COMPOSIÇÃO DE FARELO ... - Embrapa Algodão
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<strong>COMPOSIÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>FARELO</strong> <strong>DE</strong>SENGORDURADO <strong>DE</strong> VARIEDA<strong>DE</strong>S <strong>DE</strong> MAMONA CULTIVADAS<br />
NO MUNICÍPIO <strong>DE</strong> ITAOCARA, ESTADO DO RIO <strong>DE</strong> JANEIRO<br />
Sidinéa Cordeiro de Freitas 1, Rosemar Antoniassi 1, Luiz Antonio Antunes de Oliveira 2, Guilherme<br />
Eugênio Machado Lopes 2 , Immer Gomes Ross Júnior 3<br />
1 <strong>Embrapa</strong> Agroindústria de Alimentos, sidi@ctaa.embrapa.br, rosemar@ctaa.embrapa.br, 2 PESAGRO<br />
– Rio de Janeiro, laoliveira@pesagro.rj.gov.br, gsepol1@hotmail.com,<br />
3 UFRRJ, immer@ufrrj.br<br />
RESUMO – O RIOBIODIESEl é um programa de pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, financiado<br />
pela FINEP/FAPERJ, que avalia o rendimento de oleaginosas para produção de Biodiesel. A crescente<br />
demanda de cultivo de mamona para a produção de biodiesel acarreta aumento na produção da torta e<br />
do farelo desengordurado. O farelo de mamona é o principal subproduto da cadeia produtiva da<br />
mamona, produzido a partir da extração do óleo por solvente. Em todo o mundo, seu uso<br />
predominantemente tem sido como adubo orgânico. Embora possa ser utilizada como ração animal,<br />
pois possui alto teor de proteínas, para eliminação de elementos tóxicos e alergênicos necessita de<br />
tecnologia viável em nível industrial para seu processamento. Neste trabalho, foi avaliada a<br />
composição química do farelo desengordurado de 12 variedades de mamona cultivadas no Município<br />
de Itaocara, Estado do Rio de Janeiro. As análises foram realizadas em triplicata, segundo os métodos<br />
oficiais da AOAC (2005). Não foram observadas diferenças significativas entre as variedades para o<br />
teor de proteína, cinzas e umidade, enquanto que houve diferença significativa para a concentração de<br />
fibra detergente neutra e lipídios, a nível de 95% de significância. O teor de proteína ficou em torno de<br />
30% e o teor de fibra detergente neutra variou de 43 a 51 g/100 g.<br />
Palavras-chave: Ricinus communis, destoxificação, ração animal.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O Brasil possuía a segunda maior área cultivada de mamona no mundo, mas teve sua<br />
participação reduzida de 26% para 8% em 1999, mas mantendo ainda a terceira posição entre os<br />
principais produtores (SANTOS et al., 2001).<br />
Além da vasta aplicação na indústria química, a mamoneira é importante devido à sua<br />
tolerância à seca, tornando-se uma cultura viável para a região semi-árida do Brasil, onde há poucas<br />
alternativas agrícolas. No entanto, esta cultura não é exclusiva da região semi-árida, sendo também<br />
plantada com excelentes resultados em diversas regiões do país (EMBRAPA ALGODÃO, 2008).<br />
No Rio de Janeiro a cultura da mamona tem sido amplamente estimulada pelo programa<br />
RIOBIODIESEL, financiado pela FINEP/FAPERJ, que tem por objetivo estudar algumas oleaginosas<br />
cultivadas no Estado, além de estimular o domínio da tecnologia de transformação de óleo vegetal em
Biodiesel, caracterização e avaliação deste novo combustível, de forma a adequá-lo aos padrões<br />
exigidos pela indústria automotiva e pela Agência Nacional do Petróleo (BIODIESEL, 2007).<br />
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma planta que pertence à família das Euforbiáceas,<br />
originária provavelmente da África ou da Índia, cultivada em diversos países do mundo, sendo a Índia,<br />
a China e o Brasil, os maiores produtores mundiais. Conhecido pelo homem desde a antiguidade, onde<br />
era utilizado para fins medicinais e como azeite para iluminação, o óleo de mamona, teve nas últimas<br />
décadas, seu uso estendido a inúmeros segmentos industriais (EMBRAPA ALGODÃO, 2008).<br />
No processo de extração de óleo por prensagem, o sub-produto é chamado de torta e<br />
apresenta ainda um alto teor residual de óleo, enquanto que o farelo é obtido no processo de extração<br />
do óleo por solvente e apresenta um baixo teor residual de óleo.<br />
Apesar de rica em proteínas, apresenta uma toxina chamada de ricina (que pode ser inativada pelo<br />
calor), além dos alérgenos, que são de difícil eliminação (SEVERINO, 2005).<br />
A torta de mamona tem sido eficaz como fertilizante, sendo ainda utilizada como matéria-prima<br />
para a produção de aminoácidos, plásticos, em especial os biodegradáveis, colas, inseticidas e outros<br />
produtos (COSTA et al., 2004a).<br />
Neste trabalho foram analisados os farelos desengordurados de 12 variedades de mamona<br />
cultivadas pela PESAGRO (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro), no<br />
município de Itaocara, Estado do Rio de Janeiro. A composição do farelo foi avaliada na <strong>Embrapa</strong><br />
Agroindústria de Alimentos.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Nesta pesquisa foram estudadas 12 variedades mamona, cultivadas no município de Itaocara,<br />
Estado do Rio de Janeiro. As variedades de mamona foram codificadas como: M1 = IAC 80, M2 = Al<br />
Guarany, M3 = Paraguaçu, M4 = Nordestina, M5 = Savana, M6 = Lyra, M7 = Mirante, M8 = V1, M9 =<br />
IAC 226, M10 = Cafelista, M11 = G1, M12 = T1.<br />
As amostras de semente de mamona foram desengorduradas em escala de laboratório. Os<br />
farelos desengordurados assim obtidos foram submetidos à caracterização físico-química, segundo os<br />
métodos oficiais da AOAC (2005): a determinação de nitrogênio total foi realizada pelo método de<br />
Kjeldahl e o resultado foi expresso como proteína bruta, após o uso de fator de conversão de 5,3<br />
(JONES, 1931). O teor residual de gordura foi avaliado em extrator Soxhlet, utilizando-se éter de<br />
petróleo por 16 horas. Umidade realizada em estufa convencional na temperatura de 100 °C e cinzas<br />
por incineração a 550 °C. A determinação de fibra detergente neutra foi realizada em extrator<br />
automático marca VELP utilizando solução de detergente neutra e alfa amilase.
Tabela 1.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A composição dos farelos desengordurados de variedades de mamona está apresentada na<br />
O teor de proteína variou de 28,99 a 32,33%. Poucos são os resultados disponíveis para o<br />
farelo de mamona, mas existem discrepâncias, em virtude do uso do fator de conversão de nitrogênio<br />
para proteína. Jones (1931) relata fatores específicos para diversos produtos, considerando-se sua<br />
composição em aminoácidos, e esta tem sido a referência para cálculo de proteína desde então. Na<br />
American Oil Chemist’s Society (AOCS, 2004), estão reportados valores específicos para várias<br />
oleaginosas, exceto para mamona. O uso do fator geral de 6,25 que não se aplica à proteína de origem<br />
vegetal e acarreta quando utilizado, a superestimação do valor nutricional das proteínas vegetais.<br />
Os teores de umidade e de cinzas ficaram em torno de 9% e de 5%, respectivamente. O teor<br />
máximo obtido para lipídios (extrato etéreo) foi de 4,29%<br />
O farelo desengordurado de mamona possui como característica principal alta concentração de fibra<br />
insolúvel (celulose, hemicelulose e lignina), portanto fez-se necessário a determinação de fibra<br />
detergente neutra. Os resultados variaram de 43 a 51%.<br />
Observou-se pela análise de variância que não existem diferenças significativas entre as<br />
variedades para o teor de proteína, cinzas e umidade, enquanto que houve diferença significativa para<br />
a concentração de fibra detergente neutra, a nível de 95% de significância. Houve diferença<br />
significativa também para o teor de lipídios residual do farelo, que ocorreu em virtude de maior ou<br />
menor eficiência no desengorduramento da etapa anterior.<br />
Costa et al. (2004b) reportaram resultado de composição de torta de mamona, provavelmente<br />
obtida por prensagem, em virtude do alto teor residual de óleo, com 28,75% de proteína, 13,10% de<br />
óleo e 12,11% de cinzas.<br />
Freire (2001) cita valores de lipídios para farinha de mamona extraída por solvente e prensada<br />
de 1,1 e 4,4%, e de proteína de 30,6 e 32,1%, respectivamente.<br />
O teor residual de óleo de mamona na torta inviabiliza seu uso como ração animal, visto que o<br />
óleo não é comestível e requer processos adicionais de remoção.
CONCLUSÃO<br />
Para as 12 variedades de mamona cultivadas no Município de Itaocara, houve diferença significativa<br />
entre os resultados de fibra detergente neutra, mas não houve diferença quanto ao teor de proteínas.<br />
O baixo teor residual de lipídios do farelo desengordurado obtido após extração com solvente<br />
em relação à torta de mamona obtida por prensagem permitiria a utilização do farelo como componente<br />
de ração animal, após os processos de destoxificação que são necessários para a mamona.<br />
Agradecimentos à FAPERJ/FINEP pelo financiamento do projeto e a <strong>Embrapa</strong> pelas de bolsas de<br />
iniciação científica<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AOAC. Official methods of analysis of the Association Analytical Chemists. 18.ed. Gaithersburg,<br />
Maryland, 2005.<br />
AOCS. Official methods and recommended practices of the American oil chemist’s society. 5 th<br />
ed. Champaign, 2004.<br />
BIODIESEL. Secretaria de Ciência e Tecnologia. Governo do Rio de Janeiro (2007). On line. Disponível<br />
em: Acesso em: 28 abr.<br />
2008.<br />
COSTA, F. X. et al. Composição química da torta de mamona. Anais do I Congresso Brasileiro de<br />
mamona. In: CONGRESSO BRASILEIRO <strong>DE</strong> MAMONA 1., 2004, Campina Grande, PB. Energia e<br />
sustentabilidade: anais... Campina Grande: <strong>Embrapa</strong> <strong>Algodão</strong>, 2004b. 1 CD-ROM.<br />
COSTA, H. M.; RAMOS, V. D.; ABRANTES, T. A. S.; CASTRO, D. F.; VISCONTE, L. L. Y.; NUNES, R.<br />
C. R.; FURTADO, C. R. G. Efeito do óleo de mamona em composições de borracha natural contendo<br />
sílica. Polímeros, v. 14, n. 1, p. 46-50, 2004a.<br />
FREIRE, R. M. M. Ricinoquímica. In: AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. (Ed.). O agronegócio da<br />
mamona no Brasil. Brasilia: <strong>Embrapa</strong> Informação Tecnologica, 2001. p. 49-85.
JONES, D. B. Factors for converting percentages of nitrogen in foods and feeds into<br />
percentagens of protein. Washington, D.C.: US Department of Agriculture, 1931. (Circular, 183).<br />
EMBRAPA ALGODÃO. Mamona. Disponível em: . Acesso em: 05 jun. 2008.<br />
SANTOS, R. F et al. Análise Econômica. In: AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. (Ed.). O agronegócio<br />
da mamona no Brasil. Brasilia: <strong>Embrapa</strong> Informação Tecnologica, 2001. p. 87-113.<br />
SEVERINO, L.S. O que sabemos sobre a torta da mamona. Campina Grande, PB: <strong>Embrapa</strong> <strong>Algodão</strong>,<br />
2005. 31 p. (<strong>Embrapa</strong> <strong>Algodão</strong>. Documentos, 134).<br />
Tabela 1. Composição de farelo desengordurado de variedades de mamona (g/100 g).<br />
Variedade Proteína* Umidade Extrato Etéreo Cinzas FDN<br />
M1 32,33 8,98 0,65 4,77 50,66<br />
M2 28,99 8,65 1,97 4,91 45,44<br />
M3 30,65 9,01 3,22 5,30 43,20<br />
M4 31,15 9,19 2,32 5,42 46,40<br />
M5 31,78 9,02 1,33 4,91 44,60<br />
M6 30,78 9,08 0,69 5,55 45,63<br />
M7 29,87 8,77 3,09 4,91 48,99<br />
M8 29,75 8,88 3,44 4,97 47,42<br />
M9 31,46 8,59 2,64 4,94 47,88<br />
M10 29,27 8,60 4,29 4,87 44,23<br />
M11 29,38 9,67 2,26 4,88 43,35<br />
M12 29,59 9,84 0,70 4,82 48,54<br />
* fator de conversão de nitrogênio para proteína de 5,30; FDN – fibra detergente neutra.