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F418 II Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong> /<br />

organizadoras Luzia Renata da Silva e Maria<br />

Lucila Horn -- Balneário Camboriú : Photos, 2012.<br />

39 p. : il. ; 21x29,7 cm<br />

ISBN: 978-85-62626-43-2<br />

1. Florianópolis – <strong>Foto</strong>grafias. 2. Florianópolis –<br />

História. I. Silva, Luzia Reanta da (org.). II. Horn, Maria Lucila<br />

(org.). II. Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong> (2, Florianópolis,<br />

2012).<br />

II Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> <strong>Na</strong> <strong>Foto</strong><br />

25 a 30 de outubro de 2011<br />

www.floripanafoto.com<br />

CDD: 981.641 – 20 ed.<br />

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UDESC


EXPOSIÇÕES<br />

PROJEÇÕES<br />

INTERVENÇÃO URBANA<br />

MESA<br />

II Fórum de <strong>Foto</strong>jornalismo<br />

índice<br />

Orlando Azevedo - Marinhas - Arqueologia da Morte .....................................5<br />

COLETIVA ..................................................................................................................7<br />

Rosane Cechinel - SIPARI TRANSPARENTI ........................................................12<br />

Daniel Herrera e André Constantin - Invernada dos Negros ..............................13<br />

Henrique Pereira - 320 ........................................................................................14<br />

Coletivo 6x6<br />

Otávio Nogueira - Muito além .............................................................................15<br />

Scott Macleay - Cores / Corpos / Coros ............................................................16<br />

Rogério Ferrari - Ciganos ....................................................................................17<br />

Virginia Yunes - Dulce Maria<br />

....................................................................................................18<br />

...................................................................19<br />

......................................................................................................................20<br />

Imagens Contemporâneas<br />

..........................................................28


É com imensa satisfação que apresentamos este catálogo, que documenta o II Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong><br />

na <strong>Foto</strong>, realizado entre os dias 25 a 30 de outubro de 2011.<br />

Desde sua primeira edição, o Festival tem como foco a produção fotográfica e a reflexão sobre a imagem.<br />

Considerando essa preocupação, os organizadores do <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong> têm se cercado de pensadores e<br />

fotógrafos que trabalham a fotografia não apenas como um modo de sobreviver, mas de viver. Buscamos,<br />

mesmo que inconscientemente, profissionais que têm com a fotografia uma ligação afetiva e amorosa.<br />

As atividades desenvolvidas no Festival são amplas e incluem palestras, workshops, leitura de portfólio,<br />

exposições, projeções, mesas de debate e um fórum de fotojornalismo. Essas e outras atividades ocorreram<br />

no Centro Histórico de Florianópolis durante os cinco dias da primavera de 2011, contaminando os<br />

principais espaços culturais da cidade. E como resultado desse encontro, que se propõe pensar a<br />

complexidade da imagem fotográfica na contemporaneidade, publicamos os artigos sobre as exposições<br />

realizadas.<br />

Uma das ações de maior visibilidade do Festival foi a exposição Intervenções Urbanas, realizada no terminal<br />

de ônibus do Centro de Florianópolis – TICEN com 36 fotógrafos convidados. As fotos foram ampliadas em<br />

banner com qualidade fotográfica, cada imagem com aproximadamente 2 x 3 metros e o tema versava sobre<br />

Identidade, retrato e cotidiano. A abrangência dessa ação alcançou cerca de 250 mil pessoas que transitam<br />

por esse espaço todos os dias mirando uma fotografia que não tem como objetivo vender um produto, mas<br />

propor um olhar de estranhamento sobre a vida. Outras 10 exposições marcaram presença nos espaços<br />

culturais do centro da cidade, afirmando a vocação de Florianópolis para a atividade cultural e a necessidade<br />

de construirmos políticas e estruturas para a viabilização do acesso a produção fotográfica local, estadual,<br />

nacional e internacional.<br />

Com a mesma importância, foram desenvolvidas as ações educativas em 10 escolas de Florianópolis e o<br />

circuito por quatro cidades do estado. Pois, acreditamos que a base da transformação está na educação e nas<br />

condições de acesso.<br />

O processo de construção de uma cadeia produtiva da fotografia em Santa Catarina é nosso foco e sabemos<br />

que não se dará rapidamente, mas estamos felizes, pois movimentando cerca de 1200 pessoas diretamente<br />

a cada edição, o Festival <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong>, já colocou Santa Catarina no mapa dos grandes eventos de fotografia<br />

do Brasil, dando visibilidade à produção local e articulando o diálogo com profissionais do Brasil e da América<br />

do Sul.


exposições<br />

Orlando Azevedo<br />

Marinhas - Arqueologia da Morte<br />

Um comprometimento de vida<br />

Boris Kossy<br />

Orlando Azevedo é esse explorador que busca conexões, vive<br />

para isso e por isso. O fotógrafo da terra se volta agora ao<br />

mar. Segue em busca do dado e da fantasia. Do físico e do<br />

imaginário, da paisagem e do desejo, da vida, em suas<br />

diferentes formas, em seu esplendor – como vimos em seu<br />

clássico Coração do Brasil e em várias outras obras – e em<br />

seus vestígios arqueológicos. Um fotógrafo que não<br />

estaciona no aparente, pesquisa a alma do ser, do objeto,<br />

do vestígio que descobre. E nos mostra que o aparente tem<br />

múltiplas faces.<br />

Orlando Azevedo é um ilhéu. Busca conhecer seu entorno.<br />

Insistentemente, incansavelmente. É um explorador. Busca<br />

a terra, o homem e o mito. Busca o hoje e o passado, as<br />

origens étnicas, religiosas, perscruta a natureza, observa as<br />

inscrições rupestres e os vestígios do mar, minuciosamente,<br />

com vigor e sensibilidade. Caminha tranqüilo pela geografi a<br />

e pela história, pela arqueologia e pela antropologia, mas<br />

não se deixa levar pelo jargão acadêmico, não precisa disso;<br />

sua câmera, seu conhecimento, suas raízes o movem. Com<br />

determinação. E poesia.<br />

Orlando Azevedo é um ilhéu. Sua investigação particular<br />

pelas origens nos faz melhor conhecer os mitos e a chamada<br />

realidade concreta. Orlando é autor de imensa obra que,<br />

os classifi cadores de imagens, intitulam de “documental”.<br />

Uma classifi cação que não passa de uma redução suspeita,<br />

limitada ao parco conhecimento do mundo das imagens. E do<br />

mundo que se esconde sob as imagens: vida, alma, história.<br />

5<br />

Orlando Azevedo é um ilhéu. Em sua arqueologia marinha<br />

busca conexões, obviamente, com o que foi, mas<br />

enganam-se os que pensam que sua pesquisa termina aí.<br />

Seu recado é direto, pois explicita também o que será.<br />

O mar cobre vidas anteriores. Vestígios de civilizações, traços<br />

de culturas e seres marinhos convivem no mesmo sepulcro<br />

oceânico.<br />

O que as ondas nos devolvem? Seres do mar, do ar, da terra;<br />

criações do homem, restos da cultura material: tudo isso o<br />

mar nos devolve; objetos e seres que desejaram e foram<br />

desejados. Das sombrias profundezas do mar à luz da<br />

terra, essas pegadas do passado percorreram uma viagem<br />

fantástica: da decomposição em águas eternas à composição<br />

num eterno retângulo. Mortos, extintos, hoje revivem pela<br />

fotografi a: morte e vida ilusória. Orlando procura relações<br />

cósmicas nos detalhes de seus achados. Sua fotografi a<br />

procura nos testemunhos nascidos, encobertos ou jogados<br />

ao mar a magia que nos faz pensar nos cantos e ritos que um<br />

dia cercaram essas criaturas do homem e da natureza. Uma<br />

forma e conhecimento e expressão que nos revela o<br />

documento expressivo; remete-nos às ciências e a arte.<br />

Sem artifícios tortuosos. Assim Orlando Azevedo pensa o<br />

mundo da representação. Um esforço em tornar o regional,<br />

universal. Arqueologia da Morte, um comprometimento<br />

de vida.


6<br />

Orlando Azevedo - Marinhas - Arqueologia da Morte


Galeria Helena Fretta<br />

coletiva<br />

Um só lugar, seis espaços, sete olhares, fotografia e múltiplas possibilidades. A fotografia como poética autoral em<br />

relação com o tempo constitui a gramática comum nos trabalhos desta mostra.<br />

O tempo nas paisagens catarinenses redesenhadas pela série litorânea de Alessandro Grutzmacher, na poesia<br />

revelada por Álvaro de Azevedo Dias e Marco Giacomelli permeando a reflexão sobre nossa experiência temporal, nas<br />

descolagens de Cláudio Brandão em paredes (des)cobertas por cartazes e traz a tona a vida da cidade em um<br />

processo de apropriação do que no contexto pode se mostrar como ruído ou obstáculos para o olhar, nos esquecidos<br />

de Cris Bierrenbach e o vazio da finitude que nos envolve no silêncio do observador de tragédias, Joyce Mussi traz as<br />

sombras que projetam uma relação provisória de uma beleza passageira e o jovem João Abreu com o olhar<br />

deslocado no tempo do observador viajante.<br />

Alessandro Gruetzmacher<br />

Litorânea<br />

A série Litorâneas registra as paisagens ao longo de nosso<br />

belo litoral, utilizando longas exposições para fotografar<br />

estas paisagens, referenciando à técnica utilizada no<br />

princípio da fotografia em 1826, onde precisou-se de<br />

até 8 horas para registrar uma foto. Nesta série as longas<br />

exposições, aliadas a escolha de fotografar em dias nublados,<br />

devido a pouca luz e do belo desenho das nuvens com sua<br />

movimentação pelo vento, dão toda plasticidade à foto.<br />

Esta série de fotografias tem a função de documento e<br />

registro de um determinado momento da história, que<br />

segundo Roland Barthes, em seu livro A Câmara Clara, a<br />

fotografia atesta de que algo, alguém ou “a paisagem”<br />

existiu. Tornando assim a fotografia um recorte da realidade,<br />

daquele espaço de tempo em que a fotografia foi capturada.<br />

É importante ressaltar que, além da visão artística, as fotos<br />

possuem um espaço temporal, no qual a foto pode adquirir<br />

um valor histórico, que não possuía no momento em que foi<br />

produzida. E além de servir como documento, as fotografias<br />

tem na conscientização ecológica um segundo viés, onde em<br />

cada fotografia a paisagem provoca uma admiração por meio<br />

da linguagem utilizada, e também o alerta para a necessidade<br />

de conservação das belas paisagens de nosso litoral.<br />

7<br />

Lucila Horn


coletiva<br />

Álvaro de Azevedo Diaz e<br />

Marco Giacomelli<br />

A luz e o tempo<br />

Quando cravamos nossos tripés na rocha dos grandes costões<br />

de pedra que delineiam os contornos da paisagem natural de<br />

Florianópolis, estranhas e lunares imagens saltaram<br />

subitamente aos olhos.<br />

Os costões aqui mostrados em fotografias em preto e branco<br />

trazem ao pensamento uma mensagem subliminar de grande<br />

relevância, ante a veloz transformação do nosso ambiente:<br />

estamos aqui de passagem. Essas mesmas pedras, caladas e<br />

inertes, nos dizem que já viram muito, e aqui entra o tempo<br />

a que me refiro no título desse texto. As formações rochosas<br />

aqui mostradas nos lembram, melhor do que qualquer outro<br />

assunto, da passagem avassaladora do tempo. Formações<br />

essas que já estiveram submersas por tempos imemoriais,<br />

que já estiveram muito acima de onde se encontram hoje e<br />

que assistiram as mais fantásticas e inimagináveis<br />

transformações.<br />

O tema não poderia ser mais apropriado. Ele diz respeito ao<br />

tempo presente, às modificações, nossa marca registrada, a<br />

8<br />

que constantemente submetemos o nosso entorno.<br />

<strong>Foto</strong>grafar é escrever com a luz e ao ver essas imagens, é<br />

inevitável estabelecer a correlação entre a luz e o tempo.<br />

Há um desenho a ser perscrutado em cada uma das<br />

fotografias, mas é a presença massiva desse elemento<br />

invisível, o Tempo, que invariavelmente as permeia e que lhes<br />

dá vida e alma.<br />

Optamos nesse projeto por câmeras de grande formato, de<br />

operação lenta, que exigem mais do que um simples e<br />

fortuito olhar. A morosidade imposta pelo processo vai ao<br />

encontro da necessidade de contemplação de um tema tão<br />

atemporal. A pressa simplesmente não faz parte do nosso<br />

repertório.<br />

No final das contas, entre incontáveis idas a vários costões<br />

de pedras, apresentamos aqui um conjunto de imagens refinado<br />

e poético sobre um viés inexplorado da Ilha de<br />

Santa Catarina.<br />

Álvaro de Azevedo Diaz


coletiva<br />

Cláudio Brandão<br />

Descolagens<br />

Descolagens é um trabalho movido apenas pela paixão de<br />

um fotógrafo em registrar (em filmes) o sucessivo colar e<br />

descolar de cartazes nas cidades. Como um observador que<br />

toma nota destas disputas citatinas, produz matéria para<br />

uma reflexão futura, por outros agentes sociais.<br />

O movimento de colar e descolar pode ser comparado com a<br />

própria dinâmica das cidades, como um constante<br />

renascimento, sempre trazendo neste novo, um pouco do que<br />

está embaixo. Nestes tempos de incerteza “pós-moderna”,<br />

onde tudo que é sólido se desmancha no ar, como previu<br />

Marx, o território perde seu espaço para experimentar uma<br />

relação da dimensão do tempo.<br />

O objeto destas imagens são cartazes espalhados por<br />

qualquer cidade do mundo em uma mídia, ainda não<br />

dominada pelas grandes corporações, as paredes. Cada vez<br />

mais, nota-se a presença do estado, coibindo esta prática em<br />

nome de uma cidade limpa e espetacular para os visitantes.<br />

Assim parece que estamos presenciando o limiar desta forma<br />

de comunicação.<br />

9<br />

Este trabalho não tem a pretensão de ineditismo, já que não<br />

é este o objetivo do Campo da <strong>Foto</strong>grafia. Grandes mestres<br />

como Haas, Evans e Atget, já se dedicaram a este tema, pois<br />

sempre é possível ver nestas imagens, indícios da vida social,<br />

nesta ou naquela época.<br />

Quando o fotógrafo faz seu recorte, emite seu julgamento,<br />

mas é o observador que constrói a sua interpretação final,<br />

elaborando uma nova verdade a respeito do que vê. Está é a<br />

mágica da fotografia.<br />

Cláudio Brandão


coletiva<br />

Cris Bierrenbach<br />

Esquecidos<br />

A exposição apresenta de uma série de fotografias que<br />

realizei nos dias que se seguiram ao terremoto ocorrido na<br />

cidade de Porto Príncipe, no Haiti, em janeiro de 2010.<br />

A série em questão é composta por fotos de roupas e outros<br />

artigos pessoais, que jaziam nas proximidades da grande<br />

praça central da cidade, o Champs de Mars. Logo após o<br />

terremoto o local se transformou em um imenso campo de<br />

refugiados, repleto de pessoas que haviam perdido suas<br />

casas ou tinham medo de voltar a elas em conseqüência dos<br />

tremores posteriores, os “after shakes”.<br />

São tomadas quase completamente perpendiculares ao solo<br />

e de aspecto monocromático dada a predominância de cinzas<br />

nas fotos. Estas imagens, captadas digitalmente, foram<br />

posteriormente refotografadas com o uso de uma câmera<br />

de grande formato, 8x10 polegadas, com o objetivo de<br />

produzir daguerreótipos. Com esta operação pretendi criar<br />

uma pequena subversão temporal na fotografia, partindo das<br />

técnicas atuais para a primeira de sua história.<br />

Cheguei em Porto Príncipe no dia 3 de janeiro de 2010,<br />

acompanhando um grupo do departamento de sociologia<br />

e antropologia da Unicamp. No final da tarde do dia 12, a<br />

cidade foi devastada por um terremoto. Instintivamente,<br />

após alguns minutos de completo estupor, peguei a câmera e<br />

comecei a fotografar. A situação de absoluto caos por todos<br />

os lugares parecia impossível de captar através do visor da<br />

câmera. A dimensão destrutiva do terremoto e o elevado<br />

número de mortos que iria deixar ficaram claros<br />

imediatamente. Em menos de 3 horas os corpos já haviam<br />

começado a ser depositados e se acumulavam nas calçadas.<br />

A sensação de impotência, de não conseguir ajudar aquelas<br />

pessoas, aliada à lembrança de como, nos dias anteriores,<br />

haviam demonstrado desprazer ao serem fotografadas, me<br />

colocaram em uma posição de grande desconforto e questionamento<br />

sobre a minha função como fotógrafa.<br />

No dia seguinte a cidade começou a ser invadida pela<br />

imprensa internacional e neste momento tive a confirmação<br />

final de que não queria fazer parte daquele processo, que<br />

poderia ser resumido em uma frase que escutei de um<br />

fotógrafo norte-americano para outro: “you have to show<br />

destruction!” Por certo havia muita destruição, porém para<br />

mim isso não era o mais relevante. O que realmente me<br />

chamou a atenção foi a capacidade daquela sociedade em<br />

se reorganizar em tão pouco tempo, nas piores condições<br />

possíveis, sem qualquer tipo de ajuda externa, sem drama e<br />

com um enorme senso prático. Havia muitos corpos, portanto<br />

eles eram retirados e deixados nas calçadas para serem<br />

recolhidos por aqueles que tinham um meio de transporte e<br />

ainda podiam contar com algum diesel. As casas não eram<br />

seguras, então as pessoas se mudaram para as praças, para<br />

os espaços abertos. Os que tinham água, dividiam-na, os que<br />

podiam, recolhiam o lixo. Tudo era dividido. Preferi passar<br />

meus dias caminhando pela cidade e assistindo a este<br />

movimento de resistência, conversando com as pessoas<br />

numa tentativa de compreender aquela sociedade.<br />

Foi em uma destas caminhadas que comecei a perceber uma<br />

quantidade enorme de roupas jogadas pelas ruas próxima<br />

ao Champs de Mars. Me pareceu bastante curioso que em um<br />

momento de escassez, artigos de utilidade, alguns deles<br />

ainda bem conservados, fossem abandonados por seus<br />

donos. Era curioso também pois os haitianos possuem um<br />

grande apreço e cuidado com suas vestimentas. Mesmo nos<br />

dias após o terremoto, nos acampamentos a céu aberto,<br />

uma cena corriqueira era ver pessoas lavando suas roupas<br />

utilizando qualquer tipo de água que estivesse disponível.<br />

Centenas de varais com roupa lavada agora enfeitavam a<br />

praça central em frente ao Palácio <strong>Na</strong>cional.<br />

Aquelas roupas abandonadas se transformaram para mim<br />

na melhor representação da perda humana e material que<br />

ocorreu naquela cidade. O indício de presença e ausência ao<br />

mesmo tempo, possuiam o aspecto e a função de ícones de<br />

cerimônias mortuárias, impossíveis naquele momento.<br />

Este caráter de memento mori destas roupas me fez optar<br />

por apresentá-las na forma de daguerreótipo, trazendo dos<br />

primórdios da história da fotografia uma de suas utilizações<br />

mais comuns: o retrato post-mortem.<br />

Cris Bierrenbach


coletiva<br />

Joyce Mussi<br />

Um homem, Uma mulher:<br />

A beleza no lado escuro<br />

João Abreu<br />

# Ø1<br />

(conjunto Vazio um)


Rosane Cechinel<br />

SIPARI TRANSPARENTI<br />

A inércia dos objetos, o silêncio do cotidiano, os locais inanimados ou negligenciados, são objetos de pesquisa onde<br />

o foco de atenção é permitir uma visão mais próxima dos “sinais” que os objetos e lugares têm sofrido com o<br />

tempo e uso e que talvez, possa nos dizer, em silêncio, algo de sua existência. A beleza desbotada ou perdida<br />

pode ser transformada novamente com a imagem capturada, onde até mesmo o silêncio, os detalhes e os defeitos<br />

encontram outra função. Estes “Sipari Trasparenti” acabam impondo-se como um objeto fotográfico e suscitam<br />

cenas imaginárias e composições abstratas como se houvesse um mundo paralelo, silencioso, que estava<br />

esperando para ser descoberto.<br />

A mostra propõe 4 fotografias digitais sem pós-produção que fizeram parte de uma mostra individual no Festival de<br />

<strong>Foto</strong>grafia Europea 2010 na Itália.<br />

Rosane Cechinel<br />

Ver de “outro modo”, na sutileza das formas e cores, é o que faz Ro Cechinel com suas fotografias.<br />

A fotógrafa nos ensina a ver a cidade através de um olhar que não se constitui como hábito de nosso olhar<br />

apressado do dia-a-dia.<br />

Ro Cechinel tem um olhar especial para a cidade. Percebe-a nas suas fissuras, nas suas luzes sutis, no inusitado do<br />

momento. Há momentos em que suas imagens mais parecem pinturas metafísicas, em que as sombras penetram<br />

sorrateiras pelos vazios, e os humanos se escondem por detrás das paredes. Simplesmente passaram: vestígios<br />

imaginários. Em outras imagens, linhas diagonais desestabilizam a imagem, rasgam o todo, rompem as massas<br />

e dão leveza ao espaço. Tais linhas não são invenções da artista, elas fazem parte da paisagem, porém: por que<br />

não as vemos? Outras imagens criam espaços que jamais saberemos de que lugar foram capturadas (segredo da<br />

fotógrafa ou das imagens?). Assim, deixamos livre nossa percepção e nossa imaginação para construir espaços<br />

e fantasiá-los. A artista revela um mundo sutil que está aí, ao nosso dispor, mas do qual não estamos habituados<br />

a dispor. Um mundo de cores e formas, o espaço lúdico das cidades por onde anda. Suas imagens são pequenas<br />

frações significativas do mundo.<br />

Caminhar nosso olhar pelas suas imagens é perceber que a cidade é muito mais do que vemos. É entender que<br />

podemos empreender com a cidade um jogo lúdico, e, mais ainda, podemos fazer, desse jogo, liberdade. Trata-se<br />

de perceber que há uma espécie de “sussurrar” das formas pelas cidades que caminhamos, e que ouvir estes<br />

“sussurros” pode fazer a diferença no nosso exercício cotidiano de habitá-las.<br />

12<br />

Anita Prado Konesky


“Invernada”:<br />

tempo de inverno; pastagens que se destinam à criação ou<br />

descanso de animais.<br />

O projeto de fotografia e vídeo intitulado Invernada dos<br />

Negros, premiado e realizado no âmbito do I Prêmio <strong>Na</strong>cional<br />

de Expressões Culturais Afro-brasileiras (2010), está sendo<br />

apresentado ao público desde outubro de 2010, com<br />

exposições nas cidades de Campos Novos, Lages e<br />

Florianópolis (SC), São Paulo (SP) e Caxias do Sul, Porto<br />

Alegre e Antônio Prado (RS), podendo ganhar uma<br />

itinerância maior. A mostra é formada por um acervo de<br />

imagens documentais e também rituais – pelos suportes da<br />

fotografia e do vídeo – dos herdeiros de uma terra e de uma<br />

história singular do escravismo no sul do Brasil. Entre os<br />

personagens registrados, alguns jamais haviam realizado um<br />

retrato fotográfico convencional.<br />

No território de Campos Novos, Santa Catarina, um reduto<br />

de afro-descendentes mantém viva a memória de escravos<br />

herdeiros de uma antiga fazenda do planalto catarinense.<br />

O lugar chama-se Corredeira, mas na tradição oral dos<br />

moradores da região ainda é a Invernada dos Negros – como<br />

ficaram conhecidos os campos e pinhais doados por um<br />

fazendeiro aos seus escravos, no ano de 1877. Um território<br />

que foi, ao longo de três gerações, disputado e retalhado por<br />

interesses econômicos.<br />

Despossuídos e dispersos, os herdeiros da Invernada<br />

atravessaram um século de anonimato até alcançarem,<br />

recentemente, o reconhecimento de sua herança e de sua<br />

identidade pela sociedade envolvente.<br />

A instalação de imagens é composta por 35 fotografias<br />

em preto e branco, com projeção simultânea de um filme<br />

documentário. Além do ambiente da mostra, foi produzido<br />

um conjunto de peças gráficas: uma série de sete retratos em<br />

cartões postais; um catálogo de 32 páginas com imagens da<br />

Invernada; cartazes de divulgação e o site do projeto<br />

(www.invernadadosnegros.com.br).<br />

O projeto Invernada dos Negros tem autoria de André<br />

Costantin, roteirista e diretor cinematográfico, e Daniel<br />

Herrera, fotógrafo e montador cinematográfico.<br />

As datas das mostras e locais estão sendo atualizadas pelo<br />

site do projeto – www.invernadadosnegros.com.br.<br />

Conceito do projeto<br />

O conceito estético do projeto de instalação Invernada dos<br />

Negros parte da força da imagem, em especial a força da<br />

fotografia, como revelação da cultura, como acervo de<br />

memória e ainda como fonte de tomada de consciência<br />

ou mesmo de denúncia da realidade. O recorte e a técnica<br />

13<br />

Daniel Herrera e André Constantin<br />

Invernada dos Negros<br />

fotográfica escolhidos para o projeto, entretanto, dialogam<br />

com a tradição do retrato – na medida em que o retrato<br />

fotográfico revela a identidade humana particular e sugere,<br />

por uma magia própria da fotografia, também aspectos da<br />

vida social do personagem: suas memórias e suas marcas,<br />

sua aventura existencial expressa nas linhas do rosto,<br />

no olhar.<br />

O registro de ambiência e documental do contexto da<br />

Invernada dos Negros foi realizado no suporte audiovisual,<br />

em imagem e som de alta definição, conformando um<br />

filme-documentário de abordagem etnográfica que além de<br />

revelar a memória coletiva da Invernada, com depoimentos e<br />

cenas espontâneas do cotidiano do lugar, também registrou<br />

os momentos de captação fotográfica dos personagens – uma<br />

proposta de superposição de imagens e de olhares sobre os<br />

atores sociais da Invernada.<br />

Tal abordagem decorre da intenção estética de construir<br />

imagens ritualizadas dos personagens, como quando uma<br />

pessoa se prepara para tirar uma fotografia. Nos trabalhos de<br />

documentação, personagens da Invernada foram convidados<br />

a fazer um retrato – o retrato dos herdeiros de uma tradição e<br />

de uma terra (real e imaginária) que jamais foi feito.<br />

Os retratos das faces da Invernada dos Negros dialogam, em<br />

parte, com a tradição dos retratos de família e de<br />

personagens dos antigos proprietários de fazendas da região<br />

dos campos do planalto catarinense – os antigos senhores<br />

dos escravos. Eis uma ponte simbólica – entre outras – que o<br />

registro fotográfico e documental sugere.


Coletivo 6x6<br />

Henrique Pereira<br />

320<br />

Luiz Henrique Pereira – filho<br />

Luiz Teodomiro Pereira – Pai<br />

Quarto 320<br />

O Coletivo 6x6, formado pelos fotógrafos Guilherme<br />

Ternes, Marco Giacomelli, Walmor de Oliveira, André Paiva<br />

e Álvaro de Azevedo Diaz, apresenta aqui seu<br />

trabalho inaugural, uma série sobre o outono em Florianópolis.<br />

Essa época foi escolhida porque é aquela em que os habitantes<br />

de Florianópolis, nativos ou não, elegem como a melhor do<br />

ano. Não há o afluxo invasivo dos turistas, o trânsito<br />

implacavelmente engarrafado nem o calor feérico que esvazia a<br />

cidade e superpovoa as praias. Para os fotógrafos, esse período<br />

do ano revela simplesmente a vida que pulsa na cidade, sem<br />

rebuscamentos estereotipados, com sua plácida luz inclinada a<br />

iluminar seus contornos.<br />

Luiz Henrique, fotógrafo. Um rapaz emotivo, preocupado. Soube compreender certos<br />

zelos de seu pai durante a vida. Uma maior valorização surge da perda física de seu<br />

mentor, valor pessoal que este filho registrou naturalmente em sua relação cotidiana com<br />

Seu Teodomiro no Cepon [Centro de Pesquisas Oncológicas]. Henrique usou a fotografia<br />

para divertir, conversar, rememorar, registrar, criar memórias e amenizar a atmosfera<br />

hospitalar, fotografou para si e para seu pai.<br />

Luiz Teodomiro, pedreiro. Homem de índole caseira, tranquilo e de poucas palavras na<br />

criação dos filhos. Responsável na ação pelo exemplo. Assim os criou e até o final de sua<br />

luta pela vida contra o câncer não se abalou ou se entregou, muito pelo contrário, não<br />

reclamou, não se contrariou por sua condição. Mais um exemplo, agora de vida, que se<br />

estende nesta exposição para além do universo doméstico onde estas histórias<br />

se desenrolam.<br />

Todos tem ou vivenciam uma relação de pai e de filho. É uma jornada onde cumpre-se<br />

um ciclo de vida, e de morte. Um singelo convite à reflexão sobre o amor.<br />

André Paiva<br />

A linguagem eleita foi o preto e branco, que traduz as formas<br />

em tons de cinza, branco e preto no formato que empresta<br />

nome ao Coletivo, o 6x6, o clássico quadrado das câmeras<br />

analógicas de formato médio, equipamento adotado pelos<br />

artistas nesse projeto.<br />

O resultado dessa combinação de olhares tão diversos<br />

encontra-se hoje aqui nessas imagens em preto e branco<br />

com um olhar singular e sobre a nossa cidade.<br />

Álvaro de Azevedo Dias


Otávio Nogueira<br />

Muito além<br />

“Entre as grandes coisas que são encontradas entre nós, a<br />

existência do nada é a maior. Ele reside no tempo e abrange<br />

com seus membros o passado e o futuro, absorve todas as<br />

obras que se passaram e aquelas que ainda estão por vir,<br />

tanto da natureza como dos animais.”<br />

– Leonardo Da Vinci<br />

A exposição de Otávio Nogueira é composta por 3 ensaios<br />

realizados no Ceará e que trazem um olhar sobre “lugares e<br />

apropriações” postos na interpretação de uma<br />

“cearencidade”.<br />

Lugar 1 - O sagrado<br />

FESTA DAS ALMAS<br />

No ensaio, uma interpretação do ritual que anualmente<br />

acontece na cidade de Ocara – CE, acontecimento que reúne<br />

na cidade, durante as comemorações de finados, o sagrado e<br />

o profano, gente simples e humilde, quando a cidade celebra<br />

seus mortos, para lá se dirige, atraídos pela festa, num misto<br />

de fé e pendor pagão. Vaqueiros e agricultores, lavadeiras<br />

e donas de casa, todos fascinados: elas pelos vendedores e<br />

suas mercadorias, eles com a bebida e as prostitutas.<br />

15<br />

Lugar 2 - O profano<br />

“PARANGOLÉ” JUNINO<br />

Morando no nordeste deste 78, pude vivenciar a cultura das<br />

festas Juninas como um louvor aos santos e à chuva, que<br />

traz fartura à mesa do sertanejo. Com estas imagens, de<br />

forma bem humorada, denunciam como a indústria cultural<br />

se apropriou da tradição e forjou a essência de um povo em<br />

mais um espetáculo comercial.<br />

Lugar 3 - O público<br />

ENTRE NADA E LUGAR NENHUM<br />

Referindo-se a experiência vivida no metrô do Cariri<br />

como lugar nenhum, Otavio Nogueira se apropria do conceito<br />

de não-lugar de Marc Augê, quando se refere aos lugares de<br />

passagem incapazes de dar forma a qualquer de tipo<br />

identidade e o contrapõe ao nada, com tudo aquilo que<br />

existe, e que é reiteradamente desconsiderado.


Scott Macleay<br />

CORES / CORPOS / COROS<br />

Esta exposição retrata os 33 anos de trabalho fotográfico em<br />

cor do artista canadense Scott MacLeay. Abrange os dois<br />

principais períodos de seu trabalho em Vancouver, no Canadá<br />

e em Paris, na França, bem como inclui peças de trabalho<br />

recente realizado depois que se mudou para Florianópolis em<br />

2010. A exposição contém imagens de cinco grandes séries<br />

de trabalho:<br />

“Attitudes”, “Fragments”, “Primates”, “Wavelength” e<br />

“Remnants”.<br />

No início de seu trabalho, a série Attitudes chamou<br />

considerável atenção em Nova York e Paris pela utilização<br />

exclusiva de superfícies planas e sem detalhes de cor, que<br />

se tornou uma marca registrada de seu trabalho em quatro<br />

cores. O fotógrafo também é conhecido pela variedade de<br />

formatos de impressão que normalmente compõem suas<br />

mostras individuais – indo do trabalho pequeno (30 cm x 30<br />

cm) até grandes peças únicas e tripticos (100 cm x 150 cm).<br />

Um dedicado fotógrafo de estúdio, seus assuntos sendo<br />

sempre pessoas e seu tema, a condição humana. Ele<br />

começou a usar o processo em carvão fresson para suas<br />

RETROSPECTIVA SCOTT MACLEAY<br />

33 ANOS DE OBRAS<br />

3 CONTINENTES / 3 CIDADES<br />

VANCOUVER / PARIS / FLORIANOPOLIS<br />

16<br />

impressões por todo o trabalho de cor a partir de 1981.<br />

Sua colaboração com o mestre em impressão Michel Fresson<br />

incluí o trabalho inovador bi-cromático da série Primates.<br />

MacLeay disse do processo Fresson: “É o único processo que<br />

reproduz a luminosidade e profundidade que se sente ao ver<br />

um slide em uma mesa de luz – uma sensação que é quase<br />

sempre perdida em processos de impressão convencional”. O<br />

processo de fresson foi particularmente eficaz com as<br />

imagens quadricromáticas pastéis que envolvem o<br />

movimento nas séries de Fragments e Wavelength.<br />

Após uma ausência de quinze anos na fotografia para<br />

trabalhar como compositor e designer de som para vídeo<br />

arte e dança contemporânea, Macleay voltou a trabalhar<br />

com fotografia comercial em Paris. Desde sua mudança para<br />

Florianópolis, ele tem trabalhado em uma série de colagens<br />

digitais, algumas das quais estão incluídas na exposição.<br />

Este trabalho é indicativo de uma tendência crescente que<br />

deixa confusa as fronteiras tradicionais que separam a<br />

fotografia, as artes gráficas, o vídeo e outras novas mídias.


Rogério Ferrari<br />

Ciganos<br />

Esta exposição em fotografias e video, nasce na<br />

espontaneidade de um encontro e do acolhimento recebido<br />

em casa de um amigo em Cuba. Num cenário familiar e<br />

rotineiro, procurei simplesmente acompanhar e compartilhar<br />

de uma experiência comovente: a relação entre uma filha e<br />

sua mãe idosa.<br />

Nesta relação, a mãe já bastante adoecida e praticamente<br />

acamada, depende dos constantes cuidados de sua filha que,<br />

sem medir esforços, com paciência, carinho e doação,<br />

transforma esta cena, aos meus olhos, aparentemente<br />

cansativa e sofredora, numa realidade de amor<br />

incomensurável, delicadeza e compaixão.<br />

17<br />

A exposição e o livro apresentados no Flioripa na <strong>Foto</strong> são<br />

resultado da itinerância do fotógrafo pelas comunidades de<br />

ciganos da Bahia.<br />

Durante três meses, Rogério Ferrari percorreu um total de<br />

40 municípios baianos. O resultado desse projeto fotográfico<br />

mostra as diferentes condições em que vivem os ciganos e a<br />

expressão e manutenção de uma identidade própria. Apesar<br />

dos estigmas, dos estereótipos e das perseguições sofridas<br />

ao longo de séculos, os ciganos seguem sendo ciganos.<br />

Através do livro e da exposição será possível obter uma<br />

visão muito além do preconceito. O livro Ciganos se inscreve<br />

dentro do projeto maior que o fotógrafo desenvolve há alguns<br />

anos, Existências-Resistências, que inclui outras<br />

publicações sobre povos e movimentos sociais como os<br />

palestinos, os curdos, os sahrarouís, os zapatistas, e os<br />

sem-terra no Brasil. O trabalho de Rogério Ferrari<br />

proporciona um contraponto, e pode ser considerado<br />

como uma síntese entre estética/ética e posição política.<br />

A etapa baiana do projeto foi viabiliazada graças ao apoio<br />

da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Ciganos, livro<br />

e fotografia de Rogério Ferrari, mostrará, portanto, a vida<br />

dos ciganos tal como ela é agora. O cotidiano de um povo<br />

que, como outros, faz parte da formação da sociedade<br />

brasileira.<br />

Virgina Yunes<br />

Dulce Maria<br />

Abordando a relação mãe e filha numa situação limite,<br />

Virginia Yunes nos mostra uma série de impactantes<br />

imagens, onde a precariedade da condição humana é exposta<br />

em toda sua fragilidade e grandeza… O olhar de Virginia não é<br />

de espanto, de repulsa ou de horror. É antes um olhar<br />

amoroso, feminino que aceita, acolhe, que revela (desvela),<br />

os meandros das relações humanas.”<br />

Joao Otávio Neves Filho – Janga<br />

Membro da ABCA-AICA


PROJEÇÕES Flávio<br />

Veloso – Cores Andinas<br />

A projeção “Cores Andinas – Peru e Bolívia” é o resultado de uma expedição<br />

fotográfica de 40 dias por terras peruanas e bolivianas feita pela fotógrafo Flavio<br />

Veloso, especializado em imagens outdoor, com o intuito de registrar a riqueza e a<br />

diversidade cultural de povos tão perto geograficamente, porem tão distantes<br />

culturalmente de nosso país. O projeto pretende, ao longo dos anos, visitar as principais<br />

regiões da América Andina.<br />

Flávio Veloso é fotógrafo profissional especializado em imagens outdoor. Frequentador<br />

das áreas naturais da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno, sua predileção por esse tipo<br />

de fotografia vem desde cedo, tendo certeza de que a fotografia faria parte definitiva de<br />

sua vida ao término da faculdade de ciências biológicas.<br />

Uma de suas obstinações, além de uma busca incessante pela qualidade técnica, é fazer<br />

suas imagens se diferenciarem através de um olhar inusitado. Conseguir fazer com que<br />

regiões, objetos e situações constantemente fotografadas rendam imagens que saíam do<br />

lugar comum acabou virando uma especialidade do fotógrafo.<br />

Renan Rosa - Retratos do Mundo<br />

Renan Rosa, fotógrafo profissional de 32 anos, formou-se na Escola Panamericana de<br />

Artes de São Paulo, em 2005. O fotógrafo percorreu mais de 40 países nos últimos 11<br />

anos, e apresenta em seu trabalho retratos singulares de culturas, tradições e costumes,<br />

integrando um mosaico que intercala as origens estrangeiras às raízes miscigenadas<br />

brasileiras, além-fronteiras.<br />

Fotógrafo da agência Americana Aurora Photos e colaborador das agências<br />

internacionais Corbis, Getty e Profimedia, Renan vem se destacando no cenário brasileiro<br />

e internacional por sua característica única de retratar a realidade através de suas lentes.<br />

Em 2009 foi selecionado pela fundação FIESP- SESI Cultural para exposições por todo<br />

o Estado de São Paulo durante 5 anos, com dois projetos de exposição, e recentemente<br />

ilustrou a capa da revista da BBC britânica “Focus on Africa”.<br />

Projeção Viver <strong>Na</strong>tureza - AFNATURA<br />

A projeção Viver <strong>Na</strong>tureza foi apresentada pela primeira vez no evento em comemoração<br />

ao segundo aniversário da Associação de Fotógrafos de <strong>Na</strong>tureza (AFNATURA), realizado em<br />

21 de agosto deste ano. A projeção conta com fotografias de 45 fotógrafos da AFNATURA,<br />

entre eles José Caldas, Zé Paiva, Gustavo Pedro, Ricardo Siqueira e Lena Trindade.<br />

São aproximadamente 15 minutos de imagens que revelam o esplendor da natureza.


INTERVENÇÃO<br />

URBANA<br />

Intervir no espaço urbano através da arte é estar conectado com o que acontece<br />

mundialmente nas grandes metrópoles. Como meio alternativo de comunicar a<br />

fotografia utilizando espaços de transito, o Festival teve como um canal de<br />

visibilidade o espaço do Terminal Urbano de Florianópolis (TICEN).<br />

A intenção foi provocar o olhar desse usuário e incluí-lo nas ações do Festival.<br />

PARTICIPANTES<br />

Alvaro de Azevedo Diaz<br />

Ana Sabiá<br />

André Paiva<br />

Andrea Eichenberger<br />

Angélica Lüersen<br />

Anninha Piccolo<br />

Caio Cezar<br />

Célia Antonacci<br />

Celso Peixoto<br />

Daniela Buzzi<br />

Danisio Silva<br />

Deise Luciane Cristofoli<br />

Edu Cavalcanti<br />

Fabio Elias<br />

Giselle Seibel<br />

Henrique Pereira<br />

João Abreu<br />

João Paulo Barbosa<br />

José Roberto Comodo<br />

Joseane Daher<br />

Luciene Kumm<br />

Lucila Horn<br />

Lu Renata<br />

Milla Jung<br />

Mara Freire<br />

Otávio Nogueira<br />

Rafael Vilela<br />

Renan Rosa<br />

Rogerio Ferrari<br />

Sergio Sakakibara<br />

Silvana Leal<br />

Simone Thiesen<br />

Virginia Yunes<br />

Walmor de Oliveira


mesaImagens<br />

Contemporâneas<br />

Os vazios da imagem e a arte<br />

Silvana Leal<br />

A imagem vem para preencher nossos vazios? A imagem<br />

vem para reafirmar nossa existência. O Homem, desde sua<br />

origem, prescindiu da imagem para confirmar seu estar no<br />

mundo. Da imagem, os Homens extraíram à magia; pela<br />

imagem o Humano margeia a magia. Em cada imagem um<br />

germe dentro de nós germina. Da superfície visível aos<br />

invisíveis da imagem – os interstícios, as fendas por onde ela<br />

transpassa.<br />

As imagens como traços são escritas por olhos que nos<br />

olham, diria Huberman: “o que vemos só vale – só vive – em<br />

nossos olhos pelo que nos olha. Inelutável, porém é a cisão<br />

que separa dentro de nós o que vemos daquilo que nos olha.<br />

Seria preciso assim partir de novo desse paradoxo em que<br />

o ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois. Inelutável<br />

paradoxo.” Partindo deste ponto poderíamos então nos<br />

perguntar: O que olha a imagem de nossos dias atuais? Como<br />

a arte se comporta na atualidade? Com que olhos, olha, ela,<br />

a imagem?<br />

A arte contemporânea desfaz fronteiras, abre espaços e<br />

sugere novas linguagens informacionais. Ela não se quer<br />

verdade, ela retorna ao simbólico resignificando o símbolo.<br />

As imagens contemporâneas buscam produzir no espectador<br />

“reações” através de dispositivos conceituais e sensoriais<br />

que visam superar os suportes da própria arte e as fronteiras<br />

do Belo.<br />

Segundo Guattari: “É evidente que a arte não detém o<br />

monopólio da criação, mas ela leva ao ponto extremo uma<br />

capacidade de invenção de coordenadas mutantes, de<br />

engendramento de qualidades de serem inéditas, jamais<br />

vistas, jamais pensadas. O limiar decisivo de constituição<br />

desse novo paradigma estético reside na aptidão desses<br />

processos de criação para se auto-afirmar como fonte<br />

existencial, como máquina autopoética.”<br />

A imagem fotográfica<br />

A fotografia enquanto linguagem na arte vem sofrendo<br />

mutações desde sua origem e percorreu um longo caminho<br />

durante todo o século XX até atingir, sem mais dúvidas, seu<br />

status como arte. Hoje podemos dizer segundo Dubois, que:<br />

20<br />

“A arte contemporânea como marcada em seus fundamentos<br />

pela fotografia”. Em sua multiplicidade a fotografia nos<br />

aponta quanto aos seus aspectos para caminhos diversos,<br />

desde os técnicos até os aspectos filosóficos. E é exatamente<br />

estes aos quais, eu como artista visual me ocupo, a fotografia<br />

como práxis ou como forma existencial de pensar este nosso<br />

estar no mundo. Seus aspectos culturais, sociológicos,<br />

antropológicos, psicológicos e ou epistemológicos. Seu<br />

caráter como matéria sensível, como arte. Faço isso me<br />

utilizando tanto do real quanto do imaginário, no entanto<br />

neste segundo caso a operação se dá por meio da criação de<br />

mundos ficcionais, em uma experiência que busca libertar<br />

a fotografia do real enquanto documento, colocando-a em<br />

uma dimensão imaginária. Aplicada ao que denomino como<br />

onirografia - grafia dos sonhos que se utiliza de uma política<br />

do imaginário para instaurar no espectador uma reflexão<br />

a despeito do desejo e suas variações. A fotografia como<br />

construção pura de uma imagem icônica e não como um<br />

documento da realidade, na qual apresento o fazer<br />

fotográfico no território onírico. Tanto numa quanto em<br />

outra a intenção é revelar a qualidade emocional dos corpos.<br />

O que busco vem apontar para uma geografia do espaço<br />

humano e sua política interna.<br />

Desta diversidade de caminhos no território fotográfico<br />

penso que cada fazedor de imagem pode trilhar o vir-a-ser<br />

da imagem através do ato fotográfico que lhe seja próprio.<br />

Que expresse este seu estar no mundo de maneira original e<br />

comprometida, já que este estado de obturação da imagem<br />

vivido pelo fotógrafo se aproxima ontologicamente do seu<br />

existir. A imagem se construindo a partir do gesto do<br />

fotógrafo, este “buscador” de imagem. O que busca o<br />

fotógrafo em seu vir-a-ser resulta em uma imagem que em<br />

si revela não somente valores estéticos, mas<br />

substancialmente valores éticos e morais.<br />

Para tanto, a fotografia passa a ser semente dispersora desta<br />

multiplicidade e em seu duplo, tanto revela a<br />

realidade como, transfigura-a. Partindo da realidade ela<br />

mostra outras realidades. Outros devires. A transgressão da<br />

imagem a gerar uma riqueza infinita de possíveis. Devires que<br />

podem gerar existências polissêmicas, já que à fotografia<br />

por sua natureza intrínseca assim o é.<br />

Com efeito, podemos dizer que qualquer imagem seja ela<br />

fotográfica ou não em qualquer Tempo sofre a ação de<br />

prazer, quanto a isso explicita tão bem Jacques Aumont<br />

“... o prazer da imagem é sempre, em última instância, o<br />

prazer de ter acrescentado um objeto aos objetos do mundo.”<br />

Prazer este que parte tanto do criador, quanto do receptor da


imagem. E poderíamos arriscar que uma das<br />

características da imagem contemporânea é que ela se volta<br />

para o espectador como fazedor e não apenas como mero<br />

receptor. O espaço de quem olha a imagem torna-se fruto da<br />

ação do artista; uma maneira de recuperar o espectador.<br />

O artista espécie de provocador utiliza-se de linguagens<br />

variadas para incitar, mover o espectador em torno da<br />

imagem. Doravante, mais do que reproduzir imagens<br />

infinitamente estamos na era da multiplicação de linguagens;<br />

não só estamos produzindo imagens como estamos criando<br />

novas formas de criar imagens.<br />

Hoje é sabido o quanto as imagens são mediadoras entre<br />

culturas, povos, sociedades, indivíduos, no entanto é<br />

importante relembrar que como mediadoras as imagens<br />

podem ir além das virtualidades, podem ser imagens que<br />

sobrevivam pelo vínculo. Imagens que recriem infinitamente<br />

o imaginário. Concebendo para tanto, o olhar como suporte<br />

simbólico, instância expressiva da alma. Seja a imagem,<br />

real ou imaginária, arte ou documento deve ela estar por<br />

excelência comprometida com seu Tempo.<br />

Os excessos da imagem e a<br />

consciência crítica<br />

A imagem contemporânea feita de excessos e de excessos<br />

o mundo nos olha e se atravessa. Neste mundo repleto de<br />

formas visuais é fundamental repensar esta avalanche de<br />

imagens. Repensar as relações entre sujeito-objeto-imagem<br />

de maneira dialética. Conjugar a complexidade do mundo que<br />

margeia a imagem. Refletir sobre a criação de imagens no<br />

seio de nossas culturas. Refletir a respeito das potências das<br />

imagens e de suas responsabilidades enquanto fazedoras de<br />

sentidos. Que a imagem ultrapasse as virtualidades e<br />

sobrevivam pelo vínculo. De imagens que recriem o<br />

imaginário. Exercer efeitos imagéticos que venham a incitar<br />

paradoxos. Gerar reflexões sobre o que se vê em seu<br />

“dentro”. Toda imagem em sua corporalidade objetual nos<br />

coloca frente a frente com nossas contradições, ou seja,<br />

a fotografia não é apenas um objeto dentre os objetos do<br />

mundo, outrossim um “objeto” construtor de sentidos.<br />

É preciso não abandonar a consciência crítica em detrimento<br />

do sedutor mundo das imagens espetaculares. Da frágil<br />

e quebradiça imagem publicitária, televisiva, da imagem<br />

abusiva, como simples mercadoria, consumo. Da imagem<br />

como fuga, domínio, como poder. Do mundo das imagens da<br />

aparência enganadora. Ou como coloca tão bem Guattari em<br />

seu inquisidor livro Caosmose: “Como podemos ainda falar<br />

de universos de valor com esse esfacelamento da<br />

individuação do sujeito e essa multiplicação das interfaces<br />

maquínicas?” Que sistema é esse que destrói valores do bem<br />

comum em função de interesses tão particulares, capazes de<br />

arruinar toda uma sociedade?<br />

Reatualizar os rituais da imagem? Dar novos ritmos? Assumir<br />

os vazios da alma? O que quer o espírito de nosso Tempo?<br />

Apenas informações e mais informações incessantemente?<br />

A qualquer preço, a qualquer custo? É preciso transgredir<br />

as ameaças do excesso. É preciso olhar como estas imagens<br />

nos olham. O que elas querem nos dizer em seu olhar? Seria<br />

preciso uma reestruturação do epifenômeno da fotografia?<br />

21<br />

Que vínculo estaríamos produzindo ao fazer imagens?<br />

O futuro da imagem<br />

Captar os traços transitórios de nosso Tempo e realizar o<br />

mapeamento imagético eis alguns de nossos desafios como<br />

fazedores de imagens. O vir-a-ser contemporâneo oscila<br />

entre o mundo da finitude com todas as suas coordenadas<br />

objetivas e o mundo de universos infinitos, na qual o sujeito<br />

estaria entregue para além dos limites, estaria aberto as suas<br />

próprias diferenças e também as suas qualidades<br />

heterogenéticas. O novo paradigma estético surgiria nesta<br />

ambivalência entre a complexidade e o caos, caberia,<br />

portanto, ao artista comprometido enfrentar este desafio.<br />

“Trata-se aqui de um infinito de entidades virtuais<br />

infinitamente ricos de possível, infinitamente enriquecível a<br />

partir de processos criadores”. Podemos, portanto, através<br />

dos processos criadores das imagens sensíveis, contaminar<br />

o mundo.<br />

Segundo Vilém Flusser: “Urge uma filosofia da fotografia<br />

para que a práxis fotográfica seja conscientizada.<br />

A conscientização de tal práxis é necessária porque, sem ela,<br />

jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do<br />

funcionário dos aparelhos, diz ainda: ...a filosofia da<br />

fotografia é necessária porque é reflexão sobre possibilidades<br />

de se viver livremente num mundo programado por<br />

aparelhos. Reflexão sobre o significado que o homem pode<br />

dar à vida, onde tudo é acaso estúpido, rumo a morte<br />

absurda. Apontar caminho para a liberdade, a única<br />

revolução ainda possível.”<br />

É necessário que o fazedor de imagem esteja consciente<br />

do seu processo enquanto produtor de consciências e que<br />

este não deixe que aparelhos reprimam ou manipulem a<br />

consciência histórica em detrimento da liberdade. Faz-se<br />

necessário ainda uma transformação de valores que primem<br />

fundamentalmente por uma ecologia humana global que vise<br />

“emancipar a sociedade do absurdo.”


<strong>Foto</strong>grafia, outras artes e<br />

educação do olhar<br />

Rosana Paulino<br />

Ao ser convidada a escrever um texto para o Festival de<br />

<strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> <strong>Na</strong> <strong>Foto</strong>, decidi falar de meu trabalho por<br />

uma via transversal, abordando um tema que há muito vem<br />

chamando minha atenção: a necessidade de uma educação<br />

do olhar, a mais ampla e livre possível, que irá possibilitar no<br />

futuro a construção de uma poética pessoal na área de<br />

Artes Visuais.<br />

Esta escolha se deu em resposta as experiências e fatos<br />

presenciados como professora de diferentes modalidades<br />

ligadas às Artes Visuais, variando desde cursos básicos de<br />

desenho à orientação de projetos de jovens aspirantes a<br />

este circuito cultural. Tal vivência me levou a perceber dois<br />

aspectos cruciais ligados ao emergir das novas tecnologias<br />

digitais, os quais têm impactado sobremaneira a formação<br />

destes futuros profissionais.<br />

O primeiro aspecto observado diz respeito a um dos mitos<br />

propiciados pelo surgimento e constante aperfeiçoamento<br />

das novas tecnologias digitais. O aspecto está relacionado<br />

à falsa ideia de que os avanços na área descortinariam um<br />

mundo novo onde “todos poderiam ser artistas”, bastando<br />

apenas saber escolher o instrumento adequado para tal.<br />

Esta premissa, embalada pela avidez contemporânea em<br />

substituir materiais “obsoletos” (muitas vezes máquinas<br />

cujos softwares apresentam vida média de aproximadamente<br />

dois anos), faz com que a ferramenta ganhe mais importância<br />

do que a ideia por trás da obra. Confia-se, neste caso, que o<br />

aparelho irá talvez trabalhar por si só, ou que seus recursos<br />

inclusos serão capazes de “corrigir” alguns problemas<br />

advindos da falta de preparo de quem fotografa ou executa<br />

outras formas de arte com apoio na tecnologia digital, como<br />

o vídeo, por exemplo. Hoje em dia, tanto a fotografia digital<br />

quanto o vídeo são formas de expressão e, como tal, são<br />

maciçamente utilizados por um público cada vez mais amplo.<br />

Entretanto, exprimir-se simplesmente, sem o necessário<br />

aprofundamento, tanto intelectual quanto técnico, não<br />

confere a ninguém o status de criador/artista,<br />

transformando automaticamente em arte o que não é.<br />

Não podemos negar, entretanto, que existem boas notícias<br />

ligadas às novas tecnologias, e elas não são poucas. Uma<br />

delas, talvez a mais importante, é que, em alguns casos<br />

especiais, ou seja, naqueles em que o “operador” da mídia<br />

possui algumas competências já desenvolvidas no âmbito<br />

das artes visuais, o instrumental pode de fato ajudar na<br />

resolução do trabalho. A má notícia é que, sem competências<br />

minimamente desenvolvidas, ninguém consegue realizar algo<br />

que tenha valor como obra de arte, mesmo utilizando-se dos<br />

mais avançados equipamentos.<br />

Esta constatação, como dito anteriormente, vem<br />

diretamente da vivência em sala de aula e das observações<br />

sobre algumas posturas comuns aos alunos, o que nos leva<br />

22<br />

ao segundo ponto que gostaria de enfocar neste texto.<br />

É comum notarmos entre estudantes e iniciantes de<br />

diferentes categorias ligadas à área visual a tentativa de<br />

evitar o contato com algumas formas de expressão que<br />

consideram “desatualizadas”, principalmente às ligadas ao<br />

desenho em suas diversas formas. Esquivam-se, também, da<br />

apreciação de obras de arte em técnicas variadas,<br />

limitando-se apenas a seu principal campo de interesse, o<br />

qual, muitas vezes, reduz-se a uma ou duas modalidades<br />

artísticas, quase sempre relacionadas a elementos digitais,<br />

área, sem dúvida, de domínio das gerações mais jovens.<br />

Estes embates levaram-me a refletir sobre o fato de<br />

diferentes mídias comporem a construção de minha<br />

poética. Penso em como o desenho e a gravura influenciaram<br />

minha visão da fotografia. Em relação às novas tecnologias,<br />

confesso que fui, e muito, favorecida pelo aparecimento<br />

das máquinas digitais. Ao ser educada primeiramente em<br />

modos de construção da imagem nos quais podemos ver,<br />

passo a passo, o surgimento do produto final, como é o caso<br />

das técnicas citadas acima, confesso que não me sentia à<br />

vontade com a fotografia analógica, onde estas etapas não<br />

são perceptíveis. <strong>Foto</strong>grafar, apenas imaginando um possível<br />

resultado final dificultava, e muito, meu trabalho.<br />

A que vem toda esta discussão, portanto? Ao fato de que,<br />

tendo uma formação artística que me expôs ao contato<br />

primeiramente com outras formas de arte, meu modo de<br />

construir um trabalho visual passa, primeiramente, não pela<br />

fotografia, mas pelo desenho, que pratico desde criança.<br />

Alcançou, depois, a gravura, a escultura, a costura para,<br />

finalmente, chegar à fotografia. Este caminho proporcionou<br />

uma reverberação nas criações fotográficas e fez com que<br />

minhas investigações viessem frequentemente atreladas a<br />

outros modos de pensar a imagem. O resultado disso foi a<br />

composição de trabalhos híbridos que, no meu caso,<br />

ajudaram a ampliar meus conceitos sobre o fazer artístico.<br />

Este roteiro permitiu-me ver e, sobretudo, entender, a<br />

importância das diferentes formas artísticas.<br />

A resistência de alguns jovens em relação a este tipo de<br />

aprendizado aponta para um possível empobrecimento de<br />

suas futuras produções, as quais poderão ser circunscritas a<br />

um universo conceitual e material menos complexo do que se<br />

esperaria diante da multiplicidade de meios à disposição<br />

dos/as artistas contemporâneos/as. O hibridismo na<br />

produção dos trabalhos que muitas vezes misturam técnicas<br />

tão diversas como fotografia e costura, como é o meu caso,<br />

seria reduzido a uma única possibilidade de se pensar e<br />

construir o registro visual.<br />

Confesso que só recentemente me aventurei no campo da<br />

“fotografia pura”, se é que esta seja a expressão adequada.<br />

Estou aproveitando as vantagens da câmera digital que me<br />

permite ver o registro, clicar e já ter um resultado muito<br />

próximo daquilo que será o resultado final (não esquecendo<br />

que o registro poderá ser depois manipulado). Cria-se assim<br />

uma aproximação deste modo de pensar e construir imagens<br />

ao das técnicas anteriormente citadas. Entretanto, sem o<br />

desenvolvimento de competências relativas à elaboração<br />

visual, mesmo que em outras áreas, o advento da tecnologia


digital nada teria a acrescentar ao meu trabalho.<br />

Isto fica bastante claro ao percebemos que as obras<br />

construídas com o uso das máquinas digitais são claramente<br />

devedoras de outros trabalhos que se colocam como híbridos<br />

e que conjugam diferentes áreas de produção da obra de<br />

arte. Isto se torna muito evidente numa série de fotografias<br />

intitulada “A Linha da Vida”, que tem ligação direta com<br />

trabalhos anteriormente desenvolvidos.<br />

Lurdes, Sandra e Lia. Imagem da série A Linha da Vida. <strong>Foto</strong>grafia<br />

digital sobre papel, 40,3 x 30,5cm, 2011.<br />

Sem dúvida, ao escolher a palavra “linha” como elemento<br />

constituinte do trabalho, não somente criei um vínculo<br />

simbólico entre estas imagens e outras anteriormente<br />

concebidas que tratam de relações interfamiliares, unindo<br />

mulheres de diferentes gerações de uma mesma família,<br />

como também conectei o trabalho a outros já realizados,<br />

onde a linha, mais do que constituir parte alegórica do<br />

trabalho, lhe é essencial. Os exemplos abaixo mostram isto<br />

de modo bastante claro:<br />

Parede da memória. Tecido, microfibra, xerox, linha de algodão e<br />

aquarela 8,0 x 8,0 x 3,0 cm cada elemento - 1994<br />

23<br />

Detalhe da instalação As Amas. <strong>Foto</strong>grafia digital, parafina, fitas de<br />

cetim e rosas brancas. Instalação: Dimensão variável.<br />

Peça em destaque: 18,5 cm de diâmetro. 2009.<br />

O que tantos alinhavos tentam dizer é: uma ampla e<br />

diversificada educação do olhar, seja em qual meio for,<br />

ainda é — e será cada vez mais — necessária à construção de<br />

qualquer poética séria, independentemente do meio eleito<br />

pelo/a artista. Meios tecnológicos, sejam quais forem,<br />

não serão capazes de fundamentar a construção caso esta<br />

educação não exista. Os/as jovens aspirantes a artistas na<br />

área de artes visuais, multimídia, fotografia etc., terão de<br />

ser educados, neste sentido, aprendendo que não devemos<br />

desprezar meios à primeira vista “desatualizados”.<br />

Afinal, em arte, os caminhos não se sobrepõem, mas sim se<br />

entrecruzam o tempo todo. Uma máquina do tipo pinhole,<br />

feita manualmente, pode ser mais eficaz na construção de<br />

uma obra do que uma digital de última geração. A escolha<br />

do equipamento dependerá do que se busca discutir com o<br />

trabalho. E se a imagem pinhole pedir, por que não<br />

associá-la à gravura, a objetos ou à costura, por exemplo?<br />

Muitos dos mais instigantes trabalhos contemporâneas que<br />

têm a fotografia em sua constituição, e isto já ocorre há um<br />

bom tempo, se utilizaram do hibridismo em sua construção.<br />

Num texto antológico, datado de 1994, o crítico, professor e<br />

diretor do Museu de Arte Contemporânea, Tadeu Chiarelli, já<br />

nos chamava a atenção para o fato de que:<br />

“O propósito deste texto (A <strong>Foto</strong>grafia Contaminada)<br />

é dar aspectos de uma outra fotografia contaminada<br />

pelo olhar, pelo corpo, pela existência de seus autores<br />

e concebida como ponto de intersecção entre as mais<br />

diversas modalidades artísticas, como o teatro, a<br />

literatura, a poesia e a própria fotografia<br />

tradicional. Assim, os autores aqui citados não<br />

seriam vistos propriamente como fotógrafos,<br />

mas como artistas que manipulam o processo e o<br />

registro fotográfico, contaminando-os com seus<br />

sentidos e práticas oriundas de suas vivências e do<br />

uso de outros meios expressivos (grifo da autora).1<br />

As exigências de domínio técnico contemplarão cada vez<br />

mais uma ampliação dos meios utilizados, uma vez que o<br />

universo de novas técnicas e tecnologias cresce de maneira<br />

nunca antes vista. Para que os/as jovens postulantes a<br />

artista possam escolher se irão, ou não, usufruir de algumas


vias já abertas, relacionadas ao uso de diferentes materiais<br />

e técnicas em uma mesma obra, deverão ter em mente que<br />

as novas exigências de conhecimento não descartam o já<br />

estabelecido, mas sim lhe agregam novos valores. Encarar,<br />

pois, de modo aberto os diferentes meios de produção da<br />

criação visual, sem preconceitos ou julgamentos hierárquicos<br />

em relação às diferentes modalidades que não superiores ou<br />

inferiores mas sim complementares, é o primeiro passo para<br />

que o/a artista possa alcançar os elementos necessários para<br />

a construção de sua poética.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

CHIARELLI, Tadeu. A <strong>Foto</strong>grafia Contaminada. In: Arte Internacional<br />

Brasileira. São Paulo, Lemos Editorial, 1999.<br />

Identidade/Não-Identidade: A <strong>Foto</strong>grafia Brasileira Hoje.<br />

In: Arte Internacional Brasileira. São Paulo, Lemos Editorial,<br />

1999.<br />

PHILLIPS, Lisa. Photoplay: A Arte Contemporânea na <strong>Foto</strong>grafia<br />

(catálogo). São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, 1994.<br />

SEMIN, Didier; GARB, Tamar e KUSPIT, Donald. Christian Boltanski.<br />

Londres: Phaidon Press Limited, 1997.<br />

24


Imagens/fotografias como<br />

trama do irrealizável<br />

Milla Jung<br />

Eu venho da fotografia, da fotografia como área que tem sua<br />

própria história, características inerentes e peculiaridades.<br />

Mas de uns anos para cá tenho tentado ampliar esse debate,<br />

passando da ideia de fotografia para a noção de imagem.<br />

Talvez seja essa passagem o que expresse a minha vontade<br />

de ter uma produção artística vinculada à<br />

contemporaneidade, num esforço de refletir sobre o tempo<br />

presente e o potencial das imagens hoje.<br />

Nessa ampliação, também passou a me interessar, além das<br />

fotos como resultado final: sua recepção pelo espectador, o<br />

lugar do imaginário diante das imagens, o espaço expositivo<br />

como estrutura significante e o discurso das instituições<br />

ligadas à fotografia, à imagem e à arte em geral.<br />

ESPAÇO DE AFETOS<br />

Milla Jung<br />

No meu trabalho questiono a dimensão utópica das imagens/<br />

fotografias na sociedade contemporânea. De que modo essas<br />

imagens/fotografias instauram uma trama do irrealizável,<br />

ou seja, aquilo que só existe enquanto desejo e que não se<br />

realiza. Uma pessoa contempla uma imagem, é capturada e<br />

algo latente acorda na zona do sujeito. Assim, as imagens/<br />

fotografias iniciam um processo imaginário que se<br />

desenvolve de diferentes maneiras em cada um.<br />

Vou apresentar meus últimos 3 trabalhos a partir desta<br />

intenção crítica:<br />

Neste trabalho (desenvolvido no coletivo Escapatórias com a Anuschka Lemos e o Felipe<br />

Prando) a questão que permeou o processo foi a de como libertar a fotografia de seu efeito<br />

de real? Como fazer entender que a fotografia não precisa ser pensada como representação,<br />

mas sim como apresentação, ou criação de mundos, inclusive mundos ficcionais?<br />

25


DESERTO DE REAL<br />

Milla Jung<br />

São pensadas as imagens a partir de dois eixos:<br />

1. Imagens-artifício como<br />

efeito de superfície<br />

Através de fotografias que remetam à natureza, mas que sejam<br />

feitas a partir de referentes artificiais: um painel de metal pintado<br />

de azul oceânico e palmeiras plantadas nas vitrines de lojas<br />

descontextualizadas de ambiente natural. O intuito é provocar uma<br />

atração dissimulada, seduzir o espectador com fotografias que<br />

contenham uma promessa/cintilação, e na mesma medida jogá-lo<br />

ao vazio, forçando-o compreender esta trama.<br />

A proposta da exposição “Deserto de Real” foi lidar com a<br />

dimensão profética da imagem, como o<br />

desejo que cintila num “lá” que não alcançamos. Pensando o<br />

seguinte rebatimento: uma pessoa contempla uma imagem, é<br />

capturada e algo latente acorda na zona do sujeito.<br />

Elucidar a situação é ver-se de fora enquanto atravessado<br />

pela experiência.<br />

2. Deslocalização<br />

do espectador<br />

Diante de cada proposição, através do uso de diferentes escalas e<br />

suportes, o espectador é convidado a perguntar-se sobre o próprio<br />

lugar e atuação.<br />

Retirado do lugar comum meramente contemplativo de espectador,<br />

ele deve criar sua própria instrumentalização de leitura.


PAÍS IMAGINÁRIO<br />

“Que tipo de amor é capaz de protegê-las?<br />

Porque, veja isto, elas estão de máscaras.<br />

E posam inadvertidamente.<br />

Sorriem.<br />

É um retrato amoroso, mediado pela fantasia.<br />

<strong>Na</strong>da de reciprocidades,<br />

as máscaras impedem uma linha imaginária.<br />

Mas alguém existe.<br />

E alguém se despe.<br />

Milla Jung<br />

País Imaginário é uma proposição sobre a potência das<br />

imagens contemporâneas no campo da arte. Partindo da<br />

pergunta de como se apreende uma fotografia, crio um<br />

território para o espectador experimentar o<br />

sem-fim de possibilidades sobre a escuta das imagens. Uma<br />

fotografia que é acordada por uma narrativa que por sua vez<br />

também acorda novas imagens, numa via de mão única onde<br />

a experiência primeira se perde em nome do multiplicável.<br />

A exposição/instalação compõe-se de dois espaços, um<br />

com uma série de dez narrativas em áudio e outro com uma<br />

biblioteca de livros de fotografia artística e foi especialmente<br />

produzida para o Museu da<br />

<strong>Foto</strong>grafia Cidade de Curitiba, instituição que ocupa, no seio<br />

da cidade, o papel de articulador de um sistema onde a<br />

visualidade é pensada como um processo de construção<br />

cultural, e que pode desse modo validar novos paradigmas<br />

sobre as concepções de realidade, reprodução e<br />

representação.<br />

É, não tenho certeza de quem está sendo protegido.<br />

Porque é difícil olhar esta fotografia.<br />

Quem, realmente?<br />

Só com amor esta foto pode ter sido feita.<br />

E Lacan diz que amar é dar o que não se tem...”<br />

(Texto-áudio de Milla Jung para País Imaginário)<br />

27


II Fórum<br />

de<br />

foto<br />

jornalismo


O estado da arte do ensino<br />

de fotojornalismo<br />

Prof. Dr. Paulo César Boni 1 (UEL)<br />

O início da discussão do problema<br />

Em 1989, quando o ensino de fotojornalismo ainda era<br />

incipiente na maioria das escolas de ensino superior em<br />

comunicação, o psicólogo norte-americano Fred Ritchin,<br />

editor de diversas revistas, entre as quais Horizon (de 1977<br />

a 1978), The New York Times Magazine (de 1978 a 1982) e<br />

Câmera Art (de 1982 a 1983) e criador dos cursos de<br />

<strong>Foto</strong>jornalismo e <strong>Foto</strong>documentação do Centro Internacional<br />

de <strong>Foto</strong>grafia (ICP) de Nova Iorque, proferiu a palestra<br />

intitulada O futuro do fotojornalismo no II Encontro<br />

Internacional de Jornalismo, realizado em São Paulo,<br />

de 10 a 12 de julho de 1989.<br />

Nesta palestra, falou de algumas vertentes e experiências<br />

do fotojornalismo – seu uso ideológico e as possibilidades<br />

de fuga do lugar comum – e se mostrou extremamente<br />

preocupado com seu futuro, posto que uma nova tecnologia<br />

começava a ser utilizada pela imprensa, a digital. Ritchin<br />

estava apreensivo porque, até aquele momento (1989),<br />

havia visto duas trucagens propiciadas por esta nova<br />

tecnologia: a junção das fotografias dos atores Tom Cruise e<br />

Dustin Hoffmann, tomadas separadamente, para a campanha<br />

publicitária do filme Rain Man, e uma pessoa fotografada em<br />

primeiro plano em Nova Iorque ser sobreposta a outra<br />

fotografia, tomada em plano aberto de São Francisco, na<br />

Califórnia. Com isso, criou-se a falsa impressão de que a<br />

pessoa fotografada estava em São Francisco e não em Nova<br />

Iorque.<br />

A preocupação de Ritchin era com os procedimentos éticos<br />

– ou a falta deles – a partir desta nova tecnologia, pois<br />

repórteres fotográficos e editores poderiam “manipular”<br />

a representação da realidade fotografada. A preocupação<br />

procedia. Ao longo dos pouco mais de 20 anos que separam<br />

sua palestra dos dias atuais, muito se discutiu – e a discussão<br />

continua fervorosa – sobre a manipulação em<br />

fotografias, sobretudo as do fotojornalismo que, pela<br />

essência do jornalismo, têm compromisso com a veracidade<br />

dos fatos. Muitas fotografias foram armadas, falseadas,<br />

forjadas ou adulteradas ao longo dessas duas décadas.<br />

Estão disponíveis na internet, em tom de brincadeira, as 10<br />

maiores mancadas do photoshop. Algumas pernas foram<br />

esquecidas e braços foram demasiadamente alongados,<br />

além, claro, de pessoas com quatro braços, três pernas<br />

ou absurdos parecidos. Depois de inúmeras experiências,<br />

algumas com resultados desastrosos para a sociedade, as<br />

próprias empresas jornalísticas tomaram a iniciativa de criar<br />

uma espécie de código de conduta que exige autenticidade<br />

nas fotografias de seus repórteres fotográficos e punem os<br />

que enveredam pelo caminho fácil e mentiroso da<br />

manipulação. Diversos jornais norte-americanos<br />

dispensaram os que não cumpriram esse código de conduta<br />

e baniram suas fotografias das galerias de imagens que<br />

mantém em seus portais. Em suma, por respeito aos – ou por<br />

exigência de – seus leitores, os veículos primaram pela ética.<br />

Pouco mais de dez anos depois de Ritchin manifestar<br />

sua preocupação com o futuro ético do fotojornalismo, o<br />

pesquisador português Jorge Pedro Sousa lançou no Brasil,<br />

no ano 2000, o livro Uma história crítica do fotojornalismo<br />

ocidental, que se tornou uma espécie de bíblia para o ensino<br />

de fotojornalismo nas escolas de comunicação e importante<br />

fonte de consulta para o desenvolvimento de pesquisas e<br />

produção de dissertações de mestrado, teses de doutorado,<br />

artigos para periódicos científicos e livros sobre<br />

fotografia e fotojornalismo. Estávamos tão carentes de<br />

obras de referência nesta área, que este livro tornou-se um<br />

potencial de citações, desbancando, pela primeira vez em<br />

décadas, os clássicos A câmara clara, de Roland Barthes,<br />

Ensaios sobre a fotografia, de Susan Sontag, e <strong>Foto</strong>grafia e<br />

sociedade, de Gisèle Freund. Quem duvidar desse potencial,<br />

basta pesquisar a produção da área na última década para<br />

verificar o número de citações ou dar uma busca rápida no<br />

Google para se surpreender.<br />

Neste livro, Sousa classificou o fotojornalismo em três<br />

“revoluções”. A primeira ocorreu na Alemanha nos anos<br />

1920 e 1930, quando, em razão de avanços técnicos, duas<br />

novas câmeras fotográficas, a Ermanox e a Leica, permitiram<br />

a tomada de fotografias sem que os fotografados<br />

percebessem a presença do fotógrafo. Ou seja, estava criado<br />

o flagrante, que se tornou o elemento mais importante do<br />

fotojornalismo autêntico, aquele em que a o fotógrafo<br />

captura a imagem sem ser percebido e, por este motivo,<br />

mantém a espontaneidade da cena, registra o flagrante e não<br />

interfere na realidade, preservando sua naturalidade.<br />

A segunda revolução, segundo o autor, foi a retomada de<br />

sua importância e autenticidade nos anos de 1960 a 1980,<br />

especialmente em razão do livre acesso e circulação de<br />

fotógrafos na cobertura da Guerra do Vietnã e,<br />

principalmente, distribuição e circulação dos materiais<br />

produzidos sobre este conflito. Explica-se. Depois de seu<br />

crescimento inicial, impulsionado com a possibilidade do<br />

flagrante, o fotojornalismo perdeu espaço e importância<br />

para o fotodocumentarismo no pós Segunda Guerra Mundial,<br />

quando os fotógrafos decidiram deixar seus empregos nas<br />

redações de jornais e revistas e enveredarem pelos trabalhos<br />

autorais nas cooperativas e agências de fotografia que eles<br />

mesmos criaram. Com a migração em massa dos bons nomes<br />

para essas cooperativas e agências, o fotojornalismo perdeu<br />

vigor e a fotografia deixou de ser considerada um “meio” de<br />

1 Cesar Boni é Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Coordenador do Curso de<br />

Especialização em <strong>Foto</strong>grafia e do Mestrado em Comunicação Visual da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: discursosfoto@uel.br<br />

29


transformações sociais e passou a ser considerada um “fim”,<br />

um produto acabado. Nesse momento, discutiu-se muito<br />

qual era, afinal, a função do fotógrafo. E a conclusão foi que<br />

sua função era fotografar e não intervir na realidade. Assim,<br />

a fotografia passou a ser tratada como um produto final<br />

vendável. Multiplicaram-se os fotógrafos e a fotografia<br />

autoral e documental ganhou força. A Guerra do Vietnã,<br />

nesse contexto, foi uma espécie de ressurreição do<br />

fotojornalismo nos veículos de comunicação de<br />

massa impressos.<br />

Comungando com as preocupações de Ritchin, a terceira<br />

revolução do fotojornalismo identificada por Sousa, mas<br />

ainda não devidamente mapeada, foi a das tecnologias<br />

digitais. O autor manifesta em sua obra uma alarmante<br />

preocupação com a veracidade das fotografias e,<br />

consequentemente, com a credibilidade do fotojornalismo<br />

diante de tantas possibilidades de manipulação. Para ele, nos<br />

anos seguintes, o fotojornalismo desfrutaria de menos<br />

credibilidade por parte dos leitores, fato extremamente<br />

preocupante, posto que o jornalismo é, ainda, a principal<br />

fonte de informação das sociedades ocidentais.<br />

Anos mais tarde, em 2006, a professora, pesquisadora e<br />

crítica de fotografia italiana, radicada no Brasil há mais de<br />

quatro décadas, Simonetta Persichetti publicou na revista<br />

Discursos <strong>Foto</strong>gráficos um artigo intitulado A encruzilhada do<br />

fotojornalismo, no qual tratava da crise do fotojornalismo,<br />

desencadeada a partir dos anos 80, e dos debates<br />

acadêmicos que permeavam (e continuam permeando) essa<br />

crise. A pesquisadora levantou uma série de aspectos<br />

relacionados às novas formas de informação, entre elas o<br />

novo fotojornalismo, a espetacularização da notícia e da<br />

fotografia, o jornalismo cidadão e a enxurrada de imagens<br />

produzidas por câmeras digitais – e fotógrafos – amadoras,<br />

que aos poucos iam (e continuam) ocupando espaços crescentes<br />

na mídia.<br />

Persichetti (2006, p.181) foi incisiva em seus<br />

questionamentos. Perguntou: “Como definir o fotojornalismo<br />

hoje? Ele ainda existe? Morreu?” Ela mesma sugeria que o<br />

fotojornalismo estava em uma encruzilhada e que o momento<br />

era de “repensar sua função, sua estética, e pior, sua<br />

utilidade”. Para subsidiar sua fala, a autora citou o<br />

pesquisador espanhol Jorge Luis Marzo (apud PERSICHETTI,<br />

2006, p.181) que questionava:<br />

[...] quem precisa dos fotojornalistas e dos filtros a que<br />

estão submetidos? Será que estamos frente ao desaparecimento<br />

da neutralidade objetiva da fotografia outorgada<br />

pelos meios de comunicação? Ou estamos enfrentando algo<br />

de novo que vai além do real fotográfico? Será que estamos<br />

diante da contestação incontestável da subjetividade,<br />

que somado ao conjunto é a realidade em si mesma?<br />

30<br />

Ainda não satisfeita, a pesquisadora continuou com suas<br />

provocações reflexivas. Alertou que o início do novo<br />

século – e milênio – era um momento preocupante para o<br />

fotojornalismo, não só pela “enxurrada” de câmeras<br />

digitais amadoras, que “alçou” todos os viventes à<br />

condição de “fotógrafo”, mas também pelo fato de os<br />

veículos de comunicação reduzirem seus espaços para o<br />

jornalismo e, consequentemente, para o fotojornalismo.<br />

Segundo ela, agora há, nos veículos de comunicação, mais<br />

espaços para a fotografia autoral do que para a informação,<br />

mais ênfase na estética que na denúncia. Outro procedimento<br />

que se tornou corriqueiro pela imprensa, segundo<br />

Persichetti, foi o de abrir espaços para os<br />

“jornalistas-cidadãos”, aqueles “não jornalistas” que enviam<br />

imagens para jornais, revistas e telejornais. Segundo ela,<br />

esse procedimento contribuiu para a definição de dois<br />

momentos distintos do fazer e entender o que é notícia:<br />

De um lado, a imagem-notícia, na qual o fotojornalista se<br />

assume como tal, como alguém que deve trazer informação<br />

via imagem, aquele que escreve com a fotografia, com a luz;<br />

e, de outro, o fotógrafo que não assume sua responsabilidade<br />

em informar. Preocupado apenas com a estética, como<br />

se isso fosse possível, faz do jornalismo imagético uma informação<br />

esquizofrênica. É o culto do eu, do fotógrafo que<br />

vira grife e não do trabalho que se sobrepõe a ele. Já se<br />

foi a época em que não sabíamos qual era a cara do fotógrafo,<br />

hoje ele aparece mais do que suas próprias fotos.<br />

Virou espetáculo, personagem, assim como sua imagem.<br />

Portanto, uma mancha vazia! (PERSICHETTI, 2006, p.189).<br />

Por fim, em 2011, a professora e pesquisadora Dulcília<br />

Helena Schroeder Buitoni lançou o livro <strong>Foto</strong>grafia e<br />

jornalismo: a informação pela imagem, no qual dedica um<br />

capítulo ao ensino de fotojornalismo. Intitulado Pedagogia do<br />

fotojornalismo, o capítulo praticamente reproduz escritos da<br />

fotógrafa Vera Simonetti Racy, que durante 26 anos<br />

ministrou a disciplina de fotojornalismo na Pontifícia<br />

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). No texto<br />

intitulado <strong>Foto</strong>jornalismo: notas/flashes sobre o ensino,<br />

Vera Racy, num primeiro momento, exalta a fotografia como<br />

importante registro para a preservação da memória; o<br />

fotojornalismo como atividade diária a serviço da informação<br />

e da denúncia, e o fotodocumentarismo como resgate de<br />

modos de vida e cultura em vias de extinção. Segundo ela,<br />

o fotodocumentarismo talvez seja o viés mais emocionante<br />

da fotografia, pois, com ele, os profissionais buscam “uma<br />

forma de descobrir e registrar visualmente o mundo para<br />

melhor entendê-lo”. (RACY apud BUITONI, 2011, p.133).<br />

Num segundo momento, a fotógrafa e professora trata<br />

especificamente do ensino de fotojornalismo, destacando,<br />

inclusive, algumas atividades praticadas dentro e fora das<br />

salas de aula. <strong>Na</strong> perspectiva do ensino, ressalta a<br />

importância do domínio das técnicas, do olhar fotográfico e,<br />

principalmente, da interdisciplinaridade e da necessidade de<br />

formação humanística para o exercício da função de repórter<br />

fotográfico:


A experiência direta e completa com os procedimentos que<br />

envolvem o ato fotográfico e a compreensão de cada etapa<br />

de todo o processo é que poderão dar ao futuro profissional<br />

a dimensão do papel social da fotografia e do fotógrafo como<br />

produtor de realidades. É importante não perder de vista<br />

que o fotojornalismo é um fenômeno que tem historicidade,<br />

e a emergência e decadência de estilos e categorias são<br />

fruto de uma conjunção de fatores socioculturais, técnicos,<br />

econômicos e políticos. (RACY apud BUITONI, 2011, p.131).<br />

Preocupações convergentes<br />

As falas de Fred Ritchin, em 1989, Jorge Pedro Sousa, em<br />

2000, Simonetta Persichetti, em 2006, e Racy (apud BUITO-<br />

NI), em 2011, espelham preocupações com a atual situação<br />

e o futuro do fotojornalismo. Ninguém com mais autoridade<br />

que esses autores para manifestar essa preocupação, afinal<br />

todos eles conheceram – e têm referências – o antigo fotojornalismo,<br />

o de imersão, de investigação, de denúncia, de<br />

credibilidade. Todos foram formalmente educados e profissionalmente<br />

preparados para um formato, segundo eles, mais<br />

autêntico de fotojornalismo, hoje cada vez mais distante dos<br />

jornais e revistas brasileiros. Eles apontaram mudanças no<br />

fotojornalismo porque esta era – e em alguns casos ainda<br />

é – sua área de atuação, ou seja, seus olhos enxergam com<br />

mais profundidade e veemência suas mudanças ao longo das<br />

últimas décadas.<br />

Porém, extrapolando esses autores, é preciso ressaltar que<br />

não foi só o fotojornalismo que mudou. O fotojornalismo<br />

mudou porque o jornalismo mudou. E o jornalismo mudou<br />

porque o mundo também mudou. <strong>Na</strong>s duas últimas décadas,<br />

o mundo viveu um número quase infinito de transformações,<br />

notadamente nas tecnologias de comunicação. Por fim, não<br />

foram só os produtos e formatos que mudaram – aliás, eles<br />

apenas se adequaram –, foram as pessoas e a sociedade que<br />

mudaram assustadoramente nesse período.<br />

A mudança no jornalismo brasileiro<br />

A primeira etapa é clara: o fotojornalismo acompanhou as<br />

mudanças vividas no jornalismo. No Brasil, especificamente,<br />

o jornalismo perdeu a liberdade e o romantismo, pós Golpe<br />

Militar de 1964 e redemocratização de 1985. Paradoxalmente,<br />

quando o jornalismo estava censurado pelas garras<br />

burocráticas e repressivas da ditadura militar, os jornalistas<br />

sentiam necessidade de criar, pensar estratégias para burlar<br />

as amarras da ditadura, de procurar brechas e lacunas para<br />

se comunicar com o leitor, para denunciar os descasos e<br />

falcatruas do governo. Eles eram mais envolvidos, mais<br />

engajados, faziam do jornalismo um “meio” para provocar<br />

transformações na sociedade. E, na esteira do jornalismo<br />

andava, par e passo, o fotojornalismo. Em termos<br />

jornalísticos e fotojornalísticos, segundo o fotógrafo Evandro<br />

Teixeira 2 , um dos mais destacados denunciadores dos<br />

desmandos do governo militar, aquele foi um “período muito<br />

fértil”.<br />

Boa parte dos fotojornalistas e repórteres fotográficos da<br />

velha guarda classifica o período do AI-5 (1968-1978)<br />

como a época de ouro do fotojornalismo brasileiro. <strong>Na</strong> Universidade<br />

Estadual de Londrina, inclusive, temos um projeto<br />

em andamento que prevê a publicação de um livro retratando<br />

o fotojornalismo nesse período.<br />

Porém, o governo militar, para “fugir” do assédio da imprensa<br />

(mesmo com as defesas e ameaças do AI-5) multiplicou<br />

no país as assessorias de comunicação e, claro, os assessores<br />

de imprensa. Com este “porta-voz”, os governantes<br />

ou dirigentes de instituições se esquivavam de conceder<br />

entrevistas ou prestar informações; passaram apenas a mandar<br />

recados ou notas por meio de seus porta-vozes, ou seja,<br />

pelo assessor ou pela assessoria de imprensa. A moda pegou.<br />

Ao longo dos anos, em crescimento gradual, mas constante e<br />

consistente, empresas, organizações, instituições, políticos,<br />

celebridades, artistas e desportistas aderiram à estratégia da<br />

assessoria e passaram a fugir da imprensa quando lhes era<br />

conveniente e a bajulá-la quando esta lhe era imprescindível,<br />

especialmente no caso de políticos e artistas.<br />

Esta estratégia, que começou já a partir de 1964, ano do<br />

golpe militar, se consolidou nos anos 80 e 90. Desde então,<br />

sempre que um político vai visitar determinada cidade, sua<br />

assessoria distribui releases para imprensa informando todos<br />

seus passos e compromissos na cidade. Quando o governador<br />

de Santa Catarina, por exemplo, vai a Joinville para reuniões<br />

políticas e inauguração de obras, todo o roteiro é criteriosamente<br />

fornecido à imprensa, que, claro, se pauta para cobrir<br />

os espaços de tempo do governador com reuniões, visitas,<br />

tapinha nas costas, abraços de adesão e inaugurações. Com<br />

isso, se dez jornais e emissoras de televisão forem cobrir sua<br />

visita, todos falarão exatamente as mesmas coisas e<br />

produzirão as mesmas imagens, pois todos os jornalistas<br />

ficarão nos “currais” preparados e destinados à imprensa.<br />

Ou seja, em razão dessa estratégia – e de tantos outros<br />

fatores –, o jornalismo mudou muito nos últimos quarenta<br />

anos. Hoje ele é igual, pasteurizado, repetitivo, omisso às<br />

vezes, agressivo outras vezes. O fim dos “anos de chumbo”<br />

provocou uma reviravolta no jornalismo: ele saiu da censura<br />

para uma fase de excessos, na qual, aparentemente, todos<br />

queriam recuperar o “tempo perdido” e, em muitos casos,<br />

acabaram metendo os pés pelas mãos. O jornalista Luís<br />

<strong>Na</strong>ssif, em seu livro O jornalismo dos anos 90, fez uma<br />

interessante análise o excesso de liberdade, quase sempre<br />

sem responsabilidade, do jornalismo na última década do<br />

século XX e denunciou que:<br />

2 Evandro Teixeira. Entrevista inédita concedida à revista Discursos <strong>Foto</strong>gráficos, v.8, n12, que circulará em 19 de março de 2012.<br />

31<br />

Nos últimos anos, muito por influência da televisão, houve o<br />

predomínio arrasador do chamado ‘jornalismo de marketing’.<br />

A ambição profissional máxima do jovem repórter era exercitar<br />

o senso comum nas matérias, fuzilar reputações para se sentir<br />

poderoso ou exprimir indignação contra tudo e contra nada.<br />

Aprofundar temas, ganhar consistência analítica, perseguir o<br />

rigor técnico, confirmar os boatos antes de sua divulgação,<br />

buscar ângulos complexos da questão, nada disso. As redações<br />

passaram a atuar com excessiva benevolência para com os<br />

erros cometidos pelos jornalistas. (NASSIF, 2003, p.33).


Se o jornalismo mudou muito em curto espaço de tempo,<br />

nada mais natural que o fotojornalismo também tenha<br />

mudado na mesma proporção. Assim, as falas de<br />

preocupação de perda da essência do fotojornalismo (e<br />

do jornalismo) e de caráter ético dos pesquisadores aqui<br />

lembrados não podem e não devem refletir apenas sobre o<br />

fotojornalismo, e sim sobre o jornalismo, que é uma vertente<br />

ampliada, e sobre a sociedade, instituição magna.<br />

As mudanças da sociedade mundial e da<br />

educação brasileira<br />

Das quatro falas de inquietação com o fotojornalismo até<br />

agora destacadas neste texto, apenas a da Profa. Vera<br />

Simonetti Racy (apud BUITONI, 2011, p.131) traz uma<br />

preocupação explícita com o contexto. Ela alerta que o<br />

fotojornalismo é um fenômeno histórico e que sua<br />

emergência ou decadência é fruto de uma conjunção de<br />

fatores socioculturais. Ou seja, se hoje a prática e o resultado<br />

do fotojornalismo preocupam, naturalmente é porque o<br />

comportamento e os procedimentos da sociedade<br />

preocupam.<br />

A sociedade mundial mudou muito nas duas últimas décadas.<br />

Num primeiro momento, foi uma mudança de produtos. Ou<br />

seja, a indústria trocou seus aparelhos e equipamentos por<br />

outros mais leves, eficazes e de melhor qualidade. O velho LP<br />

foi trocado pelo CD, a televisão de tubo por um televisor de<br />

plasma, LCD ou LED, o gravador analógico pelo digital, assim<br />

como a velha e romântica câmera fotográfica analógica foi<br />

trocada pela de tecnologia digital. Tudo isso significou mais<br />

conforto, qualidade, comodidade e rapidez para a sociedade,<br />

sem afetar, necessariamente o comportamento de seus<br />

cidadãos.<br />

Num segundo momento, porém, as mudanças foram – e<br />

continuam sendo – de caráter comportamental, e isso é<br />

extremamente preocupante não só para o ensino do<br />

fotojornalismo, como também para o de jornalismo e,<br />

principalmente, para a formação de cidadãos comprometidos<br />

com o direito, a ética, o futuro e o bem-estar da<br />

sociedade. Toda essa modernidade contribuiu para que o<br />

mundo entrasse numa fase de modernismos, com o<br />

surgimento, proliferação e consolidação de novas tendências,<br />

novas modas e novos comportamentos. As redes sociais,<br />

principalmente, tem sido a mola propulsora de novos<br />

modismos que, na essência, corroboram a terceira fase de<br />

uma profecia contemporânea: “Antigamente o homem era<br />

respeitado pelo que de fato era e pelo que sabia fazer. Depois<br />

da Revolução Industrial e da expansão do capitalismo, o<br />

homem passou a ser respeitado e valorizado pelo quanto<br />

era capaz de acumular. Atualmente, o homem não é mais<br />

respeitado pelo que é, nem pelo que sabe fazer, nem mesmo<br />

pelo quanto acumulou, mas simplesmente pelo que<br />

aparenta ser. 3 ”<br />

Hoje, nossos estudantes de graduação chegam à<br />

universidade com 17, 18 anos, ou seja, já nasceram na<br />

era digital. Provavelmente nunca tenham visto uma câmera<br />

fotográfica analógica, talvez nem tenham noção do que seja<br />

um filme de celulose. Mas esse ainda não é o maior problema.<br />

O maior problema é que esses jovens não têm mais o mesmo<br />

significado de família, escola, ética e sociedade que tínhamos<br />

quando éramos jovens. As noções de liderança e autoridade<br />

paterna, hoje, são outras. Valores como hierarquia, respeito,<br />

ética e paciência estão cada vez mais deteriorados.<br />

Nós, os “da velha guarda” no ensino de fotojornalismo, já<br />

chamados de “jurássicos” pelos estudantes, entramos em<br />

sala de aula com pelo menos dez anos de atraso tecnológico<br />

em relação aos alunos. É um outro mundo. E a cada ano, o<br />

mundo deles se torna mais distante para nós e o nosso<br />

assustadoramente mais distante para eles. Eles são muito<br />

mais ligados e “antenados” que nós. O que formos falar em<br />

termos de captura, tratamento, edição e distribuição de<br />

imagens, tecnologicamente eles já estão à nossa frente.<br />

O fotógrafo e educador Miguel Takao Chikaoka, em entrevista<br />

concedida à professora Beatriz Sallet, alerta que é muito<br />

difícil para os professores, notadamente os mais velhos,<br />

concorrerem com os estudantes no domínio das tecnologias<br />

digitais e salienta que o mais importante é buscar formas<br />

alternativas para a construção do saber:<br />

Dada a velocidade com que os avanços tecnológicos são incorporados<br />

nas câmeras fotográficas, o professor encontrase<br />

em defasagem de alguns anos em relação ao que resulta<br />

da disseminação e uso desses aparatos nos contextos educacionais<br />

onde ele atua. É necessário pensar numa reeducação,<br />

tentar deslocar a atenção e não falar em fotografia focada<br />

somente na imagem. A diferença é enxergar, explorar e<br />

construir saberes com o processo. (CHIKAOKA, 2010, p.278).<br />

Estudos recentes apontam profundas transformações nas<br />

relações sociais que implicam diretamente não só no ensino<br />

do fotojornalismo ou do jornalismo, mas de todo o sistema<br />

de ensino. O mundo mudou. A educação, como um todo,<br />

passa por um momento delicadíssimo, perigosíssimo. Nós,<br />

educadores, ficamos perdidos em sala de aula, sem saber se<br />

forçamos os estudantes a aprenderem à nossa maneira ou<br />

se nos adaptamos à maneira deles e dançamos conforme a<br />

música. Se essa for a decisão, há uma música, aliás, que caí<br />

como uma luva para esse momento: Deixa a vida me levar, de<br />

Zeca Pagodinho.<br />

Como os educadores avaliam esse momento?<br />

O pesquisador francês André Rouillé, autor de um dos mais<br />

lidos e referenciados livros atuais A fotografia: entre<br />

documento e arte contemporânea, afirma que na última<br />

década do século XX os países economicamente mais bem<br />

sucedidos, na esteira de crises e transformações econômicas,<br />

também passaram por uma espécie de “crise da verdade”<br />

que afetou, inclusive, os fundamentos e a credibilidade da<br />

3 <strong>Na</strong> realidade, esta “profecia contemporânea” não existe; pelo menos não está publicada em nenhuma referência bibliográfica. Ela foi esboçada pela Profa. Dra.<br />

Simonetta Persichetti em sala de aula e depois ajustada em uma conversa que mantivemos sobre o atual estágio de espetacularização das notícias.<br />

32


fotografia-documento e questionou sua adaptação ao real.<br />

“O real mudou e não mais responde à eficácia da fotografia;<br />

por isso, a fotografia não pode mais desempenhar<br />

adequadamente seu papel de documento, nem aplicar<br />

verdade pertinente, isto é, operante.” (ROUILLÉ, 2009,<br />

p.156).<br />

Embasada nas premissas de Rouillé, a pesquisadora Kátia<br />

Hallak Lombardi, da Universidade Federal de Minas Gerais,<br />

afirma que, dessa forma:<br />

Alguns fotógrafos, cansados de percorrer o mundo<br />

atrás de furos jornalísticos, trataram de buscar<br />

novos procedimentos para construir suas imagens.<br />

Eles perderam o interesse em registrar os<br />

acontecimentos de seu tempo e, em vez disso, estão preferindo<br />

antecipá-los, comentá-los, dar a seus personagens o<br />

direito de pose, de encenação. (LOMBARDI, 2011, p.20).<br />

Pesquisas analíticas desenvolvidas no Curso de<br />

Especialização em <strong>Foto</strong>grafia: Práxis e Discurso <strong>Foto</strong>gráfico<br />

da Universidade Estadual de Londrina apuraram que, desde a<br />

década de 80 do século XX, quando a liberdade de imprensa<br />

foi restabelecida, o fotojornalismo perdeu em informação e<br />

ganhou em linguagem. Ou seja, nas últimas três ou quatro<br />

décadas, ele informa menos, denuncia menos, mas, por outro<br />

lado, apurou sua linguagem: está mais estético, com mais<br />

opções de leitura. Os profissionais do fotojornalismo, até<br />

por falta do que fotografar, por conta da pasteurização do<br />

jornalismo, esmeraram-se mais em sua linguagem.<br />

A professora Vera Racy, depois de desfilar com desenvoltura<br />

pelos aspectos teóricos e técnicos do ensino, também alerta<br />

importantes mudanças sociais:<br />

As profundas modificações que estamos vivendo na<br />

esfera econômica e nas relações internacionais, expandindo<br />

os sistemas midiáticos, promovem mudanças<br />

culturais nunca experimentadas anteriormente. O<br />

jornalismo – fotográfico, inclusive – sempre lidou com<br />

fragmentos de uma totalidade, mas a pluralidade e o<br />

diferente estão agora mais presentes do que nunca em<br />

todas as mídias. (RACY apud BUITONI, 2011, p.137).<br />

As falas da professora Vera Racy vêm ao encontro de minhas<br />

preocupações. Ela é mais pontual e eu um pouco mais<br />

contextual. Ela fala da necessidade de formarmos repórteres<br />

fotográficos técnica e eticamente preparados para o exercício<br />

da função. Eu extrapolo a função, pois acredito que, antes e<br />

acima de tudo, é preciso formar cidadãos melhores. E este é<br />

o nosso grande desafio como educadores. E, pior, parece que<br />

estamos perdendo-o, pois, como educador e como avaliador<br />

do MEC, tenho visto que em boa parte das escolas os<br />

professores estão fazendo apenas o que os estudantes<br />

querem e esperam que eles façam. Ou seja, boa parte dos<br />

professores já aderiu ao ritmo contagiante de Deixa a vida<br />

me levar...<br />

E por falar em MEC e em avaliação de cursos e instituições,<br />

quero registrar também um dilema da educação brasileira:<br />

as instituições públicas e as privadas. Boa parte das públicas<br />

oferece melhor qualidade de ensino que as privadas. Em<br />

contrapartida, as privadas, não raro, oferecem melhores<br />

condições de ensino – em termos de instalações,<br />

33<br />

infraestrutura e equipamentos – que as públicas. Ou seja, nas<br />

públicas, além dos estudantes estarem tecnologicamente à<br />

nossa frente, como alertou o Miguel Chikaoka, quase nunca<br />

há disponibilidade de equipamentos de última geração. Por<br />

outro lado, tenho feito avaliações em instituições privadas<br />

e ficado “maravilhado” com a quantidade e a qualidade dos<br />

equipamentos digitais disponíveis para o ensino de<br />

fotografia, fotojornalismo e fotografia publicitária.<br />

O problema das instituições particulares não reside na<br />

infraestrutura, e sim no material humano. De um lado, os<br />

professores – em sua maioria, horistas – que aparecem<br />

apenas nos horários das aulas, não fazem permanência, não<br />

têm projetos de ensino ou pesquisa e não atendem<br />

estudantes em horários extras sala de aula. De outro lado, os<br />

estudantes, quase sempre os que não foram aprovados em<br />

vestibulares concorridos das universidades públicas e estão<br />

cursando graduação em instituições particulares, onde não<br />

há problema de ingresso. Com isso, sem generalizar – e sem<br />

demérito para boa parte de bons estudantes que também<br />

estudam em particulares – as instituições particulares<br />

acolhem estudantes menos preparados, menos interessados<br />

e com menos tempo para estudar e dedicar-se ao curso e<br />

seus projetos.<br />

O novo perfil dos estudantes<br />

O fato é que, nesse momento, independente de instituições<br />

públicas ou privadas, a cultura midiatizada, de acesso a<br />

informações de forma extremamente rápida, faz com que os<br />

estudantes não tenham mais paciência, não tenham “tempo<br />

a perder” com o tradicional sistema de ensino. Hoje, para um<br />

estudante permanecer meia hora quieto, ouvindo e prestando<br />

atenção no que o professor fala, é um sacrifício para ele e um<br />

ato de vitória, de conquista para o professor.<br />

Como educador, vejo a educação num momento<br />

delicadíssimo, principalmente para as aulas teóricas.<br />

Torna-se cada vez mais difícil prender a atenção do<br />

estudante, motivá-lo a estudar, ampliar seu repertório.<br />

A cultura do imediatismo o induz a pensar que basta um<br />

clique no Google e toda a informação que eu – calcado em<br />

minha experiência profissional e trajetória de vida e de<br />

educador – estiver passando ao longo de chatos e<br />

intermináveis minutos estará disponível com muito mais<br />

objetividade, inclusive com imagens.<br />

A internet é uma ferramenta maravilhosa, se bem utilizada.<br />

O problema é que nada do que o atual estudante busca na<br />

internet fica retido em sua mente. Ele acessa, mas não retém<br />

a informação. Pelo comodismo da resposta imediata, ele<br />

está se transformando num ser superficial, sem repertório<br />

para sustentar uma conversa sem sua muleta tecnológica.<br />

Recentemente, em entrevista à Rádio Universidade FM,<br />

de Londrina, o fotógrafo Evandro Teixeira1 disse que era<br />

responsável por treinar os jovens repórteres fotográficos que<br />

começavam a trabalhar no Jornal do Brasil (que deixou de<br />

circular de forma impressa em agosto de 2010) e destacou<br />

que costumava perguntar aos novatos: “Você sabe quem é


ou foi fulano de tal?” Ele disse que perguntou a uma novata,<br />

pouco antes de sair do jornal: “Você sabe quem é ou foi<br />

Getúlio Vargas?” E ela respondeu: “Não. Por que? Isso serve<br />

para alguma coisa?”<br />

Diante do mau preparo intelectual de muitos jovens,<br />

candidatos a uma vaga nas universidades por meio de<br />

concorridos vestibulares, eu fico pensando: “Meu Deus! Como<br />

uma pessoa dessas vai passar no vestibular? Será que num<br />

futuro próximo teremos que adequar os vestibulares para o<br />

mundo e a linguagem das novas gerações?” Minha resposta<br />

– ou, pelo menos, parte dela – chegou com a última prova no<br />

ENEM – Exame <strong>Na</strong>cional do Ensino Médio, realizado dia 23 de<br />

outubro de 2011, cujo tema da redação foi “a vida<br />

na internet”.<br />

Vamos promover a homogenização e rezar pelos<br />

desvios-padrão<br />

Ao que tudo indica, estamos reproduzindo o sistema<br />

americano de ensino, que pressupõe o acesso de todos<br />

à educação – o que nós, hoje, estamos orgulhosamente<br />

chamando de inclusão – e a formação de massas medíocres,<br />

sem demérito ao termo, pois medíocre é o que está na média;<br />

nós é que vulgarizamos o termo. O americano médio é menos<br />

bem formado que o brasileiro médio. Mas o sistema<br />

educacional e a sociedade americana propiciam o<br />

surgimento, vez ou outra, de algum gênio, imediatamente<br />

absorvido pelo sistema. Os Estados Unidos são comandados<br />

por poucos, mas excelentes cérebros. A maioria dos<br />

americanos é uma espécie de massa amorfa e acéfala,<br />

obediente e manipulada, ufanista e convenientemente cega.<br />

Os poucos desvios-padrão, os gênios, estes sim, vivem o<br />

american way of life, afinal os Estados Unidos são mesmo<br />

um país de oportunidades, no qual os detentores do poder<br />

estão permanentemente atentos para absorver as lideranças<br />

insurgentes, principalmente, os grandes cérebros e<br />

seduzi-los com o poder e o dinheiro.<br />

<strong>Na</strong> realidade, o pequeno desafio que assusta os professores<br />

de fotojornalismo, hoje, é apenas um fragmento do grande<br />

desafio que alerta e assombra os gestores e pensadores da<br />

educação: o que fazer? Será que nós, da academia, temos<br />

alguma proposta? Será que a escola está demorando demais<br />

para se adequar aos novos tempos, ao novo estudante e à<br />

nova linguagem? Ou será que ela está heroicamente<br />

resistindo à superficialidade e novos – e questionáveis –<br />

comportamentos éticos dos tempos atuais?<br />

Eu gostaria muito de saber a resposta.<br />

34<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BUITONI, Dulcília Schroeder. <strong>Foto</strong>grafia e jornalismo: a informação<br />

pela imagem. São Paulo: Saraiva, 2011.<br />

CHIKAOKA, Miguel. O educador não está preparado para<br />

trabalhar com o turbilhão da produção fotográfica digital.<br />

Discursos <strong>Foto</strong>gráficos, v.6, n.9, jul./dez. 2010,<br />

p.275-282. (Entrevista concedida a Beatriz Sallet).<br />

LOMBARDI, Kátia Hallak. <strong>Foto</strong>grafias de conflitos: o que permanece?<br />

Discursos <strong>Foto</strong>gráficos, Londrina, v.7, n.11, jul./<br />

dez. 2011, p.13-32.<br />

NASSIF, Luís. O jornalismo dos anos 90. São Paulo: Futura,<br />

2003.<br />

PERSICHETTI, Simonetta. A encruzilhada do fotojornalismo.<br />

Discursos <strong>Foto</strong>gráficos, Londrina, v.2, n.2, jan./dez. 2006,<br />

p.179-190.<br />

ROUILLÉ, André. A fotografia: entre documento e a arte<br />

contemporânea. São Paulo: Senac, 2009.<br />

RITCHIN, Fred. O futuro do fotojornalismo. In: SETTI, Ricardo<br />

A. Conferências e Debates do II Encontro Internacional de<br />

Jornalismo. São Paulo: IBM do Brasil. 10 a 12 de Julho de<br />

1989.<br />

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo<br />

ocidental. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2000.<br />

Mesa: Tramas curatoriais: Por onde transita o olhar do<br />

curador? | Boris Kossoy, Rosely <strong>Na</strong>kagawa e Diógenes Moura.


SOBRE AS<br />

ORGANIZADORAS<br />

Maria Lucila Horn<br />

Licenciada em Artes Plásticas, Especialista em Artes e<br />

Ciências Humanas, Mestre em Educação e Cultura; Produtora e<br />

assistente de fotografia, desenvolve pela Duo Arte e Produção<br />

organização de cursos nas área de fotografia, tendo atuado com<br />

Cláudio Feijó, Mario Espinosa, Clicio Barroso, Walter Firmo,<br />

Kazuo Okubo, Fábio Elias, Marcos Issa, Evandro Teixeira,<br />

Sebastian Rojas entre outros. Coordenadora do Festival de<br />

<strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong>. Expõe como artista plástica desde<br />

1987. Desde 1989 atua como professora de artes plásticas nas<br />

redes particular, municipal, estadual e federal de ensino de 1o<br />

e 2o grau na cidade de Florianópolis - SC. Professora no ensino<br />

superior com fundamentos da linguagem visual, Fundamentos e<br />

Metodologia do ensino de Arte, Arte e Desenvolvimento Infantil<br />

desde 2002 (UFSC e UDESC). Membro da Rede de Produtores<br />

em <strong>Foto</strong>grafia do Brasil e da Federação de arte Educadores do<br />

Brasil, é presidente da associação de arte educadores de Santa<br />

Catarina - AAESC (gestão 2010/2011) e representante da<br />

sociedade civil no Conselho Estadual de Cultura de SC.<br />

Atualmente professora da graduação em Gestão Pública da UAB/<br />

IFSC e das Especializações em Artes Visuais: Cultura & Criação<br />

e Gestão Cultural SENAC SC. Tem experiência na área de Artes,<br />

com ênfase em educação, pintura, fotografia, leituras.<br />

Luzia Renata da Silva<br />

Graduação em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de<br />

Santa Catarina UDESC. Mestranda do Programa de<br />

Pós-graduação em Artes Visuais pela mesma Universidade na<br />

linha de pesquisa Processos Artísticos Contemporâneos. Desde<br />

1998 têm participado de exposições coletivas e salões de artes<br />

visuais, entre alguns trabalhos destacam-se: Luz em Doraci<br />

no Museu Histórico de SC, Tudo o que é Sólido se Desmancha<br />

no Ar no Salão de Arte de Ribeirão Preto <strong>Na</strong>cional, Campo de<br />

presença Projéteis 2004-2005 FUNARTE, Anônimos no Projeto<br />

Schwanke, perspectiva das artes plásticas em Santa Catarina no<br />

Memorial da América Latina, Trajetos no I Salão de Arte<br />

Contemporânea Luis Henrique Schwanke. Tem atuado como<br />

produtora cultural na área da fotografia desde 2003 em<br />

projetos como: O Brasil de Walter Firmo através da Fundação<br />

Cultural Palmares, organização do lançamento do livro Brasil -<br />

Imagens da terra e do povo , produção do Workshop O Universo<br />

da Cor do fotógrafo Walter Firmo. Já organizou trabalhos com<br />

Clicio Barroso, Sebastian Rojas, Claudio Feijó, Evandro<br />

Teixeira, J.R Ripper entre outros. Atualmente faz parte da Rede<br />

de Produtores Culturais da <strong>Foto</strong>grafia no Brasil e coordena o<br />

Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> na <strong>Foto</strong> na cidade de<br />

Florianópolis.


COORDENAÇÃO<br />

Lu Renata<br />

Lucila Horn<br />

PRODUÇÃO<br />

Anna Lu<br />

Cristiane Ugolini<br />

Gabriel Davatz<br />

Patricia Senger<br />

2º Festival de <strong>Foto</strong>grafia <strong>Floripa</strong> <strong>Na</strong> <strong>Foto</strong><br />

25 a 30 de outubro de 2011<br />

www.floripanafoto.com<br />

Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa<br />

ASSESSORIA DE IMPRENSA<br />

Fifo Lima<br />

CAPA<br />

Henrique Pereira<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Paulo Ramon<br />

Praça XV de Novembro, 227 - Esquina com Rua Tenente Silveira - Centro - Florianópolis - SC

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