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4 Capa Sem gols e sem glória Um ano após tragédia que matou sete pessoas, Fonte Nova serve de lar para moradores de rua Victor Uchôa Festa na Fonte Nova. 60 mil cidadãos da Nação Tricolor lotam o estádio Octávio Mangabeira para assistir a partida entre o Esporte Clube Bahia e o Vila Nova-GO. O Tricolor de Aço tem a chance de deixar para trás a Terceirona. O jogo é duro e o gol não sai. Nos acréscimos do segundo tempo, o árbitro marca penalidade máxima para o Bahia. Êxtase nas arquibancadas. O artilheiro Nonato vai Desde novembro de 2007, quando parte do anel superior desabou, a Fonte Nova está abandonada para a bola. Bate mal, o goleiro defende e o zero a zero não sai do placar. Mesmo assim a Fonte Nova está em festa. O empate sem gols assegura o tricolor na série B. A multidão invade o campo para comemorar com jogadores e comissão técnica. Delírio de uma torcida apaixonada. Momento sublime de redenção. Um piscar de olhos: a Fonte Nova não está mais em festa. “Foi tudo de repente. Quando eu vi, já estava no chão. Aí olhei pra cima e vi o buraco”, conta Jader HUMBERTO FARIAS Landerson Azevedo. Ele é um dos sobreviventes do acidente ocorrido na Fonte Nova em 25 de novembro de 2007, quando parte da arquibancada do anel superior do estádio cedeu. Dezenas de pessoas caíram da altura de um prédio de cinco andares. Jader ficou com seqüelas na coluna e na perna direita (marcada por uma grande cicatriz) e realiza sessões diárias de fisioterapia. Mas naquele episódio, sete vítimas não resistiram: Djalma Santos, Anísio Marques, Mydiã Andrade, Joselito Lima, Jadson Celestino, Márcia Cruz e Milena Palmeira. A tragédia ficou no passado. O sofrimento está no presente. “Tudo que eu queria
era meu filho de volta e isso ninguém vai me dar”, diz Irani Lima, mãe de Djalma Lima Santos, um dos torcedores mortos. Um ano após o episódio, das sete famílias das vítimas, apenas os herdeiros de Joselito Lima e Milena Palmeira já tiveram a pensão mensal a que teriam direito liberadas pelo governo do estado. Responsável pelo pagamento das pensões, a Secretaria de Administração do Estado (Saeb) informa que todos os outros casos estão em tramitação na justiça e aponta impasses com Defensoria Pública e possíveis (e às vezes duvidosos) beneficiários como uma das justificativas para a demora na resolução. Entretanto, pior do que ficar sem a pensão é ainda não ter recebido nem a indenização pelo acidente (segurotorcedor), estipulada em R$ 25 mil. É o caso das famílias de Mydiã Santos e Anísio Marques. Mydiã deixou uma filha menor, que teria direito a 50% do benefício. A outra parte seria destinada ao padrasto da criança, mas o avô também reivindica o direito. Já Anísio deixou três filhos com três companheiras Jader Landerson sobreviveu porque caiu por cima de um dos mortos diferentes, sendo que dois não foram registrados. As três mulheres reivindicam a indenização, mas precisam comprovar legalmente a união estável com Anísio. “Os dois casos envolvem crianças. Temos que preservar os seus interesses como beneficiários, por isso só podemos liberar a indenização quando ficar bem claro quem tem direito”, explica Nélson Uzêda, superintendente executivo da Companhia Excelsior de Seguros, seguradora da Confederação Brasileira de Futebol. Uzêda diz ainda que os sobreviventes também têm direito ao seguro-torcedor proporcional ao grau de sua lesão. “O caso do Jader demorou de ser resolvido porque só agora recebemos o relatório médico conclusivo sobre a situação dele”, disse. Somente no dia 17 de novembro, quase um ano após cair da arquibancada e só ter sobrevivido por ter sido amortecido por uma das pessoas mortas, é que Jader Landerson recebeu a quantia aproximada de R$ 7,5 mil. Sem entrar na discussão jurídica, Fábio Marques, irmão de Anísio, se mostra indignado por outros motivos. Ele afirma que o único apoio que sua família recebe da Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) é a doação de uma cesta básica por mês. “Antes tinha um apoio psicológico, uma vez por semana, mas suspenderam. E minha mãe ainda não está nada bem”, revela. A assessoria de comunicação da Sudesb informou que o apoio psicológico não foi suspenso e sim con- HUMBERTO FARIAS <strong>Revista</strong> <strong>Metrópole</strong> -novembro de 2008 5
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