Pierre Monbeig - SEAD/UEPB - Secretaria de Educação a Distância ...
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D I S C I P L I N A<br />
Introdução à Ciência Geográfica<br />
<strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> – O nascimento da<br />
Geografia científica no Brasil<br />
Autores<br />
Aldo Dantas<br />
Tásia Hortêncio <strong>de</strong> Lima Me<strong>de</strong>iros<br />
aula<br />
14
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte<br />
Reitor<br />
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Vice-Reitora<br />
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Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba<br />
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Bruno <strong>de</strong> Souza Melo (UFRN)<br />
Dimetrius <strong>de</strong> Carvalho Ferreira (UFRN)<br />
Ivana Lima (UFRN)<br />
Johann Jean Evangelista <strong>de</strong> Melo (UFRN)<br />
Introdução à ciência geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio <strong>de</strong> Lima Me<strong>de</strong>iros. –<br />
Natal, RN : EDUFRN, 2008.<br />
176 p.<br />
1. Geografia – Brasil. 2. Geografia - teoria. 3. Geografia científica – Brasil. 4. Socieda<strong>de</strong>.<br />
5. Prática pedagógica. I. Me<strong>de</strong>iros, Tásia Hortência <strong>de</strong> Lima. II. Título.<br />
CDD 910<br />
RN/UF/BCZM 2008/35 CDU 918.1<br />
Copyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte <strong>de</strong>ste material po<strong>de</strong> ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da<br />
UFRN - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte e da <strong>UEPB</strong> - Universida<strong>de</strong> Estadual da Paraíba.
1<br />
2<br />
3<br />
Apresentação<br />
Em 2008, faz 74 anos <strong>de</strong> institucionalização da universida<strong>de</strong> brasileira e também da<br />
Geografia, que teve na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo o seu embrião. Em seu nascedouro, a Geografia tem a tutela da universida<strong>de</strong><br />
francesa através <strong>de</strong> dois jovens geógrafos: <strong>Pierre</strong> Deffontaines e <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>. Deffontaines<br />
volta logo para a França, <strong>Monbeig</strong> permanece no Brasil durante 11 anos. É sobre esse<br />
geógrafo e sua obra que trata esta aula, o qual, fiel discípulo da Geografia francesa, recolhe<br />
a concepção <strong>de</strong> “paisagem” do mestre Vidal, no sentido em que a mesma reflete no espaço<br />
uma fisionomia <strong>de</strong> algo essencialmente dinâmico e que se amplia na região, dotada <strong>de</strong><br />
personalida<strong>de</strong>. Entretanto, a sua análise vai mais longe ao acrescentar a esse conceito o<br />
jogo das combinações dos diversos elementos que compõem a paisagem. Consi<strong>de</strong>rando<br />
a multidimensionalida<strong>de</strong> do homem, <strong>Monbeig</strong> agrega ao seu pensamento a dimensão da<br />
cultura. Foi um geógrafo sério, mo<strong>de</strong>sto, mas firme em suas convicções. Nunca se arvorou<br />
revolucionário nem criador <strong>de</strong> “novas geografias”, entretanto, soube muito bem aproveitar o<br />
que <strong>de</strong> essencial havia sido <strong>de</strong>ixado pelos mestres do passado e, em seus trabalhos, soube<br />
introduzir novas propostas.<br />
Objetivos<br />
Compreen<strong>de</strong>r a importância da formação das<br />
Universida<strong>de</strong>s para a institucionalização da<br />
Geografia brasileira.<br />
Enten<strong>de</strong>r como professores estrangeiros contribuíram<br />
para a afirmação da Geografia científica no Brasil.<br />
Perceber a importância <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> na formação<br />
<strong>de</strong> professores e no <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa<br />
geográfica nacional.<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica 1
2<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica<br />
Notas biográficas<br />
<strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> nasceu no norte da França, em Marissel, em 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1908, era<br />
filho <strong>de</strong> professores. Logo cedo foi com os pais para Paris, on<strong>de</strong> passou sua infância<br />
e juventu<strong>de</strong>. Viveu na Paris da Belle Epoque e conviveu com os infortúnios da Primeira<br />
Gran<strong>de</strong> Guerra. Foi nesse período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s agitações políticas e <strong>de</strong> ameaças sofridas pelo<br />
seu país que realizou seus estudos primários no Liceu Montaigne e o secundário no Luis le<br />
Grand, na capital francesa. Viveu na margem esquerda do rio Sena, conhecendo bem os bairros<br />
<strong>de</strong> Saint Michel e <strong>de</strong> Saint Germain, on<strong>de</strong> havia, nesse período, gran<strong>de</strong> agitação intelectual e<br />
on<strong>de</strong> se situavam as escolas e institutos <strong>de</strong> ensino superior.<br />
Suas inquietações intelectuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo o levaram para os estudos humanísticos. Fez<br />
seus estudos superiores na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris. Em 1927, com apenas 19 anos, concluiu o<br />
curso <strong>de</strong> História e Geografia e em 1929 obteve o título <strong>de</strong> “Agregé” (título acadêmico francês<br />
no qual se “agregam” cursos), preparando-se para a carreira <strong>de</strong> professor do ensino superior.<br />
Entre 1929 e 1931 estudou na Escola <strong>de</strong> Autos Estudos Hispânicos, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve<br />
trabalho <strong>de</strong> pós-graduação, o que contribui para o seu <strong>de</strong>sempenho como professor, carreira<br />
que se inicia em 1931 no Liceu Malherbe, em Caen, na Normandia. Com a experiência<br />
adquirida através dos estudos <strong>de</strong>senvolvidos na Espanha e com a ativida<strong>de</strong> do magistério,<br />
<strong>Monbeig</strong> qualifica-se profissional e intelectualmente. Essa qualificação lhe cre<strong>de</strong>ncia para<br />
ser convidado a fazer parte da missão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s nomes franceses que viriam para o Brasil<br />
trabalhar na recém fundada Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo-USP. Aqui, ele viveria a sua gran<strong>de</strong><br />
aventura intelectual, pois vem para uma Universida<strong>de</strong> que foi a primeira pensada e estruturada<br />
<strong>de</strong> forma mo<strong>de</strong>rna e aberta à formação profissional e intelectual das novas li<strong>de</strong>ranças que<br />
surgiram no Brasil a partir daquele momento.
Contexto geral <strong>de</strong> implantação<br />
da USP e da Geografia<br />
A Revolução <strong>de</strong> Trinta abriu perspectivas <strong>de</strong> expansão e diferenciação da<br />
economia brasileira colocando em xeque as velhas estruturas, entre elas as do<br />
ensino baseadas em faculda<strong>de</strong>s isoladas e com preocupação apenas <strong>de</strong> formação<br />
profissional. As reflexões científicas, o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, a procura<br />
<strong>de</strong> novos rumos científicos e sociais vão encontrar guarita nas Universida<strong>de</strong>s,<br />
principalmente a partir das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras.<br />
As li<strong>de</strong>ranças paulistas, sobretudo após o insucesso da Revolução <strong>de</strong> 1932,<br />
procuraram implantar as sementes da renovação educacional, visando a uma<br />
transformação mo<strong>de</strong>rnizadora da mentalida<strong>de</strong> e dos objetivos das li<strong>de</strong>ranças<br />
das classes mais favorecidas. Daí a fundação da Universida<strong>de</strong>, no estado<br />
mais rico da fe<strong>de</strong>ração, e a contratação <strong>de</strong> professores estrangeiros para<br />
ministrarem as disciplinas em um país que não dispunha <strong>de</strong> quadros suficientes<br />
e qualificados.<br />
Na nova Universida<strong>de</strong> a disciplina Geografia foi inicialmente confiada a<br />
<strong>Pierre</strong> Deffontaines, geógrafo francês que teve uma gran<strong>de</strong> influência no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do ensino <strong>de</strong>sta disciplina no Brasil e que permaneceria<br />
apenas um anão na Universida<strong>de</strong>, transferindo-se em seguida para o Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. <strong>Pierre</strong> Deffontaines, brilhante e comunicativo, não só exerceu influência<br />
sobre seus alunos como também, reunindo-se a intelectuais paulistas como<br />
Caio Prado Júnior e Rubens Borba <strong>de</strong> Morais, fundou uma Associação dos<br />
Geógrafos Brasileiros, inicialmente paulista, por atuar apenas naquele estado.<br />
Através <strong>de</strong> viagens, <strong>de</strong> pesquisas e <strong>de</strong> conferências Deffontaines <strong>de</strong>spertou<br />
o interesse pela geografia e preparou o terreno para o trabalho que seria<br />
<strong>de</strong>sempenhado, a partir <strong>de</strong> 1935, por seu colega e compatriota <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>.<br />
Este chegou a São Paulo muito jovem, com a experiência apenas do ensino<br />
secundário, <strong>de</strong>parando-se com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substituir um mestre<br />
bem mais experiente e dinâmico. Não <strong>de</strong>sanimou e continuou o trabalho do<br />
seu antecessor, tendo a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir para a sistematização e<br />
consolidação da geografia brasileira, por um longo período <strong>de</strong> 11 anos, já que<br />
a Segunda Guerra, rebentando na Europa, forçou-o a permanecer no Brasil,<br />
po<strong>de</strong>ndo consolidar o curso <strong>de</strong> Geografia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e<br />
expandir em dimensões nacionais a Associação dos Geógrafos Brasileiros<br />
(ANDRADE,1994).<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica 3
4<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica<br />
A Geografia <strong>de</strong> <strong>Monbeig</strong><br />
A matriz regional<br />
A<br />
Geografia regional, à qual <strong>Monbeig</strong> se vincula, nasce do quadro propiciado pelo Tableau<br />
<strong>de</strong> la Géographie <strong>de</strong> la France (1903), <strong>de</strong> Paul Vidal <strong>de</strong> la Blache e das primeiras teses<br />
<strong>de</strong> doutoramento (Doctorat d’Etat), orientadas por ele mesmo. Essas teses fizeram<br />
gran<strong>de</strong> sucesso entre 1919 e 1945 e correspondiam à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se dar uma dimensão<br />
concreta ao inventário do espaço através <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição minuciosa e tão exaustiva quanto<br />
possível dos fatos observados sobre o terreno.<br />
A Geografia regional “à francesa” retrata perfeitamente a sua época, a <strong>de</strong> uma França<br />
majoritariamente rural e estável, on<strong>de</strong> as regiões parecem imutáveis e congeladas pelo<br />
tempo. A primazia dada à Geografia regional faz com que outros quadros <strong>de</strong> estudo, em<br />
escalas diversas, não sejam <strong>de</strong>senvolvidos pelos geógrafos <strong>de</strong>sse período.<br />
Consi<strong>de</strong>rada como uma individualida<strong>de</strong>, como uma personalida<strong>de</strong> geográfica, como<br />
alguma coisa única, e até mesmo excepcional, a região leva a Geografia a ser vista apenas<br />
como uma disciplina pouco preocupada em fazer generalizações e sem instrumental capaz<br />
<strong>de</strong> agrupar as similitu<strong>de</strong>s espaciais a fim <strong>de</strong> criar princípios gerais.<br />
A França do entre-guerras é um país ainda rural: em 1931, a população rural francesa<br />
representa 49% do conjunto da população do país e apenas 17 cida<strong>de</strong>s ultrapassam os<br />
100.000 habitantes. Com um conjunto <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s pouco extensas e com crescimento lento,<br />
não é espantoso que os geógrafos franceses <strong>de</strong>ssa época tenham <strong>de</strong>senvolvido a Geografia<br />
rural como especialida<strong>de</strong> dominante da Geografia francesa.<br />
Nos anos 1920 e 30, essa Geografia é feita <strong>de</strong> maneira multidirecional: formas <strong>de</strong><br />
utilização do solo, habitat rural, gêneros <strong>de</strong> vida, sistemas <strong>de</strong> cultura etc. Depois, sob a<br />
influência <strong>de</strong> historiadores como Marc Bloch, a análise da formação das paisagens agrárias<br />
vai constituir abordagem central da Geografia rural e abrir a via <strong>de</strong> uma outra especialida<strong>de</strong>:<br />
a Geografia histórica.<br />
Os geógrafos franceses têm o sentimento <strong>de</strong> que dispõem <strong>de</strong> dois instrumentos com<br />
os quais seriam capazes <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> todos os problemas que se po<strong>de</strong> encontrar: a análise<br />
regional, para tomar contato com as realida<strong>de</strong>s em nível mais local e mais mo<strong>de</strong>sto; e a<br />
análise <strong>de</strong> situação, que permite assinalar as relações existentes entre um ponto ou uma<br />
região e os espaços que a cercam.<br />
É com esses instrumentos que eles exploram novos domínios: a Geografia agrária, a<br />
Geografia urbana, a Geografia política e, em certa medida, a Geografia econômica e tropical.
Através da análise <strong>de</strong> situação, a consi<strong>de</strong>ração das dimensões sociais e políticas das<br />
distribuições geográficas progri<strong>de</strong>m, mas sem gran<strong>de</strong>s rupturas. A Segunda Guerra Mundial<br />
constitui uma ruptura essencial. As questões com as quais a socieda<strong>de</strong> francesa se <strong>de</strong>para<br />
passam a ser as da reconstrução do país, da mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> uma economia que se retardou<br />
com relação às dos países vizinhos, da <strong>de</strong>scolonização e dos problemas do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do Terceiro Mundo.<br />
A vinda para o Brasil<br />
Como afirmamos anteriormente, <strong>Monbeig</strong>, por sua formação, pertence à geração do<br />
entre-guerras. Ele vem para o Brasil com a bagagem simples que os geógrafos, naquele<br />
momento, sabiam manejar – o trabalho <strong>de</strong> campo, a análise regional, a análise <strong>de</strong> situação<br />
– e aplica esses conhecimentos no intuito <strong>de</strong> conhecer e estudar o Brasil. O tema <strong>de</strong> sua<br />
tese inscreve-se na tradição regional. Ele ensina os jovens geógrafos brasileiros a fazerem<br />
pesquisa <strong>de</strong> campo e tenta compreen<strong>de</strong>r o país analisando sua situação sob o tabuleiro<br />
político e econômico mundial.<br />
Estando no Brasil, <strong>Monbeig</strong> toma consciência dos <strong>de</strong>safios que se colocam à Geografia<br />
mais cedo do que se permanecesse na Europa. Sendo sensível à exigência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
que se apresenta no Brasil do Estado Novo, ele: mensura o papel das cida<strong>de</strong>s na exploração<br />
do espaço brasileiro e é tocado pela rapi<strong>de</strong>z do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse espaço; percebe que<br />
o instrumento que constitui a análise dos gêneros <strong>de</strong> vida não dá conta do essencial num<br />
país <strong>de</strong> povoamento recente, on<strong>de</strong> a economia está em reconstrução permanente.<br />
Antes da Segunda Guerra Mundial, o método regional quase não havia sido aplicado fora da<br />
Europa e do mundo mediterrâneo, on<strong>de</strong> alguns geógrafos haviam produzido excelentes teses.<br />
Por volta da Segunda Guerra Mundial, dois geógrafos franceses tentam aplicar a<br />
démarche regional no Novo Mundo: <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>, no Brasil, e Jean Gottmann, nos Estados<br />
Unidos. Virginia at mid-century é o resultado da tentativa <strong>de</strong> Gottmann, que é bastante<br />
consciente das insuficiências dos métodos que havia aprendido na França, um meio tão<br />
industrializado, urbanizado e com economia tão flexível quanto a do lado leste dos Estados<br />
Unidos. Ele continua, pois, a se interessar pela abordagem regional, no sentido mais amplo<br />
do termo aplicado ao Novo Mundo. Publica, então, em 1958, Megalopolis, que é o resultado<br />
<strong>de</strong>ssa reflexão.<br />
<strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> se dá conta muito rapidamente da insuficiência das ferramentas <strong>de</strong><br />
que dispõe e toma emprestado da Geografia americana a idéia <strong>de</strong> front pioneiro, zonas<br />
<strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> fronteira agrícola, e constata que ela permite compreen<strong>de</strong>r uma parte da<br />
dinâmica brasileira, mas que o povoamento que caracteriza o front pioneiro é geralmente<br />
apenas provisório.<br />
É através da evidência do papel da re<strong>de</strong> ferroviária – a re<strong>de</strong> ferroviária que ainda<br />
não existia, e começa efetivamente por São Paulo, no Brasil teve papel fundamental para<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica<br />
a circulação <strong>de</strong> pessoas e mercadorias – e das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, em particular, que<br />
<strong>Monbeig</strong> chega a fazer sentir a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse espaço brasileiro. Ele permanece, em<br />
certo sentido, fiel ao espírito regional, mas apelando para um arsenal <strong>de</strong> métodos que ele<br />
teve <strong>de</strong> improvisar durante sua estada no Brasil.<br />
Trabalho <strong>de</strong> campo e paisagem<br />
Uma das originalida<strong>de</strong>s das geografias da primeira meta<strong>de</strong> do século XX é <strong>de</strong>marcada<br />
pelo trabalho <strong>de</strong> campo.<br />
Em uma época em que os estudos <strong>de</strong> Letras e <strong>de</strong> Ciências Sociais eram exclusivamente<br />
livrescos, o contato com o campo dava à Geografia uma forte especificida<strong>de</strong>. O romancista<br />
Julien Gracq, que era inicialmente – sob seu verda<strong>de</strong>iro nome, Jean Poirier – um geógrafo,<br />
conta com emoção suas primeiras experiências <strong>de</strong> campo, sob a batuta <strong>de</strong> Martonne, por<br />
volta dos anos 1930.<br />
Para geógrafos como <strong>Monbeig</strong>, o campo constituía verda<strong>de</strong>iramente uma das<br />
especificida<strong>de</strong>s essenciais da disciplina. Po<strong>de</strong>ríamos mesmo falar, em relação aos geógrafos<br />
<strong>de</strong> sua geração, <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira mística do campo – não existiria trabalho científico em<br />
Geografia sem trabalho <strong>de</strong> campo. A mística do campo caminhava junto com a da unida<strong>de</strong> da<br />
Geografia. Sobre o terreno, o que a paisagem revela é uma mistura <strong>de</strong> traços físicos, <strong>de</strong> traços<br />
ligados à vida, à vegetação, à vida animal e, numa certa medida, aos solos e às marcas da ação<br />
humana. O geógrafo <strong>de</strong>veria, i<strong>de</strong>almente, ser capaz <strong>de</strong> abordar todos esses aspectos.<br />
<strong>Monbeig</strong> distingue-se dos geógrafos que trabalham então na França pela atenção que<br />
dá ao meio como realida<strong>de</strong> viva. Ele insiste no papel da floresta e no cortejo <strong>de</strong> doenças que<br />
lhe são associadas e sublinha, ainda, os problemas que causa o esgotamento dos solos. É<br />
um dos primeiros a compreen<strong>de</strong>r que, se os geógrafos po<strong>de</strong>m continuar a fazer pesquisa,<br />
ao mesmo tempo, no domínio físico e no domínio humano, eles <strong>de</strong>vem guardar presente no<br />
espírito o papel que o meio tem na vida dos homens.<br />
A exemplo <strong>de</strong> seus mestres e dos geógrafos <strong>de</strong> sua época, <strong>Monbeig</strong> perseguia dois<br />
objetivos: encontrar um “terrain” e ensinar Geografia. Inicialmente, ele acreditava que o seu<br />
“terrain” seria a Espanha, mais especificamente as ilhas Baleares, no entanto, as circunstâncias<br />
o trouxeram ao Brasil, país que lhe abria várias possibilida<strong>de</strong>s para o trabalho <strong>de</strong> campo e para<br />
a implantação <strong>de</strong> uma Geografia “científica” numa Faculda<strong>de</strong> em processo <strong>de</strong> criação.<br />
Não há qualquer dúvida <strong>de</strong> que esse estudioso foi formado na tradição das gran<strong>de</strong>s teses<br />
regionais da Escola Francesa <strong>de</strong> Geografia. No entanto, <strong>de</strong>vemos reconhecer que sua obra<br />
vai além da simples <strong>de</strong>scrição empírica: chega a um nível explicativo geral e constantemente<br />
enriquece a disciplina introduzindo elementos novos para a discussão geográfica, como foi o<br />
caso, em sua tese, da pequena discussão que fez sobre a psicologia ban<strong>de</strong>irante, a qual passou<br />
quase <strong>de</strong>spercebida (ou foi propositadamente <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado) pela banca examinadora, o que<br />
provocou certa indignação por parte do examinado. <strong>Monbeig</strong> consi<strong>de</strong>ra que as “atitu<strong>de</strong>s do
espírito” constituem um elemento fundamental e essencial para se compreen<strong>de</strong>r os modos <strong>de</strong><br />
ocupação do espaço e, nesse sentido, <strong>de</strong>vem ser objeto <strong>de</strong> pesquisa na Geografia. Para ele,<br />
os modos <strong>de</strong> pensar e os modos <strong>de</strong> vida caminham juntos, portanto, <strong>de</strong>vem ser estudados<br />
como um par. <strong>Monbeig</strong> escapa, assim, da crítica feita à tradição das monografias regionais,<br />
acusadas <strong>de</strong> negligenciar a interação dos elementos explicativos.<br />
Com o passar do tempo e com a influência que sofre do “terrain” que adota para<br />
<strong>de</strong>senvolver as suas pesquisas, a sua inserção na tradição da Escola Francesa exprime-se<br />
não somente na importância que dá à história como elemento explicativo, mas também pela<br />
<strong>de</strong>scrição minuciosa da paisagem e dos homens, chamando a atenção, principalmente, para<br />
o fato <strong>de</strong> que a caracterização dos tipos e personagens da socieda<strong>de</strong> local é <strong>de</strong> fundamental<br />
importância para a análise geográfica.<br />
Para <strong>Monbeig</strong>, “o campo <strong>de</strong> estudo do geógrafo é a paisagem”. O domínio do geógrafo<br />
é, primeiramente, o que se po<strong>de</strong> ver na superfície da Terra: as rochas, os solos, as águas, o<br />
relevo, os vegetais, os animais, os homens. Mas paisagem é também o que se po<strong>de</strong> sentir:<br />
a atmosfera, os ventos, os cheiros e odores. O geógrafo é aquele que ama viajar, olhar em<br />
torno <strong>de</strong>le mesmo, farejar odores, sentir a atmosfera; é também o homem do “corpo-a-<br />
corpo”, sempre pronto para interrogar as pessoas e para ouvi-las.<br />
Indiscutivelmente, a noção <strong>de</strong> paisagem comporta pontos frágeis. Costuma-se reduzir<br />
a paisagem à análise do visível. Sabemos que algumas realida<strong>de</strong>s escapam à visão, mas<br />
cabe ao geógrafo perceber na paisagem fatos da subjetivida<strong>de</strong> e da cultura, assim como as<br />
estruturas sociais. Para <strong>Monbeig</strong>, a paisagem é o reflexo das civilizações e evolui com estas.<br />
Como a cultura <strong>de</strong> um grupo evolui, sua paisagem também evolui: o mesmo suporte<br />
natural viu suce<strong>de</strong>rem-se paisagens diferentes, sendo cada uma reflexo da civilização<br />
do grupo em dado momento <strong>de</strong> sua história. Assim a paisagem não é mais consi<strong>de</strong>rada<br />
como produto da geologia e do clima, mas como reflexo da técnica agrícola ou industrial,<br />
da estrutura econômica ou social [...] (MONBEIG, 1940, p. 238-239).<br />
O entendimento do autor é <strong>de</strong> que o geógrafo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver a visão <strong>de</strong> observador<br />
face à paisagem. Essa observação dar-se-ia através da escolha que ele faz entre os<br />
objetos presentes na superfície do globo. Sua atenção <strong>de</strong>ve voltar-se, por exemplo, na<br />
direção daqueles elementos que são bastante gran<strong>de</strong>s para serem claramente visíveis: os<br />
movimentos do terreno, córregos e riachos, rios etc.; ele leva em consi<strong>de</strong>ração as plantas<br />
– mas percebidas em seu conjunto –, estepes, pradarias, florestas, charneca, matagal e<br />
outras formas <strong>de</strong> vegetação silvestre. Uma gran<strong>de</strong> árvore chama sua atenção apenas se<br />
estiver isolada e servir <strong>de</strong> sinal na paisagem. O geógrafo nota as culturas, as fazendas e suas<br />
construções, as vilas e as cida<strong>de</strong>s.<br />
Como sabemos, a especificida<strong>de</strong> da Geografia é caracterizada pela tensão entre as<br />
ciências da natureza e as ciências humanas. A Geografia que se constitui no fim do século<br />
XIX e que é praticada durante cerca <strong>de</strong> 60 anos sob o mo<strong>de</strong>lo da Escola Francesa <strong>de</strong> Geografia<br />
<strong>de</strong>senvolve uma estratégia epistemológica do misto, ou melhor, do entre-dois, da passagem,<br />
entre o físico e o social.<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica<br />
<strong>Monbeig</strong>, sem nenhuma dúvida, enten<strong>de</strong> a Geografia como essa tensão, como esse<br />
misto entre socieda<strong>de</strong> e natureza/entre senso comum e ciência, como é possível perceber<br />
no trecho que segue:<br />
Ver como a paisagem é reflexo da civilização, tal é uma das principais tarefas do<br />
geógrafo; é um trabalho <strong>de</strong> análise que ele precisa fazer para distinguir o que provém<br />
do solo, do clima e também da técnica agrícola, da organização social. A análise da<br />
paisagem apresenta-se como um jogo <strong>de</strong> quebra-cabeças; mas, enquanto o jogo se<br />
torna logo fastidioso, é apaixonante o estudo da paisagem: apaixonante porque nos<br />
põe em contato com a humil<strong>de</strong> tarefa quotidiana e milenar das socieda<strong>de</strong>s humanas; ela<br />
mostra o homem lutando sem cessar para aperfeiçoar-se (MONBEIG, 1940, p. 248).<br />
A prática vidaliana <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo e a incorporação em suas pesquisas mostram<br />
muito bem como o “terrain”, em certa medida, substitui o livro, o texto e, até mesmo, o arquivo<br />
histórico. Ele adquire um valor heurístico fundamental, visto que constitui o substrato no qual<br />
se lê a relação homem/meio, que se torna, a partir do início do século XX, a problemática<br />
explícita da Geografia humana francesa. Des<strong>de</strong> então, as manifestações elementares da vida,<br />
as formas <strong>de</strong> trabalho, dos <strong>de</strong>slocamentos, do habitat, da vestimenta e, mesmo, dos lazeres<br />
são consi<strong>de</strong>radas como sinais das interações entre as socieda<strong>de</strong>s locais e o meio ambiente.<br />
São elementos do “gênero <strong>de</strong> vida”, forma particular <strong>de</strong> uma ecologia específica, que Vidal<br />
transforma em um conceito fundamental da Geografia humana.<br />
Geografia e cultura<br />
A idéia <strong>de</strong> que o papel da Geografia é o <strong>de</strong> localizar, <strong>de</strong>screver e comparar é um lugar<br />
comum da Geografia da época. <strong>Monbeig</strong> retoma isso à sua maneira e incorpora à análise os<br />
elementos da cultura. Dessa maneira, caminha em direção à idéia <strong>de</strong> que a Geografia não<br />
estuda relações <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> simples, mas recíprocas.<br />
De maneira geral, a Geografia francesa, tal qual se <strong>de</strong>senvolveu no início do século<br />
XX, mobilizava instrumentos que se adaptavam bem às realida<strong>de</strong>s do mundo pré-<br />
industrial, mas não eram capazes <strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> organização do espaço que<br />
resultavam da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
<strong>Monbeig</strong> é sensível aos limites da abordagem regional e do instrumental <strong>de</strong> análise<br />
geográfico da época, o que o leva constantemente a buscar respostas em dimensões<br />
não consi<strong>de</strong>radas pela Geografia vidaliana. Uma <strong>de</strong>ssas buscas é o interesse pelas<br />
questões da cultura.<br />
O interesse pelas dimensões culturais da realida<strong>de</strong> geográfica é tão velho quanto pela<br />
Geografia humana. Na primeira meta<strong>de</strong> do século XX, no entanto, a concepção morfológica<br />
ou naturalista, que prevalecia na disciplina, fazia com que se retivesse da cultura apenas<br />
seus aspectos materiais – lugares <strong>de</strong> culto, em matéria <strong>de</strong> religião, e nada <strong>de</strong> doutrinas, da<br />
fé, das práticas etc. <strong>Monbeig</strong>, aliás, lastima o fato <strong>de</strong> não se levar em consi<strong>de</strong>ração todas as<br />
dimensões da vida religiosa. É um dos aspectos pelos quais ele se mostra o mais mo<strong>de</strong>rno.
A curiosida<strong>de</strong> pelos fatos culturais não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> mover os trabalhos <strong>de</strong>sse homem<br />
<strong>de</strong> ciência e inquieto. Ele parece antecipar o que é idéia dominante hoje: que não há fatos<br />
ecológicos, <strong>de</strong>mográficos, sociais, econômicos, políticos que não estejam situados num<br />
certo contexto cultural. <strong>Monbeig</strong> parece sempre querer construir uma Geografia a partir<br />
<strong>de</strong> pressupostos mais críticos que os <strong>de</strong> seu tempo. A cena geográfica monbeigana não<br />
é concebida como sendo estática; ele a concebe como um feito <strong>de</strong> uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
indivíduos cujas trajetórias se inscrevem no espaço. O que se apreen<strong>de</strong> não é a paisagem,<br />
mas uma série <strong>de</strong> paisagens superpostas, uma suce<strong>de</strong>ndo à outra. Para compreen<strong>de</strong>r essas<br />
paisagens, essa realida<strong>de</strong> geográfica, é necessário partir dos dados <strong>de</strong> base, que constituem<br />
os indivíduos (ou agrupamentos) e as trajetórias que eles <strong>de</strong>screvem.<br />
1.<br />
2.<br />
1<br />
2<br />
Ativida<strong>de</strong> 1<br />
Qual o contexto em que se <strong>de</strong>senvolve a Geografia no Brasil e qual a<br />
importância <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>?<br />
Mostre <strong>de</strong> que maneira a vinda para o Brasil contribui para que<br />
<strong>Monbeig</strong> mu<strong>de</strong> a sua maneira <strong>de</strong> fazer Geografia.<br />
sua resposta<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica
10<br />
Resumo<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica<br />
Leitura complementar<br />
AB’SÁBER, Aziz. <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>: a herança intelectual <strong>de</strong> um geógrafo. Estudos Avançados,<br />
v. 8, n. 22, p. 221-232, 1994.<br />
Neste artigo, o também geógrafo Aziz Ab’Sáber faz uma gran<strong>de</strong> homenagem póstuma<br />
ao seu mestre <strong>Monbeig</strong>, mostrando como ele era um professor diferenciado e que marcou,<br />
além da Geografia brasileira, a memória <strong>de</strong> seus discípulos: “difícil relembrar a figura do<br />
bom, seguro e inteligente mestre que adotou o Brasil como sua segunda pátria, até o fim<br />
<strong>de</strong> seus dias”. Além da homenagem, Ab’Sáber faz uma retrospectiva que vai da chegada<br />
<strong>de</strong> <strong>Monbeig</strong> ao Brasil, passando por suas ativida<strong>de</strong>s extraclasse, sua carreira acadêmica, o<br />
exemplo que foi como intelectual e sua preocupação com os estudos geográficos no Brasil.<br />
SALGUEIRO, Heliana Angotti (Org.). <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> e a geografia humana brasileira.<br />
Bauru: EDUSC, 2006.<br />
Coletânea que reúne ensaios <strong>de</strong> historiadores e geógrafos brasileiros e franceses <strong>de</strong><br />
renome internacional em torno da obra <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>. Os autores realçam o caráter<br />
fundador e antecipatório da obra <strong>de</strong> <strong>Monbeig</strong> que, já em sua época, colocava em evidência<br />
complexos problemas vividos por nós até hoje. Os ensaios trazem ainda inúmeras sugestões<br />
<strong>de</strong> pesquisas.<br />
A aula traz um breve histórico da trajetória pessoal e intelectual <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>,<br />
mostrando em que contexto este chega ao Brasil; a influência do pensamento<br />
vidaliano em sua formação; e como a sua estada e contato com a Geografia <strong>de</strong><br />
um país em formação – o Brasil – influenciaram a sua forma <strong>de</strong> pensar.
Auto-avaliação<br />
Elabore um pequeno texto sobre a importância <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> para a<br />
Geografia brasileira, consi<strong>de</strong>rando:<br />
a) que a Geografia no Brasil surge no contexto <strong>de</strong> implantação das universida<strong>de</strong>s na década<br />
<strong>de</strong> 1930, permitindo a vinda da missão francesa para a estruturação acadêmica das<br />
mesmas;<br />
b) que, no caso específico da Geografia, a vinda <strong>de</strong> <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> é um marco;<br />
c) que é fundamental enten<strong>de</strong>r que esse geógrafo é filho da Escola Francesa <strong>de</strong> Geografia e traz<br />
consigo uma bagagem intelectual calcada no pensamento <strong>de</strong> Paul Vidal <strong>de</strong> la Blache (veja as<br />
aulas 10 – A Geografia vidaliana e o seu contexto – e 11 – A abordagem regional vidaliana),<br />
mas que ao chegar ao Brasil percebe a insuficiência <strong>de</strong>ssa abordagem e, embasado em<br />
largo trabalho <strong>de</strong> campo, cria novos conceitos para dar conta da nova realida<strong>de</strong>.<br />
Referências<br />
ANDRADE, Manuel Correia <strong>de</strong>. <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong> e o pensamento geográfico no Brasil. Boletim<br />
Paulista <strong>de</strong> Geografia, n. 72, p. 63-82, 1994.<br />
DANTAS, Aldo. <strong>Pierre</strong> <strong>Monbeig</strong>: um marco da geografia brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2005.<br />
MONBEIG, <strong>Pierre</strong>. Ensaios <strong>de</strong> geografia humana brasileira. São Paulo: Livraria Martins, 1940.<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica 11
12<br />
Anotações<br />
Aula 14 Introdução à Ciência Geográfica
Introdução à Ciência Geográfica – GEOGRAFIA<br />
Ementa<br />
A construção do conhecimento geográfico. A institucionalização da geografia como ciência. As escolas do<br />
pensamento geográfico. A relação socieda<strong>de</strong>/natureza na ciência geográfica. O pensamento geográfico e seu<br />
reflexo no ensino. A geografia brasileira. Ativida<strong>de</strong>s práticas voltadas para a aplicação no ensino.<br />
Autores<br />
n Aldo Dantas<br />
n Tásia Hortêncio <strong>de</strong> Lima Me<strong>de</strong>iros<br />
Aulas<br />
01 O saber geográfico<br />
02 A ação humana<br />
03 A Geografia na Antiguida<strong>de</strong><br />
04 A Geografia na Ida<strong>de</strong> Média<br />
05 Os tempos mo<strong>de</strong>rnos<br />
06 Espaço e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />
07 A institucionalização da Geografia<br />
08 A Geografia <strong>de</strong> Humboldt e Ritter<br />
09 A Geografia ratzeliana e seu contexto<br />
10 A Geografia vidaliana e o seu contexto<br />
11 A abordagem regional vidaliana<br />
12 Os movimentos <strong>de</strong> renovação<br />
13 A institucionalização da Geografia no Brasil<br />
14 O nascimento da Geografia científica no Brasil<br />
15 Milton Santos: o filósofo da técnica<br />
1º Semestre <strong>de</strong> 200 Impresso por: Texform Gráfica