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Ereshkigal – A Deusa do mundo subterrâneo

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explicar, mas deve existir um modelo interior que liga palavras, formas, imagens e seres num to<strong>do</strong>, e e’ este<br />

modelo que quero compreender. Como, ainda não sei. Mas tenho uma vida pela frente para descobrir.<br />

Uma sombra ligeira obscureceu a face sorridente e interessada de Enlil.<br />

- `As vezes, bem que eu queria ver o mun<strong>do</strong> da forma com que o vês, <strong>Ereshkigal</strong>, para explicar o<br />

inexplicável. Vejamos Kur, por exemplo, e nossos irmãos e irmãzinhas que o seguiram aos confins <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Por que eles são tão diferentes de nós, por que eles aban<strong>do</strong>naram a segurança <strong>do</strong> Duku, a<br />

montanha da criação, por que eles nos deixaram, in<strong>do</strong> para além das águas da Mãe Namu, mudan<strong>do</strong>-se<br />

para tão perto de onde não queremos ir?<br />

- De novo preocupa<strong>do</strong> com Kur e os Guardiões das Trevas, Enlil? Por que você não os aceita pelo que são,<br />

energia pura, sem reconhecer controles ou limites? Perguntou <strong>Ereshkigal</strong>. - Ah, <strong>Ereshkigal</strong>, se tivesses visto<br />

Kur e os outros, entenderias a minha preocupação. Eles são tão diferentes de nós, tão instáveis e<br />

zanga<strong>do</strong>s.<br />

- Mas por que teríamos de ser to<strong>do</strong>s iguais, Enlil? Observou <strong>Ereshkigal</strong>. Sinceramente, basta olhar para ver<br />

que somos to<strong>do</strong>s bem diferentes em forma, apesar de alguma semelhanças na aparência. Mas há alguma<br />

coisa mais que to<strong>do</strong>s compartilhamos, e é nela em que todas as diferenças se fundem ou perdem o senti<strong>do</strong>,<br />

não sei bem ainda como explicar, porém. Posso estar bastante errada, Enlil, mas acho que se fixarmos a<br />

atenção em alguns detalhes exteriores, podemos correr o risco de perder outros detalhes que, apesar de<br />

não serem tão evidentes, conferem significa<strong>do</strong> maior ao to<strong>do</strong>. O que existe no interior pode, quem sabe,<br />

também revelar e completar o exterior, basta saber procurar. E creio que isto vale para tu<strong>do</strong> o que existe,<br />

uma pedra, uma planta, um animal e para nós também.<br />

- Sábias palavras, irmãzinha! Eu creio que algumas vezes levo demais a sério o meu compromisso de zelar<br />

pelo bem-estar de toda a terra, concor<strong>do</strong>u Enlil. Mas aman<strong>do</strong> a terra e a to<strong>do</strong>s os meus irmãos, por tê-los<br />

visto nascer na aurora da criação, eu gostaria de entender Kur e to<strong>do</strong>s os outros. Seja como for, eu, com<br />

toda certeza, mesmo se pudesse, não gostaria de visitar o lugar onde Kur e os outros escolheram viver.<br />

Onde quer que seja este lugar, concluiu Enlil.<br />

- Sabem de uma coisa? Disse <strong>Ereshkigal</strong>, depois de pensar por alguns minutos. Eu tenho muita curiosidade<br />

a respeito de tu<strong>do</strong> aquilo que não conheço. Também não tenho receio <strong>do</strong> que ainda não sei, pois como<br />

poderia, se outras realidades ainda não experimentei? Gostaria de conhecer melhor até mesmo este Kur<br />

difícil de entender, Enlil. De fato, eu estou muito curiosa a respeito de Kur e <strong>do</strong>s confins <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, onde ele<br />

se refugiou. Onde ficam os confins <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a propósito? Onde começa o Mun<strong>do</strong> Subterrâneo, talvez?<br />

- Ninguém, só Kur e os outros foram aos confins <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, portanto não sei lhe dizer, respondeu Enlil com<br />

franqueza. Também creio que onde o Mun<strong>do</strong> Físico termina, começa o Mun<strong>do</strong> Subterrâneo. Mãe Namu<br />

disse que as Grandes Profundezas se estendem tão alto quanto o firmamento e vão tão fun<strong>do</strong> quanto as<br />

águas <strong>do</strong> mar. E além.<br />

- Que maravilha! Um novo mun<strong>do</strong> onde ninguém jamais foi ou sobre o qual mal se sabe a respeito,<br />

encantou-se <strong>Ereshkigal</strong>. - Ah, irmãzinha, algumas vezes eu gostaria que mostrasses mais respeito pelo que<br />

ainda não sabes ou conheces. Só por segurança, suspirou Enki.<br />

- Mas eu tomo os meus cuida<strong>do</strong>s. Mesmo pergunta<strong>do</strong>ra e curiosa como sou, eu não corro riscos<br />

desnecessários.<br />

‘ Mas não acho que Kur e o Mun<strong>do</strong> Subterrâneo, as Grandes Profundezas, sejam um risco tão perigoso<br />

assim,’ <strong>Ereshkigal</strong> pensou, mas guar<strong>do</strong>u esta observação para si. ‘ Diferentes <strong>do</strong> usual, por isso<br />

desconheci<strong>do</strong>s, isto sim, mas perigosos, será? Não e’ o que eu sinto, e como gostaria de descobrir... um<br />

dia!’<br />

E assim foi que <strong>Ereshkigal</strong>, a filha de Namu, as Águas <strong>do</strong> Mar e da saudade que Anu, o firmamento, sentiu<br />

por Ki, a irmã a<strong>do</strong>rada e grande companheira de to<strong>do</strong>s as horas e folgue<strong>do</strong>s de Enki, cresceu com o desejo<br />

de conhecer o desconheci<strong>do</strong> e descobrir os meandros de padrões não explícitos. To<strong>do</strong>s os dias, ela e Enki<br />

saíam para brincar e explorar o mar, e ao voltar, <strong>Ereshkigal</strong> tinha sempre que a respeito de tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s a<br />

Enlil perguntar. A cada dia, <strong>Ereshkigal</strong> mergulhava mais e mais fun<strong>do</strong>, nadava distâncias maiores, cada vez<br />

mais aproximan<strong>do</strong>-se da linha <strong>do</strong> horizonte e <strong>do</strong>s confins <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Físico. Ao voltar, pois <strong>Ereshkigal</strong><br />

sempre voltava, ela estava quase sempre fisicamente cansada, mas cheia de energia e paixão pelos

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