O Sonho das Esmeraldas - Unama
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www.nead.unama.br<br />
superficie tosta<strong>das</strong> de sol"; "... Esmeral<strong>das</strong> que a terra despede de si, e, por isso,<br />
escoria <strong>das</strong> bôas que se criam por debaixo". A desilusão foi crua. Esboroou-se, ante<br />
aquelas pedras de superfície, tosta<strong>das</strong> de sol, a rútila quimera que afogueara a todos.<br />
E quem, já agora, desfeito o sonho, haveria de correr de novo atrás <strong>das</strong> esmeral<strong>das</strong>?<br />
Daquelas esmeral<strong>das</strong> finas, <strong>das</strong> boas, <strong>das</strong> que se criavam debaixo da terra?<br />
MARCOS DE AZEREDO<br />
Rodaram vinte e dois anos. E durante esses vinte e dois anos não se cuidou<br />
mais de esmeral<strong>das</strong>. Só se cuidou de ouro. Os paulistas, como bandos de caitetus<br />
selvagens, embrenhando-se pelos matagais os mais remotos, corriam agora a terra<br />
virgem, desassombrados e cúpidos, à busca <strong>das</strong> minas doura<strong>das</strong>. Ninguém mais<br />
falava nas pedras.<br />
E eis que, de repente, não se sabe como, principiaram de novo a correr falas<br />
sobre a Serra <strong>das</strong> Esmeral<strong>das</strong>. Essas falas, agora, não mais vinham da Bahia.<br />
Vinham do Espírito Santo. A lenda descera para o sul... Sim, era no Espírito Santo,<br />
nos sertões ásperos daquelas paragens ainda não devassa<strong>das</strong>, que (diziam) ficava<br />
aquela serra coruscante, mui fermosa e resprandescente, onde havia pedreiras de<br />
pedras verdes. Tantas, tão insistentes cresceram essas vozes, que Martim Cão, o<br />
célebre matante negro, botou, fascinado, a sua horda selvagem no encalço da<br />
montanha enganosa. Não a encontrou, é certo. Mas o sonho <strong>das</strong> esmeral<strong>das</strong><br />
acendeu-se de novo. E no cenário <strong>das</strong> pedras verdes surge, neste momento, uma<br />
figura capital: Marcos de Azeredo Coutinho.<br />
"... Um Azeredo entrou pelo paiz <strong>das</strong> esmeral<strong>das</strong>", diz um papel velho. E<br />
outro: "fez Marcos de Azeredo huma entrada para o descobrimento <strong>das</strong> esmeral<strong>das</strong><br />
que havia no sertão do Espirito Santo" 6 . Sim, lá foi o sacudido mateiro, com<br />
grandeza de arcos, a rasgar o emaranhado pego daquelas silvas misteriosas.<br />
Pleno sertão do Espírito Santo!<br />
Tal como a prata, as esmeral<strong>das</strong> cumpriam ali, com Marcos de Azeredo, o<br />
seu destino fulgurante: a conquista do território. Graças ao sonho <strong>das</strong> esmeral<strong>das</strong>,<br />
graças à quimera da serra verde, tão saborosa e tão lírica, nem só a Bahia, mas a<br />
terra do Espírito Santo vai ser agora talada, devassada, desbarbarizada...<br />
O novo buscador <strong>das</strong> pedras arremeteu-se impávido por aqueles ermos.<br />
Quanto tempo? Em que rumo? Difícil dize-lo. Mas o certo é que um dia, ao pé de<br />
certa lagoa, que os da terra chamavam vupabuçu, topa o bandeirante, festivamente,<br />
com estranha serrania, toda de cristal, que chispava ao sol com rebrilhos ofuscantes.<br />
Azeredo manda abrir uns buracos naquela serrania. E recolhe deles umas pedras<br />
verdes. E ao recolhê-las, Marcos de Azeredo é um júbilo só: -Esmeral<strong>das</strong>!<br />
E eram realmente esmeral<strong>das</strong>! "... De chrystal sabemos certo haver uma<br />
serra na Capitania do Espirito Santo; em dita serra é que estão metti<strong>das</strong> muytas<br />
esmeral<strong>das</strong>; destas esmeral<strong>das</strong> levou Marcos de Azeredo amostras a el-Rey",<br />
conta-o Frei Vicente. Sim, o cabo venturoso, com o esplendente achado dentro da<br />
sacola, embarca num galeão e toca-se para Portugal. O Rei recebeu-o com grande<br />
acolhida. E mandou logo que os lapidários averiguassem as amostras. Foi então<br />
que, feitos os exames, declararam os lapidários — supremo acontecimento! — que<br />
as pedras verdes do sertanejo não eram pedras à-toas: eram esmeral<strong>das</strong><br />
6 Vide nota E in fine.<br />
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