Como é que você escreve, Vinicius? Eu prefiro escrever à máquina ...
Como é que você escreve, Vinicius? Eu prefiro escrever à máquina ...
Como é que você escreve, Vinicius? Eu prefiro escrever à máquina ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
14<br />
VIVER & ESCREVER<br />
E a sua paixão pelo cinema, apareceu quando?<br />
Isso <strong>é</strong> muito antigo. A gente vivia de cinema o tempo todo.<br />
Octávio de Faria me orientou muito. Às vezes eu assistia a três<br />
filmes por dia e depois discutia. A gente vinha da Cinelân dia<br />
at<strong>é</strong> a Gávea a p<strong>é</strong>, conversando. Um período de grande intensidade,<br />
discutindo filosofia, literatura, tudo. Ler um arti go de<br />
Álvaro Lins, do Tristão de Athayde era um prazer. Tinha-se<br />
o <strong>que</strong> discutir e pensar a semana toda. <strong>Como</strong> a minha poesia<br />
teve tanto sucesso inicial, eu me tornei amigo dos maiores escritores<br />
brasileiros: Oswald e Mário de Andrade, Guilherme<br />
de Almeida, S<strong>é</strong>rgio Buar<strong>que</strong> de Hollanda, Gil berto Freyre,<br />
Pedro Nava, Augusto Meyer.<br />
E a vida pessoal, as namoradas?<br />
Ah, eu levava uma vida dupla: de um lado tinha os amigos<br />
lite rários, de outro – <strong>que</strong> eu ocultava cuidadosamente – as<br />
namoradas, as putas, as transas de Copacabana, de mole<strong>que</strong><br />
de praia. Por isso dou a maior importância ao Ariana, a Mulher,<br />
ponto máximo dessa fase, e de minha obra. Daí, bom,<br />
caí de amores por uma menina paulista chamada Antônia.<br />
Pegava um avião remendado, da<strong>que</strong>les da Panair, e vinha<br />
para São Paulo namorar. E publi<strong>que</strong>i Novos Poemas.<br />
Quais eram os seus amigos paulistas?<br />
O Francisco Luiz de Almeida Salles, o Paulo Emílio Salles<br />
Gomes, o Clóvis Graciano, o Aldemir Martins, o Rebolo, o<br />
Roland Corbisier. A Livraria do Alfredo Mesquita era ponto<br />
obrigatório nos fins de tarde. O conhecimento desses homens<br />
mais com o p<strong>é</strong> na terra, <strong>que</strong>r dizer, mais preocupados<br />
com a terra do <strong>que</strong> com o c<strong>é</strong>u, me afastou pouco a pouco do<br />
outro grupo, o carioca, preocupado com o c<strong>é</strong>u.<br />
E a sua ida para a Inglaterra?<br />
<strong>Eu</strong> ganhei a primeira bolsa de estudos para a Inglaterra, dada<br />
pelo Conselho Britânico. <strong>Eu</strong> e o Marcelo Damy de Souza Santos,<br />
<strong>que</strong> <strong>é</strong> um físico muito importante. Fui para Oxford e ele<br />
para Cambridge. E descobri os poetas ingleses. Shakespeare<br />
ia ser minha tese de doutorado, <strong>que</strong> eu não pude fazer por<strong>que</strong><br />
estourou a guerra. Casei com a Tati (Beatriz de Azevedo<br />
Melo) por procuração. Acontece <strong>que</strong> eu estava quase noivo