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Revista Metrópole

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20<br />

Saúde<br />

Engordando<br />

no SPA<br />

Juliana Cunha<br />

O conceito de dieta é velho. Os gregos<br />

já a praticavam com diversas finalidades,<br />

inclusive o emagrecimento. As dietas da<br />

Grécia Antiga não alteravam apenas a alimentação<br />

do sujeito, mudava-se até de<br />

casa quando se supunha que determinados<br />

ares não fariam bem (feng shui é fichinha<br />

perto disso). Hoje ninguém muda de casa<br />

para perder alguns quilos e se cuidar, mas<br />

quem está muito acima do peso ou não<br />

tem nenhuma disciplina para emagrecer<br />

sozinho costuma freqüentar os chamados<br />

spas, clínicas de confinamento visando o<br />

emagrecimento. A palavra spa deriva da<br />

expressão latina “salute per aqua”, que significa<br />

saúde através da água. Os primeiros<br />

spas surgiram em Roma e serviam para<br />

descansar os guerreiros em procedimentos<br />

que envolviam banhos, massagens e águas<br />

quentes. Os spas atuais são bem diferentes<br />

e têm, basicamente, finalidades estéticas.<br />

Esta reportagem se hospedou no Spa Salute<br />

Bahia, em Busca Vida, para conferir<br />

o cotidiano de quem vive ou fica lá.<br />

A despeito do nome, se você quiser<br />

ficar sem tomar banho num spa de hoje<br />

está tudo ok. Desde que esteja disposto a<br />

se submeter a uma rotina que inclui visita<br />

diária à balança e ao médico em uma<br />

clínica batizada com o simpático nome de<br />

Clínica da Obesidade, exercícios e uma<br />

dieta extremamente restritiva que vai de<br />

500 a 1500 calorias ao dia. Ah, a coisa<br />

toda é muito bem paga: R$ 350 a diária<br />

para ficar em acomodações inferiores a<br />

de alguns hotéis de R$ 80. O bangalô é<br />

simples e dividido com outro colega, algumas<br />

das camas são de alvenaria, a mobília<br />

é modesta e os mosquitos estão por toda<br />

parte já que o troço é meio campestre.<br />

Logo depois de fazer o check-in, é necessário<br />

ir até a tal Clínica da Obesidade<br />

conversar com o médico, se pesar e medir<br />

e adquirir uma pulseirinha que informa<br />

aos garçons em que programa você está.<br />

Ou seja, se pode consumir 500, 1000 ou<br />

1500 calorias diárias. Quem tem a sorte de<br />

receber a pulseirinha rosa que dá direito<br />

às sonhadas 1500 calorias é orientado a<br />

destruí-la assim que sair do spa. Existe até<br />

pedido encarecido por parte da nutricionista<br />

de que não contrabandeie comida:<br />

“Caso não coma tudo, chame o garçom e<br />

peça que retire, não deixe nada na mesa”,<br />

pediu ela. Como assim não comer tudo?<br />

Estamos falando de apenas 1500 calorias,<br />

tava mais fácil eu roubar a comida dos<br />

gordos do que doar a minha. A publicidade<br />

do spa diz que nem todos os freqüentadores<br />

são obesos, que muita gente vai<br />

Imagine a situação da gorda que vai passar<br />

seis meses e não pode nem levar um vibrador<br />

se não quiser mostrar à enfermeira<br />

para relaxar, mas esta reportagem esteve no<br />

Salute Bahia durante dois dias no meio da<br />

semana e afirma categoricamente: só tem<br />

gordo. Pançudo por lá é rei. Talvez o fim<br />

de semana traga os turistas, mas a imensa<br />

maioria das pessoas que fica lá durante a<br />

Confinamento visando o<br />

emagrecimento<br />

pode até funcionar, mas é<br />

caro, triste e monótono<br />

semana são os chamados internos, gente<br />

que conseguiu através de liminares que o<br />

plano de saúde pagasse o tratamento. A<br />

totalidade dos internos com quem conversei<br />

– 23 deles – só tem direito a 500<br />

calorias diárias e só pode sair do spa uma<br />

vez ao mês, por somente um dia. As visitas<br />

são permitidas apenas na recepção (qual a<br />

graça?). Os presos estão em melhor condição,<br />

ao menos têm visita íntima e recebem<br />

comida de fora.<br />

Depois da visita a Clínica da Obesidade,<br />

você finalmente conhece o seu bangalô.<br />

O meu era o 29 e, para chegar nele, fiz<br />

pela primeira vez a Trilha do Peru Tonto,<br />

um caminho pequeno e cheio de voltas por<br />

onde os gordos caminham de manhã cedo.<br />

No percurso, vi duas crianças brincando,<br />

evidentemente filhas de pacientes. Fiz uma<br />

piadinha perguntando se elas estavam ali<br />

para emagrecer. Resposta: elas não, mas já<br />

houve um bebê de dois anos que veio para<br />

isso mesmo. A enfermeira abriu o bangalô,<br />

me deu as chaves e eu fiquei olhando pra<br />

cara dela como quem diz; “tchau tia, foi<br />

bom te conhecer, agora vou tomar banho<br />

e dormir adoidado”. Nada disso. <strong>Revista</strong>r<br />

bagagem. Me fiz de desentendida, embora<br />

um amigo que já ficou confinado por<br />

conta própria tivesse alertado para a tal<br />

revista da bagagem. É uma forma do spa<br />

se certificar de que você não está levando<br />

um complementozinho alimentar na mala.<br />

No meu caso, é claro que havia complemento:<br />

um pacote de biscoito Bono, uma<br />

garrafinha de Chandon e uma vodka pequena.<br />

Eu até concordo que levar Bono<br />

e Chandon pro spa é sacanagem, mas o<br />

que dizer do destilado? Até isso engorda?<br />

Coloquei tudo na necessaire porque<br />

o corno do meu amigo tinha dito que era

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