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Dissertação Completa - UTFPR

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PR<br />

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ<br />

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ<br />

CAMPUS PONTA GROSSA<br />

GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO<br />

PPGEP<br />

IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA<br />

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS<br />

TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO<br />

VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS<br />

PONTA GROSSA<br />

FEVEREIRO - 2008


IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA<br />

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS<br />

TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO<br />

VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS<br />

<strong>Dissertação</strong> apresentada como requisito parcial<br />

à obtenção do título de Mestre em Engenharia<br />

de Produção, do Programa de Pós-Graduação<br />

em Engenharia de Produção, Área de<br />

Concentração: Gestão Industrial, da Gerência<br />

de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus<br />

Ponta Grossa, da <strong>UTFPR</strong>.<br />

Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos de<br />

Francisco<br />

PONTA GROSSA<br />

FEVEREIRO - 2008


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Dedico este trabalho aos meus filhos:<br />

Amanda Márcia, Rafael Kim, Rodrigo Ian<br />

e Alana Márcia.<br />

Filhos, não guardem na memória a<br />

saudade, mas o exemplo.


A Deus, que me conduz;<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao meu marido Ronaldo Junior, pelo seu amor e compreensão;<br />

Aos meus pais, Inaldo e Maria Antonina, por tudo;<br />

Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos de Francisco, pela dedicação e paciência;<br />

Ao Prof. Dr. Antonio Augusto de Paula Xavier, pela sua valiosa contribuição;<br />

Aos meus sogros, Ronaldo e Heliana, pelo seu amor incondicional;<br />

À <strong>UTFPR</strong> e ao CEFET MA;<br />

Ao Prof. Dr. Kazuo Hatakeyama, querido amigo e grande educador;<br />

Aos professores do PPGEP;<br />

Aos amigos da secretaria;<br />

Aos colegas do PIQDTec, pelo companheirismo;<br />

A Adriana e Ageu, pelo carinho e amizade;<br />

A Sueli, companheira de pesquisa, pela sua alegria e cumplicidade;<br />

Ao Prof. Dr. Alexandre Santos Pimenta;<br />

À CAPES e ao PIQDTec;<br />

Aos meus amigos pela parceria. Amigos para sempre.


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

"O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra."<br />

Aristóteles.


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

RESUMO<br />

Considerando a importância da postura na saúde do trabalhador no processo<br />

produtivo do carvão vegetal, esta pesquisa ergonômica de enfoque biomecânico tem<br />

por objetivo avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de<br />

carvão vegetal em cilindros metálicos verticais. Para tanto, verificou a incidência de<br />

dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos trabalhadores da produção, avaliou as<br />

cargas (kg) a que são submetidos em exercício de suas tarefas diárias e avaliou as<br />

posturas adotadas pelos trabalhadores durante a execução das tarefas. A pesquisa<br />

é qualitativa e quanto à natureza, aplicada. Quanto aos objetivos é descritiva,<br />

prevalecendo o método indutivo. Através da aplicação de Análise Ergonômica do<br />

Trabalho – AET, a coleta de dados foi feita a partir da observação direta dos<br />

trabalhadores, registro de imagens, entrevistas e aplicação do Diagrama de Áreas<br />

Dolorosas proposto por Corlett e Manenica e a análise dos dados feita a partir do<br />

sistema de análise postural do método OWAS, aplicando o software WinOWAS<br />

específico da pesquisa ergonômica. Os principais resultados da pesquisa revelam a<br />

existência de posturas com riscos nos quatro níveis de lesões musculoesqueléticas<br />

classificados pelo OWAS, concluindo-se que o método é imperativo de<br />

recomendações ergonômicas para a minimização ou erradicação dos sofrimentos<br />

lombares e constrangimentos posturais dos trabalhadores.<br />

Palavras-chave: Ergonomia, saúde do trabalhador, postura, biomecânica.


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ABSTRACT<br />

Considering the posture importance to the health of workers in the production<br />

process of charcoal, this ergonomic research based on a biomechanical focus aims<br />

on the evaluation of the posture adopted by these workers on the production of<br />

charcoal in vertical metal cylinders. Thus, it was verified the incidence of pain and/or<br />

musculoskeletal injuries to the workers in charcoal production. Also, it was evaluated<br />

the weight carried by the worker performing their daily tasks and the positions taken<br />

by workers during these tasks execution. The research is qualitative and applied, and<br />

their goals are descriptive, what is associated to the inductive method. Applying the<br />

Ergonomic Analysis of Labor, the data collection was done from workers direct<br />

observation, registration of images, interviews, application of a Diagram proposed by<br />

Corlett and Manenica and analysis of data made with a system posture analysis<br />

based on the OWAS method: the software WinOwas specific for ergonomic research.<br />

The main results of the research show that there postures with risks in the four levels<br />

of musculoskeletal injuries classified by OWAS, concluding that the method is<br />

imperative for ergonomic recommendations for minimizing or eradication of suffering<br />

injury and worker’s postural constraints.<br />

Keywords: Humans factors, worker healthy, posture, biomechanics.


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra ................31<br />

Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação<br />

ao corpo .............................................................................................................32<br />

Figura 3 – Exemplo de atividade estática..................................................................37<br />

Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e<br />

braços ................................................................................................................38<br />

Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (Vidal, 2001) .........................45<br />

Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)..........................48<br />

Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte Iida (2005) ................................49<br />

Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização .............................61<br />

Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007).....................62<br />

Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Avaliação Postural. Adaptado de<br />

Couto (1996) ......................................................................................................63<br />

Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara..............66<br />

Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão ........66<br />

Figura 15 - Limpeza da praça....................................................................................66<br />

Figura 16 – Características do cilindro ......................................................................69<br />

Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do<br />

trabalhador.........................................................................................................70<br />

Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do carrinho transportador – seqüência<br />

de movimentos de um trabalhador.....................................................................70<br />

Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do<br />

carrinho transportador........................................................................................71<br />

Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do<br />

carrinho transportador. Subatividade 1.a ...........................................................73


Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no transporte do carrinho.<br />

Subatividade 1.b ................................................................................................74<br />

Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do<br />

cilindro. Subatividade 1.c ...................................................................................75<br />

Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do<br />

cilindro sem auxílio do carrinho transportador....................................................77<br />

Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador.........78<br />

Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no carregamento do cilindro............78<br />

Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para pegar a peça de<br />

lenha no piso. Subatividade 2.a .........................................................................80<br />

Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para transportar a peça de<br />

lenha até o cilindro. Subatividade 2.b ................................................................81<br />

Figura 28 - Postura adotada na acomodação das primeiras camadas de lenha, com<br />

flexão dorsal.......................................................................................................83<br />

Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal .....................................................84<br />

Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois trabalhadores em atividades<br />

consecutivas ......................................................................................................85<br />

Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras. .......88<br />

Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras .89<br />

Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na abertura da janela......................90<br />

Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação das câmaras...............................91<br />

Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em deslocamento .......................93<br />

Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da<br />

câmara de carbonização....................................................................................94<br />

Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na<br />

tela do silo..........................................................................................................96<br />

Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tronco de um trabalhador na<br />

tarefa de distribuição do carvão na tela do silo. .................................................97<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhador ao varrer o piso da praça<br />

de carbonização.................................................................................................99<br />

Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura. ............................................100<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)...................................33<br />

Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado .................................................40<br />

Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro........................................................68<br />

Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria ..................................................101<br />

Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades ...........................................103


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

LISTA DE GRÁFICOS<br />

Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do ferro-gusa ...................................19<br />

Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema<br />

OWAS ................................................................................................................72<br />

Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregamento do carrinho .......................73<br />

Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha...................................74<br />

Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamento do cilindro..........................76<br />

Gráfico 6 - Análise individual das subatividades que compõe a atividade 1.1 ..........76<br />

Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema<br />

OWAS ................................................................................................................79<br />

Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura ao pegar a lenha.........................81<br />

Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro .........82<br />

Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas<br />

primeiras camadas.............................................................................................83<br />

Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal ....................................................84<br />

Gráfico 12 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2......85<br />

Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cilindro ........................................86<br />

Gráfico 14 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2 e 1.3<br />

...........................................................................................................................87<br />

Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras ......................................................89<br />

Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela...........................................91<br />

Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verificação propriamente dita..................92<br />

Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocamento..........................................93<br />

Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificação ..............................................94<br />

Gráfico 20 - Análise da ignição..................................................................................95<br />

Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição.......................................................97


Gráfico 22 - Análise da postura 1..............................................................................98<br />

Gráfico 23 - Análise da postura 2..............................................................................98<br />

Gráfico 24 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade de<br />

distribuição.........................................................................................................99<br />

Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carbonização ....................................100<br />

Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da praça.........................................101<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia<br />

AET Análise Ergonômica do Trabalho<br />

NIOSH National Institute for Safety and Health<br />

NR Norma Regulamentadora<br />

OWAS Owako Analisys Sistem<br />

RULA Rapid Upper Limb Assessment


AGRADECIMENTOS<br />

RESUMO<br />

ABSTRACT<br />

LISTA DE FIGURAS<br />

LISTA DE TABELAS<br />

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

SUMÁRIO<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 16<br />

1.1 Problema da Pesquisa..........................................................................................................17<br />

1.2 Objetivos da Pesquisa ..........................................................................................................17<br />

1.2.1 Objetivo Geral...................................................................................................................17<br />

1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................18<br />

1.3 Justificativas..........................................................................................................................18<br />

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 20<br />

2.1 O Trabalho ............................................................................................................................20<br />

2.2 A Organização do Trabalho ..................................................................................................22<br />

2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17...............................................................................23<br />

2.4 Saúde do Trabalhador ..........................................................................................................23<br />

2.5 A Ergonomia .........................................................................................................................27<br />

2.6 Biomecânica..........................................................................................................................29<br />

2.6.1 A Postura Sentada............................................................................................................39<br />

2.6.2 A Postura Em Pé ..............................................................................................................41<br />

2.7 A Pesquisa Ergonômica........................................................................................................42<br />

2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET ...........................................................................43<br />

2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET ..........................................................................46<br />

2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Carvão Vegetal.....................................52<br />

2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacional .....................................................52<br />

2.9.1 Método Convencional.......................................................................................................52<br />

2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros Metálicos Verticais ....................................55<br />

3 METODOLOGIA ................................................................................................. 56<br />

3.1 O estudo de caso..................................................................................................................57<br />

3.2 Análise Ergonômica do Trabalho..........................................................................................58<br />

3.2.1 Análise da demanda.........................................................................................................58<br />

3.2.2 Análise da tarefa...............................................................................................................58<br />

3.2.3 Análise das atividades......................................................................................................59<br />

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES .............................................................................. 64<br />

4.1 O Processo Produtivo em Estudo.........................................................................................64<br />

4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da praça de carbonização.................................66


5 CONCLUSÕES..................................................................................................105<br />

5.1 Contribuições da pesquisa..................................................................................................107<br />

5.2 Sugestões para trabalhos futuros .......................................................................................107<br />

REFERÊNCIAS........................................................................................................109<br />

APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS..........................................112<br />

APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAIS..................113<br />

ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO..........................114<br />

ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS .......................115<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 1 Introdução 16<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Na produção do carvão vegetal no Brasil, o trabalho apresenta-se sob forma de<br />

pena e sofrimento; além da conotação etimológica deste conceito, esta referência<br />

tem a ver com algumas características do ambiente de trabalho e das tarefas a que<br />

esses trabalhadores são sujeitos. A inadequação do posto de trabalho e a natureza<br />

árdua das tarefas são fatores que comprometem a saúde do trabalhador e seu<br />

desempenho. Nesse sentido, Dul e Weerdmeester (1995) afirmam que as condições<br />

de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são eliminadas quando<br />

adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem.<br />

Segundo Guimarães Neto (2005), o Brasil é o maior produtor mundial de<br />

carvão vegetal. A produção do carvão é uma atividade econômica que se<br />

desenvolve em todas as regiões do país, em especial no sudeste e no nordeste<br />

brasileiros, mais precisamente em Minas Gerais; na região que compreende o sul<br />

dos Estados do Pará e Maranhão e no Estado da Bahia. Sendo de suma importância<br />

na produção do ferro gusa, o carvão vegetal é um produto de grande valor para a<br />

economia brasileira, mas sua produção tem sido conduzida com freqüência de forma<br />

irregular tanto no que tange ao meio ambiente como aos direitos de cidadania dos<br />

trabalhadores. Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância<br />

para o país, que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.<br />

O sistema convencional de produção de carvão vegetal dá-se em fornos de<br />

superfície e contempla com maior afinco o processo produtivo e a qualidade do<br />

produto e trata com menor importância a saúde do trabalhador e do meio ambiente.<br />

As conseqüências dos riscos à saúde dentro dos ambientes de trabalho são<br />

provenientes das condições a que são submetidos os trabalhadores em função das<br />

suas tarefas. A atuação da ergonomia se dá na interface que se projeta do ambiente<br />

de trabalho em direção ao trabalhador, adaptando-se às condições e limitações. A<br />

premissa ergonômica de adaptação do trabalho ao homem busca justamente o<br />

caminho no qual o homem trabalhará sem sofrimento, seja físico ou mental e<br />

auxiliará esse mesmo homem a atingir sua máxima produtividade como trabalhador<br />

e cidadão (XAVIER, 2006).<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 1 Introdução 17<br />

Sob esta ótica, esta pesquisa avalia as condições posturais dos trabalhadores<br />

envolvidos no processo produtivo do carvão vegetal com carbonização em cilindros<br />

metálicos verticais.<br />

A biomecânica postural foi escolhida como tema central da pesquisa por tratar-<br />

se de um problema frequentemente presente em um grande número de atividades<br />

produtivas, porém nem sempre percebido. Para Dul e Weerdmeester (1995), a<br />

pesquisa ergonômica trata a biomecânica postural como a associação da postura<br />

adotada pelo trabalhador com a carga (kg) a que ele é submetido. Portanto, a<br />

postura do trabalhador pode ser uma ferramenta de produtividade, caso seja objeto<br />

de atenção da organização.<br />

Ainda que utilize equipamentos de proteção de acidentes, tenha domínio do<br />

conhecimento que envolve a execução da tarefa e atue dentro das normas de<br />

higiene e segurança do trabalho, o trabalhador pode estar sujeito a riscos<br />

ergonômicos caso adote posturas inadequadas na execução de suas tarefas. Sendo<br />

a postura uma atividade individual, o trabalhador assume a que lhe convém de<br />

acordo com sua capacidade, vontade e principalmente segundo a natureza da<br />

tarefa.<br />

A inadequação postural pode ter conseqüências imediatas ou pode levar algum<br />

tempo até que se manifestem. Por isso pesquisa documental de casos médicos<br />

antecedentes não é visualizada com grande importância neste tipo de estudo. A<br />

pesquisa postural, ainda que parte de um estudo ergonômico corretivo, preocupa-se<br />

com a prevenção de problemas de saúde que podem ser evitados ou corrigidos com<br />

a intervenção imediata à identificação do problema.<br />

1.1 Problema da Pesquisa<br />

A metodologia de obtenção do carvão vegetal em cilindros metálicos verticais<br />

propicia condições posturais favoráveis à saúde do trabalhador?<br />

1.2 Objetivos da Pesquisa<br />

1.2.1 Objetivo Geral<br />

Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de carvão<br />

vegetal em cilindros metálicos verticais.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 1 Introdução 18<br />

1.2.2 Objetivos Específicos<br />

São objetivos específicos desta pesquisa:<br />

• Verificar a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos<br />

trabalhadores da produção de carvão vegetal em cilindros metálicos,<br />

associadas à atividade profissional, diagnosticando as condições de trabalho<br />

em relação à postura requerida;<br />

• Relacionar as posturas adotadas pelos trabalhadores com as do sistema de<br />

análise de posturas do Método OWAS;<br />

• Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de<br />

suas tarefas diárias;<br />

• Oferecer alternativas ergonômicas, visando a minimização ou erradicação dos<br />

sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.<br />

1.3 Justificativas<br />

Este estudo se justifica pela proposta de prevenção ou minimização dos<br />

constrangimentos posturais e redução do sofrimento a que trabalhadores do setor<br />

especificado são submetidos. Mas tão importante quanto a preocupação com a<br />

saúde do trabalhador deste segmento produtivo, é contribuir com os estudos<br />

científicos sobre um método de produção do carvão vegetal por carbonização que<br />

apresenta proposta de ação sustentável, como cita o Jornal da Ciência, órgão da<br />

Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – SBPC (2007).<br />

A literatura cita a indústria carvoeira como um dos segmentos produtivos que<br />

mais afetam negativamente o meio ambiente e desrespeitam os direitos básicos do<br />

trabalhador no Brasil, porém trata-se de uma atividade em ascensão na economia do<br />

país, fundamental na produção do ferro-gusa. Segundo Homma et al. (2006), da<br />

produção total de ferro-gusa no país, 66,8% envolvem o uso de carvão mineral e<br />

33,2% de carvão vegetal e o Brasil figura no cenário internacional como o maior<br />

produtor e consumidor de carvão vegetal.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 1 Introdução 19<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do ferro-gusa<br />

Em 2003 chegou a produzir e consumir 29.202 milhões de mdc (metros cúbicos de<br />

carvão), afirma Guimarães Neto (2005).<br />

Dias et al (2002) afirmam que os problemas lombares aparecem como a<br />

segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,<br />

sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o<br />

trabalho. Contribuir com estudos envolvendo a saúde ocupacional do trabalhador<br />

nesse processo produtivo é uma proposta que vai ao encontro das ações em busca<br />

de mudança da realidade social que envolve a indústria carvoeira nacional.<br />

A pesquisa apresenta-se descrita em cinco capítulos, assim estruturados:<br />

Capítulo 1: Introdução;<br />

Capítulo 2: Referencial teórico<br />

Capítulo 3: Metodologia<br />

Capítulo 4: Análises e discussões;<br />

33,2 % Carvão vegetal<br />

66,8% Carvão mineral<br />

Capítulo 5: Conclusões, seguido de apêndices e anexos.


Capítulo 2 Referencial Teórico 20<br />

2 REFERENCIAL TEÓRICO<br />

2.1 O Trabalho<br />

O trabalho, em sua concepção original está diretamente associado à pena,<br />

esforço e sofrimento. Do ponto de vista etimológico, é originário do latim popular<br />

tripaliare, que significa torturar com o tripalium, instrumento de tortura e<br />

constrangimento (XAVIER 2006). Esse histórico atribui ao trabalho uma conotação<br />

de martírio, envolvendo o sofrer e o fazer sofrer. Portanto, entendendo o trabalho<br />

como toda atividade que gera algum tipo de produção inerente à condição humana,<br />

cabe então dissociar a relação com sofrimento.<br />

As disciplinas que estudam o trabalho, como: sociologia, economia, ergonomia,<br />

as engenharias, psicologia – abordam diferentes concepções a respeito. Para alguns<br />

trata-se, sobretudo, de uma relação social (relação salarial); para outros, trata-se do<br />

emprego; em outros casos, caracteriza uma atividade de produção social,<br />

intelectual. Wisner (1987) define como uma atividade obrigatória que acrescenta um<br />

valor e entra para o circuito monetário.<br />

Este estudo adota a definição de Dejours (2004) que se refere ao trabalho<br />

como aquilo que implica, do ponto de vista humano, o fato de trabalhar: gestos,<br />

saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade<br />

de refletir, de interpretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de<br />

inventar. Esta concepção é interessante por não relacionar o trabalho em primeira<br />

instância a questão salarial ou emprego; aborda o ato de trabalhar, que segundo<br />

Dejours (2004), é um modo de engajamento da personalidade para responder a uma<br />

tarefa delimitada por pressões (materiais e sociais). Nesse aspecto, Abrahão e<br />

Torres (2004) enfatizam: O trabalho revela características especificamente humanas,<br />

como a capacidade de criação e produção de bens específicos, bem como permite a<br />

inserção do sujeito em um contexto social, em função de uma atividade a ser<br />

executada.<br />

Para adaptar o trabalho aos seres humanos é necessário ter-se conhecimento<br />

o máximo possível sobre eles. Rio e Pires (2001) recomendam que adaptações<br />

sejam feitas no trabalho para que o ato de trabalhar não seja entrópico, não leve ao<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 21<br />

desgaste desnecessário. Mas evitar o desgaste não é suficiente. É necessário o<br />

desenvolvimento de políticas organizacionais que conduzam ao prazer no trabalho.<br />

Ao executar a tarefa, o trabalhador que encontra satisfação em sua atividade produz<br />

mais com maior segurança com menor estresse.<br />

Na física, o termo estresse caracteriza o grau de deformidade que a estrutura<br />

sofre quando submetida a um esforço. Segundo Limongi e Rodrigues (2002, p.27),<br />

“Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que um<br />

organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de<br />

adaptação”.<br />

A definição do estresse no trabalho corresponde ao desalinhamento entre as<br />

condições do trabalho e as individualidades dos trabalhadores. É visto por Baker e<br />

Karasek (2000) como as respostas físicas e emocionais prejudiciais que ocorrem<br />

quando as exigências do trabalho não estão em equilíbrio com as capacidades,<br />

recursos ou necessidades do trabalhador.<br />

O sociólogo Gilberto Freire (1983) afirma que o ser humano é um ser biológico,<br />

ecológico e socialmente determinado e seu bem-estar – além de físico, psicossocial<br />

- está dependente e relacionado a situações que o envolvem.<br />

Para Abrahão e Torres (2004), o trabalho constitui um elemento fundamental<br />

da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou para a manifestação<br />

de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é visualizada como<br />

fator mediador desse processo. Ela é compreendida como a divisão do trabalho,<br />

incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo<br />

operatório prescrito e a divisão de homens, repartição de responsabilidades,<br />

hierarquia, comando e controle.<br />

As condições de trabalho englobam todos os aspectos passíveis de influenciar<br />

a produção, sem limitar-se a postos de trabalho ou aspectos físicos do ambiente,<br />

mas enfocando as relações do homem com a sua tarefa.<br />

A forma como ocorre a interação nesse sistema configura a condição de<br />

trabalho. Com esse sentido, a ergonomia dispõe-se a estudar formas de viabilizar a<br />

melhor maneira do homem executar as suas tarefas.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 22<br />

2.2 A Organização do Trabalho<br />

A organização do trabalho é o eixo da ergonomia organizacional e está<br />

relacionado com a maneira como o trabalho é distribuído no tempo e no espaço<br />

físico; define quem faz o quê, como, quando e quanto. Abrange também aspectos<br />

mais específicos do trabalho em relação ao trabalhador, que devem responder a<br />

questionamentos como os sugeridos por Rio e Pires (2001, p.193):<br />

1. O trabalho é predominantemente físico ou psíquico?<br />

2. Quais os segmentos musculoesqueléticos mais envolvidos? Como?<br />

3. Que tipo de exigência é feito sobre o sistema óptico?<br />

4. Como é feita a estimulação sensorial?<br />

A resposta desses questionamentos deve ser feita a partir de análises dos<br />

seguintes aspectos:<br />

O ciclo de trabalho é importante na organização do trabalho. Consiste numa<br />

seqüência de ações para a execução de uma atividade, que pode ser de alta<br />

repetitividade ou de baixa repetitividade, de acordo com a seqüência de repetição<br />

das ações. A ergonomia se preocupa em evitar as atividades altamente repetitivas,<br />

sugerindo o balanceamento delas.<br />

Em linhas de montagem é típico os cargos exigirem repetição da mesma tarefa,<br />

que se forem tarefas muito curtas e rápidas pode vir a provocar alienação mental e<br />

concentrar a fadiga em alguns músculos específicos. O tempo do ciclo, ou seja, da<br />

repetição da mesma tarefa, segundo Rio e Pires (2001) não deve ser inferior a um<br />

minuto e meio.<br />

A carga, segundo Rio e Pires (2001, p.84) “é constituída por um conjunto de<br />

exigências que atua como um todo”. Pode ser dividida em: sensorial, cognitiva,<br />

afetiva, visual e musculoesquelética. É função de todas as áreas da ergonomia. A<br />

carga de trabalho ideal mistura equilibradamente as exigências físicas e cognitivas e<br />

alterna tarefas fáceis e difíceis.<br />

As exigências de um trabalho composto só por tarefas difíceis comprometem a<br />

estabilidade do trabalhador, pois pode provocar estresse e esgotamento mental. Da<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 23<br />

mesma forma, um trabalho composto somente por tarefas fáceis pode desestimular<br />

o trabalhador, levando-o à monotonia pela falta de desafios.<br />

A duração relaciona-se ao tempo consumido pela atividade.<br />

A autonomia é o controle que o trabalhador pode ter sobre seu trabalho.<br />

Para que as organizações se adeqüem e viabilizem boas condições de trabalho<br />

aos atores da produção, a legislação estabelece normas que contemplam aspectos<br />

relacionados à minimização ou exclusão do sofrimento no desenvolver da tarefa.<br />

2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17<br />

A Norma Regulamentadora 17 (NR17) que aborda a ergonomia foi concebida<br />

no sentido de estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de<br />

trabalho às características dos trabalhadores, proporcionando conforto, segurança e<br />

desempenho eficiente. (NR17). Nesse aspecto, visa estabelecer parâmetros cabíveis<br />

às condições favoráveis de trabalho.<br />

Com o objetivo de subsidiar a atuação dos profissionais responsáveis pelo<br />

cumprimento da norma, foi desenvolvido um manual de aplicação da NR17, que a<br />

comenta item a item, caracterizando o esperado por cada enunciado e<br />

estabelecendo os principais aspectos a serem considerados ao elaborar uma<br />

Análise ergonômica do Trabalho, AET.<br />

O que caracteriza a necessidade da presença de um ergonomista, apontado no<br />

subitem 17.1.2 da norma, faz deste o subitem mais polêmico da norma. Não se trata<br />

apenas de solicitar uma AET de maneira protocolar, a análise deve contribuir para a<br />

melhora das condições de trabalho, deve partir de uma demanda clara, enfocando<br />

um problema específico. Como documento oficial, o manual não se propõe a<br />

apresentar soluções efetivas para todos os problemas oriundos de condições de<br />

trabalho desfavoráveis, mas caracteriza a existência de uma legislação que aplica<br />

princípios ergonômicos na segurança e saúde dos trabalhadores.<br />

2.4 Saúde do Trabalhador<br />

A saúde do trabalhador pode ser definida como o processo de saúde e doença<br />

dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho (MENDES e DIAS, 1991).<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 24<br />

Estudos caracterizam um esforço de compreensão do desenvolver deste<br />

processo – como e porque ocorre - e do desdobramento de alternativas de<br />

intervenção que levem à satisfação das expectativas em torno da evolução da<br />

relação homem trabalho.<br />

As funções fisiológicas que influem no trabalho, segundo Iida (2003) são:<br />

• Função neuromuscular: Composta pelo sistema nervoso. O sistema nervoso<br />

central é equipado para receber, interpretar e processar as informações,<br />

transformando-as em movimentos musculares como gestos, fala e demais<br />

movimentos. Essa transformação dos estímulos em reações ocorre por<br />

descargas elétricas.<br />

• Músculos: Deles dependem todos os movimentos do corpo. Transformam a<br />

energia armazenada no corpo em contrações concêntricas ou excêntricas,<br />

reproduzindo um sistema de alavancas, pois para cada movimento do corpo<br />

há dois músculos envolvidos, ao contrair um, ocorre distensão no outro.<br />

• Metabolismo: Aborda aspectos energéticos do corpo humano. É responsável<br />

pela transformação da alimentação em energia, que deve ser satisfatória para<br />

que a pessoa possa manter-se viva e execute atividades.<br />

• A visão: É o sentido relacionado à percepção de formas e cores. A percepção<br />

visual consciente consiste em interpretar estímulos visuais no córtex cerebral.<br />

É um aspecto a ser bastante considerado na interface homem-tarefa,<br />

preocupações com a função visão mobilizam desde aspectos físicos do posto<br />

de trabalho, como iluminação e proteções em forma de EPI’s a aspectos<br />

cognitivos afetados pelo desconforto visual.<br />

Dos aspectos que influenciam a visão dos indivíduos, dois merecem especial<br />

destaque:<br />

1. A acuidade, que é a capacidade visual para discriminar pequenos<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

detalhes. Depende, entre outros aspectos, da iluminação e do tempo<br />

de exposição. Iluminações fortes ou fracas prejudicam a acuidade<br />

visual, pois provocam variações na pupila.


Capítulo 2 Referencial Teórico 25<br />

2. A legibilidade, que é um modo de percepção ligado à recepção de<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

uma informação e o seu reconhecimento, está associada aos aspectos<br />

mnemônicos da percepção, pois se trata da comparação da informação<br />

recebida com a informação armazenada na memória.<br />

Os problemas ergonômicos relativos a esse fator ocorrem na dificuldade de ver<br />

e/ou na não compreensão e decodificação da informação.<br />

• A audição: É a captação de sons pelo aparelho auditivo. A sua função básica<br />

é captar e converter ondas de pressão em sinais elétricos que são<br />

transmitidos ao cérebro para produzir sensações sonoras. Pode ser<br />

prejudicada por sons muito altos ou constantes.<br />

O posto de trabalho deve ser projetado de forma que a audição dos<br />

trabalhadores não seja afetada nem por sons muito altos ou estridentes nem por<br />

sons constantes sob forma de ruídos ou vibrantes.<br />

Essa recomendação somente pode ser alterada em caso da necessidade de<br />

utilização de sinais auditivos, inerentes ou emitidos pelo objeto ou máquina em uso.<br />

Os sinais auditivos são utilizados quando existem situações de alerta ou nas quais é<br />

exigido muito da capacidade visual. Nesses casos, os sinais auditivos<br />

complementam, reforçam ou substituem os sinais visuais.<br />

• O senso cinestésico: É o sentido que fornece informações sobre movimentos<br />

de partes do corpo, sem a exigência de acompanhamento visual. Para efeito<br />

de estudos ergonômicos, o senso cinestésico tem sua importância no que se<br />

refere à realização de uma determinada tarefa de trabalho ou função de uso<br />

de um objeto qualquer que dispense o acompanhamento ou controle visual,<br />

por exemplo, digitar sem olhar as teclas.<br />

• Coluna vertebral: Tem função de sustentação e proteção da medula espinhal,<br />

que faz parte do sistema nervoso central. Devido a sua natureza delicada,<br />

está sujeita a deformidades, que podem ser congênitas ou adquiridas.<br />

Esforços físicos e má postura são aspectos consideráveis na origem dos<br />

problemas adquiridos.


Capítulo 2 Referencial Teórico 26<br />

Entendendo a gama de aspectos que podem vir a influenciar no bem estar do<br />

trabalhador à execução da sua tarefa, um em especial torna-se agente de<br />

desconforto e mal estar: a postura.<br />

Como reflexo das posturas inadequadas e movimentos mal executados, têm-se<br />

as lombalgias, cuja identificação é fator facilitador no diagnóstico postural. Para o<br />

trabalhador é simples apontar o local dolorido e ao pesquisador associá-lo aos<br />

instrumentos de pesquisa ergonômica.<br />

Dorsalgia é um termo que designa as dores que ocorrem na região dorsal e<br />

lombalgia designa as dores da região lombar. A união dos dois termos,<br />

dorsolombalgia, denomina dores nas costas de maneira mais ampla. Esses termos<br />

não caracterizam doenças, mas sintomas de dor que podem ou não estar<br />

relacionados a quadros específicos de doenças.<br />

Dentre os fatores que contribuem na formação de lombalgias, Rio e Pires<br />

(2001) apontam quatro que podem ser diretamente relacionados ao trabalho:<br />

1. Insuficiência muscular: causado por sedentarismo, que leva a uma<br />

musculatura flácida. A posição sentada por longos períodos compõe quadro<br />

de alto risco de lombalgias.<br />

2. Traumas e microtraumas: Contusões e mal uso crônico da coluna configuram<br />

causas de lesão das estruturas cujo sofrimento expressa-se como lombalgia.<br />

3. Posição ortostática: a posição em pé, que por período prolongado pode ser<br />

lesiva.<br />

4. Estresse psíquico: Fonte importante de disfunções posturais e de movimentos<br />

e de hipertonia da musculatura lombar.<br />

Inúmeras situações no cotidiano, incluindo ou não o trabalho, podem originar<br />

lombalgias agudas como torção na coluna, forte extensão da musculatura dorsal,<br />

tração do tronco para um dos lados, falta de condicionamento físico, levantamento<br />

de cargas pesadas, inclinação do lombo, desarmonia do ritmo lombo pélvico,<br />

vibrações etc. Localizar a presença dessas situações na execução das tarefas de<br />

trabalho é fundamental para o processo de reversão de condições posturais<br />

inadequadas.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 27<br />

Ainda que divididas em dois grupos: dentro e fora do trabalho, as<br />

recomendações para prevenção de dorsolombalgias devem ser acatadas de forma<br />

geral, pois se tornam menos eficientes, em caso de ações isoladas.<br />

A qualidade da vida fora do ambiente de trabalho é fator promovedor e ao<br />

mesmo tempo resultante da qualidade de vida no trabalho e vice-versa.<br />

2.5 A Ergonomia<br />

De forma direta, Iida (2005, p.2) conceitua ergonomia como “O estudo da<br />

adaptação do trabalho ao homem” essa adaptação é referente a toda a situação em<br />

que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.<br />

Ainda que não seja considerada uma ciência, a ergonomia é uma área de<br />

conhecimento que envolve diversas ciências no sentido de adequar o trabalho ao<br />

homem que o vivencia. Nesse aspecto, a Associação Brasileira de Ergonomia<br />

ABERGO (2000) define a ergonomia como uma atitude profissional que objetiva<br />

modificar sistemas de trabalho para adequar as atividades nele existentes às<br />

características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu<br />

desempenho eficiente, confortável e seguro.<br />

A visão mais recomendada, segundo Rio e Pires (2001), não deve partir<br />

primeiramente da análise dos componentes do posto de trabalho, mas do corpo<br />

humano, das suas características anatômicas e fisiológicas. Essa afirmação é<br />

considerada neste estudo visto que a saúde do trabalhador, foco principal da<br />

ergonomia, é a condição indispensável para o desempenho e produtividade ótimos,<br />

fundamentais para a alta produtividade.<br />

Em um sentido mais amplo, a ergonomia estende-se a estudar não somente<br />

aspectos físicos, embora sejam estes os mais visados pela legislação e pelos<br />

empresários que elegem a antropometria e biomecânica como os estudos mais<br />

necessários para que o bem-estar do trabalhador se reflita em produtividade.<br />

Xavier (2006) enfatiza que para atingir os objetivos apontados nas definições, a<br />

ergonomia conjuga estudos dos seguintes elementos, que compõem o sistema<br />

produtivo:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 28<br />

• O homem: Abrangendo suas características físicas, fisiológicas e sociais. Tem<br />

influência do sexo, idade, treinamento etc.<br />

• A máquina: Todas as ajudas materiais que auxiliam o homem na execução da<br />

tarefa.<br />

• O ambiente: Contempla as características físicas do ambiente: temperatura,<br />

ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros.<br />

• A informação: A comunicação entre os elementos de um sistema produtivo.<br />

Transmissão, processamento e tomada de decisão.<br />

• A organização: Representa a conjugação dos elementos citados no sistema<br />

produtivo, analisando aspectos como horários, turnos, formação de equipes,<br />

estratégias de recursos humanos, etc.<br />

• Conseqüências do trabalho: Saúde do trabalhador, acidentes de trabalho,<br />

estudos de erros, estudos sobre gastos energéticos, questões de controle em<br />

geral.<br />

O marco teórico adotado neste estudo aponta os aspectos cognitivos e<br />

organizacionais como de igual consideração no equilíbrio homem-tecnologia-<br />

organização. Quanto à ergonomia organizacional, que atualmente recebe<br />

denominação de macroergonomia, tem caráter abrangente e envolve a estrutura da<br />

organização empresarial. Conjuga todos os outros aspectos ergonômicos e vem ser<br />

citada por estudiosos como a terceira geração da ergonomia, que em primeiro<br />

momento enfocou a relação homem - máquina, depois ampliou seu foco para<br />

homem-máquina-tarefa, para em seguida acrescentar a organização a esse universo<br />

de estudo.<br />

Para a ergonomia, a postura e o movimento são muito significantes. Tanto no<br />

cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em<br />

função da tarefa e pelo posto de trabalho.<br />

Daniellou (1999) propõe a expressão "patologia organizacional" ao refletir<br />

sobre intervenções de natureza ergonômica no enfrentamento de situações de<br />

trabalho contendo alta prevalência de problemas musculoesqueléticos. Tais<br />

problemas se estabelecem de forma a gerar redução de produtividade do<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 29<br />

trabalhador e causar os fatores geradores deste evento. Segundo Jackson Filho<br />

(2004) esse funcionamento paradoxal é caracterizado por:<br />

1. Fonte de perda de produtividade não detectada pela empresa;<br />

2. Tentativa de compensação dessa perda de produtividade através de pressão<br />

direta sobre os ritmos de trabalho ou sobre os efetivos;<br />

3. Agravação da perda de produtividade devida aos efeitos secundários dessa<br />

pressão. Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições<br />

patológicas dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mal uso e<br />

envelhecimento (CAILLIET, 1999).<br />

2.6 Biomecânica<br />

A biomecânica do trabalho analisa as interações e as conseqüências da<br />

relação homem-trabalho, do ponto de vista dos movimentos músculoesqueletais<br />

(XAVIER 2006). Contempla as posturas corporais associadas à aplicação de forças.<br />

O sangue funciona como combustível nas movimentações dos músculos, conduzido<br />

até eles pelos vasos capilares. Ao contrair um músculo, ocorre o estrangulamento<br />

dos capilares, o que vem a diminuir a quantidade de sangue, consequentemente<br />

causando a fadiga muscular. Com a contração e distensão do músculo essa<br />

situação pode vir a ser revertida, pois o músculo toma aspecto de bomba sanguínea.<br />

O que explica a fadiga causada pelo trabalho estático com longo tempo de<br />

contração e favorece o equilíbrio ao trabalho dinâmico.<br />

No estudo dos princípios biomecânicos, as leis físicas da mecânica são<br />

associadas ao corpo humano, assim sendo, pode-se verificar as tensões musculares<br />

e de articulações durante um movimento ou uma determinada postura. Dul e<br />

Weerdmeester (1995, p.18) recomendam: “Para manter uma boa postura ou realizar<br />

um movimento as articulações devem ser conservadas o tanto quanto possível na<br />

sua posição neutra”.<br />

Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições patológicas<br />

dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mau uso e envelhecimento (CAILLIET,<br />

1999). A postura trata-se de uma atitude. Não uma tarefa. Nessa diferença reside a<br />

característica específica da postura.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 30<br />

Postura é a atitude assumida pelo ser humano na posição sentada ou em pé,<br />

que vem a influenciar todos os aspectos musculoesqueléticos, (CAILLIET 1999). Do<br />

desenvolvimento e das modificações posturais podem surgir doenças, traumas e<br />

fatores de alteração psicológicos.<br />

A postura correta faz a pessoa sentir-se bem. Estudos como de Dul e<br />

Weerdmeester (1995) e Iida (2005) apontam para a afirmação de que a postura<br />

correta é a postura sem esforço, esteticamente correta e indolor. Alguns dos maus<br />

hábitos posturais ocorrem pela atividade do ser humano em função da tarefa que<br />

exerce. A periodicidade leva a acomodação. Segundo Rio e Pires (2001) são vários<br />

os fatores que tem relevante importância sobre a postura:<br />

• Fatores hereditários: alterações musculoesqueléticas congênitas como joelhos<br />

voltados para dentro ou encurtamento de membros;<br />

• Distúrbios do crescimento: como a cifose torácica, anomalias estruturais:<br />

hemivértebras, spina bífida;<br />

• Hábito e treino: fundamental na manutenção da boa postura no trabalho e no<br />

cotidiano;<br />

• Doenças da coluna e da região pélvica;<br />

• Solicitação muscular diária excessiva ou insuficiente;<br />

• Fatores psíquicos: geradores de tensões musculares, instabilidade postural e<br />

movimentos.<br />

A postura modifica os aspectos mecânicos, estáticos e cinéticos das funções<br />

musculoesqueléticas, explica Cailliet (1999). Associada diretamente à má postura,<br />

está a dor. Em curto, médio ou longo prazo, a dor e o sofrimento estão entre os<br />

fatores agravantes do baixo rendimento produtivo do ser humano.<br />

A movimentação se faz necessária, a mudança de posturas durante o trabalho<br />

é fundamental na saúde do sistema musculoesquelético, pois possibilita alternância<br />

do uso de articulações e dos segmentos musculoligamentares.<br />

Para avaliar a biomecânica da tarefa, com finalidade de minimizar os efeitos ou<br />

dores originados por má postura, convém inicialmente observar e registrar a postura-<br />

base adotada pelo trabalhador em função da atividade exercida. A postura-base ou<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 31<br />

postura principal é determinada pelas exigências das atividades: em pé, sentado,<br />

deitado, parado ou não. Dela derivam as posturas secundárias que são adotadas<br />

consciente ou inconscientemente para variar as exigências musculoesqueléticas,<br />

através da flexibilidade postural. Mas não é fácil determinar a postura ideal, em<br />

termos de coluna vertebral. Considera-se boa postura aquela cuja configuração<br />

estática natural da coluna é mantida, respeitando suas curvaturas originais e não<br />

exige esforço.<br />

Diversos são os princípios importantes na ergonomia que procedem de outras<br />

áreas do conhecimento. Esses princípios são elementares nas recomendações<br />

sobre movimentos e posturas. Os princípios mais notáveis na biomecânica,<br />

amparados por Dul e Weerdmeester, (1995) são comentados a seguir:<br />

• As articulações devem ocupar uma posição neutra.<br />

A posição neutra, neste caso é aquela que não exige esforço para ser mantida.<br />

A neutralidade da posição é conseguida quando os músculos e ligamentos situados<br />

entre as articulações são tensionados minimamente. As posturas neutras impõem a<br />

menor carga possível sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos, além<br />

disso, a posição neutra das articulações possibilita aos músculos liberarem força<br />

máxima, quando solicitados. Toma-se como exemplo, o movimento das mãos. Na<br />

fig. 1 A temos a mão nas posições de extensão e flexão, onde é exigido esforço dos<br />

músculos para sustentação da posição. A figura 1B apresenta a mão em seu estado<br />

neutro, cujo posicionamento das articulações permite maior aproveitamento das<br />

forças musculares.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

A B<br />

Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra<br />

Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)<br />

O aumento da distância entre as mãos e o eixo do corpo ocasiona aumento da<br />

tensão nas costas. Com o peso e as mãos afastados do eixo do corpo, há exigência


Capítulo 2 Referencial Teórico 32<br />

de articulações como cotovelo, ombro, punhos e costas aumentando a tensão sobre<br />

elas e os respectivos músculos.<br />

Segundo Dul e Weerdmeester (1995) Uma carga de 20 kg carregada de forma<br />

em que as mão estejam afastadas a aproximadamente 35 cm do eixo do corpo<br />

(como sugere o trabalhador “A” da Figura 2) corresponde a uma tensão<br />

musculoesquelética dorsal de 700N. Já a posição do trabalhador “B”, essa tensão<br />

nas costas aumenta para 950N.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

A B<br />

Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação ao corpo<br />

Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)<br />

• A curvatura do corpo para frente deve ser evitada.<br />

Sabe-se que a parte superior do corpo de um adulto acima da cintura, tem<br />

massa média de aproximadamente 40 kg. Quando o tronco do indivíduo pende para<br />

frente, exige contração dos músculos e dos ligamentos das costas com finalidade de<br />

manter essa posição. A tensão nessa posição é maior na região lombar, causando<br />

dores.<br />

O leiaute do posto de trabalho deve ser projetado a fim de evitar que o<br />

trabalhador precise se curvar para execução de tarefas. Caso seja imprescindível, o<br />

movimento de curvatura do tronco pode ser substituído pelo agachamento do<br />

trabalhador.<br />

“Se o movimento exigir levantamento de cargas, é importante sempre que<br />

possível que a carga sobre a coluna seja feita no sentido vertical, evitando-se as<br />

cargas com as costas curvadas”, recomenda Xavier (2006, p.33).


Capítulo 2 Referencial Teórico 33<br />

A capacidade de carga máxima que uma pessoa pode levantar varia conforme<br />

o uso das musculaturas do dorso, das pernas e dos braços, além da distância do<br />

peso em relação ao corpo.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)<br />

Distância (m) a partir do Capacidade de levantamento<br />

Corpo<br />

(horizontal)<br />

0,3<br />

0,6<br />

0,9<br />

Piso<br />

Mulheres Homens<br />

(vertical) 50% 95% 50% 95%<br />

0,3<br />

0,9<br />

1,5<br />

0,3<br />

0,9<br />

1,5<br />

0,3<br />

0,9<br />

1,5<br />

• A inclinação da cabeça deve ser evitada.<br />

É recomendável que a cabeça seja mantida o mais próximo possível da postura<br />

vertical. Inclinar a cabeça mais que 30° para frent e implica da submissão dos<br />

músculos do pescoço a uma tensão para manter a posição. Essa tensão, na altura<br />

da região cervical ocasiona dores na nuca e nos ombros.<br />

• As torções do tronco devem ser evitadas.<br />

Torções do tronco tensionam os discos elásticos existentes entre as vértebras.<br />

Essa tensão submete os músculos e articulações situadas nos dois lados da coluna<br />

vertebral a cargas assimétricas prejudiciais à saúde, por isso a torção deve ser<br />

evitada. Girar o corpo por completo em lugar de torcer só o tronco é a alternativa<br />

mais indicada nessa situação.<br />

23<br />

19<br />

11<br />

9<br />

6<br />

5<br />

0<br />

1<br />

0<br />

7<br />

11<br />

5<br />

0<br />

1<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

51<br />

44<br />

47<br />

24<br />

28<br />

21<br />

5<br />

10<br />

7<br />

45<br />

39<br />

29<br />

9<br />

15<br />

11<br />

0<br />

1<br />

0


Capítulo 2 Referencial Teórico 34<br />

• Os movimentos bruscos devem ser evitados, pois podem produzir picos de<br />

tensão.<br />

O pico de tensão é resultante da aceleração do movimento em curta duração.<br />

Para fazer um grande esforço físico com uso de força muscular é necessário<br />

previamente aquecer a musculatura e o movimento de levantamento do peso deve<br />

ser feito contínua e gradativamente com ritmo suave. Os levantamentos de pesos<br />

executados rapidamente podem produzir fortes dores nas costas.<br />

• Alternância entre posturas e movimentos.<br />

A repetição de movimentos continuamente, assim como as posturas<br />

prolongadas são muito fatigantes e sujeitam o trabalhador a lesões<br />

musculoesqueléticas ou nas articulações que podem se manifestar em curto, médio<br />

ou longo prazo.<br />

A ergonomia sugere a adoção, no máximo possível, das posições neutras, que<br />

impõe a menor carga sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos.<br />

Quando não é completamente possível, é aconselhável ao trabalhador alternar entre<br />

posturas e movimentos, explorando a flexibilidade postural do corpo humano.<br />

O trabalho do médico clínico, citado por Rio e Pires (2001, p.166) ilustra essa<br />

recomendação:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

[...] ele se levanta e recebe o paciente, senta-se e divide seu tempo<br />

entre conversar com este e redigir/digitar dados, levanta-se e dirigi-<br />

se ao local do exame clínico, examina o paciente utilizando certos<br />

equipamentos, retorna à mesa, senta-se, redige/digita, conversa com<br />

o paciente, levanta-se e despede-se deste.<br />

O rodízio periódico entre os postos de trabalho também é uma alternativa para<br />

trabalhadores envolvidos em tarefas que exigem movimentos de muita repetição,<br />

desde que os movimentos exigidos nesses postos de trabalho sejam diferentes.<br />

• Restrição da duração do esforço muscular contínuo.<br />

A duração do esforço muscular localizado deve ser limitada. O trabalho estático<br />

prolongado ou com movimentos muito repetitivos suscita uma tensão contínua de


Capítulo 2 Referencial Teórico 35<br />

certos músculos do corpo, provocando fadiga muscular localizada. Este processo<br />

resulta em dores, desconforto e queda de desempenho.<br />

Segundo Dul e Weerdmeester (1995, p.20) “quanto maior o esforço muscular,<br />

menor se torna o tempo suportável [...] Com 50% do esforço muscular máximo o<br />

tempo suportável é de aproximadamente dois minutos”.<br />

Kroemer e Grandjean (2005) recomendam que os esforços estáticos<br />

impossíveis de serem evitados devam ser reduzidos a menos de 15% do máximo e<br />

a 10% para esforços de longa duração. E enfatizam que os estudos de Wely em<br />

1970 determinam que o esforço dinâmico de natureza repetitiva não deve exceder<br />

30% do máximo, embora possa ser de até 50% se o esforço não se prolongar por<br />

mais de 5 minutos.<br />

• Prevenção da exaustão muscular.<br />

São necessários vários minutos para a recuperação do músculo afetado por<br />

exaustão. Estudos apontam para a necessidade de cerca de trinta minutos para a<br />

recuperação de 90% da capacidade de desempenho em um músculo exausto.<br />

Músculos meio exaustos atingem o mesmo índice de recuperação em quinze<br />

minutos. Para recuperar um músculo em exaustão completa podem ser necessárias<br />

várias horas.<br />

A organização do trabalho deve evitar a exaustão muscular a fim de não afetar<br />

o desempenho do trabalhador e consequentemente a produtividade.<br />

• Pausas curtas e freqüentes são melhores.<br />

O próprio ciclo do trabalho pode contemplar naturalmente o trabalhador com pausas<br />

curtas nas tarefas. O intervalo entre tarefas, o ciclo de máquinas e equipamentos, o<br />

deslocamento do trabalhador entre setores, são exemplos de pausas curtas.<br />

Diversas pequenas pausas ao longo da jornada de trabalho evitam que o<br />

músculo vá à exaustão, por isso são mais recomendadas que as pausas só ao final<br />

do período. Caso não haja intervalos naturais no desenvolver da tarefa, Dul e<br />

Weerdmeester (1995) recomendam a programação de pausas periódicas para evitar<br />

a exaustão muscular do trabalhador.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 36<br />

Todas as recomendações para prevenção de problemas na saúde do<br />

trabalhador devem ser acatadas ao mesmo tempo, pois contempladas isoladamente<br />

se tornam menos eficazes e eficientes. A qualidade da vida fora do ambiente de<br />

trabalho é fator promovedor e ao mesmo tempo resultante da qualidade de vida no<br />

trabalho e vice-versa.<br />

As características da pesquisa ergonômica permitem visualizar duas vertentes:<br />

a prática e a cientifica. Os resultados práticos se traduzem nas mudanças<br />

implantadas nas organizações onde as intervenções são realizadas.<br />

Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão<br />

interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento.(VIDAL, 2001). Em ambas<br />

as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto em nível pessoal<br />

(trabalhador) como organizacional (empresa) e refletem na produtividade geral.<br />

O trabalho muscular se apresenta de duas formas: estático e dinâmico.<br />

Kroemer e Grandjean (2005, p.15) exemplificam como: “O trabalho de girar uma<br />

roda é dinâmico e segurar um peso com o braço esticado, estático”. Nesse exemplo<br />

podemos perceber o estático como o tipo de trabalho menos aconselhável quanto ao<br />

conforto postural do trabalhador.<br />

Ainda Kroemer e Grandjean (2005, p.15) descrevem essa diferença da<br />

seguinte forma:<br />

1. O trabalho dinâmico caracteriza-se por tensão e relaxamento;<br />

2. O trabalho estático, ao contrário, caracteriza-se por um estado de<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

contração prolongada da musculatura.<br />

Na atividade dinâmica, o trabalho é expresso como o produto resultante de<br />

peso multiplicado pela altura que é levantado. No trabalho estático, os músculos<br />

mantêm-se em estado de alta tensão, produzindo força em todo período de esforço.<br />

A capacidade estática torna possível manter o corpo em qualquer posição.<br />

Para manter a postura de pé, por exemplo, uma série de grupos musculares é<br />

continuamente pressionada, porém quando uma pessoa permanece de pé por um<br />

tempo prolongado, as exigências musculares provocam dores e desconforto<br />

postural. Ao sentar, há redução das tensões dos músculos de todo o corpo,


Capítulo 2 Referencial Teórico 37<br />

principalmente das pernas, já o deitar elimina quase todo o trabalho estático, por<br />

isso esta é a posição mais recomendada para o repouso.<br />

Apesar das diferenças pontuais, não há uma separação rígida entre trabalho<br />

estático e trabalho dinâmico. Geralmente uma atividade é caracterizada pela<br />

predominância dos esforços musculares. Em linhas gerais, Kroemer e Grandjean<br />

(2005) caracterizam trabalho estático significativo nas seguintes condições:<br />

1. Esforço grande por 10s ou mais;<br />

2. Esforço moderado por 1 min ou mais;<br />

3. Esforço leve (1/3 força máxima.) por 5 min ou mais.<br />

Nenhuma postura estática ou movimento repetitivo pode ser mantido por longo<br />

período sem causar danos à saúde do trabalhador. Posturas prolongadas e<br />

movimentos repetitivos são muito fatigantes, em longo prazo, podem lesionar<br />

músculos, ligamento ou articulações.<br />

A tensão contínua de determinados músculos do corpo humano resultante de<br />

uma postura prolongada e de movimentos repetitivos pode provocar fadiga muscular<br />

localizada, vindo a gerar dor, desconforto e menor desempenho produtivo.<br />

A recuperação da capacidade de desempenho satisfatória pode demorar vários<br />

minutos para recuperação. Para Dul e Weerdmeester (1995) são necessários cerca<br />

de trinta minutos para a recuperação de 90% do músculo exausto. Músculos meio<br />

exaustos atingem a mesma recuperação em quinze minutos. “As posturas forçadas<br />

são as formas mais freqüente de trabalho muscular estático” (KROEMER E<br />

GRANDJEAN, 2005, p.17). De acordo com estes autores, a causa mais comum é a<br />

manutenção do tronco, cabeça ou membros em posturas não naturais.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 3 – Exemplo de atividade estática


Capítulo 2 Referencial Teórico 38<br />

Em comparação com o trabalho dinâmico, o trabalho estático (exemplificado na<br />

figura 3), leva a maior consumo de energia, favorece freqüências cardíacas mais<br />

altas e necessita de períodos de repouso mais prolongados, pois quanto maior for a<br />

tensão do músculo, mais rápido se instala a fadiga muscular.<br />

Alguns estudiosos acreditam que um trabalho pode ser mantido por várias<br />

horas por dia, sem sintoma de fadiga, desde que a força exercida não exceda 10%<br />

da força máxima do músculo envolvido.<br />

Para a ergonomia, a postura e o movimento têm grande importância. Tanto no<br />

cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em<br />

função da tarefa e pelo posto de trabalho.<br />

Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e braços<br />

Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os esforços estáticos excessivos (figura<br />

4 ) e repetitivos estão associados ao aumento de riscos de:<br />

1. Inflamação nas articulações devido a estresse mecânico;<br />

2. Inflamação nos tendões;<br />

3. Inflamação nas bainhas dos tendões;<br />

4. Processos crônicos degenerativos;<br />

5. Cãibras;<br />

6. Doenças dos discos intervertebrais.<br />

Como prevenção destes problemas de saúde, o trabalhador pode adotar uma<br />

alternância de posturas ou tarefas. Podem-se fazer também rodízios periódicos, com<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 39<br />

a troca de trabalhadores de um posto de trabalho para outro. Posturas prolongadas<br />

podem prejudicar os músculos e articulações.<br />

Os principais itens a serem ressaltados na interação homem-ambiente de<br />

trabalho, conforme Couto (1996, p. 174), são:<br />

1. O corpo deve trabalhar na vertical, na medida do possível;<br />

2. Os braços devem estar na vertical e os antebraços na horizontal, com apoio<br />

nos punhos e antebraços;<br />

3. Todos os instrumentos de uso freqüente devem estar dentro da área de<br />

alcance normal;<br />

4. Todos os instrumentos de uso ocasional devem estar no máximo dentro da<br />

área de alcance máximo;<br />

5. O tronco não deve se curvar rotineiramente para executar a tarefa;<br />

6. No caso do trabalho sentado, o trabalhador não deve afastar as costas do<br />

encosto da cadeira para atingir o objeto de trabalho;<br />

7. Os pés devem estar apoiados;<br />

8. O mobiliário de trabalho não deve comprimir nenhuma parte do corpo do<br />

trabalhador;<br />

9. Os movimentos e posturas devem ser feitos em condição adequada de<br />

conforto;<br />

10. A adequação do posto de trabalho, caso não seja possível o ideal, é preferível<br />

um pouco mais alto. É mais prejudicial ao trabalhador ficar com o tronco<br />

encurvado que com os antebraços mais verticalizados.<br />

2.6.1 A Postura Sentada<br />

Embora a postura sentada seja menos fatigante que a em pé, deve ser evitada<br />

por períodos prolongados. As tarefas que exigem postura sentada devem permitir<br />

essa alternância, oferecendo para o trabalhador cadeiras mais altas, com apoio para<br />

os pés.<br />

Em geral, na posição sentada o pescoço e as costas ficam submetidos às<br />

longas tensões, que podem provocar dores localizadas,.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 40<br />

Muitas tarefas exigem acompanhamento visual dos movimentos manuais.<br />

Nesse caso a altura da superfície de trabalho deve ser determinada pelo<br />

compromisso entre a melhor altura para as mãos e a melhor posição para os olhos,<br />

que vai determinar a postura da cabeça e dos ombros. (DUL E WEERDMEESTER,<br />

1995).<br />

Conclusões como essas apontam para a necessidade de um estudo<br />

aprofundado da atividade exercida na posição sentada. Adquirir um assento<br />

ergonômico não é determinante para o conforto na postura do trabalho sentado.<br />

A altura da bancada deve estar de acordo com a altura da visão do trabalhador<br />

e os braços não devem ser mantidos erguidos. As alturas ajustáveis permitem<br />

sempre maior conforto postural ao trabalhador. As manipulações fora de alcance das<br />

mãos exigem movimentos do tronco, o que pode causar lesões e desconfortos.<br />

Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os estudos de Caldwell em 1959<br />

viabilizaram a elaboração de regras de força máxima para o trabalho sentado (com<br />

apoio nas costas):<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado<br />

Exerce maior força Exerce menor força<br />

Mão com rotação para dentro - pronação<br />

(180N)<br />

A rotação da mão operando 30 cm a frente<br />

do eixo do corpo<br />

Mão com rotação para fora - supinação<br />

( 110N)<br />

A rotação da mão operando a menos de<br />

30cm a frente do eixo do corpo<br />

Mão puxando para baixo (370N) Mão puxando para cima (160N)<br />

Força de empurrar a mão (600N) Força de puxar a mão (360N)<br />

Empurrar operando a 50 cm a frente do eixo<br />

do corpo<br />

Puxar operando a uma distancia de 70 cm<br />

do eixo do corpo<br />

Fonte: Adaptado de Kroemer e Grandjean (2005)<br />

Empurrar operando a menos de 50cm a<br />

frente do eixo do corpo<br />

Puxar operando a uma distancia menor de<br />

70cm do eixo do corpo<br />

A Tabela 2 compara as forças necessárias para movimentos em posição<br />

sentada, de dentro e fora e de puxar e empurrar, tais informações podem ser úteis


Capítulo 2 Referencial Teórico 41<br />

na identificação de posturas inadequadas e nas sugestões de ajustes posturais no<br />

trabalho sentado. Isso permite a definição de alguns princípios próprios para o<br />

projeto do posto de trabalho e desenvolvimento da tarefa.<br />

Para Kroemer e Grandjean (2005, p.33) “Em todas as atividades é necessário o<br />

exercício da força muscular com o máximo de eficiência com esforço mínimo”.<br />

2.6.2 A Postura Em Pé<br />

O trabalho em pé está, a princípio, condicionado á disposição do posto de<br />

trabalho. Segundo Couto (1996), o corpo humano deve trabalhar na vertical, pois<br />

nesta posição ele encontra seu melhor ponto de equilíbrio, com baixo nível de<br />

tensão dos músculos em geral.<br />

Ainda Couto (1996) recomenda que para valer este princípio algumas medidas<br />

devam ser tomadas. A saber:<br />

1. Adequar a altura das bancadas de trabalho da seguinte forma:<br />

• Para trabalhos pesados, bancada na altura do púbis;<br />

• Para trabalhos moderados, bancada na altura dos cotovelos (braços<br />

na vertical);<br />

• Para trabalhos leves, bancada a 30 cm dos olhos;<br />

• Para trabalhos de escrita, bancada ou mesa na altura da linha<br />

epigástrica.<br />

2. Quando o trabalho envolver mais de um tipo de tarefa, calcular pela tarefa que<br />

ocorrer por mais tempo;<br />

3. Na medida do possível, dotar o posto de trabalho de regulagem de alturas;<br />

4. Na dúvida entre instalar um equipamento mais alto ou mais baixo, instala-lo<br />

mais alto;<br />

5. Ao planejar um ambiente de trabalho, considerar os dados antropométricos da<br />

população trabalhadora.<br />

A força máxima no trabalho em pé, segundo Kroemer e Grandjean (2005, p.31)<br />

foi detalhadamente estudada por Rohmert em 1966 e Rohmert e Jenik (1970) e<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 42<br />

Walkim et al em 1950. Dos estudos de Rohmert em 1966 tiraram-se as seguintes<br />

conclusões:<br />

• Estando de pé, na maioria das posições do braço, a força de empurrar é maior<br />

do que a força de puxar.<br />

• As forças de empurrar e de puxar são maiores na posição vertical e menores<br />

na posição horizontal.<br />

• As forças de empurrar e de puxar são da mesma ordem de magnitude tanto se<br />

a posição do braço é estendido para os lados ou para frente do corpo (plano<br />

sagital).<br />

• A força de empurrar no plano horizontal é de 160 a 170N para homens e 80 a<br />

90N para mulheres.<br />

2.7 A Pesquisa Ergonômica<br />

A ergonomia contemporânea sugere métodos de análise de trabalho ou a<br />

Análise Ergonômica do Trabalho (AET) que prevê mecanismos de identificação de<br />

dores, desconforto e insatisfação do trabalhador.<br />

A identificação e o registro são as maiores dificuldades quando se trata de<br />

analisar e corrigir as más posturas do trabalho. Esse inconveniente levou alguns<br />

pesquisadores a proporem métodos práticos de registro e análise de postura que<br />

possam validar os resultados das pesquisas nessa área.<br />

O nascimento da ergonomia deu-se pela necessidade de apresentar soluções<br />

para os problemas originários de situações de trabalho que não condizem com a<br />

satisfação do trabalhador no momento da realização da tarefa.<br />

Em face à inicial falta de referencial teórico, os estudos ergonômicos se<br />

desenvolveram com base em experimentos, o que caracteriza uma atitude científica.<br />

Historicamente, a ergonomia surgiu a partir do desenvolvimento de duas<br />

correntes distintas: Uma com influências das ciências aplicadas, surgiu na Inglaterra<br />

em 1947 e concentra-se nas características físicas e psicológicas do homem. A<br />

outra se originou na França praticamente com a publicação do livro de A.<br />

Ombredane e J. Faverge, intitulado A Análise do Trabalho, em 1955, conforme<br />

Wisner (1994) e sem desconsiderar as características psicofisiológicas, dá<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 43<br />

importância para a análise da atividade do trabalhador, priorizando o processo do<br />

trabalho e o homem como elemento desse processo. A partir desta publicação, as<br />

características da tarefa deixam de ser descritas pela direção da organização e<br />

passam a ser pela análise da atividade do trabalho. Daí a recomendação de que<br />

uma análise ergonômica deve partir de um problema específico, identificado como<br />

efeito de uma situação ergonomicamente insatisfatória.<br />

Segundo Abrahão e Pinho (1999) os critérios de avaliação do trabalho são<br />

sustentados por três eixos:<br />

1. A segurança dos homens e equipamentos;<br />

2. A eficiência do processo produtivo;<br />

3. Bem estar dos trabalhadores nas situações de trabalho.<br />

A avaliação ergonômica visa confrontar as situações reais de trabalho com os<br />

conhecimentos em torno desses três eixos. Sendo assim, torna-se necessário a<br />

apreciação do modelo de trabalho, das características do trabalhador e da relação<br />

homem-trabalho na situação estudada.<br />

Afirma Wisner (1994) que o método experimental permitiu progressos<br />

espetaculares na concepção e no melhoramento das situações de trabalho. Em<br />

alguns casos, a observação do trabalho favorece a identificação e solução de<br />

problemas que tendem a afetar a saúde do trabalhador.<br />

No que se refere à análise de postura, diversos métodos foram desenvolvidos<br />

baseados em relatos e queixas de trabalhadores que apresentavam dores ou lesões<br />

musculoesqueléticas. A análise é feita com objetivo de identificar a origem do<br />

problema. Para tanto, todas as atividades devem ser observadas, independentes de<br />

serem atividades prescritas, imprevistas ou inconscientes por parte do indivíduo.<br />

(WISNER, 1994).<br />

2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET<br />

A ergonomia é uma área de conhecimento que estuda as relações entre o<br />

homem e o seu trabalho. Quanto à perspectiva, de acordo com a ação ergonômica<br />

pode dividir-se em ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção. A<br />

abordagem desse estudo está relacionada com a vertente de intervenção.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 44<br />

É inconcebível conduzir uma AET de todo um complexo industrial de grande<br />

porte, pois se trata de um meio a serviço de um laudo ou uma recomendação, no<br />

que se entende que há de haver um foco. Torna-se necessário a identificação de<br />

pontos problemáticos para então trabalhar-se caso a caso.<br />

2.7.1.1 Análise Macroscópica<br />

A análise macroscópica é geralmente a primeira análise feita, ocorre quando o<br />

ambiente problemático é visitado pelo pesquisador, que visualmente vai<br />

identificando determinados detalhes como má utilização de equipamentos,<br />

carregamentos de cargas pesadas, etc. ou através de questionários pouco<br />

detalhados. Devido à sua superficialidade, geralmente precisa ser completada com<br />

uma análise mais microscópica, onde o problema será visualizado mais<br />

detalhadamente. Neste contexto serão avaliadas posturas e suas conseqüências,<br />

métodos de trabalho, etc. inclusive os fatores ocultos, que não estão visíveis na área<br />

analisada, como horas extras, dados do ambulatório médico, revezamentos, etc.<br />

Não existe um padrão oficial de Relatório de AET, porém Couto (1996) sugere<br />

a seguinte seqüência:<br />

1.Introdução<br />

Justifica-se o porquê da análise naquela área.<br />

2.Explicitação dos objetivos da pesquisa;<br />

Descreve-se o que se pretende com a pesquisa.<br />

3.Descrição da tarefa;<br />

Detalha-se a tarefa realizada naquele ambiente.<br />

4.Descrição da metodologia da tarefa;<br />

5.Descrição dos resultados encontrados;<br />

6.Conclusões;<br />

7.Recomendações.<br />

Couto (1996) ainda recomenda atenção a cinco critérios essenciais a uma<br />

solução ergonomicamente correta:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 45<br />

1.Biomecânico: se a mecânica do ser humano funciona melhor na nova situação;<br />

2.Fisiológico: o indivíduo se cansa menos;<br />

3.Epidemiológico: ocorre redução de lesões na nova situação;<br />

4.Psicofísico: os trabalhadores aceitam bem a situação;<br />

5.Critério de produtividade: aumenta o rendimento;<br />

Tem-se que observar a reação do trabalhador, visto que, em geral, as<br />

recomendações em sua maioria alteram sua rotina de trabalho. O laudo deve relatar<br />

o que deve ser feito e o que não deve ser feito, utilizando clareza e objetividade. A<br />

bibliografia deve sempre ser apresentada, é ela que dá suporte técnico ao trabalho.<br />

Segundo Vidal (2001) o que caracteriza uma intervenção ergonômica é a<br />

construção que vai viabilizar a mudança necessária, e que possa inserir os<br />

resultados da ergonomia nas crenças e valores das organizações que as demandam<br />

e recebem seus resultados. Esta construção divide a intervenção e ocorre em etapas<br />

distintas:<br />

1.Instrução da demanda, conforme figura 5.<br />

2.Análise da atividade e dos riscos;<br />

3.Concepção de soluções ergonômicas;<br />

4.Implementação ergonômica.<br />

ANÁLISE DA ATIVIDADE E DOS RISCOS<br />

ERGONÔMICOS<br />

CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES<br />

ERGONÔMICAS<br />

IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÔES<br />

ERGONÔMICAS<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

INSTRUÇÃO DA DEMANDA<br />

CONTRATO PARA AÇÃO<br />

ERGONÔMICA<br />

ATALHO ILUSÓRIO -SOLUÇÃO PRONTA<br />

SOLUÇÃO ERGONÔMICA<br />

INCORPORADA À ORGANIZAÇÃO<br />

Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (Vidal, 2001)


Capítulo 2 Referencial Teórico 46<br />

A Figura 5 apresenta a instrução da demanda, que compreende todo o<br />

encaminhamento contratual da intervenção, desde o foco do problema, ajustes,<br />

levantamento de recursos humanos para formar a consultoria interna, etc.<br />

A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de<br />

coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as<br />

modelagens necessárias para promover mudanças no ambiente de trabalho.<br />

A implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção<br />

ergonômica.<br />

A AET é um instrumento de avaliação pontual, onde serão analisados<br />

problemas de forma individual, para proporcionar maior probabilidade das<br />

recomendações posteriores virem a ser implementadas com sucesso.<br />

Na avaliação da implementação de uma AET, Dul e Weerdmeester (1995)<br />

recomendam a utilização de uma lista de verificação, que deve ser preparada pelo<br />

próprio ergonomista, de acordo com as necessidades específicas. Também podem<br />

ser utilizadas listas já existentes, desde que atendam as seguintes finalidades:<br />

• Evitar o esquecimento de algum aspecto;<br />

• Prever problemas que podem surgir;<br />

• Medir efeitos da implementação;<br />

• Obter idéias ou soluções alternativas.<br />

Basicamente a AET é uma avaliação qualitativa, embora utilize dados<br />

quantitativos em suas análises. Consiste em uma seqüência de coletas de dados e<br />

informações que viabilizem as mudanças necessárias para a melhoria do ambiente<br />

de trabalho, contemplando a satisfação do trabalhador.<br />

2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET<br />

Os métodos analisados e comparados neste estudo são: O sistema OWAS de<br />

autoria de Karhu, Kansi e Kuorinka desenvolvido em 1977 (Iida, 2005), o diagrama<br />

de áreas dolorosas proposto por Corlett e Manenica em 1980 (Iida, 2005), o registro<br />

eletromiográfico e a lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester (1991) e o<br />

método RULA de análise da postura dos membros superiores.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 47<br />

Ainda que datem de épocas remotas, os métodos analisados ainda são<br />

utilizados com segurança nas AETs atuais.<br />

Essa comparação se fez necessária para definição dos métodos de registro e<br />

análise postural utilizados nesta pesquisa ergonômica com foco na postura do<br />

trabalhador.<br />

As vertentes prática e científica são características da pesquisa ergonômica. Os<br />

resultados práticos se traduzem nas mudanças implantadas nas organizações onde<br />

as intervenções são realizadas.<br />

Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão<br />

interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento (VIDAL, 2001). Neste caso,<br />

em ambas as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto a nível<br />

pessoal (trabalhador) como organizacional (empresa) refletindo na produtividade<br />

geral e poderão aportar futuras pesquisas enfocadas em trabalhadores de outras<br />

áreas.<br />

2.7.2.1 O Sistema OWAS<br />

O Ovako Working Posture Analysing System ou método OWAS, trata-se de um<br />

sistema prático de registro, é uma técnica de amostra que permite a análise dos<br />

dados posturais com os seguintes objetivos:<br />

• Para catalogar as posturas combinadas entre as costas, braços, pernas e<br />

forças exercidas e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo<br />

esquelético;<br />

• Para examinar o tempo relativo gasto em uma postura específica para cada<br />

região corporal e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo<br />

esquelético (GUIMARÃES E PORTICH, 2002).<br />

É possível obter os dados por observação direta ou por vídeo ou registro<br />

fotográfico (observação indireta) possibilitando a análise através do conhecimento<br />

do método pelo pesquisador ou usando os softwares específicos (Método<br />

WinOWAS).<br />

Segundo Iida (2005), é baseado em 72 posturas típicas que resultaram de<br />

diferentes combinações das posições do dorso (4 posições típicas), braços (3<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 48<br />

posições típicas) e pernas (7 posições típicas). Essas posturas são classificadas em<br />

quatro categorias:<br />

Classe 1 - Postura normal, que dispensa cuidados a não ser em casos excepcionais;<br />

Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos<br />

métodos de trabalho;<br />

Classe3 – Postura que deve merecer atenção em curto prazo;<br />

Classe 4 – Postura que deve merecer atenção imediata.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)<br />

A aplicação do sistema consiste em observar visualmente e registrar as<br />

posturas do trabalhador e confrontar com as posturas apresentadas na Figura 6<br />

atribuindo-lhe um código, que vai ser classificado de acordo com as categorias já<br />

mencionadas.<br />

2.7.2.2 Diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Manenica<br />

Esse diagrama facilita a localização de áreas dolorosas. Nele a imagem do<br />

corpo humano de costas está dividida em diversos segmentos e após a jornada de<br />

trabalho do trabalhador em foco, o pesquisador faz com que ele aponte as regiões<br />

onde sente dores.<br />

O índice de desconforto é classificado em 8 níveis, com variação de 0<br />

(extremamente confortável) a 7 (extremamente desconfortável). Com base na<br />

localização feita pelo trabalhador no diagrama apresentado na Figura 7, o


Capítulo 2 Referencial Teórico 49<br />

pesquisador pede que ele (o trabalhador) avalie subjetivamente o grau de<br />

desconforto de cada segmento apontado.<br />

Dessa forma, podem-se identificar máquinas, equipamentos e postos de<br />

trabalho que promovem maior desconforto postural.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte Iida (2005)<br />

Este método pode ser aplicado com ou sem auxílio de softwares específicos, o<br />

que pode vir a ser vantajoso em algumas situações de pesquisa. Utiliza-se de uma<br />

metodologia simples e não necessita de interrupção do trabalho na coleta de dados.<br />

Porém baseia-se exclusivamente na colaboração do trabalhador entrevistado, que<br />

pode vir a omitir ou aumentar alguma queixa.<br />

2.7.2.3 Registro Eletromiográfico<br />

Nesse método não há relatórios de observações subjetivas, o que atribuiria<br />

maior precisão e confiabilidade aos dados coletados. A atividade muscular é<br />

identificada através de registros eletrônicos, onde obtém-se gráficos denominados<br />

de eletromiogramas (EMG).


Capítulo 2 Referencial Teórico 50<br />

Tais registros são obtidos introduzindo-se eletrodos nos músculos do<br />

trabalhador, registrando a atividade elétrica dos mesmos. Segundo Iida (2005) esse<br />

método tem a vantagem de fornecer informações objetivas pelo registro direto da<br />

atividade muscular, mas tem a desvantagem de exigir um equipamento eletrônico<br />

relativamente dispendioso. Essa, portanto, não é considerada a maior desvantagem<br />

desse método, que apesar de preciso, despreza a espontaneidade da atividade. A<br />

inserção de eletrodos ou outros instrumentos e/ou equipamentos durante a<br />

realização da tarefa faz criar um cenário diferente do cotidiano do trabalhador, o que<br />

pode interferir na atividade, alterando os resultados da pesquisa.<br />

2.7.2.4 Método RULA<br />

Ou Análise Rápida dos Membros Superiores, foi desenvolvido por Mctamney e<br />

Corllet em 1993 para o uso em pesquisas ergonômicas de locais de trabalho<br />

centradas nos riscos dos membros superiores. Segundo seus idealizadores, este<br />

método não requer equipamento especial e oferece uma rápida análise das posturas<br />

de pescoço, tronco e membros superiores junto com a função muscular e a carga<br />

externa recebida pelo corpo.<br />

Com o propósito de investigar a exposição de trabalhadores aos fatores de<br />

risco associados às doenças dos membros superiores associadas ao trabalho, este<br />

método usa diagramas das posturas corpóreas, o que assegura que todas as<br />

posturas do corpo são observadas de forma que quaisquer posturas<br />

constrangedoras das pernas, tronco ou pescoço que possam influenciar as posturas<br />

dos membros superiores estão incluídas na avaliação.<br />

Dentre as vantagens do método estão: a não exigência de equipamentos<br />

especiais e a possibilidade de treinamento dos investigadores sem a necessidade de<br />

nenhum equipamento especial nem experiência profissional e a possibilidade da<br />

pesquisa ser feita sem a interrupção do trabalho.<br />

Sua desvantagem consiste no fato de ser específico para análise de membros<br />

superiores, mesmo trabalhando com observações do corpo como um todo, necessita<br />

a associação com outros métodos para análise do corpo humano.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 51<br />

2.7.2.5 Lista de Verificação Proposta por Dul e Weerdmeester<br />

Na avaliação de posturas e movimentos, Dul e Weerdmeester (1995) sugerem<br />

uma lista de questionamentos que o pesquisador irá responder ao observar o<br />

trabalhador em atividade em seu posto de trabalho. São contempladas as bases<br />

biomecânicas, fisiológicas e antropométricas. Trata-se de uma seqüência de 64<br />

perguntas classificadas de acordo com seu foco: Biomecânica (9 questões),<br />

Fisiologia (2 questões), Antropometria (2 questões).<br />

A postura subdivide-se em: trabalho sentado (10 questões), trabalho em pé (7<br />

questões), mudança de postura (4 questões), postura de mãos e braços (7<br />

questões). Os movimentos subdividem-se em: Levantamento de pesos (10<br />

questões), transporte de cargas (6 questões), puxar e empurrar cargas (5 questões).<br />

Embora abrangente, a lista de verificação é parte de uma AET onde<br />

prevalecerão as conclusões técnicas do pesquisador a partir da observação direta<br />

do trabalhador e seu posto de trabalho. Não é um questionamento feito ao<br />

trabalhador, não são consideradas as queixas ou reclamações do elemento em foco.<br />

Nesse tipo de análise corre-se o risco de desconhecer alguma informação<br />

importante, ao desprezar a intervenção do trabalhador. Vale como cheklist, porém<br />

insuficiente para localizar e corrigir problemas posturais.<br />

Em vista da natureza da pesquisa ergonômica voltada para a identificação e<br />

localização de posturas inadequadas decorrentes de algumas atividades em função<br />

das tarefas na produção, verificou-se que o uso isolado de qualquer um dos<br />

métodos citados acarretará em insuficiência de informações para a validação dos<br />

resultados do estudo.<br />

A lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester não se mostrou<br />

eficiente para este tipo de estudo, mas pode complementar as informações obtidas<br />

com a associação dos métodos do Sistema OWAS, do Diagrama de áreas dolorosas<br />

de Corlett e Manenica e do método RULA, onde o primeiro classificaria as posturas<br />

de acordo com as categorias propostas pelo método e os outros viriam a confirmar<br />

tal disposição, localizando e classificando o nível de dor e desconforto resultante<br />

daquela atividade. Com base nessas informações podem-se propor alterações em<br />

máquinas, equipamentos e postos de trabalho, além da própria postura do<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 52<br />

trabalhador. Este é, portanto, o procedimento sugerido por este estudo para a coleta<br />

de dados referentes à análise postural.<br />

2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Carvão Vegetal<br />

Este estudo é dirigido ao segmento de produção do carvão vegetal, sendo que<br />

esta análise se reporta ao processo de fabricação do carvão através da<br />

carbonização com utilização de cilindros metálicos para a obtenção do produto.<br />

Com a pesquisa procura-se avaliar as vantagens em torno da saúde do<br />

trabalhador com foco específico na questão postural, visto que segundo a literatura,<br />

o processo oferece vantagens sobre produtividade (no que tange o maior<br />

aproveitamento da matéria prima) e sobre a questão ambiental.<br />

2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacional<br />

O carvão vegetal é um produto de importância relevante para a economia<br />

nacional. Segundo Guimarães Neto (2005), em 2003 o Brasil foi o maior produtor e<br />

maior consumidor mundial do carvão vegetal, chegando a consumir 29.202 milhões<br />

de mdc (metros cúbicos de carvão) aqui produzidos.<br />

Desse consumo, 23.608 milhões de mdc foram utilizados somente na produção<br />

do ferro gusa. Esses números evidenciam a importância da produção do carvão<br />

vegetal no contexto econômico brasileiro. Em grande parte, carvão vegetal do Brasil<br />

é produzido em carvoarias de alvenaria a céu aberto em fornos do tipo “rabo-quente”<br />

sem condições favoráveis à saúde do trabalhador.<br />

Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância para o país,<br />

que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.<br />

2.9.1 Método Convencional<br />

Estudos como de Dias et al (2002) e Pimenta et al (2005) comprovam que a<br />

produção de carvão vegetal através da carbonização com utilização de fornos tipo<br />

“rabo-quente” apresenta inúmeros prejuízos à saúde do trabalhador. As condições<br />

muitas vezes subumanas de trabalho chegam a envolver além de homens e<br />

mulheres capazes, crianças e idosos, que movidos pela necessidade de<br />

sobrevivência se deixam explorar pelas empresas carvoeiras.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 53<br />

A observação direta do ambiente de trabalho na carvoaria faz perceber as<br />

precárias condições a que os trabalhadores são submetidos.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Todos os sentidos do observador são tocados ao se aproximar de<br />

uma carvoaria. Em um local plano, escolhido por exigência do<br />

processo em meio à mata, depara-se com a fileira de fornos<br />

semelhantes a iglus envolvidos pela fumaça, cujo cheiro forte faz<br />

arder os olhos e impregna tudo e todos ao redor. Pilhas de madeira<br />

esperam a vez de ir para o forno e montes de carvão, às vezes,<br />

ainda fumegantes, pelo ensacamento. Os trabalhadores, geralmente<br />

seminus, têm o corpo coberto pela fuligem e deles, muitas vezes,<br />

somente se vêem os olhos e os dentes (DIAS et al. 2002).<br />

Nos meses de março a junho de 2003, Pimenta et al (2005) desenvolveram<br />

uma pesquisa no ambiente de trabalho da produção de carvão vegetal em bateria de<br />

fornos de superfície do tipo "rabo-quente”, em uma empresa localizada no Estado de<br />

Minas Gerais. Tal pesquisa concluiu que, dentre outros aspectos, a dor é fator<br />

constante na vida de alguns daqueles trabalhadores.<br />

Na análise de dados sobre a saúde dos trabalhadores, 40% dos entrevistados<br />

queixaram-se de dores pelo corpo e 30% sentem muito cansaço físico após a<br />

jornada de trabalho.<br />

Do total dos trabalhadores analisados que apresentaram alguma queixa de dor,<br />

25% sentem dores localizadas na coluna, 5% sentem dores na cabeça, 5% nos<br />

braços, 5% nas pernas e 55% em outras localizações no corpo. Sem que essas<br />

queixas viessem a causar problemas ao ponto de ser motivo de absenteísmo<br />

registrado na empresa (PIMENTA et al, 2005). Essa realidade é reproduzida por<br />

todo país, pois segundo Dias et al, (2002), as etapas da produção do carvão pelo<br />

método de carbonização em fornos tipo “rabo-quente” envolve o mesmo<br />

procedimento em quase todas as regiões em que é adotado.<br />

A etapa inicial dá-se pelo enchimento do forno, onde o trabalhador executa as<br />

seguintes tarefas: (a) preparação do forno para a queima; (b) transporte manual da<br />

madeira estocada na área externa até a porta do forno já preparado; (c) transporte<br />

manual da madeira empilhada da porta do forno até o interior deste; (d) enchimento<br />

do forno, organizando cuidadosamente as madeiras; (e) fechamento do forno.


Capítulo 2 Referencial Teórico 54<br />

“Durante a operação de enchimento do forno, o trabalhador assume posturas<br />

penosas. Ele sobe e permanece sobre a pilha de toras de madeira e as lança ao<br />

solo, o mais próximo possível da entrada do forno” comenta Dias et al (2002). Já<br />

nessa primeira etapa percebe-se a gravidade da falta de organização do trabalho,<br />

que expõe o trabalhador a risco de acidentes e a tarefas que envolvem esforço físico<br />

e repetitivo.<br />

A segunda etapa envolve a carbonização, quando o trabalhador denominado<br />

carbonizador supervisiona o processo, no mínimo de hora em hora pelo tempo da<br />

carbonização que é de aproximadamente três dias. A responsabilidade nesse<br />

procedimento é grande, pois dele depende a qualidade do produto.<br />

Em seguida dá-se a retirada do carvão do forno, que feita com as seguintes<br />

etapas: (a) quebra da parede do forno, na abertura anterior, que fora vedada com<br />

barro; (b) transferência do carvão da parte interna para a “grade” colocada na porta<br />

do forno; (c) transporte da “grade” contendo o carvão, da porta do forno para a área<br />

externa, e derramamento deste no solo. A partir daí ocorre o ensacamento e<br />

transporte manual das sacas até os caminhões.<br />

Em todas as etapas do processo de produção do carvão vegetal estão<br />

presentes o esforço físico excessivo e o trabalho em posições forçadas, Dias et al<br />

(2002) afirma que “em 41 minutos e 24 segundos, o trabalhador transportou cerca de<br />

7.357 kg para encher o forno, realizando movimentos repetitivos de torção e flexão<br />

do tronco”. E a situação se agrava na etapa de retirada do carvão, quando o esforço<br />

físico desprendido soma-se à repetitividade de movimentos, à diversidade de<br />

temperaturas a que o trabalhador é submetido e às condições mínimas de higiene e<br />

conforto.<br />

Ainda é Dias et al (2002) que afirma: “Os problemas lombares aparecem como<br />

a segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,<br />

sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o<br />

trabalho”. O que aponta para o desalinhamento entre as condições biomecânicas<br />

favoráveis para a execução da tarefa e as condições reais a que esses<br />

trabalhadores são submetidos.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 2 Referencial Teórico 55<br />

2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros Metálicos Verticais<br />

A pesquisa constatou que o processo produtivo adotado nesse método oferece<br />

diferentes condições de trabalho aos empregados em relação ao método que adota<br />

fornos convencionais.<br />

A constante vigilância dos fornos para a medição do tempo correto de queima,<br />

feita normalmente pelos carvoeiros nos fornos convencionais do tipo “rabo quente”,<br />

os expõe ao calor e à fumaça constantemente além de obrigá-los a permanecer no<br />

posto por horas seguidas, inclusive durante a noite.<br />

Na carbonização em cilindros metálicos, essa tarefa conta com termopares<br />

(espécie de termômetro) implantados dentro dos cilindros, que transmitem para um<br />

computador a temperatura exata dentro dos fornos. O método conta também com<br />

um sistema mecanizado de descarga do carvão, para que não seja necessário que o<br />

operador entre nos fornos para retirar o material.<br />

A redução de emissão de resíduo o caracteriza como um sistema produtivo de<br />

produção mais limpa (PmaisL) porém a literatura que trata dessa técnica tem<br />

abrangência restrita às condições ambientais, não contemplando a saúde do<br />

trabalhador.<br />

Por tratar-se de um método produtivo há pouco tempo utilizado, ainda não é<br />

conhecida a realidade sobre a saúde do trabalhador na carbonização em cilindros<br />

metálicos verticais.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 56<br />

3 METODOLOGIA<br />

Este capítulo tem o objetivo de expor o método adotado na pesquisa para<br />

coleta e análise de dados como base científica para o estudo. O trabalho trata-se de<br />

uma pesquisa ergonômica com enfoque biomecânico específico nas posturas<br />

adotadas pelo trabalhador da produção do carvão vegetal em cilindros metálicos<br />

verticais. Pesquisar, segundo Silva e Meneses (2001, p. 19) “é procurar respostas<br />

para indagações propostas”.<br />

Para Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa é um procedimento formal, com<br />

método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui<br />

no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.<br />

Estes autores ainda sugerem que o planejamento da pesquisa seja feito a partir<br />

da elaboração de quatro momentos distintos: a preparação da pesquisa, a<br />

determinação das fases da pesquisa, da execução da pesquisa e, finalmente, o<br />

relatório da pesquisa, com os resultados, se possível, com detalhes para que<br />

possam alcançar sua relevância.(LAKATOS E MARCONI, 2001)<br />

“O método utilizado para esta pesquisa foi o método indutivo, pois nesse<br />

método, a generalização deriva de observações de casos de realidade concreta”<br />

(SILVA E MENESES, 2001, p.26). Através da observação das posturas adotadas<br />

pelos trabalhadores em execução da tarefa, a pesquisa avaliou se a empresa que<br />

utiliza o método produtivo de carvão vegetal em cilindros metálicos adota um<br />

processo produtivo que não agride a natureza humana no que diz respeito aos<br />

limites biomecânicos posturais dos trabalhadores.<br />

Esta pesquisa quanto à natureza é aplicada, de acordo com Silva e Meneses<br />

(2001), por gerar conhecimentos para aplicação prática dirigido à solução de<br />

problemas especificamente ergonômicos posturais.<br />

Quanto a forma de abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa. Trata<br />

da relação entre o trabalhador e o trabalho que executa. O foco da investigação é a<br />

atitude postural do homem em função da sua tarefa.<br />

Ainda segundo Silva e Meneses (2001), a pesquisa qualitativa é descritiva, a<br />

fonte direta para a coleta de dados é o ambiente natural em que se desenvolve o<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 57<br />

processo. Dessa forma, a coleta dos dados para a análise do processo nesta<br />

pesquisa desenvolveu-se no setor de produção de uma empresa que produz carvão<br />

vegetal em cilindros metálicos verticais.<br />

Os problemas biomecânicos posturais foram apontados a partir da observação<br />

do pesquisador, através da interpretação dos fenômenos de acordo com seus<br />

conhecimentos e do marco teórico adotado. Nesta forma de abordagem considera-<br />

se que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito da pesquisa, de<br />

acordo com Silva e Meneses (2001).<br />

Para este estudo, entende-se essa relação dinâmica como a interação homem-<br />

máquina-tarefa, onde o sujeito da pesquisa é o homem e o mundo real está<br />

relacionado com o seu posto de trabalho, composto pelas máquinas e equipamentos<br />

que opera e, especificamente, pela tarefa que executa. Através do estudo de como<br />

se desenvolve a integração neste sistema, foi feita a identificação da existência ou<br />

não de problemas biomecânicos posturais no método produtivo em questão.<br />

Quanto aos seus objetivos, é uma pesquisa descritiva. Visa descrever as<br />

características das posturas adotadas pelos trabalhadores do método produtivo já<br />

citado e envolvem técnicas padronizadas de coleta de dados como questionários,<br />

formulários e observação sistemática, próprias da pesquisa ergonômica.<br />

3.1 O estudo de caso<br />

O estudo de caso é uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciência<br />

social, e segundo Yin (2005, p.19) “é a estratégia preferida pelos estudiosos quando<br />

se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco<br />

controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos<br />

contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real”.<br />

Nesta pesquisa, a estratégia do estudo de caso foi escolhida por tratar-se de<br />

um estudo em torno de um fenômeno que se desenvolve em uma empresa, cujo<br />

processo produtivo atende aos critérios legais de sustentabilidade e<br />

desenvolvimento e tende a ser adotado por empresas do segmento carvoeiro<br />

brasileiro.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 58<br />

3.2 Análise Ergonômica do Trabalho<br />

A pesquisa ergonômica está condicionada a uma metodologia específica desta<br />

área de conhecimento. A AET é um conjunto de procedimentos metodológicos com<br />

intuito de analisar, diagnosticar e corrigir uma situação real de trabalho, segundo Iida<br />

(2005) e está dividida em três fases observadas e aplicadas na obtenção de<br />

resultados mais interessantes à pesquisa: análise da demanda; análise da tarefa e<br />

análise das atividades.<br />

3.2.1 Análise da demanda<br />

Neste caso, a pesquisa trata-se de demanda externa, uma vez que sua origem<br />

parte de uma proposta acadêmica e não de uma necessidade identificada pela<br />

empresa. O estudo das posturas adotadas na execução da tarefa de produzir o<br />

carvão vegetal em cilindros verticais parte da necessidade de verificar se as<br />

alternativas produtivas sustentáveis contemplam também a saúde do trabalhador (no<br />

que tange a biomecânica), agregando valor à organização e produzindo diferencial<br />

competitivo.<br />

3.2.2 Análise da tarefa<br />

Consiste basicamente na análise das condições de trabalho na organização.<br />

Dados como: tipos de trabalho (com exigências físicas ou cognitivas), ritmos,<br />

horários ou cargas foram avaliados conforme a finalidade da pesquisa.<br />

itens:<br />

Neste caso, como se trata de uma pesquisa biomecânica foram avaliados os<br />

• Posto de trabalho;<br />

• Horários e ritmos de trabalho;<br />

• Cargas (kg) a que são submetidos os trabalhadores.<br />

O início da pesquisa na empresa ocorreu com a identificação das etapas do<br />

processo produtivo do carvão vegetal em fornos cilíndricos verticais de maior<br />

exigência postural e quais funções no processo produtivo são mais acometidas por<br />

lesões, dores ou incômodos musculoesqueléticos.<br />

Através de registros fotográficos e filmagens foram avaliadas as relações dos<br />

móveis, máquinas e equipamentos com os trabalhadores em estudo.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 59<br />

A pesquisa antropométrica é importante na determinação de aspectos<br />

relacionados às dimensões do posto de trabalho no sentido de que o trabalhador<br />

mantenha uma boa postura. As variações de alcances, alturas e movimentos exigem<br />

uma análise da relação métrica entre o homem e as máquinas, móveis e<br />

equipamentos em seu posto de trabalho, essa relação pode ser determinante para a<br />

postura adequada.<br />

3.2.3 Análise das atividades<br />

Segundo Santos e Fialho (1997), um método de análise das atividades de<br />

trabalho pode ser definido como um conjunto de meios e procedimentos práticos de<br />

análise que permitem dar um conteúdo às categorias de um modelo. Neste sentido,<br />

cada método de análise ergonômica corresponde a um objetivo.<br />

Um dos princípios da pesquisa ergonômica é a descrição do real (atividades<br />

desenvolvidas pelo homem na execução da tarefa). Assim, a determinação de<br />

métodos e técnicas de análise deve ser relativa a determinadas situações de<br />

trabalho e permitir a obtenção de resultados concretos.<br />

O método de análise aplicado consistiu em conhecer os aspectos<br />

fundamentais da biomecânica do trabalho: os movimentos, o conteúdo, o tempo e o<br />

processo do trabalho.<br />

Na empresa pesquisada, foi observada a população de trabalhadores da<br />

produção do carvão vegetal. Foram observados três grupos de operadores de<br />

carbonização, cada grupo composto de quatro trabalhadores que se revezam por<br />

turnos de trabalho. A pesquisa enfocou o aspecto biomecânico da execução da<br />

tarefa. Para tanto foram identificados os movimentos e tempos de execução. Os<br />

movimentos foram fragmentados em posturas (seqüenciais) e tempos de<br />

permanência. Assim, a partir da identificação destes aspectos pôde-se ter uma idéia<br />

global do conteúdo e do processo de trabalho.<br />

As atividades sem predominância de exigência postural, observadas pelo<br />

pesquisador, foram suprimidas da pesquisa.<br />

WinOwas.<br />

A análise se deu a partir do método OWAS com aplicação do software<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 60<br />

3.2.3.1 A análise através do método OWAS:<br />

A identificação das tarefas pesquisadas partiu, a princípio, da observação<br />

macroscópica onde os postos de trabalho foram observados diretamente pelo<br />

pesquisador. As conclusões oriundas da aplicação do método OWAS têm origem na<br />

observação (feita pelo pesquisador) do trabalhador em seu posto de trabalho, em<br />

execução da tarefa. Esta etapa consistiu na observação direta com registros de<br />

imagens por filmagens e fotografias para análise comparativa subseqüente.<br />

Na seqüência, os trabalhadores, cuja postura foi classificada na observação<br />

macroscópica como merecedora de atenção, foram entrevistados e, com base no<br />

Diagrama de Corlett e Manenica deveriam ser localizados dor e desconforto e em<br />

que nível se manifestam. Esse instrumento, portanto, não se mostrou eficaz na<br />

identificação de distúrbios musculoesqueléticos. Em sua totalidade, a população<br />

pesquisada não apresentou dores, desconforto, constrangimentos ou lesões<br />

musculoesqueléticas mesmo admitindo dificuldade em algumas posturas.<br />

No decorrer da pesquisa foram utilizados instrumentos como formulários<br />

respondidos pelos trabalhadores; formulários respondidos pelo pesquisador com<br />

base em suas observações; o registro de imagens e a comparação das posturas<br />

registradas com as referenciadas no método através do software WinOwas.<br />

Essas etapas da pesquisa identificaram e localizaram os efeitos da má postura.<br />

Ainda que a postura seja uma atitude do trabalhador, muitas vezes é derivada<br />

da organização do posto de trabalho. As conseqüências dos problemas posturais<br />

quase sempre se manifestam com a repetição por tempo prolongado das ações<br />

posturais incorretas. Algumas situações só são percebidas com mais de um ano de<br />

persistência no erro.<br />

A pesquisa de campo ocorreu em uma empresa carvoeira que utiliza o método<br />

de carbonização em cilindros metálicos verticais na obtenção do carvão vegetal<br />

Por tratar-se de um método produtivo de utilização recente, não existem<br />

registros de históricos médicos relevantes na empresa que contribuam com este<br />

estudo. A pesquisa de campo aconteceu entre os meses de setembro e outubro de<br />

2006, quando a empresa tinha aproximadamente sete meses de funcionamento. A<br />

figura 8 representa o croquis da planta industrial adotada na empresa pesquisada,<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 3 Metodologia 61<br />

adotada também em outras empresas que utilizam o mesmo método na produção do<br />

carvão.<br />

Trilho da ponte móvel<br />

Silo 1<br />

Silo 2<br />

Trilho da ponte móvel<br />

Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização<br />

Para demonstração mais clara e objetiva da estrutura adotada no<br />

desenvolvimento deste projeto é apresentado na Figura 9 o fluxograma de<br />

desenvolvimento da pesquisa, que demonstra a conexão entre o problema da<br />

pesquisa, as variáveis e objetivos propostos.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Câmaras de carbonização<br />

Carregamento dos cilindros<br />

Resfriamento dos cilindros Local de descarga de lenha<br />

escritório


Capítulo 3 Metodologia 62<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO<br />

Condições Ergonômicas de Trabalho<br />

Organização do trabalho Humanização do trabalho<br />

Produtividade<br />

PROBLEMA: Quais as condições posturais dos trabalhadores na produção do carvão<br />

vegetal em cilindros metálicos verticais?<br />

Independente:<br />

Condições<br />

Ergonômicas<br />

Saúde do<br />

Trabalhador<br />

VARIÁVEIS<br />

OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

REFERENCIAL TEÓRICO<br />

ERGONOMIA<br />

INSTRUMENTO DE PESQUISA<br />

Dependente:<br />

Saúde do<br />

trabalhador<br />

OBJETIVO GERAL: Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de<br />

carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.<br />

Verificar a incidência de dores e/ou<br />

lesões musculoesqueléticas nos<br />

trabalhadores, associadas a<br />

atividade profissional e diagnosticar<br />

as condições posturais de trabalho<br />

requerida pela tarefa.<br />

Interveniente:<br />

Método de produção do<br />

Carvão Vegetal<br />

Relacionar as posturas<br />

adotadas pelos<br />

trabalhadores com as<br />

do sistema de análise<br />

de posturas.<br />

Avaliar a carga (kg) a<br />

que são submetidos os<br />

trabalhadores em<br />

exercício de suas<br />

tarefas diárias.<br />

Produção de<br />

Carvão Vegetal<br />

Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007)<br />

Oferecer recomendações<br />

ergonômicas, visando a<br />

minimização ou erradicação<br />

dos sofrimentos lombares e<br />

constrangimentos posturais.


Capítulo 3 Metodologia 63<br />

Instrumento de Pesquisa - Fluxograma do Método de Pesquisa<br />

Visita à empresa – Observação macroscópica<br />

É observada a<br />

má postura no<br />

trabalho?<br />

NÃO<br />

O trabalho é<br />

feito em linha<br />

de produção?<br />

NÃO<br />

NÃO<br />

É feito junto a<br />

máquina ou<br />

bancada?<br />

Envolve manuseio,<br />

levantamento e<br />

carregamento de<br />

carga ?<br />

SIM<br />

SIM<br />

SIM<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

SIM<br />

Diagrama de<br />

Corlett e Manenica<br />

NÃO<br />

6- Roteiro de avaliação do posto<br />

de trabalho<br />

7- Avaliação<br />

do risco de<br />

lombalgias<br />

RULA<br />

SIM<br />

DOR<br />

SIM<br />

OWAS<br />

Envolve muitos<br />

movimentos dos<br />

membros<br />

superiores?<br />

NÃO Não<br />

Avaliação dos Resultados<br />

Más condições posturais Boas condições posturais<br />

Sugestões de adequação<br />

ergonômica<br />

AÇÃO<br />

O MÉTODO ATENDE ÀS EXIGÊNCIAS<br />

ERGONÔMICAS<br />

Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Avaliação Postural. Adaptado de Couto<br />

(1996)


Capítulo 4 Análises e Discussões 64<br />

4 ANÁLISES E DISCUSSÕES<br />

Este capítulo apresenta as análises dos dados coletados durante a pesquisa<br />

em uma empresa do segmento produtivo de carvão vegetal através do método de<br />

carbonização em cilindros metálicos verticais. A coleta dos dados ocorreu a partir de<br />

observação e registro de imagens, entrevistas e aplicação de formulários específicos<br />

da pesquisa ergonômica, como o diagrama de áreas dolorosas proposto por Corlett<br />

e Manenica. O método utilizado na análise dos dados foi o Sistema OWAS (Ovako<br />

Working Analysis System) através da aplicação do software WinOwas.<br />

Na pesquisa foram observados três grupos compostos por quatro<br />

trabalhadores cada, que trabalham em alternância de turnos e mantêm a produção<br />

ininterrupta. Observou-se que a população pesquisada é caracterizada por<br />

trabalhadores do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 31 anos, alfabetizados,<br />

com grau de instrução entre curso fundamental incompleto e curso médio<br />

incompleto. Todos os trabalhadores têm jornada de trabalho de seis horas, com<br />

intervalo de 15 minutos após as três primeiras e intervalo de 2h para as refeições e<br />

estão a serviço da empresa no cargo de operador de carbonização desde fevereiro<br />

de 2007, o que corresponde a sete meses de atividades até o período da pesquisa.<br />

Os resultados das análises são apresentados em três abordagens: a primeira<br />

avalia os resultados das análises dos eventos posturais individuais localizados, a<br />

partir das atividades identificadas como propensas a risco biomecânico. O<br />

referencial teórico adotado no estudo forneceu subsídios para a esta identificação,<br />

feita a partir de observação direta. Na seqüência, são apresentadas as análises e<br />

discussões dos resultados por categoria de classificação do método e finalmente,<br />

são discutidos os resultados por atividades exercidas, que por sua vez estão<br />

divididas em subatividades.<br />

4.1 O Processo Produtivo em Estudo<br />

A carbonização da madeira em cilindros verticais para a produção do carvão<br />

vegetal, atende a seguinte seqüência de tarefas:<br />

1. Descarga da lenha;<br />

2. Abastecimento de Lenha na Praça de carbonização;<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 65<br />

3. Posicionamento do Cilindro para carregamento;<br />

4. Carregamento do Cilindro;<br />

5. Fechamento do cilindro;<br />

6. Posicionamento do cilindro em espera;<br />

7. Ignição da câmara de carbonização;<br />

8. Enfornamento do cilindro;<br />

9. Carbonização;<br />

10. Verificação da carbonização;<br />

11. Desenfornamento do Cilindro;<br />

12. Resfriamento do Cilindro;<br />

13. Posicionamento Descarga do Cilindro;<br />

14. Seleção do produto;<br />

15. Retirada do tiço;<br />

16. Limpeza da Praça de Carbonização.<br />

No início da pesquisa na empresa foram identificadas as funções com maior<br />

exigência postural nas etapas do processo produtivo e quais funções dentro da<br />

empresa são acometidas por riscos de lesões, dores ou incômodo<br />

musculoesqueléticos. Esta identificação foi feita através de observação direta e<br />

registros de imagens por fotografias e filmagens. Na avaliação, o diagrama de Áreas<br />

Dolorosas de Corlett e Manenica não manifestou registro de desequilíbrio<br />

biomecânico em toda a população estudada.<br />

Avaliadas as tarefas, foram identificadas as de maior exigência postural, as<br />

quais encontram-se ilustradas na seqüência de figuras 11 a 15:<br />

• Carregamento do cilindro;<br />

• Ignição da câmara;<br />

• Verificação das câmaras de carbonização;<br />

• Seleção do carvão;<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 66<br />

• Limpeza da praça;<br />

Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

...................<br />

Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão<br />

Figura 15 - Limpeza da praça<br />

4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da praça de carbonização<br />

Na pesquisa, foi observado o desempenho biomecânico de três equipes de<br />

trabalhadores entre as quatro que atuam diretamente na produção do carvão vegetal<br />

em cilindros metálicos verticais.<br />

Ainda que todos os trabalhadores estejam registrados na empresa com a<br />

mesma função, um deles desempenha o papel de líder da equipe, organizando a


Capítulo 4 Análises e Discussões 67<br />

produção e operando o equipamento que permite o transporte de grandes cargas<br />

em toda a extensão da planta. Assim, podemos identificar dois papéis para os<br />

trabalhadores na praça de carbonização: líder de equipe e operador de<br />

carbonização.<br />

• Líder de equipe<br />

Esse elemento tem a responsabilidade fundamental de manter o desempenho<br />

da equipe durante o turno de trabalho. Além disso, também estão sob sua<br />

responsabilidade: o monitoramento dos fornos e cilindros em relação ao peso,<br />

temperatura e tempo de carbonização (permanência do cilindro no forno), além da<br />

colocação dos cilindros nos fornos, sua retirada, o derramamento do carvão do<br />

cilindro no silo e o carregamento do caminhão carvoeiro. Observa-se então que esse<br />

elemento sofre forte exigência mental oriunda do conteúdo do trabalho. Segundo<br />

Iida (2005), uma das maiores causas de estresse do trabalho é a pressão para<br />

manter um determinado ritmo de produção.<br />

Observou-se que a natureza da atividade exige da equipe constante atenção<br />

para evitar a carbonização da lenha além do tempo previsto fora do forno, que pode<br />

levar ao incêndio e desperdício da produção. Tal fator exige do líder atenção<br />

constante e decisão rápida no controle dos imprevistos.<br />

O trabalho biomecânico do líder é parcialmente estático, em pé. Porém,<br />

periodicamente ele percorre, andando, toda a extensão da planta de produção.<br />

Segundo Kroemer e Grandjean (2005, p. 15), “o trabalho estático caracteriza-se por<br />

um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente implica um<br />

trabalho de manutenção da postura”. Ao andar, o trabalhador passa a desempenhar<br />

esforço dinâmico, quando os músculos recebem um grande afluxo de sangue,<br />

agindo como uma bomba na circulação sanguínea. Estudos de autores como Dul e<br />

Weerdmeester (1995), Iida (2005) e Kroemer e Grandjean (2005) afirmam que a<br />

alternância entre trabalho estático e dinâmico propicia equilíbrio biomecânico à<br />

atividade.<br />

Observou-se na pesquisa que o líder executa tarefas não caracterizadas por<br />

levantamento de cargas nem por movimentos repetitivos.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 68<br />

• Operadores de Carbonização<br />

Os demais trabalhadores da equipe de produção se dividem em tarefas<br />

peculiares ao método produtivo em estudo. Dentre as tarefas observadas, as<br />

identificadas como de maior exigência postural foram o carregamento do cilindro<br />

metálico, a verificação da carbonização, a ignição da câmara, a seleção do carvão e<br />

a limpeza da praça de carbonização. Essas tarefas, segundo o marco teórico<br />

adotado neste estudo, apresentam situações de comprometimento biomecânico em<br />

alguns eventos posturais.<br />

A seguir, as descrições das tarefas e das atividades correspondentes:<br />

Tarefa 1: Carregamento do cilindro metálico com lenha de forma organizada.<br />

Observou-se na pesquisa que em cada equipe são destacados dois elementos<br />

com a tarefa de carregar os cilindros com lenha para a carbonização A execução<br />

desta tarefa ocorre de três diferentes formas pelas duplas de trabalhadores. Neste<br />

estudo, emprega-se a denominação de atividades às formas de execução da tarefa:<br />

1.1 O carregamento do cilindro com auxílio do carrinho;<br />

1.2 O carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho;<br />

1.3 O carregamento do cilindro com atividades alternadas.<br />

Foram observados e registrados os carregamentos de 10 cilindros, com tempo<br />

médio de 1h05min, conforme a Tabela 3.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro<br />

CARREGAMENTO DO<br />

CILINDRO<br />

INÍCIO FIM TEMPO<br />

09:20 10:32 01:12<br />

08:40 09:50 01:10<br />

10:42 11:40 00:58<br />

14:43 15:45 01:02<br />

16:20 17:34 01:14<br />

20:47 21:45 00:58<br />

22:02 23:01 00:59<br />

23:13 00:11 00:58<br />

00:33 01:48 01:15<br />

03:25 04:30 01:05<br />

MÉDIA 01:05


Capítulo 4 Análises e Discussões 69<br />

Análise da Tarefa: Carregamento do cilindro<br />

O cilindro metálico deve ser completamente preenchido com lenha em duas<br />

camadas, organizadas de tal forma que comporte o maior volume de madeira possível.<br />

Durante o carregamento, o cilindro fica posicionado horizontalmente, acomodado em<br />

uma base que o mantém imóvel.<br />

O cilindro metálico apresenta as seguintes características:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 16 – Características do cilindro<br />

Diâmetro: 240 cm<br />

Profundidade: 280 cm<br />

Descrição da atividade 1.1 - O carregamento do cilindro com auxílio do<br />

carrinho:<br />

Observou-se durante a pesquisa que esta atividade se desenvolve a partir de<br />

três ações:<br />

240<br />

1.a – Carregar o carrinho transportador;<br />

1.b - Transportar a lenha no carrinho para o local onde se encontra o cilindro;<br />

1.c - Transferir a lenha do carrinho para o cilindro – carregamento do cilindro.<br />

As subatividades 1.a e 1.b juntas compreendem um tempo médio de execução<br />

de 12 min, tempo esse que varia de acordo com a localização da lenha a ser<br />

recolhida. Quando o caminhão basculante descarrega a lenha em local mais distante<br />

do cilindro, a tarefa chega a ser realizada em 16 min.<br />

Nessa operação, observou-se que o trabalhador submete-se ao esforço<br />

biomecânico em dois momentos:<br />

a) Ao recolher a lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça. Não torna a<br />

flexioná-la para colocar a tora no carrinho porque ele a joga.<br />

280


Capítulo 4 Análises e Discussões 70<br />

b) No carregamento do cilindro, o trabalhador flexiona a coluna para pegar a<br />

peça no carrinho e com a coluna na posição vertical ele a arremessa.<br />

Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do<br />

trabalhador<br />

A seqüência de movimentos demonstrada na Figura 17 corresponde às<br />

posturas assumidas por um trabalhador no carregamento do carrinho. O tempo<br />

médio desta seqüência de movimentos é 3,8 s. Observa-se que ocorrem torção e<br />

flexão dorsal do trabalhador ao pegar a peça de madeira. A colocação sobre o<br />

carrinho ocorre com o dorso e pernas eretos.<br />

Na subatividade do transporte da lenha até o cilindro, o trabalhador empurra o<br />

carrinho carregado até o destino. Segundo relato dos trabalhadores, o esforço<br />

exercido nessa atividade corresponde a transporte de carga maior que 20 kg.por<br />

uma distância média de aproximadamente 12 m.<br />

A subatividade seguinte corresponde ao carregamento do cilindro. A seqüência<br />

de movimentos registrada na Figura 18 demonstra o movimento dorsal do<br />

trabalhador.<br />

Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do carrinho transportador – seqüência de<br />

movimentos de um trabalhador.<br />

Com o carrinho em frente ao cilindro, o trabalhador transfere a lenha<br />

organizando cada uma das duas camadas comportadas pelo cilindro, a fim de<br />

acomodar o maior volume de lenha possível. A Figura 18 demonstra a seqüência de<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 71<br />

movimentos desta subatividade. O tempo médio desta seqüência é de 4,12s.<br />

Observa-se que ocorrem eventos posturais com torção e flexão dorsais<br />

concomitantes e elevação dos braços acima do ombro do trabalhador.<br />

Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho<br />

transportador<br />

Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência das subatividades de um trabalhador no<br />

carregamento do cilindro com auxílio do carrinho transportador<br />

A análise pelo Sistema OWAS foi feita a partir da divisão da atividade em três<br />

subatividades:<br />

1.a) O carregamento do carrinho transportador;<br />

1.b) O transporte do carrinho até o cilindro;<br />

1.c) O carregamento do cilindro.<br />

O Gráfico 2 é resultante da avaliação da atividade como um todo (representada<br />

na Figura 18 e 19) pelo Sistema OWAS, englobando todas as subatividades que a<br />

compõe.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 72<br />

Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema OWAS<br />

A leitura do Gráfico 2 indica que as combinações das subatividades inserem a<br />

postura das pernas na categoria 2. O método de avaliação sugere que mesmo não<br />

apresentando risco imediato à saúde do trabalhador, essa categoria merece<br />

verificação na próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho (IIDA, 2005).<br />

Nesta atividade, o dorso do trabalhador permanece ereto em 50% do tempo e<br />

apresenta flexão em 25% e flexão e rotação simultâneas em 25% do período. Essa<br />

movimentação não solicita atenção imediata, porém a flexão e rotação dorsal<br />

concomitantes podem vir a causar lesão musculoesquelética em médio ou longo<br />

prazo (categoria 2).<br />

A carga aplicada e a movimentação dos braços do trabalhador nessa atividade<br />

dispensam cuidados, por não serem passíveis de riscos biomecânicos.<br />

As avaliações seguintes correspondem às análises individuais de cada subatividade<br />

em que a atividade descrita foi decomposta:<br />

Subatividade 1.a - O carregamento do carrinho<br />

O carregamento do carrinho ocorre em tempo médio de 25 minutos e 33<br />

segundos para cada cilindro. Na condução da análise, esta subatividade também foi<br />

dividida em três subatividades:<br />

• Pegar a lenha no piso;<br />

• Transportar a lenha até o carrinho;<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho<br />

dorso<br />

ereto<br />

50%<br />

flexionado<br />

25%<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

25%<br />

88%<br />

12%<br />

88%<br />

12 %<br />

88 %<br />

12 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 73<br />

• Colocar a lenha no carrinho.<br />

A Figura 20 apresenta a seqüência de movimentos do trabalhador na<br />

subatividade correspondente ao carregamento do carrinho.<br />

Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do carrinho<br />

transportador. Subatividade 1.a<br />

Na seqüência de movimentos demonstrada na Figura 20 percebe-se a<br />

associação de movimentos de rotação e flexão no tronco do trabalhador na<br />

execução da tarefa. O Gráfico 3 apresenta a análise da subatividade 1.a conforme<br />

análise feita no Sistema OWAS.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregamento do carrinho<br />

A associação da flexão e rotação do dorso em 33% da subatividade está<br />

incluída na categoria 3 e o posicionamento ereto das pernas, na categoria 2.<br />

Segundo a avaliação do OWAS, a posição dos braços e a carga dispensam<br />

cuidados.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise carregamento do carrinho<br />

67%<br />

33%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 74<br />

Subatividade 1.b - O transporte da lenha até o cilindro<br />

O trabalhador se movimenta de forma que em alguns momentos ele empurra o<br />

carrinho e em outros, ele puxa. Pode ocorrer em tempo médio de 3 minutos e 08<br />

segundos quando a lenha está mais longe ou em tempo médio de 2 minutos e 30<br />

segundos, quando a lenha está situada mais próxima ao cilindro a ser carregado.<br />

Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no transporte do carrinho.<br />

Subatividade 1.b<br />

Mesmo empurrando a lenha sobre rodas, o trabalhador relata que a força<br />

exercida equivale ao transporte de carga maior que 20 kg. Através do OWAS, esta<br />

seqüência de movimentos tem a análise apresentada no Gráfico 4.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise transporte da lenha<br />

Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha<br />

A análise do Gráfico 4 demonstra que o dorso flexionado pode levar o<br />

trabalhador a dores ou lesões musculoesqueléticas, portanto este evento está<br />

situado na categoria 3, merecedora de atenção em curto prazo. Eventos envolvendo<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4<br />

braços, pernas e carga caracterizam postura não sujeita a riscos.


Capítulo 4 Análises e Discussões 75<br />

Subatividade 1.c – O carregamento do cilindro<br />

O carregamento de um cilindro a partir da lenha situada no carrinho se dá em<br />

tempo médio de 27 minutos e 46 segundos. Para cada cilindro carregado, foi<br />

observada a média de 402 peças de lenha, que corresponde a aproximadamente<br />

200 repetições de movimento por trabalhador em cada cilindro.<br />

Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do cilindro.<br />

Subatividade 1.c<br />

Para estudo a subatividade 1.c apresentada na Figura 22 também foi dividida<br />

em três subatividades:<br />

• Pegar a peça de lenha no carrinho;<br />

• Transportar a lenha;<br />

• Colocar a lenha no cilindro. No estudo desta subatividade foram consideradas<br />

as diferentes alturas da camada de lenha.<br />

A análise do OWAS determina o gráfico que caracteriza a subatividade<br />

conforme apresentado no Gráfico 5.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 76<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamento do cilindro<br />

O método OWAS avalia a seqüência de posturas como não merecedora de<br />

atenção imediata, porém o posicionamento das pernas está na categoria 2, que<br />

segundo Iida (2005), deve ser acompanhada durante a próxima revisão rotineira dos<br />

métodos de trabalho.<br />

Permanecer em 25% do tempo da atividade em flexão e rotação dorsal, com<br />

braços acima dos ombros em 25% do tempo e em pé, ainda que apoiado em duas<br />

pernas em 100% do tempo são os fatores merecedores de atenção neste<br />

procedimento.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

As subatividades estão classificadas individualmente pelo OWAS conforme o<br />

gráfico apresentado no Gráfico 6.<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise do carregamento do cilindro<br />

50%<br />

25%<br />

Gráfico 6 - Análise individual das subatividades que compõe a atividade 1.1<br />

25%<br />

75%<br />

25%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 77<br />

O Gráfico 6 que demonstra as categorias das subatividades individualmente,<br />

insere o carregamento do carrinho e o carregamento do cilindro na categoria 2 e o<br />

transporte na categoria 3. Especificamente, na atividade de transporte, ocorre a<br />

necessidade de atenção em curto prazo devido à flexão dorsal do trabalhador<br />

associada à carga e à forma de conduzir a lenha (andando e empurrando o<br />

carrinho).<br />

Atividade 1.2: Carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador<br />

A observação direta possibilitou verificar que durante o turno matutino o<br />

caminhão basculante deixa a lenha dentro da praça de carbonização, em frente ao<br />

cilindro a ser carregado. A proximidade da lenha em relação ao cilindro, faz com que<br />

os trabalhadores dispensem o uso do carrinho e desenvolvam as mesmas atividades<br />

simultaneamente no carregamento.<br />

Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do cilindro sem<br />

auxílio do carrinho transportador<br />

A seqüência de movimentos nesta atividade tem tempo médio de 9,7 s e ocorre<br />

com flexão e torção dorsal além de levantamento de braços acima da altura dos<br />

ombros, com carga menor que 20 kg. Como os dois trabalhadores executam a<br />

mesma tarefa simultaneamente, a observação centrou-se em um dos trabalhadores.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 78<br />

Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador<br />

Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência de atividades de um trabalhador no<br />

carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador.<br />

Descrição da atividade:<br />

Na pesquisa foi observado que o trabalhador se desloca até o local onde foram<br />

deixadas as peças de lenha, flexiona a coluna para pegar a lenha, a carrega até o<br />

cilindro e coloca a lenha dentro dele em uma seqüência que tem duração média de<br />

9,7 s. Para análise pelo Sistema Owas, a atividade 1.2 foi desmembrada em três<br />

subatividades:<br />

2.a Pegar a peça de lenha;<br />

2.b Transportar a lenha até o cilindro;<br />

2.c Colocar a lenha no cilindro.<br />

Verificou-se que a acomodação da lenha no cilindro envolve posturas<br />

diferentes do trabalhador, variando de acordo com a altura que atinge a camada.<br />

Cada cilindro acomoda duas camadas de lenha, devido ao tamanho que é cortada a<br />

madeira. O peso individual da peça de lenha não ultrapassa 15 kg.<br />

Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no carregamento do cilindro<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 79<br />

A Figura 25 demonstra que conforme vai carregando o cilindro com as toras, o<br />

trabalhador varia o ângulo de flexão da coluna vertebral, chegando ao alongamento<br />

musculoesquelético para atingir maior altura na atividade.<br />

O Método OWAS apresenta a seguinte análise postural da atividade como um<br />

todo, conforme mostrado no Gráfico 7.<br />

Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema OWAS<br />

Na análise do movimento que envolve o carregamento do cilindro sem auxílio<br />

do carrinho de transporte apresentada no Gráfico 7, observou-se que o dorso em<br />

flexão e rotação e as pernas paradas em pé em flexão estão inseridos na categoria<br />

3, segundo Iida (2005) merecedora de atenção por poder provocar lesões<br />

musculoesqueléticas em curto prazo. Esta avaliação é decorrente da relação entre<br />

as posturas e tempos de permanência, onde o trabalhador, nessa atividade<br />

encontra-se:<br />

• 67% do tempo com o dorso ereto e 33% com o dorso em flexão e rotação;<br />

• 67% do tempo com os braços abaixo dos ombros e 33% acima destes;<br />

• 33% do tempo com pernas paradas em pé apoiadas em 2 pernas, 33% com<br />

joelhos flexionados e em 33% do tempo ele anda. Em todas as análises de<br />

posturas foi considerada carga menor que 20 kg.<br />

Para análise, o movimento foi dividido em três subatividades:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Análise do carregamento do cilindro sem auxilio do carrinho<br />

dorso<br />

ereto<br />

67%<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

33%<br />

67%<br />

33%<br />

33%<br />

33%<br />

33%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 80<br />

2.a Pegar a peça de lenha;<br />

2.b Transportar a lenha até o cilindro;<br />

2.c Colocar a lenha no cilindro.<br />

Considerando que o tempo médio do movimento completo (envolvendo as três<br />

subatividades) é de 9.7 s e o carregamento do cilindro se dá em média em 1hora e 5<br />

minutos, percebe-se a média de 402 repetições do movimento em cada cilindro<br />

carregado. Executado por dois trabalhadores, define aproximadamente 200<br />

repetições de movimento por trabalhador no período de uma hora.<br />

Subatividade 2.a – Pegar a peça de lenha<br />

Observou-se no decorrer da pesquisa, que para pegar a peça de lenha no piso<br />

ou no monte deixado pelo caminhão basculante, o trabalhador assume a postura<br />

descrita no desenho esquemático a seguir:<br />

Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para pegar a peça de lenha no piso.<br />

Subatividade 2.a<br />

Devido a lenha ser deixada diretamente sobre o piso, o trabalhador tem que<br />

curvar-se para alcançá-la. Na seqüência de movimentos apresentada na Figura 26<br />

observa-se a flexão dos joelhos e o movimento dos braços abaixo da altura dos<br />

ombros. Segundo o Sistema OWAS, esta seqüência de posturas é caracterizada<br />

conforme o Gráfico 8.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 81<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

dorso<br />

braços<br />

pernas<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura ao pegar a lenha<br />

A leitura do Gráfico 8 demonstra que o evento que corresponde à flexão dos<br />

joelhos no ato de pegar a peça de lenha está inserido na categoria 4, o que<br />

comprometendo a postura de forma que mereça atenção urgente, pois esse<br />

movimento associado à carga, trás risco de lesão musculoesquelética imediata.<br />

Subatividade 2.b – Transportar a lenha até o cilindro<br />

Na pesquisa foi observado que a seqüência de posturas assumidas durante<br />

esta subatividade associadas à carga menor que 20 kg, não comprometem a<br />

biomecânica da atividade. Através do desenho esquemático apresentado na<br />

percebe-se as posturas adotadas nesta subatividade:<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

sentado<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise da postura ao pegar<br />

Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para transportar a peça de lenha até o<br />

cilindro. Subatividade 2.b<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 82<br />

Este movimento não envolve flexão de pernas ou de tronco. De acordo com o<br />

Sistema OWAS, o transporte da lenha até o cilindro não oferece riscos imediatos à<br />

saúde do trabalhador, conforme o Gráfico 9.<br />

Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro<br />

O Gráfico 9 demonstra que a postura das pernas adotada no transporte da<br />

lenha até o cilindro, situam esta atividade como categoria 2 na análise do OWAS,<br />

que sugere verificação da postura em inspeção rotineira. Segundo o método de<br />

análise, os demais eventos posturais não correspondem a riscos de lesões ou<br />

desconforto<br />

Subatividade 2.c – Colocar a lenha no cilindro<br />

A colocação das peças de lenha dentro do cilindro ocorre com variação na<br />

postura do trabalhador de acordo com a altura da pilha de peças já arrumadas. Nas<br />

camadas mais altas, não há flexão dorsal, porém nas primeiras camadas, o<br />

trabalhador flexiona visivelmente o dorso para acomodar as peças, conforme Figura<br />

28.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise da postura ao transportar<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 83<br />

Figura 28 - Postura adotada na acomodação das primeiras camadas de lenha, com flexão<br />

dorsal.<br />

O desenho esquemático da Figura 28 caracteriza a postura com flexão dorsal e<br />

o Gráfico 10 apresenta a análise desta postura pelo Método OWAS.<br />

Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas primeiras<br />

camadas<br />

Segundo a análise do OWAS, a flexão do dorso nesta atividade pode vir a<br />

comprometer a saúde do trabalhador, estando, portanto, inserida na terceira<br />

categoria do sistema, que solicita atenção em curto prazo.<br />

Verificou-se na observação da atividade, que ao atingir a altura acima do<br />

ombro do trabalhador, o empilhamento exige uma postura alongada, sem flexão de<br />

dorso ou pernas, mas com braços acima da linha dos ombros, conforme a Figura 29.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

Análise da postura de colocar com flexão dorsal<br />

dorso<br />

braços<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

carga<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 84<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal<br />

Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal<br />

Segundo o Sistema OWAS, a análise da postura aponta a posição dos braços<br />

como merecedora de atenção em curto prazo por atingir altura acima dos ombros,<br />

conforme Gráfico 11. O dorso ereto e a carga adotada são elementos que não<br />

oferecem riscos à saúde do trabalhador nesta seqüência, porém o posicionamento<br />

das pernas está inserido na categoria 2 e os braços ao atingirem a altura acima da<br />

linha dos ombros, na categoria 3.<br />

Contemplando a atividade como um composto de subatividades, o Sistema<br />

OWAS localiza pontualmente o aspecto merecedor de maior atenção na atividade. O<br />

Gráfico 12 classifica as ações por categoria.<br />

Análise da postura de colocar sem flexão dorsal<br />

dorso<br />

ereto<br />

100%<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

pernas<br />

sentado<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

carga<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 85<br />

Gráfico 12 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2<br />

Observa-se que enquanto as subatividades de transportar e colocar a lenha no<br />

cilindro não incorrem em risco biomecânico, as posturas assumidas para pegar a<br />

lenha inserem esta subatividade na categoria 4, que conforme análise do OWAS,<br />

merece atenção imediata por tratar-se de risco iminente de lesões. Esta<br />

classificação deve-se a flexão e rotação do dorso associadas à flexão dos joelhos na<br />

posição em pé.<br />

Atividade 1.3 – Carregamento do cilindro em atividades consecutivas<br />

Nesta realização da tarefa, os dois trabalhadores se alternam na execução da<br />

atividade de carregamento do cilindro com a lenha.<br />

Descrição das atividades:<br />

Um trabalhador recolhe a peça e a leva até o cilindro, lá o segundo trabalhador<br />

recebe a peça e a acomoda dentro do cilindro, conforme a Figura 30.<br />

Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois trabalhadores em atividades consecutivas<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 86<br />

As seqüências de movimentos nesta atividade envolvem posturas já avaliadas<br />

neste estudo. Como os dois trabalhadores desempenham as atividades em<br />

alternância, considerou-se a atividade como seqüência única na análise.<br />

A atividade foi dividida em três subatividades, assim descritas:<br />

3.a - Pegar a lenha;<br />

3.b - Transportar a lenha até o cilindro;<br />

3.c - Acomodar a lenha. Esta subatividade também está subdividida na colocação<br />

em menores alturas envolvendo flexão dorsal e em alturas maiores, sem flexão da<br />

coluna.<br />

A seqüência de movimentos que envolvem as subatividades de pegar a lenha e<br />

transportar até o cilindro correspondem a avaliação já feita na atividade 1.2, que<br />

inclui a subatividade de pegar a lenha na categoria 4 devido a rotação e flexão do<br />

dorso e flexão dos joelhos e a subatividade de transportar a lenha na categoria 1. A<br />

subatividade que corresponde ao recebimento da lenha e acomodação no cilindro<br />

envolve também flexão e rotação simultâneas do dorso. De acordo com o OWAS,<br />

atende a análise apresentada no Gráfico 13.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Análise da acomodação da lenha no cilindro<br />

dorso<br />

ereto<br />

33%<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cilindro<br />

O movimento do tronco ocorre em três posturas distintas, em 33% do tempo do<br />

movimento ele permanece ereto. Na seqüência do movimento, ocorre a rotação em<br />

33%<br />

33%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 87<br />

33%, seguida de flexão e rotação simultâneas também em 33% do tempo do<br />

movimento. Esta seqüência atinge a categoria 3 durante a postura do dorso em<br />

rotação e flexão simultâneas. Os outros eventos posturais estão inseridos nas<br />

categorias 1 e 2.<br />

A análise das categorias das ações fornecida pelo OWAS desta atividade<br />

também é igual à análise feita da atividade 1.2, segundo gráfico 14.<br />

Gráfico 14 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2 e 1.3<br />

As três atividades analisadas correspondem às três diferentes formas de<br />

atuação utilizadas no carregamento do cilindro. A seguir serão analisadas as demais<br />

atividades dos trabalhadores na produção do carvão.<br />

Análise da tarefa: Tarefa do operador de carbonização no acompanhamento da<br />

produção.<br />

O quarto componente da equipe divide seu trabalho durante o turno em<br />

diversas tarefas, que apresentam variação entre exigências físicas e cognitivas.<br />

Durante a pesquisa observou-se que, dentre as tarefas desse elemento, a<br />

verificação da carbonização envolve posturas passíveis de risco de constrangimento<br />

musculoesquelético.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 88<br />

Atividade 2: Verificação da carbonização<br />

Esta atividade tem o objetivo de, através da observação visual, verificar o<br />

estado da queima da lenha que mantém o aquecimento do cilindro durante a<br />

carbonização e movimentar as brasas da ignição.<br />

A tarefa é observar através de janelas de aproximadamente 0.50 m x 0.30 m<br />

que estão localizadas a 0.50 m do piso da praça e inserir através dela a pá, para<br />

movimentar as lenhas em brasa. O trabalhador percorre todo o perímetro da câmara<br />

de carbonização em atividade e flexiona o corpo para olhar através de janelas que<br />

estão situadas em cada uma das quatro paredes da câmara.<br />

Na praça de carbonização pesquisada, estão dispostas dez câmaras, sendo<br />

que, durante a pesquisa apenas oito estavam em funcionamento.<br />

Cada câmara é verificada uma vez a cada hora de carbonização. Observou-se<br />

que o procedimento completo em cada verificação dura cerca de 01min16,6s e<br />

nessa atividade o trabalhador assume as diversas posturas apresentadas na Figura<br />

31.<br />

Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras.<br />

A altura das janelas dificulta o acesso da pá e a observação do trabalhador. Em<br />

média ele permanece em posição de dorso e pernas flexionadas na verificação de<br />

cada janela, com movimentos nos braços que conduzem os movimentos horizontais<br />

da pá, conforme Figura 32.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 89<br />

Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras<br />

Na aplicação do Diagrama de Corlett e Manenica, o trabalhador não acusou<br />

dores ou desconfortos musculoesqueléticos. Porém os resultados da observação<br />

macroscópica baseados no referencial teórico deste trabalho, apontaram para riscos<br />

biomecânicos no desempenho destas atividades. Segundo o Sistema OWAS, esta<br />

atividade como um todo atende análise apresentada no Gráfico 15.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras<br />

A análise descrita no gráfico 15 demonstra que na seqüência de posturas<br />

assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras, o evento relativo à postura<br />

das pernas em 33% do tempo do movimento (mantém-se de pé com joelhos<br />

flexionados) é classificado como categoria 3 e a postura ajoelhada em 33% do<br />

movimento, como categoria 2. A flexão dorsal em 33% do movimento, foi inserida na<br />

categoria 2. Posturas de braços e dorso e a carga aplicada não configuram esforço<br />

biomecânico considerável.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise da verificação das câmaras<br />

67%<br />

33%<br />

100%<br />

33z%<br />

33%<br />

33%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 90<br />

Para análise o movimento foi desmembrado em três subatividades:<br />

2.a - A abertura da janela;<br />

2.b - A verificação propriamente dita;<br />

2.c - O deslocamento do trabalhador em torno da câmara.<br />

Subatividade 2.a - A abertura da janela<br />

Para a abertura da janela, que se encontra a aproximadamente 0.50m do piso,<br />

observou-se que o trabalhador flexiona o tronco e as pernas. O desenho<br />

esquemático representado na Figura 33 demonstra a postura que o trabalhador<br />

assume nessa atividade:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na abertura da janela<br />

Apesar da posição aparentemente incômoda demonstrada na Figura 33, na<br />

aplicação do Diagrama de Corllet e Manenica, o trabalhador não relatou dor ou<br />

desconforto postural.<br />

O Sistema OWAS assim analisa esta subatividade, conforme apresentado no<br />

Gráfico 16.


Capítulo 4 Análises e Discussões 91<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

pernas<br />

sentado<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela<br />

A flexão dorsal em 100% do tempo da postura acusa categoria 3, associada á<br />

flexão dos joelhos se insere na categoria 4, merecedora de atenção imediata pelos<br />

sérios riscos de lesão musculoesquelética consecutiva à postura.<br />

Subatividade 2.b - Verificação propriamente dita<br />

Após a abertura da janela, o trabalhador flexiona o dorso de forma a baixar a<br />

cabeça a uma altura próxima ao nível do piso. Nesta posição, ele ajoelha-se e<br />

flexiona o tronco para atingir a altura necessária para a verificação. O desenho<br />

esquemático da Figura 34 demonstra esta posição:<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise da abertura janela<br />

Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação das câmaras<br />

A análise desta subatividade pelo Sistema OWAS determinou o Gráfico 17.<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 92<br />

Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verificação propriamente dita<br />

Na verificação das câmaras, o trabalhador posiciona-se ajoelhado no piso com<br />

o dorso totalmente flexionado, para alcançar a altura da janela. Estes dois eventos<br />

posturais são classificados pelo OWAS como categoria 3, sujeitos a riscos<br />

ergonômicos em curto prazo. Observa-se que os outros eventos como braços e<br />

carga não necessitam atenção por não serem passíveis de riscos iminentes de<br />

lesões musculoesqueléticas ocupacionais.<br />

Subatividade 2.c – Deslocamento do trabalhador<br />

Nesta subatividade o trabalhador se desloca entre as janelas para a verificação<br />

da carbonização. A forma prismática da câmara de carbonização conduz à<br />

necessidade de verificação nas quatro faces.<br />

Durante a pesquisa observou-se que ele faz uso de EPI (Equipamento de<br />

Proteção Individual) e conduz uma pá de peso aproximado de 4,8 kg.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braço<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

s<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

2 joelhos flexionados<br />

1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise da verificação<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 93<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em deslocamento<br />

O deslocamento do trabalhador entre as janelas, representado na Figura 35,<br />

não o predispõe a riscos imediatos de ordem biomecânica, conforme o Gráfico 18.<br />

Porém a análise é pertinente ao acompanhamento deste movimento em inspeções<br />

rotineiras, prevenindo danos futuros.<br />

Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocamento<br />

Nesta subatividade, somente o evento relativo às pernas do trabalhador<br />

andando sugere necessidade de atenção na próxima inspeção rotineira, por estar<br />

inserido na categoria 2. Os demais eventos estão classificados na categoria 1, sem<br />

riscos biomecânicos ao trabalhador. De acordo com o Sistema OWAS, estas<br />

subatividades individualmente estão classificadas nas categorias descritas no<br />

Gráfico 19.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

sentado<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

dorso<br />

braços<br />

pernas<br />

carga<br />

Análise do deslocamento<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 94<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificação<br />

A leitura do Gráfico 19 demonstra o risco biomecânico das subatividades de<br />

abrir a janela e da verificação propriamente dita. A inclusão na categoria 2 sugere<br />

necessidade de atenção, devido ao risco de lesão musculoesquelética ao<br />

trabalhador em longo prazo.<br />

Observa-se que o deslocamento não implica em riscos posturais.<br />

Atividade 3 - Ignição da câmara<br />

A tarefa consiste em transportar a lenha do pátio para a câmara e lá, provocar<br />

a ignição (acender o fogo). Nessa operação são utilizados aproximadamente 117 kg<br />

de lenha (média aproximada). E a movimentação desde a coleta até o depósito da<br />

lenha na câmara ocorre em tempo médio de 23min.<br />

Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da câmara de<br />

carbonização<br />

Para análise, esta atividade foi dividida em três subatividades:<br />

3.a - O trabalhador recolhe lenha e carrega o carrinho transportador. Ao recolher as<br />

peças de lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça, mas não torna a flexioná-


Capítulo 4 Análises e Discussões 95<br />

la para colocá-la no carrinho. Esta subatividade é analisada pelo OWAS como<br />

categoria 2 (Gráfico 3), passível de atenção na próxima inspeção de rotina.<br />

3.b - O trabalhador empurra o carrinho até a câmara de ignição. Segundo a análise<br />

do OWAS, esta subatividade de forma geral, está inclusa na categoria 3 (Gráfico 4).<br />

Em 100% desta subatividade, o dorso encontra-se flexionado ao empurrar o<br />

carrinho, o que inclui este evento na categoria 3. O deslocamento andando está<br />

classificado na categoria 2.<br />

3.c - O trabalhador arremessa as peças uma a uma do carrinho no espaço próprio<br />

para a ignição da câmara e provoca a ignição ateando fogo à lenha. Este movimento<br />

equivale à seqüência de posturas adotadas no carregamento do cilindro a partir do<br />

carrinho, já analisada no Gráfico 2 como categoria 2.<br />

Toda a seqüência da ignição da câmara é analisada pelo OWAS, conforme o<br />

Gráfico 20.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

sentado<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

dorso<br />

braços<br />

pernas<br />

carga<br />

Gráfico 20 - Análise da ignição<br />

Análise da ignição da câmara<br />

Os movimentos adotados pelo trabalhador durante a ignição da câmara<br />

envolvem posturas de dorso ereto em aproximadamente 50% do tempo total do<br />

movimento, flexionado em 25% e em flexão e rotação em 25%. O dorso, nesta<br />

seqüência, não apresenta comprometimento postural imediato, porém a análise do<br />

50%<br />

25%<br />

25%<br />

100%<br />

88%<br />

12 %<br />

88 %<br />

12 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 96<br />

OWAS sugere que a flexão associada à rotação dorsal, assim como o<br />

posicionamento das pernas, sejam verificados na próxima inspeção rotineira.<br />

A terceira tarefa cotidiana deste elemento na produção é a distribuição do<br />

carvão na tela dos silos e a retirada do tiço.<br />

Atividade 4 – Distribuição do carvão no silo<br />

Esta atividade consiste em distribuir o carvão sobre a tela do silo e envolve<br />

dois trabalhadores em movimento simultâneo.<br />

Descrição da tarefa:<br />

Para que a qualidade do carvão atenda as exigências do mercado, o<br />

carregamento tem que apresentar características como uniformidade de tamanho do<br />

carvão e não deve conter tiço. Nesse sentido, o trabalhador, ao descarregar o<br />

cilindro sobre o silo, movimenta o carvão com enxada ou ancinho para que os<br />

pedaços passem pela tela e caiam no silo em tamanho uniforme e o tiço (carvão<br />

inacabado) seja separado para nova carbonização.<br />

Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na tela do silo<br />

A Figura 37 apresenta a atividade de dois trabalhadores na distribuição do<br />

carvão. A enxada tem peso aproximado de 8 kg e o silo tem altura de 0,80 m acima<br />

do piso da praça. Tronco e pernas aparentemente não apresentam exigência<br />

biomecânica, o que é visível nos membros superiores.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 97<br />

Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tronco de um trabalhador na tarefa de<br />

distribuição do carvão na tela do silo.<br />

Durante essa operação o trabalhador caminha em volta do silo, para atingir<br />

toda a carga em toda sua extensão. Em média, essa operação tem duração total de<br />

07 minutos 28 segundos e o trabalhador pára, em média, em cinco pontos<br />

diferentes. Em cada ponto ele repete o movimento.<br />

A análise do movimento foi feita considerando individualmente as duas<br />

posturas apresentadas na Figura 38.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição<br />

Verifica-se no Gráfico 21 que a flexão dorsal em 100% do tempo é o evento<br />

que causa constrangimento musculoesquelético nesse movimento, classificado<br />

como categoria 3.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise distribuição<br />

100%<br />

50%<br />

50%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 98<br />

As posturas avaliadas diferem entre si pelo movimento dos braços do trabalhador,<br />

enquanto os demais eventos posturais não alteram. Na postura 1, analisada no<br />

Gráfico 22, o trabalhador apresenta ambos os braços abaixo da altura dos ombros,<br />

em um evento postural classificado pelo OWAS na categoria 1.<br />

A postura 2, representada no<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 22 - Análise da postura 1<br />

Gráfico 23, representa a execução do movimento com os dois braços acima da<br />

altura dos ombros e é classificada na categoria 3.<br />

Gráfico 23 - Análise da postura 2<br />

Observa-se que as duas posturas têm evento dorsal classificado na categoria 3<br />

devido à flexão. A posição em pé com apoio nas duas pernas é classificada na<br />

categoria 2.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

Em pé 2 joelhos flexionados<br />

Em pé 1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Análise distribuição<br />

postura 1<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Análise distribuição<br />

postura 2<br />

100%<br />

100%<br />

100%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 99<br />

A análise destas posturas de forma geral, se faz a seguir no Gráfico 24 :<br />

Gráfico 24 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade de distribuição<br />

Observa-se que as ações das subatividades individualmente estão<br />

classificadas como categoria 2, que segundo o Sistema OWAS necessita de<br />

verificação na próxima análise rotineira do método de trabalho, devido à<br />

possibilidade de riscos biomecânicos em longo prazo.<br />

Atividade 5 - Limpeza da Praça de Carbonização<br />

Esta tarefa consiste em retirar os resíduos sólidos produzidos durante o turno e<br />

deixar a praça limpa e pronta para a próxima equipe dar prosseguimento ao<br />

processo produtivo.<br />

Descrição da tarefa:<br />

Ao analisar a tarefa, verificou-se que o trabalho é basicamente varrer o carvão<br />

deixado no piso, recolhê-lo em recipientes e colocá-lo nos silos. Todos os<br />

funcionários são encarregados dessa tarefa que dura tempo médio de 15 minutos ao<br />

final de cada turno. Na tarefa são usadas vassouras, pás e jatos de água, além do<br />

carrinho transportador.<br />

Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhador ao varrer o piso da praça de<br />

carbonização<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 100<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura.<br />

Tempo desta seqüência: 00h00min03,6s<br />

Na observação, registrou-se média de 6 minutos e 28 segundos na execução<br />

desta tarefa ininterruptamente, pelo trabalhador. A atividade como um todo não<br />

representa comprometimento biomecânico imediato, de acordo com a análise do<br />

Gráfico 25.<br />

ereto<br />

flexionado<br />

em rotação<br />

flexão e rotação<br />

dorso<br />

braços<br />

ambos abaixo dos ombros<br />

Um acima dos ombros<br />

ambos acima dos ombros<br />

em pé em 2 pernas<br />

Em pé em 1 perna<br />

2 joelhos flexionados<br />

1 joelho flexionado<br />

pernas<br />

sentado<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />

< 10 kg<br />

< 20 kg<br />

> 20 kg<br />

Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carbonização<br />

Na análise da seqüência de movimentos na limpeza da praça, o Sistema<br />

OWAS inclui a flexão do dorso ao recolher os resíduos no piso, na categoria 2, que<br />

segundo Iida (2005) deve ser verificada na próxima inspeção rotineira dos métodos<br />

de trabalho. O posicionamento dos braços acima da altura dos ombros no ato de<br />

colocar os resíduos em tonéis sobre o carrinho, que ocorrem em 33% do tempo,<br />

também estão na categoria 2 e podem vir a comprometer a biomecânica do<br />

movimento em longo prazo. Os demais eventos são avaliados como não passíveis<br />

de comprometimento biomecânico.<br />

Análise limpeza da praça<br />

67%<br />

67%<br />

33%<br />

67%<br />

33%<br />

67%<br />

33%<br />

100 %<br />

Categ. 1<br />

Categ. 2<br />

Categ. 3<br />

Categ. 4


Capítulo 4 Análises e Discussões 101<br />

A avaliação por ação individual determina o Gráfico 26.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da praça<br />

Observou-se que na avaliação do OWAS, a ação de varrer não implica em<br />

comprometimento postural, mas o recolher está inserido na categoria 2, sugerindo a<br />

necessidade de verificação na próxima inspeção rotineira dos métodos de trabalho.<br />

Resultados por categoria de classificação do método OWAS<br />

Os resultados das análises das atividades de carregamento do cilindro, ignição<br />

da câmara, verificação das câmaras de carbonização, seleção do carvão e limpeza<br />

da praça, determinam a Tabela 4.<br />

Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria<br />

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4<br />

dorso 59,7% 16,57% 23,71%<br />

braços 83,42% 16,58%<br />

pernas 33,73% 56,73% 9,47%<br />

carga 100%<br />

A análise dos eventos posturais demonstra que em 23,71% das atividades o<br />

dorso apresenta postura que pode comprometer a saúde do trabalhador em curto<br />

prazo; o mesmo ocorrendo com as pernas em 9,47% das atividades desenvolvidas.<br />

Observa-se que em 16,57% das atividades a postura dorsal se insere na<br />

categoria 2, assim como os braços em 16,58% e as pernas em 56,73% das<br />

atividades. O Sistema OWAS classifica a categoria 2 como passível de atenção na<br />

próxima inspeção rotineira do método, ou sujeita a riscos em longo prazo.


Capítulo 4 Análises e Discussões 102<br />

Os eventos classificados na categoria 1 não predispõem o trabalhador a riscos<br />

de lesões musculoesqueléticas.<br />

Os resultados apresentados na Tabela 4 são referentes à análise das<br />

atividades como um todo, relacionando o tempo da postura ao tempo de execução<br />

da atividade.<br />

A Tabela 5 apresenta a avaliação das posturas das subatividades de forma<br />

isolada e demonstra que o trabalhador assume durante a execução das<br />

subatividades, posturas que são classificadas pelo OWAS nos quatro níveis de<br />

categorias inclusive na categoria 4, sujeitas a riscos imediatos de lesões<br />

musculoesqueléticas.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 4 Análises e Discussões 103<br />

CARREGAMENTO<br />

DO CILINDRO<br />

COM AUXÍLIO DO<br />

CARRINHO E<br />

IGNIÇÃO<br />

CARREGAMENTO<br />

DO CILINDRO<br />

SEM AUXÍLIO DO<br />

CARRINHO E<br />

COM ATIVIDADES<br />

CONSECUTIVAS<br />

VERIFICAÇÃO DA<br />

CARBONIZAÇÃO<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

LIMPEZA DA<br />

PRAÇA<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades<br />

CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA<br />

A diferença entre as avaliações das atividades e subatividades deve-se ao<br />

método OWAS avaliar as posturas assumidas nas atividades considerando o tempo<br />

4


Capítulo 4 Análises e Discussões 104<br />

de execução de cada subatividade em relação ao tempo de execução da atividade<br />

como um todo e faz a avaliação das posturas nas subatividades e dos eventos que<br />

as compõem de acordo com o tempo de permanência do trabalhador na postura<br />

analisada.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 5 Conclusões 105<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Este capítulo ressalta o objetivo geral e os objetivos específicos e os compara<br />

com os resultados obtidos através da pesquisa. Na seqüência, apresenta algumas<br />

manifestações sobre a contribuição da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros.<br />

Relação entre objetivos propostos e resultados alcançados<br />

a) Quanto à avaliação das posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de<br />

carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.<br />

Os 96 eventos posturais analisados neste estudo pelo Método OWAS<br />

constituem 7 atividades e 17 subatividades. As atividades estão descritas na Tabela<br />

4 e as subatividades foram classificadas 12,9% na categoria 3 e 4,3% na categoria<br />

4. Essas posturas são caracterizadas por movimentação do tronco em flexão e<br />

rotação simultâneas, posicionamento de pé com flexão dos joelhos e/ou posturas<br />

exigindo posicionamento dos braços acima da altura dos ombros. A categoria 2<br />

aparece em 22,6% dos eventos enquanto a categoria 1 em 60,2% das posturas<br />

analisadas. A incidência de 39,8% de posturas com algum tipo de estresse<br />

biomecânico alerta para a necessidade de atenção para as condições posturais de<br />

trabalho a que esses trabalhadores são submetidos.<br />

b) Quanto à verificação da incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos<br />

trabalhadores.<br />

Atendendo aos objetivos específicos desta pesquisa, foi aplicado o Diagrama<br />

de Corllet e Manenica com toda a população em estudo, para informação e<br />

localização de áreas dolorosas, porém, não foram relatadas incidências de dores<br />

e/ou lesões musculoesqueléticas, o que pode ser justificado pelo período de<br />

exposição dos trabalhadores a essas atividades profissionais. O método produtivo<br />

em estudo é utilizado desde outubro de 2006, não havendo registros de<br />

absenteísmo por lesões musculoesqueléticas ou reclamações por parte dos<br />

trabalhadores. Outrossim, foi observado que a idade e o temor pela insegurança no<br />

emprego desses profissionais também são fatores que podem contribuir para a<br />

dissonância entre os resultados entre os dois métodos utilizados na pesquisa.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 5 Conclusões 106<br />

c) Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de suas<br />

tarefas diárias;<br />

Observou-se durante a pesquisa que os trabalhadores não são submetidos à<br />

carga acima da determinada pela legislação brasileira (Lei 6514 da CLT de 22/12/77<br />

ainda em vigor) que estipula a carga de 60 kg como peso máximo que um<br />

empregado do sexo masculino adulto pode remover individualmente. Nem<br />

ultrapassa o limite de carga recomendado pelo NIOSH, que estabelece em 23 kg o<br />

limite para levantamento de cargas individuais.<br />

A carga, portanto, ainda não constitui item agravante na classificação das<br />

atividades e subatividades pelo método OWAS.<br />

d) Oferecer recomendações ergonômicas, visando a minimização ou erradicação<br />

dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.<br />

As recomendações ergonômicas partem da modificação dos postos de trabalho<br />

onde se executam tarefas que admitem posturas com risco à saúde do trabalhador.<br />

As posturas envolvendo flexão associada à rotação dorsal, apoio nas pernas com<br />

flexão dos joelhos e que exigem braços acima da altura dos ombros são apontadas<br />

pelo OWAS como as de maior risco de lesões e comprometimentos<br />

musculoesqueléticos.<br />

O movimento de flexão dorsal do trabalhador deve ser atenuado com a<br />

modificação do posto de trabalho de forma que a altura da base onde se encontra o<br />

objeto que ele irá pegar não corresponda ao nível do piso. No caso desta empresa,<br />

a lenha deve ser descarregada em uma base com altura aproximada de 0,50m do<br />

piso, onde o trabalhador possa ficar sobre ela para pegar a lenha do alto da pilha e<br />

ficar na altura do piso para pegar a lenha da parte mais baixa. Pode-se considerar<br />

também o carregamento do cilindro de forma mecanizada.<br />

As posturas envolvendo braços acima da altura dos ombros devem ser<br />

modificadas a partir da utilização de bases onde o trabalhador possa subir para<br />

atingir a altura apropriada para o movimento confortável dos braços.<br />

Conclui-se que, de modo geral, o método de produção de carvão vegetal em<br />

cilindros verticais contempla em parte a preservação da saúde ocupacional e<br />

segurança do trabalhador, oferecendo condições de trabalho inerentes à legislação<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 5 Conclusões 107<br />

em vigor. Porém o aspecto postural não é contemplado em sua totalidade, o que<br />

constituiu riscos e pode levar ao comprometimento musculoesquelético dos<br />

trabalhadores em curto, médio ou longo prazo (conforme natureza da atividade),<br />

afetando a saúde e a produtividade do trabalhador.<br />

Através da pesquisa percebeu-se que as empresas que adotam o método em<br />

estudo, podem melhorar a saúde ocupacional postural dos trabalhadores, através da<br />

implementação de práticas mais expressivas quanto à biomecânica do trabalho, com<br />

revisões no método produtivo a partir de enfoques macroergonômicos, como<br />

reestruturação dos postos de trabalho e adoção de cultura de esclarecimento e<br />

disseminação dentro da organização, da importância da boa postura para a saúde e<br />

segurança do trabalhador.<br />

Também pode-se concluir que o Diagrama de Áreas Dolorosas proposto por<br />

Corlett e Manenica não constitui instrumento de pesquisa apropriado para este<br />

estudo, não apenas por abordar um método produtivo novo, mas pelo diagrama<br />

basear-se em informações de dores e desconfortos já existentes; não se mostrando<br />

eficaz na prevenção de lesões, dores e desconfortos musculoesqueléticos. O<br />

Sistema OWAS corresponde satisfatoriamente a este requisito.<br />

5.1 Contribuições da pesquisa<br />

A pesquisa contribui com a avaliação das condições posturais dos<br />

trabalhadores, uma vez que não existiam estudos com esta abordagem sobre este<br />

método produtivo, que comparado ao método tradicional é muito menos agressivo á<br />

saúde do trabalhador.<br />

Contribui também com a avaliação de um método produtivo que surge como<br />

uma ação de mudança na produção do carvão vegetal brasileiro no que tange a<br />

saúde e segurança do trabalhador.<br />

O estudo pode ser aplicado a outros segmentos produtivos com características<br />

compatíveis com as abordadas nesta pesquisa.<br />

5.2 Sugestões para trabalhos futuros<br />

Como sugestões para trabalhos futuros propõem-se:<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Capítulo 5 Conclusões 108<br />

- Avaliar os movimentos dos membros superiores a partir de outros sistemas de<br />

avaliação postural como RULA;<br />

- Avaliar a saúde do trabalhador no método produtivo estudado, enfocando outros<br />

aspectos da ergonomia, com abordagens tanto no desempenho físico como<br />

sensorial (cognitivo) dos trabalhadores.<br />

- Desenvolver o estudo em outros segmentos produtivos, visando a minimização do<br />

sofrimento musculoesquelético do trabalhador.<br />

- Desenvolver um instrumento que possa ser utilizado na empresa pelos próprios<br />

trabalhadores na identificação e correção da má postura durante a execução da<br />

atividade.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Referências 109<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)<br />

REFERÊNCIAS<br />

ABRAHÃO, I; TORRES, C. Entre a organização do trabalho e o sofrimento: o<br />

papel de mediação da atividade. Revista Produção, vol.14, no.3 São<br />

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possibilidades. Revista Escola, Saúde e Trabalho: Estudos Psicológicos. Brasília:<br />

Universidade de Brasília, 1999.<br />

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work-related disease and injury. 4ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins,<br />

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CAILLIET, R. Dor, Mecanismos e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.<br />

1999.<br />

COUTO, H. Ergonomia Aplicada ao Trabalho - O Manual Técnico da máquina<br />

Humana. Vol. II. Belo Horizonte: Ergo, 1996.<br />

DANIELLOU, F. Les TMS, symptôme d'une pathologie organisationnelle. BTS<br />

Newsletter, n.11/12, p. 34-37, 1999.<br />

DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção, vol.14 no. 3,São<br />

Paulo, set./dez. 2004.<br />

DIAS, E. C.et al. Processo de trabalho e saúde dos trabalhadores na produção<br />

artesanal de carvão vegetal em Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de<br />

Janeiro, 18(1): 269-277. jan. - fev., 2002.<br />

DUL, J; WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. São Paulo: Edgard Blücher,<br />

1995.<br />

FARIA M. M. Análise técnica e ergonômica da produção de carvão vegetal de<br />

uma bateria de fornos de superfície do tipo rabo-quente. <strong>Dissertação</strong> de<br />

Mestrado. Universidade Federal de Viçosa, MG, 2003.<br />

FREIRE, G. Médicos, doentes e contextos sociais: uma abordagem<br />

sociológica. Rio de Janeiro, Globo, 1983.


Referências 110<br />

GUIMARÃES NETO, R. M. Avaliação técnica e econômica de um forno<br />

container em escala industrial. <strong>Dissertação</strong> de Mestrado. Universidade Federal de<br />

Viçosa, MG, 2005.<br />

GUIMARÃES, L. B. M.; PORTICH, P. Análise Postural da Carga de Trabalho nas<br />

Centrais de Armação Carpintaria de um Canteiro de Obras. Anais ABERGO.<br />

Recife: 2002.<br />

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na Amazônia: perigo para a floresta. Revista Ciência Hoje. V39 – 233 –p.56. Dez<br />

2006.<br />

IIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.<br />

JACKSON FILHO, J. M. Desenho do trabalho e patologia organizacional: um<br />

estudo de caso no serviço público. Revista Produção. vol.14 no.3 São<br />

Paulo Set./Dez. 2004.<br />

KROEMER, K.; GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: Adaptando o trabalho<br />

ao homem. Porto Alegre: Bookman, 2005.<br />

LAKATOS. E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São<br />

Paulo: Atlas, 2001.<br />

LIMONGI, A.C.F.; RODRIGUES, A.L. Stress e Trabalho: uma abordagem<br />

psicossomática. 3.ed., São Paulo, Atlas, 2002.<br />

MENDES, R.; DIAS, E. C. Da medicina do trabalho a saúde do trabalhador.<br />

Revista Saúde Pública, São Paulo 25(5), 341-9, 1991.<br />

OLIVEIRA, A. C. Impacto da educação Corporativa no Desempenho dos<br />

Colaboradores da Empresa Perdigão S/A – Unidade Carambeí. <strong>Dissertação</strong> de<br />

Mestrado em Engenharia de Produção. <strong>UTFPR</strong>. Ponta Grossa: PPGEP, 2007.<br />

PIMENTA, A. S. et al. Avaliação do perfil de trabalhadores e de condições<br />

ergonômicas na atividade de produção do carvão vegetal em baterias de<br />

fornos de superfície do tipo “rabo-quente”. Revista Árvore – vol. 30 nº. 5 –<br />

Viçosa. Set/out. 2005.<br />

RIO R.P; PIRES,L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. São Paulo:<br />

LTR, 2001.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Referências 111<br />

SANTOS, N.; FIALHO, F. Manual de Análise Ergonômica do Trabalho. Curitiba:<br />

Gênesis, 1997.<br />

SILVA, E. L.; MENESES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de<br />

dissertação. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.<br />

TINOCO, J. Carvão Vegetal Ecologicamente Correto. Jornal da Ciência – Órgão<br />

da SBPC. 01/02/2007.<br />

VIDAL, M. Introdução à ergonomia. Rio de Janeiro: Fundação COPPETEC. UFRJ,<br />

2001.<br />

WISNER, A. Por dentro do trabalho. Ergonomia: método & técnica. São Paulo:<br />

FTD, 1987.<br />

WISNER, A. A inteligência no trabalho, textos selecionados de ergonomia. São<br />

Paulo: FUNDACENTRO, 1994.<br />

XAVIER, A. Ergonomia. Curitiba: <strong>UTFPR</strong>, 2006.<br />

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman,<br />

2005.<br />

Sites consultados:<br />

http://www.sobes.org.br/nr17.htm. no dia 23/04/2007 as 10h23min.<br />

www.reporterbrasil.com.br/images. no dia 28 /05/2007 as 21h 14min.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Apêndice A Diagrama de Áreas Dolorosas 112<br />

APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS<br />

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Apêndice B Mapa de Avaliação dos Eventos Posturais 113<br />

APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAIS<br />

EVENTOS<br />

dorso<br />

ereto<br />

flexionado<br />

Em rotação<br />

Rotação e flex<br />

braços<br />

Ambos abaixo<br />

Um acima<br />

Ambos acima<br />

pernas<br />

sentado<br />

Em pe em 2<br />

Em pe em 1<br />

Em pe 2 flex<br />

Em pe 1 flex<br />

ajoelhado<br />

andando<br />

carga<br />


Anexo B Roteiro Avaliação do Posto de Trabalho 114<br />

ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO<br />

Roteiro de avaliação simplificada das condições biomecânicas do posto de trabalho (Couto 1996, v I,<br />

p.161).<br />

1. A bancada de trabalho/máquina está localizada em altura correta (trabalho pesado, em nível<br />

do púbis; trabalho moderado, em nível do cotovelo; trabalho leve, a 30 cm dos olhos)? Não<br />

(0) sim (1)<br />

2. A bancada ou máquina tem regulagem de altura de forma a possibilitar o trabalhador adequar<br />

a altura do posto de trabalho à sua? Não (0) sim (1)<br />

3. Tem-se que sustentar pesos com os membros superiores para evitar seu deslocamento seja<br />

na vertical ou na horizontal? Sim (0) não (1)<br />

4. Tem-se que apertar pedais estando de pé, em freqüência maior que três vezes por minuto?<br />

Sim (0) não (1)<br />

5. O trabalho exige a elevação dos braços acima do nível dos ombros? Sim (0) não (1)<br />

6. O trabalho exige ficar parado na posição de pé durante grande parte do tempo (mais que<br />

60%)? Sim (0) não (1)<br />

7. No caso de trabalhar sentado, há espaço suficiente para as pernas? Não (0) sim (1)<br />

8. A cadeira tem inclinação correta, compatível com o trabalho executado?<br />

Não (0) sim (1)<br />

9. O corpo trabalha no eixo vertical natural ou em ângulo de 100° entre as coxas e o tronco?<br />

Não (0) sim (1)<br />

10. Os membros superiores têm que sustentar pesos? Sim (0) não (1)<br />

11. Fica-se de pé, parado, na maior parte da jornada? Sim (0) não (1)<br />

12. Estando sentado, fica-se em posição estática? Sim (0) não (1)<br />

13. Existem pequenas contrações estáticas, porém por muito tempo (por ex. pescoço<br />

excessivamente estendido, braços suspensos, sustentação dos antebraços pelos braços,<br />

falta de apoio para os antebraços)? Sim (0) não (1)<br />

14. Os objetos e materiais de uso freqüente estão dentro da área de alcance? Não (0) sim (1)<br />

Critérios de interpretação:<br />

10 a 14 pontos: boas condições biomecânicas;<br />

10 pontos e abaixo: condição biomecânica sujeita a intervenção.<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)


Anexo C Roteiro Avaliação do Risco de Lombalgias 115<br />

ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS<br />

Check-list para avaliação simplificada do risco de lombalgia (COUTO, 1996 p.228).<br />

1. O trabalho envolve posicionamento estático do tronco em posição fletida entre 30° e<br />

60°?<br />

2. O trabalhador tem que, frequentemente atingir o chão com as mãos, independente da<br />

carga?<br />

3. O trabalho envolve pegar cargas maiores que 10 kg em freqüência maior que uma vez<br />

a cada 5 minutos?<br />

4. O trabalho envolve pegar cargas no chão, independente do peso, com freqüência<br />

maior que uma vez por minuto?<br />

5. O trabalho envolve fazer esforço com ferramentas ou com as mãos estando o tronco<br />

curvado?<br />

6. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) com o<br />

ronco em posição assimétrica?<br />

7. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) as<br />

cargas estando longe do tronco?<br />

8. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 10 kg<br />

frequentemente?<br />

9. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo<br />

ocasionalmente?<br />

10. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas na cabeça?<br />

11. O trabalho envolve a necessidade de ficar constantemente com os braços longe do<br />

tronco em posição suspensa?<br />

12. O trabalho exige que o trabalhador fique com o tronco em posição estática, sem apoio?<br />

Critérios de interpretação:<br />

Sim (0) Não (1)<br />

8 a 12 pontos: baixo risco de lombalgia;<br />

Abaixo de 8 pontos: risco de lombalgia;<br />

PPGEP – Gestão Industrial (2008)

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