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“COMO FALA GIL VICENTE...”: FALARES ... - Lourdes Ramalho

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demanda do rei português. Dentro deste contexto, a defesa duma conversão pela palavra<br />

empreendida por Vicente na Carta de 1531 é a prova mais eloqüente do humanismo que<br />

caracterizou as obras vicentinas.<br />

4.<br />

Poder-se-ia contra-argumentar a tudo que foi dito até agora que o tema escolhido pela<br />

autora é pouco para propor uma possível relação de influência. Mas, há mais, de que mais<br />

tarde falarei. Antes, ainda tratando do tema, tempo e espaço de O trovador encantado, lembro<br />

que <strong>Lourdes</strong> <strong>Ramalho</strong> situa a peça exatamente no período de mais de trinta anos em que<br />

produziu Gil Vicente. Os dois “bobos<strong>”</strong> que fazem a contextualização histórica da peça, em<br />

seu início, parecem localizar e limitar o espaço e o tempo da peça no reino de Portugal –<br />

como vimos, numa cidade chamada Nenhures –, entre os anos de 1500 e 1536, pois se<br />

referem ao nosso “achamento<strong>”</strong>, em 1500; depois, ao progrom de 1506 7 , época do governo do<br />

venturoso D. Manuel I, em que centena de judeus foram massacrados em Lisboa; e, em<br />

seguida, à implantação da Inquisição em Portugal, em 1536, no governo de D. João III. Ora,<br />

não se pode esquecer que Gil Vicente encenou seu primeiro auto, em 1502, para comemorar o<br />

nascimento do príncipe D. João, futuro rei D. João III, filho de D. Manuel I; que foi “mestre<br />

de cerimônia<strong>”</strong> das cortes desses dois reis, portanto responsáveis pelas festas régias – que<br />

sempre abrilhantou com a encenação de seus autos –; e que, coincidência ou não, sua última<br />

peça, Floresta de Enganos, foi encenado para D. João III, em 1536, ano, como dissemos, em<br />

que este rei alcança a permissão definitiva de instalação do tribunal da Inquisição em<br />

Portugal. Some-se a isto uma fala de Zé Cudeflor, espécie de parvo da peça, em que Gil<br />

Vicente, junto com Camões, é textualmente referido, e a presença do dramaturgo português<br />

no horizonte de diálogos de <strong>Lourdes</strong> <strong>Ramalho</strong> parece-me bastante clara. Na cena 7,<br />

respondendo ao interrogatório do Inquisidor, Zé Cudeflor explica assim o “encantamento<strong>”</strong> do<br />

Trovador :<br />

Pois se vós quereis saber<br />

7 Este progrom caracterizou-se por uma série de distúrbios acontecidos após um incidente na Igreja de São<br />

Domingos, em Lisboa, em que um homem foi acusado de herege, apontado como cristão novo e queimado, por<br />

ter duvidado de um suposto milagre que os fiéis acreditavam ter presenciado. Este incidente resultou em três dias<br />

de distúrbios por toda a cidade e na morte de aproximadamente duas mil pessoas (SARAIVA, 1985, p. 40, nota<br />

6).<br />

10

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