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1 Martin Buber e o judaísmo poético de Histórias do rabi Leo ...

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ISSN: 1983-8379<br />

Ainda assim, percebe-se a progressiva (mas não tão significativa a ponto <strong>de</strong> torná-las<br />

<strong>de</strong> natureza diferente das anteriores) elaboração formal das histórias em <strong>Histórias</strong> <strong>do</strong> <strong>rabi</strong>,<br />

principalmente nas histórias referentes ao círculo <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong> Maguid. Excluin<strong>do</strong>-se os<br />

aforismos e preleções, há, nas histórias curtas, mais <strong>de</strong>talhes, a progressão da história é mais<br />

lenta e as <strong>de</strong>scrições são mais minuciosas. O costume <strong>de</strong> contar histórias entre os hassidim (e<br />

não apenas <strong>de</strong> tzadik para hassidim ou qualquer outro que o ouvisse) é menciona<strong>do</strong><br />

literalmente em algumas histórias, e diz-se <strong>de</strong> um <strong>rabi</strong> (<strong>de</strong> Apt) que “gostava <strong>de</strong> contar<br />

histórias” (BUBER, 1995, p. 428). A narrativa hassídica toma formas <strong>de</strong> conto, ao unir à sua<br />

concisão <strong>de</strong>scritiva o maior trabalho com o espaço em que se dá a ação. A interação entre as<br />

poucas personagens, bem como os <strong>de</strong>sfechos enquanto ápice da história – características<br />

comuns a muitas das narrativas hassídicas das <strong>Histórias</strong>... –, acentuam-se, chegan<strong>do</strong> mesmo a<br />

<strong>de</strong>finir um enre<strong>do</strong> – aspecto que se mostra também, muitas vezes, em diálogos mais<br />

elabora<strong>do</strong>s. Soma-se a isso a ausência, no início <strong>de</strong> várias narrativas, <strong>de</strong> termos como “Es<br />

wird erzählt”, “Rabi... sprach”, elemento que ressalta o caráter <strong>de</strong> testemunho da narrativa<br />

hassídica 4 . Com esse recurso, <strong>Buber</strong> parece ter lega<strong>do</strong> à narrativa hassídica o caráter <strong>de</strong><br />

história autônoma – ou seja, <strong>de</strong> ficção literária mesmo. Vejamos um exemplo em que<br />

ane<strong>do</strong>tas são relacionadas pelo fato <strong>de</strong> serem colocadas como quatro momentos <strong>de</strong> uma<br />

mesma narrativa. Percebe-se que os elementos coesivos são mínimos, <strong>de</strong> forma que o<br />

primeiro momento pu<strong>de</strong>sse constituir uma única narrativa, e os momentos posteriores, uma<br />

segunda narrativa:<br />

De Lublin a Pjischa<br />

Quan<strong>do</strong> Men<strong>de</strong>l [Rabi Menahem Men<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Vorki], <strong>de</strong>saponta<strong>do</strong>, juntamente com um<br />

companheiro, aban<strong>do</strong>nou o Vi<strong>de</strong>nte [<strong>de</strong> Lublin], e foi a Pjischa, a fim <strong>de</strong> ligar-se ao Iehudi [o<br />

<strong>rabi</strong> conheci<strong>do</strong> como “O Ju<strong>de</strong>u”], um <strong>do</strong>s discípulos <strong>do</strong> Vi<strong>de</strong>nte a<strong>do</strong>eceu no caminho. Seu<br />

companheiro procurou o Iehudi e pediu-lhe que se lembrasse <strong>de</strong> Men<strong>de</strong>l, em sua oração. –<br />

Partiste <strong>de</strong> Lublin sem pedir licença ao Rabi? – perguntou o Iehudi. À resposta afirmativa, o<br />

Iehudi foi com ele à hospedaria. – Assume o compromisso <strong>de</strong> voltar a Lublin assim que sarares<br />

4 A ane<strong>do</strong>ta enquanto relato <strong>de</strong> um fato que aclara to<strong>do</strong> um <strong>de</strong>stino, conforme <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> <strong>Buber</strong>, preserva o<br />

caráter <strong>de</strong> testemunho da narrativa hassídica mesmo quan<strong>do</strong> não se usam os termos acima menciona<strong>do</strong>s, uma vez<br />

que faz parte da natureza da ane<strong>do</strong>ta o caráter testemunhal. Além disso, ainda que certas narrativas pareçam mais<br />

elaboradas e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, enquanto ficção, <strong>do</strong> que as narrativas <strong>do</strong> início <strong>do</strong> Hassidismo, essas narrativas mais<br />

elaboradas ainda se valem <strong>de</strong> ane<strong>do</strong>tas, parábolas e preleções – formas tão caras à narrativa hassídica.<br />

DARANDINA revisteletrônica – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras / UFJF – volume 2 – número 1<br />

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