download - Floripa Na Foto
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imagem. E poderíamos arriscar que uma das<br />
características da imagem contemporânea é que ela se volta<br />
para o espectador como fazedor e não apenas como mero<br />
receptor. O espaço de quem olha a imagem torna-se fruto da<br />
ação do artista; uma maneira de recuperar o espectador.<br />
O artista espécie de provocador utiliza-se de linguagens<br />
variadas para incitar, mover o espectador em torno da<br />
imagem. Doravante, mais do que reproduzir imagens<br />
infinitamente estamos na era da multiplicação de linguagens;<br />
não só estamos produzindo imagens como estamos criando<br />
novas formas de criar imagens.<br />
Hoje é sabido o quanto as imagens são mediadoras entre<br />
culturas, povos, sociedades, indivíduos, no entanto é<br />
importante relembrar que como mediadoras as imagens<br />
podem ir além das virtualidades, podem ser imagens que<br />
sobrevivam pelo vínculo. Imagens que recriem infinitamente<br />
o imaginário. Concebendo para tanto, o olhar como suporte<br />
simbólico, instância expressiva da alma. Seja a imagem,<br />
real ou imaginária, arte ou documento deve ela estar por<br />
excelência comprometida com seu Tempo.<br />
Os excessos da imagem e a<br />
consciência crítica<br />
A imagem contemporânea feita de excessos e de excessos<br />
o mundo nos olha e se atravessa. Neste mundo repleto de<br />
formas visuais é fundamental repensar esta avalanche de<br />
imagens. Repensar as relações entre sujeito-objeto-imagem<br />
de maneira dialética. Conjugar a complexidade do mundo que<br />
margeia a imagem. Refletir sobre a criação de imagens no<br />
seio de nossas culturas. Refletir a respeito das potências das<br />
imagens e de suas responsabilidades enquanto fazedoras de<br />
sentidos. Que a imagem ultrapasse as virtualidades e<br />
sobrevivam pelo vínculo. De imagens que recriem o<br />
imaginário. Exercer efeitos imagéticos que venham a incitar<br />
paradoxos. Gerar reflexões sobre o que se vê em seu<br />
“dentro”. Toda imagem em sua corporalidade objetual nos<br />
coloca frente a frente com nossas contradições, ou seja,<br />
a fotografia não é apenas um objeto dentre os objetos do<br />
mundo, outrossim um “objeto” construtor de sentidos.<br />
É preciso não abandonar a consciência crítica em detrimento<br />
do sedutor mundo das imagens espetaculares. Da frágil<br />
e quebradiça imagem publicitária, televisiva, da imagem<br />
abusiva, como simples mercadoria, consumo. Da imagem<br />
como fuga, domínio, como poder. Do mundo das imagens da<br />
aparência enganadora. Ou como coloca tão bem Guattari em<br />
seu inquisidor livro Caosmose: “Como podemos ainda falar<br />
de universos de valor com esse esfacelamento da<br />
individuação do sujeito e essa multiplicação das interfaces<br />
maquínicas?” Que sistema é esse que destrói valores do bem<br />
comum em função de interesses tão particulares, capazes de<br />
arruinar toda uma sociedade?<br />
Reatualizar os rituais da imagem? Dar novos ritmos? Assumir<br />
os vazios da alma? O que quer o espírito de nosso Tempo?<br />
Apenas informações e mais informações incessantemente?<br />
A qualquer preço, a qualquer custo? É preciso transgredir<br />
as ameaças do excesso. É preciso olhar como estas imagens<br />
nos olham. O que elas querem nos dizer em seu olhar? Seria<br />
preciso uma reestruturação do epifenômeno da fotografia?<br />
21<br />
Que vínculo estaríamos produzindo ao fazer imagens?<br />
O futuro da imagem<br />
Captar os traços transitórios de nosso Tempo e realizar o<br />
mapeamento imagético eis alguns de nossos desafios como<br />
fazedores de imagens. O vir-a-ser contemporâneo oscila<br />
entre o mundo da finitude com todas as suas coordenadas<br />
objetivas e o mundo de universos infinitos, na qual o sujeito<br />
estaria entregue para além dos limites, estaria aberto as suas<br />
próprias diferenças e também as suas qualidades<br />
heterogenéticas. O novo paradigma estético surgiria nesta<br />
ambivalência entre a complexidade e o caos, caberia,<br />
portanto, ao artista comprometido enfrentar este desafio.<br />
“Trata-se aqui de um infinito de entidades virtuais<br />
infinitamente ricos de possível, infinitamente enriquecível a<br />
partir de processos criadores”. Podemos, portanto, através<br />
dos processos criadores das imagens sensíveis, contaminar<br />
o mundo.<br />
Segundo Vilém Flusser: “Urge uma filosofia da fotografia<br />
para que a práxis fotográfica seja conscientizada.<br />
A conscientização de tal práxis é necessária porque, sem ela,<br />
jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do<br />
funcionário dos aparelhos, diz ainda: ...a filosofia da<br />
fotografia é necessária porque é reflexão sobre possibilidades<br />
de se viver livremente num mundo programado por<br />
aparelhos. Reflexão sobre o significado que o homem pode<br />
dar à vida, onde tudo é acaso estúpido, rumo a morte<br />
absurda. Apontar caminho para a liberdade, a única<br />
revolução ainda possível.”<br />
É necessário que o fazedor de imagem esteja consciente<br />
do seu processo enquanto produtor de consciências e que<br />
este não deixe que aparelhos reprimam ou manipulem a<br />
consciência histórica em detrimento da liberdade. Faz-se<br />
necessário ainda uma transformação de valores que primem<br />
fundamentalmente por uma ecologia humana global que vise<br />
“emancipar a sociedade do absurdo.”