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1 A POLÍTICA E O OLIMPISMO Francisco Carlos Lemes ... - grupo mel

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A <strong>POLÍTICA</strong> E O <strong>OLIMPISMO</strong><br />

INTRODUÇÃO<br />

<strong>Francisco</strong> <strong>Carlos</strong> <strong>Lemes</strong> de Menezes 1<br />

Centro Universitário Feevale/Novo Hamburgo/Rio Grande do Sul/ Brasil<br />

Email: franciscoclm@feevale.br<br />

Gustavo Roese Sanfelice 2<br />

Centro Universitário Feevale/Novo Hamburgo/Rio Grande do Sul/ Brasil<br />

Email: sanfeliceg@feevale.br<br />

O esporte é o principal fenômeno social deste século. Em cem anos passou da prática e da<br />

organização incipiente à atividade profissional com imensos recursos tecnológicos e um<br />

destaque imensurável na industria do entretenimento e do lazer. Tem-se nos Jogos Olímpicos<br />

o maior evento esportivo contemporâneo.<br />

O Olimpismo é a filosofia que rege os Jogos Olímpicos da Era Moderna. A base do ideal<br />

Olímpico perpassa culturas, etnias, tornando-se uma proposta audaz do Barão Pierre de<br />

Coubertin, que em 1894, se sentiu provocado a retomar os Jogos Olímpicos. A retomada se<br />

deu 15 séculos depois do cancelamento dos Jogos pelo Imperador Romano Teodósio que,<br />

convertido ao cristianismo, em 393 d.C., depois de aproximadamente 12 séculos de disputa,<br />

proibiu os cultos considerados, por ele, pagãos.<br />

Das ruínas da cidade de Olímpia, na Grécia, surgiu à inspiração para que Pierre de Fredy,<br />

futuro Barão de Coubertin, tivesse a idéia de criar um evento mundial. Viajando pelo mundo,<br />

incumbido pela França de comandar uma reforma no ensino e procurando novas experiências,<br />

vislumbrou o globo como um grande pátio de colégio onde os países se reuniriam<br />

periodicamente para medir forças e habilidades.<br />

A idéia proposta pela frase de um Bispo da Pensilvânia, de que se apropriou o Barão de<br />

Courbetin, “o importante não é vencer, mas sim participar”, somente foi usada desde seu início<br />

para justificar derrota e defender nobres valores. Esta expressão, somente terá sentido para os<br />

que não procuram a vitória. O importante mesmo é vencer, por suas bandeiras e pelas marcas<br />

de seus patrocinadores.<br />

“Mais alto, Mais Rápido e Mais Forte”, foi o grande lema, e a participação só valeu com a<br />

vitória. Os grandes feitos, recordes e superações ocorridas no decorrer dos Jogos Olímpicos<br />

são notícias constantes nos jornais, rádio e televisão. Livros são escritos e filmes são<br />

produzidos enaltecendo a glória Olímpica. Muitos são os Heróis que surgem e desaparecem<br />

antes e depois de cada Olimpíada. Governos e Ideologias Políticas sempre usam vitórias e<br />

superações pessoais como uma eficiente propaganda. Segundo Cardoso (1996) “Os Jogos<br />

estão cheios de drama, heroísmo, generosidade, humor, traição, fraude. Os <strong>mel</strong>hores<br />

sentimentos e os piores defeitos da espécie fazem parte de sua identidade”.<br />

Desde o seu início, os Jogos, baseados no Ideal Olímpico de Coubertin, pretendiam que<br />

fossem enaltecidas a formação do caráter, e o desenvolvimento harmonioso do corpo da<br />

juventude bem como a promoção da paz entre os povos. Porém, ao decorrer do século XX com<br />

o desenvolvimento urbano-industrial, os Jogos Olímpicos Modernos passaram a ser objeto de<br />

inúmeros campos, sendo o campo econômico e o político os principais que se “apropriam”<br />

deste fenômeno.<br />

Este ensaio tem como objetivo resgatar os processos históricos dos Jogos Olímpicos<br />

Modernos, evidenciando as correntes ideológicas que se estabeleceram desde 1896 em<br />

Atenas, quando o Barão Pierre de Coubertin resgatou os Jogos Olímpicos Modernos.<br />

1<br />

Professor Especialista do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale/Novo Hamburgo e doutorando em Ciência da<br />

Educação na Universidade das Ilhas Baleares/Espanha<br />

2<br />

Mestre em Ciência do Movimento Humano /CEFD/UFSM e professor do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale/Novo<br />

Hamburgo.<br />

1


JOGOS OLÍMPICOS MODERNOS<br />

A partir de 1896, as pessoas iniciaram a voltar suas atenções para alguma parte do mundo,<br />

onde em um par de semanas, jovens atletas de todo o mundo participam no que é hoje<br />

proclamado como o maior evento esportivo do mundo.<br />

Os Jogos da era moderna retornaram em Atenas no ano de 1896 com 311 atletas de 13<br />

paises. Estavam divididos em 9 esportes e 42 provas. O improviso foi a marca registrada deste<br />

evento. Para a organização da primeira Olimpíada, e a formação do próprio Comitê Olímpico já<br />

aconteceu um jogo político e muitas negociações foram realizadas. O dinheiro escasso e a falta<br />

de parâmetros para comparações tornaram sua organização espinhosa. Os jogos ainda eram<br />

ingênuos, e sua realização carecia de estrutura.<br />

Em 1900 realizou-se a segunda Olimpíada em Paris e as mulheres tiveram sua primeira<br />

participação Olímpica, sendo considerado hoje o que de <strong>mel</strong>hor aconteceu nestes Jogos onde<br />

participaram 1.319 atletas homens, 11 mulheres em 13 esportes e 60 provas. Na França o<br />

sonho virou pesadelo, pois os jogos sendo organizados juntamente com a Exposição<br />

Internacional de Paris, e quase passaram despercebidos devido à falta de interesse das<br />

autoridades e as disputas entre dirigentes esportivos franceses, cada um mais preocupado com<br />

seu estrelato.<br />

Em 1904 foi Saint Louis nos Estados Unidos a Olimpíada realizou-se juntamente com a Feira<br />

Tecnológica Mundial se transformou em um grande circo em que 12 paises, 681 homens, 6<br />

mulheres em 13 esportes disputaram 67 provas numa longa Olimpíada , de julho a novembro.<br />

Saint Louis, ganhou os jogos após disputar com Chicago que teve a intervenção do Presidente<br />

Roosevelt que queria os Jogos realizados juntamente com a Feira Mundial. Novamente a<br />

inexperiência dos organizadores levou a Olimpíada a se transformar em uma grande<br />

quermesse. Como podemos notar neste breve relato das primeiras edições Olímpicas, a<br />

mesma não era levada a sério nem pelos próprios organizadores, principalmente pelos<br />

americanos, que promoveram em Saint Louis.<br />

Londres em 1908 fez a primeira Olimpíada de verdade, estabelecendo padrões a serem<br />

seguidos a partir daí em todos os Jogos Olímpicos. De abril a outubro, 23 paises, 1.999<br />

homens, 36 mulheres, divididos em 23 esportes disputaram 104 provas. Nesta Olimpíada<br />

surgiu o primeiro sinal que o convívio entre os paises não seria nada fácil. Finlandeses,<br />

invadidos pela Rússia reclamaram o direito de desfilarem com sua bandeira, o que lhes foi<br />

negado. Roma seria a próxima sede em substituição a Berlim que teria desistido alegando<br />

dificuldades econômicas, mas, devido a prejuízos causados por uma erupção do Vesúvio,<br />

Roma acabou desistindo também de sediar o evento. Na época, somente Londres teria<br />

condições de realizar a contento os Jogos Olímpicos que precisavam de uma boa organização<br />

após o fracasso das edições anteriores, mesmo com a realização paralela de mais uma Feira<br />

Mundial que comprometeria os Jogos devido a invejável estrutura esportiva britânica. Mas a<br />

política mais uma vez entrava em cena, primeiro com a visita providencial durante os jogos do<br />

presidente Francês ao Rei da Inglaterra aproveitando os Jogos para estreitarem aliança contra<br />

a Alemanha. Como já havia acontecido anteriormente, de um país proibir outro a desfilar com<br />

sua bandeira, desta vez foi a Inglaterra que não permitiu a Irlanda usar a sua bandeira.. No<br />

ambiente das competições, atitudes poucos recomendáveis foram também detectadas, como a<br />

parcialidade dos juízes, todos britânicos nas decisões de diversas provas. A ironia do escritor<br />

britânico Bernard Shaw definiu sabiamente o que se viu nesse evento: “Um inglês nunca perde<br />

lealmente”. A partir de Londres, o país organizador perdeu o direito de ter o controle absoluto<br />

dos Jogos, dividindo a organização e arbitragem com o COI e as confederações esportivas<br />

mundiais.<br />

A sombra da guerra não impediu que em Estocolmo, de maio a julho de 1912, fosse realizada<br />

uma Olimpíada bem organizada, onde o esporte teve um ótimo nível e 28 paises, 2.490<br />

homens, 57 mulheres, 16 esportes se dividiram em 106 provas. A organização e o bom esporte<br />

2


praticado foram a tônica dos jogos de Estocolmo. Os Jogos transcorreram sob a sombra de<br />

agitação política que dominava a Europa, com diversas guerras surgindo em todo o continente.<br />

Mais uma vez, Russos e Ingleses proibiram Finlândia e Irlanda usarem suas bandeiras. Mas a<br />

maior injustiça ocorrida não apareceu durante as Olimpíadas, e sim algum tempo depois,<br />

quando atitudes racistas de um jornal de Providence em Connecticut, denunciando Jim Thorpe,<br />

campeão do decatlo e do pentatlo, como profissional por jogar em uma equipe de beisebol da<br />

Carolina do Norte durante suas férias da universidade a 25 dólares por semana. Os escritos<br />

Olímpicos sobre amadorismo decretaram a culpa de Thorpe, e suas medalhas foram<br />

confiscadas. Os únicos gestos de grandeza deste episódio partiram do sueco Hugo Wieslander<br />

e do norueguês Ferdinande Bie, vice-campeões do decatlo e do pentatlo que recusaram<br />

receber as medalhas em solidariedade a Thorpe.<br />

Na antiguidade as guerras paravam para a realização dos jogos, mas em 1916, as batalhas<br />

não permitiram os jogos de Berlim. O mundo esperava pela guerra. Berlim candidata mais uma<br />

vez teve adiado seu intente pelo troar dos canhões em toda a Europa e 1916 passou com a<br />

guerra sobrepujando os Jogos.<br />

Ressurgindo das cinzas, Antuérpia/1920 na Bélgica organiza os Jogos apenas 18 meses após<br />

ter sido assinado o fim da primeira guerra mundial. De abril a setembro, 29 paises, pela<br />

primeira vez o Brasil, 2.543 homens, sendo 29 brasileiros e 64 mulheres participaram em 19<br />

esportes e 154 provas. A Bélgica surpreendeu o mundo aceitando promover a Olimpíada após<br />

guerra, mas providências foram tomadas, como não convidar países vencidos, mas em<br />

compensação, países recém formados com a divisão do novo mapa da Europa foram aceitos.<br />

E como ressurgindo das cinzas, as provas aconteceram e a Olimpíada transcorreu dentro de<br />

sua normalidade.<br />

Em 1924, Paris tenta apagar o vexame da organização da segunda edição dos Jogos<br />

Olímpicos Modernos, já nesta época Olimpíada já era um assunto de governo e de maio a<br />

julho, 44 paises, 2.956 homens, entre eles 10 brasileiros, 136 mulheres competiram divididos<br />

em 19 esportes e 137 provas. Surge ai o primeiro boicote, com a desistência da Alemanha,<br />

inconformada com a indenização de guerra a ser paga para a França. Atendendo desejo de<br />

Coubertin, que fazia projetos mirabolantes para a próxima Olimpíada, mas a falta de recursos<br />

mais uma vez quase que a inviabiliza a realização dos Jogos, somente na última hora o<br />

governo francês libera dinheiro para construção de um estádio e um arremedo de vila Olímpica<br />

em um subúrbio distante de Paris. No dia da abertura enquanto quarenta mil ocupavam<br />

parcialmente o estádio, mais de cinco mil ficavam do lado de fora, surgia mais uma nova<br />

invenção, os cambistas que vendiam o ingresso até cinco vezes mais que o preço oficial. Na<br />

área construída para o jogo centenas de comerciantes e ca<strong>mel</strong>ôs, compraram da organização<br />

francesa o direito de explorar o comércio na redondeza dos jogos usando a Olimpíada como<br />

propaganda, surgia por traz dos panos o comércio e o marketing esportivo. A imprensa também<br />

descobria os Jogos, mais de mil jornalistas solicitaram credenciamento. A torcida francesa<br />

vaiou o tempo inteiro qualquer competidor e qualquer hino que não fosse a Marselhese. Muita<br />

confusão no boxe, na esgrima e no rúgbi, este último tendo sua última inclusão nas<br />

Olimpíadas. Decisões equivocadas e localistas dos juizes levaram algumas pessoas a pensar<br />

em eliminar dos Jogos todas as modalidades em que o resultado dependesse do julgamento<br />

de juizes.<br />

De maio a agosto de 1928, em Amsterdã, 46 paises, 2.724 homens, 290 mulheres competiram<br />

em 16 esportes e 120 provas, consolidando a participação das mulheres. A Alemanha volta aos<br />

jogos após o castigo de não participar das duas Olimpíadas anteriores, Rússia e China se<br />

recusam a participar por razões políticas. Amsterdã foi a primeira Olimpíada sem Coubertin<br />

participando do centro de decisões, afastado por motivos de saúde veio a morrer em 1937, os<br />

jogos de 1928 era testemunho que seu sonho se tornara realidade. Apesar da ótima<br />

organização holandesa, muitas confusões marcaram os Jogos, em uma delas, a não<br />

participação do desfile da delegação francesa, impedida de desfilar pelo porteiro do estádio<br />

quase cria um incidente político. O boxe e a esgrima continuavam causando grandes<br />

3


confusões pelas decisões dos juizes, mas a natação e o atletismo, com os arrogantes<br />

americanos, os entusiasmados alemães e os estupendos finlandeses elevavam o “espírito” dos<br />

Jogos. O futebol ganhava popularidade, surgindo grandes potências, mas a pátria mãe, a<br />

Inglaterra se recusa a participar em protesto pela participação de falsos amadores.<br />

Atravessando o Atlântico, em Los Angeles, de 30 julho a 14 agosto de 1932, 37 paises, 1.281<br />

homens, sendo 84 brasileiros, 127 mulheres. Os americanos precisavam apagar a péssima<br />

impressão de 1904 e para vencer o ceticismo europeu na realização dos Jogos. A vitória da<br />

Organização iniciou com a primeira Vila Olímpica planejada especialmente para os Jogos, com<br />

alimentação incluída e lugares de treinamentos adequados, nem a imprensa foi esquecida,<br />

uma rede de telex ligava a vila a todos os lugares de competição, e os resultados saiam para<br />

os jornalistas na sala de imprensa em tempo real. O sucesso foi tanto que este modelo de Vila<br />

passou a ser obrigatório em todas as Olimpíadas. Nesta Olimpíada também foi introduzida a<br />

entrega das medalhas imediatamente após o termino das provas, com a execução dos hinos<br />

nacionais dos vencedores. Esta profissão de fé ideológica não chocou ninguém e continua até<br />

hoje, apesar de muitas vezes transformar o podium em palanque de manifestações políticas,<br />

surgida já no primeiro ano com várias saudações fascistas.<br />

De volta a Europa, em Berlim, sob os olhares e pretensões do Terceiro Reich a Olimpíada de<br />

1936, disputada de 1º a 16 de agosto, levou 49 países, 3.738 homens, sendo 91 brasileiros,<br />

328 mulheres, com 6 brasileiras fazendo sua participação, 21 esportes divididos em 142<br />

provas. Quando foi concedido a Berlim a realização dos jogos Olímpicos de 1936, nem se<br />

imaginava que dois anos antes os nazistas tomassem conta do poder e transformassem a<br />

organização dos Jogos em uma exibição colossal que tinha como intenção afirmar a auto<br />

proclamada superioridade ariana. Muitos foram os protestos mundiais na época para os Jogos<br />

saírem da Alemanha, mas apesar dos protestos, a organização impecável e a alta tecnologia<br />

aperfeiçoando as inovações tecnológicas de Los Angeles transformaram Berlim em uma festa<br />

do esporte cercada de propaganda nazista por todos os lados. Outras inovações protocolais<br />

foram introduzidas pelos alemães, como o show da cerimônia de abertura e a corrida da tocha<br />

Olímpica de Atenas até o lugar dos Jogos. Apesar de tudo o esporte mais uma vez triunfou e<br />

no meio da festa ariana, Jesse Owens, um negro americano marcou para sempre e se tornou o<br />

herói indiscutível das XI Olimpíadas da era moderna.<br />

Mais uma vez, as Olimpíadas modernas não mantiveram a tradição dos antigos Jogos<br />

Olímpicos Gregos onde as guerras eram interrompidas para a realização dos jogos. 1940 e<br />

1944 as armas impediram a realização de dois jogos Olímpicos como em 1916. A ambição do<br />

homem pelo poder e a ânsia de conquista e segregação racial, levou o mundo a guerra e<br />

apagou a chama Olímpica que só voltaria a brilhar em 1948.<br />

Sobre as ruínas de Londres pós guerra, de 29 de julho a 14 de agosto de 1948, ergueram-se<br />

os Jogos Olímpicos que reuniu 59 paises, 4.099 atletas entre homens e mulheres, entre eles<br />

uma delegação 78 atletas brasileiros de ambos os sexos se dividissem em 19 esportes e 138<br />

provas. Depois de 12 anos da última Olimpíada, havia muita vontade de se fazer esportes, e o<br />

improviso de instalações pela absoluta falta de dinheiro na Inglaterra que ressurgia das cinzas.<br />

Muitos atletas recordistas Olímpicos estavam aposentados, mortos pela guerra ou abandonado<br />

o amadorismo, e os Jogos possibilitaram o surgimento de outros nomes Olímpicos, mas foi<br />

uma disputa bastante nivelada na parte técnica. Política internacional continuou interferindo<br />

nos Jogos, a Alemanha, não foi convidada, o Japão convidado não apareceu, o mesmo<br />

acontecendo com a União Soviética e a China. O COI como sempre fazia de conta que não<br />

tinha nada a ver com ele. Nos Jogos de Londres foi inaugurada a prática de deserção dos<br />

atletas do bloco socialista, aproveitando excursões ao exterior para pedir asilo político. A<br />

pioneira foi a dirigente da equipe de ginástica da Tchecoeslováquia Marie Provaznikova.<br />

Os Jogos realizados em 1952 em Helsinque na Finlândia tiveram a volta da União Soviética,<br />

iniciando a grande batalha contra os Estados Unidos na briga pelo poderio e hegemonia no<br />

campo esportivo mundial. Foram 4.925 atletas de todo o mundo, entre eles 107 brasileiros. A<br />

União Soviética que saia de sua reclusão preparada para através do esporte lançar sua<br />

4


propaganda ideológica de superioridade do socialismo sobre o capitalismo. A guerra fria<br />

chegava as Olimpíadas e duraria quatro décadas. A perfeita organização finlandesa não<br />

impediu que nova moda fosse lançada, o palco das Olimpíadas era perfeito para isso, após o<br />

desfile de abertura uma jovem de vestida com uma túnica branca, correu pela pista, subiu ao<br />

palco e iniciou um discurso, pouco pode falar, pois logo que foi notada pela organização dali foi<br />

retirada.<br />

No ano de 1956 em Melboume na Austrália as competições Olímpicas pela primeira vez estão<br />

no Hemisfério Sul, e 3.184 atletas de 67 paises, entre eles 44 brasileiros participaram dos<br />

Jogos, que foram marcados por notícias de guerras e invasões de países em várias partes do<br />

mundo. A guerra fria estava no auge e muitos países não participaram dos Jogos como<br />

protesto. A invasão da Hungria pela União Soviética e outros acontecimento políticos em<br />

diversas partes do mundo levaram a mais um boicote aos Jogos.<br />

Em 1960 os Jogos voltam a Europa e Roma se prepara para receber 83 paises e 5.348 atletas.<br />

A televisão entra para mudar a história dos Jogos. Os Jogos primaram pela organização e<br />

ótimos resultados atléticos. Abebe Bikila, brilhou na maratona noturna e este etíope de pés<br />

descalços despertou um continente para as corridas de fundo. A tragédia no esporte teve sua<br />

vez, a morte do ciclista dinamarquês Knud Enemark, alertou o COI e ao descobrir que o<br />

mesmo tinha usado doping, iniciaram as rígidas medidas para combater esta violenta<br />

manipulação desportiva. Roma foi os jogos da Televisão, contrariando previsões de alguns<br />

dirigentes do COI, toda a Europa viu os Jogos ao vivo, e Estados Unidos e Japão em vídeo<br />

tape. A televisão converteu os jogos Olímpicos em uma inesgotável fonte de recursos.<br />

Em Tóquio/1964, 93 paises e 5. 140 atletas participaram dos Jogos que teve uma participação<br />

maciça, e muitos recordes foram batidos, tudo isto documentado pela televisão, a tecnologia<br />

chegava com força. A chama de Tóquio foi conduzida dentro do estádio pelo jovem atleta<br />

Yoshinari Sakai, o bebê de Hiroshima, e apesar do início da guerra do Vietnã, Rússia e China<br />

com ralações nada amistosas e Estados Unidos e Cuba se estranhando. Mais uma vez os<br />

Jogos Olímpicos sobrepondo-se aos feitos aniquiladores da guerra.<br />

No mundo conturbado de 1968, 112 paises e 5.531 atletas participaram dos primeiros Jogos a<br />

serem realizados em um país de língua hispânica. A quebra de recordes e o surgimento do<br />

poder negro americano sua marca maior. Os festivais de recordes conseguidos no México em<br />

parte foram ajudados pela altitude. Gastos em um país do Terceiro mundo não seriam aceitos<br />

pacificamente, e dez dias antes dos Jogos, manifestações na Cidade do México levaram a<br />

morte 250 pessoas e mais de 100 feridos na praça Zócalo na frente do palácio Nacional.O<br />

Poder Negro seguiu a tradições e outros protestos e usou a Olimpíada para mostrar a sua força<br />

e acentuar o racismo nos Estados Unidos, que expulsou da delegação os manifestantes, entre<br />

eles Tommie Smith, recordista dos 200 metros.<br />

Mais uma vez na Alemanha, em 1972 os Jogos Olímpicos de Munique tinham tudo para<br />

proporcionar a 7.147 atletas de 122 paises a consolidação dos Jogos. Os recordes da natação<br />

Mark Spitz, a ginasta Olga Korbut, o basquete da URSS e outros esportes foram manchados<br />

pelo triste episódio da Vila Olímpica, onde terrorista do <strong>grupo</strong> Setembro Negro seqüestraram<br />

atletas Israelenses e no final todos foram mortos, 9 atletas seqüestrados, 5 terroristas e um<br />

policial alemão. Este trágico acontecimento não foi o único incidente político que manchou<br />

estes Jogos que tinham o intento de serem perfeitos, devido a sua organização e estrutura<br />

desportiva montada. Antes do início dos Jogos, a pressão política da Unidade Africana,<br />

Iugoslávia e Afeganistão obrigou o COI a excluir a Rodésia dos Jogos. Mas os Jogos tinham<br />

que continuar, mesmo sobre intenso luto, o COI não permitiria que atos criminosos colocassem<br />

a mercê a causa Olímpica.<br />

Em Montreal, 1976, os Jogos voltam ao continente Americano, 6.085 atletas de 92 paises se<br />

preparam para disputar mais uma edição dos Jogos. O primeiro grande boicote está em<br />

andamento, 24 paises da África se recusam a participar dos Jogos em represália a política da<br />

África do Sul. Com esta atitude, atletas destacados dos países foram alijados dos Jogos por<br />

seus dirigentes quando já estavam hospedados na Vila Olímpica. O que mais assustou foi o<br />

5


prejuízo de 1 bilhão de dólares que teve a organização do evento, causada por problemas<br />

trabalhistas internos acontecidos no Canadá durante a construção do Complexo Olímpico. Os<br />

dramáticos acontecimentos de Munique fizeram com que 15.000 pessoas fossem mobilizadas<br />

para garantir a segurança dos Jogos.<br />

Sem problemas de dinheiro, Moscou se preparou para as Olimpíadas de 1980, o governo<br />

bancou todas as despesas. A organização Russa dos jogos foi boicotada pelo Estados Unidos<br />

e alguns dos seus aliados. Os Jogos reuniram 5.163 atletas de 81 paises sentiu falta de muitas<br />

estrelas das pistas, piscinas e ginásios, e foi consolidado o uso das Olimpíadas como arma<br />

política das grandes potências. Apesar do boicote político, as grandes patrocinadoras dos<br />

jogos de Moscou, a Kodak de Rochester, a Coca Cola de Atlanta e a alemã Adidas não foram<br />

molestadas comercialmente por seus países como foram pressionados seus atletas, chegando<br />

o governo americano ameaçar caçar os passaportes dos atletas dispostos a irem aos Jogos.<br />

Os países europeus apoiaram o boicote, mas deixaram a decisão de participar ou não dos<br />

Jogos para os próprios atletas, a maioria decidiu participar.<br />

De volta a Los Angeles em 1984, 7.078 atletas de 141 países, desfilaram pelas pistas e<br />

estádios em busca de resultados e fama, os Jogos davam adeus ao amadorismo. A<br />

organização empresarial mostrava sua força. A organização privada e original da cidade<br />

americana triunfou. Estádios lotados bem ao estilo americano ignorou as ausências provocadas<br />

por mais um boicote, desta vez promovido pela URSS e alguns de seus aliados, alegando falta<br />

de segurança para seus atletas, não passava de um “olho por olho”.<br />

Novamente no Oriente, Seul em 1988, 9.321 atletas de 159 países participaram dos Jogos<br />

procurando seus <strong>mel</strong>hores resultados em uma Olimpíada que teve uma grande organização.<br />

Mas o que passou para a história foram também os grandes escândalos ocasionados pelo<br />

“doping” descoberto em alguns atletas principalmente no escândalo de Ben Johnson. A fase de<br />

distensão da política mundial permitiu que o COI respirasse pois a Guerra Fria começava a<br />

ceder lugar para a nova ordem mundial e a era dos boicotes poderia estar chegando ao fim,<br />

pois apenas Cuba, Etiópia, Nicarágua e Albânia se solidarizaram com a comunista Coréia do<br />

Norte, que desde a escolha da Coréia do Sul exercia todo os tipos de pressões para ter a<br />

exclusividade na organização dos Jogos.<br />

O êxito de Barcelona, em 1992, nos XXV Jogos Olímpicos que reuniram 10.557 atletas de 171<br />

paises marcou o fim definitivo do amadorismo. A Olimpíada se consolida como um grande<br />

negócio, foram os Jogos das surpresas, grandes afirmações e outros tantos fracassos. E o fim<br />

do amadorismo Olímpico esteve espelhado e confirmado com o “Dream Team” do basquete<br />

americano. O joguete político que os grandes líderes mundiais tinham feito das Olimpíadas,<br />

pensando apenas em seus interesses, teve seu final com o fim da guerra fria, a “perestroika”<br />

soviética e a queda do muro de Berlim combinada com a queda dos regimes comunista do<br />

leste europeu criaram a nova ordem mundial e os jogos triunfaram absolutos.<br />

Cem anos de Olimpíada, os XXVI Jogos vieram para Atlanta e 10.500 atletas dos 197 paises<br />

inscritos no COI se prepararam para disputarem a Olimpíada que era para ser perfeita,<br />

profissional e lucrativa. Mais uma vez a capacidade americana de usar o modelo privado de<br />

organização e patrocínio possibilita uma Olimpíada com lucro antes de seu início. O<br />

profissionalismo Olímpico esta em seu auge e os <strong>mel</strong>hores atletas do mundo se reuniram em<br />

Atlanta para tentar escrever seu nome junto aos que fizeram estes cem anos de história<br />

Olímpica.<br />

Sydney/2000 foi Olimpíada do profissionalismo, da tecnologia e da preservação da natureza. A<br />

Olimpíada mais uma vez do outro lado do mundo, onde a mídia nos mantinha acordado as<br />

noites inteiras e sonolentos o dia todo.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Mais uma Olimpíada marcada por um mundo agitado, não tanto pela guerra fria que tanto<br />

influenciou outras Olimpíadas, mas por um mundo febril de guerras étnicas, que mesmo assim<br />

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não conseguem ofuscar o brilho Olímpico da busca dos recordes por atletas nada amadores<br />

que nem sempre usam os meios mais lícitos para vencer.<br />

Agora com Atenas 2004, a volta as origens na época da rede mundial de computadores, a<br />

olimpíada no berço dos jogos e no meio de conflitos sociais, étnicos, e o terror contra a guerra<br />

e a guerra contra o terror eclodindo em todo o mundo, a mídia reforçada pela internet nos<br />

deixando ligados 24 horas por dia nos Jogos, notícias marcadas de vitórias pessoais<br />

procurando o espírito olímpico e o espírito de porco da política mundial preocupados em<br />

fomentar o ódio e a desigualdade entre a humanidade.<br />

Ao ler este trabalho muitos questionarão que feitos Olímpicos não fazem parte de seu contexto,<br />

mas em compensação são passadas ao leitor acontecimentos que paralelamente os Jogos<br />

tiveram grande influência em suas realizações. Poucos heróis, deuses da Olimpíada, são<br />

citados, mas sim fatos históricos e políticos, muitas vezes ignorados que influenciaram<br />

diretamente na evolução, sucessos e fracassos dos Jogos.<br />

Boicotes e outras desistências de participação nos Jogos, por motivos, puramente políticos e<br />

ideológicos aconteceram não só durante a era da guerra fria, mas desde o início dos Jogos,<br />

pois o terreno do esporte sempre se mostrou propício a estas manifestações, e atletas muitas<br />

vezes foram usados contra sua vontade como propaganda política ideológica que não<br />

engrandece em nada o espírito esportivo que deve predominar durante competições Olímpicas.<br />

O fim da guerra fria proporcionou uma trégua das influências política/ideológica nas<br />

Olimpíadas, mas o aumento da profissionalização dos Jogos provoca outro tipo de disputas<br />

que transcendem o espírito olímpico e transferem para fora das quadras, a guerra dos<br />

patrocinadores, fabricantes de material esportivo que investem milhões de dólares, e muita<br />

influência em Federações Internacionais e no próprio Comitê Olímpico Internacional para cada<br />

vez terem um pedaço maior no principal fenômeno social deste século, a imensurável indústria<br />

do entretenimento e lazer que transformou o esporte Olímpico em uma panacéia.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BARBOSA, Sergio Marinho. Jogos Olímpicos modernos – Esboço de história. Rio de Janeiro,<br />

Edições do Mobral, 1981.<br />

CARDOSO, Mauricio. 100 anos de Olimpíadas. São Paulo: Scritta, 1996.<br />

HEGEDÜS, Jorge de. Olimpismo: Intolerância, Segregacion y Racismo. Lecturas: Educación<br />

Física y Deportes www.sportquest.com/revista/Revista Digital.<br />

ODRIOZOLA, Ignácio Rodriguez. Montreal, Agonia de uma era Olímpica. Bilbao/Es: Mensajero,<br />

1976.<br />

SIMSON, Vyv e JENNINGS, Andrew. Os senhores dos anéis. São Paulo: Best Seller, 1992.<br />

A <strong>POLÍTICA</strong> E O <strong>OLIMPISMO</strong><br />

RESUMO<br />

Este ensaio tem por objetivo resgatar os processos históricos dos Jogos Olímpicos Modernos,<br />

evidenciando as correntes ideológicas que se estabeleceram desde 1896 em Atenas, quando<br />

o Barão Pierre de Coubertin resgatou os Jogos Olímpicos Modernos. Destaca-se o uso dos<br />

Jogos como poder simbólico dentro das lógicas do desenvolvimento da sociedade<br />

contemporânea, perpassado pelo Olimpismo, filosofia que rege os Jogos. As contradições<br />

estabelecidas dentro das disputas Olímpicas são desvelas neste texto como forma de<br />

evidenciar os processos de poder que são instituídos em diversos segmentos do campo<br />

esportivo. Com isso, conclui-se que os Jogos desde seu início estão sujeitos a deteriorização<br />

de seus ideais como o amadorismo e fair play em face aos interesses de diversos campos<br />

(político, econômico, religioso).<br />

Palavras-chave: Jogos Olímpicos, Olimpismo; Política<br />

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THE POLITICS AND THE OLYMPIANISM<br />

Abstract<br />

This essay has for objective to rescue the historical processes of the Modern Olympic Games,<br />

evidencing the ideological chains that had established since 1896 in Athens, when the Baron<br />

Pierre de Coubertin rescued the Modern Olympic Games. The use of the Games is<br />

distinguished as a symbolic power inside the logics of the society contemporary development,<br />

passing for the Olympism, philosophy that conducts the Games. The established contradictions<br />

inside of the Olympic disputes are disclosed in this text as form to evidence the power<br />

processes that are instituted in diverse segments of the sporting field. With this, it is concluded<br />

that the Games since its beginning are subject to decay of its ideals as the amateurishness and<br />

to fair play in face to the interests of diverse fields (politician, economic, religious).<br />

Key Words: Olympic Games, Olympism; Politics<br />

Contato:<br />

Gustavo Roese Sanfelice<br />

Rua Bento Gonçalves, 886/73, Novo Hamburgo/RS/Brasil<br />

Cep:93410-001<br />

Centro Universitário Feevale<br />

Fone: (51) 586 8800 e (51) 9123- 0690<br />

Email: sanfeliceg@feevale.br<br />

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