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Vendo<br />

Era uma tarde como tantas outras, na centenária Rua Augusta. Luís estava habituado<br />

aquela azáfama das compras natalícias. Os seus ombros já estavam doridos de tan<strong>to</strong>s<br />

encontrões. O cheiro das castanhas, vendidas já fora de época empestava o ar. Luís gostava<br />

de castanhas, mas nesta altura do ano já irritava o cheiro. Turistas em mangas de camisa<br />

bebiam placidamente cervejas geladas, na explanada em pleno Inverno. Luís achava-os<br />

doidos. Como era possível com sete graus estar-se numa explanada ao cimo da rua augusta,<br />

bebendo alegremente uma cerveja gelada. Só mesmo um britânico de barba branca, e<br />

rechonchudas bochechas vermelhas.<br />

Luís avançava paulatinamente, chegando ao velho Rossio. Olha a pequena multidão que<br />

espera um au<strong>to</strong>carro amarelo e sujo da Carris. Tanta gente de olhar carrancudo e triste,<br />

esperando um transporte conduzido por alguém que provavelmente trás um olhar<br />

carrancudo e triste. Do outro lado do passeio, as cores alegres e garridas de um restaurante<br />

de comida rápida estrangeira. Nem o coração histórico da cidade que o vira crescer se<br />

mantinha fiel a si próprio. Passando em frente ao histórico Teatro D. Maria II, um sentimen<strong>to</strong><br />

de tristeza invade-o. Luís não percebia como era possível que nas escadarias de um nobre<br />

teatro alfacinha, agora imperassem sem-abrigo. Alguns deles mostravam pequenos letreiros.<br />

“Vende-se carteira.” “Vendo telemóveis.” Provavelmente material roubado, pensava ele. Esta<br />

gente metia-lhe nojo. Sujos, rudes e provavelmente criminosos, eram a escória da sociedade.<br />

Começava agora a subir para o Chiado, onde finalmente poderia comprar as suas prendas de<br />

Natal. No meio da subida um sem abrigo cap<strong>to</strong>u-lhe a atenção. Envergava roupas velhas e<br />

gastas, tal como tan<strong>to</strong>s outros sem abrigo. Tinha a barba grisalha por fazer, tal como tan<strong>to</strong>s<br />

outros sem abrigo. A sua pele parecia curtida pelo sol, e suja pelo ar, tal como tan<strong>to</strong>s outros<br />

sem abrigo. Mostrava um pequeno letreiro, tal como tan<strong>to</strong>s outros sem abrigo. A diferença<br />

era o que estava escri<strong>to</strong>. “Vendo uma coisa que <strong>to</strong>dos querem, mas não ousam. Por um preço<br />

simples, mas que ninguém paga.” Ninguém ligava ao velho e ao seu cartaz. Mas Luís ficou<br />

curioso e dirigiu-se a ele.<br />

– Desculpe amigo o que vende?<br />

– Aquilo que <strong>to</strong>dos querem, mas não têm muitas vezes coragem de ter.<br />

The Pickwick Society - vol. I Pág. 29 de 117

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