1 Martin Buber e o judaísmo poético de Histórias do rabi Leo ...
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ISSN: 1983-8379<br />
Nas narrativas hassídicas, <strong>Buber</strong> vale-se comumente da introdução “Es wird erzählt”<br />
(“Conta-se 2 ”), para começar algumas histórias referentes ao Baal Schem Tov (O Bescht,<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Hassidismo polonês, no início <strong>do</strong> séc. XVIII), as quais são<br />
iniciadas com aspas. Provavelmente queira indicar, com isso, uma fonte oral ou a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />
um fato reconta<strong>do</strong>, e não vivi<strong>do</strong> na presença <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r. Outras introduções recorrentes na<br />
parte <strong>de</strong> <strong>Histórias</strong>... <strong>de</strong>dicadas ao Bescht: “Der Baalschem sprach” (“O Baal Schem disse”),<br />
“Die Chassidim erzählen” (“Os hassidim contam”). Em alguns casos, é apontada a suposta<br />
fonte exata da história (“Der Maguid von Mesritsch erzählte”, “Rabbi Baruch erzählte”. O<br />
Maguid era discípulo <strong>do</strong> Bescht e Rabi Baruch era neto <strong>do</strong> Baal Shem Tov). A história <strong>do</strong><br />
Bescht é contada por meio <strong>de</strong> narrativas que seguem, basicamente – embora não se possa<br />
afirmar que há uma or<strong>de</strong>m cronológica na disposição (e seus critérios) <strong>de</strong> que <strong>Buber</strong> se valeu,<br />
mas esse aspecto não é <strong>de</strong>terminante, em termos históricos, quan<strong>do</strong> se fala em lenda hassídica<br />
– a or<strong>de</strong>m cronológica <strong>de</strong> nascimento, vida e morte. Na infância fora <strong>de</strong>sacredita<strong>do</strong> como<br />
futuro “homem <strong>de</strong> bem”, embora, segun<strong>do</strong> a lenda hassídica, o profeta Elias tenha dito ao pai<br />
<strong>do</strong> Bescht, Eliezer, que este teria “um filho que haveria <strong>de</strong> iluminar os olhos <strong>de</strong> Israel”<br />
(BUBER, 1995, p. 84). Depois <strong>de</strong> se casar, “<strong>de</strong>u-se a conhecer”, (“revelou-se”, “offenbart<br />
sich”) como sábio e arrebanhou segui<strong>do</strong>res. Os relatos, cujas origens estão na convivência<br />
entre si <strong>de</strong>sses mesmos segui<strong>do</strong>res, estão repletos <strong>de</strong> menções a feitos sobrenaturais (como ser<br />
“socorri<strong>do</strong>” por uma montanha à sua frente, quan<strong>do</strong> quase <strong>de</strong>spencara da montanha em que<br />
estava) e menções à natureza divina <strong>do</strong> Bescht. A relação entre o tzadik e seus segui<strong>do</strong>res<br />
também é privilegiada, e <strong>de</strong>vem ser compreendidas (mais <strong>do</strong> que entendidas racionalmente) à<br />
luz <strong>do</strong> espírito hassídico. Os ensinamentos (preleções) <strong>do</strong> tzadik se dão por meio <strong>de</strong> parábolas<br />
e surgem a partir <strong>de</strong> fatos <strong>do</strong> cotidiano, com algumas interpretações <strong>do</strong>s livros sagra<strong>do</strong>s. Mas<br />
a lenda criada sobre o Baal Schem <strong>de</strong>u-se com os relatos <strong>de</strong> hassidim ou mesmo <strong>de</strong> outros<br />
tzadikim sobre os ensinamentos <strong>do</strong> Bescht e sobre acontecimentos ordinários que, ilumina<strong>do</strong>s<br />
pela santida<strong>de</strong> com que o revestiam seus discípulos, <strong>de</strong>monstram-se experiências únicas.<br />
2 “Es wird erzählt”: tem caráter <strong>de</strong> testemunho, quan<strong>do</strong> é coloca<strong>do</strong> um nome que conta.<br />
A forma inicial e básica tem algo <strong>de</strong> “Era uma vez”. A diferença importante é que alguém conta. E contar é ato<br />
que se apresenta como revelação e como testemunho.<br />
DARANDINA revisteletrônica – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras / UFJF – volume 2 – número 1<br />
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