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tét. - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Trata-se, em qualquer caso, de uma especialização social, económica, política e simbólica que se deve situar na<br />

longa duração. Com efeito, ao longo de muitos séculos, a5 contradições violentas e simbólicas entre linhagens e<br />

comuni<strong>da</strong>des familiares foram fixan<strong>do</strong> territórios, culturas e firman<strong>do</strong> os seus respectivos equilíbrios (aquilo que,<br />

nestas socie<strong>da</strong>des, é o que mais próximo existe de uma ideia de «fronteira»...). A multiplicação de alianças entre<br />

as linhagens, a pulverização <strong>da</strong>s estruturas familiares, o crescimento demográfico, a repartição <strong>da</strong> posse <strong>da</strong><br />

terra ..., foram geran<strong>do</strong> um sistema social mais equilibra<strong>do</strong> que, excluin<strong>do</strong> centraiizações sociais e espaciais, foi<br />

optan<strong>do</strong> por alargar as uni<strong>da</strong>des <strong>do</strong>mésticas e equilibrá-las no território ao longo de uma rede multilateral de<br />

espaços, uma ver<strong>da</strong>deira espinha de peixe. 5ão inúmeros os conjuntos de desenhos que certificam esta<br />

antropologia social. Entre as páginas 48 e 50, por exemplo, Rodrigues desenhou cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente uma demora<strong>da</strong><br />

aldeia que, acompanha<strong>do</strong> a linha <strong>da</strong> costa, a aproveita para criar essa espinha que organiza as uni<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong>mésticas, distinguin<strong>do</strong>-as em funcionali<strong>da</strong>des, mas não em centros <strong>do</strong>minantes. Em nenhuma aldeia,<br />

comuni<strong>da</strong>de ou grupo <strong>do</strong>méstico desenha<strong>do</strong> se descobre um espaço humaniza<strong>do</strong> e socializa<strong>do</strong> a partir de um<br />

centro. A5 uni<strong>da</strong>des <strong>do</strong>mésticas não formam circunvalações mas fixam-se em espinha ao território. Alongam-se,<br />

espraiam-se, ramificam-se a partir de um eixo central irregular. Nem sequer se consegue destacar relações de<br />

horizontali<strong>da</strong>de e verticali<strong>da</strong>de, organizan<strong>do</strong> a comuni<strong>da</strong>de em eixos absolutamente regulares. Este modelo<br />

apreende-se melhor (mesmo enquanto modelo) na página 73. Aí se desenha um espaço pauta<strong>do</strong> por 16 casas. 5ã0<br />

quase to<strong>da</strong>s idênticas, rectangulares, com amplos telha<strong>do</strong>s, estenden<strong>do</strong>-se ao longo de um pequeno vale entala<strong>do</strong><br />

entre montanhas polvilha<strong>da</strong>s de pequenas árvores claramente decorativas. A uma primeira impressão parece<br />

tratar-se de um desenho caótico, existin<strong>do</strong> mesmo uma estranha casa no centro <strong>da</strong> imagem que se empina,<br />

deslizan<strong>do</strong>, cain<strong>do</strong>. Mas trata-se de uma informação antropológica de excepcional quali<strong>da</strong>de: unin<strong>do</strong> as diferentes<br />

uni<strong>da</strong>des vai-se construin<strong>do</strong> uma rede em espinha de peixe que equilibra casas e território. Mesmo uma casa de<br />

maior dimensão com um anexo não centraliza a comuni<strong>da</strong>de mas insere-se neste complexo em espinha. Por isso, a<br />

quase monótona decoração repetitiva <strong>da</strong> paisagem talvez não deixe de expressar uma paisagem que foi<br />

longamente <strong>do</strong>mestica<strong>da</strong>, humaniza<strong>da</strong>, organizan<strong>do</strong>-se em função <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local. Repare-se,<br />

por exemplo, que os palmares não se sucedem indistintamente ao longo <strong>da</strong> costa, ma5 inserem-se no próprio<br />

UmahlihTimur 43 Easa Sayra<strong>da</strong> de Oriente

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