Como é que você escreve, Vinicius? Eu prefiro escrever à máquina ...

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VIVER & ESCREVER
meu camarim uma senhora que disse assim: “Quem sou eu?”
Olhei a senhora, bonita ainda, como se fosse uma câmera em
zoom, no tempo. Eu disse: “Cassy Clodovil”. Tinha sido minha
primeira namorada. Escola Afrânio Peixoto. Um fato tão importante
na minha vida. Olhei para aquela menina da minha
idade: sete anos. Uma coisa tão bonita. Ela trouxe meu primeiro
poema para ela, um poema manus crito, assinado assim:
Com amor, do poeta Vinicius. Fiquei de joelhos trêmulos.
Quais eram os poetas que você imitava?
Castro Alves, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias. Eu lia e ficava
querendo fazer um poema parecido com os deles. Tanto
assim, que eu botava tudo num caderno de capa preta. Uma
espécie de ladainha de Nossa Senhora, em versos de ladainha.
Em algum momento eu fui bastante místico, cantava,
inclusive, no coro. Meus amigos também tinham pendores
místicos. O que me salvou é que, felizmente, me tornei logo
um grande pecador. Contava com a confissão de sábado para
pecar na segunda-feira. Sempre tive vocação para ser vadio,
para tocar violão. Aos quinze anos, já participava de um conjuntinho,
fazia umas musiquinhas.
E o primeiro livro? Foi fácil editar?
Caminho para a Distância saiu quando eu tinha dezenove
anos. Paguei a edição para a Livraria Schmidt Editora, do
poeta Augusto Frederico Schmidt. Quando a gente abre o
primeiro livro impresso dá uma emoção danada, fiquei num
entusiasmo tremendo, descobri que era escritor.
A crítica recebeu bem a sua estréia?
A crítica foi maravilhosa. João Ribeiro, Alceu Amoroso
Lima. Todo mundo. Na Faculdade de Direito eu fiz um grande
amigo, o Octávio de Faria, que me orientou nas leituras,
incen tivou em mim a curiosidade literária, a investigação.
E o segundo livro, Forma e Exegese?
Saiu quando eu tinha 22 anos. Um livro mais organizado
mentalmente, porque eu já conhecia Rimbaud, que exerceu
uma enorme influência em mim. Aliás, li todos os poetas
franceses como Baudelaire, Verlaine, Mallarmé, os portu-