EIS QUE A PAZ VERDADEIRA DESCEU DO CÉU
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<strong>EIS</strong> <strong>QUE</strong> A <strong>PAZ</strong> <strong>VERDADEIRA</strong> <strong>DESCEU</strong> <strong>DO</strong> <strong>CÉU</strong><br />
Dom Henrique Soares da Costa<br />
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju-SE<br />
“Hoje, a Paz verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje,<br />
raiou o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado!” – Estas palavras, a Igreja<br />
as reza por toda a terra no Ofício das Vigílias desta Noite santa. Mas, por que tanta<br />
exultação? Por que tanta luz? Por que tanta doçura, tanta ternura, tanta paz?<br />
Hoje, cumpriu-se as Escrituras: o Dia tão esperado brilhou no meio da noite. Hoje, “o povo,<br />
que andava na treva”, a humanidade perdida e confusa, “viu uma grande luz; para os<br />
que habitavam nas sombras da morte”, para nós, que temos sempre de lutar contra<br />
tantas e tantas mortes, “uma luz resplandeceu!”. Nesta Noite, podemos comemorar,<br />
alegrarmo-nos como os que colhem depois do trabalho e do suor do plantio, porque algo<br />
inacreditável, algo que parece um sonho, um conto de fadas, nos aconteceu! Escutai,<br />
escutai: “Nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho; ele traz nos ombros a<br />
marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro Admirável, Deus Forte,<br />
Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz. Grande será o seu reino e a paz não há de<br />
ter fim… a partir de agora e por todo sempre!” Eis a graça, a glória, o mistério desta<br />
Noite! Por isso a alegria: o Deus fiel cumpriu o que prometera e ultrapassou toda promessa.<br />
Nesta Noite tão santa, tão única, tão cheia de frescor, como são comoventes as palavras do<br />
Apóstolo na segunda leitura. Olhem o presépio, e escutem, olhem a manjedoura e prestem<br />
atenção: “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens.<br />
Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste<br />
mundo com equilíbrio, justiça e piedade”. Olhem o presépio! Olhem o presépio: a graça<br />
de Deus é uma Criança, o Menino que nos foi dado! A graça de Deus está “envolvida em<br />
faixas e deitada numa manjedoura”. Que graça pequeninha; que graça tão grande! Que<br />
graça tão frágil; que graça tão forte! Quem é tão duro de coração, que não se comova? Quem<br />
é tão desumano, que não se emocione? Quem é tão pecador, que não queira aproximar-se de<br />
Deus? Quem é tão insensível, que não sinta, nesta Noite, o desejo de amar, o desejo de ser<br />
bom, o desejo de paz, o desejo de se deixar abraçar por Deus? “Não tenhais medo!” Quem<br />
quer que sejas tu: não temas! Não tenhas receio pelos teus pecados, não te afastes da graça<br />
desta Noite por causa das tuas infidelidades! Compreende: hoje, teu Deus vem a ti! Vem a ti a<br />
Paz, vem a ti o Perdão, vem a ti a Misericórdia, vem a ti a Plenitude do teu coração e o sonho<br />
da tua vida! Hoje nasceu para ti, para nós, um Salvador!<br />
Presta bem atenção: porque tu és fraco, ele veio sustentar-te; porque tu és inconstante, ele<br />
veio permanecer contigo; porque tu muitas vezes não sabes o caminho, ele se vez visível na<br />
nossa carne; porque tu vives em trevas, ele apareceu como luz; porque tu não podes subir a<br />
Deus, ele desceu para te elevar! Que amor tão grande, que caridade sem medida! Nesta Noite<br />
a Virgem deu à luz o próprio Deus na nossa humanidade mortal!<br />
Por isso a alegria da Igreja, por isso, a exultação! Abramos nosso coração, abramos nossa vida,<br />
nossos afetos, nossos sentimentos, nossos projetos para o mistério desta Noite. No século V,<br />
são Leão Magno, Papa de Roma, dizia ao povo na noite de hoje: “Hoje, amados filhos,
nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que<br />
nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria<br />
com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nesta<br />
felicidade. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque<br />
lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida!”<br />
Mas, estejamos atentos: porque Aquele que vem como luz no meio da noite, vem pobre,<br />
humilde, pequeno, frágil… e somente poderá ser reconhecido se estivermos atentos: atentos<br />
aos seus sinais, atentos às coisas pequenas, atentos aos irmãos mais frágeis, atentos ao que no<br />
mundo parece a toa, sem valor, sem importância, sem poder… O Menino somente pôde ser<br />
encontrado e reconhecido pela pobre Virgem Maria, pelo humilde José, pelos desprezados<br />
pastores… Os soberbos, os prepotentes, os esbanjadores, os orgulhosos jamais receberão a<br />
graça desta Noite!<br />
Então, ouçamos ainda as palavras do Papa são Leão; tomemos o seu apelo para esta<br />
Noite: “Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade! Não voltes aos erros de antes<br />
por um comportamento indigno de tua condição. Lembra de que cabeça e de que<br />
corpo és membro. Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e<br />
tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da<br />
carne!”<br />
Por tudo isso, concluamos como iniciamos, com as palavras da Liturgia da Igreja: “Hoje, a Paz<br />
verdadeira desceu-nos do céu; hoje, os céus e a terra espalham doçura; hoje, raiou<br />
o dia do novo resgate de eterna alegria, há muito esperado! Cantai ao Senhor Deus<br />
um canto novo; cantai ao Senhor Deus ó terra inteira… na presença do Senhor, pois<br />
ele vem!”<br />
Feliz Natal a todos! Que reine no coração de todos a graça desta noite! Amém.