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de Lira dos vinte anos

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ÁLVARES DE AZEVEDO<br />

Noite na taverna e poemas escolhi<strong>dos</strong><br />

(<strong>de</strong> <strong>Lira</strong> <strong>dos</strong> <strong>vinte</strong> <strong>anos</strong>)<br />

PROJETO DE LEITURA<br />

Douglas Tufano<br />

Maria José Nóbrega


Literatura é aprendizado <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong><br />

A literatura não é matéria escolar, é matéria<br />

<strong>de</strong> vida.<br />

A boa literatura problematiza o mundo,<br />

tornando-o opaco e incitando à reflexão. É<br />

um <strong>de</strong>safio à sensibilida<strong>de</strong> e inteligência do<br />

leitor, que assim se enriquece a cada leitura.<br />

A literatura não tem a pretensão <strong>de</strong> oferecer<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> comportamento nem receitas <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong>; ao contrário, provoca o leitor, estimula-o<br />

a tomar posição diante <strong>de</strong> certas questões<br />

vitais. A literatura propicia a percepção<br />

<strong>de</strong> diferentes aspectos da realida<strong>de</strong>. Ela dá<br />

forma a experiências e situações que, muitas<br />

vezes, são <strong>de</strong>sconcertantes para o jovem leitor,<br />

ao ajudá-lo a situar-se no mundo e a refletir<br />

sobre seu próprio comportamento.<br />

Mas essa característica estimuladora da literatura<br />

po<strong>de</strong> ser anulada se, ao entrar na<br />

sala <strong>de</strong> aula, o texto for submetido a uma<br />

prática empobrecedora, que reduz sua<br />

potencialida<strong>de</strong> crítica.<br />

Se concordarmos em que a escola <strong>de</strong>ve estar<br />

mais atenta ao <strong>de</strong>senvolvimento da maneira<br />

<strong>de</strong> pensar do que à memorização <strong>de</strong> conteú<strong>dos</strong>,<br />

<strong>de</strong>vemos então admitir que sua função<br />

mais importante é propiciar ao aluno ativida<strong>de</strong>s<br />

que <strong>de</strong>senvolvam sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

raciocínio e argumentação, sua sensibilida<strong>de</strong><br />

para a compreensão das múltiplas facetas da<br />

realida<strong>de</strong>. A escola, portanto, <strong>de</strong>veria ser, antes<br />

<strong>de</strong> tudo, um espaço para o exercício da<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> expressão.<br />

E se aceitarmos a idéia <strong>de</strong> que a literatura<br />

é uma forma particular <strong>de</strong> conhecimento da<br />

realida<strong>de</strong>, uma maneira <strong>de</strong> ver o real, enten<strong>de</strong>remos<br />

que ela po<strong>de</strong> ajudar enormemente<br />

o professor nessa tarefa educacional, pois<br />

po<strong>de</strong> ser uma excelente porta <strong>de</strong> entrada para<br />

DOUGLAS TUFANO<br />

2<br />

a reflexão sobre aspectos importantes do comportamento<br />

humano e da vida em socieda<strong>de</strong>,<br />

e ainda permite o diálogo com outras áreas<br />

do conhecimento.<br />

O professor é o intermediário entre o texto<br />

e o aluno. Mas, como leitor maduro e experiente,<br />

cabe e ele a tarefa <strong>de</strong>licada <strong>de</strong> intervir<br />

e escon<strong>de</strong>r-se ao mesmo tempo, permitindo<br />

que o aluno e o texto dialoguem o<br />

mais livremente possível.<br />

Porém, por circular na sala <strong>de</strong> aula junto<br />

com os textos escolares, muitas vezes o<br />

texto literário acaba por sofrer um tratamento<br />

didático, que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a própria<br />

natureza da literatura. O texto literário não<br />

é um texto didático. Ele não tem uma resposta,<br />

não tem um significado que possa<br />

ser consi<strong>de</strong>rado correto. Ele é uma pergunta<br />

que admite várias respostas; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />

maturida<strong>de</strong> do aluno e <strong>de</strong> suas experiências<br />

como leitor. O texto literário é um campo<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>safia cada leitor<br />

individualmente.<br />

Trabalhar o texto como se ele tivesse um<br />

significado objetivo e unívoco é trair a natureza<br />

da literatura e, o que é mais grave<br />

do ponto <strong>de</strong> vista educacional, é contrariar<br />

o próprio princípio que justificou a inclusão<br />

da literatura na escola. Se agirmos assim,<br />

não estaremos promovendo uma educação<br />

estética, que, por <strong>de</strong>finição, não po<strong>de</strong> ser<br />

homogeneizada, massificada, <strong>de</strong>spersonalizada.<br />

Sem a marca do leitor, nenhuma<br />

leitura é autêntica; será apenas a reprodução<br />

da leitura <strong>de</strong> alguma outra pessoa (do<br />

professor, do crítico literário etc.).<br />

Cabe ao professor, portanto, a tarefa <strong>de</strong><br />

criar na sala <strong>de</strong> aula as condições para o <strong>de</strong>


senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que possibilitem<br />

a cada aluno dialogar com o texto,<br />

interrogá-lo, explorá-lo. Mas essas ativida<strong>de</strong>s<br />

não são realizadas apenas individualmente;<br />

<strong>de</strong>vem contar também com a participação<br />

<strong>dos</strong> outros alunos –– por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e<br />

troca <strong>de</strong> opiniões –– e com a participação do<br />

professor como um <strong>dos</strong> leitores do texto, um<br />

leitor privilegiado, mas não autoritário, sempre<br />

receptivo às leituras <strong>dos</strong> alunos, além <strong>de</strong><br />

permitir-lhes, conforme o caso, o acesso às<br />

interpretações que a obra vem recebendo ao<br />

longo do tempo.<br />

Essa tarefa <strong>de</strong> iniciação literária é uma das<br />

gran<strong>de</strong>s responsabilida<strong>de</strong>s da escola. Uma<br />

coisa é a leitura livre do aluno, que obviamente<br />

po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong>ntro ou fora da escola.<br />

Outra coisa é o trabalho <strong>de</strong> iniciação<br />

literária que a escola <strong>de</strong>ve fazer para <strong>de</strong>senvolver<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura do aluno, para<br />

ajudá-lo a converter-se num leitor crítico, pois<br />

essa maturida<strong>de</strong> como leitor não coinci<strong>de</strong><br />

necessariamente com a faixa etária. Ao ela-<br />

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA<br />

UM POUCO SOBRE O AUTOR<br />

Apresentamos informações básicas sobre o<br />

autor, situando-o no contexto da história da<br />

literatura brasileira ou portuguesa.<br />

RESENHA<br />

Apresentamos uma síntese da obra para que<br />

o professor, ao conhecer o tema e seu <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

possa avaliar a pertinência da<br />

adoção, levando em conta o interesse e o<br />

nível <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> seus alunos.<br />

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA<br />

Conforme as características do gênero a<br />

que pertence a obra, <strong>de</strong>stacamos alguns<br />

3<br />

borar um programa <strong>de</strong> leituras, o professor<br />

<strong>de</strong>ve levar em conta as experiências do aluno<br />

como leitor (o que ele já leu? como ele<br />

lê?) e, com base nisso, escolher os livros com<br />

os quais vai trabalhar.<br />

Com essa iniciação literária bem planejada<br />

e <strong>de</strong>senvolvida, o aluno vai adquirindo condições<br />

<strong>de</strong> ler bem os gran<strong>de</strong>s escritores, brasileiros<br />

e estrangeiros, <strong>de</strong> nossa época ou <strong>de</strong> outras<br />

épocas. Nesse sentido, as noções <strong>de</strong> teoria<br />

literária aplicadas durante a análise <strong>de</strong> um texto<br />

literário só se justificam quando, efetivamente,<br />

contribuem para enriquecer a leitura e compreensão<br />

do texto, pois nunca <strong>de</strong>vem ser um<br />

fim em si mesmas. A escola <strong>de</strong> Ensino Fundamental<br />

e Médio quer formar leitores, não críticos<br />

literários. Só assim é possível perceber o<br />

especial valor educativo da literatura, que,<br />

como dissemos, não consiste em memorizar<br />

conteú<strong>dos</strong> mas em ajudar o aluno a situar-se<br />

no mundo e a refletir sobre o comportamento<br />

humano nas mais diferentes situações. Literatura<br />

é aprendizado <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>.<br />

aspectos importantes, como a visão <strong>de</strong><br />

mundo nela expressa, a linguagem do autor,<br />

os seus recursos expressivos, a composição<br />

<strong>dos</strong> personagens etc. Com esses comentários,<br />

o professor po<strong>de</strong>rá ter uma<br />

idéia <strong>dos</strong> aspectos que po<strong>de</strong>rão ser aborda<strong>dos</strong><br />

e também i<strong>de</strong>ntificar os conteú<strong>dos</strong><br />

das diferentes áreas do conhecimento que<br />

po<strong>de</strong>rão ser explora<strong>dos</strong> em sala <strong>de</strong> aula.<br />

QUADRO-SÍNTESE<br />

O quadro-síntese permite uma visualização<br />

rápida <strong>de</strong> alguns aspectos didáticos da obra<br />

em questão. São eles: a indicação do gênero<br />

literário, as áreas e os temas transversais envolvi<strong>dos</strong><br />

nas ativida<strong>de</strong>s e o público-alvo presumido<br />

para a obra.


Gênero:<br />

Palavras-chave:<br />

Áreas envolvidas:<br />

Temas transversais:<br />

Público-alvo:<br />

PROPOSTAS DE ATIVIDADES<br />

a) antes da leitura<br />

Consi<strong>de</strong>rando que os senti<strong>dos</strong> que atribuímos<br />

a um texto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m muito <strong>de</strong> nossas experiências<br />

como leitor, sugerimos neste item<br />

algumas ativida<strong>de</strong>s que favorecem a ativação<br />

<strong>dos</strong> conhecimentos prévios necessários à<br />

compreensão da obra.<br />

b) durante a leitura<br />

Apresentamos alguns objetivos orientadores<br />

que po<strong>de</strong>m auxiliar a construção <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong><br />

do texto pelo leitor.<br />

c) <strong>de</strong>pois da leitura<br />

Sem nenhuma pretensão <strong>de</strong> esgotar os senti<strong>dos</strong><br />

do texto, propomos algumas ativida<strong>de</strong>s<br />

que ajudam o leitor a aprofundar sua<br />

compreensão da obra, sugerindo também,<br />

conforme o caso, a pesquisa <strong>de</strong> assuntos<br />

relaciona<strong>dos</strong> aos conteú<strong>dos</strong> das diversas<br />

áreas curriculares e a reflexão a respeito<br />

<strong>de</strong> temas que permitam a inserção do aluno<br />

no <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> questões contemporâneas.<br />

F nas tramas do texto<br />

• Compreensão geral do texto a partir <strong>de</strong><br />

reprodução oral ou escrita do que foi lido ou<br />

<strong>de</strong> respostas a questões propostas pelo professor<br />

em situação <strong>de</strong> leitura compartilhada.<br />

• Apreciação <strong>dos</strong> recursos expressivos emprega<strong>dos</strong><br />

na obra.<br />

• I<strong>de</strong>ntificação e avaliação <strong>dos</strong> pontos <strong>de</strong> vista<br />

sustenta<strong>dos</strong> pelo autor.<br />

4<br />

• Discussão <strong>de</strong> outros pontos <strong>de</strong> vista a respeito<br />

<strong>de</strong> questões suscitadas pela obra.<br />

• Tendo a obra estudada como ponto <strong>de</strong><br />

partida, produção <strong>de</strong> outros textos verbais<br />

ou <strong>de</strong> trabalhos que contemplem diferentes<br />

linguagens artísticas: teatro, música, artes<br />

plásticas etc.<br />

F nas telas do cinema<br />

• Indicação <strong>de</strong> filmes, disponíveis em VHS ou<br />

DVD, que tenham alguma articulação com a<br />

obra estudada, tanto em relação à temática<br />

como à estrutura composicional.<br />

F nas ondas do som<br />

• Indicação <strong>de</strong> músicas que tenham relação<br />

significativa com a temática ou com a estrutura<br />

da obra estudada.<br />

F nos enre<strong>dos</strong> do real<br />

• Sugestão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que ampliam o estudo<br />

da obra, relacionando-a aos conteú<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> diversas áreas curriculares.<br />

DICAS DE LEITURA<br />

Sugestões <strong>de</strong> outros livros relaciona<strong>dos</strong> à<br />

obra estudada, criando no aluno o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

ampliar suas experiências como leitor. Essas<br />

sugestões po<strong>de</strong>m incluir obras do mesmo<br />

autor ou obras <strong>de</strong> outros autores que tratam<br />

<strong>de</strong> temas afins:<br />

w do mesmo autor;<br />

w <strong>de</strong> outros autores;<br />

w leitura <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio.<br />

Indicação <strong>de</strong> livros que po<strong>de</strong>m estar um pouco<br />

além do grau <strong>de</strong> autonomia do leitor da<br />

obra analisada, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar<br />

os horizontes culturais do aluno, apresentando-lhe<br />

até mesmo autores estrangeiros.


UM POUCO SOBRE O AUTOR<br />

Manuel Antônio Álvares <strong>de</strong> Azevedo nasceu em<br />

São Paulo, em 1831, e morreu no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

em 1852. Apesar da curta vida, é o melhor representante<br />

da poesia ultra-romântica brasileira, que<br />

atingiu seu nível mais expressivo nas décadas <strong>de</strong><br />

1840 e 1850. Álvares <strong>de</strong> Azevedo estudou na faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Direito do Largo São Francisco, no<br />

centro <strong>de</strong> São Paulo, na época uma acanhada cida<strong>de</strong><br />

provinciana. Foi um aluno brilhante e, durante<br />

os <strong>anos</strong> <strong>de</strong> estudo, leu e escreveu muito,<br />

produzindo praticamente toda a sua obra literária.<br />

Em 1852, é operado <strong>de</strong> um tumor, mas não<br />

consegue recuperar-se, vindo a falecer no dia 25<br />

<strong>de</strong> abril, com 21 <strong>anos</strong> incompletos.<br />

Toda sua obra teve publicação póstuma. Além<br />

<strong>de</strong> poesias, que foram reunidas no livro <strong>Lira</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>vinte</strong> <strong>anos</strong>, Álvares <strong>de</strong> Azevedo <strong>de</strong>ixou também<br />

uma obra dramática, Macário, e um volume em<br />

prosa, Noite na taverna.<br />

RESENHA<br />

Este volume está dividido em duas partes. Na<br />

primeira, apresenta o livro Noite na taverna,<br />

única obra em prosa <strong>de</strong> Álvares <strong>de</strong> Azevedo e<br />

uma das mais fascinantes do nosso romantismo.<br />

ÁLVARES DE AZEVEDO<br />

Noite na taverna e poemas escolhi<strong>dos</strong><br />

(<strong>de</strong> <strong>Lira</strong> <strong>dos</strong> <strong>vinte</strong> <strong>anos</strong>)<br />

5<br />

Numa taverna, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma orgia, enquanto<br />

as mulheres dormem, cinco jovens embriaga<strong>dos</strong><br />

contam histórias macabras <strong>de</strong> paixão, morte,<br />

crime e perversão sexual, num clima <strong>de</strong> sonho e<br />

<strong>de</strong>lírio. São eles: Solfieri, Bertram, Claudius,<br />

Hermann, Gennaro e Johann. No final, uma das<br />

mulheres, que parecia não passar <strong>de</strong> fantasias<br />

criadas pela embriaguez <strong>dos</strong> personagens, inva<strong>de</strong><br />

o espaço da taverna e provoca um epílogo<br />

sangrento, surpreen<strong>de</strong>ndo o leitor.<br />

Na segunda parte, o volume apresenta uma seleção<br />

<strong>de</strong> poemas do livro <strong>Lira</strong> <strong>dos</strong> <strong>vinte</strong> <strong>anos</strong>,<br />

que o autor estava terminando <strong>de</strong> preparar<br />

para publicação quando faleceu. Esses poemas<br />

exemplificam bem a tendência ultra-romântica<br />

da época. Volta<strong>dos</strong> inteiramente para <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> si mesmos, os poetas ultra-românticos<br />

expressaram em versos pessimistas um profundo<br />

<strong>de</strong>sencanto pela vida. Seus poemas falam<br />

quase sempre <strong>de</strong> morte, solidão, tédio, tristeza<br />

e melancolia, configurando uma visão trágica<br />

da existência chamada <strong>de</strong> “mal-do-século”.<br />

Escrita por poetas que morreram muito jovens,<br />

a poesia <strong>de</strong>ssa geração resvala freqüentemente<br />

num sentimentalismo exagerado e<br />

artificial, mas a ressonância que seus versos encontraram<br />

nos leitores foi tão intensa que eles<br />

se tornaram muito populares, como é o caso


<strong>de</strong> Álvares <strong>de</strong> Azevedo, Casimiro <strong>de</strong> Abreu e<br />

Junqueira Freire. Essa tendência poética teve<br />

como fonte inspiradora a obra <strong>de</strong> alguns poetas<br />

europeus, sobretudo a do inglês Byron<br />

(1788-1824) e do francês Musset (1810-1857).<br />

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA<br />

As histórias macabras <strong>de</strong> Noite na taverna mergulham<br />

o leitor num ambiente soturno, propício<br />

aos <strong>de</strong>lírios. Os nomes <strong>dos</strong> personagens e<br />

sua aparência física são inspira<strong>dos</strong> em heróis e<br />

heroínas que apareciam nas obras <strong>dos</strong> escritores<br />

românticos europeus, avidamente li<strong>dos</strong> por<br />

Álvares <strong>de</strong> Azevedo. Usando esses nomes, o<br />

autor dá à narrativa um toque europeu, aproximando-a<br />

<strong>de</strong> seus mo<strong>de</strong>los. Essa obra representa<br />

a realização em prosa do ultra-romantismo<br />

do século XIX. Os personagens expressam<br />

um pessimismo doentio, são jovens <strong>de</strong>sesperança<strong>dos</strong>,<br />

que <strong>de</strong>scrêem <strong>dos</strong> valores sociais,<br />

morais e religiosos. O amor sensual e o gozo<br />

físico constituem o móvel das ações, que terminam<br />

sempre em morte ou loucura. O ambiente<br />

criado é <strong>de</strong> tal modo fantástico que pren<strong>de</strong> a<br />

atenção do leitor, como diz o crítico Antonio<br />

Candido: “É como se o autor tivesse conseguido<br />

elaborar, em atmosfera fechada, um mundo artificial<br />

e coerente, um jogo estranho mas<br />

fascinador, cujas regras aceitamos.”.<br />

No caso <strong>de</strong>sse livro, mais do que nunca, <strong>de</strong>vemos<br />

ter em mente que não se po<strong>de</strong> confundir<br />

o narrador <strong>dos</strong> contos com a pessoa do autor.<br />

O fato <strong>de</strong> seus textos falarem <strong>de</strong> noites em<br />

tavernas, bordéis ou orgias não significa que<br />

Álvares <strong>de</strong> Azevedo tenha vivido pessoalmente<br />

essas experiências. Ao contrário. Segundo o<br />

testemunho <strong>dos</strong> contemporâneos, o poeta era<br />

um rapaz muito estudioso e suas noites eram<br />

passadas em meio aos livros do curso <strong>de</strong> Direito.<br />

O que o fazia sofrer, <strong>de</strong> fato, era a sauda<strong>de</strong><br />

da família e do Rio <strong>de</strong> Janeiro, pois vivia sozinho<br />

na provinciana e <strong>de</strong>sinteressante cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo da meta<strong>de</strong> do século XIX.<br />

Os poemas seleciona<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>Lira</strong> <strong>dos</strong> <strong>vinte</strong> <strong>anos</strong>,<br />

que reúne o melhor da produção lírica <strong>de</strong> Álvares<br />

<strong>de</strong> Azevedo, exemplificam as várias linhas<br />

6<br />

temáticas <strong>de</strong> sua obra poética. A primeira e a<br />

terceira partes <strong>de</strong>sse livro apresentam poemas<br />

em que predominam o sentimentalismo, a<br />

i<strong>de</strong>alização amorosa. Nesses textos, a mulher<br />

ora é <strong>de</strong>scrita como uma figura angelical, envolvida<br />

por um clima <strong>de</strong> sonho e fantasia, ora é<br />

<strong>de</strong>scrita como uma figura sensual e provocante,<br />

que tenta e atormenta o poeta. Nos dois<br />

casos, porém, ela é sempre inacessível, distante,<br />

tornando impossível a realização amorosa.<br />

Na segunda parte do livro, no entanto, Álvares<br />

<strong>de</strong> Azevedo muda <strong>de</strong> tom e surpreen<strong>de</strong> o leitor,<br />

pois, ao lado do poeta melancólico e sofredor,<br />

surge o poeta irônico e zombeteiro, que ri<br />

da própria poesia romântica e do sentimentalismo<br />

exagerado da época. E é ele mesmo quem<br />

explica esse duplo aspecto <strong>de</strong> sua poesia: “A<br />

razão é simples. É que a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste livro<br />

funda-se numa binomia. Duas almas que moram<br />

nas cavernas <strong>de</strong> um cérebro pouco mais ou<br />

menos <strong>de</strong> poeta escreveram este livro, verda<strong>de</strong>ira<br />

medalha <strong>de</strong> duas faces.”.<br />

QUADRO-SÍNTESE<br />

Gênero: poesia<br />

Palavras-chave: amor, sentimentalismo, ironia,<br />

sensualida<strong>de</strong>, mistério, morte<br />

Área envolvida: Língua Portuguesa<br />

Tema transversal: Pluralida<strong>de</strong> cultural<br />

Público-alvo: jovem adulto<br />

PROPOSTAS DE ATIVIDADES<br />

Antes da leitura<br />

1. Conversar com os alunos a respeito do conceito<br />

<strong>de</strong> “romantismo”: o significado que tem<br />

essa palavra hoje em dia, na linguagem comum,<br />

e o significado que ela tem na história da literatura,<br />

como <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> um movimento artístico<br />

do século XIX.


2. Pedir aos alunos que tragam exemplos <strong>de</strong> letras<br />

<strong>de</strong> músicas românticas, que po<strong>de</strong>rão ser comparadas<br />

às poesias que serão lidas na coletânea.<br />

3. Verificar a expectativa <strong>dos</strong> alunos a respeito<br />

<strong>dos</strong> versos <strong>de</strong> um poeta romântico que produziu<br />

sua obra quando era muito jovem, provavelmente<br />

com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong> seus leitores<br />

<strong>de</strong> hoje (aos 20 <strong>anos</strong> ele já tinha o livro praticamente<br />

pronto).<br />

4. Pedir aos alunos que busquem informações<br />

sobre a vida do poeta inglês Byron, que exerceu<br />

gran<strong>de</strong> fascínio sobre os escritores românticos<br />

do século XIX. Criador <strong>de</strong> heróis sonhadores<br />

e aventureiros, que <strong>de</strong>safiavam as convenções<br />

morais e religiosas da socieda<strong>de</strong> burguesa,<br />

ele mesmo foi, com sua vida agitada,<br />

um típico herói romântico. Defensor da liberda<strong>de</strong>,<br />

engajou-se em vários movimentos revolucionários,<br />

morrendo na Grécia, quando apoiava<br />

a luta <strong>dos</strong> gregos pela in<strong>de</strong>pendência do<br />

país contra os turcos.<br />

Durante a leitura<br />

1. Pedir aos alunos que comparem as poesias<br />

que estão lendo com as letras <strong>de</strong> músicas<br />

trazidas para a sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong>stacando o que<br />

há em comum entre os dois grupos <strong>de</strong> textos.<br />

2. Propor aos alunos que marquem as poesias<br />

que, na opinião <strong>de</strong>les, mais se afinem com a<br />

sensibilida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> jovens <strong>de</strong> hoje.<br />

3. Com relação aos contos <strong>de</strong> Noite na taverna,<br />

reunir os alunos em grupos e encarregar cada<br />

um <strong>de</strong>les da leitura <strong>de</strong> um conto. Essa distribuição<br />

<strong>dos</strong> textos po<strong>de</strong> ser feita por sorteio. Pedir<br />

aos alunos que preparem uma resenha <strong>de</strong> cada<br />

conto para posterior apresentação oral à classe.<br />

Dessa resenha <strong>de</strong>vem constar pelo menos os seguintes<br />

itens: a) resumo do enredo; b) o tema<br />

do conto; c) os aspectos do conto que mais chamaram<br />

a atenção <strong>dos</strong> alunos (linguagem, significado<br />

simbólico do texto, atualida<strong>de</strong> do tema<br />

etc.). Outros itens po<strong>de</strong>rão ser incluí<strong>dos</strong> nessa<br />

7<br />

resenha, a critério <strong>dos</strong> grupos e segundo as características<br />

<strong>dos</strong> contos analisa<strong>dos</strong>.<br />

4. O título <strong>de</strong> um texto muitas vezes po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar<br />

o interesse das pessoas, levando-as à leitura.<br />

Pedir aos alunos que imaginem títulos<br />

chamativos para os contos que estão lendo, submetendo-os<br />

<strong>de</strong>pois à apreciação <strong>dos</strong> colegas, que<br />

julgarão se eles são mais interessantes ou não do<br />

que os títulos originais. Essa ativida<strong>de</strong> estimula<br />

os alunos a refletirem sobre as características principais<br />

<strong>dos</strong> contos que <strong>de</strong>vem analisar.<br />

Depois da leitura<br />

F nas tramas do texto<br />

Noite na taverna<br />

1. Sugerir aos alunos que façam uma votação<br />

para escolher o que consi<strong>de</strong>ram o melhor conto<br />

<strong>de</strong> Noite na taverna, com base em critérios<br />

estabeleci<strong>dos</strong> por eles mesmos. Essa ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve estimular uma releitura <strong>dos</strong> textos e chamar<br />

a atenção <strong>de</strong> alguns alunos para contos<br />

escolhi<strong>dos</strong> por outros colegas.<br />

2. Refletir sobre a função das epígrafes que<br />

abrem os contos. Verificar se há relação entre<br />

a epígrafe e o enredo <strong>de</strong> cada história e também<br />

se po<strong>de</strong>ria haver uma troca <strong>de</strong> epígrafes<br />

entre alguns contos.<br />

3. Sugerir aos alunos que criem um texto publicitário<br />

<strong>de</strong> apresentação do livro Noite na<br />

taverna, um texto que <strong>de</strong>sperte a curiosida<strong>de</strong><br />

e o interesse <strong>dos</strong> leitores. Depois, organizar<br />

uma votação em sala <strong>de</strong> aula para a escolha do<br />

melhor texto.<br />

Poemas escolhi<strong>dos</strong><br />

1. Pedir que os alunos indiquem as poesias que,<br />

na opinião <strong>de</strong>les, ainda se afinam com a sensibilida<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna.<br />

2. O tema da morte é freqüente na obra <strong>de</strong><br />

Álvares <strong>de</strong> Azevedo. Comparar as poesias “Lembrança<br />

<strong>de</strong> morrer” e “O poeta moribundo” e


comentar as diferenças que há entre elas no<br />

modo <strong>de</strong> encarar a morte.<br />

3. Discutir a diferença entre texto humorístico<br />

e texto satírico e apontar as poesias que po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>radas exemplos <strong>de</strong> humor e<br />

exemplos <strong>de</strong> sátira.<br />

4. Pesquisar a obra <strong>de</strong> outros poetas românticos<br />

brasileiros da época, como Fagun<strong>de</strong>s Varela,<br />

Casimiro <strong>de</strong> Abreu e Junqueira Freire, e selecionar<br />

poesias que tenham características em comum<br />

com as poesias <strong>de</strong> Álvares <strong>de</strong> Azevedo.<br />

5. Desafiar os alunos a musicarem alguma poesia<br />

do livro para apresentação em sala <strong>de</strong> aula.<br />

F nas telas do cinema<br />

• Festim diabólico. Dir. Alfred Hitchcock. Um<br />

clássico <strong>dos</strong> filmes <strong>de</strong> suspense, numa história<br />

<strong>de</strong> crime envolvendo dois jovens cínicos que<br />

po<strong>de</strong>riam ser companheiros <strong>dos</strong> personagens<br />

<strong>de</strong> Noite na taverna.<br />

• O retrato <strong>de</strong> Dorian Gray. Dir. Massimo<br />

Dallamano. Um homem em busca da eterna juventu<strong>de</strong>,<br />

numa história em que o fantástico e o<br />

horror pren<strong>de</strong>m o espectador do começo ao fim.<br />

• Romeu e Julieta. Dir. Franco Zefirelli. A mais<br />

bela história <strong>de</strong> amor da literatura, numa adaptação<br />

da peça <strong>de</strong> William Shakespeare, que Álvares<br />

<strong>de</strong> Azevedo, quem sabe, teria gostado<br />

muito <strong>de</strong> ver.<br />

F nas ondas do som<br />

O amor é o tema mais presente na música popular.<br />

Sugerimos que os próprios alunos façam<br />

uma seleção <strong>de</strong> letras <strong>de</strong> músicas que revelam,<br />

mais <strong>de</strong> um século <strong>de</strong>pois, a forte presença <strong>de</strong><br />

expressões e imagens da poesia romântica no<br />

nosso cancioneiro popular. Dentre as inúmeras<br />

possibilida<strong>de</strong>s, sugerimos algumas canções<br />

já consi<strong>de</strong>radas clássicas, tais como:<br />

• Serenata do a<strong>de</strong>us, <strong>de</strong> Vinicius <strong>de</strong> Moraes e<br />

Antônio Carlos Jobim.<br />

• A noite do meu bem, <strong>de</strong> Dolores Duran.<br />

• Retrato em branco e preto, <strong>de</strong> Chico Buarque<br />

<strong>de</strong> Holanda.<br />

DICAS DE LEITURA<br />

w sobre a poesia romântica<br />

• Antologia <strong>de</strong> poesia brasileira — Romantismo<br />

–– São Paulo, Ática. Seleção <strong>de</strong> textos <strong>dos</strong><br />

mais representativos poetas do Romantismo<br />

brasileiro.<br />

w sobre contos macabros e fantásticos<br />

• Os buracos da máscara — São Paulo,<br />

Brasiliense. Antologia <strong>de</strong> contos fantásticos que<br />

reúne alguns <strong>dos</strong> mais famosos escritores do<br />

gênero, os estrangeiros Franz Kafka, Hoffmann,<br />

Edgar Allan Poe, e os dois melhores brasileiros<br />

no gênero — Murilo Rubião e José J. Veiga.<br />

w leitura <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />

• O castelo mal-assombrado — E.T.A.<br />

Hoffmann, São Paulo, Global. Coletânea <strong>de</strong><br />

contos <strong>de</strong> Hoffmann (1776-1822), escritor alemão,<br />

que foi o mais importante autor <strong>de</strong> histórias<br />

fantásticas do Romantismo. Exerceu<br />

gran<strong>de</strong> influência nos prosadores e poetas do<br />

século XIX, inclusive no nosso Álvares <strong>de</strong> Azevedo,<br />

que o menciona em Noite na taverna.

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