vencer?<br />

— O quê?<br />

— Seja destino ou sorte, não vou simplesmente permitir que mexam com minha<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

vida. Um dia desses vai me aparecer uma oportunidade de cuspir na cara do destino. E<br />

isso que me mantém lutando.<br />

Seguiu-se um longo silêncio, antes que o gárgula se aproximasse de <strong>Shay</strong> e<br />

esfregasse a cabeça na perna dela. Era um gesto inconsciente. Uma busca por<br />

reafirmação, que ele preferiria morrer a admitir.<br />

— Tenho certeza de que nunca antes ouvi um discurso tão pouco elegante, mas<br />

acredito em você. Se alguém pode chegar até Evor, esta pessoa é você.<br />

Distraída, <strong>Shay</strong> devolveu a carícia.<br />

— Voltarei para buscá-lo, Levet, prometo.<br />

— Hora, hora, que cena tocante... - Evor estava parado diante das grades da cela.<br />

Sorriu, revelando seus dentes pontudos.<br />

— A Bela e a Fera.<br />

Com um movimento rápido, <strong>Shay</strong> colocou-se à frente de Levet e virou-se para seu<br />

captor.<br />

Sentiu repugnância quando Evor abriu a porta da cela e entrou. O troll passaria<br />

facilmente por um humano. Um humano incrivelmente feio. Era baixo, barrigudo, com o<br />

rosto empapado. O cabelo era pouco mais que um tufo, o qual ele cuidadosamente<br />

mantinha grudado sobre a cabeça. E seus estreitos olhos pretos tinham uma tendência<br />

a ficar vermelhos quando ele se aborrecia. Olhos que ele escondia atrás de óculos de<br />

aros pretos.<br />

O corpo gorducho estava coberto por um traje caríssimo, contudo.<br />

Somente os dentes marcavam-no como um troll, o caçador impiedoso da floresta.<br />

Isso e a falta de moral.<br />

— Vá para o diabo, Evor - <strong>Shay</strong> resmungou. O sorriso dele apenas aumentou.<br />

— Só se você vier junto, querida.<br />

<strong>Shay</strong> observou a criatura repugnante. Não era de hoje que Evor vinha tentando<br />

entrar debaixo dos lençóis dela. O que o impedia de fazer isso era a certeza de que<br />

ela mataria os dois para impedir que tal coisa acontecesse.<br />

— Prefiro caminhar sobre o fogo do inferno antes de deixar que você me toque.<br />

À fúria substituiu por instantes o sorriso de Evor.<br />

— Algum dia, minha bela, ficará feliz por estar debaixo de mim. Todos nós temos<br />

um ponto fraco. Eventualmente você alcançará o seu.<br />

— Não nesta vida. Evor fez um gesto obsceno com a língua.<br />

— Tão orgulhosa. Tão poderosa. Vou desfrutar depositando a minha semente<br />

dentro de você. Mas não ainda. Posso fazer um bom dinheiro à sua custa. E dinheiro<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

sempre vem em primeiro lugar. - Exibiu um par de algemas de ferro.<br />

— Vai colocá-las ou preciso chamar os rapazes?<br />

<strong>Shay</strong> cruzou os braços. Podia ser metade shalott, mas possuía toda a força e<br />

agilidade de seus ancestrais. Eles não eram os assassinos favoritos do mundo dos<br />

demônios sem razão.<br />

— <strong>De</strong>pois desses anos todos, você ainda acredita que aqueles idiotas possam me<br />

dominar?<br />

— Oh, não tenho intenção de que a machuquem. Odeio danificar a mercadoria<br />

antes do leilão. - <strong>De</strong>liberadamente o olhar dele se dirigiu para onde Levet estava.<br />

— Quero apenas que eles a encorajem a se comportar direito.<br />

— <strong>Shay</strong>! - O gárgula gemeu baixinho.<br />

Droga. Ela não podia deixar Levet à mercê dos brutamontes que Evor usava para<br />

protegê-lo. Eles adorariam torturar o pobre gárgula.<br />

— Está bem- — <strong>De</strong>scruzou os braços.<br />

— Uma escolha sábia. - Mantendo o olhar atento a qualquer movimento de <strong>Shay</strong>,<br />

Evor a algemou.<br />

— Sabia que você entenderia a situação uma vez que esta lhe fosse bem<br />

explicada.<br />

<strong>Shay</strong> sibilou quando o ferro entrou em contato com sua pele. Podia sentir todo o<br />

seu poder sendo drenado. Era certamente o seu ponto fraco.<br />

— Tudo o que sei é que um dia vou matá-lo, Evor.<br />

— Comporte-se, vadia, ou seu pequeno amigo vai sofrer as consequências.<br />

<strong>Shay</strong> procurou engolir a raiva. Mais uma vez subiria em um palco, e seria vendida<br />

pelo maior lance. Estaria à mercê de um estranho, que poderia fazer com ela o que<br />

quisesse.<br />

E não havia nada que ela pudesse fazer para impedir que isso acontecesse.<br />

— Vamos logo com isso - resmungou, transtornada. Evor abriu a boca, como se<br />

fosse argumentar, mas foi então que percebeu a expressão de <strong>Shay</strong> e resolveu não<br />

abusar da sorte. Obviamente podia sentir que ela estava chegando aos seus limites.<br />

Em silêncio eles deixaram a cela e subiram as escadas estreitas que levavam aos<br />

fundos do palco. Evor parou somente o tempo suficiente para prender as algemas em<br />

um ferro chumbado no chão. Passou pelas cortinas ainda fechadas, e se apresentou ao<br />

público.<br />

Sozinha, no escuro, <strong>Shay</strong> respirou profundamente e tentou ignorar os gritos da<br />

multidão lá fora.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Mesmo sem poder ver os compradores em potencial, podia sentir a presença de<br />

demônios e humanos. Podia cheirar o fedor de seu suor. Sentir a impaciência deles.<br />

Captar o desejo animal que havia no ar.<br />

Abruptamente, sentiu-se gelar. Havia alguma coisa a mais. Alguma coisa sutil, que<br />

ela não estava identificando muito bem. Algo decadente que lhe mandava arrepios de<br />

horror pela espinha.<br />

Era vago. Como se o ser não estivesse presente em sua forma inteira e mais como<br />

uma presença intangível.<br />

Sentiu uma ponta de medo.<br />

Engolindo o grito que parecia querer escapar de sua garganta, fechou os olhos e<br />

se forçou a inspirar profundamente. Ouviu Evor gritar, chamando a atenção de todos.<br />

— E agora, senhoras e senhores, demônios e fadas, mortos e vivos... Hora da<br />

atração principal. Um item tão raro, tão extraordinário, que somente aqueles que<br />

possuem um bilhete dourado é que podem ficar - ele anunciou dramaticamente.<br />

— O resto de vocês pode se retirar para as salas de recepção, onde lhes serão<br />

oferecidas bebidas ao seu gosto.<br />

Evor estava se superando naquele dia, ela pensou enojada.<br />

— Venham para mais perto, amigos - comandou, enquanto muitos dos presentes se<br />

retiravam da sala. Para possuir um bilhete dourado, a pessoa ou demônio tinha de<br />

estar carregando no bolso pelo menos cinquenta mil dólares em dinheiro vivo. O<br />

mercado de escravos raramente aceitava cheques ou cartões de crédito.<br />

— Não vão querer perder a primeira visão de meu precioso tesouro. Não tema. Eu<br />

lhes asseguro que ela está devidamente algemada. Não oferece qualquer perigo.<br />

Nenhum perigo além de seu charme, naturalmente. Ela não vai lhes arrancar os<br />

corações do peito, mas não posso prometer que não o roubem com sua beleza.<br />

— Cale a boca e abra a cortina - alguém grunhiu.<br />

— Está impaciente? - Havia raiva na voz de Evor. Não gostava de ser<br />

interrompido.<br />

— Não, tenho a noite inteira. Vamos logo com isso.<br />

— Ah, um apressadinho. Que pena. Esperemos que não seja igualmente assim,<br />

apressado, em outras áreas. - Evor riu, depois esperou até as risadas pararem.<br />

— Mas o que eu estava falando? Ah, sim. Meu prêmio. Minha mais querida<br />

escrava. <strong>De</strong>mônios e ghouls permitam-me apresentar lady <strong>Shay</strong>: a última shalott a<br />

andar por este mundo!<br />

Com um movimento dramático a cortina se abriu, deixando <strong>Shay</strong> exposta diante<br />

de cerca de duas dúzias de homens e demônios.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>De</strong>liberadamente, ela abaixou o olhar quando ouviu as exclamações pela sala. Já<br />

era suficientemente humilhante sentir a fome daqueles compradores. Não precisava<br />

vê-la no rosto deles.<br />

E, pelo que sabia, ela era realmente a última shalott que restava no mundo.<br />

— Isso é um truque? - uma voz perguntou, não acreditando que o que via era real.<br />

— Nenhum truque nem ilusão.<br />

— Como se pudesse dar algum crédito a você, troll. Quero uma prova.<br />

— Prova? Muito bem. - Evor procurou com os olhos em meio aos presentes.<br />

— Você aí, venha cá.<br />

<strong>Shay</strong> ficou tensa ao ver um vampiro se aproximar. O sangue dela era mais<br />

precioso que ouro para os mortos vivos. Um afrodisíaco pelo qual eles matariam.<br />

Atenta ao vampiro, ela mal notou quando Evor pegou seu braço e usou a faca para<br />

tirar sangue. O vampiro se inclinou e o lambeu. No mesmo instante, seu corpo inteiro<br />

pareceu se transformar.<br />

— Há sangue humano, mas ela é uma shalott genuína - ele afirmou.<br />

Evor colocou seu corpo balofo entre <strong>Shay</strong> e o vampiro. Relutante, a criatura<br />

deixou o palco, sem dúvida sabendo o que poderia lhe acontecer se não resistisse ao<br />

impulso de enterrar seus dentes em <strong>Shay</strong> e drenar seu sangue todo.<br />

Evor esperou que todos estivessem novamente atentos.<br />

— Satisfeitos? Ótimo. Começaremos os lances com cinquenta mil dólares.<br />

Lembrem-se, cavalheiros, dinheiro vivo.<br />

— Cinquenta e cinco mil!<br />

— Sessenta mil!<br />

— Sessenta e um mil!<br />

<strong>Shay</strong> abaixou a cabeça. Logo seria forçada a confrontar seu novo senhor. Não<br />

queria nem mesmo olhar enquanto eles agiam como um bando de cães querendo<br />

arrancar um pedaço seu.<br />

— Cem mil dólares! - Uma voz gritou ao fundo da sala. Um sorriso surgiu nos<br />

lábios finos de Evor.<br />

— Um lance generoso, meu bom senhor. Mais alguém? Não? Dou-lhe uma... Doulhe<br />

duas...<br />

— Quinhentos mil.<br />

Um silêncio impressionante encheu o aposento. Sem perceber o que fazia, <strong>Shay</strong><br />

levantou a cabeça e procurou quem fizera a oferta. Havia algo naquela voz. Alguma<br />

coisa familiar.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Dê um passo à frente. - Os olhos de Evor brilhavam.<br />

— E dê-me o seu nome.<br />

Os presentes foram abrindo caminho para a passagem de um ser que foi surgindo<br />

das sombras.<br />

Um burburinho se ouviu quando viram o belo rosto e os cabelos longos que lhe<br />

caíam pelas costas. Bastou-lhes apenas um olhar para perceberem que era um vampiro.<br />

Nenhum humano poderia se parecer com um anjo caído do Céu. Ou que se<br />

movesse com aquela graça. Ou que levasse os demônios a darem um passo para trás,<br />

tomados pelo medo.<br />

O ar faltou a <strong>Shay</strong>. Não por causa da beleza impressionante diante de si, pela<br />

presença poderosa ou mesmo pela graça do andar...<br />

O fato é que ela conhecia o vampiro. Ele tinha lutado ao lado dela na batalha<br />

contra as bruxas, semanas antes. E, mais importante, estivera a seu lado quando ela<br />

lhe salvara a vida.<br />

E agora ele dava um lance, como se ela nada mais fosse do que um objeto de sua<br />

propriedade.<br />

Que a alma dele queimasse no inferno!<br />

* * *<br />

Viper estava no mundo havia séculos. Tinha assistido à ascensão e queda de todos<br />

os impérios. Seduzira as mais belas mulheres do mundo. Tirara sangue de reis, czares<br />

e faraós. Mudara, inclusive, o curso da história em algumas vezes.<br />

Agora estava saciado, tranquilo demais, entediado, até.<br />

Não sentia mais vontade de provar o seu poder. Não se envolvia mais em batalhas<br />

com demônios ou humanos. Não fazia alianças, nem interferia em política.<br />

Sua atual preocupação era apenas assegurar a segurança de seu clã, e manter o<br />

seu negócio rendendo o suficiente para lhe permitir a vida luxuosa com a qual se<br />

acostumara.<br />

Mas, de algum modo, aquela shalott tinha conseguido o impossível. Povoara os<br />

pensamentos dele desde que tinha desaparecido, após a luta contra as bruxas.<br />

E isso não o deixava nada satisfeito.<br />

Olhando para sua mais recente aquisição, não precisava se esforçar muito para<br />

saber se <strong>Shay</strong> estava satisfeita ou aborrecida. Mesmo sob a luz fraca, a fúria nos<br />

olhos dourados da shalott eram evidente.<br />

Viper deu um leve sorriso ao se voltar para Evor com desdém.<br />

Evor arregalou os olhos. Aquele era um vampiro que inspirava muito medo em<br />

Chicago.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Perdoe-me por não tê-lo reconhecido, senhor. - Ele engoliu em seco.<br />

— Tem o dinheiro consigo?<br />

Viper enfiou a mão dentro do casaco e extraiu dele um grande pacote.<br />

— Tenho.<br />

Com um floreio, Evor deu o leilão por terminado.<br />

— Vendida.<br />

<strong>Shay</strong> soltou um som estranho e, antes que Viper pudesse lhe dar a devida<br />

atenção, alguém praguejou bem alto.<br />

— Esperem! O leilão ainda não encerrou...<br />

Viper bufou. Poderia ter rido do absurdo da declaração, mas não deixou de<br />

perceber o desespero que havia na voz da criatura que protestava, assim como a<br />

negritude de sua alma. Era um ser tocado pela maldade.<br />

Evor voltou-se para o homem e o mirou da cabeça aos pés.<br />

— Quer continuar?<br />

— Quero.<br />

— Tem dinheiro vivo para bancar a última oferta?<br />

— Não comigo, mas posso arranjar facilmente se você...<br />

— Só aceito dinheiro vivo e na hora - Evor grunhiu.<br />

— Mas posso conseguir o dinheiro.<br />

— O leilão está encerrado.<br />

— Você tem de esperar, eu...<br />

— Caia fora, antes que eu encarregue meus homens de escorraçá-lo daqui.<br />

— Não! - Sem aviso, o homem subiu as escadas com a faca nas mãos.<br />

— A mulher demônio é minha.<br />

Tão rápido como o sujeito, Viper já se movera e se colocara entre o estranho e<br />

sua shalott.<br />

— Hora, hora, seja razoável. - Evor fez um gesto em direção aos seus guardacostas,<br />

que estavam ao fundo do palco.<br />

— Conhecia as regras quando veio aqui.<br />

Os seguranças começaram a se mover na direção do estranho e Viper cruzou os<br />

braços. Sua atenção continuava presa no humano demente, mas não conseguia deixar<br />

de perceber o doce cheiro do sangue de sua shalott, o calor de sua pele e a energia<br />

que ela irradiava.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

O corpo dele reagia à sua proximidade e ao calor que ele esquecera havia tempos.<br />

Infelizmente, sua atenção era forçada a permanecer centrada no louco que, no<br />

momento, empunhava uma faca na mão. Havia algo decididamente estranho em sua<br />

determinação. Um pânico totalmente descabido. Ele seria um idiota se subestimasse o<br />

perigo que corria,<br />

— Não se aproximem - o homem gritou para os seguranças de Evor.<br />

Os trolls continuaram, até que Viper fez um gesto com a mão.<br />

— Eu não me aproximaria da faca. Está enfeitiçada. O rosto de Evor ficou<br />

endurecido pela raiva.<br />

— Artefatos mágicos são proibidos aqui, e a punição é a morte.<br />

— Pensa que um patético troll e seus guarda-costas podem me assustar? - O<br />

intruso apontou a faca em direção ao rosto de Evor.<br />

— Vim aqui pela shalott, e não vou sair sem ela. Matarei se for preciso.<br />

— Pode tentar - Viper observou. O homem se voltou para ele.<br />

— Não quero lutar contra você, vampiro.<br />

— Mas está tentando roubar a minha mulher demônio.<br />

— Mas eu vou pagá-lo. O que quiser.<br />

— Está sendo generoso.<br />

— Qual o seu preço?<br />

Viper fingiu considerar um valor.<br />

— Nada que possa me oferecer - concluiu, por fim. O homem gritou em<br />

desespero.<br />

— Como sabe que não vou poder pagar? Meu patrão é muito rico, muito poderoso.<br />

Ah. Agora estavam começando a chegar a algum lugar.<br />

— Patrão. Então você é apenas um intermediário?<br />

— Sim - o estranho concordou.<br />

— E seu patrão, certamente, vai ficar muito desapontado quando souber que você<br />

fracassou na tarefa de comprar a shalott.<br />

O estranho empalideceu. O patrão devia ser alguém aterrador para provocar<br />

pavor no criado.<br />

— Ele me matará.<br />

— Seu problema é grande, amigo, porque não tenho intenção alguma de permitir<br />

que saia daqui com o meu prêmio.<br />

— Por que se importa assim? O sorriso de Viper era frio.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Com certeza deve saber que o sangue de uma shalott é afrodisíaco para os<br />

vampiros. É um líquido raro que nos tem sido negado há muito tempo.<br />

— Pretende tirar todo o sangue dela?<br />

— Isso é assunto meu. Ela é minha. Comprada e paga. Viper ouviu <strong>Shay</strong> praguejar<br />

atrás dele, além do barulho de algemas. A sua bela estava claramente infeliz com a<br />

resposta dele, e ansiosa em lhe mostrar o seu desprazer.<br />

Sentiu-se excitado.<br />

Pelo sangue dos justos. Ele gostava de mulheres perigosas.<br />

<strong>Shay</strong> amaldiçoou as algemas que a prendiam ao marco de ferro. Amaldiçoou Evor,<br />

o ganancioso canalha. Amaldiçoou o estranho humano que trazia consigo o cheiro<br />

indisfarçável da maldade, o qual ela sentira antes de o leilão começar.<br />

E mais do que tudo, ela amaldiçoava Viper por estar se referindo a ela como um<br />

objeto que acabara de adquirir pelo lance mais alto.<br />

Infelizmente, de nada adiantava ficar ali amaldiçoando todo mundo. O estranho<br />

era maluco e estava de posse de uma faca enfeitiçada.<br />

— Ela é minha. Preciso ficar com ela!<br />

O vampiro nem piscou. Na verdade, ficou tão imóvel, que parecia mais morto do<br />

que vivo. Somente a energia que tomara conta de todo o aposento é que alertava: ali<br />

estava alguém que era mais do que um rosto bonito.<br />

— Pretende me enfrentar usando apenas uma faca enfeitiçada? - Viper<br />

perguntou curioso.<br />

O homem engoliu em seco.<br />

— Sei que não posso derrotar um vampiro.<br />

— Não é tão estúpido quanto parece.<br />

O estranho olhou em volta e <strong>Shay</strong> sentiu que todos ficavam tensos. O maluco<br />

estava desesperado a ponto de querer enfrentar um vampiro. Quando se moveu,<br />

porém, não foi na direção de Viper, mas na de Evor. Com incrível habilidade, agarrou o<br />

troll e pressionou a faca contra a sua garganta.<br />

— Vou matá-lo. Enquanto ele estiver controlando a shalott, ela morre também. -<br />

O olhar do estranho estava concentrado em Viper, sem dúvida sabendo que este era<br />

muito mais perigoso do que qualquer outro demônio que estivesse na sala.<br />

— Ela não vai lhe servir de nada se morrer antes que lhe drene o sangue.<br />

<strong>Shay</strong> suspendeu a respiração. Não tinha medo de morrer. Mas, por <strong>De</strong>us, se ia<br />

para o túmulo, não queria que fosse enquanto estivesse presa por algemas de ferro.<br />

Viper não se moveu, mas seu poder fez com que a sala ficasse assustadoramente<br />

gelada.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Você não vai matá-la - disse em um tom de voz capaz de provocar arrepios nos<br />

mais corajosos.<br />

— Não acredito que seu patrão fique satisfeito se você lhe levar um cadáver.<br />

O estranho riu com selvageria.<br />

— Se ela acabar nas mãos de outro, meu destino será pior que a morte.<br />

— O seu patrão a deseja ou a teme? Quem é ele? Um demônio? Um feiticeiro?<br />

— Pare ou vou matá-la!<br />

— Não. - Viper continuou calmo.<br />

— Vai largar a faca e ir embora.<br />

— Não pense que pode me dominar com o seu olhar. Sou imune a essa droga.<br />

— Ótimo, então terei de matá-lo.<br />

— Não pode... - As palavras ainda não tinham deixado os lábios do estranho,<br />

quando Viper o segurou pelo pescoço e o jogou contra uma parede.<br />

O homem era pequeno, mas fez um estrago e tanto. Surpreendendo a todos,<br />

colocou-se de pé imediatamente. Com certeza era mais do que um mero humano. Sem<br />

dúvida um mágico, com poder suficiente para lhe garantir alguma proteção.<br />

Levantando a mão, exibiu o que pareceu ser uma pequena pedra. <strong>Shay</strong> gelou. Tinha<br />

vivido tempo suficiente com as bruxas para saber que o cristal era capaz de um<br />

poderoso feitiço.<br />

— Viper!<br />

Não sabia bem por que alertava o vampiro. O que lhe importava quem ganhava a<br />

batalha? Ser drenada por um bando de vampiros todas as noites era preferível ao que<br />

o desconhecido monstro planejava para ela?<br />

No fim, isso não importava muito.<br />

Antes mesmo que o nome dele saísse dos lábios de <strong>Shay</strong>, Viper saltava, escapando<br />

do feitiço do cristal. Chamas surgiram pelo aposento e atingiram o palco.<br />

— Peguem os extintores, seus idiotas - Evor gritou para os seguranças.<br />

— Vou perder tudo aqui!<br />

Os brutamontes obedeceram às ordens do patrão sem grande entusiasmo, mais<br />

interessados em presenciarem a luta.<br />

Viper estava de pé, o casaco negro flutuando em torno de seu ágil corpo.<br />

— O feitiço que o protege não o livrará do que farei em seu pescoço - disse em<br />

voz suave.<br />

— Está assim tão ansioso por morrer?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Melhor ter a garganta furada do que ter de suportar aquilo que meu patrão<br />

pode fazer comigo - declarou o sujeito, lançando o poder do cristal sobre o palco mais<br />

uma vez.<br />

Evor gritava, horrorizado. <strong>Shay</strong> se jogou ao chão, seus reflexos impedindo que o<br />

fogo a atingisse.<br />

Viper lançou-se contra o estranho. Ela sentiu os cabelos da nuca se arrepiar<br />

quando o rosto dele se transformou e seus caninos se fecharam sobre o pescoço do<br />

homem. O grito dele se transformou em uma espécie de grunhido quando o sangue<br />

começou a escorrer por sua boca e se espalhou pelo carpete. Estava a um segundo da<br />

morte. Mesmo assim em desespero, enfiou a faca nas costas de Viper repetidas vezes.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu. Mesmo que a faca não pudesse matar um vampiro, poderia lhe<br />

causar muita dor.<br />

Houve um último gemido e <strong>Shay</strong> virou o rosto. Em parte, estava satisfeita por não<br />

estar sendo entregue a um ser que carregava consigo a maldade, mas preferia não<br />

olhar o vampiro desfrutar de sua refeição noturna...<br />

Especialmente quando ela poderia ser o seu café da manhã.<br />

Ouviu-se um baque surdo quando o homem caiu no chão.<br />

— Sugiro que verifique melhor quem você convida para os seus leilões, Evor - o<br />

vampiro observou.<br />

— Magia negra nunca é bom para os negócios.<br />

— Sim, sim, certamente. - Evor olhou em torno, pesaroso. O aposento estava<br />

semidestruído.<br />

— Eu lhe peço as minhas mais sinceras desculpas. Não posso imaginar como essa<br />

criatura conseguiu driblar a minha segurança.<br />

— A questão não é como. Obviamente, ele teve a ajuda de um poderoso senhor. A<br />

pergunta é quem é esse senhor, e por que estava tão determinado em colocar as mãos<br />

na shalott.<br />

— Bem, suponho que isso não importe agora.<br />

— A não ser que ele venha até aqui pegar de volta o seu criado...<br />

Os olhos de Evor se tornaram vermelhos.<br />

— Pensa que ele fará isso?<br />

— Meus talentos não incluem ler o futuro.<br />

— Vou mandar tirarem o corpo daqui. - O troll olhou nervosamente para o<br />

cadáver.<br />

— Talvez devesse queimá-lo?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não é problema meu. Vou levar a minha propriedade agora.<br />

— Claro, claro. Que confusão. - Evor procurou nos bolsos, e de lá tirou um<br />

pequeno amuleto, que entregou ao impaciente vampiro.<br />

— Aqui está.<br />

Segurando o amuleto em seus dedos longos, Viper lançou um olhar indagador ao<br />

troll.<br />

— Explique.<br />

— Enquanto possuir o amuleto, a shalott virá ao seu encontro sempre que a<br />

chamar.<br />

Viper lançou um olhar para <strong>Shay</strong>. Ela estremeceu quando viu a satisfação em seus<br />

olhos magnéticos.<br />

— Então ela não poderá escapar de mim?<br />

— Não.<br />

— E isso faz mais o quê?<br />

— Nada. Temo que tenha de controlá-la por si mesmo. - Evor enfiou novamente a<br />

mão no bolso e de lá extraiu uma chave pesada, que estendeu a Viper.<br />

— Sugiro que a mantenha com as algemas até que a tenha trancado em uma cela<br />

bem segura.<br />

O olhar de Viper mantinha-se preso no de <strong>Shay</strong>.<br />

— Não me preocupo com isso - falou suavemente.<br />

— Agora nos deixe.<br />

— Como queira. - Evor deu de ombros, pegou seu dinheiro com cuidado, e saiu do<br />

palco seguido de seus seguranças.<br />

Assim que estavam sozinhos, Viper se ajoelhou ao lado de <strong>Shay</strong>.<br />

— Bem, encontramo-nos de novo.<br />

Ela sentiu a respiração lhe faltar e isso era ridículo. Meu <strong>De</strong>us, ele era bonito<br />

demais. Os olhos eram negros como uma noite escura. As feições perfeitas, como se<br />

tivessem sido modeladas por um artista. Os cabelos, acetinados.<br />

Era como se tivesse sido criado com o único propósito de dar prazer a cada<br />

mulher afortunada que cruzasse o seu caminho.<br />

O desejo de tocar suas feições e comprovar se eram mesmo reais tornou-se tão<br />

intenso que a confundiu. <strong>Shay</strong> viu sua mão se estendendo, mas a retraiu de pronto.<br />

Droga. O que estava acontecendo com ela?<br />

Aquele canalha tinha acabado de comprá-la. Gostaria de enterrar uma estaca no<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

coração dele, não descobrir se podia mesmo levar uma mulher ao delírio do prazer,<br />

como parecia prometer.<br />

— Gostaria de dizer que se trata de uma agradável surpresa, mas não é - ela<br />

conseguiu murmurar.<br />

— Não é agradável ou não é uma surpresa?<br />

As palavras, ditas com voz suave, fizeram com que a pele dela se arrepiasse.<br />

Mesmo a voz era capaz de levar uma mulher ao clímax em questão de instantes.<br />

— Adivinhe.<br />

Ele franziu levemente a testa.<br />

— Poderia estar um pouco mais agradecida. Afinal acabo de salvá-la de um futuro<br />

nada promissor.<br />

— Você não tem nada a ver com meu futuro.<br />

— Oh, mas ainda não sabe dos meus planos.<br />

— Você é um vampiro. Isso é tudo o que preciso saber. Ele estendeu a mão e<br />

tocou de leve nos cachos de cabelo que lhe caía em torno do rosto: um toque que<br />

irradiou energia por todo o corpo dela, dando-lhe um inesperado prazer. Maldito<br />

vampiro.<br />

— Acredita que nós vampiros somos todos iguais?<br />

— Vampiros estiveram por séculos atrás de meu sangue. Por que você seria<br />

diferente?<br />

Os lábios dele exibiram um sorriso.<br />

— É verdade, por que não?<br />

<strong>Shay</strong> tentou se afastar, mas gemeu pela dor que as algemas lhe causaram nos<br />

punhos.<br />

— Você sabia que eu estaria aqui quando veio? - ela perguntou.<br />

Houve um momento de silêncio antes que ele respondesse:<br />

— Sim.<br />

— Foi essa a razão que o trouxe aqui?<br />

— Sim.<br />

— Por quê?<br />

— Obviamente porque queria você.<br />

A decepção voltou a ferir o coração de <strong>Shay</strong> como uma punhalada. Ela era uma<br />

estúpida.<br />

— Mesmo depois de eu ter lhe salvado a vida?<br />

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Ele a olhou com curiosidade.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Salvou a minha vida? Talvez. <strong>Shay</strong> arregalou os olhos, chocada.<br />

— O que quer dizer com esse "talvez"? Ele deu de ombros.<br />

— Certamente você evitou que eu tivesse um ferimento sério, mas é impossível<br />

determinar se eu teria morrido dele.<br />

— Miserável. - Ela respirou fundo.<br />

— Salvei a sua vida e, mesmo assim você veio aqui para me comprar.<br />

— Havia entre os compradores alguém que preferisse?<br />

— Preferia matar todos vocês. O riso dele encheu o aposento.<br />

— Tão sedenta de sangue...<br />

— Não. Apenas estou cansada de ficar à mercê de todo demônio, monstro, bruxo<br />

ou maluco que tenha dinheiro suficiente para me comprar.<br />

Ele balançou a cabeça, concordando.<br />

— Compreensível, suponho.<br />

— Você não compreende nada.<br />

O leve sorriso não deixou os lábios dele, mas, pela primeira vez, <strong>Shay</strong> notou as<br />

linhas de irritação em torno de seus olhos.<br />

— Talvez não, mas sei muito bem que não desejo brigar com você esta noite. Fui<br />

ferido e preciso de sangue para recuperar minha energia.<br />

<strong>Shay</strong> se esquecera dos ferimentos dele. Não que estivesse particularmente<br />

preocupada com isso.<br />

E ela não gostara de ouvi-lo mencionar a palavra "sangue".<br />

— E daí?<br />

Ele pareceu se descontrair novamente.<br />

— Eu preferia levá-la para casa de maneira civilizada, mas posso mantê-la com as<br />

algemas enquanto estiver sendo arrastada. A escolha é sua.<br />

Ela se recusou a revelar o seu alívio.<br />

— Que escolha, não é?<br />

— Por hora é a única que tem. O que vai ser?<br />

<strong>Shay</strong> o encarou por um momento antes de lhe estender os braços. Não havia<br />

razão para lutar contra o inevitável. Além do mais, o ferro estava machucando seus<br />

punhos.<br />

— Tire as algemas.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Posso ter a sua palavra de que não vai tentar lutar contra mim?<br />

<strong>Shay</strong> o olhou, surpresa.<br />

— Confia em minha palavra?<br />

— Claro.<br />

— Por quê?<br />

— Porque posso ler a sua alma. - Ele não desviou o olhar.<br />

— E então, dá a sua palavra?<br />

Droga. <strong>Shay</strong> não queria que Viper soubesse que, se ela lhe desse sua palavra,<br />

jamais poderia voltar atrás. Isso lhe daria um poder ainda maior sobre ela.<br />

No momento, se recusava a tanto. Como poderia viver consigo se, pelo menos, não<br />

tentasse enfiar uma estaca no coração de seu novo senhor? Tinha o seu orgulho, afinal<br />

das contas.<br />

Mas ele continuava a olhá-la, imóvel como somente um vampiro podia fazer.<br />

<strong>Shay</strong> suspirou. Ele estava preparado para ficar naquela precisa posição por uma<br />

eternidade, se necessário.<br />

— Nesta noite não tentarei lutar contra você - concedeu por entre os dentes.<br />

Viper acabou rindo.<br />

— É o melhor que posso conseguir neste momento, não é?<br />

— Está absolutamente certo.<br />

Viper escoltou <strong>Shay</strong> para fora da casa de leilão até o carro, Não sabia bem por<br />

que estava tão satisfeito. Viera ao leilão porque não conseguira tirar a imagem da linda<br />

shalett de sua mente. Não tinha idéia do que pretendia fazer com ela. Apenas sabia<br />

que não deixaria que ninguém mais a possuísse.<br />

Seus planos não incluíam uma batalha contra um bruxo, ou adquirir um inimigo<br />

poderoso que, sem dúvida, o procuraria em busca de vingança, tampouco ser tratado<br />

como um monstro pela sua própria escrava. Por que estava rindo?<br />

Seu olhar se deteve nos quadris de <strong>Shay</strong> enquanto ela caminhava à sua frente.<br />

Agora ele se lembrava.<br />

Sentiu a excitação tomar conta dele. O aroma do sangue potente que ela possuía<br />

nas veias fazia com que qualquer vampiro se excitasse. E tinha um aroma carnal.<br />

Mas não era somente isso o que o atraía naquela shalott. Ela era belíssima,<br />

caminhava com uma graça incomum, sem contar a determinação em seus olhos<br />

dourados, e o perigo que ela representava a qualquer um.<br />

Nunca seria simplesmente uma companheira de sexo. Seu amante nunca saberia<br />

se quando a beijasse ela enroscaria suas pernas em torno dos quadris dele, ou lhe<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

arrancaria o coração. E isso acrescentava um bocado à excitação que ele já sentia.<br />

Viper procurou afastar o olhar dos quadris de <strong>Shay</strong> quando chegaram à limusine<br />

preta.<br />

— Este carro é seu? - ela perguntou, admirada.<br />

— Um dos meus pecados.<br />

Ela forçou um sorriso, mas Viper não conseguiu avaliá-lo bem. Parecia mais<br />

perturbada do que impressionada com os sinais da sua riqueza.<br />

— Ótimo.<br />

— Gosto de viver bem. - Viper abriu a porta da limusine e fez um gesto para que<br />

ela entrasse.<br />

Já dentro, <strong>Shay</strong> não conseguiu esconder a admiração. O interior do carro era um<br />

trabalho de arte. Bancos brancos acetinados, gabinete com bebidas, TV de plasma...<br />

O que mais um vampiro como ele poderia desejar?<br />

Quando o carro começou a deslizar, Viper pegou dois copos de cristal e serviu<br />

neles uma generosa porção de seu vinho favorito.<br />

— Vinho? - ofereceu.<br />

— Este vem de uma excelente safra.<br />

— Pode ser. - <strong>Shay</strong> aceitou o copo.<br />

— Mas não sei distinguir um vinho bom de água de banho.<br />

Viper escondeu o sorriso tomando um gole.<br />

— Vejo que precisarei apresentá-la às delícias de uma vida de luxos.<br />

<strong>Shay</strong> o olhou, surpresa.<br />

— Por que perderia tempo com isso? Ele deu de ombros.<br />

— Prefiro que minhas companheiras sejam sofisticadas.<br />

— Companheiras? - <strong>Shay</strong> riu com ironia.<br />

— Eu?<br />

— Paguei um bom dinheiro por você. Pensa que vou escondê-la em alguma cela<br />

úmida?<br />

— Por que não? Você pode drenar o meu sangue em qualquer lugar.<br />

Viper se acomodou melhor no assento elegante, procurando ficar de um jeito que<br />

os ferimentos das costas não doessem.<br />

— É verdade que eu poderia fazer uma fortuna com o seu sangue - ele murmurou.<br />

— Os vampiros pagariam qualquer preço por um gole de seu potente elixir. No<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

entanto, não preciso de mais riqueza, e no momento prefiro mantê-la comigo.<br />

— Como seu estoque particular?<br />

— Talvez - ele murmurou meio distraído, enquanto pegava um pequeno pote de<br />

cerâmica.<br />

— Estenda os braços.<br />

<strong>Shay</strong> endureceu o corpo, temendo o que viria. Ela deixara claro que considerava<br />

compartilhar o seu sangue com um vampiro um destino pior que a morte.<br />

— Para quê?<br />

— Pedi que estendesse os braços.<br />

<strong>Shay</strong> o olhou com fúria e demorou um longo tempo para obedecer.<br />

Viper enfiou os dedos no pote de cerâmica e depois pastou o creme nos punhos<br />

feridos de <strong>Shay</strong>.<br />

— O que está fazendo?<br />

— Não vejo razão para você sofrer. Não sou ligado às bruxas, mas suas poções<br />

funcionam.<br />

<strong>Shay</strong> arqueou as sobrancelhas enquanto Viper fazia o curativo no outro pulso.<br />

— Por que está fazendo isso?<br />

— Está machucada.<br />

— Sim, mas... por que se importa comigo? Seus olhares se cruzaram.<br />

— Você agora me pertence. Cuido bem das minhas coisas. <strong>Shay</strong> não pareceu<br />

inteiramente satisfeita com a explicação, mas seus músculos relaxaram com o toque<br />

gentil dos dele, e não tentou se afastar. Não até que Viper levou o punho dela aos<br />

lábios.<br />

— Não, por favor - ela murmurou.<br />

— Eu...<br />

<strong>De</strong> repente, <strong>Shay</strong> puxou a mão e ficou em alerta.<br />

— O que foi? - ele perguntou, confuso.<br />

— A escuridão que havia na casa de leilão está nos seguindo.<br />

— Abaixe-se - ele ordenou, enquanto abria um compartimento embaixo do banco.<br />

Em um instante estava com uma arma.<br />

Houve o solavanco de um veículo batendo na limusine, mas sem causar estrago<br />

algum, desde que a blindagem que a cobria era capaz de aguentar uma bomba nuclear.<br />

E, claro, o chofer era um vampiro. Os reflexos de Pierre eram os melhores que<br />

Viper já vira. Sem mencionar o fato dele ser imortal, ou seja, o chofer perfeito.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Mas Pierre parecia surpreso que houvesse alguém estúpido o bastante para<br />

atacá-lo.<br />

— Dê-me uma dessas. - <strong>Shay</strong> apontou para uma das pistolas.<br />

Viper escutou a voz suave e se voltou para ela.<br />

— Sabe usar uma arma?<br />

— Sei.<br />

Ele lhe entregou uma pistola e se surpreendeu em vê-la lidar com a arma com<br />

incrível eficiência.<br />

Não que isso fosse muito tranquilizador. Mas, pelo menos ele sabia que ela não<br />

daria um tiro no pé acidentalmente ou, pior que isso, no pé dele.<br />

— Mire os pneus - ordenou, abaixando a janela. Apertou o próprio gatilho,<br />

atingindo o alvo. Do outro lado, <strong>Shay</strong> conseguiu atingir o motorista, apesar de não<br />

saber se havia sido um tiro mortal.<br />

O carro saiu da estrada e Viper enviou seus pensamentos a Pierre, que diminuiu a<br />

velocidade da limusine. Ele queria aqueles homens. Queria lhes tirar toda a informação<br />

que possuíam.<br />

E depois planejava lhes tirar todo o sangue.<br />

Quem quer que fosse, estava querendo demais a shalott, e ele precisava saber<br />

com quem estava lutando.<br />

Praguejou quando viu o carro inimigo explodindo em uma bola de fogo.<br />

Droga. Isso não acontecia apenas nos filmes.<br />

Viper observou <strong>Shay</strong> se acomodar no banco. Fechando as janelas, estendeu a mão<br />

para que ela lhe entregasse a arma. Houve apenas um instante de hesitação, mas ela<br />

acabou lhe estendendo a pistola. Ele guardou as duas armas no gabinete escondido,<br />

depois se acomodou melhor no banco e sorriu.<br />

— Nada mal, não é?<br />

— Fizemos um bom trabalho. Pensou que eu pudesse virar a pistola em sua<br />

direção?<br />

— Sentiu-se tentada?<br />

— Uma arma não é capaz de matar um vampiro.<br />

— Mas as balas eram de prata e poderiam ter causado um bom estrago.<br />

<strong>Shay</strong> ficou em silêncio um instante.<br />

— Disse que confiava em mim.<br />

— Não sobrevivi por tantos séculos sem compreender que às vezes me engano.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> não fez comentário algum, e se entreteve arrumando a trança. Não parecia<br />

muito calma, e Viper achou mais sensato não provocá-la ainda mais.<br />

Parte demônio ou não, ela ainda era uma mulher.<br />

— Se eu quisesse feri-lo - ela disse por fim — não precisaria de uma arma.<br />

<strong>Shay</strong> não era boba. Sabia que provocar um vampiro debaixo de certas<br />

circunstâncias era perigoso. Como jogar roleta russa com uma arma carregada com<br />

todas as balas. Especialmente quando ela estava à mercê de seu dono.<br />

Mas, enquanto todos os sentidos a alertavam para que mantivesse a boca<br />

fechada, e desaparecesse naquele macio assento de couro, seu orgulho se recusava a<br />

escutar.<br />

Além de ser um vampiro, Viper era tudo aquilo que ela mais odiava. Bonito demais,<br />

obscenamente rico, e pior de tudo, confiante demais em seu próprio valor.<br />

Bem no fundo ela estava com inveja de sua arrogância. Mesmo que vivesse um<br />

milênio, jamais conseguiria valorizar a si mesma. Ela era uma aberração. Metade<br />

demônio e metade humana. Não pertencia a nenhum mundo. E nunca pertenceria.<br />

Viper voltou-se com a testa franzida.<br />

— Tem idéia de quem possa estar tão desesperado para colocar as mãos em você?<br />

— Não.<br />

— Nenhum antigo dono que a queira de volta?<br />

— Além de Evor, que detém a minha maldição, Edra foi meu único dono. - Ela<br />

retorceu os lábios, aborrecida.<br />

— Até vir você.<br />

— Pode ser algum amante ciumento?<br />

— Isso não é de sua conta.<br />

— Agora é, já que tentaram me matar. <strong>Shay</strong> puxou a trança com violência.<br />

— <strong>De</strong>volva-me a Evor.<br />

— Nunca. - Sem aviso, o vampiro se aproximou e encurralou <strong>Shay</strong> em um canto do<br />

banco.<br />

— Você é minha.<br />

O rosto dele estava tão próximo, que ela podia sentir os reflexos do brilho que<br />

havia em seus olhos negros.<br />

Seu coração disparou. Em parte por medo. E em parte... Diabos, ela precisava ser<br />

honesta. Em parte por sentir desejo. Não precisava gostar dele para querer rasgar<br />

suas roupas e colocar aquele corpo magnífico sobre o dela. Viper era um convite ao<br />

sexo, dos cabelos aos dedos dos pés calçados naquelas botas de couro. Ela teria de<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

estar morta para não querer fazer sexo com ele.<br />

Percebendo que <strong>Shay</strong> o desejava, Viper inclinou-se mais, os caninos surgindo,<br />

poderosos, e ele mesmo excitado ao limite.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos.<br />

— Não.<br />

Bem devagar, ele começou a abaixar a cabeça.<br />

— Tem medo que eu queira beber o seu sangue?<br />

— Não gosto de servir de refeição para ninguém. Os frios lábios de Viper<br />

roçaram o rosto dela.<br />

— Há muitas razões para um vampiro compartilhar o sangue. Confiança, amizade,<br />

amor, desejo...<br />

O coração de <strong>Shay</strong> parecia querer saltar do corpo. Viper a estava tocando com<br />

nada mais do que seus lábios, mas isso já provocava efeitos nas partes íntimas dela e<br />

seus ma-milos haviam endurecido.<br />

<strong>De</strong>us, fazia tanto tempo...<br />

Os cabelos macios e longos pareciam acariciar a curva de seu pescoço, <strong>Shay</strong><br />

pensou. Ele tinha um cheiro de colônia cara misturado a algo bem mais primitivo.<br />

Alguma coisa gritantemente masculina.<br />

No momento Viper lhe lambia a veia próxima ao pescoço, e o pânico fez com que<br />

ela levantasse as mãos, tentando empurrá-lo.<br />

— Viper!<br />

— Neste momento não quero o seu sangue. - Os lábios continuaram se<br />

movimentando, levando um arrepio a percorrer a espinha de <strong>Shay</strong>.<br />

— O que você quer? - ela conseguiu perguntar.<br />

— Tudo o mais.<br />

Seus lábios se encontraram e, mais uma vez, ela sentiu corpo inteiro estremecer.<br />

Um gemido escapou de seus lábios quando os dedos de Viper tocaram seu rosto.<br />

Com gentil insistência, a língua ávida entreabriu os lábios dela e se introduziu em sua<br />

boca.<br />

<strong>Shay</strong> manteve os olhos fechados mas, inesperadamente, participou do beijo.<br />

<strong>De</strong>sde o momento em que tinha encontrado aquele vampiro, semanas antes, ele lhe<br />

havia invadido os sonhos e despertado nela sensações adormecidas.<br />

Suavemente, as mãos de Viper deslizaram pelo pescoço de <strong>Shay</strong>. Seu toque era<br />

tão leve quanto às asas de uma borboleta. Tão leves, que ela mal notou quando os<br />

dedos deixaram seu pescoço e chegaram aos seios. Não até que Viper massageasse os<br />

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mamilos.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Uma exclamação escapou dos lábios dela.<br />

— Viper!<br />

Os caninos roçaram a pele macia de <strong>Shay</strong>, nunca tirando sangue.<br />

— Shh... Não vou machucá-la.<br />

— Vai me morder?<br />

— Tenho outra coisa em mente.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu, permitindo que o corpo de Viper pressionasse o dela, que seu<br />

joelho a forçasse a abrir as pernas.<br />

Sentiu-se tonta ao sentir a enorme ereção a pressioná-la.<br />

Pelo fogo do inferno, o que estava fazendo? Tornara-se escrava de Viper havia<br />

não mais de uma hora, e ali estava ela, lutando contra a vontade de arrancar as roupas<br />

dele para que a penetrasse.<br />

Podia estar subjugada por seu poder, mas isso não significava que deveria lhe<br />

obedecer com entusiasmo. Afinal, ela não tinha orgulho algum?<br />

Fazendo um esforço enorme, tentou se controlar.<br />

— Não - conseguiu dizer.<br />

Foi mais um gemido, porém, o suficiente para Viper parar o que fazia.<br />

— O que disse?<br />

O corpo dela estremeceu todo com um misto de medo e decepção.<br />

— Eu disse não.<br />

Estava preparada para ouvi-lo rir diante de seu fraco protesto. Ou quem sabe<br />

ignorá-lo.<br />

Era sua escrava e Viper podia fazer o que quisesse com o corpo dela.<br />

Surpreendentemente, no entanto, ele se afastou, ajeitando-se no banco. Não<br />

havia o menor tremor em seus dedos quando pegou o cálice de vinho e o levou aos<br />

lábios, como se o que estivera acontecendo entre os dois não o afetasse em nada.<br />

— Por que parou? - ela inquiriu, perplexa. Viper sorriu levemente.<br />

— Você disse "não". Eu presumi que significasse mesmo um "não".<br />

— Mas...<br />

— Sou um vampiro, não um monstro.<br />

— Mas importa o que eu quero? Sou sua escrava. Viper colocou seu cálice de lado.<br />

— Mas não é uma prostituta e nunca será. <strong>Shay</strong> observou-o com atenção. Parecia<br />

25


sincero.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Mas ele era um vampiro. Fingimento era uma das maiores habilidades de um<br />

vampiro.<br />

— Tudo o que tenho de dizer é "não"?<br />

— Exatamente.<br />

— Não acredito em você.<br />

Os olhos negros brilharam de raiva diante da acusação, mas logo voltaram ao<br />

normal.<br />

— Esta é sua escolha, naturalmente.<br />

<strong>Shay</strong> voltou a mexer na trança. Era uma armadilha. Tinha de ser.<br />

— Se não pretende me possuir, por que me comprou? Viper caiu na risada.<br />

Estendeu a mão para a maçaneta da porta e a abriu.<br />

— Chegamos. Vamos entrar?<br />

— Este é o seu lar? - <strong>Shay</strong> perguntou.<br />

Viper tirou o casaco pesado, e ficou apenas com a camisa de linho e calças de<br />

couro.<br />

Sorriu ao perceber que ela deslizava o olhar pelo corpo dele. O tempo que haviam<br />

passado na limusine revelara que ela não lhe era indiferente.<br />

Logo Viper pretendia tê-la, quente e apaixonada, debaixo de si.<br />

Ou em cima, ao lado...<br />

— É uma das minhas casas.<br />

— Quantas você tem?<br />

— Isso importa?<br />

— Suponho que não. Viper aproximou-se de <strong>Shay</strong>.<br />

— Esperava uma maior?<br />

— <strong>De</strong>us, não.<br />

Ele seguiu para a cozinha e <strong>Shay</strong> o acompanhou.<br />

— Tenho algumas que uso para entreter as pessoas, mas aqui é o meu retiro. Às<br />

vezes prefiro ficar sozinho.<br />

— Estamos sozinhos?<br />

Viper se voltou para <strong>Shay</strong> e observou a roupa que ela usava. Quando ele a vira<br />

vestida como uma escrava de harém, desejara arrancar fora o coração de Evor.<br />

Na privacidade de sua casa, no entanto, não podia negar que aquele traje tinha<br />

26


certo atrativo.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Há guardas no quintal, e tenho uma governanta humana que vem durante o dia.<br />

Mas, na maior parte do tempo, teremos a casa somente para nós mesmos. - Voltou a<br />

atenção para a curva da boca de <strong>Shay</strong>.<br />

— <strong>De</strong>licioso, não é?<br />

— Não é a palavra que eu usaria neste caso.<br />

Ele se aproximou a ponto de seus corpos ficarem juntos.<br />

— Preferia estar rodeada por vampiros famintos? Isso pode ser arranjado.<br />

— Pare com isso.<br />

Viper tocou de leve no rosto de <strong>Shay</strong>.<br />

— Com licença.<br />

— O quê?<br />

— Está bloqueando a porta da geladeira... Preciso pegar o meu sangue.<br />

— Ah. - <strong>Shay</strong> ruborizou.<br />

Viper pegou uma garrafa de sangue e a esvaziou. Tornou a pegar mais algumas.<br />

Colocou-as sobre a pia, e começou a abri-las.<br />

— Não sabia o que você gostava de comer, assim mandei minha governanta pedir<br />

um pouco de tudo. Há comida chinesa, italiana, mexicana e até galinha frita. Pegue o<br />

que quiser.<br />

— Você já sabia que eu viria? Como podia ter certeza de que daria o maior lance<br />

no leilão?<br />

Viper olhou para o corpo tentador de <strong>Shay</strong>.<br />

— Sempre consigo o que quero. Mais cedo ou mais tarde. Os olhos dela brilharam.<br />

— Fala como um verdadeiro vampiro. Viper estreitou os olhos.<br />

— Por que odeia os vampiros?<br />

<strong>Shay</strong> tentou responder evasivamente:<br />

— Além do fato de tentarem drenar o meu sangue desde o dia em que nasci?<br />

— Os vampiros não são os únicos demônios que querem chupar o seu sangue. Mas<br />

você parece detestá-los de forma mais pessoal.<br />

O silêncio reinou na cozinha por uns instantes. Viper simplesmente esperou que<br />

ela respondesse:<br />

— Vampiros mataram o meu pai.<br />

Isso explicava o fato de <strong>Shay</strong> odiar sua espécie.<br />

27


— Sinto muito.<br />

Ela deu de ombros.<br />

— Foi há muito tempo.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— E você foi criada por sua mãe.<br />

— Sim.<br />

— Uma humana?<br />

— Isso mesmo.<br />

Ela estava deliberadamente escondendo suas emoções, mas Viper conhecia a<br />

linguagem do corpo. Aprendera isso por séculos, e era o que os predadores faziam de<br />

melhor.<br />

— Ela a manteve escondida do mundo dos demônios?<br />

— Tanto quanto pôde.<br />

— E você se passava por humana?<br />

Foi fácil para Viper ler a raiva nas lindas feições de <strong>Shay</strong>.<br />

— Você me perguntou a razão de eu odiar os vampiros e eu lhe contei. Agora,<br />

podemos mudar de assunto?<br />

Ele sorriu. Tinha uma eternidade para explorar os segredos de <strong>Shay</strong>. E essa seria<br />

apenas uma das muitas explorações que ele pretendia conduzir.<br />

— Coma alguma coisa. - Passou a mão suavemente pelo rosto dela.<br />

— Tenho uns telefonemas a fazer antes de amanhecer.<br />

Saiu da cozinha, e seguiu para o pequeno escritório que tinha nos fundos da casa.<br />

Não se esquecera de que havia alguém interessado em roubar sua shalott.<br />

E isso era inaceitável. Pretendia fazer o que fosse necessário para descobrir<br />

quem era esse misterioso inimigo, e acabar com o perigo que rodeava <strong>Shay</strong>.<br />

Capítulo II<br />

A casa construída nas proximidades do rio Mississipi era bastante confortável.<br />

Como a maioria das casas de fazenda do meio-oeste, era simples, pintada de<br />

branca, com uma estrutura de dois andares e com uma sugestiva varanda. Em torno,<br />

28


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

possuía um bom número de árvores centenárias.<br />

À primeira vista, era um lugar acolhedor.<br />

Mas só à primeira vista.<br />

Qualquer estranho que, desafortunadamente, passasse por perto da fazenda, não<br />

encontraria ali sorrisos; e a única refeição quente seria ele mesmo.<br />

Felizmente, o lugar era isolado o suficiente para impedir que aparecessem muitos<br />

curiosos, e o povo ao redor já aprendera, havia tempos, que era melhor evitá-lo. Era<br />

raro que o pesado silêncio fosse quebrado, a não ser por pássaros.<br />

A localização da casa não era acidental. <strong>De</strong>baixo das colinas estavam escondidas<br />

cavernas, que se estendiam por milhas. Havia uma centena de lendas locais<br />

relacionadas às grutas. Alguns afirmavam que tinham sido usadas como túneis<br />

subterrâneos. Outros, que Jesse James costumava se esconder ali. E outros, ainda,<br />

juravam que a área era usada por contrabandistas, os quais preferiam o rio para<br />

transportar seus produtos.<br />

Nenhuma das histórias era verdadeira. As cavernas eram o lar de demônios<br />

desde antes que os primeiros exploradores tinham chegado.<br />

Em uma das mais profundas da área, olhando para as águas de um poço mágico,<br />

estava um esguio duende, trajando um manto de cetim verde que combinava com seus<br />

olhos. Luvas douradas cobriam suas garras. Parecia fora de lugar, já que os duendes,<br />

um dos menores demônios que existiam, somente eram aceitos entre os poderosos<br />

seres que habitavam a área por causa de sua astúcia e controle sobre as forças<br />

mágicas.<br />

Um duende não devia estar enfiado em buracos escuros da terra.<br />

Ainda assim, por um momento, a escuridão lhe servia muito bem.<br />

Balançou a mão sobre a água para dar um fim às visões que ela revelava. Acima<br />

dele, a sombra irada enchia a caverna.<br />

— Seu bruxo falhou - a sombra concluiu.<br />

— E o que parece, milorde. - Levantando-se, Damocles cuidadosamente tirou a<br />

poeira de seu manto.<br />

— Eu o avisei que Joseph não era o elemento mais capacitado.<br />

— É um idiota, mas a culpa não foi inteiramente dele. - A sombra pareceu<br />

aumentar de tamanho.<br />

— Se eu fosse desconfiado, estranharia você tê-lo enviado com dinheiro<br />

insuficiente para dar o maior lance no leilão da shalott.<br />

Um fraco sorriso surgiu nas belas feições do avejão. Não que ele estivesse<br />

indiferente ao perigo que havia no ar. Somente um tolo acreditaria que a sombra não<br />

29


seria capaz de matá-lo. Ou pior.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Entretanto, ele tinha passado cerca de um século sendo indispensável a esse seu<br />

atual senhor. No momento, sentia-se suficientemente em segurança.<br />

— Fico ofendido, senhor - protestou.<br />

— Foi uma surpresa para todos o vampiro fazer um lance tão alto. Além do mais, o<br />

senhor confiaria a um criado meio milhão de dólares? Por mais leal que Joseph possa<br />

ser, não acredito que resistisse à tentação de ter uma fortuna nas mãos. Com certeza<br />

teria se apossado do dinheiro e fugido.<br />

Um silvo raivoso chegou aos ouvidos de Damocles.<br />

— Ele sabia muito bem que, se fugisse, eu o mataria.<br />

— Claro, mas a ganância é raramente lógica.<br />

— Então agora não temos a shalott, e o pior é que ela está nas mãos de um<br />

vampiro.<br />

O duende fez a cara mais inocente do mundo.<br />

— Mas isso não pode significar boas notícias? O senhor tem considerável poder<br />

junto aos clãs. Não pode simplesmente exigir que esse Viper lhe entregue a shalott?<br />

— Idiota. - Uma mão invisível atingiu o rosto de Damocles.<br />

— Não posso revelar o meu interesse por ela. Isso despertaria especulações e<br />

perguntas que venho tentando evitar. Não pode haver qualquer ligação minha com a<br />

shalott, até que eu esteja curado. Se meus inimigos souberem como me tornei fraco...<br />

Damocles sentiu o sangue fugir do rosto, mas nem piscou.<br />

— Isso nunca vai acontecer, milorde. Não enquanto eu estiver a seu lado.<br />

— Oh, sim, meu doce duende, tanta lealdade... - A voz estava cheia de ironia.<br />

— Ela é mais profunda e infinita do que o mar.<br />

— Tão profunda e infinita como meus cofres. O duende fez uma pequena<br />

reverência.<br />

— Todos nós temos as nossas fraquezas, não é mesmo?<br />

— Eu quero aquela shalott. - A sombra se agitou com impaciência.<br />

— Acorde o seu bicho de estimação.<br />

Damocles enrijeceu o corpo, os pensamentos tomando um rumo inesperado. Ele se<br />

orgulhava por sempre estar preparado para qualquer eventualidade, e em ler o futuro<br />

com incrível habilidade. Nunca era pego desprevenido, despreparado.<br />

Naquele momento, porém, tinha de admitir: suas habilidades especiais haviam<br />

falhado.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Meu bicho de estimação? - Ele tocou de leve a corrente de ouro.<br />

— Certamente ainda não é hora, não é, milorde? Poderia chamar atenção demais.<br />

Tenho vários...<br />

Sentiu-se subitamente sufocar sob o poder da pressão de uma força demoníaca.<br />

— Por acaso esqueceu quem é o senhor aqui, duende? Pontos pretos dançaram<br />

diante dos olhos de Damocles, antes que a pressão em sua garganta finalmente<br />

diminuísse e lhe fosse permitido respirar novamente.<br />

A fúria correu por suas veias, mas sua longa experiência fez com que se<br />

ajoelhasse e abaixasse a cabeça: o gesto típico de um escravo.<br />

Seus planos podiam ser alterados. Afinal, ele era tudo menos um ser sem<br />

recursos.<br />

— Claro que não me esqueci, milorde. Será feito conforme o seu desejo. - Bem<br />

devagar, levantou a cabeça.<br />

— Ainda assim, não dá garantia de que não aconteçam baixas.<br />

— E por que devo me importar com baixas se a shalott não estiver entre elas?<br />

— O vampiro...<br />

— Um sacrifício necessário.<br />

<strong>De</strong>mocles ficou um momento em silêncio, antes de voltar a falar.<br />

— Necessário, talvez, mas não acredito que a Guarda dos Vampiros aceite essa<br />

morte com tanta facilidade.<br />

Um sibilar estridente soou na caverna.<br />

— Razão pela qual eles não devem saber de meu plano. Isso está claro?<br />

— Perfeitamente, milorde. Na verdade, eu irei junto para assegurar que não<br />

aconteçam erros desta vez.<br />

— Uma decisão sábia. Damocles ergueu-se lentamente, pensando sem parar.<br />

— Mas, primeiro, eu creio que devemos fazer uma visita ao troll.<br />

Houve um silêncio inquietador.<br />

— Por quê? Ele não nos serve para nada. O duende sorriu.<br />

— Não é bem assim. É ele quem detém a praga que mantém a shalott submissa.<br />

— E daí?<br />

— Se ele morre, ela morre. Penso que seria sábio se ele ficasse sob nosso<br />

controle, escapando assim das mãos de nossos inimigos.<br />

— Sim, sim, claro! Eu devia ter pensado nisso. Não posso me arriscar que aquele<br />

troll fique por sua própria conta. Qualquer coisa pode acontecer a ele.<br />

31


— Tratarei disso pessoalmente.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Ótimo. - A sombra soltou um longo suspiro.<br />

— Agora preciso descansar.<br />

Damocles inclinou-se respeitosamente.<br />

— Certamente, milorde. Mantenha a sua força. Logo terá recuperado toda a sua<br />

energia.<br />

Houve um breve silêncio.<br />

— Damocles?<br />

— Sim, milorde.<br />

— Você me mandará o que eu preciso esta noite? O duende escondeu um sorriso<br />

de satisfação.<br />

— Tenho tudo preparado.<br />

— Tem de tomar cuidado. Se a Guarda...<br />

— Serei a alma da discrição.<br />

— Bom. Agora vá, antes que sintam a sua falta.<br />

Com uma última reverência, Damocles se afastou da escuridão. Havia um caminho<br />

direto que dava para as cavernas superiores, mas ele era sábio o suficiente para evitálo.<br />

Sabia muito bem que os malditos vampiros estavam atentos aos seus menores<br />

movimentos.<br />

Havia chegado ao caminho estreito que levava à sua própria caverna, quando uma<br />

sombra lhe surgiu abruptamente à frente. Ele não precisou esperar muito para saber<br />

quem era.<br />

Só um ser possuía a arrogância de perturbá-lo desse modo.<br />

— Pare aí, Damocles, quero dar uma palavrinha com você. Damocles olhou para o<br />

alto e belo vampiro.<br />

— Qual é o problema, Styx? Cansou-se de ficar assustando os ratos do porão e<br />

anda em busca de um jogo mais interessante?<br />

As feições do vampiro não se alteraram. Nada parecia perturbar o líder da<br />

Guarda dos Vampiros. Insultos, ameaças, nada! Fato que irritava Damocles<br />

profundamente.<br />

— Onde é que esteve? - Styx perguntou. <strong>De</strong>mocles arqueou uma das<br />

sobrancelhas.<br />

— Eu estive ocupado fazendo um pequeno trabalho para o meu senhor.<br />

O vampiro deu um passo à frente.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Eu poderia lhe tirar a verdade a dentadas, caso eu quisesse.<br />

— E eu, levantar asas e voar até Paris se assim desejasse - Damocles retrucou,<br />

caçoando do vampiro.<br />

— Se você quiser saber a verdade, procure-a junto ao nosso mestre.<br />

— <strong>De</strong>scubro-a de você. Agora me diga por que entrou por estes túneis como se<br />

fosse um ladrão.<br />

Somente os fortes sobreviviam naquelas cavernas e Damocles sabia bem disso.<br />

— Jurei segredo. Quer que eu quebre o meu juramento? O vampiro grunhiu.<br />

— Como se um duende soubesse alguma coisa sobre juramentos e honra.<br />

Damocles poderia lhe dizer que tinha mais segredos do que qualquer outro ser<br />

que Styx pudesse vir a conhecer. Em vez disso, encostou-se à parede e inspecionou a<br />

barra dourada de seu manto com arrogante indiferença.<br />

— Você me deteve aqui e me faz perder um tempo precioso apenas para me<br />

insultar, ou tem algum outro propósito?<br />

As feições do vampiro endureceram.<br />

— Muito contra minha vontade, meu senhor mandou que você lhe trouxesse a<br />

shalott. Até agora você nada fez, a não ser lhe dar promessas vazias. Onde está ela?<br />

Damocles deu de ombros.<br />

— Houve um pequeno contratempo, mas nada que preocupe demais. Logo eu a<br />

trarei aqui.<br />

Sem aviso, o vampiro agarrou Damocles e o atirou longe.<br />

— Não confio em você, duende, e gosto menos ainda. A sua chegada à nossa porta<br />

é uma maldição que não trouxe nada, a não ser desgosto. Traga a shalott, ou eu lhe<br />

arrancarei a cabeça.<br />

Sem um olhar para trás, Styx sumiu na escuridão, deixando Damocles secando o<br />

sangue de sua boca. O duende sorriu, porém.<br />

Era sempre um bom dia quando ele conseguia fazer com que o Príncipe do Gelo<br />

perdesse a calma.<br />

Pretendia arranjar outros, muitos outros dias assim.<br />

* * *<br />

Esperando até que Viper tivesse deixado a cozinha, <strong>Shay</strong> reuniu as vasilhas de<br />

comida e aspirou o aroma delicioso. Diabos, ela estava faminta. Nas últimas semanas,<br />

mal tinha comido o suficiente para manter vivo um passarinho. Evor adorava pequenas<br />

torturas e se divertira ao vê-la se arrastar pela cela tentando pegar as migalhas que<br />

ele lhe jogava.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

E no momento, mesmo não querendo aceitar nada do vampiro, não conseguia<br />

resistir à tentação que tinha diante de si.<br />

Esvaziou em tempo recorde as vasilhas com comida chinesa, e passava para a<br />

galinha frita quando Viper voltou à cozinha.<br />

— Se quiser deixar uma lista para minha governanta, tenho certeza de que ela<br />

será capaz de manter a cozinha estocada com a comida que você preferir.<br />

<strong>Shay</strong> olhou para os pratos.<br />

— Ela fez um bom estoque. Somente ficou faltando torta de maçã.<br />

— Tenho certeza de que isso pode ser providenciado. <strong>Shay</strong> não duvidou disso nem<br />

por um momento. A governanta era daquelas que iam além de seus habituais deveres.<br />

A questão era se a mulher fazia tudo isso levada pelo sentimento de lealdade ou<br />

por medo.<br />

— Ela sabe que você é um vampiro? Viper sorriu levemente.<br />

— Os pingos de sangue dentro do refrigerador geralmente denunciam a minha<br />

identidade.<br />

— A maioria dos humanos se recusa a acreditar em demônios. Ou se acreditam,<br />

morrem de medo deles.<br />

— A família de minha governanta está comigo há séculos - Viper explicou.<br />

— Na verdade, ela tem quatro filhos que trabalham em meus variados negócios.<br />

— Uma dinastia regular.<br />

— Isso simplifica tudo.<br />

— Aposto que sim.<br />

A expressão nos olhos de Viper era de curiosidade, e ele a observou por algum<br />

tempo.<br />

— Parece não aprovar que eu empregue humanos. Isso a perturba?<br />

Na verdade não, <strong>Shay</strong> reconheceu.<br />

— Por experiência posso dizer que humanos e demônios não se misturam.<br />

Ele se aproximou perigosamente.<br />

— Isso não é inteiramente verdade, querida. Você, por exemplo, é uma mistura de<br />

demônio e humano.<br />

<strong>Shay</strong> tentou não se perturbar ao sentir os dedos de Viper em seu rosto.<br />

— Isso foi... diferente.<br />

— Como assim?<br />

— Nenhum dos meus pais pretendia se apaixonar. Um sorriso irônico surgiu nos<br />

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lábios de Viper.<br />

— E quem é que pretende?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> procurou abrir uma distância entre os dois.<br />

— Meu pai estava se preparando para partir, e se unir a outros shalott, quando<br />

viu minha mãe sendo atacada por um bando de lobisomens. - Ouvira essa história pela<br />

mãe uma centena de vezes.<br />

— Ele salvou-lhe a vida, levou-a para o seu clã, e a ajudou a curar os ferimentos.<br />

— E o destino fez o resto.<br />

— Algo assim.<br />

— E eles foram felizes juntos?<br />

Enquanto falava, Viper continuava a tocar de leve no rosto de <strong>Shay</strong>.<br />

— Sim, eles se amavam muito.<br />

Viper deslizou o olhar pelo corpo mal coberto pela ridícula roupa de escrava de<br />

harém.<br />

— E eles criaram você. Eu diria que a união entre humano e demônio foi<br />

certamente uma criação dos céus.<br />

Ela umedeceu os lábios secos.<br />

— Não foi nada bom ver meu pai ser hostilizado por seu povo, e minha mãe e eu<br />

sermos forçadas a nos esconder.<br />

— Mas se eles foram felizes, o que isso importa?<br />

<strong>Shay</strong> preferiu não argumentar. Ele era um vampiro. Nunca conhecera um dia de<br />

medo ou incerteza em sua vida imortal.<br />

— Não quero falar sobre isso.<br />

Ele a observou por alguns instantes, depois concordou.<br />

— Muito bem. Se tiver acabado de comer, vou lhe mostrar o seu quarto.<br />

A comida começou a pesar no estômago de <strong>Shay</strong>, Ela estava acostumada com os<br />

quartos que eram oferecidos aos escravos. Algemas, barras de ferro. Era o que nunca<br />

mudava, não importava quem fosse o seu senhor.<br />

— Agora?<br />

Viper a olhou com curiosidade.<br />

— Há alguma outra coisa que queira fazer primeiro?<br />

— Pensei em dar uma olhada na casa. Afinal, vou morar aqui. Pelo menos por hora.<br />

— Poderá fazer isso amanhã. Você certamente deve estar muito exausta.<br />

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— Não preciso de muito sono.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Viper.<br />

— Oh, que agradável coincidência, também eu não preciso dormir muito.<br />

Sem qualquer aviso, ele a tomou nos braços e começou a lhe mostrar os<br />

aposentos.<br />

— O que está fazendo? - ela protestou.<br />

— Não disse que queria conhecer a casa?<br />

— Posso andar muito bem. Não precisa me carregar...<br />

— Hora, fique quietinha e me deixe exercer minhas obrigações de anfitrião.<br />

<strong>Shay</strong> procurou evitar o olhar de Viper. Não era somente a sua fantástica beleza.<br />

Mas havia algo de especial nele: em seus olhos negros, nas sensações que estes<br />

provocavam.<br />

— Você tem o hábito de carregar no colo todos os seus convidados?<br />

— Você é a minha primeira e única convidada. <strong>Shay</strong> arregalou os olhos, surpresa.<br />

— Está mentindo.<br />

— Por que diz isso?<br />

— Não posso acreditar que um homem como você não possua um harém.<br />

— Um homem como eu?<br />

— Um vampiro.<br />

—Ah, lamento desapontá-la, mas não possuo harém algum.<br />

Os olhos brilharam.<br />

— A não ser, claro, que esteja se apresentando como voluntária.<br />

Droga. Ela nunca estivera tão consciente da presença de alguém. E isso era<br />

extremamente perturbador.<br />

— É verdade que nunca teve nenhuma outra mulher aqui antes?<br />

— Venho aqui para ficar sozinho.<br />

— Porque...<br />

— Esta é a sala de visitas - ele foi dizendo.<br />

— Vai gostar da vista para o lago. O assoalho de carvalho polido é nativo deste<br />

estado, assim como o das escadas. Há algo fascinante quanto à pedra da lareira, mas<br />

devo admitir que não prestei atenção quando o vendedor foi enumerando tudo o que<br />

havia de especial na propriedade.<br />

<strong>Shay</strong> deu uma olhada na sala cheia de sombras. Era espaçosa e, mesmo no escuro,<br />

36


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

dava a sensação de ser agradavelmente aquecida.<br />

Não. A sensação de calor não estava no aposento, mas na casa inteira. Como se<br />

quem ali morasse tivesse tornado a casa um verdadeiro lar.<br />

Perdida nesses ridículos pensamentos, ela levou um momento para perceber que<br />

Viper estava agora subindo as escadas.<br />

Mesmo ele tendo garantido não ser seu costume forçar uma mulher a algo que ela<br />

não queria fazer, <strong>Shay</strong> ainda tinha suas dúvidas. Ele era um vampiro...<br />

E isso dizia tudo.<br />

— Certamente há outros aposentos, lá embaixo, que poderia me mostrar - ela<br />

protestou.<br />

— Há, mas nenhum chega a ser tão intrigante quanto o quarto, aqui em cima. - A<br />

voz dele soou como um veludo.<br />

— Gostaria que me pusesse no chão. Sou perfeitamente capaz de andar.<br />

E de correr. E de me esconder no quarto mais próximo, <strong>Shay</strong> pensou.<br />

— Gosto de senti-la junto de mim. - Ele chegou ao alto da escada e parou diante<br />

da primeira porta à direita.<br />

— Aqui estamos - disse, carregando-a para dentro de um aconchegante aposento.<br />

<strong>Shay</strong> observou à sua volta. Não sabia bem o que esperava encontrar.<br />

Possivelmente chicotes. Correntes. Aros presos às paredes.<br />

Em vez disso, encontrou um quarto que possuía o mesmo calor que ela sentira no<br />

andar de baixo.<br />

— Este é o seu quarto? - perguntou, olhando a cama enorme e a mesinha onde<br />

havia um vaso de flores.<br />

Ela não podia pensar em nada que combinasse menos com aquele elegante e<br />

sofisticado vampiro.<br />

Estranhamente, o rosto dele parecia uma máscara. Mesmo os olhos não revelavam<br />

nada.<br />

— Na verdade este é o seu quarto.<br />

— O meu?<br />

— Ele é de seu gosto?<br />

— Eu... - <strong>Shay</strong> umedeceu os lábios secos. Subitamente, aquele quarto charmoso se<br />

tornava mais assustador do que se ali houvesse correntes e chicotes.<br />

— Por quê?<br />

— O que quer saber?<br />

37


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Sou sua escrava. Pode fazer o que quiser comigo. Por que está me tratando<br />

como se eu fosse uma hóspede privilegiada?<br />

— É por ser minha escrava que eu a trato da maneira que penso que você merece.<br />

Ela fechou os olhos diante do olhar de Viper.<br />

— Por favor, apenas me diga o que quer de mim - murmurou.<br />

— Não saber é pior do que qualquer outra coisa.<br />

Houve um momento de hesitação, antes que Viper finalmente falasse.<br />

— Muito bem. - Ele deslizou os lábios pelo pescoço dela.<br />

— Eu a quero debaixo de mim, gritando o meu nome ao alcançar o clímax -<br />

sussurrou, a boca se movendo pela pele macia de <strong>Shay</strong> e lhe provocando mil arrepios.<br />

— Quero beber o seu sangue e me banhar em seu calor. Quero me enroscar em<br />

você até que pare de assombrar os meus sonhos. É isso o que queria saber?<br />

<strong>Shay</strong> fechou os olhos, lutando contra o desejo de enroscar as pernas na cintura<br />

de Viper e implorar que ele a possuísse exatamente como lhe descrevera. Ele não era o<br />

único perturbado ali.<br />

— Não era exatamente o que eu esperava ouvir.<br />

— Não se preocupe. Não forço mulher alguma. Temos uma eternidade para<br />

saciarmos os nossos desejos.<br />

Ela estremeceu mais uma vez.<br />

— Você não sabe nada sobre os meus desejos.<br />

— Pretendo descobrir.<br />

Uma tristeza enorme a envolveu, ajudando-a a se afastar um pouco daquele clima<br />

louco em que se via presa ao lado do vampiro.<br />

— O que eu desejo, você não pode me oferecer. Viper sorriu levemente.<br />

— Nunca duvide de mim, <strong>Shay</strong>. Sou um vampiro de incríveis habilidades. - Ele a<br />

beijou com chocante intimidade, depois a colocou no chão e saiu do quarto.<br />

Ele não a amarrara na cama. Tampouco a fechara dentro do armário. Nem mesmo<br />

trancara a porta.<br />

Sem acreditar no que estava acontecendo, <strong>Shay</strong> balançou a cabeça.<br />

Que diabo era tudo aquilo?<br />

Viper caminhou pela casa escura rumo ao escritório. Estava fechado ao<br />

amanhecer, mas ele ainda tinha alguns poucos detalhes a tratar antes de ir para a<br />

cama.<br />

Pena que um desses detalhes não fosse a bela shalott sozinha no quarto, pensou<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

com um suspiro. O corpo doía com o esforço que tinha lhe custado deixá-la e se<br />

afastar.<br />

Mas tinha certeza de que não demoraria muito tempo para <strong>Shay</strong> se oferecer sem<br />

hesitação. Bom seria se fosse cinco minutos a partir daquele momento.<br />

Entrou no escritório e se aproximou de uma estante cheia de livros, apertando<br />

um botão que lhe deu passagem para a sala de segurança. Lá, a série de monitores o<br />

encheu de orgulho. Diferentemente de muitos de sua espécie, ele nunca tinha deixado<br />

de valorizar a mais moderna tecnologia. Seria estúpido ignorar as mudanças que<br />

ocorriam no mundo.<br />

Além do mais, se fosse perfeitamente honesto, admitiria não ser igual aos<br />

demais. Sempre quisera ter os mais caros e melhores brinquedos.<br />

Um vampiro com cabelos vermelhos olhava os monitores, atento. Levantou-se de<br />

pronto ao perceber Viper entrando.<br />

— Pode ficar à vontade.<br />

— Mestre. - O vampiro inclinou-se respeitosamente.<br />

— Algum problema?<br />

— Nenhum. Tudo está bem quieto. - Os olhos verdes se estreitaram.<br />

— Estava esperando algum problema?<br />

— Há a possibilidade de eu ter sido seguido esta noite - Viper disse.<br />

— Quero que a guarda seja dobrada e que todos fiquem alertas.<br />

— Claro.<br />

Viper sorriu com a demonstração de obediência. Nenhuma pergunta. Nenhum<br />

argumento. Nenhum olhar contrariado. Seus empregados eram muito melhor treinados<br />

do que sua nova escrava.<br />

— Quem estará em serviço depois de você?<br />

O vampiro consultou uma lista colocada ao lado de um dos monitores.<br />

— Santiago.<br />

— Ótimo. - Santiago podia ser bastante jovem, mas era um vampiro muito bem<br />

treinado, e capaz de pensar por conta própria. Nada passaria por ele.<br />

— Quero que o alerte para ficar bastante atento à área em volta da casa.<br />

O vampiro de cabelos vermelhos o olhou com curiosidade.<br />

— <strong>De</strong>vo manter a atenção em alguma coisa em particular?<br />

— Tenho uma hóspede comigo - Viper confessou com um sorriso.<br />

— Uma hóspede muito especial. Temo que decida dar suas voltas enquanto eu<br />

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dormir.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Ah. O senhor quer que a capturemos e a coloquemos no interior da casa.<br />

Viper sacudiu a cabeça.<br />

— Não. Se ela for vista tentando sair, devo ser acordado imediatamente.<br />

O vampiro dirigiu ao seu senhor um olhar admirado.<br />

— Não quer que ela seja detida?<br />

— Não, a não ser que Santiago suspeite que ela possa estar correndo algum<br />

perigo. - Viper olhou os monitores.<br />

— Penso que será interessante descobrir onde minha hóspede pretende ir.<br />

* * *<br />

Não devia ser surpresa alguma o fato de <strong>Shay</strong> ter dormido além da conta.<br />

Ela andara de um lado para o outro no quarto por uma hora, antes que finalmente<br />

aceitasse o fato de Viper não vir procurá-la.<br />

Acabara dormindo e se chocara ao acordar, percebendo que já era mais do que<br />

cinco horas da tarde.<br />

Bom <strong>De</strong>us. Ela não havia apenas dormido, mas seu sono fora profundo e sem<br />

qualquer pesadelo. Uma novidade em sua vida. <strong>De</strong>via ter sido o colchão macio. Ou o<br />

silêncio que reinava na casa, ela tentou se convencer, enquanto seguia para o banheiro.<br />

Certamente não podia se sentir em paz na casa de um vampiro. Isso seria ridículo.<br />

Encontrou no armário uma escova de dentes nova, assim como uma pasta. <strong>De</strong>sfez<br />

a trança e escovou os cabelos. Trançou-o novamente e seguiu para a cozinha.<br />

Sem ter uma troca de roupa, foi forçada a usar as mesmas calças de harém e o<br />

top brilhante. Mas notou o manto de veludo, que Viper tinha envergado na noite<br />

anterior, pendurado em uma das cadeiras, e decidiu vesti-lo. Não era sensível demais<br />

ao ar frio, mas não sendo uma verdadeira shalott, não tinha a capacidade de ignorar os<br />

elementos do tempo.<br />

Não era nem humana por inteiro nem shalott, pensou, desgostosa. Era uma<br />

aberração.<br />

Vestiu o manto, procurando ignorar o cheiro tão peculiar de Viper. Tinha de<br />

cumprir a promessa que fizera, e não podia agora perder tempo com distrações. Muito<br />

menos com sua reação inusitada ao maldito vampiro.<br />

<strong>De</strong>ixando a casa sem fazer ruído algum, passou pela área que Viper garantira ser<br />

vigiada. Uma vez diante das grades altas do portão, tirou o casaco, subiu com<br />

facilidade e chegou ao outro lado.<br />

Era sua última barreira. Vestiu o manto e seguiu apressadamente em direção à<br />

cidade. Mais precisamente, à casa de leilão.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Localizou a linha do horizonte de Chicago, e manteve a vista presa na torre da<br />

Sears enquanto cruzava a área rural que havia nos arredores da cidade. Esperava que<br />

os trolls estivessem dormindo quando ela chegasse lá. Os trolls esperavam anoitecer<br />

completamente para se recolherem. Assim, sem qualquer barulho, conseguiu chegar ao<br />

andar inferior e descobriu Levet ainda em sua forma de estátua.<br />

— Levet, acorde - chamou, rezando para que ele a escutasse.<br />

— Droga, acorde!<br />

Por um longo momento, não houve qualquer sinal de que o amigo tivesse acordado.<br />

— Levet!<br />

Finalmente, o gárgula se agitou dentro da cela.<br />

— Pelo amor de <strong>De</strong>us, fique quieto - <strong>Shay</strong> sussurrou.<br />

— <strong>Shay</strong>?<br />

— Sim, sou eu.<br />

Levet deixou as sombras e se aproximou das grades.<br />

— O que está fazendo aqui? Mon Dieu, já foi devolvida? <strong>Shay</strong> sorriu levemente.<br />

Não podia culpar o gárgula por chegar à conclusão de que o novo dono dela já a havia<br />

dispensado após algumas horas. Ela não era uma escrava por natureza. <strong>De</strong>testava<br />

receber ordens, tinha gênio ruim, orgulho demais. Era hábil em artes mortais e<br />

inclinada a lutar contra o destino, em vez de aceitá-lo com complacência. Mas devia<br />

haver escravos piores do que ela.<br />

— Eu lhe disse que voltaria para pegar você. Não faço promessas que não<br />

pretendo cumprir.<br />

Levet ficou parado, imóvel, como se tivesse voltado à forma de estátua.<br />

— Você voltou por mim?<br />

— Claro.<br />

Vagarosamente, ele caiu de joelhos, aliviado.<br />

— Oh, graças a <strong>De</strong>us. Obrigado!<br />

— Silêncio. - <strong>Shay</strong> deu uma olhada para o lado das escadas.<br />

— Temos de tirar você daqui antes que Evor acorde.<br />

— Como? Não pode tocar as barras e não sou forte o suficiente para quebrá-las.<br />

<strong>Shay</strong> tirou de dentro de uma sacola que trouxera um pequeno pote de cerâmica.<br />

Com grande cuidado, abriu a tampa.<br />

— Dê um passo para trás. Levet recuou bem devagar.<br />

— O que pretende fazer?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

A fumaça já começava a sair do pote. Nunca era um bom sinal. Com um bater de<br />

asas, ele alcançou o fundo da cela, enquanto <strong>Shay</strong> virava o pote na direção das barras<br />

de ferro. Houve um chiado e o ferro começou a derreter.<br />

— O que é isso? - Levet perguntou, chocado.<br />

— Uma poção que roubei das bruxas. Levet balançou a cabeça.<br />

— <strong>Shay</strong>?<br />

— O que foi?<br />

— Da próxima vez em que decidir me libertar, por que simplesmente não rouba a<br />

chave? Não sei se deveria usar essas poções.<br />

— Vai ficar aí, criticando minhas técnicas, ou virá comigo?<br />

— Estou indo, estou indo... <strong>Shay</strong> olhou em volta, apreensiva.<br />

— Não sinto a presença de trolls aqui por perto, mas devemos nos apressar. Não<br />

demora e eles estarão se preparando para a noite.<br />

— Espere. - Levet apontou para uma pequena abertura nos fundos da cela.<br />

— Por aqui.<br />

— Isso só vai nos levar aos calabouços mais abaixo - ela protestou. Não sabia o<br />

que Evor escondia naqueles cômodos.<br />

— Há uma porta secreta.<br />

— Como você sabe disso?<br />

— Posso sentir a noite. Ela fala comigo. <strong>Shay</strong> não estava disposta a discutir com<br />

um gárgula que podia falar com a noite. Podia ser teimosa, mas não era estúpida.<br />

— Muito bem, vamos pelo seu caminho.<br />

Sem demora, o pequeno demônio passou pela estreita abertura. <strong>Shay</strong> evitou um<br />

suspiro e o seguiu.<br />

Como ela esperara, havia muitas e muitas outras celas naquelas profundezas. Não<br />

tinha idéia de que tipo de demônios estava sob o controle de Evor. Mesmo assim,<br />

queria poder libertá-los.<br />

Não. Não podia fazer isso no momento. Não sem colocar a vida de Levet em risco.<br />

Ela se preocuparia com os demônios prisioneiros em outra noite.<br />

Seguiram em silêncio pelos túneis, e <strong>Shay</strong> precisou, várias vezes, inclinar o corpo<br />

inteiro para passar, já que a altura era mínima.<br />

Por fim, chegaram à rua.<br />

Mesmo ela havia duvidado que conseguiria libertar Levet. Não com Evor e seu<br />

bando de trolls por perto.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Sua alegria cessou nesse exato momento e um tremor percorreu seu corpo.<br />

O ar gelado só podia pertencer a uma única criatura...<br />

— Levet, voe - ordenou. No instante seguinte, viu-se diante do vampiro.<br />

— Que prazer vê-la de novo - Viper murmurou, o rosto bem junto do de <strong>Shay</strong>, as<br />

mãos fazendo dela sua prisioneira.<br />

<strong>Shay</strong> começou a lhe socar o peito.<br />

— Largue-me já! - ela exclamou, preparando um golpe que sempre dava certo com<br />

os homens.<br />

Mas Viper não era um homem, e sim um vampiro.<br />

O sorriso dele se alargou quando ela fez um novo movimento para deixá-lo sem<br />

equilíbrio. Ele a surpreendeu mais uma vez, colocando as mãos no chão e, com um<br />

movimento suave, voltou a ficar de pé. <strong>De</strong>sta vez, aprisionou as pernas dela e, em<br />

seguida, a tinha totalmente em seu poder.<br />

Viper devia estar irritado com a tentativa de <strong>Shay</strong> escapar, mas tudo o que<br />

sentia era a forte atração física por sua linda shalott. Fizera de tudo para que ela se<br />

sentisse confortável em sua presença: ordenara todos os tipos de comida, decorara o<br />

quarto em um estilo feminino, enchera os armários de roupas. <strong>De</strong>votara semanas, sem<br />

mencionar a pequena fortuna que tudo isso lhe custara, para agora se ver diante da<br />

ingratidão dela.<br />

E, além disso, comportara-se como um perfeito cavalheiro, não querendo fazer<br />

nada contra sua vontade.<br />

Mantendo-a cativa nos braços, ele sorriu para os olhos dourados.<br />

— Quer continuar, ou já se divertiu o suficiente? <strong>Shay</strong> ficou imóvel.<br />

— O que eu quero é que me coloque no chão.<br />

— Não antes que tenhamos uma pequena conversa. <strong>Shay</strong> tentou se libertar dele,<br />

mas isso só fez Viper gemer de prazer.<br />

— Droga, Viper, coloque-me no chão!<br />

— Não. Você já tentou escapar uma vez esta noite. - Os braços dele a seguravam<br />

com força.<br />

— Uma vez é tudo o que você vai conseguir.<br />

A expressão no rosto de <strong>Shay</strong> deixava bem clara a sua irritação.<br />

— Não fugi.<br />

— Esperou até que eu dormisse e escapou de minha casa. Como posso chamar<br />

isso?<br />

<strong>Shay</strong> balançou a cabeça, irritada.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Eu tinha algumas coisas a fazer. Certamente me será dada certa liberdade?<br />

— Isso depende. O que estava fazendo aqui?<br />

— <strong>De</strong>ixei uma coisa para trás.<br />

— O quê?<br />

Se ela não tivesse os braços presos, certamente teria lhe dado um soco no nariz.<br />

— Um amigo - explicou, rangendo os dentes. Amigo? Viper virou a cabeça e deu<br />

com o pequeno gárgula, o qual tentava se esconder nos galhos da árvore mais próxima.<br />

Tinha visto o demônio saindo pela fresta, mas nem pensara mais nele depois que<br />

avistara <strong>Shay</strong>. Ela conseguia fazer com que ficasse totalmente distraído quando<br />

estava por perto.<br />

— Está se referindo ao gárgula? - perguntou, surpreso.<br />

— Sim.<br />

— Ele pertence a Evor?<br />

— Pertence.<br />

Viper comprimiu os lábios.<br />

— Se tivesse me pedido, eu o teria comprado na noite passada. Não havia<br />

necessidade de se expor ao perigo.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos, admirada com as palavras gentis. Seus músculos<br />

relaxaram, como se ela se esquecesse temporariamente de que ele era seu inimigo.<br />

Viper saboreou silenciosamente a proximidade do corpo pressionado contra o<br />

dele.<br />

— Evor jamais colocou Levet em leilão. Ele prefere ter um brinquedinho que seus<br />

criados possam torturar.<br />

Viper afrouxou o abraço.<br />

— Por um preço certo, Evor venderia até a própria mãe. Seus olhares se<br />

encontraram.<br />

— Eu não esperava que você estivesse disposto a conceder um favor à sua<br />

escrava - confessou <strong>Shay</strong>.<br />

Ele deslizou os dedos por sua nuca.<br />

— Por que está tão determinada a se considerar uma escrava, quando eu<br />

absolutamente não a vejo como tal?<br />

Ela se surpreendeu mais uma vez.<br />

— O que mais eu poderia ser? Comprou-me de um vendedor de escravos, e está<br />

de posse de um amuleto que me mantém presa a você.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Preferiria que eu a devolvesse a Evor? Gostaria de possuir um dono diferente?<br />

— Importa o que eu possa querer?<br />

— Responda à minha pergunta.<br />

Apesar da escuridão que os envolvia, Viper percebeu a emoção que tomou conta<br />

do rosto de <strong>Shay</strong>. Confusão. Embaraço. E, por fim, uma aceitação relutante.<br />

— Não - ela murmurou tão suavemente, que se ele não fosse um vampiro, não a<br />

teria escutado.<br />

Viper capturou os lábios carnudos, enquanto suas mãos buscavam-lhe os quadris.<br />

Testou o calor e a vida que emanavam dela. Um doce sabor, capaz de seduzir um<br />

vampiro. Ele a desejava ali, naquele instante. E a intensidade de seu desejo era tanta,<br />

que chegava a assustá-lo.<br />

Entreabriu gentilmente os lábios dela com a língua. Gemeu quando <strong>Shay</strong> retribuiu<br />

o beijo com a mesma necessidade frenética que o dominava.<br />

O calor pareceu envolvê-los, até que <strong>Shay</strong> caiu em si e procurou se afastar.<br />

Ele engoliu a decepção, mas ali não era o melhor lugar para possuí-la.<br />

— Tem razão. Não temos tempo para distrações agora. <strong>Shay</strong> aspirou o ar e<br />

procurou recuperar a calma.<br />

— Como me encontrou?<br />

— Eu lhe disse que tenho guardas vigiando a casa.<br />

<strong>Shay</strong> franziu a testa.<br />

— Fui seguida?<br />

— Claro que foi.<br />

Viper, deliberadamente, se voltou para um vampiro alto e silencioso que estava<br />

por perto, nas sombras. <strong>Shay</strong> sentiu-se embaraçada. Santiago era uma figura<br />

impressionante com suas calças de couro e camiseta preta revelando os músculos. O<br />

rosto era estreito e os olhos, de um tom castanho profundo, como seus ancestrais<br />

espanhóis. Bastou apenas um olhar para saber precisamente o que ele era: um<br />

guerreiro treinado, que poderia matar para proteger seu clã.<br />

Ela engoliu em seco.<br />

— Ele é um vampiro, mas não podia estar patrulhando quando saí, senão eu teria<br />

percebido.<br />

— Não estamos mais na Idade da Pedra, <strong>Shay</strong> - Viper observou.<br />

— Minha casa é guardada por um sistema high-tech que inclui sensores, armas<br />

silenciosas, e uma série de câmeras que são constantemente monitoradas. Santiago<br />

estava no subsolo quando a viu saindo.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Por que não tentaram me deter?<br />

— Mandei que não fizessem isso.<br />

O olhar de <strong>Shay</strong> era cheio de suspeitas.<br />

— Por quê?<br />

— Sabia que poderia segui-la sem problemas.<br />

— Queria me espionar.<br />

— Admito que estava curioso, mas, o que eu queria mesmo era provar que é<br />

bobagem tentar escapar de mim.<br />

A expressão do olhar de <strong>Shay</strong> endureceu.<br />

— Sei que não vou conseguir escapar. Não precisa de um guarda. Pode<br />

simplesmente usar o amuleto e serei forçada a voltar.<br />

— Não é esse o ponto.<br />

— E qual é?<br />

Mais uma vez, Viper acariciou-a no rosto.<br />

— Há uma força poderosa que vem tentando captura-la. Até que eu descubra o<br />

que é, não permitirei que fique andando por aí.<br />

Ele estava preparado para uma reação de raiva. Escrava ou não, ela ainda era<br />

uma espécie de demônio que não aceitava qualquer tipo de restrição. Mesmo que se<br />

referisse à sua segurança.<br />

Surpreendentemente, porém, Viper não pôde ler nada, a não ser preocupação, nos<br />

olhos de <strong>Shay</strong>.<br />

— Acredita que eu esteja em perigo?<br />

— Você não?<br />

Ela mordeu o lábio antes de soltar um longo suspiro.<br />

— Está bem, tem razão. Fui uma idiota em sair do jeito que fiz. Mas agora pode<br />

me colocar no chão.<br />

Satisfeito por ela deixar que a lógica pesasse mais do que sua natureza<br />

independente, Viper sorriu.<br />

— É uma pena. - Ele a tocou de leve no pescoço.<br />

— Pensei em ter você nos meus braços por mais tempo... Claro que minhas<br />

fantasias não incluíam nenhum de nós dois com roupa, muito menos um gárgula nos<br />

rodeando.<br />

— Eu já disse que...<br />

<strong>Shay</strong> interrompeu-se ao sentir a aproximação de Santiago.<br />

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— Mestre - ele chamou.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Sim, Santiago, eu também senti o cheiro.<br />

— Cheiro do quê? - ela quis saber.<br />

— <strong>De</strong> sangue fresco.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio. Até poucos momentos, ela se esquecera de que algo ou<br />

alguém estivesse tentando, capturá-la. Nem chegara a pensar nisso quando decidira<br />

cumprir sua promessa de libertar Levet. Não se lembrara nem por um segundo de que<br />

tinha agora um novo inimigo.<br />

Era uma estúpida.<br />

— Você matou Evor e os trolls? - Viper perguntou em um tom de voz que<br />

denotava apenas curiosidade. Como se não desse a mínima se ela tivesse chacinado as<br />

criaturas.<br />

— Não, nem mesmo os vi.<br />

— Nenhum deles? Não ouviu nada?<br />

— Não.<br />

Ele balançou a cabeça.<br />

— Não acha isso estranho?<br />

<strong>Shay</strong> deu de ombros, procurando se lembrar do que acontecera ao chegar à casa<br />

de leilão.<br />

— Eles raramente entram na casa antes de escurecer.<br />

Além do mais, entrei pela passagem dos fundos e fui direto à masmorra. Acredita<br />

que eles foram atacados?<br />

— Alguma coisa foi. - Olhou silenciosamente para o prédio.<br />

— Espere aqui.<br />

<strong>Shay</strong> observou Viper e seu vampiro se moverem em direção à escuridão. Em<br />

menos de um segundo, eles sumiram nas sombras, e não havia sinal algum de suas<br />

silhuetas.<br />

Ela se enrolou mais no manto, sentindo um arrepio percorrer o corpo. Levet<br />

flutuava à sua volta.<br />

— Talvez devêssemos ir embora - resmungou.<br />

— Acha mesmo? - Levet levou as mãos aos quadris.<br />

— Hora, por que iríamos embora, quando podemos ficar aqui, perto de nossos<br />

inimigos, e "batendo papo" com vampiros? <strong>De</strong>pois podemos encher nossos corpos com<br />

gasolina e brincar com fósforos. A diversão, como dizem, nunca acaba.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> sentiu o rosto ficar vermelho de raiva.<br />

— Não abuse, Levet.<br />

— Vai me agarrar e me dar o beijo da morte?<br />

— Você bem pode voltar para sua cela - ela grunhiu.<br />

— Só sobre o meu cadáver. <strong>Shay</strong> estreitou os olhos.<br />

— Isso pode ser feito também... Levet percebeu que tinha exagerado.<br />

— Não precisa ficar nervosa, amiga. Inconscientemente, ela olhou para o lado<br />

onde vira Viper desaparecer.<br />

— Seu novo senhor é um vampiro odioso - Levet observou.<br />

— E o que parece.<br />

— O chefe de seu clã.<br />

<strong>Shay</strong> voltou a atenção para o gárgula.<br />

— Como sabe?<br />

— Posso sentir a marca de Cuchulain nele.<br />

<strong>Shay</strong> umedeceu os lábios. Nunca estivera em uma batalha de gladiadores. Poucos<br />

demônios tinham acesso à elite das competições. Tampouco se permitia que<br />

participassem dela. Aqueles que saíam vivos passavam a ser temidos e respeitados por<br />

todos. Havia guerreiros que recebiam o título de mestres.<br />

— Viper esteve na Batalha de Durotriges?<br />

— E viveu para contar a história. Impressionante. - Levet observou a amiga.<br />

— Um demônio esperto jamais ousaria irritar tal campeão.<br />

O simples fato de Levet estar certo aprofundou a raiva de <strong>Shay</strong>. Mesmo se fosse<br />

uma legítima shalott, não levaria a melhor sobre um chefe de clã.<br />

<strong>De</strong> alguma forma isso a irritava demais.<br />

— Lembre-me por que me dei ao trabalho de libertá-lo... O rosto miúdo do<br />

gárgula ganhou uma expressão de extrema seriedade.<br />

— Porque não aguenta mais ver ninguém torturado... Mesmo que isso signifique<br />

sacrificar a si própria.<br />

<strong>Shay</strong> desviou o olhar, embaraçada. Não era uma santa.<br />

Longe disso.<br />

O fato é que tinha poucos amigos, mas estes lhe eram preciosos. Quando<br />

encontrava alguém que a aceitava como era, valorizava essa amizade. Assim, não se<br />

importara em se arriscar a enfrentar a fúria de Evor para tentar libertar Levet.<br />

Viper surgiu das sombras de repente e ela segurou o ar. Era uma beleza de<br />

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vampiro.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Procurou afastar as sensações que ele lhe provocava.<br />

— Encontrou Evor?<br />

— Não precisamente.<br />

— Como assim?<br />

— Penso que deva ver com seus próprios olhos. Talvez possa nos ajudar a<br />

descobrir o que aconteceu.<br />

<strong>Shay</strong> hesitou apenas um momento antes de seguir o vampiro para dentro da casa<br />

de leilão. Não tinha dúvida de que veria alguma coisa horrível. Algo que provavelmente<br />

lhe daria pesadelos.<br />

Mas, mesmo enquanto pensava nisso, não se livrara de todo da ridícula sensação<br />

de calor que sentia simplesmente por estar com Viper.<br />

Droga. Era escrava daquele vampiro. Mas ele a fazia se sentir como se fosse<br />

alguma outra coisa. Alguma coisa de valor. Bem lá no fundo, sabia que essas sensações<br />

que ele lhe provocava eram mais perigosas que estar presa em uma cela e ser<br />

torturada diariamente.<br />

Voltando a cabeça para se assegurar que Levet os seguia, ela deixou que Viper a<br />

levasse para dentro da casa escura, e subisse as escadas para os aposentos<br />

particulares de Evor. Quando ele abriu a porta, ela quase desmaiou diante da cena.<br />

Esperara ver algo ruim, mas aquilo ia além do que poderia ter imaginado.<br />

Tampou a boca com a mão, enquanto lutava para não devolver toda a comida que<br />

ingerira antes. A sala antes elegante estava agora coberta por pedaços de trolls.<br />

Sangue, membros e partes do corpo que não deveriam nunca ser vistas, estavam<br />

misturadas de tal forma, que era impossível saber quantos haviam morrido no ataque.<br />

Forçando-se a analisar cuidadosamente o pesadelo, deteve o olhar na cabeça de<br />

um troll que tinha sido enfiada em um pilar de mármore, como se fosse um troféu. Os<br />

olhos vermelhos estavam abertos, assim como a boca, os dentes arreganhados como se<br />

estivesse, no momento de sua morte, amaldiçoando a alma de seu assassino.<br />

Nada, porém, o tinha salvado. Nem aos outros seguranças. Eles haviam sido<br />

mortos e feitos em pedaços.<br />

Uma onda de náusea voltou a atacá-la.<br />

Pegando-a pelo braço, Viper a tirou do quarto e fechou a porta. Então, como se<br />

sentisse sua fraqueza, ele a fez se sentar em uma cadeira.<br />

— Há poucas criaturas que podem matar trolls com tanta selvageria. - Ele a<br />

observou com atenção.<br />

— Consegue captar alguma coisa que possa nos ajudar a identificar quem foi o<br />

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esponsável por isso?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Com um enorme esforço, ela se endireitou e tentou pensar com lógica.<br />

— Não foi um humano. Eles não têm força para cortar um troll ao meio.<br />

— Foi um feitiço?<br />

— Não. - Ela respirou profundamente.<br />

— Não há mágica no ar.<br />

Viper balançou a cabeça. Um vampiro não tinha habilidade de sentir mágica. Uma<br />

das razões que o levara a querê-la por perto.<br />

—<strong>De</strong>ve ter sido arte de um demônio que possui uma força incrível, além de<br />

habilidade para se mascarar na presença de vampiros - murmurou, preocupado.<br />

— Isso encurta a lista, mas ainda restam suspeitos demais.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio. O ataque selvagem a tinha abalado, mas agora ela<br />

começava a se recompor.<br />

— Oh, <strong>De</strong>us...<br />

Viper tocou de leve em seu ombro.<br />

— Eu não devia tê-la feito ver isso. Perdoe-me. <strong>Shay</strong> sacudiu a cabeça.<br />

— Não é isso. É Evor.<br />

— Evor? - Viper logo compreendeu:<br />

— Ele não estava entre os mortos.<br />

— Obviamente não. - Ela soltou uma risada nervosa.<br />

— Se Evor estivesse nesse quarto...<br />

— Ele está vivo, assim como você.<br />

— Sim, mas podia não estar.<br />

Viper olhou em direção à porta do quarto.<br />

— Precisamos descobrir quem fez isso, e para onde Evor foi levado.<br />

<strong>Shay</strong> fez uma careta ao pensar no troll nojento.<br />

— Sem dúvida estava escondido atrás de alguma coisa no momento em que a<br />

chacina começou. Ele sempre fica feliz em sacrificar os seus criados para salvar a<br />

própria pele.<br />

— Ele estava aqui. - O olhar de Viper era sério.<br />

— Seu sangue está misturado com o dos outros.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos e procurou se afastar de Viper. Ele pudera cheirar o<br />

sangue de Evor. Era um vampiro.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Quer dizer que alguém, ou alguma coisa, veio aqui esta noite, matou os trolls e<br />

feriu Evor? Por quê?<br />

— É coincidência demais que esse ataque tenha acontecido logo após você ter<br />

sido vendida. Quem quer que a esteja caçando, voltou à casa de leilão.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu a garganta seca.<br />

— Para matar Evor?<br />

— Se quisesse Evor morto, já teria feito isso. Ou ele escapou durante a batalha,<br />

ou eles vieram para pegá-lo vivo.<br />

— Mas, por quê?<br />

— Para usá-lo como isca. - A voz de Levet soou inesperadamente, e tanto <strong>Shay</strong><br />

como Viper se voltaram para o gárgula, surpresos.<br />

— Se pegaram o troll, podem ameaçar de cortar a garganta dele e, assim, matar<br />

vocês dois. <strong>Shay</strong> não teria escolha, a não ser fazer o que exigissem.<br />

Ela sentiu um peso enorme no coração. Droga, já havia sido horrível estar sob o<br />

poder de Evor. Agora ainda tinha de se preocupar que seu misterioso inimigo não<br />

fizesse o troll em pedaços.<br />

Voltou-se para Viper. Respeitava a sua linha de pensamento.<br />

— Acha que é isso o que eles querem?<br />

— Penso que seria tolice chegarmos a qualquer conclusão antes de termos mais<br />

fatos. E, claro, precisamos sair logo daqui.<br />

<strong>Shay</strong> procurou apagar da memória a imagem da chacina, uma tarefa quase<br />

impossível, enquanto Viper a levava em direção às árvores.<br />

— Antes de deixarmos este lugar, há outras coisas que queira pegar de volta?<br />

— Há demônios presos nas masmorras. Viper arqueou a sobrancelha.<br />

— Também são seus amigos?<br />

— Nem sei quem está por detrás das grades. Mas com os trolls mortos e Evor<br />

desaparecido, eles podem ficar trancados naquelas celas por uma eternidade. Isso é<br />

pior que tortura.<br />

— Mas eles podem ser perigosos.<br />

<strong>Shay</strong> não duvidara por um minuto que fossem extremamente perigosos.<br />

— Não podemos deixá-los lá.<br />

— Santiago.<br />

O vampiro surgiu por detrás das árvores.<br />

— Sim, mestre?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Vá à masmorra e solte os prisioneiros.<br />

— Sim, mestre.<br />

Não houve um instante de hesitação, e o silencioso vampiro sumiu na escuridão.<br />

Viper esperaria dela igual submissão? <strong>Shay</strong> se perguntou.<br />

— Acha seguro ele ir sozinho? Ele deu de ombros.<br />

— Santiago é um vampiro.<br />

Que arrogância! - ela pensou, cerrando os dentes.<br />

— Muito bem, podemos ir?<br />

Ouviram um bater de asas: sinal de que Levet estava nervoso.<br />

— <strong>Shay</strong>, e quanto a mim?<br />

— Viper? - Ela se voltou para o vampiro, sem saber como fazer o pedido.<br />

— Não podemos deixar Levet aqui. Ele foi expulso de seu clã.<br />

Ele franziu o cenho.<br />

— Está me pedindo que eu o tome sob minha proteção? Ela ignorou a batida<br />

agitada de seu coração.<br />

— Sim.<br />

— E qual será a minha recompensa por tal generosidade?<br />

— <strong>Shay</strong>, não! - Levet gritou.<br />

Ela ignorou o alerta de seu amigo e enfrentou o olhar do vampiro.<br />

— O que você iria querer de mim?<br />

— Bem, esta não é uma pergunta que possa ser respondida de imediato. Há tanto<br />

que quero de você... - ele murmurou, chegando mais perto.<br />

— Talvez eu apenas possa lhe pedir um vale por enquanto.<br />

<strong>Shay</strong> umedeceu os lábios.<br />

— Quer que eu fique lhe devendo um favor?<br />

— Estaria em débito comigo. Um débito que eu poderia cobrar no momento em<br />

que eu quisesse.<br />

— Não faça isso, <strong>Shay</strong>! - Levet exclamou.<br />

— Nunca barganhe com um vampiro.<br />

<strong>Shay</strong> sabia dos riscos que corria. Os demônios sabiam que os vampiros distorcem<br />

as palavras. Mas o que tinha a perder?<br />

— Podemos negociar?<br />

— Isso depende. O que me oferece?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O débito não pode envolver sangue nem sexo. Viper caiu na risada enquanto<br />

baixava a cabeça para o pescoço de <strong>Shay</strong>. Seus lábios deslizaram sobre a pele quente<br />

e lhe provocaram arrepios na espinha.<br />

— Acaba de eliminar dois de meus maiores desejos.<br />

— Sou uma guerreira treinada.<br />

— Já tenho muitos guerreiros.<br />

— Que podem andar durante o dia?<br />

— Alguns. O que mais tem a oferecer? <strong>Shay</strong> sentiu os joelhos amolecerem.<br />

— Aprendi a fazer um bom número de poções enquanto estive com as bruxas.<br />

Viper aumentou o sorriso.<br />

— Intrigante, mas dificilmente cobre um débito. Talvez sentindo que ela<br />

hesitava, Levet soltou um alto grunhido.<br />

— Não faça isso, <strong>Shay</strong>.<br />

Viper sentiu a curiosidade aumentar.<br />

— Eu... - <strong>Shay</strong> engoliu em seco.<br />

— Meu pai era um Lumos. Curava pessoas de nossa tribo. Seu sangue pode curar<br />

tudo menos a morte.<br />

Viper a olhou, curioso.<br />

— E você?<br />

— Herdei dele essa bênção. Algo surgiu nos olhos negros.<br />

— Muito útil, claro - comentou Viper.<br />

— Um presente raro, na verdade. Mas dificilmente um vampiro necessitaria disso.<br />

— Mesmo imortais podem ser feridos - lembrou <strong>Shay</strong>.<br />

— Minha mãe me disse que foi por isso que meu pai foi morto. Seu sangue foi<br />

usado para salvar a vida de um vampiro.<br />

— Um vampiro? Tem certeza?<br />

— Tenho.<br />

— Estranho que eu não tenha ouvido tais rumores. Bem, o que, precisamente, você<br />

está me oferecendo?<br />

— Se você for ferido, eu lhe darei o sangue necessário para curá-lo sem lhe<br />

cobrar nada. Estamos de acordo?<br />

As feições de Viper suavizaram.<br />

— Uma barganha...<br />

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— Sem sangue e sem sexo.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não preciso barganhar por sangue ou sexo. Estará me dando ambos com<br />

entusiasmo daqui a muito pouco tempo.<br />

Ele a beijou, impedindo que argumentasse. E foi o tipo de beijo que toda mulher<br />

sonha em receber: quente, exigente. Santiago apareceu nesse momento.<br />

— Santiago cumpriu a minha ordem... Viper falou com um suspiro.<br />

— Melhor irmos embora antes que os que ele tenha libertado resolvam vir aqui<br />

para nos matar.<br />

<strong>Shay</strong> aquiesceu. Claro que ele tinha razão.<br />

Os pensamentos de Viper foram desviados quando se aproximavam de sua casa,<br />

nos arredores de Chicago, embora ele preferisse continuar concentrado no aroma do<br />

corpo de <strong>Shay</strong>, sentada bem ao lado dele. A distração veio da certeza de que algo<br />

poderoso continuava caçando a sua shalott. Algo tão vicioso, que talvez não houvesse<br />

como protegê-la.<br />

O pensamento encheu seu coração de um medo que ele não conseguia identificar.<br />

Mas, mesmo perturbado, sentiu uma presença estranha em sua casa, no momento<br />

em pisou no chão da cozinha.<br />

— Alguém está aqui. - Rapidamente, puxou <strong>Shay</strong>, protegendo-a com o corpo.<br />

— Santiago, dê uma olhada nos jardins e verifique se não temos convidados<br />

inesperados.<br />

Aguardou que o vampiro desaparecesse, antes de levantar a cabeça e testar o ar.<br />

Somente quando teve certeza de que não era um perigo imediato, foi que se voltou<br />

para <strong>Shay</strong>.<br />

Não havia sinal de medo nas feições dela.<br />

— Creio que seja melhor seguir direto para o seu quarto e trancar a porta.<br />

Ela cerrou as sobrancelhas e a expressão de seu rosto denunciou teimosia: uma<br />

característica dela com a qual Viper começava a se familiarizar.<br />

— Shalotts são guerreiras. Não nos escondemos atrás de portas trancadas.<br />

Ele abriu um sorriso.<br />

— Não duvido de suas habilidades em batalha, querida, mas nosso intruso é um<br />

vampiro. Não gostaria de ser forçado a matar alguém de meu clã porque ele a achou<br />

irresistível.<br />

<strong>Shay</strong> abriu a boca e depois a fechou, terminando por concordar com um gesto de<br />

cabeça. Ela detestava parecer covarde, mas odiava mais ainda a chance de encontrar<br />

outro vampiro.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Seguiu para o quarto, acompanhada de perto pelo gárgula, repetindo a si mesma<br />

que tinha todo o direito não confiar em vampiros. Era um preconceito de que não se<br />

livraria tão cedo.<br />

Viper seguiu o cheiro de seu visitante até os fundos da casa. Não se surpreendeu<br />

quando, ao entrar no escritório, encontrou o vampiro sentado calmamente à sua<br />

escrivaninha. <strong>De</strong> todos os membros de seu clã, Dante era com quem ele tinha mais<br />

afinidade. Recentemente haviam lutado lado a lado contra as bruxas, para libertar a<br />

Fênix, a <strong>De</strong>usa da Luz, que protegia o mundo do príncipe da escuridão.<br />

Fora então que ele conhecera <strong>Shay</strong>. Não sabia se deveria agradecer o amigo, ou<br />

acabar com ele por tê-lo envolvido na luta. Afinal, desde que conhecera <strong>Shay</strong>, não<br />

sabia mais o que era paz.<br />

Seguiu direto para o bar e se serviu de uma garrafa de sangue. Era um pobre<br />

substituto para o poder mágico que conseguiria com o sangue de <strong>Shay</strong>, mas, por hora,<br />

restauraria suas energias.<br />

Observando os movimentos do amigo, Dante sorriu levemente.<br />

— Boa noite, Viper.<br />

Apoiando as costas no bar, Viper cruzou os braços.<br />

— Vejo que está se sentindo em casa, apesar de saber que nunca recebo ninguém<br />

aqui.<br />

O sorriso aumentou.<br />

— Tem sorte de ser eu a estar sentado aqui e não Abby. Ela se irritou ao saber<br />

que você comprou uma mulher. - Dante apertou os olhos.<br />

— E não uma mulher qualquer, mas a que lhe salvou a vida.<br />

Viper não duvidava de que Abby o torrasse vivo se pensasse que ele estivesse<br />

cometendo uma injustiça. Ninguém com bom senso desejaria tê-la como inimiga.<br />

Mesmo assim, ele era chefe de seu clã. Um líder entre vampiros. Não tinha de<br />

dar satisfação de seus atos a ninguém.<br />

— Quando telefonei para dizer que tinha comprado a shalott, foi só para lhe<br />

pedir ajuda para descobrir quem a está perseguindo. Não pedi sua opinião sobre meus<br />

assuntos pessoais.<br />

Dante deu de ombros.<br />

— Você vive dando palpites sobre a minha vida.<br />

— Palpites podem ser ignorados. Exatamente o que pretendo fazer. Agora, se foi<br />

para isso que veio aqui...<br />

Dante levantou-se da cadeira, os olhos brilhando.<br />

— Viper, qual é o seu jogo?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Ele colocou de lado a garrafa vazia.<br />

— Não há jogo algum.<br />

— Mas você sempre condenou aqueles que pretendiam capturar ou vender um<br />

vampiro em seu território.<br />

— <strong>Shay</strong> não é um vampiro.<br />

— Abby não vai sossegar até que tenha certeza de que você não pretende fazer<br />

nenhum mal a shalott.<br />

Viper caiu na risada.<br />

— Pelo menos você é honesto. Mas me diga, Dante, sua linda esposa preferiria que<br />

eu tivesse deixado alguém comprar <strong>Shay</strong> e a usasse como prostituta? Ou talvez como<br />

um troféu para ser pendurado em uma parede da casa de um caçador de demônios?<br />

— Ela preferiria que você a libertasse.<br />

E permitir que <strong>Shay</strong> lhe escapasse como havia feito depois da luta contra as<br />

bruxas? Apenas sobre seu cadáver.<br />

— Impossível - resmungou Viper, decidido.<br />

— Recebi um amuleto que a força a se apresentar a mim, mas a praga está ainda<br />

sob o controle de Evor, o troll mercador de escravos que, aliás, desapareceu.<br />

Dante estreitou o olhar.<br />

— O que está dizendo?<br />

Resumindo, Viper revelou o que tinha descoberto na casa de leilões. <strong>De</strong>screveu<br />

com detalhes a mutilação dos trolls. Talvez Dante reconhecesse alguma coisa sobre o<br />

ataque, o que ajudaria na identificação do responsável.<br />

— Tem certeza de que se trata de um demônio? - Dante perguntou.<br />

— O que mais podia ser?<br />

— Um bruxo, talvez?<br />

Viper escondeu um sorriso. Quem podia culpar o amigo por ter tanta suspeita de<br />

bruxos? Ter enfrentado mais do que um atentando contra sua vida acabava levando a<br />

isso.<br />

— <strong>Shay</strong> não captou mágica alguma. Dante sacudiu a cabeça.<br />

— Se fosse um demônio, saberia. Há poucos que podem esconder o seu cheiro de<br />

um vampiro.<br />

— Um Hunding, um Irra, talvez um Napchut.<br />

— Eles são poderosos o suficiente para destruir um ninho de trolls?<br />

Essa era uma pergunta que vinha atormentando Viper desde que vira os trolls<br />

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destroçados no quarto.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Um guerreiro Lu seria - lembrou, sério.<br />

Dante estremeceu e Viper não podia culpá-lo. Estavam falando do maior tormento<br />

do mundo dos demônios. Um pesadelo que se arrastava pela terra para devorar quem<br />

surgisse em seu caminho.<br />

— Os Lu não têm sido vistos há muito séculos - Dante argumentou.<br />

— Tampouco os shalotts.<br />

— É verdade. - A expressão no rosto de Dante ficou pesada.<br />

— Um vampiro, mesmo um chefe de clã, não seria forte o suficiente para<br />

derrotar um Lu. Os dentes dele são capazes de arrancar as cabeças até dos imortais.<br />

— Não pretendo me ver sob ataque de qualquer demônio. - Viper sorriu.<br />

— A não ser que esse atacante esteja sem roupas em minha cama. Dante estalou<br />

a língua.<br />

— <strong>De</strong>ixe de brincadeiras. Sua escrava despertou a atenção de um inimigo muito<br />

perigoso. Você faria melhor se a passasse adiante.<br />

— Lembro-me de lhe ter dito as mesmas palavras tempos atrás.<br />

— Abby é minha companheira. Pertence a mim e eu daria a minha vida para<br />

protegê-la. Mas por que você se arriscaria pela shalott?<br />

Viper não queria explicar a fascinação que sentia por <strong>Shay</strong>. Nem mesmo para<br />

Dante. Nem para si mesmo.<br />

— E um assunto meu. Dante ficou pensativo por uns instantes.<br />

— Como queira. Mas eu estou avisando: Abby não vai sossegar enquanto não tiver<br />

certeza de que <strong>Shay</strong> não está sendo torturada.<br />

Viper cerrou os dentes. Ele era o chefe de seu clã. Um chefe que detinha o poder<br />

sobre milhares de vampiros e demônios.<br />

Mas ele sabia que era bobagem argumentar com uma mulher. Ainda mais sendo a<br />

Fênix.<br />

— E o que pode fazer Abby sossegar?<br />

— Ela quer que <strong>Shay</strong> passe um dia com ela. Eu disse um dia, não uma noite, veja<br />

bem.<br />

— Para que eu não possa interferir?<br />

— Em parte. - Um sorriso surgiu nos lábios do outro vampiro.<br />

— Mas, na verdade, creio que Abby queira a companhia de outra mulher. Apesar<br />

de ser uma deusa, ainda é humana o suficiente para querer fazer coisas que somente<br />

as mulheres gostam: como compras e fofocas regadas a um café.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper fez uma expressão de horror.<br />

— Pelo sangue dos justos, por quê?<br />

— Isso, velho amigo, é uma pergunta que está além da lógica de um vampiro.<br />

Viper mordeu o lábio. Ele não queria dividir <strong>Shay</strong> com ninguém.<br />

Mas, infelizmente, não podia se esquecer da sombra de tristeza que havia nos<br />

olhos de sua shalott. Tampouco de sua determinação em salvar o gárgula.<br />

Ela se sentia solitária. Profundamente solitária.<br />

— Eu passarei a <strong>Shay</strong> o convite de Abby. Ela decidirá se quer ir ou não.<br />

Dante pareceu levemente surpreso.<br />

— Ela não é sua escrava?<br />

— Digamos que seja minha hóspede.<br />

— Você sabia que ela estaria à venda quando foi ao leilão? A paciência de Viper<br />

chegou ao fim.<br />

— Penso que é hora de você voltar à sua amável mulher. Algo na expressão de<br />

Viper deixou claro a Dante que ele não deveria insistir.<br />

— Viper, você é mais do que o chefe de meu clã, você é meu amigo. Se precisar de<br />

ajuda, quero que me prometa que vai me chamar.<br />

— E ter a fúria da Fênix atrás de mim por ter colocado a shalott em perigo? -<br />

Viper balançou a cabeça.<br />

— Não sou tão estúpido.<br />

— Ninguém se sente tão em débito com você como Abby. Ela usará os seus<br />

próprios poderes para mantê-lo em segurança.<br />

— E que poderes.<br />

Dante olhou firme para o amigo.<br />

— Vai me chamar ou não?<br />

Viper ficou um instante em silêncio, mas terminou concordando. Dante era tão<br />

teimoso quanto ele. Não sairia dali sem a promessa.<br />

— Eu chamarei.<br />

Dante deu um passo para trás e se curvou respeitosamente diante de Viper.<br />

— A promessa foi feita, mestre. - Ele endireitou o corpo e seus olhos brilharam.<br />

— Dê um beijo por mim e por Abby em sua shalott.<br />

Viper balançou a cabeça.<br />

— Quando estiver beijando <strong>Shay</strong>, eu lhe asseguro que não será por você nem por<br />

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ninguém.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Com uma risada, Dante saiu do aposento pela janela.<br />

Viper serviu-se de um conhaque e ficou andando de um lado a outro da sala. O<br />

amigo tinha dito a verdade. <strong>Shay</strong> estava sendo perseguida por um inimigo que poderia<br />

colocar a vida dele em risco. A sabedoria o mandava se livrar dela e jogar o maldito<br />

amuleto no rio mais próximo... O que valeria o risco de ser morto? E, pior que isso,<br />

poderia condenar à morte membros de seu clã?<br />

Tomou um gole do conhaque sabendo que a resposta para as suas perguntas<br />

poderia ser mais assustadora do que seu oculto inimigo.<br />

Cerca de duas horas mais tarde, Viper subiu as escadas para o segundo andar.<br />

Tentara, com ênfase, afastar seus pensamentos da linda mulher que enchia a casa<br />

inteira com um doce perfume. Pesquisara em sua biblioteca tudo sobre demônios, para<br />

ver se chegava a alguma explicação quanto à chacina dos trolls. Entrara em contato<br />

com seus vários negócios, querendo se assegurar se houvera ou não inesperados<br />

problemas. Fizera pessoalmente uma inspeção nos jardins para falar com seus guardas<br />

e se certificar de que tudo estava sob controle.<br />

Mas, por fim, não tinha conseguido impedir que o desejo falasse mais alto. Queria<br />

ver <strong>Shay</strong>, escutar sua voz, tocar sua pele macia.<br />

Ou, pelo menos, estar perto dela. E isso era patético.<br />

Aproximando-se do quarto, deu com o pequeno gárgula dormindo no chão, junto à<br />

porta. Obviamente estava ali como guardião. Um pensamento que poderia irritá-lo, mas<br />

não. Ele valorizava a lealdade aos amigos. Era mais fácil lutar contra um guerreiro<br />

perigoso do que contra um amigo protegendo um companheiro. Alguém disposto a<br />

morrer pelo outro o transformava em um perigoso inimigo.<br />

Aproximou-se do gárgula, que se levantou e endireitou o corpo. Podia não ter o<br />

tamanho de um gárgula normal, mas continuava com seu orgulho.<br />

— Há um bom número de quartos nesta casa - Viper disse.<br />

— Tenho certeza de que estaria bem mais confortável em algum deles.<br />

— Procurarei um quarto quando amanhecer. Até lá permanecerei aqui.<br />

— Ah, está no posto de sentinela.<br />

O tom era suave, mas o gárgula pareceu se ofender.<br />

— Acredita que eu não consiga proteger <strong>Shay</strong>?<br />

— Ao contrário, acredito que provaria ser um adversário muito perigoso.<br />

Felizmente, não há necessidade de se preocupar com isso, esta noite. Meu visitante já<br />

foi embora e a casa está em segurança.<br />

— Mas você permanece aqui.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper arqueou a sobrancelha. Havia poucos demônios que teriam coragem de<br />

confrontá-lo assim, tão diretamente.<br />

— Não sou ameaça alguma, meu pequeno guerreiro.<br />

— Sugere que <strong>Shay</strong> está em segurança em suas mãos?<br />

— Paguei uma grande soma por ela. Sou um negociante esperto o suficiente para<br />

não jogar fora uma fortuna em algo que pretendesse destruir.<br />

Os olhos cinzentos se estreitaram.<br />

— Perguntei se ela estaria segura.<br />

Viper sorriu lentamente. Levet sabia da fome que fluía em suas veias.<br />

— Ela está sob minha proteção. Não represento um perigo para ela, e não<br />

permitirei que alguém a machuque enquanto eu tiver poder suficiente para mantê-la<br />

em segurança.<br />

O gárgula ficou pensativo por um longo momento.<br />

— Você prometeria isso?<br />

A exigência pegou Viper desprevenido.<br />

— Aceitaria a promessa de um vampiro?<br />

— Aceitaria a promessa de um chefe de clã. Inconscientemente, Viper tocou no<br />

dragão tatuado em seu peito. Havia se esquecido que gárgulas eram tão sensíveis aos<br />

símbolos.<br />

— Tem a minha promessa.<br />

— Ótimo. - Levet balançou a cauda.<br />

— Vou deixar <strong>Shay</strong> aos seus cuidados e encontrar alguma coisa para comer.<br />

— Há bastante comida na cozinha.<br />

— Estou cansado dessa comida de humanos.<br />

— Pretende caçar? - Viper ergueu as sobrancelhas bem desenhadas.<br />

— Claro. Faz tempo que não faço isso.<br />

— Pois eu lhe sugiro que fique por perto da casa, até que possamos identificar<br />

quem está atrás de <strong>Shay</strong>.<br />

O gárgula deu de ombros.<br />

— Já está muito próximo do amanhecer para eu ir muito longe.<br />

— E nem humanos nem vampiros devem estar no seu cardápio - Viper observou<br />

com voz séria.<br />

— Saerebleu. Tenho cara de quem come humanos ou vampiros?<br />

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Viper escondeu um sorriso.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Prefiro que as regras estejam claras.<br />

Levet balançou as asas e seguiu direto para as escadas, praguejando em francês,<br />

mas ficou claro para Viper que os xingamentos eram contra ele.<br />

Oh, o que isso importava? Eleja fora chamado antes por nomes piores. E<br />

provavelmente seria de novo.<br />

Colocou a mão na maçaneta da porta. Sem dúvida a mulher o esperava.<br />

<strong>Shay</strong> andou de um lado para o outro antes de ter a certeza de que não seria<br />

atacada. Obviamente o vampiro aparecera para uma visita, não para um pequeno<br />

lanche.<br />

Ainda bem. Ela já vira sangue demais por um dia.<br />

Confiante de que Viper devia estar entretido com sua visita, ela havia tomado um<br />

banho. <strong>De</strong>spira-se e entrara debaixo do chuveiro, como se pudesse varrer da mente as<br />

imagens horríveis dos trolls chacinados.<br />

Tinha suspirado profundamente ao sentir a água morna. E mais uma vez ao<br />

descobrir a variedade enorme de sabonetes e óleos que se alinhavam em uma<br />

prateleira de vidro, junto ao chuveiro.<br />

Nunca havia desfrutado tais luxos, pensou, enquanto lavava seus longos cabelos<br />

com xampu de flores. Terminado o banho, tinha se enrolado em uma toalha, certa de<br />

que encontraria Levet deitado na cama dela.<br />

Encontrou alguém... mas não era o gárgula.<br />

O belo vampiro levantou-se imediatamente quando a viu.<br />

— O que veio fazer aqui?<br />

Viper deslizou os olhos pelo corpo de <strong>Shay</strong>, sorrindo levemente.<br />

— Eu pensei que gostaria de saber que meu visitante já foi embora.<br />

— Se isso for tudo...<br />

— Minha governanta deixou jantar para você na cozinha.<br />

— Oh, obrigada. - <strong>Shay</strong> comprimiu os lábios.<br />

— <strong>De</strong>scerei mais tarde.<br />

O olhar de Viper voltou ao corpo de <strong>Shay</strong> e se deteve nos seios sob a toalha<br />

úmida. O sorriso dele aumentou quando percebeu os mamilos reagindo ao seu olhar.<br />

— Certamente você está com fome. Eu sei que tem um bom apetite.<br />

<strong>Shay</strong> procurou se afastar de Viper o mais rápido possível.<br />

— Dificilmente poderia ir como estou agora. Ele riu.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Por que não? Eu não me importo, garanto...<br />

— Mas eu sim.<br />

— Muito bem. - Ele caminhou até o armário e de lá tirou um roupão, que estendeu<br />

a ela.<br />

— Você disse que nunca recebia ninguém nesta casa.<br />

— Não recebo. - Viper abriu um armário repleto de peças femininas.<br />

— As roupas são suas.<br />

<strong>Shay</strong> olhou a coleção de vestidos, admirada.<br />

— Minhas?<br />

— Pensou que eu a manteria nua em uma cela?<br />

— Eu... - Ela balançou a cabeça e caminhou até o armário. Havia jeans, camisetas,<br />

calças compridas, suéteres e trajes sofisticados que a deixaram com água na boca.<br />

Nunca em sua vida possuíra tanta roupa. E, certamente, não tão caras.<br />

— Não esperava que tivesse me comprado um guarda-roupa completo.<br />

— Comprei apenas o trivial. <strong>De</strong>pois pode comprar o que quiser. - Ele parou e<br />

suspirou profundamente.<br />

— Falando nisso, Abby quer fazer compras na sua companhia.<br />

— Abby?<br />

— Você a conheceu quando lutávamos contra as bruxas. <strong>Shay</strong> ficou confusa.<br />

— Está se referindo à Fênix?<br />

— Acredito que ela prefira ser chamada de Abby. <strong>Shay</strong> se apoiou no guardaroupa<br />

com as pernas fracas. Não fazia sentido o que Viper estava dizendo.<br />

— Mas... por quê? Por que ela se lembraria de mim? Ele deu de ombros.<br />

— Você a ajudou a derrotar as feiticeiras.<br />

— Não fiz nada disso.<br />

— Resistiu às ordens das bruxas que a mandaram capturar a Fênix. Foi espancada<br />

quase até a morte, mas se recusou a ajudá-las. Também lutou ao lado da Fênix contra<br />

Edra. - A expressão no olhar de Viper era de seriedade.<br />

— Ela nunca se esquece de coisas assim. Nem Dante.<br />

Bem, tinha sido verdade que ela desobedecera às bruxas que queriam usar a<br />

Fênix como instrumento para matar demônios.<br />

— Isso dificilmente nos torna amigas - ela resmungou. Viper sorriu.<br />

— Diga isso a Abby. Ela parece pensar que as experiências que vocês duas<br />

tiveram lhe dão não só o direito de chamá-la de amiga, como de querer ter certeza de<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

que não está sendo maltratada sob o meu teto.<br />

Abby sentiu algo estranho dentro dela. Algo que parecia um pouco com medo.<br />

— Ela sabe quem eu sou?<br />

— O quê?<br />

— Ela sabe que sou um demônio?<br />

Viper hesitou, escolhendo as palavras com cuidado.<br />

— Ela sabe que você tem dentro de si o sangue de uma shalott.<br />

— E mesmo assim quer ir comigo às compras?<br />

— Somente se você quiser. Tenho certeza de que poderá mudar os planos para<br />

algo que você prefira. Ele agora estava bem ao lado de <strong>Shay</strong>, mas não a tocava.<br />

— O que foi, <strong>Shay</strong>? Eu disse alguma coisa que a tenha aborrecido?<br />

— Não sei o que ela quer de mim. Sou um demônio. Ele soltou uma risada.<br />

— Abby tampouco é humana.<br />

— Não, ela é uma deusa.<br />

— Uma deusa, talvez, mas também uma mulher que batalhou contra as bruxas<br />

para salvar todos os demônios, e que agora está casada com um vampiro. Ela não tem<br />

preconceitos contra ninguém, se for isso o que teme.<br />

Seria isso o que ela temia?<br />

A verdade é que não confiava em Abby. Não quando ela oferecia algo tão raro<br />

como amizade. A experiência lhe ensinara que tais oferecimentos nunca vinham de<br />

graça. Usualmente o preço era um que ela não queria pagar.<br />

Sentindo-se sobre o intenso olhar de Viper, <strong>Shay</strong> suspirou profundamente.<br />

— Nunca antes alguém me convidou a fazer compras. Ele continuou sem tocá-la,<br />

no entanto pegou a escova e começou a lhe pentear os cabelos.<br />

— Você disse que sua mãe a criou como uma humana. A voz dele era suave e gentil<br />

e isso a deixou mais inquieta.<br />

— Infelizmente, isso foi há muito tempo.<br />

— E você se passava por humana?<br />

<strong>Shay</strong> franziu o cenho. Ela tentara muito parecer uma humana e pertencer à sua<br />

comunidade.<br />

— Não.<br />

Ele deteve a escova.<br />

— Mas você parece humana.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> nunca falara antes sobre seu passado. Com ninguém. Mas naquele silêncio<br />

cheio de paz que os rodeava, e diante da ternura com que ele escovava seus cabelos,<br />

ela começou a falar:<br />

— Posso parecer humana, mas não envelheço como uma mortal. Minha mãe e eu<br />

estávamos sempre nos mudando para que ninguém notasse que eu não ia me<br />

desenvolvendo como devia.<br />

— Lembrar-se da mãe fez com que <strong>Shay</strong> sentisse uma dor profunda no coração.<br />

— Certamente um problema, mas não insuperável.<br />

— Talvez não. Mas havia também a minha força e a minha agilidade. Não havia<br />

nada de humano nelas.<br />

Viper deteve a escova mais uma vez.<br />

— As outras crianças tinham medo de você?<br />

— Muito.<br />

— Crianças podem ser muito cruéis. <strong>Shay</strong> colocou as mãos no colo.<br />

— Não tão cruéis quanto seus pais. No decorrer do tempo tivemos nossas casas<br />

incendiadas, pedras atiradas contra nós, e padres tentando exorcizar o demônio que<br />

havia dentro de mim. Cheguei a ser enforcada uma noite.<br />

— Enforcada?<br />

— Um grupo me tirou da cama e me pendurou pelo pescoço em uma árvore de<br />

nosso quintal. Você pode imaginar a surpresa deles quando eu fui procurá-los na manhã<br />

seguinte.<br />

Seguiu-se um longo silêncio, como se Viper estivesse pensando naquilo que<br />

acabara de ouvir. O modo como escovava os cabelos de <strong>Shay</strong> era extremamente gentil.<br />

E ela sentiu que ele parecia frustrado.<br />

Estranho.<br />

— E por que sua mãe não pediu ajuda aos demônios? - ele quis saber por fim.<br />

Ela voltou a cabeça e o olhou de frente.<br />

— Meu pai tinha sido morto por um vampiro. Ela estava tentando me esconder dos<br />

demônios.<br />

O olhar dele escureceu.<br />

— Há demônios que teriam lhe oferecido um santuário, <strong>Shay</strong>. Nem todos são<br />

animais.<br />

— Minha mãe era humana. Não sabia em quem confiar. - Subitamente, os olhos<br />

dela se encheram de lágrimas.<br />

— Também não sei.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— <strong>Shay</strong>... - Ele largou a escova e tomou o rosto dela nas mãos.<br />

Ela se esqueceu de como respirar enquanto observava Viper inclinar a cabeça. Ele<br />

se movia bem devagar. O suficiente para que ela soubesse que lhe estava sendo dada a<br />

oportunidade de dizer "não".<br />

Estremeceu e Viper se deteve, como se esperasse ser incentivado. Mas enquanto<br />

a mente dela tentava desesperadamente se lembrar que era um vampiro que a tocava -<br />

um vampiro que a comprara e a possuía como se fosse um objeto - seu corpo<br />

permanecia indiferente ao bom senso.<br />

Precisava sentir o toque de Viper. Não, ela ansiava por seu toque... Pelo gosto de<br />

seus lábios, pelo roçar de suas peles, pela carícia que ele faria em seus seios. Nunca<br />

entendera antes como uma mulher podia permitir que a seduzissem.<br />

Naquele momento, porém, compreendeu o poder do desejo; a necessidade de<br />

tocar e ser tocada, não importando se isso era ou não certo.<br />

— Tem de me dizer "sim" - ele murmurou suavemente.<br />

— Não quero ser acusado de ter quebrado minha promessa. Oh, a voz dele era<br />

simplesmente intoxicante.<br />

— Sim.<br />

Viper desceu os lábios, aprisionando a boca de <strong>Shay</strong> em um beijo que mandou<br />

ondas de calor por seus corpos. <strong>Shay</strong> estava preparada para o prazer, mas a<br />

intensidade deste a surpreendeu.<br />

Oh, sim, era disso que ela precisava. O que seu corpo pedia desde que o vira pela<br />

primeira vez, semanas antes.<br />

Saboreou o conhaque que havia ainda nos lábios dele. Instintivamente, levou as<br />

mãos ao peito largo, desejando poder tocar-lhe a carne e não apenas a seda da camisa.<br />

Ele grunhiu e procurou abrir a camisa, alguns botões se soltando na pressa.<br />

— Toque-me - murmurou.<br />

— <strong>De</strong>ixe-me sentir suas mãos em mim.<br />

<strong>Shay</strong> deu um passo para trás. Não por rejeição, mas simplesmente porque queria<br />

ver o que estava tocando. Sempre tinha imaginado o que estaria escondido debaixo<br />

daqueles casacos de veludo e camisas de seda. Agora queria apreciar o que tinha à<br />

vista.<br />

Seus olhos brilharam e seus lábios se entreabriram em um suspiro silencioso.<br />

À luz fraca, o peito de Viper era largo e musculoso como ela o imaginara. Mas<br />

seus sonhos não incluíam o exótico dragão tatuado sobre a pele.<br />

<strong>De</strong>slumbrada, ela deslizou os dedos sobre a figura da criatura mítica antes de<br />

chegar às asas e ao corpo em tom jade-escuro.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O que é isto? - ela quis saber num sussurro. Ele estremeceu com o gesto gentil<br />

de seus dedos.<br />

— A marca de Cuchulain.<br />

<strong>Shay</strong> não conseguia pensar muito bem enquanto Viper beijava a curva de sua<br />

orelha.<br />

— Doeu? - perguntou por fim.<br />

— A tatuagem?<br />

— Sim.<br />

As mãos dele acariciavam agora seus braços e ela mal podia respirar.<br />

— Não. Nem mesmo a senti. - Viper mordeu de leve a ponta da orelha.<br />

— Simplesmente apareceu após minha última batalha na arena.<br />

— Ela o marca como chefe de clã?<br />

— Sim.<br />

— Eu...<br />

As palavras se perderam em uma onda de prazer, quando a língua dele deslizou<br />

sobre seu pescoço.<br />

— O que quer saber?<br />

— Não me lembro.<br />

Viper riu enquanto suas mãos continuavam se movendo sem parar.<br />

— Preciso ver você - ele murmurou.<br />

— Diga que sim. Ela sentiu o prazer aumentando de intensidade. Isso lhe dava<br />

uma sensação de poder que raramente tinha experimentado na vida. Agora era ela<br />

quem detinha o controle, e isso terminava sendo um fantástico afrodisíaco.<br />

— Sim.<br />

Os dedos dele a pressionaram por um instante, como se Viper se surpreendesse<br />

com sua rápida capitulação. Logo, porém, ele soltava as pontas da toalha e a olhava,<br />

deslumbrado.<br />

— Pelo sangue dos puros - murmurou, envolvendo um dos seios com a mão.<br />

— Você é perfeita.<br />

Não, ela não era perfeita, <strong>Shay</strong> pensou, excitada. Longe disso. Era magra demais.<br />

Tinha a pele bronzeada demais. Os seios pequenos demais.<br />

Mas, naquele momento, sob o olhar predatório do belo vampiro, sentia-se linda.<br />

<strong>De</strong>sejada.<br />

Agora os lábios de Viper deslizavam, ávidos, por seu pescoço. Não sentiu, porém,<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

seus caninos, e não fez gesto algum de se afastar.<br />

Confiava em Viper. Confiava que ele não exigiria mais do que ela estaria disposta<br />

a oferecer.<br />

Passou a mão pela pele acetinada do peito forte. Era fascinante a firmeza dos<br />

músculos logo abaixo: como se um veludo envolvesse o aço.<br />

O desejo de explorar o corpo inteiro de Viper era enorme. Ela nem mesmo<br />

percebeu quando ele gentilmente a colocou sobre a cama e capturou um dos mamilos<br />

com os lábios.<br />

Soltou uma exclamação de prazer quando a língua dele roçou a ponta do mamilo,<br />

provocando-a e levando-a ao delírio. Era tão bom... Tão terrivelmente bom!<br />

— Oh, <strong>De</strong>us - gemeu, estremecendo quando Viper deslizou a língua pela curva dos<br />

seios antes de voltar a atormentá-los nas pontas. Enfiou as mãos nos cabelos dele,<br />

puxando-o para mais perto, permitindo que estes caíssem como uma cortina de seda<br />

sobre ela. Sentia tanto prazer que temia parar de respirar.<br />

Viper continuou mordiscando o mamilo enquanto entreabria suas pernas e a<br />

tocava intimamente.<br />

<strong>Shay</strong> o agarrou pelos ombros.<br />

— Viper...<br />

— Não vou machucá-la. Confie em mim, <strong>Shay</strong>.<br />

Ela tentou protestar, mas estremeceu. As sensações não a deixavam pensar<br />

direito.<br />

Seus olhares se encontraram. Por um longo momento, ela simplesmente ficou<br />

olhando, entontecida, para o rosto lindo à sua frente.<br />

Não se deixe envolver, <strong>Shay</strong>, uma voz murmurou dentro dela. Não confie em um<br />

vampiro!<br />

Entreabriu os lábios, mas nada disse. Em vez disso, tornou a enlaçá-lo pelo<br />

pescoço e o trouxe mais para junto de si. Ele voltou a beijá-la com ânsia, os dedos<br />

movendo-se sobre ela com enlouquecedora delicadeza. Involuntariamente, <strong>Shay</strong> ergueu<br />

os quadris do colchão. Viper não era seu primeiro amante, mas nada a preparara para<br />

aquilo. Sentia-se arder como um vulcão e queria se consumir nesse fogo.<br />

Ele continuou a atormentá-la com a língua e os dedos, e <strong>Shay</strong> quase o sufocou com<br />

seu abraço ao se ver já próxima a um orgasmo.<br />

— Viper! - ela gritou.<br />

— Eu sei, querida... - ele sussurrou, ofegante, ao mesmo tempo em que a<br />

pressionava com sua ereção.<br />

— Não lute contra o prazer.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

A respiração de <strong>Shay</strong> começou a sair em curtos espasmos quando os dedos de<br />

Viper ousaram explorar seus mais recônditos recantos. Seu corpo inteiro estremeceu<br />

com a doce invasão, e ela foi sacudida pela explosão do êxtase.<br />

O corpo excitado de Viper ainda pressionava o dela, quando <strong>Shay</strong> se deixou ficar<br />

deitada, em silêncio, por um longo momento. Ela se sentia como se estivesse flutuando.<br />

Como se tivesse sido lançada em um mar de águas quentes e revoltas, e depois fosse<br />

levada gentilmente pelas ondas para a praia.<br />

Viper a tocou no rosto, como se ela fosse um tesouro frágil que ele temia<br />

quebrar, os lábios apenas roçando sua pele.<br />

Incapaz de se mover, <strong>Shay</strong> por fim conseguiu respirar profundamente enquanto<br />

reunia os pensamentos.<br />

— Droga... - murmurou, atordoada.<br />

Sentado à mesa da cozinha, Viper sorriu ao observar <strong>Shay</strong> esvaziando prato após<br />

prato.<br />

Nenhuma criatura com a cabeça no lugar estaria sorrindo quando seu corpo ainda<br />

doía de excitação. E isso, tinha certeza, levaria horas para melhorar.<br />

Ainda assim, continuou sorrindo. Não pressionaria <strong>Shay</strong> de forma alguma.<br />

— Não fique me olhando desse jeito - ela murmurou.<br />

— Olhando como?<br />

— Como se estivesse observando o seu jantar.<br />

Viper se ajeitou na cadeira, o olhar deslizando pelo roupão entreaberto.<br />

— Não acharia ruim uma mordida ou duas.<br />

Ela enrijeceu, sem dúvida pressentindo a fome que pulsava no corpo daquele<br />

vampiro sexy. Uma fome que ele não conseguia esconder.<br />

— Fizemos um acordo. Nada de sangue.<br />

— Não estava pensando em sangue.<br />

O sorriso de Viper aumentou e <strong>Shay</strong> enrubesceu. Não podia fingir que não havia<br />

chegado ao clímax nos braços dele.<br />

— Está quase amanhecendo... Não devia estar em seu caixão? - perguntou,<br />

incomodada.<br />

Viper riu de novo.<br />

— Faz séculos que me acostumei com a noite. Eu não suporto a luz do sol, mas eu<br />

sou capaz de ficar acordado quando quero.<br />

— Quantos anos você tem?<br />

— Os vampiros raramente revelam suas idades. Assim como seu abrigo.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> deu de ombros e colocou de lado o prato vazio.<br />

— Nunca entendi por quê. Se for imortal não importa qual seja sua idade.<br />

— O poder de um vampiro aumenta a cada ano que passa. Saber sua idade é<br />

conhecer o seu poder.<br />

— Quanto mais velho mais poderoso?<br />

Viper sorriu de lado. Não deveria se surpreender com a falta de conhecimento<br />

dela no que se referia a vampiros. A mãe de <strong>Shay</strong> a criara distante do mundo dos<br />

demônios.<br />

— Em teoria isso acontece, apesar de sermos como qualquer outra raça. Há<br />

sempre aqueles que possuem mais força que outros, ou mais inteligência, não importa a<br />

idade.<br />

<strong>Shay</strong> umedeceu os lábios, distraída, e ele estremeceu. Havia tantos lugares<br />

íntimos que ele gostaria que aquela língua explorasse...<br />

Lutou para recuperar o controle.<br />

— Por isso que você se tornou o chefe de seu clã? - ela indagou, curiosa.<br />

Viper mediu as palavras. Não se vangloriaria de seus poderes para impressioná-la.<br />

— Em parte.<br />

— Qual é a outra parte?<br />

Ele sorriu.<br />

— Meu charme pessoal? <strong>Shay</strong> revirou os olhos.<br />

— Não pode ter sido isso.<br />

Viper ficou em silêncio por uns instantes.<br />

— Shalotts são como vampiros... Não escolhem o líder por seu desempenho em<br />

combate?<br />

— Não tenho a menor idéia. - A voz dela soou casual, mas a expressão de seu<br />

rosto mudara, fato que não passou despercebido por Viper.<br />

— Certamente seus pais lhe contaram alguma coisa sobre a sua origem.<br />

— Fui criada como humana. Minha mãe achava que quanto menos eu fosse exposta<br />

ao mundo dos demônios melhor seria. <strong>De</strong>pois da morte de meu pai, não me foi<br />

permitido nem mencionar o mundo shalott.<br />

Não era de surpreender que <strong>Shay</strong> se considerasse uma aberração, Viper pensou.<br />

A mãe dela havia sido a responsável por isso.<br />

— Um ponto de vista lamentável.<br />

<strong>Shay</strong> reagiu à crítica.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Minha mãe queria apenas me proteger.<br />

— Compreendo, mas lhe negar a história de seu povo foi como negar parte de<br />

você mesma. Certamente deveria sentir-se curiosa quanto a isso, não é?<br />

— Por que deveria? Ter sangue de demônio só me causou desgostos.<br />

— Os shalotts são uma raça orgulhosa e muito respeitada - ele insistiu.<br />

— Antes de partirem deste mundo com o príncipe negro, eles eram conhecidos<br />

como os mais temidos assassinos entre os demônios. Mesmo os vampiros temiam suas<br />

habilidades.<br />

— Isso dificilmente será algo de que me dê satisfação. Viper tentou controlar a<br />

impaciência.<br />

— Pensa que os humanos são superiores? Eles têm gosto por todo tipo de<br />

violência e guerras, sem mencionar o genocídio. Pelo menos os shalotts nunca matam<br />

alguém de sua raça. Essa é a lei mais sagrada deles.<br />

Uma ponta de curiosidade brilhou nos olhos de <strong>Shay</strong>.<br />

— Nunca?<br />

— Nunca. - Viper sustentou o olhar dela.<br />

— Acreditam que tirar sangue de outro shalott os condenará, e toda sua família,<br />

à fúria dos deuses. É um pecado que não pode ser perdoado. Eu desejaria que os<br />

vampiros possuíssem a mesma crença.<br />

O olhar de <strong>Shay</strong> era vago.<br />

— Conheceu muitos shalotts, então.<br />

— Alguns. E antes que me pergunte, não tomei o sangue deles, nem os fiz meus<br />

escravos. E nenhuma shalott foi minha amante.<br />

— Não me diga que alguns deles eram seus amigos! - ela exclamou.<br />

Ele sorriu, exibindo os caninos.<br />

— Tenho muitos amigos entre os demônios, mas os shalotts eram mais como meus<br />

parceiros. Um chefe de clã tem muitos inimigos.<br />

Ela arregalou os olhos.<br />

— Você os contratou como assassinos?<br />

— Na verdade, eu os contratei para que me treinassem -Viper esclareceu.<br />

— Treiná-lo para quê?<br />

— Os shalotts são mestres na arte do combate, e possuem um conhecimento<br />

profundo sobre armas... Seu pai também devia ter.<br />

Viper percebeu o orgulho nos olhos de <strong>Shay</strong>.<br />

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— Claro que sim.<br />

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Ele escondeu o sorriso. Não era tolo.<br />

— E você?<br />

— Tenho alguma experiência com espadas e adagas, mas meu pai morreu antes de<br />

meu treinamento terminar - ela confessou.<br />

— Bem, não posso contar com o talento de seu pai, mas se você estiver disposta,<br />

poderíamos treinar juntos.<br />

Silêncio. Do tipo que lhe assegurava que <strong>Shay</strong> estava tentando se decidir se o que<br />

ele planejava era um terrível complô, ou simplesmente era maluco.<br />

— Treinarmos juntos? - ela repetiu.<br />

— Está brincando?<br />

— Por que não? Não tenho um sparring decente há anos.<br />

— Amos não costumam ficar ansiosos por ensinar aos seus escravos como matálos<br />

- <strong>Shay</strong> observou, seca.<br />

— Pretende me matar?<br />

— Ainda não é uma conclusão a qual eu tenha chegado. Viper caiu na risada.<br />

— Avise-me, então.<br />

Antes que <strong>Shay</strong> pudesse responder, a atenção dos dois foi desviada por um ruído<br />

estranho, que quebrou o silêncio da noite.<br />

Ambos ficaram imóveis. Podia ter sido um coiote, ou mesmo um cão uivando, mas<br />

eles sabiam que não era.<br />

— Cães do inferno - ela reconheceu.<br />

Viper se levantou e entrou em comunicação mental com seus empregados.<br />

— Os guardas estão sob ataque.<br />

— Por que cães do inferno atacariam os seus guardas? Eles não eram páreo para<br />

os vampiros.<br />

Viper sacudiu a cabeça, sentindo que a batalha estava ocorrendo junto aos<br />

portões de sua propriedade. Naquele momento, Santiago e sua equipe lutavam, mas<br />

havia muitos cães atacando. Os vampiros estavam feridos e precisavam buscar a cura<br />

no fundo da terra.<br />

— Eu não sei. - Estendeu a mão para <strong>Shay</strong>, por fim.<br />

— Venha.<br />

Ela simplesmente não podia seguir as ordens dele sem argumentar.<br />

— Aonde estamos indo?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Há alguns túneis no andar de baixo. Eles nos levarão à garagem.<br />

— Certamente estaremos mais seguros aqui do que na garagem.<br />

— Há carros na garagem. Ela arregalou os olhos.<br />

— Não.<br />

Viper suspirou, exasperado.<br />

— Por que não?<br />

— Pelo amor de <strong>De</strong>us, Viper. Já está clareando. Não pode ir lá fora.<br />

— Eu não posso, mas você sim.<br />

— Quer que eu parta sozinha?<br />

— Ficarei aqui e me certificarei de que não foi seguida.<br />

— Não. Ambos ficaremos e lutaremos.<br />

Não era frequente que Viper se surpreendesse, mas agora ele estava surpreso.<br />

— <strong>Shay</strong>, não é hora de brigar. Os cães podem não ser uma grande ameaça, mas<br />

duvido que estejam sozinhos. Alguma coisa quer você. E tanto, que se arrisca a um<br />

ataque direto. Tem de fugir agora.<br />

Sem aviso, ela se moveu diante dele, as mãos nos quadris.<br />

— E se for isso o que eles querem? Viper franziu a testa.<br />

— Como assim?<br />

— E se os cães do inferno forem apenas uma tática para me fazer fugir daqui<br />

sem você me protegendo? E se esperam que nós nos separemos?<br />

Ele engoliu em seco. <strong>Shay</strong> estava certa. Os demônios bem podiam estar tentando<br />

afastar um do outro.<br />

— Droga. Isso explicaria o ataque ser perto do amanhecer.<br />

— E por que mandaram os cães do inferno à frente.<br />

— É verdade.<br />

Viper passou as mãos nervosamente pelos cabelos. Não temia a luta. Fazia um<br />

bom tempo que não se deleitava com uma boa batalha. Mas, pela primeira vez em sua<br />

longa vida, possuía alguém além dele com que se preocupar. E essa era uma sensação<br />

enervante. Uma com a qual ele não sabia como lidar.<br />

Olhando em volta da sala, <strong>Shay</strong> levou a mão ao peito.<br />

— Onde está Levet?<br />

— Caçando. - Viper deu de ombros.<br />

— Mas, se viu os cães do inferno, agora deve estar a meio caminho para Chicago.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Ou fazendo alguma coisa completamente estúpida - ela resmungou,<br />

caminhando, decidida, em direção à porta.<br />

Levou um instante para Viper compreender que ela pretendia procurar o gárgula.<br />

Com incrível velocidade, ele lhe bloqueou a passagem. Sua paciência terminara.<br />

— Não vai sair.<br />

Um lampejo perigoso tomou vida nos olhos dourados de <strong>Shay</strong>.<br />

— Viper...<br />

— Não. Os demônios não estão interessados em Levet. Ele está em maior<br />

segurança que você neste momento.<br />

— Não podemos ter certeza disso - ela teimou.<br />

— Levet é meu amigo, e não vou deixá-lo lá fora para morrer.<br />

Viper saboreou por um instante a imagem da mulher que o enfrentava. Oh, ela era<br />

meio shalott e lutaria com fúria. Mas ele confiava que chegaria a hora em que a<br />

dominaria. Infelizmente, aquela não era uma boa hora para tentar isso.<br />

— Vá para o andar de baixo. Eu vou atrás do gárgula.<br />

— Não há necessidade de dar uma de herói, vampiro. Estou aqui.<br />

Viper se voltou ao ver a porta se abrir e o gárgula entrar.<br />

— Como passou pelos cães do inferno?!<br />

— Eles se dispersaram por hora, mas sem dúvida voltarão. Houve uma<br />

movimentação atrás da criatura, e Viper viu os vampiros que formavam a sua guarda.<br />

Estavam feridos.<br />

Sentiu a ira brotar dentro dele. Ele era chefe de clã. Quem quer que tivesse<br />

enviado os cães do inferno, logo estaria lamentando tal decisão.<br />

— Santiago, reúna os guardas e os leve ao abrigo.<br />

— Não o deixaremos, senhor!<br />

Viper sacudiu a cabeça. Seus guardas eram ainda muito jovens, e não resistiriam<br />

à claridade. Logo que o sol surgisse, seriam incapazes de se protegerem.<br />

— Estão feridos e logo amanhecerá. Não há nada que possam fazer.<br />

A frustração ficou nítida no rosto das sentinelas.<br />

— Os seus empregados humanos estão para chegar - Santiago disse.<br />

— Mas não são páreo para o demônio que nos caça. Precisamos fazer com que eles<br />

não entrem aqui. Agora, meu amigo, vá e cuide dos seus companheiros.<br />

Santiago não teve escolha.<br />

— Como queira, senhor.<br />

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Viper esperou que eles sumissem na escuridão, rumo ao esconderijo que Santiago<br />

tinha construído. Todos estariam seguros lá embaixo. Ao menos por enquanto.<br />

Voltou-se para encontrar o olhar preocupado de <strong>Shay</strong>.<br />

— Os cães do inferno voltaram. Precisamos ir.<br />

<strong>Shay</strong> não protestou quando Viper agarrou sua mão e a levou da cozinha para o<br />

porão.<br />

Um pequeno milagre, mas naquele momento ela estava mais preocupada com a<br />

criatura horripilante que se aproximava da casa do que insistir em sua independência.<br />

Com Levet agarrado em seu roupão, eles se moveram em silêncio.<br />

Ao se aproximar de uma parede, Viper apertou um botão, e esta se abriu, dando<br />

passagem para uma escada que levava para mais abaixo.<br />

— Por aqui - murmurou, esperando que <strong>Shay</strong> e Levet chegassem mais perto.<br />

O cheiro de terra os rodeava, e ela desceu os degraus cautelosamente, entrando<br />

no abrigo de Viper: seu esconderijo mais seguro. Foi forçada a parar, pois tudo estava<br />

na mais profunda escuridão. Não tinha a capacidade de enxergar no escuro como os<br />

vampiros.<br />

Percebendo sua dificuldade, Viper acendeu um candelabro. Os olhos dela foram<br />

se ajustando, e sua respiração pareceu parar na garganta.<br />

— Diabos! - ela exclamou, deslizando os olhos pela caverna que os rodeava. Nunca<br />

havia visto tantas armas em um só lugar. Espadas compridas, curtas, adagas, armas de<br />

ninja, arcos e flechas, pistolas, armaduras medievais cuidadosamente guardadas em<br />

caixas de vidro. Uma das armas, reconheceu, tinha o poder da magia.<br />

— <strong>De</strong> onde vem tudo isso?<br />

Com uma chave, Viper destrancou uma das estantes e de lá retirou uma elegante<br />

espada. Estendeu uma adaga ao silencioso Levet, e uma para <strong>Shay</strong>, que a segurou com a<br />

confiança de uma mulher acostumada a manejar armas.<br />

— Esta é parte de minha coleção - respondeu por fim, chegando até outra<br />

estante e escolhendo uma pequena pistola, que armou de pronto.<br />

<strong>Shay</strong> lançou um olhar admirado para ele.<br />

— Parte? Está planejando atacar o Canadá?<br />

— Isso não está na agenda. Ao menos não da de hoje. O olhar dele revelava uma<br />

ponta de bom humor.<br />

Mais uma vez, <strong>Shay</strong> se deixou deslumbrar pela beleza de suas feições. Era quase<br />

indecente que um vampiro tivesse o rosto de um anjo.<br />

Os olhos escuros se tornaram mais intensos quando ele sentiu um tremor<br />

correndo pelo corpo dela. Seus olhares se encontraram e, por instantes, ficaram em<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

silêncio, saboreando a presença um do outro. Foram interrompidos por um grunhido de<br />

impaciência.<br />

— Odeio interromper, mas aqueles cães do inferno não vão esperar que vocês<br />

dois terminem com esse interlúdio... Assim, sugiro que nos preparemos para a batalha.<br />

O olhar que Viper lançou para o pequeno gárgula devia ter feito Levet se<br />

transformar em pedra, porém este tratou de ficar bem atrás de <strong>Shay</strong>.<br />

— Eles não deveriam ser capazes de passar pelas minhas barreiras - disse.<br />

— Há alguma coisa com eles.<br />

Levet balançou as asas.<br />

— Alguma coisa ruim.<br />

<strong>Shay</strong> sentia isso também. Algo escuro e assustador invadia o ar, e se tornara<br />

difícil respirar. Não estava ainda à porta, mas bem perto, a ponto de provocar<br />

arrepios. Segurando a espada, ela endireitou o corpo e o roupão entreabriu, revelando<br />

suas curvas.<br />

O rosnar dos cães do inferno ecoou no ar, e os três se voltaram para a porta.<br />

Ouviram o barulho das criaturas devorando alguém de sua própria espécie.<br />

Provavelmente um que estivesse ferido.<br />

O som da respiração de Levet chegou até <strong>Shay</strong>, mas Viper continuou imóvel,<br />

totalmente silencioso. <strong>Shay</strong> não tinha certeza se vê-lo assim era animador ou<br />

aterrorizante.<br />

E, na verdade, isso não importava, já que a porta começou a ruir diante da<br />

pressão dos invasores.<br />

Houve um momento de preparação, em que as bestas tentaram se agrupar, e<br />

ficaram encalhadas diante da estreita entrada. Ouviu-se, então, um horripilante uivo,<br />

e um deles ultrapassou a abertura, entrando para matar.<br />

<strong>Shay</strong> observou o primeiro demônio vindo em sua direção. Era uma criatura<br />

aterrorizante, larga como um pônei, e com olhos vermelhos e caninos enormes.<br />

Felizmente, eles eram estúpidos, e não lutavam seguindo qualquer estratégia ou plano<br />

de batalha.<br />

Segurando a espada com as duas mãos, ela esperou que o primeiro se empalasse<br />

nesta. Os dentes e o sangue escorreram por seus braços enquanto ela se esforçava<br />

para retirar a lâmina do corpo do monstro.<br />

Em segundos, os invasores seguintes fizeram em pedaços o corpo do morto.<br />

<strong>Shay</strong> procurou não enjoar diante da cena grotesca. Lançou-se à frente e matou o<br />

inimigo mais próximo. O sangue e o cheiro dos cães do inferno agonizantes encheram o<br />

ar, enquanto ela dançava com determinação mortal no meio do grupo de bestas. Havia<br />

anos não enfrentava uma batalha daquele tipo, mas sempre praticava suas habilidades,<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

cumprindo a promessa que fizera ao pai, e viu-se usando a espada com maestria.<br />

A distância, percebia os movimentos de Levet, que lutava ao mesmo tempo em que<br />

praguejava, e a eficiência de Viper deixando para trás uma trilha de corpos. Sua<br />

concentração continuava nos demônios que tinha à sua frente, e a fazia enfrentá-los<br />

sem medo nem hesitação.<br />

Por fim, um enorme silêncio invadiu a área.<br />

Com um suspiro, <strong>Shay</strong> se recostou a uma parede. Tinha levado uma mordida, e<br />

havia um ferimento em seu braço, mas havia sobrevivido. Nada mal.<br />

Olhou em volta para se assegurar que Levet e Viper estavam bem. O gárgula<br />

estava de pé, e o vampiro limpava sua espada calmamente.<br />

Pelo chão, os demônios mortos e agonizantes começavam a se decompor. Mesmo o<br />

sangue nos braços dela estava se desfazendo.<br />

Viper se aproximou, apreensivo.<br />

— Está ferida?<br />

<strong>Shay</strong> engoliu uma risada. Ela parecia ter passado por um tufão, enquanto ele<br />

estava ali, igualzinho a antes, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar.<br />

— Nada que não dê para curar - resmungou, enquanto o via se abaixar para<br />

examinar o ferimento na perna dela. Cerrou os dentes quando sentiu os dedos frios de<br />

Viper tocando em sua pele.<br />

— Estou bem, não se preocupe.<br />

O olhar dele não suavizou.<br />

— Cura como uma humana ou uma shalott?<br />

— Não sei como acontece com os shalotts, mas eu me curo mais depressa que os<br />

humanos.<br />

— É imune contra infecções?<br />

— Sou.<br />

Viper voltou sua atenção ao ferimento, que já parara de sangrar e começava a se<br />

fechar. Aliviado, ele se levantou. Mas ficou imóvel, subitamente atento.<br />

— Sente a aproximação de um demônio? - indagou em voz baixa.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio percorrer todo o corpo.<br />

— Sinto.<br />

— É o mesmo que tentou pegá-la na noite do leilão? Ela se esforçou para se<br />

concentrar. Era uma tarefa nada fácil com Viper ali, ao lado dela. O poder que<br />

emanava de seu corpo a distraía.<br />

Respirando fundo, fechou os olhos e procurou captar o espírito maligno que se<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

aproximava. Levara anos para aprender a colocar de lado a lógica humana e confiar em<br />

seus sentidos, herdados do pai. Podia não entender como conseguia captar a essência<br />

de outro ser, mas deixara, havia muito tempo, de questionar isso.<br />

Levou um longo momento, mas por fim sacudiu a cabeça.<br />

— Não é o mesmo.<br />

— Não sei se me sinto aliviado ou desapontado. - Viper estendeu-lhe a mão.<br />

— Venha, precisamos sair daqui.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos.<br />

— Não seria mais seguro ficar?<br />

— Estaríamos cercados.<br />

— Pelo menos temos armas.<br />

Viper balançou a cabeça em uma negativa.<br />

— Precisamos de um lugar onde possamos fugir se as coisas piorarem.<br />

— Se piorarem? - ela perguntou, chocada.<br />

Um leve sorriso surgiu nos lábios do vampiro, antes que ele inclinasse a cabeça e<br />

lhe desse um beijo rápido, porém intenso.<br />

— A diversão apenas começou, meu bem - ele murmurou. Pegando um par de<br />

adagas, que ele enfiou nas botas, e um pequeno amuleto pendurado em um cordão de<br />

couro, Viper conduziu <strong>Shay</strong> e o gárgula para fora da sala de armas.<br />

Os cães do inferno estavam mortos, mas o demônio que se aproximava era uma<br />

ameaça que não podia ser ignorada. Viper não queria se ver encurralado, sem chance<br />

de escapar, quando a besta finalmente atacasse. Não quando ele não se sentia<br />

inteiramente confiante que seria capaz de acabar com a criatura.<br />

Escolhendo um túnel estreito que levava para fora da casa, ele se moveu com<br />

silenciosa urgência, o que deixou tanto <strong>Shay</strong> como o gárgula ofegantes. Ele ignorou<br />

suas queixas, chegando por fim a uma escadaria.<br />

— Por aqui - comandou, parando e deixando que <strong>Shay</strong> e o gárgula passassem à<br />

frente.<br />

Ambos o olharam, cheios de suspeitas. Viper suspirou. Ele deveria saber que não<br />

o obedeceriam sem qualquer discussão.<br />

— Onde isso leva? - <strong>Shay</strong> perguntou.<br />

— Ao aposento debaixo da garagem. Tentaremos enfrentar o demônio ali, mas, se<br />

falharmos, isso nos dará a oportunidade de escapar.<br />

A expressão de <strong>Shay</strong> endureceu.<br />

— Está pensando que eu vou deixá-lo aqui? Quero dizer, deixar Levet para lutar<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

contra o demônio que obviamente está contra mim?<br />

— Não temos outra escolha. - Viper segurou o braço dela.<br />

— Nem o gárgula nem eu podemos deixar estes túneis. Não até que escureça.<br />

Somente podemos lhe dar tempo para escapar.<br />

Levet soltou um suspiro.<br />

— Ele tem razão, <strong>Shay</strong>. Você tem de ir.<br />

— Esqueçam isso. Eu... - As palavras de <strong>Shay</strong> foram interrompidas pelo som de um<br />

grunhido bem atrás deles.<br />

— Droga!<br />

— O tempo de argumentar acabou.<br />

Segurando o braço dela com força, Viper a fez subir os degraus que davam no<br />

pequeno aposento. Pegou do bolso o pequeno amuleto, e o colocou em volta do pescoço<br />

de <strong>Shay</strong>.<br />

Ela o olhou, confusa.<br />

— O que é isso?<br />

— O amuleto contém um feitiço que irá mascarar sua presença.<br />

— Mágica?<br />

— Foi o que me asseguraram. - Ele a agarrou pelos cabelos e puxou alguns fios.<br />

— Ai! O que é isso?<br />

— Perdoe-me, mas o seu cheiro tem de ficar, para que o demônio pense que<br />

continua aqui. Agora vá.<br />

Esperando mais protestos, ele se surpreendeu quando ela simplesmente<br />

concordou com um gesto de cabeça.<br />

— Espere até que Levet e eu deixemos este lugar, e então suba as escadas e abra<br />

a porta da garagem. As chaves do carro estão penduradas na parede. Pegue-as e vá o<br />

mais longe que puder.<br />

— Está bem.<br />

Viper não confiava muito naquela repentina submissão de <strong>Shay</strong>. Ela era do tipo<br />

que não abandonava o navio. Segurou o rosto dela delicadamente.<br />

— Quero que prometa que irá embora, <strong>Shay</strong>.<br />

— Irei embora.<br />

— Tenho sua palavra?<br />

— Tem.<br />

Ele soltou um grunhido. Não duvidava que ela cumprisse a promessa, mas não<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

conseguia afastar o pensamento de que estivesse planejando algo extremamente<br />

perigoso.<br />

Infelizmente, não havia tempo para discussão no momento, pois um som de<br />

madeira quebrada ecoou bem audível atrás deles. A criatura tinha perdido a paciência<br />

e estava forçando sua passagem pelos túneis.<br />

Droga.<br />

Sem hesitação, ele a beijou.<br />

— Agora vá - murmurou, empurrando-a delicadamente para a porta.<br />

Mais uma vez, ela obedeceu sem protestar. Viper se apressou a deixar o aposento<br />

e fechou a porta atrás de si. Podia sentir a pesada pressão do amanhecer já enchendo<br />

o céu. Não tinha o menor desejo de saudar o nascer do dia.<br />

<strong>De</strong> volta ao túnel, ele se colocou ao lado do nervoso Levet.<br />

— Ela foi embora? - o gárgula perguntou.<br />

— Sim. - Viper puxou a espada e se preparou para a chegada do demônio, que<br />

vinha arrebentando tudo pelo caminho.<br />

— Pareceu-me disposta a ir.<br />

— Sacrebleu. Isso só pode significar que ela está planejando alguma coisa<br />

estúpida!<br />

— Sem dúvida. - Viper concordou com uma careta.<br />

— Mas, por hora, está fora de perigo. Só espero que vençamos a criatura antes<br />

que ela decida voltar.<br />

— É mais provável que terminemos como seu lanche da manhã - Levet resmungou,<br />

segurando a adaga.<br />

Viper sorriu.<br />

— Não sem uma boa luta, amigo. O demônio vai descobrir que carne de vampiro<br />

não é fácil de conseguir.<br />

O gárgula abanou o rabo, mas não fez comentário.<br />

Viper rangeu os dentes quando viu surgir a cabeça da criatura. Muitos<br />

confundiriam o demônio com um dragão, mas ele sabia a diferença. Era um Lu, a<br />

criatura mais temida do mundo. E uma que era quase impossível derrotar sem mágica.<br />

O problema era que ele, como vampiro, não usava mágica.<br />

— Droga!<br />

— E agora? - Levet se desesperou.<br />

— Sabe lançar feitiços?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Se eu soubesse algum feitiço, acha que ainda estaria aqui? Não sou tão ligado a<br />

você para ficar feliz em morrer a seu lado!<br />

— Pensei que todos os gárgulas usassem um pouco de mágica - Viper retrucou,<br />

preparando-se para o ataque.<br />

— Oh, está bem, pode caçoar de mim.<br />

— Você não vai morrer, Levet. Ambos somos imortais.<br />

— Que bobagem. Sabemos bem que, mesmo os imortais podem morrer. E,<br />

normalmente, de formas horríveis.<br />

Viper não podia argumentar contra isso.<br />

— Se preferir, posso simplesmente lançá-lo para o demônio, e esperar que ele se<br />

contente com a sua morte - observou, maldoso.<br />

Nenhum dos palavrões em francês que saíram da boca de Levet foi ouvido, já que<br />

o rugir da criatura abafava todos os outros sons. Apesar do corpo do demônio ser<br />

largo demais para deslizar pelo túnel sem esforço, o pescoço em serpentina permitia<br />

que a negra cabeça se aproximasse perigosamente.<br />

— Sinto cheiro de shalott. - Uma longa língua vibrou no ar.<br />

— Onde a escondeu?<br />

A expressão de Viper permaneceu impassível enquanto ele escondia o alívio pelo<br />

fato de a criatura não ter percebido que <strong>Shay</strong> escapara.<br />

— Ela está aqui, bem perto, mas temo que não esteja ansiosa por ver você - ele<br />

gritou.<br />

— Parece que o charme dos Lu está fora de moda.<br />

A fera rugiu, enfurecida. Não sabia o que era bom humor.<br />

Viper se aproximou mais da parede. Queria estar em uma posição onde pudesse<br />

observar a boca do demônio se a situação piorasse.<br />

— Entregue-me a shalott. Não há necessidade de você morrer, vampiro.<br />

Viper sorriu com desdém.<br />

— Não tenho intenção de morrer. Não pelas suas mãos. Ou melhor... por seus<br />

dentes.<br />

Um sibilo furioso invadiu todo o túnel.<br />

— Palavras corajosas. A menos que tenha mais do que esse gárgula para lhe dar<br />

assistência, você não é páreo para mim.<br />

Levet agitou as asas, não aceitando bem o insulto.<br />

— Qual seu interesse em minha escrava? - Viper forçou a criatura a desviar a<br />

atenção do gárgula. <strong>Shay</strong> nunca o perdoaria se permitisse que aquele peste acabasse<br />

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na barriga do demônio.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

A enorme cabeça se voltou novamente para Viper.<br />

— Isto é assunto entre meu senhor e a shalott.<br />

— Seu senhor? <strong>De</strong>sde quando um terrível Lu chama alguém de senhor?<br />

— Ficaria surpreso, vampiro... Muito surpreso.<br />

A caçoada do demônio gelou o sangue de Viper. Ele não gostava da idéia de que o<br />

Lu estivesse escondendo algo dele. E algo que dava muito prazer aquele monstro.<br />

— O seu mestre é assim tão covarde que se esconde nas sombras?<br />

— Se deseja respostas, deve primeiro me derrotar. Viper levantou a espada.<br />

— Isso pode ser feito.<br />

Os olhos da fera se estreitaram perigosamente.<br />

— Idiota. Eu pegarei a shalott de qualquer jeito. Nenhum pedaço de aço vai me<br />

deter.<br />

Para provar que isso era verdade, a cabeça se lançou à frente, os dentes se<br />

fechando no braço de Viper antes que ele pudesse afastá-lo.<br />

Mordendo os lábios de dor, Viper enfiou a espada na garganta do demônio. Ouviuse<br />

um gemido de dor vindo do monstro, que recuou a cabeça o suficiente para que<br />

Viper se colocasse em uma nova posição.<br />

— Talvez o aço não possa detê-lo, mas há algumas forças que nem mesmo um Lu<br />

pode vencer.<br />

Apontando a espada em direção ao chão, Viper ignorou o sangue que escorria de<br />

seu braço e concentrou toda sua força na rica terra que tinha debaixo dos pés. Não<br />

sabia mágica nem feitiço algum. Mas sabia como tirar poder dos elementos naturais.<br />

A força de seu pensamento fez a terra começar a se movimentar. O túnel<br />

tremeu, e parte de suas paredes começou a ruir.<br />

— Pare com isso. Não adianta lançar mão desses truques de vampiro - o demônio<br />

gritou, a língua serpenteando para fora de sua boca horrível.<br />

— Diferentemente de você, sou meu próprio senhor, e não recebo ordens de<br />

nenhum demônio - Viper retrucou.<br />

— Imbecil!<br />

A criatura lançou a cabeça à frente. Tentou pegar novamente parte do corpo de<br />

Viper, porém, desta vez, ele estava prevenido.<br />

A terra se movia, mas não suficientemente rápido, Viper pensou. Estava usando o<br />

poder que os vampiros tinham de enterrar suas vítimas depois que já haviam se<br />

alimentado. Os corpos nunca eram deixados expostos.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Infelizmente, nos tempos atuais, a maioria dos vampiros preferia sangue<br />

sintético a caçarem suas presas e, assim, suas habilidades não tinham tanta força<br />

como nos tempos antigos. Sem mencionar que ele nunca tentara enterrar uma criatura<br />

tão grande quanto um Lu.<br />

A fera continuava lançando a cabeça à frente, e Viper escapou seguidamente,<br />

enquanto a terra se movimentava sob seus pés.<br />

— Vai morrer - o demônio rugiu, tentando caçá-lo.<br />

— Nenhum de nós precisa morrer - ele falou, mantendo o demônio concentrado<br />

nele, enquanto via o silencioso gárgula recostado à parede. Se conseguisse encurralar<br />

a criatura, poderiam sobreviver.<br />

— Diga-me o que quer com a shalott, e poderemos entrar em um acordo.<br />

— Eu já lhe disse que vai precisar me derrotar se quiser respostas, e não corro o<br />

risco de ser vencido. - A cabeça do dragão investiu mais uma vez, mesmo estando com<br />

a espada enterrada no olho. Quando descobriu que o chão o engolia, ele urrou,<br />

frustrado.<br />

— Vai morrer por causa disso!<br />

— Diga-me o que quer com a shalott - Viper ordenou, levantando a espada e se<br />

preparando para destruir o outro olho da fera.<br />

Foi quando o Lu projetou a cabeça para o alto e se chocou com o teto, que<br />

começou a vir abaixo. O demônio abaixou a cabeça e tornou a batê-la contra a pedra.<br />

Ao ver surgir um sinal do amanhecer, Levet gritou, alarmado. O monstro queria<br />

que o teto terminasse de ruir para que a claridade fizesse o serviço por ele.<br />

— Levet! - Viper alertou o gárgula. Este não seria aniquilado pela luz do sol, mas<br />

voltaria à sua forma de estátua. Poderia ficar indefeso se o Lu decidisse levá-lo<br />

embora, contudo.<br />

Estranhamente, porém, o pequeno demônio não lhe prestou atenção. Estava<br />

murmurando alguma coisa.<br />

Viper abriu a boca para alertá-lo de novo, mas Levet levantou os braços e gritou:<br />

— Que venha a noite!<br />

As palavras mal foram ouvidas, já que o som do teto ruindo sobre o monstro era<br />

mais alto.<br />

Mas não houve erro. Uma nuvem escura pareceu envolver o lugar.<br />

Viper ficou boquiaberto, as mãos segurando firme a espada, ainda sem saber se a<br />

nuvem negra era uma bênção ou uma maldição.<br />

Não distante, ouviu Levet soltar um grito de triunfo.<br />

— Funcionou. - Suas asas se agitaram, excitadas.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Pelas graças dos demônios, funcionou!<br />

Capítulo III<br />

<strong>Shay</strong> se surpreendeu ao ver que conseguira chegar viva à casa de leilão. Foi<br />

direto aonde escondera uma sacola com poções mágicas, e voltou ao Porsche de Viper<br />

para a maldita viagem de volta à casa dele.<br />

Ela cortou caminho pelos campos e, por fim, entrou na garagem.<br />

Um tremor quase a impossibilitou de andar quando viu os estragos na área. Aquilo<br />

só podia ter sido feito por uma força desconhecida, mas não foi só o estrago geral que<br />

fez com que seu sangue gelasse. Mesmo à distância, podia ver que o túnel viera abaixo,<br />

e a luz da manhã chegava lá dentro.<br />

Um vampiro não resistia à luz!<br />

Recusando-se a entrar em pânico, abriu a bolsa e entrou pela estreita passagem.<br />

Não sabia bem o que esperava encontrar, mas não era a nuvem escura cobrindo a<br />

área.<br />

— Levet? - chamou baixinho. — Viper?<br />

Algo soou na escuridão. Aparentemente, alguém conseguira acender uma luz,<br />

talvez uma vela.<br />

Não, não era nem remotamente uma vela acesa.<br />

Horrorizada, <strong>Shay</strong> identificou um enorme demônio com olhos escarlate. Nunca<br />

vira algo assim antes. E não queria ver isso de novo se tivesse escolha.<br />

O sorriso do monstro era de triunfo.<br />

— A shalott - falou a besta.<br />

Paralisada diante do olhar da criatura, <strong>Shay</strong> levou um longo tempo para ouvir a<br />

voz furiosa e fria que veio de um canto da escuridão.<br />

— Droga, <strong>Shay</strong>, eu disse que fosse embora! Saia daqui! Ela riu sem vontade. Será<br />

que todos os vampiros eram ingratos, ou Viper seria uma exceção?<br />

O demônio parado diante dela deu uma risada que ecoou pelo túnel.<br />

— Não há lugar algum onde possa se esconder, shalott. Mas venha para mim e eu<br />

pouparei a vida desses dois - a criatura prometeu com voz sibilante.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> engoliu em seco, enquanto seus dedos procuravam pelos potes de cerâmica<br />

dentro da bolsa.<br />

— Estou indo.<br />

— <strong>Shay</strong>! - Havia uma ponta de pânico na voz macia de Viper.<br />

— O Lu está preso, mas não posso segurá-lo por muito tempo. Caia fora daqui!<br />

— Faça o que ele está lhe mandando - Levet reforçou.<br />

— Não pode vencer a besta.<br />

A criatura sibilou na direção do gárgula.<br />

— Não sou seu inimigo, shalott. Preciso apenas levá-la ao meu senhor. - A voz do<br />

Lu ganhou alguma emoção.<br />

— Um senhor que não gosta de ser desapontado...<br />

<strong>Shay</strong> deu um passo à frente. Não que quisesse ser mordida por aqueles dentes<br />

afiados, mas tinha de estar suficientemente perto para usar as armas que trouxera.<br />

— Quem é esse seu misterioso senhor? - perguntou, mais para manter o Lu<br />

distraído do que para descobrir a verdade.<br />

Tinha prioridades. Como sair dali viva, e se preocupar com quem a queria assim,<br />

tão desesperadamente.<br />

— Um poderoso amigo, ou um inimigo mortal - respondeu o monstro.<br />

— A escolha é sua.<br />

— Você ainda não me deu um nome.<br />

— É proibido pronunciar o nome dele, mas lhe asseguro que eu não lhe farei mal<br />

algum.<br />

<strong>Shay</strong> revirou os olhos.<br />

— <strong>De</strong> alguma forma, acho isso muito difícil de acreditar.<br />

— Tem minha promessa de que a levarei intacta ao meu senhor. Isso a satisfaz?<br />

— <strong>De</strong>pende do que vai me acontecer depois que chegarmos a esse seu senhor. -<br />

<strong>Shay</strong> se aproximou mais um pouco.<br />

— O que ele quer de mim?<br />

— Essa é uma pergunta que só ele deverá responder.<br />

— Não está me inspirando confiança.<br />

Os olhos vermelhos brilharam como fogo. Ou pelo menos um deles fez isso. O<br />

outro sangrava com uma adaga que, na certa, Viper enterrara nele.<br />

— Não preciso que confie em mim. Vai acabar indo comigo querendo ou não... Não<br />

tem alternativa.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> sentiu que Viper estava por detrás do demônio, mas não ousou desviar os<br />

olhos da poderosa boca, agora perto demais. Não tinha idéia se seu plano daria certo,<br />

e parecia sábio estar preparada para recuar.<br />

Afinal, gostava de sua cabeça exatamente onde ela estava.<br />

— Na verdade... - murmurou, tirando o pote de cerâmica da bolsa.<br />

— Eu tenho outra opção.<br />

— <strong>Shay</strong>, não!<br />

As palavras de Viper chegaram com atraso. <strong>Shay</strong> já lançara o pote, que caíra na<br />

boca do demônio.<br />

O Lu agora rugia de dor.<br />

Por um momento, <strong>Shay</strong> ficou sem enxergar devido ao brilho inesperado da poção<br />

mágica explodindo dentro da fera, que acabou sendo jogada longe e bateu a cabeça<br />

contra a parede.<br />

Mas não foi nada fatal.<br />

Horrorizada, ela viu Viper saltando e se colocando entre ela e os dentes afiados<br />

do monstro. O Lu atacou instantaneamente, e Viper enfiou a espada em sua garganta.<br />

<strong>Shay</strong> buscou dentro da bolsa o segundo pote. Tinha de fazer alguma coisa antes<br />

que o demônio exterminasse o vampiro.<br />

O Lu uivou de dor quando ela usou as espadas para atingir as ondulações de sua<br />

cauda.<br />

— O que está acontecendo? - ela gritou.<br />

Viper usava todos os músculos para forçar a entrada da espada no corpo da<br />

besta.<br />

— A poção que você jogou nele o enfraqueceu.<br />

O Lu rugiu, enfurecido, e buscou alcançar o braço de <strong>Shay</strong>. O segundo pote,<br />

porém, foi arremessado, e caiu em cima das feridas sangrentas.<br />

<strong>De</strong>sta vez <strong>Shay</strong> estava preparada para o brilho da explosão e cobriu os olhos.<br />

Tentou ignorar os gritos de dor da fera. Podia ser uma shalott, mas era humana o<br />

suficiente para sentir pena do demônio agonizante.<br />

Pegou a última de suas poções e se preparou para lançá-la.<br />

— Espere, <strong>Shay</strong>! - Viper gritou, enquanto enfiava a espada no cérebro do<br />

demônio. Com um gemido, o Lu despencou no chão.<br />

— Não pode deixá-lo desse jeito! - ela exclamou, enquanto observava a besta<br />

contorcer-se em meio a um lago de sangue.<br />

— Ele fez uma barganha comigo.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

O olho do mostro se abriu levemente.<br />

— Não faço barganhas com vampiros.<br />

Viper revirou a ponta da espada enterrada na cabeça do Lu, de onde começou a<br />

brotar um líquido escuro.<br />

— Você disse que, se eu pudesse derrotá-lo, responderia às minhas perguntas. -<br />

Viper continuou a tortura.<br />

— Você foi derrotado. Não honra a sua promessa?<br />

Por um momento, o ar se encheu dos grunhidos da fera. Por fim, o Lu suspirou<br />

profundamente.<br />

— Pergunte.<br />

— O que seu senhor quer da shalott?<br />

— O sangue dela.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu. Todo demônio do mundo queria testar seu sangue por uma<br />

razão ou outra.<br />

— Quem é ele?<br />

— Eu já lhe disse, estou proibido de dizer o nome dele.<br />

— Onde eu o encontrarei?<br />

— Ele estava em Chicago, mas sinto que tenha viajado para mais longe. Não sei<br />

onde está agora.<br />

Viper soltou um grunhido, as mãos segurando a espada com firmeza.<br />

— Você não me deu respostas.<br />

O Lu soltou uma risada perturbadora.<br />

— Isso porque não faz as perguntas certas, vampiro.<br />

— E quais são as perguntas certas?<br />

— Não espera mesmo que eu torne as coisas tão fáceis para você...<br />

— Você disse que seu senhor me quer pelo meu sangue — <strong>Shay</strong> confrontou o<br />

demônio.<br />

— Ele pretende vendê-lo ou usá-lo em si mesmo?<br />

O monstro voltou o olhar na direção de <strong>Shay</strong>.<br />

— Você é um meio para chegar a um fim.<br />

Era por isso que o Lu havia concordado em responder as perguntas. Não estava<br />

revelando nada.<br />

— Ele está com Evor?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Um sorriso surgiu na expressão da fera agonizante.<br />

— O troll está vivo e bem. Por hora. <strong>Shay</strong> arregalou os olhos.<br />

— O que quer dizer com isso?<br />

— Se deseja uma resposta às suas perguntas, volte a atenção ao feitiço que a<br />

prende ao troll. - Um som horrível veio da garganta do demônio.<br />

— Cumpri minha promessa, maldito vampiro, agora acabe de vez comigo.<br />

Viper voltou-se para <strong>Shay</strong> deixando para ela a decisão.<br />

Não havia dúvida de que ela ainda tinha muitas perguntas a fazer. Algumas o<br />

demônio poderia responder... Mas não queria continuar com aquilo. Não era de seu<br />

feitio se regozijar com o sofrimento de criatura alguma.<br />

Engolindo em seco, ela fez um sinal com a cabeça.<br />

Levantando a espada, Viper desferiu um golpe tão forte, que cortou fora a<br />

cabeça do Lu. Também ele parecia querer o fim do sofrimento do demônio.<br />

Não se ouviu som algum para indicar que o Lu estivesse morto, mas,<br />

repentinamente, o corpo da fera começou a se desfazer.<br />

Um pesado silêncio desceu quando a escuridão se tornou completa. O demônio<br />

estava morto, mas <strong>Shay</strong> não se sentia aliviada.<br />

Havia ainda alguma coisa lá fora que queria seu sangue.<br />

A única pergunta era: como essa coisa pretendia caçá-la em seguida?<br />

Perdida em pensamentos, ela se surpreendeu quando alguém lhe puxou o roupão.<br />

— Levet?<br />

— Ah, se lembrou do pobre gárgula forçado a lutar contra cães do inferno e<br />

demônios, e que ainda conseguiu ser bem-sucedido com esse magnífico feitiço da<br />

escuridão?<br />

Uma parte da tensão que ela sentia, sumiu.<br />

— Foi um magnífico realmente, Levet. Mas, caso não tenha notado, estive<br />

bastante ocupada.<br />

— Oui, oui... Mas o demônio está morto. Agora, será que podemos comentar nosso<br />

delicioso trabalho em algum outro lugar onde o teto não ruiu e onde seu maravilhoso<br />

vampiro não acabe se dando mal?<br />

Usando nada mais do que cuecas de seda preta, Viper procurou uma posição mais<br />

confortável na cama que ocupava um grande espaço em seu esconderijo. Ao lado dele,<br />

<strong>Shay</strong> descansava, os lindos cabelos espalhados no travesseiro de cetim.<br />

Incapaz de resistir à tentação, ele permitiu que seus dedos tocassem aquela<br />

preciosidade.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Sabia que deveria estar descansando. <strong>De</strong>pois da morte do Lu, havia levado horas<br />

para conseguir reunir os criados humanos e colocá-los atentos ao que acontecia nos<br />

arredores da casa. Entrara em contato com seu clã para avisá-los de que também<br />

deveriam ficar em alerta máximo. Não acreditava que o misterioso senhor pudesse<br />

lançar um ataque tão de imediato, mas estava determinado a não ser pego de surpresa.<br />

Somente quando se dera por satisfeito, é que levara <strong>Shay</strong> ao seu abrigo e se<br />

permitira o luxo de dormir. Um sono que, entretanto, foi bem perturbado por ter a<br />

seu lado um corpo tentador e um perfume inebriante impregnando o ar.<br />

Tomou consciência de que aquela era a primeira vez que acordava tendo uma<br />

mulher em seus braços.<br />

Um vampiro raramente ligava sexo a um relacionamento e, apesar de viverem em<br />

clãs, não constituíam família enquanto não encontrasse sua alma gêmea.<br />

Saboreando a sensação do roçar dos cabelos acetinados em seus dedos, Viper<br />

escondeu um sorriso.<br />

<strong>De</strong>us, ela era incrivelmente magnífica. Uma criatura difícil, mas magnífica.<br />

<strong>Shay</strong> abriu os olhos.<br />

— Alguma coisa errada?<br />

— Não. Estou apenas olhando você.<br />

Ela se moveu sem jeito nos lençóis de cetim. Ele havia descoberto o quanto ela<br />

era tímida no que se referia à intimidade. Como se tivesse pouca experiência com o<br />

desejo.<br />

— Que horas são?<br />

— Nem quatro. - Puxou os lençóis, descobrindo o corpo de <strong>Shay</strong>.<br />

— Seus ferimentos doem?<br />

— Não. - Ela estremeceu quando Viper começou a acariciar as marcas vermelhas<br />

em sua pele.<br />

— O que está fazendo?<br />

— Assegurando-me de que estão curadas.<br />

— Não precisa tocar em minha perna para ver que ela está bem.<br />

Viper riu, os dedos continuando a brincar na parte de trás do joelho dela.<br />

— Sei disso, mas é mais divertido do que apenas olhar. As feições de <strong>Shay</strong><br />

deixaram claro que ela desaprovava seu comportamento, mas Viper não deixou de<br />

perceber que ela estremecera com as carícias.<br />

— Onde está Levet? Ele torceu o nariz.<br />

— Ainda em sua forma de estátua, graças a <strong>De</strong>us. <strong>Shay</strong> sentou-se na cama e o<br />

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fitou, aborrecida.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Você é mesmo um ingrato. Levet lhe salvou a vida. Viper deu de ombros, mais<br />

interessado na pele acetinada que tinha sob os dedos do que no gárgula adormecido.<br />

— Isso não significa que ele não faça até um santo perder a paciência. Já<br />

encontrei piratas bêbados que tinham línguas menos ferinas.<br />

<strong>Shay</strong> acabou rindo.<br />

— Ele é terrível às vezes.<br />

— Como arsênico?<br />

— Eu devia ter deixado que você virasse uma torrada - ela resmungou.<br />

Viper estreitou o olhar.<br />

— Por que voltou, <strong>Shay</strong>? Ela abaixou os olhos.<br />

— Não pude abandonar Levet.<br />

— O Lu não teria ferido o gárgula.<br />

— Não tinha certeza disso.<br />

Viper aproximou mais o corpo, a ponto de sentir na pele o pulsar do coração de<br />

sua shalott.<br />

Sentiu uma vontade alucinante de beber o seu sangue. Felizmente, tivera séculos<br />

para aprender a controlar a sua fome. E para aprender a apreciar a lição de que quanto<br />

mais difícil a presa a ser capturada, mais satisfação alcançava seu caçador.<br />

— Tente de novo - ele murmurou. <strong>Shay</strong> umedeceu os lábios.<br />

— Não gosto da idéia de nenhum demônio me perseguindo. Pereceu-me mais<br />

sensato enfrentá-lo do que ficar me esquivando.<br />

Ele pressionou com o seu o corpo de <strong>Shay</strong>.<br />

— Muito lógico. - Seus dedos continuaram acariciando a pele macia.<br />

— Penso que já se assegurou que minha perna está curada. - O protesto não soou<br />

convincente.<br />

— Prefiro um exame mais minucioso.<br />

— Viper...<br />

— Você voltou para me salvar? - ele insistiu, sério.<br />

— Não, eu...<br />

— Por que é tão difícil admitir que não queria que eu morresse?<br />

Ela gemeu quando as mãos de Viper abriram o cinto do roupão, revelando sua<br />

beleza escondida.<br />

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— Pare com isso.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper acariciou quase com reverência a suave curva do estômago de <strong>Shay</strong>.<br />

— É tão macia... tão quente. Eu tinha me esquecido da beleza das shalotts.<br />

A expressão do rosto de <strong>Shay</strong> mostrou uma amargura.<br />

— Sou uma aberração, lembra-se?<br />

— Não me esqueço de nada sobre você, e posso jurar que seu sangue humano não<br />

a torna menos adorável. - Ele deslizou os olhos por seu corpo deliberadamente.<br />

— Na verdade, acrescenta o charme de um toque de fragilidade.<br />

— Não sou adorável.<br />

Viper sentiu o coração ser invadido por um sentimento de ternura. Algo que não<br />

lhe era familiar. Pelo sangue dos justos, aquela mulher podia fazer os anjos chorarem<br />

de inveja.<br />

— Olhe para mim - ordenou, esperando que ela abrisse os olhos.<br />

— Pensa que é somente o sangue das shalotts que alucina os vampiros? É sua<br />

extraordinária beleza que os cativa em primeiro lugar.<br />

<strong>Shay</strong> sacudiu a cabeça. Ela não acreditava nas palavras de Viper.<br />

— O que quer de mim?<br />

— Quero sentir suas mãos em mim. Ela estremeceu.<br />

— Viper, nós deveríamos...<br />

— Por favor, <strong>Shay</strong>, quero apenas sentir o seu toque. É tudo o que lhe peço.<br />

Por um longo e tenso momento, Viper teve quase certeza de que ela negaria o seu<br />

pedido. Então, lentamente, <strong>Shay</strong> começou a deslizar os dedos por seu peito nu.<br />

— Não pare - ele pediu suavemente, fechando os olhos com um misto de prazer e<br />

preocupação. Ele, Viper, um vampiro chefe de clã e um temido predador, implorando<br />

pelo toque de uma mulher. Inacreditável.<br />

<strong>Shay</strong> continuou as carícias, e seus dedos finalmente tocaram-lhe o mamilo. Viper<br />

sentiu-se estremecer.<br />

— Não sabia que os vampiros gostavam dessas coisas - ela murmurou.<br />

— Não sei sobre os outros, mas eu gosto.<br />

— Gosta disso?<br />

Ela começou a lamber o mamilo e Viper gemeu. O prazer atingiu seu corpo por<br />

inteiro, aumentando sua ereção e o deixando preocupado pela primeira vez em séculos<br />

de que poderia chegar ao clímax antes de possuí-la. Acariciou os sedosos cabelos de<br />

sua shalott. Queria que ela continuasse a tocá-lo e ela o fez. Mesmo com os olhos<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

fechados, Viper percebeu que ela decidira ir mais longe, ousar mais. Soltou um<br />

grunhido quando ela enfiou os dedos dentro da cueca.<br />

— O quê? - ela sussurrou, claramente desfrutando o momento em que o levava<br />

quase à loucura.<br />

— Está tentando me torturar? - ele exigiu, ofegante, cobrindo a mão de <strong>Shay</strong><br />

com a sua e apertando-a contra sua ereção.<br />

— Ou simplesmente quer que eu implore?<br />

— Gosto de ambas as idéias - ela retrucou, maliciosa. O riso de Viper terminou<br />

em novo suspiro.<br />

O que ela fazia não era produto de sua experiência. <strong>Shay</strong> estava descobrindo por<br />

si mesma como lhe arrancar gemidos da garganta. E ele nunca precisara lutar tanto<br />

para não ejacular.<br />

Enterrou o rosto nos cabelos dela, tomando o cuidado de não tocá-la com os<br />

caninos. Não queria que ela se lembrasse de que estava ao lado de um temido vampiro.<br />

Não agora. Nada podia estragar aquele momento...<br />

A não ser uma batida insistente na porta de carvalho.<br />

— <strong>Shay</strong>! - A voz irritante de Levet flutuou no ar.<br />

— Pretende ficar na cama o dia inteiro? Estou morto de fome.<br />

Viper ficou imóvel, mas ela saiu da cama. Pegou o roupão e o vestiu, apressada. O<br />

clima estava definitivamente quebrado.<br />

Praguejando, Viper esmurrou o colchão.<br />

— Eu ainda vou exterminar esse... essa coisa!<br />

<strong>Shay</strong> estava sentada à mesa da cozinha com Levet, saboreando o último pedaço<br />

de torta de maçã. Não que estivesse com fome. Graças à governanta de Viper, ela<br />

havia descoberto a cozinha repleta de comida. Tinha experimentado um pouco de tudo.<br />

Porém tinha o hábito de comer sempre que alguma coisa a perturbava.<br />

Especialmente se essa coisa era um vampiro de olhos negros, que agitava todos os seus<br />

hormônios com um mero olhar.<br />

Meu <strong>De</strong>us, ele a atraía demais. Queria senti-lo estremecer sob as carícias dela,<br />

ouvi-lo gemer de prazer, guiá-lo para que, juntos, pudessem chegar ao paraíso.<br />

E pior: ela não podia se convencer que isso não aconteceria novamente. Ou que<br />

não quisesse que isso se repetisse.<br />

Mastigou mais um pedaço de torta. Felizmente, as shalotts não precisavam se<br />

preocupar com o peso.<br />

Em contraste, Viper não comia nada. Havia tomado sua garrafa de sangue, e<br />

começara a ir de um lado para o outro, agitando a casa inteira, assegurando-se de que<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

os guardas continuavam em seus postos, e chamando pessoal especializado para<br />

começarem a refazer os túneis. Circulava pela casa usando calças justas de veludo<br />

preto, o que o deixava ainda mais másculo.<br />

— Não sei por que esse vampiro não sossega - Levet reclamou, comendo o seu<br />

quarto pedaço de bife.<br />

— Graças a mim não virou uma pilha de pó. E foi sua mágica que derrotou o Lu,<br />

<strong>Shay</strong>. Ele deveria estar nos agradecendo de joelhos.<br />

<strong>Shay</strong> suspirou levemente enquanto empurrava para o lado o prato vazio.<br />

— Não o pressione, Levet.<br />

Alguma coisa no tom da voz de <strong>Shay</strong> alertou o gárgula.<br />

— Cherie, exatamente o que eu interrompi há pouco?<br />

— Levet, pare de falar francês. Está nos Estados Unidos desde a revolução. Fala<br />

inglês melhor do que eu.<br />

— Inglês... Bah! Uma língua tão boba. Não há romance, nenhuma beleza. Apenas<br />

sons horríveis que ferem os meus delicados ouvidos.<br />

<strong>Shay</strong> riu consigo. Interessante como aquele ridículo gárgula tinha se tornado<br />

parte importante de sua vida. Não conseguia nem pensar que ele poderia ser ferido<br />

por sua causa.<br />

— Se não gosta dos Estados Unidos, por que continua aqui? Por que não volta à<br />

França?<br />

Um tremor agitou o pequeno corpo.<br />

— Quer dizer que devo voltar aos amorosos braços de minha família? Sacrebleu,<br />

eu não sobreviveria a isso. O que ouvi, foi que meus irmãos estavam determinados a<br />

enfiar minha cabeça em um pilar.<br />

— E eu, que a maior parte dos meus ancestrais foi de assassinos sanguinários, os<br />

quais, frequentemente, guardavam as peles de suas vítimas como troféus.<br />

— Que charme.<br />

Ela ajeitou a trança ainda úmida da água do banho.<br />

— Há lugares além da França que você poderia visitar. Ouvi dizer que a Itália é<br />

um país lindo.<br />

O gárgula a olhou com curiosidade.<br />

— Está tentando se livrar de mim?<br />

<strong>Shay</strong> hesitou, procurando encontrar alguma forma de não magoar o amigo. Droga,<br />

nunca conseguia mentir.<br />

— Levet, nós dois sabemos que não é seguro ficar à minha volta.<br />

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Ele pareceu ofendido.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Julga-me um covarde capaz de fugir do perigo?<br />

— Nunca o achei um covarde, mas considero estupidez se colocar em perigo<br />

quando não há necessidade disso.<br />

Levet abaixou a cabeça para terminar de comer o seu bife. E, claro, para<br />

esconder a própria decepção.<br />

— Não tenho nada melhor para fazer no momento. Posso ficar e protegê-la<br />

enquanto espero por algo mais interessante.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu-se ridiculamente emocionada. O gárgula se importava com ela.<br />

Ao perceber uma presença sombria na cozinha, Levet revirou os olhos.<br />

— Lá vou eu de novamente! - exclamou, afastando-se rapidamente.<br />

Viper era bonito, mas, às vezes, extremamente aborrecido. <strong>Shay</strong> endireitou o<br />

corpo.<br />

— O quer de mim?<br />

— O que quero de você? - Por um momento, ele continuou a fitá-la e um sorriso<br />

surgiu em seus lábios, enquanto ele se aproximava perigosamente.<br />

<strong>Shay</strong> entrou em alerta. Precisava manter aquele vampiro à distância.<br />

— Não ouse chegar mais perto. Ele caiu na risada.<br />

— Sabe que é melhor não me desafiar... - É claro que ele deu um passo à frente. E<br />

outro mais.<br />

<strong>Shay</strong> permitiu que o instinto falasse mais alto. Quando ele começou a tocar em<br />

seu rosto, agarrou-o pelo braço e o jogou no chão, colocando-se sobre ele.<br />

Tudo acontecera com tanta facilidade, que ela mesma começou a desconfiar de<br />

sua destreza. Viper não reagira.<br />

Sua suspeita se confirmou quando ela o encarou.<br />

— E agora? O que pretende fazer comigo? - ele murmurou suavemente, as mãos<br />

pousando, lascivas, em seus quadris.<br />

Nada que ela deveria querer, pensou, agoniada.<br />

Felizmente, o tecido do jeans era grosso. Não tinha certeza do que aconteceria<br />

se Viper tocasse novamente sua pele nua.<br />

— Não me tente.<br />

— Mas é isso, precisamente, o que quero fazer. Não se sente tentada, também?<br />

— A enfiar uma estaca em seu coração.<br />

— Antes ou depois de gritar de prazer?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não temos tempo para essa bobagem - resmungou, mas não reagiu quando<br />

Viper a puxou para si e a beijou apaixonadamente.<br />

Um beijo que fez a cabeça dela girar antes que ele a largasse, suspirando<br />

profundamente.<br />

— Infelizmente você está certa. Nós temos de armar nossos planos.<br />

— Nós?<br />

— Gostando ou não, você ainda pertence a mim.<br />

<strong>Shay</strong> pensou em argumentar, mas percebeu que Viper queria apenas distraí-la. A<br />

questão era uma só: por quê?<br />

— Não pode estar pensando seriamente em me manter por perto. Quase foi<br />

morto. Por que iria querer ficar com alguém que coloca sua vida em perigo?<br />

Ele deu de ombros.<br />

— Quebra a monotonia de meus dias. Faz um bom tempo que ninguém tenta me<br />

matar.<br />

<strong>Shay</strong> comprimiu os lábios. Parecia a desculpa de Levet.<br />

— Não acredito em você. Por que não quebra o amuleto e se livra de mim?<br />

— Costumo tomar conta daquilo que me pertence. Bem, não adiantava muito<br />

discutir.<br />

— Que planos tem em mente?<br />

— E óbvio que não podemos simplesmente nos esconder - ele murmurou.<br />

— Precisamos decidir como conseguiremos mantê-la em segurança.<br />

— O Lu falou algo sobre minha praga. - <strong>Shay</strong> franziu a testa.<br />

— O que quis dizer com isso?<br />

— Eu não tenho a menor idéia. O que você sabe sobre a sua maldição?<br />

— Nada.<br />

— <strong>De</strong>ve saber alguma coisa. <strong>Shay</strong> balançou a cabeça, negando.<br />

— Eu era muito criança. Tenho uma vaga lembrança de estar em uma caverna<br />

escura e sentir uma dor forte no ombro.<br />

— No ombro?<br />

<strong>Shay</strong> suspirou profundamente, e abaixou o ombro da camiseta que usava. Apontou<br />

a marca que tinha gravada na pele, preparada para sentir os dedos dele circulando os<br />

estranhos símbolos. Havia tentado descobrir o que significavam, mas não chegara à<br />

resposta alguma.<br />

Viper parecia fascinado.<br />

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— Estava sozinha na caverna?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu. Não se lembrava bem do episódio. Apenas de alguns flashes<br />

que surgiam em seus sonhos e a faziam acordar, gritando de medo.<br />

— Não, mas estava muito escuro para ver quem estava lá.<br />

— Esses símbolos me são familiares.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos, chocada.<br />

— Você os reconhece?<br />

— Não consigo interpretá-los, mas sei que são runas de bruxas.<br />

— Eu já vi runas de bruxas. Quando estive na caverna de Edra.<br />

— Edra não é uma bruxa convencional. Usa sacrifícios à base de sangue para<br />

aumentar o seu próprio poder.<br />

<strong>Shay</strong> sacudiu a cabeça. As palavras de Viper não faziam sentido.<br />

— Por que uma bruxa colocaria um feitiço em mim?<br />

— Essa é a pergunta. Penso que devemos encontrar alguém que nos diga<br />

precisamente o que está envolvido neste feitiço em particular. Podem nos dar alguma<br />

pista.<br />

— Bruxas. - <strong>Shay</strong> cruzou os braços.<br />

— Droga! Viper sorriu.<br />

— Também não gosto de bruxas, mas sei que nem todas são como Edra.<br />

<strong>Shay</strong> tinha passado tempo demais no meio daquelas criaturas. Mais do que o<br />

suficiente para desejar não ter nunca mais de cruzar com uma.<br />

— <strong>De</strong>vemos ir procurá-las?<br />

— Em primeiro lugar, quero falar com alguém que conheço. Ela pode nos dar a<br />

informação de que precisamos.<br />

— Vai falar com uma bruxa? - <strong>Shay</strong> franziu o cenho.<br />

— Enquanto eu estiver escondida em algum buraco, tremendo de medo? Já lhe<br />

disse que não quero ser tratada como uma idiota indefesa.<br />

Viper abriu um enorme sorriso.<br />

— Sei muito bem o quanto é guerreira.<br />

— Não ouse me engabelar - ela reclamou.<br />

Percebendo que pisava em solo perigoso, Viper ficou sério.<br />

— <strong>Shay</strong>, não sabemos quem está atrás de você, ou quem foi encarregado de<br />

ajudar essa criatura. Não vou levá-la a caverna alguma onde podemos acabar<br />

enfeitiçados. Não se trata de uma batalha em que não quero que participe, apenas vou<br />

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tentar obter informações.<br />

Soava extremamente sensato.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Mas <strong>Shay</strong> não queria ser sensata. Queria enfrentar desafios e descobrir a<br />

verdade. <strong>De</strong> preferência pela força. Certamente não era do tipo que se escondia e<br />

esperava que alguém mais resolvesse seus problemas.<br />

— E se o aprisionarem?<br />

— Você aparece e me salva - ele prometeu, sorrindo.<br />

— Tem certeza de que eu faria isso?<br />

— Se eu for morto, você será forçada a voltar para Evor e quem quer que esteja<br />

com ele.<br />

<strong>Shay</strong> escondeu o arrepio que lhe percorreu a espinha.<br />

— O Lu disse que Evor estava vivo e bem.<br />

— Vivo e bem, mas por quanto tempo? <strong>De</strong>ssa vez, ela não conseguiu disfarçar o<br />

medo.<br />

— Nem me fale sobre isso.<br />

Os braços dele a envolveram, e <strong>Shay</strong> encostou o rosto em seu peito. <strong>De</strong>via ter<br />

protestado, mas aquilo era tão bom, tão reconfortante.<br />

— Eu a protegerei, <strong>Shay</strong>. Prometo.<br />

A casa situada em um bairro elegante, ao norte de Chicago, era um monumento ao<br />

consumismo. Havia de tudo ali, especialmente artigos raros e caríssimos.<br />

Ainda assim, <strong>Shay</strong> descobriu que, com toda aquela grandeza, a mansão mantinha<br />

um ar acolhedor.<br />

Talvez porque ali morasse uma pessoa como Abby.<br />

Naquele momento, esta usava jeans e camiseta, e sorria, feliz, mostrando a <strong>Shay</strong><br />

a enorme biblioteca do marido.<br />

— Meu <strong>De</strong>us, que maravilha! Havia estantes forrando as paredes.<br />

— Acredite em mim, se pudesse, Dante entupiria a casa inteira com livros.<br />

<strong>Shay</strong> aproximou-se de uma das prateleiras, sentindo o cheiro de couro antigo.<br />

Aquilo era um pedacinho do paraíso.<br />

— Ele deve estar colecionando livros há muito tempo - murmurou, perplexa.<br />

— Há séculos. Literalmente.<br />

<strong>Shay</strong> não se sentia completamente à vontade. Tinha passado anos sendo uma<br />

escrava e não sabia se comportar como uma visita.<br />

— Está com medo de mim porque sou a Fênix? - Abby perguntou de repente.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> torceu as mãos, embaraçada por seu comportamento ser tão óbvio.<br />

— Eu... Viper não devia tê-la obrigado a me receber.<br />

— Obrigado a receber você? - Abby segurou as mãos de <strong>Shay</strong>.<br />

— Certamente Viper lhe contou que mandei Dante convidá-la para vir aqui. Estava<br />

ansiosa por conhecê-la melhor.<br />

<strong>Shay</strong> estreitou os olhos, confusa.<br />

— Por quê?<br />

— Por mais que eu adore Dante, sinto falta da companhia de outra mulher.<br />

— Mas você deve ter amigas. Abby suspirou profundamente.<br />

— Na verdade, não. Pensou que, por eu ser uma deusa, as pessoas iriam querer<br />

estar comigo? Para ser honesta, nunca tive uma amiga de verdade.<br />

A ansiedade que <strong>Shay</strong> sentia desapareceu. Abby deu um passo para trás e a fitou<br />

atentamente.<br />

— Bom <strong>De</strong>us, agora eu entendo por que Viper parece iluminado desde que a<br />

conheceu.<br />

— O quê?<br />

— Você é linda... Mas claro que sabe disso. <strong>Shay</strong> bufou, incrédula.<br />

— Já se olhou no espelho? - insistiu a Fênix. Ela torceu as mãos nervosamente.<br />

— Sou metade demônio.<br />

— E Viper e Dante inteiramente demônios. Vai me dizer que não os acha lindos?<br />

Bem, quanto à beleza dos dois vampiros não havia o que discutir.<br />

— Dante é muito bonito - ela admitiu por fim. Abby arqueou a sobrancelha.<br />

— E quanto a Viper?<br />

— Ele me deixa quase louca.<br />

— Sabia que eu fiquei furiosa quando descobri que Viper a havia comprado em um<br />

leilão de escravos? Não podia acreditar que tivesse feito isso. Justamente ele, que foi<br />

sempre contra a escravidão. Mas agora penso que ele a comprou para lhe salvar a vida.<br />

— Bem, certamente há bondade no coração dele. - <strong>Shay</strong> sentiu-se obrigada a<br />

reconhecer.<br />

— Mas continua sendo um vampiro. - Abby riu.<br />

— Aposto que ele ficou interessado em você quando a viu pela primeira vez, e se<br />

pôs a procurá-la.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Sou a última das shalotts. Os vampiros vêm me caçando desde o começo dos<br />

tempos.<br />

— Isso pode ser verdade, mas não me parece que tenha sofrido muitos abusos<br />

por parte de Viper.<br />

<strong>Shay</strong> poderia ter mentido, e afirmado que, sendo metade demônio, tinha a<br />

capacidade de se recuperar rapidamente. Mas isso seria injusto. Viper a tratara com<br />

uma ternura inesperada. E mesmo que não confiasse nele inteiramente, poderia<br />

apostar que não a submeteria a algo que ela não quisesse.<br />

— Ele fez... certas promessas - admitiu a contragosto.<br />

— Verdade?<br />

Antes que pudesse contar alguma coisa, a porta da biblioteca se abriu e Dante<br />

entrou.<br />

— Lamento interromper, mas Viper acaba de voltar. <strong>Shay</strong> sentiu uma dor no<br />

peito. Ter voltado tão depressa significava que não conseguira informação alguma.<br />

— Já voltou?<br />

Dante fitou as duas, enigmático.<br />

— E trouxe consigo uma bruxa. <strong>De</strong>sta vez foi Abby quem estremeceu.<br />

— Ele trouxe uma bruxa para esta casa? Dante deu de ombros.<br />

— Ele jura que ela está aqui para ajudar <strong>Shay</strong> a descobrir a verdade sobre sua<br />

praga.<br />

Abby levou um momento para recuperar a calma. Voltou-se então para <strong>Shay</strong>.<br />

— Quer conversar com a bruxa?<br />

<strong>Shay</strong> umedeceu os lábios secos. Entendia a razão da aversão de Abby. Nada como<br />

uma experiência de quase-morte para unir as pessoas.<br />

Ainda assim, Viper fizera o que era preciso.<br />

— Suponho que eu deva conversar com ela.<br />

Como se sentisse o esforço de <strong>Shay</strong> em dizer as palavras, Abby apertou-lhe as<br />

mãos.<br />

— Não se preocupe. Estaremos com você.<br />

Styx estava esperando na caverna mais funda, quando Damocles surgiu na<br />

escuridão e se dirigiu ao poço de magia. Sentiu a raiva habitual ao ver o duende.<br />

Mesmo ali, no meio das rochas e do chão cheio de limbo, o idiota estava vestido com<br />

um rico traje de veludo bordado com fios de ouro. Os cabelos estavam enfeitados com<br />

folhas ridículas. Porém, era mais do que essa frivolidade do avejão que irritava Styx.<br />

O demônio tinha trazido somente desgraça e pesar à comunidade.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Se tivesse sido sábio o suficiente no primeiro momento em que o duende<br />

aparecera! Infelizmente, ele subestimara a influência que aquela criatura teria sobre<br />

seu senhor.<br />

Esperou até que Damocles se aproximasse, então saiu das sombras e lhe bloqueou<br />

a passagem.<br />

— Falhou novamente, duende - disse em uma voz fria como gelo.<br />

— Não temos a shalott, e até o patético troll conseguiu escapar.<br />

O abantesma não se perturbou, e inclinou-se com falso respeito diante do<br />

vampiro.<br />

— Falhei? Que palavra cruel. Especialmente para quem acaba de perder alguém a<br />

quem amava. - As mãos deslizaram pelo tecido do manto.<br />

— Não vê que estou de luto?<br />

Styx arreganhou os dentes, exibindo os caninos. Tinha ficado furioso ao saber<br />

que Damocles acordara o Lu e o mandara para Chicago. Uma total loucura.<br />

— Tudo o que vejo é um duende traidor, que finge dedicação enquanto envenena o<br />

nosso mestre às escondidas.<br />

Damocles colocou a mão sobre o peito com uma expressão de total inocência no<br />

rosto.<br />

— Mas o que está dizendo?<br />

— Pensa que não sei do líquido que faz o mestre tomar todas as noites?<br />

— É verdade que eu misturo poções para ajudar a amenizar a dor do mestre. - Ele<br />

deu de ombros.<br />

— <strong>De</strong>veria preferir observá-lo sofrer, ou talvez nem aparecer para vê-lo?<br />

— Foram suas poções que o deixaram assim, tão fraco.<br />

Os olhos verdes do duende brilharam. Instintivamente, Styx levou a mão debaixo<br />

do manto para pegar a adaga.<br />

— Acusa-me de enfraquecê-lo? Tem provas disso?<br />

— Sei que ele melhorou bastante depois... - Apesar de ser quem era, Styx relutou<br />

em continuar.<br />

— <strong>De</strong>pois que você capturou o pai da shalott e o ofereceu em sacrifício? -<br />

Damocles terminou com um sorriso que fez Styx quase perder a calma.<br />

Mesmo depois de tantos anos, aquela morte ainda lhe pesava na consciência.<br />

— Sim, depois disso - ele concedeu.<br />

— Ouvi dizer que ele matou três de seus vampiros antes que conseguissem deixálo<br />

desacordado e o trouxessem a esta caverna.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

O desejo de enterrar os dentes no pescoço do duende e deixá-lo seco foi<br />

alucinante. Somente as ordens que recebera de seu mestre o impediam de atacar<br />

aquele verme.<br />

— Fiz somente o que meu mestre mandou. Questiona as decisões dele? Eu devia<br />

ter feito você em pedaços quando me surgiu à frente pela primeira vez.<br />

— Ah, culpa um mero criado dos pecados de seu mestre? É essa a sua noção de<br />

justiça?<br />

Styx rangeu os dentes.<br />

— Se houvesse justiça, de fato, você já teria morrido ao lado de seu mestre<br />

anterior.<br />

— Mas agora chega. - Styx encerrou aquela discussão inútil. O passado ficara<br />

para trás e somente o futuro interessava.<br />

— Não vim ao mestre com as mãos vazias como você. E agora o convenci a me<br />

permitir que pegue pessoalmente a shalott. Logo que você me revelar onde ela está, os<br />

seus serviços não serão mais necessários.<br />

Damocles pareceu indiferente à ameaça. Com movimentos lânguidos, passou por<br />

Styx e foi direto ao poço das magias.<br />

— <strong>De</strong>vo confessar que estou surpreso que tenha assumido essa tarefa<br />

pessoalmente.<br />

— Por quê?<br />

— Certamente o mestre lhe contou quem está com a shalott?<br />

— Se tem algo a dizer, duende, diga logo.<br />

— Simplesmente me parece estranho que, após sua luta para preservar o sangue<br />

dos vampiros, agora esteja ansioso por derramá-lo. - Damocles moveu a mão sobre as<br />

águas e fez um gesto para Styx se aproximar.<br />

— Veja.<br />

O vampiro se aproximou com cautela.<br />

Ao primeiro olhar, tudo o que pôde ver foi o rosto bronzeado da shalott. Um<br />

rosto que se parecia muito com o do pai dela.<br />

Não podia se deixar levar pelo remorso. O sangue dela era necessário agora.<br />

O tremor na água chamou sua atenção e ele viu surgir um rosto familiar,<br />

— Viper - murmurou, chocado.<br />

— Amigo seu?<br />

— Onde eles estão?<br />

Com um sorriso, Damocles movimentou a mão e fez surgir a imagem de uma<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

elegante mansão, que Styx reconheceu de imediato.<br />

Qualquer vampiro conhecia o endereço de Dante e Abby. Mas nenhum demônio<br />

queria cruzar o caminho da deusa.<br />

— Eu diria que a shalott sabe quem escolher como amigo. - O duende balançou a<br />

cabeça.<br />

— Dois vampiros, um gárgula e a Fênix.<br />

Styx ficou alerta.<br />

— E quanto ao troll Evor?<br />

— Temo que as tentativas de meus criados em descobrir seu paradeiro tenham<br />

dado em nada. Talvez ele tenha desaparecido simplesmente.<br />

— Acha isso divertido?<br />

— Irônico talvez?<br />

Styx apertou os olhos, raivoso.<br />

— Cuidado para não engasgar com tanta ironia.<br />

— Farei o possível.<br />

Styx não precisava mais aguentar a presença do duende. Já sabia o paradeiro da<br />

shalott.<br />

— Prepare suas malas enquanto eu estiver fora, Damocles. Quando eu voltar,<br />

pretendo ver você escoltado para fora daqui.<br />

— Como queira.<br />

Styx ignorou a tranquilidade do avejão e deixou o aposento. Logo Damocles seria<br />

jogado para fora do estado, ou morto por suas próprias mãos. <strong>De</strong> alguma forma, o<br />

duende não poderia mais espalhar o seu veneno. Por hora, importava apenas confrontar<br />

Viper, e convencê-lo, de alguma forma, a lhe entregar sua escrava.<br />

Damocles esperou até ter a certeza de que o vampiro tinha deixado a caverna,<br />

soltou uma risada e abriu uma passagem secreta. <strong>De</strong>sceu cuidadosamente as escadas,<br />

sentindo o cheiro forte de suor e excremento. Manter um prisioneiro era sempre um<br />

negócio desagradável, embora tivesse suas vantagens.<br />

Chegou ao último degrau e olhou para um canto, dando com o prisioneiro de olhos<br />

vermelhos e cheios de ódio. O maldito troll continuava bem preso à parede.<br />

— Vejo que não perdeu o apetite, Evor - Damocles murmurou, olhando os ossos<br />

espalhados pelo chão.<br />

— O que mais há para se fazer neste chiqueiro?<br />

Damocles riu.<br />

— É assim que fala destes adoráveis aposentos?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O que quer de mim? Dinheiro? Escravos?<br />

— Nada tão valioso... Apenas a sua vida.<br />

Viper não se importou em esconder sua impaciência. Andando de um lado para o<br />

outro no enorme saguão, ele manteve os olhos presos na elegante escadaria de<br />

mármore.<br />

Não que estivesse preocupado com a segurança de <strong>Shay</strong>. Havia poucos lugares<br />

onde ela ficaria mais segura do que ao lado da Fênix. Quem se atreveria a provocar a<br />

ira da deusa?<br />

Não, sua impaciência era algo mais pessoal. Menos de uma hora se passara, e ele<br />

já sentia sua falta.<br />

E isso era um mau sinal. Muito ruim para um vampiro que nunca tinha pensado<br />

duas vezes em uma mulher, a não ser que ela estivesse sob a proteção de seu clã.<br />

Ouviu os passos antes que Dante, Abby e, por fim, <strong>Shay</strong> surgissem no topo da<br />

escada. Quando ela chegou ao último degrau, Viper se aproximou e a beijou nos lábios.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos, surpresa e embaraçada.<br />

— Viper, por favor.<br />

— O que foi?<br />

— Não estamos sozinhos - ela murmurou.<br />

Viper inclinou a cabeça e sentiu o calor de seu corpo.<br />

— Posso dar um jeito nisso, se estiver interessada.<br />

— Não estou - ela resmungou, mas Viper não deixou de perceber os mamilos<br />

enrijecidos.<br />

Bom, muito bom.<br />

— Tem certeza? - Ele a abraçou.<br />

— Posso lhe mostrar quanta falta senti de você.<br />

— Mas apenas se passou uma hora.<br />

— O que posso dizer? Você me enfeitiçou. Ela olhou por cima do ombro.<br />

— Falando em feitiço, sua amiga está se sentindo negligenciada...<br />

Com relutância, Viper a soltou.<br />

— Trouxe Natasha para que ela examine a sua marca. Natasha podia ser bonita,<br />

mas não tanto quanto <strong>Shay</strong>. Viper levou a relutante <strong>Shay</strong> em direção à bruxa,<br />

escondendo um sorriso ao sentir o olhar que as duas trocavam.<br />

— <strong>De</strong>ixe-me ver - Natasha falou sem rodeios.<br />

— Aqui. - Virando-se de costas, <strong>Shay</strong> abaixou o ombro da blusa.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

A bruxa se concentrou na marca, tocando-a por bastante tempo.<br />

— Um feitiço poderoso, mas não é uma maldição. É mais um elo.<br />

— Pode ser quebrado? - indagou Viper.<br />

— Não sem termos junto aquele que mantém o poder sobre ela.<br />

Ele suspirou, desanimado.<br />

— Mas é possível pelo menos nos ajudar a descobrir quem foi o responsável pelo<br />

feitiço?<br />

Natasha pensou um instante, depois deu de ombros.<br />

— Posso lançar um feitiço para que rastreiem a bruxa responsável pela marca.<br />

Isso se ela não usar outra mandinga contra isso.<br />

<strong>Shay</strong> pareceu interessada.<br />

— <strong>De</strong> que tipo de rastreamento está falando?<br />

— Já brincou de quente e frio?<br />

— Não.<br />

— Uma vez que eu tenha feito o contrafeitiço, a marca irá esquentando à medida<br />

que você se aproximar de onde está a bruxa, e esfriando quando se afastar dela. <strong>Shay</strong><br />

mordeu os lábios.<br />

— E quanto tempo dura esse contrafeitiço?<br />

— Um dia, talvez dois.<br />

Viper deu um passo à frente, e colocou o braço no ombro de <strong>Shay</strong>.<br />

— Quer tentar?<br />

Seus olhares se encontraram.<br />

— Não tenho outra escolha, não é?<br />

Ele gostaria de mentir e assegurar a ela que não precisaria mais se preocupar.<br />

Mas ambos sabiam que, enquanto o feitiço a ligasse a Evor, ela nunca estaria em<br />

segurança. Não importava o quanto fugissem.<br />

Balançou a cabeça com um suspiro.<br />

— Realmente não tem.<br />

<strong>Shay</strong> também suspirou profundamente.<br />

— Vamos logo com isso. Viper se voltou para Natasha.<br />

— Do que precisamos?<br />

— Eu trouxe o necessário.<br />

Claro que não era um processo fácil. Natasha exigiu "sentir" a casa, antes de se<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

decidir que a cozinha possuía a melhor aura para o trabalho. Somente depois mandou<br />

que <strong>Shay</strong> se sentasse em uma cadeira, e tirou uma vela preta da bolsa.<br />

O ritual do contrafeitiço começou.<br />

Viper não conseguiu ficar parado, e ficou andando de um lado para o outro.<br />

Odiava a idéia de não poder fazer nada, por isso colocara <strong>Shay</strong> nas mãos daquela<br />

mulher.<br />

Mas nenhum vampiro se sentia à vontade diante da magia. Como lutar contra algo<br />

que não se vê nem se toca?<br />

Natasha pegou uma fita branca e a levou à chama da vela. Espalhou-se um cheiro<br />

estranho, que encheu a cozinha inteira enquanto a bruxa falava algumas palavras antes<br />

de encerrar o trabalho.<br />

Subitamente, <strong>Shay</strong> pulou na cadeira. Viper deu um passo à frente, apreensivo.<br />

— <strong>Shay</strong>, você está bem?<br />

— Apenas um pouco tonta - ela disse, estendendo a vela para Natasha.<br />

Viper voltou-se para a bruxa com um olhar nada amigável.<br />

— O que você fez a ela?<br />

— Não se preocupe, vai passar. - Natasha voltou-se para <strong>Shay</strong>.<br />

— Consegue sentir a marca?<br />

— Ela arde.<br />

Natasha levantou-se com um sorriso triunfante.<br />

— O contrafeitiço funcionou. Você pode usá-lo como uma bússola.<br />

Viper suspirou, aliviado.<br />

— Fez um belo trabalho. Obrigado.<br />

A bruxa retribuiu o elogio com um sorriso convidativo.<br />

— Estou sempre pronta para ajudá-lo...<br />

<strong>Shay</strong> se recuperara o suficiente para enviar a Viper um olhar zangado.<br />

Ele simplesmente escondeu o sorriso.<br />

— Vou levá-la para casa - murmurou para Natasha. <strong>Shay</strong> levantou-se<br />

imediatamente.<br />

— Eu vou junto. Podemos começar a tentar localizar a caverna da bruxa.<br />

— Está bem - Viper concordou.<br />

— Eu levarei Natasha para casa, Viper. - Dante se adiantou.<br />

— Você e <strong>Shay</strong> podem começar sua busca.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper lançou um olhar de agradecimento ao amigo.<br />

Mesmo se divertindo em ver <strong>Shay</strong> claramente com ciúmes da bruxa, estava muito<br />

mais interessado em descobrir o responsável pelo feitiço. Uma vez que <strong>Shay</strong> estivesse<br />

livre da ameaça, ele poderia desfrutar de certos prazeres.<br />

— Vão voltar antes do amanhecer? - Abby perguntou a Viper.<br />

— Não queremos colocá-la em perigo. A deusa sorriu com a confiança que<br />

conquistara nas últimas semanas.<br />

— Há poucos demônios que ousariam invadir a minha casa. Não é qualquer um que<br />

deseja enfrentar a Fênix. Viper sorriu. Ele não poderia argumentar contra isso.<br />

<strong>Shay</strong> passou a mão pelo ombro quando o carro atingiu o lado sul de Chicago.<br />

Estavam em uma área bem diferente aquela em que ficava a mansão de Abby e Dante.<br />

Você pode usar a marca como uma bússola, Natasha havia dito.<br />

Fácil falar. Não era o ombro dela que ardia.<br />

— Pare aqui!<br />

Viper diminuiu a velocidade de seu Jaguar preto.<br />

— Aqui? Tem certeza?<br />

— Sim.<br />

— Sente alguma coisa?<br />

— Meu ombro dói. - Olhando pela janela, <strong>Shay</strong> observou as lojas por onde<br />

passavam. Era uma combinação depressiva de prédios abandonados, bares e lojas de<br />

artigos pornográficos. Ela saltou do carro antes mesmo de ele parar.<br />

— Conheço este lugar. Eu morava perto da esquina.<br />

Viper estacionou e a seguiu pela rua escura.<br />

— Parece uma velha loja.<br />

— Sim, uma livraria. Meu pai costumava me trazer aqui. - Ela fez uma careta.<br />

— Diabos, meu ombro está queimando.<br />

<strong>Shay</strong> lutou para trazer de volta as lembranças. Estivera ali havia muitos anos e a<br />

vizinhança mudara muito. Ainda assim, tinha certeza de não estar enganada.<br />

— Suponho que devemos dar uma olhada - murmurou Viper.<br />

— <strong>Shay</strong>...<br />

— O que foi?<br />

— Não corra riscos. Sabe-se lá o que vamos encontrar pela frente.<br />

— Está sentindo alguma coisa? Ele olhou em direção à loja.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não, e é isso que está me aborrecendo.<br />

Ela suspirou. Aquele que a caçava poderia estar nas proximidades.<br />

Viper a tomou nos braços e a beijou nos cabelos.<br />

Do fundo da rua chegavam sons, provavelmente de gente vendendo droga. E devia<br />

haver gangues por ali. Até estupradores, mas isso não era problema. Estava nos braços<br />

de um vampiro, <strong>Shay</strong> pensou.<br />

— Podemos voltar para a casa de Dante, se quiser. Não precisamos entrar - ele<br />

murmurou ao ouvido dela.<br />

Por um momento, ela se permitiu apoiar na força de Viper. Oh, como seria bom se<br />

pudesse se esconder, fingir que estava em segurança. Havia tanto tempo em que<br />

contava apenas consigo.<br />

Então se afastou dele com determinação. Não iria se apoiar em ninguém.<br />

— Vamos entrar. Já que nós temos de fazer isto, que seja agora.<br />

Adentraram a loja escura. <strong>Shay</strong> olhou em volta, franzindo o nariz com o cheiro da<br />

poeira de velhos livros. O interior era estreito, com prateleiras lotadas e outros<br />

objetos estranhos, difíceis de serem identificados.<br />

Junto a uma parede, mais ao fundo, havia um balcão e outra estante com potes de<br />

cerâmica. Esta parecia sinistra debaixo das sombras.<br />

— Parece abandonada - ela murmurou.<br />

— <strong>De</strong> fato.<br />

— Por que a marca me trouxe aqui?<br />

— Não tenho certeza. Mas devemos examinar tudo. Pode haver algo que nos dê<br />

alguma dica.<br />

<strong>Shay</strong> engoliu em seco. Não tinha vontade de ficar vasculhando uma loja tão suja.<br />

Mais do que isso. Havia ali algo inquietante. Infelizmente, Viper tinha razão. A<br />

dor no ombro os tinha trazido até ali. <strong>De</strong>veria haver alguma coisa.<br />

Se pelo menos ela tivesse uma idéia do que fosse...<br />

Movendo-se entre as estantes, <strong>Shay</strong> tocou nos livros: clássicos infantis e alguns<br />

de filosofia. Nenhum livro de feitiços.<br />

Viper encostou-se a uma das estantes e cruzou os braços.<br />

— Por que não me diz do que se lembra deste lugar? Ela hesitou, o olhar se<br />

dirigindo ao balcão. Era como se os fantasmas indicassem alguma coisa.<br />

— Não me lembro de muita coisa, apenas de ficar sentada no balcão, lendo os<br />

livros, enquanto meu pai conversava com a dona da loja. - A expressão dela suavizou.<br />

Podia sentir a mão amiga do pai quando ele a levantava para pegar algum livro na parte<br />

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mais alta da estante.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Os livros naquele tempo eram raros, e cada um deles representava um tesouro<br />

para mim.<br />

— Você chegou a falar com a mulher?<br />

<strong>Shay</strong> tentou se lembrar.<br />

— As vezes ela me dava um doce, mas não me lembro de nenhuma conversa em<br />

particular.<br />

— Poderia ser uma bruxa?<br />

— É possível. Estranho ela nunca nos ter perguntado por que éramos diferentes...<br />

E havia sempre fregueses em busca dos potes. Na ocasião, pensei que fossem apenas<br />

enfeites.<br />

— Poções - Viper resmungou, indo direto ao balcão.<br />

— Provavelmente.<br />

Surpresa, <strong>Shay</strong> viu o vampiro examinar vários potes e, por fim, começar a<br />

vasculhar a parede atrás deles.<br />

— O que está fazendo?<br />

Ele continuou a bater na madeira.<br />

— Se ela era uma bruxa, devia possuir um quarto seguro onde fazia suas<br />

feitiçarias. Um lugar onde pudesse não ser interrompida. - Parou e bateu várias vezes<br />

em um mesmo lugar. Então voltou-se, sorrindo.<br />

— Aqui está.<br />

A estante foi se abrindo e revelando uma estreita escada à frente.<br />

— Oh, meu <strong>De</strong>us...<br />

— Vamos dar uma olhada?<br />

<strong>Shay</strong> engoliu em seco antes de concordar. <strong>De</strong>via haver algo lá embaixo. Não tinha<br />

vontade de pisar no que estava soltando aquele cheiro.<br />

Viper moveu-se em silêncio. <strong>Shay</strong> não era abençoada com a mesma visão dos<br />

vampiros, e acabou tropeçando algumas vezes antes de chegar ao fim da escada.<br />

Felizmente, Viper conseguiu acender uma luz. <strong>Shay</strong> piscou e foi ajustando a vista.<br />

Em seguida, ficou horrorizada.<br />

— Viper!<br />

Ele a segurou pela mão, o toque frio oferecendo segurança. Só então ela<br />

conseguiu voltar a respirar normalmente.<br />

—A caverna - Viper murmurou, apontando para as paredes sujas e o círculo<br />

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desenhado no chão.<br />

— Aqui foi feito o seu feitiço.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Sim, eu me lembro! Este é o lugar.<br />

— E onde está a bruxa?<br />

Largando a mão dele, <strong>Shay</strong> caminhou até o círculo. As lembranças ainda não eram<br />

nítidas, mas tinha certeza de que aquele era o lugar onde adquirira a marca.<br />

Estendeu a mão e tocou na invisível parede de poder que rodeava o círculo.<br />

Gemeu baixinho. A magia que o rodeava havia sido quebrada.<br />

Subitamente, ela avistou uma pilha de ossos a um canto.<br />

— Acho que encontramos a bruxa... Viper se aproximou do esqueleto, cauteloso.<br />

— Se esta for a bruxa, está morta há um bom tempo. <strong>Shay</strong> tentou olhar melhor a<br />

pilha. Sua respiração ficou presa na garganta quando notou a faca enterrada em um<br />

dos ossos.<br />

— Foi assassinada! E por Evor. Viper voltou-se, surpreso.<br />

— Tem certeza?<br />

— Evor tem uma faca exatamente igual a esta. Eu a reconheceria em qualquer<br />

lugar.<br />

Ele se abaixou e puxou a faca.<br />

— Isso explicaria por que Evor conseguiu o controle sobre você.<br />

Mas havia tantas outras perguntas sem respostas.<br />

— Não faz sentido - murmurou <strong>Shay</strong>.<br />

— Quando eu era jovem, a marca em minhas costas era apenas uma mancha. Eu<br />

não sabia que era uma praga até Evor passar a me dominar. Se foi a bruxa quem<br />

colocou o feitiço em mim, por que nunca me fez perceber que tínhamos um elo? - Ela<br />

apontou para os ossos.<br />

— E por que não morri quando ela morreu?<br />

Viper observou atentamente a faca que tinha nas mãos.<br />

— A única explicação é que Evor provavelmente a forçou a lhe passar o poder que<br />

ela possuía sobre você. E o fato de nunca ter percebido o significado da marca... eu<br />

não sei.<br />

— Droga! - Ela respirou fundo.<br />

— E agora? Viper se levantou e mirou o teto.<br />

— O amanhecer se aproxima. A não ser que queira passar o dia aqui, devemos<br />

voltar à casa de Dante. Retornaremos aqui amanhã, se quiser.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Ela cerrou as sobrancelhas e parou um momento, olhando uma pequena caixa<br />

escondida perto do esqueleto.<br />

eu...<br />

— O que é isso?<br />

— <strong>Shay</strong>... Pode haver armadilhas aqui. Ela lhe dirigiu um olhar exasperado.<br />

— Não podemos ignorar a caixa! Pode ter algo dentro que nos ajude.<br />

— Muito bem. Mas se tentar abri-la antes que tenhamos certeza de que é seguro,<br />

— Você o quê? - <strong>Shay</strong> o enfrentou.<br />

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Viper.<br />

— Quando eu pensar em algo realmente abominável, eu lhe direi o que vou fazer...<br />

Viper ouviu os passos de <strong>Shay</strong> no corredor. Sorriu enquanto vestia o roupão e<br />

prendia o cabelo comprido para trás com uma tira de ouro. Haviam voltado para a casa<br />

de Dante poucas horas antes, mas não acreditava que <strong>Shay</strong> viesse voluntariamente até<br />

seu quarto. Seria esperar demais.<br />

<strong>De</strong>cidido a dar um tempo para alcançar seu objetivo, deixou o aposento em<br />

silêncio e seguiu para a biblioteca. Não receava encontrar ninguém. Dante e Abby<br />

deviam estar se distraindo na cama, enquanto Levet, que fora trazido para ali mais<br />

cedo, tinha voltado à sua forma de pedra ao amanhecer. Ele e <strong>Shay</strong> estavam<br />

praticamente sozinhos no casarão, e ter certeza disso o deixava excitado.<br />

Entrando na biblioteca, observou-a olhando atentamente para a caixa da bruxa.<br />

Estremeceu quando viu que ela vestia nada mais do que uma fina camisola, a qual lhe<br />

revelava cada contorno do corpo. Era uma pena que os cabelos estivessem trançados.<br />

Mas isso deixava com que ficasse exposta a vulnerável curva de seu pescoço.<br />

Sentiu os caninos crescerem e o corpo se excitar.<br />

Droga. Em parte sabia que deveria voltar ao quarto. Mais não sairia dali de jeito<br />

algum. Ele e <strong>Shay</strong> tinham algo a terminar e não gostava de coisas inacabadas.<br />

Caminhou silenciosamente e a tocou no pescoço.<br />

— Bisbilhotando? - Sua voz soou macia como seda. Ela deu um pulo e ruborizou.<br />

— Quer me matar de susto?<br />

Viper permitiu que seu olhar deslizasse pelo pescoço.<br />

— Como devo aparecer?<br />

— Podia amarrar um sino no pescoço, não sei. Ele riu.<br />

— Não combina com minha elegância... O que está fazendo aqui?<br />

— Vim buscar um copo de água.<br />

— Na biblioteca?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Sempre leio antes de dormir. E isso não é de sua conta.<br />

— Mentirosa. - Viper se aproximou ainda mais, os dedos agora acariciando os<br />

braços macios.<br />

— Estava tentando abrir a caixa.<br />

Sentiu que ela estremecia sob seu toque. Mesmo assim, <strong>Shay</strong> estreitou o olhar.<br />

— Não devia estar no seu caixão?<br />

— Excelente observação, minha querida. Assim como você deveria estar em sua<br />

cama.<br />

Com um movimento rápido, ele a tomou nos braços e começou a levá-la para fora<br />

da biblioteca.<br />

— Maldito! Coloque-me já no chão!<br />

— Meu <strong>De</strong>us, que linguagem inadequada para uma dama.<br />

— Não sou uma dama. Sou um demônio.<br />

— Um lindo demônio, aliás... - ele murmurou, entrando em um dos numerosos<br />

quartos de vampiro que Dante mandara construir na mansão.<br />

Atravessou o aposento e a largou em cima de uma enorme cama.<br />

— Pronto. Está satisfeita?<br />

Esparramada em cima de lençóis de seda preta, <strong>Shay</strong> lutou para se sentar.<br />

— Não.<br />

— Ah... - Viper cobriu o corpo dela com o seu.<br />

— Isto a satisfaz?<br />

Viper suspirou, deslumbrado. A pele de <strong>Shay</strong> era tão macia, e seus olhos<br />

dourados brilhavam como ouro. Nunca vira nada tão lindo em toda a sua existência.<br />

Ela era perfeita. Uma visão que parecia vir de seus sonhos e não da realidade.<br />

Mantendo-a presa sob o corpo, começou a desmanchar a trança, deixando soltos<br />

os cabelos sedosos. Queria vê-los espalhados sobre os travesseiros.<br />

— O que está fazendo?<br />

Viper continuou a soltar os cabelos longos.<br />

— Eu avisei que a puniria se a pegasse querendo abrir a caixa.<br />

— Estava apenas olhando para ela!<br />

Ele lhe lançou um daqueles olhares irresistíveis.<br />

— Pois tenho algo mais interessante para você olhar. Como era de se esperar,<br />

<strong>Shay</strong> enrubesceu.<br />

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— Você é quem diz.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Mas você parecia bastante interessada em mim há poucas horas...<br />

— Estava em choque depois da luta com o Lu. Não estava pensando com clareza.<br />

Viper riu e a beijou levemente nos lábios.<br />

— E agora? Continua em choque?<br />

Os olhos dourados escureceram com indisfarçável desejo.<br />

— <strong>De</strong>vo estar.<br />

— Porque me deseja?<br />

— Sim - admitiu <strong>Shay</strong> com voz rouca.<br />

Qualquer esperança de controle desapareceu quando ele envolveu seu rosto nas<br />

mãos e mordeu-lhe levemente o lábio.<br />

— Tão linda... Não é de admirar que eu tenha sido enfeitiçado.<br />

— Pensei que não gostasse de mágica.<br />

Ele continuou a contornar com a língua a boca de <strong>Shay</strong>.<br />

— Gosto desta mágica.<br />

— Viper...<br />

Não havia dúvida alguma de que ela o desejava. Os milhares de anos de<br />

experiência o faziam perceber quando uma mulher queria fazer amor com ele. Podia<br />

sentir a força de seu desejo no ar. Por que ela resistia tanto?<br />

As mãos hesitantes de <strong>Shay</strong> entreabriram o roupão que ele usava, e começaram a<br />

acariciar os músculos de seu peito. O toque era leve, hesitante. Mas o suficiente para<br />

que a paixão que ele já sentia chegasse às alturas.<br />

Capturou os lábios macios em um beijo provocador.<br />

Procurou não usar os caninos, mas estava consumido pelo desejo. Não tinha<br />

certeza se resistiria a usar as presas.<br />

Impaciente, ele arrancou o roupão. Queria sentir o contato direto com a pele de<br />

<strong>Shay</strong>.<br />

Mordeu a ponta da orelha delicada, murmurando palavras suaves enquanto a<br />

despia.<br />

— Preciso sentir você junto a mim.<br />

A respiração dela se alterou quando os dedos de Viper envolveram seu seio e<br />

começaram a lhe massagear o mamilo.<br />

— Isto é loucura...<br />

— Não posso pensar em uma loucura mais agradável. - Os lábios dele mordiscaram<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

o mamilo, e suas mãos a seguraram pelos quadris para pressioná-la contra a potente<br />

ereção.<br />

<strong>Shay</strong> gemeu e arqueou o corpo em um silencioso convite.<br />

Viper usou os dentes e a língua para aumentar ainda mais o prazer que já a<br />

tomava por inteiro. <strong>De</strong>slizou a língua pelo contorno dos seios, movendo-se para o<br />

mamilo ainda inexplorado.<br />

— Viper...<br />

— Gosta disto? - perguntou, lambendo o seio.<br />

— Oh, sim!<br />

— E disto?<br />

Afastou as pernas dela, levando a mão às suas partes mais íntimas. Ficou imóvel<br />

por um momento, apreciando os sedutores contornos.<br />

As feições de <strong>Shay</strong> agora estavam tomadas pela paixão que não mais podia<br />

esconder.<br />

— Viper...<br />

— Você é tão linda - ele disse, beijando-a nos dedos dos pés, ao longo das pernas,<br />

no interior das coxas... Queria explorar cada centímetro dela.<br />

— Viper, não... - <strong>Shay</strong> já não conseguia respirar direito.<br />

— Quero senti-la por inteiro.<br />

— Não sei se vou aguentar - ela confessou, jogando para trás o pescoço.<br />

Ele estreitou os olhos ao avistar a veia pulsante. Mas naquela noite não usaria os<br />

caninos, decidiu, apesar do forte desejo que o consumia. Não até <strong>Shay</strong> estar<br />

preparada para se entregar totalmente.<br />

— Viper... por favor...<br />

— É isso o que você quer? - ele perguntou, antes de cobrir sua parte mais íntima<br />

com a boca.<br />

Ela soltou uma exclamação e o agarrou pelos cabelos. Viper gemeu, extasiado. O<br />

perfume de <strong>Shay</strong> embriagava seus sentidos e ele mal podia esperar para penetrá-la.<br />

Mas antes queria que ela atingisse o auge do prazer.<br />

E este estava próximo. Podia sentir o corpo dela chegando ao clímax.<br />

Quando um tremor violento a sacudiu, ele tomou os lábios dela possessivamente<br />

e, libertando o próprio membro, penetrou-a de pronto. <strong>Shay</strong> gemeu alto e o recebeu<br />

por completo, arqueando o corpo. Viper passou a se mover alucinadamente, sentindo as<br />

unhas dela cravadas em suas costas.<br />

— <strong>De</strong> novo, querida... Junto comigo... - pediu, e ela gritou de prazer pela segunda<br />

112


vez.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Ainda banhada de suor, e fraca demais para se mover, <strong>Shay</strong> descansou a cabeça<br />

sobre o peito de Viper. Não era a primeira vez que tinha encontrado prazer nos braços<br />

de alguém. Mas jamais sentira tanto desejo antes.<br />

Por que o melhor sexo que desfrutara na vida tivera de ser nos braços de um<br />

vampiro?<br />

— Está quieta demais... Ela piscou, confusa.<br />

— Eu pensei que vampiros sempre quisessem sangue quando...<br />

— Fazem amor? - Viper completou a frase por ela.<br />

— Sim.<br />

Ele a observou por um longo momento.<br />

— Não necessariamente, mas é verdade que isso aumenta o prazer no ato. Além<br />

disso, prometi não sugar seu sangue.<br />

<strong>Shay</strong> ajeitou melhor o corpo, pensativa. Ele estava tão lindo deitado sobre<br />

aqueles lençóis negros, com os cabelos soltos... Engoliu em seco, forçando-se a<br />

encontrar seu olhar.<br />

— Está bravo comigo?<br />

— Não. Só estou pensando no que tenho de fazer para ganhar a sua confiança.<br />

Ela sentiu o coração bater mais depressa.<br />

— O que isso importa? Sou sua escrava. Sou forçada a obedecê-lo, sejam quais<br />

forem os meus sentimentos. Por que faz questão que eu confie em você?<br />

Com sua habitual rapidez de movimentos, Viper deixou a cama, indiferente ao<br />

fato de estar nu.<br />

— Por isso está em minha cama?<br />

— Não, claro que não. Por que está assim, tão bravo?<br />

— Eu não sei. Talvez porque você tenha sugerido que eu a estuprei.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos, chocada.<br />

— Eu não disse isso!<br />

— Mas fala que é minha escrava e tenta não me desejar. Vai ver, preferiria que<br />

eu a forçasse sexualmente a ter de admitir suas próprias paixões.<br />

<strong>Shay</strong> suspirou. Ele estava certo. Ela o desejava com uma intensidade que a<br />

assustava, mas, em sua mente, não conseguia se esquecer de que havia sido um vampiro<br />

quem matara seu pai. Um vampiro que caçava shalotts como se eles fossem animais.<br />

— O que quer que eu faça, Viper? - perguntou com um suspiro.<br />

113


— Que diga a verdade.<br />

— Que verdade?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Admita que me quer. Ela apertou os lábios.<br />

— Você é maravilhoso, mas...<br />

Viper soltou um resmungo enquanto pegava o roupão e o vestia.<br />

— Para mim, chega.<br />

<strong>Shay</strong> o viu caminhar para a porta, perplexa.<br />

— Aonde vai?<br />

— Se me acha um monstro, mesmo depois do que acabamos de compartilhar,<br />

então não há esperanças para nós.<br />

Por mais que ela odiasse admitir, Viper estava certo. Ela estava sendo injusta.<br />

<strong>De</strong>sejava-o tanto quanto ele a desejava.<br />

E, sabia que, se ele saísse por aquela porta, seu orgulho o manteria afastado.<br />

— Viper, espere!<br />

Ele estacou, mas não se voltou para ela.<br />

— O que foi agora? Já feriu meu orgulho, minha masculinidade... Há algo mais que<br />

deseja destruir?<br />

<strong>Shay</strong> ficou em silêncio por um instante.<br />

— Duvido que alguém consiga ferir seu orgulho, vampiro. - Ela deixou a cama e se<br />

aproximou dele, puxando-o pelo roupão.<br />

— E quanto à minha masculinidade?<br />

— Parece em boas condições...<br />

— Boas?<br />

<strong>Shay</strong> sentiu o quanto ele estava excitado novamente e sorriu.<br />

— Mais do que boas.<br />

Viper suspirou e a envolveu nos braços.<br />

— Está tentando me enlouquecer? E esta a punição por eu ter sido tão tolo a<br />

ponto de comprá-la de Evor?<br />

<strong>Shay</strong> se aninhou junto ao peito forte, deprimida. Não podia mentir a si mesma.<br />

Viper era um vampiro e ela era sua escrava. E ainda havia alguém, ou alguma coisa, que<br />

faria de tudo para sugar seu sangue... Não podia levar a vida como se nada disso<br />

estivesse acontecendo.<br />

— Não sou boa nessas coisas - confessou baixinho.<br />

114


— Boa em quê?<br />

— Em relacionamentos.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— E o que temos aqui? Um relacionamento? - ele indagou, enquanto a levava de<br />

volta para a cama.<br />

<strong>Shay</strong> estendeu a mão e o acariciou no peito. Adorava fazer isso.<br />

— Você é quem tem de dizer se é ou não.<br />

— Se continuar com o que está fazendo, não vou conseguir dizer nada - ele<br />

reclamou com voz rouca.<br />

Ela estremeceu. Não tinha idéia de que tipo de relacionamento poderia ter com<br />

Viper. Na verdade, ela preferiria ignorar inteiramente a palavra "relacionamento"...<br />

Mas estava começando a aceitar que ter um amante não era exatamente uma coisa<br />

ruim.<br />

— Sempre preferi ação à conversa - ela murmurou.<br />

Capítulo IV<br />

<strong>Shay</strong> acordou sozinha. Uma bandeja com o café da manhã, deixada na mesinhade-cabeceira,<br />

aguardava por ela com uma omelete, bacon, torradas, uma jarra com<br />

suco de laranja e uma torta de maçã inteira. Não bastasse isso, havia pétalas de rosas<br />

espalhadas pelos lençóis.<br />

Ela sorriu consigo. E, mesmo perturbada pela noite de paixão que passara nos<br />

braços de Viper, conseguiu consumir um pouco de tudo que havia na bandeja.<br />

<strong>De</strong>pois tomou seu banho, vestiu jeans confortáveis e uma camiseta, antes de sair<br />

para dar uma volta pela mansão.<br />

Não lamentava o tempo que passara com Viper. Nenhuma mulher faria isso.<br />

Mas não se sentia preparada para se encontrar com ele. Era difícil raciocinar<br />

quando Viper estava por perto.<br />

Em meio ao pequeno passeio, encontrou um jardim de inverno encantador e<br />

aspirou fundo o perfume da terra e das plantas. Não havia ninguém por perto e ela<br />

entrou. Não demorou, e sentiu a presença de um vampiro.<br />

— Vejo que encontrou o jardim de inverno. - Dante se aproximou do banco onde<br />

ela se sentara.<br />

115


— É lindo aqui.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Direi a Abby que você gostou. Ela teima que o único modo de se apreciar a<br />

natureza é tê-la civilizada e cercada de vidros... Ela também decidiu me domar, mas<br />

com menos sucesso. Diz que sou guerreiro e não poeta o suficiente. <strong>Shay</strong> sacudiu a<br />

cabeça, sorrindo<br />

— Estive em sua biblioteca. É óbvio que é um intelectual.<br />

— Pelo amor de <strong>De</strong>us, não deixe que Abby a ouça... Prefiro a imagem de guerreiro.<br />

Ela caiu na risada.<br />

— Nunca lhe agradeci por ter ajudado a salvar Abby - Dante disse de súbito.<br />

— Ora, ninguém mais do que eu queria ver Edra morta.<br />

— Há alguma razão para estar sozinha aqui?<br />

— Estava colocando os pensamentos em ordem.<br />

— Perfeitamente compreensível. Os shalotts sempre preferem caçar a ser<br />

caçados. Não é agradável ter de fugir de tantos inimigos perigosos.<br />

— Não, não é. - <strong>Shay</strong> apertou as mãos, tensa. A expressão dele suavizou.<br />

— Pelo menos não está sozinha. Viper vai protegê-la.<br />

— Se não se importa, prefiro não falar sobre ele. Dante lançou-lhe um olhar<br />

curioso.<br />

— Viper a está perturbando?<br />

Com uma risada sem humor, ela se levantou e se afastou do atraente vampiro.<br />

— Sempre.<br />

— Quer que eu fale com ele?<br />

— Não! - <strong>Shay</strong> exclamou depressa demais. Dante não insistiu.<br />

—Nunca antes vi Viper tão envolvido com uma mulher. Ele costuma manter certa<br />

distância em seus relacionamentos.<br />

— Distância? Nunca vi alguém tão intrometido!<br />

— Como eu já disse, ele não vem se comportando como sempre - reforçou Dante<br />

com um sorriso.<br />

— Não sei se devo lhe dar meus parabéns ou minhas condolências.<br />

Ela também não sabia.<br />

—Não consigo entendê-lo - falou com um suspiro.<br />

— Veja, mesmo pertencendo a nossos clãs, somos criaturas solitárias. Há muitos<br />

vampiros que se excluem totalmente do convívio social, até que alguém os faça sair de<br />

suas conchas.<br />

116


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> franziu a testa. Não fizera nada para provocar a saída de Viper de sua<br />

concha.<br />

— Viper me contou que seu pai foi morto por um vampiro... Lamento muito.<br />

Ela baixou o olhar.<br />

— Isso foi há muito tempo.<br />

— Mas você nunca esqueceu.<br />

— Não.<br />

Repentinamente, ela percebeu que Dante estava bem perto dela.,<br />

— <strong>Shay</strong>, Viper não matou o seu pai.<br />

— Sei disso.<br />

— Sabe mesmo?<br />

— A maior parte do tempo - ela concedeu.<br />

— <strong>Shay</strong>...<br />

— Para um vampiro tão inteligente, Dante, você sem dúvida gosta de viver<br />

perigosamente, não é?<br />

Os dois deram um pulo quando ouviram a voz de Viper. Virando-se, <strong>Shay</strong> o viu<br />

entrar no solário. Vestia-se de preto, como de costume.<br />

— Eu sabia que ia aparecer mais cedo ou mais tarde. - Dante sorriu, algo sem<br />

graça.<br />

— Obviamente eu devia ter vindo mais cedo.<br />

— Não acho. <strong>Shay</strong> e eu estávamos nos distraindo bastante sem você... - Dante<br />

provocou, sabendo que ia deixá-lo louco.<br />

— Tem sorte de estar casado com a Fênix, velho amigo. O outro vampiro caiu na<br />

risada.<br />

— Guarde os caninos, Viper, estávamos falando de você.<br />

— Era o que eu mais temia.<br />

— Abby já voltou? - Dante mudou de assunto.<br />

— Sim, está na biblioteca com uma bruxa. Talvez você deva se reunir a ela.<br />

— Excelente idéia. - O vampiro lançou um olhar divertido para <strong>Shay</strong> e deixou o<br />

solário.<br />

— Por que há uma bruxa na biblioteca? - ela perguntou de pronto.<br />

— Veio verificar se a caixa não é enfeitiçada.<br />

<strong>Shay</strong> levou as mãos ao peito de repente, sentindo um zumbido no ouvido.<br />

117


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Eu devia estar lá também. Não quero perder nada.<br />

— <strong>Shay</strong>... - Viper a tomou nos braços por um momento, como se não quisesse que<br />

ela fosse embora. Então ele a libertou com um suspiro.<br />

<strong>Shay</strong> deu um passo para trás com um misto de alívio e decepção.<br />

— Vamos à biblioteca? - pediu em voz baixa. E, incapaz de se conter, ela o beijou<br />

no rosto.<br />

— Preciso saber o que há naquela caixa.<br />

— Sacrebleu! - Levet entrou na biblioteca.<br />

— O que é essa maluquice?<br />

— Cale a boca ou vou grudar sua língua no céu da boca! - a bruxa exclamou sem<br />

levantar a cabeça, enquanto continuava a acender velas em um círculo.<br />

— Quem a convidou? - Levet perguntou a Viper, o qual adoraria ver a bruxa<br />

transformar o gárgula em algo que não falasse.<br />

— Sugiro que feche a matraca ou vá se distrair em outro lugar - ele o alertou, o<br />

olhar ainda atento ao delicado perfil de <strong>Shay</strong>.<br />

— Terminei. - Com um gesto dramático, a bruxa apagou as velas.<br />

— A caixa pode ser aberta.<br />

Viper endireitou o corpo quando <strong>Shay</strong> se aproximou do pequeno baú de madeira<br />

com mãos trêmulas. Instintivamente, ele deu um passo à frente, querendo abraçá-la,<br />

mas sabia que ela detestava revelar suas fraquezas.<br />

Havia uma carta dentro da caixa.<br />

— Está endereçada a mim - ela murmurou, quebrando o silêncio. Levantou a<br />

cabeça e olhou para os presentes.<br />

— Se me derem licença, gostaria de ler a mensagem sozinha - disse, virando-se<br />

para sair.<br />

Viper não queria que ela ficasse só. Não quando ninguém sabia o que estava<br />

escrito na carta.<br />

Mas a mão de Dante em seu braço o impediu de segui-la.<br />

— Respeite a vontade dela - o amigo murmurou.<br />

— Ela está segura aqui. A casa é bem guardada contra demônios, e há alarmes que<br />

denunciarão a entrada de intrusos. Viper não pareceu satisfeito.<br />

— Não gosto de me sentir inútil. Dante deu uma risada.<br />

— Pois vá se acostumando, velho amigo. As mulheres tendem a fazer os homens<br />

se sentirem assim.<br />

118


Ele torceu os lábios.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não está me animando em nada.<br />

— Apenas dê a <strong>Shay</strong> alguns minutos. Nada vai acontecer a ela enquanto estiver<br />

aqui.<br />

Viper reconheceu que o que Dante dizia tinha lógica. Era verdade que não estava<br />

dando a <strong>Shay</strong> a privacidade de que ela precisava.<br />

Ficou andando de um lado para o outro na biblioteca. Tinha de ser honesto. Não<br />

gostava de tê-la fora de suas vistas.<br />

O tempo se arrastou indefinidamente. Dante saíra para levar a bruxa para casa, e<br />

Abby lhe trouxera uma bandeja com uma garrafa de sangue quente.<br />

Onde <strong>Shay</strong> se metera? Por que não voltava?<br />

Havia algo muito errado. Sentia isso nas profundezas de sua alma.<br />

Após uma hora, ele não aguentou mais. Saiu da biblioteca e a procurou pela casa,<br />

indo direto aos quartos, depois ao jardim de inverno.<br />

Levou pouco tempo para descobrir que ela não estava em lugar nenhum.<br />

Droga!<br />

Por fim, deixou-se levar pela impaciência e voltou ao próprio quarto. Pegou o<br />

amuleto e o colocou no bolso.<br />

Sem dúvida, <strong>Shay</strong> não iria gostar de ser chamada como um cachorro. Ele mesmo<br />

ficaria furioso se estivesse no lugar dela. Mas, por hora, preferia enfrentar sua ira.<br />

Fechou os dedos no amuleto. Minutos depois, ela entrou no quarto com fúria, a<br />

expressão desafiante, os olhos vermelhos de tanto chorar.<br />

— Droga, Viper. Por que fez isso?!<br />

— É perigoso demais para você ficar andando por aí. <strong>Shay</strong> cruzou os braços<br />

diante do peito.<br />

— Não sou nenhuma estúpida. Não tenho a menor intenção de sair daqui, quando<br />

há alguém lá fora querendo me caçar. Só queria ficar um pouco sozinha.<br />

— Converse comigo - ele pediu.<br />

— Diga-me o que há na carta.<br />

Passou-se um longo momento, e Viper temeu que ela se recusasse a responder.<br />

Estivera sozinha por tempo demais. Ainda não confiava em ninguém.<br />

— A carta é de meu pai.<br />

— <strong>De</strong> seu pai? E não ficou feliz com isso?<br />

119


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> engoliu em seco, como se estivesse engolindo junto parte do próprio<br />

passado.<br />

— Foi ele quem mandou colocar o feitiço em mim. Viper acariciou de leve o rosto<br />

dela, seu toque frio amenizando um pouco da dor que pesava em seu coração.<br />

— Não pode ter certeza disso, querida. Isso pode ser uma armadilha.<br />

— Não, não é. A carta diz que ele fez isso querendo me proteger.<br />

— O quê?<br />

— Ele sabia que estava sendo caçado, mas desconhecia por quem e por que o<br />

queriam. Lançar-me o feitiço me esconderia de seus inimigos.<br />

— Como assim?<br />

— O feitiço serviria como uma barreira, um campo de força que deteria os<br />

demônios.<br />

Viper ficou pensativo por um bom momento.<br />

— Suponho que isso seja possível. Ainda assim, seria um jogo desesperado e<br />

perigoso. Ele a deixou à mercê de Evor.<br />

<strong>Shay</strong> se afastou de Viper. Estar próxima dele lhe tirava a concentração.<br />

— Ele nunca pretendeu me deixar à mercê de ninguém - falou, defendendo o pai.<br />

— Uma vez que o perigo passasse, a bruxa devia quebrar o encanto e me revelar a<br />

verdade.<br />

— Mas a bruxa foi morta antes disso.<br />

— Exatamente.<br />

Um minuto se passou, sem que ele fizesse comentário algum. <strong>Shay</strong> não conseguia<br />

ler suas feições e ficou sem saber o que lhe passava na mente. Os vampiros eram<br />

mestres em esconder as emoções.<br />

— Seu pai só queria o seu bem, <strong>Shay</strong>. - ele falou por fim. Estúpidas lágrimas<br />

surgiram nos olhos dela. Não estava conseguindo mais esconder o desgosto que sentia.<br />

— Eu sei, mas...<br />

Em um instante, Viper novamente a tinha nos braços.<br />

— Em todos esses anos joguei a culpa de meu destino em cima de algum horrível<br />

monstro que teria colocado o feitiço em mim. Agora descubro que foi meu próprio pai.<br />

— Ele obviamente o fez com as melhores das intenções.<br />

— O que não muda o fato de eu ter passado cerca de oitenta anos como escrava.<br />

- <strong>Shay</strong> rangeu os dentes quando as lembranças lhe voltaram à mente. Lembranças que<br />

havia tentado eliminar de sua memória.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Fui espancada, presa em correntes e vendida como um animal.<br />

— Sei que tem sido difícil, mas...<br />

— Difícil? - Ela soltou uma risada amarga.<br />

— Não houve um momento em que não estivesse sozinha. Nenhum momento em<br />

que não tenha sentido medo do que a próxima hora poderia me trazer. Nenhum<br />

momento em que não tenha lutado para simplesmente sobreviver!<br />

— <strong>Shay</strong>.<br />

No rosto de Viper estava transparente o pesar que ele sentia pelo que ela tivera<br />

de suportar.<br />

— <strong>De</strong>sculpe-me - ela murmurou.<br />

— Nem sempre fico me lastimando como agora.<br />

— Não se desculpe. Estive pouco com as bruxas, mas não duvido de que elas<br />

tenham tornado a sua vida um inferno.<br />

— Inferno, esta é a palavra. Quando Edra se aborrecia comigo, colocava-me em<br />

uma cela. Mais de uma vez ela me deixou lá por anos. Não havia luz, nem comida,<br />

apenas insetos e ratos que rastejavam à minha volta. Houve tempos em que pensei que<br />

nunca escaparia dali. Pensei...<br />

— A voz de <strong>Shay</strong> tremeu, e ela foi forçada a parar de falar por um momento. -<br />

Pensei que ficaria no escuro por uma eternidade.<br />

A expressão de Viper era agora de neutralidade total, como se ele soubesse que<br />

ela não queria piedade.<br />

— Foi por isso que pediu que libertássemos os demônios que estavam presos nas<br />

prisões de Evor?<br />

— Foi. Ninguém merece tal tortura. - Por um instante, ela ficou apenas olhando<br />

para Viper.<br />

— Mas você sabe que Edra não era o pior de tudo.<br />

— O que era?<br />

— Saber que eu sempre estaria sob o poder de alguém. Que nunca seria forte,<br />

rápida e inteligente o suficiente para escapar, pois não havia como escapar.<br />

Viper balançou a cabeça como se a compreendesse muito bem.<br />

— Na verdade, sei precisamente como você se sente.<br />

— Você? - Ela riu.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Como é possível? Ele ficou silencioso por uns instantes.<br />

— Nem sempre fui um chefe de clã - contou, o tom de voz baixo e estranhamente<br />

seco.<br />

— Houve um tempo em que eu me via constantemente sob o jugo de qualquer<br />

vampiro que quisesse me dominar.<br />

<strong>Shay</strong> o encarou, chocada. Era impossível imaginar aquela criatura arrogante sob o<br />

jugo de alguém. E, certamente, não nas mãos de outro vampiro. Viper parecia<br />

invulnerável.<br />

— Foi escravo de alguém?<br />

— Escravo e coisa ainda pior.<br />

— O que pode ser pior do que ser um escravo?<br />

— Não creio que queira saber.<br />

Ela mordeu o lábio. Viper estava certo. Por mais que as bruxas fossem más, havia<br />

criaturas capazes de maldades ainda maiores.<br />

Sacudiu a cabeça, ainda confusa.<br />

— Pensei que os clãs protegiam o seu povo. Viper soltou um suspiro.<br />

— Os tempos felizmente mudaram, e agora temos uma sociedade mais civilizada.<br />

— Civilizada? Acha que os vampiros são civilizados?<br />

— Comparados ao passado, sim. Houve tempo em que os clãs eram meramente<br />

legiões de guerreiros andarilhos. Para se tornar parte de um clã, o vampiro tinha de<br />

ser submetido a provas abomináveis.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu.<br />

— Por que desejou fazer parte de um clã?<br />

— Estar sozinho era uma sentença de morte.<br />

— Eles o teriam matado?<br />

— Apenas os fortes sobreviviam.<br />

— Mas você se tornou um chefe de clã.<br />

— Tornei-me forte, mas minhas lembranças permanecem vivas na memória, como<br />

as suas.<br />

<strong>Shay</strong> observou Viper com novos olhos. Era surpreendente como ele mantivera o<br />

senso de honra e integridade.<br />

— Você sobreviveu e agora está livre. Viper bufou, amargo.<br />

— Não exatamente, minha querida. Há forças que mesmo eu tenho de respeitar.<br />

<strong>Shay</strong> o olhou, surpresa.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Mas você é chefe de clã. Que forças são essas?<br />

— Não me é permitido falar sobre elas.<br />

Ela percebeu que poderia insistir por uma eternidade e Viper não lhe diria nada.<br />

— <strong>De</strong>vo me sentir confortada por isso?<br />

Um sorriso surgiu nos lábios dele. Aquele sorriso que fazia com que ela visse a<br />

escuridão menos sinistra.<br />

— Vamos descobrir onde está Evor, <strong>Shay</strong>. - Ele a acariciou de leve nos lábios.<br />

— Assim quebraremos o feitiço de uma vez por todas.<br />

Ela sentiu a boca seca e os joelhos fracos. Era uma insanidade. Poucos momentos<br />

antes, estivera mergulhada no desespero... Agora, com a proximidade dele, sentia-se<br />

outra.<br />

— Acredita mesmo nisso?<br />

Os dedos perturbadores de Viper continuaram seu caminho pelas costas dela.<br />

— Só falo aquilo em que acredito. <strong>Shay</strong> segurou a respiração.<br />

— Você sabe, se o feitiço for quebrado, eu não serei mais sua escrava.<br />

O sorriso dele aumentou. Em um instante, ele se virou e a levou para a cama.<br />

— Não preciso de amuleto para fazer uma mulher de escrava - falou sem<br />

modéstia.<br />

<strong>Shay</strong> revirou os olhos.<br />

— Sua arrogância não tem tamanho, vampiro. Se for tão bom quanto pensa...<br />

Nem bem começou a frase, viu-se em cima do colchão com Viper em cima dela.<br />

— O que estava dizendo?<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu ao sentir a língua dele deslizando em seu pescoço e chegando<br />

ao ombro.<br />

— Eu estava jogando sem trapacear - ela reclamou sob o efeito das carícias<br />

daqueles dedos experientes.<br />

Viper riu e começou a tirar a camiseta,que ela usava.<br />

— Sou um vampiro. Jogo somente para ganhar.<br />

— E o que pretende ganhar? - A respiração dela saía com dificuldade.<br />

— Eu já ganhei precisamente o que desejava - ele murmurou.<br />

— Agora a questão é quanto prazer você deve sentir para que jamais pense em<br />

sair do meu lado.<br />

Ele soltou um gemido.<br />

123


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não tenho certeza se quero sentir mais prazer do que posso aguentar. Corro o<br />

risco de não sobreviver.<br />

O olhar dele se concentrou nos seios alvos.<br />

— Tenho fé em suas habilidades de sobrevivência. É algo que temos em comum. -<br />

Acariciou os mamilos torturantemente.<br />

— Claro que não é a única coisa...<br />

<strong>Shay</strong> não tinha certeza se algum dia conseguiria se cansar daquele vampiro.<br />

Tirando com impaciência a camisa de seda que ele usava, levantou os quadris para<br />

que Viper lhe ajudasse com os jeans. Com os lábios ainda unidos aos dele, começou a<br />

acariciar os músculos de seu peito. Era macio, tão perfeito.<br />

Ela queria ainda mais.<br />

Viper tinha explorado cada centímetro de seu corpo, tocado em cada curva. Ele a<br />

havia beijado da cabeça aos pés. Não seria a vez dela agora?<br />

Sem dar tempo a si mesma de se questionar mais, enlaçou-o com as pernas e, com<br />

um movimento rápido, levou-o para debaixo dela.<br />

— Minha vez - murmurou, enquanto seus dedos traçavam um caminho de fogo pelo<br />

peito largo.<br />

Viper reagiu ao toque imediatamente.<br />

— Sua vez de quê? - A respiração se tornou ofegante.<br />

— Minha vez de fazer isto... - Ela inclinou-se e começou a lamber seus mamilos,<br />

até descer a mão pelo estômago reto e chegar ao cós das calças. Beijou-o também no<br />

umbigo, provocante.<br />

Seus olhos se encontraram e os de Viper pareciam ainda mais negros. Os caninos<br />

estavam à mostra.<br />

— Pelo amor de <strong>De</strong>us, mulher, me tire desse sofrimento.<br />

Um sorriso surgiu nos lábios de <strong>Shay</strong>. <strong>De</strong>vagar, ela desceu o zíper das calças e as<br />

empurrou para baixo. Viper grunhiu, os dedos se enterrando em seus braços quando<br />

ela passou a beijá-lo por cima da cueca. <strong>De</strong>pois afastou o tecido e usou a língua para<br />

acariciá-lo.<br />

— <strong>Shay</strong>...<br />

Ela voltou para o abdômen bem definido, depois para o peito, e, finalmente,<br />

procurou pelos lábios de Viper.<br />

— Não consigo esperar mais... - Ele ofegou, a voz rouca.<br />

— Faça comigo o que quiser - <strong>Shay</strong> sussurrou, o corpo já pronto para ser<br />

possuído.<br />

124


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Virando-a sobre o colchão, ele a penetrou rápida e profundamente com uma<br />

exclamação de puro prazer.<br />

Ficou parado um momento enquanto ambos absorviam o contato, a intimidade que<br />

desfrutavam. Certamente não havia nada que pudesse se comparar a tão intenso<br />

prazer. Nada que pudesse ligar tanto duas pessoas.<br />

<strong>Shay</strong> abriu os olhos de leve e Viper começou a se movimentar gentilmente dentro<br />

dela.<br />

Havia alguma coisa em seu negro olhar. Alguma coisa maravilhosa, fantástica,<br />

terrível...<br />

Algo que poderia levá-la a querer fugir daquele quarto, se os movimentos<br />

ritmados e profundos não estivessem se tornando mais exigentes, mais apaixonados...<br />

e o clímax não estivesse chegando.<br />

Nada mais importava a não ser aquele estado de graça.<br />

Viper andava de um lado para o outro na biblioteca com uma frustração que ele<br />

não tentava evitar. Uma semana havia se passado desde que ele e <strong>Shay</strong> tinham vindo<br />

para a casa de Dante. Uma semana gloriosa, naturalmente. Como não poderia ser, se<br />

ele dedicara a maior parte de suas noites a dar e receber prazer de uma mulher que<br />

tinha se tornado parte essencial de sua vida?<br />

E não era somente pelo sexo, naturalmente fabuloso. Mas ter <strong>Shay</strong> por perto,<br />

ouvir sua voz... Eram momentos para ser reverenciados.<br />

Ainda assim, apesar de todas as delícias, não se esquecia, nem por um segundo,<br />

que o perigo não tinha acabado. Havia algo ou alguém com o único intento de levar <strong>Shay</strong><br />

para longe dele. Para usá-la em algum torpe propósito.<br />

Pois ele iria ao inferno e voltaria antes que deixasse isso acontecer.<br />

Agora queria saber se Santiago, seu parceiro de confiança, descobria alguma<br />

coisa. Se houvesse alguma informação a ser obtida, o jovem vampiro a descobriria.<br />

— Lamento, mestre. - O rosto de Santiago não exibia emoção alguma, mas Viper<br />

percebeu que ele estava tenso.<br />

— Não descobri mais nada sobre shalotts.<br />

Viper resmungou, impaciente.<br />

— Não deve ter procurado em toda parte. <strong>De</strong>ve haver alguém que sabe quem está<br />

caçando uma shalott.<br />

O vampiro balançou a cabeça.<br />

— Muitos se recusam a acreditar que ela seja algo mais do que um mito. Poucas<br />

shalotts têm aparecido no mundo.<br />

— <strong>Shay</strong> não é um mito.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não, mas sua presença nunca foi sentida. Não entre os mais poderosos<br />

demônios.<br />

— Claro que não. O feitiço mascara sua presença.<br />

— Mesmo daqueles que poderiam nos ser de grande ajuda. - Santiago deu de<br />

ombros.<br />

— Não há rumores, nada que se relacione a uma shalott. Nem mesmo aqueles que<br />

conheciam Evor sabiam que ele estivesse de posse de uma.<br />

Viper torceu as mãos, tentando se controlar. Droga.<br />

— Continue procurando.<br />

— Naturalmente, mestre.<br />

— E não se limite a Chicago. A verdade está em algum lugar e temos de achá-la.<br />

— Como o senhor o desejar.<br />

Com um gesto de cortesia, o vampiro se virou e deixou silenciosamente a<br />

biblioteca. Viper o viu sair e fechar a porta. Irritado, esmurrou a escrivaninha.<br />

— Calma, Viper, vamos conseguir descobrir esse mistério. - Dante entrara<br />

silenciosamente no aposento.<br />

Viper voltou-se para o amigo com um olhar cheio de desespero.<br />

— Quem quer que esteja com Evor, está tentando capturar <strong>Shay</strong>. Não posso ficar<br />

esperando outro ataque. Nem sei se conseguiremos vencer da próxima vez.<br />

— Compreendo sua frustração, mas estamos fazendo tudo o que é possível.<br />

— Seus contatos não deram em nada, Dante?<br />

— Infelizmente.<br />

Com impaciência, Viper recomeçou a andar de um lado para o outro. Não queria<br />

ter de enfrentar aquela indefinição, não saber a quem deveria combater. O que queria<br />

era estar com <strong>Shay</strong> em seus braços, e fingir que nada poderia atingi-los.<br />

Seus instintos o alertavam de que o tempo estava acabando. Se ele não<br />

conseguisse descobrir quem caçava <strong>Shay</strong>, o caçador poderia encontrá-los. E não se<br />

permitiria ficar encurralado novamente.<br />

— Sabe que está cortejando o perigo, não sabe? - Dante perguntou.<br />

O olhar de Viper foi de poucos amigos.<br />

— Espera que eu largue <strong>Shay</strong> por isso?<br />

— Quero dizer que ela está em perigo.<br />

— Dante...<br />

— Agora me escute - o vampiro mais jovem insistiu. — Eu o conheço há séculos, e<br />

126


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

você nunca se mostrou interessado antes por uma mulher.<br />

— <strong>De</strong>vo discordar de você. Sempre estive interessado em mulheres. Inclusive por<br />

várias ao mesmo tempo.<br />

— Teve amantes e não companheiras - Dante o corrigiu.<br />

— Nunca permitiu que uma delas entrasse em sua vida, como fez agora com <strong>Shay</strong>.<br />

Viper franziu o cenho. Não gostava do rumo que a conversa tinha tomado. Talvez<br />

até a temesse.<br />

— Aonde quer chegar? Dante sorriu.<br />

— Não estou querendo chegar a lugar algum, Viper. Estou apenas comentando que<br />

está com todos os sintomas de quem encontrou sua alma gêmea.<br />

Pronto. Ele sabia que não gostaria do rumo da conversa.<br />

— Meu relacionamento com <strong>Shay</strong> não é da sua conta.<br />

— Se quiser jogar alguma coisa na minha cabeça, pode escolher esse vaso horrível<br />

sobre a escrivaninha. Não jogue os livros, por favor. Eles são insubstituíveis.<br />

Viper grunhiu, exasperado.<br />

— Não me provoque, Dante!<br />

Levet entrou na biblioteca, batendo as asas.<br />

— Sacrebleu, aí estão vocês...<br />

— Não estou com paciência para aguentá-lo, Levet - Viper alertou de pronto.<br />

— Saia daqui.<br />

— Non. - <strong>De</strong>safiando, Levet continuou onde estava.<br />

— Não sente algo no ar?<br />

— Mas, o que... !?<br />

— Espere Viper! - Dante deu um passo à frente, os ouvidos atentos.<br />

— Ele tem razão.<br />

A distância, ouviu-se o som de um alarme tocando. Viper sentiu o corpo gelar.<br />

— Droga! Levet, vá buscar <strong>Shay</strong> e a traga para cá!<br />

— Não. - Dante assumiu o comando.<br />

— Leve-a para os túneis, no sótão.<br />

Levet lançou um olhar para Viper, que fez um gesto, concordando.<br />

O gárgula saiu às pressas da sala, e Dante encarou o amigo.<br />

— Você também vai.<br />

127


— Não posso deixá-lo aqui.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Precisa proteger <strong>Shay</strong>. Além do mais, por mais que eu admire sua força e<br />

coragem, sei me defender muito bem.<br />

Viper sentiu um calor começando a invadir o aposento. Abby sentira o perigo, e já<br />

colocara em ação o seu poder pela casa toda.<br />

— A Fênix!<br />

— Exatamente. Estaremos bem. Agora vá.<br />

Antes de sair, Viper parou ao lado de Dante.<br />

— Obrigado. Você está fazendo algo que nunca terei como pagar.<br />

Dante sorriu.<br />

— Não se esqueça de que ainda estou em dívida com você. Quem sabe, assim,<br />

possamos dizer que estamos quites. Mas, tome cuidado, Viper. Se precisar...<br />

— Se eu precisar de ajuda, você será o primeiro a saber - Viper prometeu antes<br />

de sair da sala e seguir para os seus aposentos. Pretendia pegar algumas armas, antes<br />

de se reunir à <strong>Shay</strong> no porão.<br />

O banheiro conectado aos aposentos de Viper era um convite à fantasia. Em<br />

preto e dourado, a área do banho daria para acomodar um exército, e o armário todo<br />

em vidro continha toalhas e uma linha inteira de produtos de pouca utilidade para<br />

vampiros.<br />

Era a banheira, no entanto, que mais encantava <strong>Shay</strong>. Nela, dera-se o luxo de se<br />

banhar em águas perfumadas por horas. Um raro prazer para uma escrava que,<br />

usualmente, era forçada a se lavar apenas com o pouco de água que lhe passavam pelas<br />

barras das celas.<br />

Um delicioso banho era o modo perfeito de começar a noite.<br />

Ou talvez não.<br />

Ruborizou diante do pensamento, enquanto vestia jeans e a camiseta que tomara<br />

emprestado de Abby. Escovando os longos cabelos, ela os puxou para trás, em sua<br />

habitual trança, e voltou ao quarto. Sabia que Abby devia estar esperando por ela no<br />

jardim de inverno para uma refeição. Poderiam conversar e enumerariam um a um os<br />

defeitos dos vampiros. Uma rotina de que ela aprendera a gostar.<br />

Calçando tênis de corrida, caminhou para a porta. Quando a abriu, quase foi<br />

derrubada por Levet, que vinha em velocidade.<br />

— <strong>Shay</strong>! - ele disse sem fôlego.<br />

— <strong>De</strong>us, Levet, nunca o ensinaram a bater na porta?<br />

— Viper mandou que eu viesse buscá-la.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Por que ele não veio pessoalmente? - Ela estranhou.<br />

— Está esperando por nós. Temos que ir já!<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio de medo. Alguma coisa estava errada. Muito errada.<br />

— O que aconteceu, Levet?<br />

— Há demônios se aproximando. - Levet balançou a cauda, agitado.<br />

— Temos de dar o fora daqui.<br />

Ela perdeu a vontade de argumentar, e deixou que Levet a conduzisse.<br />

— Para onde estamos indo?<br />

— Dante mandou construir túneis embaixo da mansão. <strong>Shay</strong> lembrou-se dos<br />

túneis que Viper também construíra embaixo de sua própria casa. Parecia ser um<br />

costume entre os vampiros.<br />

Usando as asas, que lhe davam maior velocidade, Levet seguiu sem nem sequer<br />

olhar para trás. <strong>Shay</strong> hesitou quando o gárgula começou a descer uma escada estreita.<br />

Podia sentir algo estranho no ar.<br />

— Mon Dieu. Não por aqui! - ele exclamou, alarmado.<br />

— Os demônios?<br />

— Pior que isso... A Fênix!<br />

Ela estacou, depois o seguiu por outro caminho. Lembrava-se bem de estar<br />

encurralada em uma cela com Abby se transformando, e preferia não repetir a<br />

experiência. Especialmente porque os poderes da deusa acabavam por atingir outros,<br />

que ela não pretendia fritar.<br />

<strong>Shay</strong> e Levet já esperavam por Viper quando ele chegou ao porão, e o vampiro<br />

sentiu-se mais do que aliviado. Pensara ter de arrastar <strong>Shay</strong> para o porão, chutando e<br />

esperneando. Para uma mulher tão inteligente, ela era, por vezes, teimosa ao extremo.<br />

Não queria fugir nunca do perigo, por pior que este fosse.<br />

Ajeitou a espada na bainha e colocou de lado a sacola pesada com as armas que<br />

pegara antes de seguir para o túnel.<br />

— Por aqui - murmurou, indicando que Levet deveria ir à frente. Seguiu atrás do<br />

gárgula, e estendeu a mão em direção a <strong>Shay</strong>, que hesitava diante da fresta por onde<br />

passariam.<br />

Odiava entrar em lugares escuros.<br />

Por fim, compreendeu que aquela não era hora de ficar se lembrando do que<br />

passara nas mãos das bruxas. Sem mencionar Evor e sua masmorra. Quem poderia<br />

culpá-la de não querer estar em um túnel?<br />

— Estou aqui, <strong>Shay</strong>, e não vou a lugar algum sem você. - Viper a segurou pelo<br />

129


aço.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Nunca mais vai estar sozinha na escuridão. Confie em mim.<br />

Mantendo-a bem junto dele, ele a forçou a segui-lo. Aspirou bem fundo,<br />

procurando determinar quem era o inimigo que se aproximava. Não tinha, como Dante,<br />

a habilidade de distinguir cada uma das diferentes espécies de criaturas que havia no<br />

mundo. Ainda assim, tinha certeza de que não importava quem os estivesse<br />

perseguindo. O perigo não estava descartado e ele precisava, de alguma forma, se<br />

assegurar de que <strong>Shay</strong> estaria em segurança.<br />

A presença dela o distraía e isso era ruim. Precisava se concentrar apenas em<br />

matar. Quando ele não tinha nada a lhe desviar a atenção, era muito bom nisso.<br />

O túnel os levou para fora da casa. Quando sentiu a brisa fria, identificou os<br />

inimigos: eram cães do inferno.<br />

Eles eram mais um aborrecimento do que um perigo, pensou. Não podiam matar<br />

um vampiro, tampouco uma shalott, mas, de qualquer forma, teriam de lutar e<br />

perderiam um bom tempo. Era necessário saírem logo dali, antes que o inimigo principal<br />

chegasse.<br />

— Levet, venha aqui.<br />

— O que foi?<br />

Viper colocou a mão em seu ombro.<br />

— Os cães do inferno estão se aproximando e precisamos confundi-los.<br />

— Com que tipo de distração, por exemplo?<br />

— Você.<br />

O gárgula balançou a cauda, irritado.<br />

— Não pense que eu vou lutar contra essas bestas horríveis. Eles cheiram pior<br />

que o inferno.<br />

— É o único que pode voar. Viper colocou dois amuletos dentro de uma bolsa, e a<br />

pendurou no pescoço do gárgula. Os amuletos continham o cheiro tanto dele como de<br />

<strong>Shay</strong>. Com sorte, os odores distrairiam os cães do inferno por tempo suficiente para<br />

que os dois fugissem.<br />

— Escute-me aqui, vampiro, não sou...<br />

—<strong>De</strong>sculpe, mas não temos tempo para discutir. —- deu um empurrão, e o gárgula<br />

foi lançado ao ar.<br />

— Vai pagar por isso, vampiro! - Levet ainda gritou, antes de mergulhar na noite.<br />

Sem responder, Viper pegou sua sacola de armas e colocou <strong>Shay</strong> sobre o ombro.<br />

Tinham apenas alguns minutos antes que os cães do inferno percebessem que Levet<br />

não somente lhes era inacessível, como também estava sozinho. Logo eles estariam nos<br />

130


seus calcanhares.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Diabos, coloque-me no chão! - Ela o esmurrou.<br />

— Não posso lutar nesta posição.<br />

— Não vamos lutar, vamos fugir.<br />

— Mas Levet...<br />

— Os cães do inferno não podem alcançá-lo. Além do mais, ele é imortal, o que<br />

não temos certeza se é o seu caso.<br />

As palavras diretas conseguiram amainar um pouco da raiva que ela sentia. Uma<br />

coisa rara, da qual Viper procurou tirar vantagem enquanto corriam pelas ruas escuras.<br />

Já havia conseguido colocar uma boa distância entre eles e os cães, quando ouviu<br />

o suspiro frustrado de <strong>Shay</strong>.<br />

— Posso saber para onde estamos indo?<br />

— Tenho várias empresas no lado sul da cidade. Se alcançarmos uma delas, meu<br />

clã nos protegerá.<br />

— Seu clã? Está brincando comigo?<br />

— Não.<br />

— Pretende me levar para junto de um bando de vampiros famintos? Por que não<br />

me deixa com os cães do inferno e foge sozinho? Pelo menos eu teria chance de vencêlos!<br />

— Ninguém vai lhe fazer mal algum.<br />

— Como pode ter tanta certeza?<br />

— Porque você é minha. Eles obedecerão às minhas ordens.<br />

— Ah, certo. Como se um vampiro obedecesse a alguém - ela resmungou.<br />

Viper não se deixou levar pelos argumentos.<br />

— Concordo que os vampiros sejam independentes, mas sou chefe de clã - ele<br />

repetiu.<br />

— <strong>De</strong>safiar minha autoridade é me desafiar. Quem não me obedecer, terá de me<br />

enfrentar em combate ou deixar o clã. Poucos ousariam fazer isso.<br />

— Têm tanto medo assim de você?<br />

Viper parou em uma esquina e observou atentamente os arredores. Era tão tarde,<br />

que a maioria dos humanos devia estar em suas camas. Assegurando-se de que não<br />

havia nenhuma criatura por perto, seguiu em direção à rua mais próxima.<br />

Sentiu <strong>Shay</strong> socando suas costas novamente.<br />

— Ponha-me no chão!<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper rangeu os dentes e fez o que ela pedia. Tinha captado o cheiro no mesmo<br />

momento que ela: trolls.<br />

Tirou a espada da bainha e a entregou a <strong>Shay</strong>. Em seguida, retirou duas longas<br />

adagas da sacola de couro. Trolls possuíam uma pele dura demais para ser<br />

transpassada por uma bala. Somente uma lâmina enfeitiçada tinha chance de fazer<br />

isso.<br />

— Mire a parte inferior do estômago - comandou.<br />

— É o único lugar em que a espada pode entrar, além de ter uma artéria que pode<br />

ser cortada.<br />

<strong>Shay</strong> se colocou de costas para ele instintivamente. O melhor modo de lutarem<br />

seria formando uma dupla.<br />

— Não precisa me ensinar como matar um troll - murmurou em um tom amargo.<br />

— Foi a primeira coisa que aprendi depois que Evor me forçou a ficar ao lado<br />

dele.<br />

— Não duvido de você, mas esses trolls estão desesperados, e não há inimigo<br />

mais perigoso do que aquele que prefere morrer a ser derrotado.<br />

<strong>Shay</strong> soltou uma risada amarga.<br />

— Eles não podem estar mais desesperados do que eu. Viper não podia<br />

argumentar contra a lógica. Na verdade, não havia tempo para isso, pois os trolls<br />

surgiram à frente deles.<br />

Um erro e tudo acabaria mal. Aquelas criaturas podiam não ser inteligentes, mas<br />

tinham uma sede de sangue. É impressionante, o que os tornava perigosos em batalhas.<br />

Somente um idiota os subestimaria. Um idiota morto.<br />

Mantendo as adagas escondidas, Viper observou-os se aproximarem. Não<br />

atacaram imediatamente. Cada grupo tinha sua hierarquia, e os líderes mandariam<br />

primeiro os mais fracos, para avaliar a habilidade do oponente. Uma perda de soldados,<br />

mas um bom meio de descobrir como melhor ganhar a luta.<br />

Procurou concentrar sua atenção nos menores. Quando estes atacaram, ignorou a<br />

cabeça e focou na parte mais baixa do corpo.<br />

Ouviu-se um grunhido quando Viper enterrou a adaga. Não hesitou em revirar a<br />

lâmina, até que um cheiro horrível enchesse o ar. Ele puxou a adaga, e chutou a<br />

carcaça para o lado, pronto para o seguinte.<br />

Lançou um breve olhar por cima do ombro. <strong>Shay</strong> ainda estava de pé e lutava<br />

bravamente. Vendo que um dos inimigos pretendia pegá-la pelas costas, ele se moveu<br />

para o lado, atraindo a besta. Em seguida, mirou o chão e recitou as palavras especiais.<br />

Houve um barulho, e o pavimento começou a se abrir. No segundo seguinte, vários<br />

trolls desabavam para dentro de uma enorme fenda. Um deles tentou se segurar, e foi<br />

132


apunhalado em sua parte mais vulnerável.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Um sorriso surgiu nos lábios de <strong>Shay</strong> enquanto ela lutava. Até agora conseguira<br />

vencer todos os inimigos, e não tinha nenhum arranhão. Os trolls continuavam<br />

atacando, cheios de fúria e frustração, e acabavam vítimas de sua espada ou das<br />

adagas de Viper.<br />

Por fim, <strong>Shay</strong> se viu diante apenas de corpos. Voltou-se, e viu Viper ainda lutando.<br />

— Vai continuar brincando com esse troll a noite inteira? - perguntou com malícia.<br />

Apesar disso, ficou aliviada quando Viper despachou o monstrengo com um<br />

poderoso golpe, e depois a conduziu pela rua escura, sem comentário algum. Era<br />

demais esperar que ele não tivesse notado o corte que tinha no queixo. Um dos<br />

monstrengos conseguira atingi-la, mas o ferimento fora pequeno demais.<br />

Ela havia notado, porém, o olhar de alerta que Viper lhe lançara quando isso tinha<br />

ocorrido. E depois, quando passara a ficar mais atento ao que ela fazia do que à sua<br />

própria luta.<br />

Com um esforço, conseguiu alcançá-lo e caminhar ao lado dele, em vez de atrás.<br />

Ela não era de se esconder de ninguém. Nunca fizera isso.<br />

Ignorando o olhar que ele lhe lançou, atentou para as sombras, querendo ver se<br />

havia alguém escondido à espera deles.<br />

E aquela era uma área perigosa. Tinham deixado para trás as mansões e a área de<br />

negócios. Agora as ruas eram esburacadas e malcheirosas.<br />

Quando sentiu um arrepio, pensou ser meramente uma reação à decadência do<br />

lugar.<br />

Somente quando se voltou para Viper, é que compreendeu.<br />

— Vampiros - ele murmurou.<br />

— Droga. - Instintivamente, ela deu um puxão nervoso na trança.<br />

— E suponho que não sejam os seus vampiros...<br />

— Não.<br />

Claro que não eram.<br />

A noite parecia cheia de surpresas. O que poderia ser mais desagradável do que<br />

encontrar vampiros em uma rua escura?<br />

— Talvez eles estejam apenas passando.<br />

Viper sacudiu a cabeça, as feições endurecidas fazendo com que ela se lembrasse<br />

precisamente o que e quem ele era.<br />

— Ninguém ousaria entrar em Chicago sem minha permissão. A não ser que<br />

estejam declarando guerra.<br />

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<strong>Shay</strong> engoliu em seco.<br />

— Quantos são?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Seis. - Ele levantou a cabeça, cheirando o ar.<br />

— E um deles é o chefe.<br />

— Isso quer dizer que estamos perdidos?<br />

Viper praguejou enquanto procurava nas sombras por vampiros escondidos.<br />

Não era um bom sinal, pensou <strong>Shay</strong>. Não queria vê-lo preocupado. Queria que ele<br />

continuasse arrogante, superior e confiante.<br />

— <strong>Maldição</strong> - ele resmungou. — Fui um idiota!<br />

— Por quê?<br />

— Os cães e os trolls foram apenas uma estratégia para que deixássemos a<br />

mansão de Dante - ele grunhiu.<br />

— Caímos direto na armadilha deles.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio.<br />

— E o que vamos fazer agora? Fugir ou lutar?<br />

— Conheço esse vampiro... Nós vamos fugir - Viper a surpreendeu com a resposta.<br />

Pareceu uma excelente idéia a <strong>Shay</strong>. O melhor dos guerreiros sempre sabia<br />

quando fazer uma retirada estratégica. Segurando a espada de lado para não se<br />

machucar, ela permitiu que Viper a puxasse pela rua escura. Não sabia aonde iam, mas<br />

qualquer lugar seria melhor do que o que estavam. Pelo menos ela contava com isso.<br />

Podia correr muito e saltar mais alto que os humanos, mas, droga... Estava<br />

praticamente voando!<br />

Entrando em um armazém, Viper diminuiu o passo, a cabeça voltada como se<br />

estivesse cheirando o ar.<br />

— O que você...<br />

— Shh! - Ele pressionou um dedo sobre os lábios, antes de puxá-la para os fundos<br />

do prédio.<br />

— Por aqui.<br />

<strong>De</strong>ram a volta em uma pilha de barris enferrujados, Viper se abaixou e a puxou<br />

para junto dele.<br />

— Por que paramos aqui?<br />

— Não conseguimos despistá-los. Eles já nos cercaram - ele murmurou.<br />

— Tem um plano?<br />

Ele fez que sim com um gesto de cabeça. <strong>Shay</strong> o observou atentamente, e viu a<br />

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determinação em seu olhar.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Por que sinto que não vou gostar desse seu plano?<br />

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Viper.<br />

— Porque você é teimosa e cabeça dura.<br />

— Diga logo qual é - ela ralhou, nervosa. Ele demorou um momento para<br />

responder.<br />

— Há um túnel logo a seu lado. Quero que o use para escapar enquanto eu distraio<br />

os vampiros.<br />

— Não vou fazer isso.<br />

— <strong>Shay</strong>, escute...<br />

As palavras dele foram interrompidas pelo som de passos se aproximando.<br />

— Pode aparecer Viper! O armazém está cercado. Você não tem saída.<br />

<strong>Shay</strong> deu um pulo ao ouvir a voz ressoar na penumbra. Notou um vampiro vindo na<br />

direção deles. Era alto. Tão alto como Viper, e com ombros mais largos. Seu tamanho<br />

era enfatizado pelo longo manto negro, que ia do pescoço ao pé.<br />

Mas não era apenas o porte que fez com que ela arregalasse os olhos. Era o tom<br />

bronzeado de sua pele. Era o primeiro vampiro que via sem a palidez habitual que os<br />

caracterizava. Os cabelos eram negros e longos, presos para trás em uma trança.<br />

Parecia mais um príncipe asteca.<br />

— Quem é ele? - perguntou baixinho. Havia alguma coisa inquietadora naquele<br />

vampiro.<br />

— Styx. Ele passou a ser chamado assim por deixar um rio de mortos em seu<br />

rastro - Viper explicou, sem afastar os olhos da criatura que se aproximava.<br />

— É um dos mais famosos guerreiros de minha espécie.<br />

— Amigo seu? - Ela tentou engolir sem grande sucesso.<br />

— Em certa época, sim.<br />

— Mas por que ele está nos perseguindo? É ele que quer o meu sangue?<br />

— É o que pretendo descobrir. - Viper se voltou e lhe dirigiu um olhar firme.<br />

— Mas não antes que você saia daqui.<br />

— Mas...<br />

Ele envolveu o rosto de <strong>Shay</strong> nas mãos.<br />

— Styx é leal aos vampiros. Não me atacará se não for preciso fazer isso. Você,<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

no entanto, corre um grande risco. <strong>De</strong>ve fugir se quer que ambos sobrevivamos a isto.<br />

<strong>Shay</strong> cerrou os dentes. Era insultante que ele lhe pedisse para ser covarde,<br />

enquanto ficava ali no papel de herói.<br />

Infelizmente, seu orgulho não podia competir com o bom senso. Se ela ficasse,<br />

Viper lutaria até a morte para protegê-la. E, chefe de clã ou não, ele não seria páreo<br />

contra seis vampiros determinados a se apoderar do sangue dela. Mesmo que fugissem<br />

juntos, acabariam em alguma situação idêntica. O melhor era se pudesse escapar e<br />

arranjar ajuda antes que ele fizesse algo estúpido.<br />

— Se você se deixar matar eu... O beijo a fez parar de falar.<br />

— Nunca vai se livrar de mim. Agora vá.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu uma forte dor no peito quando tocou de leve no rosto de Viper.<br />

Jogou a espada no túnel e se preparou para descer.<br />

Ele tornou a segurá-la pelo braço.<br />

— <strong>De</strong>ixe a sua camiseta.<br />

— O quê?<br />

— Precisa deixar o seu cheiro para trás, ou Styx saberá que não está mais aqui<br />

no armazém. A conversa que teremos não levará muito tempo, mas espero que seja o<br />

suficiente para você fugir.<br />

Não bastava ter entrado em um túnel fedido. Agora ela teria de seguir por ele,<br />

nua e gelada!<br />

Mesmo assim, quanto antes fosse, mais cedo poderia encontrar Dante e voltar<br />

para salvarem Viper.<br />

Tirou a camiseta e a jogou de lado, depois colocou a mão no nariz, tampando-o<br />

para suportar o cheiro forte. Pulou e se viu no meio da lama.<br />

Perfeito. Se saísse ilesa daquele buraco imundo, ela própria iria enfiar uma<br />

estaca naquele maldito vampiro!<br />

— Não estou com humor para brincar de esconde-esconde, Viper! - rosnou Styx.<br />

Viper surgiu por detrás dos barris silenciosamente. Podia sentir <strong>Shay</strong> se movendo<br />

para mais longe, porém seu cheiro ainda impregnava o ar. Com sorte iludiria os<br />

vampiros que cercavam a área.<br />

— Também eu não estou com humor para ser tratado com um mero criado, meu<br />

amigo. Parece que se esqueceu de que sou chefe de um clã.<br />

Styx lhe dirigiu um olhar mais sério do que arrogante.<br />

— Eu não me esqueci de seus poderes, Viper, nem de sua posição.<br />

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— Então apenas se esqueceu dos bons modos? O vampiro balançou a cabeça.<br />

— Tem razão em me censurar. Este não é o modo como eu gostaria de tratá-lo.<br />

Infelizmente, minhas necessidades superam qualquer outra consideração.<br />

Viper sentiu a raiva aumentar. Não entendia como um ex-amigo e companheiro<br />

estava envolvido em uma caçada à sua shalott. Porém, a súbita presença de Styx era<br />

mais do que mera coincidência.<br />

— O que você quer, Styx?<br />

— Todas as suas respostas serão respondidas em tempo. Por hora, quero apenas<br />

que chame a sua companheira e a mande vir até mim.<br />

Viper cruzou os braços.<br />

— Receio que esteja sendo vago demais. Terá de me perdoar se eu quiser saber<br />

mais antes de prosseguirmos.<br />

Styx observou Viper por algum tempo, sua expressão não se alterando nunca.<br />

— O que mais você quer saber?<br />

— A razão de estar neste horrível armazém em uma noite fria como esta.<br />

— Naturalmente estou aqui atrás de você.<br />

— Por quê?<br />

— Não é lugar para tal conversa, Viper. Se você e sua companheira vierem até<br />

mim...<br />

— E se eu me recusar a fazer isso?<br />

— Isto seria muito ruim.<br />

Viper apertou os olhos, os caninos em alerta.<br />

— Você me pegaria contra a minha vontade? Contra as leis que nos governam?<br />

Diga-me, Styx, o vampiro a quem eu admirava acima de todos agora se tornou alguém<br />

não melhor do que aqueles contra quem lutamos uma vez?<br />

— Chega. - A voz não se alterou, porém Viper percebeu que Styx não recebera<br />

bem a observação.<br />

— Não sabe nada dos problemas que enfrentamos.<br />

— Sei que não entramos no território de clãs sem pedir passagem ao chefe - ele<br />

prosseguiu.<br />

— Tampouco convocamos demônios ou bruxos para fazer o nosso trabalho, ou<br />

comandamos o assassinato de outro vampiro. Agora me diga. Por que está aqui, Styx?<br />

Pela primeira vez as feições douradas apresentaram uma expressão genuína:<br />

exasperação.<br />

137


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Não discutiremos isto em público, como trolls briguentos. Espero mais de você,<br />

meu velho companheiro de lutas.<br />

Viper deu um passo ameaçador.<br />

— Está quebrando nosso tratado, Styx, e se proclamando um inimigo de meu clã.<br />

Houve uma movimentação nas sombras, e cinco enormes vampiros apareceram em<br />

espetacular velocidade. Como Styx, eles vestiam mantos negros e eram altos.<br />

Muito altos.<br />

Viper se preparou para lutar. Podia morrer, mas pretendia levar alguns deles<br />

junto.<br />

Os vampiros pararam diante de um gesto de Styx.<br />

— Estou aqui a mando de meu mestre, que me colocou acima dos tratados, como<br />

você já percebeu. Ainda assim, não há razão para que não possamos agir de forma<br />

razoável.<br />

— Razoável? - Viper ironizou.<br />

— Se deseja conversar, voltaremos à casa de Dante, e poderemos pôr um fim<br />

nisso. Um sorriso surgiu nos lábios de Styx.<br />

— Por mais encantadora que seja a nova companheira de Dante, não desejo tomar<br />

chá com a Fênix. Lamento, velho amigo, mas o tempo é curto. Chame sua companheira,<br />

e eu a colocarei nas mãos de minha guarda.<br />

Styx voltou-se para um dos vampiros.<br />

— <strong>De</strong>Angelo, traga-me a shalott. O vampiro obedeceu prontamente.<br />

— A shalott escapou pelo túnel! - <strong>De</strong>Angelo exclamou pouco depois.<br />

— <strong>De</strong>vemos segui-la?<br />

Styx olhou para Viper com raiva.<br />

— Não, isso não será preciso. Viper tem o amuleto que a chama de volta.<br />

— Nunca vou chamá-la, Styx.<br />

— Oh, vai sim. Ou morrerá. A escolha é sua.<br />

Levet era esperto o suficiente para voar bem acima das ruas estreitas. Havia<br />

toda sorte de comida podre, roupas puídas, lixo, e outras coisas que ele nem queria<br />

ver, menos ainda tocar. Não era o primeiro lugar horroroso que via. Já vivera uma<br />

parte de sua vida em esconderijos medonhos, apenas para sobreviver.<br />

Ainda assim, tinha vindo para os Estados Unidos na esperança de encontrar algo<br />

melhor. Ali havia menos demônios para atormentá-lo, e espaço suficiente para ter seu<br />

pedaço de terra e viver em paz. Ou pelo menos esta havia sido a sua intenção.<br />

Claro que suas boas intenções tinham-no levado de um desastre a outro,<br />

138


econheceu com um suspiro.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Seguindo Dante, Levet apontou para o lixo.<br />

— Que cheiro... Como os humanos aguentam isso?<br />

O vampiro lhe dirigiu um olhar impaciente. Tinha pensado em não levar o gárgula<br />

com ele, mas sabia-se lá a razão, terminara achando que a criatura poderia ser de<br />

alguma ajuda.<br />

Uma bobagem.<br />

— O desespero sempre possui um cheiro desagradável, seja de um humano ou de<br />

um demônio.<br />

Levet o fitou, surpreso.<br />

— Pensei que Viper fosse o filósofo e você o guerreiro.<br />

Voando mais baixo, Dante cheirou o ar das ruas estreitas e sujas como um cão de<br />

caça. O medo que Levet sentia de que algo podia estar acontecendo a <strong>Shay</strong> aumentava<br />

a cada minuto. Viper não raciocinava? Não bastara lutar contra trolls e cães do<br />

inferno? Tinha de levar <strong>Shay</strong> para onde estavam seus piores inimigos?<br />

— Espere! - Dante exclamou.<br />

— Sacrebleu, por que temos de esperar? Precisamos encontrá-los!<br />

O irritante vampiro arqueou a sobrancelha.<br />

— Parece ansioso demais, gárgula. Não pensei que se importasse.<br />

— Aquele vampiro me atirou aos lobos, ou mais precisamente, aos cães do inferno.<br />

- resmungou Levet.<br />

— Ninguém a não ser eu tem permissão para matá-lo. Por que paramos?<br />

— Os trolls estiveram por aqui. Levet pareceu surpreso.<br />

— Não me diga que teme os trolls?<br />

— Não esses... Estão mortos.<br />

— Foi <strong>Shay</strong> - Levet concluiu com uma ponta de orgulho.<br />

— Não sozinha, gárgula. Viper lutou ao lado dela.<br />

— Se as bestas estão mortas, nesse caso podemos ir.<br />

Dante sacudiu a cabeça.<br />

— Os trolls não foram os únicos que passaram por aqui. Também passaram<br />

vampiros.<br />

Levet soltou um gemido.<br />

— Quantos?<br />

139


— Seis. E nenhum de nosso clã.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Nenhum de seu clã?! - Levet sentiu uma pontada no coração.<br />

— Isso significa que...<br />

O rosto pálido de Dante revelou sua apreensão.<br />

— Estão aqui para matar Viper.<br />

Qualquer que fosse a intenção deles, <strong>Shay</strong> estava em perigo, e era isso o que<br />

mais importava, Levet pensou.<br />

— Não podemos esperar. Temos de ajudá-los!<br />

— E cairmos na armadilha? - Dante balançou a cabeça.<br />

— Não seria de ajuda alguma.<br />

— E como espera ajudá-los se escondendo nas sombras enquanto eles são<br />

chacinados?<br />

Os olhos de Dante brilharam de raiva.<br />

— Fique quieto e me deixe pensar, ou cortarei essas suas asinhas ridículas!<br />

Levet alçou vôo.<br />

— Muito bem. Você se esconde nas sombras e eu descubro o que está<br />

acontecendo!<br />

— Droga, Levet!<br />

Tarde demais. O gárgula voara para longe, sem dar atenção aos xingamentos de<br />

Dante. Levet percebeu os movimentos na escuridão, lá embaixo, e parou em um<br />

telhado, em absoluto silêncio. Não mais se importava com o fedor. Nem mesmo com a<br />

quietude na vizinhança. Via apenas Viper sendo forçado a entrar em uma limusine<br />

preta, seguido de um enorme vampiro. Mesmo à distância, podia sentir a tensão no ar.<br />

Estava prestes a chamar Dante, quando percebeu a limusine partindo, seguida por<br />

outra.<br />

<strong>Shay</strong> estaria dentro de algum dos veículos? Certamente.<br />

Bateu as asas, nervoso. Podia não morrer de amores por Viper, mas sabia que o<br />

vampiro lutaria até a morte para mantê-la em segurança. Se estava voluntariamente se<br />

deixando levar como refém, isso só podia significar que os vampiros já haviam<br />

capturado <strong>Shay</strong>.<br />

Voou de volta até Dante, que agora parecia muito irritado.<br />

— Na próxima vez, lhe arrancarei o coração e o comerei no jantar, gárgula! -<br />

vociferou ele, agarrando-o pelo pescoço.<br />

— Não tempos tempo para nossas briguinhas. - Levet o fitou de olhos<br />

arregalados.<br />

140


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Um enorme vampiro forçou Viper a entrar em um carro e partiram!<br />

— E quanto a <strong>Shay</strong>?<br />

— Presumo que estejam com ela também. Dante concordou.<br />

— Viper deve ter compreendido que era impossível lutar - Dante resmungou.<br />

— Ou ameaçaram fazer alguma coisa contra <strong>Shay</strong>. Em qualquer dos casos, se<br />

atacarmos os carros agora, as coisas podem piorar ainda mais.<br />

— Infelizmente, devo concordar com você. As limusines seguiram para o Sul.<br />

Eram enormes e pretas. - Levet uniu as sobrancelhas.<br />

— Por que esse apego dos vampiros a tudo que é preto?<br />

Dante lhe dirigiu um olhar frio.<br />

— Tem algum plano?<br />

— Vou segui-los e, quando chegarem ao seu destino, volto e lhe passo a<br />

localização.<br />

Surpreendentemente, Dante fez um gesto de cabeça, concordando.<br />

— Os vampiros estarão atentos. Um erro e estará morto! Levet soltou uma<br />

risada.<br />

— Olhe para mim. Mal tenho um metro de altura... Estou sempre atento, seu tolo.<br />

Dante respirou fundo.<br />

— Vou reunir o resto do clã. Estaremos preparados para quando você voltar.<br />

Levet alçou vôo e seguiu o caminho das limusines.<br />

— Bom chance, mon mi - Dante falou lá de baixo. Levet se permitiu um sorriso.<br />

Um vampiro que falava francês... Não podia ser assim tão ruim.<br />

<strong>Shay</strong> saiu do túnel e, aliviada, respirou ar puro. Ou quase isso, pensou, franzindo<br />

o nariz. Estava gelada, cheirando mal e quase nua. Exatamente como tinha previsto.<br />

Mas, surpreendentemente, ninguém a seguira.<br />

Pensando bem, não era assim, tão surpreendente. O vampiro alto e bronzeado,<br />

conhecido por Styx, não lhe parecera nenhum estúpido. Frio, cruel e inflexível, talvez.<br />

Olhando atentamente para a rua, para ver se não havia algum vampiro nas<br />

sombras, começou o caminho de volta para a casa de Dante. Precisava de ajuda e<br />

depressa.<br />

O pensamento mal lhe passou pela cabeça e ela captou um cheiro familiar. Olhou<br />

para o alto de um prédio e lá estava ele: Levet!<br />

Graças a <strong>De</strong>us...<br />

Com novo ânimo, correu pela rua estreita, subiu a escada de serviço do prédio<br />

141


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

velho e aparentemente silencioso, chegando ao terraço superior.<br />

O pequeno gárgula se encontrava na beirada de uma marquise, mas o som dos<br />

passos dela o alertou. Abruptamente, balançou as mãos como se estivesse enviando um<br />

feitiço.<br />

— Não, Levet! Sou eu!<br />

— <strong>Shay</strong>?<br />

— Sim.<br />

— Oh, mãe de <strong>De</strong>us... Quase me faz ter um enfarte. - O gárgula procurou<br />

retomar a respiração normal.<br />

los.<br />

— Cruzes, que cheiro é esse? Onde está sua camiseta? Você...<br />

<strong>Shay</strong> levantou a mão com impaciência.<br />

— Onde está Dante?<br />

— Foi reunir a cavalaria. - Levet colocou as mãos nos quadris.<br />

— Como conseguiu escapar? Pensei que estivesse com aqueles vampiros.<br />

Ela estremeceu, e não apenas de frio.<br />

— Usei um túnel para escapar de um armazém, mas Viper ficou lá para enfrentá-<br />

— Não está mais lá.<br />

— Como não?<br />

— Eles o obrigaram a entrar na limusine e foram embora. <strong>Shay</strong> sentiu uma dor<br />

profunda no coração.<br />

— Droga! - praguejou, tentando afastar o medo.<br />

— Temos de ir atrás dele.<br />

— Era o que eu ia fazer quando você chegou.<br />

— Muito bem, então vamos.<br />

O gárgula bloqueou o caminho de <strong>Shay</strong>, preocupado.<br />

— Acha mesmo uma boa idéia vir comigo? Eles estão atrás de você. Se chegar<br />

muito perto, eles...<br />

<strong>Shay</strong> procurou cobrir o corpo com as mãos. Estava gelada. Precisava arranjar uma<br />

roupa... E uma cruz. E muitas, muitas estacas.<br />

— Vou junto, Levet.<br />

O gárgula revirou os olhos.<br />

— Se pretende nos colocar em perigo, então que seja.<br />

142


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Já estou em perigo. - <strong>Shay</strong> deu de ombros.<br />

— Não se voltar para a Fênix. Não há demônio que ousaria desafiá-la.<br />

— Nem mesmo Abby pode me proteger agora.<br />

— Claro que pode. Ela é uma deusa.<br />

— Pense, Levet. Eles estão com Viper e eu sou escrava dele... Viper está com o<br />

meu amuleto.<br />

— Oh! - O gárgula empalideceu.<br />

— Mas, <strong>Shay</strong>, Viper jamais vai chamar você e colocá-la nas mãos de seus inimigos.<br />

Posso achar esse vampiro um arrogante, mas ele nunca permitiria que algo lhe<br />

acontecesse.<br />

Agora o arrepio que ela sentia não era de frio.<br />

— Não intencionalmente. Ambos estivemos em poder de inimigos, Levet. Sabemos<br />

o que é ser torturado. Lealdade e honra só existem nos contos de fadas. Sob tortura,<br />

uma pessoa pode ser forçada a fazer qualquer coisa.<br />

Levet tocou nas cicatrizes de seu peito. Os trolls achavam divertido torturar um<br />

gárgula em miniatura...<br />

— Não Viper. - Sacudiu a cabeça com veemência.<br />

— Ele nunca fará isso.<br />

Era o que ela mais temia. Não que ele pudesse ceder sob tortura, mas que ele não<br />

cedesse. Viper seria capaz de se deixar matar antes de chamá-la com o amuleto.<br />

Era um sacrifício que acabaria com ela mais do que tudo.<br />

— Eles o matarão e eu ainda estarei em poder deles. Levet levou as mãos às<br />

têmporas.<br />

— Está me deixando com dor de cabeça. O que quer dizer com isso?<br />

— Se eles estão com Evor, mesmo matando Viper ainda poderão me forçar a ir<br />

até lá. Não posso escapar da maldição.<br />

Levet praguejou em francês sem parar.<br />

— Temos de salvá-lo, Levet. E temos de fazer isso agora.<br />

Viper decidiu que a limusine de Styx não se comparava à dele. Apesar do espaço e<br />

dos bancos confortáveis, não havia qualquer outro luxo. Nem música suave, nem TV de<br />

plasma, nem champanhe no gelo.<br />

Claro, ele tinha de conceder, sua própria limusine não contava com algemas<br />

penduradas no teto, que podiam manter quieto o mais furioso dos prisioneiros. Logo<br />

que saísse daquela encrenca, providenciaria um par.<br />

Ignorando as que prendiam seus pulsos, voltou-se para o traidor sentado no<br />

143


anco à frente, vendo Styx tirar a capa.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Vai sair machucado graças a essa sua teimosia, Viper. Viper estreitou o olhar<br />

para o companheiro que, um dia, lutara a seu lado. Mesmo que tivessem sido amigos no<br />

passado, jamais perdoaria Styx pelo que estava passando agora. E jamais era um<br />

tempo muito longo para os imortais.<br />

— Pensa que vou para a morte sem lutar? As feições frias não se alteraram.<br />

— Estou tentando evitar que você tenha de enfrentá-la.<br />

— A troco de quê? - Viper caiu na risada, furioso consigo e com a criatura que o<br />

dominava agora.<br />

— Tenho sido perseguido por toda Chicago por bruxos, cães do inferno, trolls...<br />

— Mera diversão.<br />

— E o Lu? - Viper retrucou.<br />

— Eu lhe asseguro que foi mais do que distração. Ele quase me arrancou a cabeça.<br />

Alguma coisa se alterou na expressão de Styx. Pouca coisa, mas Viper começou a<br />

sentir uma leve esperança de que o vampiro pudesse se arrepender.<br />

— Aquilo não foi a meu mando.<br />

— <strong>De</strong> quem então? <strong>De</strong> seu senhor? - perguntou cuidadosamente.<br />

— Sabe que é melhor não perguntar. - Styx cruzou as mãos diante do peito.<br />

— Fale-me sobre a shalott.<br />

Viper cerrou os dentes.<br />

— Ela mede mais de um metro e oitenta de altura e pesa pouco mais de cinquenta<br />

quilos, o que é surpreendente, já que come como um cavalo. Styx sibilou, irritado.<br />

— Não é hora para brincadeiras, Viper. Se quiser que eu o salve, tem de<br />

cooperar.<br />

Viper sentiu vontade de mandar Styx para o diabo, mas pensou melhor. Não tinha<br />

como escapar no momento. Quem sabe, se o encorajasse a falar, poderia prever o que<br />

vinha pela frente.<br />

— E o que essa cooperação envolve?<br />

— Quero saber qual o seu envolvimento com o demônio. Seus olhares se<br />

encontraram.<br />

— Ela é minha escrava.<br />

— Mais do que isso, eu creio. Está arriscando sua vida para salvá-la. Por quê?<br />

— Você sabe a razão.<br />

Os olhos de Styx escureceram.<br />

144


— Nutre sentimentos por ela?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper deu de ombros. Não adiantava negar o que sentia por <strong>Shay</strong>. Isto estava<br />

claro demais.<br />

— Jogo perigoso para um vampiro. E mais perigoso ainda para um chefe de clã.<br />

Viper sacudiu inconscientemente as algemas.<br />

— Qual o seu interesse em meu relacionamento com <strong>Shay</strong>?<br />

Styx ficou em silêncio. Por tanto tempo, que Viper pensou que o vampiro não lhe<br />

responderia.<br />

Então, bem devagar, ele enfrentou o seu olhar.<br />

— Seria melhor se cortasse o seu elo com o demônio e fosse embora. Dê-me o<br />

poder sobre o amuleto que a une a você, e eu mandarei parar o carro e o deixarei<br />

descer.<br />

Viper era inteligente demais para rir dessa ridícula sugestão.<br />

— E se eu não fizer isso?<br />

— Eventualmente, serei convencido a fazer o que você bem sabe. Temo que não<br />

vá se divertir muito no processo.<br />

Viper estreitou os olhos.<br />

— A tortura tem sido proibida, mesmo pelo anasso - falou, referindo-se ao líder<br />

de todos os vampiros.<br />

— A necessidade, às vezes, exige sacrifícios.<br />

— Sou o sacrifício? - Viper quis saber.<br />

— Espero que não. Ele balançou a cabeça.<br />

— Isto não combina com você, Styx. Em todas as suas batalhas você sempre<br />

manteve a honra.<br />

Styx se recostou ao banco, mas Viper não deixou de perceber que ele tremera<br />

levemente diante da acusação.<br />

— Eu sempre prezei mais o meu dever - ele respondeu, a voz sem emoção. Como<br />

se temesse revelar mais do que desejava.<br />

Viper observou as feições que um dia lhe haviam sido tão familiares. Styx não<br />

tinha envelhecido, naturalmente. Na verdade, era o mesmo de muitos séculos.<br />

Mas havia uma inegável tensão em todo o seu corpo. Uma angústia que lhe tirava o<br />

brilho dos olhos. Como se os anos tivessem lhe roubado alguma coisa de muito<br />

precioso.<br />

— <strong>De</strong>ver ao anasso?<br />

145


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— <strong>De</strong>ver a todos os vampiros. Nossa existência depende disso.<br />

Viper franziu a testa.<br />

— Está sendo melodramático para um vampiro que escolheu a existência de um<br />

monge. O que pode ser assim tão terrível?<br />

— Não pode simplesmente confiar em mim?<br />

— Não.<br />

Styx levou a mão a um pequeno medalhão que tinha pendurado no pescoço. Era um<br />

antigo símbolo asteca do qual ele nunca se separava.<br />

— Está tornando esta situação mais difícil.<br />

— Não estou fazendo nada disso, Styx. Eu estava em paz em minha casa com<br />

<strong>Shay</strong>, sem perturbar uma alma. Você é quem me meteu nesta desgraça.<br />

A frieza pareceu envolver ainda mais o outro vampiro.<br />

— Ordens do anasso. E é isso o que importa. O diabo que importava.<br />

— Foi você quem capturou o troll que detém a praga de <strong>Shay</strong>?<br />

— Não, ele conseguiu escapar.<br />

Viper estremeceu. Styx podia ser evasivo, ou simplesmente se negar a responder<br />

uma pergunta, mas nunca mentiria. Assim, onde estaria Evor?<br />

Tentou fazer com que os fatos ocorridos nos últimos dias fizessem algum<br />

sentido. Tudo o que ele sabia agora é que tinha sido o anasso quem determinara a<br />

captura de <strong>Shay</strong> desde o começo. Mas por quê?<br />

— O que quer de <strong>Shay</strong>? Seu sangue?<br />

Styx voltou o olhar para a paisagem da janela do carro.<br />

— O sangue dela é vida. Viper sentiu um arrepio.<br />

— Vida para quem?<br />

— Chega, Viper. - Styx afastou o olhar da janela.<br />

— Eu já lhe disse tudo o que pretendia revelar.<br />

Viper engoliu a frustração. No momento, não estava em posição de fazer<br />

exigências.<br />

Mas tinha confiança de que tudo mudaria. E quando isso acontecesse...<br />

Forçado a mudar de tática, tentou voltar ao assunto que perturbara Styx.<br />

— Nunca entendi por que você se ligou tanto ao anasso. Sempre foi tão<br />

independente.<br />

Styx deu de ombros.<br />

146


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— <strong>De</strong>scobri, enquanto os séculos foram passando, que precisava de algo mais do<br />

que apenas existir.<br />

— Mas a sua vida não era uma mera existência - Viper retrucou.<br />

— Não somente era um temido guerreiro, mas o chefe de um dos maiores clãs que<br />

existiu neste mundo. Um feito invejado por muitos.<br />

Os olhos negros brilharam de raiva.<br />

Por mais ridículo que fosse, Viper descobriu que estava satisfeito em ver essa<br />

rara exposição de emoção por parte de Styx. Isso provava que ainda havia algo no examigo<br />

que ele admirava.<br />

— Oh, sim, invejado por todo tolo que sonhava com a glória de chegar à minha<br />

porta e me desafiar - o vampiro falou com amargura.<br />

— Raro era o ano em que não me via obrigado a lutar.<br />

— É o custo da liderança - Viper retrucou. — Nunca foi fácil.<br />

— Não me importo em trilhar um caminho difícil. Até dou boas-vindas a ele. Mas<br />

não quero mais um caminho sangrento. Cansei de matar.<br />

Viper compreendia bem essas emoções. Ele, melhor do que ninguém, entendia o<br />

arrependimento de ter sangue nas mãos.<br />

Assim como ele, Styx tivera sua experiência de excluído. Um vampiro sem clã era<br />

presa fácil, até que se tornasse forte o suficiente para se defender.<br />

Como, agora, ele se colocava na dependência de alguém novamente?<br />

— Também cansei - falou finalmente.<br />

— Mas isso não explica por que você se ligou ao anasso.<br />

— Todos nós o servimos. Ele é o senhor de todos nós. Viper sacudiu a cabeça.<br />

— Não como um soldado de sua guarda pessoal. Você vendeu a sua alma.<br />

—Não. -A palavra foi menos que um sussurro. — Estou tentando recuperá-la.<br />

— A sua alma? - Viper estremeceu.<br />

— Chame-a de vontade. - Styx fez um gesto de impaciência com a mão.<br />

— Um sentido para a vida.<br />

Viper estava surpreso. A última coisa que esperava, era debater filosofia<br />

enquanto era mantido prisioneiro em uma limusine. Naturalmente, isso tinha de<br />

acontecer. Aquele era Styx, afinal de contas.<br />

— Está me soando como um humano - Viper observou.<br />

— Não são os humanos que sempre lutam para descobrir um destino além de si<br />

147


mesmos?<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— E estão errados? Não devemos lutar para deixar um legado que enriquecerá<br />

nossos irmãos?<br />

Viper apontou para as algemas de prata que faziam arder sua pele.<br />

— Acredita que é isso o que está fazendo? Enriquecendo os irmãos?<br />

O vampiro teve a decência de franzir o cenho, embora sua voz permanecesse<br />

macia.<br />

— Você parece se esquecer de que foi o anasso quem liderou a batalha para<br />

civilizar nossos clãs. Foi sua força que nos permitiu derrotar aqueles que nos<br />

mantinham presos à ignorância. É sua presença que evita que a anarquia volte. Penso<br />

que você, Viper, mais do que todos, deveria entender isso.<br />

Viper não havia se esquecido do passado. Ou das batalhas sangrentas e brutais<br />

em que lutara. Muito menos que tinha sido o anasso a liderar a mudança. Sem dúvida,<br />

sem seus esforços eles teriam continuado a viver como selvagens.<br />

— E assim o fim justifica todos os meios, não é, Styx?<br />

— Está caçoando de mim, Viper?<br />

Um leve sorriso surgiu nos lábios dele.<br />

— Não, na verdade eu entendo. Encontrei satisfação como chefe, mas como você<br />

diz, há mais na vida do que o poder. Somente agora achei um propósito para a minha.<br />

Styx o olhou com curiosidade.<br />

— E que propósito é esse?<br />

— <strong>Shay</strong> - ele disse simplesmente.<br />

— Não importa o que venha a acontecer, farei tudo para mantê-la em segurança.<br />

Amaldiçoarei a raça inteira dos vampiros se for preciso.<br />

Styx colocou a mão em seu medalhão.<br />

— Você deveria era usar o bom senso e chamar a shalott, meu amigo.<br />

As cavernas se pareciam mais com quartos de um castelo medieval do que com<br />

buracos. As paredes, e até mesmo os tetos, estavam forrados por ricas tapeçarias; o<br />

chão, coberto com carpetes grossos e macios; e a escuridão fora afastada com o uso<br />

de candelabros de bronze, cada um com uma dúzia de velas. A mobília era de madeira<br />

ricamente entalhada.<br />

<strong>De</strong>finitivamente, o lugar não se assemelhava a um abrigo de vampiros.<br />

Ainda assim, o anasso nunca tinha perguntado a opinião dele quando decorara os<br />

quartos.<br />

Styx soltou um suspiro. Era inteligente demais para expor sua opinião naquele<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

caso. Durante o século anterior, seu senhor havia se tornado uma pessoa de reações<br />

tão imprevisíveis.<br />

Aproximou-se bem devagar da enorme cama. Como o anasso tinha mudado<br />

naqueles últimos cem anos...<br />

A doença atacara seu mestre. Damocles empesteava as cavernas com a sua<br />

indigna presença.<br />

— Styx?<br />

A voz rouca encheu o ar.<br />

— Sim, milorde.<br />

— Ouvi dizer que me trouxe Viper, e que logo ele poderá chamar a minha shalott.<br />

— Sim, mestre.<br />

— Eu preferiria que tivesse trazido o demônio, mas fez um bom trabalho.<br />

Naturalmente é o que sempre faz. Mas noto algo em sua voz... - Os olhos negros do<br />

anasso o fitaram por um longo momento.<br />

— Certamente não é arrependimento?<br />

— Não gosto de ferir um amigo.<br />

— Presumo que esteja se referindo a Viper.<br />

Styx apertou as mãos. Quando tinha recebido a ordem de capturar Viper junto<br />

com a shalott, havia discutido e argumentado contra isso. Não aprovava esse tipo de<br />

traição entre vampiros.<br />

— Ele é um vampiro honrado. Não merecia ser tratado dessa maneira.<br />

O anasso suspirou profundamente.<br />

— Meu velho amigo, sabe que eu alegremente o receberia como irmão se ele<br />

usasse o amuleto para trazer a sua escrava. Ele fez isso?<br />

— Não. - Styx cerrou o maxilar.<br />

— Ele nutre sentimentos por sua shalott.<br />

— Uma pena. - O velho vampiro alisou o veludo do roupão, como se estivesse<br />

entretido em profundos pensamentos, mas Styx não deixou de notar que seu olhar<br />

escurecera.<br />

— Como você, eu também não gosto de torturar ninguém da minha espécie.<br />

Infelizmente, não podemos evitar que isso aconteça agora. A shalott está quase em<br />

nossas mãos. Ele tem de usar o amuleto.<br />

— E se ele não o fizer?<br />

— Tenho fé de que será convencido pela sua guarda.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— <strong>De</strong>u ordens para que o torturassem?<br />

— Essa foi sua decisão, não minha, Styx - o anasso lembrou gentilmente.<br />

— Eu preferiria uma solução um pouco mais simples.<br />

Styx sentiu um frio na espinha, o rosto endurecendo com desprazer.<br />

— Queria assassinar Viper e pegar a shalott à força? Alguma coisa brilhou nos<br />

olhos escuros, antes que o vampiro retomasse a expressão de paciência infinita.<br />

— Uma acusação dura, meu filho.<br />

— Como o senhor a chamaria?<br />

O anasso assumiu um ar indefeso.<br />

— Um infeliz sacrifício por uma causa maior. Styx sacudiu a cabeça.<br />

— Belas palavras não fazem a solução ser menos desprezível.<br />

— Pensa que não tenho arrependimentos? Que eu não alteraria o passado se isso<br />

fosse possível? Culpo-me pelas circunstâncias em que nos encontramos agora.<br />

E o que deveria fazer, Styx pensou. Tinha sido a fraqueza dele que os havia<br />

levado àquele momento: o apego ao proibido, que poderia bem matar o nobre vampiro.<br />

— Estou ciente disso, milorde.<br />

O anasso cerrou as sobrancelhas.<br />

— Talvez acredite que deveríamos deixar Viper e a shalott seguirem seu<br />

caminho. Mas, sem ela, certamente eu morrerei.<br />

— <strong>De</strong>ve haver outros meios de evitar isso.<br />

— Busquei todos os meios possíveis, até mesmo as drogas que aquele duende me<br />

impingiu. - O vampiro sacudiu a cabeça.<br />

— Não há nada que cure a doença, a não ser o sangue da shalott.<br />

— <strong>Shay</strong> - Styx falou suavemente.<br />

— Como?<br />

— O nome da shalott é <strong>Shay</strong>.<br />

— Sim, claro. - O silêncio reinou no quarto por alguns momentos.<br />

— Styx?<br />

— Sim, milorde?<br />

— Se mudou de idéia, eu entendo. Eu o coloquei em uma posição difícil, pela qual<br />

me arrependo muito. - Estendeu a mão e o tocou no braço.<br />

— <strong>De</strong>ve saber que a fé e a lealdade significam mais para mim que a própria vida.<br />

Styx sentiu um aperto no peito.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O senhor é muito bondoso, milorde.<br />

— Não bondoso. - Um leve sorriso surgiu nos lábios deformados.<br />

— Lembra-se de quando nos conhecemos?<br />

— Eu lutava contra os lobisomens, se me lembro bem. O anasso riu.<br />

— Você me disse que eu teria de esperar pela minha vez para ser morto.<br />

Styx soltou o ar, desgostoso.<br />

— Eu era ainda jovem e impetuoso.<br />

— Lembra-se do que eu disse?<br />

O vampiro se voltou para a lareira onde as brasas ardiam. Não era nenhum<br />

estúpido. O anasso queria que ele se lembrasse de que, nessa ocasião, ele lhe fizera<br />

uma promessa. E talvez também quisesse lembrá-lo de que a causa os mantinha unidos.<br />

Uma causa que fora além deles próprios.<br />

— Disse que pretendia parar com o rio de sangue - falou em voz vazia.<br />

— Escrever o destino da raça vampira nas estrelas. Unir a nós todos e nos tirar<br />

do caos. <strong>De</strong>pois me pediu para caminhar a seu lado.<br />

— Ao meu lado, Styx. Nunca atrás. - Houve uma pausa estratégica.<br />

— Quero que esta seja sua decisão, meu filho. Se acredita que é melhor soltar<br />

Viper, e permitir que a shalott continue livre, pois que isso seja feito.<br />

— Não, milorde. - Voltou-se para o doente, protestando. —<br />

Não posso...<br />

O vampiro fez um gesto, interrompendo-o.<br />

— Pense nisso, Styx, mas pense depressa. Não temos muito tempo.<br />

Levet observou com curiosidade a charmosa área de campo, nas proximidades do<br />

rio Mississipi. Não se parecia em nada com um lugar onde se instalasse um bando de<br />

vampiros que pretendia voltar a agir como nos velhos e sangrentos tempos.<br />

Claro, podia ser um pouco difícil se esconder em um castelo gótico, cheio de<br />

morcegos e criaturas estranhas. Era o tipo de coisa que as pessoas tendiam a notar.<br />

Escondida no meio de alguns arbustos e rochas caídas, <strong>Shay</strong> massageava os<br />

músculos das pernas. Tinha corrido por cerca de seis horas, seguindo o rastro da<br />

limusine nas estradas de Illinois. Isso não seria possível se estivessem dentro de um<br />

automóvel... Mas a pé, o cheiro de tantos vampiros fora o suficiente para que ela e<br />

Levet os seguissem até lá.<br />

A adrenalina a levara a tal façanha, até chegarem ao Monte Rushmore, quando<br />

aproveitara para arranjar uma camiseta em um varal de uma fazenda próxima.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O tempo está passando Levet.<br />

— Eu sei - ele resmungou. <strong>De</strong>pois ficou atento.<br />

— É aqui. Sinto o cheiro. Vamos ou não vamos?<br />

<strong>Shay</strong> respirou fundo. Fitou os buracos negros diante dela e suas mãos começaram<br />

a suar. Havia jurado que nunca mais entraria em uma caverna escura depois de sua<br />

experiência com as bruxas.<br />

Mas se lembrou da promessa que Viper lhe fizera: Nunca mais vai ficar sozinha<br />

no escuro.<br />

Não que estivesse sozinha agora. Levet estava a seu lado, e Viper devia contar<br />

que ela o salvasse.<br />

— Estou indo. - Sua voz saiu firme, apesar de tudo. Entraram em um dos túneis.<br />

<strong>Shay</strong> inspirou e não sentiu por perto sinal de humanos nem de demônios.<br />

— Ninguém passa por este túnel há anos.<br />

Levet olhou uma enorme rachadura em uma parede.<br />

— Porque é instável.<br />

— Quanto?<br />

— Parece suficientemente seguro por hora, mas eu não me arriscaria a usar algo<br />

como dinamite aqui dentro.<br />

— Vou me lembrar disso...<br />

Levet estendeu a mão e pegou a de <strong>Shay</strong>.<br />

— O sol vai surgir, e quero sua promessa antes que eu seja obrigado a virar<br />

pedra.<br />

Ela lhe sorriu com carinho.<br />

— Que promessa?<br />

— Não posso evitar que procure por Viper, mas quero sua palavra de que não vai<br />

tentar nada estúpido.<br />

<strong>Shay</strong> revirou os olhos, irritada.<br />

— Por que as pessoas vivem me dizendo isso?<br />

— Porque você é impulsiva e se deixa levar demais pelo coração. Seja cuidadosa.<br />

— Eu serei, prometo.<br />

Ela se inclinou e beijou o rosto do gárgula, exatamente quando a primeira luz do<br />

amanhecer invadiu a caverna. Levet virou pedra no mesmo momento.<br />

Com um último gesto de carinho na cabeça do amigo, <strong>Shay</strong> se voltou e entrou no<br />

túnel.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Embora a imortalidade tivesse muitas vantagens, havia alguns problemas em se<br />

viver para sempre: o interminável tédio da Idade Média. O aborrecimento por ter de<br />

se aprender novas tecnologias.<br />

E, pior de tudo, sobreviver às mais brutais torturas.<br />

Viper perdera a noção do tempo desde que entrara na caverna. <strong>De</strong> alguma forma,<br />

estar preso por correntes ao teto e ter a carne chicoteada ininterruptamente estava<br />

sendo uma distração e tanto.<br />

Só não sabia por quanto tempo mais resistiria àquela perda de sangue. E estava<br />

se tornando difícil demais manter a cabeça no lugar com o brutal ritmo dos chicotes<br />

ressoando pelo ar: nunca parando, nunca se apressando, nunca se alterando. Um ritmo<br />

lento e contínuo, que dilacerava suas costas e pernas.<br />

O fim veio sem aviso. Em um momento o chicote se enterrando em sua carne, no<br />

outro, os silenciosos vampiros deixavam a caverna sombria.<br />

Teria grunhido de alívio se não tivesse sentido que Styx entrava na sala e ficava<br />

bem diante dele. Não ia permitir, de jeito algum, que seu captor percebesse nele<br />

qualquer sinal de fraqueza.<br />

Capaz de ler facilmente os pensamentos, o vampiro alto resmungou:<br />

— Por que tem de ser tão teimoso, Viper? Isso não lhe serve de nada. Tudo o que<br />

precisa fazer é chamar a shalott e será libertado.<br />

Ignorando a agonia que sentia ao menor dos movimentos, Viper levantou a cabeça<br />

e encarou aquele que, em um tempo distante, fora seu amigo.<br />

— No momento em que me libertar, eu o matarei. A expressão no rosto de Styx<br />

não se alterou.<br />

— Não sou seu inimigo.<br />

— É assim que trata os amigos? - Viper cuspiu sangue nos pés de seu captor.<br />

— Posso lhe dizer que sua hospitalidade é uma droga.<br />

— Eu nunca quis que fosse torturado. Nunca desejei mal a nenhum de meus<br />

irmãos. Quero salvar a todos do caos e da ruína.<br />

— Não - Viper sibilou.<br />

— Você quer sacrificar uma mulher jovem e inocente para salvar um vampiro que<br />

só lhe arruinou a vida. Ou nega a fraqueza do anasso?<br />

Styx apertou as mãos. Nem mesmo ele podia esconder inteiramente o seu<br />

desprazer diante da doença que havia atacado o mais poderoso dos vampiros. Era<br />

quase um segredo que os vampiros podiam ser afetados quando tomavam o sangue de<br />

viciados em drogas. E mais segredo ainda que os vampiros podiam se viciar também.<br />

O sangue contaminado poderia, vagarosa e impiedosamente, destruir qualquer um<br />

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de sua espécie. Mesmo o anasso.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Isso já ficou no passado - Styx retrucou por fim, com uma voz fria.<br />

— Você se refere a quando ele foi curado pelo sangue do pai de <strong>Shay</strong>?<br />

— Sim.<br />

Viper cerrou os dentes quando uma nova onda de dor nos braços o atingiu. Os<br />

vampiros não deviam ficar pendurados em tetos, presos a algemas de prata. Assim<br />

como não deviam ser raptados por antigos companheiros, nem chicoteados como cães<br />

selvagens.<br />

— Se isso ficou no passado, por que ele está doente de novo? - Viper exigiu uma<br />

resposta.<br />

lo.<br />

Para sua surpresa, Styx começou a andar de um lado para o outro, tenso.<br />

— Isso importa?<br />

A horrível dor que Viper sentia foi esquecida quando a fúria falou mais alto.<br />

— Considerando a sua intenção de matar a mulher que eu amo, importa bastante!<br />

Styx estremeceu visivelmente, como se Viper tivesse, por fim, conseguido atingi-<br />

— Eu lamento a necessidade. Não sabe quanto, Viper, mas deve pensar no que vai<br />

acontecer se o anasso morrer.<br />

— Lentamente, ele dirigiu a Viper um olhar atormentado.<br />

— Um vampiro se levantará contra outro. Alguns irão querer dominar os demais, e<br />

outros simplesmente voltarão aos tempos que tínhamos antes do anasso. O sangue dos<br />

clãs será derramado sobre nós, enquanto os chacais voltarão para o seu lugar na glória.<br />

— Chacais? - Viper estremeceu.<br />

— Está se referindo aos lobisomens?<br />

— Eles se reuniram sob o comando de um novo rei. Um jovem e destemido<br />

lobisomem, que sonha com o dia em que eles governarão a noite. - A voz de Styx soou<br />

cheia de preocupação.<br />

— É apenas o medo que eles têm do anasso que ainda os impede de nos atacarem.<br />

Viper sacudiu a cabeça lentamente. Pelo sangue dos justos. Styx estaria assim<br />

tão cego? Ficara enfiado tempo demais dentro das cavernas escuras para não ter idéia<br />

do que estava acontecendo no mundo?<br />

— Você é um tolo, Styx.<br />

— Não duvido que muitos concordem com você, mas nunca ousam fazê-lo na minha<br />

cara!<br />

Como se um monte de insultos fizesse diferença. Viper acabou sorrindo com<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

amargura. Ele já estava sendo torturado. O mais poderia acontecer?<br />

— Abra os olhos, velho companheiro. Não é o anasso que impede que os vampiros<br />

se dilacerem uns aos outros. Nem mesmo o que detém os lobisomens de nos atacarem.<br />

Styx olhou para Viper como se escutasse uma blasfêmia. E talvez fosse mesmo<br />

uma heresia para ele. Havia dedicado toda a sua existência ao anasso. Não podia, pois,<br />

ver nada além disso.<br />

— Claro que é - insistiu. — Ele é quem nos levou ao triunfo.<br />

— Talvez ele nos tenha liderado, mas ninguém tem visto nem conversado com o<br />

anasso há séculos. Ele é pouco mais que uma vaga sombra lembrada por seus feitos no<br />

passado.<br />

— Eles o temem. Temem o poder que ele detém.<br />

— Não. Eles temem você, Styx. Você e sua guarda. Você é quem tem governado os<br />

vampiros, queira isso ou não.<br />

Styx endireitou o corpo, as feições tensas.<br />

— Isso é traição.<br />

— É a verdade nua e crua. - Viper franziu o cenho, mal aguentando manter a<br />

cabeça erguida. Sua força estava se esvaindo com a perda de sangue.<br />

— <strong>De</strong>ixe este lugar e visite os clãs se quer saber a verdade, Styx. Sua lealdade o<br />

cegou.<br />

Styx soltou um grunhido.<br />

— Vim aqui na esperança de fazer você cair em si. Obviamente, a sua loucura é<br />

maior do que eu temia. - Estendeu a mão e tocou no medalhão em seu peito.<br />

— Quando estiver preparado para chamar a shalott eu voltarei aqui.<br />

Dando as costas, o vampiro deixou Viper entregue à dor e à escuridão.<br />

Não que Viper realmente se importasse com isso. Enquanto as correntes de prata<br />

dilaceravam sua pele, e seus músculos se contraiam em agonia, ele podia jurar que<br />

sentia o doce perfume de <strong>Shay</strong>.<br />

Os túneis terminaram por se revelar um verdadeiro labirinto que levava a nada,<br />

ou pior: levavam ao mesmo ponto de partida. Meia hora de busca infrutífera, e <strong>Shay</strong><br />

percebeu estar perdida.<br />

Começou a praguejar em francês. Não sabia o que significavam as imprecações,<br />

mas pareciam perfeitas naquele momento.<br />

Praguejou de novo ao bater a cabeça no teto. O lugar obviamente não tinha saída.<br />

Era escuro, cheio de limbo e muitas aranhas.<br />

Sem falar agora no cheiro inconfundível de vampiros.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Oh, benditos fossem os céus! Preferia um bando de vampiros raivosos a ficar<br />

mais um minuto presa naquele lugar!<br />

Identificar o cheiro de vampiros, no entanto, e se ver cara a cara com eles, eram<br />

duas coisas bem diferentes.<br />

<strong>Shay</strong> franziu o cenho. Olhando bem, não parecia ser um túnel. Após outras tantas<br />

voltas sem sucesso, finalmente deu com tochas acesas, presas às paredes. Um ou<br />

outro tapete revelava que devia estar perto da gruta dos vampiros.<br />

Em uma encruzilhada, parou para tomar fôlego. Os vampiros deveriam estar à<br />

direita. Pelo menos sete deles. Mas, à esquerda, havia cheiro de humanos. Em bom<br />

número, e todos cheirando a medo e doença.<br />

Havia algo mais. O cheiro de um duende e de um troll!<br />

Seu coração disparou. Seria Evor? Ele estaria perto o suficiente para que ela o<br />

capturasse logo depois de salvar Viper?<br />

<strong>Shay</strong> se virou na direção dos vampiros e afastou os pensamentos da criatura.<br />

Tudo o que importava no momento era encontrar Viper.<br />

O túnel se tornou mais largo e, obviamente, mais transitável, porém curiosamente<br />

deserto. Com sua habitual falta de sorte, ela esperava encontrar um vampiro a cada<br />

curva.<br />

Para sua surpresa, não viu nenhum.<br />

Foi assim que sentiu o cheiro de Viper.<br />

— Viper! - ela chamou em voz baixa.<br />

Não recebeu resposta alguma. Droga, ele devia tê-la escutado. A não ser que...<br />

Não, não e não, Não queria nem pensar nisso!<br />

Engolindo em seco, pegou uma das tochas e forçou os pés a seguirem adiante.<br />

Bem à sua frente havia uma entrada estreita. Viper estava lá. Podia sentir com<br />

cada batida de seu coração.<br />

Cuidadosamente, ela se esgueirou pela estreita abertura.<br />

Uma vez dentro de uma pequena caverna, levantou a tocha, tentando ver à<br />

frente.<br />

O que encontrou quase lhe dilacerou o coração. Viper estava mesmo ali:<br />

pendurado pelos pulsos ao teto. Havia sido chicoteado até que suas costas e pernas<br />

ficassem com os ossos à mostra. Havia sangue em toda parte: em seus cabelos, em seu<br />

rosto perfeito.<br />

— Viper! Droga, o que fizeram com você?! - exclamou, horrorizada.<br />

A tocha caiu ao chão antes que ela conseguisse se controlar.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Céus, a última coisa de que Viper precisava naquele momento era ver uma crise de<br />

histeria.<br />

<strong>Shay</strong> tentou se controlar. Sempre afirmara ser uma guerreira. Era hora de<br />

começar a se comportar como uma.<br />

Engoliu em seco. Os vampiros haviam prendido Viper com correntes e o tinham<br />

espancado como se ele fosse um animal.<br />

Cerrou os dentes, irada. Pretendia vê-los no inferno assim que conseguisse<br />

colocar Viper em segurança.<br />

Uma tarefa que provou ser mais difícil do que imaginava.<br />

Em vão, tentou mover a pesada corrente que mantinha Viper preso ao teto. Pelo<br />

menos era de prata e não de ferro, embora Viper não pudesse se alegrar com o fato.<br />

Soltou um gemido. Podia sentir o cheiro do metal queimando a pele dele. <strong>De</strong>via<br />

ser extremamente doloroso estar exposto, assim, a uma substância terrível para os<br />

vampiros.<br />

Pressionando, puxando, revirando, finalmente ela conseguiu tirar a corrente do<br />

teto da caverna. O sucesso, naturalmente, teve um custo. Viper caiu pesadamente no<br />

chão.<br />

Correu para o lado dele, e conseguiu livrá-lo das correntes.<br />

Por anos ela amaldiçoara a força de demônio que a diferenciava dos humanos.<br />

Achara-se uma aberração. Uma criatura de que todas as crianças caçoavam e que os<br />

adultos temiam. Agora, pela primeira vez, apreciava os dons que herdara do pai.<br />

Colocando a cabeça de Viper sobre o colo, ela limpou o sangue do belo rosto agora<br />

marcado pela dor.<br />

— Viper! Viper, pode me ouvir?<br />

Não teve resposta alguma no primeiro momento. Por fim, o corpo dele<br />

estremeceu.<br />

— <strong>Shay</strong>?...<br />

Ela inclinou a cabeça para que ele conseguisse escutá-la.<br />

— Não se mexa, estou aqui.<br />

— É um sonho?<br />

Ela soltou uma risada histérica.<br />

— <strong>De</strong>ve ter tido sonhos melhores do que este...<br />

— Venho sonhando com você há meses. Não. Venho sonhando com você por uma<br />

eternidade. - Viper abriu os olhos com incrível dificuldade.<br />

— Pensei que nunca a encontraria, mas encontrei. Não podia deixá-la ir embora.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Não quando preciso desesperadamente de você. Nunca vou deixá-la partir.<br />

Os olhos de <strong>Shay</strong> se encheram de ridículas lágrimas. Ele, sem dúvida, delirava e<br />

estava totalmente fora de si com a dor. Mas ninguém jamais dissera palavras que a<br />

emocionassem tanto como aquelas.<br />

— Como se pudesse se livrar de mim agora. Viper, você precisa acordar.<br />

Com esforço, ele procurou voltar à consciência.<br />

— Não devia estar aqui. É perigoso.<br />

Perigoso? Uma caverna cheia de vampiros desesperados para drenar o sangue<br />

dela? Bobagem.<br />

— Não se preocupe, já estamos indo embora.<br />

— Vá você... Agora!<br />

— Ambos iremos. - Ela estendeu o braço e colocou o punho contra os lábios dele,<br />

decidida.<br />

— Mas, primeiro, você tem de beber.<br />

Sentiu que ele estremeceu ao ouvir as palavras.<br />

— Não <strong>Shay</strong>. Não vai querer que eu tome o seu sangue.<br />

— Meu sangue vai curá-lo, Viper. Por que acha que as shalotts são tão<br />

procuradas?<br />

Ele sacudiu a cabeça.<br />

— Vá, <strong>Shay</strong>! Ou eles irão matá-la!<br />

Ela balançou a cabeça em uma negativa.<br />

— Primeiro vão ter de me pegar.<br />

— Não é tão forte como pensa.<br />

— Vou lhe mostrar o quanto sou forte, se não beber - ela ameaçou, pressionando<br />

o punho contra os lábios dele.<br />

— Tem de fazer isso agora, Viper, ou ambos morreremos.<br />

Seus olhares se encontraram por um longo e silencioso momento.<br />

Então ele a mordeu.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos, e seu corpo inteiro entrou em choque quando dois<br />

caninos ultrapassaram a pele de seu pulso. Não sentiu dor, mas quase desejou que o<br />

fosse. Isso era comum em batalhas...<br />

O que sentiu, foi uma poderosa onda de prazer percorrer seu corpo. Um prazer<br />

torturante, agonizante...<br />

Era possível? - perguntou-se, atordoada.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Em meio à deliciosa sensação, percebeu que Viper recuperava as forças. O sangue<br />

dela funcionara como mágica. A doce pressão dos dentes dele em seu punho alcançou<br />

um ponto máximo, e ela gritou de prazer.<br />

Tombou para a frente e enterrou a cabeça nos cabelos de Viper, ofegante.<br />

Estava tonta e fraca agora.<br />

E muito embaraçada. Não era hora para desfrutar os prazeres da carne.<br />

— <strong>Shay</strong>? <strong>Shay</strong>, fale comigo!<br />

— Droga! - ela exclamou, forçando-se a encontrar o olhar de Viper.<br />

— Eu a machuquei?<br />

— Não exatamente.<br />

Ele a observou por um longo momento, até compreender o que tinha acontecido.<br />

— Está ruborizando?<br />

— Eu... - Ela parou de falar e o fitou com preocupação.<br />

— Melhorou o suficiente para cairmos fora daqui?<br />

Um grande sorriso surgiu nos lábios dele.<br />

— Estou curado. Completamente curado! - exclamou, surpreso.<br />

— Não é de surpreender que o anasso esteja tão ansioso para colocar as mãos em<br />

você.<br />

<strong>Shay</strong> franziu o cenho de leve enquanto ainda detinha o olhar nos caninos<br />

pontiagudos.<br />

— Não são as mãos dele que quero em meu corpo... Viper sorriu e a beijou na<br />

boca.<br />

— Você me deu um grande presente, <strong>Shay</strong>. Um presente do qual nunca me<br />

esquecerei.<br />

— Promessa é promessa. Eu tinha uma dívida de sangue com você.<br />

— Agora fique quieta, mulher. Logo pretendo lhe dizer como foi maluca em me<br />

seguir e colocar sua vida em risco. Por hora, simplesmente quero que saiba que honrou<br />

seus ancestrais. Nunca conheci ninguém, vampiro, demônio ou humano, que possuísse<br />

sua coragem e sua lealdade... Você é uma guerreira da qual seu pai se orgulharia. Um<br />

forte rubor tomou conta do rosto de <strong>Shay</strong>.<br />

— Acho que devemos pensar agora era como sair daqui - ela disse apenas.<br />

Viper estreitou os olhos escuros.<br />

— Há momentos em que me desespero por sua causa... Realmente me desespero. -<br />

Ele a beijou com paixão.<br />

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— Mas está certa. Vamos sair daqui. O quanto antes melhor.<br />

Capítulo V<br />

Viper estava irritado, pois tinha falhado em descobrir quem caçava <strong>Shay</strong>. Falhado<br />

em capturar o maldito Evor e pôr um fim na maldição. Falhado em evitar que <strong>Shay</strong> se<br />

colocasse em perigo.<br />

Tinha sido um fracasso.<br />

Não demorou muito e <strong>Shay</strong> tropeçou em uma pedra mais uma vez.<br />

— Você está bem? - ele perguntou, preocupado.<br />

— Não muito. - Ela massageou o dedo do pé.<br />

— Não enxergo nada nessa escuridão.<br />

— Como conseguiu me achar? Ela deu de ombros.<br />

— Quando escapei do armazém, dei de cara com Levet. Ele já estava seguindo a<br />

limusine.<br />

— O gárgula? Pensei que ele não se importasse comigo.<br />

— Ele pensou que eu também estivesse no carro.<br />

— Ah, claro... E Dante?<br />

— Está reunindo o seu clã. Logo que o sol se puser, Levet voltará a Chicago e os<br />

trará até aqui.<br />

Viper a puxou para mais perto.<br />

— E não lhe ocorreu que devia esperar por Dante? <strong>Shay</strong> comprimiu os lábios.<br />

— Você poderia morrer.<br />

— Mas você estaria em segurança - ele grunhiu.<br />

— Droga, <strong>Shay</strong>, não quero que se arrisque.<br />

— Prometeu que eu não seria sua escrava.<br />

Viper suspirou, exasperado.<br />

— E não é.<br />

— Nesse caso sou livre para tomar as minhas próprias decisões. Alguém precisava<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

vir aqui e salvá-lo. Foi exatamente o que fiz.<br />

Era, sem dúvida, o argumento mais ridículo que ele tinha ouvido na vida.<br />

— Mesmo que isso significasse ser apanhada e ter seu sangue drenado? É<br />

exatamente o que vai lhe acontecer se for capturada. <strong>De</strong>veria voltar já para o lado de<br />

Abby. Estaria em segurança lá.<br />

— Não, eu não estaria.<br />

Ele franziu o cenho.<br />

— <strong>Shay</strong>, nem mesmo Styx ou sua guarda ousariam atacar a Fênix. Por isso nos<br />

induziram a deixar a casa.<br />

— Ele poderia não atacar a Fênix, mas não importaria por quantas deusas eu<br />

estivesse rodeada se os vampiros decidissem matar Evor.<br />

Os músculos de Viper se retesaram.<br />

— Evor? Sabe onde ele está?<br />

— Penso que esteja aqui.<br />

— Não. Styx me disse que não conseguiram colocar as mãos no troll.<br />

<strong>Shay</strong> soltou uma risada amarga.<br />

— E acreditou em Styx, mesmo depois que ele o capturou e torturou?<br />

Viper franziu a testa de leve. Pretendia resolver suas diferenças com seu velho<br />

amigo, mas não agora.<br />

— Ele poderia me torturar, poderia inclusive me matar, mas nunca mentiria. Não<br />

intencionalmente.<br />

— Que graça.<br />

Percebendo que seria impossível explicar a complexa moral de Styx, Viper voltou<br />

sua atenção ao que ela afirmara.<br />

— Por que acredita que ele está com Evor?<br />

— Porque senti o cheiro de Evor enquanto atravessava a caverna.<br />

Um frio passou pela espinha de Viper.<br />

— Tem certeza?<br />

— O cheiro dele é inconfundível.<br />

Viper cerrou os dentes. Como Evor podia estar por perto sem que Styx soubesse<br />

disso?<br />

— Droga.<br />

— O que foi? - ela perguntou.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Onde Levet está? <strong>Shay</strong> o olhou, curiosa.<br />

— Ele está brincando de estátua perto da saída da caverna. Por quê?<br />

— Ele iria comigo procurar o troll?<br />

— Não.<br />

— <strong>Shay</strong>...<br />

— Não, não e não! Não sou uma idiota indefesa, que tem de fugir cada vez que<br />

acontece alguma coisa um pouco mais perigosa.<br />

— Um pouco mais perigosa? Estas cavernas estão cheias dos mais perigosos<br />

vampiros que existem na Terra!<br />

— E que, por hora, estão todos enfiados em seus caixões.<br />

— Quer arriscar a sua vida nisso?<br />

— É a minha vida, não a sua.<br />

Viper fechou os olhos e procurou não se deixar abater pela frustração. Aquela<br />

mulher certamente o levaria ao túmulo.<br />

— Os vampiros deveriam tomar aulas com você, <strong>Shay</strong>. São amadores no que se<br />

refere a torturar uma criatura.<br />

— Vai ficar aí reclamando ou vamos procurar Evor? - Ela perguntou, enquanto<br />

seguia pelo túnel.<br />

<strong>De</strong> repente ela parou e caiu de joelhos.<br />

— O que foi? - Ele se apressou em auxiliá-la.<br />

— Não sei... Fiquei tonta.<br />

Viper notou a palidez em seu rosto. Parecia doente. Levou um momento para<br />

saber o que era.<br />

— Diabos, sou um idiota. Você precisa descansar um pouco. Passou o dia lutando<br />

com trolls, demônios e, depois, ainda tentou me localizar. Além do mais, ainda doou<br />

uma grande quantidade de sangue a um vampiro ferido. Chega a surpreender que ainda<br />

esteja de pé. - Ele a beijou levemente nos cabelos.<br />

— Mesmo o mais poderoso dos guerreiros precisa ocasionalmente recuperar a sua<br />

força.<br />

— Mas temos de cair fora daqui. Ele a fez entrar em um dos túneis.<br />

— Temos tempo. Como você bem disse, os vampiros estão em seus caixões, e não<br />

podem sair das cavernas até que o sol se ponha.<br />

Houve uma pausa antes que ela finalmente suspirasse.<br />

— Talvez possamos encontrar um lugar para descansarmos por alguns minutos.<br />

162


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Uma excelente idéia. - Viper olhou em volta da pequena caverna onde haviam<br />

chegado. Era rochosa e desconfortável. Mas tinha a vantagem de ser bem distante das<br />

outras cavernas, e com apenas uma entrada. Ninguém seria capaz de encontrá-los ali.<br />

Viper a ajudou a sentar-se no chão, depois também se sentou e a tomou em seus<br />

braços.<br />

— Feche os olhos e descanse, <strong>Shay</strong>. Vou ficar de guarda. Verdadeiramente fraca,<br />

<strong>Shay</strong> nem mesmo tentou argumentar. Apoiou a cabeça no ombro de Viper, e caiu no<br />

sono.<br />

Levet podia não ser nem grande nem abençoado com poderes assustadores<br />

herdados de seus ancestrais, mas era bastante inteligente. Não se surpreendeu<br />

quando acordou e descobriu que <strong>Shay</strong> não estava mais por perto.<br />

<strong>De</strong> nada adiantara lhe pedir que tivesse cuidado. Ela faria qualquer coisa,<br />

enfrentaria qualquer perigo para salvar Viper.<br />

Droga. Tinha de entrar em contato com Dante e pedir ajuda. E bem depressa.<br />

Não haviam esperado que levassem Viper para tão distante da cidade. Mesmo que<br />

Dante e sua tropa de choque deixassem Chicago naquele momento, levaria horas para o<br />

clã chegar àquela fazenda isolada. Assim, nem podia pensar em voltar a Chicago para<br />

lhes passar a localização da chácara. Era preciso outra forma de comunicação.<br />

<strong>De</strong>ixou a caverna e procurou se mover bem devagar. Os vampiros eram<br />

predadores perfeitos. Podiam usar todos os seus sentidos para localizar uma presa.<br />

Qualquer pedrinha deslocada, qualquer cheiro levado pela brisa, e a cabeça dele<br />

estaria decorando uma parede da fazenda.<br />

Voou alguns quilômetros antes de seguir o caminho até o rio. Pousou e ajoelhou-se<br />

junto a água. Tudo à sua volta parecia vivo: insetos, peixes, guaxinins curiosos. Mas ele<br />

os ignorou e se concentrou, olhando para a água.<br />

Começou, então, a falar as palavras mágicas em voz baixa. Uma luz fraca<br />

apareceu antes que seu reflexo desaparecesse, e um vazio escuro tomasse o lugar.<br />

Um longo tempo se passou, até que ele conseguiu captar uma presença familiar.<br />

— Dante, é Levet!<br />

— Levet? - O vampiro olhou em volta, admirado.<br />

— Onde, diabos, você está?<br />

— Se clarear a sua mente, eu lhe mostrarei.<br />

— O quê?<br />

Levet praguejou um bocado. Bem baixo, para que o vampiro não o escutasse. Não<br />

era completamente suicida, mas praguejar fazia com que se sentisse melhor.<br />

— Apenas clareie a sua mente, eu farei o resto. Dante não pareceu muito feliz,<br />

163


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

mas fechou os olhos e, obviamente, fez uma tentativa de esvaziar a mente. Levet não<br />

perdeu tempo, e lhe passou as imagens do caminho até a fazenda.<br />

Finalmente, Dante abriu os olhos e sacudiu a cabeça.<br />

— É bem mais distante do que pensei. Mesmo indo de carro, levaremos horas para<br />

chegar.<br />

Levet concordou com um suspiro de frustração.<br />

— <strong>De</strong> qualquer modo, esperarei na entrada da caverna.<br />

Com um movimento de mão, ele fechou o portal. A imagem de Dante sumiu, mas a<br />

escuridão permaneceu. Levet estranhou, e se surpreendeu quando um lindo rosto de<br />

mulher surgiu diante dele. Olhou, horrorizado, quando a mulher passou pelo portal e se<br />

materializou diante dele.<br />

— Você é uma criatura das águas! - exclamou, perplexo.<br />

— E você, um gárgula, apesar de eu nunca ter visto um tão pequeno. Ficou desse<br />

jeito por causa de algum feitiço?<br />

Levet revirou os olhos e começou a deixar a margem do rio. As criaturas das<br />

águas eram adoráveis, mas raramente inteligentes.<br />

— Não fui enfeitiçado. Sempre fui deste tamanho.<br />

— Surpreendente. - Ela o seguiu.<br />

— Por que não volta ao lugar de onde veio?<br />

— Não posso fazer isso.<br />

— Claro que pode.<br />

— Foi você quem me trouxe aqui, pequeno gárgula - ela retrucou.<br />

— Não fiz isso.<br />

— Fez sim!<br />

Levet balançou a cabeça, exasperado.<br />

— Está livre. Pode ir embora. A criatura sorriu levemente.<br />

— Parece que não sabe muito sobre magia.<br />

Levet agitou as asas, irritado. Bonita ou não, a mulher estava sendo<br />

inconveniente.<br />

— Muito bem... diga-me o que tenho de fazer para você desaparecer.<br />

A criatura surpreendeu-se.<br />

— Não me acha bonita?<br />

— Acho girafas bonitas, mas nem por isso quero uma me seguindo. Especialmente<br />

uma que não mantém a boca fechada.<br />

164


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Você não é um gárgula bonzinho. - A pele dela começou a brilhar sob a luz<br />

fraca do luar. Era um brilho que tinha atraído marinheiros aos seus domínios por<br />

séculos.<br />

— <strong>De</strong>ve me dizer que sou bonita, e que quer estar comigo.<br />

— O que eu quero é ficar em paz - Levet grunhiu.<br />

— Fique quieta.<br />

Ela arregalou seus enormes olhos azuis, mas ficou calada. Levet estremeceu. Ela<br />

realmente o obedecia? Não tinha sido uma ordem, apenas um desejo. Um sorriso surgiu<br />

em seus lábios.<br />

— Entendi. Você atenderá a três pedidos meus, e voltará para águas.<br />

A criatura pareceu frustrada. Esperava que o gárgula quisesse passar bastante<br />

tempo com ela. Mas, enquanto não lhe atendesse os dois desejos que faltavam, estaria<br />

livre da prisão das águas.<br />

Levet ficou pensativo. Já tinha usado um desejo, pedindo que ela ficasse quieta.<br />

Um desejo bem usado, afinal.<br />

Agora lhe restavam apenas dois, e ele precisava decidir precisamente quando<br />

deveria usá-los.<br />

<strong>Shay</strong> lutou contra o desejo de continuar dormindo. Percebeu estar com a cabeça<br />

descansando no ombro de Viper, envolta em seus fortes braços.<br />

— Que horas são?<br />

— Passou do anoitecer.<br />

— Por que não me acordou?<br />

— Tentei várias vezes, mas você não me obedeceu... Me chamou de nomes<br />

bastante desagradáveis, e ameaçou me enfiar uma estaca no peito.<br />

— Não acredito em você.<br />

— Muito bem, se quer mesmo a verdade eu a direi: gosto de observá-la enquanto<br />

dorme. Tê-la em meus braços, sentir o seu calor, é precioso para mim. Sabe que eu<br />

sacrificaria tudo por você?<br />

<strong>Shay</strong> sentiu o ar faltar.<br />

— Estou assustando você com minhas palavras? - ele quis saber.<br />

Ela sentiu a boca seca e um nó na garganta.<br />

— Se não notou ainda, não me assusto facilmente.<br />

— Notei que enfrenta sem medo qualquer risco à sua vida, mas é cautelosa<br />

demais no que se refere aos seus sentimentos.<br />

165


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

<strong>Shay</strong> perdeu um instante observando as belas feições do vampiro.<br />

— As feridas do coração demoram mais para curar do que as do corpo.<br />

Ele a abraçou com força.<br />

— Jamais a magoarei, <strong>Shay</strong>.<br />

Ela sentiu uma vontade enorme de beijá-lo e de lhe revelar tudo o que sentia.<br />

Suavemente, deslizou as mãos pelo corpo forte e musculoso. Um oferecimento sem<br />

reservas.<br />

— O que quer de mim? - indagou baixinho.<br />

— A sua confiança, o seu amor, a sua alma... Quero você inteira.<br />

Um leve sorriso surgiu nos lábios bem desenhados.<br />

— Não pede muito.<br />

— É o que os vampiros pedem às suas companheiras. Ela afastou o corpo,<br />

perplexa, e Viper observou atentamente a expressão de sua shalott.<br />

— Você é minha companheira, <strong>Shay</strong>. É a mulher destinada a ficar ao meu lado por<br />

toda a eternidade,<br />

— Mas... Nem mesmo sabemos se tenho uma eternidade pela frente.<br />

— Nenhum de nós pode dizer precisamente quanto tempo tem de vida. O destino,<br />

por vezes, traz surpresas mesmo para os imortais - ele murmurou.<br />

— Mas, quantos forem os dias e noites que o destino me reservou, eu quero<br />

passá-los com você.<br />

<strong>Shay</strong> abaixou os olhos, tomada pela emoção.<br />

— Este não é o lugar para tal conversa.<br />

— Talvez não, mas preciso que diga o que sente por mim. Ela pareceu sem jeito.<br />

Era uma bobagem, uma enorme bobagem. Por que tinha tanta dificuldade em expor<br />

seus sentimentos?<br />

— As palavras, <strong>Shay</strong> - ele pediu.<br />

— Não pode dizê-las?<br />

— É difícil para mim. Eu...<br />

Ela moveu o corpo e o pressionou contra o dele, vencendo finalmente as<br />

barreiras.<br />

— Eu te amo, Viper. Ele fechou os olhos, absorvendo as palavras.<br />

— Eu também te amo - disse, e abaixando a cabeça, ele a beijou, possessivo.<br />

— Pensei que se eu a comprasse de Evor, e a levasse para a minha casa, eu me<br />

livraria de minha obsessão por você. Não fui esperto como pensei. Mas é claro que há<br />

166


compensações.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Nem ouso perguntar quais sejam elas...<br />

— Vou cobri-la de luxo - ele acrescentou.<br />

O olhar de <strong>Shay</strong> escureceu. Que mulher não gostaria de ser rica e desfrutar<br />

todos os luxos possíveis?<br />

— Isso me assusta - confessou, por fim.<br />

— Você é uma criatura estranha. Estranha? Ela?<br />

— Ainda não estamos casados, vampiro!<br />

A expressão nos olhos de Viper a encheu de ternura.<br />

— Ainda não, meu bem, mas logo. - Ele a beijou levemente.<br />

— Agora, porém, temos de sair daqui.<br />

<strong>Shay</strong> preferia ficar nos braços de Viper, mas, certamente, aquele não era o<br />

momento apropriado.<br />

Permitiu que ele fosse à frente, lembrando-se de ter sido praticamente<br />

arrastada por ele naquela estreita caverna. Uma prova do quanto estivera fraca.<br />

Moveram-se em silêncio, cientes de que, sendo noite fechada, os vampiros agora<br />

deviam estar fora de seus abrigos e, sem dúvida, perseguindo o prisioneiro que fugira.<br />

Não importava o quanto fossem enormes aquelas catacumbas. Na certa, logo sentiriam<br />

o cheiro de Viper e o dela.<br />

Quando chegaram a uma encruzilhada, Viper moveu-se pela passagem mais larga.<br />

<strong>Shay</strong> o deteve, olhando para o túnel estreito de onde vinha o cheiro de humanos.<br />

— Espere, Viper! Precisamos ir por aqui.<br />

— Não... Estaríamos muito próximos das cavernas habitadas.<br />

— Mas é de onde vem o cheiro de troll.<br />

— Ainda sente o cheiro de Evor?<br />

— Fraco, mas sim, ele está aqui.<br />

— Não consigo detectá-lo.<br />

Percebendo a frustração de Viper, ela começou a descer o túnel. O cheiro de<br />

troll ficava definitivamente mais forte.<br />

— <strong>De</strong>ve haver alguma mágica para disfarçar a presença dele - murmurou.<br />

— Por isso você não sente.<br />

— Styx jamais permitiria a presença de bruxas nestas cavernas. Elas seriam um<br />

perigo para o anasso.<br />

— Existem demônios capazes de desempenhar feitiços rudimentares.<br />

167


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— É verdade. Mas, por que eles estariam nestas cavernas, e por que esconderiam<br />

o cheiro de um troll?<br />

<strong>Shay</strong> não tinha respostas.<br />

* * *<br />

Styx se levantou ao ouvir a batida na porta. Por um momento, desejou ignorar o<br />

vampiro que ele sentia estar do outro lado.<br />

Estava atormentado, mas colocara o passado de violência para trás. Não se<br />

deixava mais governar pela ânsia de conquistar e destruir quem aparecesse em seu<br />

caminho. Se os vampiros deveriam prosperar naquele mundo perigoso, então teriam de<br />

estar em paz. Não sobreviveriam às contínuas chacinas.<br />

Mas, a paz valeria qualquer sacrifício?<br />

Era a pergunta que o angustiava agora. E uma para a qual não tinha resposta.<br />

A batida soou outra vez, mais insistente.<br />

Com us suspiro, Styx tocou no medalhão pendurado em seu pescoço antes de<br />

atravessar o quarto e abrir a porta.<br />

— Sim, <strong>De</strong>Angelo, o que foi?<br />

— O prisioneiro.<br />

Ele sentiu um frio no corpo.<br />

— Viper? Ele ainda vive?<br />

— Sim, mestre.<br />

Styx não disfarçou seu enorme alívio.<br />

— O que aconteceu?<br />

— Ele escapou.<br />

Era o que ele menos esperava.<br />

— Impossível! - exclamou, passando pelo vampiro, e descendo o túnel escuro que<br />

havia à frente.<br />

Viper estava ferido gravemente. Não havia possibilidade de estar curado a ponto<br />

de ter escapado. Mesmo se alguém o ajudasse, seria difícil demais carregá-lo pelo<br />

caminho.<br />

A não ser...<br />

O caminho escureceu à sua frente, levando às celas mais abaixo, onde Viper<br />

deveria estar. Entrou na caverna e a descobriu vazia, as algemas de prata rompidas.<br />

Aspirou o ar e soltou um grunhido.<br />

— A shalott!<br />

168


<strong>De</strong>Angelo parou a seu lado.<br />

— Sim.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Tinha de ser ela, naturalmente. Somente seu precioso sangue seria capaz de<br />

curar Viper.<br />

— Mandou alguém ir atrás deles?<br />

— Não, mestre. Eu pensei que seria melhor esperar as suas ordens.<br />

O simples fato de <strong>De</strong>Angelo não ter perseguido Viper no momento em que<br />

descobrira que o prisioneiro havia fugido, revelava que ele também estava tomado por<br />

sérias dúvidas.<br />

Styx disfarçou um suspiro.<br />

— Bloqueie as saídas para que eles não deixem as cavernas. Mas não se<br />

aproximem deles. Não quero sangue derramado, a não ser que vocês sejam atacados.<br />

— Certamente, senhor.<br />

O alívio estava estampado no rosto de <strong>De</strong>Angelo quando ele se virou e saiu da<br />

caverna.<br />

Uma vez sozinho, Styx se inclinou e tocou no sangue que havia no chão.<br />

A shalott estivera ali. Logo os vampiros encontrariam o seu rastro.<br />

Poucos poderiam acusar Levet de ser paciente. A maioria dos conhecidos diria<br />

que ele era, acima de tudo, temperamental.<br />

Olhou a mulher que continuava a seu lado. Pensara que não poderia haver nada<br />

pior do que o falatório de antes, mas se enganara.<br />

— Oh, pode falar, mulher. Mas não se esqueça que me deve desejos. Qual é o seu<br />

nome?<br />

— Bella. Não vamos entrar aí, vamos?<br />

— Tem medo de vampiros?<br />

— Não, mas não gosto de duendes. - Ela franziu o nariz.<br />

— São criaturas desagradáveis, perfumadas demais.<br />

— Duendes, perfumados?<br />

— Sim. Há um que vive aqui. Levet sacudiu a cabeça.<br />

— O que os vampiros estariam fazendo com um duende?<br />

— Ele rouba humanos.<br />

Bem, isso não esclarecia absolutamente nada.<br />

— Um vampiro não precisa da ajuda de um duende, se quiser beber sangue<br />

humano.<br />

169


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Somente um dos vampiros daí bebe o sangue dos humanos. E apenas de<br />

humanos especiais.<br />

— Como, assim, "especiais"?<br />

Impaciente, Bella apontou para o chão repleto de seringas descartadas.<br />

— Humanos que usam essas agulhas em si mesmos. Levet deu um passo para trás.<br />

Não era especialista em humanos, mas sabia o suficiente para reconhecer as agulhas<br />

espalhadas pelo chão. Sabia que eram usadas para algum tipo de droga.<br />

— <strong>Maldição</strong>! - <strong>Shay</strong> devia estar em perigo, e ele precisava fazer alguma coisa<br />

urgentemente.<br />

— Quero que me diga quais são os seus poderes, Bella. Que tipo de desejo<br />

consegue atender?<br />

— Qualquer coisa que deseje: riqueza, beleza, amor. Uma idéia surgiu na mente<br />

de Levet.<br />

— Eu estava pensando em alguma coisa mais exótica. Bella o olhou, desconfiada.<br />

Talvez fosse mais inteligente do que parecia.<br />

— Não posso ficar aqui, sentado, esperando por ajuda. Tenho de fazer alguma<br />

coisa já, e você vai ter de me ajudar.<br />

<strong>De</strong> alguma forma, as cavernas mais escondidas eram ainda mais miseráveis do que<br />

Viper temera. Água escorria das paredes, e havia um cheiro de morte e podridão no<br />

ar.<br />

Seu instinto o alertava a não seguir adiante.<br />

Fora um tolo em permitir que <strong>Shay</strong> continuasse naquele lugar. A qualquer<br />

momento, Styx os descobriria, e o anasso drenaria todo o sangue de <strong>Shay</strong> sem o<br />

menor remorso.<br />

Infelizmente, não podiam fugir antes de descobrirem se os vampiros estavam<br />

com Evor.<br />

Se eles o mantivessem ali, não haveria modo de proteger <strong>Shay</strong>.<br />

Seguindo o cheiro do troll, Viper parou perto de uma enorme caverna. Podia<br />

sentir que, ali dentro, mortais rastejavam na escuridão. Sentia cheiro de seu<br />

desespero.<br />

Por um momento hesitou, não querendo forçar <strong>Shay</strong> a ser testemunha daquela<br />

miséria. Sua hesitação, porém, deu à teimosa shalott a oportunidade de passar à<br />

frente dele, atraída pelo cheiro que levava direto à horrível caverna.<br />

— Humanos - murmurou, o corpo recuando ao ver as sombras caídas sobre o chão<br />

imundo.<br />

— Cristo, por que eles não fogem?<br />

170


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper apontou para as agulhas caídas no chão.<br />

— Olhe mais de perto.<br />

— Drogados! - <strong>Shay</strong> o fitou, admirada.<br />

— São viciados?<br />

— Sim.<br />

— Mas... O que estão fazendo aqui?<br />

Viper comprimiu os lábios. Mesmo quando suspeitara da razão do anasso precisar<br />

tanto do sangue de <strong>Shay</strong>, não quisera acreditar que fosse isso. Parte dele ainda se<br />

apegava à esperança de que o antigo líder não pudesse ter ido tão longe.<br />

Agora, olhando para os drogados, e sentindo o cheiro da morte, não havia mais<br />

por que fazer isso. O anasso estava além de qualquer redenção.<br />

— Eles estão destruindo um dos maiores vampiros que já existiu - admitiu, por<br />

fim, o tom de voz soturno. A traição pesava em seu coração.<br />

— Por isso que os vampiros precisam do seu sangue, <strong>Shay</strong>. Nosso líder se tornou<br />

um viciado, exatamente como os humanos se viciam. O sangue desses drogados o está<br />

matando.<br />

A surpresa estava estampada no rosto de <strong>Shay</strong>.<br />

— Nunca pensei que isso fosse possível de acontecer a um vampiro.<br />

— É um dos nossos segredos. Uma fraqueza que não revelamos a ninguém.<br />

— Se você beber o sangue de um drogado se torna um viciado também?<br />

— É uma possibilidade - ele concedeu.<br />

— Uma que raramente acontece, pois beber sangue de um viciado tornou-se um<br />

crime punido com a morte.<br />

— Mas, se o vampiro vai morrer de qualquer jeito, por que executá-lo?<br />

— Porque eles enlouquecem antes de morrer. No século passado, um vampiro<br />

ficou louco, e matou os habitantes de uma vila inteira na China. Só morreu após matar<br />

três dos vampiros que haviam sido enviados para capturá-lo. Agora, quando descobrem<br />

que o vampiro se viciou, ele é executado sumariamente.<br />

<strong>Shay</strong> ficou um momento observando Viper, então balançou a cabeça.<br />

— Obviamente, nem todos são executados - concluiu, estremecendo.<br />

— E você possui o dom da cura. Seu sangue pode sanar qualquer doença, menos a<br />

morte. E, exatamente como seu pai, você está para ser sacrificada.<br />

<strong>Shay</strong> empalideceu. Ela, sozinha, podia salvar a existência do legendário líder. Que<br />

vampiro não faria tudo o que fosse possível para oferecê-la em sacrifício?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Viper tem razão, naturalmente - Styx murmurou, surgindo do nada.<br />

— O seu sangue não tem preço.<br />

— Bem senti o seu cheiro - Viper grunhiu.<br />

— Não há necessidade de ser ofensivo, Viper.<br />

Sem hesitar, <strong>Shay</strong> colocou-se à frente de Viper, o rosto vermelho de raiva.<br />

— Não há necessidade?... ora, seu traidor miserável!<br />

— <strong>Shay</strong>, não! - Viper gritou. Puxando-a pela cintura, ele a afastou do ataque do<br />

perigoso vampiro.<br />

O que ela pensava estar fazendo? Não era páreo para um chefe de clã. Muito<br />

menos para aquele, em particular.<br />

Foi quando ele percebeu que estava com uma adaga na mão. <strong>Shay</strong> tinha,<br />

deliberadamente, distraído Styx para lhe passar a arma.<br />

Qualquer dia daqueles, ele iria parar de subestimar sua perigosa shalott.<br />

Pelo menos, teve o bom senso de esconder a adaga junto à perna quando Styx deu<br />

um passo à frente e sorriu levemente para <strong>Shay</strong>.<br />

— Espirituosa e bela - ele disse.<br />

— Não me admira que você tenha se interessado por ela, Viper.<br />

— O que sinto é bem mais do que um interesse, Styx. Mas, onde estão os seus<br />

guardas?<br />

— Postados nas saídas das cavernas. Viper arqueou a sobrancelha.<br />

— Veio pessoalmente pegar <strong>Shay</strong>?<br />

Styx puxou lentamente a espada da bainha.<br />

— Não quero lutar, Viper.<br />

— Não posso dizer que esteja ansioso para uma batalha também, Styx, mas não<br />

estou sob suas ordens. Não obedeço incondicionalmente.<br />

Movendo-se para o meio do túnel, a fim de ter bastante espaço para a espada,<br />

Styx encarou Viper sem denunciar suas emoções.<br />

— Como encontrou este túnel?<br />

— O disfarce do cheiro funciona somente com os vampiros. <strong>De</strong>via ter pensado<br />

nisso quando escondeu aqui esses humanos.<br />

Com velocidade, Viper tentou atingir o braço de Styx com a adaga. O vampiro<br />

recuou a tempo, e contra-atacou, bloqueando a adaga com a espada. Viper saltou no ar<br />

e atingiu o estômago do oponente.<br />

Styx grunhiu, mas conseguiu ficar de pé, a espada zunindo para forçar Viper a<br />

172


ecuar.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— O disfarce enganou-me também, velho amigo - disse, enquanto observava<br />

atentamente os movimentos de Viper.<br />

— Ousa afirmar que não sabia deste ninho de drogados?<br />

— Não, não sabia. - Os olhos escuros brilharam, cheios de frustração.<br />

— Apenas suspeitava disso, e temia que estivesse acontecendo algo parecido.<br />

Viper deu novo salto, mais para manter Styx à distância.<br />

— E ainda se deixa enganar, acreditando que o anasso possa ser curado - Viper<br />

apontou para os drogados.<br />

— Ele está além da salvação, Styx. Mesmo se for curado, não há como salvá-lo de<br />

si mesmo. Pode negar isso?<br />

Styx balançou a cabeça.<br />

— Não nego mais nada.<br />

Viper arregalou os olhos, sem saber se ele tinha ouvido corretamente.<br />

— Admite que sua causa é inútil?<br />

Styx olhou rapidamente para os humanos.<br />

— Admito que tenho sido enganado e manipulado. E que não posso mais continuar<br />

a confiar naquilo que vinha me sustentando.<br />

— Fale claramente, Styx. Não quero que haja mal-entendidos entre nós dois.<br />

Styx abaixou a espada.<br />

— Não vou mais impedi-lo de levar sua shalott e deixar as cavernas.<br />

— E quanto aos seus guardas? - Viper quis saber.<br />

— Eu... - Styx parou de falar, como se sentisse algo no ar.<br />

— O que foi? - Viper voltou-se, confuso.<br />

— É o anasso. Ele sentiu a shalott!<br />

— Droga. Precisamos sair daqui!<br />

Viper voltou-se para <strong>Shay</strong>, vendo que uma escuridão se fechava em torno dela.<br />

Ela arregalou os olhos e estendeu a mão para ele, que já corria em sua direção.<br />

— Viper! - <strong>Shay</strong> murmurou, e sua cabeça tombou para o lado.<br />

— Não! - Viper a alcançou, mas a viu desmaiar em seus braços. Podia sentir que<br />

seu coração batia, porém a pele estava pálida e ela se recusava a acordar.<br />

— <strong>Shay</strong>, fale comigo!<br />

Styx atravessou o espaço estreito para tocar nos ombros de Viper.<br />

173


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Ela está sob o poder do anasso.<br />

Um frio invadiu o coração de Viper. Ele sabia que o velho vampiro possuía poderes<br />

mais fortes do que todos os outros, mas nunca pensara que ele poderia alcançar e<br />

tocar fisicamente os outros à distância.<br />

Trouxe <strong>Shay</strong> para junto do peito.<br />

— Como podemos salvá-la?<br />

— Precisamos levá-la até ele.<br />

Viper lançou um olhar de revolta para o companheiro.<br />

— Nunca farei isso.<br />

— Somente o anasso pode libertar <strong>Shay</strong> de seu poder. Ele deu um passo para<br />

trás.<br />

— Você me enganou.<br />

— Não, Viper, não o enganei - Styx protestou, pesaroso, os olhos tomados por<br />

uma estranha emoção.<br />

— Não sabia que ele ainda tinha tanto poder.<br />

— E como posso vencê-lo?<br />

— Não pode. - Styx deslizou os olhos sobre o corpo delicado da mulher nos<br />

braços de Viper, e uma ponta de arrependimento surgiu em seu rosto.<br />

— Precisa levá-la ao anasso.<br />

— Já disse que não farei isso!<br />

— Você não tem escolha. Ou a leva até o anasso, ou ele a matará.<br />

Viper balançou a cabeça.<br />

— Ele não pode fazer isso. Precisa do sangue dela para sobreviver.<br />

— O anasso não está inteiramente estável em seu pensamento.<br />

Viper sentiu-se regelar.<br />

— Ele está enlouquecendo?<br />

— Já está louco.<br />

Viper enterrou o rosto nos cabelos sedosos de <strong>Shay</strong>, e amaldiçoou o destino que o<br />

trouxera àquele tempo e lugar.<br />

— Maldito seja você, Styx! Que termine ardendo no fogo inferno!<br />

Observando os dois vampiros carregarem a mulher inconsciente pelo túnel,<br />

Damocles saiu das sombras com um sorriso nos lábios.<br />

— Ora, ora... Parece que temos uma shalott por perto. Ouviu o barulho de<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

correntes e se voltou para o repugnante troll preso em um dos cantos da sala.<br />

— <strong>Shay</strong>? - Evor perguntou, os olhos vermelhos brilhando.<br />

— Ela está aqui?<br />

Damocles soltou um riso macio.<br />

— Pensa que ela veio salvá-lo, Evor? Pois temo que ela não esteja consciente o<br />

bastante para lhe dar atenção... Ainda assim, a chegada da shalott altera os meus<br />

planos. - Movendo-se pela caverna, olhou o próprio manto.<br />

— Oh, gostaria de estar usando o dourado. O verde não é festivo o suficiente.<br />

Evor cerrou os dentes. Era esperto o suficiente para saber que o que estava para<br />

acontecer não era nada bom. Pelo menos para ele.<br />

— O que vai fazer?<br />

O sorriso de Damocles aumentou. Logo ele teria seu inimigo destruído. E, melhor<br />

ainda, porque seu plano faria a raça inteira dos vampiros uivar de dor.<br />

As coisas não estavam ocorrendo exatamente como ele planejara, mas o fim seria<br />

o mesmo. O anasso estaria morto, e ele teria a paz que esperava por séculos.<br />

Soltou a corrente que prendia o troll à parede.<br />

— Você, meu amigo, está para testemunhar o meu maior triunfo. A culminação de<br />

um brilhante plano e sua execução perfeita.<br />

Evor lutou para se livrar das correntes, mas não conseguiria jamais derrotar o<br />

duende. Por um momento, seu rosto se encheu de fúria. Como o covarde que era, caiu<br />

de joelhos, e abaixou a cabeça pedindo misericórdia.<br />

— Bom mestre, penso que seja melhor eu ficar aqui. Damocles abanou a cabeça.<br />

— Oh, mas você é parte vital de minha celebração. Não pode ficar para trás.<br />

— Mas eu preferiria...<br />

As palavras morreram em um gemido, quando Damocles apertou os dedos em<br />

torno da garganta gorda.<br />

— Não me aborreça, troll, ou cortarei sua língua! <strong>De</strong>sejo saborear esta vitória<br />

sem ter de escutar uma palavra dessa sua boca nojenta. Entendeu? - Sacudiu o troll<br />

violentamente.<br />

Após várias tentativas, Evor conseguiu que um som saísse de sua garganta.<br />

— Entendi.<br />

Só então Damocles permitiu que a criatura respirasse, e voltou a sorrir.<br />

— Sabia que você veria as coisas ao meu modo. Muito bem... Hora da festa.<br />

Ao longo do túnel escuro havia tapeçarias e candelabros elegantes, que ofereciam<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

alguma claridade. Porém Viper nunca iria querer se lembrar da agonizante caminhada<br />

em direção aos aposentos do anasso.<br />

Sua atenção estava voltada para a mulher em seus braços. Não permitiria que ela<br />

fosse morta. Nem mesmo que isso significasse matar cada vampiro, troll e humano das<br />

cavernas.<br />

Por fim, seguindo Styx para dentro da gruta onde havia uma enorme cama e um<br />

fogo aceso na lareira, parou, observando o frágil vampiro que tinha a cabeça recostada<br />

em travesseiros de cetim. Apesar de estar preparado para a mudança física naquele<br />

que fora um líder poderoso, Viper se viu chocado. O anasso parecia mais morto do que<br />

vivo. Uma visão enervante, mesmo para um vampiro.<br />

Mesmo às margens da extinção, a criatura lutaria até o amargo fim, percebeu,<br />

quando o anasso lançou-lhe um sorriso de gelar qualquer coração.<br />

— Eu sabia que viria, Viper - disse com voz fraca, mas não menos assustadora.<br />

Viper encarou a horrível figura, apertando <strong>Shay</strong> contra o peito.<br />

— Você se assegurou que eu não tivesse escolha.<br />

— Oh, tão bravo. - Ele suspirou.<br />

— Não tem simpatia alguma por seu velho senhor? Não sente lealdade por aquele<br />

que se sacrificou pela raça dos vampiros?<br />

— Vejo uma sombra daquele que uma vez foi grandioso, e que se perdeu em sua<br />

própria fraqueza.<br />

A expressão do anasso endureceu, porém sua voz continuou suave e persuasiva: a<br />

mesma que já tinha iludido centenas de vampiros, e os havia levado a batalharem em<br />

seu nome.<br />

— Fui tolo, é verdade. Mas, uma vez que eu me curar, posso prometer a você que<br />

nunca novamente cairei preso de tais males. Restaurarei a mim mesmo, e a todos os<br />

meus seguidores, levando-nos à glória que merecemos.<br />

Viper balançou a cabeça. Styx e seus vampiros podiam acreditar na promessa.<br />

Não ele.<br />

— Já fez tais promessas antes, mestre.<br />

<strong>De</strong>sta vez, o anasso não tentou esconder sua raiva.<br />

— Não ouse me julgar, Viper! Não pode saber o que venho sofrendo para manter a<br />

paz entre nós - disse, a voz emitindo uma onda de dor sobre a pele de Viper.<br />

Viper rangeu os dentes para suportar a dor. E o anasso conseguira tal coisa com<br />

nada mais do que um mero pensamento.<br />

— Todos sabemos o que tem feito por nós - ele ironizou. A dor voltou a atingi-lo<br />

novamente.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Como pode saber? Como pode entender meu sacrifício? - O anasso apontou um<br />

dedo na direção dele.<br />

— Não há uma noite em que não sou assombrado pelo rosto dos amigos e entes<br />

queridos que fui forçado a matar. Nem uma noite em que eu deixe de ouvir os gritos<br />

dos meus irmãos, enquanto eles morriam por minhas mãos. Pode me culpar por tentar<br />

escapar dos fantasmas que me perseguem?<br />

Viper tinha de reconhecer que, em se tratando de estratégias, o velho anasso era<br />

um mestre.<br />

— E quanto ao fantasma do pai de <strong>Shay</strong>? - ele perguntou.<br />

— Ele o assombra, também?<br />

— Ele foi uma baixa necessária.<br />

— Assim como <strong>Shay</strong>.<br />

Não houve sinal de remorso.<br />

— Sim.<br />

Os braços de Viper procuraram instintivamente protegê-la.<br />

— E o que vai acontecer quando o sangue da shalott acabar? - exigiu com<br />

sarcasmo.<br />

— Quem irá sacrificar?<br />

O vampiro se levantou dos travesseiros, o rosto uma máscara de raiva.<br />

— Chega disso. Venha até mim... Agora!<br />

Com uma sensação de arrependimento, Viper colocou <strong>Shay</strong> no chão. Por mais que<br />

desejasse mantê-la nos braços, não poderia arriscar que o anasso atacasse sem aviso.<br />

— Não vou lhe entregar a mulher que amo - gritou, tirando a adaga do bolso.<br />

— Ousa desafiar o seu senhor?!<br />

— <strong>De</strong>ixou de ser meu senhor quando escolheu envenenar o próprio corpo com<br />

sangue contaminado. A penalidade por tal pecado é a morte.<br />

O anasso lutou para se livrar das cobertas.<br />

— Styx! - chamou.<br />

— Mestre...<br />

— Traga-me a shalott.<br />

Styx endireitou o corpo, o rosto sem qualquer emoção.<br />

— A mulher é a companheira de Viper. É contra nossa lei atentar contra a vida<br />

dela.<br />

Viper mal conseguiu esconder sua surpresa.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Uma surpresa que ficou estampada no rosto do anasso.<br />

— Vejo que estou sendo traído por todos os lados. - Ele procurou descer da cama.<br />

Segurando nas colunas da cama, estendeu uma mão em direção a Viper.<br />

— Eu quero a mulher. Traga-a aqui, Viper, ou a verá morrer.<br />

Viper se colocou entre <strong>Shay</strong> e o demônio enfurecido.<br />

— Ela morreria de qualquer maneira quando você drenasse o seu sangue.<br />

Uma nova onda de poder maligno foi lançada contra Viper, fazendo até as velas<br />

do aposento voarem longe.<br />

— Pensa que não tenho mais poder algum? Pensa que pode me vencer, menino?<br />

Viper não sentiu medo. Daria a vida para proteger <strong>Shay</strong>.<br />

Por outro lado, se ele morresse não sobraria ninguém para salvar <strong>Shay</strong> do anasso.<br />

E isso ele não poderia suportar.<br />

Preparou-se para a batalha.<br />

— Estou ansioso por avaliar minha força contra a sua - gritou, decidido.<br />

— Mesmo que isso signifique a sua morte?<br />

— Sim!<br />

— Seu idiota! - O velho lançou um raio sobre Viper, que se preparou para o<br />

impacto. Foi então que Styx se lançou à sua frente e, recebendo o raio, caiu aos seus<br />

pés.<br />

Nem Viper nem o velho anasso haviam esperado que o leal guerreiro se colocasse<br />

na linha de fogo. Não depois de séculos de devoção inquestionável.<br />

No rosto do anasso, surgiu algo que poderia até ser arrependimento. Obviamente,<br />

ele não estava totalmente louco.<br />

Mesmo assim, deixou de lado sua momentânea hesitação, e voltou mais uma vez a<br />

atenção para Viper.<br />

Para não desperdiçar o sacrifício de Styx, Viper lançou a adaga direto ao coração<br />

do anasso. Em seguida abaixou-se, alcançando a espada do amigo.<br />

Já a tinha em punho quando a adaga atingiu seu alvo e o sangue escorreu pelo<br />

manto do anasso.<br />

Preparou-se para usar também a espada.<br />

— Vai implorar pela morte antes que eu tenha terminado com você - o anasso<br />

gritou, levantando a mão para chamar seu poder uma vez mais.<br />

Viper segurou o ar. Nada poderia prepará-lo para a dor que o atingiu e o fez cair<br />

de joelhos. Segurando firme a espada, lutou para que a escuridão não se abatesse<br />

sobre ele.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Podia sentir o anasso chegando mais perto. Se ele tivesse a chance de desferir<br />

apenas um golpe, talvez conseguisse exterminar aquele demônio.<br />

<strong>Shay</strong> quase chorou de alívio quando a dor agonizante parou abruptamente.<br />

Ela já passara por torturas antes. Tinha sido espancada, queimada, presa por<br />

correntes, e sofrido mesmo sob o efeito da magia encomendada pelo pai.<br />

Mas nada se comparava ao que sentira havia pouco: uma dor que parecera lhe<br />

cortar o peito ao meio.<br />

Não sabia como conseguira sobreviver. Parecia o tipo de coisa que mandava um<br />

demônio para o túmulo.<br />

No entanto, ela estava viva.<br />

Forçou os olhos a se abrirem, e tomou consciência de que não estava mais nos<br />

túneis. Na verdade, encontrava-se deitada sobre um tapete persa, que combinava<br />

perfeitamente com o resto da decoração do aposento.<br />

O que viu a seguir foi Viper caído no chão, ao lado dela, contorcendo-se, vítima do<br />

que parecia ser o mais horrível dos ataques.<br />

A respiração se deteve em sua garganta e ela lutou para mover o corpo. Não<br />

tinha a menor idéia de como poderia ajudá-lo, mas precisava pelo menos tocar nele.<br />

Levantou a cabeça, e uma sombra caiu sobre ela. Sentiu a proximidade do mal: a<br />

mesma sensação que tivera na casa de leilão, e depois, quando Styx e seus vampiros os<br />

perseguiam pelas ruas de Chicago.<br />

O anasso. Só podia ser ele.<br />

Bem devagar, voltou-se e deu com um rosto fino e enfurecido acima dela. Parecia<br />

mais uma aberração do que o mais poderoso vampiro que caminhava pela Terra.<br />

As aparências enganam, ela bem sabia disso. Não poderia subestimar aquele<br />

demônio, que quase a matara de dor momentos antes.<br />

Ficou em guarda ao ver a figura horripilante inclinar-se e tocar seu rosto.<br />

— Minha shalott. - A voz era baixa e grave.<br />

— Sabia que viria a mim.<br />

<strong>Shay</strong> lutou para não se deixar envolver pela voz.<br />

— O que fez a Viper?<br />

Uma expressão de profunda tristeza tocou o rosto esquelético. Uma expressão<br />

que não combinava em nada com o brilho de triunfo que vira havia pouco em seus olhos.<br />

— Não tive escolha. Ele se recusou a entender.<br />

— Entender o quê?<br />

— Que preciso sobreviver. Que sem mim os vampiros voltarão a ser nada mais do<br />

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que selvagens. - Os caninos brilharam sob a claridade das velas.<br />

— Eu sou o anasso. <strong>De</strong>vo ser eterno.<br />

— Não importa quantos tenha de matar?<br />

Os dedos dele pressionaram a face de <strong>Shay</strong>, fazendo-a se torcer de dor.<br />

— Estou acima de qualquer um.<br />

A fúria tomou conta de <strong>Shay</strong>. Aquele monstro já tinha matado seu pai, e agora<br />

estava para acabar com aquele que ela amava. E tudo por causa de uma ilusão de que<br />

era uma lenda gloriosa?<br />

— Você delira, seu louco.<br />

Ele aproximou tanto o rosto, que <strong>Shay</strong> sentiu sua respiração pútrida.<br />

— Tão teimosa... Igualzinha ao pai.<br />

— Seu bastardo! - Mesmo sabendo que era inútil, ela lutou para se livrar do<br />

contato.<br />

— Matou o meu pai!<br />

— Ele cumpriu o seu propósito em vida, minha querida. O sangue dele foi um<br />

presente. Um presente de cura para mim. E agora você vai me permitir também fazêla<br />

cumprir o seu destino.<br />

<strong>Shay</strong> agarrou o pulso dele com toda força que podia.<br />

— Meu destino será observá-lo morrer. O anasso riu.<br />

— Temo que isso não acontecerá.<br />

— Na verdade, a adorável dama está certa. - Uma voz soou atrás dele.<br />

<strong>Shay</strong> foi libertada abruptamente e quase bateu o rosto no chão. Observou o<br />

anasso se levantar e se virar para a porta. Na entrada, havia um demônio alto e loiro.<br />

Um duende?!<br />

Que diabo fazia um duende na caverna dos vampiros? E que criatura era aquela,<br />

que ele trazia acorrentada?<br />

— Damocles! - O anasso soou muito irritado.<br />

— Não o chamei aqui.<br />

— Eu sei, e devo lhe dizer que estou profundamente ofendido. - O duende tocou<br />

nos cachos dourados do próprio cabelo.<br />

— Como oferece uma festa e não convida o seu mais querido servo?<br />

— Querido? - O anasso sibilou, cínico. O duende sorriu.<br />

— Ora, ora, depois de tudo o que fiz pelo senhor, milorde. O anasso pareceu se<br />

esquecer dela por um momento.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Imediatamente, <strong>Shay</strong> rastejou até Viper e o sentiu colocar o braço em sua<br />

cintura.<br />

— E o que fez por mim, Damocles, além de me levar a uma fraqueza maior? - O<br />

anasso parecia enfurecido.<br />

— Houve um tempo que me deixei iludir por suas mentiras, mas isso acabou. Não<br />

tem me trazido nada a não ser ruína e traição.<br />

O duende riu ainda mais.<br />

— E fiz tudo com perfeição.<br />

O anasso se surpreendeu com a crua confissão.<br />

— Admite seus pecados?<br />

— Mas claro. Quero apenas que saiba como é fácil fazê-lo ajoelhar-se. - O<br />

sorriso do duende desapareceu de seus lábios. A expressão, agora, era de puro ódio.<br />

— Pode se chamar de anasso. Pode se aclamar o deus de seu povo. Mas, na<br />

verdade, é um idiota, patético e covarde, que condenaria sua raça inteira à morte<br />

somente para salvar a própria pele.<br />

O anasso deu um passo à frente.<br />

— Veio aqui para me destruir?<br />

— Sim.<br />

— Por quê?<br />

O duende tocou em um pequeno medalhão que tinha pendurado no pescoço.<br />

— Eu lhe disse que você não era o primeiro demônio a quem eu servia. Já estive<br />

ao lado de um vampiro verdadeiramente grandioso.<br />

— Qual?<br />

— Não merece pronunciar o nome dele. Não depois de ter mentido para ele, de<br />

tê-lo enganado e o feito cair em uma armadilha.<br />

Um pesado silêncio desceu sobre as duas criaturas que se enfrentavam. <strong>Shay</strong><br />

sentiu o braço de Viper apertar sua cintura. A questão não era se haveria violência ali,<br />

mas quando.<br />

O anasso empertigou o corpo, assumindo uma pose arrogante.<br />

— Eu uni os clãs. Eu terminei com a maré de sangue. Eu trouxe a paz aos que<br />

nunca tinham tido paz. Eu consegui o que ninguém mais seria capaz!<br />

Damocles soltou uma risada de deboche.<br />

— Não, você apenas atraiu os vampiros à sua causa, para que, assim, pudesse<br />

assumir o controle máximo, matando todos os mais velhos e mais dignos que você. Um<br />

complô esperto, eu admito. Mas nunca ouse dizer que fez o que fez com intenções<br />

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nobres.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper segurou a respiração ao ouvir a acusação, mas <strong>Shay</strong> não tirou os olhos do<br />

anasso. Ele parecia ter recebido tão mal a ofensa, que poderia vir a matar a todos ali.<br />

—Não tem o direito de me julgar, duende! - ele exclamou.<br />

— Ah, mas não sou eu quem o estou julgando, sou? - O duende fez um gesto<br />

dramático em direção ao inconsciente Styx.<br />

— São seus próprios vampiros, que finalmente o viram como é. Tomaram<br />

consciência de que foram enganados, e agora o vêem como a criatura que<br />

verdadeiramente é.<br />

Com um terrível grunhido, o anasso levantou as mãos e apontou-as em direção ao<br />

duende. Viper praguejou antes de se colocar à frente de <strong>Shay</strong>, protegendo-a com seu<br />

corpo. A violência estava prestes a explodir.<br />

— Bravas palavras para um demônio insignificante. Eu lhe darei uma lição por<br />

tentar se elevar acima da posição que merece! - o anasso disse em voz cavernosa.<br />

Surpreendentemente, o duende apenas sorriu.<br />

— Um "demônio insignificante" não levaria o glorioso anasso a se ajoelhar.<br />

— Mentiras e truques. Está ousando confrontar sua força com a minha!<br />

— Não penso que isso seja necessário. Será muito mais divertido simplesmente<br />

matá-lo.<br />

Os olhos verdes do duende brilharam quando puxou a corrente que segurava.<br />

Ainda atrás de Viper, <strong>Shay</strong> reconheceu o cheiro no ar. Um que ela conhecia muito bem.<br />

— Evor - murmurou, enquanto o troll entrava no quarto e caía de joelhos.<br />

— Droga! - Viper praguejou.<br />

<strong>Shay</strong> engoliu em seco. Mesmo suspeitando que o troll estivesse nas cavernas, vêlo<br />

agora fazia seu coração gelar de medo.<br />

E ele estava horrível. Tinha uns poucos fios de cabelo grudados à cabeça, o rosto<br />

pálido e sujo, e seu terno caríssimo parecia ter sido retirado de um lixão. Não era<br />

mais o elegante Evor que ela conhecia e odiava.<br />

— Pensa que esse patético troll pode me causar algum mal? - O anasso perguntou,<br />

admirado.<br />

Puxando Evor para perto dos joelhos como um cachorro, o duende passou a mão<br />

sobre sua cabeça.<br />

— Este é um troll muito especial. Ele carrega consigo uma praga... Uma maldição<br />

que diz respeito à morte de sua preciosa shalott.<br />

O anasso arregalou os olhos. <strong>De</strong>pendia do sangue de <strong>Shay</strong> para sobreviver, mas<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

não poderia tomar o sangue de um cadáver. <strong>Shay</strong> tinha de estar viva para lhe oferecer<br />

a cura.<br />

Esperando que o furioso anasso se lançasse sobre o duende, <strong>Shay</strong> soltou um grito<br />

quando ele se virou e veio na direção dela, claramente com a intenção de beber seu<br />

sangue antes de Evor ser morto.<br />

Não era uma má idéia, exceto o fato de ele subestimar o vampiro ajoelhado a seu<br />

lado.<br />

Viper levantou-se, a espada zunindo na tentativa de atingir o corpo do demônio<br />

sem hesitação. O anasso foi forçado a recuar ou seria decapitado.<br />

— <strong>Shay</strong>... pegue o troll! - Viper ordenou, enquanto dava um passo à frente, apenas<br />

com a espada de prata como sua vantagem.<br />

<strong>Shay</strong> viu o velho anasso levantar as mãos e se preparar para lançar um ataque<br />

fatal sobre Viper. A dor desta vez seria tanta, que Viper estaria nas mãos do demônio.<br />

Como se percebesse sua hesitação, Viper deu novo golpe com a espada, para que o<br />

demônio fosse forçado a desviar.<br />

— <strong>Shay</strong>, vá ou ambos morreremos! - gritou, sem tirar os olhos da figura terrível<br />

diante dele.<br />

<strong>Shay</strong> voltou-se para onde o duende já levantava uma faca a fim de enterrá-la no<br />

coração de Evor. Instintivamente, lançou-se à frente. Se não o fizesse a tempo, Evor<br />

iria morrer.<br />

E ela morreria junto.<br />

Viper percebeu a movimentação de <strong>Shay</strong>, porém não ousou desviar o olhar do<br />

anasso. Ele podia estar fraco, mas seu poder era ainda muito maior do que o dele. Sua<br />

única esperança era mantê-lo na defensiva por tempo suficiente para conseguir um<br />

golpe de sorte. Não era o melhor plano de batalha, mas o único disponível no momento.<br />

Mantendo a espada em constante movimento, continuou caminhando para a<br />

frente. O demônio, frustrado, tentava desviar o corpo dos golpes. Mais uma vez,<br />

levantou a mão para poder lançar seu raio de dor. Viper alterou o curso da espada e a<br />

levou em direção ao punho magro.<br />

Um urro de dor ressoou no ar quando a mão caiu no chão. O anasso tombou de<br />

joelhos, e levou ao peito o que lhe restara do braço.<br />

— Sou seu mestre! - gritou, enfurecido.<br />

— Não pode me deixar morrer!<br />

Viper ignorou a ordem.<br />

O anasso rastejou pelo chão, e chamou as forças que vinha detendo por um<br />

milênio. Uma escuridão começou a se formar em volta dele.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Viper não hesitou. Com um grito de batalha, pulou à sua frente.<br />

Ele não sobreviveria a outro ataque. Sua única esperança era matar o velho<br />

demônio.<br />

Sentindo a morte se aproximando, o anasso dirigiu a Viper um olhar desesperado.<br />

— Eu sou o anasso! Os vampiros não podem sobreviver sem mim! Você os condenou<br />

à morte!<br />

Viper não deteve a espada. Não sentia nada ao terminar a vida daquele que tinha<br />

sido seu nobre comandante. Não importava o que o anasso tivesse sido. Ele, agora,<br />

nada mais era do que um animal raivoso.<br />

— Eu condeno somente a você.<br />

O anasso levantou a mão que ainda lhe restava para tentar deter o golpe, mas era<br />

tarde demais.<br />

Os anos de decadência física o haviam tornado vulnerável e mortal demais.<br />

Com facilidade, a lâmina da espada cortou fora seu pescoço e, com um grunhido, o<br />

velho guerreiro tombou, morto.<br />

Os nervos de Levet estavam por um fio. Pendurada em suas asas, vinha a mulher<br />

que ele acidentalmente fizera passar pelo portal.<br />

— Por que não paramos? - ela perguntou.<br />

— <strong>Shay</strong> está lá.<br />

— E quem é essa <strong>Shay</strong>? Sua amante?<br />

— Já lhe disse que é minha amiga.<br />

— Amiga? Pois eu seria uma amiga bem melhor, se você desejasse ter a minha<br />

companhia para sempre.<br />

Ao lado dele para sempre? Levet estremeceu com o mero pensamento. Admirava<br />

uma bela mulher, mas preferia que lhe arrancassem a cabeça a ser condenado a uma<br />

eternidade ao lado de uma.<br />

— O que sabe sobre amizade? - perguntou, enquanto voltava a atenção para a<br />

passagem.<br />

Sentiu os dedos de Bella em suas asas.<br />

— Posso realizar suas mais fantásticas fantasias... Levet balançou as asas,<br />

deslocando a mão de Bella.<br />

— Não preciso de uma amiga para me fazer isso.<br />

— E o que é uma amiga?<br />

Levet se voltou, impaciente.<br />

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— Alguém que se importa com você, mesmo que você não mereça.<br />

— Isso não faz sentido algum.<br />

Levet pensou em <strong>Shay</strong> lutando ao lado dele contra trolls. <strong>Shay</strong> praguejando e<br />

ameaçando de castrá-lo, ou pior que isso. <strong>Shay</strong> voltando à casa de leilão para libertálo.<br />

— <strong>De</strong> fato não faz... Mas é onde está a beleza toda. Bella abriu a boca para<br />

argumentar, porém ele lhe fez um gesto para que silenciasse.<br />

<strong>Shay</strong> estava definitivamente perto. Mas, com ela, havia ainda três vampiros, o<br />

duende que Bella dissera morar nas cavernas, e Evor!<br />

— <strong>De</strong> quanto tempo você precisa para lançar uma mágica?<br />

— Basta você desejar, que acontece - Bella respondeu.<br />

— Ótimo.<br />

Levet conteve a respiração quando ela pressionou os dedos nos lábios dele.<br />

— Espere. <strong>De</strong>seje que eu esteja sempre com você e eu salvarei essa sua estúpida<br />

amiga.<br />

— Quero ser o rei dos gárgulas! - ele grunhiu, em vez disso.<br />

Imediatamente, houve uma explosão que o tornou mais largo do que o túnel.<br />

O desejo tinha funcionado. Era forte o bastante para salvar <strong>Shay</strong> de quem quer<br />

que fosse.<br />

Um grito horrível cortou o ar.<br />

— Sacrebleu! <strong>Shay</strong>!<br />

Era como um dos mais horríveis pesadelos que costumavam atormentá-la, pensou<br />

<strong>Shay</strong>. Aquele em que tentava fugir das bruxas, mas seus pés ficavam enterrados na<br />

lama. Não importava a força que fizesse para se soltar, continuava afundando mais e<br />

mais.<br />

Podia ver Damocles com a adaga brilhando e apontada para o peito de Evor. Podia<br />

ver o pavor que o troll sentia, vendo a morte se aproximar. Podia tentar evitar o crime,<br />

mas não chegaria a tempo.<br />

Um grito de fúria e medo soltou-se de sua garganta. Evor não era o único que via<br />

a vida passar diante dos olhos, e isso era brutalmente injusto. Por tantos anos, ela<br />

apenas seguira com a vida, sem acreditar que algo de bom poderia lhe acontecer.<br />

Mas agora tinha Viper, e a idéia de morrer a encheu de pavor.<br />

Lançava-se à frente numa última tentativa desesperada, quando viu uma das<br />

paredes da caverna ruindo e tudo pareceu vir abaixo à sua volta.<br />

Aos poucos, conseguiu ver uma figura enorme em meio à poeira. Um enorme e<br />

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aterrorizante gárgula, que agarrou o duende e o lançou longe.<br />

Com um estrondo, Damocles se chocou contra a parede e caiu ao chão. Mesmo à<br />

distância, foi fácil perceber o estranho ângulo de seu pescoço, e os olhos abertos para<br />

a morte.<br />

Muito surpresa para se sentir aliviada por Damocles ter sido milagrosamente<br />

morto, <strong>Shay</strong> recuou quando a criatura pegou Evor do chão e o segurou entre as patas.<br />

Ela estava viva no momento, mas o gárgula, agora, segurava o troll, e parecia não<br />

estar ligando para os gritos dela. Na verdade, parecia grande e capaz o suficiente<br />

para engolir todos ali dentro.<br />

O monstro deu um passo à frente e ela estremeceu.<br />

— <strong>Shay</strong>, sou eu - falou com uma voz aterrorizante.<br />

— Levet.<br />

— Levet?! - <strong>Shay</strong> se levantou. — Mas...<br />

Ele sorriu, revelando dentes que podiam fazê-la em dois pedaços.<br />

— Parece que eu a salvei mais uma vez de suas tolices. O alívio a invadiu. Não<br />

inteiramente. Primeiro precisava ver se Viper estava bem.<br />

Mas ele estava vivo!<br />

<strong>De</strong>u um passo na direção do vampiro. Queria jogar-se em seus braços e gritar de<br />

alegria. Queria passar as mãos em seus cabelos e beijá-lo até que ambos pudessem se<br />

esquecer do horror das últimas horas.<br />

<strong>De</strong>teve-se ao vê-lo cair de joelhos, uma expressão de profundo pesar no rosto.<br />

Ele tinha sido forçado a matar um líder que, obviamente, respeitara por séculos.<br />

Merecia alguns momentos para se reconciliar consigo.<br />

<strong>Shay</strong> voltou-se para o gárgula. Não se parecia em nada com o seu querido Levet,<br />

exceto pelos olhos. Estes jamais mudariam.<br />

Um sorriso surgiu nos lábios dela.<br />

— Não sabia que podia alterar sua forma. Levet deu de ombros.<br />

— Todos temos nossos pequenos segredos...<br />

— Não foi ele quem fez isso. Fui eu. - Uma voz feminina interveio.<br />

<strong>Shay</strong> arregalou os olhos diante da mulher curvilínea agora ao lado de Levet.<br />

— Uma criatura das águas... Bom <strong>De</strong>us, Levet. Você tem estado ocupado.<br />

— Ainda não acabamos a faxina por aqui. Aquele lá continua vivo. - Levet apontou<br />

para Styx, que começava a despertar de sua inconsciência.<br />

— Quer que eu dê um jeito nele?<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Antes que <strong>Shay</strong> pudesse responder, Viper tocou em seu ombro.<br />

— Styx apenas estava fazendo o que achava ser certo - murmurou.<br />

— Arriscou sua vida para nos salvar.<br />

— É verdade. Você poderia ter morrido se não fosse por ele - <strong>Shay</strong> concordou, o<br />

olhar se voltando para Levet.<br />

— Nada de matança, meu amigo.<br />

— E quanto a este animal? - Levet sacudiu Evor.<br />

— Posso matá-lo?<br />

— Ainda não. Ele ainda detém a minha praga. Levet soltou um suspiro.<br />

— Diabos. Não posso matar o vampiro. Não posso matar o troll. Talvez eu devesse<br />

atacar a vila mais próxima... As mocinhas do lugar, sem dúvida apreciariam o meu novo<br />

e másculo físico.<br />

Viper sorriu.<br />

— <strong>De</strong>pois de todos esses séculos, Levet, você já devia saber que o tamanho não<br />

impressiona tanto assim as mulheres.<br />

— Fácil de dizer para um vampiro de quase dois metros de altura - Levet<br />

resmungou.<br />

<strong>Shay</strong> saiu do lado de Viper e, gentilmente, pegou a mão enorme de Levet e a levou<br />

ao rosto.<br />

— Não é o tamanho do demônio que importa, mas o tamanho de seu coração. E não<br />

há gárgula no mundo inteiro que possua um coração tão grande quanto o seu. - Os<br />

lábios dela beijaram a pele rude.<br />

— Você salvou a minha vida.<br />

— Oui, oui. Não precisa ficar me adulando. - Levet tentou esconder a emoção e<br />

sacudiu o troll.<br />

— Bem, o que faço com essa criatura?<br />

— Ponha-o aqui. - Viper apontou para um lugar a seu lado.<br />

Levet largou Evor sem cuidado, direto para as mãos de Viper.<br />

— Não pode me matar - gritou Evor.<br />

— Não sem matar a shalott!<br />

Viper não se abalou e o esbofeteou com força.<br />

— A shalott tem um nome. - Viper o agarrou pelo pescoço, como se ele fosse um<br />

inseto.<br />

— O que quer fazer com ele, querida? Podemos levá-lo para casa e pendurá-lo na<br />

187


parede como um troféu...<br />

<strong>Shay</strong> fez uma careta de horror.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— E ter de olhar para essa cara desagradável todos os dias?<br />

— Bem pensado. Mas tenho algumas celas muito criativas, onde aposto que ele<br />

gostaria de ficar: com tortura tradicional, tortura antiga, tortura de alta tecnologia...<br />

— Não, não, por favor. - Evor voltou para <strong>Shay</strong> uma expressão desesperada.<br />

— Eu farei o que vocês quiserem.<br />

<strong>Shay</strong> deu um passo à frente, o olhar duro.<br />

— Quero respostas.<br />

— Naturalmente... Que respostas?<br />

— Como conseguiu o controle sobre o meu feitiço?<br />

— Eu...<br />

Os dedos de Viper apertaram o pescoço de Evor.<br />

— Nem pense em mentir para a dama! Posso fazer você implorar pela morte.<br />

— F-Fui até a bruxa Morgana em busca de uma poção. Quando cheguei, a loja<br />

estava fechada. Entrei, pensando que o lugar estivesse vazio, mas havia uma porta<br />

secreta que tinham deixado aberta, e escutei vozes. Uma delas era de Morgana<br />

falando com uma jovem bruxa.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu, lembrando-se da porta que levava ao porão embaixo da loja.<br />

— O que isso tem a ver com o feitiço?<br />

— Ela instruía a outra bruxa a como proteger uma jovem shalott que se<br />

encontrava em grande perigo. Disse que, uma vez que o feitiço fosse passado, ela<br />

deveria ficar atenta para proteger a criatura, a qual era meio humana meio demônio.<br />

— Ela ia passar o controle do feitiço para outra bruxa?<br />

— <strong>Shay</strong> perguntou.<br />

— Ia. Morgana achava que estava ficando velha demais para ser sua guardiã.<br />

— Sendo assim, tudo o que Morgana queria era me proteger.<br />

Evor concordou.<br />

Viper percebeu que <strong>Shay</strong> se emocionara. <strong>De</strong>cidiu assumir o interrogatório.<br />

— E você ouviu a palavra "shalott", e imediatamente concluiu o quanto esta lhe<br />

seria valiosa.<br />

— Eu... - Evor olhava de <strong>Shay</strong> para Viper, em pânico.<br />

— Eu desci as escadas e matei a jovem bruxa. Assim me tornei o seu guardião.<br />

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— E matou Morgana também.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Matei. Pretendia queimar o corpo, mas ela desapareceu no ar.<br />

<strong>Shay</strong> lembrou-se de terem encontrado apenas um esqueleto.<br />

— Seu miserável! - exclamou, controlando-se para não estrangular o maldito troll.<br />

A criatura tinha feito da vida dela um inferno. Chegara a vendê-la como um<br />

animal.<br />

Se pudesse simplesmente acabar com ele...<br />

Então um pensamento cruzou sua mente.<br />

Se não fosse por Evor, ela nunca teria encontrado Viper.<br />

Aos poucos a fúria foi se esvaindo. Exausta, ela caiu de joelhos e chorou sem<br />

saber bem por quê. Talvez pela perda do pai, por sua infância roubada, pelos anos de<br />

escravidão.<br />

Viper se ajoelhou a seu lado e a abraçou com enorme carinho.<br />

Ela procurou se acalmar:<br />

— Tudo terminou?<br />

— Sim. Tudo realmente já terminou. Podemos voltar para casa.<br />

— E quanto a Evor?<br />

— Ele irá conosco. Tenho meus contatos, e encontraremos uma bruxa poderosa o<br />

suficiente para quebrar o feitiço. <strong>De</strong>pois disso... Bem, o resto caberá a você.<br />

<strong>Shay</strong> sorriu levemente para Viper.<br />

— Quando quebrarmos o feitiço, eu não serei mais sua escrava.<br />

O arrogante vampiro pareceu não se abalar.<br />

— Talvez não minha escrava, mas logo será minha esposa. O que significa que vai<br />

ter de me aguentar por toda a eternidade.<br />

— Eu ainda não disse "sim", vampiro...<br />

— Muito bem. - Viper inclinou-se e a beijou.<br />

— Quero ter o prazer de convencê-la.<br />

<strong>Shay</strong> sentiu um arrepio. Não duvidava que o prazer seria enorme.<br />

Para ambos.<br />

O som de Levet raspando a garganta ecoou pela caverna inteira, e <strong>Shay</strong> se voltou<br />

para o amigo. O gárgula estava perdendo a paciência.<br />

— Não que eu queira ser um estraga-prazeres, mas não seria melhor irmos<br />

embora daqui? Não vai demorar, e Dante estará invadindo tudo com seu exército.<br />

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Viper concordou de pronto.<br />

Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Odeio ter de concordar com um gárgula, mas, se Dante não nos encontrar são e<br />

salvos, a matança vai recomeçar. - Lançou um olhar para Styx, que olhava<br />

pateticamente para o que restara de seu mestre.<br />

— Já se derramou sangue demais por aqui.<br />

<strong>Shay</strong> acariciou o rosto de Viper antes de voltar toda sua atenção para o gárgula.<br />

— Não que eu queira estragar a sua alegria, Levet, mas como pensa em sair<br />

destas cavernas?<br />

Levet se surpreendeu e olhou para seu enorme corpo.<br />

— Não posso ir forçando a minha passagem? Viper balançou a cabeça em uma<br />

negativa.<br />

— A não ser que queira nos soterrar pelo caminho. Levet testou o teto da<br />

caverna, depois desistiu.<br />

— Quando finalmente consigo ficar de um tamanho decente, não posso nem me<br />

divertir um pouco!<br />

Bella puxou-o pelo braço.<br />

— Ainda tem seu último desejo, querido. Nós podemos sair daqui.<br />

— Vale a pena perder meu último desejo se, com ele, eu também me livrar de<br />

você. - Levet respirou fundo.<br />

— Quero voltar ao meu tamanho normal!<br />

Em um piscar de olhos, Levet encolheu, voltando à sua estatura anterior. Melhor<br />

do que isso: a jovem das águas desaparecera.<br />

Com um sorriso, <strong>Shay</strong> abraçou o amigo.<br />

— Eu te amo, Levet!<br />

Ele fez de conta que a declaração não importava muito, mas não tentou escapar<br />

do abraço.<br />

— Oui, oui. Agora podemos voltar para casa?<br />

Casa. <strong>Shay</strong> saboreou a palavra: estava indo para casa! E com sua família a seu<br />

lado.<br />

Viper cumpriu sua palavra. Fez os necessários contatos, até descobrir uma bruxa<br />

capaz de quebrar a maldição que submetia <strong>Shay</strong> ao troll.<br />

Claro, ele não ficara nada satisfeito com a decisão dela de permitir que Evor<br />

saísse da cela e fosse embora. Mas, para <strong>Shay</strong>, bastava estar livre daquele<br />

monstrengo. Enquanto ele fosse vigiado de perto pelos vampiros para que nunca mais<br />

viesse a abusar de algum demônio, ela estava satisfeita.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Com a praga desfeita, ela pôde planejar seu futuro pela primeira vez em quase<br />

um século. E, com enorme felicidade, trocou sua vida de serva pela de esposa.<br />

Houve uma linda cerimônia na casa de campo de Viper, cercada por centenas de<br />

velas e rosas, e o perfume de torta de maçã assada flutuando no ar.<br />

Quando os dentes de Viper entraram em sua pele e ele chamara o poder de seus<br />

ancestrais para que os unissem para sempre, <strong>Shay</strong> pensou que nunca poderia haver<br />

momento mais perfeito em sua vida.<br />

Enganara-se.<br />

À medida que o tempo foi passando, tomou consciência de que seus dias eram<br />

agora cheios de momentos perfeitos: observar Viper ensinando Levet como usar uma<br />

espada com eficiência mortal; jantares deliciosos, bem tarde da noite; fazer compras<br />

ou simplesmente almoçar com Abby; as reuniões festivas com o clã dele, onde os<br />

vampiros revelavam seu profundo respeito e lealdade para com seu líder. Momentos<br />

aos quais muitos não dariam valor algum...<br />

Mas ela dava.<br />

Após uma maratona de compras com Abby, ela entrou no quarto que<br />

compartilhava com Viper e jogou para o lado suas numerosas sacolas. Até se apaixonar,<br />

jamais dera importância à moda.<br />

Agora, entretanto, tinha o desejo de parecer mais bonita.<br />

Ao descobrir que Viper estava ocupado debaixo do chuveiro, ela despiu as roupas<br />

e tirou de uma das sacolas uma camisola branca e linda: acetinada, com um decote que<br />

mais revelava do que escondia.<br />

Mal acabara de vesti-la, viu a porta do banheiro se abrir e Viper entrar no<br />

quarto.<br />

Por um momento, lutou para se lembrar como respirar. Ele estava estonteante.<br />

Viper ficou parado por um longo tempo, deliciando-se com o que via. Finalmente<br />

<strong>Shay</strong> suspirou, cheia de impaciência.<br />

— E?...<br />

— E o quê?<br />

Ela, deliberadamente, passou as mãos pela camisola.<br />

— Pensei que você me diria que minha nova camisola é bonita.<br />

Um par de caninos surgiu no rosto pálido e bonito enquanto ele lutava contra o<br />

instinto de não agarrá-la e levá-la para a cama.<br />

— Qualquer coisa que você use fica bem em você.<br />

— Pensei que gostaria de me ver nesta camisola.<br />

191


Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

O coração dela disparou quando Viper a tomou nos braços. Sentir o contato de<br />

sua pele, aspirar ao seu cheiro, já era suficiente para fazer o sangue dela correr mais<br />

depressa.<br />

— Gostei muito, mas não tenho certeza de que valeu o que custou.<br />

— Não me diga que se transformou em um avarento? Viper mordiscou a orelha<br />

dela.<br />

— Não me importo com o custo. Importo-me com o tempo que você leva para<br />

comprar a camisola. É disso que eu não gosto.<br />

<strong>Shay</strong> estremeceu enquanto levava os braços em torno do pescoço de Viper. Sabia<br />

muito bem que ele estava feliz por ela ter feito amizade com Abby.<br />

— Foram apenas cinco horas!<br />

Viper deslizou a língua pelo queixo dela.<br />

— Tempo demais.<br />

<strong>Shay</strong> lutou para se lembrar que possuía um cérebro. Mas este não vinha<br />

funcionando muito bem ultimamente. Não era uma tarefa fácil pô-lo para trabalhar<br />

com Viper desatando o laço que cobria seus seios.<br />

—Você, obviamente, não sabe nada sobre os intricados rituais que envolvem as<br />

compras - protestou com voz rouca.<br />

Os dedos dele lhe haviam alcançado os mamilos e os massageavam de leve.<br />

— Que rituais?<br />

Ela arqueou o corpo, oferecendo-se aos seus talentosos lábios, e gemeu alto<br />

quando Viper sugou um dos mamilos.<br />

— Abby está me instruindo nessa arte. É tudo muito complicado e secreto...<br />

A língua de Viper fez seus joelhos amolecerem.<br />

— Parece tedioso demais perder tempo com isso. Você tem coisas mais<br />

importantes a fazer.<br />

Ela se agarrou aos ombros largos.<br />

— E quais assuntos seriam esses?<br />

— <strong>De</strong>ixe-me ver...<br />

Antes que ela pudesse perceber a intenção dele, Viper a tinha levantado nos<br />

braços e a levado para a cama. Mal piscou, e se viu sob o corpo forte.<br />

Não que se importasse. Era onde queria estar.<br />

— Primeiro você cumprimenta o seu marido com um beijo - ele instruiu com voz<br />

rouca.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Ela segurou o rosto de Viper nas mãos e o beijou. <strong>De</strong> leve, a princípio, depois<br />

usando a língua.<br />

Viper gemeu, porém ela se recusou a continuar a carícia. Sentiu que ele se<br />

excitava, e que sua ereção lhe pressionava os quadris. Somente então entreabriu os<br />

lábios dele com a língua, e se permitiu saboreá-lo como desejava.<br />

Um som profundo saiu da garganta de Viper enquanto suas mãos,<br />

impacientemente, levantavam a camisola dela.<br />

— Era assim que eu devia beijá-lo?<br />

— Oh, sim. Precisamente.<br />

— Mais alguma coisa?<br />

— Precisa tirar o meu roupão.<br />

Ela riu e começou a despi-lo. Correu as mãos pelos músculos das costas.<br />

Os olhos dele estavam negros como a noite.<br />

Apaixonada, <strong>Shay</strong> usou os lábios para acariciar o pescoço dele. <strong>De</strong>pois foi<br />

descendo para o mamilo e fez exatamente o que Viper fizera no dela.<br />

— Como estou me saindo?<br />

— Muito bem - ele murmurou, os dedos procurando os cabelos longos.<br />

Com um movimento rápido, ele fez com que seus lábios se encontrassem, ao<br />

mesmo tempo em que corria as mãos, ávidas, por seu corpo.<br />

<strong>Shay</strong> sorriu consigo. Não havia nada mais delicioso do que um vampiro excitado.<br />

Partilhando de seu desejo, Viper depositou pequenos beijos por todo o rosto da<br />

amada antes de passar para a linha do pescoço. <strong>Shay</strong> segurou a respiração, esperando<br />

sentir os caninos dele.<br />

Viper não a mordeu, porém seus caninos continuaram a se mover, partindo para<br />

um beijo nos seios, no ventre.<br />

<strong>Shay</strong> fechou os olhos quando ele lhe abriu as pernas e se colocou entre elas. Oh,<br />

ela gostava dessa parte!<br />

Com a paciência que somente um imortal poderia invocar, Viper deslizou os lábios<br />

pela curva das coxas, lambendo-a até a ponta dos dedos dos pés.<br />

<strong>Shay</strong> arqueou os quadris em um silencioso pedido.<br />

A língua de Viper continuou a explorá-la, incansável, os caninos roçando de leve<br />

sua pele.<br />

Parou novamente no pescoço, como se esperasse por sua aprovação.<br />

— Se você me morder, não vou resistir!<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

Os olhos escuros brilharam com pura satisfação e <strong>Shay</strong> não pôde deixar de rir.<br />

Ele podia ser um vampiro, mas havia muita testosterona correndo em seu corpo.<br />

Lentamente, Viper enfiou os caninos em sua pele.<br />

O grito que ela soltou não foi de dor, mas de puro prazer.<br />

Agarrando-se à cama, <strong>Shay</strong> deliciou-se enquanto ele se alimentava livremente de<br />

seu sangue. Com cada sugada, o prazer que ela sentia aumentava, varrendo-a dos pés à<br />

cabeça torturantemente.<br />

Sabia que o clímax estava muito próximo.<br />

— Viper - chamou, contorcendo-se sob ele. Mesmo que vivesse uma eternidade,<br />

nunca se acostumaria com o poder daquela paixão.<br />

<strong>De</strong>ixou-se cair na cama enquanto Viper se erguia um pouco e a penetrava.<br />

Agarrou-se aos ombros dele e o enlaçou com as pernas, enquanto ele a cavalgava.<br />

Outro orgasmo se avizinhou e ela arqueou o corpo, enlevada.<br />

— Eu te amo - ele murmurou, extasiado.<br />

Ela ainda sorriu quando as suaves palavras acariciaram seu rosto. Quem haveria<br />

de pensar que um dia teria um vampiro nos braços? Ou que daria a ele o coração que<br />

pensara ter enterrado para sempre?<br />

Plenamente saciado, Viper esperou até que <strong>Shay</strong> dormisse profundamente.<br />

<strong>De</strong>ixou a cama e vestiu o roupão.<br />

Um sorriso surgiu em seu rosto ao olhar a mulher que se tornara para ele a coisa<br />

mais importante no mundo. Adorava despertar ao lado dela. Nunca estivera antes tão<br />

em paz.<br />

Mas algo ainda o perturbava.<br />

Caminhou até a janela e ficou olhando a escuridão. Entre as árvores, podia sentir<br />

a presença de Santiago e de outros jovens vampiros que, diligentemente, patrulhavam<br />

a área. A ameaça contra <strong>Shay</strong> acabara, mas sua posição como chefe de clã exigia que<br />

nunca se descuidasse da segurança dela. Não aconteceriam mais surpresas se ele<br />

pudesse evitar.<br />

Perdido em pensamentos, ele surpreendeu-se ao ouvir uma voz suave quebrar o<br />

silêncio.<br />

— <strong>De</strong>veria ir até ele. Sabe disso, não é? Virando-se, viu <strong>Shay</strong> ainda deitada na<br />

cama.<br />

— Pensei que estivesse dormindo.<br />

Ela sorriu, maravilhosa em sua nudez, e com os cabelos espalhados como uma<br />

cortina de cetim à sua volta.<br />

— Viper, vá até ele.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Até quem? - ele perguntou, começando a voltar para a cama. Seu corpo já se<br />

excitara com a visão dela. Uma mulher nua em sua cama era uma oportunidade que ele<br />

não podia perder.<br />

— Styx.<br />

Ele parou, surpreso.<br />

— Como você sabe?<br />

— Não sou apenas um rosto bonito.<br />

Ele deslizou os olhos pelas curvas expostas.<br />

— Oh, certamente não é só um rosto bonito... Ainda assim, eu não sabia que você<br />

podia ler as mentes.<br />

Um rubor surgiu no rosto de <strong>Shay</strong> e ela puxou as cobertas. Viper suspirou. Era<br />

quase um pecado cobrir tal beleza.<br />

— Não é preciso grande talento para perceber que você tem estado preocupado<br />

desde que deixamos as cavernas. E que deve ter arrependimentos pelo que aconteceu<br />

por lá.<br />

Viper franziu a testa. <strong>Shay</strong> começava a conhecê-lo bem demais.<br />

— Foi por minha mão que o líder dos vampiros foi morto.<br />

Styx deve assumir o comando se não quisermos terminar em um caos.<br />

Ela estremeceu.<br />

— E pensa que ele aceitaria ser o novo líder?<br />

Viper sacudiu a cabeça. Como todos os vampiros, Styx podia ser teimoso,<br />

arrogante, e inclinado a se recolher em si mesmo quando tinha problemas. Se ele<br />

concluísse que fora o culpado pela morte do anasso, ou pensasse não ser competente<br />

para assumir o governo dos vampiros, desapareceria e nunca mais o encontrariam.<br />

E isso não podia acontecer. Styx era agora o novo líder.<br />

Viper tinha dirigido a noite inteira e estacionado o carro perto da estrada da<br />

fazenda. Preferia vencer a pé o estreito caminho que levava a casa. Ainda não sabia<br />

bem o que diria a Styx, ou se o orgulhoso vampiro falaria com ele.<br />

Estava a certa distância, quando notou uma sombra debaixo de uma árvore e se<br />

viu cara a cara com o enorme vampiro.<br />

Viper levantou as mãos em um gesto de paz. Estava invadindo a terra de outro<br />

chefe de clã. Styx poderia se valer de seus direitos e mandar executá-lo.<br />

— É uma recepção ou pretende me matar? - perguntou, o tom de voz leve, embora<br />

estivesse pronto a reagir a qualquer ataque.<br />

Styx deu de ombros, tocando o medalhão em seu pescoço.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa. <strong>De</strong>ve haver uma razão poderosa para<br />

um vampiro recém-casado se afastar de sua casa.<br />

— O poder de uma simples amizade e preocupação por você, velho companheiro.<br />

— Preocupação? Teme que eu siga os passos de meu mestre e termine viciado<br />

naqueles humanos patéticos?<br />

Viper deu um passo à frente. Uma brisa gelada parecia sussurrar entre as<br />

árvores.<br />

— Meu único medo é que continue se culpando pela tragédia com o anasso. -<br />

Estendeu a mão e a colocou sobre o ombro de Styx.<br />

— Você é como um irmão para mim, mas tem uma infeliz tendência a acreditar<br />

que deveria ser infalível.<br />

Os olhos negros tornaram a se encher de culpa.<br />

— Quase permiti que sua mulher fosse destruída.<br />

— <strong>Shay</strong> está bem - Viper insistiu. Não queria ver Styx torturado pela sensação<br />

de fracasso. Precisavam dele forte e preparado para assumir o comando.<br />

— O passado se foi, Styx. É hora de olhar para o futuro. O futuro de todos nós.<br />

— Por isso está aqui?<br />

— Você é nosso novo líder. Quero que saiba que tem minha lealdade e a lealdade<br />

de meu clã.<br />

Styx balançou a cabeça.<br />

— Nunca desejei essa posição. Viper não conseguiu deixar de sorrir.<br />

— O destino nem sempre atende aos nossos desejos. Ele se impõe como uma<br />

vontade.<br />

Styx pareceu aborrecido.<br />

— Sempre detestei os filósofos.<br />

— Então me deixe falar de forma bem simples. - Viper apertou o ombro do amigo,<br />

a expressão séria.<br />

— Precisamos de você. É o respeito por você e sua guarda que nos têm mantido<br />

longe de guerras. E o mais importante, o medo de você tem mantido os demônios<br />

afastados de nós. Se não assumir o comando, tudo aquilo pelo que lutamos estará<br />

perdido.<br />

Styx apertou as mãos, nervosamente.<br />

— Por que eu? Você é perfeitamente capaz de assumir o comando.<br />

Viper sacudiu a cabeça.<br />

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Bianca 882 – A <strong>Maldição</strong> de <strong>Shay</strong> – Alexandra Ivy<br />

— Você é o sucessor natural, e somente você pode manter os tratados intactos.<br />

— Inferno! - Styx praguejou.<br />

— Estou apenas dizendo o que você já sabe muito bem.<br />

— Isso não quer dizer que eu tenha de gostar disso. Viper riu.<br />

— Não, não tem de gostar. Styx olhou para o amigo.<br />

—Volte para sua mulher, Viper. Eu farei o meu trabalho.<br />

— E chamará se precisar de mim?<br />

— Chamarei.<br />

Viper deu um passo para trás e parou.<br />

— Sabe que haverá algumas mudanças em sua vida com sua nova posição.<br />

Styx estranhou.<br />

— Mudanças?<br />

— Não haverá vampira nos arredores que não queira compartilhar da cama do<br />

nosso novo anasso.<br />

Styx arqueou a sobrancelha.<br />

— Não preciso ser o anasso para ter uma mulher em minha cama.<br />

Viper caiu na risada enquanto abaixava o manto e exibia uma marca no braço. Era<br />

a marca de sua união com <strong>Shay</strong>.<br />

— Não se esqueça de que as mulheres oferecem mais riscos do que todos os<br />

demônios juntos.<br />

Styx lançou um olhar para Viper, como se temesse que o amigo tivesse perdido a<br />

razão.<br />

— É um risco que não preciso temer, velho companheiro. Alguns de nós somos<br />

sábios o suficiente para não cairmos nessas armadilhas - disse com absoluta convicção.<br />

Viper meramente riu, lembrando-se de suas próprias convicções de que nunca<br />

seria tolo o suficiente para arranjar uma esposa.<br />

— Sabe o que dizem, meu amigo. Os melhores planos dos ratos e vampiros...<br />

— Sempre dão errado? - Styx balançou a cabeça.<br />

— Não comigo, velho amigo, não comigo.<br />

Viper voltou a sorrir. Um dia Styx também se renderia ao amor.<br />

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