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Uma Visão para o Futuro pelo Prof. Doutor J. Fernandes

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A Faculdade de<br />

Medicina e o<br />

Hospital<br />

Universitário de<br />

Santa Maria – <strong>Uma</strong><br />

<strong>Visão</strong> <strong>para</strong> o <strong>Futuro</strong><br />

<strong>pelo</strong> <strong>Prof</strong>. <strong>Doutor</strong><br />

J. <strong>Fernandes</strong> e<br />

<strong>Fernandes</strong><br />

Carlos Gamito<br />

carlos.gamito@hsm.min-saude.pt


O <strong>Prof</strong>. <strong>Doutor</strong> José Manuel Matos <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>, actual Director da Faculdade<br />

de Medicina da Universidade de Lisboa, facultou-nos algumas das muitas páginas do<br />

volumoso dossier que encerra o seu brilhante percurso profissional e académico,<br />

permitindo-nos, assim, quase detalhadamente, conhecer o Homem, o Médico Especialista<br />

em Cirurgia Geral e Vascular e o dirigente de uma das mais prestigiadas Instituições que<br />

chama a si a responsabilidade de formar Médicos em Portugal.<br />

Foi uma longa conversa em formato de entrevista que revelou o passado recente,<br />

quebrou barreiras e, reflectindo sobre o Passado procurou compreender a estratégia <strong>para</strong><br />

a acção no Presente e <strong>para</strong> o <strong>Futuro</strong>.<br />

Dessa trajectória destaca-se o desenvolvimento do conceito da agora “casa comum” –<br />

devemos informar o leitor que o edifício é partilhado <strong>pelo</strong> Hospital e pela Faculdade –<br />

vocábulo (“casa comum”) exaltado em todas as conversas e discursos do <strong>Prof</strong>essor<br />

<strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> sempre que alude à Faculdade de Medicina de Lisboa e ao<br />

Hospital de Santa Maria.<br />

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<strong>Uma</strong> vocação precocemente percebida e seguida<br />

Natural de Ponte de Sor, Alto Alentejo, o <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> nasceu e<br />

cresceu a respirar a fragrância exalada pela Medicina.<br />

O pai e um tio materno eram médicos, a mãe docente liceal.<br />

As primeiras letras foram aprendidas na Escola Primária de Ponte de Sor onde concluiu a<br />

então denominada quarta classe. O Primeiro Ciclo de então, composto <strong>pelo</strong>s dois<br />

primeiros anos do ensino secundário, ministrados pela mãe, foram concluídos em casa<br />

com exame final no Liceu de Portalegre. E porque à época não existia Liceu em Ponte de<br />

Sor, o então estudante José <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> foi matriculado num Colégio privado<br />

– mas que por falta de alternativas recebia alunos de todas as classes sociais – onde<br />

completou o quinto ano do Liceu. Os dois últimos anos do Curso Liceal foram concluídos<br />

no Liceu de Portalegre onde foi o melhor aluno do Liceu e galardoado com o Prémio<br />

Infante D. Henrique, atribuído pela TAP (Transportes Aéreos Portugueses), aos melhores<br />

alunos dos liceus do País.<br />

Terminado o percurso dos estudos secundários, aconteceu, de forma natural e abnegada,<br />

o Curso de Medicina.<br />

Pela força e consistência das palavras, “escutemos” a resposta do <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e<br />

<strong>Fernandes</strong> à nossa pergunta do porquê do Curso de Medicina: «Desde criança que<br />

mantive a noção muito clara que queria ser médico. Admirava profundamente a atitude,<br />

o espírito de sacrifício, a competência e a dedicação do meu pai <strong>para</strong> com os doentes, e<br />

eu ficava muito sensibilizado com o carinho com que a população o tratava, o que me<br />

leva a dizer-lhe que foi de forma absolutamente natural que optei pela Medicina».<br />

O <strong>Prof</strong>essor, nitidamente absorto pelas suas próprias palavras mergulhadas no passado,<br />

recordou: «Como sabe, os anos sessenta foram de facto “anos de ouro” <strong>para</strong> quem à<br />

época vivia a sua juventude, e nessa altura estava a despontar o interesse pela<br />

descoberta dos problemas da filosofia da ciência, da física quântica, e de tantos outros<br />

caminhos relacionados com a ciência, e recordo-me de longas conversas que tinha com<br />

um amigo e colega de liceu, hoje <strong>Prof</strong>essor Catedrático no Instituto Superior Técnico,<br />

onde contemplávamos o mundo apaixonante das descobertas da ciência, e aí houve de<br />

facto um momento em que pensei seguir essa carreira, mas foi só um impulso de<br />

momento. O que eu queria mesmo era ser médico». E sempre mergulhado no mar das<br />

muitas folhas de calendários já rasgadas, emergiu outro apontamento na memória do<br />

<strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> que sustenta mais uma recordação e a firme<br />

determinação <strong>pelo</strong> Curso de Medicina: «Recordo-me que quando cheguei ao Liceu de<br />

Portalegre, onde, como lhe disse, ingressei no sexto ano, tinha então catorze anos, era o<br />

3


aluno mais novo, uma professora perguntou-me o que queria ser quando fosse mais<br />

crescido. Respondi-lhe que queria ser médico, e a Senhora retorquiu: “O quê, aos<br />

catorze anos já tens essa certeza?!…”».<br />

Histórias que marcaram um percurso. O percurso da Cirurgia<br />

Sem formato pré-definido, a entrevista ia decorrendo ao sabor das palavras que traziam<br />

até nós o nascimento de um percurso sonhado, desejado e concretizado.<br />

Eram palavras cheias de memórias. Palavras que guardavam histórias.<br />

Histórias recordadas e agora aqui publicadas.<br />

«O que me motivou na Especialidade de Cirurgia? Essa sua pergunta traz-me<br />

recordações que nunca mais esquecerei. Aliás, veja que o episódio que lhe vou contar<br />

aconteceu quando eu tinha nove anos, e agora estou a visualizar ao pormenor todos os<br />

passos que dei». Fez-se silêncio. O olhar do <strong>Prof</strong>essor brilhou e fixou-se no vazio. Foram<br />

segundos, mas segundos em que até dentro de nós soou o eco da voz da saudade. Da<br />

saudade que por segundos, indiscretamente, despiu o sentir do Senhor <strong>Prof</strong>essor <strong>Doutor</strong><br />

José Manuel <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>: «Como lhe disse, o meu tio foi médico cirurgião e<br />

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na altura trabalhava no Hospital Militar. Acontece que um dia vim a Lisboa com a minha<br />

mãe que veio tratar de uns assuntos e entregou-me ao irmão (meu tio) <strong>para</strong> tomar conta<br />

de mim. Nesse entretanto o meu tio foi chamado de urgência ao Hospital e como não<br />

tinha onde me deixar, não teve outra alternativa senão levar-me com ele. E lá fui eu<br />

<strong>para</strong> o bloco operatório. Vestiram-me e assisti à operação com um entusiasmo que não<br />

imagina. Este pequeno, mas <strong>para</strong> mim, enorme episódio, foi tão só o que chamaria de<br />

princípio, porque o meu tio, mais tarde, foi trabalhar <strong>para</strong> o Hospital de Ponte de Sor e<br />

na Casa de Saúde em Abrantes, onde continuou a operar, e eu sempre que podia ia<br />

assistir e muitas vezes ajudar». Deixado o enquadramento da motivação, o <strong>Prof</strong>essor<br />

continuou: «No ano de 1963 deixei o Alentejo e vim fazer o meu curso aqui na Faculdade<br />

de Medicina de Lisboa, onde me licenciei em 1969. Depois fiz todo o Internato Geral de<br />

Cirurgia no então denominado Serviço de Clínica Cirúrgica, à data sob a Direcção do<br />

<strong>Prof</strong>essor Cid dos Santos, Mestre que muito admirava, e em 1975 estava especializado<br />

em Cirurgia Geral, mas com um forte interesse pelas doenças vasculares. Nesse mesmo<br />

ano (1975), em Outubro, foi-me atribuída uma bolsa de estudo pela Fundação Calouste<br />

Gulbenkian e parti <strong>para</strong> Inglaterra onde fiz uma formação pós-graduada, essa sim, já<br />

especificamente orientada <strong>para</strong> a Cirurgia Vascular. Entretanto, nos anos de 1977 e<br />

1978, estava eu ainda em Inglaterra – estive três anos – foram abertos concursos <strong>para</strong><br />

Assistente Hospitalar aqui no Hospital de Santa Maria. Concorri e fiquei colocado quer na<br />

Cirurgia Geral, quer na Cirurgia Vascular. Optei, naturalmente, pela Cirurgia Vascular».<br />

Como nas conversas é normalíssimo o “atropelamento” do raciocínio pelas próprias<br />

palavras, faltava-nos saber o porquê da atribuição da bolsa de estudo. O <strong>Prof</strong>essor<br />

explicou-nos: «Essa também é uma história interessante. Num determinado dia estava<br />

de serviço no Banco de Urgência, ainda como interno de cirurgia, quando deu entrada<br />

um alto funcionário da Fundação Calouste Gulbenkian. Observei o Senhor, diagnostiquei-<br />

lhe uma embolia arterial e tratei-o. Mais tarde, esse mesmo Senhor, fruto de uma<br />

situação bastante complicada, veio a ser internado na UTIC e foi decidido enviá-lo <strong>para</strong><br />

Londres onde seria operado. Não me pergunte porquê, mas o Senhor fez questão que<br />

fosse eu a acompanhá-lo, o que me proporcionou oportunidade de visitar hospitais em<br />

Londres, com a recomendação e orientação dos <strong>Prof</strong>essores Cid dos Santos e Thomé<br />

Villar, e a partir daí ficaram criadas as condições <strong>para</strong> me candidatar a uma bolsa de<br />

estudo que, e caberá dizê-lo, era de extrema importância <strong>para</strong> a minha formação, como<br />

aliás veio a ser provado. Sempre com o extraordinário apoio e alto patrocínio do<br />

<strong>Prof</strong>essor Cid dos Santos elaborei um projecto de estágio em Inglaterra, apresentei-o no<br />

Instituto de Alta Cultura e à Fundação Calouste Gulbenkian, foi aprovado e ganhei a<br />

bolsa das duas Instituições. O <strong>Prof</strong>essor Cid dos Santos teve a gentileza de me entregar<br />

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uma carta de recomendação endereçada ao <strong>Prof</strong>essor Eastcott, uma das grandes figuras<br />

da Cirurgia Vascular da Europa, e assim, durante três anos, fiquei a trabalhar sob a sua<br />

orientação no St. Mary’s Hospital», (que por ter o mesmo nome do Hospital de Santa<br />

Maria provocou momentos de risos.)<br />

Estávamos no ano de 1985 quando, também de forma natural, e atendendo ao empenho<br />

e dedicação, foram impostas as insígnias de <strong>Doutor</strong> ao então licenciado José Manuel<br />

<strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>.<br />

Um olhar sobre o ensino da Medicina em Portugal<br />

Confortavelmente instalados no seio das palavras e indiferentes ao tempo que ia sendo<br />

marcado pela máquina marcadora do próprio tempo, continuámos esta documentativa<br />

conversa com o <strong>Prof</strong>essor <strong>Doutor</strong> <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>.<br />

Pela frente tínhamos o Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa,<br />

cargo <strong>para</strong> que foi eleito em 2005 e reeleito em 2007, levando-nos essa sua função a<br />

mudar de capítulo na conversa.<br />

6


Senhor <strong>Prof</strong>essor, como comenta o estado do ensino da Medicina em Portugal? «Na<br />

minha opinião, o ensino da Medicina em Portugal, é bom. As Faculdades Portuguesas de<br />

Medicina, na sua generalidade, não estão muito distantes das Instituições congéneres<br />

mais relevantes da Europa. Contudo, tive uma percepção clara que havia necessidade de<br />

reformar o ensino médico. Essa foi a sensação com que vivi algum tempo e que me<br />

motivou a escrever sobre o assunto. Aliás, julgo mesmo que foi <strong>pelo</strong> que escrevi que o<br />

<strong>Prof</strong>essor Martins e Silva e o <strong>Prof</strong>essor João Lobo Antunes me convidaram <strong>para</strong><br />

desenvolver um projecto, aqui na Faculdade, na qualidade de Responsável pela<br />

Introdução à Clínica. E escrevendo, pensando, reflectindo e participando, tive a clara<br />

noção que era necessário reformar o ensino em vários sentidos». E o <strong>Prof</strong>essor detalhou:<br />

«O ensino estava muito teórico e com grande sobrecarga horária dos alunos. As<br />

matérias, muito embora extremamente relevantes, eram apresentadas de forma<br />

fragmentada, quando o importante era integrar os conhecimentos. Por outro lado, era<br />

necessário dar ao estudante a visão de que a Medicina é uma unidade. O homem não é<br />

só coração, nem é só intestinos, nem é só rins ou sistema nervoso. O homem é um todo,<br />

e o médico tem que ter a percepção desta unidade da pessoa doente, <strong>para</strong> quando se<br />

especializar não perder essa visão global dos problemas. Esta era uma das mensagens<br />

que tinha que ser passada aos alunos. Depois, existia o hábito das pessoas estudarem<br />

<strong>para</strong> os exames, mas eram exames compartimentados, o que estava errado. O Curso de<br />

Medicina é um só, <strong>pelo</strong> que continuo a defender que os estudantes têm que ter uma<br />

visão global sobre as matérias no seu todo. Acresce ainda que os estudantes têm que ter<br />

um maior empenhamento, uma maior participação no processo de aprendizagem. O<br />

ensino estava muito centrado no docente. O aluno estava numa posição muito passiva.<br />

Era necessário torná-lo um sujeito mais activo no processo de aprendizagem. É aquilo<br />

que na gíria pedagógica se chama um percurso centrado no estudante. Era<br />

imprescindível reduzir o tempo de aulas, e nesse aspecto havia que reforçar, no Curso, a<br />

exposição precoce dos alunos aos problemas clínicos. É preciso entender que as pessoas<br />

vieram <strong>para</strong> a Faculdade de Medicina <strong>para</strong> serem Médicos!».<br />

E neste olhar do Director da Faculdade de Medicina de Lisboa sobre a qualidade do<br />

ensino na Instituição que dirige, ainda registámos que a reforma levada a cabo<br />

aproximou o modelo de ensino ao modelo de ensino das Escolas mais avançadas da<br />

Europa.<br />

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Um novo e alargado projecto <strong>para</strong> ensinar e aprender Medicina<br />

Antes de encerrarmos este bloco sobre a Faculdade de Medicina de Lisboa cabia<br />

perguntar ao seu Director qual o número médio anual de alunos admitidos e médicos<br />

formados. A resposta foi ampla e esclarecedora: «Entram por ano cerca de trezentos<br />

alunos, e são formados anualmente cerca de duzentos e oitenta». E salientou: «A ideia<br />

que se formou de que as Escolas Médicas restringiram em muito o número de alunos<br />

admitidos, hoje está perfeitamente ultrapassada. Esse panorama verificou-se de facto<br />

durante a década de noventa, mas a partir de 2001 incrementámos significativamente a<br />

admissão do número de alunos. Passámos de cento e algumas vagas <strong>para</strong> as actuais<br />

trezentas, no entanto, e cabe aqui afirmá-lo, estamos confrontados com um sério<br />

problema: as condições <strong>para</strong> continuarmos a oferecer qualidade no ensino, e<br />

particularmente no ensino clínico. Respondemos ao a<strong>pelo</strong> do Governo, mas exigimos<br />

condições», afirmou o <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>, sublinhando: «O ensino clínico é<br />

muito importante, e felizmente que obtivemos resposta positiva por parte do actual<br />

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Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria, Dr. Adalberto<br />

Campos <strong>Fernandes</strong>, que reforçou as sinergias entre a Faculdade e o Hospital, mas que<br />

mesmo assim é insuficiente, o que nos levou a estabelecer protocolos com outras<br />

Instituições Hospitalares Públicas, dentro e nos arredores de Lisboa, e agora também<br />

com Centros de Saúde». E frisou: «Luto <strong>para</strong> que os alunos disponham de perspectivas<br />

mais diversificadas no contacto com doentes e de mais locais de aprendizagem, porque<br />

só é possível ensinar com qualidade em grupos restritos e em estreita cooperação com o<br />

docente». E o Director da Faculdade fez soar esta exclamação: «A verdadeira<br />

aprendizagem médica é tutorial!... Por outro lado, há que ter em conta o que se chama o<br />

direito de cidadania da pessoa doente, e esse estatuto é de todo incompatível com<br />

aquele modelo de ensino praticado até há pouco tempo em que durante duas horas, a<br />

pessoa doente era vista por vinte alunos que acompanhavam os Assistentes à cabeceira<br />

do doente. Os doentes têm que ser respeitados!». E com voz firme e determinada, o<br />

<strong>Prof</strong>essor concluiu: «Pedi, espero e confio no integral apoio do Ministério da Saúde <strong>para</strong> o<br />

desenvolvimento deste projecto de ensino, e por entender oportuno, informo que nos<br />

novos Estatutos da Faculdade, recentemente elaborados, está consagrado que os<br />

representantes dessas Instituições Hospitalares e de Saúde Ambulatória externas, bem<br />

como o Presidente do Hospital de Santa Maria, irão participar na Direcção da Faculdade<br />

de Medicina da Universidade de Lisboa».<br />

Para fazer frente à carência de médicos, a Faculdade reservou<br />

vagas <strong>para</strong> licenciados noutras áreas<br />

Esperámos que o <strong>Prof</strong>essor concluísse o seu raciocínio e instámo-lo: Senhor <strong>Prof</strong>essor, as<br />

trezentas vagas agora criadas <strong>para</strong> o Curso de Medicina é o número ideal ou o número<br />

possível? «Entendo que estamos no patamar superior às nossas capacidades. A<br />

Faculdade de Medicina de Lisboa não comporta mais alunos. Mas <strong>para</strong> além desse<br />

número, tomámos uma outra medida que tem suscitado alguma controvérsia:<br />

reservámos algumas vagas <strong>para</strong> alunos licenciados noutras áreas que poderão fazer a<br />

equi<strong>para</strong>ção curricular nalgumas disciplinas e entrarem directamente no ciclo clínico. E<br />

porque é que tomámos esta medida? Porque não devo duvidar das estatísticas do<br />

Governo que prevê uma acentuada carência de médicos entre 2011 e 2014. Partindo do<br />

princípio que as previsões do Governo estão correctas, temos obrigação de responder<br />

com prontidão a esse preocupante panorama». E sublinhou: «Não podemos, mas mesmo<br />

que agora quiséssemos aumentar o número de vagas <strong>para</strong> o primeiro ano, só daqui a<br />

seis anos teríamos mais médicos. Ora, se pudermos identificar alunos que podem entrar<br />

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imediatamente <strong>para</strong> o terceiro ou quarto ano, podemos incrementar a oferta de mais<br />

vinte ou trinta novos licenciados a partir de 2011, respondendo assim à necessidade<br />

expressa <strong>pelo</strong> Governo».<br />

Médicos não faltam, falta é organização…<br />

O tema que encerra a falta de médicos, ou a sua distribuição <strong>pelo</strong> País, tem ocupado<br />

muitas páginas de jornais e horas de discussão nas rádios e televisão. Vamos saber a<br />

opinião do <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> sobre este assunto: «Já escrevi muito sobre<br />

essa matéria, e não tenho a menor dúvida que os médicos estão é mal distribuídos. A<br />

organização do sistema está errada. Estamos perante uma organização baseada no<br />

consumismo de serviços médicos e numa forma de trabalho intensivo de consultas<br />

médicas, a nível dos Centros de Saúde, com pouca capacidade efectiva de actuação,<br />

particularmente nas situações de urgência clínica. São estes factores que contribuem<br />

<strong>para</strong> as limitações na cobertura médica, <strong>para</strong> as carências nos Serviços de Urgência e,<br />

este aspecto importa salientar, a excessiva referenciação <strong>para</strong> os hospitais, o que<br />

provoca uma indução absurda e impossível de suportar de consumo de serviços<br />

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hospitalares. Sobre este assunto falo com conhecimento, atendendo a que fui Chefe de<br />

Equipa na Urgência do Santa Maria, e ainda hoje, em conversa com os meus colegas<br />

responsáveis <strong>pelo</strong> Serviço de Urgência, continua a verificar-se que entre sessenta a<br />

setenta por cento das pessoas que recorrem à Urgência não são realmente doentes<br />

urgentes. As pessoas só vêm porque não existe uma organização intermédia que lhes dê<br />

apoio. Não existe ainda efectiva capacidade de intervenção nos Centros de Saúde <strong>para</strong><br />

resolver a grande maioria destes problemas. E senão eu pergunto: <strong>para</strong> tratar uma gripe<br />

é necessário recorrer à Urgência de um Hospital Central?! É lógico que não. Existe sim é<br />

um deficiente modelo de organização». E o <strong>Prof</strong>essor observou: «A título de exemplo<br />

posso adiantar-lhe que a criação das anunciadas Unidades de Saúde Familiares podem<br />

vir a ser a solução <strong>para</strong> um melhor aproveitamento dos serviços médicos. Se estas<br />

Unidades forem bem estruturadas, pouco burocráticas, se incorporarem o<br />

reconhecimento do mérito dos profissionais que lá trabalharem, se comportarem uma<br />

capacidade multidisciplinar e se oferecerem flexibilidade de horário, não tenho dúvida<br />

que podem ser a resposta <strong>para</strong> o actual e preocupante panorama da assistência médica<br />

em Portugal».<br />

…Mas se não faltam médicos, porque é Portugal os importa?<br />

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Com a devida atenção, escutámos a explicação do <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>, e<br />

por ter sido tão clara e objectiva fomos induzidos à pergunta: Senhor <strong>Prof</strong>essor, mas se<br />

de facto não há falta de médicos no País, porque é que Portugal os importa? E mais: foi<br />

recentemente anunciado pela Senhora Ministra da Saúde que os estudantes portugueses<br />

a cursarem Medicina no estrangeiro podem, a partir de agora, vir terminar os seus cursos<br />

em Portugal. E tudo <strong>para</strong> colmatar a tão propalada falta de médicos no País.<br />

Com a serenidade e sobriedade que o caracteriza, o <strong>Prof</strong>essor respondeu-nos: «Devo<br />

dizer-lhe que sobre esse assunto já me pronunciei oficialmente até mais do que uma vez.<br />

Primeiro ponto: acredito que possa vir a existir uma carência de médicos entre 2011 e<br />

2014. Acredito que possa haver necessidade de médicos <strong>para</strong> fomentarem uma<br />

dedicação mais intensiva à área de investigação científica. E também acredito que possa<br />

haver uma maior necessidade de médicos <strong>para</strong> dar corpo a uma política de cooperação<br />

internacional, particularmente com os países de expressão lusófona, e que essa é uma<br />

responsabilidade do Estado. De facto, à medida que esses países se vão desenvolvendo e<br />

ultrapassando as situações conflituais que marcaram a sua história recente, mais<br />

condições vão existindo <strong>para</strong> que especialistas portugueses, de todos os ramos do<br />

conhecimento, inclusivamente médicos, possam participar no seu desenvolvimento.<br />

Portanto, se lhe digo que neste momento penso que há médicos em número suficiente,<br />

também considero que <strong>para</strong> se desenvolverem estas políticas, então vamos precisar de<br />

mais médicos. O segundo ponto assenta na minha visão que não me parece redutora<br />

nem penalizadora. E refiro-me ao facto de algumas famílias disporem de recursos<br />

financeiros <strong>para</strong> poderem ter os filhos a estudar no estrangeiro. Considero esse<br />

investimento, na formação dos filhos, como muito louvável e respeitável. Fosse por<br />

vocação ou por vontade, os filhos dessas famílias procuraram o estrangeiro <strong>para</strong><br />

realizarem a sua formação, e isso é, repito-o, louvável e respeitável. No entanto,<br />

também é natural que essas pessoas que procuraram o estrangeiro <strong>para</strong> se formarem, se<br />

integrem nos países onde receberam a sua formação, o que não deixa de representar um<br />

forte empobrecimento <strong>para</strong> Portugal quando alguns dos seus filhos se sentem obrigados<br />

a procurar países estrangeiros <strong>para</strong> realizarem as suas carreiras profissionais». E a<br />

concluir, o <strong>Prof</strong>essor asseverou: «Ainda sobre o regresso desses estudantes a Portugal,<br />

devo dizer-lhe que informámos o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que<br />

estamos perfeitamente disponíveis <strong>para</strong> criar as condições necessárias <strong>para</strong> acolher,<br />

desde que em número restrito, alguns desses estudantes. Com esta minha imposição de<br />

só acolhermos um número bastante restrito desses alunos, sinto que não estou a violar<br />

qualquer sentido de equidade, e não estou a violar esse sentido porque nutro o maior<br />

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espeito pelas famílias que, decerto muitas delas, fizeram grandes sacrifícios <strong>para</strong><br />

proporcionar aos filhos uma formação e um futuro condigno. Essas pessoas merecem-me<br />

muito respeito, no entanto lamento não existirem condições <strong>para</strong> que o País possa<br />

acolher os anunciados setecentos alunos que estudam no estrangeiro. Recordo que esses<br />

estudantes não perderam quaisquer direitos de cidadania em Portugal, mas é evidente<br />

que temos que criar mecanismos honestos e transparentes <strong>para</strong> as pessoas que podem<br />

vir, sabendo nós que não podem vir todos». E rematou: «Para aqueles que não puderem<br />

vir completar a sua formação e terminem os seus cursos nos países estrangeiros, é<br />

importante que o Governo lhes garanta as melhores condições de acolhimento em<br />

Portugal. Esta sim, é uma medida que defendo, com<strong>para</strong>tivamente à importação de<br />

médicos do Uruguai, de Cuba, dos Países de Leste, etc., que nem sequer falam a nossa<br />

língua».<br />

Com o “Processo de Bolonha” a licenciatura em Medicina<br />

passou a conferir o grau de Mestre<br />

13


E porque a conversa estava centrada no ensino, suscitou-os instar o Director da<br />

Faculdade de Medicina de Lisboa sobre o “Processo de Bolonha”. A resposta do <strong>Prof</strong>essor<br />

<strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> foi clara e objectiva: «O Processo de Bolonha é um Processo<br />

ambicioso. É um Processo que visa dotar a formação global dos estudantes oferecendo-<br />

lhes maior flexibilidade e uma menor duração, facilitando a circulação dos estudantes no<br />

espaço europeu. Posso afirmar-lhe que o Processo de Bolonha é um instrumento<br />

indispensável à construção da Europa. É um Processo que se apresenta como muito mais<br />

dinamizador <strong>para</strong> a qualidade do ensino, um ensino que se pretende mais pragmático e<br />

orientado <strong>para</strong> a formação profissional, e como virá facilitar a circulação dos estudantes<br />

no espaço europeu, vai conduzir à criação de harmonização nos processos de avaliação,<br />

factor que se mostra extremamente importante. Agora, se falarmos em Medicina,<br />

naturalmente que é um perfeito dis<strong>para</strong>te pensarmos que ao fim de três anos temos um<br />

licenciado em Medicina. É um dis<strong>para</strong>te! Na minha qualidade de Director da Faculdade de<br />

Medicina, opus-me terminantemente a essa possibilidade. Confesso-lhe que escrevi uma<br />

carta muito dura à Direcção Geral do Ensino Superior a informar a minha firme oposição,<br />

mas como a Lei nos obriga, ao fim de três anos somos forçados a passar um Diploma de<br />

Estudos Básicos em Medicina, no entanto, é um documento sem qualquer valor prático.<br />

Eventualmente terá valor, mas <strong>para</strong> quem quiser sair de Medicina e ir <strong>para</strong> outras<br />

carreiras». E o <strong>Prof</strong>essor asseverou: «Por uma questão de isenção e equidade no mundo<br />

do trabalho, todas as pessoas que completem os seis anos de formação em Medicina<br />

passam a ter o grau de Mestre. Ou seja, o Curso de Medicina deixou de ser considerado<br />

uma licenciatura e passou a conferir o título de Mestrado Integrado. Com isto pretendo<br />

dizer-lhe que a Formação Médica está salvaguardada no essencial dos seus requisitos. E<br />

mais: como a Lei impõe a realização de um trabalho final <strong>para</strong> a concessão do título de<br />

Mestre, entendo essa medida como muito importante. E muito importante porque –<br />

penso eu – irá dinamizar substancialmente a apetência pela investigação científica, pela<br />

apresentação estruturada de casos clínicos, e de tantas outras situações que considero<br />

de extrema importância».<br />

Portugal tem todas as condições <strong>para</strong> se fazer investigação<br />

científica. Assim haja vontade e motivação<br />

“Dinamizar a apetência pela investigação científica”. Esta foi uma das afirmações<br />

deixadas <strong>pelo</strong> <strong>Prof</strong>essor e que podemos lê-la no fim do bloco de texto acima. Mas muito<br />

se tem falado nas condições – ou na falta delas – <strong>para</strong> se investigar em Portugal. Essas<br />

condições existem ou não? «Em Portugal há todas as condições <strong>para</strong> se fazer<br />

investigação científica. Na minha opinião, também a investigação, à semelhança de<br />

14


tantas outras actividades, passa pela organização. É necessário que haja organização e<br />

motivação. E senão veja: porque é que as pessoas investigam? Primeiro porque têm<br />

curiosidade em saber, e depois porque faz parte integrante da sua afirmação profissional.<br />

Temos que ter presente que na análise de um curriculum, também é apreciado o<br />

contributo dessa pessoa <strong>para</strong> o desenvolvimento do sector onde está integrado, e essa<br />

contribuição implica necessariamente investigação. A investigação é uma pirâmide. No<br />

topo estão os Prémios Nobel, mas a meio e na base estão os trabalhos que vão desde a<br />

melhoria da investigação dos nossos processos operacionais até ao avanço do nosso<br />

conhecimento técnico e científico <strong>para</strong> a compreensão e tratamento das doenças. A<br />

investigação encerra uma vasta gama de actuações, e eu costumo dizer que desde a<br />

história natural das doenças, aos novos métodos terapêuticos, à avaliação objectiva e<br />

rigorosa dos resultados do nosso desempenho, tudo comporta enormes possibilidades da<br />

investigação. Portanto, e considerando naturalmente que ainda estamos longe do <strong>pelo</strong>tão<br />

da frente, reafirmo-lhe que o País dispõe de todas as condições <strong>para</strong> se poder investigar.<br />

Assim haja vontade e motivação».<br />

A atestar esta afirmação, o <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> ainda nos adiantou que na<br />

instituição privada que dirige já foram desenvolvidos projectos de investigação<br />

apresentados e defendidos como teses de doutoramento, quer na Faculdade de Medicina<br />

quer noutras Universidades europeias.<br />

15


As explicações sobre a designação da “agora casa comum”<br />

A entrevista ia longa.<br />

Muitos aspectos já tinham sido abordados, mas outros estavam ainda por considerar, e<br />

dentro deles estava aquele com que iniciámos esta peça: “O Hospital de Santa Maria e a<br />

Faculdade de Medicina de Lisboa são agora uma casa comum”. Estas as palavras<br />

utilizadas <strong>pelo</strong> <strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong> sempre que, em sessões públicas, alude<br />

às duas Instituições. E em discurso directo transcrevemos a pergunta: Senhor <strong>Prof</strong>essor,<br />

mas até aqui o Hospital e a Faculdade não eram uma “casa comum”? «Não, não eram, e<br />

eu explico-lhe: reportando-nos à década de cinquenta, existia o Hospital Escolar de<br />

Santa Marta, que muito embora integrado no contexto dos Hospitais Civis, estava<br />

fundamentalmente vocacionado <strong>para</strong> o ensino. Acontece que nessa data – 1954 – foi<br />

inaugurado o Hospital de Santa Maria com o propósito de vir a ser um Hospital Escolar,<br />

aliás, a placa inicial tinha inscrito “Hospital Escolar de Santa Maria”. No entanto, por<br />

razões de natureza política – aliás, todos nós nos recordamos que foi esse o período dos<br />

grandes conflitos políticos entre o Governo ditatorial de Oliveira Salazar e as lideranças<br />

académicas da Faculdade de Medicina de Lisboa, e que levaram à demissão compulsiva<br />

de vários mestres, como o <strong>Prof</strong>essor Pulido Valente; <strong>Prof</strong>essor Fernando da Fonseca;<br />

<strong>Prof</strong>essor Cascão de Ansiães, <strong>Prof</strong>essor Augusto Celestino da Costa; entre tantos outros,<br />

que acabaram por ser expulsos da Faculdade, <strong>pelo</strong> que foi decidido que o Hospital de<br />

Santa Maria passava a depender da área da Saúde, por sua vez integrada no Ministério<br />

do Interior. A Direcção da Faculdade viu o seu papel reduzido na Administração do novo<br />

Hospital. Essas expulsões, associadas ao facto de a Faculdade de Medicina ter sido<br />

sempre um espaço de liberdade intelectual e cívica e os seus líderes intelectuais<br />

manterem alguma distância com o regime de Salazar, conduziram à acentuação<br />

crescente do fosso entretanto criado entre as entidades académicas e os governantes, o<br />

que porventura provocou uma penalização <strong>para</strong> a Faculdade de Medicina». E o <strong>Prof</strong>essor<br />

continuou a recordar: «Passados os anos e já nas décadas de setenta e de oitenta, foram<br />

tomadas algumas decisões nada benéficas, quando nessa altura teria havido<br />

oportunidade de restabelecer uma maior consonância entre as tutelas, respectivamente o<br />

Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, mas tal não se verificou, e como não se<br />

verificou, chegámos a situações extremas. Imagine que quando o Dr. Adalberto Campos<br />

<strong>Fernandes</strong> – Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria – e eu<br />

próprio ocupámos os nossos cargos em 2005, o Hospital e a Faculdade dirimiam, em<br />

Tribunal, processos de terrenos, o que é de todo inaceitável. Naturalmente que o<br />

primeiro acto simbólico da nossa gestão foi exactamente pôr fim a essa questão. Ora,<br />

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<strong>para</strong> responder à sua pergunta sobre o conceito de “casa comum”, só pretendemos dizer<br />

que, independentemente das tutelas que possam existir, este é o espírito de cooperação<br />

que deve existir entre estas duas instituições, porque de facto têm uma causa e uma<br />

casa comum».<br />

Os objectivos e alguns dos projectos a desenvolver pela “agora<br />

casa comum”<br />

Os objectivos da “causa” e da “casa comum” entendem-se, todavia demos a palavra ao<br />

<strong>Prof</strong>essor <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>: «Naturalmente que os nossos objectivos são comuns.<br />

A Faculdade só se prestigia se a instituição hospitalar onde os seus docentes actuam for<br />

uma instituição de mérito reconhecido a nível nacional e internacional. Não nos interessa<br />

só o prestígio interno, é preciso que sejamos reconhecidos no espaço europeu em que<br />

estamos inseridos, <strong>pelo</strong> que a nossa Instituição tem que ser de dimensão europeia e<br />

afirmar-se nesse contexto. Portugal precisa de instituições académicas e de saúde que<br />

possam ombrear com as melhores instituições não só da Península Ibérica, como da<br />

Europa». E sublinhou: «Com o Instituto de Medicina Molecular demos um passo notável<br />

<strong>para</strong> o desenvolvimento da investigação científica, mas precisamos do outro braço, e<br />

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esse outro braço é o Hospital de Santa Maria. O Hospital é o centro de excelência <strong>para</strong> a<br />

medicina de translação, isto é, a aplicação de todos os benefícios do desenvolvimento na<br />

investigação <strong>para</strong> a melhoria dos serviços prestados à Comunidade, e foi a partir desse<br />

conceito que evoluímos de casa comum e causa comum <strong>para</strong> a criação do Centro<br />

Académico de Medicina de Lisboa. Por outro lado, a constituição do Centro Hospitalar<br />

Lisboa Norte, a implementação da eventual ULS (Unidade Local de Saúde), incluindo os<br />

Centros de Saúde da área geográfica de influência do Hospital, a agregação de outra<br />

instituição hospitalar na área, facto que me parece fundamental e obedecer a uma lógica<br />

de racionalização e aproveitamento de recursos, constituem também uma grande<br />

oportunidade <strong>para</strong> o desenvolvimento do ensino médico e da investigação, e por isso, a<br />

Faculdade tem apoiado entusiasticamente essa política».<br />

E com um olhar mais abrangente sobre os objectivos e projectos a desenvolver pela<br />

“agora casa comum”, terminámos esta grande e documentativa entrevista ao <strong>Prof</strong>essor<br />

<strong>Doutor</strong> José Manuel Matos <strong>Fernandes</strong> e <strong>Fernandes</strong>: «Dos projectos previstos e a<br />

desenvolver pelas três Instituições, respectivamente Faculdade de Medicina de Lisboa,<br />

Hospital de Santa Maria e Instituto de Medicina Molecular, destaco em primeiro plano a<br />

concretização do Centro Académico de Medicina de Lisboa, <strong>para</strong> a qual já demos um<br />

passo: a assinatura do protocolo, na presença da Senhora Ministra da Saúde, Dra. Ana<br />

Jorge, e do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, <strong>Prof</strong>essor Mariano<br />

Gago. O projecto, <strong>para</strong> além de ambicioso é muito interessante, merecendo por isso o<br />

nosso maior empenho, todavia convém ter presente o longo e espinhoso caminho que<br />

temos a percorrer, assim como importa lembrar o apoio político expresso. Depois, entre<br />

a Faculdade e o Hospital temos tido uma colaboração bastante útil e proveitosa na<br />

implementação de actividades comuns, como por exemplo o planeamento do novo<br />

Instituto de Medicina Nuclear; as nomeações das lideranças clínicas e académicas; a<br />

visão da reorganização hospitalar <strong>para</strong> acomodar as necessidades académicas e de<br />

investigação; a melhoria das infra-estruturas; a partilha de espaços, que tem sido mais<br />

fácil graças ao diálogo franco e aberto entre o Hospital e a Faculdade e, entre muitos<br />

outros, não posso deixar de fazer referência ao projectado Edifício João Cid dos Santos,<br />

obra que se apresenta como uma alavanca de modernização extremamente importante<br />

<strong>para</strong> o Hospital e, obviamente, <strong>para</strong> a Faculdade. Por seu turno, a Faculdade planeia a<br />

construção de outro edifício já consignado no PIDAC e orientado <strong>para</strong> o ensino e <strong>para</strong> a<br />

investigação, <strong>para</strong> o qual pretendemos fomentar uma estreita colaboração com o<br />

Hospital de Santa Maria, no sentido de desenvolvermos um Instituto de Medicina<br />

Experimental, essencial <strong>para</strong> um impulso necessário à investigação clínica e à Formação<br />

Pós-graduada e Educação Médica Continuada, que constituem uma responsabilidade<br />

comum e indeclinável».<br />

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