19.04.2013 Views

Book in PDF - SciELO Livros

Book in PDF - SciELO Livros

Book in PDF - SciELO Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

352 LUZIA APARECIDA OLIVA DOS SANTOS<br />

o breve <strong>in</strong>stante em que se separaram foi para deixarem cair no chão as roupas<br />

sobre as quais se deitaram debaixo das orquídeas pálidas, separados do rio por<br />

um cort<strong>in</strong>ado de orquídeas coloridas. (Callado, 1984, p.319)<br />

Encontram-se, assim, implícitos nesse episódio, diferentes centros a que<br />

a narrativa se propõe alegorizar, conforme elucida Moraes (1983, p.59):<br />

a planta, (orchidion, do grego – testículo), símbolo de fertilidade, aparece no<br />

centro da fl oresta tropical, com muita água e muita cor, no momento do encontro<br />

de Nando e Francisca, e no centro do livro. É quando o herói, fund<strong>in</strong>do<br />

numa só Francisca real com a Francisca de sua imag<strong>in</strong>ação, deixa de ser impotente<br />

para encontrar-se na sua mascul<strong>in</strong>idade, encontrando o seu complemento<br />

fem<strong>in</strong><strong>in</strong>o. A <strong>in</strong>tegração dos amantes com a natureza é completa, a mulher se<br />

funde com as fl ores e a cena reatualiza o mito de Adão e Eva, <strong>in</strong>ocentes, a descobrir<br />

o amor no paraíso.<br />

A metáfora do centro alude a um ponto-referência sobre o qual pousa<br />

o equilíbrio da sexualidade da personagem, revelada no centro do livro,<br />

mas também, alegorizada no projeto de se marcar o centro do país. Daquele<br />

ponto irradiaria a formação de uma sociedade do futuro, com a presença<br />

dos <strong>in</strong>dígenas, sem deixar de considerar as bases nacionalistas de onde parte<br />

sua concepção utópica de nação.<br />

É no centro, também, que se desenvolve a percepção de Nando a respeito<br />

da <strong>in</strong>viabilidade de se pensar a nação a partir da <strong>in</strong>tegração dos povos “<strong>in</strong>ocentes”.<br />

Segundo Ávila (1983, p.284), “tão s<strong>in</strong>gular projeto não resiste, porém,<br />

à prova da realidade do X<strong>in</strong>gu e, talvez por causa disso, Nando se torna<br />

um crítico bastante lúcido de quase todas as formulações nacionalistas que<br />

outras personagens façam na sua presença”. Cabe ass<strong>in</strong>alar que Nando não<br />

fi gura entre as personagens como um defensor da causa <strong>in</strong>digenista, vista<br />

sua falta de comunicação entre os índios. O que se pode atribuir a ele, como<br />

fator favorável na fi guração do <strong>in</strong>dígena, é o movimento constante que realiza<br />

na narrativa como portador de um centro pelo qual o narrador leva o leitor<br />

a visualizar situações bem mais profundas que as reveladas pela sua óptica.<br />

Visto no conjunto, o romance parece não dar a Nando um caráter de<br />

personagem pr<strong>in</strong>cipal, a não ser que se considere sua frequência nas ações.<br />

Entende-se que ele exerce muito mais uma função de catalisador entre os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!