O poeta - Revista Caminhoneiro
O poeta - Revista Caminhoneiro
O poeta - Revista Caminhoneiro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
74<br />
BeIRa de eSTRada<br />
Para quem não é do trecho, acompanhar o<br />
pique de um caminhoneiro na hora do rango<br />
não é nada fácil.<br />
Não é de hoje que os caminhoneiros são<br />
considerados bons de prato.<br />
Meu pai sempre comentava:<br />
– Até os anos 50 era dureza mesmo! Asfalto nem<br />
pensar, as estradas eram todas de terra batida e em<br />
péssimas condições e ainda posto de combustíveis<br />
e restaurante eram coisas raras. A turma era unida e<br />
muito animada. Na hora do rango, aquelas enormes<br />
panelas nos fogões tropeiros, um exagero, muita comida<br />
e pra todo mundo. Nunca faltavam os comilões<br />
no meio da turma.<br />
Conheci o Wlademir, o Comilão, em l964, no posto<br />
do Tio Doca. Era um catarinense grandalhão com<br />
dois metros de altura.<br />
Um belo dia paramos para almoçar no posto do km<br />
90. Fiquei assustado, pois o Wlademir era um furacão,<br />
parecia que jamais iria parar de comer. Quando<br />
saímos, ele rolou de rir ao ver a cara feia da turma,<br />
pois o prejuízo foi grande.<br />
Wlademir transportava madeiras de Santa Catarina<br />
para os estados de São Paulo, Minas e Bahia.<br />
Era uma pessoa de fino trato, fazia muitas amizades,<br />
mas pelo fato de ser comilão, as dificuldades foram<br />
surgindo.<br />
Sendo um homem muito inteligente, usou uma boa<br />
estratégia e falou baixinho:<br />
– Nos lugares em que sou muito conhecido vou<br />
esconder o caminhão atrás do posto e entro bem disfarçado<br />
no restaurante.<br />
Por uma questão de honra, diminuiu o ritmo e passou<br />
a comer menos, era um sacrifício, mas deu certo,<br />
valeu a pena.<br />
Fiquei um tempão sem cruzar com o amigo Wlademir,<br />
mas como um dia as pedras se encontram, em l982, em<br />
Belo Horizonte, MG, ouvi o Comilão gritando meu nome.<br />
– Eu também estou na fila para carregar para Curitiba!<br />
A alegria foi muito grande. Quando estávamos pondo a<br />
conversa em dia, surgiu um paranaense dizendo:<br />
revistacaminhoneiro.com.br 293<br />
Texto: Antonio Carlos Padilha l Foto: Divulgação<br />
o caminhoneiro<br />
comilÃo<br />
– Quase no final da fila tem um paraibano que é<br />
conhecido como Comilão. O Wlademir muito assustado<br />
respondeu:<br />
– É impossível! Eu sou o Comilão, não posso perder<br />
esse apelido! Os dois comilões conversaram um<br />
pouco e já fizeram uma aposta.<br />
– Vamos ver quem come mais, disse a paraibano<br />
Moacir. Na hora do almoço, no restaurante da dona<br />
Helena, o prato do dia era feijoada, não deu outra:<br />
os comilões devoraram duas feijoadas cada, um absurdo,<br />
sem dúvida. O paraibano agradeceu, dizendo<br />
comi bem mesmo, mas ainda aceito uma sobremesa.<br />
Dona Helena, uma mineira muito sensata disse:<br />
– Uai! Vou mandar servir para vocês como sobremesa,<br />
queijo de minas com goiabada e vou considerar<br />
esta disputa empatada. Portanto, de hoje em<br />
diante, vocês são sócios do apelido “Comilão” e boa<br />
sorte a todos aqui presentes! s