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Em Busca de um Novo Cinema Português - Livros LabCom - UBI

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214 <strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>Novo</strong> <strong>Cinema</strong> <strong>Português</strong><br />

querer fazer “arte pela arte” significou adotar outro olhar que, logo <strong>de</strong> início,<br />

ficou marcado por <strong>um</strong>a reação política <strong>de</strong> “esquerda” contrária aos ditames do<br />

salazarismo e <strong>de</strong> António Ferro.<br />

E <strong>de</strong> fato, o intelectual neo-realista, ao marcar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar o<br />

real, traz à baila diversas urgências ao povo português. A questão da opressão,<br />

da censura, da pobreza espiritual e capital da nação foram temas necessários<br />

aos primeiros romances que tinham também como objetivo <strong>um</strong>a pedagogia<br />

menos autoritária do oprimido.<br />

Portanto, como reação ao mo<strong>de</strong>rnismo, como reação também a certa postura<br />

que se ass<strong>um</strong>ia “<strong>de</strong> costas viradas” para as questões mundanas e triviais,<br />

o neo-realismo ass<strong>um</strong>e-se, primeiramente, como <strong>um</strong> movimento <strong>de</strong> renovação<br />

literária. Sob forte influência <strong>de</strong> <strong>um</strong> marxismo etéreo, ou seja, que pairava no<br />

ar, a atitu<strong>de</strong> crítica em relação aos mo<strong>de</strong>rnistas confluiu nos primeiros romances<br />

e n<strong>um</strong>a poesia “seca” mais <strong>de</strong>scritiva do que subjetiva e conjectural.<br />

O neo-realismo, entretanto, entendido aqui como <strong>um</strong> movimento <strong>de</strong> criação<br />

artística influenciou e modificou diversos setores da cultura portuguesa,<br />

merecendo especial atenção nas artes plásticas e no teatro. Entretanto, o esforço<br />

<strong>de</strong>ste trabalho foi apontar <strong>de</strong> que forma o neo-realismo português também<br />

acercou-se do cinema, entendido não apenas como mais <strong>um</strong>a plataforma<br />

<strong>de</strong> atuação política, mas como <strong>um</strong>a ferramenta <strong>de</strong> criação estética.<br />

Dessa forma, rejeitando i<strong>de</strong>ologicamente a comédia e o cinema institucional<br />

<strong>de</strong> António Ferro, ass<strong>um</strong>indo também que o projeto mo<strong>de</strong>rnista também<br />

havia contaminado o cinema e era preciso opôr-se também à “arte pela arte”<br />

no meio cinematográfico, o neo-realismo aproxima-se do cinema, primeiro<br />

por constatar que na sétima arte “o real é mais real”. No cinema ouve-se, vêse.<br />

A experiência do realismo dá-se <strong>de</strong> forma mais ampla e abrangente. E foi<br />

exatamente esse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> máxima proximida<strong>de</strong> do real o impulso para fazer<br />

os filmes <strong>de</strong> Manuel Guimarães da década <strong>de</strong> 1950.<br />

O projeto ao qual Manuel Guimarães estava irremedivelmente envolvido<br />

era, <strong>de</strong> forma consciente ou não, o do neo-realismo e, <strong>de</strong> forma ampla, isso<br />

implica <strong>um</strong>a herança, no contexto português, do embate entre <strong>um</strong>a estética<br />

mo<strong>de</strong>rnista e outra, neo-realista. De fato, o entusiasmo marcado pela crítica<br />

que saudou o Saltimbancos como algo diferente <strong>de</strong> toda a produção nacional<br />

dos últimos anos foi o ponto <strong>de</strong> partida para se tentar perceber a trajetória <strong>de</strong><br />

Manuel Guimarães.<br />

www.livroslabcom.ubi.pt<br />

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