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11ª edição - UniABC

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A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE<br />

DEUS (IURD) NO CENÁRIO POLÍTICO<br />

BRASILEIRO Marcelo Pereira da Cruz*<br />

Este artigo, esta<br />

baseado na dissertação de<br />

mestrado que foi desenvolvida<br />

no departamento de Ciências<br />

da Religião, da PUC/SP, sob<br />

orientação do Professor Dr.<br />

Frank Usarski. A temática<br />

proposta é relacionar o<br />

crescimento da IURD, uma<br />

igreja de origem pentecostal,<br />

com a sua efetiva participação<br />

na esfera política, que ocorreu<br />

graças a transferência, bem<br />

sucedida, do seu capital<br />

religioso para o campo político<br />

partidário, fator que levou esta<br />

instituição a se tornar um<br />

fenômeno social no Brasil, um<br />

país tradicionalmente católico.<br />

As igrejas pentecostais<br />

fazem parte de uma corrente<br />

dentro do protestantismo que<br />

têm como base a ação do<br />

“Espírito Santo”, a conversão<br />

individual e a perspectiva<br />

escatológica. Desde sua<br />

chegada, os pentecostais<br />

cresceram e se multiplicaram<br />

de uma forma espetacular,<br />

contribuindo para o significativo<br />

aumento do número de<br />

evangélicos no Brasil,<br />

especialmente nas últimas<br />

décadas do século XX, que<br />

cresceu 3.5 vezes mais que os<br />

10<br />

católicos no mesmo período.<br />

Os dados do Censo do<br />

IBGE do ano 2000 apontaram<br />

26 milhões de pessoas que se<br />

declararam evangélicos no país,<br />

17,6 milhões (67,7%) eram de<br />

igrejas pentecostais. Esses<br />

dados também apontaram o<br />

extraordinário número de fiéis<br />

conquistados pela IURD que<br />

cresceu 646% num período de<br />

dez anos (1990 a 2000). Em<br />

2002, ao celebrar 25 anos, a<br />

Igreja contava com cerca de 2<br />

milhões de membros no Brasil e<br />

aproximadamente meio milhão<br />

no exterior já que seus templos<br />

estão espalhados por cerca de<br />

oitenta países.<br />

Esse destaque religioso<br />

conquistado pela Igreja<br />

Universal levou a mesma a<br />

entra no campo político. Desde<br />

a redemocratização do nosso<br />

país, após vinte anos de<br />

Ditadura Militar (1964 a 1984),<br />

a IURD, teve uma participação<br />

importante no cenário político<br />

brasileiro elegendo candidatos<br />

em diversas esferas. A<br />

trajetória política da IURD<br />

iniciou-se nas eleições de 1986<br />

com a eleição de 01 deputado<br />

federal e teve o seu ápice nas<br />

eleições de 1998 elegendo 17<br />

deputados federais e 26<br />

deputados estaduais. Destaque<br />

também para a eleição de<br />

2002, que além de eleger 16<br />

deputados federais e 19<br />

estaduais, a Igreja conquistou<br />

uma cadeira no senado, com o<br />

candidato Marcelo Crivella<br />

(PFL/RJ).<br />

Este destaque que a<br />

Igreja conquistou no campo<br />

político elegendo os seus<br />

candidatos e/ou os apoiados<br />

por ela, atraiu os olhares dos<br />

partidos políticos e dos<br />

presidenciáveis, graças ao<br />

extraordinário número de<br />

fieis/eleitores que seguiam<br />

“religiosamente” as orientações<br />

e/ou indicações de seus<br />

pastores. Dessa forma<br />

podemos apontar que a IURD<br />

contribuiu de maneira<br />

significativa nas eleições<br />

presidenciais.<br />

O sucesso da trajetória<br />

política da IURD, foi alcançado<br />

com ousadas estratégias, que<br />

se iniciaram com a escolha de<br />

seus candidatos e<br />

posteriormente com a coligação<br />

ao PL (Partido Liberal) - um<br />

partido de direita, cujos<br />

princípios e ideologias casavam<br />

perfeitamente com os ideais e<br />

crenças iurdianas. No entanto,<br />

a Igreja viveu um momento<br />

difícil no decorrer da década de<br />

1990, devido aos escândalos<br />

internos que envolviam seus<br />

principais líderes e a erros<br />

comedidos pela cúpula da<br />

Igreja, ao apoiarem, por<br />

exemplo, Fernando Collor de<br />

Mello, nas eleições<br />

presidenciais de 1989, bem<br />

como à decepção que a mesma<br />

teve com o governo de<br />

Fernando Henrique Cardoso,<br />

que obteve o apoio da Igreja<br />

nas eleições de 1993 e 1997.<br />

Tais acontecimentos serviram<br />

de trampolim para a mudança<br />

de postura mediante ao Partido<br />

dos Trabalhadores, seu antigo<br />

desafeto de esquerda,<br />

formando uma aliança<br />

vitoriosa entre a IURD/PL e o<br />

PT nas eleições presidenciais<br />

de 2002, que culminou na<br />

vitória do candidato petista Luiz<br />

Inácio Lula da Silva e no<br />

refortalecimento da Igreja<br />

Universal do Reino de Deus.<br />

A mudança de<br />

estratégia no jogo político, que<br />

culminou com a aliança entre<br />

IURD e PT, rendeu ótimos<br />

frutos para Igreja como pode<br />

ser observado nos resultados<br />

das eleições de 2002. Para o<br />

Congresso Nacional foram<br />

eleitos como citado<br />

anteriormente 16 deputados<br />

federais, diretamente ligados à<br />

Igreja. Entre eles, destaque<br />

para a reeleição do bispo Carlos<br />

Rodrigues, que recebeu<br />

192.640 votos, um aumento de<br />

mais de 152% em relação ao<br />

número da eleição anterior<br />

(1998). Podemos destacar<br />

também os deputados eleitos<br />

por São Paulo: bispo João<br />

Batista / PFL, pastor Marcos<br />

Abrão / PFL, bispo Wanderval<br />

Santos / PL e Edna Macedo /<br />

PTB. Esses homens e mulheres,<br />

eleitos de forma democrática,<br />

passaram a fazer parte da base<br />

de apoio do governo do<br />

presidente Luiz Inácio Lula da<br />

Silva. Contudo, vale ressaltar<br />

que parte dos deputados eleitos<br />

pela Universal pertence a<br />

outras legendas partidárias,<br />

inclusive de oposição ao<br />

governo petista. Logo, os<br />

políticos iurdianos teriam de<br />

colocar na balança os<br />

interesses da sua Igreja e do<br />

partido a que eles são filiados.<br />

Ao longo da história,<br />

reis, imperadores, ditadores e,<br />

na concepção moderna da<br />

palavra, políticos diversos<br />

governantes viram na religião<br />

uma grande força para ajudálos<br />

no processo de condução da<br />

sociedade, através da<br />

elaboração de doutrinas e<br />

normas. Essas relações<br />

transformaram os especialistas<br />

religiosos e políticos em<br />

agentes importantes dentro das<br />

sociedades, devido ao controle<br />

que eles exercem nas relações<br />

entre as pessoas.<br />

No Brasil<br />

contemporâneo, a participação<br />

da religião na política é um fato<br />

que se repete com a IURD.<br />

Entretanto, suas práticas e<br />

teologias, que foram adaptadas<br />

ao contexto social em que ela<br />

está inserida, transformaramna<br />

em um fenômeno que<br />

transcendeu as fronteiras<br />

religiosas. O espaço que a<br />

IURD conquistou no campo<br />

religioso, social, midiático,<br />

empresarial e político serviu de<br />

inspiração para outras<br />

denominações religiosas, que<br />

acabaram por seguir os seus<br />

passos.<br />

* Marcelo Pereira da Cruz é<br />

licenciado em História, pela<br />

UNIABC e mestre em Ciências<br />

da Religião, pela PUC-SP.<br />

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