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Saberes da Terra: tessitura de projetos de vida de jovens ...

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<strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>: <strong>tessitura</strong> <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses na Amazônia<br />

paraense no contexto <strong>da</strong> EJA e qualificação social-profissional<br />

Jacqueline Cunha <strong>da</strong> Serra Freire<br />

(UFPA/ICED e UNILAB)<br />

Meus planos são: estu<strong>da</strong>r até me formar, com profissão a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para<br />

exercer o trabalho no campo e aju<strong>da</strong>r não só a minha comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />

to<strong>da</strong>s as possíveis e realizando um dos meus sonhos que é estu<strong>da</strong>r na<br />

Escola Agrotécnica <strong>de</strong> Castanhal. Isso será possível. E aju<strong>da</strong>r muitos<br />

agricultores que trabalham muito e produzem pouco por não ter técnicas<br />

mo<strong>de</strong>rnas para o trabalho atual. (Pesca<strong>da</strong>, jovem ribeirinho, município <strong>de</strong><br />

Igarapé-Miri/Pará, 2009).<br />

O <strong>de</strong>poimento do jovem Pesca<strong>da</strong> 1<br />

é revelador <strong>da</strong> centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação no<br />

cotidiano e <strong>tessitura</strong> <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses vinculados ao Programa<br />

<strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> <strong>da</strong> Amazônia paraense.<br />

A formação <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses em nível <strong>de</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e EJA, com<br />

qualificação social e profissional em produção rural familiar, é o objetivo estratégico do<br />

Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>, implementado no país a partir <strong>de</strong> 2005 , sob coor<strong>de</strong>nação<br />

do Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC).<br />

A compreensão dos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> amazônicos, a partir <strong>da</strong> inter-<br />

relação entre o processo formativo na EJA e a <strong>tessitura</strong> dos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong><br />

camponeses egressos do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> se constitui no objeto <strong>de</strong> estudo <strong>da</strong><br />

pesquisa sintetiza<strong>da</strong> no presente trabalho , estruturado contemplando discussões<br />

teórico-metodológicas, resultados <strong>de</strong> pesquisa e sínteses reflexivas.<br />

Juventu<strong>de</strong>(s) e Projetos <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>: incursões teóricas, enunciados <strong>de</strong> pesquisa<br />

3<br />

A juventu<strong>de</strong> não é uma categoria auto-explicativa ou auto-evi<strong>de</strong>nte. Sua<br />

compreensão requer aporte conceitual, impõe incursões teóricas. Castro (2005, p. 6)<br />

1 Optei por preservar a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> dos entrevistados, consi<strong>de</strong>rando-se a natureza <strong>da</strong>s questões objeto <strong>da</strong>s<br />

entrevistas, que suscitam elementos <strong>de</strong> sua subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, questões políticas, relações familiares, entre<br />

outros, utilizando codinomes <strong>de</strong> peixes para referenciar <strong>jovens</strong> homens e flores para <strong>jovens</strong> mulheres.<br />

2 Em 2007 o Programa foi reformulado e passou a integrar ain<strong>da</strong> a política nacional <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, sendo<br />

vinculado ao ProJovem (Programa Nacional <strong>de</strong> Inclusão <strong>de</strong> Jovens) e convertido no ProJovem Campo –<br />

<strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>.<br />

3 A pesquisa é parte constitutiva <strong>da</strong> Tese <strong>de</strong> Doutorado no Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável do<br />

Trópico Úmido (PDTU/NAEA/UFPA), intitula<strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> Camponesa e Políticas Públicas:<br />

pertinência social do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>.<br />

2


eflete que juventu<strong>de</strong> é uma categoria permea<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições genéricas, que<br />

constantemente ten<strong>de</strong> a ser substantiva<strong>da</strong>, adjetiva<strong>da</strong>, sem que se busque “a autopercepção<br />

e formação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>queles que são <strong>de</strong>finidos como “<strong>jovens</strong>”. A<br />

partir <strong>de</strong>ssa reflexão a autora investe na busca <strong>da</strong> compreensão “... sobre diversas<br />

formas <strong>de</strong> construção <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> “juventu<strong>de</strong> rural” e seus correlatos “jovem rural”,<br />

“jovem <strong>da</strong> roça”, “jovem do campo”...”, na perspectiva <strong>de</strong> “... <strong>de</strong>substancializar estas<br />

categorias e procurar compreendê-las em seus múltiplos significados.”<br />

A ausência <strong>de</strong> um marco conceitual geral e atualizado, bem como a compreensão<br />

<strong>da</strong> maneira como a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contextos e processos condiciona o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong><br />

programas e ações para a juventu<strong>de</strong> camponesa em situações concretas, são lacunas<br />

evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong>s por Durston (1998).<br />

Produções mais recentes abor<strong>da</strong>m a discussão sobre juventu<strong>de</strong> camponesa,<br />

<strong>jovens</strong> em múltiplos contextos rurais. No Brasil, as produções <strong>de</strong> Abramovay (1998),<br />

Carneiro (1998, 2005), Stropassolas (2006), Castro (2004, 2005a, 2005b, 2009), Pereira<br />

(2004), Weisheimer (2005, 2009), são importantes referências. Na Amazônia, os<br />

estudos <strong>de</strong> Freire (2002, 2007) são contribuições que <strong>de</strong>svelam a juventu<strong>de</strong> no contexto<br />

loco-regional.<br />

Compartilho do argumento <strong>de</strong> Carneiro (2005, p. 247) <strong>de</strong> que é “... importante<br />

termos em mente a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> traçar um perfil <strong>da</strong> ‘juventu<strong>de</strong> rural’ brasileira ou<br />

<strong>de</strong> construir um padrão, um tipo i<strong>de</strong>al, do “jovem rural”. A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

maneiras <strong>de</strong> viver, <strong>de</strong> produzir a existência material e simbólica <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> em diferentes<br />

contextos, sejam urbanos ou rurais, é refleti<strong>da</strong> pela autora, que enfatiza a importância <strong>de</strong><br />

se compreen<strong>de</strong>r a dinâmica <strong>de</strong>ssas reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que no caso <strong>da</strong> Amazônia é marca<strong>da</strong> por<br />

uma complexa sociobiodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> que singulariza a região.<br />

Assim, a partir <strong>da</strong> revisão <strong>de</strong> literatura empreendi<strong>da</strong> no processo <strong>de</strong> pesquisa e<br />

sinteticamente referi<strong>da</strong>, assumi a concepção <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> entendi<strong>da</strong> como uma condição<br />

sociocultural que contempla o pertencimento <strong>de</strong> classe social, cultural, étnico,<br />

geracional e <strong>de</strong> gênero. Os <strong>jovens</strong> camponeses são aqui entendidos, portanto, como<br />

categoria sociológica, expressão <strong>de</strong> processos dinâmicos e multidimensionais no<br />

contexto amazônico – histórico, econômico, social, cultural, ambiental –, superando<br />

assim o reducionismo do recorte etário ou a naturaliza<strong>da</strong> <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> rurais.<br />

É apontado por Carneiro (2005) que é recente o interesse <strong>de</strong> pesquisadores<br />

brasileiros sobre o universo sociocultural <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> rurais e que é bastante limita<strong>da</strong> a<br />

2


ibliografia disponível sobre a temática, o que evi<strong>de</strong>ncia a importância e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do empreendimento <strong>de</strong> estudos sobre a questão.<br />

Muitas seriam as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> recortes <strong>da</strong> pesquisa, mas elegi a<br />

compreensão dos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses como objeto-problema <strong>de</strong><br />

estudo, a partir <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> inter-relação entre o processo formativo na EJA e a<br />

<strong>tessitura</strong> dos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses egressos do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Terra</strong>, por compreen<strong>de</strong>r que esse elemento é importante <strong>de</strong> ser apropriado no contexto<br />

do <strong>de</strong>bate sobre a reprodução social do campesinato e <strong>da</strong> política educacional.<br />

Projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> tem sido abor<strong>da</strong>do na produção intelectual <strong>de</strong> Hernán<strong>de</strong>z (2000),<br />

Velho (1987, 1994), Schutz (1979), Boutinet (2002), entre outros autores.<br />

Conceitualmente Schutz (1979) situa o projeto como uma antecipação <strong>de</strong> eventos<br />

futuros, em que no presente são tecidos horizontes em aberto e se concretizarão a partir<br />

<strong>da</strong> materialização <strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> projeta<strong>da</strong>, do evento antecipado. Para o autor, o<br />

projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> está intrinsecamente relacionado ao campo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s; entendido<br />

como a projeção <strong>de</strong> intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que requer conduta organiza<strong>da</strong> para<br />

seu alcance, sem que impute ao indivíduo a única e <strong>de</strong>cisiva condição <strong>de</strong> realização; ao<br />

contrário, é o campo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s no qual o indivíduo se situa, o contexto<br />

multidimensional no qual objetivamente vive, que contribuirá para a realização do<br />

projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Influenciado pelo pensamento <strong>de</strong> Schutz (1979), Velho (1994) concebe que os<br />

<strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> expressam uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> dialética entre indivíduo e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

ganham materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> no bojo do campo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e nas múltiplas dimensões<br />

contextuais – econômica, social, cultural, ambiental, geracional, gênero, entre outras –<br />

nas quais os indivíduos estão imersos. Velho (1994) enfatiza em sua análise a dimensão<br />

sociocultural, a organização econômica e as políticas públicas fomenta<strong>da</strong>s nesse<br />

contexto como elementos que exercem influência e condicionam a materialização do<br />

projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

A Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos inscreve-se na perspectiva <strong>da</strong> inclusão social e<br />

do campo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> materialização <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do<br />

acesso à educação, <strong>da</strong> garantia <strong>de</strong> direitos aos sujeitos do campo. Escolarizar <strong>jovens</strong><br />

camponeses na EJA alia<strong>da</strong> à qualificação profissional é assegurar a condição <strong>de</strong> sujeitos<br />

<strong>de</strong> direitos aos povos do campo, na perspectiva <strong>de</strong> que a educação é direito e <strong>de</strong>ver do<br />

Estado.<br />

3


A experiência coletiva <strong>de</strong> implementação do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> <strong>da</strong><br />

Amazônia Paraense, li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelo Fórum Paraense <strong>de</strong> Educação do Campo (FPEC) e a<br />

re<strong>de</strong> social <strong>de</strong> instituições públicas <strong>de</strong> ensino – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (UFPA),<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>da</strong> Amazônia (UFRA), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado do Pará<br />

(UEPA) e Escola Agrotécnica Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Castanhal (EAFC) 4<br />

– inspiraram o <strong>de</strong>senho <strong>da</strong><br />

problemática <strong>de</strong> pesquisa.<br />

É válido <strong>de</strong>stacar que no caso <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> camponesa, a dinâmica organizativa<br />

e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização social, alia<strong>da</strong> a histórica ausência do Estado, contribuiu<br />

para que iniciativas educacionais <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos e <strong>de</strong> qualificação<br />

social-profissional fossem protagoniza<strong>da</strong>s pela Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil, a exemplo <strong>de</strong><br />

experiências dos Centros <strong>de</strong> Formação por Alternância (CEFFA’s) por meio <strong>da</strong><br />

implantação <strong>de</strong> Casa Familiar Rural (CFR) e Escola Família Agrícola (EFA); a<br />

iniciativa do Programa Jovem Saber <strong>da</strong> CONTAG; o Programa Especial <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong><br />

5<br />

do Movimento <strong>de</strong> Organização Comunitária (MOC) , entre outros.<br />

É recente a inclusão <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> na agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> política educacional brasileira,<br />

mais ain<strong>da</strong> no que se refere à juventu<strong>de</strong> camponesa, bem como é recente a configuração<br />

6<br />

<strong>da</strong> Política Nacional <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> , associa<strong>da</strong> à outras políticas, no caso <strong>da</strong> presente<br />

pesquisa, à política <strong>de</strong> EJA e <strong>de</strong> Educação do Campo.<br />

O Guia <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> (2006, p. 5) abor<strong>da</strong> a visão do<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral que norteia a concepção sobre tais políticas no Brasil. É afirmado no<br />

Guia que “... Enten<strong>de</strong>r as singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s juventu<strong>de</strong>s e garantir<br />

direitos a esta geração são fatores fun<strong>da</strong>mentais para consoli<strong>da</strong>r a <strong>de</strong>mocracia no Brasil,<br />

com inclusão social”. Dados do Guia apontam que atualmente são 19 Programas<br />

executados por diferentes Ministérios, dos quais apenas três são voltados para a<br />

juventu<strong>de</strong> camponesa – Programa Nossa Primeira <strong>Terra</strong>, Programa Pronaf Jovem e o<br />

Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>. Destaque-se que o Programa Nacional <strong>de</strong> Estímulo ao<br />

Primeiro Emprego (PNPE) é composto por seis mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s, entre as quais o Consórcio<br />

4<br />

A partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 a EAFC foi incorpora<strong>da</strong> pelo Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, Ciência e<br />

Tecnologia do Pará (IFPA).<br />

5<br />

Movimento <strong>de</strong> Organização Comunitária é uma organização não governamental sedia<strong>da</strong> em Feira <strong>de</strong><br />

Santana, Bahia, que busca contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento integral, participativo e ecologicamente<br />

sustentável do semi-árido baiano e <strong>de</strong>senvolve ações estratégicas nas áreas<br />

<strong>de</strong> educação do campo, fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar, água e segurança alimentar, criança e<br />

adolescente, gênero, comunicação e políticas pública (www.moc.org.br).<br />

6<br />

O formalismo e normativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram instituídos no primeiro man<strong>da</strong>to do Presi<strong>de</strong>nte Luis Inácio Lula<br />

<strong>da</strong> Silva.<br />

4


Social <strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> Rural, configurando-se também como uma iniciativa foca<strong>da</strong> na<br />

juventu<strong>de</strong> camponesa.<br />

A institucionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o objetivo estratégico <strong>de</strong> escolarização combinado com<br />

qualificação social-profissional, a maior abrangência e a amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> re<strong>de</strong> social foram<br />

critérios <strong>de</strong>cisivos para focar o presente estudo nos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> egressos<br />

do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>.<br />

O problema-objeto <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong> ser sintetizado nas questões <strong>de</strong> pesquisa<br />

assim enuncia<strong>da</strong>s: quais são os <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses egressos do<br />

Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> na Amazônia paraense?Qual a inter-relação dos <strong>projetos</strong><br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> com o processo <strong>de</strong> escolarização e qualificação social-profissional?<br />

Os objetivos pretendidos na investigação consistiram em: Compreen<strong>de</strong>r os<br />

<strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos <strong>jovens</strong> camponeses egressos do Programa e sua inter-relação com o<br />

processo <strong>de</strong> escolarização e qualificação social-profissional; Contribuir para o<br />

fortalecimento <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> conhecimento sobre juventu<strong>de</strong> do<br />

campo no Brasil e em particular na Amazônia.<br />

A problemática <strong>de</strong> pesquisa, a formulação <strong>da</strong>s questões e os objetivos<br />

norteadores do processo investigativo, foram ancorados no estado do conhecimento 7<br />

sobre juventu<strong>de</strong> e educação coor<strong>de</strong>nado por Sposito (2000), que apontou importantes<br />

elementos para esse campo <strong>de</strong> pesquisa 8<br />

.<br />

O balanço <strong>da</strong>s produções analisa<strong>da</strong>s apontou que se tratava <strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong><br />

estudo ain<strong>da</strong> pouco consoli<strong>da</strong>do no campo <strong>da</strong> pesquisa, ain<strong>da</strong> que sua importância<br />

política e social fosse reconheci<strong>da</strong>.<br />

Os temas ain<strong>da</strong> pouco presentes e que já indicavam direções importantes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas foram sintetizados nesse estado <strong>de</strong> conhecimento por<br />

Corti e Sposito (2000) como os que ain<strong>da</strong> não gozavam <strong>de</strong> tradição <strong>de</strong> pesquisa e que<br />

assumiram importância crescente na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990: adolescentes e mídia; <br />

violência; grupos juvenis; <strong>jovens</strong> e adolescentes negros. A reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong><br />

rural é reconheci<strong>da</strong> pelas autoras no estudo como uma “... séria lacuna na medi<strong>da</strong> em<br />

7 A autora e <strong>de</strong>mais pesquisadores empreen<strong>de</strong>ram balanço <strong>da</strong> produção acadêmica em nível <strong>de</strong><br />

dissertações e teses <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s entre 1980 e 1998 nos Programas <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação. O<br />

procedimento para a construção do estado do conhecimento sobre juventu<strong>de</strong> contemplou a análise <strong>da</strong><br />

vasta produção acadêmica na área educacional no período referido, que totalizava 1.167 Teses e 7.500<br />

Dissertações, totalizando 8.667 trabalhos, dos quais 4,4% relacionavam-se à juventu<strong>de</strong>, sendo 332<br />

Dissertações e 55 Teses.<br />

8 Tal estudo contemplou uma análise <strong>da</strong> produção acadêmica dos Programas <strong>de</strong> Pós-Graduação Stricto-<br />

Sensu em Educação no período <strong>de</strong> 1980 e 1998.<br />

5


que pouco sabemos sobre os <strong>jovens</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> agrária em sua relação com a escola<br />

...” (CORTI e SPOSITO, 2000, p. 91).<br />

É na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 que se configura o foco do po<strong>de</strong>r público na juventu<strong>de</strong> no<br />

Brasil, que políticas são formula<strong>da</strong>s e implementa<strong>da</strong>s, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> se engaja com mais<br />

vigor no <strong>de</strong>bate e na intervenção social. A juventu<strong>de</strong> camponesa, no entanto, não foi<br />

abor<strong>da</strong><strong>da</strong> nos estudos e nem foca<strong>da</strong> nas suas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s nas políticas públicas na<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990.<br />

O mapa 9 <strong>de</strong> estudos recentes sobre juventu<strong>de</strong>s rurais elaborado por Weisheimer<br />

(2005), outro aporte no <strong>de</strong>lineamento <strong>da</strong> Tese, aponta a ain<strong>da</strong> “situação <strong>de</strong><br />

invisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong>sse segmento <strong>da</strong> população, cujo recorte do mapeamento 10<br />

abrangeu a<br />

produção acadêmica dinamiza<strong>da</strong> no período <strong>de</strong> 1990 a 2004, portanto, é muito atual.<br />

Historicamente invisível na pesquisa acadêmica, o autor aponta que não se conta no<br />

Brasil com expressivo volume <strong>de</strong> pesquisas sobre o tema <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> rural.<br />

A espacialização dos estudos indica a concentração no eixo centro-sul do país,<br />

sendo 23 na região Sul, 18 no Su<strong>de</strong>ste, 8 no Nor<strong>de</strong>ste e 1 no Norte. Em nível <strong>de</strong><br />

Amazônia, a Dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong> Freire (2002) sobre juventu<strong>de</strong> ribeirinha é<br />

<strong>de</strong>staca<strong>da</strong> pelo autor como a única produção na região e sobre um universo particular: o<br />

<strong>de</strong> <strong>jovens</strong> caboclos <strong>de</strong> beira <strong>de</strong> rios amazônicos.<br />

Mais recentemente foram lançados os Volumes I e II do Estado <strong>da</strong> Arte sobre<br />

juventu<strong>de</strong> na pós-graduação brasileira: Educação, Ciências Sociais e Serviço Social<br />

(1999-2006) coor<strong>de</strong>nado por Sposito (2009). Tal publicação se constitui numa<br />

contribuição valiosíssima para referenciar novas pesquisas. A juventu<strong>de</strong> no meio rural<br />

permanece quase que invisível na produção acadêmica, em que pese os avanços<br />

reconhecidos por Weisheimer (2005) e Sposito (2009) em suas análises. No entanto, é<br />

<strong>de</strong>stacado no Volume I do estado <strong>da</strong> arte por Sposito (2009, p. 23) que “Um primeiro<br />

alerta diz respeito ao caráter eminentemente urbano <strong>da</strong> produção discente sobre<br />

9 Estudo realizado por meio do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) vinculado<br />

ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Os trabalhos i<strong>de</strong>ntificados pelo autor totalizam 50<br />

produções realiza<strong>da</strong>s por cerca <strong>de</strong> 36 pesquisadores brasileiros, que po<strong>de</strong>m ser sintetizados assim: 2 teses<br />

<strong>de</strong> doutorado, 3 livros, 18 dissertações <strong>de</strong> mestrado e 27 artigos, evi<strong>de</strong>nciando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se investir<br />

em mais estudos e pesquisas para compreensão <strong>de</strong>ssa temática e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

10 A metodologia do estudo foi fun<strong>da</strong>mentalmente bibliográfica e circunscrita à produção acadêmica<br />

disponível na internet, baseado na análise <strong>de</strong> resumos <strong>de</strong> teses, dissertações, livros e artigos publicados<br />

em revistas ou anais <strong>de</strong> congressos científicos <strong>de</strong> diferentes áreas disponíveis em várias fontes. As teses e<br />

dissertações foram levanta<strong>da</strong>s na base on line <strong>da</strong> CAPES, De<strong>da</strong>lus, BDTD e nos sites <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

brasileiras. O portal <strong>de</strong> periódicos Capes, sites <strong>de</strong> associações cientificas (ABA, Anped, Anpocs, Anppas,<br />

SBS e Sober); Scielo, Ibict-CCN, Google, Amazon e Biblioteca Nacional também se constituíram em<br />

fontes <strong>da</strong> pesquisa.<br />

6


juventu<strong>de</strong>. Do total <strong>de</strong> trabalhos (1427) somente 52 (menos <strong>de</strong> 4%) trataram <strong>de</strong> <strong>jovens</strong><br />

do mundo rural e apenas sete (0,5%) <strong>de</strong>dicaram-se aos <strong>jovens</strong> indígenas”.<br />

Exposto esses elementos, compreen<strong>de</strong>-se que o tema-objeto <strong>da</strong> pesquisa<br />

proposta assume relevância acadêmica e que possibilitará uma melhor compreensão<br />

sobre a juventu<strong>de</strong> camponesa amazônica, sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, seus <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Vere<strong>da</strong>s Tropicais: trilhas metodológicas interdisciplinares<br />

As trilhas metodológicas interdisciplinares expressam o sentido <strong>de</strong> direção do<br />

caminho percorrido para construção <strong>da</strong> pesquisa. O problema-objeto <strong>da</strong> pesquisa vem ao<br />

encontro do compartilhamento <strong>de</strong> reflexões propostas por Boaventura Santos (1997, p.<br />

329), <strong>de</strong> que o epistemicídio fora um dos gran<strong>de</strong>s crimes contra a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, que (re)<br />

valorizar os conhecimentos e práticas não hegemônicas, neste caso <strong>de</strong> <strong>jovens</strong><br />

camponeses <strong>da</strong> Amazônia paraense, po<strong>de</strong> se constituir numa bússola para uma “...<br />

concorrência epistemológica leal entre conhecimentos como processo <strong>de</strong> reinventar as<br />

alternativas <strong>de</strong> prática social <strong>de</strong> que carecemos ou que afinal apenas ignoramos ou não<br />

ousamos <strong>de</strong>sejar”.<br />

A interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, cujos objetivos segundo Klein (1990) consistem em<br />

respon<strong>de</strong>r questões complexas, contemplar questões amplas, explorar relações<br />

disciplinares e profissionais, resolver problemas que extrapolam fronteiras disciplinares<br />

e obter uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento em diferentes escalas; se constitui num importante<br />

arcabouço teórico para referenciar pesquisas em dinâmicas complexas como a<br />

Amazônia, possibilitando diálogos plurais teoricamente.<br />

A Amazônia requer múltiplos olhares para compreensão <strong>de</strong> sua biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> suas populações. Essa complexa sociobiodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong> e (re) apropria<strong>da</strong> a partir tão somente <strong>de</strong> olhares disciplinares,<br />

especializados, rígidos. Assim, a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> se apresentou como uma fecun<strong>da</strong><br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e referência no processo investigativo.<br />

Em seu <strong>de</strong>bate sobre metodologia e i<strong>de</strong>ologia, Mészáros (2004) enfatiza que é no<br />

campo metodológico que o mito <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica ou neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> axiológica é<br />

mais forte. A opção pelo enfoque teórico-metodológico na análise do autor, portanto,<br />

não é pretensamente neutra, capaz <strong>de</strong> produzir soluções “axiologicamente neutras”.<br />

A pesquisa empreendi<strong>da</strong> foi referencia<strong>da</strong> no escopo <strong>da</strong> pesquisa qualitativa,<br />

consi<strong>de</strong>rando sua pertinência para o <strong>de</strong>svelamento do objeto-problema, os objetivos e<br />

7


questões <strong>de</strong> pesquisas enuncia<strong>da</strong>s. O enfoque qualitativo tem na fenomenologia e na<br />

dialética suas matrizes <strong>de</strong> pensamento, opondo-se <strong>de</strong>ssa forma aos pressupostos <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem experimental.<br />

A partir <strong>da</strong> análise dos diferentes enfoques no escopo <strong>da</strong> pesquisa qualitativa<br />

referencia<strong>da</strong> em Chizzotti (2000) e a compreensão <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> pesquisa<br />

proposta, foi se <strong>de</strong>lineando a opção pelo estudo <strong>de</strong> caso como enfoque balizador <strong>da</strong><br />

investigação.<br />

O processo investigativo requereu procedimento metodológico específico,<br />

assumindo com isso a triangulação como uma estratégia metodológica <strong>de</strong> pesquisa e<br />

análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos. Para André (1995) o processo <strong>de</strong> triangulação implica na busca<br />

diversifica<strong>da</strong> <strong>de</strong> sujeitos (<strong>jovens</strong>, professores, gestores, li<strong>de</strong>ranças sociais, pais,<br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s), no uso <strong>de</strong> varia<strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong> informações (análise documental,<br />

questionário, entrevistas, observação, registro fotográfico, etc.) e interpretação dos<br />

<strong>da</strong>dos em diferentes perspectivas (sociológica, histórica, pe<strong>da</strong>gógica).<br />

A pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa <strong>de</strong> campo foram<br />

constitutivas do processo investigativo, processos esses inter-relacionados em suas<br />

várias etapas, <strong>de</strong> acordo com a abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> Chizzotti (2000).<br />

O processo <strong>de</strong> sistematização e análise dos <strong>da</strong>dos foi referenciado na análise <strong>de</strong><br />

conteúdo <strong>de</strong> acordo com a abor<strong>da</strong>gem teórica <strong>de</strong> Bardin (1977) e Franco (2007). Franco<br />

(2007, p. 43) enfatiza a importância <strong>de</strong> “... sistematizar os “preâmbulos” a serem<br />

incorporados quando <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong> um esquema preciso para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>da</strong>s operações sucessivas e com vistas à elaboração <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> análise”.<br />

Os municípios <strong>de</strong> Igarapé-Miri e Moju, ambos situados na mesorregião do<br />

Nor<strong>de</strong>ste paraense, na microrregião <strong>de</strong> Cametá e Tomé-Açu respectivamente, se<br />

constituíram no lócus <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa são <strong>jovens</strong> egressos do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> dos<br />

municípios <strong>de</strong> Igarapé-Miri e Moju. Os <strong>jovens</strong> camponeses sujeitos <strong>da</strong> pesquisa, num<br />

total <strong>de</strong> 45, representam 40% e 57% dos egressos do Programa nesses municípios,<br />

consi<strong>de</strong>rando-se um <strong>da</strong>do quantitativo representativo. Os critérios <strong>da</strong> faixa etária 11<br />

<strong>de</strong> 15<br />

a 29 anos e <strong>de</strong> gênero foram <strong>de</strong>finidores do processo <strong>de</strong> escolha dos participantes.<br />

11 O Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> no biênio 2005-2007 admitiu matrícula <strong>de</strong> adultos que atendiam aos<br />

critérios básicos para ingresso, o que significa que nem todos os egressos eram <strong>jovens</strong>, o que elevaria<br />

ain<strong>da</strong> mais os percentuais especificados.<br />

8


As trilhas metodológicas interdisciplinares vão sendo revela<strong>da</strong>s no presente<br />

(inter)texto, na perspectiva do exercício analítico empreendido.<br />

Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>: breve síntese<br />

Os <strong>jovens</strong> camponeses sujeitos <strong>da</strong> pesquisa são egressos do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Terra</strong> 12<br />

, que se constitui numa ação do Governo Fe<strong>de</strong>ral em parceria com entes<br />

fe<strong>de</strong>rados com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver políticas públicas <strong>de</strong> Educação do Campo e <strong>de</strong><br />

Juventu<strong>de</strong>, oportunizando a <strong>jovens</strong> agricultores familiares a inclusão social por meio do<br />

acesso e conclusão do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Jovens e<br />

Adultos (EJA), processo esse <strong>de</strong> escolarização integrado com qualificação social e<br />

profissional. Destaque-se como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do Programa “... proporcionar formação<br />

integral, prioritariamente ao jovem do campo, por meio <strong>de</strong>: - Elevação <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

tendo em vista a conclusão do ensino fun<strong>da</strong>mental; - Qualificação social e profissional<br />

(formação inicial e continua<strong>da</strong>)...” (MEC, 2005, p. 10).<br />

O Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> é uma iniciativa interministerial do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC), por meio <strong>da</strong> SECAD,<br />

articula<strong>da</strong>mente com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério<br />

do Trabalho e Emprego (MTE).<br />

A centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> justificativa e relevância social do Programa na visão<br />

governamental é a compreensão <strong>de</strong> que a “... educação é o principal fator para a garantia<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento duradouro e sustentável, capaz <strong>de</strong> promover a inclusão social e<br />

o pleno exercício dos direitos pelos ci<strong>da</strong>dãos e ci<strong>da</strong>dãs...” (Termo <strong>de</strong> Referência, 2005).<br />

O processo educativo dos <strong>jovens</strong> camponeses egressos do Programa foi<br />

ancorado no currículo integrado, cujo <strong>de</strong>senho curricular foi estruturado a partir do Eixo<br />

Articulador do Programa em nível nacional, agregando a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Amazônia,<br />

intitulando-se Agricultura Familiar e Sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na Amazônia. No que se refere<br />

aos Eixos Temáticos, quatro Eixos foram constituídos, referenciados na proposta<br />

12 Egressos <strong>da</strong> primeira versão do Programa, lança<strong>da</strong> em outubro <strong>de</strong> 2005. Destaque-se que em 2007 o<br />

Programa foi reformulado, configurando-se como ProJovem Campo <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong>. Mu<strong>da</strong>nças<br />

curriculares, na gestão, entre outros elementos, foram incorpora<strong>da</strong>s.<br />

9


nacional: Agricultura Familiar: Gênero, Raça, Etnia e I<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> Cultura; Sistemas <strong>de</strong><br />

Produção e Processos <strong>de</strong> Trabalho no Campo; Organização Social, Políticas Públicas e<br />

Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no Campo; Desenvolvimento Sustentável, Economia Solidária e Enfoque<br />

Territorial.<br />

A qualificação profissional inicial objetivava a certificação no Arco Ocupacional<br />

Produção Rural Familiar, que contemplava cinco ocupações: Culturas, Pecuária,<br />

Extrativismo, Agroindústria e Aqüicultura.<br />

Metodologicamente a organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico contemplou a<br />

alternância dos tempos e espaços formativos em ambos os municípios lócus <strong>da</strong><br />

pesquisa, cujas turmas funcionaram to<strong>da</strong>s em regime <strong>de</strong> residência 13<br />

.<br />

A especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> EJA e <strong>da</strong> Educação do Campo foram centrais na<br />

organização dos tempos e espaços formativos, buscando sintonizar-se com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

camponesa e cotidiano dos/as <strong>jovens</strong> agricultores/as, em que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias<br />

político-pe<strong>da</strong>gógicas e a flexibilização do calendário escolar foram concebi<strong>da</strong>s como<br />

alternativas indispensáveis para assegurar a permanência dos/as <strong>jovens</strong> com sucesso na<br />

escola.<br />

Tessitura <strong>de</strong> Projetos <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Jovens Camponeses: educação, terra e trabalho<br />

A heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana e dos <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos <strong>jovens</strong><br />

impossibilita que a juventu<strong>de</strong> seja pensa<strong>da</strong> como categoria unívoca e particularmente no<br />

caso <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> do campo, consi<strong>de</strong>rando-se o contexto <strong>da</strong> agricultura familiar e dos<br />

processos econômicos que transformam o rural num espaço ca<strong>da</strong> vez mais heterogêneo,<br />

diversificado e não exclusivamente agrícola.<br />

O estudo aponta a intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos/as <strong>jovens</strong> <strong>de</strong> permanecer e reinventar o<br />

campo, <strong>de</strong> investir na sua formação e afirmação <strong>da</strong> cultura camponesa, (re) valorizando<br />

a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s culturas e as tradições do campo.<br />

A educação, prática social estruturante no <strong>de</strong>sejo cotidiano e na construção <strong>de</strong><br />

seus <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, é a principal razão <strong>de</strong> imersão na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O estudo é componente<br />

presente no cotidiano, em que se alterna com a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> dominante: a agricultura.<br />

São significativos os relatos sobre a trajetória escolar, marca<strong>da</strong> por muitos<br />

sacrifícios como a questão do acesso por meio <strong>de</strong> longas caminha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> até 20km, bem<br />

13<br />

O regime <strong>de</strong> residência consiste na permanência dos estu<strong>da</strong>ntes em tempo integral durante o Tempo<br />

Escola.<br />

10


como longos percursos pelos rios amazônicos, em que remavam até duas horas para<br />

chegar à escola. A <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> dos estudos e o baixo capital social <strong>de</strong> seus pais<br />

foram referidos como entraves ao seu processo <strong>de</strong> escolarização.<br />

Os <strong>de</strong>poimentos 14<br />

são afirmativos <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> pertencimento com o<br />

modus vivendis, <strong>de</strong> que a educação é importante não apenas no cotidiano, no momento<br />

presente, como é elemento central no projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong>. Obter mais<br />

conhecimentos, valorizar a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> saberes (científicos, tecnológicos e<br />

populares), estu<strong>da</strong>r, se formar, é discurso dominante entre os/as <strong>jovens</strong> do campo, como<br />

o <strong>de</strong>poimento no início do texto revelou.<br />

Muitos são os planos <strong>de</strong> cursar uma Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e os Cursos aspirados são<br />

relacionados à área <strong>da</strong>s Ciências Agrárias e/ou <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores,<br />

relacionando-se, portanto, Agronomia, com o seu fazer na agricultura e/ou com a tarefa<br />

<strong>de</strong> ensino e formação <strong>de</strong> sujeitos do campo.<br />

Importante elemento sobre a questão educacional é a perspectiva dos/as <strong>jovens</strong><br />

<strong>de</strong> se apropriarem <strong>de</strong> conhecimentos em favor <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> difusão <strong>de</strong> saberes no<br />

seu meio social, o que reforça a referência <strong>de</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que esses/as <strong>jovens</strong> carregam<br />

consigo.<br />

A concepção dos/as <strong>jovens</strong> sobre o papel <strong>da</strong> educação corrobora a abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong><br />

Abramovay et al. (2003) <strong>de</strong> que a educação é central no processo <strong>de</strong> qualificação social,<br />

formação profissional e conseqüente fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar <strong>de</strong> base<br />

sustentável, agroecológica.<br />

Compreendo que os/as <strong>jovens</strong> camponeses sujeitos <strong>da</strong> pesquisa localizam na<br />

escola e seus processos formativos a condição para melhoria <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, reafirmando o<br />

vínculo e anunciando a perspectiva <strong>de</strong> fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar, apontando<br />

para a permanência no campo sob outras condições materiais e sociais e práticas<br />

comprometi<strong>da</strong>s com a melhoria <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> diversificação <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

O pensamento dos <strong>jovens</strong> e seus <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> também não são homogêneos.<br />

O <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Bacu é revelador disso ao se referir sobre permanecer no campo e seu<br />

projeto <strong>de</strong> futuro.<br />

11<br />

É terminar meus estudos, porque eu não quero... Porque tem muitas<br />

pessoas lá na minha comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que eles saíram <strong>de</strong> lá, mas nunca<br />

conseguiram. Voltam para o mesmo lugar assim, sem trabalho<br />

14 Os nomes dos <strong>jovens</strong> são codificados em codinomes <strong>de</strong> peixes abun<strong>da</strong>ntes na região do estudo, na<br />

perspectiva <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s.


12<br />

nenhum. Volta a ser a mesma pessoa. Passa tanto tempo estu<strong>da</strong>ndo na<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, morando, mas não conseguiram na<strong>da</strong>. E eu penso diferente.<br />

Estu<strong>da</strong>r, sair <strong>de</strong> lá, passar todo esse tempo fora <strong>de</strong> casa, mas quando<br />

voltar, com meu emprego garantido. Se um dia eu voltar a morar ain<strong>da</strong><br />

lá, mas já com o meu emprego, é isso que eu penso... voltar como um<br />

engenheiro Agrônomo, eu aju<strong>da</strong>ria bastante a minha comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, as<br />

pessoas <strong>de</strong> lá... eu gostaria <strong>de</strong> ir lá só como passeio, mas eu gostaria <strong>de</strong><br />

viver na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, trabalhar, porque a vi<strong>da</strong> no campo não é fácil. A vi<strong>da</strong><br />

no campo é só trabalhar, trabalhar, e não tem quase futuro como eu<br />

falei. (Bacu, jovem quilombola, município <strong>de</strong> Moju, 2009).<br />

O argumento <strong>de</strong> Carneiro (2005, p. 249) é pertinente para a análise do<br />

<strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Bacu, no entanto, discor<strong>da</strong>-se <strong>da</strong> autora em relação à questão <strong>da</strong><br />

generalização. Afirma a autora:<br />

É possível dizer, portanto, que a associação entre estudo e emprego é<br />

também generaliza<strong>da</strong> no meio rural, sendo o estudo encartado como a<br />

condição para, no falar <strong>de</strong> um jovem, “ser alguém na vi<strong>da</strong>”, o que<br />

significa fun<strong>da</strong>mentalmente não ser agricultor ...<br />

Há <strong>jovens</strong> que manifestaram a compreensão <strong>da</strong> escola e seus processos<br />

formativos como condição para melhoria <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, na maioria <strong>da</strong>s vezes na perspectiva<br />

<strong>de</strong> romper com a imersão na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola em favor <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s menos “penosas”<br />

e mais qualifica<strong>da</strong>s, sem que isso implique na saí<strong>da</strong> do campo, ao contrário, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes é vislumbra<strong>da</strong> a permanência no campo sob outras condições materiais e<br />

sociais, comprometi<strong>da</strong>s com a melhoria <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> diversificação <strong>de</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Compartilho <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> Carneiro (2005) que é corrente entre <strong>jovens</strong> do campo<br />

também o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e aspirações educacionais e profissionais<br />

alinhados com o estilo <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> urbanos, o que contribuirá em perspectiva para o<br />

rompimento e/ou dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção do padrão <strong>de</strong> reprodução social do<br />

campesinato, mesmo os que aspiram sua permanência no campo, mas em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s não<br />

agrícolas.<br />

Predominante, no entanto, é a manifestação <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> enraizado na<br />

cultura local, construindo uma profun<strong>da</strong> relação com a natureza, formando seu mundo e<br />

a si mesmo, constituindo um ethos amazônico, traduzido por uma cultura composta por<br />

indivíduos que imprimiram, no dizer <strong>de</strong> Paes Loureiro (2001, p. 336-337):


Reflexões à guisa <strong>de</strong> conclusão<br />

13<br />

...um modo <strong>de</strong> ser no mundo e com o mundo que se vem constituindo<br />

na horizontali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> convivência espontânea com a natureza, na<br />

verticali<strong>da</strong><strong>de</strong> aurática do sentido do sublime a ele inerente, num<br />

pensar cultural em liber<strong>da</strong><strong>de</strong> com a natureza, marcado pela<br />

poetici<strong>da</strong><strong>de</strong> e o sentimento <strong>de</strong> comunhão cósmica. Estes são alguns<br />

dos elementos constitutivos <strong>da</strong> manteia amazônica, isto é, o saber em<br />

que, na relação homem/natureza se entrecruzam o maravilhamento, o<br />

estranhamento e a conviviali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do Programa requer uma formação contextualiza<strong>da</strong>, enraiza<strong>da</strong> na<br />

concretu<strong>de</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em que os sujeitos estão inseridos, na perspectiva <strong>de</strong> a partir do<br />

diálogo <strong>de</strong> saberes tecidos nas práticas produtivas e sociais, <strong>de</strong> manejo, já acumula<strong>da</strong>s<br />

pelas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, na interação com conhecimentos sistematizados, técnicas e<br />

tecnologias <strong>de</strong> diversos campos disciplinares, possa sintonizar-se com uma questão<br />

teleológica, institucionaliza<strong>da</strong> no próprio Eixo Articulador: a agricultura familiar <strong>de</strong><br />

base sustentável na Amazônia.<br />

O <strong>de</strong>senho curricular do Programa no estado revela uma ênfase na formação<br />

técnica com acento na área <strong>da</strong>s ciências agrárias, ao concentrar expressiva carga horária<br />

no Eixo Temático Sistemas <strong>de</strong> Produção e Processos <strong>de</strong> Trabalho no Campo.<br />

Na concepção e prática do currículo integrado vivencia<strong>da</strong>, o processo <strong>de</strong><br />

escolarização em nível <strong>de</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> EJA foi imbricado à<br />

qualificação profissional, superando a histórica fragmentação que vigorou em tempos<br />

passados na educação brasileira, em que a profissionalização foi reduzi<strong>da</strong> a conteúdos<br />

técnicos, apartado <strong>de</strong> conhecimentos gerais e formação para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Esse é um dos<br />

elementos que exerceu influência na elaboração <strong>de</strong> <strong>projetos</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> perpassados pelo<br />

prosseguimento dos estudos em nível técnico e superior alinhado com a área <strong>da</strong>s<br />

ciências agrárias.<br />

O Programa oportunizou aos <strong>jovens</strong> a ampliação do conhecimento na dimensão<br />

cognitiva, no sentido <strong>de</strong> oportunizar o acesso a conteúdos socioeducativos e técnicos na<br />

área <strong>da</strong>s ciências agrárias, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sconhecidos <strong>de</strong> uma forma sistemática e promover o<br />

diálogo <strong>de</strong> saberes, a partir dos conhecimentos tecidos nas suas práticas sociais e<br />

produtivas, muitas <strong>de</strong>las milenares.<br />

A pertinência do Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> como instrumento <strong>de</strong> política<br />

educacional enraiza<strong>da</strong> na condição <strong>de</strong> sujeitos <strong>de</strong> direitos é incontestável, ain<strong>da</strong> que sua


oferta esteja em patamares absolutamente aquém <strong>da</strong>s reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O acesso <strong>de</strong><br />

<strong>jovens</strong> camponeses a processos <strong>de</strong> escolarização com qualificação profissional é uma <strong>da</strong>s<br />

condições para o fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar, sem conceber, no entanto, a<br />

política educacional como salvacionista e contentora do fluxo migratório campo-ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico referenciado na metodologia <strong>da</strong> alternância,<br />

articulando diferentes tempos e espaços formativos – tempo escola e tempo comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> –<br />

foi reconhecido pelos <strong>jovens</strong> como outro elemento <strong>da</strong> pertinência do Programa e sua<br />

imbricação ao fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar, <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>da</strong> proposta educativa em<br />

que os conteúdos são enraizados na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local, potencializa os saberes dos quais os<br />

<strong>jovens</strong> já são portadores, introduz técnicas produtivas que projetam novas bases na<br />

dinâmica <strong>da</strong> agricultura familiar.<br />

A Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos, mais que uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

no contexto do Programa, revelou-se incontestavelmente como um processo estruturante <strong>de</strong><br />

inclusão social <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> camponeses que tiveram sua trajetória escolar interrompi<strong>da</strong> por<br />

diversas razões.<br />

A experiência dos <strong>jovens</strong> no Programa <strong>Saberes</strong> <strong>da</strong> <strong>Terra</strong> recolocou a importância do<br />

papel <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong> na dinâmica <strong>da</strong> agricultura familiar e na própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, elevando<br />

a auto-estima dos <strong>jovens</strong> e possibilitando uma projeção diferencia<strong>da</strong> do prestigio social,<br />

agora ampliado pelo domínio <strong>de</strong> novos conhecimentos e técnicas.<br />

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