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Luis Antônio Vanessa Sattamini Varão Monteiro - PUC-Rio

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<strong>PUC</strong><br />

O Simbólico no discurso visual<br />

Prof: <strong>Luis</strong> <strong>Antônio</strong><br />

<strong>Vanessa</strong> <strong>Sattamini</strong> <strong>Varão</strong> <strong>Monteiro</strong><br />

Trabalho Final<br />

Imagens do sertão<br />

Na virada do século XIX para o século XX o ocidente vive uma sensação de<br />

conquista do tempo e do espaço. A locomoção é mais ágil com os carros, as locomotivas,<br />

os transatlânticos que encurtam as distâncias. Santos Dummont realiza o sonho de voar. As<br />

transformações imprimem, fundamentalmente na população dos centros urbanos, a<br />

sensação vertiginosa que Nicolau Sevcenko tão bem caracterizou com a imagem da<br />

montanha-russa, já que a aceleração das mudanças vividas, o inesperado que surpreendia a<br />

cada passo, a sensação de domínio de um horizonte cada vez mais amplo que as conquistas<br />

científicas e tecnológicas traziam e a vertigem das crises de toda ordem então vividas<br />

faziam pensar nas emoções do mais emocionante dos brinquedos de um parque de<br />

diversões. 1<br />

A passagem do século é também marcada pelo progresso tecnológico. Neste<br />

período o corpo humano é esquadrinhado pela nova ciência médica, a estrutura da rede<br />

neuronal é descoberta por Golgi e Ramón y Cajal 2 , os grupos sangüíneos são identificados,<br />

a medicina avança vencendo doenças com a descoberta da penicilina, da vacina, a luz<br />

elétrica é inventada, e também o rádio, o gramofone, o telégrafo. A Belle époque imprime<br />

uma visão solar, otimista de crença no progresso, na libertação do homem frente ao reino<br />

da natureza, da necessidade. As cidades se embelezam, os países realizam as exposições<br />

internacionais 3 onde mostram o melhor de sua capacidade criativa, de sua indústria e de sua<br />

1<br />

- Nicolau SEVCENKO. A corrida para o século XXI. No loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia<br />

das Letras, 2001.<br />

2<br />

- Margarida de SOUZA NEVES. Ciência e preconceito: uma história social da epilepsia no pensamento<br />

médico brasileiro. 1895-1906. <strong>Rio</strong> de Janeiro: <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> / CNPq, 2003. (Projeto de Pesquisa,<br />

mimeo) p. 10..<br />

3<br />

- Cf. Margarida de SOUZA NEVES. As vitrines do progresso. O Brasil nas Exposições Internacionais. <strong>Rio</strong><br />

de Janeiro: <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>/CNPq, 1986.


arte. As exposições são centros de peregrinação à mercadoria fetiche 4 . Há uma fé no<br />

progresso que se transforma numa espécie de religião leiga 5 . O progresso libertaria e levaria<br />

ao fim de todos os males. É a idéia de um aperfeiçoamento cumulativo, e expressa a<br />

concepção de um tempo histórico linear que tem como ponto de partida a barbárie e como<br />

thelos a civilização, o progresso, as luzes. Nesta perspectiva a diferença é vista como<br />

desigualdade, como ausência, uma falta, um atraso na marcha linear e contínua em direção<br />

a civilização, e que, portanto, pode ser saldada se os povos tidos como “atrasados” forem<br />

capazes de acelerar seu processo histórico, ignorando assim diferenças estruturais entre<br />

nações que demarcam lugares igualmente diferentes – e não apenas desiguais – das nações<br />

no cenário internacional, o lugar central dos países tidos como “progressistas” dependendo<br />

da permanência daqueles tidos como “atrasados” na condição de periféricos e dependentes.<br />

Por outro lado, este mesmo período pode suscitar uma interpretação lunar, soturna.<br />

As cidades podem ser vistas como lugares de degradação moral, de quebra da hierarquia<br />

social e da ordem, de mistura caótica, de padronização de comportamentos e de adoção de<br />

um tipo de vestuário que leva à indiferenciação.<br />

No Brasil,neste momento em que o espaço urbano se consagra como espaço da<br />

experiência social que pretende representar o todo do país, marcado por profundas<br />

modificações, inclusive políticas, com a abolição da escravidão e a proclamação da<br />

República, que se expressa com mais clareza o confronto entre dois mundos díspares: o<br />

mundo do litoral e o mundo do sertão. A República, ainda instável, se enfrentará com uma<br />

comunidade de sertanejos que, desterrados de qualquer atenção por parte do poder público,<br />

independentemente do regime vigente, fundou seu próprio modus vivendi. Não apenas a<br />

geografia os distanciava, mas as visões de mundo ou, nas palavras de Euclides da Cunha:<br />

“(...) mais fundo o contraste entre o nosso modo de viver e daqueles<br />

rudes patrícios mais estrangeiros nesta terra do que imigrantes da Europa.<br />

Porque não no-los separa um mar, separam-no-los três séculos. 6 ”<br />

4 - Walter BENJAMIN. Paris, Capitale du XIXeme Siècle. IN: Gesamnelte Schiften. Frankfurt, Suhrkamp<br />

Verlag, 1982. APUD. Margarida de SOUZA NEVES. Op. Cit, 1986.p.22.<br />

5 - Cf. Margarida de SOUZA NEVES. Op. Cit, 1986.<br />

6 Euclides da CUNHA. Os Sertões. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Ediouro, 2003. p. 270.


A Guerra de Canudos durou quase um ano (1896-1897) e contou com a participação<br />

de cerca de dez mil soldados, vindos de dezessete estados brasileiros, que deram combate<br />

aos homens de <strong>Antônio</strong> Conselheiro em quatro expedições militares. O número estimado de<br />

vítimas supera vinte e cinco mil pessoas, entre elas mulheres e crianças. Quase todos os<br />

conselheiristas foram mortos depois de presos, na prática da “gravata vermelha”, como era<br />

conhecida a degola.<br />

A vitória dos militares só se deu ao cabo da quarta expedição: em 5 de outubro de<br />

1897 terminou a resistência dos últimos sertanejos. Canudos ficou completamente<br />

destruída. Cinco mil e duzentas casas foram queimadas, enquanto a elite política,<br />

acadêmica e militar congratulava-se pelo desaparecimento do arraial. O presidente da<br />

República, Prudente de Moraes, havia prometido que em Canudos não ficaria “pedra sobre<br />

pedra”. Acabada a guerra, era necessário, portanto, apagar os vestígios do que era visto<br />

pela ótica do poder como uma insurreição sertaneja. O fim deveria ser exemplar, para que<br />

outros movimentos que desafiassem a ordem republicana não se repetissem. Para as<br />

autoridades envolvidas era importante “que ali se plantasse a solidão e a morte”. 7 O arraial<br />

se converteu em um verdadeiro cemitério a céu aberto. “No dia seguinte à queda do<br />

arraial, os jornais ocupavam-se do carro automóvel e do cinematógrafo, novidades que<br />

estavam dando o que falar 8 ”.<br />

Canudos foi também a primeira guerra brasileira a ter, presentes nos campos de<br />

batalha, correspondentes dos mais importantes jornais do país, principalmente após a morte<br />

do Coronel Moreira César na terceira expedição militar. Ao local do conflito foram<br />

enviados repórteres dos principais jornais da época: Jornal do Comércio, A Notícia, O País,<br />

Gazeta de Notícias, O Jornal do Brasil, O República, O Diário de Notícias, Jornal de<br />

Notícias e O Estado de São Paulo. A imprensa havia crescido e começava a modernizar-se.<br />

Só na Bahia, entre 1811 e 1899, existiam setenta periódicos. O jornal o País do <strong>Rio</strong> de<br />

Janeiro se declara, nesta época, o jornal de maior circulação da América Latina e dedica<br />

centenas de páginas à cobertura da guerra.<br />

No entanto, o conflito se destacou também por ter contado com um suporte de<br />

memória novo no momento em que se deram os combates, a fotografia. Naquele final de<br />

7<br />

Aristides Augusto MILTON. A Campanha de Canudos. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1979<br />

APUD. Lélis PIEDADE. Op. Cit. p. 17.<br />

8<br />

Frederico Pernambucano MELLO. Que foi a guerra total de Canudos. Recife: Stahli, 1997. p.236.


século a técnica fotográfica havia se desenvolvido e a novidade já contava com<br />

profissionais no Brasil. Canudos foi a primeira guerra brasileira a ser registrada em imagens<br />

fotográficas. Três contemporâneos do conflito levaram para o campo de batalha suas<br />

máquinas fotográficas: Juan Guitierrez, Euclides da Cunha e Flávio de Barros. Guitierrez<br />

morreu no sertão e não temos nenhuma imagem produzida por ele, talvez até tenha morrido<br />

sem iniciar o trabalho. Euclides legou à posteridade sua riquíssima narrativa e os mapas que<br />

a ilustram. Dele ficaram, sobretudo as palavras, uma vez que as imagens fotográficas<br />

perderam-se.<br />

Já de Flávio de Barros, que foi para o palco do conflito como fotógrafo<br />

expedicionário contratado pelo exército, temos setenta fotos que registram a geografia da<br />

Aldeia Sagrada de Canudos, mas fundamentalmente as tropas e os oficiais. Na série de suas<br />

fotos feitas em Canudos existem apenas duas fotos de prisioneiros. Em uma delas vemos<br />

somente um jagunço preso e na outra, a imagem impressionante de quatrocentos<br />

prisioneiros de guerra. Não existem fotos de combate, talvez pelo perigo que este registro<br />

envolvia; a única foto de um grupo em movimento empunhando armas, é, na verdade, uma<br />

simulação.<br />

Registro fantasmagórico por excelência, só superado pelo cinema que colocou o<br />

passado em movimento, a fotografia permitiu congelar a imagem, uma maneira de se<br />

alcançar a imortalidade. Quando o homem vê a si mesmo em um retrato antigo, ele é capaz<br />

de perceber a marcha inevitável do tempo, o passado ganha concretude.<br />

ou, ainda, segundo o poeta:<br />

“Um retrato é um milagre, um momento de transcendência e<br />

eternidade(...) 9 ”<br />

“(...) Fotografia é o codinome da mais aguda percepção que a nós<br />

mesmos nos vai mostrando e da evanescência de tudo edifica uma<br />

permanência cristal do tempo no papel. (...) 10 .”<br />

Fotografias são tudo isso e, ainda, suportes de memória, mas, são também, como<br />

sugere em recente romance o escritor moçambicano Mia Couto, mentiras 11 . A imagem está<br />

9 Ivana BENTES. IN: Evandro TEIXEIRA. Canudos 100 anos. <strong>Rio</strong> de Janeiro, 2ªed. Textual, 1997.<br />

10 Carlos Drummond de ANDRADE. IN Paulo FONTENELLE. Evandro Teixeira. Instantâneos da<br />

Realidade. SD. DVD (120mim): Som, cor. Documentário.


geralmente associada, no senso comum, a um alto grau de fidelidade e credibilidade e por<br />

isto, a fotografia, equivocadamente, tende a ser interpretada como expressão da verdade; é<br />

preciso lembrar que enquadrar é sempre excluir.<br />

Durante o século XIX a fotografia era compreendida como realista por excelência,<br />

veículo incontestável de uma verdade empírica 12 . O pensamento dominante à época atribuía<br />

a gênese mecânica do ato fotográfico, ou seja, a técnica seu status de prova, de espelho do<br />

real. A discussão que acirra os ânimos com entusiastas de ambos os lados é se a fotografia<br />

pode ou não ser considerada arte, por sua capacidade mimética de reprodução do mundo,<br />

tanto que alguns retratistas tornam-se fotógrafos neste momento. O entendimento da<br />

imagem neste momento se dá através da semelhança.<br />

O século XX inverte este entendimento da imagem como analogia perfeita<br />

do real e traz para a discussão a capacidade da imagem de transformar o real, seja pela<br />

técnica: ângulo, enquadramento, luz, ou seja através das múltiplas interpretações que ela<br />

permite. Nos chama a atenção para o fato de uma foto não ser apenas o ato de produzir uma<br />

imagem, mas envolver código, e receptor. E códigos e receptores são múltiplos. As<br />

imagens podem provocar reações distintas. A interpretação, o impacto causado por uma<br />

imagem está ligado sempre ao campo de experiência 13 de cada um e vai depender sempre<br />

daquilo que o receptor projeta de si, em função de seu repertório cultural, de sua situação<br />

sócio-economica, de seus preconceitos, de sua ideologia, razão pela qual as imagens<br />

sempre permitirão uma leitura plural. 14 A imagem é, assim, decodificada pelo receptor a<br />

partir do repertório que este possui e apropriada por ele, abrindo, assim, espaço para<br />

leituras diversas, distintas, plurais e por que não, até díspares. Este processo de apreensão<br />

da imagem é gestáltico.<br />

Na intercessão das duas posições de análise desenvolveu-se uma terceira via de<br />

análise, que até certo ponto retoma a questão do referente do século XIX, mas agora sem<br />

encará-lo como substancialmente mimético. Dentro desta linha de interpretação a foto é<br />

11 [0]Cf. Mia COUTO. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Lisboa: Caminho,2003.<br />

12 Philipe, DUBOIS. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas, SP: Papirus, 1993. p.43<br />

13 Cf.Reinhart ,KOSELLECK. “Champs d´expérience et horizon d’attente. Deux catégories historiques“<br />

IN Le Futur passé. Paris:EHESC, 1990.<br />

14 Cf. Susan SONTAG. Diante da dor dos outros. São Paulo : cia das letras, 2003. p115


inseparável de seu referente, ou seja, do ato que a fundou. A foto é primordialmente índice,<br />

só depois pode tornar-se ícone e adquirir sentido tornando-se símbolo 15 .<br />

Do ponto de vista historiográfico é importante destacar que a foto é um documento<br />

e como tal, pode, inclusive, fazer perguntar sobre o que não está sendo mostrado. A<br />

fotografia é uma seleção do vivido de maneira premeditada ou não.<br />

A comunicação não-verbal ilude e confunde. Deve-se, no entanto,<br />

perceber na imagem o que está nas entrelinhas, assim como fazemos em<br />

relação aos textos (...) Precisamos aprender a esmiuçar as fotografias<br />

criticamente, interrogativamente e especulativamente (...) No que uma boa<br />

fotografia desvenda para o olho e a mente compreensiva, ela falhará em<br />

desvendar para o olhar apressado 16 .<br />

No entanto, o século XIX num esforço de colocar a história no patamar de ciência e<br />

afastá-la da tradição antiquária, legou às imagens o papel secundário de mera ilustração, ou<br />

de exemplificação da fonte escrita. Apenas em 1929 quando Lucien Febvre e March Bloch<br />

fundam a revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, com o intuito de inaugurar um<br />

novo tipo de pesquisa histórica, é que esta perspectiva começa a ser modificada. O<br />

movimento dos Annales foi bem sucedido a ponto do historiador Peter Burke ter se referido<br />

a ele como a Revolução da historiografia francesa 17 . A história nova proposta por Febvre e<br />

Bloch voltava-se para problematizar o social, relativizava uma história que absolutizava o<br />

político e o predomínio do Estado como protagonista e a determinação do aspecto<br />

econômico. A preocupação com o estudo das mentalidades como importante objeto de<br />

pesquisa esteve presente desde o início dos Annales. No entanto, de 1959 até 1969, período<br />

em que um discípulo de Lucien Febvre, Ferdinand Braudel, esteve à frente da Revista a<br />

atenção dada pelos fundadores à história das mentalidades permaneceu em um segundo<br />

plano. Braudel trabalhou principalmente a relação tempo e história e suas interação com o<br />

meio geográfico, dando destaque aos aspectos socioeconômicos. Assim, a história das<br />

mentalidades voltou a ganhar ênfase no final dos anos 60, não só com o afastamento de<br />

15 Cf. DUBOIS. Op. Cit.<br />

16 Robert, A. WEINSTEIN & Larry BOOTH. Collection, Use and Care of Historical Photographs Nashville:<br />

American Association for State and Local History. P 11 Apud Boris KOSSOY. Fotografia e<br />

História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 116.<br />

17 Ciro Flamarion CARDOSO ; Ronaldo VAINFAS (orgs). Domínios da história: ensaios de teoria e<br />

metodologia. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Campus, 1997. 7ª edição. p. 131.


Braudel da direção do periódico, que veiculava a produção da Escola dos Annales, mas<br />

também pelo aparecimento no cenário intelectual francês da obra do antropólogo Claude<br />

Lévi-Strauss e do filósofo Michel Foucault, que questionam os preceitos ocidentais que<br />

levavam a conceber o conhecimento dentro de uma estrutura racionalista, de matriz<br />

iluminista. 18 Esta nova vertente da chamada história social, que foi retomada nos anos 60,<br />

trouxe um modo de fazer história de ênfase etnográfica. Foi um movimento de busca do<br />

humano, do homem atrás da história.Esta nova historiografia acentuou o interdisciplinar, ou<br />

seja, o diálogo com outras áreas do conhecimento como com a antropologia, a lingüística, a<br />

psicologia, e dentro desta renovação viabilizou o uso de fontes não escritas no trabalho do<br />

historiador, trazendo à tona o novo papel da imagem. O movimento foi deslocar o que<br />

estava nas margens para o centro da discussão e permitir pensar que “homem comum pode<br />

fazer a história ao invés de sofrê-la” 19 . Esta historiografia vem inaugurando campos de<br />

atuação e novos objetos até os dias de hoje, embora ainda seja bastante comum nos<br />

depararmos com imagens tratadas apenas como ilustrações nos trabalhos historiográficos<br />

ainda hoje, muitos trabalhos como o de Serge Gruzinski em A colonização do imaginário<br />

buscam dar centralidade à imagem igualando a sua importância com a palavra enquanto<br />

fonte documental 20 . Décadas após o trabalho de Bloch e Febvre a imagem ainda é um<br />

desafio para os historiadores.<br />

Fotografias são fragmentos da realidade, são momentos destacados, eternizados,<br />

descolados do fluxo ininterrupto da vida, mas sem a análise do contexto histórico em que<br />

foram produzidas e sem o olhar crítico do historiador continuam sendo apenas fragmentos<br />

deslocados no tempo e no espaço, ecos, sombras de outras épocas. A fotografia é um tipo<br />

de suporte de memória que permite que o passado em seu contorno mais real, o das<br />

fisionomias, do olhar, interpenetre e interpele o presente. Elas são vestígios valiosos para os<br />

historiadores, pois permitem leituras outras que aquela que a historiografia da época nos<br />

legou, uma vez que podemos estabelecer um confronto entre elas e as outras fontes<br />

disponíveis. As imagens podem nos levar além, se soubermos interrogá-las, ver além<br />

daquilo que o fotógrafo elegeu eternizar.<br />

18<br />

Cf: Ciro Flamarion CARDOSO ; Ronaldo VAINFAS (orgs). Op.Cit..<br />

19<br />

IDEM. Op. Cit. 1995. p.36.<br />

20<br />

Cf. Manoel Luiz Lima Salgado GUIMARÃES; Hilda Machado. O lugar das imagens no Campo. Mimeo.


As fotografias de Flávio de Barros são, dentro da definição de Piere Nora 21 , um<br />

lugar de memória de uma lógica excludente o Brasil do século XIX que via o sertão como<br />

atraso, o sertanejo como bárbaro e o Conselheiro como fanático. Lugar de memória de uma<br />

visão legalista que tinha no exército a instituição garantidora da ordem e do progresso<br />

nacional. Lugares de memória do projeto da primeira república, portanto. São igualmente<br />

relíquias, segundo o entendimento de Lowenthal 22 , ou seja, sobrevivências de outros<br />

tempos, fragmentos que dão tangibilidade ao passado.<br />

Segundo estudiosos como o professor Jorge Pedro Souza, o trabalho do fotógrafo<br />

em Canudos se enquadra claramente em uma missão fotodocumentarista 23 , por suas<br />

imagens, se adequarem aos propósitos do exército de justificar a guerra e o massacre. Sua<br />

coleção de fotos constrói uma memória do conflito, um lugar de memória de um exército<br />

que aparece como<br />

(...) Eficiente, organizado, em instalações sempre higiênicas,<br />

com boa disponibilidade de alimentos, assistência médica - inclusive aos<br />

rebeldes, que nas raríssimas vezes em que são retratados estão em situação<br />

inteiramente desprivilegiada 24<br />

E sabemos através do contraste das fotos com outras fontes e pelas críticas internas<br />

e externas as fotos que as condições não eram favoráveis assim. Flávio de Barros, através<br />

das imagens, pretendeu dar legitimidade à ação do exército brasileiro e minimizou os<br />

problemas existentes. A peste de varíola que assolou o sertão durante o desenrolar da<br />

guerra vitimava indiscriminadamente soldados e sertanejos; havia infestações de pulgas, e<br />

os problemas com a logística para o abastecimento das tropas levava, no mais das vezes, à<br />

fome. Segundo relatos de oficiais, como Dantas Barreto, os soldados tiveram por vezes que<br />

recorrer à caça e à coleta de plantas locais. No entanto, o fotógrafo produziu duas imagens<br />

de soldados fazendo refeições normalmente, como se estes problemas não existissem.<br />

Historicamente os fotógrafos escolheram divulgar, sobretudo imagens positivas da guerra,<br />

21 Cf. Piere, NORA.“Entre mémoire et histoire: la problématique des lieux.” IN: Les lieux de mémoire .<br />

Paris: Gallimard, 1984. Vol 1. (Tradução na Revista Projeto História. Nº 10 História & Cultura.<br />

São Paulo, <strong>PUC</strong>-SP – Programa de Pós-Graduação em História, dezembro de 1993.)<br />

22 Cf. David,LOWENTHAL, “How we know the past” IN The past is a foreign country. Cambridge/New<br />

York:Cambridge University Press, 1988. (Tradução para o português na Revista Projeto História. Nº<br />

17 Trabalhos da Memória. São Paulo, <strong>PUC</strong>-SP – Programa de Pós-Graduação em História,<br />

novembro de 1998.<br />

23 Cf. INSTITUTO MOREIRA SALLES. Cadernos de fotografia brasileira. <strong>Rio</strong> de Janeiro: IMS, 2002.p.260<br />

24 Idem. Ibidem. p.261


em defesa do sacrifício dos soldados. Foi só a partir do Vietnã que o horror e a morte<br />

começam a aparecer de maneira nua e crua nos cenários de guerra.<br />

A foto Refeição na bateria do perigo ( anexo1) é um exemplo do massacre referido<br />

acima. Nela cinco oficiais uniformizados estão sentados à mesa fazendo uma refeição. Há<br />

sobre a mesa improvisada com troncos e tábuas precárias travessas, talheres, pratos, copos e<br />

uma garrafa como mandam as regras da boa educação. As bombachas de um deles são um<br />

indício de que há oficiais gaúchos no campo de operações. Era o Brasil da ordem sentado à<br />

mesa, alimentando-se.<br />

O gesto do oficial que corta algo em seu prato parece indicar que na refeição há algo<br />

mais sólido que o arroz com farinha que é a base da comida sertaneja. As botas, os dólmans<br />

abotoados até o pescoço apesar do calor, as calças limpas e os chapéus ainda impecáveis<br />

parecem indicar que o perigo está longe da bateria. Apenas uma arma, colocada<br />

ostensivamente sobre um tamborete e apoiado contra um muro de tronco, lembra a guerra.<br />

No canto inferior direito da cena aparecem três crianças sertanejas, presença talvez<br />

imprevista na montagem da cena da refeição dos militares, mas a câmara fotográfica parece<br />

exercer um fascínio especial sobre as crianças: um menino, de pé, a cabeça raspada<br />

provavelmente para escapar à infestação de piolhos, olha diretamente para a câmera, duas<br />

meninas de vestidinhos escuros, acocoradas na posição que <strong>Monteiro</strong> Lobato eternizará<br />

como sendo a do Jeca Tatu também olham para a lente; uma mais à frente a outra quase que<br />

escondida atrás de uma das muitas redes amarradas nas traves da construção onde os<br />

soldados fazem sua refeição. As crianças não participam da refeição; estão à margem da<br />

fotografia 25 .<br />

Esta foto, isoladamente, sem termos acesso as outras fontes que narram as<br />

dificuldades encontradas, passaria a viva impressão de normalidade e organização no<br />

acampamento das tropas. As crianças estão à margem da foto, assim como estavam<br />

igualmente à margem daquela sociedade que via nos jagunçinhos a marca genética do<br />

atraso, do barbarismo a partir de uma visão determinista e cientificista que atribuía ao meio<br />

e à raça a capacidade de hierarquizar indivíduos.<br />

Outra foto já citada, a única foto de um grupo grande de prisioneiros. È uma<br />

imagem impressionante de quatrocentos prisioneiros de guerra (anexo2), na minha análise<br />

25 Cf. Margarida de Souza Neves


a imagem mais chocante de toda a série. Muitos relatos dão conta das circunstâncias em<br />

que essa fotografia foi tirada.<br />

Na manhã de 02 de outubro os soldados avistaram uma bandeira branca tremulando.<br />

Era <strong>Antônio</strong> Beatinho que pedia uma trégua. Foi levado, então, para falar com o General<br />

Artur Oscar. Queria negociar a rendição dos Canudenses. O General pretendia a rendição<br />

total e deu garantia de vida a todos e, em função desta proposta, Beatinho voltou ao que<br />

havia restado da Aldeia para conversar com os sobreviventes. Algum tempo depois trouxe<br />

ao General as cerca de 400 mulheres e crianças e 60 homens feridos que foram cercados<br />

pelo batalhão de polícia do Pará. Os demais tinham decidido lutar até o fim. De Beatinho<br />

não se teve mais notícias desde então, e também não se sabe ao certo o destino dado às<br />

mulheres, crianças e feridos. O oficial Dantas Barreto presente à rendição descreveu em<br />

palavras suas impressões daquele momento:<br />

Tinham a fisionomia calma, o olhar de quem já não havia coisa<br />

alguma no mundo que espantasse, pouco as inquietavam as multidões<br />

curiosas que viam em torno; não pediam compaixão, (...) Dessem-lhe água<br />

até saciarem a sede que lhes produzia vertigens, e matassem-nas como<br />

quisessem depois. (...) E o desfilar das infelizes continuava ainda, sem que<br />

soubessem para onde as levaria o destino, com a alma vazia de qualquer<br />

sensação que não fosse a sede devoradora e causticante. (...) Os homens<br />

inválidos, cegos, aleijados e feridos de muitos dias, começaram a passar<br />

também. As grandes misérias das humanidade não podem criar situações<br />

mais desoladoras! Todas as torturas do Inferno de Dante estavam ali<br />

resumidas. 26<br />

Na foto, em primeiro plano, estão mulheres e crianças. O sentimento que a visão da<br />

foto inspira é de desalento. Uma multidão de mulheres e crianças envoltas em panos,<br />

impotentes e cercadas por soldados armados que posam para o fotógrafo como se exibissem<br />

e montassem guarda a troféus de guerra, vitoriosos frente à fome, à sede, à tristeza daqueles<br />

que perderam tudo, inclusive o direito ao seu próprio destino. Poucas daquelas mulheres<br />

olham para a câmera, algumas parecem ter os olhos voltados para o vazio, como que<br />

perdidas, outras curvam-se sobre si mesmas, vergadas pela dor. Em meio à multidão um<br />

rosto se destaca (anexo3): uma mulher com a filha às costas parece que nos olha<br />

26 Emídio Dantas BARRETO. Última expedição a Canudos. APUD INSTITUTO MOREIRA SALLES.<br />

OpCit. p.295.


diretamente, e seu olhar resume para mim o momento marcado pela incompreensão, pela<br />

incerteza sobre o futuro, e estampa uma única certeza, a de estar diante de um fim<br />

inexorável. Esta mulher anônima que me olha do centro da imagem de mais de um século<br />

atrás é aquilo que Barthes nomeou de punctum 27 da fotografia, ou seja, o que punge o<br />

espectador. E como o próprio autor coloca normalmente “o puntum é um detalhe, um corte,<br />

um buraco, o que mortifica e fere” 28 . O que me mobiliza nesta mulher é difícil de definir<br />

com precisão, talvez o contraste, a descontinuidade entre a beleza de seu rosto e a tristeza<br />

do olhar, ou talvez quem sabe a imagem do sofrimento materno a referência simbólica tão<br />

presente na nossa cultura seja: Maria ou Pietá ou, ainda, mais recentemente, a mãe de<br />

Beslan. Seu olhar expressa o fim do sonho de Conselheiro, da Aldeia Sagrada, da vida que<br />

elas conheceram. Perda, talvez seja a palavra, perda da casa, do cotidiano, muitas vezes do<br />

marido, dos filhos, do ideal. Perda acima de tudo da esperança.<br />

Há ainda as crianças. Um menino negro com as mãos postas parece rezar, um bebê<br />

exibe as costelas descarnadas, marca da fome que assolou os últimos dias de Canudos.<br />

Outras imóveis olham sem compreender, algumas se encolhem com medo. Medo<br />

justificado naqueles dias tão terríveis onde nem mulheres nem crianças foram poupadas da<br />

violência dos representantes do litoral civilizado que acreditava no progresso. A foto ainda<br />

hoje choca, e parece ser atemporal; poderia ilustrar qualquer referência que tenhamos da<br />

fome, da guerra e do sofrimento humano. É atemporal, pois a dor é atemporal, uma espécie<br />

de núcleo de compreensão que pode ser apreendido, qualquer que seja o receptor. Ainda<br />

que esta dor seja historicamente datada sua referência espacial e temporal seja igualmente<br />

conhecida: Canudos: 02 de outubro de 1897. Foi no Brasil, na Bahia, quase divisa com<br />

Sergipe que se produziu a cena registrada pelo aparelho fotográfico de Flávio de Barros.<br />

Susan Sontag escreveu certa vez que algumas imagens são capazes, através de seu<br />

realismo intolerável, de aprisionar a história em nossas mentes. E esta realidade póstuma,<br />

muitas vezes, pode representar o sumário de acusação mais incisivo que há 29 . Esta foto com<br />

certeza, é uma delas. Sempre presente nas publicações a respeito de Canudos, virou uma<br />

referência obrigatória, converteu-se em um lugar de memória lido pelo avesso, ao invés de<br />

lugar de memória da vitória final do exercito sobre o arraial de Conselheiro, objetivo inicial<br />

27 Roland BARTHES. A Câmara Clara. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Nova Fronteira. pp46<br />

28 Idem. Ibidem. pp46.<br />

29 Cf. SONTAG.op. cit. pp 53 e 71.


do registro de Flávio de Barros, tornou-se lugar de memória da violência empreendida pelas<br />

tropas contra um grupo de sertanejos que acreditou na possibilidade de viver dentro de uma<br />

lógica includente baseada em laços de solidariedade.<br />

A fotografia, este documento em aberto que nos permite várias leituras, é por<br />

essência contradição e ambigüidade. Documento e obra de arte, revelação e farsa, realismo<br />

e surpresa, luz e sombra, instante e eternidade. Contradição, assim como o sertão descrito<br />

por Euclides da Cunha que oscila em ritmo binário entre a seca e a chuva, assim como seu<br />

sertanejo este Hércules-Quasímodo 30 .<br />

Hoje, mais de um século depois das fotos de Flávio de Barros a fotografia ainda é<br />

para o sertanejo uma experiência que guarda uma aura de magia e apreensão. Ivana Bentes<br />

soube perceber isso com sensibilidade ao revisitar o sertão de Canudos com o fotografo<br />

Evandro Teixeira:<br />

30 Cf. Idem.Ibidem<br />

31 Ivana BENTES. Op. Cit p. 01.<br />

(...)Diante da câmera fotográfica as pessoas se imobilizam como<br />

se dependessem desse instante para qualquer redenção. Não existe sorriso<br />

nem estar á vontade diante do fotógrafo. A solenidade dos rostos, a crueza<br />

da paisagem, o excesso de luz não deixa quase nada para se imaginar ali. O<br />

sertão é um cartão-postal perverso. Tudo está lá e ao mesmo tempo parece<br />

que não vimos nada 31 .


Referências Bibliográficas<br />

BARTHES, Roland. A Câmara Clara.<br />

<strong>Rio</strong> de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

CARDOSO, Ciro Flamarion ; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da história: ensaios de<br />

teoria e metodologia.<strong>Rio</strong> de Janeiro: Campus, 1997. 7ª edição.<br />

COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.<br />

Lisboa: Caminho,2003.<br />

CUNHA, Euclides da. Os Sertões.<br />

<strong>Rio</strong> de Janeiro: Ediouro, 2003.<br />

DUBOIS, Philipe O ato fotográfico e outros ensaios.<br />

Campinas, SP: Papirus, 1993.<br />

GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado e MACHADO, Hilda. O lugar das imagens no<br />

Campo. Mimeo.<br />

INSTITUTO MOREIRA SALLES. Cadernos de fotografia brasileira.<br />

<strong>Rio</strong> de Janeiro: IMS, 2002.<br />

KOSELLECK, Reinhart. “Champs d´expérience et horizon d’attente. Deux catégories<br />

historiques. “ IN Le Futur passé. Paris:EHESC, 1990.<br />

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LE GOFF, Jacques. “Memória” IN Enciclopédia Einaudi vol 1. História – Memória.<br />

Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1984.<br />

LOWENTHAL, David. “How we know the past” IN The past is a foreign country. Itálico<br />

Cambridge/New York:Cambridge University Press, 1988. (Tradução para o<br />

português na Revista Projeto História. Nº 17 Trabalhos da Memória. São Paulo,<br />

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MELLO, Frederico Pernambucano. Que foi a guerra total de Canudos. Recife: Stahli,<br />

1997.<br />

NEVES, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. O Brasil nas Exposições<br />

Internacionais. <strong>Rio</strong> de Janeiro: <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong>/CNPq, 1986.


NEVES, Margarida de Souza. Ciência e preconceito: uma história social da epilepsia<br />

no pensamento médico brasileiro. 1895-1906. <strong>Rio</strong> de Janeiro: <strong>PUC</strong>-<strong>Rio</strong> / CNPq,<br />

2003. (Projeto de Pesquisa, mimeo)<br />

NEVES, Margarida de Souza.Os cenários da república. O Brasil na virada do século XIX<br />

para o século XX. IN Jorge FERREIRA e Lucília de Almeida Neves DELGADO (<br />

orgs). Brasil Republicano (vol I) O tempo do liberalismo excludente. Da<br />

proclamação da república a 1930. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.<br />

NEVES, Margarida de Souza. Uma capital em trompe l’oei. O <strong>Rio</strong> de Janeiro, cidadecapital<br />

da República-Velha. IN. Ana Maria MAGALDI;Claudia ALVES e José G.<br />

GONDRA (Orgs). Educação no Brasil. História, cultura e política. Bragança<br />

Paulista: EDUSF, 2003.<br />

NORA, Pierre. “Entre mémoire et histoire: la problématique des lieux.” IN: Les lieux de<br />

mémoire. Itálico Paris: Gallimard, 1984. Vol 1. (Tradução na Revista Projeto<br />

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PIEDADE, Lelís. Histórico e Relatório do Comitê Patriótico<br />

da Bahia (1897-1901). Salvador: Portfolium, 2002<br />

SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI. No loop da montanha-russa.<br />

São Paulo: Companhia das Letras, 2001.<br />

SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros.<br />

São Paulo: Companhia das Letras, 2003.<br />

TEIXEIRA, Evandro. Canudos 100 anos.<br />

<strong>Rio</strong> de Janeiro, 2ªed. Textual, 1997.


Anexos<br />

Anexo 1 – Fotografia Bóia na Bateria do Perigo ( Flávio de Barros, 1897)


Anexo 2 – Fotografia 400 jagunços prisioneiros ( Flávio de Barros, 1897)<br />

Anexo 3 – Detalhe da fotografia 400 jagunços prisioneiros ( Flávio de Barros,<br />

1897)

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