27.04.2013 Views

Casa Grande & Senzala, publicada em 1933, é a obra mais ...

Casa Grande & Senzala, publicada em 1933, é a obra mais ...

Casa Grande & Senzala, publicada em 1933, é a obra mais ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

COLÉGIO MILITAR DE FORTALEZA - CMF<br />

COORDENAÇÃO DO ENSINO MÉDIO - DISCIPLINA: SOCIOLOGIA<br />

PROFESSOR: FRAN YAN TAVARES<br />

<strong>Casa</strong> <strong>Grande</strong> & <strong>Senzala</strong>, <strong>publicada</strong> <strong>em</strong> <strong>1933</strong>, <strong>é</strong> a <strong>obra</strong> <strong>mais</strong><br />

importante do sociólogo Gilberto Freyre e, desde que surgiu,<br />

v<strong>em</strong> sendo considerada uma das <strong>obra</strong>s de maior impacto na<br />

cultura brasileira, influenciando os estudos sociológicos,<br />

antropológicos e históricos, de maneira geral. De fato, o livro<br />

suscitou, desde sua aparição, paixões e críticas, mas nunca<br />

indiferença, pois reúne rigor científico e notável erudição,<br />

associados a uma enorme comunicabilidade, feito raramente<br />

alcançado por trabalho científico dessa envergadura. Essa<br />

rara e feliz junção, da atualização científica rigorosa com a<br />

simplicidade da linguag<strong>em</strong>, explica, s<strong>em</strong> dúvida alguma, a<br />

raiz imediata do sucesso e do impacto provocados pela <strong>obra</strong>.<br />

“<strong>Casa</strong> <strong>Grande</strong> & <strong>Senzala</strong> não t<strong>em</strong> – como ensaio de<br />

interpretação social – muitos companheiros no mundo. [...].<br />

Nada <strong>é</strong> <strong>em</strong> Gilberto Freyre linear ou esqu<strong>em</strong>ático; o seu<br />

pensamento se desd<strong>obra</strong> rico, múltiplo e maduro, antes<br />

psicológico do que lógico, preferindo a aparência da<br />

contradição à simplificação <strong>em</strong>pobrecedora e primária,<br />

contanto que nenhum aspecto da realidade lhe escape e a<br />

possa apresentar <strong>em</strong> toda a sua extr<strong>em</strong>a, delicada e múltipla<br />

complexidade”. (Anísio Teixeira, educador brasileiro).<br />

Gilberto Freyre inaugura a visão positiva, de fato enaltecedora, desse intercâmbio <strong>é</strong>tnico que teria virtuosamente<br />

promovido a unidade e o espírito nacional, ele então invertia a visão negativa, de pressuposto racial e<br />

biologizante, que enxergava a miscigenação como algo que nos deprimia. Positivando a miscigenação e seu<br />

produto histórico - o mestiço -, Gilberto Freyre tocava num nervo exposto e sensível para o pensamento nacional<br />

cujo assunto inflamava-se crescent<strong>em</strong>ente desde a Independência: os fundamentos do Brasil, sua composição<br />

racial (palavra de ord<strong>em</strong>), sua identidade de nação, a jurisdição a que adotar, seu destino de Estado no concerto<br />

das nações (sobretudo as europeias).<br />

Como se acreditava que o probl<strong>em</strong>a da nação atrelava-se ao probl<strong>em</strong>a da raça, conceito então imperativo, o malestar<br />

era geral. Que destino teria essa colcha retalhada de diversa etnia? Como equacionar el<strong>em</strong>entos<br />

aparent<strong>em</strong>ente tão díspares e impermeáveis? Ora, o que Gilberto Freyre no fundo dizia <strong>é</strong> que tal preocupação era<br />

vã, que o conceito de raça pouco ajudava, que a formação nacional, enfim, estava há muito consolidada, uma<br />

ord<strong>em</strong> precipitada por s<strong>é</strong>culos de íntima convivência entre brancos, negros e índios, do que resultou o mestiço<br />

afortunado pelos desafios da adaptação aos trópicos, herdeiro da plasticidade legada pelo português, já mestiço<br />

de formação. Que, ao contrário, aquela antiga ord<strong>em</strong> brasileira estabelecida pelo familismo patriarcal e tutelar<br />

<strong>em</strong> meio rural <strong>é</strong> que se encontrava ameaçada <strong>em</strong> meio urbano (t<strong>em</strong>a que atravessa os posteriores S<strong>obra</strong>dos e<br />

mucambos e Ord<strong>em</strong> e progresso) - importante razão esta, dentre outras, que lhe custou o designativo de<br />

conservador por seus detratores.


“Quando <strong>em</strong> 1532 se organizou econômica e civilmente a sociedade brasileira já foi depois de um s<strong>é</strong>culo<br />

inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de d<strong>em</strong>onstrada na Índia e na África sua aptidão para a<br />

vida tropical. Mudado <strong>em</strong> São Vicente e Pernambuco o rumo da colonização portuguesa do fácil, mercantil,<br />

para o agrícola; organizada a sociedade colonial sobre a base <strong>mais</strong> sólida e <strong>em</strong> condições <strong>mais</strong> estáveis que<br />

na Índia ou nas feitorias africanas, no Brasil <strong>é</strong> que se realizaria a prova definitiva daquela aptidão. A base, a<br />

agricultura; as condições, a estabilidade patriarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da<br />

escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim a cultura econômica e social do<br />

invasor.<br />

Formou-se na Am<strong>é</strong>rica tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na t<strong>é</strong>cnica de exploração<br />

econômica, híbrida de índio – e <strong>mais</strong> tarde de negro – na composição. [...] Mas tudo isso subordinado ao<br />

espírito político e de realismo econômico e jurídico que aqui, como <strong>em</strong> Portugal, foi desde o primeiro s<strong>é</strong>culo<br />

el<strong>em</strong>ento decisivo de formação nacional; sendo que entre nós atrav<strong>é</strong>s das grandes famílias proprietárias e<br />

autônomas: senhores de engenho com altar e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha ou negros<br />

armados de arcabuzes às suas ordens; donos de terras e de escravos que dos senados de Câmara falaram<br />

s<strong>em</strong>pre grosso aos representantes d’el-Rei e pela voz liberal dos filhos padres ou doutores clamaram contra<br />

toda esp<strong>é</strong>cie de abusos da Metrópole e da própria Madre Igreja.”<br />

FREYRE, Gilberto. <strong>Casa</strong>-<strong>Grande</strong> & <strong>Senzala</strong>. Rio de Janeiro: Record, 1999, p.4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!