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Preferência alimentar de espécies de Aplysia sp. sobre ... - Proac

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE<br />

INSTITUTO DE BIOLOGIA<br />

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA MARINHA<br />

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS<br />

<strong>Preferência</strong> <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong><br />

<strong>sp</strong>. <strong>sobre</strong> macroalgas marinhas<br />

ANDRESSA CONTRERAS<br />

Orientador: Dr. Renato Cre<strong>sp</strong>o Pereira<br />

Co-Orientadora: M. Sc. Aline Santos <strong>de</strong> Oliveira<br />

Niterói, Dezembro <strong>de</strong> 2008.


ANDRESSA CONTRERAS<br />

<strong>Preferência</strong> <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong><br />

<strong>sp</strong>. <strong>sobre</strong> macroalgas marinhas<br />

Orientador: Dr. Renato Cre<strong>sp</strong>o Pereira<br />

Co-Orientadora: M. Sc. Aline Santos <strong>de</strong> Oliveira<br />

Niterói, Dezembro <strong>de</strong> 2008.<br />

Monografia apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />

Graduação <strong>de</strong> Ciências Biológicas da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, como<br />

requisito parcial para a obtenção do Grau<br />

<strong>de</strong> Bacharel em Ciências Biológicas, com<br />

ênfase em Biologia Marinha.<br />

ii


ANDRESSA CONTRERAS<br />

<strong>Preferência</strong> <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong><br />

<strong>sp</strong>. <strong>sobre</strong> macroalgas marinhas<br />

Banca Examinadora<br />

________________________________<br />

Dr. Renato Cre<strong>sp</strong>o Pereira<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia Marinha – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />

________________________________<br />

Dr. Bernardo Antonio Perez da Gama<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia Marinha - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />

________________________________<br />

M. SC. Daniela Bueno Sudatti<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia Marinha - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />

________________________________<br />

Dr. Erwan Plouguerné (Suplente)<br />

Departamento <strong>de</strong> Biologia Marinha - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />

Niterói, Dezembro <strong>de</strong> 2008.<br />

iii


AGRADECIMENTOS<br />

Não po<strong>de</strong>ria começar sem primeiro agra<strong>de</strong>cer a Deus, meu guia e protetor, pois<br />

sem ele nada na minha vida seria possível.<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos meus pais, Marion Rosi e José (Pepe) Contreras, que me educaram,<br />

me edificaram, me apoiaram nas boas idéias e às vezes até nas ruins, que contribuíram<br />

em gran<strong>de</strong> parte para minha personalida<strong>de</strong>, meu jeito <strong>de</strong> ser, meus certos e errados.<br />

Mãe, fonte inesgotável <strong>de</strong> amor e carinho, extrovertida e cativante, pessoa crucial no<br />

meu crescer constante, obrigada. Pai, centrado, racional, inteligente e observador, que<br />

me incentivou a terminar a faculda<strong>de</strong> por livre e e<strong>sp</strong>ontânea pressão, obrigada por me<br />

proporcionar essa e muitas outras oportunida<strong>de</strong>s. Tenho orgulho <strong>de</strong> ser filha <strong>de</strong> vocês!<br />

Amo vocês mais que tudo e sem vocês não seria nada!!<br />

À minha irmã Zi, mulher bonita, elegante e emocional ao extremo, companheira<br />

<strong>de</strong> muitas brigas e risadas, além <strong>de</strong> amiga para (quase) todas as horas, obrigada por<br />

fazer parte da minha vida. Te amo!!<br />

À todos, todos os meu familiares, on<strong>de</strong> quer que estejam, pela contribuição direta<br />

ou indireta da minha formação profissional e pessoal, e pelos momentos <strong>de</strong> alegria e<br />

comilança! Em e<strong>sp</strong>ecial, minha avó Rosi, cuja vitalida<strong>de</strong> é um exemplo para todas as<br />

pessoas.<br />

À minha madrinha, Joana Barros <strong>de</strong> Jaegher, pelo incentivo na carreira biológica.<br />

Aos amigos dos meus pais, que se tornaram segundos, terceiros e quartos pais:<br />

Carmem e Arnaldo Biassusi, Emília, Jô e Kleber.<br />

Ao pessoal do laboratório: Wilton Ferreira, Gláucia Ank, Amanda Ferreira,<br />

Eduardo Xavier, Ricardo Rogers, Rodrigo Amaro, Claudia Granja, Natália Saísse,<br />

Priscila Palhano, Crícia, Ana Carolina Rubem, pelo apoio no projeto e pelos bons<br />

iv


momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração. Em e<strong>sp</strong>ecial à Aline Santos <strong>de</strong> Oliveira, ao Leonardo Lima<br />

e à Camilla F. Souza, pela orientação e apoio nas ativida<strong>de</strong>s do laboratório e da<br />

monografia, que dividiram seu conhecimento e experiência comigo.<br />

Ao Ecidine, pela di<strong>sp</strong>osição, pelas risadas e pelo auxilio nas coletas.<br />

A todos os meus amigos da faculda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> inúmeros trabalhos e noites mal-<br />

dormidas, por estudo ou por farra: Ana <strong>de</strong> Castro e Costa, Maria Carolina Henriques,<br />

Nathalia Pinho, Pedro Ferreira, Rafaela Carneiro, Victor Bornstein, Felipe Cid, Renata<br />

<strong>de</strong> Souza, Ricardo Couto, Roberta Liz, Gabriel Correal, Mário Santanna, Felipe<br />

Oliveira, Bruno Grilo, Luciana Ramos, Erica Ferreira e muitos mais.<br />

Aos amigos <strong>de</strong> fora da faculda<strong>de</strong>, mas não menos importantes, que compartilham<br />

todos os momentos bons e ruins da minha vida e que sem eles eu não seria a mesma<br />

pessoa: Aline Newman, Gabriela Vieira, Carla Vieira, Carol Santos e Gabriel Cor<strong>de</strong>iro,<br />

Tivah Hertz, Eduardo Willemen, Marco Aurélio <strong>de</strong> Souza, João Victor Macedo, Priscila<br />

da Moita, e meu irmão francês Erwan Plouguerné.<br />

Gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer, em e<strong>sp</strong>ecial, ao professor e orientador Renato Cre<strong>sp</strong>o<br />

Pereira, pela oportunida<strong>de</strong> concedida <strong>de</strong> realizar ativida<strong>de</strong>s em laboratório e por me<br />

aceitar como sua orientanda. É um prazer compartilhar dos seus conhecimentos.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também ao Dr. Bernardo A. P. da Gama, à Daniela B. Sudatti e ao<br />

Erwan Plouguerné (mais uma vez), por aceitarem participar da banca <strong>de</strong>sta monografia.<br />

À professora Valéria Teixeira e à Diana Negrão, pela di<strong>sp</strong>osição <strong>de</strong> livros, artigos<br />

e <strong>de</strong> conhecimento próprio.<br />

À todos os professores do curso <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Fluminense que fizeram parte da minha formação profissional e acadêmica.<br />

Agra<strong>de</strong>ço também a todos aqueles que, por infeliz esquecimento, <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong><br />

contemplar aqui, e as minhas sinceras <strong>de</strong>sculpas.<br />

v


RESUMO<br />

A maioria dos herbívoros marinhos são organismos <strong>de</strong> hábito <strong>alimentar</strong> generalista<br />

e consomem diversos recursos que estão di<strong>sp</strong>oníveis e abundantes no ambiente. Apesar<br />

disso, alguns herbívoros opistobrânquios apresentaram certo grau <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ecialização em<br />

<strong>de</strong>terminadas macroalgas ao longo do curso evolutivo da interação planta-herbívoro,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tolerar tais <strong>de</strong>fesas ao se associar, viver, consumir e<br />

utilizar os compostos químicos produzidos pelas algas ho<strong>sp</strong>e<strong>de</strong>iras. Neste estudo,<br />

avaliamos a preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> duas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> diferentes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>, coletadas em<br />

duas localida<strong>de</strong>s do litoral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Praia da Boa Viagem – Niterói<br />

e Praia do Forno – Armação <strong>de</strong> Búzios), <strong>sobre</strong> as macroalgas Ulva fasciata, Laurencia<br />

filiformis, Osmundaria obtusiloba, Sargassum <strong>sp</strong>. e Dictyota <strong>sp</strong>., coletadas na Praia<br />

Rasa e na Praia do Forno, ambas localizadas no município <strong>de</strong> Armação <strong>de</strong> Búzios. Estes<br />

resultados foram correlacionados com o comportamento <strong>alimentar</strong> para cada e<strong>sp</strong>écie,<br />

seja ele generalista ou e<strong>sp</strong>ecialista. Os experimentos foram realizados com as<br />

macroalgas vivas, baseado no método <strong>de</strong> múltipla escolha e analisados estatisticamente<br />

através da comparação na variação da biomassa do consumo x autogenia, e pela<br />

incorporação dos valores <strong>de</strong> autogenia aos do consumo. E<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>de</strong> ambos<br />

os locais preferiram significativamente somente uma das cinco macroalgas oferecidas,<br />

embora não a mesma. No entanto, aqueles <strong>de</strong> B. Viagem consumiram Ulva fasciata<br />

enquanto os da P. do Forno, a macroalga Laurencia filiformis, em ambos os métodos<br />

estatísticos utilizados. As duas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> possuem hábitos <strong>alimentar</strong>es<br />

e<strong>sp</strong>ecializados, porém, com histórias ecológicas/evolutivas bem distintas, uma vez que a<br />

e<strong>sp</strong>écie da Praia da Boa Viagem consome uma macroalga comumente consumida por<br />

herbívoros, U. fasciata, enquanto a da P. do Forno se e<strong>sp</strong>ecializou na macroalga<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendida L. filiformis.<br />

Palavras-chave: <strong>Aplysia</strong>, preferência <strong>alimentar</strong>, herbivoria, macroalgas, e<strong>sp</strong>ecialista,<br />

generalista.<br />

vi


ABSTRACT<br />

Most marine herbivores are generalist fee<strong>de</strong>rs that eat whatever resources are<br />

abundant and available in the environment. De<strong>sp</strong>ite that, some opistobranch herbivores<br />

have shown some level of <strong>sp</strong>ecialization on certain macroalgae through the course of<br />

plant-herbivore interaction evolution, <strong>de</strong>veloping the ability to tolerate such <strong>de</strong>fenses by<br />

associating with, living on, consuming and using the chemical compounds produced by<br />

the host plant. In this study we evaluated the food preference of two <strong>sp</strong>ecies of <strong>Aplysia</strong><br />

collected at two different places of the coast of Rio <strong>de</strong> Janeiro State (Praia <strong>de</strong> Boa<br />

Viagem – Niterói, and Praia do Forno – Armação <strong>de</strong> Búzios), over the macroalgae Ulva<br />

fasciata, Laurencia filiformis, Osmundaria obtusiloba, Sargassum <strong>sp</strong>. and Dictyota <strong>sp</strong>.,<br />

collected at Praia Rasa and at Praia do Forno, both located in the city of Armação <strong>de</strong><br />

Búzios. These results were correlated with the feeding behaviour of each <strong>sp</strong>ecies,<br />

wether generalized or <strong>sp</strong>ecialized. The experiments were performed with living<br />

macroalgae, based on multiple choice assays and statistically analyzed through<br />

comparison of the variation in the biomass from the treatment (consumption) versus<br />

control (autogenic variations), and incorporating autogenic values in the consumption’s<br />

values. Both <strong>sp</strong>ecies of <strong>Aplysia</strong> significantly exhibited a preference for only one of the<br />

five macroalgae offered, though not the same. However, <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>ecimens from B.<br />

Viagem consumed Ulva fasciata, while those individuals from P. do Forno ate the<br />

macrolga Laurencia filiformis according to both statistical analysis. The two <strong>sp</strong>ecies of<br />

<strong>Aplysia</strong> possess <strong>sp</strong>ecialized feeding behavior as the result of distinct<br />

ecological/evolutionary history, since the <strong>sp</strong>ecies from B. Viagem consume a macroalga<br />

usually eaten by herbivores, while that from P. Forno is <strong>sp</strong>ecialized to eat the<br />

chemically <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d macroalga L. filiformis.<br />

Keywords: <strong>Aplysia</strong>, food preference, herbivory, macroalgae, e<strong>sp</strong>ecialist, generalist.<br />

vii


SUMÁRIO<br />

Página<br />

1. INTRODUÇÃO………………...................…………………………... 1<br />

1.1 Estratégias <strong>de</strong>fensivas <strong>de</strong> macroalgas marinhas contra herbívoros ..…………. 1<br />

1.2 Interação planta-herbívoro e preferência <strong>alimentar</strong> .....................……………... 4<br />

1.3 Sobre as lebres-do-mar .....……………………………………………………….. 7<br />

1.4 Objetivos.................................................................................................................. 11<br />

2. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................ 12<br />

2.1 Organismos.............................................................................................................. 12<br />

2.1.1 Lebre-do-mar <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>............................................................................ 12<br />

2.1.1.1 Caracterização................................................................. 16<br />

2.1.2 Macroalgas marinhas................................................................................. 18<br />

2.1.2.1Caracterização.................................................................. 20<br />

2.2 Experimentos.......................................................................................................... 24<br />

2.3 Tratamento dos dados............................................................................................ 27<br />

3. RESULTADOS..................................................................................... 28<br />

3.1 Experimento com <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem....................................... 28<br />

3.2 Experimento com <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno................................................. 31<br />

4. DISCUSSÃO......................................................................................... 35<br />

5. CONCLUSÃO...................................................................................... 41<br />

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................... 42<br />

viii


ÍNDICE DE FIGURAS<br />

Página<br />

Figura 1. Imagem <strong>de</strong> satélite do Brasil (a), com enfoque no Rio <strong>de</strong> Janeiro (b), com<br />

<strong>de</strong>staque para a Baía <strong>de</strong> Guanabara (c) e para a Praia da Boa Viagem (d), localizada em<br />

Niterói............................................................................................................................. 14<br />

Figura 2. <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. coletada na Praia da Boa Viagem (Niterói, RJ)........................... 14<br />

Figura 3. Imagem <strong>de</strong> satélite do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (a), com enfoque na Armação<br />

<strong>de</strong> Búzios (b), on<strong>de</strong> se localiza a Praia do Forno (c) e a Praia Rasa (d)........................ 15<br />

Figura 4. <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. coletada na Praia do Forno (Armação <strong>de</strong> Búzios, RJ). a. Nadando<br />

ativamente; b. Fora d’água............................................................................................. 15<br />

Figura 5. Ulva fasciata.................................................................................................. 20<br />

Figura 6. Osmundaria <strong>sp</strong>............................................................................................... 21<br />

Figura 7. Laurencia filiformis........................................................................................ 22<br />

Figura 8. Dictyota <strong>sp</strong>..................................................................................................... 23<br />

Figura 9. Sargassum <strong>sp</strong>.................................................................................................. 23<br />

Figura 10. Arranjo das macroalgas em tamanhos aproximados.................................... 25<br />

Figura 11. Di<strong>sp</strong>osição das macroalgas nos potes plásticos: no experimento com as<br />

lebres-do-mar (algas presas); e na autogenia (algas livres)............................................ 26<br />

Figura 12. Experimento já em andamento, no aquário do Laboratório <strong>de</strong> Produtos<br />

Naturais e Ecologia Química Marinha. a. Tratamento; b. Controle............................... 26<br />

Figura 13. Consumo médio das macroalgas (g), com <strong>de</strong>svio padrão, por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da<br />

Praia <strong>de</strong> Boa Viagem. Dados analisados segundo Cronin & Hay (1996)...................... 29<br />

Figura 14. Média da variação da biomassa (g), com Desvio Padrão do consumo<br />

exercido por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. (consumo) e do controle (autogenia)...................................... 30<br />

ix


Página<br />

Figura 15. Foto tirada após o experimento. a. com enfoque no consumo quase total da<br />

Ulva fasciata. b. em relação às <strong>de</strong>mais macroalgas....................................................... 30<br />

Figura 16. Consumo das macroalgas (g), com Desvio Padrão, por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia<br />

do Forno. Dados analisados segundo Cronin & Hay (1996).......................................... 32<br />

Figura 17. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (em gramas <strong>de</strong> peso úmido)<br />

das macroalgas no tratamento (consumo) e no controle (autogenia)............................. 33<br />

Figura 18. Algas consumidas após o experimento. a. L. filiformis; b. U. fasciata, que<br />

embora não tenha sido consumida significativamente no geral, foi consumida por alguns<br />

indivíduos....................................................................................................................... 34<br />

x


ÍNDICE DE TABELAS<br />

Página<br />

Tabela 1. Peso em gramas, das lebres-do-mar <strong>de</strong> ambos os experimentos, com Média e<br />

Desvio Padrão................................................................................................................. 25<br />

Tabela 2. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (g) estimada pelo método <strong>de</strong><br />

Cronin e Hay (1996)........................................................................................................29<br />

Tabela 3. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (g), quanto ao consumo (C)<br />

e às mudanças autogênicas (A)....................................................................................... 31<br />

Tabela 4. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (g) segundo Cronin e Hay<br />

(1996).............................................................................................................................. 33<br />

Tabela 5. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa, em gramas, no consumo (C)<br />

e na autogenia (A)........................................................................................................... 34<br />

xi


xii


INTRODUÇÃO<br />

1.1 Estratégias <strong>de</strong>fensivas <strong>de</strong> macroalgas marinhas contra herbívoros<br />

A intensa herbivoria é um dos principais fatores que afetam a abundância e<br />

distribuição <strong>de</strong> macroalgas nas comunida<strong>de</strong>s marinhas (Carpenter, 1986; Hay, 1997).<br />

Em habitats <strong>de</strong> regiões temperadas, os ouriços-do-mar e os gastrópo<strong>de</strong>s são os<br />

herbívoros que mais causam impactos na estrutura das comunida<strong>de</strong>s marinhas, enquanto<br />

em recifes <strong>de</strong> corais tropicais, peixes e ouriços-do-mar po<strong>de</strong>m consumir quase 100% da<br />

produção local <strong>de</strong> macroalgas (Carpenter, 1986).<br />

Devido à pressão <strong>de</strong> herbivoria exercida <strong>sobre</strong> as macroalgas, estas <strong>de</strong>senvolveram<br />

uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estratégias para minimizar o consumo ou assegurar sua <strong>sobre</strong>vivência,<br />

seja através <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas morfológicas, estruturais, químicas, associações com outros<br />

organismos que já possuem <strong>de</strong>fesas, ou por apresentarem um baixo valor nutricional<br />

(Hay & Fenical, 1988; Duffy & Paul, 1992). As macroalgas marinhas também po<strong>de</strong>m<br />

minimizar a herbivoria através <strong>de</strong> refúgios e<strong>sp</strong>aciais ou temporais, ou mesmo <strong>de</strong>vido ao<br />

rápido crescimento (Hay & Fenical, 1988; Duffy & Hay, 1990; Hay, 1992). Algumas<br />

características como morfologia externa, tamanho do indivíduo, ciclo <strong>de</strong> vida, traços<br />

anatômicos internos, ativida<strong>de</strong>s metabólicas e plasticida<strong>de</strong> fenotípica afetam a interação<br />

planta-herbívoro (Littler et al., 1983).<br />

Freqüentemente, vários mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa agem <strong>de</strong> maneira simultânea,<br />

gerando melhores estratégicas <strong>de</strong> <strong>sobre</strong>vivência. Essas estratégias também influenciam<br />

na escolha <strong>alimentar</strong> dos herbívoros.<br />

1


As algas marinhas têm uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tamanhos, formas e texturas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finos<br />

filamentos a gran<strong>de</strong>s talos das “kelps” ou formas incrustantes. Em muitos casos, é claro<br />

que a morfologia das algas se correlaciona com a suscetibilida<strong>de</strong> à herbivoría (Littler &<br />

Littler, 1980; Steneck & Watling, 1982; Lewis et al., 1987), como no caso das algas<br />

vermelhas da família Corallinaceae que são extremamente calcificadas e são abundantes<br />

em habitats sob intensa herbivoria como os recifes <strong>de</strong> corais (Steneck, 1986).<br />

Littler & Littler (1980) concluíram que algas mais grossas e duras como aquelas<br />

coriáceas, crostosas ou calcárias, ten<strong>de</strong>m a apresentar baixos valores nutricionais, já que<br />

houve uma realocação <strong>de</strong> recursos da fotossíntese para formar tais características. Essas<br />

características, no entanto, diminuem a palatabilida<strong>de</strong>, a digestão e o retorno energético<br />

para herbívoros em geral, e assim são importantes para a <strong>sobre</strong>vivência em períodos <strong>de</strong><br />

intensa herbivoria, além <strong>de</strong> propiciarem maior resistência aos batimentos <strong>de</strong> ondas e<br />

abrasões, dando uma vantagem competitiva.<br />

Entretanto, há também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas químicas junto às<br />

morfológicas, indicando que ambas as estratégias <strong>de</strong>vem ser cuidadosamente estudadas<br />

(Paul & Hay, 1986).<br />

Muitas macroalgas produzem diversos metabólitos secundários bastante similares<br />

estruturalmente e funcionalmente, que po<strong>de</strong>m agir adicionalmente ou sinergicamente<br />

uns aos outros ou até mesmo reduzir a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns herbívoros <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

resistência à estas substâncias (Hay, 1992). Metabólitos que se mostraram inativos<br />

quando testados isoladamente, po<strong>de</strong>m participar ativamente <strong>de</strong> uma interação com<br />

outros ou limitar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas por parte do herbívoro e assim exibir<br />

um papel <strong>de</strong>fensivo para a macroalga em questão (Hay, 1992).<br />

Esses metabólitos secundários incluem terpenos, substâncias aromáticas,<br />

acetogeninas, substâncias <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> ácidos aminados e polifenóis (Hay & Fenical,<br />

2


1988; Blunt et al., 2008). A produção <strong>de</strong> metabólitos secundários por macroalgas tem<br />

sido relacionada principalmente à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma proteção eficaz contra<br />

herbívoros.<br />

Os metabólitos secundários que apresentam função antiherbivoria não<br />

necessariamente exercem tal papel somente. Po<strong>de</strong>m funcionar como antiincrustantes,<br />

agentes alelopáticos, etc. Além disso, tais metabólitos ten<strong>de</strong>m a ser resistentes, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação lenta, po<strong>de</strong>ndo afetar as características químicas da coluna d’água, os<br />

processos <strong>de</strong> reciclagem do carbono e outros nutrientes, e até a ativida<strong>de</strong> microbiana<br />

<strong>de</strong>compositora (Hay, 1992).<br />

Os terpenos, sesquiterpenos e diterpenos constituem a maioria das substâncias<br />

isoladas <strong>de</strong> algas ver<strong>de</strong>s – Chlorophyta - 229 (Hay & Fenical, 1988). Já as algas pardas<br />

(Ochrophyta) são as únicas que produzem polifenóis funcionais, <strong>de</strong> ação antiherbivoria<br />

e antiincrustante (Targett & Arnold, 1998). Mais <strong>de</strong> 980 metabólitos secundários foram<br />

isolados <strong>de</strong> macroalgas pardas marinhas. Além dos polifenóis, essas algas também<br />

produzem terpenói<strong>de</strong>s, acetogeninas e substâncias <strong>de</strong> origem biossintética mista. Como<br />

exemplo, o pachydictyol-A, produzido pela macroalga parda Dictyota dichotoma, inibiu<br />

a herbivoria pelo anfípoda Parhyale hawaiensis, seu consumidor natural (Pereira et al.,<br />

1994). Mas a maior varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> metabólitos secundários é provavelmente encontrada<br />

entre as macroalgas vermelhas (Rhodophyta), on<strong>de</strong> todas as classes <strong>de</strong> substâncias (na<br />

maioria halogenadas), exceto os polifenóis, estão representadas, totalizando mais <strong>de</strong><br />

1240 metabólitos conhecidos. O gênero Laurencia produz mais <strong>de</strong> 570 metabólitos<br />

secundários, em sua maioria halogenados e com tipos estruturais únicos (Fenical, 1975;<br />

Blunt et al., 2008).<br />

Em campo, as estratégias estruturais, morfológicas, químicas e nutricionais <strong>de</strong><br />

macroalgas marinhas po<strong>de</strong>m agir simultaneamente para diminuir a suscetibilida<strong>de</strong> aos<br />

3


herbívoros e po<strong>de</strong>m estar coor<strong>de</strong>nadas com padrões temporais e/ou e<strong>sp</strong>aciais (Hay,<br />

1984; Paul & Hay, 1986; Lewis et al., 1987; Hay et al., 1988; Paul & Van Alstyne,<br />

1988). Essas <strong>de</strong>fesas integradas po<strong>de</strong>m ser muito significativas em ambientes on<strong>de</strong> a<br />

herbivoria é intensa.<br />

Em recifes <strong>de</strong> corais, por exemplo, on<strong>de</strong> a herbivoria é intensa, a maioria dos<br />

organismos sésseis possui tanto metabólitos secundários quanto estruturas físicas <strong>de</strong><br />

proteção como esqueletos minerais ou fibras orgânicas (Duffy & Paul, 1992).<br />

Muitas macroalgas e invertebrados bentônicos produzem tanto metabólitos<br />

secundários quanto carbonato <strong>de</strong> cálcio (CaCO3), partículas ou e<strong>sp</strong>ículas, por exemplo,<br />

que funcionam como <strong>de</strong>fesa contra seus consumidores (Hay et al., 1994), agindo<br />

adicionalmente ou em sinergia. É comum que <strong>de</strong>fesas químicas, morfológicas,<br />

estruturais, e nutricionais co-ocorram em <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> particulares e para algumas<br />

interações planta-herbívoro, o efeito causado pela combinação <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>fesas po<strong>de</strong> ser<br />

muito mais eficaz que o efeito <strong>de</strong> uma só.<br />

1.2 Interação Planta-herbívoro e <strong>Preferência</strong> Alimentar<br />

As interações biológicas que envolvem as macroalgas marinhas com <strong>de</strong>fesas<br />

químicas são geralmente bastante complexas e nem sempre tão óbvias, como o papel <strong>de</strong><br />

metabólitos secundários na evolução da e<strong>sp</strong>ecialização <strong>alimentar</strong>; a mediação química<br />

<strong>de</strong> algas associadas à resistência frente a herbivoria; as interações potenciais <strong>de</strong><br />

diferentes metabólitos produzidos por um mesmo indivíduo e outros efeitos indiretos <strong>de</strong><br />

metabólitos como, por exemplo, a influência na taxa do ciclo do carbono e <strong>de</strong> outros<br />

nutrientes (Hay, 1992). A morfologia <strong>de</strong>ssas algas e a presença ou ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas<br />

4


químicas influenciam as escolhas dos herbívoros, pois afetam as características dos<br />

alimentos potenciais (Cox & Murray, 2006).<br />

A maioria dos herbívoros apresenta fortes preferências <strong>alimentar</strong>es entre as<br />

<strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> macroalgas di<strong>sp</strong>oníveis no ambiente. A escolha <strong>alimentar</strong>, as re<strong>sp</strong>ostas <strong>de</strong><br />

herbívoros a novas dietas e as mudanças na preferência do alimento afetam<br />

conseqüentemente a organização funcional <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s marinhas (Derby, 2007).<br />

Em comunida<strong>de</strong>s marinhas, herbívoros como peixes, ouriços-do-mar e alguns<br />

gastrópo<strong>de</strong>s são dominantes e a maioria <strong>de</strong>ssas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> são consumidores<br />

extremamente generalistas. Segundo Hay (1992) são esses herbívoros generalistas que<br />

apresentam diferentes mobilida<strong>de</strong>s, habitats, métodos <strong>de</strong> alimentação e fisiologias, que<br />

exerceram uma pressão seletiva <strong>sobre</strong> macroalgas para que elas, no curso da evolução,<br />

<strong>de</strong>senvolvessem as características que inibem o seu consumo.<br />

Entretanto, encontramos um número muito menor <strong>de</strong> herbívoros e<strong>sp</strong>ecialistas no<br />

ambiente marinho, mostrando que essa e<strong>sp</strong>ecialização só ocorre sob limitada e intensa<br />

pressão seletiva (Hay, 1992). Gastrópo<strong>de</strong>s opistobrânquios compõem um grupo <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong>iros e<strong>sp</strong>ecialistas marinhos e são os mais estudados. Na teoria, evoluíram <strong>de</strong><br />

gastrópo<strong>de</strong>s com conchas e as lesmas-do-mar, na medida em que <strong>de</strong>senvolveram<br />

habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> presas <strong>de</strong>fendidas, adquiriram a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seqüestrar<br />

essas <strong>de</strong>fesas (Hay, 1992).<br />

As lebres-do-mar são capazes <strong>de</strong> seqüestrar os metabólitos secundários produzidos<br />

por macroalgas e que inibem a predação, entretanto não constituem um grupo<br />

exclusivamente <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ecialistas. Segundo Hay (1992), as lebres-do-mar consomem<br />

preferencialmente algas quimicamente <strong>de</strong>fendidas, mas também se alimentam <strong>de</strong> uma<br />

ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> que não produzem metabólitos secundários. Devido<br />

ao gran<strong>de</strong> tamanho que po<strong>de</strong>m atingir (mais <strong>de</strong> 20 cm), e do crescimento rápido,<br />

5


acredita-se que um indivíduo adulto consuma mais <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> alga por dia e que<br />

seria improvável se e<strong>sp</strong>ecializar em comer somente uma macroalga. <strong>Aplysia</strong> californica,<br />

por exemplo, cresce e se reproduz normalmente quando se alimenta tanto do gênero<br />

Plocamium (quimicamente <strong>de</strong>fendida), quanto do gênero Enteromorpha (sem química<br />

<strong>de</strong>fensiva). Assim, a preferência <strong>alimentar</strong> por uma alga quimicamente <strong>de</strong>fendida seja<br />

talvez somente <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fesa contra seus predadores e não<br />

simplesmente por escolha <strong>de</strong> uma dieta única. Mesmo não sendo e<strong>sp</strong>ecialistas em<br />

somente uma única alga ho<strong>sp</strong>e<strong>de</strong>ira, as lebres-do-mar ainda são mais e<strong>sp</strong>ecializadas que<br />

a maioria dos herbívoros marinhos, pelo fato <strong>de</strong> consumirem seletivamente algas<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendidas e seqüestrarem esses metabólitos secundários.<br />

Por causa <strong>de</strong>ssa particularida<strong>de</strong>, Rogers et al. (1995) constataram que as lebres-do-<br />

mar são organismos úteis para o estabelecimento <strong>de</strong> teorias acerca da evolução da<br />

e<strong>sp</strong>ecialização <strong>alimentar</strong>, sendo elas: (1) Abundância <strong>de</strong> alimentos, on<strong>de</strong> herbívoros se<br />

e<strong>sp</strong>ecializam em consumir algas que são abundantes e duráveis no ambiente, e que<br />

apresentem maior qualida<strong>de</strong> nutricional; (2) Partição <strong>de</strong> recursos, on<strong>de</strong> a competição<br />

inter-e<strong>sp</strong>ecífica por alimentos resulta na redução do nicho <strong>alimentar</strong> e conseqüente<br />

e<strong>sp</strong>ecialização; (3) Defesas químicas <strong>de</strong> plantas e a co-evolução, on<strong>de</strong> muitas plantas<br />

marinhas produzem metabólitos secundários que utilizam na <strong>de</strong>fesa química contra<br />

herbívoros e outros organismos patogênicos. Essas <strong>de</strong>fesas químicas po<strong>de</strong>m facilitar a<br />

e<strong>sp</strong>ecialização se alguns herbívoros <strong>de</strong>senvolvem adaptações morfológicas e/ou<br />

fisiológicas e<strong>sp</strong>ecificas à planta ho<strong>sp</strong>e<strong>de</strong>ira; (4) Evasão ou inibição <strong>de</strong> predadores, on<strong>de</strong><br />

e<strong>sp</strong>ecialistas po<strong>de</strong>m escapar da predação indiretamente ao se associar com algas<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendidas, ou ainda po<strong>de</strong>m incorporar os metabólitos químicos <strong>de</strong>ssas<br />

algas em tecidos e órgãos e <strong>de</strong>ter a predação diretamente.<br />

6


1.3 Sobre as lebres-do-mar<br />

As lebres-do-mar são moluscos encontrados em mares temperados e tropicais do<br />

mundo, on<strong>de</strong> encontram uma vasta diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predadores (Pennings, 1990b; Paul &<br />

Pennings, 1991; Ginsburg & Paul, 2001; Derby, 2007). Como muitos opistobrânquios,<br />

compensam a perda ou redução da concha com outros mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, incluindo<br />

as <strong>de</strong>fesas químicas, sejam elas passivas ou ativas.<br />

As <strong>de</strong>fesas químicas passivas não são liberadas sob estresse ou ataque do<br />

predador, mas estão presentes na pele e inibem a predação, e muitas vezes são<br />

metabólitos oriundos da dieta <strong>de</strong> algas (Ginsburg & Paul, 2001). As <strong>de</strong>fesas químicas<br />

ativas, no entanto, são liberadas sob ataque <strong>de</strong> predadores, e um exemplo <strong>de</strong> tal fato é a<br />

liberação <strong>de</strong> uma nuvem violácea composta por pigmentos e outras substâncias<br />

(Shabani et al., 2007). Essa nuvem po<strong>de</strong> conter secreções somente da glândula púrpura,<br />

somente da glândula opalina ou <strong>de</strong> ambas.<br />

Derby (2007) concluiu alguns princípios da química <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> lebres-do-mar,<br />

<strong>de</strong>scritos a seguir: (1) Defesas químicas são tipicamente misturas <strong>de</strong> diversas<br />

substâncias; (2) Substâncias <strong>de</strong>fensivas po<strong>de</strong>m ser produzidas ‘<strong>de</strong> novo’, ou obtidas <strong>de</strong><br />

outras fontes, em particular <strong>de</strong>rivadas da dieta <strong>de</strong> algas; (3) Estas substâncias atuam por<br />

diferentes mecanismos, mesmo contra uma única e<strong>sp</strong>écie <strong>de</strong> predador; (4) Uma<br />

substância po<strong>de</strong> mediar diferentes interações; (5) Um <strong>de</strong>terminado mecanismo age por<br />

diferentes substâncias para diferentes predadores; (6) Químicas e mecanismos similares<br />

po<strong>de</strong>m ocorrer tanto em <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> intimamente relacionadas, quanto em <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong><br />

distantes filogeneticamente; (7) Uma e<strong>sp</strong>écie po<strong>de</strong> usar substâncias parecidas para<br />

diferentes funções.<br />

7


Uma vantagem <strong>de</strong> se estudar as lebres-do-mar é a gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong><br />

existentes no mundo e o fato da maioria das vezes elas serem encontradas em zonas<br />

entremarés ou infralitorais e assim, <strong>de</strong> fácil acesso para coletas ou estudos em campo. A<br />

e<strong>sp</strong>écie <strong>Aplysia</strong> californica é criada para fins científicos durante o ano todo, em<br />

qualquer estágio do <strong>de</strong>senvolvimento (Derby, 2007).<br />

Os metabólitos seqüestrados <strong>de</strong> macroalgas quimicamente <strong>de</strong>fendidas se alojam na<br />

glândula digestiva dos indivíduos e essas substâncias são gradualmente transferidas para<br />

a pele do animal, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m funcionar inibindo predadores. Um estudo feito com<br />

Dolabella auricularia (Pennings et al., 1999) revelou que a glândula digestiva dos<br />

indivíduos continha uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> metabólitos secundários que não foram<br />

palatáveis a peixes recifais. Assim como a tinta, em altas concentrações, também foi<br />

rejeitada pelos peixes. A pele e os ovos <strong>de</strong>ssa lebre-do-mar, apesar <strong>de</strong> não serem<br />

palatáveis, não apresentaram qualquer metabólito <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong> alga.<br />

A alga vermelha Portieria hornemannii, por exemplo, contem os metabólitos<br />

secundários apakaochto<strong>de</strong>no A e B que agem inibindo seu consumo por peixes.<br />

Entretanto, esses não interferem na dieta da lebre-do-mar <strong>Aplysia</strong> parvula, que inclusive<br />

prefere consumir esta alga e cresce melhor quando se alimenta da mesma. Quando A.<br />

parvula se alimenta <strong>de</strong> P. hornemannii, ela seqüestra seus metabólitos secundários e se<br />

torna menos palatável a seus predadores, enquanto lebres-do-mar encontradas em outra<br />

alga vermelha, Acanthophora <strong>sp</strong>icifera, que não contém metabólitos secundários <strong>de</strong><br />

função parecida com os acima mencionados, eram rapidamente consumidas pelos seus<br />

predadores (Ginsburg & Paul, 2001).<br />

Em outro momento, Rogers e colaboradores (2002) testaram a mesma e<strong>sp</strong>écie <strong>de</strong><br />

lebre-do-mar, alimentada em laboratório com duas algas vermelhas ricas em substâncias<br />

<strong>de</strong>fensivas (Delisea pulchra e Laurencia obtusa), e as ofereceram em campo para uma<br />

8


mistura <strong>de</strong> peixes recifais. Tanto os indivíduos do tratamento (alimentados com as algas<br />

vermelhas) quanto do controle (alimentados com Ulva <strong>sp</strong>.) foram consumidos em altas<br />

taxas (25 a 55 % em 2 h) pelos peixes, e a tinta violácea, quando liberada, não inibiu o<br />

consumo por alguns peixes. Rogers et al. (2000) ainda relatam que <strong>Aplysia</strong> parvula<br />

excreta os metabólitos secundários da alga vermelha Laurencia obtusa com que foi<br />

alimentada, através das secreções do muco e da glândula opalina, o que po<strong>de</strong> explicar o<br />

possível envolvimento <strong>de</strong>sses metabólitos em sua <strong>de</strong>fesa.<br />

Paul & Pennings (1991) investigaram a interação planta-herbívoro entre a lebre-<br />

do-mar e<strong>sp</strong>ecialista Stylocheilus longicauda e a cianobactéria Microcoleus lyngbyaceus.<br />

No campo, S. longicauda é encontrada quase que exclusivamente <strong>sobre</strong> esta<br />

cianobactéria e no laboratório, a lebre-do-mar preferiu consumir M. lyngbyaceus <strong>sobre</strong><br />

sete outras dietas <strong>alimentar</strong>es e cresceu muito melhor nesta dieta que <strong>sobre</strong> outras cinco.<br />

Em diferentes ensaios, tanto os metabólitos secundários isolados e a própria M.<br />

lyngbyaceus inteira quanto a própria lebre-do-mar em concentrações naturais inibiram o<br />

consumo por peixes herbívoros em dois ambientes recifais distintos. Assim como outros<br />

opistobrânquios e<strong>sp</strong>ecialistas, S. longicauda é adaptada para consumir algas<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendidas, seqüestrando esses metabólitos secundários e os usando<br />

como <strong>de</strong>fesa frente aos seus próprios predadores.<br />

A tinta secretada pela maioria das lebres-do-mar, além <strong>de</strong> funcionar como um<br />

sinal <strong>de</strong> alerta para outros e<strong>sp</strong>écimes, como anti-predador e como distração para fuga,<br />

também funciona como um irritante sensorial, alterando o comportamento e o<br />

metabolismo <strong>de</strong> algumas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> invertebrados e peixes (Carefoot et al., 1999). Ou<br />

como Kicklighter et al. (2005) observaram que a nuvem liberada pela <strong>Aplysia</strong><br />

californica quando perturbada, é composta por produtos <strong>de</strong> duas glândulas, a púrpura e<br />

a opalina. Essa nuvem, além <strong>de</strong> dificultar a orientação por predadores visuais, também<br />

9


interage com os órgãos sensíveis às químicas presentes na água do mar (Aggio &<br />

Derby, 2008). Essa interação direta pelas substâncias presentes na nuvem liberada<br />

po<strong>de</strong>m apresentar três funções: inibir a predação; distrair o predador em direção à<br />

nuvem e não à presa (nesse caso, a nuvem possui altas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ácidos aminados<br />

e outros metabólitos associados à alimentação e que estimulam os sentidos do predador,<br />

como a lagosta Panulirus interruptus); e quebra sensorial momentânea baseada no fato<br />

que as secreções são bastante viscosas e pegajosas e a<strong>de</strong>rem aos órgãos sensoriais,<br />

perturbando a orientação do predador.<br />

Outro tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que as lebres-do-mar po<strong>de</strong>m apresentar é a aci<strong>de</strong>z da pele ou<br />

das secreções liberadas na coluna d’água. O muco, por exemplo, se torna ácido (com<br />

um pH ~ 4.0), assim que a pele é perturbada gravemente (Shabani et al., 2007). Estes<br />

autores perceberam ainda, que as secreções da glândula púrpura e opalina também são<br />

ácidas (pH ~ 5), e que o alto pH aumenta a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa química fagomimética <strong>de</strong><br />

lebres-do-mar. Fagomimetismo é o engano causado por metabólitos liberados na água<br />

que causam um falso estímulo <strong>alimentar</strong>, influenciando no comportamento <strong>de</strong> lagostas e<br />

direcionando-as a estas substâncias (Derby, 2007).<br />

Assim, a dinâmica/processamento <strong>de</strong> metabólitos secundários oriundos <strong>de</strong> algas<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendidas seqüestrados pelas lebres-do-mar e seu papel na interação<br />

ecológica e comportamental <strong>de</strong>sses animais ainda não está <strong>de</strong>finido e apesar dos<br />

estudos, pouco se compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas interações.<br />

Neste trabalho abordaremos a questão da e<strong>sp</strong>ecialização x generalização <strong>alimentar</strong><br />

dos herbívoros em relação à macroalgas marinhas. Foram utilizados experimentos <strong>de</strong><br />

múltipla escolha para avaliar a preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>p., uma vez que esse<br />

tipo <strong>de</strong> ensaio é bem fiel à realida<strong>de</strong>, tendo em vista que no ambiente marinho a maioria<br />

das algas está di<strong>sp</strong>onível ao herbívoro <strong>de</strong> maneira simultânea.<br />

10


1.4 Objetivos<br />

O estudo objetivou avaliar qual a preferência <strong>alimentar</strong> das lebres-do-mar em duas<br />

localida<strong>de</strong>s da costa do Estado <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, e se tais organismos se e<strong>sp</strong>ecializam<br />

ou não na escolha do seu alimento.<br />

11


2.1. Os organismos<br />

2.1.1. Lebre-do-mar <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Foram escolhidas duas populações <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> diferentes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. neste<br />

estudo, sendo uma <strong>de</strong>las oriunda da Praia da Boa Viagem (22° 53 S; 43º 07 W) em<br />

Niterói, e outra da Praia do Forno (22º 46 S; 41º 53 W), no município <strong>de</strong> Armação <strong>de</strong><br />

Búzios. No entanto, ambas as praias se localizam no Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil.<br />

Os indivíduos da primeira população foram coletados na Praia da Boa Viagem<br />

(Figura 1), na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Niterói, durante a maré baixa, na região do infralitoral, perto<br />

ou sob rochas e algas como a Ulva <strong>sp</strong>., provavelmente para se escon<strong>de</strong>r dos predadores<br />

ou para minimizar o estresse causado pelo fenômeno das marés (observação pessoal).<br />

Apresentavam, no momento da coleta, corpo com coloração cinza escuro e com<br />

manchas brancas, como mostra a Figura 2, e foram coletados 13 indivíduos nos dias<br />

30/08/08 e 02/09/08. Após a coleta, os organismos foram tran<strong>sp</strong>ortados para o<br />

Laboratório <strong>de</strong> Produtos Naturais e Ecologia Química Marinha da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

Fluminense, para um aquário <strong>de</strong> circulação interna constante contendo água do mar. O<br />

aquário foi mantido a uma salinida<strong>de</strong> constante <strong>de</strong> 36 psu e a uma temperatura <strong>de</strong> 19º<br />

Celsius. Estas lebres-do-mar se apresentavam num estágio mais avançado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e tiveram um período <strong>de</strong> aclimatação <strong>de</strong> aproximadamente 15 dias até<br />

12


o experimento, no qual foram alimentadas com Ulva <strong>sp</strong>. coletada também na Praia da<br />

Boa Viagem (Niterói, RJ).<br />

Estes e<strong>sp</strong>écimes da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem foram coletados com o intuito <strong>de</strong><br />

representarem indivíduos com hábito generalista no consumo <strong>de</strong> macroalgas,<br />

consi<strong>de</strong>rando um contexto <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ecialização com macroalgas que produzem <strong>de</strong>fesas<br />

químicas contra a herbivoria, uma vez que estes tipos <strong>de</strong> macroalgas não ocorrem na<br />

Praia <strong>de</strong> Boa Viagem.<br />

Por outro lado, os e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. coletados na Praia do Forno (Figura<br />

3), representariam os organismos e<strong>sp</strong>ecialistas, uma vez que foram encontrados<br />

associados à macroalga quimicamente <strong>de</strong>fendida Laurencia filiformis. Estes indivíduos<br />

apresentavam corpo com coloração vermelha, também com manchas brancas e<strong>sp</strong>alhadas<br />

pelo corpo, nadavam ativamente e liberaram uma tinta violácea, presumivelmente por<br />

estresse (Figura 4). Os e<strong>sp</strong>écimes foram coletados no dia 17/09/08 em talos <strong>de</strong> L.<br />

filiformis, ainda no estágio <strong>de</strong> juvenis, levados ao laboratório e mantidos sob as mesmas<br />

condições <strong>de</strong>scritas anteriormente para indivíduos da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem, também<br />

aclimatadas, mas alimentadas com L. filiformis por alguns dias e posteriormente com<br />

Ulva <strong>sp</strong>. O número <strong>de</strong> aplisias utilizadas no segundo experimento também foi 13.<br />

13


Figura 1. Imagem <strong>de</strong> satélite do Brasil (a), com enfoque no Rio <strong>de</strong> Janeiro (b), com <strong>de</strong>staque para a<br />

Baía <strong>de</strong> Guanabara (c) e para a Praia da Boa Viagem (22° 53 S; 43º 07 W) (d), localizada em Niterói.<br />

Fonte: www.googleearth.com<br />

a b<br />

d<br />

Figura 2. <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. coletada na Praia da Boa Viagem<br />

(Niterói, RJ).<br />

14<br />

c


Figura 3. Imagem <strong>de</strong> satélite do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (a), com enfoque na Armação <strong>de</strong> Búzios (b).,<br />

on<strong>de</strong> se localiza a Praia do Forno (22º 46 S; 41º 53 W – c) e a Praia Rasa (23º 01 S; 22º 44 W – d).<br />

Fontes: b. vistadivina.com/download.php e c. picasaweb.google.com/.../G-d9QfZxa3-5QcmqRvEvyA<br />

a<br />

a<br />

d<br />

b<br />

Figura 4. <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>.<br />

coletada na Praia do Forno<br />

(Armação <strong>de</strong> Búzios, RJ). a.<br />

Nadando ativamente; b. Fora<br />

d’água.<br />

b<br />

c<br />

15


2.1.1.1 Caracterização<br />

Filo: Mollusca<br />

Classe: Gastropoda<br />

Subclasse: Opistobranchia<br />

Or<strong>de</strong>m: Ana<strong>sp</strong>i<strong>de</strong>a<br />

Família: Aplysiidae<br />

As lebres-do-mar são gastrópo<strong>de</strong>s marinhos herbívoros que eclo<strong>de</strong>m a partir <strong>de</strong><br />

ovos bentônicos e apresentam uma vida larval planctônica <strong>de</strong> aproximadamente 1 mês,<br />

em laboratório, quando <strong>de</strong>pois se assentam em algas bentônicas e fazem metamorfose<br />

(Pennings & Paul, 1993).<br />

As <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> do gênero <strong>Aplysia</strong>, conhecidos popularmente como lebres-do-mar,<br />

pertencem à subclasse Opisthobranchia e, diferentemente da maioria dos gastrópo<strong>de</strong>s<br />

que apresentam uma torção <strong>de</strong> 180º, possuem uma <strong>de</strong>storção do corpo para 90º, o que<br />

proporciona uma simetria bilateral. Apresentam uma redução da concha, que fica<br />

enterrada no manto, sendo que a porção posterior do manto po<strong>de</strong> se enrolar para formar<br />

um sifão exalante. Possuem dois pares <strong>de</strong> tentáculos sensoriais, sendo que os orais são<br />

largos e mais curtos e formam entre eles o lobo oral, <strong>sobre</strong> a boca. Os tentáculos<br />

posteriores <strong>de</strong>nominam-se rinóforos e, próximo a sua base, localizam-se os olhos que<br />

são pontos pretos, incon<strong>sp</strong>ícuos, re<strong>sp</strong>onsáveis por perceberem a alteração na intensida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> luz do ambiente (Barnes, 1984; Ribeiro-Costa, 2006).<br />

O pé <strong>de</strong>fine a região ventral e é utilizado para rastejar <strong>sobre</strong> os ramos <strong>de</strong><br />

macroalgas marinhas. Dorso-lateralmente, o pé modifica-se em expansões <strong>de</strong>nominadas<br />

parapódios, amplamente separadas na região anterior e aproximadas na posterior.<br />

16


Atuam nos movimentos natatórios que chamam a atenção por sua beleza. Esses<br />

movimentos estão presumivelmente relacionados à procura <strong>de</strong> alimento, como<br />

evi<strong>de</strong>nciado por Carefoot & Pennings (2003) para a lebre-do-mar <strong>Aplysia</strong> brasiliana.<br />

Entre os parapódios, está a massa visceral revestida pelo manto <strong>de</strong>lgado. A cavida<strong>de</strong> do<br />

manto se localiza no lado direito do corpo, não é muito ampla e abriga a brânquia, o<br />

ânus e a abertura genital hermafrodita. A brânquia é única, ramificada e amplamente<br />

dobrada (Barnes, 1984; Ribeiro-Costa, 2006).<br />

Em algumas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>, logo abaixo da concha localiza-se a glândula<br />

púrpura, re<strong>sp</strong>onsável pela liberação <strong>de</strong> tinta, <strong>de</strong> coloração violácea, quando o animal<br />

encontra-se sob estresse. Essa tinta apresenta substâncias oriundas <strong>de</strong> algas vermelhas<br />

consumidas pelo herbívoro e tem como funcionalida<strong>de</strong> confundir o predador (Barnes,<br />

1984; Ribeiro-Costa, 2006). A e<strong>sp</strong>écie <strong>Aplysia</strong> dactylomela encontrada no nor<strong>de</strong>ste<br />

brasileiro, por exemplo, precisa necessariamente consumir algas vermelhas para<br />

produzir a tinta violácea, entretanto as proteínas nela contidas são produzidas pelo<br />

próprio indivíduo e não são <strong>de</strong>rivadas da dieta (Bezerra et al., 2004).<br />

O coração se localiza na parte anterior da massa visceral, e algumas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong><br />

possuem uma substância chamada hemocianina, re<strong>sp</strong>onsável pelo tran<strong>sp</strong>orte <strong>de</strong> gases no<br />

sistema circulatório (Barnes, 1984).<br />

São hermafroditas, entretanto não po<strong>de</strong>m produzir óvulos e e<strong>sp</strong>ermatozói<strong>de</strong>s ao<br />

mesmo tempo. A cópula com transferência <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ermas recíproca é típica, mas não<br />

ocorre autofecundação (Barnes, 1984; Ribeiro-Costa, 2006).<br />

Na maioria dos opistobrânquios, a <strong>de</strong>posição dos ovos é feita em cordões, fitas ou<br />

massas gelatinosas, que se fixam no substrato. Do ovo, sai uma larva trocófora livre-<br />

natante, se transformando em uma larva véliger, que no seu <strong>de</strong>senvolvimento sofre uma<br />

17


torção da massa visceral em relação à cabeça, e <strong>de</strong>pois sofre uma metamorfose para a<br />

fase adulta (Barnes, 1984; Ribeiro-Costa, 2006).<br />

A rádula nos opistobrânquios po<strong>de</strong> ser altamente variada, sendo usada como<br />

a<strong>sp</strong>ecto para a i<strong>de</strong>ntificação taxonômica das <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong>. Em muitas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> herbívoras, o<br />

esôfago ou a parte anterior do estômago encontra-se modificada como um papo ou uma<br />

moela. No caso das lebres-do-mar, que se alimentam <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pedaços <strong>de</strong> algas<br />

marinhas, a moela po<strong>de</strong> ser revestida <strong>de</strong> cutícula (Barnes, 1984; Ribeiro-Costa, 2006).<br />

Devido aos neurônios das lebres-do-mar serem facilmente i<strong>de</strong>ntificáveis e<br />

gran<strong>de</strong>s, estes animais têm sido os principais alvos <strong>de</strong> estudos neurofisiológicos<br />

relativos ao circuito neuronal e<strong>sp</strong>ecífico e ao seu controle <strong>de</strong> reflexos comportamentais.<br />

Não só por isso, atraem o interesse por secretarem ou apresentarem em seus tecidos,<br />

compostos químicos, possivelmente envolvidos na <strong>de</strong>fesa do animal (Ribeiro-Costa,<br />

2006). A e<strong>sp</strong>écie <strong>Aplysia</strong> dactylomela, por exemplo, sob estresse, libera uma tinta <strong>de</strong> cor<br />

vermelha através da glândula púrpura que contem uma proteína <strong>de</strong> ação antibacteriana e<br />

hemaglutinante (Melo et al, 2000).<br />

Em geral, as lebres-do-mar são animais herbívoros com gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alimentação, que exercem forte influência na estruturação <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias tróficas marinhas,<br />

e na distribuição e abundância <strong>de</strong> macroalgas bentônicas consumidas por elas. Além<br />

disso, elas são <strong>de</strong> fácil manutenção em laboratório, facilitando a pesquisa e a realização<br />

<strong>de</strong> experimentos.<br />

2.1.2 Macroalgas marinhas<br />

Foram utilizadas cinco <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> diferentes <strong>de</strong> macroalgas bentônicas nos<br />

experimentos <strong>de</strong> preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>., sendo duas vermelhas (Laurencia<br />

18


filiformis e Osmundaria obtusiloba), duas pardas (Dictyota <strong>sp</strong>. e Sargassum <strong>sp</strong>.) e uma<br />

ver<strong>de</strong>, a Ulva fasciata. Diversas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> dos gêneros Laurencia e Dictyota são<br />

conhecidas por produzirem metabólitos secundários que atuam como <strong>de</strong>fesas químicas<br />

frente a diversos tipos <strong>de</strong> consumidores (Pereira & Da Gama, 2008).<br />

Como foram realizados dois experimentos em períodos <strong>de</strong> tempos diferentes,<br />

foram necessárias duas coletas <strong>de</strong> macroalgas. A primeira ocorreu no dia 17/09/08, e a<br />

segunda em 16/10/08, sendo as macroalgas Sargassum <strong>sp</strong>., Ulva fasciata e Osmundaria<br />

obtusiloba coletadas na Praia Rasa (23º 01 S; 22º 44 W) e Dictyota <strong>sp</strong>. e Laurencia<br />

filiformis na Praia do Forno, ambas as Praias localizadas no município <strong>de</strong> Armação <strong>de</strong><br />

Búzios, RJ (Figura 3).<br />

Estas macroalgas foram tran<strong>sp</strong>ortadas em ban<strong>de</strong>jas <strong>de</strong> plástico, ao abrigo da luz e<br />

do calor, até o Laboratório on<strong>de</strong> foram triadas, retirando-se toda a sujeira e organismos<br />

epifitados, separadas por e<strong>sp</strong>écie e armazenadas em potes plásticos <strong>de</strong>ntro do aquário <strong>de</strong><br />

água salgada já mencionado anteriormente na manutenção dos indivíduos <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>.<br />

A Praia Rasa se caracteriza por possuir a mais diversa flora <strong>de</strong> macroalgas no<br />

Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Yoneshigue, 1985; Pereira et al., 1994), justificando sua<br />

escolha como local <strong>de</strong> coleta. A Praia Rasa apresenta um costão rochoso <strong>de</strong> largura<br />

aproximada <strong>de</strong> 20 m com uma suave inclinação. Já a Praia do Forno é uma enseada<br />

estreita com uma profundida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> 12 m apresentando também uma gran<strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> algas (observação pessoal). A coleta foi feita no costão rochoso do lado<br />

direito <strong>de</strong>sta enseada.<br />

19


2.1.2.1. Caracterização<br />

Chlorophyta<br />

Ulva fasciata Linnaeus, 1753<br />

Talo fino, foliáceo, lâminas tipo fitas, <strong>de</strong> cor ver<strong>de</strong> clara brilhante, sendo as<br />

margens mais escuras (Figura 5). As lâminas possuem duas camadas <strong>de</strong> células, e são<br />

fixas ao substrato por apressório pequeno. Células <strong>de</strong> contorno poligonal, com um<br />

cromatóforo parietal e com 1 a 2 pirenói<strong>de</strong>s. Cutículas e membranas das pare<strong>de</strong>s radiais<br />

e<strong>sp</strong>essas. Reprodução assexuada. Todas as células do talo são capazes <strong>de</strong> formar<br />

elementos <strong>de</strong> reprodução, exceto as <strong>de</strong>stinadas à fixação. Alternância <strong>de</strong> gerações<br />

morfologicamente idênticas e obrigatória; comuns em objetos sólidos, associada com<br />

áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s taxas <strong>de</strong> nutrientes; são intertidais até 10 m <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> (Joly,<br />

1967; Littler & Littler, 2000).<br />

Figura 5. Ulva fasciata. Fonte: www.algaebase.org.<br />

20


Rhodophyta<br />

Osmundaria obtusiloba C. Agardh, 1824<br />

E<strong>sp</strong>écie <strong>de</strong> macroalga com talo e<strong>sp</strong>esso, grosseiro, resistente, ramificado, <strong>de</strong> cor<br />

marrom claro até vermelho claro, com linhas transversais extremamente fracas<br />

(formadas pela di<strong>sp</strong>osição das células interiores); ramificação oposta até irregular<br />

(Figura 6). Lâmina na forma <strong>de</strong> tiras, torcidas, e<strong>sp</strong>essando com a ida<strong>de</strong>. Ramificação<br />

geralmente oposta e numerosa. São encontradas na zona mais baixa intertidal ate 5 m <strong>de</strong><br />

profundida<strong>de</strong> (Littler & Littler, 2000).<br />

Laurencia filiformis (C. Agardh) Montagne<br />

Figura 6. Osmundaria <strong>sp</strong>. Fonte: www.algaebase.org.<br />

Apresenta talo ereto, resistente e cartilaginoso; ramificação dicotômica perto da<br />

base e alternada no ápice (Figura 7). Os ramos são cilíndricos e as ramificações<br />

secundárias numerosas ou e<strong>sp</strong>arsas, cilíndricas, alternadas ou irregulares; filamentos<br />

apicais raramente óbvios, localizados na cavida<strong>de</strong> terminal. São macroalgas comuns em<br />

substratos duros e ocorrem até 2 m <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> (Littler & Litler, 2000).<br />

21


Ochrophyta<br />

Dictyota <strong>sp</strong>.<br />

Figura 7. Laurencia filiformis. Fonte: www.algaebase.org.<br />

O gênero Dictyota é caracterizado por apresentar um talo achatado, ereto ou<br />

prostrado, dicotomicamente ramificado (Figura 8). Fixação por rizói<strong>de</strong>s basais, que<br />

ocorrem por todo o talo ou que formam um apressório tipo um tapete. Crescimento por<br />

uma única célula apical proeminente prostrada ou afundada, ou por uma linha terminal<br />

<strong>de</strong> numerosas células apicais. Feoplastos discói<strong>de</strong>s, sem pirenói<strong>de</strong>s. Ciclo <strong>de</strong> vida<br />

diplohaplônico e isomórfico, dióico com talos femininos e masculinos e<strong>sp</strong>orofíticos<br />

distintos. E<strong>sp</strong>orófitos produzem e<strong>sp</strong>orângios uniloculares com e<strong>sp</strong>oros imóveis,<br />

geralmente formados superficialmente no córtex, e algumas vezes afundado no talo.<br />

(Clerck, 2003).<br />

22


Sargassum <strong>sp</strong>.<br />

Figura 8. Dictyota <strong>sp</strong>. www.algaebase.org<br />

Talo ereto, ramificado e fixo ao substrato por apressório forte; diferenciado em eixo<br />

central ramificado, cilíndrico, do qual partem ramos curtos <strong>de</strong> lâmina achatada, no<br />

formato <strong>de</strong> folha, di<strong>sp</strong>ostas alternadamente (Figura 9). Aerocistos são bulbosos e<br />

evi<strong>de</strong>ntes; filói<strong>de</strong>s pedunculadas, e com distinta nervura central e <strong>de</strong> bordas crenadas ou<br />

<strong>de</strong>nteadas. Órgãos reprodutivos uniloculares, localizados em criptas (Joly, 1967).<br />

Figura 9. Sargassum <strong>sp</strong>. www.algaebase.org.<br />

23


2.2 Experimentos<br />

Os experimentos <strong>de</strong> preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. consistiram na oferta das<br />

cinco macroalgas vivas, <strong>de</strong> tamanhos aproximados, aos indivíduos <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>.,<br />

visando a homogeneida<strong>de</strong> intra- e intere<strong>sp</strong>ecífica das algas (Figura 10). Foram<br />

utilizadas 13 réplicas para cada ensaio com e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong> Boa<br />

Viagem e o mesmo número para aqueles da Praia do Forno. O primeiro experimento foi<br />

realizado do dia 18/09/08 ao dia 19/09/08, durando 12 horas, enquanto o segundo<br />

experimento foi realizado do dia 17/10/08 ao dia 18/10/08, com uma duração <strong>de</strong> 30<br />

horas. É importante ressaltar que a di<strong>sp</strong>osição das algas nos recipientes plásticos foi<br />

aleatória (Figura 11). Cada pote continha 1 exemplar <strong>de</strong> cada e<strong>sp</strong>écie <strong>de</strong> alga, separada<br />

equidistantemente uma da outra e em relação a 1 e<strong>sp</strong>écime <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>.. Ao oferecer<br />

as algas vivas, mantêm-se intactos seus a<strong>sp</strong>ectos morfológico, estruturais e químicos<br />

(Souza et al., 2008). O peso úmido <strong>de</strong> cada alga foi aferido antes e <strong>de</strong>pois do<br />

experimento, após 7 giros em uma sala<strong>de</strong>ira manual, para tirar o excesso <strong>de</strong> água.<br />

As lebres-do-mar da Praia da Boa Viagem e as da Praia do Forno foram pesadas<br />

antes <strong>de</strong> começar o experimento, apenas para se ter uma noção do tamanho médio dos<br />

indivíduos das populações utilizadas. Os valores estão representados na Tabela 1.<br />

Também foi realizado um controle para as mudanças autogênicas, on<strong>de</strong> as algas<br />

foram postas em potes plásticos sem a presença do herbívoro (n = 13). Nesse caso, as<br />

algas ficaram livres nos recipientes (Figura 11). No entanto, a abordagem experimental<br />

foi exatamente igual para ambos os experimentos (Figura 12).<br />

24


Tabela 1. Peso em gramas, das lebres-do-mar <strong>de</strong> ambos os experimentos, com Média e Desvio Padrão.<br />

Peso (g) dos e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>.<br />

1° Experimento 2° Experimento<br />

96,20 5,48<br />

99,55 17,25<br />

78,63 21,45<br />

80,99 13,40<br />

52,14 22,12<br />

75,40 61,81<br />

114,28 16,64<br />

122,64 5,05<br />

101,37 25,27<br />

76,00 54,60<br />

88,40 12,92<br />

89,80 10,58<br />

104,30 18,95<br />

Média 90,75 21,96<br />

Desvio<br />

Padrão 18,63 17,24<br />

Figura 10. Arranjo das macroalgas em tamanhos aproximados.<br />

25


Figura 11. Di<strong>sp</strong>osição das macroalgas nos potes plásticos: no experimento com as lebres-do-mar (algas<br />

presas); e na autogenia (algas livres).<br />

Figura 12. Experimento já em andamento, no aquário do Laboratório <strong>de</strong> Produtos Naturais e Ecologia<br />

Química Marinha. a. Tratamento; b. Controle.<br />

a<br />

b<br />

26


2.3. Tratamento dos dados<br />

A variação <strong>de</strong> biomassa das macroalgas foi mensurada através da subtração entre<br />

o peso úmido inicial e final e foi aplicada tanto para o tratamento quanto para o<br />

controle. A biomassa consumida foi calculada usando a equação [(Ho x Cf/Co)-Hf]<br />

sugerida por Cronin & Hay (1996) on<strong>de</strong>, Ho e Hf corre<strong>sp</strong>on<strong>de</strong>m aos pesos úmidos<br />

inicial e final expostos ao herbívoro, re<strong>sp</strong>ectivamente, e Co e Cf são os pesos úmidos<br />

inicial e final referentes ao controle para autogenia. Deste modo as mudanças<br />

autogênicas foram incorporadas nos resultados finais.<br />

Em um outro tratamento, os valores <strong>de</strong> consumo por herbivoria e autogenia foram<br />

comparados através <strong>de</strong> um teste t, com α = 0,05, <strong>de</strong> grupos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para verificar<br />

a existência <strong>de</strong> diferenças significativas entre estes dados (Peterson & Renaud, 1989).<br />

A análise dos dados foi feita usando a estatística (Statistica 6.0 software)<br />

<strong>de</strong>scritiva e não-paramétrica para duas amostras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

27


RESULTADO<br />

3.1. Experimento com <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem<br />

Seguindo o tratamento <strong>de</strong> dados sugerido por Cronin & Hay (1996), observou-se o<br />

consumo mais expressivo, em gramas, somente da macroalga U. fasciata (3,35g). Nas<br />

<strong>de</strong>mais macroalgas foram constatadas, em média, a seguinte or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong><br />

variação <strong>de</strong> biomassa a seguir: Dictyota <strong>sp</strong>. (0,06g), Sargassum <strong>sp</strong>. (-0,05g), O.<br />

obtusiloba (-0,12g), L.filiformis (-0,24 g). Os valores negativos compreen<strong>de</strong>m,<br />

naturalmente, valores <strong>de</strong> acréscimo <strong>de</strong> biomassa, ou seja, houve algum crescimento<br />

nestas macroalgas. Estes valores <strong>de</strong> variação nos valores <strong>de</strong> biomassa das macroalgas<br />

estão ilustrados na Figura 13, a seguir, e os valores <strong>de</strong> média e do <strong>de</strong>svio padrão <strong>de</strong>stas<br />

mesmas variações estão reunidos na Tabela 2. A média do consumo para cada<br />

macroalga em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente foi: U. fasciata (4,38g) > L. filiformis = Dictyota <strong>sp</strong>.<br />

(0,34g) > O. obtusiloba (0,18g) > Sargassum <strong>sp</strong>. (0,06g), como mostrado na Tabela 3.<br />

A análise comparativa do consumo exercido pelo herbívoro e a autogenia estão<br />

representadas na Figura 14. Durante o experimento, a preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong><br />

<strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem foi claramente por Ulva fasciata (p > 0,05, teste t), po<strong>de</strong>ndo<br />

ser observada na Figura 15. Nas <strong>de</strong>mais <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> macroalgas não foram constatados<br />

resultados significativos entre estas variáveis (α = 5%).<br />

As médias da variação da biomassa ocorrida <strong>de</strong>vido a autogenia para cada<br />

macroalga em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente foram: U. fasciata (1,05g) > L. filiformis (0,5g) ><br />

28


Dictyota <strong>sp</strong>. (0,32g) > O. obtusiloba (0,3g) > Sargassum <strong>sp</strong>. (0,15g). Os valores também<br />

estão expressos na Tabela 3.<br />

Consumo (g)<br />

6,5<br />

6,0<br />

5,5<br />

5,0<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

-0,5<br />

-1,0<br />

Sargassum<br />

Laurencia Osmundaria<br />

Dictyota<br />

Ulva<br />

Macroalgas<br />

Figura 13. Consumo médio das macroalgas (g), com <strong>de</strong>svio padrão, por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong> Boa<br />

Viagem. Dados analisados segundo Cronin & Hay (1996).<br />

Tabela 2. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (g) estimada pelo método <strong>de</strong> Cronin e Hay<br />

(1996).<br />

Macroalga Média (g) Desvio Padrão (g)<br />

L. filiformis -0,24 0,48<br />

U. fasciata 3,35 2,75<br />

O. obtusiloba -0,12 0,31<br />

Sargassum <strong>sp</strong>. -0,05 0,53<br />

Dictyota <strong>sp</strong>. 0,06 0,31<br />

29


Variação da biomassa (g)<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

p = 0,21<br />

p = 0,0002<br />

p = 0,19<br />

p = 0,54<br />

p = 0,92<br />

Laurencia Ulva Osmundaria Sargassum Dictyota<br />

Macroalgas<br />

Consumo<br />

Autogenia<br />

Figura 14. Média da variação da biomassa (g), com Desvio Padrão do consumo exercido por <strong>Aplysia</strong><br />

<strong>sp</strong>. (consumo) e do controle (autogenia).<br />

Figura 15. Foto tirada após o experimento. a. com enfoque no consumo quase total da U. fasciata. b.<br />

em relação às <strong>de</strong>mais macroalgas.<br />

a b<br />

30


Tabela 3. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (g), quanto ao consumo (C) e às mudanças<br />

autogênicas (A).<br />

Macroalgas Médias (C) Desvio Padrão (C) Médias (A) Desvio Padrão (A)<br />

L. filiformis 0,34 0,38 0,50 0,24<br />

U. fasciata 4,38 2,53 1,05 0,92<br />

O. obtusiloba 0,18 0,21 0,30 0,23<br />

Sargassum <strong>sp</strong>. 0,06 0,43 0,15 0,27<br />

Dictyota <strong>sp</strong>. 0,34 0,27 0,32 0,29<br />

3.2.Experimento com <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno<br />

No método sugerido por Cronin & Hay (1996), no qual os valores da autogenia<br />

são incorporados nos valores do tratamento, observou-se o consumo diferencial, em<br />

gramas, somente da macroalga L. filiformis (1,24 g). As <strong>de</strong>mais macroalgas foram<br />

consumidas, em média, <strong>de</strong> acordo com a seguinte or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente: U. fasciata<br />

(0,46g), Dictyota <strong>sp</strong>. (0,16g), Sargassum <strong>sp</strong>. (-0,03g), O. obtusiloba (-0,04g); os valores<br />

negativos <strong>de</strong>stas últimas duas macroalgas indicam crescimento. Estas variações em<br />

valores <strong>de</strong> biomassa <strong>de</strong>stas macroalgas estão ilustrados na Figura 16, a seguir, e os<br />

valores <strong>de</strong> Média e <strong>de</strong> Desvio Padrão <strong>de</strong>stes valores estão reunidos na Tabela 4.<br />

A comparação entre o consumo exercido pelo herbívoro e a autogenia está<br />

representada na Figura 17. Durante o experimento, a preferência <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong><br />

indivíduos <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno foi claramente pela macroalga L. filiformis<br />

(Figura 18), sendo a única com resultados significativos (p =0,000815). Ilustrados na<br />

31


Figura 17, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, são reunidos os valores <strong>de</strong> p para cada macroalga,<br />

sendo: Sargassum <strong>sp</strong>. (0,86) > O. obtusiloba (0,85) > Dictyota <strong>sp</strong>. (0,15) > U. fasciata<br />

(0,13) > L. filiformis (0,0008). Os valores <strong>de</strong> variação da biomassa do tratamento<br />

(consumo) para cada macroalga em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente foram: L. filiformis (1,05g) > U.<br />

fasciata (0,42g) > Dictyota <strong>sp</strong>. (-0,03g) > O. obtusiloba (-0,13g) > Sargassum <strong>sp</strong>. (-<br />

0,15g), como mostrado na Tabela 5. No controle (autogenia), a variação, em or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>crescente, se <strong>de</strong>u por: U. fasciata (-0,04g) > L. filiformis (-0,06g) > O. obtusiloba (-<br />

0,10g) > Sargassum <strong>sp</strong>. (-0,11g) > Dictyota <strong>sp</strong>. (-0,17g). Os valores também se<br />

apresentam na Tabela 5 acima.<br />

Consumo (g)<br />

2,8<br />

2,6<br />

2,4<br />

2,2<br />

2,0<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

-0,2<br />

Laurencia Ulva Osmundaria Sargassum Dictyota<br />

Macroalgas<br />

Figura 16. Consumo das macroalgas (g), com Desvio Padrão, por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno. Dados<br />

analisados segundo Cronin & Hay (1996).<br />

32


Tabela 4. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa segundo Cronin & Hay (1996).<br />

Variação da biomassa (g)<br />

2,0<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

Macroalga Médias (g) Desvio Padrão (g)<br />

L. filiformis 1,24 1,27<br />

U. fasciata 0,46 1,08<br />

O. obtusiloba -0,04 0,68<br />

Sargassum <strong>sp</strong>. -0,03 0,76<br />

Dictyota <strong>sp</strong>. 0,16 0,42<br />

p = 0,0008<br />

p = 0,13<br />

p = 0,85<br />

p = 0,86<br />

p = 0,15<br />

Laurencia Ulva Osmundaria Sargassum Dictyota<br />

Macroalgas<br />

Consumo<br />

Autogenia<br />

Figura 17. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa (em gramas <strong>de</strong> peso úmido) das<br />

macroalgas no tratamento (consumo) e no controle (autogenia).<br />

33


Figura 18. Algas consumidas após o experimento. a. L. filiformis; b. U. fasciata, que embora não tenha<br />

sido consumida significativamente no geral, foi consumida por alguns indivíduos.<br />

Tabela 5. Média e Desvio Padrão da variação da biomassa, em gramas, no consumo (C) e na autogenia<br />

(A).<br />

a<br />

b<br />

Macroalgas Médias (C) Desvio Padrão (C) Médias (A) Desvio Padrão (A)<br />

L. filiformis 1,05 0,86 -0,06 0,60<br />

U. fasciata 0,42 1,04 -0,04 0,14<br />

O. obtusiloba -0,13 0,72 -0,10 0,24<br />

Sargassum <strong>sp</strong>. -0,15 0,71 -0,11 0,17<br />

Dictyota <strong>sp</strong>. -0,03 0,20 -0,17 0,26<br />

34


DISCUSSÃO<br />

De uma maneira clara, os indivíduos <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. das Praias <strong>de</strong> Boa Viagem e<br />

do Forno têm preferências <strong>alimentar</strong>es bem distintas. Enquanto os da P. do Forno<br />

preferem a macroalga vermelha quimicamente <strong>de</strong>fendida Laurencia filiformis, aqueles<br />

da B. Viagem consomem Ulva fasciata como item <strong>alimentar</strong> favorito.<br />

Em experimentos com herbivoria <strong>de</strong>ve-se levar em conta todos os a<strong>sp</strong>ectos<br />

presentes nas macroalgas que influenciam na preferência <strong>alimentar</strong>, como as<br />

características morfológicas/estruturais, químicas e nutricionais. Neste estudo, tanto as<br />

características morfológicas e estruturais quanto as químicas po<strong>de</strong>m ser exploradas com<br />

o intuito <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os resultados obtidos ou mesmo <strong>de</strong> conhecer os hábitos<br />

<strong>alimentar</strong>es <strong>de</strong> <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>. Durante os dois experimentos, em geral, os<br />

herbívoros apresentaram um comportamento <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> e rápida re<strong>sp</strong>osta às novas<br />

algas, reconhecendo e explorando o ambiente à sua volta.<br />

Segundo Littler et al. (1983), as macroalgas obe<strong>de</strong>cem a uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> resistência<br />

morfológica frente aos herbívoros, <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> modo <strong>de</strong>crescente a seguir: crostosa ><br />

calcária > coriácea grossa > grosseiramente ramificada > filamentosa > foliácea. Em<br />

ambos os experimentos, as macroalgas são macias, porém ainda apresentam um padrão<br />

diferente <strong>de</strong> texturas entre si e foram diferentemente consumidas. Desse modo, não<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>scartar a hipótese <strong>de</strong> que a morfologia e estrutura <strong>de</strong> cada macroalga tenha<br />

influenciado na escolha do herbívoro, embora provavelmente outras características<br />

também po<strong>de</strong>m ter sido importantes na escolha das <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>.<br />

35


Diversos estudos realizados com diferentes herbívoros constataram que a<br />

preferência <strong>alimentar</strong> po<strong>de</strong> estar relacionada à: 1. di<strong>sp</strong>onibilida<strong>de</strong>, antes que a qualida<strong>de</strong><br />

do alimento (Arrontes, 1990); 2. estruturação da vegetação (Barker & Chapman, 1990);<br />

3. predação e comportamento <strong>alimentar</strong> dos consumidores (Hay et al., 1986); 4.<br />

tolerância dos herbívoros em relação às macroalgas com <strong>de</strong>fesas químicas (Paul & Van<br />

Alstyne, 1988); 5. efeito da preferência do predador por outros animais habitando a alga<br />

escolhida (Holmlund et al., 1990); 6. comportamento <strong>alimentar</strong> como estratégia <strong>de</strong><br />

otimização, com o aumento do crescimento e da reprodução (Vadas, 1977); 7. ontogenia<br />

e corre<strong>sp</strong>ondência entre preferência <strong>alimentar</strong> e crescimento (Pennings,1990a). Assim, a<br />

compreensão dos fatores que afetam esse comportamento <strong>alimentar</strong> é essencial para<br />

prever os efeitos da herbivoria <strong>sobre</strong> o assentamento <strong>de</strong> algas e a evolução das<br />

interações planta-herbívoro.<br />

De uma maneira geral, as lebres-do-mar não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas<br />

verda<strong>de</strong>iramente e<strong>sp</strong>ecialistas, mas são consi<strong>de</strong>rados mais e<strong>sp</strong>ecializados do que a<br />

maioria dos herbívoros marinhos. De acordo com Rogers et al. (1995), as lebres-do-mar<br />

po<strong>de</strong>m ser excelentes “mo<strong>de</strong>los” para estudos <strong>sobre</strong> e<strong>sp</strong>ecialização <strong>alimentar</strong>, on<strong>de</strong> são<br />

levados em consi<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong>ntre outros a<strong>sp</strong>ectos, a abundância <strong>de</strong> alimentos, valor<br />

nutricional e a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas químicas.<br />

Na e<strong>sp</strong>ecialização <strong>alimentar</strong>, o animal po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um verda<strong>de</strong>iro<br />

e<strong>sp</strong>ecialista ou um oligófago, consumindo somente um recurso <strong>alimentar</strong> entre todos os<br />

di<strong>sp</strong>oníveis, ou alguns, re<strong>sp</strong>ectivamente (Rogers et al., 1995). As lebres-do-mar seguem<br />

esse padrão <strong>alimentar</strong>, diferentemente da maioria dos herbívoros marinhos, que ten<strong>de</strong>m<br />

a ser consumidores generalistas. Entretanto, segundo Hay (1992), as lebres-do-mar não<br />

constituem um grupo <strong>de</strong> gastrópo<strong>de</strong>s e<strong>sp</strong>ecialistas, apesar <strong>de</strong> mostrarem algum tipo <strong>de</strong><br />

36


e<strong>sp</strong>ecialização. Neste estudo, percebemos a forte e<strong>sp</strong>ecialização <strong>alimentar</strong> por parte dos<br />

herbívoros, condizendo com a teoria <strong>de</strong> Rogers et al. (1995).<br />

A maioria dos herbívoros apresenta fortes preferências <strong>alimentar</strong>es entre as<br />

<strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> macroalgas di<strong>sp</strong>oníveis no ambiente e isto po<strong>de</strong> ser o que acontece com os<br />

e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> da Praia <strong>de</strong> Boa Viagem. Nesta região, a macroalga Ulva fasciata<br />

é uma e<strong>sp</strong>écie abundante durante todo o ano, mesmo que através <strong>de</strong> varias gerações<br />

distintas (Taouil & Yoneshigue-Valentin, 2002). No entanto, Pennings et al. (1993a)<br />

verificaram que a lebre-do-mar Dolabella auricularia preferia consumir algas raras ou<br />

que não eram comuns no seu ambiente. Mas este é o comportamento <strong>de</strong> uma lebre-do-<br />

mar consi<strong>de</strong>rada generalista na escolha do alimento, uma vez que ela cresce melhor<br />

quando se alimenta <strong>de</strong> algas variadas do que <strong>de</strong> uma alga apenas (Pennings et al.,<br />

1993a), sugerindo que as algas são recursos complementares e a mistura <strong>de</strong> consumo<br />

propicia uma dieta nutricional muito mais rica.<br />

Mesmo os e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> da B. Viagem se alimentando <strong>de</strong> uma única<br />

e<strong>sp</strong>écie (U. fasciata), esta macroalga <strong>de</strong>ve suprir satisfatoriamente suas necessida<strong>de</strong>s<br />

nutricionais, uma vez que po<strong>de</strong>m atingir gran<strong>de</strong> tamanho e possuem crescimento rápido.<br />

De uma maneira geral, <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> Ulva exibem elevados valores nutricionais<br />

(Barbarino & Lourenço, 2005) e po<strong>de</strong>riam presumivelmente suprir estas necessida<strong>de</strong>s,<br />

mas estudos e<strong>sp</strong>ecíficos são necessários para avaliar esta possibilida<strong>de</strong>. Este a<strong>sp</strong>ecto é<br />

extremamente interessante, pois mesmo diante <strong>de</strong> outros itens <strong>alimentar</strong>es que po<strong>de</strong>riam<br />

constituir outros suprimentos, os indivíduos da B. Viagem mantiveram a preferência por<br />

U. fasciata.<br />

Os e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno também possuem o mesmo<br />

comportamento daqueles da B. Viagem ao consumirem preferencialmente um item<br />

<strong>alimentar</strong>. No entanto, a macroalga preferida por aqueles da P. do Forno é<br />

37


econhecidamente produtora <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas químicas (Pereira & Da Gama, 2008). Essas<br />

<strong>de</strong>fesas químicas po<strong>de</strong>m facilitar a e<strong>sp</strong>ecialização se alguns herbívoros <strong>de</strong>senvolvem<br />

adaptações morfológicas e/ou fisiológicas e<strong>sp</strong>ecificas à macroalga ho<strong>sp</strong>e<strong>de</strong>ira e, assim,<br />

po<strong>de</strong>m escapar da predação indiretamente ao se associar com algas quimicamente<br />

<strong>de</strong>fendidas. Ou ainda, po<strong>de</strong>m incorporar os metabólitos químicos <strong>de</strong>ssas algas em<br />

tecidos e órgãos e <strong>de</strong>ter a predação diretamente.<br />

O consumo <strong>de</strong> L. filiformis por <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da P. Forno não é um a<strong>sp</strong>ecto<br />

surpreen<strong>de</strong>nte, uma vez que lebres-do-mar consomem preferencialmente algas<br />

quimicamente <strong>de</strong>fendidas, mas também se alimentam <strong>de</strong> uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras<br />

<strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> que não produzem metabólitos secundários (Hay, 1992). No entanto, Dictyota<br />

<strong>sp</strong>. também produz <strong>de</strong>fesa química (Pereira & Da Gama, 2008) e ocorre na P. do Forno,<br />

e ainda assim os e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. <strong>de</strong>ste local preferiram consumir a macroalga<br />

L. filiformis, sugerindo que tais e<strong>sp</strong>écimes tenham algum tipo <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ecialização. O que<br />

condiciona esta e<strong>sp</strong>ecialização e qual o nível <strong>de</strong> relação existente entre <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong> e L.<br />

filiformis são <strong>de</strong>sdobramentos naturais e relevantes <strong>de</strong> pesquisas futuras.<br />

Outra questão importante a se analisar é a qualida<strong>de</strong> nutricional das macroalgas<br />

oferecidas e se tal questão po<strong>de</strong> influenciar nas escolhas dos herbívoros. Entretanto,<br />

para isso foram separados 5 indivíduos <strong>de</strong> cada e<strong>sp</strong>écie <strong>de</strong> macroalga para experimentos<br />

futuros. Ou ainda po<strong>de</strong>ríamos avaliar mais profundamente o papel das <strong>de</strong>fesas químicas<br />

das macroalgas envolvidas no processo, realizando experimentos com extratos das<br />

macroalgas incorporados a comidas artificiais e oferecendo as mesmas<br />

<strong>e<strong>sp</strong>écies</strong>/populações <strong>de</strong> lebres-do-mar.<br />

Talvez, as <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> lebres-do-mar utilizadas neste experimento tenham<br />

escolhido somente uma macroalga para consumir <strong>de</strong>vido à historia <strong>de</strong> vida e memória<br />

ou aprendizado. Chiel & Susswein (1993), mostram que a lebre-do-mar <strong>Aplysia</strong><br />

38


californica apresentavam um padrão <strong>de</strong> aprendizado após algumas horas ou dias num<br />

experimento que as impediam <strong>de</strong> comer. Após diversas tentativas, a re<strong>sp</strong>osta e o esforço<br />

para comer as macroalgas oferecidas <strong>de</strong>caía. Uma alternativa para eliminar esse fator<br />

memória, po<strong>de</strong> ser a alimentação das lebres-do-mar durante a aclimatação com outro<br />

item <strong>alimentar</strong> diferente daqueles que serão oferecidos. Entretanto, os experimentos<br />

duraram 12 ou 30 horas, o que daria tempo suficiente para que os herbívoros mudassem<br />

sua escolha alimetar.<br />

A biomassa aferida das lebres-do-mar diferiram bastante entre as duas populações,<br />

que po<strong>de</strong>riam apresentar e<strong>sp</strong>écimes em estágios <strong>de</strong> vida diferentes uma da outra. Assim,<br />

a melhor <strong>de</strong>terminação na preferência <strong>alimentar</strong> das duas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> seria i<strong>de</strong>al se ambas<br />

as populações se apresentassem no mesmo estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Em relação à questão e<strong>sp</strong>ecialista x generalista, Pennings & Paul (1993),<br />

analisaram três <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> lebres-do-mar <strong>de</strong> gêneros diferentes: Stylocheilus<br />

longicauda, Dolabella auricularia e <strong>Aplysia</strong> californica e ofereceram às duas primeiras<br />

<strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> dietas naturais e artificiais contendo diferentes tipos e concentrações <strong>de</strong><br />

metabólitos secundários usados como química <strong>de</strong>fensiva por macroalgas marinhas.<br />

Observaram que a lebre-do-mar S. longicauda, consi<strong>de</strong>rada e<strong>sp</strong>ecialista, conseguiu<br />

seqüestrar todos os metabólitos secundários das algas que lhe foram oferecidas, assim<br />

como D. auricularia, um herbívoro generalista, sendo que os padrões e mecanismos <strong>de</strong><br />

seqüestro <strong>de</strong>sses metabólitos não diferiram significativamente entre as <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong>.<br />

Assim, o quanto o a<strong>sp</strong>ecto e<strong>sp</strong>ecialista x generalista atua na <strong>de</strong>fesa contra<br />

predadores varia <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>écie para e<strong>sp</strong>écie, <strong>de</strong> local, <strong>de</strong> acordo com as algas oferecidas e<br />

consumidas, com o seqüestro ou não <strong>de</strong> metabólitos secundários e a concentração<br />

absorvida <strong>de</strong>sses metabólitos. Um exemplo é o estudo feito com duas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Aplysia</strong> por Rogers et al. (1995): A. juliana e A. parvula. Ambas são consi<strong>de</strong>radas<br />

39


herbívoros e<strong>sp</strong>ecialistas na escolha do alimento, apresentando uma dieta <strong>de</strong> uma ou<br />

poucas algas. A. juliana foi encontrada na, e somente comeu, a alga Ulva lactuca, e que<br />

não apresenta metabólitos secundários ativos contra a herbivoria. Já A. parvula, foi<br />

encontrada majoritariamente em Delisea pulchra e Laurencia obtusa, ambas as algas<br />

ricas quimicamente. O metabólito secundário seqüestrado em maior concentração <strong>de</strong> D.<br />

pulchra, por exemplo, inibiu a predação por peixes <strong>de</strong> A. parvula, enquanto outro<br />

metabólito, seqüestrado em baixas concentrações não afetou a predação pelos mesmos<br />

peixes, evi<strong>de</strong>nciando o fato <strong>de</strong> que a escolha <strong>alimentar</strong> <strong>de</strong>sses herbívoros influencia na<br />

interação herbívoro-predador, inibindo ou diminuindo a taxa <strong>de</strong> predação.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos complementares que possam ajudar a<br />

explicar os resultados aqui obtidos e/ou enten<strong>de</strong>r a evolução da interação entre <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> e macroalgas em geral, é evi<strong>de</strong>nte que as <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> estudadas exibem algum<br />

nível <strong>de</strong> e<strong>sp</strong>ecialização, embora com histórias evolutivas presumivelmente bem<br />

distintas.<br />

40


CONCLUSÃO<br />

Nos experimentos <strong>de</strong> preferência <strong>alimentar</strong>, as duas <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> diferentes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong><br />

apresentaram uma escolha clara <strong>de</strong> apenas uma macroalga. A <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia <strong>de</strong><br />

Boa Viagem, consumiu preferencialmente a U. fasciata <strong>sobre</strong> todas as outras, enquanto<br />

a <strong>Aplysia</strong> <strong>sp</strong>. da Praia do Forno se alimentou somente <strong>de</strong> L. filiformis.<br />

De acordo com os resultados obtidos e com base na literatura, po<strong>de</strong>mos concluir<br />

que a preferência <strong>alimentar</strong> difere entre as <strong>e<strong>sp</strong>écies</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong>, assim como o grau <strong>de</strong><br />

e<strong>sp</strong>ecialização em um recurso <strong>alimentar</strong>. No entanto, os e<strong>sp</strong>écimes <strong>de</strong> <strong>Aplysia</strong> <strong>de</strong> ambos<br />

os locais exibem comportamento e<strong>sp</strong>ecializado, mas aqueles da Praia do Forno<br />

<strong>de</strong>senvolveram a preferência <strong>de</strong> consumir a macroalga vermelha quimicamente<br />

<strong>de</strong>fendida L. filiformis.<br />

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