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O potencial educativo do audiovisual na educação ... - Livros LabCom

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JORNALISMO3ANTÓNIO FIDALGO e PAULO SERRA (ORG.)Ciências da Comunicação em Congresso <strong>na</strong> CovilhãActas <strong>do</strong> III Sopcom, VI Lusocom e II IbéricoVolume IVCAMPOS DA COMUNICAÇÃOUNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR


4 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVActas <strong>do</strong>s III SOPCOM, IV LUSOCOM e II IBÉRICO•Design da Capa: Catari<strong>na</strong> Moura•Edição e Execução Gráfica: Serviços Gráficos da Universidade da Beira InteriorApoio:•Tiragem: 200 exemplares•Covilhã, 2005•Depósito Legal Nº 233236/05•ISBN – 972-8790-39-2Programa Operacio<strong>na</strong>l Ciência, Tecnologia, Inovação <strong>do</strong> III Quadro Comunitário de ApoioInstituto da Comunicação Social


JORNALISMO5ÍNDICEApresentação, António Fidalgo e Paulo Serra ................................................................. 9Capítulo IJORNALISMOApresentação, Jorge Pedro Sousa .................................................................................... 13Reportagens sobre a Cor da Pele em Jor<strong>na</strong>is de Salva<strong>do</strong>r e Aracaju/Brasil: crimi<strong>na</strong>lidade,loucura e macumba, A<strong>na</strong> Cristi<strong>na</strong> de Souza Mandarino.............................................. 15O Iraque <strong>na</strong>s televisões europeias: representações da segunda guerra <strong>do</strong> Golfo, A<strong>na</strong>belaCarvalho .............................................................................................................................. 23Características de jor<strong>na</strong>is e leitores interioranos no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XX, BeatrizDornelles ............................................................................................................................ 37Jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong> Web: Desenho e Conteú<strong>do</strong>, Claudia Irene de Quadros e Itanel de BastosQuadros Junior ................................................................................................................... 47A cobertura de epidemias <strong>na</strong> imprensa portuguesa. O caso da Sida, Cristi<strong>na</strong> Ponte ... 53O caso Jayson Blair / New York Times: da responsabilidade individual às culpas colectivas,Joaquim Fidalgo .................................................................................................................61Uma Teoria Multifactorial da Notícia, Jorge Pedro Sousa .......................................... 73Análise quantitativa sobre os espaços noticiosos da Internet e as consequências para osatores <strong>do</strong> processo informativo, Juçara Brittes .............................................................. 81Internet como fuente de información especializada, Leopol<strong>do</strong> Seijas Candelas ....... 89O que o jor<strong>na</strong>lismo pode aprender com a ciência: Objetividade <strong>na</strong> perspectiva <strong>do</strong>racio<strong>na</strong>lismo crítico de Karl Popper, Liriam Sponholz ................................................ 97A ‘explosão’ <strong>do</strong>s weblogs em Portugal: percepções sobre os efeitos no jor<strong>na</strong>lismo, LuísAntónio Santos ................................................................................................................. 105A impiedade das críticas ou a consciência da auto-regulação? O processo Casa Pia eo julgamento metajor<strong>na</strong>lístico, Madale<strong>na</strong> Oliveira....................................................... 115Ventos cruza<strong>do</strong>s sobre o campo jor<strong>na</strong>lístico. Percepções de profissio<strong>na</strong>is sobre as mudançasem curso, Manuel Pinto ................................................................................................. 123A presenza da lingua galega <strong>na</strong> prensa diaria de Galiza. Mínima, de baixa cualidadee sen xustificación, Marcos Sebastián Pérez Pe<strong>na</strong>, Berta García Orosa, José VillanuevaRey, Miguel Túñez López .............................................................................................. 133Los medios como protagonistas de la noticia, Mari<strong>na</strong> Santín Durán ...................... 143Periodismo y literatura, relaciones difíciles, Moisés Limia Fernández .................... 149Noticiabilidade no rádio em tempos de Internet, Nelia R. Del Bianco .................. 157A imprensa <strong>na</strong> Velha Província 170 anos <strong>do</strong> “Monitor Campista”. O terceiro jor<strong>na</strong>l maisantigo <strong>do</strong> país e a morte misteriosa <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista Francisco Alypio, Orávio de CamposSoares ................................................................................................................................ 167


6 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVAgenda e Discurso Midiático: quan<strong>do</strong> a minoria é notícia. O caso indíge<strong>na</strong> <strong>na</strong> Imprensaem Per<strong>na</strong>mbuco, Patricia Bandeira de Melo................................................................ 177El Prestige en los medios. Las claves de u<strong>na</strong> gran confusión, M. Pilar DiezhandinoNieto .................................................................................................................................. 183Alberto Bessa e a sua história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo – uma memória de cem anos, RogérioSantos ................................................................................................................................ 193Os Temas da Guerra. Estu<strong>do</strong> exploratório sobre o enquadramento temático da Guerra<strong>do</strong> Iraque <strong>na</strong> Televisão, Telmo Gonçalves ................................................................... 203Weblogs y Periodismo Participativo, Tiscar Lara ....................................................... 219O Jor<strong>na</strong>lismo de Informação Sindical no Brasil: atores, práticas, mecanismos e estratégiasde produção jor<strong>na</strong>lística, Vladimir Caleffi Araujo ...................................................... 229A eurorrexión Galicia-Norte de Portugal a través das páxi<strong>na</strong>s da prensa galega. Análise<strong>do</strong> discurso mediático transmiti<strong>do</strong> polos xor<strong>na</strong>is galegos, Xosé López García e BertaGarcía Orosa ..................................................................................................................... 239O traballo xor<strong>na</strong>lístico de Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor en América: a divulgación da culturagalega <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s de La Nación, Xosé López García y Marta Pérez Pereiro .... 245A información cultural nos medios de comunicación en Galicia, Xosé López García eMarta Pérez Pereiro ......................................................................................................... 253Periodismo de servicio en la prensa local de Galicia, Xosé López ........................ 261O jor<strong>na</strong>lismo entre a informação e a comunicação: como as assessorias de imprensaagendam a mídia, Zélia Leal Adghirni......................................................................... 269Capítulo IICOMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃOApresentação, Vítor Reia-Baptista.................................................................................. 281Desenho anima<strong>do</strong> e formação moral: Influências sobre crianças <strong>do</strong>s 4 aos 8 anos deidade, A<strong>na</strong> Lúcia Sanguê<strong>do</strong> Boy<strong>na</strong>rd ............................................................................ 283A Investigação e o Desenvolvimento da Comunicação Audiovisual <strong>na</strong> Universidade: aUniversidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa como estu<strong>do</strong> de caso, Aníbal Oliveira.................... 291Comunicación, Educación y Tecnología, Antonio R. Bartolomé ............................... 299Memória e imagem <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so como experiência pedagógica, Be<strong>na</strong>lva da Silva Vitorio ... 311Magia, luzes e sombras. Uma perspectiva educacio<strong>na</strong>l sobre vinte cinco anos de filmesno circuito comercial em Portugal * 1974 – 1999 *, Carlos Capucho .................. 317Comunicação, Ludicidade e Cidadania, no Projecto Direitos Humanos em Acção, ConceiçãoLopes e Inês Guedes de Oliveira ................................................................................. 327Memória quotidia<strong>na</strong> e comunicação: práticas memoriais <strong>na</strong> escola, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Barone ... 331Anim(a)ção <strong>na</strong> Educação. O entre-entendimento <strong>na</strong> teia da produção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> e suamediação <strong>na</strong> educação, Geci de Souza Fontanella ..................................................... 343Por dentro <strong>do</strong> filme – o cinema <strong>na</strong> sala de aula, Graça Lobo ............................... 353Internet, alguns desafios: a representação que os jovens revelaram da internet, José CarlosAbrantes............................................................................................................................. 361


JORNALISMO7O <strong>potencial</strong> <strong>educativo</strong> <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong> educação formal, Lara Nogueira Silbiger ... 375Comunicação/Educação: Um campo em acção, Maria Aparecida Baccega ............. 383Comunicación y Educación “de cine”, Mª del Mar Rodríguez Rosell.................... 395La dieta televisiva en la infancia española. Aproximación al estudio de las audienciasinfantiles, Amelia Álvarez, Marta Fuertes, Ángel Badillo y Zoe Mediero ............. 403A educação popular no Brasil: a cultura de massa, Maria da Graça Jacintho Setton ... 419Crescer com a Internet: Desafios e Riscos, Neusa Baltazar ..................................... 427A rádio de modelo multimediático e os jovens: a convergência entre o FM e a Internet<strong>na</strong>s rádios <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, Paula Cordeiro ............................................................................ 433Educar para comunicar: u<strong>na</strong> reflexión sobre la formación de los comunica<strong>do</strong>res en elcontexto de la sociedad de la información, Vivia<strong>na</strong> Fernández Marcial ................. 443Capítulo IIIOPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIASApresentação, João Carlos Correia ................................................................................ 453A Profissio<strong>na</strong>lização das Fontes <strong>na</strong> disputa pelas Audiências, Boanerges Lopes ... 455Gutenberg cai <strong>na</strong> rede. Os principais impactos que a internet impôs aos processos deprodução de um jor<strong>na</strong>l diário, de porte médio, da cidade de Campi<strong>na</strong>s, Carlos AlbertoZanotti ............................................................................................................................... 463Ideias que vendem, ideias que ninguém quer comprar e as outras. Breve estu<strong>do</strong> acerca<strong>do</strong> poder de legitimação das audiências, Isabel Salema Morga<strong>do</strong> ........................... 473Consumo cultural, consumo de medios de comunicación y concepción de la cultura, JavierCallejo ............................................................................................................................... 481Moeda e Construção Europeia: Uma abordagem identitária, Maria João Silveirinha .. 491Intenção de Voto e Propaganda Política: Efeitos e gramáticas da propaganda eleitoral,Marcus Figueire<strong>do</strong> e Alessandra Aldé ........................................................................... 503Opinión pública y medición de audiencias en el ámbito local: el caso de Segovia,María Jesús Díaz González, Concepción Anguita Olme<strong>do</strong>, Francisco Egi<strong>do</strong> Herrero, JoséManuel García de Cecilia e Eduar<strong>do</strong> Moyano Bazzani.............................................. 511Ce<strong>na</strong>s e senti<strong>do</strong>s <strong>na</strong> tribo Raver: A ordem da fusão, Marli <strong>do</strong>s Santos ................ 521Conducta mediática de los a<strong>do</strong>lescentes en España y Portugal. Mo<strong>do</strong>s de consumo derádio y e televisión, Milagros García Gajate .............................................................. 529Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociais, Rosa Cabecinhas .................... 539Visibilidade e accountability: o evento <strong>do</strong> ônibus 174, Rousiley C. M. Maia...... 551“A Ponte mais vista <strong>do</strong> país”: o que se disse da cobertura jor<strong>na</strong>lística da queda da pontede Entre-os-Rios, Sandra Marinho................................................................................. 569Universidade e Mídia: A Opinião Pública In-formação, Simone Antoniaci Tuzzo ... 581Mediatização <strong>do</strong> real: consumos e estilos de vida. Contributos e reflexões, Susa<strong>na</strong>Henriques .......................................................................................................................... 589


8 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVCapítulo IVCOMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃOApresentação, Eduar<strong>do</strong> Camilo ...................................................................................... 599Apresentação, José Viegas Soares ................................................................................. 603Quan<strong>do</strong> falo o que quero e digo o que é preciso, Adria<strong>na</strong> Gomes Moreira e Maria Madale<strong>na</strong>Simão Duarte .................................................................................................................... 605Comunicação, Identidade e Imagem Corporativas: o caso da Caixa Econômica Federal,Brasil, A<strong>na</strong> Regi<strong>na</strong> Barros Rego Leal e Maria das Graças Targino ........................ 617O Marketing político encara<strong>do</strong> como agente de progressão da comunicação em política,Antónia Cristi<strong>na</strong> Perdigão ............................................................................................... 627A Evolução Tecnológica e a Mudança Organizacio<strong>na</strong>l, Carlos Ricar<strong>do</strong> .................. 637La integración de la comunicación comercial en la gestión corporativa, David AlamedaGarcía ................................................................................................................................ 647Intencio<strong>na</strong>lidade e Diferença: Uma Aproximação Fenomenológica à Intersecção Acção/Comunicação/Informação, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Ilharco ................................................................. 657Comunicación <strong>audiovisual</strong> corporativa: Un modelo de producción, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Galin<strong>do</strong>Rubio ................................................................................................................................. 667A Influência <strong>do</strong> Teatro no Marketing de Vendas Directas, Jorge Dias de Figueire<strong>do</strong> ... 677Identidade e Estilo de Vida: Novos Impactos no Contexto da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l,João Re<strong>na</strong>to Be<strong>na</strong>zzi e João Maia ................................................................... 683Comunicação institucio<strong>na</strong>l em organização pública. O caso da Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong>Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro – 2001/2004, Lino Martins da Silva e Sonia VirgíniaMoreira .............................................................................................................................. 691Comunicação Estratégica: Aplicação das Ideias de Dramaturgia, Tempo e Narrativas, LuísMiguel Poupinha .............................................................................................................. 699Cátedra Unesco/Umesp e seu papel articula<strong>do</strong>r no cenário da comunicação: desafios noséculo XXI, Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi ................................................................................ 705El esta<strong>do</strong> del Corporate en la empresa extremeña: el diseño y la imagen corporativa,Maria Victoria Carillo Duran e A<strong>na</strong> Castillo Díaz .................................................... 713El desarrollo de la competencia comunicativa de los portavoces de la organización (propuestapragmática y retórica), Mª Isabel Reyes Moreno ....................................................... 719O esta<strong>do</strong> da arte em Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l. 1900 – 2000: um século de investigação,Teresa Ruão ...................................................................................................................... 727


JORNALISMO9APRESENTAÇÃOAntónio Fidalgo e Paulo Serra“Ciências da Comunicação em Congresso<strong>na</strong> Covilhã” (CCCC) foi a desig<strong>na</strong>çãoescolhida, pela Direcção da SOPCOM –Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação,para o seu III Congresso, integran<strong>do</strong>o VI LUSOCOM e o II IBÉRICO,e que teve lugar <strong>na</strong> UBI, Covilhã, entre osdias 21 e 24 de Abril de 2004 (o LUSOCOMteve lugar nos <strong>do</strong>is primeiros dias e oIBÉRICO nos <strong>do</strong>is últimos).Dedica<strong>do</strong>s aos temas da Informação,Identidades e Cidadania, os Congressos deCiências da Comunicação <strong>na</strong> Covilhã constituíramum momento privilegia<strong>do</strong> de encontrodas comunidades académicas lusófo<strong>na</strong> eibérica, fazen<strong>do</strong> público o esta<strong>do</strong> da pesquisacientífica nos diferentes países e lançan<strong>do</strong>pontes para a inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lização da respectivainvestigação. Ao mesmo tempo, contribuíramde forma importante para a consolidação,tanto inter<strong>na</strong> como exter<strong>na</strong> – relativamenteà comunidade científica, ao mun<strong>do</strong>académico e ao próprio público em geral– das Ciências da Comunicação como campoacadémico e científico em Portugal.Este duplo resulta<strong>do</strong> é ainda mais relevanteten<strong>do</strong> em conta que se trata de campode investigação recente em Portugal. Nãopretenden<strong>do</strong> fazer uma descrição exaustiva<strong>do</strong> seu historial, assi<strong>na</strong>lem-se algumas datasmais significativas. O primeiro curso delicenciatura <strong>na</strong> área das Ciências da Comunicação– <strong>na</strong> altura denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> de ComunicaçãoSocial – iniciou-se em 1979, <strong>na</strong>Faculdade de Ciências Sociais e Huma<strong>na</strong>s daUniversidade Nova de Lisboa, a que seseguiram o <strong>do</strong> ISCSP da Universidade Técnicade Lisboa (em 1980) e o da UBI (em1989), para citarmos ape<strong>na</strong>s os três primeiros,expandin<strong>do</strong>-se até aos 33 cursos superiores<strong>do</strong> ensino público universitário epolitécnico actualmente existentes.No que se refere aos antecedentes imediatos<strong>do</strong>s Congressos que tiveram lugar <strong>na</strong>UBI, em Abril de 1997 realizava-se <strong>na</strong>Universidade Lusófo<strong>na</strong>, em Lisboa, o IEncontro Luso-Brasileiro de Ciências daComunicação, momento em que os investiga<strong>do</strong>resportugueses decidem criar aSOPCOM – Associação Portuguesa de Ciênciasda Comunicação. Um ano mais tarde,em Abril de 1998, o II Encontro é organiza<strong>do</strong><strong>na</strong> Universidade Federal de Sergipe, noBrasil, incluin<strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>res de paísesafricanos de língua portuguesa. É então quese funda a LUSOCOM – Federação dasAssociações Lusófo<strong>na</strong>s de Ciências da Comunicação.A terceira edição <strong>do</strong> LUSOCOMrealiza-se <strong>na</strong> Universidade <strong>do</strong> Minho, novamenteem Portugal, em Outubro de 1999,regressan<strong>do</strong> ao Brasil para a sua quartaedição, desta vez a S. Vicente, em Abril de2000. Depois de <strong>do</strong>is anos de pausa, o VLUSOCOM estreia Moçambique como paísorganiza<strong>do</strong>r, decorren<strong>do</strong> em Maputo em Abrilde 2002. Ape<strong>na</strong>s com uma edição, realizadaem Málaga em Maio de 2001, o CongressoIbérico de Ciências da Comunicação procuraagora, pela segunda vez, juntar investiga<strong>do</strong>rese académicos de Espanha e de Portugal,e assumir-se assim como momento de uniãoe debate acerca <strong>do</strong> trabalho leva<strong>do</strong> a cabonos <strong>do</strong>is países. O primeiro congressoSOPCOM – a Associação teve a sua criaçãolegal em Fevereiro de 1998 –, realizou-se emMarço de 1999, em Lisboa, sen<strong>do</strong> tambémaí que, decorri<strong>do</strong>s mais <strong>do</strong>is anos, viria aorganizar-se o II SOPCOM, em Outubro de2001.No decurso <strong>do</strong>s quatro dias em quedecorreram os Congressos de Ciências daComunicação <strong>na</strong> Covilhã foram apresentadascerca de duzentas comunicações, repartidaspor dezasseis Sessões Temáticas (repetidasem cada um <strong>do</strong>s Congressos), a saber: Teoriasda Comunicação, Semiótica e Texto, Economiae Políticas da Comunicação, Retórica eArgumentação, Fotografia, Vídeo e Cinema,Novas Tecnologias, Novas Linguagens, Direitoe Ética da Comunicação, História da


10 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVComunicação, Estética, Arte e Design, Publicidadee Relações Públicas, Jor<strong>na</strong>lismo,Estu<strong>do</strong>s Culturais e de Género, Comunicaçãoe Educação, Comunicação Audiovisual,Opinião Pública e Audiências, Comunicaçãoe Organização.A publicação <strong>do</strong> enorme volume depági<strong>na</strong>s resultante de tal número de comunicações– um volume que, e a aplicar oformato estabeleci<strong>do</strong> para a redacção dascomunicações, excederia as duas mil equinhentas pági<strong>na</strong>s –, colocava vários dilemas,nomeadamente: i) Publicar as Actas <strong>do</strong>VI LUSOCOM e <strong>do</strong> II IBÉRICO em separa<strong>do</strong>,ou publicá-las em conjunto; ii) Publicaras Actas pela ordem cronológica dasSessões Temáticas ou agrupar estas em grupostemáticos mais amplos; iii) Dada a impossibilidadede reunir as Actas, mesmo que deum só Congresso, em um só volume, quantosvolumes publicar.A solução escolhida veio a ser a depublicar as Actas de ambos os Congressosem conjunto, agrupan<strong>do</strong> Sessões Temáticascom maior afinidade em quatro volumesdistintos: o Volume I, intitula<strong>do</strong> Estética eTecnologias da Imagem, compreende osdiscursos/comunicações referentes à Aberturae Sessões Plenárias (Capítulo I), Fotografia,Vídeo e Cinema (Capítulo II),Novas Tecnologias e Novas Linguagens(Capítulo III), Estética, Arte e Design(Capítulo IV) e Comunicação Audiovisual(Capítulo V); o Volume II, intitula<strong>do</strong> Teoriase Estratégias Discursivas, compreendeas comunicações referentes a Teorias daComunicação (Capítulo I), Semiótica e Texto(Capítulo II), Retórica e Argumentação(Capítulo III) e Publicidade e RelaçõesPúblicas (Capítulo IV); o Volume III,intitula<strong>do</strong> Visões Discipli<strong>na</strong>res, compreendeas comunicações referentes a Economia ePolíticas da Comunicação (Capítulo I),Direito e Ética da Comunicação (CapítuloII), História da Comunicação (Capítulo III)e Estu<strong>do</strong>s Culturais e de Género (CapítuloIV); fi<strong>na</strong>lmente, o Volume IV, intitula<strong>do</strong>Campos da Comunicação, compreende ascomunicações referentes a Jor<strong>na</strong>lismo (CapítuloI), Comunicação e Educação (CapítuloII), Opinião Pública e Audiências(Capítulo III) e Comunicação e Organização(Capítulo IV).A realização <strong>do</strong>s Congressos de Ciênciasda Comunicação <strong>na</strong> Covilhã e a publicaçãodestas Actas só foi possível graças ao apoio,ao trabalho e à colaboração de muitas pessoase entidades, de que nos cumpre destacara Universidade da Beira Interior, o Institutode Comunicação Social, a Fundação para aCiência e Tecnologia e a Fundação CalousteGulbenkian.


JORNALISMO11Capítulo IJORNALISMO


12 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO13ApresentaçãoJorge Pedro Sousa 1No espaço lusófono, os estu<strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>lísticos são uma das áreas de maiorvitalidade dentro das Ciências da Comunicação.O volumoso fluxo de trabalhos paracongressos e outros eventos comprova-o.Neste VI Congresso Lusófono de Ciênciasda Comunicação, a mesa temática de Jor<strong>na</strong>lismoteve de ser des<strong>do</strong>brada em duas, parapermitir a apresentação de vinte trabalhosentre os que foram submeti<strong>do</strong>s para avaliação.Infelizmente, muitos <strong>do</strong>s excelentes trabalhosque foram remeti<strong>do</strong>s aos coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>resda Mesa Temática de Jor<strong>na</strong>lismo nãopuderam ser integra<strong>do</strong>s no programa, porausência de tempo e não por falta de qualidade.Os trabalhos submeti<strong>do</strong>s aos avalia<strong>do</strong>resdenotam preocupações e linhas de investigaçãodiferenciadas. No seu conjunto, dãoconta da diversidade de objectos de estu<strong>do</strong>que se desenham a partir <strong>do</strong> campojor<strong>na</strong>lístico e da interacção, muitas vezesproblemática, entre jor<strong>na</strong>lismo, sociedade ecultura. Dão conta também da <strong>na</strong>turezamarcadamente interdiscipli<strong>na</strong>r das Ciênciasda Comunicação. As conexões com a História,por exemplo, são bem vincadas emvários <strong>do</strong>s trabalhos que foram submeti<strong>do</strong>saos coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>res da Mesa Temática deJor<strong>na</strong>lismo.Assim, Rogério Santos faz uma descrição<strong>do</strong> primeiro livro sobre jor<strong>na</strong>lismopublica<strong>do</strong> em Portugal: Jor<strong>na</strong>lismo, deAlberto Bessa, edita<strong>do</strong> em 1904; AdrianoLopes Gomes e Cármen Daniella Avelinodesmontam o agendamento das roti<strong>na</strong>s sociaisno jor<strong>na</strong>l A República, de Natal (RN,Brasil), durante a II Guerra Mundial; OrávioSoares relembra os 170 anos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lMonitor Campista; e Beatriz Dornelles mostrauma preocupação simultaneamente comunicacio<strong>na</strong>le historiográfica ao descrever ascaracterísticas <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is e leitores <strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l<strong>do</strong> século XX.Por seu turno, as conexões das Ciênciasda Comunicação com a filosofia e aepistemologia são estabelecidas por trabalhoscomo “Críticas Ímpias”, apresenta<strong>do</strong> porMaria Madale<strong>na</strong> Oliveira, e “O Que o Jor<strong>na</strong>lismoPode Aprender com a Ciência:Objectividade <strong>na</strong> Perspectiva <strong>do</strong>Racio<strong>na</strong>lismo Crítico de Karl Popper”. Ciênciae jor<strong>na</strong>lismo são também questõestratadas por Isaac Epstein, que apresenta umtrabalho sobre “Etos e Tempos de Ciênciano Jor<strong>na</strong>lismo Científico.As pontes entre as Ciências da Comunicaçãoe a sociologia, desig<strong>na</strong>damente entreas Ciências da Comunicação e a sociologiada produção de notícias (newsmaking) sãopatentes em trabalhos sobre a problemática<strong>na</strong>tureza das relações entre fontes de informaçãoe jor<strong>na</strong>listas, como os apresenta<strong>do</strong>spor Zélia Adghirni, sobre a interacção entrejor<strong>na</strong>listas e assessores de comunicação, e porVladimir Araújo, sobre jor<strong>na</strong>lismo sindicalno Brasil. Neste campo, Eduar<strong>do</strong> Meditschdá o seu contributo à edificação de uma teoria<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, ou da notícia, questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>as “falácias lógicas, falhas argumentativas egeneralizações sem base científica <strong>na</strong> investigação<strong>do</strong> newsmaking”.O eleva<strong>do</strong> número de comunicações sobrejor<strong>na</strong>lismo online indicia a importância e anovidade <strong>do</strong> fenómeno. Para o seu estu<strong>do</strong>,desenvolveram-se meto<strong>do</strong>logias e conceitosespecificamente liga<strong>do</strong>s às Ciências daComunicação, usa<strong>do</strong>s, por exemplo, nostrabalhos sobre webjor<strong>na</strong>lismo apresenta<strong>do</strong>spor Cláudia Quadros, Itanel Júnior e Lucia<strong>na</strong>Mielniczuk e no trabalho sobre “Noticiabilidadeno Rádio em Tempos de Internet”,apresenta<strong>do</strong> por Nélia Del Bianco.A análise <strong>do</strong> discurso tem permiti<strong>do</strong> aobtenção de conhecimentos proveitosos sobreo comportamento editorial <strong>do</strong>s meios decomunicação e os conteú<strong>do</strong>s e formatos dasnotícias, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s mais usa<strong>do</strong>sno campo <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>lísticos. Para não


14 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVfugir à regra, são também vários os trabalhosseleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s para o VI LUSOCOM queelegem como principal méto<strong>do</strong> a análise <strong>do</strong>discurso. São os casos das pesquisas de XoséLópez Garcia e Marta Pérez sobre a informaçãocultural nos meios jor<strong>na</strong>lísticos galegos;de Telmo Gonçalves sobre osenquadramentos temáticos da segunda Guerra<strong>do</strong> Golfo; de Patrícia Melo sobre o índio<strong>na</strong> imprensa per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong>; e ainda o de A<strong>na</strong>Cristi<strong>na</strong> Mandarino sobre “a cor da pele” <strong>na</strong>imprensa brasileira Nordesti<strong>na</strong>. Fi<strong>na</strong>lmente,a teorização da análise <strong>do</strong> discurso jor<strong>na</strong>lísticodramatiza<strong>do</strong> constitui a questão central queocupa Pedro Diniz de Sousa.Lançar luz sobre o jor<strong>na</strong>lismo e os jor<strong>na</strong>listase a sua função e repercussão <strong>na</strong>sociedade e <strong>na</strong> cultura é tarefa <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>resem jor<strong>na</strong>lismo. Estamos certos deque os trabalhos seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s reflectemessa preocupação e atingem o seu nobreobjectivo de construir um conhecimento cientificamenteváli<strong>do</strong> sobre os fenómenosjor<strong>na</strong>lísticos, enquanto fenómenos pessoais,sociais, ideológicos, históricos, tecnológicose culturais._______________________________1Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa.


JORNALISMO15Reportagens sobre a Cor da Pele em Jor<strong>na</strong>is de Salva<strong>do</strong>re Aracaju/Brasil: crimi<strong>na</strong>lidade, loucura e macumbaA<strong>na</strong> Cristi<strong>na</strong> de Souza Mandarino 1IntroduçãoO presente trabalho é fruto de minha tesede <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> apresentada <strong>na</strong> Escola deComunicação da UFRJ como resulta<strong>do</strong> deminhas observações e <strong>do</strong> envolvimentoenquanto pesquisa<strong>do</strong>ra, desde a graduação,com as comunidades de terreiro <strong>do</strong> Rio deJaneiro no perío<strong>do</strong> em que, como assistentede pesquisa, pude desfrutar <strong>do</strong> convívio depais e mães-de-santo, fora <strong>do</strong> momento ritual,onde a descontração e a intimidadefaziam as conversas discorrerem sobre osmais diversos assuntos.Podemos perceber que um <strong>do</strong>s assuntospreferi<strong>do</strong>s dizia respeito a como hoje encontrasea religião, e quais as medidas que poderiamser tomadas para que o Can<strong>do</strong>mblé fosse melhorvisto pela sociedade em geral. Os comportamentospercebi<strong>do</strong>s pelos adeptos como nãocondizentes com a tradição, acabavam sen<strong>do</strong>toma<strong>do</strong>s como exemplo, <strong>na</strong>s notícias de jor<strong>na</strong>ise de programas veicula<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mídia em geral,além de programas religiosos.Assim, após comentarem sobre o comportamentode certos indivíduos, e o quanto esteera prejudicial à imagem da religião,relembravam e enfatizavam a luta que a religiãotravou para que fosse mais respeitada,<strong>do</strong>s anos de perseguição policial, e de comoaqueles que professavam a religião <strong>do</strong>s Orixás,Voduns e Inquices 2 eram persegui<strong>do</strong>s com orótulo de loucos e deprava<strong>do</strong>s.A familiaridade adquirida com a visão demun<strong>do</strong> <strong>do</strong> povo-de-santo 3 conduziu-me apensar, sobre as “representações”, 4 que aindahoje incidem sobre estes grupos e em quemedida são percebidas pelo “senso comum” 5 ,da mesma maneira que são elaboradas ealimentadas a partir das notícias saídas <strong>na</strong>imprensa.De acor<strong>do</strong> com Bastide, Verger e Elbeinentre outros, o Can<strong>do</strong>mblé pode ser defini<strong>do</strong>como uma manifestação religiosa resultanteda reelaboração das várias “visões de mun<strong>do</strong>e de ethos ”6 provenientes das múltiplas etniasafrica<strong>na</strong>s que, a partir <strong>do</strong> século XVI, foramtrazidas para o Brasil. É somente no séculoXVIII que esta desig<strong>na</strong>ção será aplicada aosgrupos organiza<strong>do</strong>s e espacialmente localiza<strong>do</strong>s.Verger (1981), porém indica as primeirasmenções as religiões africa<strong>na</strong>s noBrasil como existentes <strong>na</strong>s anotações feitaspela Inquisição em 1860.Segun<strong>do</strong> Elbein (1988), guardan<strong>do</strong> asdevidas reservas, uma vez que a impossibilidadede uma comprovação mais rigorosaesbarra <strong>na</strong> escassez de material oficial, éprovável que o primeiro contingente deescravos vin<strong>do</strong> da região de Ketu, tenhachega<strong>do</strong> ao Brasil por volta de 1789. Estegrande grupo, proveniente de uma vastaregião, será conheci<strong>do</strong> no Brasil pelo nomegenérico de Nagô, porta<strong>do</strong>res de uma tradição,cuja riqueza deriva das culturas individuais<strong>do</strong>s diferentes reinos de onde seorigi<strong>na</strong>ram.A fim de situar, aproximadamente, achegada <strong>do</strong>s primeiros grupos <strong>na</strong>gô ao Brasil– seguin<strong>do</strong> por um la<strong>do</strong>, o esquema <strong>do</strong>s quatrociclos distingui<strong>do</strong>s por Luis Via<strong>na</strong> Filho(1964) e que foram mais tarde minuciosamenteexami<strong>na</strong><strong>do</strong>s e modifica<strong>do</strong>s por PierreVerger (1964 e 1968), e por outro la<strong>do</strong> acronologia deduzida das fontes orais – podeseadmitir que os Nagô foram os últimos ase estabelecerem no Brasil, no fim <strong>do</strong> séculoXVIII e início <strong>do</strong> século XIX.Segun<strong>do</strong>s estes autores os ciclos estariamassim dividi<strong>do</strong>s:I — Ciclo da Guiné, século XVI;II — Ciclo de Angola, século XVII;III — Ciclo da Costa da Mi<strong>na</strong> e Golfo<strong>do</strong> Benin, século XVIII até 1815;IV — Última fase: a ilegalidade: de 1816a 1851.Os chama<strong>do</strong>s Jêje e Nagô teriam vin<strong>do</strong>no IV ciclo, no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre


16 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV1770 e 1850, sen<strong>do</strong> que estaria aí incluí<strong>do</strong>o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> tráfico clandestino.Cabe ressaltar, que, se estamos dan<strong>do</strong>mais ênfase ao grupo étnico jêje-<strong>na</strong>gô, éporque será este que irá fundar as primeirascasa de culto que se tem oficialmente notícia,passan<strong>do</strong> este modelo ser ti<strong>do</strong> comoreferência quan<strong>do</strong> se fala de estu<strong>do</strong>s sobreas religiões afro-brasileiras. Inclusive écurioso lembrar, que o próprio Ni<strong>na</strong>Rodrigues a estes exalta como “os negros<strong>na</strong>gôs possuem uma mitologia bastante complexa,com divinização <strong>do</strong>s elementos <strong>na</strong>turaise fenômenos meteorológicos” (ELBEIN,1988: 216), “[...] da preponderância adquiridano Brasil pela mitologia e culto <strong>do</strong>s jejese iorubanos a ponto de, absorven<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s osoutros, prevalecer este culto quase como aúnica forma de culto organizada <strong>do</strong>s nossosnegros fetichistas”.(ELBEIN, 1988: 215).Os Terreiros, Roças, Abaçás ou Casasde-Santo,denomi<strong>na</strong>ções correntes utilizadaspara nomear os espaços e grupos de cultoaos deuses africanos” – Orixás, Inquices eVoduns – representam assim historicamente,uma forma de resistência cultural, coesãosocial, e ao mesmo tempo centro de fermentaçãopara sublevações e rebeliões, relatan<strong>do</strong>às várias rebeliões ocorridas no século XIXcomo ten<strong>do</strong> relação com a fé que professavamos insurretos (RODRIGUES, 1988). Éinteressante ressaltar que Ni<strong>na</strong> Rodrigues aoreferir-se as rebeliões levava em consideraçãoape<strong>na</strong>s a origem e a fé <strong>do</strong>s rebeldes,esquecen<strong>do</strong>-se que as próprias condições emque estes viviam – sub-huma<strong>na</strong>s – por si sójá eram motivos suficiente para a rebeliãoou motim.As formas da religiosidade africa<strong>na</strong>, nocaso brasileiro, podem ser consideradasfatores fundamentais para a formação dereagrupamentos institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s de africanose seus descendentes, escravos, foragi<strong>do</strong>se libertos. Ao la<strong>do</strong> de associações religiosaspropriamente ditas, como Terreiros e Irmandadesde Igrejas Católicas, – e mais tarde– Federações, desenvolveram-se durante aescravidão formas de resistência política –os quilombos – que geralmente estavamassocia<strong>do</strong>s às práticas religiosas africa<strong>na</strong>s.Assim, passaremos a encontrar mais tarde,em diversas regiões <strong>do</strong> Brasil, a dissemi<strong>na</strong>ção<strong>do</strong>s cultos de origem africa<strong>na</strong>, que agoratomariam o nome de religião afro-brasileiradenomi<strong>na</strong>das genericamente sob os nomes deUmbanda e Can<strong>do</strong>mblé.Podemos perceber que a base dessasrepresentações está situada no nível de relacio<strong>na</strong>mentoexistente entre o rótulo religioso,a cor da pele e o nível social <strong>do</strong>sparticipantes <strong>do</strong>s grupos religiosos.Vale ressaltar que as representações são,elas próprias, marcadas por critérios sociaise por mecanismos classificatórios fundamenta<strong>do</strong>sno sistema hierarquiza<strong>do</strong> da organizaçãosocial. Neste sistema, é possível perceberfronteiras nitidamente estabelecidas paraa firmação individual e grupal, fundamentadasnos cre<strong>do</strong>s religiosos assumi<strong>do</strong>s, <strong>na</strong>aparência física (cor da pele, feições, cabelos,vestuário, etc.), que indicam a pertençaa um <strong>do</strong>s diversos grupos profissio<strong>na</strong>is econfessio<strong>na</strong>is que, por sua vez, ajudam apromover a inserção – individual e grupal– <strong>na</strong>s diferentes camadas da pirâmide social.(TEIXEIRA, 1992).A articulação entre as rotulações religiosase a racial é considerada como um fatorimportante para a compreensão <strong>do</strong> cenáriosocial brasileiro, marca<strong>do</strong> pelo “me<strong>do</strong> <strong>do</strong>feitiço”, conforme mostra<strong>do</strong> por Maggie(1992), e alimenta<strong>do</strong> e reforça<strong>do</strong> pelasnotícias estereotipadas veiculadas <strong>na</strong> mídia.É esse me<strong>do</strong> exagera<strong>do</strong> <strong>do</strong> feitiço/malefício,fruto muito mais de um imaginário, <strong>do</strong> quebasea<strong>do</strong> em verdades comprovadas, que irápromover durante muito tempo uma justificativaa qual, imprensa e polícia, atribuíamcomo resulta<strong>do</strong> às perseguições.Assim, procuramos buscar identificar apossível articulação existente entre as representaçõesacerca da loucura, crimi<strong>na</strong>lidade ereligiões afro-brasileiras (Umbanda e Can<strong>do</strong>mblé)e as notícias veiculadas nos jor<strong>na</strong>isdas cidades de Salva<strong>do</strong>r e Aracaju e de comoestas participaram da construção e cristalizaçãode estereótipos negativos incidentessobre aqueles que praticam e cultuam Orixás,Voduns, Inquices e entidades afro-brasileiras.A leitura das representações engendradassobre a população macumbeira, rótulo genéricoincidente sobre negros, mestiços ebrancos, adeptos das religiões afro-brasileiras,aponta para o processo de classificaçãoque incide sobre grupos e indivíduos que tantoserve para justificar desigualdades sociais,


JORNALISMO17como para sedimentar hierarquizações atravésde uma inferioridade atribuída. Um <strong>do</strong>saspectos ressalta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> confecção <strong>do</strong>s retratos<strong>do</strong>s adeptos das comunidades religiosas,mostra<strong>do</strong> nos noticiários <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is, e maisrecentemente <strong>na</strong> TV, é o da crimi<strong>na</strong>lidade,da loucura, devassidão e luxúria.Assim, este trabalho tem como objetivodemonstrar como os estereótipos acerca dasreligiões afro-brasileiras foram cristaliza<strong>do</strong>s<strong>na</strong>s notícias de jor<strong>na</strong>is <strong>na</strong>s cidades de Aracajue salva<strong>do</strong>r durante o perío<strong>do</strong> de maior repressãoaos cultos afro, que teve seu início<strong>na</strong> década de 30 e perdurou até o fi<strong>na</strong>l dadécada de 60.Ao partimos para nossa pesquisa nosórgãos públicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Sergipe, e aoconversarmos com cada um <strong>do</strong>s dirigentes,dessas instituições, outra surpresa nos aguardava.Segun<strong>do</strong> estes, não havia registros emjor<strong>na</strong>is que tratassem da perseguição aoscultos negros no Esta<strong>do</strong>, porque, por ordem<strong>do</strong>s poderes públicos da época, era proibi<strong>do</strong>qualquer registro que retratassem as açõesde perseguição, invasão e prisão ocorrida nosterreiros de Umbanda e Can<strong>do</strong>mblé.Diante desta nova perspectiva, que nosimpedia o acesso ao material bibliográfico,resolvemos centrar nossa pesquisa, pelomenos no Esta<strong>do</strong> de Sergipe, nos usos dahistória de vida e da oralidade, mesmoconscientes das limitações deste méto<strong>do</strong>.Entretanto, devemos ressaltar que nãodescartamos a busca por materiais oficiaisque comprovassem nossa idéia, pois consideramosque independente da quantidade aque tenhamos acesso, nos deteremos ema<strong>na</strong>lisar a importância, qualidade e significa<strong>do</strong><strong>do</strong> que encontrarmos.Já nos Esta<strong>do</strong> da Bahia, especificamente<strong>na</strong> cidade de Salva<strong>do</strong>r, empreendemos pesquisanos órgãos e jor<strong>na</strong>is em que houvessemreferências aos cultos afro-brasileiros,buscan<strong>do</strong> ressaltar as diferenças que marcamestas duas sociedades tão próximas uma daoutra, e, no entanto, distanciadas pela maneiraatravés da qual optaram tratar o mesmotema – uma a repressão e a negação daexistência; no caso da cidade de Aracaju, ea outra a repressão e a veiculação da notíciaem manchetes de jor<strong>na</strong>is – e em que graurefletem as visões de mun<strong>do</strong> e – modusvivendi das próprias sociedades.Encontramos <strong>na</strong> cidade de Aracaju cercade 15 notícias por nós a<strong>na</strong>lisadas que diziamrespeito a uma perío<strong>do</strong> que ia desde a décadade 50, até o fi<strong>na</strong>l da década de 70. Valeressaltar, que no perío<strong>do</strong> anterior, onde arepressão levada a cabo pelo regime políticoque se instalou no Brasil a partir da décadade 30 e que perdurou até o fi<strong>na</strong>l da décadade 40, e que caracterizou-se como o perío<strong>do</strong>de maior repressão <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> aos cultos afrobrasileiros,a ocultação por parte da imprensadas prisões e perseguições, mantinham umacerta coerência com o momento político deentão, que iria marcá-la por muito tempoainda.É sabi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s em Sergipe, <strong>do</strong> episódioenvolven<strong>do</strong> um secretário de segurançaque ordenou a queima de to<strong>do</strong>s os boletinsde ocorrência que registrassem as prisões denegros ou que retratassem perseguições.Desta maneira, as décadas de 50 e 70,perío<strong>do</strong> onde as comunicações de massacomeçam a exercer influência significativasobre os indivíduos, ditan<strong>do</strong> e alteran<strong>do</strong>padrões de comportamento, questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>valores e levan<strong>do</strong> informações rápidas eprecisas através <strong>do</strong> surgimento da TV e <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is de grande circulação, são o momentoonde encontraremos um maior número denotícias <strong>na</strong> imprensa envolven<strong>do</strong> os cultosafro-brasileiros e acerca de suas práticas.Ao contrário, no Esta<strong>do</strong> da Bahia, desdeo início <strong>do</strong> século, vamos encontrar notíciasveiculadas que dão conta da perseguição aoscultos. Dentre tantos, escolhemos cerca de12, que de várias formas nos possibilitavamum panorama de como esta sociedade lidavacom a questão das religiões afro-brasileirase da possessão. Acreditamos, que diferentede Aracaju, que não possuía uma – “tradição”forte em relação a organização <strong>do</strong>s cultose quanto a uma origem que pudesse serevocada, em Salva<strong>do</strong>r, ao contrário, desdece<strong>do</strong> a imprensa acostumou-se a ceder espaçosem seus diários aos debates leva<strong>do</strong>sa cabo pela Escola de Medici<strong>na</strong> e por seussegui<strong>do</strong>res, que acreditavam ser de sumaimportância a divulgação <strong>na</strong> imprensa sobrea periculosidade que envolviam negros emestiços praticantes das religiões afro-brasileiras.Com relação a loucura associada aospraticantes <strong>do</strong>s cultos afro-brasileiros, partire-


18 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmos por considerar que durante os primeirosanos deste século, os estu<strong>do</strong>s da Psiquiatriavoltavam-se para as religiões afro-brasileirascomo local capaz de promover a teoria aceitapor muitos e, principalmente, por algunspsiquiatras de que negro e religião eram osingredientes perfeitos que, combi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, eramcapazes de promover a loucura e acrimi<strong>na</strong>lidadeOs estu<strong>do</strong>s de Raimun<strong>do</strong> Ni<strong>na</strong> Rodrigues 7 ,Ulisses Per<strong>na</strong>mbucano e Cunha Lopes entreoutros, grandes expositores desta teoria,acreditavam que a população negra participantedas religiões afro-brasileiras (Umbandae Can<strong>do</strong>mblé) eram passíveis de desenvolveralgumas patologias e degenerações. Assim,diante desta perspectiva os terreiros em váriospontos <strong>do</strong> país, especialmente os <strong>do</strong> Rio deJaneiro, Salva<strong>do</strong>r e Recife viram-se invadi<strong>do</strong>sdurante as sessões públicas (fato que dariamaior destaque às notícias de jor<strong>na</strong>l) porilustres perso<strong>na</strong>gens que tentavam ali encontrara prova cabal que referendasse suasteorias.Este autor inclusive foi o funda<strong>do</strong>r daEscola de Patologia Social fortemente influencia<strong>do</strong>pelas teorias evolucionistas em voga<strong>na</strong> Europa, que articulava três discipli<strong>na</strong>s: amedici<strong>na</strong>, o direito e a antropologia social.Esta associação tinha como objetivo demonstraratravés de argumentos “lógicos e científicos”que a população brasileira era intelectuale psicologicamente inferior <strong>na</strong> confrontaçãocom a superioridade indiscutível<strong>do</strong>s brancos. (RODRIGUES, 1988).No quadro em que se expla<strong>na</strong> apluralidade da sociedade brasileira, além dadiscrimi<strong>na</strong>ção que recai sobre tu<strong>do</strong> ou to<strong>do</strong>sque são considera<strong>do</strong>s negros ou afro, o rótulode macumbeiro supõe ainda uma outra dimensão:aquela estabelecida pela Escola dePatologia Social que associa certas práticasrituais, como possessão, à loucura e acrimi<strong>na</strong>lidade (BIRMAN, 1986). Outras<strong>do</strong>enças também foram atribuídas aos negrose mestiços, assim como atributos morais ecomportamentais, o que contribui fortementepara o enquadramento dessas populações ede suas manifestações culturais e religiosascomo produzidas por “gente de segundacategoria” conforme Ni<strong>na</strong> Rodrigues.Vale ressaltar, que segun<strong>do</strong> AngelaLunhing (2000), no perío<strong>do</strong> que realizou suapesquisa que vai de 1920 até 1942, nos jor<strong>na</strong>is“A Tarde” e “Esta<strong>do</strong> da Bahia” sobre asperseguições aos Can<strong>do</strong>mblés baianos, ape<strong>na</strong>suma reportagem foi escrita por umjor<strong>na</strong>lista presente a invasão, não haven<strong>do</strong>nenhum outro registro <strong>na</strong>s inúmeras reportagensque prove a presença de jor<strong>na</strong>listaspresentes. O que demonstra que as notíciaseram veiculadas de acor<strong>do</strong> com o imaginárioe o senso comum daqueles que as escreviam,deixan<strong>do</strong> transparecer não só o desconhecimentoa respeito das religiões afro-brasileiras,como representavam os estereótipos pelosquais as religiões afro-brasileiras eram percebidas.Com o passar <strong>do</strong> tempo notícias querelatavam a invasão e posterior captura eencarceramento <strong>do</strong>s freqüenta<strong>do</strong>res e adeptos<strong>do</strong>s terreiros começaram a aparecer <strong>na</strong>imprensa escrita. Estas notícias serviriam parareforçar os preconceitos que já se encontravamlatentes no imaginário social, agorasubstancia<strong>do</strong>s e legitima<strong>do</strong>s pela imprensa.Essas notícias transformar-se-iam <strong>na</strong> manhãseguinte em manchetes de jor<strong>na</strong>is.Notícias: ideologias e estereótipos aosnegrosOs jor<strong>na</strong>is de uma forma geral sempretrouxeram em suas manchetes relatos acercadas curas obtidas nos terreiros da mesmaforma que questio<strong>na</strong>vam a validade e averacidade de tais fatos, fornecen<strong>do</strong>, assim,material amplo para moldar o imagináriosocial acerca da loucura e da crimi<strong>na</strong>lidadee as religiões afro-brasileiras.Assim, perda de controle, exploraçãopública, crime, suicídio, brigas, adultério,roubos, loucuras sempre foram vistas pelosjor<strong>na</strong>is como atividades comuns no âmbito<strong>do</strong>s terreiros, da mesma forma que seusfreqüenta<strong>do</strong>res eram percebi<strong>do</strong>s como cidadãosperigosos, que deveriam permanecersobre suspeita policial. Em síntese, to<strong>do</strong>macumbeiro era classifica<strong>do</strong> como um possíveldelituoso ou delinqüente.Quase sempre matéria de primeira pági<strong>na</strong>em jor<strong>na</strong>is populares, este tipo de destaquetanto pode ser interpreta<strong>do</strong> como apelo paraa venda de jor<strong>na</strong>is através <strong>do</strong> sensacio<strong>na</strong>l e<strong>do</strong> misterioso, – marcas, representações eestigmas – quanto o que se desejava ver


JORNALISMO19reforça<strong>do</strong>. Nesta perspectiva era delimita<strong>do</strong>,de forma mais nítida o espaço social paraas religiões afro-brasileiras; principalmente<strong>na</strong> década de 50, quan<strong>do</strong> tais formas religiosasnão tinham recebi<strong>do</strong> ainda a marcada legitimidade conferida pelos estu<strong>do</strong>santropológicos desenvolvi<strong>do</strong>s a partir dasdécadas de 50 e 60. 8 (BROWN, 1985;TEIXEIRA, 1986).Assim, buscamos demonstrar que asnotícias veiculadas <strong>na</strong> imprensa valorizam osensacio<strong>na</strong>l e o caricato, sen<strong>do</strong> enfoca<strong>do</strong>principalmente homicídios, suicídios e casosde loucura. Ten<strong>do</strong> sempre consciente que anotícia não é um ingênuo relato de um fato,mas uma construção elaborada segun<strong>do</strong>determi<strong>na</strong>da ótica e ética, <strong>do</strong> nosso ponto devista, to<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l é um veículo, um instrumento,cria<strong>do</strong>r de um mun<strong>do</strong> no qual se põeà consciência e ao consumo <strong>do</strong>s leitores.As informações, portanto, são elaboradaspor escolha, interpretação e avaliação, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-seassim significativas. O jor<strong>na</strong>l colocan<strong>do</strong>-secomo reprodutor de uma realidadeque se dá à observação, tor<strong>na</strong>-se, <strong>na</strong>verdade, produtor e reprodutor de um universoideológico que atende a interessesespecíficos.Acreditamos que a notícia tem um determi<strong>na</strong><strong>do</strong>fim, no entanto, resta-nos saberse aqueles que a produzem têm uma consciênciaclara de seu conteú<strong>do</strong> e de como esterepercutirá sobre aqueles que as lêem, ou sesimplesmente atuam como agentes de umacoisa maior, reproduzin<strong>do</strong>, eles própriosarticulações <strong>do</strong> imaginário social acerca dedetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s grupos, em especial aqueles queprofessam a religião <strong>do</strong>s Orixás Inquices eVoduns.ConclusãoApós empreendermos nosso trabalho, cujoobjetivo reside em percebermos as representaçõesque incidem sobre a cor da pele <strong>do</strong>sadeptos e praticantes <strong>do</strong>s cultos afro-brasileiros,acerca das notícias veiculadas <strong>na</strong>imprensa sergipa<strong>na</strong> e baia<strong>na</strong>, algumas questõesnos parecem relevantes.O início <strong>do</strong> século surge como ummomento de grande reflexão por parte daquelesque enxergavam a necessidade detransformar o país. A realidade social,econômica, política e cultural, com a qualse defrontavam intelectuais, escritores, políticos,profissio<strong>na</strong>is liberais e setores populares,não se ajustava facilmente às idéias eaos conceitos, aos temas e às explicaçõesemprestadas, às pressas, de sistemas depensamentos elabora<strong>do</strong>s em países da Europa.Estava em curso uma fase importante noprocesso de construção de um movimentocapaz de pensar a realidade e a cultura<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.(IANNI,1992, apud MANDARINO,1995: 40).As transformações políticas, econômicase culturais por qual passavam o país, foiresponsável pelo surgimento de várias correntescontrárias a aproximação, se é que sepode dizer desta maneira, entre as classespopulares e os setores mais conserva<strong>do</strong>res ehegemônicos da sociedade.A busca pela instauração de uma novaordem mais próximas das aspirações daquelesque pensavam a necessidade de um Brasilmoderno, não condizia com uma sociedadeonde a presença de negros e de seus rituaisimpuros pudessem proliferar.Com isso, procuramos demonstrar que osmecanismos regula<strong>do</strong>res cria<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>desde a República não extirparam a crença<strong>na</strong> magia e em sua eficácia, mas ao contrário,foram fundamentais para sua constituição.Isto vai gerar inúmeras estratégias pelopovo-de-santo, que em determi<strong>na</strong><strong>do</strong> momentovão se fazer acompanhar de políticos epessoas influentes, que acabarão por criarespaços para estes nos meios de comunicação.Esta estratégia de mão dupla, que porum la<strong>do</strong> é capaz de fazer com que algunsrepresentantes e seus terreiros, passem a servistos de forma diferenciada por uma parcelada sociedade, por outro, vai gerar um comprometimentocapaz de afastar alguns, e delevar a suspeita a outros.Estes mecanismos podem ser percebi<strong>do</strong>snos processos de formação das várias Federaçõesem diversos Esta<strong>do</strong>s, onde estes locaispassam a servir de espaço para a cooptaçãopolítica em troca de favores, como espaçosem colu<strong>na</strong>s de jor<strong>na</strong>is e revistas, além daconcessão de horários em rádios.Sobre as perseguições aos cultos afrobrasileiros,podemos concluir que, diferente<strong>do</strong> que ocorreu em outros Esta<strong>do</strong>s, embora


20 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVo contrário seja enuncia<strong>do</strong> <strong>na</strong>s poucas reportagensrecolhidas, e ape<strong>na</strong>s aponta<strong>do</strong> nosdepoimentos, em Aracaju, as perseguições ea repressão não tinham como principalobjetivo à punição <strong>do</strong>s adeptos por estespraticarem feitiçarias ou malefícios. NoEsta<strong>do</strong> de Sergipe a perseguição fora muitomais organizada como forma de instauraçãoda ordem <strong>do</strong> que por acusações de feitiçaria.Como a sociedade sergipa<strong>na</strong> poucocontato tinha com aqueles que à praticavam,o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> feitiço era algo ape<strong>na</strong>s cogita<strong>do</strong>.O caráter nortea<strong>do</strong>r da<strong>do</strong> às perseguições ea repressão encontravam-se muito mais revesti<strong>do</strong>de uma postura ideológica, <strong>do</strong> quepropriamente com preocupação da possívelincidência de malefícios.É curioso percebermos que Dantas (1984),ao tratar das perseguições aos cultos afrobrasileirosno Esta<strong>do</strong> de Sergipe, e sua relaçãocom as acusações de que serviam de localpara abrigo de comunistas, e o papel desempenha<strong>do</strong>pela imprensa, se utilize, como nós,para sua análise de jor<strong>na</strong>is da Bahia, esclarecen<strong>do</strong>ela própria que muita pouca coisaencontrou <strong>na</strong> imprensa local nos poucosjor<strong>na</strong>is ainda preserva<strong>do</strong>s.No caso específico deste estu<strong>do</strong>, nos foipossível identificar que isto vem ocorren<strong>do</strong>junto àqueles pertencentes às minorias, sejamelas caracterizadas pelos negros, pelosadeptos <strong>do</strong>s cultos afro-brasileiro, enfim, umaparcela que acaba por ficar à margem dasociedade por não conseguir se articular emum sistema volta<strong>do</strong> para atender àqueles quese proclamam brancos e superiores aosdemais.Nesta linha, identificamos ainda que, osque se intitulam serem brancos, vêm desdeo início <strong>do</strong> desenvolvimento desse país,pontuan<strong>do</strong> e delimitan<strong>do</strong> seu território, sejaeste liga<strong>do</strong> aos aspectos político, culturais,sociais, enfim, <strong>na</strong> maneira pela qual marcame exercem suas ações em sociedade. Nestesenti<strong>do</strong>, encontramos os jor<strong>na</strong>is e as notíciasveiculadas servin<strong>do</strong> em verdade comodifusores e nortea<strong>do</strong>res de opiniões de umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo.


JORNALISMO21BibliografiaArchanjo, Marcelo V. Can<strong>do</strong>mblé, Macumbae Umbanda: o Feitiço <strong>do</strong> O Dia -In: Cadernos de Iniciação Científica, n.5,LPS/IFCS/UFRJ, 1995.Cohn, Gabriel. Theo<strong>do</strong>r W. A<strong>do</strong>rno: Sociologia.São Paulo: Ática, 1994.Concone, M. H. e Negrão, L. N.Umbanda: da repressão à cooptação. Oenvolvimento político partidário da Umbandapaulista <strong>na</strong>s eleições de 1982. Rio de Janeiro:Marco Zero, 1985.Dantas, Beatriz. Vovó Nagô e PapaiBranco: usos e abusos da África no Brasil.Rio de Janeiro: Graal, 1988.___. De feiticeiros a Comunistas: acusaçõessobre o Can<strong>do</strong>mblé. São Paulo,Revista Dédalo, 23/1984, Museu de Etnologiada Universidade de São Paulo/Edusp.___. Nanã de Aracaju: trajetória de umamãe plural. In Caminhos da Alma. São Paulo:Selo Negro, 2002 Org. Vagner Gonçalves daSilva.Dantas, Ibarê Costa. Revolução de 30 emSergipe - Dos Tenentes aos Coronéi. SãoPaulo: Cortez/UFS, 1983.___. Os Parti<strong>do</strong>s Políticos em Sergipe.Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.Elbein, Joa<strong>na</strong> <strong>do</strong>s Santos. Os Nagô e aMorte. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes,1988.Holfeldt, Antonio, Martino, Luiz C. eFrança, Vera. Teorias da Comunicação.Petrópolis: Vozes, 2001.Mandarino, A<strong>na</strong> Cristi<strong>na</strong> de S. Umestu<strong>do</strong> das representações raciais em <strong>do</strong>isterreiros de Umbanda– Maria ou Jurema? Dissertação deMestra<strong>do</strong> FFLCH/Departamento de AntropologiaSocial/USP, 1995.Moraes, Enio. Sociologia da Comunicação:abordagens teóricas. Aracaju: 1997(mimeo).Rodrigues, Raimun<strong>do</strong> Ni<strong>na</strong>. Os Africanosno Brasil. Brasília: Editora UNB, 1988.Lünhing, Angela. Acabe com este santo,Pedrito vem aí... - mito e realidade daperseguição policial ao can<strong>do</strong>mblé baianoentre 1920 e 1942. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>,Escola de Comunicação/ USP, 1997 (mimeo).Maggie, Yvonne. Me<strong>do</strong> de feitiço: relaçõesentre magia e poder no Brasil. Rio deJaneiro: Arquivo Nacio<strong>na</strong>l, 1992.Teixeira, Maria Li<strong>na</strong> L. Identidade religiosae relações raciais no Brasil. Boletimn 6 Laboratória de Pesquisa Social/IFCS/UFRJ,1992.Torres, Acrísio. A Imprensa em Sergipe.Brasília: Se<strong>na</strong><strong>do</strong> Nacio<strong>na</strong>l,1993.Fairclough, N., A Mídia e a linguagem:organizan<strong>do</strong> uma pauta.Tradução de ÁlvaroSouza, Aracaju, 2002.Winne, João Pires. História de Sergipe:de 1930 a 1972. Rio de Janeiro. Ponguetti,1973,vol 2._______________________________1Universidade Tiradentes, Sergipe/UniversidadeFederal de Sergipe, Brasil.2Estas denomi<strong>na</strong>ções dizem respeito as váriastradições que denomi<strong>na</strong>m os principais grupos decultos.3Conjunto de adeptos das diferentes formasreligiosas denomi<strong>na</strong>das de afro-brasileiras.4Segun<strong>do</strong> Goffman, “representação seria todaatividade desenvolvida por um indivíduo numperío<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong> por sua presença contínuadiante de um grupo particular de observa<strong>do</strong>res eque tem sobre estes alguma influência.”(GOFFMAN, 1975).5Conforme indicou Schultz, o que distingue o“senso comum” como um mo<strong>do</strong> de”“ver” é a simplesaceitação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s seus objetos e <strong>do</strong>s seusprocessos exatamente como se apresenta, comoparecem ser e o motivo pragmático, o desejo deatuar sobre esse mun<strong>do</strong> de forma a dirigi-lo e colocáloem seus próprios limites (GEERTZ, 1988).6Na discussão antropológica recente, osaspectos morais e éticos de uma dada cultura, oselementos valorativos, foram resumi<strong>do</strong>s sob otermo “ethos”, enquanto os aspectos cognitivos,existenciais foram desig<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelo termo “visãode mun<strong>do</strong>.”(GEERTZ, 1989: 143).7Introdutor <strong>do</strong> rigor científico <strong>na</strong>s pesquisassobre o social, Ni<strong>na</strong> Rodrigues i<strong>na</strong>ugurou a práticaetnográfica no meio urbano e sobre as relaçõesentre negros e brancos, dan<strong>do</strong> especial atençãoao fenômeno religioso afro-brasileiro e sua incidênciasobre a crimi<strong>na</strong>lidade praticada por negrose mestiços.8A produção acadêmica ultrapassa os meiosintelectuais, vin<strong>do</strong> a tor<strong>na</strong>r-se objeto de interesse<strong>do</strong>s adeptos <strong>na</strong>s comunidades, ou temática pararomances novelas e filmes.


22 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO23O Iraque <strong>na</strong>s televisões europeias:representações da segunda guerra <strong>do</strong> GolfoA<strong>na</strong>bela Carvalho 11. IntroduçãoA intenção de intervir militarmente noIraque, promovida durante largos meses pelosEUA, conduziu a um longo confronto diplomáticoe a uma profunda divisão políticainter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em 2002 e 2003. As posiçõesoficiais de cada país não tiveram, em muitascasos, correspondência <strong>na</strong> forma como os seuscidadãos percepcio<strong>na</strong>ram o problema. NaEuropa ocidental, mesmo nos países cujosgovernos se colocaram ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s EUA,ocorreram algumas das maiores manifestaçõespopulares de sempre, como protesto faceaos planos de guerra, e as sondagens apontarampara eleva<strong>do</strong>s índices de oposição aosmesmos. Apesar de tu<strong>do</strong>, venceu a vontadede alguns políticos de fazer a guerra.Nas suas primeiras sema<strong>na</strong>s, o confrontomilitar no Iraque foi uma experiênciatelevisiva intensa. Um exército de jor<strong>na</strong>listas,com um enorme arse<strong>na</strong>l de meios técnicos,trouxe até aos especta<strong>do</strong>res de (quase)to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> um constante fluxo de imagens.No entanto, apesar das aparentes semelhanças,tratou-se não de um único, masde vários retratos da guerra que foramveicula<strong>do</strong>s pelos media (e.g. Lamloum, 2003).Neste texto, pretende-se fazer uma comparaçãocrítica da representação da guerra noIraque em três cadeias de televisão: BBCWorld, TV5 e RTPi. Estas escolhas relevamda variedade de posições e graus deenvolvimento <strong>na</strong> guerra <strong>do</strong>s três países a queestão ligadas. Começa-se por rever algumasdas questões centrais <strong>na</strong> investigação sobreos media <strong>na</strong>s situações de guerra e procedesedepois à análise da imagem <strong>do</strong> conflitoque foi veiculada por cada um <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>is.2. Os media e a guerraA reflexão sobre a re-construção televisiva<strong>do</strong> conflito no Iraque – como de qualquerguerra – tem que ser enquadrada pela investigaçãosobre a relação entre o sistemapolítico e o sistema mediático. Tal relaçãotem si<strong>do</strong> frequentemente descrita como dedependência mútua e de influência recíproca.Porém, o exalta<strong>do</strong> “poder” <strong>do</strong>s media,enquanto árbitros e juízes da vida pública,parece cada vez mais diminuí<strong>do</strong>, pelo quealguns a<strong>na</strong>listas apontam para uma relaçãode subjugação estrutural <strong>do</strong>s mesmos relativamenteaos poderes políticos. Tal estariarelacio<strong>na</strong><strong>do</strong> com questões como a propriedade<strong>do</strong>s meios de comunicação e o podereconómico, a dependência das fontes oficiaise a influência ideológica sobre as organizaçõesmediáticas (Bennett, 1988; Herman eChomsky, 1988). Na expressão de Chomsky(1989), o complexo militar-industrialmediáticoestaria cada vez mais refi<strong>na</strong><strong>do</strong>, comos media a desempenhar uma função essencial<strong>na</strong> “engenharia <strong>do</strong> consentimento”. Aprodução de concordância ou, pelo menos,de anuência tácita <strong>do</strong>s cidadãos relativamenteàs políticas projectadas, seria um serviçoessencial que os media prestariam aos governos(Lippman, 1960).Associadas à expansão globalizante dastecnologias da comunicação, as relações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>isconstroem-se hoje, ecrescentemente, com o “soft power” – o poderassocia<strong>do</strong> à imagética, à comunicação e àinformação, por contraste com o poder militare económico. A “diplomacia electrónica” vaitoman<strong>do</strong> o lugar da diplomacia tradicio<strong>na</strong>l.As implicações políticas da mediatização,bem como o mo<strong>do</strong> como os actores políticosprocuram utilizar os media para angariar oapoio da opinião pública <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lpara determi<strong>na</strong>das medidas de políticaexter<strong>na</strong>, têm vin<strong>do</strong> a ser objecto de váriosestu<strong>do</strong>s (e.g. O’Heffer<strong>na</strong>n, 1991). Gilboa(2002) atribui aos media “globais” tais comoa CNN, a BBC World e a Sky quatro tiposde papeis <strong>na</strong> formulação e implementação depolíticas exter<strong>na</strong>s: papel de controlo <strong>do</strong>processo de decisão política (por exemplo,


24 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVexercen<strong>do</strong> pressão no senti<strong>do</strong> de intervençõeshumanitárias); papel de limitação das opçõesde política exter<strong>na</strong>; papel de mediação (normalmentedesempenha<strong>do</strong> por determi<strong>na</strong><strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas em situações de conflito); e papelinstrumental (em que os media são utiliza<strong>do</strong>spelos actores políticos para promover determi<strong>na</strong>dasposições e mobilizar apoio popular).Por boa razão, as situações de guerra têmconstituí<strong>do</strong> um objecto de estu<strong>do</strong> privilegia<strong>do</strong>para os investiga<strong>do</strong>res em ciências dacomunicação. Se bem que muitos <strong>do</strong>s traçosda relação entre os media e a política semantêm, a prestação <strong>do</strong>s media nos perío<strong>do</strong>sde guerra (incluin<strong>do</strong> a “preparação” para amesma) é, em muitos aspectos, “excepcio<strong>na</strong>l”.Veremos como nos próximos parágrafos.A guerra <strong>do</strong> Viet<strong>na</strong>me é um marcoimportante <strong>na</strong> história da mediatização deconflitos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Na primeira guerraintensivamente televisio<strong>na</strong>da, com uma amplae realista cobertura <strong>do</strong>s acontecimentos, ainformação alimentou o mal-estar da populaçãonorte-america<strong>na</strong> relativamente à actuaçãomilitar exter<strong>na</strong> <strong>do</strong> seu país e fomentouintensos protestos. Este impacto social datelevisão foi desig<strong>na</strong><strong>do</strong> como “síndrome <strong>do</strong>Viet<strong>na</strong>me”, tão grave foi considera<strong>do</strong> o papel<strong>do</strong>s media pela máqui<strong>na</strong> político-militar norteamerica<strong>na</strong>.No senti<strong>do</strong> de evitar a repetição<strong>do</strong> síndrome, o Pentágono e outras instânciasde poder definiram uma política de controlorestritivo sobre os media nos palcos de guerra.O sistema de “pooling” implementa<strong>do</strong> <strong>na</strong>guerra <strong>do</strong> Golfo de 1991 traduziu essa preocupação.Nessa guerra, os mediacontribuiram para mobilizar apoio popular epara aumentar a popularidade de GeorgeBush, ten<strong>do</strong> as organizações “mainstream”aderi<strong>do</strong> quase totalmente à “propagandaoficial” (Taylor, 1992).Em democracia, a decisão de envolver umEsta<strong>do</strong> numa guerra tem que ser acompanhadapor um plano de legitimação pública damesma. Os gover<strong>na</strong>ntes tendem a prapararmeticulosamente os argumentos que sustentama sua posição e a oferecer uma análiseda situação congruente com os seus planosde acção. Tipicamente, o “inimigo” éconstruí<strong>do</strong> socialmente como uma “ameaça”para a <strong>na</strong>ção. Seja pelo apelo ideológico <strong>do</strong>patriotismo, seja pelos factores já enuncia<strong>do</strong>satrás, os media <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes têm vin<strong>do</strong>a “colaborar” com os governos <strong>do</strong>s seuspaíses. Assim, nos perío<strong>do</strong>s que precedem asguerras, os media tendem a não ofereceralter<strong>na</strong>tivas ao discurso das instânciasgover<strong>na</strong>tivas (Lewis & Rose, 2002) e, emmuitos casos, a embarcar activamente noprocesso de demonização <strong>do</strong> inimigo(Vincent, 2000). Depois de inicia<strong>do</strong>s osconfrontos militares, o pouco debate em tornodas grandes questões político-ideológicas quepossa ter existi<strong>do</strong> – É a guerra justificada?É a guerra justa? – deixa completamente deter lugar. Os jor<strong>na</strong>listas centram-se emquestões processuais – Como correu umadetermi<strong>na</strong>da acção militar? O que se vai fazera seguir? A guerra é <strong>na</strong>turalizada.Comparan<strong>do</strong> com o discurso mediáticoem guerras anteriores, que constantes e transformaçõesé possível identificar <strong>na</strong> guerra noIraque? Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente, o panoramamediático era substancialmente mais complexoem 2003 <strong>do</strong> que noutros perío<strong>do</strong>s. Aanterior supremacia <strong>do</strong>s EUA em termos demeios técnicos e humanos para a recolha edifusão de informação sobre o palco de guerraesbatera-se. Jor<strong>na</strong>listas de um variadíssimoconjunto de países deslocaram-se para oIraque, arma<strong>do</strong>s com recursos tecnológicosmais ou menos sofistica<strong>do</strong>s mas capazes, emqualquer caso, de assegurar a transmissãoimediata de imagens a partir <strong>do</strong> terreno (comoo videofone). Os exclusivos da CNN <strong>na</strong>primeira guerra <strong>do</strong> Golfo deram lugar àcobertura pelas mais variadas estações america<strong>na</strong>s,europeias e – sublinhe-se – <strong>do</strong> MédioOriente. A Al-Jazira foi uma alter<strong>na</strong>tiva àsvisões mais próximas <strong>do</strong> sistema anglo-americanode poder, muito procurada no mun<strong>do</strong>árabe e no mun<strong>do</strong> ocidental. A internet, agoracom uma implantação mundial bastante significativa,ofereceu também múltiploscontrapontos aos media convencio<strong>na</strong>is.Os jor<strong>na</strong>listas “embedded” foram umaimportante componente da coberturamediática desta guerra. Estes profissio<strong>na</strong>isacompanharam as colu<strong>na</strong>s militares angloamerica<strong>na</strong>s,aceitan<strong>do</strong> um conjunto de regrasde censura militar prévia em troca de acesso“directo” ao campo de batalha. As imagensque constantemente nos fizeram chegar terãomarca<strong>do</strong> fortemente a percepção <strong>do</strong> conflito.


JORNALISMO25Outro traço importante desta guerra é queambas as facções accio<strong>na</strong>ram fortemente assuas máqui<strong>na</strong>s de propaganda. Do la<strong>do</strong> norteamericano,essa máqui<strong>na</strong> era, <strong>na</strong>turalmente,mais sofisticada, envolven<strong>do</strong> mais meios(como o “media center” de Doha, Qatar) emais “expertise” em termos de “newsma<strong>na</strong>gement”. Do la<strong>do</strong> iraquiano, houvetambém uma notável pro-actividade <strong>na</strong> relaçãocom os media, com constantes conferênciasde imprensas, disponibilização degravações e oferta de visitas guiadas aosjor<strong>na</strong>listas.Para as cadeias televisivas, tal comooutras guerras, o conflito no Iraque foi, emgrande medida, um produto comercial. Houvegrandes investimentos no envio de meioshumanos e técnicos para o Iraque e paísesvizinhos e a expectativa era de recompensaem termos das dimensões das audiênciasconquistadas.“The networks and cable are massingtheir own forces at home and overseasfor this potential war, “anextraordi<strong>na</strong>ry story.” If there’s no warin Iraq, a lot of money will have goneto waste.” (S/A, 2003)Os estu<strong>do</strong>s já produzi<strong>do</strong>s sobre amediatização da guerra <strong>do</strong> Iraque sugeremque foram mostradas versões muito diferentes<strong>do</strong> conflito em diferentes media. Com basenuma comparação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, Lamloum(2003: 15) fala-nos de “six guerres différentesvues de six postes d’observation distincts”(os media de cinco países e a cadeia detelevisão Al-Jazira). Uma análise produzidapara o jor<strong>na</strong>l alemão Frankfurter AlgemeineZeitung por Media Tenor (2003) aponta paraum forte contraste entre a avaliação daactuação político-militar <strong>do</strong>s EUA pelastelevisões alemãs”– sobretu<strong>do</strong> as privadas –e pelas televisões norte-america<strong>na</strong>s: pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntementenegativa no caso das primeirase positiva no caso das segundas. NosEUA, terá havi<strong>do</strong> uma colagem da maiorparte <strong>do</strong>s media “mainstream” e, em particular,das televisões à posição oficial america<strong>na</strong>relativamente à intervenção no Iraque.Mecanismos de auto-controlo <strong>do</strong>s media,como o sistema de pré-aprovação <strong>do</strong> guiãodas estórias a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> pela CNN 2 , garantiramuma representação da situação conforme aosinteresses oficiais. A cadeia Fox foi a expressãomais alta <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong> pelosmedia à máqui<strong>na</strong> ideológica da direitaamerica<strong>na</strong>, com os seus alia<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong><strong>do</strong>s negócios, os seus “think tanks” e outrosmecanismos de influência. Houve, porém,notáveis excepções a esta linha de análise,como o”New York Times que disse claramente“não à guerra” 3 .Os casos estuda<strong>do</strong>s aqui são as estaçõespúblicas de televisão, com emissão “global”por satélite, de três países europeus com umarelação muito diversa com a guerra no Iraque:BBC, TV5 e RTP (cujos telejor<strong>na</strong>is foramdifundi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> RTP Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l). O ReinoUni<strong>do</strong>, através <strong>do</strong> governo lidera<strong>do</strong> por TonyBlair, constituiu-se alia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s EUA relativamenteao plano de intervenção militar noIraque desde a primeira hora, vin<strong>do</strong> a enviaro único outro contingente de tropas numericamentesignificativo. A população britânicademonstrou, no entanto, uma larga oposiçãoà guerra. Neste quadro, será relevantea<strong>na</strong>lisar a forma como a BBC re-construiuo conflito.A TV5 é um ca<strong>na</strong>l multilateral. As suasemissões de informação são, sobretu<strong>do</strong>, deca<strong>na</strong>is franceses como France 2 e France 3,embora associe várias estações públicas <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> francófono (Suiça, Bélgica e Québec).A França é um <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s que, oficialmente,mais contestou a guerra. O presidente eo governo franceses oposeram-se frontalmenteao plano americano e procuraram por váriosmeios político-diplomáticos impedir aconcretização da guerra. A população francesamanifestou-se, também, contra a guerra.O governo português teve uma posiçãode apoio à administração norte-america<strong>na</strong>,embora de mo<strong>do</strong> mais passivo que o ReinoUni<strong>do</strong>. O patrocínio <strong>do</strong> primeiro ministro JoséManuel Durão Barroso e da coligação PSD/CDS no poder a George W. Bush teve,porventura, a maior expressão <strong>na</strong> cimeiraentre Bush, Blair e Az<strong>na</strong>r que ocorreu nosAçores <strong>na</strong>s vésperas da guerra. Embora semtropas no terreno no perío<strong>do</strong> inicial da guerra,Portugal enviou para o Iraque alguns contingentesde forças de segurança após oderrube <strong>do</strong> regime de Saddam Hussein.Este texto procurará identificar as posiçõespolíticas das televisões referidas acima


26 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVrelativamente à guerra e responder, entreoutras, às seguintes questões: Até que pontoé que houve “alinhamento” para com aposição <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> país em que cadatelevisão está sediada? Terão as televisõesfuncio<strong>na</strong><strong>do</strong> como peças <strong>na</strong> “engenharia <strong>do</strong>consentimento” controlada pelos governos ou,pelo contrário, promoveram a crítica edissenção?A análise terá em conta vários indica<strong>do</strong>restais como o grau de destaque da<strong>do</strong> adiferentes dimensões da guerra (o que éenfatiza<strong>do</strong> e o que é secundariza<strong>do</strong>?); osactores cuja perspectiva é pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong>cobertura televisiva da guerra (ex. militares,civis, políticos); os jor<strong>na</strong>listas de cada estaçãoenvolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cobertura da guerra (ex.jor<strong>na</strong>listas “embedded” e outros); oscomenta<strong>do</strong>res seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s; e a iconografia(escolha de imagens, símbolos, gráficos).Serão ainda consideradas as opções linguísticasde cada televisão para falar da guerra.Tentar-se-á compreender como é que aspalavras utilizadas para desig<strong>na</strong>r ou avaliara guerra e os seus agentes simultaneamentereflectem e produzem formas particulares depensar tal realidade.Procede-se a uma análise <strong>do</strong>s noticiáriostelevisio<strong>na</strong><strong>do</strong>s entre os dias 20 de Março e16 de Abril de 2003, procuran<strong>do</strong>, também,avaliar se há alterações ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> no discurso jor<strong>na</strong>lístico e <strong>na</strong> posturadestes media sobre a guerra no Iraque.2. BBC: Baghdad Broacasting Corporationou alia<strong>do</strong> <strong>do</strong> governo britânico?A BBC foi objecto de críticas por váriaspartes pela sua cobertura <strong>do</strong> conflito. Osmilitares britânicos e alguns membros <strong>do</strong>governo acusaram a BBC de se colocardemasia<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s iraquianos 4 . Algunscomenta<strong>do</strong>res e críticos consideraram que aBBC prestou um serviço de propaganda aogoverno britânico. Investiga<strong>do</strong>res e outrosa<strong>na</strong>listas apreciaram também de mo<strong>do</strong> varia<strong>do</strong>o desempenho da estação.Na análise de Media Tenor (2003), a BBCaparece como relativamente equilibrada <strong>na</strong>avaliação da actuação política e militar norteamerica<strong>na</strong>no Iraque e <strong>na</strong> quantidade de tempodedicada às baixas <strong>na</strong>s forças da coligaçãoliderada pelos EUA e no la<strong>do</strong> iraquiano.Numa análise textual e de discurso da coberturadas primeiras sema<strong>na</strong>s <strong>do</strong> conflito <strong>na</strong>BBC, Clark (2004) e Haarman (2004) nãoidentificaram um posicio<strong>na</strong>mento ideológicoclaro da estação. Em contraste, um estu<strong>do</strong>da Cardiff University (2004) revelou umaorientação da BBC favorável à intervençãomilitar no Iraque e portanto próxima daposição oficial <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong>. De um mo<strong>do</strong>ainda mais assertivo, Cromwell (2003) e aorganização Media Lens 5 apontaram váriasvezes a amplificação das posições gover<strong>na</strong>mentaisnos relatos que a BBC fez da guerra.Dentro da própria BBC, houve divergênciasentre os membros da direcção relativamenteà qualidade da cobertura. EnquantoRichard Sambrook (2003), director de informação,defendeu a informação dada pelaBBC, Mark Damazer (cit. por Wells, 2003),sub-director de informação, afirmou publicamenteque a imagem da guerra veiculadapelos repórteres “embedded” foi demasia<strong>do</strong>“asséptica”, sem mortos nem feri<strong>do</strong>s, e queprestou um mau serviço à democracia. Parte<strong>do</strong> interesse em a<strong>na</strong>lisar o caso BBC resideprecisamente nesta falta de consenso sobreonde se situou politico-ideologicamente a suarepresentação da intervenção no Iraque.Percorramos, então, cronologicamente, acobertura da guerra nesta estação.A ofensiva militar liderada pelos EUAinicia-se no dia 20 de Março de 2003. NaBBC, os primeiros dias <strong>do</strong> conflito são<strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s por imagens da progressão militar,<strong>do</strong> avanço da máqui<strong>na</strong> de guerra angloamerica<strong>na</strong>e <strong>do</strong> poderio <strong>do</strong> armamento ocidental.A abertura <strong>do</strong>s blocos noticiosas é,pelo menos durante a primeira sema<strong>na</strong>,dedicada pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente ao”“avanço dasforças da coligação” (expressão usada váriasvezes pelos “pivots” da BBC). Enfatiza-seo percurso feito pelos militares anglo-americanosem cumprimento <strong>do</strong> plano de tomarBagdade. Mostram-se tanques em andamentoe as extensas colu<strong>na</strong>s militares <strong>na</strong>s estradasde terra <strong>do</strong> Iraque. O “discurso da glória”militar é claramente estruturante neste perío<strong>do</strong>.Há, mesmo assim, referências à resistênciairaquia<strong>na</strong>, e poucos dias após o início<strong>do</strong> conflito, começa a emergir a ideia de que,porventura, se terá subestima<strong>do</strong> a dimensãodessa resistência. No dia 27 de Março, porexemplo, diz-se que os iraquianos estão a lutar


JORNALISMO27de uma forma imprevista e que o inimigocom que os militares ocidentais se confrontamnão é o mesmo com que fizeram simulaçõesantes <strong>do</strong> confronto.Na imagem construída pela BBC, a guerraé, porém, eminentemente asséptica, depurada<strong>do</strong>s seus piores horrores. Ocasio<strong>na</strong>lmente, háreferências verbais a “corpos” vistos ao la<strong>do</strong>da estrada pelo repórter que penetra o paíscom o exército invasor. Mas não há qualquerequivalente gráfico. Os mortos – e mesmo osferi<strong>do</strong>s – podem ser quantifica<strong>do</strong>s (provavelmentecom grande imprecisão) mas não semostram. Como se refere no relatório <strong>do</strong>estu<strong>do</strong> feito por investiga<strong>do</strong>res da CardiffUniversity (2004: 6), “[t]he coverage seemsto take us closer to the reality of war, andyet (…) [exclude] the ugly side of that reality”.É sobretu<strong>do</strong> pelos olhos desses jor<strong>na</strong>listas“embedded” que vemos a guerra. Elescolocam as forças britânicas em evidênciacontra “fa<strong>na</strong>tical zealots” (expressão utilizadapor militares no dia 24 de Março). Háuma aparência de proximidade e de transparênciano retrato que nos chega dessastropas.“The television event that was the 2003Iraq War collapsed the “news” into areal-time vacuum where instantaneityconquered content. The mass ofcorrespondents embedded with themilitary produced a scattered andmobile simultaneity of coverage. Inthese circumstances, the distinctionbetween witness to and subject of themedia event was collapsed. More,faster and closer coverage simplyproduced more “fog”, to use themetaphor of war.” (Hoskins, 2004: 109)Com a mediação <strong>do</strong>s “embedded” vai-seestabelecen<strong>do</strong> uma relação de empatia entreo público e os militares britânicos. O especta<strong>do</strong>ré convida<strong>do</strong> a participar no combate,a associar-se à “missão” de derrotar o “inimigo”,a identificar-se com aquela guerra. Emjogo, está a sorte de jovens solda<strong>do</strong>s britânicosque, <strong>na</strong>turalmente, a população britânicanão quererá ver morrer, mesmo que(sobretu<strong>do</strong>?) ao serviço de uma guerra vistapor muitos como injusta. A lógica <strong>do</strong> sloga<strong>na</strong>mericano “support our troops” (verChomsky, 1991) sobrepõe-se às interrogaçõeséticas e ideológicas sobre a guerra.As possíveis repercussões socio-políticasdeste mo<strong>do</strong> de cobertura estão bem expressas<strong>na</strong>s palavras de Jeff Hoon, Secretário daDefesa britânica:“I believe the public’s understandingof what our troops are achieving isincreased by the access we’ve giventhe media. The professio<strong>na</strong>lism,courage, dedication, restraint of theBritish and coalition forces shonethrough. …The imagery [embeddedjour<strong>na</strong>lists] broadcast is at leastpartially responsible for the public’schange in mood with the majority ofthe people now saying they back thecoalition.” (cit. por Tumber & Palmer,2004: 25).Outra dimensão de análise importante sãoos actores sociais que as televisões privilegiam<strong>na</strong> sua representação <strong>do</strong> conflito. Comosugeri<strong>do</strong> acima, a BBC deu frequentementevoz aos militares britânicos. Estes puserama tónica em questões “técnicas” (e nãopolítico-ideológicas), como o tipo de arse<strong>na</strong>lutiliza<strong>do</strong>,”destacaram as vitórias militares e,de algum mo<strong>do</strong>, legitimaram a guerra coma sua mostra de determi<strong>na</strong>ção e coragem. Noexemplo seguinte, há uma clara tentativa de“rotulagem” moral <strong>do</strong> “inimigo” pelo jor<strong>na</strong>lista“embedded” e pelo militar.2 Abril 2003 (14˚ dia de guerra)Ben Brown, o repórter “embedded”da BBC em Basra, encontra-se juntoa solda<strong>do</strong>s britânicos. Ouvem-sedisparos e explosões. Brown diz queos combatentes iraquianos estãodeliberadamente a tentar que a populaçãoiraquia<strong>na</strong> seja apanhada no meio<strong>do</strong> fogo cruza<strong>do</strong>. O repórter perguntaa um militar britânico: “What <strong>do</strong> youthink about that?” “I think it’s sick”,responde ele decididamente.Muito frequentes no ecrã desta estaçãoforam também actores gover<strong>na</strong>mentais <strong>do</strong>Reino Uni<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s EUA.Apesar disto, há alguma diversidade deopiniões <strong>na</strong> BBC, trazida sobretu<strong>do</strong> pelos


28 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcomenta<strong>do</strong>res que, com frequência, são especialistasem questões <strong>do</strong> Médio Oriente ou<strong>do</strong> Iraque e mesmo originários dessas regiões.Obviamente, as características da representaçãoda guerra <strong>na</strong> BBC descritas até aquitomaram forma tanto no discurso verbal como<strong>na</strong> imagética, de que a fig. 1 é um bomexemplo. Como pode ser visto abaixo, osímbolo ou “logotipo” televisivo que acompanhoutoda a cobertura da guerra <strong>na</strong> BBCintegra as palavras”“Iraq War” e uma imagemcom um ponto de luz ao centro queirradia em toda a volta. As cores <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntessão o laranja e o preto.Para este estu<strong>do</strong>, perguntou-se a cerca de30 pessoas como interpretavam aquelasimbologia 6 . A maior parte <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s viu<strong>na</strong> imagem um <strong>na</strong>scer ou pôr <strong>do</strong> sol e váriosassociaram-<strong>na</strong> à ideia de um novo começoou um “re<strong>na</strong>scer”. Nesta leitura, a guerraestaria relacio<strong>na</strong>da com libertação e emancipação.Um número significativo de pessoasaludiu também à imagem de uma explosão.A polissemia da imagem poderá ter si<strong>do</strong>deliberada.Figura 1:Imagem da BBC, 2 de Abril de 2003À medida que a guerra se vai prolongan<strong>do</strong>,há uma transformação nos significa<strong>do</strong>sconstruí<strong>do</strong>s pela BBC. Após cerca de duassema<strong>na</strong>s de combates, a estação mostra cadavez mais o impacto dessa guerra <strong>na</strong> população.A destruição e o sofrimento, o mo<strong>do</strong>de sentir das populações árabes e o que dizemos jor<strong>na</strong>is da região, entre outras questões,estão cada vez mais presentes <strong>na</strong> coberturada BBC.Há também uma mudança ao nível <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas que relatam a actualidade <strong>do</strong>Iraque. Os “embedded” passam a ocuparmenos espaço, dan<strong>do</strong> lugar a jor<strong>na</strong>listas não“enquadra<strong>do</strong>s”. A partir de Bagdade,Rageeh Omar, especialmente, passa a teruma presença muito significativa nos ecrãsda BBC. Muito mais próxima <strong>do</strong>siraquianos e das suas experiências daguerra, a imagem que ele constrói <strong>do</strong>sacontecimentos suscita, <strong>potencial</strong>mente,bastante mais crítica relativamente àsconsequências daquele conflito.Após 9 de Abril e a “tomada” deBagdade, fortemente simbolizada no muitomediatiza<strong>do</strong> derrube da estátua de SaddamHussein, a capital iraquia<strong>na</strong> assiste a umaenorme vaga de saques. As imagens deroubo e de caos generaliza<strong>do</strong>s, afectan<strong>do</strong>locais como o Museu Nacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Iraquee os seus tesouros culturais, criaram umaaura profundamente negativa em torno daguerra e deram mostra da incapacidadeamerica<strong>na</strong> de controlar a situação, deixan<strong>do</strong>adivinhar muitas dificuldades para ofuturo. A 10 de Abril, a “pivot” da BBCrefere-se a um “disturbing report” sobre umhospital a ser saquea<strong>do</strong>. A situação édescrita como “a very worrying and verydangerous turn of events” por RageehOmar.Os parâmetros da análise realizada estãosintetiza<strong>do</strong>s <strong>na</strong> tabela 1. A meta-<strong>na</strong>rrativaé um indica<strong>do</strong>r composto: resulta dumaapreciação das muitas estórias construídaspelos media a propósito da guerra; daanálise da selecção <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong> acontecimentofeita pelos media; da hierarquizaçãodesses elementos; <strong>do</strong>s actores sociaisque intervêm <strong>na</strong> informação; daiconografia, etc. Através das setas presentes<strong>na</strong> segunda colu<strong>na</strong>, a tabela dá, também,conta das mudanças que se verificaram<strong>na</strong> imagem construída pela BBC emtorno da guerra. Naturalmente, estas mudançassão progressivas e relativas. Não setrata, portanto, de características exclusivasmas de traços <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes em diferentesmomentos. É destaca<strong>do</strong> <strong>na</strong> tabela o“la<strong>do</strong> da equação” que terá si<strong>do</strong> maismarcante (devi<strong>do</strong>, por exemplo, à suaextensão no tempo) no quadro global daimagem da guerra veiculada pela estação.


JORNALISMO29Tabela 1: Traços <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes da representação da guerra no Iraque <strong>na</strong> BBCMeta-<strong>na</strong>rrativaActoresImplacávelprogressão militar anglo-america<strong>na</strong> => Impacto negativo daguerraMilitaresbritânicos, militares americanosJ or<strong>na</strong>listas Repórteres“embedded”=> Repórteres no terrenoComenta<strong>do</strong>resIconografia=>População iraquia<strong>na</strong>Especialistas em questões militares e políticas, especialistas emassuntos <strong>do</strong> Médio OrienteImagens da máqui<strong>na</strong> militar ocidental sugerem avanço imparável;símbolosugere “re<strong>na</strong>scer” => Imagens de saques e destruição sugeremdescontrolo e a<strong>na</strong>rquia3. TV5: O efeito da oposição sistemática?Dada a posição <strong>do</strong> governo e da populaçãofranceses relativamente à guerra, poder-se-iaesperar que os media francesesfizessem, entre si, uma abordagem muitosemelhante da guerra alimentan<strong>do</strong>(-se d-) aoposição à intervenção anglo-america<strong>na</strong> efomentan<strong>do</strong> a solidariedade para com o povoiraquiano.A comunicação social francesa foi, noentanto, alvo de recrimi<strong>na</strong>ções bastante diversas.A crítica mais feroz é, porventura,a de Alain Hertoghe (2003) que argumentaque os preconceitos <strong>do</strong>s media francesesembotaram a análise e levaram a gravesexageros e omissões. Na sequência de umaanálise de cinco jor<strong>na</strong>is diários, Hertogheconsidera que <strong>na</strong>s redacções francesas imperavamtrês objectivos: diabolizar a administraçãoBush pela caricatura sistemática;aderir à linha de Chirac e Villepin num fervor<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista e comungar com as opiniõespúblicas anti-guerra com um populismocompulsivo.Esta conclusão contrasta com as observaçõesde Thorens (2003) relativamente àestação de televisão francesa privada TF1.Este a<strong>na</strong>lista sugere que terá havi<strong>do</strong> umacolagem à visão america<strong>na</strong> da guerra, coma “heroicização” de Tommy Franks, altodirigente militar norte-americano, e a“neutralização” <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> das manifestaçõescontra a guerra. Referin<strong>do</strong>-se sobretu<strong>do</strong> àTF1, Maler (2003) fala, <strong>na</strong> mesma linha, detrês traços <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes: “la légitimation dela guerre par son récit (…), la fasci<strong>na</strong>tionpour la puissance militaire (…), la fasci<strong>na</strong>tionde la télévision pour sa propre puissance.”Este tipo de enviesamento ter-se-ia, segun<strong>do</strong>alguns a<strong>na</strong>listas, estendi<strong>do</strong> ao serviço públicode televisão em França: ca<strong>na</strong>is comoFrance-Info e France 2 teriam feito umacobertura excessiva <strong>do</strong> início <strong>do</strong>sbombardeamentos no Iraque de forma a captaraudiências (ACRIMED, 2003). De notar,porém, que todas estas apreciações têm amesma fonte, já que foram publicadas no siteda ACRIMED, uma associação francesa decrítica <strong>do</strong>s media. Os resulta<strong>do</strong>s da análisecomparativa realizada no âmbito deste estu<strong>do</strong>e descritos abaixo permitir-nos-ão reavaliarestes comentários.Nos primeiros dias de guerra, há umaespécie de recusa da TV5 em “embarcar nocomboio” da mediatização da guerra. Discutem-seainda questões de geopolítica egeoestratégia, apresentam-se ainda argumentoscontra a guerra. Há longas reportagenssobre as questões de fun<strong>do</strong> que poderão terdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> a guerra e sobre as suas possíveisimplicações. A 25 de Março, porexemplo, a TV5 passa um <strong>do</strong>cumentário sobrea primeira guerra <strong>do</strong> Golfo, as trágicasconsequências <strong>do</strong> regime de sanções a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>pelas Nações Unidas e as mortes desolda<strong>do</strong>s americanos relacio<strong>na</strong>das com o“síndrome <strong>do</strong> Golfo”. Nesse dia, a TV5 éo único <strong>do</strong>s três ca<strong>na</strong>is em consideração”areferir a que se desti<strong>na</strong>m os 75 mil milhõesde dólares adicio<strong>na</strong>is pedi<strong>do</strong>s ao Congressoamericano por George W. Bush – 63 parafi<strong>na</strong>nciar as operações militares, 4 parareforçar a segurança inter<strong>na</strong> e 8 para reconstruiro Iraque. A este propósito, a TV5 falatambém <strong>do</strong> envolvimento de uma empresade Dick Cheney no processo de reconstrução<strong>do</strong> país.Rapidamente, passa-se, <strong>na</strong> TV5, para umaimagem da guerra <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da pelo trágico. A


30 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdestruição e a <strong>do</strong>r causadas pela guerraocupam uma grande parte <strong>do</strong> retrato dasituação. A TV5 perspectiva a guerra essencialmentepelos seus impactos junto dapopulação, fazen<strong>do</strong> um convite à empatiapara com este povo que é ataca<strong>do</strong> por umexército invasor. A hierarquização da informaçãoe outros aspectos relativos à selecçãoe construção da informação colocam oespecta<strong>do</strong>r mais próximo <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong>siraquianos <strong>do</strong> que em qualquer uma dasoutras três estações. O alinhamento abaixo,<strong>do</strong> bloco noticioso das 21:00 horas <strong>do</strong> dia27.03.03 da TV5 (a emitir o ca<strong>na</strong>l France3), dá conta disso mesmo.27 Março 2003 (8˚ dia de guerra)- Iraquianos no norte <strong>do</strong> Iraque:beijam o Corão; “estão prontos amorrer <strong>na</strong> batalha pelo país”- Mostra da destruição causada pelosamericanos: criança magoada embombardeamento; homem queima<strong>do</strong>para o qual não há medicamentos- Combates à volta de Basra; possibilidadede catástrofe humanitária- Imagens da Al-Jazira de um helicópteroamericano alegadamente abati<strong>do</strong>pelos iraquianos- Najaf: ênfase nos solda<strong>do</strong>siraquianos mortos (imagem <strong>do</strong>s corposao longo da estrada)- 37 marines feri<strong>do</strong>s em “friendly fire”- Americanos anunciam 24 mortosdesde o início da guerra- Paraquedistas americanos no norte<strong>do</strong> Iraque (assunto que teve umdestaque muito maior noutras estaçõesde televisão)- Referência a mais mortos (segun<strong>do</strong>a Al-Jazira)- Análise detalhada da importância dafrente norte <strong>na</strong> batalha iraquia<strong>na</strong> e detoda a estratégia de guerraNo dia 2 de Abril, enquanto a BBC iniciaos seus blocos informativos com notícias deavanços militares e fomenta cumplicidadespara com os militares, <strong>na</strong> TV5 a primeiranotícia é a de uma maternidade bombardeadapelos americanos. Os atrozes efeitos da guerramostram-se <strong>na</strong> expressão de sofrimento daspessoas, <strong>na</strong>s suas palavras, <strong>na</strong>s imagens decasas e ruas destruídas.A morte e o luto são evocadas pelosombrio símbolo utiliza<strong>do</strong> pela TV5. Comoé visível <strong>na</strong> fig. 2, esse “logotipo” consistenum quadra<strong>do</strong> em que as palavras“Guerre en Irak” aparecem a branco sobreum fun<strong>do</strong> negro. Na parte de baixo, háuma barra vermelha cujo limite superioré irregular. Os sujeitos inquiri<strong>do</strong>s nesteestu<strong>do</strong> fizeram associações desta imagemcom os temas referi<strong>do</strong>s acima (morte eluto; muitas pessoas consideraram o vermelhoda imagem como sugestão de sangue).Figura 2:Imagem da TV5, 2 de Abril de 2003Na TV5, a população iraquia<strong>na</strong> éhumanizada: muitos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Iraque sãoentrevista<strong>do</strong>s (<strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong>s casos nopapel de vítimas da guerra) e os seus nomesaparecem no ecrã. Ao contrário, <strong>na</strong> BBC,os iraquianos são normalmente ape<strong>na</strong>s mostra<strong>do</strong>sde longe e mesmo quan<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>snão têm nome (alude-se a “estehomem”, por exemplo). As reportagens daTV5 têm lugar em diferentes regiões <strong>do</strong>Iraque e dão conta da diversidade étnica ecultural <strong>do</strong> país. Em vez de um conjuntoindiferencia<strong>do</strong> de pessoas, os cidadãosiraquianos são assim representa<strong>do</strong>s quaseideossincraticamente. As perspectivas, preocupaçõese interesses destes diferentesgrupos são discuti<strong>do</strong>s pelos comenta<strong>do</strong>resque, frequentemente, são especialistas emquestões culturais, tais como historia<strong>do</strong>rese outros investiga<strong>do</strong>res.


JORNALISMO31Tabela 2: Traços <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes da representação da guerra no Iraque <strong>na</strong> TV5Meta-<strong>na</strong>rrativaActoresJor<strong>na</strong>listasComenta<strong>do</strong>resIconografiaImpacto trágico de uma guerra injusta <strong>na</strong> população iraquia<strong>na</strong>População iraquia<strong>na</strong> – vários sectores e grupos étnicosRepórteres no terrenoEspecialistas em questões culturaisImagens <strong>do</strong> terreno sugerem devastação; símbolo sugere lutoNote-se que <strong>na</strong> TV5 não há mudançassignificativas <strong>na</strong> perspectivação e<strong>na</strong>rrativização da guerra no Iraque ao longodas sema<strong>na</strong>s a<strong>na</strong>lisadas.4. RTP: Profissio<strong>na</strong>lismo ou “comercialismo”?Durante a transmissão contínua inicialsobre a guerra, a RTP é a mais sensacio<strong>na</strong>listadas três cadeias. Há uma quase-obsessãopelos directos e uma repetição constantede imagens e comentários sobre os acontecimentos.Os primeiros dias são <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s por umavisão “militarista” da guerra que se relacio<strong>na</strong>com vários aspectos da cobertura: a escolhade imagens da guerra a partir de cadeias detelevisão e agências de informação estrangeiras;a localização de alguns jor<strong>na</strong>listas da RTP,como o envia<strong>do</strong> especial Arman<strong>do</strong> SeixasFerreira, no porta-aviões USS Theo<strong>do</strong>reRoosevelt; e os comenta<strong>do</strong>res no estúdio quesão, quase exclusivamente, militares.A RTP reproduz frequentemente asemissões da CNN sobre o avanço militar noterreno. Na estação america<strong>na</strong> há uma claratentativa de veicular uma imagem favorável<strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s EUA: estes são mostra<strong>do</strong>sa tratar bem os iraquianos captura<strong>do</strong>s e é da<strong>do</strong>um grande ênfase à recepção positiva <strong>do</strong>samericanos pelos iraquianos. No entanto, aRTP emite, também, excertos da Al-Jaziracomo, por exemplo, as imagens de “77 mortoscivis” iraquianos, <strong>potencial</strong>mente chocantes,no dia 20 de Março. No mesmo dia, mostrase,prolongadamente, a tentativa de capturade um piloto americano em Bagdade poriraquianos. É da<strong>do</strong> muito mais destaque aostiros, à agitação da polícia e à acção em geral<strong>do</strong> que nos outros ca<strong>na</strong>is.Os actores sociais <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes no retratoque a RTP oferece da guerra nos primeirosdias são os militares americanos, embora emquase equilíbrio com a população iraquia<strong>na</strong>.A nível de comenta<strong>do</strong>res, o”General Loureiro<strong>do</strong>s Santos e outros militares de alta patentesão presenças regulares. Suellentrop (2003,s/p) argumenta que “the TV generals (…) arehired by the networks to lend an air ofauthority to the broadcasts”.A iconografia da guerra reforça a ideia<strong>do</strong> avanço militar. Imagens de tanques, de<strong>na</strong>vios de guerra e de outro aparato técnicomostra o poderio das forças anglo-america<strong>na</strong>s.O “logotipo” da cobertura (ver fig. 3)contém uma bandeira iraquia<strong>na</strong> sobre a qualse vê uma circunferência que distorce aimagem. Os sujeitos inquiri<strong>do</strong>s sobre asimbologia televisiva referiram-se à semelhançacom uma lupa ou com uma mira eà possível alusão ao trabalho jor<strong>na</strong>lístico debusca e análise e ao avanço militar.Até à chegada das tropas america<strong>na</strong>s aBagdade, o “logotipo” da RTP apresentavatambém, sobre uma barra laranja, as palavras“Objectivo Bagdade”, que parecem aludir aoplano militar. O especta<strong>do</strong>r é, assim, coloca<strong>do</strong>ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> exército invasor, partilhan<strong>do</strong>com ele o propósito de atingir a capital <strong>do</strong>Iraque. Tais palavras, aparentemente neutras,em articulação com o “foco” sobre a bandeirairaquia<strong>na</strong>, envolvem também os jor<strong>na</strong>listas<strong>na</strong> “missão” de alcançar Bagdade.Posteriormente, o texto muda para “EmBagdade” e para “Após Saddam”, relevan<strong>do</strong>a ideia de transição.Passa<strong>do</strong>s alguns dias sobre o início daguerra, o centro nevrálgico da cobertura daRTP passa para Bagdade. Os directos deCarlos Fino a partir da cidade fornecem osprincipais enquadramentos da cobertura daguerra. O jor<strong>na</strong>lista fala muitas vezes coma população local (que mostra uma posiçãoanti-america<strong>na</strong>) e dá conta da destruiçãocausada: “a guerra continua implicável com


32 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVo seu rosário de morte e sofrimento”(07.04.03). No dia 10 de Abril, por exemplo,algumas das questões cobertas pela RTPdão conta <strong>do</strong>s impactos devasta<strong>do</strong>res daguerra: mortes de marines em Bagdade;mortes de civis e militares iraquianos (imagensde corpos); pilhagens em Bagdade;destruição em Najaf;” “situação calamitosa”em Bassorá.O trabalho de Carlos Fino, muito aclama<strong>do</strong>,marcou fortemente a cobertura da RTP.O videofone permitiu ao repórter superar aconcorrência das grandes estações, transmitin<strong>do</strong>o início <strong>do</strong>s bombardeamentos americanosem Bagdade, <strong>na</strong>quilo que”Santos(2004: 26) desig<strong>na</strong> como a”“democratização<strong>do</strong> scoop”.A guerra foi usada como um forte instrumentopromocio<strong>na</strong>l para a RTP. Empublicidade a si mesma, a empresa passouinúmeras vezes o anúncio abaixo.“Spot” promocio<strong>na</strong>l“A RTP foi a primeira estação <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> a transmitir a guerra em directo…O mun<strong>do</strong> parece estar adesabar… No centro <strong>do</strong> furacão, aRTP tem uma equipa de luxo…”.Note-se o hiperbólico aproveitamento dasituação para auto-engrandecimento. Ao longo<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>, a informação <strong>na</strong> RTPé, em vários momentos, profundamente autoreferencial.Como se pode ver <strong>na</strong> fig. 3, noTelejor<strong>na</strong>l de 7 de Abril, a notícia não é oavanço das tropas da coligação, mas o factoda RTP os ter “testemunha<strong>do</strong>”.Figura 3:Imagem da RTP, 7 de Abril de 2003Outro exemplo deste discurso autocentra<strong>do</strong>é <strong>do</strong> dia 16 de Abril: “RTP descobremilitar iraquiano <strong>na</strong> clandestinidade emBagdade”. Durante o conflito no Iraque háoutros <strong>do</strong>is episódios que tor<strong>na</strong>m a própriatelevisão o centro das atenções. Trata-se deagressões a <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>listas da RTP, CarlosFino e Luís Castro, que foram largamenteexploradas pela RTP para promover o suacobertura.A tabela 3 resume as principais característicasda imagem da guerra <strong>na</strong> RTP eapresenta a sua meta-<strong>na</strong>rrativa.ConclusõesO presente estu<strong>do</strong> identificou três representaçõesda guerra no Iraque substancialmentedistintas. Este tipo de comparaçãopermite constatar a existência de alter<strong>na</strong>tivasa uma forma particular de re-construir arealidade e tor<strong>na</strong> mais evidente a <strong>na</strong>turezanão-essencial e não-necessária <strong>do</strong> discurso,quer verbal quer iconográfico.A imagem tende a criar a aparência deuma maior veracidade e realismo <strong>do</strong> queas palavras. No entanto, a diversidade deretratos da guerra confirma as conclusõesde outros investiga<strong>do</strong>res de que, mais <strong>do</strong>que fornecer informação nova e independente,as imagens apoiam uma <strong>na</strong>rrativapreviamente construída e reforçam umquadro interpretativo pré-existente (Griffin,2004).É frequente considerar-se que há <strong>do</strong>isfactores que têm uma influência significativa<strong>na</strong> imagem mediática das situações de guerra:as opções gover<strong>na</strong>mentais <strong>do</strong> país em queestão basea<strong>do</strong>s os órgãos de comunicaçãosocial e as preferências das audiências. Oprimeiro factor parece ter ti<strong>do</strong> mais peso <strong>na</strong>reconstrução discursiva da guerra pelascadeias de televisão. O apelo ideológico <strong>do</strong>patriotismo, no caso britânico reforça<strong>do</strong> pelaparticipação das suas tropas <strong>na</strong> guerra, teráimpulsio<strong>na</strong><strong>do</strong> os profissio<strong>na</strong>is de informaçãoa veicularem uma imagem conso<strong>na</strong>nte como posicio<strong>na</strong>mento oficial <strong>do</strong> seu país.No caso <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong>, as preferênciasdas audiências terão, realmente, si<strong>do</strong> poucoimportantes, da<strong>do</strong> que, perante um públicolargamente contrário à guerra, a BBC am-


JORNALISMO33Tabela 3: Traços <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes da representação da guerra no Iraque <strong>na</strong> RTPMeta-<strong>na</strong>rrativaActoresJor<strong>na</strong>listasComenta<strong>do</strong>resIconografiaRTP mostra a guerra ao mun<strong>do</strong>M ilitares americanos; população iraquia<strong>na</strong> => População iraquia<strong>na</strong>;militares americanosRepórteres no terrenoEspecialistas em questões militaresImagens sugerem poderio militar; símbolo sugere fi<strong>na</strong>lidade comum demilitares e jor<strong>na</strong>listas => Imagens <strong>do</strong> terreno sugerem devastação; símbolo(‘Após Saddam’) sugere mudança, transiçãoplificou uma imagem militarista da intervençãoque a neutralizou ideologicamente. Nocaso da TV5, a posição oficial coincidiu coma posição popular. Não terá havi<strong>do</strong>, portanto,grandes dilemas ideológicos. No caso português,a audiência poderá ter ti<strong>do</strong> algum pesojá que, como vimos, a estação de televisãonão se comprometeu completamente com ola<strong>do</strong> ocidental <strong>do</strong> conflito, preferi<strong>do</strong> pelogoverno. Terá si<strong>do</strong> o único <strong>do</strong>s três ca<strong>na</strong>isque convi<strong>do</strong>u à dissenção relativamente aogoverno, se bem que a BBC também poderáter motiva<strong>do</strong> a crítica <strong>na</strong> parte fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>.


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36 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO37Características de jor<strong>na</strong>is e leitores interioranos no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XXBeatriz Dornelles 1A imprensa interiora<strong>na</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul estabeleceu-se em bases sólidas em fins<strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> e até a segunda metade<strong>do</strong> século atual. É uma das primeiras e maisrepresentativas <strong>do</strong> país, colocan<strong>do</strong>-se emigualdade com a imprensa <strong>do</strong> Interior de SãoPaulo, Mi<strong>na</strong>s Gerais e <strong>do</strong> Rio de Janeiro.Nos anos 90, em reflexo a uma intensacampanha desenvolvida pelos associa<strong>do</strong>s daAssociação <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul (Adjori), desde os anos 60,tornou-se senso comum chamar os jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong>Interior de “jor<strong>na</strong>is comunitários”, comoqueriam os jor<strong>na</strong>listas proprietários <strong>do</strong>speriódicos.Para entender esse “jor<strong>na</strong>lismo comunitário”,selecio<strong>na</strong>mos uma amostra de 30jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior, dentre os 207 associa<strong>do</strong>sà Adjori, o que representa 14,4% <strong>do</strong> total,distribuí<strong>do</strong>s pelas diversas microrregiões <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, com diferentes periodicidades. Entrevistamosto<strong>do</strong>s os diretores e jor<strong>na</strong>listasque atuam nesses jor<strong>na</strong>is, trabalhan<strong>do</strong> ao to<strong>do</strong>com 80 profissio<strong>na</strong>is. Aplicamos um questionárioem um por cento <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes,totalizan<strong>do</strong> 1.402 questionários. Para complementaras informações, aplicamos outroquestionário em 66 forman<strong>do</strong>s em Jor<strong>na</strong>lismo,de três universidades: PUCRS, UFRGSe ULBRA.De posse <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, pudemos destacaras principais características da imprensainteriora<strong>na</strong> gaúcha nos anos 90. Ten<strong>do</strong> comoreferencial as informações <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s daADJORI, entende-se por “jor<strong>na</strong>l interiorano”o produto impresso de uma empresa oumicroempresa jor<strong>na</strong>lística, constituída juridicamente<strong>na</strong> Junta Comercial de seu município,regida pelo ativo e passivo, ten<strong>do</strong> porobjetivo o lucro, através da comercializaçãopublicitária, venda de assi<strong>na</strong>turas e vendaavulsa. O jor<strong>na</strong>l deve, obrigatoriamente, serregistra<strong>do</strong> no Cartório de Registro Especiale manter uma estrutura administrativa mínima,que inclui um diretor, um conta<strong>do</strong>r, umresponsável pela distribuição <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, umvende<strong>do</strong>r de anúncios e um jor<strong>na</strong>lista. Onúmero de pági<strong>na</strong>s deve ser de, no mínimo,oito, não haven<strong>do</strong> imposições para o máximo.A periodicidade deve ser constante, desdeque diária, trissemanária, bissemanária ousemanária. A filosofia editorial <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l deveser voltada para comunidade como um to<strong>do</strong>,ou seja, as matérias produzidas para o jor<strong>na</strong>ldevem atender aos anseios e reivindicaçõesda comunidade que, dentro <strong>do</strong> possível,determi<strong>na</strong>rá quais as notícias que devem serdivulgadas pelo jor<strong>na</strong>l, desde que não atendamnenhum interesse partidário. O diretore/ou o jor<strong>na</strong>lista <strong>do</strong> periódico devem, também,participar ativamente de todas asatividades promovidas pela comunidade,ajudan<strong>do</strong> a buscar soluções da forma comose fizer necessária. O jor<strong>na</strong>l interiorano,autodefini<strong>do</strong> por seus proprietários de “jor<strong>na</strong>lcomunitário”, no Rio Grande <strong>do</strong> Sul émais uma concepção ideológica que fortaleceu-se,especialmente, nos anos 90. Por isto,neste trabalho, os <strong>do</strong>is conceitos se confundem,sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s como sinônimo.Essa filosofia surgiu como alter<strong>na</strong>tiva aum merca<strong>do</strong> invadi<strong>do</strong> pelos veículos de comunicaçãode massa, que satisfizeram anecessidade de informação <strong>do</strong> público emâmbito estadual, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,deixan<strong>do</strong>-o mais exigente em termos dequalidade de informação, provocan<strong>do</strong> aconcentração de verbas publicitárias <strong>na</strong> grandeimprensa em função de sua área deatuação.Paralelamente, as prefeituras, que costumavampatroci<strong>na</strong>r os veículos menores,prática que se estendeu até os anos 80,entraram numa fase de empobrecimentogeneraliza<strong>do</strong>, retiran<strong>do</strong> as verbas desti<strong>na</strong>dasaos jor<strong>na</strong>is de menor porte econômico. Osparti<strong>do</strong>s políticos, que também fi<strong>na</strong>nciavamesse segmento, condicio<strong>na</strong>vam o apoio fi<strong>na</strong>nceiroà dependência editorial <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is, oque foi rechaça<strong>do</strong> pelo público, quan<strong>do</strong> este


38 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVteve opção de escolher seu veículo. Assim,para continuar existin<strong>do</strong>, os jor<strong>na</strong>is tiveramque buscar uma alter<strong>na</strong>tiva de sobrevivência.Os empresários <strong>do</strong> setor jor<strong>na</strong>lísticodetectaram a necessidade <strong>do</strong> público em serinforma<strong>do</strong> sobre os acontecimentos locais oupróximos à comunidade, o que não é feitopela grande imprensa, e, também, em contaremcom um veículo onde pudessemmanifestar suas reivindicações e realizardenúncias, o que não tem o respal<strong>do</strong> daimprensa de grande porte. Então, para conquistaresse público e sua credibilidade, e,em conseqüência, o anunciante, que garantea existência da empresa, os proprietários dejor<strong>na</strong>is passaram a utilizar seus veículos comoinstrumento de luta das comunidades, atravésde um trabalho associativo, que visa obem comum. Para tanto, aqueles que tinhamposicio<strong>na</strong>mento político partidário tiveramque abrir mão de seus comprometimentos ea<strong>do</strong>tar uma postura imparcial e neutra, atenden<strong>do</strong>,assim, a to<strong>do</strong>s os segmentos dacomunidade.Essa estratégia levou os jor<strong>na</strong>is aa<strong>do</strong>tarem normas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo informativo,através da produção de matérias objetivas,imparciais e neutras, que buscam contemplara posição de to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>notícia, e da divulgação ampla <strong>do</strong>s fatos queocorrem nos mais varia<strong>do</strong>s segmentos quecompõem uma comunidade, pois esta, independenteda localidade, revelou-se contráriaà omissão <strong>do</strong>s veículos em torno de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>sfatos, o que, no passa<strong>do</strong>, era umaconstante.Entenden<strong>do</strong> por comunidade uma áreageográfica caracterizada pela afinidade devalores e ambições de uma determi<strong>na</strong>dapopulação, com a mesma tradição, costumese interesses, além da consciência da participaçãoem idéias e valores comuns, osjor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> Interior gaúcho procuramdiariamente informar-se e participar das açõesda comunidade, não só divulgan<strong>do</strong> os fatosque a envolvem, mas decidin<strong>do</strong> e buscan<strong>do</strong>recursos para que as reivindicações se concretizem,bem como para que essa mesmacomunidade aumente gradativamente suaqualidade de vida, nos mais varia<strong>do</strong>s aspectos,e sua consciência de cidadania.Desta forma, o jor<strong>na</strong>lista interiorano étambém um líder comunitário, respeita<strong>do</strong> efortaleci<strong>do</strong> pelas ações de outras liderançase <strong>do</strong> próprio cidadão comum, como foipossível observar em 30 municípios <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul. Por exemplo, os assi<strong>na</strong>ntes<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is sentem-se bastante constrangi<strong>do</strong>sde fazer qualquer comentário negativo sobrea qualidade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is, em respeito a seusproprietários. Na maioria das vezes, detêmseem comentários sobre as atitudes comunitárias<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, como se elas refletissema qualidade técnica <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Emconseqüência desse trabalho, os jor<strong>na</strong>is vêmsen<strong>do</strong> riquíssimo material de pesquisa históricasobre seus municípios e a cultura deseus cidadãos, poden<strong>do</strong> servir de <strong>do</strong>cumentopara diversas áreas <strong>do</strong> conhecimento, taiscomo Sociologia, Arquitetura, Medici<strong>na</strong>,Engenharia, História, entre outras.Destaca-se, ainda, <strong>na</strong> prática <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismointeriorano a solidariedade e amizadeentre os leitores e os jor<strong>na</strong>listas, além de umforte sentimento de vizinhança e bairrismo.Há uma cumplicidade entre as partes no quediz respeito à defesa de interesses da comunidade.Em contrapartida, essa amizade interfere<strong>na</strong> prática <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo Informativoquan<strong>do</strong> a honra de um cidadão está em jogo.Assim, fofocas são i<strong>na</strong>dmissíveis, bem comoa divulgação da intimidade de qualquer leitor,especialmente <strong>na</strong> área sexual.A cumplicidade entre os jor<strong>na</strong>listas eleitores cria-se e fortalece-se especialmenteem jor<strong>na</strong>is com tiragens inferior a 20 milexemplares. Isto porque os próprios diretores<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is e jor<strong>na</strong>listas participam da distribuição,levan<strong>do</strong> o jor<strong>na</strong>l porta a porta,conversan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os dias com os leitorese trocan<strong>do</strong> idéias sobre os mais varia<strong>do</strong>sassuntos. Além disso, os jor<strong>na</strong>listas sãoconvida<strong>do</strong>s para os aniversários, casamentos,<strong>na</strong>scimentos, congratulações, coquetéis, bailes,chás, etc. Também precisam estar presentesnos velórios e outras situações de <strong>do</strong>re tristeza. Por estas razões, entre outras damesma <strong>na</strong>tureza, os leitores <strong>do</strong> Interior têmuma afeição especial pelo jor<strong>na</strong>lista da cidadee seu jor<strong>na</strong>l. Faz parte da roti<strong>na</strong> da casavê-lo sobre a mesa, de manhã bem ce<strong>do</strong>,mesmo que seja li<strong>do</strong> só no fi<strong>na</strong>l da tarde.Esta situação, no entanto, quase queimpossibilita o jor<strong>na</strong>lismo investigativo noInterior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> autoridades oulideranças estão envolvidas em irregularida-


JORNALISMO39des. Os jor<strong>na</strong>listas preferem deixar este trabalhopara os correspondentes de jor<strong>na</strong>is dagrande imprensa. Os detalhes só são divulga<strong>do</strong>sapós a conde<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> réu por umTribu<strong>na</strong>l. Na busca da conquista <strong>do</strong> públicoe <strong>do</strong> anunciante, os jor<strong>na</strong>is tiveram que buscarqualidade <strong>na</strong> produção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, acompanhan<strong>do</strong>o padrão das grandes empresasjor<strong>na</strong>lísticas, que determi<strong>na</strong>m as normas <strong>do</strong>merca<strong>do</strong>. Qualificaram-se, então, tecnologicamente,através da aquisição de máqui<strong>na</strong>srotativas, para a impressão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, e decomputa<strong>do</strong>res, para a produção editorial.Assim, melhoraram a apresentação <strong>do</strong>s veículos.Novas tecnologias requerem mão-de-obraqualificada. O Interior, no entanto, não estavaprepara<strong>do</strong>, em matéria de formação derecursos humanos, para acompanhar a evoluçãoindustrial <strong>do</strong> setor. Os empresáriostiveram de improvisar. Sem recursos e coma receita comprometida com a compra <strong>do</strong>sequipamentos as opções eram poucas. Algunscontrataram profissio<strong>na</strong>is da capital gaúchapara ensi<strong>na</strong>r seus funcionários. Outros enviaramos funcionários para Porto Alegre paraque aprendessem as novas tecnologias.Outros, ainda (a maioria), aprenderam <strong>na</strong> baseda tentativa <strong>do</strong> erro e acerto. Observamosque estas opções não deram grandes resulta<strong>do</strong>s.É necessária uma formação de médioe longo prazo, especialmente <strong>na</strong> área jor<strong>na</strong>lística.Ou seja, a formação universitária emJor<strong>na</strong>lismo passou a ser uma necessidade, poispodemos constatar que a qualidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lé diretamente proporcio<strong>na</strong>l à presença dejor<strong>na</strong>listas forma<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s redações <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is.Apesar da constatação ter si<strong>do</strong> feita porto<strong>do</strong>s os proprietários de jor<strong>na</strong>is, a maiorianão considerou importante investir <strong>na</strong> qualidade<strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l. Nem mesmo o jor<strong>na</strong>lNH, localiza<strong>do</strong> a 40 quilômetros de PortoAlegre, valoriza os bons jor<strong>na</strong>listas, manten<strong>do</strong>em sua redação 50% de pessoas semformação universitária e estudantes de Jor<strong>na</strong>lismo,em regime de estágio, proibi<strong>do</strong> pelalei que regulamenta a profissão. Outros, noentanto, perceberam a importância da presençade jor<strong>na</strong>listas para produção de seusjor<strong>na</strong>is e buscaram contratar profissio<strong>na</strong>is dacapital gaúcha, onde se concentravam, até ametade da década, as Faculdades de Jor<strong>na</strong>lismo.Depararam-se, então, com um problemainespera<strong>do</strong>: os jor<strong>na</strong>listas não queremtrabalhar no Interior e, os poucos que querem,não estão prepara<strong>do</strong>s para exercer todasas funções que uma redação <strong>do</strong> Interior exige.Além disso, os profissio<strong>na</strong>is falam umalinguagem diferente da realidade vivida pelosempresários de jor<strong>na</strong>is de menor porte fi<strong>na</strong>nceiro.Para grande número de jor<strong>na</strong>listas, oempresário da comunicação é visto como o“inimigo”, que quer explorar a mão-de-obraespecializada, de maneira que só ele lucree enriqueça às custas <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista.Estabeleceu-se, então, um dilema: omerca<strong>do</strong> de trabalho <strong>na</strong> capital gaúcha estásatura<strong>do</strong>, portanto, não existe emprego paraos novos jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong> região metropolita<strong>na</strong>.O merca<strong>do</strong> de trabalho abriu-se no Interior,mas grande parte <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is à procurade emprego não está qualificada para atuarnesse segmento. Um grupo menor está prontopara atuar em qualquer setor, mas ossalários ofereci<strong>do</strong>s não compensam o investimentorealiza<strong>do</strong> para formação profissio<strong>na</strong>l.Buscan<strong>do</strong> uma saída, os grupos começama conversar para ver se encontram uma solução.Basicamente, os jor<strong>na</strong>listas pedem umsalário mais digno; os empresários pedemprofissio<strong>na</strong>is mais qualifica<strong>do</strong>s. Intermedian<strong>do</strong>esta polêmica, estão as Faculdades de Jor<strong>na</strong>lismo.Até o momento, preparam os profissio<strong>na</strong>is,intelectual e tecnicamente, paraatuarem em empresas de grande porteeconômico, onde cada profissio<strong>na</strong>l exerceape<strong>na</strong>s uma função e trabalha de acor<strong>do</strong> coma legislação, elaborada para atender direitosde trabalha<strong>do</strong>res metropolitanos.Para que o impasse seja resolvi<strong>do</strong>, é necessáriopartir de conhecimentos básicos, quedetermi<strong>na</strong>m a prática <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo interiorano,atualmente representan<strong>do</strong> um promissor merca<strong>do</strong>de trabalho no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.O sucesso <strong>do</strong> produto junto aos consumi<strong>do</strong>resdentro de um merca<strong>do</strong> altamentecompetitivo depende de algumas medidaspráticas para sua produção, ten<strong>do</strong> comoreferencial a Os jor<strong>na</strong>listas preferem deixareste trabalho para os correspondentes dejor<strong>na</strong>is da grande imprensa. Os detalhes sósão divulga<strong>do</strong>s após a conde<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> réu porum Tribu<strong>na</strong>l.Na busca da conquista <strong>do</strong> público e <strong>do</strong>anunciante, os jor<strong>na</strong>is tiveram que buscarqualidade <strong>na</strong> produção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, acompa-


40 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVnhan<strong>do</strong> o padrão das grandes empresasjor<strong>na</strong>lísticas, que determi<strong>na</strong>m as normas <strong>do</strong>merca<strong>do</strong>. Qualificaram-se, então, tecnologicamente,através da aquisição de máqui<strong>na</strong>srotativas, para a impressão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, e decomputa<strong>do</strong>res, para a produção editorial.Assim, melhoraram a apresentação <strong>do</strong>s veículos.Novas tecnologias requerem mão-de-obraqualificada. O Interior, no entanto, não estavaprepara<strong>do</strong>, em matéria de formação derecursos humanos, para acompanhar a evoluçãoindustrial <strong>do</strong> setor. Os empresáriostiveram de improvisar. Sem recursos e coma receita comprometida com a compra <strong>do</strong>sequipamentos as opções eram poucas. Algunscontrataram profissio<strong>na</strong>is da capital gaúchapara ensi<strong>na</strong>r seus funcionários. Outros enviaramos funcionários para Porto Alegre paraque aprendessem as novas tecnologias.Outros, ainda (a maioria), aprenderam <strong>na</strong> baseda tentativa <strong>do</strong> erro e acerto.Observamos que estas opções não deramgrandes resulta<strong>do</strong>s. É necessária uma formaçãode médio e longo prazo, especialmente<strong>na</strong> área jor<strong>na</strong>lística. Ou seja, a formaçãouniversitária em Jor<strong>na</strong>lismo passou a ser umanecessidade, pois podemos constatar que aqualidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l é diretamente proporcio<strong>na</strong>là presença de jor<strong>na</strong>listas forma<strong>do</strong>s <strong>na</strong>sredações <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is.Apesar da constatação ter si<strong>do</strong> feita porto<strong>do</strong>s os proprietários de jor<strong>na</strong>is, a maiorianão considerou importante investir <strong>na</strong> qualidade<strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l. Nem mesmo o jor<strong>na</strong>lNH, localiza<strong>do</strong> a 40 quilômetros de PortoAlegre, valoriza os bons jor<strong>na</strong>listas, manten<strong>do</strong>em sua redação 50% de pessoas semformação universitária e estudantes de Jor<strong>na</strong>lismo,em regime de estágio, proibi<strong>do</strong> pelalei que regulamenta a profissão. Outros, noentanto, perceberam a importância da presençade jor<strong>na</strong>listas para produção de seusjor<strong>na</strong>is e buscaram contratar profissio<strong>na</strong>isda capital gaúcha, onde se concentravam, atéa metade da década, as Faculdades de Jor<strong>na</strong>lismo.Depararam-se, então, com um problemainespera<strong>do</strong>: os jor<strong>na</strong>listas não queremtrabalhar no Interior e, os poucos que querem,não estão prepara<strong>do</strong>s para exercer todasas funções que uma redação <strong>do</strong> Interior exige.Além disso, os profissio<strong>na</strong>is falam uma linguagemdiferente da realidade vivida pelosempresários de jor<strong>na</strong>is de menor porte fi<strong>na</strong>nceiro.Para grande número de jor<strong>na</strong>listas, oempresário da comunicação é visto como o“inimigo”, que quer explorar a mão-de-obraespecializada, de maneira que só ele lucree enriqueça às custas <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista.Estabeleceu-se, então, um dilema: omerca<strong>do</strong> de trabalho <strong>na</strong> capital gaúcha estásatura<strong>do</strong>, portanto, não existe emprego paraos novos jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong> região metropolita<strong>na</strong>.O merca<strong>do</strong> de trabalho abriu-se no Interior,mas grande parte <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is à procurade emprego não está qualificada para atuarnesse segmento. Um grupo menor está prontopara atuar em qualquer setor, mas ossalários ofereci<strong>do</strong>s não compensam o investimentorealiza<strong>do</strong> para formação profissio<strong>na</strong>l.Buscan<strong>do</strong> uma saída, os grupos começama conversar para ver se encontram umasolução. Basicamente, os jor<strong>na</strong>listas pedemum salário mais digno; os empresários pedemprofissio<strong>na</strong>is mais qualifica<strong>do</strong>s.Intermedian<strong>do</strong> esta polêmica, estão as Faculdadesde Jor<strong>na</strong>lismo. Até o momento, preparamos profissio<strong>na</strong>is, intelectual e tecnicamente,para atuarem em empresas de grandeporte econômico, onde cada profissio<strong>na</strong>lexerce ape<strong>na</strong>s uma função e trabalha deacor<strong>do</strong> com a legislação, elaborada paraatender direitos de trabalha<strong>do</strong>res metropolitanos.Para que o impasse seja resolvi<strong>do</strong>, énecessário partir de conhecimentos básicos,que determi<strong>na</strong>m a prática <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismointeriorano, atualmente representan<strong>do</strong> umpromissor merca<strong>do</strong> de trabalho no Rio Grande<strong>do</strong> Sul.O sucesso <strong>do</strong> produto junto aos consumi<strong>do</strong>resdentro de um merca<strong>do</strong> altamentecompetitivo depende de algumas medidaspráticas para sua produção, ten<strong>do</strong> comoreferencial a exigência <strong>do</strong> público <strong>do</strong> Interior.Primeiro, o noticiário deve privilegiaros acontecimentos locais, não divulga<strong>do</strong>spelos veículos com circulação estadual,abrangen<strong>do</strong> todas as áreas de atuação de umacomunidade, de maneira que o leitor reconheçaa comunidade <strong>na</strong> leitura <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.Atualmente, 75% <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes identificama comunidade <strong>na</strong> leitura <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.Além <strong>do</strong> noticiário local, Educação, Saúdee Turismo são temas que devem merecer


JORNALISMO41maior investimento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, tanto emqualidade quanto em quantidade. Atualmente,nenhum jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Interior investe <strong>na</strong> divulgação<strong>do</strong> turismo estadual, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Também é quase indispensável queos jor<strong>na</strong>is dêem cobertura aos acontecimentosque envolvem os municípios vizinhos aomunicípio-sede, caracterizan<strong>do</strong>, assim, onoticiário regio<strong>na</strong>l, aspiração da maioria <strong>do</strong>sleitores.É recomendável que os jor<strong>na</strong>is a<strong>do</strong>tempági<strong>na</strong>s específicas para a divulgação depequenos anúncios, com preços populares, oque determi<strong>na</strong> a seção “Classifica<strong>do</strong>s”, aprovadapor 82% <strong>do</strong>s leitores.A “Colu<strong>na</strong> Social” deve ser repensada,pois apresenta um alto índice de rejeição porparte <strong>do</strong>s leitores. Nota-se que esta rejeiçãodiminui em comunidades onde ela é produzidamais democraticamente, <strong>do</strong> ponto devista econômico, ou seja, onde não se cobrapara anunciar os acontecimentos sociais.Mesmo assim, ela deve ser mais abrangente,evitan<strong>do</strong> a divulgação <strong>do</strong>s mesmos perso<strong>na</strong>gensdurante o ano inteiro. No Rio Grande<strong>do</strong> Sul, é inexplicável que a colu<strong>na</strong> socialnão dê espaço para festas com teor tradicio<strong>na</strong>lista,geralmente realizadas em Centrosde Tradição Gaúcha ou em propriedadesrurais.A cobertura de temas que envolvemReligião ou Misticismo tem a aprovação de36% <strong>do</strong>s leitores gaúchos, independentementeda cultura da comunidade, índice pequenose compara<strong>do</strong> com os índices de preferênciapor outras áreas. Todavia, o percentual ébastante eleva<strong>do</strong> em relação a diversas seçõesda maioria <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is, o que deve serconsidera<strong>do</strong> pelos produtores de jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong>Interior. O noticiário <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lnão é uma exigência <strong>do</strong> leitor, pelo contrário,podem inexistir nessas publicações.É recomendável que to<strong>do</strong>s os jor<strong>na</strong>ispubliquem “charges”, pois elas são aprovadaspor 71,4% <strong>do</strong>s leitores. A cobertura daárea política e de atividades que envolvemas ações da prefeitura devem ter um cuida<strong>do</strong>especial para que se mantenham imparciaisem relação à divulgação <strong>do</strong>s fatos, pois elassão as grandes responsáveis pelo julgamento<strong>do</strong>s leitores quanto à imparcialidade <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is. Quase a metade <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes dejor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior considera os veículosPARCIAIS <strong>na</strong> cobertura desses setores. Apolítica editorial a<strong>do</strong>tada pelo Diário Popular,de Pelotas, serve de exemplo para to<strong>do</strong>o Esta<strong>do</strong>, pois 95,5% de seus assi<strong>na</strong>ntesjulgam esse jor<strong>na</strong>l IMPARCIAL em to<strong>do</strong>s ossetores.Os jor<strong>na</strong>listas que atuam <strong>na</strong> produção <strong>do</strong>speriódicos devem intensificar o contato comseus leitores, conquistan<strong>do</strong> sua confiança,através de um convívio maior, e, também,com a assi<strong>na</strong>tura de seus nomes <strong>na</strong>s matériaspublicadas, o que atualmente é pouco utiliza<strong>do</strong>no Interior. Mais da metade <strong>do</strong>s leitoresnão conhece quem produz o jor<strong>na</strong>l.Desde que mantida regularidade, a periodicidadede um jor<strong>na</strong>l não influi no conceitoformula<strong>do</strong> pelo público. A grandemaioria aceita a periodicidade estabelecidapelas empresas. Há, no entanto, em cidadesmaiores, uma tendência para os diários etrissemanários. Para o leitor gaúcho os jor<strong>na</strong>iscomunitários são bons, muito bons eexcelentes, enquanto os jor<strong>na</strong>listas recémforma<strong>do</strong>s entendem que eles são péssimos,muito ruins ou ruins porque só se preocupamcom o noticiário local.O preço da assi<strong>na</strong>tura anual <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isé aprova<strong>do</strong> por quase 70% <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes.O semanário custa, em média, R$31,00; obissemanário, R$ 56,00; o trissemanário, R$74,00; e o diário, R$ 110,00. O preço de capa,independente da periodicidade, écomercializa<strong>do</strong> atualmente a R$ 0,50. Ocentímetro por colu<strong>na</strong> da pági<strong>na</strong>indetermi<strong>na</strong>da custa, em média, R$ 4,12.Também independentemente da periodicidade,os jor<strong>na</strong>is devem ter, em média, 20pági<strong>na</strong>s. Quanto maior o jor<strong>na</strong>l, maior ointeresse <strong>do</strong> leitor.A cor não é uma exigência <strong>do</strong>s leitores,mas, no curso <strong>na</strong>tural da história, em poucotempo os jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior a<strong>do</strong>tarão, pelomenos, duas cores <strong>na</strong> capa e contracapa, comoestá acontecen<strong>do</strong> em diversos municípios.Essa característica melhora o layout <strong>do</strong>speriódicos e atrai os leitores, especialmenteos anunciantes.Nenhum jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Interior comercializamais <strong>do</strong> que 40% da área útil <strong>do</strong> corpoprincipal <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Esta medida é aprovadapor 71% <strong>do</strong>s leitores. A falta de profissio<strong>na</strong>isprepara<strong>do</strong>s para produção de fotografiasresulta no pouco uso desse recurso visual.


42 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEm muitos casos, inclusive, a qualidade dasfotografias é péssima. No entanto, 73% <strong>do</strong>sleitores estão satisfeitos com a quantidade equalidade de fotografias publicadas.Quase 70% <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes <strong>do</strong> Interiorlêem outra publicação, além <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l local.Os <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>is que têm a preferência dessesleitores são o Correio <strong>do</strong> Povo e a Zero Hora,cada um deten<strong>do</strong> 30% <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntes <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is interioranos.Outros 30% lêem ape<strong>na</strong>s o jor<strong>na</strong>l local.As revistas Veja e Isto É são as que têm apreferência <strong>do</strong> leitor <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul. A primeira, com 19% dapreferência; a segunda, com 11,6% <strong>do</strong>sassi<strong>na</strong>ntes de jor<strong>na</strong>is locais.Portanto, os números revelam que não hánecessidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l local competir comesses jor<strong>na</strong>is, através da cobertura de temasde ordem estadual, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Inclusive, porque, segun<strong>do</strong> pesquisa, os leitoresnão têm interesse pela leitura dessasáreas nos jor<strong>na</strong>is da cidade. O formato dessesegmento da imprensa escrita é o tablóide,com 38 centímetros de altura por 28 centímetrosde largura. Por força <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>publicitário, que prepara o fotolito de seusanúncios em cinco colu<strong>na</strong>s, número utiliza<strong>do</strong>pelos jor<strong>na</strong>is da capital gaúcha, é recomendávelque os jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior sejamdiagrama<strong>do</strong>s também em cinco colu<strong>na</strong>s,apesar de pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r, atualmente, seis colu<strong>na</strong>s.Conforme registram os livros da históriada imprensa gaúcha, resumidamente relatadano início dessa tese, em 1930, 80% <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is gaúchos tinham tiragem de até 5.000exemplares. Em 1998, em média, os jor<strong>na</strong>is<strong>do</strong> Interior trabalham com uma tiragem de2.600 exemplares, excetuan<strong>do</strong> cidades commais de 200 mil habitantes. Nestas, em média,a tiragem é de 24.600 exemplares e a periodicidadepre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte é a diária.A receita mensal <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is semanários,bissemanários e trissemanários varia de R$4.800,00 a R$ 25.000,00, dependen<strong>do</strong> daforça econômica de cada município. Osdiários têm uma receita média mensal mínimade R$ 30.000,00 e, máxima, de R$800.000,00. Em média, 9% provêm de anúnciospúblicos, o que garante a independênciae autonomia política e econômica <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is.Para trabalhar ou comandar um jor<strong>na</strong>l noInterior, o jor<strong>na</strong>lista precisa ter “espíritocomunitário e político”, o que significa dizerenvolver-se <strong>na</strong> luta de reivindicações dacomunidade, acompanhan<strong>do</strong> seus líderes emaudiências públicas, participan<strong>do</strong> de passeatas,protestos, seminários, congressos, promoven<strong>do</strong>encontros culturais, sociais e educacio<strong>na</strong>is,etc.Do ponto de vista de formação, o jor<strong>na</strong>listaprecisa ter capacidade de praticar todasas funções jor<strong>na</strong>lísticas que a produção deum jor<strong>na</strong>l exige, além de saber administraruma empresa e comercializar seu produto,caben<strong>do</strong> às Faculdades de Jor<strong>na</strong>lismo gaúchasrepensarem seus currículos de maneiraa atender o merca<strong>do</strong> de trabalho. Como está,ape<strong>na</strong>s 3% <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas forma<strong>do</strong>s sentemseprepara<strong>do</strong>s para desenvolver oito funçõesbásicas: reportagem, redação, copidesque,edição, diagramação, fotografia, revisão edireção. A grande maioria está pronta paraser repórter, redator e editor, e 50% acreditamque têm conhecimento suficiente paratambém assumirem a direção (administração)de um jor<strong>na</strong>l.O problema maior, no entanto, é o totaldesconhecimento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas sobre omerca<strong>do</strong> de trabalho no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.Conforme levantamos, através de questionário,63% <strong>do</strong>s novos jor<strong>na</strong>listas não conhecem<strong>na</strong>da sobre os jor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Interior. Cerca de32% não estariam dispostos a lutar pelodesenvolvimento <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo interiorano,apesar de 95% estarem dispostos a praticara profissão no Interior, se convida<strong>do</strong>s fossem.Somente 15% <strong>do</strong>s novos jor<strong>na</strong>listas têmconhecimento de que a informática já seestabeleceu <strong>na</strong> imprensa interiora<strong>na</strong>. Cercade 75% acreditam que os textos jor<strong>na</strong>lísticossão feitos em máqui<strong>na</strong>s de escrever manual.Além disto, ape<strong>na</strong>s 7,5% deles entendem queos empresários da comunicação interiora<strong>na</strong>são bons. O restante apresenta um julgamentopreconceituoso.Quase 70% <strong>do</strong>s forman<strong>do</strong>s acham que os<strong>do</strong>nos de jor<strong>na</strong>is estão comprometi<strong>do</strong>s partidariamenteem seus municípios. A ida <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas para o Interior, portanto, temalgumas imposições incomuns <strong>na</strong> capital.Setenta por cento só fariam isso por umsalário superior a R$ 1.000,00; 27% trabalha-


44 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVempregar jor<strong>na</strong>listas quanto para se investir<strong>na</strong> abertura de novos jor<strong>na</strong>is. No entanto, paraque esse merca<strong>do</strong> passe a ser uma realidade,os empresários <strong>do</strong> Interior devem valorizarmais a qualidade de seus profissio<strong>na</strong>is, investin<strong>do</strong>especialmente no diagrama<strong>do</strong>r,fotógrafo e bons repórteres. Condiçõeseconômicas não faltam.Por outro la<strong>do</strong>, os jor<strong>na</strong>listas precisam sequalificar em algumas áreas, obten<strong>do</strong> maiorconhecimento sobre administração empresarial,publicidade, programas de editoraçãoeletrônica e fotografia. Além disso, necessitamde maior compreensão sobre a formade vida de peque<strong>na</strong>s comunidades para quepossam interagir com elas.


46 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO47Jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong> Web: Desenho e Conteú<strong>do</strong>Claudia Irene de Quadros 1 e Itanel de Bastos Quadros Junior 2IntroduçãoÉ impossível dissociar desenho e conteú<strong>do</strong>de qualquer produto jor<strong>na</strong>lístico, pois umdepende <strong>do</strong> outro para conquistar e garantira fidelidade <strong>do</strong> seu leitor. A primeira impressão<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, boa ou ruim, fica por conta<strong>do</strong> layout. De que adianta, entretanto, apresentarao leitor um planejamento visualatraente se o conteú<strong>do</strong> não prende a suaatenção? A questão pode parecer óbvia, mashoje são muitos os jor<strong>na</strong>is impressos quelutam para encontrar o equilíbrio entre desenhoe conteú<strong>do</strong>. No entorno das redesdigitais, a harmonia entre o design e oconteú<strong>do</strong> é uma condição sine qua non <strong>do</strong>ssites no Esta<strong>do</strong> da Arte 3 , aqueles que exploramas múltiplas possibilidades oferecidaspelo meio. A arquitetura web exige que verbale não verbal se fundam para criar uma linguagemprópria <strong>do</strong> ciberespaço, dan<strong>do</strong> aliberdade de escolha e/ou construção <strong>do</strong>próprio caminho. “Uma das contribuiçõesmais extraordinárias da Internet é permitira qualquer um, em caráter individual ouinstitucio<strong>na</strong>l, vir a ser produtor, intermediárioe usuário de conteú<strong>do</strong>s” 4 (BARRETO,2000).Entende-se aqui por conteú<strong>do</strong> a definiçãoapresentada no Livro Verde da Sociedade daInformação <strong>do</strong> Brasil:“Os produtos e serviçosde informação – da<strong>do</strong>s, textos, imagens,sons, software etc.- são identifica<strong>do</strong>s<strong>na</strong> rede com o nome genérico de conteú<strong>do</strong>s.Conteú<strong>do</strong> é tu<strong>do</strong> que é opera<strong>do</strong> <strong>na</strong> rede”. 5(TAKAHASHI, 2000) No entanto, para quea estrutura hipermedial possa fluir nociberspaço é necessário romper com modelosconvencio<strong>na</strong>is de produção, organizaçãoe dissemi<strong>na</strong>ção desses conteú<strong>do</strong>s. No jor<strong>na</strong>lismodigital, depois de quase uma década<strong>do</strong> boom <strong>do</strong>s diários <strong>na</strong> World Wide Web 6 ,registra-se mudanças <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivase, como consequência, surgem novas propostasno trabalho em rede.SinergiaNa opinião de Elias Macha<strong>do</strong>, professorda Universidade Federal da Bahia, “o jor<strong>na</strong>listadeve operar em perfeita sintonia como departamento de tecnologia das organizaçõespara poder projetar soluções adequadastanto às demandas <strong>do</strong> processo produtivo,quanto às <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> sistema deprodução descentralizada de conteú<strong>do</strong>s.” 7(MACHADO, 2003) Aqui ressalta-se que ojor<strong>na</strong>lista deve estar em sintonia com todasas áreas envolvidas <strong>na</strong> produção, <strong>na</strong> organizaçãoe <strong>na</strong> dissemi<strong>na</strong>ção de conteú<strong>do</strong>s, poisé da fusão de conhecimentos que agrega-sevalor ao diário digital.O sociólogo Laymert Garcia <strong>do</strong>s Santos,professor da Unicamp (SP) e autor <strong>do</strong> livro“Politizar Novas Tecnologias”, enfatiza queo maior problema da Internet não está noacesso à informação, “mas o da capacidadede transformá-la em conhecimento valioso”. 8(COLOMBO, 2004). Cabe assi<strong>na</strong>lar que oacesso à internet no Brasil é fundamental ehá necessidade de implementar políticas paraa democratização da rede mundial de computa<strong>do</strong>res.Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da ONU divulga<strong>do</strong>sno início de 2004, o Brasil ocupa a 65 ªposição entre os países com maior acessodigital.Na tentativa de otimizar recursos, algumasempresas de comunicação reorganizamas roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is e a<strong>do</strong>tamsoluções tecnológicas ao processo de criaçãode conteú<strong>do</strong>s. No México, o GrupoMilênio utiliza um processo de trabalhocomum para to<strong>do</strong>s os seus veículos, comuma só Redação. El Observa<strong>do</strong>r, de Montevidéu,também segue esse tipo de gestão.“Sua principal virtude: a sinergia entre aedição em papel e a versão digital. Umamesma redação, integrada, produz com êxitoo jor<strong>na</strong>l e o Observa, a maior web informativa<strong>do</strong> Uruguai”. 9 (AMARAL, 2003).


48 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVGazeta <strong>do</strong> povoA Gazeta <strong>do</strong> Povo Online 10 , criada emmea<strong>do</strong>s da década de 90, também a<strong>do</strong>taráesse modelo de gestão. Ainda no primeirosemestre de 2004, a Gazeta <strong>do</strong> Povo Onlineimplementará o Projeto Integração, que prevêa fusão das redações <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>is impresso edigital. Pertencente ao Grupo RPC – RedePara<strong>na</strong>ense de Comunicação, a versão digital<strong>do</strong> maior jor<strong>na</strong>l de circulação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> éum <strong>do</strong>s produtos ofereci<strong>do</strong>s pelo portal Tu<strong>do</strong>Paraná, que por sua vez está abriga<strong>do</strong> noGlobo.com, portal que reúne to<strong>do</strong> os veículosdas Organizações Globo e afiliadas.Atualmente, da equipe formada por 22pessoas <strong>na</strong> redação e três no comercial <strong>do</strong>portal Tu<strong>do</strong> Paraná, cinco redatores e umeditor são exclusivos da Gazeta <strong>do</strong> PovoOnline. O site jor<strong>na</strong>lístico ainda transpõe paraa rede 90 por cento <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>pelos jor<strong>na</strong>listas da Gazeta <strong>do</strong> Povo, a versãoimpressa. Algumas reportagens não sãoveiculadas por questões técnicas, diferençasentre programas usa<strong>do</strong>s pela redação <strong>do</strong>impresso e da digital. Outras por razõescontratuais, há colu<strong>na</strong>s de agências que nãopodem ser publicadas no site. Alguns conteú<strong>do</strong>s– como Caderno Especiais e Arquivo– só os assi<strong>na</strong>ntes <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l têm acesso. “Éuma forma de privilegiar os que pagam pelojor<strong>na</strong>l, pois a versão digital é gratuita” ”11 ,comenta a jor<strong>na</strong>lista Claudia Belfort, coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>rade produção de conteú<strong>do</strong>s da Gazeta<strong>do</strong> Povo Online e <strong>do</strong> Portal Tu<strong>do</strong> Paraná.Agora, em março de 2004, <strong>na</strong> primeira faseda implementação <strong>do</strong> Projeto Integração,Claudia Belfort também assumiu o cargo deEditora Chefe da Gazeta <strong>do</strong> Povo, a versãoimpressa.Para a equipe da redação digital, a promoçãode Claudia Belfort é um reconhecimento<strong>do</strong> trabalho desenvolvi<strong>do</strong> <strong>na</strong> internet.Vale destacar que o primeiro jor<strong>na</strong>lista responsávelpela Gazeta <strong>do</strong> Povo Online,Ar<strong>na</strong>l<strong>do</strong> Cruz, é atualmente o diretor <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>limpresso. “No início da redação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>ldigital tu<strong>do</strong> era muito simples: existia umaabertura e uma lista de notícias, como fazemas agências de notícias” 12 . A Gazeta <strong>do</strong> PovoOnline sempre funcionou com uma equipereduzida de produção de conteú<strong>do</strong>s, mas oprocesso de trabalho desenvolvi<strong>do</strong> vemdespertan<strong>do</strong> a atenção <strong>do</strong>s diretores <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.“O projeto Integração <strong>na</strong>sce com aproposta de levar alguns jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> PortalTu<strong>do</strong> Paraná para otimizar recursos daempresa e, sobretu<strong>do</strong>, para divulgar tendênciasda Internet entre to<strong>do</strong>s os membros daredação <strong>do</strong> diário impresso” 13 , destaca SilviaZanella, editora <strong>do</strong> Portal Tu<strong>do</strong> Paraná, aorelatar estratégias da empresa para capacitarto<strong>do</strong>s os jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong> área da internet.Para Claudia Belfort, a internet possibilitaa disponibilização da grande gama deconteú<strong>do</strong> que a redação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l impressoproduz e não publica por falta de espaço.São fotos, trechos de gravações de entrevistas,infografias e outros conteú<strong>do</strong>s que podemser disponibiliza<strong>do</strong>s <strong>na</strong> versão digital. “Nessesenti<strong>do</strong>, evoluímos muito <strong>na</strong> Gazeta <strong>do</strong>Povo Online. Já há roti<strong>na</strong>s em editorias comoEsportes, Paraná, Fun e Gazetinha quepublicam no site um conteú<strong>do</strong> amplia<strong>do</strong> einteragem com o leitor”. 14A coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>ra de produção de conteú<strong>do</strong>s<strong>do</strong> Portal Tu<strong>do</strong> Paraná entende que aversão digital de um jor<strong>na</strong>l impresso deveoferecer “uma boa arquitetura da informação,boa <strong>na</strong>vegabilidade e conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> diárioem papel, mas principalmente proporcio<strong>na</strong>rao leitor informações e ações próprias parao ciberespaço”. 15WebdesignDuas webdesigners são responsáveis pelaversão impressa da Gazeta <strong>do</strong> Povo Online.Ambas afirmam que pesquisam muito <strong>na</strong>internet exemplos para a<strong>do</strong>tar no site e quetambém arriscam um pouco para inovar.Aliás, os webdesigners encarrega<strong>do</strong>s dacriação e manutenção <strong>do</strong>s sites jor<strong>na</strong>lísticossão cada vez mais instiga<strong>do</strong>s a desenvolveremmodelos que atendam às demandas <strong>do</strong>susuários, no que tange especificamente àforma e à funcio<strong>na</strong>lidade ou “usabilidade”.Este desafio se expande com aobrigatoriedade de se encaminharem soluçõesde design que propiciem uma <strong>na</strong>vegação ditaamigável (friendly), e com conteú<strong>do</strong>s quepossam satisfazer tanto aqueles que têmacesso a Internet via modem quanto aos maisprivilegia<strong>do</strong>s com prove<strong>do</strong>res em banda larga.A Gazeta <strong>do</strong> Povo Online, objeto dapresente investigação, se esforça em atender


JORNALISMO49a algumas dessas premissas postas no chama<strong>do</strong>esta<strong>do</strong> da arte <strong>do</strong> gênero. O site ofereceos conteú<strong>do</strong>s comuns da versão impressa comalgumas restrições já abordadas anteriormente,mas também apresenta outros produzi<strong>do</strong>sexclusivamente para versão digital, característicaque o coloca em um estágio maisavança<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> gênero. Alguns enlaces<strong>do</strong> site (arquivo de edições anteriores, porexemplo) são de acesso privativo <strong>do</strong>s assi<strong>na</strong>ntesda versão em papel, exigin<strong>do</strong> umasenha para o franqueamento da <strong>na</strong>vegaçãoe conseqüente visualização de conteú<strong>do</strong>ssolicita<strong>do</strong>s.A pági<strong>na</strong> inicial (homepage) se organizanuma grade com quatro colu<strong>na</strong>s, sen<strong>do</strong> quea primeira – à esquerda – abriga o menu comenlaces diretos às editorias e cadernos especiaisda versão impressa. Uma colu<strong>na</strong> maislarga <strong>na</strong> área central da interface acolhe amanchete principal e uma foto que normalmentetambém está estampada <strong>na</strong> capa daedição impressa. Logo acima aparece umenlace de texto com uma chamada de notíciade última hora direto da redação (com ohorário de atualização), uma informaçãoessencial em um site noticioso. As manchetessecundárias <strong>do</strong> dia por temática/editorias(economia, Brasil, política etc.) se distribuemcom enlaces de texto <strong>na</strong> parte abaixo dafoto, numa extensão vertical que de nomáximo duas telas e meia, que obriga ousuário a utilizar a barra de rolagem (scroll)para a visualização. Ainda que esta proporçãoseja considerada adequada por diversosexpertos em desenho web, o famoso designeramericano Roger Black e seus sócios espanhóis,Eduar<strong>do</strong> Danilo e Javier Creus chamama atenção para o comportamento <strong>do</strong>susuários <strong>na</strong> www diante de pági<strong>na</strong>s muitoextensas no senti<strong>do</strong> longitudi<strong>na</strong>l, indican<strong>do</strong>possíveis soluções para uma melhor apresentaçãovisual <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s:Não nos enganemos, ninguém lê tu<strong>do</strong>.A maioria das pessoas lê somente aprimeira metade da primeira pági<strong>na</strong>de um jor<strong>na</strong>l impresso e a maioria <strong>do</strong>sinter<strong>na</strong>utas não gosta de ‘deslocar-se’pela tela. Em geral, é melhor usarbotões, trabalhar a organização visual<strong>do</strong> website, arranjan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> empeque<strong>na</strong>s partes. Os usuários gostamde <strong>na</strong>vegar, dar uma ‘olhada’ sem lermuito. Se a informação não se apresentade forma rápida e atrativa, aspessoas se aborrecem e vão embora,sem vontade de voltar. 16 (BLACK,1998)Continuan<strong>do</strong> a análise da pági<strong>na</strong> inicial<strong>do</strong> site, outra colu<strong>na</strong> estreita, mais à direitada interface gráfica encerra quadros comenlaces para colu<strong>na</strong>s fixas <strong>do</strong> veículo etambém para outros destaques da edição. Estaoferta visual direta facilita a tomada dedecisão <strong>do</strong> visitante em seguir <strong>na</strong> direção <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s de seu maior interesse. Como fechoda composição das informações <strong>na</strong> gradegráfica da homepage, está uma quarta colu<strong>na</strong>– um pouco mais larga e que se repetepraticamente em todas as pági<strong>na</strong>s interiores<strong>do</strong> site – reservada à publicidade (banners,animações, enlaces a hotsites e/ou sitespromocio<strong>na</strong>is). Esta é uma solução de layoutobservada em muitos produtos online <strong>do</strong>gênero (revistas e jor<strong>na</strong>is) porque propiciauma inserção mais fácil da mensagem publicitária,com um destaque adequa<strong>do</strong> emesmo modula<strong>do</strong> no contexto da pági<strong>na</strong> e,ainda, evita a mescla indesejável <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lístico com o espaço comercial <strong>do</strong>veículo. No entanto, durante a investigaçãose observou que a comercialização dessesambientes gráficos ainda é falha – reflexotalvez da baixa credibilidade da parte <strong>do</strong>sanunciantes sobre a real efetividade dapublicidade no meio digital – e em pági<strong>na</strong>sinteriores <strong>do</strong> site esta colu<strong>na</strong> aparece embranco, desequilibran<strong>do</strong> visualmente ainterface.Na parte superior da homepage, se encontramtrês áreas horizontais retangularesque ocupam cerca de um terço da dimensãovertical da tela de abertura (excetuan<strong>do</strong> oslimites das bandas e recursos da janela <strong>do</strong><strong>na</strong>vega<strong>do</strong>r). A primeira área, <strong>na</strong> parte superior,organiza uma barra de <strong>na</strong>vegação mínimade acesso ao portal Tu<strong>do</strong>Paraná, ondeestá abriga<strong>do</strong> o site da Gazeta <strong>do</strong> Povo Onlinecom enlace à pági<strong>na</strong> inicial a partir <strong>do</strong>logotipo, oferta de acesso grátis ao visitante,e-mail, visor com menu des<strong>do</strong>brável queoferece acesso aos diversos ca<strong>na</strong>is <strong>do</strong> portale um último visor com uma máqui<strong>na</strong> de busca(search machine) de assuntos.


50 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA segunda área, logo abaixo da primeirabarra de <strong>na</strong>vegação relatada anteriormente, trazum “cabeçalho” já tradicio<strong>na</strong>l em publicaçõesdigitais <strong>do</strong> gênero jor<strong>na</strong>lístico, destacan<strong>do</strong> umbanner interativo, normalmente com animaçõesque tentam atrair a atenção <strong>do</strong> visitante,suportan<strong>do</strong> mensagem publicitária. Em ambosos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> banner – nos extremos esquer<strong>do</strong>e direito da interface – duas “caixas” oferecemenlaces a conteú<strong>do</strong>s que podem ser deinteresse objetivo <strong>do</strong> visitante <strong>do</strong> site, e servemcomo aliciantes visuais e/ou oferta tempestivade conteú<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> o posicio<strong>na</strong>mento no arranjográfico da tela/pági<strong>na</strong>.Fi<strong>na</strong>lmente, a barra de <strong>na</strong>vegação <strong>do</strong> siteda Gazeta <strong>do</strong> Povo Online está inserida <strong>na</strong>terceira área horizontal, localizada <strong>na</strong> partesuperior da pági<strong>na</strong> inicial. Ele se organizavisualmente em seis lapelas, simulan<strong>do</strong> graficamentepastas de arquivos. A primeira, comdimensão maior e alinhada à esquerda dainterface, abriga o logotipo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, numaposição e com o destaque defendi<strong>do</strong>s porJakob Nielsen e Marie Tahir, no livroHomepage: 50 websites descontruí<strong>do</strong>s:Exibir o nome da empresa e/oulogotipo, em um tamanho razoável eem local de destaque – Essa área deidentificação não precisa ser grandemas deve ser maior e mais destacada<strong>do</strong> que os itens a seu re<strong>do</strong>r, de mo<strong>do</strong>a chamar de imediato a atençãoquan<strong>do</strong> os usuários entrarem no site.Geralmente, o canto superior esquer<strong>do</strong>é o melhor posicio<strong>na</strong>mento paraos idiomas li<strong>do</strong>s da esquerda para adireita. 17 (NIELSEN, 2001: 10).Os demais enlaces oferta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> barra de<strong>na</strong>vegação são: capa impressa (imagem dacapa da edição impressa <strong>do</strong> dia), ediçõesanteriores (com acesso exclusivo aos assi<strong>na</strong>ntesda edição impressa), assi<strong>na</strong>turas (ondeo usuário pode assi<strong>na</strong>r a edição impressa <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l), classifica<strong>do</strong>s (espaços publicitáriosabertos a pequenos anunciantes e populares,onde são ofereci<strong>do</strong>s a venda objetos, equipamentose as merca<strong>do</strong>rias mais variadas,uma das características mais fortes e rentáveisda versão impressa <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l) e notíciaspor e-mail (onde o visitante pode preencherum formulário interativo e solicitar que sejamenvia<strong>do</strong>s diariamente ao seu e-mail conteú<strong>do</strong>sselecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s das editorias de sua preferência).As lapelas apresentam uma dimensãomenor que a <strong>do</strong> logotipo e dividem espaçocom um calendário identifica<strong>do</strong> pelas iniciais<strong>do</strong>s dias da sema<strong>na</strong> (S, T, Q, Q, S, S)e a data da edição.As pági<strong>na</strong>s inter<strong>na</strong>s <strong>do</strong> site mantêm aconsistência de design observada <strong>na</strong> pági<strong>na</strong>inicial (homepage), incluin<strong>do</strong> por vezes algumasadaptações pontuais, como sub-menusespecíficos para a temática ou oredimensio<strong>na</strong>mento das colu<strong>na</strong>s que estruturamos arranjos de texto e imagem <strong>na</strong>interface ou, ainda, interferências de ordemfuncio<strong>na</strong>l, quan<strong>do</strong> da inclusão de formuláriosou listas interativas para acesso mais fácilaos conteú<strong>do</strong>s específicos.Como comentário geral, é possível afirmarque o site apresenta uma oferta deconteú<strong>do</strong>s adequada ao gênero onde estáenquadra<strong>do</strong>. O design não prejudica a funcio<strong>na</strong>lidadeou a usabilidade, a arquiteturaé coerente e a tecnologia empregada nãoafasta os usuários com acesso disca<strong>do</strong> e,ainda, oferece aos visitantes com banda largaalguns conteú<strong>do</strong>s específicos, principalmente<strong>na</strong> área <strong>do</strong> entretenimento.ConclusãoO design da Gazeta <strong>do</strong> Povo Online seráreformula<strong>do</strong> para a implementação <strong>do</strong> ProjetoIntegração entre as versões impressa edigital. De acor<strong>do</strong> com Claudia Belfort, agoratambém editora chefe da Gazeta <strong>do</strong> Povo,a empresa segue a tendência mundial deotimizar recursos e oferecer conteú<strong>do</strong>s demelhor qualidade ao leitor/usuário ao unificaras redações. O novo desenho da Gazeta<strong>do</strong> Povo será reformula<strong>do</strong> para atender àsdemandas <strong>do</strong>s usuários e para di<strong>na</strong>mizar oprocesso de trabalho <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.O impacto das roti<strong>na</strong>s produtivas utilizadas<strong>na</strong> internet sobre a versão em papelaponta que, até o presente momento dessainvestigação, está se refletin<strong>do</strong> <strong>na</strong> organizaçãode redações de outros meios (inclusiveimpressos), <strong>na</strong> dissemi<strong>na</strong>ção e <strong>na</strong> produçãode conteú<strong>do</strong>s. É possível constatar que estáem processo a reversão da visão inicialquan<strong>do</strong> da implementação <strong>do</strong>s sitesjor<strong>na</strong>lísticos, onde os jor<strong>na</strong>listas envolvi<strong>do</strong>s


JORNALISMO51no processo eram encara<strong>do</strong>s pelos seus colegasda redação tradicio<strong>na</strong>l como merosrecicla<strong>do</strong>res de conteú<strong>do</strong>s da versão impressa.A frase <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista Roger Flider, ditaem 1994 – ainda <strong>na</strong> pré-história <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isdigitais- não perdeu senti<strong>do</strong>:–“a tecnologiasomente facilita a mudança e cria oportunidades.Sem o correspondente esforço <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas e <strong>do</strong>s empresários <strong>do</strong>s meios decomunicação em melhorar a qualidade dainformação e oferecer o que o públiconecessita e deseja, a metamorfose não serámais que uma crisálida oca”. 18 (FIDLER,1994). Parece que a borboleta digital geradanos últimos anos <strong>na</strong> www insiste em alçarvôo para o mun<strong>do</strong> real.


52 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAmaral, Chico. Organização deRedações. Jor<strong>na</strong>l da ANJ, Brasília, dezembrode 2003.Barreto, Al<strong>do</strong> de Albuquerque. Os Conteú<strong>do</strong>se a Sociedade da Informação noBrasil, disponível desde outubro de 2000 nosite DataGramaZero - Revista de Ciência daInformação (http://www.dgz.org.br/out00/Art_03.htm).Black, Roger. Eduar<strong>do</strong> Danilo e JavierCreus. 10 consejos clave para um websitecom resulta<strong>do</strong>s, Barcelo<strong>na</strong>, Interactive BureauInc, (http://www.interactivebureau.com)Colombo, Sylvia. Problema da internetnão é o acesso, e sim como transformá-lo,Folha de S. Paulo, 18 de janeiro de 2004.Fidler, ROGER. El diario que viene,Cuaderno de Información, número 9, UniversidadeCatólica <strong>do</strong> Chile, 1994.Johnson, Steven. Interface Culture. SãoFrancisco: Harper Edge, 1997.Macha<strong>do</strong>, Elias. O Ciberespaço como fontepara os jor<strong>na</strong>listas, Salva<strong>do</strong>r, Calandra, 2003.Nielsen, J., and TAHIR, M. Homepage:50 websites descontruí<strong>do</strong>s. Rio de Janeiro,Campus, 2002.Pavlik, John. Jour<strong>na</strong>lism and new media.New York: Columbia University, 2001.Takahashi, Tadao (org.). Conteú<strong>do</strong>s eIdentidade Cultural. Sociedade da Informaçãono Brasil, Brasília, Ministério da Ciênciae Tecnologia, 2000._______________________________1Universidade Tuiuti <strong>do</strong> Paraná, Brasil.2Universidade Federal <strong>do</strong> Paraná, Brasil.3Na classificação de John Pavlik, professorda Universidade de Columbia (EUA), estes sitessão denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>s de terceiro estágio. Já o GJOL- Grupo de Estu<strong>do</strong>s em Jor<strong>na</strong>lismo Online daUniversidade Federal da Bahia- a<strong>do</strong>ta o termo“Terceira Geração” quan<strong>do</strong> se refere aos sitesjor<strong>na</strong>lísticos mais avança<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Web. O primeiroestágio, <strong>na</strong> classificação de Pavlik, é ape<strong>na</strong>s atransposição da versão impressa para a digital. Osegun<strong>do</strong> estágio traz o conteú<strong>do</strong> da versão impressae alguns outros produtos e serviços exclusivospara a internet.4Al<strong>do</strong> de Albuquerque Barreto.ÄOs Conteú<strong>do</strong>se a Sociedade da Informação no Brasil,disponível desde outubro de 2000 no siteDataGramaZero - Revista de Ciência da Informação,disponível em http://www.dgz.org.br/out00/Art_03.htm.5Tadao Takahashi (org.) Conteú<strong>do</strong>s e IdentidadeCultural no livro Sociedade da Informaçãono Brasil, Brasília, Ministério da Ciência eTecnologia, 2000, p.59.6Sobre o boom <strong>do</strong>s diários <strong>na</strong> Web verQUADROS, Claudia. Uma Breve Visão Histórica<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo Online no livro Jor<strong>na</strong>lismo noSéculo XXI: A Cidadania, org. Antonio Hohfeldte Marialva Barbosa, Porto Alegre, Merca<strong>do</strong> Aberto,2002.7Elias Macha<strong>do</strong>, O Ciberespaço como fontepara os jor<strong>na</strong>listas, Salva<strong>do</strong>r, Calandra, 2003, p.13.8Sylvia COLOMBO. Problema da internetnão é o acesso, e sim como transformá-lo, Folhade S. Paulo, 18 de janeiro de 2004, p. E 3.9Chico AMARAL. Organização de Redações.Jor<strong>na</strong>l da ANJ, Brasília, dezembro de 2003, p.23.10A Gazeta <strong>do</strong> Povo online pode ser acessada<strong>na</strong> seguinte URL: http://www.gazeta<strong>do</strong>povo.com.br11Claudia Belfort. Entrevista concedida aBeatriz Nedeff, formanda <strong>do</strong> Curso de ComunicaçãoSocial da Universidade Tuiuti <strong>do</strong> Paraná,como atividade de iniciação científica. Curitiba,ago. 2003.12Ar<strong>na</strong>l<strong>do</strong> Cruz. Entrevista concedida a BeatrizNedeff, formanda <strong>do</strong> Curso de Comunicação Socialda Universidade Tuiuti <strong>do</strong> Paraná, como atividadede iniciação científica. Curitiba, ago. 2003.13Silvia Zanella. Entrevista concedida aClaudia Irene de Quadros para o projetoArquitetura Web: a estrutura da notícia nos jor<strong>na</strong>isdigitais. Curitiba, março de 2004.14Claudia Belfort. Entrevista concedida aClaudia Irene de Quadros para o projetoArquitetura Web: a estrutura da notícia nos jor<strong>na</strong>isdigitais. Curitiba, nov. 2003.15Claudia Belfort. Entrevista concedida aBeatriz Nedeff, formanda <strong>do</strong> Curso de ComunicaçãoSocial da Universidade Tuiuti <strong>do</strong> Paraná,como atividade de iniciação científica. Curitiba,ago. 2003.16Roger BLACK. Eduar<strong>do</strong> Danilo e JavierCreus. 10 consejos clave para um website comresulta<strong>do</strong>s, Barcelo<strong>na</strong>, Interactive Bureau Inc,disponível em http://www.interactivebureau.com.17J. NIELSEN e M. TAHIR, M. Homepage:50 websites descontruí<strong>do</strong>s. Rio de Janeiro,Campus, 2002. P.10.18Roger Fidler. El diario que viene, Cuadernode Información, número 9, Universidade Católica<strong>do</strong> Chile, 1994, p. 25.


JORNALISMO53A cobertura de epidemias <strong>na</strong> imprensa portuguesa. O caso da SidaCristi<strong>na</strong> Ponte 1IntroduçãoEsta comunicação apresenta resulta<strong>do</strong>sparciais de uma análise de discurso dacobertura desta epidemia por <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>isportugueses, Diário de Notícias e peloCorreio da Manhã, entre 1981 e 2000 (Ponte,2004) 2 . Centrada nos títulos das peçasjor<strong>na</strong>lísticas, a análise das suas metáforas eoutras representações dá a ver como, nosprimeiros anos, se edificou a ilusão decontrolo e segurança, sustentada em fontesde informação oficiais e <strong>na</strong> quase ausênciade vozes alter<strong>na</strong>tivas, nomeadamente exprimin<strong>do</strong>o ponto de vista e os direitos cívicosdas pessoas directamente afectadas.A pertinência desta análise justifica-sepelo lugar de destaque que tem hoje aexpansão deste vírus em Portugal, comparativamentea outros países da UniãoEuropeia.Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Instituto Nacio<strong>na</strong>l deSaúde, até 31 de Dezembro de 2003, encontravam-senotifica<strong>do</strong>s 23.374 casos de infecçãoVIH/Sida em Portugal, nos diferentesestádios de infecção. Estes incluem casos deSida (fase mais tardia e estabelecida da<strong>do</strong>ença), PA, porta<strong>do</strong>res assintomáticos (faseinicial da infecção que pode durar vários anossem sintomas – e CTR, Complexo Relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>com Sida, ou seja, uma fase intermédiada infecção em que podem aparecer aumentosganglio<strong>na</strong>res, febrículas e outros sintomas.De 1983 até 2003, foram notifica<strong>do</strong>s10.724 casos de Sida, 10.555 casos de infecçãopor VIH assintomáticos e 2095 casosclassifica<strong>do</strong>s como CTR.No entanto, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da ONUSIDA,estima-se que haja entre 30 a 50 mil casosde pessoas infectadas pelo VIH em Portugal.Esta discrepância de números deve-se ao factode haver perío<strong>do</strong>s de vários anos em que apessoa está infectada, infectan<strong>do</strong> outros,mesmo que se sinta bem. As estimativas daONUSIDA não fazem parte, porém, dasestatísticas oficiais, sen<strong>do</strong> elaboradas atravésde fórmulas matemáticas.Segun<strong>do</strong> estatísticas <strong>do</strong> Centro Europeupara a Vigilância Epidemiológica da Sida deParis, divulgadas em 2000, Portugal apresentoua maior taxa de incidência de Sida(número de casos de Sida diagnostica<strong>do</strong>s, pormilhão de habitantes) da União Europeia, com104,2 casos por milhão de habitantes–– umnúmero bastante mais eleva<strong>do</strong> que a taxa deincidência europeia de 22,5 casos. Aliás, noperío<strong>do</strong> entre 1992 e 1998, a taxa de incidência<strong>na</strong> União Europeia decresceu 45%,mas ape<strong>na</strong>s em Portugal se verificou umacréscimo dessa taxa, que quase duplicou.Metáforas e representações da <strong>do</strong>ençaCom base nos títulos das peçasjor<strong>na</strong>lísticas, realçamos metáforas e representaçõesda Sida nos primeiros anos, pela suaintensidade e por marcarem o mo<strong>do</strong> de apensar, prolongan<strong>do</strong> a sua influência.As desig<strong>na</strong>çõesComo notava Susan Sontag (1984) no seuestu<strong>do</strong> sobre as metáforas da Sida, a desig<strong>na</strong>çãocorrente (sida) não é despojada deconsequências. Ao enfatizar a desig<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>terceiro estádio para abranger toda a situaçãode alguém seropositivo, ainda que o vírusnão esteja activo, estamos a tomar a partepelo to<strong>do</strong>.Nos títulos <strong>do</strong> Diário de Notícias, adesig<strong>na</strong>ção Sida foi hegemónica face a outrasdesig<strong>na</strong>ções, como vírus da Sida ou HIV/Sida.Interessa observar como essa construção seoperou nos primeiros tempos, antes de setor<strong>na</strong>r <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte.Nas três primeiras notícias <strong>do</strong> Diário deNotícias, em 1982, num momento em quepouco se conhecia da <strong>do</strong>ença, esta não tevenome próprio, apresentan<strong>do</strong> três desig<strong>na</strong>çõesindirectas, a marcar características que pudes-


54 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVsem servir para a interpretação <strong>do</strong> seu significa<strong>do</strong>,neste caso por referência a outras<strong>do</strong>enças malig<strong>na</strong>s e a locais de onde teriaema<strong>na</strong><strong>do</strong>: cancro, <strong>do</strong>ença misteriosa esíndroma cubano 3 . Como apontava SusanSontag, não é estranho que a primeira desig<strong>na</strong>çãoindirecta da nova patologia se tenhafeito por referência à mais temida de todasas <strong>do</strong>enças nesse momento, o cancro. Areferência a Cuba vai a par de referênciasa outras regiões exóticas das Caraíbas e aÁfrica, apontadas como o berço <strong>do</strong> novovírus, como nos primeiros títulos de outrosjor<strong>na</strong>is inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.Ao contrário das desig<strong>na</strong>ções indirectas,o nome próprio desig<strong>na</strong> directamente o seureferente. Para que exista, é necessário quenum da<strong>do</strong> momento ocorra um “acto debaptismo”, como refere Maingueneau(1997), que faz notar como o nome própriosó é da<strong>do</strong> a seres frequentemente evoca<strong>do</strong>s,relativamente estáveis no espaço e no tempoe com importância social ou afectiva. Nocaso presente, o nome próprio começou porser importa<strong>do</strong> da desig<strong>na</strong>ção norte-america<strong>na</strong>(AIDS). Quan<strong>do</strong> transitou para a desig<strong>na</strong>çãoportuguesa, começou por se apresentarcomo acrónimo, a enfatizar cada umadas iniciais de síndroma de imunodeficiênciaadquirida, SIDA, com as quatro letras emmaiúsculas. Nos primeiros momentos deafirmação <strong>do</strong> seu nome próprio, como Sida,era de género masculino (o Sida). A transiçãopara nome comum, como <strong>do</strong>ençacorrente (a sida), ocorre em 1985, desig<strong>na</strong>ção<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte quan<strong>do</strong> escrita no interior<strong>do</strong> título.Significativos pelo uso <strong>do</strong> artigo defini<strong>do</strong>(a) – a marcar algo já conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> leitore com carácter genérico – são <strong>do</strong>is títulosde 1983, que coincidem em confi<strong>na</strong>r a nova<strong>do</strong>ença ao grupo social <strong>do</strong>s homossexuais:– A peste cor-de-rosa; A <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s homossexuais,com o primeiro a apresentar duasmetáforas a intensificar o seu senti<strong>do</strong>.A lenta afirmação <strong>do</strong> nome próprio nãoexclui o recurso a outras desig<strong>na</strong>ções indirectas.Nos anos 80, marcantes pelo enquadramentoque trazem a algo de novo e quese vai prolongar no tempo, encontram-se noDiário de Notícias múltiplas desig<strong>na</strong>çõesindirectas, umas toman<strong>do</strong> como referente ocampo da medici<strong>na</strong> (vírus diferente, vírus <strong>do</strong>cancro, <strong>do</strong>ença rara, síndroma imunológica,afecções imunológicas), outras a recorrer ametáforas como pesadelo <strong>do</strong> século XX,fantasma, psicose, grande morigera<strong>do</strong>ra. Sãomuitas também as relações identificativas daSida, como camaleão, espectro, obsessão <strong>do</strong>snossos dias, me<strong>do</strong>, luta desigual e de morte,pavor, “casa da morte”, problema de saúdenúmero um, pálida comparação com a pestenegra, praga mundial, ou a ampliar o seupróprio referente (mil vírus). O nome próprioé ainda carrega<strong>do</strong> de senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se fazacompanhar insistentemente por verbos comoapavorar, matar, duplicar, propagar, alastrar,subir em flecha, entre outros. Como investigaçõesde outros países deram conta, apsicose <strong>do</strong> me<strong>do</strong> percorreu a cobertura destesprimeiros anos, sobretu<strong>do</strong> o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro,que irá alimentar medidas de segregação porparte de autoridades e actos discrimi<strong>na</strong>tóriosno dia a dia. Entre títulos centra<strong>do</strong>s <strong>na</strong>expansão desmesurada da Sida, encontramsetítulos como Sida: <strong>do</strong>entes sem cura acaminho <strong>do</strong> gueto, a encimar a matéria factualde uma notícia.Nos primeiros títulos <strong>do</strong> Correio daManhã, em 1983, recorre-se também adesig<strong>na</strong>ção indirecta (<strong>do</strong>ença desconhecida,nova <strong>do</strong>ença, depois identificada por A nova<strong>do</strong>ença quan<strong>do</strong> se supõe já <strong>do</strong> conhecimento<strong>do</strong> leitor e se anuncia que chegou ao país).O jor<strong>na</strong>l introduziu a desig<strong>na</strong>ção portuguesacomo acrónimo logo em 1983, inicialmentecom aspas (“SIDA”) e vai prolongar até aoinício <strong>do</strong>s anos 90 o uso <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte desseacrónimo (SIDA). A desig<strong>na</strong>ção em maiúsculaspermanecerá embora em posição secundáriaface ao nome próprio (Sida) ou comum(sida). Os seus títulos carregam assim maistempo a desig<strong>na</strong>ção pelo acrónimo, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>a palavra graficamente mais marcante.Também estes primeiros títulos são dramatiza<strong>do</strong>s,ao associarem, à desig<strong>na</strong>ção e aosseus predica<strong>do</strong>s, advérbios que intensificama velocidade e a coincidência. Como exemplos,em 1983 e 1984: [Sida] já chegou aPortugal, já serve para roubar, já mata <strong>na</strong>Suécia, também mata em Israel, já afectoumais de 3 mil em trinta países, já afectoutrês deze<strong>na</strong>s no Zaire, em Portugal ultrapassajá a deze<strong>na</strong>.


JORNALISMO55A quantificaçãoO recurso a estatísticas e à linguagem <strong>do</strong>snúmeros é uma das marcas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,como garante da credibilidade da informação.As quantificações são procuradas avidamentepor jor<strong>na</strong>listas, que necessitam denúmeros para tor<strong>na</strong>r a história mais visívele mais próxima <strong>do</strong>s leitores, pela brutalidadeda sua expressão ou pela singularidade <strong>do</strong>carácter excepcio<strong>na</strong>l da situação desencadeada.Quan<strong>do</strong> aprecia a cobertura de umaepidemia alimentar por parte <strong>do</strong>s mediabritânicos, nos anos 80, Roger Fowler (1991:147-8) desig<strong>na</strong>-a por histeria. Isso não significaque considere a situação insignificanteou ilusória, classifica a cobertura <strong>do</strong>s mediacomo histérica pelo seu próprio conteú<strong>do</strong>emocio<strong>na</strong>l. Das marcas desse estilo histéricofazem parte a retórica da adjectivação e daquantificação e o uso de verbos adequa<strong>do</strong>sà ideia de um crescimento desmesura<strong>do</strong>(disparar, multiplicar, proliferar, progredir,escalar...). Também <strong>na</strong> cobertura da problemáticada Sida no Reino Uni<strong>do</strong>, o autorencontrou essa tendência.Nos títulos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>is portugueses,muito ce<strong>do</strong> os números dispararam. A sualeitura cronológica mostra como essa procurade ilustrar numericamente a situação,sobretu<strong>do</strong> de fora <strong>do</strong> país, se processou comvalores contraditórios. Ressalta a ausência deum acompanhamento jor<strong>na</strong>lístico <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sedita<strong>do</strong>s, como se a chegada à redacção deinformação proveniente de fontes com algumacredibilidade fosse suficiente para a tor<strong>na</strong>rpública e não se justificasse um olhar maisatento ao que o jor<strong>na</strong>l tinha dito e agoraentrava em contradição com a nova informação.A título de exemplos, em 1985, o Diáriode Notícias punha em título: O vírus da Sidajá infecta <strong>do</strong>is milhões de norte-americanos.Dois meses depois intitulava: Sida ameaçaum milhão de americanos. No ano seguinte,a 22 de Novembro de 1986, anunciava: Maisde <strong>do</strong>is mil com Sida em cada 24 horas <strong>na</strong>RFA, para poucos meses depois afirmar coma mesma certeza: Sida em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>atinge 34 mil pessoas e Há Sida em 98 paísese os casos são 45608.A mesma quantificação de números nostítulos perpassa nos primeiros anos peloCorreio da Manhã: 400 mil com sida nosEUA; poucas sema<strong>na</strong>s depois, 2 milhões deamericanos com SIDA; 50% <strong>do</strong>s homossexuaispoderão morrer; 400 mil alemãesporta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus. Entre estes títulos demassa, o singular que anuncia a morte deUma garota italia<strong>na</strong>.A análise ao mo<strong>do</strong> como pessoasseropositivas aparecem nestes jor<strong>na</strong>is enquanto“actores principais” das peças mostrou queo singular pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> sobre o colectivo, comodamos conta noutro trabalho (Ponte, 2004).Ou seja, dá-se mais espaço às figuras públicasque morrem de sida e a indivíduosassocia<strong>do</strong>s a actividades margi<strong>na</strong>is, como opequeno crime e a prostituição, <strong>do</strong> que aocolectivo, quan<strong>do</strong> uma das característicasdesta <strong>do</strong>ença, nos anos 80, noutros países,foi ter-se feito acompanhar de fortes movimentosde pressão contra medidasdiscrimi<strong>na</strong>tórias e por um acesso facilita<strong>do</strong>a medicamentos. Em Portugal, por contraste,é escassa a visibilidade de movimentos deexigência <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong>s direitoscívicos de pessoas seropositivas.Na maioria das peças aparecem então“grandes números”, assusta<strong>do</strong>res mas silenciosos<strong>na</strong> sua grandiosidade abstracta. Nãosignifica que não tenham ti<strong>do</strong> fontes deinformação por detrás, nomeadamente agênciasinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e fontes institucio<strong>na</strong>is. Oque acontece é que, sen<strong>do</strong> esses os circuitosprivilegia<strong>do</strong>s, sem vozes alter<strong>na</strong>tivas organizadasnem jor<strong>na</strong>listas a acompanharem aproblemática de uma forma continuada eatenta, as histórias que se contam são umasucessão de informação rápida, repetitiva,sincopada, por vezes mesmo assente emfrágeis bases de verdade. Correspondem ahistórias já conhecidas, numa lógica dereprodução conformada e totalizante.A “causa” e a “transmissão” da SidaDesde os primeiros anos destas notíciasque a procura da “causa” da nova síndromae as possibilidades de transmissão <strong>do</strong> vírusestiveram presentes nos <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>is, aísurgin<strong>do</strong> as hipóteses mais variadas. OCorreio da Manhã teve mais intervenção,


56 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcom sugestões sobre a origem e formas decontágio, dan<strong>do</strong> presença às mais diversaspossibilidades de transmissão, que alimentariama exigência de políticas de ostracismopara to<strong>do</strong>s aqueles que se soubesse seremseropositivos, como de resto os jor<strong>na</strong>is tambémdão conta, enquanto “factos” a noticiar.Como memória destes fantasmas, aqui seregistam algumas dessas ideias, umas apresentadascomo “verdades” ou com fortesprobabilidades de o serem, só sen<strong>do</strong>desmentidas – e não pelo mesmo jor<strong>na</strong>l –muito mais tarde.Picada de mosquitos poderá provocarsida 4O vírus da SIDA veio <strong>do</strong> espaço 5Insectos não passam o vírus da sida 6Sida também se transmite pelas lágrimas7Sida não se “pega” por contactocasual 8Vírus da SIDA não se propaga notrabalho 9Insectos africanos poderão transmitirSida 10Também no suor foi encontra<strong>do</strong> ovírus da SIDA” 11Suor não transmite o vírus da sida 12Beijo é transmissor 13O beijo não pega a sida 14A batalha médicaA vitória ou a impotência da ciência eda medici<strong>na</strong> face à síndroma, nestes 20 anos,permanecem como duas grandes <strong>na</strong>rrativasque se interligam. Como marcas dessa disputa,é exemplar o confronto de discursossobre uma provável vaci<strong>na</strong> para a Sida, eas disputas e desacor<strong>do</strong>s entre as própriascomunidades médica e científica sobre aspossibilidades da sua criação. Assim sealimentou a ‘novela da vaci<strong>na</strong>’, numa <strong>na</strong>rrativade fi<strong>na</strong>l incerto, como ainda hojepermanece.Nos anos 80, lia-se que a [vaci<strong>na</strong> contraa Sida] pode estar pronta dentro de <strong>do</strong>is anos;prevê-se para breve; dentro de 4 anos?; difícilainda de prever o prazo; prevista para breve;médicos <strong>do</strong>s EUA anunciam…; é aindaimpossível; regista progressos; só daqui acinco anos; ainda é impossível; admitida para1987; justifica optimismo; só depois de 1990;estará à venda daqui a três anos…A batalha moralSublinhava também Susan Sontag queuma <strong>do</strong>ença com as características da Sidatinha poder para suscitar a convocação debatalhas contra a vivência da sexualidade quenão decorresse de acor<strong>do</strong> com os cânonesda moral <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. Para além <strong>do</strong> foco noshomossexuais masculinos como os responsáveispelo contágio, que constituiu o primeiroenquadramento nos <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>is, àsemelhança <strong>do</strong> que aconteceu noutros países,a referência assertiva a vivências da sexualidade,por vezes com ironia, noutras cominterpelação directa ao leitor, marca uma fortepresença no Diário de Notícias até princípios<strong>do</strong>s anos 90.Podemos aí reconhecer o peso de fontesinstitucio<strong>na</strong>is, nomeadamente ligadas à IgrejaCatólica, mas também a assunção pelosjor<strong>na</strong>is de um discurso moralista e cúmplicecom o imagi<strong>na</strong><strong>do</strong> leitor, branco, heterossexuale de classe média. Estes títulos moralistasvão reduzir-se nos anos 90, alturaem que começaram a ter maior visibilidadeas palavras de pessoas directamente afectadase também das organizações não gover<strong>na</strong>mentais,como a Abraço, que geroucampanhas com maior visibilidademediática, como a promoção <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>preservativo.Entre outros títulos de batalha moral<strong>do</strong>s primeiros anos, podemos observarcomo <strong>na</strong>lguns o Diário de Notícias comoenuncia<strong>do</strong>r se dirige directamente ao leitor,pelo imperativo que aconselha, pelaasserção que não admite contestação, pelaa<strong>do</strong>pção das palavras de outros, fazen<strong>do</strong>assuas ao elimi<strong>na</strong>r as aspas desse discursodirecto:Acabaram os dias da liberdade sexual15Fidelidade conjugal é o melhor meiopara evitar o contágio da <strong>do</strong>ença 16Abuso das leis da <strong>na</strong>tureza resultou<strong>na</strong> sida 17Sida está a “moralizar” os costumesem África 18


JORNALISMO57Me<strong>do</strong> da sida está a modificar ocomportamento de solteiros 19Títulos centra<strong>do</strong>s no alerta para com odesempenho sexual não canónico acontecemtambém até aos inícios <strong>do</strong>s anos 90 noCorreio da Manhã, onde esta batalha moralfoi mais visível e enfática. Na sua economia,contam a moral da história, numalinguagem coloquial e cúmplice, com asaspas a sugerir outros senti<strong>do</strong>s, também comavaliações, comentários e asserções formuladascom grau máximo de certeza. Alguns<strong>do</strong>s títulos repetem-se mesmo, com poucassema<strong>na</strong>s de intervalo. Em vários, a nova<strong>do</strong>ença surge quase como justiceira, estigmatizan<strong>do</strong>estereótipos da mulher sedutorae liberti<strong>na</strong>. Os agentes das acções estãoausentes, quan<strong>do</strong> pressuposto está que sedirigem aos “não seropositivos”, a to<strong>do</strong>s nós.A título de exemplo, estes títulos que têmem comum a ênfase no verbo no presente,a acentuar a actualidade da enunciação, umpresente que também é contínuo e aindaintemporal:Só fidelidade conjugal evita contágioda SIDA 20SIDA está a contribuir para a fidelidadeconjugal 21Casamento e fidelidade atraem cadavez mais a Suécia <strong>do</strong> sexo livre 22Me<strong>do</strong> de contágio da SIDA promoveos bons costumes 23Suecas dizem que a SIDA provocafalta de amantes 24“Fuga” à SIDA implica alteraçõessexuais 25Sida: Promiscuidade sexual é a maiorcausa de contágioSida tor<strong>na</strong> francesas fiéis 26Há no Correio da Manhã títulos quecontrariam essa posição e que mostram, <strong>na</strong>sua apresentação, a distância <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l emrelação àquilo que neles se afirma, pelo usode aspas. Aquelas são palavras que o jor<strong>na</strong>lapresenta como não sen<strong>do</strong> suas:“SIDA não é punição… mas sim<strong>do</strong>ença” 27“É absur<strong>do</strong> pensar que a SIDA é umaforma de punição” 28A Sida, cá dentroNos primeiros anos, Portugal diferenciava-se<strong>do</strong> caos exterior por uma aparentequase imunidade.Em 1984, os <strong>do</strong>is jor<strong>na</strong>is noticiam aseropositividade <strong>do</strong> primeiro português, alguémque vem de fora, um emigrante, como Correio da Manhã a acentuar que é o únicocom sida. Meses depois, informam da mortede António Variações, embora sem referênciadirecta à nova <strong>do</strong>ença. Em 1985, outros casospontuais vão surgir, no Algarve, em Coimbra.A par destas informações, o Correio daManhã dá conta de preocupações com possíveiscontágios, por parte de médicos eenfermeiros, da baixa incidência da sida nonorte <strong>do</strong> país, <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> custo <strong>do</strong> teste, decrianças hospitalizadas. Anuncia (Já temos) umnovo centro especializa<strong>do</strong> em <strong>do</strong>ençastransmissíveis e que Portugal “arma-se” <strong>na</strong>luta contra a SIDA. Informa também quePortugal não importa sangue e queHemofílicos portugueses não correm riscos desida. O número de “casos” vai subin<strong>do</strong>, chegaàs quatro deze<strong>na</strong>s em 1986, mas está muitoaquém <strong>do</strong>s grandes números <strong>do</strong>s títulos sobreoutros países, como vimos. Em 1987, o jor<strong>na</strong>lchama a atenção, em manchete de primeirapági<strong>na</strong>, para as palavras de um jovemseropositivo, que vê a vida a fugir-lhe e quelhe faz confissões, <strong>na</strong> primeira peça desteconjunto que ouve uma pessoa seropositiva.Por contraponto a estes títulos e a outrosque dão conta de preocupações de reclusosquanto ao contágio, ou <strong>do</strong> pouco conhecimentoexistente sobre preservativos, a partir de1987, com o número de casos a continuar asubir, encontram-se títulos tranquilizantes, quefazem suas palavras de fontes institucio<strong>na</strong>is:Tu<strong>do</strong> bem no Algarve em matéria deSIDA 29SIDA em Portugal é extremamenterara 30SIDA em Portugal só afecta 54 pessoas31Um milhão de portugueses mu<strong>do</strong>uhábitos sexuais com me<strong>do</strong> da SIDA 32Sida não preocupa os portugueses 33Somos o país da Europa com menortaxa de sida 34


60 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVNorton Brandão, médico, no VI Congresso <strong>do</strong>Clínico Geral31Correio da Manhã, 4 de Julho de 1987.Notícia, não assi<strong>na</strong>da. Título a 2 colu<strong>na</strong>s. Fonte:<strong>do</strong>cumento da Organização Mundial de Saúde32Correio da Manhã, 25 de Novembro de1987. Feature de Miguel Gaspar, 1 pági<strong>na</strong>. Títuloà largura da pági<strong>na</strong>, em duas linhas. Fonte: Grupode Trabalho da SIDA33Correio da Manhã, 22 de Março de 1988.Notícia breve, não assi<strong>na</strong>da. Fonte: Sondagem daGallop34Correio da Manhã, 7 de Novembro de 1988.Notícia, não assi<strong>na</strong>da, título a 2 colu<strong>na</strong>s e 4 linhas.Fonte: Organização Mundial de Saúde35Correio da Manhã, 1989. Notícia breve, nãoassi<strong>na</strong>da. Título com destaque. Fonte: MinistraLeonor Beleza36Diário de Notícias, 1 de Setembro de 1985.Informação Geral. Notícia, não assi<strong>na</strong>da. Títuloa 4 colu<strong>na</strong>s. Fonte: Gabinete <strong>do</strong> Ministro da Saúde37Diário de Notícias, 5 de Setembro de 1985.Suplemento Saúde. Artigo assi<strong>na</strong><strong>do</strong> por MariaGuiomar Lima. Fotografia de homem, seropositivo.38Diário de Notícias, 19 de Março de 1986.Informação Geral. Notícia, não assi<strong>na</strong>da, título a2 colu<strong>na</strong>s. Fonte: Instituto Nacio<strong>na</strong>l de Sangue39Diário de Notícias, 1 de Junho de 1988.Última pági<strong>na</strong>. Notícia, não assi<strong>na</strong>da. Fonte:Leonor Beleza40Diário de Notícias, 15 de Fevereiro de 1989.Informação Geral. Notícia, não assi<strong>na</strong>da, 2 colu<strong>na</strong>s.Fonte: Grupo de Trabalho da Sida41Diário de Notícias, 18 de Fevereiro de 1989.Informação Geral. Notícia, não assi<strong>na</strong>da, 2 colu<strong>na</strong>s.Fonte: especialistas de saúde, reuni<strong>do</strong>s emSimpósio42Diário de Notícias, 29 de Novembro de1994. Reportagem, com chamada de primeirapági<strong>na</strong>, a propósito <strong>do</strong> Dia Mundial da Sida.43Diário de Notícias, 10 de Abril de 1988.Informação Geral. Notícia com base em sondagem.Título a 4 colu<strong>na</strong>s. Quadros estatísticos eimagem de laboratório.44Notícias Magazine. Artigo de opinião deIsabel Leal, psicoterapeuta e psicóloga clínica45Correio da Manhã, 23 de Outubro de 1990.Fonte: ADDEPOS, Associação <strong>do</strong>s Direitos eDeveres <strong>do</strong>s Seropositivos e Porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Vírusda Sida46Diário de Notícias, 28 de Novembro de1990. Chamada de primeira pági<strong>na</strong>, que remetepara uma reportagem assi<strong>na</strong>da por Hele<strong>na</strong> Men<strong>do</strong>nça,ten<strong>do</strong> como base um relatório <strong>do</strong> Grupode Trabalho da Sida.47Diário de Notícias, 28 de Julho de 1998.Manchete <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, que remete para uma reportagemassi<strong>na</strong>da por Leonor Figueire<strong>do</strong>. Esta peçabaseia-se num estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is matemáticose uma epidemiologista.


JORNALISMO61O caso Jayson Blair / New York Times:da responsabilidade individual às culpas colectivas 1Joaquim Fidalgo 2“Examine the specific sins of JaysonBlair and you will find the commontransgressions of everyday jour<strong>na</strong>lism.Blair put them together in a spectacularfashion to create a beast that is biggerthan the sum of its parts.It’s time to stop shaking our heads atBlair’s audacity, which was immense, andfocus on the habits of jour<strong>na</strong>lism”.Kelly McBride 3“These guys [director editorial e directoradjunto<strong>do</strong> The New York Times] didnot go <strong>do</strong>wn because of the Jayson Blairaffair, they went <strong>do</strong>wn because theJayson Blair affair exposeda lot of other things”.Douglas C. Clifton 4A justificaçãoO “caso Jayson Blair”, que agitou fortementeos meios <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e da indústriade”media - sobretu<strong>do</strong> nos EUA, mas nãosó -, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano de 2003, podia nãoter passa<strong>do</strong> de ape<strong>na</strong>s (mais) um caso deplágio <strong>na</strong> imprensa, concluí<strong>do</strong> com um pedi<strong>do</strong>de desculpas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l afecta<strong>do</strong> e odespedimento <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l responsável poruma conduta individual eticamente reprovável.Não seria, infelizmente, o primeiro - enão será porventura o último. Reduzi<strong>do</strong> a umepisódio individual, pontual, anómalo, frutoporventura de uma perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>entia emargi<strong>na</strong>l ao sistema mediático institucio<strong>na</strong>l,o caso não mereceria grandes análises oudebates. No entanto, ele acabou por ser muitomais <strong>do</strong> que isso. Para além da circunstânciade ter ocorri<strong>do</strong> num <strong>do</strong>s mais prestigia<strong>do</strong>se poderosos exemplos mundiais da imprensade referência, o The New York Times (NYT)- o que levou logo muita gente a glosar omote de que “se isto pode acontecer no NYT,então deve acontecer em to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>” 5 -, eleprovocou ondas de choque que fizeram tremera casa-mãe mas se propagaram muitopara além dela, suscitan<strong>do</strong> variadíssimosdebates nos meios jor<strong>na</strong>lísticos, académicos,associativos e empresariais, estimulan<strong>do</strong> arevisão de regras de conduta e mecanismosde controlo de qualidade <strong>na</strong> imprensa (comrealce para a necessária accountability, aprestação de contas aos leitores e à sociedade),questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a eficácia e o grau deexigência da formação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas emmatérias <strong>do</strong> foro ético, enfim, alertan<strong>do</strong> paraum urgente back to basics no que toca aosprincípios e valores funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,supostamente subalterniza<strong>do</strong>s ou ameaça<strong>do</strong>spor uma envolvente sócio-económicae tecnológica muito pressio<strong>na</strong>nte e submeti<strong>do</strong>sa uma lógica muito própria - a lógicade merca<strong>do</strong>.Visto a esta luz, o “caso Jayson Blair”,por particularmente chocante que tenha si<strong>do</strong>,dadas a sua desmesura e a sua continuadaimpunidade, é mais <strong>do</strong> que uma anormalidadeindividual, mais <strong>do</strong> que uma aberraçãocasuística, ultrapassável com a sua públicaexposição e uma conde<strong>na</strong>ção exemplar; eleacaba (como acabou) por ser si<strong>na</strong>l e sintoma(a) de insuficiências graves de comunicação,organização e gestão no interior da empresajor<strong>na</strong>lística; (b) de pouca transparência ecapacidade de diálogo / interacção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lcom os seus leitores; (c) <strong>do</strong>s riscos de umacultura de sucesso rápi<strong>do</strong> e espectacular, queleva à desvalorização de regras e roti<strong>na</strong>sprofissio<strong>na</strong>is elementares; enfim, (d) dapesada responsabilidade que implica o ofíciode jor<strong>na</strong>lista, um ofício alicerça<strong>do</strong> em basesde confiança que nenhum controlo, por maispresente e rigoroso que seja, alguma vezconseguirá substituir completamente.É elucidativo que, logo nos primeiros diasapós o rebentar <strong>do</strong> escândalo, o próprio <strong>do</strong>no<strong>do</strong> NYT, Arthur Sulzberger, tenha vin<strong>do</strong>insistir em que aquele era um crime de umapessoa só (“The person who did this is JaysonBlair” 6 ) e que não devia, portanto, alargar-


62 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVse o leque de culpas ao conjunto <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l,e desig<strong>na</strong>damente aos responsáveis editoriais(“Let’s not begin to demonize ourexecutives” 7 ). Estava ele longe de imagi<strong>na</strong>ro que se sucederia em catadupa <strong>na</strong>s sema<strong>na</strong>sseguintes. Jayson Blair foi despedi<strong>do</strong>, sim,mas os principais responsáveis editoriais <strong>do</strong>NYT - o director e o director-adjunto - tambémacabaram por se demitir, ao mesmo tempoque se procedeu a uma reorganização vasta<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, da sua direcção, da estrutura dechefia, <strong>do</strong>s procedimentos internos, <strong>do</strong>smecanismos de relação com os leitores, até<strong>do</strong> Livro de Estilo. Tu<strong>do</strong> <strong>na</strong> sequência de(mesmo que não só por causa de) JaysonBlair.A históriaValerá a pe<strong>na</strong> recordar os principais factosdeste caso.Jayson Blair, um repórter negro 8 de 27anos, pertencente aos quadros redactoriais <strong>do</strong>NYT desde 1999 (mas já conhece<strong>do</strong>r da casadesde que, ainda estudante universitário, alifizera um ambicio<strong>na</strong><strong>do</strong> estágio profissio<strong>na</strong>lno Verão de 1998), demitiu-se no dia 1 deMaio de 2003, depois de se ter descobertoque plagiara, inventara ou distorcera umasérie de informações e citações em grandenúmero <strong>do</strong>s trabalhos jor<strong>na</strong>lísticos que assi<strong>na</strong>ra,alguns <strong>na</strong> primeira pági<strong>na</strong>. O motivopróximo foi a denúncia, feita por uma jor<strong>na</strong>lista<strong>do</strong> San Antonio Express-News (antigacolega de Blair <strong>na</strong> Universidade de Marylande no estágio de 1998 no NYT), de que elecopiara partes de uma reportagem por elapublicada origi<strong>na</strong>lmente, a propósito defamiliares de um solda<strong>do</strong> americano mortono Iraque. A denúncia <strong>do</strong> caso saiu a público<strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong> Washington Post (WP),concorrente conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> NYT - e, curiosamente,um jor<strong>na</strong>l que, anos atrás (1980), setinha visto a braços com um embaraçosemelhante: a célebre história da repórterJanet Cooke, que recebeu até um PrémioPulitzer pela reportagem que fizera sobre umacriança toxicodependente e que, pouco tempopassa<strong>do</strong> sobre a publicação, se descobriuter si<strong>do</strong> totalmente inventada.Dadas algumas suspeitas já vindas de trás,o incidente levou a uma investigação nointerior <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, da qual se concluiu queJayson Blair vinha sistematicamente, desdehá anos, plagian<strong>do</strong> textos, inventan<strong>do</strong> citações,escreven<strong>do</strong> de sítios onde nunca tinhai<strong>do</strong>, ‘fabrican<strong>do</strong>’ notícias e situações. Só entreOutubro de 2002 e Abril de 2003, altura emque esteve integra<strong>do</strong> <strong>na</strong> equipa de jor<strong>na</strong>listasque faziam o acompanhamento noticioso <strong>do</strong>sgrandes assuntos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, foram descobertasinvenções ou incorrecções em 36 <strong>do</strong>s 73textos assi<strong>na</strong><strong>do</strong>s por Jayson Blair. Acresceque, nos quatro anos precedentes em quetrabalhara no’NYT, o repórter já tinha si<strong>do</strong>obriga<strong>do</strong> a fazer mais de 50 correcções emtrabalhos de sua autoria.Logo a 11 de Maio de 2003, o NYTpublica um longo texto de quatro pági<strong>na</strong>s,com abertura <strong>na</strong> primeira pági<strong>na</strong>, em queexpõe detalhadamente as deze<strong>na</strong>s de “actosde fraude jor<strong>na</strong>lística” 9 assaca<strong>do</strong>s ao seujovem repórter, ao mesmo tempo que pedeaos leitores que lhe façam chegar eventuaisnovas denúncias. Este invulgar pedi<strong>do</strong> dedesculpas e esta retratação pública nãopuseram, contu<strong>do</strong>, um fim ao caso, comoparecia ser desejo <strong>do</strong>s mais altos responsáveis<strong>do</strong> NYT: resumir tu<strong>do</strong> a um ‘desvio’individual, com laivos até patológicos (soube-se,entretanto, que Blair tinha uma históriade problemas <strong>do</strong> foro psicológico,associada a dependências <strong>do</strong> álcool e dedrogas que ele próprio confirmaria), masinsusceptível de beliscar a honorabilidade oua credibilidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l como um to<strong>do</strong>. Aliás,o próprio pedi<strong>do</strong> de desculpas, nos termosem que foi feito, suscitou reacções diversas.Não faltou, de um la<strong>do</strong>, quem aplaudisse ainiciativa:“O jor<strong>na</strong>lismo americano raramenteproduziu algo semelhante ao extraordinárioacto de contrição que o NYTpublicou no <strong>do</strong>mingo [11.5.03]”. (TimRutten 10 )“Ao decidir-se pela exposição dasfraudes em quatro pági<strong>na</strong>s de umaedição de <strong>do</strong>mingo, o jor<strong>na</strong>lão novaiorquinoderrubou o fetichismo emtorno da infalibilidade da imprensa econfirmou o princípio de que to<strong>do</strong>sos poderes devem ser fiscaliza<strong>do</strong>s edevassa<strong>do</strong>s. Broncas, suspensões edemissões, até então mantidas entre


JORNALISMO63quatro paredes ou divulgadas de formacircunspecta, agora serão <strong>do</strong> <strong>do</strong>míniopúblico. Sem privilégios, livres <strong>do</strong>sconstrangimentos corporativos e solidariedadesgremiais”. (AlbertoDines 11 )Em contrapartida, outras vozes foram umpouco mais além, sugerin<strong>do</strong> que o “acto decontrição” público, por muito respeitável queparecesse, podia estar a escamotear alguns<strong>do</strong>s elementos mais importantes e sensíveisdeste escândalo:“Veja-se o artigo de quatro pági<strong>na</strong>s<strong>do</strong> Times, supostamente contan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>acerca de Blair. Pelo tom auto-complacenteda peça, bem como <strong>do</strong>editorial desse dia, tor<strong>na</strong>va-se bemclaro que o Times pensava que estavaa deixar o escândalo para trás dascostas. Mas qualquer leitor mediano- que não a gestão <strong>do</strong> Times - podiater-lhes dito que este “dizer-tu<strong>do</strong>” nãodizia <strong>na</strong>da sobre o cerne da história.As questões da raça ou da cultura <strong>do</strong>Times ou o estilo pessoal de [gestaode] Raines eram passadas em claro”.(Mandy Grunwald 12 )“[A autocrítica publicada pelo NYT]foi um julgamento em que o Timesfuncionou como investiga<strong>do</strong>r, acusa<strong>do</strong>r,advoga<strong>do</strong> de defesa, juiz, júri eexecutante. Foi um julgamento-espectáculo(‘show trial’), desti<strong>na</strong><strong>do</strong> aexpurgar o rasto e a memória deJayson Blair e a procurar a absolvição<strong>do</strong>s leitores. (...) Este ritual deconfissão, absolvição e penitênciaacaba, sem querer, por esconder tantoquanto revela. As instituições têm oscomportamentos desviantes que merecem.(...) Jor<strong>na</strong>is que valorizam oorigi<strong>na</strong>l, o espantoso e o rápi<strong>do</strong> arriscam-sea ter muitos plágios e fabricações”.( James Carey 13 )Face à perplexidade crescente sobre comotinha si<strong>do</strong> possível um jovem repórter ludibriartanta gente, durante tanto tempo, numadas organizações jor<strong>na</strong>lísticas mais poderosase supostamente mais fiáveis <strong>do</strong>s EUA,rapidamente se descobriu uma série de problemasde fun<strong>do</strong> no interior da redacção, queiam muito para além <strong>do</strong>s episódiosprotagoniza<strong>do</strong>s por Jayson Blair, e nos quaisera preciso mergulhar para entender melhoro que se passara:- falhas de comunicação (Blair levantavasuspeitas numa determi<strong>na</strong>da secção <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l mas era transferi<strong>do</strong> para outra e o novoresponsável não conhecia o seu historial) 14 ;- desatenções inexplicáveis (Blair, entreOutubro 2002 e Abril 2003, escrevera textossupostamente de mais de 20 cidades diferentes,pertencentes a seis esta<strong>do</strong>s, mas nãoapresentara nem uma conta de hotel, bilhetede avião ou despesa de transporte - porque,de facto, nunca saíra <strong>do</strong> seu apartamento emNova Iorque - e ninguém pareceu espantarsecom tal situação);- suspeitas de favoritismos pessoais(Blair foi promovi<strong>do</strong> para a equipa <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lquan<strong>do</strong> já se acumulavam muitas dúvidassobre a lisura de alguns <strong>do</strong>s seus procedimentose se sucediam as correcções aos seustextos, sen<strong>do</strong> que o director Howell Rainesgostava <strong>do</strong> seu estilo “agressivo”, da sua“fome” de trabalho e da sua disponibilidadepermanente, o mesmo suceden<strong>do</strong> com odirector-adjunto, Stephen Boyd, negro comoJayson, e muito empenha<strong>do</strong> em favorecer apolítica de “diversidade” no jor<strong>na</strong>l);- gestão demasia<strong>do</strong> centralizada everticalizada por parte da Direcção Editorial(propicia<strong>do</strong>ra, de acor<strong>do</strong> com os jor<strong>na</strong>listasda casa, de um clima de intimidação,de individualismo, de falta de debate interno,e também de desresponsabilização das chefiasintermédias).Os variadíssimos debates, internos eexternos, à volta destas questões, rapidamenteamplifica<strong>do</strong>s (si<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s tempos...) pelorecurso generaliza<strong>do</strong> à comunicação atravésde e-mails, de chat-rooms e de weblogs 15 ,depressa tor<strong>na</strong>ram evidente que o caso nãoiria resolver-se tão facilmente como seimagi<strong>na</strong>ra, pois adquirira uma dimensãomuito superior à <strong>do</strong> indivíduo Jayson Blair- e já extravasara, inclusivamente, <strong>do</strong>s murostradicio<strong>na</strong>lmente sóbrios da “Old GrayLady”, como <strong>na</strong> gíria costuma ser apoda<strong>do</strong>o circunspecto NYT.Que as coisas ganhavam uma dinâmicaacelerada prova-o o facto de, ainda nesse mês


64 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVde Maio de 2003, mais um conheci<strong>do</strong> (epremia<strong>do</strong>) jor<strong>na</strong>lista <strong>do</strong> NYT, Rick Bragg, seter demiti<strong>do</strong>, depois de suspenso discipli<strong>na</strong>rmentepor duas sema<strong>na</strong>s. A falha profissio<strong>na</strong>lapontada, no caso, foi a utilização, numareportagem, de materiais recolhi<strong>do</strong>s no terrenopor um colabora<strong>do</strong>r freelancer <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l,e não directamente por Bragg, sem quetal circunstância (e desig<strong>na</strong>damente a assi<strong>na</strong>tura<strong>do</strong> colabora<strong>do</strong>r, sob a forma de coautoria)tenha si<strong>do</strong> dada a conhecer aosleitores. Algo, disse mais tarde Rick Bragg,que era prática corrente no NYT 16 , e que sófora questio<strong>na</strong>da agora porque haveria umexcesso de zelo para ‘limpar a face’ da casae um clima de “caça às bruxas” <strong>na</strong> esteira<strong>do</strong> escândalo Jayson Blair (ironizava-se atécom o nome deste, aludin<strong>do</strong> a uma espéciede “Blair Witch Hunt Project”...).Howell Raines e Gerald Boyd, respectivamentedirector editorial e director adjunto,acabam por ter de resig<strong>na</strong>r. A demissão,apresentada em 5 de Junho, é logo aceite peloproprietário <strong>do</strong> NYT, ele que, menos de ummês antes, tinha garanti<strong>do</strong> que não aceitariatais demissões, pois não desejava “demonizar”quem quer que fosse. A medida parece ter si<strong>do</strong>generalizadamente bem aceite no interior <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l, embora houvesse também quem seperguntasse, aqui e ali, se não se estaria”“afazer <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas bodes expiatórios de umsistema disfuncio<strong>na</strong>l” 17 . O ponto mais significativoera, afi<strong>na</strong>l, a confirmação, já antesvislumbrada, de que estas saídas “tiverammenos a ver com os desastres de Blair e Bragg<strong>do</strong> que com o consertar uma redacção quepara muitos tinha perdi<strong>do</strong> moral desde queRaines e Boyd assumiram funções” e ondese multiplicavam” queixas sobre o funcio<strong>na</strong>mentoautocrático <strong>do</strong> director” 18 .Entretanto, uma comissão de 20 peritose nomes prestigia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, quer dedentro quer de fora <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, começou atrabalhar para tentar perceber melhor tu<strong>do</strong> oque correra mal com Jayson Blair, tu<strong>do</strong> oque corria mal num jor<strong>na</strong>l que permitia essas‘aberrações’ e tu<strong>do</strong> o que seria preciso alterarpara, no essencial, recuperar uma credibilidadeque se sentia tinha si<strong>do</strong> fortementeabalada. A decisão de fazer esta vastaauditoria inter<strong>na</strong> era justificada com grandeclareza e senti<strong>do</strong> auto-crítico <strong>na</strong>s própriaspági<strong>na</strong>s <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l:“Uma série de êxitos bastante espectacularespode ter-nos tor<strong>na</strong><strong>do</strong> demasia<strong>do</strong>auto-convenci<strong>do</strong>s, demasia<strong>do</strong>seguros de que o futuro traria simplesmentemais <strong>do</strong> mesmo. Agoraestamos a reexami<strong>na</strong>r algumas dasnossas regras e estruturas inter<strong>na</strong>s”. 19A comissão de peritos - chamada “SiegalComitee”, a partir <strong>do</strong> nome de Allan M.Siegal, antigo editor <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l -, haveria deapresentar o seu relatório fi<strong>na</strong>l logo em Julhode 2003, com uma série de sugestões querapidamente foram aceites pelos responsáveis<strong>do</strong> NYT: a nomeação, até aí sempre recusada,de um Prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Leitor (“public editor”)- que assumiu funções em Dezembro de 2003-, a nomeação de <strong>do</strong>is novos editores paratratar quer da vigilância pelo respeito dasregras e procedimentos internos”(“standardseditor”), quer <strong>do</strong> recrutamento e formaçãode novos jor<strong>na</strong>listas (“staffing and careerdevelopment editor”), a revisão epormenorização de algumas das normas <strong>do</strong>Livro de Estilo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, nomeadamente asque procuram restringir ao máximo o recursoa fontes não identificadas e as que obrigama um respeito escrupuloso da transcriçãode citações em discurso directo, quan<strong>do</strong>apresentadas entre aspas.Ultrapassada a tentação inicial de sacrificarape<strong>na</strong>s o responsável individual por umconjunto de anormalidades e seguir em frente,admitida a suposição de que ele era, aomenos em parte, produto e sintoma deproblemas mais vastos no conjunto da redacção,o jor<strong>na</strong>l americano acabou por irbastante mais fun<strong>do</strong> <strong>na</strong> tentativa de recuperara sua credibilidade. Não se ficou pelo‘expurgar’ de um jor<strong>na</strong>lista funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> demo<strong>do</strong> supostamente margi<strong>na</strong>l ao sistema eà cultura <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l; questionou esse própriosistema, essa própria cultura, no pressupostode que, independentemente <strong>do</strong> la<strong>do</strong>aberrante ou até sociopata de Jayson Blair,uma conduta individual escandalosa encontrarano NYT <strong>do</strong> tempo um terreno bastantepropício onde germi<strong>na</strong>r e progredir comaparente impunidade, quan<strong>do</strong> não comaplausos e promoções. Ou seja: o mesmo‘cal<strong>do</strong>’ que permitira um Jayson Blair podia,a manter-se, permitir ou favorecer outros,maiores ou mais pequenos.


JORNALISMO65As principais controvérsiasDa história aqui evocada emergiram, aolongo de sema<strong>na</strong>s, diversas controvérsiasimportantes, ten<strong>do</strong> em vista a compreensão<strong>do</strong> que se passara e a necessidade, por muitospressentida (dentro e fora <strong>do</strong> NYT), de tiraralgumas lições para o futuro. Assistiu-se,assim, a uma progressão de argumentos, numalógica quase de círculos concêntricos, quenum primeiro círculo responsabilizava essencialmenteo jovem Blair (sem esquecer acircunstância de ser negro), num segun<strong>do</strong>círculo alargava as culpas a uma cultura ea um sistema específico (o <strong>do</strong> NYT) cujofuncio<strong>na</strong>mento levantava sérias reservas, enum terceiro círculo inscrevia esse sistemanum outro, mais vasto, o <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>smedia (e <strong>do</strong>s media mercantiliza<strong>do</strong>s), ondeseriam detectáveis algumas razões de fun<strong>do</strong>para a explicação destes escândalosjor<strong>na</strong>lísticos 20 . Atentemos nesses três níveisde responsabilização.O jovem jor<strong>na</strong>lista negroAs características de perso<strong>na</strong>lidade deJayson Blair, visíveis desde os tempos emque estudara jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong> Universidade deMaryland, foram frequentemente invocadaspara explicar a sua longa história de mentirasno NYT: distúrbios psicológicos, tendênciasmaníaco-depressivas - que obrigaram, juntamentecom alguma dependência de álcool edrogas, a tratamentos médicos -, ambição,desejo de sucesso nos “big-time media”,vontade de se destacar 21 . Para além disso,debateu-se, por vezes com algum excesso,a questão de saber se ele tinha si<strong>do</strong> trata<strong>do</strong>com maior condescendência (ou até se tinhati<strong>do</strong> tão rápida entrada nos quadrosredactoriais <strong>do</strong> prestigia<strong>do</strong> NYT) pelo factode ser negro. Convirá recordar que tu<strong>do</strong> istose passou numa altura (fins <strong>do</strong>s anos 90 <strong>do</strong>século passa<strong>do</strong>) em que o tema da “diversidade”era presença constante e ‘politicamentecorrecta’ no discurso <strong>do</strong>sgrandes’media americanos, defenden<strong>do</strong>-seuma atitude de “discrimi<strong>na</strong>ção positiva”(“affirmative action”) que tor<strong>na</strong>sse maispresentes as diversas minorias - mulheres,negros, hispânicos - no seio das redacções.O próprio NYT, embora sublinhan<strong>do</strong> osméritos <strong>do</strong> jovem candidato a jor<strong>na</strong>lista ea sua “notável história de trabalho”, nãodeixou de referir, no seu célebre ‘mea culpa’de 11.5.03, que Blair fora admiti<strong>do</strong> para umprimeiro estágio no’NYT, no Verão de 1998,no âmbito de “um programa de estágios queestava então a ser usa<strong>do</strong> em grande partepara ajudar o jor<strong>na</strong>l a diversificar a suaredacção”. E também Jayson Blair não secoibiu de fazer referências a essa circunstância(“Eu era um negro no NYT, algo quete prejudica tanto quanto te ajuda” 22 ), masadmitin<strong>do</strong>-se igualmente vítima de discrimi<strong>na</strong>çãonegativa: “Acho que teria si<strong>do</strong> maisdifícil entrar no Times, se fosse branco, eacho que provavelmente também não teriacaí<strong>do</strong> tão depressa” 23 . A verdade é que,como lembrou Dan Kennedy 24 , houve nosúltimos anos muitos mais escândalos comjor<strong>na</strong>listas brancos nos EUA, o que nãoadmira, uma vez que, conforme lembra, sócerca de 12 por cento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas emprega<strong>do</strong>spor redacções america<strong>na</strong>s provémde minorias e só pouco mais de cinco porcento são negros. Sucede, contu<strong>do</strong>, que noscasos com brancos nunca costuma fazer-sereferência à cor da pele.Esta linha de argumentação sobre a raçarapidamente foi contestada por diversoscomenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s media, que viam nelasobretu<strong>do</strong> uma tentativa <strong>do</strong> NYT de encontrardesculpas fáceis e rápidas para o sucedi<strong>do</strong>e, assim, ficar de bem com a suaprópria consciência: seria uma justificaçãopela excepção, sem pôr em causa a regra<strong>do</strong> funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Para além disso,surgiram receios de que, através deste casonegativo, começasse a pôr-se em causa oesforço <strong>do</strong>s media americanos por construirredacções com maior “diversidade” emtermos de minorias. Consideran<strong>do</strong> não só“falso” como “tolo” dizer que este casotinha essencialmente a ver com a raça, oProve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Leitor <strong>do</strong> Chicago Tribune, DonWycliff, acrescentava que igualmente “tola”era “a ideia de que o comportamento deBlair de algum mo<strong>do</strong> pode demonstrar ofalhanço de to<strong>do</strong>s os esforços para diversificaros ‘staffs’ das redacções da América”25 .


66 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVO interior <strong>do</strong> ‘NYT’De culpas e responsabilidades meramenteindividuais passou-se, então rapidamentepara a descoberta de eventuais culpas maisalargadas, alegadamente decorrentes <strong>do</strong> próprio‘sistema’ e mo<strong>do</strong> de funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>NYT, até porque uma das maiores interrogações<strong>do</strong> caso continuava a ser como forapossível a um jovem repórter, mesmoinvulgarmente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para a mentira, conseguirmanter aquelas práticas durante anos,e no bastião mais forte, mais exposto, supostamentetambém mais organiza<strong>do</strong>, daimprensa america<strong>na</strong>:“Blair parecia intocável não por causada raça, dizem jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> Times,mas porque se ajustava ao moldede Raines [o director] de um jovemsôfrego [‘hungry’], disponível eempreende<strong>do</strong>r [‘single go-getter’],capaz de cair de pára-quedas num sítioe produzir rapidamente uma história”.(Howard Kurtz 26 )“À respeitabilidade e à verificação dasfontes, ele [Howell Raines, o director]prefere uma política de golpes[‘coups’], postos em destaque <strong>na</strong>primeira pági<strong>na</strong>. Seleccio<strong>na</strong> umaequipa de jor<strong>na</strong>listas-vedeta, aos quaisconfia as melhores reportagens. Apesarda sua falta de experiência, Blairé um deles”. (Fabrice Rousselot 27 )“A real lição <strong>do</strong> caso Blair é que osistema <strong>do</strong> Times para lidar com origor [‘accuracy’] no seu jor<strong>na</strong>l e adiscipli<strong>na</strong> <strong>na</strong> sua redacção é muitofacilmente infringi<strong>do</strong> - se é que existesequer algum sistema. (...) Umaincontornável conclusão deste escândaloé que o Times desenvolveu umatolerância <strong>do</strong>entiamente dependente[‘addictive’] face a fontes anónimas,a cocaí<strong>na</strong> [‘crack cocaine’] <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo”.(N/A 28 )“Se a liderança <strong>do</strong> Times tiver juízo,deve reconhecer este desastreinstitucio<strong>na</strong>l em tu<strong>do</strong> o que ele é defacto e reflectir sobre a cultura queo produziu. Isso não fará ape<strong>na</strong>smudar editores; fará mudar atitudes”.(David Broder 29 )Para além das já referidas tendência parafavoritismos pessoais (com vantagem para osjor<strong>na</strong>listas mais ambiciosos, hiper-competitivos,sempre ‘em cima’ de históriascandidatas à primeira pági<strong>na</strong> 30 ) e fragilidadeda comunicação inter<strong>na</strong> (que fez, por exemplo,com que até colegas de Blair, aparentementeconhece<strong>do</strong>res de algumas situaçõesduvi<strong>do</strong>sas, não se sentissem à vontade paraavisar os editores ou os directores), o interiorda redacção <strong>do</strong> NYT e as suas roti<strong>na</strong>s defuncio<strong>na</strong>mento pareciam conter alguns ingredientespropicia<strong>do</strong>res deste tipo de condutas.Um das mais insistentemente aponta<strong>do</strong>se debati<strong>do</strong>s foi o <strong>do</strong> recurso excessivo, eraramente questio<strong>na</strong><strong>do</strong> pela hierarquia, afontes não identificadas, mesmo em matériasde importância <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que davam títulosde primeira pági<strong>na</strong>. Era <strong>na</strong> garantia deconfidencialidade que se escudava JaysonBlair para inventar ou distorcer citações comrazoável impunidade, pois nem sequer oseditores directos cuidavam muitas vezes desaber quem eram as fontes por ele consultadas31 . Este é um procedimento bastantegeneraliza<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> no jor<strong>na</strong>lismo políticoamericano (e não só…), não faltan<strong>do</strong>quem o veja em alguma medida legitima<strong>do</strong>pelo impacto histórico <strong>do</strong> “caso Watergate”,descoberto e desenvolvi<strong>do</strong> com a preciosaajuda de uma até hoje anónima “GargantaFunda”. Embora, <strong>na</strong> generalidade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is,os responsáveis editoriais tendam aconcordar em que este recurso deve ser usa<strong>do</strong>com parcimónia e prudência, ele entranhousede tal mo<strong>do</strong> nos hábitos de quem faz equem cobre a actividade política (com ganhospara ambas as partes e sempre com oargumento fi<strong>na</strong>l de que ‘se eu não faço, omeu concorrente faz e fica em vantagem’),que as práticas raramente se adequam às<strong>do</strong>utri<strong>na</strong>s 32 . Não foi certamente por acaso queuma das consequências mais imediatas <strong>do</strong>“caso Blair” se traduziu <strong>na</strong> revisão muitopormenorizada, em diversos jor<strong>na</strong>is para além<strong>do</strong> NYT (um deles foi o competi<strong>do</strong>r directoWashington Post) das circunstâncias em quepodem utilizar-se fontes não identificadas. Euma das novas normas a<strong>do</strong>ptadas foi a de


JORNALISMO67que, sen<strong>do</strong> necessário ocultar o nome de umafonte de informação num texto publica<strong>do</strong>, eledeve, em to<strong>do</strong> o caso, ser revela<strong>do</strong> ao editorresponsável (com o <strong>na</strong>tural dever solidáriode sigilo, que obriga não só o jor<strong>na</strong>lista, maso jor<strong>na</strong>l).Esta foi, afi<strong>na</strong>l, uma das medidas tendentesa aperfeiçoar e a reforçar os mecanismosde controlo e de “accountability”- deresponsabilização, de prestação de contas -no interior <strong>do</strong> NYT, pois se concluiu que eleseram poucos e frágeis, a ponto de permitiremos abusos continua<strong>do</strong>s de Jayson Blairsem grandes sobressaltos. Este reduzi<strong>do</strong>controlo das matérias a serem publicadas éem parte compreensível para omeio em questão 33 , mas em parte tambémpouco desculpável no caso vertente,atenden<strong>do</strong> aos ‘rastos’ que Blair foi deixan<strong>do</strong>e às estranhas coincidências que o envolviam(por que motivo os outros medianão pegavam em algumas das ‘cachas’ divulga<strong>do</strong>spelo repórter?...). Como sintetizavaRem Rieder,“Não há maneira de impedirmospessoas sem escrúpulos de fazeremcoisas más. Mas tem de haver umamaneira de as apanhar mais rapidamente– particularmente quan<strong>do</strong> deixamtantas pistas”. 34Mas não só para dentro de portas se sentiaa falta de “accountability”. A ausência deinstrumentos facilita<strong>do</strong>res da”comunicação<strong>do</strong>s leitores com o jor<strong>na</strong>l (de que foi exemplomuito comenta<strong>do</strong> a inexistência de umProve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Leitor, sempre recusa<strong>do</strong>, até àdata, pelos responsáveis <strong>do</strong> NYT) terá ajuda<strong>do</strong>a explicar uma das maiores perplexidadesdeste caso: por que motivo as pessoasenvolvidas <strong>na</strong>s invenções, distorções ouplágios saí<strong>do</strong>s da caneta de Blair nunca, ouquase nunca, se queixaram ao NYT ? Ficoua ideia de que elas estarão já acostumadasa tais práticas jor<strong>na</strong>lísticas e a olhá-las como“procedimentos normais”- o que é grave -, ou, então, que não acreditam que algumainiciativa nesse <strong>do</strong>mínio possa ser bem recebidae produzir algum efeito concreto nojor<strong>na</strong>l - o que não é menos grave 35 .O contexto envolventeNum terceiro, e mais alarga<strong>do</strong>, nível dereflexão sobre as potenciais origens e razõesdeste tão notório desvio às regras básicas <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo por parte de um jovem repórteraparentemente talentoso e bem forma<strong>do</strong> numaescola da especialidade, diversos a<strong>na</strong>listas eestudiosos chamaram a atenção para o contextomais vasto em que estas práticas individuais(de Jayson Blair) e colectivas (<strong>do</strong>NYT) se inseriam, e de onde em algumamedida decorriam. Sem querer desculpabilizara pessoa concreta que tantas fraudes cometera(como comentava o director <strong>do</strong> TheDenver Post, Greg Moore, “pode parecerassusta<strong>do</strong>r, mas toda esta actividade é baseada<strong>na</strong> confiança” 36 ) ou o jor<strong>na</strong>l concretoonde elas puderam acontecer tãocontinuadamente (como dizia David Broder,“o peca<strong>do</strong> mais fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo <strong>do</strong>sgrandes meios é a arrogância, a crença <strong>na</strong>nossa omnisciência, a crença de que sabemostanto que não precisamos de ouvir asvozes críticas”, e “o Times enquanto instituiçãoé quem lidera o grupo no que tocaà arrogância” 37 ), o episódio chamou a atençãopara algumas tendências mais recentesda indústria mediática, bem como das suasenvolventes económico-empresarial etecnológica, que podem propiciar este tipode comportamentos pouco profissio<strong>na</strong>is e<strong>na</strong>da éticos.“Segun<strong>do</strong> diversos a<strong>na</strong>listas, o escândaloBlair é sintomático de uma erosãogeneralizada <strong>na</strong> ética <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoque começou há cerca de 15 anos,quan<strong>do</strong> a difusão <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is começoua descer rapidamente. Os jor<strong>na</strong>is,ven<strong>do</strong> os seus leitores suga<strong>do</strong>s pelatelevisão, começaram a pedir históriasmais coloridas e envolventes”.(Alexandra Marks 38 )“Quanto àquilo que está mal genericamenteno jor<strong>na</strong>lismo americano,precisamos de uma nova definição desucesso (…) Blair operava sob o cre<strong>do</strong>(auto-imposto ou não) de que, paraconseguir subir numa profissão e numnegócio que cada vez mais mede assuas vitórias pela celebridade e não


68 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpela substância, uma pessoa tem queganhar grande (‘win big’) e ganharmuitas vezes. É uma mentalidade quecresceu nos últimos 20 anos”. (EdGoodpaster 39 )“O fosso entre ideais professa<strong>do</strong>s epráticas encorajadas é precisamenteaquilo que um sociopata explora.Essas perso<strong>na</strong>lidades são especialmentecapazes de retirar vantagem dafraqueza e da vaidade de organizaçõese de indivíduos, de saber quem precisade ser bajula<strong>do</strong> e de que mo<strong>do</strong>,e que caminhos podem ser atalha<strong>do</strong>scom segurança. Eles reconhecem opoder de um segre<strong>do</strong> bem guarda<strong>do</strong>:a cultura <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo professa lealdadeà verdade, minúcia, contextoe sobriedade, mas de facto recompensaa proeminência, a ‘cacha’, o destacar-seda multidão e a <strong>na</strong>rrativacapaz de fasci<strong>na</strong>r. Os sociopatasacreditam que só estão a dar aos seussuperiores aquilo que é secretamentedeseja<strong>do</strong>. (…) O número de jor<strong>na</strong>listasassim arrisca-se a ir aumentan<strong>do</strong>no mun<strong>do</strong> que estamos a criar. (…)Os sociopatas, em toda a sua anormalidade,dão-nos novamente liçõessobre os mistérios mais recônditos <strong>do</strong>normal”. (James Carey 40 )Foi certamente por estes motivosenquadra<strong>do</strong>res que o caso de Jayson Blairacabou por adquirir uma dimensão bemsuperior a ele próprio ou ao seu jor<strong>na</strong>l,apontan<strong>do</strong> pistas de reflexão para o jor<strong>na</strong>lismoque se faz hoje, desig<strong>na</strong>damente <strong>na</strong>imprensa, e até nos órgãos de comunicação- os chama<strong>do</strong>s “de referência” - que noshabituáramos a ver, apesar de tu<strong>do</strong>, comvontade de resistir aos apelos fortes dainformação-espectáculo, da facilidade, daligeireza ou <strong>do</strong> nivelamento ‘por baixo’ noque toca à tentativa de captação de audiências.Estas pressões sentem-se <strong>na</strong>s empresas demedia e particularmente <strong>na</strong>s redacções, ondeos constrangimentos económicos e a escassezprogressiva (aliada à precariedade crescente)de emprego aumentam a competição,impõem ritmos de produção dificilmentecompagináveis com o rigor ou o aprofundamentorazoável das matérias e fragilizam acapacidade de resistência a solicitações detrabalho eticamente duvi<strong>do</strong>sas. É tambémnum ‘cal<strong>do</strong>’ destes que podem surgir e medrar- por vezes com o incentivo das própriaschefias - comportamentos <strong>do</strong> tipo <strong>do</strong> deJayson Blair:“No hiper-competitivo mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>smedia mais importantes, a tentação defazer batota foi obviamente maior <strong>do</strong>que aquilo que Blair podia aguentar.“Ele parecia estar a fazer o trabalhode três pessoas - três talentosaspessoas - e ganhava o respeito egratidão <strong>do</strong>s seus directores. Comopoderia ele parar?…” (Dan Kennedy 41 )Mas o problema não está ape<strong>na</strong>s nointerior das redacções, ou até <strong>na</strong>s escolas quepreparam futuros jor<strong>na</strong>listas - e que, <strong>na</strong>sequência deste caso, começaram um poucopor toda a América a perguntar-se se estarãoa dar aos jovens a formação ética adequada,e necessária, para a imersão neste merca<strong>do</strong>tão tenta<strong>do</strong>r como exigente. O contextoenvolvente aqui referi<strong>do</strong> sugere também umaerosão acentuada <strong>na</strong> relação entre as pessoase os media, bem como <strong>na</strong>s representaçõesque hoje têm <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo em geral,e <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas em particular. A impressãofrequente de que “não vale a pe<strong>na</strong>queixarmo-nos aos jor<strong>na</strong>is” porque “to<strong>do</strong>sfazem isso”, ou a aceitação passiva de grandesou peque<strong>na</strong>s ‘ficções’ a temperar os‘factos’ como algo normal no trabalho dejor<strong>na</strong>is e televisões, é um sintoma que vaicorroen<strong>do</strong> uma relação que devia ser deconfiança - e que tem efeitos profun<strong>do</strong>s nocontexto de uma sociedade democrática,como eloquentemente explicou Richard C.Wald:“Então o caso de Jayson Blair estáempola<strong>do</strong>, certo? Erra<strong>do</strong>. Ele fere oTimes, o que é uma vergonha; ele fereo jor<strong>na</strong>lismo, embora nós sobrevivamosa isso; mas ele fere a sociedadede mo<strong>do</strong>s que normalmente não sãomuito considera<strong>do</strong>s (…)”.“Se uma série de gente desistiu, ounão conseguiu queixar-se de uma


JORNALISMO69instituição tão proeminente como oNYT, se as pessoas não se queixamacerca de uma miríade de outras coisasque estão erradas, então a separaçãoentre a imprensa e as pessoas já vaisuficientemente longe e fun<strong>do</strong> para setor<strong>na</strong>r perigosa para to<strong>do</strong>s nós (…)”.“Quan<strong>do</strong> a informação se tor<strong>na</strong> passageirae não valiosa, quan<strong>do</strong> já nãointeressa quem a traz até ti ‘porqueeles são to<strong>do</strong>s iguais’, a sociedadecivil tem um problema. (…) A nossasociedade é baseada <strong>na</strong> informação,simultaneamente aceite como verdadeirae importante de se ter. Se nóspensamos que não é verdadeira e quenão vale a pe<strong>na</strong> queixarmo-nos disso,então temos um problema muito maior<strong>do</strong> que o Sr. Blair ou o New YorkTimes” 42 .Vale a pe<strong>na</strong> sublinhar, apesar de tu<strong>do</strong>, queeste caso parece ter espevita<strong>do</strong> um pouco osleitores de jor<strong>na</strong>is (também graças à capacidadede iniciativa que estes fi<strong>na</strong>lmentemostraram, abrin<strong>do</strong> ca<strong>na</strong>is de comunicaçõesmais ágeis com os seus públicos, solicitan<strong>do</strong>expressamente o envio de queixas ou críticase fazen<strong>do</strong> eco delas com uma receptividadenem sempre verificada no passa<strong>do</strong>), sugerin<strong>do</strong>que todas as partes podem ter tira<strong>do</strong> alguns<strong>do</strong>s ensi<strong>na</strong>mentos <strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong>. Um deles éo que foi posto em evidência pela directorade um pequeno diário americano, JeannineGuttman, ao sustentar que “os leitores sãoo supremo posto de controlo da qualidade<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is” 43 . O controlo, afi<strong>na</strong>l, que nãofuncionou no NYT.No fun<strong>do</strong>, era tu<strong>do</strong> mais fácil se pudéssemosresumir o episódio de Jayson Blair aum desvio patológico, a um comportamentoaberrante e exterior ao sistema, a uma anormalidadeindividual rapidamente identificável,isolável e expurgável. Do que em diversosmeios profisso<strong>na</strong>is e académicos sefoi reflectin<strong>do</strong> e debaten<strong>do</strong> sobressai, contu<strong>do</strong>,a ideia bastante clara de que o casofoi muito para além disso - <strong>na</strong> dimensão, noimpacto e <strong>na</strong>s consequências -, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong>encara<strong>do</strong> (e trabalha<strong>do</strong>) como si<strong>na</strong>l particularmenterevela<strong>do</strong>r de um tempo e de ummo<strong>do</strong> que suscitam tantas interrogações comoapreensões. Como dizia James Carey no textoacima referi<strong>do</strong> 44 , foi mais uma vez umsociopata a dar-nos, com todas as suasanormalidades, ensi<strong>na</strong>mentos importantesquanto às teias que vamos tecen<strong>do</strong> sob a capa<strong>do</strong> normal.


70 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV_______________________________1Este trabalho inscreve-se no projecto deinvestigação “MEDIASCÓPIO - Estu<strong>do</strong> sobre areconfiguração <strong>do</strong> campo da comunicação e <strong>do</strong>smedia em Portugal”, em curso no Centro deEstu<strong>do</strong>s de Comunicação e Sociedade, <strong>do</strong> Institutode Ciências Sociais da Universidade <strong>do</strong>Minho, e fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong> pela Fundação para a Ciênciae Tecnologia (FCT), através <strong>do</strong> Programa Sapiens.2Universidade <strong>do</strong> Minho3Kelly McBride, “What’s fit to print”, inPoynter Ethics Jour<strong>na</strong>l – PoynterOnline, 11.5.03.–4Douglas C. Clifton, cit. por Joe Strupp,“Lessons from the Blair affair”, in Editor &Publisher, ed. de 9.6.03.5Robert Leger, presidente da Society ofProfessio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>lists (EUA), cit. por MarkFitzgerald, “Blair fallout impacts newspapersacross U.S”, in Editor & Publisher, ed. de 20.5.03.6Cit. em “Correcting the record - Timesreporter who resigned leaves long trail ofdeception”, N/A, in The New York Times, ed. de11.5.03.7Ibidem.8A referência à cor de pele <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista ésignificativa para a compreensão global da história,pois, como adiante se verá, foi um <strong>do</strong>selementos mais presentes <strong>na</strong>s polémicas entãogeradas.9N/A, “Correcting the record – Times reporterwho resigned leaves long trail of deception”, inNew York Times, ed. de 11.5.03.10Tim Rutten, “A sweeping jour<strong>na</strong>listic meaculpa”, in Los Angeles Times, ed. de 12.5.03.11Alberto Dines, “Fim da caixa preta, controlesocial: avanço republicano”, in Observatórioda Imprensa, 27.5.03.12Mandy Grunwald, “Jour<strong>na</strong>lists used tojudging, not to being judged”, in AmericanJour<strong>na</strong>lism Review – AJR.Com, ed. especial, Junhode 2003.13James Carey, “Mirror of the Times”, in TheNation, ed. de 29.5.03.14O próprio NYT o admitiu, no extenso “meaculpa” da edição de 11.5.03: “Algo falhou claramente<strong>na</strong> redacção <strong>do</strong> Times. Parece ter si<strong>do</strong>a comunicação – ela que é o próprio objectivo<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l”.15Mark Glaser, num texto publica<strong>do</strong> <strong>na</strong> OnlineJour<strong>na</strong>lism Review (“For bloggers, NYT story wasfit to print” - 10.6.03), chega a sugerir que aagitação provocada por esta história nos meiosda Net significou para o “site Romenesko” – umconheci<strong>do</strong> “weblog” de comentário e crítica <strong>do</strong>s“media”–, em termos de promoção,–“o que aprimeira Guerra <strong>do</strong> Golfo Pérsico significou paraa CNN”.”16“Há ali [no NYT] uma grande diferençaentre a política de assi<strong>na</strong>turas e a prática deassi<strong>na</strong>turas”, disse Rick Bragg, cit. por TaraBurghart, “New York Times reporter Braggresigns”, in Associated Press Online, 29.5.03.17Estas são palavras de Errol Cockfield,presidente da Associação Nova-Iorqui<strong>na</strong> de Jor<strong>na</strong>listasNegros, que acrescentou: “Há muitosjor<strong>na</strong>listas negros que se interrogam sobre se, numesforço para restaurar a credibilidade, o NYT nãoterá i<strong>do</strong> longe demais” (Errol Cockfield, cita<strong>do</strong>por Jacques Steinberg, “Times’s two top editorsresign after furor in writer’s fraud”, in The NewYork Times, ed. de 6.6.03). Convém recordar, deresto, que o editor-adjunto Stephen Boyd, agorademiti<strong>do</strong>, era o primeiro negro, em toda a história<strong>do</strong> NYT, num cargo de tão alta responsabilidade.18Joe Strupp, “Lessons from the Blair affair”,in Editor & Publisher, ed. de 9.6.03.19N/A, “Leadership at the Times” (Editorial),in The New York Times, ed. de 6.6.03.20E convirá notar que o “caso Blair” não éúnico, pois situações igualmente graves foramencontradas, <strong>na</strong> última vinte<strong>na</strong> de anos, nos maisimportantes jor<strong>na</strong>is americanos: The WashingtonPost / “caso Janet Cooke” (1980), The Wall StreetJour<strong>na</strong>l / “caso R. Foster Wi<strong>na</strong>ns”, Los AngelesTimes / “caso Staples Center” (1999), USA Today/“caso Jack Kelley” - o mais recente, ocorri<strong>do</strong>já em 2004 -, The Boston Globe / “caso P. Smith& M. Barnicle” (1998), New Republic / “casoStephen Glass” (1998) - deste último, aliás, sefez o filme “Shattered Glass”, cuja estreia emPortugal ocorreu em Abril de 2004. No casoportuguês, a memória recente (Janeiro/Fevereirode 2003) traz-nos a ce<strong>na</strong> o caso de plágioprotagoniza<strong>do</strong> por Clara Pinto Correia <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>sda revista “Visão”.21Como ironiza Aileen Jacobson (“Strugglesfor an“‘idealistic liar’”, in Newsday.Com, 15.3.04),essa tendência levou-o mesmo a decidir acrescentarum “y” ao seu mais ba<strong>na</strong>l nome origi<strong>na</strong>l -Jason.22Jayson Blair em entrevista a Sridhar Pappu,“’So Jayson Blair could live, the jour<strong>na</strong>list hadto die’”, in New York Observer, ed. de 26.5.03.23Jayson Blair em entrevista a Brian Braiker,“The Blair Witch Project”, in Newsweek, ed. de11.3.04.24Dan Kennedy, “News at the brink”, inBoston Phoenix, ed. de 23-29.5.03.25Don Wycliff, “The disciplines ofjour<strong>na</strong>lism”, in Chicago Tribune, ed. de 15.5.03.26Howard Kurtz, “After Jayson Blair, a diversearray of questions”, in Washington Post, ed. de19.5.03.27Fabrice Rousselot, “Le New York Times perdses huiles”, in Libération, ed. de 6.6.03.28N/A, “The Times addiction to anonymoussources”, in Editor & Publisher, ed. de 22.5.03.


JORNALISMO7129David Broder, “The perils of arrogance”,in Washington Post, ed. de 11.6.03.30Não é certamente por acaso que algumasdas “fabricações” mais comentadas de Blair surgiramquan<strong>do</strong> ele cobria temas “emocio<strong>na</strong>lmentefortes <strong>na</strong> história recente” <strong>do</strong>s EUA (como selhes referiu o próprio NYT em 11.5.03), fossemeles o 11 de Setembro, o caso <strong>do</strong> “sniper” assassinonos subúrbios de Washington ou as históriasdas famílias de solda<strong>do</strong>s envia<strong>do</strong>s para aguerra no Iraque. Histórias cheias de impacto eemoção, títulos fortes, temas de grande expectativapública, tor<strong>na</strong>vam ainda mais permeável ojá de si pouco rigoroso”‘crivo’ da hierarquia <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l.31E o facto de Jayson Blair chegar frequentementeà redacção com citações “too good tobe true” não só não levantava suspeitas,estranhamente, como até parecia satisfazer osdirectores, sempre ávi<strong>do</strong>s de títulos fortes,apelativos, e de manchetes com grande impacto...32Dizia a ex-prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> leitor <strong>do</strong> WashingtonPost, Geneva Overholser (cit. por Joe Strupp,“Hard times: jour<strong>na</strong>lism’s credibility problem”, inEditor & Publisher, ed. de 11.6.03): “Já fomosalém de to<strong>do</strong>s os códigos por que nos regíamos:até permitimos a fontes anónimas que dêemopinião…”.33Como escreveu Elizabeth Colbert (“Tumultin the newsroom”, in New Yorker de 30.6.03),“o Times não supervisio<strong>na</strong> os seus repórteres -é da<strong>do</strong> por adquiri<strong>do</strong> que eles tratam bem ascoisas”. E mais adiante:”“O jor<strong>na</strong>lismo diário, por uma série de razõespráticas, depende desta espécie de confiança.(...)O problema, no caso de Blair, é que o Times torceuas suas regras para o manter no trabalho - umaindulgência que, pela sua própria lógica, estavadesti<strong>na</strong>da a acabar mal”.34Rem Rieder, “The Jayson Blair affair”, inAmerican Jour<strong>na</strong>lism Review, ed.”Junho 2003.35Aquan<strong>do</strong> deste caso, foi muito referida umasondagem de 2002 <strong>do</strong> Pew Research Center (citadano jor<strong>na</strong>l PÚBLICO, ed. de 19.5.03) que apuraraque 56 por cento <strong>do</strong>s americanos considerava queos “media” cometem “erros frequentemente” e67 por cento achava que os jor<strong>na</strong>listas “procuramencobrir esses erros”. Uma outra sondagem, estade 2003 e da autoria da Gallup (citada no jor<strong>na</strong>lPÚBLICO, ed. de 1.6.03), reforçava esta tendência:62 por cento <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s era de opiniãoque as notícias <strong>do</strong>s “media” são frequentementeinexactas”- o valor mais baixo desde 1985.36Greg Moore, cit. por Joe Strupp, “Boyd sayssome at NY-Times are scared”, in Editor &Publisher, ed. de 13.5.03.37David Broder, “The perils of arrogance”,in Washington Post, ed. de 11.6.03.38Alexandra Marks, “New York Timesresig<strong>na</strong>tions sig<strong>na</strong>l industry turmoil”, in ChristianScience Monitor, ed. de 6.6.03.39Ed Goodpaster, “Jour<strong>na</strong>lism’s weakest link”,in Christian Science Monitor, ed. 27.5.03.40James Carey, “Mirror of the Times”, in TheNation, ed. de 29.5.03.41Dan Kennedy, “News at the brink”, inBoston Phoenix, ed. de 23-29.5.03.42Richard C. Wald, “How to worry about theBlair affair”, in Columbia jour<strong>na</strong>lism Review,edição nº 4 - Julho/Agosto 2003.43Jeannine Guttman, citada por MarkJurkowitz, “Since the Jayson Blair scandal, morereaders are becoming watch<strong>do</strong>gs”, in The BostonGlobe, ed. de 11.6.03.44Ver nota 38.


72 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO73Uma Teoria Multifactorial da NotíciaJorge Pedro Sousa 11. IntroduçãoÀ semelhança das ciências exactas e<strong>na</strong>turais, as ciências huma<strong>na</strong>s e sociais devemprocurar agregar os da<strong>do</strong>s dispersos forneci<strong>do</strong>spela pesquisa em teorias integra<strong>do</strong>rassusceptíveis de explicar determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s fenómenoscom base em leis gerais predictivas,mesmo que probabilísticas. As ciências dacomunicação devem, assim, ultrapassar a suacondição de “discipli<strong>na</strong>s sérias”, como lheschamou Debray 2 , para assumir a suacientificidade, como pretendia Moles (1972).Isto implica avançar para a enunciação deteorias sempre que os pesquisa<strong>do</strong>res consideremque existem da<strong>do</strong>s científicos e evidênciasuficientes. No campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,essa opção tem si<strong>do</strong> seguida por pesquisa<strong>do</strong>rescomo Shomaker e Reese (1992), Sousa(2000; 2002) e mesmo Schudson (1988),contan<strong>do</strong>, porém, com a oposição de autorescomo Traqui<strong>na</strong> (2002) ou Viseu (2003).1.1 Tendência “divisionista” para a explicaçãodas notíciasHá autores que consideram que as explicaçõesque têm si<strong>do</strong> avançadas para explicaros formatos e conteú<strong>do</strong>s das notíciassão insuficientes para se edificar uma teoria<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e por vezes são tambémantagónicas e contraditórias. O maisreferencia<strong>do</strong> defensor lusófono desta tese é,provavelmente, Nelson Traqui<strong>na</strong> (2001;2002). Para Traqui<strong>na</strong> (2002: 73-129) há aconsiderar várias “teorias”: <strong>do</strong> espelho; daacção pessoal ou <strong>do</strong> gatekeeper; organizacio<strong>na</strong>l;acção política; estruturalista;construcionista; e interaccionista. As diferentes“teorias” expostas por Traqui<strong>na</strong>, contu<strong>do</strong>,não têm fronteiras muito bem definidas. Háentre elas pontos de contacto, explicaçõescomuns. Por exemplo, as roti<strong>na</strong>s são relevadasem várias delas. Usan<strong>do</strong> os mesmosda<strong>do</strong>s de Traqui<strong>na</strong>, é possível tecer uma teiaexplicativa global para as notícias - é umaquestão de sistematizar esses da<strong>do</strong>s. Este éum <strong>do</strong>s principais argumentos que sustentaas teses “unionistas”.1.2 Tendência “unionista” para a explicaçãodas notíciasEm 1988, Michael Schudson escreveu queas teorias unidimensio<strong>na</strong>is não conseguemexplicar as notícias. “As explicações para asnotícias serem o que são só terão interessese pressupomos que não é óbvio as notíciasserem o que são. Se estivermos convenci<strong>do</strong>sde que as notícias ape<strong>na</strong>s espelham o mun<strong>do</strong>exterior ou que simplesmente imprimem ospontos de vista da classe <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, nessecaso não é necessário mais nenhuma explicação.”(Schudson, 1988: 17) Por isso, paracompreender as notícias, segun<strong>do</strong> Schudson(1988), há que conciliar várias explicações.Isoladas, essas explicações são insuficientespara explicar as notícias que temos e por queelas são como são, mas em conjunto revelamto<strong>do</strong> o seu poder explicativo:a) Acção pessoal – As notícias são umproduto das pessoas e das suas intenções.b) Acção social – As notícias são umproduto das organizações noticiosas, da suaforma de se adaptarem ao meio e <strong>do</strong>s seusconstrangimentos, independentemente dasintenções pessoais <strong>do</strong>s intervenientes no processojor<strong>na</strong>lístico de produção de informação.c) Acção cultural – As notícias são umproduto da cultura e <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> concebívelque uma cultura impõe, independentementedas intenções pessoais e <strong>do</strong>s constrangimentosorganizacio<strong>na</strong>is.Ao reconhecer as insuficiências dasexplicações unidimensio<strong>na</strong>is e ao cruzar essasexplicações para explicar por que é que asnotícias são como são, Michael Schudson dápistas para se alicerçar uma teoria unificada<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, no que diz respeito ao processode produção de informação.


74 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPor seu turno, ao estudar o processo de–gatekeeping no jor<strong>na</strong>lismo, PamelaShoemaker (1991), baseada nos resulta<strong>do</strong>s depesquisas anteriores, deu conta da existênciade diversos factores que influenciam esseprocesso. Esses factores foram agrega<strong>do</strong>s pelaautora em quatro níveis de influência:a) A um nível individual, o processo degatekeeping é influencia<strong>do</strong> por modelos depensamento, pela heurística cognitiva, porvalores e características pessoais, pela concepçãoque os intervenientes no processo têm<strong>do</strong> seu papel social, etc.b) Entre o nível individual e um terceironível, o processo é influencia<strong>do</strong> pelas roti<strong>na</strong>sprodutivas;c) A um nível organizacio<strong>na</strong>l, o processode selecção e produção de informação éconstrangi<strong>do</strong> pelas característicasorganizacio<strong>na</strong>is (recursos, hierarquias, etc.),pelos processos organizacio<strong>na</strong>is de socialização<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas e pelas dinâmicaspróprias que a organização noticiosa estabelececom o meio;d) A um nível social, institucio<strong>na</strong>l, extraorganizacio<strong>na</strong>l,o processo de gatekeeping éinfluencia<strong>do</strong> pelas fontes de informação, pelasaudiências, pelos merca<strong>do</strong>s, pelas entidadespublicitárias, pelos poderes políticos, judiciais,etc., pelos lóbis, pelos serviços de relaçõespúblicas, por outros meiosjor<strong>na</strong>lísticos, etc.Resumin<strong>do</strong>, ao explicar o processo degatekeeping Pamela Shoemaker montou asbases para a edificação de uma teoriaunificada capaz de explicar o processojor<strong>na</strong>lístico de produção de informação, combase <strong>na</strong> interacção de diferentes forças. Maistarde, Pamela Shoemaker e Stephen Reese(1991; 1996) voltaram a essa temática, ten<strong>do</strong>complementa<strong>do</strong> e aprofunda<strong>do</strong> a explicaçãoinicial de Shoemaker. Do trabalho de 1996,publica<strong>do</strong> sob a forma de livro (Mediatingthe Message - Theories of Influences on MassMedia Content), resultou a construção de umateoria unificada <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s noticiosos,ligada, ademais, aos efeitos desses conteú<strong>do</strong>s.Tal como no livro Gatekeeping (1991),de Shoemaker, os autores de Mediating theMessage estruturam a sua teoria da notíciaem vários níveis de influência: a) influências<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s media; b) influênciasdas roti<strong>na</strong>s produtivas; c) influênciasorganizacio<strong>na</strong>is; d) influências <strong>do</strong> meioexterno às organizações noticiosas; e e)Influências ideológicas.Conforme é notório, em relação ao trabalhode Shoemaker de 1991 os autoresreconhecem a importância da ideologia comoum factor capaz de influenciar o conteú<strong>do</strong>das notícias. Agregan<strong>do</strong> as ideias deShoemaker e Reese às de Schudson, e ten<strong>do</strong>em conta as perspectivas “divisionistas” deTraqui<strong>na</strong> (2001; 2002), é possível perceberque numa coisa os estudiosos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoestão de acor<strong>do</strong>: os resulta<strong>do</strong>s das pesquisascolocam em evidência que factores de <strong>na</strong>turezapessoal, social (organizacio<strong>na</strong>l e extra-organizacio<strong>na</strong>l),ideológica e culturalenformam e constrangem as notícias. Umateoria unificada <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo tem de partirdesse património comum de conhecimentocientífico sobre jor<strong>na</strong>lismo.1.3 Circulação, consumo e efeitos dasnotíciasUma teoria unificada <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e danotícia fica incompleta se não lhe for agregadaa componente <strong>do</strong>s efeitos das notícias.Shoemaker e Reese (1991; 1996: 258-260),por exemplo, chamam a atenção para anecessidade de se interligarem os efeitos dasnotícias e as influências sobre os conteú<strong>do</strong>snoticiosos numa teoria unificada da notícia(ou <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo). Os autores argumentamque é necessário conhecer os conteú<strong>do</strong>s dasnotícias para se perceberem os respectivosefeitos; e que só se percebem os efeitosquan<strong>do</strong> se conhecem os conteú<strong>do</strong>s. Por outraspalavras, pode-se dizer que a notícia ape<strong>na</strong>sse esgota <strong>na</strong> sua fase de consumo, que é,precisamente, a fase em que produz efeitos.Além disso, Shoemaker e Reese (1991; 1996:260) realçam que os efeitos das notícias sobrea sociedade, as instituições e os poderespodem, por sua vez, repercutir-se retroactivamentesobre os meios jor<strong>na</strong>lísticos e,portanto, sobre as notícias e os seus conteú<strong>do</strong>s.A concepção <strong>do</strong>s efeitos das notícias devepartir da teoria da dependência, pela primeiravez proposta por Ball-Rokeach e DeFleur(1976). Para estes autores, os meios decomunicação, nos quais se incluem os meiosjor<strong>na</strong>lísticos, são a principal fonte de informa-


JORNALISMO75ção que a sociedade tem sobre si mesma.São também os meios de comunicação osagentes mais relevantes para pôr em contactoos múltiplos subsistemas sociais. Assim,as pessoas, os grupos, as organizações e asociedade em geral dependem <strong>do</strong>s meios decomunicação para se manterem informa<strong>do</strong>se para receberem orientações relevantes paraa vida quotidia<strong>na</strong>. Quanto mais uma sociedadeestá sujeita à instabilidade ou àmudança, mais as pessoas, os grupos e asorganizações dependem da comunicaçãosocial para compreenderem o que acontece,receberem orientações e saberem como agir.O modelo da dependência desenvolvi<strong>do</strong>por Ball-Rokeach e DeFleur (1982; 1993) temtambém a vantagem de sistematizar muitopertinentemente os efeitos da comunicaçãosocial e, portanto, das notícias. Esses efeitoscircunscrevem-se a três categorias: efeitoscognitivos (teorias <strong>do</strong> agenda-setting, datematização, da construção social da realidade,<strong>do</strong> cultivo, da socialização pelos media,<strong>do</strong> distanciamento social, da espiral <strong>do</strong> silêncio,etc.) efeitos afectivos (teoria <strong>do</strong>s usose gratificações, etc.) e efeitos comportamentais(consequência <strong>do</strong>s outros <strong>do</strong>is tipos deefeitos). A grande vantagem desta sistematizaçãoé facultar a integração de diversas“teorias” <strong>do</strong>s efeitos nessas três grandesmacro-categorias.É necessário ter-se em consideração quequan<strong>do</strong> se fala de efeitos das notícias se falade efeitos possíveis ou mesmo prováveis alarga escala. No entanto, convém não ignorarque, em última análise, os efeitos de umanotícia são relativos, pois dependem de cadaconsumi<strong>do</strong>r da mesma em particular 3 .2. NotíciaUma teoria científica tem de delimitarconceptualmente os fenómenos que explicae prevê. A teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deve ser vistaessencialmente como uma teoria da notícia,já que a notícia é o resulta<strong>do</strong> pretendi<strong>do</strong><strong>do</strong> processo jor<strong>na</strong>lístico de produção de informação.Dito por outras palavras, a notíciaé o fenómeno que deve ser explica<strong>do</strong>e previsto pela teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e, portanto,qualquer teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deve esforçar-sepor delimitar o conceito de notícia.É preciso também notar que o conceitode notícia tem uma dimensão que poderíamosclassificar como táctica e uma dimensãoque poderíamos classificar como estratégica.A dimensão táctica esgota-se <strong>na</strong> teoria <strong>do</strong>sgéneros jor<strong>na</strong>lísticos. Nessa dimensão, distingue-senotícia de outros géneros, como aentrevista ou a reportagem. Todavia, a dimensãoestratégica encara a notícia como to<strong>do</strong>o enuncia<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lístico. Esta opção é aquelaque interessa à teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo enquantoteoria que procura explicar as formas eos conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> produto jor<strong>na</strong>lístico.Complementan<strong>do</strong> uma definição de notíciadada por Sousa (2000; 2002), pode dizerseque uma notícia é um artefacto linguísticoque representa determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s aspectos darealidade, resulta de um processo de construçãoonde interagem factores de <strong>na</strong>turezapessoal, social, ideológica, histórica e <strong>do</strong> meiofísico e tecnológico, é difundida por meiosjor<strong>na</strong>lísticos e comporta informação comsenti<strong>do</strong> compreensível num determi<strong>na</strong><strong>do</strong>momento histórico e num determi<strong>na</strong><strong>do</strong> meiosócio-cultural, embora a atribuição última desenti<strong>do</strong> dependa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r da notícia.A notícia é um artefacto linguísticoporque é uma construção huma<strong>na</strong> baseada <strong>na</strong>linguagem, seja ela verbal ou de outra<strong>na</strong>tureza (como a linguagem das imagens).A notícia <strong>na</strong>sce da interacção entre a realidadeperceptível, os senti<strong>do</strong>s que permitemao ser humano “apropriar-se” da realidade,a”mente que se esforça por apreender ecompreender essa realidade e as linguagensque alicerçam e traduzem esse esforçocognoscitivo.As notícias ocupam-se com as aparências<strong>do</strong>s fenómenos que ocorrem <strong>na</strong> realidadesocial e com as relações que aparentementeesses fenómenos estabelecem entre si. Anotícia não espelha a realidade porque aslimitações <strong>do</strong>s seres humanos e as insuficiênciasda linguagem o impedem 4 . Por isso,a notícia contenta-se em representar 5 parcelasda realidade, independentemente davontade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista, da sua intenção deverdade e de factualidade. Essa representaçãoé, antes de mais, indiciática 6 . A notíciaindicia os aspectos da realidade que refere.Ao mesmo tempo, a notícia indicia as circunstânciasda sua produção. Ou seja, entrenotícia, realidade e circunstâncias de produ-


76 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVção há um vínculo de contiguidade. Mas anotícia pode também ter estabelecer relaçõesde semelhança com a realidade que referencia.Por esse motivo, a notícia pode assumirigualmente uma dimensão icónica 7 , correspondente,aliás, à própria ambição deiconicidade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas que a produzem,ou seja, à vontade de o enuncia<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>(notícia) ser semelhante à realidade enunciada.Vários factores interferem <strong>na</strong> construçãoda notícia. A <strong>na</strong>tureza indiciática da notícia,ou seja, o facto de <strong>na</strong> notícia estaremindiciadas as circunstâncias da sua produção,permite determi<strong>na</strong>r esses factores, nosquais se devem basear as explicações quese dão para explicar por que temos asnotícias que temos e por que as notícias sãocomo são. Na teoria unificada <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoque neste texto se sustenta, esses factorespodem ser de <strong>na</strong>tureza pessoal, social,ideológica, histórica e <strong>do</strong> meio físico etecnológico.Uma teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deve ocuparseunicamente da notícia enquanto fenómenojor<strong>na</strong>lístico, isto é, deve ocupar-se <strong>do</strong>senuncia<strong>do</strong>s que são produzi<strong>do</strong>s por jor<strong>na</strong>listascredencia<strong>do</strong>s e que são veicula<strong>do</strong>s emespaços jor<strong>na</strong>lísticos por meiosjor<strong>na</strong>lísticos 8 .A notícia comporta informação comsenti<strong>do</strong> compreensível num determi<strong>na</strong><strong>do</strong>momento histórico e num determi<strong>na</strong><strong>do</strong> meiosócio-cultural. Se dentro de um contexto umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> facto emerge da superfície pla<strong>na</strong>da realidade, sen<strong>do</strong> percepcio<strong>na</strong><strong>do</strong> comonotável e, portanto, como um acontecimentodigno de se tor<strong>na</strong>r notícia (Rodrigues,1988), noutro contexto esse mesmo factopode passar despercebi<strong>do</strong> por não ter umenquadramento que permita observá-lo comoum facto notável, ou seja, como um acontecimento9 .Fi<strong>na</strong>lmente, a notícia só se esgota nomomento <strong>do</strong> seu consumo, já que é nessemomento que ela produz efeitos e passa afazer parte <strong>do</strong>s referentes da realidade. Essesreferentes são a parte da realidade que formama imagem que os sujeitos constroemda realidade. Por isso, a construção de senti<strong>do</strong>para uma notícia depende da interacçãoperceptiva, cognoscitiva e até afectiva queos sujeitos com ela estabelecem 10 .3. A Teoria Multifactorial da Notícia (comoTeoria <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo)Uma teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deve partir daobservação de que há notícias jor<strong>na</strong>lísticas 11e de que estas têm efeitos. Em resulta<strong>do</strong> destaevidência, uma teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo devecentrar-se no produto jor<strong>na</strong>lístico -a notíciajor<strong>na</strong>lística, explican<strong>do</strong> como surge, como sedifunde e quais os efeitos que gera. Em suma,a teoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deveconsubstancializar-se como uma teoria danotícia e responder a duas questões: a) Porque é que as notícias são como são e porque é que temos as notícias que temos(circulação)? b) Quais os efeitos que asnotícias geram?Uma teoria da notícia, à semelhança deoutras teorias científicas, deve ser enunciadade maneira breve e clara, deve ser universal,deve ser traduzível matematicamente e deveainda ser predictiva. Deve atentar no que unee é constante e não no que é acidental. Istosignifica que o enuncia<strong>do</strong> da teoria deve serconti<strong>do</strong>, explícito e aplicável a toda e qualquernotícia que se tenha feito ou venha afazer.Os resulta<strong>do</strong>s das pesquisas realizadas nocampo <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>lísticos permitempercepcio<strong>na</strong>r que (1) a notícia jor<strong>na</strong>lística éo produto da interacção histórica e presente(sincrética) de forças pessoais, sociais(organizacio<strong>na</strong>is e extra-organizacio<strong>na</strong>is),ideológicas, culturais, históricas e <strong>do</strong> meiofísico e <strong>do</strong>s dispositivos tecnológicos queintervêm <strong>na</strong> sua produção e através <strong>do</strong>s quaissão difundidas; e (2) que as notícias têmefeitos cognitivos, afectivos ecomportamentais sobre as pessoas e, atravésdelas, sobre as sociedades, as ideologias, asculturas e as civilizações.Matematicamente, a teoria pode traduzirsepor três equações multifactoriais interligadas,daí que a teoria aqui expressa possadenomi<strong>na</strong>r-se Teoria Multifactorial da Notícia.A matematização permite identificar,delimitar, agrupar, sistematizar e sintetizarquer (1) os macrovectores estruturantes dasnotícias, ou seja, as forças em que se integramto<strong>do</strong>s os microfactores que geram econformam as notícias, quer (2) osmacrovectores estruturantes <strong>do</strong>s efeitos dasnotícias, ou seja, os macro-efeitos onde se


JORNALISMO77podem integrar todas as modificaçõesobserváveis que as notícias provocam oupodem provocar <strong>na</strong>s pessoas e através destas<strong>na</strong>s sociedades e <strong>na</strong>s civilizações.A matematização não escamoteia a complexidade<strong>do</strong>s factores que impulsio<strong>na</strong>m edireccio<strong>na</strong>m a construção das notícias nema complexidade <strong>do</strong>s efeitos das mesmas. Amatematização permite ape<strong>na</strong>s explicitar osmacrovectores estruturantes da construção dasnotícias e <strong>do</strong>s seus efeitos. A linearidade dasequações ajuda a clarificar o processo. Porém,como mostram as equações, os processosequacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s são complexos, pois a notíciae os seus efeitos aparecem como um produtode múltiplos factores, que interferem nessesprocessos de forma variável.A Teoria Multifactorial da Notícia pode,então, ser traduzida <strong>na</strong>s seguintes equaçõesinterligadas:N =f (aFp.bR.cFso.dFseo.eFi.fFc.gFh.hFmf.iFdt)E (AC 1C 2) N=g (jNf.kNc.lP.mCm.nCf.oCs.pCi.qCc.rCh)Esic N=h (sNf.tNc.u(P 1.P 2...P n).vCm.wCf.xCs.yCi.zCc.±Ch)3.1 Primeira equaçãoA primeira equação <strong>do</strong> sistema mostra quea notícia (N) é função de várias forças,segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s das pesquisas que têmvin<strong>do</strong> a ser produzidas sobre o campojor<strong>na</strong>lístico (Sousa, 2000; Sousa, 2003;Traqui<strong>na</strong>, 2003; Shoemaker e Reese, 1991,1996, etc.), a saber:• Força pessoal (Fp) – As notíciasresultam parcialmente das pessoas e das suasintenções, da capacidade pessoal <strong>do</strong>s seusautores e <strong>do</strong>s actores que nela e sobre elaintervêm.• Roti<strong>na</strong>s (R) – As notícias resultamparcialmente das roti<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s seus autores,normalmente consubstanciadas em práticasprofissio<strong>na</strong>is e organizacio<strong>na</strong>is.• Força social – As notícias são frutodas dinâmicas e <strong>do</strong>s constrangimentos <strong>do</strong>sistema social (força social extra-organizacio<strong>na</strong>l- Fseo) e <strong>do</strong> meio organizacio<strong>na</strong>l emque foram construídas e fabricadas (forçasócio-organizacio<strong>na</strong>l - Fso).• Força ideológica (Fi) – As notícias sãoorigi<strong>na</strong>das por conjuntos de ideias quemoldam processos sociais, proporcio<strong>na</strong>mreferentes comuns e dão coesão aos grupos,normalmente em função de interesses, mesmoquan<strong>do</strong> esses interesses não são conscientese assumi<strong>do</strong>s.• Força cultural (Fc) – As notícias sãoum produto <strong>do</strong> sistema cultural em que sãoproduzidas, que condicio<strong>na</strong> quer as perspectivasque se têm <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> quer a significaçãoque se atribui a esse mesmo mun<strong>do</strong>(mundividência).• Força <strong>do</strong> meio físico (Fmf) – Asnotícias dependem <strong>do</strong> meio físico em que sãofabricadas.• Força <strong>do</strong>s dispositivos tecnológicos(Fdt) – As notícias dependem <strong>do</strong>s dispositivostecnológicos usa<strong>do</strong>s no seu processo defabrico e difusão.• Força histórica (Fh) – As notícias sãoum produto da história, durante a qual agiramas restantes forças que enformam as notíciasque existem no presente. A história proporcio<strong>na</strong>os formatos, as maneiras de <strong>na</strong>rrar edescrever, os meios de produção e difusão,etc.; o presente fornece o referente quesustenta o conteú<strong>do</strong> e as circunstâncias actuaisde produção. Ao ser simultaneamente históricae presente, a notícia é sincrética.Há ainda a considerar que as diferentesforças que se fazem sentir sobre as notíciasnão têm sempre o mesmo grau de influência<strong>na</strong> construção das mesmas. Daí que subsistaa necessidade se introduzirem variáveis quedêem conta dessa variabilidade <strong>do</strong> grau deinfluência <strong>do</strong>s factores. Assim, to<strong>do</strong>s osfactores da primeira equação <strong>do</strong> sistema sãoantecedi<strong>do</strong>s por uma variável (a a i).3.2 Segunda equaçãoA segunda equação <strong>do</strong> sistema evidenciaque, a nível pessoal, os efeitos afectivos (A),cognitivos (C 1) e comportamentais (C 2) deuma notícia (E N) variam em função dasseguintes variáveis:• Notícia – Os efeitos de uma notíciadependem da própria notícia. Atenden<strong>do</strong> aque cada notícia tem um formato e um


78 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconteú<strong>do</strong>, influencian<strong>do</strong> ambos o processo depercepção, recepção e integração da mensagem,então a variável notícia deve segmentar-seem duas variáveis, oformato da notícia (Nf) e o conteú<strong>do</strong>da notícia (Nc).• Pessoa (P) – Os efeitos de uma notíciadependem da pessoa que a consome, dacapacidade perceptiva <strong>do</strong>s seus senti<strong>do</strong>s, dasua estrutura mental, da sua perso<strong>na</strong>lidade,da sua experiência, da sua mundivivência, dasua mundividência, etc.• Circunstâncias (C) – Os efeitos danotícia dependem das circunstâncias (C) dapessoa que a recebe. As circunstâncias querodeiam a pessoa respeitam ao meio em quea notícia é difundida (Cm), às condiçõesfísicas da recepção (Cf), à sociedade (Cs),à ideologia (Ci), à cultura (Cc) e à própriahistória (Ch).As notícias nem sempre provocam efeitoscognitivos, afectivos e comportamentaisde idêntica grandeza e os factores de que essesefeitos dependem podem ter diferentes pesos,consoante a notícia. Por isso, também<strong>na</strong> segunda equação é necessário introduzirem-sevariáveis. Em consequência, os factoresexpressos <strong>na</strong> segunda equação sãoantecedi<strong>do</strong>s por uma variável (j a r), aexemplo <strong>do</strong> que sucede <strong>na</strong> primeira equação.3.3 Terceira equaçãoA terceira equação mostra que os efeitossociais, ideológicos e culturais de umanotícia (Esic N) variam em função <strong>do</strong>s mesmosfactores da segunda equação, emborahaja que contar com a interacção entre aspessoas (P 1.P 2. ... P n).Do mesmo mo<strong>do</strong> que para as equaçõesanteriores, a dimensão os efeitos sociais,ideológicos e culturais depende da forçarelativa de cada um <strong>do</strong>s factores da funçãoh, pelo que cada um deles é antecedi<strong>do</strong> poruma variável (s a z e ±).4. Considerações fi<strong>na</strong>isEm síntese, retoma-se a ideia origi<strong>na</strong>l: épossível, com os da<strong>do</strong>s já obti<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>lísticos, construir uma teoriaunificada da notícia e <strong>do</strong>s seus efeitos,obedecen<strong>do</strong> aos critérios que devem ser ti<strong>do</strong>sem conta quan<strong>do</strong> se propõe uma teoriacientífica: clareza, brevidade, capacidade deprevisão. Quan<strong>do</strong> uma notícia vier a contradizera teoria, será, então, altura de rever ateoria e, eventualmente, de a substituir.


JORNALISMO79BibliografíaBall-Rokeach, S. J. e DeFleur, M. J.,A dependency model of mass media effects.Communication Research, 3(1): 3-21, 1976.Ball-Rokeach, S. J. e DeFleur, M. J.,Teorías de la Comunicación de Masas,Barcelo<strong>na</strong>: Paidós, 1982.Ball-Rokeach, S. J. e DeFleur, M. J.,Teorías de la Comunicación de Masas, 2ªedición revisada y ampliada, Barcelo<strong>na</strong>,Paidós, 1993.Rodrigues, A. D., O acontecimento,Comunicação e Linguagens, 8: 9-15, 1988.Schudson, M., Porque é que as notíciassão como são? Comunicação e Linguagens,8: 17-27, 1988.Shoemaker, P., Gatekeeping, NewburyPark, Sage Publications, 1991.Sousa, J. P., Fotojor<strong>na</strong>lismoPerformativo. O Serviço de Fotonotícia daAgência Lusa de Informação, Porto, EdiçõesUniversidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa, 1997.Sousa, J. P., As Notícias e os Seus Efeitos,Coimbra, Minerva Editora, 2000.Sousa, J. P., Teorias da Notícia e <strong>do</strong>Jor<strong>na</strong>lismo, Florianópolis, Letras Contemporâneas,2002.Sousa, J. P., Elementos de Teoria ePesquisa da Comunicação e <strong>do</strong>s Media,Porto, Edições Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa,2003.Traqui<strong>na</strong>, N., As notícias, Comunicaçãoe Linguagens, 8: 29-40, 1988.Traqui<strong>na</strong>, N., As notícias, inTRAQUINA, N. (Org.), Jor<strong>na</strong>lismo: Questões,Teorias e “Estórias”, Lisboa, Vega,1993.Traqui<strong>na</strong>, N., O Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismono Século XX, São Leopol<strong>do</strong>, EditoraUNISINOS, 2001.Traqui<strong>na</strong>, N., Jor<strong>na</strong>lismo. Lisboa, Quimera,2002.Traqui<strong>na</strong>, N. (Org.), Jor<strong>na</strong>lismo: Questões,Teorias e “Estórias”, Lisboa, Vega,1993._______________________________1Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa2Entrevista a Régis Debray, conduzida porAdelino Gomes e publicada no suplemento MilFolhas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l Público, a 23 de Novembro de2002.3Para uma mais completa argumentação,consultar Sousa (2000) ou Sousa (2003).4Para uma melhor compreensão deste fenómeno,consulte-se a tese <strong>do</strong>utoral de JoséRodrigues <strong>do</strong>s Santos (2001).5Alguns semióticos dizem mesmo simular.6Recorre-se aqui à clássica divisão <strong>do</strong>s signosestabelecida por Peirce.7Também pode funcio<strong>na</strong>r como símbolo, masesta discussão já transcende os objectivos dapresente definição de notícia.8Para efeitos deste artigo, é estéril debateras fronteiras <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, o que é e não éjor<strong>na</strong>lismo, quem é e quem não é jor<strong>na</strong>lista, oque é ou não é um meio jor<strong>na</strong>lístico.9Para sustentação e aprofundamento desteargumento, consulte-se Sousa (2000; 2002).10Para sustentação e aprofundamento desteargumento, consulte-se Sousa (2000; 2002).11Ou seja, há notícias produzidas pelo sistemajor<strong>na</strong>lístico a partir de referentes reais.


80 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO81Análise quantitativa sobre os espaços noticiosos da Internete as consequências para os atores <strong>do</strong> processo informativoJuçara Brittes 1A convergência entre os aportes dasTecnologias da Informação e da Comunicação(TIC) com os que se processam <strong>na</strong>sestruturas sociais, trazen<strong>do</strong> revisões de conceitose de paradigmas, produzem alteraçõessignificativas no processo comunicativo, comconseqüências importantes para o campo <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo. Ambas vertentes promotoras demudanças ainda não estocaram conhecimentossuficientes para precisar, com exatidão,as origens e as conseqüências de tais mutações,e nem tentaremos seguir este caminho.Preferimos alinharmo-nos a OctávioIanni (1999), quem já alertou para o fato denão estar muito claro se a era que estamosviven<strong>do</strong> se caracteriza melhor pelos mitos emetáforas construídas para descrevê-la (sociedadeda informação, sociedade cabeada,sociedade em rede, sociedade globalizada,aldeia global, civilização da informação) oupelas crises que suscita, levantan<strong>do</strong> polêmicassobre rupturas e erradicação de paradigmas,surgimento e exumação de utopias. Serão osinteresses teóricos que sugerirão a metáforamais cômoda para identificar a novidade, poismuitas vezes só ela, tomada enquanto ummecanismo cognitivo de transposição de umarealidade à outra, e de estabelecimento dealgo quase equivalente entre uma e outrarealidades, será capaz de explicar os horizontesque se descorti<strong>na</strong>m neste momento.Estes argumentos justificam tratarmos otema ape<strong>na</strong>s em seus aspectos mais gerais,aten<strong>do</strong>-nos às conseqüências para o jor<strong>na</strong>lismo.Vamos perceber que se trata de algoque mobiliza países e continentes e ensejaprojetos como o Programa Sociedade daInformação (Socinfo) 2 , tutela<strong>do</strong> pelo Ministérioda Ciência e Tecnologia brasileiro.Estimula vários autores a se debruçar sobreessas mudanças, seja para explica-las,descrevêlas ou para oferecer-lhes visõesproféticas. Nesse quadro, o que é váli<strong>do</strong> paraexplicar os fenômenos decorrentes de umacomunicação massiva não é mais suficientepara um mo<strong>do</strong> de comunicação que já nãoobedece mais à lógica que direcio<strong>na</strong> os fluxosinformativos de um para muitos.As especificidades da comunicação demassa, a relação desta com os meios decomunicação que a veiculam, o mo<strong>do</strong> deprocessar informações, os elementos dacadeia informativa e to<strong>do</strong> universo de fenômenosque a circundam não se aplicam aomo<strong>do</strong> de comunicação ciberespacial. Tambémse alteram os sistemas de comunicaçãodetermi<strong>na</strong>ntes das políticas de usos e acessosaos meios. Podem, ainda, estimular formasde interação social inéditas e <strong>potencial</strong>izartendências, tais como as que vemos <strong>na</strong>scerno jor<strong>na</strong>lismo pratica<strong>do</strong> no ciberespaço.Temos, hoje, a presença de uma estruturavirtual, trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de comunicaçãointerativa, que é a Internet, a qual representaria,<strong>na</strong>s palavras de Eugênio Trivinho, umterceiro processo de comunicação - ociberespacial. Seria “a modalidade maisavançada de teletransporte individualiza<strong>do</strong>,por mediação de máqui<strong>na</strong>s informáticascapazes de redes interativas”. Antes desseprocesso viria o interpessoal, que se efetivaem encontros in loco ou à distância e sedesenrola no tempo ordinário da vida cotidia<strong>na</strong>,com a mediação da linguagem verbalou não verbal. Na continuidade, surge oprocesso de comunicação de massa, quepressupõe a transmissão e a recuperação àdistância de produtos imagéticos e informativos,em geral de uma via ape<strong>na</strong>s, com amediação de formas culturais (telenovela,jor<strong>na</strong>lismo, programas de auditório) e máqui<strong>na</strong>eletrônica (rádio, tv). O processo decomunicação atual, portanto, seria ociberespacial. O trecho a seguir expressa bemo que o autor identifica como um mal-estarda teoria neste momento de transição:Um balanço teórico sensato [...]constata [...] que, no contexto <strong>do</strong>ciberespaço, to<strong>do</strong>s os elementos


82 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconvencio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> esquema comunicacio<strong>na</strong>l,assimilan<strong>do</strong> inéditas características,experimentam um processoimanente de inflação e decomutabilidade de funções antes jamaisobserva<strong>do</strong>. Na situação on line,o princípio de realidade inter<strong>na</strong> decada um adquire, por assim dizer, ummais-volume funcio<strong>na</strong>l inespera<strong>do</strong>,uma elasticidade pragmática radicalque obriga seus representantesconceituais à prova de um excesso desi mesmos, ou melhor, a uma expansãoe redimensio<strong>na</strong>mento semânticoepistemológicocompulsórios tais que,em reverso, mi<strong>na</strong>m o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>spróprios conceitos até um pontoirreversível em que, <strong>na</strong> impossibilidadede o processo comunicacio<strong>na</strong>l sermais abarca<strong>do</strong>, eles se deparam, fatalmente,com seu próprio colapso. Ébem um desmoro<strong>na</strong>mento em cadeiapor inchaço i<strong>na</strong>dministrável.(TRIVINHO, 2000:187)Vamos nos deparar, neste universo, comum modelo de comunicação mediada pelocomputa<strong>do</strong>r, o qual se concretiza em plataformasciberespaciais, onde aqueles queestiverem habilita<strong>do</strong>s para <strong>na</strong>vegar podemcomunicar-se utilizan<strong>do</strong> recursos próximosaos convencio<strong>na</strong>is, como o correio eletrônico,até formatos inéditos de oportunidades comunicativas,como os babbles, frutos deprogramas complexos que passam a oferecerexperiências cada vez mais completas paracomunicação online. Aqui os Meios deComunicação de Massa dão lugar às PlataformasComunicativas MultimidiáticasCiberespaciais (PCMC). 3 Elas surgem daconvergência de habilidades próprias a estenovo médium (hipertextualidade, sincronia,assincronia, interatividade, conectividade,di<strong>na</strong>mismo, velocidade) 4 com as ferramentasoferecidas nos espaços ciberespaciais, asquais, por sua vez, são geradas pela astúciae criatividade de uma verdadeira falange dedesigners surgida no alvorecer <strong>do</strong> século XXI.Em tal situação vamos observar radicalalteração em to<strong>do</strong>s os elementos <strong>do</strong> processoinformativo: <strong>do</strong> emissor ao receptor, passan<strong>do</strong>,necessariamente, pelos conteú<strong>do</strong>s e pelosfluxos que percorre para abranger os atores<strong>do</strong> processo. No caso <strong>do</strong> receptor, seu papelora se mescla à figura <strong>do</strong> emissor, ora <strong>na</strong>própria mensagem, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se um novoelemento. Trivinho (2000) sugere a existênciade um “indivíduo teleintegranteciberespacial”, cujo traço marcante seria acapacidade de participar e, ao mesmo tempo,intervir nos conteú<strong>do</strong>s. Ele verá suaparticipação no processo comunicativo aumentar,dada sua condição de pesquisa<strong>do</strong>rcompulsório, e capacidade de penetrabilidade,pois é competente para acessar sempre novosconteú<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> hipertexto. Mas eletambém pode confundir-se com o emissor,ao ver-se acolhi<strong>do</strong> pela rede, ou com asfontes, produzin<strong>do</strong> e distribuin<strong>do</strong> informaçõessem que para tanto necessite estar vincula<strong>do</strong>a uma instituição jor<strong>na</strong>lística.Os conteú<strong>do</strong>s das mensagens veiculadaspelas PCMC, principalmente os de <strong>na</strong>turezainformativa, estão entre as variáveis <strong>do</strong>processo informativo mais atingidas. AsPCMC libertam-<strong>na</strong> da rigidez das formas, dacamisa de força <strong>do</strong>s gêneros informativosencapsula<strong>do</strong>s pelos MCM. Os conteú<strong>do</strong>s,anexa<strong>do</strong>s a e-mails, edita<strong>do</strong>s em jor<strong>na</strong>isonline, <strong>na</strong>s mais variadas formas (as quaisnos referiremos mais adiante) ficam libera<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s constrangimentos editoriais e dasroti<strong>na</strong>s jor<strong>na</strong>lísticas, alteran<strong>do</strong> sobremaneiraos fluxos informativos.No mo<strong>do</strong> de comunicação massivo osconteú<strong>do</strong>s partem de uma fonte em direçãoa seus desti<strong>na</strong>tários. Ainda que respeitadasas particularidades das segmentações e consideradasas teses que revelam situaçõesatenuantes <strong>do</strong>s efeitos desse fluxo sobre ospúblicos, os meios de comunicação de massanão estão <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de mecanismos que favoreçama participação equilibrada <strong>do</strong>s atoresimplica<strong>do</strong>s no processo. O que poderá garantiresta posição serão as políticas públicasdiscipli<strong>na</strong><strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s usos <strong>do</strong>s media. Mas omodelo pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte no mo<strong>do</strong> massivo é ocomercial. Está edifica<strong>do</strong> em forma de rede,envolve to<strong>do</strong>s os continentes e englobainteresses que extrapolam as fronteiras dacomunicação em seu aspecto informativo. Ofluxo informativo massivo, apesar <strong>do</strong> crescimentoquantitativo surpreendente, nãomu<strong>do</strong>u de direção. É vertical. De cima parabaixo. De um para muitos. A rede mundialde computa<strong>do</strong>res tem outro formato e o novo


JORNALISMO83conferirá um caráter multidirecio<strong>na</strong>l ao percurso<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. Peter Dahlgren (2000)acrescenta o fato de um usuário podercomunicar-se com muitos ao mesmo tempo(one-to-many), por meio de sites que, emprincípio, cada um pode criar para si. Ousuário aqui não é uma instituição midiática,mas um indivíduo. Além disso a Internetoferece a possibilidade de uma pluralidadede usuários comunicarem-se mutuamente(many-to-many) por meio de fóruns dedebates e outras formas de comunicação emrede, que estão <strong>na</strong>s Plataformas ComunicativasMultimidiáticas Ciberespaciais (PCMC).Como já ficou bem acentua<strong>do</strong>, as conseqüênciaspara o campo da comunicação sãointermináveis e atingem em cheio o jor<strong>na</strong>lismo.Passa a haver dúvida se os textosinformativos que encontramos <strong>na</strong> rede mundialde computa<strong>do</strong>res podem ser classifica<strong>do</strong>snesta rubrica <strong>do</strong>s gêneros <strong>na</strong>rrativos.Muitos pesquisa<strong>do</strong>res vêm se dedican<strong>do</strong> asistematizar tais espaços, sem que hajaconsenso a respeito.Podemos citar, entre os primeiros estu<strong>do</strong>sclassificatórios no jor<strong>na</strong>lismo nociberespaço, os de Man<strong>na</strong>rino (2000) o quala<strong>na</strong>lisou 147 jor<strong>na</strong>is com edições <strong>na</strong> Internet,publica<strong>do</strong>s por 16 países, ten<strong>do</strong> detecta<strong>do</strong>,à época, 22 características próprias à versãoonline. Para ele essas publicações têm emcomum um Sistema de Recuperação deInformação (SRI), correspondente ao arse<strong>na</strong>lteórico que a Ciência da Informaçãoutiliza para disponibilizar pesquisas científicas,sen<strong>do</strong> este o principal diferencial entreas publicações informatizadas e as impressas.Seu trabalho referiu-se aos jor<strong>na</strong>isimpressos da grande mídia mundial comversões online.Estu<strong>do</strong>s mais recentes referem-se a essaspublicações como Jor<strong>na</strong>lismo Assisti<strong>do</strong> porComputa<strong>do</strong>r (JAC), a partir de contribuiçãoinglesa de Computer Assisted Jour<strong>na</strong>lism(CAJ), buscan<strong>do</strong> traduzir as inovações ealterações que o computa<strong>do</strong>r veio trazer aojor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong>s suas diferentes vertentes, desdea captação de notícias até o respectivo tratamentoe distribuição das mesmas.“O computa<strong>do</strong>r por si representa jáum instrumento extraordinário defazer Jor<strong>na</strong>lismo, mas um computa<strong>do</strong>rliga<strong>do</strong> à Internet será cada vezmas imprescindível <strong>na</strong> profissão. Emrede um computa<strong>do</strong>r acede a fontesde informação, diversas e longínquas,que contextualizam as informaçõesobtidas de fontes directas e próximas.Receber notícias directamente dasagências noticiosas, buscar informação<strong>na</strong> Internet é algo trivial que umcomputa<strong>do</strong>r possibilita, trivialidadeque, no entanto, altera radicalmente,a forma de investigar, tratar e redigiras notícias próprias.” (FIDALGO,2002:2)A definição indica que JAC se refere aomo<strong>do</strong> sui generis de fazer jor<strong>na</strong>lismo comos recursos da Internet e, obviamente, <strong>do</strong>computa<strong>do</strong>r, o que se estende, também, àsnovas formas de distribuição. Há, ainda,carência de paradigmas para estes estu<strong>do</strong>s eo denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> JAC situa-se <strong>na</strong> esfera daemissão, consideran<strong>do</strong> o público leitor comoum desti<strong>na</strong>tário mais exigente, ten<strong>do</strong> evoluí<strong>do</strong>pelo poder que a Internet lhe confere.Outros autores sugerem a palavrawebjor<strong>na</strong>lismo para expressar as alteraçõesestruturais no jor<strong>na</strong>lismo que encontramos <strong>na</strong>Internet, argumentan<strong>do</strong> ser um conceito maiscompleto por incluir outros elementos <strong>do</strong>processo jor<strong>na</strong>lístico. Assim defendeCa<strong>na</strong>vilhas, afirman<strong>do</strong> que o jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong>web, ou o webjor<strong>na</strong>lismo pode ser muito mais<strong>do</strong> que o atual jor<strong>na</strong>lismo online.“Com base <strong>na</strong> convergência entretexto, som, imagem em movimento,o webjor<strong>na</strong>lismo pode explorar todasas <strong>potencial</strong>idades que a Internetoferece, oferecen<strong>do</strong> um produtocompletamente novo: a webnotícia”(CANAVILHAS, 2002: 1)Nilson Lage aborda a questão <strong>do</strong> pontode vista <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l referin<strong>do</strong>-se àreportagem assistida por computa<strong>do</strong>r (RAC) 5 ,que conferiria um grau maior de precisão <strong>na</strong>sinformações, principalmente no atinente acoleta de da<strong>do</strong>s.“A RAC baseia-se no emprego detécnicas instrumentais: a <strong>na</strong>vegação ebusca <strong>na</strong> Internet, a utilização de


84 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVplanilhas de cálculo e de bancos deda<strong>do</strong>s. Trata-se de colher e processarinformação primária ou, pelo menos,intermediária entre a constataçãoempírica da realidade e a produçãode mensagens compreensíveis para opúblico” (LAGE, 2001:156)Trata-se de um texto absolutamenteenriqueci<strong>do</strong> pela convergência de linguagens,soman<strong>do</strong> aquelas anteriormente exclusivas deoutros meios como o rádio e a televisão ten<strong>do</strong>,ainda, outros acréscimos. Acrescente-semudanças <strong>na</strong> forma de ler as notícias, poiso jor<strong>na</strong>lista tem agora o desafio de levar oleitor a quebrar o hábito de uma leitura linearque lhe foi imposto pelo antigo suporte,responden<strong>do</strong>, também, ao desafio de encontraruma linguagem que responda às exigênciasde um público que deseja maior rigore objetividade <strong>na</strong> redação <strong>do</strong>s textos informativos.Tal comportamento é explica<strong>do</strong>,entre outras razões, pela disponibilidade queo inter<strong>na</strong>uta tem de acesso a outras fontesde notícias, consultan<strong>do</strong> as próprias agências,o que antes era privilégio <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is<strong>do</strong> ramo.O jor<strong>na</strong>lismo colaborativo é outro conceitoque começa a ser construí<strong>do</strong> para darconta das transformações em curso dessesmo<strong>do</strong>s de mediar informações ten<strong>do</strong> comoplataforma física o computa<strong>do</strong>r liga<strong>do</strong> àInternet, a qual origi<strong>na</strong> as PCMC. Identificamais <strong>do</strong> que recursos tecnológicos paraenriquecer um noticiário, tratan<strong>do</strong>-se de umnovo processo jor<strong>na</strong>lístico, se compara<strong>do</strong> aoconvencio<strong>na</strong>l. Neste jeito de fazer jor<strong>na</strong>lismoprescinde-se de organizações formais nosmoldes das empresas jor<strong>na</strong>lísticas que seestabeleceram desde o século XVII,estruturan<strong>do</strong>-se como as conhecemos hoje,a partir <strong>do</strong> século XX, até chegar às megacorporações jor<strong>na</strong>lísticas mundiais como aCNN. Organiza<strong>do</strong>s em torno de modera<strong>do</strong>res,que podem ser compara<strong>do</strong>s a editores,muitas vezes anônimos, os inter<strong>na</strong>utas são,ao mesmo tempo, repórteres, editores eleitores. A definição ao seguir ajuda a entendereste novo formato de jor<strong>na</strong>lismo:“Jor<strong>na</strong>lismo colaborativo é uma formade jor<strong>na</strong>lismo em que o processonoticioso é distribuí<strong>do</strong> pelos própriosleitores, que escolhem a notícia,apresentam os factos e as opiniõesrelevantes. De preferência, deve serfeito num fórum aberto em que to<strong>do</strong>sos leitores têm as mesmas oportunidadesde expressar opiniões, mas emque as opiniões e os factos maispertinentes tenham visibilidade. Aescolha <strong>do</strong>s artigos que merecem maisvisibilidade deve ser feita pelos leitoresque no passa<strong>do</strong> tenham mostra<strong>do</strong>que merecem mais confiança prarealizar esta tarefa” (http://explicaoes.com)No ponto de vista de Catari<strong>na</strong> Moura afilosofia peer-to-peer (a partilha de recursose serviços através de troca direta entre sistemas)associada ao sistema operacio<strong>na</strong>l opensource 6 é responsável pelo aparecimento desteprocesso totalmente novo de praticar jor<strong>na</strong>lismo.A autora prefere a denomi<strong>na</strong>ção “jor<strong>na</strong>lismoopen source” para identificar ofenômeno que implica permitir que váriaspessoas (não ape<strong>na</strong>s os jor<strong>na</strong>listas) escrevame, sem a castração da imparcialidade, dêemsua opinião, impedin<strong>do</strong> assim a proliferaçãode um pensamento único, como pode seraquele difundi<strong>do</strong> pela maioria <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is,cuja objetividade e imparcialidade são muitasvezes máscaras de um qualquer ponto devista que serve interesses mais particularesque ape<strong>na</strong>s o de informar com honestidadee isenção o público que lê. (MOURA, 2002:2)A partir destas considerações, bem comoda análise qualitativa de espaços informativosdivulga<strong>do</strong>s pela Internet, detectamosalguns modelos recorrentes, que podem serclassifica<strong>do</strong>s em três grandes grupos dejor<strong>na</strong>lismo pratica<strong>do</strong> <strong>na</strong> Rede Mundial deComputa<strong>do</strong>res: Jor<strong>na</strong>lismo Assisti<strong>do</strong> porComputa<strong>do</strong>r; Jor<strong>na</strong>lismo Colaborativo eJor<strong>na</strong>lismo Segmenta<strong>do</strong>. O esquema a seguirdemonstra as subdivisões classificatóriasque propomos:1. Jor<strong>na</strong>l Assisti<strong>do</strong> por Computa<strong>do</strong>r(JAC)2. Jor<strong>na</strong>l Colaborativo2.1 Multimidiáticos2.2 Referenciais3. Jor<strong>na</strong>l Segmenta<strong>do</strong>3.1 Crítica de mídia / mídia-watching


JORNALISMO853.2 Organizacio<strong>na</strong>is / House organ4. Outros formatos4.1 Temáticos4.2 Científicos4.3 Pessoais4.4 E-newsletterReservamos a denomi<strong>na</strong>ção Jor<strong>na</strong>l Assisti<strong>do</strong>por Computa<strong>do</strong>r às edições online dejor<strong>na</strong>is já estabeleci<strong>do</strong>s em plataformasimpressas, com todas as variantes que atecnologia pode oferecer. Seus conteú<strong>do</strong>s sãode <strong>na</strong>tureza generalista, cuja eleição obedeceao mo<strong>do</strong> convencio<strong>na</strong>l de agendamento.Os jor<strong>na</strong>is Colaborativos, referem-se àspublicações pela Internet que apresentam altograu de interatividade, de mo<strong>do</strong> que osconteú<strong>do</strong>s são construí<strong>do</strong>s em parceria entreeditores (ou modera<strong>do</strong>res) e os interessa<strong>do</strong>s.Percebemos níveis distintos de colaboraçãoentre editores, fontes e público, poden<strong>do</strong>variar de acor<strong>do</strong> com cada publicação, conformejá explica<strong>do</strong>. Diferente <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isimpressos, onde o leitor tem direito a expressar-se<strong>na</strong> seção de cartas, ou participa<strong>do</strong> processo de agendamento por mecanismostais como as medições de opiniãopública, aqui a interatividade é a razão deser <strong>do</strong> espaço. Sites ou pági<strong>na</strong>s da <strong>na</strong>turezaa qual nos referimos só têm senti<strong>do</strong> com aintervenção direta <strong>do</strong> usuário. Caso contráriopoderá ser identifica<strong>do</strong> como mais um feixede da<strong>do</strong>s e informações a disposição <strong>na</strong>Internet. Nesta fronteira estão os Wikies,sistemas de pági<strong>na</strong>s web usa<strong>do</strong>s para projetoscolaborativos, que tanto podem serjor<strong>na</strong>lísticos quanto ter outro interesse qualquer.Encontramos basicamente <strong>do</strong>is formatosde jor<strong>na</strong>l colaborativo, os quais denomi<strong>na</strong>mosmultimidiátícos e referenciais. Os primeirosestampam os conteú<strong>do</strong>s em suaspróprias pági<strong>na</strong>s, utilizan<strong>do</strong> linguagens escritas,televisivas ou radiofônicas. Os outrosremetem o leitor aos sites de origem danotícia, sen<strong>do</strong> que, <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, tratasede convites à participação em alguma ação(engajar-se em uma campanha, integrar umabaixo-assi<strong>na</strong><strong>do</strong>, inscrever-se em evento etc).Ambos são colaborativos porque, ainda queem graus distintos, emissor e receptor mudamradicalmente de status, passan<strong>do</strong> a construiro texto em conjunto. Os jor<strong>na</strong>is colaborativosreferenciais são periódicos que apresentamregularidade em suas edições, incluem notícias,manifestos, convocatórias eabaixoassi<strong>na</strong><strong>do</strong>s de Movimentos SociaisOrganiza<strong>do</strong>s. Configuram-se como um fórumpor onde esses temas, de pouca repercussãonos jor<strong>na</strong>is convencio<strong>na</strong>is, são expostos.Outro modelo recorrente de jor<strong>na</strong>l <strong>na</strong>Internet é o que classificamos como Jor<strong>na</strong>lSegmenta<strong>do</strong>, isto é, que dirige seus conteú<strong>do</strong>sa grupos de interesse específico. Taisinteresses podem ser temáticos, científicos ouassumir aparência de houseorgans, aquelaspublicações organizacio<strong>na</strong>is, provenientes deinstituições, dirigidas a seu público alvo. Arelativa facilidade de distribuição favoreceuo surgimento desses jor<strong>na</strong>is <strong>na</strong> rede. Separamosneste estu<strong>do</strong> os jor<strong>na</strong>is segmenta<strong>do</strong>sque praticam crítica de mídia, os houseorgans,os temáticos e os científicos. Oshouse-organs ou jor<strong>na</strong>is organizacio<strong>na</strong>isassim são identifica<strong>do</strong>s porque pertencema uma instituição e objetivam ser um elo deligação com os públicos com os quais estase relacio<strong>na</strong>. Nesta rubrica também podeminserir-se jor<strong>na</strong>is oficiais de órgãos públicos,como os liga<strong>do</strong>s a Prefeituras Municipais.Estes sites costumam oferecer serviços aoshabitantes daquela região, integran<strong>do</strong>, <strong>na</strong>maioria <strong>do</strong>s casos, o rol de iniciativas <strong>do</strong>schama<strong>do</strong>s e-governs. Não confundir com apresença <strong>do</strong>s municípios <strong>na</strong> Internet, pois estaparticipação pode, ou não, incluir PlataformasComunicativas MultimidiáticasCiberespaciais (PCMC). Temáticos são osjor<strong>na</strong>is segmenta<strong>do</strong>s cujo elo entre seusleitores é o assunto. Os jor<strong>na</strong>is científicosaqui considera<strong>do</strong>s não são exatamente asversões eletrônicas de revistas científicas, quepublicam artigos e pesquisas. Têm o formatojor<strong>na</strong>lístico porque se servem de linguagemacessível a leigos interessa<strong>do</strong>s em temasliga<strong>do</strong>s à ciência. Inovam por fazer uso dehabilidades próprias aos fóruns de debatepúblico para difundir temas liga<strong>do</strong>s à ciência.Por esta razão estão alinha<strong>do</strong>s <strong>na</strong> rubricajor<strong>na</strong>l segmenta<strong>do</strong>, pois se dirigem a umpúblico específico, o interessa<strong>do</strong> <strong>na</strong>queleramo da ciência.Na fronteira entre jor<strong>na</strong>is e agrupamentode informações variadas está a experiênciaque vem sen<strong>do</strong> chamada de Jor<strong>na</strong>is Pessoais.Denomi<strong>na</strong>das em inglês self-jour<strong>na</strong>lism, como


86 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVo nome indica, nem sempre são espaçosnoticiosos, mas costumam ser providencia<strong>do</strong>spor pessoas privadas, poden<strong>do</strong> assumiro formato de um weblog. Estão mais pararegistros publica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Internet <strong>do</strong> que parajor<strong>na</strong>lismo. As E-newsletters também sãotextos informativos online, que circulam, emgeral, por ocasião de eventos, desaparecen<strong>do</strong>assim que estes se realizam. Assumem, também,o aspecto de manifesto de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>sgrupos, quase sempre de ativistas políticosque vivem <strong>na</strong> clandestinidade. Advertimosque a classificação proposta é de<strong>na</strong>tureza qualitativa, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> criada a partir<strong>do</strong> congelamento fictício deste momento daInternet, cujo di<strong>na</strong>mismo não permite maisque a indicação de tendências.ConclusãoO espaço de um artigo não é suficientesequer para arrolar to<strong>do</strong>s os questio<strong>na</strong>mentosque a aplicação das TIC provocam nosprocessos informativos, os quais têm nojor<strong>na</strong>lismo a principal fonte de interaçãosocial. Há polêmicas desde o papel que atecnologia desempenha neste universo, até arespeito da identidade <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l deimprensa no modelo jor<strong>na</strong>lístico pratica<strong>do</strong> nociberespaço. Se é possível detectar-se competênciasreservadas a um segmento profissio<strong>na</strong>lpara o exercício de certas roti<strong>na</strong>s noâmbito de uma organização jor<strong>na</strong>lísticaconvencio<strong>na</strong>l, a permissão de participar daelaboração de notícias, oferecida ao leitor,pelos jor<strong>na</strong>is colaborativos, por exemplo,traz indagações pertinentes para a profissão.Nossa sugestão classificatória para os jor<strong>na</strong>isedita<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s PCMC tem o propósitode demonstrar as alterações no jor<strong>na</strong>lismoenquanto parte de um processo comunicativoem mutação.Os formatos discrimi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, os que aquinão foram contempla<strong>do</strong>s, e os que surgirame surgirão desde então, importam menos,no processo de mudança que ora nos ocupa,<strong>do</strong> que a aproximação que promovem entreos núcleos de emissores e os usuários.Merece destaque a ampliação <strong>do</strong> leque deinformações que a rede propicia, assim comoa profunda alteração nos fluxos informativos,constrangi<strong>do</strong>s, no mo<strong>do</strong> massivo de comunicação,por processos de agendamentoobedientes a interesses políticos eeconômicos, favorecen<strong>do</strong>, em geral, segmentoshistoricamente bem sucedi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>quelessetores. O mo<strong>do</strong> de comunicaçãociberespacial, que dá <strong>na</strong>scimento a formatosinéditos de jor<strong>na</strong>lismo, permite aos usuáriosconectarem-se instantaneamente entresi, produzir seus conteú<strong>do</strong>s, acessar outrostantos, distribuir, rápida e gratuitamente, informaçõesde to<strong>do</strong>s para to<strong>do</strong>s os quadrantes,leva a uma reviravolta nos processos deagendamento, que ditam, no mo<strong>do</strong> massivo,os temas sobre os quais formam-se opiniões.No ciberespaço há influências recíprocasmais contundentes e as habilidades (vernota 3) <strong>potencial</strong>izam a autonomia <strong>do</strong>spúblicos.


JORNALISMO87BibliografiaCOMISSÃO EUROPÉIA. Livro Verderelativo às Convergências. Para uma abordagemcentrada <strong>na</strong> sociedade da informação.Bruxelas, 1997.Dahlgren, Peter. L´espace public et l´Internet- Structure, espace et comunication.IN Reseaux nº 100, Paris: CNET/HèrmesScience Publication, 2000.Dertouzos, Michel. O Que será? Comoo novo mun<strong>do</strong> da informação transformaránossas Vidas. São Paulo: Cia das Letras,2000. Franco, Marcelo Araújo. Ensaio sobreas tecnologias digitais da inteligência. Campi<strong>na</strong>s:Papirus, 1997.Kerkhove, Derrik. Inteligencias enConexión. Hacia u<strong>na</strong> sociedad de la web.Barcelo<strong>na</strong>: Gedisa Ed., 1999.Lage, Nilson. A Reportagem: teoria etécnica de entrevista e pesquisa jor<strong>na</strong>lística.Rio de Janeiro/São Paulo:2001. LÉVY, Pierre.A conexão planetária. O merca<strong>do</strong>, ociberespaço, a consciência. São Paulo: Ed.34,2001.Man<strong>na</strong>rino. Marcus Vinícius Rodrigues.O papel <strong>do</strong> web jor<strong>na</strong>l. Veículo de Comunicaçãoe Sistemas de informação. PortoAlegre: Edipucrs/Famecos, 2000.MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNO-LOGIA. Sociedade da Informação no Brasil.Livro Verde. Brasília: 2000.Trivinho, Eugênio. Epistemologia emruí<strong>na</strong>s: a implosão da teoria da comunicação<strong>na</strong> experiência <strong>do</strong> ciberespaço. In MARTINS,Francisco Menezes et all. Para <strong>na</strong>vegar noséculo 21. Tecnologias <strong>do</strong> imaginário e dacibercultura. Porto Alegre: Edipucrs/Suli<strong>na</strong>,2000. Pp 179 a 192.Trivinho, Eugênio. O mal-estar da teoria.A condição da crítica <strong>na</strong> sociedadetecnológica atual. Rio de Janeiro:Quartet,2001.Wolton, Dominique. L’internet, et après?Une histoire critique des nouveaux médias.Paris: Flamarion, 2000.Referências eletrônicas ARANHA,Jayme. Tribos eletrônicas: Usos e Costumes,http://www.alternex.com.br/~esocius/tjayme.htmlCa<strong>na</strong>vilhas, João Messias.Webjor<strong>na</strong>lismo. Considerações gerais sobrejor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong> web. Captura<strong>do</strong> em 16/11/2002em www.bocc.ptCorreia, João Carlos. Novo Jor<strong>na</strong>lismoCMC e Esfera Pública. Captura<strong>do</strong> em 11de novembro de 2002 emwww.labcom.ubi.pt/agoranetDo<strong>na</strong>th, Judith. Identity and deception inthe virtual community, http://smg.media.mit.edu/people.Judith/Identity/IdentityDeception.htmlFidalgo, Antônio. JAC ou Jor<strong>na</strong>lismoAssisti<strong>do</strong> por Computa<strong>do</strong>r. Captura<strong>do</strong> em 10/11/2002 em http://www.labcom.ubi.pt/jac/0-que-e-jac.htmmoura, Catari<strong>na</strong>. O jor<strong>na</strong>lismol <strong>na</strong> era<strong>do</strong> slash<strong>do</strong>t. Captura<strong>do</strong> em 8/11/2002 emwww.bocc.ubi.pt/pag/mouracatari<strong>na</strong>jor<strong>na</strong>lismo-slash<strong>do</strong>t.pdfNicolai-da-Costa, A<strong>na</strong> Maria. Na Malhada Rede: os impactos íntimos da Internet.http://www.dc.peachment.edu/~mnunes/jbnet.htmlReid, Elizabeth. Electropoliscommunication and community on Internetrelay Chat. 1991 htpp://alulei.com , http://ftp.parc.xerox.com/pub/moo/papersRheingold, Howard. The virtualcommunity. Homesteading on the electronicfrontier. New York:Harper perennial, 1994http://www.rheingold.com/vc/bookVian<strong>na</strong>, Hermano. As tribos <strong>na</strong> Internet,1995,http://www.alternex.com.br/~esocius/therman.html_______________________________1Universidade Federal <strong>do</strong> Espírito Santo2Programa Sociedade da Informação foilança<strong>do</strong> em dezembro de 1999 pelo Ministério daCiência e Tecnologia brasileiro, com a pretensãode incluir o país <strong>na</strong> era da informação por meiode ações que favoreçam a competição da economia<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l no merca<strong>do</strong> global obedecen<strong>do</strong> aprincípios e metas de inclusão e eqüidade sociale econômica, de diversidade e identidade culturais,de sustentabilidade <strong>do</strong> padrão de desenvolvimento,de respeito às diferenças, de equilíbrioregio<strong>na</strong>l, de participação social e de democraciapolítica. O projeto está disponível emwww.socinfo.org.br, ten<strong>do</strong> da<strong>do</strong> origem ao texto“Sociedade da Informação no Brasil – LivroVerde”. Assim têm si<strong>do</strong> intitula<strong>do</strong>s os textos sobrepolíticas de comunicação, haven<strong>do</strong> muitos ediçõesde livros Verdes <strong>na</strong> Europa. ”


88 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV3Em tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> (Internet, Jor<strong>na</strong>lismoe Esfera Pública. Estu<strong>do</strong> sobre o processo informativo<strong>do</strong> ciberespaço <strong>na</strong> formação da opinião-ECA/USP- 2003) a autora defende que no mo<strong>do</strong>de comunicação ciberespacial não existem Meiosde Comunicação de Massa (MCM), mas PlataformaComunicativa Multimidiáticas Ciberespaciais,abarcan<strong>do</strong> mais <strong>do</strong> que veículos de comunicação,mas espaços complexos de troca deopiniões, com habilidades tanto para o convívioentre os usuários quanto para o surgimento deformatos inéditos de jor<strong>na</strong>lismo.4As habilidades funcio<strong>na</strong>m como traçossensoriais <strong>do</strong>s espaços de convivência <strong>na</strong> Internet,produzi<strong>do</strong>s pela evolução <strong>do</strong>s softwares. Asincronia permite que os interlocutores se comuniquemem tempo real. Na assincronia, a comunicaçãose dá sem que os atores estejam conecta<strong>do</strong>sà rede ao mesmo tempo. A Interatividade, que podeenglobar as outras habilidades, leva a uma relaçãodas pessoas com o entorno digital, cuja extensãoleva a formação de redes, <strong>na</strong>s quais formam-senovas concentrações de atores. A conectividadedistancia-se sutilmente da interatividade por sera tendência de juntar entidades separadas e semconexão prévia, através de redes, mediadas porsoftwares e hardwares. O di<strong>na</strong>mismo é a capacidadeque cada unidade de rede tem de alargarsee reduzirse o tempo to<strong>do</strong>, impossibilitan<strong>do</strong> aquantificação <strong>do</strong>s espaços de interlocução <strong>na</strong>Internet. A velocidade é responsável por uma dasprincipais distinções entre o mo<strong>do</strong> de comunicaçãomassivo e o ciberespacial, alteran<strong>do</strong> profundamenteos esquemas distributivos de informações.5S.Squirra se referiu a esta prática a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>a expressão em inglês Computer-assited reportimg(Car). SQUIRRA.S. Jor<strong>na</strong>lismo online. São Paulo:CJE/ECA/USP, 1998, p 83 e seguintes)6Termo aplica<strong>do</strong> ao software que algumaspessoas criam e disponibilizam gratuitamente <strong>na</strong>rede, com qualidade semelhante aos serviçosofereci<strong>do</strong>s por grandes empresas. (MOURA,2002:1)


JORNALISMO89Internet como fuente de información especializadaLeopol<strong>do</strong> Seijas Candelas 1IntroducciónRamón Salaverría, director delLaboratorio de Comunicación Multimedia dela Universidad de Navarra, suele emplear lasiguiente metáfora a la hora de definir losbusca<strong>do</strong>res en Internet, que ilustraacertadamente la tarea de los mismos:“Imaginemos un pajar del tamaño de ungran estadio de fútbol, repleto de pequeñasbriz<strong>na</strong>s de heno hasta diez metros de altura,y lancemos desde el aire u<strong>na</strong> aguja de coser.A continuación, pidamos a alguien queencuentre esa aguja. Ese desventura<strong>do</strong>individuo estará perdi<strong>do</strong> si pretende hallarla aguja revolvien<strong>do</strong> desorde<strong>na</strong>damente lapaja. Invertirá horas y horas en vano, hastala desesperación. Por el contrario, si empleael utillaje adecua<strong>do</strong> – un gran imán, porejemplo- encontrar la aguja puede ser cuestiónde segun<strong>do</strong>s”.Internet es, en la actualidad, u<strong>na</strong> fuenteesencial para el trabajo de los periodistas da<strong>do</strong>el volumen de información que contiene ygeneral diariamente, además de por su utilidad<strong>potencial</strong> para facilitar el contacto con fuentesperso<strong>na</strong>les (como pudieran ser expertos otestigos de u<strong>na</strong> información) a nivel, mundial.La llamada World Wide Web contieneaproximadamente mil millones de <strong>do</strong>cumentosy crece a un ritmo diario de 1,5 millones depági<strong>na</strong>s 2 . Los motores de búsqueda másavanza<strong>do</strong>s no llegan a alcanzar más que u<strong>na</strong>ínfima parte del conteni<strong>do</strong> de esta Web.Específicamente cabe reseñar, que losbusca<strong>do</strong>res que más pági<strong>na</strong>s tienen indexadasson Fast (http://www.alltheweb.com) 300millones de <strong>do</strong>cumentos y Northern Light(http://www.northernlight.com)con 218millones. Además hay que tener en cuentaque la World Wide Web, o la Web accesiblemediante busca<strong>do</strong>res, es solo u<strong>na</strong> parte deInternet. Existe también la llamada Webprofunda o Internet Invisible, a la que sepuede acceder mediante los busca<strong>do</strong>res, quees aproximadamente 500 veces mayor quela visible y sobre to<strong>do</strong>, de u<strong>na</strong> mayor calidad.A la hora de enfrentarse a este mar deinformación disponible en Internet, elperiodista debe tener un buen conocimientode los distintos recursos de búsqueda que leayudarán a alcanzar su propósito y de cómorealizar dicha búsqueda.Según el periodista Miguel Ángel DíazFerreira, existen cinco formas diferentes delocalizar recursos por Internet 3 :a) Por medio de publicaciones impresasque recogen direcciones de la Red. Puedetratarse de trabajos de investigación, artículosde publicaciones especializadas o incluso deperiódicos o revistas de información generaly, sobre to<strong>do</strong>, de libros escritos ad hoc paralas búsquedas. Pueden ser manuales sobre laRed o las “ Pági<strong>na</strong>s Amarillas” de Internet.Sus <strong>do</strong>s principales desventajas son lassiguientes:• Su tempra<strong>na</strong> obsolescencia.• La necesidad de introducir los datosnecesarios a mano (por tratarse depublicaciones impresas), sin aprovechar lautilidad del hipertexto para moverse por suspági<strong>na</strong>s.b) A través de los directorios de recursosy clasificaciones temáticas, que recogen yorganizan los recursos de la Red sobre la basede un orde<strong>na</strong>miento previo. Su problema esque no siempre están suficientementeactualiza<strong>do</strong>s y que no recogen to<strong>do</strong>s losrecursos de la Red, sino tan sólo los que losautores de la información hayan da<strong>do</strong> de altaen el servicio. Su ventaja es su propiaorganización que ayuda a localizar lasdirecciones con mucha facilidad y de formamuy esquemática.c) Utilizan<strong>do</strong> los motores de búsqueda eindización automáticos, que pueden localizarcualquier recurso de la Red. Éstos tienen ladesventaja de que, si no acotamos muchonuestra búsqueda, nos pueden proporcio<strong>na</strong>rdemasia<strong>do</strong>s en laces, la mayoría de ellos


90 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVirrelevantes para nosotros. Su gran ventajaconsiste en que la información no necesitaser dada de alta para que el motor la localice,por lo que están más actualiza<strong>do</strong>s y suelenser más completos que los directorios yclasificaciones temáticas.d) Consultan<strong>do</strong> los enlaces que ponen adisposición del inter<strong>na</strong>uta otras pági<strong>na</strong>srelacio<strong>na</strong>das con el tema de nuestra búsqueda.U<strong>na</strong> vez localizada cualquier pági<strong>na</strong> relativaa la materia que se pretende encontrar, bastarácon conocer esa dirección, porque es casiseguro que esa pági<strong>na</strong> contará coninteresantes enlaces que llevarán a los puntosmás importantes <strong>do</strong>nde localizar toda lainformación necesaria. El problema es queno todas las pági<strong>na</strong>s cuentan con esos enlaces.e) Preguntan<strong>do</strong> a los propios usuarios dela Red. Ellos son, sin duda, los que estánmejor informa<strong>do</strong>s, los que conocen las últimaspági<strong>na</strong>s aparecidas no accesibles mediantebusca<strong>do</strong>res. Su información es siempre la másactualizada y suele ser pertinente. El éxitode la búsqueda es precisamente encontrar aalgún inter<strong>na</strong>uta dispuesto a ayudarnos y queademás esté interesa<strong>do</strong> o conozca el asuntosobre el que buscamos información. Haydiversos méto<strong>do</strong>s para localizar a entablarconversación entre los inter<strong>na</strong>utas: listas dedistribución, grupos de noticias, IRC, Chats,etc.En la World Wide Web los busca<strong>do</strong>reslos podemos dividir en busca<strong>do</strong>resautomáticos, o motores de búsqueda, ydirectorios o índice temáticos. Dentro de losmotores de búsqueda podemos encontrar, asu vez, busca<strong>do</strong>res automáticos generales yespecializa<strong>do</strong>s por campos del conocimiento,y lo mismo ocurre con los directorios(generales y especializa<strong>do</strong>s). Asimismo,existen además webs de motores de búsquedaque han incorpora<strong>do</strong> directorios en su pági<strong>na</strong>y al revés. El principal objetivo es facilitarla búsqueda de información al usuario, aunquecomo hemos visto, todavía queda mucho porhacer.Los conteni<strong>do</strong>s en la World Wide WebEn la actualidad la World Wide Webcontiene cerca de 5 millones de sitios web,que haría un total de 1.000 millones depági<strong>na</strong>s que aumentan cada día más. Lamayoría de ellas, aproximadamente un 86%,se encuentran escritas en inglés. 4Pero esto no es to<strong>do</strong>, la World Wide Webes únicamente u<strong>na</strong> ínfima parte de losconteni<strong>do</strong>s que hallan y que se vuelcanrealmente en Internet a través de bases dedatos, listas de distribución ( news groups),correo electrónico, etc, que pueden ser hasta500 veces mayor que el conteni<strong>do</strong> de la Web.Los <strong>do</strong>cumentos “Web” que se vancrean<strong>do</strong> son accesibles a cualquier usuariode la Red gracias a las llamadas “arañas”,u<strong>na</strong> tecnología de los busca<strong>do</strong>res cuyocometi<strong>do</strong> es leer cada pági<strong>na</strong> que encuentranen su camino, y mandar las palabras quecontiene, junto con la información de suubicación a enormes bases de datos. Acontinuación, estas arañas siguen los enlacesque se encuentran en esta pági<strong>na</strong> hasta llegara un nuevo sitio, y así sucesivamente. Sinembargo, según afirma Search Engine Watch 5 ,ningún busca<strong>do</strong>r indica más del 50% de laRed. Según un estudio de la revista Nature 6de febrero de 1999, entre to<strong>do</strong>s los busca<strong>do</strong>resno se cubría más que el 42% de la Red. Apesar de que la tecnología avanza y de quecada vez se amplía más esta cifra, continúahabien<strong>do</strong> u<strong>na</strong> cierta tendencia a indizar sobreto<strong>do</strong> sitios de EEUU, principalmente los másvisita<strong>do</strong>s y los sitios comerciales más querelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s con la educación. También sonpoco privilegia<strong>do</strong>s en este aspecto los<strong>do</strong>cumentos escritos en lenguas minoritariasque podemos encontrar en la Red en u<strong>na</strong> bajaproporción.Según la empresa Wordtracker, losusuarios realizan diariamente un total de 250millones de consultas a los busca<strong>do</strong>res. Lapalabra más buscada ha si<strong>do</strong> hasta hace pocola palabra “ sex” desbancada por el formatode comprensión musical “mp3”. Gracias aestos busca<strong>do</strong>res no es tan difícil encontraralgo en la Web, tan sólo hay que saber cómoutilizarlos adecuadamente, usar los llama<strong>do</strong>sopera<strong>do</strong>res booleanos, combi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> palabras– y, o, no – para definir la búsqueda e intentarque la palabra clave a utilizar no puedahallarse en otro campo.A la hora de a<strong>na</strong>lizar el conteni<strong>do</strong>disponible en la Red debemos tener tambiénen cuenta lo efímeros que son algunosenlaces. La media de cualquier enlace, hacealgunos años, era de 44 días. En febrero del


JORNALISMO912000, según un estudio de Inktomi, frentea 4,2 millones de sitios accesibles que seexami<strong>na</strong>ron, o,7 millones eran i<strong>na</strong>lcanzablesdebi<strong>do</strong> a la desaparición de su servi<strong>do</strong>r o asu trasla<strong>do</strong>. Con el propósito de preservarla mayor parte de la Web posible, incluyen<strong>do</strong>a los grupos de discusión, en 1995 BrewesterKahle comenzó a desarrollar el proyecto –“ The Internet Archive” 7 . Hasta el momentolleva almace<strong>na</strong><strong>do</strong>s 15,5 terabytes. La mayoríade las webs que contiene son, obtenidasmediante arañas aunque también se aceptanpági<strong>na</strong>s cedidas por sus propietarios.Para facilitar aún más la búsqueda, segúnel artículo de Juan José Millán “El libro demedio billón de pági<strong>na</strong>s 8 ”, se ha crea<strong>do</strong> ciertosoftware que permite ampliar el campomorfológico y semántico de las búsquedas;por ejemplo preguntan<strong>do</strong> por dirigir, seaccederá también a dirigi<strong>do</strong>, dirigien<strong>do</strong> y aguiar, conducir, etc. Del mismo mo<strong>do</strong>, existentambién busca<strong>do</strong>res que rompen la fronterade la lengua incorporan<strong>do</strong> a la búsqueda sustraducciones en otros idiomas (conducir,drive, conduire).Por lo tanto a la pregunta de qué contienela World Wide Web, la respuesta es u<strong>na</strong>infinidad de información que el usuario tieneque aprender a encontrar. Que no se encuentrelo que se busca, no significa necesariamenteque no esté ahí. En este mismo artículo, JuanJosé Millán identifica a los busca<strong>do</strong>res comointermediarios, es decir, como el filtro porel que los conteni<strong>do</strong>s de las webs llagan alpúblico. “Imaginemos que la única vía deacceso a todas las publicaciones mundialesfueran los ficheros de u<strong>na</strong> dece<strong>na</strong> debibliotecas. En la web estamos así, con ladiferencia de que en los busca<strong>do</strong>res no hahabi<strong>do</strong> bibliotecarios que apliquen sus saberesclasifica<strong>do</strong>res: sus programas actúanciegamente, a<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong> el código de lapági<strong>na</strong>, y clasifican<strong>do</strong> los sitios según criteriosformales. Este último aspecto es básico:cuan<strong>do</strong> puede haber cientos o miles de sitiosque responden a u<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>da búsqueda,figurar en los primeros puestos de la listade respuestas de un busca<strong>do</strong>r puede ser ladiferencia entre existir o no. No extrañará,por tanto, que haya quien lo intente por to<strong>do</strong>slos medios”, afirma.El papel del periodista digitalEn la actualidad, el papel del “periodistadigital” es fundamentalmente de gestión deconteni<strong>do</strong>s, de coordi<strong>na</strong>ción con los otrosmedios, aunque todavía se observa un ciertorecelo por Internet.Experiencias como las últimas eleccionesen EEUU son las que marcan las pautas delfuturo papel de los periodistas de mediosdigitales. El hecho de que la CNN en Internettuviera 10 millones de visitas por hora durantela jor<strong>na</strong>da de votación de estas elecciones,significa que ahí se estaban dan<strong>do</strong> conteni<strong>do</strong>s.Esa demanda que está sien<strong>do</strong> generada porla propia audiencia va a tener que sersatisfecha de algún mo<strong>do</strong>, lo que va asignificar elaboración de conteni<strong>do</strong>s. Por lotanto, cuan<strong>do</strong> se establezcan las ruti<strong>na</strong>s detrabajo de los medios digitales, la<strong>potencial</strong>idad de creación de información vaa ser mucho mayor. El papel del periodistaserá entonces coordi<strong>na</strong>r to<strong>do</strong>s esos materiales,contextualizarlos y mantenerlos perfectamenteactualiza<strong>do</strong>s.Entre sus funciones el periodista digitaltendrá que elaborar mucha mayor cantidady calidad de información que ha utiliza<strong>do</strong>para su trabajo. Los profesio<strong>na</strong>les de lainformación tienen que intentar buscar nuevasformas de <strong>na</strong>rrar que se ajusten a lasnecesidades y capacidades del medio,mantenien<strong>do</strong> como punto esencial de partidala interactividad con la audiencia.Es tal la velocidad a la que ocurre to<strong>do</strong>en el mun<strong>do</strong>, y es tal la velocidad con queel periodista debe trabajar con los nuevosmedios, que esta nueva situación acarrea u<strong>na</strong>sucesión de avances y riesgos que puedenderivarse de la implantación de las nuevastecnologías, especialmente “Internet” y elllama<strong>do</strong> “Sistema Digital” en losDepartamentos de Noticias, sobre to<strong>do</strong> de lascompañías de televisión, que pueden traeralgunos problemas a los profesio<strong>na</strong>les de lainformación.Dimos la bienvenida a este siglo hablan<strong>do</strong>el inglés y de “Internet”. No cabe la menorduda, de que la televisión que difunda lanoticia llegará hasta los confines del planetamediante u<strong>na</strong> señal visual comprimida, u<strong>na</strong>señal “digital” de la que habrá si<strong>do</strong> elimi<strong>na</strong>da


92 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtoda aquella información que resultaredundante y por lo mismo permite ahorraren las transmisiones to<strong>do</strong>s aquellos datos quesuperan la capacidad del ojo humano. Setratará, pues de u<strong>na</strong> noticia cuya difusió<strong>na</strong>ntesde emplearse la técnica “digital”- habríaocupa<strong>do</strong> por sí sola to<strong>do</strong> un segmento de untransporta<strong>do</strong>r de satélite, mientras que graciasa este procedimiento, de hecho, puedecoexistir con otras siete u ocho. Un granprogreso, sin duda.“Progreso” sería también la palabra másrecomendable si hubiera que elegir la máscapaz para adjetivar el sistema de informacióny comunicación a distancia que conocemospor el nombre de “Internet”. Procedimientode archivo, información y comunicación dedatos o noticias cuya utilidad está fuera deduda. Como red de orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res que a su vezestá compuesta de otras miles de redesregio<strong>na</strong>les y locales, “Internet” anticipa elfuturo en el mun<strong>do</strong> de la distribución deinformación. Más aún, este sistema es ya elembrión de “algo más”, - otro procedimientodemorfología todavía imprecisa pero cuyoconcepto está ya a nuestro alcance. Podemosya vislumbrar un nuevo sistema decomunicación, un sistema integra<strong>do</strong> o “total”y tal vez único, capaz de reunir la televisión,la radio, los periódicos y el teléfono. To<strong>do</strong>en uno. El sistema integral de comunicaciónde este siglo. De ser así, la aventura de“Internet” que como saben se iniciaba haceape<strong>na</strong>s u<strong>na</strong> generación, en 1969, va caminode convertirse en edificio. Curiosa aventura,desde luego, la de esta criatura <strong>na</strong>cida de losmie<strong>do</strong>s de la llamada Guerra Fría.Nos encontramos, como quien dice,dentro de u<strong>na</strong> nueva revolución, de la quetodavía no somos conscientes de susconsecuencias, porque no vemos el fi<strong>na</strong>l deltúnel en el que estamos inmersos. De ahí laincertidumbre que pesa todavía hoy enperiodistas, productores, guionistas,realiza<strong>do</strong>res, en fin en todas aquellas perso<strong>na</strong>sque de algu<strong>na</strong> manera se encuentrancomprometidas con el mun<strong>do</strong> de lacomunicación en algu<strong>na</strong> de sus facetas,porque quizá no to<strong>do</strong>s sus frutos sonrecomendables. De hecho, el sistema tambiénes fuente de riesgos.Creo que el primero de ellos tiene quever con la confusión que crea al difundirsela idea de que el acceso a la informaciónequivale ya al conocimiento. Craso error queal tiempo que instala a nuestra profesión enestadios de pedantería nunca antes conoci<strong>do</strong>s,limita cotidia<strong>na</strong>mente con el ridículo cuan<strong>do</strong>resulta que por la “Red” se cuela algúngazapo y la ignorancia, acrecida por laprepotencia del “redactor digitaliza<strong>do</strong>”,impide advertir el error. Pondré un ejemplo:hace un tiempo, en la ciudad de Ate<strong>na</strong>s, enel transcurso de u<strong>na</strong>s excavaciones paraconstruir un aparcamiento fuerondesenterra<strong>do</strong>s algunos restos mura<strong>do</strong>s delLiceo de Aristóteles. En pocas horas, lanoticia del hallazgo dio la vuelta al mun<strong>do</strong>y u<strong>na</strong> titulación errónea, hizo fortu<strong>na</strong>: “Descubiertos en Ate<strong>na</strong>s – decía – los restosde la Academia de Aristóteles”. El despachofecha<strong>do</strong> en Ate<strong>na</strong>s fue repetidamentedifundi<strong>do</strong> durante toda u<strong>na</strong> maña<strong>na</strong> pornumerosas emisoras de radio y también porlos ca<strong>na</strong>les de televisión que emitenprogramaciones informativas ininterrumpidas.En España llegó, incluso, hasta más allá delos telenoticiarios de las tres de la tarde.Diferentes medios –to<strong>do</strong>s ellos conecta<strong>do</strong>sa la “Red” - repitieron de manera irreflexivau<strong>na</strong> noticia que servida como tal, comoustedes habrán podi<strong>do</strong> apreciar, falseaba larealidad histórica confundien<strong>do</strong> el Liceo enel que enseñaba el filósofo de Estagira conla Academia de Platón, su maestro.Un error, se dirá, lo comete cualquiera.Cierto. Pero, a mi juicio, éste no es frutoexclusivo de la mala memoria o la falta decultura de los redactores de la agencia quedifundió la noticia del hallazgo. Tambiénquedaron implica<strong>do</strong>s las dece<strong>na</strong>s deperiodistas que en los diferentes medios- radioy televisión- a lo largo de toda la maña<strong>na</strong>no advirtieron el error y fueron, a su vez,repitién<strong>do</strong>lo hasta que alguien se percató dela pifia.¿Dónde estuvo el fallo? Para cualquierade cuantos trabajamos en este mun<strong>do</strong> de lainformación tiraniza<strong>do</strong> por el reloj, elproblema reside en el tiempo. El problemaes la falta de tiempo. To<strong>do</strong> el proceso de losmedios de comunicación modernos se resumeen u<strong>na</strong> carrera enloquecida contra el tiempo.To<strong>do</strong> está someti<strong>do</strong> a este condicio<strong>na</strong>mientobásico: hay que informar con rapidez yencima hay que hacerlo antes que la


JORNALISMO93competencia. Para eso disponemos – quizásería más exacto decir que padecemos- delas nuevas tecnologías de información detransmisión veloz. Por eso tendemos, demanera no siempre consciente, a fiarnos delo que leemos en la pantalla del orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r,de lo que nos llega por la “Red”. A identificar,en suma, el acceso a la información, con elconocimiento.La informatización de las redacciones, lasimpresoras acopladas a los orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res, eluso constante de los enlaces de microondas,las transmisiones por satélite, la conexión con“ Internet” y los teléfonos móviles son losútiles de trabajo que conforman la manoplade los periodistas de nuestros días en losmedios de comunicación y sobre to<strong>do</strong> en los<strong>audiovisual</strong>es.Seres, créanme, y no exagero, agobia<strong>do</strong>spor la dictadura del tiempo y la tensión queimpone el mun<strong>do</strong> cibernético que si bien poru<strong>na</strong> parte está a nuestra disposición – vendríaa ser el ilota de la cuestión – por otra, nospresio<strong>na</strong>, y agobia exigién<strong>do</strong>nos rapidez yreflejos que constantemente pone a pruebala prepotente superioridad de la memoriaartificial de las nuevas máqui<strong>na</strong>s.En resumen, no disculpo el error cometi<strong>do</strong>al devolver de nuevo a Aristóteles a laAcademia, como en sus años mozos, perocompren<strong>do</strong> por qué errores como éste puedenproducirse y repetirse simultáneamente endiferentes emisoras de radio y televisión.Llamo la atención acerca del quepodríamos denomi<strong>na</strong>r “culpable embosca<strong>do</strong>”,que en este caso sería el sistema informáticoutiliza<strong>do</strong> para recibir las noticias en u<strong>na</strong>sRedacciones en las que la diaria y prometéicatarea de contar lo que pasa en lo que en lajerga del oficio se denomi<strong>na</strong> “tiempo real”,es decir, al instante en honor del diosecillode la nueva cultura informativa de la noticiaservida en directo propicia este tipo deerrores. Que seguiremos cometien<strong>do</strong>, no lesquepa duda.Entre otras razones porque en el mun<strong>do</strong>nuevo que conforman ya las “Redaccionesdigitalizadas”, no anida sosiego. Ape<strong>na</strong>s restaespacio para “pensar” la noticia. Paradistanciarse del procedimiento y reflexio<strong>na</strong>racerca de lo que vamos a contar. Tiempo para– y pi<strong>do</strong> disculpas por la palabra –contextualizar las noticias.Ig<strong>na</strong>cio Ramonet, director de “Le MondeDiplomatique” dice que “vivimos la para<strong>do</strong>jade un mun<strong>do</strong> en el que nunca como ennuestros días la gente tuvo a su disposicióntanta información y, sin embargo, nunca fuetan grande y evidente, la desinformación detantos”.Las máqui<strong>na</strong>s con su aparente infabilidadnos trasladan esa falsa idea de un mun<strong>do</strong>hiperinforma<strong>do</strong>. El error, a mi juicio, resideen lo que podríamos llamar la tecnolotría,en la confianza casi irracio<strong>na</strong>l en el futuroque puede desprenderse del empleo de lasnuevas tecnologías aplicadas a la información.Es verdad que los ingenieros han hecho sutrabajo y lo han hecho bien y, técnicamente,nunca antes fueron tantas ni tan versátileslas posibilidades para transmitir imágenes opalabras o u<strong>na</strong> combi<strong>na</strong>ción de ambas. Pero,como decía, la inmediatez sin elconocimiento, no es garantía de <strong>na</strong>da. Va pordelante la técnica y se nota. Hace tiempo quelas matemáticas, la electrónica y lainformática aplicada a los procedimientos detransmisión están en el siglo XXI, mientrasque los periodistas y los programa<strong>do</strong>res nosiempre disponen, no siempre tenemos,conocimientos y talento suficiente como paracrear conteni<strong>do</strong>s capaces de au<strong>na</strong>r el interéscon el rigor, lo informativo como loformativo. Esa limitación, por muchainformática, “Internet” o “ sistema digital”que queramos, no menguará hasta que vengapreñada por el conocimiento.A este respecto, creo que la recomendaciónque se puede dar es bien sencilla: primerocultura, formación del redactor, y después,bienvenidas sean las nuevas tecnologías.Invertir los parámetros- tentación que seadvierte en nuestros días, a mi juicio,conduciría ineluctablemente al desastre.Desastre que por ejemplo, se insinúa yaen la deriva equivocada que adquiere ellenguaje, en este caso el español, porcontami<strong>na</strong>ción del inglés. La primeramanifestación del problema aparece en lapropia jerga tecnolingüistica de la que se ha<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> el gremio. Argó que, pongo por caso,nos hace hablar de “programacionesgeneralistas”, mediante un término que enlengua española carece de significa<strong>do</strong>.Dicho to<strong>do</strong> lo anterior, añadiré que, pesea to<strong>do</strong>, soy optimista. Creo en el progreso


94 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVy confío en las nuevas tecnologías queaplicadas a la transmisión de noticias, alla<strong>na</strong>nno pocos tramos del camino que nos acercaa los ciudadanos interesa<strong>do</strong>s en conocer quées lo que está pasan<strong>do</strong> en el mun<strong>do</strong>. Fijaría,si acaso, u<strong>na</strong> cautela. Da<strong>do</strong> que la cienciay sus aplicaciones técnicas están cambian<strong>do</strong>nuestro mun<strong>do</strong> y nuestras formas de vivir,convendría que no perdiéramos el senti<strong>do</strong>común. Que por muy modernos y ciber<strong>na</strong>utasque podamos sentirnos, no olvidemos que lasmáqui<strong>na</strong>s no son más que instrumentos. Yque lo único que nos pondrá a salvo de laconfusión es no perder vista que frente a lasnuevas tecnologías y sus apabullantesposibilidades, el hombre debe permanecer enel centro del esce<strong>na</strong>rio como medida últimade todas las cosas que aspiren a ser tenidaspor razo<strong>na</strong>bles.Porque no hace falta ser Diógenes parasaber que en nuestros días la televisión tiendea reemplazar a la escuela y para millones deciudadanos los programas y los presenta<strong>do</strong>resocupan el lugar antes reserva<strong>do</strong> a las aulasy a los maestros. Ese sería el perfil del másinquietante de cuantos riesgos acompañan alos medios de nuestros días y en especial ala televisión. El riesgo de no estar – por faltade preparación de quienes en ella trabajan –a la altura de lo exigible, ni aún contan<strong>do</strong>con las ventajas evidentes de las nuevastecnologías. Pero hablar de este aspecto dela cuestión sería tanto como abrir otro debateque nos llevaría lejos del tema que nos ocupa.


JORNALISMO95BibliografiaAlberganti,M, Le Multimédia. Larévolution au bout des <strong>do</strong>igts. Le Monde-Marabout, 1997( Col. Poche).Aronowitz,S., B. Martisons y M.Menser, Technosciencie and Cyberculture,Nueva York, Routledge,1996.Barnes, Sue. “Hypertest Literacy”, IPTC,Interperso<strong>na</strong>l Computing and Tecnology,volume 2, Number 4, Octuber 1994, WashingtD.C: Center For Teaching and Tecnology,Academic Computer center, GeorgetownUniversity, pp. 24-36.Berganza Conde, Maria Rosa yRodriguez Par<strong>do</strong>, Julián (editores): ElComunica<strong>do</strong>r ante el reto de las nuevastecnologías, en Actas del III Congreso sobrenuevas tecnologías. Facultad deComunicación. Universidad de Navarra. 1997.Botas, Antonio: La efectividad de lapublicidad en Internet.( Ponencia en el 3ºCongreso Nacio<strong>na</strong>l de Usuarios de Internet:“Mun<strong>do</strong> Internet 98”). Madrid, 1998.Carvazos, Edward A.; Gavino Morin:Cyberspace and the Law. Your Rights AndDuties in the On- Line World. Cambridge(Massachusetts): The MIT Press. 1994.Díaz Noci, Javier y Meso Ayerdi, Kol<strong>do</strong>:Periodismo en Internet. Modelos de la prensadigital. Bilbao.Universidad del País Vasco.1999.Echeverría, Javier: Internet y elperiodismo electrónico, en Colegio dePeriodistas, Barcelo<strong>na</strong> 1996.Echeverría, Javier: Los señores del aire:Telépolis y el tercer entorno. Barcelo<strong>na</strong>.Destino. 1999.E<strong>do</strong>, Concha: Los periódicos se instalandefinitivamente en la red. En Derecho YOpinión, Universidad de Cór<strong>do</strong>ba.Cór<strong>do</strong>ba.2000.Flores, José Miguel: Incidencias delsistema global de la información Electrónicaen el periodismo contemporáneo. Tesis<strong>do</strong>ctoral. Facultad de Ciencias de laInformación. Universidad Complutense deMadrid.1999.Fuentes I Pujol, María Eulalia: Lainformación en Internet. Barcelo<strong>na</strong>. Cims 97.Joyanes, Luis: Cibersociedad. McGrawHill. Madrid.1997.Martínez Albertos, José Luis: Elperiodismo en el siglo XXI: más allá delrumor y por encima del caos, en Estudiossobre el mensaje periodístico nº5. UniversidadComplutense de Madrid. Madrid 1999.Negroponte, Nicholas: El Mun<strong>do</strong> Digital,Barcelo<strong>na</strong>,Ediciones B.1995.Ramonet, Ig<strong>na</strong>cio: Internet, el mun<strong>do</strong>que llega. Los nuevos caminos lacomunicación. Alianza. Madrid.1998.Sartori, Giovanni: Homo videns. Lasociedad teledirigida.Taurus.Madrid1998.Seijas, Leopol<strong>do</strong>: Los Sistemasinformativos en la era digit@l. Universitas.Madrid.2001.Terceiro, José B: Socied@d digit@l (Delhomo sapiens al homo digitalis).Alianza.Madrid.1996.VV.AA.: Apuntes de la sociedadinteractiva. Autopistas inteligentes y negociosMultimedia. Fundesco, Madrid. 1996._______________________________1Universidad San Pablo-CEU2Salaverría, Ramón: Internet para periodistas.Escuela de Medios de La Voz de Galicia. ACoruña, 20 de septiembre de 2000.3Cita<strong>do</strong> en: Pérez Luque, Maria José: ElPeriodismo y las nuevas tecnologías. Newbook.Ediciones Navarra, 1998.pp: 81-82.4The Deep Web: Surfacing Hidden Value.Informe de BrightPlanet. Com:http://www.completeplanet.com/tutorials/deepweb/introductio_howsearch07.asp.5Search Engine Watch:http://www.searchenginewatch.com/reports/sizes.html6Lawrence, Steve y Giles, C. Lee, del NECResearch Institute. Cita<strong>do</strong> en Nature del 08/07/1999.7The Internet Archive:http:// www.archive.org/8Millán, Juan José: El libro de medio billónde pági<strong>na</strong>s: http://jamillan.com/ecoling.htm


96 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO97O que o jor<strong>na</strong>lismo pode aprender com a ciência:Objetividade <strong>na</strong> perspectiva <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismo crítico de Karl PopperLiriam Sponholz 1O tema deste artigo é como e até queponto as regras que guiam os méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>spelos cientistas para organizar, classificare traduzir a realidade poderiam contribuircom o jor<strong>na</strong>lismo. O objetivo é fornecerum modelo teórico de objetividadejor<strong>na</strong>lística para futuros estu<strong>do</strong>s empíricos.Para isso, devem ser a<strong>na</strong>lisadas semelhançase diferenças entre jor<strong>na</strong>lismo e ciência.No momento seguinte, pretende-se a<strong>na</strong>lisarum determi<strong>na</strong><strong>do</strong> conceito de ciência queparece especialmente apropria<strong>do</strong> para umacomparação com o jor<strong>na</strong>lismo, o <strong>do</strong>racio<strong>na</strong>lismo crítico de Karl Popper, e a suapossível aplicação nesta área. Por último,pretende-se apresentar um modelo deobjetividade jor<strong>na</strong>lística, que tem como pontocentral a produção de uma correlação entrerealidades social e midiática.Ciência e Jor<strong>na</strong>lismoA idéia de objetividade jor<strong>na</strong>lística estáligada à de ciência desde a origem daquelanos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, <strong>na</strong> década de 20. Segun<strong>do</strong>Streckfuss 2 , objetividade significavaorigi<strong>na</strong>lmente encontrar a verdade através <strong>do</strong>méto<strong>do</strong> rigoroso <strong>do</strong> cientista. De acor<strong>do</strong> comStreckfuss 3 , objetividade não foi fundada emuma idéia ingênua de que os seres humanospodem ser objetivos, mas sim no fato de queeles não podem. Esta deveria ser portantoalcançada através <strong>do</strong> uso de um méto<strong>do</strong>científico, ou seja, um procedimentointersubjetivamente aplicável, comparávelcom os das ciências sociais. Influencia<strong>do</strong>spelo movimento cultural <strong>do</strong> <strong>na</strong>turalismocientífico, os mentores da idéia utilizaram aciência como exemplo de como um jor<strong>na</strong>lismoobjetivo deveria ser.Como jor<strong>na</strong>listas trabalham sob muitapressão, suas chances de refletir sobre os seusméto<strong>do</strong>s é extremamente reduzida, a suatendência a a<strong>do</strong>tar uma roti<strong>na</strong> como garantiaparcial de sucesso e a repetir a mesma fórmulapara produzir notícias 4 é muito mais forte <strong>do</strong>que <strong>na</strong> ciência. Como ambas as formas deconhecimento apresentam semelhanças, aciência tem o <strong>potencial</strong> de oferecer novaslinhas de reflexão para o jor<strong>na</strong>lismo.Tanto a ciência como o jor<strong>na</strong>lismo sãotipos de processos de conhecimento. Talprocesso pode ser identifica<strong>do</strong> tanto <strong>na</strong>produção quanto <strong>na</strong> recepção de estu<strong>do</strong>scientíficos e de notícias. Objetividade serefere somente à produção como processo deconhecimento, ou seja, como jor<strong>na</strong>listas ecientistas trabalham e estruturam as informaçõesque recolhem da realidade, através dacomparação destas com aquilo que eles jásabem 5 .Tanto jor<strong>na</strong>listas quanto cientistas utilizamum méto<strong>do</strong> para conhecer a realidade.Ambos têm suas idéias, opiniões pré-formadas,suspeitas ou suposições sobre aquilo queobservam. Algumas delas são tidas comocertas, outras precisam ser testadas.As suposições <strong>do</strong>s cientistas vêm de umateoria científica, uma série de afirmações nãocontraditórias. Essa teoria é o resulta<strong>do</strong> deum saber acumula<strong>do</strong>, <strong>do</strong> que outros estu<strong>do</strong>ssobre o mesmo tema já mostraram. No caso<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista, as suas suposições vêm dasinformações que ele acabou de reunir sobreum determi<strong>na</strong><strong>do</strong> assunto. Daí advém umaoutra diferença: o cientista é um especialista,o jor<strong>na</strong>lista, não.O cientista não tem só um tema, mastambém um problema para resolver. Já ojor<strong>na</strong>lista não tem necessariamente um problema,algo para explicar ou para descobrir,mas sim um tema. O jor<strong>na</strong>lista só vai formularhipóteses quan<strong>do</strong> tiver que noticiarsobre um problema ou quan<strong>do</strong> problematizara sua pauta. Se o jor<strong>na</strong>lista escreve umanotícia sobre o reinício das aulas <strong>na</strong>s escolas,ele tem um tema. Se a pauta incluir ascondições que os estudantes vão encontrarno recomeço das aulas (por exemplo, asituação precária <strong>do</strong> prédio da escola, o


98 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVnúmero excessivo de alunos por sala ou onúmero reduzi<strong>do</strong> de professores), então eletem um problema a esclarecer ou a descobrir.Os <strong>do</strong>is tipos de profissio<strong>na</strong>is tentamtestar suas hipóteses. O cientista tenta confirmarou derrubar suas hipóteses através deprocedimentos aplica<strong>do</strong>s a eventos que podemser repeti<strong>do</strong>s em um médio ou longoprazo e dentro de um campo de ação relativamenteautônomo. O jor<strong>na</strong>lista precisatestar suas hipóteses num curtíssimo prazo(até o fechamento da próxima edição) sobreacontecimentos que <strong>na</strong> maior parte das vezesnão podem ser repeti<strong>do</strong>s nem estão sob seucontrole e sob a pressão <strong>do</strong> público-leitor,da organização jor<strong>na</strong>lística, <strong>do</strong> seu chefe, <strong>do</strong>sseus colegas de trabalho. O cientista escrevepara os seus colegas, o jor<strong>na</strong>lista, para umpúblico não-especializa<strong>do</strong>.De acor<strong>do</strong> com Genro Filho 6 , pode-secaracterizar os tipos de conhecimento deacor<strong>do</strong> com as categorias de universal, particularou individual. O jor<strong>na</strong>lismo produzconhecimento sobre a feição singular darealidade, enquanto a ciência se ocupa comcategorias lógicas universais 7 . O cientistaprocura aquilo que se repete, ou seja, leis ouregularidades com relação ao objeto queobserva. O jor<strong>na</strong>lista procura fatos singulares.O jor<strong>na</strong>lismo se interessa por exemplo porJoão da Silva, motorista de caminhão, 35anos, quatro filhos, que trabalha 16 horas pordia e se acidentou <strong>na</strong> Ro<strong>do</strong>via XYZ, que seencontra em péssimo esta<strong>do</strong> e não sofrereparos desde 1985. Para a ciência, esteevento só é relevante dentro de uma sériede acidentes com caminhões ou num levantamento<strong>do</strong>s acidentes <strong>na</strong> ro<strong>do</strong>via XYZ. Sóos aspectos particulares ou universais destecaso despertam o interesse da ciência. Já ojor<strong>na</strong>lismo se preocupa exatamente com a suasingularidade.O fato de o jor<strong>na</strong>lismo se concentrar noseventos singulares significa que este tipo deprocesso de conhecimento pode revelar aspectosda realidade que a ciência não consegue.Quan<strong>do</strong> um jor<strong>na</strong>lista mostra o cotidianode um mora<strong>do</strong>r de rua ou de umprisioneiro, ele pode transmitir informaçõesrelevantes para entender o problema. Comoa ciência ignora estes aspectos individuais,cabe ao jor<strong>na</strong>lismo mostrá-los.A ciência <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismo críticoNuma comparação entre as duas formasde conhecimento citadas, uma determi<strong>na</strong>daconcepção de ciência parece especialmenteapropriada, a <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismo crítico, desenvolvidapelo filósofo austríaco Karl Popper.Isto porque o jor<strong>na</strong>lismo, embora não sejaciência, aproxima-se sobretu<strong>do</strong> daquilo quese define como ciências sociais empíricas.Segun<strong>do</strong> Popper, o que define a ciênciacomo tal é a falseabilidade de suas hipóteses.Só uma suspeita ou suposição que é passívelde ser testada pode ser refutada. E só se elafor refutável pode ser considerada científica 8 .A frase “A temperatura vai subir” <strong>na</strong>o éfalsificável, porque não pode ser testada. Elasó pode ser utilizada em um estu<strong>do</strong> científicocomo provocação, como motivação para umapesquisa. Já a afirmação “A temperatura emCovilhã vai subir <strong>do</strong>is graus por ano a cadaverão” poderia ser uma hipótese científica,porque é falsificável.Segun<strong>do</strong> Popper, hipóteses devem serfalsificadas, e não confirmadas. Se o pesquisa<strong>do</strong>rparte <strong>do</strong> pressuposto que to<strong>do</strong>s os cisnessão brancos, ainda que ele encontre só cisnesbrancos, não significa que cisnes pretos nãoexistem. Por isso, o cientista que acredita queto<strong>do</strong>s os cisnes são brancos deve procurarcisnes pretos. Além disso, pode-se aprendermuito mais com a falsificação desta hipótese<strong>do</strong> que com a sua confirmação, já que atravésdaquela é possível descobrir a existênciade cisnes pretos, onde e como vivem cisnespretos e onde vivem cisnes brancos, se háoutros fatores que os diferenciam e assim pordiante.O princípio da falsificação, que a priorise referia a uma questão lógica, adquiriu umafeição política depois da publicação <strong>do</strong> livro“A sociedade aberta e seus inimigos” em1945 9 , tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se uma espécie de mecanismoanti<strong>do</strong>gmático:Once your eyes were thus opened yousaw confirming instances everywhere:the world was full of verifications ofthe theory. Whatever happened alwaysconfirmed it. Thus its truth appearedmanifest; and unbelievers were clearlypeople who did not want to see themanifest truth. (Magee: 1975, 45)


JORNALISMO99O princípio da falsificação permite umaaproximação da realidade exatamente atravésda negação de verdades manifestas.Nenhum conhecimento, inclusive o da ciência,deve ser trata<strong>do</strong> como verdade absoluta,mas sim como hipotético, já que não épossível conhecer a realidade de maneiraabsoluta e segura.O teste das hipóteses deve seguir determi<strong>na</strong>dasregras <strong>na</strong> ciência. Os pesquisa<strong>do</strong>resdevem testar suas hipóteses através deméto<strong>do</strong>s transparentes, que possam ser repeti<strong>do</strong>spor outros (intersubjetividade). Seoutros pesquisa<strong>do</strong>res repetirem o experimentosob as mesmas condições, devem chegarao mesmo resulta<strong>do</strong> que o primeiro. Osinstrumentos utiliza<strong>do</strong>s devem ser adequa<strong>do</strong>spara medir o que se pretende medir.A ciência deve tentar ser objetiva, o quesignifica para Popper que o seu méto<strong>do</strong> deveser passível de ser testa<strong>do</strong> intersubjetivamente.Ou seja, objetividade de acor<strong>do</strong> como racio<strong>na</strong>lismo crítico não se refere ao teorde verdade das afirmações, mas sim aométo<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>.A ciência que Karl Popper propõe unepercepção e teoria. Se uma teoria é empírica(e só teorias empíricas podem ser testadas),então ela precisa ser acoplada à experiênciae à percepção 10 . Ao mesmo tempo, a teoriapode controlar e corrigir a percepção 11 .O jor<strong>na</strong>lismo e o racio<strong>na</strong>lismo críticoQuan<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>listas noticiam sobre problemas,ou seja, sobre temas ou eventos nosquais há algo para descobrir ou para explicar,desenvolvem hipóteses. Hipótesesjor<strong>na</strong>lísticas podem ser classificadas em trêscategorias: descritivas, evaluativas eprescritivas 12 . Descritivas são afirmações <strong>do</strong>tipo “O presidente renunciou ao cargo hojeà tarde”. A suposição “A renúncia <strong>do</strong> presidentefoi melhor para o país” é <strong>do</strong> tipoevaluativa e a hipótese “O presidente deverenunciar nos próximos dias” se insere <strong>na</strong>categoria prescritiva.A maior parte das hipóteses jor<strong>na</strong>lísticassão <strong>do</strong> tipo descritiva, ou seja, passíveis deserem testadas empiricamente 13 .O que não seenquadra nesta categoria não pertence aojor<strong>na</strong>lismo informativo, mas sim ao jor<strong>na</strong>lismoopi<strong>na</strong>tivo. Como o jor<strong>na</strong>lismo informativose ocupa com este tipo de hipótese,o racio<strong>na</strong>lismo crítico pode oferecer umaalter<strong>na</strong>tiva para os jor<strong>na</strong>listas sobre como lidarcom os seus pressupostos ou convicções. Paraisso, é preciso entender no que e até que pontoo racio<strong>na</strong>lismo crítico pode contribuir parao jor<strong>na</strong>lismo.Para Popper, o objetivo maior da ciênciaé aproximar-se da realidade através da refutação<strong>do</strong> que se sabe até o momento. Nojor<strong>na</strong>lismo, há diferentes objetivos. Um delesé mediar informações reais e, através disto,oferecer modelos de orientação prática parao seu público 14 . Mas o jor<strong>na</strong>lismo tambémpode contribuir para uma aproximação darealidade através da refutação <strong>do</strong> que se sabeaté o momento. No entanto, o jor<strong>na</strong>lista nãorefuta necessariamente o conhecimento quefoi acumula<strong>do</strong> sobre um tema, mas sim asinformações que se têm até agora sobre umacontecimento. Portanto, a observação darealidade, ou seja, a pesquisa ou investigaçãojor<strong>na</strong>lística tem uma função central nesteconceito de objetividade.Segun<strong>do</strong> o racio<strong>na</strong>lismo crítico, a observaçãoda realidade deve obedecer regras paraevitar uma percepção falsa 15 . Por isso, ocientista deve seguir um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> méto<strong>do</strong>,que por sua vez deve respeitar regras deobservação e de intersubjetividade. O uso deum méto<strong>do</strong> em jor<strong>na</strong>lismo também podecontribuir para evitar a formação de imagensfalsas sobre o que se observa.Como objetividade para Popper se referea uma questão de méto<strong>do</strong>, a sua utilizaçãono jor<strong>na</strong>lismo se restringe à fase de reportagem.No entanto, se objetividade for reduzidaa uma questão de méto<strong>do</strong>, o objetivo<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deixa de ser uma correlaçãocom a realidade primária. Segun<strong>do</strong>Neuberger 16 , o racio<strong>na</strong>lismo crítico pode atéatrapalhar, já que ignora regras jáinstitucio<strong>na</strong>lizadas. Ao mesmo tempo, podecontribuir para encontrar novas regras e paramelhorar o processo de conhecimentojor<strong>na</strong>lístico. O racio<strong>na</strong>lismo crítico, portanto,não esgota o problema da objetividade.Além disso, é preciso distinguir entreobjetividade em jor<strong>na</strong>lismo e objetividadejor<strong>na</strong>lística 17 . A contribuição popperia<strong>na</strong> serestringe às normas ou regras que jor<strong>na</strong>listasdevem utilizar para garantir uma conexãoentre a realidade social e a realidade


100 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmidiática, ou seja, à objetividade jor<strong>na</strong>lística.Esta concepção não oferece nenhumaresposta ao problema da objetividade textual,ou seja, à questão da veracidade dasinformações contidas <strong>na</strong> notícia.Evidentemente há a possibilidade de queuma notícia seja verídica, ainda que o jor<strong>na</strong>listanão tenha agi<strong>do</strong> de forma objetiva. Umtexto jor<strong>na</strong>lístico pode ter um grau eleva<strong>do</strong>de correlação com a realidade, embora ojor<strong>na</strong>lista só tenha reescrito um press release.Neste caso, entretanto, a veracidade da notícianão se deve ao jor<strong>na</strong>lista.Uma aproximação da realidade só podeser verificada se for possível averiguar asinformações e criticar as explicaçõesfornecidas em uma notícia. Objetividadejor<strong>na</strong>lística é portanto uma condição paraobjetividade em jour<strong>na</strong>lismo.Neuberger 18 reinterpretou as regras dePopper para o jor<strong>na</strong>lismo e propôs quejor<strong>na</strong>listas pesquisem, utilizem méto<strong>do</strong>sadequa<strong>do</strong>s e registrem o que escrevem, paraque outros possam repetir o mesmo procedimentoe chegar aos mesmos resulta<strong>do</strong>s.Uma possível aplicação <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismocrítico no jor<strong>na</strong>lismo não pode no entantose limitar à idéia de intersubjetividade <strong>do</strong>méto<strong>do</strong>. Bentele 19 sugere três característicascentrais como critérios essenciais paraobjetividade em jor<strong>na</strong>lismo: utilização deafirmações corretas, integridade das informaçõescom relação ao aconteci<strong>do</strong> e, comometacritério, intersubjetividade.Basean<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> reinterpretação das regrascientíficas <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismo crítico realizadapor Neuberger e no conceito de objetividadeem jor<strong>na</strong>lismo desenvolvi<strong>do</strong> por Bentele, umaconcepção racio<strong>na</strong>lista crítica de objetividadedeveria seguir as seguintes regras de observação:Pesquisa e investigação própria: jor<strong>na</strong>listasdevem levantar informações e ouvir fontesque até então não foram consideradas;Verificação das informações: comparaçãode afirmações de diversas fontes sobre omesmo acontecimento, através de fontes dediversos tipos e com opiniões diferentes;Uso de técnicas de observação e deprotocolo adequa<strong>do</strong>s: o méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> pelojor<strong>na</strong>lista e as informações que ele levanta,devem mostrar aquilo que o jor<strong>na</strong>lista pretendecomprovar;Grau de Abrangência: levantamento precisode informações, resposta a todas asperguntas <strong>do</strong> lide, levantamento de mais deuma linha de interpretação, seleção de to<strong>do</strong>sos envolvi<strong>do</strong>s ou afeta<strong>do</strong>s pelo acontecimentocomo tipos de fontes;- Liberdade de juízo de valor: seleção deinformações e fontes que possam derrubara hipótese <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista sobre o problema.No caso da verificação intersubjetiva, ojor<strong>na</strong>lista deve respeitar:Transparência <strong>do</strong> processo de conhecimento:levantamento de informações precisas,citação completa das fontes, desenvolvimentode hipóteses passíveis de seremtestadas e preenchimento de “protocolo” sobreo méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>.Estes são critérios que devem ser considera<strong>do</strong>s<strong>na</strong> produção de notícia para evitaruma percepção falsa da realidade e garantirum grau de correlação entre realidade sociale realidade midiática.O que significa seguir este conceito deobjetividade no dia-a-dia das redações? Emtermos práticos, pesquisa ou investigaçãoprópria significa que se o jor<strong>na</strong>lista ambicio<strong>na</strong>ser objetivo não pode se limitar areescrever ou mesmo entrevistar só as fontesque são citadas no press release. O profissio<strong>na</strong>lprecisa ouvir fontes e levantar informaçõesque não foram consideradas no pressrelease ou <strong>na</strong> entrevista coletiva.Com relação à verificação, o que foicita<strong>do</strong> no press release deve ser confronta<strong>do</strong>com depoimentos de fontes de tipos diferentes,que possam trazer outras informações oumesmo da<strong>do</strong>s que contradigam o que foi dito.A expressão “tipos diferentes” se refere nãosomente a fontes que tenham uma opiniãodiferente sobre o assunto, mas também queofereçam outras perspectivas. Não basta ouvirum representante <strong>do</strong> governo e outro daoposição sobre um projeto de lei, é precisoouvir também o especialista, o cidadão quepode ser afeta<strong>do</strong> pela nova legislação ou asorganizações que o representam. Ao mesmotempo, a verificação de informações precisanecessariamente abranger entrevista<strong>do</strong>s querepresentem pontos de vistas contraditórios.O uso de méto<strong>do</strong>s de observação adequa<strong>do</strong>ssignifica que as informações levantadaspelo jor<strong>na</strong>lista devem ter uma correlação comaquilo que ele pretende descobrir ou expli-


JORNALISMO101car. O mesmo princípio vale para a seleçãodas fontes. O fato de o entrevista<strong>do</strong> seradvoga<strong>do</strong> não o credencia para comentar oprojeto de reforma tributária, mesmo que eleseja o presidente da Ordem <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s.Para a<strong>na</strong>lisar este assunto, seria mais adequa<strong>do</strong>ouvir um professor de direito tributário,que certamente já trabalhou com o tema.O mo<strong>do</strong> como o jor<strong>na</strong>lista levanta asinformações também deve ser apropria<strong>do</strong> parainvestigar ou explicar o fato sobre o qualse noticia. Se ele investiga o esta<strong>do</strong> precáriodas escolas públicas, é mais adequa<strong>do</strong> falarcom os professores ou alunos de uma escolanestas condições e depois ouvir o secretáriode Educação, e não o contrário.O grau de abrangência deve contribuirpara que o acontecimento a ser noticia<strong>do</strong> sejaapresenta<strong>do</strong> num contexto mínimo. Isto significaque não basta responder a perguntascomo o quê, quem, quan<strong>do</strong> e onde. É precisolevantar os comos e porquês. Também nãobasta ouvir uma explicação para o problema,já que o objetivo <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> é exatamenteevitar uma percepção falsa da realidade.Parte-se <strong>do</strong> pressuposto de que o levantamentode mais de uma explicação pode contribuirpara evitar isto. No caso de da<strong>do</strong>sestatísticos, devem ser levanta<strong>do</strong>s o universode pesquisa, o méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>, o perío<strong>do</strong>em que o estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> e quem oproduziu.Para garantir a transparência <strong>do</strong> processo<strong>do</strong> conhecimento, é preciso que outras pessoaspossam ter acesso às informações queo jor<strong>na</strong>lista levantou, bem como ao méto<strong>do</strong>utiliza<strong>do</strong> para levantá-las. Os depoimentospresta<strong>do</strong>s bem como da<strong>do</strong>s sobre as fontes(nome, cargo ou função) devem ser grava<strong>do</strong>sou anota<strong>do</strong>s de tal forma que outra pessoas(por exemplo, o editor) possa reconstruir oprocesso da reportagem através destas anotações.Se o jor<strong>na</strong>lista produz uma reportagemsobre o projeto de preservação <strong>do</strong> meioambientede uma determi<strong>na</strong>da multi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>latravés de uma viagem às instalações industriaispaga por ela, esta informação precisaser colocada à disposição daqueles que lerema notícia.O princípio da verificação intersubjetivasó funcio<strong>na</strong> para hipóteses descritivas. Afirmações<strong>do</strong> tipo “João da Silva foi um bomprefeito” não podem ser testadasintersubjetivamente e, portanto, não pertencemao jor<strong>na</strong>lismo informativo.Falsificação em jor<strong>na</strong>lismoA idéia de que jor<strong>na</strong>listas devem observara realidade de acor<strong>do</strong> com algumas regraspara garantir objetividade no seu trabalho nãoé nova. A contribuição <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismo críticopode no entanto ultrapassar esta fronteira.A característica principal <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>lismocrítico é o princípio da falsificação. É estanorma que determi<strong>na</strong> o tipo de hipótese quedeve ser formulada, o méto<strong>do</strong> e até mesmoo resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> cientista. Atravésdisso, o pesquisa<strong>do</strong>r se “previne” de<strong>do</strong>gmatismo, seja o seu próprio ou não.No jor<strong>na</strong>lismo, a busca por uma liberdade<strong>do</strong> juízo de valor tem si<strong>do</strong> marcada peloprincípio da neutralidade. O conceito tradicio<strong>na</strong>lde objetividade como neutralidade negaaos jor<strong>na</strong>listas a possibilidade de desenvolveridéias sobre aquilo que eles observam.Quan<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>listas têm idéias, suspeitas,suposições ou opiniões, então não são maisobjetivos.Como avaliar, desenvolver idéias sobreaquilo que se observa é inerente ao processode conhecimento, neutralidade mostra-seentão um mecanismo incapaz de garantir aliberdade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas perante juízos devalor. O problema não é ter opiniões, suposiçõesou pré-conceitos, mas sim o que sefaz com eles.Jor<strong>na</strong>listas tendem fortemente a confirmarsuas hipóteses, o que Stocking (1989)chama de confirmation bias. Isto não significaque estes profissio<strong>na</strong>is inventam fatosou explicações, mas sim que eles só investigamou pesquisam em uma direção, indiferentese depois da pesquisa eles ouvem os<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> problema ou não. Jor<strong>na</strong>listasse tor<strong>na</strong>m prisioneiros não necessariamentedas próprias convicções, mas também daobrigação de produzir histórias com valoresnotíciaseleva<strong>do</strong>s.O que estes profissio<strong>na</strong>is devem fazer comas suas inevitáveis hipóteses, para que elasnão atrapalhem uma aproximação da realidade?O princípio da falsificação poderia seraplica<strong>do</strong> no jor<strong>na</strong>lismo? Deveria? O que ojor<strong>na</strong>lista deve tentar falsificar?


102 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVAs condições necessárias para a falsificação<strong>na</strong> ciência não existem no jor<strong>na</strong>lismo.O jor<strong>na</strong>lista desenvolve hipóteses a partir dasinformações reunidas e não a partir de umsaber acumula<strong>do</strong>, ele também <strong>na</strong>o é especialista.Ou seja, no caso <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista, épreciso primeiro que o que se sabe até agoraseja levanta<strong>do</strong>. Depois, ele pode tentar falsificareste conhecimento. Este princípioprecisa, portanto, ser reinterpreta<strong>do</strong>.O que o princípio da falsificação significariapara o jor<strong>na</strong>lismo? Este princípiopoderia garantir liberdade de juízos de valor.Ao mesmo tempo, exigiria mais tempo parapesquisa. Jor<strong>na</strong>listas precisariam primeirolevantar um nível de informações mínimo,“provas” que comprovem sua hipótese, edepois pesquisar ou investigar contra suaprópria hipótese. Isto significa a substituiçãode uma fairness passiva (ouvir os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>sde uma questão) por uma outra ativa, em quese pesquisa em ambas as direções, pró econtra a própria hipótese. Outra consequênciaseria que jor<strong>na</strong>listas teriam que ser abertoso suficiente não só para deixar suas hipóteses,como também suas pautas caírem.Critérios para avaliação de liberdade <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista frente às suas próprias convicçõesde acor<strong>do</strong> com este princípio seriam a escolhade fontes bem como o levantamentointencio<strong>na</strong>l e planeja<strong>do</strong> de informações quepossam derrubar suas hipóteses.É preciso sobressaltar que o princípio defalsificação não significa que jor<strong>na</strong>listasdeveriam tentar derrubar suas hipóteses aqualquer custo, mas sim que suas suspeitasdevem passar por um teste de falsificação.Caso elas não sejam refutadas, isto fala afavor da sua relação com a realidade primária.Diferente <strong>do</strong>s outros critérios cita<strong>do</strong>s, aa<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> princípio de falsificação precisaser exami<strong>na</strong>da não só <strong>do</strong> ponto de vista dasua plausibilidade, mas também da suaaplicação prática.ConclusãoO modelo apresenta<strong>do</strong> aqui tem o propósitode contribuir para ultrapassar umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> patamar <strong>na</strong> discussão sobreobjetividade, através da concretização de umaconcepção baseada <strong>na</strong> teoria <strong>do</strong> conhecimentoem um modelo teórico. Também se pretendefornecer através deste modelo novoscritérios para estu<strong>do</strong>s comparativos entrecoberturas jor<strong>na</strong>lísticas e realidade social,centra<strong>do</strong>s <strong>na</strong> relação entre estes <strong>do</strong>is tiposde realidade, e não mais em noções tradicio<strong>na</strong>isde objetividade que se concentramem outras funções da mídia, como porexemplo as concepções de relevãncia,pluralismo ou fairness, entre outras 20(Sponholz, 2003).Uma das vantagens de uma “tradução”<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s científicos para o jor<strong>na</strong>lismo éa possibilidade de oferecer modelos de açãoque orientem futuros jor<strong>na</strong>listas. Atravésdisto, pode-se superar a noção de que jor<strong>na</strong>lismose produz com feeling, de que nãohá possibilidade de aprendiza<strong>do</strong> ou conhecimentosistemático em jor<strong>na</strong>lismo. Emboraexistam jor<strong>na</strong>listas que não precisem de umméto<strong>do</strong> para alcançar os mesmos objetivos,a falta de sistematização leva novos repórteresa freqüentemente “reinventarem aroda” 21 .Ao mesmo tempo, exigir que jor<strong>na</strong>listaspesquisem e até mesmo procurem derrubarsuas pautas parece ir contra o processo quese observa <strong>na</strong>s redações. Redução de custosatravés da diminuição <strong>do</strong> número de jor<strong>na</strong>listas<strong>na</strong>s redações, da produção de maismatérias com menos pessoal, menos investimentoem investigação e tempo, têm leva<strong>do</strong>a um alto grau de utilização de pressreleases e a menos investigação/pesquisa nojor<strong>na</strong>lismo.A utilização de um méto<strong>do</strong> em jor<strong>na</strong>lismoque possa garantir um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> graude objetividade poderia hipoteticamente levara um conflito com as condições em quejor<strong>na</strong>listas trabalham ou a uma otimização<strong>do</strong>s poucos recursos <strong>do</strong>s quais jor<strong>na</strong>listasdispõem para pesquisar 22 . Ambas hipótesesexigem investigação para que se possa determi<strong>na</strong>rempiricamente a contribuição <strong>do</strong>racio<strong>na</strong>lismo crítico para o jor<strong>na</strong>lismo. O<strong>potencial</strong> que esta perspectiva oferece, entretanto,é concreto.


JORNALISMO103BibliografiaBennett, W. Lance, News: the politics ofillusion. New York: Longman, 2003.Bentele, Günter, Objektivität undGlaubwürdigkeit von Medien. Einetheoretische und empirische Studie zumVerhältnis von Realität und Medienrealität.Unveröffentlichte Habilitationsschrift, Berlin,1988.Genro Filho, Adelmo, O segre<strong>do</strong> dapirãmide. Por uma teoria marxista <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Porto Alegre: Editora Tchê, 1988.Haller, Michael, Recherchieren. EinHandbuch für Jour<strong>na</strong>listen. München:Ölschlager Verlag, 5. Auf., 2000.Lippmann, Walter, Die öffentlicheMeinung. München: Rütten+Loening Verlag,1964.Magee, Bryan, Popper. Glasgow:Fonta<strong>na</strong>, 1975.Meditsch, Eduar<strong>do</strong>, O conhecimento <strong>do</strong>Jor<strong>na</strong>lismo. In: http://www.jor<strong>na</strong>lismo.ufsc.br/bancodeda<strong>do</strong>s/publicacoes.html, 1992.Neuberger, Christoph, Jour<strong>na</strong>lismus alsProblembearbeitung. Objektivität undRelevanz in der öffentlichen Kommunikation.Konstanz: UVK Medien, 1996.Park, Robert, News as a Form ofKnowledge. In: PPark, Robert. On socialcontrol and collective Behavior. Chicago,Lon<strong>do</strong>n: The University of Chicago Press,1967.Pesch, Volker, Sir Karl Raimund Popper.In: Massing, Peter; Breit, Gotthard.Demokratie-Theorien. Von der Antike bis zurGegenwart. Bonn: Bundeszentrale fürpolitische Bildung, 2. Auf., 2003.Popper, Karl R. Logik der Forschung,Tübingen: Mohr, 10. Auf., 1994.Reyes, Leo<strong>na</strong>rda, Estratégias deinvestigación. In: Sala de Prensa, n. 26,Diciembre 2000, Ano II, vol. 2, http://www.saladeprensa.orgSponholz, Liriam, Objetividade em jor<strong>na</strong>lismo.Uma perspectiva da teoria <strong>do</strong>conhecimento. In: Revista Famecos - Mídia,cultura e tecnologia, n. 21, agosto 2003.Stocking, S. Holly; Lamarca, Nancy,How Jour<strong>na</strong>lists describe their stories:Hypotheses and Assumptions in Newsmaking.In: Jour<strong>na</strong>lism Quarterly, vol. 67, n. 2, 1990.___________________; GROSS, PagetH., How <strong>do</strong> Jour<strong>na</strong>lists think? A proposalfor the Study of Cognitive Bias inNewsmaking. Bloomington: ERICClearinghouse on Reading andCommunication Skills, 1989.Streckfuss, Richard, Objectivity inJour<strong>na</strong>lism: a Search and a Reassessment.In: Jour<strong>na</strong>lism Quartely, vol. 67, n. 4., 1990.Tuchman, Gaye, A objectividade comoritual estratégico: uma análise das noçõesde objectividade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. In:TRAQUINA, Nelson, Jor<strong>na</strong>lismo: questões,teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993.Vollmer, Gerhard, Was können wirwissen? Band I – Die Natur der Erkenntnis.Stuttgart: Hirzel, 2. durchges. Auf., 1985._______________________________1J Universidade Federal <strong>do</strong> Paraná/Universidadede Leipzig, Alemanha.2Richard Streckfuss, Objectivity inJour<strong>na</strong>lism: a Search and a Reassessment. In:Jour<strong>na</strong>lism Quartely, vol. 67, n. 4, 1990, p. 975.3Op.cit., p. 974.4Ver a respeito W. Lance Bennett, News: thepolitics of illusion. New York: Longman, 2003,p. 162-165; Walter Lippmann, Die öffentlicheMeinung. München: Rütten+Loening Verlag, 1964,p. 240; Gaye Tuchman, A objectividade comoritual estratégico: uma análise das noções deobjectividade <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. In: Nelson Traqui<strong>na</strong>,Jor<strong>na</strong>lismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa:Vega, 1993, p. 78.5Gerhard Vollmer, Was können wir wissen?Band I – Die Natur der Erkenntnis. Stuttgart:Hirzel, 2. durchges. Auflage, 1985, p. 33.6Adelmo Genro Filho, O segre<strong>do</strong> da pirãmide.Por uma teoria marxista <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. PortoAlegre: Editora Tchê, 1988, p. 64.7Op.cit, p. 64.8Bryan Magee, Popper. Glasgow: Fonta<strong>na</strong>,1975, p. 43.9Ver a respeito Bryan Magee, Popper.Glasgow: Fonta<strong>na</strong>, 1975, p. 45; Volker Pesch, SirKarl Raimund Popper. In: Peter Massing; GotthardBreit, Demokratie-Theorien. Von der Antike biszur Gegenwart. Bonn: Bundeszentrale fürpolitische Bildung, 2. Auf., 2003, p. 197.10Gerhard Vollmer, Was können wir wissen?Band I – Die Natur der Erkenntnis. Stuttgart:Hirzel, 2. durchges. Auflage, 1985, p. 73.11Op. cit., p. 95.12S. Holly Stocking; Nancy LaMarca, HowJour<strong>na</strong>lists describe their stories: Hypotheses and


104 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVAssumptions in Newsmaking. In: Jour<strong>na</strong>lismQuarterly, vol. 67, n. 2, 1990, p. 296.13Op. Cit., p. 298.14Ver a respeito Eduar<strong>do</strong> Meditsch, O conhecimento<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo. In: http://www.jor<strong>na</strong>lismo.ufsc.br/bancodeda<strong>do</strong>s/publicacoes.html, 1992, p. 30; RobertPark, News as a Form of Knowledge, 1967. In: RobertPark, On social control and collective Behavior. Chicago,Lon<strong>do</strong>n: The University of Chicago Press, 1967,p. 41-42.15Karl R. Popper, Logik der Forschung,Tübingen: Mohr, 10. Auf., 1994, p. 61.16Christoph Neuberger, Jour<strong>na</strong>lismus alsProblembearbeitung. Objektivität und Relevanz inder öffentlichen Kommunikation. Konstanz: UVKMedien, 1996, p. 155.17Günter Bentele, Objektivität undGlaubwürdigkeit von Medien. Eine theoretische undempirische Studie zum Verhältnis von Realität undMedienrealität. Unveröffentlichte Habilitationsschrift,Berlin, 1988, p.13.18Christoph Neuberger, op.cit., p. 171.19Günther Bentele, op. cit., p. 404.20Liriam Sponholz, Objetividade em jor<strong>na</strong>lismo.Uma perspectiva da teoria <strong>do</strong> conhecimento.In: Revista Famecos - Mídia, cultura etecnologia, n. 21, agosto 2003, p. 110-120.21Ver a respeito Michael Haller, Recherchieren.Ein Handbuch für Jour<strong>na</strong>listen. München:Ölschlager Verlag, 5. Auf., 2000, p. 53; Leo<strong>na</strong>rdaReyes, Estratégias de investigación. In: Sala dePrensa, n. 26, Diciembre 2000, Ano II, vol. 2, http://www.saladeprensa.org, p. 2.22Reyes, op. cit., p. 2.


JORNALISMO105A ‘explosão’ <strong>do</strong>s weblogs em Portugal:percepções sobre os efeitos no jor<strong>na</strong>lismoLuís António Santos 1A ‘explosão’ <strong>do</strong>s weblogs em Portugal,ocorrida a partir de mea<strong>do</strong>s de 2003, foiobjecto de intensa cobertura jor<strong>na</strong>lística e deamplo debate nos próprios weblogs. Entre ofervor tecno-optimista de alguns e ocontrastante cepticismo de outros foi possívelidentificar algumas questões interessantessobre a <strong>na</strong>tureza específica da novidade,sobre a sua relevância para o jor<strong>na</strong>lismo emesmo sobre o seu eventual <strong>potencial</strong> paravir a constituir (ou, pelo menos, acrescentarvalia a) uma nova forma de fazer e deentender a profissão. A discussão portuguesareplica temas igualmente em debate noutrospaíses, embora as particularidades, tanto dablogosfera como <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is lheaportem alguns traços distintivos.Este texto, produzi<strong>do</strong> no âmbito de umtrabalho <strong>do</strong> Mediascópio sobre os casos emque o jor<strong>na</strong>lismo foi notícia, propõe-seapresentar uma reflexão sobre um debate queestá longe de estar encerra<strong>do</strong> e lançar pistassobre tendências emergentes no processo.O ano de 2003 foi o ano da emancipação<strong>do</strong> weblog como protagonista autónomo demais uma das potenciais áreas de expansãoda já de si tão vasta invenção de Tim-Berners-Lee, a Internet.A mais popular ferramenta, Blogger,anunciou, logo em Janeiro, ter atingi<strong>do</strong> oprimeiro milhão de utiliza<strong>do</strong>res e um estu<strong>do</strong>desenvolvi<strong>do</strong> pela Perseus, estimava que atéao Verão de 2003 teriam si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s 4,12milhões de weblogs em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong>squais ape<strong>na</strong>s 1,4 milhões poderiam serentendi<strong>do</strong>s como activos (com, pelo menos,uma actualização no espaço de <strong>do</strong>is meses) 2 .A AOL começou a oferecer a possibilidadede ‘blogar’ aos seus clientes a partir deAgosto, ao mesmo tempo que a Yahoo faziauma experiência piloto similar no seu sitecoreano. Ambas as empresas seguiram ospassos de <strong>do</strong>is outros gigantes, que abriramportas aos weblogs logo no início de 2003– Google e Lycos. O interesse imediato, dadaa gratuitidade <strong>do</strong>s serviços, terá começa<strong>do</strong>por ser a fidelização de clientes, mas aperspectiva de uma utilização comercial teráesta<strong>do</strong>, por certo, presente <strong>na</strong> elaboração daopção estratégica destas empresas. Um si<strong>na</strong>lemblemático <strong>do</strong> despertar desse interessecomercial pelos weblogs – e <strong>do</strong> eventual fim<strong>do</strong> ‘carácter puritano’ da actividade, comescrevem os autores da AlwaysOn 3 - terá si<strong>do</strong>a publicação, em mea<strong>do</strong>s de Agosto, de umartigo <strong>na</strong> secção ‘Business’ da conserva<strong>do</strong>rarevista britânica The Economist, com o título“Blogging, to the horror of some, is tryingto go commercial” 4 .A visibilidade <strong>do</strong>s weblogs aumentou <strong>na</strong>proporção directa <strong>do</strong> seu impacto <strong>na</strong> agendainformativa e sub-categorias como oswarblogs, por exemplo, conseguiram mesmoconcentrar em si volumes significativos deatenção em momentos muito específicos daguerra no Iraque. As ferramentas de indexação(Technorati, Blogdex, Daypop, Popdex) afirmaram-secomo indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> início de umprocesso de sedimentação estrutural <strong>do</strong> fenómenoe evoluções tecnológicas permitiramo aparecimento de variantes como os moblogsou os videoblogs.A recolha feita por Eszeter Hargittai 5 , combase no aparecimento das palavras ‘weblog’e ‘blog’ em 47 jor<strong>na</strong>is diários (incluin<strong>do</strong> 24norte-americanos) é muito clara’ – a partir<strong>do</strong> ano 2000 o número de referências cresceusempre a um ritmo muito próximo da duplicaçãoe os da<strong>do</strong>s de 2003 indicam que,em média, cada um <strong>do</strong>s diários a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>sfalou no assunto 23 vezes (ver quadro pági<strong>na</strong>seguinte).Em Portugal, 2003 terá também si<strong>do</strong> oano da grande (a uma outra escala) afirmação<strong>do</strong>s weblogs. A primeira tentativa consistentede elaborar uma listagem, iniciadaem Janeiro, referenciava 174 entradas. EmMaio os weblogs portugueses eram já 400,em Junho mais de 600 e, no princípio deJulho, 905 6 . Neste momento não existe uma


106 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVúnica listagem de to<strong>do</strong>s os weblogs escritospor portugueses, sen<strong>do</strong> certo porém quedeverão exceder já os <strong>do</strong>is milhares.O directório — ‘ptbLOGGERS’, cria<strong>do</strong>em Julho de 2003, registava, no dia 20 deAbril de 2004, 1757 weblogs 7 . Um outrodirectório, o ‘Apdeites’, acolhia, <strong>na</strong> mesmadata, referências da 2045 weblogs 8 e umoutro, o ‘weblog.com.pt’, incentiva<strong>do</strong>r dautilização da ferramenta Movable Type,registava 1120 entradas 9 . À semelhança <strong>do</strong>que aconteceu à escala inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, tambémo maior motor de busca/presta<strong>do</strong>r deserviço <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o Sapo, passou adisponibilizar, a partir <strong>do</strong> início de Novembrode 2003, a possibilidade de criação deweblogs.A aparente irrelevância, em termos absolutos,destes números é mitigada por umritmo de crescimento assi<strong>na</strong>lável e, sobretu<strong>do</strong>,no que nos diz respeito, por uma exposiçãomediática muito significativa e pelaemergência, desde ce<strong>do</strong>, de espaços (oumomentos) de constante auto-questio<strong>na</strong>mento.Os weblogs nos mediaSen<strong>do</strong> 2003 o ano da entrada em força<strong>do</strong>s weblogs em Portugal, foi-o de forma nãomuito progressiva. A mudança radical <strong>na</strong>evolução desse crescimento aconteceu a partirde Junho e terá si<strong>do</strong>, em grande parte, umreflexo da atenção mediática que lhes foidedicada. O interesse <strong>do</strong>s órgãos de comunicaçãotradicio<strong>na</strong>is identifica-se, aliás, logoa partir de Maio; no dia 4 desse mês, o jor<strong>na</strong>lPúblico apresentava <strong>na</strong> sua pági<strong>na</strong> de Media,um conjunto de trabalhos sobre amassificação <strong>do</strong>s weblogs, ten<strong>do</strong> um <strong>do</strong>stextos o sugestivo título: “Jor<strong>na</strong>lismo desafia<strong>do</strong>por um novo formato”. Seis dias depois,o Diário de Notícias anunciava que o eurodeputa<strong>do</strong><strong>do</strong> PSD, José Pacheco Pereira, haviaaderi<strong>do</strong> à blogosfera (com o seu ‘Abrupto’).No mesmo texto, a um passo listava-se o rolde ‘famosos’ já aderentes enquanto a outropasso se dava conta da variedade de temasque eventuais novos interessa<strong>do</strong>s podiamencontrar: política (com campos opostos bemmarca<strong>do</strong>s), literatura, comunicação ou humor.Umas sema<strong>na</strong>s depois, o Diário Económicotitulava já: “Portugal adere em força aosweblogs”, acrescentan<strong>do</strong> que a política seriao tema mais discuti<strong>do</strong> “devi<strong>do</strong> à liberdadede expressão”. Nesse mesmo texto, AntónioGra<strong>na</strong><strong>do</strong> (que tem o seu ‘Ponto Media’ activodesde Janeiro de 2002) fazia declarações nosenti<strong>do</strong> de que se estaria a entrar numa novafase – a fase da descoberta pelos mediatradicio<strong>na</strong>is – e que, <strong>na</strong>turalmente, a cadanova notícia deveria corresponder a criaçãode “mais umas deze<strong>na</strong>s” de weblogs 10 .Curiosamente, no mesmo dia, o suplementoComputa<strong>do</strong>res, <strong>do</strong> Público, apresentava textosde um envia<strong>do</strong> a Vie<strong>na</strong>, Pedro Fonseca,para cobrir o primeiro encontro europeu sobreweblogs, o BlogTalk.Uma sema<strong>na</strong> depois, o mesmo suplementovoltava a dar atenção especial ao mesmoencontro e já em mea<strong>do</strong>s de Junho, o director<strong>do</strong> Público, José Manuel Fer<strong>na</strong>ndes,dedicava um editorial ao fim de um weblog(‘Colu<strong>na</strong> Infame’). Até mesmo aos que nãosabiam ainda da existência <strong>do</strong> novo formato


JORNALISMO107se dizia, logo <strong>na</strong> segunda frase: “A blogosferaestá mais pobre”. Ao to<strong>do</strong>, nesse mês deJunho, o Público apresentaria 18 textos sobreou com referências a weblogs, em espaçoseditoriais diferencia<strong>do</strong>s (pági<strong>na</strong>s de Media,Suplemento Computa<strong>do</strong>res, Destaque, Editorial,Opinião) e envolven<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>listasliga<strong>do</strong>s às áreas da comunicação e datecnologia, a uma correspondente no estrangeiro,a um envia<strong>do</strong> especial, ao director ea um <strong>do</strong>s seus principais cronistas. A crónicaem questão – a de Pacheco Pereira, em 19de Junho, sob o título “Espelho Meu, EspelhoMeu” – terá, pela abrangência daanálise, pelo peso mediático <strong>do</strong> cronista epelo seu próprio empenho pessoal no tema,constituí<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s marcos mais relevantes<strong>na</strong> construção da imagem mediática <strong>do</strong>sweblogs em Portugal.Na sema<strong>na</strong> seguinte, a revista Visãoapresentaria um extenso trabalho, intitula<strong>do</strong>,“Bem-vin<strong>do</strong> à blogosfera”. Dois dias depois,José Mário Silva escreveria, no suplemento<strong>do</strong> Diário de Notícias, DNA, sobre a suaexperiência e sobre as valências <strong>do</strong>s weblogs,sen<strong>do</strong> que <strong>na</strong> revista <strong>do</strong> Expresso, Única,desse mesmo dia, 28 de Junho, Paulo Queri<strong>do</strong>entrevistava o responsável por um <strong>do</strong>sweblogs que, <strong>na</strong> altura, mais atençõescentrava, tanto dentro como fora da comunidade,‘O meu pipi’. Reforçan<strong>do</strong> um fimde-sema<strong>na</strong>repleto de referências, o Correioda Manhã <strong>do</strong> dia 29, apresentou também otema aos seus leitores, como sen<strong>do</strong> “a novamoda cibernética”. Fez ainda questão deenunciar alguns <strong>do</strong>s ‘blogotugas’ e de apontaro que considerava serem as ‘blogopérolas’.O mês de Julho foi marca<strong>do</strong> pelo anúnciode que a Assembleia da República tinhaaprova<strong>do</strong>, para aplicação a partir dalegislatura seguinte, a criação de weblogs <strong>do</strong>sdeputa<strong>do</strong>s (o que levou até João Paulo Guerraa opi<strong>na</strong>r, no Semanário Económico, sobre o‘Blogociclo’). Miguel Esteves Car<strong>do</strong>so escrevia,no DNA, que os weblogs eram uma“aragem nervosa e boa que não se respiravadesde os tempos <strong>do</strong> Punk e da New Wave” 11 ,A<strong>na</strong> Sá Lopes, no Público, dizia-se atraídapela “blogodependência” 12 e Francisco JoséViegas, no Jor<strong>na</strong>l de Notícias, dizia estar emcurso uma “batalha pela voz” 13 . PachecoPereira, <strong>na</strong> sua colu<strong>na</strong> sema<strong>na</strong>l no Público,mostrava-se, nessa altura, já preocupa<strong>do</strong> com“o ‘depósito obrigatório’ da Internet portuguesa”,dan<strong>do</strong> assim uma expressão maisabrangente a preocupações apontadas emposts no Abrupto, quase desde o seu início,relacio<strong>na</strong>das com a reflexão sobre a própriablogsofera.Uma reflexão presencial - anunciava oDiário de Notícias <strong>do</strong> dia 19 de Julho -aconteceria em Setembro, <strong>na</strong> Universidade<strong>do</strong> Minho, com o primeiro encontro <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lde weblogs. O mesmo jor<strong>na</strong>l dedicou aoassunto outros <strong>do</strong>is trabalhos, nesse mesmomês, ten<strong>do</strong> a prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> leitor, EstrelaSerrano, também aflora<strong>do</strong> a questão num <strong>do</strong>sseus textos, a propósito <strong>do</strong> crescente – <strong>na</strong>sua opinião – acesso <strong>do</strong>s cidadãos ao espaçopúblico. O mês termi<strong>na</strong>ria com Eduar<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>Coelho a falar, no Público, <strong>do</strong> “Blogue,Blogue” como uma das duas realidades queteriam emblematiza<strong>do</strong> o Verão e a elaborarsobre a novel ausência da “complexa malhade legitimações” para o acesso ao espaçomediático 14 e com Paulo Men<strong>do</strong>, no Primeirode Janeiro, a tecer elogios ࣓abençoadainvasão” 15 .O uso <strong>do</strong>s weblogs para o ensino <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo – uma experiência iniciada, emPortugal, por Manuel Pinto, <strong>na</strong> Universidade<strong>do</strong> Minho – foi o ponto de partida para umextenso trabalho, no jor<strong>na</strong>l Público, no iníciode Agosto. O Público e o Jor<strong>na</strong>l de Notíciascontinuaram a fazer referências periódicas aoassunto e o mês terminou com uma notíciasobre o que weblogs de lisboetas diziam daspolíticas <strong>do</strong> responsável pelo município 16 . Épor esta altura que surge um weblog anónimo,que viria a durar pouco mais de ummês, mas que teve um impacto assi<strong>na</strong>lável– o ‘Muito Mentiroso’.O primeiro encontro <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de weblogscentrou as atenções <strong>do</strong>s media, em mea<strong>do</strong>sde Setembro, com a particularidade acrescidade que o assunto mereceu, pela primeiravez e de uma forma simultaneamente robusta,lugar de destaque <strong>na</strong> Rádio, Imprensa eTelevisão. Com efeito, o encontro teve direitoa figurar nos noticiários de várias rádios<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, a uma ligação em directo duranteo Telejor<strong>na</strong>l, da RTP1, e ao destaque deprimeira pági<strong>na</strong> de um <strong>do</strong>s diários de maiorexpansão, o Jor<strong>na</strong>l de Notícias.A partir desse mês – altura em que umoutro cronista, Eduar<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> Coelho, anun-


108 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVciou ter aderi<strong>do</strong> aos weblogs, através daparticipação numa iniciativa <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong>Socialista de Lisboa, o–‘Forum Cidade’’– osweblogs começaram a deixar de ser ape<strong>na</strong>sespaços virtuais com cobertura mediática; aSIC Radical anunciou que o humorístico‘Gato Fe<strong>do</strong>rento’ passaria a ser um programatelevisivo e, pouco tempo depois, seria feitoo lançamento de um livro com uma recolhade posts <strong>do</strong> anónimo ‘O meu pipi’ (queacolheria, <strong>na</strong> altura, cerca de 100 mil visitaspor mês).Apontamentos de análiseAinda que este seja ape<strong>na</strong>s o momento<strong>do</strong> lançamento de um primeiro olhar sobreesta relação entre os media portugueses e osweblogs, haverá ideias que importaesquematizar em algum detalhe.Em primeiro lugar, parte substancial <strong>do</strong>apelo <strong>do</strong>s weblogs resulta das suas característicasintrínsecas. Ferramentas fáceis deutilizar por pessoas com poucos conhecimentostécnicos, conjugam uma estrutura formalrígida como a possibilidade da abertura a umamíriade de conteú<strong>do</strong>s, comportan<strong>do</strong>-se aquia blogosfera como uma espécie de um novo‘ambiente de trabalho’, não já instala<strong>do</strong> nocomputa<strong>do</strong>r de cada um, mas disponível, parapartilha, <strong>na</strong> web. Uma vez familiariza<strong>do</strong> comum weblog, qualquer inter<strong>na</strong>uta pode, semgrande esforço, procurar informações numoutro ou desenvolver o seu. Mesmo ten<strong>do</strong>em conta as especificidades das diferentesferramentas disponíveis, a lógica subjacenteao formato é a mesma e o conforto que derivadessa constância é, por certo, factor desimultânea tranquilização e de renovadaconfiança, tão necessárias à manutenção deum outro traço distintivo destas novas pági<strong>na</strong>sweb – a frequência de actualização. Àsemelhança <strong>do</strong> que aconteceu noutros países,com mais ou menos encorajamento <strong>do</strong>s mediatradicio<strong>na</strong>is, o sucesso quase exponencial <strong>do</strong>sweblogs deve-se, em grande parte, a esta sua<strong>potencial</strong>idade de abertura a quem nuncaantes teve possibilidade de avançar reflexões,comentários ou informações para além <strong>do</strong> seucírculo restrito de conhecimentos pessoais.A ‘publicação pessoal’, conceito que jáhavia servi<strong>do</strong> para atrair as pessoas para aprópria internet, alcança, com os weblogs,uma mais efectiva expressão. Os weblogstor<strong>na</strong>ram-se espaços alter<strong>na</strong>tivos de comunicação,onde cada um pode ter a tal ‘voz’ quetantas vezes lhe foi prometida. Sen<strong>do</strong> certoque poderá existir, <strong>na</strong> participação efectiva<strong>na</strong> blogosfera, tanto de projecção <strong>do</strong> egocomo de voyeurismo, parece-nos não menosverdade que, apesar disso, as tais ‘vozes’ estãolá, no mais <strong>do</strong>s casos abertas à discussão eem to<strong>do</strong>s eles disponíveis para escrutínio.Como nos diz Tim Jarrett, “um blogger criauma voz online com história, cronologia,evolução e contexto”. Mais importante ainda,adianta Jarrett, o acto de publicar numweblog (por oposição a um <strong>do</strong>cumentopriva<strong>do</strong>) permite que outros escutem a tal‘voz’: “Se as palavras de um blogger sãoouvidas e outros entram no diálogo o bloggerdeixou de ser um observa<strong>do</strong>r passivo dainternet para se tor<strong>na</strong>r num cria<strong>do</strong>r dela. Istopermite que pessoas – desde a<strong>do</strong>lescentesconfusos a programa<strong>do</strong>res de software, atradutores iraquianos em Bagdade e a avóscom uma paixão pela política – que nuncatenham escrito um texto antes sejam li<strong>do</strong>sem to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>” 17 . Mesmo aceitan<strong>do</strong> queesta asserção fi<strong>na</strong>l da frase denota algumafragilidade, sobretu<strong>do</strong> em face de um crescimento<strong>na</strong>turalmente desregra<strong>do</strong> e <strong>na</strong>turalmentepouco inventaria<strong>do</strong> da blogosfera 18 ,isso não põe em risco o seu principal pontode ancoragem e de atracção – os weblogssão espaços pessoais e interpretativos, marca<strong>do</strong>s,em simultâneo, pela subjectividade epor um certo grau de responsabilização.Em segun<strong>do</strong> lugar, uma parte significativada implantação, da visibilidade e daexpansão <strong>do</strong>s weblogs em Portugal teráresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> estabelecimento de uma relaçãoprivilegiada com os media tradicio<strong>na</strong>is. Assimcomo resulta claro, da pouco exaustiva análiseacima apresentada, que um número significativo<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> escrita<strong>do</strong>s textos sobre weblogs partia de umaposição de alguma cumplicidade com oformato (seja porque eles próprios erambloggers, seja porque eram observa<strong>do</strong>res àdistância), parece também evidente que aentrada <strong>na</strong> blogosfera de ‘famosos’, o aparecimentode weblogs polémicos e as discussõesinter<strong>na</strong>s geradas a propósito destes<strong>do</strong>is factores e ainda de um terceiro - adistinção entre ‘novos’ e ‘velhos’ bloggers


JORNALISMO109portugueses - tenha si<strong>do</strong> responsável pelamanutenção <strong>do</strong> interesse jor<strong>na</strong>lístico no tema.A cumplicidade de que se fala deverá serentendida como resultante das afinidades edas vantagens percebidas no formato, tantoem termos técnicos como de conteú<strong>do</strong>s. Sepensarmos <strong>na</strong> vertente técnica, os weblogsparecem encaixar <strong>na</strong> perfeição com as exigências<strong>do</strong> tempo jor<strong>na</strong>lístico presente,potenciam um espaço de sinergias multimédiae corporizam um novo conceito deprodução de texto apelativo e adaptável àsexigências formais <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Se olharmospara os aspectos de conteú<strong>do</strong>, percebemosnos weblogs menos pontos de contactocom o jor<strong>na</strong>lismo <strong>do</strong> presente, mas talvez umaeventual visualização <strong>do</strong> que se lhe pode vira pedir: texto cuida<strong>do</strong>, ligação às fontes,formatação menos rígida, estilo mais próximoda’‘voz huma<strong>na</strong>’, maior perso<strong>na</strong>lizaçãoe menor intermediação.Publicação individual e jor<strong>na</strong>lismoA expansão da blogosfera <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no anode 2003, despoletou discussões acesas sobreo valor acrescenta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s weblogs para ojor<strong>na</strong>lismo, muitas delas replican<strong>do</strong> debatessemelhantes noutros países. Também aqui seperceberam excessos de fé <strong>na</strong>s <strong>potencial</strong>idades<strong>do</strong> novo formato para, quase que por si só,abrir caminho a um novo tipo de jor<strong>na</strong>lismoe, por contraponto, exageros conde<strong>na</strong>tórios,edifica<strong>do</strong>s em torno de noções de que ablogosfera seria, sobretu<strong>do</strong>, espaço de partilhade intimidades e, em muitos casos, lugaresde oposição ao jor<strong>na</strong>lismo estabeleci<strong>do</strong>.Afigura-se-nos seguro indicar que, mesmono presente, a blogosfera portuguesa tema sua quota de weblogs sobre jor<strong>na</strong>lismo ede weblogs feitos por jor<strong>na</strong>listas profissio<strong>na</strong>is19 , mas continua a ter muito poucosexemplos de uma postura próxima da a<strong>do</strong>ptada,noutros países, pelos chama<strong>do</strong>s weblogjor<strong>na</strong>is.Ou seja, serão muito poucos os que,via weblog, produzem, de forma consistentee com carácter de permanência, trabalhojor<strong>na</strong>lístico reconheci<strong>do</strong> como tal 20 .Ainda assim, parece-nos relevante apontarque a grande visibilidade de algunsweblogs, o activismo militante de outros, aqualidade formal de muito <strong>do</strong> texto que éproduzi<strong>do</strong> e o carácter social e politicamentecrítico de grande parte <strong>do</strong>s posts publica<strong>do</strong>s,quan<strong>do</strong> alia<strong>do</strong>s a uma multiplicação de fontesrazoavelmente bem informadas sobre áreasmuito específicas poderá estar, ou vir, ainduzir alguns efeitos no jor<strong>na</strong>lismo português.Não teremos ainda chega<strong>do</strong> a uma faseem que os weblogs dão início a um qualquermovimento com repercussões nos mediatradicio<strong>na</strong>is e, em última análise, com efeitos<strong>na</strong> vida política (como aconteceu com o casoTrent Lott, ou com a campanha eleitoral deHoward Dean, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s), mas ossi<strong>na</strong>is de penetração <strong>do</strong> efeito blogosfera noespaço comunicacio<strong>na</strong>l são já alguns. Assi<strong>na</strong>le-seo exemplo de um post que levou auma reacção de um ministro <strong>na</strong> imprensa,as acções de pen<strong>do</strong>r político que influenciaramo debate sobre actos de gestãoautárquica (em Lisboa, por exemplo) e oscada vez mais comuns si<strong>na</strong>is de que oscomentários <strong>na</strong> blogosfera são usa<strong>do</strong>s pelaimprensa de forma idêntica aos produzi<strong>do</strong>sno contexto <strong>do</strong>s media tradicio<strong>na</strong>is.A consciência de que a blogsofera existee é particularmente atenta aos que se produzou veicula nos media poderá funcio<strong>na</strong>r comoum motivo adicio<strong>na</strong>l de pressão sobre ojor<strong>na</strong>lismo, no senti<strong>do</strong> da actualização dalinguagem, de um maior rigor <strong>na</strong> abordagem<strong>do</strong>s temas e, sobretu<strong>do</strong>, de uma mudança deatitude perante a sociedade. Os bloggers (quesão também leitores/ouvintes/telespecta<strong>do</strong>res)questio<strong>na</strong>m formas de actuar, perspectivas,apontam falhas, avançam alter<strong>na</strong>tivas e levantamnovas dúvidas. Isso, se entendi<strong>do</strong> porto<strong>do</strong>s os jor<strong>na</strong>listas como uma oportunidadepara produzir trabalho mais honesto, consistentee em contacto com as pessoas, podedar-nos uma indicação mais correcta <strong>do</strong>eventual novo caminho <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Os weblogs serão, assim, neste momento,muito mais reflexos críticos da actividadejor<strong>na</strong>lística e potenciais fornece<strong>do</strong>res deinformação adicio<strong>na</strong>l específica <strong>do</strong> que concorrentesem pé de igualdade. A seu favor,estes espaços de publicação pessoal terão,<strong>na</strong>turalmente, o facto de integrarem, semqualquer adaptação, uma lógica de entendimentoda comunicação baseada no indivíduo,como nódulo de redes múltiplas e flexíveis,e não como membro de um qualquer grupofacilmente caracterizável (Wellman e Hogan,


110 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV2004). Se mantivermos presente que estemodelo serve ape<strong>na</strong>s para explicar o funcio<strong>na</strong>mentode um número muito restrito deindivíduos, mesmo em sociedades ditasdesenvolvidas, conseguimos identificar nosweblogs (como no webmail, nos fotologs, ounos moblogs) o <strong>potencial</strong> para funcio<strong>na</strong>remcomo ferramenta de ligação <strong>do</strong> indivíduo àssuas próprias redes, em situação de absolutocontrolo e independentemente da localizaçãoespacial onde se encontrem 21 . Talvez por issofaça senti<strong>do</strong>, neste contexto, citar uma daspropostas provocatórias lançadas por JayRosen <strong>na</strong> reunião BloggerConII: “Blogar nãoé jor<strong>na</strong>lismo mas enquanto que o jor<strong>na</strong>lismoestá <strong>na</strong> web, o weblog é profundamente daweb, estan<strong>do</strong> os bloggers muito à frente <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong> percepção das vantagens da webe da sua própria ecologia” (16.04.2004).Parece distante o tempo em que optimistascomo John Pavlik nos falavam <strong>do</strong>sweblogs como “uma melhor forma de jor<strong>na</strong>lismo”,graças à sua ligação “a umaaudiência cada vez mais desconfiada e alie<strong>na</strong>da”(2001: 5). Essa antevisão não terá,até agora, encontra<strong>do</strong> concretização generalizada– nem em Portugal nem mesmo empaíses com uma blogosfera muito mais fortee activa – sobretu<strong>do</strong> por questões que seprendem com o próprio exercício <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoe não com as <strong>potencial</strong>idades <strong>do</strong> novoformato. Os weblogs podem – <strong>na</strong> felizexpressão de Rebecca Blood – “cometerocasio<strong>na</strong>lmente actos de jor<strong>na</strong>lismo”, mas issodependerá mais das circunstâncias particulares<strong>do</strong>s seus responsáveis <strong>do</strong> que <strong>do</strong> própriomeio em si (2003: 62). A actividade jor<strong>na</strong>lísticacontinuada necessita de algumsuporte fi<strong>na</strong>nceiro e, fundamentalmente, deuma prática de trabalho que passa pelaentrevista de pessoas, pela investigação defun<strong>do</strong> sobre um tema e, fi<strong>na</strong>lmente, pelaapresentação desapaixo<strong>na</strong>da, com o auxíliode argumentos substantivos (MacDo<strong>na</strong>ld:18.04.2004).Mais <strong>do</strong> que debater se, ainda assim, osweblogs devem ou não aproximar-se <strong>do</strong> estiloe das práticas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo (por forma agranjearem respeitabilidade e credibilidade),parece sensato, nesta fase, avançar no caminhode uma colaboração entre as duas actividades,como preconiza Leo<strong>na</strong>rd Witt, noseu texto “Citizens can improve your mediacompany”. Witt aconselha as empresasjor<strong>na</strong>lísticas a aproveitarem o contacto comos weblogs para reformularem as regras daaproximação às suas várias audiências. Segun<strong>do</strong>o autor, as empresas deveriam: reciclarto<strong>do</strong> o material informativo que recebem (porvia de uma mais maleável indexação, porexemplo), apostar”– em colaboração comuniversidades – <strong>na</strong> criação de centros decidadania para os media (potenciais berços<strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas hiperlocais) eencontrar formas eficientes de fazer uso daenorme quantidade de informação que circulanos weblogs (14.04.2004).Uma nota fi<strong>na</strong>l sobre a publicação pessoalenquanto indica<strong>do</strong>r de uma progressãono senti<strong>do</strong> de uma cidadania maisparticipativa. Parece-nos demasia<strong>do</strong> ambiciosaa ideia de que esta assumpção de podercomunicacio<strong>na</strong>l por parte de um grupo crescentede ‘utiliza<strong>do</strong>res-tor<strong>na</strong><strong>do</strong>s-cria<strong>do</strong>res’ dainternet apontaria, desde já, para algo de tãosubstancial, com a elimi<strong>na</strong>ção de algumasbarreiras de definição valorativa de conteú<strong>do</strong>s(gatekeeping) a si<strong>na</strong>lizar uma alteraçãoda unidireccio<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>s fluxos e, porconsequência, uma democratização da informação.Parece-nos, por oposição, demasia<strong>do</strong>redutor focar atenções <strong>na</strong>s desvantagens deuma pulverização de conteú<strong>do</strong>s, <strong>na</strong>s fraquezasde uma postura ‘ama<strong>do</strong>ra’ <strong>do</strong>s novoscria<strong>do</strong>res e ainda no carácter precoce dequalquer avaliação que retire demasia<strong>do</strong> pesoà ainda esmaga<strong>do</strong>ra unidireccio<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>sfluxos informativos.Aceitan<strong>do</strong> que muito <strong>do</strong> que se produz nosweblogs é ainda reactivo – seja comentário,opinião, ou até mesmo apresentação de novosfactos que contrariem algo inicialmente da<strong>do</strong>a conhecer através de um <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>is decomunicação mais tradicio<strong>na</strong>is - parece-nosclaro que a blogosfera se afirma, sobretu<strong>do</strong>,por ser um espaço de ruptura: há lugar paraideias mais margi<strong>na</strong>is (sobretu<strong>do</strong> porque a ideiaé, ainda assim, mais valorada <strong>do</strong> que a suafonte), há si<strong>na</strong>is de um novo processo decriação de conhecimento partilha<strong>do</strong>, há umamaior descentralização <strong>na</strong> produção e distribuiçãode conteú<strong>do</strong>s e há uma reformulaçãodas concepções tradicio<strong>na</strong>is sobre audiência/desti<strong>na</strong>tário/receptor. Isso poderá não serjor<strong>na</strong>lismo, mas é certamente uma nova formade interagir com a actividade.


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JORNALISMO113_______________________________1Universidade <strong>do</strong> Minho2Perseus Development Corporation(03.10.2003). “The Blogging Iceberg - Of 4.12Million Hosted Weblogs, Most Little Seen, QuicklyAban<strong>do</strong>ned”, White Paper. http://www.perseus.com/blogsurvey/ (17.10.2003).3http://alwayson-network.com/printpage.php?id=840_0_2_0 (10.09.2003).4The Economist (14.08.2003).5http://campuscgi.princeton.edu/~eszter/weblog/archives/00000275.html (13.04.2004)6Altura em que Pedro Fonseca anunciou serlheimpossível continuar com a tarefa. http://blogsempt.blogspot.com (17.10.2003).7http://www.omeudiario.net/ptbloggers(20.04.2004).8http://apdeites.cedilha.com/numeros.html(20.04.2004).9http://weblog.com.pt (17.10.2003).10Diário Económico (Media e Pub),26.05.2003.11Diário de Notícias, DNA, 14.07.2003.12Público, 13.07.2003.13Jor<strong>na</strong>l de Notícias, 25.07.2003.14Público, 31.07.2003.15O Primeiro de Janeiro, 31.07.2004.16Público, 31.08.2003.17Post publica<strong>do</strong> no ‘Jarrett House North’ sobo título ‘Blogs providing voices’. http://discuss.jarretthousenorth.com/2003/10/10?printfriendly=true18Apesar de alguns esforços, como é o caso<strong>do</strong> motor de busca bloogz (www.bloogz.com).19Em Abril de 2004 surgiu até um weblogque se intitula ‘Diário de uma jor<strong>na</strong>lista nodesemprego’.20Uma das excepções, embora produzida numambiente escolar, é o ‘Jor<strong>na</strong>lismoportonet’.21A este propósito assi<strong>na</strong>le-se o aparecimento,em Abril de 2004, de um espaço, sedia<strong>do</strong> <strong>na</strong>Galiza, que se propõe ser isso mesmo – o localonde os indivíduos, podem, a partir de qualquerlugar, aceder ao seu correio, aos seus weblogse fotologs (www.intper.es).


114 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO115A impiedade das críticas ou a consciência da auto-regulação?O processo Casa Pia e o julgamento metajor<strong>na</strong>lísticoMadale<strong>na</strong> Oliveira 1«Transforma<strong>do</strong>s em heróis por uns,excomunga<strong>do</strong>s por outros,os media evitam, por via da investigaçãojor<strong>na</strong>lística, que os responsáveis pelosaparelhos político e judiciário a<strong>do</strong>rmeçame fechem os olhos, por ignorância oucumplicidade, a condutas que, noutraseras, ficariam para sempre <strong>na</strong> impunidadedas zo<strong>na</strong>s sombra da sociedade.»Mário Mesquita 2Jor<strong>na</strong>listas: heróis frágeis da modernidadeNa sua justa e verdadeira atitude, ojor<strong>na</strong>lismo aspira acima de tu<strong>do</strong> à procura<strong>do</strong> verdadeiro e <strong>do</strong> justo. É sua vocaçãoprimeira informar, revelar a genuinidade davida. Mas a informação não existe jamais emsi. Ela resulta, segun<strong>do</strong> Dominique Wolton,de uma construção de homens que tentamcompreender o mun<strong>do</strong> para o dizer a outroshomens. A informação funda-se, pois, nopressuposto de um poder, aparentementeexclusivo <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas: o poder de olharo mun<strong>do</strong> e dizer dele o que se espera queto<strong>do</strong>s devam saber. Este poder, que unsdesig<strong>na</strong>ram por quarto (vigilante <strong>do</strong>s trêspoderes fundacio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> democrático-liberal)e que outros 3 entenderam sobrepor-seveemente às autoridades executiva,legislativa e judicial, é para DominiqueWolton a prova de que os jor<strong>na</strong>listas são osgrandes vence<strong>do</strong>res <strong>do</strong> último meio século.Na introdução ao número 35 da RevistaHèrmes, dedica<strong>do</strong> ao “Poder <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo”,Wolton aponta quatro motivos para a vitória<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas: primeiro, o facto de a liberdadede imprensa se ter tor<strong>na</strong><strong>do</strong> o horizonteda comunidade inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Por outro la<strong>do</strong>,a certeza de que a mundialização da informaçãoé uma das mudanças mais espectaculares<strong>do</strong>s últimos trinta anos. Em terceirolugar, a constatação de que as indústrias dainformação e da comunicação estão em ple<strong>na</strong>expansão no plano mundial. Fi<strong>na</strong>lmente, aafirmação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas no meio cultural epolítico, pela sua omnipresença em to<strong>do</strong>s os<strong>do</strong>mínios da vida pública.Por tu<strong>do</strong> isto, e certamente também pelopapel que dizem ter assumi<strong>do</strong> de vigilância<strong>do</strong> funcio<strong>na</strong>mento da democracia, os jor<strong>na</strong>listassão, para o investiga<strong>do</strong>r francês, osheróis <strong>do</strong>s tempos modernos. Porém, comobem reconhece Wolton, são heróis frágeis:heróis pela visibilidade que conquistaram;frágeis pela legitimidade que mantêm empermanente crise.A encruzilhada de poderes e o equívoco<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasDesig<strong>na</strong><strong>do</strong> classicamente por “quartopoder”, o poder <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas é, no entanto,para Mário Mesquita, uma fonte de equívocos.Segun<strong>do</strong> o autor, a desig<strong>na</strong>ção carecede rigor a<strong>na</strong>lítico e só pode ser entendidaem senti<strong>do</strong> hiperbólico. Na verdade, acrescentadaà trilogia <strong>do</strong>s poderes republicanosde Montesquieu, a denomi<strong>na</strong>ção “quartopoder” está desactualizada e compromete «alegitimidade da presença <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista noespaço público» (Mesquita, 2003: 72). Nestaabordagem, estariam seguramente em causa,como afirma o autor, as questões derepresentatividade e de mandato <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.Ou, por outras palavras, seria iminentea existência de um quinto poder, responsávelpela eleição expressa <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas para ogoverno da informação. Consenti<strong>do</strong>s tacitamentepelo direito <strong>do</strong>s cidadãos à informaçãoe à expressão livre, os jor<strong>na</strong>listas detêm,contu<strong>do</strong>, um poder «condicio<strong>na</strong><strong>do</strong> e controla<strong>do</strong>por to<strong>do</strong>s os outros, ou seja, pelos centrosde decisão política, económica, tecnológicae militar» (Mesquita, 2003: 74).Apelida<strong>do</strong> por outros de “contra-poder”,o jor<strong>na</strong>lismo é também entendi<strong>do</strong> como o“cão de guarda” das instituições democráti-


116 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcas. A representação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como“poder <strong>do</strong> contra” é, provavelmente, a revelaçãoda sua faceta mais heróica. Para MárioMesquita, ela «corresponde às mitologiasglorificantes da acção <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is e <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas» (Mesquita, 2003: 74). Não menoshiperbólica <strong>do</strong> que a desig<strong>na</strong>ção anterior,também esta é, para o autor, dúbia, <strong>na</strong> medidaem que constrangimentos há que limitam aconcepção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como um poder, sejaele o quarto, o primeiro, ou o <strong>do</strong> contra.Na história <strong>do</strong>s media, são inúmeras asteorias que fundamentam o poder da comunicaçãosocial. Percorren<strong>do</strong> as teoriasinventariadas por Mauro Wolf 4 , identificamosvárias concepções que reconhecem aos media(e neles ao jor<strong>na</strong>lismo em particular) umpoder incontornável. A teoria hipodérmica édisso bom exemplo, <strong>na</strong> medida em queencerra a relação entre os jor<strong>na</strong>listas e opúblico <strong>na</strong> simplicidade <strong>do</strong> modelo Estímulo-Resposta.Defenden<strong>do</strong> uma relação directaentre a exposição às mensagens e ocomportamento, os autores liga<strong>do</strong>s a estacorrente autenticavam assim aos media opoder de controlar, manipular e impelir àacção o conjunto <strong>do</strong>s cidadãos. Das abordagenssobre a manipulação, a persuasão e ainfluência, a pesquisa sobre os mass mediadepressa se alargou ao espectro das funçõesexercidas pelos sistemas de comunicação demassas.A análise <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong>s media nãoficaria, porém, por aqui. Concepções posterioresvieram, <strong>na</strong> verdade, sustentar novamentea força <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.A hipótese <strong>do</strong> agenda-setting ocupa aindahoje lugar de destaque <strong>na</strong> discussão acerca<strong>do</strong> papel <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Segun<strong>do</strong> a formulaçãoclássica desta hipótese, a compreensãoque as pessoas têm de grande parte darealidade social é-lhes cedida por empréstimopelos media. O que seria o mesmo quedizer que aos media cabe o papel de dizeràs pessoas sobre o que devem pensar. Poroutro la<strong>do</strong>, a concepção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como“gatekeeper” (conceito elabora<strong>do</strong> por KurtLewin), confere aos media um papel de“seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>r”, de “porteiro” que definequem ou o que pode ou não passar pelosmeios de comunicação social. Implícitos nestaconcepção estão o conjunto de valores sociaise de critérios profissio<strong>na</strong>is eorganizativos que determi<strong>na</strong>m a selecção darealidade empreendida pelos editores dainformação. Inevitavelmente associada a estateoria, a pesquisa sobre o “newsmaking”sublinhou o papel de seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista.A actualidade, entendida como umaprodução determi<strong>na</strong>da pelos valores-notícia,reveste assim os jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> poder defragmentar a informação e determi<strong>na</strong>r anoticiabilidade <strong>do</strong>s acontecimentos.Reconsiderar o poder <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas pressupõe, hoje, reequacio<strong>na</strong>r opapel que desempenham <strong>na</strong> sociedade contemporânea.Para Nelson Traqui<strong>na</strong>, o jor<strong>na</strong>lismodefine-se «como um serviço públicoque fornece aos cidadãos a informação deque precisam para votar e participar emdemocracia, e age como guardião de defesa<strong>do</strong>s cidadãos contra eventuais abusos depoder» (Traqui<strong>na</strong>, 2002: 15) Dispensadadefinitivamente a ideia ingénua de jor<strong>na</strong>lismocomo “espelho da realidade” e ultrapassadaa concepção meramente determinista <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo como o manipula<strong>do</strong>r único dasmassas receptoras, a discussão centra-se hoje<strong>na</strong> redefinição <strong>do</strong> lugar que a sociedadeconcede aos jor<strong>na</strong>listas.Estimula<strong>do</strong>s pelo poder da imagem e pelaversatilidade das inovações tecnológicas nocampo da informação, os media ganharamuma inesgotável visibilidade. Deles esperavamos liberais que se consolidassem comoadjuvantes da cidadania. O pacto com oscidadãos valeu-lhes o reconhecimento públicoe a pseu<strong>do</strong>-notoriedade de um poder quelhes é permanentemente cobiça<strong>do</strong>. O avaltácito que os cidadãos lhes concedem parainvestigar to<strong>do</strong>s (ou quase to<strong>do</strong>s) os <strong>do</strong>míniosda vida pública, com vista ao conhecimentoda verdade e à rigorosa informaçãode factos que a to<strong>do</strong>s parecem dizer respeitopropiciou ao longo da história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoum reconhecimento de mérito invejável.Movimentan<strong>do</strong>-se numa encruzilhada depoderes, os jor<strong>na</strong>listas defenderam ao longoda breve história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo moderno aimagem de cidadãos destaca<strong>do</strong>s, com capacidadede aceder a círculos que pareciamdemasia<strong>do</strong> distantes <strong>do</strong> cidadão comum.Apesar de incómoda aos diversos sectores davida pública, a ideia <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo comopoder é hoje fonte de todas as suas virtudese causa de to<strong>do</strong>s os seus peca<strong>do</strong>s. Fortale-


JORNALISMO117ci<strong>do</strong>s pelos fracassos <strong>do</strong> liberalismo políticoe económico, os jor<strong>na</strong>listas contribuem, <strong>na</strong>verdade, permanentemente para o agravamentoda crise em que mergulharam as instituiçõesda modernidade. No início <strong>do</strong> séculoXX, Karl Kraus, um <strong>do</strong>s mais notáveiscríticos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, reconhecia que o jor<strong>na</strong>l(hoje acrescentaríamos os outros media) tinhaum poder considerável e perigoso. Para oautor austríaco, ele podia transformar não sóa insignificância objectiva em importânciareconhecida por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, como tambéma mentira em verdade 5 . Céptico emrelação às virtualidades da imprensa, Kraustemia mesmo que ela se tor<strong>na</strong>sse o únicopoder realmente absoluto.Há quase um século, Karl Kraus avaliounotavelmente os perigos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Temen<strong>do</strong> que ele se prestasse ape<strong>na</strong>s aoserviço <strong>do</strong>s interesses políticos e económicos,Kraus alertou incansavelmente a sociedadeaustríaca para o poder, que ele consideravadevasta<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Quase cem anosmais tarde, vemos confirmarem-se algumasdas suas mais arrepiantes suspeitas. Comabalável desconfiança, olhamos hoje para osjor<strong>na</strong>listas ora como heróis incansáveis <strong>na</strong>busca insistente da verdade ora como figurasdiabólicas, merece<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> purgatório, porcausa da distorção da realidade.A redefinição <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo parece, pois,viver o dilema entre o mérito e a excomunhão.Considera<strong>do</strong> indispensável ao funcio<strong>na</strong>mentopleno da democracia, o jor<strong>na</strong>lismo permanece,porém, <strong>na</strong> angústia <strong>do</strong> seu firmereconhecimento. Vive da agitação <strong>do</strong>s poderesque gover<strong>na</strong>m a vida social e padece daafronta das críticas a que o ofício inevitavelmenteo conde<strong>na</strong>. Sofre hoje com todasas instituições moder<strong>na</strong>s de uma crise delegitimidade. Aflige-se <strong>na</strong> afirmação <strong>do</strong>sideais de onde se erradicou e <strong>na</strong>ufraga noscabos de tormentas da realidade. Vive opermanente sobressalto <strong>do</strong>s equívocos daimagem “to<strong>do</strong>-poderosa” que a sociedade pormomentos prometeu reconhecer-lhe.A conde<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e o princípioda imputabilidadeCrentes de uma certa imunidade à críticae ao escrutínio público, os jor<strong>na</strong>listas são,para Marc-François Bernier, a principalameaça que pesa sobre o jor<strong>na</strong>lismo. Operáriosde um oficio controverso, os jor<strong>na</strong>listas,que, para o investiga<strong>do</strong>r ca<strong>na</strong>diano,têm um poder cuja importância é incontestável(Bernier, 1995: 26), os jor<strong>na</strong>listasmi<strong>na</strong>m a legitimidade da sua profissão porrecusarem sistematicamente o princípio deimputabilidade. Para Bernier, o cumprimentoíntegro da função social <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,ou seja, de «informar de maneira honesta eimparcial os cidadãos de uma democraciaacerca de pessoas, instituições e fenómenosque podem influenciar objectivamente o cursodas suas vidas» (Bernier, 1995: 25), não podesignificar a impunidade sem limites <strong>do</strong> trabalho<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Especialista em éticae deontologia, Bernier defende que os jor<strong>na</strong>listasdevem justificar-se perante os cidadãosque, em sua opinião, têm o pleno direitode poder julgar com conhecimento de causaa qualidade <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong>s comportamentosdaqueles a quem entregam a tarefa dainformação.Instância última de legitimação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoenquanto actividade social reconhecida,o público tem o direito de estar habilita<strong>do</strong>para julgar e criticar o trabalhojor<strong>na</strong>lístico produzi<strong>do</strong> em seu nome. Falta,pois, aos heróis <strong>do</strong> nosso tempo a fortaleza<strong>do</strong> consentimento esclareci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s receptoresdas suas mensagens. Porém, segun<strong>do</strong> Bernier,para que o consentimento <strong>do</strong>s cidadãos nãoseja ignorante é preciso o conhecimento de<strong>do</strong>is tipos de práticas jor<strong>na</strong>lísticas: por umla<strong>do</strong>, as práticas que dão lugar às notíciase às reportagens e, por outro, as práticas queconcernem à ocultação ou à censura de factosimportantes. (Bernier, 1995: 53).Com Marc-François Bernier, somos impeli<strong>do</strong>sa procurar <strong>na</strong> crítica <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoa sua própria salvação. A submissão a umprincípio de imputabilidade afigura-se assimcomo a forma mais democrática de devolverao jor<strong>na</strong>lismo e aos jor<strong>na</strong>listas a legitimidadede configuração <strong>do</strong> espaço público. Naverdade, a insistência no julgamento público<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas afigura-se <strong>do</strong>ravante a promessaredentora <strong>do</strong> ofício que Gabriel GarcíaMarquez disse ser o melhor <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Porisso, o jor<strong>na</strong>lismo vive hoje a dura<strong>do</strong>irasurpresa da crítica a que leitores e telespecta<strong>do</strong>reso sujeitam diariamente. Também eleestá cada vez mais exposto ao escrutínio das


118 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVaudiências. A cobertura mediática de acontecimentossociais marcantes, complexos,chocantes e escandalosos está a pasmar ojor<strong>na</strong>lismo diante da sua própria crítica.Agita<strong>do</strong> <strong>na</strong> corda bamba das suas própriaspági<strong>na</strong>s, o jor<strong>na</strong>lismo e os jor<strong>na</strong>listasacham-se agora no altar <strong>do</strong> sacrifício, imola<strong>do</strong>scomo cordeiros, em nome de um desejoaltruísta de informar, denuncian<strong>do</strong> e anuncian<strong>do</strong>,sistematicamente posto em causa. Aaparente imunidade aos olhares ferozes <strong>do</strong>povo soberano desvanece-se assim, multiplican<strong>do</strong>-seos espaços dedica<strong>do</strong>s à informaçãosobre o próprio campo mediático e à críticae análise da acção daqueles que se habituarama cobrar condutas dig<strong>na</strong>s e justas a to<strong>do</strong>smenos a eles próprios.O metajor<strong>na</strong>lismo, como proponho chamarao esforço <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo para discursaracerca de si próprio, é, pois, um discursosegun<strong>do</strong>. Reflectin<strong>do</strong> acerca das circunstânciasde actuação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, ometajor<strong>na</strong>lismo não se confi<strong>na</strong> à confrontaçãodas práticas jor<strong>na</strong>lísticas com os imperativosde ordem ética. Mais <strong>do</strong> que umapreocupação com o âmbito transcendental, ometajor<strong>na</strong>-lismo afigura-se como a oportunidadede os jor<strong>na</strong>listas se precipitarem <strong>na</strong>imanência <strong>do</strong> seu trabalho para aí discutirema legitimidade das suas condutas.Consistin<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Bernier, no tratamentojor<strong>na</strong>lístico das práticas jor<strong>na</strong>lísticas 6 ,o metajor<strong>na</strong>lismo desempenha, <strong>na</strong> concepçãode Mário Mesquita, três funções fundamentais:primeiro, uma função estratégica intimamenteligada à concorrência entre asempresas jor<strong>na</strong>lísticas. Conso<strong>na</strong>nte com umuso estratégico da ética, o metajor<strong>na</strong>lismo é,<strong>na</strong> perspectiva desta função, «um instrumentode competição entre os diferentes actores<strong>do</strong> espaço público» 7 . Por outro la<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong>com uma função autopromocio<strong>na</strong>l, aautocrítica <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo revela-se de algummo<strong>do</strong> <strong>na</strong>rcisista. O jor<strong>na</strong>lismo visto ao espelhoé, para Mário Mesquita, uma formasofisticada de autocontemplação que se processapor via da crítica. Fi<strong>na</strong>lmente, umafunção regula<strong>do</strong>ra que, segun<strong>do</strong> o autor, seexerce «de um mo<strong>do</strong> informal, disperso eirregular» 8 . Exercen<strong>do</strong>-se nos moldes de umaauto-regulação, em nome da deontologia, ede uma hetero-regulação, em nome <strong>do</strong> mútuocontrolo que as empresas de comunicaçãoempreendem entre si, o metajor<strong>na</strong>lismopossui, no âmbito desta função, «a vantagemde responder a uma exigência de equidade».Em síntese, diríamos que ometajor<strong>na</strong>lismo se afigura como o maisrecente esforço para recuperar a genuinidade<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Dispersan<strong>do</strong>-se pela publicaçãode cartas de leitores, de críticas deeditores e directores de informação, bemcomo de cidadãos <strong>do</strong> espaço público comresponsabilidades sobretu<strong>do</strong> políticas, comoainda pelos trabalhos de reportagem sobre omodus operandi <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is da informação.A própria opção pela contratação deprove<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s leitores é disso bom exemplo.Apesar de se circunscrever quase exclusivamenteao plano da imprensa (e mesmonesta, só a alguns jor<strong>na</strong>is, ti<strong>do</strong>s curiosamentecomo de referência), a actividade <strong>do</strong>s prove<strong>do</strong>resmanifesta inequivocamente a preocupaçãode discutir o mito funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo: a tendência para a objectividade,que parece pertencer bem mais ao universodas ideologias <strong>do</strong> que à realidade.Este meta-discurso demonstra, em últimaanálise, que os media perceberam a particularidade<strong>do</strong>s acontecimentos a que fazem facee ressentem as dificuldades e os limites aosquais a prática jor<strong>na</strong>lística pode ser confrontada.O meta-discurso confirma, pois, a ideiade que a profissão está a perceber queproblemas se manifestam no tratamento dainformação e concede, por motivos talvezpouco explícitos ainda, espaço para a autoreflexão(Grevisse, 1999: 20-24). Fi<strong>na</strong>lmente,o meta-discurso consolida a constataçãode que o jor<strong>na</strong>lista de hoje é muitas vezesum homem <strong>do</strong>ente, por vezes desorienta<strong>do</strong>,frequentemente desmotiva<strong>do</strong>, surpreendi<strong>do</strong> deuma anomia que, segun<strong>do</strong> Frédéric Antoinee Laurence Mudschau, definem em quatro<strong>do</strong>mínios. Por um la<strong>do</strong>, uma relação ao “ser”jor<strong>na</strong>lístico, <strong>na</strong> medida em que os que praticama profissão a consideram geralmenteatípica; vêem-<strong>na</strong> como mais próxima <strong>do</strong>sacerdócio ou da vocação <strong>do</strong> que da actividadelucrativa. Por outro, em questõesligadas ao estatuto <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista <strong>na</strong> sociedade.Em terceiro lugar, relativamente aofundamento das regras que regem a profissãoe, em último, pelos imperativos sócioeconómicos.Reinventar o jor<strong>na</strong>lismo é, paraos autores, a solução para lutar contra a


JORNALISMO119anomia. Promover as práticas metajor<strong>na</strong>lísticasé, para nós, a solução para reinventaro jor<strong>na</strong>lismo, <strong>na</strong> medida em que lhes cumpreo mandato de desmistificar a profissão junto<strong>do</strong> público.O acto de contrição <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasConsistin<strong>do</strong> em assegurar o conhecimentosobre os méto<strong>do</strong>s e as fi<strong>na</strong>lidades daprodução informativa, bem como em apuraros seus efeitos, o metajor<strong>na</strong>lismo tem ti<strong>do</strong>,entre nós, o seu expoente máximo <strong>na</strong> coberturamediática <strong>do</strong> processo de pe<strong>do</strong>filia <strong>na</strong>Casa Pia. O tratamento informativo desteaffaire serviu de pretexto à questio<strong>na</strong>ção total<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Nele se explicitaram os desígniose a perversidade <strong>do</strong> poder <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.A propósito deste escândalo voltoupara a ordem <strong>do</strong> dia a discussão acerca dalegitimidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Se, por um la<strong>do</strong>, é verdade que a projecçãopública <strong>do</strong> escândalo assegurou aosjor<strong>na</strong>listas, com acento particular à jor<strong>na</strong>listaFelícia Cabrita <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l Expresso, elogioscerra<strong>do</strong>s ao papel que desempenham devigilantes atentos, por outro, também o é queos desenvolvimentos entretanto conheci<strong>do</strong>spelas pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is desmistificaram aideia romântica, como a classificou JoaquimVieira, director <strong>do</strong> Observatório da Imprensaportuguesa, <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como inteiramentededica<strong>do</strong> à causa social. Ten<strong>do</strong> contribuí<strong>do</strong>para confirmar o verdadeiro poder <strong>do</strong>smedia <strong>na</strong>s sociedades contemporâneas, amediatização <strong>do</strong> processo Casa Pia acaboupor conde<strong>na</strong>r o jor<strong>na</strong>lismo português a umadas suas mais constrange<strong>do</strong>ras exposiçõespúblicas.Segura de que «o lugar <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo éo da procura da verdade», Estrela Serranofoi firme, logo no início <strong>do</strong> processo, emDezembro de 2002, a garantir que «a liberdadede imprensa e o dever de informar nãoautorizam tu<strong>do</strong>» 9 . Apesar de reconhecer que«uma das funções mais nobres <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoé fazer funcio<strong>na</strong>r a democracia», a ex-prove<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>s leitores <strong>do</strong> Diário de Notícias nãopoupou críticas à actuação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.Também José Pacheco Pereira se mostrou,desde o início, muito céptico em relação aopapel desempenha<strong>do</strong> pelos jor<strong>na</strong>listas dizen<strong>do</strong>que não acreditava «um átomo em qualquerintenção altruísta no seu [<strong>do</strong> escândaloCasa Pia] tratamento comunicacio<strong>na</strong>l» 10 . Nomesmo artigo, o euro-deputa<strong>do</strong> dizia mesmoque «hoje não é o poder político o principalmecanismo de impunidade <strong>do</strong>s poderosos e<strong>do</strong>s criminosos – é a comunicação social eos seus méto<strong>do</strong>s».Des<strong>do</strong>brada em espectáculo 11 , a crise daCasa Pia alastrou-se aos media, ferin<strong>do</strong>-osde uma aparentemente injusta conde<strong>na</strong>ção.Especialmente incomoda<strong>do</strong>s com a exposiçãoe o escrutínio público permanente, osjor<strong>na</strong>listas não apreciam, segun<strong>do</strong> EstrelaSerrano, «discutir o seu trabalho com pessoasde fora <strong>do</strong> seu “campo profissio<strong>na</strong>l”» 12 .No entanto, o feitiço vira<strong>do</strong> contra o feiticeirosentou os jor<strong>na</strong>listas no banco <strong>do</strong>s réuse subjugou-os aos argumentos de acusaçãoda opinião pública. Segun<strong>do</strong> Francisco JoséViegas 13 , manifestaram-se sobre a conduta <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas três tipos de opiniões: «os quepensam que a imprensa fez o seu trabalho;os que pensam que a imprensa exagerou,cometeu erros, cedeu à tentação de se escandalizar;fi<strong>na</strong>lmente, os que acham que aimprensa devia ter si<strong>do</strong> mais monigerada esensata – não se escandalizan<strong>do</strong>.»Assombra<strong>do</strong> pelo alvoroço e o tumultocausa<strong>do</strong> pela revelação de factos chocantes,o público oscilou entre elogios e acusaçõesferozes à comunicação social. Desfez-se emabraços aos jor<strong>na</strong>listas que tor<strong>na</strong>ram públicoum escândalo oculta<strong>do</strong> há mais de vinte anos,para logo depois lhes voltar as costas, julgan<strong>do</strong>-ospelos excessos permanentes.Agoniada pela desfaçatez <strong>do</strong>s criminosos, asociedade portuguesa descobriu-se encobertapor uma nuvem feia. «Como aquelas que,a princípio, a gente julga que traz notícia deum fogo ao longe, enfarruscada de fumos efuligens. Depois, vê-se que é espessa comochumbo, avoluma-se, aproxima-se e pareceque é a única coisa que se move, porque oar está para<strong>do</strong>, ameaça desgraça.» (Ivo, 2003:14) A nuvem de chumbo que se abateu sobreos portugueses, carregou de cinzento ohorizonte <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Acusa<strong>do</strong>s de terem deixa<strong>do</strong> de «ape<strong>na</strong>s“reportar” os acontecimentos, para passarema formatá-los» 14 , os jor<strong>na</strong>listas foram acusa<strong>do</strong>sde tentação pelo sensacio<strong>na</strong>lismo, deexploração despu<strong>do</strong>rada da intimidade, dadignidade, de exacerbação das emoções, de


120 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVfomento da indig<strong>na</strong>ção e de obscenidade eviolência da intimidade. Foram-lhe dirigi<strong>do</strong>sapelos ao bom senso, à exigência e à conservaçãodas distâncias relativamente a quemcompete julgar. Pediu-se-lhes um trabalhoatento e vigilante, mas feito de bom sensoe serenidade. Exigiu-se-lhes cuida<strong>do</strong> e ponderação,em vez <strong>do</strong> delírio exibicionista,disfarça<strong>do</strong> de imperativo ético de informar.Apelida<strong>do</strong> de “jor<strong>na</strong>lismo de sarjeta”, ojor<strong>na</strong>lismo português nunca antes tinha si<strong>do</strong>tão humilha<strong>do</strong>. Rebaixa<strong>do</strong>s pela confusão quegeraram entre o acessório e o essencial, osjor<strong>na</strong>listas foram envergonha<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s<strong>do</strong>s seus próprios jor<strong>na</strong>is e nos espaços deante<strong>na</strong> das suas rádios e televisões. Acusaram-nosde sobrepor o interesse comercialde maximizar audiências ao desejo de justiça,desprestigiaram a função investiga<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> seu trabalho, questio<strong>na</strong>da até à exaustão.Serão os jor<strong>na</strong>listas portugueses bem forma<strong>do</strong>spara investigar um processo com adimensão <strong>do</strong> da Casa Pia? É legítimo queos jor<strong>na</strong>listas se sobreponham às autoridadesou investiguem paralelamente assuntos judiciaispara poderem falar <strong>do</strong> que estariaprotegi<strong>do</strong> pelo segre<strong>do</strong> de justiça? Que valortêm os depoimentos de fontes anónimasabusivamente cita<strong>do</strong>s e exibi<strong>do</strong>s?Desde Novembro de 2002, os jor<strong>na</strong>listasvivem açoita<strong>do</strong>s pelos mais diversos actoressociais. As suas relações com a Justiça desencadearamum debate sem precedentes.Enuncia<strong>do</strong>s por jor<strong>na</strong>listas (alguns com responsabilidadeseditoriais), por comenta<strong>do</strong>res,críticos de televisão, prove<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s leitores,leitores e colunistas indiferencia<strong>do</strong>s, os artigosde opinião que ameaçaram degolar ojor<strong>na</strong>lismo levantaram, por inúmeras vezes, adiscussão em torno da liberdade de imprensae <strong>do</strong>s seus limites, bem como <strong>do</strong> direito aosegre<strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l, em nome da protecçãodas fontes de informação. Alguns quiserammesmo matar o mensageiro, prestes a serdecapita<strong>do</strong> por transportar uma mensagemtantas vezes incómoda e inconveniente. Interrogou-seo tipo de regulação ou de vigilânciaa que os jor<strong>na</strong>listas deveriam ser sujeitos.Ordem? Sindicato? Entidade independente?Quem deveria, no fun<strong>do</strong>, vigiar o cão de guardada democracia? Quem deveria zelar pelosleitores quan<strong>do</strong> o jor<strong>na</strong>lismo se revela ofensivo,mais <strong>do</strong> que alia<strong>do</strong> <strong>do</strong> público?Uma boa parte das questões permaneceainda sem resposta. O “affaire Dutroux” quemanchou a Bélgica no Verão de 1996 parecenão ter servi<strong>do</strong> de lição aos jor<strong>na</strong>listasportugueses. Embora com amplitudeeventualmente mais reduzida 15 , o “affaireCasa Pia” proporcionou, em termos gerais,o mesmo debate. As apreciações ao trabalho<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas concerniram, como <strong>na</strong> Bélgica,aos seguintes assuntos: o papel e afunção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, a pertinência <strong>do</strong> tratamentomediático, os princípios de base queregem o jor<strong>na</strong>lismo e as questões ligadas àliberdade de imprensa e à democracia. Talcomo <strong>na</strong> Bélgica, também os meta-discursosproduzi<strong>do</strong>s e publica<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is tiveram, e têm ainda, a missão delocalizar a fronteira da escolha da informação,ou seja, os critérios que estão <strong>na</strong> baseda noticiabilidade (Grevisse, 1999: 20-21).A exigência de transparência dirigida aosjor<strong>na</strong>listas obrigou-os a repensar a profissãoe a criticar o seu funcio<strong>na</strong>mento. Mas, paraEstrela Serrano, «é significativo e importanteque sejam os jor<strong>na</strong>listas a a<strong>na</strong>lisar criticamenteo seu próprio papel e as suas responsabilidades,não deixan<strong>do</strong> a terceiros (…)as decisões sobre as atitudes e os critériosque os devem nortear <strong>na</strong> selecção da informaçãoe que relevam, antes de tu<strong>do</strong>, decompromissos de <strong>na</strong>tureza ética edeontológica com os cidadãos». 16 Oscilan<strong>do</strong>entre o temor face ao poder <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listase a crítica à sua impotência, o escrutínio<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas parece ser hoje incontornável.Inevitavelmente frágil, porque composta deindivíduos, a profissão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo estásobre o fio da <strong>na</strong>valha. Mas, como dizDominique Wolton, <strong>na</strong> introdução a que nosreferíamos no início deste texto, «defendera fragilidade e o carácter indispensável <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista num universo satura<strong>do</strong> de informação,é uma das batalhas culturais maisimportantes a travar». À grandeza <strong>do</strong> ofíciofalta ainda da parte <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas umpouco mais de reflexão, pois, não só nãofazem a auto-crítica que reclamam aosoutros, como se arriscam a ser rejeita<strong>do</strong>s,como o são hoje os homens políticos, porincapacidade de compreender o mun<strong>do</strong> deque falam. Além disso, como remata oinvestiga<strong>do</strong>r francês, «é distinguin<strong>do</strong> claramenteas três lógicas fundamentais, a


JORNALISMO121informação, a comunicação e a acção, quese pode também contribuir para defendere refundar o ofício de jor<strong>na</strong>lista, tão indispensávelà democracia.»A nossa proposta é, pois, que a intensificaçãoda prática metajor<strong>na</strong>lística se insurjacomo o lugar de restabelecimento da moral<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista. Permitin<strong>do</strong> ao mesmo tempoa defesa e a acusação <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l dainformação, o metajor<strong>na</strong>lismo afiança serassim uma categoria de reflexividade, promissora<strong>do</strong> restauro das tarefas de onde ojor<strong>na</strong>lismo verdadeiramente se reclama. Deledepende, em nosso entender, o triunfo <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo numa sociedade em agonia profunda.Sen<strong>do</strong> um discurso ambicioso, ometajor<strong>na</strong>lismo é uma categoria crítica porexcelência e promete responder aos perigos<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, sobretu<strong>do</strong> ao da inquietanteacusação de impunidade.


122 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBernier, Marc-François – Les Planqués–– Le jour<strong>na</strong>lisme victime des jour<strong>na</strong>listes–– Quebéc, VLB Éditeur : 1995.Bouveresse, Jacques - Schmock ou leTriomphe du Jour<strong>na</strong>lisme – La grandebataille de Karl Kraus, Paris, Éditions duSeuil: 2001.Ivo, Nuno e Mascarenhas, Óscar ––OProcesso Casa Pia <strong>na</strong> Imprensa – A Nuvemde Chumbo – Lisboa, Publicações D. Quixote:2003.Grevisse, Benoît – L’affaire Dutroux etles Médias – Une révolution blanche desjour<strong>na</strong>listes ? – Louvain-La-Neuve, AcademiaBruyant : 1999.Mesquita, Mário – « Metajor<strong>na</strong>lismo ouauto-regulação informal?», in Revista Jor<strong>na</strong>lismo& Jor<strong>na</strong>listas, nº 7, Julho/Setembro de2001 p. 14-16.Mesquita, Mário – O Quarto Equívoco– O poder <strong>do</strong>s media <strong>na</strong> sociedade contemporânea– Coimbra, Minerva Editora: 2003.Traqui<strong>na</strong>, Nelson – O que é Jor<strong>na</strong>lismo– Lisboa, Quimera: 2002.Wolf, Mauro – Teorias da Comunicação– Lisboa, Presença: 1995.Wolton, Dominique – “Jour<strong>na</strong>listes, unesi fragile victoire…”, in Revista Hèrmes, nº35, 2003 p. 9-21.Referências <strong>na</strong> imprensa (ape<strong>na</strong>s as citadasno texto):Augusto Santos Silva“O primeiro poder” – Público – 8 deNovembro de 2003Estrela Serrano“O lugar <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo” – Diário deNotícias – 2 de Dezembro de 2002“O senti<strong>do</strong> das palavras” – Diário deNotícias – 9 de Junho de 2003“O escrutínio <strong>do</strong>s media” – Diário deNotícias – 13 de Outubro de 2003Francisco José Viegas“Sociedade de cavalheiros” – Jor<strong>na</strong>l deNotícias – 12 de Dezembro de 2002José Pacheco Pereira“A caminho <strong>do</strong> terceiro mun<strong>do</strong>” – Público– 5 de Dezembro de 2002Mário Mesquita“Quem não salta é… pedófilo” – Público––8 de Dezembro de 2002“O ‘Ballet’ cinzento da democracia” –Público–– 8 de Junho de 2003._______________________________1Universidade <strong>do</strong> Minho (projecto fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>pela Fundação para a Ciência e Tecnologia eorienta<strong>do</strong> pelo Professor Doutor Moisés de LemosMartins).2“Quem não salta é… pedófilo”, MárioMesquita, in PÚBLICO de 8 de Dezembro de2002.3Nomeadamente Augusto Santos Silva, emartigo publica<strong>do</strong> no jor<strong>na</strong>l PÚBLICO de 8 deNovembro de 2003 (pági<strong>na</strong> 5).4Wolf, M. –– Teorias da Comunicação -–Lisboa, Editorial Presença: 1995.5Bouveresse, Jaques ––Schmock ou letriomphe du jour<strong>na</strong>lisme .6cita<strong>do</strong> por Mário Mesquita no artigo “Ometajor<strong>na</strong>lismo ou a auto-regulação informal”, <strong>na</strong>revista Jor<strong>na</strong>lismo e Jor<strong>na</strong>listas, nº 7, Julho/Setembrode 2001, pági<strong>na</strong> 14.7Mário Mesquita, no mesmo artigo, pági<strong>na</strong>15.8Mário Mesquita, no mesmo artigo, pági<strong>na</strong> 16.9Estrela Serrano, colu<strong>na</strong> da Prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>sLeitores <strong>do</strong> Diário de Notícias, 2 de Dezembrode 2002.10José Pacheco Pereira, “A Caminho <strong>do</strong>Terceiro Mun<strong>do</strong>”, in Público de 5 de Dezembrode 2002.11Assim a classificou Mário Mesquita numartigo intitula<strong>do</strong> “O ‘Ballet’ cinzento da democracia”,in Público de 8 de Junho de 2003.12Estrela Serrano, colu<strong>na</strong> da Prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>sLeitores <strong>do</strong> Diário de Notícias, 9 de Junho de2003.13Francisco José Viegas, “Sociedade deCavalheiros, in Jor<strong>na</strong>l de Notícias, 12 de Dezembrode 2002.14Estrela Serrano, colu<strong>na</strong> da Prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>sLeitores <strong>do</strong> Diário de Notícias, 13 de Outubrode 2003.15N o caso belga há a considerar o assassíniode quatro crianças.16Estrela Serrano, colu<strong>na</strong> da Prove<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>sLeitores <strong>do</strong> Diário de Notícias, 2 de Dezembrode 2002.


JORNALISMO123Ventos cruza<strong>do</strong>s sobre o campo jor<strong>na</strong>lístico.Percepções de profissio<strong>na</strong>is sobre as mudanças em cursoManuel Pinto 1O jor<strong>na</strong>lismo está a mudar. Diante <strong>do</strong>panorama da mudança, nem sempre claramentecaracterizada, são múltiplosecontraditórios os sentimentos, os discursose os comportamentos. Os cenários da crise– assumida ou prenunciada - vêem-se povoa<strong>do</strong>sde lógicas de si<strong>na</strong>l diverso, sen<strong>do</strong>, porvezes, difícil de distinguir entre o sau<strong>do</strong>sismomitifica<strong>do</strong>r e o exercício da críticaconsistente. Neste texto, assumimos a mudançacomo situação crítica e, <strong>na</strong>turalmente,evolutiva, cujos contornos e desenvolvimentosnão se encontram ainda bem recorta<strong>do</strong>sedefini<strong>do</strong>s.O desenvolvimento <strong>do</strong> webjor<strong>na</strong>lismo 2não veio senão baralhar ainda mais umasituação já de si complexa e constitui-se hojecomo um <strong>do</strong>s mais poderosos e estimulantesdesafios com que o jor<strong>na</strong>lismo se debate. Deresto, entendemos que as novas modalidadesde jor<strong>na</strong>lismo ligadas aos novos media digitaispodem ser tomadas como revela<strong>do</strong>r deposicio<strong>na</strong>mentos, atitudes e expectativas <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas face ao quadro de condicio<strong>na</strong>mentose <strong>potencial</strong>idades que têm de enfrentar.Foi isso mesmo que procurámos apurar,através de um conjunto de opiniões recolhidasjunto de algumas deze<strong>na</strong>s de profissio<strong>na</strong>is<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo português, que trabalhamem meios tradicio<strong>na</strong>is e em novos meios, comdistintos estatutos <strong>na</strong> profissão. É de umaparte da informação recolhida que se procuradar neste texto os principais traços e algumasnotas de leitura crítica.1. Discursos e posicio<strong>na</strong>mentos em tornoda “crise <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo”O meta-discurso sobre o jor<strong>na</strong>lismo defineum arco em cujos extremos reside a afirmaçãode uma degenerescência galopante destaactividade social e, opostamente, uma posiçãoutópica e de encantamento perante osnovos horizontes que se desenham para umfuturo que se diz estar próximo. Ambas asvisões partilham a ideia de uma mais oumenos acentuada crise <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, talcomo é pratica<strong>do</strong> nos nossos dias. Consideremosalgumas dessas posições.A posição tecnofóbica e nostálgica– Umexemplo é-nos forneci<strong>do</strong> por MartínezAlbertos, em El Ocaso del Periodismo (1997),obra da qual o próprio autor considera transpirar“uma visão amarga e decepcio<strong>na</strong>da”(p.17). Segun<strong>do</strong> ele, “os jor<strong>na</strong>listas perderamo rumo <strong>do</strong> seu ofício e cada vez sabem menosqual o papel que lhes cabe no grande teatro<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (p.18). Mais grave ainda, parao autor, é o facto de as sociedades já nãoprecisarem <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo para sobreviverem.Profetizan<strong>do</strong> o desaparecimento <strong>do</strong>s diáriosimpressos em papel até ao fim dasegunda década <strong>do</strong> presente século 3 , frenteà “avalanche electrónica” (p.26), MartínezAlbertos introduz um tom apocalíptico no seudiscurso ao ver neste processo inexorável umaluta entre a cultura e a tecnologia, poden<strong>do</strong>esta última vir a tor<strong>na</strong>r-se “uma ameaça gravepara as liberdades da cidadania” (p.31). “Amentalidade pós-moder<strong>na</strong> está a mi<strong>na</strong>r seriamenteos fundamentos ideológicos quetor<strong>na</strong>ram possível tanto o <strong>na</strong>scimento, comoo desenvolvimento e impulso posterior destaforma de trabalho social a que chamamosjor<strong>na</strong>lismo”, espécie que se encontra, de facto,“em vias de extinção” (p.42). Neste quadro,os jor<strong>na</strong>listas, que se foram constituin<strong>do</strong>, aolongo <strong>do</strong>s séculos XIX e XX, “quase comouma verdadeira profissão” (ibid.), tenderãoa incorporar-se cada vez mais no indistintoe extenso oceano <strong>do</strong>s database producers, <strong>do</strong>sinformation providers. Em suma, deixarãocada vez mais de ser jor<strong>na</strong>listas para passarema ser “fornece<strong>do</strong>res de conteú<strong>do</strong>s”.Um quadro de tons semelhantes, emboranão especificamente centra<strong>do</strong> <strong>na</strong> análise <strong>do</strong>campo jor<strong>na</strong>lístico, transparece de algunsescritos de Neil Postman, um autor americanorecentemente faleci<strong>do</strong>, cujo pensamentotem conheci<strong>do</strong> um assi<strong>na</strong>lável sucesso


124 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Ainda antes da “explosão” daInternet, sublinhava ele no texto InformingOurselves to Death (1990), desenvolvi<strong>do</strong>, <strong>do</strong>isanos depois <strong>na</strong> obra Technopoly – TheSurrender of Culture to Tecnhology, a propósitodas incidências culturais <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r:“Os elos entre a informação e a acçãodesfizeram-se. A informação é hoje umamerca<strong>do</strong>ria que pode ser comprada e vendida,usada como forma de entretenimentoou exibida como or<strong>na</strong>mento potencia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>status de cada um. Aparece indiscrimi<strong>na</strong>damente,dirigida a ninguém em particular,desligada da respectiva utilidade; vemo-nosafoga<strong>do</strong>s em informação, não temos controlosobre ela e nem sequer sabemos o que fazercom ela (...) Não sabemos qual a informaçãoque é relevante e qual a que é irrelevantepara as nossas vidas”. Seria uma injustiçacatalogar o rico e denso contributo dePostman e de Martínez Albertos em categoriastão redutoras como “tecnofobia” ou“nostalgia”. Mas é legítimo anotar que nume noutro <strong>do</strong>s discursos transparece umreferencial que deixou de existir e que é vistocomo uma perda e, eventualmente, como oprenúncio de um desastre.Uma certa perspectiva da economiapolítica – Pierre Bourdieu e, com ele, outrosautores como Ig<strong>na</strong>cio Ramonet ou SergeHalimi, por exemplo, não se têm cansa<strong>do</strong> depropor uma reflexão sobre o jor<strong>na</strong>lismo emtons de forte pen<strong>do</strong>r crítico.Partilham a ideia de que o jor<strong>na</strong>lismo seencontra <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> pela lógica de merca<strong>do</strong>e de que a informação é cada vez mais umamera merca<strong>do</strong>ria, sen<strong>do</strong> os jor<strong>na</strong>listas, ou pelomenos a elite deste grupo profissio<strong>na</strong>lcompósito, “os novos cães de guarda” <strong>do</strong>pensamento único de matriz neoliberal(Halimi,1997). Mas é possível identificar,numa análise mais atenta, diferentes leiturassobre o papel <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas e <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo<strong>na</strong> sociedade. Em Sur la Télévision, Bourdieu(1996) atribui aos jor<strong>na</strong>listas e, de forma maisampla, ao campo jor<strong>na</strong>lístico, “um monopóliode facto sobre os instrumentos de produçãoe difusão em grande escala da informação”,controlan<strong>do</strong>, desse mo<strong>do</strong>, o acesso<strong>do</strong>s cidadãos ao espaço público, impon<strong>do</strong> “aoconjunto da sociedade os seus princípios devisão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” e exercen<strong>do</strong> “uma censuraformidável” relativamente ao que não cabe<strong>na</strong>s suas categorias de notoriedade pública(cf. especialmente pp. 52-54).Este tema da censura jor<strong>na</strong>lística sobreo sistema social é retoma<strong>do</strong> em trabalhos dePatrick Champagne (1998) e de Ig<strong>na</strong>cioRamonet (1999), entre outros. Mas surge, nocaso destes <strong>do</strong>is autores, uma atenção particularàs transformações e contradições <strong>do</strong>campo profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Na suaanálise, tem-se vin<strong>do</strong> a aprofundar um fossocada vez mais acentua<strong>do</strong> entre um reduzi<strong>do</strong>grupo de vedetas e nomes consagra<strong>do</strong>s e umamaioria subalternizada e em situação laboralde maior ou menor precaridade, facilmentecontrolável e manipulável pelas hierarquias.Para Ramonet” – divergin<strong>do</strong> aqui sensivelmenteda leitura de Bourdieu – a partir <strong>do</strong>sanos 60, os jor<strong>na</strong>listas foram perden<strong>do</strong>–“omonopólio que detinham <strong>na</strong>s sociedadesdemocráticas”, num processo que passou poruma crescente diluição das fronteiras que osseparavam das lógicas da publicidade e dasrelações públicas. Foram-se transforman<strong>do</strong>em simples media workers, perden<strong>do</strong> a sua“singularidade” (p.55). Por outro la<strong>do</strong>, e <strong>na</strong>medida em que a Internet e os novos mediapermitem a cada indivíduo “não ape<strong>na</strong>s ser,à sua maneira, um jor<strong>na</strong>lista, mas até colocar-seà cabeça de um medium de dimensãoplanetária” 4 (p.56), passa a fazer senti<strong>do</strong>interrogar-se sobre o futuro <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Do seu ponto de vista, os jor<strong>na</strong>listas “estãoem vias de extinção”, uma vez que “o sistemajá não os quer”, poden<strong>do</strong> “funcio<strong>na</strong>rsem eles”. (p.51).Posição tecnófila e messiânica – Mostranosa história <strong>do</strong> aparecimento e difusão dastecnologias que, a cada novo meio de comunicação,se verificam de forma recorrenteatitudes e discursos ora de me<strong>do</strong> e de resistência,ora de euforia e de adesão. Omesmo tem ocorri<strong>do</strong> nos últimos anos coma Internet e os novos media, tanto mais que,neste caso, não se trata ape<strong>na</strong>s de um novomeio de informação e comunicação, mas deuma rede de redes à escala global, queconfigura um ecossistema informativo multimédia,interactivo e dinâmico, em que seacentua a convergência de meios, tradicio<strong>na</strong>ise recentes.Assim, com a World Wide Web e, maisespecificamente com a Internet, são postasem destaque as rupturas operadas relati-


JORNALISMO125vamente aos quadros e paradigmas pré-existentese, sobretu<strong>do</strong>, as possibilidades e cenáriosque se poderão abrir com o acessoà rede e a respectiva utilização. Nesta linha,enfatiza-se a quantidade e diversidade deinformação disponível, a multiplicidade deformas e de serviços, as diversas modalidadesde utilização e de relacio<strong>na</strong>mento, asinúmeras possibilidades de definir menus individualiza<strong>do</strong>sde informação e de acederdirectamente às fontes (Hume, 1995), entremuitos outros aspectos.De uma forma mais ou menos expressa,porém, alguns <strong>do</strong>s discursos sobre as<strong>potencial</strong>idades da Internet tendem a alimentara crença <strong>na</strong> possibilidade de, com os novosmedia, se concretizar a “aldeia global”anunciada por McLuhan, marcada por umregime comunicacio<strong>na</strong>l entre as pessoas e osgrupos sociais de <strong>na</strong>tureza mais horizontale democrático. Como observa Klinenberg(1999), referin<strong>do</strong>-se ao campo jor<strong>na</strong>lístico,os novos media são apresenta<strong>do</strong>s comoabrin<strong>do</strong> aos jor<strong>na</strong>listas a possibilidade deproduzir uma informação “mais completa emais fiável”.Não iremos ao ponto de afirmar, comoJames Fallows (1999), que a 13nternet “mu<strong>do</strong>umais o comércio <strong>do</strong> que qualquer outrosector”. Em qualquer caso, importa considerarcomo convivem e se relacio<strong>na</strong>m osdiscursos encantatórios sobre as tecnologiascom as práticas empresariais e de gestão queprocuram tirar parti<strong>do</strong> dessas mesmas tecnologias,desig<strong>na</strong>damente no caso <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,a<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> a esta luz, por exemplo, asexperiências de “fiasco” de fi<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s anos90 e princípios desta década. Assim comoimporta a<strong>na</strong>lisar em que medida novos formatose modalidades de uso da internet,nomeadamente no plano da edição perso<strong>na</strong>lizadade informação, configuram lógicasdiferenciadas ao nível da produção, circulaçãoe utilização ou não passam de “experiências”margi<strong>na</strong>is e, fi<strong>na</strong>lmente, inconsequentes.As mudanças que têm vin<strong>do</strong> a ocorrernos últimos anos no campo jor<strong>na</strong>lísticojustificam a interrogação sobre se estaremosperante simples desenvolvimentosconfigura<strong>do</strong>res de cenários novos ou, pelocontrário, diante de uma ruptura ou mesmode uma revolução relativamente àquilo quetem si<strong>do</strong> característico <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, levan<strong>do</strong>à emergência paulati<strong>na</strong> de uma outrarealidade radicalmente distinta da anterior. Emqualquer <strong>do</strong>s casos, tor<strong>na</strong>-se relevante saber-de que mo<strong>do</strong> é que um <strong>do</strong>s principais actoresdeste processo percepcio<strong>na</strong>m e avaliam asmudanças em curso.2. Percepções de jor<strong>na</strong>listas portuguesessobre as mudanças no campo jor<strong>na</strong>lísticoA informação disponível sobre a pesquisaem torno da profissão jor<strong>na</strong>lística emPortugal é, em termos gerais, escassa e, atéao presente, centrada sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong> caracterizaçãosóciodemográfica (Pais, 1998; Subtil,2001). Em particular sobre o jor<strong>na</strong>lismoonline, os estu<strong>do</strong>s são ainda mais escassos,embora com si<strong>na</strong>is de atenção progressiva nosvários centros universitários que se dedicama investigar este campo.O assunto foi objecto de debate no últimoCongresso <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas Portugueses,realiza<strong>do</strong> em 1998, ten<strong>do</strong> os congressistasmanifesta<strong>do</strong>, relativamente às novas tecnologias,jor<strong>na</strong>lismo tal como até hoje tem si<strong>do</strong>entendi<strong>do</strong> e pratica<strong>do</strong>”. Estas novas tecnologias“não devem ser encaradas como umasentença de morte imediata para as formastradicio<strong>na</strong>is de jor<strong>na</strong>lismo e para os seusprincípios essenciais (...) mas sim como umamaneira diferente de fazer jor<strong>na</strong>lismo, tãolegítima como as outras, desde que igualmentesujeita a esses princípios” (1998: 17).Consideran<strong>do</strong> o polissémico tema <strong>do</strong>congresso, “Jor<strong>na</strong>lismo real, jor<strong>na</strong>lismo virtual”,de cerca de uma cente<strong>na</strong> de comunicaçõesnele apresentadas, ape<strong>na</strong>s cinco sedebruçarem sobre a Internet e o jor<strong>na</strong>lismoonline e mesmo estas pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntementevoltadas para a apresentação da novidade e<strong>do</strong>s me<strong>do</strong>s, expectativas e questões a elaassociadas.Nota meto<strong>do</strong>lógicaFoi com esta tela de fun<strong>do</strong> que procurámosir um pouco mais longe. Dirigimos,<strong>na</strong> primeira metade de Abril de 2001, 285cartas a outros tantos jor<strong>na</strong>listas através decorreio electrónico, conten<strong>do</strong> em anexo umquestionário intitula<strong>do</strong> “Mudanças <strong>na</strong> prática<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo”. Os critérios de selecção <strong>do</strong>s


126 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdesti<strong>na</strong>tários foram vários, a saber: existênciade endereços de e-mail disponíveis <strong>na</strong>ficha técnica <strong>do</strong>s órgãos informativos 5 ; diversidadede profissio<strong>na</strong>is, consideran<strong>do</strong>desig<strong>na</strong>damente o sexo, o tempo de profissãoe a função exercida); diversidade desuportes, contemplan<strong>do</strong> meios impressos,radiofónicos, televisivos e online. Foramobtidas 42 respostas, abarcan<strong>do</strong> 23 homense 19 mulheres, distribuí<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> ponto de vista<strong>do</strong> meio em que exerciam a profissão, <strong>do</strong>seguinte mo<strong>do</strong>: 12 <strong>na</strong> imprensa, três <strong>na</strong> rádio,seis <strong>na</strong> televisão, nove online, quatro combi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>mais de um <strong>do</strong>s meios atrás referi<strong>do</strong>s(oito não indicaram o meio em quetrabalhavam). Cerca de três quartos trabalhavamcomo jor<strong>na</strong>listas há mais de cinco anos.Relativamente ao estatuto <strong>na</strong> profissão, <strong>do</strong>isexerciam funções de direcção, oito erameditores e os restantes repartiam-se pelosvários escalões da ‘carreira’ de jor<strong>na</strong>lista.Importa referir que o objectivo destequestionário se desti<strong>na</strong>va a obter informaçãopertinente de interlocutores diversifica<strong>do</strong>s,ten<strong>do</strong> em conta as variáveis referidas. Nãose pretendeu, nesta fase, obter uma caracterizaçãoglobal desta actividade profissio<strong>na</strong>l,pelo que não se pode, <strong>do</strong> apuramentodas respostas, inferir outras conclusões quenão indica<strong>do</strong>res, sugestões e hipóteses detrabalho que possam orientar estu<strong>do</strong>s deespectro mais largo e representativo. Por essarazão, mais <strong>do</strong> que proceder a um tratamentoestatístico <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, procurámos, relativamentea parte das questões apresentadas,inventariar as respostas e a<strong>na</strong>lisá-las.Problemas e <strong>potencial</strong>idades <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo<strong>na</strong> actualidadeDuas questões de carácter geral foramcolocadas <strong>na</strong> parte inicial <strong>do</strong> questionário.Uma solicitava que os interlocutores identificassemos problemas mais relevantes <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, ten<strong>do</strong> como referência os últimosdez anos. Outra inquiria sobre as<strong>potencial</strong>idades ou virtualidades que o jor<strong>na</strong>lismopoderá conter, toman<strong>do</strong> como referênciao próximo futuro. Em ambos os casos,a resposta era aberta, solicitan<strong>do</strong>-se que aopinião fosse dada de forma sumária e tópica.Relativamente aos problemas identifica<strong>do</strong>s,aquele que foi mais vezes nomea<strong>do</strong> foio da crescente tendência para o sensacio<strong>na</strong>lismo<strong>na</strong> informação jor<strong>na</strong>lística. Agrupan<strong>do</strong>as respostas por grandes categorias, aquelaque surge com mais expressão é, porém, aque foca a concentração de empresas decomunicação social e a contami<strong>na</strong>ção dainformação pela lógica comercial. Logo aseguir, e em relação estreita com este ponto,surgem aspectos como a precarização dascondições laborais, questões ligadas à formação<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas e a derrapagem ao nível<strong>do</strong>s valores ético-deontológicos.As virtualidades e <strong>potencial</strong>idades concentram-se,de forma claramente maioritária,<strong>na</strong>s vantagens que advêm ou advirão <strong>do</strong>sdesenvolvimentos ao nível das tecnologias.A grande distância seguem-se as expectativasligadas à informação (multiplicação defontes, crescimento da informação, maiorintervenção <strong>do</strong>s públicos, maior necessidadeda intermediação) e às atitudes e práticas <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas (o acordar e arrepiar caminho <strong>do</strong>sprofissio<strong>na</strong>is; expectativa de afirmação daexigência de mais qualidade <strong>na</strong> informação,etc). A esperança numa nova geração dejor<strong>na</strong>listas, com outra formação e a crençaem atitudes mais exigentes da parte <strong>do</strong>público são outros aspectos sublinha<strong>do</strong>s <strong>na</strong>srespostas.Em que é que o online faz a diferença“Parece-lhe haver características <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoonline que sejam intrinsecamente diferentesdas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo tradicio<strong>na</strong>l?”, eraoutra questão colocada. Note-se, em primeirolugar, que ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>is profissio<strong>na</strong>is consideraramnão conhecer ou conhecer mal ojor<strong>na</strong>lismo online. Entre os restantes, registou-seum acentua<strong>do</strong> consenso no senti<strong>do</strong> deafirmar que, no essencial, as regras e normasdeontológicas e as exigências de verificaçãoe filtragem são comuns a todas as modalidades<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo.Foram manifestadas opiniões que comparamo jor<strong>na</strong>lismo online com o jor<strong>na</strong>lismopratica<strong>do</strong> no âmbito de outros media. Assim,o online assemelhar-se-ia ao jor<strong>na</strong>lismoradiofónico no estilo de linguagem e <strong>na</strong>rapidez exigida. Já <strong>na</strong>s possibilidades decontextualização e <strong>na</strong> ênfase <strong>na</strong> linguagemescrita, as semelhanças seriam mais com aimprensa. O estilo sucinto e factual aproximálo-ia,por sua vez, <strong>do</strong> das agências noticiosas.


JORNALISMO127Todavia, a maioria <strong>do</strong>s respondentesconsiderou que, não existin<strong>do</strong> diferenças defun<strong>do</strong>, tal não significa que não existamdiferenças assi<strong>na</strong>láveis a vários outros níveis.O mais sublinha<strong>do</strong> diz respeito às incidências<strong>na</strong> prática <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, matéria sobrea qual se observam algumas inquietações eperplexidades.As opiniões dividem-se entre aspectospositivos (o online favoreceria um jor<strong>na</strong>lismomais contextualiza<strong>do</strong> e apoia<strong>do</strong> <strong>na</strong> pesquisa;estimularia o tratamento multimedia<strong>do</strong>s factos reporta<strong>do</strong>s; permitiria a correcçãoin situ <strong>do</strong>s trabalhos disponibiliza<strong>do</strong>s, umavez verificada a existência de erros) e igualmentediversos riscos e debilidades (a velocidadeexigidaprejudicaria o cruzamento de fontes, oaprofundamento e a filtragem <strong>do</strong>s assuntos;o jor<strong>na</strong>lismo online seria “stressante” no quese refere a “breaking news” e não favoreceriaa investigação e o investimento emgéneros nobres como a reportagem).A diferença instaurada pelo jor<strong>na</strong>lismoonline estende-se, entretanto, a outros <strong>do</strong>mínios,segun<strong>do</strong> vários <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s. Oimediatismo é especialmente destaca<strong>do</strong>,recobrin<strong>do</strong> este conceito quer a noção deinstantaneidade, de ausência dedistanciamento por parte <strong>do</strong> informa<strong>do</strong>rrelativamente à matéria difundida, quer, numaperspectiva de cunho mais positivo, emborabastante menos referida, a agilidade e odi<strong>na</strong>mismo exigi<strong>do</strong>s neste quadro. Outrasdimensões igualmente anotadas com algumdestaque dizem respeito às virtualidades <strong>do</strong>multimedia e da interactividade, à universalidade<strong>do</strong> acesso à informação, à ausênciade limites de espaço e de tempo (pelo menos<strong>do</strong> ponto de vista técnico), mas tambémàquilo que alguns respondentes consideraramser um empobrecimento <strong>do</strong> estilo e da criatividadeda escrita jor<strong>na</strong>lística.Jor<strong>na</strong>listas polivalentes e produtores deconteú<strong>do</strong>s: realidades a distinguirTêm-se multiplica<strong>do</strong> nos meios de difusãocolectiva as declarações de dirigentes dealguns grupos de comunicação acerca denovas tendências e experiências <strong>na</strong> prática<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e de cenários em que osjor<strong>na</strong>listas passariam a desenvolver actividadesnão confi<strong>na</strong>das a um único meio <strong>do</strong>mesmo grupo. 6 Ten<strong>do</strong> isto em consideração,foi colocada aos inquiri<strong>do</strong>s a seguinte pergunta:“Que comentários lhe suscitam desig<strong>na</strong>çõese conceitos como ‘produtores deconteú<strong>do</strong>s’ ou ‘jor<strong>na</strong>listas polivalentes’, quecomeçam a surgir e a ser postos em prática?”.Pretendia-se, com este ponto, nãoape<strong>na</strong>s captar a representação <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>isconsulta<strong>do</strong>s sobre esta matéria, mas,mais basicamente, apurar em que medida estetópico é percepcio<strong>na</strong><strong>do</strong> como relevante e éobjecto de acompanhamento.A análise das respostas leva a concluirque, pelo menos parcialmente, o registodiverge da (e recoloca a) problemática levantadapela pergunta. Ou seja, para grandeparte <strong>do</strong>s respondentes, “jor<strong>na</strong>listaspolivalentes” e “produtores de conteú<strong>do</strong>s”remetem para matérias relativamente autónomas,que merecem, por conseguinte, apreciaçãodistinta.Relativamente à polivalência <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas,encontrámos três tipos de sensibilidades.Uma delas, com uma expressão quantitativaimportante, tende a contrapor polivalência aespecialização, re-introduzin<strong>do</strong>, por esta via,um debate já antigo, <strong>na</strong> comunidade <strong>do</strong>sprofissio<strong>na</strong>is. Sublinha, por conseguinte, queum”“verdadeiro jor<strong>na</strong>lista” é ou deve serpolivalente. A especialização que se acentuousobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong>s últimas duas décadas pode nãoter si<strong>do</strong> necessariamente um recuo em simesma, mas terá i<strong>do</strong> a par de uma perdaprofissio<strong>na</strong>l, traduzida numa visão e atitudemenos abertas e de um maior acanto<strong>na</strong>mnetonos âmbitos especializa<strong>do</strong>s de actuação.Como se tor<strong>na</strong> notório, a pergunta quehavíamos coloca<strong>do</strong> apontava para um outrouniverso e para um mo<strong>do</strong> diverso de concebera polivalência. A perspectiva de boaparte das respostas não deixa, no entanto, desuscitar problemas da maior relevância paraa análise <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo actual.Há, depois, quem manifeste uma opiniãofavorável à polivalência, por motivos quepoderíamos desig<strong>na</strong>r como pragmáticos: “éfundamental que o jor<strong>na</strong>lista saiba fazer umpouco de tu<strong>do</strong>”; ou: “a polivalência é umamais-valia”; ou ainda: ela “é admissível seo profissio<strong>na</strong>l tiver capacidade de resposta”e “se não puser em causa a sua dignidadee estatuto profissio<strong>na</strong>l”.


128 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEntre os que se insurgem contra a desig<strong>na</strong>çãodetectam-se igualmente sensibilidadese níveis diversos de resposta. Tambémaqui pode encontrar-se o la<strong>do</strong> pragmático:“vejo mal que um jor<strong>na</strong>lista seja simultaneamenteredactor, fotógrafo, radialista,cameraman: não <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>rá bem nenhum”;“se for leva<strong>do</strong> a fazer tu<strong>do</strong>, não fará <strong>na</strong>dabem feito”. Isto porque a polivalência configurauma “usurpação de funções”.Mas é a lógica económica e o impactede estratégias empresariais que transparecede forma clara noutras opiniões: apolivalência “é uma desig<strong>na</strong>ção das entidadespatro<strong>na</strong>is para pagarem menos e reduziremos custos””e revela que a informação“é ape<strong>na</strong>s mais uma merca<strong>do</strong>ria disponível”.Ou: trata-se de uma “expressão inteligentementeusada por quem pretende reduzir otrabalho <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas a meros obreiros deprodutos vendáveis”.No que respeita à expressão “produtoresde conteú<strong>do</strong>s”, as opiniões pautam-se poridênticos padrões, com a diferença de quequase não há quem aceite ou justifique talconceito: ape<strong>na</strong>s um jor<strong>na</strong>lista refere que osseus pares nunca foram outra coisa e outroobserva que este tipo de desig<strong>na</strong>ções exprimeuma tendência de futuro: indica o queos jor<strong>na</strong>listas virão a ser.Vários respondentes patenteiam claraaversão relativamente à expressão “produtoresde conteú<strong>do</strong>s”. Consideram-<strong>na</strong> “poucofeliz”, “absurda”, “irritante” e até mesmo“um perigo” e “a negação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo”.Das respostas infere-se que os produtores deconteú<strong>do</strong>s existem, mas não são jor<strong>na</strong>listas,uma vez que “o jor<strong>na</strong>lismo é mais <strong>do</strong> queisso””e misturar ou indiferenciar as duasrealidades constitui uma “forma de desvirtuara profissão, de ba<strong>na</strong>lizá-la”. É umaexpressão de estratégias empresariais paracriar sinergias e reduzir custos. “Tem a vercom a crise <strong>do</strong> conceito de jor<strong>na</strong>lista”,resume um <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s. Interessante é aênfase que duas das respostas recebidascolocam não tanto no conceito de conteú<strong>do</strong>s,mas no de produtores. “Os conteú<strong>do</strong>s podemser jor<strong>na</strong>lísticos, ainda que presentementetenham uma conotação de infotainment; apalavra ‘produtore’ remete o jor<strong>na</strong>lismo paraa produção industrial, orientada ape<strong>na</strong>s parao merca<strong>do</strong>, para o lucro”, considera umjor<strong>na</strong>lista liga<strong>do</strong> a um jor<strong>na</strong>l diário. E outro,com funções de direcção num semanário deinformação geral, acrescenta: “o jor<strong>na</strong>lista émedia<strong>do</strong>r de factos e não produtor de conteú<strong>do</strong>s.Este conceito de ‘produtor’ leva àactual tendência de ajustar os factos ao queé e não é vendável”.3. Comentários e problematizaçãoPode dizer-se que os jor<strong>na</strong>listas queparticiparam nesta recolha de opiniões exprimem,<strong>na</strong>s suas respostas, uma ideia fortede que um <strong>do</strong>s grandes focos problemáticos,no actual quadro <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, deve sercoloca<strong>do</strong> <strong>na</strong>s empresas e nos grupos decomunicação, <strong>na</strong>s lógicas comerciais que cadavez mais as orientam e que fazem sentirprogressivamente os seus efeitos <strong>na</strong>s redacções.O sensacio<strong>na</strong>lismo, a “tabloidização”,o infotainment e a superficialidade são aomesmo tempo característica e consequênciadaquele quadro de concorrência exacerba<strong>do</strong>.No terreno laboral, os si<strong>na</strong>is <strong>do</strong> mesmofenómeno seriam a precarização <strong>do</strong>s vínculoslaborais, o fosso crescente entre uma elitejor<strong>na</strong>lística e o grosso <strong>do</strong>s titulares de carteiraprofissio<strong>na</strong>l, e a degradação da profissãoem termos retributivos.Globalmente, pode detectar-se, no tomgeral das respostas, a afirmação mais oumenos clara <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como um serviçoà colectividade, como uma alavanca e umrevela<strong>do</strong>r fundamentais <strong>do</strong> espaço público.Em sintonia, de resto com o teor geral <strong>do</strong>sdiscursos que a “classe” produz acerca desi própria, quan<strong>do</strong> se reúne nos seus congressos,por exemplo. No entanto, aquilo quesurge como possível manifestação de um idealnobre pode também recobrir uma visãomitificada e romântica <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas e <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo ou, em to<strong>do</strong> o caso, exprimir umadificuldade de reflectir de forma mais complexae menos dicotómica a relação daactividade profissio<strong>na</strong>l com as condiçõesconcretas <strong>do</strong> seu exercício, hoje e aqui. Deresto, os factores problemáticos referencia<strong>do</strong>ssão sempre exteriores à iniciativa ou responsabilidade<strong>do</strong>s próprios jor<strong>na</strong>listas: cabem,antes, às empresas, aos directores, ao merca<strong>do</strong>,etc.Poderia ser li<strong>do</strong> a esta luz um certopara<strong>do</strong>xo que se apura das respostas rece-


JORNALISMO129bidas entre um quadro geral pinta<strong>do</strong> comto<strong>na</strong>lidades bastante escuras e, por outro la<strong>do</strong>,as esperanças e expectativas depositadas <strong>na</strong>sinovações tecnológicas e, em geral, <strong>na</strong>stecnologias. Ou seja, as mesmas tecnologias,cuja sofisticação e facilidade de uso permitemàs empresas impor aos jor<strong>na</strong>listas umaefectiva polivalência, vêem-se simultaneamenteinvestidas de um poder simbólico ematerial profundamente transforma<strong>do</strong>r.Nem a dimensão <strong>do</strong> grupo de profissio<strong>na</strong>isinquiri<strong>do</strong>s nem a diversidade das respostasobtidas permitem avaliar em quemedida estas percepções e hipóteses correspondema movimentos generaliza<strong>do</strong>s ou sefazem sentir de mo<strong>do</strong> especial em determi<strong>na</strong><strong>do</strong>scontextos. É, porém, saliente umapreocupação repetidamente reiterada com osrumos que o jor<strong>na</strong>lismo está a trilhar, consideran<strong>do</strong>as condições concretas <strong>do</strong> seuexercício.A polivalência, apesar de se inscrevernuma lógica que serve em primeiro lugar aracio<strong>na</strong>lidade económica das empresas, parececonstituir uma matéria relativamente àqual as posições se dividem mais <strong>do</strong> querelativamente à concepção <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listascomo “produtores de conteú<strong>do</strong>s”, a qual contacom uma oposição quase generalizada. Nãoé de to<strong>do</strong> improvável que, no cenário dapolivalência, confluam visões e interessesdiversos (uma certa imagem da profissão, oprestígio associa<strong>do</strong> ao uso de certos equipamentos,a mira de fontes complementaresde retribuição...). Já a produção de conteú<strong>do</strong>sé entendida como uma estratégia deindiferenciação e de retrocesso em termos deestatuto profissio<strong>na</strong>l. É, por conseguinte,sentida como ameaça à própria profissão.O jor<strong>na</strong>lismo online constitui uma modalidadecujos desafios se impõem, para amaioria <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s, mais pela forma <strong>do</strong>que pelo fun<strong>do</strong>. Isto é: não representa umaruptura com as normas, exigências e missãoque se considera caracterizarem a profissão,embora implique mudanças profundas nomo<strong>do</strong> de praticar o jor<strong>na</strong>lismo. Em to<strong>do</strong> ocaso, os vários tipos de riscos, perplexidadese expectativas formula<strong>do</strong>s pela generalidadedas respostas tor<strong>na</strong>m, pelo menos, evidenteum aspecto: o jor<strong>na</strong>lismo online, pelo lequede questões que levanta e pela complexidadede situações em que está implica<strong>do</strong>, pressupõedesafios ainda mais exigentes e profun<strong>do</strong>saos profissio<strong>na</strong>is e à prática profissio<strong>na</strong>l.Está longe, por conseguinte, de ser um meroproblema tecnológico e de supor, para serbem realiza<strong>do</strong>, uma mera “capacitação instrumental”.7Em termos gerais, e retoman<strong>do</strong> agora asorientações <strong>do</strong>s discursos sobre o jor<strong>na</strong>lismo,a que aludíamos no início deste texto,não é difícil encontrar, <strong>na</strong>s percepções ediscursos <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas aqui inquiri<strong>do</strong>s,posições influenciadas pela economia política<strong>do</strong>s media (denuncia<strong>do</strong>s como globalmentefuncio<strong>na</strong>is à estratégia neoliberal)coexistentes com posições tecnófilas (ou, emalguns casos, tecnófobas).Algumas perguntas que permitiriam interrogaro alcance e significa<strong>do</strong> desta conclusão:em que medida a coexistência sublinhadaconstitui de facto uma contradição?Que variações é possível captar, ten<strong>do</strong> emconta posições diferenciadas <strong>na</strong> profissão edistintos media ou grupos mediáticos? Quegrau de coincidência ou divergência existeentre os discursos produzi<strong>do</strong>s e as experiênciasvividas? Tanto a conclusão referidacomo as questões formuladas carecem deestu<strong>do</strong>s complementares com vista à suavalidação e matização. Importa, por isso,prosseguir as pesquisas.


130 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAbreu, Dinis ; Cabral, Eva (2001), ‘OIndependente’ acrescentava pouco ao grupo(entrevista a Miguel Pais <strong>do</strong> Amaral), inMeios, Abril.Auletta, Ken (1998) “State of theAmerican Newspaper Synergy City”.American Jour<strong>na</strong>lism Review (http://ajr.org/Article.asp?id=3273).Barbosa, Elisabete; Gra<strong>na</strong><strong>do</strong>, António(2004), Weblogs: Diário de Bor<strong>do</strong>. Porto:Porto Editora.Bastos, Helder (2000) Jor<strong>na</strong>lismo Electrónico– Internet e Reconfiguração dasPráticas <strong>na</strong>s Redacções. Coimbra: Minerva.Bourdieu, Pierre (1996) Sur la Télévision,Suivi de l’Emprise du Jour<strong>na</strong>lisme. Paris :Liber/Raisons d’Agir.Champagne, Patrick (1998) ‘La CensureJour<strong>na</strong>listique’, in’Les Inrockuptibles,16.12.1998Comissão Executiva <strong>do</strong> III Congresso <strong>do</strong>sJor<strong>na</strong>listas Portugueses (1998) Documentos,Teses, Conclusões. Lisboa.Fallows, James (1999) ‘But Is ItJour<strong>na</strong>lism?’. The American Prospect,vol.11,n.1Hume, Ellen (1995) ‘Tabloids, Talk Radioand the Future of News : Technology’s Impacton Jour<strong>na</strong>lism’. The Annenberg WashingtonProgram in Communications Policy Studiesof Northwester University, Washington DC[www.annnenberg.nwu.edu/pubs/tabloids](24.3.2001)Klinenberg, Eric (1999) ‘Jour<strong>na</strong>listes àTout Faire de la Presse Américaine’, in’LeMonde Diplomatique,Fevereiro (http://www.mondediplomatique.fr/1999/02/KLINENBERG/11643)Martínez-Albertos, José L. (1997) ElOcaso del Periodismo. Madrid: CIMSPais, J. Macha<strong>do</strong> (1998) Inquérito aosJor<strong>na</strong>listas Portugueses – Resulta<strong>do</strong>s Prelimi<strong>na</strong>res–(<strong>do</strong>cumentopolicopia<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>no 3º Congresso <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas Portugueses)Pinto, Manuel (2001) “FontesJor<strong>na</strong>lísticas: Contributos para o Mapeamento<strong>do</strong> Campo”. Comunicação e Sociedade/Cadernos <strong>do</strong> Noroeste, nº1Postman, Neil (1990) InformingOurselves to Death. [http://cec.wustl.edu/~cs142/articles/MISC/informing_ourselves_to_death—postman]Ramonet, Ig<strong>na</strong>cio (1999) A Tirania daComunicação.Porto: Campo das Letras.Salaverría, Ramón (2000) Criterios parala Formación de Periodistas en la Era Digital.Conferência apresentada no I CongresoNacio<strong>na</strong>l de Periodismo Digital (Huesca, 14-15 deJaneiro de 2000[www.u<strong>na</strong>v.es/fcom/mmlab/mmlab/investig/crite.htm] (consulta<strong>do</strong>em 7.4.2001)Sousa, Jorge P. (1999) Os Novos MeiosElectrónicos em Rede – um Estu<strong>do</strong>Prospectivo sobre Jor<strong>na</strong>lismo Online e OutrosConteú<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Internet Portuguesa.[www.bocc.ubi.pt]Subtil, Mónica (2001) As Mulheres-Jor<strong>na</strong>listas[www.bocc.ubi.pt]Winter, William L. (2000) ‘Our Readersof the Future’’(discurso proferi<strong>do</strong> em12.5.2000), American PressInstitute[www.americanpressinstitute.org](consulta<strong>do</strong> em 23 de Março de 2001)._______________________________1Universidade <strong>do</strong> Minho2Utilizamos neste texto os conceitos dewebjor<strong>na</strong>lismo, jor<strong>na</strong>lismo digital e de jor<strong>na</strong>lismoonline como equivalentes. Estamos, no entanto,conscientes de que continua a existir algumaindefinição conceptual, dada a diversidade desituações que muitas vezes se confundem: jor<strong>na</strong>listasque utilizam a Internet como ferramenta deapoio ao seu trabalho quotidiano; jor<strong>na</strong>listas queelaboram para media tradicio<strong>na</strong>is peças que sãotranspostas para a edição online; jor<strong>na</strong>listas quetrabalham ape<strong>na</strong>s no online, procuran<strong>do</strong>, em graumaior ou menor, tirar parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> multimédia e dainteractividade (para a discussão deste problema,é útil a consulta de Bastos, 2000: 120-129).3O Presidente <strong>do</strong> Americam Press Institute,William L. Winter, no discurso “Our Readers ofthe Future”, antecipa o horizonte temporal deMartínez Albertos: “Creio que o salto <strong>do</strong>s vossosnegócios de jor<strong>na</strong>is para ‘empresas de informação’chegará muito mais rapidamente <strong>do</strong> quesupõem muitos editores. Acredito, por exemplo,que, pelo ano 2005, vários jor<strong>na</strong>is americanos terãoanuncia<strong>do</strong> a intenção de elimi<strong>na</strong>r as suas ediçõesimpressas para aderir a mais amplos, criativos eúteis pacotes de notícias, informação e publicidade<strong>na</strong> world wide web”. Lida à luz <strong>do</strong> que sepassou entretanto, tão optimista declaração nãopode fazer senão sorrir.


JORNALISMO1314Como Matt Drudge, que revelou no seuboletim electrónico o caso Clinton-Lewinsky.5Na altura, os media jor<strong>na</strong>lísticos publicitavamos mails individuais <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, uma práticaque sofreu um retrocesso nos anos mais recentes.6A título de exemplo, numa entrevista à revistaMeios, o presidente <strong>do</strong> grupo Media Capital,Miguel Pais <strong>do</strong> Amaral, considerava que “algocomo um jor<strong>na</strong>lista polivalente” é o futuro daprofissão (in Abreu e Cabral, 2001).7Cf, a este propósito, as questões sugeridasno texto de Salaverría (2000).


132 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO133A presenza da lingua galega <strong>na</strong> prensa diaria de Galiza.Mínima, de baixa cualidade e sen xustificaciónMarcos Sebastián Pérez Pe<strong>na</strong> 1 , Berta García Orosa 2 ,José Villanueva Rey 3 , Miguel Túñez López 4Introdución e meto<strong>do</strong>loxíaA presenza da lingua galega <strong>na</strong> prensa deGaliza é moi reducida, pois só está presenteen cinco de cada cen páxi<strong>na</strong>s publicadas. Estasituación é para<strong>do</strong>xal, se temos en conta quea práctica totalidade <strong>do</strong>s cidadáns galegosentende e fala esta lingua e que máis de <strong>do</strong>usterzos le<strong>na</strong> sen dificuldade. Se a<strong>na</strong>lizamos condetemento os datos, advertimos que situacióné aínda máis grave, pois a proporción de galego<strong>na</strong> superficie redaccio<strong>na</strong>l (os textos propios <strong>do</strong>xor<strong>na</strong>l) é mesmo menor (non chega ao 4%)e nos xéneros informativos (agás a entrevista)aínda descende máis (tres por cento). Ademais,a lingua galega fica excluída de determi<strong>na</strong>dasseccións e temáticas “duras”, como ainformación política española e mundial ou aeconomía, quedan<strong>do</strong> reserva<strong>do</strong> o seu uso caseexclusivamente a seccións e temáticas máis“brandas”: cultura, sociedade..., e máis locais.A situación é semellante en to<strong>do</strong>s osxor<strong>na</strong>is, salvan<strong>do</strong> a excepción <strong>do</strong> GaliciaHoxe, integramente redacta<strong>do</strong> en galego, perode escasa in incidencia social da<strong>do</strong> a súalimitada distribución e o seu carácterinstitucio<strong>na</strong>l. Nos últimos 25 anos, o emprego<strong>do</strong> galego <strong>na</strong> prensa foi medran<strong>do</strong>, mais moide vagar, unha situación significativamentecontraditoria non só co <strong>do</strong>minio e o uso dalingua galega por parte <strong>do</strong>s habitantes daGaliza, senón coa reivindicación social latente(mais demostrada por varios estu<strong>do</strong>s epesquisas) dunha maior presenza da linguapropia de Galiza <strong>na</strong> prensa <strong>do</strong> país.Para a realización deste estu<strong>do</strong>, levousea cabo un baleira<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ce xor<strong>na</strong>is galegosde información xeral durante seis meses(xaneiro a xuño de 2003), mediante a escolladunha mostra de 22 días, cun intervalo deoito xor<strong>na</strong>das entre cada unha, para recollercomo mínimo tres exemplos de cada día dasema<strong>na</strong>. Ademais, realizáronse entrevistas aosresponsábeis de to<strong>do</strong>s os medios escritosestuda<strong>do</strong>s, así como aos dun grupo dunhastrinta emisoras galegas de radio e TV.Estrutura sociolingüística de GalizaSete de cada dez galegos maiores de cincoanos (o 68,66%) saben ler en galego. Estamedición da capacidade de lectura en linguagalega amosa uns resulta<strong>do</strong>s positivos, aíndaque lonxe <strong>do</strong>s de comprensión <strong>do</strong> idioma,practicamente unánime (99,16%) e <strong>do</strong>s defala, que indican que máis de nove de cadadez galegos (91,05%) <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>n oralmente asúa lingua 5 . Así pois, non existe unimpedimento estrutral para que os xor<strong>na</strong>is queeditan en Galiza poidan publicar as súaspáxi<strong>na</strong>s en lingua galega, xa que a maioríade poboación pode ler en galego.En canto ao uso real da lingua, os datosgalegos reflicten unha sociedadegalegofalante, monolingüe, mais contendencia a descender. En concreto, case seisde cada dez galegos (56,85%) sonmonolingües en lingua galega, tres de cadadez (30,29%) son bilingües (empregan cadadía as dúas linguas) e menos <strong>do</strong> trece porcento son castelanfalantes. En cambio, se nosreferimos tan só ás oito cidades <strong>na</strong>s que seeditan xor<strong>na</strong>is diarios, os seus habitantesdecláranse maioritariamente bilingües,atopan<strong>do</strong> máis castelanfalantes quegalegofalantes. Por cidades, destacan enprimeiro lugar Santiago de Compostela, Lugoe Ourense, pola súa elevada proporción degalegofalantes (entre 38 e 44 por cento) ereduci<strong>do</strong> número de monolingües en castelán(11 e 14 por cento). Nun nível intermedioatopamos a a Vilagarcía de Arousa, cunhamaioría de bilingües (44,5%), pero case amesma cifra de galegofalantes (36,8%); e aPontevedra, cuxos habitantes divídensepracticamente en tres terzos segun<strong>do</strong> a súalingua de uso cotián, (aínda que se incli<strong>na</strong>nlixeiramente en favor <strong>do</strong> galego). As outrastres cidades (Vigo, A Coruña e Ferrol)caracterízanse polo seu bilingüísmo (arre<strong>do</strong>r<strong>do</strong> 55% <strong>do</strong>s seus habitantes), cunha maiorproporción de cidadáns que falan en castelán(entre o 25 e o 30 por cento)


134 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura nº 1. Lingua habitual <strong>do</strong>s habitantes das oitocidades galegas <strong>na</strong>s que se editan xor<strong>na</strong>is e total galegoDatos xeraisCinco de cada cen páxi<strong>na</strong>s publicadas polaprensa editada en Galiza están en linguagalega, unha proporción que é maior <strong>na</strong>superficie publicitaria (supera o dez por centosobre a superficie publicitaria total) que <strong>na</strong>redaccio<strong>na</strong>l (non chega ao catro por cento).Ningún xor<strong>na</strong>l (salvan<strong>do</strong> a excepción <strong>do</strong>Galicia Hoxe, xa comentada) emprega ogalego en proporcións moi superiores ámedia, mais si hai diferenzas. Se nos fixamosnos datos xerais, suman<strong>do</strong> publicidade eredacción en galego, o xor<strong>na</strong>l que máissuperficie en galego ten é o o Diario deArousa co 7,72%, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Diario dePontevedra, co 7,5%. El Correo Gallego eLa Voz de Galicia superan lixeiramente amedia e El Progreso rolda igualemente ocinco por cento. No punto oposto, El IdealGallego, La Opinión, Atlántico Diario e Farode Vigo publican unha proporción moi escasade conti<strong>do</strong>s en lingua galega, situán<strong>do</strong>se pordebaixo <strong>do</strong> catro e mesmo <strong>do</strong> tres por cento.Táboa nº 2. Presenza proporcio<strong>na</strong>l da lingua galega <strong>na</strong>s superficiesredaccio<strong>na</strong>l e publicitaria <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is, sobre a superficie total publicadaXor<strong>na</strong>l% de redacción engalego sobrea superficie total% de publicidade engalego sobrea superficie total% de galego sobrea superficie totalLaVoz de Galicia2,622,945,56Farode Vigo1,442,453,89ElCorreo Gallego3,032,795,82LaRegión3,353,056, 4ElProgreso2,322,685,01LaOpinión1,981,243,22Diariode Pontevedra4,672,837, 5ElIdeal Gallego1,661,12,75Diariode Ferrol3,471,625,08Diariode Arousa5,132,597,72AtlánticoDiario2,501,263,76GaliciaHoxe89,234,8594, 1Mediasen GH2,92,265,15Mediacon GH8,332,4210,74


JORNALISMO135Polo que atinxe aos conti<strong>do</strong>s propios <strong>do</strong>xor<strong>na</strong>l, á superfice redaccio<strong>na</strong>l, o que máisemprega a lingua propia de Galiza é o Diariode Arousa, co 6,17%, segui<strong>do</strong> moi de cercapolo Diario de Pontevedra co 6,02%. Osoutros xor<strong>na</strong>is que pasan por riba da media(3,69%) son El Correo Gallego co 3,73%,Diario de Ferrol co 4,39% e La Región co4,45%. Pola contra, os xor<strong>na</strong>is que menorespazo lle dedican á redacción en galego sono Faro de Vigo (1,9%), El Ideal Gallego(2,2%) e La Opinión (2,23%). El Progresode Lugo, Atlántico Diario e La Voz de Galiciaestán por riba <strong>do</strong> 3% pero sen chegar á media.A media de superficie de publicidade engalego sobre o total de publicidade <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cexor<strong>na</strong>is é de 11,56%, unha de cada dezpáxi<strong>na</strong>s. Se non temos en conta a GaliciaHoxe a media baixa até o 10,44%, xa queeste xor<strong>na</strong>l presenta unha proporción <strong>do</strong>45,1%, moi por riba <strong>do</strong> resto. Os medios queteñen unha maior proporción de publicidadeen galego son o Diario de Arousa (15,32%),El Correo Gallego (14,76%), Diario dePontevedra (12,62%) e La Región (12,29%).El Ideal Gallego é o xor<strong>na</strong>l que publicamenos publicidade en galego, tan só o 4,45%<strong>do</strong> total e a seguir atopamos o Diario deFerrol, co 7,69% e o Atlántico Diario, co9,6%. Os outros <strong>do</strong>us xor<strong>na</strong>is por debaixoda media son El Progreso e Faro de Vigo,con algo máis <strong>do</strong> 10%.Táboa nº 3. Presenza proporcio<strong>na</strong>l da lingua galega <strong>na</strong>s superficies redaccio<strong>na</strong>l epublicitaria <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is, sobre o volume total de cada unha das superficiesXor<strong>na</strong>l% de redacciónen galego sobre ototal de superficieredaccio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>l% de publicidadeen galego sobre ototal de superficiepublicitaria <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>lLaVoz de Galicia3,5511,17Farode Vigo1,910,25ElCorreo Gallego3,7314,76LaRegión4,4512,29ElProgreso3,1710,06LaOpinión2,2311,27Diariode Pontevedra6,0212,62ElIdeal Gallego2,24,45Diariode Ferrol4,397,69Diariode Arousa6,1715,32AtlánticoDiario3,079, 6GaliciaHoxe10045, 1Mediasen GH3,6910,44Mediacon GH10,5311,56Visualmente, os <strong>do</strong>ce xor<strong>na</strong>is diariosde Galiza publican cada día máis de 855páxi<strong>na</strong>s (exceptuan<strong>do</strong> suplementos), dasque unhas 92 (91,95) están en linguagalega. Non obstante, desas case cenpáxi<strong>na</strong>s, máis da metade (50,63)corresponden a Galicia Hoxe e pouco máisde 41 aos outros once xor<strong>na</strong>is. Sen ter enconta ao Galicia Hoxe, o xor<strong>na</strong>l mediogalego publica cada día 73 páxi<strong>na</strong>s (72,9),das que case catro (3,76) están en galegoe o resto, máis de 69 (69,15), edítanse encastelán. Imprime case 16 páxi<strong>na</strong>s depublicidade (15,76) e máis de 57 (57,15)de información. Dentro desta superficieredaccio<strong>na</strong>l, dúas páxi<strong>na</strong>s están en galego(2,11) e 55 (55,04) en castelán. E en cantoá publicidade, case dúas páxi<strong>na</strong>s son engalego (1,64) e as restantes 14 (14,11)publícanse en castelán.


136 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVProporción de galego en cada día dasema<strong>na</strong>A proporción de galego publicada polosxor<strong>na</strong>is cada día da sema<strong>na</strong> mantén un grandeequilibrio de luns a venres, roldan<strong>do</strong> o catropor cento (entre o 3,83 e o 4,55%), para subirlixeiramente os sába<strong>do</strong>s, nos que acada ocinco por cento e dispararse os <strong>do</strong>mingos,nos que supera o sete. O último día da sema<strong>na</strong>desequilibra de tal forma a tendencia, queeleva a media sema<strong>na</strong>l até o 5,15, deixan<strong>do</strong>os restantes días por debaixo desa cifra(Táboa 4).A proporción de textos en galego sobrea superficie redaccio<strong>na</strong>l total <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>l segueunha dinámica moi semellante á xa explicadasobre a superficie total publicada <strong>na</strong> nosalingua e mesmo se acentúan algúns <strong>do</strong>s seusriscos. Máximo equilibrio, pois, de luns asába<strong>do</strong> (este día, referín<strong>do</strong>nos aos datos totais,destacábase un tanto co respecto aos demaisgracias á publicidade), superan<strong>do</strong> por poucoo tres por cento. E gran diferenza en relació<strong>na</strong>o <strong>do</strong>mingo, que cun 6,07% de galegopracticamente duplica os datos das demaisxor<strong>na</strong>das.En canto á publicidade en galego, adistribución é máis complexa. O primeiro quese advirte é unha importante diferenza entrea fin de sema<strong>na</strong> e os demais días. Sába<strong>do</strong>s(sobre to<strong>do</strong>) e <strong>do</strong>mingos exceden con folgurao dez e medio por cento de publicidade engalego sobre a superficie publicitaria total.Mentres, os restantes días con dificuldade seachegan ao nove por cento (martes emércores) ou mesmo baixan <strong>do</strong> oito (venres).Por último, hai que salientar a baixaporcentaxe que rexistran os luns, próxima aoseis por cento.Tipoloxía <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s inseri<strong>do</strong>sO galego, <strong>na</strong> redacción, é usa<strong>do</strong> sobreto<strong>do</strong> no humor (16,38%), algo menos <strong>na</strong>scartas (11,69%), artigos de opinión (10,81%)e entrevistas (9,65%) e moi escasamente nosrestantes xéneros informativos (3,04%) e <strong>na</strong>sinformacións de servizo (2,35%) Táboa 5.A superficie redaccio<strong>na</strong>l publicada enlingua galega, con to<strong>do</strong>, corresponde en maiormedida a pezas informativas (sen facerposteriores delimitacións: noticia, reportaxe,crónica...), que ocupan as dúas terceiras partesda superficie total (65,85%). A gran distanciase atopan os artigos de opinión, que acadano quince por cento <strong>do</strong>s módulos (15,39%).Son menos habituais as informacións deservizo en galego (sete por cento dasuperficie) e as entrevistas, que representanseis de cada cen módulosNas noticias publicadas en galegopre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> a temática “social” (case tres decada dez), agrupación moi heteroxénea queagluti<strong>na</strong> dende novas <strong>do</strong> corazón, sucesos,medio ambiente ou saúde. Case cos mesmosmódulos atopamos as informacións de tipocultural, que representan máis de unha decada catro (27,56%). A outra gran temáticaé a política, que suma máis <strong>do</strong> vinte por cento<strong>do</strong>s módulos (22,12%) e se converte no únicoespazo de información “dura” no que o galegoten unha presenza algo significativa (aíndaque a maior parte corresponde a temas deámbito local ou galego); a economía non pasa<strong>do</strong> catro por cento e ape<strong>na</strong>s se atopan dezasetepezas de información marítima. Si acadancerta importancia, en cambio, as noticias decomunicación, próximas ao oito por cento(7,77%), gracias sobre to<strong>do</strong> á informaciónsobre os programas e actividades da CRTVG(Compañía de Radio Televisión de Galicia)Figura 2.Dous ámbitos sobresaen por riba <strong>do</strong>sdemais: o local e o galego, pois entre os <strong>do</strong>ussuman máis de tres de cada catro módulospublica<strong>do</strong>s en galego.‘A información sobreGaliza rolda o 43% da superficie total e alocal supera o 32%. Entre os demais ámbitos,ningún chega ao dez por cento e só ocomarcal e o inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l acada cifrassignificativas, moi superiores ás <strong>do</strong>s ámbitosespañol e provincial (Figura 3.As seccións <strong>na</strong>s que os xor<strong>na</strong>is publicanmaior cantidade de conti<strong>do</strong>s en galego sonLocal, Cultura, Opinión e Galiza, que sumanentre as catro máis dun 55 por cento <strong>do</strong>sconti<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s en galego. Xa pordebaixo <strong>do</strong> dez por cento, outros espazos <strong>do</strong>sxor<strong>na</strong>is onde é menos difícil atoparinformacións en galego son Comarcas eSociedade, ambas as dúas con máis dun oitopor cento cada unha. A moita distancia, conporcentaxes moi baixas, atopamos as distintasseccións de servizos (axendas, guías, grellasde programación televisiva...), que acadan o


JORNALISMO137Táboa nº 4. Evolución diaria da proporción da lingua galegasobre o volume total publica<strong>do</strong> pola prensa galegaLUMAMEXOVESÁDOMEDIAMEDIA (sencomputar oGalicia Hoxe)3,834,374,444,553,925 7,185,15Táboa nº 5. Presenza proporcio<strong>na</strong>l da lingua galega encada un <strong>do</strong>s xéneros da superficie redaccio<strong>na</strong>l da prensa galegaInform.EntrvstOpiniónH umorC art.Serviz.% en lingua galega 3,049,6510,8116,3811,692,35Figura nº 2. Publicación en galego, por temas,sobre o total publica<strong>do</strong> en lingua galegaFigura nº 3. Publicación en galego, por ámbitos,sobre o total publica<strong>do</strong> en lingua galega


138 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVsete por cento, a sección de comunicación,con especial protagonismo para a CRTVG,e as contraportadas <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is, xa pordebaixo <strong>do</strong> cinco por cento. Pola contra,aquelas seccións <strong>na</strong>s que é moi complica<strong>do</strong>atopar a lingua galega son Mun<strong>do</strong> (0,53%),Economía (1,87%), Deportes (1,84%), asportadas (0,09%) e a sección de España, <strong>na</strong>que, en todas as mostras <strong>do</strong> noso estudio,non demos con ningún módulo en linguagalega.PublicidadeCase a metade das insercións publicitariasen galego (47%) teñen como orixe algunhaadministración pública, nomeadamente aXunta de Galicia ou os Concellos. Polo súabanda, as Empresas privadas contratan aore<strong>do</strong>r de <strong>do</strong>us de cada dez módulospublicitarios en galego (20,40%). Séguenllesas asociacións e as fundacións, cun 16,63%,os parti<strong>do</strong>s políticos (sete por cento) e asautopromocións <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is, que rozan o seispor cento (5,9%). As necrolóxicas e outrosanuncios contrata<strong>do</strong>s por particulares (comoos clasifica<strong>do</strong>s) non chegan ao tres por cento(Figura 4).A Xunta publica máis de catro de cadadez módulos de publicidade con fi<strong>na</strong>nzamentopúblico, os Concellos case o 25%, a TVG(Televisión de Galicia) o 16% e a porcentaxerestante repártese entre as universidades, asdeputacións provinciais e outros organismospúblicos. A Xunta de Galicia publica 3260módulos en galego e 267 módulos en castelán,o que representa case o dez por cento de todaa publicidade inserida pola Xunta <strong>na</strong> prensagalega (8,19%).En canto aos Concellos, o que máispublica é o de Vigo, con 412 módulos engalego (case o vinte por cento -17,44%-, detoda a publicidade contratada polos concellosgalegos). Séguelle o concello de Santiago deCompostela con 270 módulos (o 11,43%),o concello de Pontevedra con 217 módulos(o 9,18%), o de Ferrol, con 178 módulos,e o de Lugo, con 41 módulos. Estas catrocidades contratan toda a súa publicidade engalego. Non fan así nin o Concello deOurense, con 73 módulos en galego e 10 encastelán, nin sobre to<strong>do</strong> o da Coruña, quepublicou 60 módulos en galego e 217 encastelán. Isto representa que máis de trescuartas partes (78,34%) da publicidade <strong>do</strong>consistorio herculino están en castelán e o21,66% en galego.Por último, están as tres Universidadesgalegas que publicaron no perío<strong>do</strong> a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>un total de 276 módulos de publicidade engalego. Neste aparta<strong>do</strong> está á cabeza aUniversidade de Vigo, con 130 módulos, casea metade (o 47,10%) <strong>do</strong> publica<strong>do</strong> polasUniversidades, despois está a de Santiago deCompostela, que publica 80 módulos (o28,99%) e por último a Universidade daCoruña, con 66 módulos (o 23,91%). AUniversidade coruñesa publicou tamén 24módulos en castelán, o que equivale a unhacuarta parte da súa publicidade <strong>na</strong> prensagalega (26,66%).Dentro das Empresas privadas as que máispublican son as dúas principais caixas deaforros, Caixa Galicia e Caixanova, e máisos centros comerciais, como Área Central(Santiago), o Odeón (Narón) ou o CentroComercial A Barca (Pontevedra). CaixaGalicia publica un total de 666 módulos engalego, que equivale ao 17,68% <strong>do</strong> publica<strong>do</strong>polas empresas privadas, mentres queCaixanova queda no 14,38%.A lingua galega é usada en maior medida<strong>na</strong> publicidade <strong>na</strong>s autopromocións, máis <strong>do</strong>vinte por cento e, escasamente, <strong>na</strong>snecrolóxicas. Hai que salientar que aproporción (22,2%) duplica á existente paratoda a superficie publicitaria. O xor<strong>na</strong>l quemáis emprega o galego como ferramenta paraa súa propia promoción (aínda que despoiso uso que faga da lingua á hora de informarsexa testemuñal) é La Voz de Galicia, queusa o galego en máis da metede das súasautopromocións (52,34%).El Progreso achégase ao cincuenta porcento (46,34%) e o Diario de Pontevedrarolda o corenta (39,06%). Faro de Vigo, LaOpinión, Diario de Ferrol e Atlántico Diarioape<strong>na</strong>s usan o galego para autopromocio<strong>na</strong>rse(Figura 5).A sección onde máis publicidade engalego se edita é a de Local con máis de<strong>do</strong>us de cada dez módulos (22,03%) dasuperficie publicitaria total en galego. Taméné frecuente a inserción de publicidade engalego <strong>na</strong>s seccións de Comarcas, co <strong>do</strong>cepor cento (12,06%), Galiza con case dez


JORNALISMO139Figura nº 4. Publicidade inserida en galego, por tipo de anunciante,sobre o total de publicidade en lingua galegaFigura nº 5. Proporción de lingua galega <strong>na</strong>s autopromocións <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is de Galiza(9,79%) e Servicios, co 7,53%. Fóra dasseccións habituais, son particularmenteelevadas as proporcións de publicidade engalego inseridas nos chama<strong>do</strong>s “especiais”,superior ao cinco por cento e, sobre to<strong>do</strong>,<strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s marcadas como “publicidade”,que reúnen máis <strong>do</strong> dezasete por cento <strong>do</strong>total (17,26%). Pola contra, hai seccións <strong>na</strong>sque rara vez se insire publicidade en galego,como España, Mun<strong>do</strong>, Sociedade ou asportadas e contraportadas, cada unha delaspor debaixo <strong>do</strong> <strong>do</strong>us por cento.7. Estu<strong>do</strong>s precedentes: comparación 6Táboa nº 6. Evolución da proporción de lingua galega nos xor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> país,segun<strong>do</strong> diversos estu<strong>do</strong>sXor<strong>na</strong>l197719821987199019932003LaVoz de Galicia 4,593,113,565,394,135,56Farode Vigo 1,7 3,174,432,982,473,89ElCorreo Gallego 3,252,366,189,075,085,82LaRegión 3,852,254,793,612,976, 4ElProgreso 2,1 1,894,852,633,425,01LaOpinión - - - - - 3,22Diario dePontevedra1,030,761,8 2,962,347, 5ElIdeal Gallego 3,061,882,453,011,352,75Diariode Ferrol - - - - - 5,08Diariode Arousa - - - - - 7,72AtlánticoDiario - - - 4,2 2,623,76Diario16 - - - 3,242,76-Media2,8 2,2 4,014,123,025,11


140 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVNos últimos trece anos o galego aumentoulixeiramente a súa presenza <strong>na</strong> prensa escrita,en case un punto porcentual, pasan<strong>do</strong> <strong>do</strong> 4,12ao 5,11, se ben a subida é maior secomparamos o dato máis recente co de 1993,que baixaba até o 3,02 por cento. Por xor<strong>na</strong>is,soben a maioría, nomeadamente La Región,El Progreso e Diario de Pontevedra, quecase <strong>do</strong>bran os seus datos. Pola súa banda,La Voz de Galicia e o Faro de Vigo sobenmenos que a media, mentres que El IdealGallego, o Atlántico Diario e, sobre to<strong>do</strong>,El Correo Gallego, baixan con respecto a1990.Redacción e publicidade en galego seguentendencias semellantes <strong>na</strong>s tres medicións:baixan entre 1990 e 1993 e soben, acadan<strong>do</strong>o seu máximo, no 2003.O ascenso é maior <strong>na</strong> redacción, setomamos como referencia o ano 1990, encambio, se comparamos os datos <strong>do</strong> nosoestu<strong>do</strong> cos de 1993, crece máis a publicidade.E é que as cifras de 1993 amosaban unhagran desproporción en favor da superficieredaccio<strong>na</strong>l en galego (aproximábase a <strong>do</strong>usterzos de to<strong>do</strong> o publica<strong>do</strong> no noso idioma),mentres que en 1990 e 2003 redacción epublicidade iguálanse bastante.Opinión <strong>do</strong>s lectores de prensa¿E que opi<strong>na</strong>n os lectores <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is?O estu<strong>do</strong> A información en galego incluíaunha enquisa realizada a unha mostraxe de400 lectores de prensa diaria de toda Galiza.Menos de tres de cada dez (28,2%) afirmabanter problemas para comprender asinformacións que se publicaban en galego,unha porcentaxe que só se incrementabasignificativamente entre os maiores de 55anos (47%) e de 65 (39%). De igual xeito,máis <strong>do</strong> oitenta por cento <strong>do</strong>s enquisa<strong>do</strong>saseguraba ler as informacións que sepublicaban en galego nos xor<strong>na</strong>is. Outra dasgrandes conclusión que se podían tirar <strong>do</strong>estu<strong>do</strong> era unha reivindicación xeral a proldunha maior presenza <strong>do</strong> galego <strong>na</strong> prensa.Así, máis de <strong>do</strong>us terzos (70%) considerabanque había “pouca” ou “moi pouca”información en galego <strong>na</strong> prensa <strong>do</strong> país,fronte a un 24 por cento que consideraba“suficiente” a presenza da nosa lingua e aun anecdótico 3,3% que consideraba que sepublicaba “moito” ou “demasia<strong>do</strong>” en galego.Case tres de cada dez galegos (26,5%)consideraban que os xor<strong>na</strong>is <strong>do</strong> país deberíanser redacta<strong>do</strong>s integramente en galego oucunha maioría de espazos <strong>na</strong> nosa lingua,fronte a unha porcentaxe lixeiramentesuperior (31,3%) que avogaba pola situació<strong>na</strong>ctual (monolingüísmo castelán ou, comopouco, pre<strong>do</strong>minio) e unha maioría de caseo corenta por cento (38%) que apostaba porunha igualdade (50-50), en to<strong>do</strong> caso moiafastada da actual situación. Por grupos deidade, os máis novos afirmaban preferir unhaprensa maioritariamente en galego (48,1%,os menores de 25 anos, e 40,9%, os menoresde 35), as xeracións maduras defendían aigualdade entre as dúas linguas (aínda quecunha maior preferencia cara ao castelán quecara ao galego) e os maiores de 55 anosdefendían o mantemento da actualdistribución lingüística.


JORNALISMO141BibliografíaÁlvarez Pousa, Luis, Os medios decomunicación galegos e a lingua galega, enXor<strong>na</strong>das de Formación en Lingua Galegapara os Equipos de NormalizaciónLingüística nos centros <strong>educativo</strong>s, Santiago,Dirección Xeral de Política Lingüística, 1994.Consello da Cultura Galega, Guía dalingua galega. Centros e servicios, Santiago,Consello da Cultura Galega, 2001.Consello da Cultura Galega, Informe daComunicación en Galicia, Santiago, Conselloda Cultura Galega, 1993.Consello da Cultura Galega, Actas <strong>do</strong>sII Encontros de Normalización Lingüística,Santiago, Consello da Cultura Galega, 1999.Consello da Cultura Galega, Actas <strong>do</strong>sIII Encontros de Normalización Lingüística,Santiago, Consello da Cultura Galega, 2000.Consello da Cultura Galega, Actas <strong>do</strong>sIV Encontros de Normalización Lingüística.Santiago, Consello da Cultura Galega, 2002.Consello da Cultura Galega, Sobre asituación da lingua, Santiago, Consello daCultura Galega, 1990.Ramallo, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, Vender en galego,Santiago, Consello da Cultura Galega, 1997.Ramallo, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, O Galego <strong>na</strong>publicidade, en Actas <strong>do</strong>s IV Encontros deNormalización Lingüística. Santiago,Consello da Cultura Galega, 2002.Ramallo, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> e Rei Doval, Gabriel,Publicidade e lingua galega, Santiago,Consello da Cultura Galega, 1995.Túñez, Miguel, Da teoría á práctica.Perfil <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>lista galego, Santiago,Edicións Lea, 1996.Túñez, Miguel, A Situación Laboral <strong>do</strong>sXor<strong>na</strong>listas Galegos. Santiago, CPXG, 2002.Túñez, Miguel e López, Xosé,Condicións laborais e actitudes profesio<strong>na</strong>isnos medios de comunicación, Santiago,Ponencia de Comunicación, Consello daCultura Galega, 2000.VV.AA, Decenário A Nosa Terra, Vigo,Edicións A Nosa Terra, 1988.VV.AA., A información en galego,Santiago, Edicións Lea, 1996._______________________________1Universidade de Santiago de Compostela.2Universidade de Santiago de Compostela.3Universidade de Santiago de Compostela4Universidade de Santiago de Compostela.5Táboa nº1. Aptitutes lingüísticas <strong>do</strong>s cidadánsde Galiza <strong>na</strong> lingua galega. Fonte:EntendenFalanLenescribenTOTAL:2.587.407 2.565.7282.355.8341.776.4011.491.429%:10099,1691,0568,6657,64Censo 2001. INE6Os tres primeiros datos corresponden aosestu<strong>do</strong>s elabora<strong>do</strong>s por Víctor M. Rico mediantea análise de to<strong>do</strong>s os números publica<strong>do</strong>s nos mesesde xaneiro de cada un <strong>do</strong>s anos. Debi<strong>do</strong> a queseguen meto<strong>do</strong>loxías moi distintas aos estu<strong>do</strong>sposteriores (non a<strong>na</strong>liza superficie, senón o númerode pezas publica<strong>do</strong>), só o tomamos como referencia.Os datos de 1990 e 1993, en cambio, estánrecolli<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong> A información en galego, queao seguir unha meto<strong>do</strong>loxía de traballo semellanteá presente investigación pódenos servir para medira evolución da presenza <strong>do</strong> galego nos medios.


142 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO143Los medios como protagonistas de la noticiaMari<strong>na</strong> Santín Durán 1IntroducciónEn los medios de comunicación conviven<strong>do</strong>s fenómenos distintos: el periodismo y lapublicidad. Ambas actividades persiguenobjetivos diferentes, por ello deberíanfuncio<strong>na</strong>r de forma independiente marcan<strong>do</strong>claras fronteras entre u<strong>na</strong> y otra actividad.En esta línea la Federación de Asociacionesde la prensa de España (FAPE) entiende quees éticamente incompatible el ejerciciosimultáneo de las profesiones periodísticasy publicitarias. De igual manera, el Códigodeontológico del Colegio de Periodistas deCataluña establece que no se puedesimultanear el ejercicio de la actividadperiodística con otras actividadesprofesio<strong>na</strong>les como la publicidad, lasrelaciones públicas y las asesorías deimagen.Este principio ético del periodismo tienesu reflejo también en los Códigos y Librosde Estilo de los diferentes medios decomunicación. El País en sus inicios impusorígidamente el principio de que to<strong>do</strong> espaciopublicitario debía quedar suficientementediferencia<strong>do</strong> de las informaciones para evitartoda posible confusión en los lectores,establecien<strong>do</strong> que cuan<strong>do</strong> un anunciopublicitario tenga las características de untexto debería llevar necesariamente, en esteperiódico, el epígrafe “Publicidad”. 2El grupo Vocento, al que pertenece ABC,en su libro de estilo también hace referenciaa esta cuestión establecien<strong>do</strong> que “lapublicidad debe separarse de la informacióne identificarse siempre claramente, de maneraque no se mezcle con aquella ni puedaconfundir al lector sobre el origen e intenciónde los datos y puntos de vista expuestos.” 3Además establece que rechaza las formulashíbridas en las que se borran los límites entrelo que es información y lo que es publicidad.Pero esta exigencia ética a veces no secumple, sobre to<strong>do</strong> cuan<strong>do</strong> están en juegolos intereses del medio. Es entonces cuan<strong>do</strong>la frontera entre publicidad y periodismopuede quedar difumi<strong>na</strong>da por los propiosintereses del medio. Y es que, frente a laprofesio<strong>na</strong>lidad, objetividad, neutralidad ydemás principios éticos que debe regir eltrabajo de los periodistas, en las redaccionesde los medios se barajan los interesesempresariales, ideológicos y económicos ala hora de establecer qué es noticia y quéno lo es. Pues bien, u<strong>na</strong> situación en laque pesan más los intereses particulares quelos profesio<strong>na</strong>les es cuan<strong>do</strong> los mediosproducen y difunden informaciones en lasque ellos son además los protagonistasporque, y esta es la hipótesis de partida,los medios utilizan su labor informativapara favorecer a su empresa,difuminán<strong>do</strong>se, en esas ocasiones, lasfronteras ente información y publicidad.En esta línea el periodismo, al igual quela publicidad, desarrolla fórmulas depersuasión. El presente estudio a<strong>na</strong>liza en laprensa los relatos periodísticos en los queson los medios los protagonistas.Meto<strong>do</strong>logíaPara proceder a este estudio se ha aplica<strong>do</strong>la técnica del análisis de conteni<strong>do</strong>,cumplimentan<strong>do</strong> un protocolo de análisis paracada texto que permite cuantificar no sólola presencia de estos relatos sino también quénoticias protagonizan los medios y quéimportancia otorgan los diarios a esasnoticias. Se plantea el interrogante de si estájustificada la presencia de estos relatos,comproban<strong>do</strong> si realmente en estos casos seaplican criterios periodísticos para valorar siesos acontecimientos son noticiables o si porel contrario su labor de mediación está alservicio de sus deseos o intereses.Para la realización de este estudio se hanseleccio<strong>na</strong><strong>do</strong> tres diarios: ABC, El País y ElMun<strong>do</strong> del siglo XXI (en lo sucesivo El


144 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVMun<strong>do</strong>) Esta selección se justifica porque sonlos tres periódicos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les de informacióngeneral de mayor tirada y representantendencias comercialmente enfrentadas dentrodel panorama español. De estos diarios sea<strong>na</strong>lizan las secciones de sociedad,comunicación, cultura y espectáculos porquese considera que son esas secciones en lasque con más frecuencia los diarios informansobre sí mismos 4 .Los años de estudio son el año 2001 y2002. Se realiza u<strong>na</strong> selección aleatoria decincuenta y tres días. Y por lo tanto se revisanen total 159 ejemplares de diarios. En esosejemplares se encuentran 197 relatos en losque los tres diarios o medios de los gruposa los que pertenecen son protagonistas.Resulta<strong>do</strong>s: La cobertura periodística delos medios.El protagonismo de los medios en losmediosSe plantea determi<strong>na</strong>r, en primer lugar,cual es la presencia en prensa de los relatosque protagonizan los medios concretamenteen el perio<strong>do</strong> 2001-2002. Se puede suponerque los medios, en cuanto a actores sociales,pueden ser protagonistas de las noticias contotal pertinencia. Pero, tenien<strong>do</strong> en cuenta quelos actores sociales son muchos y que losprincipales agentes, protagonistas de laactualidad, no son presumiblemente los quetienen la misión de contarla; es relevante elnúmero de noticias de las que sonprotagonistas los medios pues en más de lamitad de los días (62%) los medios cubreninformaciones sobre sí mismos y sólo en el38% de los ejemplares no contenían esosrelatos sobre los medios.Se cuestio<strong>na</strong> el gran protagonismo queasumen los medios en las pági<strong>na</strong>s de losdiarios y más cuan<strong>do</strong> se advierte que esfrecuente que los ejemplares en los que secontabiliza autorreferencia se encuentranvarios relatos sobre medios. De hecho losnoventa y ocho ejemplares que contenían estetipo de relatos generaron casi <strong>do</strong>scientasnoticias sobre medios.Se aprecia que el protagonismo queasumen los medios en las pági<strong>na</strong>s de losdiarios no es siempre el mismo. De los tresdiario objeto de estudio es El Mun<strong>do</strong> (88%)el que más relatos pública sobre medios, ABC(34%) el que menos, situán<strong>do</strong>se en esteaspecto El País (64%) en u<strong>na</strong> posiciónintermedia.Se comprueba que es más frecuente quelos diarios hagan referencia a medios quepertenecen a su grupo que a los medios quepertenecen al grupo de la competencia.Cuan<strong>do</strong> ABC, El País y El Mun<strong>do</strong> decidenescribir sobre algún asunto mediáticonormalmente son ellos o medios de su órbitalos protagonistas de la noticia. En el 85%de los relatos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s los protagonistas sonel propio diario y medios de la órbita delgrupo al que pertenece el diario que generala información (Gráfico I). Tal cantidad exigeque se haga un análisis más profun<strong>do</strong> de estasinformaciones.


JORNALISMO145Este análisis de los relatos en los que losdiarios cubren informaciones sobre mediosque están bajo el mismo paraguas corporativoconcluye que estos textos se distribuyen dela siguiente manera: En un 48% el propiodiario o su empresa editora son losprotagonistas. Es por lo tanto el periódicoquién produce y distribuye la información ya la vez actúa en los hechos relata<strong>do</strong>s. Enun 35% el diario se refiere a los medios dela órbita de su grupo mediático. Y en un 17%comparte el protagonismo el propio periódicocon medios de su órbita o grupo. Aunquea este respecto cabe advertir que tambiénexisten diferencias entre diarios. Pues es ElPaís el que más se refiere a medios de suórbita. Ello puede obedecer a que Prisa, elgrupo al que pertenece El País, es el demayores dimensiones y más empresas filialestiene y puede utilizar este tipo de relatos paradar a conocer o potenciar medios o productosdel grupo.TemáticaOtro aspecto relevante de este trabajo esdetermi<strong>na</strong>r qué tipo de noticias son las quesuelen protagonizar los medios, en definitiva,qué se publica sobre los medios porque esteanálisis determi<strong>na</strong>rá hasta qué punto espertinente desde el punto de vista del interésperiodístico la selección de esos asuntos paraconstituir noticias.Aunque la temática de las informacionesque protagonizan los medios es muy variadase aprecia que hay temas que destacan porencima de otros. La mayor parte de lasnoticias que protagonizan los medios tienencomo temas más recurrentes, entre otros ypor este orden: promociones, presentación delibros, encuentros y conferencias, conteni<strong>do</strong>de suplementos, medición y difusión deaudiencias.El tema que más relatos sobre mediosgenera es el de las promociones. Laspromociones en prensa se han converti<strong>do</strong> e<strong>na</strong>lgo frecuente, la empresa periodística buscacon ellas no sólo captar nuevos clientes sinotambién evitar que los lectores habitualesaban<strong>do</strong>nen el diario y acudan a otro rotativode la competencia. Muchas veces estaspromociones que llevan a cabo los diariosen las que se regala o se ofrecen a un precioinferir junto con el periódico productos dediversa <strong>na</strong>turaleza como vídeos, DVD, libros,coleccio<strong>na</strong>bles, lámi<strong>na</strong>s…, se dan a conocerno sólo a través de campañas de publicidadsino también elaboran<strong>do</strong> informaciones. El17% de los relatos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s informan allector sobre las promociones que el diariotiene en marcha. Se encuentran <strong>do</strong>s tiposdistintos de relatos en lo referente a informaral lector sobre promociones. Por un la<strong>do</strong>relatos en los que se da a conocer en quéconsiste la promoción, cómo se puedeadquirir, cuánto tiempo va a durar. Y otrosrelatos son de seguimiento de la promoción.Si se considera que “la promoción comprendeel conjunto de las actividades orientadas acomunicar a la clientela real o <strong>potencial</strong> lascaracterísticas de un bien o de un servicio,con la intención de predisponer a favor deese producto o servicio, o bien de moverdirectamente a su compra o a su uso” 5 escorrecto y acerta<strong>do</strong> que para promocio<strong>na</strong>r susproductos los periódicos inserten publicidaden las pági<strong>na</strong>s de sus diarios con el objetivode persuadir, pero que se promocionen enla superficie redaccio<strong>na</strong>l no está justifica<strong>do</strong>ni ética ni profesio<strong>na</strong>lmente. En este casoestamos ante informaciones en las que elmedio se convierte interesadamente enprotagonista de la noticia.Y es que se presupone que los textosperiodísticos tienen como primer objetivoinformarnos de lo que sucede en el mun<strong>do</strong>,darnos información de actualidad. Sinembargo en esos textos, cuan<strong>do</strong> el temacentral es dar a conocer un producto o u<strong>na</strong>promoción que llevan a cabo los medios,tienen como objetivo principal predisponernosa favor de un producto o servicio o incitarnoshacia la compra, es decir, dar prioridad a lapersuasión.Lo mismo sucede en los relatos en losque los diarios dan a conocer cuál va a serel conteni<strong>do</strong> de los suplementos o <strong>do</strong>minicalesque se entregan con el periódico. El 9% delas noticias a<strong>na</strong>lizadas perseguía este objetivo.Otro tema muy recurrente en este tipode relatos es el de la presentación de librosen los que o bien participan las firmas delperiódico o bien son productos de lascompañías afiliadas.


146 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEl apoyo de la empresa multimedia aproductos editoriales suyos es u<strong>na</strong> prácticabastante habitual,como señala Vila-Sanjuán “las revistas yperiódicos del grupo Zeta (...) apoyaban loslibros de Ediciones B, que pertenecían algrupo, y lo mismo hacían los diarios del grupoPrensa Ibérica con las obras de Editorial Alba,que les pertenece. (...) La cuestión de lassinergias entre“El País y Alfaguara ha colea<strong>do</strong>durante to<strong>do</strong> el decenio de los 90”. 6 Pues bien,esas sinergias entre este tipo de empresastiene u<strong>na</strong> cifra: un 14%.Los medios también son protagonistas enun considerable número de relatos (11,2%)que tienen como tema central la celebraciónde algún encuentro, conferencia en el queparticipan con mayor o menor gra<strong>do</strong>. Ciertoque estos actos formarían parte de laactualidad, pero junto con otros muchos; yfrente a otros acontecimientos similares, losmedios priorizan dar cobertura a los actosque ellos patroci<strong>na</strong>n o en los que ellosparticipan, ponien<strong>do</strong> en duda su propianeutralidad tanto en la selección como en eltratamiento.Otro de los asuntos que suelenprotagonizar los medios es el que se refierea la medición y control de las audiencias yla difusión (el 6% de los relatos). Elincremento de la oferta de medios conllevaen la prensa u<strong>na</strong> lucha por obtener el mayornúmero de lectores y ocupar los primerospuestos en el ranking de difusión. Los buenosresulta<strong>do</strong>s se los dan a conocer a sus lectoresno sólo a través de campañas de publicidadsino también, y u<strong>na</strong> vez más, hacien<strong>do</strong> usode la superficie redaccio<strong>na</strong>l. Los tres diariossuelen ofrecer a sus lectores los datosaudita<strong>do</strong>s por empresas como OJD, EGM…resultan<strong>do</strong> en estos casos muy significativola falta de coincidencia en el enfoque desdeel cual se elabora la información, pues cadauno destaca los datos que les son favorables.El análisis de las informaciones sobremediciones de audiencia que protagonizan losmedios viene a demostrar lo que ya señaloel Comité of Concerned Jour<strong>na</strong>lists (Comitéde Periodistas Preocupa<strong>do</strong>s) que es “un gestode arrogancia (…) y autoengaño, pensar queen efecto se puede informar de u<strong>na</strong> noticiaal tiempo que se forma parte de ella”. 7El valor informativoLa investigación realizada no sólo haa<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> cuánto nos informan los mediosde sí mismos o sobre qué temas nosinforman sino también como materializanesa información. En la actualidad no sóloes relevante lo que se publica, también tieneespecial importancia dónde se pública ycómo se publica. El espacio impreso queocupa u<strong>na</strong> noticia dentro de un periódicono suele ser casual sino que suele respondera u<strong>na</strong> intencio<strong>na</strong>lidad. Las noticias que seconsideran más importantes se seleccio<strong>na</strong>npara la primera pági<strong>na</strong> del periódico. Laportada es el escaparate del diario y porello debe recoger las informaciones másimportantes del día.A este respecto se debe indicar queaunque no es frecuente que el tipo deinformaciones que se estudian se lleven aportada, sí se han lleva<strong>do</strong> a primera el 11%de los relatos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s. Cifra, sin duda,significativa y más si se tiene en cuentaque normalmente los temas que se lleva<strong>na</strong> portada tienen que ver con lasinformaciones que el diario elabora sobrelas promociones que tiene en marcha.Sobre la extensión de las informacionesse puede indicar que la mayoría de losrelatos que se han a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> no son“grandes noticias” que llenen pági<strong>na</strong>s ypági<strong>na</strong>s del periódico. La mitad de estosrelatos no superan las cuatrocientaspalabras 8 , u<strong>na</strong> cuarta parte tiene entrecuatrocientas u<strong>na</strong> y seiscientas palabras yel resto más de seiscientas. Por tanto porlo general no se les concede a este tipode informaciones gran extensión. De nuevohay que destacar las informaciones sobrepromociones por ser las más extensas.Ahora bien, por lo que respecta a dóndese publican estos relatos, si se consideraque la superficie superior de la pági<strong>na</strong> espreferible a la inferior, se puede concluirque se suelen ubicar en lugaresprivilegia<strong>do</strong>s en la <strong>do</strong>ble pági<strong>na</strong> pues el39% de los relatos se ubican en la mitadsuperior de la pági<strong>na</strong> impar, el 47% en lamitad superior de la pági<strong>na</strong> par y sólo el15% se ubican en la parte inferior de lapági<strong>na</strong>.


JORNALISMO147A mo<strong>do</strong> de recapitulaciónLos medios, conforma<strong>do</strong>s en la actualidadcomo grupos de comunicación, tienen cadavez más poder y presencia en nuestras vidasy con mayor frecuencia se convierten enprotagonistas de los hechos que relatan. Esteprotagonismo de los medios conlleva a que,a veces, los periodistas cuan<strong>do</strong> tienen queinformar de sus directivos se resistan ahacerlo. 9Si esto es cierto también lo es que deun tiempo a esta parte cada vez más pági<strong>na</strong>sde periódicos están dedicadas a ellos mismosde forma poco justificada desde el punto devista periodístico. Estas informaciones queprotagonizan los medios no suelen tener ungran valor informativo, como se ha visto enla investigación, ya que más de la mitad delos relatos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s podrían calificarse depseu<strong>do</strong>acontecimientos. En estas informaciones,especialmente cuan<strong>do</strong> tienen como tema centralalgu<strong>na</strong> promoción, se hace evidente que laredacción del periódico está al servicio deldepartamento de marketing o de relacionespúblicas del medio al utilizar el espacioinformativo, y no precisamente poco, parapersuadir al público.Se concluye, pues, que sobre to<strong>do</strong> cuan<strong>do</strong>el medio es protagonista de la noticia, la tomade decisiones responde más a interesesempresariales que a intereses periodísticos.La selección de los acontecimientos noresponde tanto a la objetividad de los hechoscomo a los deseos e intereses de la empresaperiodística que poco o <strong>na</strong>da tienen que vercon la redacción y, sobre to<strong>do</strong>, con los valoreséticos de la profesión.


148 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaAz<strong>na</strong>r H., Ética y periodismo. Códigos,estatutos y otros <strong>do</strong>cumentos deautorregulación. Barcelo<strong>na</strong>, Paidós, 1999.El País, Libro de Estilo, Madrid,Ediciones El País, 2002.Iglesias F., Marketing Periodístico.Barcelo<strong>na</strong>, Ariel Comunicación. 2001.Kovach, B. y Rosentiel, T., Los elementosdel periodismo. Madrid, Ediciones El País, 2003.Krippen<strong>do</strong>rff, K., Meto<strong>do</strong>logía delanálisis de conteni<strong>do</strong>. Teoría y práctica.Barcelo<strong>na</strong>, Paidós, 1990.Martínez de Sousa, J., Libro de EstiloVocento, Gijón, Trea, 2003.Reig R., La comunicación en su contexto.U<strong>na</strong> visión critica desde el Periodismo.Sevilla, Centro Andaluz del Libro, 2002.Tuchmann, G., La producción de lanoticia, Barcelo<strong>na</strong>, Gustavo Gili, 1983.Vila-Sanjuán S., Pasan<strong>do</strong> pági<strong>na</strong>.Autores y editores en la España democrática.Barcelo<strong>na</strong> Destino, 2003._______________________________1Universidad Rey Juan Carlos / Facultad deCiencias de la Comunicación. Madrid (España)2El País, Libro de Estilo, Madrid, EdicionesEl País, 2002, p.23.3Martínez de Sousa, Libro de estilo Vocento,Gijón, Trea, 2003, p 43.4Se excluye la sección de televisión porqueen ella se considera justifica<strong>do</strong> el conteni<strong>do</strong>autorreferencial de las informaciones que sepublican. Son normalmente relatos que dan aconocer la programación más destacada, hacien<strong>do</strong>especial referencia a los estrenos.5Iglesias, F. Marketing Periodístico,Barcelo<strong>na</strong>, Ariel, 200, p. 171.6Vila-Sanjuán, Pasan<strong>do</strong> pági<strong>na</strong>. Autores yeditores en la España democrática. Barcelo<strong>na</strong>,Destino, 2003, p 316.7Kovach, B y Rosentiel, T, Los elementosdel periodismo. Madrid, Ediciones El País, 2003,p. 135.8El 20% no supera las 200 palabras y el 30%tiene entre 201 y 400 palabras.9Tuchmann, G. La producción de la noticia,Barcelo<strong>na</strong>, Gustavo Gili, 1983, p 17.


JORNALISMO149Periodismo y literatura, relaciones difícilesMoisés Limia Fernández 1Relaciones históricas entre periodismo yliteraturaLas afinidades (más o menos reconociblesy reconocidas) entre el periodismo y laliteratura son innumerables y se remontanmuy atrás en la historia. En u<strong>na</strong> suerte deprehistoria del periodismo podríamosconsiderar a Homero como el primer granperiodista conoci<strong>do</strong>. La Odisea es de un mo<strong>do</strong>bien evidente u<strong>na</strong> suerte de reportajeperiodístico, mientras que La Ilíada es u<strong>na</strong>composición a través de crónicas.Flavio Josefo nos habla de loshistoriógrafos de Babilonia, encarga<strong>do</strong>s deescribir día a día cuanto acontecía. En elmun<strong>do</strong> heleno Alejandro Magno llevaba yaen el año 325 a.c. cronistas a suel<strong>do</strong> en susexpediciones. La propia Anábasis deJenofonte son u<strong>na</strong> serie de crónicas, a vecesreportajes, sobre la retirada de los diez mil.Incluso se ha postula<strong>do</strong> a Tucídides, con susrelatos en torno a la guerra del Peloponeso,como el primer reportero de guerra de lahistoria.Le Cler sitúa en Roma el <strong>na</strong>cimiento delperiodismo con la “Acta diurni populiromani”, creadas por Julio César, de cuyaredacción se ocupaba un magistra<strong>do</strong>, y quecontenían multitud de noticias relacio<strong>na</strong>dascon los negocios, la vida social roma<strong>na</strong>, lasfiestas, el circo o sucesos extraños. SegúnAcosta Montoro, aquello era “u<strong>na</strong> especie deagencia de noticias” 2 . El mismo Césaremprendió u<strong>na</strong> iniciativa semejante a la deAlejandro Magno, convirtién<strong>do</strong>se en cronistade sus propias gestas en De bello gallico.Cuentan también los historia<strong>do</strong>res queCicerón tenía contrata<strong>do</strong>s cronistas a suel<strong>do</strong>en toda Roma.Los orígenes del periodismo se encuentranen el mun<strong>do</strong> de la literatura. En la E. M.no eran sino los juglares y trova<strong>do</strong>res losencarga<strong>do</strong>s de transmitir las noticias. Lospliegos sueltos (cuadernillos de <strong>do</strong>s a cuatrohojas) eran textos literarios, históricoliterarioso periodístico-literarios que fueronprego<strong>na</strong><strong>do</strong>s por truhanes y mendigos en feriasy merca<strong>do</strong>s 3 . El Poema de Mío Cid es unreportaje, en tono didáctico, con u<strong>na</strong> plausiblecarga informativa.En toda Europa, en los siglos XIII, XIVy XV aumentó la demanda de noticias debi<strong>do</strong>a la necesidad de saber lo que ocurría enlas muchas guerras que se produjeron en esaépoca. De 1440 a 1605 el noticierismo seextiende por toda Europa, sobre to<strong>do</strong> en Italia,con las gacetas 4 .Faltaban, sin embargo, en ese tipo depublicaciones <strong>do</strong>s rasgos esenciales:periodicidad y continuidad, característicasestas que no hicieron su aparición hasta elsiglo XVIII. Incluso los historia<strong>do</strong>res másrigurosos apuntan al Nievwe Tijdigan (ÚltimasNoticias) como el primer periódico regulardel que se tiene constancia, edita<strong>do</strong> enAmberes ya en 1605. Sin embargo, el primerperiódico diario fue el inglés Daily Courant,apareci<strong>do</strong> el 11 de marzo de 1702.En España, el punto de partida en lasrelaciones entre literatura y periodismopodemos situarlo en el año 1737, con elDiario de los literatos de España (1737-1742), que a pesar de su título poca literaturaofrece, salvo poesías. En el siglo XVIIIasistimos a la publicación en periódicos yrevistas de obras <strong>na</strong>rrativas y decomposiciones líricas. Mientras los génerosy los mo<strong>do</strong>s de hacer propios de la literaturase adaptaban a las especiales condiciones dela prensa de periodicidad, espacio y estilo;las obras literarias obtuvieron el mismo ecode popularidad y rapidez de difusión que lasnoticias.Ya en el siglo XIX podemos afirmar sintemor a ruborizarnos que el principal ca<strong>na</strong>lde propagación y difusión de la literatura esla prensa, muy por encima del libro. Es laprimera mitad de este siglo la época <strong>do</strong>radade la prensa de opinión, denodadamente


150 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVideologizada y politizada. Son también losaños de pujanza del folletín en la prensa, delas novelas por entregas como clara muestraprimigenia de la interrelación entreperiodismo y literatura. Es muy extensa lanómi<strong>na</strong> de escritores dedica<strong>do</strong>s al periodismo,como Benito Pérez Galdós (cronista de suépoca, tanto en los diarios escritos como ensu obra <strong>na</strong>rrativa) como Pedro AntonioAlarcón (director de El Látigo) o Leopol<strong>do</strong>Alas Clarín, u<strong>na</strong> de las puntas de lanza delperiodismo de tono didáctico. Sería unsacrilegio no mentar a Larra, testigo críticode su tiempo y genio que consagró el artículoperiodístico como género literario. Otrosescritores-periodistas españoles destaca<strong>do</strong>sfueron Valera, U<strong>na</strong>muno, Azorín, Baroja oCela, entre otros muchos.El siglo XX es, sin duda, el del auge delensayismo en la prensa. Ortega y Gasset fueun activo colabora<strong>do</strong>r de periódicos y enperiódicos. La España invertebrada es u<strong>na</strong>recolección de artículos publica<strong>do</strong>s co<strong>na</strong>nterioridad en prensa, y La rebelión de lasmasas fue aparecien<strong>do</strong> por entregas en eldiario El Sol. Eugenio D´Ors también recurrióa diarios y revistas para difundir su obra ysu pensamiento.Polêmica entre periodismo y literaturaPolémica esta que se antoja sin soluciónevidente o satisfactoria, que convenza a todaslas partes implicadas. La susodicha polémicaentre periodismo y literatura, entre sussemejanzas evidentes y sus diferenciaspatentes, se planteó en España en el año 1845cuan<strong>do</strong> Joaquín Rodríguez Pacheco se refirióal periodismo como género independiente, ensu discurso de recepción en la Real Academia.Cincuenta años más tarde, el escritorperiodistaEugenio Sellés, también en sudiscurso de ingreso en la <strong>do</strong>cta casa afirmabala condición del periodismo como géneroliterario independiente:“Es género literario la oratoria, queprende los espíritus con la palabra yremueve los pueblos con la voz; esgénero literario la poesía, que alojala lengua de los ángeles en la bocade los hombres; es género literario lahistoria, enemiga triunfante de ladestrucción y del tiempo, porque hacevolver el que pasó y resucita el almade las edades muertas; es géneroliterario la novela, que <strong>na</strong>rra lo que<strong>na</strong>die ha visto, de suerte que a to<strong>do</strong>snos parece verlo; es género literariola crítica, que pesa y mide la bellezay tasa el valor y contrasta la verdady las mentiras artísticas; es géneroliterario la dramática, que crea de la<strong>na</strong>da hombres mejores que los vivosy hechos más verosímiles que losreales; no ha de serlo el periodismo,que lo es to<strong>do</strong> en u<strong>na</strong> pieza: arengaescrita, historia que va hacién<strong>do</strong>se,efemérides instantánea, crítica de loactual y, por turno pacífico, poesíaidílica cuan<strong>do</strong> se escribe en laabastada mesa del poder y novelaespantable cuan<strong>do</strong> se escribe en lamesa vacía de la oposición?” 5No fueron pocos los escritores quepusieron en duda la condición del periodismode género independiente como por ejemploJuan Valera, para quien lo que distingue alperiodista de cualquier otro escritor poco o<strong>na</strong>da tendría que ver con la literatura. Elpropio Azorín, que tantas pági<strong>na</strong>s llenó enmultitud de diarios negaba tajantementecualquier relación, y se manifestaba ademástotalmente contrario a la existencia de centrosespecializa<strong>do</strong>s en la formación de periodistas.La Real Academia Española termi<strong>na</strong>ríazanjan<strong>do</strong> de un mo<strong>do</strong> contundente einequívoco esa polémica con la incorporació<strong>na</strong> uno de sus sillones inmortales del periodistaMariano de Cavia.Los teóricos y el asno de BuridánSin que con ello trate de menoscabar(<strong>na</strong>da más lejos de la intención del autor deeste trabajo) las teorías del periodismo y eltrabajo infatigable de los teóricos de lacomunicación, sus escritos, hipótesis ycreencias sobre las relaciones entre elperiodismo y la literatura se asemejanpeligrosamente a la parábola del asno deBuridán 6 . La mayoría de estos teóricoscoinciden en considerar el significa<strong>do</strong> delperiodismo, strictu sensu, como “informaciónde actualidad”.


JORNALISMO151“Periodismo, en su senti<strong>do</strong> estricto yexacto equivale a información deactualidad. Es decir: que en unperiódico, o en un medio decomunicación social no escrito, cabecasi de to<strong>do</strong>, pero no to<strong>do</strong> esperiodismo en el senti<strong>do</strong> exacto de lapalabra, porque no to<strong>do</strong> esinformación de actualidad. Los finesdel periodismo son específicamenteinformativos u orienta<strong>do</strong>res. De ahíque los mensajes periodísticos puedanreducirse a tres: el relato informativo,el relato interpretativo y el comentario.Y, como es lógico, para la elaboraciónde esos tres tipos de mensajes, existeu<strong>na</strong> técnica y un lenguaje propios, quedifieren de los puramente literarios” 7Disiento abiertamente de esta concepcióntotalitaria y fallidamente agluti<strong>na</strong><strong>do</strong>ra de laelaboración de mensajes comunicativos.Puede que en relación a la información esateoría subyacente de los géneros tenga u<strong>na</strong>cierta razón de ser, pero en los otros <strong>do</strong>s tiposde relatos se hace necesaria u<strong>na</strong> mayorlibertad crea<strong>do</strong>ra y creativa, u<strong>na</strong> liberaciónde corsés opresivos en forma de obsoletasestructuras prefijadas.Los argumentos esgrimi<strong>do</strong>s paradiferenciar de un mo<strong>do</strong> diáfano periodismoy literatura no se nos antojan convincentesni necesarios. Veamos lo que dice Aguilerade la relación entre lenguaje periodístico ylenguaje literario:“(...) La eficacia y la economíaexpresiva son las coorde<strong>na</strong>das dentrode las que podríamos inscribir lascaracterísticas propias del lenguajeutiliza<strong>do</strong> en los géneros estrictamentede información de actualidad. Por elcontrario, la lengua literaria aparecevinculada al hecho de que el escritorutilice un registro nuevo, diferente delordi<strong>na</strong>rio” 8No es cierta la creencia de que el escritoraleja de la correcta transmisión de lainformación de actualidad al utilizar unregistro “diferente del ordi<strong>na</strong>rio”. ¿No serámás bien al contrario? El utilizar un registrodistinto y plantea<strong>do</strong> en términos de bellezaexpresiva en absoluto constituye óbice parala labor periodística. Envuelto (¡nosolapa<strong>do</strong>¡) el mensaje informativo en uncolori<strong>do</strong> manto de riqueza expresiva, seconseguirá además de u<strong>na</strong> noticia másatractiva un periodismo más efectivo.Resulta obsoleta la creencia de que lahermosura de un texto envilece la tareacomunicativa. Además, un texto redacta<strong>do</strong>en base a la teoría de los génerosinformativos o construi<strong>do</strong> en forma depirámide invertida o según la ley del interésdecreciente no garantiza per se eficacia, yla “economía expresiva” se puede tor<strong>na</strong>r enexcesiva “economía” y ser muy poco“expresiva”.U<strong>na</strong> de las razones aportadas para la rectaseparación entre periodismo y literatura esla mera alusión a la función no poética delperiodismo, función que sí distingue a lalengua literaria, de acuer<strong>do</strong> con RomanJakobson. Para Luis Núñez Ladevéze no esla convergencia sobre el mensaje lo que puededefinir funcio<strong>na</strong>lmente al lenguajeperiodístico 9 . Nada por nuestra parte queobjetar a la pulcra teoría explicitada porJakobson; es evidente que la función poéticaes distintiva de la lengua literaria. Pero hemosde recordar que en cualquier mensaje no seproduce o se vehicula tan sólo u<strong>na</strong> función,hay mezcolanza. En un escrito literario,además de la función poética, puede hallarse,por ejemplo, la función referencial.Hay un grupo homogéneo de teóricos delperiodismo, cuya cabeza bien visible es elprofesor Martínez Albertos, y entre los quese encuentra entre otros Octavio Aguilera, quesepara claramente la literatura del periodismo,a los escritores de los periodistas:“(...) El periodista a<strong>do</strong>ptanormalmente al codificar sus mensajesuno de los géneros en que se plasmanel estilo informativo, o en ocasiones,el estilo editorializante o desolicitación de opinión; mientras quelo habitual en el escritor paraperiódicos es desenvolverse dentro deldenomi<strong>na</strong><strong>do</strong> estilo ameno ofolletinista. Es decir: hacen literaturapara ser publicada en periódicos. Sulenguaje es más o menos literario,pero no periodístico” 10


152 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEl equívoco radica, a mi entender, en laasunción de que literatura y periodismo soncontrarios irreconciliables. Usar un lenguajecon cierto a<strong>do</strong>rno estético no es equivalentea literatura, y por tanto a “no periodismo”.A lo largo de la historia de la literatura ydel periodismo hay innumerables ejemplosde reportajes literarios informativamenteexquisitos (cualquiera de RyszardKapuscinski), incluso de novelas reportaje oreportajes novela<strong>do</strong>s, precursores evidentesdel periodismo de investigación.Periodismo y literatura. Literatura yperiodismo.Extraordi<strong>na</strong>rio, revela<strong>do</strong>r y visio<strong>na</strong>rio sonlos calificativos que mejor pueden definir elensayo escrito en 1958 por el profesor yperiodista brasileño Alceu Amoroso Lima, Ojor<strong>na</strong>lismo como género literario. El profesorAmoroso Lima divide en su libro la literaturaen prosa en: literatura de ficción, literaturade apreciación y literatura de comunicación;en la apreciación estaría la discipli<strong>na</strong>periodística como mo<strong>do</strong> de apreciación de“acontecimientos”; la crítica literaria comola apreciación de “obras”; y la biografía seríala apreciación de”“perso<strong>na</strong>s”. La literaturacomo comunicación abarcaría la epistolar,oratoria y la conversación.Resulta paradójico que sean (algunos)escritores-periodistas los que mejor sepandefinir la particular relación existente entreliteratura y periodismo. Por ejemplo elvallisoletano Miguel Delibes en su discursode investidura de Doctor Honoris causa dela facultad de Ciencias de la Información dela Universidad Complutense:“Hoy en día se estima la sobriedaden literatura tanto como pueda hacerseen periodismo y se acepta que u<strong>na</strong>y otra puedan ser muy bien actividadescomplementarias. ¿Después de to<strong>do</strong>,qué hace el periodista que <strong>na</strong>rra unsuceso sino <strong>na</strong>rrar? ¿Qué diferenciahay entre el diálogo de u<strong>na</strong> entrevistay el que se entabla en u<strong>na</strong> novela,aparte de la objetividad que debepresidir este último? ¿No trazaesbozos descriptivos el periodista queambienta u<strong>na</strong> crónica o un reportaje?”Desde la explosión y difusión, sobre to<strong>do</strong>,del movimiento conoci<strong>do</strong> como NuevoPeriodismo parece contraproducente nosolamente oponer literatura y periodismo, sinotambién no reconocer su complementariedad.Esta afinidad ha fructifica<strong>do</strong> en multitud deobras maestras, deu<strong>do</strong>ras a partes iguales tantode la <strong>na</strong>rrativa como del periodismo. De entreellas destaca sobremanera A sangre fría (1965),de Truman Capote, <strong>na</strong>rración sobre hechosreales pero realizada con las técnicas y laestética de la novela realista del siglo XIX.Tan sólo hemos de apuntar a lo dicho porDelibes que la objetividad que presuntamentedebe presidir to<strong>do</strong> relato noticioso noconstituye más que apariencia. El <strong>do</strong>gmaanglosajón de la objetividad es undesideratum, no u<strong>na</strong> realidad. Hasta el relatomás “objetivo” que nuestra mente sea capazde imagi<strong>na</strong>r está constreñi<strong>do</strong> por u<strong>na</strong>manipulación, u<strong>na</strong> elección consciente oinconsciente del periodista.“Toda realidad no puede convertirsemás que en u<strong>na</strong> ficción porque laRealidad ya es de por sí u<strong>na</strong> ficción,u<strong>na</strong> selección y u<strong>na</strong> orde<strong>na</strong>ción deelementos, que ha aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>necesariamente u<strong>na</strong> posibleorde<strong>na</strong>ción primera que sólo seapreció como caótica” 11Además, aun dan<strong>do</strong> por cierta laexistencia de u<strong>na</strong> objetividad entendida comou<strong>na</strong> actitud coherente y profesio<strong>na</strong>l delperiodista e intentan<strong>do</strong> no ofrecer u<strong>na</strong> visiónsesgada e interesada de los acontecimientos,ni este concepto de objetividad, ni la exactitudni la precisión están necesariamente reñidascon lo literario:“El buen periodista sabe demasia<strong>do</strong>bien que la concisión se consiguemediante el hallazgo de la palabraprecisa y del giro justo, y que sóloun <strong>do</strong>minio cabal del idioma permitedar u<strong>na</strong> idea exacta y sucinta de loque se trata” 12La fidelidad absoluta a los rígi<strong>do</strong>sesquemas del periodismo decimonónico seantoja insuficiente. En palabras del periodistay escritor Manuel Rivas:


JORNALISMO153“Cuan<strong>do</strong> tienen valor, el periodismoy la literatura sirven para eldescubrimiento de la otra verdad, della<strong>do</strong> oculto, a partir del hilo de unsuceso. Para el escritor periodista oel periodista escritor la imagi<strong>na</strong>cióno la voluntad de estilo son las alasque dan vuelo a ese valor. Sea untitular que es un poema, un reportajeque es un cuento, o u<strong>na</strong> colum<strong>na</strong> quees fulgurante ensayo filosófico. Ésees el futuro. Paradójicamente, muchosprofesores siguen cortan<strong>do</strong> alas,matan<strong>do</strong> al escritor que debe anidaren cada periodista. La literatura, lametáfora, la mirada perso<strong>na</strong>l, esherma<strong>na</strong> de la precisión” 13U<strong>na</strong> perfecta ejemplificación de larelación entre el periodismo y las técnicas<strong>na</strong>rrativas propias de la novela realista es Losejércitos de la noche, de Norman Mailer, obrapublicada en 1969, y caracterizada por superfecta mezcolanza de historia, reportaje ynovela. La protesta contra la guerra deViet<strong>na</strong>m se convierte en u<strong>na</strong> <strong>na</strong>rración.Muchos escritores han contempla<strong>do</strong> elperiodismo como sub-literatura o géneromenor. Ernesto Sábato hablaba de laperversión estilística e ideológica delperiodismo hacia el escritor. No son pocoslos literatos que se suman a esta postura,pero de seguro que si afirman tal cosa esbien por un desafora<strong>do</strong> complejo desuperioridad, bien por desconocimiento dela actividad periodística y de susposibilidades ilimitadas.Tras to<strong>do</strong> lo expuesto no se debeconsiderar arriesga<strong>do</strong> afirmar que periodistay escritor, que el periodismo y la literaturahan i<strong>do</strong>, van e irán de la mano en muchosmomentos. La razón principal de estaconvivencia es que comparten el mismoinstrumento que es la lengua.“Periodismo y literatura son <strong>do</strong>smo<strong>do</strong>s de hacer paralelos – algu<strong>na</strong>sveces convergentes- cuya coincidenciafundamental radica en utilizar lapalabra como utensilio de trabajo yla frase como vehículo depensamiento” 14A lo largo de la historia no han si<strong>do</strong> pocoslos escritores que en su obra consiguiero<strong>na</strong>u<strong>na</strong>r armónicamente periodismo y literatura.Uno de los que han consegui<strong>do</strong> tal méritoha si<strong>do</strong> Gabriel García Márquez, que elimi<strong>na</strong>de un plumazo con logros igual de destacablespara uno y otro campo, la débil y borrosafrontera existente entre periodismo yliteratura.Relato de un náufrago y el coronel no tienequien le escrivaLa mezcolanza entre periodismo yliteratura en García Márquez es algofácilmente comprobable y plausible en todasu producción, y con ello me refiero a suspiezas literarias y periodísticas. En su caso,esa ruptura de fronteras entre literatura yperiodismo, ese solapamiento yresquebrajamiento de las estructuras y mo<strong>do</strong>sde hacer clásicos no sólo no perjudican losfines primigenios de u<strong>na</strong> y otra actividad sinoque dan un resulta<strong>do</strong> tremendamentebeneficioso y enriquece<strong>do</strong>r.Llega<strong>do</strong>s a este punto conviene hacer lasalvedad de que en el caso de Gabriel GarcíaMárquez (como en el de tantos otros) nopodemos referirnos a él solamente comoperiodista o como escritor. Se trata de unNARRADOR, un hombre excepcio<strong>na</strong>lmente<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para la escritura, alguien para el quela realidad “no termi<strong>na</strong> con el precio de lostomates”, y que considera a la literatura nocomo evasión de la realidad en mera búsquedade goce estético, sino como u<strong>na</strong>“transposición poética de la realidad”. Y llevaa cabo u<strong>na</strong> y otra actividad desde latranquilidad que otorga la concienciatranquila, desde el sosiego calmante que leotorga el compromiso con el hombre y conla verdad.Para la ejemplificación de esa mezclaarmónica entre periodismo y literatura se hanescogi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s obras de García Márquez:Relato de un náufrago y El coronel no tienequien le escriba. En principio, <strong>na</strong>die tendríadudas a la hora de calificar Relato de unnáufrago como un reportaje periodístico degran calidad, y a El coronel no tiene quienle escriba como u<strong>na</strong> pieza literaria. Sinembargo, un análisis profun<strong>do</strong> de ambas obras


154 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdemuestra que se trata de <strong>do</strong>s producciones<strong>na</strong>rrativas cuya fuerza expresiva e impactoes mucho mayor merced al empleo de lastécnicas <strong>na</strong>rrativas de la literatura y delcumplimiento de los requisitos básicos deto<strong>do</strong> texto periodístico, respectivamente.Relato de un náufrago se trata de unreportaje apareci<strong>do</strong> origi<strong>na</strong>riamente en 14entregas en el diario El Especta<strong>do</strong>r. Es unperfecto ejemplo de reportaje novela<strong>do</strong>,deu<strong>do</strong>r en parte del nuevo periodismonorteamericano y de piezas como Losejércitos de la noche, de Norman Mailer oA sangre fría, de Truman Capote. Cumplede hecho muchas de las características de lostextos nuevoperiodísticos, como la <strong>na</strong>rraciónen primera perso<strong>na</strong>, la realización de u<strong>na</strong> grantarea <strong>do</strong>cumental o el detallismo, que otorgau<strong>na</strong> gran verosimilitud a la <strong>na</strong>rración. Se tratade un relato que toma los hechos sucedi<strong>do</strong>sen la realidad y los engarza de u<strong>na</strong> maneraartística y atractiva. Usa técnicas <strong>na</strong>rrativascomo el clímax y momentos de tensión ysuspense al fi<strong>na</strong>l de cada entrega diaria. Seproduce u<strong>na</strong> interrelación entre periodismoy literatura. De tal mo<strong>do</strong> que si en el momentode su publicación <strong>na</strong>die dudaba de que setrataba del más auténtico periodismo, estaobra (como A sangre fría, por ejemplo) halogra<strong>do</strong> trascender al tiempo. En suma, GarcíaMárquez le da u<strong>na</strong> envoltura literaria a unoshechos reales, otorgan<strong>do</strong> así a todas lucesa sus lectores un conocimiento más completode la realidad del <strong>na</strong>ufragio.Por su parte, El coronel no tiene quienle escriba, obra maestra de la literatura, seríaencuadrada por cualquiera (como yaseñalamos anteriormente) como u<strong>na</strong> pieza<strong>na</strong>rrativa ficcio<strong>na</strong>l, exclusivamente. El análisisexhaustivo de la obra nos conduce a laconclusión inequívoca de que se trata de algomás que eso: es literatura que es periodismo.Soy consciente de lo arriesga<strong>do</strong> de talafirmación, pero El coronel no tiene quienle escriba cumple con las característicasbásicas que to<strong>do</strong>s los teóricos del periodismoseñalan como básicos para un trabajoperiodístico. A lo largo de las menos de cienpági<strong>na</strong>s García Márquez despliega unlenguaje conciso y sobrio, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> por u<strong>na</strong>preocupación de eficacia, tomada delperiodismo. Los adjetivos están conta<strong>do</strong>s yademás es reseñable que cuida u<strong>na</strong> ciertaobjetividad ritual; por ejemplo, en vez dedecir lo pobres que son el coronel y su esposa,se limita a describirlo. Con eso huye de laambigüedad propia de las obras estrictamenteliterarias y ficcio<strong>na</strong>les. Es u<strong>na</strong> <strong>na</strong>rraciónconstruida con frases cortas y sencillas, conu<strong>na</strong> genial economía de recursos. Todas estascaracterísticas son propias del lenguajeperiodístico 15 . Profundiza en los hechoshistóricos de la realidad objetiva a partir deelementos ficticios, con lo que se consigueu<strong>na</strong> visión mejor y más completa sobre laépoca de la violencia que con miles depági<strong>na</strong>s del periodismo decimonónico. Porto<strong>do</strong> ello convenimos en calificar a esta obracomo u<strong>na</strong> ficción de base realista.La interrelación entre periodismo yliteratura, entre realidad y ficción incluso, seda en estas <strong>do</strong>s joyas <strong>na</strong>rrativas. Si a Relatode un náufrago le quitáramos el nombre delmarinero Luis Alejandro Velasco, toda la<strong>na</strong>rración semejaría más un cuento marinoque un reportaje; por el contrario si el inefablecoronel protagonista de El coronel no tienequien le escriba tuviera nombre, nos daríala impresión de ser un perso<strong>na</strong>je real.ConclusionesSería un pretencioso (y no deseo tal cosa)si creyera que lo aquí expuesto va a zanjarde un mo<strong>do</strong> definitivo la consabida polémicaentre periodismo y literatura. El periodismose desarrolló en su momento gracias a la laborque realizaron en las pági<strong>na</strong>s de los diariosescritores de los más diversos pelajes. En esamisma época, en el siglo XIX-XX, la prensase convirtió en plataforma y esce<strong>na</strong>rio dedifusión de las creaciones de novelistas,ensayistas o filósofos. Fue entonces cuan<strong>do</strong>se fraguó la mayor interinfluencia entre estos<strong>do</strong>s campos hermanos.Por razones inciertas ha habi<strong>do</strong> quien haqueri<strong>do</strong> diferenciar y separarcontundentemente al escritor del periodista.Dice Aguilera que “quizás por un residualsentimiento posesivo el escritor se niega areconocer que el periodismo se haprofesio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>” 16 . Es cierto, pero si ledamos la vuelta a ese argumento también secumple u<strong>na</strong> verdad cuasi tautológica: quizáspor un residual sentimiento posesivo, elperiodista se niega a reconocer que la


JORNALISMO155literatura también puede ayudar a un mejorconocimiento del mun<strong>do</strong> que nos rodea.También ha habi<strong>do</strong> escritores que handenosta<strong>do</strong> la práctica periodística,considerán<strong>do</strong>la un arte menor o como ungénero inferior al arte literario. Estaconcepción del periodismo como perversiónestilística e ideológica parece responder a u<strong>na</strong>trasnochada creencia del arte de escribir comoun acto divino fragua<strong>do</strong> por la inspiraciónde cada cual. En to<strong>do</strong> caso se halla fuerade la realidad, o cuanto menos de espaldasa ella. Ya que como opi<strong>na</strong> Martín Vivaldimuy acertadamente, el buen periodismo es,como ejercicio mental, tan difícil o más quela literatura.No to<strong>do</strong>s los escritores, por fortu<strong>na</strong>,piensan igual. Muñoz Moli<strong>na</strong>, quien nodistingue entre escribir para el periódico yhacer u<strong>na</strong> novela, ha afirma<strong>do</strong> que aunquesean géneros diferentes (es obvio), en laredacción de ambas tipologías de escrituraha de enfrentarse a exigencias técnicasparecidas, a la necesidad de describir lo quesucede, de captar las sensaciones y lasimágenes, de indagar en el alma de la gente.Y esto es así porque escritores y periodistasusan el mismo instrumento: la lengua. Loúnico que les diferencia, como dijo CamiloJosé Cela, es el reloj.La relación e influencia mutua conresulta<strong>do</strong>s enormemente provechosos para elperiodismo y la literatura han si<strong>do</strong>demostradas empíricamente por Mario CastroAre<strong>na</strong>s en El periodismo y la novelacontemporánea. Y muchos de esos ejemplosson obras nuevoperiodísticas o influidas porese movimiento (la razón de que no meextienda en las características, principalesfiguras y trabajos de esta corriente es quesolamente para ello necesitaría un trabajoentero). Tomo prestadas las palabras deManuel Rivas :“Escritor y periodista siempre fueronel mismo oficio. Periodista es unescritor que trabaja con palabras.Busca comunicar u<strong>na</strong> historia y lohace con voluntad de estilo. Larealidad y parte de mis colegas seempeñan en desmentirme. Pero sigocreyen<strong>do</strong> lo mismo” 17Tampoco tiene senti<strong>do</strong>, hablar de bueno mal periodismo o de bue<strong>na</strong> o mala literatura.Aparte de la puerilidad maniquea de laaplicación de los contrarios bueno y malo,concluimos que se trataría de bue<strong>na</strong> o malaescritura, sin más. No se trata de hacer unperiodismo más o menos literario, sino dehacer un periodismo mejor. O como solíadecir Gonzalo Torrente Ballester: “Uno, queha si<strong>do</strong> siempre periodista, es a vecesliterato”.


156 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaAcosta Montoro, Jose, Periodismo yliteratura, Madrid, Guadarrama, 1973.Aguilera, Octavio, La literatura en elPeriodismo y otros estudios en torno almensaje informativo, Madrid, Paraninfo,1992.Ayala, Francisco, La retórica delperiodismo, Madrid, Espasa Calpe, 1985.Garcia Márquez, Gabriel, El coronel notiene quien le escriba, Barcelo<strong>na</strong>, Bruguera,1985. [12ª edición]Garcia Márquez, Gabriel, Relato de unnáufrago, Barcelo<strong>na</strong>, Tusquets, 1970.Martin Vivaldi, Gonzalo, GénerosPeriodísticos, Madrid, Paraninfo, 1993. [3ªedición].Nuñez Ladevéze, Luis, El lenguaje delos media, Madrid, Pirámide, 1979.Rebollo Sánchez, Félix, Literatura yperiodismo hoy, Madrid, Fragua, 2000.Rivas, Manuel, El periodismo es uncuento, Madrid, Alfaguara, 1997.Urrutia, Jorge, La verdad convenida.Literatura y comunicación, Madrid,Biblioteca Nueva, 1997._______________________________1Universidade de Santiago de Compostela.2José Acosta Montoro, Periodismo yliteratura, Madrid, Guadarrama, 1973, p. 147.3Félix Rebollo Sánchez, Literatura yperiodismo hoy, Madrid, Fragua, 2000, p. 11.4Gaceta fue el primer nombre que se le dioa los periódicos. Gazzeta es diminutivo de gazza,que significa urraca, ave vocinglera. Por unproceso de asimilación, los venecianos habríandenomi<strong>na</strong><strong>do</strong> así a las hojas impresas con noticias.5Cit. en José Acosta Montoro, Periodismoy literatura, Madrid, Guadarrama, 1973, p. 82.6Buridán fue un filósofo francés, discípulodel nomi<strong>na</strong>lista Guillermo de Occam. El asno deBuridán plantea el caso del asno que estan<strong>do</strong> entre<strong>do</strong>s haces de heno, enteramente iguales en bondad,no se incli<strong>na</strong>rá a ninguno de los <strong>do</strong>s y moriráde hambre. Los teóricos de la comunicación sehallan en esa coyuntura, entre el periodismo yla literatura.7Octavio Aguilera, La literatura en el periodismoy otros estudios en torno a la libertad y el mensajeinformativo, Madrid, Paraninfo, 1992, p. 18.8Octavio Aguilera, op. cit., p. 24.9Luis Núñez Ladevéze, El lenguaje de losmedia, Madrid, Pirámide, 1979, p. 267.10Octavio Aguilera, op. cit., p. 25.11Jorge Urrutia, La verdad convenida.Literatura y comunicación, Madrid, BibliotecaNueva, 1997, p. 112.12Francisco Ayala, La retórica del periodismo,Madrid, Espasa Calpe, 1985, p. 54.13Manuel Rivas, El periodismo es un cuento,Madrid, Alfaguara, 1997, p. 23.14Octavio Aguilera, op.cit., p. 25.15Vid. Gonzalo Martín Vivaldi, GénerosPeriodísticos, Madrid, Paraninfo, 1993, pp. 29-35.16Octavio Aguilera, op. cit., p. 22.17Manuel Rivas, op. cit., p. 19.


JORNALISMO157Noticiabilidade no rádio em tempos de InternetNelia R. Del Bianco 1Muito se discute sobre a reconfiguraçãoda produção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo condicio<strong>na</strong>da pelaa<strong>do</strong>ção de tecnologias digitais da informaçãoe comunicação. Sem dúvida, as novasferramentas digitais colaboram parareestruturar o exercício da profissão, aprodução industrial da notícia, as relaçõesentre as empresas de comunicação com asfontes, a audiência, os concorrentes, ogoverno e a sociedade. Trazem, portanto,implicações de ordem técnica, ética, jurídicae profissio<strong>na</strong>l para o jor<strong>na</strong>lismo. Embora asmudanças sejam abrangentes há umatendência corrente em estudá-las como sefossem de caráter meramente operacio<strong>na</strong>l.Ressaltam-se como um <strong>do</strong>s seus efeitos, areadaptação legitima<strong>do</strong>ra das roti<strong>na</strong>sprodutivas e de linguagens às exigências dainstantaneidade e da visualidade <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo online. No entanto, um aspectotem mereci<strong>do</strong> pouca atenção: a influência daInternet nos critérios de noticiabilidade damídia tradicio<strong>na</strong>l eletrônica, em especial noradiojor<strong>na</strong>lismo.A presente comunicação é uma síntesede um estu<strong>do</strong> sobre noticiabilidade no rádioa influência tecnológica e cultural da Internet<strong>na</strong> reorganização das roti<strong>na</strong>s produtivas e seu<strong>potencial</strong> de condicio<strong>na</strong>r mudanças nosreferenciais que balizam os critérios quepresidem a seleção de notícias. A investigaçãorealizada em emissoras brasileirasespecializadas em jor<strong>na</strong>lismo – Jovem PanAM e Bandeirantes AM – segue a perspectivateórico-meto<strong>do</strong>lógica norte-america<strong>na</strong> deestu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s emissores, newsmaking, quea<strong>na</strong>lisa a construção da noticiabilidade dentrode <strong>do</strong>is limites: a cultura profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas e a organização <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong>sprocessos produtivos. 2Essa perspectiva teórica vincula-se aoparadigma construcionista e privilegia o papeldas práticas profissio<strong>na</strong>is e as roti<strong>na</strong>s criadaspara levar a cabo o processo de produçãode notcias. Entende que as notícias são oresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo de interação social nãos entre os jor<strong>na</strong>listas e as fontes, mas tambémentre os próprios jor<strong>na</strong>listas vistos comomembros de uma comunidade profissio<strong>na</strong>l.Os jor<strong>na</strong>listas são agentes possui<strong>do</strong>res de umcerto grau de autonomia <strong>na</strong> ação em relaçãoaos poderes constituí<strong>do</strong>s, e têm papelrelevante nos processos de construçãonegociada de senti<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> elaboram seurelato sobre os acontecimentos a partir deda<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelas fontes (Traqui<strong>na</strong>,2002: 114-26). Em interação com o ambienteorganizacio<strong>na</strong>l, as roti<strong>na</strong>s produtivas, a culturaprofissio<strong>na</strong>l e a estrutura de valores–notícia<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, os jor<strong>na</strong>listas atuam como sujeitosno <strong>do</strong>mínio de operações lógicas produtivase fazem a mediação dessa estrutura com asações objetivas, a realidade social e a própriasubjetividade.Para entender a noticiabilidadeA notícia é uma representação social darealidade cotidia<strong>na</strong> produzida institucio<strong>na</strong>lmenteque se manifesta <strong>na</strong> construção <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> possvel (Rodrigo Alsi<strong>na</strong>, 1989:185).Caracterizada pela atualidade, a notícia é umbem altamente perecível. Velocidade erenovação são signos fortes da notícia (Sousa,2000: 16).Não sen<strong>do</strong> a realidade em si, mas arealidade construída, a notícia é um metaacontecimento,segun<strong>do</strong> Adriano Rodrigues(1993: 27-34), é um acontecimento que sedebruça sobre outro acontecimento. Verdadeque o acontecimento – algo notável, singular,imprevisível e de <strong>na</strong>tureza especial – oreferente <strong>do</strong> discurso jor<strong>na</strong>lístico. Porém, aoregistrar acontecimentos notáveis, ojor<strong>na</strong>lismo faz desse dispositivo umacontecimento susceptível de desencadearnovos acontecimentos.A notícia não emerge <strong>na</strong>turalmente <strong>do</strong>sacontecimentos. Acontece <strong>na</strong> conjunção deacontecimentos e textos. É a <strong>na</strong>rrativa


158 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVutilizada pelo jor<strong>na</strong>lista que dá forma eorganiza o relato <strong>do</strong> acontecimento. Noentanto, a escolha <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como a <strong>na</strong>rrativa<strong>do</strong> acontecimento será focada não éinteiramente livre, segun<strong>do</strong> Traqui<strong>na</strong> (1993:169):“Essa escolha é orientada pelaaparência que a realidade assume parao jor<strong>na</strong>lista, pelas convenções quemoldam a sua percepção e fornecemo repertório formal para aapresentação <strong>do</strong>s acontecimentos,pelas instituições e pelas roti<strong>na</strong>s.”De fato, a produção da notícia pelasempresas jor<strong>na</strong>lísticas ocorre de formarotineira e estandardizada dentro um cicloprodutivo constituí<strong>do</strong> para facilitar o processoe tor<strong>na</strong>r viável o trabalho cotidiano. Osjor<strong>na</strong>listas empregam uma série de critériose procedimentos para atribuir a qualidade denoticiável a um acontecimento. Segun<strong>do</strong> Wolf(1987: 173), o conjunto de critérios, operaçõese instrumentos com os quais os órgãos deinformação enfrentam a tarefa de escolher,cotidia<strong>na</strong>mente, dentre um númeroimprevisível e indefini<strong>do</strong> de fatos umaquantidade finita e tendencialmente estávelde notícias é denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> de noticiabilidade.A noticiabilidade está relacio<strong>na</strong>da àprobabilidade de um fato ser divulga<strong>do</strong>.Para ganhar o status de notícia, o fatodeve possuir atributos compatíveis com osvalores-notícia. Componentes fundamentaisda noticiabilidade, os valores-notíciaconstituem regras que guiam o trabalho <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista, sugerin<strong>do</strong> o que deve ser recolhi<strong>do</strong>,omiti<strong>do</strong> ou realça<strong>do</strong>. Revelam as linhas guiaspara apresentação <strong>do</strong> material jor<strong>na</strong>lismo, asregras práticas referenciais que balizamescolhas, as qualidades atribuídas aosacontecimentos, aquilo que fica e o que sai,o que classificar como importante, a lógicada tipificação <strong>do</strong> material informativo, entreoutros aspectos (Wolf, 1987: 171-73).Os valores-notícia surgem não ape<strong>na</strong>s nomomento da seleção da notícia, mas, comodestaca Wolf, um pouco antes, ou seja,durante o processo de produção, inclusive <strong>na</strong>sfases de elaboração e apresentação dasnotícias, quan<strong>do</strong> são destaca<strong>do</strong>s os elementosque condicio<strong>na</strong>m a noticiabilidade. Em geral,os valores estão introjeta<strong>do</strong>s no cotidiano daredação sem que os profissio<strong>na</strong>is discutamseu valor, muita embora estejam sujeitos ainterpretações individuais dentro <strong>do</strong> contextoda organização e da cultura organizacio<strong>na</strong>l.No entanto somente adquirem senti<strong>do</strong> esignifica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> são a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s a partir dasroti<strong>na</strong>s produtivas, ou seja, <strong>na</strong>s suas relaçõesrecíprocas, em ligação uns com outros, porconjuntos de fatores hierarquiza<strong>do</strong>s entre sie complementares, e não isoladamente ouindividualmente (Wolf, 1987: 192-93)Esse caráter fluí<strong>do</strong> reflete o fato de anotícia ter origem num processo negocia<strong>do</strong>que combi<strong>na</strong> os interesses de diferentesgrupos, das empresas de comunicação, <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas, das fontes, <strong>do</strong> público e ascondições técnicas em que se produz anotícia. 3Consideran<strong>do</strong> esse caráter negocia<strong>do</strong>,Jorge Pedro Souza (2000: 39-101) identificaseis fatores ou níveis que influenciam aprodução da notícia. São eles: ação pessoal,social, ideológica, cultural, histórica, meiofísico e tecnológico.Em geral, os estu<strong>do</strong>s sobre a produçãode notícia enfatizam a influência <strong>do</strong>s fatoresliga<strong>do</strong>s à ação social, histórica, ideológicae cultural <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. No entanto, umaspecto tem fica<strong>do</strong> em segun<strong>do</strong> plano: a ação<strong>do</strong> meio físico e tecnológico. Há uma carênciade estu<strong>do</strong>s mais elabora<strong>do</strong>s sobre esse tipode ação. De acor<strong>do</strong> com Sousa (Idem: 96),os poucos existentes fornecem exemplosape<strong>na</strong>s “intuitivos” sobre o condicio<strong>na</strong>mentodesse fator <strong>na</strong> produção da notícia e nosvalores que presidem sua escolha.Entre pesquisa<strong>do</strong>res como MichaelKunczik (2001), Bill Kovack e Tom Rosentiel(2003), Ignácio Ramonet (1999) e DominiqueWolton (1999) há um certo consenso quantoà influência das tecnologias da informação<strong>na</strong> reestruturação da organização jor<strong>na</strong>lísticae de suas roti<strong>na</strong>s de trabalho. A informática,especialmente, trouxe agilidade e qualidadeno processamento da informação, ao facilitaro trabalho de rever, corrigir, alterar e atualizartextos. No entanto, os pesquisa<strong>do</strong>resmencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s duvidam que as tecnologiasdigitais tenham provoca<strong>do</strong> mudançasprofundas <strong>na</strong> concepção de jor<strong>na</strong>lismo a pontode alterar valores consagra<strong>do</strong>s. Na avaliaçãode Wolton (1999: 268-9), por exemplo, aimprensa continua a mesma, ou seja, a


JORNALISMO159mudança foi ape<strong>na</strong>s de forma, de linguagem,que em <strong>na</strong>da abalou os princípios basilares<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Por mais forte que seja, umainovação tecnológica não leva consigomecanicamente uma transformação profunda<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das atividades.Esse argumento pode ser considera<strong>do</strong>parcialmente váli<strong>do</strong>. No entanto, necessárioconsiderar para melhor compreensão que aessncia da <strong>na</strong>tureza das tecnologias dainformação de hoje, especialmente a Internet,difere radicalmente de outras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, esua influência pode carregar transformaçõesde valores e conceitos. Para o jor<strong>na</strong>lismo,a a<strong>do</strong>ção dessas tecnologias da informaçãosi<strong>na</strong>liza mudanças que não ficam ape<strong>na</strong>s nonível da troca de roupagem, sen<strong>do</strong> bem maisprofundas <strong>do</strong> que muitos costumam a<strong>na</strong>lisar,poden<strong>do</strong> até mesmo solapar valoresfunda<strong>do</strong>res dessa práxis social.Internet como fator de mudançaA essência das mutações <strong>na</strong>contemporaneidade tem relação com a<strong>na</strong>tureza diferenciada das tecnologias dainformação e da comunicação em comparaçãoa outras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Distinguem-se porampliarem a capacidade intelectual <strong>do</strong>homem, pois permitem transformar ainformação. O que mu<strong>do</strong>u não foi o tipo deatividade em que a humanidade estáenvolvida desde a era industrial, mas suacapacidade tecnológica de utilizar, como forçaprodutiva direta, aquilo que caracteriza asingularidade <strong>do</strong> homem: a capacidadesuperior de processar símbolos (Castells,1999:78).De fato, a revolução tecnológica de hojemuda a experiência de mun<strong>do</strong>, assim comoaconteceu <strong>na</strong> Revolução Industrial, quan<strong>do</strong>surgiram novas relações técnicas de produção,relações sociais e de poder baseadas <strong>na</strong>propriedade privada <strong>do</strong>s meios de produçãoe no tipo de superestruturas características<strong>do</strong> capitalismo. “A mudança é tão culturale imagi<strong>na</strong>tiva quanto tecnológica eeconômica”, segun<strong>do</strong> Johnson (2001:35)Neste contexto, a Internet adquiriuimportância estratégica no modelo socialforja<strong>do</strong> pela revolução das tecnologias dainformação e da comunicação. Mais <strong>do</strong> queum protocolo informativo, a Internettransformou-se num espaço social e culturalque permite estabelecer a comunicação entredistintos tipos de rede. Constitui a basematerial da vida e das formas de relação coma produção, o trabalho, a educação, a política,a ciência, a informação e a comunicação. Éo coração <strong>do</strong> novo paradigma sócio-técnicode acor<strong>do</strong> com Castells (2001: 15):“Se a tecnologia da informação é oequivalente histórico <strong>do</strong> que foi aeletricidade <strong>na</strong> era industrial, em nossaera poderíamos comparar a Internetcom a rede elétrica e o motor elétrico,da<strong>do</strong> sua capacidade para distribuir opoder da informação por to<strong>do</strong>s osâmbitos da atividade huma<strong>na</strong>”.Como epicentro <strong>do</strong> sistema sócio-técnicoemergente, a Internet é um ambiente e sistemade informação e comunicação (Palácios, 2000e Lemos, 2002). Por <strong>na</strong>tureza é multifacetada,poden<strong>do</strong> ser um ambiente onde convivem ecombi<strong>na</strong>m entre si várias formas. Issosignifica que pode funcio<strong>na</strong>r num ambientecompartilha<strong>do</strong> simultaneamente comosuporte, meio de comunicação que se prestaà expressão e, muitas vezes, como sistematecnológico ou ambiente de informação e decomunicação. A definição de função dependeem muito <strong>do</strong> uso que dela se faz emdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> contexto, circunstâncias,objetivos, fi<strong>na</strong>lidade e aplicação social sejapor interesse, atividade específica ou mesmopor fruição.Como criação <strong>do</strong> homem, entidade reale material da existência, essa tecnologiaintegra-se a conjuntos culturais existentes, e,portanto, está sujeita aos usos que dela sefazem. Como espaço simbólico de interaçãoe de cognição, gera novas formas epossibilidades de comunicação, de trocassignificativas e sociabilidade que constituemem si uma cultura específica. 4Por tal condição, Castells (2001:51)acredita que a Internet carrega em si osvalores e a cultura de seus cria<strong>do</strong>res. A culturada Internet é caracterizada por uma estruturaformada por quatro estratos superpostos: acultura tecnomeritocrática, a cultura hacker,a cultura comunitária virtual e a culturaempreende<strong>do</strong>ra. Juntos esses estratoscontribuíram para que a Internet fosse


160 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconstruída e sustentada com base em valorestais como o de liberdade individual, depensamento independente, da idéia decooperação entre usuários, de comunicaçãohorizontal, conexão interativa, informal ecooperativa entre usuários.Internet e as roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong>radiojor<strong>na</strong>lismoComo instrumento básico <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,a Internet oferece multiplicidade de conteú<strong>do</strong>sarmaze<strong>na</strong>da em computa<strong>do</strong>res remotos eferramentas que permitem acompanhamentointerativo de qualquer área temática por meiode grupos de discussão, listas de correioeletrônico, entre outros. O processo depesquisa e recolha de informações <strong>na</strong> redeapresenta inúmeras vantagens para a produçãoda notícia. Permite aos jor<strong>na</strong>listas seinteirarem rapidamente sobre o que já foiescrito sobre determi<strong>na</strong><strong>do</strong> assunto; tor<strong>na</strong> oscontatos com as fontes interativos; possibilitaa ampliação e seleção de fontes deinformação; agiliza a busca de da<strong>do</strong>s,pesquisa e consulta a arquivos públicos,bibliotecas, órgãos públicos; facilita a coletade maior quantidade de informação nummenor espaço de tempo; além de aumentaro <strong>potencial</strong> de reportagem à distância e <strong>do</strong>trabalho fora das redações em locais remotos.Ao integrar a rede informatizada daredação, a influência da Internet pode serpercebida <strong>na</strong> reorganização de funções,distribuição de tarefas, fixação de roti<strong>na</strong>s; noprocessamento de textos, coleta deinformação e recepção; <strong>na</strong> forma de embalaro produto, armaze<strong>na</strong>gem, manejo <strong>do</strong> texto;<strong>na</strong> relação com as agências de notícias, <strong>na</strong>checagem da produção <strong>do</strong> concorrente; nomo<strong>do</strong> como possibilita corrigir e se certificarquanto veracidade de uma informação; <strong>na</strong>organização das mesas de trabalho <strong>na</strong> redaçãoa partir de pontos de conexão com a rede;no acesso individual <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r e redeinter<strong>na</strong> de da<strong>do</strong>s; no tráfego e transporte deda<strong>do</strong>s no ambiente da redação. Sob o suportedigital, a Internet trouxe rapidez eracio<strong>na</strong>lidade ao fluxo de produção. Semdúvida, aju<strong>do</strong>u a constituir uma estruturaorganizativa que garante a efetividade e apadronização de roti<strong>na</strong>s de trabalho.Na pesquisa realizada junto a duas dasprincipais e mais tradicio<strong>na</strong>is emissorasbrasileiras dedicadas ao jor<strong>na</strong>lismo – JovemPan AM e Bandeirantes AM – constatou-seque a Internet hoje parte da realidade <strong>do</strong>mo<strong>do</strong> de trabalhar <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista de rádio eestá integra<strong>do</strong> às suas roti<strong>na</strong>s produtivas.Exerce influência em todas as fases dasroti<strong>na</strong>s produtivas, desde a recolha dainformação, seleção, redação, edição eveiculação da notícia. Ao fazer parte da redeinformatizada local das emissoras, a Internetconstitui o meio ambiente no qual osjor<strong>na</strong>listas se movem e exercem a tarefa deescolher entre cente<strong>na</strong>s de acontecimentosaqueles que merecem o status de notcia.Nesse ambiente, a Internet funcio<strong>na</strong> comoca<strong>na</strong>l de acesso e contato com múltiplasfontes, agências de notícias e jor<strong>na</strong>is online.Por essa condição, o ambiente da redaçãohoje é sobre-informa<strong>do</strong>. Há mais informaçãodisponível para ser processada se compara<strong>do</strong>aos tempos em que a emissora de rdioassi<strong>na</strong>va, no máximo, três agências denotícias, e recebia material informativo portelex, teletipo, fax ou telefone. O acesso afontes sem limites temporais contribui paramanter o nível de atualização no fluxoinformativo contínuo <strong>do</strong> rádio. A lógica daprogramação de fluxo contínuo aproxima-seda eter<strong>na</strong> renovação <strong>do</strong> tempo “intemporal”da Internet (Castells, 1999).O ambiente sobre-informa<strong>do</strong> condicio<strong>na</strong>também a postura <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas frente buscade notícias. Deixam de la<strong>do</strong> a posição de ficarespera de informação para assumirem umapostura ativa de busca orientada <strong>na</strong> rede como intuito de recolher e selecio<strong>na</strong>r notícias.Obter material de divulgação <strong>na</strong> rede acaboupor converter-se num fim em si mesmo.A situação não deixa de representar umacréscimo de stress para os jor<strong>na</strong>listas derádio <strong>na</strong> hora de selecio<strong>na</strong>r o que notícia,além de colocá-los diante <strong>do</strong> problema daavaliação da veracidade e a credibilidade dafonte. Na tentativa de se precaver contrainformação incorreta, acabam por restringiro campo de pesquisa a jor<strong>na</strong>is e agênciasonline oriun<strong>do</strong>s da mídia tradicio<strong>na</strong>l pelacredibilidade que construram ao longo <strong>do</strong>sanos. Os jor<strong>na</strong>listas recorrem estratégia decomparação de relatos entre duas ou três


JORNALISMO161agências para dali extrair o que consensual.Neste contexto, consolida-se a prática daverificação endóge<strong>na</strong>, ou seja, dentro <strong>do</strong>slimites da rede Internet. O que não deixa deenfraquecer a discipli<strong>na</strong> da verificaçãoessencial ao jor<strong>na</strong>lismo que pretende serobjetivo. Resulta, portanto, numa relação dedependência de fontes de informaçãosecundária, que trazem em si um certo graude distorção involuntária no relato <strong>do</strong>sacontecimentos.Uma nova percepção <strong>do</strong>s valoresnoticiaA Internet é hoje uma referência essencial<strong>na</strong> redação <strong>do</strong> radiojor<strong>na</strong>lismo para avaliaros acontecimentos quanto atualidade,novidade, interesse e importância. O valorde atualidade passou a corresponder ao temporeal, ou seja, o processamento da informaçãose dá num ambiente onde não hádiferenciação <strong>do</strong> tempo. O reflexo disso podeseconstatar no aumento <strong>do</strong> ndice deatualidade <strong>na</strong> redação. As fronteiras <strong>do</strong>sdeadlines tor<strong>na</strong>ram-se mais elásticas. Asdecisões sobre o que entra ou não nonoticiário da emissora de rádio são tomadascada vez mais em tempo real. Muitas vezes,a competência em dar a notícia é medida pelacapacidade de lançá-la o mais rapidamentepossível, em primeira mão, de mo<strong>do</strong> a superarem velocidade o concorrente.O ritmo da informação com o tempo realmuda a lógica <strong>do</strong> tempo informativo no rádiopara entrar numa era de quase “imediaticidadeabsoluta” (Nogueira, 2003), uma vez que osciclos esto cada vez mais curtos. Resulta numencurtamento <strong>do</strong> ciclo da informação noradiojor<strong>na</strong>lismo que <strong>na</strong> era a<strong>na</strong>lógica já eraconsidera<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> e agora ganha maioraceleração em função da compressão <strong>do</strong>tempo.Do mesmo mo<strong>do</strong>, os valores-notícia,interesse e importância passaram a ter comoreferência os acontecimentos pauta<strong>do</strong>s pelaInternet no último instante. A frequência ea repetição com que um determi<strong>na</strong><strong>do</strong>acontecimento aborda<strong>do</strong> pelas agências ejor<strong>na</strong>is online si<strong>na</strong>lizam para os jor<strong>na</strong>listasa exata medida de sua importância e anecessidade de selecioná-lo. Ao recorrerInternet para colher notícias prontas, aredação <strong>do</strong> rádio assume os valores-notíciadas fontes pesquisadas.A função de seleção representa umrecorte, um filtro. Esse recorte hoje se dápela moldura constituída pelo ambiente deinformação e comunicação da Internet.Funcio<strong>na</strong> como moldura, uma vez quecontribui para o corte e focalização, ou seja,permite capturar, no espaço digital, a ce<strong>na</strong>,um fragmento <strong>do</strong> tempo dentro da pluralidadede acontecimentos disponibiliza<strong>do</strong>s. 5Ao contribuir para o corte e focalização<strong>do</strong>s acontecimentos que serão transforma<strong>do</strong>sem notícia, a Internet coloca <strong>na</strong>s mãos <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas a possibilidade de obterrapidamente a informação necessária paracomplementar suas matérias, contribuin<strong>do</strong>para contextualização e aprofundamento <strong>do</strong>stemas aborda<strong>do</strong>s. Ao mesmo tempo, esseprocedimento traz implícito também apadronização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> porque é comumo uso freqüente das mesmas fontes. To<strong>do</strong>sbebem da mesma fonte <strong>na</strong> hora de comporseu noticiário, reproduzin<strong>do</strong> o mesmodiscurso. Muito da tendência àhomogeneização deve-se ao comportamento<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas de atribuírem maior grau decredibilidade às agências de noticias oriundasda mídia tradicio<strong>na</strong>l.Nesse aspecto, a Internet um instrumentoutiliza<strong>do</strong> <strong>na</strong> redação para acompanhar esupervisio<strong>na</strong>r o trabalho <strong>do</strong> repórter <strong>na</strong> rua,de mo<strong>do</strong> que poder ser cobra<strong>do</strong> a ajustar oenfoque de sua cobertura àquele ofereci<strong>do</strong>pelas agências e jor<strong>na</strong>is online. A pressão pelahomogeneização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s no rádioacentuada porque se pode acompanhar emtempo real a cobertura <strong>do</strong> concorrente. Asituação leva a questio<strong>na</strong>r se observação epercepção <strong>do</strong> repórter no local <strong>do</strong>acontecimento já não são mais suficientes,sen<strong>do</strong> necessrio recorrer mediação datecnologia para apreender o real. No limite,pode-se criar uma dependência da tecnologiapara confirmar o que se viu <strong>na</strong> rua.O ambiente da Internet acrescentapercepção <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas também a noção deliberdade de ação sobre a informação. Quan<strong>do</strong>os despachos das agências aparecem <strong>na</strong> redecomo se fosse um produto de livre circulaçãoque qualquer um pode ter acesso. E quemos utiliza, apropria-se desses textos comosen<strong>do</strong> seu e não de outro. Segue assim um


162 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV<strong>do</strong>s valores culturais da Internet: o que est<strong>na</strong> rede não de ninguém. Esse sentimentoestá presente no processo de produção <strong>do</strong>radiojor<strong>na</strong>lismo, onde a informação que jorra<strong>na</strong> tela <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r a base para acomposição de boa parte <strong>do</strong>s noticiários.A liberdade de ação <strong>na</strong> busca eapropriação da informação traz para o campoda produção da notícia a percepção da totaltransparência da realidade. Na raiz dessapercepção est a crença de que a verdade ainformação, segun<strong>do</strong> Philippe Breton (2000):“Esta noção de transparência éconsubstancial ao culto dainformação. Ela é sua traduçãoimediata. Ela tem implicaçõespráticas e espirituais: ela condicio<strong>na</strong>a atividade concreta daqueles querealizam as técnicas ao mesmo tempoem que ela constitui o ideal de ummun<strong>do</strong> luminoso, sem manchas, sementropia. Nesta nova mística, atransparência um esta<strong>do</strong> que seprocura alcançar. A transparênciaassociada a um ideal de luz, harmoniae êxtase. Ela dá a impressão de passar<strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> espelho.”É nesse contexto que os valores-notíciaadquirem senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong>, ou seja, noconjunto de procedimentos que caracteriza aação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista no campo da produção,seguin<strong>do</strong> regras específicas de seu mo<strong>do</strong> defuncio<strong>na</strong>mento. A Internet contribui paramoldar crescentemente as formas como sevive e experimenta a produção da notícia.O que mu<strong>do</strong>u foram os horizontes dessemun<strong>do</strong> e os paradigmas da sua experiênciaperceptiva (Fidalgo, 2002).No processo de conhecimento, um sujeitoe um objeto encontram-se face a face. Arelação que existe entre os <strong>do</strong>is é o próprioconhecimento. A oposição <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is termosnão pode ser suprimida. Mas um não estásepara<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro. O sujeito só é sujeito emrelação ao objeto, e o objeto em relação aosujeito. A função <strong>do</strong> sujeito consiste emapreender o objeto; a <strong>do</strong> objeto em poderser apreendi<strong>do</strong> pelo sujeito. O sujeito nãopode captar o objeto sem sair de si (sem setranscender); mas não pode ter consciência<strong>do</strong> que é apreendi<strong>do</strong>, sem entrar em si, semse reencontrar <strong>na</strong> sua própria esfera. Oconhecimento realiza-se, por assim dizer, emtrês tempos: o sujeito sai de si, está fora desi e regressa fi<strong>na</strong>lmente a si.Segun<strong>do</strong> Kant (cita<strong>do</strong> por Savater, 1999),conhecimento é uma combi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> que arealidade traz ao sujeito com as formas dasensibilidade e o entendimento desse sujeito.Esse conhecimento sobre o real é verdadeiro,porém não chega senão até onde permitemas faculdades huma<strong>na</strong>s. Significa dizer queo que se conhece não é a realidade pura, masape<strong>na</strong>s como é o real para o sujeito que oconhece. Portanto, se existem condições apriori, isto implica que o sujeito desempenhaum papel ativo no processo <strong>do</strong> conhecimento,traz algo para esse conhecimento e não selimita a receber passivamente o que percebe.É <strong>na</strong> relação diária com a Internet queos jor<strong>na</strong>listas aprendem sobre dessa <strong>na</strong>turezatecnológica, a manusear seus recursos paraobter informação. Os jor<strong>na</strong>listas não saprendem, mas são afeta<strong>do</strong>s por ela. Esseconhecimento transcende ao nível operacio<strong>na</strong>lde entrar e extrair da rede. Envolve a formade construção <strong>do</strong> conhecimento a partir dessaexperiência diria. Nesse aprendiza<strong>do</strong> acabapor constituir novas formas de percepção <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong> processo comunicativo. Nasociedade da informação não se imagi<strong>na</strong> maiso aprendiza<strong>do</strong> em cima de saberes estáveis,herda<strong>do</strong>s pela tradição. A forma <strong>do</strong> saberfluxo,por <strong>na</strong>tureza caótico e sujeito aflutuações. São mutações cognitivasigualmente velozes, às vezes poucoperceptíveis, que ocorrem no ambiente daredação jor<strong>na</strong>lística, cujos si<strong>na</strong>is podem serevidencia<strong>do</strong>s no mo<strong>do</strong> como os jor<strong>na</strong>listasinteragem com a rede.Um componente dessa análise a percepçãoque os jor<strong>na</strong>listas têm <strong>do</strong>s valores quepresidem as escolhas. Essa percepçãoconstruda, em parte, no profissio<strong>na</strong>lismo, ouseja, <strong>na</strong> cultura profissio<strong>na</strong>l. O profissio<strong>na</strong>lismotraduz um conjunto deconhecimentos relativos atividade profissio<strong>na</strong>le que tem aceitação pblica. De certomo<strong>do</strong>, o profissio<strong>na</strong>lismo controla ocomportamento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas ao estabelecerpadrões e normas de comportamento, e aodetermi<strong>na</strong>r o sistema de reconhecimentoprofissio<strong>na</strong>l (Soloski, 1993:95). Esse conjuntode conhecimento se traduz numa cultura


JORNALISMO163profissio<strong>na</strong>l aceita no contexto da organizaçãoe exercitada no momento da seleção danotícia.A questão saber até que ponto a mutação<strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtiva contribui para mi<strong>na</strong>r,paulati<strong>na</strong>mente, os fundamentos básicos <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, defendi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cultura profissio<strong>na</strong>lcomo a imparcialidade e a busca da verdade,consideran<strong>do</strong> que <strong>na</strong> base <strong>do</strong> processo deprodução adquire cada vez mais importânciaum dispositivo técnico de acesso não somentea informação em esta<strong>do</strong> bruto como tambéma da<strong>do</strong>s de segunda ou terceira mão. A visãode mun<strong>do</strong> <strong>na</strong>tural confronta-se com aintencio<strong>na</strong>lidade. As notícias não aparecemde forma <strong>na</strong>tural, mas se fazem comoconsequência da vontade huma<strong>na</strong>, da história,das circunstâncias sociais das instituições edas convenções da profissão, e agora tambémsob influência das tecnologias da informação.ConclusãoÉ certo que a mudança <strong>na</strong> percepção <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas sobre os valores-notícia está sen<strong>do</strong>condicio<strong>na</strong>da pela convivência e coexistnciacom o ambiente tecnológico e cultural daInternet. Nesse aspecto, Van Dijik (1990: 173-5) aponta correspondência entre os valoresjor<strong>na</strong>lísticos e a cognição social. Quer dizer,os valores que guiam os jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong> seleção<strong>do</strong>s acontecimentos são reconheci<strong>do</strong>s pelopúblico como legítimos, porque fazem parte<strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s processos mentais, depensamento e da percepção social sobre oque notícia. De fato, os valores jor<strong>na</strong>lísticosrefletem os valores econômicos, sociais eideológicos <strong>na</strong> reprodução <strong>do</strong> discurso sobrea sociedade através <strong>do</strong>s meios decomunicação. Se os valores-notíciarepresentam a forma como os jor<strong>na</strong>listas vêemo mun<strong>do</strong> no se pode desconsiderar que essemun<strong>do</strong> passa por uma mutação de valores. 6Integrantes da noticiabilidade, os valoresnotíciasão de alguma forma uma respostaorganizacio<strong>na</strong>l necessidade de produzirdiariamente informação. claro que estãosujeitos a interpretações individuais dentro<strong>do</strong> contexto da organização e da culturaorganizacio<strong>na</strong>l. No entanto, ao contribuir parao corte e focalização <strong>do</strong>s acontecimentos queserão transforma<strong>do</strong>s em notcia no rádio, aInternet condicio<strong>na</strong> novos parâmetrosreferenciais para os valores-notícia e danoticiabilidade.Diante das mutações em curso legítimoafirmar que os aspectos centrais <strong>do</strong> paradigmajor<strong>na</strong>lístico estão sen<strong>do</strong> conquistan<strong>do</strong> umanova referencialidade baseada nos valoresculturais da sociedade informação, quais sejam:a matéria prima e força motriz <strong>do</strong> sistemaprodutivo a informação; as redesinformatizadas são instrumentos decomunicação e ferramentas organizativasfundamentais, cujos efeitos atravessam emoldam todas as esferas da atividade huma<strong>na</strong>;pre<strong>do</strong>mínio da lógica da flexibilidade nossistemas técnicos e organizacio<strong>na</strong>is de mo<strong>do</strong>a contribuir para sua integração e convergêncianuma estrutura de comunicação em rede digitalmundial; e a interativa capaz de disponibilizarinformação em grande escala e alta velocidade.É bem verdade que as mutações devalores baseadas nessa referencialidade emconstrução ainda são pouco perceptíveis nopresente. Na mutação, tem-se a impressão quea mnima flutuação de nossa percepção visual,provoca rupturas <strong>na</strong> simetria <strong>do</strong> que se v.Ao lançar o olhar sob esses fenômenos, temsea sensação que faltam elementos teóricose conceituais suficientes para compreend-los.As análises parecem precárias, parciais.É uma situação típica da transição, comoidentificou Boaventura de Sousa Santos(1997:58):“Duvidamos suficientemente <strong>do</strong>passa<strong>do</strong> para imagi<strong>na</strong>rmos o futuro,mas vivemos demasiadamente opresente para podermos realizar neleo futuro. Estamos dividi<strong>do</strong>s,fragmenta<strong>do</strong>s. Sabemo-nos o caminho,mas não exatamente onde estamos <strong>na</strong>jor<strong>na</strong>da”.


164 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBastos, Helder. Jor<strong>na</strong>lismo Electrónico –Internet e reconfiguração de práticas <strong>na</strong>sredacções.–Coimbra, Livraria MinervaEditora, 2000.Bianco, Nelia R. Del. Radiojor<strong>na</strong>lismoem Mutação ––A influência tecnológica ecultural da Internet <strong>na</strong> transformação danoticiabilidade no rádio. Tese (Doutora<strong>do</strong> emComunicação). São Paulo, ECA-USP, 2004.Breton, Philippe. Le culte de l’Internet- Une me<strong>na</strong>ce pour le lien social, cap. 4 -Un univers de croyance. Tradução livre porSamy Leal Adghirni e Hicham Chaouni. Paris,Éditions La Découverte, 2000.Castells, Manuel. A Era da Informação:economia, sociedade e cultura - A Sociedadeem Rede. São Paulo, Paz e Terra, 1999.__________________. La GaláxiaInternet – Reflexiones sobre internet, empresay sociedad. Barcelo<strong>na</strong>, Aret, 2001.Fidalgo, António. Percepção eExperiência <strong>na</strong> Internet. BOCC - BibliotecaOnline de Ciências da Comunicação daUniversidade da Beira Interior, <strong>na</strong> Covilhã-Portugal, 2002. http://www.bocc.ubi.pt/index2.html 2002.Johnson, Steven. Cultura da Interface –Como o computa<strong>do</strong>r transforma nossamaneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro,Jorge Zahar Editor, 2001.Kovach, Bill e Rosenstiel, Tom. OsElementos <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo – O que osjor<strong>na</strong>listas devem saber e o público exigir.São Paulo, Geraão Editorial, 2003.Hall, Stuart et.al. A Produção Socialdas Notícias: O ‘Mugging’ nos media. InTraqui<strong>na</strong>, Nelson. Jor<strong>na</strong>lismo: Questões,teorias e estórias. Lisboa, Vega, 1993, p.224-249.Hessen, Johannes. Teoria <strong>do</strong>Conhecimento.Coimbra, Arménio Ama<strong>do</strong>,1973.Kunczik, Michael. Conceitos dejor<strong>na</strong>lismo – Norte e sul. São Paulo, Edusp,2001.Lemos, Andr. Cibercultura – Tecnologiae vida social <strong>na</strong> cultura contemporânea. PortoAlegre, Suli<strong>na</strong>, 2002.McLuhan, Marshall. Os meios deComunicação como Extensões <strong>do</strong> Homem.São Paulo, Cultrix, 2000.Mouillaud, Maurice. A Crítica <strong>do</strong>Acontecimento ou o Fato em Questão. In.Mouillaud, Maurice e Porto, Sergio D. (org.)O Jor<strong>na</strong>l da Forma ao Senti<strong>do</strong>. Brasília,Paralelo 15, 1997.Nogueira, Luís. Jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong> Rede:Arquivo, acesso, tempo, estatística e memória.Webjor<strong>na</strong>lismo.com. 05.03.2003. Disponívelem: http://www.webjor<strong>na</strong>lismo.com./sections.php?op=viewarticle&artid=10Palácios, Marcos. Fazen<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo emRedes Híbridas, Observatório da Imprensa,11.12.2000.Rodrigo Alsi<strong>na</strong>, Miguel. La Contrucciónde la Noticia. Barcelo<strong>na</strong>, Paidós, 1989.Rodrigues, Adriano Duarte. OAcontecimento. In Traqui<strong>na</strong>, Nelson.Jor<strong>na</strong>lismo: Questões, teorias e estórias.Lisboa, Vega, 1993, p. 27-34.Ramonet, Ignácio. A tirania daComunicação. Petrópolis, Vozes, 1999.Santos, Boaventura de Sousa. Umdiscurso sobre as Ciências. Porto, EdiçõesAfrontamento, 1997, 9ª ed.Savater, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>. As Perguntas da Vida.Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999.Soloski, John. O jor<strong>na</strong>lismo e oProfissio<strong>na</strong>lismo: Alguns constrangimentos notrabalho jor<strong>na</strong>lístico. In Traqui<strong>na</strong>, Nelson.Jor<strong>na</strong>lismo: Questes, teorias e estórias.Lisboa, Vega, 1993, p. 91-100.Sousa, Pedro Jorge. As Notícias e os seusEfeitos. Coimbra, Minerva, 2000.Traqui<strong>na</strong>, Nelson. Jor<strong>na</strong>lismo: Questões,teorias e estórias. Lisboa, Vega, 1993._________________. O Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>Jor<strong>na</strong>lismo no Século XX. São Leopol<strong>do</strong>,Editora Unisinos, 2002.Tuchmann, Gaye. La Producción de laNotícia - Estudios sobre la construcción dela realidad. México, Gustavo Gilli, 1983.Van Dijik, Teun A. La Noticia comoDiscurso – Compreensión, estructura yproducción de la información. Barcelo<strong>na</strong>,Ediciones Paidós, 1990.Wolf, Mauro. Teorias da Comunicação.Lisboa, Presença, 1987. 1º ed.Wolton, Dominique. Sobre laComunicación. Madrid, Acento Editorial,1999.


JORNALISMO165_______________________________1Professora da Universidade de Brasília,<strong>do</strong>utora em Comunicação pela Universidade deSão Paulo, Mestre em Comunicação pelaUniversidade de Brasília. Endereço eletrônico:nbianco@uol.com.br. A participação dapesquisa<strong>do</strong>ra no VI Lusocom teve apoio epatrocínio da Fi<strong>na</strong>tec – Fundação deEmpreendimentos Científicos e Tecnológicosconforme edital nº 001/2004.2A pesquisa realizada parte integrante da Tesede Doutora<strong>do</strong> “Radiojor<strong>na</strong>lismo em mutação – ainfluência tecnológica e cultural da Internet <strong>na</strong>transformação da noticiabilidade no rádio”realizada pela autora <strong>na</strong> Escola de Comunicaçõese Artes da Universidade de São Paulo, soborientação da professora Elizabeth Saad Corrêa.As emissoras a<strong>na</strong>lisadas têm em comum uma slidabase de atividade centrada no radiojor<strong>na</strong>lismotradicio<strong>na</strong>l, além de terem si<strong>do</strong> pioneiras no Brasil<strong>na</strong> criação sites dedica<strong>do</strong>s ao jor<strong>na</strong>lismo onlinecom uso de áudio. A programação dessas emissorassegue o estilo talk and news com divulgaçãonotícias 24 horas dia em fluxo contínuo.3As contribuições de Hall (1993) e Tuchman(1983), especialmente, foram decisivas paramostrar que as notícias não são espelho darealidade, mas sim um processo de construçãonegocia<strong>do</strong> passo a passo e orienta<strong>do</strong> segun<strong>do</strong>interesses e valores que colocam em jogo a lutapela construção de senti<strong>do</strong>s, de interpretação darealidade, de sobrevivência econômica dasempresas.4Na raiz desse argumento está a visãomultidimensio<strong>na</strong>l de Castells (1999) quereconhece a mútua interação entre sociedade etecnologia. Para além de visões que apregoam ocaráter autônomo da técnica a ponto de determi<strong>na</strong>rprocessos históricos e sociais em última instância,Castells acredita que, ao contrário de determi<strong>na</strong>r,a técnica <strong>potencial</strong>iza as transformações <strong>na</strong> basesocial.5“... um corte porque separa um campo eaquilo que o envolve; uma focalização, porqueinterditan<strong>do</strong> a hemorragia <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> para alm damoldura, intensifica as relações entre os objetose os indivíduos que estão compreendi<strong>do</strong>s dentro<strong>do</strong> campo e os reverbera para um centro. O produto<strong>do</strong> corte e da focalização institui o que se chamarde ce<strong>na</strong>. A ce<strong>na</strong> o local <strong>na</strong>tivo <strong>do</strong> acontecimento.(...) A moldura, isolan<strong>do</strong> um fragmento daexperiência, separa-o <strong>do</strong> seu contexto e permitesua conservação e seu transporte. Enquanto quea ação, no campo, perde sua identidade emetamorfoseia-se em efeitos que a tor<strong>na</strong>mirreconhecível, a informação conserva suaidentidade ao longo de seus deslocamentos, eisa uma propriedade fundamental <strong>do</strong>enquadramento.” (Mouillaud, 1997:61-62)6Essa referencialidade em construção tem comoparâmetros o fato de que <strong>na</strong> sociedade emergentea informação a matéria prima e força motriz <strong>do</strong>sistema produtivo; que as redes informatizadas sãoinstrumentos de comunicação e ferramentasorganizativas fundamentais; que h um pre<strong>do</strong>mínioda lógica da flexibilidade nos sistemas técnicos eorganizacio<strong>na</strong>is de mo<strong>do</strong> a contribuir para suaintegração e convergência mundial; e por fim queh pre<strong>do</strong>minância de uma estrutura de comunicaçãointegrada em rede, digital e interativa capaz dedisponibilizar informação em grande escala e altavelocidade (Castells, 1999: 78-9).


166 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO167A imprensa <strong>na</strong> Velha Província 170 anos <strong>do</strong> “Monitor Campista”.O terceiro jor<strong>na</strong>l mais antigo <strong>do</strong> país e a morte misteriosa<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista Francisco AlypioOrávio de Campos Soares 1Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, o maior municípioem densidade geográfica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Rio de Janeiro, foi um <strong>do</strong>s primeiros <strong>do</strong>Brasil a possuir sua imprensa e isso se devea diferentes fatores, sen<strong>do</strong> o mais importanteo níti<strong>do</strong> desenvolvimento econômico promovi<strong>do</strong>pela agroindústria açucareira. No livro“Movimento Literário em Campos”(Typografia <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Commércio, de J.Rodrigues & C., Rio de Janeiro, 1924), oescritor Múcio da Paixão 2 assi<strong>na</strong>la que aindaera a Vila de São Salva<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Campos <strong>do</strong>sGoytacazes, quan<strong>do</strong> aqui se publicou seujor<strong>na</strong>l – o “Correio Constitucio<strong>na</strong>l Campista”-, funda<strong>do</strong> pelo português Antonio Joséda Silva Arcos, que saiu <strong>do</strong> prelo nos finsde l830 3 . Sobre o assunto, antes relevan<strong>do</strong>que “a propulsão em favor das letras, emCampos, para bem dizer caracterizou-se, inicialmente,no campo das actividades jor<strong>na</strong>listas,porque a primeira phase da culturaliterária entre nós foi exercida no jor<strong>na</strong>l”,descreve:“(...) A typografia em que se imprimiuessa primeira folha campista, foitrazida da França por um professorque os ilustres fazendeiros campistasManoel Pinto Netto da Cruz (posteriormenteBarão de Muriaé) eGregório Francisco de Miranda (depoisBarão da Abadia) mandaramcontratar <strong>na</strong> Europa, para o fim deensi<strong>na</strong>rem a língua francesa às suasfilhas.”Quan<strong>do</strong> surgiu o primeiro jor<strong>na</strong>l da planície,o jor<strong>na</strong>lista Evaristo da Veiga, <strong>do</strong>“Diário Mercantil”, <strong>do</strong> Rio de Janeiro -<strong>na</strong>quela época intemerato agita<strong>do</strong>r das massas,nos dias sombrios que precederam aRegência e a quem o Brasil muito deve pelosseus grandiosos serviços, segun<strong>do</strong> as anotaçõesde Paixão, (p.11) - fez o seguintecomentário:“As luzes vão se propagan<strong>do</strong> rapidamentepor to<strong>do</strong> o Brasil, graças aobenéfico influxo de uma ConstituiçãoLiberal. A Vila de Campos possui hojeum periódico, o “Correio Campista”,escrito no senti<strong>do</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, e queaparecerá duas vezes por sema<strong>na</strong>.Vimos o primeiro número desta folha,que contém alguns artigos muitobem escritos (...)”O escritor (op.cit.), também dramaturgoe crítico literário contemporâneo, <strong>na</strong> imprensabrasileira, de Artur Azeve<strong>do</strong>, depois dealinhavar que a partir de 1830 Campospublicou, até 1924, mais de 500 jor<strong>na</strong>is, “oque devia de provar o nosso culto pelaimprensa”, diz que memoráveis são os serviçosque a civilização deve ao maravilhosoinvento de Gutenberg. E enfatiza: “D. JoãoV, Rei de Portugal, assim, porém, não oentendia, tanto que despótica e violentamenteman<strong>do</strong>u fechar a primeira typografia queAntonio da Fonseca fun<strong>do</strong>u, no Rio deJaneiro, em 1747, e <strong>na</strong> qual se imprimiramalgumas obras consideradas, hoje (1906),curiosos exemplares bibliographicos, crian<strong>do</strong>um grande perío<strong>do</strong> de obscuridade nopaís”.O rei, segun<strong>do</strong> Paixão (apud Evaristo daVeiga), ficou com receio da di<strong>na</strong>stia <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s que traria aos espíritos a fácilvulgarização <strong>do</strong> pensamento e das idéias. Deforma que somente depois da chegada de D.João VI e seu séquito ao Brasil é que foifundada uma outra tipografia, trabalho credita<strong>do</strong>a Rodrigo Coutinho, o Conde deLinhares, surgin<strong>do</strong>, em decorrência, a “Gazeta<strong>do</strong> Rio de Janeiro”, inician<strong>do</strong> o“periodismo” <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Dá para se entender, portanto, porque sódepois de 22 anos da chegada da Família Realao Brasil, fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong> bloqueio continentalestabeleci<strong>do</strong> <strong>na</strong> Europa por NapoleãoBo<strong>na</strong>parte, Campos editou o seu primeiro


168 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVjor<strong>na</strong>l impresso, através da tecnologia deGutenberg. Paixão (p.13), descreve os resulta<strong>do</strong>siniciais da imprensa:“(...) Foi ai o campo onde se exercitaramas nossas primeiras inteligências,revela<strong>do</strong>ras de tendências literárias.Certamente que não erammuitos os que no começo <strong>do</strong> séculopassa<strong>do</strong> (Século XIX) podiam serviràs batalhas <strong>do</strong> pensamento, numapequeni<strong>na</strong> vila <strong>do</strong> interior, como,então, era Campos3. Ape<strong>na</strong>s corta<strong>do</strong>o cordão umbilical que nos ligava àmetrópole, mal começávamos a balbuciaras nossas primeiras idéias<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, ensaian<strong>do</strong> os nossos passosde povo emancipa<strong>do</strong>; por este fato,o nosso atraso intelectual corria paraleloà nossa insipiência política.Conquanto a grandiosa claridade dainstrução jorrasse ape<strong>na</strong>s sobre algumasclasses privilegiadas, todavia, emnossa terra, que acompanhou semprede perto os progressos da Corte, haviao seu núcleo de homens que pelejavamafoitamente pela nossa emancipaçãomental, travan<strong>do</strong> renhi<strong>do</strong>sprélios pela justiça e pela liberdadee daí a necessidade, que se fez sentir,da fundação da imprensa campista(...)”.A imprensa, desse mo<strong>do</strong>, inicia, paralelamente,o movimento das letras em Campos<strong>do</strong>s Goytacazes, porque as atividades de<strong>na</strong>rrar os fatos sociais couberam aos intelectuais:escritores, poetas, advoga<strong>do</strong>s, artistas,médicos e outros profissio<strong>na</strong>is liberais afi<strong>na</strong><strong>do</strong>scom a atividade informacio<strong>na</strong>l. Ojor<strong>na</strong>l, antes de ser arauto da sociedade maisaquinhoada constituiu-se num ca<strong>na</strong>l de comunicação<strong>do</strong>s letra<strong>do</strong>s. Todavia, a maioria<strong>do</strong>s trabalhos literários divulga<strong>do</strong>s pelaimprensa continha, também, condimentos departicipação social e política, como acontecia<strong>na</strong> capital <strong>do</strong> Império. O escritor salientaque “o jor<strong>na</strong>l serviu para proliferação deidéias e <strong>do</strong>s sentimentos, mesmo de fora das3 A Vila de São Salva<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Campos <strong>do</strong>sGoytacazes data de 29 de maio de 1677 ea sua elevação à categoria de cidade aconteceuem 28 de Março de 1835, com o nomede Campos <strong>do</strong>s Goytacazes. fronteiras dapátria o fenômeno se manifestou... 4 ”.De conformidade com o pensamento decada intelectual (jor<strong>na</strong>lista), o debate seguiaa tendência política da época, inexistiaqualquer bandeira de luta e não se cuidava<strong>do</strong> desenvolvimento regio<strong>na</strong>l, bem como osjor<strong>na</strong>is não registravam questões quepermeassem as idéias libertárias, comuns no“Correio Brasiliense”. Nem mesmo se falavamnos meios de produção capitalista e <strong>na</strong>presença <strong>do</strong>s escravos <strong>na</strong>s lavras de ouro,ca<strong>na</strong>viais de ca<strong>na</strong> de açúcar e nos bangüêsesmagan<strong>do</strong> a ca<strong>na</strong> para transformá-la nomascavo e <strong>na</strong> aguardente. A imprensa, dessaforma, <strong>na</strong>sce como tribu<strong>na</strong> da intelectualidadee <strong>do</strong> interesse econômico da aristocraciarural, sem se preocupar com problemas maisgraves da sociedade, como desmatamentos,poluição ambiental, despejo de excrementosno leito <strong>do</strong> rio Paraíba <strong>do</strong> Sul e os gravíssimosefeitos das epidemias num tempo em que aciência não tinha, ainda, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> a produçãode antibióticos.O mais curioso era o fato de as notíciaslocais terem menos importância <strong>do</strong> que as<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e estrangeiras. Noticiário sempremuito pobre, em termos de conteú<strong>do</strong>, artigosintimistas, mas muito bem escritos, e longastranscrições de matérias inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, quan<strong>do</strong>,<strong>na</strong>quele tempo, não tinham muito a vercom a realidade de quem vivia segrega<strong>do</strong> emsua aldeia 5 .As matérias eram trazidas pela “Mala daCorte”, que chegava a Campos pelo correioterrestre, de 15 em 15 dias. As notícias eramsempre assim: os terremotos das Antilhas, asinsurreições <strong>na</strong> Chi<strong>na</strong>, os massacres <strong>do</strong>scristãos <strong>na</strong> Armênia, os incêndios nos quarteirõesamericanos, os <strong>na</strong>scimentos, casamentosou falecimentos de príncipes europeus,tu<strong>do</strong> isso tinha maior valor e interesse paraos nossos jor<strong>na</strong>listas (?) <strong>do</strong> que os assuntosgenui<strong>na</strong>mente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, quer fossem agrícolas,mercantis ou industriais.Sobre o surgimento da imprensa campista,Júlio Feydit (“Subsídios para a Históriade Campos <strong>do</strong>s Goytacazes”, Editora EsquiloLtda. Rio de Janeiro, 2ª Edição, 1979),lembra que antes <strong>do</strong> advento da imprensa emCampos, os jor<strong>na</strong>is eram escritos a mão eredigi<strong>do</strong>s por alguns escritores <strong>do</strong>s maisinteligentes e desses jor<strong>na</strong>is, que saiam em


JORNALISMO169dias indetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, muitas cópias eramtiradas para serem distribuídas. Mais adiante,descreve, por exemplo, a maior barriga da“imprensa” manuscrita daquele tempo:“Graças à gentileza <strong>do</strong> sr. Barão deMiracema, tivemos em nosso poderum jor<strong>na</strong>l manuscrito <strong>do</strong> ano de 1826,com o título “O Espelho Campista”o qual dava a notícia de um alvoroçocausa<strong>do</strong> por ter Manoel Alves deJesus, em 1822, a horas notur<strong>na</strong>s, feitotocar a rebate os sinos da cadeia edas igrejas, os tambores e as cornetas<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is batalhões de milicianos, sobo falso pretexto <strong>do</strong>s escravos se teremrevolta<strong>do</strong> e quererem atacar a vila.O jor<strong>na</strong>l referi<strong>do</strong> era redigi<strong>do</strong> porPrudêncio Joaquim da Bessa 6 ”.Feydit (p.397) cita que em sessão daCâmara Municipal, de 3 de novembro de1830, Antonio José da Silva Arcos 7 participouàquela casa ter publica<strong>do</strong> <strong>na</strong> Vila umperiódico – “Correio Constitucio<strong>na</strong>l” – cujoprospecto remetia oferecen<strong>do</strong> o mesmo parapublicação das ordens e atos oficiais. Àsfolhas 47 <strong>do</strong> Livro de Atas daquele ano, achaseo parecer sobre o assunto:“(...) Antonio José da Silva Arcosparticipa a esta Câmara que estabeleceunesta Villa huma tipographia, <strong>na</strong>qual tem proposta á publicar humPeriódico, logo que saia a luz oprimeiro periódico, cujo prospectoremete, offerecen<strong>do</strong>-se á publicaçãodas ordens e actas desta Câmara nodicto Periódico, logo que saia oprimeiro número. A comissão he deparecer que o secretario responda porparte da Câmara agradecen<strong>do</strong> ao ditoArcos a sua participação, como tambémaceitan<strong>do</strong> com agra<strong>do</strong> os seusdezejos de ver prosperar o sistemaMo<strong>na</strong>rchico Constitucio<strong>na</strong>l por humamedida de maior vantagem para ospovos, como seja a da imprensa paraa publicação <strong>do</strong>s sentimentos livresde cada hum cidadão, cuja liberdadeamoldada a Constituição <strong>do</strong> Império.Que a Câmara concorrerá da sua parteno que estiver ao seu alcance e lhedetermi<strong>na</strong> a Lei <strong>do</strong> seu Regimento,fazen<strong>do</strong> imprimir pela novatipographia por elle estabelecida asactas, ordens e papeis <strong>do</strong>s seus trabalhosmunicipaes, que vai dar asprovidências para lhe serem enviadasa comissão, que em consequenciadesta proposta, trate sem perda detempo o secretario de enviar ao Procura<strong>do</strong>rnão só extractos das actas <strong>do</strong>presente anno, como também dascontas <strong>do</strong> anno passa<strong>do</strong> de 1829cumprin<strong>do</strong>-se dessa forma os artigos46 a 62 da Lei de 1º de Outubro de1828. Sala da Câmara Municipal, 4de novembro de 1830. a) Andrade,Bettancourt”.Monitor Campista - O fato da cidadede Campos <strong>do</strong>s Goytacazes - uma home<strong>na</strong>gemtardia aos bravos guerreiros que habitavama planície, que se estende da Cadeia<strong>do</strong> Mar às lonjuras da Barra <strong>do</strong> Fura<strong>do</strong> –manter, ainda, o terceiro mais antigo jor<strong>na</strong>lem circulação ininterrupta <strong>do</strong> país, abreperspectivas para se pensar em sua importânciasocial, política e econômica duranteos perío<strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>s pela Colônia e peloImpério <strong>do</strong> Brasil, percorren<strong>do</strong> por toda ahistória republica<strong>na</strong> até os dias atuais, mesmocom as mudanças circunstanciais <strong>na</strong>s áreaseconômicas, com ênfase para o surgimentoda prospecção e exploração <strong>do</strong> petróleo <strong>na</strong>Bacia Continental de Campos 8 .O “Monitor Campista” é, sem dúvida,uma marca <strong>do</strong> clamor social da cidade, que,no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XIX, era considerada umadas principais produtoras de açúcar e álcool,responsável pelo desenvolvimento da VelhaProvíncia, assi<strong>na</strong>lan<strong>do</strong>-se que, no eito <strong>do</strong>smeios de produção, prosperava, infelizmente,o trabalho escravo.O jor<strong>na</strong>l, segun<strong>do</strong> Feydit (p.398) foifunda<strong>do</strong> por José Gomes da FonsecaParahyba, em 4 de janeiro de 1834, com onome de “Campista”, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> um de seusmais importantes colabora<strong>do</strong>res e sócio o dr.Francisco José Alypio, provavelmente um <strong>do</strong>sprimeiros jor<strong>na</strong>listas vitima<strong>do</strong>s pela prática<strong>do</strong> direito de opinião, numa terra eivada porfazendeiros e latifundiários altamente radicaiscom relação ao uso <strong>do</strong>s escravos como


170 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVum bem (deles) de produção capitalista. Nobojo de suas citações sobre os jor<strong>na</strong>is daépoca, há um registro <strong>do</strong> mais importantes:“No sába<strong>do</strong>, dia 4 de janeiro de 1834,apareceu o primeiro número <strong>do</strong> “Campista”.Este jor<strong>na</strong>l publicavase àsquartas e sába<strong>do</strong>s e era impresso <strong>na</strong>tipografia Patriótica, estabelecida <strong>na</strong>rua <strong>do</strong> Conselho 94. Pagavase pelaassi<strong>na</strong>tura 2$000 por trimestre (...). OMonitor saiu à luz pela primeira vez<strong>na</strong> quarta-feira, 4 de julho de 1838;era impresso <strong>na</strong> tipografia Imparcial,de Ber<strong>na</strong>rdino José Maciel. Antes <strong>do</strong>Monitor, publicavase o “Goytacaz” eo “Campista”. Do último era oprincipal colabora<strong>do</strong>r o dr. FranciscoJosé Alypio, que foi assassi<strong>na</strong><strong>do</strong> em21 de dezembro de 1834”.Quem bem define a junção das empresas<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is “Campista” “Monitor” éo escritor Horácio Souza (“Cyclo Áureo”,Artes Graphicas da Escola de AprendizesArtífices, Campos, 1935). Ele registra onegócio, mas determi<strong>na</strong> uma outra data defundação para o “Monitor Campista” e nãoa comemorada por ocasião <strong>do</strong>s 170 anos (4de janeiro de 1834), ten<strong>do</strong> como origem aedição <strong>do</strong> “Campista”. Eis o que ele diz(p.300), sem muitos rodeios:“O Monitor” funda<strong>do</strong> por Ber<strong>na</strong>rdinoJosé Maciel, apareceu em 4 de julhode 1838, ten<strong>do</strong> a geri-lo e norteá-lo,em 1840, o bom suíço EugéneBricolens e o ótimo campista ThoméJosé Ferreira Tinoco. Já falamos <strong>do</strong>“Recopila<strong>do</strong>r Campista” que semetamorfoseara (sic) <strong>do</strong> “Campista”.Da “filtragem” dessas primeiras flores<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo goytacaz, obtevese,a 31 de março de 1840, a magníficaessência jor<strong>na</strong>lística que aindahoje se denomi<strong>na</strong> “Monitor Campista”.Somente em 1875 o “Monitor Campista”passou a ser edita<strong>do</strong> diariamente, já entãosob a direção <strong>do</strong> dr. Domingos de MirandaPinto que, em 1879, lega a administração <strong>do</strong>denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> “velho órgão”, aos seus filhosJoão e Anita Alvarenga, demonstran<strong>do</strong> serantiga a prática de famílias de empresáriosdirigin<strong>do</strong> meios de comunicação. Souzapontua, referin<strong>do</strong>-se a 1935, data <strong>do</strong> centenárioda cidade de Campos <strong>do</strong>s Goytacazes,pelas pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong> Monitor cintilaram as pe<strong>na</strong>s<strong>do</strong> dr. Antunes Guimarães, dr HemetérioMartins, dr. Abelar<strong>do</strong> de Mello, dr. RamiroBraga, dr. Luiz Antonio Neves (polemistacatólico), Theophilo Guimarães 9 , Lyn<strong>do</strong>lphode Assis e João Barreto. Hoje “(referin<strong>do</strong>seao mesmo ano) cintila pelo acrisolamento<strong>do</strong> dr. Antonio Joaquim de Mello, dr. AméricoVian<strong>na</strong>, José Vian<strong>na</strong> de Castro e Prisco deAlmeida (maestro e poeta <strong>na</strong>sci<strong>do</strong> <strong>na</strong> vizinhacidade de São Fidélis).Fica muito difícil, no entanto, registrarnomes de importância para o jor<strong>na</strong>lismo<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que passaram pela redação <strong>do</strong>“Monitor Campista” a partir <strong>do</strong> século XX,embora Paixão (p.15) tenha elogia<strong>do</strong> a ediçãodiária <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l creditan<strong>do</strong> este avanço aotrabalho de Alvarenga Pinto e, também, aofato <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong> serviço telegráfico, oque “ofereceu uma verdadeira revolução <strong>na</strong>imprensa”. Sobre a questão técnica, explica:“A última conquista, já <strong>na</strong>s proximidadesda República, foi a abolição dasnotícias começadas por gordinho(refere-se ao corpo <strong>do</strong> tipo), e acriação das noticias com títulos.Poderá parecer sem importância factotão simples, mas o que é certo é queelle reflecte a ansia moder<strong>na</strong> de bemservir ao leitor, com um jor<strong>na</strong>l interessantee attrahente.”.Dentre outros destaques que atuaramno “Monitor Campista”, constam nomes comoo <strong>do</strong> próprio Múcio da Paixão, FranciscoPortela (que saiu da direção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l paraser o gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r da Velha Província). Oescritor (p.18) salienta que em 1879, convida<strong>do</strong>por Alvarenga Pinto, Portela assumiuo cargo de chefe da redação, posto em quese conservou por um espaço de 10 anos, atéque, com a proclamação das novas instituiçõespolíticas, foi chama<strong>do</strong> a gover<strong>na</strong>r oEsta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Também escreveramPrudêncio Bessa, J. Magalhães Jr.,Miguel Herédia, Viveiros de Vasconcelos,Laerte Chaves, José Cândi<strong>do</strong> de Carvalho


JORNALISMO171(autor <strong>do</strong> livro “O Coronel e o Lobisomem”e imortal da Academia Brasileira de Letras)...Depois, numa lista mais contemporânea,pode-se enfatizar a participação de Oswal<strong>do</strong>Lima, Everar<strong>do</strong> Lima, Luiz de Gonzaga Balbi,José Carlos Car<strong>do</strong>so de Melo Tinoco (estefoi secretário <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l durante muitos anos),Vilmar Ferreira Rangel, Hervé Salga<strong>do</strong>Rodrigues (proprietário <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l “A Notícia”,depois de Sylvio Fontoura), JoãoRodrigues de Oliveira (o “João Grilo”, funda<strong>do</strong>r,no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 40, <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l “Folha<strong>do</strong> Povo”), Avelino Ferreira, Giannino Sossai,Aloísio Balbi... Da nova geração, José CarlosNascimento, Cilênio Tavares, A<strong>na</strong> RuthManhães, Alicinéia Gama, Nágyla Barreto,Angélica Paes, Márcio Fer<strong>na</strong>ndes, PatríciaBueno, Paula Virginia Oliveira, FláviaBarreto, Antonio Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Nunes, CarlaCar<strong>do</strong>so, Ricar<strong>do</strong> André Vasconcelos eMariane Pessanha, como fruto <strong>do</strong> trabalho<strong>do</strong> Curso de Comunicação Social, da Faculdadede Filosofia de Campos, funda<strong>do</strong> em1965, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s mais antigos cursos <strong>do</strong>país, consubstancian<strong>do</strong> o sonho de TeophiloGuimarães que, pelo grande número dejor<strong>na</strong>is circulan<strong>do</strong> <strong>na</strong> cidade, havia propostoum curso de jor<strong>na</strong>lismo no início <strong>do</strong> SéculoXX.A Morte de Francisco AlypioO assunto mais intrigante, no entanto,que envolve os primórdios <strong>do</strong> “MonitorCampista” (com o nome de o “Campista”)é, sem dúvida, o assassi<strong>na</strong>to de seu principalredator e um <strong>do</strong>s sócios, de forma estranhae não explicada pelos jor<strong>na</strong>is da época,embora, como tradição, circulassem pelomenos quatro periódicos e nenhum delesresolveu levar as investigações às últimasconseqüências. A bem da verdade, não existemnúmeros acessíveis <strong>do</strong> “Campista”, bemcomo fica mais difícil até mesmo saber oque o jor<strong>na</strong>lista de 27 anos escrevia, a pontode justificar um ato truculento contra suapessoa.Paixão (p.17) cita-o como “médico,homem de talento e espírito progressista (...)<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de um temperamento fogoso e arrebata<strong>do</strong>,coloca<strong>do</strong> à frente <strong>do</strong>s movimentospolíticos e sociais <strong>do</strong> seu tempo”. Teixeirade Melo, autor da obra “Campos em 1881”,cita-o, ainda, como redator <strong>do</strong> “CorreioConstitucio<strong>na</strong>l Campista”, saí<strong>do</strong> à luz em1830 e <strong>do</strong> “Goytacaz”, de 1831, para depoisfalar sobre seu infortúnio, vítima de um crimecovarde até hoje insolúvel.Assassi<strong>na</strong><strong>do</strong> a 21 de dezembro de 1834,no mesmo ano da fundação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l,Francisco Alypio faleceu, segun<strong>do</strong> comentáriosda época, “por causa de problemasamorosos”. Feydit, que em suas atividadesde homem público foi industrial, delega<strong>do</strong>de polícia, verea<strong>do</strong>r à Câmara Municipal eprefeito, no perío<strong>do</strong> de 1908/1910 (pp. 421-425), fez uma reportagem (inquérito) sobreos fatos, a partir da tradição oral e, tambématravés de retalhos publica<strong>do</strong>s, escassamente,pelos historia<strong>do</strong>res da época:“Em 1824 morava em Campos oouvi<strong>do</strong>r Cabral, no sobra<strong>do</strong> que fazfrente ao rio e canto à rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r,hoje Marechal Floriano, em frente aoporto chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> Fragata. Poucotempo fazia que o ouvi<strong>do</strong>r se mudarada travessa chamada <strong>do</strong> Cabral. Emépocas determi<strong>na</strong>das, ia o ouvi<strong>do</strong>rlevar as rendas <strong>do</strong> município à província<strong>do</strong> Espírito Santo. Campospertencia então àquela província, daqual foi desanexada e unida ao território<strong>do</strong> Rio de Janeiro, pela lei de31 de agosto de 1832. O ouvi<strong>do</strong>r eramuito rico e a ele pertenciam asfazendas Grande e Barra da Lagoa deCima, confi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> uma com a outra.Por estas duas fazendas transitavamos carros com madeiras que vinhamda Lagoa de Cima, antes de ser abertoo ca<strong>na</strong>l de Campos a Macaé. (...) Oouvi<strong>do</strong>r era casa<strong>do</strong> com uma mulherde uma beleza pouco comum. Como ouvi<strong>do</strong>r morava no sobra<strong>do</strong> o padreJosé <strong>do</strong> Desterro, que era tio de MariaCustódia Cabral. O ouvi<strong>do</strong>r voltan<strong>do</strong>de uma viagem a Vitória, um pretovelho, que lhe servira de pajem haviamuitos anos e no qual depositava amaior confiança, lhe relatou que opadre com sua mulher estavam pratican<strong>do</strong>atos que não deviam praticar.(...) Algum tempo durou aquela espio<strong>na</strong>gem,sem resulta<strong>do</strong>, até que quiscertificar-se e, para isso fez uma


172 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVviagem simulada e, voltan<strong>do</strong> logo foiencontrar o padre em flagrante delitode adultério. O ouvi<strong>do</strong>r ficoualuci<strong>na</strong><strong>do</strong>: em vez de atirar com opadre da sacada à rua, tresvariou eatirou-se pela janela, fraturan<strong>do</strong> umaper<strong>na</strong>. A mulher tentou explicar àspessoas que visitavam o <strong>do</strong>ente queestan<strong>do</strong> ella se confessan<strong>do</strong> com opadre, o ouvi<strong>do</strong>r tivera um ataque deloucura. Agravan<strong>do</strong> a moléstia <strong>do</strong>ouvi<strong>do</strong>r, foi ele para a casa <strong>do</strong> correspondente,no Rio de Janeiro, seguin<strong>do</strong>de Campos em liteira. Haviaem frente à casa <strong>do</strong> correspondente,que no Rio de Janeiro recebia o açúcar<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r, um armazém de molha<strong>do</strong>s,pertencente a uma viúva que hápouco tempo se havia casa<strong>do</strong> com ummédico chama<strong>do</strong> Francisco JoséAlypio, o qual desde o tempo deestudante ali morava (...)”Feydit continua, como se estivesse instruin<strong>do</strong>um processo <strong>na</strong> delegacia, e desconfiade que o jovem médico poderia terencomenda<strong>do</strong> a morte <strong>do</strong> negociante paralogo após casar-se com a viúva rica. E to<strong>do</strong>preâmbulo foi para que o escritor explicasseque o cita<strong>do</strong> jovem médico fora chama<strong>do</strong> paracuidar <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>r que, no entanto, nãosuportan<strong>do</strong> a grave enfermidade, acaboufalecen<strong>do</strong>. E cita: “Não poden<strong>do</strong> salvar omari<strong>do</strong>, procurou consolar a viúva e veio comela para Campos, trazen<strong>do</strong> também a família,composta de mulher e <strong>do</strong>is filhos”. Eiso relato:“(...) Chamava-se a mulher <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor,<strong>do</strong><strong>na</strong> Jacintha. A viúva <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>rcoloca a família <strong>do</strong> médico <strong>na</strong>Fazenda da Lagoa de Cima e ele <strong>na</strong>fazenda Grande. Passa escritura dametade da fazenda da Barra da Lagoade Cima ao <strong>do</strong>utor Alypio, comcondição verbal tratada entre ambos,de ele não ir à fazenda onde se achavaa esposa, senão de passeio e sempreem sua companhia. O médico concor<strong>do</strong>upensan<strong>do</strong> poder facilmente infringireste pacto. A mulher <strong>do</strong> médico,não queren<strong>do</strong> sujeitarse a essa humilhação,começou a odiar o mari<strong>do</strong>, eo tratava com o maior desprezo. Nafazenda de Barra da Lagoa de Cimatrabalhavam <strong>do</strong>is moços: um serra<strong>do</strong>rbranco, e outro par<strong>do</strong>, de nome Rosas,o mateiro. A esposa <strong>do</strong> médico,despeitada com o mari<strong>do</strong>, tratou devingar-se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se infiel; principioua tratar com um amor mais quefrater<strong>na</strong>l ao moço serra<strong>do</strong>r, que sechamava Manoel Francisco da Silva,vulgarmente o Neco, como era conheci<strong>do</strong>.Dessa falta começou <strong>do</strong><strong>na</strong>Jacintha a sentir as conseqüências. Elasentia que uma nova vida se moviaem seu seio e a sua vida dependiadaquela vida (...)”O escritor deixa antever, por opiniãoprópria e sem outros Orávio Soaresembasamentos, que <strong>do</strong><strong>na</strong> Jacintha pretendiafazer um aborto, para não se expor diante<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> médico e da sociedade. Depoiscoloca em ce<strong>na</strong> um outro perso<strong>na</strong>gem, o<strong>do</strong>utor José Gomes da Fonseca Parahyba,segun<strong>do</strong> ele “colegas forma<strong>do</strong>s pela AcademiaMédico-Cirúrgica <strong>do</strong> Rio de Janeiro”:“Ambos clinicavam em Campos e eramos redatores e proprietários <strong>do</strong> “Campista”,jor<strong>na</strong>l que em 1834 se publicava<strong>na</strong> Tipografia Patriótica deParahyba & Alypio, <strong>na</strong> rua <strong>do</strong> Conselho94. No dia 21 de dezembro de1834, o dr. Alypio vai à fazenda daBarra da Lagoa de Cima ver a mulhere os filhos; ai esteve até as 4 horasda tarde; senta<strong>do</strong> no eixo de um carroque, com uma só roda, estava paraconsertar; à porta <strong>do</strong> engenho, conversavacom o feitor sobre negócios dalavoura, enquanto esperava o cavaloque um moleque havia i<strong>do</strong> pegar.Tardan<strong>do</strong> este, o feitor o foi chamar.O <strong>do</strong>utor ficou só. Junto ao engenhohavia uma estacada ou cerca de pausa pique que servia para resguardar oterreiro, onde se secava o milho, feijãoe açúcar. Essa cerca era toda cobertade maracujazeiros. O assassino, pordetrás dela, dá-lhe um tiro à queimaroupa; as buchas e a bala atravessarama espinha e o <strong>do</strong>utor Alypio deixou empoucos instante de existir (...)”.


JORNALISMO173O corpo foi leva<strong>do</strong> para a vila e depoisdas providências e autópsia foi o cadáverenterra<strong>do</strong>. Do<strong>na</strong> Maria Custódia Cabralman<strong>do</strong>u fazer ao morto grandes exéquias ecobriu-se de luto e a mulher <strong>do</strong> médicoassassi<strong>na</strong><strong>do</strong>, <strong>do</strong><strong>na</strong> Jacintha, foi presa poralguns dias <strong>na</strong> cadeia, sen<strong>do</strong> libertada logoapós por falta de provas. Mas, pouco tempodepois, segun<strong>do</strong> Feydit, ela se casava como serra<strong>do</strong>r Manoel Francisco da Silva, o Neco.O interessante é que <strong>do</strong><strong>na</strong> Maria CustódiaCabral, logo depois <strong>do</strong> crime, viajou ao Riode Janeiro em companhia <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor JoséGomes da Fonseca Parahyba e voltam de lácasa<strong>do</strong>s. O escritor fala sobre os boatos:“(...) Os contemporâneos davam aautoria <strong>do</strong> assassi<strong>na</strong>to de formasdiversas: uns diziam que <strong>do</strong><strong>na</strong> MariaCustódia fora a mandante; outro, quefora o <strong>do</strong>utor Parahyba, para casarsecom esta, o que se efetuou poucodias depois da morte de Alypio. Decombi<strong>na</strong>ção com o moço serra<strong>do</strong>r, oNeco, mandaram o mateiro, de nomeRosas, executar o crime. Esses eramos boatos que com insistência circulavamentre os campistas e tal corpotomaram que, ten<strong>do</strong> o Impera<strong>do</strong>r DPedro II de vir a Campos, o <strong>do</strong>utorParahyba fez preparar o palacete, ondehoje se acha estabeleci<strong>do</strong> o HotelGaspar para recebê-lo; mas o Impera<strong>do</strong>r,sen<strong>do</strong> avisa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que constavaem relação ao assassi<strong>na</strong>to <strong>do</strong> <strong>do</strong>utorAlypio, não quis se hospedar <strong>na</strong>quelepalacete no ano de 1847 (...)”To<strong>do</strong>s os mistérios, no entanto, sobre ascausas da morte de Francisco Alypio, nuncaforam dissipa<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> relata o autor de“Subsídios...”, para quem, em 1856, 22 anosdepois <strong>do</strong> crime, quan<strong>do</strong> se apresentou aojuiz municipal João de Souza Nunes Lima,o indigita<strong>do</strong> assassi<strong>na</strong><strong>do</strong>, Rosas, o mateiro,requeren<strong>do</strong> para que o juiz mandasse julgara sua prescrição, visto fazer mais de 20 anosque havia feito o assassi<strong>na</strong>to. Nesse pontoo escritor faz suas considerações fi<strong>na</strong>is:“(...) Declarou: que Neco, o serra<strong>do</strong>r,fora quem lhe mandara fazer o crimedan<strong>do</strong>-lhe 5:000$000 e prometen<strong>do</strong>lhedar mais um sitio, o que cumpriudan<strong>do</strong>-lhe o dinheiro para o comprar.Que Rosas foi o assassino, não restaa menor dúvida, mas que Neco porsua conta lhe desse cinco contos, issonão é crível. (...) Que necessidadetinha ele de assim proceder? Comocrer que um pobre serra<strong>do</strong>r braçal, queem 1834 ganhava no máximo 500 réispor dia, tivesse cinco contos parapagar ao mandatário? Seria a mulher<strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Alypio que dera os cincocontos para ser assassi<strong>na</strong><strong>do</strong> o mari<strong>do</strong>?Não, porque Alypio não era ricoe até a metade da fazenda, depois desua morte fora arrematada em praçapública para pagamento de dívidas. Éde se supor que outra pessoa maisabastada fosse a fornece<strong>do</strong>ra dessasoma e, queren<strong>do</strong> arredar de si aautoria desse fato delituoso, pagasseao assassino para vir em juízo lançarsobre outro o labéu de mandante deum crime que, por muito tempo,trouxe suspenso o espírito público, eainda hoje é um enigma não decifra<strong>do</strong>”.O jor<strong>na</strong>lista e escritor Gastão Macha<strong>do</strong> (“OsCrimes Célebres de Campos”), Ind. GráficasAtlas, Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, 2ª Edição,1965), segue o mesmo eito dedutivo de Feydit,só que, como teatrólogo, procurou romancearas relações entre os perso<strong>na</strong>gens, inclusivecrian<strong>do</strong> diálogos. Só que, no capítulo daparticipação <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor José Gomes da FonsecaParahyba, ele deixa antever que este mantinhaum romance com a mulher de seu sócioFrancisco José Alypio, antes de sua morte.Gastão (pp.103-113) amplia a suspeita deque Parahyba poderia ser o mandante damorte <strong>do</strong> sócio por <strong>do</strong>is motivos: para ficarcom parte da sociedade <strong>na</strong> tipografia e nojor<strong>na</strong>l e, também e, sobretu<strong>do</strong>, com suamulher, “train<strong>do</strong> o melhor amigo, já queforam colegas <strong>do</strong> curso feito <strong>na</strong> AcademiaMédico-Cirúrgica <strong>do</strong> Rio de Janeiro”. Outrosuspeito, que praticamente desaparece dahistória é o padre José <strong>do</strong> Desterro, jovemteólogo de 28 anos de idade à época e tiode Maria Custódia Cabral que, depois <strong>do</strong>escândalo, segun<strong>do</strong> o escritor, “desapareceuda Vila e nunca mais foi visto”.


174 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVMúcio (p.18), no entanto, deixa anteverque o repórter e sócio <strong>do</strong> “Campista” foravitima<strong>do</strong> por causa de suas opiniões políticas,porque muitos gostariam de pôr termoà vida de “um valoroso jovem volta<strong>do</strong> paraa medici<strong>na</strong> e para as lides jor<strong>na</strong>lísticas”.Polêmicas à parte, o bom é sentir que,desde o início de sua história, o “Monitor”faz parte <strong>do</strong> contexto de defesa <strong>do</strong> direitode expressão, embora, em alguns momentos,fosse claramente favorável às classes <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes,principalmente nos embates da aboliçãoda escravatura, quan<strong>do</strong> se colocou aola<strong>do</strong> <strong>do</strong>s escravocratas.Foi, inclusive, o único jor<strong>na</strong>l a publicarnotas de fugas e vendas de escravos e,também, abrir espaços para o escravocrataRaimun<strong>do</strong> Alves Moreira, o famigera<strong>do</strong>Barbaça, ao se colocar contra a 2ª ConferênciaAbolicionista, no Teatro Empyreo, a27 de jJunho de 1884, promovida peloabolicionista Luiz Carlos de Lacerda, proprietário<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l “25 de Março” 10 , bemcomo contra as conferências de José <strong>do</strong>Patrocínio, nos dias 13 e 15 de Março de1885, no Teatro São Salva<strong>do</strong>r.Tu<strong>do</strong> isso, no entanto, não desmerece agrandeza <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, ressalvan<strong>do</strong>-se sua políticaeditorial como reflexo <strong>do</strong> tempo, peloregistro histórico <strong>do</strong> Brasil nos últimos 170anos, marcan<strong>do</strong>, de forma decisiva, suastransformações, com destaque para Campos<strong>do</strong>s Goytacazes, presente, em termos deavanços e recuos no desenvolvimento, emsuas pági<strong>na</strong>s, sen<strong>do</strong> importante ressalvaralgumas instâncias.O “Monitor” marca as lutas abolicionistas,os crimes célebres <strong>do</strong> município, a passagem,várias vezes, <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r Pedro II, daPrincesa Isabel e <strong>do</strong> Conde D’Eu. Os gestosde bajulamentos da aristocracia rural paracom a família imperial, os desatinos das elitescom a perda da mão obra escrava, a Repúblicae o re<strong>na</strong>scimento da cidade sob o signo<strong>do</strong> verde <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>viais e das chaminésfumegan<strong>do</strong> e derraman<strong>do</strong> <strong>na</strong> planície suafuligem como o confete enegreci<strong>do</strong> <strong>do</strong> progresso.Está no “Monitor” o instante especial dai<strong>na</strong>uguração da energia elétrica, no dia 24de Junho de 1883, a primeira comunidadeda América Lati<strong>na</strong> a obter esta inovaçãotecnológica, antes mesmo que a maioria dascidades america<strong>na</strong>s e européias. Tu<strong>do</strong> comofrutos <strong>do</strong> desenvolvimento e porque osengenhos toca<strong>do</strong>s a vapor precisavam sersubstituí<strong>do</strong>s por alguma coisa que lhe assegurasseo aumento da produção.O “Monitor” informou, embora comdificuldades, as questões da primeira guerramundial, a queda da bolsa de Nova Iorque,a queima <strong>do</strong>s cafezais e os investimentos deuma sociedade que não obteve a moratóriapara pagamento de suas dívidas. Abriumanchete para anunciar o fim da IIGrande”Orávio Soares Guerra Mundial e ahegemonia <strong>do</strong> capitalismo <strong>na</strong>s mãos insensíveis<strong>do</strong> Tio Sam. O “Monitor Campista”foi adquiri<strong>do</strong> pelos Diários Associa<strong>do</strong>s, em1936, expressan<strong>do</strong> o desejo <strong>do</strong> seu entãopresidente, Assis Chateaubriand, de possuiros três mais antigos jor<strong>na</strong>is em circulaçãono Brasil – o “Diário”, de Per<strong>na</strong>mbuco; o“Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Commércio”, <strong>do</strong> Rio de Janeiro;e o “Monitor Campista”, de Campos <strong>do</strong>sGoytacazes.O jor<strong>na</strong>l realizou várias campanhas denível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, como “O Petróleo é Nosso”e o “Dê Asas ao Brasil”, estimulan<strong>do</strong> odesenvolvimento da aviação civil, redundan<strong>do</strong><strong>na</strong> criação de vários aeroclubes no país,inclusive o de Campos, i<strong>na</strong>ugura<strong>do</strong> no dia10 de junho de 1941, com o apoio <strong>do</strong> RotaryClub de Campos, durante a gestão <strong>do</strong>spresidentes drs. Camilo de Menezes (1940-41) e Mário Ferraz Sampaio (1941-1942),ainda em funcio<strong>na</strong>mento e prestan<strong>do</strong> relevantesserviços à sociedade. Nesse senti<strong>do</strong>, porser muito difícil enumerar seus melhoresmomentos nestes 170 anos, pode-se afirmarque as pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong> “Monitor Campista”encerram a própria história <strong>do</strong> Brasil.


JORNALISMO175BibliografiaPaixão, Múcio, “Movimento Literário emCampos”, Rio de Janeiro, Typ. Do Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong>Commércio, de Rodrigues & C. 1924.Men<strong>do</strong>nça, Alceir Maia, “História daEletricidade em Campos”, Gráfica EditoraLar Cristão, Campos, 1993.Carvalho, Waldir Pinto de, “CamposDepois <strong>do</strong> Centenário”, Edição Particular,Campos, 2000.Souza, Horácio, “Cyclo Áureo”, ArtesGráficas da Escola de Aprendizes Artífices,Campos, 1935.Soares, Orávio de Campos, “MuataCalombo – Consciência e Destruição”, dissertaçãode mestra<strong>do</strong>, UFRJ, Rio de Janeiro,2002.Feydit. Júlio, “Subsídios para a históriade Campos <strong>do</strong>s “Goytacazes”, Editora EsquiloLtda. Rio de Janeiro, 1979.Guimarães, Theofilo, “Subsídios para ahistória <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo em Campos”, Rio deJaneiro, 1927.Lamego, Alberto Ribeiro, “Planície <strong>do</strong>Solar e da Senzala”, Rio de Janeiro, 1937.Rodrigues, Hervé Salga<strong>do</strong>, “Campos - NaTaba <strong>do</strong>s Goytacazes”, Imprensa Oficial,Niterói, 1988.Macha<strong>do</strong>, Gastão, “Os Crimes Célebresde Campos”, Ind. Grágicas Atlas Ltda.Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, 2ª Edição, 1965._______________________________1Faculdade de Filosofia de Campos2Manoel Múcio da Paixão Soares, filho deportugueses, <strong>na</strong>sceu em Campos <strong>do</strong>s Goytacazesem 15 de abril de 1870 e faleceu em 23 deDezembro de 1926. Foi professor de História <strong>do</strong>Liceu de Humanidades de Campos, primeirodeputa<strong>do</strong> estadual <strong>na</strong> primeira Constituição Republica<strong>na</strong>,pelo Parti<strong>do</strong> Operário, e funda<strong>do</strong>r daAssociação Caixeiral de Campos (hoje Sindicato<strong>do</strong>s Emprega<strong>do</strong>s no Comércio de Campos).3Guimarães, Theofilo, (“Subsídios para a História<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo de Campos”, Rio de Janeiro,1927) assi<strong>na</strong>la, no entanto, que o Correio Constitucio<strong>na</strong>lCampista é de 1831 e que antes delejá existiam os jor<strong>na</strong>is “O Goytacaz” e “PharolCampista”.4O escritor Múcio da Paixão se refere aojor<strong>na</strong>lista Hypólito José da Costa, que publicava,em Londres, o jor<strong>na</strong>l “Correio Brasiliense”, cujapolítica editorial era voltada para a Independência<strong>do</strong> Brasil.5Uma referência ao ca<strong>na</strong>dense MarshalMacluhan, o primeiro cientista a falar <strong>do</strong>s efeitosda globalização. mercantis ou industriais.6Nasci<strong>do</strong> em Porto (Portugal) nos fins <strong>do</strong>século XVIII, era professor e advoga<strong>do</strong>. Mas,segun<strong>do</strong> Teixeira de Melo, a imprensa foi suapaixão. Fez parte <strong>do</strong>s primeiros momentos <strong>do</strong>Monitor, de Eugéne Bricolens, atuan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong><strong>do</strong> brilhante Dr. João Francisco da Silva Ultra,considera<strong>do</strong> este como o funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> teatro nãoempresarial em Campos.7O atual Museu Barbosa Guerra, proprietário<strong>do</strong>s primeiros números de vários jor<strong>na</strong>isedita<strong>do</strong>s em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes, home<strong>na</strong>geiahoje seu cria<strong>do</strong>r. Origi<strong>na</strong>lmente, o museutinha o nome de Silva Arcos, em honra aofunda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> primeiro jor<strong>na</strong>l impresso da cidade.O segun<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l foi o “Pharol Campista”,dirigi<strong>do</strong> por Prudêncio Bessa.8Embora o escritor e geólogo campista AlbertoRibeiro Lamego, em seu livro “A Bacia deCampos <strong>na</strong> Geologia Litorânea <strong>do</strong> Petróleo”(Boletim da Divisão de Geologia e Mineralogia),tenha, nos anos 30, confirma<strong>do</strong>, cientificamente,a existência de petróleo <strong>na</strong> região <strong>do</strong> Farol deSão Tomé, o óleo somente jorrou no dia 22 denovembro de 1974 e a concessão <strong>do</strong>s royalties,base <strong>do</strong> desenvolvimento da cidade nos últimos20 anos, aconteceu em 27 de dezembro de 1985.O então presidente José Sarney esteve em Campos<strong>do</strong>s Goytacazes, juntamente com o se<strong>na</strong><strong>do</strong>r NelsonCarneiro, para anunciar a boa nova. A produçãode mais de um milhão de barris/dia representahoje mais de 90% de to<strong>do</strong> petróleo produzi<strong>do</strong> noBrasil.9Autor <strong>do</strong> livro “Subsídios para a História<strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo em Campos”, edita<strong>do</strong> em 1927.Em 1900 ele lançou a idéia da criação de umaEscola de Jor<strong>na</strong>lismo em Campos, consideran<strong>do</strong>o grande número de jor<strong>na</strong>is circulan<strong>do</strong> <strong>na</strong> cidade.“A cogitação não teve em mira outro escopo senãofazer de cada diretor de jor<strong>na</strong>l“– dentro daConstituição e sem abdicar de sua razão – umregula<strong>do</strong>r moral das questões que sedeblaterassem nos entrefios de sua gazeta (...)De qualquer forma, porém, a tentativa visava umbem comum, pela pressuposição de que osdiploma<strong>do</strong>s por aquela escola procurariammanter, por to<strong>do</strong>s os meios e mo<strong>do</strong>s, a honra ea moral de seus títulos (...)10O Jor<strong>na</strong>l – “25 de Março” era abolicionistae opositor da política editorial <strong>do</strong> “MonitorCampista”. Os escravocratas, por diversas vezes,determi<strong>na</strong>ram o empastelamento <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l de LuizCarlos de Lacerda, cuja importância <strong>na</strong> abolição<strong>do</strong>s escravos é considerada igual ou superior ade José <strong>do</strong> Patrocínio.


176 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO177Agenda e Discurso Midiático: quan<strong>do</strong> a minoria é notícia.O caso indíge<strong>na</strong> <strong>na</strong> Imprensa em Per<strong>na</strong>mbuco 1Patricia Bandeira de Melo 2IntroduçãoA ideologia é uma força quase imperceptívelque permeia as relações sociais, umarepresentação de mun<strong>do</strong>. Esta representaçãonão abarca a totalidade <strong>do</strong> pensamento deuma época, mas parte que é fruto das idéiasde alguns grupos que detêm o poder. Entretanto,a ideologia faz os membros da sociedadeacreditarem que as idéias <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntessomam os pensamentos <strong>do</strong>s vários segmentos,e não o pensamento de grupos que sesobressaem no poder, constituin<strong>do</strong>-se numacomunicação distorcida da realidade que sepropaga através de um texto impreg<strong>na</strong><strong>do</strong> deinteresses. Os meios de comunicação sãomacula<strong>do</strong>s pelo embate de forças entre ossegmentos sociais, entre eles o indíge<strong>na</strong>. Amídia, em certa medida, reforça a ideologia<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, ajudan<strong>do</strong> a assegurar uma harmonia,às vezes tensa, entre as classes e opoder estatal, contribuin<strong>do</strong> <strong>na</strong> coerção dasclasses subalter<strong>na</strong>s, estabelecen<strong>do</strong> a ideologia<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte como senso comum.O controle <strong>do</strong> discurso que circula é feitoa partir da autoridade que é investida àqueleque fala: quan<strong>do</strong> se fala, fala-se de um lugarsocial. O índio, ao falar, não se despoja desua origem. Assim, a crença no despojamento<strong>do</strong> sujeito de suas condições sociais privilegiadasnão se concretiza <strong>na</strong> hora em quese expressa <strong>na</strong> esfera pública: o discurso émarca<strong>do</strong> pelo lugar social de onde fala osujeito. Apesar de Per<strong>na</strong>mbuco possuir aquarta população brasileira de índios, estegrupo não consegue se expressar ativamenteatravés da imprensa.As representações sociais têm como basea existência da comunicação, uma vez queexistem para simbolizar, através <strong>do</strong> discurso,uma dada realidade. Para Jovchelovitch,“as representações sociais são umaestratégia desenvolvida por atoressociais para enfrentar a diversidade ea mobilidade de um mun<strong>do</strong> que,embora pertença a to<strong>do</strong>s, transcendea cada um individualmente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>”(JOVCHELOVITCH, 2000, p.81).Conhecimentos funda<strong>do</strong>s <strong>na</strong> superioridadeda raça, classe ou sexo ou no interessede um grupo quantitativamente minoritário,mas detentor <strong>do</strong> poder, tendem a serhegemônicos, favorecen<strong>do</strong> a instrumentalização<strong>do</strong> homem, transforman<strong>do</strong>-se emsenso comum.O estu<strong>do</strong> de Serge Moscovici sobrerepresentações sociais indica as três fases deevolução da ideologia: a fase científica, decriação da teoria; a fase representacio<strong>na</strong>l, dadifusão através da sociedade e a criação derepresentações sociais; e a fase ideológica,caracterizada pela apropriação da representaçãopor algum grupo e sua reconstruçãocomo conhecimento cria<strong>do</strong> pela sociedade elegitima<strong>do</strong> como científico (SAWAIA, 1993)A ideologia, através <strong>do</strong> discurso, ganha ocaráter científico previsto por Moscovici emanipula a história. Para Chauí,“compreende-se por que a históriaideológica (aquela que aprendemos <strong>na</strong>escola e nos livros) seja sempre umahistória <strong>na</strong>rrada <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>vence<strong>do</strong>r ou <strong>do</strong>s poderosos” (CHAUÍ,1980, p. 123).O “vence<strong>do</strong>r” faz prevalecer seu discursono momento em que a história é contada edificulta a existência da “história <strong>do</strong>s venci<strong>do</strong>s”,pois sua ação consiste em tentarelimi<strong>na</strong>r a memória desses perde<strong>do</strong>res, queape<strong>na</strong>s emergem em ações de resistênciaO discurso sobre a origem <strong>do</strong> Brasil seinicia com a chegada <strong>do</strong> branco e o processode catequização <strong>do</strong>s índios, que <strong>na</strong>da maisfoi <strong>do</strong> que sua subjugação. O discurso quese projetou <strong>na</strong> época foi o discurso das


178 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconquistas e da <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção, quan<strong>do</strong> a culturaindíge<strong>na</strong> foi suplantada pela língua e culturaeuropéia. A busca por terras, a ocupaçãopredatória e a subjugação <strong>do</strong>s povos indíge<strong>na</strong>sacontecem sob a justificativa <strong>do</strong> discursoreligioso: coexistin<strong>do</strong> com a <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção, areligião tenta “salvar” os índios da sua “faltade Deus”. Este contato fez com que osindíge<strong>na</strong>s passassem de maioria para minoriaétnica, corresponden<strong>do</strong> hoje a 0,2% dapopulação brasileira.A representação da identidade <strong>do</strong> brasileirose constrói a partir da perspectiva <strong>do</strong>branco europeu. O discurso <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntee<strong>na</strong>ltece representações sociais tais como ade que “somos uma mistura de raças”, noqual o “descobri<strong>do</strong>r” é o responsável portrazer à terra um padrão de cultura etecnologia considera<strong>do</strong> superior. A valorizaçãodesta mistura não se concretiza. Obrasileiro não se identifica com o negro, como índio e não se vê igual ao branco europeu:é uma cópia, e uma imitação nunca seequipara ao origi<strong>na</strong>l. Somos o “outro” <strong>do</strong>europeu, “outro” que é apaga<strong>do</strong> através <strong>do</strong>discurso <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r. O europeu é o centro,o início da construção de nossa história.Para ser índio, é preciso uma legitimaçãooficial e a partir dela é que se recupera umamemória e se reconstrói a simbologia <strong>do</strong>grupo. Esta “legitimação” é feita por antropólogosda Fundação Nacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Índio, ondefuncionários admitem não acreditar <strong>na</strong> legitimidadeda identidade indíge<strong>na</strong> no Nordeste.O processo de formação das comunidadesindíge<strong>na</strong>s no Nordeste passa pela definiçãode “remanescentes de índios”, caboclos quereivindicaram a condição de índio e lutarampara garantir o direito à terra. Essa idéiade”“remanescente” é até certo ponto pejorativa;passa uma idéia de ser “aquilo querestou” A resistência <strong>do</strong>s indíge<strong>na</strong>s é que temgaranti<strong>do</strong> a sua sobrevivência e oreaparecimento de povos considera<strong>do</strong>s extintos.As Teorias <strong>do</strong> Agenda-Setting e da Análise<strong>do</strong> DiscursoO texto jor<strong>na</strong>lístico é uma organizaçãodiscursiva onde são expressas diversas versõessobre um fato. Deve-se compreender anotícia como um relato de fatos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>real, mas não da sua totalidade. Recolherda<strong>do</strong>s e hierarquizá-los segun<strong>do</strong> critérios deimportância consiste no processo de produção<strong>do</strong> texto jor<strong>na</strong>lístico. Ten<strong>do</strong> como panode fun<strong>do</strong> a ideologia inerente à sua formaçãodiscursiva, o jor<strong>na</strong>lista faz <strong>do</strong> textojor<strong>na</strong>lístico, além de representacio<strong>na</strong>l darealidade, um texto autoral, apesar das tentativasde se camuflar sua presença subjetiva.A mídia impõe uma ordem ao tempo,fazen<strong>do</strong> um agendamento <strong>do</strong> cotidiano, tentan<strong>do</strong>capturar os fatos de mo<strong>do</strong> a reduziros riscos de imprevistos. O planejamento ea previsibilidade resultantes norteiam a coletade informações para a produção <strong>do</strong> textojor<strong>na</strong>lístico. Daí a Teoria <strong>do</strong> Agenda-Setting,definida por McCombs e Shaw, paradigmaque situou o processo de seleção de notíciaspela mídia. A imprensa define o que é e oque não é notícia a partir de um temáriopreestabeleci<strong>do</strong>, o agenda-setting, termo quese refere a “uma lista de questões e acontecimentosque são vistos num determi<strong>na</strong><strong>do</strong>ponto no tempo e classifica<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> umahierarquia de importância” (ROGERS &DEARING, 1988, 565, apud TRAQUINA,1999, p. 15).As fontes jor<strong>na</strong>lísticas possuem influênciasobre os meios de comunicação em virtude<strong>do</strong> lugar social que ocupam, poden<strong>do</strong> dar maisvisibilidade a determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s discursos e agir<strong>na</strong> formação <strong>do</strong> agenda-setting da imprensa:o conteú<strong>do</strong> da mídia depende <strong>do</strong> jogo deinteresses <strong>do</strong>s meios e <strong>do</strong>s vários setores dasociedade. A imprensa, mesmo dan<strong>do</strong> espaçoàs vozes de grupos subalternos, acaba legitiman<strong>do</strong>o quadro <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte ao fomentaralgumas idéias e rechaçar outras, deixan<strong>do</strong>que os assuntos excluí<strong>do</strong>s só entrem atravésde concessões: o exótico, em momentos deprotesto ou como parte de outro temário <strong>do</strong>agenda-setting.Para a Análise <strong>do</strong> Discurso (AD), odiscurso é uma manifestação da ideologia eo sujeito é aquele que enuncia de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong>lugar social. Se o sujeito é o locutorde um discurso, se o índio é o locutor <strong>do</strong>discurso de seu grupo, o jor<strong>na</strong>lista idem. Paraa AD, nenhum sujeito é totalmente livre nomomento em que faz escolhas discursivas.O indivíduo está inseri<strong>do</strong> num contextohistórico e social que norteia sua fala. Emborao sujeito pense ser capaz de fazer opções <strong>na</strong>


JORNALISMO179seleção <strong>do</strong> que diz, para a AD o indivíduoestá assujeita<strong>do</strong> a um contexto que limita oseu discurso: quem se expressa em sua falaé uma ideologia e a língua é um produtohistórico e socialO processo de formação <strong>do</strong> homemdetermi<strong>na</strong> que seu discurso é o amálgamade vários outros discursos que circularam <strong>na</strong>sociedade. O discurso é <strong>do</strong> outro, somosmarca<strong>do</strong>s pela presença da fala <strong>do</strong> outro quecontami<strong>na</strong> nosso dizer. A polifonia éconstitutiva <strong>do</strong>s discursos, onde fica registradauma memória discursiva que traz uma cargade ideologia e história. O jor<strong>na</strong>lista, ao fazerseu texto, ora marca o discurso da fonte, oraabsorve parte <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro comosen<strong>do</strong> seu, relatan<strong>do</strong>-o de mo<strong>do</strong> conscienteou não, uma vez que se encontra assujeita<strong>do</strong>como qualquer sujeito. As marcas daheterogeneidade podem ser vistas a partir deindica<strong>do</strong>res: os verbos introdutores de opiniãoe o uso de aspas em citações.Como por trás de qualquer dizer há umsujeito (o repórter, o editor) apesar da tentativada imprensa de apagá-lo – numaestratégia de legitimar o discurso midiáticocomo objetivo – verificamos a presençaautoral <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista. O mito da imparcialidadevem permitin<strong>do</strong> à midia camuflar atendenciosidade das notícias divulgadas e umadas formas de dar credibilidade à escolha <strong>do</strong>fato noticia<strong>do</strong> é o emprego de aspas <strong>na</strong>apresentação de opiniões. O jor<strong>na</strong>lista, ao citarfontes consideradas de alto nível, exime-sede expressar sua opinião abertamente, fazen<strong>do</strong>isso de mo<strong>do</strong> encoberto pela opiniãoalheia. A citação é precedida ou sucedida deverbos introdutores de opinião, quan<strong>do</strong> ojor<strong>na</strong>lista insere a fala da(s) fonte(s), colocan<strong>do</strong>-a(s)em evidênciaApesar <strong>do</strong> assujeitamento às questõesideológicas e estruturais, há espaço para ainscrição <strong>do</strong> indivíduo no discurso, ondeo sujeito pode deixar sua marca. O sujeitotem “uma certa competência” <strong>na</strong> escolhade seu material discursivo. Esta concepçãode sujeito ativo pressupõe que o indivíduofaz algumas escolhas, embora seja afeta<strong>do</strong>pelo discurso. Segun<strong>do</strong> Possenti, “a presença<strong>do</strong> outro não é suficiente para apagara <strong>do</strong> eu, é ape<strong>na</strong>s suficiente para mostrarque o eu não está só” (POSSENTI, 2002,p. 64/65).A fonte ativa é a fonte jor<strong>na</strong>lística quetem papel fundamental <strong>na</strong> produção <strong>do</strong> texto,pois, ao prestar informações, tem sua vozmarcada e reproduzida com verbosintrodutores de opinião que dão força à suaargumentação. A fonte ativa determi<strong>na</strong> o tom<strong>do</strong> discurso <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista, que mistura sua vozcom a da fonte. Isso ocorre de mo<strong>do</strong>sublimi<strong>na</strong>r e até imperceptível pelo jor<strong>na</strong>lista.A fonte ativa enuncia a partir de umaposição social e da qual não pode ou nãoquer se afastar: são fontes institucio<strong>na</strong>is,consideradas mais confiáveis, representantesde segmentos de poder.Se há quem tenha “autoridade” para falar,há os que porque ocupam uma posição semsignificância. Este espaço é ocupa<strong>do</strong> porintegrantes de segmentos menos expressivossocial e economicamente. O discurso segueuma ordem que expressa de que posição falaeste sujeito. Estratégias discursivas acabampor silenciar ou marcar a voz de certas fontes,enfraquecen<strong>do</strong> o seu discurso. Este sujeitosilencia<strong>do</strong> tem seu discurso rebaixa<strong>do</strong> pelodiscurso <strong>do</strong> outro: alguém fala em seu lugar,diz o que o sujeito poderia ou não quereriafalar O sujeito passivo, da<strong>do</strong> o seuassujeitamento, reproduz o senso comum efortalece os senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> discurso <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntecomo literais, contrapon<strong>do</strong>-se ao sujeito ativopor sua incapacidade de ser uma fonte ativano espaço midiático. São fontes passivas,sujeitos de proeminência desconhecida ouconsiderada irrelevante, cuja representaçãotem acesso restrito à mídia.A tentativa de dar visibilidade aos discursos<strong>do</strong>s vários segmentos é que conferelegitimidade à imprensa, por sua funçãomedia<strong>do</strong>ra de discursos. As características <strong>do</strong>processo produtivo da notícia – classificaçãodas interferências de ordem pessoal, ideológicae histórica e formação <strong>do</strong> agenda-setting– constituem-se em elementos de uma dadaformação discursiva. Fica claro que o discursojor<strong>na</strong>lístico é polifônico, com a presençadas “vozes” da fonte e <strong>do</strong> emissor (ojor<strong>na</strong>lista, que camufla sua presença autoralpor trás de uma pretensa objetividade). Estediscurso tenta se fazer imparcial, deixan<strong>do</strong>de marcar “vozes” de alguns enuncia<strong>do</strong>rese <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> texto, prevalecen<strong>do</strong> a voz <strong>do</strong>discurso <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> sociedade como sen<strong>do</strong>o de consenso. Orlandi (1996) e Marcuschi(1991) definem alguns tipos discursivos:


180 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVDiscurso Popular –. O discurso depopulares pensa<strong>do</strong> por Marcuschi é produzi<strong>do</strong>por pessoas anônimas ou de grupos depeque<strong>na</strong> representação no poder ou <strong>na</strong> oposiçãoao poder. É precedi<strong>do</strong> ou segui<strong>do</strong> porreduzi<strong>do</strong> número de verbos introdutores deopinião. A maior incidência é <strong>do</strong> verbo–dizere de construções adverbiais que possuemcaráter de confissão. É comum a opinião virsem o uso de um verbo introdutor;Discurso Polêmico – os senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong>discurso são geri<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> a disputar osenti<strong>do</strong> que se quer fazer prevalecer. Nestecaso, há confronto entre formaçõesdiscursivas diferentes. A relação é tensa e estetipo é a marca da resistência <strong>na</strong>s relaçõesde poder. Em alguns momentos, também sepode encaixar o Discurso Popular comopolêmico. Este tipo discursivo se caracterizapor expressar a retórica <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong> (resistência);Discurso Autoritário (ou <strong>do</strong> Poder) –tenta fazer prevalecer um senti<strong>do</strong> uno, averdade é imposta. O senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte éreforça<strong>do</strong> como literal e histórico. É o caso<strong>do</strong> discurso religioso e o <strong>do</strong> governo. Estetipo se caracteriza por expressar a retóricada <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção (opressão). Em Marcuschi,encontramos uma divisão <strong>do</strong> Discurso <strong>do</strong>poder - subdividi<strong>do</strong> em oficial, para-oficiale da oposição. O primeiro trata <strong>do</strong> discursorepresenta<strong>do</strong> pelos poderes Executivo,Legislativo e Judiciário e pelas Forças Armadas.O segun<strong>do</strong> reúne a opinião oficialmais abaixo <strong>na</strong> hierarquia (universidades einstituições gover<strong>na</strong>mentais) e outras entidades.O terceiro é originário da oposição aogoverno. Incluímos aqui o discursojor<strong>na</strong>lístico, que, no relato <strong>do</strong> discurso <strong>do</strong>outro, tenta se aproximar <strong>do</strong> discurso daautoridade.Os verbos introdutores de opinião marcamo limite <strong>do</strong> discurso cita<strong>do</strong> (normalmenteaspea<strong>do</strong>). A partir de Marcushi (1991) ede Maingueneau (2002), apresentamos categoriasde verbos introdutores de opinião:verbos indica<strong>do</strong>res de posições oficiais eafirmações positivas - declarar, anunciar,informar; verbos de força argumentativa -frisar, ressaltar, destacar; verbos indica<strong>do</strong>resde emocio<strong>na</strong>lidade circunstancial - desabafar,apelar, ironizar; verbos indica<strong>do</strong>res deprovisoriedade argumentativa - achar, julgar,acreditar; verbos introdutores <strong>do</strong> discursopopular – contar, confessar, dizer.Além dessa classificação, uma opiniãopode ser expressa <strong>na</strong> imprensa através de:• Nomi<strong>na</strong>lizações de verbos (a declaração,o argumento), procedimento considera<strong>do</strong>incisivo. A nomi<strong>na</strong>lização é a conversãode uma oração em um nomi<strong>na</strong>l (ao invés dedizer que “x criticou y”, coloca-se que “houvecrítica contra y”). Isso permite omitir o sujeitoda ação, ten<strong>do</strong> um aspecto ideologicamentesignificativo;• Mediante construções adverbiais quetentam dar neutralidade, mas que transferema responsabilidade da opinião a quem a emite,como <strong>na</strong> nomi<strong>na</strong>lização. É diferente quan<strong>do</strong>antecede uma opinião que vem entre aspas.As expressões mais freqüentes são “segun<strong>do</strong>fulano”, “de acor<strong>do</strong> com”, “para fulano”.A representação <strong>do</strong> índio <strong>na</strong> mídiaEm nove meses de pesquisa, observamosuma evolução aleatória, sem uma linearidadeque aponte para a presença <strong>do</strong> tema índiode mo<strong>do</strong> regular, indican<strong>do</strong> que o tema surgede mo<strong>do</strong> ocasio<strong>na</strong>l, provoca<strong>do</strong> por umatemática maior. Verificamos que pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>o senso comum sobre o indíge<strong>na</strong> comoselvagem pacifica<strong>do</strong>, evidencian<strong>do</strong> que oíndio entra <strong>na</strong> pauta dentro de um temáriomais amplo, a violência, que há muito éconstitutivo <strong>do</strong> agenda-setting da imprensabrasileira. Dentro <strong>do</strong> tema violência, comovítima, não é qualquer um que é agredi<strong>do</strong>,mas o integrante de um grupo em extinçãoe tutela<strong>do</strong> pelo poder, quase um “monumentotomba<strong>do</strong>”; como autor da violência, entra<strong>na</strong> pauta pelo inespera<strong>do</strong>, pois mesmo quea “maldade <strong>na</strong>tural” lhe ocorra, a civilizaçãobranca o converteu no “bom selvagem”, nãose esperan<strong>do</strong> mais dele uma atitude agressiva.Passemos para um texto a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>:Índio Xucuru assassi<strong>na</strong><strong>do</strong> em Pesqueira(24.08.2001) – a violência, temaconstitutivo <strong>do</strong> agenda-setting da mídia,aparece nesta matéria com o assassi<strong>na</strong>to <strong>do</strong>líder indíge<strong>na</strong> Chico Quelé, tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong>conflito entre fazendeiros e índios no municípiode Pesqueira. Mesmo sen<strong>do</strong> um crimecontra uma liderança indíge<strong>na</strong>, ocupa oespaço de uma colu<strong>na</strong> de jor<strong>na</strong>l. Ao relataro assassi<strong>na</strong>to, o jor<strong>na</strong>lista joga a responsabili-


JORNALISMO181dade da <strong>na</strong>rração ao Cimi, dan<strong>do</strong> margem àdúvida sobre o fato: “segun<strong>do</strong> a versãodivulgada pelo Conselho Indigenista Missionário(Cimi), Chico Quelé, que não possuíaregistro de <strong>na</strong>scimento e tem a idade estimadaem 50 anos, seguia para uma reunião<strong>do</strong> Conselho de Lideranças....foi assassi<strong>na</strong><strong>do</strong>”.Se é uma versão, há espaço para outras,enfraquecen<strong>do</strong> a tese de homicídio. Claro queé preciso uma investigação para a conclusãode que foi um crime, mas o índio morreuvítima de um tiro de espingarda de calibre12, o que tor<strong>na</strong> praticamente impossível nãoser assassi<strong>na</strong>to. A construção adverbial (“segun<strong>do</strong>a versão...”) é um recurso que transferepara o Cimi a responsabilidade da afirmaçãode que foi um homicídio, eximin<strong>do</strong> o jor<strong>na</strong>le o repórter pelo dito. O discurso indíge<strong>na</strong>(popular) é reduzi<strong>do</strong> e substituí<strong>do</strong> por outromais forte (para-oficial, <strong>do</strong> Cimi). A opinião<strong>do</strong> índio Marcos Luidson aparece seguida <strong>do</strong>sverbos denunciar, afirmar. O primeiro apontao discurso de oposição, mas a declaração éenfraquecida mais adiante: “muitos deles(fazendeiros) não querem sair (das terrasdemarcadas) e prometem matar a mim e outraslideranças”, afirmou Marcos Luidson”. Issoé uma ameaça de morte, mas o verbo introdutorafirmar não dá o valor devi<strong>do</strong>. A preocupaçãocom a falta de registro de <strong>na</strong>scimento enfraquecea identidade indíge<strong>na</strong> da vítima, retoman<strong>do</strong>o senso comum <strong>do</strong> índio como selvagem.TEMA – VIOLÊNCIA CONTRA O ÍNDIOTIPO DE DISCURSO A – A VOZ DAAUTORIDADE–– DISCURSO DE OPOSI-ÇÃO/POLÊMICO (CIMI)TIPO DE DISCURSO B – A VOZ DOÍNDIO – DISCURSO POLÊMICO/POPU-LAR (RETÓRICA DO OPRIMIDO)A AÇÃO DO TEXTO EM A – VERBOSEMPREGADOS: QUERER, PONDERARA AÇÃO DO TEXTO EM B – VERBOSEMPREGADOS: DENUNCIAR, AFIRMAR,DIZERCONSTRUÇÃO ADVERBIAL – SEGUN-DO A VERSÃO DIVULGADA PELO CON-SELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO(CIMI), CHICO QUELÉ....FONTE A – FONTE ATIVAFONTE B – FONTE PASSIVAConclusãoA análise de 127 textos jor<strong>na</strong>lísticospermitiu visualizar elementos indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>discurso que nos leva a afirmar que osgrupos minoritários – no caso específico, osindíge<strong>na</strong>s – ocupam a posição de fontepassiva <strong>na</strong> imprensa. Toda fonte jor<strong>na</strong>lísticaocupa uma posição <strong>na</strong> ordem da fala: falan<strong>do</strong>deste lugar, não consegue se afastar<strong>do</strong> segmento ao qual está inseri<strong>do</strong>. O sujeitotem seu discurso impreg<strong>na</strong><strong>do</strong> pela ideologia,seja ele integrante de um grupo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nteou excluí<strong>do</strong>. A pesquisa nos permitedizer que a representação social <strong>do</strong>índio <strong>na</strong> mídia per<strong>na</strong>mbuca<strong>na</strong> se dá através<strong>do</strong> discurso popular, enfraqueci<strong>do</strong> por verbosintrodutores de opinião que não impõemforça argumentativa ao discurso indíge<strong>na</strong>,assumin<strong>do</strong> a condição de fonte passiva <strong>na</strong>imprensa. O senso comum que prevalece éde que os índios precisam da tutela <strong>do</strong>Governo e da Igreja, representan<strong>do</strong> o discurso<strong>do</strong> poder. Há notícias veiculadas sobreo índio onde não há espaço para averbalização <strong>do</strong> discurso indíge<strong>na</strong>. O índionão é sujeito de seu discurso nem tem poderpara construir sua história. Quem tem poderpara fazer declarações é a Fu<strong>na</strong>i, o Governoe a Igreja, reforçan<strong>do</strong> o discurso oficial eretiran<strong>do</strong> <strong>do</strong>s índios o direito de ocuparespaço <strong>na</strong> imprensa de mo<strong>do</strong> ativo. Isso nosleva a concluir que o espaço midiáticoreproduz as relações sociais da sociedade,com a classe <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte manten<strong>do</strong> a forçade seu discurso e os grupos subalternosmanten<strong>do</strong>-se à margem.


182 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaChauí, Marile<strong>na</strong>. O que é Ideologia. SãoPaulo, Brasiliense, 1980.Jovchelovitch, Sandra (2000). Viven<strong>do</strong> avida com os outros: intersubjetividade, espaçopúblico e representações sociais inTextos em representações sociais. Petrópolis,Vozes, 6ª edição, 2000, pp. 63-85.Maingueneau, Dominique. Análise deTextos de Comunicação. São Paulo, Cortez,2002.Marcuschi, Luiz Antônio. A ação <strong>do</strong>sverbos introdutores de opinião in INTERCOM(Revista Brasileira de Comunicação), nº 64.São Paulo, ano XIV, 1991, pp.74-92.Orlandi, Eni P. A linguagem e seu funcio<strong>na</strong>mento:as formas <strong>do</strong> discurso Campi<strong>na</strong>s,Pontes, 1996.Possenti, Sírio. Os Limites <strong>do</strong> Discurso.Curitiba, Criar Edições, 2002.Sawaia, Bader Burihan. Representação eideologia – o encontro desfetichiza<strong>do</strong>r inSPINK, Mary Jane Paris (org). O Conhecimentono Cotidiano – As representaçõessociais <strong>na</strong> perspectiva da psicologia social.São Paulo, Brasiliense, 1993.Traqui<strong>na</strong>, Nelson. A redescoberta <strong>do</strong>Poder <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo: Um Estu<strong>do</strong> da EvoluçãoHistórica <strong>do</strong> Paradigma <strong>do</strong> Agenda-Setting. CAMBIASSU (Estu<strong>do</strong>s em Comunicação),nº 1, vol VIII, São Luís, 1999, pp.14-37._______________________________1Este artigo um recorte da dissertação demestra<strong>do</strong> “Sujeitos sem Voz: Agenda e Discursosobre o Índio <strong>na</strong> Mídia em Per<strong>na</strong>mbuco”, defendidano Programa de Pós-graduação em Comunicaçãoda Universidade Federal de Per<strong>na</strong>mbuco(UFPE) em outubro de 2003.2PPGCOM/UFPE.


JORNALISMO183El Prestige en los medios. Las claves de u<strong>na</strong> gran confusiónM. Pilar Diezhandino Nieto 1Los HechosNoviembre de 2002Día 13. En tierra, el mal tiempo habíacorta<strong>do</strong> autopistas, carreteras, víasférreas, y prácticamente incomunica<strong>do</strong>los aeropuertos. En mar: vientos de 90kms. por hora y olas de 9 metros. Alas tres de la tarde la tripulación delPrestige escuchó un rui<strong>do</strong>so golpe enel costa<strong>do</strong> derecho. Se había abiertou<strong>na</strong> grieta en el casco. A las 15:15 elbuque lanzó el S.O.S. Se encontraba a28 millas (unos 50 km) al oeste del caboFisterra. U<strong>na</strong> vía de agua en el costa<strong>do</strong>de estribor ame<strong>na</strong>za al buque con irsea pique, con las 77.000 toneladas defuel en sus tanques, que pueden reventar.Los equipos de Salvamento Marítimose ponen en alerta. En el momento delaccidente, el barco llevaba los tanquesde carga llenos y los de lastre vacíos.Día 19. Tras siete días de u<strong>na</strong>incontrolada travesía, y más de 242millas recorridas de norte a sur, de estea oeste, (el <strong>do</strong>ble de lo que pretendíael Ejecutivo español) A las 8 de lamaña<strong>na</strong> el Prestige se partió en <strong>do</strong>s,a 130 millas (234 kilómetros) deFisterra, a la altura de las islas Cies.Unos minutos después, la proa y la popacomienzan a hundirse. No se cumpliólo que había sosteni<strong>do</strong> Mari<strong>na</strong>Mercante, que, de partirse en <strong>do</strong>s, “seremolcarán de forma independiente laproa y la popa, que deberíanmantenerse durante un tiempo a flote,hasta alejarlas lo máximo posible deGaliciaLo que voy a exponer a continuación es,en u<strong>na</strong> muy breve síntesis, el fruto de untrabajo de investigación cuyo corpus se hacircunscrito a seis periódicos: El País, ElMun<strong>do</strong>, ABC y La Razón, edita<strong>do</strong>s en Madrid;El Faro de Vigo y La Voz de Galicia, edita<strong>do</strong>sen Vigo y La Coruña, respectivamente,principales periódicos del ámbito local yregio<strong>na</strong>l de la Comunidad Autónoma deGalicia y tres televisiones <strong>do</strong>s de titularidadpública, TVE, TVG, de ámbitos estatal yautonómico, respectivamente, y u<strong>na</strong> privada,Tele 5.Se a<strong>na</strong>lizaron los días que transcurrenentre el 3 y el 13 de diciembre de 2003. Elanálisis se inicia el 3 de diciembre, 20 díasdespués de producirse la catástrofe, porqueen ese momento ya to<strong>do</strong>s los elementos dela historia estaban sobre el esce<strong>na</strong>rio:perso<strong>na</strong>jes, instituciones, impresionesgenerales, sospechas, críticas, acusaciones,posturas ante el devenir de los hechos... hastalos vacíos informativos quedaban bienpatentes.Ya era más que evidente ladesinformación que caracterizó a estacatástrofe: la constante del control, odescontrol, según se mire, de la información.Para entonces, en fin, ya se tenían claras(siempre por lo que contaban los propiosmedios) las características que estabandefinien<strong>do</strong> este desastre medioambiental,económico, político e informativo.Esas características podían resumirse así:1.Oscurantismo, desinformación yfalseamientos permanentes de la situaciónconsecuencia de un pretendi<strong>do</strong> (no logra<strong>do</strong>del to<strong>do</strong>) control de la información y desvíode la atención. Razones por las cuales eldesconcierto definió las líneas de la gestióninformativa de la catástrofe.2. Contrainformación. Despliegue demensajes informativos y de denuncias lanza<strong>do</strong>sen la Red, voces individuales y colectivasreclaman<strong>do</strong> atención, impresio<strong>na</strong>ntesrespuestas a las llamadas a la movilizaciónciudada<strong>na</strong>. Internet en su papel de granmoviliza<strong>do</strong>r general, inductor del activismo ygran exponente de la información de servicio.Muy por encima de ningún otro medio..


184 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV3. La información oficial (Gobiernocentral y Xunta de Galicia), de espaldas ala voz de los expertos, científicos,especialistas, bajo <strong>do</strong>s aparentes lemas quepodrían reflejarse con <strong>do</strong>s frases extraídasdel refranero español: 1: “A mal tiempo bue<strong>na</strong>cara”, 2. “No hay mejor defensa que un bue<strong>na</strong>taque”.4. Las contradicciones entre expertos ycientíficos, para agravar más la situación dedesconcierto.5. La confrontación política entregobierno y oposición, situada en el lugar quedebería haber ocupa<strong>do</strong> la búsqueda conjuntade soluciones.6. Diferencias apreciables en cuanto altratamiento de los hechos entre mediospúblicos y priva<strong>do</strong>s, prensa <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l yregio<strong>na</strong>l/local, y entre prensa y TV.En esta situación lo que se intentó fue,desde el méto<strong>do</strong> del análisis de conteni<strong>do</strong>,introducir la variedad de los conteni<strong>do</strong>s deu<strong>na</strong> historia en desarrollo y en un contextocomplejo. No interesaron aisladas lasvariables clásicas (tema, fuentes, perso<strong>na</strong>jes,tiempos/espacios, géneros, relevancia, etc)sobre el campo de análisis, sino que sesumaron, con to<strong>do</strong>s sus inconvenientesmeto<strong>do</strong>lógicos, 18 claves para adentrarse e<strong>na</strong>demás del genérico “de qué” se informa,en el “sobre qué aspectos” se contempla laexplicación de u<strong>na</strong> información, y por tanto,a qué dan preponderancia los mediosComo información de crisis, el delPrestige es un ejemplo del <strong>do</strong>ble balance deintereses: lo que pasa y se tiene que saber,y lo que se ofrece, tenien<strong>do</strong> en cuenta, elpapel que jugaron las fuentes oficiales, comovoz <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte tratan<strong>do</strong> de ocultar o al menosretardar el efecto social del desastre.En u<strong>na</strong> previa lectura comparada entreEl País -periódico de alcance <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lyLa Voz de Galicia de Galicia -local yregio<strong>na</strong>l-, del 14 al 20 de noviembre de 2002,resultó evidente que mientras El País, hastadespués de u<strong>na</strong> sema<strong>na</strong>, fue aséptico, no seinvolucró en el acontecimiento, La Voz deGalicia lo hizo desde el primer instante. Lanoticia fue inicialmente gallega.De los conteni<strong>do</strong>s de El País no sededujeron las contradicciones y direccioneserráticas que iba toman<strong>do</strong> la catástrofe delPrestige. De La Voz de Galicia, sí. No huboen El País crítica, ni indagaciones especiales,en unos momentos en los que de haberlashabi<strong>do</strong> quizá pudieran haber teni<strong>do</strong> algu<strong>na</strong>influencia para la toma de decisiones.Ningu<strong>na</strong> petición de intervención de expertosy científicos. Fue la cobertura mínimaobligada por un acontecimiento noticioso, increscen<strong>do</strong>, que fue cubrién<strong>do</strong>se con lasinformaciones de las fuentes recurrentes...No así La Voz de Galicia. La cercaníacomo gran valor noticioso. Que u<strong>na</strong> mareanegra, un desastre ecológico de tan grancala<strong>do</strong>, se trate, aunque sea en el primerencuentro con ella, como noticia casi-local,demuestra la existencia de un sistemainformativo cuan<strong>do</strong> menos falto de reflejos.Luego, por supuesto El País se involucrade lleno. No podía ser de otra manera, cuan<strong>do</strong>el desastre ecológico se hizo patente, cuan<strong>do</strong>el debate político- partidista estaba en ple<strong>na</strong>ebullición, cuan<strong>do</strong> el tema es de interésinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l 2 , cuan<strong>do</strong> interviene la U.E. yla prensa extranjera se hace eco. Cuan<strong>do</strong> eldesastre, en fin, ya se había produci<strong>do</strong>.El proceso informativo de la catástrofeEs cierto que no fue fácil informar enmedio de la permanente contradicción, elocultamiento de datos y la multiplicidad devoces que se lanzaron a la palestracomunicativa. Sin olvidar la dificultad deentender y explicar las múltiples aristas deun acontecimiento con derivaciones tanvariadas.To<strong>do</strong> el mun<strong>do</strong> hizo, en efecto, su propiaaportación y denuncia en esta catástrofe:marineros, pesca<strong>do</strong>res, alcaldes, voluntarios,parti<strong>do</strong>s políticos, gobiernos y medios decomunicación extranjeros, Confederaciones deempresarios, organizaciones ecologistas (Ade<strong>na</strong>Greenpeace y Sociedad Española deOrnitología…), vecinos, investiga<strong>do</strong>res, expertos...Y luego estaba el esce<strong>na</strong>rio de u<strong>na</strong>realidad tozuda, desde lo que se podía apreciara simple vista el tamaño de la catástrofe enlas zo<strong>na</strong>s afectadas o a través de las imágenesque se iban obtenien<strong>do</strong> gracias a los sistemasde detección por satélite.Los medios tecnológicos y científicos, ycientos de voces, empezaron a desdecir a u<strong>na</strong>“oficialidad” obsti<strong>na</strong>da en llamar a la mareanegra, derrame o manchas o galletas de


JORNALISMO185chapapote, o a los borbotones de fuel,“hilillos de plastili<strong>na</strong>”.Ha si<strong>do</strong> crucial el papel cumpli<strong>do</strong>, enprimer lugar, por el Instituto Hidrográficode Portugal, al que han presta<strong>do</strong> muchaatención, fundamentalmente El Faro de Vigoy La Voz de Galicia, y Cedre, Instituto francésde Prevención y Control de Verti<strong>do</strong>s deHidrocarbuiros. Y fuentes como laFederación Gallega de submarinismo,Instituto Oceanográfico de Vigo, equipos deinvestiga<strong>do</strong>res universitarios gallegos, yhasta, como decía La Voz de Galicia,filtraciones de los propios asesores de loscerra<strong>do</strong>s gabinetes de crisis...Y siempre conla ayuda inestimable de Internet y las websde to<strong>do</strong>s los organismos con algo que decir.Por eso, en esta catástrofe no puede decirsede ningún medio que no haya ofreci<strong>do</strong>información. Y mucha. Podrá eso sí considerarsemás o menos acertada, mejor o peor utilizada.El despliegue de voces, sin embargo, nohizo mella en los mal plantea<strong>do</strong>s Gabinetesde crisis de Xunta de Galicia y GobiernoCentral.El tema se mantuvo como absolutamenteprioritario durante sema<strong>na</strong>s.Desde luego, en primer lugar por suinevitable carácter noticioso, porquerespondía a to<strong>do</strong>s los ingredientes de atenciónde los medios: un acontecimiento fuera deto<strong>do</strong> control, motivo de impacto por su propia<strong>na</strong>turaleza, y, por si fuera poco, que suscitaun movimiento ciudadano sin precedentes. Nohay que olvidar que en esta catástrofe sedemuestra el poder moviliza<strong>do</strong>r de la red,sin perjuicio de considerar el hecho claro delpropio proceso de actuación de la sociedadcivil, organizada sobre un mayor <strong>do</strong>minio delas claves mediáticas.Resulta<strong>do</strong>sTanto en extensión como en número deinformaciones, y en la relevancia dada a lainformación, los datos hablan por sí solos:ABCTabla 1 - Número de informaciones publicadasEl PaísElMun<strong>do</strong>LaRazónFarode VigoLa VozdeGaliciaTele5 TVE1TVGTotal12315614414035827113983222Media12,3 15,6 14,4 1435,8 27,1 13,9 8,3 22, 2Espacio / TiempoNúmero depági<strong>na</strong>s por díaTabla 2 - Espacio dedica<strong>do</strong> a la informaciónABCEPEMLRFVLVGTVET5TVG9,910,2 9,7 10,9 20,7 16— — —M inutos emiti<strong>do</strong>s por día — — — — — — 222759Número deinformaciones por día12,315,6 14,4 1435,8 21,7 8,3 13,9 22, 2Tabla 3 - Relevancia de la información (1)PrensaABCEPEMLRFVLVGN oticia de portada 9%6 ,556 ,9%6 ,6%4 % 3 ,8%6%E n portada 11,5%20,6513,2%13,2%5 ,4%16%13%E n contraportada 0 ,8%0 ,6%1 ,4%1 ,5%2 ,8%5 ,3%2%P ági<strong>na</strong>s interiores 77,9%72,3%75,7%75%87%74,5%77%E n suplemento 0 ,8%— 2 ,8%3 ,7%0 ,8%0 ,3%1%M


186 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVTabla 4 - Relevancia de la información (2)TelevisiónTVET5TVGN oticia del día 34,1%2 ,2%26,7%21%S umario de apertura 8 ,2%19,4%16,3%15%S umario de cierre — — — —S ólo en desarrollo 57,6%78,4%57%54%MEn el centro de la polémica políticaPatrick Daley y Dan O´Neill, quea<strong>na</strong>lizaron la catástrofe del Exxon Valdez e<strong>na</strong>guas de Alaska (1989) en tres medios:Anchorage Daily News, Boston Globo, yTundra Times, concluyeron que el carácterdiscursivo de la esfera pública-mediática esvaria<strong>do</strong>, abierto y complejo: numerosas voces,posiciones encontradas, de políticos,científicos, ecologistas, pesca<strong>do</strong>res,ciudadanos... Pero, observaron que “lapreponderancia de la cobertura claramentefavoreció al estamento guber<strong>na</strong>mental eindustrial”, que “el relato del desastreabiertamente alejó el discurso de la are<strong>na</strong>política y lo introdujo en el <strong>do</strong>minio de lainevitabilidad tecnológica” 3 .En el caso del Prestige, ocurrióexactamente lo contrario.La preponderancia de la cobertura, o másbien el fon<strong>do</strong> del relato excesivamenteenmarca<strong>do</strong> en un esce<strong>na</strong>rio político lleno deconfusión, uni<strong>do</strong> al gran volumen, podríamosdecir, en bruto, de información ofrecida, hizoque fuera más fácil afirmarse en u<strong>na</strong> posturacrítica que extraer conclusiones sobre laverdadera dimensión del problema. Losmedios se preocuparon acaso más en acusar(o apoyar) al Gobierno (persistente en suinsistencia en el ocultamiento de los hechos),que en esclarecer responsabilidades, más alláde las políticas. La catástrofe (o las sucesivascatástrofes), y sus motivos y consecuencias,se cruzaron en protagonismo con el elementonoticioso sobreveni<strong>do</strong> a la marea negra: laactuación del gobierno y la desinformaciónde las fuentes oficiales.Basán<strong>do</strong>se en la teoría de la atribución(el uso de la información para llegar a u<strong>na</strong>atribución causal, Kelley, 1967) y en lasinvestigaciones que deducen que el enfoquede las noticias sobre el interés humano y laperso<strong>na</strong>lización en casos e individuosconcretos reduce la visión de la relación queel contexto social y las condiciones políticastienen sobre las conductas individuales,Sotirovic afirma que las presentaciones delos media, pueden contribuir a encontrarcausas perso<strong>na</strong>les a lo que son problemassociales. 4 O dicho de otra manera: deducirun juicio equivoca<strong>do</strong>, desviar la atención delcentro del problema.En el tratamiento del Prestige, lafocalización, la abundante perso<strong>na</strong>lización(pesca<strong>do</strong>res, cofradías, voluntarios,ecologistas, etc), no fue lo que desvió laatención del centro del problema. Muy porel contrario, ayudó a reconocerlo.Pero, en cambio, es cierto que el marcogeneral de la catástrofe, sus causas, cómoafrontarla, como evitar otras nuevas, tenien<strong>do</strong>en cuenta esa trágica historia de los últimos30 años de las tan castigadas aguas gallegas,no quedó suficientemente plantea<strong>do</strong>. Y elloporque, junto al rostro humano de los afecta<strong>do</strong>smás directos, los medios situaron el centrodel problema en la catástrofe ... pero vistadesde la perspectiva de la mala gestión política.Se buscaron voces múltiples para reforzarposiciones y lamentos, el interés humano dela noticia, pero no para la búsqueda, exigenciapodría decirse, de soluciones en un marco dereferencia con los antecedentes de Galicia. Nopuede olvidarse que siete de los once accidentesmarítimos más graves ocurri<strong>do</strong>s en los últimos30 años han azota<strong>do</strong> las costas gallegas 5 .Algunos son éstos: 1970: el Polycommander;1976: el Urquiola; 1978: Andros Patria; 1992,el Mar Egeo; 1997 el Casón...Los medios a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s siguieron el rastrodel barco, el chapapote y las duda sobre lainformación que iba ofrecien<strong>do</strong> el gobierno,pero su cobertura fue corta de miras.Y, pese al deseo de minimizar el daño,del control de la información desde las fuentesoficiales, curiosamente el gran volumen dela información se debió a ellas.


JORNALISMO187Hasta con un caso como el del Prestigese demuestra que el análisis de Sigal de los<strong>do</strong>s grandes periódicos americanos, The NewYork Times y Washington Post -de 1949 a1969-, publica<strong>do</strong> en 1973, sigue vigente.Entre lo que él llamó “ca<strong>na</strong>les ruti<strong>na</strong>rios” oprocedimientos oficiales, “ca<strong>na</strong>lesinformales” o procedimientos no oficiales y“ca<strong>na</strong>les individuales”, a iniciativa delreportero, el pre<strong>do</strong>minio claro estaba en losprimeros.Fuentes*ABCEPTabla 5 - FuentesEMLRU<strong>na</strong> de sus tablas planteaba estasdiferencias:Ruti<strong>na</strong>rios: 74,6%Informales: 18,7%Individuales: 6,6%Por eso dijo: “La elaboración de lasnoticias ha si<strong>do</strong> atrapada por las prácticasburocráticas” 6 .No han cambia<strong>do</strong> especialmente las cosas.Los resulta<strong>do</strong>s sobre el uso de fuentesen el caso del Prestige son éstos:FVLVGTVET5TVG6Institucio<strong>na</strong>les53%5345483638%613759%48M% % % % % % % % % %No institucio<strong>na</strong>les 18221716332627352624Informes y<strong>do</strong>cumentos5 8 7 3 5 5 1 1 1 4Otrosmedios 8 9 9 8 3 5 0 1 1 5Sin referenciaa fuentesHay que tener en cuenta que las cifrasrelativas a ‘Sin referencia a fuentes’, en unporcentaje eleva<strong>do</strong> habría que sumarlas a las‘Institucio<strong>na</strong>les’, dada la coincidencia demuchos datos informativos con los conteni<strong>do</strong>sen las Notas de Prensa emitidas por el Gobiernoy que se han utiliza<strong>do</strong> sin citar la fuente.El contrapunto a este tan instala<strong>do</strong>burocratismo excesivo de la información, loponía Gans en el tiempo que dediquen losperiodistas al trabajo de investigación. Lacuestión, decía, es convencer a los periodistasde buscar las fuentes autorizadas de variasposiciones. 7 Resulta bastante evidente que aúnno están convenci<strong>do</strong>s.Televisión frente a medios escritosParto de estas tres ideas:LasclavesABC168 2225232611261319EPEMLR• El periodismo televisivo es más pasivoque el impreso 8 .• Epstein en 1981: “En televisión el centrode atención está puesto en qué ocurre no enpor qué ocurre” 9 ,• Mira Sotirovic 10 : diferencias entretelevisión y periódicos en cuanto a presentarlas noticias con significa<strong>do</strong>s contextuales(periódicos) y sin ellos (televisión).En el análisis del Prestige, se confirmanlas tres.Se podría añadir que en este caso, frentea los medios escritos, las televisionesestuvieron más centradas en el interés humanode la catástrofe -fundamentalmente TVE yTVG- y en las contradicciones de las fuentesoficiales (Telecinco).Se puede apreciar en los resulta<strong>do</strong>s delas Claves informativas:FVLVGTVET5TVGMediaL a marca negra 12,4%11,7%12,5%15,4512,9%13,6%23,7%26,6%17,0%16,20%Actuacióndel Gobiernoy de la XuntaActuaciónde la UETabla 6 - Claves19,1%13,7%18,0%16,4%12,6%10,6%20,4%14,5%18,5%14,16%3 ,7% 2 ,8%2 ,7%3 ,3%1 ,2%1 ,8%3 ,7%1 ,3%2 ,8%2,59%


188 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVActuación degobiernos deotros paísesActuacionesde la oposición,CCAA yAyntamientosActuacionesde asociaciones,y ONG'sActuaciónciudada<strong>na</strong>Actuaciónde los mediosde comunicaciónSolidaridad conlos afecta<strong>do</strong>sEl debate /enfrentamientopolíticoCríticas yprotestas contrala AdministraciónConsecuenciaspolíticasConsecuenciaseconómicasConsecuenciasmedioambientalesConsecuenciassanitariasExplicacionestécnicas6,0%5 ,454 ,7%2 ,8%3 ,7%5 ,0%3 ,0%1 ,3%4 ,9%4,09%6 ,0% 6 ,0%9 ,4%7 ,0%7 ,1%4 ,8%4 ,4%5 ,3%6 ,2%6,24%1 ,1% 1 ,4%2 ,4%0,9%3 ,452 ,5%0 ,7%1 ,0%1 ,6%1,67%6 ,7% 4 ,8%3 ,9%5 ,6%10,5%7 , 5 17,0%14,5%23,0%10,39%— 1 ,4%0 ,8%0 ,5%0 ,2%1 ,5%0 ,7%1 ,0%0 ,4%0,72%0 ,7% 1 ,4%1 ,6%3 ,3%4 ,4%4 ,5%1 ,9%4 ,6%2 ,8%2,80%11,6%14,0%13,3%14,5%5 ,7%10,3%6 ,7%4 ,6%4 ,2%9,43%8 ,6% 13,1%11,0%10,3%14,7%13,1%2 ,2%5 ,6%4 ,9%9,28%1 ,5% 1 ,1%1 ,6%1 ,9%0 ,9%1 ,0%0 ,7%1 ,3%1 ,4%1,27%4 ,5% 2 ,0%2 ,4%4 ,7%5 ,0%4 ,3%5 ,9%4 ,6%5 ,1%4,28%3 ,7% 1 ,7%2 ,0%2 ,3%5 ,9%6 ,0%6 ,7%2 ,6%3 ,5%3,82%2 ,6% 0 ,6%1 ,6%2 ,3%3 ,0%2 ,3%0 ,4%4 ,3%2 ,6%2,19%5 ,6% 4 ,8%2 ,7%5 ,1%2 ,5%4 ,5%— 3 ,3%0 ,5%3,22%A ntecedentes 1 ,1%2 ,8%1 ,2%0 ,9%0 ,5%1 ,8%0 ,7%2 ,3%0 ,4%1,30%Normativas ysanciones4 ,1% 8 ,3%3 ,9%2 ,8%2 ,0%2 ,5%1 ,1%1 ,3%0 ,2%2,91%H umor 0 ,7%2 ,8%4 ,3%— 3 ,9%2 ,5%— — — 1,58%Basta observar los resulta<strong>do</strong>s de las siguientes claves:• Marea negra: destacan de maneranotable las televisiones, en las que fue elnúcleo central de su información.• Actuación del Gobierno central y dela Xunta de Galicia: sdistinguen El País, LaVoz de Galicia, y Faro de Vigo, que se alejandel resto en u<strong>na</strong> proporción apreciable.• Críticas y Protestas contra laAdministración: nuevo, pero en senti<strong>do</strong>contrario El País, La Voz de Galicia y Farode Vigo, difieren del resto. Fueron los mediosmás críticos con la Administración.• Actuación ciudada<strong>na</strong>: Destacan lastelevisiones, de manera notable TVG (televisiónde Galicia), como no podía ser de otra forma.• El debate. Enfrentamiento político: ElPaís y La Razón. Ambos <strong>na</strong>turalmente, conposiciones opuestas.Pero los medios a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s, en general,siguieron el día a día de la noticia sinplantearse iniciativas especiales. Ni especialpreocupación en el contexto de antecedentesy consecuencias, a menu<strong>do</strong> tan crucial parala previsión ante posibles nuevas catástrofes.Lo que hubiera si<strong>do</strong> u<strong>na</strong> información efectivay desde luego constructiva. Un senti<strong>do</strong>imprescindible en la información periodísticahoy.El chapapote que embadurnó casi2.890 kms de costa, desde ladesembocadura del Miño hasta la fronterafrancesa 11 manchó también la credibilidadde las televisiones públicas, aunque escierto que no dieron como promedioinformativo un resulta<strong>do</strong> muy distinto dela televisión privada.


JORNALISMO189La diferencia estuvo marcada en el lenguajey en el tono (que, por supuesto, cambia elsenti<strong>do</strong> del mensaje) de la información, críticoen el caso de Telecinco y prudente yescudriñan<strong>do</strong> el posible aspecto positivo en elcaso de TVE y TVG: la búsqueda de minimizarel impacto de los daños.No tanto en la información y elconocimiento.Sirvan estos ejemplos.Día 4 (diciembre 2003):Telecinco:• Lo que dice la Xunta es un discursodiferente al de días atrás. Ya no le queda másremedio que reconocer el avance y losterribles efectos del fuel.• Lo que dice el Gobierno y lo que dicePortugal siguen sien<strong>do</strong> cosas diferentes.TVG:• La marea negra ha llega<strong>do</strong> ya a las Riasde Arousa, Pontevedra y Vigo. En el Norte,muchas manchas van a la deriva haciaFinisterre y comienzan a detectarse nuevosrestos…TVE:• El Nautile no ha encontra<strong>do</strong> de momentonuevas manchas ni grietas importantes en laestructura de los restos hundi<strong>do</strong>s…• Manchas frente a la Isla de Sálvora,a 10 millas de la ría.Día 6Telecinco:• “Auténtico desastre ecológico en elParque Natural de las Islas Atlánticas”.• De los hilos detecta<strong>do</strong>s por el submarinoha habla<strong>do</strong> el presidente del Gobierno. Semantiene en lo dicho ayer por Rajoy–“hilillos de plastili<strong>na</strong>”- , dice que sonsolamente eso, hilos de fuelTVG:• Cerca de un millar de perso<strong>na</strong>s trabajanpara que el fuel no dañe el interior de laría de Vigo y por salvar las Islas Cíes, elúnico parque Nacio<strong>na</strong>l de que dispone Galiciaa día de ho.TVE:• Se puede decir que la práctica totalidadde este primer Parque Nacio<strong>na</strong>l de Galicia,que forman tanto las islas Cíes como las Onsy Sálvora, está contami<strong>na</strong><strong>do</strong>.Día 9Telecinco:Versiones diferentes sobre la calidad ycantidad de los verti<strong>do</strong>s. Según el gobiernoespañol, hay <strong>do</strong>s manchas, u<strong>na</strong> de 10,4 km.Y otra de 14/… Según la versión portuguesa,sobre el Prestige avanza u<strong>na</strong> única manchade 50 kms. De largo por 20 de anchoTVG:• Hay tres manchas. U<strong>na</strong> a u<strong>na</strong>s 47 millasde Ons (son u<strong>na</strong>s 25 manchas de distintotamaño y grosor), otra a u<strong>na</strong>s 20 de la Costada Morte y otra en la zo<strong>na</strong> comprendida entreBaio<strong>na</strong> y A Guarda….• Las playas de la Mariña amanecían hoylimpias. El viento del sueste está benefician<strong>do</strong>a esta comarca, alejan<strong>do</strong> restos de fuel queeste fin de sema<strong>na</strong> sí llegaban a las playas.TVE:• Según Rajoy, la principal ame<strong>na</strong>za enGalicia se encuentra a u<strong>na</strong>s 50 millas de CaboSilleiro, <strong>do</strong>nde se han localiza<strong>do</strong> varias placasde fuel.Además hay u<strong>na</strong> gran mancha en lazo<strong>na</strong> en la que se hundió el Prestige. El Nautileha dtecta<strong>do</strong> otras tres grietas más…Los géneros y formatos de la informaciónLas iniciativas se detectan también desdela perspectiva de los géneros. En losresulta<strong>do</strong>s del análisis es clara la diferenciaentre la información y el reportaje (a pesarde ser éste el género de los informativos convalores más amplios). La razón es sencilla,las diferencias en cuanto a iniciativa delmedio las marca el valor añadi<strong>do</strong> querepresentan los géneros que exigen lapresencia del periodista en la esce<strong>na</strong> de loshechos, el contacto con fuentes directas, latarea de interpretar e investigar, el trabajo,en fin, fuera de la redacción.


190 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVTabla 7 - Periódicos-GénerosGénerosperiodísticosABCEPEMLRFVLVGMediaI nformación 66,4%65,8%45,8%50,7%48%49,8%54%R eportaje 9 % 17,4%12,5%12,5%19,8%12,2%14%E ntrevista 2 ,5%0 ,6%2 ,8%2 ,9%4 ,2%3 % 3%C rónica 1 ,6%3 ,2%4 ,2%2 ,2%1 ,7%1 ,5%2%Artículode opinión14,8%5 ,8%18,8%21,3%18,9%24,3%17%E ditorial 3 ,3%1 ,9%4 ,2%8 ,1%0 ,3%% 3%T ira cómica 1 ,6%2 ,6%7 ,6%— 5 ,9%3 % 3%O tros géneros 0 ,8%2 ,6%4 ,2%2 ,2%1 ,1%6 ,1%3%Un dato significativo es el valor que seconcede a la opinión. Y en este senti<strong>do</strong>, hayque dejar constancia de que los artículos deopinión han representa<strong>do</strong> un espacioimportante.Como constataba en un análisis sobre laguerra de Yugoslavia, 1999, los espacios deopinión de los medios ofrecen muchas másclaves que los de información. Claves quehubieran necesita<strong>do</strong> la explicación y elseguimiento de la redacción que los mediosno dedicaron. En este caso, estamos hablan<strong>do</strong>sólo de los medios escritos.Puede repetirse para el caso del Prestigelo que entonces decía para la Guerra deYugoslavia: “Muchas claves para lainterpretación, pero pocas iniciativas parala eficacia de la información, pensan<strong>do</strong> enu<strong>na</strong> opinión pública desorientada, en unciudadano sorprendi<strong>do</strong>. O en inducir a laclase política a u<strong>na</strong> actuación mejordefinida.”Formatostelevisos2PiezaTabla 8 - Formatos de televisión12,8%TVET5TVG2 44,3%30,7%33%C ola6 ,3%2 ,6%5 ,6%5%S ólo presenta<strong>do</strong>r 10,6%6 ,8%13%10%S ólo imágenes % 0 ,4%% 0%D eclaraciones 35,6%23%39,6%33%C orresponsal 23,8%22,1%10,4%19%E ntrevista% 0 ,9%0 ,7%1%S ólo en desarrollo % % % 0%MNo hay duda de que en general hicieronun esfuerzo en informar con u<strong>na</strong> viveza,agilidad y recursos poco habituales. En estesenti<strong>do</strong>, el hecho de que se siganconsideran<strong>do</strong> a las televisiones más pasivasque a los medios escritos hace referencia alosconteni<strong>do</strong>s más que a los formatos. Se sacaronlas cámaras a la calle, se dio voz a loshabitualmente ´sin voz´. Ese periodismo deinterés humano que responde a la clave yacitada de las actuaciones ciudada<strong>na</strong>s, quedóclaro que dio a los informativos el tono, elcolor y el olor de la calle.Para concluirUn posible interrogante fi<strong>na</strong>l es: ¿quéinfluencia tuvo esa información en losreceptores?.The Wall Street Jour<strong>na</strong>l presagiaba el 11de diciembre 2002 que la crisis podríaame<strong>na</strong>zar la reelección del gobierno del PP


JORNALISMO191en 2004 da<strong>do</strong> que “este incidente ha puestoen evidencia la falta de habilidad de Az<strong>na</strong>r”.Sin embargo, no ocurrió así.Un ejemplo simplemente gráfico fue elresulta<strong>do</strong> de las elecciones municipales del25 de Mayo de 2003 en uno de los pueblosmás afecta<strong>do</strong>s de la Costa da Morte gallega:Muxía.MuxiaCensoPPPSOEBNG394819181182265EUIURecojo <strong>do</strong>s ejemplos de la informaciónque ofrecen La Voz de Galicia y El Paíssobre los resulta<strong>do</strong>s:La Voz de Galicia, .5.2003:13:• “El PP logra un triunfo histórico en OGrove mientras el PSOE de Gago cae enVilagarcía”• “La división inter<strong>na</strong> castiga más al PPen la costa que el chapapote”El País: 26.5.2003:38• Galicia. “El PP retrocede pero no sehunde”.• “El PP gallego , que se sometía en lasur<strong>na</strong>s a u<strong>na</strong> especie de veredicto por el casoPrestige, retrocedió en las principalesciudades de la comunidad autónoma, peroevitó el descalabro”Si fuera cierto que los periodistas asumenqué esperan y desean las audiencias 13 , aquí,to<strong>do</strong>s debieron pensar que lo que interesabaa las audiencias era la controversia. Sin dudase equivocaron.El del Prestige, en fin, es un ejemplo dela fuerte politización de los medios españoles.De cómo a menu<strong>do</strong> en lugar de centrarse enofrecer conocimiento relevante -con informacióncontrastada y verificada- sobre el problemamotivo del interés público, los medios actúande manera tal que se sitúan. en el fragor de lapolémica e incluso la protagonizan. Y así,desfiguran el problema, invalidan la formaciónde u<strong>na</strong> opinión pública informada y dificultanla toma de decisiones, o la búsqueda desoluciones. Se hace un periodismo de cortoalcance. Y quizá el del Prestige es un buenejemplo también de que cuan<strong>do</strong> la informaciónplanea sobre la are<strong>na</strong> de la confrontación política,ni es más efectiva a la hora de cambiar la actitudde los públicos, aún en casos que parecen noser du<strong>do</strong>sos de afectarles, ni beneficia lapercepción del problema en su conjunto, ni aportaal debate nuevos argumentos para la acciónpolítica (o prevención de futuro). En el primercaso porque, se pone de manifiesto que la críticamediática es fácil de ser contrarrestada co<strong>na</strong>cciones políticas a favor de los afecta<strong>do</strong>s (lafuerza de las condiciones sociales exter<strong>na</strong>s delas que hablaba también Gans 14 .


192 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV_______________________________1Universidad Carlos III de Madrid.2El mun<strong>do</strong> estaba prestan<strong>do</strong> atención a lo queiba pasan<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> que este era un caso claro decatástrofe con “dimensión inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”, unsuceso “globaliza<strong>do</strong> de verdad”, como dijo TheIndependent,19.Nov.2002.3P Daley, Dan O´Neill, “Sad is Too Mild a Word”:Press Coverage of the Exxon Valdez Oil Spill, Jour<strong>na</strong>lof Communication, 1991, 41, 4: 42-55.4Sotirovic, Mira, “How Individuals ExplainSocial Problems: The Influences el Media Use,Jour<strong>na</strong>l of Communication”, March, 2003: 132-33.5La Voz de Galicia, 26.11.02:11.6Sigal, Leon V., Reporteros y Funcio<strong>na</strong>rios,Ed.Gernica, 1978: 20.7Las fuentes que llamamos “institucio<strong>na</strong>les”hacen referencia a las instituciones públicas ypolíticas: desde Gobiernos (central y autonómico),ayuntamientos, parti<strong>do</strong>s políticos, sindicatos, hastainstituciones como el C.S.I.C.; las”“noinstitucio<strong>na</strong>les”: instituciones privadas,movimientos de la sociedad civil y órganos quelos representan, y voces individuales que sólo sonportavoces de sí mismas.8Wolf, Mauro, La Investigación enComunicación de Masas, Crítica y Perspectivas,Pia<strong>do</strong>s, 2000: 249.9Cita<strong>do</strong> por Wolf, M. op. cit.10Sotirovic, M. op.cit, 124.11Según el <strong>do</strong>cumento presenta<strong>do</strong> en febrero2003 por España en el Fidac (Fon<strong>do</strong> Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lde Indemnización por Contami<strong>na</strong>ción deHidrocarburos).12Diezhandino M. Pilar, La Guerra de lasmil claves. La oportunidad perdida de los medios.Estudios de Periodística VIII. Diputación dePontevedra, 2000: 17-53. Tanto en el términotelevisivo llama<strong>do</strong> “cola” como “pieza” existeun video monta<strong>do</strong> y u<strong>na</strong> voz que comenta lasimágenes. La diferencia es que en la “cola” esel propio presenta<strong>do</strong>r el que habla en directo yen la “pieza “ se trata de u<strong>na</strong> voz en off yagrabada.13Mira Sotirovic, “How Individuals ExplainSocial Problems: The Influences of Media Use”,Jour<strong>na</strong>l of Communication, Mars, 2003.14Gans, Herbert. “Reopening the Black Box:Toward a Limited Effects Theory”, Jour<strong>na</strong>l ofCommunication, Otoño, 1993.


JORNALISMO193Alberto Bessa e a sua história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo – uma memória de cem anosRogério Santos 1No presente trabalho, parte-se da análisede um livro de Alberto Bessa sobre a história<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo (O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento atéaos nossos dias), edita<strong>do</strong> em 1904 – háprecisamente um século. Dividiu-se o textoem duas partes, sen<strong>do</strong> a primeira a apresentação<strong>do</strong> livro, enquanto <strong>na</strong> segunda se fazuma reflexão sobre o trajecto profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista e o surgimento da Associação daImprensa Portuguesa, a que ele ficou liga<strong>do</strong>profundamente.A história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoFoi a 9 de Março de 1904 que AlbertoBessa deu uma conferência pública sobre aorigem <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e o seu desenvolvimento.A ocasião seria a cerimónia de i<strong>na</strong>uguraçãoda Sociedade Literária Almeida Garrett,grémio de escritores, literatos e artistas, emLisboa, de que o ora<strong>do</strong>r foi anima<strong>do</strong>r. Noscomentários à conferência, escrevia oDiário de Notícias (10 de Março de 1904)que “Alberto Bessa manifesta não só grandeinvestigação de notas e de factos notáveisno jor<strong>na</strong>lismo de quase to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, comotambém um grande estu<strong>do</strong> sobre a especialidade”.A peça noticiosa, seguin<strong>do</strong> as ideias<strong>do</strong> conferencista, destacava a imprensa como“palavra organizada em instituição, tor<strong>na</strong>daeco da multidão anónima, obscura, desvalida,paciente, irresoluta e murmurante, servin<strong>do</strong>,com a sua voz, de válvula de segurançaprovidencial”.Vivia-se um perío<strong>do</strong> de confluência daimprensa política com a informação maisneutral, de carácter levemente sociológico,em que era ainda notório o peso <strong>do</strong>s escritores<strong>na</strong> confecção de artigos de fun<strong>do</strong> e <strong>na</strong>produção de folhetins, o repórter <strong>na</strong>scia comoinforma<strong>do</strong>r que procura os factos <strong>na</strong> rua eo noticiário se apresentava como matériadistinta das gazetilhas poéticas e <strong>do</strong>s artigosde fun<strong>do</strong>, muitos deles escritos em linguageminflamada, levantan<strong>do</strong>-se contra a censurade imprensa no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> regimemonárquico. Por essa altura, Lisboa tinhamais de uma vinte<strong>na</strong> de jor<strong>na</strong>is diários, muitosdeles com tiragens bastante reduzidas epagan<strong>do</strong> mal, quan<strong>do</strong> pagavam, aos seuscolabora<strong>do</strong>res.O êxito da sessão levou o autor a publicaro texto, ainda nesse ano. No livro, háreferências a salários e estatuto <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas,à divisão entre jor<strong>na</strong>listas especialistase generalistas, com apresentação <strong>do</strong>s principaisjor<strong>na</strong>is por país e o carácter literáriode muitos deles. Não se trata de uma perspectivacientífica como a <strong>do</strong>s manuais dejor<strong>na</strong>lismo de hoje ou de um trabalho práticode como fazer reportagens ou notícias, masmais um reportório histórico de tendênciasda actividade em países como os Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s, Inglaterra e França, sem esquecerPortugal.O tema mais reflecti<strong>do</strong> seria o da relaçãoentre intelectual e repórter no jor<strong>na</strong>l, demonstran<strong>do</strong>que, no começo <strong>do</strong> século XX, ojor<strong>na</strong>lista ainda estava dividi<strong>do</strong> entre as duasprofissões. Bessa deu exemplos como oL’Echo de Paris, surgi<strong>do</strong> em 1884, ao preçode 10 cêntimos, mais barato 50% que outrosjor<strong>na</strong>is: “O novo jor<strong>na</strong>l veio democratizar aliteratura, espalhan<strong>do</strong>-as entre todas as classessociais, atingin<strong>do</strong> mais de 150 mil exemplares”.Na lista <strong>do</strong>s seus colabora<strong>do</strong>resfiguravam nomes como Edmond de Goncourt,Alphonse Daudet e A<strong>na</strong>tole France. Logo aseguir vinha o Le Jour<strong>na</strong>l, saí<strong>do</strong> em 1892,que também unia a faceta literária à dainformação e onde se publicavam “númerosespeciais consagra<strong>do</strong>s aos grandes acontecimentosartísticos ou desportivos, teatros,salões, corridas, etc., números profusamenteilustra<strong>do</strong>s”. Já nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, os jor<strong>na</strong>iseram “mais feitos com os pés <strong>do</strong> quecom as mãos”, significan<strong>do</strong> que o profissio<strong>na</strong>ltem de “andar muito, de correr à caçada notícia, esteja ela onde estiver, de ser muito


194 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVactivo e muito rápi<strong>do</strong>” 2 . Os jor<strong>na</strong>listas precisavamde“demonstrar que estão alerta, que tu<strong>do</strong>ouvem, que tu<strong>do</strong> vêem, que se nãofatigam […]. O que se quer é que opúblico seja informa<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> nomenor espaço de tempo possível. Paraisso, as notícias têm de ser breves,sérias e secas, a não ser que se tratede casos verdadeiramente sensacio<strong>na</strong>is”.O mesmo ocorria com os jor<strong>na</strong>is ingleses:o Times dedicava “uma insignificânciaà parte que pode chamar-se intelectual, masfaz pagar por bom preço a parte desti<strong>na</strong>daao negócio ou a interesses meramente particulares”.As remunerações e as mor<strong>do</strong>mias<strong>do</strong>s correspondentes foram assunto a merecermuito destaque no livro, até pelas comparaçõescom a realidade jor<strong>na</strong>lística <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Para Bessa 3 , o“correspondente inglês em Berlimganha mil libras por ano, tem casapaga e quinhentas libras para despesasde expediente e de representação.O de Paris, a quem os colegas chamamo príncipe <strong>do</strong>s correspondentes,recebe duas mil libras por ano, habitauma casa magnífica, tem carruagense cavalos à sua disposição e recebeainda mil libras por ano para gastosextraordinários”.O autor destacou também os directorese diferentes níveis hierárquicos <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is.O New York World, pertencente a JosephPulitzer, com tiragem diária de um milhãode exemplares, tinha um “serviço de informação”com 50 repórteres para os casos deNova Iorque, 30 para Brooklin e 30 para NovaJersey. Em simultâneo, tinha dez correspondentesem Washington, um <strong>na</strong>s principaiscidades america<strong>na</strong>s e um em cada capital daEuropa. Em média, um redactor principalganhava de 7 a 9 contos de réis por ano,o noticiarista (news editor) à volta de 2 contosde réis, o redactor <strong>do</strong>s telegramas de 900 réisa 1,8 contos de réis e o encarrega<strong>do</strong> da secçãodesportiva de 2 a 2,5 contos de réis. Isto poroposição a Portugal, onde um jor<strong>na</strong>lista nocomeço de carreira podia ganhar ape<strong>na</strong>s 500réis diários 4 .Alberto Bessa explicava o sucesso <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>is americanos – as verbas angariadaspela publicidade. Para o autor, “Sem a receita<strong>do</strong>s anúncios e reclames, as edições <strong>do</strong>s<strong>do</strong>mingos dariam enorme prejuízo às respectivasempresas”. É que as edições <strong>do</strong>s <strong>do</strong>mingos<strong>na</strong> América, cujo eleva<strong>do</strong> número depági<strong>na</strong>s causava assombro,“variam entre 30 e 140 pági<strong>na</strong>s, comsete colu<strong>na</strong>s de leitura em cada pági<strong>na</strong>.Atingem cinquenta pági<strong>na</strong>s deanúncios, quatro pági<strong>na</strong>s de históriascómicas, coloridas para crianças, umtrecho de música para cortar e colar,um quebra-cabeças que entretém umameia hora, cinco ou seis pági<strong>na</strong>silustradas para senhoras com todas asmodas da sema<strong>na</strong>, cinco ou seispági<strong>na</strong>s consagradas ao teatro com acrítica das peças novas, reproduçõesdas ce<strong>na</strong>s principais e retratos <strong>do</strong>sartistas” 5 .Isto além de duas pági<strong>na</strong>s de correspondênciaestrangeira e vinte consagradas aosEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.Das roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listaspouco escreve o autor. Mas refere, emborasem o desig<strong>na</strong>r deste mo<strong>do</strong>, o “faro” paraas notícias:“Um <strong>do</strong>s correspondentes – cita Bessa– dizia aos jovens jor<strong>na</strong>listas: «sempreque logrem apanhar uma indiscriçãoou uma informação […] mudemlogo de assunto, mas não sedespeçam bruscamente, porque ointerroga<strong>do</strong> pode reflectir no que dissede importante e pedir-lhes que nãofaçam uso das suas palavras»”. Esalienta a realidade portuguesa, ondetoda a gente preferia estórias defacadas ou adultérios a um artigo dejor<strong>na</strong>lista ou escritor consagra<strong>do</strong> 6 .O mesmo receio tinha si<strong>do</strong> expresso poroutro jor<strong>na</strong>lista, pouco anos antes 7 . O sensacio<strong>na</strong>lismotomava conta <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is. Mas,apesar destas contrariedades e de os periódicosse estarem ainda a libertar <strong>do</strong>s


JORNALISMO195directórios partidários, o autor defendia ojor<strong>na</strong>lismo <strong>do</strong> nosso país, não “inferior aodas restantes <strong>na</strong>ções da Europa, pelo querespeita ao seu pessoal que chamarei gradua<strong>do</strong>e tratan<strong>do</strong>-se, como é claro, <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isverdadeiramente independentes”. Havia outrapecha: o anonimato, o “pior mal de queenferma o jor<strong>na</strong>lismo”. Se, em França, acolaboração anónima, mais barata ou gratuita,ocupava três quartos <strong>do</strong> texto <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is,entre nós, tal situação servia para atrasar acensura da imprensa imposta por sucessivosgovernos.No momento em que deflagrara a guerraentre a Rússia e o Japão (1904) era obrigatórioo tema <strong>do</strong>s correspondentes de guerra.De acor<strong>do</strong> com o autor, o Times foi oprimeiro jor<strong>na</strong>l a enviar correspondentesespeciais aos campos de batalha <strong>na</strong> guerrada Crimeia: “Calcule-se o sucesso quan<strong>do</strong> oTimes e o Daily Telegraph deram, numamanhã, a notícia sensacio<strong>na</strong>l da tomada deSebastopol, num telegrama <strong>do</strong>s seus correspondentes”.Esse sucesso serviu para osproprietários <strong>do</strong>s outros jor<strong>na</strong>is criaremserviços telegráficos. A concorrência a issoobrigava.Um ângulo a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> pelo autor foi o datecnologia. Quan<strong>do</strong> destacou o jor<strong>na</strong>l inglêsTimes, salientou as suas secções: numa delas,“está o aparelho telegráfico privativo, que ligacom Paris. […] Noutra sala está o aparelhotelefónico [onde] se recebem as transmissões<strong>do</strong>s debates <strong>do</strong> parlamento” 8 . Deste mo<strong>do</strong>,o discurso de qualquer deputa<strong>do</strong> seria <strong>do</strong><strong>do</strong>mínio público uma hora depois de proferi<strong>do</strong>.Na já referida guerra entre a Rússia eo Japão, um jor<strong>na</strong>lista destaca<strong>do</strong> transmitiamensagens através de telégrafo coloca<strong>do</strong> num<strong>na</strong>vio, para escapar à censura japonesa. Domesmo mo<strong>do</strong>, o autor concedeu grandeentusiasmo à maneira como os jor<strong>na</strong>is eramtransporta<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s:às duas e meia da madrugada, formava-seum comboio <strong>na</strong> gare central de Nova Iorque,receben<strong>do</strong> volumes de jor<strong>na</strong>is que chegavamem vários carros. Transporta<strong>do</strong>s para o interior<strong>do</strong> vagão de merca<strong>do</strong>rias, e ao longoda própria viagem, os emprega<strong>do</strong>s dividiamos maços de jor<strong>na</strong>is conforme as localidadese atiravam-nos para as gares das estações.Outro assunto aborda<strong>do</strong> por Alberto Bessafoi o da formação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Mais umavez o exemplo vinha <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.Como muitos <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas possuíam umacultura intelectual limitada, o proprietário <strong>do</strong>World, Joseph Pulitzer, concebeu a ideia deuma escola de Jor<strong>na</strong>lismo, anexa à Universidadede Columbia. Para <strong>do</strong>tação dessaescola, Pulitzer atribuiu <strong>do</strong>is milhões dedólares, garantin<strong>do</strong> aumentos caso o sistemafuncio<strong>na</strong>sse bem. O programa <strong>do</strong>s cursos daescola de Jor<strong>na</strong>lismo incluía administraçãoe direcção de um jor<strong>na</strong>l, elaboração material<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, direito jor<strong>na</strong>lístico, moral <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,história <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e forma literária<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, numa clara aposta inicialpara formar gestores de empresasjor<strong>na</strong>lísticas. A escola deveria começar nessemesmo ano de 1904. Concluiu Bessa: “Separa escrever nos jor<strong>na</strong>is se exigisse um títulode habilitação, seguramente que os autoresde tais escritos [incorrectos] não poderiamconquistá-lo, por incapacidade; e a imprensateria lucra<strong>do</strong> com isso”. Recorrente <strong>na</strong> história<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo português, o tema daformação própria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista havia si<strong>do</strong> jáencara<strong>do</strong> por Alberto Bramão, numa conferênciaque realizou em 1899, em Lisboa.2. Do percurso profissio<strong>na</strong>l de Alberto Bessaà Associação da Imprensa PortuguesaAlberto Bessa, escritor e jor<strong>na</strong>lista, <strong>na</strong>sceuno Porto (29 de Setembro de 1861) emorreu em Lisboa (27 de Janeiro de 1938).Principiou a sua carreira de jor<strong>na</strong>lista comoredactor principal <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l socialista OOperário, <strong>do</strong> Porto, que, mais tarde, se fundiucom O Protesto, de Lisboa, chaman<strong>do</strong>-se OProtesto Operário, com redacção <strong>na</strong>s duascidades. O primeiro artigo em O ProtestoOperário, que assinou com A. B. (iniciais<strong>do</strong> seu nome, empregues em toda a vidajor<strong>na</strong>lística), saiu <strong>na</strong> primeira pági<strong>na</strong> daedição de 14 de Janeiro de 1883. Depois,o jor<strong>na</strong>lista fun<strong>do</strong>u e dirigiu publicações noPorto como A Sema<strong>na</strong>, Miniaturas, Novidades,Velocipedista, Revista Luso-Espanhola,Galeria Portuguesa e Crónica.Para o segun<strong>do</strong> número da GaleriaPortuguesa (Natal de 1892), Alberto Bessaescreveu um poema. A seguir, com regularidade,assinou pequenos textos sobre perso<strong>na</strong>gens<strong>do</strong> Porto, nomeadamente jor<strong>na</strong>listas– acompanha<strong>do</strong>s por gravuras representan-


196 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV<strong>do</strong> os mesmos. Por seu la<strong>do</strong>, O Velocipedista,surgi<strong>do</strong> em 1893, a defender o ciclismo, aginástica e a <strong>na</strong>tação como meios para odesenvolvimento físico, contaria com acolaboração de Alberto Bessa um ano depois.A ligação tornou-se mais íntima até o seunome aparecer como director (15 de Outubrode 1894). Nessa altura, a publicação ostentavajá a desig<strong>na</strong>ção de revista inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lde sport-literária, noticiosa e profissio<strong>na</strong>l. Noseu percurso portuense, Bessa trabalhou aindanos diários A Discussão, Dez de Março, Voz<strong>do</strong> Povo, República Portuguesa, Jor<strong>na</strong>l daManhã, Província e nos jor<strong>na</strong>is humorísticosZé-povinho, Tam-tam e Pimpolho.O jor<strong>na</strong>lista mudar-se-ia para Lisboa em1896, aos 35 anos, para trabalhar em OSéculo, a convite <strong>do</strong> seu director Silva Graça.Mais tarde, saiu para fundar o Diário, em1902, com mais nove redactores efectivos <strong>do</strong>Século, em conflito com as posições <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l<strong>na</strong> questão <strong>do</strong>s tabacos. Em 1906, tornouseredactor efectivo <strong>do</strong> Diário de Notícias.No ano da implantação da República, transferiu-separa o Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Comércio e dasColónias. A morte de representante daempresa e director, a 12 de Julho de 1917,levou Alberto Bessa ao desempenho dasfunções de redactor principal e, a 1 de Janeirode 1921, o seu nome aparecia, <strong>na</strong> cabeça <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l, como director. Ficou nesse cargo até1932, quan<strong>do</strong> o conselho de administraçãopassou a dirigir o jor<strong>na</strong>l 9 . O jor<strong>na</strong>lista atingiaos 70 anos de idade.Numa altura em que já pertencia aosquadros deste jor<strong>na</strong>l, em 1912, escreveu aEnciclopédia <strong>do</strong> comerciante e <strong>do</strong> industrial,um volume com 690 pági<strong>na</strong>s volta<strong>do</strong> objectivamentepara o ensino e para os leitores<strong>do</strong> periódico. Como se observa no frontispício<strong>do</strong> livro, tratava-se de “obra indispensávela quantos se dediquem ao comércio e àindústria – repositório de conhecimentos úteise necessários a comerciantes e industriais –livro de educação teórica e de utilidadepolítica”. Mais à frente reafirmava tal posição:“Não é […] um livro para eruditos:é um livro para os que fazem <strong>do</strong> trabalhocomercial ou industrial timbre e brasão” 10 .Os capítulos <strong>do</strong> livro versam sobre influência<strong>do</strong> comércio <strong>na</strong> civilização, história <strong>do</strong>comércio, legislação comercial, escrituraçãocomercial, abreviaturas e frases comerciais,dinheiro, câmbios e bancos, teoria <strong>do</strong> juro,associações comerciais, pesos e medidas,proteccionismo e livre-câmbio, marinha mercante,serviço de correios, serviço de telégrafos,contribuições comerciais e industriais.Assumin<strong>do</strong> querer ligar o nome “demodesto e obscuro trabalha<strong>do</strong>r da imprensaa uma obra que tivesse utilidade prática”, dabibliografia consultada Alberto Bessa enumeraria53 obras, sen<strong>do</strong> 33 francesas e quatroitalia<strong>na</strong>s.Quan<strong>do</strong> chegou a director <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong>Comércio e das Colónias, em 1921, com asiniciais A. B., Alberto Bessa escreveu oeditorial “De um ano a outro. O que é urgentefazer-se”. Aí podia ler-se: “Não há revulsivosocial de mais tremen<strong>do</strong> abalo como o dascóleras ateadas e desenvolvidas pelos gritosda fome. E o problema das subsistências nãosó não está resolvi<strong>do</strong>, como nem sequer seencontra simplifica<strong>do</strong>”. A esta ideia, contrapôsuma segunda, no mesmo editorial:“Urge que nos entendamos to<strong>do</strong>s parao bem comum, com a mesma férreavontade potentíssima e com a mesmaalma empreende<strong>do</strong>ra e crente, quetrazíamos a bor<strong>do</strong> das armadas descobri<strong>do</strong>ras,para arrancar da terra –desta nossa boa terra portuguesa – aprosperidade que outrora íamos procurarnos mares” 11 .Em pano de fun<strong>do</strong>, estava a questão <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas, a caminho de uma greve, que sedesencadeou logo no começo de 1921 e seprolongou por 104 dias.Já quan<strong>do</strong> saiu, em 1932, escreveu oeditorial “Ao render da guarda. Entregan<strong>do</strong>o posto”, tema significativo de to<strong>do</strong> o seupercurso. Para o jor<strong>na</strong>lista,“não desrespeitei as gloriosas tradições<strong>do</strong> velho órgão jor<strong>na</strong>lístico. […]sempre procurei servir honestamentea imprensa sem a desprestigiar ouconspurcar, não toleran<strong>do</strong> sem osmeus protestos – um <strong>do</strong>s quais tevemesmo certa retumbância – que outrosa deslustrassem ou envilecessem, poisque, modesto como sou, zelei semprea honra <strong>do</strong> meu nome e a dignidadeda minha profissão” 12 .


JORNALISMO197Acompanhan<strong>do</strong> a saída “da antiga gerênciada empresa, cuja retirada eu quis acompanhar”,Alberto Bessa recordava não certamenteum protesto mas <strong>do</strong>is, o primeirodizen<strong>do</strong> respeito à posição assumida por ele,Alfre<strong>do</strong> Cunha, Tito Martins, Manuel Guimarães,Aníbal Soares e outros responsáveis<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is de Lisboa e Porto, com excepçãode”O Mun<strong>do</strong>, após reunião no seu Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong>Comércio e das Colónias, em defesa pelaliberdade de expressão, silenciada pela entradade Portugal <strong>na</strong> guerra, em Outubro de1917 13 . O segun<strong>do</strong> protesto era mais recente,e também pelo mesmo motivo: a censura deimprensa estabelecida a 22 de Junho de 1926obrigou a nova reunião no seu jor<strong>na</strong>l, resultan<strong>do</strong>no envio de emissários ao quartel <strong>do</strong>Carmo. Desta vez, porém, a censura vinhapara ficar por quase cinquenta anos, obrigan<strong>do</strong>-seos jor<strong>na</strong>is a inserirem a frase “Estenúmero foi visa<strong>do</strong> pela Comissão de Censura”14 .Alberto Bessa, que começara <strong>na</strong> imprensarepublica<strong>na</strong> radical aos 16 anos, justificaracom o muito prestígio alcança<strong>do</strong> <strong>na</strong> sualonga vida profissio<strong>na</strong>l a ocupação <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>scargos no Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Comércio e dasColónias, de onde saiu reforma<strong>do</strong>. A sualiderança no jor<strong>na</strong>l foi contemporânea <strong>do</strong>começo e fecho de um ciclo: <strong>do</strong> estertor daPrimeira Guerra Mundial e <strong>do</strong> assassi<strong>na</strong>to <strong>do</strong>Presidente Sidónio Pais (1917) à consolidaçãoda Ditadura e advento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo(1932). Uma vida activa de observação degrandes transformações sociais – para nãorelevar as políticas – e a que o profissio<strong>na</strong>l,desde há muito, também emprestara o seucomprometimento em campanhas de apoiosocial aos jor<strong>na</strong>listas (montepio, socorrosmútuos), praticamente logo depois de ingressarem O Século.Nesse momento, em 1897, tor<strong>na</strong>r-se-iasecretário da comissão instala<strong>do</strong>ra da Associaçãoda Imprensa Portuguesa. Em relatóriode actividades, a comissão considerava que,“Ven<strong>do</strong>, com desgosto profun<strong>do</strong>, quenão existia em Lisboa nenhuma associaçãojor<strong>na</strong>lística onde pudessemter livre ingresso to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res,embora modestos, que seempregam <strong>na</strong> inglória e, por vezes,bem rude fai<strong>na</strong> da imprensa periódica,assim como que não havia fundadaqualquer agrupação onde osnossos camaradas pudessem encontrardesde logo o auxílio, que tantas vezeslhes escasseia, em casos de <strong>do</strong>ençaou i<strong>na</strong>bilidade; e onde as viúvas eórfãos <strong>do</strong>s que fossem seguin<strong>do</strong> paraa sepultura pudessem encontrar, atécerto ponto, os recursos que lhesfaltassem ao descansar para sempreo braço amigo e protector de seusmari<strong>do</strong>s e pais, pensara o jor<strong>na</strong>listaJosé de Lemos, da redacção<strong>do</strong>“Repórter, desde havia muito, emconvidar os colegas que aderissem àsua ideia a congregarem-se para alevar a cabo e neste senti<strong>do</strong> havia atémanda<strong>do</strong> imprimir, à sua custa, umacircular de convite que não chegou,porém, a fazer seguir” 15 .A José Lemos e Alberto Bessa juntaramseoutros jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> Século, Vieira Correiae Ludgero Via<strong>na</strong>.José Carlos Valente, historia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>sindicalismo <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas portugueses,considera que a criação da Associação daImprensa Portuguesa foi feita por oposiçãoà Associação <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas 16 . Esta últimaresultara <strong>do</strong> trabalho desenvolvi<strong>do</strong> porMagalhães Lima, Brito Aranha, TrindadeCoelho, Alves Correia, Cândi<strong>do</strong> deFigueire<strong>do</strong>, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pedroso, Alfre<strong>do</strong> daCunha, Lourenço Cayolla e Alfre<strong>do</strong> Gallis,no começo de 1896. Da associação podiamfazer parte escritores liga<strong>do</strong>s à imprensaperiódica 17 . Ao invés, a Associação da ImprensaPortuguesa tinha uma quotização maiseconómica e um recrutamento mais democráticode sócios, aceitan<strong>do</strong> a presença derepórteres (ou informa<strong>do</strong>res), grupo já numerosoe que não tinha entrada <strong>na</strong> associação<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Mas parece-me existiruma demarcação mais fi<strong>na</strong> entre as duasassociações. Primeiro, de distinção: enquantoa Associação <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas (de Lisboa)visava pug<strong>na</strong>r pela qualidade <strong>do</strong>s textosliterários <strong>na</strong>s folhas e pela afirmação, emboraainda frágil, da emancipação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isface aos parti<strong>do</strong>s, a Associação daImprensa Portuguesa tinha preocupações deín<strong>do</strong>le social e reivindicativa (leis laboraise assistenciais), que estarão <strong>na</strong> origem <strong>do</strong>


198 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmovimento sindical no séc. XX, como observaa historia<strong>do</strong>ra Rosa Sobreira 18 . Segun<strong>do</strong>,de semelhança: a luta pela liberdade deinformação seria um elo comum aos <strong>do</strong>ismovimentos, detectável quer no jor<strong>na</strong>l queserviu de motor à criação das duas associações(Repórter) quer no peso assumi<strong>do</strong> porAlberto Bessa (um <strong>do</strong>s promotores da associaçãooperária e o anfitrião <strong>do</strong>s directoresde jor<strong>na</strong>is por alturas da censura de imprensaem 1917 e 1926).Uma das principais realizações da Associaçãoda Imprensa Portuguesa foi a Exposiçãoda Imprensa, em Maio de 1898, porocasião <strong>do</strong> centenário da descoberta <strong>do</strong>caminho marítimo para a Índia. De um <strong>do</strong>stextos extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> número único de jor<strong>na</strong>lque acompanhou a exposição, escreveuBessa 19 :“desde muito que o meu espíritoacariciava a ideia de promover comoque a realização de uma parada dasforças jor<strong>na</strong>lísticas no nosso país, demo<strong>do</strong> a deixar ver, aos que a desconhecem,qual a importância entre nósadquirida por essa instituição”.O próprio jor<strong>na</strong>lista ficara surpreendi<strong>do</strong>pela enorme quantidade de publicaçõesexpostas e que se haviam reuni<strong>do</strong> em poucotempo. A venda <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l renderia 23$100réis, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a exposição um sal<strong>do</strong>positivo. Outras bandeiras de acção da associaçãoforam as tomadas de posição <strong>na</strong>s“querelas” resultantes das leis de imprensae os subsídios concedi<strong>do</strong>s a viúvas e órfãosde associa<strong>do</strong>s, bem como outros apoios <strong>na</strong><strong>do</strong>ença e no desemprego 20 . O relatório <strong>do</strong>segun<strong>do</strong> ano de actividades referia que erade louvar “o comportamento desses órfãos[apoia<strong>do</strong>s pela associação] no colégio e o seuaproveitamento nos estu<strong>do</strong>s” 21 .Pela mesma ocasião, a Associação daImprensa Portuguesa fez-se representar nocongresso inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l da imprensa, realiza<strong>do</strong>em Lisboa em Setembro de 1898.Apesar de não filiada no Bureau Central dasAssociações de Imprensa, promotor eorganiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> congresso, pôde assistir eprojectou ler uma mensagem <strong>na</strong> ocasião, quedizia:“A liberdade de consciência, a maisbela e mais pura de todas as liberdades,ainda não é um princípiouniversalmente admiti<strong>do</strong>, e a liberdadede escrever e de falar, que deladerivam, sofre ainda as consequênciasde regulamentações por vezesabsurdas, injustas ou a<strong>na</strong>crónicas. […]Ao mesmo tempo, vemos que, emmuitos países, os jor<strong>na</strong>listas, persegui<strong>do</strong>simpie<strong>do</strong>samente pela lei, expiam,sob o peso das mais rigorosas sentenças,o crime de terem livrementeexposto o seu pensamento, e quasesempre <strong>na</strong> intenção, louvável e dig<strong>na</strong>de respeito, de defender a liberdadee a justiça. É o que acontece ultimamente,sobretu<strong>do</strong> em Itália, Espanhae mesmo Portugal” 22 .Contu<strong>do</strong>, e apesar da distribuição decópias pelos congressistas, a mensagem nãoseria admitida pela mesa.Sobre as leis da imprensa, o relatóriorefere que 1898 foi o ano das querelas pordelitos de imprensa, por requerimentos dedelega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ministério Público ou de particulares.Em 1898 seriam querela<strong>do</strong>s muitosjor<strong>na</strong>is. A lei desse ano era mais liberal masnão impedia os intentos repressivos <strong>do</strong> poderexecutivo 23 . As pe<strong>na</strong>s eram exclusivamenteas da lei geral, termi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> as multas, asuspensão temporária da publicação e asupressão definitiva <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, mas praticava-sesem disfarce a censura prévia, o quelevou os dirigentes da associação a procuraremo Primeiro-Ministro e os deputa<strong>do</strong>s.Para estes, num texto cheio de recorteliterário, a petição de 18 de Fevereiro de 1899apontava:“Assim é que, ao passo que nós vemosa absorção da justiça <strong>na</strong> polícia e umsimples artigo de regulamento passar porcima da lei fundamental, que nãoautoriza a censura prévia, vemos tambémque uma lei especial, preparadacontra os inimigos da sociedade, levao seu desprezo pela imprensa até aoponto de permitir que uma das suasmalhas colha o jor<strong>na</strong>lista inofensivo queno ar<strong>do</strong>r <strong>do</strong> seu entusiasmo profere, sema menor intenção criminosa” 24 .


JORNALISMO199A vida da Associação da Imprensa Portuguesadecairia <strong>na</strong> passagem para o séculoseguinte, dan<strong>do</strong> sequência a outra instituição,a Associação da Classe <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res daImprensa de Lisboa, fundada em 1905 25 , comigual espírito democrático e génese <strong>do</strong> futuromovimento sindicalista <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.Além de uma vida dedicada ao jor<strong>na</strong>lismo,Alberto Bessa escreveu teatro (Ocabecilha), poesia (Ondeantes, 1883), opereta(A reviravolta), colaborou com Guedes deOliveira <strong>na</strong> imitação da opereta O moleirode Alcalá, Espanhóis em Melilha e Rebentaa bexiga e fez crítica (Palavra <strong>do</strong>s Lusíadas,1895; Quem foi Almeida Garrett, 1903).Consagrou grande actividade à vidaassociativa da classe, <strong>na</strong> antiga Associaçãoda Imprensa Portuguesa e <strong>na</strong> Associação <strong>do</strong>sJor<strong>na</strong>listas e Homens de Letras <strong>do</strong> Porto, bemcomo a home<strong>na</strong>gens a vultos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,como Rodrigues Sampaio 26 . Representariaainda o Instituto de Coimbra, a Associaçãode Escritores e Jor<strong>na</strong>listas de Lisboa, a RealAcademia Galega da Corunha e a RealAcademia de Bue<strong>na</strong>s Letras de Barcelo<strong>na</strong> 27 .O jor<strong>na</strong>lista anunciara a publicação de outrolivro, Os basti<strong>do</strong>res <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, mas nãohá indicação em nenhuma biblioteca, o quepode significar não o ter concluí<strong>do</strong>.


200 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAranha, Brito, Factos e homens <strong>do</strong> meutempo. Memórias de um jor<strong>na</strong>lista, Lisboa,Parceria António Maria Pereira, 1907.Bessa, Alberto, A Associação de ImprensaPortuguesa. Sua fundação e actos dacomissão instala<strong>do</strong>ra e da comissão especialde socorros desde Setembro de 1897 a Marçode 1898, Lisboa, Imprensa de Libânio daSilva, 1898a.Bessa, Alberto, A exposição da imprensa.Número único, Lisboa, Associação daImprensa Portuguesa, 1898b.Bessa, Alberto, A Associação da ImprensaPortuguesa no segun<strong>do</strong> anos da suaexistência. Relatório elabora<strong>do</strong> para serpresente à assembleia-geral, Lisboa, Tipografiade O Expresso, 1899.Bessa, Alberto, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboçohistórico da sua origem e desenvolvimentoaté aos nossos dias, Lisboa, Viúva TavaresCar<strong>do</strong>so, 1904.Bessa, Alberto, Enciclopédia <strong>do</strong> comerciantee <strong>do</strong> industrial, Lisboa, LivrariaCentral, 1912.Bessa, Alberto, 100 anos de vida. Aexpansão da imprensa brasileira no primeiroséculo da sua existência, Lisboa, LivrariaCentral, 1929.Bramão, Alberto, O jor<strong>na</strong>lismo, Lisboa,Tipografia Rua da Barroca, 1899.Carvalho, Arons, A censura à imprensa<strong>na</strong> época marcelista, Coimbra, Minerva, 1999Fer<strong>na</strong>ndes, Eduar<strong>do</strong>, Memórias <strong>do</strong>“Esculápio”. Das mãos da parteira ao anoda República, Lisboa, Parceria António MariaPereira, 1940.Franco, Graça, A censura à imprensa(1820-1974), Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l,1993.Sobreira, Rosa Maria, Os jor<strong>na</strong>listasportugueses, 1933-1974. Uma profissão emconstrução, Lisboa, <strong>Livros</strong> Horizonte, 2003Tengarrinha, José Manuel, História daimprensa periódica portuguesa, Lisboa,Portugália, 1965.Valente, José Carlos, Elementos para ahistória <strong>do</strong> sindicalismo <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasportugueses, Lisboa, Sindicato <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas,1998._______________________________1Universidade Católica Portuguesa2Alberto Bessa, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento até aosnossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Car<strong>do</strong>so, 1904,pp. 207-2083Alberto Bessa, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento até aosnossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Car<strong>do</strong>so, 1904,p. 614Eduar<strong>do</strong> Fer<strong>na</strong>ndes, Memórias <strong>do</strong>“Esculápio”. Das mãos da parteira ao ano daRepública, Lisboa, Parceria António Maria Pereira,1940, p. 735Alberto Bessa, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento até aosnossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Car<strong>do</strong>so, 1904,p. 2196Alberto Bessa, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento até aosnossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Car<strong>do</strong>so, 1904,p. 1787Alberto Bramão, O jor<strong>na</strong>lismo, Lisboa,Tipografia Rua da Barroca, 1899, p. 208Alberto Bessa, O jor<strong>na</strong>lismo. Esboço históricoda sua origem e desenvolvimento até aosnossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Car<strong>do</strong>so, 1904,p. 609Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Comércio e das Colónias, 29 deJaneiro de 193810Alberto Bessa, Enciclopédia <strong>do</strong> comerciantee <strong>do</strong> industrial, Lisboa, Livraria Central, 1912,p. xiii11O Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Comércio e das Colónias, 1de Janeiro de 192112O Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Comércio e das Colónias, 10de Abril de 193213Graça Franco, A censura à imprensa (1820-1974), Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l, 1993, p. 49;Arons de Carvalho, A censura à imprensa <strong>na</strong> épocamarcelista, Coimbra, Minerva, 1999, p. 1814Arons de Carvalho, A censura à imprensa<strong>na</strong> época marcelista, Coimbra, Minerva, 1999, p.29; Graça Franco, A censura à imprensa (1820-1974), Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l, 1993, p. 7015Alberto Bessa, A Associação de ImprensaPortuguesa. Sua fundação e actos da comissãoinstala<strong>do</strong>ra e da comissão especial de socorrosdesde Setembro de 1897 a Março de 1898, Lisboa,Imprensa de Libânio da Silva, 1898a, pp. 6-716José Carlos Valente, Elementos para ahistória <strong>do</strong> sindicalismo <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas portugueses,Lisboa, Sindicato <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas, 199817José Carlos Valente, Elementos para ahistória <strong>do</strong> sindicalismo <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas portugueses,Lisboa, Sindicato <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas, 1998, p. 3318Rosa Maria Sobreira, Os jor<strong>na</strong>listas portugueses,1933-1974. Uma profissão em construção,Lisboa, <strong>Livros</strong> Horizonte, 2003


JORNALISMO20119Alberto Bessa, A exposição da imprensa.Número único, Lisboa, Associação da ImprensaPortuguesa, 1898b20Alberto Bessa, A Associação de ImprensaPortuguesa. Sua fundação e actos da comissãoinstala<strong>do</strong>ra e da comissão especial de socorrosdesde Setembro de 1897 a Março de 1898, Lisboa,Imprensa de Libânio da Silva, 1898a; AlbertoBessa, A Associação da Imprensa Portuguesa nosegun<strong>do</strong> anos da sua existência. Relatório elabora<strong>do</strong>para ser presente à assembleia-geral,Lisboa, Tipografia de O Expresso, 189921Alberto Bessa, A Associação da ImprensaPortuguesa no segun<strong>do</strong> anos da sua existência.Relatório elabora<strong>do</strong> para ser presente àassembleia-geral, Lisboa, Tipografia de O Expresso,1899, p. 3022Alberto Bessa, A Associação da ImprensaPortuguesa no segun<strong>do</strong> anos da sua existência.Relatório elabora<strong>do</strong> para ser presente àassembleia-geral, Lisboa, Tipografia de O Expresso,1899, pp. 21-2223José Manuel Tengarrinha, História daimprensa periódica portuguesa, Lisboa, Portugália,1965, p. 234 24 Alberto Bessa, A Associação daImprensa Portuguesa no segun<strong>do</strong> anos da suaexistência. Relatório elabora<strong>do</strong> para ser presenteà assembleia-geral, Lisboa, Tipografia de OExpresso, 1899, pp. 28-2925Rosa Maria Sobreira, Os jor<strong>na</strong>listas portugueses,1933-1974. Uma profissão em construção,Lisboa, <strong>Livros</strong> Horizonte, 2003, p. 3726Brito Aranha, Factos e homens <strong>do</strong> meutempo. Memórias de um jor<strong>na</strong>lista, Lisboa, ParceriaAntónio Maria Pereira, 1907, p. 12027Alberto Bessa, 100 anos de vida. A expansãoda imprensa brasileira no primeiro século dasua existência, Lisboa, Livraria Central, 1929.


202 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO203Os Temas da Guerra.Estu<strong>do</strong> exploratório sobre o enquadramento temáticoda Guerra <strong>do</strong> Iraque <strong>na</strong> TelevisãoTelmo Gonçalves 1A Guerra <strong>do</strong> Iraque foi o conflito inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmais mediatiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s últimos tempos.Cidadãos de diferentes pontos <strong>do</strong> globoseguiram de perto, nomeadamente através dastelevisões, a evolução de mais um conflito<strong>na</strong>s areias <strong>do</strong> deserto iraquiano, que rapidamentese transformou num hiperacontecimentomundial. Os media prepararam comtempo a grande cobertura mediática de umconflito anuncia<strong>do</strong>. Em fi<strong>na</strong>is de Janeiro de2002, no seu discurso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da União,celebriza<strong>do</strong> pela metáfora <strong>do</strong> «eixo <strong>do</strong> mal»,George W. Bush deixou claro que as operaçõesem curso no Afeganistão constituíamape<strong>na</strong>s a primeira fase de uma estratégiaglobal mais vasta. «Aquilo que encontrámosno Afeganistão confirma que, longe de acabaraqui, a nossa guerra contra o terror estáape<strong>na</strong>s no início» 2 , declarou o presidente <strong>do</strong>sEUA, apontan<strong>do</strong> a Coreia <strong>do</strong> Norte, o Irãoe o Iraque como os pólos da grande ameaçaterrorista à paz mundial. A administraçãonorte-america<strong>na</strong> foi deixan<strong>do</strong> perceber queo Iraque constituiria a fase seguinte da Guerraao Terrorismo.No dia 20 de Março de 2003, poucosminutos depois das 2.30h da madrugada,mostraram-se em directo <strong>na</strong> televisão osprimeiros si<strong>na</strong>is da guerra. As operaçõesmilitares terrestres já tinham começa<strong>do</strong> pelosmenos um dia antes 3 . Mesmo antes daapresentação <strong>do</strong> problema <strong>do</strong> Iraque aoConselho de Segurança, em Setembro de2002, que conduziu à Resolução 1441, osEUA já tinham decidi<strong>do</strong> intensificar osbombardeamentos aéreos sobre a zo<strong>na</strong> deexclusão aérea, de forma a destruir os sistemasde comunicações e de defesa aéreairaquianos, preparan<strong>do</strong> assim o «campo debatalha» para uma ofensiva terrestre (Clark,2004: 41). Terá si<strong>do</strong> esta a primeira fase daguerra, discreta e invisível, mas extraordi<strong>na</strong>riamentedecisiva e também letal.Será, no entanto, o dia 20 que ficará <strong>na</strong>história a marcar o início da Guerra <strong>do</strong> Iraque.Foi <strong>na</strong> madrugada desse dia que o presidentenorte-americano e os media nos deram conta«em directo» <strong>do</strong> começo <strong>do</strong> conflito, quevimos deflagrar diante <strong>do</strong>s nossos olhosatravés <strong>do</strong>s ecrãs de televisão. Uma estaçãode televisão portuguesa, a RTP, teve mesmoa «felicidade» de ser a primeira a transmitirem directo o início <strong>do</strong>s bombardeamentossobre Bagdade, antecipan<strong>do</strong>-se em poucosminutos às grandes cadeias de televisãoglobais.Uma dupla de reportagem, formada porCarlos Fino e Nuno Patrício, da janela deum quarto de hotel estrategicamenteposicio<strong>na</strong><strong>do</strong> com vista sobre o rio Tigre, fezo relato <strong>do</strong>s primeiros bombardeamentos àcapital iraquia<strong>na</strong>. As imagens <strong>do</strong> relato transmitidasatravés de videofone dificilmentedeixavam perceber aquilo que se estaria apassar: pontos de luz a piscar no ar, a imagempouco definida <strong>do</strong> repórter <strong>na</strong> varanda, umavista quase imperceptível sobre uma parte dacidade... No entanto, são estas imagens defraca definição que povoam a nossa memóriacomo marco simbólico <strong>do</strong> início deste conflito.A própria RTP não se cansou de reforçaro simbolismo <strong>do</strong> momento, difundin<strong>do</strong>insistentemente um «spot»autopromocio<strong>na</strong>l a recordar o feito excepcio<strong>na</strong>lde ter transmiti<strong>do</strong> «em exclusivo» - trêsminutos antes da CNN !(cf. Santos, 2003:26) – os primeiros bombardeamentos daGuerra <strong>do</strong> Iraque.Da «comunicação estratégica» à «guerraem directo»As primeiras bombas sobre Bagdadeiniciaram uma outra guerra, paralela àquelaque se travava no terreno, mas com efeitosdecisivos <strong>na</strong> condução político-estratégica dasoperações. Os media constituem, com as suaspossibilidades tecnológicas de mediatização,parte integrante <strong>do</strong>s conflitos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>ise das equações estratégicas <strong>do</strong>s conten<strong>do</strong>res.


204 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPelo papel que desempenham <strong>na</strong> construçãoda realidade da guerra, são elementos decisivos<strong>na</strong> evolução das opiniões públicas, quefuncio<strong>na</strong>m, sobretu<strong>do</strong> nos regimes democráticos,como uma categoria estratégica fundamental,modifican<strong>do</strong> a liberdade de acçãode que dispõem os actores políticos <strong>na</strong>prossecução <strong>do</strong>s seus objectivos políticoestratégicos.A acção estratégica sobre osmedia tem como principal objectivo influenciara evolução da <strong>na</strong>rrativa mediática daguerra, tentan<strong>do</strong> impor nos enquadramentosmediáticos as concepções da realidade quemelhor servem os seus interesses estratégicos.Inicia-se, assim, paralelamente à guerra<strong>do</strong> terreno, uma guerra virtual, que disputaa construção das imagens públicas da guerra.A acção estratégica através <strong>do</strong>s mediaprocessou-se durante o conflito <strong>do</strong> Iraque numclima de «guerra em directo». A expressãonão é nova no mun<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lístico, se noslembrarmos que a cobertura da Guerra <strong>do</strong>Golfo de 1991 também recebeu idênticotítulo. No entanto, a grande coberturamediática deste conflito frustrou as expectativasiniciais, transforman<strong>do</strong>-se num episódiode má memória para o jor<strong>na</strong>lismo.A investigação sobre a actuação <strong>do</strong>s mediano primeiro conflito <strong>do</strong> Golfo veio demonstrarque não foi por contarem com maispossibilidades de mediatização, nomeadamentecom uma maior vulgarização da transmissãoem directo via satélite, nem com apresença de equipas de jor<strong>na</strong>listas nos <strong>do</strong>isla<strong>do</strong>s <strong>do</strong> conflito, que os media conseguiramsatisfazer melhor a «necessidade de saber»<strong>do</strong>s seus públicos. A operação de comunicaçãoestratégica montada pela então «coligaçãomulti<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l» revelou-se eficaz, como controlo da liberdade de acção <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasno terreno através <strong>do</strong> sistema de «pools»e a criação de uma máqui<strong>na</strong> de comunicaçãooficial constituída pelos serviços de relaçõespúblicas <strong>do</strong>s gabinetes políticos e militaresa funcio<strong>na</strong>r em permanência para alimentare condicio<strong>na</strong>r as aspirações de uma «guerraem directo» (Cf. Taylor, 1993; Bennett ePaletz, 1994). No balanço da grande operaçãomediática, surgiu uma literatura variadarevelan<strong>do</strong> não só as várias manobras demanipulação de que os públicos tinham si<strong>do</strong>alvo, mas também as próprias fragilidadesde uma lógica informativa <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da pelosvalores da concorrência, da emoção, <strong>do</strong>pre<strong>do</strong>mínio da imagem televisiva e da informaçãoem tempo real. O rescal<strong>do</strong> da coberturajor<strong>na</strong>lística da Guerra <strong>do</strong> Golfo estimulouuma atitude crítica face ao papel <strong>do</strong>smedia e <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong>s sociedades contemporâneas(Mesquita, 2003: 71-88).A Guerra <strong>do</strong> Iraque surge como uma novaoportunidade para os media noticiosos cumpriremas promessas frustradas em 1991.Encontravam-se reunidas condições queprometiam um desfecho diferente, começan<strong>do</strong>,desde logo, pela vulgarização de algumasinovações tecnológicas - de onde sedestaca o videofone – , que permitiram deforma mais fácil e económica aumentar as<strong>potencial</strong>idades de transmissão em directo dastelevisões.Outra das grandes novidades <strong>na</strong>mediatização deste conflito foi a presença demais de 500 jor<strong>na</strong>listas «incorpora<strong>do</strong>s» emdiferentes unidades das forças da coligaçãoanglo-america<strong>na</strong>, o que não constitui, em si,um facto novo, pois encontramos aplicações<strong>do</strong> «jor<strong>na</strong>lismo embedded» <strong>na</strong> SegundaGuerra Mundial e <strong>na</strong> Guerra <strong>do</strong> Viet<strong>na</strong>me.A grande novidade consiste no diferencialtecnológico com que os media podem actualmenteoperar, com possibilidades detransmitissão em directo da frente de batalha.A opção pela «incorporação» de jor<strong>na</strong>listasé resulta<strong>do</strong> de uma nova <strong>do</strong>utri<strong>na</strong> militaramerica<strong>na</strong> para as relações com os media,desenvolvida a partir das experiências <strong>do</strong>sconflitos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is anteriores, onde sedestaca o trauma <strong>do</strong> Viet<strong>na</strong>me. Perante asactuais capacidades tecnológicas <strong>do</strong>s medianoticiosos, esta nova <strong>do</strong>utri<strong>na</strong> estratégicanorte-america<strong>na</strong> defende uma maior proximidadecontrolada <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, de formaa divulgar o «seu la<strong>do</strong> da história», aspiran<strong>do</strong>assim a uma maior identificação <strong>do</strong>spúblicos norte-americanos com os seusmilitares em acção.Confiantes numa vitória rápida, os responsáveispolíticos e militares da coligaçãodecidiram participar mais pró-activamente noespectáculo da «guerra em directo», semcorrerem à partida grandes riscos, pois osrepórteres «embedded» estariam limita<strong>do</strong>s auma percepção episódica da guerra, escapan<strong>do</strong>-lhesinevitavelmente o quadro geral, tal


JORNALISMO205como sucede com os militares envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>smissões operacio<strong>na</strong>is 4 . A opção pela incorporaçãode jor<strong>na</strong>listas também se justificavapara evitar as críticas recorrentes <strong>do</strong>s mediaà Administração norte-america<strong>na</strong> e aoPentágono, como aconteceu nos conflitos deGra<strong>na</strong>da, Pa<strong>na</strong>má, primeira Guerra <strong>do</strong> Golfoe Afeganistão.Estima-se que terão si<strong>do</strong> mobiliza<strong>do</strong>s nototal mais de 3000 jor<strong>na</strong>listas para a regiãodurante o conflito, alguns deles a trabalharnuma espécie de versão «embedded» juntodas autoridades iraquia<strong>na</strong>s. Foram, no entanto,as televisões árabes Al-Jazeera e AbuDhabi TV, reportan<strong>do</strong> a guerra através <strong>do</strong> seuenquadramento sócio-culutral e usufruin<strong>do</strong> demaior liberdade de acção no la<strong>do</strong> iraquiano,quem terá causa<strong>do</strong> mais problemas à estratégiada coligação, divulgan<strong>do</strong> as primeirasimagens de solda<strong>do</strong>s americanos mortos e devítimas civis <strong>do</strong>s bombardeamentos sobreBagdade.O cenário de comunicação da Guerra <strong>do</strong>Iraque foi significativamente diferente, masa questão central que se levanta no estu<strong>do</strong><strong>do</strong> fenómeno de hipermediatização <strong>do</strong>s conflitospermanece a mesma. Em síntese, tratasede saber de que forma os actores políticoestratégicose os media interagem <strong>na</strong> construçãoda percepção pública da guerra.Responder a esta questão implica, por umla<strong>do</strong>, investigar em que medida as concepçõesdas elites políticas e militares influenciaramos enquadramentos através <strong>do</strong>s quaisos media foram construin<strong>do</strong> a <strong>na</strong>rrativamediática da guerra, e, por outro la<strong>do</strong>, tentarconhecer de que forma os constrangimentosde mediatização de uma realidade tão complexacomo é uma guerra, associa<strong>do</strong>s a umacerta mitificação que o jor<strong>na</strong>lismo de guerrarecebe <strong>na</strong> cultura jor<strong>na</strong>lística, concorrem paraa definição <strong>do</strong>s enquadramentos que definemem grande medida a construção da nossapercepção da realidade.O trabalho que aqui trazemos não tempropósitos tão ambiciosos. Trata-se de umestu<strong>do</strong> exploratório que concorre para essegrande objectivo último, mas que se circunscreveape<strong>na</strong>s a um aspecto particular <strong>do</strong>senquadramentos mediáticos opera<strong>do</strong>s por umca<strong>na</strong>l de televisão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l durante a primeirasema<strong>na</strong> <strong>do</strong> conflito no Iraque. O quepretendemos dar a conhecer é a forma comoesta guerra foi tematicamente enquadrada.Pretendemos, mais precisamente, demonstrarquais as problemáticas que, numa perspectivamacro <strong>do</strong> fenómeno da guerra, foramprivilegiadas <strong>na</strong>s opções editoriais da RTP1,uma das cadeias de televisão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is quemais investiram e se destacaram <strong>na</strong> coberturadeste conflito.A hipótese que submetemos aqui a umprimeiro teste é a de saber se osenquadramentos mediáticos da Guerra <strong>do</strong>Iraque privilegiaram essencialmente os factoresrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a dimensão estratégico-militar<strong>do</strong> conflito, anulan<strong>do</strong> outrasproblemáticas importantes para a construçãode uma percepção multidimensio<strong>na</strong>l de um<strong>do</strong>s fenómenos sociais mais complexos edramáticos que qualquer sociedade podeconhecer.«Framing» e enquadramentos temáticosA abordagem <strong>do</strong> framing, que conta commais de duas décadas de evolução nos estu<strong>do</strong>s<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, apresenta-se-nos comoum bom quadro teórico de referência parao desenvolvimento da nossa problemática.Esta corrente de investigação vai buscar assuas bases teóricas à sociologia de ErvingGoffman, transpon<strong>do</strong> para a análise <strong>do</strong> discursojor<strong>na</strong>lístico a noção de «frame» desenvolvidapelo sociólogo <strong>na</strong> sua obra FrameA<strong>na</strong>lysis (1974). Na tese de Goffman, osenquadramentos surgem como princípiosbásicos de organização das nossas experiências,que operam uma espécie de «corte»artificial sobre a realidade de forma a conferirem-lheum senti<strong>do</strong>, definin<strong>do</strong> não só aforma como interpretamos as situações, mastambém como interagimos com os outros. «[Adefinição de uma] situação é construída emconcordância com princípios de organização,os quais gover<strong>na</strong>m os acontecimentos – pelomenos os sociais – e o nosso envolvimentosubjectivo neles... ‘frame’ é a palavra queutilizo para me referir a tais elementosbásicos...», explica Goffman (1974: 10 e 11).Em síntese, os enquadramentos apresentamsecomo os processos através <strong>do</strong>s quais associedades reproduzem senti<strong>do</strong>, estruturan<strong>do</strong>a nossa experiência individual da realidade.É com base nesta proposta que se vãodesenvolver os estu<strong>do</strong>s pioneiros da aborda-


206 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVgem <strong>do</strong> «framing», de onde se destacam aobra clássica de Gaye Tuchman (1978) sobreas notícias como construção social da realidadee a tese de Todd Gitlin (1980) sobre aforma como os media influenciaram a construçãohistórica <strong>do</strong> movimento estudantil da«nova esquerda» norte-america<strong>na</strong> nos anos 60.A evolução da aplicação <strong>do</strong> conceito de«frame» nos estu<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>lísticos, devi<strong>do</strong> avários factores que não vamos aqui a<strong>na</strong>lisar,trouxe a esta corrente uma conceptualizaçãodifusa, dificultan<strong>do</strong> a possibilidade de seestabelecer um quadro teórico comum àspesquisas <strong>do</strong> «framing» (Cf. Entman, 1993;Scheufele, 1999). Nos últimos anos, estaabordagem tem vin<strong>do</strong> a afirmar-se como umparadigma promissor no estu<strong>do</strong> da problemática<strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong>s media (Cf. Scheufele,1999), sen<strong>do</strong>, por vezes, apresenta<strong>do</strong> comouma evolução complementar da conhecidaabordagem <strong>do</strong> «agenda-setting» (McCombse Shaw, 1993; Iyengar, Simon, 1993). Nãoé, obviamente, com essa orientação queinvocamos aqui o conceito. Utilizamo-lo como objectivo de conhecer o discurso jor<strong>na</strong>lísticoe seus mecanismos de produção de senti<strong>do</strong>,e não com o fim de perceber quais os efeitosdirectos que os enquadramentos mediáticospoderão provocar <strong>na</strong>s audiências. Situamonos,assim, no quadro mais específico dasteorias da notícia.Fazen<strong>do</strong> referência a Goffman (1974) ea Tuchman (1978), Todd Gitlin defineenquadramentos mediáticos como «princípiosde selecção, de ênfase e de apresentaçãocompostos por peque<strong>na</strong>s teorias tácitas sobreo que existe, o que ocorre e o que é relevante.(...) Os enquadramentos mediáticos sãopadrões persistentes de cognição, interpretaçãoe apresentação, selecção, ênfase e exclusão,através <strong>do</strong>s quais os manipula<strong>do</strong>resde símbolos organizam rotineiramente odiscurso, seja verbal ou visual» (1980: 6 e7). Os enquadramentos desempenham umadupla função: organizar o mun<strong>do</strong> para osjor<strong>na</strong>listas que o reportam - são eles quepermitem aos jor<strong>na</strong>listas operacio<strong>na</strong>lizar oprocessamento de grandes quantidades deinformação - e para as audiências que confiamnos seus relatos.Com base <strong>na</strong> definição de Gitlin, consideramoscomo um <strong>do</strong>s componentes básicosda definição <strong>do</strong>s enquadramentosmediáticos a perspectiva temática através daqual se tenta conferir um senti<strong>do</strong> coerentea uma dada realidade, que necessariamenteassume um carácter multidimensio<strong>na</strong>l, oferecen<strong>do</strong>-seao discurso jor<strong>na</strong>lístico semprecom diferentes hipóteses de selecção e ênfase.Um <strong>do</strong>s primeiros dispositivos <strong>do</strong>senquadramentos mediáticos processa-se, precisamente,ao nível <strong>do</strong> enquadramentotemático que um da<strong>do</strong> assunto acolhe no seuprocessamento jor<strong>na</strong>lístico.A própria estrutura editorial de umapublicação, mesmo que não denote no produtofi<strong>na</strong>l uma organização temática muitoexplícita - como podemos encontrar emalguns noticiários televisivos -, é regra geralpensada segun<strong>do</strong> um critério prévio sobre aforma como o meio de comunicação pretendeenquadrar tematicamente a <strong>na</strong>rrativa global<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para os seus públicos. Os títulosdas editorias de um jor<strong>na</strong>l (Nacio<strong>na</strong>l, Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,Sociedade, Economia...), por exemplo,espelham, entre outros factores - comoa especificidade editorial <strong>do</strong> meio de informação-, uma concepção sobre a forma comoo discurso jor<strong>na</strong>lístico se propõe organizaro discurso <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Uma das principais dificuldades da utilizaçãoda noção de tema consiste no factode encontrarmos sempre, como nota PatrickCharaudeau et al., «temas de diversas dimensões:‘macrotemas’ e ‘microtemas’» (2001:32). Prosseguin<strong>do</strong> a a<strong>na</strong>logia com a estruturaeditorial de um jor<strong>na</strong>l, como sugere este autor(Idem), os «macrotemas» que encontramosidentifica<strong>do</strong>s nos títulos das editorias tambémse podem subdividir noutros«microtemas», que apresentam uma maior oumenor permanência <strong>na</strong>s edições <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.Toda esta estruturação temática desempenhaa montante a dupla função que Gitlin atribuiaos enquadramentos mediáticos, conferin<strong>do</strong>senti<strong>do</strong> não só à organização <strong>do</strong> discursojor<strong>na</strong>lístico, mas também à forma como ospúblicos processam a realidade que ele tentareproduzir.Patrick Charaudeau et al sugere emalter<strong>na</strong>tiva à operacio<strong>na</strong>lização da noção detema <strong>na</strong> análise <strong>do</strong> discurso jor<strong>na</strong>lístico oconceito de «<strong>do</strong>mínio cénico»:«Se o macro-tema se define como ocampo da notícia que é delimita<strong>do</strong> por


JORNALISMO207crítérios de actividade social no espaçopúblico (...), o <strong>do</strong>mínio cénicoconstitui a estruturação desse campocomo o ‘universo referencial’ que omedia constrói. Este universoreferencial não corresponde por issoa um corte apriorístico <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>,ele depende <strong>do</strong> papel que jogam osactores implica<strong>do</strong>s no acontecimentorelata<strong>do</strong>: seja um papel de acção, sejaum papel de palavra. (...) O critériopara definir o <strong>do</strong>mínio cénico é, assim,um critério de’actancialização (quemfaz o quê sobre quem?), descreven<strong>do</strong>os «actantes», os processos nos quaiseles se encontram implica<strong>do</strong>s e asfi<strong>na</strong>lidades que é suposto prosseguirem,e de declaração (quem fala aquem a propósito <strong>do</strong> quê?), descreven<strong>do</strong>os sujeitos da palavra, o valordiscursivo desta e a fi<strong>na</strong>lidade que elesvisam.» (2001: 33).É através da forma como os actoresintervêm no discurso jor<strong>na</strong>lístico, das qualidadesem que participam (políticos, militares,diplomatas, agentes humanitários, civis...)<strong>na</strong> acção e <strong>do</strong>s seus actos de discursoque se define em grande medida o enquadramentotemático <strong>do</strong>s acontecimentos. É,neste senti<strong>do</strong>, centra<strong>do</strong> <strong>na</strong> forma como odiscurso jor<strong>na</strong>lístico reproduz as acções eapresenta os seus actores, bem como asselecções que opera <strong>do</strong>s seus actos de palavra,que pretendemos operacio<strong>na</strong>lizar nesteestu<strong>do</strong> o enquadramento temático comocategoria a<strong>na</strong>lítica.a) MacrotemasAs teorias da estratégia, que têm porobjecto central o estu<strong>do</strong> das situações reaise potenciais de conflito com que uma «unidadepolítica» se pode defrontar (Cf. Couto,1989: 195), oferecem-nos um quadromultidimensio<strong>na</strong>l para reflectirmos sobre ofenómeno da guerra. As concepções estratégicascontemporâneas a<strong>do</strong>ptam uma visãointegrada de to<strong>do</strong> o processo de conflito,sugerin<strong>do</strong> que a boa acção estratégica é aquelaque consegue rentabilizar com eficácia osdiferentes recursos de uma «unidade política»com vista a atingir objectivos políticoscom o mínimo de prejuízos, no mais curto espaçode tempo. É neste contexto que surge a noçãode estratégia integral, que estende a reflexão<strong>do</strong> fenómeno da guerra muito além <strong>do</strong> estrito<strong>do</strong>mínio da aplicação <strong>do</strong> <strong>potencial</strong> militar.De acor<strong>do</strong> com o que sugere a noção deestratégia integral, podemos a<strong>na</strong>lisar o fenómenoda guerra segun<strong>do</strong> as diferentes formasde coacção que um actor político podemobilizar <strong>na</strong> resolução de um conflito:coacção militar, coacção político-diplomática,coacção económica e coacção psicológica.A cada uma destas formas de coacção,corresponderá um <strong>do</strong>mínio específico deacção estratégica. Teremos, assim, uma estratégiapsicológica – responsável pela acçãodirigida às opiniões públicas e às forçasmorais (civis e militares) <strong>do</strong> campo <strong>do</strong>adversário (propaganda, contrapropaganda einformação); uma–estratégia político-diplomática– centrada <strong>na</strong> acção <strong>do</strong>s actorespolíticos e diplomáticos (política inter<strong>na</strong> epolítica exter<strong>na</strong>); uma estratégia económica– responsável pela criação e rentabilizaçãode recursos económico-fi<strong>na</strong>nceiros para aprossecução <strong>do</strong>s objectivos político-estratégicose pela redução das capacidades económicasdas forças adversas (produção, fi<strong>na</strong>nceira,comércio externo...); e, por fim, umaestratégia militar – responsável pela combi<strong>na</strong>ção<strong>do</strong>s diferentes recursos <strong>do</strong> <strong>potencial</strong>militar (terrestre, marítimo e aeroespacial)(Cf. Couto, 1989: 227-239).É com base neste quadro de referênciaque os actores políticos e militares concebemuma manobra estratégica integrada,reflectin<strong>do</strong> cada <strong>do</strong>mínio de acção umaproblemática particular em que se podesubdividir a análise <strong>do</strong> fenómeno da guerra.Propomos a utilização deste racio<strong>na</strong>l para adefinição <strong>do</strong>s macrotemas da análise daguerra, acrescentan<strong>do</strong>-lhe a dimensão civil,que, <strong>na</strong>turalmente, ele não integra. Consideramos,assim, cinco enquadramentosmacrotemáticos <strong>na</strong> nossa análise:- estratégico-militar: todas as acções querepresentem opções da condução da estratégiamilitar da guerra e/ou operações militaresefectivas (terrestres, aéreas, marítimas) –(p. ex., análises de especialistas sobre acondução da estratégia da guerra, actorespolíticos ou militares a comentar a evoluçãodas operações, tropas em combate);


208 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV- político-diplomático: todas as situaçõesque representem acções de agentes <strong>do</strong> campopolítico e/ou diplomático de diferentes paísesou das organizações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is (p.ex., comunicação ao país de um chefe degoverno, negociações no seio da ONU ounoutras organizações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, debatenum parlamento <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobre a guerra);- psicológico: todas as acções apresentadas<strong>na</strong> perspectiva da sua produção deefeitos sobre as opiniões públicas, sobre omoral das populações civis ou sobre o moral<strong>do</strong>s militares (p. ex., manobras de propagandaou de contrapopaganda desencadeadaspelos parti<strong>do</strong>s beligerantes, reacções de familiaresdas tropas, manifestações públicas);- económico: todas as situações que relevemfi<strong>na</strong>lidades ou consequências económicas<strong>do</strong> conflito (p. ex., preços <strong>do</strong> petróleo,custos das operações militares, efeitos para aseconomias inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l ou <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is);- civil: todas as acções que representemos efeitos directos e indirectos da guerra sobreas populações civis, tanto nos países emconflito como nos restantes, incluin<strong>do</strong> asacções de organizações de apoio humanitário(p. ex., situação humanitária das populações,efeitos da guerra sobre o quotidiano, vítimascivis de erros militares);Uma peça jor<strong>na</strong>lística pode ser rica <strong>na</strong>exploração de várias destas temáticas, embora<strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong>mediatização televisiva, tenda a focalizar-senuma delas. Não propomos, portanto, autilização destas subcategorias seguin<strong>do</strong> umcritério exclusivista, razão pela qual procedemosa uma classificação gradativa <strong>do</strong>s itensde análise, como explicamos <strong>na</strong> apresentação<strong>do</strong>s aspectos meto<strong>do</strong>lógicos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.b) MicrotemasA controvérsia gerada em torno da prossecução<strong>do</strong> conceito de «guerra preventiva»,a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> pelos actores políticos da coligaçãoanglo-america<strong>na</strong> e seus alia<strong>do</strong>s <strong>na</strong> justificaçãoda intervenção militar, forneceu-nos os«microtemas» da nossa análise, que subdividimosem <strong>do</strong>is grupos, consideran<strong>do</strong> osprincipais argumentos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s quealimentaram a esfera da controvérsia <strong>na</strong> fasepré-guerra e que se mantêm bem vivos nodebate público pós-guerra convencio<strong>na</strong>l.Definimos como temas pró-coligação asproblemáticas da existência de armas dedestruição maciça (ADM) no Iraque; daligação <strong>do</strong> regime de Saddam Hussein aoterrorismo de grupos fundamentalistasislâmicos e da diabolização <strong>do</strong> então presidenteiraquiano e <strong>do</strong> seu regime, que constituíram,<strong>na</strong> nossa perspectiva, os temascentrais da comunicação estratégica desenvolvidapelos actores políticos da coligaçãoe <strong>do</strong>s seus apoiantes.Como temas adversos aos objectivospolítico-estratégicos da coligação, considerámosas problemáticas da legalidade inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lpara desencadear uma acção militar,da prossecução de interesses económicos deelites políticas e empresariais <strong>do</strong>s países dacoligação e, por fim, da interpretação desta«guerra preventiva» como um ataque <strong>do</strong>ocidente contra o Islão - que classificamosgenericamente recorren<strong>do</strong> ao conheci<strong>do</strong>conceito huntingtiano de choque de civilizações(Cf.Huntington, 1999); pensamos queforam estes os três principais temas presentes<strong>na</strong>s acções e palavras <strong>do</strong>s actores que seopuseram às intenções da coligação angloamerica<strong>na</strong>,tanto <strong>na</strong>s daqueles que a<strong>do</strong>ptaramuma posição anti-coligação, como <strong>na</strong>s<strong>do</strong>s partidários de uma visão pró-iraquia<strong>na</strong>(inclusive o próprio regime), embora sejamduas posições distintas, que utilizam estestemas com modalidades e fi<strong>na</strong>lidades diferentes.A categorização apresentada é, comoreferirmos, restrita ao âmbito da controvérsiaem torno da legitimidade da intervençãomilitar, tentan<strong>do</strong> a essa luz dar conta ape<strong>na</strong>s<strong>do</strong>s temas que se nos apresentaram como maisrecorrentes. Ficam de fora muitos outrosmicrotemas surgi<strong>do</strong>s no decurso da <strong>na</strong>rrativamediática da guerra, muitos deles estimula<strong>do</strong>spela acção directa <strong>do</strong>s conten<strong>do</strong>res eminteracção com a acção <strong>do</strong>s media. Daobservação das imagens da primeira sema<strong>na</strong>de conflito, poderíamos destacar, por exemplo,as dúvidas levantadas pela administraçãonorte-america<strong>na</strong> em relação à identidadede Saddam Hussein, a questão <strong>do</strong>s prisioneirosde guerra iraquianos ou o problema<strong>do</strong>s militares captura<strong>do</strong>s por iraquianos. Oaprofundamento da nossa análise no senti<strong>do</strong>das problemáticas sugeridas ao longo daconstrução mediática da <strong>na</strong>rrativa da guerra


JORNALISMO209será certamente interessante num estu<strong>do</strong> maisglobal, que não teríamos hipótese de desenvolverno contexto de um trabalhoexploratório.Aspectos meto<strong>do</strong>lógicosOs da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> sãoresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento de uma análisequantitativa <strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is da RTP1,emiti<strong>do</strong>s entre os dias 20 de Março de 2003e 26 de Março de 2003. Para a coberturada Guerra <strong>do</strong> Iraque, este ca<strong>na</strong>l de serviçopúblico de televisão a<strong>do</strong>ptou um modelo deinformação em contínuo, com a abertura <strong>na</strong>grelha de emissão de espaços informativosespeciais («Jor<strong>na</strong>l da Guerra», «Diário daGuerra»), tentan<strong>do</strong> dar aos seus telespecta<strong>do</strong>resa sensação de cobertura em tempo realda evolução <strong>do</strong> conflito. A grelha de alinhamentoglobal da estação ficou, assim, subordi<strong>na</strong>daàs expectativas de evolução <strong>do</strong>sacontecimentos, o que lhe permitiu, porexemplo, emitir em directo o início <strong>do</strong>sbombardeamentos sobre Bagdade.Apesar desta opção editorial, segun<strong>do</strong> aqual as exigências da informação ultrapassamqualquer lógica de programação prédefinida,ocupan<strong>do</strong> espaços que tradicio<strong>na</strong>lmentesão desig<strong>na</strong><strong>do</strong>s para o entretenimento,este ca<strong>na</strong>l da RTP manteve no mesmo horárioo programa Telejor<strong>na</strong>l, aproveitan<strong>do</strong> estemomento tradicio<strong>na</strong>l de encontro com o seupúblico para dar as últimas novidades sobrea evolução <strong>do</strong> acontecimento e fazer um pontode situação sobre a cobertura geral da guerradurante o dia, além de apresentar ainda outrosassuntos que marcavam a actualidade. Amanutenção <strong>do</strong> formato habitual deste programade informação facilitou a constituição<strong>do</strong> corpus de análise <strong>do</strong> nosso estu<strong>do</strong>, poisseria praticamente impossível não só obterregistos completos de to<strong>do</strong>s os especiais deinformação realiza<strong>do</strong>s sobre a guerra, comotambém conseguir em pouco tempo, sem umaequipa de investigação, a<strong>na</strong>lisar um volumede elementos tão vasto. Partimos, assim, <strong>do</strong>pressuposto de que as edições <strong>do</strong> Telejor<strong>na</strong>lconstituem uma «amostra» substantiva dacobertura geral da Guerra <strong>do</strong> Iraque realizadapela RTP1.Como unidade de análise básica utilizámoso conjunto constituí<strong>do</strong> pela apresentação<strong>do</strong> pivô e qualquer outro elemento demediatização introduzi<strong>do</strong> pela sua «voz». Estaopção justifica-se porque é o «lead» <strong>do</strong> pivôque tem como objectivo conferir um primeirosenti<strong>do</strong> de enquadramento ao conteú<strong>do</strong> deoutros géneros jor<strong>na</strong>lísticos. Considerámos,assim, diferentes formatos da mediatizaçãoque utilizámos também como indica<strong>do</strong>rescomplementares para análise. No conjunto<strong>do</strong>s sete programas, foram a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s 199itens, cujo conteú<strong>do</strong> se encontrava liga<strong>do</strong> aoconflito no Iraque, e classifica<strong>do</strong>s 37 itensreferentes a outros assuntos.Na análise <strong>do</strong>s enquadramentosmacrotemáticos, procedemos, como referimosanteriormente, a uma classificação gradativa,segun<strong>do</strong> a qual to<strong>do</strong>s os itens eram a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>sem quatro níveis: sem significa<strong>do</strong>,significa<strong>do</strong> mínimo, significa<strong>do</strong> modera<strong>do</strong> esignifica<strong>do</strong> acentua<strong>do</strong>. Na análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>sfi<strong>na</strong>is, concluímos que os níveis intermédios(«significa<strong>do</strong> mínimo» e «significa<strong>do</strong>modera<strong>do</strong>») não apresentavam relevânciaestatística, pelo que optámos por agregar osseus resulta<strong>do</strong>s aos outros <strong>do</strong>is níveis (respectivamente,«sem significa<strong>do</strong>» e «significa<strong>do</strong>acentua<strong>do</strong>»).Para análise <strong>do</strong>s enquadramentosmicrotemáticos, uma vez que poderiam surgirnuma forma afirmativa, negativa ou neutra,optámos por considerar esses três campos declassificação, o que se revelou infrutíferoneste estu<strong>do</strong>, pois to<strong>do</strong>s os itens com referênciaa microtemas apresentaram-se-nossempre <strong>na</strong> forma «afirmativa». Pensamos, noentanto, que as três possibilidades de classificaçãopoderão fazer senti<strong>do</strong> em análisesfuturas.Resulta<strong>do</strong>sO perío<strong>do</strong> a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> coincide com a faseinicial da ofensiva terrestre da tropas dacoligação em território iraquiano, que podemosconsiderar «a primeira fase da guerra»(cf. Clark, 2004). Nos primeiros três dias (20a 22), assistimos aos bombardeamentos sistemáticossobre a capital iraquia<strong>na</strong> (à tentativade «capitulação» de Saddam Husseine à campanha «Choque e Pavor», comoanunciou o secretário da Defesa norte-americano),aos confrontos entre tropas terrestrese à sua progressão no terreno em direcção


210 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVa Bagdade, às rendições de solda<strong>do</strong>siraquianos. Surgem, a partir <strong>do</strong> quarto dia,as primeiras notícias mais desagradáveis paraa coligação: as imagens de solda<strong>do</strong>s americanosmortos em combate e feitos prisioneiros,as primeiras imagens de civis atingi<strong>do</strong>snos chama<strong>do</strong>s «efeitos colaterais», oabrandamento da progressão no terrenodevi<strong>do</strong> a uma tempestade de areia que assoloua região e os confrontos pela tomada deUmm Qasr e Bassorá. As tropas da coligaçãoencontram-se no chama<strong>do</strong> «círculo vermelho»,a poucos quilómetros da capital iraquia<strong>na</strong>.Começa a especulação sobre se a «batalha deBagdade» não poderá tor<strong>na</strong>r-se uma «batalhade Estalinegra<strong>do</strong>», fazen<strong>do</strong> assim apelo a umdispositivo de enquadramento histórico (Cf.Modigliani e Gamson, 1995: 3).a) Focalização macrotemáticaO enquadramento político-diplomático éo que se aproxima um pouco mais <strong>do</strong>s índicesda cobertura centrada <strong>na</strong>s questões militares,embora se situe sempre abaixo destas (Anexo– Gráficos 3c e 3d). Este resulta<strong>do</strong> temde ser a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> em conta o facto deem muitos casos se cruzarem as duas dimensõespelo duplo senti<strong>do</strong> em que os principaisactores e os seus actos de discurso podemsurgir no discurso jor<strong>na</strong>lístico. Em estu<strong>do</strong>sfuturos, a criação de um indica<strong>do</strong>r sobre osdiferentes tipos de actores (políticos, militares,civis...) de ambos os la<strong>do</strong>s beligerantespoderá ajudar a uma análise mais aprofundada<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s desta subcategoria.As implicações económicas <strong>do</strong> conflito, tantono campo da acção estratégica como no davida das comunidades, foram as problemáticasmenos exploradas nos Telejor<strong>na</strong>is daDa análise <strong>do</strong>s enquadramentosmacrotemáticos, sobressai uma atenção focalizadasobretu<strong>do</strong> nos aspectos estratégicose militares que envolveram o acontecimento.Quase três em cada quatro unidades de análisededicam-se, de forma moderada ou acentuada,às problemáticas militares da «primeirafase da guerra» (Anexo - Gráfico 3a). Estatendência mantém-se constante durante todaa sema<strong>na</strong> – sempre destacada das restantessubcategorias consideradas –, mas atinge osseus picos máximos nos três primeiros diasde conflito, em que o Telejor<strong>na</strong>l foi extraordi<strong>na</strong>riamentededica<strong>do</strong> ao início <strong>do</strong>sbombardeamentos a Bagdade e à explicaçãoda manobra estratégica das forças da coligação(Anexo - Gráfico 3b).primeira sema<strong>na</strong> de conflito. É puramenteresidual a percentagem de itens que sededicam de forma moderada ou acentuadaa esta dimensão (Anexo – Gráfico 3e), quese encontra ausente da maioria <strong>do</strong>s programasa<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s (Anexo – Gráfico 3f). Osaspectos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a manobra psicológicasobre as opiniões públicas (propaganda,contrapropaganda ou «guerra de informação»)e os efeitos da guerra sobre as forçasmorais (civis e militares) surgem como asegunda dimensão da guerra menos destacada,mas a um nível superior ao <strong>do</strong> enquadramentoeconómico. Um em cada cinco itensa<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s apresenta esta problemática comum significa<strong>do</strong> «modera<strong>do</strong>» ou «acentua<strong>do</strong>»(Anexo – Gráficos 3g e 3h).


JORNALISMO211Os efeitos directos e indirectos da guerrasobre as populações civis encontram-se presentescom um significa<strong>do</strong> «modera<strong>do</strong>» ou«acentua<strong>do</strong>» em cerca de um terço <strong>do</strong>s itens<strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is (Anexo – Gráfico 3i). É, assim,a terceira dimensão da problemática geral daguerra mais destacada, registan<strong>do</strong> uma tendênciaestável ao longo de toda a sema<strong>na</strong>,com uma excepção no 3º dia, em que ganhamaior destaque (Anexo – Gráfico 3j).b) Onde estão os temas da controvérsia?Tabela 1 - EnquadramentosMicrotemáticosTemasColigaçãoArmasde DestruiçãoMassiva10LigaçãoTerrorismo 1DiabilizaçãoRegime Iraquiano4Temas AdversosLegalidadeInter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lInteressesEconómicosChoqueCivilizacio<strong>na</strong>lTotal15Total8O da<strong>do</strong> mais surpreendente com que nosfomos deparan<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foi aconstatação de uma quase ausência <strong>do</strong>smicrotemas mais recorrentes que alimentaram– e que ainda alimentam – a esfera decontrovérsia gerada em torno <strong>do</strong> debatepúblico sobre a intervenção militar no Iraque.Ape<strong>na</strong>s 10 por cento <strong>do</strong>s itens <strong>do</strong> conjunto<strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is apresentaram alguma ligaçãocom pelo menos um <strong>do</strong>s seis temas quedefinimos no nosso modelo de análise (Anexo– Gráfico 4a).Nos poucos casos identifica<strong>do</strong>s, os temasda coligação anglo-america<strong>na</strong> representamquase o <strong>do</strong>bro <strong>do</strong>s temas a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s pelasvisões anti-coligação ou pró-iraquia<strong>na</strong>s. Noconjunto de to<strong>do</strong>s os temas, a questão dasarmas de destruição maciça foi a mais frequente,enquanto a problemática da falta delegitimidade inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l surge em segun<strong>do</strong>lugar. A questão das possíveis motivaçõeseconómicas por detrás <strong>do</strong> conflito não écolocada; a ligação <strong>do</strong> regime de Saddam agrupos terroristas e a visão <strong>do</strong> problema peloprisma <strong>do</strong> modelo «choque de civilizações»aparecem uma vez.Estes resulta<strong>do</strong>s vão ao encontro dasconclusões apuradas num estu<strong>do</strong> recente sobre701a acção <strong>do</strong>s media durante as várias fasesda crise iraquia<strong>na</strong>, que aponta para a existênciade uma diferença substantiva no destaqueque a imprensa (Sun, Daily Mirror, DailyTelegraph, Guardian) e as televisões (BBC,ITN) conferiram às justificações da guerradurante a fase de invasão. A investigação deHoward Tumber e Jerry Palmer constata aexistência de uma desproporção drástica entrea atenção conferida pelas televisões aosaspectos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a condução daguerra e a atenção prestada às justificaçõese consequências políticas a longo prazo(2004: 96-113). A partir <strong>do</strong> momento em queBagdade passa a ser <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da pelas forçasda coligação, segun<strong>do</strong> o mesmo estu<strong>do</strong>,verifica-se uma mudança dramática <strong>do</strong> focusde atenção das televisões, que passa a concentrar-semais <strong>na</strong>s consequências da guerra<strong>do</strong> que <strong>na</strong> sua condução, enquanto a imprensamantém uma tendência mais equilibradaentre as duas dimensões (2004: 102).ConclusãoAs conclusões que podemos extrair de umestu<strong>do</strong> exploratório terão de ser sempresujeitas a uma interpretação ainda mais atentae rigorosa <strong>do</strong> que as das investigações acabadas,sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se trata de análisesempíricas exclusivamente quantitativas, extraordi<strong>na</strong>riamenteúteis como ponto de partida,mas que tendem a deixar de la<strong>do</strong>pormenores importantes que só uma análisequalitativa poderá relevar.Realizámos este trabalho com a intençãode testar conceitos, um modelo de análisee a razoabilidade de algumas hipóteses, <strong>na</strong>expectativa de encontrarmos caminhos maisseguros para progredirmos <strong>na</strong> investigaçãoda sua problemática central. A evolução destainvestigação deverá passar não só pelo alargamento<strong>do</strong> seu corpus, tanto no tempo comonos sujeitos a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s, mas também pelaconcepção de um modelo de análise qualitativa,que contemple outros dispositivos deenquadramento mediático, além <strong>do</strong>senquadramentos temáticos. Permitimo-nos, noentanto, sublinhar uma conclusão no contexto<strong>do</strong> nosso corpus, que é limita<strong>do</strong>, masespelha parte significativa da atitude editorialde uma estação de televisão num perío<strong>do</strong>crucial da Guerra <strong>do</strong> Iraque.


212 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVSe as notícias são, como descreveTuchman, «uma janela para o mun<strong>do</strong>», que«pretendem dar-nos aquilo que queremossaber, necessitamos de saber e devemossaber» (1978: 1), a janela <strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is daRTP1, durante a primeira sema<strong>na</strong> de conflito,ofereceu aos seus telespecta<strong>do</strong>res umaversão essencialmente unidimensio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>fenómeno da guerra, com uma excelente vistapara a «frente de combate», mas de costasvoltadas à controvérsia sobre a sua existência.


JORNALISMO213BibliografiaBennett, W. Lance e Paletz, David L.(1994), Taken by Storm, Chicago e Londres,The University of Chicago Press.Charaudeau, Patrick et al (2001), LaTélévision et la Guerre – Déformation ouconstruction de la réalité ?, Bruxelas, ÉditonsDe Boeck Université.Clark, Wesley K. (2004), Vencer asGuerras Moder<strong>na</strong>s – Iraque, Terrorismo eo Império Americano, Mafra, Temas eDebates.Couto, Abel Cabral (1989), Elementos deEstratégia, Lisboa, Vol. I, Instituto de AltosEstu<strong>do</strong>s Militares.Entman, Robert (1993). «Framing:Toward Clarification of a FracturedParadigm», in Jour<strong>na</strong>l of Communication,43(4), pp. 51-58.Gamson, William A. e Modigliani, Andre(1992), «Media Discourse and Public Opinionon Nuclear Power: A ConstructionistApproach», in The American Jour<strong>na</strong>l ofSociology, Vol. 95 Nº1, pp. 1-37.Gitlin, Todd (1980). The Whole Worldis Watching, Berkeley e Los Angeles,University of California Press.Goffman, Erving (1976). Frame A<strong>na</strong>lysis,Cambridge, Massachusetts, HarvardUniversity Press (3ªedição).Huntington, Samuel P. (1999). O Choquedas Civilizações – e a Mudança <strong>na</strong>Ordem Mundial, Lisboa, Gradiva.Iyengar, Shanto e Simon, Adam (1993).«News Coverage of the Gulf Crisis and PublicOpinion», in Communication Research, Vol.20 Nº3, pp. 365-383.McCombs, Maxwell e Shaw, Do<strong>na</strong>ld(2000 [1972]). «A Função de Agendamento<strong>do</strong>s Media», in Nelson Traqui<strong>na</strong> (org.), OPoder <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo, Coimbra, MinervaCoimbra, 2000, pp. 47-61.McCombs, Maxwell e Shaw, Do<strong>na</strong>ld(2000 [1993]). «A Evolução da PesquisaSobre o Agendamento», in Nelson Traqui<strong>na</strong>(org.), O Poder <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo, Coimbra,MinervaCoimbra, 2000, pp. 125-135.Mesquita, Mário (2003), O QuartoEquívoco – o poder <strong>do</strong>s media <strong>na</strong>s sociedadescontemporâneas, Coimbra, MinervaCoimbra.Santos, José Rodrigues <strong>do</strong>s (2003), «Emdirecto da guerra – O impacto da Guerra <strong>do</strong>Golfo no discurso jor<strong>na</strong>lístico», in Media &Jor<strong>na</strong>lismo, nº3, 2º Ano, CIMJ-Centro deInvestigação Media e Jor<strong>na</strong>lismo eMinervaCoimbra, pp. 23-28.Scheufele, Dietram A. (1999). «Framingas a Theory of Media Effects», in Jour<strong>na</strong>lof Communication, 49 (1), pp. 103-122.Taylor, Philip (1993), War and the Media- Propaganda and Persuasion in the GulfWar, Manchester, Manchester UniversityPress.Tuchman, Gaye (1978). Making News,New York e Lon<strong>do</strong>n, The Free Press (1ªedição paperback: 1980).Tumber, Howard e Palmer, Jerry (2004),Media at War, Londres, Sage Publications.Wolton, Dominique (1991), War Game- L’information et la guerre, Paris,Flammarion.Woodrow, Alain (1991), Informação eManipulação, Lisboa, Publicações DomQuixote._______________________________1Escola Superior de Comunicação Social –Instituto Politécnico de Lisboa; CIMJ - Centrode Investigação Media e Jor<strong>na</strong>lismo;telmogoncalves@netcabo.pt.2Discurso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da União dirigi<strong>do</strong> pelopresidente <strong>do</strong>s EUA ao Congresso a 29 de Janeirode 2002; http://www.whitehouse.gov/news/releases/2002/01/20020129-11.html3Ver «’Combates violentos’ entre forçasespeciais <strong>do</strong>s EUA e unidades iraquia<strong>na</strong>s», inPúblico, 20.03.2003, p.8.4Ver «Embedded Reporters: What areAmerican Getting?», Project for Excellence inJour<strong>na</strong>lism (http://www.jour<strong>na</strong>lism.org/resources/reports/war/embed).


214 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVAnexo1. Agenda Geral2. Modalidades da Mediatização


JORNALISMO2153. Enquadramentos Macrotemáticos


216 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO217


218 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV4. Enquadramentos microtemáticos


JORNALISMO219Weblogs y Periodismo ParticipativoTiscar Lara 1IntroducciónLa evolución de nuevas tecnologíasaplicadas a internet y el deseo de losusuarios de ser parte activa en los procesosde comunicación están dan<strong>do</strong> lugar a nuevasformas de participación que exigen u<strong>na</strong>reformulación del rol del periodismo, asícomo u<strong>na</strong> mayor integración de losciudadanos en la construcción de losmensajes de la realidad social. Los weblogsson probablemente la forma de PeriodismoParticipativo más desarrollada en internet.Sus particulares características hacen quecontribuyan a la democratización de losmedios de comunicación, <strong>do</strong>tán<strong>do</strong>los detransparencia y facilitan<strong>do</strong> la incorporaciónde nuevas voces al entorno mediático.Periodismo ParticipativoEn julio de 2003 la organización NDNNew Directions for News 2 publicó el estudioWe Media <strong>do</strong>nde se a<strong>na</strong>lizaba la forma enque las audiencias perfilaban el futuro delas noticias y de la información. Másconcretamente, el concepto We Media 3explora la idea de la participación delpúblico en la construcción de la informacióny la comunicación frente a los grandesgrupos mediáticos. Según este estudio, elPeriodismo Participativo se define como:“El acto de un ciudadano, o grupode ciudadanos, desempeñan<strong>do</strong> un rolactivo en los procesos derecopilación, cobertura, análisis ydifusión de noticias e información.El objetivo de esta participación esproporcio<strong>na</strong>r la informaciónindependiente, fidedig<strong>na</strong>, precisa,completa y relevante que requiereu<strong>na</strong> democracia” 4Los weblogs, blogs o bitácorasUn weblog, también llama<strong>do</strong> blog obitácora se define, según los investiga<strong>do</strong>resJaime Alonso y Lourdes Martínez, de lasiguiente manera:“Un medio interactivo defini<strong>do</strong> porcinco rasgos: es un espacio decomunicación perso<strong>na</strong>l, susconteni<strong>do</strong>s abarcan cualquiertipología, los conteni<strong>do</strong>s presentanu<strong>na</strong> marcada estructura cronológica,el sujeto que las elabora sueleadjuntar enlaces a sitios web quetienen relación con los conteni<strong>do</strong>sque se desarrollan y la interactividadaporta un alto valor añadi<strong>do</strong> comoelemento di<strong>na</strong>miza<strong>do</strong>r en el procesode comunicación” 5 .En otras palabras, podríamos decir queun weblog es u<strong>na</strong> pági<strong>na</strong> web perso<strong>na</strong>l,<strong>do</strong>nde la información es actualizadafrecuentemente y presentada en un ordencronológico inverso, de tal manera que lapublicación más reciente se sitúa alcomienzo de la pági<strong>na</strong>. También se puedeentender como un diario de apuntes, <strong>do</strong>ndese comentan noticias o se hacen reflexionesperso<strong>na</strong>les. Normalmente, cada “post”, quepodríamos traducir como nota, artículo,comentario o entrada, contiene u<strong>na</strong> serie dehiperenlaces a las pági<strong>na</strong>s que se citan enel texto.Así defini<strong>do</strong>s, los weblogs no parecería<strong>na</strong>portar <strong>na</strong>da nuevo al panorama de internet.Sin embargo, lo que les distingue de meraspági<strong>na</strong>s webs perso<strong>na</strong>les es la evolucióntécnica que se ha veni<strong>do</strong> desarrollan<strong>do</strong> enlos últimos años y que ha contribui<strong>do</strong> asu rápi<strong>do</strong> crecimiento. La evolución de loslenguajes de programación 6 y de losprogramas de autoedición ha permiti<strong>do</strong> que


220 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVun usuario medio pueda publicar su propioproyecto de “revista”, “diario”, etc. en internetsin necesidad de conocimientos previos delenguaje HTML o diseño gráfico. Y to<strong>do</strong> estobajo la estructura weblog. Tampoco esnecesario disponer de un servi<strong>do</strong>r en internet,puesto que algu<strong>na</strong>s webs como Blogger.comofrecen espacio gratuito y asesoramiento enla publicación de weblogs, de forma quecualquier perso<strong>na</strong> con u<strong>na</strong> dirección de emailpuede comenzar a publicar su weblog enpocos minutos.La mayor atención mediática sobre laimportancia de los weblogs surgió a raíz dela compra en febrero de 2003 del portalBlogger.com por parte de Google, hastaentonces el mayor motor de búsqueda en laweb 7 . En el momento de la venta,Blogger.com contaba con más de un millóny medio de usuarios registra<strong>do</strong>s con weblogpropio dentro de su <strong>do</strong>minio. Para hacernosu<strong>na</strong> idea de la dimensión de la blogosfera,podemos citar la cifra de más de cuatromillones de weblogs aloja<strong>do</strong>s en los ochoservi<strong>do</strong>res de weblog gratuito estudia<strong>do</strong>s porel informe Perseus 8 de octubre de 2003. Noobstante, hasta el momento y mientras losbusca<strong>do</strong>res no alcancen méto<strong>do</strong>s de búsquedamás sofistica<strong>do</strong>s 9 , es difícil aproximarse au<strong>na</strong> cifra real puesto que gran parte de losweblogs no están aloja<strong>do</strong>s en servi<strong>do</strong>resgratuitos, sino que son instala<strong>do</strong>s por losusuarios en su propio servi<strong>do</strong>r. Estainstalación es posible gracias al desarrollode aplicaciones weblog de software libre ygratuito a disposición de cualquier usuario,como son Movable Type (http://movabletype.org) y Greymatter (http://noahgrey.com/greysoft).El mun<strong>do</strong> de la Universidad tampoco hasi<strong>do</strong> ajeno al auge de este fenómeno. A lolargo del año 2003, <strong>do</strong>s de las institucionesmás importantes en el estudio del periodismohan dedica<strong>do</strong> sus últimas publicaciones alanálisis del fenómeno de los weblogs: laFundación Nieman de la Universidad deHarvard y la Columbia Jour<strong>na</strong>lism Reviewde la Universidad de Columbia. Por otro la<strong>do</strong>,también en 2003 la Universidad de Harvardcontrató los servicios de Dave Winer 10 , unode los más conoci<strong>do</strong>s crea<strong>do</strong>res de softwareweblog, para experimentar con la utilidadde la implantación de los servicios de weblogen la comunidad universitaria. De estassesiones de trabajo surgió la celebración delprimer congreso sobre weblog, BloggerCon,que tuvo lugar en la Universidad de Harvarden octubre de 2003 y que ya cuenta con u<strong>na</strong>segunda edición en abril de 2004 11 .Momentos clave de la expansión de losweblogsLos conflictos bélicos han supuestotradicio<strong>na</strong>lmente un elemento di<strong>na</strong>miza<strong>do</strong>r enla profesión periodística. Si bien la guerradel Golfo de 1991 fue considerada como laprimera guerra en directo y la guerra deKosovo supuso un salto cualitativo en losdiarios digitales online, el fenómeno weblogse vio impulsa<strong>do</strong> por los sucesos del 11 deseptiembre de 2001 y se afianzó como medioen la guerra de Iraq de 2003.Según un estudio del Pew InternetProject 12 , los acontecimientos del 11 deseptiembre generaron el mayor tráfico devisitas a webs de noticias en la historia deinternet. Muchos de estos sitios no pudiero<strong>na</strong>bsorber toda la demanda y eso hizo que lagente se dirigiera a buscarla a través delemail, los foros y los incipientes weblogs queempezaban a surgir en esa época. La respuestade internet dio lugar a u<strong>na</strong> nueva proliferacióndel “haz tu propio periodismo”. De aquellaépoca son las primeras incursiones en laproducción de weblogs de perso<strong>na</strong>sreconocidas hoy dentro de este campo, comoes el caso del periodista Jeff Harvis, en laactualidad director de Advance.net, divisiónen internet de la editorial Condé Nast y u<strong>na</strong>de las empresas pioneras en ofrecer espacioa sus lectores para la publicación de suspropios artículos.2003 fue el año de la consolidación delos weblogs como forma de comunicaciónen internet. La invasión de Iraq en marzode ese año generó la proliferación de losllama<strong>do</strong>s “warblogs” por parte de autores muydistintos entre sí: desde corresponsales deguerra y periodistas freelances en el frentehasta ciudadanos iraquíes y testigos directos.Este fue el caso de uno de los weblogs másvisita<strong>do</strong>s en aquellos días y que llegó a tener20.000 usuarios: el weblog de Salam Pax 13 .Desde el anonimato, Salam Pax era elpseudónimo de un joven iraquí estudiante de


JORNALISMO221arquitectura que escribía desde Bagdad supropia visión del conflicto. Actualmente estejoven escribe regularmente u<strong>na</strong> colum<strong>na</strong> parael diario inglés The Guardian y ha publica<strong>do</strong>en julio de 2003 un libro sobre suexperiencia.Por otra parte, cabe destacar laexperiencia del periodista Chris Allbrittonque acudió a Iraq como envia<strong>do</strong> especialde su propio weblog y demostró larentabilidad de este tipo de iniciativas.Allbritton, ex periodista de Associated Pressy freelance en Iraq se destacó como el primercorresponsal independiente de internet. Esteperiodista fue fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong> por los lectores desu weblog www.back-to-iraq-com a cambiode información de primera mano. Allbrittonrecaudó 14.000 dólares de sus cerca de25.000 lectores diarios durante el conflicto,contan<strong>do</strong> técnicamente tan sólo con unorde<strong>na</strong><strong>do</strong>r portátil presta<strong>do</strong> y un teléfonosatélite de alquiler. La relación de Allbrittoncon sus lectores hizo que escribiera sobretemas a petición de los mismos, de tal formaque pasaron de ser lectores a ser editoresy dan<strong>do</strong> lugar a reportajes de temasorigi<strong>na</strong>les no cubiertos por los grandesmedios, como fue la vida de los turcomanosen la zo<strong>na</strong>.Chris Allbritton demostró también quelos principios éticos y las normas estilísticasdel periodismo no están reñi<strong>do</strong>s con lapublicación en un weblog. Por u<strong>na</strong> parte,este periodista no ocultó en ningún momentosu posición contraria a la guerra, pero estotampoco le impidió intentar ser lo másobjetivo posible:“Cuan<strong>do</strong> no era capaz de conseguiru<strong>na</strong> fuente directa para un artículo,no lo escribía [...] Creo fervientementeque si los blogs quieren ser toma<strong>do</strong>sen serio por el medio periodístico, susautores tendrán que ser tanmeticulosos en la forma de tratar lasnoticias como cualquier empresaperiodística [...] Esto no quiere decirque los weblogs reemplazarán al NewYork Times. En lugar de eso, losblogs serían como el aliño o laguarnición en u<strong>na</strong> dieta mediáticaequilibrada para el lector” 14 .Dentro de la relación entre weblogs yperiodismo, la explosión de los weblogs enla guerra de Iraq también puso de manifiestol conflicto latente entre la línea editorial deun medio de comunicación y los weblogsparticulares de sus periodistas. Así lo pruebael caso de Kevin Sites, cuyo weblog fuecensura<strong>do</strong> por la cade<strong>na</strong> CNN para la cualtrabajaba como envia<strong>do</strong> a Iraq. En sólo <strong>do</strong>ssema<strong>na</strong>s, su weblog particularwww.kevinsites.net estaba entre los 100weblogs más enlaza<strong>do</strong>s y había logra<strong>do</strong> laatención de diarios como el New York Times,el Washington Post y el Wall Street Jour<strong>na</strong>l.Fi<strong>na</strong>lmente, el 20 de marzo, la cade<strong>na</strong> CNNle pidió que dejara de publicar en su webloga fin de mantener su contrato, aducien<strong>do</strong> que“trabajar para la CNN y sus 35 filiales esun trabajo a tiempo completo” 15 . GlenReynolds, profesor de derecho en laUniversidad de Tennessee y popular por suweblog www.instapundit.com ha critica<strong>do</strong> elsuceso de Kevin Sites como un “posible casode monopolio” por parte de la CNN. Segúnél, la cade<strong>na</strong> no vería la pági<strong>na</strong> de Sites comocompetencia directa sino que temería que sucorresponsal se hiciera u<strong>na</strong> estrella, pidieramás dinero o fuera ficha<strong>do</strong> por otra cade<strong>na</strong> 16 .Actualmente, Kevin Sites trabaja comoperiodista freelance para NBC, trabajo quecompatibiliza sin problema con lareanudación de la publicación habitual en suweblog.El 11 de marzo de 2004 en MadridLos atenta<strong>do</strong>s del 11 de marzo de 2004en Madrid tuvieron u<strong>na</strong> gran repercusión enla demanda de información en internet, cuyotráfico aumentó en un 800% durante lasprimeras horas del día 17 . Los principalesdiarios de información tuvieron que lanzarportadas más ligeras para atender a lademanda creciente, como la de Elmun<strong>do</strong>.esque superó en tres veces a la de un díanormal 18 .Los weblogs, por su parte, tambié<strong>na</strong>cogieron gran parte de la necesidad deinformaciones puntuales y sirvieron comoaltavoz para el encuentro de las víctimas ylos ciudadanos. Algunos weblogs se abrieroninmediatamente como espacios monográficos


222 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdedica<strong>do</strong>s exclusivamente a este tema, comola pági<strong>na</strong> http://11demarzo.blogalia.com y lainiciativa Quienmeayudó http://www.quienmeayu<strong>do</strong>.com, u<strong>na</strong> pági<strong>na</strong>dedicada a poner en contacto a las víctimasy a las perso<strong>na</strong>s anónimas que lassocorrieron. Este la<strong>do</strong> más humano seaprecia también en los sobrecoge<strong>do</strong>restestimonios de algu<strong>na</strong>s perso<strong>na</strong>s quesobrevivieron al atenta<strong>do</strong> y se volcaron ensus weblogs perso<strong>na</strong>les pocas horas despuésdel suceso, como es el caso de la joven Arihttp://ari28.blogspot.com/:“El atenta<strong>do</strong> de esta maña<strong>na</strong> en Atochame ha pilla<strong>do</strong> en el mismoanden......para venir a trabajar he decoger el tren q va por la via 1 y labomba la han coloca<strong>do</strong> en el tren dela via 2.......Via 1 y 2 comparten ande<strong>na</strong>si q, no quiero ni pensar q habriapasa<strong>do</strong> si el tren hubiera estalla<strong>do</strong>dentro de la estacion......” 19Sin poder desligar la relación entrelos atenta<strong>do</strong>s del 11 de marzo de lareacción ciudada<strong>na</strong> en los díassiguientes y previos a las eleccionesgenerales del 14 de marzo, hay quedestacar también que los weblogs seconviertieron en un medio alter<strong>na</strong>tivode movilización ciudada<strong>na</strong> y coberturainformativa de la misma 20 .Weblogs y periodismoLa mayor parte de los autores que estudianel fenómeno weblog prefieren no definir deforma genérica los weblogs como “u<strong>na</strong> nuevaforma de periodismo”, puesto que, aunquealgunos weblogs sí se dedican a funcionesbásicas del periodismo, no to<strong>do</strong>s estánorienta<strong>do</strong>s a funciones periodísticas. Elinvestiga<strong>do</strong>r J.D. Lasica considera que losweblogs son un periodismo de distinta<strong>na</strong>turaleza, un periodismo no liga<strong>do</strong>estrictamente a los valores del periodismotradicio<strong>na</strong>l. Según Lasica, “los bloggersvaloran la conversación informal, eligualitarismo, los puntos de vista subjetivosy escribir sobre beneficios, control central,objetividad y conteni<strong>do</strong>s filtra<strong>do</strong>s” 21 .No obstante, aunque la práctica de losweblogs tiene cada día más adeptos, no todala comunidad periodística se muestraentusiasta ante el peso que están adquirien<strong>do</strong>.Algunos escépticos como Leslie Walter 22 delWashington Post dudan de que los lectorespuedan confiar en un medio que no se ajustaa los principios estableci<strong>do</strong>s de precisión,objetividad y verdad del periodismotradicio<strong>na</strong>l. En realidad, el PeriodismoParticipativo y concretamente los weblogsexigen reconsiderar el paradigma de laobjetividad en el periodismo. Estas nuevasformas de participación pública funcio<strong>na</strong>n consus propios méto<strong>do</strong>s de calidad,como son losfiltros de reputación -la perso<strong>na</strong> que publicaun weblog se va hacien<strong>do</strong> un nombre en lacomunidad en función de la calidad de suspublicaciones- y los círculos de confianza -a través de las referencias cruzadas queproporcio<strong>na</strong>n los links, algo pareci<strong>do</strong> a cómofuncio<strong>na</strong>n las referencias bibliográficas enu<strong>na</strong> publicación académica.Funciones de los weblogs en el periodismoAportar transparencia a los medios decomunicaciónLos weblogs pueden ser considera<strong>do</strong>scomo un medio ideal para potenciar larelación entre la prensa y los ciudadanos. Paraello es necesario que los medios decomunicación hagan saber a su audienciacómo trabajan, cuáles son las informacionesde las que parten y en base a qué criteriosdeciden seleccio<strong>na</strong>r u<strong>na</strong> parte en función delto<strong>do</strong>. Los weblogs, por su propia <strong>na</strong>turaleza,están dan<strong>do</strong> un ejemplo de transparencia alos medios de comunicación tradicio<strong>na</strong>les, yaque gran parte de su fuerza radica en el usoextensivo de los hiperenlaces y delcomentario abierto. Este tipo de medidaspodrían haber evita<strong>do</strong>, o al menos detecta<strong>do</strong>con mayor antelación, escándalos demanipulación como el del reportero JaysonBlair del New York Times en mayo de 2003y recientemente el de Jack Kelley del USAToday 23 . En este senti<strong>do</strong> cabe mencio<strong>na</strong>r lalabor del blogger Tim Blair al destapar u<strong>na</strong>manipulación en un reportaje del periodistaUli Schmetzer del Chicago Tribune en febrerode 2004 24 .


JORNALISMO223De entre las posibles adaptaciones, losmedios podrían incorporar los links a lasfuentes de las noticias que tengan presenciaonline, aportar los textos origi<strong>na</strong>les de losque se hayan seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong> fragmentos -porejemplo, la trascripción completa de u<strong>na</strong>entrevista editada-, pedir la opinión de loslectores en temas de su especialidad, escribirreportajes de acuer<strong>do</strong> a las sugerencias opistas de los lectores, ofrecer el material enbruto de los artículos en los que se estétrabajan<strong>do</strong> e 10 Tíscar Lara invitar a loslectores a contribuir al mismo.Favorecer el debate públicoLos weblogs son u<strong>na</strong> herramienta de granutilidad para generar debate y comentariossobre las noticias. Así lo considera PaulGrabowicz, director del programa de NewMedia en la Universidad de Berkeley:“Los weblogs son con gran diferenciamucho más anima<strong>do</strong>s que los foroscomplacientes de las webs de noticias.Estos evitan conversaciones másextensas <strong>do</strong>nde lo que la gente tieneque decir sobre lo que se ha escritose considera de igual importancia” 25 .El secreto puede estar en el propio diseñode las herramientas de weblog, que permitenescribir comentarios directamente, sin filtra<strong>do</strong>ni formularios previos, y liga<strong>do</strong>s físicamentea la noticia comentada. Algu<strong>na</strong>s publicacionescomo la Columbia Jour<strong>na</strong>lism Review en suweblog de análisis de la campaña electoral2004 26 no permiten el comentario abierto, locual es critica<strong>do</strong> por Dan Gillmor, quie<strong>na</strong>punta que “en lugar de hacerpronunciamientos, CJR y sus colabora<strong>do</strong>resdeberían promover la conversación” y añade“serían mucho más creíbles si confiaran enque sus lectores podráin tener algo inteligenteque añadir” 27 . Este podría ser un buenindica<strong>do</strong>r del gra<strong>do</strong> de apertura de un mediode comunicación que quisiera integrar losweblogs en su estructura.Observatorio de los mediosU<strong>na</strong> de las funciones más desarrolladaspor algunos weblogs con respecto alperiodismo es la de actuar comoobservatorio de los propios medios decomunicación, lo que se viene denomi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>como watchblogs. En los últimos meses seha puesto en marcha un proyecto en Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> “A<strong>do</strong>ptar a unperiodista” 28 , que anima a los ciudadanosa escribir un weblog a<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong> de cercael trabajo de un determi<strong>na</strong><strong>do</strong> periodista ensu seguimiento de la campaña electoral enEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Uno de estos bloggers esTim Withers, quien en su weblog http://wilgorenwatch.blogspot.com/ se dedica aa<strong>na</strong>lizar y contrastar las colum<strong>na</strong>s que laperiodista Jody Wilgoren escribe en el NewYork Times sobre la campaña de HowardDean a la presidencia de la Casablanca. Estainiciativa ha si<strong>do</strong> seguida por otros bloggersanónimos que hacen lo propio con periodistasde otros medios como The Washington Posty Associated Press. Para Mark Glaser,columnista de OJR, esta práctica se podríaconsiderar como un avance en la crítica yanálisis de medios, así como un gran <strong>potencial</strong>en la mejora del trabajo periodístico 29 .Otros ejemplos, fuera del contexto decampaña electoral, demuestran también suutilidad. Aquí habría que mencio<strong>na</strong>r el casode Ira Stoll, u<strong>na</strong> mujer de 29 años,responsable del weblog Smartertimes.com<strong>do</strong>nde diariamente comenta las imprecisionesy erratas del diario New York Times. Ademásde las mil visitas diarias que suele tener supági<strong>na</strong>, Stoll envía sus artículos por emaila más de 5.500 subscriptores 30 .Mostrar los méto<strong>do</strong>s del periodismoLa utilización de méto<strong>do</strong>s periodísticosen los weblogs contribuye a un mayorconocimiento de la propia <strong>na</strong>turaleza delperiodismo. Quienes lo practican seconvierten de esta manera en ciudadanos máscríticos y demandantes de un periodismo decalidad. Así lo creen algunos investiga<strong>do</strong>res,como el profesor Jay Rosen quien destacala función educa<strong>do</strong>ra de los watchblogs:“La observación es discipli<strong>na</strong>.Incorpora la cautela. Se mejora conla práctica. Hace que te fijes en losdetalles (por ejemplo, en el tono delperiodista). A<strong>na</strong>lizar un reportaje será


224 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV<strong>educativo</strong> para aquellos que lohacen” 31 .Otros autores defienden esta idea, comoel periodista Matt Welchen, quien en suartículo “El peso de los nuevos periodistasamateurs” en la Columbia Jour<strong>na</strong>lismReview, reconoce que los weblogs no sóloaportan nuevas fuentes de información a loslectores sino que permiten a sus propietariosactuar como periodistas:“Seleccio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> las noticias, valoran<strong>do</strong>la credibilidad de las fuentes,escribien<strong>do</strong> títulos, toman<strong>do</strong>fotografías, desarrollan<strong>do</strong> estilos deescritura, relacionán<strong>do</strong>se con loslectores, construyen<strong>do</strong> audiencia,sopesan<strong>do</strong> los sesgos ideológicos yocasio<strong>na</strong>lmente llevan<strong>do</strong> a caboinvestigaciones propias”y añade“miles de amateurs están aprendien<strong>do</strong>cómo hacemos nuestro trabajoconvirtién<strong>do</strong>se en el proceso enlectores más sofistica<strong>do</strong>s y críticosmás agu<strong>do</strong>s” 32 .Aportar pluralismo al entorno mediáticoLa proliferación de weblogs incrementael número de voces en la esfera de los mediosde comunicación. Para el profesor deColumbia, Eric Alterman, se trata de un soplode aire fresco al entorno mediático:“La concentración de la propiedad delos medios de comunicación y elincremento del conservadurismo deesas instituciones periodísticas abrenu<strong>na</strong> clamante necesidad de fuentesalter<strong>na</strong>tivas de información y opiniónque no encuentran un espacio enningún lugar de los medios” 33 .En este nuevo paradigma, el periodismodeja de participar en los procesos decomunicación desde sus posicionesprivilegiadas. Mark Glaser reconoce que unode los principales cambios tiene que ver conla forma de concebir al propio periodismo:“Los periodistas están sien<strong>do</strong>destro<strong>na</strong><strong>do</strong>s de su torre de marfil.Muchos periodistas querrían creer quesu reportaje sobre u<strong>na</strong> guerra, u<strong>na</strong>selecciones o un parti<strong>do</strong> de béisbol esla última palabra. Pero cuan<strong>do</strong> elemail del reportero empezó a serpublica<strong>do</strong> al fi<strong>na</strong>l del artículo enprensa, la dinámica cambió. Entonces,los foros online y las respuestas diero<strong>na</strong> los lectores más presencia y condujoa u<strong>na</strong> mayor interacción [...]proporcio<strong>na</strong> u<strong>na</strong> voz mucho mayor alos lectores no periodistas dan<strong>do</strong>opciones para atacar, contraatacar ycorregir artículos de maneras que nohabían existi<strong>do</strong> antes”.Archivo y <strong>do</strong>cumentaciónLa estructura de los weblogs,caracterizada por las entradas cronológicasy los sistemas de búsqueda de los artículosen la propia web, los convierten en útilesfuentes de información y consulta para losperiodistas. Ello se ve ayuda<strong>do</strong> por la propiavocación de permanencia y de interconexiónde la <strong>na</strong>turaleza de los weblogs. Así lorecogen los investiga<strong>do</strong>res Torill Mortenseny Jill Walker, quienes han escrito un artículo 34sobre la utilidad del weblog en lainvestigación académica, con la quecomparte, según ellos, características propiascomo el placer por el debate y la atribuciónde las citas.ConclusiónLa aparición de formas de PeriodismoParticipativo en internet y la popularidad delos weblogs abren un camino a laincorporación de nuevas voces en elpanorama mediático. Con el uso eficaz deestas herramientas, el ciudadano puede, deesta manera, reivindicar su espacio comocomunica<strong>do</strong>r en u<strong>na</strong> democracia. En esteentorno, el nuevo periodista habrá dereconducir su labor social y ayudar a losciudadanos a desarrollarse creativamente enla sociedad de la información. Es tarea deto<strong>do</strong>s nosotros, ya sea desde el campo delos medios de comunicación, como desde laescuela y la universidad favorecer el uso


JORNALISMO225crítico y creativo de los medios a nuestroalcance.Si bien hay iniciativas de medios queestán incorporan<strong>do</strong> weblogs a susredacciones 35 , éstas no deben quedarse en elsimple exotismo formal de dar u<strong>na</strong> aparienciade modernidad. La evolución de los weblogsestá suponien<strong>do</strong> algo más que la meraproliferación de pági<strong>na</strong>s perso<strong>na</strong>les: estándan<strong>do</strong> lecciones de ética, saber hacer,confianza y proximidad que deberían sera<strong>do</strong>ptadas por los medios de comunicacióntradicio<strong>na</strong>les. Tomemos sus elementospositivos como u<strong>na</strong> motivación para elaprendizaje continuo en la práctica de unperiodismo de calidad, un PeriodismoParticipativo como no podría ser de otramanera en u<strong>na</strong> sociedad democrática.


226 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV_______________________________1Universidad Complutense de Madrid.2We media. How audiences are shaping thefuture of news and information. http://www.hypergene.net/wemedia/<strong>do</strong>wnload/we_media.pdf Formato html disponible en:www.hypergene.net3El movimiento We Media es también el títulodel libro que uno de sus mayores precursores, DanGillmor, está escribien<strong>do</strong> sobre PeriodismoParticipativo. Gillmor propone en su pági<strong>na</strong> webhttp://weblog.siliconvalley.com/column/dangillmor/ la discusión de los capítulos que tieneproyecta<strong>do</strong>s para su libro y se compromete aincorporar las contribuciones de los usuarios.4We media. Pág. 6.5Díaz Noci, J y Salaverría, R. Manual deRedacción Ciberperiodística (2003). Barcelo<strong>na</strong>,Ariel. Capítulo 6. Pág. 296.6Las tecnologías propias del formato weblogson principalmente los sistemas de Trackback yRSS. Gracias al sistema Trackback podemos seguirel rastro del impacto que nuestra publicación hayapodi<strong>do</strong> tener en otras webs, por medio de unlink automático a esas referencias. Por su parte,la tecnología RSS o Really Simple Syndicationse basa en el lenguaje XML y nos permitesubscribirnos -y ser susceptibles de subscripciónpor parte de otros- a aquellas webs de noticiasy weblogs que publiquen en ese formato -porejemplo, el New York Times-, de tal manera quepodamos recibir regularmente sus titulares.7Gillmor, D. Google Buys Pyra: BloggingGoes Big-Time. 15/02/2003http://weblog.siliconvalley.com/column/dangillmor/archives/000802.shtml8Los servi<strong>do</strong>res de weblog gratuito estudia<strong>do</strong>sson Blog-City, BlogSpot- Blogger, Diaryland,LiveJour<strong>na</strong>l, Pitas, TypePad, Weblogger y Xanga.Informe Perseus. The blogging iceberg. [Consulta:08/10/2003]. http://www.perseus.com/blogsurvey9Para localizar un weblog se puede emplearun busca<strong>do</strong>r especializa<strong>do</strong> como el Blogdex http://blogdex.media.mit.edu desarrolla<strong>do</strong> por el MIT(Massachussets Institute of Technology) en 2001que permite la búsqueda por la dirección web opor texto. También resulta útil la búsqueda a travésde los directorios, <strong>do</strong>nde los weblogs vienenlista<strong>do</strong>s en función de su tema, idioma, etc. Entreellos cabe destacar www.bitacoras.net ywww.blogalia.es como referente en castellano.10Winer, D. http://blogs.law.harvard.edu11BloggerCon.http://blogs.law.harvard.edu/bloggerCon/12Pew Internet & American Life Project. Oneyear later: September 11 and the Internet. 5/09/2002. http://www.pewinternet.org/reports/toc.asp?Report=6913http://dear_raed.blogspot.com/ Para másinformación, consultar la entrevista con SalamPax en el foro interactivo de BBC News: http://newsvote.bbc.co.uk/mpapps/pagetools/print/news.bbc.co.uk/2/hi/talking _point/3116344.stm14Allbritton, C. Blogging from Iraq. HarvardNieman Report. Otoño 2003. Pág. 84 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-3NRfall/V57N3.pdf15Mernit, S. “Blogging sites and the bloggingcontroversy”. Declaraciones de la portavoz dela CNN Ed<strong>na</strong> Jonson. Online Jour<strong>na</strong>lism Review.03/04/2003. http://www.ojr.org/ojr/workplace/p1049381758.php16Outing, S. Jour<strong>na</strong>lists debate closure ofanother blog. Online Jour<strong>na</strong>lism Review. 29/04/2003. http://www.ojr.org/ojr/glaser/1051593413.php17Datos del Observatorio Español de Internet.http://www.obsinternet. com/18El tráfico en Internet se dispara. Elmun<strong>do</strong>.eshttp://www.elmun<strong>do</strong>.es/<strong>na</strong>vegante/2004/03/11/esociedad/1079024472.html19Ari. Espejito, espejito.http://ari28.blogspot.com/2004_03_01_ari28_archive.html [11/03/2004]20Ejemplos de ello están disponibles en lassiguientes direcciones: http://www.esfazil.com/kaos/noticia.php?id_noticia=1312 y http://manipula<strong>do</strong>res.webcindario.com/21Lasica, J.D. “Blog and jour<strong>na</strong>lism need eachother”. Harvard Nieman Report. Otoño 2003. Pág.71 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-3NRfall/V57N3.pdf22Lasica, J.D. “Blog and jour<strong>na</strong>lism need eachother”.Harvard Nieman Report. Otoño 2003. Pág.72 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-3NRfall/V57N3.pdf23El diario ‘USA Today’ acusa a su exreportero estrella de inventar y plagiar susmejores historias.El Mun<strong>do</strong>. http://www.elmun<strong>do</strong>.es/elmun<strong>do</strong>/2004/03/19/comunicacion/1079705712.html 19/03/200424Le Net épie l’éthique de la presse.Liberation.http://www.liberation.fr/page.php?Article=187702 20/03/200425Paul Grabowicz, “Weblogs bring jour<strong>na</strong>listsinto a larger community”. “Harvard NiemanReport. Otoño 2003.26http://www.campaigndesk.org/27Dan Gillmor en declaraciones vía email aMark Glaser.http://ojr.org/ojr/glaser/1076465317.php 10/02/200428A<strong>do</strong>pt-A-Jour<strong>na</strong>list.http://www.scribestalker.com/watch/


JORNALISMO22729Glaser, M. ‘Watchblogs’ Put the PoliticalPress Under the Microscope. 11/02/2004 http://ojr.org/ojr/glaser/1076465317.php30Baum, G. Tweaking The Times Nose. OnlineJour<strong>na</strong>lism Review. 27/03/2002 http://www.ojr.org/ojr/workplace/1017265278.php31Jay Rosen. Why I Love the A<strong>do</strong>pt-a-ReporterScheme. Why I Dread It. http://jour<strong>na</strong>lism.nyu.edu/pubzone/weblogs/pressthink/2004/01/14/watch_site s.html 14/01/2004.32Welch, M. The new amateur jour<strong>na</strong>listsweigh in. Columbia Jour<strong>na</strong>lism Review. 2003.Septiembre-Octubre. Volumen 5. http://www.cjr.org/issues/2003/5/blog-welch.asp33Glaser, M. The infectious desire to be linkedin the blogosphere. Harvard Nieman Report. Otoño2003. Pág. 88 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-3NRfall/V57N3.pdf34Tory Mortensen y Jill Walker. BlogginThoughts: perso<strong>na</strong>l publication as an onlineresearch tool. Artículo académico.http://www.intermedia.uio.no/konferanser/s k i k t - 0 2 / d o c s /Researching_ICTS_in_context_ch11_Mortensen_Walker.35Algunos periódicos han opta<strong>do</strong> porincorporar a bloggers populares a sus redaccionescomo colabora<strong>do</strong>res habituales. Es el caso deliraquí Salam Pax y sus artículos en el diario TheGuardian y el de Den Beste, un ingenierodesemplea<strong>do</strong> de San Diego que después de <strong>do</strong>saños escribien<strong>do</strong> sobre análisis inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l ensu weblog ha pasa<strong>do</strong> a ser colabora<strong>do</strong>r de TheWall Street Jour<strong>na</strong>l. Entre los medios que ha<strong>na</strong>posta<strong>do</strong> por la incorporación de weblogs dentrode sus pági<strong>na</strong>s, cabe destacar el portal de internetMSNBC y los medios británicos The Guardian(http://www.guardian.co.uk/weblog) y BBC News,que habilitaron weblogs para sus corresponsalesdurante la guerra de Iraq. Concretamente, lacade<strong>na</strong> BBC mantiene un weblog <strong>do</strong>nde invitaa sus lectores a enviar fotografías y vídeosperso<strong>na</strong>les sobre eventos periodísticos que sonplanifica<strong>do</strong>s con anterioridad, como por ejemplomaterial de u<strong>na</strong> manifestación contra la guerra(http://news.bbc.co.uk/1/hi/talking_point/2780295.stm).


228 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO229O Jor<strong>na</strong>lismo de Informação Sindical no Brasil:atores, práticas, mecanismos e estratégias de produção jor<strong>na</strong>lísticaVladimir Caleffi Araujo 1Introdução 2O presente estu<strong>do</strong> tem como objeto deanálise a prática jor<strong>na</strong>lística no contexto dasredações da imprensa sindical. Assim, pareceu-nosindispensável interrogarmo-nos sobreo significa<strong>do</strong> de “ser jor<strong>na</strong>lista” em órgãosde imprensa ditos politicamente engaja<strong>do</strong>s,como é o caso das publicações sindicais.Concentramos, nesse senti<strong>do</strong>, nosso interessenos próprios atores <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deinformação sindical, isto é, nos profissio<strong>na</strong>isincumbi<strong>do</strong>s de fornecer ao militante a informaçãoque ele utilizará em suas ações.Retoman<strong>do</strong> os termos de um dirigente sindical,o jor<strong>na</strong>lista é aquele que forja a “arma”(a informação) que o combatente (militante)utilizará <strong>na</strong> “batalha sindical”. Pelo fato deo jor<strong>na</strong>lismo que praticam se revestir dessaespecificidade, os profissio<strong>na</strong>is da imprensasindical padecem de uma imagem de “propagandistas”das organizações, espécie decorreia de transmissão das opiniões e dasambições políticas de seus dirigentes. Por essarazão, a profissão hesita em considerá-loscomo jour<strong>na</strong>listes à part entière. Eles próprios,aliás, nutrem esse sentimento de queatuam à margem <strong>do</strong> espaço jor<strong>na</strong>lístico<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. Neste trabalho, tratamos, portanto,de verificar se essa reputação correspondeà realidade, se esses jor<strong>na</strong>listas pecamrealmente pela ausência total dedistanciamento frente aos interesses políticoideológicosde seus emprega<strong>do</strong>res, isto é, asorganizações e seus dirigentes.Nosso objetivo <strong>na</strong> pesquisa foi o de tentaridentificar manifestações que, no processoinformativo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo sindical, pudessemefetivamente ser associadas à prática jor<strong>na</strong>lística,distinguin<strong>do</strong>-as de procedimentos queconviria classificar em outros registros, alheiosao processo informativo. A questão quenos pareceu apropriada e que deveria sercolocada foi a seguinte: trata-se realmentede jor<strong>na</strong>lismo, como apregoam e pretendemfazer crer os profissio<strong>na</strong>is que oficiam nessetipo de imprensa ? Para responder , foi precisoabordar com um olhar crítico tanto apostura desses profissio<strong>na</strong>is face às questõespertinentes à prática jor<strong>na</strong>lística, como otrabalho que desenvolvem em sala de redação.Procuramos, assim, apontar as contradições<strong>do</strong> espaço jor<strong>na</strong>lístico em que figuram asredações sindicais, evidenciar o caráter equivoca<strong>do</strong>da legitimidade que essas redaçõespretendem atribuir às suas práticas e, sobretu<strong>do</strong>,relevar a incompatibilidade das visõesda informação e <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo que co-habitamno universo das organizações, representadas,de um la<strong>do</strong>, pelos jor<strong>na</strong>listas e, deoutro, pelos dirigentes e militantes sindicais.Uma questão serviu-nos de guia ao longo <strong>do</strong>trabalho, a saber: até que ponto é possívelatribuir à atividade que se exerce <strong>na</strong>s redaçõessindicais o status de prática jor<strong>na</strong>lística ?Nessa perspectiva, procuramos saber ascondições em que se desenvolvem asatividades <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo de informação sindicale seus mo<strong>do</strong>s de operar, resgatan<strong>do</strong>, apartir daí, seus particularismos.Meto<strong>do</strong>logiaEsta pesquisa apoiou-se sobre diferentesméto<strong>do</strong>s de recolhimento de da<strong>do</strong>s, que desempenharam,cada qual, um papel complementarindispensável, ten<strong>do</strong> em vista aabordagem que a<strong>do</strong>tamos e os objetivosfixa<strong>do</strong>s neste trabalho. À exceção de umestu<strong>do</strong> estatístico sobre os conteú<strong>do</strong>s daimprensa sindical (que utilizamos em um <strong>do</strong>scapítulos da tese), os diferentes instrumentosaos quais recorremos para a coleta de da<strong>do</strong>sse inserem nos méto<strong>do</strong>s qualitativos. Paraobter o material <strong>do</strong> qual nos servimos <strong>na</strong>sdescrições e análises conduzidas ao longo <strong>do</strong>trabalho, entrecruzamos nossas observaçõesde campo com a série de entrevistas que nosconcederam os diferentes atores que fazemparte desse universo. A participação, desde


230 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque passamos a nos interessar por esse tema,em discussões e o intercâmbio com os protagonistasda informação sindical – em reuniões,debates, conferências e semináriospromovi<strong>do</strong>s em torno de temas relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>sà imprensa <strong>do</strong>s sindicatos – permitiram queresgatássemos, ainda, um certo número deelementos de análise bastante úteis à nossaempreitada.A observação direta <strong>do</strong> campo de pesquisafoi facilitada graças à nossa experiênciade cinco anos como redator chefe de umapublicação sindical, o que possibilitou que“freqüentássemos”, durante to<strong>do</strong> esse tempo,as práticas e os discursos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo deinformação sindical. São justamente essaspráticas e esses discursos que tentamos, acimade tu<strong>do</strong>, descrever e compreender nestetrabalho. A observação <strong>do</strong>s atores no própriocampo de ação permite, de fato, melhor captaras verdadeiras manobras subentendidas <strong>na</strong>sestratégias de cada indivíduo ou grupo e asrelações de interdependência que se estabelecementre eles – nesse caso, entre jor<strong>na</strong>listas,dirigentes e militantes sindicais – emfunção <strong>do</strong>s objetivos que perseguem essesatores no contexto da produção e da difusãoda informação sindical. Nesse senti<strong>do</strong>, procuramos– sempre que possível durante apesquisa de campo – direcio<strong>na</strong>r ao máximonossa atenção para as práticas em curso <strong>na</strong>sredações sindicais, o que nos possibilitouconfrontar os resulta<strong>do</strong>s da observação comos discursos emiti<strong>do</strong>s pelos próprios atoressobre suas práticas (quan<strong>do</strong> das entrevistasque realizamos no âmbito deste trabalho). Omaterial recolhi<strong>do</strong> a partir da observação decampo foi, portanto, enriqueci<strong>do</strong> por umasérie de entrevistas não somente com osagentes diretamente envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> produçãoda informação sindical (jor<strong>na</strong>listas e dirigentes),mas também com pessoas mais ou menosligadas a esse universo, graças aos quaisobtivemos informações complementaresimportantes. 3Do papel desti<strong>na</strong><strong>do</strong> à imprensa <strong>do</strong>ssindicatos e das contradições que vivem asredações sindicaisAo longo desse trabalho de investigação,foi possível observar que o papel da informaçãoe a “missão” <strong>do</strong>s meios de comunicaçãosindicais são amplamente determi<strong>na</strong><strong>do</strong>spelo político, <strong>na</strong> medida em que o podersindical subordi<strong>na</strong> esses instrumentos à estratégiasindical (o projeto sindical). Essalógica impõe um controle mais ou menosrigoroso por parte das direções sindicais sobrea produção redacio<strong>na</strong>l e sobre os conteú<strong>do</strong>seditoriais das publicações sindicais. Asredações são, assim, <strong>na</strong> maior parte das vezes,impelidas a fazerem escolhas informativas deacor<strong>do</strong> com as orientações determi<strong>na</strong>das pelopoder sindical. Não raramente, decisõesredacio<strong>na</strong>is são operadas à total revelia <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas, caben<strong>do</strong> ao dirigente responsávelpela imprensa – ou ao próprio presidente daorganização – a decisão, em última instância,sobre o que deve ou não ser publica<strong>do</strong> nojor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> sindicato. Colocada sob a vigilânciadireta da direção sindical, a redação eseus jor<strong>na</strong>listas deparam-se com um certonúmero de obstáculos que restringem suamargem de manobra e sua capacidade deiniciativa no que concerne tanto às suasescolhas redacio<strong>na</strong>is como a seu mo<strong>do</strong> deoperar jor<strong>na</strong>lístico.A denomi<strong>na</strong>ção de “árbitros” que Paillet 4utiliza para desig<strong>na</strong>r aqueles que verdadeiramentedecidem <strong>na</strong>s redações (diretores depublicação, redatores chefes, articulistas bemcoloca<strong>do</strong>s, editorialistas cota<strong>do</strong>s, etc.) pode,de certa maneira, ser atribuída aos dirigentesque orientam a informação sindical, mesmoque esse paralelo pareça um tanto temerário,haja vista as diferenças significativas que sepodem observar entre o universo da imprensasindical e o de outros meios de comunicação.A comparação, no entanto, pareceapropriada no senti<strong>do</strong> de mostrar o poder dedecisão <strong>do</strong>s dirigentes sindicais quanto àdefinição da informação veiculada <strong>na</strong> mídiasindical. Os fatos estão aí, dificilmenterefutáveis: a determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>sinformativos, as prioridades editoriais, ospontos de vista – em resumo, to<strong>do</strong>s oselementos que compõem, por assim dizer,uma política editorial – são, em boa medida,tributários das decisões desses–“árbitros” querepresentam os dirigentes sindicais <strong>na</strong> realidadequotidia<strong>na</strong> das redações. Investi<strong>do</strong>s deum poder concreto que lhes confere a posiçãoque ocupam no seio da estrutura, elescorrespondem, nesse senti<strong>do</strong>, ao que Pailletnomi<strong>na</strong> as “camadas superiores” de umaestrutura redacio<strong>na</strong>l, enquanto os jor<strong>na</strong>listas


JORNALISMO231(que, segun<strong>do</strong> sua visão, são simples técnicos)se enquadram, por sua parte, <strong>na</strong> categoriade “proletários”, conde<strong>na</strong><strong>do</strong>s que sãoa executar o que decidem os primeiros (seguidamente,sem muito se interrogar sobresuas motivações) 5 .Se os dirigentes dispõem, desse mo<strong>do</strong>, deuma latitude de intervenção que lhes permiteagir tanto sobre as determi<strong>na</strong>ções prelimi<strong>na</strong>resrelacio<strong>na</strong>das às tarefas da redação (definiçãoda pauta, indicação das fontes, etc.),como sobre o enfoque a ser da<strong>do</strong> às informaçõescoletadas (maneira de tratar a informação),o mesmo não se pode dizer dacapacidade de decisão e de ação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listassindicais. É falso, no entanto, pensar quea margem de manobra das equipes redacio<strong>na</strong>isse reduz às operações técnicas de produçãodas notícias, portanto, à execução de tarefaspráticas. Em nosso trabalho, exploramos justamentea hipótese de que, apesar <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>sde estruturação e das regras de funcio<strong>na</strong>mentodas redações sindicais que tendem aobstaculizar a atividade jor<strong>na</strong>lística – emfunção, fundamentalmente, <strong>do</strong>s objetivos queimpõem os sindicatos à informação e à suaimprensa –, esses fatores não elimi<strong>na</strong>m porcompleto a capacidade de ação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas.Na realidade, eles conseguem, a partir deestratégias próprias, construir um certo graude autonomia e de liberdade, transforman<strong>do</strong>as salas de redação sindicais em espaços ondeas práticas jor<strong>na</strong>lísticas permanecem viáveis.E é nessa perspectiva que eles pensam eenquadram suas ações.Apoiamos nossa demonstração <strong>na</strong>s noçõescontidas <strong>na</strong> “análise estratégica” de Croziere Friedberg, destacan<strong>do</strong>, em particular, seupostula<strong>do</strong> sobre a liberdade relativa <strong>do</strong>s atorese a idéia <strong>do</strong> poder enquanto jogo central deuma coletividade organizada. Nossa escolhaestá fundamentada no fato desse modeloprivilegiar os atores e sua capacidade de semovimentar no interior das estruturas em queatuam (no caso, as organizações sindicais)<strong>na</strong> busca incessante de espaços de liberdadee de autonomia de ação, a fim de atingir seusobjetivos. Isto apesar <strong>do</strong>s obstáculos quepesam sobre suas ações. De acor<strong>do</strong> com aidéia-chave da análise estratégica:“(...) não existem sistemas sociaisinteiramente regula<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s(...) Os atores dispõem de umamargem de liberdade que eles utilizamde maneira estratégica em suasinterações com os outros” 6 .Encontramos, fundamentalmente, duassituações que se apresentam ao jor<strong>na</strong>listasindical como possibilidade de ampliar suamargem de manobra no dia a dia de umaredação. A primeira tem a ver com a <strong>na</strong>tureza<strong>do</strong> tema a ser trata<strong>do</strong> em seu artigo oucom a seção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l para a qual escreve.A segunda tem origem no abrandamentosuscetível de intervir <strong>na</strong> vigilância que exerceo sindicato sobre o trabalho da redação,ocasião em que esta pode se (re)apropriar <strong>do</strong>controle sobre sua produção. Tomemos oexemplo <strong>do</strong> primeiro caso: a autonomia e amargem de manobra <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista sindicalserão, em larga medida, tributários da <strong>na</strong>tureza<strong>do</strong> tema constituin<strong>do</strong> o objeto de seutrabalho redacio<strong>na</strong>l. Isso quer dizer, fundamentalmente,que, quanto mais ele tratartemas não prioritários aos olhos da instituição,menos forte será a vigilância desta. Umjor<strong>na</strong>lista a quem será confiada a tarefa deescrever um artigo sobre um assunto caro àorganização (uma greve por exemplo), terámais chances de ver seu texto submeti<strong>do</strong> aocontrole da direção. Em contrapartida, acobertura de uma manifestação cultural émuito provável que não seja submetida aoutro que não o (a) redator (a)-chefe <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.Concepções diferentes da informação comofonte principal de conflitosAs concepções diferentes, muitas vezesdivergentes, que têm dirigentes e jor<strong>na</strong>listassindicais <strong>do</strong>s fatos e da informação e asimplicações dessas diferenças no trabalho daredação constituem um parâmetro tambémimportante a ser leva<strong>do</strong> em conta <strong>na</strong> análisedas relações entre esses <strong>do</strong>is grupos de atores.As “diferenças de percepção da realidade” 7são, de fato, uma das primeiras fontes potenciaisde conflitos entre os diversos gruposconstitutivos de uma organização.No caso que a<strong>na</strong>lisamos, temos, de umla<strong>do</strong>, o profissio<strong>na</strong>l da redação, que parte <strong>do</strong>princípio elementar segun<strong>do</strong> o qual jor<strong>na</strong>lalgum, inclusive uma publicação militante,pode fugir da regra que requer, para que ele


232 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVseja realiza<strong>do</strong>, a matéria-prima que é ainformação; partin<strong>do</strong> desse princípio, parao jor<strong>na</strong>lista, significa que o jor<strong>na</strong>l deverelatar os fatos conforme eles realmenteaconteceram (ao menos tentar reproduzi-loso mais fielmente possível), o que implicaa<strong>do</strong>tar como norma da prática jor<strong>na</strong>lísticao respeito absoluto aos fatos e à verdade.O trabalho de coleta e tratamento da informaçãorequer certas noções e méto<strong>do</strong>s quesão inerentes à atividade jor<strong>na</strong>lística: preocupaçãocom a atualidade, importância aser atribuída ao fato, tratamento o maisobjetivo possível da informação, seriedadee honestidade nos procedimentos, etc. Dooutro la<strong>do</strong>, encontra-se o líder sindical, que,<strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong> tempo, se coloca numalógica de comunicação e de persuasão; desseponto de vista, ele alimenta uma concepçãofundamentalmente instrumental da informação,ten<strong>do</strong> esta senti<strong>do</strong>, <strong>na</strong> sua visão, somenteà medida que for útil ao trabalho deconvencimento e mobilização <strong>do</strong>s efetivossindicais, enquanto motor da ação sindical.Resulta que um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> da<strong>do</strong> ou informaçãonão terá o mesmo valor para elee para o jor<strong>na</strong>lista, poden<strong>do</strong> as divergênciasse revelarem ainda mais profundas quan<strong>do</strong>estiver em questão o tratamento a ser da<strong>do</strong>a essa informação.Em outros termos, podemos dizer que odirigente sindical se coloca <strong>na</strong> perspectivade uma função de persuasão ou de propaganda,enquanto o jor<strong>na</strong>lista pretende assumiruma função de caráter informativo. Aprimeira consiste em:“(...) uma ação desencadeadadeliberadamente ten<strong>do</strong> por únicoobjetivo fazer pensar, fazer acreditarou fazer agir um indivíduo ou umgrupo de indivíduos em um senti<strong>do</strong>e com uma intenção determi<strong>na</strong>da” 8 .A segunda remete à:“(...) missão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, com seusofícios, suas discipli<strong>na</strong>s, suas especialidades;da mídia, quan<strong>do</strong> ela sededica à atualidade primeiro que àficção, a esclarecer ou informar antesde divertir ou educar” 9 .Nesse senti<strong>do</strong>, a informação é um:“(...) conjunto de notícias, de da<strong>do</strong>s,de explicações ou de relatos aos quaisfoi da<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong>, através de umaapresentação, de uma colocação emperspectiva a fim de ser acessível aum determi<strong>na</strong><strong>do</strong> público” 10 .Pode ocorrer, portanto, que informaçõesque a redação julgará significativas no planojor<strong>na</strong>lístico poderão não o ser para os dirigentes,sob o ponto de vista sindical. Comoconciliar os interesses da ação político-sindical,campo de preocupação das organizações,com as obrigações <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas,leva<strong>do</strong>s a agir em função de certos princípiospróprios da informação e da prática jor<strong>na</strong>lística?O dilema tende a perdurar enquantoo problema de fun<strong>do</strong> não for resolvi<strong>do</strong>, asaber: a definição da informação e <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s que pretende a imprensa sindical.Sem esse passo, a co-habitação entre jor<strong>na</strong>listase dirigentes restará problemática emarcada por desavenças.Ausência de mecanismos de regulação <strong>na</strong>sredaçõesAs fontes de conflitos entre jor<strong>na</strong>listas edirigentes sindicais são múltiplas. Elas seorigi<strong>na</strong>m, primeiramente, da concepção diferenciadade informação existente nessesgrupos e <strong>na</strong> incidência dessas diferenças sobreo trabalho da redação; elas são, igualmente,resulta<strong>do</strong> da competição que se instaura entreeles em torno <strong>do</strong> controle <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s daspublicações sindicais e da definição <strong>do</strong> papele das responsabilidades de cada um <strong>na</strong>estrutura redacio<strong>na</strong>l. Nesse contexto, divergênciastendem a se agravar e a eclodir emconflitos (latentes ou abertos), <strong>na</strong> medida emque as redações da imprensa sindical nãodispõem, em geral, de nenhum instrumentointerno de regulação da atividade jor<strong>na</strong>lísticae das relações entre seus membros e o podersindical. As regras gerais da organização (seusestatutos, normas de funcio<strong>na</strong>mento de seusserviços, etc.) não são de utilidade algumanesse caso, pois elas não têm por objetoespecífico a produção da informação e asatividades de redação. Um instrumento pró-


JORNALISMO233prio relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> aos jor<strong>na</strong>listas e à suaatividade – definin<strong>do</strong> normas redacio<strong>na</strong>is,direitos e deveres da redação – teria, provavelmente,um efeito positivo <strong>na</strong> regulamentaçãodesse setor no interior das organizações,prevenin<strong>do</strong> conflitos e regulan<strong>do</strong> asdiferenças existentes entre as expectativas deuns e de outros (isto é, de jor<strong>na</strong>listas edirigentes) no que diz respeito à produçãoe à difusão da informação sindical – 11 .No contexto particular <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismosindical, os códigos ou cartas que regem oexercício da profissão de jor<strong>na</strong>lista (como oCódigo de Ética <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas brasileiros)também não são de grande utilidade, <strong>na</strong>medida em que seus princípios e orientaçõesdão conta de outra realidade, que é a atividadejor<strong>na</strong>lística praticada no ambiente de trabalho<strong>do</strong> universo jor<strong>na</strong>lístico convencio<strong>na</strong>l.Para que seja eficaz <strong>na</strong> definição de princípiose regras capazes de fixar linhas geraisde conduta aos jor<strong>na</strong>listas sindicais e de <strong>do</strong>tálosde meios práticos para regular as questõesconflitantes, é necessário que um talinstrumento esteja apoia<strong>do</strong> <strong>na</strong>s condições detrabalho próprias desse universo, que leve emconsideração as práticas específicas em curso<strong>na</strong>s redações sindicais. Para isso, ele deveengajar não somente seus integrantes, mastambém to<strong>do</strong>s aqueles implica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> vida daredação – os dirigentes sindicais, em especialo diretor de imprensa, que são os parceirospor excelência <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas noprocesso de construção da informação sindical.No limite, um tal dispositivo representariauma tentativa de acomodação desse tipode jor<strong>na</strong>lismo e de suas particularidades àsregras e princípios deontológicos mais relevantesda atividade jor<strong>na</strong>lística 12 .Para que se estabeleçam, de fato, condiçõese relações de trabalho estáveis <strong>na</strong>imprensa das organizações, é convenienteabrigar as ações da redação sob um instrumentoque as legitime frente aos que decidem<strong>na</strong>s instâncias sindicais. Para isso, fazsenecessária uma etapa prelimi<strong>na</strong>r aberta aamplas discussões, reflexões e análises daspráticas – envolven<strong>do</strong> não somente os jor<strong>na</strong>listas,mas também os responsáveis sindicais–, a fim de balizar conceitos, princípiose regras de trabalho, além de direitos eresponsabilidades de uns e de outros; emsuma, tor<strong>na</strong>r clara as condições de produçãoda informação. Tu<strong>do</strong> indica, porém, que ocaminho a ser percorri<strong>do</strong> ainda é longo.Durante nossa pesquisa, foi possível observar,por exemplo, a existência de uma grandeindiferença de parte <strong>do</strong>s principais interessa<strong>do</strong>s<strong>na</strong> questão (os próprios jor<strong>na</strong>listas), noque diz respeito às preocupaçõesdeontológicas relacio<strong>na</strong>das à atividade. Asconseqüências desse – “descaso” – simboliza<strong>do</strong><strong>na</strong> recusa das redações de colocar oproblema, de estimular uma reflexão e detomar iniciativas nesse senti<strong>do</strong> – parecemevidentes e não poderão resultar em outracoisa que não seja exatamente o que asredações sindicais mais dizem querer evitar:a tentação <strong>do</strong> poder sindical de se imiscuirnos assuntos da redação. Face à ausência deuma regulamentação específica da atividadejor<strong>na</strong>lística sindical e à inexistência de umestatuto regulan<strong>do</strong> as relações entre redaçãoe direção sindical, a integração entre esses<strong>do</strong>is grupos de atores passa essencialmentepor um processo permanente de negociação.Quais as orientações possíveis para ojor<strong>na</strong>lismo de informação sindical?A imprensa sindical já demonstrou todasua importância e necessidade como meio deos sindicatos se dirigirem à massa de sindicaliza<strong>do</strong>se/ou assalaria<strong>do</strong>s em geral. Elatem, no entanto, <strong>potencial</strong> para ampliar seuhorizonte de ação, embora a comunicaçãocom os sindicaliza<strong>do</strong>s consista em sua primeirae fundamental missão. Pode, porexemplo, representar um papel importante <strong>na</strong>institucio<strong>na</strong>lização de uma “contra-informação”<strong>na</strong>s disputas políticas e sociais que setravam no âmbito da sociedade, contrapon<strong>do</strong>-seao espaço mediático <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, contestan<strong>do</strong>as versões e os pontos de vistaoficiais. No que se refere especificamente aocampo da informação que interessadiretamente as organizações sindicais (economia,questão social, direito <strong>do</strong> trabalho,etc.), a imprensa sindical pode fazê-la emergirsob uma perspectiva diferente daquela privilegiadapelas outras categorias de imprensa(generalista, especializada, econômica, empresarial,etc.). Com esse enfoque, a imprensasindical” – representante legítima de umcampo constituí<strong>do</strong> de meios político e socialmenteengaja<strong>do</strong>s – terá assegura<strong>do</strong> seu


234 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVlugar num espaço jor<strong>na</strong>lístico que se instituienquanto alter<strong>na</strong>tiva ao campo mediático<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. Todavia, para atingir tal estágio,precisa agir de forma resoluta no senti<strong>do</strong> deconstruir e de afirmar sua credibilidade, sema qual a ampliação de sua missão estaráirremediavelmente comprometida. O jor<strong>na</strong>lismosindical será pouco eficaz <strong>na</strong> instauraçãode uma contra-informação – que possaser útil ao vasto universo <strong>do</strong>s assalaria<strong>do</strong>s– se não mudar de registro e não aban<strong>do</strong><strong>na</strong>rem definitivo práticas pouco rigorosas <strong>na</strong>apuração e no relato <strong>do</strong>s fatos.Cabe ao jor<strong>na</strong>lista uma parcela importantede responsabilidade no processo de reabilitaçãoda imprensa sindical, direcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>to<strong>do</strong>s seus esforços no senti<strong>do</strong> de assegurarsua autonomia de trabalho e de reconstruirsuas práticas no interior das redações. Masa independência de seus profissio<strong>na</strong>is, emmenor ou maior grau, não será suficiente porsi só para colocar o jor<strong>na</strong>lismo de informaçãosindical no caminho da reabilitação quea situação requer. Será preciso, para isso,assentá-lo sobre novas perspectivas, especialmentea partir de uma definição menosequivocada <strong>do</strong> tipo de informação a sertratada e das práticas redacio<strong>na</strong>is que ela deveinduzir. O jor<strong>na</strong>lista sindical opera, de fato,em uma zo<strong>na</strong> bastante nebulosa, que se situaentre a concepção <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte de informaçãoe das práticas profissio<strong>na</strong>is vigentes <strong>na</strong>imprensa convencio<strong>na</strong>l e uma concepção“particular” da informação e <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismopróprias <strong>do</strong> universo da imprensa dita“engajada”, representada, no caso, pelo jor<strong>na</strong>lismosindical. Ao mesmo tempo em quesofre as influências <strong>do</strong>s valores profissio<strong>na</strong>is<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, <strong>do</strong> ponto de vista tanto técnicocomo deontológico (através da formação emuma escola de comunicação, de experiênciapassada <strong>na</strong> grande imprensa, da utilização demanuais de redação <strong>do</strong>s grandes jor<strong>na</strong>is, etc.),o jor<strong>na</strong>lismo sindical esbarra em dificuldadespróprias ao seu universo. Resulta que estácontinuamente se defrontan<strong>do</strong> com as contradiçõesexistentes entre suas práticas específicase àquelas legitimadas pelo meioprofissio<strong>na</strong>l jor<strong>na</strong>lístico.Essa posição-limite <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista sindicalentre um universo de contornos mais oumenos defini<strong>do</strong>s (com suas normas técnicase um corpo de princípios profissio<strong>na</strong>is consolida<strong>do</strong>s)e <strong>do</strong> qual ele sofre forte “pressão”e um outro no qual está inseri<strong>do</strong> – cujacaracterística principal é a ausência de referênciasque lhe permitam assentar suaprática –, o coloca em situação de profundaambigüidade. A ausência de um corpo mínimode princípios éticos e normas técnicasadaptadas às condições específicas <strong>na</strong>s quaisele exerce seu–métier faz com que, se, porum la<strong>do</strong>, reivindique para si uma “práticauniversal”, por outro, a maneira pela qualé leva<strong>do</strong> concretamente a exercer a profissãoestá longe de corresponder à representaçãoque faz da prática jor<strong>na</strong>lística “ideal”. Poroutro la<strong>do</strong>, se pretende aderir à prática<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, terá que a<strong>do</strong>tar pontos de referênciaprofissio<strong>na</strong>l que lhe serão de utilidadeduvi<strong>do</strong>sa, visto que pouco se adaptam àsparticularidades que marcam seu ambiente detrabalho. Esta é, portanto, a situação <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista sindical: priva<strong>do</strong> da legitimidadeque somente é conferida àqueles cujas práticasse inscrevem nos preceitos <strong>do</strong> modelo<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte de jor<strong>na</strong>lismo, encontra-se, porassim dizer, diante de um “vazio”. Issoacontece em razão dessa dificuldade deencontrar em seu próprio campo de atuaçãoprofissio<strong>na</strong>l, referências que lhe permitampreencher esse “vazio”, servin<strong>do</strong>-lhe de basesobre a qual assentar suas ações, defenderum tipo particular de prática jor<strong>na</strong>lística econstruir, em conseqüência, uma legitimidadeprofissio<strong>na</strong>l.Um estatuto para os jor<strong>na</strong>listas sindicais?Essa legitimidade implica a tentativa dereabilitação da prática jor<strong>na</strong>lística em redaçãosindical, dan<strong>do</strong>-lhe utilidade e eficácia noexercício quotidiano da profissão. Esse processodeve iniciar por uma reflexão autocríticadas práticas vigentes nesses espaços, envolven<strong>do</strong>os principais interessa<strong>do</strong>s (jor<strong>na</strong>listase dirigentes sindicais), e culmi<strong>na</strong>r <strong>na</strong> instituiçãode um corpo de princípios – aceitávelpara uns e outros – aptos a regular a atividadejor<strong>na</strong>lística em redação sindical. Os códigosde ética da profissão poderiam servir comoimportante fonte de referência nesse processo,e as orientações resultantes poderiam sematerializar numa espécie de “estatuto” <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas e de colabora<strong>do</strong>res da imprensasindical, o qual garantiria condições mínimas


JORNALISMO235de trabalho a esses profissio<strong>na</strong>is e regulariaas relações entre equipe redacio<strong>na</strong>l e direção<strong>do</strong> sindicato. As redações em geral têmconsciência das conseqüências que acarretampara seu trabalho a ausência de um instrumentodefinin<strong>do</strong> sua posição no interior daorganização; sabem, por exemplo, que a faltade clareza <strong>na</strong>s suas funções e <strong>na</strong>s suasrelações com a instituição se presta mal àlegitimidade que aspiram obter. Por suacondição militante - traço marcante, até aqui,da identidade desse grupo profissio<strong>na</strong>l -, ojor<strong>na</strong>lista sindical é leva<strong>do</strong> a renunciar, quasepermanentemente, aos princípios éticos daprofissão. A “cultura militante”, a qual banhao meio sindical, impreg<strong>na</strong> suas práticas,impon<strong>do</strong>-se ao jor<strong>na</strong>lista mais fortemente quea deontologia profissio<strong>na</strong>l. Por isso, numconflito entre os interesses da organizaçãosindical e a ética profissio<strong>na</strong>l jor<strong>na</strong>lística, nãoresta dúvida de que o vence<strong>do</strong>r será semprea primeira. Um “estatuto” <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista sindicalpoderia ser uma forma de regularproblemas dessa <strong>na</strong>tureza.Nas redações sindicais, os princípioséticos raramente constituem objeto de preocupaçãoconcreta, evocá-los não faz parte<strong>do</strong>s hábitos ali estabeleci<strong>do</strong>s. Até o momento,o jor<strong>na</strong>lismo sindical parece ser impermeávelao gênero de inquietações que oproblema ético profissio<strong>na</strong>l tende a provocar;o simples fato de abordar tal questãoparece-lhe insignificante, tende a ser associa<strong>do</strong>a uma “quimera intelectual”, distantede toda a realidade e estrangeira a toda práticahabitual desse meio. Todavia, ao mesmotempo em que o jor<strong>na</strong>lismo sindical acreditaestar livre dessa preocupação – consideran<strong>do</strong>-a,talvez, incompatível com o gênero deprática difundida <strong>na</strong>s redações sindicais –,ao mesmo tempo em que pactuam com certosprocedimentos <strong>do</strong>s quais se pode questio<strong>na</strong>ra legitimidade (tanto no que concerne aosaspectos técnicos quanto aos deontológicos),seus profissio<strong>na</strong>is reivindicam para si uma“autêntica” prática jor<strong>na</strong>lística e afirmampreocupar-se com sua credibilidade e legitimidadeprofissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, dizemeles, que seus colegas que oficiam emoutros setores da imprensa. É, ao menos, oque se pode depreender <strong>do</strong> discurso de boaparte deles.Essa ambigüidade que impreg<strong>na</strong> o comportamentodas redações sindicais tende aaumentar à medida que “novas posturasprofissio<strong>na</strong>is” – com o engajamento, porexemplo, de jor<strong>na</strong>listas oriun<strong>do</strong>s da dita“grande imprensa” – integrem as redaçõesda imprensa sindical. Esses profissio<strong>na</strong>is nãosó poderão dar prova de maior autonomiaem relação às direções e aos militantessindicais, como poderão induzir uma concepçãoda prática jor<strong>na</strong>lística mais “em conformidade”com os méto<strong>do</strong>s consagra<strong>do</strong>s pelaprofissão. Isso terá, inevitavelmente, repercussão<strong>na</strong> maneira de pensar e de fazerjor<strong>na</strong>lismo <strong>na</strong>s redações sindicais 13 . Assim,é possível acreditar que certas noções quehistoricamente estruturam o “saber” e o“fazer” jor<strong>na</strong>lísticos terão, ainda que timidamente,direito de existência <strong>na</strong>s redaçõessindicais, onde sempre foram rejeitadas emnome de uma idéia que as associa à puraexpressão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo convencio<strong>na</strong>l, a umsimples subproduto ideológico <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismopróprio das sociedades capitalistas. Se essaidéia cair em desuso, os jor<strong>na</strong>listas sindicaispoderão passar a considerar com outros olhosos princípios da deontologia profissio<strong>na</strong>l,integran<strong>do</strong>-os à realidade de seu dia a diade trabalho.A deontologia, observa Daniel Cornu éo que incita o jor<strong>na</strong>lista a:“Defender sua própria liberdade deinformação, de comentário e de crítica,a se proteger das pressões, a nãoaceitar nenhuma ordem direta eindireta que faria dele um publicitárioou um propagandista e que o exporiaà tentação militante, pela passagem <strong>do</strong>papel de observa<strong>do</strong>r ao de ator” 14 .Em suma, ela age no senti<strong>do</strong> da afirmaçãoda independência <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l, protegen<strong>do</strong>-o<strong>do</strong>s “monitores” e das “tutelas <strong>do</strong>pensamento” 15 . Evidentemente que será difícilpara um jor<strong>na</strong>lista atuan<strong>do</strong> no meiosindical, haja vista as suas característicasparticulares, construir uma independênciaprofissio<strong>na</strong>l que possa ser a expressão desseideal que descreve Cornu. No entanto, épossível para ele definir seu campo de ação,conferin<strong>do</strong>-lhe um mínimo de autonomia que


236 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVo colocará ao abrigo das fortes pressões (<strong>do</strong>poder sindical, <strong>do</strong>s militantes, <strong>do</strong>s sindicaliza<strong>do</strong>s),permitin<strong>do</strong>-lhe estabelecer e preservaras condições mínimas de exercício de suasfunções. Ele estará, assim, em condições depremunir a informação contra os desvios quesofre correntemente nesse meio.A informação sindical tem sua própriaespecificidade, segue sua própria lógica,mobiliza meios que lhe são particulares einscreve suas práticas em um amplo universocomposto de experiências jor<strong>na</strong>lísticasque se desenvolvem continuamente, quesofrem – bem ou mal – as mutações <strong>do</strong>tempo e se apresentam ao futuro comoespaços alter<strong>na</strong>tivos possíveis. Trata-se,portanto, não somente da expressão de uma“outra” informação, de idéias, debates,conflitualidades, mas, ainda, de uma oportunidadereal de trabalho que concerneimportantes efetivos da profissão, cada vezmais excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> convencio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, em função da difícil situação deemprego no setor.


JORNALISMO237Bibliografia 16Accar<strong>do</strong>, Alain (sous la direction de),Jour<strong>na</strong>listes au quotidien – outils pour unesocioa<strong>na</strong>lyse des pratiques jour<strong>na</strong>listiques,Bordeaux, Le Marcaret, 1995.Balle, Francis, (sous la direction de),Diction<strong>na</strong>ire des médias, Paris, Larousse,1998.Bernoux, Philippe, La sociologie desorganisations, Paris, Éditions du Seuil, 1985.Bohere, G. 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Porto Alegre, RS, Brasil.2Este texto é uma apresentação resumida dealguns <strong>do</strong>s pontos aborda<strong>do</strong>s <strong>na</strong> tese de<strong>do</strong>utoramento em Ciência da Informação e daComunicação ( Le jour<strong>na</strong>lisme d’informationsyndical au Brésil: pratiques et enjeux ), defendidaem novembro de 2003, <strong>na</strong> UniversidadePanthéon-Assas Paris II/Institut Français de Pressee que teve como membros <strong>do</strong> júri os ProfessoresRémy Rieffel (Université Paris II, orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong>trabalho), Denis Ruellan (Université de RennesI), Michel Mathien (Université Robert Schumande Strasbourg) e Luiz Busato (Université StendhalGrenoble III). Os pontos aqui aborda<strong>do</strong>s nospareceram os mais propícios no senti<strong>do</strong> de fomentaro debate sobre aspectosque consideramoscruciais para o futuro dessa categoria de imprensae de seus profissio<strong>na</strong>is.3Ao total, visitamos 16 redações da imprensasindical de São Paulo e da região <strong>do</strong> ABCDpaulista e realizamos 69 entrevistas, todas gravadase com duração de uma hora a uma horae meia em média - em alguns casos, um poucomais, quan<strong>do</strong> o interlocutor apresentava umatrajetória particularmente rica em vista <strong>do</strong>sobjetivos de nosso trabalho. Classificamos aspessoas entrevistadas em cinco grupos: (1) osjor<strong>na</strong>listas da imprensa sindical, que constituemo segmento principal de nosso universo de estu<strong>do</strong>;(2) os dirigentes sindicais responsáveis pelacomunicação em suas respectivas organizações eque, juntamente com os jor<strong>na</strong>listas, são os principaisanima<strong>do</strong>res da imprensa sindical; (3) exjor<strong>na</strong>listasda imprensa sindical em atividade emoutros setores <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo; (4) jor<strong>na</strong>listas responsáveispela cobertura <strong>do</strong>s sindicatos nos grandesdiários de São Paulo; e, fi<strong>na</strong>lmente, (5)pesquisa<strong>do</strong>res e professores universitários.4Marc Paillet, Le jour<strong>na</strong>lisme – fonctions etlangages du quatrième pouvoir, Paris, Denoël,1974, p. 33.5Ibid.


238 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV6Michel Crozier/Erhard Friedberg, L’acteuret le système, Paris, Éditions du Seuil, 1977, pp.29-30.7C. Be<strong>na</strong>bou/H. Abravanel, Le comportementdes individus et des groupes dans l’organisation,Chicoutimi, Gaëtan Morin, 1986, pp. 371-392.Cita<strong>do</strong> por Jean Charron, La production del’actualité - une a<strong>na</strong>lyse stratégique des relationsentre la presse parlementaire et les autoritéspolitiques, Québec, Les Editions du Boréal, 1994.8Francis Balle, (coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>r), Diction<strong>na</strong>iredes médias, Paris, Larousse, 1998, p. 195.9Ibid., p. 125.10Ibid.11A redação da CFDT francesa dispõe, porexemplo, de um “estatuto” <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res desua revista (Magazine CFDT) e de seu jor<strong>na</strong>l(Syndicalisme Heb<strong>do</strong>) que “(...) regulamenta asrelações entre a direção da confederação, responsávelpolítica pela imprensa, e os redatores” dacasa. Essa regulamentação foi colocada em praticaapós grave conflito que opôs a equipe deredatores e a direção sindical no fi<strong>na</strong>l de 1968(VERDIER, E.,”La presse syndicale ouvrière”–a<strong>na</strong>lyse statistique de contenu, Paris, Cresst, 1981,p. 70). No caso da imprensa sindical brasileira,não encontramos experiência alguma nesse senti<strong>do</strong>durante nossa pesquisa. Constatamos, ape<strong>na</strong>s,algumas tímidas iniciativas, sem grandeeficácia, levadas a cabo em um ou outro sindicatocom o intuito de melhorar as relações entre redaçãoe direção.12Citemos ape<strong>na</strong>s algumas das prescrições <strong>do</strong>Código de Ética da profissão que os jor<strong>na</strong>listassindicais poderiam fazer uso para preservar ummínimo de autonomia e de seriedade em seutrabalho: “ II – Da conduta profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista:Art. 7: O compromisso fundamental <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista é com a verdade <strong>do</strong>s fatos, e seu trabalhose pauta pela precisa apuração <strong>do</strong>s acontecimentose sua correta divulgação; Art. 9: É dever<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista: a) Divulgar to<strong>do</strong>s os fatos que sejamde interesse público; b) Lutar pela liberdade depensamento e expressão; c) Defender o livreexercício da profissão; d) Valorizar, honrar edignificar a profissão; Art. 10: O jor<strong>na</strong>lista nãopode: a) Aceitar oferta de trabalho remunera<strong>do</strong>em desacor<strong>do</strong> com o piso salarial da categoriaou com a tabela fixada por sua entidade de classe;b) Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgaçãocorreta da informação; c) Frustrar a manifestaçãode opiniões divergentes ou impedir o livredebate; Art. 14: O jor<strong>na</strong>lista deve: a) Ouvir sempre,antes da divulgação <strong>do</strong>s fatos, todas as pessoasobjeto de acusações não comprovadas, feitas porterceiros e não suficientemente demonstradas ouverificadas; Art. 15: O jor<strong>na</strong>lista deve permitir odireito de resposta àspessoas envolvidas oumencio<strong>na</strong>das em sua matéria, quan<strong>do</strong> ficar demonstradaa existência de equívocos ouincorreções”.13Em outros tempos, os militantes improvisa<strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas admitiam as especificidades <strong>do</strong>meio e reconheciam facilmente o fato de praticaremum jor<strong>na</strong>lismo de pouca legitimidade aosolhos da profissão. Eles careciam das condiçõesobjetivas e das motivações necessárias para encararqualquer mudança nos hábitos e <strong>na</strong>s praticasjor<strong>na</strong>lísticas <strong>na</strong>s quais estavam inseri<strong>do</strong>s.14Daniel Cornu, Jour<strong>na</strong>lisme et vérité. Pourune éthique de l’information, Genebra, Labor etFides, 1994, p.431.15Ibid., p. 432.16Relacio<strong>na</strong>mos aqui ape<strong>na</strong>s algumas dasobras utilizadas em nosso trabalho, priorizan<strong>do</strong>àquelas que consideramos trazer uma análisefecunda da profissão e que reconstituem a prática<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo sob seus diversos aspectos, alémde duas a três referências que nos ajudaram <strong>na</strong>reflexão sobre a questão das organizações.


JORNALISMO239A eurorrexión Galicia-Norte de Portugala través das páxi<strong>na</strong>s da prensa galega.Análise <strong>do</strong> discurso mediático transmiti<strong>do</strong> polos xor<strong>na</strong>is galegosXosé López García e Berta García Orosa 1IntroducciónO incremento da colaboración de Galiciae Portugal nos diferentes ei<strong>do</strong>s durante asúltimas décadas e a constitución econsolidación da eurorrexión Galicia-Nortede Portugal sostida nuns lazos de cultura ehistoria comúns, implican a tó<strong>do</strong>los actoresdas dúas sociedades. Os medios decomunicación impresos, como transmisoresou crea<strong>do</strong>res desta realidade, participan nofenómeno e non pode ser alleo a estarealidade nen <strong>na</strong> súa propia estructura nenno seu propio discurso. Consideramosnecesario o inicio dunha liña de investigaciónque permita observar cal é a imaxe quetransmite a prensa de cada país <strong>do</strong> veciño.Coa fi<strong>na</strong>lidade de coñecer cal era a realidadeportuguesa destacada polos xor<strong>na</strong>is galegos<strong>na</strong> actualidade iniciamos unha investigaciónque deu, entre outros, os resulta<strong>do</strong>spresenta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> ponencia.As aportacións presentadas nesta ponenciason froito dunha investigación 2 realizada coobxectivo de identificar e describir as imaxesque ofrece a prensa galega de Portugal. Oestu<strong>do</strong> partía da hipótese de que ante aexistencia de converxencia de intereses entreos <strong>do</strong>us países, o estreitamento das relaciónse o aumento <strong>do</strong> interese recíproco <strong>do</strong>shabitantes das respectivas rexións, os mediosde comunicación deberían actuar, polo menos,como reflexo desta situación. A partir destapremisa inicial, deseñáronse diferentescategorías de análise entre as que destacamoso rexistro de pezas relacio<strong>na</strong>das con Portugal,pezas sobre Galicia e Portugal, pezas sobrePortugal e outros países, ángulos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntesdas pezas sobre Portugal, xénerosemprega<strong>do</strong>s, características da informaciónpublicada ou elementos gráficos queaparecían <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s impresas. Os datosforon recolli<strong>do</strong>s durante o ano 1999 nunhamostra que incluía os dez xor<strong>na</strong>is galegosde difusión xeral e diaria, publicacións decarácter comarcal 3 e os sema<strong>na</strong>rios 4 .A partir <strong>do</strong>s datos recolli<strong>do</strong>s elaborouseun informe <strong>do</strong> que destacamos a continuaciónos resulta<strong>do</strong>s que consideramos máispropicios para o contexto deste congreso.Deste xeito, ó longo das próximas liñasdescribiremos os parámetros máis relevantesda presencia de Portugal en tó<strong>do</strong>los mediosimpresos diarios e de información xeral quese editan en Galicia.Portugal, <strong>na</strong> área de Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lPortugal inicia a súa presencia paulati<strong>na</strong><strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s impresas galegas aínda quesempre dun xeito paulatino e relega<strong>do</strong> adetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s temas que teñen importanciainformativa inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. A presencia <strong>do</strong> paísveciño <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s da prensa galega non estáxustificada por esta característica senon queaínda segue a ser considera<strong>do</strong> <strong>na</strong> maioría <strong>do</strong>scasos como un país extranxeiro máis que sóacada relevancia informativa can<strong>do</strong> o feito,fonte ou actor así o manifestan.Deste xeito, os temas polos que Portugalaparece nos textos xor<strong>na</strong>lísticos de Galiciason puntuais e teñen que adquirir granderelevancia xor<strong>na</strong>lística <strong>na</strong> actualidade a nivelinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Ademais deste primeiro grupode temas que acadan presencia non só <strong>na</strong>prensa galega senón nos principais xor<strong>na</strong>is<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, os diarios de Galicia recollentamén aqueles aspectos da realidadexor<strong>na</strong>lística que implican a axenteseconómicos, sociais ou políticos dacomunidade autónoma.A presencia de Portugal <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>simpresas galegas se incrementaconsiderablemente can<strong>do</strong> facemos referenciaá información mixta, é dicir, aquelesaparta<strong>do</strong>s nos que se transmiten eventos ouacontecementos nos que participan os <strong>do</strong>uspaíses, Portugal e Galicia. Neste caso, aporcentaxe de información aumenta e o abanode temas é máis eleva<strong>do</strong>, aínda que se seguea vertebrar en torno a tres eixes: o fútbol,


240 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVa cultura e a economía. En concreto, conti<strong>do</strong>scomo os proxectos transfronteirizos, asinfraestructuras, actividades artísticas,encontros políticos, accidentes, literatura eturismo relixioso conseguen representar cadaun un 10% <strong>na</strong>s pezas <strong>na</strong>lgúns <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is.Dous son, polo tanto, os criterios denoticiabilidade que pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>n no casoconcreto <strong>do</strong>s temas de ou sobre Portugal <strong>na</strong>prensa galega.Concretamente, os temas que acadan unhamaior presencia son os de deportes –fundamentalmente o fútbol-, a cultura e osencontros ou reunións institucio<strong>na</strong>is e/oueconómicas entre institucións ou empresas <strong>do</strong>s<strong>do</strong>us países. Como consecuencia, as porcentaxesmás elevadas de pezas informativas estánubicadas <strong>na</strong>s sección de Deportes, Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>le Economía (varía a súa denomi<strong>na</strong>cióndependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> diario a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>).A presencia, ademais de secundaria, énormalmente pla<strong>na</strong> e neutral. O tratamentoconcedi<strong>do</strong> á información polos xor<strong>na</strong>listasgalegos coincide co tinte <strong>do</strong> noticias-feito,é decir, a<strong>do</strong>pta un aspecto negativo se o feitoten estas connotacións (delitos, accidentes,en xeral, sucesos) e viceversa o que ofrecexa é un primeiro aspecto da ausencia deelaboración e complexidade da información.Deste xeito, mais da metade <strong>do</strong>s textos sobrePortugal rexistra<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mostra escolmada sontendencialmente neutros, é dicir, sinxelos, sencontraste, puramente descriptivos e senvaloración ou interpretación.ImportanciaA presencia a<strong>na</strong>lizada cualitativamente<strong>na</strong>s liñas anteriores vincúlase cunha aparicióncuantitativa moi escasa que non secorresponde polo momento coa proximidadexeográfica, económica e cultural quepotenciou o incremento de actividades nosdiferentes ei<strong>do</strong>s da vida <strong>do</strong>s <strong>do</strong>us países.Soamente os rotativos edita<strong>do</strong>s no sur dacomunidade autónoma desti<strong>na</strong>n recursoshumanos e paxi<strong>na</strong>ción propia para ainformación <strong>do</strong> país veciño, e polo tantoconcédenlle unha cobertura informativaaxeitada no referi<strong>do</strong> ó espacio.A escasa epuntual presencia provoca a carenciaprácticametne total de infraestructurasxor<strong>na</strong>lísticas no país veciño.Á hora de a<strong>na</strong>lizar a importanciacualitativa concedida á información publicadasobre Portugal en Galicia tivemos en conta,fundamentalmente, tres ítems: a presencia enportada, os xéneros emprega<strong>do</strong>s, os elementosgráficos e a producción propia.En relación coa primeira das categorías,a presencia en portada, como indica<strong>do</strong>r darelevancia concedida a unha informaciónincluída dentro <strong>do</strong> rotativo, debemos si<strong>na</strong>laras seguintes características. En primeiro lugar,que a presencia <strong>na</strong> primeira páxi<strong>na</strong> éreducidísima (ningún <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is acada noperío<strong>do</strong> a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> as 10 chamadas sobrenovas de Portugal <strong>na</strong> portada): a media sitúaseno 17%, pero, agás o Faro de Vigo –quedistorsio<strong>na</strong> a media- o resto <strong>do</strong>s diarios no<strong>na</strong>lcanza o 1%. En segun<strong>do</strong> lugar, que asinformacións sobre Portugal que aparecen <strong>na</strong>primeira páxi<strong>na</strong> ou ben son referidas a feitosnos que Galicia tamén é protagonista –o quedenomi<strong>na</strong>mos información mixta- ou ben sonnoticias referentes a sucesos.Unha segunda categoría que consideramospara a<strong>na</strong>lizar á profundidade e importanciadada á información sobre Portugal é amedición <strong>do</strong>s xéneros emprega<strong>do</strong>s para otratamento de informacións sobre o paísveciño. Neste senti<strong>do</strong>, as conclusión obtidassi<strong>na</strong>lan que como consecuencia da escasaimportancia concedida ós temas, o empregode xéneros informativos está reduci<strong>do</strong> aaqueles que supoñen un tratamento máisdirecto e sinxelo da información: as noticiase os breves. O emprego de noticias supera,deste xeito, o 50% en tó<strong>do</strong>los xor<strong>na</strong>isa<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s. Como consecuencia, os temas sontrata<strong>do</strong>s sen demasiada profundización deforma puramente descritiva e informativa <strong>do</strong>asunto <strong>do</strong> que se trate ou <strong>do</strong> acontecementoque se relata.As reportaxes está relegadas ós temasmáis tópicos e lúdicos cunha presencia moipuntual nos xor<strong>na</strong>is como poden ser os fa<strong>do</strong>s,as festas e as feiras que se celebran enPortugal. As porcentaxes obtidas de presenciadeste xénero nos diarios galegos son moiescasas e case nunca superan o 10% <strong>do</strong>stextos informativos publica<strong>do</strong>s nos rotativos.A situación aínda é máis negativa no caso<strong>do</strong>s artigos de opinión xa que <strong>na</strong> maioría <strong>do</strong>sxor<strong>na</strong>is están por baixo <strong>do</strong> 5%.


JORNALISMO241En terceiro lugar, consideramos que unhainformación que conta con elemento gráfico–xeralmente fotografía- ten unha maiorrelevancia que aquelas que non a está<strong>na</strong>compañadas de este elemento. Comosi<strong>na</strong>lamos anteriormente, a escasa importanciaconcedida ós temas, o emprego maioritariode noticias cortas e breves provoca que oemprego de elementos gráficos sexa poucomáis que puntual. En conso<strong>na</strong>ncia co descritoata o momento tamén as fotografías que sepublican aparecen preferentemente <strong>na</strong>quelascon informacións mixtas. Sen embargo, seben a información gráfica publicada nosxor<strong>na</strong>is galegos é escasa en relación óconxunto <strong>do</strong> diario, acada unha relevanciamoi importante se realizamos a análise enfunción da presencia e información sobrePortugal. É dicir, entre o 20 e o 25 por cento<strong>do</strong> espacio ocupa<strong>do</strong> polo país veciño nosxor<strong>na</strong>is galegos son imaxes.A producción e a temática coincide coexposto <strong>na</strong>s liñas anteriores e coas ruti<strong>na</strong>sproductivas estipuladas en xeral pola prensagalega. Deste xeito, a procedencia maioritariaé de axencias de información –agás no caso<strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is que contan con traballa<strong>do</strong>res enPortugal-, son normalmente de caractercomplementario e/ou ilustrativo máis queinformativo e soen reducirse a un determi<strong>na</strong><strong>do</strong>número de perso<strong>na</strong>xes públicos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>scoa temática habitual (políticos oudeportistas) e que, ademais, facilitan oproceso porque permiten o emprego deimaxes de arquivo.Fi<strong>na</strong>lmente, dedicamos un espacio <strong>do</strong> nosoestudio a a<strong>na</strong>lizar a producción da información,é dicir, a infraestructura que teñen os xor<strong>na</strong>isgalegos para a elaboración da información ea cobertura <strong>do</strong>s acontecementos ocurri<strong>do</strong>s alénda fronteira <strong>do</strong> Miño.As características da presencia de Portugalnos xor<strong>na</strong>is galegos descrita <strong>na</strong>s liñasanteriores denota unhas carencias importantesno proceso productivo. En primeiro lugar, amaioría <strong>do</strong>s rotativos galegos carecen deproducción propia nos temas referi<strong>do</strong>s aPortugal e realizan un uso case exclusivo dematerial informativo produci<strong>do</strong> polas axenciasde noticias galegas, españolas e mesmointer<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Este feito provoca apublicación de informacións neutras, comúnsa tó<strong>do</strong>los xor<strong>na</strong>is e carentes de focalizaciónen relación con aqueles temas ou aspectosque ponderan interesar máis a Galicia comopaís próximo.A escasa producción propia tamén si<strong>na</strong>laou está potenciada pola falla de infraestructurapropia no lugar de orixe da noticia da quedispoñen soamente <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is máispróximos á Portugal. En relación con estefactor, o de proximidade, os xor<strong>na</strong>is decarácter autonómico ( O Correo Galego 5 eLa Voz de Galicia), os diarios <strong>do</strong> sur deGalicia, o sema<strong>na</strong>rio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista A NosaTerra e o diario comarcal Minho Informativo 6son os xor<strong>na</strong>is galegos que máis intereseamosan polos acontecementos en Portugal.A prensa de Lugo e A Coruña vive allea aeste interese, probablemente por criteriosxeográficos e de noticiabilidade.As fontes son escasas e normalmentequedan reducidas á unha ou dúas.Normalmente de axencia ou, no caso <strong>do</strong>sxor<strong>na</strong>is con traballa<strong>do</strong>res ou envia<strong>do</strong>sespeciais o país veciño, con dúas fontes. Ainformación sobre Portugal comparte coxor<strong>na</strong>lismo galego en xeral o pre<strong>do</strong>minio defontes institucio<strong>na</strong>is e a pe<strong>na</strong>s se recurre ótestemuño directo, ós especialistas, as fonteseconómicas ou ás organizacións sociais,fontes que non acadan ó 7% das empregadas.O esquema é similar no caso de informacións<strong>na</strong>s que Galicia e Portugal compartenprotagonismo. Neste caso, de cada dez fontes,só dúas son lusas.ConclusiónsA presencia de Portugal nos xor<strong>na</strong>isgalegos é aínda escasa e relegada adetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s ámbitos da realidadexor<strong>na</strong>lística. Soamente un factor faiincrementar a presencia de Portugal nosmedios galegos: a proximidade xeográfica.A característica de local <strong>do</strong>s medios decomunicación impresos provoca que <strong>na</strong>escolma das informacións publicadas primeo criterio de proximidade, polo que a prensasoamente fai referencia á realidade <strong>do</strong> paísveciño can<strong>do</strong> ou teñen relación con Galiciaou están xeográficamente preto de Portugal.Deste xeito, a proximidade <strong>do</strong> lugar deproducción <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>l e <strong>do</strong>s lectores <strong>do</strong> mesmoprovoca un incremento da presencia deinformación sobre Portugal. Durante os


242 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVúltimos anos incluso algunhas empresasxor<strong>na</strong>lísticas estableceron unha peque<strong>na</strong>infraestructura de medios humanos e recursosmateriais que permiten o mantemento dunhainformación continua sobre o país veciño. Eo caso de Faro de Vigo e La Región 7 . Estefeito tivo as súas consecuencias no discursocuantitativamente: o xor<strong>na</strong>l vigués constituíuunha sección denomi<strong>na</strong>da ‘Portugal‘ e editaunha media diaria de 3,5 noticias. Do mesmoxeito, as zo<strong>na</strong>s de Portugal que teñen unhamaior presencia en Galicia son as máispróximas a comunidade autónoma.Pese a pequenos avances, a informaciónintercambiada entre ambos países aínda éescasa e, sobre to<strong>do</strong>, reducida a determi<strong>na</strong><strong>do</strong>sei<strong>do</strong>s da realidade o que provoca unha imaxeparcial e distorsio<strong>na</strong>da que non beneficia apotenciación de lazos mutuos que se está<strong>na</strong>fianzan<strong>do</strong> durante os últimos anos enámbitos como o económico ou o social.Consideramos que a comunicación debedesempeñar un rol importante <strong>na</strong>conformación da imaxe colectiva sobrePortugal en Galicia durante as próximasdécadas.


JORNALISMO243BibliografíaBarnhurst, Kevin G. e Mutz, Dia<strong>na</strong>,“American jour<strong>na</strong>lism and the decline inevent-centered reporting”. En”Jour<strong>na</strong>l ofCommunication, vol. 47, n.º 1: 27-55, 1997.Casasus, Josep María, Ideología yanálisis de los medios de comunicación,Barcelo<strong>na</strong>, Dopesa, 1972.Galtung, J. e Ruge, M. H., “The structureof foreign news”. En”Jour<strong>na</strong>l of Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>lPeace Research, n.º 1, 1965.López García, Xosé e outros, La difusiónde la prensa diaria en Galicia, Santiago deCompostela, Universidad de Santiago, 2001.Marques de Melo, José, Estu<strong>do</strong>s deJor<strong>na</strong>lismo Compara<strong>do</strong>, Livraria PioneiraEditora, São Paulo, 1972.Marques de Melo, José; Fadul,A<strong>na</strong>maria; Andrade, António e Gobbi, MariaCristi<strong>na</strong>, O Mercosul <strong>na</strong> prensa <strong>do</strong> Mercosul,1999. (Projecto de pesquisa). Textopolicopia<strong>do</strong>.Pinto, Ricar<strong>do</strong> Jorge, The Evolution ofthe Structure of Political Jour<strong>na</strong>lism in Four“Quality” Newspapers (1970-1995). Tese de<strong>do</strong>utoramento non publicada, presentada <strong>na</strong>Universidade <strong>do</strong> Sussex, dispoñible paraconsulta <strong>na</strong> biblioteca da UniversidadeFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa, Porto, 1997.Pinto, Ricar<strong>do</strong> Jorge e Sousa, JorgePedro, “Um retrato sociográfico esocioprofissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> Porto”.En”Cadernos de Estu<strong>do</strong>s Mediáticos I, pp.9-107, Edições Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>Pessoa, Porto, 2000.Sousa, Jorge Pedro, Fotojor<strong>na</strong>lismoPerformativo. O Serviço de Fotonotícia daAgência Lusa de Información, Edições daUniversidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa, Porto, 1998.Sousa, Jorge Pedro, As Notícias e os SeusEfeitos, Minerva Editora, Coimbra, 2000.Traqui<strong>na</strong>, Nelson, “As notícias”.En”Jor<strong>na</strong>lismos. Revista de Comunicação eLinguagens, n.º 8: 29-40, 1988.Tuchman, Gaye, Making News. A Studyin the Construction of Reality, The Free Press,New York, 1978.Wolf, Mauro, Teorias da Comunicação,Editorial Presença, Lisboa,1987._______________________________1Universidade de Santiago de Compostela.2O grupo estaba coordi<strong>na</strong><strong>do</strong> por Xosé Lópezda Universidade de Santiago de Compostela e porJorge Pedro Sousa da Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>Pessoa de Porto. O grupo de investigación estabaforma<strong>do</strong> por: Berta García, Rosa Tedín, BelénPuñal e Olalla Sánchez.3A comarca é unha división territorialadministrativapropia de Galicia, pero quepropiciou o xurdimento de publicacións propiasque sirven de vehículo de comunicación <strong>do</strong> medio.4O estudio empregou unha mostra formadapor 26 números (a metade das sema<strong>na</strong>s <strong>do</strong> ano)de cada xor<strong>na</strong>l diario, por <strong>do</strong>ce números (un xor<strong>na</strong>lpor mes) de cada publicación sema<strong>na</strong>l.5No 2003 cambiou por Galicia hoxe.6Era unha publicación periódica editada enTui que se difundía nesta localidade e en Valença.Na actualidade non se edita.7Faro de Vigo cunha delegación en Valençae La Región con un correspondente <strong>na</strong> localidadeportuguesa.


244 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO245O traballo xor<strong>na</strong>lístico de Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor en América:a divulgación da cultura galega <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s de La NaciónXosé López García y Marta Pérez Pereiro 1A Sección de Comunicación <strong>do</strong> Conselloda Cultura Galega no seu labor derecuperación da memoria histórica <strong>do</strong>xor<strong>na</strong>lismo galego, traballa no estudio daobra dalgúns <strong>do</strong>s nosos máis destaca<strong>do</strong>sdevanceiros que exerceron como profesio<strong>na</strong>isnos medios de comunicación colectivos. Undeles, aínda que máis coñeci<strong>do</strong> coma escritor,é Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor, autor de novelascruciais para a literatura galega como AEsmorga ou Xente ao lonxe e obra en castelán<strong>na</strong> que poden destacarse La catedral y el niñoe Las bue<strong>na</strong>s maneras. Se ben mantivo unhaactividade constante como xor<strong>na</strong>lista, que foio seu medio de vida fundamental, existenescasos intentos de compilación <strong>do</strong>s seustraballos nos periódicos. 2 Estes esforzos so<strong>na</strong>ta o de agora nulos no caso <strong>do</strong> seu traballocomo reporteiro en América.Emigra<strong>do</strong> ós 21 anos, no ano 1919,Blanco-Amor chega a Bos Aires coa únicaexperiencia como xor<strong>na</strong>lista <strong>na</strong> redacción <strong>do</strong>xor<strong>na</strong>l ourensán El Diario de Orense. O seubiógrafo, Gonzalo Allegue, apunta que omozo Blanco-Amor exercía de “amanuense”no medio, mentres que el mesmo sostiña, enentrevistas moitas décadas despois, quetraballaba como xor<strong>na</strong>lista e asi<strong>na</strong>ba coalcume de “Herminia Hernández”.Conta, polo tanto, cunha peque<strong>na</strong>experiencia <strong>na</strong> profesión, o que o anima aparticipar en distintos medios da comunidadegalega <strong>na</strong> Arxenti<strong>na</strong>, e, posteriormente, enxor<strong>na</strong>is americanos. Para falarmos da súatraxectoria como xor<strong>na</strong>lista ten senti<strong>do</strong>facermos un percorri<strong>do</strong> histórico-cronolóxicopor ela, xa que os distintos acontecementospolíticos en España determi<strong>na</strong>n en boamedida o tipo de traballo que realizará parauns e outros medios, ademais <strong>do</strong> acceso ósmesmos. Porén, podemos dividir a súaactividade como periodista fundamentalmenteen tres etapas:Unha primeira etapa que abrangue operío<strong>do</strong> dende a súa chegada a Bos Airesata a Guerra Civil, que operará o seu cambiode condición: de emigrante pasa a seconverter nun exilia<strong>do</strong>. Nestas primeirasdécadas, Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor concentra asúa actividade nos medios da comunidadegalega en Bos Aires, non só como colabora<strong>do</strong>rhabitual, senón tamén exercen<strong>do</strong> cargos deresponsabilidade nos xor<strong>na</strong>is e participan<strong>do</strong>activamente <strong>na</strong> fundación de distintosproxectos. Por outra banda, o escritor comezaa formar parte da nómi<strong>na</strong> de colabora<strong>do</strong>resde La Nación. Podemos dexergar o seutraballo no diario <strong>do</strong>s Mitre en dúas etapas,das que falaremos máis amplamente a seguir:1925-1932, perío<strong>do</strong> no que arrincan as súascolaboración e traballa como correspondenteen España entre os anos 1928 e 1929; e 1932-1935, que coincide coa segunda estadía comocorrespondente <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>l en España.A segunda etapa vai dende o 1936 ataos anos 60, concretamente o ano 1965, noque fixa a súa residencia definitiva enGalicia. A súa condición de exilia<strong>do</strong> dificultaa súa participación en determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s proxectosxor<strong>na</strong>lísticos, tanto da comunidade galega,como no propio La Nación, que a<strong>do</strong>pta unhaposición ambigua en relación ao conflictobélico en España. Por isto, e polas continuasviaxes que deveñen da diversificación da súaactividade profesio<strong>na</strong>l, comeza a colaborarcon outros xor<strong>na</strong>is americanos como La Horae El Mercurio, en Chile, e El Nacio<strong>na</strong>l eEl Universal en Venezuela.Fi<strong>na</strong>lmente, o retorno a Galicia, onde fixaa súa residencia definitiva no ano 1965,constitúe a última etapa de traballo nosmedios de Blanco Amor. Nestes anos escribede maneira esporádica para xor<strong>na</strong>is comoEl País, La Vanguardia, La Voz deGalicia, Faro de Vigo ou La Región. Nestaetapa o xor<strong>na</strong>lismo é para o autor un mediode subsistencia, co que manterse e poderescribir literatura.


246 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVO traballo nos medios galegos en Argenti<strong>na</strong>Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor desenvolve unhaactividade case que frenética como xor<strong>na</strong>listanos anos vinte e primeira metade <strong>do</strong>s trinta<strong>na</strong>s diferentes empresas galegas radicadas <strong>na</strong>Arxenti<strong>na</strong>. Trátase dunha actividadeeminentemente política, xa que o autoremprega os medios para defender Galicia eo seu ideario, que vai evolucio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>conforme se producen acontecementoscruciais para a historia galega. As súasprimeiras publicacións son <strong>na</strong> revista AcciónGallega, pero están constituídas,fundamentalmente, por poemas ecolaboracións literarias. No ano 1921 énomea<strong>do</strong> director das páxi<strong>na</strong>s literarias <strong>do</strong>Correo de Galicia, medio con certo pasa<strong>do</strong>galeguista no que inicia unha serie de artigossobre os poetas galegos. Estes traballosi<strong>na</strong>ugurais <strong>na</strong> prensa galega fan que BlancoAmor aumente a súa experiencia <strong>na</strong> profesión,que aproveita can<strong>do</strong> funda, xunto con RamiloIlla Couto, a revista galeguista Terra, quese constitúe como o voceiro da “IrmandadeNazo<strong>na</strong>lista Galega”, representante <strong>do</strong> ideariopolítico de Vicente Risco. Terra foi, ademais,a primeira revista escrita por completo engalego <strong>na</strong> emigración arxenti<strong>na</strong>. Nesteprimeiro momento profesio<strong>na</strong>l, Blanco Amoridentifícase por completo coa tese <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listarisquia<strong>na</strong>, que aprendera nos parla<strong>do</strong>iros comestre en Ourense e ía espallar a América,pero a súa ideoloxía, tal e como indica oprofesor Núñez Seixas[2] vai evolucio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>cara ó republicanismo, primeiro concibi<strong>do</strong>como un galeguismo republicano e, a partirde 1931, como populismo galeguista deesquerdas. En concreto, os órganos daFederación das Sociedades Galegas, ElDespertar Gallego, que pasará serposteriormente Galicia, son lugaresprivilexia<strong>do</strong>s para esta misión. O xor<strong>na</strong>listadirixe a primeira destas publicacións dende1926 deica a súa desaparición en 1930. EnEl Despertar Gallego mantén a liña editorial“<strong>na</strong> defensa da ‘democracia republica<strong>na</strong>’,contra a degradación de Primo de Rivera(…), amosan<strong>do</strong> a súa solidariedade coa pobosibero-americanos, ameaza<strong>do</strong>s polo xigantenorteamericano, ou apoian<strong>do</strong> as loitas dasclases populares arxenti<strong>na</strong>s, dentro duninter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismo socializante que fala <strong>na</strong>linguaxe <strong>do</strong>s socialistas utópicos, máis que<strong>na</strong> vertente marxista”. 3 Estes ideiaismantéñense en Galicia, <strong>na</strong> que traballa atao ano 1950, dirixin<strong>do</strong> a súa liña nosmomentos máis duros, e defenden<strong>do</strong> aunidade indisoluble das causas republica<strong>na</strong>e autonomista, os temas máis recorrentes<strong>do</strong>s seus artigos e editoriais. 4 Ademais <strong>do</strong> seutraballo neste xor<strong>na</strong>l, colabora <strong>na</strong> Fouce eAlborada, ó tempo que desenvolve unhaactividade frenética como voluntario a favorda República, en calquera <strong>do</strong>s actos nos quese precisara da súa axuda. Inicia, asemade,unha breve actividade diplomática can<strong>do</strong> énomea<strong>do</strong> vicecónsul en Bos Aires.Posteriormente, recibe o cargo de cónsul daRepública en Men<strong>do</strong>za, co que abre esta novafronte de combate que compaxi<strong>na</strong> coa escrita<strong>na</strong> prensa, tanto galega coma arxenti<strong>na</strong>. Estaactividade nos medios da comunidade galeganon estará exenta de problemas. As loitasinter<strong>na</strong>s polo control da federación fan quesexa expulsa<strong>do</strong> da mesma en 1928 e impiden,ademais, que escriba <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s de ElDespertar. Será rehabilita<strong>do</strong> can<strong>do</strong>, xuntocon outros intelectuais e forzas políticas, seintegra <strong>na</strong> ORGA (Organización GalegaRepublica<strong>na</strong> Autónoma) que fi<strong>na</strong>ncia o 20%<strong>do</strong> custe da publicación. O traballo no seoda comunidade galega, polo tanto, non sempreé ben cpomprendi<strong>do</strong> polo conxunto <strong>do</strong>semigrantes. Isto fai que Blanco Amor seidentifique ple<strong>na</strong>mente coa consideración queCelso Emilio Ferreiro ten dun grupo <strong>do</strong>sgalegos de Venezuela: “¿Quen era esa Galiciaemigrante? Unha minoría que loitaba ailladacompara<strong>do</strong> coa gran marea da emigración,unha minoría que facía ás veces milagrespara manter o lume entre centos de a<strong>na</strong>nose as masas indiferentes ou manipuladas (…).É certo que non to<strong>do</strong>s os emigrantes so<strong>na</strong><strong>na</strong>nos, claro que non, pero a meirande parteendexamais fixo <strong>na</strong>da para apoiar ou merecero grande esforzo <strong>do</strong>s que alá loitaron pordignificar unha terra e unha cultura diante<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Estou totalmente de acor<strong>do</strong> coaidea básica <strong>do</strong> libro de Celso Emilio Ferreiroe teño, pola miña banda, unha longaexperiencia detrás chea de historiasignificativas”. 5 A entrada en La Nación Éprecisamente para estes “a<strong>na</strong>nos” para os queemprende boa parte <strong>do</strong> seu traballo noxor<strong>na</strong>lismo: para dignificar a figura <strong>do</strong>


JORNALISMO247emigrante galego, que daquela “era u<strong>na</strong>especie de primera perso<strong>na</strong> después de <strong>na</strong>die.Era un ser estigmatiza<strong>do</strong> de tal manera quecuan<strong>do</strong> se quería insultar o menospreciar aun español, se le decía gallego”. 6 BlancoAmor vive unha contradicción constante entreos ambientes que frecuenta: se ben alter<strong>na</strong>coa alta burguesía bo<strong>na</strong>erense, <strong>na</strong> que te<strong>na</strong>spiracións de integrarse, tamén convive coabase popular da emigración galega. Nestaesquizofrenia, como indica Luís ÁlvarezPousa, desenvolve unha “cuase obsesivamaneira de incrementar o nivel deconcienciación entre os emigra<strong>do</strong>s, mesmoacentuan<strong>do</strong> as súas contradiccións eprovocan<strong>do</strong> conflictos que sempre acabanrebotan<strong>do</strong> <strong>na</strong> súa persoa”. 7 Ademais de poñeren funcio<strong>na</strong>mento diversas empresas no seoda colectividade emigrante e participar nosmáis diversos actos culturais, outra das víasde dignificación <strong>do</strong>s galegos <strong>na</strong> Arxenti<strong>na</strong> foia entrada como correspondente e colabora<strong>do</strong>rno diario bo<strong>na</strong>erense La Nación.Accede a este medio o ano 1925, graciasó recoñecemento da súa actividade culturalnos medios galegos e da man de <strong>do</strong>usvale<strong>do</strong>res: dunha banda, conta co apoio <strong>do</strong>dramaturgo García Velloso, con quen o autorestablecera un contacto nos parla<strong>do</strong>iros <strong>do</strong>Café Armonía; <strong>do</strong>utra, co <strong>do</strong> responsable deLa Nación en España, o colombiano SanínCano, a quen entevistara para o Correo deGalicia.Ademais <strong>do</strong> seu compromiso de demostrarque os galegos non eran simplemente forzade traballo intercambiable, a divulgación eo traballo “misio<strong>na</strong>l” en La Nación, tal ecomo o denomi<strong>na</strong> Álvarez Pousa, obedecea <strong>do</strong>us obxectivos máis; Blanco Amor escribe“para esa gente que no irá jamás y que lloray se emocio<strong>na</strong> con un verso de Rosalía ou<strong>na</strong> estrofa de Curros (…)” 8 . Traballa, polotanto, neste equilibro inestable entre adignificación dun colectivo ós ollos <strong>do</strong> seupaís de acollida e o desexo de que este mesmogrupo contribúa, dende o coñecemento dasúa herdanza, á destrucción <strong>do</strong> estereotipoque pesa sobre el.Podemos apuntar aínda unha terceiradirección no traballo de prensa <strong>do</strong> autor enLa Nación. Como emigrante, o propio BlancoAmor precisa recuperar as orixes, o soño dainfancia no que incidirá con tanta frecuencia,e, como autor literario que está <strong>na</strong> procuradun espacio, dunha linguaxe, o traballo deinvestigación cultural que desenvolve parao diario é de grande importancia. Ademais,Bos Aires provócalle a Blanco Amor unhasensación alie<strong>na</strong>nte, de desmembramento. Defeito, el mesmo describía a cidade cunhaimaxe moi poderosa, como “u<strong>na</strong> máqui<strong>na</strong>de moler café, de la cual se sale fatalmentehecho polvo” 9 . A imaxe de Galicia que reténdende a xuventude e vai recuperan<strong>do</strong> <strong>na</strong>ssúas viaxes servía como unha protección quelle permitirá non entrar nese muíño edesfacerse.En definitiva, Eduar<strong>do</strong> pon enfuncio<strong>na</strong>mento o que deu en chamar o“principio da saudade activa”, 10 que o impulsaa traballar para a colectividade galega can<strong>do</strong>,como “escritor civil” que era, tal e comosostén Xavier Carro, 11 puidera ter opta<strong>do</strong> porescribir sobre a cidade ou seguir a liña quefixara co seu relato i<strong>na</strong>caba<strong>do</strong> A escadeirade Jacob.Correspondente en España. Dez anosdespoisA misión de Blanco Amor para LaNación será a de exercer comocorrespondente en España, como envia<strong>do</strong> deexcepción que levaba dez anos sen volveró país de orixe. É por iso que Blanco Amordesenvolve unha especie de saudade inpræsentia, xa que está en Galicia can<strong>do</strong>escribe esas descricións ideais que transmiteno xor<strong>na</strong>lismo arxentino, que, dende logo,contrastan co mun<strong>do</strong> descrito <strong>na</strong> súaactividade literaria, <strong>na</strong> que se revela ouniverso de Auria, por exemplo, cunha“visión dura e crítica (…), pero noncaprichosa, senón realista e sobria” 12 .Despois de tres anos de colaboraciónconstante en Bos Aires, o escritor é envia<strong>do</strong>como correspondente a España en <strong>do</strong>usperío<strong>do</strong>s que, malia non estar moi afasta<strong>do</strong>sno tempo, poden dividirse <strong>na</strong> producción deBlanco Amor en dúas etapas bendiferenciadas. En primeiro lugar, exerce comocorrespondente de La Nación entre os anos1928 e 1929. Nesta primeira estadía, e nosanos anteriores <strong>na</strong> Arxenti<strong>na</strong>, hai unha clarapreferencia polos temas culturais e históricosde Galicia.


248 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA súa segunda, e derradeira, viaxe comocorrespondente a España fai<strong>na</strong> entre os anos1933 e 1935, nos que a situación política esocial é moi distinta da que atopara nos anosprecedentes. Esta realidade transmítese nosseus escritos para La Nación, que deixan deser culturais para se transformar en artigosde opinión política. Neles escribe sobre omovemento autonomista en Galicia, sobre aRepública española e sobre o clima de altaconflictividade social que deriva <strong>na</strong> guerraque o convirte nun exilia<strong>do</strong>. O conti<strong>do</strong>político contrasta coas crónicas sobre culturaespañola que tamén aparecen <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s<strong>do</strong>minicais <strong>do</strong> diario, -El Greco, esculturaespañola, os patios de Tole<strong>do</strong>…- e que sonfroito das chamadas de atención que recibepor parte da directiva, que lle recomenda que“poña un coida<strong>do</strong> exquisito en non molestaro ideario político conserva<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s lectoresde La Nación”. 13 Tamén colabora con textosliterarios, relatos curtos que serán compila<strong>do</strong>scomo Cuentos de la ciudad, nos que describeas clases sociais de Bos Aires coa súa ironíacaracterística e se atreve con tramas policiaise psicolóxicas.A seguir, prestaremos atencións áscrónicas e artigos en profundidade que fanreferencia explícita a Galicia, aqueles nos quese nota a “intención seductora de Eduar<strong>do</strong>Blanco Amor, tanto para convencer sobre asingularidade e a riqueza cultural quesuibxace <strong>na</strong> perso<strong>na</strong>lidade e <strong>na</strong> obra <strong>do</strong>sclásicos galegos, como para persuadir apropios – os da comunidade de emigra<strong>do</strong>seextraños – a clase ascendente da ilustradae cosmopolita Bos Aires- de estaren asistin<strong>do</strong>a un outro parto de gran cala<strong>do</strong>sociocultural”. 14A divulgación da cultura galegaDende que desembarca <strong>do</strong> “Werra” noporto de Vigo, Blanco Amor inicia un periplopor toda Galicia <strong>na</strong> procura de material paraas súas crónicas. En calquera medio detransporte, e sempre acompaña<strong>do</strong> da súaKodak, -coa que tira as fotos que ilustranos seus traballos-, o escritor desenvolve <strong>na</strong>ssúas crónicas de viaxes e mini-ensaios sobretemas culturais un estilo persoal e unhacoida<strong>do</strong>sa labor de investigación. Cada undestes escritos vai debullan<strong>do</strong> as súas ideassobre orixe, vixencia e necesidades da culturagalega. Os artigos sobre artistas galegos sonun espacio preferente dentro <strong>do</strong> seu traballoxor<strong>na</strong>lístico para ir filtran<strong>do</strong> o seu ideario.Un <strong>do</strong>s artigos máis revela<strong>do</strong>res é“Alfonso Castelao. Dibujante y escritorhumorista” (15/06/1930). Neste escritopropug<strong>na</strong> a necesidade dun “pangalleguismo”que “no quiere significar un aislarse conhosquedad estéril dentro de lo comarcano yde lo regio<strong>na</strong>l”, xa que “en la conciencia desus jóvenes está incrustada la firme voluntadde no sentirla, estéticamente, ligada a uncriterio de región o comarca tal como loenuncia, sin ir más lejos, Ortega y Gasset”.Blanco Amor, seguin<strong>do</strong> a teses <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas<strong>do</strong> seu mestre Vicente Risco, propón volveros ollos a Europa, fuxin<strong>do</strong> dun “ciertoimperialismo intelectual, frente al que Galicialevantó, desde los ‘precursores’ en el siglopasa<strong>do</strong>, u<strong>na</strong> picuda e irreductible rebeldía queha de salvarla (…)”. Propug<strong>na</strong>, tamén noseguimento das premisas risquia<strong>na</strong>s, anecesidade de Galicia de se identificar comar que a separa <strong>do</strong> resto de <strong>na</strong>cións celtas:“Alegría sin esfuerzo, risa de muchachadeportiva frente a horizontes juminosos comodientes sanos: atlantismo”. 15Para dar unha idea desta ascendenciacultural, Blanco Amor fai unha arqueoloxíadas artes galega, conceden<strong>do</strong> unha atenciónespecial á expresión literaria. Isto dá lugara unha serie de artigos sobre os precursoresque van aparecen<strong>do</strong> en sucesivas entregas <strong>do</strong>s“Domingos de La Nación”. Así mesmo,desenvolve un importante traballo deinvestigación no artigo “Lírica gallega. Loscancioneros galaico-portugueses” (18/11/1934), no que transmite a súa conciencia <strong>do</strong>rigor xor<strong>na</strong>lístico: “Dentro de las limitacionesy forma y espacio a que obliga un trabajoperiodístico, no he escatima<strong>do</strong> esfuerzos paraprocurar que sea lo más completo – de unmo<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumental, ya que nointerpretativoque se haya escrito desde elángulo de nuestro tiempo, tanto como esla primera vez que el tema se trata en lenguacastella<strong>na</strong>”.Tamén presta especial atención ásmanifestacións das artes plásticas galegas, enespecial <strong>do</strong>s artistas <strong>do</strong> momento que podenser coñeci<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Arxenti<strong>na</strong>. Así, referencia“U<strong>na</strong> exposición de arte gallego en Buenos


JORNALISMO249Aires” (28/07/1929), ou aproveita para difundiro traballo de artistas coma “Santiago Bonome,escultor gallego” (3/11/1929) e Asorey en“Divagación y paráfrasis. Sobre el escultorAsorey” (9/06/1929). Estes textos, entre outros,serven tamén para difundir as súasconsideracións sobre cultura galega. BlancoAmor defende que non se estableza unhaacademia galega, xa que “los profesoresimpuestos por sistemas burocráticos deministerio habían de ser fatalmente, y u<strong>na</strong>experiencia tristísima en otras actividades delespíritu abo<strong>na</strong> esta afirmación, perso<strong>na</strong>s aje<strong>na</strong>sal asunto y al país, que emprenderíanesterilizante desregio<strong>na</strong>lización que un esta<strong>do</strong>centralista, poco o <strong>na</strong>da comprensivo, halleva<strong>do</strong> a cabo durante siglos y que de no habermedi<strong>do</strong> la generosa réplica que suponen estosmovimientos autónomos, habrían termi<strong>na</strong><strong>do</strong>por hacer de España un conjunto híbri<strong>do</strong> ydesmembra<strong>do</strong>, sin carácter ni interés”.Outra das reflexións que fai sobre artegalega era un tema de total actualidade, aexpresión enxebre das artes plásticas. ParaBlanco Amor, aínda que nunca o puxera epráctica, o enxebre é un específico galego,diferente <strong>do</strong> típico e <strong>do</strong> castizo pola súacondición de espiral creativa, non de círculosen posibilidade de avance. Galicia,”“unpueblo que trabaja en el desescombro de simismo”[16], precisa da ética <strong>do</strong>s seuscrea<strong>do</strong>res, porque aínda non pode permitirse,como sucede noutras <strong>na</strong>cións, “el lujo de lasmodas y de los malabarismos teóricos”. 16A paisaxe, que relacio<strong>na</strong> directamente coaproducción artística, 17 e a tradición popularocupan boa parte das súas reflexións nosartigos sobre Galicia. Algúns <strong>do</strong>s títulos dassúas colaboracións resultan tan elocuentescomo “Romerías gallegas” ou “San Andrésde lejos”. Neles procura demostrar aespecificidade das tradicións galegas,mostrán<strong>do</strong>as ós lectores de La Nación comosucesos marabillosos, ilustrán<strong>do</strong>os concantigas populares, acontecementos históricose referencias a outras culturas europeas. Estesmesmos recursos emprégaos can<strong>do</strong> fala daAlhambra, <strong>do</strong>s patios de Tole<strong>do</strong>, <strong>do</strong>sromances de cego canta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s prazas de todaEspaña ou <strong>do</strong> barrio chino de Barcelo<strong>na</strong>.Blanco Amor fuxe <strong>do</strong> tipismo, dán<strong>do</strong>lletrascendencia ós retratos <strong>do</strong> popularpoñén<strong>do</strong>os en relación coas artes canónicas.Así, para falar da romaxe a San Andrés, citaos cultos celtas, ou sintercala poemas sufíse suras <strong>do</strong> Corán para falar das fontes deGra<strong>na</strong>da.Podemos falar, no seu traballo xor<strong>na</strong>lísticodun respecto exquisito pola tradición, o quenon impide que divirta ó lector coa mesmaironía que demostra coma literato. Nonpercibimos, sen embargo, o distanciamento<strong>do</strong> que fala Xavier Carro en relación á súaobra literaria. O Blanco Amor xor<strong>na</strong>lista –que é, por outra banda, un Blanco Amor queescribe artigos e reportaxes vinte anos antesque A Esmorga-, non é un <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>romnisciente, senón un perso<strong>na</strong>xe máis datrama, unha persoa que, case coma unHitchcock literario (máis delga<strong>do</strong>, porsuposto, non soportaría a comparación) semestura entre as xentes que retrata. Aimplicación <strong>do</strong> autor <strong>na</strong>s súas crónicas é totalen <strong>do</strong>us traballos de especial relevo: “Esce<strong>na</strong>sde pesca en la costa galaico-portuguesa” (7/04/1929) e “Seis días en el mar. Esce<strong>na</strong>s depesca en la costa galaico-portuguesa” (17/03/1929). Para escribilos, Blanco Amordecide vivir a experiencia, varias décadasantes de que os xor<strong>na</strong>listas americanosiniciaran unha corrente que eles mesmosderon en chamar “New Jour<strong>na</strong>lism” e quedefendía unha posición case protagónica <strong>do</strong>escritor nos acontecementos que describe. Oautor relátao <strong>do</strong> seguinte xeito: “Por aquelentón fixen a miña primeira experiencia <strong>do</strong>mar. Era un mes de novembre de moi maltempo e embarqueime no “‘Norita’, matrículade Baio<strong>na</strong>, e alá fun baixo o patro<strong>na</strong>topesqueiro <strong>do</strong> tío Nartallo ‘O Puto’, de sesentaanos. ‘Puto’ quere dicir <strong>na</strong> linguaxe usualde aquela xente ‘listo’, ‘agu<strong>do</strong>’, ‘asisa<strong>do</strong>’,deses que son capaces de albiscar a pescacomo ao tacto. No outro extremo <strong>do</strong> rolfiguraba Pepiño, rapaz de abor<strong>do</strong>, que porahí tería uns trece anos. Algúns <strong>do</strong>scompañeiros de aquela xeira, moi poucosmeses despois de embarca<strong>do</strong>s nun pesqueirode Bouzas, morreron afoga<strong>do</strong>s”. 18 Estascrónicas literarias son expresión <strong>do</strong> mellorxor<strong>na</strong>lismo escrito por Blanco Amor en LaNación. O director <strong>do</strong> diario, Leopol<strong>do</strong>Lugones, felicitouno con gran cumpri<strong>do</strong>: assúas crónicas cheiraban a sardiña. Ampliaráeste tema <strong>na</strong> seguinte viaxe que fai a Galiciano artigo en profundidade “Glosa del mar


250 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVhabita<strong>do</strong>” (9/12/1934), no que visita a lonxa<strong>do</strong> Berbés e completa para os seus lectorestoda o proceso da pesca e venda <strong>do</strong> peixeen Galicia. Dende o inicio da Guerra Civil,Blanco Amor terá un espacio cada vez máislimita<strong>do</strong> <strong>na</strong>s páxi<strong>na</strong>s de La Nación. A faltade coincidencia ideolóxica será o motivodetermi<strong>na</strong>nte desta situación. Cada vez conmáis frecuencia ve como lle rexeitan artigossobre teatro ou García Lorca e ten que buscarnovos horizontes xor<strong>na</strong>lísticos. Atoparaosnoutros países americanos, como Chile, ondecolabora con La Hora e publica o volumeChile a la vista, ou Venezuela, onde tomaparte <strong>na</strong>s actividades da colectividade galegae escribe para El Nacio<strong>na</strong>l e El Universal.ConclusiónO labor de Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor a favorda cultura galega traspasa os lindes difusosda actividade das agrupacións de emigrantes,onde o seu traballo non sempre foi be<strong>na</strong>colli<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, as páxi<strong>na</strong>s de LaNación serán a caixa de reso<strong>na</strong>ncia perfectapara que, tanto a arxentinos coma a galegos,lles sexa imposible eludir a cultura galega.A aparición de ritos, artistas e xeografíagalega nun <strong>do</strong>s medios máis prestixiosos deAmérica é un impulso incontestable para odesenvolvemento dunha identidade colectiva,que ve reflectida nun espacio comunicativohabitual parte <strong>do</strong>s seus elementos definitorios.Como parte desta actividade en certamedida propagandística, Blanco Amor escribecrónicas cunha visión certamente positiva deGalicia, <strong>na</strong>s que se amosa unha granconfianza no futuro da cultura galega, debi<strong>do</strong>,fundamentalmente, á fortaleza <strong>do</strong>s seusalicerces. Os seguintes relatos sobre Galiciaque podemos ler xa son literarios e, dendelogo, menos luminosos que estas crónicas,tinguidas de entusiasmo, o mesmoentusiasmo que Blanco Amor sentira polosanos da República española: “(…) fueronlos años más esperanza<strong>do</strong>s, luminosos,fecun<strong>do</strong>s y fácilmente profetizables quepueblo alguno haya vivi<strong>do</strong>. Las artes, lasletras, la cultural en general, la decenciahuma<strong>na</strong> y la creencia aluci<strong>na</strong>da, en la Patriafueron los ingredientes de aquel instante, másallá de las macilentas y a<strong>do</strong>rmecidasasig<strong>na</strong>ciones que suelen darse a estaspalabras”. 19


JORNALISMO251BibliografíaAllegue, Gonzalo: Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor(biografía). Diante dun xuíz ausente, Nigra,Vigo, 1993Araújo García, Mª Teresa: Eduar<strong>do</strong>Blanco-Amor e Santiago de Compostela. Otema compostelano no labor xor<strong>na</strong>lístico dunemigrante, Consorcio de Santiago, Santiagode Compostela, 1995Calvo, Tucho: “O periodismo no escritor”en Home<strong>na</strong>xe a Blanco-Amor, Concello deRe<strong>do</strong>ndela, Xerais, 1981Calvo, Tucho: Valentín Paz-Andrade, amemoria dun século, Edicións <strong>do</strong> Castro,Sada, 1998Carro, Xavier: A obra literaria deEduar<strong>do</strong> Blanco-Amor, Vigo, Galaxia, 1993Casares, Carlos: “Entrevista con Eduar<strong>do</strong>Blanco Amor”, Vigo, ”Grial, nº 41F. Freixanes, Víctor: Unha ducia degalegos, Editorial Galaxia, Vigo, 1982Lorenza<strong>na</strong>, Salva<strong>do</strong>r: “Home<strong>na</strong>xe a unescritor: perfil biobibliográfico de Eduar<strong>do</strong>Blanco-Amor”, Grial, nº 67, 1980, pp.37-47Lueiro Rey, Manuel: “Blanco Amor, obo... Blanco Amor o malo”, Letra, terra eherdade. Eduar<strong>do</strong> Blanco Amor, A NosaTerra, Vigo, 1993, p.58.Neira Vilas, Xosé: Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor,dende Buenos Aires, Edicións <strong>do</strong> Castro,Sada, 1995Núñez Seixas, X. M.: “Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor no <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismo galego (1919-1939).Liderato étnico e galeguismo, Grial, Vigo,nº 108, (ano 1990)Pérez Pra<strong>do</strong>, Antonio: “Meus <strong>do</strong>usamigos desencontra<strong>do</strong>s”, Galicia. Revista delCentro Gallego de Buenos Aires, nº 660,1993, pp.20-22Pérez Rodríguez, Luis: Blanco-Amor eos seus escritos periodísticos, EditorialGalaxia, Vigo, 1993Pérez, Luís: “As Américas de BlancoAmor”, Creatividad cultural en la Galiciaexterior, Xunta de Galicia, Compostela, 1998Riera Llorca, V.; Manent, A.; Ugalde,M.; Martínez López, R.: El exilio españolde 1939. Cataluña, Euzkadi, Galicia, Vol. 6,Taurus, Madrid, 1976Riveiro Espasandín: “Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor xor<strong>na</strong>lista”, Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor(1897-1979), Día das Letras Galegas 1993,Xunta de Galicia, 1993Ruiz de Ojeda, Victoria A.(ed.):Entrevistas con Blanco-Amor, Nigra, Vigo,1994 Sesenta anos despois. Os escritores<strong>do</strong> exilio republicano. Actas <strong>do</strong> congresointer<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l celebra<strong>do</strong> <strong>na</strong> Universidade deSantiago de Compostela (16, 17 e 18 demarzo de 1999), Edicións <strong>do</strong> Castro, Sada,1999.Tarrío Varela, Anxo: Primeirasexperiencias <strong>na</strong>rrativas de Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor, Ed. Galaxia, Vigo 1993VVAA: Letra, terra e herdade. Eduar<strong>do</strong>Blanco Amor, A Nosa Terra, Vigo, 1993VVAA: Xor<strong>na</strong>das Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor,Xunta de Galicia, Santiago de Compostela,1997_______________________________1Sección de Comunicación <strong>do</strong> Consello daCultura Galega2As excepcións: as edicións de artigos de LaRegión e La Voz de Galicia.3Riveiro Espasandín, X.: “Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor xor<strong>na</strong>lista”, en: Eduar<strong>do</strong> Balnco Amor(1897-1979), Día das Letras Galegas 1993, Xuntade Galicia, 1993, pp. 33-34.4Moitos destes últimos teñen títulos querevelan de xeito elocuente o ton <strong>do</strong>s seus escritos:“¡Asesinos de España!” (16/07/1936), “La mentira<strong>na</strong>zifascista” (17/01/37) OU “Nuestra profundaconfianza en la Argenti<strong>na</strong>” (29/11/36).5En: Fernández Freixanes, Víctor: Unha duciade galegos, Vigo, Galaxia, 1982, p. 96.6Ruiz de Ojeda, Victoria A. (ed.): Entrevistascon Blanco-Amor, Vigo, Nigra, 1994, p. 37.7En: Calvo, T.: “O periodismo no escritor”,Home<strong>na</strong>xe a Blanco-Amor, Concello deRe<strong>do</strong>ndela, Xerais, 1981, p. 33-34.8En: Calvo, T.: “O periodismo no escritor”,Home<strong>na</strong>xe a Blanco-Amor, Concello deRe<strong>do</strong>ndela, Xerais, 1981, p. 33-34.9Op. Cit. Ruiz de Ojeda, p. 30.10Blanco Amor describía así este principio:“Cuan<strong>do</strong> llegué a Argenti<strong>na</strong> me empeñé y escribíbastante sobre esto: que había que estructurar elsentimiento de saudade como u<strong>na</strong> energética delespíritu. Es decir, si la saudade es la nostoi, esel sentimiento de morriña, del paraíso perdi<strong>do</strong> enla Tierra, eso hay que estructurarlo en u<strong>na</strong> acciónpor Galicia”. En: Op. Cit. Ruiz de Ojeda, p. 11411Op. Cit. Carro, p. 96.


252 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV12Op. Cit. Carro, p. 96.13Allegue, G.: Eduar<strong>do</strong> Blanco-Amor, diantedun xuíz ausente, Vigo, Nigra, 1993, p. 130.14Op. Cit. Álvarez Pousa, p. 4.15“La Coruña de los cristales”, (3/12/1933)16“Alfonso Castelao. Dibujante y escritorhumorista” (15/06/1930)17“Más que un producto libre de la fantasía,es el arte re<strong>na</strong>ciente, en Galicia, u<strong>na</strong> constantey voluntaria sumisión al paisaje”, en”“Elementosdel arte gallego. El paisaje” (6/05/1928).18Casares, Carlos: “Entrevista con Eduar<strong>do</strong>Blanco-Amor”, Vigo, Grial, nº 41, p. 339. Namemoria destes mariñeiros Blanco Amor escribiríao libro Poema en catro tempos.19Op. Cit. Casares, p. 46.


JORNALISMO253A información cultural nos medios de comunicación en GaliciaXosé López García e Marta Pérez Pereiro 1Medios de comunicación e políticasculturaisA Sección de Comunicación <strong>do</strong> Conselloda Cultura Galega, no seu interese polaanálise <strong>do</strong>s distintos fenómenoscomunicativos de Galicia, ven traballan<strong>do</strong>dende os últimos tres anos <strong>na</strong> análise dainformación cultural recollida nos medios decomunicación social en Galicia con cobertura<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. O obxectivo deste traballo é facerunha aproximación, tanto cuantitativa comacualitativa, á información sobre culturapresente nos medios de comunicación,poñen<strong>do</strong> especial atención á idea de culturareflectida nos mesmos, así como o tratamentoque recibe este bloque temático.Un <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res da saúde da culturadun país ten que ver coa súa proxección eco coñecemento que dela teñen os integrantesda comunidade <strong>na</strong> que se produce. Tal e comoindica Miquel de Moragas, é imprescindibleentender que a política cultural ten pornecesidade que ir da man dunha políticacomunicativa adecuada. Ademais, engade queteñen que ser entendidas comocomplementarias, en primeiro lugar porqueos medios de comunicación son canles –media- para a difusión de conti<strong>do</strong>s culturais.Pero tamén teñen que se entendi<strong>do</strong>s comocomplementarios porque os medios decomunicación, eles mesmos, actúan comoinstitucións culturais no senti<strong>do</strong> de limitar oupotenciar a participación social e tamén nosenti<strong>do</strong> de crear espacios culturais e merca<strong>do</strong>spara os productos culturais propios (Moragas,1988: 46).Aplica esta reflexión ao sistema de medioscatalán, entenden<strong>do</strong> que unha <strong>na</strong>ción senEsta<strong>do</strong> precisa un compromiso moi forteneste ei<strong>do</strong>. Galicia, posui<strong>do</strong>ra dunha culturae lingua diferenciadas, precisa tamén dunharelación estreita entre a producción culturale a súa transmisión por parte <strong>do</strong>s medios decomunicación social. Os medios estánobriga<strong>do</strong>s, polo tanto, non só a exercer a súafunción de transmisores de conti<strong>do</strong>s senónque, pola súa propia condición de productoscultural, deben de se converter e<strong>na</strong>mplifica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s fenómenos culturais quese expoñen <strong>na</strong>s súas páxi<strong>na</strong>s. En calqueracaso, os medios, malia contribuír ánormalización cultura, reproducirán semprea política cultural existente, sexa un conceptoarcaico de política cultural entendida comoa suma de políticas sectoriais (de libros, debelas artes, de espéctaculos, de museos, etc.)desligadas da política comunicativa”(Moragas, 1988: 46) ou unha cultura froitodunha acción conxunta por parte <strong>do</strong>s distintossectores productivos, as institucións e osparticulares.Meto<strong>do</strong>loxía e corpo da análiseO presente informe expón os datos tira<strong>do</strong>s<strong>do</strong> cuarto estudio realiza<strong>do</strong> pola Sección deComunicación, correspondente ao segun<strong>do</strong>semestre de 2003. Este traballo iniciouse en2001, cunha única cata anual, que abranguíaa análise da prensa e radio galegas. Nasmostras posteriores, -dúas anuais dende 2003-engadíronse televisión e medios electrónicos,o que completou o mapa de medios estudia<strong>do</strong>.Expoñemos os resulta<strong>do</strong>s que corresponde<strong>na</strong>o máis recente destes estudios polaproximidade temporal <strong>do</strong>s datos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>se porque as diferencias con respecto dasmostras anteriores non resultan substanciais.Podemos afirmar, polo tanto, como unhaprimeira conclusión previa á exposición <strong>do</strong>sdatos, que non hai cambios si<strong>na</strong>la<strong>do</strong>s <strong>na</strong>información cultural recollida nos principaismedios galegos nos tres últimos anos.A meto<strong>do</strong>loxía de traballo consistiu nobaleira<strong>do</strong> de conti<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s diferentes mediosescritos (prensa tradicio<strong>na</strong>l es electrónica) eaudiovisuais (radio e televisión) leva<strong>do</strong> a caboentre os meses de setembro e outubro. Enconcreto, escolléronse as seguintes datas:


254 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVvenres, 5; sába<strong>do</strong>, 13; <strong>do</strong>mingo, 21; luns, 29de setembro; martes, 7; mércores, 15 e xoves,23 de outubro. Recollemos, deste xeito, asnoticias de cultura de cada día da sema<strong>na</strong>,pero non escollemos un tramos continua<strong>do</strong>.O motivo principal desta escolla é que nonera a intención <strong>do</strong> estudio facer un seguimentode determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s temas culturais – quepuideran ser especialmente relevantes nunhasema<strong>na</strong> e non destaca<strong>do</strong>s noutra- senónvermos cal era a producción habitual <strong>do</strong>smedios.Por medio deste sistema poderiamos asímesmo incluír tó<strong>do</strong>los suplementos que osdistintos xor<strong>na</strong>is dedican á informacióncultural. Os medios consulta<strong>do</strong>s foron osseguintes: os xor<strong>na</strong>is Atlántico Diario, Diariode Arousa, Diario de Ferrol, Diario dePontevedra, El Correo Gallego, El IdealGallego, El Progreso, Faro de Vigo, GaliciaHoxe, La Opinión de A Coruña, La Regióne La Voz de Galicia; os xor<strong>na</strong>is dixitais forongaliciadiario.com, vieiros.com e xor<strong>na</strong>l.com;polo que respecta ás radios, os estudioabrangue as emisións da Radio Galega e asdesconexións para Galicia de Cade<strong>na</strong> Cope,Cade<strong>na</strong> Ser, Onda Cero e Radio Nacio<strong>na</strong>l deEspaña; Televisión de Galicia, TelevisiónEspañola en Galicia e Ante<strong>na</strong> 3 Televisión<strong>na</strong> súa desconexión para a nosa comunidade,completan o mapa de medios.Coa intención de descubrir a importanciaque lle dan os medios á información cultural,tras baleirar os conti<strong>do</strong>s sistematizamos asinformacións nunha base de datos que contén1504 rexistros e que a<strong>na</strong>liza os seguintescampos (ver ficha da base Access no anexo):Nome <strong>do</strong> medio, data, espacio/duración danoticia 2 , presencia en portada/titulares,sección, xénero, tema e tipo de acto 3 ,tratamento gráfico, número de fontes, orixeda información, ámbito xeográfico, liña decreto, actualidade, lingua <strong>na</strong> que está escritae observacións 4 .A busca da información cultural <strong>na</strong> prensaescrita non se centrou exclusivamente <strong>na</strong>sección que leva este nome, que tampoucoinclúen tó<strong>do</strong>los medios, senón que sea<strong>na</strong>lizaron tó<strong>do</strong>las páxi<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s diarios, mesmoas reservadas á opinión. Polo que respectaá información radiofónica e televisiva,estudiáronse os programas informativos decarácter xeral, xa que a<strong>na</strong>lizar os que sededican á temática cultural en exclusivadesvirtuaría os resulta<strong>do</strong>s da mostra e, polotanto, o obxectivo <strong>do</strong> estudio, que é vermoscomo a cultura convive e se organiza co restode conti<strong>do</strong>s diarios habituais <strong>do</strong>s medios decomunicación. Cómpre si<strong>na</strong>lar queentendemos o concepto de cultura nun senti<strong>do</strong>amplo. É dicir, inclúense aquelasinformacións <strong>na</strong>s que se trata a cultura comoarte (literatura, pintura, música, cine,teatro…), a cultura como espectáculo(festivais, premios, concertos…), noticiasreferidas ao patrimonio e a cultura popular(feiras medievais, mostras de artesanía…), etamén aquelas referentes á industria culturalou ás políticas culturais (subvencións,<strong>do</strong>azóns de libros, actividades de promoción<strong>do</strong> uso da lingua…).Unha vez compilada a información,a<strong>na</strong>lizámola en base a cinco eixos, as liñasprincipais da investigación desenvolvida:1 - A importancia que outorgan os mediosá cultura. Este dato extráese de variablescomo se a noticia está referenciada <strong>na</strong> portada,tamaño de titulares, ubicación <strong>na</strong> paxi<strong>na</strong>ción<strong>do</strong> xor<strong>na</strong>l, se a noticia vai ilustrada, enteoutros elementos.2 - O ámbito xeográfico da informacióncultural: local, galego, estatal, europeo ouinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.3 - O tipo de cultura que transmiten osmedios e cales son os temas pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes<strong>na</strong> prensa galega.4 - A calidade desa información, quedevén <strong>do</strong> tratamento que se lle dá: tipo enúmero de fontes consultadas <strong>na</strong> súaelaboración, noticias asi<strong>na</strong>das polo xor<strong>na</strong>listaou non, noticias de axencia ou elaboradasno propio medio, etc.5 - A lingua escollida no tratamento dainformación cultural, galego ou castelán 5 . Aslimitacións de espacio e tempo, e a extensión<strong>do</strong> informe fi<strong>na</strong>l redacta<strong>do</strong>, obrigan a queexpoñamos as conclusións deste traballo, <strong>na</strong>sque, para ratificar determi<strong>na</strong>das aseveraciónsincluímos datos <strong>do</strong> corpo da análise. Nestaanálise fíxose unha distinción entre os díasda sema<strong>na</strong> (de luns a xoves) e a fin de sema<strong>na</strong>(venres, sába<strong>do</strong> e <strong>do</strong>mingo) como unha dashipóteses formuladas, a asociación da culturacoas actividades de lecer. Tamén se estableceuun aparta<strong>do</strong> especial para a publicaciónsema<strong>na</strong>l A Nosa Terra, xa que a periodicidade


JORNALISMO255influír <strong>na</strong> preparación e presentación <strong>do</strong>producto informativo. A meirande parte <strong>do</strong>sexemplos tira<strong>do</strong>s da análise cuantitativatómanse da prensa diaria que, por volumede noticias, permite facer valoracións máiscerteras. Tanto nos xor<strong>na</strong>is dixitais como nosmedios audiovisuais o corpo da análise élimita<strong>do</strong> e, polo tanto, resulta problemáticofacer interpretacións sobre o conti<strong>do</strong> dainvestigación.Conclusións1 - A actualidade da información é ocriterio xor<strong>na</strong>lístico que contribúe de maneiramáis firme á construcción da informacióncultural nos medios de comunicación galegos.Deste xeito, as publicacións máis recentes,as presentacións, a celebración deespectáculos ou a celebración de home<strong>na</strong>xes,entre outros eventos, son os que supoñeno maior volume de pezas informativas. Asímesmo, a axenda, un servizo basea<strong>do</strong> <strong>na</strong>anticipación <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>lista, que permite aolector ou especta<strong>do</strong>r coñecer os actos que vancelebrarse para programar as súas actividades,ten unha importancia crucial nos medios, enespecial <strong>na</strong> prensa diaria, <strong>na</strong> que se dá conta<strong>do</strong>s principais actos culturais de cada ámbitoxeográfico. Xunto coa actualidade, outro <strong>do</strong>scriterios-noticia fundamentais é o danovidade, aplicada á aparición de productosdas industrias culturais, que son presenta<strong>do</strong>sco obxectivo de que se faga unha difusión<strong>do</strong>s mesmos no merca<strong>do</strong>.2 - O medio de comunicación é enescasas ocasións o impulsor da noticia. Amaioría das noticias pertencen a actos deaxenda: actividades programadas poralgunha organización, pública ou privada,ou particular que o medio de comunicaciónsimplemente transcribe. Moitas noticiasson compilacións de informaciónsofrecidas en roldas ou notas de prensa que,en numerosas ocasións, simplementeanuncian eventos aos medios. (Resulta, sendúbida, curioso que estes anuncios sexancubertos e non as actividades das que dannoticia).Tamén é considerable o número deinformacións que proceden de actosprograma<strong>do</strong>s (estreas cinematográficas,exposicións, representacións teatrais,concertos...) que o medio anuncia ou queinterpreta por medio de xéneros máisopi<strong>na</strong>tivos. Se ben arre<strong>do</strong>r <strong>do</strong> 40% dasnoticias incluídas non están adscritas a untipo de acto ou convocatoria determi<strong>na</strong><strong>do</strong>,os espectáculos, maiormente musicais,supoñen un 21% das noticias de cultura <strong>na</strong>prensa da sema<strong>na</strong> e un 22’1% <strong>na</strong>s da fin desema<strong>na</strong>. Síguenlles as exposicións (12’6% <strong>na</strong>sema<strong>na</strong> e 10’6% <strong>na</strong> fin de sema<strong>na</strong>), aspresentacións de productos culturais (8’4%;6%) e os premios ás diversas actividadesculturais (10%; 5’4%).3 - Os medios de comunicación galegosenfocan a Cultura preferentemente comoLecer ou como Espectáculo. Este é un <strong>do</strong>smotivos polo que a maior parte <strong>do</strong>ssuplementos <strong>do</strong>s xor<strong>na</strong>is, receptáculospreferentes destes conti<strong>do</strong>s, se publican <strong>na</strong>fin de sema<strong>na</strong>, co que aumenta de maneiramanifesta o número de noticias culturais.To<strong>do</strong>s os diarios galegos dispoñen de can<strong>do</strong>menos un suplemento de fin de sema<strong>na</strong> noque se verten distintos conti<strong>do</strong>s relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>sco lecer, moitos deles conecta<strong>do</strong>sdirectamente coas artes e a literatura, en formade grandes reportaxes, críticas ou entrevistas.Dentro deste conxunto de suplementosatopamos algúns dedica<strong>do</strong>s especificamenteá cultura e, polo tanto, malia o seu carácterdivulgativo da<strong>do</strong> o medio xeralista no quese publican, teñen conti<strong>do</strong>s especializa<strong>do</strong>s.Este é o caso de “Culturas”, de”La Voz deGalicia, “Saberes”, de”La Opinión de ACoruña e “Correo das Culturas”, de”ElCorreo Gallego.Deste xeito, a porcentaxe de noticiasincluídas nestes suplementos é dun 31’4%<strong>na</strong> fin de sema<strong>na</strong>, mentres que esta proporcióndecrece ata un 2’5% nos días da sema<strong>na</strong>.Podemos dicir, á vista destas consideracións,que a cultura ocupa unha posición non centralno discurso informativo, pola súa asociaciónás actividades que a<strong>do</strong>itan empregarse nosmedios como conti<strong>do</strong>s de peche, - nos mediosaudiovisuais, preferentemente, con música <strong>na</strong>radio e colas de imaxes <strong>na</strong> televisión-, oucomo informacións de ton máis lixeiro, quedescargan no medio a tensión de sección demáis peso como as de política e economía.Non é polo tanto extraño que moitos destesconti<strong>do</strong>s se concentren <strong>na</strong> fin de sema<strong>na</strong> e,


256 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpreferiblemente, nos suplementos. Se ben osconti<strong>do</strong>s culturais adquiren neles un sesgomáis especializa<strong>do</strong>, polo tipo de temasescolli<strong>do</strong>s ou os xéneros desenvolvi<strong>do</strong>s, querequiren dun maior tempo de preparacióne de maior formación <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>lista, a súaconcentración lles confire ás noticias culturaisun aire de excepcio<strong>na</strong>lidade, apartán<strong>do</strong>as detemáticas máis cotiás.4 - A Cultura transmitida nos informativos<strong>do</strong>s medios galegos está vencellada áinformación, non á interpretación nin ácrítica. O 66% <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s preséntase baixoo xénero de noticia ou de breve.’Comocontraste podemos dicir que a crítica, unxénero básico para a información cultural,só supón un 0’6%. ’Polo xeral, os conti<strong>do</strong>sculturais transmítense sen que se afonde <strong>na</strong>materia tratada e sen deixar espacio á opiniónou ao debate. A sección de Opinión representasó un 2,6% <strong>do</strong> total de rexistros a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s,polo que se pode afirmar que os temasrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s coa cultura teñen poucapresencia nestas páxi<strong>na</strong>s, <strong>na</strong>s que se lles dámaior relevancia a temas susceptibles de crearun debate social máis amplo como, porexemplo, a política ou a economía.Froito das mostras anteriorescomprobamos que o espacio da opiniónqueda reserva<strong>do</strong> nos temas culturais parafeitos de gran trascendencia como a mortede persoeiros, home<strong>na</strong>xes ou premios. Unhavez máis, a actualidade é o marca<strong>do</strong>r, benpara os sucesos imprevistos como para asactividades programadas de forte eco social.Xunto co xénero escolli<strong>do</strong> para a transmisiónde conti<strong>do</strong>s culturais, outro <strong>do</strong>s sistemas demedición da elaboración da peza xor<strong>na</strong>lísticaé a liña de creto.Nesta análise atopamos unha altaporcentaxe de noticias que non son asi<strong>na</strong>daspolo xor<strong>na</strong>lista; en concreto, un 60’3% dasinformacións da fin de sema<strong>na</strong> veñe<strong>na</strong>si<strong>na</strong>das pola redacción (13’3%), por axencias(10’6%) ou non teñen ningún tipo dereferencia á súa autoría (26’4%). Durante asema<strong>na</strong> esta porcentaxe aumenta ata un61’5%, polo que o xor<strong>na</strong>lista encarga<strong>do</strong> dainformación asi<strong>na</strong> menos <strong>do</strong> 30% das pezas.Resulta interesante comprobar que estasporcentaxes se invirten no caso de A NosaTerra, medio no que o 60’5% dasinformacións están asi<strong>na</strong>das polo seu redactor.Compróbase, polo tanto, que as ruti<strong>na</strong>slaborais inciden fortemente <strong>na</strong> producción deinformación cultural, xa que se entende comoun traballo secundario, que precisa dunhamenor elaboración.5 - Toman<strong>do</strong> en consideración os datosextraí<strong>do</strong>s sobre a ubicación espacial, enprensa, e temporal, nos medios audiovisuaisda noticia, podemos incidir <strong>na</strong> idea daposición subsidiaria <strong>do</strong>s grandes temas <strong>do</strong>sconti<strong>do</strong>s culturais no discurso informativogalego. A maioría das pezas non supera o25% <strong>do</strong> espacio da páxi<strong>na</strong>, mentres que sóunha das máis de 700 noticias recollidas <strong>na</strong>mostra ocupaba máis dunha páxi<strong>na</strong>. Comocontraste cabe dicir que, malia a brevidadedestes conti<strong>do</strong>s, un 65’9% <strong>do</strong>s mesmoscontaba con algún tipo de tratamento gráfico.Por outra banda, son conti<strong>do</strong>s que en poucasocasións chegan a portada, polo que respectaá prensa <strong>na</strong> fin de sema<strong>na</strong>, só un 2’1% dasinformacións trascenden á portada, e un 2’8%aparecen <strong>na</strong> contraportada. Durante a sema<strong>na</strong>,a prensa diaria abriu cunha noticia de culturano 1’7% <strong>do</strong>s casos, mentres que o 3% dasnoticias se ubican <strong>na</strong> contraportada, entendidanos medios como un espazo para os conti<strong>do</strong>smáis lixeiros e menos “serios”. Nos mediosaudiovisuais as pezas sore cultura sitúanseao fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s informativos e a<strong>do</strong>itan ir detrásda información política e económica. Se benos medios impresos recollen maior númerode noticias culturais, á radio e á televisiónsó chegan as de maior transcendenciainformativa. Na radio da sema<strong>na</strong> –a mostraé moi peque<strong>na</strong> no caso da fin de sema<strong>na</strong>nonhoubo ningunha noticia que tivera orelevo suficiente como para aparecer entitulares. Ademais, máis da metade dasinformacións teñen unha duración de menosdun minuto, mentres que só tres pezas tiñanunha duración superior a <strong>do</strong>us minutos, o queimplica a aparición das voces <strong>do</strong>sprotagonistas da noticia ou fontes acreditadasno tema trata<strong>do</strong>. Canto á televisión, o mesmoque comprobaramos <strong>na</strong> radio, non é habitualque as noticias sexan mencio<strong>na</strong>das nostitulares: só o 22% delas aparecía no sumario.Así mesmo, o tempo de transmisión foiinferior a un minuto en algo máis da metadedas noticias emitidas.6 - A información cultural caracterízasepola falta de contraste a través da consulta


JORNALISMO257de fontes e a pouca profundidade notratamento <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s. A metade dasinformacións, tanto da prensa como <strong>do</strong>smedios audiovisuais non citan sequera unhafonte. En concreto, o 48’3% das noticias dafin de sema<strong>na</strong> <strong>na</strong> prensa non citan ningunhafonte, mentres que o 9’2% citan máis dunpunto de vista. Esta situación mellora durantea sema<strong>na</strong>, <strong>na</strong> que a metade das pezas posúencan<strong>do</strong> menos unha fonte especificada. Aproporción de noticias con máis dunha fonteaumenta ata un 16% <strong>do</strong>s casos.Polo que respecta aos tipos de fontesconsultadas, a máis recorrida, nun 51’9% <strong>do</strong>scasos, é a que cualificamos como“Individuo”, persoas que non representan aningunha institución, empresa ou asociacióne das que parte a información. Aadministración pública (concellos, Xunta deGalicia, deputacións e Esta<strong>do</strong>) constitúe un16’7% das fontes, mentres que as asociaciónsde particulares supoñen o 11’5%.7 - Existe un claro pre<strong>do</strong>minio dainformación cultural local. Isto débese,fundamentalmente, a aplicación dun criteriode proximidade no que respecta aos xor<strong>na</strong>isgalegos que, malia dispor de secciónsdedicadas a diferentes demarcaciónsxeográficas, teñen unha forte vocaciónlocalista. O ámbito local é preferente nun41% das noticias de fin de sema<strong>na</strong> en un47’1% <strong>na</strong> sema<strong>na</strong>, o que quere dicir que pretoda metade das noticias están desti<strong>na</strong>das aopúblico máis próximo xeograficamente. Estedato non ten correspondencia directa coaubicación das noticias <strong>na</strong>s seccións dedicadasá información local, que só recollen o 24’6%das noticias no caso da fin de sema<strong>na</strong> eo 34’2% <strong>na</strong> sema<strong>na</strong>. A excepción, unha vezmáis, ven da man de’A Nosa Terra’<strong>na</strong> queas noticias de ámbito galego son maioritarias(o 71’9%) e están concentradas <strong>na</strong> secciónde cultura.’Polo que respecta á prensa dixitale aos medios audiovisuais o ámbito preferenteé o galego, <strong>na</strong> metade das ocasións, xa quea propia cobertura <strong>do</strong>s medios é <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.O peso da axenda dentro <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>sculturais da prensa diaria xustifica apreferencia por noticias <strong>do</strong> espacio local, perodenota, ao mesmo tempo, a importancia dasconvocatorias aos medios para a construccióninformativa e a desorganización <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>sde cultura, que aparecen espalla<strong>do</strong>s poloxor<strong>na</strong>l sen que pese o criterio temático sobreo xeográfico ou viceversa.8 - Os temas trata<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s noticias culturaisdistribúense arre<strong>do</strong>r de <strong>do</strong>us eixospreferentes: dunha banda, a meirande parte<strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s teñen que ver coasmanifestacións artísticas canónicas, ben sexaen forma de presentación, rolda de prensa,exposición, reseña de publicación ou deespectáculo. O outro <strong>do</strong>s ámbitos das noticiasdesta área ten que ver coa cultura popular,coas festas tradicio<strong>na</strong>is e as celebraciónscolectivas. Ademais da disociación destes<strong>do</strong>us aspectos da producción cultural, nonexisten espacios intermedios nos que seinserten novas produccións nin alter<strong>na</strong>tivasculturais.Na prensa diaria o tema máis habitual dasnoticias de cultura é a música (28’4%), encalquera das súas manifestacións, seguidade lonxe polas artes audiovisuais (11’6%) eas artes plásticas (11’6%) <strong>na</strong> fin de sema<strong>na</strong>.Nos días laborables, sen embargo, as artesmusicais baixan a unha porcentaxe <strong>do</strong> 19’5%e a literatura alcanza o segun<strong>do</strong> posto(16’3%), seguida polas artes plásticas(12’5%) e as artes da representación (11’4%).O sema<strong>na</strong>rio A Nosa Terra, sen embargo,presta unha maior atención á literatura(33’5%), pola inclusión de reseñas, críticaliteraria e entrevistas. Na rede, as publicaciónsdixitais amosan preferencia polas artesplásticas (16’7%), as industrias culturais(16’7%) e a literatura (16’7%), mentres quenos medios audiovisuais a radio de decantapolas artes musicais (21’4%), máisaproveitables como recurso para o medio, ea televisión, en virtude á crítica literariaincluída nos informativos de mediodía <strong>na</strong>TVG, a literatura (33’3%) é o tema máistrata<strong>do</strong>.A cultura popular coma temática apareceen to<strong>do</strong>s os medios a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s nunhaproporción moi baixa (1’8%). Asociamos esteconcepto á celebración de festas popularesde certa tradición histórica ou a eventosprograma<strong>do</strong>s de participación cidadá. Élóxico, polo tanto, que a proporción denoticias con este tema medreconsiderablemente en determi<strong>na</strong>das épocas <strong>do</strong>ano como o entroi<strong>do</strong> ou a Sema<strong>na</strong> Santa, oucoincidin<strong>do</strong> con festas locais.


258 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV9 - Canto á lingua, a cultura estávencellada ao castelán <strong>na</strong> prensa escrita eao galego nos medios audiovisuais. Dos trecexor<strong>na</strong>is a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s, só <strong>do</strong>us están escritosintegramente en galego (Galicia Hoxe, diario,e A Nosa Terra, publicación sema<strong>na</strong>l) e oresto publica en castelán o 83% das noticias.Pola contra, nos medios audiovisuais a linguapreferente de emisión é o galego. Só emitenen castelán Ante<strong>na</strong> 3 TV-Galicia, a Cade<strong>na</strong>SER e a COPE o informativo de mediodía.Vemos, polo tanto, que a escolla da linguapara as noticias culturais está directamentevencellada á política lingüística <strong>do</strong> medio,que non fai excepcións no tratamento dasnoticias con respecto das outras seccións. Asruti<strong>na</strong>s laborais tamén contribúen a que nonhaxa habitualmente un traballo de traducciónpor parte <strong>do</strong> xor<strong>na</strong>lista.10 - A reducción de programasinformativos para Galicia das canles estataisdurante a fin de sema<strong>na</strong>, repercute,loxicamente, <strong>na</strong> cantidade <strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>sculturais. O sába<strong>do</strong> e o <strong>do</strong>mingo só emitenpara Galicia a TVG, a Radio Galega, aCade<strong>na</strong> SER e a COPE (só informativo <strong>do</strong>mediodía). Se ben nos medios audiovisuaispodemos observar esta diminución deconti<strong>do</strong>s culturais, <strong>na</strong> prensa observamos oefecto contrario: a profusión se suplementosde lecer, máis ca de cultura incidedirectamente <strong>na</strong> cantidade de noticias conconti<strong>do</strong>s culturais recollidas.Podemos dicir que nos mediosaudiovisuais, nos que non hai unha opciónde selección <strong>na</strong> lectura como acontece <strong>na</strong>prensa, a cultura a<strong>do</strong>ita considerarse comoun conti<strong>do</strong> especializa<strong>do</strong> e, polo tanto, pasaa constituír unha oferta en si mesma, enprogramas monográficos. Esta oferta, por terun público obxectivo determi<strong>na</strong><strong>do</strong>, pasa a serconsiderada minoritaria, de xeito que,nomeadamente <strong>na</strong> televisión, fica suxeita ahorarios lonxe <strong>do</strong> prime-time. Na radio aexcepción atopámola no Diario Cultural daRadio Galega, un espacio diario que recollea actualidade da cultura galega. Os espacios<strong>do</strong>s medios audiovisuais merecerían unestudio á parte por esa condición deexcepcio<strong>na</strong>is que teñen.


JORNALISMO259BibliografíaMoragas i Spà, Miquel: Espàis decomunicació O libro este de informacióncultural da Fundación March_______________________________1Consello da Cultura Galega2O espacio mídese <strong>na</strong> procentaxe de páxi<strong>na</strong>que ocupa a información, incluídas as imaxes seas houber. Polo que respecta á duración, refírese,obviamente, os medios audiovisuais e vai medidaen minutos e segun<strong>do</strong>s.3En tipo de acto, contemplamos as seguintescategorías: acto conmemorativo, curso/xor<strong>na</strong>da,debate/coloquio/conferencia, <strong>do</strong>azón, espectáculo,exposición, home<strong>na</strong>xe, i<strong>na</strong>uguración, nomeamento,premio, presentación e outros.4Este campo, aberto, permite a inclusión decomentarios que no encaixan no resto de espaciosnos se organiza a ficha elaborada.5Debi<strong>do</strong> á existencia de Galicia Hoxe e ANosa Terra, nos que toda as información estáescrita en galego, ou da Radio Galega no medioradiofónico, os informativos de TVG e TVE-G,e Vieiros <strong>na</strong> rede, as porcentaxes que resultan demáis interese son as que se obteñen en mediosnos que a lingua hexemónica é o castelán.


260 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO261Periodismo de servicio en la prensa local de GaliciaXosé López 1IntroducciónU<strong>na</strong> mirada rápida a las últimas décadasdel siglo XX, revela que en ese momento huboimportantes cambios en el entorno social,político, económico y cultural de Galicia. Lasociedad del país de Breogán vivió nuevasexperiencias en un marco de restauración delsistema democrático, que para su consolidacióncontó con el apoyo de los medios decomunicación, y en un esce<strong>na</strong>rio dedescentralización del Esta<strong>do</strong> y de integraciónen u<strong>na</strong> organización supra<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, la UniónEuropea. Fue un proyecto político que sedebatió en los medios, que sirvieron dereferente para el contraste de puntos de vistay para reflejar las iniciativas de los distintosactores y grupos de presión. Estos hechoscontribuyeron a u<strong>na</strong> importante oferta deinformación política en esos primeros años,que coincidieron, también, con u<strong>na</strong> fasepresidida por la “desregulación” y laliberalización en el hipersector de lacomunicación en el ámbito europeo en generaly en el del Esta<strong>do</strong> español en particular.Los vientos de cambio en el entorno social,económico, político y cultural tambié<strong>na</strong>fectaron al modelo de empresas del sectorde la comunicación, que incorporaron nuevastécnicas de gestión y mostraron u<strong>na</strong> acentuadatendencia a la diversificación. Otrasmodificaciones estuvieron relacio<strong>na</strong>das con lastécnicas para mejorar la eficiencia productiva,con plantas de producción que incorporarontecnologías actuales, y con los procesos dereestructuración en las redacciones, a las quese incorporaba gente nueva.En to<strong>do</strong>s esos procesos de reorde<strong>na</strong>ciónse dieron pasos que luego ayudarían aincorporar aspectos del periodismo de servicio.En un primer momento la oferta mejoró y,aunque la sombra de los poderes localesplaneaba sobre esa información, los lectorespremiaron con su fidelidad unos productos conmuchas limitaciones, pero que buscaban contarlo próximo y explicar hechos que afectaba<strong>na</strong> la vida de los ciudadanos gallegos. Los datosindican que se produjo este apoyo de loslectores, porque mientras los diarios gallegosde información general controla<strong>do</strong>s por OJDse aproximaban a los <strong>do</strong>scientos mil, ladifusión de los diarios de información generalde Madrid ape<strong>na</strong>s superaba los cuarenta milejemplares 2 .DIARIOS DE GALICIA 1999200020012002LaVoz de Galicia108.841107.850108.201110.825ElCorreo Gallego18.12618.23822.735Sin control de OJDElProgreso15.10415.52615.61015.086LaRegión12.43312.84412.43312.433Faro de Vigo42.27842.63942.91342.794Atlántico Diario4.1464.3454.1464.123Diario de PontevedraLa OpiniónA CoruñaSincontrol de OJD5.5826.3326.336Sincontrol de OJDSincontrol de OJD6.0045.866DIARIOS DE MADRID 1999200020012002ElPaís16.32917.14717.17116.629ElMun<strong>do</strong>8.5878.67418.14722.552ABC5.2455.4305.0784.023Diario 16Sincontrol de OJD1.169Sin control de OJD(El periódicodesaparecien noviembre)No se publicen este año


262 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEl resulta<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> el proceso detransformaciones desemboc en un modelo quemantuvo la propiedad familiar, lamultiplicacin de medios en to<strong>do</strong>s los soportesy u<strong>na</strong> gran oferta de cabeceras. Laconcentración solo comenz tímidamente y laentrada de grupos foráneos fue mínima. Enla industria de medios impresos el Grupo Voz,la principal empresa, no adquiri cabecerasgallegas y únicamente el Grupo El Progresocompr Diario de Pontevedra, que era la únicacooperativa de producción existente en esemomento en el conjunto de España. LaCapital, editora de El Ideal Gallego, creDiario de Ferrol, Diario de Arousa y Diariode Bergantiños, al tiempo que comprabaDeporte Campeón, el diario deportivo queexiste en el pas gallego. El único grupo defuera de Galicia, Prensa Ibérica, editor deFaro de Vigo, puso en marcha un diario enla ciudad de A Coruña, La Opinión A Coruña.Donde ape<strong>na</strong>s hubo avances fue en elterreno de la independencia del periodismo,del marco para un trabajo creativo y crítico,y en la calidad, especialmente en la ediciónde las pgi<strong>na</strong>s, o incremento de fuentes, lavariedad de modalidades expresivas y lariqueza textual. La ausencia de ideas dificultmuchas veces tratamientos diferencia<strong>do</strong>s ycon formulaciones de profundidad y utilidad.El periodismo “acomoda<strong>do</strong>”, poco amigo dela búsqueda de noticias en la calle y delcontraste de pareceres, se impuso en muchosmedios como u<strong>na</strong> fórmula cómoda para lasempresas y para los periodistas.Transformaciones rápidasDurante esa etapa de transformaciones,los diarios impresos avanzaron cara afórmulas que premiaban a los lectores deforma inmediata, con los consiguientesbeneficios para los balances económicos,principal preocupación de la mayoría de losempresarios. En ese camino, el modelo dediario de servicios 3 , que responde a u<strong>na</strong>stendencias muy concretas que defienden laprimacía de la información de utilidad en elmerca<strong>do</strong> de las publicaciones periódicas 4 ,aparece como uno de los referentes de losdiarios de Galicia en esas décadas del sigloXX y, muy especialmente, en los primerosaos del siglo XXI. En to<strong>do</strong>s los procesos derediseño de las principales cabeceras (sobreto<strong>do</strong>, de La Voz de Galicia, Faro de Vigo,El Correo Gallego y El Progreso) hubomedidas concretas para que las seccionesdedicadas a las cuestiones cotidia<strong>na</strong>s de loslectores ga<strong>na</strong>ran espacio. No solo se busc u<strong>na</strong>lectura más rápida de los productos, u<strong>na</strong>mejor presentación..., sino que se dedicespecial atención a la información de salud,a la de viajes, a la de medio ambiente... Elperiodismo de servicios actu como hiloconductor de un cambio que hoy siguemarcan<strong>do</strong> la línea de los principales diarioslocales.El estudio de la evolución del periodismogallego durante los últimos veinticinco añosmuestra que la tecnología permiti mejorar laeficiencia productiva – cambi los sistemasde producción y los mejor-, contribuy aatender la demanda de un cambio en losconteni<strong>do</strong>s – menos política y más periodismode servicios-, hizo posible u<strong>na</strong> bue<strong>na</strong> atenció<strong>na</strong> la información local – más pági<strong>na</strong>s yestrategias de multiedición-, pero no consiguivencer los viejos vicios y ofrecer unperiodismo que sintonice bien con lasdemandas de los usuarios 5 . El periodismogallego aún busca u<strong>na</strong> vía que lo conduzcacara a terrenos más dinámicos, con ms ideas,que aproveche bien el talento de losprofesio<strong>na</strong>les y que ofrezca menosinterrogantes y más respuestas. Esta lucha porun periodismo que supere la situación actual,en la que, si le ponemos nota, obtiene unnotable en tecnología, pero sólo consigue u<strong>na</strong>proba<strong>do</strong> muy justo en calidad.Estas cabeceras, en esa busca de nuevasvías para ofrecer un mejor periodismo yproductos de mayor calidad, experimentaronimportantes mudanzas en la oferta de temasa sus lectores durante las últimas décadas delsiglo XX. De hecho, los conteni<strong>do</strong>sevolucio<strong>na</strong>ron de un periodismoeminentemente político, en las dcadas de lossetenta y de los ochenta del siglo XX, hastael denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> periodismo de servicios, máspreocupa<strong>do</strong> por el ocio, la cultural y lasociedad que por el devenir de lasinstituciones y de los actores políticos. Lainformación sobre los representantes políticosy las instituciones autonómicas, que ocuparonimportantes porcentajes en las fechasindicadas, se rebaj a la mitad –pas de


JORNALISMO263representar el 49% en los años setenta al 24%en los años noventa-.El análisis de los datos indica que lainformación política sufri cambiosimportantes cualitativos y cuantitativos.Después de desempeñar un papel fundamentalen la instauración del nuevo sistemademocrático –durante los años de latransición- y en la consolidación del nuevosistema autonómico –en la década de losochenta-, esta información perdiprotagonismo en to<strong>do</strong>s los diarios gallegos.Este descenso de la información poltica,defendida por los responsables de losperiódicos por entender que los lectoresestaban cansa<strong>do</strong>s de–“tanta política”, estuvoacompaña<strong>do</strong> del aumento de las noticias decarácter social y cultural.que se trat de un punto de partida de u<strong>na</strong>nueva etapa 8 .Cambiar la pielLas tendencias que descubrimos en losestudios 9 sobre la prensa gallega en la segundamitad del siglo XX constatamos que, en líneasgenerales, se mantienen a comienzos deltercer milenio, especialmente en lo tocanteal gra<strong>do</strong> de penetración de las prácticaspropias del periodismo de servicio. Loscambios de diseo hicieron posible que estatendencia encontrase un buen marco. Dehecho, tanto La Voz de Galicia como ElCorreo Gallego, que estre<strong>na</strong>ron diseño en elaño 2002, o El Progreso, que hizo el cambioen el año 2004, eligieron muchos rasgos delFuente: elaboración propiaDe los datos de este cuadro 6 concluimosque, como iniciativa propia y atendien<strong>do</strong> alas demandas de los lectores, los periódicosgallegos incrementaron la denomi<strong>na</strong>dainformacin de servicio, es decir, aquella queofrece datos útiles para la vida diaria delusuario de la información –del lector, en elcaso de los periódicos-. La búsqueda de estautilidad inmediata contribuy al incremento delespacio para la información deentretenimiento, que destac como latriunfa<strong>do</strong>ra en el cambio de la ofertainformativa de los diarios gallegos en losúltimos años del pasa<strong>do</strong> siglo. Fue u<strong>na</strong>renovación de conteni<strong>do</strong>s para buscar temasque interesasen más a la gente, en sintoníacon el periodismo de servicio 7 . Entendemosdiario de servicios para su nuevo producto,como también hizo Faro de Vigo en el año2003. Otro tanto hicieron, aunque en menormedida, Galicia Hoxe, El Ideal Gallego,Diario de Ferrol, Diario de Arousa que enel año 2003 mudaron la piel.De todas las cabeceras, La Voz de Galiciaaparece como la que, tras su rediseño del25 de julio del año 2002, emprendi un“camino sin retorno cara a esa fórmula delperiodismo contemporneo: el periodismo deservicios” 10 . En esta dirección tambinentraron, como ya dijimos, Faro de Vigo, ElIdeal Gallego, Diario de Arousa y Diariode Ferrol. Con anterioridad, en el cambiode siglo, hiciera lo mismo Diario dePontevedra. Por lo tanto, la mayoría de las


264 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcabeceras incrementaron los porcentajes delque podemos considerar periodismo deservicios. El resulta<strong>do</strong> es, en la mayoría delos casos, u<strong>na</strong> fórmula híbrida entre elperidico local informativo-interpretativo y elperiódico de servicios, un modelo que pareceresponder en el merca<strong>do</strong> a sus necesidadespara mantener el atractivo para sus lectoresmás fieles y para sus principales anunciantes.En definitiva, u<strong>na</strong> frmula ajustada para lasnecesidades del merca<strong>do</strong> local actual.Estos diarios, en los últimos tres años,publicaron servicios de muy diversa<strong>na</strong>turaleza, <strong>do</strong>nde podemos diferenciar desdelas unidades periodsticas de servicio –conjunto de textos con relación entre si-,servicios al lector – radio, televisión,agenda...-, servicios orienta<strong>do</strong>s al ocio de laaudiencia –cine, espectáculos...- y servicioscomerciales –las pgi<strong>na</strong>s de esquelas, declasifica<strong>do</strong>s...- 11 . De hecho, los porcentajesde informacin de servicios sobre el total denoticias dejan a la prensa gallega en un lugarparejo a la de tirada estatal 12 . Y, a corto plazo,la tendencia citada parece que no tendr vueltaatrás.Visualidad e profundidadEn los años 2002 y 2003, los responsablesde los diarios gallegos defendieronpúblicamente la necesidad de combi<strong>na</strong>r lamejora del atractivo visual de sus productoscon u<strong>na</strong> mayor profundidad y u<strong>na</strong> mayorcalidad 13 . Como resumen de las declaracionesde intenciones, concluimos en la investigaciónque to<strong>do</strong>s defiendenhacer un periódico atractivovisualmente, con la profundidad queno de la a televisión, y contar lashistorias que más le afectan a losciudadanos del común. Prestémoslemenos atención a los políticos y mása la sociedad civil. Retratemos laciudad, comarca o región en la quevivimos de manera que nuestroscompra<strong>do</strong>res se sientan refleja<strong>do</strong>s enlas pági<strong>na</strong>s del periódico.Toda u<strong>na</strong> declaración de un modelo alque aspiran, pero que aún no consiguieron.Por lo de ahora, se conforman con darpasos en esta dirección. De hecho, quierenpotenciar el eslogan que dice “las cosas deaqu, contadas desde aqu” como u<strong>na</strong>reafirmación diaria en el valor estratgico dela proximidad 14 y con porcentajes deinformación local que supera en varios casosel 50 por ciento de la superficie impresa delos conteni<strong>do</strong>s a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s, también se percibeu<strong>na</strong> mayor interpretación y como lajerarquización y la fragmentación seincrementan, sobre to<strong>do</strong> para facilitar laeleccin, favorecer la lectura y, sobre to<strong>do</strong>,ga<strong>na</strong>r rapidez. Los responsables de los mediospresumen que el consumi<strong>do</strong>r contemporáneode medios impresos desea tener u<strong>na</strong> visingeneral del panorama informativo con lamayor diligencia posible, para conposterioridad, ahondar en aquellos conteni<strong>do</strong>sque considere de mayor interés.Esta tendencia a u<strong>na</strong> mayor presencia dela información local tuvo como consecuenciaque, aún mantenién<strong>do</strong>se u<strong>na</strong> gran oficializacinen las fuentes, aumenta la presencia de lasfuentes de la sociedad civil organizada(asociaciones de vecinos, organizaciones noguber<strong>na</strong>mentales, fundaciones...). Del mismomo<strong>do</strong>, se constata que cada vez tiene mayorpresencia la información no slo de cartelerasy cuestiones puntuales de servicios, sinomucha información para la acción. Cada vezhay más temas de utilidad y más pistas oreferencias para que puedan actuar por sucuenta 15 .A mo<strong>do</strong> de conclusiónA juzgar por los resulta<strong>do</strong>s de lasinvestigaciones realizadas sobre la prensa deGalicia, podemos afirmar, sin temor a dudas,que el periodismo de servicio se instal enla prensa local del noroeste de la penínsulaIbérica en los últimos tres años. Durante losúltimas dcadas se registraron importantescambios en los medios impresos que, aunquemuchos afectaron a la estructura empresarialy a las propias infraestructuras – plantas deimpresión, reorganización de lasredacciones..., tuvieron tambin u<strong>na</strong>contribución decisiva para que en el modelode periódico se incorporasen muchos aspectosde periodismo de servicio.


JORNALISMO265Los últimos cambios en el rediseño delos diarios de Galicia tuvieron en cuenta estatendencia y procuraron abrir nuevas venta<strong>na</strong>sal periodismo de servicio, lo que ya consolidun modelo híbri<strong>do</strong> de peridico localinformativo-interpretativo y de servicios. Elpropio diario líder en difusión, un periódicomultilocal y regio<strong>na</strong>l como–La Voz deGalicia, a<strong>do</strong>pt u<strong>na</strong> estrategia en el mes dejulio del año 2002, cuan<strong>do</strong> present su últimorediseño, que contempl un incremento de lasformulaciones propias del diario de servicio.Esta tendencia no entr en contradiccióncon la atención a la información deproximidad que caracteriz a la prensa gallegadurante la segunda mitad del siglo XX. To<strong>do</strong>lo contrario. Se mantuvo y se adapt al modelode peridico de periodismo de servicio. Dehecho, la prensa gallega siguecaracterizán<strong>do</strong>se por prestar mucha atenció<strong>na</strong> la información local, por mantener u<strong>na</strong>estructura de propiedad basada en el modelofamiliar y por prestar mucha atencin a losconteni<strong>do</strong>s claramente de servicio en esteámbito de proximidad.En u<strong>na</strong> comunidad con bajos índices delectura como es el caso de Galicia – superaligeramente el índice de los cien ejemplarespor mil habitantes-, los formatos de <strong>do</strong>blevelocidad de lectura contribuyen a favorecerla lectura de muchos de los consumi<strong>do</strong>reshabituales. Y, si a eso añadimos que lainformacin de servicio aporta al receptor laposibilidad de la acción o de la reaccin, ellector de los diarios gallegos encuentra enesos productos u<strong>na</strong> <strong>do</strong>ble utilidad, por lo que,al margen de la calidad de los conteni<strong>do</strong>sy de la mayor o menor dependencia de lospoderes de turno, les mantiene su fidelidady sigue consumin<strong>do</strong>los mayoritariamente. Dehecho, no opta por la alter<strong>na</strong>tiva, que llegade la mano de la prensa de Madrid, que, enlos casos de los diarios de informacióngeneral, no ga<strong>na</strong>n posiciones de manerasignificativa.En definitiva, la prensa gallega encontru<strong>na</strong> fórmula que, por lo de ahora, parece quele resulta efectiva en el merca<strong>do</strong> y que noprovoca especial rechazo en los usuarioshabituales. Al margen de otrasconsideraciones, entendemos que elperiodismo de servicio le dio un respiro,cuan<strong>do</strong> menos coyuntural, al modelo demedios impresos de proximidad, muyfragmenta<strong>do</strong> y de propiedad familiar, que seasent en Galicia durante el siglo XX y quese mantiene en los primeros años del sigloXXI.


266 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaArmentia, Jos Ig<strong>na</strong>cio y Caminos, JosMaría, Los formatos de lectura rápida comoseña de identidad visual del diario deservicios, en Doxa Comunicación, número 1,Madrid, Universidad San Pablo-CEU, 2003,pp. 11-33.Diezhandino, Pilar, Periodismo deservicio. La utilidad como complementoinformativo en Time, Newsweek y U.S. Newsand World Report, y unos apuntes del casoespañol, Barcelo<strong>na</strong>, Bosch, 1994.López, Xos (Coordi<strong>na</strong><strong>do</strong>r), La prensadiaria en Galicia (1976-2000), Compostela,Universidad de Santiago, 2001.Moragas, Miquel de, Do global localcomo referente mediático. A aposta polosgratuitos, enVV.AA., Medios locais e prensa gratuita,Santiago de Compostela, Xunta de Galicia,2003._______________________________1Universidad de Santiago de Compostela.Departamento de Ciencias de la Comunicación.2Los datos de la difusión de la prensa enGalicia desde 1975 al año 2000 se a<strong>na</strong>lizaron enel proyecto <strong>do</strong> grupo de Novos Medios, que enel ano 2001 publicó un libro (La prensa diariaen Galicia 1976-2000) sobre este asunto. El cita<strong>do</strong>estudio formó parte de un proyecto con gruposde investigación de Cataluña y el País Vasco, quea<strong>na</strong>lizaron la evolución de la prensa en susrespectivos países. Los cuadros que aparecen eneste trabajo proceden de ese estudio, pero fuero<strong>na</strong>ctualiza<strong>do</strong>s. La subida de El Mun<strong>do</strong> a partir delaño 2001 se debe a su alianza con El CorreoGallego, ya que las <strong>do</strong>s cabeceras se vendenconjuntamente en Galicia y el cómputo de ventaspara el control de la difusión por OJD correspondea El Mun<strong>do</strong>, según lo estipula<strong>do</strong> en el conveniode colaboración entre los <strong>do</strong>s medios.3Jos Ig<strong>na</strong>cio Armentia et al, Los formatosde lectura rápida como seña de identidad visualdel diario de servicios, en Doxa Comunicación,número 1, Madrid, Universidad San Pablo-CEU,2003, p. 12.4Este modelo de periódico se consolid en elcontexto de u<strong>na</strong>s sociedades occidentales delbienestar en el que los ciudadanos muestran muchointerés por los conteni<strong>do</strong>s de ocio y por to<strong>do</strong> loque tiene que ver con la calidad de vida. Variosestudios a<strong>na</strong>lizaron los diarios de servicios en elámbito del Esta<strong>do</strong> español, <strong>do</strong>nde la profesora PilarDiezhandino comenz los estudios alrede<strong>do</strong>r deestas cuestiones. De todas las investigacionesrealizadas en los últimos años, destaca un proyectodirigi<strong>do</strong> por el profesor Jos Ig<strong>na</strong>cio Armentia, dela Universidad del País Vasco, que termin conla publicacin de un libro hace <strong>do</strong>s años (El diariode servicios en España, Ovie<strong>do</strong>, Septem, 2002).En los trabajos cita<strong>do</strong>s se utiliza la denomi<strong>na</strong>ciónde periodismo de servicio y periodismo deservicios, que en este trabajo emplearemos comosinnimos sin apuntar las diferencias que algunosautores apuntan sobre ambas expresiones.5El estudio de las caractersticas de la prensagallega durante veinte años lo realiz el grupo deinvestigación en Novos Medios de la Facultad deCiencias de la Comunicación de la Universidadde Santiago. En sus conclusiones, recogidas enel libro A prensa <strong>do</strong> terceiro milenio (Santiagode Compostela, Edicións Lea, 2000), se señalanlos puntos fuertes y los débiles de los diariosgallegos. A pesar de los esfuerzos por cambiar,los diarios gallegos mante<strong>na</strong>n muchos retos sinresolver para conseguir u<strong>na</strong> mejor sintonía conlos lectores.6El gráfico se elabor con los datos de lainvestigación Evolución temática da prensagallega 1978-1998, realizada por el grupo NovosMedios. Este mismo gráfico ya se public tantoen el libro edita<strong>do</strong> con las principalesconclusionescomo en varios artículos publica<strong>do</strong>sen distintas revistas científicas.7Pilar Diezhandino ha a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> a fi<strong>na</strong>l dela década de los ochenta y comienzos de losnoventa del siglo XX la utilidad que incorporael periodismo de servicio. Sus primeros estudiosse circunscribieron a los grandes newsmagazinesnorteamericanos, pues Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s es elreferente obliga<strong>do</strong> como pionero de la fórmuladel servicio.8Pilar Diezhandino, Periodismo de servicio.La utilidad como complemento informativo enTime, Newsweek y U.S. News and World Report,y unos apuntes del caso español, Barcelo<strong>na</strong>, Bosch,1994, p.66.9Nos referimos a los que realiz el grupo deNovos Medios, que a<strong>na</strong>liz la prensa gallega desdevarias perspectivas, especialmente de los aspectosformales, textuales y estructurales.10Esta afirmación aparece en las conclusionesde un Trabajo de Investigación Tutela<strong>do</strong> del<strong>do</strong>ctoran<strong>do</strong> Manuel David Cheda, de la Facultadde Ciencias de la Comunicación de Santiago, enel que a<strong>na</strong>liz el periodismo de servicio en losmedios impresos de Galicia en el año 2003.11La identificación de servicios en el estudiosobre la prensa gallega diferenci los serviciosredaccio<strong>na</strong>les – bloques informativos conelementos gráficos...- y otras tres categorías para


JORNALISMO267identificar los servicios por su tema y por sutipología.12Los datos proceden del estudio de DavidCheda, ya cita<strong>do</strong>. Para su elaboración, se emplela misma meto<strong>do</strong>logía que en la investigación deJos Ig<strong>na</strong>cio Armentia, Aintzane Alberdi, Jos MaríaCaminos y Flora Marín, por lo que después sepu<strong>do</strong> establecer un análisis comparativo entre losdatos del estudio El diario de servicios en Españay los datos focaliza<strong>do</strong>s en el grupo de diarioslocales de Galicia.13Las declaraciones en este senti<strong>do</strong> lasmanifestaron en las entrevistas que se hicieronpara la investigación El anlisis textual y formalde los diarios gallegos en los años 2002 e 2003,en el marco del proyecto de investigaciónPGIDT01SCX21201PR, fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong> por laDirección Xeral de Investigación eDesenvolvemento da Xunta de Galicia.14Compartimos con el profesor Miquel deMoragas que el ámbito local ya no es un mbitominoritario o margi<strong>na</strong>l en esta sociedadmundializada, sino un sector fundamental en lasestrategias de la comunicación moder<strong>na</strong>.15Los datos corresponden a los primerosresulta<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s a conocer en diciembre de 2003por el grupo que realiz la ya citada investigaciónAnlisis de los conteni<strong>do</strong>s textuales y de losaspectos formales de los diarios gallegos, que tienecomo investiga<strong>do</strong>r principal a Xos López y enla que participan Miguel Túñez, FranciscoCampos, Fermín Galin<strong>do</strong>, Xos Antonio Neira,Berta García, Xos Pereira, Luís Celeiro, ManuelGago y Francisco Seoane.


268 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


JORNALISMO269O jor<strong>na</strong>lismo entre a informação e a comunicação:como as assessorias de imprensa agendam a mídiaZélia Leal Adghirni 1Os campos da comunicação e da informaçãosão vistos, de um ponto de vistaeuropeu, como duas esferas distintas. Oprimeiro se situa num contexto de comunicaçãosocial, enquanto o segun<strong>do</strong> poderia sergeneraliza<strong>do</strong> no contexto <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Ouseja, <strong>na</strong> produção e distrbuição de notíciasno campo das mídias. Recentemente, algunspesquisa<strong>do</strong>res brasileiros, como CiroMarcondes Filho 2 , apontam para umainterpretação de afastamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is camposcomo se eles fossem duas realidadesdicotômicas.Na referida obra, Marcondes Filho, seguin<strong>do</strong>a melhor tradição francesa <strong>na</strong> áreada sociologia da imprensa, apresenta umquadro no qual compara como os campos dacomunicação e da informação encaram o queé notícia. Para isto, enumera e qualifica setefatores: quanto à origem; as fontes; à notícia;às formas de divulgação; à concepção dejor<strong>na</strong>lismo; à visão de mun<strong>do</strong> implícita; equanto à tendência atual. Em relação aoprimeiro deles, quanto à origem”, no campoda comunicação “O jor<strong>na</strong>lista a recebe gratuitamentea ‘notícia” [sic], enquanto que nocampo da informação “O jor<strong>na</strong>lista tem debuscar a notícia, ela lhe custa trabalho”.Quanto à concepção de jor<strong>na</strong>lismo, porexemplo, o autor considera que, <strong>do</strong> ponto devista da comunicação, “jor<strong>na</strong>lismo é umaforma de (se fazer) publicidade disfarçada”,enquanto que, <strong>do</strong> ponto de vista da informação,“Jor<strong>na</strong>lismo é acima de tu<strong>do</strong> denúnciae desmascaramento de escândalos, negociatas,imoralidades públicas”. Ou seja, overdadeiro jor<strong>na</strong>lismo é aquele investiga edenuncia, que aponta os males da sociedade,que cobra justiça. E o jor<strong>na</strong>lista é aquele quesofre <strong>do</strong> síndrome de Clark Kent, o repórter<strong>do</strong> Planeta Diário, que, em caso de perigopara a humanidade, veste sua capa esvoaçantee se tranforma em Super Homem. É esta aimagem que ainda povoa o imaginário <strong>do</strong>salunos matricula<strong>do</strong>s nos primeiros anos dafaculdade de Comunicação.Segun<strong>do</strong> Luis Martins 3 pertenceriam aocampo da comunicação os esforçosorganizacio<strong>na</strong>is, institucio<strong>na</strong>is e merca<strong>do</strong>lógicoscom vistas a um agendamento interessa<strong>do</strong>,ao passo que competiria aos agentesda informação (jor<strong>na</strong>lismo investigativo)resgatar para o espaço público os ‘fatos’jor<strong>na</strong>lísticos verdadeiros, mas, jamaisoferta<strong>do</strong>s à luz <strong>do</strong>s protocolos rotineiros asassessorias e <strong>do</strong>s “marqueteiros” da informação.Jean-Michel Utard 4 parte <strong>do</strong> pressupostode que existem formações discursivas separadas,tais como: o jor<strong>na</strong>lismo, a publicidadee o entretenimento, com os seus agentes(atores) das práticas discursivas identificadas(jor<strong>na</strong>lista, anunciante, apresenta<strong>do</strong>r etc). Oembaralhamento nos gêneros midiáticos,responsável pelas transformações da informaçãomidiática, corresponderia à constituiçãoe institucio<strong>na</strong>lização de uma “nova formação“discursiva” que poderia ser aquela <strong>do</strong>sprodutores e conteú<strong>do</strong> ou <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res.Utard trabalha com a hipótese de uma síntesediscursiva capaz de se erigir em novogênero discursivo, resultante <strong>do</strong>embaralhamento <strong>do</strong>s gêneros tradicio<strong>na</strong>is.No Brasil, os <strong>do</strong>is campos se confundem.Jor<strong>na</strong>lismo e comunicação funcio<strong>na</strong>m quasecomo sinônimos e os protagonistas destescenários atuam ora num campo ora noutro.Mas to<strong>do</strong>s se auto-definem como jor<strong>na</strong>listasuma vez que a profisssão é determi<strong>na</strong>da pelodiploma obti<strong>do</strong> <strong>na</strong>s faculdades de Comunicação,Habilitação Jor<strong>na</strong>lismo, registra<strong>do</strong> noMinistério <strong>do</strong> Trabalho e exigi<strong>do</strong> pelasempresas para o exercício profissio<strong>na</strong>l. Masnos últimos anos, por uma série de razõesque ainda estamos investigan<strong>do</strong>, o campo <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo propriamente dito vem encolhen<strong>do</strong>em detrimento <strong>do</strong> campo da comunicação(leia-se assessorias de comunicação, deempresas privadas ou instituições pública).O pesquisa<strong>do</strong>r francês Erik Neveu 5 debruçou-sesobre a questão das transforma-


270 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVções no jor<strong>na</strong>lismo nos últimos 25 anos. Suaintenção declarada é oferecer uma contribuiçãoque possa ser usada por pesquisa<strong>do</strong>rese jor<strong>na</strong>listas que desejam avançar nos jor<strong>na</strong>lismos<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Para ele, a consequênciapossível de um jor<strong>na</strong>lismo de merca<strong>do</strong> <strong>na</strong>damais é que a disssolução da profissão jor<strong>na</strong>lísticaem um amplo amálgama de profissões<strong>na</strong> área de comunicação, ilustra<strong>do</strong> peloneologismo americano media-worker. Osíndices de tal evolução são perceptíveis nodesaparecimento crescente das fronteiras entreprofissões ligadas à produção da notícias. Ainfomatização das redações contribuiu paraque os jor<strong>na</strong>listas asssumissem tarefas antesreservadas a técnicos. A emergência de um“jor<strong>na</strong>lismo senta<strong>do</strong>” (trabalho limita<strong>do</strong> aotratamento de notícias de agências e”releasesdistibuí<strong>do</strong>s pelas assessorias de imprensa), ouso <strong>do</strong> fax , <strong>do</strong> telefone e da internet, semprecisar sair da redação, segun<strong>do</strong> Neveu, foidetermi<strong>na</strong>nte para reduzir a autonomia <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas diantes das fontes. Diluem-se asfronteiras clássicas entre as funções de fontee redator, como veremos <strong>na</strong> pesquisa deFrancisco Sant’An<strong>na</strong> sobre as “mídias dasfontes”. O desenvolvimento de uma imprensainstitucio<strong>na</strong>l (empresas, administrações,órgãos públicos, ministérios, etc) tem provoca<strong>do</strong>debates sobre a identidade profissio<strong>na</strong>l<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista.Segun<strong>do</strong> os pesquisa<strong>do</strong>res ca<strong>na</strong>densesCharon e Bonville (1996) estamos diante deum fenômeno de emergência de uma novageração de “jor<strong>na</strong>listas de comunicação”. Elesurge das lógicas comerciais e de umahiperconcorrência entre publicações, suportese mensagens. Este novo profissio<strong>na</strong>l nãolida necessariamente com a “notícia quente”,mas com matérias requentadas, informaçõesserviço,conselhos e dicas de auto-ajuda. Nãohá compromisso com os fatos. Este jor<strong>na</strong>listaé ape<strong>na</strong>s um intermediário, conselheiro aserviço <strong>do</strong>s mais dieversos públicos. Nãoestamos aqui falan<strong>do</strong> de reportagem ou dejor<strong>na</strong>limso investigativo.Trabalhamos com a hipótese <strong>do</strong>embaralhamento <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo(Bourdieu, 1983, 1997) que se fundamentasobre um conjunto de observações, mais oumenos compartilha<strong>do</strong>s pelos profissio<strong>na</strong>is ecertos estudiosos (Utard, 2003:66) sobre osfenômenos de porosidade e de contami<strong>na</strong>çãoentre práticas historicamente separadas dentroda comunicação.Nosso cenário de estu<strong>do</strong> é a capital <strong>do</strong>Brasil e nossos perso<strong>na</strong>gens são os jor<strong>na</strong>listase suas relações com o poder. O objetivoé desvendar como se operam estas relações<strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo a partir<strong>do</strong> conceito de “mídia das fontes 6 ”. Ou seja,como os órgãos institucio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s TrêsPoderes interferem (ou tentam interferir) <strong>na</strong>pauta das mídias convencio<strong>na</strong>is para influenciaro”agenda-setting. Chamamos demídias convencio<strong>na</strong>is aquelas de carátercomercial, tradicio<strong>na</strong>is veículos de empresase redes de comunicação instaladas no merca<strong>do</strong>para distinguir de mídia das fontes.As instituições criaram seus própriosserviços de comunicação para falar comjor<strong>na</strong>is, rádio, televisão, Internet. Segun<strong>do</strong>Sant’An<strong>na</strong> 7novos veículos informativos sãooferta<strong>do</strong>s ao público por organizaçõesprofissio<strong>na</strong>is, sociais e inclusive <strong>do</strong>segmento público. São mídiasmantidas e administradas por atoressociais que até então desempenhavamape<strong>na</strong>s o papel de fontes de informaçãoDe acor<strong>do</strong> com Sant’An<strong>na</strong>, a imprensatradicio<strong>na</strong>lmente vista como um especta<strong>do</strong>rexterno aos fatos começa a perder a totalidade<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da ce<strong>na</strong> informativa e aopinião pública passa a contar com informaçõescoletadas, selecio<strong>na</strong>das, tratadas editorialmentee difundidas por entidades oumovimentos sociais. Ou seja, corporações quepossuem interesses corporativos. Para opesquisa<strong>do</strong>r, essa mídia também poderia sechamar “mídia corporativa”, um meio informativopreocupa<strong>do</strong> não ape<strong>na</strong>s em transmitirinformações mas principalmente em ocupara agenda mediática com o ponto de vistasetorial referente aos fatos geraisCapital da República, Brasília é tambéma capital <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo pois tem a maiorconcentração de jor<strong>na</strong>listas per capita: 6500jor<strong>na</strong>listas para uma população de <strong>do</strong>ismilhões de habitantes, ou seja, um jor<strong>na</strong>listapara cada 350 habitantes. 8Nosso objetivo é estudar as relações <strong>do</strong>satores <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo


JORNALISMO271em Brasília no limite das fronteiras híbridas<strong>do</strong>s campos e territórios: jor<strong>na</strong>lista/assessorde imprensa /jor<strong>na</strong>lista funcionário público,junto às esferas midiáticas gover<strong>na</strong>mentais(Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário).Também pretendemos observar o jor<strong>na</strong>listacomo ator profissio<strong>na</strong>l cuja identidade parecemenos estratificada e estável que nopassa<strong>do</strong>, através de produtos cujos códigosestão mais turvos, mais movediços e semcontornos defini<strong>do</strong>s.Na construção conceitual usamos a noçãode campo de Bourdieu 9 para a<strong>na</strong>lisar asinterferências e hibridização verificada nocampo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo que nos parece mi<strong>na</strong><strong>do</strong>de interferências estranhas. As empresasjor<strong>na</strong>lísticas perderam o monopólio da produçãode notícias. As fontes criaram suaspróprias mídias e tentam interferir <strong>na</strong>s pautasda mídia convencio<strong>na</strong>l. E quan<strong>do</strong> estas fontesjorram <strong>do</strong> poder político estrutura<strong>do</strong> quegover<strong>na</strong> o país, os gêneros se embaralham,as funções se subvertem, os desafios e jogosde interesse tor<strong>na</strong>m-se opacos eindistinguíveis para a sociedade. Não estáclaro a quem pertence o capital simbólico<strong>do</strong>s diferentes campos em atuação. Se paraBourdieu o capital simbólico é superior aosdemais por dar senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong> e transitarpor to<strong>do</strong>s os campos, a quem pertence o“poder de fazer crer” ? As mídias das fontesou aos jor<strong>na</strong>listas da mídia convencio<strong>na</strong>l? Ese o poder de “fazer crer” <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo estádiluí<strong>do</strong> em diferentes formas de atividades,<strong>do</strong> repórter de agência ao assessor de imprensa,<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista de setor ao jor<strong>na</strong>lista/funcionário aprova<strong>do</strong> em concurso públicoque trabalha para o Esta<strong>do</strong>, em quem acreditar?O poder de “fazer crer” está liga<strong>do</strong> aimagem de credibilidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. E esteseria ainda o capital maior <strong>do</strong> campo <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo. Aparentemente to<strong>do</strong>s os segmentos<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>lismos pratica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> esfera <strong>do</strong>poder ou das empresas privadas reivindicama credibilidade mas será que to<strong>do</strong>s têmlegitimidade para isso? Embora a Câmara eo Se<strong>na</strong><strong>do</strong> empreguem mais de 200 jor<strong>na</strong>listas,oficialmente eles não recebem e denomi<strong>na</strong>çãode “jor<strong>na</strong>listas”. Segun<strong>do</strong> o Departamentode Pessoal eles são “a<strong>na</strong>listaslegislativos/ comunicação social”.O campo jor<strong>na</strong>lístico é importante nomun<strong>do</strong> social porque detém um monopólioreal sobre os instrumentos de produção e dedifusão em grande escala <strong>do</strong>s acontecimentossuscetíveis de influenciar os demaiscampos. O campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo é umuniverso estrutura<strong>do</strong> sobre oposições que sãoao mesmo tempo objetivas e subjetivas, cadajor<strong>na</strong>l e cada jor<strong>na</strong>lista ocupa um lugar numarede de estratégiasNo caso brasileiro, o campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoé institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> e legitima<strong>do</strong> atravésde enquadramentos jurídicos (legislação trabalhistasobre o exercício <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,diploma universitário, lutas sindicais) e deregras pragmáticas, fruto das convençõesestabelecidas <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivas. EmBrasília, onde um universo rico de cente<strong>na</strong>sde profissio<strong>na</strong>is de alto nível, confundi<strong>do</strong>sem diversas categorias que se enlaçam e secruzam em fronteiras tênues <strong>na</strong> malha daprodução jor<strong>na</strong>lística diária, podemos afirmarque eles partilham o mesmo campo.Para Bourdieu (1997; 30) o jor<strong>na</strong>lista éuma entidade abstrata que não existe; o queexiste são jor<strong>na</strong>listas diferentes segun<strong>do</strong> osexo, a idade, o nível de instrução, o jor<strong>na</strong>lo meio de informação. O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasé um mun<strong>do</strong> dividi<strong>do</strong> em que háconflitos, concorrências, hostilidades, maspara o pesquisa<strong>do</strong>r francês, <strong>na</strong> verdade, osprodutos jor<strong>na</strong>lísticos são muito maishomogêneos <strong>do</strong> que se acredita.Bourdieu se refere às diferenças maisevidentes no merca<strong>do</strong>, ligadas sobretu<strong>do</strong> àcoloração política <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is que ocultamsemelhanças profundas, ligadas em especialàs restrições impostas pelas fontes e por todauma série de mecanismos, <strong>do</strong>s quais o maisimportante é a lógica da concorrência (omonopólio uniformiza, a concorrência diversifica).Daí a preocupação <strong>do</strong>s editores-chefes dassucursais em relação as mídias das fontes.Como complemento e subsídio, “sim” elassão aceitas, negociadas e até veiculadas pelasmídias comerciais. Mas se elas pretendemsubstituir a pauta e o trabalho <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas<strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivas <strong>do</strong> poder, os jor<strong>na</strong>isdizem “não” embora admitam que utilizemas notícias geradas pelas mídias das fontespara elaborar pautas e fazer matérias.


272 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVÉ através <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas que os políticosatingem a notoriedade pública . Ou seja, semas mídias, não há visibilidade possível. E oque buscam as mídias das fontes, de instituiçõespúblicas ou empresas privadas a nãoser dar visibilidade a seus atos nem semprepercebi<strong>do</strong>s de maneira espontânea pelosgatekeepers? Evidente que quanto maior aaudiência das mídias, maior o efeito davisibilidade desejada. Sabemos que o campo<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo está sob a pressão <strong>do</strong> campoeconômico por intermédio <strong>do</strong>s índices deaudiência. Mas este campo exerce tambémforte pressão sobre outros campos, principalmenteo campo político, onde <strong>na</strong>da se fazsem interesses e onde o oculto não existe.A não ser que o oculto signifique prevaricação.Estamos falan<strong>do</strong> de jor<strong>na</strong>is e nos concentramos<strong>na</strong>s sucursais <strong>do</strong>s grandes títulos <strong>do</strong> Rioe São Paulo atuan<strong>do</strong> em Brasília 10 . Mas nossasentrevistas e a observação <strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is assimque <strong>do</strong>s sites de notícias confirmam esta hipótese<strong>do</strong> alcance social <strong>do</strong>s atores em ce<strong>na</strong>.Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo on-line já demonstraramdiversas vezes o quanto às ações dasfontes políticas são determi<strong>na</strong>das edetermi<strong>na</strong>ntes em função <strong>do</strong> “tempo real”.Deputa<strong>do</strong>s podem mudar o voto <strong>na</strong>s comissõesconforme o impacto de suas declaraçõesmedidas <strong>na</strong> repercussão em tempo real.O universo judiciário serve-se da mídiapara fazer denúncias e provocar mudanças<strong>na</strong> relação de forças no interior de seu campo(campo jurídico) e mexer <strong>na</strong>s hierarquiasinter<strong>na</strong>s. Procura<strong>do</strong>res tor<strong>na</strong>ram-se capas derevista devi<strong>do</strong> à denúncias de corrupçãoatravés da mídia” 11 .O campo político se insinua no campo<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo particularmente pelo poder dasinstâncias gover<strong>na</strong>mentais que tem o monopólioda informação legítima (fontes oficiais).Venício Lima (1993: 15) parte da hipóteseque existe uma particularidade <strong>na</strong>prática <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo no Distrito Federal(DF), que tem “roti<strong>na</strong>s e subculturas próprias”e um jor<strong>na</strong>lismo que ele chama de“oficial” conseqüência <strong>do</strong> fato singular deBrasília sediar os três poderes da Repúblicae de não ter ti<strong>do</strong> representação política própriaaté a Constituição de 1988. O jor<strong>na</strong>lismo deBrasília <strong>na</strong>sce com a cidade que, por sua vez<strong>na</strong>sce com a transferência da capital federal<strong>do</strong> Rio de Janeiro.Conforme Venício Lima, a concentraçãode jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong>s capitais, sede da burocraciagover<strong>na</strong>mental, reforça a tendência geral,tanto profissio<strong>na</strong>l como administrativa <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, de se privilegiar as fontes institucio<strong>na</strong>ise estáveis, isto é, as fontes oficiais.No Brasil esta tendência foi ainda maisreforçada durante os 21 anos de regimemilitar, pois a centralização <strong>do</strong> poder e acensura direta ou indireta não deixava alter<strong>na</strong>tivapara os jor<strong>na</strong>listas.Em Brasilia sempre se fez um jor<strong>na</strong>lismo<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l pois no Distrito Federal concentramseas sucursais <strong>do</strong>s mais importantes jor<strong>na</strong>is<strong>do</strong> país que funcio<strong>na</strong>m como um vetor dedissemi<strong>na</strong>ção de fatos políticos diretamenteliga<strong>do</strong>s às decisões <strong>do</strong> poder. Ainda que asredações das sucursais tenham “encolhi<strong>do</strong>” nosúltimos dez anos, os profissio<strong>na</strong>is das sucursaisestão entre os mais bem pagos <strong>do</strong> país.A legitimidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo como campo<strong>do</strong> saber <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de reconhecimento paraatuar socialmente no sistema operacio<strong>na</strong>l noqual está envolvi<strong>do</strong> tende a se deslocar parao campo <strong>do</strong> hibridismo comunicacio<strong>na</strong>l semcontornos níti<strong>do</strong>s. A extensão das competênciasjor<strong>na</strong>lísticas para a área da comunicaçãoinstitucio<strong>na</strong>l pretende substituir o trabalho<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista convencio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s roti<strong>na</strong>s produtivasda notícia. É neste espaço que selegitimam formas de atuação e de influênciasobre o fazer jor<strong>na</strong>lístico, confiada a umsistema de mediação institucio<strong>na</strong>-liza<strong>do</strong>.Segun<strong>do</strong> Martins, 12a organização de aparatos de mídiapara agendar a imprensa, coagi-la ouaté substituí-la não é um fenômenonovo, embora fosse típico de momentoshistóricos específicos. O que aquitemos em foco é a organização degrandes aparatos de mediação,agendamento e advocacy num contextodemocrático e para fazer face amudanças conjunturais.Os poderespolítico, econômico e público passarama necessitar de esquemas própriose profissio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s para ‘oferecer’conteú<strong>do</strong>s às empresas privadas einterferir diretamente <strong>na</strong> agendasetting.


JORNALISMO273As atividades profissio<strong>na</strong>is de comunicaçãono Brasil, devi<strong>do</strong> a um número eleva<strong>do</strong>de regulamentações, sofrem, <strong>do</strong> ponto de vistalegal, de limitações severas. Estas limitaçõesprofissio<strong>na</strong>is ema<strong>na</strong>m de um modelo deorganização legal <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalhobrasileiro que, no caso da ComunicaçãoSocial, deu origem a quatro carreiras distintas:jor<strong>na</strong>lismo, publicidade, radialismo erelações públicas. 13A condição profissio<strong>na</strong>l portanto é determi<strong>na</strong>dapela formação acadêmica e não peloperfil <strong>do</strong> emprego. Desta forma, uma pessoadiplomada em Jor<strong>na</strong>lismo pela universidadeserá sempre jor<strong>na</strong>lista ainda que exerça outraprofissão. Esta característica, conjugada àsfunções específicas de cada uma das áreasda comunicação social, faz com que umagrande parte da oferta de trabalho nos setorespúblicos (governos, administração, empresaspúblicas ou privadas) seja reservada aosjor<strong>na</strong>listasO desenvolvimento das tecnologias decomunicação e o fortalecimento da ação dasassessorias de imprensa impõem arecontextualização <strong>do</strong> espaço de competênciasprofissio<strong>na</strong>is. O jor<strong>na</strong>lismo é um destesespaços, constituí<strong>do</strong> como uma competênciaespecializada no campo das <strong>na</strong>rrativas sociais(Bourdieu e Rodrigues). Produzi<strong>do</strong> dentrode um sistema fortemente institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>,defini<strong>do</strong> por uma legislação trabalhistaespecífica e por uma formação acadêmicaespecializada, o jor<strong>na</strong>lismo está migran<strong>do</strong>para um ambiente de mixagem de competênciaspartilha<strong>do</strong> por diversos profissio<strong>na</strong>is.As mídias das fontesO setor da comunicação institucio<strong>na</strong>lrepresenta hoje mais de 40% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, estima<strong>do</strong> em 60 mil jor<strong>na</strong>listascom registro profissio<strong>na</strong>l. 14 Ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> Câmarae no Se<strong>na</strong><strong>do</strong> estão mais de 200 jor<strong>na</strong>listas.Sem contar os profissio<strong>na</strong>is depublicidade e relações públicas que trabalhampara a Secretaria de Comunicação <strong>do</strong>s órgãos(SECOM) e que, de certa forma, temimpacto <strong>na</strong> produção das pautas assimiladaspelas mídias.Recentemente, as Forças Armadas entraramno ramo da Comunicação Social, i<strong>na</strong>uguran<strong>do</strong>um ca<strong>na</strong>l de rádio FM (<strong>educativo</strong>),enquanto que o Poder Judiciário já tem o seupróprio ca<strong>na</strong>l de televisão. É preciso ressaltarque o programa radiofônico diário. A Voz<strong>do</strong> Brasil (uma hora por dia, entre 19h e 20h)é dividi<strong>do</strong> em três partes, uma para cadaPoder (Executivo, Legislativo e Judiciário).A Rádio Se<strong>na</strong><strong>do</strong> é transmitida <strong>na</strong>sfreqüências FM e Ondas Curtas e atinge <strong>do</strong>ismilhões de ouvintes num raio de 150 km.Potencialmente, o seu público ouvinte estáestima<strong>do</strong> em 70 milhões de pessoas em todasas regiões. O si<strong>na</strong>l da TV Se<strong>na</strong><strong>do</strong> encontrasedisponível em duas bandas <strong>do</strong> satéliteBrasilsat, cobrin<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>le pode ser captada por três milhões deassi<strong>na</strong>ntes das opera<strong>do</strong>ras de TV via caboe por oito milhões de parabólicas espalhadaspor to<strong>do</strong> o Brasil. O Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Se<strong>na</strong><strong>do</strong> temuma tiragem de 58 mil exemplares e édistribuí<strong>do</strong> pelos Correios em 5.539 municípiosbrasileiros. A Agência Se<strong>na</strong><strong>do</strong> deNotícias cobre as atividades da Casa, distribuin<strong>do</strong>o material para a Imprensa escrita,principalmente através da Internet. Além <strong>do</strong>conteú<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lístico, a Agência oferecegratuitamente as fotos. No ano de 2002 foramproduzidas e distribuídas 5 375 notícias.RadiobrásCom 1.150 funcionários, ao custo de R$90 milhões por ano <strong>na</strong> Radiobrás, mais 75profissio<strong>na</strong>is no Palácio <strong>do</strong> Pla<strong>na</strong>lto e umsistema de pronta resposta e de correção dasnotícias “equivocadas”, <strong>na</strong> Secretaria deComunicação, o governo <strong>do</strong> PT a<strong>do</strong>tou umanova estrutura de comunicação com pretensõesque vão além <strong>do</strong> mero aperfeiçoamentoda máqui<strong>na</strong> de divulgação oficial. Trata-sede um projeto monta<strong>do</strong> para alcançar - comnoticiário oficial e gratuito - um públicoestima<strong>do</strong> em cem milhões de pessoas em to<strong>do</strong>o País. Esse noticiário chega a uma rede quehistoricamente edita seus noticiários com base<strong>na</strong> cobertura das agências de notícias privadas,e é composta por mais de mil emissorasde rádio e retransmissoras de TV e mais demil jor<strong>na</strong>is. Nos 60 municípios com mais de200 mil habitantes, esses distribui<strong>do</strong>res deinformação já começaram a receber <strong>do</strong>governo, gratuitamente, receptores de notíciasvia satélite.


274 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFonte: O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo - 14/09/2003Segun<strong>do</strong> o presidente da Radiobrás,Eugênio Bucci, a intenção da estatal não édisputar merca<strong>do</strong> com as agências privadasnem assumir o controle da comunicação noPaís. “A Radiobrás pode desempenhar papelimportante, pelas rádios, pela agência, efornecen<strong>do</strong> material jor<strong>na</strong>lístico gratuitamentepara os veículos comerciais”.Nas redacões das sucursaisSegun<strong>do</strong> João Bosco, diretor da sucursal<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo em Brasília,a produção das mídias das fontes não tem umarelação direta de causa e efeito com a produçãojor<strong>na</strong>lística convencio<strong>na</strong>l das redações.“As grandes estruturas jor<strong>na</strong>lísticas tem seusquadros próprios e utilizam matérias próprias.As mídias das fontes ape<strong>na</strong>s <strong>potencial</strong>izamas pautas gover<strong>na</strong>mentais”. Bosco afirma queé uma tentativa recorrente de to<strong>do</strong>s os governosde utilizar os veículos oficiais, principalmentea Radiobrás para interferir <strong>na</strong> pauta damídia convencio<strong>na</strong>l. Ele considera isso normaldesde que o governo não tente ultrapassara fronteira <strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> para querer funcio<strong>na</strong>rcomo concorrente das mídias. Porque, <strong>na</strong> suaopinião, o governo quer fazer jor<strong>na</strong>lismo como dinheiro público. E usar o dinheiro <strong>do</strong>contribuinte para isso é ilegal. Bosco se referea política editorial da Radiobrás dirigida porEugênio Bucci desde o inicio <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (PT), que pretendecobrir todas as áreas <strong>do</strong>s acontecimentosmidiáticos, da política ao esporte.Não é normal que a Radiobrás cubrao treino <strong>do</strong> Flamengo aos <strong>do</strong>mingos,ela deveria se ater às notícias <strong>do</strong>governo. Sua missão é divulgar ogoverno fornecen<strong>do</strong> matéria gratuitapara to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s. O que aRadiobrás faz é dumping de Esta<strong>do</strong>.A Radiobrás faz concorrência deslealprincipalmente <strong>na</strong> área de produçãode imagens.Embora Bosco critique o sistema daRadiobrás e agências oficiais ele admite queo Grupo Esta<strong>do</strong> mantém parceria com elas.Atualmente a agência Esta<strong>do</strong>, que atende74% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de informação no Brasil,distribui notícias produzidas pelas mídias dasfontes mediante contrato remunera<strong>do</strong>. Ouseja, as agências oficiais pagam para seremveiculadas pela maior agência de notíciascomercial. Uma ressalva: os clientes sãoadverti<strong>do</strong>s que estão len<strong>do</strong> notícias de agênciasinstitucio<strong>na</strong>is. O importante é não confundir,salienta Bosco deixan<strong>do</strong> claro, emboraindiretamente, que a mídia comercialnão questio<strong>na</strong> o direito à existência das mídiasdas fontes. O que está em questão é aconcorrência.Pelas entrevistas realizadas e ainda nãocomputadas meto<strong>do</strong>logicamente, as mídiasconvencio<strong>na</strong>is temem pela disputa no espaçocomercial, ou seja, pela busca <strong>do</strong> cliente.A partir <strong>do</strong> momento em que a Radiobrásinstala satélites e equipamentos em to<strong>do</strong>sos municípios com mais de 200 mil habitantespara divulgar notícias gratuitamenteestá toman<strong>do</strong> o lugar <strong>do</strong>s grupos priva<strong>do</strong>s.Um consenso <strong>na</strong>s redações aponta para umaênfase excessiva no poder. Ricar<strong>do</strong> Setti 15 falade uma cente<strong>na</strong> de itens de pauta por dia.


JORNALISMO275Quan<strong>do</strong> era editor-chefe <strong>do</strong> “Estadão” entre1990-1992, ele contabilizou, durante trêsmeses, as pautas que de alguma forma tinhamorigem no poder ou se desti<strong>na</strong>vam a cobriralguma de suas múltiplas manifestações econcluiu que 67% das pautas eram assuntosoficiais: Presidência da República, Ministérios,Congresso Nacio<strong>na</strong>l, Banco Central,Tribu<strong>na</strong>is, etc.A transição e a hibridaçãoA migração de jor<strong>na</strong>listas para o setor dasassessorias e a atração pelos concursospúblicos pode ser explicada, em parte, pelacrise das empresas, quase todas endividadase pela precariedade das condições de trabalhooferecidas <strong>na</strong>s redações.Diante de jor<strong>na</strong>das produtivas que seestendem até <strong>do</strong>ze horas, <strong>do</strong> achatamento <strong>do</strong>ssalários, das falta de contratos estáveis comcarteira assi<strong>na</strong>da ( as empresas estão preferin<strong>do</strong>contratar pessoas jurídicas em vez depessoas físicas) os jor<strong>na</strong>listas profissio<strong>na</strong>is,<strong>do</strong>s jovens recém forma<strong>do</strong>s aos veteranoscansa<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s correm para as funçõespúblicas. Neste momento de transição emigração, tor<strong>na</strong>-se necessária uma investigaçãono campo acadêmico sobre ostangenciamentos que atingem o jor<strong>na</strong>lismoenquanto profissão historicamente construídaem conseqüência das transformações que vemse produzin<strong>do</strong> no campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e quevem afetan<strong>do</strong> o status e a identidade <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista.O novo jor<strong>na</strong>lista é um profissio<strong>na</strong>lhíbri<strong>do</strong> com perfil de camaleão, ora identifica<strong>do</strong>com as roti<strong>na</strong>s da redação, ora comoassessor de imprensa, ora como jor<strong>na</strong>lista/funcionário. Também pode estar “produzin<strong>do</strong>conteú<strong>do</strong>s” para um”site <strong>na</strong> Internet, numaempresa privada, numa ONG ou atuan<strong>do</strong> nocontexto da “advocacia” de causas públicase/ou sócio-humanitárias.Talvez nem exerça mais funções típicas<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo (cobertura, redação, edição eeditoração), mas tenha-se tor<strong>na</strong><strong>do</strong> um profissio<strong>na</strong>lde alto nível e bem remunera<strong>do</strong>, cujaespecialidade é a de ser um ‘articula<strong>do</strong>r’ juntoà imprensa.O jor<strong>na</strong>lista Ricar<strong>do</strong> Noblat 16 , voltou aalimentar polêmica ao afirmar assessor deimprensa não é jor<strong>na</strong>lista porque não possuia autonomia necessária para praticar o jor<strong>na</strong>lismo.Assim entende ainda um julga<strong>do</strong> <strong>do</strong>TST [“Assessor de imprensa não exerceatividades típicas de jor<strong>na</strong>lismo...” (Acórdãonº 261412 de 15/05/1998, 3ª Turma; relator:Ministro Antônio Fábio Ribeiro)] que já vemorientan<strong>do</strong> a atuação de advoga<strong>do</strong>s trabalhistas.Deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong>s as inúmeras definiçõesde jor<strong>na</strong>lismo consagradas, vamos simplificare dizer que jor<strong>na</strong>lismo é investigativoe produz notícias para o público consumi<strong>do</strong>r<strong>do</strong>s veículos comerciais enquanto que oassessor de imprensa produz pautas, <strong>na</strong> formade press releases ou não, decorrentes de umaatividade muito complexa mas pode serresumida como um trabalho que consiste emajudar o cliente a discernir o que é notíciaou não e a se relacio<strong>na</strong>r com a imprensa.Segun<strong>do</strong> Barbara Hartz 17 , vem daí boaparte da confusão. A tradição cultural advindada formação e alimentada pela continuidadeda convivência no meio traduz-se, em algunscasos, em um orgulho de pertencer à categoria.Em outros, a origem pode servir comobarganha para valorizar-se junto ao cliente.E, talvez em alguns, as duas hipóteses estejammisturadas. Fora o subjetivismo, elaacredita que os sindicatos de jor<strong>na</strong>listasaumentam a confusão ao querer manter entreseus associa<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is tipos de profissio<strong>na</strong>is.Mas devemos a Philip Schlesinger (1992)o questio<strong>na</strong>mento da idéia <strong>do</strong>“midiacentrismo” <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s centraliza<strong>do</strong>ssobre visão <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista como único protagonistaativo da produção de informações.Schlesinger convida a refletir sobre aprofissio<strong>na</strong>lização das fontes e a capacidadedestas em desenvolver uma racio<strong>na</strong>lidadeestratégica baseada sobre a antecipação dasroti<strong>na</strong>s e das práticas jor<strong>na</strong>lísticas para fornecermaterial “pronto-a-publicar”.Sant’An<strong>na</strong> acredita que a atual situaçãopode ser explicada pelo critério de “mutaçãosocial, uma transformação de perfis e espaçosprofissio<strong>na</strong>is provocadas por conjunturassócio, econômicas e culturais.”Esta mutação, segun<strong>do</strong> Sant’An<strong>na</strong>, deveser apreciada a partir <strong>do</strong> conceito de fronteiras,importa<strong>do</strong> por Ruellan ( 2000; 95) daGeografia e aplica<strong>do</strong> <strong>na</strong> análise <strong>do</strong> processode ocupação agrícola e urba<strong>na</strong> <strong>na</strong> Amazônia


276 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVbrasileira. Num espaço profissio<strong>na</strong>l satura<strong>do</strong>,seria normal que os profissio<strong>na</strong>is afeta<strong>do</strong>sprocurassem terras virgens e expandissem oterritório de suas fronteiras ocupacio<strong>na</strong>is. Afronteira, explica o autor, não é um limiteformal de um território de um grupo social,mas sim um espaço novo a ser ocupa<strong>do</strong> econquista<strong>do</strong>. “O <strong>na</strong>scimento de uma profissãoe seu reconhecimento pela coletividadedeve-se, em primeiro lugar, à sua capacidadede definir um território.”.As considerações tecidas neste artigonão esgotam o assunto. A pesquisa está emdesenvolvimento e não podemos avançarconclusões. Mas insistimos <strong>na</strong> hipótese dahibridização das categorias profissio<strong>na</strong>isdentro <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo e das relaçõesturvas com o campo político orquestradaspelas mídias das fontes. Para garantiro capital da credibilidade, o bem maior<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo, há que se questio<strong>na</strong>r oprincípio da legitimidade <strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>res denotícias <strong>do</strong>s Três Poderes. Afi<strong>na</strong>l, o jor<strong>na</strong>listaé o media<strong>do</strong>r <strong>do</strong> espaço públicorevisita<strong>do</strong> por Wolton ( 1997: 380) pois eletem circulação privilegiada em to<strong>do</strong>s osespaços: o espaço comum (circulação eexpressão); espaço público (discussão) eespaço político (decisão). O jor<strong>na</strong>lista está,portanto, <strong>na</strong> passagem <strong>do</strong> espaço comumao espaço público e <strong>do</strong> espaço público aoespaço político.


JORNALISMO277BibliografiaBerger, Christa. Campos em Confronto: a terra e o texto., Porto Alegre: Editora daUniversidade, 1998Bourdieu, Pierre. Sobre a televisão. Riode Janeiro, Jorge Zahar,1997——————— , Pierre. O campo científico.In:ORTIZ,Re<strong>na</strong>to. Pierre Bourdieu.São Paulo:Ática,1983Lima, Venício. A Imprensa em Brasília.In Jor<strong>na</strong>lismo de Brasília, Impressões eVivências. Sindicato <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong> DF,Brasilia, 1993Marcondes Filho, Ciro. A Saga <strong>do</strong>s cãesperdi<strong>do</strong>s. São Paulo, Hacker,2000NEVEU,Erik. Sociologie du Jour<strong>na</strong>lisme.Paris, 2001. Ed. La DécouverteRuellan, Denis, Le profession<strong>na</strong>lisme duflou – identité et savoire-faire des jour<strong>na</strong>listesfrançais, Grenoble, PUG, 1993Schleisinger, Philip, Repenser lasociologie du jour<strong>na</strong>lisme. Les stratégies dela source d’information et les limites dumédiacentrisme’– Réseaux n° 51, 1992 p. 75-99Utard, Jean Michel. O embaralhamentonos gêneros midiáticos. Gênero de discursocomo conceito interdiscipli<strong>na</strong>r para o estu<strong>do</strong>das transformações da informação midiática.In Comunicação e Espaço Público. Ano VIBrasilia: UnB,2003_______________________________1UnB.2MARCONDES FILHO, Ciro. A saga <strong>do</strong>scães perdi<strong>do</strong>s. São Paulo, Hacker-Editores, 2000,col. Comunicação & Jor<strong>na</strong>lismo. Martins da Silva,Luis -Texto distribuí<strong>do</strong> em aula como parte dapesquisa geral sobre « Jor<strong>na</strong>lismo Híbri<strong>do</strong> ».4UTARD, Jean Michel. O embaralhamentonos gêneros midiáticos. Gênero de discurso comoconceito interdiscipli<strong>na</strong>r para o estu<strong>do</strong> das transformaçõesda informação midiática. - Comunicaçãoe Espaço Público. Ano VI Brasilia:UnB,20035NEVEU, Erik. Sociologie du Jour<strong>na</strong>lisme.Paris, 2001. Ed. La Découverte6Termo cunha<strong>do</strong> pelo pesquisa<strong>do</strong>r FranciscoSant’An<strong>na</strong> que realiza tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> sob aorientação de Denis Ruellan ( Rennes 1, França)e da autora deste trabalho.7«Mídias das Fontes» - O difusor <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismocorporativo (texto de tese em elaboração),20048É quase impossivel informar com exatidãoquantos jor<strong>na</strong>listas estão em efetivo funcio<strong>na</strong>mento.Pelos números <strong>do</strong> Sindicato,de Jor<strong>na</strong>listas em25/03/04 foram emiti<strong>do</strong>s no Distrito Federal:3.500 registros para jor<strong>na</strong>lista profissio<strong>na</strong>l (registroplenipotenciário) 476 para jor<strong>na</strong>lista -repórterfotográfico,241 para jor<strong>na</strong>lista repórter-cinematográfico,224 para jor<strong>na</strong>listas diagrama<strong>do</strong>res e 80para jor<strong>na</strong>listas ilustra<strong>do</strong>res. Total 4.521 registrosemiti<strong>do</strong>s no DF. Pelos menos uns 2 mil a 2,5 milprofissio<strong>na</strong>is com registro de fora estão no DF.O que dá um total de 6 500 jor<strong>na</strong>listasregistra<strong>do</strong>s.Calcula-se que é o eleva<strong>do</strong> número dejor<strong>na</strong>listas que passam a atuar no merca<strong>do</strong> semqualquer vinculo com o sindicato: free-lancer,cooperativa, pessoa jurídica etc, metade da categoriatrabalha para o setor extra-redação.9Segun<strong>do</strong> Bourdieu com a noção de campoobtem-se o meio de apreender a particularidade<strong>na</strong> generalidade, a generalidade <strong>na</strong> particularidade.10Sucursais <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is: O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo;Folha de S.Paulo n; O Globo; Jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Brasil11Revista Época, 25/03/2002, edição 201, traz<strong>na</strong> capa as fotos <strong>do</strong>s procura<strong>do</strong>res Mário Lúciode Avelar, José Roberto Santoro, Luis Franciscode Sousa e Guilherme Schelb. Título: Caçacorruptos.12Martins da Silva, Luis -Texto distribuí<strong>do</strong>em aula como parte da pesquisa geral sobre« Jor<strong>na</strong>lismo Híbri<strong>do</strong>».13Foi aprova<strong>do</strong> recentemente, por u<strong>na</strong>nimidade,pela Comissão de Trabalho e Ação Socialda Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, o projeto de lei queatualiza a regulamentação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. O projetoé uma iniciativa Federação Nacio<strong>na</strong>l de Jor<strong>na</strong>listas(Fe<strong>na</strong>j) e estava tramitan<strong>do</strong> <strong>na</strong> Câmara desde1995. No início de 2003, foi reapresenta<strong>do</strong>. Oprojeto de lei 708/03 segue agora para a Comissãode Constituição e Justiça e, se for aprova<strong>do</strong>,para o Se<strong>na</strong><strong>do</strong> Federal. O projeto atualiza váriasfunções jor<strong>na</strong>lísticas não incluídas <strong>na</strong> legislaçãoem vigor, como a função <strong>do</strong> assessor de imprensa14Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sindicato de Jor<strong>na</strong>listas Profissio<strong>na</strong>is<strong>do</strong> Distrito Federal em 2000.15www.observatoriodaimprensa.org.br (2/10/2004)16Artigo publica<strong>do</strong> pela revista ComunicaçãoEmpresarial, da Aberje, e pelo portal Comuniquese,17Jor<strong>na</strong>lista e diretora da Hartz –– artigo«Comunicação Corporativa» publica<strong>do</strong> no site <strong>do</strong>Observatório da Imprensa em 2/07/2003.www.observatoriodaimprensa.org.br


278 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO279Capítulo IICOMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO


280 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO281ApresentaçãoVítor Reia-Baptista 1As sessões temáticas sobre Comunicaçãoe Educação têm marca<strong>do</strong> presença, por direitopróprio, em to<strong>do</strong>s os congressos, conferências,jor<strong>na</strong>das e encontros de maior dimensãosobre as Ciências da Comunicação quese têm realiza<strong>do</strong> nos últimos anos, pelo menosem âmbitos de expressão portuguesa e hispânica.Assim sen<strong>do</strong>, não causará grandesurpresa a constatação de um crescentenúmero de abordagens reflexivas, críticas einvestigacio<strong>na</strong>is sobre os fenómenos quecaracterizam o cruzamento <strong>do</strong>s camposcomunicativo e <strong>educativo</strong>, à semelhança <strong>do</strong>que já se verificava noutros contextos transversaisde estu<strong>do</strong> e de investigação em torno<strong>do</strong>s problemas da comunicação, desig<strong>na</strong>damentenos países <strong>do</strong> norte da Europa e daAmérica.É seguramente difícil e talvez até algoarrisca<strong>do</strong> tentar fazer uma sistematizaçãoexacta e exaustiva <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s da arte e daciência de expressão luso-hispânica nesta área<strong>do</strong> conhecimento, tal a enorme abrangênciade matérias e de problemáticas que nela secruzam, mas sobretu<strong>do</strong> em função da grandediversidade de perspectivas de enfoque, depressupostos teóricos e de meto<strong>do</strong>logias deanálise que se desenvolvem nesta área. Noentanto, já existem alguns trabalhos que,nesse senti<strong>do</strong>, têm tenta<strong>do</strong> cartografar eindicar alguns <strong>do</strong>s principais pontos dereferência a tomar em consideração paraquem se queira orientar nestas matérias daComunicação, da Educação, <strong>do</strong>s Media e dassua mediações entre campos.Neste contexto, uma das principais tentativasde enunciação sistematizada e coerente<strong>do</strong>s trabalhos que têm procura<strong>do</strong> cruzarperspectivas comunicativas e educacio<strong>na</strong>is éa que foi elaborada por Manuel Pinto paraa Revista Ibero-America<strong>na</strong> de Educaçãoeditada pela Organização de Esta<strong>do</strong>sIberoamericanos (Pinto, 2003).De igual mo<strong>do</strong>, merece referência otrabalho de congregação investigacio<strong>na</strong>l eeditorial que tem si<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> a cabo peloGrupo Comunicar da Universidade Huelva,dirigi<strong>do</strong> por José Ig<strong>na</strong>cio Aguaded Gómez,cujas iniciativas de sistematização e deestabelecimento de diálogos luso-hispânicosnesta área ficaram bem patentes no CongressoIberoamericano de Comunicación yEducación, em Huelva (Aguaded, 2003).Outras iniciativas afins podem ser encontradasem contextos um pouco mais dispersos,tais como os de algumas secções temáticasno seio de portais e de directórios que tocamde algum mo<strong>do</strong> estas matérias, como é, porexemplo, o caso da Biblioteca On-line dasCiências da Comunicação (BOCC) e <strong>do</strong> portalINFOAMERICA.Por fim, devem ser referenciadas tambémalgumas tentativas de inserção curricular dasmatérias mais marcantes da intersecção <strong>do</strong>ssectores da comunicação e da educação noâmbito de programas de formação inicial, deinvestigação e pós graduação em Ciências daComunicação em vários cursos e programasde diferentes escolas e universidades, <strong>do</strong>squais, sem qualquer pretensão derepresentatividade ou exaustão, se podemreferir a mero título de exemplo, os casosdas universidades Autónoma de Barcelo<strong>na</strong>,de Sevilha, <strong>do</strong> Minho, <strong>do</strong> Algarve e o ISCTE,entre tantas outras que oferecem programasespecíficos de formação em áreas coincidentescom o sector de intersecção entre acomunicação, a educação e os media, ou assuas dimensões pedagógicas.De todas estas abordagens, fica bem claroque a diversidade de perspectivas e deabordagens é inevitável, no entanto, a <strong>na</strong>turezadessa diversidade é, em si, um factorde enriquecimento cognitivo que não devemosdescurar de mo<strong>do</strong> algum. É nesse senti<strong>do</strong>que propomos as abordagens que constituemesta sessão temática.


282 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAguaded, José I. (Dir.), 2003, Luces enel Laberinto Audiovisual, Libro de Actas <strong>do</strong>Congresso Iberoamericano de Comunicacióny Educación, Grupo Comunicar, Huelva.Pinto, Manuel, 2003, ‘Correntes daeducação para os media em Portugal: retrospectivae horizontes em tempos de mudança’,em Revista Ibero-America<strong>na</strong> de Educação,nº 32, OEI, http://www.campusoei. org/revista/rie32a06.htmBOCChttp://bocc.ubi.ptINFOAMERICAhttp://www.infoamerica.org/_______________________________1Universidade <strong>do</strong> Algarve.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO283Desenho anima<strong>do</strong> e formação moral:Influências sobre crianças <strong>do</strong>s 4 aos 8 anos de idadeA<strong>na</strong> Lúcia Sanguê<strong>do</strong> Boy<strong>na</strong>rdIntroduçãoTivemos como objetivo identificar acompreensão das crianças sobre o significa<strong>do</strong><strong>do</strong>s conceitos de bom-mau, bem-mal,certo-erra<strong>do</strong>; verificar a opinião de pais eresponsáveis sobre a influência <strong>do</strong>s desenhosanima<strong>do</strong>s no comportamento de suas crianças;avaliar se os temas presentes nos desenhosfeitos para crianças, de fato favorecemuma visão acrítica da realidade, a faltade valores, senti<strong>do</strong> para a vida, embotamentode competências para prática da vida adulta.Buscou-se aqui aplicar alguns conceitosda midiologia sublimi<strong>na</strong>r a desenhos anima<strong>do</strong>scujos efeitos neurofisiológicos possamser mensura<strong>do</strong>s, concentran<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> observaçãoda sig<strong>na</strong>gem sublimi<strong>na</strong>r, suas relaçõessemânticas e contextuais e possíveis contribuiçõespositivas e/ou negativas <strong>na</strong> a<strong>do</strong>çãode comportamentos e formação de valorese atitudes em indivíduos <strong>na</strong> faixa etária de04 a 08 anos através das interpretaçõesapresentadas para o processo virtual,semiótico, midiático da sociedade tecnológicae os efeitos de uma idéia-mensagem sobreas massas de telespecta<strong>do</strong>res muito jovens,concentran<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> investigação da informaçãopropagada e <strong>na</strong> indução de comportamentoatravés da mediação da memória.Consideran<strong>do</strong> a reduzida literatura disponível,TUGENDHAT foi fundamental <strong>na</strong> buscada escolha de um eixo ético-moral, necessáriopara a reflexão sobre o aspecto da liberdadepossível, que perpassa esse estu<strong>do</strong>. Forampreciosos BENJAMIN, PACHECO, FUSARI,DRUMOND DE ANDRADE, MUNIZSODRÉ, SARTRE, PIAGET, HUME,DELEUZE, CARNEIRO LEÃO, entre inúmerosoutros <strong>na</strong> elaboração <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.Síntese <strong>do</strong> conceito de moral utiliza<strong>do</strong>Destacamos como hipótese de estu<strong>do</strong> queos semas trabalha<strong>do</strong>s pelos desenhos anima<strong>do</strong>sreproduzem temores que fazem parte <strong>do</strong>imaginário infantil de to<strong>do</strong>s os tempos; ostemas aborda<strong>do</strong>s permitem a intervenção noreal e trânsito pelo imaginário, propician<strong>do</strong>a inserção reflexiva da criança <strong>na</strong>quilo quea vida social aponta como comportamentoaceitável; os perso<strong>na</strong>gens <strong>do</strong>s desenhosanima<strong>do</strong>s estuda<strong>do</strong>s, reproduzem comportamentosarquetípicos similares aos que emtempos anteriores eram apresenta<strong>do</strong>s nosperso<strong>na</strong>gens de história de fadas.O indivíduo-criança no perío<strong>do</strong> de seus04 a 08 anos, relacio<strong>na</strong>-se com o mun<strong>do</strong> apartir de seu corpo. Surge primeiro umsistema de percepção, capaz de construirsignificações-resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> relacio<strong>na</strong>mentoentre situações que vão permitir construirconhecimentos. E este sistema de percepçãoemerge da calei<strong>do</strong>scópica relação entrepoucas regras que já identificou (ema<strong>na</strong>das<strong>do</strong>s adultos que o rodeiam), os gostos quevai aprenden<strong>do</strong> em sim mesmo, e a enormidadede situações que ainda não compreende.Então, nesta fase destaca-se tu<strong>do</strong> quefavoreça os senti<strong>do</strong>s, quer seja uma circunstânciaaterrorizante quer seja um gozo. Aliberdade possível ao telespecta<strong>do</strong>r em geralrefere-se à diversidade cultural, visões demun<strong>do</strong>, diferenças de classes sociais, oumesmo uma escala mais abrangente, <strong>do</strong>sprocessos civilizatórios para cada sociedade.Especificamente, no caso da criança, esteestu<strong>do</strong> busca fundamentar a afirmação de quetal qual os contos de fada de antigamente,os desenhos anima<strong>do</strong>s da TV, pública ouprivada, devem ser considera<strong>do</strong>s como instrumentosde enorme importância <strong>na</strong> formaçãomoral. Primeiro por facilitar o desenvolvimentoda perso<strong>na</strong>lidade e estimular umca<strong>na</strong>l sadio <strong>na</strong> resolução <strong>do</strong>s problemascotidianos. Depois, como forma de avaliaçãoe análise <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s que transmitem. Emseguida, por obrigar a formação de novosmo<strong>do</strong>s de compreender. Tu<strong>do</strong> isto, através daidentificação com perso<strong>na</strong>gens de desenhos


284 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVanima<strong>do</strong>s que notadamente reproduzem emseus comportamentos, característicasemblemáticas, mesmo que simplistas de bome mau, certo e erra<strong>do</strong>, mal e bem. Estadicotomia, repetida exaustivamente, episódioapós episódio, não é enfastiante para criançasde faixa de 04 a 08 anos. Antes, sãoreconfortantes e pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntementeprazeirosas. Como nos disse Andressa (seisanos, fã de Dragon Ball Z): A gente aprendea lutar para defender o bem, tia, bem <strong>na</strong>linha de conduta aprovada pela sociedade.A meto<strong>do</strong>logia empregadaTivemos como principais objetivos identificara compreensão das crianças sobre osignifica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s conceitos de bom-mau, bemmal,certo-erra<strong>do</strong>; verificar a opinião de paise responsáveis sobre a influência de desenhosanima<strong>do</strong>s no comportamento das crianças;avaliar se os temas presentes nosdesenhos feitos para crianças favorecem umavisão crítica da realidade, a falta de valores,senti<strong>do</strong> para a vida e embotamento de competênciaspara prática da vida adulta.O estu<strong>do</strong> centrou-se no reconhecimentoe <strong>na</strong> identificação <strong>do</strong> impacto da característica<strong>do</strong>s enre<strong>do</strong>s e perso<strong>na</strong>gens <strong>do</strong> imaginárioinfantil e talvez em atividades lúdicas taiscomo diversão, lazer, fantasia, competição,aventuras contidas <strong>na</strong>s séries selecio<strong>na</strong>das esuas possíveis influências <strong>na</strong> formação moralde crianças. De acor<strong>do</strong> com as fases da análisede conteú<strong>do</strong>, a pesquisa foi organizada emetapas: pré-análise, exploração <strong>do</strong> material einterpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s.A pré-análise constituiu-se primeiramenteno contato com as séries, para conhecersuas histórias, enre<strong>do</strong>s e perso<strong>na</strong>gens, a fimde compor um perfil psicológico mesmo quetosco: entre Janeiro e Novembro de 2001foram assisti<strong>do</strong>s seiscentos episódios, de atéquatro séries diferentes por dia, com duraçãomédia de trinta minutos, resultan<strong>do</strong> numasíntese que permitiu a comparação de enre<strong>do</strong>s,características <strong>do</strong>s perso<strong>na</strong>gens e elementosperenes em cada série.Em seguida, realizamos um levantamentode da<strong>do</strong>s bibliográficos com base históricae contemporânea, bem como, materiais repercuti<strong>do</strong>se informativos das séries, encontra<strong>do</strong>sem livros, jor<strong>na</strong>is, revistas, internet,para que servissem de base para estabelecero enfoque sobre o assunto, atentos a trêsconceitos básicos: Infância, atividade lúdicae imaginário infantil.A meto<strong>do</strong>logia empregada consistiu <strong>na</strong>pesquisa de campo aplicada acerca <strong>do</strong>sdesenhos anima<strong>do</strong>s japoneses – DIGIMON/POKÉMON /DRAGON BALL Z/ MENI-NAS SUPERPODEROSAS /SAKURACARD CAPTOR- apoiada <strong>na</strong> meto<strong>do</strong>logiaantropológica da observação participante, <strong>na</strong>qual crianças de quatro até oito anos, em trêsgrupos de sessenta elementos cada,totalizan<strong>do</strong> inicialmente cento e oitentapesquisa<strong>do</strong>s, reduzi<strong>do</strong>s afi<strong>na</strong>l para quarentae quatro, constituí<strong>do</strong>s de representantes desegmentos sócio-econômicos distintos, bemcomo seus pais e responsáveis, tambémcolaboraram responden<strong>do</strong> a questionários edan<strong>do</strong> entrevistas.Elaboração da amostra e perfil <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>sA pesquisa aplicada no Município deCampos <strong>do</strong>s Goytacazes no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong>entre 2ª quinze<strong>na</strong> de Junho de 2000a 1ª quinze<strong>na</strong> de Dezembro de 2001 constituiu-seinicialmente <strong>na</strong> aplicação de 180formulários, 108 para meni<strong>na</strong>s e 72 parameninos, <strong>do</strong>s quais 51 foram devolvi<strong>do</strong>sincompletos e inutiliza<strong>do</strong>s e 63 foram descarta<strong>do</strong>sporque as crianças não assistiamnenhuma das séries investigadas. Restaram44 formulários servíveis, sen<strong>do</strong> o públicoalvotrabalha<strong>do</strong> dividi<strong>do</strong> em 15 meni<strong>na</strong>s e29 meninos e seus pais, respectivamente,sen<strong>do</strong> trabalhadas as seguintes hipóteses:a) Identificação <strong>do</strong> tipo de compreensãoque os responsáveis por estas crianças demonstram,com relação aos efeitos que aprogramação televisiva e particularmente oschama<strong>do</strong>s desenhos anima<strong>do</strong>s japonesesprovocam no comportamento das mesmas;b) Verificação da existência de evidências,além de simplesmente circunstanciais,sobre a nocividade <strong>do</strong> desenho anima<strong>do</strong>,destacadamente os japoneses, no estabelecimentode conduta de crianças;c) Elaboração <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s perso<strong>na</strong>gensmais “queri<strong>do</strong>s” e da influência que possamexercer, pelas razões que os tor<strong>na</strong>m preferi<strong>do</strong>s.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO285Pelo méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>, admite-se margemde erro em torno de 5%. Este percentual serefere tanto à manipulação e análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>spara tabulação como, também, em função danecessária intermediação de pais ou responsáveis.Importante ressaltar que o trabalho realiza<strong>do</strong>teve por objeto de análise <strong>do</strong>is gruposde crianças cujas realidades sócio-econômicassão completamente distintas. No primeirocontamos com a colaboração da coorde<strong>na</strong>çãogeral <strong>do</strong> Projeto Recrean<strong>do</strong> (PR), desenvolvi<strong>do</strong>em Campos <strong>do</strong>s Goytacazes – RJ, deiniciativa da Fundação Estadual <strong>do</strong> NorteFluminense – FENORTE, cujo objetivo é oresgate de cidadania de crianças com idadesvariadas <strong>na</strong> faixa de sete até quatorze anos,oriundas de comunidades instaladas em áreasinvadidas (favelas) e bairros de baixarenda. A autorização para que parte destascrianças participasse da pesquisa resultou <strong>na</strong>aplicação de noventa questionários e contoucom a atuação de uma assistente social, <strong>do</strong>isprofessores de atividades esportivas e <strong>do</strong>ismonitores, to<strong>do</strong>s da própria instituição.O segun<strong>do</strong> grupo de crianças consiste emalunos da Escola Infantil <strong>do</strong> Centro Educacio<strong>na</strong>lNossa Senhora Auxilia<strong>do</strong>ra, com idadecompreendida entre quatro e sete anos deidade, grupo este forma<strong>do</strong> por alunos deescola tradicio<strong>na</strong>lmente freqüentada pela eliteeconômica da região, com as mais altasmensalidades praticadas <strong>na</strong> cidade, oferecen<strong>do</strong>desde os primeiros perío<strong>do</strong>s, cursoscomplementares de língua estrangeira,informática, teatro-dança, ginástica olímpica,bem como todas as demais atividades esportivasconvencio<strong>na</strong>is. Trabalhamos com quatroturmas de vinte e três alunos em médiae nenhuma com número superior a vinte equatro alunos.Os formulários distribuí<strong>do</strong>s eram constituí<strong>do</strong>sde <strong>do</strong>is questionários: o primeiro,dirigi<strong>do</strong> aos pais ou responsáveis, investigavaas condições sócio-econômicas da família<strong>na</strong> primeira parte e o grau de informaçãodetida pelos pais com referência aos hábitose preferências das suas crianças enquantotelespecta<strong>do</strong>ras. Este questionário carregavaa informação de que era a pesquisa, quaisos seus objetivos, pedia colaboração e solicitavaque fosse preenchi<strong>do</strong> sem o auxíliodas crianças e, por isto mesmo, antes de sedar tratamento ao segun<strong>do</strong> questionário,quan<strong>do</strong> então, anotaria as respostas dascrianças, no caso das mesmas não estaremem condição de alfabetização que as permitisseresponder sozinhas.Novas crianças – seres multitarefasInicialmente, é de se registrar a mudançano perfil das crianças <strong>do</strong>s nossos dias, principalmenteno que concerne à capacidade dedesenvolver uma série de atividadesconcomitantemente, o que nos permite constatarde forma consciente uma situação quepoderíamos chamar de encontro com um sermultitarefa 1 já desde os primeiros anos devida. Fazer várias coisas ao mesmo tempotornou-se <strong>na</strong>turalmente uma exigência <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> adulto após os anos quarenta, acompanhan<strong>do</strong>a aceleração <strong>do</strong> fazer coisas nomun<strong>do</strong> que a disponibilização de tecnologiasmoder<strong>na</strong>s permitia, exigia. O que se passoua fazer <strong>na</strong>turalmente, responden<strong>do</strong> aosincontáveis estímulos externos, tor<strong>na</strong>ra-sepossível <strong>na</strong> medida em que as experiênciaspropostas pelas novas tecnologias impactaramo pensamento e novas formas de pensar,produzin<strong>do</strong> a possibilidade de procedimentosnovos com características tais comovelocidade crescente, não-linearidade,interatividade, multiplicidade. Segun<strong>do</strong>JAMES GLEICK:Hoje em dia é possível dirigir, comer,ouvir um livro e falar ao telefone, tu<strong>do</strong>de uma vez, se você tiver coragem...somos conhece<strong>do</strong>res multitarefas –especialistas em aglomerar, pressio<strong>na</strong>r,comprimir e sobrepor afazeresdistintos em nossos momentosfinitos 2 ...Na medida em que a televisão ganhouvividez e clareza, perdeu a autoridadesobre nosso primeiro plano... foiderrubada de seu pedestal pelaatividade tranqüila, rápida, fluida eintrinsecamente multitarefa de <strong>na</strong>vegar<strong>na</strong> Internet... a Web e a televisãocomplementam-se à perfeição... estase encaixa perfeitamente nos espaçoscria<strong>do</strong>s pelo <strong>do</strong>wnload de pági<strong>na</strong>s <strong>na</strong>web 3 .


286 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVInterpretação da opinião e percepção <strong>do</strong>spais e responsáveisA partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa aplicadajunto aos pais e responsáveis, concluímosque existe um entendimento ambíguocom relação a televisão e a influência queesta exerce sobre as crianças.Observamos que os pais estão cientes deque há um entendimento no ar, que tenta fazercrer (com sucesso, segun<strong>do</strong> constatamos) quece<strong>na</strong>s de violência <strong>na</strong> televisão, acabarãomotivan<strong>do</strong> a produção de atos violentos <strong>na</strong>sociedade. Cientes disto, mas meio desatentosao resto <strong>do</strong> cenário, acabaram por acreditarque esta seria uma equação automática: odiscurso <strong>do</strong> meio de comunicação é de violência,o telespecta<strong>do</strong>r irá se identificar comele (sic) e ato contínuo, sairá por aí pratican<strong>do</strong>ações semelhantes. Mas a impressão querestou, foi de que os pais pensam que estaé uma possibilidade nos filhos <strong>do</strong>s outros.Solicitamos a emitir opinião sobre osefeitos da TV sobre seus filhos, 48% <strong>do</strong>s paismanifestaram-se, destes uma mãe diz sentiro quanto são nocivas as suas representações<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e que sabe que medidas sãonecessárias, mas não sabe quais; outra achaque as idéias de que a força sempre venceé ruim para a criança, mas este entendimentodemonstra que ela entendeu menos <strong>do</strong> queas crianças o enre<strong>do</strong> <strong>do</strong>s desenhos, pois parouno aparente e deu-se por satisfeita; a grandemaioria entretanto não está em pânico. Aliásnão está mesmo pois os outros pais sequeremitiram opinião, ou seja, 52% deixaram embranco esta resposta.Interpretação das manifestações <strong>do</strong> públicoinfantilA primeira constatação foi resultante <strong>do</strong>fato de que as crianças alfabéticas apresentaramrespostas mais orde<strong>na</strong>das <strong>do</strong> que ascrianças já alfabetizadas. Isto foi considera<strong>do</strong>como conseqüência <strong>do</strong> fato <strong>do</strong>s pais eresponsáveis pelas primeiras, por atuarem <strong>na</strong>intermediação e preenchimento <strong>do</strong>s formulários,acabaram acrescentan<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>se detradução às respostas origi<strong>na</strong>is; por outrola<strong>do</strong>, as crianças já em condição de ler eescrever, provavelmente ficaram mais livrespara responder. Entretanto, não acreditamosque tenham ocorri<strong>do</strong> adulterações intencio<strong>na</strong>is<strong>na</strong> primeira situação, mas acreditamosque as crianças de sete e oito anos, queresponderam sozinhas, em alguns itens ofizeram utilizan<strong>do</strong> frases ouvidas de adultosque compõem seu cotidiano. Nesta possibilidadetrabalhamos com identificação daescolha de termos que não fazem parte <strong>do</strong>cotidiano de crianças destas idades e queforam utilizadas, principalmente quan<strong>do</strong> cabiadar uma opinião; observamos também quepor volta desta idade (sete/oito anos) asrespostas apresentam com maior clareza,mesmo que de forma rudimentar, a dicotomiabom x mau, certo x erra<strong>do</strong>, com o reconhecimento<strong>do</strong> que seria a expectativa da família,da professora, <strong>do</strong> amigo.Outra constatação surpreendente foi o fatode crianças de quatro, cinco e seis anos,referenciadas por condições socio-econômicasdistintas, não terem apresenta<strong>do</strong> diferençassignificativas em suas respostas e porquês.A pré-noção que utilizávamos reconhecia aexistência de características individuais, alémde sociais e ambientais, que concorressempara moldar a perso<strong>na</strong>lidade ou definircomportamentos, sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong> qualidade <strong>do</strong>srelacio<strong>na</strong>mentos humanos. Nossa pesquisanão corroborou esta tese, pelo menos não emrelação ao senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> por crianças dequatro a seis anos. Chama atenção o fato decrianças em ambientes sócio-econômicos tãodistintos terem a mesma percepção <strong>do</strong>sperso<strong>na</strong>gens, aman<strong>do</strong> e detestan<strong>do</strong> os mesmosperso<strong>na</strong>gens e pelas mesmas razões.Há um mecanismo psíquico conheci<strong>do</strong>como mecanismo de identificação que correspondeàs experiências infantis que proporcio<strong>na</strong>rãoa matéria-prima para a construção<strong>do</strong> indivíduo adulto. Os êxitos e as falhasno desenvolvimento da criança estão <strong>na</strong>origem <strong>do</strong> caráter adulto. Assim, dependen<strong>do</strong>de quais estímulos a criança recebeu,combi<strong>na</strong><strong>do</strong>s com suas condições genéticas,o resulta<strong>do</strong> será um adulto qualitativamentemais saudável ou não. Com esta premissa,atribuímos previamente à televisão um papelde destaque, uma vez que a exposição decrianças aos estímulos e à influência <strong>do</strong>smeios de comunicação, especialmente oseletrônicos, produzem modelos de adultos –pais, professores e outros heróis – com osquais a criança se identifica e que poderiam


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO287impactar seu psiquismo. Nesta equação,erramos ao atribuir peso acima <strong>do</strong> necessárioou devi<strong>do</strong> ao ambiente material e economicamenteconstituí<strong>do</strong> para desfrute das criançaspartícipes deste estu<strong>do</strong> que estivessem<strong>na</strong> faixa de quatro até seis anos.A seguir, constatamos que 43% das criançaspassam quantidades de tempo diário emcontato com a televisão, iguais ou maiores <strong>do</strong>que as quantidades de tempo diário com ospais ou professores. Isto só confirma a realidadede que pela estrutura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>moderno, a criança passa muito mais tempo<strong>na</strong> companhia de perso<strong>na</strong>gens da televisão <strong>do</strong>que com a família ou <strong>na</strong> escola; segun<strong>do</strong>inúmeros artigos, científicos ou não, milhõesde crianças, em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, substituem aausência familiar e compensam a solidão pelacompanhia de uma tela colorida, ágil, múltipla,presente, disponível. Os modelos deidentificação acabam surgin<strong>do</strong> desse conjuntode influências. Suponhamos que quanto menora criança mais influência sofreria e maissuscetível seria de encontrar um herói nefasto,violento ou mau caráter, para seguir comomodelo, consideran<strong>do</strong> os exemplos de desrespeitoàs normas ou regras, romper limitesimpostos pelo coletivo, iria parecer atraentepara crianças, numa etapa de suas vidas emque estão ainda tatean<strong>do</strong> no aprendiza<strong>do</strong> demilhares de regras adultas. Seguir normas édifícil e cansativo, principalmente quan<strong>do</strong> suaúnica ferramenta é o próprio corpo, e a formapela qual este vai orde<strong>na</strong>n<strong>do</strong> informações exigetempo para comparar experiências, classificálas,memorizá-las e aprender com elas. Observamosque 100% das crianças deste estu<strong>do</strong>escolheram perso<strong>na</strong>gens <strong>do</strong> bem.Inúmeros outros aspectos podem ainda serexplora<strong>do</strong>s, porém optamos por dirigir ecentrar nosso estu<strong>do</strong> nos objetivos previamenteestabeleci<strong>do</strong>s. Para tal, destacamos os itensque acreditamos poder apontar comocorrobora<strong>do</strong>res de nossas hipóteses. Entretanto,uma impressão tornou-se muito intensa,preocupan<strong>do</strong>-nos a ponto de merecer espaçopróprio. É o que segue.Uma impressão sbore a percepção <strong>do</strong>conceito de morte:As crianças compreendem a diferençaentre mun<strong>do</strong> real e televisão. Na perguntasobre as ce<strong>na</strong>s que mais gostam, usaramdiferentes maneiras para responder que eramaquelas em que o bem vencia o mal, <strong>na</strong>s queocorriam lutas bem perigosas, ou onde haviamagia. Totalizan<strong>do</strong> 71% das crianças, emesmo sobre as demais opções não apontam<strong>na</strong>da que contradiga seus pais quan<strong>do</strong> estesafirmam que não há traço de agressividade,diferente <strong>do</strong> normal em seus filhos. Emseguida, perguntamos o que deveria acontecercom o perso<strong>na</strong>gem mau; 52% das criançasresponderam em uma única palavra:morrer; 7% declararam que deveria semachucar muito, muito mesmo; e outros 7%acham que uma boa punição seria sair <strong>do</strong>desenho, sair da televisão.Na questão seguinte, 50% das criançasdizem que perso<strong>na</strong>gem não pode morrer deverdade, só de brincadeira, que vida real édiferente de desenho, que é tu<strong>do</strong> mentira eno outro desenho ele volta, só pode morrerde mentirinha, é só uma filmagem e outrasrespostas <strong>na</strong> mesmo linha. Isto nos pareceubem adequa<strong>do</strong> até nos preocuparmos com afamiliarização <strong>do</strong> termo morte.Acreditamos <strong>na</strong>s hipóteses elaboradas noinício deste estu<strong>do</strong>, e temos ciência de quea influência <strong>do</strong> desenho anima<strong>do</strong>, exercidaatravés de perso<strong>na</strong>gens heróis, que superamseus temores, enfrentam adversidades esuperam problemas se é positiva no apontamentode condutas socialmente aceitáveise nesta perspectiva, moralmente corretas, porum la<strong>do</strong>, também carregam em si o contraponto:as crianças trabalham com a idéia demorte como algo muito singelo,desmistifica<strong>do</strong>, e sen<strong>do</strong> crianças muito peque<strong>na</strong>sainda, acompanhan<strong>do</strong> diariamenteepisódios em que a mágica, a tecnologia, osseres mitológicos ou os cientistas podemdesfazer a morte, isto é inevitável. Para elas,os perso<strong>na</strong>gens não morrem: digitransformam,voltam para a pocket-bola; são regenera<strong>do</strong>sfisicamente por um Dragão Sagra<strong>do</strong>; sãosalvos por cartas mágicas, são reconstituí<strong>do</strong>spor cientistas. A morte no contexto destedesenhos anima<strong>do</strong>s não é permanente.Nos desenhos mais antigos, a morte eraum tabu, irreversível quan<strong>do</strong> acontecia,exemplo <strong>do</strong> máximo de punição. Em algumasproduções mais recentes, a morte é muitodramatizada e ocorre em conseqüência deviolência física, de tal intensidade em ce<strong>na</strong>s


288 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVde crueldade e machismo que a morte tor<strong>na</strong>segenerosa. Os desenhos anima<strong>do</strong>s alvo desteestu<strong>do</strong>, no entanto, criaram uma terceira via,a impunidade. Por enquanto pensamos queisto pode vir a se tor<strong>na</strong>r um problema umavez que nos desenhos há uma concepção dejustiça <strong>do</strong> tipo olho por olho e não existepunição para o delito. Até os oito anos,observamos que a atenção das crianças émuito pragmática. Se o assunto <strong>do</strong> episódionão envolve, ela vai fazer outra coisa, mesmoque deixe – e via de regra é o que acontece–– a televisão ligada.ConclusãoAquilo <strong>do</strong> qual as crianças precisamnão é de resig<strong>na</strong>ção, mas de paixão.Elas sonham com um mun<strong>do</strong> onde osatores possam falar em nome próprioescapan<strong>do</strong> da obrigação de pareceremconformes. 4Iniciamos este estu<strong>do</strong> com a indagaçãosobre a possível liberdade da criança telespecta<strong>do</strong>ra.Após o levantamento de camporealiza<strong>do</strong>, acreditamos que sim. Entre o inícioe o agora, passamos a concordar comBENJAMIN quan<strong>do</strong> nos diz que demoroumuito tempo até que se desse conta de queas crianças não são homens ou mulheres emdimensões reduzidas. As crianças criam parasi, brincan<strong>do</strong>, o pequeno mun<strong>do</strong> próprio.Apesar de freqüentemente setores acadêmicosou da imprensa, atribuin<strong>do</strong> à televisãouma ascendência ditatorial sobre as crianças,acabarem por vilanizá-la, não encontramosevidências irrefutáveis sobre sua nocividadesobre crianças muito peque<strong>na</strong>s. É verdade queas análises rotineiramente trabalham comhipóteses de como as horas de assistência àTV tor<strong>na</strong>m as crianças vulneráveis ao consumo,aos conteú<strong>do</strong>s violentos, a uma formação– emocio<strong>na</strong>l e sexual – mais precoce,ou de como a televisão através <strong>do</strong> adestramentoda criança está garantin<strong>do</strong> a manutenção<strong>do</strong> sistema político e econômicohegemônico.Durante nossa caminhada neste estu<strong>do</strong>,encontramos autores que consideram que sóassistir à televisão já favorece <strong>na</strong> criança umaatividade mental passiva, aliás, já ten<strong>do</strong>pensa<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, permitimo-nosa<strong>na</strong>lisar os (pré-) conceitos <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>supra. Temos em primeiro lugar uma concepçãode que a recepção só se tor<strong>na</strong> ativase for a<strong>na</strong>lítica, no senti<strong>do</strong> de uma interpretaçãoque decomponha da<strong>do</strong>s, relacionevalores; de fato, considera que a criança temlimitadas capacidades de análise e raciocínionuma formação ainda imatura e conclui quea televisão é abusiva <strong>na</strong>quilo em que a criançaimpotente é mais vulnerável.Contra este entendimento, acreditamosque as crianças estão mental e fisicamenteativas em relação à televisão. Discutem entresi <strong>na</strong> escola sobre os episódios assisti<strong>do</strong>s,dançam os temas de cada série, às vezessozinhas, em frente ao aparelho, registramsituações e são capazes de usá-las em a<strong>na</strong>logia.Na relação entre televisão e criançasbem peque<strong>na</strong>s podemos aplicar o conceitode ambiência conforme nos ensinou MUNIZSODRÉ, de forma irretocável. É isto. E assimexiste esforço mental investi<strong>do</strong> pelas crianças.Inclusive OROZCO identifica que esteesforço se dá em três níveis, atenção -percepção, assimilação - compreensão eapropriação - significação, e esta não é umaorde<strong>na</strong>ção seqüencial:O fato de que nenhum destes esforçoscognitivos necessariamente tenha queseguir uma seqüência linear, implicaque sua articulação não é por lógica,senão por associação, e por definiçãoas associações são produzidas,supõem uma aprendizagem e portantoimplicam uma atividade mentalainda que pareçam automáticas. 5Estamos convenci<strong>do</strong>s que o processoreceptivo não se esgota no momento em quese assiste à televisão. Transborda-se em outrassituações, tais como quan<strong>do</strong> as criançasconversam entre si <strong>na</strong> escola sobre seusperso<strong>na</strong>gens preferi<strong>do</strong>s; quan<strong>do</strong> argumentamcom os pais pela busca <strong>do</strong> conhecimentonecessário para a compra de mais uma coisaqualquer que traga a marca <strong>do</strong> herói preferi<strong>do</strong>.Concordamos com a primeira afirmaçãoe apesar de não termos investiga<strong>do</strong> o aspectoda publicidade e como ela é recebida pelascrianças, as demais colocações nos parecemsustentáveis. Hoje supomos exagerada e


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO289radical qualquer tese reducionista que coloquea TV como alie<strong>na</strong><strong>do</strong>ra, idiotiza<strong>do</strong>ra decriança, fomenta<strong>do</strong>ra de dependência,deforma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> desenvolvimento mental eemocio<strong>na</strong>l. Aliás, as crianças identificamprogramas i<strong>na</strong>dequa<strong>do</strong>s por idiotia ou outrarazão qualquer, mas daí a dizer que osconteú<strong>do</strong>s televisivos (indistintamente) sãoidiotizantes é atribuir-lhes uma competênciaque verdadeiramente não possuem.Em favor deste mesmo raciocínio, constatamosque um programa com ce<strong>na</strong>s deviolência, assisti<strong>do</strong> sistematicamente, não faráinefavelmente da criança que o acompanha,uma criança violenta. Esta é uma afirmaçãoeivada de controvérsias no campo científico.Porém nosso levantamento de campo nãodeixa dúvidas sobre a posição e opinião <strong>do</strong>spais: seus filhos não mudam de comportamento,tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se mais agressivos, porquevêem desenhos anima<strong>do</strong>s japoneses e suasincríveis lutas de artes marciais. Para os paisdeste estu<strong>do</strong>, a violência não provocaagressividade, nem perda de sono, nem me<strong>do</strong>ou ansiedade. A criança sabe que é faz deconta, segun<strong>do</strong> eles.PACHECO, refletin<strong>do</strong> sobre programaçãoinfantil <strong>na</strong> televisão e cultura, destaca que:É i<strong>na</strong>ceitável acreditar que “...” acriança seja passiva e acrítica. Éi<strong>na</strong>creditável pensar que ela confundaficção com realidade. Aliás, eucreio que uma não existe sem a outra.Não há realidade que não seja mescladade ficção e esta baseia-se no real.A criança “...” transita de uma paraa outra e se diverte. Ela sabe que todahistória tem um fi<strong>na</strong>l feliz. 6Acreditamos que a relação das criançascom a televisão constitui-se um espaço parao desabrochar <strong>do</strong> lúdico, que por sua vezservirá bem para as interações, descobertas,investigações que a televisão como maiorfonte moder<strong>na</strong> de informação permite maisdemocraticamente alcançar, e servirá também,através da brincadeira que é para a criança,que esta elabore angústias de perda, de morte,de solidão quan<strong>do</strong> ingressa no mun<strong>do</strong> dafantasia. Muito além de confundir ficção erealidade, auxilia a criança no desenvolvimentointelectual e emocio<strong>na</strong>l.Se aceitarmos outra hipótese, inevitavelmenteestaremos opon<strong>do</strong> uma separação entreo desenvolvimento da inteligência lógicoconsensualao da imagi<strong>na</strong>ção, estaremossubestiman<strong>do</strong> sua capacidade de aprender aconstruir, gradualmente, uma ficção saben<strong>do</strong>que é uma ficção, de entrar <strong>na</strong> ficção de outroconsciente <strong>do</strong> que estaria fazen<strong>do</strong>. Acreditamosque as crianças precisam desta elaboração,não só para apreciar formas de manifestaçõesartísticas <strong>do</strong> espírito humano, mastambém para viabilizar alter<strong>na</strong>tivas científicase tecnológicas. Como Einstein dizia que tu<strong>do</strong>que existe é fruto de mera imagi<strong>na</strong>ção, trabalhamoscom a convicção de que no fomentode imagi<strong>na</strong>ções poderosas, a televisão ocupaum papel significativo. Esta certeza decorre<strong>do</strong> entendimento de que ela [a televisão]participa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> infantil através de jogose brincadeiras, vias pelas quais vai forman<strong>do</strong>o conhecimento <strong>do</strong> meio, de si e <strong>do</strong> outro.Não aceitamos mais (como ocorria <strong>na</strong> etapade projeto de dissertação) a hipótese de queo mal está <strong>na</strong> televisão, acreditamos ter evoluí<strong>do</strong>para a certeza de que o mal possívelestá no uso que dela se faz. Anteriormente,citamos BENJAMIN e sua idéia sobre o papelda brincadeira <strong>na</strong> formação de hábitos e comportamentos<strong>na</strong> vida de cada um de nós. Fortalecemosa crença nesta interpretação ao longodesse nosso estu<strong>do</strong>. Encerramos por agora,com VASCONCELOS:“...” O brincar é uma das maisrequintadas formas de ato poético.Brincan<strong>do</strong>, eu me afirmo, eu construoe diviso o mun<strong>do</strong> com um saber quesó o ato de criação permite. Brincan<strong>do</strong>eu exercito minha imagi<strong>na</strong>ção emanipulo os objetos, mu<strong>do</strong> suas formas,seus significa<strong>do</strong>s. A realidade éreinterpretada, adquirin<strong>do</strong>, a cadabrincadeira, novos valores e senti<strong>do</strong>s. 7A Autora é Socióloga e Mestre emComunicação Social pela UFRJ/BR.Resenha da Tese de Mestra<strong>do</strong> apresentadajunto à ECO/UFRJ/BR, Orientada peloDr. Muniz Sodré de Araújo Cabral- Agostode 2002. O texto completo está disponívelno sitio http://geocities.yahoo.com.br/aboy<strong>na</strong>rd e a autora poderá ser contatadadiretamente pelo endereço eletrônicoalsboy<strong>na</strong>rd@censanet.com.br


290 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBenjamin, Walter. Brinque<strong>do</strong> e brincadeira:observações sobre uma obra monumental.In: ___________ Magia e Técnica,arte e política. Ged. São Paulo: Brasiliense,1993, p. 249-253.Gleick, James. Acelera<strong>do</strong>: a velocidadeda vida moder<strong>na</strong>: o desafio de lidarcom o tempo. Rio de Janeiro: Campus,2000.Orozco, Guillermo. El niño comotelevidente no <strong>na</strong>ce, se hace. In : CHARLES,Mercedes & OROZCO GOMES, Guillermo.Educación para la recepción: hacia u<strong>na</strong>lectura crítica de los medios. México, Trillas,1990.Vasconcelos, Paulo Alexandre C. O Jogo,O Brincar : criação. In : PACHECO, ElzaDias (Org.). Comunicação, educação e arte<strong>na</strong> cultura infanto-juvenil. SP, Loyola, 1991._______________________________1James Gleick, Acelera<strong>do</strong>. 2000, p. 134-138.2Idem.3Ibidem.4Maud Mannoni, Carta aberta a to<strong>do</strong>s.L’Humanité, 12/06/1996.5Guillermo Orozco, El nino como televidenteno <strong>na</strong>ce, se hace.,1990, p. 85.6Elza Dias Pacheco. A linguagem televisivae o imaginário infantil., 1995, p. 95.7Paulo Alexandre C. Vasconcelos, O Jogo,O brincar. 1991, p. 72.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO291A Investigação e o Desenvolvimento da Comunicação Audiovisual <strong>na</strong>Universidade: a Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa como estu<strong>do</strong> de casoAníbal Oliveira 1I. IntroduçãoLa Educación en Medios la entendemoscomo algo más que u<strong>na</strong>propuesta de conteni<strong>do</strong>s que sesumerge, en la dinámica del procesoinvestigativo, en u<strong>na</strong> filosofia alter<strong>na</strong>tivade escuela en la quebásicamente se forme a los alumnospara que se «apropien» integralmentede la comunicación. Más que enconteni<strong>do</strong>s paralelos, la Educación enlos Medios ha articularse alrede<strong>do</strong>r deconceptos fundamentales, esto es,instrumentos de análisis que permita<strong>na</strong> los alumnos comprender los medios,ser capaces de enjuiciarlos y degenerar nuevos mensajes. (AguadedGómez, 2001: 8)Esta constatação implica, necessariamente,tirar parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s instrumentos da tecnologiacontemporânea, em especial daqueles quetratam a primeira matéria-prima da civilizaçãoactual, a informação. Dada a responsabilidadeda escola <strong>na</strong> preparação das novasgerações para a ple<strong>na</strong> inserção <strong>na</strong> vida activa,estas tecnologias têm de ter um papel relevante<strong>na</strong> vida escolar, mas elas são igualmenteum importante factor de transformaçãoda escola, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o surgimentode novos objectivos, novas situações deaprendizagem, novas actividades, novastemáticas e novas competências. Impõema reorganização <strong>do</strong>s espaços e a alteração dasrelações professor / aluno.Neste senti<strong>do</strong> compreende-se que(Aguaded Gómez, 2001: 14) afirme:O «fenómeno comunicacio<strong>na</strong>l» es, sinduda, la nota más trascendental ysignificativa que caracteriza lasociedad del mun<strong>do</strong> contemporáneo.Aunque en to<strong>do</strong>s los perío<strong>do</strong>s de lahistoria el hombre se ha servi<strong>do</strong> deinstrumentos para comunicarse, lamagnificación y universalización delos medios y recursos del mun<strong>do</strong>contemporáneo nos hace a lasgeneraciones presentes más singulares.As Novas Tecnologias colocam por issoa Escola perante um tremen<strong>do</strong> desafio. Defacto, esta funcio<strong>na</strong> ainda essencialmentesegun<strong>do</strong> os padrões de uma sociedade industrializada,valorizan<strong>do</strong> saberes, capacidadese atitudes que já não são os mais importantespara a sociedade de hoje.A propósito da dimensão comunicacio<strong>na</strong>l(Roda e Beltrán, 1988:26 e ss.) afirmam que:a evolução da Humanidade pareceapontar para um maior desenvolvimentodas capacidades comunicativase para uma regulação da vida socialcada vez mais mediatizada, menosvinculada com a actividade primária.Por este motivo, (Aguaded Gómez, 2001:15) citan<strong>do</strong> (Masuda, 1984) diz que:a já chamada «terceira revoluçãoindustrial» não é mais que o desenvolvimentode um também denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>«sector quaternário», próprio dasociedade já não post-industrial, massim «pós-post-industrial», vinculadacom a produção, uso e distribuiçãoda informação, dada a importânciacada vez maior destas indústrias etecnologias.A partir desta constatação (Esteves, 1988:159-168) defende uma ideia de:que a restrição da problemáticacomunicacio<strong>na</strong>l a determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s limitesimpostos <strong>na</strong>s correntes científicas,


292 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVé um si<strong>na</strong>l comprovativo da restriçãoa<strong>na</strong>lítica ocorrida no campo das ciênciassociais e huma<strong>na</strong>s e, igualmente,<strong>do</strong> seu contributo para uma amnéseprofunda da dinâmica global da vidasocial.Ou então que:As tecnologias, operacio<strong>na</strong>lizadasenquanto media, estabelecem-se aonível <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e incidem no mo<strong>do</strong>de percepção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>…, só a umsegun<strong>do</strong> nível a sua operatividade temincidências em termos de ideologiase conceitos…, daí que McLuhanestabeleça um corte profun<strong>do</strong> entre oreal valor <strong>do</strong>s media e a sua utilização.A máxima «medium is message» provenienteda antropologia e aplicada aos meiosde comunicação social aponta para umhiperdeterminismo tecnológico a to<strong>do</strong>s osníveis <strong>do</strong> desenvolvimento social. Defendida<strong>na</strong> obra «Galáxia de Gutenberg», esta tesedefine que a tecnologia perante hábitos depercepção ajuda igualmente a definir um novomeio social. O medium suplanta-se a simesmo enquanto estrutura tecnológica, <strong>na</strong>medida em que elas implicam um reajustamentoda estrutura social.Assim, os media são parte da estruturasocial e seus cria<strong>do</strong>res. Este processoevolutivo tor<strong>na</strong>-se um ciclo infinito de«inflamações»e«neutralizações», propostaspelas inovações tecnológicas. Os processosde aceleração de ritmo situa<strong>do</strong>s ao nível <strong>do</strong>ssistemas sociais, decidem face á sua funçãosensorial, a incorporação de um medium outecnologia novas, definin<strong>do</strong>, também, os seuslimites e repercussões.Existem diversos autores que se debruçamacerca desta problemática da integração<strong>do</strong>s meios de comunicação no curriculumescolar, ou mais especificadamente, no âmbitoda educação <strong>audiovisual</strong>. Vejamos alguns quese destacaram pelas suas posições ou pelosseus desafios.1. (Masterman, 1993: 16) defende a ideiade que existe uma contradição entre a relevânciasocial da informação e o seu fracouso em sala de aula.2. (Morán, 1993: 45) defende a ideia deque os meios significam deslumbramento,novidade, fascínio, ócio, interacção.3. (Shepherd, 1993: 145) defende a ideiade que se tor<strong>na</strong> imperioso a participação econsciencialização <strong>do</strong>s alunos quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>scom a comunicação social.4. (Area, 1995: 7) defende a ideia de queexiste um eleva<strong>do</strong> índice no que respeita aoconsumo da comunicação, existin<strong>do</strong> por outrola<strong>do</strong> uma homogeneização de padrões culturaise uma mediação extrema provoca<strong>do</strong>pelas tecnologias.5. (Cabero, 1997: 40) defende a ideia deque os meios de comunicação são instrumentosmodela<strong>do</strong>res da realidade social ereinventam-<strong>na</strong>, construin<strong>do</strong> novas realidades.6. (Gonnet, 1995: 35) defende a ideia deque os meios de comunicação desempenhampapel fulcral <strong>na</strong> composição e interpretação<strong>do</strong> quotidiano e <strong>na</strong> participação cívica <strong>do</strong>scidadãos.Do conjunto destas afirmações sobressaemalguns tipos classificatórios da problemáticaa<strong>na</strong>lítica da educação <strong>audiovisual</strong>, que podem,eventualmente, ser motivo de uma síntesea partir <strong>do</strong> seguinte pensamento:a importância de educar os alunos paraque façam frente às exigências <strong>do</strong>futuro, já que desgraçadamente, asinstituições escolares tem ignora<strong>do</strong>com excessiva frequência a educação<strong>do</strong>s factos presentes, as mudançasculturais, políticas e de toda a ordem<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo, de formaque muito poucos alunos, receberam,ao menos, umas orientações rudimentaressobre a maneira como os meiosconstróiem os seus significa<strong>do</strong>s.(Masterman, 1993: 29)Ao termi<strong>na</strong>r esta introdução cabe-noslembrar um corrosivo desafio lança<strong>do</strong> porMasterman e cita<strong>do</strong> por Aguaded Gómez apropósito da educação <strong>audiovisual</strong>:uma coisa é estar convenci<strong>do</strong> daimportância e da necessidade daeducação <strong>audiovisual</strong>, e outra muitodiferente, desenvolver práticas deeducação <strong>audiovisual</strong> satisfatórias.(Masterman, 1993 : 32)


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO293II. DesenvolvimentoLa Educación en Medios deComunicación, en el marco de u<strong>na</strong>enseñanza de calidad, tiene comofunción básica la formación de laconciencia crítica y el desarrollo deactitudes activas y creativas en losalumnos para conocer y comprenderlos envolventes procesos decomunicación que vive la sociedad dehoy. (Aguaded, 2001: 25)1. Conceito - A problemática conceptualda Educação nos Meios de Comunicação, noque à reflexão <strong>audiovisual</strong> diz respeito, poderse-ápautar por diversas abordagens. Nestecontexto, compete-nos realçar as seguintes:1. (Tyner, 1993: 171) defende a ideia deque <strong>na</strong> actualidade se verifica um fenómenode crescente «a<strong>na</strong>lfabetismo <strong>audiovisual</strong>».2. (Aguaded, 1996: 8; Pérez Tornero,1994: 28) defendem a ideia de que o consumoindiscrimi<strong>na</strong><strong>do</strong>, sem medida, <strong>do</strong>s meiosde comunicação produzem uma incapacidadede entendimento das mensagensaudiovisuais.Neste senti<strong>do</strong>, emergem determi<strong>na</strong><strong>do</strong>sautores e organizações que se constituemcomo referência no panorama educacio<strong>na</strong>l<strong>audiovisual</strong>, como sejam, o British FilmInstitute, Bazalgette, Duncan, Unesco, Pinto,Kumar, Sancho, Margalef, Matilla, entreoutros. De seguida propomo-nos destacar osprincipais contributos conceptuais, <strong>do</strong>s atráscita<strong>do</strong>s, para o edifício da investigação edesenvolvimento da comunicação<strong>audiovisual</strong>, em ambiente <strong>educativo</strong>.(Bazalgette, 1993: 128) a propósito deuma análise acerca da educação <strong>audiovisual</strong>promovida pelo British Film Institute afirma:A educação <strong>audiovisual</strong> tem porobjectivo desenvolver a compreensãocrítica <strong>do</strong>s meios. Costuma fazerreferência aos modernos meios decomunicação de massas, tais como atelevisão, o cinema e a rádio (...) Tentaaumentar o conhecimento que ascrianças tem <strong>do</strong>s meios por intermédiode trabalhos críticos e práticos.Trata de obter consumi<strong>do</strong>res maiscapazes que possam compreender eapreciar o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s meios e osprocessos implica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> sua produçãoe recepção. Também é sua intençãoobter utiliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s meios,que sejam mais activos e críticos, queexijam, e quem sabe possam contribuir.(Duncan, 1989: 6-7) a propósito <strong>do</strong> Guiade Recursos de Alfabetização Audiovisual,define o ensino <strong>do</strong>s meios como:O processo de compreensão e uso <strong>do</strong>smeios de comunicação compreende,igualmente, a ajuda aos alunos paraque desenvolvam um conhecimento ecompreensão crítica da <strong>na</strong>tureza <strong>do</strong>smeios, das técnicas que utilizam e aincidência das referidas técnicas. Querdizer, a educação pretende fomentarpara que os alunos compreendamcomo funcio<strong>na</strong>m os meios de comunicação,como eles produzem significa<strong>do</strong>s,como eles se organizam ecomo eles constróiem a realidade etambém para que saibam fazer uso detu<strong>do</strong> aquilo. A alfabetização<strong>audiovisual</strong> pretende igualmente fomentarnos alunos a capacidade decriar produtos para os meios decomunicação.Poder-se-ia pensar que esta problemáticapudesse ser recente. Nada mais falso. Desdeo longínquo ano de 1979, já a UNESCO sepreocupava em estabelecer a ideia de educaçãoentendida à luz da comunicação.(UNESCO, 1984: 8) Nesta organizaçãodefende-se a ideia de que a educação à luzda comunicação consiste em:Todas as formas de estudar, aprendere ensi<strong>na</strong>r a to<strong>do</strong>s os níveis (. . .)e em qualquer circunstância, a história,a criatividade, a utilização eeducação <strong>do</strong>s Medios de Comunicaçãocomo actividades práticas e técnicas,bem assim como o lugar queocupam os meios de comunicação <strong>na</strong>sociedade, a sua repercussão social,as consequências da comunicaçãomediatizada, a participação, a modifi-


294 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcação que produzem no mo<strong>do</strong> deentender, o papel da função criativae o acesso aos meios de comunicação.Em Portugal, também se produziu matériarelativa à problemática da Educaçãoperante os Meios de Comunicação. A responsabilidadeadministrativa por esta áreaeducativa encontrava-se, <strong>na</strong> alçada <strong>do</strong> Institutode Inovação Educativa, no seio daSecretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação, orgãoresponsável pela política educacio<strong>na</strong>l nocontexto <strong>do</strong> Ministério da Educação à data.Neste contexto, foi produzi<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumentointitula<strong>do</strong> «Educar para a Comunicação»,abrangen<strong>do</strong> o universo <strong>do</strong> ensinosecundário. A esse propósito afirmou-se:(Pinto, 1988: 27-28) define que o termoEducação em Meios de Comunicação é ti<strong>do</strong>numa acepção não reduzível, quer face aouso <strong>do</strong>s meios ti<strong>do</strong>s como tecnologias aoserviço <strong>do</strong> processo de ensino-aprendizagem,quer face à ideia de formação específicaprofissio<strong>na</strong>l, isto no campo da comunicaçãosocial.Assim sen<strong>do</strong>, para o organismo acimacita<strong>do</strong> (IIE) a Educação para os Meios deComunicação significa:Uma acção pedagógico-didáctica,adequadamente organizada, de mo<strong>do</strong>a promover uma atitude crítica faceàs mensagens provenientes <strong>do</strong>s meios,uma compreensão da linguagem<strong>audiovisual</strong>, da estrutura e função queos meios representam e, fi<strong>na</strong>lmente,um incentivo às capacidades e atitudesde mo<strong>do</strong> a que os alunos envolvi<strong>do</strong>sno processo possam assumir umpapel mais activo <strong>na</strong> comunicação esejam mais competentes <strong>na</strong> utilizaçãodestas linguagens e das suas possibilidadestécnicas.A propósito da formação das pessoasten<strong>do</strong> como pano de fun<strong>do</strong> a sua habilitação<strong>na</strong> descodificação das novas linguagensaudiovisuais, bem assim, como da sua capacidadede a<strong>na</strong>lisar criticamente as mensagense, quiçá, utilizá-las a partir de uma basecriativa, emergem outros autores atrás cita<strong>do</strong>sque importa ouvir.(Kumar, 1992: 167) defende a ideia deque:a Educação para os Meios é umaprática e um processo <strong>educativo</strong>,desti<strong>na</strong><strong>do</strong> a permitir aos membros deuma colectividade, participar de mo<strong>do</strong>criativo e crítico <strong>na</strong> utilização <strong>do</strong>smeios tecnológicos e tradicio<strong>na</strong>is, coma ideia de desenvolver e libertar ossujeitos e democratizar a comunicação.De mo<strong>do</strong> a concluir esta passagem pelaanálise conceptual, deve-se ressalvar trêsposições que delimitam, em termos de campode investigação, o universo da Educaçãopara os Meios. Falamos concretamente deSancho, Margalef e Matilla. Per<strong>do</strong>em-nos seoutros ficaram por referir mas o espaço destetexto assim o exige.(Sancho, 1995: 53) defende a ideia de que:a palavra «meios» (. . .) é excessivamenteampla quer a nível gerale inclusivé ao nível <strong>do</strong>cente, recolhen<strong>do</strong>outros recursos didácticos longe dacomunicação social.(Margalef, 1994: 15-16) defende a ideiade que:a desig<strong>na</strong>ção que nos últimos anos setem vin<strong>do</strong> a utilizar para identificaresta inovação didáctica de integração<strong>do</strong>s meios no curriculum escolar temsi<strong>do</strong> a empregue pelo Ministério daEducação de Espanha, através <strong>do</strong>sseus materiais curriculares que opta,(. . .), pelo termo «Educação parao uso <strong>do</strong>s Meios de Comunicação»(. . .).(Matilla, 1993 : 64) defende a ideia de que:não se pode entender o conceito deEducação em Meios de Comunicação«sem sem que se tenha fala<strong>do</strong> anteriormentede Alfabetização Audiovisual;mas, sem dúvida, a Educação emmatéria de Comunicação (sic) transcendeo conceito de alfabetização e relacio<strong>na</strong>-sedirectamente com uma con-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO295cepção global <strong>do</strong> fenómeno <strong>educativo</strong><strong>na</strong> sua dupla interacção com os meios,como objecto de estu<strong>do</strong> no interior daescola e como instrumento ao serviçode um modelo alter<strong>na</strong>tivo de comunicaçãoeducativa».Las estrategias más adecuadas paratrabajar con los medios son: «elpensamiento crítico, los modelosindaga<strong>do</strong>res, los enfoques de estudiosculturales, la educación de los valores,las estrategias interdiscipli<strong>na</strong>rias,las experiencias creativas, la semióticay la pedagogía democrática centradaen el alumno». (Aguaded Gómez,2001: 57) citan<strong>do</strong> (Duncan, 1989)2. Marco Teórico - Qualquer pretensãosistematiza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> universo da Educação emMeios de Comunicação seria demasiadamenteextensa e profunda para caber nestepequeno texto. Apesar disso, existe umapossibilidade restringin<strong>do</strong> a quantidade deautores solicita<strong>do</strong>s a ape<strong>na</strong>s um : Masterman,ten<strong>do</strong> como ponto de partida uma obraemblemática « L‘Education aux Médias dansl‘Europe des années 90 ».(Masterman, 1994 :55 e ss. ;1994 )defende a ideia de que existem princípiosorienta<strong>do</strong>res da Educação para os Meios deComunicação, os quais se constituem enquantoelementos basilares, a saber:2.1. O princípio fundamental no qualse centra a Educação para os Meiosde Comunicação é o da «representação».Segun<strong>do</strong> ele e passamos a citar(Aguaded Gómez, 2001: 58)Para este autor, é fundamental considerarque os «meios não refletema realidade, representam-<strong>na</strong>, são sistemasde símbolos ou signos»2.2. O objectivo primordial da Educaçãopara os Meios de Comunicaçãoé «des<strong>na</strong>turalizar» os meios, «responder»perante o carácter «<strong>na</strong>tural»<strong>do</strong>qual se reveste, a<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> a produção,as suas diferentes técnicas, o seuimpacto ideológico e a maneira pelaqual o público «lê» o conteú<strong>do</strong>mediático e da qual se apropria.2.3. A Educação para os Meios deComunicação é antes de mais umprocesso investigatório sobreposta auma proposta de conteú<strong>do</strong>s.2.4. A educação para os Meios deComunicação articula-se à volta deconceitos fundamentais que são instrumentosde análise mais <strong>do</strong> queconteú<strong>do</strong>s paralelos. (. . .) As novastendências europeias (. . .) chegarama um relativo consenso para estabelecero marco teórico que enquadrea Educação para os Meios de Comunicaçãoem re<strong>do</strong>r de uma série deconceitos, tais como: «denotação econotação, género, selecção, comunicaçãonão verbal, linguagemmediática, ficção e realismo, público,instituição, construção, mediação,representação, código /codificação /descodificação, segmentação <strong>do</strong> público,estrutura <strong>do</strong> relato, fonte, ideologia,apresentação, retórica, discurso,subjectividade. (. . .)2.5. A Educação para os Meios deComunicação é um processo de longoprazo, que tem de iniciar-seinclusivé antes da escolaridade, quan<strong>do</strong>se começa o consumo de produtosmediáticos e continuar durante todaa vida.2.6. A Educação para os Meios deComunicação tem de desenvolver porsua vez o senti<strong>do</strong> crítico e a autonomiacrítica. (. . .) A importância destareflexão tem consequências fundamentaissobre as orientações <strong>do</strong>sprogramas, sobre as suas meto<strong>do</strong>logiase critérios de avaliação (. . .).2.7. A Educação para os Meios deComunicação tem de utilizar critériosde avaliação próprios, basea<strong>do</strong>s <strong>na</strong>capacidade <strong>do</strong>s alunos para aplicar oque vierem a «descobrir» <strong>do</strong>s meiosem novas situações (. . .).2.8. A Educação para os Meios deComunicação é «oportunista» e fundamenta-se<strong>na</strong> actualidade, uma vezque se baseia <strong>na</strong>s informações <strong>do</strong>smeios de comunicação (. . .).


296 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV3. O Caso Português - Em Portugalfalarmos em «Educação para os Media»,expressão pela qual é reconhecida no âmbitoacadémico e da comunicação social, é abordaruma das áreas com maior desempenhonos últimos anos, se nos atendermos aosaspectos relativos à política de inovaçãoeducativa.Se bem que falar em Educação para osMedia englobe as mais diversas experiênciasencetadas no campo da imprensa, rádio etelevisão, e nos mais dispares locais deinvestigação, como sejam: os centros deEducação Primária e Secundária, encontrose jor<strong>na</strong>das. Os mais destaca<strong>do</strong>s foram certamente«A Educação e os Meios de ComunicaçãoSocial» sob a tutela <strong>do</strong> ConselhoNacio<strong>na</strong>l de Educação, «A Escola e osMedia» da responsabilidade <strong>do</strong> Instituto deInovação Educacio<strong>na</strong>l, ou outros eventospatroci<strong>na</strong><strong>do</strong>s por entidades privadas ou públicas,cooperativas ou associações.(Pinto, 1988: 53 e ss.) dá-nos a conhecero texto fundamental que serviu de marcoteórico e de análise da situação inicial daeducação portuguesa, ou seja, «Educar paraa Comunicação», texto esse que radicava <strong>na</strong>legislação que regulava o sistema <strong>educativo</strong>português, isto é, a «Lei de Bases <strong>do</strong> SistemaEducativo»(Lei 46/86).O texto em causa concerne àconceptualização da Educação para os Media,oferecen<strong>do</strong>-nos um estu<strong>do</strong> da existência dacomunicação nos planos curriculares,centran<strong>do</strong>-se, fundamentalmente, sobre o seuuso <strong>na</strong> formação de <strong>do</strong>centes, <strong>na</strong> investigaçãocientífica e <strong>na</strong> procura <strong>do</strong>s recursosadequa<strong>do</strong>s.O principal organismo público patroci<strong>na</strong><strong>do</strong>r<strong>do</strong> incremento da pesquisa, investigaçãoe desenvolvimento das temáticas afectas àinovação educativa e, obviamente, a tu<strong>do</strong> quese relacio<strong>na</strong>sse com os Media e seus usos<strong>na</strong> Educação, era o Instituto de InovaçãoEducacio<strong>na</strong>l. Neste âmbito, o IIE empreendeudiversos eventos decisivos perante aqueleuniverso: «A Escola e os Media», «Sema<strong>na</strong><strong>do</strong>s Media», «Dia da Imprensa», ouos «Dias da Imprensa <strong>na</strong> Escola».(Pinto, 1988: 45) cita<strong>do</strong> por (AguadedGómez,2001: 33 e ss.) apresenta uma resenhaelucidativa acerca das principais fi<strong>na</strong>lidades,que se pretendem atingir pelo Ministérioda Educação de Portugal, no que se refereà consecução da Educação para os Media:3.1. Conseguir que os alunos <strong>na</strong> suavida quotidia<strong>na</strong> desenvolvam umaatitude e um comportamento equilibra<strong>do</strong>smediante a análise crítica <strong>do</strong>smeios de comunicação.3.2. Desenvolver, através da reflexãoacerca <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s processos<strong>do</strong>s meios de comunicação, umaperspectiva de educação moral ecívica.3.3. Identificar e compreender asprincipais funções e propósitos <strong>do</strong>smeios de comunicação, especialmenteo entretenimento, a informação ea formação.3.4. Ajudar os educan<strong>do</strong>s a conhecero funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>s meios de comunicação,a maneira como se constituemenquanto indústrias culturais,os interesses e os poderes associa<strong>do</strong>se o seu papel <strong>na</strong> sociedade.3.5. Educar para o pluralismo e paraa tolerância, através <strong>do</strong> contacto coma diversidade cultural, de expressãoe formas de vida (. . .)3.6. Compreender o desenvolvimentoe evolução das sociedades contemporâneas,face às técnicas de comunicação.3.7. Desenvolver nos educan<strong>do</strong>s instrumentosde observação, análise einterpretação das mensagens veiculadaspelos meios de comunicação.3.8. Incentivar nos educan<strong>do</strong>s a formaçãode opiniões próprias, relacio<strong>na</strong>dascom a comunicação social eoutras fontes de informação.3.9. Identificar as necessidades eassimetrias existentes no plano dacomunicação, a nível institucio<strong>na</strong>l,local e mundial.3.10. Facilitar a compreensão e avaliação<strong>do</strong> consumo <strong>do</strong>s meios decomunicação, potencian<strong>do</strong> uma abordagemdas possibilidades e formas deintervenção <strong>na</strong> comunicação.3.11. Desenvolver nos educan<strong>do</strong>s oespírito de criatividade, de inovaçãoe cooperação, especialmente atravésda expressão e comunicação com os


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO297meios, a partir da construção <strong>do</strong>s seusprodutos.(Areal, 1995: 17) cita<strong>do</strong> por (Aguaded,2001: 34 e ss.) apresenta um conjunto denovos objectivos gerais, resulta<strong>do</strong> de um<strong>do</strong>cumento posterior intitula<strong>do</strong> «Educaçãopara os Media no Ensino Secundário», e quese passa a citar:• Utilizar instrumentos de análise ereflexão sobre como ler os meios decomunicação.• Estabelecer um distanciamentoconsciente e crítico face aos meios decomunicação e às suas linguagens.• A<strong>na</strong>lisar e criticar os valores eatitudes expressos através <strong>do</strong>s meiosde comunicação.• Desenvolver a expressão de ideiase a autonomia de pensamento. (. . .)• Compreender que os meios decomunicação oferecem pontos de vistaacerca da realidade.• Reconhecer que existem distintasleituras possíveis das mensagens <strong>do</strong>smeios de comunicação.• Aprender a interpretar a realidadeatravés da linguagem <strong>do</strong>s meios decomunicação.• Descodificar mensagens, mitologiasou estratégias publicitárias.• A<strong>na</strong>lisar mecanismos de manipulaçãoda opinião pública. (. . .)• Conhecer os «basti<strong>do</strong>res» da produçãomediática.• Utilizar técnicas de investigação e<strong>do</strong>cumentação, mediante a busca,selecção, interpretação e informação.• Experimentar diferentes técnicas decomunicação.• Desenvolver a expressão através <strong>do</strong>sdistintos meios de comunicação.A fi<strong>na</strong>lizar esta breve análise problemáticaacerca da Educação para os Media -o caso português, retivemos uma expressãode (Aguaded Gómez, 2001: 71):A pesar de las interpretaciones, máso menos alejadas de laconceptualización que en las pági<strong>na</strong>santeriores hemos esboza<strong>do</strong>, que se hani<strong>do</strong> realizan<strong>do</strong> de la Educación enMedios de Comunicación, hay quereconocer que el movimiento en favorde la integración de los mediosde comunicación en el marco escolares ya u<strong>na</strong> realidad, como veremos enu<strong>na</strong> breve panorámica de lasexperiencias más significativas (. . .)e agora podemos acrescentar, <strong>do</strong> que se temfeito desde 1992 até actualidade, <strong>na</strong> UniversidadeFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa, o que constitui oestu<strong>do</strong> de caso prático a apresentar em suportedigital «Live».4. O Estu<strong>do</strong> de Caso: UniversidadeFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa4.1. Supervisão Geral: Aníbal Oliveira.4.2. Autoria: Alunos <strong>do</strong> 4ºAno <strong>do</strong> Cursode Engenharia Publicitária4.3. Categoria: Publicidade & Media.4.4. Ideia: MCA - Uma Agência dePublicidade que se guia pelos senti<strong>do</strong>s.4.5. Duração: 30‘4.6. Género Audiovisual: Spot PublicitárioTV.4.7. Âmbito da Acção: Projecto desenvolvi<strong>do</strong>no contexto da discipli<strong>na</strong> de Engenhariada Produção Audiovisual 1.4.8. Extras: Inclui o Making of.4.9. Ano de Produção: 2003-04.4.10. Budget: Ignora<strong>do</strong>.4.11. Merca<strong>do</strong>-Alvo: Segmento Classe A,B e C, empresários jovens a partir <strong>do</strong>s 25anos.4.12. Suporte: Projecto e Spot em DVD[Digital Versatil Disk]


298 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAguaded, J.I. (1996): Sociedadconsumista y medios de comunicación, enComunicar, 7;8-9.Aguaded, J.I. G. (2001): La Educaciónen Medios de Comunicación:Panorama yPerspectivas. Murcia, Editorial KR.1ªEdición. Enero.Area, M. (1995): La Educación de losMedios de Comunicación y su integraciónen el curriculum, en Pixet-Bit, 4;5-19.Areal, L. (1995): Educação para osmedia no Ensino Secundário. Sugestões deactividades. Lisboa, Instituto de InovaçãoEducacio<strong>na</strong>l.Bazalgette, C. (1993) La enseñanza delos medios de comunicación en la enseñanzaPrimaria y Secundaria, en Aparici, R.(Coord.): La revolución de los medios<strong>audiovisual</strong>es. Madrid, La Torre;113-134.Cabero, J. (1997): Más allá de laplanificación en la Educación en Medios deComunicación, en Comunicar, 8;31-37.Duncan, B. y Outros (1989): MediaLiteracy Resource Guide. Toronto (Ontario),Ministry of Education.Esteves, J. P. (1988):cit. in Oliveira, A.(2000):Tesis Doctoral. Santiago deCompostela. extraí<strong>do</strong> da Revista de Comunicação& Linguagens. Lisboa. Ed. CECL-UNL.Gonnet, J. (1995): De l‘actualité àl‘école. Pour des ateliers de démocratie.París, Armand Colin.Kumar, K. (1992): Une nouvelledéfinition des objetifs. Réflexions venues del‘Inde, en Bazalgette, C.; Bevort, E. ySavino, J. (Coord.): L‘Éducation aux Médiasdans le monde:nouvelles orientations París,CLEMI/BFI/UNESCO;166-170.Masterman, L. (1993): La enseñanza delos medios de comunicación. Madrid, LaTorre.Traducción española de Teaching theMedia.Masterman, L.y MARIET, F. (1994):L‘education aux medias dans l‘Europe desannées 90. Strasbourg, Conseil d‘Europe.Margalef, J. M. (1994): Guía para el usode los Medios de Comunicación. Madrid,MEC.Masuda, Y. (1984): La sociedadinformatizada como sociedad postindustrial.Madrid, Fundesco/Tecnos.Matilla, A. G. (1993): Los medios parala comunicación educativa, en APARICI, R.(Coord.): La revolución de los medios<strong>audiovisual</strong>es. Madrid, La Torre;45-77.Morán, C. M. (1993): ¿Por qué educarpara la comunicación?, en APARICI, R.(Coord.): La revolución de los medio<strong>audiovisual</strong>es. Madrid, La Torre;45-48.Oliveira, A. (2000): O Projecto EstratégicoAudiovisual. Porto. in Tesis Doctoralpela Universidade de Santiago deCompostela.Oliveira, A. (2000): A Educação noLimiar <strong>do</strong> Século XXI – a Escola Global:Análise das Problemáticas da GaláxiaAudiovisual e das Novas Tecnologias daInformação e Comunicação. Santiag deCompostela. USC.Pérez Tornero, J. M. (1994): El desafio<strong>educativo</strong> de la televisión. Barcelo<strong>na</strong>, Paidós.Pinto, M. (1988): Educar para a comunicação.Lisboa, Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ministério deEducação de Portugal, Comissão de Reforma<strong>do</strong> Sistema Educativo.Roda, F. J. y BELTRÁN, R. (1988):Información y comunicación. Barcelo<strong>na</strong>,Gustavo Gili.Sancho, J. (1995): ¿El medio es elmensaje o el mensaje es el medio? El casode las tecnologías de la información y lacomunicación, en Pixel-Bit;5;51-67.Shepherd, R. (1993): Raíces:origen ydesarrollo de los profesores de medios, enAPARICI, R.(Coord.): La revolución de losmedios <strong>audiovisual</strong>es. Madrid, La Torre;135-151.Tyner, C. (1993): Alfabetización<strong>audiovisual</strong>. El desafio de fin de siglo, enAPARICI, R. (Coord.):La revolución de losmedios <strong>audiovisual</strong>es. Madrid, La Torre;171-197.UNESCO (1984): La Educación enmateria de Comunicación. París, UNESCO.Traducción del origi<strong>na</strong>l en francés:L‘Éducation aux Médias, UNESCO._______________________________1Universidade Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pessoa.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO299Comunicación, Educación y TecnologíaAntonio R. Bartolomé 1En unos estudios realiza<strong>do</strong>s a media<strong>do</strong>sde los noventa por Joan Ferrés y AntonioBartolomé encontramos que estos eran losusos más frecuentes del vídeo en las escuelasen este país. No eran los usos más valora<strong>do</strong>s,más interesantes ni a veces más declara<strong>do</strong>s.Y no lo eran en todas las escuelas. Pero enmuchos centros, si apuntabas a qué sededicaba el televisor con el magnetoscopioque, muchas veces, era único para to<strong>do</strong> elcentro, el mayor número de horascorrespondía a proyectar películas. Respectoa la videocámara era dedicada en mayormedida, que era poca, muy poca, a filmaracontecimientos escolares, y muchas vecesen manos de escolares o padres.Pero esas películas no eran visio<strong>na</strong>das enel contexto de algu<strong>na</strong> actividad curricular.Eran utilizadas para:• cuan<strong>do</strong> imprevistamente (o no tanimprevistamente) faltaba un profesor• después de comer, hasta la hora deentrar, cuan<strong>do</strong> llovía.Respecto a los títulos proyectos eran, sumayoría, títulos que podríamos calificar decine infantil. Ca<strong>na</strong>les como Disney Channelposiblemente cubrirían esa faceta con similaro mayor éxito.Y de esta forma, por la puerta trasera,entra el <strong>audiovisual</strong> en la escuela. Ya esposible estudiar Comunicación Audiovisualen Secundaria pero en la escuela Primariapintar, escribir, o hablar siguen sien<strong>do</strong> mediosde expresión prioritarios. También enSecundaria la expresión escrita estápriorizada. Y cuan<strong>do</strong> un alumno presenta untrabajo en forma de <strong>do</strong>cumento <strong>audiovisual</strong>,el mismo profesor que es tan celoso de loserrores ortográficos y sintácticos en sustrabajos escritos, no se preocupa por loserrores o aciertos de sintaxis <strong>audiovisual</strong> yse centra en los conteni<strong>do</strong>s expuestos.¿Están los profesores prepara<strong>do</strong>s? Engeneral poseen conocimientos muydeficientes sobre como construir mensajes<strong>audiovisual</strong>es con ayuda de u<strong>na</strong> cámara y uncamascopio. Evidentemente hay excepcionesque son vistas así incluso por los propioscompañeros.¿Disponen de equipos los centros? Engeneral no disponen de equipos adecua<strong>do</strong>s porlo que el montaje y la postproducción engeneral se convierten en tareas tediosas y deresulta<strong>do</strong>s poco gratificantes. Sin embargo lasúltimas adquisiciones informáticas puedencambiar esa situación conforme comience atrabajarse en sistemas de edición no lineales.Por otro la<strong>do</strong>, aunque no baratos (nosmovemos en el rango de los 1.000 o 2.000Euros), hoy es posible adquirir equipos deedición <strong>do</strong>mésticos que permiten resulta<strong>do</strong>sinsospecha<strong>do</strong>s hace unos pocos años. Porejemplo, es posible encade<strong>na</strong>r <strong>do</strong>s planosmediante un fundi<strong>do</strong>, añadir títulos, efectoscomo solarización o mosaico, imagen parada,etc. con un equipo de menos de 700 Euros.¿Hay tiempo para esto? Los profesoresdecididamente no lo tienen. Los alumnospodrían tenerlo si sustituyeran algu<strong>na</strong>actividad extraescolar. Dentro del horarioescolar ordi<strong>na</strong>rio no parece factible encontrarun hueco lo suficientemente grande comotrabajar en esto.¿Existen méto<strong>do</strong>s para trabajar con niños?Sí, así como grupos con u<strong>na</strong> gran experienciaen este terreno. Aunque en muchos casosresulta muy discutible la aproximación. Porejemplo, el proceso de producción <strong>audiovisual</strong>en el cine y la televisión es complejo y pasapor muchas etapas que incluyen <strong>do</strong>cumentosescritos (tratamiento, guión, plan deproducción, vacia<strong>do</strong> de cintas,...), accionesde selección (localización, casting, ...),preparación (maquillaje, vestuario,decora<strong>do</strong>s,...), producción (ilumi<strong>na</strong>ción,cámara, recogida de soni<strong>do</strong>...) ypostproducción (sonorización y <strong>do</strong>blaje,montaje, efectos, grafismo electrónico,animación...). Pero, ¿enseñamos a escribir aun niño igual que escribe un autor adulto?


300 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVRespecto a la “lectura” de filmes, mientrasalgunos optan por las obras clásicas como“Acoraza<strong>do</strong> Potemkin”, otros consideran unerror utilizar estos filmes aleja<strong>do</strong>s de larealidad y los intereses infantiles y con unlenguaje (<strong>audiovisual</strong>) también lejano de loque es hoy el <strong>audiovisual</strong>. Preferirían porejemplo “El silencio de los corderos” o filmesmás actuales o incluso series de televisión.Es algo así como discutir si enseñar a leercon el Quijote o con un cuento o con unperiódico.Quizás el problema puede residir en queeste tema está todavía demasia<strong>do</strong> en manosde amantes del cine y del <strong>audiovisual</strong>, envez de haber si<strong>do</strong> asumi<strong>do</strong> por los profesores,muchas veces más cercanos a la realidad delalumno. El año 72 utilicé con mis alumnos(12 años) Intolerancia, un filme de Griffithdel año 1916 de 3 horas de duración. Unosmeses más tarde oí el comentario de un jovenestudiante de u<strong>na</strong> escuela de cine que en plande broma comentaba que, para castigarles,les ame<strong>na</strong>zaban con proyectar Intolerancia.Comprendí que mi amor al cine me habíalleva<strong>do</strong> demasia<strong>do</strong> lejos. Todavía hoy nocompren<strong>do</strong> como resistieron to<strong>do</strong> el filme.¿Existe u<strong>na</strong> demanda social? Al menospor parte de los padres, no. Consideran queya ven bastante cine en televisión como paraver más en el colegio. Piensan que eso esalgo demasia<strong>do</strong> atractivo y que por tantosiempre habrá tiempo y ocasión para queaprendan si les gustan.Pero si no están prepara<strong>do</strong>s, si no haymedios, si no hay tiempo, si hay discusionessobre la meto<strong>do</strong>logía, si los padres no sonconscientes... ¿por dónde empezar? ¿Por quéempezar?TecnologíaAprender a utilizar los orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res tieneun aspecto instrumental, u<strong>na</strong> vertiente queno debe ser descuidada pero que esrelativamente poco importante. He leí<strong>do</strong>críticas de profesores hartos de años y añoshacien<strong>do</strong> cursos con orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res que luegohoy ya no les sirven de <strong>na</strong>da. Si aquelloscursos se limitaron a enseñarles cómo abrirel MS-DOS o como copiar en un disquete,su utilidad ha si<strong>do</strong> realmente baja: hoy nohacen falta esas técnicas en absoluto.Pero si aquellos cursos les sirvieron paracomprender mejor a las máqui<strong>na</strong>s, y paradesarrollar destrezas en la forma como orde<strong>na</strong>rla información, entonces fueron muyadecua<strong>do</strong>s. Un aspecto básico es entoncesaprender a ser capaz de organizarse: creardirectorios o carpetas organizadas lógicamente,relacio<strong>na</strong>das, estructuradas, en <strong>do</strong>nde lainformación sea fácilmente recuperable.Además, trabajar con diferentes programas yprocesos captan<strong>do</strong> la esencia de losprocedimientos y los condicio<strong>na</strong>ntes técnicos.En algunos centros la introducción de lainformática perso<strong>na</strong>l se realiza justamente alrevés: a fin de evitar que las manosdescontroladas de los alumnos alteren nuestraconfiguración equilibrada conseguida co<strong>na</strong>rduos esfuerzos, les negamos cualquierposibilidad de tarea que implique configurar,definir, estructurar u organizar. Debenlimitarse a pulsar ciertas teclas de mo<strong>do</strong>automático, siguien<strong>do</strong> instrucciones muyprecisas. Me recuerda a un viejo proyectode CD-ROM multimedia que teníamos en milaboratorio. Se titulaba “El definitivoauténtico multimedia” y consistía en u<strong>na</strong>reflexión crítica y lúdica sobre el multimedia.El comienzo era así: la pantalla se ilumi<strong>na</strong>bacon mil colores mientras u<strong>na</strong> músicaacompañaba el ritmo frenético de u<strong>na</strong>simágenes que termi<strong>na</strong>ba en un estalli<strong>do</strong> debrillo y soni<strong>do</strong>. Luego se hacía el silencioy la pantalla se volvía azul con un únicoletrero parpadeante:”“Pulse la barraespacia<strong>do</strong>ra”. Esto permanecería hasta que elusuario pulsase dicha barra. Entoncesaparecería otro cartel: “Vemos que por finVd. ha entendi<strong>do</strong> claramente quien mandaaquí y quien tiene que obedecer. Ahorapodemos continuar con el programa”.Enseñar a los alumnos a controlarmecánicamente un orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r no es enseñarles<strong>na</strong>da pues seguramente el próximo modeloal que accedan funcione de mo<strong>do</strong> diferente.Yo ya compren<strong>do</strong> que este modelo deenseñanza responde a los objetivos para losque se creo la escuela con la revoluciónindustrial: educar a los futuros trabaja<strong>do</strong>resa realizar mecánicamente tareas diseñadas porotros y cuyo significa<strong>do</strong> ni entendían ninecesitaban. Pero esas no son las necesidadesen la época de la revolución en lascomunicaciones. Ahora es necesario preparar


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO301usuarios con iniciativa, capaces de organizarsu trabajo y tomar decisiones.Por esa misma razón es indiferente utilizaruno u otro orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r, uno u otro sistemaoperativo. Lo importante no son los procesosmanuales concretos sino la esencia de losprocedimientos y el desarrollo de destrezasen el manejo de la información. Crearcarpetas orde<strong>na</strong>das por proyectos o facetasde la vida. En muchos casos resulta másadecua<strong>do</strong> para preparar a los alumnos autilizar los orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res el tener que prepararsu calendario de deberes que lo que aprendenen el aula de informática. Hay perso<strong>na</strong>s máscreativas y menos. También hay perso<strong>na</strong>s conmás o con menos capacidad de trabajar demo<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong> y orde<strong>na</strong><strong>do</strong>. Pero la invasiónde la informática exige que to<strong>do</strong>s los alumnossalgan con destrezas básicas que les permitanutilizar estos equipos, al menos, tal comoposiblemente sigamos concibién<strong>do</strong>los hastabien entra<strong>do</strong> el siglo XXI.Claro, el problema es que muchosprofesores guardan sus ficheros sin orden, enel primer directorio o carpeta que encuentran.Son ellos los que necesitan u<strong>na</strong> formaciónen este campo. Y es cierto, volvien<strong>do</strong> al mitode Frankestein, los orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res nos hacencambiar nuestra forma de trabajar.Otra faceta importante en estaintroducción al uso del orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r: lacapacidad de trabajar con varios programasa la vez, la capacidad multitarea del orde<strong>na</strong><strong>do</strong>rque debe llevarnos (cuan<strong>do</strong> nuestro equipolo permita) a también u<strong>na</strong> actividadmultitarea. También aquí muchos profesorespiensan que los orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res, al estilo de losprimeros que aparecieron, sólo pueden haceru<strong>na</strong> cosa cada vez. Dan u<strong>na</strong> orden de imprimiro de realizar u<strong>na</strong> búsqueda en Internet ypermanecen de brazos cruza<strong>do</strong>s esperan<strong>do</strong>que se termine la operación. Cuan<strong>do</strong> enrealidad ahora es el momento de seguir conotra tarea, para reanudar la anterior cuan<strong>do</strong>el orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r haya termi<strong>na</strong><strong>do</strong> su trabajo. Cadavez más tenemos que pensar en orde<strong>na</strong><strong>do</strong>resque van ejecutan<strong>do</strong> tareas que le enviamossecuencialmente mientras nosotros pasamostambién de u<strong>na</strong> a otra.He visto pocas escuelas <strong>do</strong>nde dedique<strong>na</strong>lgún tiempo a este tema. La verdad es quemuchos profesores a to<strong>do</strong>s los nivelesdesconocen como sacar parti<strong>do</strong> al orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r.Posiblemente la razón es que tampoco losequipos vienen prepara<strong>do</strong>s. U<strong>na</strong> sencillarecomendación técnica: no se necesita elúltimo modelo de procesa<strong>do</strong>r, ni el másrápi<strong>do</strong>. La clave es <strong>do</strong>blar la memoria RAM,lo cual además es u<strong>na</strong> inversión de las másbaratas. Hay un viejo consejo que dice quepara hacer un viaje hay que llevar la mitadde equipaje del previsto y el <strong>do</strong>ble de dinerodel previsto. Pues al comprar un orde<strong>na</strong><strong>do</strong>rhay que adquirirlo la mitad de rápi<strong>do</strong> de loque es posible y con el <strong>do</strong>ble de memoriaRAM de la que nos ofrecen (lo cual ademásnormalmente reduce el precio un 20% porlo menos). Esta memoria es la que nos vaa permitir tener abiertos varios programas ala vez.En un curso reciente u<strong>na</strong> profesora sequejaba de que con Internet y el orde<strong>na</strong><strong>do</strong>rlos alumnos copiaban y pegaban un texto sinsiquiera leérselo y que así presentaban eltrabajo. Por consiguiente dicha profesorahabía prohibi<strong>do</strong> a sus alumnos hacer el trabajocon orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r. Eso me recordó <strong>do</strong>s cosas:a un sobrino mío en COU reescribien<strong>do</strong> amáqui<strong>na</strong> el trabajo que había prepara<strong>do</strong> conel orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r porque el profesor no lo permitía(es obvio que dicho profesor conseguíadesarrollar destrezas mecanográficas perodu<strong>do</strong> que fuera un méto<strong>do</strong> inteligente paraque aprendieran). Otro recuer<strong>do</strong> se remontaal comienzo de los setenta: la Ley Generalde Educación introdujo las fichas de trabajoperso<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> en la escuela, fichas quedeberían en parte elimi<strong>na</strong>r los libros de texto(no lo consiguió por lo que la LOGSE prefirióponérselo en bandeja a las editoriales de librosde texto). Pues bien, en aquella época oíau<strong>na</strong> queja similar: es que los niños se limita<strong>na</strong> copiar en la ficha lo que pone el libro,sin estudiar. Así que ahora, treinta añosdespués, estamos igual aunque ahora pareceque los estudiantes pierden menos el tiempocopian<strong>do</strong> a mano. En ambos casos elproblema no está ni en las fichas ni en elorde<strong>na</strong><strong>do</strong>r: siempre el profesor va a encontraralumnos que tratan de trabajar lo menosposible y de la forma más fácil. Su objetivo<strong>educativo</strong> va a consistir precisamente enenseñar a estos niños a aprender y realizarlo mejor posible sus tareas.Esto implica que el profesor no debe estartan preocupa<strong>do</strong> por el producto que le


302 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVentregan los alumnos sino por el proceso deelaboración de ese producto. U<strong>na</strong> vieja ideaque no debería olvidarse. Lo que sucede esque esto nos lleva a su vez a un cambio enla evaluación: no se debería evaluar sobreproductos, sean estos exámenes, pruebas otrabajos, sino que el profesor debe realizarun seguimiento durante to<strong>do</strong> el proceso,preguntán<strong>do</strong>le al alumno qué hace y cómolo hace, invitán<strong>do</strong>le a mejorar. Lo cual noslleva a otro cambio: si dedicamos el tiempode clase a explicar, no nos queda tiempo paraobservar/evaluar como trabajan, por lo quees preferible dedicar el tiempo de clase a queellos realicen tareas según guías que lespreparamos y nosotros vayamos pasan<strong>do</strong> deperso<strong>na</strong> en perso<strong>na</strong>, de grupo en grupo,observan<strong>do</strong> cómo lo hacen. Durante toda lamaña<strong>na</strong> no hemos necesita<strong>do</strong> abrir la bocapues los alumnos han busca<strong>do</strong> sus propiastareas en fichas que habíamos coloca<strong>do</strong> enla red. Sólo al fi<strong>na</strong>l del día en u<strong>na</strong> puestaen común hemos comparti<strong>do</strong> las experienciasde ese día. Juan nos ha presenta<strong>do</strong> un elegantey completo trabajo sobre un escritor. Esta erasu historia.Juan abre NetScape y consulta a travésde la red la tarea que tiene pendiente: tieneque entregar un trabajo sobre un escritordetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>. Mientras mantiene abierto elprograma, abre su base de datos (por ejemplo,FileMaker que es muy intuitiva y flexible)y busca si tiene direcciones de búsqueda sobreliteratura, autores, escritores, etc. Encuentrau<strong>na</strong> dirección de un periódico que estádedicada al tema y la de un par de editoriales,además de un par de librerías virtuales. Co<strong>na</strong>yuda del ratón salta rápidamente entre labase de datos y NetScape, copian<strong>do</strong> en u<strong>na</strong>las direcciones que luego “pega” en variasventa<strong>na</strong>s que ha abierto en el <strong>na</strong>vega<strong>do</strong>r.Mientras la segunda venta<strong>na</strong> de NetScape (laprimera contiene la información sobre eltrabajo que le piden) está esperan<strong>do</strong> larespuesta, ha abierto tres venta<strong>na</strong>s más <strong>do</strong>ndeha introduci<strong>do</strong> las otras direcciones. Paracuan<strong>do</strong> termi<strong>na</strong> de abrir venta<strong>na</strong>s, la delperiódico ya contiene información y le llevaa varias direcciones que explora con ayudade <strong>do</strong>s venta<strong>na</strong>s auxiliares.Algu<strong>na</strong>s veces el enlace no lleva a <strong>na</strong>day se muere. Pero en algunos casos encuentraun texto que se refiere al autor y le pareceinteresante. Como el trabajo que le piden escorto, trabajará directamente con elprocesa<strong>do</strong>r de textos que abre (ahora tiene3 programas abiertos: NetScape, FileMakery el procesa<strong>do</strong>r, por ejemplo el Word). Eltexto que ha encontra<strong>do</strong> le parece interesantey copia un fragmento que inmediatamentepega en Word. Lo seleccio<strong>na</strong> y le asig<strong>na</strong> laletra cursiva. A continuación vuelve aNetScape y seleccio<strong>na</strong>/copia el nombre dequien ha escrito el texto (afortu<strong>na</strong>damenteen este caso aparece pues si no, tendría quehaber puesto “anónimo”), el título y la URL(la dirección en Internet <strong>do</strong>nde lo haencontra<strong>do</strong>), to<strong>do</strong> lo cual lo pega acontinuación de la cita (lo que requiere iry volver varias veces de uno a otro programa).Como no ha encontra<strong>do</strong> ningu<strong>na</strong> referenciatemporal, no pone el año pero sí añade ala URL la indicación del día en que la haencontra<strong>do</strong>. Para termi<strong>na</strong>r añadirá <strong>do</strong>s líneasexplicán<strong>do</strong>se A SI MISMO por qué le hapareci<strong>do</strong> interesante la cita.El proceso se repite, en ocasionesresumien<strong>do</strong> algún párrafo, aunque también haseleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>/copia<strong>do</strong>/pega<strong>do</strong> fotos e inclusoun fichero de soni<strong>do</strong> con la voz del autor yu<strong>na</strong> corta secuencia de vídeo que le ha lleva<strong>do</strong>media hora durante la que ha segui<strong>do</strong>recogien<strong>do</strong> información en las otras venta<strong>na</strong>s.To<strong>do</strong> esto lo ha coloca<strong>do</strong> en u<strong>na</strong> carpeta/directorio que ha crea<strong>do</strong> especialmente.También lo ha i<strong>do</strong> inserta<strong>do</strong> en el <strong>do</strong>cumentoWord. Con esto ha termi<strong>na</strong><strong>do</strong> la primera partedel trabajo.Ahora aunque mantiene abiertos losprogramas, está senta<strong>do</strong> delante de la pantallay releyen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> lo que ha escrito/copia<strong>do</strong>.Reflexio<strong>na</strong> (dice que espera la inspiración delos dioses). Abre otro <strong>do</strong>cumento Word (queredimensio<strong>na</strong> y resitúa en escalera, igual queha hecho antes con las venta<strong>na</strong>s y losprogramas) y va construyen<strong>do</strong> un esquemade lo que quiere poner. Su esquema tienecinco puntos. Copia el esquema y lo vuelvea pegar a continuación, pero seleccio<strong>na</strong>cambiarlo a “to<strong>do</strong> mayúsculas” para facilitarla tarea. Ahora copia/pega desde el otro<strong>do</strong>cumento fragmentos del material en brutoa continuación de cada uno de los cincoaparta<strong>do</strong>s. Acaba de “reclasificar” suinformación en el marco (esquema) que habíacrea<strong>do</strong>. Es importante pues ha busca<strong>do</strong>,


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO303encontra<strong>do</strong>, valora<strong>do</strong>, recogi<strong>do</strong> informacióny ahora está estructurán<strong>do</strong>la.Abre un tercer <strong>do</strong>cumento Word, pega eltítulo del primer aparta<strong>do</strong> y a partir de losmateriales que había introduci<strong>do</strong> en ese punto,comienza a redactar un texto (u<strong>na</strong>s diezlíneas) con las ideas clave. Algu<strong>na</strong>s ideas lasrefuerza reproducien<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos origi<strong>na</strong>les(textos, fotos, soni<strong>do</strong>s...) que inserta,incluyen<strong>do</strong> siempre la referencia del autory <strong>do</strong>nde lo encontró.Cuan<strong>do</strong> ha termi<strong>na</strong><strong>do</strong> el proceso, relee eltexto completo para detectar errores y mejorarla comprensión mediante u<strong>na</strong> cuidadaredacción. También suprime palabrasrepetidas o efectos desagradables (cacofoníapor ejemplo). Abre simultáneamente otroprograma: un diccio<strong>na</strong>rio de sinónimos y undiccio<strong>na</strong>rio de castellano (ninguno en CD-ROM sino ambos instala<strong>do</strong>s en el disco duro)lo que le permite sustituir algún término porotro equivalente o comprobar que un términoes correcto. Aplica entonces el correctorortográfico (que para evitar problemas teníadesactiva<strong>do</strong>) y detecta nuevas faltasortográficas. Como tiene que decidir cuál esla forma correcta, se ve obliga<strong>do</strong> en ocasionesa consultar en el diccio<strong>na</strong>rio. También aplicaun corrector sintáctico: éste le indica laexistencia de algunos posibles errores. Engeneral, a los pocos meses de trabajar así,los correctores van encontran<strong>do</strong> cada vezmenos faltas.Con el <strong>do</strong>cumento termi<strong>na</strong><strong>do</strong>, hace u<strong>na</strong>copia de seguridad y borra algunos materialesintermedios aunque conserva las primerasanotaciones y ficheros de audio/vídeo/fotosrecogi<strong>do</strong>s por si acaso. La última parte deltrabajo incluye u<strong>na</strong> revisión estética que lehace introducir un par de fotos, seleccio<strong>na</strong>run tipo de letra adecua<strong>do</strong>, reducir un puntoel interlinea<strong>do</strong> para que le quepa justo enlas <strong>do</strong>s pági<strong>na</strong>s (también ha reduci<strong>do</strong> un pocoel margen derecho). Ha escogi<strong>do</strong> utilizar <strong>do</strong>scolum<strong>na</strong>s y u<strong>na</strong> letra 10 que da u<strong>na</strong> aparienciamuy periodística, aunque esto le ha obliga<strong>do</strong>a redimensio<strong>na</strong>r las fotos. Fi<strong>na</strong>lmente haimpreso el <strong>do</strong>cumento. Antes de diez añosesta última parte del trabajo se modificará,pues no solo no lo entregará en papel (loentrega a través del correo electrónico) sinoque además lo preparará en formato digitalmultimedia.Juan tiene solo 12 años y no ha llega<strong>do</strong>aquí en un día: durante varios meses elprofesor ha i<strong>do</strong> mejoran<strong>do</strong> su forma detrabajar día a día. Ha teni<strong>do</strong> que repetir lomismo muchas veces. Los compañerostambién se han i<strong>do</strong> ayudan<strong>do</strong>. Y han i<strong>do</strong>descubrien<strong>do</strong> progresivamente que tambiénprovoca placer la presentación de un trabajopropio, algo que ellos pueden decir que hancrea<strong>do</strong> y que recibe felicitaciones. Esta hasi<strong>do</strong> la tarea de u<strong>na</strong> jor<strong>na</strong>da escolar completay está orgulloso de su trabajo. Entre mediohay muchas otras jor<strong>na</strong>das en cada u<strong>na</strong> delas cuales ha i<strong>do</strong> mejoran<strong>do</strong> un poco su formade trabajar. Ahora lo está hacien<strong>do</strong> mejor quemuchos adultos, incluso profesores de to<strong>do</strong>slos niveles.EducaciónLa forma como profesores y educa<strong>do</strong>resactúan en relación a la adquisición yorganización del conocimiento debe cambiarurgentemente. Los cambios en la enseñanzason tan imperiosos que ya en este momentose estaría fraguan<strong>do</strong> un desastre a nivelmundial si no fuera porque desde fuera delsistema <strong>educativo</strong> se están suplien<strong>do</strong> lascarencias formativas de éste.Los centros <strong>educativo</strong>s se muestranrazo<strong>na</strong>blemente eficaces, a diferentes niveles,en los procesos de socialización. Tambié<strong>na</strong>frontan, aunque con dificultades importantes,los procesos de educación afectiva yformación ética aunque en este caso, laausencia de cooperación de otras instanciassociales, e.g. la familia, reduce en granmedida la eficacia de esta acción educativa.Existen otros ámbitos de actuación conresulta<strong>do</strong>s varios, como el desarrollo dedestrezas motoras y psicomotoras. Pero laescuela, la enseñanza secundaria e inclusola Universidad no están preparadas paraafrontar el gran reto del fi<strong>na</strong>l del milenio:el paso de la sociedad industrial a la sociedadde la comunicación está suponien<strong>do</strong> un nuevomo<strong>do</strong> de conocer.1. El volumen de la informaciónDurante miles de años, la informació<strong>na</strong>cumulada por la humanidad creció a un ritmolento, casi imperceptible. De aquella época


304 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtodavía nos quedan vestigios en algu<strong>na</strong>scomunidades <strong>do</strong>nde la palabra del ancianose respeta como criterio último. Se trata deu<strong>na</strong> situación en la que el incremento deinformación en el espacio de <strong>do</strong>s generacioneses tan lento que el conocimiento acumula<strong>do</strong>por la perso<strong>na</strong> de edad era váli<strong>do</strong> pararesolver los problemas de la comunidad; lasabiduría residía en los ancianos de la tribu.El incremento en el volumen deconocimientos de la humanidad se producede mo<strong>do</strong> irregular, con momentos de granesplen<strong>do</strong>r y avance de las letras y las ciencias,valga la socorrida expresión, y con momentososcuros en la historia.En los últimos siglos, el volumen deconocimientos se incrementa progresivamentecomenzan<strong>do</strong> u<strong>na</strong> curva de despegue con larevolución industrial. Podemos encontrarnumerosos indica<strong>do</strong>res de como diferentesperso<strong>na</strong>s perciben este desbordamiento delvolumen de información disponible,desbordamiento que la hace difícil de manejarpor el hombre. Un indica<strong>do</strong>r muy utiliza<strong>do</strong>es la evolución desde el concepto de HomoUniversalis, ingeniero “y” pintor, hacia elespecialista, ingeniero “o” pintor, y la altaespecialización, ingeniero de lenguajesinformáticos o diseña<strong>do</strong>r gráfico de portadasde libros. Naturalmente, siguen existien<strong>do</strong>perso<strong>na</strong>s que abarcan varios campos a pesardel conoci<strong>do</strong> dicho: “aprendiz de mucho,maestro de <strong>na</strong>da”.Pero el indica<strong>do</strong>r que más me gusta enrelación a ese desbordamiento de lainformación, es la obra de Vannevar Bush,tal como las concibió en 1932 y 1933, lasescribió en 1939 y las publicó fi<strong>na</strong>lmente en1945: “As We May Think” (“Tal comodebemos pensar”). A quien este autor no lediga <strong>na</strong>da, posiblemente le resulte másfamiliar la palabra “hipertexto”. Bush esconsidera<strong>do</strong> el “abuelo” del hipertexto porel sistema Memex (Nielsen, 1990),abreviatura de “memory extender”(“expandi<strong>do</strong>r de memoria”). El siguiente textode Nielsen, referi<strong>do</strong> a Bush en los años treinta,es suficientemente ilustra<strong>do</strong>r: “La principalrazón por la que Vannevar Bush desarrollósu propuesta Memex fue su preocupación porla explosión de información científica quehacía imposible, incluso para los especialistas,estar al día en el desarrollo de u<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong>”.Hoy, 63 años más tarde, la situación es muchopeor.El incremento del nivel de conocimientoes tan rápi<strong>do</strong> que cada vez resulta más difícilescribir un libro y publicarlo sin que hayaperdi<strong>do</strong> actualidad. Entre 1707 y 1715 TomasVicente Tosca publica los nueve volúmenesde su “Compendio Mathematico”.Lamentablemente, lo había escrito entre 1680y 1690, unos 25 años antes, inmediatamenteantes de la obra de Newton. Así que el autorrehuye considerar como real el sistemaheliocéntrico, aunque acepta que “comohipótesis no hay duda ser u<strong>na</strong> de las mejoresque se han discurri<strong>do</strong>”.Casi tres siglos después no es necesariotardar tanto en publicar para llegar tarde.Berge y Collins publican en Noviembre u<strong>na</strong>serie de 3 libros sobre comunicación conorde<strong>na</strong><strong>do</strong>res y clase en tiempo real (Bergey Collins, 1994). Segun comentaron losautores (editores) en la conferencia de laAERA, en Abril de 1995, el texto básico(borra<strong>do</strong>r) había si<strong>do</strong> entrega<strong>do</strong> por losautores en Septiembre de 1992, y la versióndefinitiva entregada a la editorial en Juliode 1993. En definitiva, 10 meses entreambos momentos, y 16 meses más para queel primer ejemplar pueda llegar a la primeralibrería. Pues bien, de acuer<strong>do</strong> con los datosdisponibles hoy, por cada 10 herramientas(programas) disponibles en Internet a las quehicieran referencia los autores en su primerredacta<strong>do</strong>, había 25 en el momento deentregarlo a los editores, y 127 en elmomento de salir el libro a la calle: desdeque el Editor recibió el libro hasta que salióel primer ejemplar, parte de la informaciónque debía contener el libro se habíamultiplica<strong>do</strong> por 5.Algu<strong>na</strong>s estimaciones actuales calculanque en un campo como la ingenieríainformática la cantidad de informacióndisponible se duplica cada cinco años; enel año 2.000 se duplicará cada año. EnEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, los títulos académicos en esecampo deben ser revalida<strong>do</strong>s cada cinco años.Otros campos de conocimientos convelocidades similares de crecimiento son laMedici<strong>na</strong>, numerosas ingenierías, variasramas de la Física y la Química, diferentesciencias medio ambientales, etc.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO305¿Qué consecuencias tiene to<strong>do</strong> esto parala escuela? En primer lugar existen <strong>do</strong>sconsecuencias directas:• la necesidad de u<strong>na</strong> permanenteactualización• la necesidad de diseñar y utilizar nuevosmo<strong>do</strong>s de organizar y acceder a laInformación.Los hombres y mujeres de hoy y de lospróximos años tropiezan con esa necesidadde actualizar continuamente susconocimientos, y esto se traduce en u<strong>na</strong>explosión de la formación continuada,suficientemente importante como para que laUnión Europea haya seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong> 1996 comoel año de la “formación a lo largo de todala vida”. Pero no es esa la consecuenciaeducativa que aquí me interesa resaltar. Laconsecuencia que quiero señalar es laprogresiva disminución de la importancia quese da al conocer como acumulación deconocimientos. “Conocer” es hoy algo másque ser capaz de reproducir nombres, hechosy conceptos. Pues de día en día crece ladistancia entre lo que somos capaces de“recordar” y el volumen total de información.Y pocos años después de termi<strong>na</strong>r los estudiosuniversitarios descubrimos que u<strong>na</strong> parteimportante de lo que “estudiamos” haqueda<strong>do</strong> obsoleto.Y frente a esta realidad, que no suprimela necesidad de poseer u<strong>na</strong> base deconocimientos sólida, los profesores no hansabi<strong>do</strong> reaccio<strong>na</strong>r, y continuan en muchoscasos basan<strong>do</strong> su enseñanza en la transmisiónde unos conteni<strong>do</strong>s, más o menosactualiza<strong>do</strong>s.La necesidad de diseñar y utilizar nuevosmo<strong>do</strong>s de organizar y acceder a laInformación es lo que llevó a Bush a diseñarsu Memex, o a Ted Nelson a utilizar eltérmino “Hypertexto”. Es cierto que en ciertosniveles <strong>educativo</strong>s se está producien<strong>do</strong> u<strong>na</strong>apertura a este nuevo mo<strong>do</strong> de organizar lainformación. Sin embargo es frecuenteescuchar quejas sobre los alumnos que “sepierden” por ejemplo en Internet. ¡Claro quese pierden! ¿Quién les ha ayuda<strong>do</strong> adesarrollar las destrezas para este nuevo mo<strong>do</strong>de acceder a la información? Como en tantosotros casos, los alumnos aprenden estasdestrezas por ensayo y error sin guía nitutorización. También hay que reconocer quemuchos profesores tendrían serias dificultadesen ayudar a sus alumnos a adquirir u<strong>na</strong>sdestrezas de las que ellos mismos carecen.To<strong>do</strong> esto nos lleva a u<strong>na</strong> idea clave enla que insistiré más adelante: la Enseñanzadebe cambiar. En este momento nos hemosfija<strong>do</strong> en <strong>do</strong>s aspectos: la menor importanciaque debe darse a la reproducción deconocimientos, y la mayor importancia quedebe darse al desarrollo de destrezas en elacceso a la información. Pero sigamos conel análisis.2. El mo<strong>do</strong> como se codifica la informaciónLa mayor parte de la información quehemos recibi<strong>do</strong> a lo largo de toda nuestravida académica estaba contenida en palabras,en muchos casos escritas. Para nosotrosresulta habitual pensar en la información entérminos de libros, conteni<strong>do</strong>s en Bibliotecas,sedes <strong>do</strong>nde se guarda el conocimientohumano. Pero no siempre ha si<strong>do</strong> así.Los versos de la Iliada o la Odisea noshablan de u<strong>na</strong> época en la que la informaciónse transmitía de mo<strong>do</strong> oral, de ahí lanecesidad de utilizar versos que facilitaranel recuer<strong>do</strong>. Las cristaleras de las catedralesnos recuerdan u<strong>na</strong> época en la que la imagenera en gran medida el soporte de lainformación que llegaba a la mayor parte dehabitantes de este planeta. Era u<strong>na</strong> época enque la gente no necesitaba saber leer.Desde hace unos pocos siglos, laHumanidad ha ca<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> su necesidad dealmace<strong>na</strong>r y transmitir la información a travésde la palabra escrita en los libros. Y hoy estoestá cambian<strong>do</strong>. En el campo profesio<strong>na</strong>l yacadémico, el soporte de la informaciónevolucio<strong>na</strong> hacia los sistemas multimedia, conun eleva<strong>do</strong> peso de la palabra escrita e<strong>na</strong>lgunos casos, pero con un peso crecientede la imagen en otros. En el mun<strong>do</strong> familiary social ya se ha produci<strong>do</strong> la evolución haciau<strong>na</strong> sociedad <strong>audiovisual</strong>, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da por losmedios, especialmente por la televisión.No entro aquí en u<strong>na</strong> valoración de unoshechos sino en su constatación: la imagenentra con tal fuerza que la mayoría de lapoblación la utiliza como fuente deinformación. Muchos adultos actuales soncapaces de reconocer ciertas especies deanimales, leja<strong>na</strong>s de su hábitat, o el contorno


306 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVde países que nunca han estudia<strong>do</strong>, o la figurade perso<strong>na</strong>jes residentes en leja<strong>na</strong>s tierras.En los países industrializa<strong>do</strong>s, ver televisiónes la tercera actividad en razón del orden detiempo dedica<strong>do</strong> por los ciudadanos adultos;las <strong>do</strong>s primeras son el trabajo y el sueño(Ferrés,1994a, p. 14). Podríamos seguirincluyen<strong>do</strong> datos sobre el peso de la imagenen nuestra cultura, pero me parecesuficientemente obvio.Ante esta situación se disparan lasalarmas. Estas son algu<strong>na</strong>s de las críticas másfrecuentes: se produce un descenso en lacapacidad de concentración, se produce unexceso de información pero ésta es tansuperficial que más bien hay que hablar de“saturación de superficialidad, la pasividadva en aumento, pérdida del espíritu críticoy de la capacidad de razo<strong>na</strong>miento (Babiny Kouloumdjian, 1983). Todas estas críticasson a<strong>na</strong>lizadas por Babin que nos muestracomo ante lo que nos encontramos es anteu<strong>na</strong> “nueva manera de comprender”.Algu<strong>na</strong>s de las nuevas maneras de conocerestán relacio<strong>na</strong>das con la especializaciónhemisférica. Existe un viejo libro que ofreceideas sugerentes sobre estrategias y mo<strong>do</strong>sde pensamiento visual, metafórico ymultisensorial (VerLee, 1983). Estas ideas nospermiten avanzar en u<strong>na</strong> línea en relació<strong>na</strong> este nuevo mo<strong>do</strong> como se codifica lainformación. Pero existe otra relacio<strong>na</strong>da conla disminución de la capacidad de atención,la superficialidad de los conceptos, losamplios campos de conocimienots y ladispersión y falta de estructuración delconocimiento. No creo que se trate de a<strong>do</strong>ptaru<strong>na</strong> posición de “apocalíptico ante losmedios”, utilizan<strong>do</strong> el término de UmbertoEco, o de seguir los consejos de Jerry Mandercuan<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> detalla<strong>do</strong> nos expone susrazones por las que la televisión debería serelimi<strong>na</strong>da (Mander, 1977).No es porque crea que la televisión esun tabú. Mander destaca que de 6.000 librosaparentemente publica<strong>do</strong>s sobre la televisión,sólo ha encontra<strong>do</strong> uno en el que la idea deque la televisión desparezca es consideradade algu<strong>na</strong> forma, y ante eso decide que nosencontramos ante un tabú (Mander, 1977, pg.357). Mas bien pienso que nuestra culturaha cambia<strong>do</strong> y ha si<strong>do</strong> la televisión quienla ha cambia<strong>do</strong>. Aquí podríamos aplicar elsíndrome de Frankestein tal como lo definePostman: los hombres creamos u<strong>na</strong> máqui<strong>na</strong>con un fin defini<strong>do</strong> y concreto, pero u<strong>na</strong> vezconstruida descubrimos que la máqui<strong>na</strong> tieneideas propias, es capaz de cambiar nuestrascostumbres y nuestra manera de pensar. SegúnPostman este descubrimiento lo realizamoshorroriza<strong>do</strong>s algu<strong>na</strong>s veces, angustia<strong>do</strong>snormalmente y sorprendi<strong>do</strong>s en to<strong>do</strong>s loscasos (Postman, 1991).Estoy de acuer<strong>do</strong> en que la televisióncambia nuestra manera de pensar,precisamente esa es la tesis que estamosdefendien<strong>do</strong>. Pero no comparto que estedescubrimiento me horrorice o angustie.Posiblemente porque la vieja manera depensar no se ha mostra<strong>do</strong> tan eficaz endestruir la intolerancia, la opresión, la miseria,el hambre o la guerra. No sé que posibilidadesde éxito tiene la nueva manera de pensar perono parece que lo vaya a hacer peor.En to<strong>do</strong> caso, tanto si aceptamos la líneade potenciar facetas de la actividad intelectualrelacio<strong>na</strong>das con la imagen, como la a<strong>na</strong>logía,la intuición, el pensamiento global... opotenciar procesos tradicio<strong>na</strong>lmente asocia<strong>do</strong>sal hemisferio derecho (la globalidad, larepresentación visual, ...), como si aceptamosla línea de interpretar los cambios produci<strong>do</strong>sen su faceta más negativa (superficialidad,irreflexión, dispersión, falta de estructuracióndel conocimiento,...) lo que sí queda claroes que la Escuela debe cambiar. No puedeseguir tratan<strong>do</strong> de transmitir el conocimientocomo hace 50 años, basa<strong>do</strong>s en la palabra,especialmente en la palabra escrita.3. El mo<strong>do</strong> como accedemos a lainformaciónTodavía es posible encontrar en algunosedificios antiguos de nuestras más venerablesuniversidades aulas al viejo estilo. Ellas nosdicen mucho sobre cómo se concebía el mo<strong>do</strong>de acceder al conocimiento. Aquí deseoresaltar <strong>do</strong>s características. U<strong>na</strong> es la seriedad,la sobriedad, el respeto, el peso abruma<strong>do</strong>rde piedras en aulas de techos de altasdimensiones; faltan elementos alegres, faltanpintadas, faltan chistes -¿alguien se imagi<strong>na</strong>a Mafalda en u<strong>na</strong> clase así?. La otracaracterística es la unidireccio<strong>na</strong>lidad deldiscurso: a un la<strong>do</strong>, en u<strong>na</strong> tarima o, en


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO307ocasiones, en un púlpito, el lugar del profesor,del sabio posee<strong>do</strong>r de grandes conocimientos;al otro la<strong>do</strong> los asientos o pupitres, muchasveces coloca<strong>do</strong>s en filas, fijos, sin posibilidadde interacción entre los estudiantes.Y frente a eso el mo<strong>do</strong> cómo hoy seaccede a la información se caracteriza por<strong>do</strong>s cambios. Uno, un cambio en la actitudsocial que nos lleva a la cultura delespectáculo, la diversión, el entretenimiento.El otro es un cambio, también social yfomenta<strong>do</strong> por la evolución de la tecnología(¡otra vez el síndrome de Frankestein!) quelleva hacia la participación, la interactividad,el diálogo, la búsqueda cooperativa.El primer punto se traduce en que hoyse accede a la información de un mo<strong>do</strong>“diverti<strong>do</strong>”. Por un la<strong>do</strong>, la cultura delespectáculo, tal como la define Joan Ferrés:“Por primera vez en la historia de lahumanidad puede afirmarse que vivimos enu<strong>na</strong> cultura del espectáculo. No sólo porquelas tecnologías de la comunicación<strong>audiovisual</strong> ponen a disposición de losciudadanos toda clase de espectáculos a todaslas horas del día. También porque acaban porconvertir en espectáculo todas las realidadesa las que se aproximan, desde la política,con sus shows electorales, hasta la religión,con sus iglesias electrónicas...” (Ferrés yBartolomé, en proceso).Otra aproximación a este tema nos la danel papel cada vez más importante de losvideojuegos como instrumentos <strong>educativo</strong>s,tanto por su capacidad de desarrollo dedestrezas de trabajo colaborativo, toma dedecisiones, etc. como por su utilización enmarcos <strong>educativo</strong>s más convencio<strong>na</strong>les, enlo que se ha llama<strong>do</strong> “Edutainment”,combi<strong>na</strong>ción de los términos ingleses“Education” y “Entertainment”; nosotrosdiríamos “Edutenimiento” (Educación yEntretenimiento) o Eduversión.Fi<strong>na</strong>lmente podemos realizar u<strong>na</strong> terceraaproximación desde el concepto de culturadel ocio. A pesar de algunos pseu<strong>do</strong>estudiosque hablan de que el hombre de hoy tienemenos tiempo libre, la verdad es que parala mayoría de población, especialmente lasclases más bajas, el tiempo libre se haincrementa<strong>do</strong> en los últimos 60 años. Y esun tiempo libre dedica<strong>do</strong> en muchos casosal entretenimiento, al ocio.Y es a través de la diversión como losniños y los hombres acceden a la mayor partede la información y, en muchos casos, a laque consideran más relevante. Varias vecesultimamente le he pregunta a mi hija de 8años dónde había aprendi<strong>do</strong> algo que le habíaescucha<strong>do</strong> sorprendi<strong>do</strong>. Y en to<strong>do</strong>s los casossu respuesta era siempre la televisión(incluyen<strong>do</strong> aquí ciertos vídeos como lascolecciones “Erase u<strong>na</strong> vez la Vida”, etc.).Nunca me ha respondi<strong>do</strong> “en clase”. Es u<strong>na</strong>anéc<strong>do</strong>ta pero que se complementa con otrascomo cuan<strong>do</strong> alquien me hizo notar lapobreza de la información contenida en loslibros de Naturales de 2º y 3º de Primaria(de u<strong>na</strong> excelente Editorial) comparán<strong>do</strong>loscon lo que veían los niños en cualquierreportaje de la televisión.Cuan<strong>do</strong> hablamos de “diversión” yentretenimiento, estamos hablan<strong>do</strong> de u<strong>na</strong>triple gratificación (Ferrés, 1994a): lagratificación sensorial por los estímulosvisuales y sonoros, la gratificación mentalderivada de la fabulación y la fantasía, y lagratificación psíquica provinente de laliberación catártica que provocan los procesosde identificación y proyección.Hemos habla<strong>do</strong> de la otra característica,la participación. En los últimos años hepodi<strong>do</strong> constatar como las nuevas tecnologíasde la comunicación están evolucio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> haciasistemas más interactivos y participativos(Bartolomé, 1995). Vamos a citar rápidamentealgu<strong>na</strong>s de estas tecnologías, Multimedia eInternet.Hablemos de programas Multimedia: “Lamayor parte de materiales informáticos hansi<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong>s como paquetes fijos.Proyectos recientes están hacien<strong>do</strong> unesfuerzo para dar a los estudiantes un papelcreativo; las tareas no consisten simplementeen reaccio<strong>na</strong>r ante materiales prepara<strong>do</strong>s, sinoen crear otros nuevos” (Hodges y Sasnett,1993; p.32). Lo más significativo de esta citaes su procedencia, <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res delproyecto Athe<strong>na</strong> del MIT. Hoy los sistemasmultimedia se caracterizan por la integraciónde medios y por la interactividad ointeractuación entre sujeto y máqui<strong>na</strong>(Bartolomé, 1994).La dimensión participativa de Internet eshoy uno de los temas de moda, precisamentepor la ausencia de controles o límites a esa


308 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVparticipación. Por primera vez u<strong>na</strong> perso<strong>na</strong>puede distribuir información a nivel de to<strong>do</strong>el planeta a un costo mínimo. ¡Cualquierinformación!. Es cierto que los sistemas decorreo electrónico no son nuevos, y porsupuesto, sistemas como el teléfono, etc. Perolo nuevo es el acceso a través de Internet,u<strong>na</strong> red de costo reduci<strong>do</strong>, a,videoconferencias mediante CuSee-Me,sistemas de aprendizaje gestio<strong>na</strong><strong>do</strong> pororde<strong>na</strong><strong>do</strong>r, forums telemáticos, etc. Y estamossólo en el comienzo. Existen numerososproyectos en to<strong>do</strong> el mun<strong>do</strong> como el KSI(Gaines, 1994) cuyo objetivo es “proporcio<strong>na</strong>run nueva generación de sistemas de soporteal conocimiento basa<strong>do</strong>s en u<strong>na</strong> arquitecturaabierta, que permitan la colaboración entrecírculos de estudiosos a través de latecnología de la información, con la intenciónde conseguir u<strong>na</strong> aceleración sistemática delos procesos de conocimiento humano” (p.10). Es el trabajo colaborativo en el seno decomunidades de investiga<strong>do</strong>res y expertos,distantes miles de kilómetros. Las redes nosólo proporcio<strong>na</strong>n información al usuario,sino que este se convierte en sujeto activoen la construcción de dicha información.No es posible dedicar mucho más espaciopero habría que hablar de cómo también losmedios más convencio<strong>na</strong>les como la radioy la televisión cami<strong>na</strong>n hacia u<strong>na</strong> dimensiónmás participativa. Y cómo esta evolucióntecnológica tiene un paralelismo en u<strong>na</strong>sociedad que podría definirse a través de u<strong>na</strong>“cultura de la participación” (Ferrés yBartolomé, en proceso). Y habría que hacertambién referencia al hipertexto como modelopara organizar la información.Los sujetos de hoy son sujetos que tomandecisiones, que están activos,... y que viveninmersos en u<strong>na</strong> cultura del espectáculo yen u<strong>na</strong> sociedad del entretenimiento. ¿Puedela Escuela seguir utilizan<strong>do</strong> aquellas viejasaulas de piedra?. El mo<strong>do</strong> como accedemosa la información ha cambia<strong>do</strong>, y la escueladebe cambiar.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO309BibliografíaBabin, P. y Kouloumdjian, M.F. (1983).Les nouveaux modes de comprendre. Lagénération de l’Audiovisuel et del’Ordi<strong>na</strong>teur. Lyon: Éditions du Centurion.Bartolomé, Antonio R. (1994). SistemasMultimedia. En Sancho, J. (coord.) Para u<strong>na</strong>Tecnología Educativa. Barcelo<strong>na</strong>: Horsori.pp. 193-219.Bartolomé, Antonio R. (1995). Les NovesTecnologies al servei del professor i del’alumne. En Varios: L’Educació: El repte deltercer mil.lenni. pp. 106-122. Barcelo<strong>na</strong>:Institució Familiar d’Educació.Berge, Zane L. y Collins, Mauri P. (Eds.)(1994). Computer Mediated Communicatio<strong>na</strong>nd the Online Classroom. Cresskill (NJ):Hampton Press Inc.Ferrés, Joan (1994a). Televisión yEducación. Barcelo<strong>na</strong>: Paidós.Ferrés. J. (1994b). La Publicidad.Modelo para la Enseñanza. Madrid: Akal.Ferrés, J. y Bartolomé, A. (1997). NewMedia Enhanced Education: more than to addnew resources. Paper en EdMedia’97,Calgary.Gaines, Brian (1994). SupportingCollaboration through Multimedia DigitalDocument Archives. En L.Katz, y Ot. TheCa<strong>na</strong>dian Multimedia ConferenceProceedings. Calgary: the University ofCalgary.Hodges, Matthew E. and Sasnett, RussellM. (1993). Multimedia Computing. Reading(Ma): Addison-Wesley Publishing Company.Mander, J. (1977). Four arguments forthe elimi<strong>na</strong>tion of television. Morrow Quill.Nielsen, Jakob (1990). Hypertext andHypermedia. Lon<strong>do</strong>n: Academic Press, Inc.Postman, Neil (1991). Divertirse hastamorir. Barcelo<strong>na</strong>: Editorial de la Tempestad.VerLee Williams, Linda (1983). Teachingfor the Two-Sided Mind. Barcelo<strong>na</strong>: MartínezRoca. Englewood Cliffs (NJ): Prentice HallInc._______________________________1Universitat de Barcelo<strong>na</strong>.


310 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO311Memória e imagem <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so como experiência pedagógicaBe<strong>na</strong>lva da Silva Vitorio 1A escola deixou de ser o único lugarde legitimação <strong>do</strong> saber, pois existeuma multiplicidade de saberes quecirculam por outros ca<strong>na</strong>is, difusos edescentraliza<strong>do</strong>s. Essa diversificaçãoe difusão <strong>do</strong> saber, fora da escola, sãofortes desafios que o mun<strong>do</strong> da comunicaçãoapresenta ao sistema educacio<strong>na</strong>l.Jesús Martín-Barbero 2Enquanto se introduzem novas modalidadesno sistema <strong>educativo</strong>, graças ao avançode tecnologias no campo da ComunicaçãoSocial, há professores que permanecemestacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s no autoritarismo, “como reaçãoà perda de autoridade”, diante de novossaberes que os alunos trazem para a sala deaula. Hoje, como afirma Martín-Barbero 3 ,“diante <strong>do</strong> professor que sabe muito bemrecitar sua lição, senta-se um alu<strong>na</strong><strong>do</strong> que,por osmose com o meio-ambiente comunicativo,está embebi<strong>do</strong> de outras linguagens,saberes e escrituras, que circulam pelasociedade”.Frente a esse quadro, é preciso rever aEscola para que se transforme em espaçopropício à autodetermi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s sujeitosenvolvi<strong>do</strong>s, como laboratório a novas experiênciaspedagógicas, novas práticas <strong>do</strong>centes,onde se aprenda a convivência uns comos outros e se harmonizem diferenças. Paratanto, será preciso romper com o sistema<strong>educativo</strong> centra<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> escola e no livroe enfrentar o desafio de transformar o espaçoescolar em “ambiente de informação e deconhecimentos múltiplos”, como preconizaMartín-Barbero 4 , ao reivindicar a existênciada cultura oral e <strong>audiovisual</strong> sem desconhecera cultura letrada, mas juntan<strong>do</strong> a ela “asmúltiplas escritas“que hoje conformam omun<strong>do</strong> da informática e o <strong>audiovisual</strong>”,trabalhan<strong>do</strong> também a “oralidade cultural dasmaiorias”, porque “o mun<strong>do</strong> das piadas edas <strong>na</strong>rrativas orais, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s provérbiose <strong>do</strong>s ditos populares, o mun<strong>do</strong> damúsica popular <strong>na</strong>rrativa e <strong>do</strong> rap deslocam,também, a partir de suas próprias gramáticas,ritmos e prazeres, o ascetismo triste<strong>do</strong> autismo livresco”.Mas nem sempre é possível realizar essatarefa, sobretu<strong>do</strong> no cotidiano acadêmico.Normalmente, nesse meio, <strong>do</strong>centes e discentesse fecham em suas áreas, em suas especialidades(até mesmo no âmbito daComunicação Social) e “olham” fasci<strong>na</strong><strong>do</strong>sa mídia com seus produtos e atores, procuran<strong>do</strong>dar conta, de forma isolada, da complexidadedesse campo. Esquecem, ou simplesmenteignoram, o diálogo necessário entreas discipli<strong>na</strong>s, entre as áreas de conhecimento,para se elaborar, como propõe Baccega 5 ,“um aparato conceitual que coloca os meiosno centro das investigações e procura darconta da complexidade <strong>do</strong> campo”.Daí a pertinência em destacar o alerta feitopor Martín-Barbero 6 a respeito <strong>do</strong> que elechama “esquizofrenia cultural”, ou seja, os<strong>do</strong>is tipos de saber que dividem os cidadãos,<strong>na</strong> sociedade moder<strong>na</strong>, onde a comunicaçãose converte em “ecossistema”. 7 Por um la<strong>do</strong>,o saber que lhes concede o diploma comopassaporte ao merca<strong>do</strong> de trabalho e ascensãosocial; por outro, o saber que lhes permitecompreender as mudanças <strong>do</strong> sistema produtivoe inovação da sociedade.A exemplo desse autor, defendemos osegun<strong>do</strong> tipo de saber, aquele que promovea autodetermi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s estudantes para quesejam capazes de respeitar o que está posto,conviver com o novo e harmonizar as diferenças.Para tanto, a Escola precisa trabalharcom o saber difuso e descentra<strong>do</strong> quecircula <strong>na</strong> sociedade, além <strong>do</strong>s muros da salade aula, consideran<strong>do</strong> a cultura oral e a<strong>audiovisual</strong>, respeitan<strong>do</strong> a leitura e a escritacomo meio de criatividade, procuran<strong>do</strong>aproximação com o mun<strong>do</strong> da imagem,entenden<strong>do</strong> a sua língua. Como justificaMartín-Barbero 8 , “a escola desconhece tu<strong>do</strong>


312 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVo que de cultura se produz e transcorre pelomun<strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> e pelo da cultura oral:<strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s que vivem, justamente, <strong>do</strong>hibridismo e da mestiçagem, da mistura dememórias territoriais com imaginários desloca<strong>do</strong>s.Enfrentemos o mal-entendi<strong>do</strong>”.A experiência pedagógicaNa trilha desse desafio, elegemos o i<strong>do</strong>so,que ganhou a atenção da mídia, da IgrejaCatólica e <strong>do</strong> Governo, em 2003, comotemática para o desenvolvimento de pesquisa-açãocom os nossos alunos em três cursosde graduação da UniSantos, nos quais ministramosdiscipli<strong>na</strong>s relacio<strong>na</strong>das nossaformação: Comunicação Social, Geografia eNutrição 9 . O que pretendíamos, no início <strong>do</strong>ano letivo, era somente promover a integraçãoentre jovens e i<strong>do</strong>sos, em meio dissolução<strong>do</strong>s laços afetivos que caracteriza asociedade <strong>do</strong> século XXI. No decorrer <strong>do</strong>trabalho, porém, constatamos que poderíamosestender nossa “viagem” e alca<strong>na</strong>r resulta<strong>do</strong>sno senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> que defende Baccega 10 , ou seja,de que as pesquisas resultantes <strong>do</strong> diálogoentre os saberes “permitem apontar os meiosde comunicação como os maiores produtoresde significa<strong>do</strong>s compartilha<strong>do</strong>s que jamaisse viu <strong>na</strong> sociedade huma<strong>na</strong>, reconhecen<strong>do</strong>se,desse mo<strong>do</strong>, sua incidência sobre arealidade social e cultural”.A estrutura desse nosso trabalho, portanto,compreendeu duas etapas. No primeirosemestre, os alunos conversaram com i<strong>do</strong>sosa respeito de problemáticas referentes às suasáreas de formação. O roteiro da entrevistaaberta consistiu em indagações por parte <strong>do</strong>salunos, o que permitia a organização da<strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos quanto aos assuntos deinteresse <strong>na</strong>s respectivas áreas de formação,ou seja: fatos/acontecimentos que marcaram,no passa<strong>do</strong>, a vida <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos (jor<strong>na</strong>lismo);imagens de pessoas ilustres e instituiçõesimportantes que ficaram <strong>na</strong> memória (relaçõespblicas); produtos e marcas de consumo<strong>na</strong> juventude (publicidade e propaganda);alimentos e refeições <strong>na</strong> família, em outrostempos (nutrição); transformação <strong>do</strong> meioambiente (geografia).O des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong> trabalho, no segun<strong>do</strong>semestre, contou com a participaçãoape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso de ComunicaçãoSocial, que procuraram compreender comoo i<strong>do</strong>so apareceu <strong>na</strong> mdia, entre os mesesde agosto a outubro. Para tanto, cada grupode alunos escolheu meios de comunicaçãosocial para acompanhar relatos jor<strong>na</strong>lísticos,peças e campanhas publicitárias, programaçãode lazer, a<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> a mediação <strong>do</strong>comunica<strong>do</strong>r social (jor<strong>na</strong>lista, relaçõespúblicas e publicitários) entre o i<strong>do</strong>so e asociedade.Participaram <strong>do</strong> trabalho 260 alunos <strong>na</strong>primeira etapa e 200 <strong>na</strong> segunda, organiza<strong>do</strong>sem grupo de estu<strong>do</strong>, em cada uma dasturmas. No fi<strong>na</strong>l de cada semestre, os gruposexpuseram os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa-ação emseminrio, discutin<strong>do</strong> propostas e refletin<strong>do</strong>sobre a contribuição da atividade para ocrescimento individual e compreensão dasociedade 11 .Da aproximação à descobertaA história deve reproduzir-se degeração a geração, gerar muitas outras,cujos fios se cruzem, prolongan<strong>do</strong>o origi<strong>na</strong>l puxa<strong>do</strong> por outros de<strong>do</strong>s.Ecléa Bossi 12Já se conhece, de acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong> censo realiza<strong>do</strong> pelo IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística), em2000, o aumento da população i<strong>do</strong>sa noBrasil 13 . Porém, <strong>na</strong> medida em que aumentao tempo de vida <strong>do</strong>s brasileiros, a idadecronológica, diminui o respeito, míngua apaciência, esgota a consideração para comaqueles que, não sen<strong>do</strong> mais jovens, não ten<strong>do</strong>mais capacidade ple<strong>na</strong> de produção, vivemà margem <strong>do</strong> Outro, em esta<strong>do</strong> de exclusãosocial.Com recursos fi<strong>na</strong>nceiros reduzi<strong>do</strong>spensão e aposenta<strong>do</strong>ria insignificantes diante<strong>do</strong> que precisam para tratamento de saúde,alimentação e lazer a que tem direito, notempo em que deveria ser de descanso, osi<strong>do</strong>sos deixam-se morrer, levan<strong>do</strong> consigorelíquias da sabe<strong>do</strong>ria. Muitas vezes, como“estorvo” <strong>na</strong> vida familiar, são “deposita<strong>do</strong>s”em asilos e casas de repouso, onde esperamo tempo passar até que chegue o seu tempo:o da morte.Bosi 14 descreve esse tempo da vida“<strong>na</strong>tural como a cor da pele”, lembran<strong>do</strong> ospreconceitos que cercam o i<strong>do</strong>so, as dificulda-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO313des que enfrenta “para continuar sen<strong>do</strong> umhomem”. Mesmo que não seja castiga<strong>do</strong> poralguma falha ou distração, mesmo que nãoseja atingi<strong>do</strong> por algum infortúnio, ele geralmenteperde a razão de viver ou descobrea ausência dessa razão, considera Beauvoir 15 ,em estu<strong>do</strong> sobre “a velhice”, justifican<strong>do</strong> oconformismo <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so <strong>na</strong> espera da morte.Mas, para manter os projetos vivos eafastar o fantasma da morte, o i<strong>do</strong>so precisa<strong>do</strong> Outro, da sua atenção, além <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>sque a idade avançada carece. Aí está a importânciada memória como trabalho. Lembran<strong>do</strong>,refazemos, reconstruímos, repensamos,“com imagens e idéias de hoje, asexperiências <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>”, considera Bosi 16 ,explicitan<strong>do</strong> a lembrança como sobrevivência<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.A lembrança de uma imagem construídapelos materiais que estão, agora, à nossadisposição, no conjunto de representações quepovoam nossa consciência atual. [...] ela nãoé a mesma imagem que experimentamos <strong>na</strong>infância, porque nós não somos os mesmosde então e porque nossa percepção alterousee, com ela, nossas idéias, nossos juízosde realidade e de valor. O simples fato delembrar o passa<strong>do</strong>, no presente, exclui aidentidade entre as imagens de um e de outro,e propõe a sua diferença em termos de pontode vista.Ao trabalhar com a memória, no encontroentre i<strong>do</strong>sos e jovens, reelaboramos o quefoi com a proposta <strong>do</strong> que é para se construiro futuro. Lembran<strong>do</strong> o que diz Chau sobreo trabalho de Bosi 17 , “ler é retomar a reflexãode outrem como matéria-prima parao trabalho de nossa própria reflexão”.Aí está uma das justificativas para a primeiraparte <strong>do</strong> trabalho que realizamos comnossos alunos da graduação, em 2003. Aoconvocar a memória de i<strong>do</strong>sos a respeito deobjetos que constituem a base para a preparaçãoprofissio<strong>na</strong>l desses jovens, elesprocederam a leitura de vozes <strong>do</strong>s que falaram(como trabalho de lembrar, da memória)para a construção de objeto simbólicode análise (discurso de i<strong>do</strong>sos), procuran<strong>do</strong>compreender senti<strong>do</strong>s possveis a respeito deacontecimentos, imagens, produtos, práticasculturais, meio ambiente, conforme a problemáticalevantada em cada um <strong>do</strong>s cursosenvolvi<strong>do</strong>s, <strong>na</strong>s respectivas discipli<strong>na</strong>s.Trabalhan<strong>do</strong> com a memória, resgatamosa arte de contar histórias, acolhen<strong>do</strong> o conselhono ato <strong>do</strong> falar vivo. Isso porque acreditamosno que Bosi 18 afirma sobre “a arte da <strong>na</strong>rração”,que “não está confi<strong>na</strong>da nos livros, seuveio épico é oral. O <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>r tira o que <strong>na</strong>rrada própria experiência e a transforma emexperiências <strong>do</strong>s que o escutam”.”Contu<strong>do</strong>, <strong>na</strong> atualidade, neste tempo deglobalização da sociedade <strong>do</strong> espetáculo, a<strong>na</strong>rração foi substituída pela informação fragmentadaque a mídia difunde enquanto novidade“e só tem valor no instante que surge”.Assim a informação “se esgota no instanteem que se dá e se deteriora”. A <strong>na</strong>rração édiferente, ela “não se consuma, pois sua forçaestá concentrada em limites como o da sementee se expandir por tempo indefini<strong>do</strong>”.A essa consideração, Bosi 19 compara a situação<strong>do</strong> “receptor da comunicação de massa”como “um ser desmemoria<strong>do</strong>”.Cabe à Escola, portanto, reverter essequadro, trabalhan<strong>do</strong> as competências nos <strong>do</strong>ispólos da comunicação (enuncia<strong>do</strong>r eenunciatário), reven<strong>do</strong> e discutin<strong>do</strong> histórias,propon<strong>do</strong> alter<strong>na</strong>tivas que conciliem universos,linguagens e percepções; ativan<strong>do</strong>, enfim,memórias para evitar o que Martín-Barberochama de “esquizofrenia cultural”.Com o propósito de recuperar a capacidadede escuta <strong>do</strong>s jovens, procuramosorientá-los como ouvintes que, esquecen<strong>do</strong>sedeles próprios, pudessem penetrar <strong>na</strong>história <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos, de tal forma que a artede <strong>na</strong>rrar fosse transmitida de maneira <strong>na</strong>turale agradável. Constatamos, com essaprática pedagógica, que a partir <strong>do</strong> encontroforam recupera<strong>do</strong>s fios de uma rede artesa<strong>na</strong>l,tecida em milénios: a <strong>na</strong>rrativa, formaartesa<strong>na</strong>l de comunicação.No encontro de tempos diferentes, nãohouve substituição, mas o complemento <strong>do</strong>artesa<strong>na</strong>l com o tecnológico: anotação egravação <strong>do</strong>s relatos: sobre guerra mundial,ditadura militar, racio<strong>na</strong>mento de comida,censura das palavras; filmagens das rugascom histórias, das mãos trêmulas a pedircarinho, <strong>do</strong> olhar distante recuperan<strong>do</strong> lembranças,tecen<strong>do</strong> caminhos <strong>na</strong> relação entreuniversidade e sociedade.No cruzamento <strong>do</strong>s fios de histórias <strong>do</strong>passa<strong>do</strong>, surgiram novas histórias que osalunos construíram como artesãos de uma


314 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVsociedade mais justa, onde i<strong>do</strong>sos e jovenspossam conviver, trocan<strong>do</strong> experiências commútuo respeito, vincadas de solidariedade. Nametáfora da viagem, vencen<strong>do</strong> distâncias, osuniversitários renovaram suas bagagens,porque o saber não está somente nos livros.No encontro de descobertas, jovens e i<strong>do</strong>sosteceram a substância social da memória, dalembrança, a fim de não se perderem históriaspessoais que ajudam a construir oconhecimento.O i<strong>do</strong>so <strong>na</strong> mídiaEm 2003, especialmente no segun<strong>do</strong>semestre, a mídia destacou o Brasil de cabelosbrancos, e o i<strong>do</strong>so foi assunto de pauta emdiferentes situações. Home<strong>na</strong>gea<strong>do</strong> <strong>na</strong> Campanhada Fraternidade da CNBB – ConferênciaNacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s Bispos <strong>do</strong> Brasil –, queconclamou Vida, Esperança e Dignidade aessa população significativa no país, o i<strong>do</strong>soconquistou o seu Estatuto, sancio<strong>na</strong><strong>do</strong> em 1ºde outubro pelo presidente Luís Inácio Lulada Silva. No entanto, foi vítima da medidaarbitrária <strong>do</strong> ministro da Previdência, Ricar<strong>do</strong>Berzoini, que suspendeu o pagamento dasaposenta<strong>do</strong>rias aos segura<strong>do</strong>s com mais de90 anos, até a prova de que estavam vivos,comparecen<strong>do</strong> aos postos da previdência. Osacrifício <strong>na</strong>s filas, registra<strong>do</strong> pela mídia,revoltou os brasileiros.Além dessas e outras pautas nos noticiários,o i<strong>do</strong>so mereceu destaque <strong>na</strong> programaçãotelevisiva de lazer com abordagempolêmica: a maldade da neta em MulheresApaixo<strong>na</strong>das, novela de Manoel Carlos,veiculada no horário nobre da Rede Globo;o modernismo da Avó Layla, em Malhação,que passou no vestibular de Direito e assumiuo cotidiano <strong>do</strong>s jovens <strong>na</strong> universidade.E os nossos alunos <strong>do</strong> curso de ComunicaçãoSocial deram conta dessa gama deprodução da mídia sobre os i<strong>do</strong>sos, contan<strong>do</strong>,muitas vezes, com o apoio da família paraa gravação de programas da televisão, seleçãoe recorte de matérias impressas, esclarecimentode fatos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, a fim de que pudessemestabelecer relação com “o mun<strong>do</strong>de hoje”.Nos seminários 20 , observamos que osalunos, além de confirmarem premissas queinvestigamos em nossa tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> 21 ,levantaram questões pertinentes para a continuidade<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> sobre o i<strong>do</strong>so e os meiosde comunicação social, como desafiosaquisição <strong>do</strong> saber e formação da cidadania.Sobre a escassez de produções voltadaspara o i<strong>do</strong>so, o jor<strong>na</strong>lista e diretor <strong>do</strong> Centrode Produção de Cinema e Televisão daUniversidade de Brasília, Paulo José Cunha,observa o seguinte:Emissora alguma se arrisca a colocar noar um programa especificamente desti<strong>na</strong><strong>do</strong>ao público da terceira idade, porque teme sercarimba<strong>do</strong> de “televisão de velho” e, comisso, perder a audiência das demais faixasetárias. Desde o departamento comercial atéa teledramaturgia, os estereótipos apontampara a necessidade de não se mostrar o velhoou, se tiver de mostrá-lo, que se mostre umvelho que quer ser jovem, que precisa serjovem, que não pode jamais “sucumbir” àprópria velhice.Desafios“A mídia continuará a dar espaço aoi<strong>do</strong>so, nos próximos anos?”. Essa questão,no nosso entender, sintetiza a preocupaçãolevantada pelos alunos no decorrer <strong>do</strong>s seminários.Nas diferentes mídias e tipologiastextuais, os estudantes constataram o queafirmou o editor de um jor<strong>na</strong>l local: “o i<strong>do</strong>soaparece <strong>na</strong> mídia quan<strong>do</strong> a pauta pede”.E a pauta pedia, como apuraram os alunos,sempre os mesmos assuntos: <strong>do</strong>ença / saúde/ medicamento, aposenta<strong>do</strong>ria, denúncia demaus tratos e aban<strong>do</strong>no. Informações deproblemas descontextualiza<strong>do</strong>s, sem apontaralter<strong>na</strong>tivas para solução. Isso no que se refereao cidadão comum, porque o famoso sempretem espaço para ilustrar matérias sobreesporte, lazer, qualidade de vida, beleza,viagem e “outras maravilhas que não fazemparte <strong>do</strong> cotidiano da maioria <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sosexcluí<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mídia”, como desabafou umaalu<strong>na</strong>. Excluí<strong>do</strong>s eles estão também <strong>na</strong>Internet, de acor<strong>do</strong> com o levantamento <strong>do</strong>salunos em diversos sites para i<strong>do</strong>sos, compre<strong>do</strong>minância de programas para “diversãodentro de casa”: jogos de carta, receitasculinárias, palavras cruzadas etc.Na publicidade, o i<strong>do</strong>so quase sempreaparece em situações forçadas para que hajaaproximação com o universo <strong>do</strong>s mais jo-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO315vens. Com isso, algumas peças publicitáriasridicularizam a condição de i<strong>do</strong>so para venderprodutos desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s aos mais jovens. Aquestão, como enfatizou um <strong>do</strong>s gruposenvolvi<strong>do</strong>s no trabalho, não é o i<strong>do</strong>so “serjovem, mas parecer jovem”. E essa diferençaentre ser e parecer não é contemplada devidamente<strong>na</strong>s peças publicitárias, em que osi<strong>do</strong>sos aparecem desloca<strong>do</strong>s como protagonistasem situações persuasivas, de formagrotesca.Na programação de lazer, sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong>dramaturgia, a abordagem foi mais convincente.Quase to<strong>do</strong>s os alunos fizeram alusãoaos i<strong>do</strong>sos de Mulheres Apaixo<strong>na</strong>das eMalhação, estabelecen<strong>do</strong> relação entre a tramadesses <strong>do</strong>is programas televisivos e situaçõesem suas vidas familiares. Exemploda alu<strong>na</strong> que relatou a aproximação com aavó alcoólatra, enquanto realizava o trabalho;<strong>do</strong> aluno que confessou ser “um inútil”,pois o avô trabalha para pagar a mensalidade<strong>do</strong> seu curso. A i<strong>do</strong>sa Layla, de Malhação,considerada “a avó <strong>do</strong> sonho” para uns e aque envergonharia outros, ganhou maisdestaque entre os alunos <strong>do</strong> que o casal Florae Leopol<strong>do</strong>, vítima da neta Dóris, emMulheres Apaixo<strong>na</strong>das. Para os jovens, heróinão tem idade, principalmente quan<strong>do</strong> desafiaas regras <strong>do</strong> jogo, quan<strong>do</strong> introduz o novo,o diferente, <strong>na</strong> mesmice <strong>do</strong> cotidiano. Essa“lição” deve ser aprendida em nossas Escolas.Com essa experiência, a questão quecolocamos é a seguinte: jovens e i<strong>do</strong>sos estãoprepara<strong>do</strong>s para a alteridade, estabelecen<strong>do</strong>a relação <strong>do</strong> Eu com o Outro, conscientemente,no processo de transformação <strong>do</strong> to<strong>do</strong>?Como explicam Seabra e Muszkat 22 a identificaçãode si mesmo, que existe no encontrocom o Outro, realiza-se sempre numdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> momento histórico-social entre<strong>do</strong>is seres <strong>na</strong> luta pela sua existência. E essemomento, no nosso entender, começa <strong>na</strong>Escola, com pedagogia e currículo capazesde oferecer oportunidades para que os estudantesdesenvolvam capacidades de crítica equestio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>s sistemas e das formas<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes de representação da identidadee da diferença. “Pedagogia” significa “diferença”.Assim Silva 23 explica o ato de educar,que “significa introduzir a cunha dadiferença em um mun<strong>do</strong> que sem ela se limitariaa reproduzir o mesmo e o idêntico,um mun<strong>do</strong> para<strong>do</strong>, um mun<strong>do</strong> morto”.No país de diversidade como o nosso, asugestão de Oliveira (2004) complementa oque procuramos investigar com os nossosalunos, ou seja: “o que nos une é mais forte<strong>do</strong> que aquilo que nos separa”. Mas discordamos<strong>do</strong> autor, ao considerar que “a diversidadeseria a nossa identidade”. Nessesenti<strong>do</strong>, aderimos à posição de Silva 24 , queaproxima a diferença <strong>do</strong> múltiplo e não <strong>do</strong>diverso, propon<strong>do</strong> um currículo e uma pedagogiada diferença e da multiplicidade, compossibilidade de abertura para um outromun<strong>do</strong>, o da comunicação, que Martín-Barbero 25 aconselha a enfrentar como desafioao sistema educacio<strong>na</strong>l, “desmontan<strong>do</strong>”a “pretensão” da cultura letrada “de ser aúnica cultura dig<strong>na</strong> desse nome e o eixocultural de nossa sociedade”.


316 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBaccega, Maria Aparecida, / A construção<strong>do</strong> campo Comunicação/Educação/, in:Comunicação & Educação, ano V, nº 14, SoPaulo, Moder<strong>na</strong>, jan. / abr. 1999, 7-16.Beauvoir, Simone de, / A velhice: o maisimportante ensaio contemporâneo sobre ascondições de vida <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos/, tradução porMaria Hele<strong>na</strong> Franco Monteiro, Rio deJaneiro, Nova Fronteira, 1990.BOSI, Ecléa, / Memória e Sociedade:lembranças de velhos/, 6. ed., São Paulo,Companhia das Letras, 1998.Martín-Barbero, Jesús, / Desafios culturaisda comunicação educação, in: Comunicação& Educação, ano VI, nº 18, SãoPaulo, Segmento, mai. / set., 2000, 51-61.Seabra, Zelita, Muszkat, Malvi<strong>na</strong>, / Identidadefemini<strong>na</strong>/, Petrópolis, RJ, Vozes, 1985.Silva, Tomaz Tadeu da, / A produçãosocial da identidade e da diferença/, in:SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org.), Identidadee diferença: a perspectiva <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>sCulturais, Petrpolis, RJ, Vozes, 2000, 73-102.Oliveira, Roberson de, / A literatura e aquestão da <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade/, 01 de janeiro de 2004.Disponível em . Acesso em03 de janeiro de 2004._______________________________1Universidade Católica de Santos – UniSantos/ SP / Brasil.2Jesús Martín-Barbero, / Desafios culturaisda comunicação à educação/, São Paulo, Segmento,2000, 55.3Ibid, 55.4Ibid, 54-57.5Maria Aparecida Baccega, /A construção <strong>do</strong>campo Comunicação/Educação/, São Paulo,Moder<strong>na</strong>, 1999, 9.6Jesús Martín-Barbero, / Desafios culturaisda comunicação à educação /, São Paulo, Segmento,2000, 55.7Toman<strong>do</strong> a Colômbia como modelo, JesúsMartín-Barbero aponta <strong>do</strong>is tipos de dinâmica quepromovem as mudanças <strong>na</strong> sociedade latino-america<strong>na</strong>:“a de uma comunicação que se converteem ecossistema e a de uma forte diversificação edescentralização <strong>do</strong> saber”. Para o autor,ecossistema comunicativo “é a relação com as novastecnologias, com sensibilidades novas, muito maisclaramente visíveis entre os mais jovens” (2000,55).8Jesús Martín-Barbero, / Desafios culturaisda comunicação à educação /, São Paulo, Segmento,2000, 57.9As discipli<strong>na</strong>s que ministramos são asseguintes: Comunicação Comparada (aos alunos<strong>do</strong> curso de Comunicação Social, <strong>na</strong>s habilitaçõesde Jor<strong>na</strong>lismo, 3º e 4º semestres), Publicidade ePropaganda (1º e 2º semestres), Relações Públicas(1º e 2º semestres); Comunicação Ambiental(aos alunos <strong>do</strong> 1º e 2º semestres <strong>do</strong> curso deGeografia com ênfase em Anlise Ambiental);Desenvolvimento da Comunidade e Comunicação(aos alunos <strong>do</strong> 1º semestre <strong>do</strong> curso de Nutrição).10Maria Aparecida Baccega, / A construção<strong>do</strong> campo Comunicação / Educaão/, São Paulo,Moder<strong>na</strong>, 1999, 9.11Número de alunos em cada turma: 60 emNutrição, 10 em Geografia, 77 em Jor<strong>na</strong>lismo (40no perío<strong>do</strong> noturno e 37 no matutino), 24 emRelações Públicas, 99 em Publicidade e Propaganda(29 e 36 no perío<strong>do</strong> noturno e 34 no matutino).12Ecléa Bosi, / Memória e Sociedade: lembrançasde velhos /, São Paulo, Companhia dasLetras, 1998, 90.13De acor<strong>do</strong> com o Censo Demográfico <strong>do</strong>IBGE de 2000, <strong>do</strong>s 169.590.693 brasileiros residentesno país, 14.536.029 estavam <strong>na</strong> faixaetária acima <strong>do</strong>s 60 anos. O ndice de crescimento,de 1991 a 2000, saltou de 4,8% para 5,9%.14Ecléa Bosi, / Memória e Sociedade: lembrançasde velhos /, São Paulo, Companhia dasLetras, 1998, 79.15Simone Beauvoir, / A velhice/, Rio deJaneiro, Nova Fronteira, 1990, 544.16Ecléa Bosi, / Memória e Sociedade: lembrançasde velhos /, São Paulo, Companhia dasLetras, 1998, 55.17Ibid, 21.18Ecléa Bosi, / Memória e Sociedade: lembrançasde velhos /, São Paulo, Companhia dasLetraks, 1998, 85.19Ibid, 87.20Como procedimento meto<strong>do</strong>lógico <strong>do</strong> trabalho,os seminários consistiram no momento deexposição sobre os resulta<strong>do</strong>s e reflexão a respeitoda problemática. Portanto, combi<strong>na</strong>mos o seguinte:a cada falta <strong>na</strong>s aulas referentes aos seminários,o aluno perderia meio ponto <strong>na</strong> média entre as notas<strong>do</strong> relatório de pesquisa e a <strong>do</strong> seminrio.21Be<strong>na</strong>lva da Silva Vitorio, /O senti<strong>do</strong> da TVno cotidiano <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so: Análise de Discurso comoprática teórica transforma<strong>do</strong>ra, 2003. 218f., tese(<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Comunicação), Escola de Comunicaçõese Artes da Universidade de So Paulo, São Paulo.22Zelita Seabra, Malvi<strong>na</strong> Muszkat, / Identidadefemini<strong>na</strong>, Petrpolis, RJ, Vozes, 1985, 20.23Tomaz Tadeu da Silva, /A produção socialda identidade e da diferença/, Petrópolis, RJ,Vozes, 2000, 101.24Ibid, 100.25Jesús Martn-Barbero, / Desafios culturaisda comunicação educação/, São Paulo, Segmento,2000, 57.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO317Magia, luzes e sombras.Uma Perspectiva Educacio<strong>na</strong>l Sobre Vinte Cinco Anos De FilmesNo Circuito Comercial Em Portugal * 1974 – 1999 *Carlos Capucho 1I – Uma perspectiva educacio<strong>na</strong>l sobre ocinemaA investigação realizada em ordem a umatese de <strong>do</strong>utoramento teve em conta a defesade um quadro de preparação técnica e científicaque habilite os educa<strong>do</strong>res para acompreensão <strong>do</strong>s mecanismos da comunicaçãomediatizada no senti<strong>do</strong> de os <strong>do</strong>tar comcapacidade crítica, essencial para o exercíciode tarefas educativas no campo <strong>do</strong>s media.Nem sempre uma tal qualificação se verifica2 . Porém, as habilitações que se referemnão respeitam ape<strong>na</strong>s à capacidade de leiturae interpretação. São exigíveis também paraa compreensão <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong>s media nospúblicos a que se dirigem 3 . No entanto, anecessidade de formação <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res nocampo <strong>do</strong>s media audiovisuais desde ce<strong>do</strong>(e podemos considerar os anos 50) levantouresistências 4 . Hoje, porém, é bem maispacífica a aceitação de uma preparação deeduca<strong>do</strong>res <strong>na</strong>s diversas formas de comunicaçãomediatizada 5 e, nesse senti<strong>do</strong>, tentamresponder os estabelecimentos de ensinosuperior e ainda as múltiplas iniciativas nocampo da “educação para os media e daeducação pelos media” levadas a efeito peloInstituto de Inovação Educacio<strong>na</strong>l antes dasua infeliz extinção 6 .Questões da <strong>na</strong>tureza das que se vêmformulan<strong>do</strong> colocam problemas relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>scom a necessidade de estabelecimento debases teóricas e práticas para a utilizaçãopedagógica <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong>, particularmente<strong>do</strong> cinema. Ao longo de mais de um séculoa desig<strong>na</strong>da Sétima Arte desenvolve-se emmúltiplas manifestações de forte impacto epopularidade, sobretu<strong>do</strong> ao nível <strong>do</strong> entretenimento.No entanto, muitas obras, aocuidarem <strong>do</strong>s valores estéticos e empenhan<strong>do</strong>-seem forte intervenção social são, nocampo <strong>educativo</strong>, uma mais valia. Mas ocinema ce<strong>do</strong> se constituiu também comopoderosa indústria. Uma tão forte presençanão pode por isso ser negligenciada numaperspectiva educacio<strong>na</strong>l. Este foi um <strong>do</strong>sprincipais objectivos da investigação levadaa cabo.José Carlos Abrantes (1992) sublinha asvirtualidades <strong>do</strong> cinema não ape<strong>na</strong>s no processode aprendizagem que envolve os alunos,mas também <strong>na</strong> formação de professores.A da<strong>do</strong> passo afirma (pp. 61-62):“[...] o cinema de hoje permite-nos,com sequências curtas de <strong>do</strong>is ou trêsminutos, «dizer» com grande propriedadee senti<strong>do</strong> emotivo aquilo queas palavras nem sempre sabem desencadear.[...] A vantagem <strong>do</strong> cinema éque as entradas são infinitas: o queé preciso é ter uma preocupação eprocurar, no filme certo, a respostamais interessante”.Este testemunho confirma a experiênciaintegrada desde há muitos anos no nossopróprio trabalho, que sempre utilizou o cinema(tal como os videogramas), com resulta<strong>do</strong>spedagógicos muito positivos, não sócomo instrumento lúdico, mas também comofonte de informação e proposta de reflexãode questões da sociedade contemporânea. Daforma como o cinema vem sen<strong>do</strong> referi<strong>do</strong>tor<strong>na</strong>-se claro que o tomamos <strong>na</strong> vertente ditacomercial e não como um “facto fílmicodidáctico” (Jacquinot, 1977), muito embora– voltamos a sublinhar – nos interessem aseventuais valências pedagógicas da produçãocomercial, exactamente porque o nosso olharse estabelece dentro de uma perspectivaeducacio<strong>na</strong>l.Lauro António (1999:23) reforça a ideiada importância da exploração pedagógica deobras cinematográficas num aspecto que vaiao encontro <strong>do</strong> nosso objectivo, quan<strong>do</strong> notaque os filmes abordam as questões vividas<strong>na</strong> contemporaneidade. Mas o realiza<strong>do</strong>r,numa convicção que também perfilhamos,


318 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcoloca a questão de que não basta servirmonos<strong>do</strong> cinema:“Mas, e o cinema? Raros terão si<strong>do</strong>os professores que se preocuparam emmostrar filmes aos seus alunos coma ambição de lhes falar de cinema,da sua linguagem específica [...]”.Porém, se o cinema não se esgota <strong>na</strong> suautilização ou <strong>na</strong> aprendizagem <strong>do</strong>s seuscódigos, também não se reduz ao formato<strong>do</strong> televisor, ape<strong>na</strong>s um termi<strong>na</strong>l, um agentefacilita<strong>do</strong>r para a passagem <strong>do</strong> cinema talcomo o vídeo ou o DVD, a menos queutiliza<strong>do</strong>s com projecção, ultrapassan<strong>do</strong> assimas limitações <strong>do</strong> televisor. Contu<strong>do</strong>,manda a verdade não esquecermos que esseé, sem dúvida, o meio mais frequente poronde passam os filmes <strong>na</strong>s escolas, <strong>na</strong> formaçãoe <strong>na</strong> animação cultural. Mas o cinema,durante o século da sua vida, foi cria<strong>do</strong>para a sala escura e para o grande ecrã, comtu<strong>do</strong> o que isso supõe de opções, à partida,no que respeita à gramática específica e aotipo de envolvimento <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r, comotão impressivamente refere Edgar Morin. Poroutro la<strong>do</strong>, a questão das relações que osfilmes estabelecem com os diversos tipos depúblico, com os especta<strong>do</strong>res concretos, é umproblema complexo que, embora não deixede estar presente para o visio<strong>na</strong>mento emtelevisor, se coloca certamente de formadiversa quan<strong>do</strong> o filme é visio<strong>na</strong><strong>do</strong> em sala.Sem dúvida que hoje as técnicas digitais,quer <strong>na</strong> produção, quer no tratamento, assimcomo <strong>na</strong> distribuição em novos moldes esuportes, nos interrogam sobre o futuropróximo da secular Sétima Arte. Mas nãoape<strong>na</strong>s no interior da arte <strong>do</strong> cinema secolocam questões. Também <strong>na</strong> indústriacinematográfica. Estamos perante uma máqui<strong>na</strong>produtiva que antecipou – sobretu<strong>do</strong>no caso americano, pela sua tentacularhegemonia – o que hoje desig<strong>na</strong>mos comoglobalização a to<strong>do</strong>s os níveis da rede.Se nos colocamos numa perspectivaeducacio<strong>na</strong>l para encarar o cinema e a utilizaçãode filmes, surge, de forma premente,a questão da educação para os media 7 conceitoe praxis essencial para a formação <strong>do</strong>sespecta<strong>do</strong>res já que estes, para uma ple<strong>na</strong>relação com os filmes, deverão deter aschaves de acesso que lhe permitam adescodificação e a interpretação com aconsequente possibilidade de fruírem ple<strong>na</strong>mentea obra que lhes é proposta. Pinto &Santos (1996) apelam fortemente para anecessidade da formação <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res,desde a Escola, <strong>na</strong>s regras que enformam alinguagem cinematográfica. Tal conduzirá aum tipo de especta<strong>do</strong>r mais esclareci<strong>do</strong> e maisexigente e, consequentemente, mais crítico.Só assim o especta<strong>do</strong>r de cinema estaráhabilita<strong>do</strong> a Ver, Descodificar e Interpretar.E <strong>na</strong> interpretação o especta<strong>do</strong>r encontra-secom o autor. Assim se estabelece uma troca.Na história <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> sempre têmsurgi<strong>do</strong> a<strong>na</strong>listas que assumem posicio<strong>na</strong>mentoscontraditórios face aos efeitos e àsconsequências <strong>do</strong>s media <strong>na</strong> vida quotidia<strong>na</strong>.Por vezes essas tomadas de posição assumemcontornos fundamentalistas sobre a bondadeou a perversidade <strong>do</strong>s media <strong>na</strong>s sociedadescontemporâneas. Frequentemente posiçõesextremadas são desacreditadas por um maiorrigor da investigação ou pela desmistificaçãodas premissas que as sustentavam. O estu<strong>do</strong>das teorias da comunicação está aí para ocomprovar. Mas <strong>do</strong> que não resta dúvida éque, <strong>na</strong> actualidade, a onda – quase diríamosa moda – que coloca constantemente <strong>na</strong>balança as mais triviais abordagens em quea noção de comunicação é agitada comobandeira da contemporaneidade, geraanticorpos que procuram tomar o peso eavaliar o significa<strong>do</strong> dessas correntes. Asconclusões assumidas são umas vezes decarácter mais “apocalíptico” outras de si<strong>na</strong>lmais “integra<strong>do</strong>” 8 . Daqui decorre a importânciade um olhar distancia<strong>do</strong>. No campoeducacio<strong>na</strong>l existe, por vezes, da parte <strong>do</strong>sutiliza<strong>do</strong>res, um deslumbramento acríticopelas novas tecnologias. Este reparo nãocontraria a imprescindível atenção <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>respara a decisiva importância daquelesinstrumentos, ape<strong>na</strong>s sublinha que o novo nãopoderá fazer esquecer o valor de formas decomunicação já hoje desig<strong>na</strong>das de tradicio<strong>na</strong>is,uma fórmula, por vezes displicente,assumida por alguns que nunca delas souberam(ou não desejaram) tirar nenhuma maisvalia de exploração educacio<strong>na</strong>l. O cinemapoderá ser uma dessas vítimas “tradicio<strong>na</strong>is”.Tal não significa porém que renunciemos a


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO319interrogar esta forma de expressão <strong>audiovisual</strong>que envolve Magia, Luzes e Sombras.O núcleo da investigaçãoA matéria da investigação é constituídapor <strong>do</strong>is Corpus complementares. O primeiroapresenta da<strong>do</strong>s globais sobre os 6.728filmes considera<strong>do</strong>s <strong>na</strong> exibição comercial emsalas portuguesas 9 durante o perío<strong>do</strong> emestu<strong>do</strong>. Trata-se de um terreno fértil depesquisa e a que efectuámos é uma entre asvárias possíveis. A principal fonte que sustentaa observação é o “BC - BoletimCinematográfico”, uma publicação <strong>do</strong> Secretaria<strong>do</strong><strong>do</strong> Cinema e <strong>do</strong> Audiovisual da IgrejaCatólica, fundada em 1951, e que tivemosocasião de conhecer de perto ao longo <strong>do</strong>sdezanove anos em que integrámos a equipade críticos (1974/1993). O encerramento <strong>do</strong>BC teve lugar em Dezembro de 1998 porrazões de ordem fi<strong>na</strong>nceira. A referência <strong>do</strong>sfilmes estrea<strong>do</strong>s em Portugal no perío<strong>do</strong> de1999 ainda respeitante ao estu<strong>do</strong> foi feita comrecurso a “CINEDOC - Centro de DocumentaçãoCinematográfica”, um serviço constituí<strong>do</strong>por uma parte da equipa cessantede”BC. Uma das particularidades da Publicaçãoem referência reside <strong>na</strong> recensão datotalidade <strong>do</strong>s filmes estrea<strong>do</strong>s no nosso país.O número acima aponta<strong>do</strong> constitui ouniverso básico sobre o qual se efectuaramtodas as contagens globais que traduzem oesta<strong>do</strong> da situação no que se refere aosgéneros exibi<strong>do</strong>s, aos realiza<strong>do</strong>res e à origemdas produções. O total de filmes apura<strong>do</strong>com base <strong>na</strong>s fichas <strong>do</strong> BC, se envolveobras de valia cinematográfica cuja temáticanão se enquadrará no entanto dentro <strong>do</strong>objectivo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, também apresenta, emelevada escala, uma percentagem desubprodutos sem quaisquer créditos que osimponham em contexto educacio<strong>na</strong>l. Nestesenti<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s trabalhos que realizámos,depois de cuida<strong>do</strong>sa análise de todas as fichas,consistiu <strong>na</strong> selecção de um conjunto significativode obras, que representam a maiorparte <strong>do</strong>s géneros em presença. Chegámosassim ao apuramento de 733 filmes quesignificam – sobre o universo global – umapercentagem de 10,89%. Esta opção nãoelimi<strong>na</strong> a consciência de terem fica<strong>do</strong> de foraobras que à partida possuíam requisitos paraterem si<strong>do</strong> incluídas. A operacio<strong>na</strong>lidade datarefa a tal obrigou. É nessa selecção quese encontram os títulos referencia<strong>do</strong>s <strong>na</strong>análise pormenorizada que ocupa essencialmenteo núcleo <strong>do</strong> Corpus I. O critérioaplica<strong>do</strong> para a selecção das obras em causarespeitou uma evidente qualidade da linguagemcinematográfica, a importância relativa<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>res e a pertinência educacio<strong>na</strong>l<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s fílmicos. Muitos desses títulosencerram algum grau de construção simbólica,uma matéria a que atribuímos altovalor educacio<strong>na</strong>l, como ficou demonstra<strong>do</strong><strong>na</strong> nossa dissertação de mestra<strong>do</strong> (1994).Deveremos também acrescentar que umnúmero considerável desses filmes apresentaconteú<strong>do</strong>s questionáveis. Tal é uma ocasiãopara considerarmos como temas ditos difíceispodem constituir uma oportunidadepedagógica para reflectir sobre problemas esituações que questio<strong>na</strong>m as sociedadescontemporâneas. A título de exemplo apontamosa questão da violência nos media e,por consequência, também no cinema. Osfilmes seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s estão concentra<strong>do</strong>s emduas listagens constantes nos Anexos. Aprimeira apresenta os da<strong>do</strong>s referentes à fichatécnica de cada filme. A segunda, fundada<strong>na</strong> primeira, apresenta a classificação degénero atribuída pelo BC aos filmes emcausa.O Corpus II, intitula<strong>do</strong> genericamente“Uma Volta ao Mun<strong>do</strong> Com o Cinema”,”éconstituí<strong>do</strong> por um minucioso estu<strong>do</strong> de seiscasos, ou seja, seis filmes produzi<strong>do</strong>s através<strong>do</strong>s cinco continentes e a que se junta umcaso português. Procuran<strong>do</strong> integrar o fenómenoda multiculturalidade – tópico especificamenteaborda<strong>do</strong> no Corpus I – esta parte<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> debruça-se sobre situações concretasem ordem a realizar um trabalho aplica<strong>do</strong>de análise e interpretação fílmica, dentro deobjectivos educacio<strong>na</strong>is. O que se pretende– e tal constitui o cume de to<strong>do</strong> o trabalho– é juntar o rigor da condição <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong>a<strong>na</strong>lista ao prazer lúdico <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r, umaqualidade que se revela essencial não ape<strong>na</strong>sno campo <strong>do</strong> entretenimento, mas tambémda actuação pedagógica. Na verdade, acreditamosque quanto mais formos capazes dever e de ouvir os filmes que se nos oferecem,maior qualidade de comunicação – logo deinteligência – se estabelecerá e, em


320 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconsequência, maior será a fruição e acompreensão que arrancaremos quer daspeças raras, quer das que simplesmente seapresentem com a singeleza <strong>do</strong> objectocomum. Estas são condições primeiras paraaplicações de ordem pedagógica, a partir <strong>do</strong>objecto cinematográfico.É neste cruzamento que entendemos apalavra luminosa <strong>do</strong> grande cineasta francêsque foi François Bresson (+1999): “Dirás deum filme que é belo quan<strong>do</strong> te transmitir umaalta ideia <strong>do</strong> cinematógrafo” 10 . Quanto maisdescobrirmos e inventariarmos num filmeas riquezas e as subtilezas de expressão –no seu conteú<strong>do</strong>, sem dúvida, mas sobremaneira<strong>na</strong> imagem, no som, <strong>na</strong> montagem(enfim, trata-se de <strong>audiovisual</strong>) – maismergulharemos <strong>na</strong> beleza daquele cinema quelogra ultrapassar a roti<strong>na</strong> e o lugar comum.E essa descoberta e enriquecimento constituiráa alta ideia <strong>do</strong> cinema.Uma das linhas de força <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> querealizámos alicerça a ideia de que a importânciada formação <strong>do</strong>s agentes <strong>educativo</strong>s(<strong>do</strong>centes, forma<strong>do</strong>res e anima<strong>do</strong>res culturais)não pode ser escamoteada nem postergada.Neste senti<strong>do</strong> estudámos, numa PrimeiraParte, to<strong>do</strong> um conjunto de tópicos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>scom comunicação e linguagem cinematográfica,um to<strong>do</strong> que culmi<strong>na</strong> numcapítulo onde se relacio<strong>na</strong>m as perspectivaseducacio<strong>na</strong>is que envolvem o cinema. É que,uma vez que estamos no território da educaçãopara os media, partilhamos da posiçãode Manuel Pinto (1994) quan<strong>do</strong> sublinha quea aquisição de conhecimentos no <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>smedia não interessará por si mesma masape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> medida em que contribui para umacapacidade de descodificação e o estabelecimentode uma habilitação crítica 11 . Assim,os campos que fomos suscitan<strong>do</strong> e organizan<strong>do</strong>ao longo de seis capítulos assumemum inventário fundamental para o olhar deum educa<strong>do</strong>r sobre o cinema, olhar quemotiva não ape<strong>na</strong>s uma forma de encarar osfilmes mas também a sua eventual exploraçãopedagógica. Na verdade, o envolvimentoeducacio<strong>na</strong>l tece-se numa rede que apela nãosó para os aspectos que lhe são específicos,mas passa por outras discipli<strong>na</strong>s no <strong>do</strong>mínioda comunicação e não abdica de uma reflexãosobre as influências exercidas pelosmedia.Mas, e uma vez que está em jogo ocinema, não será possível fazer caminhopedagógico sem o necessário <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>sconstitutivos básicos que sustentam essalinguagem e dão corpo à sua expressão. Estaé uma condição de partida para que não seperca de vista o que está implica<strong>do</strong> e o quedeve ser observa<strong>do</strong> em permanência: aimagem, o som, o texto fílmico, a montagem,os actores e os especta<strong>do</strong>res. Temos,<strong>na</strong> verdade, ao longo <strong>do</strong>s anos, <strong>na</strong> nossaactividade <strong>do</strong>cente, sublinha<strong>do</strong> sempre anecessidade de algum <strong>do</strong>mínio da gramáticacinematográfica por parte <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res. Euma vez que, em última análise, nos interessao campo educacio<strong>na</strong>l, será um coroláriológico que um último capítulo se debrucesobre um conjunto de tópicos que relevamda ordem educacio<strong>na</strong>l já que o cinemaenvolve uma matéria prima que, para além<strong>do</strong>s aspectos artísticos e <strong>do</strong>s valores (oucontra-valores) culturais, se manifesta tambémno dia-a-dia como entretenimento ecomo informação. Mas que transporta também,numa outra vertente – de forma ora maissubtil, ora mais agressiva –, as ideologias,a propaganda, a aculturação, a violência,estigmas manipula<strong>do</strong>res que os filmes impõemcom frequência aos seus especta<strong>do</strong>res.O cinema: um valor no campo da educaçãoQuan<strong>do</strong> antes aludíamos à importânciada educação para os media afirman<strong>do</strong> quenão se poderia reduzir a uma aprendizagemde elementos de ordem técnica, não pretendíamosminimizar a importância de tais aquisições.Queremos mesmo sublinhar que serámais difícil termos acesso aos valores queos media encerram – ou assumir uma posturacrítica – se não estivermos habilita<strong>do</strong>s comchaves para compreender os processos utiliza<strong>do</strong>se para descodificarmos as mensagensveiculadas. Na verdade a educação para osmedia contraria a posição <strong>do</strong>s detractores <strong>do</strong>smeios de comunicação social que denunciamum esta<strong>do</strong> de coisas frequentemente real maspara o qual não apresentam alter<strong>na</strong>tivas. Mascontraria também o deslumbramento acríticode outros que no campo da educação estãoprontos a receitar como pa<strong>na</strong>ceia para to<strong>do</strong>sos problemas a última aquisição técnica


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO321proposta pelo merca<strong>do</strong> 12 . E os media, comobem sabemos, e como aponta Gonnet (1994:45), não são um testemunho transparente darealidade sen<strong>do</strong> antes fautores de representaçãodessa realidade que pode ser manipuladaaté ao simulacro 13 . Por isso as mensagensnão são neutras. Quan<strong>do</strong> muito osemissores procurarão, eticamente, uma objectividadeque nunca é atingida em totalidade.E os media em geral, particularmenteno <strong>audiovisual</strong>, com o impacto das imagensanimadas e o envolvimento <strong>do</strong>s sons, representaum enorme poder de sedução e depersuasão.Ora o cinema ce<strong>do</strong> tomou consciênciadesse poder intrínseco aplica<strong>do</strong> a subtisveículos ideológicos e de propaganda 14 . Estessão, no meio de muitos outros, motivosimportantes para que se equipe cada grupoetário, ao longo da vida, com instrumentosde descodificação e interpretação <strong>do</strong>s dispositivose <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. Ora esse conjuntode capacidades remete, como também lembraGonnet (op. cit.: 49-51), para temasfundamentais que deverão estar presentes noprocesso <strong>educativo</strong>. Aí, o autor aponta, talcomo também temos feito há três décadas,a importância das técnicas não ape<strong>na</strong>s para“aprender a utilizar as de uso corrente[...] mas sobretu<strong>do</strong> para compreendero funcio<strong>na</strong>mento das grandestecnologias mediáticas, dessacralizan<strong>do</strong>assim esses mesmos utensílios”.Importante, também, será a compreensão<strong>do</strong>s mecanismos da produção. Tal remete paraelementos liga<strong>do</strong>s à economia e ao direito<strong>do</strong>s media.Digamos, de forma pragmática, quepreparar as crianças e os jovens para aintegração destes elementos <strong>na</strong> sua práticaquotidia<strong>na</strong> é estar a lutar pela dignidade faceaos usos <strong>do</strong>s media. Assim acontecerá como cinema pois que nos encontramos peranteuma rede de códigos verbais, sonoros,icónicos, retóricos, estilísticos e outros. Ora,<strong>na</strong> instituição escolar, a recorrente objecçãodiz-nos que a preocupação com estas questõespoderá conduzir a um desvio <strong>do</strong>s programasescolares e que nem sequer existetempo para tal. Em relação ao cinema, comopara com os outros media, a objecção poderáser ultrapassada se nos aplicarmos a umadimensão transversal da educação como aapresenta o investiga<strong>do</strong>r ca<strong>na</strong>diano MichelPichette:“Nos programas escolares, a educaçãopara os media deve e pode cobrira totalidade <strong>do</strong> ensino. Todas asdiscipli<strong>na</strong>s são um bom momento paratratar <strong>do</strong>s media [...]. Do ensino damatemática ao estu<strong>do</strong> da geografia, daecologia e da História ou da línguamater<strong>na</strong>, todas as discipli<strong>na</strong>s podemconcorrer para uma alfabetização paraos media” 15 .Temos esta<strong>do</strong> a referir-nos à instituiçãoescolar. Não esqueçamos porém que estaformação se impõe para além da Escola. Eladeverá estar também presente <strong>na</strong> animaçãosócio-cultural e <strong>na</strong> formação profissio<strong>na</strong>l.Assim os <strong>do</strong>centes, os anima<strong>do</strong>res e osforma<strong>do</strong>res estejam atentos e habilita<strong>do</strong>s.No caso específico <strong>do</strong> cinema, compreenderum filme significa não só reconhecere identificar os elementos visuais e sonorosmas também compreender o discurso fílmicoque se concentra nos códigos cinematográficospropriamente ditos que, por sua vez,também são determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelas tecnologiasutilizadas e que se encontram em permanenteevolução. Sublinha-se, portanto, um aspectoque a educação de um especta<strong>do</strong>r esclareci<strong>do</strong>terá em conta. Do que vimos dizen<strong>do</strong>ressalta a afirmação de Martinez-SalanovaSanchez (1997: 26):“O cinema é um instrumento imprescindívelpara a<strong>na</strong>lisar a vida huma<strong>na</strong>,os valores e os contravalores. Amultiplicidade de significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cinema e as possibilidades de tratamentodas imagens cinematográficas,convertem a sétima arte num materialdidáctico impressio<strong>na</strong>nte.”Recordamos que o cinema – que nos seusprimórdios saltou de feira em feira – aindadurante o perío<strong>do</strong>–mu<strong>do</strong> apresentou, umpouco por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, obras primas hojecentrais <strong>na</strong> História <strong>do</strong> Cinema e objecto deestu<strong>do</strong> de várias discipli<strong>na</strong>s, dentro e fora da


322 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVárea da comunicação. Por outro la<strong>do</strong> o cinema“marca profundamente o repertórioafectivo da sociedade e <strong>do</strong>s indivíduose, portanto, <strong>do</strong>s valores que osenformam. [...] O cinema converte-seem olho fiel e memória crítica <strong>do</strong>século XX. Os filmes reflectem situaçõese mo<strong>do</strong>s de viver e de sentirque convertem a película em <strong>do</strong>cumentode uma dada época [e assim]determi<strong>na</strong>m uma forma de ver arealidade adequan<strong>do</strong>-se em cadamomento às formas, filosofias emaneiras de pensar de cada tempo”(Salanova Sanchez, op. cit.: 26-27) 16 .Nesta clara síntese está compendiada aimportância educacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> cinema. E quan<strong>do</strong>alertávamos para que a educação para osmedia não se esgote <strong>na</strong> aprendizagem técnicamas, ao mesmo tempo sublinhávamos,que a sua atenção também por aí deverápassar, isso significa que consideramos fundamentalo apetrechamento <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>rescom os conhecimentos mínimos que lhespermitam a<strong>na</strong>lisar a construção <strong>do</strong> argumentofílmico. Em segun<strong>do</strong> lugar – e se for ocaso de estarmos perante um filme construí<strong>do</strong>com base numa matriz literária – a habilitaçãopara a referência e a abordagem da fonteliterária inspira<strong>do</strong>ra terá que existir por parte<strong>do</strong> professor ou <strong>do</strong> anima<strong>do</strong>r. Depois, e umavez que a maior parte da ficção <strong>do</strong>s filmesse apresenta – no interior <strong>do</strong> relato/história– num tempo e num espaço concretos (passa<strong>do</strong>,presente ou futuro), é importante adefinição <strong>do</strong> contexto histórico e social emque o argumento se concretiza ou a ficçãoantecipa o futuro. Não devemos porémesquecer que estamos no interior de um filme.É que muitos educa<strong>do</strong>res, uma vez termi<strong>na</strong>daa projecção, depressa esquecem o filme,ape<strong>na</strong>s toma<strong>do</strong> como mero pretexto, deleape<strong>na</strong>s se servin<strong>do</strong> para os seus objectivosimediatos.Nunca será demais recordar que a utilizaçãode um filme – mesmo o especificamentedidáctico – nunca dispensará umprofessor ou um anima<strong>do</strong>r de chamar aatenção para os aspectos cinematográficos daobra. Não deverá alimentar-se nos especta<strong>do</strong>respresentes o equívoco de que qualquercoisa serve desde que o filme faça umaaproximação mínima à questão que se pretendeilustrar. É nesta incongruência pedagógicaque radica a tendência de muitosprofessores para a utilização ilustrativa defilmes como 1492: Cristóvão Colombo(1992), <strong>do</strong> britânico Ridley Scott, ou Inêsde Portugal (1997), de José Carlos Oliveira,ou, num outro território, O Clube <strong>do</strong>s PoetasMortos (1989), <strong>do</strong> australiano Peter Weir. Oseduca<strong>do</strong>res terão em devida conta os problemasde ordem ideológica, no primeiro caso,e as limitações da <strong>na</strong>rrativa cinematográfica<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> filme, bem como, no terceiro –embora num quadro de grande <strong>do</strong>míniocinematográfico e <strong>na</strong> presença de um actorcomo Robin Williams –, a facilidade algodemagógica das propostas pedagógicas. Navoragem da visão utilitarista é mesmo esqueci<strong>do</strong>– como oportu<strong>na</strong>mente recorda PierreDumont (AA.VV, 1994:160) – que um filmenão é ape<strong>na</strong>s a–história mas também o seutítulo, o genérico, o tratamento técnico, bemcomo o desempenho <strong>do</strong>s actores, os cenários,o guarda-roupa, a música... Estas reflexõescríticas não devem contu<strong>do</strong> fazer-noscair <strong>na</strong> injustiça de ignorar as experiênciasrealizadas no âmbito escolar por iniciativade tantos professores convictos da importânciapedagógica, social, política e artística <strong>do</strong>cinema. São esses professores que – muitasvezes sem qualquer apoio–– desenvolvemactividades de animação cinematográfica eque garantem, em alguns casos, a coorde<strong>na</strong>çãointerdiscipli<strong>na</strong>r <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> cinema.De algumas das iniciativas de escolaspodem ser encontra<strong>do</strong>s sites <strong>na</strong> Internet. Éimportante também lembrar que Manuel Pinto& António Santos (1996) reflectem, comactualidade e pertinência, sobre as questões aque vimos aludin<strong>do</strong> referin<strong>do</strong> concretamenteexperiências existentes ao tempo da redacçãoda obra (op. cit.: 65-71 e 75-90). Acrescenteseque estes mesmos autores não deixamtambém de apontar criticamente os escolhosque, <strong>na</strong> instituição escolar, dificultam, <strong>na</strong> prática,to<strong>do</strong> este processo (pp. 69-70).Por outro la<strong>do</strong> é forçoso explicitar melhorum outro aspecto, antes referi<strong>do</strong>. A utilizaçãode filmes em contexto educacio<strong>na</strong>l (<strong>na</strong>Escola ou <strong>na</strong> animação cultural) não poderesultar de uma amálgama indistinta de


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO323géneros e autores só porque o tema se adaptaaos objectivos a atingir 17 . O senti<strong>do</strong> crítico ea contextualização passam também pela compreensão<strong>do</strong> tipo de corrente em que a obrase integra. São por isso importantes aspectosque só a História e a Estética <strong>do</strong> Cinemaexplicam. Mesmo <strong>na</strong> aparente neutralidade seexercem as marcas ideológicas, e estas deverãoser explicitadas antes ou depois <strong>do</strong>visio<strong>na</strong>mento, conforme a estratégia pedagógicao aconselhe 18 . Será importante lembrarainda que a importância de que se reveste acapacidade de ler e interpretar os signoscinematográficos está intimamente ligada nãoape<strong>na</strong>s à imagem, mas também à destrinça<strong>do</strong>s signos sonoros: ruí<strong>do</strong>s ambiente e música.Se a existência de um pano de fun<strong>do</strong>, a nívelindividual, no campo da cultura, é importantepara o exercício da descodificação, sem dúvidaque será também positivo o treino da atençãoao que nos rodeia, no dia-a-dia, e que nospermitirá ultrapassar a distracção, hoje tãopersistente pela deseducação televisiva, quenos impede de ler o conjunto complexo queum filme nos propõe, fican<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong>periferia da história.Se a análise de um filme, a que antesaludimos, é realizada ten<strong>do</strong> em conta osdispositivos utiliza<strong>do</strong>s pela <strong>na</strong>rrativa cinematográfica,não podemos esquecer que, se <strong>na</strong>nossa aproximação temos presentes os valores<strong>educativo</strong>s, teremos que realizar também,em cada obra cinematográfica, umaanálise <strong>do</strong> ponto de vista ético. Tal acarretasem dúvida a emergência <strong>do</strong>s pressupostosde carácter ideológico, que estão presentesno filme, mas também <strong>do</strong>s que nos foraminculca<strong>do</strong>s com a educação e com as opçõesde vária ordem que fomos assumin<strong>do</strong> aolongo da vida. E para tal deveremos estarprecavi<strong>do</strong>s. Os riscos inerentes (que, a nãoserem ti<strong>do</strong>s em conta, acarretarão preconceitose interpretações incorrectas) exigem umaclara atitude de abertura para a leitura e ainterpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s em presença. Masa necessária tolerância não alie<strong>na</strong> um senti<strong>do</strong>crítico coerente com os valores que nossuportam. Ora tal impõe a necessidade (comopreconiza Salanova Sanchez, 1997) de umdebate onde possa medrar a pluralidade deabordagens e de juízos em relação àsvivências <strong>do</strong>s participantes e à actualidade<strong>do</strong> momento em que os filmes são visio<strong>na</strong><strong>do</strong>s.A forma como vimos suscitan<strong>do</strong> esteconjunto de questões arrasta consigo um lequerecorrente de interrogações que, não poden<strong>do</strong>ser escamoteadas, não encontraram ainda,no nosso país, uma solução satisfatória. Tratasede saber quem, quan<strong>do</strong> e sob que formasse poderá realizar a formação de professores– e de outros agentes <strong>educativo</strong>s – em ordema uma iniciação à linguagem cinematográficae à sua utilização pedagógica. É quea integração <strong>do</strong> cinema no processo <strong>educativo</strong>não pode ser deixada ape<strong>na</strong>s à boa vontade,por mais meritória que seja. Por outro la<strong>do</strong>trata-se de uma forma de comunicação quesuscita complexas abordagens teóricas, quepossui os seus códigos específicos e que é,simultaneamente, uma forma de arte que fezo seu caminho histórico. É claro que umaaproximação a uma tal matéria não seimprovisa, já que não se pode aceitar asituação que descrevem Pinto & Santos(1996: 70), uma situação onde“o défice pessoal em informação eformação sobre o que é o cinemaconstitui, frequentemente, uma dificuldadeque só com esforço eempenhamento se vai ultrapassan<strong>do</strong>[... e] os professores partem <strong>do</strong> princípiode que o trabalho com este tipode recurso é automático, isto é, nãocarece de qualquer aprendizagemespecífica da sua parte, uma vez queos filmes estão ali à mão”.Ora, perante um tal panorama e frenteao gigantismo das necessidades operatóriasque temos vin<strong>do</strong> a referenciar, e sen<strong>do</strong> ocinema “possivelmente o mais poderoso eexplosivo <strong>do</strong>s media” tem to<strong>do</strong> o cabimentoperguntar, com Reia-Baptista (1995a: 107):“quem transforma o professor numapessoa interessada no cinema, numsagaz a<strong>na</strong>lista <strong>do</strong>s géneros cinematográficos,num competente contextualiza<strong>do</strong>r,num conhece<strong>do</strong>r da História,das técnicas, das teorias e das correntesestéticas, num descodifica<strong>do</strong>rde mensagens multiculturais, políticas,étnicas, éticas, estéticas e poéticas; emsuma, num hábil leitor das linguagens<strong>do</strong> cinema e conhece<strong>do</strong>r da arte cine-


324 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmatográfica em toda a amplitude <strong>do</strong>sseus dialectos?”Um tal desafio, que também é o nosso,não pode ser escamotea<strong>do</strong> como utópico.Ele constitui o núcleo da tese que desenvolvemosno corpus de análise <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>sda exibição de cinema em Portugalentre 1974 e 1999. É um desafio realistae urgente. Para lhe responder ape<strong>na</strong>s énecessário empenho científico e coragem<strong>na</strong> decisão.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO325BibliografiaAA.VV. Colóquio/Educação e Sociedade,n.º 5, “Escola e Comunicação – Comunicaçãoe Sociedade”, Lisboa, FundaçãoCalouste Gulbenkian, Março, 1994.Babin, Pierre & Kouloumdjian, Marie-France Les Nouveaux Modes de Comprendre– La Génération de l’Audiovisuel et del’Ordi<strong>na</strong>teur, Paris, Le Centurion, 1983.Abrantes, José Carlos Os Media e aEscola, Lisboa, Texto Editora/Educa<strong>do</strong>resHoje, 1992.Gonet, Jacques, Éducation et Médias,Paris, P.U.F./Que sais-je?, 1997.Moderno, António A ComunicaçãoAudiovisual no Processo Didáctico, Aveiro,Universidade de Aveiro, 1992.Pinto, Manuel Educar para a Comunicação,Lisboa, C.R.S.E./G.E.P. -Ministério daEducação, 1988; “Requisitos para a Viagem”,Lisboa, in”Noesis, Março/Maio, I.I.E., 1994;A Televisão no Quotidiano das Crianças,Porto, Edições Afrontamento/Biblioteca dasCiências <strong>do</strong> Homem, 2000; “Retrospectivae Horizontes da Educação para os Media emPortugal”, in Miranda & Silveira(organiza<strong>do</strong>res) As Ciências da Comunicação<strong>na</strong> Viragem <strong>do</strong> Século (cf.AA.VV,; “Correntes da Educação para osMedia em Portugal: Retrospectiva e Horizontesem Tempos de Mudança”, Madrid,in”Revista Iberoamerica<strong>na</strong> de Educación, n.º32, Organización de Esta<strong>do</strong>s Iberoamericanos,2003.Pinto, Manuel & Santos, António O Cinemae a Escola, Lisboa, Cadernos “O Públicoe a Escola”, Edição Jor<strong>na</strong>l Público, 1996.Porcher, Louis L’ École Parallèle, Paris,Librairie Larousse, 1974.Reia-Baptista, Vítor “El Lenguaje Cinematográficoen la Pedagogía de laComunicación”, Huelva, in Comunicar-Revista de Educación en Medios deComunicación, nº 4, pp. 106-110, Prensa yEducación – Grupo Pedagógico Andaluz,1995; “Pedagogia da Comunicação, Cinemae Ensino”, in Biblioteca on-line de Ciênciasda Comunicação. Publica<strong>do</strong> origi<strong>na</strong>lmentein Educación y Medios de Comunicación enel Contexto Iberoamericano, UniversidadInter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de Andalucía, 1995b;“Contributos para uma Pedagogia da Comunicação”,in Tecnologias de Informação eComunicação <strong>na</strong> Aprendizagem, Lisboa,I.I.E./A Escola e os Media, pp. 31-64, 1997.Sánchez, Enrique Martínez-Salanova “ElValor de la Imagen en Movimiento”, Huelva,in Comunicar-Revista de Educación enMedios de Comunicación, n.º 9, pp. 23-35,Grupo Comunicar-Colectivo Andaluz para laEducación en Medios de Comunicación,1997.Tardy, Michel Le Professeur et lesImages, Paris, PUF/SUP, 1966._______________________________1Universidade Católica Portuguesa.2Ocorrem ainda situações que, embora sedesenrolem num quadro diferente, relevam deproblemas que já foram reflecti<strong>do</strong>s por pedagogoscomo Michel Tardy (1966) ou Louis Porcher(1974).3Veja-se Pierre Babin & Marie-FranceKouloumdjian (1983).4Cf. Tardy, op. cit..5Cf. António Moderno (1992).6Extinção orde<strong>na</strong>da pelo Governo Constitucio<strong>na</strong>lempossa<strong>do</strong> em Abril de 2002. Sobre a tãoimportante problemática da formação no campo<strong>do</strong>s media tenha-se em atenção, Manuel Pinto(1988, 1994, 2000, 2002, 2003); José CarlosAbrantes (1992); Jacques Gonet (1997).7Ter em conta os autores referi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Nota5.8Retiram-se estas caracterizações de UmbertoEco (1989) Apocalípticos e Integra<strong>do</strong>s.9Embora seja tida em conta <strong>na</strong> abordagemo género erótico – noção que envolve os filmes– softcore –, foram excluí<strong>do</strong>s, por razões <strong>do</strong>objectivo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, os filmes pornográficoshardcore. Os motivos são desenvolvi<strong>do</strong>s no corpoda tese. Por tal razão o número total acimaapresenta<strong>do</strong> não envolve este último género.10Robert Bresson, in Notes sur leCinématographe, Paris, Éditions Gallimard, 1975.11Convirá aqui alertar, como o faz JacquesGonnet (1997), para o facto de que quan<strong>do</strong> falamosde educação para os media, não nos estamos arestringir a um público-alvo infanto-juvenil. Como autor cita<strong>do</strong> compartilhamos a ideia que faceao cinema e à televisão os adultos se encontramfrequentemente menos apetrecha<strong>do</strong>s que as criançasou os a<strong>do</strong>lescentes e por isso este tipo deformação deverá ter lugar desde o jardim deinfância e pela idade adulta.12Vejam-se a este propósito as considerações –que partilhamos – de Vítor Reia-Baptista (1997) in«Contributos para uma Pedagogia da Comunicação».


326 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV13Cf. Léo Masterman & outro L’ Éducatio<strong>na</strong>ux Médias dans l’Europe des Années 90, Conselhoda Europa, 1994.14É esse poder que se pode tor<strong>na</strong>r maléfico<strong>na</strong> magnífica sedução <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentários de LeniRiefenstahl - O Triunfo da Vontade (1935) eOlimpíada (1938), ou apelar à comoção daslágrimas <strong>na</strong> propaganda de guerra, com os britânicosDavid Lean e Noël Coward: “Sangue, Suore Lágrimas” (In Which We Serve [1943]).15«Apprendre a vivre avec les médias, uneurgence pour l’École et la Démocratie», in L’Écoleet les Médias, Médias Pouvoirs, hors série, 1995,p. 26; referi<strong>do</strong> por J. Gonnet, op. cit.. ManuelPinto & António Santos (1996) apresentam tambémpropostas concordantes com as de Pichette(cf. pp. 75-77).16A nomeação <strong>do</strong> cinema como olho evoca<strong>na</strong>turalmente a concepção simultaneamente ideológicae experimentalista de cinema-olho <strong>do</strong>realiza<strong>do</strong>r soviético Dziga Vertov, nos anos vinte<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> século, e de que são testemunho maioros seus filmes O Cinema-Verdade (1922-1925) eO Homem da Câmara (1929).17Michel Tardy (1966: 32) refere-o mesmocomo uma perversão pedagógica “em que nãose procura estimular o conhecimento da obra e aconsciência <strong>do</strong> entrosamento entre o autor, o assuntoe a técnica, mas se procura tão só que o filmeilustre exclusivamente uma alínea <strong>do</strong> programa”.18Tem interesse – e reveste-se de utilidadeprática – a taxinomia utilizada por Reia-Baptista(1995b) quan<strong>do</strong> aponta “três grandes tipos dedimensão pedagógica” <strong>do</strong> cinema: a dimensãoafirmativa, de matriz sobretu<strong>do</strong> hollyodia<strong>na</strong>, eque desenvolve teses consentâneas com os valorese as normas <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes <strong>do</strong> contexto culturalem que se insere, assente em bases ideológicase éticas socialmente aceites; a interrogativa,surgida sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong>s décadas de sessenta e setenta<strong>na</strong> Europa e no Japão, questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> os principais<strong>do</strong>gmas vigentes e estruturas <strong>na</strong>rrativas préestabelecidas.O próprio cinema americano desig<strong>na</strong><strong>do</strong>de independente é um pouco fruto dacontami<strong>na</strong>ção desta corrente. Por fim o que o autordesig<strong>na</strong> como dimensão herege: não já oquestio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> <strong>do</strong>gma, mas a sua subversãopor dentro. O exemplo mais claro – patente <strong>na</strong>sua passagem pelo surrealismo (Un Chien Andalou,1928 ou L’ Âge d’ Or, 1930) e que se manteveao longo de toda a sua obra – é o <strong>do</strong> cineastaespanhol Luis Buñuel (+1983).


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO327Comunicação, Ludicidade e Cidadania,no Projecto Direitos Humanos em AcçãoConceição Lopes e Inês Guedes de Oliveira 1”Portugal é uma república sobera<strong>na</strong>,baseada <strong>na</strong> dignidade da pessoahuma<strong>na</strong> e <strong>na</strong> vontade popular eempenhada <strong>na</strong> construção de umasociedade livre, justa e solidária”(Artigo 1º)“A República Portuguesa é um Esta<strong>do</strong>de direito democrático, basea<strong>do</strong><strong>na</strong> soberania popular, no pluralismode expressão e organização políticademocráticas, no respeito e <strong>na</strong> garantiade efectivação <strong>do</strong>s direitos e liberdadesfundamentais e <strong>na</strong> separaçãoe interdependência de poderes,visan<strong>do</strong> a realização da democraciaeconómica, social e cultural e oaprofundamento da democraciaparticipativa”(Artigo 2º)“A soberania, u<strong>na</strong> e indivisível, resideno povo”, (In Constituição daRepública Portuguesa” PrincípiosFundamentais)Na actualidade a convivência huma<strong>na</strong> esocial está <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente subordi<strong>na</strong>da àlógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, à eficácia e eficiência <strong>do</strong>negócio que se traduz em interacções <strong>do</strong> tipoo que tu ganhas eu perco, o que eu percotu ganhas, que Paul Watzlawick define como“jogo de soma zero” (1983:118).Algumas das características das relaçõesinter-pessoais e das interacções comportamentaissão revela<strong>do</strong>ras dessa lógica. Nemos países em vias de desenvolvimento como,por exemplo e entre outros, a Índia e a Chi<strong>na</strong>escapam aos efeitos <strong>do</strong> frenesim <strong>do</strong> consumocomo um fim em si mesmo, como destacao relatório da Worldwatch Institute sobre oState of the woorld – The Consumer Society(WI: 2004).Consciente ou inconscientemente os cidadãossão influencia<strong>do</strong>s e manipula<strong>do</strong>s pelossistemas sociais infecta<strong>do</strong>s pelo vírus dautilidade “mercantológica” <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. Assimsen<strong>do</strong>, o ataque é uma estratégia de defesa.A indiferença é uma recusa ao reconhecimento<strong>do</strong> outro. A manipulação é um meio deseduzir e convencer. A passividadedemissionária e negligente é uma forma dedesresponsabilização e de não aceitar e fugirao compromisso que qualquer situação decomunicação envolve. Em consequência dissoa condição <strong>do</strong> ser <strong>do</strong> Humano é hipotecadaà consideração de que a cidadania é umaentidade estatística com valor de riqueza quese manifesta pela participação mais ou menospassiva, ou mais ou menos activa no exercício<strong>do</strong>s poderes instituí<strong>do</strong>s. Deste mo<strong>do</strong>,o mun<strong>do</strong> em que nos é da<strong>do</strong> conviver, tendea desqualificar e a fragmentar a cidadania,o Homo communicans e Ludicus. A sociedadeda comunicação é uma fonte deincompreensões.É a sociedade <strong>do</strong>s sem “tempo”(Hall,1983 1994 e1996) para comunicar,onde se ajuíza que comunicar é ape<strong>na</strong>stransmitir informação. A sociedade da comunicaçãoé, ainda, “a sociedade <strong>do</strong>sincomunica<strong>do</strong>s” que Vitória Camps descrevenos seus para<strong>do</strong>xos <strong>do</strong> individualismo (1996).A sociedade da comunicação é, também, “asociedade <strong>do</strong> espectáculo” (Guy Debord:1991) e, mais ainda, é a “sociedade deconsumo” (Jean Baudrillard: 2000). Práticasde cidadania, como as vivenciadas colectivamenteno âmbito <strong>do</strong> Projecto DireitosHumanos em Acção, são alguns <strong>do</strong>s exemplosque sustentam o confronto <strong>do</strong>s cidadãosenvolvi<strong>do</strong>s com acções que protagonizamlocalmente e que operacio<strong>na</strong>lizam diversospontos de vista. Assim, se ensaia a conjugação,compon<strong>do</strong>, recompon<strong>do</strong> e descobrin<strong>do</strong>a experiência da alegria e o prazer dacooperação da cidadania activa.A comunicação tal como a ludicidade ea cidadania são qualidades huma<strong>na</strong>s e esta<strong>do</strong>sda <strong>na</strong>tureza. Nesta perspectiva o Ser Humanoé por condição comunicante, ludicus ecidadão. Qualquer uma destas três qualida-


328 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdes apresenta diversas consequências que semanifestam e consequentemente produzemuma diversidade de efeitos. A comunicação,ludicidade e cidadania colocam em evidêncianão ape<strong>na</strong>s o eu/mim, mas também o ele/mesmo outro e o nós/ mesmos outros (GeorgeMead,1934) (Herbert Blumer, 1969).Condição, manifestação e efeitos que serevelam como ecos e espelhos de reconhecimento<strong>do</strong> outro que informa e forma oconhecimento de si mesmo e produz o social.Comunicar é cultura e aprendizagem(Bateson, 1977 e 1980) Watzlawick et al,1967e 1976) (Hall, ibid) Ludicidade é comunicaçãoe cidadania (Lopes, 1998). Reinventaro mun<strong>do</strong> é fazê-lo acontecer, pratican<strong>do</strong>. Asmudanças <strong>na</strong>s práticas de cidadania começampor cada um. Mobilizan<strong>do</strong> os seuspróprios recursos, são gera<strong>do</strong>ras de múltiplase diferenciadas decisões individuais. Elaspodem começar em qualquer contextosituacio<strong>na</strong>l (Lopes, ibid) e produzem efeitosmultiplica<strong>do</strong>res em outros tantos contextossituacio<strong>na</strong>is em que o cidadão participa (emcasa de cada um, <strong>na</strong> escola, <strong>na</strong> rua, <strong>na</strong> igreja,no consultório médico, <strong>na</strong> loja, no centrocomercial, no cinema, no teatro, no concerto,<strong>na</strong> universidade, numa reunião, numa equipae <strong>na</strong> sociedade).O Projecto Direitos Humanos em Acçãoé uma proposta de intervenção cooperativaque visa di<strong>na</strong>mizar o desejo de cooperar.Cooperação que se vai construin<strong>do</strong> empeque<strong>na</strong>s acções de participação conjugadaactivamente. O Projecto Direitos Humanosem Acção reconhece a importância <strong>do</strong>sagentes de desenvolvimento da qualidadehuma<strong>na</strong> e social, <strong>na</strong> di<strong>na</strong>mização emobilização <strong>do</strong>s recursos individuais, <strong>na</strong>conversa e <strong>na</strong> negociação que conduzem asdecisões, num universo de possíveis escolhas,direccio<strong>na</strong>das para o bem comum. E comoum são assumi<strong>do</strong>s os efeitos dessas escolhasque a to<strong>do</strong>s compromete.A perspectiva prática exposta é orientadapelo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> humano subjacente à DeclaraçãoUniversal <strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong> Homem(ONU,1948) e pela compreensão teórica sobrea comunicação, ludicidade e cidadania. OProjecto Direitos Humanos em Acção pretendeser um contributo para tor<strong>na</strong>r maisqualificada a democracia pela prática quotidia<strong>na</strong><strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Humano, onde ainevitabilidade da influência exige uma éticae uma estética que têm por base práticas dedi<strong>na</strong>mização <strong>do</strong> desejo, gera<strong>do</strong>ras de confiançapara a decisão da vontade de cooperar/mudar para o bem comum.Projectos Direitos Humanos em AcçãoAlguns da<strong>do</strong>s: Início – 2000 e em execuçãoAutor – Conceição Lopes PromotoresCivitas - associação para a promoção e defesa<strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s cidadãos Civitas Aveiro –associação para a promoção e defesa <strong>do</strong>sdireitos <strong>do</strong>s cidadãos (Aveiro) e Universidadede Aveiro/Portugal Fi<strong>na</strong>nciamento – ComissãoNacio<strong>na</strong>l 50 anos da declaração universal<strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> homem e década das <strong>na</strong>çõesunidas para a educação em matéria de direitoshumanos (1995-2004). Parcerias – Universidadede Aveiro/Portugal. Comunidadeseducativas ligadas aos Jardins de Infância eescolas de diversos níveis de ensino. Públicosalvo – 25 educa<strong>do</strong>res que integram a rede dedi<strong>na</strong>miza<strong>do</strong>res locais Crianças e jovens efamílias – Cerca de 1200 participantes. Territóriosde intervenção: Distrito de Aveiro.Famalicão. Estratégias media<strong>do</strong>ras: Caderneta<strong>do</strong>s Direitos Humanos em Acção. Fórum dacidadania Activa. Curso de formaçãoludicidade e cidadania. Meto<strong>do</strong>logias: formação-intervenção-investigação.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO329BibliografiaBateson, Gregory (1977).Vers UneÉcologie de L’ Esprit.’Tome I. Ed Seuil.Bateson, Gregory (1980). Vers UneÉcologie de L’ Esprit.’Tome II. Ed Seuil.Blumer, Herbert (1969). SymbolicInteraccionism: Perspective and method.Englewood Cliffs Prentice-Hall.Baudrillard, Jean (2000). A Sociedadede Consumo. Edições 70.Camps, Vitória (1996). Os Para<strong>do</strong>xos <strong>do</strong>Individualismo. Relógio d’Água. Debord,Guy (1991). A Sociedade <strong>do</strong> Espectáculo.Hall, Edward (1986). A Dimensão Oculta.Lisboa. Relógio d’Água.Hall, Edward (1993). A Linguagem Silenciosa.Lisboa.’Relógio d’Água.Hall, Edward (1996).’A Dança da Vida.Lisboa. Relógio d’Água.Lopes, Conceição (1998). Comunicaçãoe Ludicidade. Contributo para a formação <strong>do</strong>cidadão <strong>do</strong> pré-escolar. Tese de <strong>do</strong>utoramentoem Ciência e Tecnologias da Comunicação.Universidade de Aveiro. Ed. Policopada.Mead, George (1934). Mind Self andSociety. Chicago, University of Chicago Press.Miranda, Jorge e Silva, Jorge Pereira da(2002). Constituição da República Portuguesa.3ª edição revista e acrescentada. Principia.Watzlawick et al, (1977). The Interacti<strong>na</strong>lView. W.W.W. Norton & Company.Watzlawick, Paul (1983). The Situationis Hopeless But not Serious. W.W. Norton& Cª. Watzlawick, Paul e tal. (1967).Pragmatics of Human Communication. AStudy of Interactio<strong>na</strong>l Patterns, Pathologies,and Para<strong>do</strong>xes. W.W.W. Norton & Company.Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos <strong>do</strong> Homem(1948). ONU. Worldwatch Institute WI: 2004State of the woorld – The Consumer Society_______________________________1Universidade de Aveiro/Departamento deComunicação e Arte.


330 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO331Memória quotidia<strong>na</strong> e comunicação: práticas memoriais <strong>na</strong> escolaFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Barone 1IntroduçãoEste trabalho constitui um estu<strong>do</strong>interdiscipli<strong>na</strong>r sobre a memória social <strong>na</strong>perspectiva de uma Teoria da Memória Social.Busca investigar e compreender os tiposideais de memória quotidia<strong>na</strong> inspiran<strong>do</strong>-se,meto<strong>do</strong>logicamente, no conceito de tipo idealweberiano. Desenvolve a ideia de que aSociologia, desde Maurice Halbwachs, afastou-sede um conceito de memória possível/ temporalidade possível, proposto no interiorda Filosofia por autores tais comoNietzsche, Husserl e Bergson, para reforçaruma representação da memória social adaptadaà temporalidade contida nos processosculturais da modernidade e <strong>na</strong> sua lógicaprodutiva.Destaca-se aqui o nosso interesse pelo quechamamos de mo<strong>do</strong>s de memória e que podeser defini<strong>do</strong>, num primeiro momento, comoo conjunto de características funda<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>comportamento quotidiano que está associa<strong>do</strong>à temporalidade social: mo<strong>do</strong>s de vivero tempo; características da velocidade sóciocorporalno contexto da colectividade; determi<strong>na</strong>çãoda fi<strong>na</strong>lidade e vivências <strong>do</strong>sritmos sócio-culturais; práticas e representaçõesdas fi<strong>na</strong>lidades técnicas ou vitais, práticase representações das funções sociais.Essa perspectiva, que queremos fixar edesenvolver neste trabalho, toma a memórianão ape<strong>na</strong>s como o instrumental cognitivo<strong>do</strong> sujeito, para representar e classificar omun<strong>do</strong>, mas compreende, sobretu<strong>do</strong>, o conjuntode elementos sócio-corporaisconstruí<strong>do</strong>s e dissemi<strong>na</strong><strong>do</strong>s em sociedade –factores de reprodução e transformação social.Apresenta-se como conjunto de referênciasteóricas deste trabalho a aproximaçãoà fenomenologia da memória no quotidiano,presente <strong>na</strong>s obras de Paul Ricoeur, GillesDeleuze, Pierre Bourdieu, Paul Connerton eautores liga<strong>do</strong>s à Escola de Palo Alto. Esteconjunto constitui a base teórica de referênciapara além de autores clássicos e modernos,tais como Henri Bergson <strong>do</strong> qual setomaram os conceitos fundamentais que deramorigem ao modelo de análise.O modelo de análise desenvolvi<strong>do</strong>, objectivoprincipal deste trabalho, baseia-se <strong>na</strong>revisão <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> dualismo bergsonianoreflecti<strong>do</strong> nos conceitos de espírito e matériabem como <strong>na</strong>s outras dualidades, daí derivadas,tais como o conceito de duração –opon<strong>do</strong>-se a uma noção de abstracção – etambém ao par de oposição memória hábitoe memória lembrança, dentre outros.A educação e a escola, enquanto factoresde socialização indispensáveis, encontram-sevincula<strong>do</strong>s aos mo<strong>do</strong>s de comunicação ememória <strong>na</strong> nossa sociedade, exercen<strong>do</strong>, deforma complexa, contraditória e coincidente,duas tendências de viver a temporalidade nodia a dia: a primeira voltada para a adaptaçãoao mun<strong>do</strong> (objectividade, simplicidade,reprodução, acção, ciência, inteligênciae as características temporais abstractas:linearidade, separação e fragmentação <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>) e a segunda dirigida à reflexão e,particularmente, à reflexão referenciada aotempo vivi<strong>do</strong> e a viver (subjectividade,complexidade, transformação, reflexão, conhecimento,intuição e as características datemporalidade durável: unidade, continuidadee simultaneidade).A partir destas referências teóricas, elaborou-seum instrumental de análise queassocia as características da dualidadeduração/abstracção aos elementos: o tempo,o si-mesmo, o outro e a comunicação,determi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>res que a<strong>na</strong>lisam eclassificam um corpus de análise constituí<strong>do</strong>por discursos de professores <strong>do</strong> 1º Ciclo <strong>do</strong>Ensino Básico obti<strong>do</strong>s através de entrevistassemi-dirigidas. A aplicação <strong>do</strong> instrumentalde análise ao corpus permitiu aferir dapertinência <strong>do</strong> modelo e da viabilidade <strong>do</strong>seu desenvolvimento. No presente textoapresentaremos, de mo<strong>do</strong> resumi<strong>do</strong>, a estrutu-


332 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVra <strong>do</strong> modelo de análise e o instrumento deobservação adapta<strong>do</strong> para a recolha de da<strong>do</strong>sno universo <strong>educativo</strong>, no caso específico,os da<strong>do</strong>s referentes às práticas memoriais de<strong>do</strong>centes <strong>do</strong> 1º Ciclo.Fundamentos TeóricosO conceito de memória social tem vin<strong>do</strong>a impor-se no âmbito das Ciências Sociais,principalmente, a partir <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s deMaurice Halbwachs (1990) que, no início <strong>do</strong>Século XX, tomou como objecto, pela primeiravez, os fenómenos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s coma memória colectiva propon<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong>científico <strong>do</strong>s processos sociais que determi<strong>na</strong>ma memória <strong>do</strong>s grupos e da sociedade.Até então, este objecto, sob o nome dememória ape<strong>na</strong>s, era explora<strong>do</strong> pela Psicologiae pela Psicanálise <strong>na</strong>scente e apresentavauma abordagem <strong>do</strong> tema marcada,basicamente, pela <strong>na</strong>tureza individual atribuídaà memória huma<strong>na</strong>.Tanto a Psicologia como a Sociologiaexibiam, por esta altura, as marcas positivistasque, mais fortemente as caracterizaram noinício. Ao mesmo tempo, no plano <strong>do</strong> pensamentofilosófico, o senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> àmemória mantinha uma característica menosinstrumental e mais preocupada com a “possível”memória huma<strong>na</strong>. Estamos a referiraqui, autores como Nietzsche, Husserl eBergson que, preocupa<strong>do</strong>s com o tema <strong>do</strong>tempo e da memória, no mun<strong>do</strong> contemporâneo,tentam alertar para os problemasrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com as ciências positivas e asua servidão face ao crescimento <strong>do</strong>industrialismo e da lógica produtivistainibi<strong>do</strong>res da consciência e da reflexão nãoinstrumental.Bergson (1946) – supon<strong>do</strong> que o homemse afastava cada vez mais de uma vivênciatemporal integrada e aberta à consciência eà reflexão, e se aproximava com rapidez <strong>do</strong>ssistemas abstractos e lineares (deterministas/mecanicistas) de viver o passa<strong>do</strong> e o tempo– propôs os conceitos de memória hábito ememória lembrança que se alinhavam, respectivamente,ao par de oposição matéria eespírito. Este autor apontou, de forma amplae indirecta, para o facto de as práticasquotidia<strong>na</strong>s da memória consagrarem ascaracterísticas absolutas <strong>do</strong> tempo e damemória, nomeadamente a linearidade, aseparação e a fragmentação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tangível.A este processo estaria ligada uma dascaracterísticas da memória huma<strong>na</strong> queBergson denominou memória hábito: a respostaautomática determi<strong>na</strong>da pelo hábitosocial com seu desempenho repeti<strong>do</strong> deperformances mentais e corporais que envolvemactividades quotidia<strong>na</strong>s, tais como como<strong>na</strong>dar, andar de bicicleta e responder automaticamentea múltiplas solicitações <strong>do</strong> meio.Em oposição à memória hábito, Bergsonconcebeu a noção de memória lembrança, oumemória verdadeira, que atribui à memóriahuma<strong>na</strong> a capacidade de suplantar as determi<strong>na</strong>ções<strong>do</strong> hábito constituin<strong>do</strong>-se como umfactor de consciência e liberdade <strong>do</strong> sujeitoface ao meio e à cultura envolventes. A esteconceito estariam associadas as característicastemporais simultaneidade, unidade e continuidadeexercitadas acerca, e a partir, da realidadetangível e opostas às da memória hábito.Nessa perspectiva, a filosofia begsonia<strong>na</strong>associará os pares de oposição, deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong>par matéria e espírito-memória, aos seguintespares de oposição: abstracção-manipulaçãotécnica x duração-consciência, memóriahábito x memória lembrança, ciência x filosofia,acção x conhecimento, inteligência xintuição, adaptação x experimentação, selecçãox atenção, além <strong>do</strong>s pares já cita<strong>do</strong>s :unidade x separação, continuidade x fragmentação,linearidade x simultaneidade.Em resumo, o pensamento de Bergson,não abre mão de um raciocínio que recusatomar da realidade ape<strong>na</strong>s a sua materialidadeobjectivável. Ao contrário, pleiteia a contínuaparticipação da consciência e <strong>do</strong> espíritoque criam essa mesma “materialidade”.Lembramos, todavia, que uma leitura actualizadada filosofia de Bergson deve passarpela correcção da inflexibilidade das construçõesduais – revisão proposta, por exemplo,por Edgard Morin (1991) <strong>na</strong> sua teoria<strong>do</strong> pensamento complexo onde as polaridadespodem ser vistas como entidades, aomesmo tempo, integradas e contraditórias –talvez toman<strong>do</strong> estas forças antagónicas datemporalidade, e da cultura, comoinextricáveis no plano empírico.Apesar da intervenção histórica deBergson, e de outros filósofos nãoracio<strong>na</strong>listas, ao longo <strong>do</strong> século XX, o


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO333desenvolvimento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre a memória,e particularmente sobre a memória social,tenderam à manutenção da orientaçãocientífica em detrimento da filosófica. Issosignifica dizer que tanto a Psicologia comoa Sociologia, desde Halbwachs, ao investigarema memória em sociedade, mantiveram,em essência, uma perspectiva calcada nosobjectos mais explícitos <strong>do</strong> real sem consideraras dimensões <strong>do</strong> possível ou daquiloque se preserva <strong>na</strong> sombra das práticassociais. Neste senti<strong>do</strong>, Connerton (1993)entende que o objecto memória foi coloniza<strong>do</strong>por discipli<strong>na</strong>s úteis aos sistemas sociais<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes tais como, no âmbito daPsicologia, a Psicanálise – que explorou amemória pessoal (memória de si) – e pelaPsicologia Experimental – que explorou amemória cognitiva (memória <strong>do</strong>s objectos e<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>) – relegan<strong>do</strong> para o esquecimentoa memória hábito (memória corporal eautomática / gestos sociais e de linguagemadquiri<strong>do</strong>s através <strong>do</strong>s processos de socialização).Pensamos que Connerton (Idem), aopropor o estu<strong>do</strong> extenso, e intenso, damemória hábito, reacende teóricamente anecessidade de se retomar o conceito dememória lembrança, e de alguma forma, fálo,já que a memória hábito não pode existircomo pura matéria objectiva dada no social.Em busca de um modelo de análise paraa memória quotidia<strong>na</strong>A partir <strong>do</strong>s elementos teóricos básicos,acima apresenta<strong>do</strong>s, concebemos um modelode análise inspira<strong>do</strong>, <strong>na</strong> sua fundação, no parde oposição Memória Lembrança/Duração xMemória-Hábito/Abstracção.Uma forma possível de organizar umquadro teórico, que contemple a prática damemória no quotidiano, será aquela queapresente os conceitos constituintes da duração(unidade; continuidade e simultaneidade)e seus contrários (separação; fragmentaçãoe linearidade). Esta elaboração <strong>do</strong>quadro teórico preocupa-se em não se esquecer<strong>do</strong> resgate da memória lembrança noplano de uma fenomenologia da memória e<strong>do</strong> acento <strong>na</strong> construção da temporalidade e<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.A partir <strong>do</strong> pensamento de Bergson e <strong>do</strong>conceito de duração (<strong>do</strong> qual o conceito deexpansão <strong>do</strong> presente pode ser sinónimo):unidade ou indivisibilidade; continuidade;simultaneidade ou mudança, propomos umconjunto conceptual capaz de descrever tendênciasde acção da memória quotidia<strong>na</strong>.Estas categorias evocam, integradamente,formas e práticas de comportamento diante<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e da temporalidade e referem-se,todas, ao conceito duplo de duração/abstracção,conceitos que, no plano fenomenológico,não existem <strong>na</strong> sua forma pura. De outromo<strong>do</strong>, podemos dizer que os mo<strong>do</strong>s dememória variam, fundamentalmente, a partir<strong>do</strong> jogo de equilíbrio e interacção entre aduração / abstracção; a memória lembrançae a memória hábito ou, de mo<strong>do</strong> geral, entrematéria e espírito. Desig<strong>na</strong>mos tais elementoscomo dimensões e nos propomos a pensálascomo base de um modelo de análise emconstrução.O conceito de dimensão é aqui utiliza<strong>do</strong>no senti<strong>do</strong> de abarcar as característicasfundamentais das práticas temporais e dememória expressas no quotidiano. Acrescenta-seque, estas práticas, para nós, operama transferência e consolidação de hábitos dememória no dia a dia das práticas sociais,com especial atenção, para as práticas deeducação formal.As categorias que constituem os conceitosbásicos para a unidade conceptual hábitoda memória quotidia<strong>na</strong> são três: a unidade;a continuidade e a simultaneidade. Estesconceitos, por seu turno, reflectem seuscontrários complementares, respectivamente:a separação; a fragmentação e a linearidade.Os conceitos de Si Mesmo, Outro eComunicação surgem para nós como temas<strong>do</strong> sujeito/objecto 2 no mun<strong>do</strong> e seguem oplano <strong>do</strong> processo de comunicação comorealidade de interacção comunicativa conformeproposto pelo Interaccionismo Simbólicoe pela Escola de Palo Alto.O conceito detempo surge nesse conjunto como síntese <strong>do</strong>soutros três conceitos <strong>na</strong> medida em queconcentra em si a ideia de duração/ abstracçãoe representa genéricamente a essência <strong>do</strong>ser segun<strong>do</strong> Bergson.Tomamos as características gerais <strong>do</strong>tempo organizadas sob os conceitos opostostempo concreto/tempo abstracto (unidade /


334 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVseparação; simultaneidade / linearidade;continuidade / fragmentação) e os relacio<strong>na</strong>moscom os conceitos de si-mesmo; outro;comunicação e tempo obten<strong>do</strong> assim um novoconjunto composto de <strong>do</strong>ze categorias resultantes<strong>do</strong> cruzamento entre as característicastemporais e o plano <strong>do</strong> sujeito/objecto: :unidade/separação<strong>do</strong> si-mesmo; unidade/separação<strong>do</strong> outro; unidade/ separação dacomunicação e assim por diante. O quadroabaixo representa graficamente o modelo deanálise <strong>na</strong> sua estrutura básica:moral”. A hexis corporal corresponde àsposturas, disposições <strong>do</strong> corpo interiorizadasinconscientemente pelo indivíduo ao longo <strong>do</strong>seu percurso no tempo/espaço. Acrescentamos,neste plano <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s gerais de expressão,os conceitos de inscrição e incorporação,presentes em Connerton (1993:87), que indicam,<strong>na</strong>s sociedades moder<strong>na</strong>s, a pre<strong>do</strong>minância<strong>do</strong>s mecanismos de registo das mensagense saberes (inscrição) em detrimento das formasmemoriais que constituem a memória habitual sedimentada no corpo (incorporação).Expressão da memória no quotidianoAbstracçãoMemóriaHábito(Memória de adaptação)conceitosbasemo<strong>do</strong>s gerais de expressãoHexis/Ethos (Bourdieu)DuraçãoMemória LembrançaMemória deExperimentaçãoSeparaçãoLinearidadeFragmentaçãoInscrição/Incorporação (Connerton)tipos de expressãosujeitos/objectos de expressãoTempoSi-mesmoOutroComunicaçãoUnidadeContinuidadeSimultaneidadeDentro da perspectiva de Bourdieu(1980:88-9), tomamos os conceitos Hexis eEthos que, neste quadro, têm a função decaracterizar genericamente aquilo que Bourdieuchama o habitus: um sistema de disposiçõesduráveis adquiridas por um indivíduo nodecorrer <strong>do</strong> processo de socialização. O habitusmanifesta-se através <strong>do</strong> que Bourdieu chamade de esquemas (schèmes) ou os mo<strong>do</strong>s depercepção e acção interiorizadas pelo indivíduoao longo <strong>do</strong> seu percurso espaço-temporal.Para nós, tanto a memória lembrança comoa memória hábito manifestam-se enquantohábito seja sob a forma de hexis, seja sob aforma de ethos. O ethos desig<strong>na</strong> os princípiosou valores sob a forma de práticas, formasíntimas e não conscientes <strong>do</strong>s comportamentosmorais que regem a conduta quotidia<strong>na</strong>:“a forma interiorizada, não consciente daTanto o ethos quanto a hexis referem-se aum processo inconsciente, ou automático, deagir no mun<strong>do</strong>. Revela inteligência adaptativae a combi<strong>na</strong>ção de práticas já incorporadas peloindivíduo. Bourdieu, ao montar o seu modelo,privilegia este campo <strong>do</strong>s movimentos determi<strong>na</strong><strong>do</strong>spelo social como se não pudesse haverhábitos de pôr em causa estas manifestaçõesexclusivas <strong>do</strong> ethos e da hexis no quotidiano,ou dizen<strong>do</strong> de outro mo<strong>do</strong>, de pôr em causao hábito da memória hábito.Nessa medida, pensamos que a sociologia deBourdieu só permite uma óptica calcada <strong>na</strong> matériaou <strong>na</strong> inteligência adaptativa o que, por si só,não basta quan<strong>do</strong> se trata de formalizar a contradiçãoexercida no plano <strong>do</strong> gesto intuitivo(oposto ao gesto volta<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s para a acção).O quadro abaixo apresenta a representaçãográfica fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> modelo de análise e os


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO335cruzamentos correspondentes entre os tiposde expressão da memória quotidia<strong>na</strong> e ossujeitos/objectos de expressão:A estrutura <strong>do</strong> modelo, apresentada acima,permite a organização de indica<strong>do</strong>resrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s directamente aos traçosempíricos destaca<strong>do</strong>s nos discursos. Estesindica<strong>do</strong>res estão intrinsecamente liga<strong>do</strong>sentre si embora esta divisão os destaque àmaneira de indica<strong>do</strong>res mais associa<strong>do</strong>s a estaou aquela característica genérica <strong>do</strong>s temposdurável/abstracto em fusão e/ou contradição.Dentro de cada dimensão da duração/abstracção(unidade / continuidade / simultaneidade)apresentam-se os enuncia<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>ressubordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s às categorias <strong>do</strong>s objectosQuadro <strong>do</strong> Modelo de AnáliseDuraçãoMemóriaLembrançaAbstracçãoMemória HábitoUnidadeContinuidadeSimultaneidadeDo tempoDe siDo outro / Do mun<strong>do</strong> (Do Espaço)Da comunicação (relação/interacção)SeparaçãoFragmentaçãoLinearidadeUNIDADEUnidade<strong>do</strong> TempoUnidadede SiUnidade <strong>do</strong> Outro /<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> (atenção)Unidadeda ComunicaçãoSEPARAÇÃOSeparação <strong>do</strong> TempoSeparação de SiSeparação <strong>do</strong> Outro / <strong>do</strong>Mun<strong>do</strong>(selecção)Separação da ComunicaçãoCONTINUIDADEContinuidade<strong>do</strong> TempoContinuidade de Si(Temporalidade alargada de si)Continuidade<strong>do</strong> Outro / <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>Continuidadeda ComunicaçãoFRAGMENTAÇÃOFragmentação <strong>do</strong> TempoFragmentação de SiFragmentação <strong>do</strong> Outro / <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>Fragmentação da ComunicaçãoSIMULTANEIDADESimultaneidade<strong>do</strong> TempoSimultaneidadede SiSimultaneidade<strong>do</strong> Outro/ <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>Simultaneidadeda ComunicaçãoLINEARIDADELinearidade <strong>do</strong> TempoLinearidade de SiLinearidade <strong>do</strong> Outro/ <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>Linearidade da ComunicaçãoO instrumental de análisedestaca<strong>do</strong>s (tempo / si-mesmo / outro /comunicação). Passamos a discrimi<strong>na</strong>r, nointerior de cada conceito deriva<strong>do</strong> os seusindica<strong>do</strong>res correspondentes:(1). A dimensão Unidade/Separação(A). Unidade/Separação <strong>do</strong> TempoEnuncia a divisão utilitária <strong>do</strong> tempo emgeral: O professor apresenta/não apresentapreocupação 3 (intenção de pensamento e


336 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtrabalho) com os modelos temporais monta<strong>do</strong>ssobre roti<strong>na</strong>s de acção.Enuncia tempo de unidade: O professorapresenta/não apresenta preocupação como tempo que se contrapõe ao tempo dasroti<strong>na</strong>s cristalizadas. O professor apresenta/não apresenta preocupação com a separação<strong>do</strong> tempo (e das actividades) em blocosisola<strong>do</strong>s e sem ligação.Enuncia centralidade <strong>do</strong> sujeito (aluno/professor) como construtor <strong>do</strong> tempo: Oprofessor apresenta/não apresenta o sujeitocomo centro <strong>do</strong> processo de duração/abstracção.Nesse caso, o professor enuncia a ideiade preparar/não preparar o aluno, e a simesmo, para exercer a expansão <strong>do</strong> presente(tempo de unidade).Enuncia pensamento/prática de equilíbrioentre os tempos: O professor apresenta/nãoapresenta preocupação em expandir a vivência<strong>do</strong> presente como duração ao mesmotempo em que prepara a criança para queviva num meio de realidade fragmentada.(B). Unidade/Separação <strong>do</strong> Si-MesmoEnuncia a unidade <strong>do</strong> si-mesmo: O professorapresenta/não apresenta preocupaçãocom a consciência <strong>do</strong> si-mesmo enquantoobjecto passível de ser interpreta<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong><strong>na</strong> escola.Enuncia separação <strong>do</strong> si-mesmo: O professorapresenta/não apresenta preocupaçãocom a questão da construção <strong>do</strong> si-mesmoapto para adaptar-se ao meio que o cerca.Enuncia tentativa de hábito de unidade<strong>na</strong> instituição: O professor apresenta/nãoapresenta preocupação com a ligação entreos vários níveis da formação (emoções,cognição, expressão corporal, matrizes culturais,e outros.).Enuncia práticas de equilíbrio unidade/separação: O professor apresenta/não apresentaum caminho de meio termo ao tentar<strong>do</strong>tar o aluno de uma capacidade mista nosenti<strong>do</strong> desta dualidade.Conceitos complementares da Unidade /Separação <strong>do</strong> Si-mesmoCorporalidade (integração / não-integração<strong>do</strong> corpo e da gestualidade nos processosde formação/aprendizagem)Enuncia a corporalidade no plano físico.O professor enuncia, no discurso, acorporalidade <strong>na</strong> educação associan<strong>do</strong>-a àEducação Física.Enuncia o gesto social 4 como factor deeducação ethos-hexis. O professor apresenta/não apresenta preocupação com a educaçãopara a comunicação 5 . O professor apresentapreocupação com um conjunto mais amplode aquisições e competências que ultrapassao <strong>do</strong>mínio das discipli<strong>na</strong>s no 1º Ciclo. Oprofessor apresenta pensamento e prática,nesta perspectiva.Enuncia interdependência entre corpo eformação: O professor apresenta/não apresentapensamento e prática relativos à questãoEnuncia práticas de interpretação <strong>do</strong> simesmoenquanto corporalidade (significa<strong>do</strong>ssociais <strong>do</strong>s léxicos e modalidades gestuaisface ao si-mesmo): O professor apresenta/não apresenta pensamento e prática relativosa uma hermenêutica <strong>do</strong> corpo (dagestualidade) ou <strong>do</strong> “meu corpo em sociedade”.(C). Unidade/Separação <strong>do</strong> OutroEnuncia o conceito/hábito de atenção: Oprofessor apresenta/não apresenta preocupaçãoem associar como unidade o si-mesmode cada um e o mun<strong>do</strong> (o outro).Enuncia o conceito/hábito de selecção. Oprofessor apresenta/não apresenta preocupaçãocom a organização selectiva <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s(discipli<strong>na</strong>s; separação de unidadescurriculares) O professor faz a distinção entreos conteú<strong>do</strong>s curriculares volta<strong>do</strong>s para ainformação cognitiva fundamental (Matemática,Lingua, Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Meio)Enuncia o conceito de mediação mediaticaque faz as representações <strong>do</strong> outro e <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> chegarem até ao indivíduo para além<strong>do</strong>s modelos que são passa<strong>do</strong>s através dafamília, comunidade e da escola. Apresenta/não apresenta os media <strong>na</strong> vida e os interpretacomo <strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> <strong>na</strong> perspectivada expansão <strong>do</strong> presente (unidade <strong>do</strong>outro)Enuncia práticas pedagógicas <strong>do</strong> equilíbrioatenção/selecção: O professor apresenta/nãoapresenta preocupação em integrar asperspectivas anteriormente citadas.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO337Conceitos complementares da Unidade/Separação <strong>do</strong> OutroO público e o priva<strong>do</strong>Enuncia o conceito de público/priva<strong>do</strong>.O professor apresenta/não apresenta preocupaçãocom a questão da formação voltadapara a consciência pública <strong>do</strong> forman<strong>do</strong>.Enuncia o conceito de priva<strong>do</strong> enquantoproblema. O professor apresenta/não apresentapreocupação com as tendências de manifestaçãodescontrolada <strong>do</strong> priva<strong>do</strong> no ambienteescolar.Enuncia práticas relativas ao problema.O professor apresenta/não apresenta propostade trabalho em relação à formação <strong>do</strong>sujeito público face à cidadania e à vidaprivada.Enuncia o equilíbrio ou desequilíbriopúblico/priva<strong>do</strong>: O professor apresenta/nãoapresenta o problema de forma a abordar os<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s (a questão da unidade público/priva<strong>do</strong>).Práticas mnemónicas <strong>na</strong> EscolaEnuncia sistematização das práticasmnemónicas: O professor apresenta/nãoapresenta pensamento e/ou práticas de separare memorizar categorias cognitivas coma fi<strong>na</strong>lidade de permitir tarefas activas(porexemplo, tabuada, sequência de datas oueventos distintivos, e outros.).Enuncia o hábito de compreensão e adispensa das práticas mnemónicas: O professorapresenta pensamento ou justificativaacerca da não utilização das práticasmnemónicas <strong>na</strong> Escola.(D). Unidade/Separação da ComunicaçãoEnuncia associação entre os factoresconstituintes <strong>do</strong>s processos comunicativos: Oprofessor apresenta/não apresenta pensamentoou prática que associe a sociedade/meio;os media; a família, alunos e professoresenquanto elementos em comunicação.Enuncia trabalho de formação <strong>do</strong> alunopara a consciência <strong>do</strong> sistema de comunicação:O professor apresenta/não apresentapreocupação com pensamento e práticas deobservar e interpretar sistemas de relação/interacção (sistemas em jogo; interlocutores;géneros de comunicação; realidades e possibilidadesno plano da comunicação).Enuncia a comunicação como espaço deaprendizagem global. O professor apresenta/não apresenta preocupação com a unidadeentre linguagem e comunicação (linguagensde comunicação inclusive a lingua; modalidadesde dizer no plano da comunicação nãolinguística).Enuncia a noção de uso, e <strong>potencial</strong>idadede usos, <strong>do</strong>s códigos, sistemas e hábitos decomunicação. O professor apresenta/nãoapresenta preocupação com a capacidade de<strong>do</strong>mínio de códigos, sistemas e hábitos (<strong>do</strong>seu meio e de outros meios)por parte <strong>do</strong>forman<strong>do</strong>.(2) A dimensão Continuidade/Fragmentação(A). Continuidade/Fragmentação <strong>do</strong> TempoEnuncia a consciência da incontor<strong>na</strong>bilidade<strong>do</strong> tempo concreto: O professor faz/não faz ênfase no presente (síntese temporal<strong>do</strong> presente) no senti<strong>do</strong> de rever-se os gestosque se praticam como inércia <strong>do</strong> hábitocontraí<strong>do</strong> no passa<strong>do</strong>.Enuncia pensamento e/ou prática relativosà noção pulverizada <strong>do</strong> tempo. O Professorapresenta/não apresenta preocupaçãocom a ideia de tempo utilitário e dividi<strong>do</strong>.Enuncia pensamento e/ou práticas com asnoções de tempo contínuo: O Professorapresenta/não apresenta preocupação com aformação para o senti<strong>do</strong> de continuidade: aduração <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> futuro no presente.Enuncia o presente como tempo de ligaçãoentre os passa<strong>do</strong>s e o futuro: O Professorapresenta/não apresenta pensamento e/ou práticas referentes à consciência de si, <strong>do</strong>outro e da comunicação como factores decompreensão <strong>do</strong> tempo contínuo.(B). Continuidade/Fragmentação <strong>do</strong> Si-MesmoEnuncia práticas de <strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong> si-mesmo:O professor realiza/não realiza, com osforman<strong>do</strong>s, práticas de <strong>na</strong>rrativa autobiográficae auto-compreensiva.Enuncia a noção de História como noçãointegrada à noção de si e <strong>do</strong> outro em


338 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVprocesso contínuo e indivisível: O Professorapresenta/não apresenta preocupação com acapacitação <strong>do</strong> forman<strong>do</strong> para a leitura desi como um desenrolar contínuo de relaçõescomplexas num meio complexo, no tempo.Enuncia a compreensão de si comocontracção e condensação de hábitos de sie <strong>do</strong> outro no tempo. O Professor apresenta/não apresenta a consciência de si comoprocesso no tempo (o si face ao meio e aooutro no passa<strong>do</strong>).Enuncia a consciência <strong>do</strong>s laços depassa<strong>do</strong> e da herança <strong>do</strong> meio como factoresde interpretação de si. O professor apresenta/não apresenta preocupação com a formaçãopara a consciência de si, a classificação desi-mesmo e a identificação <strong>do</strong> outro atravésde <strong>na</strong>rrativas sistemáticas e exercícios sobreo tempo passa<strong>do</strong>.Enuncia o trabalho com a noção de mortecomo factor de educação. Herança /lega<strong>do</strong>como factores de continuidade. O Professorapresenta/não apresenta preocupação com aquestão da perda, <strong>do</strong> luto, da melancolia e<strong>do</strong> perdão.(C). Continuidade/Fragmentação <strong>do</strong> Outro(<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>)Enuncia a noção de História como factorde <strong>na</strong>rratividade extensa <strong>do</strong> real: O professorapresenta/não apresenta preocupação com aquestão da representação <strong>do</strong> outro no senti<strong>do</strong>da memória, da história, <strong>do</strong>s media, e outros.Enuncia a noção de interpretação <strong>do</strong>vivi<strong>do</strong> e a transformação <strong>do</strong> hábito no social:O Professor apresenta/não apresenta preocupaçãocom a transmissão <strong>do</strong>s hábitos e aparticipação de alunos e professores nesteprocesso.Enuncia a <strong>na</strong>rratividade e práticas éticasde pensar a História: O Professor apresenta/não apresenta preocupação com a questão <strong>do</strong>ssilêncios e versões parciais sobre os conflitoshumanos. A dinâmica <strong>do</strong> esquecimentoe a sua gestão.Enuncia práticas de integração entre a<strong>na</strong>rrativa subjectiva e a histórica: O Professorapresenta/não apresenta pensamento e/oupráticas relativos à ideia de participação <strong>do</strong>sujeito no processo histórico. O Professor faz/não faz a distinção entre Memória e História.O Professor faz/não faz a relação entre as<strong>na</strong>rrativas pessoais e quotidia<strong>na</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>e <strong>do</strong> si-mesmo e as <strong>na</strong>rrativas históricas ecientíficas.Enuncia práticas de interpretação e leiturada leitura que os media fazem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>:O Professor apresenta/não apresenta pensamentoe práticas relativos à formação <strong>do</strong>educan<strong>do</strong> para a capacidade de interpretarcódigos e fenómenos utiliza<strong>do</strong>s pelos media.Enuncia o equilíbrio entre práticas decontinuidade e práticas de fragmentação. OProfessor apresenta/não apresenta pensamentoe/ou práticas voltadas para a ponderação defactores de continuidade e a sua integraçãodiante de um meio marca<strong>do</strong> pela fragmentação.(D). Continuidade/Fragmentação da ComunicaçãoEnuncia um continuum de comunicaçãocom base no educan<strong>do</strong>: O professor apresenta/não apresenta pensamento/prática emrelação à capacidade <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> de identificarde forma diacrónica o terreno decomunicação e as suas funções inter<strong>na</strong>s /papéis relativos no interior deste terreno(quem falava/fala; porque falava/fala; comofalava/fala; com quem falava/fala; sistema nointerior <strong>do</strong> qual se fala)Enuncia práticas de identificação dasredes de comunicação e de seus papéis. Oprofessor apresenta/não apresenta noções dasredes de comunicação relacio<strong>na</strong>das aos papéisque se dão no seu interior e relativasa to<strong>do</strong>s os agentes: professores, familiares,comunidade, e outros.Enuncia a autonomia <strong>do</strong> sistema decomunicação em relação aos seus agentes.O Professor apresenta/não apresenta a preocupaçãocom a centralidade relativa <strong>do</strong>homem nos sistemas sociais e educacio<strong>na</strong>is.(3) A Dimensão Simultaneidade/Linearidade(A). Simultaneidade/Linearidade <strong>do</strong> TempoEnuncia a multiplicidade como factor deeducação: O Professor apresenta/não apresentapensamento e/ou práticas pedagógicasrelativas à questão das possibilidades derevisão e escolha <strong>do</strong>s hábitos bem como as


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO339várias perspectivas de análise de um mesmoobjecto.Enuncia a linearidade como factor deeducação: O Professor apresenta/não apresentapensamento e/ou práticas pedagógicasrelativos à orde<strong>na</strong>ção linear <strong>do</strong> pensamentoe <strong>do</strong> trabalho.Enuncia a busca de equilíbrio entre alinearidade e a simultaneidade: O Professorapresenta/não apresenta pensamento e/ou práticasde construção de possíveis outros (modelos,formas, sistemas) ao mesmo tempo em quepondera sobre sua utilidade e possibilidade.Enuncia a consciência da velocidadequotidia<strong>na</strong>: O Professor apresenta/não apresentapensamento e/ou práticas face à questãoda linearidade veloz.Enuncia o stress como resulta<strong>do</strong> davelocidade: O Professor apresenta/não apresentapensamento e/ou práticas relativas asituações de mau aproveitamento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>devi<strong>do</strong> ao stress.Enuncia a distinção entre o intervaloreflexivo e o intervalo para a retomada daacção: O Professor apresenta/não apresentapensamento e/ou prática relativos ao intervalotoma<strong>do</strong> como descanso da acção dispostalinearmente e o intervalo vivi<strong>do</strong> como planointuitivo da simultaneidade: o plano <strong>do</strong>reflectir e <strong>do</strong> meditar; o repouso como tempoinútil face à acção.(B). Simultaneidade/Linearidade <strong>do</strong> SimesmoEnuncia pensamento ou prática de análise<strong>do</strong> si-mesmo <strong>na</strong> Escola: O Professorapresenta/não apresenta promoção da análisee interpretação <strong>do</strong>s varios significa<strong>do</strong>s de siconforme variação de referências. Promoverevisão <strong>do</strong>s gestos <strong>do</strong> si-mesmo como práticade mudança.Enuncia gestos <strong>do</strong> si-mesmo associa<strong>do</strong>sà linearidade: O Professor apresenta/nãoapresenta pensamento e/ou práticas relativosao acompanhamento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> no planoda manutenção e gestão das sequências linearesda acção.Enuncia aproximação <strong>do</strong>s planos simultaneidade/linearidade:O Professor apresenta/nãoapresenta pensamento e/ou práticasrelativos à integração contraditória <strong>do</strong>s planosda simultaneidade e da linearidade.(C). Simultaneidade/Linearidade <strong>do</strong> OutroEnuncia o outro possível: O Professorapresenta/não apresenta pensamento e/oupráticas onde o exercício de imagi<strong>na</strong>r umleque de possíveis sobre qualquer tema/objecto permanente no quotidiano escolar. Oprofessor propõe/não propõe abertura deprática pedagógica para o exercíciointerpretativo <strong>do</strong>s tipos de outro existentes:(sociedade; sistema escolar; sistema cultural,e outros.).Enuncia distinção entre as escolhas deagendas <strong>do</strong>s media e os temas proscritos/silencia<strong>do</strong>s: O professor apresenta/não apresentapensamento e/ou práticas relativas àinterpretação crítica <strong>do</strong>s discursos e linguagensmediaticas (discurso sobre o outro e omun<strong>do</strong>).Enuncia a relação entre a velocidadequotidia<strong>na</strong> e a linearidade <strong>na</strong>rrativa veloz <strong>do</strong>smedia. O Professor apresenta /não apresentapensamento e/ou práticas de associação entreo conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s media e os ritmos velozes<strong>do</strong> dia a dia.Enuncia a integração <strong>do</strong>s objectos <strong>do</strong>conhecimento: O professor apresenta nãoapresenta pensamento e/ou práticas relativosà integração <strong>do</strong>s objectos: tempo, si-mesmo,o outro e a comunicação(D). Simultaneidade/Linearidade da ComunicaçãoEnuncia a comunicação como sistemaescolhi<strong>do</strong>/construí<strong>do</strong>: O professor apresenta/não apresenta pensamento e/ou práticas relativas‘a consciência da constituição <strong>do</strong>ssistemas de comunicação.Enuncia a possibilidade de interpretaçãoe mudança <strong>do</strong> sistema de comunicação: Oprofessor apresenta/não apresenta pensamentoe/ou práticas que incentivam a mudança (nosenti<strong>do</strong> de alteração sistémica de Palo Alto).Para fi<strong>na</strong>lizar, acrescenta-se que o instrumentalde observação apresenta<strong>do</strong> deve estarsempre aberto a todas as transformações quea investigação continuada <strong>do</strong> nosso objectopuder fundamentar. Por sua vez, as práticasmemoriais <strong>na</strong> escola devem ser entendidascomo fluxos complexos e alteráveis e nãodicotomias estáticas como à primeira vistase poderia supor.


340 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBarone, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> (2003), Comunicaçãoda memória quotidia<strong>na</strong>. Trajectos: Revista deComunicação, Cultura e Educação. ISCTE.Bergson, Henri (1988), Ensaio sobre osda<strong>do</strong>s imediatos da consciência. Lisboa:Edições 70.Bergson, Henri (1979), O pensamento eo movente (Introdução). In: Bergson: cartas,conferências e outros escritos. São Paulo:Abril Cultural. p.99-151Bergson, Henri (1946), Matière etmémoire; essai sur la relation du corps al’esprit. Genève: Éditions Albert Skira. 259p.Bourdieu, Pierre (1989), O poder simbólico.Rio de Janeiro : Difel. 314p.Bourdieu, Pierre (1994), Raisons pratiques:sur la théorie de l’action. Paris:Éditions du Seuil.Bourdieu, Pierre et PASSERON, Jean-Claude (s.d.). A reprodução: elementos parauma teoria <strong>do</strong> ensino. Lisboa: Editorial Vega.301p.Citelli, Adilson (2000). Comunicação eeducação: a linguagem em movimento. SãoPaulo : Editora Se<strong>na</strong>c. 253p.Connerton, Paul (1993). Como as sociedadesrecordam. Oeiras : Celta Editora.126p.Crespi, Franco (1997). Manual de sociologiada cultura. Lisboa : Editorial Estampa.279p.Deleuze, Gilles (1981). Bergson: materiay memoria; curso del 5 enero de 1981. Cali:Universidad de Cali. 9 p. (mimeogr.)Elias, Norbert (1995). La civilisation desmoeurs. Paris : Calmann-Lévy. 342p.Ellul, Paul (1989). La culture de l’oubli.In: ZAVIALOFF,Nicolas e JAFFARD,Roberte BRENOT, Philippe. (Org.) La mémoire; leconcept de mémoire. v.2 . Paris: L’Harmattan.p.148-155Goffman, Erving (1993). A apresentação<strong>do</strong> eu <strong>na</strong> vida de to<strong>do</strong>s os dias. Santa Mariada Feira : Relógio D’Água. 297p.Guillaume, Marc (1998). A competiçãodas velocidades In: MORIN, Edgar ePRIGOGINE,Yllia et al. . A sociedade embusca de valores. Lisboa: Piaget. p. 103-16Halbwachs, Maurice (1990). A memóriacolectiva. São Paulo: Vértice.Husserl, Edmund (1989). A ideia dafenomenologia. Lisboa: Edições 70. 133p.littlejohn, Stephen (1988). Fundamentosteóricos da comunicação huma<strong>na</strong>. Rio deJaneiro: Editora Gua<strong>na</strong>bara. 407p.Luhmann, Niklas (1996). Teoria de lasociedad y pedagogía. Barcelo<strong>na</strong> : Paidós.Marc, Edmond (1998). Palo Alto: l’écolede la communication. In: CABIN, P. Lacommunication; etat de savoirs. Auxerre :Éditions Sciences Humaines p.131-4Miège, Ber<strong>na</strong>rd (2000). O pensamentocomunicacio<strong>na</strong>l. Petrópolis: Vozes. 141p.Morin, Edgard (1991). Introdução aopensamento complexo. Lisboa : InstitutoPiaget. 145p.Nietzsche, Friedrich (1990). A genealogiada moral. Lisboa: Guimarães. 142p.Nietzsche, Friedrich (1988). Secondeconsidération intempestive. Paris:Flammarion. 187p.Pellegrin, Marie-Frédérique. (1998).Leçon sur les experiénces du présent. Paris:PUF. 122p.Pomian, Krzysztof (1984). L’ordre dutemps. Paris : Gallimard.Ricoeur, Paul (1988).O discurso daacção. Lisboa: Edições 70.Ricoeur, Paul (1999). La lectura deltiempo pasa<strong>do</strong>; memoria y olvi<strong>do</strong>. Madrid:Ediciones UAM/Arrecife. 119p.Rioux, Jean Pierre (1998). A memóriacolectiva. In: ——. e SIRINELLI, Jean-François. (Dir.) Para uma história cultural.Lisboa: Editorial Estampa. p..307-30Sennett, Richard (1988). O declínio <strong>do</strong>homem público; as tiranias da intimidade. SãoPaulo : Companhia das Letras.Weber, Max. (1995) Meto<strong>do</strong>logia dasciências sociais. 2 volumes (Parte 1 e Parte2). São Paulo : Cortez Editora. 453p._______________________________1Escola Superior de Educa<strong>do</strong>res de InfânciaMaria Ulrich.2Estes <strong>do</strong>is conceitos surgem aqui com osenti<strong>do</strong> sistémico proposto, por exemplo, em Morin(1991: 47-8):Assim o nosso ponto de vista supõe o mun<strong>do</strong>e reconhece o sujeito. Melhor, coloca-os a ume a outro de maneira recíproca e inseparável: omun<strong>do</strong> só pode aparecer enquanto tal, quer dizerhorizonte de um eco-sistema de eco-sistema,


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO341horizonte da physis, para um sujeito pensante,último desenvolvimento da complexidade autoorganiza<strong>do</strong>ra.Mas tal sujeito só pôde aparecerno termo de um processo físico através <strong>do</strong> qualse desenvolveu, através de mil etapas, semprecondicicio<strong>na</strong><strong>do</strong> por um eco-sistema tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-secada vez mais rico e vasto, o fenómeno da autoorganização.O sujeito e o objecto aparecemassimcomo as duas divergências últimasinseparáveis da relação sistema auto-organiza<strong>do</strong>r/eco-sistema.3O termo preocupação, aqui, tem o senti<strong>do</strong>mais associa<strong>do</strong> à ideia de pré-ocupação, ou seja,intenção prévia de pensamento e trabalho face adetermi<strong>na</strong>da actividade. “pré-ocupação,s.f. ocupaçãoprévia”. DICIONÁRIO Universal LínguaPortuguesa. (1998) Lisboa: Texto Editora.4O senti<strong>do</strong> que este termo tem, aqui, reportaseao senti<strong>do</strong> figura<strong>do</strong> de gesto: “Gesto2.[Do fr.geste.] S.m. Ação, ato (em geral, brilhante): gestode generosidade; gesto de nobreza”. Ferreira,A.B.H. (s.d.) Novo Dicionário da Lingua Portuguesa.Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.Ver também os conceitos de ethos e hexis emBourdieu à p. 171 e seguintes.5O termo comunicação, aqui, evoca o senti<strong>do</strong>que possui <strong>na</strong> Escola de Palo Alto, ou seja, osistema que desig<strong>na</strong> a postura, a hierarquia e osmovimentos concerta<strong>do</strong>s e integra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seusparticipantes e, também, os senti<strong>do</strong>s que possuiquan<strong>do</strong> desig<strong>na</strong> os valores de distinção <strong>do</strong>s gestossociais (Bourdieu:1989) e a performance comunicativaqualitativa e dramática (Goffman:1993).Desta forma, o termo educação para a comunicaçãodesig<strong>na</strong> a educação que trabalharia com ossenti<strong>do</strong>s relativos <strong>do</strong>s gestos sociais, os seus locaisde origem sócio-culturais e a estrutura de umléxico correspondente neste plano da gestualidade.Neste ponto, podemos nos perguntar sobre oporque da escola investir com mais ênfase emconteú<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s à inscrição <strong>do</strong> que emconteú<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s à incorporação, como sugereConnerton para a esfera sócio-cultural emgeral.


342 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO343Anim(a)ção <strong>na</strong> EducaçãoO entre-entendimento <strong>na</strong> teia da produção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>e sua mediação <strong>na</strong> educaçãoGeci de Souza Fontanella*Entretenimento 1 x entre 2 -entendimento 3O desenho anima<strong>do</strong> é um instrumentosocial, que tem dimensão cultural e estética;age como ferramenta psicológica - media<strong>do</strong>ra<strong>na</strong> percepção da criança entre o imaginárioe a sua história de vida - <strong>na</strong> produção<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> e <strong>na</strong> formação da consciência dacriança. Faz um trabalho de mediação einterferência. Neste senti<strong>do</strong> devemos levar emconta que o desenvolvimento de suas funçõespsicológicas é sempre media<strong>do</strong> pelooutro, o que contribui para seus processosde significação da realidade.Este movimento pode ser experimenta<strong>do</strong>num processo de apreensão e compreensão,no captar o entre-entendimento 4 da mensagem,levan<strong>do</strong> em conta, como alerta Baccega,“a pluralidade de sujeitos que habita em cadaum de nós”. 5 Um sujeito que se desenvolvee se constrói em suas formas de experimentaro mun<strong>do</strong>, no contato com as pessoas, comos acontecimentos, como também através damediação <strong>do</strong>s meios de comunicação.Quan<strong>do</strong> dizemos entre-entendimento,queremos dizer que os desenhos anima<strong>do</strong>snão são só um meio para entreter, nemsomente uma forma de lazer, mas um meio,um instrumento de mediação, que faz mais<strong>do</strong> que isso. Apresenta roteiros com contextosreais através de imagens, sons e movimentos,que provocam sensações, que seassemelham à realidade, mostram suas rupturas,suas complexidades. Ao mesmo tempopermitem despertar o sonho em forma defantasia, provocan<strong>do</strong> <strong>na</strong>s crianças experiênciasmetafóricas com perso<strong>na</strong>gens/sujeitosvivos, com os quais se relacio<strong>na</strong>m no cotidiano.Facilita a, ou mesmo, interfere <strong>na</strong>compreensão que fazem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e darealidade.Os desenhos anima<strong>do</strong>s agem como ferramentapsicológica. Sua montagem permiteuma reflexão sobre a concepção da sociedade,sua adequação ou i<strong>na</strong>dequação ao atualprocesso civilizatório. Também podem dificultarou possibilitar uma reorganização desuas reais necessidades.(...) as condições atuais tor<strong>na</strong>ram-semais agudas com o aparecimento detecnologias híbridas (conjugam imagem,som, movimento etc.) que podemmanipular mais intensamente assensações huma<strong>na</strong>s, crian<strong>do</strong>, porexemplo, formas de simulação e derepresentação da realidade. 6É importante saber fazer uma leituradestes desenhos, trazer seu argumento paradiscussão e compreendê-lo, a partir da realidadede cada um.Partin<strong>do</strong> da hipótese de que há diferençasindividuais e de que os receptoresreagem diferentemente à mesmamensagem, a pesquisa de comunicação,a partir das contribuições <strong>do</strong>s teóricosda Escola de Frankfurt, passou a sepreocupar com os chama<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s deaudiência e com o caráter sistêmico ecomplexo da indústria cultural. 7Por outro la<strong>do</strong> são um produto da IndústriaCultural, que interfere <strong>na</strong> produção <strong>do</strong>ssenti<strong>do</strong>s e <strong>na</strong> construção da identidade <strong>do</strong>ser/sujeito-infanto-juvenil/indivíduo e nocomo este produz senti<strong>do</strong>s, significa<strong>do</strong>s e osres-significa, a partir desta mediação. Afilmografia, e em especial os desenhosanima<strong>do</strong>s contemporâneos interferem noprocesso de educação também <strong>na</strong> escola, lugaronde a prática educativa se dá pela razãoformalizada. Para<strong>do</strong>xalmente este é o lugaronde é suposto que ocorra a constituição <strong>do</strong>sujeito, principalmente em sua vivência comosujeito histórico.A educação para a emancipação, nodizer de A<strong>do</strong>rno, realiza-se pela capa-


344 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcidade de fazer experiências quetornem a faculdade de pensar algo quenão se expressa ape<strong>na</strong>s pelo conhecimentológico formal. 8Por que não inserir os desenhos anima<strong>do</strong>sem sala de aula de maneira adequada?Defendemos que é possível trabalhá-los comoprática educativa, envolven<strong>do</strong> a leitura einterpretação <strong>do</strong> contexto, da historicidade,<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, das ideologias, <strong>do</strong>s costumes,das culturas, que estão conti<strong>do</strong>s em seusroteiros. São admiti<strong>do</strong>s como um instrumento<strong>do</strong> universo midiático 9 , que funcio<strong>na</strong> comoferramenta psicológica <strong>na</strong> produção <strong>do</strong>ssenti<strong>do</strong>s, <strong>na</strong> compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e <strong>na</strong>significação. Podem colaborar para ummelhor desenvolvimento psíquico e cognitivodas crianças, livran<strong>do</strong>-as da falsa promessa<strong>do</strong> “felizes para sempre” ao conviver como outro, respeitan<strong>do</strong> as diferenças, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>asmais comunicativas, bem humoradas, maisextrovertidas, mais criativas, articula<strong>do</strong>rasmelhores de seus pensamentos e idéias.A análise frankfurtia<strong>na</strong> considera as condiçõesde produção <strong>do</strong>s artefatos culturais eo fato de a tecnologia veicular a ideologiasistêmica da sociedade industrial. Não bastaentão a exposição destas merca<strong>do</strong>rias simbólicas,mesmo com propósitos <strong>educativo</strong>s, masé preciso configurar aspectos de sua estruturae ligação com a sociedade, para, <strong>na</strong> perspectivade um diagnóstico, indicar elementos, queconduzem à semiformação.Se o professor quiser familiarizar-secom este tipo de saber, tem de lheprestar atenção, ser curioso, ouvi-lo,surpreender-se e actuar como umaespécie de detetive que procura descobriras razões que levam as criançasa dizer certas coisas. Este tipo deprofessor esforça-se por ir ao encontro<strong>do</strong> aluno e entender o seu processo deconhecimento, ajudan<strong>do</strong>-o a articularo seu conhecimento com o saberescolar. Este tipo de ensino é umaforma de reflexão-<strong>na</strong> ação que exige<strong>do</strong> professor uma capacidade de individualizar,isto é, de prestar atençãoa um aluno, mesmo numa turma detrinta, ten<strong>do</strong> a noção de seu grau decompreensão e das suas dificuldades. 10O ser/sujeito/infanto-juvenil/indivíduodeste séculoA criança, da qual falamos, é o ser/sujeitoque <strong>na</strong>sce, (é forma<strong>do</strong>) cria-se, (é re-cria<strong>do</strong>)recria-se, (e é recria<strong>do</strong>), é integra<strong>do</strong> e interage,transforma-se neste mun<strong>do</strong> e momento presente(séc. XXI) em meio a complexidades,rupturas e tensões de toda ordem.Neste momento o experimento da mediação<strong>do</strong>s desenhos anima<strong>do</strong>s, como instrumentopedagógico em sala de aula, é umapossibilidade plausível. Teóricos da TeoriaCrítica, como A<strong>do</strong>rno, Benjamin,Horhkeimer e outros, fazem críticas aosprodutos da Indústria Cultural como meiosde padronização, que têm como objetivo ovalor de troca e o sucesso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.Segun<strong>do</strong> eles, a Indústria Cultural submeteo sujeito a uma ideologia intencio<strong>na</strong>l, àalie<strong>na</strong>ção. Eles nos instigam com suascríticas a pensar novas possibilidades paraanimar a educação neste ambiente contemporâneo.Prestes contribui, quan<strong>do</strong> afirmaque as reflexões de Horkheimer são inegavelmenteatuais. E que: A educação não podeconstituir-se fora de seu tempo e de suahistória. 11To<strong>do</strong> sujeito deve ser educa<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong>com este momento histórico, como um sujeitovivente numa sociedade globalizada,mundializada, tecnizada, automatizada,digitalizada, onde os meios de comunicaçãoe os produtos culturais intervêm aguçadamenteem sua subjetividade. Podem aprendera conhecer os aparatos técnicos, a refletirsobre eles, a interpretar a sua mensagem, aressignificar e a construir pensamentos atravésde uma liberdade sistêmica.Consideran<strong>do</strong> o sujeito atual, que seconstrói e se transforma em interação contínuacom as condições sociais, as quais, porsua vez, também estão em constante transformação.Octávio Ianni descreve como issose dá:Hoje passamos da produção de artigosempacota<strong>do</strong>s para o empacotamentode informações. Antigamenteinvadíamos os merca<strong>do</strong>s estrangeiroscom merca<strong>do</strong>rias. Hoje invadimosculturas inteiras com pacotes de informações,entretenimentos e idéias. 12


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO345Há outro aspecto:Vygotsky e Bahktin consideram a importância<strong>do</strong> sujeito histórico, o sujeito que seconstrói e se constitui por inúmeros “nós”e inúmeras vozes. Podemos considerar ainteração <strong>do</strong> sujeito com o outro (os outros),como o resulta<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> no entre-entendimento,<strong>na</strong> mediação com o outro: locutor,interlocutor, significa<strong>do</strong>, significação atravésda linguagem, da comunicação, e da imagem.13Debemos mencio<strong>na</strong>r, además, allenguaje que al principio es un mediode comunicación con los demás, ysólo más tarde, en forma de lenguajeinterno, se convierte en un medio delpensamiento, hacién<strong>do</strong>se así del to<strong>do</strong>evidente la aplicabilidad de esta leya la historia del desarrollo cultural delniño. 14Nesse contexto é que penso este indivíduo/criançacom todas as suas singularidadese particularidades; um sujeito/criança enquantoser/sujeito/indivíduo construin<strong>do</strong>-se econstruí<strong>do</strong> numa teia de produção de senti<strong>do</strong>s,em meio a toda uma multidão de seres/sujeitos/indivíduos e mediações sociais emuma sociedade globalizada.A formação <strong>do</strong> indivíduo através dacultura e a reprodução da culturaatravés <strong>do</strong> indivíduo fazem parte <strong>do</strong>mesmo movimento. Movimento peloqual o indivíduo se apropria da cultura,através <strong>do</strong> processo de socialização,transforman<strong>do</strong>-se, strictosensu, num indivíduo, e pelo qual acultura se perpetua, reproduzin<strong>do</strong>-se,geração após geração, <strong>na</strong>s consciênciasindividuais. 15Minha hipótese é a de que os desenhosanima<strong>do</strong>s contemporâneos podem ser utiliza<strong>do</strong>scomo um instrumento pedagógicotransdiscipli<strong>na</strong>r, que poderão ser instrumentospedagógicos para trabalhar com a história,com a geografia, com a cultura, com osvalores, com os costumes, com as ciências,com a educação artística principalmente, paraajudar os educa<strong>do</strong>res a compreender emediarem a produção <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>ssignifica<strong>do</strong>s e as res-significações, manifestasou não, em seus educan<strong>do</strong>s. ConformeCláudia Santa<strong>na</strong>:A experiência sensorial possibilitadapela exposição às técnicas cinematográficasalteraria a percepção <strong>do</strong>humano <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaço, educan<strong>do</strong>os senti<strong>do</strong>s a operarem atravésde descontinuidades. 16O ser/sujeito/indivíduo de hoje vive nestecontexto. No contexto das descontinuidades,da técnica, da agilidade, da sociedade aparentementedemocrática. Do lugar onde tu<strong>do</strong>e to<strong>do</strong>s têm pressa.Seguin<strong>do</strong> a BOLZ (1992: apud Santa<strong>na</strong>),entre as mediações de comunicação de massadestacamos os desenhos anima<strong>do</strong>s em particular,por suas técnicas alterarem a percepçãohuma<strong>na</strong> <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaço, educan<strong>do</strong>os senti<strong>do</strong>s a operarem através de fragmentaçõese descontinuidades. Conforme CláudiaSanta<strong>na</strong>,A brincadeira da criança assemelhaseaos procedimentos da montagemno cinema: a atenção às possibilidadesde senti<strong>do</strong> que a junção de fragmentos,a colisão de idéias provocam.Ao invés de se excluírem acepçõesconflitantes, observa-se a elaboraçãode conceitos a partir da fricção, <strong>do</strong>choque das idéias. O princípio damontagem, que se evidencia tanto nocinema quanto <strong>na</strong> brincadeira dacriança, cria possibilidades de associaçõesinesperadas, justaposiçõeslúdicas e imagens carregadas de tensões.17Criticar e pensar em voltar ao passa<strong>do</strong>é utopia. Este é o mun<strong>do</strong>, o momento queestamos viven<strong>do</strong>. É preciso aprender a entender,a viver, a conviver e a educar o ser/sujeito/infanto-juvenil, indivíduo enreda<strong>do</strong> <strong>na</strong>teia da contemporaneidade, enredan<strong>do</strong>-se nelae buscan<strong>do</strong> captar e compreender o processode sua produção <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong> eempregan<strong>do</strong> da melhor maneira possível essemeio com seus aparatos técnicos etecnológicos disponíveis. Guy Debord <strong>na</strong>década de 60 já escrevera que: “<strong>na</strong> segunda


346 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmetade <strong>do</strong> século XX a imagem substituiriaa estrada de ferro e o automóvel como forçamotriz da economia”. Estamos vivencian<strong>do</strong>esta predição. É chegada a hora de o entretenimentoproduzi<strong>do</strong> pela técnica dafilmografia com to<strong>do</strong>s seus recursos técnicose digitaliza<strong>do</strong>s aplica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> imagem, <strong>na</strong> linguagem,no som, no roteiro, <strong>na</strong> sonoplastiae nos seus efeitos, deixarem de ser entretenimentopara se tor<strong>na</strong>rem entre-entendimento.O que determi<strong>na</strong> a sua qualidade éo uso, o que se pode fazer dela diantede suas possibilidades pedagógicas eculturais. (...) Nessa perspectiva, aindústria cultural, ao ampliar a circulaçãode informações e permitir oacesso a um maior contingente depessoas, possibilitaria uma melhorcompreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. 18A utilização de desenhos anima<strong>do</strong>s,desenvolvida e articulada como um instrumentopedagógico <strong>na</strong> formação de educa<strong>do</strong>res<strong>na</strong> escola, <strong>na</strong> educação das crianças,poderá ser uma alter<strong>na</strong>tiva. Poderá dar um“basta” à inércia, à padronização e à racio<strong>na</strong>lização<strong>do</strong>s procedimentos formais <strong>do</strong>ensino e ao desestímulo no aprender. ConformeWolfgang Leo Maar,(...) o conteú<strong>do</strong> de conhecimento daexperiência, no senti<strong>do</strong> de A<strong>do</strong>rno,experiência formativa – não se esgota<strong>na</strong> relação <strong>do</strong> conhecimento formal,tal como só forneci<strong>do</strong>, por exemplo,pelo méto<strong>do</strong> das ciências <strong>na</strong>turais.Mas implica numa transformação <strong>do</strong>sujeito no curso de seu contato transforma<strong>do</strong>rcomo objeto <strong>na</strong> realidade,para o que se exige continuidade etempo – isto é, realidade – por oposiçãoà fragmentação e à pressa daracio<strong>na</strong>lidade formal. 19Introduzir uma boa <strong>do</strong>se de animação <strong>na</strong>educação possibilitará ao ser aprendente redescobrircom a sua fantasia, com a suaimagi<strong>na</strong>ção; possibilitará aguçar a curiosidadee a criatividade. Os desenhos anima<strong>do</strong>scomo instrumento pedagógico poderão devolverao ensino e à educação um pouco de gostoe sabor. Hugo Assmann faz uma reflexão:A aprendizagem não é um amontoa<strong>do</strong>sucessivo de coisas que se vão reunin<strong>do</strong>.Ao contrário, trata-se de umarede ou teia de interações neuro<strong>na</strong>isextremamente complexas e dinâmicas,que vão crian<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>s gerais qualitativamentenovos no cérebro humano.20Chegou o tempo de fazer uma reflexãodialética sobre: “Educação e Comunicaçãonão devem ser dissociadas”. A Comunicaçãoserve à Educação, para educar ou (des)educar,para socializar ou (des)socializar, para integrarou (des)integrar, para ajudar a entenderou a (des)entender, para ajudar a compreenderou a (não) compreender; para apreendere inter<strong>na</strong>lizar, para desmontar e res-significarinformações e significa<strong>do</strong>s. A partir dessasexperiências, o sujeito interage com e em seumeio.As crianças já estão <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> <strong>na</strong> sociedadeglobalizada. São educadas e integradasà família, à sociedade, ao grupo atravésda comunicação. Acostumam a sentiremnecessidade de informação, entretenimento,envolvimento, <strong>do</strong>s quais to<strong>do</strong>s somos dependentes.Reflitamos: Comunicação e Educaçãoestão interligadas através da convivência,através da linguagem. Sem elas não hácontradições, assim como não haverá entendimentosem diálogo. Não há descobertas seminformação. Não há questio<strong>na</strong>mentos, nemreflexões, nem atuação conjunta sem oentendimento. Não há negócios, conseqüentemente,não há merca<strong>do</strong>. Não há a troca.Não há o conhecimento, nem tão pouco oreconhecimento <strong>do</strong> outro.Há como negar?Os desenhos anima<strong>do</strong>s são uma merca<strong>do</strong>riapalatável, um produto à venda, que dáprazer a diferentes públicos. Trazem dentrode si uma intenção, explica Octávio Ianni.O autor também nos alerta, que precisamoslembrar que nesse processo de produçãoNenhuma merca<strong>do</strong>ria é inocente. Elaé também signo, símbolo, significa<strong>do</strong>.Carrega valor de uso, valor detroca e reca<strong>do</strong>. Povoa o imaginário


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO347da audiência, público, multidão. Diverte,distrai, irrita, ilustra, ilude,fasci<strong>na</strong>. Carrega padrões e ideais,mo<strong>do</strong>s de ser, sentir e imagi<strong>na</strong>r.Trabalha mentes e corações, forman<strong>do</strong>opiniões, idéias e ilusões. 21Se é assim com o público em geral, “afortiori” o será com o público infantil. Osdesenhos anima<strong>do</strong>s são um produto vendável,que acompanham as constantes mudançasda sociedade, <strong>do</strong> contexto histórico <strong>do</strong>roteiro pretendi<strong>do</strong>, da pesquisa, <strong>do</strong> conhecimento,da técnica, da computação gráfica.Hoje são uma das mais atraentes merca<strong>do</strong>rias:a animação digital.O desenvolvimento de cada produção contacom elementos como: a pesquisa, o trabalho,a dedicação, a imagi<strong>na</strong>ção, as habilidadesartísticas e sensoriais. Também conta comexperiências vivenciais, para dar vida aosperso<strong>na</strong>gens cria<strong>do</strong>s. Os recursos tecnológicospermitem trazer para a tela amostras da história,da geografia, da cultura, <strong>do</strong>s costumese <strong>do</strong>s valores de determi<strong>na</strong>da região, dedetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> povo, <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>, <strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>não tão conheci<strong>do</strong>. Hão de dizer: “Éverdade. Essas combi<strong>na</strong>ções acrescentadas àhistória e ao roteiro é que fazem a fantasiaprovocar a sensação de realidade”. Nós diríamosque sim e que não. Se têm o poderde exercer uma reação aniquila<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ser,ao transformar a realidade em fantasia, tambémpodem fazer o contrário. São essascaracterísticas conflitantes <strong>do</strong>s desenhos anima<strong>do</strong>scontemporâneos, que nos fazem acreditarque ele pode ser uma das alter<strong>na</strong>tivasválidas, para provocar um diálogo entre asdiversas discipli<strong>na</strong>s <strong>do</strong> ensino formal, para darânimo à educação.Essa atmosfera é provocante. Mantém oânimo num constante fervilhar, numa constantetransformação, graças a to<strong>do</strong>s os outrosseres/sujeitos/indivíduos, que participam. Umser/sujeito/indivíduo vivo nesta sociedadecontemporânea, que, a despeito, como explicaOctávio Ianni, de tensões inter<strong>na</strong>s eexter<strong>na</strong>s, está articula<strong>do</strong> numa sociedadeglobal: Uma sociedade global no senti<strong>do</strong> deque compreende relações, processos e estruturassociais, econômicas, políticas e culturais,ainda que operan<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> desiguale contraditório. 22É notável a maneira como isso se dá. Acomunicação dá o tom da música e a educação,o ritmo <strong>do</strong> processo de globalização.O ser/sujeito educa<strong>do</strong> nessa sociedade dançaacompanhan<strong>do</strong> o ritmo. Se por um la<strong>do</strong> esteé um processo social, uma relaçãointerdiscipli<strong>na</strong>r, uma ferramenta para a construçãode um mun<strong>do</strong> mais transparente, maissimples, ao mesmo tempo é um instrumentomedia<strong>do</strong>r da estrutura trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, queexerce o poder de influenciar, definir eorientar o receptor. Sem dúvida o produtoda Indústria Cultural é ambíguo.Ora, os produtos culturais sãoobjetivações huma<strong>na</strong>s que devem serreapropria<strong>do</strong>s de forma coletiva,podem ser utiliza<strong>do</strong>s tanto <strong>na</strong><strong>na</strong>rcotização, quanto para a emancipaçãodas consciências. 23Ambos são media<strong>do</strong>res <strong>na</strong> sociedade emque vivemos. O movimento da mídia édecisivo no processo de globalização. Por issoa utilização <strong>do</strong>s meios de comunicação <strong>na</strong>educação e em sala de aula é uma questãopertinente. Mas, é preciso saber utilizá-los.É necessário saber ler, compreender, apreendera mensagem e a informação com todasua técnica e complexidade. Não basta saberutilizar os recursos técnicos, é preciso compreenderque eles incorporam a lógica <strong>do</strong>sistema de produção e são reapropria<strong>do</strong>s deforma desigual, excludente. É precisodesmistificar a idéia de que basta “boavontade”, para que os meios sejam utiliza<strong>do</strong>snuma outra conformação. Afi<strong>na</strong>l, pertencemosà era da transição, em que o capitalismoe o pós-capitalismo se mesclam; à era <strong>do</strong>marketing, da repercussão, da informatização,<strong>do</strong> re-conhecimento, da competição, daconstante “porta aberta” ao merca<strong>do</strong>. ConformeRe<strong>na</strong>to Ortiz, esta é a era de processosglobais, que transcendem os grupos, as classessociais e as <strong>na</strong>ções. Ele tem como hipótesea emergência de uma sociedade global.Se quisermos ser contemporâneos, teremosde enfrentá-la. Ortiz salienta:Estou convenci<strong>do</strong> de que, no processode globalização, a cultura deconsumo desfruta de uma posição dedestaque. Na minha opinião, ela se


348 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtransformou numa das principais instânciasmundiais de definição dalegitimidade <strong>do</strong>s comportamentos e<strong>do</strong>s valores. 24O cotidiano é constituí<strong>do</strong> e se constituinesta era complexa, descontínua, incerta,caótica, contraditória. São mun<strong>do</strong>s diferentesno mesmo mun<strong>do</strong>. Ao mesmo tempo em quese vivencia a era da individualidade, <strong>do</strong>egoísmo, da tirania, <strong>do</strong> sigilo, das mentiras,<strong>do</strong>s roubos, e acima de tu<strong>do</strong>, <strong>do</strong> cinismo,contraditoriamente se vivencia a era davalorização da criatividade, <strong>do</strong> voltar-se-parasi mesmo, da valorização <strong>do</strong> simples, <strong>do</strong>trabalho em equipe, da informação permean<strong>do</strong>to<strong>do</strong>s os âmbitos da sociedade, tentan<strong>do</strong> nãoser excludente, da liberdade de expressão eda escolha, <strong>do</strong> dizer não aos preconceitos,<strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong>s gêneros, das miscige<strong>na</strong>çõesvariadas, das denúncias, da verdade“<strong>do</strong>a a quem <strong>do</strong>er”. Em meio a todas estascontradições e em nome da sobrevivência eda cobiça pelo poder, <strong>do</strong> desenvolvimentoeconômico particular, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,é que vivemos. E é aqui que os meiosde comunicação, as mensagens altruístas, asinformações, os críticos das característicasprimeiras e os defensores das segundascaracterísticas mais saudáveis, digamos, transitame se instalam.É viven<strong>do</strong> no agora e refletin<strong>do</strong> sobre oser/sujeito/criança e pensan<strong>do</strong> no momentoconstituí<strong>do</strong> no atual contexto histórico, social,cultural, que justifico neste estu<strong>do</strong> autilização <strong>do</strong>s desenhos anima<strong>do</strong>s comoinstrumento pedagógico. Em Belarmino Césarencontro uma explicação:O que determi<strong>na</strong> a sua qualidade éo uso, o que pode fazer dela diantede suas possibilidades pedagógicas eculturais. Daí se pode pensar emalfabetização, através <strong>do</strong> rádio e datelevisão ou de programas <strong>educativo</strong>sinformais, media<strong>do</strong>s pela comunicaçãode massa. Nessa perspectiva, aindústria cultural, ao ampliar a circulaçãode informações e permitir oacesso a um maior contingente depessoas, possibilitaria uma melhorcompreensão de mun<strong>do</strong>. 25Desenhos são produtos da indústria cultural,de uma cultura mundializada, de umlugar um tanto distante, mais também fazemparte <strong>do</strong> nosso lugar, <strong>do</strong> nosso espaço temporal,<strong>do</strong> nosso mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>. A formaçãocultural foi historicamente ofuscada,despontencializada, mas não dizimada. Podee deve ser resgatada em dimensões novase contemporâneas de nosso tempo. 26Consideremos os desenhos anima<strong>do</strong>s dasindústrias filmográficas Walt Disney e Pixar,que têm repercussão global. Eles preenchemo tempo de lazer, entram no interior das casase no interior de nossas escolas. É um mun<strong>do</strong>imagético, que tem o poder de se fazer presenteno psíquico de crianças <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro. Pelasidéias de Re<strong>na</strong>to Ortiz esta reflexão é amplademais e nos sugestio<strong>na</strong>mos a pensar no to<strong>do</strong>,em tu<strong>do</strong>. Mas, voltan<strong>do</strong> para o cotidiano, éaí, no dia-a-dia, no bem viver ou mal viver,que a mundialização da cultura se revela, <strong>na</strong>produção <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, <strong>na</strong>s significações e <strong>na</strong>srepresentações, frutos de um processoi<strong>na</strong>caba<strong>do</strong>. Li no livro “Mundialização eCultura” de Re<strong>na</strong>to Ortiz, que estes elementosinvisíveis expressam um mecanismo, quereorienta a organização da sociedade.Como amostra, trazemos muito resumidamentealguns <strong>do</strong>s muitos exemplos dedesenhos anima<strong>do</strong>s, que tiveram sucesso embilheteria, em vendas de fitas vídeos e DVDs:Mulan, Toy Story 1 e 2, (1995-1999),Monstros S/A (2001), Shrek (2001), LiloStitch (2002), e o mais atual Procuran<strong>do</strong>Nemo (2003). Eis produções da IndústriaCultural, que visam lucro. Por exemplo:Procuran<strong>do</strong> Nemo é uma animação criada emparceria pela Pixar Animation Studios e WaltDisney Pictures. Seu orçamento girou emtorno de US$ 94 milhões. Alto investimento.Mas, só nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América emape<strong>na</strong>s três dias de exibição sua bilheteriachegou a US$ 77 milhões, e <strong>na</strong> terceirasema<strong>na</strong> de exibição arreca<strong>do</strong>u mais US$ 29milhões. Ao mun<strong>do</strong> inteiro este filme foidistribuí<strong>do</strong>. Como imagi<strong>na</strong>r seu lucro?Mesmo sen<strong>do</strong> um produto da indústriacultural…Os desenhos mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s são produzi<strong>do</strong>sde maneira diferente. Os roteiros não sãosomente produtos da imagi<strong>na</strong>ção, da litera-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO349tura, da fantasia, da luta <strong>do</strong> bem contra omal; da princesa linda e delicada, loura depreferência, que é salva pelo príncipe, quese apaixo<strong>na</strong> perdidamente e a busca para fazêlasua princesa, para viverem felizes parasempre.Seus produtores e diretores tiveram asobriedade de trazer para a tela questõespertinentes ao movimento da geração presente.Não dão mais ênfase ao herói, à princesa,ao príncipe encanta<strong>do</strong>, ao solitário. A sociedade<strong>do</strong> “politicamente coerente” traz novasexigências. Estes filmes refletem estruturasde pensamento e de imaginário, queacompanham as transformações históricas, apartir da segunda metade <strong>do</strong> século XX,dentre elas, a dimensão <strong>do</strong> gênero, dasdisparidades entre processos civilizatórios, daquestão da diferença, como em Procuran<strong>do</strong>Nemo 27 . Neste filme seu roteirista e diretorAndrew Stanton e Lee Unkrich tambémdiretor da produção, trouxeram para a telaum pouco <strong>do</strong> colori<strong>do</strong> da fau<strong>na</strong> e flora <strong>do</strong>misterioso e mágico oceano, crian<strong>do</strong> situaçõesinusitadas, tensas, emocio<strong>na</strong>ntes ecômicas também. Tu<strong>do</strong> num ritmo aluci<strong>na</strong>nte.Seus perso<strong>na</strong>gens são “quase” reais. Muitostipos de criaturas marinhas. Uma variedadede peixes, peixes-palhaços, (Marlín e Nemo),tubarões, tartarugas marinhas, águas vivas,anêmo<strong>na</strong>s, baleias, corais, recifes, raias,pelicanos. Uma aula linda sobre o mun<strong>do</strong>subaquático.Toda a equipe contribuiu para trazerdiscussões reais da condição de vida <strong>do</strong>s sereshumanos <strong>na</strong> sociedade. Trabalhou de umaforma real as sensações de perda, de Marlín(pai de Nemo), com todas suas tensões efrustração, por ter perdi<strong>do</strong> sua companheirae seus outros 400 filhotes. Só lhe restouNemo, que, <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> com uma <strong>na</strong>dadeiradeficiente, aumentou o seu me<strong>do</strong> de perdêlo,aumentan<strong>do</strong> o zelo, que se tornou excessivoe danoso para seu filho. É um filmeque trabalha uma questão presente e pertinente.Atualmente existem pais, que criame educam seus filhos sozinhos. Quase sempreé problemático para as mães, mesmo paraos pais, deixar o filho <strong>na</strong> escola em seuprimeiro dia de aula. Nemo também sofreuconseqüências, por ter desafia<strong>do</strong> seu pai, paraprovar-lhe que era capaz. Isso o levou a sériascomplicações. Perdeu a liberdade, que custoua recuperar. Para Marlín o desafio foigrande, teve que enfrentar o próprio me<strong>do</strong><strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> por amor ao seu filho.Felizmente pôde contar com Dory, sua amiga“esquecida”, e com a comunidade oceânicapara ajudá-lo. O amor venceu, mas não pormagia, pelo irreal. Venceu pela persistência,pela fé, pelo aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s desafios encara<strong>do</strong>sde frente, pelo acreditar e confiar nooutro.Assim como “Procuran<strong>do</strong> Nemo”, outrosdesenhos podem ser trabalha<strong>do</strong>s, cada um comsua característica, com seu roteiro, com suamensagem e com conhecimento da técnica. Naprodução <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s tu<strong>do</strong> tem que ser leva<strong>do</strong>em conta: o sujeito histórico, o seu ambiente,o seu cotidiano, as suas experiências, seusme<strong>do</strong>s, seus preconceitos, suas rupturas vividas,sua persistência, mesmo que seja atravésde um produto da Indústria Cultural.Os desenhos anima<strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s no desvelarde sua história fortalecem o senti<strong>do</strong> deequipe, promovem a valorização da família,as discussões de gênero, trabalhan<strong>do</strong> e valorizan<strong>do</strong>as diferenças, que antes não traziam.Estão acompanhan<strong>do</strong> o cotidianocontemporâneo, que estamos viven<strong>do</strong>. Éimpossível a Educação em diálogo com aComunicação fazer o mesmo?


350 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAssmann, Hugo. Reencantar a Educação.Rumo à sociedade aprendente. 4ª ed.,Petrópolis: Editora Vozes, 2000, 251 p.Baccega, Maria Aparecida. A construção<strong>do</strong> campo Comunicação/Educação. In: Comunicação& Educação, São Paulo: vol. 5,n. 14: 7 a 16 jan./abr., 1999.Bakhtin. Mikhail. Marxismo e Filosofiada Linguagem, 6ª ed., São Paulo: Hucitec,1992, 196 p.Costa, Belarmino Cesar Guimarães. IndústriaCultural: Análise Crítica e suasPossibilidades de Revelar e Ocultar a Realidade,cap. 8, In: Pucci, Bruno. (org.). TeoriaCrítica e educação: a questão da formaçãocultural <strong>na</strong> Escola de Frankfurt. 2ª ed.,Petrópolis: Vozes, São Carlos, EDUFISCAR,1994, 197 p.Ianni, Octávio. A Sociedade Global, 7ªed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1999, 194 p.Maar, Wolfgang Leo. PUCCI, Bruno(org.) et alii. In: Teoria crítica e educação:a questão da formação cultural <strong>na</strong> Escolade Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos:EDUFISCAR, 1994, 197 p.Morato. Edwiges Maria. Vigotski e aperspectiva enunciativa da relação entre linguagem,cognição e mun<strong>do</strong> social., RevistaEducação & Sociedade, ano XXI, n. 71,Julho, 2000. Campi<strong>na</strong>s: Instituto de Estu<strong>do</strong>sde Linguagem, Unicamp.Ortiz, Re<strong>na</strong>to. Mundialização e Cultura.São Paulo: Brasiliense, 2000, 234 p.Prestes, Nadja Hermann. A razão, aTeoria Crítica e a Educação. In: Pucci, Bruno(org.) et alii. Teoria crítica e educação: aquestão da formação cultural <strong>na</strong> Escola deFrankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos:EDUFISCAR, 1994, 197 p.Pucci, Bruno (org.) et alii. Teoria críticae educação: a questão da formação cultural<strong>na</strong> Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes;São Carlos: EDUFISCAR, 1994, 197 p.Pucci, Bruno, Lastória, Luiz AntônioCalmon e Costa, Belarmino César Guimarães(orgs.) Tecnologia, Cultura e Formação... aindaAuschwitz. São Paulo: Cortez, 2003, 192 p.Rouanet, Sérgio Paulo. Teoria Crítica epsicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1998, 377 p.Santa<strong>na</strong>, Cláudia da Silva. Narrativacomo ensaio cinematográfico: montagem eestética <strong>do</strong> fragmento no pensamento deWalter Benjamin.[tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> emComunicação em Semiótica,] São Paulo:PUC, 2002.Schön, Do<strong>na</strong>ld A. Formar Professorescomo Profissio<strong>na</strong>is Reflexivos. In: NÓVOA,António (coord). Os professores e a formação.Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997,158 p.Triviños, Augusto N. S. Introdução àpesquisa em Ciências Sociais: a pesquisaqualitativa em educação. São Paulo: Atlas,1987, 175 p.Vygotski, Lev Semiónovich. Génesis delas funciones psíquicas superiores. In: ObrasEscogidas, cap. 5, Madrid: Visor, 1997, 5 vol.Zuin, Antônio Álvaro Soares. In: PUCCI,Bruno (org.) e outros. Teoria crítica e educação:a questão da formação cultural <strong>na</strong>Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes; SãoCarlos: EDUFISCAR, 1994, 197 p._______________________________* Unimep - Universidade Metodista dePiracicaba, Piracicaba, São Paulo, Brasil.1Entretenimento significa: Aquilo que entretém,diverte, distrai. Cf. Aurélio Buarque deHolanda Ferreira. Novo Aurélio Século XXI: odicionário de língua portuguesa, 3 ed., Rio deJaneiro: Nova Fronteira, 1999, p. 772.2Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,. Esta<strong>do</strong>ou espaço que separa pessoas ou coisas. op. cit.,p. 770.3Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Oalcançar a significação, o senti<strong>do</strong>, a idéia. op. cit.,p. 767.4A produção de senti<strong>do</strong> <strong>na</strong> intersecção entreo entretenimento e o entendimento.5Maria Aparecida Baccega. A construção <strong>do</strong>campo Comunicação/Educação. In: Comunicação &Educação, São Paulo: (14): jan./abr., 1999, p. 7.6Belarmino Cesar Guimarães da Costa.Educação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s: a mediação tecnológicae os efeitos da estetização da realidade. In:Tecnologia, Cultura e Formação... aindaAuschwitz. PUCCI, B., LASTÓRIA, L.A C.,COSTA, B.C.G. (org.) São Paulo: Cortez, 2003,p. 117.7Belarmino Cesar Guimarães da Costa. IndústriaCultural: Análise Crítica e suas Possibilidadesde Revelar e Ocultar a Realidade, cap.8, In: PUCCI, Bruno. (org.). Teoria Crítica e


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO351educação: a questão da formação cultural <strong>na</strong>Escola de Frankfurt. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, SãoCarlos, EDUFISCAR, 1994, p. 181.8Belarmino Cesar Guimarães da Costa.Educação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s: a mediação tecnológicae os efeitos da estetização da realidade. In:Tecnologia, Cultura e Formação... aindaAuschwitz. PUCCI, B., LASTÓRIA, L.A C.,COSTA, B.C.G. (org.) São Paulo: Cortez, 2003,p. 127.9O conjunto de tu<strong>do</strong> que se entende pormídia, to<strong>do</strong>s os meios que envolvem a comunicaçãoe a informação.10Do<strong>na</strong>ld A. Schön, Formar Professores comoProfissio<strong>na</strong>is Reflexivos. In: NÓVOA, António(coord). Os professores e a formação. Lisboa:Publicações Dom Quixote, 1997, p. 82.11Nadja Hermann Prestes. A razão, a TeoriaCrítica e a Educação. In: PUCCI, Bruno (org.)e outros. Teoria crítica e educação: a questão daformação cultural <strong>na</strong> Escola de Frankfurt.Petrópolis: Vozes; São Carlos: EDUFISCAR, 1994,p. 8612Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed.,Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p.48.13A imagem é por conta da autora.14Lev Semiónovich Vygotsky. Génesis de lasfunciones psíquicas superiores. In: ObrasEscogidas, cap. 5, Madrid: Visor, 1995, p. 146-147.15Sérgio Paulo Rouanet. Teoria Crítica epsicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1998, p. 120.16Cláudia da Silva Santa<strong>na</strong>. Narrativa comoensaio cinematográfico: montagem e estética <strong>do</strong>fragmento no pensamento de W. Benjamin.[tesede <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Comunicação em Semiótica,] SãoPaulo: PUC, 2002, p. 68.17Cláudia da Silva Santa<strong>na</strong>. op. cit., São Paulo:PUC, 2002, p. 4.18Belarmino Cesar Guimarães da Costa.Indústria Cultural: Análise Crítica e suas Possibilidadesde Revelar e Ocultar a Realidade, cap.8, In: PUCCI, Bruno. (org.). Teoria Crítica eeducação: a questão da formação cultural <strong>na</strong>Escola de Frankfurt. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, SãoCarlos, EDUFISCAR, 1994, p. 190.19Wolfgang Leo Maar. PUCCI, Bruno (org.)e outros. In: Teoria crítica e educação: a questãoda formação cultural <strong>na</strong> Escola de Frankfurt.2ª ed., Petrópolis: Vozes; São Carlos:EDUFISCAR, 1994, p. 63-64.20Hugo Assmann, Reencantar a Educação.Rumo à sociedade aprendente. 4ª ed., Petrópolis:Editora Vozes, 2000, p. 40.21Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed.,Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p.49-50.22Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed.,Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p.39.23Antônio Álvaro Soares Zuin. In: PUCCI,Bruno (org.) e outros. Teoria crítica e educação:a questão da formação cultural <strong>na</strong> Escola deFrankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos:EDUFISCAR, 1994, p. 155.24Re<strong>na</strong>to Ortiz. Mundialização e Cultura. SãoPaulo: Brasiliense, 2000, p. 10.25Belarmino Cesar Guimarães da Costa.Indústria Cultural: Análise Crítica e suas Possibilidadesde Revelar e Ocultar a Realidade, cap.8, In: PUCCI, Bruno. (org.). Teoria Crítica eeducação: a questão da formação cultural <strong>na</strong>Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes, São Carlos,EDUFISCAR, 1994, p. 190.26Bruno Pucci (org.) e outros. Teoria críticae educação: In: a questão da formação cultural<strong>na</strong> Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes; SãoCarlos: EDUFISCAR, 1994, p. 55.27Sinopse: Premia<strong>do</strong> com o Oscar como omelhor em animação. Seu roteiro foi escrito porAndrew Stanton, e sua direção ficou por conta<strong>do</strong> próprio Stanton e Lee Unkrich. Seu enrê<strong>do</strong>:Marlín, um peixe-palhaço que de engraça<strong>do</strong> nãotem <strong>na</strong>da, vê sua família ser destruída por umpeixe-espada (ou algo <strong>do</strong> gênero) justamentequan<strong>do</strong> espera, junto à sua esposa Coral pelo<strong>na</strong>scimento de seus 400 filhotes. Depois da tragédiaMarlín ficou com um só ovinho, Nemo, quecria<strong>do</strong> com excesso de zelo pelo pai que temeperdê-lo também. Mas, como <strong>na</strong> vida, inevitavelmenteNemo precisa enfrentar os perigos <strong>do</strong>oceano para que possa também conhecer suasmaravilhas. O conflito é estabeleci<strong>do</strong>. O a<strong>do</strong>rávelpeixinho que, tem uma das <strong>na</strong>dadeiras deficiente,acaba convencen<strong>do</strong> ao pai a levá-lo para a escola.Lá chegan<strong>do</strong>, queren<strong>do</strong> desbravar o desconheci<strong>do</strong>,é reprimi<strong>do</strong> pelo pai <strong>na</strong> frente <strong>do</strong>s colegas,já no seu primeiro dia de aula. Ele ser revoltae acaba se arriscan<strong>do</strong>, acaban<strong>do</strong> por ser leva<strong>do</strong><strong>do</strong> mar por um mergulha<strong>do</strong>r. Seu pai, Marlín, emdesespero, vencen<strong>do</strong> seus próprios temores iniciauma viagem no oceano em busca de seu ama<strong>do</strong>filho. Site oficial: www.pixar.com/featurefilms/nemo.


352 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO353Por dentro <strong>do</strong> filme – o cinema <strong>na</strong> sala de aulaGraça Lobo 1PressupostosImporta compreender o olhar; importaestudar as imagens; importa ensi<strong>na</strong>r o olharsobre as imagens, sobretu<strong>do</strong> se pensarmos<strong>na</strong> sedução das estratégias de manipulação<strong>do</strong> pensamento hoje amplamente associadasaos mass media, desde os dispositivostelevisivos aos mecanismos da publicidadeou aos constrangimentos intelectuais de umcerto tipo de cinema. A injecção de imagenspor segun<strong>do</strong> em “video-clips”, a profusão depainéis publicitários <strong>na</strong> paisagem huma<strong>na</strong>, o“voyeurismo” instila<strong>do</strong> em certos “realityshows”,a embriaguez de efeitos especiais quese tor<strong>na</strong> sinónimo de espectáculo cinematográfico,constituem meros exemplosreferenciáveis num imenso conjunto de casos.À inflexão civilizacio<strong>na</strong>l que constituiua substituição <strong>do</strong> prima<strong>do</strong> da leitura pelo daimagem correspondeu necessariamente umaoutra maneira de o homem se relacio<strong>na</strong>r como mun<strong>do</strong>.Ora, “viver para ver” - se “ver” for “semolhar” e se “olhar” for “sem reparar”, comoé próprio da indiferenciação que os mediapor definição estimulam -, é manifestação depensamento <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong> e de inteligênciaomissa, pois se as imagens não foremdesconstruídas no momento da sua apreensãoserão unicamente acumuladas, e nãoapreendidas, perden<strong>do</strong>-se a possibilidade damemória, sem a qual não há matéria paradiscorrer, e a oportunidade da aprendizagem,pela qual o indivíduo se transforma empessoa.Desta maneira, poderemos e deveremoster legítimas expectativas sobre o papel daescola enquanto efectiva “alfabetiza<strong>do</strong>ra”.Antes de mais, “alfabetiza<strong>do</strong>ra” no senti<strong>do</strong>de tentar garantir um “acor<strong>do</strong> de significações”,fornecen<strong>do</strong> informação sobre o estu<strong>do</strong>«<strong>do</strong>s mecanismos perceptivos apoia<strong>do</strong>s <strong>na</strong>visão, das regras de composição das imagens,das possibilidades semânticas e <strong>do</strong>s artifíciosretóricos da linguagem visual». 2 Depois, diriaeu, “alfabetiza<strong>do</strong>ra” no senti<strong>do</strong> de um “desacor<strong>do</strong>de significações”, no que esta expressãoencerra de questio<strong>na</strong>mento, espíritocrítico e individuação de perspectivas.Se bem que a Escola tenha cada vez maiorpercepção de que o “curriculum paralelo” <strong>do</strong>aluno passa hoje pela imagem (sobretu<strong>do</strong>televisiva), e se bem que existam algunsesforços ao nível da pedagogia <strong>do</strong>s media,de uma maneira geral não existem espaçoscurriculares onde se interroguem as imagens,que informações elas veiculam e, principalmente,como veiculam elas essas informações(“como” que determi<strong>na</strong> o próprioconteú<strong>do</strong> das informações transmitidas),particularmente no que respeita aos filmesenquanto corpos de imagens porta<strong>do</strong>ras desenti<strong>do</strong> (gramatical, mas igualmente artístico),sejam eles difundi<strong>do</strong>s ou projecta<strong>do</strong>s.Cada objecto fílmico é um microcosmosno qual toda a história da imagem se comprime,pelo que para que o olhar se possadistender a partir dele terá si<strong>do</strong> necessáriauma aprendizagem prévia específica.Assim, dividirei as possibilidades dautilização <strong>do</strong> cinema <strong>na</strong> escola em trêsgrandes <strong>do</strong>mínios: ensi<strong>na</strong>r com o cinema (ofilme como simples ilustra<strong>do</strong>r informativo,como, por exemplo, enquanto <strong>do</strong>cumentosocial ou histórico), ensi<strong>na</strong>r pelo cinema (ofilme elabora<strong>do</strong> com propósitos pedagógicos,como é o caso de muitos <strong>do</strong>cumentários decriação) e, o que me ocupa aqui, ensi<strong>na</strong>r ocinema (o filme como resulta<strong>do</strong> de umalinguagem e história específicas).Ora, tal aprendizagem exige formaçãopara a imagem em geral e para a imagemcinematográfica em particular («preparar alpúblico al máximo a fin de que su recepciónde mensajes se haga en las mejorescondiciones de aprovechamiento y en u<strong>na</strong>posición crítica que desmantele en lo posibleel resulta<strong>do</strong> de la invasión <strong>audiovisual</strong> en laque vivimos» 3 ), o que implica que é ao nível


354 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVda formação de professores que primeiro sedeve e tem que insistir:Tal formação será o primeiro passo paracombater o actual alheamento - ou aproveitamento,que é uma outra forma dealheamento - da escola em relação ao cinema,que se, desde logo, me parecepreocupante ao nível da formação global <strong>do</strong>indivíduo (se pensarmos, nomeadamente, queoutras artes são objecto de estu<strong>do</strong> sistemático),mais grave é se se considerar que “verfilmes” é um hábito relativamente comum àpopulação escolar (neste caso, professores ealunos). Fornecer os meios aos <strong>do</strong>centes paraque acedam conscientemente aos filmes é opasso necessário para que eles passem dainstrumentalização <strong>do</strong> cinema à compreensãoda sua especificidade e importância, oque por sua vez será a etapa imprescindívelpara que os alunos se relacionem progressivamentecom um maior grau de <strong>do</strong>mínioe espírito crítico para com os produtos quevisio<strong>na</strong>m, dada a orientação que o <strong>do</strong>centeimprime no momento de tal contacto, previamentea ele ou logo após ele.Só assim, e numa fase posterior, se poderáensaiar a formação <strong>do</strong>s próprios alunos, cujopanorama actual, a esse nível, revela profundasdeficiências, tanto ao nível de aquilo queos alunos consomem quanto ao nível de comoconsomem eles o que vêem.De um estu<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> a cabo <strong>na</strong> região<strong>do</strong> Algarve em 1997/98 num universo de30 escolas retiraram-se algumas importantesilações, tais como a de que a ausênciacurricular <strong>do</strong> cinema <strong>na</strong> escola é determi<strong>na</strong>nteno que se refere, pelo menos, à aquisiçãode conhecimentos básicos sobre a 7ª Arte ousobre a diferença que o suporte e as condiçõesde visio<strong>na</strong>mento têm no acesso a ela,a de que as lacu<strong>na</strong>s culturais <strong>do</strong> meio familiarsão determi<strong>na</strong>ntes no mo<strong>do</strong> como ocinema é encara<strong>do</strong> ou de que a visão estámaioritariamente condicio<strong>na</strong>da por um únicomodelo cinematográfico.Há um consumo generaliza<strong>do</strong> de produtosmassifica<strong>do</strong>s nos quais, mesmo que senão coloque em causa a qualidade dasimagens, poder-se-á questio<strong>na</strong>r a qualidadedas mensagens e, mais <strong>do</strong> que isso, <strong>do</strong>s quaisse poderá legitimamente questio<strong>na</strong>r a qualidadeda recepção: por um la<strong>do</strong>, pelaelucidante realidade <strong>do</strong> exemplo que citei,por outro la<strong>do</strong>, pela normalização -consequência da “globalização mediática” -<strong>do</strong> olhar, cerca<strong>do</strong> e manipula<strong>do</strong> por umúnico tipo de construção <strong>na</strong>rrativo-dramáticae uma especial maneira de ence<strong>na</strong>r talconstrução. Olhar que, inevitavelmente,porque conduzi<strong>do</strong> por generalizações eestereótipos, está afasta<strong>do</strong> da diversidade eda reflexão crítica, da multiplicidade e daatitude problematiza<strong>do</strong>ra, em suma, olharque está arreda<strong>do</strong> <strong>do</strong> pensamento. O apelosedutor das imagens em movimento é omelhor veículo para a manipulação <strong>do</strong>sindivíduos, tor<strong>na</strong><strong>do</strong>s acríticos e com pioresqualificações para a cidadania. Na Lei deBases <strong>do</strong> Sistema Educativo assume-se comofi<strong>na</strong>lidade primeira a educação para umpleno exercício da cidadania, então deveráser a escola a assumir o papel, sobretu<strong>do</strong>ao nível da escolaridade obrigatória, dereverter e inverter uma realidade tãounidimensio<strong>na</strong>l. Um programa consequentee em continuidade pode e deve ajudar a“limpar o olhar”, promoven<strong>do</strong> ovisio<strong>na</strong>mento de filmes de diversas proveniênciase estilos, levan<strong>do</strong> ao conhecimentoe análise da imagem, provocan<strong>do</strong> o debateno senti<strong>do</strong> crítico, fomentan<strong>do</strong> a sensibilidadee a criatividade, alargan<strong>do</strong> horizontese investin<strong>do</strong> progressivamente no alunoenquanto futuro cidadão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Em síntese, «Trabajar con los alumnosla estructuración lógico-explicativa, laatención, las capacidades críticas y reflexivas,la construción de valores y actitudes apartir del análisis de ficciones <strong>audiovisual</strong>es.»,como afirmou Pilar Aguilar 4 .Donde e em conclusão, para que a realcomunicação se estabeleça, não só necessitamosde receptores provi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s instrumentose <strong>do</strong>s dispositivos necessários àdescodificação e interpretação <strong>do</strong> que vêem,mas igualmente precisamos de oferecer a taisreceptores o produto <strong>na</strong> sua versão origi<strong>na</strong>le <strong>na</strong>s condições técnicas ideais – sala <strong>do</strong>cinema.Aliás, até no estrito ponto de vista pedagógicoé útil (da<strong>do</strong> o carácter <strong>do</strong> cinemaenquanto espectáculo integra<strong>do</strong> <strong>na</strong> “culturade saída”, para a<strong>do</strong>ptar a expressão de PereiraMarques 5 ) colocar os alunos em situação “forade portas” da escola, já que tal constitui umtrunfo para uma presumível aprendizagem.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO355Oferecer cinema como factor de entretenimentoe como motivo de aproximação aoobjecto em estu<strong>do</strong> é potenciar o êxito de taliniciativa, sen<strong>do</strong> que por “aproximação aoobjecto em estu<strong>do</strong>” se deverá entender apelarà justa compreensão <strong>do</strong> que seja um filmee <strong>do</strong> que o cinema envolve: a concentraçãodevida ao filme, num processo individualentre ecrã e especta<strong>do</strong>r e <strong>na</strong> comunhão maisalargada com o “colectivo” de especta<strong>do</strong>resda sala; a construção de mitos e o reencontrocom o imaginário e o simbólico (cinemaenquanto conjunto de modelos de referênciaque estimulam processos de identificação,distintos daqueles que a televisão fornece);a recomposição <strong>do</strong> pensamento, <strong>do</strong> discursivoao intuitivo e vice-versa.Para se aceder à arte <strong>do</strong> cinema deveremos,então, deslocarmo-nos até ao localorigi<strong>na</strong>l da sua projecção, provi<strong>do</strong>s já comuma formação que nos permita que talencontro não seja um mero piscar-de-olhosou, ao invés, conscientes de que, a maiorparte das vezes, os momentos que julgáramosde encontro não foram mais <strong>do</strong> quepiscar-de-olhos. Quero dizer que a formaçãodeve ser, para os professores, prévia,e para os alunos, posterior, no senti<strong>do</strong> emque é mais facilmente entendível um conteú<strong>do</strong>,neste contexto, ao qual se possaassociar uma imagem já vista, <strong>do</strong> que asituação oposta. Porque ver não é saber, nãobasta ver o filme para o apreender. Assim,após o visio<strong>na</strong>mento há que retomar a salade aula, para que, numa situação maispróxima, os alunos possam vir a aprendercinema com o filme a que assistiram. Diriaantes: para que os alunos possam vir aaprender que o filme que viram é cinema.Para que o olhar passe, provável etendencialmente, a ser inteligente - e aprocurar no cinema um interlocutor igualmenteinteligente.O Programa JCE/Juventude-Cinema-EscolaEm 1997, a<strong>na</strong>lisada a situação <strong>do</strong> cinema<strong>na</strong> região <strong>do</strong> Algarve e após o tratamento<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> inquérito a 30escolas básicas e secundárias, que agora sedetalha, detectou-se o seguinte conjunto deproblemas:1. a globalização mediática traduz-senuma uniformização de gostos e mo<strong>do</strong>s dever;2. o pre<strong>do</strong>mínio de filmes norte-americanos<strong>na</strong>s salas de cinema estreita e deformaa visão <strong>do</strong> cinema pelo especta<strong>do</strong>r;3. as regras de merca<strong>do</strong> cinematográficoinviabilizam a construção de uma memóriacinematográfica;4. a estrutura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mediáticoindiferencia as características específicas - ea recepção respectiva - de cada suportepossível para o cinema (sala, televisão evideo);5. a ausência <strong>do</strong> cinema ao nível curricularnão é sequer compensada com acções quepossam tentar inverter os prejuízos que daídecorrem <strong>na</strong> formação <strong>do</strong>s alunos e <strong>na</strong> suapreparação para descodificar o mun<strong>do</strong>mediático no qual estão imersos;6. a ausência <strong>do</strong> cinema ao nível daformação <strong>do</strong>s professores compromete ahipótese de que ele possa ser convenientementeaborda<strong>do</strong> <strong>na</strong> relação “ensino-aprendizagem”.7. o parque de salas no Algarve pe<strong>na</strong>lizafortemente grande parte <strong>do</strong>s seus habitantese reforça o isolamento sócio-cultural <strong>do</strong>sconcelhos periféricos da região.Este conjunto de problemas levou a umconjunto de hipóteses de trabalho <strong>na</strong> perspectivade intervir nesta situação:1. Aproveitan<strong>do</strong> o refluxo <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>resjovens ao cinema e o aumento <strong>do</strong>parque de salas no Algarve, <strong>potencial</strong>izar ocontacto directo com o cinema no seu localorigi<strong>na</strong>l de projecção;2. Apostan<strong>do</strong> <strong>na</strong>s consequências a médioe longo prazo da criação <strong>do</strong> hábito culturalda ida ao cinema, envolver as empresas dedistribuição e exibição <strong>na</strong> <strong>potencial</strong>ização detal contacto directo3. Reconhecen<strong>do</strong> a vulgarização <strong>do</strong> suportevideo, dela retirar benefícios enquantomeio facilita<strong>do</strong>r da aprendizagem <strong>do</strong> cinema;4. Fornecen<strong>do</strong> a formação necessária,tanto ao pessoal <strong>do</strong>cente como aos alunos,ensaiar uma intervenção mais lata no campoda recepção <strong>do</strong> cinema:4.1. efectuan<strong>do</strong> acções pontuais de carácterextra-curricular;4.2. elaboran<strong>do</strong> um programa sistemáticode acção tendencialmente curricular.


356 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVObjectivos <strong>do</strong> Programa JCEO grande objectivo deste Programa éformar um novo público para o cinema. Esteobjectivo divide-se em objectivos específicosde curto, médio e longo prazo, em 3diferentes campos de intervenção: professores,alunos e merca<strong>do</strong>.Evidentemente que a operacio<strong>na</strong>lização<strong>do</strong>s conceitos conti<strong>do</strong>s nestes objectivos sãodesenvolvi<strong>do</strong>s ao longo de um programa emcontinuidade, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mais genérico parao mais particular, <strong>do</strong> mais simples para o maiselabora<strong>do</strong> e <strong>do</strong> mais concreto para o maisabstracto. Evidentemente, também, nelesestão implícitos objectivos de carácter sócio-Curto prazoMédio prazoLongo prazoProfessorAluno• Sensibilização para aslinguagenscinematográficas.• Conhecer o filme comoobjecto a ver em sala decinema.• Aquisição demecanismos de análisedas linguagenscinematográficas.• Reconhecer o filmecomo objecto a ver emsala de cinema.• Intervenção autónomaenquanto utiliza<strong>do</strong>res daslinguagenscinematográficas.• Compreender aespecificidade daprojecçãocinematográfica.• Ser confronta<strong>do</strong> com a“ilusão <strong>do</strong> movimento”.• Explicar a “ilusão <strong>do</strong>movimento”.• Compreender a “ilusão<strong>do</strong> movimento” comoespecífica da arte <strong>do</strong>cinema.• Identificar a matéria(película) e a unidademínima <strong>do</strong> filme(fotograma).• Adquirir noções básicasda gramática <strong>do</strong> cinema.• Aprofundarconhecimentos sobre agramática <strong>do</strong> cinema.• Identificar o Cinemacomo meio decomunicação.• Compreender oCinema como meio decomunicação.• Compreender o cinemacomo veículo transmissorde ideologias.• Adquirir informaçõessobre “como se faz umfilme”.• Compreender autoria e ofilme como resulta<strong>do</strong> deuma equipa.• Conhecer filmes decinematografiasdiversificadas.• Distinguir formatos.• Distinguir géneros.• Identificar mo<strong>do</strong>s deprodução.• Conhecer autores decinematografiasdiversificadas.• Identificar a importânciaeconómica, social ecultural <strong>do</strong> cinema.• Conhecer as máqui<strong>na</strong>sdas “imagens emmovimento”.• Recepcio<strong>na</strong>r o filmeutilizan<strong>do</strong> a linguagem nãoverbal e verbal-oral.• Interrelacio<strong>na</strong>r temáticas<strong>do</strong>s filmes com conteú<strong>do</strong>sdeste nível• Adquirir conhecimentossobre a História <strong>do</strong>Cinema.•Recepcio<strong>na</strong>r o filme,formulan<strong>do</strong> juízos críticos.• Interrelacio<strong>na</strong>r temáticas<strong>do</strong>s filmes com conteú<strong>do</strong>sprogramáticos dasdiscipli<strong>na</strong>s. Sensibilizarpara o cinema enquantoarte.• Aprofundarconhecimentos sobre aHistória <strong>do</strong> Cinema.• Recepcio<strong>na</strong>r o filme,formulan<strong>do</strong> juízos críticose estéticos.• Interelacio<strong>na</strong>r temáticas<strong>do</strong>s filmes com conteú<strong>do</strong>sdas discipli<strong>na</strong>s.• Reconhecer o cinemacomo arte.• Fomentar a criação depequenos filmes.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO357afectivo, isto é, de uma aprendizagem <strong>do</strong>especta<strong>do</strong>r enquanto cidadão com hábitos decivilidade, livre, consciente e crítico nos seushábitos culturais.Não ten<strong>do</strong> este Programa uma atitudedirecta para com o merca<strong>do</strong>, penso que oinfluencia: numa 1ª fase, através de umaaproximação que se traduz principalmenteMerca<strong>do</strong>Curto prazo• SensibilizaçãoPrograma.para oMédio prazoLongo prazo• Intervenção nos hábitos. • Aumento da oferta e daprocura.através de beneficios para o próprio JCE, aoconseguir uma diminuição nos seus custos;numa 2ª fase, com a introdução de uma novamodalidade de entrada no cinema - o “bilheteJCE”, com desconto para os alunos deto<strong>do</strong>s os níveis de ensino no Algarve ou, pelomenos, para os porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cartão “RedeJCE” (escolas de 2º e 3ºciclos e secundáriasintegradas no Programa) -, o que <strong>potencial</strong>izaum aumento da afluência de público infantojuvenilàs salas, ainda que com resulta<strong>do</strong>seconómicos difíceis de avaliar; numa 3ª fase,com a já previsível mudança ao nível daprocura – mais especta<strong>do</strong>res para as salas decinema, mas, simultaneamente, especta<strong>do</strong>rescom outros critérios de exigência.Organização esquemática <strong>do</strong> Programa JCE


358 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVProgramação tipo e estratégias de intervenção• Gratuitidade <strong>do</strong> Programa JCE - assessões de cinema promovidas são semprede entrada gratuita, tanto para alunos comopara professores.• Divisão <strong>do</strong> âmbito <strong>do</strong> Programa JCEem <strong>do</strong>is: em sessões pontuais de sensibilizaçãoe <strong>na</strong> criação da Rede JCE onde os objectivosjá descritos são concretiza<strong>do</strong>s através de umprograma o mais possível fixo de filmes (4sessões anuais, no caso das escolas secundáriascom a exibição igualmente de uma curtametragemportuguesa por sessão).• Sublinhar o carácter tendencialmentecurricular <strong>do</strong> Programa JCE <strong>na</strong>s escolasda Rede, onde a sessão só termi<strong>na</strong> <strong>na</strong> salade aula, dividi<strong>do</strong> que está <strong>na</strong>s seguintesetapas: sensibilização prévia à sessão <strong>na</strong> salade aula por parte <strong>do</strong> professor; ida à salade cinema para visio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong> filme,apresenta<strong>do</strong> pela coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>ra JCE (ou daDirecção Regio<strong>na</strong>l ou da própria Escola);retorno à sala de aula para preenchimentode inquérito sobre o filme (questões de ordemtemática, técnica e de avaliação qualitativae quantitativa <strong>do</strong>/s filme/s); correcção <strong>do</strong>inquérito através de vários materiais, incluin<strong>do</strong>o <strong>do</strong>ssier gráfico e temático sobre o filmee montagens video com extractos <strong>do</strong> filmee/ou outros. Como em qualquer discipli<strong>na</strong>,no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> ano elabora-se uma ficha sumativaglobal simplesmente orientada para a avaliação<strong>do</strong>s conhecimentos técnicos (linguagem,técnicas, profissões e História) leccio<strong>na</strong><strong>do</strong>sao longo <strong>do</strong> ano lectivo. É de acentuar queem certas escolas o trabalho <strong>do</strong>/a aluno/a <strong>na</strong>Rede JCE, incluin<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s destestestes, é inlcuí<strong>do</strong>, com uma percentagem quenormalmente ronda os 10%, <strong>na</strong> classificaçãofi<strong>na</strong>l da discipli<strong>na</strong> <strong>do</strong> professor que integroua/s sua/s turma/s <strong>na</strong> Rede JCE.• Investimento <strong>na</strong> formação de uma“bolsa de professores” à qual é fornecidaformação (específica, para o Programa, egeral, sobre o cinema).Medidas paralelas implementadas• Criação de clubes de cinema, aos quaisserá da<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o apoio a nível da organização,programação e <strong>do</strong>cumentação.• Criação de arquivos escritos e audiovisuais<strong>na</strong>s escolas (quer da Rede JCE, quer<strong>na</strong>s restantes) sobre as várias vertentes <strong>do</strong>Programa.• Publicação de um anuário que dá contada actividade realizada e <strong>do</strong>s melhores trabalhosrealiza<strong>do</strong>s pelos alunos sobre os filmese/ou o cinema.• Contar com convida<strong>do</strong>s especiais paraanimar sessões especiais (realiza<strong>do</strong>res, actores,técnicos…).• Organização de debates, cursos e“workshops” para escolas/alunos interessa<strong>do</strong>spor temáticas específicas (animação,guionismo, história <strong>do</strong> cinema…).• Promoção de intercâmbios entre projectos/actividadesde outras áreas dentro daprópria escola, entre escolas, a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>le inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.• Organização de visitas de estu<strong>do</strong> a locaisde interesse no âmbito <strong>do</strong> cinema (ANIM,Cinemateca Portuguesa, Tóbis, Escola Superiorde Cinema…).• Realização no fi<strong>na</strong>l de cada ano lectivoa “Festa <strong>do</strong> Cinema”, onde são entreguesprémios aos melhores trabalhos de recepçãosobre os filmes vistos ou o cinema em geral.Exposição de trabalhos. Concursos tipo “quizshow”.• Realização de um programa de rádioquinze<strong>na</strong>l numa rádio local de Tavira sobreas actividades da Rede JCE com a presençade convida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Algarve liga<strong>do</strong>s ao cinemae/ou ao Programa JCE (alunos e professores).Medidas paralelas em implementação• Criação de uma pági<strong>na</strong> <strong>na</strong> Internet sobreo Programa JCE e igualmente com links parasites liga<strong>do</strong>s ao cinema.• Assi<strong>na</strong>tura de protocolos com exibi<strong>do</strong>resque permitam a criação de bilhetes comdesconto, para filmes aconselha<strong>do</strong>s previamentepela coorde<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> Programa, parato<strong>do</strong>s os alunos da região ou só, numaprimeira fase, para alunos da Rede JCE.• Promoção de uma iniciativa desig<strong>na</strong>dapor “Vou levar os meus pais ao Cinema!”,em que se pretende que os pais tenham umaparticipação mais activa <strong>na</strong> Educação emgeral e neste programa em particular.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO359ConclusãoO Programa JCE é um projecto quetrabalha não ao nível das imediatas consequênciasmas sim <strong>do</strong>s frutos a médio e longoprazo. Aproveitan<strong>do</strong> as “brechas” existentesno sector <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, isto é, conseguin<strong>do</strong>a colaboração <strong>do</strong>s distribui<strong>do</strong>res <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is(comerciais ou não-comerciais, como aCinemateca e todas as entidades de teorcultural que detenham filmotecas - I<strong>na</strong>tel,embaixadas, institutos similares), construin<strong>do</strong>,em teia, uma “rede de cumplicidades”(para utilizar a justa e belíssima expressãode João Mário Grilo 6 ) entre salas de cinemalocais (comerciais ou de entidades públicas),exibi<strong>do</strong>res alter<strong>na</strong>tivos (projeccionistas ambulantese cineclubes), autarquias e delegaçõesregio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s diferentes Ministérios ouSecretarias de Esta<strong>do</strong> abrangi<strong>do</strong>s, por vocação,pelo Programa (educação, cultura ejuventude), e as escolas, apresenta umamaneira diferente de facultar o cinema. Sen<strong>do</strong>“tendencialmente curricular”, optan<strong>do</strong> poruma programação consistente, numa perspectivadidáctica, tanto aos nível <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>sa ministrar quanto à diversidade <strong>do</strong>s filmesa apresentar (e recorren<strong>do</strong> ao suporte videounicamente pela principal utilidade que eleapresenta no contacto com o cinema, isto é,ser material de apoio didáctico e não estratégiapedagógica para “entreter crianças”), estápresente <strong>na</strong> sala de aula. Envolven<strong>do</strong> osprofessores das escolas em que trabalha,fornecen<strong>do</strong>-lhes a formação indispensável ao<strong>do</strong>mínio da linguagem e da história <strong>do</strong> cinema(por forma a que eles mesmos, por umla<strong>do</strong>, interiorizem a necessidade de investir<strong>na</strong> formação <strong>do</strong>s alunos neste campo e, poroutro la<strong>do</strong>, possam ter uma percepção correctadas características - industriais, artísticas eestéticas - <strong>do</strong> cinema), orienta o adequa<strong>do</strong> uso<strong>do</strong> cinema <strong>na</strong> escola. Abrangen<strong>do</strong> alunos <strong>do</strong>s6 aos 18 anos, educan<strong>do</strong>-os progressivamenteem duas vertentes umbilicalmente ligadas -a <strong>do</strong> hábito cultural de ver cinema no seu localpróprio e origi<strong>na</strong>l de projecção, a sala decinema, e a da aprendizagem sobre a linguageme a história <strong>do</strong> cinema -, ajuda, estoucerta, um número significativo de “homensde amanhã” a tomar consciência de quantoo gosto pode ser manipula<strong>do</strong> e a ignorânciafomentada se o indivíduo se demitir <strong>do</strong> seuesforço de conhecimento e consequente espíritocrítico. Ao estar “por dentro <strong>do</strong> filme”,o Programa JCE ajuda a formar especta<strong>do</strong>respara além dele, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> os alunos cidadãosatentos às realidades que os cercam.


360 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAguilar, Pilar, Manual del especta<strong>do</strong>rinteligente, Madrid, Ed. Fundamentos, Col.Arte, Serie Imagen, nº 114, 1996.António, Lauro (coord), O Ensino, o Cinemae o Audiovisual – Comunicações <strong>do</strong> 1ºEncontro Nacio<strong>na</strong>l “O Ensino <strong>do</strong> Audiovisual,o Audiovisual no Ensino”, Porto, Porto Editora,Col. Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Saberes, nº 21, 1998.Cala<strong>do</strong>, Isabel, A Utilização educativadas imagens, Porto, Porto Editora, Col.Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Saberes, nº 8, 1994.Marques, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pereira, De quefalamos quan<strong>do</strong> falamos de Cultura?, Lisboa,Ed. Presença, Col. Pontos de Referência,s/nº, 1994.Martel, Javier Gonzaléz, El cine en eluniverso de la ética. El cine-fórum, Madrid,Ed. Alauda-A<strong>na</strong>ya, 1996._______________________________1Direcção Regio<strong>na</strong>l de Educação <strong>do</strong> Algarve2Isabel Cala<strong>do</strong>, A Utilização educativa dasimagens, Porto, Porto Editora, Col. Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>sSaberes, nº 8, 1994, p. 71. Cf. id., «O alfabetismoimplica que os membros de um mesmo grupoatribuam os mesmos significa<strong>do</strong>s aos mesmossignos. É esta partilha de significa<strong>do</strong>s que temde ser aprendida, pois ler é aqui diferente de ver.»,p. 49.3Porter-Moix, apud Javier Gonzaléz Martel,El cine en el universo de la ética. El cine-fórum,Madrid, Ed. Alauda-A<strong>na</strong>ya, 1996. p. 136.4Pilar Aguilar, Manual del especta<strong>do</strong>r inteligente,Madrid, Ed. Fundamentos, Col. Arte, SerieImagen, nº 114, 1996, p. 50.5Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Pereira Marques, De que falamosquan<strong>do</strong> falamos de Cultura?, Lisboa, Ed. Presença,Col. Pontos de Referência, s/nº, 1994, p. 60.Quer o autor incluir nesta expressão todas asmanifestações culturais que exigem ao consumi<strong>do</strong>ra “saída” de sua casa para as poder usufruir- cinema, teatro, ballet, ópera, etc.6João Mário Grilo, “Carta” in Lauro António(coord), O Ensino, o Cinema e o Audiovisual– Comunicações <strong>do</strong> 1º Encontro Nacio<strong>na</strong>l “OEnsino <strong>do</strong> Audiovisual, o Audiovisual no Ensino”,Porto, Porto Editora, Col. Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>sSaberes, nº 21, 1998, p. 53: «A divulgação <strong>do</strong>cinema <strong>na</strong>s escolas (…) deve <strong>na</strong>scer de cumplicidadespontuais, articuláveis numa rede progressivamentemaior.»


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO361Internet, alguns desafios:a representação que os jovens revelaram da InternetJosé Carlos Abrantes 1“Internet est un réseau decommunication planétaire, mais sapratique, sa réalité en pleine évolutionsont, (…), les produits de l’actionhumaine dans des conditionshistoriques <strong>do</strong>nnées.”Manuel CastellsO que é a investigação “Os jovens e aInternet”?Em Outubro de 1998 o Instituto deEstu<strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>lísticos (IEJ) da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra participounuma reunião realizada no Centre deLiaison des Moyens d’Information et del’Enseignement (Clemi), em Paris, sobre oprojecto de investigação “Os jovens e aInternet.” A investigação, que <strong>na</strong>scera <strong>na</strong>Universidade de Sherbrooke, no Ca<strong>na</strong>dá,estava a ser alargada a outros paísesfrancófonos: França, Bélgica e Suíça.A presença de Portugal levantou a questãoda eventual extensão da investigação aalguns países latinos (Portugal, Itália eEspanha) ten<strong>do</strong> os elementos presentes(Jacques Piétte, da Universidade deSherbrooke/Ca<strong>na</strong>dá), Évelyne Bévort, <strong>do</strong>Clemi/França e Thierry De Smedt, da UniversidadeCatólica de Louvain/Bélgica) acorda<strong>do</strong>nessa extensão.Em Maio de 1999 veio a realizar-se novareunião, em Paris, em que estiveram presentes,além <strong>do</strong> autor deste <strong>do</strong>cumento, os mesmosparticipantes, bem como o investiga<strong>do</strong>r italiano,Pier Cesare Rivoltelle, da UniversidadeCattolica di Milano, e ainda <strong>do</strong>is investiga<strong>do</strong>resda suíça francófo<strong>na</strong>. O investiga<strong>do</strong>respanhol, Mariano Sanchez, da Universidadede Gra<strong>na</strong>da, não esteve presente mas veioposteriormente a ter contactos, no Ca<strong>na</strong>dá, coma equipa orienta<strong>do</strong>ra da investigação.O objectivo <strong>do</strong> projecto foi o de traçarum retrato <strong>do</strong>s jovens face ao desenvolvimentoda Internet. Esse retrato inclui umacomponente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e uma outra componenteinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, comparativa, dada a participaçãode vários países.A investigação foi conduzida por trêsquestões centrais:Qual a representação que os jovens têmda Internet? Importa avaliar a imagem daInternet, quer os jovens sejam utiliza<strong>do</strong>res,quer não. A investigação procurou medir oimpacto <strong>do</strong> discurso social, escolar ou familiar<strong>na</strong> representação que o jovem tem daInternet e nos seus mo<strong>do</strong>s de utilização.• Qual a utilização efectiva que os jovensfazem da Internet? Tratou-se de verificar ascondições concretas de utilização (frequência,duração, lugar, enquadramento, condiçõesde acesso, etc) bem como determi<strong>na</strong>r asmodalidades e tipos de utilização.• Como é que se verifica a apropriaçãoda Internet, pelos jovens? Trata-se de precisaro grau e tipo de integração nos hábitosde vida <strong>do</strong>s jovens. Em que medida, porexemplo, o acesso à Internet modifica, enriqueceou altera comportamentos sociais,mo<strong>do</strong>s de aprendizagem, hábitos de consumomediático e cultural, expectativas.Um <strong>do</strong>s elementos de recolha de da<strong>do</strong>sfoi um inquérito cuja matriz tinha si<strong>do</strong> trabalhadainicialmente no Ca<strong>na</strong>dá e já entãohavia si<strong>do</strong> aplicada a cerca de mil alunosca<strong>na</strong>dianos. Esta matriz foi discutida <strong>na</strong>reunião de Maio de 1999, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> feitasalgumas adaptações e modificações para terem conta especificidades de cada país. Aversão fi<strong>na</strong>l, enviada por Jacques Piette ato<strong>do</strong>s os investiga<strong>do</strong>res, foi traduzida emportuguês (Documento 2. Inquérito). Umaversão foi depois testada com um grupo dejovens da Escola Maria Veleda, antes de seraplicada no terreno.A investigação foi realizada em escolasde Lisboa, Coimbra, Vila Real, Miranda <strong>do</strong>Douro, Beja e Moura. No entanto, emboraos questionários tenham si<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>s emtodas essas localidades no meses iniciais <strong>do</strong>


362 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVano 2000 (em Janeiro e Fevereiro), ape<strong>na</strong>sfoi possível, para a análise, ter em conta osda<strong>do</strong>s de Lisboa e Coimbra pois, nos outrospaíses, escolheram-se ape<strong>na</strong>s duas cidadespara a análise da situação.Depois de ponderação, optou-se porLisboa e Coimbra pois uma das obrigaçõescomuns a to<strong>do</strong>s os países era a de não fazerincidir o estu<strong>do</strong> em escolas com uma integraçãodas tecnologias extremamente avançadasnem em escolas de <strong>potencial</strong>tecnológico muito fraco. A opção escolhida,embora discutível, procurou olhar para aquiloque considerámos então como pólosaceitáveis para uma investigação que nãopode considerar-se, uma investigação quantitativacom pretensões de representatividade<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Esta escolha pode explicar algunsda<strong>do</strong>s que poderão estar inflacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s, da<strong>do</strong>a análise se ter situa<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s em Lisboae Coimbra.Os alunos deviam ser escolhi<strong>do</strong>s entre osque tivessem entre 12 e 17 anos, o que, nocaso português, implicou a escolha de turmas<strong>do</strong> 7º, 8º, 9º e 10º, 11º anos.Constituíram-se assim 5 níveis:Nível 1 - 13 anosNível 2 - 14 anosNível 3 - 15 anosNível 4 - 16 anosNível 5 - 17 anosFicaram assim de fora os jovens de 18anos ano isto dada também a exigência decomparação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Outro instrumento de investigação utiliza<strong>do</strong>desti<strong>na</strong><strong>do</strong> a captar, de forma mais fi<strong>na</strong>,a realidade que se pretendeu investigar, foia entrevista semi-estruturada com alguns <strong>do</strong>salunos que responderam aos inquéritos. Nosanexos encontra-se um guia para a realizaçãodas entrevistas que foi prepara<strong>do</strong> porJacques Piette e utiliza<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s.Os da<strong>do</strong>s quantitativos <strong>do</strong>s inquéritos deto<strong>do</strong>s os países foram trata<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Universidadede Sherbrooke com evidentes vantagensde economia de custos e de aplicação decritérios comuns.Esses da<strong>do</strong>s, bem com osda<strong>do</strong>s qualititativos, foram depois objecto deanálise e interpretação em cada país. AUniversidade de Sherbrooke enviou tambéma todas as equipas <strong>do</strong>cumentos paranormalisar a pesquisa (instruções de preenchimento<strong>do</strong>s inquéritos, a já referida sugestão deguião para as entrevistas, bem como uma listade entrevista<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> certos critérios).Importa ainda precisar que a investigaçãoque apresentamos não se refere à observaçãode práticas <strong>do</strong>s jovens mas sim àspraticas declaradas pelos jovens, no inquéritoe <strong>na</strong>s entrevistas.Contexto da InvestigaçãoA Internet em Portugal e <strong>na</strong> UniãoEuropeiaOs indica<strong>do</strong>res estatísticos publica<strong>do</strong>s peloObservatório das Ciências e das Tecnologiasem Março de 2002 dão 14% de lares equipa<strong>do</strong>scom computa<strong>do</strong>res em 1997, 27% em2000 e 39% em 2001. Também <strong>na</strong>s ligaçõesà internet a percentagem de utiliza<strong>do</strong>res seriade 2% em 1996, 6% em 1997 mas em 2000a percentagem de utiliza<strong>do</strong>res sobe para 22%e em 2001 seriam já 30% (Mata, 2002). Estesnúmeros parecem querer dizer que uma expansãocontinuada da utilização das tecnologiasda informação e da internet, em particular,se verifica no ano em que o trabalhode campo se realiza.Se compararmos com a União Europeia(embora em 2001, por não dispormos deda<strong>do</strong>s para 2000) vemos que ape<strong>na</strong>s um <strong>do</strong>spaíses que entrou <strong>na</strong> investigação – a Bélgica– ultrapassa a média da União Europeia,<strong>na</strong> percentagem da população que utiliza aInternet, sen<strong>do</strong> que a França iguala essamédia. Também se reproduzem, no interiorda União Europeia, as desigualdades Norte-Sul apontadas a nível mundial.Tabela 1Utilização da Internet<strong>na</strong> União Europeia, 2001% da população que utiliza%Di<strong>na</strong>marca71, 2Bélgica49, 0UniãoEuropeia40, 6França40, 6Espanha36, 6Itália35, 4Portugal30, 3Fonte: Eurobarómetro, Flash 103, Junho 2001


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO363Já para a Internet que se utiliza em casaos da<strong>do</strong>s disponíveis apontam em geral paraa mesma tendência, embora Espanha ePortugal se equivalham <strong>na</strong> consulta <strong>do</strong>méstica.Tabela 2Utilização da Internetem casa <strong>na</strong> União Europeia, 2001% da população que utiliza%Suécia55, 0UniãoEuropeia30, 9Bélgica49, 0França22, 0Itália30, 3Espanha18, 7Portugal18, 7Fonte: Eurobarómetro, Flash 103, Junho 2001Os da<strong>do</strong>s de utilização de que dispomossão bastante mais eleva<strong>do</strong>s para a consulta<strong>do</strong>miciliária pois os jovens que declaram usarInternet em casa ultrapassam os 40%. Lembremosque tratámos da<strong>do</strong>s ape<strong>na</strong>s em escolasde Lisboa e Coimbra, escolas comalgum equipamento informático, sen<strong>do</strong> provavelmentetambém a sua localização nointerior das cidades explicativa de um pre<strong>do</strong>míniode classes medias, mais estáveiseconomicamente e, por isso, mais predispostasa investigar no computa<strong>do</strong>r e <strong>na</strong> internetcomo equipamento <strong>do</strong>méstico. No entanto,<strong>na</strong>s entrevistas, ouvimos alguns casos dejovens com famílias operárias ou de serviçospouco qualifica<strong>do</strong>s revelarem terem já computa<strong>do</strong>re, <strong>na</strong>lguns casos, terem mesmo acessoà internet ou terem uma expectativa forte dea vir a ter em breve. Trata-se de um sectorque revela uma expansão fortíssima: bastaacentuar que os utiliza<strong>do</strong>res da internet, em1999, seriam 2% e em 2001 seriam já 30%.Por outro la<strong>do</strong>, se a<strong>na</strong>lisarmos a evoluçãode utilização segun<strong>do</strong> os escalões etários,podemos perceber que 54% <strong>do</strong>s jovens entreos 15 e os 19 anos utilizavam a internet em200o (subin<strong>do</strong> para 72% em 2001). Na faixa<strong>do</strong>s 40-49 anos ape<strong>na</strong>s 10% utilizava em 2000ou ape<strong>na</strong>s 4% <strong>do</strong>s mais de 50 sabiam o queera utilizar a internet nesse ano. Nas entrevistasfoi-nos possível verificar ser muito grandea pressão que os jovens que não dispõemde Internet em casa faziam sobre as famíliaspara estas se equiparem, quase sempre comargumentos de necessidade para os estu<strong>do</strong>s.Isto quer dizer que pode pôr-se como hipóteseque o crescimento de utilização daInternet no <strong>do</strong>micílio se esteja a verificarsobretu<strong>do</strong> nos lares com jovens, sen<strong>do</strong> porisso o crescimento geral <strong>do</strong> país bastantemenor <strong>do</strong> que o que se revela <strong>na</strong> faixa etária<strong>do</strong>s jovens estudantes.Tabela 3Evolução <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res da Internetem Portugal por escalão estário% da população que utiliza3. Representação2000200115-19anos 547220-24anos 455825-29anos 344530-39anos 172640-49anos 1016+ de 50 anos 4 7Fonte: Mata, 2002Total2230Este aspecto da investigação procurouverificar quais as representações que os jovenstêm da Internet. Mesmo os jovens que usampouco constróem as suas representações sobrea Internet: o que é, como funcio<strong>na</strong>, comoos colegas e amigos a utilizam, que efeitospensa que terá. Podemos dizer que procurámossaber qual o “espírito da Internet”existente nos jovens inquiri<strong>do</strong>s (Flichy, 2001:10). Para isso utilizámos não ape<strong>na</strong>s os da<strong>do</strong>squantitativos como também as opiniõesexpressas <strong>na</strong>s entrevistas.O que pensam os jovens da InternetSetenta e nove por cento <strong>do</strong>s jovensinquiri<strong>do</strong>s concorda com a ideia de que aInternet é revolucionária e destes, 48% afirmaestar completamente de acor<strong>do</strong> com essaideia. Ape<strong>na</strong>s 7% <strong>do</strong>s jovens afirma discordarda afirmação.


364 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVDurante as entrevistas, alguns jovensjustificam este carácter revolucionário coma proximidade que a Internet permite facea outras pessoas e com a espontaneidadede acesso à informação. Importa precisarque a qualificação de revolucionária talveznão fosse muito adequada pois nomo<strong>do</strong> de pensar <strong>do</strong>s jovens, este qualificativointroduzirá um universo de referênciamuito diversifica<strong>do</strong>, conteú<strong>do</strong>s semânticosmuito contrasta<strong>do</strong>s e nem semprecompatíveis com a ideia <strong>do</strong> romantismoou da profunda alteração de estruturas quea revolução sugere para as gerações maisvelhas. A Internet, sen<strong>do</strong> revolucionáriapara os jovens inquiri<strong>do</strong>s, não põe a vida<strong>do</strong> avesso: antes a faz continuar de mo<strong>do</strong>saqui e além mágicos, extraordinários,imprevisíveis.Tabela 4A Internet é Revolucionária?(Opinião; percentagem)Discorda7Discordatotalmente3Discordaem parte5Concorda79Concordaparcialmente 31Totalmentede acor<strong>do</strong> 48É entre os que não possuem qualquerligação à ‘Web’ no lar que a ideia da revoluçãoé menos partilhada embora compouca diferença (85% para os que têmInternet, 79% para os que não têm).Tabela 5A Internet é Revolucionária?(Opinião; percentagem segun<strong>do</strong> possede acesso à Internet no lar)ComInternteSemInternetDiscorda4 11Discordatotalmente 1 5Discordaem parte 3 6Concorda8579Concordaparcialmente 3426Totalmentede acor<strong>do</strong> 5152São os jovens que dispõem de uma ligaçãoà Internet quem mais afirma estar “parcialmentede acor<strong>do</strong>” com o carácter revolucionárioda Internet – 34% <strong>do</strong>s alunos queexprimem esta ideia tem uma ligação no lar.A opinião que exprime o total acor<strong>do</strong> como carácter revolucionário da Internet nãoregista grandes alterações entre quem possuie quem não possui uma ligação à Internet.Tabela 6Não se pode passar sem a Internet?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>género, segun<strong>do</strong> posse de Internetno lar e faixa etária)TotalRaparigasRapazesTabela 6AComInternetSemInternetDiscorda4544465043DiscordatotalmenteDiscordaem parte21202119222424253121Concorda4546444351ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>29302927321617141619Total+ Velhos* NovosDiscorda454147DiscordatotalmenteDiscordaem parte212021242226Concorda455241ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>293327161914Mas se o aspecto revolucionário da ‘Web’reúne o consenso de grande parte <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s,45% acha que, após experimentar nãose pode passar sem ela, sen<strong>do</strong> igual emnúmero os que pensam exactamente o contrário.Ou seja, cerca de metade <strong>do</strong>s jovensinquiri<strong>do</strong>s rendem-se ao <strong>potencial</strong> inova<strong>do</strong>rda Internet mas um numero igual considera,mesmo assim, que pode passar sem ela.De salientar que a afirmação Não se podepassar sem a Internet pode ter uma interpretaçãopejorativa, uma vez que tem umadimensão de dependência, sem a qual o adicto


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO365não pode viver, condicio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, eventualmente,as respostas de alguns <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<strong>na</strong>da incli<strong>na</strong><strong>do</strong>s para caucio<strong>na</strong>rem tal dependência.Dos que concordam com a ideia de queé impossível passar sem a ‘Web’, 29% estãoparcialmente de acor<strong>do</strong>. O grande grupo <strong>do</strong>sque transmite a ideia com toda certeza, istoé, estão “totalmente de acor<strong>do</strong>”, são, semdúvida os utiliza<strong>do</strong>res frequentes 36%),enquanto que os ocasio<strong>na</strong>is se ficam pelos13% e os regulares pelos 11%. Estes resulta<strong>do</strong>sfazem-nos reflectir acerca <strong>do</strong>s efeitosque os ciber<strong>na</strong>utas regulares sentem emrelação à sua própria utilização da Internet.De facto, quanto mais se usa a Internet maisse parece ter a consciência da imprescindibilidadeda rede.Também os mais velhos estão mais nocampo da concordância <strong>do</strong> que os mais novos.Terão estes mais consciência de que hámedida que se utiliza um utensílio técnicomais este integra o nosso ser social?Nas entrevistas, existem também depoimentoscontraditórios pois alguns jovensutiliza<strong>do</strong>res, com e sem ligação em casa,confessavam que tinham ideia de que a Redeseria completamente “viciante”, por ser algotão agradável. Mas, por outro la<strong>do</strong>, algunsconfessavam que a ideia de deixar de poderutilizar a Internet não era muito agradável,embora não a considerassem “viciante”, poisconseguiam passar alguns dias sem utilizar.Tabela 7A Internet é uma perda de tempo?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>perfil de utiliza<strong>do</strong>r de Internet no lar)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuito Sem Comfrequente Net NetDiscorda869486849486DiscordatotalmenteDiscordaem parte6667697572702126179 2217Concorda8 3 6 9 3 8ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>5 2 6 6 2 72 1 2 1 1Quanto à utilidade da Rede, 86% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s discordam da ideia de que aInternet seja uma perda de tempo (sen<strong>do</strong> quedestes, 66% declaram mesmo estar “totalmentecontra”). Ape<strong>na</strong>s 8% concordam que otempo passa<strong>do</strong> <strong>na</strong> Internet não é útil e desses,uma percentagem mínima de 2% diz “concordarcompletamente” com a ideia de que<strong>na</strong>vegar <strong>na</strong> Rede é um desperdício de tempo.Ou seja, os jovens inquiri<strong>do</strong>s não se sentema perder tempo quan<strong>do</strong> estão ocupa<strong>do</strong>s coma Internet. A Internet parece ser uma extensãoda vida e, nessa medida, uma aplicaçãoproveitosa <strong>do</strong> tempo que se lhe dedica.Assi<strong>na</strong>le-se que entre os que têm Internetem casa é maior a percentagem <strong>do</strong>s queconsideram perder tempo (8% contra 3% nosque não dispõem de Internet). Possívelexplicação: a maior disponibilidade <strong>do</strong>sprimeiros permite-lhes uma maior divagação<strong>na</strong>s utilizações aumentan<strong>do</strong> assim esta sensaçãode desperdício de tempo.O que pensam os jovens sobre a tecnologiada InternetTabela 8É fácil aprender a utilizar a Internet?(Opinião; percentagem totale segun<strong>do</strong> género)Quase três quartos (74%) <strong>do</strong>s jovensinquiri<strong>do</strong>s estão convictos que é fácil aprendera usar a Internet. Só 11% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>sestão em desacor<strong>do</strong> com a afirmação daaprendizagem fácil.No entanto, a convicção da facilidade <strong>do</strong>uso deve relativizar-se, uma vez que ape<strong>na</strong>s 29%destes estão totalmente de acor<strong>do</strong> com a afirmação,enquanto 45% afirmam estar “parcialmentede acor<strong>do</strong>”. Esta hesitação em concordartotalmente <strong>na</strong> facilidade de uso poderá residirno facto de 44% <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes julgarem sernecessário saber informática e 63% consideraremo conhecimento da língua inglesa essencialpara as <strong>na</strong>vegações <strong>na</strong> ‘rede’.%Discorda11Discordatotalmente2Discordaem parte9Concorda74Concordaparcialmente 45Totalmentede acor<strong>do</strong> 29


366 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVTabela 9Para utilizar a Interneté preciso saber inglês?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género)TotalRaparigasRapazesDiscorda283024DiscordatotalmenteDiscordaem parte8 9 7202118Concorda636167ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>47464817151963% <strong>do</strong>s jovens inquiri<strong>do</strong>s considera serpreciso saber inglês para <strong>na</strong>vegar <strong>na</strong> Internet.Ape<strong>na</strong>s 28% <strong>do</strong>s jovens inquiri<strong>do</strong>s consideraque a falta de conhecimento desta língua nãoé impeditiva da utilização.Quanto ao conhecimentoda língua inglesa, verifica-se que agrande maioria (entre 76 e 78%) assegurater bastantes, ou mesmo muitos, conhecimentosde inglês oral e escrito. Embora asraparigas sejam mais contidas e apresentemíndices mais baixos no que diz respeito àauto-avaliação <strong>do</strong> conhecimento da língua:29% <strong>do</strong>s rapazes afirma “falar muito beminglês” - a percentagem das raparigas ficasepelos 19%. O mesmo se verifica <strong>na</strong> leitura:27% das raparigas garantem”“ler inglês muitobem”, nos rapazes a percentagem sobe aos42%. Serão as raparigas mais exigentes <strong>na</strong>auto-avaliação ou corresponderão estes da<strong>do</strong>sa uma real diferença? Verificamos tambémque as respostas que indicam um bomconhecimento da língua, mas com algo aindaa melhorar, traduzidas pela expressão “bastantebem” têm percentagens de respostas deindivíduos <strong>do</strong> sexo feminino mais elevadas:50% das raparigas contra 37% <strong>do</strong>s rapazesa dizer o mesmo. A percentagem de jovensa dizer que não lêem ou falam inglês é muitoreduzida pois ape<strong>na</strong>s 2% afirma <strong>na</strong>da ler deinglês, e 12% dizem ler ape<strong>na</strong>s um pouco).A língua <strong>do</strong>s principais”sítios utiliza<strong>do</strong>s é,sem dúvida, o inglês, com 85% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>sa admitir <strong>na</strong>vegar em ‘sites’ cuja línguaé o inglês, com ape<strong>na</strong>s 3% a afirmarem nuncao fazer.Os alunos mais velhos afirmam ter maisconhecimentos da língua e são também elesque estão mais de acor<strong>do</strong> com a ideia de queo inglês é essencial para se poder <strong>na</strong>vegar<strong>na</strong> Internet.Tabela 10Para utilizar a Interneté preciso saber informática?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género)Total* Velhos* NovosDiscorda455538DiscordatotalmenteDiscordaem parte131512314026Concorda554047ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>323233129 14O mesmo já não é tão visível no quediz respeito à necessidade de saberinformática para poder utilizar a ‘Web’, pois45 por cento acham que não é preciso saberinformática e 44 por cento acham que sim.A idade parece jogar como factor detranquilização pois são os mais novos queestão mais de acor<strong>do</strong> com a necessidadedestes conhecimentos.Tabela 11Para utilizar a Interneté preciso saber informática?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuitofrequenteDiscorda45425646DiscordatotalmenteDiscordaem parte1312151931304127Concorda44523546ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>3241243012111016


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO367Os ciber<strong>na</strong>utas muito frequentes dividem-setambém entre a afirmação de serpreciso e não ser preciso saber informática.São os ciber<strong>na</strong>utas ocasio<strong>na</strong>is que apresentamos índices mais altos de respostasque implicam o conhecimento deinformática. A regularidade <strong>na</strong> utilizaçãoparece ser o esta<strong>do</strong> de espírito que maisse coadu<strong>na</strong> com uma utilização independente<strong>do</strong>s saberes sobre informática. Aquitambém deveremos compreender que, porvezes, a necessidade de conhecimentosreferida pode ser muito ligeira. De facto,alguns entrevista<strong>do</strong>s mencio<strong>na</strong>m que asnecessidades de conhecimento se referemunicamente a utilizar o rato e o tecla<strong>do</strong>.O que pensam os jovens <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>sda InternetSessenta e nove por cento <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentesassegura confiar nos conteú<strong>do</strong>s daInternet. Isto significa que a Rede é vistapela maioria <strong>do</strong>s jovens como uma fontesegura de informação, o que foi confirma<strong>do</strong><strong>na</strong>s entrevistas. Este pode ser um<strong>do</strong>s elementos importantes para elaboraruma estratégia de educação para os mediacentrada <strong>na</strong> Internet. Nas entrevistas, osjovens, partin<strong>do</strong> frequentemente de umaposição de confiança, chegavam, instantesdepois, a matizar a confiança inicial.Alguns entrevista<strong>do</strong>s lembram que aspági<strong>na</strong>s têm diferentes graus de credibilidade.Em geral, mencio<strong>na</strong>m as pági<strong>na</strong>spessoais como sen<strong>do</strong> as menos credíveise as pági<strong>na</strong>s oficiais de jor<strong>na</strong>is e instituiçõesaquelas em que confiam mais.Talvez a pensar nisso, 45% afirmem estar“parcialmente de acor<strong>do</strong>” e somente 25%afiancem confiar “totalmente” <strong>na</strong>s informaçõesencontradas.Segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inquérito,quanto mais se <strong>na</strong>vega mais se confia <strong>na</strong>informação. Confie-se parcial ou totalmentenos conteú<strong>do</strong>s da ‘net’, os ciber<strong>na</strong>utasque mais <strong>na</strong>vegam confiam sempre maisnos conteú<strong>do</strong>s ‘on-line’ <strong>do</strong> que os outros,embora não se verifiquem fortesdisparidades percentuais.Tabela 12Confio no que encontro <strong>na</strong> Internet?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>distribuição geográfica e género)TotalLisboaCoimbraRaparigasRapazesDiscorda1715181420DiscordatotalmenteDiscordaem parte3 1 5 3 31414131117Concorda6969707167ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>45464347412523272426As raparigas confiam mais no que encontram<strong>na</strong> Internet <strong>do</strong> que os rapazes (71% das raparigasconfiam contra 67% <strong>do</strong>s rapazes). Étambém entre os jovens que não possuemligação à Internet que o índice de confiançaé mais alto (30% diz estar totalmente deacor<strong>do</strong>, enquanto a percentagem <strong>do</strong>s quepossui ligação no lar se fica pelos 23%).Tabela 13É preciso controlar osconteú<strong>do</strong>s da Internet?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>distribuição geográfica e género)TotalLisboaCoimbraRaparigasRapazesDiscorda3529412351DiscordatotalmenteDiscordaem parte1712239 291717181422Concorda5658536740ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>26262628243032284016Um total de 56% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s concordacom a perspectiva de se controlarem osconteú<strong>do</strong>s da Internet. Dos 56% que admitemalguma forma de censura à ‘net’, 30%não demonstram qualquer hesitação e afirmamestar “totalmente de acor<strong>do</strong>”. Nasentrevistas alguns jovens lembram que o quese considera conteú<strong>do</strong>s “<strong>potencial</strong>menteperigosos” está também disponível noutrossuportes, como as revistas e os jor<strong>na</strong>is. Talvezpor isso, a percentagem <strong>do</strong>s que ape<strong>na</strong>s está“parcialmente de acor<strong>do</strong>” com o controlo


368 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVefectivo das informações que percorrem aRede atinja os 26% e os que “discordamtotalmente” com qualquer forma de controlosejam <strong>na</strong> ordem <strong>do</strong>s 17%, com uma forteincidência <strong>na</strong> cidade de Coimbra.Em qualquer <strong>do</strong>s casos: parcial ou totalmenteem desacor<strong>do</strong>, é <strong>na</strong> cidade de Coimbraque encontramos as mais elevadas percentagens<strong>do</strong>s desacor<strong>do</strong>s: 41% <strong>do</strong>s estudantesde Coimbra “discorda totalmente” destecontrolo, em Lisboa a percentagem fica-sepelos 29%. No entanto, nos resulta<strong>do</strong>s dasrespostas que indicam uma aceitação dealguma forma de controlo não se registamdiferenças significativas entre os jovensinquiri<strong>do</strong>s em Lisboa e Coimbra. As raparigasestão mais de acor<strong>do</strong> com esse controlopois 40% a ele adere contra ape<strong>na</strong>s 16% <strong>do</strong>srapazes.Durante as entrevistas foi também visívelalguma indefinição relativamente à entidadea quem caberia gerir esse controlo no casode ele ser instituí<strong>do</strong>.Tabela 14É preciso controlar osconteú<strong>do</strong>s da Internet?(Opinião; percentagemsegun<strong>do</strong> perfil de utiliza<strong>do</strong>r)Ocasio<strong>na</strong>lFrequenteMuitofrequenteDiscorda333941DiscordatotalmenteDiscordaem parte121726212115Concorda585148ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>242430332819São os utiliza<strong>do</strong>res ocasio<strong>na</strong>is os queconcordam em maior número (58%) com anecessidade de contrôle da Internet. Os<strong>na</strong>vega<strong>do</strong>res muito frequentes concordamcom formas de controle, mas apresentamresulta<strong>do</strong>s mais eleva<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s respostas quedeixam algum espaço de manobra: as quefalam em posições “parciais”. Trinta por cento<strong>do</strong>s que responderam estar “parcialmente deacor<strong>do</strong>” com o contrôle são utiliza<strong>do</strong>res muitofrequentes, enquanto os ocasio<strong>na</strong>is e osregulares se ficam pelos 24%. Nas posiçõesglobais verificamos serem os utiliza<strong>do</strong>resocasio<strong>na</strong>is quem mais se manifesta pelanecessidade de controle (58%), segui<strong>do</strong>s pelosutiliza<strong>do</strong>res frequentes (51%) e muito frequentes(48%). Verificamos também que se58% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s concordam com essecontrole e 33% manifestam a suadiscordância. Trata-se de um terreno em quese chocam as representações da Internet comoexpressão de liberdade e a necessidade deprotecção <strong>do</strong>s mais novos, <strong>do</strong>s mais “fracos”ou <strong>do</strong>s mais sensíveis. Por outras palavras:a Internet foi concebida como uma tecnologiade comunicação livre – e os jovens inquiri<strong>do</strong>stêm alguma percepção desse pressuposto- mas não resulta disso que sejamos, enfim,livres graças à Internet (Castells, 2001: 10).Durante as entrevistas, os jovens manifestaramespecial preocupação pelos sítios racistas,não dan<strong>do</strong> tanta importância aos sítios pornográficos.Muitos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s alegavam anecessidade de controlo, não por eles, dizem,mas devi<strong>do</strong> aos mais novos, não manifestan<strong>do</strong>qualquer receio em relação à si próprios. Sabemos,no entanto, como <strong>na</strong> recolha de opiniãomuitas vezes os problemas senti<strong>do</strong>s pelo inquiri<strong>do</strong>ssão transferi<strong>do</strong>s para outrémTabela 15A Internet melhora acomunicação entre as pessoas?(Opinião; percentagem total)TotalDiscorda7Discordatotalmente2Discordaem parte5Concorda87Concordaparcialmente 29Totalmentede acor<strong>do</strong> 58A visão que os jovens têm sobre os efeitosque a Internet pode ter <strong>na</strong> comunicaçãointerpessoal não parece oferecer grandesdúvidas: 87% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s concordam quea Rede pode ser um contributo para melhorara comunicação entre as pessoas.Durante as entrevistas, alguns salientaramo facto de ser mais barato e mais fácil falar


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO369com os amigos ou familiares que estavamlonge. Outros lembraram que tinham conheci<strong>do</strong>alguns amigos, que frequentavam omesmo estabelecimento escolar, devi<strong>do</strong> àInternet. Esta utilização para comunicaçãocom os que estão perto foi mesmo referidamais frequentemente, sen<strong>do</strong> assim um elementode reflexão que contraria a ideia decomunicação mundial frequentemente associadaà Internet.De qualquer forma, 58% <strong>do</strong>s jovens“concorda ple<strong>na</strong>mente” que a ‘Web’ é umfactor positivo para a comunicação entre aspessoas. Somente 7% <strong>do</strong>s estudantes afirmadiscordar desta ideia. Não se verificamgrandes disparidades <strong>na</strong> análise segun<strong>do</strong> osexo, nem segun<strong>do</strong> a faixa etária. Curiosamente,também não se verificam grandesdiferenças percentuais <strong>na</strong>s respostas <strong>do</strong>salunos consoante têm ou não acesso à Redeno lar.Tabela 16Quan<strong>do</strong> se utiliza a Internetfalamos menos com os outros?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>perfil de utiliza<strong>do</strong>r e segun<strong>do</strong>posse de ligação no lar)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuitofrequenteSemNetComNetDiscorda605362735173DiscordatotalmenteDiscordaem parte363141482851242321252422Concorda283226203321ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>2024201423178 8 6 6 104A maioria <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s (60%) acha queo uso da Internet não faz com que se falemenos com os outros. Mesmo assim, 28%<strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s acha que tal se verifica. Noentanto, a maior utilização parece fazerdecrescer esse temor pois os utiliza<strong>do</strong>resocasio<strong>na</strong>is são os que têm níveis dediscordância menores (53%), aumentan<strong>do</strong> adiscordância nos utiliza<strong>do</strong>res regulares (62%)e nos muito frequentes (73%). Quem temInternet no <strong>do</strong>micílio, bem como osutiliza<strong>do</strong>res mais frequentes, são os quesustentam maioritariamente esta boa harmoniaentre a utilização e a convivialidade. Masvinte e oito por cento <strong>do</strong>s jovens está deacor<strong>do</strong> com a ideia de que os ciber<strong>na</strong>utasse tor<strong>na</strong>m menos comunica<strong>do</strong>res. São sobretu<strong>do</strong>os que não possuem uma ligação à ‘Web’no <strong>do</strong>micílio que assim julgam.Durante as entrevistas, alguns jovenslembram que algumas vezes se comentam osconteú<strong>do</strong>s das pági<strong>na</strong>s visitadas com osfamiliares. Alguns salientavam mesmo a<strong>na</strong>vegação partilhada com os pais e com osirmãos.Tabela 17A Internet é antes demais um meio de diversão?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>perfil de utiliza<strong>do</strong>r e segun<strong>do</strong>faixa etária)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuitofrequente*Velhos*NovosDiscorda192317192316DiscordatotalmenteDiscordaem parte4 3 4 2 4 3151913161713Concorda737373727275ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>485047414848252326312327Segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inquérito, aInternet é antes de mais, um meio de diversão.Setenta e três por cento <strong>do</strong>s jovens concordacom a afirmação, apesar de somente25% deles estarem “totalmente de acor<strong>do</strong>”.São sobretu<strong>do</strong> os mais velhos que discordamque a Internet é, antes de mais, umaforma de diversão. Embora estes tambémapresentem os resulta<strong>do</strong>s mais eleva<strong>do</strong>s <strong>na</strong>opção que diz estar de acor<strong>do</strong>, as diferençasentre mais velhos e mais novos são maiselevadas entre os que discordam. Aparentemente,o perfil de utiliza<strong>do</strong>r não édetermi<strong>na</strong>nte para a opinião <strong>do</strong> ciber<strong>na</strong>uta.Para 23% <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res ocasio<strong>na</strong>is aInternet é, prioritariamente um meio dediversão, para 31% <strong>do</strong>s ciber<strong>na</strong>utas muitofrequentes também.


370 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVTabela 18A Internet é uma ameaça ao português?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género)TotalRaparigasRapazesDiscorda666172DiscordatotalmenteDiscordaem parte393643272529Concorda212418ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>1720134 3 5Segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> inquérito, amaioria <strong>do</strong>s jovens não vê a Internet comouma ameaça à língua portuguesa. Sessentae seis por cento <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s refere nãoconcordar com a ideia transmitida pela afirmaçãoe desses, 39% afirma mesmo “discordartotalmente”. A percentagem análoga<strong>do</strong>s jovens que “concordam totalmente”com a ameaça fica-se pelos 4%, enquanto13% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s preferem não se manifestar.De referir que alguns entrevista<strong>do</strong>s apontavamas novas formas da linguagem “dasteclas” como algo sobre o qual se deveriaestar atento, mas não utilizan<strong>do</strong> a palavra“ameaça”. Durante as entrevistas, algunsestudantes explicavam que seria provável queum determi<strong>na</strong><strong>do</strong> número de ciber<strong>na</strong>utaspudesse, tendencialmente, passar para a linguagemoral ou escrita, a linguagem quehabitualmente usa ao teclar, prejudican<strong>do</strong>assim a língua <strong>do</strong> país. É, portanto, <strong>na</strong>scomunicações em linha, como os programasque permitem conversar com outrosutiliza<strong>do</strong>res em directo, que a ameça pareceexistir para os entrevista<strong>do</strong>s.Há, porém, uma outra perspectiva, queé a de haver uma grande densidade deconteú<strong>do</strong>s <strong>na</strong> língua inglesa confirmada aliáspela utilização maciça de pagi<strong>na</strong>s ‘Web’ eminglês. São as raparigas quem mais manifestao seu receio, com 24% a manifestar o seuacor<strong>do</strong> com a ideia da ameaça (contra 18%<strong>do</strong>s rapazes).Tabela 19Navego por sítios em inglês?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género e faixa etária)TotalRaparigasRapazes* Velhos*NovosNão1314121015Nunca3 3 4 3 3Raramente10118 7 12Sim8584859081Ocasio<strong>na</strong>lmente2421252721Regularmente3437313731MuitoFrequntemente2726292728Os jovensn <strong>na</strong>vegam com frequência,além <strong>do</strong> português, noutras línguas: 85% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s admitiu visitar pági<strong>na</strong>s em inglês,<strong>do</strong>s quais 27% reconheceu fazê-lo “muitofrequentemente”. Ape<strong>na</strong>s 3% garantem nuncao fazer. No entanto, os jovens viajamnoutras línguas além <strong>do</strong> inglês: 43% apontamo francês, 26% o espanhol, e 4% oportuguês (a mesma percentagem que ojaponês, que ape<strong>na</strong>s é mencio<strong>na</strong><strong>do</strong> por rapazes,e o italiano). Há ainda 14% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s a mencio<strong>na</strong>rem o alemão. São osalunos mais novos que preferem os sítios emfrancês (50% <strong>na</strong>sceram depois de 1985 e 36%antes de 1984), enquanto que 33% <strong>do</strong>s maisvelhos apontam o espanhol e ape<strong>na</strong>s 19% <strong>do</strong>smais novos manifesta o mesmo interesse. Osciber<strong>na</strong>utas <strong>do</strong> sexo masculino dizem visitarmais sítios em inglês, bem como os maisvelhos – em consonância com os resulta<strong>do</strong>sda pergunta relativa aos conhecimentos deinglês, à qual os rapazes indicam <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>rmelhor a língua <strong>do</strong> que as raparigas.O que pensam os jovens da Internet (comparaçãocom os livros, a televisão e aescola)Os jovens não são particularmente desconfia<strong>do</strong>sem relação aos conteú<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s<strong>na</strong> Internet. Sessenta e nove porcento admite confiar <strong>na</strong>s informaçõesencontradas e 50% discorda que os livrossejam meios mais eficazes para fazerpesquisas; 63% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s garante sermais agradável aprender com a Internet <strong>do</strong>que com os livros.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO371Tabela 20Comparativamente à Internet,os livros são mais eficazespara fazer pesquisa?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>distribuição geográfica e género)Aos jovens entrevista<strong>do</strong>s não lhes custaa acreditar que a Rede se tor<strong>na</strong>rá tão <strong>na</strong>turalquanto o telefone ou a televisão, num futuropróximo: essa é a opinião de 87% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s quais 64% estão totalmentede acor<strong>do</strong> com a afirmação. No entanto, amaioria assume uma posição realista poisape<strong>na</strong>s 33% encara com facilidade a hipóteseda televisão desaparecer com amassificação <strong>do</strong> acesso à Internet.Os jovens, durante as entrevistas, mencio<strong>na</strong>ramnão ter hábitos de consumo ‘online’.Muitos sublinharam mesmo que paracomprar tinham que ver e tocar o produto.Apesar disso os inquiri<strong>do</strong>s consideram queas compras em directo serão muito frequentes:71% concorda que, no futuro, quase tu<strong>do</strong>se comprará via Internet.Talvez por manifestarem alguma desconfiançaem relação aos produtos que nãopodem tocar, 45% afirma estar parcialmentede acor<strong>do</strong> com esta afirmação. Embora muitoaproximadas, as percentagens mais elevadasrelativamente à concordância sobre este usoda Internet verificam-se nos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>salunos mais velhos, e os números vão aumentan<strong>do</strong>consoante o nível de escolari-TotalLisboaCoimbraRaparigasRapazesDiscorda5043575754DiscordatotalmenteDiscordaem parte16122212233432363531Concorda3540303930ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>27302330229 107 9 850% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s discorda que os livrossejam mais eficazes para fazer pesquisas<strong>do</strong> que a Internet. Ou seja a Internetseria igualmente eficaz para a pesquisa(embora só 35% afirme esta concordância,sen<strong>do</strong> os restantes 15% de não respostas ounão sabe).Os eleva<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s em Coimbra (indican<strong>do</strong>discordância em relação à maiorutilidade <strong>do</strong>s livros para pesquisa) podemestar relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com o facto de ser emCoimbra que há um maior número de utilizaçõesda Internet em contexto de salade aula – portanto, para pesquisa. Dessaforma, os alunos podem ter não só aexperiência de <strong>na</strong>vegação arbitrária, massim com um objectivo, poden<strong>do</strong> testar ascapacidades de pesquisa da ‘Web’, bemcomo a qualidade das mesmas.As raparigas parecem ser mais prudentesque os rapazes, pois os resulta<strong>do</strong>s indicamque elas recusam mais a ideia deque a pesquisa <strong>na</strong> Internet é mais eficaz,comparativamente aos livros, <strong>do</strong> que osrapazes. Contu<strong>do</strong>, os resulta<strong>do</strong>s oferecemdiversas leituras: se são maioritariamenteos rapazes a “discordar totalmente” que oslivros sejam mais eficazes que a Internetpara fazer uma pesquisa, já são as raparigasque apresentam os resulta<strong>do</strong>s maiseleva<strong>do</strong>s <strong>na</strong> resposta que indica uma concordânciaparcial.Tabela 21É mais agradável aprender com oslivros <strong>do</strong> que com a Internet?(Opinião; percentagem total)63% <strong>do</strong>s jovens concorda ser mais agradávelaprender com os livros. Apesar de todaa sedução da tecnologia os jovens ainda ligama aprendizagem ao seu objecto secular, olivro.O que pensam os jovens sobre o futuroda Internet%Discorda28Discordatotalmente7Discordaem parte20Concorda63Concordaparcialmente 31Totalmentede acor<strong>do</strong> 32


372 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdade vai subin<strong>do</strong>. Também não se verificamgrandes alterações entre utiliza<strong>do</strong>res ocasio<strong>na</strong>ise frequentes, apesar de serem osciber<strong>na</strong>utas muito frequentes os que detêmas percentagens mais elevadas.Tabela 22A Internet vai substituir a televisão?(Opinião; percentagem total, segun<strong>do</strong>género e perfil de utiliza<strong>do</strong>r)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuitofrequenteDiscorda53585438DiscordatotalmenteDiscordaem parte2324231730343121Concorda33313343ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>23232130109 1216Para 53% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s a Internet nãoirá substituir a televisão. A utilização daInternet poderá até ser tão <strong>na</strong>tural quantover televisão – segun<strong>do</strong> 87% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s,<strong>do</strong>s quais 64% não têm qualquerdúvida, mas dificilmente a irá substituir:pelo menos, essa é a opinião de 53% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s, 30% <strong>do</strong>s quais manifestam o seutotal desacor<strong>do</strong> pela ideia da substituiçãoda televisão pela Internet - ape<strong>na</strong>s 10% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s concorda ple<strong>na</strong>mente com aafirmação.72% das raparigas afirma estar totalmentede acor<strong>do</strong> com a ideia de que a Internetserá tão <strong>na</strong>tural quanto o telefone ou atelevisão, ao passo que a percentagem <strong>do</strong>srapazes a sustentar o mesmo é de 58%. Étambém entre os que possuem um computa<strong>do</strong>r(70%) que o acor<strong>do</strong> é mais eleva<strong>do</strong>(os que não têm PC e concordam totalmenteficam-se pelos 55%).São os ciber<strong>na</strong>utas frequentes que consideramque a Internet, no futuro, substituirátelevisão: 16% concorda ple<strong>na</strong>mente,e 9% <strong>do</strong>s ocasio<strong>na</strong>is expressa a mesmaopinião. Não se verificam grandesdisparidades entre quem tem Internet e quemnão tem.Tabela 23A Internet vai substituir a escola?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r)TotalOcasio<strong>na</strong>lRegularMuitofrequenteDiscorda71746964DiscordatotalmenteDiscordaem parte5256514819191816Concorda17141820ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>7 7 6 10107 1310Mas se os jovens já exprimem uma certadificuldade em aceitar a antevisão da elimi<strong>na</strong>çãoda televisão, quan<strong>do</strong> se fala em escola,os número sobem ainda mais: 71% <strong>do</strong>sinquiri<strong>do</strong>s acha que a Internet não vai substituira escola. Ape<strong>na</strong>s 17% <strong>do</strong>s alunosconcordam que a Internet venha a tomar olugar da escola, <strong>do</strong>s quais 10% afirma estarcompletamente de acor<strong>do</strong> (a percentagemmais elevada provém <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sexomasculino: 16%, contra 5% das raparigas)e <strong>do</strong>s alunos mais novos: 13% contra 4%<strong>do</strong>s mais velhos.Os entrevista<strong>do</strong>s evocam sobretu<strong>do</strong> asdificuldades de auto-organização e discipli<strong>na</strong>que poderiam <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r os alunos no ensino‘on-line’, para além de apontarem o professorcomo uma chave fundamental einsubstituível no processo de aprendizagem.Outros ainda mencio<strong>na</strong>m o convívio quea escola proporcio<strong>na</strong> e que, <strong>na</strong> sua opinião,a Internet não conseguirá nunca fazer equivaler.Os alunos <strong>do</strong>s níveis de escolaridade maisavança<strong>do</strong>s apresentam os resulta<strong>do</strong>s maiseleva<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s opções que indicam repúdio pelasubstituição da escola pela Rede. Os quefrequentam mais a Rede aceitam com maisfacilidade a substituição da escola pelaInternet, (10% nos frequentes e 13% nosregulares, que sustentam estar completamentede acor<strong>do</strong> <strong>na</strong> substituição da escola pelaInternet).


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO373Tabela 24Futuramente, para trabalhar,será necessário <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r a Internet?(Opinião; percentagem total,segun<strong>do</strong> género perfil de utiliza<strong>do</strong>r)TotalRaparigasA necessidade de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r a Internet parapoder trabalhar futuramente é algo quemerece o consenso de 73% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s.Embora 11% não se pronunciem, ape<strong>na</strong>s 15%discordam da ideia de que é imperativo saberutilizar a ‘Web’ para trabalhar. Cinco porcento discorda mesmo totalmente, mas apercentagem <strong>do</strong>s que concorda sem qualquermargem de dúvida atinge os 34%. São asraparigas, <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>s mais velhos, quemmais reitera a necessidade de aprender autilizar a’Rede. Será porque é corrente entreas raparigas a ideia de que têm sempre quesaber mais, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r mais linguagens, conhecermais <strong>do</strong>mínios para poderem competirsocialmente?Durante as entrevistas, alguns jovenslembravam que, apesar de reconhecerem aimportância da ‘Web’, não consideravamimperativo o seu <strong>do</strong>mínio para determi<strong>na</strong>dasáreas de trabalho.Síntese-RepresentaçãoRapazesMaisVelhosMaisNovosDiscorda1514171317DiscordatotalmenteDiscordaem parte5 4 8 3 710109 1010Concorda7375717969ConcordaparcialmenteTotalmentede acor<strong>do</strong>39394038403436314129Que representações são então mais correntesno jovens inquiri<strong>do</strong>s?• A Internet é revolucionária (79%);• Depois de experimentar há jovens quenão podem passar sem Internet (45%), mashá um número exactamente igual que vivebem sem ela (45%);• 86% discorda que a Internet seja umperda de tempo;• A Internet é fácil de aprender (74%);• O inglês é considera<strong>do</strong> necessário paraa net (63%);• As opiniões dividem-se sobre a necessidadede conhecer a informática (45% achaque não, 44% acha que sim);• É fácil aprender a usar a Internet (75%);Os jovens inquiri<strong>do</strong>s• confiam nos conteú<strong>do</strong>s da Internet(69%);• concordam com a perspectiva de secontrolarem os conteú<strong>do</strong>s da Internet (56%);• concordam que a Internet pode ser umcontributo para melhorar a comunicação entreas pessoas (87%);• acham que o uso da Internet não implicaque falemos menos com os outros(60%);• consideram a Internet como um meiode diversão (73%);• não vêm a Internet como uma ameaçaao português (66%);• visitam pági<strong>na</strong>s em inglês (85%);• 50% <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s discorda que oslivros sejam mais eficazes para fazer pesquisas<strong>do</strong> que a Internet. Ou seja, a Internetseria igualmente eficaz para a pesquisa (emborasó 35% afirme esta concordância, sen<strong>do</strong>os restantes 15% de não respostas ou nãosabe).• concordam que é mais agradável aprendercom os livros <strong>do</strong> que com a Internet(63%);• acreditam que a Internet se tor<strong>na</strong>rá, nofuturo, tão <strong>na</strong>tural como a televisão e otelefone (87%);• acreditam que, no futuro, as compraspela Internet serão muito frequentes (71%);• não pensam que a Internet vá substituir,no futuro, a televisão (53%);• discordam que a Internet possa vir asubstituir a escola, no futuro (71%);• estão de acor<strong>do</strong> (73%) que, para podertrabalhar, futuramente, seja preciso <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ra Internet.


374 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBrowning, Gary, Halcli, Abigail, Webster,Frank (Editores), Understandingcontemporary society: Theories of the present,Lon<strong>do</strong>n, sage Publications, 2000Cabral, Manuel Villaverde e Pais, JoséMacha<strong>do</strong>, (Coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>res), Jovens Portuguesesde Hoje, Oeiras, Celta, 1998Castells, Manuel, La galaxie Internet,Paris, Fayard, 2001Flichy, Patrice, L’imagi<strong>na</strong>ire d’Internet,Paris, Editions La Découverte, 2001Lévy, Pierre, Cyberdémocratie, Paris,Éditions odile Jacob, 2002Mata, João (Coord), Sociedade de Informação:Principais indica<strong>do</strong>res estatísticos-Portugal, Lisboa, Observatório da Ciência eda Tecnologia, Ministério da Ciência e daTecnologia, Março 2002Schneidermann, Daniel, Les foliesd’Internet, Paris, Fayard, 2000Sennet, Richard, L’uomo flessibile: Leconseguenze del nuovo capitalismo sulla vitaperso<strong>na</strong>le, Roma, Feltrinelli, 1999Valentini, Giovani, Media Village:L’informazione nell’era di Internet,’Roma,Donzelli Editore, 2000_______________________________1Centro de Investigação Media e Jor<strong>na</strong>lismo.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO375O <strong>potencial</strong> <strong>educativo</strong> <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong> educação formalLara Nogueira Silbiger 11. IntroduçãoSentada no sofá de casa, assistin<strong>do</strong> a seuprograma televisivo favorito, uma pessoapode apreender uma ampla gama de conhecimentos.Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> grau de interesseno assunto trata<strong>do</strong>, chega a reter o conteú<strong>do</strong>de forma muito mais efetiva <strong>do</strong> que, porexemplo, <strong>na</strong> escola.O <strong>potencial</strong> <strong>educativo</strong> <strong>do</strong>s meios de comunicaçãode massa, em especial <strong>do</strong>s audiovisuais,é inquestionável. E tal constatação não se limitaà realidade brasileira. É um fenômeno global.Tomemos, a título de exemplo, os resulta<strong>do</strong>sde uma pesquisa divulgada <strong>na</strong> Revista Espanholade Opinião Pública a respeito da influência<strong>do</strong>s meios audiovisuais sobre os jovensdesse país. “80% da informação assimiladapelos a<strong>do</strong>lescentes espanhóis entre 12 e 15 anosé transmitida através <strong>do</strong>s meios de comunicaçãode massa e da interação social. E somente20% através da escola”.Mas houve momentos em que o<strong>audiovisual</strong> chegou a ser visto pelos educa<strong>do</strong>rescomo uma afronta à educação formal,uma vez que se mostrava muito mais atrativo<strong>do</strong> que as aulas tradicio<strong>na</strong>is. Os alunos,acostuma<strong>do</strong>s a ficar horas em frente à televisãoou a uma tela de cinema, seduzi<strong>do</strong>spor efeitos especiais, ficção, música, etc, jánão se motivavam diante de uma lousa. Urgiauma adequação às radicais mudanças sociaisque as novas tecnologias traziam consigo.“A imagem é hoje a forma superior decomunicação. E, contrariamente ao que temaconteci<strong>do</strong> com a escrita e com o livro, quenão têm consegui<strong>do</strong> substituir a linguagem,hoje estamos diante de uma técnica que tendea generalizar sua supremacia. Já não se trataape<strong>na</strong>s de uma elite ou de uma minoria deprivilegia<strong>do</strong>s ou de especialistas que se vêafetada por esse fato, mas da massa <strong>do</strong> povo,da humanidade, já que serão <strong>na</strong>ções inteirasas que passaram, talvez, da cultura da palavraà cultura da imagem sem passar pelaetapa intermediária da escrita e <strong>do</strong> livro”.As instituições oficiais de ensino já nãopodiam ficar indiferentes a esta inovaçãotecnológica que modificava profundamente oprocesso de assimilação emocio<strong>na</strong>l e racio<strong>na</strong>lda realidade. Então os educa<strong>do</strong>res foramobriga<strong>do</strong>s a rever a concepção que tachavao <strong>audiovisual</strong> de uma ameaça ao ensinotradicio<strong>na</strong>l.Com ousadia, alguns professores arriscaram-see usaram filmes como recurso didático<strong>na</strong> sala de aula. Com o passar <strong>do</strong>s anos eo aprimoramento das primeiras experiências,o <strong>audiovisual</strong>, por fim, foi reconheci<strong>do</strong> comoum meio <strong>educativo</strong> em <strong>potencial</strong>.As facilidades técnicas trazidas pelo vídeocassete, o DVD, o Data Show, etc, bem comoo custo relativamente acessível, tor<strong>na</strong>ramviável o uso de vídeos <strong>na</strong> sala de aula.Mas, apesar da presença <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong><strong>na</strong>s instituições de ensino, infelizmente aindanão podemos falar de uma ple<strong>na</strong> exploração<strong>do</strong> seu <strong>potencial</strong> <strong>educativo</strong>. Tal situaçãose deve provavelmente à ausência deuma análise em profundidade <strong>do</strong>s motivosgera<strong>do</strong>res desta convivência, suas implicações,os critérios de utilização <strong>do</strong>s vídeos eseus alcances didático-pedagógicos.Este trabalho pretende contribuir para talreflexão, pois “uma técnica não se converteem uma ferramenta até que a saiba manejare lhe aplicar a criatividade, a imagi<strong>na</strong>ção eo saber. No entanto, há tantas balas atiradasao ar, perdidas!”.Ao longo deste estu<strong>do</strong>, trabalharemos comos conceitos de educação, comunicação,aprendiza<strong>do</strong> e pedagogia da imagem. Oobjetivo é proporcio<strong>na</strong>r uma base teórica parao desenvolvimento da proposta didáticopedagógicade uso <strong>do</strong> vídeo em sala de aula.2. A <strong>na</strong>tureza da prática educativaA prática educativa é por <strong>na</strong>tureza umprocesso de comunicação. Assim a define


376 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVSanvisens (1984) ao afirmar que “denomi<strong>na</strong>moscomunicação um fato humano e socialque se manifesta como transmissão comunicativade umas pessoas a outras, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-lhesidéias, saberes, habilidades,normas e pautas de conhecimento e conduta”.Vislumbrar a prática educativa sob umaperspectiva comunicacio<strong>na</strong>l tor<strong>na</strong> imprescindívelcontemplar o fluxo de mensagens noqual as pessoas intercambiam aspectos de seurepertório cultural. Mas, além disso, talaproximação exige também uma análise <strong>do</strong>conceito de “comunicação”.O termo comunicação tem sua raiz <strong>na</strong>palavra grega Koinooni, que significa “comum”- comunidade. Em latim, o vocábulocommunis, que quer dizer “o que é de to<strong>do</strong>s”,lhe atribui o mesmo senti<strong>do</strong>.Portanto, a comunicação e a educaçãocompartilham a mesma base cultural, queserve para estruturar as interações entre aspessoas e entre elas e o mun<strong>do</strong>. Alfaro (1993)destaca que estes intercâmbios podem serobjetivos e principalmente subjetivos. Estarelação comunicativa-cognitiva propicia aconstrução <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da vida, bem como aconsciência da própria existência e da existênciaalheia.3. A educação em estéreoSeguin<strong>do</strong> a mesma linha de raciocínio queaproxima o processo <strong>educativo</strong> ao processocomunicativo, gostaríamos de introduzir nestemomento a idéia deeducação em estéreo . Trata-se de umdesafio que os meios de comunicação demassa lançam à escola, propon<strong>do</strong> um trabalhoem conjunto. Seria a convergência daspráticas comunicativa e educativa numaproposta pedagógica em estéreo.A metáfora <strong>do</strong> cérebro humano elaboradapor Babin e Kouloumdjian (1983) aclaracomo se daria esta convivência entre o sistemaoficial de ensino e os produtos <strong>do</strong>smeios de comunicação de massa. “O funcio<strong>na</strong>mentoem estéreo respeita em parte o quese tem dito sobre as relações entre os hemisfériosdireito e esquer<strong>do</strong>: cada um temsua especificidade, seu ponto de vista, suasingularidade, porém entre um e outro existeuma ponte. E as informações recebidas <strong>na</strong>direita, segun<strong>do</strong> o sistema <strong>do</strong> hemisfériodireito, passam à esquerda. Desta maneira,existe distinção, porém também influênciarecíproca”.A ponte entre os conhecimentos provin<strong>do</strong>s<strong>do</strong> produto da comunicação e os conhecimentosofereci<strong>do</strong>s pela escola é a comunicação,um conceito-chave <strong>na</strong> utilizaçãodidática <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong>. Segun<strong>do</strong> Ferrés(1995), “uma educação em estéreo utilizaráa comunicação, o diálogo e a confrontaçãopara facilitar a passagem das emoções aohemisfério da reflexão e racio<strong>na</strong>lidade. Domono ao estéreo. Do homem fragmenta<strong>do</strong> aohomem completo. Esta formulação pedagógicaatinge o aluno em sua especificidade eem sua integridade. Preenche também aspossibilidades expressivas <strong>do</strong>s meiosaudiovisuais e facilita a unificação <strong>do</strong> ambientecultural. Fi<strong>na</strong>lmente assim concebi<strong>do</strong>,o vídeo didático facilita a coerência entre asensibilidade <strong>do</strong> aluno, a especificidade <strong>do</strong>meio e a evolução <strong>do</strong> sistema social”.E acrescenta: “A educação em estéreotransforma a escola não em um centro deensino, mas de aprendiza<strong>do</strong>. Um centropreocupa<strong>do</strong> não pela simples transmissão deconhecimentos, mas pelo enriquecimento emexperiências de to<strong>do</strong> tipo: conhecimentos,sensações, emoções, atitudes, intuições... Éa oportunidade de o aluno elaborar um projetopróprio de perso<strong>na</strong>lidade por intermédio daintegração de todas as suas faculdades físicase psíquicas mediante a inter-relaçãoconstante com o grupo, com a aula, com aescola, com a sociedade em geral”.Neste momento, cabe uma ressalva sobreo uso <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> como recurso didático<strong>na</strong> educação. Embora estejamos focan<strong>do</strong> esteestu<strong>do</strong> <strong>na</strong> utilização <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> no âmbitoformal, é importante ressaltar sua versatilidade.Seu <strong>potencial</strong> <strong>educativo</strong> também podeser explora<strong>do</strong> <strong>na</strong> modalidade não formal, porexemplo em uma palestra promovida por umaONG ou em um culto religioso, além de jáser parte integrante <strong>do</strong> sistema informal.4. O aprendiza<strong>do</strong> e o <strong>audiovisual</strong>Segun<strong>do</strong> Piaget, a pedra angular <strong>do</strong>processo de aprendiza<strong>do</strong> é a necessidade, que,por sua vez, gera um interesse pelo conhecimento.O passo seguinte é o sujeito tor<strong>na</strong>r-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO377se receptivo à aquisição de um novo conteú<strong>do</strong>.Isto facilita a apreensão da informação,sua interpretação e, por fim, a incorporaçãoà bagagem cultural pré-existente,amplian<strong>do</strong>-a e renovan<strong>do</strong>-a. Nesta situaçãose processa a aprendizagem significativa.Nos casos em que o ensino-aprendiza<strong>do</strong>não é fomenta<strong>do</strong> pela necessidade e pelointeresse, a tendência é que a informação sejaretida meramente por memorização e, tão logonão haja cobrança, caia no esquecimento.Em relação ao processo de aprendiza<strong>do</strong>promovi<strong>do</strong> por uma exibição <strong>audiovisual</strong>,Moraes (2001) afirma que “tanto o cinemaquanto o vídeo podem estimular uma formade conhecimento ao acio<strong>na</strong>r operações articuladasde memória, atenção, raciocínio eimagi<strong>na</strong>ção”. Daí sua eficácia no processoque conduz à aprendizagem significativa, emcontraposição à memorização.Projetan<strong>do</strong> um filme, o professor poderesgatar no íntimo <strong>do</strong> aluno aspectos que nãonecessariamente estariam visíveis, mas quepodem vir à to<strong>na</strong> com as emoções suscitadaspelo vídeo.O <strong>audiovisual</strong> trabalha exatamente nestadireção, tentan<strong>do</strong> seduzir o receptor. Oobjetivo é oferecer ao público algo que elebusca ou de que necessita, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>lheassim satisfação. Pimenta (1995) afirmaque “esta satisfação está associada aoequilíbrio da obra, que é transmiti<strong>do</strong> sensorialmenteao especta<strong>do</strong>r. A partir desta sensação,é possível fruir e depreenderum“significa<strong>do</strong>, conscientemente ou não”.Neste caso, significa<strong>do</strong> quer dizer conhecimento.No contexto escolar, a proposta de introduziro <strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong> sala de aula nãodeve modificar os hábitos arraiga<strong>do</strong>s dedesfrute <strong>do</strong> filme, que é justamente o quegarante uma maior receptividade ao conteú<strong>do</strong>exibi<strong>do</strong>. O desafio é manter a perspectiva<strong>do</strong> divertimento e <strong>do</strong> prazer propicia<strong>do</strong>s pelafruição <strong>do</strong> vídeo, alian<strong>do</strong> tal atividade aocompromisso com a educação.A riqueza desta estratégia reside justamenteem emprestar ao processo educacio<strong>na</strong>l a“motivação afetiva” que o consumo cotidiano<strong>do</strong>s meios de comunicação de massaacio<strong>na</strong> <strong>na</strong>s pessoas, aproveitan<strong>do</strong> sua capacidadede gerar um aprendiza<strong>do</strong> espontâneo.5. A sedução <strong>audiovisual</strong>A obra <strong>audiovisual</strong> é o resulta<strong>do</strong> dainteração de imagens, música, texto fala<strong>do</strong>e efeitos sonoros, forman<strong>do</strong> uma unidadeexpressiva indissolúvel, com ritmo, desenvolvimento,proposta editorial e duração previamenteestabeleci<strong>do</strong>s.Veracidade, magia e consumo são ospilares sobre os quais assenta as bases parasua evolução como indústria, meio de comunicaçãode massa, de arte e também deeducação.Para alcançar tais objetivos, o <strong>audiovisual</strong>lança mão de uma identidade própria, ou seja,de uma linguagem que o tor<strong>na</strong> singular eextremamente sedutor. O diretor de cinemarusso Sergei Eisenstein dizia que o cinemaopera da imagem à emoção e da emoção àidéia. Inspiran<strong>do</strong>-se provavelmente <strong>na</strong> mesmaidéia, o diretor de uma televisão francesa,Claude Santelli, afirmava que “a linguagem<strong>audiovisual</strong> é aquela que comunicaas idéias por meio das emoções”.Portanto, trata-se de uma forma de expressãoque mobiliza a sensibilidade, a intuição,a imagi<strong>na</strong>ção e as emoções com oobjetivo concreto de seduzir.Fischer (1984), estudan<strong>do</strong> as preferências,as críticas e as sugestões de crianças eadultos sobre a televisão, formulou umahipótese sobre o méto<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> pelosprogramas televisivos para exercer o fascíniosobre o especta<strong>do</strong>r: “... tanto o próprio meiocomo as mensagens por ele veiculadas atingiriamprioritariamente a subjetividade daspessoas, mais <strong>do</strong> que a sua capacidadeobjetiva de compreender o real, pela presençaneles <strong>do</strong> mito. A TV permitiria a vivênciaeletrônica das pessoas com <strong>na</strong>rrativas quetratem de questões muito profundas, comoas relacio<strong>na</strong>das com a origem <strong>do</strong> homem, suaangústia diante da vida e da morte. (...) As<strong>na</strong>rrativas <strong>do</strong> tipo romance policial conduzemo público a assistir à luta entre o Beme o Mal, entre o herói e o criminoso. E mais:por um processo inconsciente de projeção eidentificação, o especta<strong>do</strong>r participa <strong>do</strong>mistério e <strong>do</strong> drama, tem o sentimento deestar pessoalmente envolvi<strong>do</strong> numa açãoparadigmática, perigosa, heróica. A obsessão<strong>do</strong> sucesso, tão presente no herói quanto no


378 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcriminoso, é também um comportamentomítico que traduz o desejo obscuro de transcenderos limites da condição huma<strong>na</strong>, como qual o público jovem se identifica enormemente”.Morin (1983) descreve os <strong>do</strong>is mecanismosque levam à participação afetiva. Aprojeção seria o ato de atribuir a alguémcaracterísticas que são nossas. Já a identificaçãoconsistiria no movimento oposto, noqual “o sujeito, em vez de se projetar nomun<strong>do</strong>, absorve-o”. Considera, entretanto,que ambos os mecanismos acontecem simultaneamente.6. Fatores que determi<strong>na</strong>m a eficácia <strong>do</strong><strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong> sala de aulaMuitos psicólogos e educa<strong>do</strong>res têm sededica<strong>do</strong> a investigar o <strong>potencial</strong> <strong>do</strong>s filmescomo instrumento de ensino e aprendiza<strong>do</strong><strong>na</strong> educação formal. Entre eles, poderíamoscitar Hoban Jr. e Van Ormer (1951), quedentro <strong>do</strong> “Programa de Pesquisa de FilmesInstrutivos” da Universidade da Pennsylvania,desenvolveram um estu<strong>do</strong> sobre os fatoresque determi<strong>na</strong>m a eficácia <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong>educação formal. Algumas das conclusões aque chegaram foram as seguintes:• O valor <strong>do</strong>s filmes <strong>educativo</strong>s: aspessoas aprendem mais em menos tempo esão capazes de reter o conteú<strong>do</strong>. Certos filmesfacilitam o pensamento crítico e a soluçãode problemas.• Princípios que determi<strong>na</strong>m a influência<strong>do</strong>s filmes <strong>educativo</strong>s: os filmes têm máximainfluência quan<strong>do</strong> o seu conteú<strong>do</strong> reforça e/ou amplia conhecimentos, atitudes e motivaçõespré-existentes.• Princípio de especificidade: quanto maisespecífica for a determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> público alvoe <strong>do</strong>s objetivos propostos pelo filme, maisos receptores aproveitarão o conteú<strong>do</strong>.• Princípio de relevância: o alcance deum filme é maior quan<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> temrelevância direta para o público alvo.• Princípio de variabilidade da audiência:as reações diante de um filme variamem função de fatores como a alfabetizaçãocinematográfica, a inteligência abstrata, aexperiência prévia em relação ao tema e ospreconceitos.• Princípios das variáveis de ensino:quan<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong> de forma adequada numprojeto didático-pedagógico, o filme tende aser mais eficaz como instrumento de ensinoaprendiza<strong>do</strong>.• Princípio da liderança <strong>do</strong> professor: asqualidades <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r e a forma como eleapresenta o filme tem relação direta com aeficácia <strong>do</strong> processo <strong>educativo</strong>.7. Pedagogia da imagemUma educação <strong>audiovisual</strong> coerente eintegral deve abranger duas dimensões. Aprimeira delas é a pedagogia com a imagem,processo que usa o <strong>audiovisual</strong> como recursodidático. A segunda dimensão é a pedagogiada imagem, que toma o <strong>audiovisual</strong> comoobjeto de análise e sobre a qual nos deteremosa seguir.A pedagogia da imagem consiste emintegrar o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> no programadas instituições de ensino. O objetivo éeducar os alunos para uma aproximaçãocrítica aos meios audiovisuais, como a televisãoe o cinema. Segun<strong>do</strong> Ferrés (1995),“no âmbito da sociedade atual não se podefalar de uma educação integral se os alunosainda não alcançaram uma determi<strong>na</strong>dacapacidade para uma análise crítica dasmensagens emitidas por esses meios”.Obviamente não se trata de converter estaformação numa discipli<strong>na</strong> específica. Estamosfalan<strong>do</strong> de uma proposta que visa àeducação <strong>audiovisual</strong>, de formainterdiscipli<strong>na</strong>r, dentro da escola. Por exemplo,por meio de ofici<strong>na</strong>s.Em relação aos objetivos específicos daalfabetização <strong>audiovisual</strong>, Fischer (1984)explica que “não se trata, evidentemente, deelimi<strong>na</strong>r a fantasia, nem de o especta<strong>do</strong>rpassar a racio<strong>na</strong>lizar tu<strong>do</strong> o que vê, nem aindade controlar emoções, projeções e identificaçõesdiante da TV. O que se propõe, sim,é que ele aprenda a usufruir mais criativamentedas mensagens que lhe chegam, sen<strong>do</strong>capaz de vivê-las em vários níveis, desde suarecepção pura e simples até o exercício críticoe valorativo sobre elas”.Mas para desenvolver a pedagogia daimagem, ou seja, tomar o <strong>audiovisual</strong> comomatéria de estu<strong>do</strong>, o professor precisa estar


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO379apto para a tarefa. Sua formação deve abarcarconhecimentos específicos da linguagem<strong>audiovisual</strong>, mecanismos de funcio<strong>na</strong>mento<strong>do</strong>s meios de comunicação de massa e noçõesdidáticas de como educar os alunos nesteâmbito.Por exemplo, após a exibição de um filme,o professor não deveria deixar de comentaralguns conceitos básicos da realização de umproduto <strong>audiovisual</strong>. Entre eles, o papel <strong>do</strong>diretor <strong>na</strong>s escolhas <strong>do</strong> enfoque temático,entrevista<strong>do</strong>s, enquadramentos, ilumi<strong>na</strong>ção,enfim, de to<strong>do</strong>s os elementos que utiliza paraimprimir uma visão própria de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>aspecto da realidade.Em relação ao mito da objetividade,Colombo (1976) afirma que “no mun<strong>do</strong> daimagem, a objetividade é só uma ilusão, poiso realiza<strong>do</strong>r nunca é neutro e, com suaintervenção (enquadramento, angulação,movimentos de câmera, ritmo <strong>do</strong> programa)impõe uma interpretação da realidade. Dessemo<strong>do</strong>, a simples presença da câmera alteraa realidade sobre a qual atua”.É importante ficar claro para o aluno queo filme de ficção, o comercial de televisão,o <strong>do</strong>cumentário, as reportagens e as notícias<strong>do</strong> telejor<strong>na</strong>l são recortes <strong>do</strong> real. Naspalavras de Baggaley e Duck (1982), osespecta<strong>do</strong>res são leva<strong>do</strong>s a acreditar que estãoreceben<strong>do</strong> informações, quan<strong>do</strong>, <strong>na</strong> realidade,estão receben<strong>do</strong> posicio<strong>na</strong>mentos e opiniõessobre a verdade. O professor pode, devee precisa ser um <strong>do</strong>s agentes dadesmistificação da imagem como representaçãofiel da realidade.8. Conclusão: Linguagem Audiovisual eDidatismoQuanto à missão <strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong> <strong>na</strong>sescolas, Ferrés (1995) afirma: “O programadidático basea<strong>do</strong> no vídeo pode ser simplesmenteum meio de informação. O é comfreqüência. Porém pode se converter tambémem um excelente instrumento para que oaluno aprenda a formular perguntas, para queaprenda a expressar-se, para que aprenda aaprender”.Mas, a fim de que surja esta motivaçãoa partir <strong>do</strong> filme didático, realiza<strong>do</strong>resaudiovisuais e professores devem unir forças.Do contrário, sua utilização ape<strong>na</strong>scontribuirá para a formação de “especta<strong>do</strong>resde televisão com a boca aberta e os olhoslacrimejantes, que <strong>na</strong>da mais são que ossucessores <strong>do</strong> leitor passivo, silencioso,solitário, cuja cabeça se move para a direitae para esquerda ao longo da linha impressa”.Quanto à parcela de esforço <strong>do</strong> professorno senti<strong>do</strong> de promover o aprendiza<strong>do</strong> pormeio de atividades audiovisuais, esta já foidiscutida nos intens anteriores (6 e 7). Emrelação à tarefa <strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>res, discutiremossua contribuição a seguir.Consideramos que o primeiro grandedesafio para a produção de filmes didáticosconsiste em encontrar uma perso<strong>na</strong>lidadeprópria. “Sempre um pouco envergonha<strong>do</strong> denão ser o autêntico cinema – no senti<strong>do</strong> decinema ficção ou <strong>na</strong>rrativo -, o filme pedagógicoou se assemelha ao cinema de ficçãoe aceita não ser didático para não ser tedioso,ou dá as costas ao cinema de ficção e aceitaser tedioso para ter certeza de que é didático”.Pimenta (1995) também faz uma distinçãoque pode ser útil para nossa análise. “Nofilme didático, a preocupação com a informação,com a lógica, com a cognição é quaseexclusiva. Já no filme de lazer, o objetivoprincipal é seduzir o público através dasimagens, acessan<strong>do</strong> primeiramente o sistemasensorial e depois chegan<strong>do</strong> ao cognitivo.Quan<strong>do</strong> o filme didático também consegueseduzir, ele pode e deve ser utiliza<strong>do</strong>”.Portanto, está claro que o desafio paraa produção didática consiste em seduzir oaluno, que, além de educan<strong>do</strong>, é também umespecta<strong>do</strong>r acostuma<strong>do</strong> aos efeitos de sonse imagens ultra explora<strong>do</strong>s por Hollywood.Desconsiderar a importância da interaçãoentre afetividade e razão para se produzir oconhecimento, significa conde<strong>na</strong>r a produçãodidática ao fracasso. Em relação a esta crise,Babin e Kouloumdjian (1983) acrescentamcomo causa “a dificuldade que manifestamos homens de Gutenberg, particularmente osintelectuais, em admitir a validade da imagi<strong>na</strong>çãoou da afetividade nos processos deconhecimento e ensino”.Desde uma perspectiva <strong>audiovisual</strong>, nãoé aceitável um vídeo que, de um la<strong>do</strong>,comunique as emoções (por meio de umfun<strong>do</strong> musical sugestivo ou de imagensesteticamente belas) e, de outro, as idéias(discurso verbal).


380 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVO programa didático ideal comunica osconteú<strong>do</strong>s ao mesmo tempo em que estimulaa imagi<strong>na</strong>ção e provoca sensações. Segun<strong>do</strong>Ferrés (1995), o <strong>audiovisual</strong> não deve transmitirsomente informações <strong>do</strong> tipo cognitivo,mas também emoções e experiências. “Sãoas emoções, suscitadas pela interação deimagens, música, palavras e efeitos de som,as que estão carregadas de senti<strong>do</strong> ou designifica<strong>do</strong>. Jean-Paul Sarte o expressavamuito bem quan<strong>do</strong> escrevia em L’Imagi<strong>na</strong>ire:não seria a imagem uma síntese da afetividadee <strong>do</strong> saber?”. A seguir, elaboramos um quadroexplicativo <strong>do</strong> processo descrito por Ferrés.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO381BibliografiaFerrés, Joan (1995): Vídeo e Educação.Porto Alegre, Artes Médicas Sul Ltda.Franco, M. da Silva (1987): EscolaAudiovisual. Tese <strong>do</strong>utoral. São Paulo,Universidade de São Paulo.Moraes, R. A. S. Victor (2001): Umarepresentação videográfica <strong>na</strong> arquitetura.Dissertação de mestra<strong>do</strong>. São Paulo, Universidadede São Paulo.Pimenta, M. A. de Almeida (1995): Asmídias <strong>na</strong> escola: comunicação e aprendiza<strong>do</strong>.Dissertação de mestra<strong>do</strong>. São Paulo,Universidade de São Paulo.Rocher, Guy (1996): Introducción a lasociología general. Barcelo<strong>na</strong>, Herder.Vargas, German (2002): PrácticasEducativas y Procesos de Desarrollo en losAndes. Estudio Etnográfico de la ComunidadQuechua de Aramasí – Provincia Tapacarí,Bolivia. Tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>. Santiago deCompostela, Universidade de Santiago deCompostela._______________________________1Universidade de São Paulo - Escola deComunicação e Artes.


382 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO383Comunicação/Educação: Um campo em acçãoMaria Aparecida Baccega 1Evidencia-se, hoje, uma grande disputa entreos meios de comunicação, de um la<strong>do</strong>, e astradicio<strong>na</strong>is agências de socialização – escolae família –, de outro. Ambos os la<strong>do</strong>s pretendemter a hegemonia <strong>na</strong> influência da formaçãode valores, <strong>na</strong> condução <strong>do</strong> imaginário e<strong>do</strong>s procedimentos <strong>do</strong>s indivíduos/sujeitos.Esse conjunto de relações que se estabelecemno imaginário de uma dada cultura,de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo, é uma construçãocoletiva, <strong>na</strong> qual se baseia a memória socialdaquele grupo, e a qual a comunidade procuramanter. Essa memória coletiva é quevai respaldar o mo<strong>do</strong> que os indivíduos/sujeitos se vêem no confronto com o outro,a ação deles em relação aos demais e emrelação às instituições. As relações imagéticastêm como base os corpos físicos.“To<strong>do</strong> corpo físico pode ser percebi<strong>do</strong>como símbolo (....). E toda imagem artísticosimbólicaocasio<strong>na</strong>da por um objeto físicoparticular já é um produto ideológico. Converte-se,assim, em signo o objeto físico, oqual, sem deixar de fazer parte da realidadematerial, passa a refletir e a refratar, numacerta medida, uma outra realidade.” 2É nesse âmbito de ficção/realidade quea disputa se institui, que a busca dahegemonia se dá. Aí se constrói o campo dacomunicação/educação.Nesse campo se constroem senti<strong>do</strong>snovos, renova<strong>do</strong>s, ou ratificam-se mesmossenti<strong>do</strong>s com roupagens novas, sempre interrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>sà dinâmica da sociedade, lugarúltimo e primeiro onde os senti<strong>do</strong>s verdadeiramentese costroem.A sociedade funcio<strong>na</strong> no bojo de umnúmero infindável de discursos que se cruzam,se esbarram, se anulam, secomplementam: dessa dinâmica <strong>na</strong>scem osnovos discursos, os quais ajudam a alteraros significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s outros e vão alteran<strong>do</strong>seus próprios significa<strong>do</strong>s, nos momentos emque a materialidade <strong>do</strong> discurso-texto quecircula é captada pelo enunciatário/receptor.Este lê/interpreta os discursos a partir <strong>do</strong>diálogo com os demais discursos sociais. Essadinâmica ocorre tanto em nível sincrônicocomo diacrônico. As permanências históricas,muitas vezes sob a forma de mitos,provérbios, estereótipos, valores “positivos”ou “negativos”, também constituem parteimportante desse diálogo entre os discursos.O universo de cada indivíduo é forma<strong>do</strong>pelo diálogo desses discursos, nos quais seucotidiano está inseri<strong>do</strong>.E é a partir dessamaterialidade discursiva que se constitui asubjetividade. Logo, a subjetividade <strong>na</strong>damais é que o resulta<strong>do</strong> da polifonia que cadaindivíduo carrega.1. O campo da comunicaçãoO campo da comunicação constitui-se apartir de uma multiplicidade de discursos queorigi<strong>na</strong>m e configuram a unicidade <strong>do</strong> discursoda comunicação. O comunica<strong>do</strong>r é oindivíduo/sujeito que o assume. Enuncia<strong>do</strong>r/enunciatário de to<strong>do</strong>s os discursos em constanteembate <strong>na</strong> sociedade, ele é o media<strong>do</strong>rda informação coletiva.Se, por um la<strong>do</strong>, o comunica<strong>do</strong>r tem acondição de enuncia<strong>do</strong>r de um discursoespecífico, ao produzi-lo ele estará, <strong>na</strong> verdade,reelaboran<strong>do</strong> a pluralidade de discursosque recebe: ou seja, estará <strong>na</strong> condiçãode enunciatário. Ele é, portanto, enuncia<strong>do</strong>r/enunciatário.O mesmo ocorre com o indivíduo/sujeitoao qual se desti<strong>na</strong> o produto: enunciatário<strong>do</strong> discurso da comunicação, este indivíduo/sujeito é também enunciatário de to<strong>do</strong>s osoutros discursos sociais que circulam no seuuniverso, os quais ele mobiliza no processoda leitura/interpretação. Como a comunicaçãosó se efetiva quan<strong>do</strong> ela é apropriadae se tor<strong>na</strong> fonte de outro discurso, <strong>na</strong> condiçãode enunciatário está presente a condiçãode enuncia<strong>do</strong>r. Ele é, portanto,enunciatário/enuncia<strong>do</strong>r.


384 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVUm <strong>do</strong>s desafios está conti<strong>do</strong> nessadinâmica: o campo da comunicação constitui-sede <strong>do</strong>is pólos básicos, que seintercambiam - de um la<strong>do</strong>, enuncia<strong>do</strong>r/enunciatário e, de outro, enunciatário/enuncia<strong>do</strong>r.Ten<strong>do</strong> que incorporar o discurso <strong>do</strong>svários outros que é cada um, resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>svários outros universos, compete ao discursoda comunicação procurar os “fios ideológicos”(expressão de Bakhtin) com os quaisconduzirá a inter-relação entre eles, tecen<strong>do</strong>se.Sua trama implica a dialogicidade, presente<strong>na</strong> polifonia, numa manifestação dasrelações macroestruturais com a vida cotidia<strong>na</strong>.O eu plural deve tor<strong>na</strong>r-se claro e manifestaressa clareza para o outro; fazeraflorar a importância <strong>do</strong>s indivíduos/sujeitosde ambos os pólos, <strong>na</strong> configuração das verdades,<strong>do</strong>s valores que permeiam o imaginário,<strong>do</strong>s comportamentos que estão presentesno cotidiano das pessoas, <strong>do</strong>s grupos, dasclasses sociais. São essas verdades, valorese comportamentos que, forman<strong>do</strong> a consciênciasocial, ideológica e estética, vãoatualizar as manifestações <strong>do</strong>s produtos daindústria cultural.O estu<strong>do</strong> desse campo incorpora osresulta<strong>do</strong>s das ciências, sobretu<strong>do</strong> as sociais.No processo mesmo de incorporação, temosum primeiro momento de metassignificação,vez que cada ciência se desloca de seu<strong>do</strong>mínio de origem, com suas configurações,e passa a fazer parte de um outro. Mas háoutros processos, configuran<strong>do</strong> outros níveisde metassignificação: ao compor o novocampo, cada ciência vai encontrar-se comoutras que também aí figuram <strong>na</strong>s mesmascondições, ou seja, <strong>na</strong> condição demetassignificação, e vai dialogar com elas,reconstruin<strong>do</strong>-se, cada uma delas, nessainterdiscursividade. A interdiscursividadeimplica o diálogo com os outros discursos,ao mesmo tempo que revela a especificidade<strong>do</strong> discurso construí<strong>do</strong> nesse processo.A Sociologia, a História, a Filosofia, aLinguagem etc. ganham outra especificidadeno diálogo interdiscursivo. Essaespecificidade será, agora, não mais a quese prende ao <strong>do</strong>mínio de onde provêm, masaquela que, no confronto de cada ciência comas demais, permite-lhe distinguir-se.Desse mo<strong>do</strong>, a apropriação das ciênciassociais para a constituição desse campo sedá num processo espirala<strong>do</strong> demetassignificações, que redundam, obviamente,em novas posturas meto<strong>do</strong>lógicas, a partirdas quais se poderá dar conta da efetividade<strong>do</strong>s processos comunicacio<strong>na</strong>is.2. O campo comunicação/educaçãoAí está a base da construção <strong>do</strong> campocomunicação/educação como novo espaçoteórico capaz de fundamentar práticas deformação de sujeitos conscientes. Trata-se detarefa complexa, que exige o reconhecimento<strong>do</strong>s meios de comunicação como um outrolugar <strong>do</strong> saber, atuan<strong>do</strong> juntamente com aescola e outras agências de socialização.O encontro comunicação/educação levaa nova metassignificação, ressemantizan<strong>do</strong> ossenti<strong>do</strong>s, exigin<strong>do</strong>, cada vez mais, a capacidadede pensar criticamente a realidade, deconseguir selecio<strong>na</strong>r informação (disponívelem número cada vez maior graças àtecnologia) e de inter-relacio<strong>na</strong>r conhecimentos.O desafio, hoje, é a interpretação <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> em que vivemos, uma vez que asrelações imagéticas estão carregadas dapresença da mídia. Trata-se de um mun<strong>do</strong>construí<strong>do</strong> pelos meios de comunicação, queselecio<strong>na</strong>m o que devemos conhecer, os temasa serem pauta<strong>do</strong>s para discussão e, mais queisso, o ponto de vista a partir <strong>do</strong> qual vamoscompreender esses temas. Eles se constituemem educa<strong>do</strong>res privilegia<strong>do</strong>s, dividin<strong>do</strong> asfunções antes desti<strong>na</strong>das à escola. E têmleva<strong>do</strong> vantagem.O campo da comunicação/educação é um<strong>do</strong>s desafios maiores da contemporaneidade.Não se reduz a fragmentos, como a eter<strong>na</strong>discussão sobre a adequação da utilização dastecnologias no âmbito escolar, quer emescolas com aparato tecnológico de primeiralinha quer <strong>na</strong>s escolas de “pés no chão”, ten<strong>do</strong>em vista que a edição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> realizadapelos meios está presente em alunos, professores,cidadãos. Sua complexidade obrigaa inclusão de temas como mediações,criticidade, informação e conhecimento, circulaçãodas formas simbólicas, ressignificaçãoda escola e <strong>do</strong> professor, recepção, entremuitos outros.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO3853. Do mun<strong>do</strong> edita<strong>do</strong> à construção <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>Hoje, o mun<strong>do</strong> é trazi<strong>do</strong> até o horizontede nossa percepção, até o universo de nossoconhecimento. Como não podemos estarpresente em to<strong>do</strong>s os acontecimentos, emto<strong>do</strong>s os lugares, temos que confiar nosrelatos. O mun<strong>do</strong> que nos é trazi<strong>do</strong> pelosrelatos, que assim conhecemos e a partir <strong>do</strong>qual refletimos, é um mun<strong>do</strong> que nos chegaedita<strong>do</strong>, ou seja, ele é redesenha<strong>do</strong> numtrajeto que passa por cente<strong>na</strong>s, às vezesmilhares de mediações, até que se manifesteno rádio, <strong>na</strong> televisão, no jor<strong>na</strong>l. Ou <strong>na</strong> fala<strong>do</strong> vizinho e <strong>na</strong>s conversas <strong>do</strong>s alunos.São essas mediações – instituições epessoas – que selecio<strong>na</strong>m o que vamos ouvir,ver ou ler; que fazem a montagem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>que conhecemos.Aqui está um <strong>do</strong>s pontos básicos dareflexão sobre o espaço onde se encontramComunicação e Educação: que o mun<strong>do</strong> éedita<strong>do</strong> e assim ele chega a to<strong>do</strong>s nós; quesua edição obedece a interesses de diferentestipos, sobretu<strong>do</strong> econômicos, e que, dessemo<strong>do</strong>, acabamos por perceber até a nossaprópria realidade <strong>do</strong> jeito que ela foi editada.Editar é, portanto, construir uma realidadeoutra, a partir de supressões ou acréscimosem um acontecimento. Ou, muitas vezes,ape<strong>na</strong>s pelo destaque de uma parte <strong>do</strong> fatoem detrimento de outra.Editar é reconfigurar alguma coisa, dan<strong>do</strong>-lhenovo significa<strong>do</strong>, atenden<strong>do</strong> a determi<strong>na</strong><strong>do</strong>interesse, buscan<strong>do</strong> um determi<strong>na</strong><strong>do</strong>objetivo, fazen<strong>do</strong> valer um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> pontode vista.Essa realidade outra que a edição constrói,reconfigura-se no enunciatário/receptor,com seu universo cultural e dinâmica próprios.Esse é o percurso da comunicação,desde a mais democrática, a que usa ape<strong>na</strong>so suporte <strong>do</strong> aparelho fo<strong>na</strong><strong>do</strong>r, até aquela quea tecnologia possibilita: o relato, em temporeal, de fatos (escolhi<strong>do</strong>s entre muitos) queacontecem em espaços distantes, <strong>na</strong> Terra ouno espaço.Se o mun<strong>do</strong> a que temos acesso é este,o edita<strong>do</strong>, é nele, com ele e para ele quese impõe construir a cidadania. O desafio,então, é como trabalhar esse mun<strong>do</strong> edita<strong>do</strong>,presente no cotidiano, que penetra ardilosamenteem nossas decisões e que, pela persuasãoque o caracteriza, assume o lugar de“verdade” única.Eis outro ponto importante no processode reflexão sobre o campo Comunicação/Educação: já não se trata mais de discutirse devemos ou não usar os meios no processoeducacio<strong>na</strong>l ou de procurar estratégiasde educação para os meios; trata-se deconstatar que eles são os educa<strong>do</strong>res primeiros,pelos quais passa a construção da cidadania.É desse lugar que devemos nosrelacio<strong>na</strong>r com eles. E é esse o lugar ondetemos que esclarecer qual cidadania nosinteressa.Afi<strong>na</strong>l, são eles a fonte primeira que educaa to<strong>do</strong>s os educa<strong>do</strong>res: pais, professores,agentes de comunidade, etc. Precisamosprocurar entendê-los bem, saber ler criticamenteos meios de comunicação, para conseguirmospercorrer o trajeto que vai <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> que nos entregam pronto, edita<strong>do</strong>, àconstrução <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que permite a to<strong>do</strong>so pleno exercício da cidadania.Essa cultura da mídia se manifesta emum conjunto articula<strong>do</strong> e diversifica<strong>do</strong> deprodutos (pólo <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r/emissor) queentram em relação com o conjunto articula<strong>do</strong>e diversifica<strong>do</strong> de vivências <strong>do</strong>enunciatário/receptor, cujo universo de valores,posto em movimento, ativa os significa<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s produtos. Na verdade, a culturada mídia não está no enuncia<strong>do</strong>r/emissor, nãoestá no enunciatário/receptor: está no territórioque se cria nesse encontro, geran<strong>do</strong>significa<strong>do</strong>s particulares, que, se contêminterseção com cada um <strong>do</strong>s pólos, não selimitam a nenhum deles. Caso contrário, amídia seria ape<strong>na</strong>s veículo de significa<strong>do</strong>s enão construtora de significa<strong>do</strong>s. Sua complexidadereside exatamente no fato de,construin<strong>do</strong> significa<strong>do</strong>s no território queinclui cada um <strong>do</strong>s pólos – enuncia<strong>do</strong>r/emissor - enunciatário/receptor – ela exigirpermanentemente a dialética entre o já vistoe o por ver, ou seja, a novidade que respondepelas e alimenta as mudanças contínuas deidentidade versus a estabilidade que cadagrupo social busca em sua dinâmica. O únicolimite é o horizonte da formação social <strong>na</strong>qual estão e que inclui tanto o já manifestoquanto o ainda virtualmente conti<strong>do</strong> comopossibilidades a serem realizadas.


386 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPor essas e incontáveis outras razões,podemos perceber como fundamental aconstrução <strong>do</strong> campo comunicação/educação.Ele inclui, mas não se resume a, educaçãopara os meios, leitura crítica <strong>do</strong>s meios, usoda tecnologia em sala de aula, formação <strong>do</strong>professor para o trato com os meios etc. etc.Ele se rege, sobretu<strong>do</strong>, pela construção dacidadania, pela inserção neste mun<strong>do</strong> edita<strong>do</strong>,com o qual to<strong>do</strong>s convivemos, no qualto<strong>do</strong>s vivemos e que queremos modificar.O campo comunicação/educação constróisenum movimento que percorre o to<strong>do</strong> eas partes, em intercâmbio permanente. Ouseja: <strong>do</strong> território digital a arte-educação, demeio ambiente a educação a distância, entremuitos outros tópicos, sem esquecer os váriossuportes, as várias linguagens – televisão,rádio, teatro, cinema, jor<strong>na</strong>l etc. Tu<strong>do</strong> percorri<strong>do</strong>com olhos da congregação dessasagências de formação: a escola e os meios,sempre no senti<strong>do</strong> da construção da cidadania.4. Cenários: Da construção ao conhecimentoCada época vivida pela humanidade temcaracterísticas próprias, apresentan<strong>do</strong>,dialeticamente, aspectos positivos e negativos.As distinções entre as épocas podem sermarcadas, entre outros aspectos, pela formaçãoe expansão <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s, que determinoupólos de concentração, basea<strong>do</strong>s <strong>na</strong> buscapermanente de acumulação <strong>do</strong> capital. OtávioIanni, em “As economias-mun<strong>do</strong>”, apontaas diversidades e desigualdades com asquais cada totalidade se constitui. Segun<strong>do</strong>o autor, cada época “é um to<strong>do</strong> em movimento,heterogêneo, integra<strong>do</strong>, tenso eantagônico. É sempre problemático, atravessa<strong>do</strong>pelos movimentos de integração e fragmentação.Suas partes, compreenden<strong>do</strong> <strong>na</strong>çõese <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidades, grupos e classessociais, movimentos sociais e parti<strong>do</strong>s políticos,conjugam-se de mo<strong>do</strong> desigual, articula<strong>do</strong>e tenso, no âmbito <strong>do</strong> to<strong>do</strong>. Simultaneamente,esse to<strong>do</strong> confere outros e novossignifica<strong>do</strong>s e movimentos às partes. Anulam-see multiplicam-se os espaços e ostempos, já que se trata de uma totalidadeheterogênea, contraditória, viva, em movimento.”3Fredric Jameson aponta três perío<strong>do</strong>s deexpansão capitalista, caracteriza<strong>do</strong>s por rupturas“tecnológicas”. Segun<strong>do</strong> ele,“houve três momentos fundamentaisno capitalismo, cada um marcan<strong>do</strong>uma expansão dialética com relaçãoao estágio anterior. O capitalismo demerca<strong>do</strong>, o estágio <strong>do</strong> monopólio ou<strong>do</strong> imperialismo, e o nosso, erroneamentechama<strong>do</strong> de pós-industrial,mas que poderia ser mais bem desig<strong>na</strong><strong>do</strong>como o <strong>do</strong> capital multi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.(...) Esse capitalismo tardio, oumulti<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, ou de consumo, longede ser inconsistente com a grandeanálise <strong>do</strong> século XIX de Marx,constitui, ao contrário, a mais puraforma de capital que jamais existiu,uma prodigiosa expansão <strong>do</strong> capitalque atinge áreas até então fora <strong>do</strong>merca<strong>do</strong>”.Nessa fase, segun<strong>do</strong> o autor, deve-seressaltar, a “ascensão das mídias e da indústriada propaganda”. 4Resulta<strong>do</strong> da fase contemporânea <strong>do</strong>capital, a cultura manifesta fragmentação eglobalização num processo decomplementação que se dá no âmbito <strong>do</strong>merca<strong>do</strong>. Como lembra Martín-Barbero 5 , oglobal é o espaço novo produzi<strong>do</strong> pelomerca<strong>do</strong> e pelas tecnologias, que dependemdele para sua permanente expansão.O mun<strong>do</strong>, que sempre esteve em permanentemudança, hoje tem altamente multiplicadaa rapidez dessas mudanças, devi<strong>do</strong> aoavanço das tecnologias. É esse o cenário quepossibilita o fortalecimento das corporaçõesinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e conseqüente ruptura dasfronteiras <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, atingin<strong>do</strong> “áreas atéentão fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>”.Essa realidade tem como sustentáculo osmeios de comunicação, media<strong>do</strong>res privilegia<strong>do</strong>sentre nós e o mun<strong>do</strong>, e que cumpremo papel de”costurar as diferentes realidades.São os meios de comunicação que divulgam,em escala mundial, informações (fragmentadas)hoje tomadas como conhecimento,construin<strong>do</strong>, desse mo<strong>do</strong>, o mun<strong>do</strong> que conhecemos.Trata-se, <strong>na</strong> verdade, <strong>do</strong> processometonímico – a parte escolhida para serdivulgada, para ser conhecida, vale pelo to<strong>do</strong>.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO387É como se “o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>” fosse constituí<strong>do</strong>ape<strong>na</strong>s por aqueles fatos/ notícias que chegamaté nós.Consideramos, porém, que informaçãonão é conhecimento. Poderá até ser um passoimportante. O conhecimento implica crítica.Ele se baseia <strong>na</strong> inter-relação e não <strong>na</strong>fragmentação. To<strong>do</strong>s temos observa<strong>do</strong> queessa troca <strong>do</strong> conhecimento pela informaçãotem resulta<strong>do</strong> numa diminuição da criticidade.O conhecimento é um processo que prevêa condição de reelaborar o que vem comoum “da<strong>do</strong>”, possibilitan<strong>do</strong> que não sejamosmeros reprodutores; inclui a capacidade deelaborações novas, permitin<strong>do</strong> reconhecer,trazer à superfície o que ainda é virtual, oque, <strong>na</strong> sociedade, está ainda mal desenha<strong>do</strong>,com contornos borra<strong>do</strong>s. Para tanto, o conhecimentoprevê a construção de uma visãoque totalize os fatos, inter-relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> todasas esferas da sociedade, perceben<strong>do</strong> queo que está acontecen<strong>do</strong> em cada uma delasé resulta<strong>do</strong> da dinâmica que faz com quetodas interajam, dentro das possibilidadesdaquela formação social, <strong>na</strong>quele momentohistórico; permite perceber, enfim, que osdiversos fenômenos da vida social estabelecemsuas relações ten<strong>do</strong> como referência asociedade como um to<strong>do</strong>. Para tanto, podemosperceber, as informações – fragmentadas– não são suficientes.Os meios de comunicação, sobretu<strong>do</strong> atelevisão, ao produzirem essas informações,transformam em verdadeiros espetáculos osacontecimentos selecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s para se tor<strong>na</strong>remnotícias. Já <strong>na</strong> década de 60, Guy Debordpercebia “<strong>na</strong> vida contemporânea uma ‘sociedadede espetáculo’, em que a forma maisdesenvolvida de merca<strong>do</strong>ria era antes aimagem <strong>do</strong> que o produto material concreto”,e que, “<strong>na</strong> segunda metade <strong>do</strong> séculoXX, a imagem substituiria a estrada de ferroe o automóvel como força motriz da economia”.6Por sua condição de “espetáculo”, pareceque o mais importante <strong>na</strong> informação passaa ser aquilo que ela tem de atração, deentretenimento. A informação, que pareceocupar o lugar desse conhecimento, tornouse,ela própria, a base para a reprodução <strong>do</strong>sistema, uma merca<strong>do</strong>ria a mais em circulaçãonessa totalidade. A confusão entreconhecimento e informação, entre totalidadee fragmentação leva à concepção de que ainformação veiculada pelos meios é suficientepara a formação <strong>do</strong> cidadão. Na verdade,o conhecimento continua a ser condiçãoindispensável para a crítica.5. Ressignificação da escola: a circulaçãoda ideologiaA presença, em maior ou menor intensidadede acor<strong>do</strong> com a classe social, datecnologia <strong>na</strong> sociedade, e particularmente <strong>na</strong>escola, é constatável. Da<strong>do</strong>s recentes indicamque existem hoje alguns milhões deusuários da Internet em toda a AméricaLati<strong>na</strong>, <strong>do</strong>s quais a maioria no Brasil. Alémdisso, é preciso lembrar, entre outros, asgrandes redes inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de televisão, oalcance <strong>do</strong> rádio, a velocidade da divulgaçãodas informações selecio<strong>na</strong>das pelas agênciasinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de notícias. Tu<strong>do</strong> isso pede umareflexão sobre as representações, os valores,a ideologia que circulam <strong>na</strong> rede e influenciamos novos sujeitos que resultam dessarealidade e que trabalham, em conjunto, <strong>na</strong>instituição escolar, sejam professores, alunos,funcionários, pais e outros interessa<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>seles se congregam em torno de objetivoscomuns. São to<strong>do</strong>s participantes de uma dadarealidade social, caracterizada por uma ideologia.“A ideologia é uma das formas depráxis social: aquela que, partin<strong>do</strong> daexperiência imediata <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s davida social, constrói abstratamente umsistema de idéias ou representaçõessobre a realidade” 7 .A sociedade que forma nossos alunos enos forma produz as representações, as formassimbólicas pelas quais se rege, que se transformamem bens simbólicos no processo decirculação, o qual se dá de acor<strong>do</strong> com ascaracterísticas da formação socioeconômica.Aliás, as formas simbólicas são próprias <strong>do</strong>ser humano: a língua, criação que facultouao homem projetar, é um bom exemplo. Oque caracteriza a contemporaneidade não é,portanto, a circulação de bens simbólicos, masa grande mediação, resulta<strong>do</strong> da tecnologia,que se interpôs nessa circulação: os meiosde comunicação, os quais permitem a forma-


388 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVção de redes planetárias, <strong>na</strong>s quais circulamvalores, que atendem a interesses determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s.Esse é um <strong>do</strong>s aspectos da ideologia.Segun<strong>do</strong> Chauí, “a ideologia é um conjuntológico, sistemático e coerente de representações(idéias e valores) e de normasou regras (de conduta) que indicam e prescrevemaos membros da sociedade o quedevem pensar, o que devem valorizar, o quedevem sentir e como devem sentir, o quedevem fazer e como devem fazer. Ela é,portanto, um corpo explicativo (representações)e prático (normas, regras, preceitos) decaráter prescritivo, normativo, regula<strong>do</strong>r, cujafunção é dar aos membros de uma sociedadedividida em classes uma explicação racio<strong>na</strong>lpara as diferenças sociais, políticas e culturais,sem jamais atribuir tais diferenças àdivisão da sociedade em classes, a partir dasdivisões <strong>na</strong> esfera da produção. Pelo contrário,a função da ideologia é a de apagar asdiferenças como as de classes e de forneceraos membros da sociedade o sentimento daidentidade social, encontran<strong>do</strong> certosreferenciais identifica<strong>do</strong>res de to<strong>do</strong>s e parato<strong>do</strong>s, como, por exemplo, a Humanidade,a Liberdade, a Igualdade, a Nação ou oEsta<strong>do</strong>” 8 .No momento em que se fala tanto daressignificação <strong>do</strong> papel da escola e <strong>do</strong>professor, a partir da intervenção datecnologia, é fundamental nos aproximarmosdas questões referentes à ideologia que circulanos meios de comunicação, <strong>na</strong>s redesplanetárias e, verifican<strong>do</strong> essa circulação,procurar saber como a ideologia opera nessarealidade.5.1 Ideologia e construção de construçãode senti<strong>do</strong>Ao tratar de ideologia, não podemosprescindir de buscar o lugar social da produçãodas formas simbólicas que circulam<strong>na</strong>s redes, o lugar social <strong>do</strong>s receptores dessasformas e as formações sociais <strong>na</strong>s quaisambos se encontram.Segun<strong>do</strong> Thompson, “o conceito de ideologiapode ser usa<strong>do</strong> para se referir àsmaneiras como o senti<strong>do</strong> (significa<strong>do</strong>) serve,em circunstâncias particulares, para estabelecere sustentar relações de poder que sãosistematicamente assimétricas – que eu chamareide ‘relações de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção’. Ideologia,falan<strong>do</strong> de uma maneira mais ampla, é senti<strong>do</strong>a serviço <strong>do</strong> poder. Conseqüentemente, oestu<strong>do</strong> da ideologia exige que investiguemosas maneiras como o senti<strong>do</strong> é construí<strong>do</strong> eusa<strong>do</strong> pelas formas simbólicas de vários tipos,desde as falas lingüísticas cotidia<strong>na</strong>s até àsimagens e aos textos complexos” ”9 .A construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> das formassimbólicas está diretamente relacio<strong>na</strong>da àformação socioeconômica. E é só aí quepodemos verificar em que direção elas estão,pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente, sen<strong>do</strong> usadas: se <strong>na</strong>manutenção <strong>do</strong> status quo, servin<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>spara perpetuar as relações de poder, se <strong>na</strong>sua modificação, trilhan<strong>do</strong> o caminho damudança dessas relações de poder. Afi<strong>na</strong>l,diz Thompson,“as formas simbólicas, ou sistemassimbólicos, não são ideológicos emsi mesmos: se eles são ideológicos,e o quanto são ideológicos, dependedas maneiras como eles são usa<strong>do</strong>se entendi<strong>do</strong>s em contextos sociaisespecíficos” 10 .Neste momento em que o mun<strong>do</strong> estádesfralda<strong>do</strong> em um número enorme de temposhistóricos e culturais, neste momento emque as produções, sobretu<strong>do</strong> no âmbito datelevisão, viajam pelo mun<strong>do</strong> e atingem apraticamente todas as sociedades nesses tempos/espaçosdíspares, muitas vezes em temporeal, pode-se perceber a divulgação, sob formaprescritiva, desse conjunto de idéias e valores,de normas ou de regras, que procuram darsuas próprias explicações para as diferençassociais, políticas e culturais, objetivan<strong>do</strong> oapagamento dessas diferenças, como lembraChauí. Manter, por exemplo, uma emissorade televisão no ar durante algumas horas <strong>do</strong>dia, e mais ainda quan<strong>do</strong> se trata de uma gradede programação para 24 horas, é tarefahercúlea que exige um trânsito muito grandede produções, o que aponta para a permanênciadesse procedimento.Não se nega que há diversidade no póloda produção e que é mais extensa ainda adiversidade <strong>do</strong> entendimento, da interpretaçãoda recepção dessas representações.Cabe à Escola – e aí um <strong>do</strong>s aspectosda ressignificação de seu papel – desvelar


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO389como opera a ideologia, ensi<strong>na</strong>r a ler adequadamenteas formas simbólicas que circulam<strong>na</strong> mídia, conforman<strong>do</strong> a realidade.Recepção: Nova perspectiva nos estu<strong>do</strong>s decomunicaçãoComecemos por esclarecer que quan<strong>do</strong>tratamos de recepção, estamos tratan<strong>do</strong> também<strong>do</strong> outro pólo: o da emissão. Só oencontro <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is constitui a comunicação.Por isso, é preferível falar sempre em campoda comunicação. Os estu<strong>do</strong>s de recepção nãosão um “la<strong>do</strong> novo” da comunicação: trataseape<strong>na</strong>s de uma nova perspectiva dessesestu<strong>do</strong>s, a qual vem se desenvolven<strong>do</strong> <strong>na</strong>súltimas décadas. Por outro la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> sefala em comunicação, não estamos tratan<strong>do</strong>ape<strong>na</strong>s daquela veiculada pelos suportestecnológicos (chama<strong>do</strong>s meios de comunicação,mídia), embora os consideremos deextrema importância <strong>na</strong> atualidade, configuran<strong>do</strong>-se,inclusive, como destaca<strong>do</strong>s construtoresde realidades. Comunicação éinteração entre sujeitos que, para tanto, podemutilizar-se pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente – e às vezestão somente – <strong>do</strong> mais democrático de to<strong>do</strong>sos suportes: o aparelho fo<strong>na</strong><strong>do</strong>r. As feiras,a literatura de cordel, o circo, o teatro, ofolhetim, o car<strong>na</strong>val, entre muitas outrasconfiguram-se nessa modalidade de comunicaçãoe constituem as matrizes históricas <strong>do</strong>sprodutos <strong>do</strong>s meios de comunicação, tal qualos conhecemos hoje.Para que haja comunicação, é preciso queos interlocutores tenham uma “memória”comum, participem de uma mesma cultura.Isso porque a comunicação se manifesta nosdiscursos e os discursos que circulam <strong>na</strong>sociedade se constituem a partir daintertextualidade, que Chabrol conceituaassim:“trata-se de to<strong>do</strong>s os fenômenos decitação, referência, retomada, empréstimo,tranformação, derivação, desvio,inversão entre textos, contemporâneosou não, <strong>na</strong> esfera <strong>do</strong>s discursossociais, quer seja no interior de ummesmo <strong>do</strong>mínio, quer seja entresuportes midiáticos ou ainda entre<strong>do</strong>mínios diversos (mídias, literatura,cinema, publicidade etc.)” 11 .Desse mo<strong>do</strong>, vemos que to<strong>do</strong> discurso seconstitui a partir de sua inter-relação com osoutros e só assim poderá ser interpreta<strong>do</strong>.Bakhtin, um <strong>do</strong>s mais importantes teóricosda linguagem, tratan<strong>do</strong> da linguagem verbal,afirma que a verdadeira substância da línguaé a interação verbal (e não o sistema abstratrode formas lingüísticas). Essa realidade fundamentalda língua, segun<strong>do</strong> o autor, manifesta-seno diálogo: “Pode-se compreendera palavra ‘diálogo’ não ape<strong>na</strong>s como acomunicação, em voz alta, de duas pessoascolocadas face a face, mas toda comunicaçãoverbal, de qualquer tipo que seja” 12 . E continua,falan<strong>do</strong> sobre o discurso:“ele responde a alguma coisa, refuta,confirma, antecipa as respostas eobjeções potenciais, procura apoio etc.Qualquer enunciação, por mais significativae completa que seja, constituiape<strong>na</strong>s uma“fração de umacorrente de comunicação verbalininterrupta (concernente à vida cotidia<strong>na</strong>,à literatura, ao conhecimento,à política etc.). Mas essa comunicaçãoverbal ininterrupta constitui, porsua vez, ape<strong>na</strong>s um momento <strong>na</strong>evolução contínua, em todas asdireções, de um grupo social determi<strong>na</strong><strong>do</strong>”13 .Cada discurso, quer use ape<strong>na</strong>s a voz oua tecnologia mais avançada – satélite, porexemplo – é, <strong>na</strong> verdade, a atualização deum processo de interlocução entre váriosdiscursos, manifestação de diálogos, entre osmais diversos gêneros e até entre as maisdiferentes épocas. Assim, tanto o pólo daemissão, aquele que produz o programa, queescreve o jor<strong>na</strong>l, quanto o pólo da recepção,aquele que vê, ouve ou lê o produto, só têmsua completude sacramentada, só significampela via desse diálogo. Trata-se de diálogoque tem como cenário uma determi<strong>na</strong>dacultura, e sem o qual não haveria (não sepoderiam constituir) a telenovela, o noticiário,a música etc. Não haveria, inclusive,os programas policiais, no rádio e <strong>na</strong> televisão,que causam tanta polêmica. Sem essediálogo com a cultura, com as referênciasculturais, de ambos os pólos com a culturae entre eles mesmos, teríamos uma parciali-


390 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdade que impediria a constituição de senti<strong>do</strong>.Toda a produção <strong>do</strong>s meios de comunicaçãoestá, portanto, marcada pelos processosde interpretação-recepção de outros discursos(midiáticos ou não) efetua<strong>do</strong>s pelo seuprodutor. Existirá sempre um diálogo, umainterlocução, ainda que mediata,indetermi<strong>na</strong>da, até mesmo tênue, como lembraChabrol.São as referências que vão traçan<strong>do</strong>percursos de leitura. Por isso dizemos quea comunicação está imersa <strong>na</strong> cultura. É umaprática cultural que produz significa<strong>do</strong>s, ouseja, a partir <strong>do</strong> que está e já é <strong>na</strong>quela cultura,ressemantizam-se os significa<strong>do</strong>s em cada atode comunicação. Implica sempre, comovimos, emissão e recepção, resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong>construção de senti<strong>do</strong>s novos, renova<strong>do</strong>s –ou mesmos senti<strong>do</strong>s reconfigura<strong>do</strong>s –, produzi<strong>do</strong>snesse encontro.Por isso se fala em campo da comunicação.Cada discurso, cada programa <strong>do</strong>smeios de comunicação será produzi<strong>do</strong> einterpreta<strong>do</strong>, entendi<strong>do</strong> a partir das referênciasde sua cultura. E ainda mais: nos processosde criação de senti<strong>do</strong>s, os produtorese os receptores, <strong>na</strong> sua condição de atoressociais, mobilizam fatores até inusita<strong>do</strong>s.Podem utilizar-se, por exemplo, de certasnormas e padrões, considera<strong>do</strong>s arcaicos, masque estão presentes <strong>na</strong> memória coletiva,reviven<strong>do</strong>-os em determi<strong>na</strong>das situaçõescontemporâneas.Portanto, o significa<strong>do</strong> da comunicação,as significações <strong>do</strong>s produtos culturais, incluin<strong>do</strong>os produtos <strong>do</strong>s meios de comunicação,relacio<strong>na</strong>m-se com o cotidiano <strong>do</strong>sujeito receptor, com suas práticas culturais,com as marcas que influenciam seu mo<strong>do</strong>de ver e praticar a realidade, e que são aquelasque lhe dão segurança necessária para estruturar,organizar/ reorganizar a percepção dessarealidade, reconstruin<strong>do</strong>-a, com destaques ouapagamentos, de acor<strong>do</strong> com sua cultura.Essas práticas culturais constituem as mediações,que interferem em to<strong>do</strong> o processocomunicacio<strong>na</strong>l, balizan<strong>do</strong>-o.Para Martín-Barbero, as mediações“são esse ‘lugar’ a partir <strong>do</strong> qual épossível compreender a interação entreo espaço da produção e o da recepção:o que se produz <strong>na</strong> televisão nãoatende unicamente às necessidades <strong>do</strong>sistema industrial e a estratégiascomerciais, mas também a exigênciasque vêm da trama cultural e <strong>do</strong>smo<strong>do</strong>s de ver. Estamos afirman<strong>do</strong> quea televisão não funcio<strong>na</strong> sem assumir– e ao assumir legitimar – as demandasque vêm <strong>do</strong>s grupos receptores;mas, por sua vez, não pode legitimaressas demandas sem ressignificá-lasem função <strong>do</strong> discurso socialhegemônico” 14 .Desse mo<strong>do</strong>, podemos falar de um autore de um receptor “previsíveis” <strong>na</strong>quelacultura. Podemos até dizer que, <strong>na</strong> verdade,os “receptores ideais” “fazem parte” <strong>do</strong>produto emiti<strong>do</strong>. Mas esses “receptores ideais”não se confundem com o receptor pessoa(se assim fosse, to<strong>do</strong>s os produtos <strong>do</strong>s meiosde comunicação teriam sempre êxito absoluto).O receptor-sujeito vai ressignificar oque ouve, vê ou lê, apropriar-se daquilo apartir de sua cultura, <strong>do</strong> universo de suaclasse, para incorporar ou não a suas práticas.Nesse caminho podemos distinguir osestu<strong>do</strong>s de recepção <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de consumo.O simples fato de uma campanha dechocolate ter efetivamente possibilita<strong>do</strong> avenda de um número maior de chocolatesnão indica que houve recepção como aestamos entenden<strong>do</strong>. Indica ape<strong>na</strong>s que houveapropriação, transitória, de alguma coisa. Eestaríamos aí no campo <strong>do</strong> consumo. Logo,não é pelo fato de uma campanha publicitáriater obti<strong>do</strong> sucesso de vendas que poderemosafirmar que o sujeito receptorressignificou comportamentos culturais, incorporan<strong>do</strong>-osà sua prática. Recepção é umprocesso lento e contínuo e não se medeape<strong>na</strong>s pela quantidade.Os receptores tor<strong>na</strong>m-se co-produtores <strong>do</strong>produto cultural. São eles que o (re)vestemde significa<strong>do</strong>, possibilitan<strong>do</strong> a atualizaçãode leituras, o rompimento de caminhos préestabeleci<strong>do</strong>sde significa<strong>do</strong>s, a abertura detrilhas que poderão desaguar emreformulações culturais.A recepção, como ato cultural, desempenhaimportante papel <strong>na</strong> construção da realidadesocial. Daí a importância de seuestu<strong>do</strong>. Através destes estu<strong>do</strong>s podemos


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO391descobrir quais são os processos reais queresultam <strong>do</strong> encontro <strong>do</strong>s discursos <strong>do</strong>s meiosde comunicação apropria<strong>do</strong>s (transitoriamente)ou incorpora<strong>do</strong>s (com permanência <strong>na</strong>cultura) pelos sujeitos-receptores imersos emsuas práticas culturais.Os estu<strong>do</strong>s de recepção estão preocupa<strong>do</strong>scom as características socioculturais <strong>do</strong>sreceptores. Desse mo<strong>do</strong>, o foco se deslocapara as práticas sociais e culturais maisamplas, <strong>na</strong>s quais eles estão integra<strong>do</strong>s. Énesse espaço que se estudará a ressignificaçãoque os receptores produzem com relação aosprodutos <strong>do</strong>s meios de comunicação.Segun<strong>do</strong> Martín-Barbero,“abre-se ao debate um novo horizontede problemas, no qual estãoredefini<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s tanto da culturaquanto da política, e <strong>do</strong> qual aproblemática da comunicação nãoparticipa ape<strong>na</strong>s a título temático equantitativo – os enormes interesseseconômicos que movem as empresasde comunicação – mas também qualitativo:<strong>na</strong> redefinição da cultura, éfundamental a compreensão de sua<strong>na</strong>tureza comunicativa. Isto é, seucaráter de processo produtor de significaçõese não de mera circulaçãode informações, no qual o receptor,portanto, não é um simplesdecodifica<strong>do</strong>r daquilo que o emissordepositou <strong>na</strong> mensagem, mas tambémum produtor 15 ”.Nessa postura, o papel da escola redefinese:não basta falar em educação para os meiosou em leitura crítica <strong>do</strong>s meios, como se osmeios de comunicação fossem uma realidadeexter<strong>na</strong>, “de fora”. A escola precisa, portanto,não ape<strong>na</strong>s problematizar o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>smeios, mostran<strong>do</strong> a interface desse conteú<strong>do</strong>com os valores hegemônicos da sociedadee com os interesses que aí residem (aindaque se trate de uma etapa indispensável). Nãobasta, também, discutir as propostas <strong>do</strong>sprogramas midiáticos em confronto com aspropostas culturais <strong>do</strong>s receptores, desvelan<strong>do</strong>as convergências e divergências.Mais que isso: é preciso falar, agora, dessaconstrução de senti<strong>do</strong>s sociais que se dá noencontro produtos midiáticos/ receptores, nobojo da construção das práticas culturais, dacontrução da cidadania. É desse lugar quedevemos nos relacio<strong>na</strong>r com eles. E é esseo lugar de onde temos que esclarecer qualcidadania nos interessa, parece-nos sempreoportuno reiterar.Considerações fi<strong>na</strong>isMuitas outras temáticas compõem ocampo da comunicação/educação, o qual seconstitui a partir <strong>do</strong> campo da comunicação.Para estudá-lo, é preciso estabelecer umdiálogo mais amplo, com mais saberes. Semtransdiscipli<strong>na</strong>ridade, o estu<strong>do</strong> da comunicaçãonão ocorre.“Tentar desvencilhar-se delas [asdiscipli<strong>na</strong>s], identifican<strong>do</strong> a comunicaçãoa uma discipli<strong>na</strong>, é reduzir ocampo a uma parcela que, por maisrica que seja, não poderá nunca deixarde ser um empobrecimento deformantee uma usurpação” 16 .A Escola, ressignificada, é chamada maisuma vez, e sempre, para, no bojo dessarealidade, apontar caminhos de democratização.Um desses caminhos passa pela distinçãoentre a informação, fragmentada, e oconhecimento, totalidade que“inclui a condição de ser capaz detrazer à superfície o que é ainda virtual<strong>na</strong>quele <strong>do</strong>mínio. Prevê ter claro queo virtual de um <strong>do</strong>mínio <strong>na</strong>da maisé que o resulta<strong>do</strong> da interdiscursividadede to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios, possível<strong>na</strong>quela formação social; que os diversosfenômenos da vida sãoconcate<strong>na</strong><strong>do</strong>s em referência à sociedadecomo um to<strong>do</strong>. Para tanto, asinformações fragmentadas não sãosuficientes”. 17E essa inter-relação só é possível pelatransdiscipli<strong>na</strong>ridade.No campo da comunicação/educaçãocirculam essas“situações novas que encontraram suaexpressão teórica mais avançada emuma compreensão da cultura como


392 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconfiguração histórica <strong>do</strong>s processose das práticas comunicativas. Essasque necessitam, mais <strong>do</strong> que nunca,articular os saberes quantitativos a umconhecimento qualitativo capaz dedecifrar a produção comunicativa desenti<strong>do</strong>, toda a trama de discursos queela mobiliza, de subjetividades e decontextos, em um mun<strong>do</strong> de tecnologiasmidiáticas, cada dia mais densamenteincorporadas à cotidianidade<strong>do</strong>s sujeitos e cada dia mais descaradamenteexcludentes <strong>do</strong>s direitos dasmaiorias à voz e ao grito, à palavrae à canção” 18 .Eis a importância <strong>do</strong> campo comunicação/educação.Nessa disputa estabelecida –entre meios de comunicação X escola efamília – não é possível haver ganha<strong>do</strong>rese perde<strong>do</strong>res.Evidencia-se, cada vez mais, um intercâmbiodas agências de socialização <strong>na</strong>construção da cidadania.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO393BibliografiaBakhtin, Mikhail. Marxismo e filosofiada linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988.Chabrol, Claude. “Le lecteur: fantômeou realité? Étude des processus de réception”.In: Charaudeau. Patrick. La presse: produit,production, réception. Paris,Didier, 1988.Chauí, Marile<strong>na</strong> de S. O que é ideologia.13ed. São Paulo, Brasiliense, 1983.Connor, Steven. Cultura pós-moder<strong>na</strong>.Introdução às teorias <strong>do</strong> contemporâneo. Trad.Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves.São Paulo, Loyola, 1992.Ianni, Otávio. Teorias da globalização.Rio, Civilização Brasileira, 1995.Jameson, Fredric. Pós-modernismo. Alógica cultural <strong>do</strong> capitalismo tardio. Trad.Maria Elisa Velasco. São Paulo, Ática, 1996.Martín-barbero, Jesús. La comunicaciónplural: alteridad y socialidad. Dia-logos. 40,set. de 1994.Martín-barbero, Jesús & Muñoz, Sonia(coords.) Televisión y melodrama. Bogotá:Tercer Mun<strong>do</strong> Ed., 1992.Martín-barbero, Jesús. Dos meios àsmediações: comunicação, cultura ehegemonia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997.Martín-barbero, Jesus. Prefácio. In:BACCEGA, M. A Comunicação e linguagem.Discursos e ciência. São Paulo, Moder<strong>na</strong>,1998.Thompson, John B. Ideologia e culturamoder<strong>na</strong>. Teoria social crítica <strong>na</strong> era <strong>do</strong>smeios de comunicação de massa.Petrópolis,Vozes, 1995._______________________________1Professora da Pós-Graduação da Escola deComunicações e Artes da Universidade de SãoPaulo e da Escola Superior de Propaganda eMarketing de São Paulo2BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofiada linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988, p. 313IANNI, Otávio. “As economias-mun<strong>do</strong>”. In:Teorias da globalização. Rio, Civilização Brasileira,1995. p.434JAMESON, Fredric. “A lógica cultural <strong>do</strong>capitalismo tardio”. In: Pós-modernismo. A lógicacultural <strong>do</strong> capitalismo tardio. Trad. Maria ElisaVelasco. São Paulo, Ática, 1996. p.615BARBERO, Jesús Martín. La comunicaciónplural: alteridad y socialidad. Dia-logos. 40, set.de 1994. p.73-796CONNOR, Steven. Cultura pós-moder<strong>na</strong>.Introdução às teorias <strong>do</strong> contemporâneo. Trad.Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves.São Paulo, Loyola, 1992. p.487CHAUÍ, Marile<strong>na</strong> de S. O que é ideologia.13ed. São Paulo, Brasiliense, 1983. p.1068CHAUÍ, Marile<strong>na</strong> de S. O que é ideologia.Op. cit. p. 113-1149THOMPSON, John B. Ideologia e culturamoder<strong>na</strong>. Teoria social crítica <strong>na</strong> era <strong>do</strong>s meiosde comunicação de massa. Petrópolis,Vozes, 1995.p. 1610THOMPSON, op. cit. p. 17. O grifo é nosso.Parece-nos importante destacar a importância <strong>do</strong>“entendimento”, da interpretação, da recepção.”11CHABROL, Claude. “Le lecteur: fantômeou realité? Étude des processus de réception”. In:CHARAUDEAU. Patrick. La presse: produit,production, réception. Paris, Didier, 1988. p.16512BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofiada linguagem. 4ed. São Paulo: HUCITEC, 1988.p.123 e segtes. (Grifo nosso)13BAKHTIN, M. Marxismo .... op. cit. p. 12314MARTÍN-BARBERO, Jesús & MUÑOZ,Sonia (coords.) Televisión y melodrama. Bogotá:Tercer Mun<strong>do</strong> Ed., 1992. p. 2015MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios àsmediações: comunicação, cultura e hegemonia. Riode Janeiro, Ed. UFRJ, 1997. p. 287.16MARTÍN-BARBERO, Jesus. Prefácio. In:BACCEGA, M. A Comunicação e linguagem.Discursos e ciência. São Paulo, Moder<strong>na</strong>, 1998.17BACCEGA, M. A Comunicação ...., op.cit. p.11218MARTÍN-BARBERO, J. Prefácio. Op. cit.


394 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO395Comunicación y Educación “de cine”Mª del Mar Rodríguez Rosell 1Gracias al carácter y a la <strong>na</strong>turaleza delos propios medios de comunicación social,la formación y la educación se han podi<strong>do</strong>colocar en un lugar destaca<strong>do</strong>: lacomunicación se ha converti<strong>do</strong> en algofundamental para la formación global deconciencias, de mo<strong>do</strong>s de pensar; algo queantes de la aparición de estos medios, se veíalimita<strong>do</strong> al terreno priva<strong>do</strong> o individual.Todavía hoy existe el mismo debate que haceaños: ¿hacia dónde se dirige el proceso deeducación frente a la comunicación? ¿haciala individualidad más absoluta o hacia lasocialización y la colectividad general?Sin duda, el fin último debería estarenfoca<strong>do</strong> hacia la desestructuración de loslímites institucio<strong>na</strong>les, crean<strong>do</strong> así lascondiciones necesarias para u<strong>na</strong> expresión yu<strong>na</strong> educación que tiendan hacia la libertad yla participación. Educar, pues, más allá de lascategorías intelectuales tradicio<strong>na</strong>les, utilizan<strong>do</strong>para ello dentro del proceso <strong>educativo</strong>, u<strong>na</strong>perspectiva más amplia, con referentes y mediosnuevos, llenos de riqueza. Enfocar la educaciónen lo que se refiere a su carácter comunicativo,aprovechan<strong>do</strong> los medios y facilitan<strong>do</strong> losprocesos de conocimiento a través del estudiode nuevas formas de lenguaje.Ya desde sus orígenes, la UNESCO(Organización de las Naciones Unidas parala Educación, la Ciencia y la Cultura), enel <strong>do</strong>cumento de su constitución aproba<strong>do</strong> pormás de 180 Esta<strong>do</strong>s Miembros, reflejaba suinterés por defender y proteger la librecirculación de la información en el mun<strong>do</strong>:“fomentará el conocimiento y lacomprensión mutuas de las <strong>na</strong>cionesprestan<strong>do</strong> su concurso a los órganosde información para las masas; a estefin, recomendará los acuer<strong>do</strong>sinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les que estime convenientespara facilitar la libre circulación de lasideas por medio de la palabra y de laimagen” 2Diferentes teorías han queri<strong>do</strong> explicar lasrelaciones de convivencia entre educación ycomunicación. Durante los primeros años dela década de los ochenta, ya se empieza adebatir sobre los límites entre el ámbito deactuación de la educación, ya que comenzabaa observarse, que ésta había deja<strong>do</strong> de serla protagonista dentro del entorno académico.La educación traspasaba fácilmente esasfronteras, gracias a los medios decomunicación, que jugaban y por supuestosiguen jugan<strong>do</strong> un papel de vital importanciaen la percepción del mun<strong>do</strong>, convirtién<strong>do</strong>seen el mejor vehículo para adquirir valores.Esas ideas, desarrolladas en gran medidapor la UNESCO 3 , permiten además insistiren otros aspectos complementarios: tanto laescuela como los medios posibilitan u<strong>na</strong>forma de educación; aunque la diferente<strong>na</strong>turaleza de ambos nunca permitirá losmismos méto<strong>do</strong>s didácticos, aunque sí igualeslogros o fines. Se utilizan diferentes lenguajes,es cierto, permitien<strong>do</strong> que los medios decomunicación social rompan la estructuraciónde categorías intelectuales propias del sistemaescolar <strong>educativo</strong>. Y es que el “saber” queofrecen los medios parece más cercano alentretenimiento; algo que no ocurre en laeducación académica tradicio<strong>na</strong>l.Con el paso de los años se sostiene la ideaque la escuela ha deja<strong>do</strong> de ocupar el papel<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte para pasar a un lugar secundario,habien<strong>do</strong> si<strong>do</strong> sustituida por las nuevasfunciones ideológicas de las tecnologías de lacomunicación. Es decir, si la escuela se havisto desplazada a favor de los medios decomunicación, quiere decir que éstos se hanconverti<strong>do</strong> en referente educacio<strong>na</strong>l, enmodelos culturales básicos sobre los que seorganizan las sociedades. Sin embargo, laescuela y los ámbitos académicos siguensien<strong>do</strong> referentes váli<strong>do</strong>s, y conviven de formasimultánea con los medios.Por tanto, u<strong>na</strong> tercera teoría sería la queexplica, precisamente, el equilibrio que existe


396 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV(y debe existir) entre educación y medios decomunicación. Sus ámbitos de actuación sonmuy diferentes, al igual que sus lenguajes,su forma, su estructura, su capacidad deinserción en la sociedad, etc... pero esto nodeja de enriquecer el proceso hacia unobjetivo común: el de encontrar la síntesis,y más que la síntesis, la simbiosis 4 entreambos, para formular méto<strong>do</strong>s de trabajocomunes que lleguen a disfrutar de u<strong>na</strong>convivencia armoniosa.Serían muchas las razones que podría<strong>na</strong>rgumentar que la comunicación estádefinitivamente asociada a la educación, perotal vez la más evidente es afirmar que tantolos medios de comunicación como su soportetecnológico, además de las posibilidades delas nuevas tecnologías y de la informática,permiten ampliar las posibilidades educativas.También porque el conocimiento de larealidad no sólo puede ser encontra<strong>do</strong> en loslibros (algunos dirían que también estáInternet). En muchas ocasiones un referente<strong>audiovisual</strong> permite u<strong>na</strong> educación sencilla,más gratificante y divertida que la que nosofrece la lectura única de un texto escrito.Sí. Es más que evidente que el cada vezmás complejo entorno en el que nos ha toca<strong>do</strong>vivir y en el que desarrollar nuestra existenciaestá conforma<strong>do</strong> por las nuevas tecnologíasde la información; de hecho formamos partede u<strong>na</strong> sociedad totalmente bombardeada porla imagen, sometida al poder, u<strong>na</strong> sociedadque persigue apoyar el desarrollo humanomediante el uso de las tecnologías de lainformación y de las comunicaciones. En estesenti<strong>do</strong>, los amantes del Séptimo Artepodemos presumir con orgullo de lapermanencia de este invento de fi<strong>na</strong>les delsiglo XIX que ha sabi<strong>do</strong> adaptarse a laperfección a los cambios técnicos y artísticosque hemos veni<strong>do</strong> sufrien<strong>do</strong> ( o disfrutan<strong>do</strong>,ya se sabe que to<strong>do</strong> depende del punto devista) en la última centuria. Supo regalar lavoz a los perso<strong>na</strong>jes que se paseaban por suspantallas, supo adaptarse a la magia del color,a los cambios socio-históricos, a latransformación de los formatos; ha sabi<strong>do</strong>adentrarse con soltura en el mun<strong>do</strong> de lasnuevas tecnologías y adaptarse al entornobi<strong>na</strong>rio, aunque hay quienes todavía noapuestan al cien por cien por la llegada másque evidente del cine digital…Cada u<strong>na</strong> de las numerosas y diferentesmaneras de <strong>na</strong>rrar conforman el universo delcine: distintos méto<strong>do</strong>s, diferentes elementos,variadas formas de “contar historias”, porqueen definitiva el cine es eso, u<strong>na</strong> forma de<strong>na</strong>rrar historias, u<strong>na</strong> origi<strong>na</strong>l manera dereflejar parte de la realidad, parte de lafantasía, o parte de ambas. En algu<strong>na</strong>socasiones el cine es el motor que proyectadetermi<strong>na</strong>das temáticas provocan<strong>do</strong> el debatesocial. Otras, casi la mayoría, recoge entresus argumentos lo que por uno u otro motivoya preocupa o inquieta a la propia sociedad,bien porque ha sucedi<strong>do</strong>” – el conoci<strong>do</strong> –“basa<strong>do</strong> en hechos reales”-, o porque, sinsuceder realmente, la propia estructura de la<strong>na</strong>rración de ficción permite representarnítidamente la realidad (aunque no hayaocurri<strong>do</strong> nunca, ni haya oportunidad de queocurra), mostran<strong>do</strong> a la sociedad esa verdadirreal en forma de producto cinematográfico.To<strong>do</strong>s estas formas de <strong>na</strong>rración son más queusuales en las producciones cinematográficasactuales y también del pasa<strong>do</strong>, y su uso enla enseñanza más que aconsejable ya quepueden convertirse en las herramientasperfectas para encauzar u<strong>na</strong> parte de laeducación. Aunque insistimos en lasingularidad de esta idea, ya que la educaciónes un fenómeno de carácter multidiscipli<strong>na</strong>ry complejo. No olvidemos lo que dice alrespecto el catedrático de Psicología SocialJosé Ramón Bueno Abad:“Las Instituciones educativas trabajanen un <strong>do</strong>ble senti<strong>do</strong>, si admitimos queen primer lugar la educación es ladifusión del conocimiento hemos decompartir que u<strong>na</strong> gran parte de losconocimientos que se difunden sonconocimientos que son asumi<strong>do</strong>s através de representaciones sociales” 5Efectivamente, el cine es la venta<strong>na</strong> enla que se reflejan las más comunes, ba<strong>na</strong>les,profundas y extrañas representacionessociales… y mucho más, porque a estasalturas estaremos to<strong>do</strong>s de acuer<strong>do</strong> en quees imposible definir al cine desde un únicopunto de vista; es obligada su mención comoArte, con mayúsculas, lo suficientemente ricoy “enriquece<strong>do</strong>r” (un aspecto éste casi másimportante que el anterior para la reflexión


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO397que nos ocupa) como para convertirse enmaterial <strong>educativo</strong>…pero no adelantemosideas. En efecto, el cine puede ser considera<strong>do</strong>desde muchos puntos de vista: podemosestudiar al cine desde los entresijos de laproducción y tratarlo como un productoindustrial dentro de los muchos posibles; unproducto que se ve afecta<strong>do</strong> por las leyesde la oferta, la demanda o de loscondicio<strong>na</strong>ntes sociales; podríamos proyectarestudios sobre su espectacularidad, sobre loscostosos gastos del rodaje y sus sistemas deproducción; <strong>na</strong>die negará que el cine puedeser considera<strong>do</strong> como un producto comercial,transmisor de formación y de información,como un instrumento motiva<strong>do</strong>r o deconocimiento. El cine puede llegar aconvertirse en un instrumento de evaluación,en un lugar de encuentro (lo que en otrasocasiones he denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> meeting room) enel que tienen cabida diferentes lenguajes,diferentes ideas, diferentes culturas…La evolución del concepto de cine, en suconjunto, ha i<strong>do</strong> evolucio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> desde susorígenes y paralelamente a la propia Historia.En Nueva York, antes de la llegada delcinematógrafo, los centros de reunión delbarrio eran las esqui<strong>na</strong>s de la calle, tal vezalgu<strong>na</strong>s tiendas y de forma destacada el bar.To<strong>do</strong>s estos lugares suponían ciertos criteriosselectivos tanto de consumo comomonetarios, ya que las mujeres y los niñosape<strong>na</strong>s si podían acudir por no tener efectivoso por tener restringida la entrada. Los criteriosde selección se alejaban mucho de ser unoscriterios basa<strong>do</strong>s en la educación o al menosen valores sociales. Posteriormente el cinese convirtió en el nuevo centro veci<strong>na</strong>l. Erabarato, ni clasista ni selectivo, habíavaloración social ya que al menosproporcio<strong>na</strong>ba información, e incluso llegóa convertirse en un centro social de vidafamiliar, algo que los mismos bares nuncallegaron a conseguir. La verdad es que estenuevo entretenimiento (ya queverdaderamente en los albores delcinematógrafo eso es lo que era, algo paraentretener) era inofensivo y barato, aunquetambién es cierto que requería para su disfrutede ciertas actitudes mentales completamentenuevas. Por primera vez se puede disfrutarde u<strong>na</strong> realidad tanto visual como auditivacompleja, y que <strong>potencial</strong>mente es mucho máscomplicada de asimilar y comprender quecualquier texto escrito, ya que en este nuevomedio de expresión los elementos utiliza<strong>do</strong>sse apoyan, se oponen o se entrelazan entreellos para conseguir u<strong>na</strong> sensación y u<strong>na</strong>lcance bien diferente al de la <strong>na</strong>rración dela misma historia escrita.Ciertamente, gracias a que esto es así,gracias a la propia <strong>na</strong>turaleza de los elementosque componen el lenguaje cinematográfico,tan versátiles, tan expresivos y tan llenos designifica<strong>do</strong>, entenderemos porqué el cine sepuede convertir en un medio idóneo paraenseñar, sobre to<strong>do</strong> materias como la Historia,que nos obligan a reflexio<strong>na</strong>r sobre hechospasa<strong>do</strong>s, con el agravante de hacer el esfuerzode cambiar el punto de vista, la perspectiva,situarnos en el contexto general adecua<strong>do</strong>para encajar todas las piezas del puzzle. Nohablamos de la imagen como medio técnicosino como, medio de comunicación, comoun sistema de alfabetización. No perdamosde vista que hay que tener en cuenta quela imagen es un signo y como tal debe serestudia<strong>do</strong> y aprehendi<strong>do</strong>.El cine, aún sien<strong>do</strong> un medio decomunicación ejemplar para la transmisiónde mensajes, valores, ideas, etc…presenta u<strong>na</strong>serie de limitaciones. Por u<strong>na</strong> parte estálimita<strong>do</strong> por la contradicción de la <strong>do</strong>ble<strong>na</strong>turaleza (social e individual) que presenta,ya que sien<strong>do</strong> en principio un arte para lasmasas, debe tener en cuenta la psicología tanvariada de los receptores. Parececontradictorio que frente a la <strong>na</strong>turaleza socialde la que presume el cinematógrafo, debareconocer la singularidad de los integrantesde su público. Y en este senti<strong>do</strong> tendríamosque distinguir básicamente a <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res“tipo”: el culto cinematográficamentehablan<strong>do</strong>, y el inculto. Los primeros adiferencia de los segun<strong>do</strong>s, al visualizar elfilme, no reparan únicamente en detallessuperfluos como la interpretación de losactores en esce<strong>na</strong>, de si la historia les parecemás o menos interesante, o de unosespectaculares efectos especiales. Conocerántambién otros aspectos que envuelven laexistencia de la propia película: el director,su obra, sus influencias, la escenografía, elmontaje escogi<strong>do</strong>, el vestuario, la bandasonora, etc... Aunque esto tampoco essuficiente. Muchos conocimientos alter<strong>na</strong>tivos


398 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IValrede<strong>do</strong>r del hecho cinematográfico ayuda<strong>na</strong> conformar u<strong>na</strong> idea más completa, y anteto<strong>do</strong> más crítica sobre u<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>daproducción, pero no hay que olvidar que enel proceso de asimilación de los medios<strong>audiovisual</strong>es, y entre ellos el cine, ponenen funcio<strong>na</strong>miento complejos mecanismospsicológicos:“generan procesos de alto nivelproporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> u<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>daexperiencia de la realidad, y además,el sistema de símbolos con quefuncio<strong>na</strong>, al referirse a la realidad deu<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>da manera, exige delsujeto ciertas operaciones cognitivasen la extracción del significa<strong>do</strong>” 6Para acceder a estos niveles, se exige u<strong>na</strong>determi<strong>na</strong>da maduración por parte del sujetoy de los públicos, y recordemos que lasociedad en sí, es u<strong>na</strong> sociedad de públicos.To<strong>do</strong>s somos público en algún momento deldía; en diferentes lugares, diferentes mediosy contextos. Somos público de radio, detelevisión, de cine, de teatro o de un libro.U<strong>na</strong>s veces formamos parte de un públicopor placer y otras por necesidad. Quizá hayadiferentes puntos de vista sobre los tipos depúblico y sus reacciones frente a los mediosde comunicación y frente al cine, pero ¿quées un público? Es importante comentar estetérmino, porque de esta explicación, surgiráotra de las limitaciones del cine. Lossociólogos dicen que un público es un grupono estructura<strong>do</strong>. Ciertamente es un grupo, apesar de que sólo existe como grupo de formaintermitente y durante un breve espacio detiempo; un grupo que cambia y se renuevaconstantemente con miembros diferentes 7 .Sin embargo no podríamos comparar estepúblico cinematográfico -grupo noestructura<strong>do</strong>-, con el público de un grupoestructura<strong>do</strong>, como podría ser el que conformaun parti<strong>do</strong> político o el conjunto de alumnosde u<strong>na</strong> clase en un colegio. Así lo manifiestaJarvie:“Las perso<strong>na</strong>s no son receptáculoscuyos conteni<strong>do</strong>s pueden cambiarse,sino transmisores-receptores que sedesarrollan y se adaptan a través desu tecnología. Los medios decomunicación no corrompen alhombre, sino que lo transforman. Elcine como medio de comunicació<strong>na</strong>ctúa sobre grupos no estructura<strong>do</strong>s.El grupo que constituye el público deu<strong>na</strong> película es un gruporelativamente no estructura<strong>do</strong>, comolo está también el grupo que hace lapelícula. La película crea o une aambos grupos dán<strong>do</strong>les un senti<strong>do</strong> deidentidad y experiencia común. Elpúblico recibe u<strong>na</strong> rara satisfacció<strong>na</strong>l poder experimentar en común, locual se demuestra por la incómodasensación que se tiene en un cinevacío” 8Se sumaría pues esta característica a lalista de las limitaciones del cine: la volatilidadde un público no estructural.El cine presenta otra de sus limitacionesen las propias característicasmedioambientales que lo envuelven, ya queaunque está <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de medios hipnóticos queningún otro medio de expresión conoce,aunque ataca a la emoción y monopoliza lossenti<strong>do</strong>s primarios dejan<strong>do</strong> al sujeto comohechiza<strong>do</strong>, realmente el cine poco tiene quever con el encuentro íntimo y secreto de u<strong>na</strong>perso<strong>na</strong> con otra. Seguimos enumeran<strong>do</strong>limitaciones del cine, y en esta ocasión nosreferimos a la opacidad de la propia imagenque no olvidemos se nos presenta como unode los pilares primordiales sobre los queconstruir el mensaje cinematográfico. Nodudamos del valor incalculable de la imagencomo signo, sobre to<strong>do</strong> porque nos permitedescubrir la realidad, pero también corremosel peligro de quedarnos encerra<strong>do</strong>s en esemismo signo y no saber descubrir lasimbología que esconde detrás. Si esto ocurre(y ocurre en muchas ocasiones) estaremosdesvirtuan<strong>do</strong> la verdadera función del mismoque es la de ser olvida<strong>do</strong> para conducirnosa un significa<strong>do</strong> diferente y menos evidente.Y por último, el cine se encuentra limita<strong>do</strong>por su propia espectacularidad. El Séptimoarte es la más rica de las artes, pero tambiénla que más se acerca a la distracción fácily al espectáculo. Pensemos por ejemplo enla actitud mental de concentración que exigela lectura, respecto a la “lectura de imágenes”que provoca u<strong>na</strong> actitud de apertura y de


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO399dispersión, y en la que los procesos mentalesson en gran medida de carácter visual y,auditivo.Y pese a estas y otras limitaciones quepodríamos seguir enumeran<strong>do</strong> el cine creó,crea y seguirá crean<strong>do</strong> opiniones. Esinnegable afirmar que la gran pantalla es u<strong>na</strong>de las mejores vías de reflexión, un magníficosoporte de expresión. La cuestión consiste,en au<strong>na</strong>r esfuerzos para enseñar a leer estelenguaje visual, un lenguaje simple y directo,pero que necesita de un aprendizaje. El cinepuede ser aprendi<strong>do</strong>, enseña<strong>do</strong>, explica<strong>do</strong>,reflexio<strong>na</strong><strong>do</strong>… del cine se habla, se comenta,se critica, y esto es un peligro porque to<strong>do</strong>el público, sin distinción de edad, estatussocial, cultura, etc…se permiten el lujo deverter comentarios sobre u<strong>na</strong> u otra película,sobre u<strong>na</strong> u otra producción cinematográfica,y a veces incluso ¡sin haber contempla<strong>do</strong> laobra!. Esto sería impensable en otro Arte,sin embargo miles de millones de perso<strong>na</strong>saprenden en la gran pantalla nuevos mo<strong>do</strong>sde comportamiento y nuevas ideas, descubrenen ella u<strong>na</strong> nueva vía de reflexión, u<strong>na</strong> nuevaforma de opinión, un escaparate para poderreflejar su sentir; en definitiva, un nuevosoporte de expresión.Insistimos en la idea de que para podercomprender las historias del universo fílmicoen su plenitud hay que desarrollar y asimilarla educación artística necesaria que a día dehoy sigue sien<strong>do</strong> deficitaria (ya que desdelos programas oficiales es muy poco o casi<strong>na</strong>da lo que se hace); es necesario buscarcaminos alter<strong>na</strong>tivos para su incorporaciónen la educación; y es curioso, porque el propiocine puede convertirse en la fuente de esaoportu<strong>na</strong> educación. En el ámbito teórico, ennuestra cultura se ha abierto u<strong>na</strong> <strong>do</strong>ble víade análisis: la desti<strong>na</strong>da a la utilización delcine como medio <strong>educativo</strong> (educación “con”los medios de comunicación), y la referidaa la formación para la comprensión de losmensajes y lenguajes en ellos utiliza<strong>do</strong>s(educación “para” los medios decomunicación). Ambas son sumamenteimportantes y complementarias, y sinembargo nos sorprende leer lo que RobertoAparici ya recoge en su artículo “Educaciónpara los medios de comunicación” 9 y en elque entre otros interesantes aspectos nosmuestra un repaso histórico de los diferentesprotocolos que han emplea<strong>do</strong> algunos de lospaíses más importantes del mun<strong>do</strong> para incluirentre sus programas curriculares de estudiosde educación los de los diferentes medios decomunicación, y en concreto los estudiossobre cine.Aunque parezca extraño, hace faltaremontarnos a varias décadas atrás paraencontrar las primeras experiencias educativasque incluyen la enseñanza de los medios decomunicación. Inglaterra comenzó aintroducir la enseñanza del cine en laeducación en la década de los años treintadel pasa<strong>do</strong> siglo. Por otra parte a principiosde la década de los setenta, se desarrollanen Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s algu<strong>na</strong>s experiencias queabordaban el análisis de los medios en elámbito inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; pretendían serexperiencias progresistas a nivelinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, aunque realmente no llegaro<strong>na</strong> buen término ya que fueron bloqueadas porlas administraciones de Ro<strong>na</strong>ld Reagan yGeorge Bush. Posteriormente, durante lagestión de Bill Clinton se vuelven a retomaralgunos de estos planteamientos que se habíanolvida<strong>do</strong> allá en la década de los setenta.Australia, - comenta Aparici- es uno de lospaíses que a partir de los setenta ha veni<strong>do</strong>desarrollan<strong>do</strong> un currículo obligatorio parala enseñanza de los medios en la educaciónprimaria y secundaria. Y también Ca<strong>na</strong>dá seencuentra entre estos países afortu<strong>na</strong><strong>do</strong>s quecuentan con u<strong>na</strong> enseñanza de los mediosentre su formación educativa fundamental. Sihablamos del caso español tendremos quedestacar que afortu<strong>na</strong>damente España acabade introducir en sus nuevos currículos parala educación primaria y secundaria laenseñanza de los medios. ¿Qué va a suponeresto? Que desde edades tempra<strong>na</strong>s se va apoder disfrutar del análisis y estudio de losdiferentes procesos de comunicación, dellenguaje <strong>audiovisual</strong> y de lo que suponefi<strong>na</strong>lmente el mun<strong>do</strong> de la imagen y de laexpresión. En este senti<strong>do</strong> el proyecto españolcontempla que cada escuela pueda desarrollarsus propias asig<strong>na</strong>turas optativas, según lasnecesidades de su propio entorno y de losintereses de sus propios alumnos.Ya estamos en disposición de asegurar queexiste un modelo factible de educacióncinematográfica, basa<strong>do</strong> en el tan queri<strong>do</strong>arte de la imagen en movimiento que ha


400 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVveni<strong>do</strong> aportan<strong>do</strong> desde sus orígenes uninmenso conocimiento significativo sobrecualquier materia y sustenta<strong>do</strong> en <strong>do</strong>s pilaresfundamentales: el lenguaje <strong>audiovisual</strong> y laparticular recepción del mismo:a) El cine es un “medio” de comunicación,pero también puede ser entendi<strong>do</strong> como un“lenguaje <strong>audiovisual</strong>”. Sólo queremosrecalcar, u<strong>na</strong> vez más, que el cine al ser unmedio a favor de la comunicación, seconvierte en espejo de la cultura. Por otraparte, es bien sabi<strong>do</strong> que el lenguaje<strong>audiovisual</strong> integra tanto palabras (audio)como imágenes (visual). La combi<strong>na</strong>ción deambas hace que el cine hable un lenguajeemocio<strong>na</strong>l y afectivo en su senti<strong>do</strong> másamplio (amor y odio, deseo y temor...);b) La educación cinematográfica se sitúaen el la<strong>do</strong> del público. Es el especta<strong>do</strong>r elque a<strong>do</strong>pta u<strong>na</strong> actitud activa y el que eligesu mo<strong>do</strong> de ver u<strong>na</strong> película, el que desarrollau<strong>na</strong> actitud al verla y el que a fin de cuentasse relacio<strong>na</strong> con ella. Así pues, el punto departida de la educación cinematográfica esla recepción del cine. Y precisamente eldiálogo que se mantiene entre ambos(especta<strong>do</strong>res y película) pertenece al corazóndel proyecto <strong>educativo</strong> cinematográfico.Porque la educación cinematográfica no selimita a la investigación de la recepción delcine sino que intenta provocar cambioscualitativos, cambiar a los especta<strong>do</strong>resformán<strong>do</strong>les y educán<strong>do</strong>les.Son los propios especta<strong>do</strong>res los queestablecen relaciones sui generis con laspelículas y sus historias. Los productoscinematográficos inspiran a los especta<strong>do</strong>res u<strong>na</strong>u otra forma de diálogo sobre experienciaspropias de la vida, y en un diálogo, recordemos,los participantes abren los ojos y los oí<strong>do</strong>s co<strong>na</strong>ctitud receptiva, a diferencia del debate o dela discusión en que los comportamientos tieneun matiz de lucha. Y es que el visio<strong>na</strong><strong>do</strong> dehistorias cinematográficas provoca en losespecta<strong>do</strong>res momentos de diálogointerperso<strong>na</strong>l, intraperso<strong>na</strong>l, de comprensión, deinteriorización, de reflexión, de confrontación...el especta<strong>do</strong>r ve entonces el cine como unsocio, u<strong>na</strong> vía más para la educación. Poreso entendemos que resulte casiimprescindible el diálogo fi<strong>na</strong>l que se producecon los amigos al salir del cine; con él sepersigue únicamente encontrar un mensajemás allá del recibi<strong>do</strong>, porque somosconscientes que ante un mismo hecho lasposibilidades de lectura son infinitas, tantascomo especta<strong>do</strong>res.Se puede educar comunican<strong>do</strong> a travésdel cine, es cierto. Pero hay que enseñar asaber recibir el mensaje que nos ofrece.”En concreto es necesario saberinterpretar la contigüidad deimágenes y textos (que a veces crearelaciones más insidiosas – por loocultas- que los purosencade<strong>na</strong>mientos textuales). Hacefalta comprender los límites de lostestimonios “reales”: el vídeo no esla acción; la foto no es la cosa; laparte no es el to<strong>do</strong>... (...) En suma:el lenguaje de las imágenes y de lasrelaciones de éstas con el texto, exigeu<strong>na</strong> formación independiente” 10El desarrollo de la comunicación<strong>audiovisual</strong> facilita u<strong>na</strong> visión más directay tangible de la realidad, pero hay que saberencontrar los peligros que también acompaña<strong>na</strong> estos medios: la diversidad de las fuentes,la absoluta mediatización... hay que enseñarpor tanto a “interpretar” los mensajes querecibimos desde los medios de comunicación.También son muchas las razones que avalanu<strong>na</strong> educación en materia de medios decomunicación concebida como u<strong>na</strong>preparación de los ciudadanos para elejercicio de su responsabilidad, que ya está<strong>na</strong>vasallan<strong>do</strong> con el desarrollo de la tecnologíade la comunicación, satélites de radiodifusión,sistemas de cable, combi<strong>na</strong>ción deorde<strong>na</strong><strong>do</strong>res y televisión, videodiscos, etc...que aumentan aún más la gama de opcionesde los usuarios de los medios decomunicación. Y en ese grupo nosencontramos to<strong>do</strong>s.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO401BibliografíaAparici, R. “La educación para losmedios de comunicación”. http://www.wolkoweb.com.ar/apuntes/textos/educacion_medios.rtfBlumer, Collective Behaviour (1946) enJARVIE, I.C. Sociología del cine. ColecciónUniversitaria de bolsillo. Cine y Sociedad.Ed. Guadarrama. Madrid, 1974.Bueno Abad, J.R. “La (ir)realidad creadapor los medios de comunicación” enYUBERO JIMÉNEZ, S.; LARRAÑAGARUBIO, E. y MORALES, J. F. (coords.). Lasociedad educa<strong>do</strong>ra. Dimensionespsicosociales de la educación. ColecciónEstudios. Ed. Universidad Castilla-LaMancha. Cuenca, 2003.Escudero Muñoz, J. “Investigación sobremedios de enseñanza: revisión y perspectivasactuales”, en Revista de Enseñanza.Universidad de Salamanca. Salamanca, 1983en Sevillano García, M.L. y BartoloméCrespo., D. Enseñanza-Aprendizaje conMedios de Comunicación y nuevasTecnologías. Universidad de Educación aDistancia. Madrid, 1996.Jarvie, I.C. Sociología del cine. ColecciónUniversitaria de bolsillo. Cine y Sociedad.Ed. Guadarrama. Madrid, 1974.Macbride Commision Report. Manyvoices, one world: towards a new more justand more efficient world information andcommunication order UNESCO, 1980.Millán, J.A. La lectura y la sociedad delConocimiento. Editorial Federación deGremios de Editores de España. Madrid,2001.UNESCO. “Texto de Constitución”.Artículo 1, punto 2-a. En TextosFundamentales. Edición 2000._______________________________1Universidad Católica San Antonio (UCAM)2UNESCO. “Texto de Constitución”. Artículo1, punto 2-a. En Textos Fundamentales. Edición2000. p. 83MACBRIDE COMMISION REPORT.“Many voices, one world: towards a new morejust and more efficient world information andcommunication order” UNESCO.”19804Hablamos de simbiosis ya que la relaciónque se establece entre la educación y los mediosdebe crear relaciones de dependencia, de tal mo<strong>do</strong>que la u<strong>na</strong> aproveche lo más positivo de la otra.5BUENO ABAD, J.R. “La (ir)realidad creadapor los medios de comunicación” en YUBEROJIMÉNEZ, S.; LARRAÑAGA RUBIO, E. yMORALES, J. F. (coords.). La sociedadeduca<strong>do</strong>ra. Dimensiones psicosociales de laeducación. Colección Estudios. Ed. UniversidadCastilla-La Mancha. Cuenca, 2003. p. 1416ESCUDERO MUÑOZ, J. “Investigaciónsobre medios de enseñanza: revisión y perspectivasactuales”, en Revista de Enseñanza. Universidadde Salamanca. Salamanca, 1983 en SEVILLANOGARCÍA, M.L. y BARTOLOMÉ CRESPO., D.Enseñanza-Aprendizaje con Medios deComunicación y nuevas Tecnologías. Universidadde Educación a Distancia. Madrid, 1996.7Blumer afirma que un grupo no estructura<strong>do</strong>“no tiene organización social, no es un conjuntode costumbres y tradiciones, no tiene establecidasnormas no ceremonial, carece de criterios devaloración propios, le falta u<strong>na</strong> estructura legal yno tiene jefatura establecida”. BLUMER, CollectiveBehaviour (1946) en JARVIE, I.C. Sociología delcine. Colección Universitaria de bolsillo. Cine ySociedad. Ed. Guadarrama. Madrid, 1974.8JARVIE, I.C. Sociología del cine. ColecciónUniversitaria de bolsillo. Cine y Sociedad. Ed.Guadarrama. Madrid, 1974. pp. 345-3469APARICI, R. “La educación para los mediosde comunicación”. http://www.wolkoweb.com.ar/apuntes/textos/educacion_medios.rtf10MILLÁN, J.A . La lectura y la sociedaddel Conocimiento. Editorial Federación de Gremiosde Editores de España. Madrid, 2001. pp. 45-46.


402 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO403La dieta televisiva en la infancia española.Aproximación al estudio de las audiencias infantilesAmelia Álvarez, Marta Fuertes, Ángel Badillo y Zoe Mediero 1La dieta televisiva en la infancia.Aproximación al estudio de las audienciasinfantiles desde u<strong>na</strong> perspectiva múltiple sepresenta como u<strong>na</strong> primera parte del ProyectoPigmalión (proyecto de investigación en losgéneros y medios <strong>audiovisual</strong>es y la lecturapara u<strong>na</strong> influencia óptima en el niño) 2 enel se pretende avanzar, por u<strong>na</strong> parte, en laconstrucción de indica<strong>do</strong>res para el Análisisde Contextos televisivos, y por otra, en elAnálisis de Conteni<strong>do</strong>s de las dietastelevisivas a partir de distintas dimensionesy factores da<strong>do</strong> que investigar la actividadde visio<strong>na</strong><strong>do</strong> infantil requiere un análisissistemático e integra<strong>do</strong> de todas lasinfluencias que el niño pueda recibir.Esta primera parte del estudio ofrece, apartir de los indica<strong>do</strong>res y méto<strong>do</strong>sconvencio<strong>na</strong>les de medición de audiencias ymediante otros nuevos dispositivosdesarrolla<strong>do</strong>s al efecto, datos de interés sobrela exposición de la infancia española a latelevisión, la composición psico-social delcontexto de recepción (visión individual o encompañía: coviewing), dieta tipo y programasy géneros consumi<strong>do</strong>s por sexo y edad. Enla mayoría de los casos, se han recogi<strong>do</strong> grancantidad de datos que no están, por elmomento, más que explora<strong>do</strong>s en sus primerosaspectos. La tarea, pues, que abordaremos demo<strong>do</strong> inmediato es un primer acercamientoa u<strong>na</strong> lógica de la dieta televisiva: conocerqué, cuánto y cómo consumen televisión losniños españoles y establecer en lo posible u<strong>na</strong>sprimeras tipologías tanto de los niños (porejemplo entre consumi<strong>do</strong>res ligeros, mediosy fuertes) como de los conteni<strong>do</strong>s.Estructura de la oferta televisiva infantilen EspañaEspaña es un país en el que el satélitey el cable llegan todavía a un pequeño,aunque creciente, porcentaje de la población,por lo que la oferta televisiva se concentraen los cinco opera<strong>do</strong>res estatales más unoo <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>les autonómicos según las zo<strong>na</strong>s.Tenien<strong>do</strong> en cuenta que la mayor parte dela programación de uno de los opera<strong>do</strong>res<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les priva<strong>do</strong>s, Ca<strong>na</strong>l+, se emitecodificada, la concentración se vuelverealmente llamativa pues en realidad laaudiencia se mueve entre los <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>lespúblicos de RTVE, las privadas Ante<strong>na</strong> 3 yTelecinco, y el/los ca<strong>na</strong>les autonómicosdisponibles en cada localidad.To<strong>do</strong>s los ca<strong>na</strong>les de televisión abierta enEspaña emiten programación infantil. Durantela época del monopolio, la mayor parte dela emisión de programación infantil seconcentraba en la franja de tarde, en el horariode vuelta del colegio -a partir de las 17:30/18:00- con perio<strong>do</strong>s en los que la primeracade<strong>na</strong> pública ni siquiera emitíaprogramación. La normalización democráticade RTVE, realizada a través del Estatuto dela Radio y la Televisión 4/1980, exige al entepúblico dirigirse “a to<strong>do</strong>s los segmentos deaudiencia, edades y grupos sociales” (art. 5).Los nuevos opera<strong>do</strong>res públicos surgi<strong>do</strong>s desde1982 en diversas comunidades autónomasheredaron esa obligación de RTVE -ademásde su estructura orgánica- a través de la Ley46/1983, que les dio carta de <strong>na</strong>turalezajurídica. La llegada de las emisiones privadas,como consecuencia de la Ley 10/1988,extendió las obligaciones del opera<strong>do</strong>r públicoa los nuevos concesio<strong>na</strong>rios priva<strong>do</strong>s de lagestión indirecta del servicio público televisivo.En los primeros años de la desregulacióntelevisiva en España, los nuevos opera<strong>do</strong>resmostraron u<strong>na</strong> intensa actividad en el campode la programación infantil, pero eldesplazamiento del interés hacia otrasestrategias de lucha por la audiencia han i<strong>do</strong>hacien<strong>do</strong> decaer la presencia de programacióninfantil en las parrillas de las televisionesgeneralistas. U<strong>na</strong> de las principalesestrategias, explica Vaca (1997), ha si<strong>do</strong> labúsqueda de horarios para la programación


404 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 1Evolución de la oferta de programación infantil emitida por las cade<strong>na</strong>s españolas,en minutos (1992-2003)Fuente: Taylor Nelson Sofres. Elaboración propia.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO405infantil en los que la decisión sobre elconsumo de televisión recayera sobre másmiembros de la familia, lo que ha consegui<strong>do</strong>desplazar esta programación a las primerashoras de la maña<strong>na</strong>, por razones que tienenque ver con la planificación global deaudiencias de las cade<strong>na</strong>s.De esta mo<strong>do</strong>, la creación de bloques deprogramación infantil en el tramo mati<strong>na</strong>l(entre las 7:00 y las 9:00 de la maña<strong>na</strong>) pareceexplicarse, en términos de audienciasdisponibles, por el hecho de que las <strong>do</strong>sdemandas <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes a esa hora son lainformación y el entretenimiento infantil. Enel análisis de Contreras y Palacio (Contrerasy Palacio, 2001), la competencia de la radiomati<strong>na</strong>l, fundamentalmente informativa y degran tradición y consumo en nuestro país,explica la derivación de muchos ca<strong>na</strong>les haciala programación infantil en los primeros tramosde la maña<strong>na</strong>, cuan<strong>do</strong> muchos niños “mandanen el man<strong>do</strong>”, utilizan<strong>do</strong> la expresión de Vaca.En to<strong>do</strong> caso, el público infantil pareceespecialmente relevante para losprograma<strong>do</strong>res de televisión pero, como cabeesperar de un modelo televisivo comercial,por razones de merca<strong>do</strong>. Esta cuestión resultacrucial para entender el fundamento de lapug<strong>na</strong> en los primeros años de ladesregulación televisiva en España por laaudiencia infantil, da<strong>do</strong> que siguien<strong>do</strong> elpunto de vista de los a<strong>na</strong>listas, “si un chavalde seis, ocho o diez años ve televisión, muycerca de él estará parte de su familia: padres,hermanos mayores o abuelos” (Vaca, 1997:301). Conseguir que el niño sea un “lealamigo” del ca<strong>na</strong>l puede garantizar que orienteparte del consumo familiar hacia el ca<strong>na</strong>l.Pese a to<strong>do</strong>, el entorno de fuertecompetencia y la búsqueda de audiencias noespecíficamente infantiles sino en las que losniños se incorporaran a u<strong>na</strong> audiencia grupal,como apuntábamos antes, parece ser, en losúltimos años, la apuesta de los programa<strong>do</strong>resde las cade<strong>na</strong>s generalistas de cara a laaudiencia infantil. En la franja de tarde, porejemplo, la programación infantil fueprogresivamente desplazada por los talkshowsy contene<strong>do</strong>res desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s a las amasde casa. El resulta<strong>do</strong> ha si<strong>do</strong> la llamativadesaparición de los conteni<strong>do</strong>s infantiles delas televisiones generalistas en los últimosaños. En la temporada de septiembre de 2003,TVE decidió recuperar la tradicio<strong>na</strong>l franjade programación infantil de las tardes, antela presión política y social 3 . El análisisrealiza<strong>do</strong> muestra la diferencia entre el pesoque tiene hoy en día la programaciónespecíficamente infantil en las televisionespúblicas (sobre to<strong>do</strong> autonómicas) frente alresto de opera<strong>do</strong>res, como se puedecomprobar en la figura 2.Figura 2Ciclo horario en minutos de oferta de programación inf<strong>na</strong>til comparadaentre públicas y privadas estatales 1992 y 2003Fuente: Taylor Nelson Sofres. Elaboración propia.


406 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPuede verse que las estrategiasprogramacio<strong>na</strong>les del conteni<strong>do</strong> infantil delas cade<strong>na</strong>s públicas y privadas y en <strong>do</strong>smomentos distintos - a principios de losnoventa y a principios de <strong>do</strong>s mil- son muydispares. Las cade<strong>na</strong>s privadas hacen, aprincipios de los noventa, u<strong>na</strong> importanteapuesta en la franja de maña<strong>na</strong> (antes de lasalida hacia el colegio), así como en la detarde (al regreso a casa del colegio), con unpico en la hora del mediodía refleja un intentode captar al sector infantil que va a comera casa. En 2003 desaparece por completo laoferta de mediodía y tarde, mantenién<strong>do</strong>sela de la maña<strong>na</strong>, aunque con menor peso entiempo de programación.La diferencia más significativa en la ofertade los ca<strong>na</strong>les públicos en las <strong>do</strong>s fechas esel aumento, en 2003, de la programacióninfantil en la franja de mediodía. Destacablees, que aún con todas las presiones socialesque como televisiones públicas han podi<strong>do</strong>recibir en los últimos años, el volumen deprogramación infantil en la franja de tardesigue sien<strong>do</strong> más bajo en 2003 que en 1992.Resaltar por último, que en la franja demaña<strong>na</strong> las cade<strong>na</strong>s privadas apuestan demanera más decidida que las públicas porla programación infantil (en cantidad) e<strong>na</strong>mbos perio<strong>do</strong>s, y que a principios de losnoventa, las privadas mantenían u<strong>na</strong>programación más abundante en las otras <strong>do</strong>sfranjas mencio<strong>na</strong>das, pero que en 2003 -loque hemos denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> principios de <strong>do</strong>s mildesaparececasi por completo la programacióninfantil de sus parrillas en los mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>shorarios.Los estudios de audiencia de la televisiónen el sistema <strong>audiovisual</strong> españolEn España y a nivel de merca<strong>do</strong>, losíndices de audiencia televisiva se obtiene<strong>na</strong> través de <strong>do</strong>s herramientas: el EstudioGeneral de Medios (EGM), realiza<strong>do</strong> por laAsociación para la Investigación de Mediosde Comunicación (AIMC) y el panelaudimétrico de la empresa Taylor NelsonSofres Audiencia de Medios. Pero lacomplejidad de un estudio de este tipo, unidaa la ausencia de investigaciones de caráctermeta-a<strong>na</strong>lítico, hacen que resulte difícilconocer el conteni<strong>do</strong> televisivo que consumenlos niños españoles. Actualmente es muygrande la distancia entre los estudiosrealiza<strong>do</strong>s desde la perspectiva del merca<strong>do</strong><strong>audiovisual</strong> (estudios de audiencia y deeficacia publicitaria o de campañas de imageny opinión) y las planteadas desde losrequerimientos <strong>educativo</strong>s y de atención a lainfancia. No sólo se manejan aproximacionesmeto<strong>do</strong>lógicas en bue<strong>na</strong> parte distintas, sinoque los datos y las relaciones perseguidasson de diferente carácter.El Estudio General de MediosEl EGM es un estudio multimedios quese realiza mediante u<strong>na</strong> encuesta a <strong>do</strong>micilioa u<strong>na</strong> muestra de alrede<strong>do</strong>r de 43.000individuos, dividida en tres en tres momentosdistintos del año 4 . La muestra tiene comouniverso de referencia los individuos de 14y más años que residen en hogaresunifamiliares de to<strong>do</strong> el país.El panel audimétrico de TN SofresAudiencia de MediosEl panel audimétrico que mantiene laempresa Taylor Nelson Sofres Audiencia deMedios es la principal referencia para elestudio de la audiencia de la televisión enEspaña. El panel se compone de alrede<strong>do</strong>rde 3.500 audímetros 5 denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>s activosindividuales. Ello significa que determi<strong>na</strong>nla audiencia de cada uno de los miembrosdel hogar en el que se instalan, para lo cualrequieren la cooperación de cada uno de losindividuos del panel, que deben identificarcuán<strong>do</strong> están vien<strong>do</strong> la televisión y cuán<strong>do</strong>se retiran mediante el man<strong>do</strong> a distancia delaudímetro. El tamaño muestral en individuospara noviembre de 2003 era de 10.289individuos.De este mo<strong>do</strong> tenemos, que sólo TNSofres abarca casi totalidad de edades e<strong>na</strong>udiencia infantil pues la segmenta en <strong>do</strong>sgrupos de edad distintos, de 3 a 9 años, y10 a 12 años -en los tramos que afectan alos objetivos sociodemográficos de esteproyecto de investigación sobre televisión yniños. Pese a que en el informe de situacióndel panel figura un tramo de 3 años, los datosque se ofrecen son sólo de individuos a partirde 4 años. TN Sofres facilita a las empresas


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO407del sector <strong>do</strong>s tipos de datos: los agrega<strong>do</strong>s,<strong>do</strong>nde se incluyen los datos básicos deconsumo de televisión diario por grandessegmentos sociodemográficos, y losdesagrega<strong>do</strong>s, en el que se encuentranidentifica<strong>do</strong>s cada uno de los individuos delpanel, que por su eleva<strong>do</strong> coste tan sólo esaccesible a las grandes cade<strong>na</strong>s de televisiónestatales y centrales de compras.El estudio de la exposición de la infanciaa la televisión desde nuestra investigaciónLa investigación en la que se engloba lacomunicación presentada estudia laexposición a la televisión de la infanciaespañola desde un enfoque sistémico eintegra<strong>do</strong> por estar ésta englobada dentro deto<strong>do</strong> un sistema sociocultural en proceso detransformación histórica. En ese esce<strong>na</strong>rio,el recurso a “complejos meto<strong>do</strong>lógicos” paraabordar el sistema eco-cultural se hacenecesario (Álvarez, 1990 y 1996; Valsiner,1994; del Río y Álvarez, 1994). Es evidenteque el cambio y el desarrollo no puedenestudiarse sin investigar la vida de los padresy de los hijos, el cultivo y las dietastelevisivas, el sistema eco-cultural (familia,escuela, comunidad) de manera integrada. Elconcepto de SSD (Situación Social deDesarrollo) aplica al medio cultural la ideaecológica clásica de un mun<strong>do</strong> o umweltespecífico “por edades” en cada cultura,aplica<strong>do</strong> en este proyecto a través del modelodesarrolla<strong>do</strong> por del Río y Álvarez (1994 y1996). Se trabaja con la creencia de que laexperiencia inicial del niño con la televisióncomo medio ape<strong>na</strong>s tiene importancia, y quees su conteni<strong>do</strong> lo que tiene un impactoacumulativo y duradero (Bickham, Wright yHuston, 2001).Pero el impacto ecológico de la televisiónes innegable pues es la actividad cotidia<strong>na</strong>más potente y extendida en to<strong>do</strong> el mun<strong>do</strong>,junto con la escuela. No cabe duda de quela televisión es un medio omnipresente.Históricamente los medios de comunicaciónse han valora<strong>do</strong> por su valor informativo,<strong>educativo</strong> y de entretenimiento, pero u<strong>na</strong> delas funciones actuales más importantes, sobreto<strong>do</strong> el medio televisión, es su valor psicosocialde sustituta de otros seres humanos.Este reemplazo lo practican los adultos ytambién los niños, como muestran los datosde esta investigación.Descripción del instrumento meto<strong>do</strong>lógicode dieta televisiva y entorno culturalDa<strong>do</strong> que el objetivo era extraer los datosde consumo televisivo de u<strong>na</strong> muestraseleccio<strong>na</strong>da (conocer qué programas de losemiti<strong>do</strong>s habían si<strong>do</strong> vistos) y que ésta estabacompuesta por niños, tuvimos que diseñar uninstrumento específico para recoger eidentificar lo más fielmente posible losprogramas oferta<strong>do</strong>s, que denomi<strong>na</strong>moscuestio<strong>na</strong>rio-parrilla, que aplicamos entre losdías 3 y 9 de noviembre de 2003 (ver Figura3). El primer problema que se encontró fuedecidir los criterios de selección de la muestrapara determi<strong>na</strong>r tanto las edades como elvolumen de población infantil que el equipopodía abarcar.El primero quedó resuelto con la selecciónpara el estudio de tres edades clave en eldesarrollo infantil como son los 4, los 8 ylos 12 años, quedan<strong>do</strong> así recogi<strong>do</strong> el abanicocompleto de edades concentradas en uncolegio español da<strong>do</strong> que se decidió que estosnúcleos de educación formal eran el lugarmás adecua<strong>do</strong> para demandar la informació<strong>na</strong> los niños. De este mo<strong>do</strong>, tenemos respuestasdirectas de los niños de 8 y 12 años,obtenien<strong>do</strong> la información de los de 4 añosa través de los padres, que además de estosdatos sobre el consumo televisivo de sus hijosdebían aportar otras informacionesrelacio<strong>na</strong>das con las situaciones de consumoa través de un cuestio<strong>na</strong>rio contextual queincluía items sobre el medio cultural del niñoy sobre el contexto cotidiano de recepcióntelevisiva y que fue administra<strong>do</strong> a los padresde to<strong>do</strong>s los niños de la muestra.El cuestio<strong>na</strong>rio contextual ha trata<strong>do</strong> deimplementar lo conoci<strong>do</strong> por investigacionesprevias definien<strong>do</strong> el ecosistema y actividadesintra-hogar y extra-hogar y su incidencia enel consumo de televisión. El cuestio<strong>na</strong>rio fueadministra<strong>do</strong> a la madre o perso<strong>na</strong> al cargode los niños en los tres tramos de edad. Seles enviaba a través de sus hijos con u<strong>na</strong>carta e instrucciones para sucumplimentación. La recogida se produjo conu<strong>na</strong> respuesta prácticamente ple<strong>na</strong>. Es deresaltar que, en general, la participación de


408 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtodas las perso<strong>na</strong>s involucradas en el estudio(niños, padres, profesores y tutores) ha si<strong>do</strong>positiva y eficiente, y se ha capta<strong>do</strong> un esta<strong>do</strong>de conciencia de que to<strong>do</strong>s se sentían anteun problema significativo y relevante.La distribución geográfica de los colegioscorrespondió a <strong>do</strong>s poblaciones de similarnúmero de habitantes pero de muy distintacategoría administrativa como son Salamanca,capital de provincia, y San Sebastián de losReyes, localidad cerca<strong>na</strong> a Madrid con u<strong>na</strong>organización cotidia<strong>na</strong> similar a la de u<strong>na</strong>gran urbe. La muestra contó con un total de439 niños, distribui<strong>do</strong>s en tres colegios(públicos y priva<strong>do</strong>s) de Salamanca, y en uncolegio público de San Sebastián de losReyes. La selección geográfica nos ofreciódirectamente qué programaciones debíamosa<strong>na</strong>lizar: las <strong>do</strong>s cade<strong>na</strong>s públicas estatales(TVE1 y La2), las <strong>do</strong>s cade<strong>na</strong>s privadasestatales en abierto (Tele 5 y Ante<strong>na</strong> 3), lacade<strong>na</strong> autonómica TeleMadrid (no sólo porlos niños de dicha comunidad, sino tambiénporque esta cade<strong>na</strong> se recibe en muchoshogares de Salamanca), y la cade<strong>na</strong> privadaCa<strong>na</strong>l+, pues parte de su programación esen abierto.El volumen de programación sobre el quepretendíamos sondear el consumo televisivode la población infantil se convertía en undesafío a la hora de diseñar nuestrocuestio<strong>na</strong>rio-parrilla, pues podíamos añadir alas citadas cade<strong>na</strong>s todas las emisoras localesde las <strong>do</strong>s zo<strong>na</strong>s así como las emisiones decade<strong>na</strong>s bajo satélite y el vídeo o DVDgraba<strong>do</strong> que los niños pudieran ver cada díade la sema<strong>na</strong>. Fi<strong>na</strong>lmente, decidimos dejarestos tres ámbitos para un cuestio<strong>na</strong>riocualitativo <strong>do</strong>nde cada niño (padre) escribieraqué conteni<strong>do</strong>s había visto bajo esas tresformas de emisión con la fi<strong>na</strong>lidad decompletar y equilibrar los datos obteni<strong>do</strong>smediante el cuestio<strong>na</strong>rio semi-cerra<strong>do</strong> quepasamos a detallar.El instrumento que debía detectar qué tipode conteni<strong>do</strong>s veían los niños es elcuestio<strong>na</strong>rio-parrilla y para su elaboracióncontamos con las parrillas programacio<strong>na</strong>lesque las propias cade<strong>na</strong>s nos suministraron conunos días de antelación, y que posteriormentedebimos contrastar con la parrilla real deemisión suministrada por NT Sofrescomproban<strong>do</strong> que éstas habían si<strong>do</strong>modificadas en algu<strong>na</strong> medida. Durante laadministración de la parrilla los niñoscorregían los programas que no habían si<strong>do</strong>emiti<strong>do</strong>s, lo que también nos ha ayuda<strong>do</strong> aelevar el gra<strong>do</strong> de fiabilidad que le otorgamosal instrumento.El principal objetivo de cara a laaplicación era que el cuestio<strong>na</strong>rio fuerasencillo y claro; de manera que los niñospudieran manejarlo sin dificultad para quediera el menor número de errores posible ensu cumplimentación y posterior codificación.No teníamos claro que los niños de 8 y 11años manejaran con soltura la lógica de loscuestio<strong>na</strong>rios convencio<strong>na</strong>les con casilla porlo que se decidió realizar un pre-test con 15niños de 7 años y un grupo de 12 niños de10 años evitan<strong>do</strong> la pérdida de sujetos dela muestra.Otro problema era la fiabilidad delrecuer<strong>do</strong> de cada niño, lo que nos llevó incluiren el cuestio<strong>na</strong>rio lo que denomi<strong>na</strong>mos u<strong>na</strong>“ayuda visual” para asegurarnos, en la mayormedida posible, que los niños sabíanexactamente a qué programas de televisiónnos referíamos: el recuer<strong>do</strong> visual en niñosde esas edades superaría el recuer<strong>do</strong>lectoescrito. Añadien<strong>do</strong> u<strong>na</strong> pequeña imagende cada uno de los conteni<strong>do</strong>s televisivos quese emitían pretendíamos adaptar elinstrumento a la muestra hacia la que ibadirigi<strong>do</strong>. Las imágenes se obtuvieron de laspági<strong>na</strong>s Web oficiales de cada u<strong>na</strong> de lascade<strong>na</strong>s de televisión, de bases de datosinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les de cine como Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>lMovie Data Base y de la captura de algúnfotograma de los programas. Cada u<strong>na</strong> delas imágenes se escogió atendien<strong>do</strong> a unoscriterios determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s: representatividad,claridad y actualidad. Escogimospreferentemente las imágenes que incluían alos protagonistas de los diferentes espaciostelevisivos, como por ejemplo lospresenta<strong>do</strong>res de los telediarios o losprotagonistas de la ficción <strong>do</strong>méstica, tratan<strong>do</strong>que el niño pudiera distinguir lo másexactamente posible cada espacio televisivo.En el caso de algunos programas de máximaaudiencia y difíciles de identificar con unperso<strong>na</strong>je, se decidió utilizar el logotipo oel a<strong>na</strong>grama correspondiente, caso porejemplo de la Champion League. De granimportancia es reseñar que sólo se incluyó


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO409la programación que se emitía en el horarioextraescolar.De todas formas, se incluyó la posibilidadde que los niños que por algún motivo(enfermedad, etcétera) no hubieran acudi<strong>do</strong>al colegio pudieran añadir en el reverso dela hoja de la parrilla visual los programasque habían visto y que no aparecían en lamisma.El primer cuestio<strong>na</strong>rio, el aplica<strong>do</strong> en elpre-test, se diseñó en formato DIN-A3compuesto por un enuncia<strong>do</strong> en el que seplanteaba la cuestión (se pedía a los niñosque indicaran con u<strong>na</strong> cruz aquellosprogramas hubieran visto de principio a finy sólo con u<strong>na</strong> diago<strong>na</strong>l aquellos que hubieranvisto parcialmente), un espacio para que cadaniño escribiera nombre y apelli<strong>do</strong>s y otro parael número de protocolo. Cada u<strong>na</strong> de lascolum<strong>na</strong>s de la cuadrícula representaba cadau<strong>na</strong> de las cade<strong>na</strong>s de televisión y cada u<strong>na</strong>de las filas representaba cada uno de losconteni<strong>do</strong>s emiti<strong>do</strong>s. Cada casilla de lacuadrícula contenía la correspondiente imagenencima de la que aparecía el nombre delprograma y la hora (estimada) de comienzodel mismo.Así, el cuestio<strong>na</strong>rio estaba diseña<strong>do</strong> paraaplicarse a primera hora de la maña<strong>na</strong>,simultáneamente en to<strong>do</strong>s los cursos queparticipaban en la muestra. Preguntan<strong>do</strong> acada niño sobre el consumo televisivo deldía anterior pretendíamos aminorar el riesgoque corríamos al depender de la memoria deniños de 8 y 12 años. La parrilla visual sesegmentó en franjas horarias siguien<strong>do</strong> laestructura diaria del niño por lo que seobtuvieron cuatro bloques los días de diario(maña<strong>na</strong>, mediodía, tarde y noche) y tres losdías de fin de sema<strong>na</strong> (maña<strong>na</strong>, tarde ynoche).Con el trabajo de pre-test se detectó elprincipal error de la parrilla visual: la grancantidad de información que se suministrabaal niño. Se decidió que la información debíadividirse y preorganizarse si queríamos queel instrumento respondiera con la deseadafiabilidad. Aún con to<strong>do</strong>, no podíamoselimi<strong>na</strong>r ningu<strong>na</strong> de las cade<strong>na</strong>s de televisiónseleccio<strong>na</strong>das ni queríamos renunciar a laayuda visual pues nos parecía clave para elrecuer<strong>do</strong>. De este mo<strong>do</strong>, se pensó quedebíamos seguir la lógica de la memoriasituada y cotidia<strong>na</strong> el niño en lugar deguiarnos por u<strong>na</strong> convención <strong>na</strong>cida de lasnecesidades de los propios medios decomunicación (la tradicio<strong>na</strong>l parrillaprogramacio<strong>na</strong>l). Pasamos a separar lainformación de los bloques ecológicos endistintas hojas, de tal forma que de un A3diario pasamos a cuatro A4 diariossuministra<strong>do</strong>s cronológicamente y de uno enuno: el niño debía lograra situarsetemporalmente asocian<strong>do</strong> la programacióntelevisiva con sus actividades cotidia<strong>na</strong>s.En la primera hoja-parrilla visual sepreguntaba sobre la programación que el niñohabía visto ese mismo día por la maña<strong>na</strong>,añadien<strong>do</strong> específicamente en el enuncia<strong>do</strong>“antes de venir al colegio”, para relacio<strong>na</strong>rlode u<strong>na</strong> manera aún más clara con la actividadcotidia<strong>na</strong> de un niño de su edad. La segundaincluía la programación que el niño podríahaber visto a la hora de la comida,relacionán<strong>do</strong>la con la hora desde la salidadel colegio y la hora de la comida. En latercera se preguntaba sobre los programas queel niño había visto el día anterior por la tarde,relacionán<strong>do</strong>los con la hora de la merienda.Y en la cuarta se incluía solamente lainformación sobre lo que cada niño habíavisto el día anterior por la noche, a la horade la ce<strong>na</strong>.A pesar de lo que pudiera parecer, eltiempo de aplicación no aumentó después deeste cambio en el diseño. To<strong>do</strong> lo contrario:u<strong>na</strong> organización eficiente de la informacióny u<strong>na</strong> selección cuida<strong>do</strong>sa de los estímulosque los niños recibían en cada momento hizoque el instrumento se convirtiera en uncalendario sistemático de la dieta televisivade cada niño a lo largo de u<strong>na</strong> sema<strong>na</strong> yu<strong>na</strong> vez que los niños automatizaron laestrategia de respuesta de las casillas, eltiempo de aplicación fue disminuyen<strong>do</strong>paulati<strong>na</strong>mente.Fi<strong>na</strong>lmente, y después de recoger los datosdurante los cinco días lectivos de u<strong>na</strong> sema<strong>na</strong>,se acudió el lunes siguiente a cada colegiopara recoger los datos correspondientes alconsumo televisivo del fin de sema<strong>na</strong>. Enesta ocasión, el hecho de que los niñosestuvieran ya muy familiariza<strong>do</strong>s con elcuestio<strong>na</strong>rio hizo que el volumen deinformación que se les pedía fuera másasequible.


410 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 3Cuestio<strong>na</strong>rio-parrilla visual del sába<strong>do</strong> 8 de noviembre de 2003desti<strong>na</strong><strong>do</strong> a niños de 8 y 12 añosFuente: departamentos de comunicación de las cade<strong>na</strong>s. Elaboración propia.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO411En general, comprobamos que los niñosconocen bastante bien la programación (tantola dirigida a ellos como la dirigida a lapoblación adulta). Esta familiaridad que losniños tienen con la programación televisivaelevó la fiabilidad del cuestio<strong>na</strong>rio. En sumayor parte, los niños saben lo que ven, eincluso -y sobre to<strong>do</strong> en el caso de los niñosde 12 años-, pueden hacer u<strong>na</strong> estimacióndel tiempo que han visto cada programa (ocuanto menos son capaces de responder silo vieron por completo o si sólo lo vieronparcialmente). Aunque con este méto<strong>do</strong> nose puede extraer el porcentaje del tiempo quelos niños pasan vien<strong>do</strong> cada programa,mediante el tacha<strong>do</strong> en aspa y media aspaintentábamos obtener, al menos, tiemposcompletos o parciales de visio<strong>na</strong><strong>do</strong>, así comoel zaping deduci<strong>do</strong> por el número de vecesque un programa estaba marca<strong>do</strong> a la mismahora.Primeros resulta<strong>do</strong>s sobre la dieta infantilEl consumo cuantitativoCuantitativamente el consumo medio delos españoles está defini<strong>do</strong> como uno de losmás altos de Europa, como se señalaba enel Informe Pigmalión. La media de losespañoles, establecida por audimetría para2003, señala las 3 horas y media (214minutos). El verano supone la etapa de menorconsumo pasan<strong>do</strong> a subir éste en otoño einvierno. Debe destacarse, sin embargo, queel consumo infantil es notablemente menor:desciende 1 hora hasta situarse en 2 horasy media (146 minutos). Mientras los niñosde 4 años se situarían en 131 minutos, losde 12 años subirían a 148 minutos, quedan<strong>do</strong>en el medio los niños de las edadesintermedias. Debe señalarse que lasaudiencias infantiles son mucho más sensiblesal ciclo estacio<strong>na</strong>l con oscilaciones másmarcadas según la estación, pero el verano,en lugar de suponer u<strong>na</strong> disminución delconsumo, marca en su caso la estación deincremento (vacaciones). En general seaprecia el impacto positivo del colegio y delas actividades de formación como secantedel consumo televisivo. A primera vista, ysuponien<strong>do</strong> u<strong>na</strong> dieta adecuada, estosconsumos no parecen excesivos según losparámetros inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les de estudios sobredesarrollo infantil y televisión. Pero es claroque u<strong>na</strong> parte de la población infantil sesituará con consumos muy por encima de lamedia.Los puntos fuertes del díaEn general los cronogramas muestran laexistencia de tres hitos o crestas temporalesdiarios (prime time): mati<strong>na</strong>l (punto álgi<strong>do</strong>8.30) , mediodía (punto álgi<strong>do</strong> 14.35) y noche(punto álgi<strong>do</strong> 22.25); la tarde muestra u<strong>na</strong>bajada gradual desde la cresta del mediodíahasta las 18.30 para volver a subir desde ahía la cresta noctur<strong>na</strong>. En general, la crestanoctur<strong>na</strong> desciende muy rápi<strong>do</strong> pero muestrau<strong>na</strong> parte significativa de niños que ven latelevisión después de la media noche (24.00).La curva de festivos incrementa to<strong>do</strong>s susniveles y tiende a relle<strong>na</strong>r los espacios entrelas tres crestas, constituyen<strong>do</strong> u<strong>na</strong> meseta deaudiencia televisiva a lo largo de to<strong>do</strong> el díasobre la que siguen sien<strong>do</strong> visibles las trescrestas.Dieta ofertada dieta consumidaEl estudio define con mucho detalle losprogramas más vistos, distinguien<strong>do</strong> entre losprogramas vistos de manera focalizada yaquellos vistos parcialmente, en atención ovisio<strong>na</strong><strong>do</strong> dividi<strong>do</strong>. Gerbner y suscolabora<strong>do</strong>res (1980) han sosteni<strong>do</strong> que elanálisis del cultivo muestra que la “selecciónes un mito” y que el merca<strong>do</strong> <strong>audiovisual</strong>tiende a u<strong>na</strong> alta homogeneidad en la dietaofertada. Potencialmente, en u<strong>na</strong> dietaofertada muy diversificada, la dietaconsumida mostraría también u<strong>na</strong> mayordiversidad que la que se produciría con u<strong>na</strong>dieta ofertada muy restringida y homogénea.Dada la gran concentración y homogeneidadde la dieta ofertada, no era por tanto deesperar que se diera u<strong>na</strong> gran diferencia entrelos programas preferi<strong>do</strong>s y los programasmás vistos: el efecto cultivo haría quetendieran a ser los mismos. El estudio recogeu<strong>na</strong> alta convergencia entre programaspreferi<strong>do</strong>s y programas más vistos. So<strong>na</strong>preciables sin embargo diferenciassignificativas por la edad, el sexo y el centroescolar.


412 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 4Los programas más vistos por los niños/as de 4, 8 y 12 años(Salamanca y Madrid)Fuente: Proyecto Pigmalión. Elaboración propia.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO413Figura 5Programas preferi<strong>do</strong>s por sexoFuente: Proyecto Pigmalión. Elaboración propia.


414 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 6Programas preferi<strong>do</strong>s por edadFuente: Proyecto Pigmalión. Elaboración propia.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO415U<strong>na</strong> de las aportaciones más densas delestudio es el conocimiento de los programasmás vistos (ver Figura 4) y de los programaspreferi<strong>do</strong>s para todas las edades estudiadas,por sexo (Figura 6) y por edad (Figura 7).Los programas más vistos establecen un matizpor modalidad (entre aquellos vistos porcompleto y los vistos parcialmente, zapean<strong>do</strong>entre varios o interfirien<strong>do</strong> la visión con otrasactividades); por ello conviene realizar u<strong>na</strong>triangulación -tarea en curso- con los datosaudimétricos que no establecen esa distinción.Pese a que, como hemos comenta<strong>do</strong>, lafranja de decisión o selección posible es muyestrecha, en general los programas preferi<strong>do</strong>spermiten conocer las tendencias del gustoinfantil y marcar ciertas distancias respectode las creencias de los programa<strong>do</strong>res. Hemosestableci<strong>do</strong> estas preferencias, además de porprogramas, con to<strong>do</strong> detalle, agrupan<strong>do</strong> losprogramas por géneros (taxonomía atendien<strong>do</strong>al conteni<strong>do</strong> -ver Figura 7-) y por formatos(taxonomía atendien<strong>do</strong> a los atributos técnicosy formales -ver Figura 8-).En general, por ambos criterios, aparecendiferencias muy claras en las preferenciasinfantiles. Ello permite contar con pautas claraspara el diseño de programaciones. En lamedida en que las diferentes cade<strong>na</strong>s orientansus programaciones también en función degéneros y formatos, es de esperar, como asíocurre, que ciertas cade<strong>na</strong>s sean más preferidasen ciertas edades (La2 para los niños de 8años; la TVE1, Telecinco y Ante<strong>na</strong> 3 para losde 12 años); o según el sexo (las chicasprefieren infoshows y concursos, mientras quelos chicos prefieren contene<strong>do</strong>res y deportes;los chicos prefieren más la La2, las chicasse incli<strong>na</strong>n más por Ante<strong>na</strong> 3 y Telecinco).La producción de los géneros y formatos,al igual que es más frecuente en u<strong>na</strong>s cade<strong>na</strong>sque en otras, tiene diferentes procedenciaspor su producción (<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l o extranjera).Hemos a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> también los datos de losgéneros y formatos vistos por los niños paradisponer de un conocimiento que puede serútil a la hora de desarrollar estrategiasculturales y políticas de diseño.Las preferencias pues cambian claramentecon la edad y están influidas por el géneroy por la cultura familiar y el desarrollocultural del niño.Figura 7Tipo de formato de los programas emiti<strong>do</strong>s por las cade<strong>na</strong>s españolasrecogidas en el estudioFuente: Proyecto Pigmalión. Elaboración propia.


416 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 8Tipo de género de los programas emiti<strong>do</strong>s por las cade<strong>na</strong>s españolasrecogidas en el estudioFuente: Proyecto Pigmalión. Elaboración propia.El ecosistema familiar y la SituaciónSocial de DesarrolloEl estudio de la AIMC (2002) realiza<strong>do</strong>entre niños de 8 a 13 años, sigue mostran<strong>do</strong>el papel estelar de la televisión en elecosistema cultural infantil. Sigue sien<strong>do</strong> elmedio más consumi<strong>do</strong>; muy por debajo, lasrevistas, internet (que escala posiciones añoa año) y la radio. Sólo un 7,4% de niñoslee la prensa diaria. Y pocos más van al cine,el 10,6%. Esto confirma la tendenciainter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que muestra que, por lo general,radio (dentro del hogar) y cine (fuera delhogar) son las actividades mediáticas más“desplazadas” por la televisión.Pero los datos también apuntan, como unhecho significativo en la dieta global delecosistema cultural infantil, al papel de latelevisión para homologar y absorber en lainfancia la dieta cinematográfica: el niño veel cine que programa la televisión. To<strong>do</strong> elloconfigura u<strong>na</strong> dieta que es sin dudaalfabetizada pero de un mo<strong>do</strong> marcadamente<strong>audiovisual</strong>. Los datos de nuestro cuestio<strong>na</strong>riocontextual resaltan <strong>do</strong>s hechos que nosparecen de la mayor importancia: los niñosque ven menos televisión utilizan más elorde<strong>na</strong><strong>do</strong>r, tienen más libros y juegan máscon hermanos e iguales; y que los niños queven más televisión, por el contrario muestrandebilidad en esas mismas tres variables.Téngase en cuenta que estas variables definenla Situación Social de Desarrollo del niñoen el nivel intra-hogar. Efectivamente, otrosestudios han mostra<strong>do</strong> (St. Peters, 1993) quecuan<strong>do</strong> el televisor está encendi<strong>do</strong> desciendela interacción con padres y hermanos. Existenpues un conjunto de factores sociales (númerode hermanos y de iguales accesibles, redfamiliar próxima de abuelos, tíos, etcétera),culturales (libro, orde<strong>na</strong><strong>do</strong>r) y ecológicos(disponibilidad de parques, cercanía de loscompañeros y amigos del colegio) queenriquecen o empobrecen el contextocotidiano (la SSD) del niño y que,conjuntamente, hacen más o menos decisivoel televisor como medio para lle<strong>na</strong>r la vidadel niño. Aunque se ha dicho que la televisióndesplaza juegos y deportes, también es ciertolo contrario: los juegos y deportes (y laaccesibilidad ecológica para ellos) desplaza<strong>na</strong> la televisión.En general, podemos decir que u<strong>na</strong> culturay un contexto (urbano, social, familiar,cultural) rico puede incidir en un menorconsumo de televisión. En nuestro estudioese hecho se muestra con diferencias altasen consumo televisivo (estadísticamente


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO417significativas) entre los niños de <strong>do</strong>s colegiosde Salamanca; los niños de uno de los centros,de contexto rico, ven como media la mitadde programas que los del otro centro.Pero incluso cuan<strong>do</strong> se ve la televisión,u<strong>na</strong> de las principales variables modula<strong>do</strong>raspara optimizar su impacto con procesos demediación en la ZDP (Zo<strong>na</strong> de DesarrolloPróximo), es la de visio<strong>na</strong><strong>do</strong> conjunto ocoviewing. Los datos audimétricos (2003,niños de 4 a 12 años) muestran que en Españase siguen mantenien<strong>do</strong> cotas entre moderadasy altas de coviewing: entre las situacionessociales de visio<strong>na</strong><strong>do</strong>, sólo un tercio de losniños españoles ve la televisión sólo, comola cuarta parte la ve con u<strong>na</strong> perso<strong>na</strong>, yalrede<strong>do</strong>r del 45% la ve en grupo más amplio.El coviewing desciende según el niño vahacién<strong>do</strong>se mayor: casi el 40% de los niñosde 12 años ven la televisión solos, frente aun 25% entre 4 y 6 años.Loa datos respaldan la necesidad dediseñar programas de apoyo al ecosistemacultural infantil para promover SSD óptimas.La solución parece que debe ser sistémicay orquestada, tanto en variables intra-hogarcomo extra-hogar, sin olvidar las accionesdirigidas a la familia para el adecua<strong>do</strong>tratamiento del contexto de recepción y delas dietas recibidas.


418 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaÁlvarez, A. Diseño cultural: u<strong>na</strong>aproximación ecológica a la educación desdeel paradigma histórico-cultural. Madrid,Fundación Infancia y Aprendizaje, 1990, 51-52, pp. 41-77.Álvarez, A. Los marcos culturales deactividad y el desarrollo de las funcionespsicológicas. Madrid, Universidad Autónomade Madrid, 1996.Bickham, D. A., Wright, J. C., &Huston, A. C. Attention, comprehension, andthe educatio<strong>na</strong>l influences of television. EnD. G. Singer y J. L. Singer (Eds.), Handbookof children and the media. Thousand Oaks,Sage, 2001, pp. 101-119.Contreras, J. M., & Palacio, M. Laprogramación de televisión. Madrid, Síntesis,2001.del Río, P., & Álvarez, A. Ulises vuelvea casa: retor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> al espacio del problemaen el estudio del desarrollo, en Infancia yAprendizaje, 66. Madrid, Fundación Infanciay Aprendizaje, 1994, pp. 21-46.del Río, P., & Álvarez, A. Postmodernliteracy: from Vygotski drama to <strong>audiovisual</strong>media effects. Comunicación presentada enel Congreso Vygotsky Centennial Conference:Vygotskian perspectives on literacy research,Chicago, febrero de 1996.St. Peters, M. The ecology of motherchild interaction. Lawrence, KA: Universityof Kansas, 1993.Vaca, R. Quién manda en el man<strong>do</strong>.Comportamiento de los españoles ante latelevisión. Madrid, Visor, 1997.Valsiner, J. Reflexivity in context:Narratives, Her-Myths anda the Making ofhistories in Psychology. En A. Rosa y J. Valsiner(Eds.), Explorations in Socio Cultural Studies(Vol. 1. Historical and theoretical discourse insocial anda cultural studies). Madrid, FundaciónInfancia y Aprendizaje, 1994, pp. 169-186._______________________________1Amelia Álvarez, (amal@usal.es), MartaFuertes (mfuertes@usal.es), Ángel Badillo(abadillo@usal.es) y Zoe Mediero(zmediero@usal.es), Universidad de Salamanca.2El Proyecto Pigmalión ha si<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>por el Centro Nacio<strong>na</strong>l de Información yComunicación Educativa (CNICE) del Ministeriode Educación, Cultura y Deporte.3Como consecuencia, el Grupo Popular enel Congreso llegó a presentar, en diciembre de2003, u<strong>na</strong> Proposición No de Ley relativa a quese regule, en el plazo más breve posible, laobligación de que algu<strong>na</strong> cade<strong>na</strong> de televisiónpública emita algún programa infantil por la tardeen los horarios en que los niños llega a casa. VéaseDiario de Sesiones, Congreso de los Diputa<strong>do</strong>s,núm. 882, 03/12/2003, pági<strong>na</strong>s: 28054-28057.4A la muestra de EGM se añaden 27.000encuestas telefónicas más para obtener los datos,combi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, de audiencia de radio denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>s“Radio XXI”.5La renovación muestral hace oscilarligeramente este dato cada mes. La muestrainstalada a noviembre de 2003, según los datosde TN Sofres es de 3.444 audímetros.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO419A educação popular no Brasil: a cultura de massaMaria da Graça Jacintho Setton 1IntroduçãoEm artigos anteriores, tenho lembra<strong>do</strong> quea emergência de uma cultura visual emidiática, desde o início <strong>do</strong> século, massobretu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s anos 70, no Brasil,aponta para uma nova configuração culturale educacio<strong>na</strong>l em nosso território, atingin<strong>do</strong>uma gama bastante heterogênea de públicos.Esta nova arquitetura sociocultural tende aoferecer uma multiplicidade e uma outraeconomia das linguagens simbólicas comotambém um outro modelo de aquisição eapropriação de conhecimentos (Setton,2002,2004).Neste senti<strong>do</strong>, a difusão generalizada <strong>do</strong>imaginário de uma ficção midiática, propostapela TV, cinema, rádio, imprensa escrita,Internet e out<strong>do</strong>ors, acaba por estimular, entrenós, uma nova organização de idéias e representaçõessobre o mun<strong>do</strong>. Entretanto, cabesalientar que embora to<strong>do</strong>s estejam submeti<strong>do</strong>sa influência desta nova configuraçãosocioeducacio<strong>na</strong>l, as gerações mais jovens sãoas que estão sen<strong>do</strong> precocemente socializadaspela cultura da imagem, <strong>do</strong> texto fragmenta<strong>do</strong>,da montagem e bricolagem incessantede informações. São elas que estão sen<strong>do</strong>formadas por uma série de processos<strong>educativo</strong>s informais muitas vezes em rupturaou em continuidade com o projeto pedagógicodas instituições tradicio<strong>na</strong>is de ensino.Neste senti<strong>do</strong> considero relevante, parao campo da educação, a reflexão sobre aimportância material e conseqüentemente,simbólica que a produção midiática mantémno Brasil. Ela faz parte <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> jovemem processo de escolarização. Ela oferecerecursos para estes jovens refletirem e acumularemidéias sobre suas condições de vida,sobre o processo de construção de suasrealidades. Mais <strong>do</strong> que isso, pode estimulalos<strong>na</strong> manipulação e <strong>na</strong> reelaboração <strong>do</strong>conhecimento formal e informal sobre omun<strong>do</strong>.De uma certa forma estou afirman<strong>do</strong> queas transformações de ordem cultural derivadas,sobretu<strong>do</strong>, da evolução dareprodutibilidade técnica <strong>do</strong>s textos e dasimagens, tal como a diagnosticada por WalterBenjamim (1983) <strong>na</strong> década de 30, <strong>do</strong> séculopassa<strong>do</strong>, colabora com uma nova forma deapreender, usar e usufruir as produçõesculturais. Para este autor, a evolução técnicapossibilita o despertar e a ampliação de nossasensibilidade perceptiva e cognitiva 2 . Oferecenovas condições de apropriação e recepçãode representações e conhecimentossobre o mun<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong> pode-se pensar<strong>na</strong> ampliação <strong>do</strong> <strong>potencial</strong> das capacidadesreflexivas <strong>do</strong> indivíduo contemporâneo. 3As transformações quantitativas da difusãodas mensagens – <strong>na</strong> forma de escrita ou<strong>na</strong> forma de imagens e sons – aguçam asensibilidade, ampliam a esfera e os espaçosdifusores de conhecimento (Morin,1984;Martín-Barbero, 1995, 2000, 2001). Emoutras palavras, podem induzir o aumento dacapacidade reflexiva pois oferecem umamultiplicidade de saberes constituin<strong>do</strong> umanova realidade perceptiva e cognitiva parao indivíduo das formações contemporâneas.Enfim, a maior difusão da informação ampliao escopo de um conhecimento de experiênciasalheias, virtuais, distantes das relaçõesface a face. Neste senti<strong>do</strong>, não seria maispossível pensar a educação em sua acepçãotradicio<strong>na</strong>l, como instrução formal empreendida,sobretu<strong>do</strong> <strong>na</strong>s instituições formais <strong>do</strong>ensino (Baccega, 2002; Citelli: 2002).É necessário estar aberto para outrasformas de aprendiza<strong>do</strong>, e aqui saliento aquelesdivulga<strong>do</strong>s por agentes que estão fora <strong>do</strong>scírculos legitimamente reconheci<strong>do</strong>s como<strong>educativo</strong>s. Embora com propostas distintasà escola ou à família, chamo atenção parao caracter socializa<strong>do</strong>r e <strong>educativo</strong> das produçõesmidiáticas. Chamo atenção para suacapacidade de <strong>potencial</strong>izar – em continuidadeou em ruptura - disposições em relação


420 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVao aprendiza<strong>do</strong> adquiridas previamente noambiente familiar ou escolar. Posto isso,penso ser necessário, para nós educa<strong>do</strong>res,circunstanciar os usos desse material<strong>educativo</strong> a fim de compreender a complexidadee a ambigüidade de suas realizaçõese usos, nos diversos segmentos sociais(Setton,1999,2002).Determi<strong>na</strong>ntes sócio-estruturais: a culturade massa no BrasilEm mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, e principalmentecom os governos militares, asociedade brasileira vê-se submetida a umanova ordem social e econômica. DesdeGetúlio Vargas <strong>na</strong> década de 30 e 40, segui<strong>do</strong>de Jucelino Kubitschek, nos anos 50 e,culmi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> <strong>na</strong>s políticas pós 64, assistimosa um alto volume de investimento <strong>na</strong> infraestruturada informação e <strong>do</strong> lazer. Perío<strong>do</strong>de grande efervecência política, inversõesfi<strong>na</strong>nceiras <strong>na</strong> consolidação de um projetopolítico integra<strong>do</strong>r, possibilitaram a criaçãode um merca<strong>do</strong> de cultura e bens de consumoaté então desconheci<strong>do</strong> por nós. Apoioinstitucio<strong>na</strong>l em políticas educativas utilizan<strong>do</strong>o rádio e o cinema (Espinheira, 1934;Franco, 2000), tecnologias avançadas para adifusão de imagens via satélites, apoio estatalnos empreendimentos culturais, com acriação da FUNART, EMBRAFILME, oumesmo nos subsídios à importação <strong>do</strong> papelpara a indústria editorial, promoveram, empoucos anos, as bases para a consolidação,sem precedentes, de uma cultura midiáticaem território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (Ortiz, 1988).Neste artigo, chamo atenção para o fatode que é possível constatar a especificidadede uma nova ordem sóciocultural, no Brasil,diferente da vivida pelos países como osEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e demais <strong>na</strong>ções européias.Em 1950, quan<strong>do</strong> as emissões de rádioestavam praticamente generalizadas em território<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o cinema levava multidõesàs salas de projeção e a difusão televisivadava seus primeiros, mas decisivos passos,metade da população brasileira era aindaa<strong>na</strong>lfabeta. O Brasil, juntamente com outrospaíses latino-americanos, constroem, respectivamente,uma história cultural a partir deoutras influências. Antes que a escola seuniversalizasse, antes que o saber formaltor<strong>na</strong>sse referência educativa para grandeparte de nossa população, antes que a línguaescrita estivesse generalizada em to<strong>do</strong> território<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o rádio, a TV e o cinema jáeram velhos conheci<strong>do</strong>s da população.É possível pois considerar que o imaginárioficcio<strong>na</strong>l das mídias há muito maistempo vem colonizan<strong>do</strong> os nossos espíritos.É possível considerar que este imaginário estámais presente e é mais familiar no cotidiano<strong>do</strong>s segmentos sociais brasileiros, sobretu<strong>do</strong>os segmentos com baixa escolaridade, <strong>do</strong> quepropriamente a cultura escolar. 4A materialidade <strong>do</strong> fenômeno da culturade massa no Brasil de hojeReforçan<strong>do</strong> o argumento deste artigo,alguns números podem nos ajudar a justificara importância da questão levantada.Atualmente, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> CensoDemográfico 2000, 53% da população brasileirafreqüentou menos de 7 anos a escola,ou seja, não ultrapassou o ensino fundamentale 27,7% ocuparam ape<strong>na</strong>s 3 anos osbancos escolares. Ape<strong>na</strong>s 47% estudaram de8 ou mais de 15 anos. De acor<strong>do</strong> com estamesma fonte, de um total de quase 45 milhõesde <strong>do</strong>micílios brasileiros pesquisa<strong>do</strong>s, 93%têm acesso à energia elétrica, 87,7% possuemtelevisão, 87,4% possuem rádio e 35,3%possuem video-cassete em suas residências.Neste senti<strong>do</strong>, é importante ressaltar quea heterogeneidade de acesso aos meios<strong>educativo</strong>s é um fato e suas implicaçõesbastante complexas para o campo da educaçãoformal e informal.Entre as mídias, a televisiva é a maisexpressiva, sen<strong>do</strong> necessário registrar aconfiguração <strong>do</strong> setor. As 65 emissoras<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, suas 349 gera<strong>do</strong>ras e afiliadas, bemcomo suas 1.818 retransmissoras, dão contade atingir quase a totalidade <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micíliosbrasileiros (de Lima, 2001). Ou seja, <strong>do</strong>squase 90% <strong>do</strong>s <strong>do</strong>micílios que possuem televisores,a ação pedagógicainformativa dasnovelas, seria<strong>do</strong>s, shows de variedades efilmes parece estar mais presente <strong>do</strong> que aação escolar entre os brasileiros menos privilegia<strong>do</strong>s.Fazen<strong>do</strong> uma breve pesquisasobre a programação oferecida pela TVaberta, pude observar a oferta crescente deprogramas de <strong>na</strong>tureza informativa e


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO421prescritiva. 5 Classifican<strong>do</strong> as ofertas dasemissoras, foi possível verificar que osconteú<strong>do</strong>s da programação transcendem aoaspecto pedagógico explícito da transmissão<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentários – Globo Repórter, RepórterEco, Planeta Terra – (1.840hs) 6 , ou dasprogramações propriamente educativas –Telecursos, Vestibulan<strong>do</strong> Digital, GrandesCursos Cultura, (2.405hs). Noticiáriostelevisivos (10.430hs) ou esportivos(3.225hs), com audiências significativas,revelam uma disposição <strong>do</strong> público de inteirar-sedas questões econômicas e políticasda ordem <strong>do</strong> dia. É sabi<strong>do</strong> que a ficçãotelevisiva, há muito, <strong>na</strong> forma de seria<strong>do</strong>s(1.510hs), novelas (3.435hs), filmes (780hs),desenhos anima<strong>do</strong>s e/ou programação infantil(6.260hs) e humor (350hs), preenchem oimaginário de crianças e adultos,disponibilizan<strong>do</strong> ou prescreven<strong>do</strong> comportamentos<strong>na</strong> diversidade de sua produção.Possibilitan<strong>do</strong> o acesso a comportamentos emodelos de conduta a partir de “celebridades”,ficio<strong>na</strong>is ou não, esta programação aomesmo tempo que integra a to<strong>do</strong>s a um idealde civilização (capitalista, he<strong>do</strong>nista econsumista), possibilita a uma multidão oacesso a um código de conduta que até poucotempo era restrito aos segmentos privilegia<strong>do</strong>s.Em uma análise simplista, poderia identificaruma polarização entre manipulação ouintegração a partir <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s propostospela programação televisiva. É possível. Nãoobstante, creio que seria mais prudente emenos tendencioso investigar as formas dearticulação e apropriação destas mensagenspelos diferentes públicos. Cabe comentarainda a crescente promoção de programasreligiosos e de variedade que sublimi<strong>na</strong>rmente(Ferrés, 1998) se propõem <strong>educativo</strong>s. Asemissões religiosas (5.365hs), as emissões queinvestem <strong>na</strong>s entrevistas (2.790hs), ou asemissões de entretenimento varia<strong>do</strong> queprovocativamente denomino paradidáticas– Note e anote, Bom dia mulher, Melhor datarde, Vinho e Mesa, Neurônios, Mochilão,Fica comigo, Vida e saúde, Mestre Cura,Chek In, Turismo <strong>na</strong> TV (14.200hs), grandeparte desti<strong>na</strong>das ao público jovem e feminino,especificamente, podem revelar umaidentificação <strong>do</strong> público com uma sede desaberes e informações que a sociedade lhescobra. Em um diálogo crescente entre anecessidade de informar-se, de estar pordentro das dicas <strong>do</strong> bem viver, de uma “certaarte de viver” valorizada socialmente, agrande maioria da clientela televisiva, engrossaos índices de audiência de uma programaçãoque oferece a preços módicos e semcobrança, uma “educação” que se vende apartir da emoção e da diversão. Programasreligiosos promoven<strong>do</strong> a vida ascética,regrada e discipli<strong>na</strong>da e programasparadidáticos que prescrevem, estimulan<strong>do</strong>a conduta “correta” para uma legião deadultos, homens, mulheres e jovens, expressam,a meu ver, uma demanda que há muitoa escola e demais agentes tradicio<strong>na</strong>is daeducação deixaram de promover (Dubet,1996).Trabalhan<strong>do</strong> de maneira interdependentecom a TV e demais mídias, temos o rádio,que também apresenta a característica deoferecer a seu público, muito mais que umsimples entretenimento musical e informativo.Uma série de vinhetas que disponibilizaminformações e saberes especializa<strong>do</strong>s estãoa to<strong>do</strong> tempo atingin<strong>do</strong> um público diversifica<strong>do</strong>.Não é raro ouvirmos dicas sobresaúde, cultura, turismo, meio ambiente e lazer,entre os noticiários <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l/inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l eesportivo, <strong>na</strong>s emissoras FM e AM, oferecidasao meio da programação musical. Omais antigo e mais acessível veículo popularde acesso à informação e entretenimento, noBrasil, ainda hoje, no início <strong>do</strong>s anos 2.000,disponibilizavam 2.013 emissoras.Saben<strong>do</strong> da capacidade de atingir amplasextensões, com baixos custos, as rádiospermitem a comunicação e a integraçãopolítico-informativa, universalizan<strong>do</strong> seuacesso, e como to<strong>do</strong>s sabem crian<strong>do</strong> umatradição como veículos de educação àdistância. Em relação ao cinema, em 2.000,segun<strong>do</strong> o Censo Demográfico, ape<strong>na</strong>s 14%da população brasileira declarou freqüentaras salas de projeção, mas é importante lembrarque 35,3% possuem vídeo-cassetes emsuas residências. 7 No entanto, a renda dasbilheterias <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, em trinta anos, aumentouoito vezes – R$ 529,5 milhões contraR$ 70,1% milhões. Esta aparente contradição,não obstante, explicita ape<strong>na</strong>s a mudançade hábito <strong>do</strong> brasileiro em relação a esteitem <strong>do</strong> lazer. Dan<strong>do</strong> preferência às salas em–


422 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVshoppings e concentran<strong>do</strong> em um únicosegmento seus consumi<strong>do</strong>res, o cinema pareceser um fiel entretenimento <strong>do</strong>s segmentosmais abasta<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, o crescimentodas locações e lançamentos de vídeos,expressam que o consumo cinematográficosó ampliou o uso <strong>do</strong>méstico da TV, conquistan<strong>do</strong>,aos poucos, outros segmentos menosprivilegia<strong>do</strong>s. Atualmente, segun<strong>do</strong> o SAJ –Assessoria Empresarial – LTDA, temos 5.867loca<strong>do</strong>ras no Brasil. O volume de vendas emfitas VHS, em 2002, foi de 2.833.961 e onúmero de fitas DVDs alcançou o registrode 4.988.008. A título de curiosidade, seriainteressante registrar que, segun<strong>do</strong> o AnuárioEstatístico de 1990, 52% <strong>do</strong> públicopreferem o gênero aventura e 49% comédia.Para os objetivos deste artigo, o importanteé salientar, no entanto, que o DVD foi lança<strong>do</strong>no Brasil em 1998, ou seja, há menos dedez anos. Naquela ocasião, a indústria vendeu20 mil aparelhos e 105 mil CDs, segun<strong>do</strong>da<strong>do</strong>s da UBV. Desde então, o preço <strong>do</strong>sleitores de DVDs caiu quase 50 por cento,aumentan<strong>do</strong> a possibilidade de uma parcelacada vez maior ter acesso a mais umeletro<strong>do</strong>méstico midiático.Em relação ao merca<strong>do</strong> fonográficovemos semelhante expansão. Segun<strong>do</strong> pesquisas,desde o Plano real, ou seja, mea<strong>do</strong>sda década de 90, nunca se vendeu tanto enunca tantas pessoas de renda mais baixativeram a oportunidade de comprar umaparelho de som. Cerca de 5 a 8 milhõesde pessoas que antes nunca tinham ti<strong>do</strong> umaparelho de som compraram um, depois <strong>do</strong>Plano Real. De acor<strong>do</strong> com esta mesma fonte,a popularização <strong>do</strong>s aparelhos de som foi tãorápida que num curto espaço de tempo – 1995e 1996 - foram vendi<strong>do</strong>s 10,7 milhões desistemas de som, número superior à populaçãode Portugal. A venda de CDs, em 1997,chegou em 104 milhões (Suplemento Mais,Folha de São Paulo,1998). Atualmente, emfunção da pirataria, o volume é da ordemde 79,6 milhões, 20% menor que em 2001.76% <strong>do</strong> total das vendas foram de produtosde artistas brasileiros. Os álbuns mais vendi<strong>do</strong>s,em 2002, são Xuxa, Xuxa só paraos baixinhos 3, Rouge, Popstar, RobertoCarlos, Roberto Carlos 2002, Vários, O CloneInter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, to<strong>do</strong>s de forte apelo popular.Seria interessante ressaltar também apremiação organizada pelo setor. Em 2003,o Disco de Ouro, relativo à venda de 100mil unidades, foi entregue o Disco Plati<strong>na</strong>,correspondente a 250 mil cópias, foi da<strong>do</strong>para Jorge Vercílio e a dupla Sandy e Junior,e o Disco de Plati<strong>na</strong> Duplo, totalizan<strong>do</strong> 500mil unidades, foi entregue ao CD da novelaMulheres Apaixo<strong>na</strong>das. Um total de mais deum milhão de cópias vendidas oficialmentepara um público que facilmente poderia serclassifica<strong>do</strong> como popular.Para o desenvolvimento <strong>do</strong> argumentodeste artigo, é importante registrar tambémque grande parte <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> fonográfico é de estudantes, 23%,ainda em idade escolar, ou seja, entre 15 a23 anos. Boa parcela, 46%, têm nível deescolaridade distintiva, isto é, nível médioe superior. Entretanto, 54% <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>resestudaram ape<strong>na</strong>s até oito anos (UBPD,União Brasileira <strong>do</strong>s Produtores de Discos,2001/2002). Para completar a análise daexpansão <strong>do</strong> consumo de bens da cultura demassa no Brasil, enfatizan<strong>do</strong> seu apelo informativoe prescritivo, e muitas vezespopular, seria importante considerar o merca<strong>do</strong>de impressos e o público deste setor.No que se refere ao acesso à leitura, recentepesquisa sobre alfabetismo/letramento, apontaque 67% da população brasileira encontramse<strong>na</strong> situação de a<strong>na</strong>lfabetismo funcio<strong>na</strong>l.Isto é, encontram-se nos níveis 1 e 2 queos caracterizam com um baixa habilidade ecompreensão da leitura.Em Os números da cultura, Abreu (2003),revela que, segun<strong>do</strong> o INAF 2000 (Indica<strong>do</strong>rNacio<strong>na</strong>l de Alfabetismo Funcio<strong>na</strong>l), 67% <strong>do</strong>sentrevista<strong>do</strong>s gostam de ler: 32% gostammuito e 35% gostam um pouco. Comentan<strong>do</strong>outra pesquisa, Retrato da leitura a autoraaponta que 98% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s possuemem suas casas material escrito, entre eles,livros didáticos, enciclopédias, dicionários,livros infantis, bíblias, livros sagra<strong>do</strong>s ereligiosos, livros técnicos e específicos, livrosde literatura e romances, agendas detelefone e endereços, calendários e folhinhas,livros de receitas de cozinha, álbum defamília, guias e catálogos. No entanto, notem,esta pesquisa não mencio<strong>na</strong> a produção<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de periódicos, fascículos e re-


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO423vistas em circulação. Se por um la<strong>do</strong>, a autorachama a atenção para a necessidade deampliar o entendimento sobre a leitura nouniverso brasileiro, integran<strong>do</strong> entre as práticasde leitura, álbuns de família, cadernetasde endereço etc., as pesquisas que comentaignora da<strong>do</strong>s sobre uma grande fonte deprazer e leitura que são as bancas de jor<strong>na</strong>l.Não obstante, é forçoso salientar que nesteitem, em 2001, segun<strong>do</strong> o InstitutoVerifica<strong>do</strong>r de Informações, 14.132.700 derevistas circularam em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Entre elas, as revistas relativas ao universocultural feminino (femini<strong>na</strong>, a<strong>do</strong>lescente,saúde, puericultura, trabalhos manuais, mo<strong>do</strong>,horóscopo - 1.750.041), revistas relativas aomun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s games e infanto-juvenis(1.317.050), juntamente com as revistasdesti<strong>na</strong>das ao segmento de interessa<strong>do</strong>s sobretelevisão e sociedade (1.288.232), destacamsecomo as campeãs em venda. Neste senti<strong>do</strong>,este merca<strong>do</strong>, embora tími<strong>do</strong> em relação aoutros países, <strong>na</strong> maioria desenvolvi<strong>do</strong>s,parece ser também um exemplo significativoque expressa o crescimento de uma culturade massa letrada no Brasil. Mais recentemente,<strong>na</strong> década de 70, Éclea Bosi, em seuclássico “Cultura de massa e cultura popular”,apontava que as revistas faziam parte<strong>do</strong> universo de leitura das operárias. Temassentimentais, horóscopo, religião, moda eramos mais presentes. Seria importante ressaltaraqui que a prática entre elas estava associadaà compra e a constante troca e circulação<strong>do</strong>s exemplares. Neste senti<strong>do</strong>, é possívelinferir um efeito multiplica<strong>do</strong>r destes números.Nos últimos anos, segun<strong>do</strong>, o AnuárioEstatístico de Mídia, comercializou-se, em2000, 931 títulos de revistas, sen<strong>do</strong> os quemais se destacam, como foi visto anteriormente,são os referentes a um segmentofeminino e a<strong>do</strong>lescente. No entanto, é expressivo,o número de 370 títulos, relativos arevistas que poderiam ser qualificadas tambémcomo paradidáticas. Ou seja, revistasde “vulgarização” de saberes e competências,conselhos, dicas de estilo de vida varia<strong>do</strong>s,competin<strong>do</strong> com as orientações quepodem e devem ser adquiridas <strong>na</strong>s escolas.Tal como verifica<strong>do</strong> com a mídia televisivae radiofônica a produção de entretenimentoimpresso, via revistas especializadas, ampliamo acesso à informação para um públicodiversifica<strong>do</strong> e jovem. Os títulos mais relevantes,em termos numéricos, se encontram<strong>na</strong> área da arquitetura, decoração e paisagismo(49), informática / games (33), construçãoe engenharia (29), arte, cultura e educação(20), entre outros. Assim, seria interessantechamar atenção para o fato de que todas elasdisponibilizam, <strong>na</strong>s bancas de jor<strong>na</strong>l, periódicae sistematicamente, um conjunto depreceitos ou princípios de conduta que ajudama orientar os comportamentos de seusleitores. É como se estas revistas oferecesseminformações e conhecimentos para umpúblico heterogêneo, conhecimento este antesrestrito a um universo de peritos. Poderiaafirmar, <strong>na</strong>s categorias de Anthony GiddensA educação popular no Brasil: a culturade massa 13 (1991), que elas estariam servin<strong>do</strong>para publicizar, com a TV e demaisprodutos midiáticos, uma educação fora <strong>do</strong>seixos tradicio<strong>na</strong>is, possibilitan<strong>do</strong> um aprendiza<strong>do</strong>,e uma circulação <strong>do</strong> saber, fora daescola. Não obstante, para fi<strong>na</strong>lizar este item,caberia registrar que o aspecto forma<strong>do</strong>r e/ou <strong>educativo</strong> de um imaginário ficcio<strong>na</strong>l dasmídias não é prerrogativa da cultura brasileira.Martín-Barbero (1995) salientava, nosanos 80, que a cultura de países comoMéxico, Argenti<strong>na</strong>, Chile e Brasil, se constituírama partir de uma configuração culturalbastante semelhante. Isto é, os meiosde comunicação de massa se fazem presentes<strong>na</strong> nossa história, construin<strong>do</strong> um culturahíbrida em que se mesclam referências dacultura erudita, da cultura popular e da culturade massa. Este amálgama entre as culturasseria então constitutivo <strong>na</strong>s configuraçõeslatino-america<strong>na</strong>s.Considerações Fi<strong>na</strong>isO objetivo deste artigo foi refletir sobrea cultura de massa no contexto das preocupaçõeseducativas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo.Chamei atenção para uma nova configuraçãocultural e portanto, educacio<strong>na</strong>l, que a sociedadebrasileira teve acesso ao longo desua história. Apresentan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s sobre ocrescimento da oferta de produtos da culturade massa e a paralela demanda de informaçõese entretenimento, pude observar que aprodução midiática complementa há muito,


424 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVa cultura e o saber escolar. Neste senti<strong>do</strong>busquei as raízes da tradição da culturamidiática brasileira e registrei a forte presençadestes produtos culturais <strong>na</strong> nossaformação, suas características paradidáticas,fortemente articuladas a um gosto popular.Antes que a escola se universalizasse,antes que o saber formal tor<strong>na</strong>sse referênciaeducativa para grande parte de nossa população,antes que a língua escrita estivessegeneralizada em to<strong>do</strong> território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, orádio, a TV e o cinema já eram velhosconheci<strong>do</strong>s da população brasileira. Assim épossível considerar que o imaginário ficcio<strong>na</strong>ldas mídias há muito mais tempo vem colonizan<strong>do</strong>os nossos espíritos. Mais <strong>do</strong> queisso, este imaginário está mais presente nocotidiano <strong>do</strong>s segmentos sociais brasileiros,sobretu<strong>do</strong> os segmentos com baixa escolaridade,<strong>do</strong> que propriamente a cultura escolar.Não obstante esta reflexão não se caracterizacomo uma defesa à cultura das mídias.Trata-se de uma constatação.Esta discussão justifica-se enquanto umalerta para nós educa<strong>do</strong>res. Um alerta sobrea especificidade da cultura brasileira bemcomo para uma nova ordem sociocultural e,portanto, educativa que o Brasil construiu aolongo de sua história. Este artigo é um esforçode chamar atenção para a particularidade <strong>do</strong>campo educacio<strong>na</strong>l atual. Creio que, antes decriticar ou e<strong>na</strong>ltecer as características dasmídias, devemos promover a indispensávelcomplementariedade da cultura midiática ea cultura da instituição escolar (Béraud-Caquelin, Derivry-Plard e Langouët,2000;Porcher,2000). Objetivamente não temosnenhuma razão para investir no antagonismoentre elas. Elas são bem diferentes, mas sãotambém, a meu ver sobretu<strong>do</strong> complementares.De um la<strong>do</strong> as mídias promoven<strong>do</strong> umaoutra maneira de apreender e produzir osobjetos culturais assim como promoven<strong>do</strong>outras modalidades de utilização destesprodutos. Ritmo acelera<strong>do</strong>, superficialidade,imediatez. Por outro, o sistema <strong>educativo</strong>responsável por um trabalho de base, fornecen<strong>do</strong>as condições e os meios de acesso aoconhecimento factual e crítico. A pesquisa,a reflexão, o conhecimento durável. E a escolaque deve desenvolver a missão de classificar,hierarquizar informações e saberes sobrea realidade <strong>do</strong> social (Béraud-Caquelin,Derivry-Plard e Langouët,2000; Porcher,2000).Neste senti<strong>do</strong>, penso que para refletirsobre a educação de hoje, no Brasil, é precisolevar em conta a educação proposta pelasmídias. E para compreender estaespecificidade é necessário desarmar nossosespíritos iluministas e propor abordagenssobre os usos diferencia<strong>do</strong>s que os segmentossociais fazem ou podem fazer da culturade massa (Setton, 2004). Mais <strong>do</strong> que ignorar,criticar ou supervalorizar as culturasdas mídias, seria necessário, a meu ver, apoiaros pontos de convergência entre essas duaspráticas educativas da contemporaneidade.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO425BibliografiaAbreu, Márcia (2003), Os números dacultura. In Letramento no Brasil. (org. VeraRibeiro). Ed. Global. São Paulo, (pp, 33- 46).A<strong>do</strong>rno, T.& Horkheimer, M. (1996),Dialética <strong>do</strong> esclarecimento. Ed. Zahar. Riode Janeiro.Baccega, Maria Aparecida, (2001), “Aconstrução <strong>do</strong> campo comunicação / educação:alguns caminhos” in Revista USP –Dossiê Comunicação, n/48 – dezembro,janeiro e fevereiro, pp18-31.Benjamin, Walter, (1983), “A obra de arte<strong>na</strong> era de sua reprodutibilidade técnica” in OsPensa<strong>do</strong>res, Ed. Abril. São Paulo. P p165-196.Béraud-Caquelin, H&Derivryplard,M&Langouët, G. (2000), Médias et école,médias ou école? In Les jeunes et les médiasem France. Observatoire de L’enfancce emFrance. Ed. Hachete. Paris. Pp.53-68.Bosi, Eclea. (11978), Cultura de Massae Cultura Popular – leituras de operárias.Ed. Vozes, Petrópolis.Burke, Peter (1989), Cultura Popular <strong>na</strong>Idade Moder<strong>na</strong>. Companhia das Letras. São Paulo.Citelli, Adilson, (2002), Comunicação eEducação – linguagem em movimento. Ed.Se<strong>na</strong>c, São Paulo.Espinheira, Ariosto, (1934), Radio eEducação. Ed. Companhia Editora Nacio<strong>na</strong>l.Rio de Janeiro.Dubet, Ber<strong>na</strong>rd (1996) Sociologia daExperiência. Instituto Piaget. Lisboa.Ferrés, Joan (1988), Televisão Sublimi<strong>na</strong>r– socializan<strong>do</strong> através de comunicaçõesdespercebidas. Ed. Artmed. Porto Alegre.Franco, Marília, (2000), Você sabe o quefoi o INCE. Texto apresenta<strong>do</strong> <strong>na</strong> III Sema<strong>na</strong>da Educação, FE-USP.Hallewell, Laurence,.(1985), O livro noBrasil – sua história. Edusp. São Paulo.Lima, Venício A. de (2001), Mídia –Teoria e Política. Ed. Fundação PerseuAbramo. São Paulo.Martín-Barbero, Jesús, (1995), Dosmeios às mediações - comunicação, culturae hegemonia. Ed. UFRJ. Rio de Janeiro.(2000), Os exercícios <strong>do</strong> ver. Ed. Se<strong>na</strong>c.São Paulo.(2002), La educación desde lacomunicación – Enciclopedia Latinoamerica<strong>na</strong>de Sociocultura y Comunicación. Grupo EditorialNor<strong>na</strong>. Buenos Aires.Mira, Maria Celeste, (1996), Momentos<strong>do</strong> livro no Brasil. Ed. Atica. São Paulo. (s/d), Circo Eletrônico – Silvio Santos e o SBT.Ed. Olho D’água. FAPESP, São Paulo.Morin, Edgar. (1984), Cultura de Massano século XX – o espírito <strong>do</strong> tempo – 1Neurose – Ed. Forense-Universitária. Rio deJaneiro.Ortiz, Re<strong>na</strong>to (1988), A moder<strong>na</strong> tradiçãobrasileira - cultura brasileira e indústriacultural. Ed. Brasiliense. São Paulo.(1992), Cultura Popular. Românticos eFolcloristas, Ed. Olho D’água. São Paulo.Porcher, Louis, (2000), Médias, internet,apprentissages, enseignements. InLes jeunes et les médias em France.Observatoire de L’enfancce em France. Ed.Hachete. Paris. Pp.201-220.Ribeiro, Vera Mazagão (org.) (2003),Letramento no Brasil. Ed. Global. São Paulo.Setton, Maria da Graça J. (2002), Família,escola e mídia- um campo com novasconfigurações. In Educação e Pesquisa,Revista da Faculdade de Educação – USP,vol.29––01-pp. 107- 116.(1999), Narrativas grupais e produtosda mídia: uma relação ambivalente in Cadernosda Pós- A educação popular no Brasil:a cultura de massa 17 Graduação – Institutode Artes – UNICAMP. Pp154-162.(2004), A educação popular no Brasil:a cultura de massa. In Revista da USP. Abrilde 2004. 34 pags.Publicações EspecíficasMerca<strong>do</strong> Brasileiro de Mídia (200/2002/2003) Associação Brasileira <strong>do</strong>s Produtoresde Discos. Câmara Brasileira <strong>do</strong> Livro –RelatórioProdução e Vendas <strong>do</strong> Setor EditorialBrasileiro (2001/2002)Anuário Estatístico de Mídia – 2003 . Ed.Marplan. São Paulo. Suplemento Mais, Folhade São Paulo, 1998._______________________________1Faculdade de Educação da Universidade deSão Paulo2“Aprofundan<strong>do</strong> a questão: há anos mepergunto por que os intelectuais e as ciênciassociais <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong> continuam majoritariamentepadecen<strong>do</strong> de um perti<strong>na</strong>z “mal-olha<strong>do</strong>”,


426 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque os faz insensíveis aos desafios culturais quea mídia coloca, insensibilidade intensificada dianteda televisão”(Martín-Barbero,2000:23).3Neste senti<strong>do</strong> W.Benjamim oferece umainterpretação positiva sobre o fenômeno da reproduçãodas merca<strong>do</strong>rias culturais, oferecen<strong>do</strong> umcontraponto às análises de outros teóricos comoA<strong>do</strong>rno e Horkheimer (1996), embora não descartasseo uso ideológico <strong>do</strong> <strong>potencial</strong> tecnológico.4É importante registrar que no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> séculoXIX, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e França contavam comape<strong>na</strong>s 14% e 18% de a<strong>na</strong>lfabetos, respectivamente.Ao contrário, o Brasil apresentava umpercentual de 84% <strong>na</strong> condição de a<strong>na</strong>lfabetos(Hallewell,1985;Mira, 1996). Ainda hoje, segun<strong>do</strong>o INEP, Instituto Nacio<strong>na</strong>l de Estu<strong>do</strong>s ePesquisas Educacio<strong>na</strong>is, a região rural brasileiraainda conta com 29,8% de adultos a<strong>na</strong>lfabetos ea região urba<strong>na</strong>, 15%. A escolaridade média <strong>do</strong>mora<strong>do</strong>r da zo<strong>na</strong> rural <strong>na</strong> faixa <strong>do</strong>s 15 anos oumais é de 3, 4 anos, enquanto que a urba<strong>na</strong> éde 7 anos. Em relação à infra-estrutura, só 5,2%delas possuem bibliotecas e 0,5% possuem laboratóriode informática, enquanto que <strong>na</strong> zo<strong>na</strong>urba<strong>na</strong> os índices são 58,6% e 27,9%, respectivamente.5Exlusivamente 10,6% possuem computa<strong>do</strong>re 8% usufruem de linhas telefônicas.6Esta classificação foi feita à partir da programaçãooferecida pelo jor<strong>na</strong>l Folha de SãoPaulo, em 11 das 12 emissoras de ca<strong>na</strong>l aberto(exceto a emissora 21), <strong>na</strong> última sema<strong>na</strong> <strong>do</strong> mêsde outubro de 2003. As categorias criadas paraa classificação são, 1 - educativas (<strong>do</strong>cumentários,educativas, entrevistas) 2- ficção (novelas, desenhos,seria<strong>do</strong>s, filmes, humor) 3 – informativos(telejor<strong>na</strong>is) 4 – religiosos 5 – paradidáticos, (Ficacomigo, Note e anote etc)7Exclusivamente 10,6% possuem computa<strong>do</strong>re 8% usufruem de linhas telefônicas.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO427Crescer com a Internet: Desafios e RiscosNeusa Baltazar 1O Projecto EducaunetO projecto Educaunet é um programa deeducação crítica para o uso da Internet queconta com a participação de sete paíseseuropeus: França, Bélgica, Reino Uni<strong>do</strong>,Di<strong>na</strong>marca, Áustria, Grécia e Portugal e temcomo objectivo ensi<strong>na</strong>r os jovens e os agentesenvolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> sua educação a utilizar aInternet de uma forma consciente, responsável,autónoma e crítica. Para este fim, foicria<strong>do</strong> um conjunto de ferramentas pedagógicasque constitui o kit europeu. Este kit,também denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> maleta pedagógica, era,inicialmente, único para to<strong>do</strong>s os paísesparceiros e os materiais encontravam-se emlíngua francesa. Após uma fase de validaçãodas actividades existentes <strong>na</strong> maleta pedagógica,a equipa portuguesa traduziu osmateriais e adaptou-os ao contexto <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,seguin<strong>do</strong>-se a edição <strong>do</strong>s materiais Educaunetem cada uma das línguas <strong>do</strong>s países participantes,ou seja, num kit <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Após a primeira fase de validação <strong>do</strong>smateriais e após algumas adaptações, onúmero inicial de actividades contidas <strong>na</strong>primeira versão da maleta pedagógica foireduzi<strong>do</strong> para <strong>do</strong>ze, existin<strong>do</strong> para cada umadas actividades um guião para o educa<strong>do</strong>re outro para os jovens. Todas as actividadesestão direccio<strong>na</strong>das para os diversos usos quefazemos da Internet (pesquisa, conversação,análise de sítios, análise de anúncios publicitários,etc.). Para além das actividades,existe ainda um guia <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, que temcomo principal objectivo familiarizar os pais,professores e educa<strong>do</strong>res em geral com asactividades e, principalmente, propor umameto<strong>do</strong>logia a utilizar para ajudar os seuseducan<strong>do</strong>s. Pretende-se, desta forma, que asactividades sejam acessíveis para qualquerpessoa, não sen<strong>do</strong> necessário que esta tenhauma formação <strong>na</strong> área da informática ou dasnovas tecnologias. Aliás, essa é uma das maisvalias <strong>do</strong> projecto: as actividades sãoexequíveis tanto em ambientes de altatecnologia como em ambientes de baixatecnologia.2. Validação das ActividadesNuma primeira fase <strong>do</strong> projecto, foramrealizadas acções de validação das actividadesinseridas no kit europeu. Estabelecemoscolaborações com algumas escolas <strong>do</strong> concelhode Faro, no Algarve, que se mostrarambastante interessadas e receptivas e que tiveramum papel muito importante para odesenvolvimento <strong>do</strong> projecto.Uma das escolas envolvidas foi a EscolaBásica de 1º Ciclo de Alto de Rodes, ondetrabalhámos com uma turma de 4º ano deescolaridade. Nesta escola, as actividadesforam adaptadas à realidade da escola etraduzidas para português pelos professores.Os alunos experimentaram as actividades noespaço da sala de aula, com o acompanhamentoda professora e não demonstraramdificuldades.Uma das actividades validadas com estesalunos foi o Teupatoa, um jogo para jovens<strong>do</strong>s 8 aos 16 anos, em que os participantesentram numa sala de conversação usan<strong>do</strong> umaidentidade falsa e tentam adivinhar as identidades<strong>do</strong>s seus colegas. Devi<strong>do</strong> à falta dealgumas condições da escola, a nível desoftware e de falta de espaço, os alunosdirigiram-se à Universidade <strong>do</strong> Algarve a fimde adquirir a componente prática que lhesfaltava. Foi realiza<strong>do</strong> um chat, conversa online,com duração de cerca de uma hora emque os alunos entraram numa sala de conversaçãoconstituída ape<strong>na</strong>s por elementos daturma, mas utilizan<strong>do</strong> alcunhas. Uma vez queos alunos já tinham realiza<strong>do</strong> a actividade<strong>na</strong> sala de aula e com o acompanhamentoda professora, tinham conhecimentos sobreo sistema de funcio<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>s chats, eencontravam-se alerta<strong>do</strong>s para os possíveisperigos que podem advir deste tipo de


428 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcomunicação on-line. Os alunos mostraramuma grande capacidade de aprendizagem eum grande entusiasmo, sen<strong>do</strong> fortementemovi<strong>do</strong>s pela curiosidade de saber quem seencontrava atrás de cada alcunha e manten<strong>do</strong>várias conversações em simultâneo. Quan<strong>do</strong>foi proposto um tema único de conversaçãono espaço comum verificou-se uma maiorconcentração por parte <strong>do</strong>s alunos, pois ofacto de falar com várias pessoas sobre váriosassuntos ao mesmo tempo havia gera<strong>do</strong>alguma dispersão. No entanto, os alunosmostraram-se mais interessa<strong>do</strong>s em falar emsalas privadas, onde podiam desenvolverconversas só com um elemento, ou seja,conversas de carácter mais priva<strong>do</strong>, ondequestio<strong>na</strong>vam os colegas sobre a sua identidadede forma a tentarem descobrir comquem estavam a falar. A curiosidade foi ofio condutor destas conversas, sen<strong>do</strong> oobjectivo descobrir quem era o outro. Nocontexto em que o chat foi realiza<strong>do</strong> (aconversação estava restringida a elementosde uma mesma turma) não existiam osmesmos riscos com que as crianças se podemdeparar num chat real em que possam comunicarcom desconheci<strong>do</strong>s. Todavia, osalunos foram alerta<strong>do</strong>s para os riscos queexistem quan<strong>do</strong> se fala com estranhos, quer<strong>na</strong> Internet, quer <strong>na</strong> vida real, nomeadamente,quanto aos cuida<strong>do</strong>s que se devem terrelativamente ao fornecimento de da<strong>do</strong>spessoais de identificação directa.Nesta mesma escola, os alunos de 2º e3º ano, pertencentes a um grupo etário entreos 7 e os 8 anos de idade, tiveram acessoa outras actividades Educaunet e mostraramsemuito interessa<strong>do</strong>s, conseguin<strong>do</strong> perceberas regras e os objectivos sem dificuldades.A grande maioria <strong>do</strong>s alunos mostrou interessenão só pelos jogos mas também porconhecer os perigos existentes <strong>na</strong> Internet.Na escola EB 2, 3 D.Afonso III desenvolvemostrabalho com alunos <strong>do</strong> 7º ano deescolaridade no âmbito da discipli<strong>na</strong> defrancês. Desta forma, criou-se umainterdiscipli<strong>na</strong>ridade que permitiu aos alunosaprender francês, adquirin<strong>do</strong> simultaneamenteconhecimentos sobre a Internet. Os alunostiveram acesso aos materiais Educaunet eexperimentaram, numa primeira fase, algunsjogos da maleta pedagógica. Apesar de estater si<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s uma primeira experiência emque os alunos jogaram com limitação detempo, os relatórios que elaboraram sobre asactividades demonstram que estas são, <strong>na</strong> suamaioria, muito apelativas e interessantes paraos jovens. Demonstraram um grande interessee curiosidade pela Internet, não ape<strong>na</strong>s noque diz respeito à componente mais lúdicadas actividades mas a um nível maisaprofunda<strong>do</strong>, mostran<strong>do</strong> dúvidas e colocan<strong>do</strong>questões sobre o tipo de pági<strong>na</strong>s queexistem e sobre os perigos a que estãoexpostos.Ten<strong>do</strong> em consideração os relatórioselabora<strong>do</strong>s pelos alunos, podemos concluirque existe um forte interesse pelas actividadesrealizadas em grupo, o que demonstraque a Internet não é ape<strong>na</strong>s um local deisolamento, como muitas vezes é afirma<strong>do</strong>,mas sim um local que privilegia a comunicaçãoe fomenta o trabalho de colaboração.Numa segunda fase de validação dasactividades contidas <strong>na</strong> maleta pedagógicafi<strong>na</strong>l, contámos com a colaboração da Escolade 1º Ciclo de Alto de Rodes, da Escola de1º e 2º Ciclos D. Afonso III, da Escola de1º e 2º Ciclos Nº 4, da Escola Secundáriade Pinheiro e Rosa e da Escola Secundáriade Loulé.Em todas estas escolas a colaboração eo interesse <strong>do</strong>s professores foi muito importantepara a realização das actividades noespaço da sala de aula e para a discussãosobre a Internet (quais os seus riscos, quaisos seus benefícios). A nível geral, to<strong>do</strong>s osalunos manifestaram um grande interesse pelouso da Internet, sen<strong>do</strong> a grande maioriautiliza<strong>do</strong>res habituais deste media.Uma das actividades que validámos foia Pesquisa <strong>na</strong> Rede, uma actividade depesquisa para jovens <strong>do</strong>s 12 aos 18 anos, quetem como objectivo desenvolver capacidadescríticas para avaliar a informação recolhidada Internet. Esta actividade foi realizada comduas turmas de 11º ano (faixa etária de 17anos) em duas escolas diferentes e os resulta<strong>do</strong>sobti<strong>do</strong>s foram bastante desiguais. NaEscola Secundária de Loulé, a grande maioria<strong>do</strong>s alunos não tinha computa<strong>do</strong>r comligação à Internet em casa e nunca tinhaefectua<strong>do</strong> uma pesquisa on-line, mostran<strong>do</strong>,por isso, muitas dúvidas e questões. Na EscolaSecundaria de Pinheiro e Rosa de Faro, to<strong>do</strong>sos alunos tinham computa<strong>do</strong>res com ligação


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO429à Internet em casa e já tinham realiza<strong>do</strong>pesquisas on-line por interesses pessoais ouescolares e não mostraram qualquer tipo dedificuldades. Partin<strong>do</strong> da análise destes <strong>do</strong>isexemplos, e ten<strong>do</strong> em conta que o contextotecnológico português é muito varia<strong>do</strong>,podemos concluir que existiu um processode descoberta e aprendizagem no caso daprimeira turma e um processo de aprofundamentode conhecimentos no caso da segunda.A nível geral, pudemos observar quegrande parte <strong>do</strong>s jovens, apesar de estarfamiliariza<strong>do</strong> com a Internet e habitua<strong>do</strong> afazer uma utilização quotidia<strong>na</strong> deste meiode comunicação, tem tendência a ignorar eminimizar os riscos a que está exposta quan<strong>do</strong>utiliza este media.Outra das actividades realizadas, o ComércioElectrónico, desti<strong>na</strong>da a jovens <strong>do</strong>s 14 aos16 anos, que tem como objectivo desenvolveras suas capacidades para se tor<strong>na</strong>rem consumi<strong>do</strong>rescríticos <strong>na</strong> Internet, ilustrou claramenteas incertezas que a maior parte <strong>do</strong>sutiliza<strong>do</strong>res sente relativamente a esta prática,cada vez mais importante nos nossos dias. Agrande maioria <strong>do</strong>s jovens nunca tinha feitocompras através da Internet e to<strong>do</strong>s consideravamque, apesar de esta actividade ser muitoprática e as suas mais valias serem reconhecidas,os riscos que lhe estão associa<strong>do</strong>s sãomuito grandes (por exemplo, as fraudes relacio<strong>na</strong>dascom os cartões de crédito). Observámosque existia uma grande falta deinformação e, consequentemente, uma incapacidadede a<strong>na</strong>lisar de forma crítica umapági<strong>na</strong> de comércio electrónico.Num outro tipo de abordagem, os alunos<strong>do</strong> 3º ano <strong>do</strong> curso de Ciências da Comunicaçãoda Universidade <strong>do</strong> Algarve realizaramtambém um estu<strong>do</strong> no âmbito da discipli<strong>na</strong>de Estu<strong>do</strong>s Culturais que se encontroude alguma forma liga<strong>do</strong> ao projectoEducaunet. O objectivo deste estu<strong>do</strong> relacio<strong>na</strong>va-secom a pesquisa e organização dainformação disponível <strong>na</strong> Internet. A discipli<strong>na</strong>aborda temas de identidades culturaisdiferentes e distantes da identidade cultural<strong>do</strong>s alunos. O caso de estu<strong>do</strong> foi a cantoraCatherine Ribeiro, uma luso-descendente que<strong>na</strong>sceu e vive em França onde se notabilizoucomo autora e intérprete da canção francesade intervenção. Este estu<strong>do</strong> relacio<strong>na</strong>va-secom o projecto Educaunet <strong>na</strong> medida em queestes jovens estavam a estudar também osriscos da Internet, nomeadamente no que dizrespeito à credibilidade da informação e àcontextualização adequada dessa informação.Um <strong>do</strong>s problemas da sociedade de informaçãoé precisamente o da credibilidade dainformação, e das suas fontes, que encontramosdisponível <strong>na</strong> Internet. A quantidadede informação on-line é tão vasta que se tor<strong>na</strong>,muitas vezes, um problema seleccio<strong>na</strong>r ainformação que nos interessa e que temfundamento. Como em muitos outros casos,a fonte é de grande importância para podermosconfiar ou não num sítio. Há sítios dereferência que já nos habituaram à suaqualidade e já deram provas da sua credibilidade.No entanto, nem sempre encontramostoda a informação que precisamos nossítios que já conhecemos como credíveis. Ainformação que encontramos <strong>na</strong> Internet émuito vasta e, <strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong>s casos, aquantidade ganha em relação à qualidade. Omais importante é que o utiliza<strong>do</strong>r estejaatento e consciente e tenha um espírito crítico,preocupan<strong>do</strong>-se em averiguar a qualidade <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s e não aceitan<strong>do</strong> toda a informaçãoque lhe surge, especialmente quan<strong>do</strong> temdificuldades de contextualização dessa mesmainformação.O tema da credibilidade da informação onlineé alvo de alguma controvérsia e tema demuitos debates recentes, como por exemplo,durante as primeiras Jor<strong>na</strong>das da Comunicaçãoda Universidade <strong>do</strong> Algarve, que contaram coma presença de Thierry de Smedt e Vitor Reia-Baptista, que apresentaram o ProjectoEducaunet, e José Pedro Castanheira, jor<strong>na</strong>lista<strong>do</strong> Expresso que chamou a atenção para osproblemas de credibilidade <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo onlinee de outras formas electrónicas de informaçãoe de opinião, tais como os comentáriosaos artigos publica<strong>do</strong>s em directo.Para além das escolas, o projectoEducaunet conta também com a colaboraçãoda Associação de Pais, a FAPEEFA, que sedisponibilizou e mostrou um grande interessepor esta iniciativa, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> realizadasalgumas acções de formação com a Associaçãode Pais de Faro e com a Associaçãode Pais de Lagos, no Algarve.Neste contexto, as técnicas da Equipa deAnimação <strong>do</strong> Sector Infanto-Juvenil daBiblioteca Municipal de Faro, a<strong>na</strong>lisaram as


430 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVactividades da maleta pedagógica e classificaram-<strong>na</strong>scomo lúdicas e pedagógicas, <strong>na</strong>medida em que permitem que o acesso àinformação e a aprendizagem se realizem deforma divertida.No entanto, os pais que participaram <strong>na</strong>análise da maleta pedagógica não tiveramuma opinião tão positiva como a das técnicasda Equipa de Animação. Segun<strong>do</strong> os pais,o objectivo <strong>do</strong> programa e a meto<strong>do</strong>logia sãomuito importantes, <strong>na</strong> medida em que existeuma preocupação por preparar os jovens paraos riscos que existem, tanto <strong>na</strong> Internet comono mun<strong>do</strong> real. Contu<strong>do</strong>, sentem algumarenitência, pois consideram que a curiosidademove os jovens e estes facilmente esquecerãoo que lhes foi ensi<strong>na</strong><strong>do</strong>.3. O papel <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>rSe tivermos em consideração que osjovens passam a maior parte <strong>do</strong> seu tempocom os educa<strong>do</strong>res e com os pais, o empenhodestes deve ser encara<strong>do</strong> como uma partefundamental no apoio ao ensino para o usoda Internet.De acor<strong>do</strong> com um estu<strong>do</strong> sobre os jovense as novas tecnologias, realiza<strong>do</strong> por PauloFerreira, Ricar<strong>do</strong> Mendes e Inês Pereira(2001), é em casa e <strong>na</strong> escola que os jovensmais consultam e utilizam as novas tecnologias,nomeadamente a Internet, o quereforça a ideia de que os pais e os professorestêm um papel fulcral no auxílio e <strong>na</strong>educação <strong>do</strong>s jovens para uma utilização maiscorrecta deste meio de comunicação.O facto de existir um adulto presente quepossa ajudar, explicar e alertar é fundamentale pode marcar a diferença. O facto é que,muitas vezes os pais não se sentem tão àvontade <strong>na</strong> Internet como os seus filhos poisnão estão familiariza<strong>do</strong>s com esta, enquantoas crianças rapidamente se adaptam e aprendema trabalhar com as novas tecnologias.Como defende Seymour Papert (1997), amaioria <strong>do</strong>s pais sente-se muito orgulhosa emrelação à facilidade de aprendizagem <strong>do</strong>s seusfilhos face à Internet, mas muitos sentemsetambém alie<strong>na</strong><strong>do</strong>s dessa realidade que elespróprios desconhecem.No entanto, o facto de as criançasmostrarem uma tão grande facilidade deaprendizagem no que respeita às novas tecnologiasnão significa que estas estejamconscientes <strong>do</strong>s perigos que existem <strong>na</strong>Internet e <strong>do</strong>s riscos que correm. Aliás, elaspodem muitas vezes estar expostas aosperigos sem os reconhecerem. De acor<strong>do</strong> comThierry De Smedt (2003), os jovens têmtendência a não atribuir importância aosriscos, consideran<strong>do</strong>-os sempre afasta<strong>do</strong>s dasua própria realidade. O facto de osutiliza<strong>do</strong>res da Internet se encontrarem,muitas vezes, num contexto familiar (em casaou <strong>na</strong> escola) enquanto <strong>na</strong>vegam <strong>na</strong> Internet,faz com que tenham tendência a sentir-seconfortáveis, protegi<strong>do</strong>s e despreocupa<strong>do</strong>s.Por isso, os educa<strong>do</strong>res têm um papel central:aconselhar, alertar e, especialmente,dialogar com os jovens sobre os perigos queexistem <strong>na</strong> Internet, tal como os devemaconselhar sobre os perigos que existem <strong>na</strong>ssuas vidas quotidia<strong>na</strong>s e que devem evitar.A própria partilha de experiências podepermitir aos utiliza<strong>do</strong>res mais experientesajudar os menos experientes. O que acontecegrande parte das vezes é que os utiliza<strong>do</strong>resmais experientes não são os pais ou professoresmas sim os mais jovens. Todavia, oseduca<strong>do</strong>res não deveriam sentir-se inibi<strong>do</strong>spor este facto, pois ele não significa que nãopossam ajudar os mais jovens. Antes pelocontrário, visto que grande parte <strong>do</strong>s jovensnão tem consciência <strong>do</strong>s riscos a que estáexposto quan<strong>do</strong> <strong>na</strong>vega <strong>na</strong> Internet.As tecnologias de filtro e/ou a proibiçãode aceder à Internet não será a solução paraos problemas que se colocam. De acor<strong>do</strong> comNúria Quinta<strong>na</strong> (2001), os educa<strong>do</strong>res devemfamiliarizar-se com a Internet e acompanharos jovens <strong>na</strong>s suas <strong>na</strong>vegações, falan<strong>do</strong>abertamente com eles e dan<strong>do</strong>-lhes conselhos.É essencial que os utiliza<strong>do</strong>res aprendam asregras básicas de utilização da Internet, queestejam elucida<strong>do</strong>s quanto ao tipo de pági<strong>na</strong>sexistentes e à funcio<strong>na</strong>lidade destas, de formaa conseguirem identificar sozinhos o que lhesinteressa e o que não lhes interessa. Vistoque os jovens aprendem facilmente a trabalharcom a Internet, a melhor opção é falarabertamente com eles sobre o que existe <strong>na</strong>rede e o que poderão encontrar. É importanteeducar para uma utilização positiva daInternet e criar uma consciência <strong>do</strong>s riscosque existem para que estes possam serevita<strong>do</strong>s. A prevenção deve ser uma aposta


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO431<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res. De acor<strong>do</strong> com SeymourPapert (1997) as novas tecnologias podemter um papel positivo ou negativo, dependen<strong>do</strong>da forma como são utilizadas. Assim,um utiliza<strong>do</strong>r consciente que conheça osriscos terá muitas mais hipóteses de fazer umautilização positiva da Internet. É com esteobjectivo que se pretende ensi<strong>na</strong>r os jovensa “ler” os media de forma crítica. Só assimconseguirão aproveitar todas as<strong>potencial</strong>idades disponibilizadas pela Internet,evitan<strong>do</strong> ao mesmo tempo os seus perigos.A Internet é um meio de comunicaçãoem constante expansão e transformação, cujofuturo é difícil de prever. É fundamentalapostar <strong>na</strong> educação para uma utilizaçãoconsciente, autónoma e crítica deste media,pois só assim conseguiremos aproveitar to<strong>do</strong>sos recursos que esta nos disponibiliza de umaforma mais benéfica.


432 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBevort, E. & Bréda, I. (2001) Les Jeuneset Internet, Paris. Clemi.Cuthell, J. P. (2001), Virtual Learning,Hampshire, Ashgate.De Smedt, T. (2003), “Internet Education:Research and Evaluation” in EPA InfoBulletin, Spring 2003, 28.Ferreira, P.; Mendes, R.; Pereira, I.;Costa, A. F. (orient.)(2001), Sobre a Leituravol. II. Jovens, Leitura e Novas Tecnologiasde Informação: A Biblioteca Afonso LopesVieira, Lisboa, Instituto Português <strong>do</strong> Livroe das Bibliotecas; Observatório das ActividadesCulturais.Jones, S. (1999), Doing Internet Research,Lon<strong>do</strong>n, Sage.Lévy, P. (1997), Cibercultura, Lisboa,Instituto Piaget (ed. 2000).Mann, C. & Stewart, F. (2000), InternetCommunication and Qualitative Research,Lon<strong>do</strong>n, Sage Publ..Papert, S.(1997), A Família em Rede,Lisboa, Relógio de Água.Quinta<strong>na</strong>, N. (2001), “Internet andminors: Toward a safer use of the net” inContext nº 25; 9-18.Reia-Baptista, V. (1994) “The Trainingof Teachers for the Age of Filmic Multimediaand Virtual Reality”, Wolverhampton, E. R.U., University of Wolverhampton.Reia-Baptista, V. (1995), ‘Contributospara uma Pedagogia da Comunicação’, emTecnologias de Informação e Comunicação<strong>na</strong> Aprendizagem, Lisboa, I. I. E., (ed. 1997).Reia-Baptista, V. & Baltazar, N. (2003),“Crescer com a Internet: riscos e desafios”,Huelva, Grupo Comunicar; Colectivo Andaluzpara la Educatión en Médios de Comunicatión.Sousa, Ivo D. (1999), O La<strong>do</strong> Negro daInternet, Lisboa, FCA-Editora.Wolton, D. (1999), E Depois da Internet?,Lisboa, Difel._______________________________1Universidade <strong>do</strong> Algarve.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO433A rádio de modelo multimediático e os jovens:a convergência entre o FM e a Internet <strong>na</strong>s rádios <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>isPaula Cordeiro 1A mudança <strong>na</strong>s rádios, e da rádio enquantomeio, é um fenómeno que se verifica desdeque a rádio envere<strong>do</strong>u, de forma irreversível,por um esquema de negócio mais profissio<strong>na</strong>l,basea<strong>do</strong> em técnicas moder<strong>na</strong>s de gestãoe de marketing. Estas mudanças estão aindaem desenvolvimento, com um necessárioesforço de comunicação das estações, parase aproximarem cada vez mais <strong>do</strong>s «seus»ouvintes. No momento actual, a tendência darádio vai no senti<strong>do</strong> da segmentação <strong>do</strong>souvintes por escalões etários e classes sociais,mais <strong>do</strong> que grupos de interesses,resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> especialização das rádios emtorno de géneros musicais. Ao contrário damaior parte <strong>do</strong>s países que nos servem deexemplo, Portugal tem um universo deouvintes bastante mais pequeno, razão pelaqual a proliferação de rádios temáticas nãotem sustentabilidade económica 2 .A tematização ainda não se verifica - serátalvez, o próximo passo -, função tambémda legislação que dividiu as rádios em <strong>do</strong>isparâmetros: musicais e informativas, sen<strong>do</strong>que as musicais, ainda que se assumam comorádios temáticas, estão obrigadas a umainformação de carácter generalista. É por essarazão que o nosso espectro radiofónico tempoucas rádios temáticas, ten<strong>do</strong> começa<strong>do</strong>ape<strong>na</strong>s há pouco tempo, a desenvolver estratégiasde especialização musical, mas queapresentam outros conteú<strong>do</strong>s de caráctergeneralista, como a informação noticiosa.No segmento da população mais jovem,existem em Portugal, três estações de rádioprivadas, claramente dirigidas ao target 14– 25 anos, e com uma especialização musicalem torno de diferentes quadrantesmusicais. A classificação faz-se em funçãoda capacidade <strong>do</strong>s seus emissores. Para estesegmento, temos rádios <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e regio<strong>na</strong>is(Ante<strong>na</strong> 3); cadeias de rádios (Best RockFM, Mega FM, Rádio Cidade e Voxx) e rádioslocais (Mix FM, Oxigénio e Radar). A MegaFM e Best Rock FM, ainda que não sejam<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, transmitem para as três principaiscidades <strong>do</strong> país – Lisboa, Porto e Coimbra.A Cidade FM acompanha, e acrescenta frequênciaspara as regiões <strong>do</strong> Alentejo, Ribatejoe Algarve. A única verdadeiramente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,operan<strong>do</strong> igualmente este escalão etário,é o ca<strong>na</strong>l jovem <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> – Ante<strong>na</strong> 3, comfrequências distribuídas por to<strong>do</strong> o território.Lisboa é a cidade onde estes projectos<strong>na</strong>sceram e se têm afirma<strong>do</strong>, ao mesmo tempoque se desenvolvem outros projectos locais,também de carácter musical especializa<strong>do</strong>, eque contribuem para o di<strong>na</strong>mismo desteconjunto de estações de rádio.Focalizan<strong>do</strong> esta abordagem num ambienteurbano, centra<strong>do</strong> <strong>na</strong> capital, encontramospara análise não só as estações já referidas,como quatro outras: Mix FM, Oxigénio, Voxxe Radar, completam o cenário das rádiosdesenvolvidas a pensar no segmento jovemda população da região metropolita<strong>na</strong> deLisboa. Na rádio, como em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>míniosda comunicação, os jovens são um segmentoao qual se devem dirigir formas e conteú<strong>do</strong>sde comunicação específicos. No sector priva<strong>do</strong>,a rádio está a ser encarada como entretenimento,numa perspectiva mais técnica emenos artística, deixan<strong>do</strong> as outras funçõespara o Serviço Público. O objectivo é tercada vez mais ouvintes, apresentan<strong>do</strong> umproduto que justifique o investimento publicitárioe proporcione um bom retorno fi<strong>na</strong>nceiro.Quais são então, os desafios da rádiopara este segmento da população? Que tipode programação apresentam as rádios em FMpara os jovens? Se a Internet é um <strong>do</strong>s meiosde comunicação mais utiliza<strong>do</strong> pelos jovens,qual a utilização que estas rádios fazem desteca<strong>na</strong>l? Como são os websites das rádios jovens<strong>na</strong> Internet?As rádios jovens em Lisboa: breve caracterizaçãoCom uma história que ultrapassa ossetenta anos de vida, a Rádio Re<strong>na</strong>scença temacompanha<strong>do</strong> a evolução da sociedade,


434 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVadaptan<strong>do</strong>-se com alguma habilidade aosnovos cenários da comunicação. Os seus trêsca<strong>na</strong>is, sustenta<strong>do</strong>s numa comunicação distinta,apresentam uma programação de caráctergeneralista, orientada em função <strong>do</strong>público que <strong>do</strong>mi<strong>na</strong> as audiências de cadaca<strong>na</strong>l. Na década de 90, o grupo Re<strong>na</strong>scençalançou um novo ca<strong>na</strong>l, generalista, dedica<strong>do</strong>a um público jovem e urbano. A RFMcresceu, e com ela o seu público, razãoprincipal para a criação, em 1998, de umanova estação - Mega FM -, para acompanharos gostos <strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong> ensino secundárioe superior. O seu target é constituí<strong>do</strong>por estudantes da grande Lisboa, entre os 15-24 anos e as suas emissões são ocupadas commúsica, locução dinâmica, pouca publicidadee notícias sobre música. Muito emborao seu formato musical se apresente generalista,sem assumir um género musical específico,os jingles de promoção da estação «atua música - o novo rock», assumem umaestratégia que procura de forma muito clara,ir ao encontro de uma geração mais nova,com gostos musicais ainda em definição 3 , masque se baseia no género rock.A Mega assume-se como uma estaçãocatólica jovem, concorren<strong>do</strong> no espectroradiofónico com espaço ocupa<strong>do</strong> por outrasestações direccio<strong>na</strong>das ao mesmo público. Adiferença é que <strong>na</strong> Mega há uma clarapreocupação com a música e a linguagem,no respeito <strong>do</strong>s valores fundamentais dapessoa ao nível humano e religioso. A MegaFM não pode definir-se como uma estaçãode rádio com conteú<strong>do</strong>s especializa<strong>do</strong>s, masuma estação dirigida a um público determi<strong>na</strong><strong>do</strong>,incluída num conjunto de rádios comtargets muito bem defini<strong>do</strong>s.O ano de 1998 introduziu a novidade nopanorama radiofónico <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, com o ressurgimentoda rádio Comercial e aprofissio<strong>na</strong>lização no esquema de exploraçãocomercial <strong>do</strong> meio. Com uma estratégiadefinida no senti<strong>do</strong> da formatação <strong>do</strong>s projectospara chegar a públicos bem defini<strong>do</strong>s,a Media Capital Rádio deu início a umprocesso de reformulações que agitaram omerca<strong>do</strong> da rádio. As duas novidades recentesforam a criação de uma nova estação,Best Rock FM e a mudança <strong>do</strong> perfil da rádioComercial.O lançamento deu-se a nível local, comemissões para as cidades de Lisboa e Porto,estan<strong>do</strong> o projecto delinea<strong>do</strong> para um formato<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. A BRFM assume um estilode comunicação marca<strong>do</strong> por uma posturamoder<strong>na</strong> e irreverente. Criada para recuperaros ouvintes deixa<strong>do</strong>s por esta estação,conquistar outros que se encontravamdispersos, e concorrer directamente no mesmotarget com outras estações jovens.A transferência <strong>do</strong> formato da rádioComercial para a Best Rock FM, deixouPortugal temporariamente sem uma rádio rockà escala <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, concentran<strong>do</strong> esses projectos<strong>na</strong> capital, com extensão, em algunscasos, para a cidade <strong>do</strong> Porto (Best Rock FM,Mega FM) e Coimbra (Mega FM). A BestRock FM é uma rádio formatada, com umaplaylist de rock contemporâneo, dirigida aotarget 18-26 anos. A programação «her<strong>do</strong>u»alguns <strong>do</strong>s programas mais importantes quefaziam parte da lista da Comercial. A «Hora<strong>do</strong> Lobo», um programa de cunho alter<strong>na</strong>tivoé um <strong>do</strong>s exemplos, assim como o«Programa da Manhã» que, nesta novaestação, pode ter um <strong>potencial</strong> maior, arriscan<strong>do</strong>em termos de linguagem, abordagemtemática e musical. Criada no ímpetodas rádios piratas, a rádio Cidade foi o anopassa<strong>do</strong> objecto de reformulação.Ao longo <strong>do</strong>s seus dezassete anos, a RádioCidade foi um projecto que marcou o meiorádio. O sotaque brasileiro, o ritmo deanimação, a produção, a sonoplastia, a criatividade,a alegria, os eventos e airreverência em ante<strong>na</strong>, foram alguns <strong>do</strong>saspectos definiram o projecto. Deixou ainspiração brasileira e assumiu-se comoCidade FM, uma estação moder<strong>na</strong> e comemissões dinâmicas de música comercial. Noseu segmento, actuam a Mega FM e a BestRock FM que usam como argumento o rock.A Cidade FM apostou em anima<strong>do</strong>res experientespara dar voz à estação, usan<strong>do</strong> amúsica pop como quadrante diferencia<strong>do</strong>r dassuas directas ameaças, cativan<strong>do</strong> especialmenteo público feminino.No campo das rádios privadas, destacamosoutras estações que, actuan<strong>do</strong> ainda numsegmento jovem, têm uma selecção musicale uma postura alter<strong>na</strong>tiva. Mix FM, Voxx,Oxigénio e Radar, são rádios locais que


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO435emitem ape<strong>na</strong>s para a região de Lisboa. AMix FM é um exemplo de rádio musical comdedicação exclusiva à música de dança. Aideia esteve em embrião até 1999, altura emque, depois de estu<strong>do</strong>s de merca<strong>do</strong> comprovarema viabilidade <strong>do</strong> projecto, foi criadaa rádio de rhythmdance. Esta estação, incluídano grupo MCR, assume a sua estratégiaempresarial de procura de rentabilidade atravésda fórmula que combi<strong>na</strong> o sucesso, comaudiências que permitam o lucro.Na Mix, a música é a mesma que se ouveà noite, nos principais bares e discotecas, parapessoas entre os 18 e os 34 anos, urba<strong>na</strong>se que gostam de se divertir. A programaçãotem um formato basea<strong>do</strong> numa playlist, mascom espaço para notícias e uma comunicaçãodescontraída e pouco formal, assentenuma plástica sonora muito agradável. Nocontexto de evolução da rádio, têm vin<strong>do</strong>desenvolver-se projectos com uma filosofiamuito própria. Se por um la<strong>do</strong>, a grandemaioria das rádios aposta num formato queregula toda a emissão, através de uma playlistcom temas organiza<strong>do</strong>s, frases pré-definidas,jingles e publicidade estruturada em funçãode critérios comerciais, ainda existem espaçosno éter que deixam expressar o «ser»de cada locutor.A rádio Voxx <strong>na</strong>sceu das cinzas da extintaXFM, para procurar ressuscitar a chama <strong>do</strong>universo radiofónico, através de um conjuntode programas essencialmente musicais, masque deixam espaço para apresentar coisasnovas, inovan<strong>do</strong> no estilo e no conteú<strong>do</strong> decada momento da emissão. «A melhor músicacá <strong>do</strong> prédio» é um som distinto, que nãose verga às ditaduras comerciais das grandesaudiências. O direito à diferença manifestasetambém nos programas que invadem o éterda Voxx, e provam que nem só de músicavive a rádio.A Oxigénio apresenta «música para respirar»,optan<strong>do</strong> por explorar sub-génerosmusicais liga<strong>do</strong>s ao drum’n’bass e temasremistura<strong>do</strong>s, numa interessante estéticasonora de identificação da estação, com umapostura despretenciosa ao microfone, informaçãonoticiosa à hora certa, rubricas eprogramas temáticos que exploram o universomusical da estação. O projecto Radarsurgiu como uma frequência alter<strong>na</strong>tiva querejeita o snobismo, mas que sabe manter umsegre<strong>do</strong> – o da comunicação e da capacidadede selecção. É um Radar liga<strong>do</strong> para o públicocom saudades <strong>do</strong> «la<strong>do</strong> B» <strong>do</strong> microfone, umarádio de playlists com respeito por melodiasesquecidas ou menos conhecidas.A RDP – Radiodifusão Portuguesa –entidade responsável pelo serviço público derádio no nosso país, tem uma oferta comunicativaque vai no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> pluralismo eda independência, com espaços consagra<strong>do</strong>spara to<strong>do</strong>s os sectores da sociedade. Numatentativa de ir ao encontro das necessidades<strong>do</strong> público mais jovem, a Ante<strong>na</strong> 3 apresenta-secomo o terceiro ca<strong>na</strong>l da RDP. Criadaem 1994, impôs-se de imediato no éter,constituin<strong>do</strong> o seu público a partir da transferênciade ouvintes <strong>do</strong>s outros ca<strong>na</strong>is nomesmo espaço concorrencial. Na actualidade,a grelha de programas aposta <strong>na</strong> músicanova e incide especialmente sobre músicaportuguesa, posicio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se no merca<strong>do</strong> darádio como uma estação essencialmentejovem e com forte carácter <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Aestrutura de programação <strong>do</strong> ca<strong>na</strong>l jovem daRDP destaca-se pela sua abrangência e porprogramas com que as suas mais directasconcorrentes não apresentam.Os programas de autor seguem uma lógicahorária e de alter<strong>na</strong>tiva aos espaços de playlista que alguns horários da programação estãosujeitos, servin<strong>do</strong> públicos minoritários. Emresumo, a generalidade das estações de rádiojovens integram opera<strong>do</strong>res priva<strong>do</strong>s e podemrepartir-se por <strong>do</strong>is grupos principais.A Rádio Re<strong>na</strong>scença dirige a Mega FM; aMedia Capital Rádio, detém a Best Rock,Cidade e Mix FM. Há ainda um conjuntode estações de menor dimensão, propriedadeda Lusoca<strong>na</strong>l, que concorrem para o desenhoconcorrencial em Lisboa. São elas a Oxigénio,a Radar e a Margi<strong>na</strong>l. O panoramacompleta-se com a enunciação de uma rádiotambém ela privada, mas independente dequalquer grupo de rádios, a Voxx, e oopera<strong>do</strong>r público, com a Ante<strong>na</strong> 3.No seu conjunto, podemos verificar queembora não se assumam como rádiostemáticas, todas estas estações se definempeculiarmente em termos musiciais e de estilode programação/animação, consideran<strong>do</strong> nãosó o factor idade, como os interesses que cadagrupo de jovens tem. A especialização musicalé mais concreta <strong>na</strong>s rádios de menor dimen-


436 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVsão, mas mais anunciada <strong>na</strong>s estações commaior potência e abrangência de frequência.Estas, constroem a sua identidade não só combase <strong>na</strong> playlist que dá a perso<strong>na</strong>lidade àestação, como numa estratégia de comunicaçãopara ganhar notoriedade e visibilidade.Algumas estações de rádio promovem-seno senti<strong>do</strong> de criação duma garantia para oouvinte, de um nível determi<strong>na</strong><strong>do</strong> deperformance e, embora muito próximas, duasestações podem parecer distintas, quan<strong>do</strong>baseadas <strong>na</strong> diferença de significa<strong>do</strong> veiculadapela sua imagem de marca. A publicidade,especialmente nos jor<strong>na</strong>is e out<strong>do</strong>ors,sempre existiu para as estações com maior<strong>potencial</strong> económico, mas hoje, as fórmulasde promoção e publicidade vão mais longe.Muito especificamente, a Media CapitalRádio tem estações de rádio absolutamentediferenciadas, complementares e com identidadespróprias que as faz distinguir daconcorrência e diferenciar entre si. Essadiferenciação vai ao ponto de se tor<strong>na</strong>r quaseimperceptível o grupo económico ao qualpertencem, pela quase inexistente referênciaà imagem institucio<strong>na</strong>l, sobrepon<strong>do</strong>-se umaforte comunicação no senti<strong>do</strong> da criação deuma imagem de marca para cada estação derádio.Tem si<strong>do</strong> feita uma gestão de marketingcuidada seguin<strong>do</strong> uma estratégia de crosspromotion que, no caso das rádios em questão,apresenta acções de publicidade <strong>na</strong>televisão e revistas <strong>do</strong> grupo, para o desenvolvimentode uma imagem de marca para,a longo prazo, fidelizar ouvintes/ consumi<strong>do</strong>res.Nestas rádios, a música assume-secomo principal argumento, sen<strong>do</strong> o critériode selecção musical dentro <strong>do</strong> género ousubgénero, o factor de diferenciação entre asestações. A estrutura de programação destasestações procura ir ao encontro <strong>do</strong>s interesses<strong>do</strong> segmento ao qual se dirigem, ten<strong>do</strong>em consideração que, dentro <strong>do</strong> mesmoescalão etário, os jovens se dividem porgrupos de interesse-identificação, sen<strong>do</strong> porisso, necessário categorizá-los em função <strong>do</strong>stemas e artistas que cada grupo prefere.Consideran<strong>do</strong> que o merca<strong>do</strong> radiofónico emPortugal é relativamente pequeno, e que estageração faz da Internet um potente alia<strong>do</strong> parao alargamento <strong>do</strong> seu universo musical, asestações em causa não everedaram ainda porum processo de tematização, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-sesegmentadas pela idade e especializadas nogénero musical, para dividir os ouvintes, semcontu<strong>do</strong>, colocarem definitivamente de la<strong>do</strong>,franjas da audiência geral que podem identificar-secom a estação, apesar da idade nãocorresponder aos critérios defini<strong>do</strong>s.Os noticiários têm um tratamento informativosuperficial, apresentan<strong>do</strong> os factos<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de relevo, e dan<strong>do</strong>,em alguns casos, destaque a temas liga<strong>do</strong>sà juventude ou que de alguma forma possamcontribuir para a sua formação e educação.No seu to<strong>do</strong>, e particularmente <strong>na</strong>s rádios demenor dimensão, a informação está intimamenteligada à música, acontecimentos artísticose culturais, com algumas rubricas queenchem a programação e quebram a roti<strong>na</strong>musical.Os passatempos são outro elementocomum <strong>na</strong>s estações em análise. Assumemsecomo uma forma de fidelização <strong>do</strong>souvintes e de conquista de audiências paraa estação. A tendência vai no senti<strong>do</strong> deoferecer prémios interessantes, prolongan<strong>do</strong>o passatempo ao longo da emissão e <strong>do</strong>s diasda sema<strong>na</strong>, apresentan<strong>do</strong> intercaladamente,da<strong>do</strong>s e informações úteis para concretizaro prémio e assim, manter os ouvintes sintoniza<strong>do</strong>smais tempo.A ligação ao ouvinte faz-se, <strong>na</strong> generalidade<strong>do</strong>s casos, com longas sequênciasmusicais. A ante<strong>na</strong> abre-se pouco à opinião<strong>do</strong>s ouvintes. Resume-se muitas vezes àpossibilidade de apresentarem um temamusical, em programas específicos. Ainteractividade baseia-se <strong>na</strong>s novas tecnologias,usan<strong>do</strong> o website da estação comopromotor da participação <strong>do</strong>s ouvintes <strong>na</strong>selecção musical (votação <strong>do</strong>s temas musicais),<strong>na</strong> participação em passatempos (SMS,correio electrónico), <strong>na</strong> troca de opiniões entreouvintes (fóruns e salas de conversação), <strong>na</strong>ssondagens (poll), e <strong>na</strong> troca de mensagenscom os anima<strong>do</strong>res da estação (correio electrónico).Assumin<strong>do</strong> a sua vertente comercial e deentretenimento, as rádios jovens privadasdeixam ao serviço público o cumprimento dasoutras funções da rádio enquanto meio decomunicação. A Ante<strong>na</strong> 3, procura de formaassumida, promover o serviço público derádio, mas falta-lhe uma aposta séria <strong>na</strong>


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO437divulgação da cultura jovem, que se afasteda espiral promocio<strong>na</strong>l em que as estaçõesse vêm envolven<strong>do</strong>. Ao ouvirmos a Ante<strong>na</strong>3, encontramos o mesmo tipo de promoção,ao mesmo tipo de eventos e produtos culturaisque <strong>na</strong>s estações comerciais. De facto,a RDP não proporcio<strong>na</strong> (pelo menos para oterritório <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l) um serviço público efectivopara a população portuguesa. É um factoque a Ante<strong>na</strong> 3 cumpre parte das suas funções,assentan<strong>do</strong> numa programação de divulgaçãomusical, mas falha por procurarcontinuamente conquistar mais audiências,num estilo que pouco se distingue das rádiosprivadas dirigidas às camadas mais jovens.O modelo multimediático de rádio e asrádios jovens <strong>na</strong> webA rádio vive neste momento um processode transformação extensivo e com consequênciasmaiores <strong>do</strong> que as primeiras grandesmudanças que enfrentou, quan<strong>do</strong> apareceramos transístores, ou quan<strong>do</strong> passou a emitirem Frequência Modulada. A digitalizaçãoabrange quase todas as tecnologias e processostécnicos. Multiplicam-se os ca<strong>na</strong>is <strong>do</strong>sdiferentes meios de comunicação que, <strong>na</strong> rede,apesar de manterem os traços distintivosorigi<strong>na</strong>is, reúnem formas flexíveis e multimédia,inerentes ao sistema digital.Em conjunto com a automatização e acompressão de si<strong>na</strong>l, tor<strong>na</strong>m-se mudançasfundamentais que abrangem os processos deprodução, emissão e recepção da rádio,chegan<strong>do</strong> ao ponto de alterar a <strong>na</strong>tureza <strong>do</strong>conceito, quan<strong>do</strong> a rádio é transposta paraum novo suporte que permite a combi<strong>na</strong>çãodas características da rádio com elementosmultimédia, numa plataforma de convergênciamediática. O modelo multimediáticocaracteriza-se por uma utilização da Internetenquanto suporte adicio<strong>na</strong>l para as estaçõesde rádio, para emissão e apresentação deconteú<strong>do</strong>s.A consulta e análise efectuada aoswebsites das estações jovens, levou-nos aconcluir que este está a ser utiliza<strong>do</strong> comouma estrutura de difusão paralela, apresentan<strong>do</strong>serviços e conteú<strong>do</strong>s distintos <strong>do</strong>sexistentes <strong>na</strong> emissão radiofónica em FM. Aselecção <strong>do</strong>s websites a a<strong>na</strong>lisar baseou-setanto no critério «medidas de audiência» derádio, como no facto das estações de rádioVoxx, Oxigénio e Radar, não estarem aindapresentes <strong>na</strong> web 4 . A estratégia para desenvolvimento<strong>do</strong> website depende <strong>do</strong>s objectivosque a estação emissora tem para o meioInternet. Nos casos em análise, estão organiza<strong>do</strong>scomo um meio distinto, em conformidadecom a rádio que lhe deu origem,representan<strong>do</strong> o que se passa em ante<strong>na</strong> eacrescentan<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>s que não existem noformato «on-air».O formato FM procura fazer a ponteentre a comunicação áudio e o website daestação, apelan<strong>do</strong> à visita, pela sugestão ereferência a conteú<strong>do</strong>s exclusivos, pela referênciaa passatempos, e pela solicitação demensagens via correio electrónico que seassume como o principal meio de contactoentre ouvintes e anima<strong>do</strong>res da estação. Estaspági<strong>na</strong>s são um vínculo entre o ouvinte e aestação, com informação de carácterinstitucio<strong>na</strong>l e organizacio<strong>na</strong>l, ao mesmotempo que agregam da<strong>do</strong>s sobre a programaçãoe informações de to<strong>do</strong> o género. Nogeral, os websites visita<strong>do</strong>s reflectem aperso<strong>na</strong>lidade da própria estação, com umdesign que as caracteriza inequivocamente.http://www.cidadefm.iol.ptA Cidade FM tem um website que reflectea identidade da estação, com umgrafismo apelativo, jovem e moderno. Procuraser origi<strong>na</strong>l, independentemente da<strong>na</strong>vegabilidade e facilidade de utilização. Apági<strong>na</strong> de entrada recorre a gráficos eanimações, faz uso da cor e das possibilidadesmultimédia da Internet para apresentaro menu de conteú<strong>do</strong>s. Nesta primeira pági<strong>na</strong>estão o ícone para escuta da emissão emdirecto, os passatempos em destaque, umscroll com o tema e o artista que está a tocare outro com as mensagens enviadas por SMSpara a estação. Estão também as principaisnotícias e acontecimentos em agenda. Nocampo da interactividade, há uma pági<strong>na</strong> paraconversação em tempo real, um fórum dediscussão e outra para registar o feedback<strong>do</strong>s ouvintes, relativo aos vários aspectos daestação emissora.A Cidade FM é uma estação orientadapara o entretenimento e no website há diversoscomponentes para distrair o utiliza<strong>do</strong>r,


438 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcomo testes de compatibilidade amorosa eoutros da<strong>do</strong>s relativos aos signos <strong>do</strong> Zodíaco.Apesar de apresentar conteú<strong>do</strong>s comrelevância para o seu público e corresponderaos principais aspectos da estação, no geral,o website da Cidade resume-se a cumprir asfunções de promoção e complementaridadehttp://www.mega.fmA Mega FM renovou há pouco tempo asua presença <strong>na</strong> web, com um conjunto depági<strong>na</strong>s que reflectem a cultura tecnológicae as moder<strong>na</strong>s tendências de grafismo edesenho de websites. A pági<strong>na</strong> de entradadisponibiliza os principais conteú<strong>do</strong>s daestação, os destaques e frequências para cadacidade com emissão em FM. Há também umlink para a escuta da emissão em directo, umscroll com o nome da música e <strong>do</strong> artistaque está a tocar e estão disponíveis informações<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> trânsito.O menu de conteú<strong>do</strong>s está sempre disponível,facilitan<strong>do</strong> a <strong>na</strong>vegação pelo site. Existeum link para o programa da manhã (háigualmente várias referências a este programaem to<strong>do</strong> o website) e para o principalpassatempo deste programa. Estão disponíveisnesta primeira pági<strong>na</strong> links para o topde músicas, votações (sondagens e topmusical), divulgação de acontecimentos (daresponsabilidade <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res), artistas emdestaque, notícias <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da música econtactos da estação, são alguns <strong>do</strong>s aspectosno menu e <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> de entrada da Mega.As «Karas» da estação também estãopresentes, numa pági<strong>na</strong> com as fotografiase as principais características <strong>do</strong>s anima<strong>do</strong>res.Mas ao contrário da maior parte daspági<strong>na</strong>s das outras estações, a interactividadenão é estimulada pela facilidade de acessoao endereço de correio electrónico de cadauma das figuras desta galeria. Facto que aliás,é comum às restantes pági<strong>na</strong>s, apresentan<strong>do</strong>ape<strong>na</strong>s o contacto institucio<strong>na</strong>l e o endereçode correio electrónico geral.Assume-se claramente como estaçãomusical, procuran<strong>do</strong> reflectir no website osprincipais aspectos desenvolvi<strong>do</strong>s em ante<strong>na</strong>.Está muito vira<strong>do</strong> para o aspecto promocio<strong>na</strong>lque a Net proporcio<strong>na</strong> às estaçõesde rádio, procuran<strong>do</strong> o seu desenvolvimentoenquanto fonte de informação musical, artísticae cultural para os ouvintes que queiramsaber algo mais sobre a estação, fidelizan<strong>do</strong>ospara integrarem este «Mega» universo.Contu<strong>do</strong>, este website procura ultrapassar oesquema de rádio companhia, para enveredarpor um caminho de rádio serviço, nomeadamentepela oferta de informações de trânsitoe pela subscrição da newsletter electrónica quepermite receber as novidades da estação <strong>na</strong>caixa de correio individual, manten<strong>do</strong> a estaçãoem contacto com os vários segmentosde ouvintes/utiliza<strong>do</strong>res. Os verdadeiros admira<strong>do</strong>resda estação podem inclusivamentefazer o <strong>do</strong>wnload de wallpapers exclusivosda Mega, uma tentativa para que a estaçãoesteja sempre presente, a cada vez que se ligao computa<strong>do</strong>r.http://www.bestrock.iol.ptO website da Best Rock tem uma apresentaçãográfica estimulante, com os conteú<strong>do</strong>sorganiza<strong>do</strong>s de forma acessível. Correspondeàs principais características (escuta online;informação sobre o nome da música e<strong>do</strong> artista que está a tocar; informações sobrea programação, música da estação; notíciasde música; tops e passatempos), e oferecevantagens adicio<strong>na</strong>is, como a possibilidadede participar nos passatempos a decorrer epesquisar os temas musicais músicas quetocam ou já tocaram, assim como umalistagem <strong>do</strong>s artistas rock.A possibilidade de «espreitar» aqueles quefazem a rádio é um <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong> menuprincipal. Cada espaço de emissão tem umapági<strong>na</strong>, com informações sobre as pessoaspor trás da voz. O site disponibiliza asfrequências da estação para as diferentescidades <strong>do</strong> país e <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> inicial há linkspara alguns programas específicos, como o«Homem que Mordeu o Cão» ou a «a Hora<strong>do</strong> Lobo», que no site tem um espaço paraa recepção de maquetes para avaliação peloresponsável <strong>do</strong> programa. A interactividadeé estimulada pela facilidade de acesso aoendereço de correio electrónico de cada um<strong>do</strong>s radialistas, e pela sala de conversaçãoque se apresenta como uma das formas maisfáceis e rápidas de interagir com a ante<strong>na</strong>da rádio e os restantes ouvintes.A fidelização <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res é umaspecto cada vez mais importante para as


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO439estações de rádio, face à diversidade dewebsites deste género. O programa defidelização <strong>do</strong>s ouvintes/utiliza<strong>do</strong>res <strong>na</strong> Bestpassa pelo registo, para acesso a conteú<strong>do</strong>sespecíficos e exclusivos, implican<strong>do</strong> o registocomo utiliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> iol.pt, um <strong>do</strong>s grandesportais <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, favorecen<strong>do</strong> a utilização(quan<strong>do</strong> permitida) das informações paraacções de publicidade, marketing e promoção,reforçan<strong>do</strong> a estratégia de crosspromotion entre os meios deste grupo decomunicação.http://www.ante<strong>na</strong>3.<strong>na</strong>3.ptTal como as restantes pági<strong>na</strong>s da RDP,a da Ante<strong>na</strong> 3 pouco ultrapassa as característicasde uma «montra» da estação. É noentanto, a estação com o site mais dinâmicoe rico em conteú<strong>do</strong>s, merecen<strong>do</strong> um endereçopróprio que não obriga a passar pelapági<strong>na</strong> inicial da RDP. A pági<strong>na</strong> de entrada,com notícias de música sempre actualizadas,é a porta para outras pági<strong>na</strong>s com música,cinema e passatempos, com informaçãodesenvolvida sobre as temáticas em questão.Os destaques da estação dizem respeitoàs músicas mais ouvidas e às mais votadaspelos ouvintes. Há também um espaço depassatempos, com a descrição, prazos eendereços para onde devem ser enviadas asparticipações, num processo decomplementaridade ao que é anuncia<strong>do</strong> peloslocutores <strong>na</strong> rádio. Estão disponíveis paraouvir as últimas edições de algumas rubricase o «Netzine», um magazine de informaçãoexclusivo para a Net ao qual se fazemconstantes referências <strong>na</strong> rádio em FM.A programação e o mapa das frequênciastambém são apresenta<strong>do</strong>s, bem como umaextensa lista de links sobre vários aspectosliga<strong>do</strong>s à música. No capítulo interactividade,a Ante<strong>na</strong> 3 suplanta todas as outras estaçõesobservadas no grupo RDP e equipara-se àsestações comerciais aqui apresentadas. Oscontactos electrónicos da equipa da estaçãoestão disponíveis assim como uma sala dechat, que põe em contacto os visitantes destesite. A perso<strong>na</strong>lização da informação e <strong>do</strong>acesso ao site não é assegurada, muito emboraesteja disponível uma newsletter, para receberpor correio electrónico. Dada a apostada estação <strong>na</strong> música nova e especialmente<strong>na</strong> música portuguesa, falta no website umapági<strong>na</strong> dedicada à música da Ante<strong>na</strong> 3, coma listagem <strong>do</strong>s temas que tocam e referênciasao essencial <strong>do</strong>s artistas e das bandas(especialmente as portuguesas) que encontrariamneste website, um veículo para sedarem a conhecer ao público. A possibilidadede acrescentar imagens, excertos demúsicas e links para os websites das bandas,tor<strong>na</strong>ria este espaço num <strong>do</strong>s mais importantesda Ante<strong>na</strong> 3.ConclusãoO futuro da rádio passa pela fragmentação,tanto em termos de conteú<strong>do</strong>s comoem termos de estilo. A variedade de camposde actuação desta tendência de especializaçãoé extremamente ampla, poden<strong>do</strong> resultarno desenvolvimento de ca<strong>na</strong>is com os maisdiversos conteú<strong>do</strong>s. O desenvolvimento dasrádios especializadas decorre no senti<strong>do</strong> dapromoção de um conjunto de estações comconteú<strong>do</strong>s exclusivos, <strong>na</strong>s vertentes da informação,música, cultura ou educação, paraatender a públicos específicos e que resultade um processo de profissio<strong>na</strong>lização darádio, basea<strong>do</strong> <strong>na</strong> a<strong>do</strong>pção de critérios estruturaisdesig<strong>na</strong><strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> desenvolvimentode estu<strong>do</strong>s de merca<strong>do</strong>.A segmentação <strong>do</strong> público, resulta<strong>do</strong> dasua subdivisão em função de interesses particulares,incrementa a especialização daprogramação das rádios. As estações emissorasprocuram oferecer um produto que vá aoencontro desses interesses, crian<strong>do</strong> formatosde acor<strong>do</strong> com as necessidades de programaçãoalter<strong>na</strong>tiva que decorrem da pluralidadede estilos de vida, grupos sociais, gostos eexpectativas <strong>do</strong> público, estenden<strong>do</strong> o seu raiode acção para a Internet. Neste novo suporte,as principais estações procuram não só apresentarum reflexo da estação, como desenvolverde conteú<strong>do</strong>s adicio<strong>na</strong>is.A forte implantação da Net no escalãoetário em referência revela que há igualmentea possibilidade de cada vez mais jovensescutarem a sua rádio preferida através daInternet. Esta será uma audiência que procuratambém a desig<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> nome da músicae <strong>do</strong> artista que está a tocar, a possibilidadede participar em passatempos ou os endereçosde correio electrónico <strong>do</strong>s locutores.


440 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA maior parte das estações a<strong>na</strong>lisadasdisponibiliza to<strong>do</strong>s estes elementos, mas háum receio geral de inovar e arriscar outrosconteú<strong>do</strong>s, porque isso implica a utilizaçãode recursos técnicos e humanos que muitasvezes as estações não dispõem e para osquais, muito possivelmente não terão qualquerrendimento. As estratégias operacio<strong>na</strong>isdesenvolvidas baseiam-se essencialmente<strong>na</strong> ideia de veículo de promoçãopara a estação e no eixo estabeleci<strong>do</strong> pelo<strong>potencial</strong> interactivo da Net, estan<strong>do</strong> ageneralidade das estações pouco vocacio<strong>na</strong>dapara a produção de conteú<strong>do</strong>s queexplorem os principais traços da identidadeda Internet.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO441BibliografiaBalle, Francis 1999 Médias et Sociétés,9ª ed., Paris, MontchrestienHerreros, Mariano Cebrián 2001 LaRadio en la Convergencia Multimedia,Barcelo<strong>na</strong>, Ed. GedisaRodrigues, A. D. s/d O Campo <strong>do</strong>sMedia, Lisboa, VejaDocumentos Electrónicos«Radio Station Web Site Content: an indepth look», Larry Rosin e Janel S. Shul(2000), Arbitron http://www.arbitron.com/<strong>do</strong>wnloads/radiostationwebstudy.pdf(10.09.02).«NetPanel: Relatório de Análises <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> Internet», Edição de Maio de 2002,Marktest,http://netpanel.marktest.pt/Downloads/Relatnetpanel_mensais_Maio_2002.xls#Índice!A1(12.01.04)Websites consulta<strong>do</strong>shttp://www.cidadefm.iol.pthttp://www.bestrock.iol.pthttp://www.mega.fmhttp://www.ante<strong>na</strong>3.pt_______________________________1Universidade <strong>do</strong> Algarve.2A criação de uma rádio só com informaçãosobre o merca<strong>do</strong> bolsista só pode fazer senti<strong>do</strong>dentro de um grupo de rádios mais amplo, comuma estratégia de complementaridade entre estaçõesque funcio<strong>na</strong>m como fontes de rendimentopara um projecto comum no qual os objectivosde cada estação convergem e estão integra<strong>do</strong>snuma estratégia de rentabilização maior, delineadaem função da complementaridade <strong>do</strong> grupo.3A Mega FM é uma estação claramentemainstream, passa rock moderno, mais antigo, e temasque não são rock, daí a dificuldade de caracterização.4Os websites das estações Oxigénio e Radarestão em fase de construção; A rádio Voxx estánuma fase de reestruturação <strong>do</strong> projecto.


442 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO443Educar para comunicar: u<strong>na</strong> reflexión sobre la formación de loscomunica<strong>do</strong>res en el contexto de la sociedad de la informaciónVivia<strong>na</strong> Fernández Marcial 1IntroducciónLa Declaración de Bolonia y las sucesivasdeclaraciones de Praga y Berlín han defini<strong>do</strong>el esce<strong>na</strong>rio de educación superior y elcamino a seguir por los países miembros dela Unión Europea. Los conceptos y puntosde vista que sustenta estas iniciativas demejora de la calidad de la enseñanza superiory de creación del Espacio Europeo deEnseñanza Superior (E.E.E.S.) sefundamentan en los condicio<strong>na</strong>ntes de unmun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>, marca<strong>do</strong> por la movilidadde las perso<strong>na</strong>s, y por tanto, por la necesidadde garantizar u<strong>na</strong> mayor competitividad delos profesio<strong>na</strong>les en el merca<strong>do</strong> laboral globalutilizan<strong>do</strong> criterios de racio<strong>na</strong>lización yexcelencia.La conformación de planes de estudio conu<strong>na</strong> estructura y organización adaptadas a losrequisitos de la sociedad de la informaciónque superen las limitaciones del modelo deenseñanza actual tiende a favorecer u<strong>na</strong>formación de calidad de los profesio<strong>na</strong>les.Sin embargo, cada titulación debe adaptar lasdirectrices definidas por la Unión Europeaal contexto, conteni<strong>do</strong>s y méto<strong>do</strong>s propiosde las diferentes áreas de formación.La indiscutible importancia de losprofesio<strong>na</strong>les de la Comunicación en lasociedad contemporánea ha lleva<strong>do</strong> a lareflexión reiterada sobre su formación porla ostensible incidencia de ésta en laefectividad del desarrollo de su actividadprofesio<strong>na</strong>l. Mas aún en el marco de lasociedad de la información en la que lageneración, transferencia y uso de éstarepresenta la clave del desarrollo de lasociedad, se hace aún más determi<strong>na</strong>nte elanálisis crítico del papel de loscomunica<strong>do</strong>res, y por consiguiente, de laformación de los mismos.El presente trabajo a<strong>na</strong>liza los cambiosen la enseñanza superior que se suscitan apartir de la Declaración de Bolonia, puntode inflexión que presupone un marco demejora sustancial de la formaciónuniversitaria, en general, y del área deComunicación, en particular. En este senti<strong>do</strong>,el presente trabajo revisa las diferentes críticasa las meto<strong>do</strong>logías utilizadas en la formaciónde los comunica<strong>do</strong>res a la vez que reflexio<strong>na</strong>sobre las habilidades y competencias que debeposeer un comunica<strong>do</strong>r, basa<strong>do</strong> en tresvertientes, la dimensión lingüística, ladimensión tecnológica y la dimensióninformacio<strong>na</strong>l.El espacio europeo de enseñanza superiorEn el ámbito universitario es bien sabi<strong>do</strong>que la Declaración de Bolonia, ha supuestoun cambio de senti<strong>do</strong> de la universidadeuropea. Ello ha significa<strong>do</strong>, en esencia, elinicio de un camino hacia la convergenciade conteni<strong>do</strong>s, meto<strong>do</strong>logías y procesosuniversitarios. El E.E.E.S. intenta crear unsistema de enseñanza europeo basa<strong>do</strong> encriterios y estándares de calidad comunes ycomparti<strong>do</strong>s por los esta<strong>do</strong>s miembros,garantizan<strong>do</strong> con ello unos niveles deconocimientos y habilidad, facilitan<strong>do</strong> así, lamovilidad de los profesio<strong>na</strong>les comunitarios.Uno de los cambios significativo queestablece este nuevo sistema de enseñanzaes la creación del sistema de créditoseuropeos 2 . El ECTS representan unimportante cambio meto<strong>do</strong>lógico. Losmismos implican u<strong>na</strong> mayor participación delalumno en su formación académica y u<strong>na</strong>evolución desde u<strong>na</strong> <strong>do</strong>cencia basada en elnúmero de horas en clases a u<strong>na</strong> formacióncentrada en el aprendizaje y en laparticipación activa del alumno en la creacióndel conocimiento. Este sistema organiza la<strong>do</strong>cencia, a diferencia del sistema actualbasa<strong>do</strong> en el número de horas de <strong>do</strong>cencia,en el volumen global de trabajo del estudiante,en términos de asistencia a clases teóricas


444 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVy prácticas, tiempo dedica<strong>do</strong> a la preparacióny al estudio de la asig<strong>na</strong>turas y los exámenes.Cabe resaltar que este sistema permiteabordar la enseñanza no sólo desde latransmisión y aprendizaje de conteni<strong>do</strong>s, sinoque aporta un nuevo enfoque basa<strong>do</strong> en eldesarrollo de competencias y habilidades,tales como, la capacidad investiga<strong>do</strong>ra, eltrabajo en grupo, el auto-estudio, la discipli<strong>na</strong>de trabajo. Esto queda explícitamenteexpresa<strong>do</strong> en la propuesta de la Conferenciade Rectores de Universidades Españolas(CRUE) de 2001, a saber 3 :“...la relevancia social de los estudiosdependerá en gran medida de lacalidad de la educación recibida, dela diversidad y flexibilidad de losprogramas con múltiples punto deacceso y salida, del desarrollo deaptitudes y habilidades para lacomunicación, la capacidad dejerarquizar la información, y eltrabajo en equipo”.El ECTS se define como un sistema quecombi<strong>na</strong> u<strong>na</strong> meto<strong>do</strong>logía de formaciónvertical y transversal. Es vertical en la medidaque persigue el <strong>do</strong>minio de unosconocimientos que se desarrollan a través delos programas de las asig<strong>na</strong>turas y módulosde conteni<strong>do</strong>s; transversal, pues fomenta eldesarrollo de aptitudes y actitudes a travésdel sistema antes cita<strong>do</strong>.La definición de competencias yhabilidades 4 en el contexto <strong>educativo</strong> ha si<strong>do</strong>aborda<strong>do</strong> por diversos autores e instituciones.A mo<strong>do</strong> de se puede citar las competenciasdefinidas por la Scottish Further EducationUnit 5 , a saber, habilidades de comunicaciónoral y escrita; habilidad numérica, tanto enla utilización de los números como en el usode gráficos, resolución de problemas, esto es,el desarrollo del pensamiento crítico, lacapacidad de organización y planificación, yde evaluación y análisis; aplicación detecnologías de la información; y la capacidadde trabajo en grupo.La definición del Espacio Europeo deEnseñanza Superior, no presupone, y así seexplicita en diversos <strong>do</strong>cumentos delParlamento Europeo, u<strong>na</strong> aplicaciónburocrática, rígida e imparcial de lasdirectrices definidas sino que se posee u<strong>na</strong><strong>na</strong>turaleza flexible. Por lo que el desarrollode habilidades ha de adaptarse a lascaracterísticas y condicio<strong>na</strong>ntes de cada áreacientífica. Por tanto, resulta convenientereflexio<strong>na</strong>r sobre las habilidades que han defomentarse en los comunica<strong>do</strong>res desde laformación universitaria.Modelos de formaciónLa formación de comunica<strong>do</strong>res no hapermaneci<strong>do</strong> al margen del sistema deformación, más o menos generaliza<strong>do</strong>, basa<strong>do</strong>en el mecanicismo, la memorización, y u<strong>na</strong>forma de enseñanza centrada en la transmisiónde conteni<strong>do</strong>s más que el desarrollo de unproceso de enseñanza-aprendizaje. Sien<strong>do</strong> así,no es infrecuente que muchos autores y endiversos foros del ámbito de la Comunicaciónse haya critica<strong>do</strong> y a<strong>na</strong>liza<strong>do</strong> de forma reiteradaesta problemática.Diversos enfoque o modelos pedagógicoshan existi<strong>do</strong>s en la formación decomunica<strong>do</strong>res. Uno de ellos es el enfoqueenciclopédico, formación que persigue queel estudiante posea un conocimiento dediferentes ámbitos del saber, logran<strong>do</strong> así,egresa<strong>do</strong>s con un perfil más de eruditos quede comunica<strong>do</strong>res. Otro méto<strong>do</strong> de formación,deriva de un enfoque del papel delcomunica<strong>do</strong>r, socialmente activo ytransforma<strong>do</strong>r, con esta visión la formaciónse orienta hacia u<strong>na</strong> vertiente humanista ysocial. Existe u<strong>na</strong> corriente opuesta, en la queel proceso formativo intenta abstraerse delentorno, rehuyen<strong>do</strong> así de la visión críticae ideológica que necesariamente está presenteen la práctica de la comunicación. Laformación con carácter neutral se centra, así,en u<strong>na</strong> formación instrumental-cultural.La corriente tecnicista, representa u<strong>na</strong>práctica formativa errónea. La misma semanifiesta en un tratamiento sesga<strong>do</strong> a favordel <strong>do</strong>minio de técnicas y de u<strong>na</strong> formaciónorientada a la práctica profesio<strong>na</strong>l olvidan<strong>do</strong>el contexto de enseñanza, la universidad ycon ello el resto de objetivos socio-culturalesque posee esta institución. En esta visiónreduccionista prevalece el acercamiento almerca<strong>do</strong> laboral.Más allá de estas críticas, el gran debatede la formación en estos momentos transcurre


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO445en un planteamiento de caráctermeto<strong>do</strong>lógico. Fuentes Navarro insiste en quela principal deficiencia en la formación decomunica<strong>do</strong>res radica en la pervivencia deu<strong>na</strong> formación estática, centrada en laexistencia de asig<strong>na</strong>turas y módulos deconteni<strong>do</strong>s y su relación con los aspectosprácticos; en menosprecio de la formacióndinámica <strong>do</strong>nde prima no sólo la estructurade materias adecuadas, integradas einterrelacio<strong>na</strong>das, sino además u<strong>na</strong> formaciónpor procesos, basada el desarrollo dehabilidades y competencias.Este desfasaje es especialmente negativoen el contexto de la sociedad actual marcadapor la presencia casi incondicio<strong>na</strong>l de losmedios y de las nuevas tecnologías de lainformación en to<strong>do</strong>s los ámbitos; laexistencia de cambios transcendentales en losestilos de vida <strong>do</strong>nde la calidad de vida seinterpreta con un mayor consumismo y u<strong>na</strong>reducción del esfuerzo y el compromisosocial; la existencia de un mun<strong>do</strong> diverso ya la vez más fuertemente interrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>.Esta nueva sociedad requiere un nuevomodelo de enseñanza-aprendizaje. Un cambioradical implica, en primer lugar, aban<strong>do</strong><strong>na</strong>r lavisión estática, funcio<strong>na</strong>lista, basada en latransmisión de conteni<strong>do</strong>s, en la que falta devisión sistémica. Esta perspectiva provoca laaprehensión del conocimiento desintegrada, enparcelas lo que cual dificulta la aplicación prácticay efectiva del conocimiento. Otro aspecto amodificar es que en el sistema prima lacomunicación unidireccio<strong>na</strong>l, <strong>do</strong>nde la formaciónes enseñanza y no un proceso de aprendizaje.Fuentes Navarro 6 señala otro aspecto esencialen la conformación de un nuevo modelo deenseñanza al definir que es conveniente“mas que los conteni<strong>do</strong>s específicosde esas representaciones, importadestacar las reglas y esquemasgenerativos de la significación y dela valoración de esos conteni<strong>do</strong>”.Este autor insiste además que la formaciónen competencias debe fomentar el uso de“recursos reflexivos”, entre los cuales seencuentra el <strong>do</strong>minio “del lenguaje paraubicarse en el contexto sociocultural”, y“controlar la información, sus códigos, yca<strong>na</strong>les de producción”. Este último setraduce como u<strong>na</strong> necesidad de alfabetizacióninformativa y tecnológica.Habilidades del comunica<strong>do</strong>rSe insiste, por tanto, en que la evoluciónhacia un sistema <strong>educativo</strong> excelente ha defundamentarse en el desarrollo de habilidadesy competencias. Conviene así, perfilar lashabilidades que habrán de implementarse enel ámbito de la formación de comunica<strong>do</strong>res.A saber:a) Habilidades comunicativas. Latransmisión de un hecho, u<strong>na</strong> idea requierede la habilidad para elaborar y expresar deforma efectiva un mensaje, u<strong>na</strong> idea, u<strong>na</strong>información. Las habilidades comunicativasrefieren al contexto del lenguaje escrito,habla<strong>do</strong>, <strong>audiovisual</strong> y también, se aplica<strong>na</strong>l terreno de la comunicación interperso<strong>na</strong>l.b) Utilización práctica de las tecnologías.La actividad del comunica<strong>do</strong>r requiere delconocimiento y manejo eficiente de losmedios tecnológicos pues es u<strong>na</strong> profesión<strong>do</strong>nde la técnica se funde en un to<strong>do</strong> conla teoría. El <strong>do</strong>minio de las nuevas tecnologíasde la información tienen en este senti<strong>do</strong>, unpapel esencial.c) Capacidad de a<strong>na</strong>lizar, sintetizar yenjuiciar la información. El comunica<strong>do</strong>r debeser un profesio<strong>na</strong>l que transforme lainformación en conocimiento, debedesempeñar un papel de media<strong>do</strong>r de larealidad a través del prisma periodístico,<strong>audiovisual</strong> o publicitario, siempre con unenfoque interpretativo. El comunica<strong>do</strong>r debedesarrollar u<strong>na</strong> visión crítica de la realidadque ha de expresarse en sus creaciones.d) Innovación y creatividad. Habilidadaplicable no sólo en la elaboración deconteni<strong>do</strong>s sino también de formatos ya quela sobreinformación, obliga a un diseñointeligente, nove<strong>do</strong>so y diferencia<strong>do</strong> deformas y conteni<strong>do</strong>s.e) Trabajo en equipo. La actividad delprofesio<strong>na</strong>l de la Comunicación es, enesencia, u<strong>na</strong> labor en equipo. Ello competetanto al periodista, como al publicitario y alcomunica<strong>do</strong>r <strong>audiovisual</strong>. Cómo entonces,sino, fomentar, esta habilidad. Por otra parte,el trabajo en equipo induce además a u<strong>na</strong>mayor sensibilización social en la medida quetambién se desarrolla el senti<strong>do</strong> de la empatía.


446 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVf) Responsabilidad social. El impacto dela labor de los comunica<strong>do</strong>res es,comparativamente con otras profesiones, muyalta. La responsabilidad y la conciencia sociales imprescindible para garantizar u<strong>na</strong>actuación ética.g) Planificación y organización. Lacapacidad de planificación y organización deactividades y objetivos, es requisito esencialen la estructuras organizativas actuales <strong>do</strong>ndeprima el trabajo por objetivos, el teletrabajo,y la movilidad funcio<strong>na</strong>l y geográfica.h) Flexibilidad. La flexibilidad en elcampo de la Comunicación es vital, pues esun sector caracteriza<strong>do</strong>s por continuoscambios y contingencias.Todas estas habilidades no se estructuranjerárquicamente. Poseen el mismo nivel deimportancia. Sin embargo conviene significar elpapel y el peso de tres competencias o habilidadesque se consideran de especial interés.Dimensión comunicativa, informacio<strong>na</strong>l ytecnológica: reflexionesLa visión reflexiva de estas habilidadesse polarizan a determi<strong>na</strong>das aspectos. Así ladimensión comunicativa a<strong>na</strong>liza laimportancia del estudio del latín como víapara el desarrollo de la aptitud lingüística ypor tanto, comunicativa. La dimensióninformacio<strong>na</strong>l, a<strong>na</strong>liza las habilidadesinformacio<strong>na</strong>les desde la perspectiva de laDocumentación pero que va a servir de basepara un uso efectivo de la información. Encuanto a las tecnologías, se insiste en el usode las nuevas tecnologías de la información.La dimensión comunicativaLa palabra es la herramienta esencial detrabajo de la comunicación. La tenencia deexcelentes habilidades comunicativas,cualidad inherente a los comunica<strong>do</strong>res,requiere esencialmente el manejo y <strong>do</strong>minioefectivo del lenguaje. El lenguaje es el espacioen el que se estructuran las ideas paracomunicarlas, el comunica<strong>do</strong>r usa el lenguajeen u<strong>na</strong> <strong>do</strong>ble vertiente. Por u<strong>na</strong> parte, paratrasmitir un conteni<strong>do</strong>, y por otra, y graciasa éste, moldear e influir en los individuos.Ello implica que es imprescindible realizarun uso adecua<strong>do</strong> del lenguaje.Es crítico que el latín no posee igual nivelde peso en los programas universitarios queotras materias. De hecho conviene llamar laatención como esta materia se ha desecah<strong>do</strong>de los programas de estudios. Los autoridadese instituciones académicas insisten en laimportancia que los estudiantes aprendanhistoria, nuevas tecnologías, redacciónperiodística o publicitaria, estilos y génerosde opinión. Sin embargo, se olvida lanecesidad de ofrecer un marco conceptual ehistórico que facilite la comprensión yaplicación de tales materias.Más aún existe un afán por aprenderlenguas moder<strong>na</strong>s, con preferencia el ingléspero sin desestimar otras, inclui<strong>do</strong> el japonés.Con ello se está subliman<strong>do</strong> un paulatinoproceso de desculturalización. Lejos deenriquecer cultural, profesio<strong>na</strong>l yperso<strong>na</strong>lmente a los educan<strong>do</strong>s, se avanza ensenti<strong>do</strong> contrario. Si las universidades no soncapaces de desarrollar las habilidadescognitivas de análisis y aplicación de nuestrapropia lengua, raro será que se pueda hacerun uso efectivo de las aje<strong>na</strong>s.No es de extrañar, así, que en los mediosaparezcan de forma continua erroresgramaticales en portadas y titulares, que seconstate u<strong>na</strong> creciente pobreza en elvocabulario que redunda en la incapacidadde comprender términos, en un usoi<strong>na</strong>propia<strong>do</strong> del lenguaje, que se observe lacolonización de términos foráneos endetrimento del lenguaje propio.La lengua y la cultura lati<strong>na</strong> son la basede nuestra lengua y nuestra cultura 7 . Suestudio se hace necesario en la formaciónuniversitaria, pero si se quiere con más énfasisen los estudios de Comunicación. Y se insisteen la necesidad de estudiar ambos aspectos,la cultura y la lengua porque en definitivaesta última se moldea por la primera y, esla lengua, vehículo y testimonio de u<strong>na</strong>realidad, de u<strong>na</strong> cultura.Estudiar la cultura lati<strong>na</strong> significarescatar en primer lugar el nexo que unela génesis de nuestra cultura con laactualidad. Significa tener conocimientosque permitan estudiar la base de procesoshistóricos, políticos, económicos, literarios,científicos, con vistas a desentrañar ya<strong>na</strong>lizar con mayor destreza los hechos yacontecimientos actuales.


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO447El estudio de la lengua lati<strong>na</strong> es, ante to<strong>do</strong>,tener las bases para conocer la historia yevolución de la lengua, en general y denuestra propia lengua, en particular. Pero esmucho más que eso, pues el estudio del latínes a su vez u<strong>na</strong> combi<strong>na</strong>ción entre u<strong>na</strong> sólidaformación cultural y un marco para eldesarrollo de habilidades y aptitudesrelacio<strong>na</strong>das con el fortalecimiento de lainteligencia y la capacidad reflexiva.El estudio del léxico, decli<strong>na</strong>ciones,sufijos, prefijos y la historia de los términosfavorece, en primer lugar, u<strong>na</strong> habilidad queposibilita el crecimiento y enriquecimientodel vocabulario. El estudio de la lengua yla cultura permite contar con recursosexpresivos y figuras que hacen mejoran latransmisión y contextualización de ideas. Elestudio y uso del latín, facilita la comprensióne inferencia del significa<strong>do</strong> de palabras ycontextos desconoci<strong>do</strong>s.El estudio de la lengua lati<strong>na</strong> desarrollala facultad de la memoria, la imagi<strong>na</strong>ción,el hábito de investigación pues favorece eladiestramiento en la búsqueda de la génesisde las palabras y de las realidades que rodea<strong>na</strong> un término. Su estudio significa ademásun importante refuerzo para el aprendizajey <strong>do</strong>minio de la lengua mater<strong>na</strong>. Más aúnes útil para el estudio de lenguas foráneasy no sólo las de origen romance directo, sinopara todas aquellas que se han nutri<strong>do</strong> depalabras del latín tal como el inglés o elalemán.Ello sin considerar que el <strong>do</strong>minio de lalengua y la cultura lati<strong>na</strong> permite formaruniversitarios cultos y con ello mejoresprofesio<strong>na</strong>les.La dimensión informacio<strong>na</strong>lLa información es la materia prima dela comunicación de ahí que el desarrollo dehabilidades informacio<strong>na</strong>les es u<strong>na</strong> constanteen la formación de los profesio<strong>na</strong>les de laComunicación. De hecho, en el caso deEspaña, la asig<strong>na</strong>tura DocumentaciónInformativa es de carácter troncal lo cualrefleja la importancia y el peso de la mismaen la formación de comunica<strong>do</strong>res. Sinembargo, la existencia de ésta no garantizaen su totalidad el desarrollo de destrezas eneste senti<strong>do</strong>. Entre otras cosas porque aúnse concibe según el méto<strong>do</strong> de formacióntradicio<strong>na</strong>l y no en u<strong>na</strong> formación basada enel desarrollo de destrezas y habilidades.Existen diversos modelos que explican laenseñanza de habilidades de información,entre ellos el Modelo de Marland (ReinoUni<strong>do</strong>, 1981); el modelo de Kuhlthan(Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, 1997) y el ModeloPLUS(Purpose, Location, Use and Self-Evaluation) de Herring. Se toma como marcoconceptual para definición de dichashabilidades esbozadas en el Tercer Encuentrosobre el Desarrollo de HabilidadesInformativas, celebra<strong>do</strong> en México se abordaeste tema en el contexto universitario, quebien cabe aplicar con especial énfasis en elcampo de la formación de comunica<strong>do</strong>res.A saber:a) Habilidades para identificar la<strong>na</strong>turaleza y alcance de u<strong>na</strong> necesidad deinformación. Esto es, que el estudiante puedaorganizar un tema de investigación,planteán<strong>do</strong>se las interrogantes en forma deconceptos estructura<strong>do</strong>s jerárquicamente, a lavez sea capaz de establecer los límites,alcance y objetivos reales de sus necesidadesde información. Y con ello lograr u<strong>na</strong>orientación efectiva de la búsqueda deinformación.b) Habilidades para buscar y recuperarinformación. Lo cual significa el <strong>do</strong>minio dela terminología y las herramientas propias dela búsqueda y recuperación de información,sien<strong>do</strong> capaces de identificar los diferentescontextos genera<strong>do</strong>res y conserva<strong>do</strong>res deinformación, se sepan aplicar losconocimientos y habilidades en pos de larecuperación de información, idiomas,tecnologías, habilidades comunicativas.También es importante que puedan establecerla búsqueda y recuperación de informacióncon u<strong>na</strong> visión estratégica.c) Habilidad para valorar la información.Desarrollar u<strong>na</strong> visión critica sobre la entidadde las fuentes, así como el resto de aspectosque inciden en la calidad de la información,tales como la actualidad, la veracidad, el nivelde profundidad en el tratamiento de lainformación. Y sobre to<strong>do</strong> identificar u<strong>na</strong>información fiable y veraz.d) Habilidad para asimilar y hacer usode la información. Este es la capacidad quehaga posible transformar la información en


448 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconocimiento. Esto es, desarrollar habilidadespara interpretar, contextualizar, aplicar,sintetizar y aprehender la información convistas a comunicarla.e) Habilidad para comunicar lainformación. Ello insiste en la necesidad deelaborar <strong>do</strong>cumentos, comprensibles queexpresen el mensaje de forma orde<strong>na</strong>da ylógica.f) Habilidad de responsabilidad éticafrente a la información. Esto es en esencia,el respeto en el más amplio senti<strong>do</strong> de laPropiedad Intelectual y el uso responsablede la información.U<strong>na</strong> formación en el manejo y uso dela información requiere u<strong>na</strong> formacióncentrada no sólo en conteni<strong>do</strong>s, sino y muyespecialmente, en el desarrollo de estashabilidades.4.3. La dimensión tecnológicaSi bien la Sociedad de la Informaciónimplica que el eje central de desarrollo dela sociedad es la información, hay quesignificar el papel esencial que han teni<strong>do</strong>y tienen las nuevas tecnologías de lainformación en la génesis y desarrollo de estasociedad.Las nuevas tecnologías de la informaciónhan permiti<strong>do</strong> la interconectividad, dan<strong>do</strong> pasoal fenómeno de la globalización y en el contextode la Comunicación ha influi<strong>do</strong> en un aumentoexponencial de emisores de mensajes, dereceptores, de contextos, de mensajes einformaciones llevan<strong>do</strong> así a importantescambios en los paradigmas de comunicación.Por tanto las nuevas tecnologías de lainformación, no sólo han de estudiarse comoherramientas sino también ha de interpretarsesu influencia en la conformación de u<strong>na</strong> nuevarealidad, valoran<strong>do</strong> cómo estas influyen deforma directa en cambios meto<strong>do</strong>lógicos, yno sólo técnicos, como nuevo medio decreación y transmisión de la información.La incorporación de las tecnologías dela información en los curricula no garantiza,por sí misma, el uso práctico y óptimo deéstas. Porque insistien<strong>do</strong> en el planteamientoantes expuesto, cualquier formación que nose base en el desarrollo de habilidadesconlleva a u<strong>na</strong> visión parcial y teórica delos conteni<strong>do</strong>s.Dos hechos apuntan a la necesidad de unreplanteamiento de la enseñanza de lastecnologías de la información. En primerlugar el fenómeno denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> brecha digital,que refiere no sólo a las diferencias en elacceso y uso de las tecnologías entrediferentes zo<strong>na</strong>s geográficas o grupossociales, sino también a la brecha o diferenciaque existe entre la utilización de lastecnologías en el hogar y en el ámbito<strong>do</strong>cente. En segun<strong>do</strong> lugar, el mun<strong>do</strong>tecnológico cambia de forma continua, launiversidad no siempre puede marchar alritmo de estos cambios. Ambos aspectosdificultan la aplicación práctica de lastecnologías, insistien<strong>do</strong> así en la urgencia deformar en habilidades y no sólo en conteni<strong>do</strong>stecnológicos.Por tanto, la habilidad que en estadimensión se destaca es la capacidad deadaptación a diversos contextos tecnológicosy además a la habilidad de aplicar lastecnologías al ámbito profesio<strong>na</strong>l.ConclusionesLas condiciones de la sociedad actualapuntan a la necesidad de reformar el papelde la universidad europea, puntualmente delámbito comunitario. Esta transformación seproduce en diversos aspectos que consolidanen la formación de Espacio Europeo deEnseñanza Superior. U<strong>na</strong> de las principalesmodificaciones del nuevo sistema es laimplantación de u<strong>na</strong> enseñanza que intentau<strong>na</strong> participación activa del estudiante en lacreación del conocimiento y que tiene comoeje central la formación a través del desarrollode habilidades y competencias.Indudablemente estas modificacionessuponen u<strong>na</strong> mejora de la formaciónuniversitaria, y por tanto u<strong>na</strong> mejora de laformación de los comunica<strong>do</strong>res. Educar paracomunicar implica orientar la formaciónuniversitaria al desarrollo de habilidades ycompetencias, y además, adaptar los méto<strong>do</strong>sy directrices nove<strong>do</strong>sos al contexto de laComunicación.La creación de un sistema universitariocomunitario excelente y moderno requiere delconcurso de medidas de convergencia, pordemás ya iniciadas, pero debe considerarseque estos cambios significan también un


COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO449modificación en la cultura de enseñanzaaprendizajeactual. Por ello, abordar estareforma debe hacerse no sólo desde laimplantación de medidas instrumentales sinotambién de cambios socio-culturales en loshábitos y en la concepción del proceso deenseñanza aprendizaje de estudiantes,profesores y autoridades académicas; y esconveniente en este proceso de cambios,además, tener en cuenta la tradición yevolución histórica de la universidadeuropea.


450 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaMinisterio de Educación, Cultura yDeporte(España), /La integración delsistema universitario español en el EspacioEuropeo de Enseñanza Superior:Documento-Marco/, Madrid, Ministerio deEducación, Cultura y Deporte, Febrero 2003.Conferencia de Rectores de lasUniversidades Españolas, /La Declaración deBolonia y su repercusión en la estructura delas titulaciones en España: Propuesta dePosición de la CRUE. Aproba<strong>do</strong> en la reuniónde la CASUE de 26 de octubre de 2001/,Disponible en: www.crue.org/espaeuro/encuentros/17-072002.htm.Parlamento Europeo, /Informe sobre lasuniversidades y la enseñanza superior en elespacio europeo del conocimiento (2001/2174/(INI)). Documento de sesión: Fi<strong>na</strong>l. 24de Mayo de 2002/ , Disponible en: http://www.escet.urjc.es/~eees/<strong>do</strong>cs/b/Informe%20Parlamento%20Europeo.pdfCantarero, Mario Alfre<strong>do</strong>, /Formación decomunica<strong>do</strong>res sociales: Modeloscurriculares, ostracismo académico, rutassociales y esperanzas/ , Revista Lati<strong>na</strong> deComunicación Social, oct.-dic 2002, 5(52),Disponible en: http://www.ull.es/p u b l i c a c i o n e s / l a t i n a /200025209cantareroXI.htmFuentes Navarro, Raúl, /El diseñocurricular en la formación universitaria decomunica<strong>do</strong>res sociales para América Lati<strong>na</strong>:Realidades, Tendencias y Alter<strong>na</strong>tivas/,Disponible en: http://www.felafacs.org/dialogos/pdf17/fuentes.pdf.Fuentes Navarro, Raúl, /La formaciónuniversitaria de profesio<strong>na</strong>les de lacomunicación y su renovación como proyectosocial. Diálogos de la Comunicación, 57, p.1-13/ , Disponible en: http://www.felafacs.org/dialogos/59-60/1.Fuentes.pdfNormas sobre Alfabetización informativaen Educación Superior: Declaratoria.Tercer Encuentro sobre Desarrollo deHabilidades Informativas, Ciudad Juárez,México, octubre, 2002/, Disponible en: http://www.nclis.gov/libinter/infolitconf&meet/JesusLauInfolitArticle-Spanish.pdf_______________________________1Universidad San Pablo-CEU (Madrid).2ECTS(European Credits Transfer System).3Conferencia de Rectores de las UniversidadesEspañolas, / La Declaración de Bolonia y surepercusión en la estructura de las titulacionesen España: Propuesta de Posición de la CRUE.Aproba<strong>do</strong> en la reunión de la CASUE de 26 deoctubre de 2001/, Disponible en: www.crue.org/espaeuro/encuentros/17-072002.htm, p.34Moreno Bayar<strong>do</strong> realiza u<strong>na</strong> interesantereflexión sobre el significa<strong>do</strong> de los términoshabilidades y competencias. En este trabajo seexpresa que en algunos contextos ambos términosse utilizan sinónimos, mientras que en otros, ambosse diferencian; opinión que es defendida por elautor. El trabajo se puede consultar en la direcciónhttp://educacion.jalisco.gob.mx/consulta/educar/06/6habilid.html. Si bien el presente trabajo se incli<strong>na</strong>por la primera corriente, esto no es más que poreconomía de espacio, pues meto<strong>do</strong>lógicamente esconveniente comprender y trabajar con la<strong>na</strong>turaleza diferenciada de ambos conceptos.5http://www.sfeu.org.uk/6Fuentes Navarro, Raúl, /La formaciónuniversitaria de profesio<strong>na</strong>les de la comunicacióny su renovación como proyecto social. Diálogosde la Comunicación, 57, p.1-13/ , Disponible en:http://www.felafacs.org/dialogos/59-60/1.Fuentes.pdf, p. 12.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS451Capítulo IIIOPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS


452 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS453ApresentaçãoJoão Carlos CorreiaEm 2004 Portugal começou, fi<strong>na</strong>lmente,a ter no interior da Comunidade Científicade Ciências da Comunicação um grupo deinvestiga<strong>do</strong>res que desse à opinião públicae às audiências uma dimensão à altura dasua importância. Desde as análises queconferem à problemática <strong>do</strong> espaço públicoe da democracia deliberativa uma centralidadeque passa pelo estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> posicio<strong>na</strong>mentoestratégico <strong>do</strong>s media como instâncias sociais;à compreensão da noção de enquadramentocomo uma chave essencial para a lutaideológica; passan<strong>do</strong> pela sociologia eleitorale pelas sofisticadas técnicas de mediçãode intenções de voto e de atitudes eleitorais;ou, ainda, pela forma como as audiênciaselaboram criticamente a recepção <strong>do</strong>s textos,ultrapassan<strong>do</strong> determinismos e crian<strong>do</strong>, elasmesmas, percursos novos de activismo e decidadania, a mesa da Opinião Pública eAudiências – 1ª incursão no leque vasto daanálise das relações entre Comunicação ePolítica – constitui-se como um passo inicial,<strong>na</strong>turalmente com hesitações e deficiênciasmas que, a breve trecho, deixarámarcas e reposicio<strong>na</strong>rá o estilo de reflexãodas Ciências da Comunicação em Portugal.Por outro la<strong>do</strong>, trata-se de uma Mesa quepermitirá dar um passo em frente <strong>na</strong> análisede atitudes e <strong>na</strong> percepção de problemáticas.Desde logo, encontraram-se <strong>do</strong>is grandeseixos meto<strong>do</strong>lógicos. O primeiro consistiu <strong>na</strong>feliz tentativa de ultrapassagem da dicotomiaentre reflexão crítica e pesquisa administrativaque, mais recentemente, ganhava aconfiguração de um duelo entre defensoresda análise das condições de deliberaçãodemocrática e «paladinos» <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>squantitativos.Por outro la<strong>do</strong>, permitiu um diálogo entreFilosofia Política, Sociologia Eleitoral, CiênciaPolítica e Ciências da Comunicação,geran<strong>do</strong>-se uma confluência que até aqui nãosucedera mais pela força das inércias <strong>do</strong> quepela escassa reticência <strong>do</strong>s «crentes» e«praticantes» que afi<strong>na</strong>l se revelaram abertosao debate interdiscipli<strong>na</strong>r.Respondeu-se, da melhor forma que seconseguiu, ao desafio que a ComissãoOrganiza<strong>do</strong>ra havia lança<strong>do</strong>, nomeadamentequanto às dificuldades «políticas» que seadivinhavam no lançamento de um gruponovo, sem antecessor temático; e ao facto deo próprio título da mesa indiciar algo que,<strong>na</strong>s Ciências da Comunicação em Portugal,implicava alguma ruptura com a reflexão quasesempre exclusivamente conceptual eespeculativa sobre os fenómenos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>scom audiências, públicos e Opinião Pública.Momento funda<strong>do</strong>r que teve, felizmente,a necessária continuidade, a realização damesa de “Opinião Pública e Audiências”revelou e até apresentou percursos e escolas,gerou (felizmente) controvérsias, tacteou –admita-se com que com a dificuldade própriade algum «pioneirismo» – hipóteses detrabalho futuro que valeram o esforço desenvolvi<strong>do</strong>.


454 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS455A Profissio<strong>na</strong>lização das Fontes <strong>na</strong> disputa pelas AudiênciasBoanerges Lopes 11. Vivências e interaçãoVivenciar a área de Assessoria <strong>na</strong>atualidade é ao mesmo tempo envelheceralguns anos em ape<strong>na</strong>s uma hora com asatrocidades que envolvem determi<strong>na</strong>das instituições,principalmente públicas, pelo paísafora, mas também rejuvenescer outros tantosanos em alguns minutos quan<strong>do</strong> sepresencia o desnudar de projetos que podemsalvar milhões de vidas e se tem a incumbênciade apresentá-los à sociedade.As indagações são muitas, principalmenteem relação ao comportamento das organizaçõesnum processo muito rápi<strong>do</strong> detransformações, o que evidencia um novocenário, com um enfoque delinea<strong>do</strong> para aComunicação Empresarial e Institucio<strong>na</strong>l.Ampara<strong>do</strong> <strong>na</strong>s inovações tecnológicas, <strong>na</strong>administração integrada e participativa e nochama<strong>do</strong> Composto de Comunicação - umcomplexo de atividades desenvolvidas pelasempresas, relacio<strong>na</strong>das principalmente coma Assessoria de Imprensa e seus des<strong>do</strong>bramentos:a produção de house organs, orelacio<strong>na</strong>mento intenso com a mídia, a realizaçãode media trainning, a criação eimplantação de programas de identidadevisual e um trabalho denso de comunicaçãointer<strong>na</strong>. A exigência cada vez mais é de umprofissio<strong>na</strong>l altamente qualifica<strong>do</strong>, de sólidaformação, comprometi<strong>do</strong> fundamentalmentecom os aspectos éticos da profissão. Avançosrecentes têm si<strong>do</strong> proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s em muitasáreas por essas condições, inclusive no campoeducacio<strong>na</strong>l. A idéia <strong>do</strong> professor JoséMarques de Melo em A Imprensa em questão(1997: 15) é bem ilustrativa no que dizrespeito ao grande desafio que ainda permaneceneste fi<strong>na</strong>l de século: o da interação<strong>do</strong> ensino de Comunicação com o sistemaprodutivo. É preciso interagir as escolas comas empresas de Comunicação, com a indústriacultural mais avançada, com a indústriade ponta, com as empresas de <strong>na</strong>tureza médiae também com as atividades que ocorrem nosmovimentos sociais.Temos também a Comunicação se afirman<strong>do</strong>progressivamente como o epicentrodas atenções <strong>na</strong>s empresas não só brasileiras,mas no mun<strong>do</strong> inteiro. Em ple<strong>na</strong>atualidade, selecio<strong>na</strong>r a informação, dar-lheuma forma, tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s grandes desafiosdas organizações. Não há conhecimento seminformação estruturada, já que conhecimentogera capital intelectual – hoje o maior valordas empresas. E os Assessores estão em alta,pois se constituem nos novos condutores dasatividades de comunicação <strong>na</strong>s organizações.Um momento onde a preocupação com aimagem é fator de vantagem competitiva, eprecisa ser administrada com inteligência,processos, uso de técnicas bem concebidas,refletidas, ações coorde<strong>na</strong>das, habilidadesespecíficas e profissio<strong>na</strong>lismo.O estilo de comunicar provoca reflexosimediatos sobre as mudanças <strong>do</strong> ambienteempresarial, político, econômico e social. Asorganizações desta forma estão abrin<strong>do</strong>perspectivas abrangentes de relacio<strong>na</strong>mentocom a sociedade, através de um diálogopermanente. Uma filosofia de portas abertas.É o que garantem os assessores. No passa<strong>do</strong>,observou Caio Pra<strong>do</strong> Júnior, em Formação<strong>do</strong> Brasil Contemporâneo(1995: 25), o paísera uma sociedade sem povo. Temos hoje umarealidade bem diferente, onde a populaçãodeixou de ser mera especta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> queacontece para ocupar uma posição altamenteparticipante. Multiplicam-se os ombudsmen,serviços de atendimento aos consumi<strong>do</strong>res,ouvi<strong>do</strong>res e outras possibilidades de intercâmbiopermanente. É um quadro que reforçaamplamente a necessidade da transparênciadas ações, promoven<strong>do</strong> coerência mais definidaentre o que as organizações dizem efazem. E isto tem provoca<strong>do</strong> uma novarealidade que afetan<strong>do</strong> as organizações dealto a baixo, influencia desde a renovaçãodas marcas corporativas até o trei<strong>na</strong>mento de


456 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpessoal em todas as instânciasorganizacio<strong>na</strong>is.Um <strong>do</strong>s pontos que também permeiae justifica este trabalho está relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> acredibilidade. Credibilidade que é um <strong>do</strong>srequisitos essenciais para que alguém setransforme numa fonte de referência, seja umempresário, político ou assessor de imprensa.A preservação da credibilidade no Jor<strong>na</strong>lismo,segun<strong>do</strong> Manoel Chaparro, emPragmática <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo (2000: 32), interessaà própria fonte, porque da credibilidade<strong>do</strong> relato jor<strong>na</strong>lístico depende o sucesso dasações institucio<strong>na</strong>is. Contribuir para essapreservação é dever não ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasque atuam em assessoria de imprensa,mas também de seus contratantes. Os empresáriose executivos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios,os políticos e responsáveis pelas políticase serviços públicos, as lideranças <strong>do</strong>smovimentos sociais e culturais, os produtoresde conhecimento, to<strong>do</strong>s estão diante <strong>do</strong>dever de zelar pela credibilidade <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo.Podemos dizer que a credibilidade éum predica<strong>do</strong> radical. Ou a empresa tem, ounão pode existir enquanto empresa. Naopinião de Francisco Via<strong>na</strong>, em De Cara coma Mídia (2001: 43), é a credibilidade quesustenta os negócios e amplia os merca<strong>do</strong>s.Não importa se <strong>na</strong> nova ou <strong>na</strong> economiatradicio<strong>na</strong>l: os consumi<strong>do</strong>res precisam acreditar<strong>na</strong> empresa para escolhê-la. E nãoadianta: vivemos um momento onde o consumi<strong>do</strong>ropi<strong>na</strong>, influi e decide cada vez mais.E esta credibilidade se define claramenteatravés da comunicação que unifica conceitos,constrói imagens, organiza mensagens,motiva o diálogo, modela a identidade,apresenta soluções e resulta<strong>do</strong>s, permitin<strong>do</strong>fontes e públicos interagentes, veículosconectores e fluxos/procedimentos extremamenteplaneja<strong>do</strong>s e monitora<strong>do</strong>s e um profissio<strong>na</strong>l– jor<strong>na</strong>lista/assessor de imprensa– cada vez mais responsável por estas iniciativas.Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho apontamque em 1995 já existiam 36,4% deprofissio<strong>na</strong>is jor<strong>na</strong>listas com carteira assi<strong>na</strong>datrabalhan<strong>do</strong> fora das redações. Se inserirmosno cálculo os jor<strong>na</strong>listas que atuam<strong>na</strong> área como figura jurídica (<strong>do</strong>nos deassessorias e profissio<strong>na</strong>is free-lancers), épossível que a proporção ultrapasse os 50%.Por isso tor<strong>na</strong>-se oportuno também atravésdeste trabalho buscar uma abordagem sobreo papel <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l, já que como ca<strong>na</strong>lentre a mídia e as fontes gera<strong>do</strong>ras de notícias,as assessorias de imprensa são indispensáveis<strong>na</strong> realidade <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo. Contu<strong>do</strong>, osprofissio<strong>na</strong>is que atuam como assessoresainda enfrentam preconceitos por parte dealguns profissio<strong>na</strong>is de redação e também porparte de alguns dirigentes das empresas <strong>na</strong>squais atuam. Existem problemas relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>sà legislação brasileira. Ela ainda nãoreconhece a função e muitas arestas precisamser aparadas no difícil exercício deconciliar as necessidades das fontes e <strong>do</strong>sveículos de comunicação. Estes aspectospodem ser considera<strong>do</strong>s empecilhos ou limitesà atuação profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s assessores deimprensa.A responsabilidade é a de agregar cadavez mais valor às informações com as quaistrabalha em sua roti<strong>na</strong> dentro e fora dasorganizações – empresas pelas quais trabalha,parceiros de negócios, órgãos gover<strong>na</strong>mentais,mídia e sociedade de um mo<strong>do</strong> geral– amplian<strong>do</strong> o alcance das mensagens construtivas;de fortalecer a informação compartilhada,já que a revolução das fontes é decorrência<strong>na</strong>tural e inevitável dainstitucio<strong>na</strong>lização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Como diz oprofessor Chaparro, o mun<strong>do</strong> de hoje é ummun<strong>do</strong> falante, onde noticiar tornou-se aforma mais eficaz de agir no mun<strong>do</strong> dademocracia e <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. “É preciso criaracontecimentos, recheá-los de conteú<strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lístico, a mais competente intervençãodiscursiva das instituições. Quem controla osacontecimentos produz os fatos, os atos, asfalas, os saberes, serviços e produtos quenutrem os conteú<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>lísticos”.2. Investimento e crescimentoA consolidação das atividades de assessoriade imprensa e de comunicação no Brasilé inquestionável. Nos últimos cinco anos, 23<strong>do</strong>s maiores grupos empresariais aumentaramem até 70% seus investimentos <strong>na</strong> área decomunicação, segun<strong>do</strong> a revista Exame. Osda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Guia Exame 100 Melhores Empresaspara Você Trabalhar de 2003 mostramque as organizações têm grande preocupaçãoem manter um ca<strong>na</strong>l permanente de infor-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS457mação com seu pessoal. Um <strong>do</strong>s quesitos <strong>do</strong>ranking era “Clareza e abertura <strong>na</strong> comunicaçãointer<strong>na</strong>”. Ape<strong>na</strong>s quatro entre as listadasnão obtiveram a maior pontuação nesse item,as cinco estrelas.O segmento de assessoria, em expansão,apresenta-se hoje como um <strong>do</strong>s principaisblocos de referência para o exercício daspráticas jor<strong>na</strong>lísticas, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s meiosimpressos, da TV e à frente <strong>do</strong> rádio. Segun<strong>do</strong>o professor Gaudêncio Torquato (2002:78), avançamos muito <strong>na</strong>s últimas décadascom o crescimento <strong>do</strong>s negócios, a abertura<strong>do</strong> universo de locução e com o fenômenoda globalização. Da<strong>do</strong>s consolida<strong>do</strong>s dãoconta de que o faturamento das 10 maioresempresas de assessoria atingiu em 2001 opatamar de 500 milhões de reais, o triplo de1997. Já há duas brasileiras entre as 12maiores empresas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> no ramo. A CasaBranca – sede oficial <strong>do</strong> governo americano– gasta por ano 3,5 bilhões de dólares comestratégias de comunicação, sen<strong>do</strong> que 1,5bilhão de dólares desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao relacio<strong>na</strong>mentocom os meios.3. Imagem institucio<strong>na</strong>lApesar de perspectivas bem interessantes,ainda existem divergências por parte dealguns estudiosos <strong>do</strong> segmento de assessoriaenvolven<strong>do</strong> suas origens e seu desenvolvimento.Também se sucedem problemas <strong>na</strong>utilização equivocada de determi<strong>na</strong>das ferramentas,que acabam superpostas por faltade conhecimento ou por procedimentosincorretos de alguns profissio<strong>na</strong>is. Pesquisadenomi<strong>na</strong>da “Papel e atuação de jor<strong>na</strong>listase relações-públicas em uma organização,segun<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>listas”, deixa claro que aindaexiste muita desinformação por parte <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas sobre as atividades de relaçõespúblicas <strong>na</strong>s organizações. Realizada pelojor<strong>na</strong>lista Jorge Duarte e pela relações-públicasMárcia Duarte, com 262 profissio<strong>na</strong>isde imprensa em quatro capitais brasileiras,a partir de respostas prestadas em concursospúblicos para núcleos de assessoria emestruturas gover<strong>na</strong>mentais federais, a pesquisaconclui que, para o jor<strong>na</strong>lista, o relações--públicas é um ilustre desconheci<strong>do</strong>.O estu<strong>do</strong> demonstra que <strong>na</strong> opinião <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lista o relações públicas assume a tarefavaga de “cuidar da imagem” e ‘para issoutilizaria, particularmente, a promoção deeventos, entre outras ações não claramenteespecificadas, mas que permitem a visualização(e não visibilidade) da instituição.Trata-se de uma imagem exter<strong>na</strong>, para “servista”, para garantir a “boa aparência” e obtera “boa aceitação” da sociedade, <strong>do</strong> públicoconsumi<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>s demais públicos de interesse.Segun<strong>do</strong> Jorge Duarte, fica nítida apreocupação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas em diferenciaro papel <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is profissio<strong>na</strong>is, enfatizan<strong>do</strong>seque jor<strong>na</strong>listas “cuidam da informação”e os relações-públicas “cuidam <strong>do</strong>s relacio<strong>na</strong>mentos”.Na opinião <strong>do</strong> autor da pesquisa,há convicção entre os jor<strong>na</strong>listas deque o papel <strong>do</strong> relações-públicas está maisvincula<strong>do</strong> à questão da criação e manutençãode uma imagem institucio<strong>na</strong>l, embora elesnão saibam definir com maior rigor e precisãoas tarefas <strong>do</strong> relações-públicas e suasformas de operacio<strong>na</strong>lização.4. Atribuições e responsabilidades“Embora não fique claro como isto é feito,o relações-públicas é considera<strong>do</strong> ponte, eloentre a empresa e seus públicos, exceto amídia. É quem realiza ações objetivan<strong>do</strong> ainteração da empresa com seus vários públicos,promoven<strong>do</strong> o ‘bom relacio<strong>na</strong>mento’,a harmonia, a mobilização e a cooperaçãoentre to<strong>do</strong>s, em prol da defesa <strong>do</strong>s interessesda instituição”, destaca Duarte.Na concepção <strong>do</strong>s autores fica evidenteum outro problema <strong>na</strong> pesquisa: os textos nãopermitem identificar o reconhecimento de quea <strong>na</strong>tureza <strong>do</strong> trabalho desenvolvi<strong>do</strong> <strong>na</strong>sassessorias é diferente daquela a<strong>do</strong>tada tradicio<strong>na</strong>lmentepelo “jor<strong>na</strong>lismo das redações”,<strong>na</strong> qual neutralidade e independência sãoconceitos-chave. Ao revelar suas posições, osprofissio<strong>na</strong>is esboçam tentativas de explicarcomo o jor<strong>na</strong>lista pode manter seu compromissode servir ao público, de primar pelaverdade e pela objetividade da informação,estan<strong>do</strong> ao mesmo tempo servin<strong>do</strong> aos interessesde uma instituição à qual estásubordi<strong>na</strong><strong>do</strong> e por cuja imagem é responsável.Mas não são muito bem-sucedi<strong>do</strong>s, pois,para<strong>do</strong>xalmente, defendem o papel de compromissocom a informação, mas a partir e


458 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVconforme as diretrizes da empresa e suanecessidade de manter uma imagem positiva.Fica claro para os pesquisa<strong>do</strong>res, nestecaso, um impasse não resolvi<strong>do</strong> e uma certadificuldade em estabelecer sua própria identidade,resulta<strong>do</strong> da crença no jor<strong>na</strong>lismoautônomo, imparcial e crítico, mas submeti<strong>do</strong>,pelas novas circunstâncias profissio<strong>na</strong>is,à dependência e à parcialidade, característicasde seu agir <strong>na</strong>s organizações nãojor<strong>na</strong>lísticas.A ocupação desorde<strong>na</strong>da das assessoriasde comunicação nos últimos anos, umalegislação ultrapassada e de certa formaaberta a “interpretações dúbias”, além de umprocesso de formação que ainda engatinha<strong>na</strong>s escolas de Comunicação estão entreoutros fatores que provocam tantas confusõesnos profissio<strong>na</strong>is atuantes e <strong>na</strong>queles quealmejam ocupar espaços <strong>na</strong>s estruturasorganizacio<strong>na</strong>is. É preciso que se superemestes obstáculos para que tenhamos o reconhecimentodefinitivo de que cada uma dasáreas que compõem a estrutura de comunicaçãodas empresas reúne suas respectivasatribuições e responsabilidades e que administradasadequadamente evitam serviçosimprodutivos e desrespeito ético e técnico.E podem contribuir para que o empresaria<strong>do</strong>de médio e pequeno porte – base econômica<strong>do</strong> país – e as autoridades gover<strong>na</strong>mentaisse conscientizem da importância da comunicaçãoem seus empreendimentos.5. Conflitos e suspeitas“Jor<strong>na</strong>listas? um ban<strong>do</strong> de abutres. Sóquerem informações quan<strong>do</strong> enfrentamosdificuldades. Nunca acreditam nos da<strong>do</strong>s quefornecemos e distorcem tu<strong>do</strong> o que ouvem.Despista esse aí, diz que estou em reuniãoou viajan<strong>do</strong>........tá bom, a gente precisa deum Relações Públicas para....quebrar unsgalhos.....tem o filho daquele amigo meu lá<strong>do</strong> clube. O pai dele e o meu eram sócios.Dá um emprego para o garoto, põe e títulono cartão dele. Forma<strong>do</strong> para quê? lei, quelei? ora, invente um cargo semelhante evamos passar a coisas mais importantes.......dá uma força <strong>na</strong>quele projeto que a empresavai lançar <strong>na</strong> próxima sema<strong>na</strong>. Pelo menosuma notinha <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> de fulano acho quecabe. O evento é de arrasar, várias autoridadesestarão presente e a programação temtu<strong>do</strong> que você possa imagi<strong>na</strong>r.......tô mandan<strong>do</strong>convites para toda a redação. Podem irque é ‘boca livre’, mas vê se dá para publicarpelo menos algumas linhas sobre essanova campanha promocio<strong>na</strong>l de roupas supermoder<strong>na</strong>s. Se divulgar alguma coisa, tem umasurpresa para você........“oi, é para divulgarum cantor superlegal, que está fazen<strong>do</strong> umshowzinho superlegal no Catete. Dá pra fazeruma tremenda cobertura? a que horas sai ofotógrafo? será que rende uma capa com fotocolorida e um miolo no alto de uma pági<strong>na</strong>ímpar? acredito <strong>na</strong> sua sensibilidade paraentender que esse cara vai representar o futuroda MPB...olha lá, não vá perder esse furode reportagem”.Trechos de uma obra de ficção, perguntarãoalguns. Muito pelo contrário: exemplosreais da falta de profissio<strong>na</strong>lização queacompanharam o segmento de assessoria deimprensa durante muitos anos e que aindahoje, no acender das luzes <strong>do</strong> século 21,mantém algumas empresas com suas informaçõessob sigilo ou com múltiplas dificuldadespara enfrentar matérias críticas veiculadaspelos meios de comunicação. Estereótipos,preconceitos, tabus, mitos e muitadesinformação permanecem no dia-a-dia dasrelações entre empresas e a imprensa. Reflexostambém, por outro la<strong>do</strong>, de um setorque se desenvolve, que está rompen<strong>do</strong> comsituações arcaicas, aprimora-se e faz com queas organizações busquem seus espaços paraca<strong>na</strong>lizar o fluxo crescente de informaçõesque uma sociedade democrática exige e utilizapara se orientar em qualquer ramo de negócios.O consultor João Bosco Lodi (1985: 47)costuma dizer que os sentimentos em relaçãoa imprensa neste país são ainda ambivalentese que numa escala de lealdade, ela costumaser classificada como aliada suspeita. Umexemplo: quan<strong>do</strong> um jor<strong>na</strong>lista é anuncia<strong>do</strong>durante uma reunião, algumas pessoas logose colocam em esta<strong>do</strong> de alerta e outras, nointervalo <strong>do</strong> café, questio<strong>na</strong>m a necessidadede tê-lo convida<strong>do</strong>. Outro exemplo quereforça a tese de Lodi: quan<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>scomo insiders em alguma notícia, raramenteos empresários ou políticos concordam coma fidelidade da reprodução <strong>do</strong>s fatos por parte<strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is de imprensa. E quan<strong>do</strong> estão


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS459envolvi<strong>do</strong>s com uma questão polêmica,geralmente acham que foram traí<strong>do</strong>s pelainsensibilidade <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l no desenrolarda apuração ou <strong>na</strong> <strong>na</strong>rração <strong>do</strong> fato. Aquelavelha frase se encaixa nessas situações: “aculpa é sempre da imprensa”. O jor<strong>na</strong>listaAlberto Dines (1997: 15) lembra que numasociedade que busca o seu aperfeiçoamentonão pode haver o espírito de “de<strong>do</strong> nogatilho” contra a imprensa, mas sim umacompanhamento crítico e atento de suaevolução. Na sua opinião, se um jor<strong>na</strong>lcutucou um fato desconfortável não é motivopara que seja critica<strong>do</strong> ou silencia<strong>do</strong>, poiso lícito é mandar investigar, apurar e responsabilizaros envolvi<strong>do</strong>s nos atos quegeraram a denúncia. Dines considera que aexplicação, o desmenti<strong>do</strong> ou uma respostatransparente mesmo não favorável à empresasão mais dignos que o silêncio imposto pelaomissão ou censura.Um bom relacio<strong>na</strong>mento com a imprensapode transformar um problema em sucesso,assim como a condução apropriada de umaqueixa pode resultar em aumento de satisfação<strong>do</strong> cliente. Quem garante é ChristopherHaskins, chairman da Northern Foods, daGrã-Bretanha. Mesmo definin<strong>do</strong> os homensde negócios britânicos como paranóicos esigilosos, integrantes de uma cultura depatrocínio e elitismo e muito reticentes noscontatos periódicos com a mídia, Haskinsacredita que só através da imprensa é queos políticos e executivos conseguem secomunicar de uma maneira eficaz com seuseleitores e clientes.Este tipo de pensamento, há alguns anosmuito comum nos países da Europa e nosEUA, começa a ser absorvi<strong>do</strong> com totalseriedade aqui no Brasil. Experiências recentesdemonstram isso: a Rhodia S.A. - umgigante empresarial vincula<strong>do</strong> ao grupo francêsRhonê-Poulenc - apresentou um ambiciosoplano de comunicação social desenvolvi<strong>do</strong>a partir da década de 80 e que em poucotempo a projetou como uma empresa moder<strong>na</strong>,aberta, sem me<strong>do</strong> da verdade e dirigidacom uma visão não ape<strong>na</strong>s voltada parasituações eminentemente técnicas e burocráticas,mas também posicio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se nosprincipais veículos de comunicação comidéias políticas e sociais que interessam aopaís. Marcou sua presença <strong>na</strong> mídia com umafrase proferida por um de seus principaisexecutivos: “a comunicação não é ape<strong>na</strong>s útil;ela é antes de tu<strong>do</strong> imprescindível”. Da<strong>do</strong>spara ilustrar a evolução e o posicio<strong>na</strong>mentoda Rhodia no atual contexto: em 84, quan<strong>do</strong>ainda não havia defini<strong>do</strong> a sua “virada demesa” <strong>na</strong> comunicação, <strong>do</strong>s 92 releasesenvia<strong>do</strong>s aos meios impressos, surgiramape<strong>na</strong>s 102 pági<strong>na</strong>s. Já em 87, com a novapolítica de relacio<strong>na</strong>mento com a imprensaem andamento, <strong>do</strong>s 87 releases envia<strong>do</strong>s aosjor<strong>na</strong>is, a empresa ocupou um espaço equivalentea 231 pági<strong>na</strong>s. Uma demonstraçãoclara que a profissio<strong>na</strong>lização <strong>do</strong>s serviçosproporcionou um melhor aproveitamento <strong>do</strong>stextos envia<strong>do</strong>s aos meios de comunicação.E daí por diante, a performance da Rhodiafoi melhoran<strong>do</strong> a cada ano. Em 89, os quase100 releases geraram 390 pági<strong>na</strong>s <strong>na</strong> mídiaimpressa e 160 minutos de tevê. Já em 91,com a imprensa totalmente entrosada com oposicio<strong>na</strong>mento da organização, 800 entrevistasforam solicitadas através de sua assessoriade imprensa. Ou seja, a Rhodiapraticamente não precisou procurar os veículos.Os jor<strong>na</strong>listas já tinham a empresacomo uma fonte permanente de notícias.Exemplos como a Rhodia já fazem parte <strong>do</strong>cotidiano de muitas outras empresas no Brasil,que preocupadas em sistematizar as informaçõesgeradas em seus diversos núcleos eaperfeiçoar seus relacio<strong>na</strong>mentos não só coma imprensa, mas também com outros segmentos,têm procura<strong>do</strong> estruturar ou ampliar suasparticipações junto à opinião pública, contratan<strong>do</strong>os serviços de profissio<strong>na</strong>is prepara<strong>do</strong>sou empresas bem estruturadas.6. A dimensão das razõesDemonstra-se assim, que o papel da assessoriade imprensa é fundamental <strong>na</strong> atualconjuntura, a fim de profissio<strong>na</strong>lizar fontese disputar audiências e que impõe novos ecomplexos desafios. As novas tecnologias, aquebra das fronteiras comerciais, amundialização das organizações, os relacio<strong>na</strong>mentos,as ferramentas e a formação, alémde alguns outros aspectos demonstram umasérie de mudanças que tem provoca<strong>do</strong> umareviravolta no mun<strong>do</strong> da informação e <strong>na</strong>forma como as empresas lidam com o pro-


460 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcesso de gerenciamento deste universo. Hoje,por exemplo, constatamos uma excessivaoferta de informação e uma pulverização depúblicos e meios. Lidamos com umvastíssimo horizonte de mídias de to<strong>do</strong>s ostipos e tamanhos, <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is de comunidadesàs grandes redes de comunicação espalhadaspelo mun<strong>do</strong>, das redes de informaçãodas ONGs às agências on-line <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is.E se as empresas estão irremediavelmenteligadas ao mun<strong>do</strong> da informação, o que épreciso é melhorar a qualidade da comunicaçãoque se pratica, torná-la cada vez maisestratégica, oportu<strong>na</strong>, coerente com os negóciose os valores de cada organização. Oque só se faz com organizações cada vez maisintegradas à vida social, atentas ao seu corretoposicio<strong>na</strong>mento, coerentes com suas políticas.A comunicação deve ser o resulta<strong>do</strong> deuma postura empresarial possível de serapresentada e justificada junto à sociedade.Perde poder <strong>na</strong> atualidade o antigo setorde comunicação como único depositário dainformação a ser transmitida à mídia, eganham destaque a própria organização eto<strong>do</strong>s os seus componentes, que estão o tempoto<strong>do</strong> interagin<strong>do</strong> com o merca<strong>do</strong> e a própriaimprensa. Para os profissio<strong>na</strong>is que estãoatuan<strong>do</strong> <strong>na</strong> área, o grande desafio aponta<strong>do</strong>é o de qualificar a informação disponível,reconhecer a pluralidade <strong>do</strong>s públicos,posicio<strong>na</strong>r corretamente a organização juntoaos meios de comunicação dentro de umprojeto sistemático e permanente, que englobepreceitos éticos bem defini<strong>do</strong>s, falasprogramadas e ajustadas, uniformes e temperadascom uma boa cultura de comunicação.A cada dia se define um consumi<strong>do</strong>rde informação/produtos/serviços/cidadãomuito mais exigente, mas que é precisocultivar e conquistar. E isto depende evidentementede uma boa formação <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is.Há espaço para oportunidades cada vezmais interessantes, mas é preciso muitaresponsabilidade, eficácia e criatividade. Épreciso também que se reflita a respeito deprojetos, estratégias e conceitos. É precisorever rapidamente conhecimentos e questio<strong>na</strong>rações e ferramentas a cada situaçãonova. Antes de tu<strong>do</strong>, é preciso não temero novo, arriscar e ousar. Ao tentar reconheceros novos espaços de atuação, o estu<strong>do</strong>em questão identificou um profissio<strong>na</strong>l quenão é ape<strong>na</strong>s mais um simples repassa<strong>do</strong>r oureceptor de informações, mas sim aquele quebusca condições para se inserir como gestorde informação, em um processo dinâmico,novo e desafia<strong>do</strong>r.As assessorias de imprensa se expandiramprincipalmente <strong>na</strong>s últimas décadas. Ocrescimento se deu <strong>na</strong> atualidade, em funçãoda expansão <strong>do</strong>s negócios, através de incorporações,fusões e que com isso consequentementeas empresas passaram a ter umamaior necessidade de comunicação, bemcomo se definiu uma abertura <strong>do</strong> universode locução, onde os meios de comunicaçãosaíram de um discurso autoritário para umdiscurso muito mais democrático, denuncian<strong>do</strong>escândalos e corrupções não só dasmalhas da administração pública como também<strong>do</strong>s negócios ilícitos das empresasprivadas. Isto obrigou as empresas a seremmais transparentes para a sociedade. Asposturas low profile estão sen<strong>do</strong> substituídaspelas posturas high profile. Um terceiro fatoridentifica<strong>do</strong>, o fenômeno da globalização,pois cada vez mais as empresas e os negóciosestão trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Com os países“derruban<strong>do</strong>” suas fronteiras <strong>do</strong> ponto de vistapolítico e econômico isto cria, de certa forma,a necessidade de uma teia de organizaçãoglobal, uma malha mais abrangente. O queimediatamente obriga as empresas a reagircom intensidade aos fenômenos de merca<strong>do</strong>.Através de uma competente administraçãodas informações, uma organização necessitade um bom trabalho de comunicaçãodesde o momento em que é criada e queconforme se amplia expande o seu sistemade comunicação. Ao mesmo tempo, as grandesorganizações partiram <strong>na</strong> frente e seconsolidaram, mas cada organização precisacriar a sua identidade, independente de seuporte, planejan<strong>do</strong> uma intensa comunicaçãopara tipificar produtos e serviços diferencia<strong>do</strong>s.Ficou caracteriza<strong>do</strong> que a informação évital para a vida das organizações, pois asempresas precisam saber o que está acontecen<strong>do</strong><strong>na</strong> sociedade. É a partir destaspossibilidades que são definidas estratégias,táticas, processos, méto<strong>do</strong>s e filosofias.Ao valorizar a importância da formaçãoe da ética, foi detectada a necessidade de umapostura de informação clara, transparente,


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS461objetiva e concisa por parte <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l,media<strong>do</strong>r, procuran<strong>do</strong> sistematicamente ajustaros interesses da sociedade aos interessesda organização. É preciso definir melhor asformas de comunicação a serem utilizadas,preven<strong>do</strong> principalmente a compatibilização<strong>do</strong> código <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r com as informaçõesque saem das organizações.Com a consolidação da democracia e aabertura da economia ao merca<strong>do</strong> inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,novas regras se definiram para asempresas, instituições e pessoas públicas. Acomunidade e seus vários segmentos assumiramlugar de destaque e comunicar-sedeixou de ser uma opção, transforman<strong>do</strong>-seem necessidade, obrigação e imposição deum relacio<strong>na</strong>mento onde credibilidade, oportunidadee reconhecimento são fundamentais.Responder prontamente às demandas que sãocolocadas pelos usuários é questão primordial,já que cada vez mais tor<strong>na</strong>-se difícilmanter uma boa imagem omitin<strong>do</strong>-se emmomentos de crise, deixan<strong>do</strong> sem respostasas queixas e reclamações, fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong> esclarecimentode problemas que afetam a comunidade.Tu<strong>do</strong> isso, exige um relacio<strong>na</strong>mentocada vez mais profissio<strong>na</strong>l com os públicos,e principalmente com a utilização correta <strong>do</strong>smeios de comunicação.Planejar de maneira sinérgica e integrada,tor<strong>na</strong>r equilibra<strong>do</strong>s os fluxos, tor<strong>na</strong>rsimétricos o institucio<strong>na</strong>l e o comercial,valorizar e enfatizar ca<strong>na</strong>is participantes,estabelecer uma identidade forte e transparentepara a projeção exter<strong>na</strong> e reconhecera comunicação como poder organizacio<strong>na</strong>ltambém foram objetos identifica<strong>do</strong>s pelapesquisa como fundamentais para que asempresas possam alcançar o que Chaparrodenomi<strong>na</strong> de a dimensão das razões, dimensãode <strong>na</strong>tureza ética e que pode proporcio<strong>na</strong>ra chamada revolução das fontes.Revolução que rompe as fronteiras <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo, impon<strong>do</strong> aos processos sociaisuma nova linguagem, tão vigorosa quantoeficaz: a linguagem <strong>do</strong> acontecimento, coma qual se produz a atualidade, dinâmicacomplicada da qual o jor<strong>na</strong>lismo faz parte.O <strong>potencial</strong> transforma<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s acontecimentosatravés da atualidade tem, no senti<strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lístico <strong>do</strong> conceito, a dimensão dasrazões, que mais não é <strong>do</strong> que a dimensãoética. O direito à vida, à liberdade, à verdade,à informação; à honra e à dignidade;o direito à casa, ao voto, à justiça, à educação,ao trabalho, à saúde; o direito de falar,de ir e vir, de silenciar, de estar só e de seassociar. Na dimensão das razões está a fonte<strong>do</strong>s critérios para atribuir significa<strong>do</strong>s aosacontecimentos e às transformações que elesproduzem ou podem produzir.Na perspectiva pragmática, contribuir paraa credibilidade da notícia é a maneira maisinteligente de, <strong>na</strong> contrapartida, as fontesinstitucio<strong>na</strong>is se beneficiarem <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoe <strong>do</strong> sucesso da sua vocação perseverante.Mas a razão mais forte é de <strong>na</strong>tureza éticae tem nome que identifica um <strong>do</strong>s maispreciosos valores universais: direito à informação,o direito de informar e ser informa<strong>do</strong>,de opi<strong>na</strong>r e receber opiniões - que nãopertence aos jor<strong>na</strong>listas, nem à imprensa, nemàs fontes, mas à sociedade e a cada cidadão.Existe, portanto, o dever de socializar,além das informações, as opiniões, os saberese os conhecimentos que ajudam à compreensãoda realidade ou a transformá-la paramelhor. Essa é a vertente que legitima aatuação profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong>s instituições,produtoras interessadas de acontecimentose conteú<strong>do</strong>s. E que deu senti<strong>do</strong> aesta pesquisa.


462 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaBahia, Juarez. Introdução à ComunicaçãoEmpresarial. Rio de Janeiro, EditoraMauad, 1995.Bueno, Wilson da Costa. Comunicação<strong>na</strong> era da qualidade. A ComunicaçãoEmpresarial se prepara para enfrentar osdesafios <strong>do</strong> século XXI. São Paulo, Comtexto/Unimed Amparo, 1995.Cahen, Roger. Tu<strong>do</strong> que seus gurus nãolhe contaram sobre Comunicação Empresarial.6a. ed. São Paulo, Editora Best Seller,1990.Colombo, Furio. Conhecer o jor<strong>na</strong>lismohoje. Como se faz a informação. Lisboa.Editorial Presença, 1998.Corra<strong>do</strong>, Frank M. A força da comunicação.São Paulo, Makron Books, 1994.Doty, Dorothy I. Divulgação Jor<strong>na</strong>listica& Relações Públicas. São Paulo, CulturaEditores Associa<strong>do</strong>s, 1995.Fe<strong>na</strong>j. Manual de assessoria de imprensa.São Paulo, 1986.Fe<strong>na</strong>j. Assessoria de Imprensa: o papel<strong>do</strong> assessor. Brasília, 1996.Lesly, Philip. Os fundamentos de RelaçõesPúblicas e da Comunicação. São Paulo,Pioneira, 1995.Kopplin, Elisa e Ferrareto, Luiz Artur.Assessoria de imprensa: teoria e prática. PortoAlegre,Sagra, 1993.Lampreia, J. Martins. O serviço deimprensa <strong>na</strong>s Relações Públicas. Portugal,Publicações Europa-América, s/d.Lima, Gerson Moreira. Releasemania.São Paulo, Summus Editorial, 1985.Lopes, Boanerges. O que é assessoria deimprensa. São Paulo, Brasiliense, 1994._______________. Abaixo o <strong>na</strong>da a declarar!O assessor de imprensa <strong>na</strong> era daglobalização. Rio, Zabelê, 1998.Lopes, Marilene. Quem tem me<strong>do</strong> de sernotícia? São Paulo, Makron Books, 2000.Nassar, Paulo & Figueire<strong>do</strong>, Rubens. Oque é comunicação empresarial. São Paulo,Brasiliense, 1995.Neves, Roberto de Castro. Imagemempresarial. Rio de Janeiro, Mauad, 1998.Nogueira, Nemércio. Media Training. SãoPaulo, Cultura Editores Associa<strong>do</strong>s, 1999.Palma, Jaurês. Jor<strong>na</strong>lismo Empresarial.2a.ed. Sagra- DC Luzzatto Editores, 1994.Plá de Léon, Maria Lenilde Silva.Empresa x imprensa: uma relação produtiva.São Paulo, IOB, 1991.Poyares, Walter. Imagem pública. SãoPaulo, Editora Globo, 1997.Sobreira, Geral<strong>do</strong>. Como lidar com osjor<strong>na</strong>listas. São Paulo, Geração Editorial,1993.Susskind, Lawrence e Field, Patrick. Emcrise com a opinião pública. São Paulo,Futura, 1997.Torquato <strong>do</strong> Rego, Francisco Gaudêncio.Comunicação Empresarial/ ComunicaçãoInstitucio<strong>na</strong>l. São Paulo, Summus Editorial, 1986.Valente, Célia & Nori, Walter. Portasabertas. São Paulo, Editora Best Seller, 1990.Villela, Regi<strong>na</strong>. Quem tem me<strong>do</strong> da imprensa?Rio de Janeiro, Editora Campus, 1998._______________________________1U. Federal de Alagoas - UFAL.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS463Gutenberg cai <strong>na</strong> rede. Os principais impactos que a internetimpôs aos processos de produção de um jor<strong>na</strong>l diário,de porte médio, da cidade de Campi<strong>na</strong>sCarlos Alberto Zanotti 1A incorporação da rede mundial decomputa<strong>do</strong>res ao instrumental disponível <strong>na</strong>sredações de jor<strong>na</strong>is multiplicou exponencialmenteo número de correspondências que osleitores tradicio<strong>na</strong>is costumavam enviar aoseditores, algumas delas aproveitadas <strong>na</strong>schamadas colu<strong>na</strong>s de leitor. Além desse efeitoimediato, o acolhimento da internet aoambiente de trabalho gerou entre os jor<strong>na</strong>listasa sensação de haver maior vigilânciapor parte <strong>do</strong> leitor, ampliou o número desugestões de pautas por eles espontaneamenteencaminhadas, e deslocou <strong>do</strong>s limitesterritoriais o conceito de público. Estes são,até agora, alguns <strong>do</strong>s impactos mais importantesque a internet produziu no jor<strong>na</strong>lismoimpresso que, desde o advento da televisão,não passava por uma onda tão forte dealterações em sua condição origi<strong>na</strong>l, queremonta de pelo menos cinco séculos quan<strong>do</strong>da propagação <strong>do</strong> invento de Gutenberg.Os da<strong>do</strong>s acima foram apura<strong>do</strong>s a partirde um estu<strong>do</strong> de caso feito junto a uma dasempresas jor<strong>na</strong>lísticas mais importantes <strong>do</strong>interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, o jor<strong>na</strong>l“Correio Popular”, edita<strong>do</strong> pela RedeAnhanguera de Comunicação (RAC), comsede <strong>na</strong> cidade de Campi<strong>na</strong>s. Além da propriedade<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, o grupo campineiro aindadetém o controle <strong>do</strong> portal “Cosmo”, que em26 de julho de 2001 associou-se, em regimede parceria, ao portal “IG”; possui umaagência de notícias que fornece materiaisjor<strong>na</strong>lísticos aos produtos da casa; edita outrojor<strong>na</strong>l, de cunho popular, chama<strong>do</strong> “Diário<strong>do</strong> Povo”, e faz circular gratuitamente aos<strong>do</strong>mingos o jor<strong>na</strong>l de bairro “Gazeta <strong>do</strong>Cambuí”.Com uma tiragem média de 45 milexemplares em dias úteis, e 75 mil aos<strong>do</strong>mingos, o “Correio Popular” foi ao longode sua existência o diário economicamentemais forte da cidade de Campi<strong>na</strong>s. A empresafoi fundada em 4 de setembro de 1927,pelo então verea<strong>do</strong>r Álvaro Ribeiro, servin<strong>do</strong>-sede maquinário próprio desde o princípio,em linotipia para composição, e prelorotativo para impressão.Ao longo de sua existência, o “Correio”acabou se transforman<strong>do</strong> no projetojor<strong>na</strong>lístico impresso mais bem sucedi<strong>do</strong> daregião de Campi<strong>na</strong>s, cidade onde já contoucom o concorrente de peso “Diário <strong>do</strong> Povo”e o efêmero “Jor<strong>na</strong>l de Hoje”. Na décadade 1980, o jor<strong>na</strong>l chegou mesmo a ocuparo 8º lugar em faturamento no”ranking <strong>do</strong>sdiários brasileiros.Desde 10 de fevereiro de 1998, a RedeAnhanguera de Comunicação mantém <strong>na</strong>internet o sítio “Cosmo”, ao qual atribui oslogan de “o maior portal <strong>do</strong> interior de SãoPaulo”. Nele, a organização oferece links àsproduções da casa, bem como dá acesso avárias outras edições virtuais de jor<strong>na</strong>isimpressos da região. Entre vários serviços(mecanismo de busca, salas de bate-papo,mural de reca<strong>do</strong>s, notícias da última hora eespaço para manifestações <strong>do</strong> leitor on-line)o jor<strong>na</strong>l disponibiliza gratuitamente <strong>na</strong> redeos principais textos <strong>do</strong> “Correio Popular”,junto aos quais divulga os endereçoseletrônicos de seus jor<strong>na</strong>listas para eventuaiscartas à redação.Meto<strong>do</strong>logia empregadaPara testar a hipótese que norteou ainvestigação empreendida neste trabalho,foram abertas duas frentes de apuração: umapesquisa bibliográfica e de periódicos; e umestu<strong>do</strong> de caso, no qual o jor<strong>na</strong>l “CorreioPopular” foi submeti<strong>do</strong> a duas técnicas depesquisa: 1) Análise de conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> meioimpresso, referente à participação espontâneadireta <strong>do</strong> leitor; e 2) Realização deentrevistas semi-estruturadas com jor<strong>na</strong>listas,de diferentes funções, que iniciaram suascarreiras em perío<strong>do</strong> anterior aos recursospossibilita<strong>do</strong>s pela internet. A pesquisa bibliográficateve <strong>do</strong>is objetivos principais:


464 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVapurar a pertinência de pressupostos teóricosde Marshall McLuhan 2 , segun<strong>do</strong> os quais, apartir de um novo meio, os anteriores encontrampara si novas configurações; eentender o significa<strong>do</strong> da própria redemundial de computa<strong>do</strong>res <strong>na</strong> produção jor<strong>na</strong>lísticada atualidade. A validade destatécnica é pertinente ao que se pretende apurar,uma vez que “A principal vantagem dapesquisa bibliográfica reside no fato depermitir ao investiga<strong>do</strong>r a cobertura de umagama de fenômenos muito mais ampla <strong>do</strong>que aquela que poderia pesquisardiretamente” 3 .Ao la<strong>do</strong> da pesquisa nos chama<strong>do</strong>s livrosde referência, procedeu-se ainda a um levantamentoda discussão que o tema tem enseja<strong>do</strong><strong>na</strong> própria mídia impressa, observan<strong>do</strong>-se osprincipais textos publica<strong>do</strong>s por especialistasem jor<strong>na</strong>is de grande circulação. Periódicosespecializa<strong>do</strong>s, jor<strong>na</strong>is diários, revistas deinformação sema<strong>na</strong>l e sítios de internet foramassim rastrea<strong>do</strong>s com o objetivo de se buscara maior atualidade possível para os da<strong>do</strong>srecolhi<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong>-se levantamentossociométricos realiza<strong>do</strong>s por institutos depesquisas. Afi<strong>na</strong>l, ainda segun<strong>do</strong> Gil, “Asrevistas constituem a principal fonte dedivulgação de pesquisas científicas”, enquantoque os jor<strong>na</strong>is “podem ser bastante úteis numapesquisa, à medida que proporcio<strong>na</strong>m informaçõesatualizadas”.Para o estu<strong>do</strong> de caso, escolheu-se oambiente em que as hipóteses aqui levantadaspudessem ser testadas, mesmo reconhecen<strong>do</strong>-seque a dificuldade de sua generalizaçãoseja uma das principais limitaçõesapresentadas por este méto<strong>do</strong>. “O propósitofundamental <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso (como tipode pesquisa) é a<strong>na</strong>lisar intensivamente umadada unidade social, que pode ser, porexemplo, um líder sindical, uma empresa quevem desenvolven<strong>do</strong> um sistema inédito decontrole de qualidade, o grupo de pessoasenvolvi<strong>do</strong> com a CIPA (Comissão Inter<strong>na</strong> dePrevenção de Acidentes) de uma grandeindústria que apresenta baixos índices deacidentes de trabalho” 4 , explica ArildaSchmidt Go<strong>do</strong>y. Ainda segun<strong>do</strong> a autora,“O estu<strong>do</strong> de caso tem se tor<strong>na</strong><strong>do</strong> aestratégia preferida quan<strong>do</strong> os pesquisa<strong>do</strong>resprocuram responder às questões‘como’ e ‘por quê’ certos fenômenosocorrem, quan<strong>do</strong> há poucapossibilidade de controle sobre oseventos estuda<strong>do</strong>s e quan<strong>do</strong> o focode interesses é sobre os fenômenosatuais, que só poderão ser a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>sdentro de algum contexto de vidareal”.Ao enfocar as intenções deste méto<strong>do</strong> depesquisa, Gil 5 afirma que “os propósitos <strong>do</strong>estu<strong>do</strong> de caso não são os de proporcio<strong>na</strong>rconhecimento preciso das características deuma população a partir de procedimentosestatísticos, mas sim o de expandir ou generalizarproposições teóricas”. Com o autor,também concorda Go<strong>do</strong>y, ao afirmar que:“Ainda que os estu<strong>do</strong>s de caso sejam,em essência, pesquisa de caráterqualitativo, podem comportar da<strong>do</strong>squantitativos para aclarar algum aspectoda questão investigada. É importanteressaltar que, quan<strong>do</strong> háanálise quantitativa, geralmente otratamento estatístico não é sofistica<strong>do</strong>”.6Partin<strong>do</strong>-se, então, <strong>do</strong> pressuposto de queo estu<strong>do</strong> de caso “é caracteriza<strong>do</strong> pelo estu<strong>do</strong>profun<strong>do</strong> e exaustivo de um ou depoucos objetos, de maneira a permitir o seuconhecimento amplo e detalha<strong>do</strong>” 7 , a citadaempresa de comunicação foi escolhida porinserir-se no universo típico de suascongêneres.No estu<strong>do</strong> de caso, duas técnicas delevantamento de da<strong>do</strong>s foram a<strong>do</strong>tadas: 1)Levantamento espacial de conteú<strong>do</strong> da publicaçãoimpressa “Correio Popular”, de ondese retirou da<strong>do</strong>s de caráter quantitativo,oferecen<strong>do</strong> a categoria de análise “cartas <strong>do</strong>sleitores”; e 2) Entrevistas semi-estruturadascom jor<strong>na</strong>listas da publicação cujas carreirastiveram início no perío<strong>do</strong> anterior à a<strong>do</strong>çãoda Internet no referi<strong>do</strong> diário, onde se aplicouo méto<strong>do</strong> de pesquisa qualitativa, dan<strong>do</strong>origem à categoria “jor<strong>na</strong>listas: os impactosem andamento”, com sete sub-categorias deanálise.Em relação ao levantamento espacial deconteú<strong>do</strong>, procedeu-se a uma detalhadacatalogação das cartas de leitores publicadas


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS465no “Correio Popular” durante o mês dedezembro de 1995, quan<strong>do</strong> o jor<strong>na</strong>l ainda nãohavia a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> a internet enquanto ca<strong>na</strong>l decomunicação com seu público, confrontan<strong>do</strong>-seestes da<strong>do</strong>s com os também recolhi<strong>do</strong>sno mês de dezembro de 2001, perío<strong>do</strong> emque a empresa já se inserira ple<strong>na</strong>mente <strong>na</strong>rede mundial de computa<strong>do</strong>res.No levantamento das cartas de leitores,procurou-se apurar: 1) O volume de cartaspublicadas nos meses de dezembro <strong>do</strong>s anosde 1995 e 2001; 2) Os temas aborda<strong>do</strong>s emtais correspondências; 3) As cidades deorigem <strong>do</strong>s leitores que tiveram suas cartaspublicadas; 4) A forma de encaminhamento,se por correio, fax ou email; e 5) O espaçoque o jor<strong>na</strong>l dedicou, nos <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, àpublicação das cartas.Ao levantar este volume de da<strong>do</strong>s, aintenção foi descobrir se, de fato, houvealguma alteração <strong>na</strong> comunicação leitoresjor<strong>na</strong>l,motivada que fosse pelas facilidadesoferecidas pela internet, o que deuorigem a duas sub-categorias de análise:“Espaços editoriais”; e “Tipos de correspondências”.As tabelas obtidas a partir dacoleta de da<strong>do</strong>s visaram comparar o númerode leitores que escreveram ao jor<strong>na</strong>lnos <strong>do</strong>is distintos perío<strong>do</strong>s (dezembro de1995 e dezembro de 2001); a diversidadede preocupações por eles manifestadas; oespaço editorial dedica<strong>do</strong> pelo jor<strong>na</strong>l àparticipação direta <strong>do</strong> público; o raiogeográfico abrangi<strong>do</strong> por estas manifestações;e o peso da internet <strong>na</strong>s formas atuaisde comunicação que o jor<strong>na</strong>l mantém comseus leitores. Este méto<strong>do</strong> de investigaçãoinsere-se no plano da observação diretaextensiva, enquadran<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> categoria deanálise de conteú<strong>do</strong>, que “permite a descriçãosistemática, objetiva e quantitativa <strong>do</strong>conteú<strong>do</strong> da comunicação” 8 .Multiplicam-se as correspondênciasNa tabela abaixo, encontra-se o resumo <strong>do</strong>levantamento quantitativo relativo às cartas deleitores publicadas <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> “Correio <strong>do</strong> Leitor”,nos meses de dezembro de 1995 e de dezembrode 2001, feito junto aos arquivos <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Naoportunidade da pesquisa, o jor<strong>na</strong>l já havia sedesfeito <strong>do</strong>s origi<strong>na</strong>is de seus leitores referentesao ano de 1995, saben<strong>do</strong>-se, no entanto, que<strong>na</strong>quele perío<strong>do</strong> as correspondências chegavamape<strong>na</strong>s por fax ou carta convencio<strong>na</strong>l.QUADRO COMPARATIVO DOS DOIS PERÍODOSItensapura<strong>do</strong>s / perío<strong>do</strong>DEZ/95DEZ/2001VariaçãoNúmerode correspondências publicadas105314+201%Espaçoeditorial ocupa<strong>do</strong> (em cm/col)1.5032578+71%Cartascomentan<strong>do</strong> cartas2 16+700%Cartasde outras cidades1014+40%Forma de encaminhamentoFaxDa<strong>do</strong>83Cartasnão21Emaildisponível210O quadro comparativo indica que ointervalo de seis anos entre os <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s,estrategicamente escolhi<strong>do</strong>s por representaremas fases de pré-a<strong>do</strong>ção e ple<strong>na</strong> vigênciada internet, registrou um aumento de 200%<strong>na</strong> participação <strong>do</strong> público. Registre-se quenão houve a<strong>do</strong>ção de qualquer política específica<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l voltada a ampliar estaparticipação e nem existiam, no perío<strong>do</strong>anterior, orientações no senti<strong>do</strong> de evitar oucensurar participações que não estivessemsintonizadas com a política editorial dapublicação. As cartas, em dezembro de 1995,eram raras de fato, tanto que nos dias 11 e27 daquele mês ape<strong>na</strong>s uma manifestação foipublicada; e nos dias 10, 18 e 25 a colu<strong>na</strong>sequer figurou <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s da publicação.Entre os <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s, constatou-seum aumento de 3,35 para 10,12 novolume médio de manifestações diariamentepublicadas. Também cresceu o número decartas enviadas por leitores de outras cidades.Houve ainda um incremento da ordemde 700% no número de cartas comentan<strong>do</strong>manifestações de leitores, saltan<strong>do</strong> de 2 para


466 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV16 o número de correspondências com esteteor.Os emails são hoje o principal meio decontato entre os leitores e a colu<strong>na</strong> “Correio<strong>do</strong> Leitor”, responden<strong>do</strong> por 66,87% dascorrespondências, enquanto as cartas respondempor 26,44% das manifestações alipublicadas e o fax, por ape<strong>na</strong>s 6,69%. Noperío<strong>do</strong> anterior, relativo a dezembro de 1995,tais correspondências chegavam por fax oucartas convencio<strong>na</strong>is.Em contrapartida, o jor<strong>na</strong>l se viu insta<strong>do</strong>a cuidar melhor deste ca<strong>na</strong>l dedica<strong>do</strong> às correspondências<strong>do</strong>s leitores. O espaço desti<strong>na</strong><strong>do</strong>à colu<strong>na</strong> cresceu 71,5%, o que representa ape<strong>na</strong>s30% da necessidade gerada pela nova demanda,ainda que reprimida pela orientação de fixarem no máximo 15 linhas o tamanho médio decada manifestação, baixada em outubro de 2001.O volume de manifestações <strong>do</strong> público cresceu,portanto, muito acima <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lem permitir a publicação de tais manifestações,o que pode indicar estar haven<strong>do</strong> um erro deestratégia em termos editoriais e/oumerca<strong>do</strong>lógicos.Embora o jor<strong>na</strong>l “Correio Popular” tenhacuida<strong>do</strong> melhor da visualização e impostopadronizações ao espaço dedica<strong>do</strong> ao “Correio<strong>do</strong> Leitor”, inserin<strong>do</strong> ilustrações e aplican<strong>do</strong>cores de mo<strong>do</strong> a tor<strong>na</strong>r mais agradávelo espaço sob o ponto de vista estético, aindahoje há uma demanda reprimida das participaçõesque diariamente chegam ao jor<strong>na</strong>l.Impactos de toda ordemA primeira subcategoria de análise apurouque, de um mo<strong>do</strong> geral, a informatizaçãodas redações é considerada pelos jor<strong>na</strong>listasentrevista<strong>do</strong>s como uma etapa que facilitoua produção <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, elimi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> papel,aceleran<strong>do</strong> o tráfego de informações e reduzin<strong>do</strong>erros decorrentes de redigitações. Ainternet aparece como uma etapa posterior,que acelerou ainda mais o processo produtivointerno e multiplicou as relações exter<strong>na</strong>s<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l e jor<strong>na</strong>listas, seja com leitores,assessorias de imprensa, agências noticiosasou fontes de informação de caráter primário.Não foi à toa que o próprio diretor <strong>do</strong> grupo,Nelson Homem de Mello 9 , afirmou que “hojefazer jor<strong>na</strong>l é brincadeira” se compara<strong>do</strong> aoperío<strong>do</strong> em que iniciou sua vida profissio<strong>na</strong>l.Um exemplo <strong>do</strong> avanço permiti<strong>do</strong> pelaInternet vem <strong>do</strong> colunista e editor de Política,Edmilson Siqueira 10 , que já não maiscorrige os telegramas (telex) oriun<strong>do</strong>s dasagências noticiosas. O texto digital eliminoudificuldades que levavam a imprecisões,encurtan<strong>do</strong> o tempo entre sua chegada àredação e sua impressão no jor<strong>na</strong>l: “Ficoumais fácil trabalhar em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s” 11 ,“foi uma revolução” 12 .Outro aspecto importante aponta<strong>do</strong> dizrespeito à apuração jor<strong>na</strong>lística, seja paraconceber pautas seja <strong>na</strong> produção da reportagem.A internet, devi<strong>do</strong> à sua configuraçãode um grande banco de da<strong>do</strong>s, é consideradauma “fonte inesgotável” de pauta 13 , permitin<strong>do</strong>até mesmo a consulta aos textos deoutras publicações jor<strong>na</strong>lísticas, já que a redeé um “megajor<strong>na</strong>l”. Carvalho 14 chegou a fazerpesquisas no The New York Times para redigirparte de uma reportagem feita <strong>na</strong> cidade deCampi<strong>na</strong>s. Ele também repercutiu no municípioum protesto gay que se realizava emSalva<strong>do</strong>r (BA), a respeito de bancos desangue.Pautada para uma reportagem sobreevolução da Aids, a repórter Teresa Costa 15procurou da<strong>do</strong>s, para contextualizar o tema,em sítios gover<strong>na</strong>mentais que <strong>do</strong>cumentama evolução e incidência da <strong>do</strong>ença. Alimenta<strong>do</strong>spor especialistas no assunto, essesbancos de da<strong>do</strong>s são considera<strong>do</strong>s pela repórter<strong>do</strong> “Correio” uma fonte fiel e permanentede estatísticas oficiais. Em termospráticos, as entrevistas jor<strong>na</strong>lísticas, que atéentão eram geralmente feitas por telefone –equipamento que muita agilidade dava (eainda dá) aos repórteres – podem agora serfeitas via email. “O cara responde por escrito”16 , o que é visto como um <strong>do</strong>cumentomais concreto que a interpretação subjetiva<strong>do</strong> repórter para uma conversa telefônica. Amesma vantagem aplica-se às manifestaçõespúblicas <strong>do</strong> leitor 17 , que até então precisavamser novamente digitadas no processo deedição.Na condição de editor-executivo dapublicação a<strong>na</strong>lisada, Marcelo Pereira usa ainternet para manter-se constantementeatualiza<strong>do</strong> a respeito <strong>do</strong>s fatos jor<strong>na</strong>lísticosrelevantes que estejam ocorren<strong>do</strong> durante suajor<strong>na</strong>da de trabalho. Com isso, consegue irdefinin<strong>do</strong>, com mais precisão e de forma mais


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS467bem planejada, o espaço editorial que cadaeditoria ocupará <strong>na</strong> edição em fechamento.Um assunto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de grande relevância,como foi o caso <strong>do</strong>s atenta<strong>do</strong>s em 11de setembro de 2001 <strong>na</strong> cidade de Nova York,obrigou a abertura de mais espaço <strong>na</strong> editoriainter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, situação análoga a tantas outrasde interesse <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, que foram percebidasgraças ao advento da rede mundial de computa<strong>do</strong>res.Também <strong>na</strong> categoria das grandes transformaçõesque a internet trouxe ao jor<strong>na</strong>lismoimpresso, os jor<strong>na</strong>listas incluíram aa<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> email <strong>na</strong>s redações, ferramenta quepermite um contato direto, para troca decorrespondências, entre jor<strong>na</strong>lista e leitor,tanto para receber denúncias, críticas esugestões, como para estabelecer um diálogoentre as partes. Siqueira costuma responder,de forma individualizada, os emails <strong>do</strong>scríticos de sua colu<strong>na</strong> política, coisa que nãofaria se tivesse que escrever cartas convencio<strong>na</strong>ispara os leitores.A propriedade multiplica<strong>do</strong>ra da internettambém “modificou a carga e especialmenteo in-put de informação” 18 que chega ao jor<strong>na</strong>l.Os jor<strong>na</strong>listas recebem hoje muito maisinformações <strong>do</strong> que recebiam até então emseus ambientes de trabalho. Se antes ascorrespondências chegavam ape<strong>na</strong>s aos editores,hoje elas chegam (de forma multiplicada)<strong>potencial</strong>mente a to<strong>do</strong>s os jor<strong>na</strong>listasda casa. Carvalho, por exemplo, em atividadeque desenvolve paralelamente, envia releasesde assessoria de imprensa às chefias e aosrepórteres. Essa carga extra de informaçãocirculante representou também uma sobrecargade trabalho para os que recebem taisinformações, mas garante uma circulaçãomais livre e um controle descentraliza<strong>do</strong> <strong>do</strong>sinformes que chegam aos jor<strong>na</strong>is.O impacto relata<strong>do</strong> acima é visto, contu<strong>do</strong>,como ape<strong>na</strong>s uma parte inicial da ondade transformações que ainda continuará atingin<strong>do</strong>o jor<strong>na</strong>lismo impresso. Há uma sensaçãogeneralizada de que a internet afetaráo meio impresso com muito mais impactoque os meios de comunicação que a precederame fizeram incursões no campo <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>lismo – o rádio e a televisão. O fatose deve à capacidade que têm as publicaçõesvirtuais de armaze<strong>na</strong>r da<strong>do</strong>s e torná-losdisponíveis quan<strong>do</strong> os leitores quiseremacessá-los, diferentemente <strong>do</strong> que ocorre comos meios eletrônicos convencio<strong>na</strong>is.A segunda subcategoria de análiseregistrou ter a internet leva<strong>do</strong> definitivamenteo leitor para dentro <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, papel queo telefone – por mais que se tentasse – nãoconseguiu cumprir. O telefone exigia que,dentro da redação, alguém estivesse disponívelpara atender, anotar sugestões ou simplesmenteouvir uma crítica <strong>do</strong> público noexato momento da ligação. Como se sabe,<strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong> tempo o jor<strong>na</strong>lista está emreuniões de trabalho ou está <strong>na</strong> rua, levantan<strong>do</strong>da<strong>do</strong>s para a produção diária, quan<strong>do</strong>o interessa<strong>do</strong> deixava (ou evitava deixar) reca<strong>do</strong>com a telefonista. A sincronia era difícil,o que desestimulava um contato maior entreas partes. O email mu<strong>do</strong>u esse esta<strong>do</strong> decoisas. No “Correio Popular”, as correspondênciasà redação foram quintuplicadas depoisda internet, e 80% das que hoje chegam ofazem por meio da rede de computa<strong>do</strong>res.As estatísticas apontam que há pelomenos 200 mil inter<strong>na</strong>utas <strong>na</strong> cidade deCampi<strong>na</strong>s, contra uma tiragem média de 45mil exemplares diários <strong>do</strong> “Correio Popular”.O público <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l foi, portanto,<strong>potencial</strong>iza<strong>do</strong> pelo sítio de acesso gratuitoque a publicação mantém em seu portal“Cosmo”. Ali estão disponibilizadas asnotícias mais importantes <strong>do</strong> dia e os textosde to<strong>do</strong>s os colunistas <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, bem comolinks para envio de email a to<strong>do</strong>s os profissio<strong>na</strong>isda casa. Há casos já observa<strong>do</strong>sde emails remeti<strong>do</strong>s ao jor<strong>na</strong>l, durante amadrugada, pedin<strong>do</strong> correção de da<strong>do</strong>sexistentes <strong>na</strong> versão on-line, antes mesmoda circulação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l em papel.Essa multiplicação <strong>do</strong> público não ficourestrita à área geográfica <strong>do</strong>s limites deCampi<strong>na</strong>s. Não é raro os jor<strong>na</strong>listas <strong>do</strong>“Correio” receberem emails de leitores residentesem localidades aonde não chega apublicação impressa. Até mesmo inter<strong>na</strong>utasde outros países, como Ca<strong>na</strong>dá, Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s e África <strong>do</strong> Sul, já chegaram a enviaremails comentan<strong>do</strong> reportagens disponibilizadasno sítio. Tratam-se de pessoas que,de alguma maneira, ainda mantêm um vínculoque um dia criaram com a cidade deCampi<strong>na</strong>s. É o reforço da tese dadesterritorialização <strong>do</strong> público, permitida pelarede mundial de computa<strong>do</strong>res.


468 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEssa nova etapa de participação <strong>do</strong> leitor<strong>na</strong> produção jor<strong>na</strong>lística leva a três consequênciaspossíveis: a) a inclusão de novaspautas ou temas ao cotidiano <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, frutodas sugestões <strong>do</strong> leitor; b) a retificação deinformações incorretas ou mudança de rumoem determi<strong>na</strong>da investigação jor<strong>na</strong>lística,decorrente da crítica <strong>do</strong> público; e c) orastreamento da opinião <strong>do</strong>s inter<strong>na</strong>utas/leitoresem temas varia<strong>do</strong>s, decorrente daparticipação pública <strong>na</strong>s enquetes que apublicação virtual realiza regularmente emseu sítio.Além da participação maior <strong>do</strong> públicono cotidiano <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l, o jor<strong>na</strong>lista sente quehá também uma vigilância maior sobre o seutrabalho. O profissio<strong>na</strong>l de imprensa temagora um retorno imediato <strong>do</strong> que escrevee consegue avaliar o quão intensamente otema está presente <strong>na</strong> agenda de preocupações<strong>do</strong> público. O fato “aumenta a responsabilidade”19 <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista, por um la<strong>do</strong>, epermite o advento de um público “maisexigente” 20 , por outro.De ordem prática, a internet acrescentoupelo menos duas novas tarefas ao cotidiano<strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l de imprensa. A primeira é terque avaliar um volume imprevisível decorrespondências “baixadas” diariamente <strong>na</strong>caixa postal de cada jor<strong>na</strong>lista da casa. Asegunda é ele se sentir <strong>na</strong> obrigação de darexplicações daquilo que faz ou fez. É o casoda editora das cartas <strong>do</strong>s leitores, que regularmentetem que se explicar sobre os critériosque a<strong>do</strong>ta para rejeitar ou resumir umacarta enviada àquela editoria <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Aocomentar o fenômeno, Fonseca disse que sesente obrigada a tor<strong>na</strong>r mais transparentes oscritérios que usa em seu trabalho, admitin<strong>do</strong>que “tenho mais vigilância, não só <strong>do</strong> meuchefe como também <strong>do</strong>s leitores. Então, medeu mais trabalho no senti<strong>do</strong> de justificar oque faço”.Na terceira subcategoria de análise,observou-se que no “Correio Popular” ovolume de correspondências enviadas àcolu<strong>na</strong> “Correio <strong>do</strong> Leitor”, espaço da pági<strong>na</strong>2 tradicio<strong>na</strong>lmente dedica<strong>do</strong> às manifestaçõesescritas <strong>do</strong> público, foi multiplica<strong>do</strong>por dez depois <strong>do</strong> advento <strong>do</strong> email. Atémesmo leitores de idades mais avançadas, quepossivelmente não tenham o hábito de <strong>na</strong>vegarnos sítios da rede mundial de computa<strong>do</strong>res,perceberam que aumentam aspossibilidades de terem suas cartas publicadasse forem enviadas por email.A multiplicação de cartas criou um sérioproblema para os profissio<strong>na</strong>is da casa. Oantigo critério de publicá-las por ordem dechegada, em vigência até outubro de 2001,levou a uma lista de espera que chegou a4 meses, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> as manifestaçõesdesatualizadas e crian<strong>do</strong> um clima de insatisfaçãojunto ao público. A saída foi aumentaro espaço editorial dedica<strong>do</strong> à editoria e,ao mesmo tempo, limitar o número de linhaspermiti<strong>do</strong> para cada manifestação. Além demais leitores participarem da colu<strong>na</strong>, hátambém casos de leitores que <strong>potencial</strong>izaramsuas manifestações. Não deixa de ser curiosoque tais leitores não costumem participar dasmanifestações on-line permitidas no link“Comente esta Matéria”, que o jor<strong>na</strong>l mantémno portal “Cosmo”, no qual não há restriçãode espaço. Apesar das restrições espaciais,eles preferem escrever para o jor<strong>na</strong>limpresso.A quarta subcategoria de análise apontaque a internet impôs aos jor<strong>na</strong>is impressosa contratação de mais funcionários, desta vezespecializa<strong>do</strong>s <strong>na</strong> produção virtual, <strong>do</strong> técnicoem informática ao jor<strong>na</strong>lista profissio<strong>na</strong>l.Aparentemente, todas as empresasjor<strong>na</strong>lísticas se sentiram <strong>na</strong> obrigação deocupar esse novo espaço <strong>na</strong> comunicaçãosocial, antes que outro ramo de atividade ofizesse. Foi o me<strong>do</strong> de “perder o bonde dahistória” que forçou o ingresso das empresasjor<strong>na</strong>lísticas no ramo virtual. O computa<strong>do</strong>r,este sim, reduziu drasticamente o número defuncionários necessários à produção de jor<strong>na</strong>isimpressos. Registre-se que, apesar desteefeito colateral negativo, o jor<strong>na</strong>lista prefereo momento atual ao anterior, pois obtém maisagilidade e velocidade ao seu trabalho,embora, em muitos casos, a tecnologia tenhasignifica<strong>do</strong> um acúmulo de funções 21 .A quinta subcategoria de análise apurouque os escalões superiores <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “CorreioPopular” recebem uma média de 150emails diariamente. Até onde conseguemavaliar, é a forma preferida pelo leitor parase comunicar com o jor<strong>na</strong>l. Diretor e editoreslêem pessoalmente as mensagens querecebem, sem haver qualquer processo defiltragem, o que deve garantir um eleva<strong>do</strong>


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS469grau de retorno para os interessa<strong>do</strong>s em umamanifestação da empresa ou a<strong>do</strong>ção demedidas por parte <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. Os emails tratamde toda sorte de temas, incluin<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>de informação complementar a reportagenspublicadas.A colu<strong>na</strong> de política recebe quase 1.000mensagens ao mês, um número considera<strong>do</strong>grande para um jor<strong>na</strong>l <strong>do</strong> porte <strong>do</strong> “CorreioPopular”, sedia<strong>do</strong> em cidade de porte médio.Na forma de cartas ou telefonemas, o editorda colu<strong>na</strong> nunca recebera, em perío<strong>do</strong> anteriorà rede, tantas manifestações. Por suavez, somente no mês de novembro de 2001,a repórter especial (Costa) recebeu 735correspondências de seus leitores, todasatravés da internet. Entre os emails, há 25propon<strong>do</strong> matérias sobre meio-ambiente eoutros 17 sugerin<strong>do</strong> temas em astronomia.Antes, essa avalanche de correspondênciasera impraticável. Aqui há duas fortes evidências:a internet aumentou o volume demensagens enviadas à publicação e permitiumaior participação <strong>do</strong> leitor <strong>na</strong> produção dapauta.A sexta subcategoria de análise apurouque, em termos de roti<strong>na</strong> de trabalho, ainternet já permitiu uma redução <strong>do</strong> tempode permanência <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>l de imprensa<strong>na</strong>s redações <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l 22 . Este sempre foi umgrande problema para a categoria, que contacom jor<strong>na</strong>da regulamentar de trabalho de 5horas diárias (mais 2 horas extras legais),tempo insuficiente, <strong>na</strong> maioria das vezes, paraacompanhar o desenvolvimento de um fatojor<strong>na</strong>lístico ao longo <strong>do</strong> dia. Ao assumirfunções <strong>do</strong> editor que produz e orienta pautas,o problema se agrava, pois a jor<strong>na</strong>da detrabalho tende a se esticar, com um intervalode tempo raramente aproveitável para outrasatividades 23 . A má qualidade de vida, emdecorrência <strong>do</strong> estresse e da presença constanteexigida no ambiente de trabalho, semprefoi marca registrada desta profissão, umadas mais beneficiadas pela nova tecnologiade comunicação, visto trabalhar diretamentecom este campo de produção.Agora se tornou possível ao editor orientar,a partir de sua residência, os passosiniciais da roti<strong>na</strong> diária <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l. De formaotimizada em relação ao telefone ou ao fax 24 ,o editor dá sugestões, aponta rumos, deslocarecursos ou edita textos e consegue, inclusive,alterar uma pági<strong>na</strong> momentos antes desua impressão. No “Correio Popular”, chegasemesmo a fazer reuniões numa espécie dechat para encaminhar a produção <strong>do</strong> dia –esteja cada participante onde estiver. Ocolunista político, por sua vez, mesmo estan<strong>do</strong>em casa, consegue agora manter comsuas fontes, via email, o mesmo contato quemanteria se estivesse <strong>na</strong> redação, tambématualizan<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> leitura de outras publicaçõesvia net e remeten<strong>do</strong> sua produção editadapara a redação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l ao fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> expediente25 .A facilidade proporcio<strong>na</strong>da aos profissio<strong>na</strong>isde imprensa fica <strong>potencial</strong>izada quan<strong>do</strong>se observa a situação que enfrenta a editoradas cartas <strong>do</strong>s leitores, que devi<strong>do</strong> às suasparticulares limitações de ordem física já seprepara para, num futuro não muito distante,evitar o desconforto de ter que diariamentesair de casa e dirigir-se à redação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.“A internet vai ser muito boa neste senti<strong>do</strong>,pois vai me dar a mobilidade que eu vouprecisar para poder continuar trabalhan<strong>do</strong>” 26 .Esse tipo de teletrabalho terá condições de,seguramente, incorporar ao ramo um contingenteinestimável de profissio<strong>na</strong>is que deixamde trabalhar devi<strong>do</strong> a deficiências físicasque impedem suas locomoções. Emsenti<strong>do</strong> oposto, o risco que se corre é o delevar ao afastamento <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is que,reuni<strong>do</strong>s no ambiente de trabalho, produzemum clima que dá uma espécie de “espíritopróprio” a cada publicação, considera<strong>do</strong> vitalpara a inspiração de alguns 27 , especialmentedaqueles que se iniciaram <strong>na</strong> profissão nostempos anteriores ao advento da rede mundialde computa<strong>do</strong>res.Não há dúvida, no entanto, de que asfacilidades permitidas pela internet ajudamo profissio<strong>na</strong>l a vencer limites e a ganharpontos em termos de qualidade de vida, mastambém colaboram para com a multiplicação<strong>do</strong> capital. O computa<strong>do</strong>r, alia<strong>do</strong> à internet,tornou muito mais rápi<strong>do</strong> e barato produzirjor<strong>na</strong>is. “Se antes a gente tinha condições defazer uma matéria por dia, agora pode fazerduas ou três” 28 .A sétima categoria de análise apontou que,no início, a nova tecnologia trouxe aosjor<strong>na</strong>listas a expectativa de que os jor<strong>na</strong>isimpressos, num futuro próximo, estariam comos dias conta<strong>do</strong>s. Em relação aos jor<strong>na</strong>is on-


470 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVline, o impresso tem várias desvantagens, acomeçar pela dificuldade de continuar dan<strong>do</strong>“furos de reportagem”. O novo meio aceleroua divulgação <strong>do</strong>s fatos, o que retira <strong>do</strong>impresso a possibilidade de continuar trabalhan<strong>do</strong>com hard-news. 29 A rigor, o rádio ea TV já o haviam feito, mas por exigirema sincronia da audiência, o problema não eratão senti<strong>do</strong>. Além de tor<strong>na</strong>r esta sincroniadesnecessária, a internet ainda tem a propriedadede deixar a informação armaze<strong>na</strong>dapara que o leitor a procure no momento emque por ela se interessar.Para um <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas entrevista<strong>do</strong>s 30 ,a internet está sentencian<strong>do</strong>, já para ospróximos 20 anos, a morte <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismoimpresso. Seus custos de produção e distribuiçãosão menores, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> também menorseu preço ao consumi<strong>do</strong>r fi<strong>na</strong>l. Segun<strong>do</strong> ele,o novo meio vai encontrar gerações habituadasa fazer leituras <strong>na</strong> tela, sem “sujar asmãos de tinta”. Se não bastassem essesfatores, ainda seria um meio ecologicamentecorreto se compara<strong>do</strong> ao jor<strong>na</strong>l de papel, cujaprodução exige a derrubada de árvores, apesarda obrigatoriedade legal imposta aos produtoresde papel e celulose <strong>do</strong>s programas dereflorestamento.Esta análise de esgotamento <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>limpresso, contu<strong>do</strong>, não é partilhada por to<strong>do</strong>sos jor<strong>na</strong>listas da casa. A maioria acreditanuma acomodação <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l impresso a outrasfunções, entre as quais se destacam a deatribuir um maior interesse às causas comunitáriase impor maior aprofundamento <strong>na</strong>sreportagens que publica, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-as maisa<strong>na</strong>líticas em relação ao que se faz hoje. Ojor<strong>na</strong>l “O Globo”, por exemplo, já divulgouter da<strong>do</strong> os primeiros passos neste senti<strong>do</strong>,buscan<strong>do</strong> diferenciar seu conteú<strong>do</strong> da agendadiária coberta pelos concorrentes. Aempresa está mudan<strong>do</strong> sua forma de pautaro jor<strong>na</strong>l, procuran<strong>do</strong> temas diferencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>dia-a-dia da cobertura jor<strong>na</strong>lística e oferecen<strong>do</strong>-osde forma mais completa aos seusleitores 31 .A possibilidade de acomodação <strong>do</strong> meioimpresso a novos conteú<strong>do</strong>s e sua coexistênciacom a internet vem da evidênciahistórica de que rádio e TV não anularama demanda por jor<strong>na</strong>is impressos; em situaçõesespecíficas, como é o caso de catástrofes,chegam mesmo a estimular sua compraem bancas. E há ainda outras evidênciasem relação à coexistência de meios: o cinemanão matou a literatura e a televisão nãodestruiu o cinema. Ao contrário, tanto aliteratura quanto o cinema vêm ganhan<strong>do</strong>cada vez mais públicos e aumentan<strong>do</strong> cadadia mais suas receitas e orçamentos. Naredação a<strong>na</strong>lisada, a internet vem sen<strong>do</strong>considerada um complemento ou parceiro daspublicações impressas. Também por essemotivo, até mesmo publicações de cidadesde porte pequeno procuraram montar seussítios noticiosos. Mais que uma medida deprecaução, trata-se de assimilar as possibilidadesque o novo meio oferece para funcio<strong>na</strong>rcomo alavanca para o meio impresso32 .Para o longo prazo, espera-se umamudança significativa nos conteú<strong>do</strong>s daspublicações, que deverão entregar a seusleitores as hard-news através de sítios quemantém <strong>na</strong> rede de computa<strong>do</strong>res e oferecera análise e os novos temas da agenda social<strong>na</strong>s publicações impressas. Essa adequaçãodeverá exigir a formação de profissio<strong>na</strong>is,técnica e culturalmente, melhor prepara<strong>do</strong>spara essas novas funções.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS471BibliografiaGil, Antonio Carlos, Méto<strong>do</strong>s e técnicasda pesquisa social, 5.ed.. São Paulo: Atlas,1999.Go<strong>do</strong>y, Arilda Schmidt, Pesquisa Qualitativa:tipos fundamentais, Revista de Administraçãode Empresas. São Paulo, mai./jun.1995.V. 35, n. 3, p. 20-29.Kamel, Ali, “Vida longa para os jor<strong>na</strong>isimpressos”, disponível em http://www.oglobo.com.br até fevereiro de 2001.Lakatos, Eva Maria e Marconi, Mari<strong>na</strong>de Andrade, Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> trabalho científico:procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica,projeto e relatório, publicaçõese trabalhos científicos, 4.ed., São Paulo, Atlas,1992.McLuhan, Marshall, UnderstandingMedia: os meios de comunicação comoextensões <strong>do</strong> homem, trad. Décio Pig<strong>na</strong>tari,São Paulo, Cultrix, 1969.EntrevistasCarvalho Jr., Dario José. Entrevistaconcedida no campus da Pontifícia UniversidadeCatólica de Campi<strong>na</strong>s às 11 horas <strong>do</strong>dia 22 de novembro de 2001.Costa, Maria Teresa. Entrevista concedida<strong>na</strong> sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”, dacidade de Campi<strong>na</strong>s (SP), em 29 de novembrode 2001.Evangelista, Mário Alberto. Entrevistaconcedida <strong>na</strong> sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”,da cidade de Campi<strong>na</strong>s (SP), em 8 denovembro de 2001.Fonseca, Kátia. Entrevista concedida <strong>na</strong>sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”, da cidadede Campi<strong>na</strong>s (SP), em 16 de janeiro de 2002.Mello, Nelson Homem de. Entrevistaconcedida <strong>na</strong> sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”,da cidade de Campi<strong>na</strong>s (SP), em 17 dejaneiro de 2002.Pereira, Marcelo. Entrevista concedida <strong>na</strong>sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”, da cidadede Campi<strong>na</strong>s (SP), em 11 de dezembro de2001.Siqueira, Edmilson. Entrevista concedida<strong>na</strong> sede <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l “Correio Popular”, dacidade de Campi<strong>na</strong>s (SP), em 29 de novembrode 2001._______________________________1Pontifícia Universidade Católica de Campi<strong>na</strong>s(SP – Brasil).2, Marshall McLuhan, Understanding Media:os meios de comunicação como extensões <strong>do</strong>homem, Trad. Décio Pig<strong>na</strong>tari, São Paulo, Cultrix,1969, p. 199.3Antonio Carlos Gil, Méto<strong>do</strong>s e técnicas dapesquisa social, São Paulo, Atlas, 1999, p. 78.4Arilda Schmidt Go<strong>do</strong>y, “Pesquisa Qualitativa:tipos fundamentais”. Revista de Administraçãode Empresas, São Paulo, mai./jun. 1995. V.35, n. 3, p. 20-295Antonio Carlos Gil, ob. cit., p. 736Arilda Schmidt Go<strong>do</strong>y, ob. cit., p. 23.7Antonio Carlos Gil, ob. cit., p. 72-738Eva Maria Lakatos e Mari<strong>na</strong> de AndradeMarconi, Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Trabalho Científico:procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica,projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos,São Paulo, Atlas, 1992, p. 107.9Nelson Homem de Mello, em entrevistagravada, ao autor, 17/jan/2002 .10Edmilson Siqueira, em entrevista gravada,ao autor, 29/nov/2001.11Edmilson Siqueira, idem12Marcelo Pereira, em entrevista gravada, aoautor, 11/dez/2001.13Marcelo Pereira, idem14Dario José de Carvalho Jr., em entrevistagravada, ao autor, 22/nov/2001.15Maria Teresa Costa, em entrevista gravada,ao autor, 29/nov/200116Maria Teresa Costa, idem.17Kátia Fonseca, em entrevista gravada, aoautor, 16/jan/2002.18Mario Evangelista, em entrevista gravada,ao autor, 8/nov/2001.19Nelson Homem de Mello, em entrevistacitada.20Kátia Fonseca, em entrevista citada.21Kátia Fonseca, em entrevista citada.22Mario Evangelista, em entrevista citada.23Dario José de Carvalho, em entrevistacitada.24Nelson Homem de Mello, em entrevistacitada.25Edmilson Siqueira, em entrevista citada.26Kátia Fonseca, em entrevista citada.27Maria Teresa Costa, em entrevista citada.28Maria Teresa Costa, idem.29Marcelo Pereira, em entrevista citada.30Edmilson Siqueira, em entrevista citada.31Ali Kamel, “Vida longa para os jor<strong>na</strong>isimpressos”, http//:www.oglobo.com.br, disponívelem fevereiro de 2001.32Nelson Homem de Mello, em entrevistacitada.


472 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS473Ideias que vendem, ideias que ninguém quer comprar e as outras.Breve estu<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong> poder de legitimação das audiênciasIsabel Salema Morga<strong>do</strong> 1Àmemória da minha amigaDulce Hele<strong>na</strong> VarinoO tema em debate <strong>na</strong> nossa mesa “OpiniãoPública e Audiências” 2 permite-nos, ounão, pensar que há uma correspondência entreo fenómeno da Opinião Pública e aquele outroque se caracteriza pelo índice de especta<strong>do</strong>resque sintonizam determi<strong>na</strong>da frequênciaou transmissão? Têm os resulta<strong>do</strong>scomensuráveis acerca das audiências 3 autoridadepara virem a legitimar o poder <strong>do</strong>sproprietários <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s serviços de programaçãoe de informação? E podem considerar-seas suas escolhas monitorizadas e distribuídaspor quotas entre os objectos deinformação ou de entretenimento que consomem,representações de uma opiniãopública?Para quem acredita que os meios decomunicação social contribuíram decisivamentepara aprofundar os valores ocidentaisque constituem a nossa formação social epolítica, parecerá uma asserção anti-democráticaaquela que defende que as escolhasdas audiências não legitimam 4 o poder dequem conseguiu reter a sua atenção. OsEsta<strong>do</strong>s democráticos terão que admitir e, emmuitos casos têm que garantir, a existênciade uma imprensa livre. Esse facto políticoe a circunstância da imprensa ter consegui<strong>do</strong>expandir-se por meios cada vez mais acessíveisà maioria <strong>do</strong>s cidadãos, ao mesmotempo que desenvolveu a necessária consistênciatécnica e profissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s elementosque constituem a comunicação social, faz comque os media sejam vistos como modela<strong>do</strong>resda cultura política 5 . Que esta modelagemfizesse coincidir a difusão e a promoção <strong>do</strong>sprincípios e convicções caros à democracia,com os interesses comerciais, exploran<strong>do</strong>,sem as subordi<strong>na</strong>r ao cálculo, as trocas deinformação, contribuin<strong>do</strong> assim decisivamentepara a consolidação de um espaço alarga<strong>do</strong>de opinião e de formação de críticaparticipante, é, uma ideia nostálgica de umprincípio utópico das instituições de comunicaçãosocial.Sen<strong>do</strong> certo que neste texto se irá combatera ideia de indução para a menoridade<strong>do</strong>s povos operada pela “indústria da cultura”,termo que referencia as reflexões deA<strong>do</strong>rno (A<strong>do</strong>rno, 1974) que identificava essefenómeno cultural e técnico como o últimoartefacto de uma razão instrumental 6 , tambémé certo que não se deixará de enunciarum conjunto de restrições à liberdade e àverdade que quotidia<strong>na</strong>mente nos são impostaspor esses mesmos meios de comunicaçãosocial (Keane, J. 1991). E quan<strong>do</strong> os númerossurgem como representação de opções quenão são tomadas verdadeiramente num espaçoplural que potencie a selecção entre osconteú<strong>do</strong>s múltiplos e diversos forneci<strong>do</strong>spelos diferentes media, mas sim como umaimposição de uma mesma descrição da realidadeou de formas semelhantes de entretenimentoque inibem o livre acto de preferir,então a liberdade de imprensa deixa deser um bem cívico para quem dela usufruiem geral e passa a ser um valor de merca<strong>do</strong>em particular. Esta acção necessitará de umaregulação que terá que ir, como se procurarájustificar, para além da auto-regulação própriaà das leis que aferem o processo inerenteà produção e troca de bens.A nossa simpatia para com a ideia de queem democracia o número, os muitos, são areal fonte de legitimidade das escolhaspúblicas, levar-nos-á, num primeiro momento,a caracterizar o fenómeno da luta poraudiências como um si<strong>na</strong>l positivo <strong>do</strong> exercíciode liberdade que pode resultar nessaselecção que os indivíduos podem realizarao sintonizar uma determi<strong>na</strong>da frequência e/ou adquirir determi<strong>na</strong><strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l ou revista,fruto da livre concorrência <strong>do</strong>s meios decomunicação. Mas, como Aristóteles nosalertou, um governo democrático que não sejaum Esta<strong>do</strong> de direito, no qual não haja uma


474 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVlei que regule a acção <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> povo,tor<strong>na</strong>-se um território de luta de demagogospela conquista da atenção e da paixão dessemesmo povo 7 . Por que é que há-de considerar-seum mal social o exercício <strong>do</strong> poderque envolva critérios de legitimação quepassam pela adulação das paixões? Porquê,em última análise, fazer-se coincidir, numalinha teórica muito forte desde a antiguidade,o poder <strong>do</strong> governo “de muitos” com umpoder acéfalo e facilmente controla<strong>do</strong> porquem melhor souber fazê-los reagir a determi<strong>na</strong><strong>do</strong>stópicos? 8 A questão interessa-nosporque o argumento mais difundi<strong>do</strong> <strong>na</strong>ssociedades democráticas relativamente aopoder <strong>do</strong>s meios de comunicação de massas,é o de que as escolhas <strong>do</strong> público sãosobera<strong>na</strong>s, e de que as audiências são legítimasema<strong>na</strong>ções <strong>do</strong> seu poder crítico segun<strong>do</strong>o critério da livre concorrência. Esta ideiatem uma grande força retórica, mas importaráainda reflectir sobre uma outra realidade:a que defende a presença de uma regulamentaçãoque garanta o respeito universalpela igualdade e liberdade <strong>na</strong> procura derevalorizar o poder real da opinião pública 9 .1. Definição de conceitosO conceito de opinião pública no senti<strong>do</strong>em que admite como descrição a ideia deque se forma a partir <strong>do</strong> momento em queum cidadão passou a poder intervir de formadirecta <strong>na</strong> vida política ao avaliar os actos<strong>do</strong> seu governo em público, é um conceitomoderno 10 que assenta em pressupostos dedireitos e competências <strong>na</strong>turais e i<strong>na</strong>lienáveisde to<strong>do</strong>s os seres humanos defendi<strong>do</strong> claramentepor Kant 11 . Sabemos que este conceitoganha valorização filosófica, política e históricacom o advento das revoluções liberaisque potenciaram a criação de Esta<strong>do</strong>s dedireito, e com a crescente tomada de consciênciade que ao indivíduo e ao grupocompete controlar, influencian<strong>do</strong>, as acções<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Essa influência pode traduzir-sepela livre troca de ideias entre si e pelo pedi<strong>do</strong>de esclarecimento crítico acerca da actuaçãodas instituições, no intuito de vigiar se estasprosseguem <strong>na</strong> realização <strong>do</strong> fim para queforam eleitas: o interesse público ou o bemcomum 12 . As trocas comunicacio<strong>na</strong>is onde serealizavam essa publicidade crítica, termohabermasiano, implicavam um contexto socialque privilegiava a autoridade de um espaçoque o filósofo alemão identificou como sen<strong>do</strong>o que caracterizava o conjunto de trocascomunicacio<strong>na</strong>is da sociedade civil, sen<strong>do</strong>esta percepcio<strong>na</strong>da como uma instituiçãoautónoma relativamente ao poder público <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> e em relação ao poder da esferaprivada da família (Habermas, J., 1962:149-167). Autoridade essa reconhecida comopoder defendi<strong>do</strong> e reclama<strong>do</strong> como fonte delegitimação <strong>na</strong>s novas Constituições, porcontraponto ao exercício de um poder políticoautoritário ou totalitário. O conceitopassou a indicar que as avaliações da acção<strong>do</strong> governo e a sua publicitação constituemmatéria que se autonomiza em relação àopinião pública veiculada pelas estruturas <strong>do</strong>poder, como o parlamento ou os tribu<strong>na</strong>is(Habermas, J., 1962:99-148).Hoje pode definir-se democracia como “opoder de públicos que fazem juízos empúblico” (Keane, 1991:182). Mas qual é oespaço público em que esses públicos, porforça da maioria, revelam os seus juízos? Edeixou o Esta<strong>do</strong> democrático, por definiçãoum Esta<strong>do</strong> cuja origem radica <strong>na</strong> representaçãoda vontade pública geral por eleiçãosegun<strong>do</strong> o sufrágio universal, de representara opinião pública, no exercício das suascompetências legislativas e executivas? 13A legitimidade de uma acção democráticaexcede a <strong>do</strong> acto de legitimação darepresentação por acto eleitoral, nesse entremeiosurgiram espaços de comunicação queresponderam, ainda que recorren<strong>do</strong> àmediatização, às necessidades de fazer usoda razão pública das massas. Transformousea democracia, e com ela o conceito deEsta<strong>do</strong>, e transformou-se o conceito de sujeitoque usa a sua razão e procura públicosesclarecimentos, in<strong>do</strong> privilegiar como fórumde discussão, por questões técnicas queasseguram um espaço cuja presença seglobalizou, os media. 14 Conscientes da críticaque muitos <strong>do</strong>s autores partilham alertan<strong>do</strong>para o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> pseu<strong>do</strong>-público (Habermas,J.,1993:167- 183)) que hoje ocupa o espaçopúblico, não nos é possível identificar odeclínio de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> modelo depúblico com o esgotamento desse mesmomodelo. Se para os autores precursores deHabermas (como A<strong>do</strong>rno, Horkheimer e


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS475Marcuse, entre outros), como para os seussegui<strong>do</strong>res, não se pode hoje, em termosabsolutos, utilizar o conceito de opiniãopública para caracterizar o conjunto depessoas que constituem uma audiência, entãohá que procurar as razões.Por audiência 15 entende-se, neste primeiromomento, uma pessoa ou um grupo depessoas (uma assembleia) que prestam atençãoa um som, imagem ou texto. Em televisão,por exemplo, seria “o conjunto deouvintes e telespecta<strong>do</strong>res que assistem adetermi<strong>na</strong>da actividade de radiodifusão”.Assim identificada, a palavra audiência passaa caracterizar um público cuja qualidade arealçar parece ser o de consumi<strong>do</strong>r de umadetermi<strong>na</strong>da actividade difundida ou impressae que poder ser cultural, desportiva,informativa, etc. Então, e como a definiçãode opinião pública exige a manifestação empúblico <strong>do</strong> uso da razão, a publicidade crítica,onde está a discussão, a actividade a<strong>na</strong>líticadesses consumi<strong>do</strong>res? Os que defendem queassistir a uma determi<strong>na</strong>da actividade é umaacção deliberada que implica discussão(mesmo que interior) e decisão de um sujeitoque prefere o produto A em preterição deB ou C, terão que defender que a audiênciaconstitui também ela a manifestação de certaforma de publicitar a sua opinião. Ao escolhero programa A não se está só a escolheruma forma privada e passiva de ocupar otempo, está a dar-se si<strong>na</strong>is explícitos <strong>do</strong> tipode pessoas, discursos e modelos de vida queprivilegia, vin<strong>do</strong> esse comportamento acondicio<strong>na</strong>r em termos restritos, o tipo deorientações em forma e conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s programasa a<strong>do</strong>ptar pelos opera<strong>do</strong>res de televisãoe, num senti<strong>do</strong> lato e com as devidasimplicações sociais, o tipo de projectos/discursospolíticos que se está pronto a eleger.Compete-nos agora reflectir acerca <strong>do</strong> tipode legitimidade que reside nesse tipo decondicio<strong>na</strong>mento que as audiências avaliadasem termos estatísticos e/ou pela uso da suaopinião, exercem sobre as esferas <strong>do</strong> podereconómico, cultural ou político. Já vimos quea legitimidade política não coincide exclusivamentecom a legitimidade conferida pelovoto. Mas deve a pressão dessa opiniãoexpressa pelas audiências e exercida numespaço institucio<strong>na</strong>l, que não é uma formarestrita de <strong>na</strong>tureza política, os media, servirde instrumento de trabalho ou de orientaçãoestratégica para a acção <strong>do</strong>s políticos?Faz to<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> que as sociedadesreconheçam a independência das suas instituiçõessociais, a confusão entre os diferentespapéis atribuí<strong>do</strong>s a cada esfera nãocontribui em <strong>na</strong>da para uma melhoria daqualidade de vida <strong>do</strong>s cidadãos e para umexequível projecto de cidadania. Porém,compete às populações verificarem que essasmesmas instituições evoluem <strong>na</strong> conquista eno desenvolvimento de processos de socializaçãoque mantêm vivos os valorescivilizacio<strong>na</strong>is que garantem em termosadequa<strong>do</strong>s a participação livre e equitativa,e há que fazê-lo com as condições reais decultura e a capacidade possível de participaçãocívica <strong>do</strong>s cidadãos. E se essa verificação<strong>do</strong>s actos <strong>do</strong> poder se fizer atravésde um meio como o das comunicações demassas, nesta fase em que os serviços democráticosactuais ainda não sabem comofazer aceder o público directamente aos seusespaços de poder (de criar uma democraciaradical (Habermas, J.,1992)), então que seaceite como interlocutor a manifestação daopinião das audiências nos meios de comunicação.Não é só desejável este esta<strong>do</strong> decoisas, é possível. E é neste senti<strong>do</strong> queevolve a nossa Constituição nos seus artigos37º a 40º.Porém, os meios de comunicação não sãoutiliza<strong>do</strong>s exclusivamente como media<strong>do</strong>resentre os diferentes poderes, eles não servemape<strong>na</strong>s como ca<strong>na</strong>is de comunicação poiscoexistem no mesmo espaço demagogoscapazes de induzir comportamentos e reacçõescrian<strong>do</strong>, os tão comummente execra<strong>do</strong>s,pseu<strong>do</strong>-públicos e pseu<strong>do</strong>-opinião pública.Um auditório, como Perelman tão bemescreveu sobre o tema, é um conjunto depessoas que um ora<strong>do</strong>r quer influenciar. Eaqui está o que pode acontecer, o auditóriopode ser influencia<strong>do</strong> pela argumentação <strong>do</strong>ora<strong>do</strong>r (Perelman e Olbrechts-tyteca,1988:25). Esse é agora o poder <strong>do</strong>s queconvencem ou seduzem os indivíduos a darlhesatenção. Quem cativa as audiênciasganha poder. Mas que poder têm as audiênciaspara atribuir? Como é de uma relaçãode poder que estamos a falar, de <strong>do</strong>míniode algo ou alguém sobre outrem, interessaaqui saber definir o conceito e procurar as


476 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcondições sobre a forma como se exerce essetipo de autoridade. 16 O uso <strong>do</strong> termo “poder”implica a presença de sujeitos, de umainteracção mútua e da definição de umconteú<strong>do</strong> para essa relação. Quem exerce opoder, quem se sujeita ao poder, como seapresenta este poder <strong>na</strong> comunicação demassas e em especial, o que se estabeleceentre os programa<strong>do</strong>res de televisão e as suasaudiências.Por poder entende-se uma relação de<strong>do</strong>mínio estabelecida entre <strong>do</strong>is ou maissujeitos. X será subalterno em relação a Y,se X reconhecer, se for coagi<strong>do</strong> a reconhecêloou for persuadi<strong>do</strong> a reconhecer que Y podealterar o seu comportamento. NorbertoBobbio define assim o poder como “a capacidadeque um sujeito tem de influenciar,condicio<strong>na</strong>r, determi<strong>na</strong>r o comportamento deum outro sujeito.” (Bobbio, 1999: p.216). Opoder <strong>do</strong>s meios de comunicação seria entãoo poder ideológico 17 que“se vale da posse de certas formas desaber i<strong>na</strong>cessíveis aos demais, de<strong>do</strong>utri<strong>na</strong>s, de conhecimentos, atémesmo ape<strong>na</strong>s de informações, ouentão de códigos de conduta, paraexercer uma influência sobre o comportamentode outrem e induzir oscomponentes <strong>do</strong> grupo a agir de umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> mo<strong>do</strong> e não deoutro.”(Bobbio, 1999: p.221).Bobbio não identifica os meios de comunicaçãocomo agentes deste tipo de poder,mas eu considero que a descrição os englobatambém, a par de outros. E o exercício dessainfluência atemoriza muitas consciências, jáque o auditório que está sob influência énumeroso, devi<strong>do</strong> aos meios envolvi<strong>do</strong>s e àprática de socialização <strong>do</strong>s meios de comunicaçãojá interiorizada nos consumos quotidianos,e porque o meio se serve de umalinguagem mais sedutora ao comum <strong>do</strong>scidadãos para vender as suas ideias <strong>do</strong> quequalquer outra das instituições de socialização,as quais têm mais dificuldade em fazerpassar as suas mensagens (escola, família,parlamento, parti<strong>do</strong>s políticos, sindicatos,igreja, etc.). No entanto, o acesso aos meiose a troca de serviços faz com que este poderideológico esteja dependente <strong>do</strong> tipo deorganização que abriga os interesses <strong>do</strong> podereconómico.Quem determi<strong>na</strong> então as acções públicas?Com que legitimidade se exerce essepoder? David Beetham, opon<strong>do</strong>-se a MaxWeber, diz-nos que um poder é legitima<strong>do</strong>não porque as pessoas acreditam nessalegitimação, mas porque ele pode ser justifica<strong>do</strong>nos termos das suas crenças (Beetham,D., 1991:11). Assim, as pessoas reconhecema autoridade de um poder se este se fizerreconhecer no quadro <strong>do</strong>s valores que elaspartilham. Mas isso deixa-nos sujeitos àscircunstâncias históricas da formação davontade e da opinião pública. E se, de repente,o sistema de crenças evoluir no ataque aosprincípios de uma sociedade democrática? Éaceitável, só porque o quadro de referênciasse alterou, que esse auditório possa legitimaruma outra forma de exercer o poder que sebaseie em princípios despóticas? E a pressão<strong>do</strong>s meios de comunicação <strong>na</strong> constituiçãodas referências, situa-se a jusante ou amontante, das pressões exercidas pelo papelde socialização das instituições estatais queoperam no mesmo senti<strong>do</strong>? Beetham consideraque há três condições que têm que estarsatisfeitas para que se possa dizer que umpoder é legítimo: 1. O poder tem que estarconforme com as regras estabelecidas; 2. Asregras podem ser justificadas num quadro axialde crenças partilhadas quer pelo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>rquer pelo subordi<strong>na</strong><strong>do</strong> 3. Terá que existir umconsentimento explícito por parte <strong>do</strong> subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>relativamente a esta forma de relaçãode poder (Beetham, D., 1991:15-25).Parece-nos que procurar validar assimuma forma de poder (não só o poder políticomas qualquer forma de poder) consiste numaforte demonstração de prova. Pela primeiraevoca-se a validade legal da acção, pelasegunda procura-se ver se essas regras assentamem crenças que sejam partilhadaspelos sujeitos envolvi<strong>do</strong>s e que acordemrelativamente (e numa adaptação ao nossotema das categorias de Beetham): a) ao tipode autoridade em que assenta o poder (sepor tradição, por título académico, por competênciaretórica, etc.), b) sobre os meios quepermitiram à pessoa adquirir as qualidadespara exercer o poder (por cooptação, nomeaçãopor provas dadas no exercício dasfunções, etc.) e c) sobre os fins para que tende


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS477esse poder; a terceira condição remete paraa necessidade de ter que existir uma expressãoclara <strong>do</strong> consentimento por parte <strong>do</strong>subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>. Uma relação de poder como aque se estabelece entre programa<strong>do</strong>res oueditores e os seus auditórios será ilegítima,deficitária ou passível de ser desautorizada,sempre que deixar de cumprir uma dessascondições gerais. Ora se a 1º e a 3ª condiçõesestão particularmente enquadradas emquadros legais e sujeitas a verificação porparte de auditórios que vigiam o cumprimentodas regras e da apresentação de estatísticas(o tal consentimento expresso), a segundaassenta em valores de uma culturacívica que podem estar sujeitos a variaçõesque introduzam o elemento de arbitrariedade<strong>na</strong>s relações. Dá que pensar.2. Há Ideias que vendem bem, mas quedevem ser julgadas com cuida<strong>do</strong>, a saber:2.1. O merca<strong>do</strong> é regula<strong>do</strong>r.A questão <strong>do</strong> descrédito <strong>do</strong> poder dasaudiências ou de quem tem poder sobre elas,reside essencialmente no facto de se terprocura<strong>do</strong> identificar a qualidade <strong>do</strong> tempo deatenção atribuí<strong>do</strong> a um texto ou programa como tempo de frequência dedica<strong>do</strong> a promovermerca<strong>do</strong>rias. A audiência é tomada como umbem negociável, o sujeito como merca<strong>do</strong>ria(num vocabulário marxista, sujeito àreificação), como coisa que se troca entreprograma<strong>do</strong>res e anunciantes. Há que deixar,por isso, ao merca<strong>do</strong> o que a ele pertence,retiran<strong>do</strong>-lhe a hipótese de subordi<strong>na</strong>r o interessegeral ao seu interesse priva<strong>do</strong>. Haven<strong>do</strong>regras que no contexto jurídico-legalportuguês regulamentam os meios de comunicaçãono respeito supremo da livre comunicação,há que cumpri-las de forma a mantera pluralidade e a independência <strong>do</strong> poder dacomunicação social, que é ideológico e nessestermos deverá responder perante o público.Daí a defesa de um serviço público quefuncione como garantia das liberdades e comocontra peso para a iniciativa privada;2.2. O público sabe o que quer.Tomamos consciência <strong>do</strong>s públicos queforma as audiências quer a partir <strong>do</strong> momentoem que eles se manifestam através deassociações de utentes 18 , ou de associaçõesde defesa <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, querquan<strong>do</strong> exercem o seu direito à crítica eescrevem, telefo<strong>na</strong>m ou de qualquer outraforma exprimem a sua posição acerca daselecção e <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s programas junto<strong>do</strong>s serviços ou das pessoas competentes, quercomo sujeitos jurídicos com direito de respostae de rectificação (Correia, 2000:552-568), 19 quer como sujeitos referencia<strong>do</strong>s emaudimetrias, sondagens e inquéritos de opinião20 , quer ainda como consumi<strong>do</strong>res dematerial impresso dedica<strong>do</strong> à apresentaçãodas programações (e das figuras mediáticas)<strong>do</strong>s principais ca<strong>na</strong>is, quer pela presença decolu<strong>na</strong>s críticas de televisão em jor<strong>na</strong>is dereferência. Não sen<strong>do</strong> exaustivos, estesméto<strong>do</strong>s dão-nos todavia uma amostra daexistência de um grupo que percepcio<strong>na</strong> ese identifica como receptor de conteú<strong>do</strong>sproporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelos media. Se através dasassociações temos a promoção <strong>do</strong>s interessesde um grupo, já no que às reacções privadasdiz respeito, ape<strong>na</strong>s podemos fazer osomatório das individualidades. Mas se amanifestação desses pareceres individuais nãotivesse peso, então não se poderia considerara importância desse fenómeno como umexercício de pressão. Ora, em Portugal e noresto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a importância atribuída aoconjunto de telefonemas e de correspondênciaé significativo. Porém, há que saber oleque de ofertas a que esse público se sujeita,e também cabe saber se é um públicocapaz de criticar activamente os conteú<strong>do</strong>spercepcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s (Keane, J. 1991:147-157).3. Ideias que ninguém quer comprar, masque se impõem <strong>na</strong> teorização actual:3.1. Censura.Se a audiência é uma mais-valia para oseditores e programa<strong>do</strong>res, então a promoçãode certos programas/ideias/material com umafrequência baixa de recepção, deve ser elimi<strong>na</strong>da?E o direito das minorias em usufruirde conteú<strong>do</strong>s que interajam com as suasnecessidades? E o direito a ser interpela<strong>do</strong>,informa<strong>do</strong> e entreti<strong>do</strong> com inteligência,impedin<strong>do</strong> ao mesmo tempo que o Esta<strong>do</strong>e/ou priva<strong>do</strong>s seleccionem, em proveito deinteresses individuais e sem discussão pública,aquilo que se devo ler, ouvir e aprender?


478 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV3.2. Conformismo ideológicoPodemos estar a criar falsas expectativasou a multiplicar falsas concepções sociaise políticas, ao considerarmos comoindispensável e socialmente defensável oalargamento <strong>do</strong> espaço de argumentação ediscussão da coisa pública crian<strong>do</strong> crençasde partilha de modelos e ideias universaisque não têm um suporte real <strong>na</strong> vida pública(Breton, P., 1992). Na verdade esta concepçãoassenta <strong>na</strong> ideia antiga de que a existênciade um grupo indiferencia<strong>do</strong> e emgrande número, não constitui um sujeito fiávelem coisas relacio<strong>na</strong>das com a elevada artede fazer escolhas racio<strong>na</strong>is públicas, porquesem outra qualificação que não a de seapresentar como estan<strong>do</strong> em maior número;3.3. Iliteracia 21Os indivíduos juntos a realizarem umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> acto (a trabalharem em, a manifestarem-sepor, a defenderem algo ou alguém,a verem um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> programa),que qualificações apresentam que não a deserem muitos? Ademais, num país comoPortugal, o número de iliteratos é grande. Quegarantias temos de uma audiência capaz deinterpretar os textos, as imagens e os sonsque percepcio<strong>na</strong>m? Que instrumentos dedescodificação e de leitura são capazes deusar que os distancie <strong>do</strong> poder de alheaçãoa que se está sujeito por força das linguagensescolhidas para facilitar a compreensão? Poroutro la<strong>do</strong> há os que desresponsabilizam asaudiências dizen<strong>do</strong> que a falta incorre <strong>na</strong>própria constituição <strong>do</strong> médium, que é esteque usurpa a nossa liberdade ao multiplicarse<strong>na</strong> tentativa de manter-se sempre actual,qual entidade omnipresente, 22 não deixan<strong>do</strong>tempo para que o sujeito possa distanciarse<strong>do</strong>s acontecimentos e reflectir ponderadamentesobre as causas e sobre os fins dasacções sociais;3.4. Ditadura de maioriaUm democrata dificilmente evitará ter quedizer: “Sim, as audiências legitimam exter<strong>na</strong>menteo poder de quem as consegue concentrar.”Se esse poder se exercer <strong>na</strong>scondições já enunciadas. Não se julgue noentanto que esta resposta, pelo seuimediatismo, implica um alheamento relativamentea muitos problemas como osda desconsideração, por parte de algunsprograma<strong>do</strong>res, relativamente ao receptorda sua mensagem, ven<strong>do</strong> no público maisum valor transaccio<strong>na</strong>l entre os administra<strong>do</strong>resda estação e os anunciantes, <strong>do</strong>que um sujeito autónomo e crítico. Além<strong>do</strong> mais, o que fazer com os si<strong>na</strong>is queindicam ser a nossa era, um tempo damassificação, da mediocridade <strong>do</strong>s poderesda opinião pública e da cedência aopopulismo? 234. E as outras ideiasOs meios de comunicação, como qualqueroutra instituição de poder social, estãoainda subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s às ideologias marxistasde explicação da realidade. Ora, comocremos, a socialização pode explicar-seatravés de outras categorias como as daacção comunicacio<strong>na</strong>l nos modelos defendi<strong>do</strong>spelos filósofos alemães Apel eHabermas. 24Quan<strong>do</strong> os efeitos de uma escolha privadade um cidadão, já por si sob influênciada cultura cívica em que está socializa<strong>do</strong>,nos faz pensar que é uma opção esclarecida,esse acto publicita-se e modifica comportamentos,<strong>na</strong> perspectiva de que os meiosde comunicação se tornem mandatários dessepúblico. É nesta dupla implicação entre opoder de quem escolhe o que dar a ler, aouvir e a ver (Barreto e Mónica, IXvol.,2000: 201-206) e aquele de quem vê,lê ou ouve, que se procurou reflectir, <strong>na</strong>consciência de que esse conjunto de poderesvai por sua vez actuar sobre o poderpolítico e que este afecta, com as suasdecisões, to<strong>do</strong>s os cidadãos num prazoindetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> de anos. É sobre esta responsabilidadeque procurámos dissertar, conscientesde que se formularam mais perguntas<strong>do</strong> que as que conseguimos responderefectivamente, e que as respostas dadasficaram muito incompletas.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS479BibliografiaA<strong>do</strong>rno, Theo<strong>do</strong>r,W., (1974), Sobre aIndústria da Cultura, trad. Manuel Resendee outros, Coimbra, Angelus Novus, 2003.Almeida, O. Teotónio, (1995), “Ideologia.Revisitação de um conceito”, In Revistade Comunicação e Linguagens, 21-22, Lisboa,Edic. Cosmos, 1995:69-79.Aristóteles, Política, trad. Antº C. Amarale C. C. Gomes, Lisboa, ed. Vega, 1998.Barreto, Antº e Mónica, Mª Filome<strong>na</strong>,(1999), Dicionário de História de Portugal, Vol.7º a 9º, Lisboa, Figueirinhas, vários artigos.Beetham, David, (1991), TheLegitimation of Power, Londres, Macmillan.Bobbio, Norberto, (1999), Teoria Geralda Política, trad. Daniela B. Versiani, Riode Janeiro,Campus, 2000 (Teoria GeneraleDella Politica).Bobbio, N., Matteuci N., e Pasquino G.,(1983), Dicionário da Política, 2 vol., trad.Cármen C. Varriale e outros, Brasília, UNB,2000 (Dizio<strong>na</strong>rio di Politica), vários artigos.Breton, Philipe, (1992), A Utopia daComunicação, trad.Serafim Ferreira, Lisboa,Inst. Piaget, 1994 (L‘utopie de lacommunication).Calhoun, Craig, (org.), (1992), Habermasand the Public Sphere, Massachusetts, MIT.Canotilho, J. Gomes, (2004), DireitoConstitucio<strong>na</strong>l e Teoria da Constituição,Coimbra, Almedi<strong>na</strong>.Correia, L., (2000), Direito da comunicaçãoSocial, Iº Vol., Coimbra,Almedi<strong>na</strong>,Esteves, João P., (2003), A Ética daComunicação e os Media Modernos,Legitimação e Poder <strong>na</strong>s Sociedades Complexas,Gulbenkian, Lisboa.Garnham., N.(1992), “The Media and thePublic Sphere”, In Habermas and the PublicSphere, Massachusetts, MIT, 1992:359-376.Habermas, Jürgen, (1962), L‘espace Publique,Paris, Payot, 1993 (Strukturwandel derÖffentlichkeit). (1992).Habermas, Jürgen, (1997) Droit etDémocratie, Paris, Gallimard, 1997 (Faktizitätund Geltung).Kant, Immanuel, (1784), “Resposta à pergunta:que é o iluminismo?”, In A Paz Perpétuae outros opúsculos, trad. A. Morão, Lisboa, Ed.70, 1992:11-19 (“Was ist Aufglarüng?”)Keane, John, (1991), A Democracia e osMedia, trad. Mª Filo. Duarte, Lisboa, Temase Debates, 2002 (The Media and Democracy).Lane, J. e outros, (1996), ”PoliticalCulture”, in European Politics, Londres,Sage, 1996:175-195.Morga<strong>do</strong>, Isabel S., (2002), “Apontamentossobre a teoria da acção comunicacio<strong>na</strong>l”,in As Ciências da Comunicação, Lisboa, Vega.Perelman C. e Olbrechets-Tyteca L.,(1988), Traité de l‘argumentation, Bruxelas,Edit. de l‘ univ. de Bruxelles, 1992.Re<strong>na</strong>ut, Alain, (1999), História da FilosofiaPolítica, trad. Elsa Pereira, Vol I eIII, Lisboa, Inst. Piaget, 2001 (Histoire dela Philosophie Politique).Roskin, G. E outros (1994), “PoliticalCulture”, in Political Science: Anintroduction, Londres, Prentice-Hall,1994:121-141.Sá , Domingos Silva Carvalho de, (2002),Leis da comunicação Social, Coimbra, Almedi<strong>na</strong>.Strauss, Leo, e Cropsey, J., (1963), Historyof Political Philosphy, Chicago, Univ. Chigag.Vargues, Isabel Nobre (1997), A Aprendizagemda Cidadania, Coimbra, Minerva.Wolton, Dominique, (1995), “As contradições<strong>do</strong> espaço público mediatiza<strong>do</strong>”, inRevista de Comunicação e Linguagens, 21-22, Lisboa, Edic. Cosmos, 1995:167-188._______________________________1Bolseira pós-<strong>do</strong>c. da FCT - Investiga<strong>do</strong>raI.F.L./ U.N.L.2Agradeço ao Professor João Carlos Correiater-me entusiasma<strong>do</strong> a candidatar-me a estecongresso, obrigan<strong>do</strong>-me assim a pensar num tematão interessante. Ao meu mari<strong>do</strong> Amadeu, meuinterlocutor em presença, e à minha mãe, em quemdescanso o Manuel, os meus agradecimentos.3Nesta comunicação não se irá a<strong>na</strong>lisar nemos sistemas audimétricos utiliza<strong>do</strong>s para recolhere medir elementos acerca das audiências, nemo tratamento estatístico desses da<strong>do</strong>s, nem osmodelos explicativos da sociologia para caracterizaro perfil das audiências ou para descrevera atitude <strong>do</strong>s programa<strong>do</strong>res <strong>na</strong> relação com o seupúblico. Sen<strong>do</strong> aquela uma tarefa de grandeimportância e de muito interesse científico, deixoa quem de direito a tratar desses temas. Leia-se,por exemplo, o artigo de A<strong>na</strong> Paula MenezesFer<strong>na</strong>ndes que tratou com clareza e de formasintética estes assuntos, em http://www.aps.pt/ivcong-actas/Acta137.PDF. Ou ainda os artigos deEduar<strong>do</strong> Cintra Torres sobre estas questões, entreoutros autores. O que se procura com este trabalhoé aprofundar, desenvolver e defender a teoria


480 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque a<strong>na</strong>lisa a existência de um elo de ligação entrea audiência (que não é uma realidade redutívelaos estu<strong>do</strong>s de audimetria) e a opinião públicae os seus efeitos <strong>na</strong> sociedade democrática.4Por legitimação, toman<strong>do</strong>-se o conceito numsenti<strong>do</strong> lato, entende-se aqui o conjunto de razõesque preenchem um conjunto de condições reconhecidase aceites pelos interlocutores numarelação de poder. Por poder não entendemos ape<strong>na</strong>so que se constrói num espaço de ordem política.5Por cultura política entende-se o conjuntode crenças, símbolos e valores que os indivíduosde uma mesma sociedade partilham acerca <strong>do</strong>sistema político (Roskin e outros, 1994:121-141e Lane e outros, 1996:175-195).6Uma razão que manifestamente produz umaideologia, a da consagração <strong>do</strong>s valores tecno-científicos,que subordi<strong>na</strong> a independência e a competênciacrítica <strong>do</strong>s indivíduos ao sistema de trocas comerciais.Leia-se, a propósito, as diferenças entre o conceitode liberdade e o da participação <strong>do</strong> indivíduonos assuntos públicos, <strong>do</strong>s Modernos emcomparação com os Antigos no prólogo da obraHistória da Filosofia Política/A liberdade <strong>do</strong>sAntigos por Alain Re<strong>na</strong>ut, assim bem como ocapítulo prelimi<strong>na</strong>r “A política entre a arte esabe<strong>do</strong>ria”, (Re<strong>na</strong>ut, 1999:23-39). Sobre as “luzes”leia-se o capítulo subordi<strong>na</strong><strong>do</strong> ao título “Opensamento político das Luzes” por Alain Re<strong>na</strong>ute Pierre-Henri Tavoillot no História da FilosofiaPolítica/Luzes e Romantism, (Re<strong>na</strong>ut, 1999:41-85).7Cf. Aristóteles, 1998:289-293.8Ver Canotilho, J. Gomes, 2004; Vargues,I.N.,1997.9No seu livro A Ética da Comunicação e osMedia Modernos, João P. Esteves descreve exemplarmentea formação deste fenómeno sociológico,pon<strong>do</strong>-nos a par das principais teorias que caracterizamo tema e apresentan<strong>do</strong> alter<strong>na</strong>tivas e indican<strong>do</strong>vias de realização de uma efectiva razão práticaem público. Cf. Esteves, 2003: 39-243 e 337-468.10Ler o artigo onde Kant desenvolve esta ideia(Kant, I.,1784:11-19).11Uma aproximação muito rigorosa ao pensamentopolítico de Kant pode ler-se em Strauss,L.,1987:581-621.12Habermas nos três primeiros capítulos <strong>do</strong>seu livro Strukturwandel der Öffentlichkeit coligea história <strong>do</strong> conceito e <strong>do</strong> contexto histórico queo formou (Habermas, J.1962:13-98.13Ver um artigo que sintetiza bem as críticasque têm si<strong>do</strong> feitas ao estu<strong>do</strong> de Habermas acerca<strong>do</strong> espaço público (Garnham, N., 1992:359-376).14Leia-se o excelente artigo de Wolton a esterespeito (Wolton, D., 1995:167-188).15Eduar<strong>do</strong> Cintra Torres sintetizou claramentea distinção entre “rating” (audiência de umprograma) e “share”, num artigo para o jor<strong>na</strong>l ondeescreve, “Público”. Pode ser li<strong>do</strong> em: http://www.publico.pt/tvzine/critica.asp?id=1244 .16Tratar-se-á de uma discussão acerca dasrazões apresentadas e/ou preconcebidas para oexercício de tal poder, o qual é pratica<strong>do</strong> <strong>na</strong> esferada comunicação social, e mais especificamente datelevisão, como médium comunicacio<strong>na</strong>l que<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>, ainda. Em termos de regulação jurídica,este poder, o da Comunicação social está exaustivamentebem fundamenta<strong>do</strong> e possui um regimeque nos anos mais recentes foi sistematicamenterenova<strong>do</strong> com o intuito de aprofundar e fixar deforma mais rigorosa a prática de valores como osda liberdade de expressão, pluralismo e rigor deinformação (Correia, 2000: vol. I e II), porém estetrabalho irá dar conta da importância de um outroplano de análises, onde porventura a <strong>do</strong>utri<strong>na</strong> legalbusca assento: a <strong>do</strong>s fundamentos éticos dessesprincípios que regulamentam a prática de dar algoa ler, ouvir ou ler a alguém. Estamos a um nívelde fundamentação para a qual a discussão acerca<strong>do</strong> quadro legal que delimita esta relação de poderesnão é suficiente, porque incapaz de pôr comoobjecto de reflexão as normas de onde parte (leiaseBeetham D., 1991: 3-41 e Habermas,J.,1962:56-96). Por paralelismo podemos pensar que umacomunicação social num regime democrático temque obedecer aos códigos jurídicos de um Esta<strong>do</strong>de Direito, mas aqueles não são suficientes paragarantirem uma prática democrática por parte dessainstituição. Os <strong>do</strong>is termos não são sinónimos.17Leia-se O. Teotónio Almeida que tem umbom artigo onde expla<strong>na</strong> o conceito de ideologia(Almeida, T.O., 1995:69-79).18Como, no que à televisão diz respeito, aAssociação de Telespecta<strong>do</strong>res (ATV).19Direito reconheci<strong>do</strong> e consagra<strong>do</strong> <strong>na</strong> Constituiçãoda República Portuguesa (art. 37º, nº 4), cujasformalidades, no caso da Televisão, estão ratificadas<strong>na</strong> lei da Televisão art. 53º a 57ª (Sá, 2002:415-420).20A autorização para a divulgação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>simplica o seu depósito junto da AltaAutoridade para a Comunicação Social, a qual tempor função assegurar uma verificação e avaliação<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s apura<strong>do</strong>s (Correia, 2000:582-583).21Leiam-se os artigos em http://www.fcsh.unl.pt/<strong>do</strong>centes/cceia/literacia-iliteracia.pdf e em http://observatorio.ultimosegun<strong>do</strong>.ig.com.br/cadernos/cid180720013.htm22Veja-se o que diz A<strong>do</strong>rno a este propósito:Tal como praticamente já não se pode dar um passofora <strong>do</strong> tempo de trabalho sem tropeçar <strong>na</strong>smanifestações da indústria da cultura, assim tambémo seus media se adaptaram tão bem uns aosoutros que não deixam espaço onde uma consciênciapossa respirar e perceber que o mun<strong>do</strong> delesnão é o mun<strong>do</strong>.” (A<strong>do</strong>rno, 1974: 161-162).23Leia-se, por exemplo, A<strong>do</strong>rno, 1974:161-179.24Explicámos estas questões maisdetalhadamente em Morga<strong>do</strong>, I, 2002:1294-1299e <strong>na</strong> dissertação de <strong>do</strong>utoramento subordi<strong>na</strong>daao título Uma Ética para a Política, 2003.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS481Consumo cultural, consumo de medios de comunicacióny concepción de la culturaJavier Callejo 1PresentaciónEn este trabajo, se desarrollan algu<strong>na</strong>s delas líneas de interpretación de los principalesresulta<strong>do</strong>s de un estudio empírico sobre losconsumos y las demandas culturales en elArea Metropolita<strong>na</strong> del Sur de la ComunidadAutónoma de Madrid: Alcorcón, Fuenlabrada,Getafe, Leganés, Móstoles y Parla. Se tratade un estudio desarrolla<strong>do</strong> con técnicassociológicas cuantitativas (encuestatelefónica) y cualitativas (entrevistas y gruposde discusión), en el que puede a<strong>na</strong>lizarse ellugar de los medios de comunicación en laproducción de consumo cultural, de talmanera que las distintas concepciones de lacultura aparecen disueltas en el atractor dela denomi<strong>na</strong>da por los propios sujetos culturacomercial, que es asimilada a la culturapresente en los medios de comunicación encasi to<strong>do</strong>s sus senti<strong>do</strong>s, tanto en su conteni<strong>do</strong>,como en su práctica, de manera que elconsumi<strong>do</strong>r de cultura adquiere la lógica delas audiencias.Un Sur sin identidadEl crecimiento poblacio<strong>na</strong>l experimenta<strong>do</strong>por los municipios del Àrea Metropolita<strong>na</strong>del Sur de la Comunidad de Madrid en losúltimos treinta años cabe calificarlo deespectacular. Así, la llegada de nuevosinmigrantes de otros países, que se unen au<strong>na</strong> población asimismo integrada deinmigrantes <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les provenientes dedistintos puntos en los años setenta. Ello hacede Madrid Sur un relevante experimentosocial en nuestro entorno, <strong>do</strong>nde puedenobservarse de manera incipiente algu<strong>na</strong>s delas características de las sociedades generalesdel futuro, como el encuentro entre variasculturas. Por otro la<strong>do</strong>, hay que destacar lapresencia de u<strong>na</strong> población joven, con unnotable nivel formativo y de titulaciones, uncrecimiento económico general y undesarrollo de la infraestructura, urbanísticay de transporte, en los últimos años. En esteespacio con diversas culturas ¿cuál es el papelque tienen los medios de comunicación quehoy cabe considerar tradicio<strong>na</strong>les, como latelevisión?Lo que más llama la atención al a<strong>na</strong>listade la cultura de Madrid Sur es la relativafalta de identidad local. U<strong>na</strong> ausencia másacentuada en el caso de los jóvenes con altosniveles de formación; pero que cabeconsiderar extendida. No ha <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> u<strong>na</strong>presentación de los sujetos en clave deidentidad con las respectivas ciudades. Getafe,Leganés, etc., aparecen como ciudades en lasque, a lo sumo, se reside y, sobre to<strong>do</strong>, seduerme. Incluso, en los casos de los nivelesrelativamente más altos de la estructura socialinvestigada, <strong>do</strong>nde no se quiere vivir. Por lotanto, no puede hablarse de poblaciones conraíces. Al menos, con raíces en el lugar enel que se reside ¿Con qué se completa elposible vacío deja<strong>do</strong> por u<strong>na</strong> cultura de laidentidad aje<strong>na</strong> al lugar de residencia? ¿Conla cultura del lugar de origen? ¿con otrosámbitos o espacios culturales? Desde talmarco, los objetivos de la investigación eran:Conocer la concepción de la cultura entrelos residentes en Madrid Sur.Conocer los hábitos y consumos culturalesde los ciudadanos de Madrid Sur.Observar cuáles son las identidades ycomunidades culturales que se forman.A<strong>na</strong>lizar cuál es el lugar de los mediosde comunicación en la constitución de lo quese entiende por cultura.Aquí se desarrollan principalmente elprimero y último punto de esta lista deobjetivos.Meto<strong>do</strong>logíaPara la obtención de los objetivospropuestos, se han utiliza<strong>do</strong> tres técnicas deinvestigación social. Aun cuan<strong>do</strong> todas tienen


482 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVen común dirigirse a la obtención de losobjetivos principales de la investigación, lohacen desde perspectivas diferentes.Las entrevistas en profundidad, realizadasa expertos en distintos ámbitos de la ofertacultural en la zo<strong>na</strong>, han teni<strong>do</strong> por fi<strong>na</strong>lidadrecoger los comportamientos del consumocultural. En el caso de los técnicos de losayuntamientos entrevista<strong>do</strong>s, se ha pregunta<strong>do</strong>por los criterios principales que informan laspolíticas y, sobre to<strong>do</strong>, las ofertas culturalesde cada ciudad. El diseño de las entrevistasha si<strong>do</strong> el siguiente:6 entrevistas a técnicos de losAyuntamientos de referencia en el área decultura: u<strong>na</strong> por cada municipio.5 entrevistas a responsables de produccióncultural privada: salas de cine, salas de teatro,museos, fundaciones, etc. existentes en laMetrópolis Sur.5 entrevistas a responsables de centrospúblicos de actividad cultural en la MetrópolisSur: Casas de Cultura, Salas de Teatro, etc.3 entrevistas a profesio<strong>na</strong>les, con altaresponsabilidad en empresas de la industriacultural y el sector <strong>audiovisual</strong>, ubicadas enáreas de la Comunidad de Madrid distintaa los cinco municipios de referencia.A partir de esta práctica de investigación,se ha puesto de manifiesto el conflicto denormas entre lo que es la norma dereferencia que puede considerarse tradicio<strong>na</strong>lentre estos profesio<strong>na</strong>les, como es lacentrada en divulgar las manifestacionesculturales de mayor valor, aun cuan<strong>do</strong>tuvieran un carácter minoritario (criterio deexcelencia: “lo que debe verse”), y, por otrola<strong>do</strong>, la norma de frecuencia, como la queplantea que el éxito de asistencia del públicoparece asegura<strong>do</strong> si se programa lo que, asu vez, ha teni<strong>do</strong> éxito mediático. Ha detenerse en cuenta que la asistencia de públicoes uno de los indica<strong>do</strong>res que se tienen encuenta a la hora de valorar las políticaspúblicas, asimilán<strong>do</strong>se, de esta manera, a lascomerciales.Los diez grupos de discusión realiza<strong>do</strong>shan teni<strong>do</strong>, sobre to<strong>do</strong> en su primera parte,<strong>do</strong>s elementos centrales. Por un la<strong>do</strong>,acercarse a las dimensiones simbólicas de lacomunidad sur y, en especial, al gra<strong>do</strong> dereconocimiento e identificación con talsupuesta comunidad. Por otro la<strong>do</strong>, recogerlas concepciones <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes de cultura entrela población y los elementos y prácticas querelacio<strong>na</strong>n con las mismas. Claro está, ladinámica fue paulati<strong>na</strong>mente derivan<strong>do</strong> hacialas prácticas culturales concretas. El diseñode los grupos de discusión ha si<strong>do</strong> el siguiente:RG.1: Chicos y chicas entre 16 y 19 años.Estudiantes de Enseñanza Secundaria endistintos Centros de Fuenlabrada. Se realizóen Fuenlabrada. (JOVENES F)RG.2: Chicas y chicos entre 16 y 19 años.Estudiantes de Formación Profesio<strong>na</strong>l endistintos Centros de Leganés. Se realizó enLeganés (JOVENES L)RG.3: Varones y mujeres, entre 20 y 25años. Simultanean estudios y trabajo.Residencia en Getafe. Se realizó en Getafe(JOVENES G)RG.4: Varones y mujeres, entre 20 y 25años. Dedicación exclusiva en estudiosuniversitarios. Residencia en Móstoles. Serealizó en Móstoles (UNIVERSITARIOS)RG.5: Varones y mujeres, entre 20 y 25años. Trabaja<strong>do</strong>res en la Metrópolis Sur.Residencia en Parla. Se realizó en Parla(JOVENES P)RG.6: Trabaja<strong>do</strong>ras y trabaja<strong>do</strong>res entre35 y 45 años. La mitad con hijos. La mitaden sectores industriales tradicio<strong>na</strong>les(metalúrgico, química, textil). La otra mitadcomo autónomos (fontaneros, comercio). Serealizó en Alcorcón. (TRABAJADORES)RG.7: Varones y mujeres, entre 25 y 35años. Emplea<strong>do</strong>s y jóvenes profesio<strong>na</strong>les.To<strong>do</strong>s con, al menos, tres años de estudiosuniversitarios. La mitad con hijos. Suresidencia está distribuida entre los seismunicipios de referencia. Se realizó enMadrid (PROFESIONALES)RG.8: Varones y mujeres, entre 30 y 40años. Inmigrantes de distintos países deorigen, con un máximo de <strong>do</strong>s participantesdel mismo origen. Llevan al menos tres añosresidien<strong>do</strong> en la Metrópolis Sur. Su residenciaestá distribuida entre los cinco municipiosde referencia. Se realizó en Madrid.(INMIGRANTES)RG.9: Profesores de EnseñanzaSecundaria, entre 45 y 55 años y conresidencia en la Metrópolis Sur de más detres años. Su centro de trabajo está distribui<strong>do</strong>entre los seis municipios de referencia. Serealizó en Madrid. (PROFESORES)


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS483RG.10: Varones y mujeres entre 55 y 65años. Asistentes a aulas de mayores oparticipantes en actividades culturales de laMetrópolis Sur. La mitad, al menos, con hijosy nietos. Su residencia está distribuida entrelos seis municipios de referencia. Se realizóen Madrid. (JUBILADOS)La encuesta telefónica mediantecuestio<strong>na</strong>rio precodifica<strong>do</strong> y estandariza<strong>do</strong>realizada se centró en la recogida de lasprácticas y consumos culturales, con lafi<strong>na</strong>lidad de conocer la distribución de losmismos entre la población. Se llevó a caboentre 1.291 individuos distribui<strong>do</strong>s entre losseis municipios objeto del estudio. Lasprincipales características técnicas de lamisma son las siguientes:- Universo: residentes en los seismunicipios de Madrid Sur de más de 14 añosy menos de 75 años.- Tamaño muestral fi<strong>na</strong>l: 1.291 individuos.- Margen de error máximo (p=q=50) paradatos globales y tenien<strong>do</strong> como referencia elmodelo estadístico con muestreo aleatoriosimple: 3% para un nivel de confianza del95,5%.- Afijación de la muestra: estratificada enfunción del municipio de residencia, conselección de las últimas unidades muestrales(individuos) mediante méto<strong>do</strong> cuotas porgénero y edad. La afijación de los tamañosmuestrales para cada uno de los municipiosfue proporcio<strong>na</strong>l, siguien<strong>do</strong> los datosregistra<strong>do</strong>s en el último censo para cada u<strong>na</strong>de los municipios.- La empresa RANDOM, S.A. fue laencargada del trabajo de campo en laaplicación telefónica del cuestio<strong>na</strong>rio, que serealizó mediante sistema CATI. Con laintención de cubrir u<strong>na</strong> mínima cuota deperso<strong>na</strong>s <strong>na</strong>cidas fuera de España, el trabajode campo se extendió algo más de lo previsto,tanto en tiempo, como en número decomponentes, dadas las dificultades delocalización de estas perso<strong>na</strong>s a través delteléfono fijo.Concepciones emic de la culturaLa aproximación cualitativa se ha abiertoa los discursos sobre la concepción de lacultura que tienen los propios sujetos. Lo quedesde la meto<strong>do</strong>logía sociológica se denomi<strong>na</strong>emic. En lugar de partir de u<strong>na</strong> concepcióne imponerla a los observa<strong>do</strong>s, se ha opta<strong>do</strong>por que pongan sobre la mesa, sobre eldiscurso, su propia concepción, lo que no hadeja<strong>do</strong> de generar angustias en algunos delos sectores sociales consulta<strong>do</strong>s.La concepción de la cultura ha si<strong>do</strong> máso menos abierta o restrictiva según la posiciónocupada en la estructura social. Los sectoressubordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s de la estructura y, por lo tanto,culturalmente <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, han tendi<strong>do</strong> amostrar su resistencia a tal <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ción enclave de u<strong>na</strong> concepción amplia delsignifica<strong>do</strong> de cultura: cultura sería, en líneasgenerales, lo que ellos hacen. Los sectoresrelativamente <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes de la estructura y,sobre to<strong>do</strong>, los culturalmente <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes,como es el caso de los profesores, han tendi<strong>do</strong>a u<strong>na</strong> concepción más restrictiva de lo quees la cultura. En medio, en su papel debúsqueda de articulación de posicionesculturales tan opuestas, la mayor parte de lostécnicos y expertos entrevista<strong>do</strong>s.Hay u<strong>na</strong> oposición fundamental quepermite pasar, como si fuese u<strong>na</strong> especiede traductor, de u<strong>na</strong> concepción de la culturaa otra: u<strong>na</strong> cosa es la cultura, concepció<strong>na</strong>mplia, colectiva y antropológica de lamisma, y otra distinta tener cultura,adscripción individualizada e individualistade la cultura y, por tanto, restringida yrestrictiva. En este segun<strong>do</strong> caso es ya saberformal, mientras que en el primeroestaríamos hablan<strong>do</strong> del saber de laexperiencia. El ideal, en los sectores socialesque intentan articular ambas concepciones,estaría en la acumulación de los <strong>do</strong>s tiposde cultura. Algo que sólo se plantea desdela juventud, para irse mostran<strong>do</strong> imposiblede articulación según se aumenta la edadde los grupos:H- Tener un poco conocimiento de cadacosa que forme la cultura, conocer un pocode to<strong>do</strong>, tener sabiduría un poco de to<strong>do</strong>.RG. JOVENES, G.Para los jóvenes, el concepto de culturaparece tener siempre un carácter normativo.Incluso la concepción más amplia de culturatiene tal carácter normativo:H- En la calle también puedes aprender,ves a la gente y sabes más o menos lasnormas sociales que tiene la sociedad, máso menos.


484 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVRG. JOVENES LUn carácter normativo, vincula<strong>do</strong> alaprendizaje y al deber ser, y, por lo tanto,a la asunción de normas sociales. Un carácternormativo que se va perdien<strong>do</strong> según nosaproximamos a grupos de más edad y ya conescasas referencias de movilidad social, comoel grupo de trabaja<strong>do</strong>res de Alcorcón que seencuentra <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente en u<strong>na</strong> posiciónsocioestructural regresiva, y cuan<strong>do</strong> seintroduce el concepto de consumo. De hecho,cuan<strong>do</strong> se introduce el concepto de consumocultural, es más consumo que cultura. Lacultura se extiende entonces hacia la dualidad,que cabría denomi<strong>na</strong>r duopolio, consumoocio,<strong>do</strong>nde, entonces son admiti<strong>do</strong>s todaslas actividades y to<strong>do</strong>s los gustos comocultura:H- Dentro de esos conocimientos que túvas adquirien<strong>do</strong> ahí es <strong>do</strong>nde tú eliges losque te gustan más y los que te gustan menos,y ese sería el consumo que tú haces de esacultura, y para éste señor como él dice lasmotos, y a lo mejor para mí no, para mí esel deporte, para ésta señora la lectura...RG, TRABAJADORESLa cultura es el gusto y, por lo tanto,la expresión del gusto. La concepción dela cultura se encuentra así relacio<strong>na</strong>dadirectamente con las condiciones deexistencia y la posición en la estructurasocial, así como con algo tan intrínsecamentederiva<strong>do</strong> de estas <strong>do</strong>s dimensiones, comoson las estrategias vitales y sociales 2 . Porejemplo, entre los jóvenes de Leganés(RG.2), cuya misma juventud entendidacomo poca edad permite disponer de unhorizonte de movilidad social aúnrelativamente abierto y, a la vez, traducirseen su discurso un origen social popular,pueden convivir aún relativamente ambasconcepciones de cultura. Aun cuan<strong>do</strong> sea u<strong>na</strong>convivencia conflictiva. Por un la<strong>do</strong>, “tenercultura” o la concepción restrictiva decultura, se reconoce como uno de losdispositivos para obtener la movilidad social,algo que ayuda a “definirse en la vida”:H- Tenien<strong>do</strong> u<strong>na</strong> cultura puedes llegar atener más o menos u<strong>na</strong>s metas que conseguir,definirte en la vida.RG JOVENES LLa cultura como instrumento para el logro(metas) sólo adquiere senti<strong>do</strong> comoconcepción restrictiva: sólo se alcanzarán lasmetas en la medida que quepa establecerdistinciones culturales. Pero, por otro la<strong>do</strong>,se expresa su rechazo a lo que generadistinción, a la cultura como distinción:H- Música el bacalao, el cine actual, laspelículas que hay de moda, salir por ahí.M- También la música tecno, el cine megusta sin preferencias y leer un buen libro.M- Música tecno también, el cine,películas de terror y <strong>na</strong>da más.H- Cine de acción, y la música en generalmenos jazz y cosas de esas.RG. JOVENES LSin embargo, quienes ya están enposiciones socioestructurales relativamente<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, se expresan desde la cultura dela distinción, que utiliza a la cultura comoelemento de distinción:… me interesa que tengamos capacidadpara disfrutar de u<strong>na</strong> foto de Ele<strong>na</strong> Castro,¿sabes?E.18Los que ya están en la cultura, con sucarácter restrictivo, marcan las distancias. Yano to<strong>do</strong> es cultura:…me 3 refiero pues eso, de serinnova<strong>do</strong>res, no, yo cuan<strong>do</strong> hablo de culturame refiero más a eso que a un taller depapiroflexia,E.6De manera que puede entenderse laextensión del concepto de cultura como u<strong>na</strong>reivindicación de quienes no están en lacultura o como un directo enfrentamiento ala posición social de éstos. El gran dilemapara la elaboración y gestión de políticasculturales es si optar por lo que la mayoríade la gente hace culturalmente o por lo quese cree que la gente debería hacer, pues lagestión parte de u<strong>na</strong> posición <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte enel campo cultural y, por lo tanto, incli<strong>na</strong>daa la concepción restrictiva, aun cuan<strong>do</strong> seaal mo<strong>do</strong> ilustra<strong>do</strong>: mostrar el camino haciala apropiación de la cultura exclusiva. Así,se comprende el conflicto en el que seencuentran inmersos los gestores culturalesUn conflicto que parte de la percepción,tal vez un tanto fatalista, de que se imponela realidad de u<strong>na</strong> cultura industrial, producidadesde el consumo ocioso masivo y para elconsumo ocioso masivo. La percepción deque se impone u<strong>na</strong> particular concreción de


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS485la cultura de la no-distinción, pudién<strong>do</strong>sehablar de la imposición de la indistinción, sino fuese por la evocación que tiene de laperspectiva elitista inserta en la perspectivaorteguia<strong>na</strong> 4 . No se trataría, precisamente, dela imposición o rebelión de la cultura popular;pero es tal su fuerza, que parece diluir bue<strong>na</strong>parte de la legitimación de la cultura de ladistinción y, en definitiva, de la cultura deelite. U<strong>na</strong> menor legitimación que lleva a laextensión de la concepción de cultura, inclusoen las fracciones de un grupo que, por suposición en la estructura social, podríaincli<strong>na</strong>rse hacia u<strong>na</strong> concepción más restrictiva:Pues para mí es to<strong>do</strong> tipo deentretenimiento, cualquier tipo deentretenimiento, ocio, ya sea deporte, ya seaun curso de fotografía, pues pintura comodice él o cuadros o libros o manualidades;para mí to<strong>do</strong> eso es cultura, to<strong>do</strong>.Norma deDistinciónExclusivareferencia. Posiciones <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntesRestrictiva (relación conflictiva con industriacultural)IndividualistaLógica formalLa cultura “certificada”La cultura como logro, como metasExpresión del gusto, del serLa cultura como soporte de valor simbólicoposeí<strong>do</strong>: búsqueda de selección, cierre en laselecciónH- Las costumbres, to<strong>do</strong> ser humano porun pueblo...M- Yo creo que la forma de vivir de lasperso<strong>na</strong>s de determi<strong>na</strong>das zo<strong>na</strong>s, se parecenmucho en la zo<strong>na</strong> de vivir de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>spueblos, ciudades, países.RG INMIGRANTESU<strong>na</strong> concepción tan integral eintegra<strong>do</strong>ra de la cultura, que no sólo sereduce a la recepción, como ocurre en lamayor parte de los grupos de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les,sino que también sitúa en un lugar relevanteel dar y el mostrar:M- Por lo menos la música en u<strong>na</strong> fiesta,hablan<strong>do</strong>, nuestros productos, qué es lo quese come allí, es u<strong>na</strong> manera.GD. INMIGRANTESEstas <strong>do</strong>s concepciones opuestas de lacultura quedan sintetizadas en el siguientecuadro:Norma de frecuencia. Posiciones <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>dasConcepción amplia y abiertaAntropológica (articulación de lo propio y logeneral)Abierta (con lugar central para la industriacultural)Colectiva y grupalLógica prácticaEl consumo cultural: vía de integraciónExpresión del estarLa cultura como horizonte de valor simbólico:búsqueda de reconocimiento, apertura alreconocimientoRG PROFESIONALESClaro está, asumir u<strong>na</strong> concepción extendidade la cultura, como la incrustada en el consumoocioso y mediático, reduce enormemente sucapacidad estructurante. De aquí que otrafracción del grupo de profesio<strong>na</strong>les, la queaparece con mayores incli<strong>na</strong>ciones hacia lamovilidad social, muestre sus resistencias alaban<strong>do</strong>no de u<strong>na</strong> concepción más restrictiva.U<strong>na</strong> resistencia que adquiere las característicasde denuncia en el grupo social que,precisamente, adquiere su distinción a partir delcapital cultural, como es el caso de losprofesores. Se denuncia así u<strong>na</strong> cultura<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>da por el triángulo: televisión, centroscomerciales y producción de best sellers.En el otro polo, con la concepción menosrestrictiva y más integra<strong>do</strong>ra de cultura, seencuentra el grupo social con mayor demandade integración, que es el de los inmigrantes.Se abre así el concepto de cultura a lo universal:Pero el análisis de la concepción de lacultura de los inmigrantes extranjeros tiene unnotable valor estratégico. A través de ella, nospreguntamos sobre las posibilidades de u<strong>na</strong>cultura común. Al ser la que en mayor medidabusca la integración –frente a la búsqueda dedistinción de las posiciones <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes- cabela cuestión sobre las manifestaciones culturalesen las que se concreta la posibilidad delenguaje común. El resulta<strong>do</strong> de lainvestigación empírica nos lo dice. Porejemplo, en películas como El último samurai.En libros como Harry Potter. Y asísucesivamente. El lenguaje común de la culturaes el lenguaje de la cultura comercializada,que es, en definitiva, la producida por losmedios masivos de comunicación.Desde la concepción restrictiva de lacultura, se denuncia la cultura comercial. Perodesde la demanda de integración, la referenciaes el consumo cultural industrial.


486 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVCultura y televisiónAtendien<strong>do</strong> ahora a la construcción de losdiscursos, aun cuan<strong>do</strong> sea tenien<strong>do</strong> en cuentalo dicho, es más fácil identificar lo que seexcluye de la concepción de cultura que loque se encuentra en ella, dentro de cada u<strong>na</strong>de las posiciones referidas. Lo que ya podríaser motivo para la reflexión sobre si la lógicacultural tiende inexcusablemente hacia laexclusión. En entrevistas y grupos dediscusión, a la hora de establecer susrespectivas concepciones de la cultura, elacento se pone en lo que queda fuera de lacultura, más que en lo que queda dentro,puesto que la lógica <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte es la de ladistinción.A lo largo de los discursos, se hanencontra<strong>do</strong> tres elementos que han tendi<strong>do</strong>a ser exclui<strong>do</strong>s expresamente de lo que seentiende por cultura o, al menos, hangenera<strong>do</strong> un notable debate en los grupos dediscusión, de manera que la posición conrespecto a tal exclusión marcaba diferenciasinter<strong>na</strong>s en el grupo. Incluso, como en elgrupo de profesio<strong>na</strong>les, podría hablarse defracciones distintas de grupo. Estos treselementos que principalmente se hanencontra<strong>do</strong> en la exclusión de la cultura hansi<strong>do</strong>: televisión, deportes y toros.En la medida que se tiene u<strong>na</strong> concepciónmás restrictiva de la cultura, mayor es elataque a la televisión como elemento de ésta,hasta conformarse como enemigo de lacultura. Es, por ejemplo, la posición de losprofesores. Sin embargo, en los grupos conu<strong>na</strong> concepción menos restrictiva de lacultura, lo que va desde los trabaja<strong>do</strong>resautónomos a los inmigrantes, pasan<strong>do</strong> por losjóvenes no universitarios, la televisión noaparece como elemento exclui<strong>do</strong> en eldiscurso sobre la cultura. U<strong>na</strong> ausencia quees más importante por lo que significa deno explícita exclusión en un discurso muynormativo. Sin embargo, cuan<strong>do</strong> se observaaquellas ofertas culturales que tienen mayoracogida coincide con las que derivan de latelevisión. La televisión está en la cultura.Las normas de frecuencia se imponen a lasnormas de referencia.Cuan<strong>do</strong> es referida la televisión enrelación con la cultura por los sectoressociales de la lógica de la distinción, lo escomo gran fuente corruptora de la misma o,al menos, como elemento que desplaza, através de hacer unos productos mayoritariosy otros minoritarios, a otras actividades queno tienen su apoyo televisivo. Cuan<strong>do</strong> serealizan expresiones en las que la televisiónqueda incluida como parte de la cultura, serealizan precisamente para subrayar que elconcepto de cultura es tan omnicomprensivoque incluso acepta lo que no es cultura. Porello, la televisión se utiliza como referentepara caricaturizar la extensión del conceptode cultura, por quienes están en la posiciónrestrictiva del mismo.Entre algunos de estos grupos, pero, sobreto<strong>do</strong>, entre los entrevista<strong>do</strong>s, hay que señalarque la posición contra la inclusión de latelevisión en la cultura se vincula con locomercial. La televisión sería el principalproductor de mercancía cultural industrial, loque prácticamente no deja espacio para laproducción y gestión artesa<strong>na</strong>l de la cultura,que es en la posición material e ideológicaen la que preferentemente están y reivindican.Así, nos encontramos con la aparente para<strong>do</strong>jade que la televisión queda excluida de suconcepción de la cultura y, sin embargo, sela tiene como la principal fuente de productosque podrían denomi<strong>na</strong>rse culturales(cantantes, artistas, actores, películas, etc.) y,por lo tanto, la principal productora dedemanda cultural.La relación de los medios decomunicación y la cultura queda aún más demanifiesto cuan<strong>do</strong> se subraya que la únicamanera de promocio<strong>na</strong>r u<strong>na</strong> actividadcultural, de realizar estímulos para la cultura,es a través de los medios de comunicacióno de que u<strong>na</strong> identidad cultural sólo cobrapresencia a través de los medios decomunicación, como reconocimiento. Elsistema de medios de comunicación seconvierte en el sistema de la cultura. Cabríapreguntarse por la existencia de consumocultural o identidad cultural, por poner los<strong>do</strong>s extremos de la concepción de la cultura,sin los medios de comunicación. Un papelde los medios y en especial de la televisiónque impulsa ambos polos: a) la identidad enla admisión de lo comercial-televisivo partede u<strong>na</strong> reivindicación igualitaria, dereconocimiento igualitario; b) la identidad enla distinción parte de la marcación de la


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS487distancia con respecto a la anterior identidad,por lo que puede considerarse igualmentemarca<strong>do</strong> por la televisión. Si la televisiónproduce lo “inculto”, también produce lo“culto” en la dinámica de la distinción. Loque marca la diferencia entre la cultura comoconsumo distintivo y minoritario y la culturacomo expresión del derecho a un gusto esla televisión. Puede derivarse que latelevisión (o frente a la televisión) generael sistema de las diferentes concepciones dela cultura y, sin embargo, los integrantes deambos polos quedan constitui<strong>do</strong>s e<strong>na</strong>udiencias.El sistema de la cultura es sosteni<strong>do</strong>por el sistema de los medios decomunicación masiva. Incluso podríadecirse que los que componen el grupoculto se encuentran más integra<strong>do</strong>s en talsistema de medios, en la medida queconsumen diferentes medios decomunicación. El análisis de conglomera<strong>do</strong>srealiza<strong>do</strong> de los resulta<strong>do</strong>s de la encuestaha configura<strong>do</strong> tres grupos: a) grupo de bajoconsumo cultural y escaso consumo dediarios, como indica<strong>do</strong>r de variedad demedios (40,5% lee diarios casi to<strong>do</strong>s losdías), constituyen<strong>do</strong> las tres cuartas partesde la muestra; b) grupo aficio<strong>na</strong><strong>do</strong> a losespectáculos como consumo cultural,especialmente el cine, con un mayor nivelde lectura de diarios (46,5% casi to<strong>do</strong>s losdías), abarcan<strong>do</strong> el 20% de la muestra; yc) grupo denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> culto, que seencuentra en la lógica de la distinción, conu<strong>na</strong> lectura de diarios relativamente alta(61,3%), pero constituyen<strong>do</strong> sólo el 5% dela muestra.La relación práctica entre sistemasLa subordi<strong>na</strong>ción del sistema cultural alsistema de los medios, que puede leerse demanera preocupada desde la lógica de la<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ción, también imprime lógicasprácticas. Va más allá de la relación abstractaentre sistemas, del hecho de que el sistemade la cultura tenga su génesis en el sistemade la comunicación mediada. Precisamentepor esto, convierte a los consumi<strong>do</strong>res decultura en audiencia. U<strong>na</strong> audiencia que eligeespectáculos y pantallas, como si estuvieraen casa frente al televisor. Internet, porejemplo, se convierte en el man<strong>do</strong> a distanciaen el que se seleccio<strong>na</strong> la programación.Parecen invertirse así procesos anteriores.Antes, lo destaca<strong>do</strong> o famoso en un campo,como el cultural, iba a la televisión. Losconsumi<strong>do</strong>res acudían a la televisión para vero escuchar lo que no podían ver o escucharen directo, en el sitio. Ahora, lo destaca<strong>do</strong> enla televisión configura campos como el cultural.Los consumi<strong>do</strong>res acuden a los teatros, salasde cine o de concierto para ver o escuchar loque vieron o escucharon en televisión.Uno de los principales cambios, quemuestra el <strong>do</strong>minio de los medios decomunicación, es que en lugar de que larelación con el medio se constituya en unparéntesis transforma<strong>do</strong>r de la identidadciudada<strong>na</strong> en la de audiencias, parece quela identidad de audiencia (segui<strong>do</strong>r de tal ocual programa) se proyecta en la deciudadanos. De esta forma, parece que laconstitución de las relaciones sociales seencuentra bajo el control de los agentes queocupan posiciones preferentes en el sistemade los medios de comunicación, pues éste,además de seguir sus funciones como talsistema, se constituye en un sistema de poder.El sistema de la cultura (SC) requiere delsistema de los medios de comunicaciónmasiva (SCM) para su existencia. El SCMes funcio<strong>na</strong>l al SC.¿Cómo ha si<strong>do</strong> este proceso?Sintéticamente se expone:Para su expansión, el SCM necesitasubordi<strong>na</strong>r al SC. Un ejercicio de <strong>do</strong>miniodel SCM que conlleva adaptarse a los temas 5del SC.El SC se vacía. Genera adaptaciones(homogeneización: patrimonio simbólicocomún) y reacciones (fundamentalismos:lucha por la gestión de los patrimoniossimbólicos).La subordi<strong>na</strong>ción del SC al SCM nosignifica aban<strong>do</strong><strong>na</strong>rlo al merca<strong>do</strong>. Tambiénhay sitio para la sociedad (la política ensenti<strong>do</strong> amplio). El sitio de la sociedad entrela homogeneización subordi<strong>na</strong>da y la reacciónfundamentalista, como apunta Wolton 6 .Pero antes de entrar en los procesos deglobalización, interesa remarcar en síntesisla conclusión alcanzada:


488 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVDe la globalización de las audiencias ala mundialización de los receptores:La tendencia a la globalización del sistemade medios de comunicación, con la intenciónde transformar extensamente a la población e<strong>na</strong>udiencia y, por ello, en consumi<strong>do</strong>res 7 , puedetener como consecuencia la transformación dela sociedad global en receptores de un sistemamundial de medios de comunicación: sehomogeneizan las referencias, los núcleosinformativos. Pero, también, se hacen comuneslas referencias de la contestación y la resistenciacuan<strong>do</strong> irrumpe la ciudadanía o la reacciónfundamentalista que busca la reconstrucciónimagi<strong>na</strong>ria de raíces propias para oponerse alo que se vive como <strong>do</strong>minio. Con laglobalización de la audiencia 8 , se halla lamundialización de la sociedad, en la memoriade los medios globaliza<strong>do</strong>s están lasexpectativas de la sociedad mundializada. Hayque tener en cuenta que la necesidad de losmedios de producir audiencias no sólo generahomogeneización globalizada sino que,precisamente por tal producción, requiere lageneración de u<strong>na</strong> especie de patrimonio culturaldel mun<strong>do</strong>, con lo que se acaba configuran<strong>do</strong>u<strong>na</strong> cultura mundial. El SCM puede termi<strong>na</strong>rasí en la fuente de u<strong>na</strong> cultura mundial, pues,como señalábamos en el caso de los inmigrantesen Madrid Sur, la cultura masivo de los mediosse convierte en la cultura de la integración. Elesquema anterior se convierte en el siguiente:La cultura común producida por unsistema de medios globaliza<strong>do</strong>s constituyeun sistema social mundializa<strong>do</strong>. Como diceLuhmann: “los medios de masas garantiza<strong>na</strong> to<strong>do</strong>s los sistemas funcio<strong>na</strong>les u<strong>na</strong>aceptación social amplia, y a losindividuos les garantiza un presenteconoci<strong>do</strong> del cual pueden partir paraseleccio<strong>na</strong>r un pasa<strong>do</strong> específico oexpectativas referidas a los sistemas” 9 . Losmedios de comunicación globaliza<strong>do</strong>sconstituyen la base para la ampliaaceptación de instituciones socialesmundializadas y, a la vez, generanexpectativas para tales instituciones. Cobraasí senti<strong>do</strong> político la para<strong>do</strong>ja por la que,constituyén<strong>do</strong>nos en audiencia globalizada,los medios de comunicación configuranu<strong>na</strong> ciudadanía mundializada, en el juegode opiniones públicas que tienen porreferencia el sistema mun<strong>do</strong>. Los mediosno producen la aldea global 10 sino laciudad mundial, tal como pueden estarconfiguran<strong>do</strong> en la actualidad la ciudadSur de Madrid.ConclusionesEl análisis parte de la interpretación deresulta<strong>do</strong>s de un estudio empírico en el que latelevisión se convierte en uno de los principalescriterios diferenciales de la concepción de cultura.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS489La cultura no tiene un carácter localentre la población estudiada. Lasreferencias culturales comunes seencuentran en la denomi<strong>na</strong>da culturacomercial o industrial.El estímulo para la cultura se encuentraen el sistema de comunicación masiva.El sistema cultural se encuentra bajo el<strong>do</strong>minio del sistema de comunicación masiva.Siguien<strong>do</strong> con mayor precisión la literaturade la teoría sistémica, el sistema decomunicación masiva se ha converti<strong>do</strong> en elentorno del sistema cultural.El sistema de comunicación masiva seencuentra <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> por la televisión y latendencia hacia la globalización.En el <strong>do</strong>minio de la televisión, losconsumi<strong>do</strong>res de cultura se conviertenpreferentemente en extensión de la audienciade aquélla. Especialmente entre los sectoressociales más jóvenes.Prácticamente puede identificarse a losconsumi<strong>do</strong>res de cultura con losconsumi<strong>do</strong>res de medios de comunicación.La tendencia a la globalización de los mediosde comunicación y, por lo tanto, de la audiencia,convierte en homogéneos: referencias, memorias,acontecimientos, etc. Genera así culturamundializada y, a la vez, las bases para u<strong>na</strong>ciudadanía mundializada, que actualmente apareceocupada de resistencias, e incluso rechazos. Algoque no debe imposibilitar ver y a<strong>na</strong>lizar que enla audiencia globalmente producida se encuentrala matriz de u<strong>na</strong> ciudadanía mundializada. ¿Puedeel sistema de la comunicación masiva transformarlas audiencias en ciudadanos? Para pasar de lacomunicación mediada a la comunicaciónintercultural (societaria) hace falta un proyectopolítico. El sistema de la comunicación masivagenera las bases; pero es el propio sistema socialel que establece las posibilidades detransformación.


490 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaBourdieu, Pierre, La distinción, Madrid,Taurus, 1998.Callejo, Javier, “Globalización ydigitalización de las audiencias”, en Políticay Sociedad, vol 39, nº.1, 2002, pp. 69-82.Luhmann, Niklas, La realidad de losmedios de masas, Barcelo<strong>na</strong>, Anthropos, 2000.McLuhan, Marshall, y Powers, B. R., Laaldea global. Transformaciones en la viday los medios de comunicación en el siglo XXI,Barcelo<strong>na</strong>, Gedisa, 1990.Ortega y Gasset, José, La rebelión de lasmasas, Madrid, Revista de Occidente, 1966.Smythe, Dallas W., “Las comunicaciones:‘agujero negro’ del marxismo occidental”, en G.Richeri (ed.), La televisión: entre servicio públicoy negocio, Barcelo<strong>na</strong>: Gustavo Gili, 1983.Wolton, Dominique, La otramundialización, Barcelo<strong>na</strong>, Gedisa, 2004._______________________________1Universidad Nacio<strong>na</strong>l de Educación aDistancia.2Pierre Bourdieu, La distinción, Madrid,Taurus, 1998.3Nótese que cuan<strong>do</strong> se habla desde el discursode la cultura como distinción, se subraya el papelde la primera perso<strong>na</strong>, como ocurre en estefragmento discursivo y en el anterior. Sin embargo,cuan<strong>do</strong> se concreta la expresión de u<strong>na</strong> culturaopuesta a la de la distinción, como ocurre en elcaso del fragmento discursivo de los jóvenes deLeganés, hay u<strong>na</strong> especie de huida en la utilizaciónde esa primera perso<strong>na</strong>, incluso cuan<strong>do</strong>directamente se ha pregunta<strong>do</strong> por sus gustos.4José Ortega y Gasset, La rebelión de lasmassas, Madrid, Revista de Occidente, 1966 (e.o.1930).5Niklas Luhmann, La realidad de los mediosde masas, Barcelo<strong>na</strong>, Anthropos, 2000.6Dominique Wolton, La otra mundialización,Barcelo<strong>na</strong>, Gedisa, 2004.7Dallas W. Smythe, “Las comunicaciones:‘agujero negro’ del marxismo occidental”, en G.Richeri (ed.), La televisión: entre servicio públicoy negocio, Barcelo<strong>na</strong>, Gustavo Gili, 1983.8Javier Callejo, “Globalización ydigitalización de las audiencias”, en Política ySociedad, vol. 39 (1), pp. 69-82.9Niklas Luhmann, La realidad de los mediosde masas, Barcelo<strong>na</strong>, Anthropos, 2000, p. 142.10Marshall McLuhan y B. R. Powers, La aldeaglobal. Transformaciones en la vida y los mediosde comunicación en el siglo XXI, Barcelo<strong>na</strong>,Gedisa, 1990.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS491Moeda e Construção Europeia: Uma abordagem identitáriaMaria João Silveirinha 11. IntroduçãoA emergência de uma democraciaEuropeia supra<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l depende da formaçãode um demos europeu entendi<strong>do</strong> comouma formação colectiva que não substitui aidentidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l por uma europeia, masque permite a coexistência das identidades<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e Europeia (Risse, 2003). Atravésdela, os cidadãos de diferentes Esta<strong>do</strong>s-<strong>na</strong>çãopodem vir a considerar-se Europeus,participan<strong>do</strong> num projecto único comomembros de uma só comunidade. Esta comunidadeestá a ser construída a diferentesníveis – sobretu<strong>do</strong> normativos, políticos eeconómicos – e depende de como os processose acontecimentos que moldam aconstrução da União Europeia são construí<strong>do</strong>snão ape<strong>na</strong>s pelos decisores mas também pelasrepresentações desses acontecimentos.Neste texto exploramos como a moedaeuropeia pode ser pensa<strong>do</strong> em termos deidentidade colectiva. Começamos, assim, porexplorar os significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dinheiro emtermos da sua construção histórica, pelas suasligações sociais e políticas e pelas formascomo pode ser relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> a questões deidentidade colectiva. O dinheiro, <strong>na</strong> nossaperspectiva, não é puramente funcio<strong>na</strong>l,servin<strong>do</strong> fins materiais. É também umaentidade simbólica, que se tor<strong>na</strong> inteligívelporque é construí<strong>do</strong> dentro de certas práticassimbólicas. Neste senti<strong>do</strong>, é semelhante a umalinguagem: é um meio através <strong>do</strong> qual osignifica<strong>do</strong> é cria<strong>do</strong>. Destas considerações<strong>na</strong>scem um conjunto de interrogações queprocuraremos explorar: Qual a relação entrea transformação da moeda e a reconfiguraçãodas identidades colectivas? Comunicamos umsenti<strong>do</strong> de pertença política pelo facto deusarmos a mesma moeda ou é o dinheiro ummeio puramente funcio<strong>na</strong>l? Até que pontopodemos relacio<strong>na</strong>r o euro com a identidadeeuropeia? Com estas respostas pretendemosuma melhor aproximação às relações entrediferentes formas de comunicação e identidade.2. A moeda como elemento deterritorialização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-NaçãoUma das questões mais imediatas que olançamento da nova moeda coloca é a novaetapa que parece i<strong>na</strong>ugurar: o lançamento <strong>do</strong>Euro derrubou as moedas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is eterritoriais. Outras mudanças, noutras partes<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, também operaram fenómenossemelhantes: a substituição das moedas<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is por dólares em muitas regiõespobres <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e, num plano diferente, aemergência de moedas electrónicas, sãoexemplos de um mesmo desafio às moedasterritoriais.Como o economista Eric Helleiner temargumenta<strong>do</strong>, a criação de moedas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>isfez parte de um processo mais vasto deformação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is (Helleiner,2003). Estandardizar a moeda <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l foi,ao longo da história, uma forma de estabelecerum elemento forte de identidade política.Em geral, isso foi consegui<strong>do</strong> por umaelimi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s padrões sub-<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e pelaestandardização das moedas, um processo quenormalmente ocorreu no século XIX. Estafoi a era de formação e consolidação demuitos Esta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, bem como a erada emergência <strong>do</strong> capitalismo industrial. Foitambém um tempo em que, por razõeseconómicas e políticas, a maioria <strong>do</strong>sgover<strong>na</strong>ntes tiveram por principal preocupaçãoo controle <strong>do</strong> fabrico <strong>do</strong> dinheiro e anecessidade de combater as falsificações ede evitar o colapso económico.Ao considerar a posição portuguesa nestamatéria, será útil a periodização da históriamonetária de Portugal, de Nuno Valério. Oautor estabelece o início de um sistemamonetário português <strong>na</strong> época medieval cristãocidental, entre os séculos XIII e XV. Nosséculos da expansão e comércio atlânticos,


492 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVentre os séculos XV e XVIII encontra emPortugal um sistema monetário bimetalistageralmente estável. Quan<strong>do</strong> Portugal conhecea participação <strong>na</strong> economia mundialcontemporânea, <strong>na</strong> primeira metade <strong>do</strong> séculoXIX, desencadeiam-se vicissitudesmonetárias, a que se seguiu entre 1854 e1891, a vigência <strong>do</strong> padrão ouro e desde fi<strong>na</strong>is<strong>do</strong> século XIX um sistema de moeda convencio<strong>na</strong>l(Valério, 1991).Destes perío<strong>do</strong>s, vale a pe<strong>na</strong> recordar que,à data da formação de Portugal, e mesmo<strong>na</strong> primeira di<strong>na</strong>stia real portuguesa, o dinheiroera comum a quase to<strong>do</strong>s os reinospeninsulares, cristãos e muçulmanos: tratava-se<strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong>s Almorávidas – ten<strong>do</strong>a sua origem em al-Murabitun -, conheci<strong>do</strong>em Portugal como morabitino ou di<strong>na</strong>r deouro muçulmano, que vigorou também emPortugal. O Morabitino deixou de ser produzi<strong>do</strong>com D. Afonso III, que cunhou ape<strong>na</strong>sdinheiros de bolhão, mas em grande quantidade.Entrava-se então num regimebimetalista de ouro e prata. Depois surgiriammuitas outras moedas ten<strong>do</strong> rei<strong>na</strong><strong>do</strong>, durantemuitos anos, portanto, alguma confusão <strong>na</strong>circulação das moedas, ten<strong>do</strong> o ano de 1854si<strong>do</strong> aquele em que o real foi defini<strong>do</strong> comounidade monetária portuguesa. Esta, passa aser definida exclusivamente em termos deouro, ainda que isso nunca tenha ple<strong>na</strong>menteaconteci<strong>do</strong>. Até 1891-92 circulavam em Portugalvários tipos de moedas: novas e antigasportuguesas, libras inglesas e, em algunsperío<strong>do</strong>s, os <strong>do</strong>brões espanhóis, alguns francose mesmo moedas america<strong>na</strong>s e espanholas,uma situação preocupante para o Governoprovisório forma<strong>do</strong> aquan<strong>do</strong> da implantaçãoda República, para quem era fundamentalrestaurar o padrão-ouro. Um decretocom força de Lei de 22 de Maio de 1911fez substituir o Real pelo Escu<strong>do</strong> que, comotodas as outras moedas, sofreria momentosdifíceis e também de estabilidade.O Escu<strong>do</strong> que pereceu com o Euro, nãoera, pois, tão antigo quanto emocio<strong>na</strong>lmenteo pudéssemos imagi<strong>na</strong>r e, quan<strong>do</strong> a suahistória é comparada com a de outras moedas,mostra-se como não há trajectórias necessárias<strong>na</strong> construção monetária: «o dinheiro<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l não tem uma qualidade intrínseca.É meramente o produto de um perío<strong>do</strong>histórico específico em que a escala e oalcance espacial das forças de produção,transacções de merca<strong>do</strong> e relações sociaiscorresponderam favoravelmente à dimensão<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is» (Kaelberer, 2002:3).Ora, no actual momento em que o Esta<strong>do</strong><strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l está a sofrer mutações, também amoeda muda. Por isso vale a pe<strong>na</strong> consideraras relações entre estas mudanças ao nívelsupra-<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.3. A construção da União MonetáriaEuropeia como processo identitárioÀ Europa corresponde um longo processode história política e intelectual, no seioda qual, por entre guerras e disputas sangrentas,se foi simultaneamente desenvolven<strong>do</strong>uma longa linha de pensamentointegracionista <strong>na</strong> base <strong>do</strong>s compromissos dasoberania <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, numa combi<strong>na</strong>ção devalores, tradições e comportamentos comuns.Com efeito, muito antes <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> deMaastricht e <strong>do</strong> Euro, já existia um poderosopensamento integracionista Europeu: porexemplo, Saint Pierre falava, no início <strong>do</strong>século XIX de um “Se<strong>na</strong><strong>do</strong> Europeu”. A ideiade Europa encontra a sua expressão sobretu<strong>do</strong>em pensa<strong>do</strong>res políticos como WilliamPenn que propôs um parlamento Europeu(“Sovereign Paneuropean Assembly” ou“Diet”) que estaria aberto também à Turquiae à Rússia para resolução de conflitos; JeremyBentham propôs uma assembleia Europeia eum exército comum; Kant desenvolveu estasideias em nome da paz; Jean-JacquesRousseau, pelo seu la<strong>do</strong>, defendeu umafederação Europeia falan<strong>do</strong> de uma “sociétédes peuples de l’ Europe”; e Claude-HenriSaint-Simon falou da necessidade de umaEuropa federal com instituições comuns(McCormick, 2002: 34).A moeda como factor de união europeiatem também os seus percursoresintegracionistas. Victor Hugo anteviu umamoeda única Europeia, propon<strong>do</strong>, numdiscurso para o aniversário da revoluçãofrancesa de 1848, «uma moeda continental,de base metálica e fiduciária, ten<strong>do</strong> por pontode apoio to<strong>do</strong> o capital Europeu e por motorde actividade livre 200 milhões de pessoas»(Hugo, 1855). O escritor acrescentava queesta nova moeda «absorveria e substituiriatodas as absurdas variedades monetárias de


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS493hoje, esfinges de príncipes, figuras de miséria,variedades que são causas de empobrecimento,porque no vai-e-vem monetário,multiplicar a variedade é multiplicar a fricção;multiplicar a fricção significa diminuira circulação. Em questões monetárias, comoem qualquer outro sector, o movimentosignifica a unidade» (idem). Também Portugalteve os seus pensa<strong>do</strong>res integracionistas,Carlos Morato Roma propôs uma combi<strong>na</strong>çãodas diferentes moedas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is atravésda criação de uma “moeda europeia” emdinheiro (Car<strong>do</strong>so, 2004).A França, em 1865, criaria, com a Bélgica,Itália, Suíça e mais tarde a Grécia, a UnionMonétaire Latine, ou União Lati<strong>na</strong> – aban<strong>do</strong><strong>na</strong>daem 1927 -, uma convenção monetáriapela qual estes países concordavam emregular as suas moedas de forma uniforme.Também a União Monetária Escandi<strong>na</strong>va,entre a Suécia e a Di<strong>na</strong>marca e, mais tarde,a Noruega, pedia a to<strong>do</strong>s os países queproduzissem moedas com a mesma espessura,manten<strong>do</strong> a imagética diferente em cadauma delas (Helleiner, 2003: 134-135).Foi, no entanto, no século XX que sedesenharia de forma decisiva a face daEuropa, experiencian<strong>do</strong>-se, <strong>na</strong> segunda metadedesse mesmo século, um desejo dereconciliação política que teve os seus avançose retrocessos. O Trata<strong>do</strong> de Roma, de1957, crian<strong>do</strong> os antecedentes da UniãoEuropeia, ainda que não especificasse exactamentea união monetária, realçava a necessidadede estabelecer uma coorde<strong>na</strong>ção depolíticas e de abolir as restrições ao movimentode capital. Nos anos de 1960, o fim<strong>do</strong> sistema Bretton Woods que procuraraestabilizar e tor<strong>na</strong>r previsíveis as taxas decâmbio, tor<strong>na</strong>ra clara a necessidade de controlaras moedas flutuantes <strong>na</strong> Europa, e oantigo primeiro-ministro e ministro das fi<strong>na</strong>nças<strong>do</strong> Luxemburgo, Pierre Werner, estabeleciaum processo de fases múltiplas paraa união monetária e económica (Tietmeyer,2003). Em 1994, era cria<strong>do</strong> o InstitutoMonetário Europeu, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se, no mesmoano, no Banco Central Europeu.Daí em diante, a Europa passou a serconsiderada mais <strong>do</strong> que um merca<strong>do</strong>. Masnão é claro o que este “mais” significa, poistem si<strong>do</strong> evoca<strong>do</strong> com senti<strong>do</strong>s diferentes.Muitos desses senti<strong>do</strong>s, no entanto, apontamde alguma forma para a possibilidade deconstruir uma identidade comum. No que sesegue, começamos com a ideia de que a identidadese constitui como um processo múltiplode pertença e de distinção, ou comoum processo de articulação de formas deidentificação com os outros e consigo próprio,através de diferentes formações sociaise políticas. Isso permite um senti<strong>do</strong> deinclusividade, num “nós” ancora<strong>do</strong> em atributosreais ou imaginários, bem como emexperiências de vida abrangentes à colectividadee que a definem por contraposiçãoa um “eles”.Por outro la<strong>do</strong>, a identidade culturalpressupõe um conjunto de memórias ou umsenti<strong>do</strong> de continuidade de pertença a umacomunidade. Por isso, falar de “identidadeeuropeia” ou de um sentimento comum depertença à Europa, é estabelecer uma ligaçãocomplexa e mesmo para<strong>do</strong>xal. Na verdade,como diz Philip Schlesinger, «construir umEuropeísmo [Europeanness] é especialmentedifícil porque ele tem de emergir de umalonga história de identidades colectivas altamenteconflituosas centradas nos numerososEsta<strong>do</strong>s-<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> continente»(Schlesinger, 1997: 68). A Europa é, efectivamente,constituída por uma diversidadede povos e comunidades cujos pontos dereferência relativos a valores, significa<strong>do</strong>s eidentidades se sobrepõem, sem dispor deprincípios unifica<strong>do</strong>res claros, ainda que sepossa reger por ideias que serão mais ocidentais<strong>do</strong> que propriamente europeias. É porisso que precisamos de entender melhor aarticulação das identidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is comuma identidade supra-<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l: serão essasidentidades “aninhadas” umas <strong>na</strong>s outras,transversais umas às outras, ou múltiplas,inseparáveis, no “bolo de mármore” de quefala Thomas Risse? (Risse, 2002: 5)A literatura que procura esclarecer umaideia de identidade europeia é já vasta (Smith,1992, Delanty, 1995, 1998, 2002, Risse, 1999,2002), e em geral, procura saber como definiressa identidade de uma forma que não areduza a valores mínimos nem tão-pouco atorne “espessa” no senti<strong>do</strong> da exclusividadedas práticas de vida europeias (Delanty,2002). Entre estes <strong>do</strong>is pólos identitários têmsi<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s diversos modelos, como ouniversalismo moral, o universalismo pós-


494 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o particularismo cultural, opragmatismo e o cosmopolitismo (Delanty,2002). O modelo cosmopolita que Delantydefende - que apela, de uma forma hermenêuticaà herança cosmopolita da Europa, nãocomo expressão de uma cultura partilhada,mas como o reconhecimento da diferença –parece adequa<strong>do</strong> à “Eurolândia”: também estase constitui como amálgama de sistemaseconómicos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e regio<strong>na</strong>is com diferenteshistórias e comportamentoseconómicos em termos de níveis de inflação,de taxas de crescimento e de desemprego,mas concorren<strong>do</strong>, pelo menos no plano <strong>do</strong>sobjectivos, à partilha de uma mesma formade vida. O cosmopolitismo refere novasformas de vida moder<strong>na</strong> e nelas o dinheirodesempenha um papel importante, comoabaixo veremos. No entanto, cremos que sóo universalismo pós-<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, em últimaanálise, permitirá fazer a verdadeira uniãopolítica subjacente à unidade monetáriaeuropeia. Como argumenta Jürgen Habermas(1979), os sistemas políticos democráticos dassociedades capitalistas baseiam-se <strong>na</strong>legitimação popular <strong>na</strong> esfera cultural, independentemente<strong>do</strong> seu nível de comportamentono <strong>do</strong>mínio da produção económica. Amoeda que dá substância à “Eurolândia” é,<strong>na</strong> verdade, parte de um projecto político deintegração mais vasto e, nesse senti<strong>do</strong>, étambém símbolo identitário de uma maiorintegração política. Por isso, como argumentaThomas Risse, o Euro tem a ver compolíticas de identidade e com visões políticasda Europa (Risse, 2002).4. Entre a União Económica e a UniãoPolíticaOs apoiantes mais decidi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> projectoeuropeu partilham uma visão comum daEuropa, ainda que esta não signifique omesmo para os diferentes cidadãos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.Relativamente ao nosso país, os estu<strong>do</strong>sempíricos dão a ver uma identificação reduzidacom a Europa: 51% <strong>do</strong>s portugueses vêseape<strong>na</strong>s “como portugueses”, privilegian<strong>do</strong>,<strong>na</strong> relação com aquela, sobretu<strong>do</strong> questõescomo a segurança económica e não, porexemplo, as questões culturais(Eurobarómetro, 2003). Mas o que significa“ape<strong>na</strong>s portugueses”? Relativamente à nossaidentidade colectiva diz Manuel VillaverdeCabral que «quan<strong>do</strong> a identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l nãoé activada <strong>do</strong> exterior e o sentimento depertença é referi<strong>do</strong> à experiência quotidia<strong>na</strong>das pessoas, o que vem ao de cima é umaclivagem (…) segun<strong>do</strong> a qual a identidade<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l é um atributo das elites – entremúltiplos localismos e a identificação espontâneacom a Nação» (Villaverde Cabral, 2003:526-527). O pensamento que este autordesenvolve para a compreensão das identidades<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is é simultaneamente muitoesclarece<strong>do</strong>r da nossa relação com a Europa:«mais relevante <strong>do</strong> que todas estas manifestaçõesda identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, é o facto deo sentimento <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l ter si<strong>do</strong> objecto, desdeo último quartel <strong>do</strong> século XIX (…), deactivação política recorrente, seja pela oligarquia<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte contra alega<strong>do</strong>s perigosexternos ou, simplesmente, como factor demobilização <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l perante desafios como,por exemplo, aquele a que Portugal vemresponden<strong>do</strong> perante a integração europeia;(…)» (Villaverde Cabral, 2003: 529). A ideiade Europa pode constituir-se, assim, um“desafio” que pode activar uma ideia de<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade, mas a utilização estratégica <strong>do</strong>conteú<strong>do</strong> simbólico das identidades demonstracomo «algo de conteú<strong>do</strong> afi<strong>na</strong>l tãoimaginário e tão pobre pode, de facto, produzirefeitos tão reais e tão relevantes parauma comunidade cujas diferenças são tantomais críticas quanto têm de ser dirimidas,obrigatoriamente, no mesmo território como qual toda essa comunidade se identifica»(Idem). Também, como recorda BoaventuraSousa Santos, é o Esta<strong>do</strong> que tem regula<strong>do</strong>«com discursos e actos simbólicos, adialéctica da distância e da proximidade, dadiferença e da identidade, entre Portugal ea Europa» (Santos, 1993: 51), crian<strong>do</strong> destaforma «um universo imaginário onde Portugalse transforma num país europeu igual aosoutros, sen<strong>do</strong> o seu menor grau de desenvolvimentoconsidera<strong>do</strong> simples característicatransitória que cabe ao Esta<strong>do</strong> gerir»(Idem). O papel estratégico das elites <strong>na</strong>construção identitária não pode, pois, seresqueci<strong>do</strong>.Otmar Issing, membro <strong>do</strong> conselho executivo<strong>do</strong> Banco Central Europeu, refere que«no que toca à moeda única, os pensamentossaltam de forma ousada os obstáculos que


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS495separam a economia, a política e a cultura»(Issing, 1999). Embora «a maioria <strong>do</strong>s economistasnão pareça particularmente impressio<strong>na</strong>dapelo simbolismo da moeda únicacomo um meio usa<strong>do</strong> deliberadamente paraconseguir grandes objectivos e voos políticos(…) ninguém pode negar a extraordináriacedência de soberania que o acto de sejuntar à União monetária representa» (Idem).Ainda que a ligação entre integração directaentre a união monetária e política seja um<strong>do</strong>s aspectos mais disputa<strong>do</strong>s da União,podemos estabelecer claras ligações entre oEsta<strong>do</strong> e a economia que articulam elementoseconómicos funcio<strong>na</strong>is com elementospolítico-institucio<strong>na</strong>is e identitários com vistaa uma integração política que só se faráple<strong>na</strong>mente pelo exercício da cidadaniapolítica.A criação de um merca<strong>do</strong> único tevesobretu<strong>do</strong> razões económicas: os seus objectivosforam, entre outros, regular os merca<strong>do</strong>sEuropeus, reduzin<strong>do</strong> os custos das transacçõese aumentan<strong>do</strong> a transparência <strong>do</strong>spreços. Simultaneamente, quer a instabilidadedas taxas de câmbio, quer a vantagemcompetitiva <strong>do</strong>s produtores <strong>do</strong>s países commoedas desvalorizadas, representavam umaameaça tanto à eficácia económica como aopróprio apoio político a um merca<strong>do</strong> Europeu,pelo que a união monetária foi a respostaao problema. No centro <strong>do</strong> projectoEuro estiveram, pois, considerações económicasque se traduziram muito claramentea partir de 1 de Janeiro de 1999, quan<strong>do</strong> osvalores relativos das moedas <strong>do</strong>s onze Esta<strong>do</strong>smembros foram fixa<strong>do</strong>s. No entanto,a força política da moeda reside <strong>na</strong>s suaspróprias condições de materialização: «se aunião monetária era atraente <strong>na</strong> Europaporque fazia parte de um projecto maior deintegração económica, era exequível porquefazia parte de um processo mais vasto deintegração política» (Eichengreen, 2002: 4)A convergência de Maastricht foi implantadapor um banco central política e legalmentecredível e independente - o BancoCentral Europeu -, representan<strong>do</strong> uma instituiçãode gover<strong>na</strong>ção trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em cujasdecisões to<strong>do</strong>s os países tinham algumaparticipação. A sua legitimidade políticareside <strong>na</strong> ligação às outras instituiçõeseuropeias, nomeadamente ao ParlamentoEuropeu, perante o qual o Banco CentralEuropeu tem de responder. Foi este mesmoBanco Central Europeu que assumiu responsabilidadepor uma política monetária comumque pressupôs a adesão, por parte <strong>do</strong>s diversosEsta<strong>do</strong>s-membros, a uma série demedidas e de acor<strong>do</strong>s pensa<strong>do</strong>s para garantiruma convergência, num processo complexocom inúmeras consequências práticas, nomeadamentecontrolo da inflação e estabilidadede preços.Simultaneamente, haverá que não esquecerque o espaço europeu é resulta<strong>do</strong> da uniãode sistemas económicos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is com diferenteshistórias e que uma das particularidadesda União Europeia é o facto de elase construir como “política de geometriavariável” que, à excepção <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong>Comum, não ocorreu de forma simultânea.A “Eurolândia” é uma amálgama de sistemaseconómicos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e regio<strong>na</strong>is com diferentescomportamentos económicos em termosde níveis de inflação, de taxas decrescimento e de desemprego. Este é, aliás,o aspecto realça<strong>do</strong> no processo de adesão aoEuro. Os critérios de convergência para amesma moeda não foram ape<strong>na</strong>s, as funçõestradicio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> dinheiro definidas pela economia(unidade de troca, unidade de contae reserva de valor), mas os factores queprecisamente realçam as diferenças entrepaíses: os correspondentes défices públicos,a dúvida pública acumulada relativamente aoproduto <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e a estabilidade de preços.Por isso, foi necessária uma negociação paraadesão à nova moeda que procurou atenuaras diferenças <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is a fim de gerar solidariedadeentre os cidadãos <strong>do</strong>s diferentespaíses. Não deverá ser esqueci<strong>do</strong> que o Euroé parte de uma convergência económicabaseada em regras específicas como o Pactode Estabilidade e Crescimento que incluilimites específicos como a estabilidade depreços, as fi<strong>na</strong>nças públicas ou as margensde flutuação previstas pelo mecanismo detaxas de câmbio. No entanto, argumentamosque, através destes processos, a UniãoMonetária se tor<strong>na</strong> uma plataforma para aunião política e que processos económicose políticos estão inextrincavelmente liga<strong>do</strong>s.É por esta razão que a Europa pode serabordada pela dimensão simbólica <strong>do</strong>s seusaspectos políticos e económicos. E é em parte


496 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpor isto que «as características mais intrigantes<strong>do</strong> euro parecem ser não-económicas»(Dodd, 2001b: 25)5. O traço de união simbólicoA centralização da autoridade política, ea consequente elimi<strong>na</strong>ção da divisão inter<strong>na</strong>ou dissensão simbólica, é facilitada <strong>na</strong> medidaem que somos (ou deveremos perceber-noscomo) cidadãos e membros de uma únicaunidade social – to<strong>do</strong>s parte da mesma‘comunidade imagi<strong>na</strong>da’ como lhe chamaBenedict Anderson, que realça que os Esta<strong>do</strong>snão só são construí<strong>do</strong>s pela força, maspela lealdade, por um compromisso voluntáriopara com uma identidade comum(Anderson, 1983).A distinção crítica entre ‘nós’ e ‘eles’ podeser exaltada por diferentes símbolos tangíveis:bandeiras, hinos, arquitectura pública,mesmo equipas desportivas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Entreos elementos mais potentes está a moeda. Apartilha de um mesmo dinheiro pode servirpara aumentar um senti<strong>do</strong> de identidade<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de duas formas: porque é emitidapelo seu governo ou banco central, a moedacorrente actua como uma recordação diáriaaos cidadãos da sua ligação ao Esta<strong>do</strong>; eporque da<strong>do</strong> o seu uso universal, a moedacorrente sublinha a pertença a uma mesmaentidade social, como acontecemaioritariamente com as línguas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.A mesma justificação se aplica à UniãoEuropeia: um dinheiro comum poderá ajudara homogeneizar grupos sociais diversos efrequentemente antagónicos e, por sua vez,esta mesma identidade poderá ajudar a umbom funcio<strong>na</strong>mento da ordem monetária.Politicamente, uma moeda <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l podenão ser um atributo essencial de soberania<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> mas, em geral, foi assim considerada,juntamente com o exército e o lançamentode impostos. Atravessar fronteiras<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is significa, em muitos aspectos,mudar os códigos semânticos incluin<strong>do</strong> amoeda. O dinheiro está, com efeito, muitoassocia<strong>do</strong> às “fronteiras” que, nos Esta<strong>do</strong>s<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, são mantidas não só por elementosterritoriais, mas também – e de formacrescente – por distinções simbólicas queindicam identidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is como passaportes,bandeiras e moedas.No caso da moeda, a sua iconografiademonstra isto mesmo: elas correspondem a<strong>na</strong>rrativas históricas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is produzidas ereproduzidas de «formas autorizadas peloEsta<strong>do</strong>» (Pointon, 1998: 231). JacquesHymans considera as ligações entre a moedae a identidade Europeia a partir da suaiconografia como um processo que evoluiuao longo <strong>do</strong> tempo, das representações <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> para representações <strong>do</strong> indivíduo, eda representação de valores tradicio<strong>na</strong>is paravalores pós-materiais, equivalentes a umespírito <strong>do</strong> tempo (Hyman, 2002).A concepção <strong>do</strong> símbolo <strong>do</strong> Euro invocauma origem comum: representação da letragrega épsilon, apontan<strong>do</strong> para o berço dacivilização europeia e a primeira letra dapalavra “Europa”, mas acrescida de um factorpolítico-económico simbólico, as duas linhasparalelas representantes da estabilidade <strong>do</strong>Euro. Quanto a moedas e notas, o seu desenhocorresponde à tentativa de criar signosque se prestem a interpretações múltiplas eque, «em vez de impor uma só visão daEuropa, convidem o cidadão-consumi<strong>do</strong>r adesenvolver a sua própria visão» (Hyman,2004: 21).A iconografia das faces portuguesasintegra elementos tradicio<strong>na</strong>is, fortementeassocia<strong>do</strong>s ao berço da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,a par da simbologia própria da UniãoEuropeia. As faces portuguesas têm os selosda autentificação régia, isto é, aqueles queo primeiro rei de Portugal, D. AfonsoHenriques, utilizava para autenticar os seus<strong>do</strong>cumentos. As moedas de 1 e 2 euros, paraalém <strong>do</strong> elemento central, o selo real de 1144,exibem os castelos e escu<strong>do</strong>s de Portugal,rodea<strong>do</strong>s pelas estrelas da Europa, simbolizan<strong>do</strong>o diálogo, a troca de valores e adinâmica da construção europeia. Nas moedasde 10, 20 e 50 cêntimos, o elementocentral <strong>do</strong> desenho é o selo real de 1142 eas moedas de 1, 2 e 5 cêntimos apresentamo primeiro selo real, de 1134, e a epígrafe“Portugal”.Os símbolos escolhi<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> amemória descritiva das moedas da autoria deVítor Manuel <strong>do</strong>s Santos, procuram reflectiruma forte presença da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.No entanto, essa identidade é a mais remotapossível. Por um la<strong>do</strong>, remonta-se a um tempoonde, <strong>na</strong> verdade, como vimos, não começa-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS497va ainda a existir uma moeda <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, mascirculava uma espécie de “Euro peninsular”,o Morabitino. Por outro la<strong>do</strong>, remonta-seao perío<strong>do</strong> de formação <strong>do</strong> país, istoé, a um “berço” de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidadeessa que levaria ainda muito tempoa construir. Esta é uma memória identitáriaalgo afastada <strong>do</strong>s elementos identitárioscom que nos habituámos a pensar Portugal:o país <strong>do</strong>s actuais territórios, <strong>do</strong>s factosheróicos, das conquistas, das adversidades<strong>do</strong>s mares e das descobertas. De algummo<strong>do</strong>, tal confirma o afastamento da moeda<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-<strong>na</strong>ção afirma<strong>do</strong> nos séculos maisrecentes, o Esta<strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>r e colonial,vira<strong>do</strong> para África e para o mar, e umaaproximação a novos entendimentos eorigens de um país que se pretende agorada Europa e pela Europa.De uma forma mais geral, o desenho damoeda europeia procurou articular uma identidadecolectiva que, não negan<strong>do</strong> as origens<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, encontrasse símbolos de pertençacolectiva a uma mesma memória arquitectónica(difusa), e sobretu<strong>do</strong> a um mesmoimaginário de “pontes”, “arcos” e “monumentos”que construíssem a grande “casaeuropeia” projectada com ideais de futuro emodernidade.Estes ideais de pertença não são ape<strong>na</strong>s,<strong>na</strong>turalmente, simbólicos: incluem enraizamentosnormativos muito concretos que passampelo desenvolvimento de direitos e cidadania,pelo desenvolvimento económicose de redes trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de cooperação.Como já insistimos, sen<strong>do</strong> a dimensãosimbólica importante, o êxito de uma ideiade Europa não depende ape<strong>na</strong>s da Uniãomonetária, mas da sua concretização política,social e cultural e <strong>do</strong> desenvolvimentode uma modernidade colectiva. No momentoexacto de explicitar o que é “uma identidadeeuropeia” parece especialmente relevante oargumento de Habermas de que a identidadeEuropeia deve desembaraçar-se de uma ideiade Europa como comunidade étnica de umcerto imaginário cultural, para desenvolverum demos Europeu: uma Europa cívica quetraça as suas bases normativas, para além deeconómicas, passa por estabelecer pré-requisitoscomo a existência de uma sociedade civilEuropeia, de uma esfera pública e de umacultura política Europeia (Habermas, 2001).O que também argumentamos comHabermas e contra Habermas, é que a construção<strong>do</strong> demos Europeu tem de se fazera partir <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da vida, da comunicação.Ele também argumenta que o dinheiro (comoo poder) é não-comunicativo e é meramenteum meio quantitativo. Através <strong>do</strong> dinheironão há possibilidade de alcançar uma compreensãocomum. No entanto, como tentámosdefender, a legitimidade <strong>do</strong> dinheirodepende <strong>do</strong>s seus significa<strong>do</strong>s partilha<strong>do</strong>s(não ape<strong>na</strong>s económicos mas também culturaise políticos). Assim, pensamos que adimensão comunicativa não pode ser totalmenteignorada e que o dinheiro pode contercompromisso de valor. É o que procuraremosexplorar de seguida.5. Dinheiro e ComunicaçãoNa teoria social sistémica o dinheiro éconsidera<strong>do</strong> neutro. A sua missão é facilitara “complexidade <strong>do</strong> sistema” (Parsons eSmelser, 1956). Da mesma forma, tradicio<strong>na</strong>lmente,a economia atribui ao dinheiro umconjunto de funções: ele funcio<strong>na</strong> comounidade de troca, unidade de conta e reservade valor. Estas funções, no entanto, sãolimitadas no momento de procurar umaexplicação para a existência <strong>do</strong> dinheiro,contradizen<strong>do</strong> de imediato uma concepção daneutralidade <strong>do</strong> “véu” monetário que caracterizaa teoria económica abstracta (Ingham,2004). Na verdade, o dinheiro não tem ape<strong>na</strong>sfunções: é socialmente produzi<strong>do</strong>, regula<strong>do</strong>pela convenção e pela confiança, constituin<strong>do</strong>-seum “facto social”, <strong>na</strong> medida em que«independentemente da forma que possaassumir, o dinheiro é essencialmente uma“promessa” provisória de pagamento»(Ingham, 2004: 25).A isso está liga<strong>do</strong> um conjunto de significações.Por exemplo, como defende JamesBuchan, <strong>na</strong> medida em que pode cumprirqualquer objectivo, o dinheiro é “desejocongela<strong>do</strong>” e o objectivo de vida para muitaspessoas: «o dinheiro só é dinheiro no momentoem que incorpora um desejo» (Buchan,1997: 13). Mas, para além desta dimensãosubjectiva, o “facto social” de que falaIngham traduz-se <strong>na</strong> sua dimensão comunicativa:o dinheiro comunica valor, não temem si, valor. Ape<strong>na</strong>s porque é um meio que


498 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpossibilita a toda a gente atribuir significa<strong>do</strong>s– o de que com ele é possível obterseo que se deseja – o dinheiro é socialmenteaceite como transmissor. Essa capacidadecomunicativa, <strong>na</strong>s suas diferentes formas, temsi<strong>do</strong> a<strong>na</strong>lisada em diferentes linhas sociológicas.A um nível macro, no entanto, o estabelecimentoda moeda Europeia deve, comefeito, ser li<strong>do</strong> à luz de um processo demodernização. É, pois, fundamental o contributode Giddens que entende a modernidadecomo um processo assente em mecanismosde descontextualização (elementossimbólicos como o dinheiro que assumea forma de pura informação) que operam uma«separação das relações sociais <strong>do</strong>s contextoslocais de interacção e a sua reestruturaçãoatravés de extensões indefinidas de espaçotempo»(Giddens, 1992: 16). A partir <strong>do</strong>momento em que as relações sociais sãodissociadas da co-presença física <strong>do</strong>s actoresimplica<strong>do</strong>s, a confiança tor<strong>na</strong>-se essencial.Um <strong>do</strong>s mecanismos de descontextualizaçãoé precisamente o dinheiro, que se desenraíza<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, das esferas monetárias reais deacumulação, sen<strong>do</strong> esse processo fundamentalpara a actividade económica actual. Poroutro la<strong>do</strong>, as interacções moder<strong>na</strong>s têm porbase transacções específicas, das quais a suagrande parte é, precisamente, a troca dedetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s bens. Estes tipos de interacçõestendem a alie<strong>na</strong>r-nos uns <strong>do</strong>s outros, sen<strong>do</strong>o anonimato, marca<strong>do</strong> por relações deimpessoalidade e confiança, uma estratégiapara transacções equivalentes.Georg Simmel, nos anos de 1880, járeferia estas novas formas de relação social:«o sentimento de segurança pessoal que aposse <strong>do</strong> dinheiro confere é talvez a formamais concentrada e de manifestação da confiança<strong>na</strong> organização e ordem socio-política.A subjectividade deste processo é, digamos,um poder eleva<strong>do</strong> da subjectividade quecria o valor <strong>do</strong>s metais preciosos. Este é pressuposto,mas tem um resulta<strong>do</strong> prático <strong>na</strong>stransacções monetárias que tem uma fé deambos os la<strong>do</strong>s» (Simmel, 1990: 179). Comoresulta<strong>do</strong> de uma crescente abstracção eprecisão matemática moder<strong>na</strong>s, traduzidasnuma “mente objectiva” que faria alastrar osprincípios <strong>do</strong> cálculo a todas as relaçõessociais, o capitalismo moderno desenvolverse-iano senti<strong>do</strong> da diferenciação social e dagover<strong>na</strong>ção por princípios de merca<strong>do</strong>. Aeconomia de merca<strong>do</strong> dissolve ainterdependência entre perso<strong>na</strong>lidade e relaçõesmateriais, produzin<strong>do</strong> um forte individualismoe anonimato que se desenvolve emduas linhas diferentes. Gera, «por um la<strong>do</strong>,a nivelação, a igualização, a produção decírculos sociais cada vez mais compreensivospela ligação das coisas remotas emcondições iguais; por outro la<strong>do</strong>, [conduz à]elaboração das questões mais individuais,independência <strong>do</strong> sujeito, autonomia <strong>do</strong> seudesenvolvimento» (Simmel, 1991: 21).Para Simmel, a significação social <strong>do</strong>dinheiro assenta sobre o seu valor, o quesignifica que, para o perceber, é precisocompreender o processo de construção edefinição <strong>do</strong>s valores. É o desejo, não aescassez, o motor principal <strong>do</strong> valor. Odinheiro é um mero mecanismo, mas ummecanismo que é de desejos e se encaminhapara satisfações. Daí, a sua forte carga moralcomo porta<strong>do</strong>r de uma actividade económicaque tem consequências sobre o estilo de vidaem geral e da vida de cada pessoa emparticular. Daí também que o dinheiro nãoseja essencialmente um valor substancial masfuncio<strong>na</strong>l, a expressão prática da essênciaespiritual <strong>do</strong> homem: o dinheiro é ideal, purarepresentação.Nigel Dodd argumenta, no entanto, que<strong>na</strong>s nossas sociedades, por causa da diversidade<strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> dinheiro, esteparece cada vez mais difícil de ser teoriza<strong>do</strong>a um nível abstracto: «quanto mais ricamentedescrevemos os nossos usos quotidianos<strong>do</strong> dinheiro, mais multifacetadas,multidimensio<strong>na</strong>is e locais parecem ser asnossas ligações» (Dodd, 2001a: 18). Por isso,faz igualmente senti<strong>do</strong> considerar o contributode Vivia<strong>na</strong> Zelizer para quem «to<strong>do</strong>sos dinheiros são <strong>na</strong> verdade duais: tantoservem os circuitos gerais como os locais(…). Vistas de cima, as transacções económicasligam a significa<strong>do</strong>s simbólicos e ainstituições <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Vistas de baixo, noentanto, as transacções económicas são altamentediferenciadas, perso<strong>na</strong>lizadas e locais,significativas em relações particulares.Não existe, portanto, contradição entre universalidadee diversidade: são simplesmente<strong>do</strong>is aspectos diferentes da mesma transac-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS499ção» (Zelizer apud Dodd, 2001: 19). Opensamento de Zelizer relativamente ao dinheirocomo um fenómeno multidimensio<strong>na</strong>laponta para o facto de este, além de poderser usa<strong>do</strong> para trocas instrumentais, não estarlivre de constrangimentos sociais. É antes umtipo de moeda criada socialmente, sujeita àsredes de relações sociais e detentora <strong>do</strong>s seuspróprios valores e normas. Mesmo quan<strong>do</strong>consideran<strong>do</strong> a necessidade de abstracção <strong>do</strong>dinheiro, ele deve ser contextualiza<strong>do</strong> emdiferentes tempos, lugares e relações sociais.Por isso, «não há um só dinheiro uniforme,generaliza<strong>do</strong>, mas dinheiros múltiplos»(Zelizer, 1999: 87). O dinheiro, nesta perspectiva,é uma linguagem, uma forma deatribuir senti<strong>do</strong> à sua utilização.Na nossa compreensão <strong>do</strong>s aspectoscomunicativos da moeda, seguimos as <strong>potencial</strong>idades<strong>do</strong> caminho habermasiano daEuropa. Na visão de Habermas, o dinheiro,como o poder, “deslinguifica” a vida social,uma vez que o merca<strong>do</strong> ou o exercício <strong>do</strong>poder administrativo reduzem as compreensõesmútuas e os valores partilha<strong>do</strong>s que têmum papel mínimo. As acções coorde<strong>na</strong>daspelos media simbolicamente generaliza<strong>do</strong>s,como o dinheiro, diferem da acção comunicativa<strong>na</strong> medida em que têm por objectivoa organização da produção e da troca de bens<strong>na</strong> base <strong>do</strong> lucro monetário. O dinheiro nãotem uma “acção comunicativa” nem pertenceao mun<strong>do</strong> da vida, porque é um códigosimplifica<strong>do</strong>. Embora possa apelar a símbolospara transmitir desejos e esperanças, nãotem por objectivo fi<strong>na</strong>l uma compreensãomútua (Habermas, 1984). No entanto, argumentamosque, uma vez que o exercício decidadania também envolve a integração apartir “de baixo”, <strong>do</strong> nosso quotidiano, umacontecimento como o lançamento <strong>do</strong> Europode transformar o dinheiro numa parte <strong>do</strong>complexo processo de construção de umhorizonte comum.6. ConclusãoA partir <strong>do</strong> que acima estabelecemos,sugerimos que a moeda poderá pode ser entendidacomo comunicação, ligada não ape<strong>na</strong>saos seus aspectos “funcio<strong>na</strong>is” e “abstractos”envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> economia propriamente dita, mastambém como ponto de ancoragem das representações<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s cidadãos europeus.Sociologicamente, como vimos, o estu<strong>do</strong><strong>do</strong> dinheiro centrou-se <strong>na</strong> sua racio<strong>na</strong>lizaçãoe função “abstracta”, ligada ao funcio<strong>na</strong>mentodas sociedades e à sua relação com aconfiança, o que responde bem a uma “abstracção”identitária como é a União Europeia.O lançamento <strong>do</strong> Euro, numa perspectiva deintegração política, assenta <strong>na</strong> projecção deque dinheiro inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l apagará tambémos limites <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, fundin<strong>do</strong>-os num horizontecomum de partilha simbólica europeia.Para isso contribui o próprio desenho dasmoedas onde se projecta uma imagem sempátria, através de figuras de pontes que nãoexistem e de estilos arquitectónicos que sesubstituem a monumentos. A face “<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”das moedas, no entanto, constitui algumaabertura ao enraizamento local, o que podeser liga<strong>do</strong> a uma outra qualidade da moedaque é a sua utilização particular e quotidia<strong>na</strong>.A um nível macro, o Euro é parte de umacirculação abstracta como unidade de confiança.A este nível, é parte das roti<strong>na</strong>s económicas<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, exigin<strong>do</strong>medidas particulares para a sua implementação.A um nível micro, o Euro é um novo símboloidentitário supra-<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (europeu), um signocomunicativo, com significa<strong>do</strong>s diferencia<strong>do</strong>se concretos. Através dele, os cidadãostor<strong>na</strong>m-se parte de uma “comunidade imaginária”que é não só económica, como política.


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502 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS503Intenção de Voto e Propaganda Política:Efeitos e gramáticas da propaganda eleitoralMarcus Figueire<strong>do</strong> 1 e Alessandra Aldé 2IntroduçãoHá, <strong>na</strong> literatura inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, uma enormecontrovérsia sobre o efeito da propagandapolítica e eleitoral <strong>na</strong> produção <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>seleitorais. Recentemente, Thomas M.Holbrook 3 se perguntou: Do CampaignsMatter?Esta pergunta pode ser des<strong>do</strong>brada <strong>na</strong>sseguintes: se, quan<strong>do</strong>, como e por que apropaganda política e eleitoral altera a vontadeeleitoral, predetermi<strong>na</strong>da por contextose processos históricos mais profun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> queos dita<strong>do</strong>s pelos debates eleitorais entreparti<strong>do</strong>s e candidatos?Este trabalho toma estas perguntas comoroteiro de investigação com o objetivo deidentificar: a) as condições históricas queinibem ou exacerbam o efeito da propaganda,consolidan<strong>do</strong> ou alteran<strong>do</strong> vontades eleitoraispreestabelecidas; b) como medirempiricamente o efeito da propaganda políticae eleitoral sobre a vontade eleitoral fi<strong>na</strong>l<strong>na</strong> manutenção ou <strong>na</strong> alteração da vontadeeleitoral inicial; e c) que gramática discursivapre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> <strong>na</strong> propaganda política e eleitoralbrasileira.Neste trabalho, apresentamos umameto<strong>do</strong>logia para estudar a primeira e asegunda questões apontadas acima, ou seja,como identificar o efeito agrega<strong>do</strong> da propagandapolítica sobre a intenção de voto edescrever os primeiros resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>na</strong>observação das campanhas presidenciaisbrasileiras de 1989 a 2002. Trata-se deinstrumentos meto<strong>do</strong>lógicos ainda em experimentaçãoe, portanto, os resulta<strong>do</strong>s e asanálises apresenta<strong>do</strong>s são provisórios e sujeitosa revisão e aprofundamento. Com esteestu<strong>do</strong>, procuramos avançar <strong>na</strong> observaçãodas estratégias discursivas e persuasivas dascampanhas eleitorais e de seus efeitos e, comisso, contribuir para a compreensão <strong>do</strong>comportamento eleitoral de candidatos eeleitores.O trabalho está dividi<strong>do</strong> em duas partes:primeiro, apresentamos o efeito da propagandaeleitoral <strong>na</strong> construção da intenção de voto,ao longo das campanhas de 1989 a 2002;em segun<strong>do</strong> lugar, de forma mais detalhada,apresentamos o efeito da propaganda <strong>do</strong>scandidatos <strong>na</strong> eleição de 2002.Na análise <strong>do</strong>s efeitos agrega<strong>do</strong>s dapropaganda política procuramos inovar, lançan<strong>do</strong>mão de uma estratégia baseada <strong>na</strong>análise de séries históricas. Para a eleiçãode 2002 testamos a hipótese clássica <strong>do</strong> votorestrospectivo-prospectivo, de MorrisFiori<strong>na</strong>, 4 a<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> a série histórica dasintenções de voto e das avaliações <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>mandato <strong>do</strong> Presidente Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> HenriqueCar<strong>do</strong>so como preditor da eleição de 2002.Com base nessas estratégias a<strong>na</strong>líticas,mostraremos o efeito agrega<strong>do</strong> da propagandapolítica, tanto <strong>na</strong> sua versão “Horário PolíticoPartidário”, veicula<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> pré-eleitoralpara a propaganda partidária, quanto <strong>na</strong> suaversão “Horário Gratuito de PropagandaEleitoral” (Tempo de Ante<strong>na</strong>), veicula<strong>do</strong> noperío<strong>do</strong> de propaganda eleitoral estabeleci<strong>do</strong>oficialmente (60 dias antes da eleição, em1989, e 45 dias <strong>na</strong>s demais). Veremos que aconstrução da intenção de voto <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong>,ao longo <strong>do</strong> tempo, é fortemente influenciadapelas estratégias de propaganda <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>se candidatos envolvi<strong>do</strong>s no processo eleitoral,antes e durante o perío<strong>do</strong> eleitoral formal.1. Efeito Agrega<strong>do</strong> da Propaganda Política- sua meto<strong>do</strong>logia e resulta<strong>do</strong>sNão resta nenhuma dúvida de que apropaganda política exerce algum efeito sobrea intenção de voto <strong>do</strong>s eleitores. A questãoa<strong>na</strong>lítica passa a ser, então, como, quan<strong>do</strong>e com que magnitude a propaganda políticacontribui para a construção da vontade eleitoral.Nesta seção, veremos em que momentoe qual a magnitude da contribuição propagandapolítica para o resulta<strong>do</strong> eleitoral.


504 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPara situarmos o papel e o efeito dapropaganda política, começamos por identificaralgumas verdades estabelecidas, fartamente<strong>do</strong>cumentadas, nos estu<strong>do</strong>s de comportamentoeleitoral. O estu<strong>do</strong> de processoseleitorais e as tentativas de explicar osresulta<strong>do</strong>s eleitorais observa<strong>do</strong>s trabalhamcom <strong>do</strong>is conjuntos de da<strong>do</strong>s, no mais dasvezes, de forma estanque. De um la<strong>do</strong>, estãoas teorias que focalizam um conjunto devariáveis estruturais, estáveis ao longo <strong>do</strong>tempo: identificação partidária e ideológica<strong>do</strong>s eleitores, posição de classe, avaliaçãoeconômica <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da <strong>na</strong>ção e <strong>do</strong> desempenho<strong>do</strong>s gover<strong>na</strong>ntes. De outro la<strong>do</strong>, estãoas variáveis comunicacio<strong>na</strong>is, algumas estáveisao longo <strong>do</strong> tempo (por ex., hábitos deconsumo e exposição à mídia) e outras decurtíssimo prazo, como exposição às propagandaspolíticas e eleitorais.Recentemente, diversos estu<strong>do</strong>s têmdemonstra<strong>do</strong> que entre as variáveis estruturais,duas têm si<strong>do</strong> cada vez mais importantes:avaliações econômicas e de desempenho<strong>do</strong>s gover<strong>na</strong>ntes, especialmente <strong>do</strong> mandatário.Dentre as variáveis comunicacio<strong>na</strong>is,as principais são: exposição às mídiasjor<strong>na</strong>lísticas e às propagandas políticas. 5Neste trabalho, será mostra<strong>do</strong> o efeito deduas variáveis como preditoras da evoluçãoda intenção de voto: uma, estrutural, avaliação<strong>do</strong> gover<strong>na</strong>nte, e outra, de curto prazo,exposição à propaganda eleitoral.Como um exercício inicial, tomamos aevolução das intenções de voto declaradaspela população durante um perío<strong>do</strong> t. 6 Esteconjunto de observações de intenções de votoé, então, trata<strong>do</strong> como uma série histórica.Assumimos como hipótese nula que uma sérietemporal de intenções de voto é um processode comportamento autoregressivo, de <strong>na</strong>turezaestacionária, no qual a intenção de votodeclarada no tempo t é função da série deintenções de voto declaradas no tempo t -1,e assim sucessivamente, até t -n. Esta hipótesenos diz que a evolução das intenções de votodeclaradas, ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> sob observação,são estáveis, sujeitas ape<strong>na</strong>s a variaçõesaleatórias, dentro das margens de errode cada observação e entre todas as observações,ou seja, apresentan<strong>do</strong> média evariância estáveis no perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>.Este modelo tem a seguinte estrutura:Y t= b nY t-n+ e t(1)Substantivamente, esta hipótese nos dizque, em uma conjuntura eleitoral com <strong>do</strong>isou mais candidatos, a distribuição das intençõesde voto no início da corrida eleitoralserá a mesma <strong>na</strong> véspera da eleição; que to<strong>do</strong>sos acontecimentos políticos, de campanha eextra-campanha, são irrelevantes <strong>na</strong> prediçãodas intenções de voto; e que as propagandas<strong>do</strong>s candidatos são incapazes de persuadir osdemais eleitores além <strong>do</strong>s seus própriossegui<strong>do</strong>res origi<strong>na</strong>is.Para testar esta hipótese é necessárioidentificar os pontos de inflexão <strong>na</strong>s curvasde intenção de votos de cada candidato. Apartir daí, verificar os acontecimentos relevantes,de campanha ou extra-campanha, queem princípio poderiam ter gera<strong>do</strong> esses efeitos<strong>na</strong> corrida eleitoral. Como normalmente estetipo de análise é ex-post, esta não é uma tarefadifícil. Entretanto, este teste visual não nospermite testar qualquer hipótese sobre ascausas das variações encontradas. A boameto<strong>do</strong>logia sugere lançar mão de hipótesesex-ante relevantes, ou seja, decompor a curvade intenção de votos em subperío<strong>do</strong>s demarca<strong>do</strong>spor intervenções exóge<strong>na</strong>s previamentedefinidas. A regra meto<strong>do</strong>lógica aqui nospermite testar o efeito que tal intervençãoproduz no comportamento da curva de intençãode voto. Trata-se da análise de sérieshistóricas interrompidas.Intervenções ex-ante relevantes em processoseleitorais são predetermi<strong>na</strong>das pelalegislação eleitoral. As legislações estabelecemos calendários eleitorais, determi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>as datas <strong>do</strong>s acontecimentos políticos eeleitorais com implicações diretas <strong>na</strong>s dataspara a difusão da propaganda política-eleitoral,acontecimentos supostamente responsáveispelas inflexões <strong>na</strong>s curvas de intençãode voto. Dentre estas datas, duas são as maisrelevantes: a data das convenções partidáriase as datas permitidas para veiculação daspropagandas. A data da convenção é a maisimportante porque é quan<strong>do</strong> se definem(formalmente) e se oficializam as candidaturas.Por isso, dividem o perío<strong>do</strong> políticoem <strong>do</strong>is: o perío<strong>do</strong> pré-eleitoral e o eleitoral.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS505No caso <strong>do</strong> Brasil, temos <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>spara a propaganda política <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s,ambas com datas previamente definidas: antesdas convenções partidárias, que sempreocorrem no mês de junho <strong>do</strong> ano eleitoral,ou seja, durante o primeiro semestre, e depoisdas convenções. No perío<strong>do</strong> pré-eleitoral, otempo de propaganda é desti<strong>na</strong><strong>do</strong> aos parti<strong>do</strong>spara a propaganda político-institucio<strong>na</strong>l,sen<strong>do</strong> vedada qualquer propagandaidentificada como típica de “propagandaeleitoral”. No perío<strong>do</strong> eleitoral, o tempo depropaganda é desti<strong>na</strong><strong>do</strong> à propaganda eleitoral.E neste perío<strong>do</strong> eleitoral temos, ainda,a possibilidade de <strong>do</strong>is momentos: o <strong>do</strong> 1ºturno (volta) e o <strong>do</strong> 2º turno (volta). Estaestrutura competitiva <strong>do</strong> processo eleitoralbrasileiro permite decompor o ano eleitoralem três perío<strong>do</strong>s: pré-eleitoral, 1º turno e 2ºturno.A hipótese nula sobre este processo é ade que a distribuição da intenção de voto nãose altera significativamente nos três perío<strong>do</strong>seleitorais. Assim, a série histórica que representaa disputa pelo voto pode ser decompostae podemos estimar os parâmetros decada subperío<strong>do</strong> eleitoral. A<strong>na</strong>liticamente estadecomposição da curva significa introduzir<strong>na</strong> equação (1) duas variáveis dummy, umapara o primeiro turno e outra para o segun<strong>do</strong>turno. A equação representativa deste processopassa a ser:Y t= + ( b nY t-n)D 1+ ( b nY t-n)D 2+ e t(2)Esta nova estrutura a<strong>na</strong>lítica tem oobjetivo de responder se e com que magnitudea introdução da propaganda eleitoralaltera a evolução da distribuição das intençõesde voto.2. O efeito da propaganda eleitoral <strong>na</strong>seleições presidenciais, 1989 a 2002Para testar este modelo, tomamos a distribuiçãode intenção de voto <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is principaiscandidatos ao longo de cada anoeleitoral, subdividi<strong>do</strong>s pelos momentos emque entram em ação as respectivas propagandas,no primeiro e no segun<strong>do</strong> turnos. 7Vejamos <strong>na</strong> tabela os resulta<strong>do</strong>s:Tabela 1Intenção de Voto Estimula<strong>do</strong>, 1989-2002Modelo de EstimaçãoVariáveis Dependentes: evolução da intenção de voto para os principais candidatos.Variáveis Preditoras: perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> processo eleitoral, preeleitoral, 1º turno e 2º turnoRegressão Linear OLSCollor1989199419982002LulaFHCLulaFHCLulaSerraB B B B B B B BDummy1º Turno -4,853 ,0022,85** - 14,41* * 9,25** - 1,676 ,21**8,85* *D ummy 2º Turno 13,58** 33,67** — — — — 18,29** 25,18* *Constante34,258,5021,1 37,7 38,5 27,1713,4533,82R 20 ,62**0 ,95**0 ,90**0 ,87**0,71** 0 ,170 ,76**0,83* *Durbin-Watson1,0410,6811,5221,7991,5391,4710,5430,945F 13,58** 160,55** 137,40** 103,89** 19,97** 1 ,5828,65** 43,49* *Observações20171021Fonte: DataFolha. Coleção de pesquisas pré-eleitorais de intenção de voto para presidente, perguntas somente relativas àSituação A, 1989 a 2002, Site <strong>do</strong> Instituto DataFolha.Sig.(*) p 0,5%;(**) p 0,1%Banco de Da<strong>do</strong>s Opinião Pública, Projeto Eleições Brasileiras, DOXA/IUPERJ.Lula


506 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s podemosdestacar:1. Nas quatro eleições a<strong>na</strong>lisadas, o modeloa<strong>na</strong>lítico comportou-se de forma esperada,mostran<strong>do</strong> claramente o efeito da entrada dapropaganda <strong>na</strong> distribuição de intenção devoto, para cada um <strong>do</strong>s candidatos a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s;2. À exceção da campanha de Lula, em1998, em todas as demais, a entrada dapropaganda eleitoral produziu efeitos significativos<strong>na</strong> conquista de votos;3. Nas eleições de 1989 e 2002, ambascom ocorrência de segun<strong>do</strong> turno, fica claroque a propaganda no segun<strong>do</strong> turno é maiseficiente <strong>do</strong> que no primeiro; isto ocorreporque com a saída da competição <strong>do</strong>scandidatos derrota<strong>do</strong>s, os seus eleitores tor<strong>na</strong>m-sesujeitos à persuasão;4. Ainda sobre estas duas eleições, observamosque a eficiência da campanha deLula <strong>na</strong> conquista <strong>do</strong> voto foi maior <strong>do</strong> quea de seus adversários, sen<strong>do</strong> mais eficienteainda em 1989 <strong>do</strong> que em 2002;5. Comparan<strong>do</strong>-se as campanhas de 1994e 1998, fica patente o efeito da propagandaeleitoral; isto é, a eficiência da campanha deFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique e a ineficiência da campanhade Lula, em ambas as campanhas;6. Em 1994, apesar de Lula começar compatamares de intenção de voto superiores aosde Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique, a campanha de Lulanão foi capaz de reter parte significativa deseus eleitores iniciais, que foram conquista<strong>do</strong>spela campanha de Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique;7. Em 1998, o desempenho da campanhade Lula sugere que a intenção de voto emLula permaneceu estável durante to<strong>do</strong> operío<strong>do</strong>, o que vale dizer que sua propagandaconseguiu ape<strong>na</strong>s reter o apoio <strong>do</strong>s eleitoresjá decidi<strong>do</strong>s antes de a campanhacomeçar; neste ano, a campanha <strong>do</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>Henrique, embora eficiente, sugere que o seuesforço foi muito maior <strong>na</strong> direção de retersua base inicial, já que, comparativamentea 1994, a magnitude <strong>do</strong> efeito da sua propagandaem 1998 (ver coeficiente da variáveldummy) é 2,5 vezes menor <strong>do</strong> que oobserva<strong>do</strong> para a eleição de 1994.3. Efeito Agrega<strong>do</strong> da Propaganda Políticae Avaliação <strong>do</strong> Gover<strong>na</strong>nteManten<strong>do</strong> a mesma estrutura a<strong>na</strong>líticaapresentada acima, para testar os efeitosagrega<strong>do</strong>s das campanhas <strong>na</strong> eleição de 2002,construímos uma estratégia usan<strong>do</strong> duasvariáveis explicativas da intenção de votoobservada ao longo <strong>do</strong> tempo: avaliação <strong>do</strong>governo Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so (segun<strong>do</strong>mandato) e exposição, direta ou indireta,aos programas políticos e eleitorais. Paraorientar esta análise tomamos por referênciauma hipótese econômica, clássica, e acrescentamosa ela a variável exposição à propagandapolítica e eleitoral. 8 Desta forma, omodelo básico apresenta<strong>do</strong> (ver equação 1)modifica-se e passa a ter a seguinte estrutura:Y t= b nY t-n+ b nX t-ne t(3)Aplican<strong>do</strong> o mesmo controle sobre aépoca de veiculação da propaganda eleitoral,e consideran<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s o primeiro turno daeleição de 2002, o modelo a ser testa<strong>do</strong> passaa ser:Y t= + ( b nY t-n)D 1+ b nX t+ e t(4)onde: Y té a evolução da distribuição daintenção de voto, no tempo considera<strong>do</strong>; D 1é a variável dummy para o perío<strong>do</strong> deveiculação <strong>do</strong> horário eleitoral (tempo deante<strong>na</strong>) em rede <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; e X té a evoluçãoda avaliação <strong>do</strong> governo Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique,segun<strong>do</strong> mandato, no tempo considera<strong>do</strong>. Asvariáveis intenção de voto e avaliação <strong>do</strong>governo Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique, que compõema matriz de da<strong>do</strong>s, são retiradas das mesmaspesquisas. Ou seja, a intenção de voto <strong>do</strong>eleitora<strong>do</strong>, no tempo t, em um candidato éfunção <strong>do</strong> efeito agrega<strong>do</strong> conjunto da evoluçãoda avaliação <strong>do</strong> governo FHC, daevolução da distribuição das intenções de votono tempo t-n e da exposição à propagandapolítica e eleitoral no mesmo tempo t.Esta hipótese teórica nos diz: a intençãode voto de um eleitor é função da avaliaçãoque este eleitor faz <strong>do</strong> atual gover<strong>na</strong>nte eda exposição às campanhas <strong>do</strong>s candidatos,sen<strong>do</strong> estes o próprio gover<strong>na</strong>nte ou seussucessores, e os demais, candidatosopositores. Substantiva e historicamente, estahipótese nos diz que se o atual gover<strong>na</strong>ntevai bem, ele próprio ou seu sucessor têmmaiores apoios eleitorais, caso contrário, aoposição terá mais chances eleitorais.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS507Esta hipótese, além de intuitiva, éempiricamente poderosa. Entretanto, a propagandaeleitoral foi inventada para confrontartal tendência estruturalmente dura<strong>do</strong>ura.A propaganda eleitoral tem três objetivossimultâneos: reter seu eleitora<strong>do</strong>, conquistaro eleitora<strong>do</strong> <strong>do</strong>s adversários e ganhar osindecisos. Ora, como to<strong>do</strong>s os eleitores têmuma avaliação <strong>do</strong> atual gover<strong>na</strong>nte, fica claroque o efeito relativo persuasivo de umacampanha eleitoral será maior ou menor emfunção <strong>do</strong> posicio<strong>na</strong>mento estratégico <strong>do</strong>scandidatos em relação ao status quo, ou seja,em relação ao nível de popularidade <strong>do</strong>gover<strong>na</strong>nte.Para testar este modelo, construímos umamatriz de da<strong>do</strong>s constituída pelas seguintesinformações agregadas, oriundas de 18 pesquisasde opinião entre os meses de junhode 2001 a 2 de outubro de 2002, ante-vésperada eleição: 91. Intenção de voto estimulada, em proporções,para os quatro principais candidatosfi<strong>na</strong>is, no primeiro turno, e para a précandidataRosea<strong>na</strong> Sarney;2. Avaliação <strong>do</strong> governo FHC, em proporções,de acor<strong>do</strong> com as seguintes alter<strong>na</strong>tivas:Ótimo/Bom, Regular e Ruim/Péssimo;e Média das Notas de Zero a Dez;3. Com base <strong>na</strong> data da pesquisaidentificamos os perío<strong>do</strong>s eleitorais e osmomentos em que as propagandas <strong>do</strong>s candidatosforam veiculadas <strong>na</strong> TV, em rede,sen<strong>do</strong> eles Pré-Eleitorais (junho/01-16/agosto/02)e Horário Eleitoral, tempo de ante<strong>na</strong>,(30/agosto-2/outubro/02).Testes prelimi<strong>na</strong>res apontaram que <strong>do</strong>conjunto das variáveis explicativas as variáveisFHC R/P (avaliação ruim e péssimade FHC) e Dummy HGPE (variável dummypara o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> horário eleitoral) foramas que melhor se ajustaram ao modelo proposto.Para este teste foram feitas cincoregressões, uma para cada candidato, regressan<strong>do</strong>a evolução da distribuição de intençãode voto de cada candidato sobre aavaliação de FHC (RP) e controlan<strong>do</strong> esteprocesso pela variável Dummy HGPE, sen<strong>do</strong>,portanto, cinco regressões com a seguinteestrutura:IntVtC it= b 0+ b 1it-nAv(FHC) t-n+ b 2it-n(HGPE)D t-n+ _ t(5)O resulta<strong>do</strong> da aplicação deste modeloestá <strong>na</strong> tabela abaixo:Tabela 2Intenção de Voto, Avaliação de FHC e Horário EleitoralModelo de PrediçãoM odelo C iro (b)G arotinho (b)L ula (b)S erra (b)Rosea<strong>na</strong> (b)Constante7,50123,63638,40140,46821,683FHC R/P0 ,147-0,620**- 0,107-0,629**-0,131DummyHGPE - 0,0610 ,397*0 ,681**0 ,674**—R20,0220,4500,4480,6930,170AdjR2-0,1080,3770,3740,652-0,179F 0 ,1696 ,146**6 ,079**16,897** 0,088DW0,4301,6231,0371,1440,991N 181818187Fonte: DataFolha. Coleção de pesquisas pré-eleitorais de intenção de voto para presidente, perguntas somenterelativas à Situação A, 1989 a 2002, site <strong>do</strong> Instituto DataFolha.Regressão Linear OLSSig.(*) p 0,5%;(**) p 0,1%Banco de Da<strong>do</strong>s Opinião Publica, Projeto Eleições Brasileiras, DOXA/IUPERJ.


508 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVOs resulta<strong>do</strong>s destes testes apontam paraos seguintes resulta<strong>do</strong>s:1. O desempenho eleitoral de Ciro Gomes,ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>, é inteiramenteindependente <strong>do</strong> grau de avaliação <strong>do</strong>governo FHC e <strong>do</strong> seu desempenho persuasivono horário eleitoral; os parâmetros queestimam o desempenho de Ciro Gomessugerem que a distribuição de intenções devoto em seu nome terminou por ser estável;ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, a campanha de CiroGomes não foi capaz de ampliar sua basede apoio; no breve momento em que conseguiumais apoios, 30 dias antes <strong>do</strong> início<strong>do</strong> horário de propaganda, sua campanha nãoresistiu aos ataques de seu maior adversário,o candidato José Serra, durante as duasprimeiras sema<strong>na</strong>s <strong>do</strong> horário eleitoral;2. Igualmente a Ciro Gomes, a précandidataRosea<strong>na</strong> Sarney, no curto tempoem que disputou a preferência <strong>do</strong>s eleitores,nos meses fi<strong>na</strong>is de 2001 e início de 2002,também não resistiu à seqüência de matériasjor<strong>na</strong>lísticas que colocaram em dúvida a lisura<strong>do</strong> seu governo no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Maranhão, eda origem <strong>do</strong>s recursos que supostamenteestariam fi<strong>na</strong>ncian<strong>do</strong> suas atividades políticas;3. Entretanto, os melhores momentoseleitorais de ambos ocorreram logo após aveiculação <strong>do</strong>s seus programas partidários,ainda no perío<strong>do</strong> pré-eleitoral, isto é, antes<strong>do</strong> horário eleitoral;4. Os candidatos Garotinho e José Serrativeram, igualmente, desempenhos decorrentesda avaliação <strong>do</strong> governo FHC e <strong>do</strong>srespectivos programas eleitorais. Para ambos,as intenções de voto observadas ao longo <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> variaram em função <strong>do</strong> nível depopularidade de FHC e tiveram seus melhoresmomentos a partir da entrada no ar deseus programas no horário eleitoral. ParaSerra, isto ocorreu a partir da primeirasema<strong>na</strong>, e para Garotinho a partir da terceirasema<strong>na</strong> <strong>do</strong> horário eleitoral. Seus programaspartidários, veicula<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> préeleitoral,<strong>na</strong>da acrescentaram em intenção devoto às suas bases previamente existentes;5. O desempenho de Lula, ao longo <strong>do</strong>perío<strong>do</strong>, foi independente da variação daavaliação <strong>do</strong> governo FHC; no entanto, seudesempenho foi fortemente dependente, numprimeiro momento, <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong>sdemais candidatos, especialmente durante aspresenças de Rosea<strong>na</strong> Sarney e Ciro Gomes<strong>na</strong> disputa, e da sua campanha no horárioeleitoral, principalmente a partir de 30 deagosto, duas sema<strong>na</strong>s após o início da disputapelo voto através da propaganda nohorário eleitoral;Dos resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s, o único quedestoa <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> foi a ausência de correlaçãoentre intenção de voto em Lula eavaliação negativa <strong>do</strong> governo FHC. Lula,como um candidato histórico de oposição,ten<strong>do</strong> já perdi<strong>do</strong> duas eleições seguidas paraFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique, quan<strong>do</strong> este se apoiavaem boas avaliações, deveria ter ti<strong>do</strong> suas reaischances de eleição sustentadas pela máavaliação que o governo Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henriqueteve durante o seu segun<strong>do</strong> mandato.Do ponto de vista estatístico a explicaçãoé simples. Ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> aintenção de voto em Lula variou muito, entre35%, em junho de 2001, 25%, em março de2002, 43%, em maio, 33%, em 30 de julhoe, fi<strong>na</strong>lmente, 45%, em 27 de setembro e 2de outubro, véspera da eleição. Estas oscilaçõesproduziram uma taxa média constantede intenção de voto da ordem de 35%,mostran<strong>do</strong> <strong>do</strong>is movimentos: a taxa médiapredita de 35% representa um <strong>potencial</strong> devoto constante que, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> desempenho<strong>do</strong>s outros candidatos, poderia ou nãoser atingi<strong>do</strong> ou ultrapassa<strong>do</strong>. Tanto que asduas quedas significativas ocorridas foram,respectivamente, quan<strong>do</strong> Rosea<strong>na</strong> e Ciro“explodiram” <strong>na</strong>s suas curvas de intenção devoto, ambos após os respectivos programaspartidários. Lula recupera o seu patamar<strong>potencial</strong> exatamente após a queda de ambos.Nesses <strong>do</strong>is momentos entram, ademais,em ce<strong>na</strong>, as propagandas de Lula, especialmenteno horário eleitoral.Portanto, a variação da intenção de votoem Lula pouco teve a ver com a variaçãoda avaliação negativa de FHC. A vantagemrelativa de Lula sobre os candidatos remanescentesestava no <strong>potencial</strong> predito de 35%<strong>do</strong>s votos. Ou seja, <strong>na</strong> ausência de candidatoscompetitivos, tanto <strong>na</strong> oposição quanto<strong>na</strong> situação, a maioria <strong>do</strong> eleitora<strong>do</strong> desejosode mudança sempre convergia para Lula, esua propaganda o ampliava. Do ponto de vistada competição eleitoral, as quedas de Rosea<strong>na</strong>


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS509e de Ciro Gomes abriram uma avenida paraLula, já que Serra sempre foi muito dependenteda avaliação negativa <strong>do</strong> governo deFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so. 10Para termos uma visão geral <strong>do</strong> efeitoda propaganda política e eleitoral nestacampanha, no Gráfico 1, em anexo, mostramosa variabilidade da magnitude dadiferença entre a intenção de voto observadadurante o perío<strong>do</strong> e a intenção de votopredita pelo modelo testa<strong>do</strong> acima, mostran<strong>do</strong>um eleitora<strong>do</strong> mais volátil <strong>do</strong> queo predito pelas variáveis estruturais maisdura<strong>do</strong>uras.


510 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaCamargos, Malco Braga, “Do Bolso paraas Ur<strong>na</strong>s: A Influência da Economia <strong>na</strong> Escolhaentre Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so e Lula <strong>na</strong>Eleição de 1998”, dissertação de mestra<strong>do</strong> emCiência Política, Rio de Janeiro, IUPERJ, 1999.Fiori<strong>na</strong>, Morris, Retrospective Voting inAmerican Natio<strong>na</strong>l Elections, New Haven,Yale University Press, 1981.Holbrook, Thomas M., Do CampaignsMatter?, Lon<strong>do</strong>n, Sage Publications, 1996._______________________________1Instituto Universitário de Pesquisas <strong>do</strong> Riode Janeiro – IUPERJ, e DOXA – Laboratório dePesquisa em Comunicação Política e OpiniãoPública.2Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro– UERJ, e DOXA – Laboratório de Pesquisa emComunicação Política e Opinião Pública.3Thomas M. Holbrook, Do CampaignsMatter?, Lon<strong>do</strong>n, Sage Publications, 1996.4Morris Fiori<strong>na</strong>, Retrospective Voting inAmerican Natio<strong>na</strong>l Elections, New Haven, YaleUniversity Press, 1981.5Para um excelente resumo sobre este debatever Thomas M. Holbrook, Do Campaigns Matter?,Lon<strong>do</strong>n, Sage Publications, 1996.6A extensão desse perío<strong>do</strong> depende mais dadisponibilidade de da<strong>do</strong>s.7To<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de intenção de voto, paraas quatro eleições, são de pesquisas feitas peloInstituto DataFolha, consideran<strong>do</strong> somente apergunta de intenção de voto estimulada relativaao cenário (lista de candidatos) A – primeirapergunta no questionário quan<strong>do</strong> haviam mais deum cenário.8A hipótese econômica clássica é a <strong>do</strong> “votoretrospectivo/prospectivo”. Ver Morris Fiori<strong>na</strong>,Retrospective Voting in American Natio<strong>na</strong>lElections, New Haven, Yale University Press, 1981e Malco Camargos, “Do Bolso para as Ur<strong>na</strong>s: AInfluência da Economia <strong>na</strong> Escolha entre Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>Henrique Car<strong>do</strong>so e Lula <strong>na</strong> Eleição de 1998”,dissertação de mestra<strong>do</strong> em Ciência Política, Riode Janeiro, IUPERJ, 1999.9Os da<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s são to<strong>do</strong>s da série depesquisas de opinião <strong>do</strong> Instituto DataFolha, comamostras <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, todas publicadas. Ver siteDataFolha.10As quedas de Rosea<strong>na</strong> e Ciro são exemploscabais <strong>do</strong> efeito da mídia jor<strong>na</strong>lística e da propagandade ataque impetrada por José Serra.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS511Opinión pública y medición de audiencias en el ámbito local:el caso de SegoviaMaría Jesús Díaz González, Concepción Anguita Olme<strong>do</strong>,Francisco Egi<strong>do</strong> Herrero, José Manuel García de Cecilia,e Eduar<strong>do</strong> Moyano Bazzani 1ObjetivosEsta Comunicación, que se presenta enla Mesa temática Opinión Pública yAudiencias del Congreso II Ibérico, pretendedar a conocer a la comunidad científica unProyecto de Investigación que se estárealizan<strong>do</strong> en la Facultad de CienciasHuma<strong>na</strong>s, Sociales y de la Comunicación dela Universidad SEK de Segovia.Este Proyecto, titula<strong>do</strong> La Comunicaciónen Segovia, se puso en marcha en abril delaño 2003 y tiene como objetivo realizar unestudio estructural sobre los medios decomunicación en el ámbito de Segovia y suprovincia.Segovia no cuenta con un estudio de estascaracterísticas 2 . No se han plantea<strong>do</strong>, hastala fecha, análisis periódicos y continua<strong>do</strong>sque son los que permiten advertir la evolucióndel sistema de medios, que se transformaconstantemente. Existe un espacio decomunicación local y estamos convenci<strong>do</strong>sde que son necesarios estudios fiables quetraten sobre el sector de los medios en esteámbito.Pretendemos poner de manifiesto que enEspaña, en los informes publica<strong>do</strong>s porinstituciones que hacen estudios <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les laobtención de los registros provinciales se haceextrapolan<strong>do</strong> el sondeo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l y esto da lugara un margen de error que limita la fiabilidad.Meto<strong>do</strong>logíaLos objetivos que acabamos de explicarhacen imprescindible el diseño y realizaciónde un trabajo de campo que permita obtenerdatos propios sobre los hábitos de utilizaciónde medios de comunicación.Al diseñar el cuestio<strong>na</strong>rio que deberíamosaplicar para obtener dichos datos, nuestropropósito fue incluir, por u<strong>na</strong> parte, aspectosgenerales que figuran en los estudioshabituales sobre difusión y audiencia demedios de comunicación, que realizan enEspaña instituciones como la Ofici<strong>na</strong> deJustificación de la Difusión (OJD) y laAsociación para la Investigación de Mediosde Comunicación (AIMC) 3 . De este mo<strong>do</strong>,podríamos comparar posteriormente nuestrosresulta<strong>do</strong>s con los de esos estudios.Por otra parte, queríamos incluir en elestudio aspectos cualitativos que nospermitieran valorar los motivos para elegirdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s periódicos, emisoras de radioo de televisión, y también la percepción dela calidad de los distintos medios por partede los ciudadanos.Por tanto, la encuesta realizada aportainformación sobre los siguientes puntos:Aspectos generalesPrensa diaria y periódica:- Perso<strong>na</strong>s que leen periódicos a diario.Cuántos periódicos leen a diario y durantecuánto tiempo.- Periódicos de información general,deportiva y económica que leen a diario omás frecuentemente.- Cuán<strong>do</strong> suelen leer los lectoresesporádicos de periódicos.- Hábito de adquirir periódicos: cómo seadquiere, cuántos días y qué días a la sema<strong>na</strong>.Influencia de los suplementos sema<strong>na</strong>les enla decisión de compra.- Perso<strong>na</strong>s que leen revistas de pagohabitualmente.- Hábito de adquirir revistas: quécabeceras se adquieren y de qué mo<strong>do</strong>.Radio:- Perso<strong>na</strong>s que escuchan la radio a diario.Tiempo que dedican a escucharla.- Mo<strong>do</strong> en que se utiliza la radio: franjashorarias, lugar e influencia de elementosexógenos.Televisión:- Perso<strong>na</strong>s que ven la televisión a diario.Tiempo que dedican a verla.


512 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV- Mo<strong>do</strong> en que utilizan la televisión:franjas horarias, lugar e influencia deelementos exógenos.- Abo<strong>na</strong><strong>do</strong>s a ca<strong>na</strong>les de televisión de pago.- Cade<strong>na</strong>s de televisión que venhabitualmente. Tipos de programas que venhabitualmente.Internet:- Perso<strong>na</strong>s que utilizan Internet paraacceder a los medios de comunicación.- Mo<strong>do</strong> en que lo hacen: lugar yfrecuencia.- Utilización para leer la prensa diaria yperiódica. Qué cabeceras se leen.- Utilización para escuchar la radio. Quéemisoras se escuchan.- Utilización para ver la televisión. Quécade<strong>na</strong>s se ven.Aspectos cualitativos- Motivos para preferir determi<strong>na</strong><strong>do</strong>speriódicos, revistas, cade<strong>na</strong>s de radio o detelevisión.- Percepción de la calidad: periódicos quemás ayudan a conocer las realidades actuales,emisoras de radio y de televisión con mejorprogramación según necesidades y aficiones,emisoras de radio y de televisión coninformación más veraz y periódico, emisorade radio y de televisión con mejor coberturade información local (Segovia)U<strong>na</strong> vez expuestos los elementos quequeríamos a<strong>na</strong>lizar, pasamos a facilitar laficha técnica de la encuesta realizada.Universo: población de Segovia capital,de ambos sexos, mayor de 14 años.Tamaño de la muestra: diseñada: 2.305perso<strong>na</strong>s (5% de la población); realizada:2.001 perso<strong>na</strong>s (el 86,8% de la diseñada yel 4,3% de la población). Afijaciónproporcio<strong>na</strong>l.Error muestral: para u<strong>na</strong> confianza del95,5% (2 desviaciones típicas) y P=Q, elerror real máximo cometi<strong>do</strong> es de 2,2% parael conjunto de la muestra.Puntos de muestreo: división de la capitalen 23 zo<strong>na</strong>s por densidad de población.Procedimiento de muestreo: estratificaciónpor conglomera<strong>do</strong>s proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s. Elecciónde las unidades últimas (las perso<strong>na</strong>s) porsistema de rutas aleatorias (por zo<strong>na</strong>s) y porcuotas de sexo y edad. Los cuestio<strong>na</strong>rios seaplicaron mediante entrevista perso<strong>na</strong>l en lacalle.Fecha de realización del trabajo de campo:entre el 4 de octubre y el 18 de diciembrede 2003.Resulta<strong>do</strong>sLa obligada brevedad de u<strong>na</strong>Comunicación de estas características no nospermite exponer to<strong>do</strong>s los resulta<strong>do</strong>sobteni<strong>do</strong>s hasta el momento en nuestrainvestigación. Por ello, hemos decidi<strong>do</strong> incluiraquí sólo los siguientes: usuarios habituales.Tiempo de utilización. Perfil de los usuariosy ranking de los medios según su audiencia.Estos resulta<strong>do</strong>s se presentan especifica<strong>do</strong>spara prensa diaria, radio y televisión.Prensa diariaLectores habitualesEl índice de lectura de prensa diaria esdel 53,8% 4 , por tanto, el total de lectoresdiarios es de 24.797 perso<strong>na</strong>s. El 35,9% delos encuesta<strong>do</strong>s afirma leer 1 periódico aldía.El Estudio General de Medios, elabora<strong>do</strong>por la AIMC, señala un índice de lectura del40% para toda la provincia de Segovia, loque corresponde a 52.000 perso<strong>na</strong>s 5 .Tiempo de lecturaEl tiempo medio que el ciudadano deSegovia capital dedica a esta actividad es de56,7 minutos al día, es decir, prácticamenteu<strong>na</strong> hora como promedio, tiempo notablementesuperior al de la media del ciudadanoconsidera<strong>do</strong> a nivel <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, que sólo emplea25,5 minutos 6 . Y eso si consideramos cifrasglobales, porque si nos detenemos en loconcreto, un 42,2% de segovianos dedica entre60 y 120 minutos a esta actividad, mientrasque en el resto de España sólo dedican esetiempo un 4,2% 7 . Planteamos la posibilidadde que esta gran diferencia se deba al ajetreode las grandes ciudades frente a la másreposada vida de provincias, <strong>do</strong>nde las menoresdistancias y un tráfico menos frenéticopermiten disponer de más tiempo para eldisfrute particular y la lectura.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS513Gráfico nº 1: Tiempo diario de lectura de prensaFuente: elaboración propiaPerfil de los lectoresEn cuanto al perfil por sexos, observamosque los varones suponen el 57,3% del totaly las mujeres el 42,3%.El EGM para España señala un 61,3%de varones y un 38,7% de mujeres 8 .En cuanto a la edad, podemos observarque la franja de 25-34 años constituye elmayor porcentaje de lectores, con un 20,8%;sien<strong>do</strong> la menor, con un 4,4%, el grupo de15-19 años. Esto parece lógico, si tenemosen cuenta que en ple<strong>na</strong> a<strong>do</strong>lescencia, la lecturade prensa periódica no es u<strong>na</strong> actividad muycomún.Los datos del EGM para España coincidencon nuestro estudio, mostran<strong>do</strong> que la franjade 25-34 años, con un 22,1%, es la mayoren lectura de diarios, sien<strong>do</strong> la menor la de14-19, con un 6,3% 9 .Por último, respecto a la clase socialsobresale nítidamente la franjacorrespondiente a nivel económico mediomedio,un porcentaje del 64,1%. De nuevolos datos del EGM para España señalan quela mayor parte de los lectores de diarios, el44,4%, son de clase media-media.Lo expuesto nos permite concluir que elperfil del lector de prensa diaria en Segoviano difiere del que se dispone a nivel <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l:varón de edad comprendida entre los 25 y34 años y de clase social media-media.Ranking de diariosEn nuestros datos, el Adelanta<strong>do</strong> deSegovia figura con un 35,5% como elperiódico más leí<strong>do</strong> de la ciudad, con u<strong>na</strong>ventaja sobre el Norte de Castilla que seaproxima a 15 puntos. Asimismo, en nuestroestudio, El País aparece, con un 31,4%, comoel segun<strong>do</strong> diario más leí<strong>do</strong> en la capital.Frente a ello, el EGM refleja que el diariomás leí<strong>do</strong> en la provincia es El Norte deCastilla (40,4%), segui<strong>do</strong> de El Adelanta<strong>do</strong>de Segovia (36,5%), El País (26,9%), Marca(17,3%), El Mun<strong>do</strong> (9,6%), As (7,7%), ABC(3,9%), La Razón (3,9%), Mun<strong>do</strong> Deportivo(1,9%) y Sport (1,9%)RadioPara poder comprender mejor la magnitudde los resulta<strong>do</strong>s obteni<strong>do</strong>s del muestreorealiza<strong>do</strong> sobre la radiodifusión en Segoviaes necesaria la comparación con el EstudioGeneral de Medios, principal estudio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lsobre el medio radio, y con el Estudio Generalde Audiencias 10 .Debemos empezar dicien<strong>do</strong> que nopodemos pasar por alto la diferencia existenteentre la muestra realizada por el EGM y lanuestra. Además de lo ya explica<strong>do</strong> co<strong>na</strong>nterioridad (ver nota 4), el EGM realiza parael medio radio 27.182 encuestas anuales más,vía telefónica en toda España. De estasencuestas, el EGM sólo dedica 150 para todala provincia de Segovia.Por otra parte, mientras que el EGMestablece como error absoluto un 5,40%, elerror real máximo de nuestro estudio quedafija<strong>do</strong> en un 2,2% para to<strong>do</strong> el conjunto dela muestra. Es evidente que la gran diferenciaexistente entre ambos y el pequeño margende error de nuestra investigación la hacemucho más fiable.


514 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVGráfico nº 2: Clasificación de los Diarios según su audienciaFuente: elaboración propiaOyentes habitualesEl índice de escucha de radio es del88,9% 11 , según nuestro estudio, lo querepresenta un total de 40.975 oyentes. Segúnlos datos del EGM, el índice de escucha esdel 59,8%, lo que representa un total de78.000 perso<strong>na</strong>s en toda la provincia deSegovia 12 .Tiempo de escuchaDicho esto, y muy directamenterelacio<strong>na</strong><strong>do</strong> con el número de oyentes, cabeseñalar el número de horas al día que losoyentes segovianos dedican a escuchar laradio. El promedio del tiempo de escuchadiario pasa de las <strong>do</strong>s horas, 148,31 minutos,aunque oscila entre cuatro horas diarias o más


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS515y u<strong>na</strong> hora o menos, mientras que el EGMestablece el total del consumo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l en118 minutos, por perso<strong>na</strong> y día de lunes a<strong>do</strong>mingo, con u<strong>na</strong> media de 59 minutos parala radio generalista y de 55 minutos para laradio temática.estudio y un 10,7% según el EGM. Yconcluiríamos con las <strong>do</strong>s franjas de edadde los más jóvenes. La franja comprendidaentre 20 a 24 años, según nuestro estudiosería el 9,6% de los oyentes, mientras queel EGM establece este porcentaje en el 10,2%Gráfico nº 3: Tiempo diario de escucha de radioFuente: elaboración propiaPerfil de los oyentesSobre el perfil de los oyentes podemosseñalar la siguiente clasificación: por sexo,edad y estatus social.Respecto al sexo de los oyentes, segúnlos datos obteni<strong>do</strong>s por el EGM 13 para to<strong>do</strong>el esta<strong>do</strong> español, un 53,1% de la audienciaradiofónica son hombres, mientras que un46,9% son mujeres. Aunque nuestro estudiopara Segovia capital arroja datos similares,sin embargo, son las mujeres las quemayoritariamente escuchan la radio, con un53,3%, mientras que el porcentaje de hombreses de un 46,7%.Respecto a la edad de los oyentes, nuestroestudio establece la edad media en 42 años,sien<strong>do</strong> la audiencia mayoritaria lacomprendida en el grupo de edad de 35 a44 años, con un 19,9%, dato que coincidecon la estadística <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l del EGM cuyoporcentaje lo sitúa en el 19,5%. Este grupode edad está segui<strong>do</strong> muy de cerca por elde 25 a 34 años, con un 19%, según nuestroestudio y con un 22% según el EGM. Entercer lugar estaría el grupo de 45 a 54 años,con un 16,6% según nuestro estudio, y un14,9%, según el EGM. En cuarto lugar, sesituaría el grupo de 65 años en adelante, conun 15,9% según nuestro estudio, y un 14,8%según el EGM. A continuación vendría elgrupo de 55 a 64, con un 10,4% según nuestroy los que menos escucharían la radio seríala franja de 14 a 19 años, 15 años en nuestroestudio, sien<strong>do</strong> de un 8% según el EGM yde un 8,5% según nuestro estudio paraSegovia capital.Respecto a la clase social, cabe destacarque el mayor porcentaje de audiencia seconsidera de clase media-media. Este datoes coincidente en nuestro estudio y en el EGMpara to<strong>do</strong> el territorio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. El EGM sitúaen un 44,7% la audiencia de clase mediamedia,mientras que el nuestro lo sitúa unpoco más alto, en el 67,1%. Un 15,2%, segúnnuestro estudio, son de clase media-alta, elEGM lo establece en el 16,9%. Un 13,1%de los oyentes se declara de clase media-baja,según nuestro estudio, y un 23,4% según elEGM. Un 3,3% de los oyentes de Segoviacapital se declara de clase social baja,mientras que el EGM fija su porcentaje enel 5,3% y de nivel social alto tan sólo seconsideran un 1,3%, según nuestro estudioy un 9,6% según el EGM.Como conclusión podríamos señalar queel oyente tipo de Segovia capital esmayoritariamente mujer, de entre 35 y 44años y de clase social media-media. Perfilque no coincide totalmente con el queestablece el EGM 14 que señala como el tipode oyente a nivel <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a un hombre, deentre 35 y 44 años y de clase social mediamedia.


516 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVRanking de emisoras de radioRespecto a los gustos radiofónicos y a laprogramación elegida, nuestro estudio seaproxima a través de hábitos de escucha, conpreguntas como: qué emisora responde con mejorprogramación a sus aficiones o necesidades, quéemisora emite la información más veraz o quéemisora tiene mejor cobertura local. Lasrespuestas a todas ellas nos permite señalar elranking de las emisoras radiofónicas másescuchadas en Segovia capital. SER, en sus <strong>do</strong>smodalidades radiofónicas –generalista y temática-, Radio Nacio<strong>na</strong>l de España, la Cade<strong>na</strong> COPEy Onda Cero se sitúan al frente de las preferenciasradiofónicas de los segovianos.ambas cosas coinciden. No obstante, creemoshaber aporta<strong>do</strong> u<strong>na</strong> luz sobre el panoramaradiofónico en Segovia, diferente y más fiableque el que había existi<strong>do</strong> hasta ahora.TelevisiónTelespecta<strong>do</strong>res habitualesEl índice de telespecta<strong>do</strong>res habituales esdel 96,3%, según nuestro estudio, lo querepresenta un total de 44.386 perso<strong>na</strong>s.Tiempo dedica<strong>do</strong> a ver la televisiónEn lo que hace referencia al consumocuantitativo de televisión, el promedio deGráfico nº 4: Preferencias radiofónicas en Segovia capitalFuente: Elaboración propiaEste ranking no dista mucho de laspreferencias señaladas por los segovianos detoda la provincia en el EGM 15 . En este estudiose señala como principal emisora a la Cade<strong>na</strong>SER en sus frecuencias de OM y de FM parala radio generalista, con un 17,6%, y en FM,los Cuarenta Principales, con un 10,1%,seguidas de Cade<strong>na</strong> Dial también en FM, conun 5,7% 16 . Sin embargo, a nivel <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, elEGM señala como la tercera emisora másescuchada con programación generalista aOnda Cero Radio, seguida de la Cade<strong>na</strong> COPE.Tras esta aproximación a la radiodifusiónen Segovia, podemos añadir que estos estudiossobre audiencias de radio, a diferencia de losestudios sobre audiencias de televisión en elque se utilizan tecnologías más fiables, o dela prensa en la que se utiliza como referenciala tirada, sólo pueden darnos u<strong>na</strong> aproximació<strong>na</strong> lo que realmente se está escuchan<strong>do</strong>, puesestos estudios estiman a posteriori lo que losoyentes dicen que han oí<strong>do</strong>, pero no puedenrecoger lo que realmente han oí<strong>do</strong>, y no siempretiempo diario dedica<strong>do</strong> a esta actividad esde 147,62 minutos. La mayor parte de losentrevista<strong>do</strong>s dice consumir entre 1 y mediay 3 horas de televisión al día.Esto refuerza u<strong>na</strong> tendencia a nivel <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lque nos demuestra que cada día los especta<strong>do</strong>respasan más tiempo vien<strong>do</strong> la televisión. Los datosde SOFRES 17 apuntan un incremento, en 2001el consumo diario por perso<strong>na</strong> llegó a 212minutos y en 2002 subió a 214 minutos.Según el EGM para el año 2003, elconsumo por perso<strong>na</strong> y día llega a 246minutos 18 . Tanto los datos de Sofres comolos del EGM son muy superiores a los nivelesobserva<strong>do</strong>s en Segovia.Perfil del telespecta<strong>do</strong>rEn cuanto al perfil por sexos, observamosque las mujeres suponen el 52% del total ylos varones el 48%.El EGM para España señala un 51,3%de mujeres y un 48,7% de varones 19 .


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS517Gráfico nº 5: Tiempo diario dedica<strong>do</strong> a ver la TVFuente: Elaboración propiaEn cuanto a la edad, podemos observarque la franja de 25-34 años alcanza unporcentaje del 18,7%, muy similar al de los35-44 años (18,5%). A continuación, de 65años en adelante (16,8%), 45-54 años(15,6%), 55-64 años (11,2%), 20-24 años(10,4%) y 15-19 años (8,8%).Los datos del EGM para España muestranque la franja 65 años en adelante, con un20,2%, es la que más ve la televisión, sien<strong>do</strong>la menor la de 14-19, con un 8,4% 20 .Por último, respecto a la clase social la franjamayoritaria corresponde al nivel económicomedio-medio, con un porcentaje del 67,2%. Denuevo los datos del EGM para España señalanque la mayor parte de los telespecta<strong>do</strong>res, el41,2%, son de clase media-media.Concluimos que el telespecta<strong>do</strong>r tipo enSegovia es mujer, entre 25 y 44 años, declase media. La diferencia con el perfil<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l es que, en este, la edad supera los65 años.Ranking de cade<strong>na</strong>s de televisiónEn lo que se refiere a Segovia capital ypreguntan<strong>do</strong> a los encuesta<strong>do</strong>s por cuáles so<strong>na</strong>quellos ca<strong>na</strong>les que suelen ver con asiduidad(gráfico 6), se confirma el <strong>do</strong>minio de lacade<strong>na</strong>s generalistas, Telecinco se colocacomo la más mencio<strong>na</strong>da. Los segovianostambién afirman seguir con cierta frecuencialos conteni<strong>do</strong>s programáticos de sus <strong>do</strong>stelevisiones locales: Televisión Segovia(10,1%) y Ca<strong>na</strong>l 4 Segovia (7,5%).El EGM da a las televisiones locales lossiguientes porcentajes: Televisión Segovia(65,4%, 85.000 especta<strong>do</strong>res en la provincia)y Ca<strong>na</strong>l 4 (51,5%, 67.000 especta<strong>do</strong>res) 21 .Cifras sin duda sobrevaloradas.Gráfico nº 6: Ranking de cade<strong>na</strong>s de televisión según su audienciaFuente: elaboración propia


518 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaAsociación para la Investigación deMedios de Comunicación (AIMC), EGM.Resumen General, Madrid, 2003. Disponibleen www.aimc.es.Centro de Investigaciones Sociológicas(CIS), Barómetro de octubre. Estudio nº 2.541.Madrid, Centro de Investigaciones Sociológicas(CIS). Ministerio de la Presidencia, 2003.Comisión del Merca<strong>do</strong> de lasTelecomunicaciones e Instituto Nacio<strong>na</strong>l deEstadística, Encuesta a hogares españolessobre tecnologías de la información y lacomunicación. Madrid, Comisión del Merca<strong>do</strong>de las Telecomunicaciones (CMT) e InstitutoNacio<strong>na</strong>l de Estadística (INE), 2003.Coromi<strong>na</strong>s, M. y Moragas, M. (editores),Informe de la Comunicació a Catalunya.2000, Bellaterra, Universitat Autónoma deBarcelo<strong>na</strong>. Servicio de Publicaciones, 2001.Coromi<strong>na</strong>s, M. y Moragas, M. (editores),Informe de la Comunicació a Catalunya. 2001-2002, Bellaterra, Universitat Autónoma deBarcelo<strong>na</strong>. Servicio de Publicaciones, 2003.Diaz Nosty, B., Informe anual de lacomunicación 2000-2001. Esta<strong>do</strong> ytendencias de los medios en España, Madrid,Zeta Ediciones, 2001.Díaz Nosty, B., La Comunicación enAndalucía 1999. Situación y tendencias,Madrid, Zeta Ediciones, 1999.Libro blanco de la prensa diaria, Madrid,Asociación de Editores de Diarios Españoles(AEDE), 2003.Libro blanco de la prensa diaria, Madrid,Asociación de Editores de Diarios Españoles(AEDE), 2004.Noticias de la Comunicación, nº 230,noviembre 2003.Observatorio Socioeconómico deSegovia (Caja Segovia), Encuesta sobremedios de comunicación en Segovia. 4ºtrimestre 2000, Segovia, 2000. Disponible enwww.cajasegovia.es/observatorio.asp.Sofres, Anuario de Audiencias deTelevisión 2002, Madrid, Edita SofresAudiencia de Medios, 2003._______________________________1To<strong>do</strong>s los autores pertenecen a la UniversidadSEK de Segovia.2El único estudio local sobre medios decomunicación publica<strong>do</strong> hasta la fecha es:Observatorio Socioeconómico de Segovia (CajaSegovia), Encuesta sobre medios de comunicaciónen Segovia. 4º trimestre 2000, Segovia, 2000.Disponible en www.cajasegovia.es/observatorio.asp.3Otros informes sobre medios decomunicación utiliza<strong>do</strong>s en nuestra investigaciónson los de Sofres, el Barómetro de octubre 2003.estudio nº 2541 del Centro de InvestigacionesSociológicas. Ministerio de la Presidencia y laEncuesta a hogares españoles sobre tecnologíasde la información y la comunicación realizada porla Comisión del Merca<strong>do</strong> de lasTelecomunicaciones (CMT) y el Instituto Nacio<strong>na</strong>lde Estadística (INE) y publicada en mayo de 2003.4Porcentaje de perso<strong>na</strong>s sobre el universoestudia<strong>do</strong>.5AIMC, EGM. Resumen general 2003. Eluniverso utiliza<strong>do</strong> por el EGM en la provinciade Segovia es de 130.000 perso<strong>na</strong>s. A partir deahora nos referiremos al Estudio General deMedios con las siglas EGM. Acabamos de hacerun paralelismo entre un dato obteni<strong>do</strong> en nuestroestudio y otro del EGM. Estos paralelismos serepiten en otros puntos de esta exposición; porello, es necesario explicar las diferencias entreambos estudios.El EGM es un estudio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, que seleccio<strong>na</strong>como universo a los mayores de 13 años. En 2003,para to<strong>do</strong> el país realizó 43.243 entrevistas en tresperio<strong>do</strong>s distintos del año. En cada u<strong>na</strong> de esasfases (olas) la muestra equivale a un tercio dela muestra anual en cada provincia y ComunidadAutónoma. En el caso de la provincia de Segoviael diseño muestral establece desproporción inter<strong>na</strong>para aumentar la razón de muestreo en la capital,que es el mayor núcleo de población. En cadaola del EGM está previsto hacer en nuestraprovincia 100 encuestas y, como acabamos deseñalar, la mayor parte en la capital.Se puede concluir que, nuestro estudio y elEGM no son equivalentes pero su comparaciónes posible.6Noticias de la Comunicación, nº 230,noviembre 2003, p. 138.7Ibidem.8AIMC, EGM. Resumen general 2003.9Ibidem.10Existe otro estudio de la empresa SigmaDos, llama<strong>do</strong> Estudio General de Audiencias(EGA) al que haremos algu<strong>na</strong> referencia.11Porcentaje de perso<strong>na</strong>s sobre el universoestudia<strong>do</strong>.12AIMC, EGM/EGM Radio XXI. Resumengeneral 2003.13AIMC, EGM/EGM Radio XXI. Resumengeneral 2003.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS51914Ibidem.15AIMC, EGM. Resumen general 2003.16En este estudio no aparecen las emisoraspertenecientes a RNE ya que se autoexcluyerondel estudio en 2003, por considerarlo poco fiable.17Cfr. Sofres, Anuario de Audiencias deTelevisión 2002, Madrid, Edita Sofres Audienciade Medios, 2003, p. 17. Minutos de visio<strong>na</strong><strong>do</strong> detelevisión por regiones 1999-2000.18Cfr. AIMC, EGM. Resumen general2003.19AIMC, EGM. Resumen general 2003.20Ibidem.21AIMC, EGM. Resumen general 2003.


520 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS521Ce<strong>na</strong>s e senti<strong>do</strong>s <strong>na</strong> tribo Raver: A ordem da fusãoMarli <strong>do</strong>s Santos1. Juvenilidades e neotribalismo RaverCom a proposta de desvendar ummicrocosmo da recepção, ou uma partículadele, a<strong>na</strong>lisei os discursos de jovens usuáriosde drogas ilícitas e pertencentes a tribo raver,para detectar os senti<strong>do</strong>s que atribuem aosdiscursos jor<strong>na</strong>lísticos sobre drogas.Porém, antes, foi preciso mergulhar <strong>na</strong>sjuvenilidades <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocidental – algumasdelas -, para entender por que aos jovenssempre se atribuíram e se atribuem, rebeldesque “devem” ser, os movimentos e expressõescontesta<strong>do</strong>ras da cultura estabelecida. Aocontrário <strong>do</strong> que está no imaginário <strong>do</strong> homempós-moderno ocidental, verifiquei quea juventude transgride por concessão dasociedade, por chancela <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s adultos.Na Antiguidade os jovens eram prepara<strong>do</strong>spara a guerra. Durante a Idade Média,alguns povos, como os judeus, educavam paraa transmissão e guarda <strong>do</strong>s costumes, e paraa assunção de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s papéis <strong>na</strong>s comunidades.Já a juventude operária, no séculoXIX, tinha como direcio<strong>na</strong>mento o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>trabalho. À juventude revolucionária coube aparticipação em movimentos como o fascista,o <strong>na</strong>zista e a contracultura.Ao longo da história ocidental <strong>do</strong>s jovens,as instituições hegemônicas cumpriram odever de manutenção das estruturas criadasem seu benefício e para sua perpetuação.Porém, apesar de tu<strong>do</strong>, também foram transitórias.Mesmo com menor fluidez nopassa<strong>do</strong>, se assim poderia dizer, elas floresceme se esgotam. É a mola-mestra dahistória, entendida no seu caráter dinâmico,que propulsio<strong>na</strong> a humanidade. O “da<strong>do</strong>social” e o “da<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r”, como diziaBakthin (1981), se mesclam e interagem <strong>na</strong>grande engre<strong>na</strong>gem social e cultural. Ou “apotência subterrânea” <strong>do</strong> neotribalismo contemporâneode Maffesoli (2002), que engendra,nos seus laços de afetividade, o afastamentoe a resistência ao poder constituí<strong>do</strong>.Na juventude pós-moder<strong>na</strong>, à medida queas instituições se enfraquecem, por conseguintea família e a escola, a dinâmica entre oinstitucio<strong>na</strong>l e o margi<strong>na</strong>l adquire novoscontornos. Interagem as forças de<strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>res e <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, opressores eoprimi<strong>do</strong>s, não como se fossem estanques,mas matizadas, sincretizadas, pois há brechasque acabam por romper a lógica da <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção.A juventude pós-moder<strong>na</strong> é uma“thíase” 1 (ordem da fusão) - a convivênciade novos e vários arranjos sociaismultiformes. Convive e forma várias identidades,e pode assumi-las, conforme asmediações culturais múltiplas que permitema sobrevivência <strong>do</strong> grupo.Ao a<strong>na</strong>lisar o fenômeno <strong>do</strong> neotribalismocontemporâneo, Maffesolli (2002: 62) sustentaa existência de comunidades afetivas,principalmente <strong>na</strong> sociedade urba<strong>na</strong>, que “(...)produz agrupamentos específicos com a fi<strong>na</strong>lidadede compartilhar a paixão e ossentimentos (...)”, mecanismos de sobrevivênciadiante das pressões cotidia<strong>na</strong>s. São tambémmecanismos de resistência.Para Maffesoli (2002: 84), em to<strong>do</strong>s essesespaços particulares, que constituem as tribos,os laços de afetividade são a condiçãosine qua non de existência e formação. Independentementede se eleger este ou aquelecódigo que dá uma identidade cultural específica,o “estar-junto” direcio<strong>na</strong> as ações<strong>do</strong> grupo. O objetivo não é projetivo, e simo agora, a formação <strong>do</strong> próprio grupo e asobrevivência deste.Essa reflexão é contextualizada <strong>na</strong> dinâmicada “socialidade”, termo que o autor usaem contraposição ao social. Para ele, a“socialidade” é orgânica, uma “transcendênciaimanente” das massas, que surge “(...) opon<strong>do</strong>-sesempre às formas instituídas da ideologiae da política oficial (...). GilbertRe<strong>na</strong>ud, cita<strong>do</strong> pelo Maffesoli, diz: “(...)‘socialidade” fron<strong>do</strong>sa que resiste à<strong>do</strong>mesticação?”. (Idem: 91)


522 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEm um senti<strong>do</strong> mais antropológico, otribalismo é a maneira <strong>na</strong> qual se dá o afetosocial. Há também um caráter de rebeldiae contestação <strong>na</strong> formação desses grupos.Segun<strong>do</strong> Lara (2001: 101), “a formação <strong>do</strong>sguetos e das tribos está ligada à rebeldia eà contestação da ordem estabelecida, à buscapor outros esta<strong>do</strong>s cognitivos, que aliviema ‘angústia’e possam preencher o cotidiano”.Nesse contexto as raves surgem comoespaços alter<strong>na</strong>tivos. São festas normalmenterealizadas em lugares mais afasta<strong>do</strong>s, locaiscomo galpões, chácaras, fábricas aban<strong>do</strong><strong>na</strong>das,cujo elemento principal, e que dá unidade,é a música eletrônica. Participamaprecia<strong>do</strong>res <strong>do</strong> estilo, que se constituem emuma tribo com as suas peculiaridades ecódigos, de uma maneira geral a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s maisou menos por to<strong>do</strong>s.Como essas festas se tor<strong>na</strong>ram modismo,em decorrência das indústrias ante<strong>na</strong>das sobreas novidades desse meio para posteriormentetransformá-las em bens materiais e simbólicosde consumo, a participação de jovensé bem heterogênea. São diferentes os tiposencontra<strong>do</strong>s em uma rave: desde aqueles queseguem religiosamente os padrões estéticosvisuais, inspira<strong>do</strong>s nos clubbers, como os quese negam à identificação clubber e preferemser somente aprecia<strong>do</strong>res das festas e damúsica eletrônica - o grande elementoagluti<strong>na</strong><strong>do</strong>r. Há também os curiosos e osprofissio<strong>na</strong>is da ce<strong>na</strong>.Independentemente <strong>do</strong>s novos tipos quefrequentam as raves, liga<strong>do</strong>s à cultura club,Mai<strong>na</strong>rdi já havia observa<strong>do</strong> 2 a filosofiahe<strong>do</strong>nista, <strong>na</strong> qual a alegria e o transe coletivotor<strong>na</strong>m-se uma experimentação, um senti<strong>do</strong>de vida, ou um senti<strong>do</strong> de vida em algunsmomentos. Nesse processo de retribalização,de “socialidade” propriamente dita, o senti<strong>do</strong>da transgressão “esquece” o político instituí<strong>do</strong>para ser a transgressão estética e simbólica.O amor, a celebração da paz, da alegriae <strong>do</strong> prazer das viagens proporcio<strong>na</strong>das peloambiente, muitas vezes adicio<strong>na</strong><strong>do</strong> à droga,são as formas de resistência.2. Imbricações teórico-meto<strong>do</strong>lógicasPara realizar o estu<strong>do</strong>, foram consideradasduas correntes teóricas nortea<strong>do</strong>ras: aTeoria da Recepção, de Jesus Martin-Barbero, e a Análise <strong>do</strong>s Discursos, em autorescomo Brandão, Orlandi, Maingueneau, Koche Pinto, da escola francesa.A Teoria da Recepção desloca os estu<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s meios às mediações, nos quais assumeseque os senti<strong>do</strong>s circulam <strong>na</strong> sociedade, nosgrupos, <strong>na</strong>s comunidades, e sofrem a influência(<strong>na</strong> produção e <strong>na</strong> recepção) <strong>do</strong> ambientecultural, social e o econômico. A leiturada realidade é condicio<strong>na</strong>da pelo acesso adetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s textos culturais ou gêneros <strong>do</strong>discurso, inclusive o <strong>do</strong>s meios de comunicação.Consideran<strong>do</strong> a recepção um lugar deprodução de senti<strong>do</strong>s, de negociação, a buscanesta pesquisa ao recorrer à Teoria daRecepção foi verificar, por meio da imersãono contexto da tribo raver e de usuáriosde drogas ilícitas de origens socioeconômicasdiversas, quais as condições de produção <strong>do</strong>sdiscursos desses jovens. Que tipo de“socialidade” há no grupo e até que pontoa identidade neotribal é importante <strong>na</strong>mediação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, em um contextomacro de pósmodernidade, de urbanidade efluidez social, com a marca preponderanteda cultura de consumo de bens simbólicose materiais e da globalização.Falar em pós-modernidade, urbanidade efluidez social significa assumir que <strong>na</strong>smetrópoles a fragmentação é uma realidade.Nelas o caos semiótico e urbano é cenário,convivem a virtualidade, o efêmero, o constante,o popular, o culto, a reocupação e(re)significação de espaços, a exclusão, osanônimos, as tribos... Convergências e divergências.E tu<strong>do</strong> ao mesmo tempo.Imbrican<strong>do</strong> os conceitos <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s deRecepção com os de Análise <strong>do</strong>s Discursos,de tradição francesa, temos as idéias dePêcheux, em Brandão (2002), Orlandi (1990;2001), Maingueneau (2002), e Pinto (1999),como referência teórico-meto<strong>do</strong>lógica <strong>na</strong>análise <strong>do</strong>s textos produzi<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is gruposfocais participantes da pesquisa. Portanto,a opção ora referida considera a ideologiae a materialidade discursiva como“processo discursivo-ideológico”, que inscreve,segun<strong>do</strong> Pêcheux, cita<strong>do</strong> por Brandão(Idem:34), “o processo discursivo em umarelação ideológica de classes”. Assim, a tríadebásica <strong>na</strong>s formulações teóricas da AD é: a)condições de produção <strong>do</strong> discurso (o local


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS523de onde se fala, como se fala e para quemse fala); b) a formação ideológica (modelosde representação social) e c) as formaçõesdiscursivas (diretamente relacio<strong>na</strong>das àsformações ideológicas). A utilização dessasduas correntes teóricas como referenciais paraa pesquisa levou-me à observação participante,meto<strong>do</strong>logia fundamental para observaras condições de produção <strong>do</strong> discurso.Durante um ano e meio, vários contextosforam observa<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> festas, locais dereunião e de consumo, entre outros espaços.Após observações, realizaram-se <strong>do</strong>is GruposFocais (GFs), com jovens ravers declasses socioeconômicas diferentes, mora<strong>do</strong>resda Grande São Paulo, usuários de drogasilícitas, cujos discursos foram grava<strong>do</strong>s,transcritos e a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s, à luz <strong>do</strong> referencialteórico já mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>. Para estimular ogrupo, utilizaram-se matérias jor<strong>na</strong>lísticaspublicadas <strong>na</strong> mídia impressa e eletrônica(TV). Na Análise <strong>do</strong>s Discursos realizada apartir das falas gravadas durante os GFs,considerei alguns marca<strong>do</strong>res linguísticosescritos e orais (conversacio<strong>na</strong>is, tempoverbal, modaliza<strong>do</strong>res expressivos, pronomes,opera<strong>do</strong>res argumentativos, discurso direto eindireto, provérbio, ironia, jargão, gíria)presentes em autores, como Maingueneau(2000), Koch (2002), Urbano (In: Pretti,1999) e Rodrigues (In: Pretti, 1999). Porém,a AD não se esgotou nos marca<strong>do</strong>res dasuperfície linguística, completan<strong>do</strong>-se com acontextualização, pois os discursos não sãoindependentes de sua condição de produção.As interações entre formações discursivaspodem ocorrer mesmo quan<strong>do</strong> o “outro” nãoestá indica<strong>do</strong> no discurso, haven<strong>do</strong> contençãode senti<strong>do</strong>s pelo enuncia<strong>do</strong>r, por meiode mecanismos de silenciamento 3 . (Brandão,2002).3. O senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s discursos jor<strong>na</strong>lísticossobre drogas: grupos focaisSegun<strong>do</strong> os participantes <strong>do</strong> GF1, “Jovensda Periferia da Grande São Paulo”,mesmo dizen<strong>do</strong> “mentira”, o jor<strong>na</strong>lismo tempoder para impor uma realidade generalizante,por interesse ou incompetência. Os argumentospara justificar o afastamento da mídia emrelação à realidade desses jovens são vários.Destaco abaixo alguns: 1. A reação à drogadepende <strong>do</strong> organismo e das característicasindividuais; 2. Nem to<strong>do</strong> usuário é violento,a droga só <strong>potencial</strong>iza características individuais;3. A bebida e o álcool são drogastoleradas pela mídia pois dão lucro; 4. Abebida leva ao consumo da droga ilícita; 5.Os verdadeiros culpa<strong>do</strong>s são omiti<strong>do</strong>s; 6. Aperiferia consome menos droga comparadaà classe média alta; 7. Nem sempre quemvai às”raves é usuário de droga; 8. Asmatérias sobre pesquisas científicas são falsas.Do ponto de vista de interação e deenvolvimento, alguns marca<strong>do</strong>res lingüísticosdurante a conversação realizada no GFl sãoíndices da identidade <strong>do</strong> grupo. Idade aproximada,condição socioeconômica semelhante,gosto pela música eletrônica, convivênciaem ambiente urbano, participação em ravese festas com música eletrônica e consumode drogas ilícitas eram atributos <strong>do</strong> grupo,responsáveis por ambiente de confraternizaçãoe camaradagem. Os jovens mostraramexperiências e expectativas compartilhadas,por meio de formas fáticas no discurso,como: “verdade”, “com certeza”, “entende”,“entendeu”; de gírias: “tipo”, “pô”, “mi<strong>na</strong>s”,“nóia”, “fita louca”, “já era”; de jargões:“faustão”, “farinha”, “basea<strong>do</strong>”, “tô limpo”,“pó”, “clubber”; e a repetição de fi<strong>na</strong>l defrases pelos coenuncia<strong>do</strong>res, como si<strong>na</strong>l deaprovação à fala <strong>do</strong> outro no grupo. Chamaatenção o uso recorrente de gírias, não tãoligadas ao universo raver, mas de <strong>do</strong>míniocomum <strong>do</strong>s jovens. Alguns participantesusavam gírias e jargões de outras tribos, comoa <strong>do</strong> rap (“mano”), e ainda gírias fora demoda, a exemplo de “bicho”. Os marca<strong>do</strong>resmostram a fluidez desse grupo em outrosespaços sociais, além das outras vozes constituintes<strong>do</strong>s discursos.O fato de os componentes <strong>do</strong> grupo nãoconsiderarem a necessidade de usar to<strong>do</strong>s oscódigos da tribo raver, para serem qualifica<strong>do</strong>scomo aprecia<strong>do</strong>res da música eletrônicae das festas, pode estar relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à questãosocioeconômica, aos compromisso com trabalhoe à vida cotidia<strong>na</strong>. Eles não se enquadramnos tipos de Mai<strong>na</strong>rdi (1999). Há ape<strong>na</strong>svestígios <strong>do</strong>s códigos visuais club: óculosescuros, um ou outro detalhe fluorescente <strong>na</strong>roupa. Mas conhecem os estilos de músicaeletrônica, os preconceitos em relação aoscybermanos, a aura de harmonia <strong>na</strong>s festas,


524 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpropiciada também pela droga. Quem não aconsome fica “careta”.A consciência de que são de uma classesocial menos favorecida revela-se <strong>na</strong>s oposiçõesentre os conceitos de “periferia” -aquele que trabalha e sofre, mas sustenta oseu vício - e de “playboy” - rebelde semcausa, tem tu<strong>do</strong> mas é revolta<strong>do</strong>.Os jovens desse grupo são muito enfáticosnos seus argumentos contra os discursosgeneralizantes <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. Usamexemplos pessoais, justifican<strong>do</strong> pontos devista. Diante da realidade, não há comoaceitar o estereótipo de droga<strong>do</strong> e violento,entre outros, imposto pela mídia.A introdução de discursos diretos e trechosde diálogos é uma estratégia para darmais autenticidade à proposição de que amídia “mente”. Os diálogos reproduzemsituações hipotéticas, mas criam um climade verdade - há ento<strong>na</strong>ção da voz, para fazeras vezes da mãe e <strong>do</strong> filho e ridicularizaros meios de comunicação, cria<strong>do</strong>res deimagens erradas das festas.Os vícios e erros <strong>na</strong> linguagem oralrevelam a origem <strong>do</strong>s participantes. Embora<strong>na</strong> linguagem oral, muitas vezes, a normaculta seja desrespeitada, a limitação da escolaridadee <strong>do</strong> repertório linguístico éevidente. A superação ocorre pelo uso degírias, opera<strong>do</strong>res argumentativos e formasfáticas, como estrutura<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s discursos.Provérbios e dita<strong>do</strong>s são mais recorrentesnesse grupo, confirman<strong>do</strong> a polifonia e ocaráter social da língua no seu manejo dentro<strong>do</strong> campo discursivo <strong>do</strong>s jovens, no qualformações discursivas deste e de outroscampos são marcadas por várias vozes: deoutras gerações, <strong>do</strong> popular, <strong>do</strong> científico.O sentimento de pertença não está noscódigos visuais da tribo raver, mas <strong>na</strong>identidade <strong>do</strong> grupo como “periferia”,aprecia<strong>do</strong>r de música eletrônica – elementoagluti<strong>na</strong><strong>do</strong>r – , em momentos de comunhãoe de afetividade.Por não serem potenciais consumi<strong>do</strong>resde grifes caras, os participantes <strong>do</strong> GF1desvalorizam o uso de roupas, acessórios etênis de marca. Para apreciar as–raves e amúsica eletrônica não é necessário ostentar.Porém, reconhecem os códigos mais divulga<strong>do</strong>spela mídia. Como diz Martín-Barbero(1997), estão expressas <strong>na</strong>s mediações asrelações de poder, “batalhas travadas nocampo econômico e no terreno <strong>do</strong> simbólico”.Semelhante ao GF1, os jovens <strong>do</strong> GF2,“Jovens de Bairros Nobres de São Paulo”,disseram que a mídia está “errada”. Háoposição entre realidade e o dito <strong>na</strong>s reportagensjor<strong>na</strong>lísticas. “A própria mídia é que“trata erra<strong>do</strong>” as coisas. E o própriogoverno também... Ah, trata erra<strong>do</strong>, trata...Eles omitem informação, e até acrescentamcoisas que nem sempre é verdade...”.Apesar da relativização, pois até ogoverno “também” é erra<strong>do</strong>, durante a conversação<strong>do</strong>s jovens houve reforço e confirmaçãode tratamento equivoca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s usuáriosde drogas ilícitas, incluin<strong>do</strong> os ravers.Por meio de marca<strong>do</strong>res linguísticos e o nãodito,apontam a omissão de informaçõesimportantes relacio<strong>na</strong>das ao tráfico e àsdiferenças individuais não respeitadas pelamídia. Há contundência <strong>na</strong> crítica aos discursosjor<strong>na</strong>lísticos. Os argumentos <strong>do</strong>sparticipantes foram agrupa<strong>do</strong>s a seguir.1. A reação às drogas depende das“condicio<strong>na</strong>ntes” individuais;2. A informação “populariza” assuntos,mas não há qualidade;3. A mídia omite informações importantes,pois os interesses comerciais superamos de informar com qualidade;4. As pesquisas generalizam tanto quantoas matérias a respeito delas;5. A mídia usa estereótipos para generalizar;as fontes não convencem;6. O consumo depende da classe social;O jor<strong>na</strong>lista deve se qualificar para umareportagem que respeite as diferenças.No GF2 a interação entre os enuncia<strong>do</strong>res/coenuncia<strong>do</strong>res é verificada por meio demarcas como entendeu?, entende?, claro,além de outras. Os pronomes e os temposverbais no presente <strong>do</strong> indicativo e pretéritosimples também mostraram envolvimento <strong>do</strong>ssujeitos <strong>do</strong> grupo, comprometi<strong>do</strong>s o tempointeiro, em maior ou menor grau, com oscomentários. Opera<strong>do</strong>res argumentativosconfirmam e reforçam as opiniões <strong>do</strong> grupo.Várias formações discursivas atravessamos discursos a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s: o da ciência, o <strong>do</strong>raver, o <strong>do</strong> jovem, o de classe social. Apolifonia está presente <strong>na</strong> argumentação, <strong>na</strong>scitações, nos exemplos. Há o discurso <strong>do</strong>


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS525universitário, para demonstrar <strong>do</strong>mínio deoutro campo discursivo ao questio<strong>na</strong>r avalidade da ciência; o discurso da ciência,para em seguida ironizá-la; o discurso datribo, com gírias e jargões <strong>do</strong>s ravers; odiscurso consumista da sociedade capitalistaglobalizada, com a moda raver; o discursoconserva<strong>do</strong>r de classe média ao se compararao pobre - ele é infeliz e eu sou feliz. Nosdeslizamentos entre as formações discursivasfica claro o “da<strong>do</strong> social”, os diversos “eus”presentes nos discursos, em um espaço-tempoespecífico: o da cidade, o da pós-modernidade,o da tribo raver.Brandão (2002), referin<strong>do</strong>-se a Pêcheux,ressalta o processo discursivo como relaçãoideológica de classe. Referente ao aspectoformal da língua (observação da norma cultae repertório lingüístico), aos conhecimentosexplicita<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s críticas feitas aos discursosjor<strong>na</strong>lísticos sobre drogas, bem como à suaauto-representação como tribo “mais descolada”,“mais fashion”, os participantes <strong>do</strong>GF2 mostram o ideológico, <strong>na</strong>turalizan<strong>do</strong> asdiferenças. Os estereótipos e as generalizaçõescritica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mídia marcam os discursos<strong>do</strong> grupo, o qual identifica as subtribosda música eletrônica, como “cybers”, “demora<strong>do</strong>”(psicodélicos), entre outros.Os códigos, a moda e o estilo musicaldiferenciam os grupos e criam sentimento depertença. Nas festas, o senti<strong>do</strong> da droga, amúsica e o ambiente são fatores que estimulama socialidade <strong>do</strong>s grupos, em uma sociedadeglobalizada <strong>na</strong> qual as pressões são muitas.4. ConclusãoNa análise <strong>do</strong>s discursos <strong>do</strong>s jovens raversparticipantes <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos focais há umsenti<strong>do</strong> primordial <strong>do</strong> texto em relação aocontexto: o de distanciamento por oposiçãoentre jovens ravers e mídia, permean<strong>do</strong> osargumentos explícitos (por meio demarca<strong>do</strong>res linguísticos) e implícitos (pelomecanismo de silenciamento) <strong>na</strong>s falas <strong>do</strong>sgrupos. A dicotomia é reflexo <strong>do</strong> contextosociocultural, no qual as oposições e asdivisões são relações <strong>na</strong>turalizadas pelasideologias (bem e mal, pobre e rico, opressore oprimi<strong>do</strong>, bonito e feio, magro e gor<strong>do</strong>),presentes <strong>na</strong> prática discursiva <strong>do</strong>s jovensravers e da mídia.Os distanciamentos detecta<strong>do</strong>s nos argumentos<strong>do</strong>s jovens mostram as oposições edivisões entre identidade estereotipada eidentidade real; entre o conhecimento que ojor<strong>na</strong>lista deveria ter da realidade e a realidadeefetivamente reconstruída em seusdiscursos; entre o interesse das empresasjor<strong>na</strong>lísticas e o interesse <strong>do</strong>s jovens; entreo poder <strong>do</strong> discurso midiático e a fragilidade<strong>do</strong>s discursos <strong>do</strong>s jovens ravers; entre osuperficial <strong>do</strong>s discursos jor<strong>na</strong>lísticos e adensa realidade; entre a quantidade e aqualidade de informação; entre a generalização<strong>do</strong>s sujeitos e a particularidade <strong>do</strong>indivíduo; entre a simplificação <strong>do</strong>s comportamentose a complexidade <strong>do</strong> ser humano;entre o prazer de consumir drogas e osofrimento retrata<strong>do</strong> <strong>na</strong> mídia; entre a violênciaassociada às festas e a paz efetivamentesentida; entre a agressividade como marcada perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> usuário de drogas ilícitas<strong>na</strong> mídia e a afetividade buscada notranse neotribal.“O dito por ‘eles’ (a mídia) e por ‘nós’(os jovens)” apresenta algumas percepçõesdiferenciadas entre os grupos, condicio<strong>na</strong>daspela classe socioenonômica. É possívelverificar a ideologia em ação <strong>na</strong> forma comocada um se refere e percebe o outro dentroda tribo, em uma determi<strong>na</strong>da matriz culturale temporalidade. Portanto, como diz Pechêux,as classes sociais não são indiferentes àlíngua, <strong>do</strong> ponto de vista de complexidade<strong>do</strong> repertório, de <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> léxico e de seusantagonismos”– a visão da “periferia” e <strong>do</strong>s“playboys”. A habilidade <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>r emtransitar por diferentes formações ou camposdiscursivos lhe confere mais autonomia noembate diário da prática discursiva.Quanto menor o acesso aos campos ouformações discursivas (FDs), maior a submissão<strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> discurso a determi<strong>na</strong>dasFDs. No grupo focal de jovens de bairrosda periferia de São Paulo essa limitação decampo é maior. A estratégia <strong>do</strong>s argumentosé baseada em exemplos e experiênciaspessoais e no cotidiano, para dar mais autenticidadee credibilidade aos discursos.São argumentos comuns nos discursos <strong>do</strong>sjovens o não reconhecimento de si nos estereótiposde “droga<strong>do</strong>s violentos”, “droga<strong>do</strong>sinfelizes”, “droga<strong>do</strong>s inconseqüentes”, “raversdroga<strong>do</strong>s”, “ravers pobres e droga<strong>do</strong>s”.


526 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVMas se os meios de comunicação - e,portanto, os produtos jor<strong>na</strong>lísticos no contextoda indústria cultural - detêm os saberessobre os seus públicos e o <strong>do</strong>míniodiscursivo, por que o distanciamento darealidade como senti<strong>do</strong> primordial nos discursos<strong>do</strong>s jovens ravers, usuários de drogas?A racio<strong>na</strong>lidade econômica da indústriainfluencia os processos produtivos, que resultamem textos culturais massivos digeríveis(“gêneros discursivos”), para atender àsnecessidades de receptores-consumi<strong>do</strong>res. Ospadrões generalizantes, vincula<strong>do</strong>s aos valoreshegemônicos sociais e culturais, representamuma economia material e ideológica.Não obstante a lógica industrial, a imprensanão pode ser tratada como bode expiatório,pois também está imersa <strong>na</strong>s mesmas forçassociais, econômicas e culturais. Porém, ossaberes <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo em relação ao seupúblico devem superar o modelo de consumo.A superação da submissão <strong>do</strong> gênerodiscursivo jor<strong>na</strong>lístico à categoria de entretenimentodeve servir também de desafio aosprofissio<strong>na</strong>is da imprensa.De outro la<strong>do</strong>, o fato de os jovens nãose reconhecerem nos estereótipos veicula<strong>do</strong>s<strong>na</strong>s matérias jor<strong>na</strong>lísticas não significacomportamento contrário, ou diferencia<strong>do</strong>. Aose referirem aos “playboys” e aos“cybermanos”, aos pobres droga<strong>do</strong>s e infelizese aos ricos droga<strong>do</strong>s e felizes, reproduzemos mesmos discursos da mídia emrelação a eles.As negociações de senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s discursosjor<strong>na</strong>lísticos sobre drogas ocorrem a partirda prática discursiva em uma matriz culturalde urbanidade, de fluidez, de fragmentaçãode arranjos sociais e culturais, de rapidez,de tecnologia, de comunicação de massapreponderantes – uma “thíase”. Matriz emque os diversos sujeitos deslizam em espaçosconcretos e virtuais, nos quais circulamsenti<strong>do</strong>s da vida cotidia<strong>na</strong> e <strong>do</strong> institucio<strong>na</strong>l.Há momentos nos quais podem ocorrerinterações, com maior ou menor intensidades.As tribos urba<strong>na</strong>s são fenômenos <strong>do</strong>descentramento causa<strong>do</strong> nesse cenário. Nocaso da tribo raver, os códigos representammais um laço afetivo <strong>do</strong> que propriamenteum conjunto de valores em contraposiçãoaos da matriz cultural. As negociações desenti<strong>do</strong> sofrem pressões das alter<strong>na</strong>tivassociais e culturais possíveis. Portanto, <strong>na</strong>maior parte <strong>do</strong> tempo, reproduzem-se comportamentos,reproduzem-se discursos, commomentos de brechas para a criatividadeirromper <strong>na</strong> materialidade linguística, comoprática discursiva-social. As bricolages <strong>na</strong>estética rave - de som e de códigos visuais- e os hibridismos de estilos musicais, acontecen<strong>do</strong>em grande velocidade, são expressõesde recriação, de ressignificação dentrode uma estética em rearranjo constante. Osenti<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento é o afeto social. Antesda civilidade, a “socialidade”. Resistência esobrevivência.


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OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS529Conducta mediática de los a<strong>do</strong>lescentes en España y Portugal.Mo<strong>do</strong>s de consumo de rádio y e televisiónMilagros García Gajate 1Resumen:Nuestro estudio pretende conocer loshábitos de consumo de radio y televisión enlos jóvenes. No sólo interesa cuantificar elnivel de consumo de TV o de radio, sinoque el estudio se dirige, principalmente, aconocer en qué situaciones se consume cadauno de los medios, con quién se comparteel consumo y el gra<strong>do</strong> de libertad de elección,con qué otras actividades se compagi<strong>na</strong>. Estetipo de objetivos están directamenterelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s con los análisis desarrolla<strong>do</strong>sdesde la perspectiva de los Usos yGratificaciones, u<strong>na</strong> de las corrientes encomunicación más destacadas para a<strong>na</strong>lizarla conducta mediática (Rubin, 2002).El objetivo principal de este estudio esobtener los elementos necesarios para definircon precisión cómo son los oyentesa<strong>do</strong>lescentes de la radio y cómo son losespecta<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>lescentes de televisión. Paranuestro estudio, delimitamos la edad de losa<strong>do</strong>lescentes entre los 12 y los 16 años. Pordebajo de los 12 años de edad, la capacidadde decisión, la independencia podría estarmuy limitada; por encima de los 16 años lasposibilidades de intervención o influenciapodrían ser nulas. U<strong>na</strong> vez defini<strong>do</strong>s losconsumi<strong>do</strong>res de ambos medios, podremos,quizá, determi<strong>na</strong>r si alguno de ellos, o los<strong>do</strong>s son adecua<strong>do</strong>s para ser utiliza<strong>do</strong> comoinstrumentos colabora<strong>do</strong>res en la educación.Las experiencias educación-entretenimientoa través de la radio se han afianza<strong>do</strong> en losúltimos años (véase, por ejemplo, Singhal yRogers, 1999). Desde el comienzo de lainstitucio<strong>na</strong>lización de los estudios deCiencias de la Información, los medios hanteni<strong>do</strong> tres funciones esenciales: informar,formar y entretener (Lasswell, 1985). Bienes cierto que la evolución de los diferentesmedios, la aparición de nuevos formatos, hanconduci<strong>do</strong> al pre<strong>do</strong>minio de algu<strong>na</strong> de estasfunciones, quedan<strong>do</strong> casi olvidadas otras.Como se expresa en el título de esta memoria,nuestro primer objetivo es conocer los mo<strong>do</strong>sde consumo de medios, pero como pasoprevio para determi<strong>na</strong>r cuál de estos mediossería mejor herramienta para colaborar en laeducación de a<strong>do</strong>lescentes en los temas quela Logse recoge como transversales. Algunostrabajos nos abren u<strong>na</strong> expectativa favorablea la radio, como numerosos artículospublica<strong>do</strong>s en Cuadernos de Pedagogía, lostrabajos de José Mª Valls (1992), Muñoz(1994) y las investigaciones que se vinculancon la perspectiva “educación-entretenimiento”(Igartua y Rodríguez Bravo, 2002;Singhal y Rogers, 1999).Nos interesa conocer cómo, cuán<strong>do</strong>consumen radio y televisión, para llegar, noa más jóvenes, si no en mejores condicionespara que los mensajes <strong>educativo</strong>s seaneficaces.El estudio intenta, igualmente, plantear alos jóvenes otras opciones de programas, tantoen TV como en Radio; se pretende determi<strong>na</strong>rsi el consumo que realizan de ciertosprogramas viene determi<strong>na</strong><strong>do</strong> por los gustosy preferencias, o por la estricta oferta en losmedios. To<strong>do</strong> ello, orienta<strong>do</strong> al intento deutilizar este estudio como base para posterioresinvestigaciones que utilicen la radio con otrosfines, que recuperen otros fines de la radio,como el <strong>educativo</strong>, por ejemplo.Inicia<strong>do</strong> ya el siglo XXI, los medios decomunicación tradicio<strong>na</strong>les se reparten eltiempo de consumo con medios másnove<strong>do</strong>sos, sin perder, por ello, su cuota deinterés (AIMC, 2003).En las últimas décadas se han realiza<strong>do</strong>gran cantidad de estudios sobre el consumotelevisivo (Atkin, Greenberg & Baldwin,1991; Brosius, Wober, Mallory & Weimann,1992; Callejo, 1995; Hawkings, Pingreen,Bruce & Tapper, 1997, entre otros), al tiempoque los estudios sobre el consumo de radioson casi inexistentes. Esto podría interpretarse


530 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcomo u<strong>na</strong> afirmación implícita de losinvestiga<strong>do</strong>res referente a la preeminencia dela televisión sobre la radio. En las últimasdécadas, la implantación en los hogares dela TV, en todas sus posibilidades, videojuegos,Internet ha (ha supuesto) produci<strong>do</strong> unreparto del tiempo libre de los a<strong>do</strong>lescentes.A pesar de to<strong>do</strong> ello, la radio seguiríacumplien<strong>do</strong> sus funciones, seguiría tenien<strong>do</strong>su lugar entre los medios de comunicación,seguiría sien<strong>do</strong> escuchada, especialmente porlos jóvenes, como demuestran algunosestudios desarrolla<strong>do</strong>s en Francia (Kuhn,1995).Lo que resulta innegable es la mejordelimitación de los grupos consumi<strong>do</strong>res, delas franjas horarias de interés; para algunos,incluso, de los temas y conteni<strong>do</strong>s de interés.Por tanto, ya no resulta tan interesanteconocer el número de consumi<strong>do</strong>res de radioo de televisión, o las horas que pasan juntoa estos aparatos. El interés se centra endetermi<strong>na</strong>r tipos de consumi<strong>do</strong>res, hábitos enel consumo, actividades compagi<strong>na</strong>das conel consumo. Como expresa la perspectiva delos Usos y Gratificaciones a partir de Katz,Blumler y Gurevitch (1973), el objetivobásico es investigar “qué hace el individuocon los medios”. Lo importante ahora sonlos mo<strong>do</strong>s de uso de esos medios y lasmotivaciones que llevan a ese uso (Rubin2002), incluso los usos y efectos (Jensen yRosengren, 1997; Rubin, 1996,2002). En estesenti<strong>do</strong>, el presente proyecto busca a<strong>na</strong>lizarlos usos y gratificaciones asocia<strong>do</strong>s a la radiopor parte de los a<strong>do</strong>lescentes.El primer objetivo de nuestro estudio esconocer los hábitos de consumo de radio ytelevisión en los jóvenes. No sólo interesacuantificar el nivel de consumo de TV o deradio, sino que el estudio se dirige,principalmente, a conocer en qué situacionesse consume cada uno de los medios, con quiénse comparte el consumo y el gra<strong>do</strong> de libertadde elección, con qué otras actividades secompagi<strong>na</strong>. Este tipo de objetivos estándirectamente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s con los análisisdesarrolla<strong>do</strong>s desde la perspectiva de los Usosy Gratificaciones, u<strong>na</strong> de las corrientes encomunicación más destacadas para a<strong>na</strong>lizarla conducta mediática (Rubin, 2002).El objetivo principal de este estudio esobtener los elementos necesarios para definircon precisión cómo son los oyentesa<strong>do</strong>lescentes de la radio y cómo son losespecta<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>lescentes de televisión. Paranuestro estudio, delimitamos la edad de losa<strong>do</strong>lescentes entre los 12 y los 16 años. Pordebajo de los 12 años de edad, la capacidadde decisión, la independencia podría estarmuy limitada; por encima de los 16 años lasposibilidades de intervención o influenciapodrían ser nulas. U<strong>na</strong> vez defini<strong>do</strong>s losconsumi<strong>do</strong>res de ambos medios, podremos,quizá, determi<strong>na</strong>r si alguno de ellos, o los<strong>do</strong>s son adecua<strong>do</strong>s para ser utiliza<strong>do</strong> comoinstrumentos colabora<strong>do</strong>res en la educación.Las experiencias de educaciónentretenimientoa través de la radio se ha<strong>na</strong>fianza<strong>do</strong> en los últimos años (véase, porejemplo, Singhal y Rogers, 1999).Desde el comienzo de lainstitucio<strong>na</strong>lización de los estudios deCiencias de la Información, los medios hanteni<strong>do</strong> tres funciones esenciales: informar,formar y entretener (Lasswell, 1985). Bienes cierto que la evolución de los diferentesmedios, la aparición de nuevos formatos, hanconduci<strong>do</strong> al pre<strong>do</strong>minio de algu<strong>na</strong> de estasfunciones, quedan<strong>do</strong> casi olvidadas otras.Como se expresa en el título de esta memoria,nuestro primer objetivo es conocer los mo<strong>do</strong>sde consumo de medios, pero como pasoprevio para determi<strong>na</strong>r cuál de estos mediossería mejor herramienta para colaborar en laeducación de a<strong>do</strong>lescentes en los temas quela Logse recoge como transversales. Algunostrabajos nos abren u<strong>na</strong> expectativa favorablea la radio, como numerosos artículospublica<strong>do</strong>s en Cuadernos de Pedagogía, lostrabajos de José Mª Valls (1992); Muñoz(1994) y las investigaciones que se vinculancon la perspectiva “educaciónentretenimiento”(Igartua y Rodríguez Bravo,2002; Singhal y Rogers, 1999).Nos interesa conocer cómo, cuán<strong>do</strong>consumen radio y televisión, para llegar, noa más jóvenes, si no en mejores condicionespara que los mensajes <strong>educativo</strong>s seaneficaces. El estudio intenta, igualmente,plantear a los jóvenes otras opciones deprogramas, tanto en TV como en Radio; sepretende determi<strong>na</strong>r si el consumo querealizan de ciertos programas vienedetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> por los gustos y preferencias,o por la estricta oferta en los medios.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS531Aunque los primeros estudios de consumode medios se realizaron sobre la radio, prontose impuso el interés por la televisión,quedan<strong>do</strong> la radio en un segun<strong>do</strong> plano deinterés para los investiga<strong>do</strong>res. Este estudioplantea la recuperación del interés en losestudios sobre radio, tenien<strong>do</strong> en cuenta queel propio medio sigue vivo y presente en lasociedad. También intenta plantear unestudio más orienta<strong>do</strong> a los mo<strong>do</strong>s deconsumir los medios (Rubin, 2002). Nointeresa cuántos son los consumi<strong>do</strong>res, si nocómo son, en qué condiciones consumen, elgra<strong>do</strong> de actividad de las audiencias hacialos medios (Rubin 1996, 2002)To<strong>do</strong> ello, orienta<strong>do</strong> al intento de utilizareste estudio como base para posterioresinvestigaciones que utilicen la radio con otrosfines, que recuperen otros fines de la radio,como el <strong>educativo</strong>, por ejemplo. De estemo<strong>do</strong>, el análisis de la conducta mediáticade los a<strong>do</strong>lescentes de España y Portugal,permitirá inferir y enumerar las funcionesbásicas de la radio y la TV, sentan<strong>do</strong> las basespara un adecua<strong>do</strong> uso <strong>educativo</strong> de dichosmedios.Méto<strong>do</strong>Se ha elegi<strong>do</strong> u<strong>na</strong> meto<strong>do</strong>logía de cortecuantitativo, utilizan<strong>do</strong> como soporte de lamisma el cuestio<strong>na</strong>rio estructura<strong>do</strong>. Esteacercamiento meto<strong>do</strong>lógico es característicode la perspectiva de los Usos yGratificaciones, en la cual se anclateóricamente el presente proyecto. De estemo<strong>do</strong> se elaborará un cuestio<strong>na</strong>rio con elque aproximarse a los hábitos de consumode medios de comunicación y a<strong>na</strong>lizar laconducta mediática, centra<strong>do</strong> en Radio y TV.Se incidirá, fundamentalmente, en los mo<strong>do</strong>sy costumbres de consumo, actividadesrealizadas durante el consumo, y no tanto enla cantidad de horas de consumo. Para laelaboración del cuestio<strong>na</strong>rio se tomarán comoreferencia los trabajos previos sobre este tema(por ejemplo, Abelman, Atkin y Rand, 1997;Himmelweit, Swift y Jaeger, 1980; Igartua,Muñiz, Ele<strong>na</strong> y Ele<strong>na</strong>, 2003; Middleham yWober, 1997; Vicent y Basil, 1997).Los datos se a<strong>na</strong>lizan estadísticamente pormedio del programa SPSS. Se establece<strong>na</strong>nálisis de tipo descriptivo e inferencial(de tipo bivaria<strong>do</strong> y mutivaria<strong>do</strong>). Enparticular, se utilizará el análisis factorialcomo medio para evaluar la <strong>na</strong>turalezamultidimensio<strong>na</strong>l de las preferencias ymotivaciones de consumo de la radio yla TV entre los encuesta<strong>do</strong>s. Esta estrategiade análisis es la que ha permiti<strong>do</strong> a autorescomo A. M. Rubin identificar patrones yusos de los medios que se asocian amodalidades de consumo mediático. Enparticular, Rubin (1984) ha identifica<strong>do</strong>con respecto a la TV un uso ritualistafrente a un uso instrumental, y ambos seasocian a patrones de comportamientomediático claramente diferencia<strong>do</strong>s.Fi<strong>na</strong>lmente, se buscará crear o identificartipologías del consumo mediático paracomprender cómo (y por qué) losa<strong>do</strong>lescentes consumen TV y radio.El cuestio<strong>na</strong>rio se ha aplica<strong>do</strong> en un centroespañol, ubica<strong>do</strong> en Pedro Muñoz (CiudadReal), y en <strong>do</strong>s centros portugueses, deCovilhã. La población de estudio esta formadapor alumnos con edades comprendidas entrelos 12 y los 16 años.El lista<strong>do</strong> de preguntas se agrupa en cuatrogrades bloques. El primero recoge peguntascomunes al consumo de ambos medios. U<strong>na</strong>segunda parte especifica hábitos con respectoa la radio; así como el siguiente bloque lohace con respecto a la televisión. El últimobloque son los datos sociodemográficos. Eneste último aparta<strong>do</strong> se incluye, además dela edad, el sexo, el curso y el centro, <strong>do</strong>sdatos que pueden resultar de relevancia enrelación con algu<strong>na</strong>s de las variables; estosdatos son el número de hermanos del sujeto,y la convivencia con algún otro pariente, aparte de la propia unidad familiar.Resulta<strong>do</strong>s y conclusionesAunque los datos son aún provisio<strong>na</strong>les,podemos avanzar que la televisión es el mediode mayor preferencia, de manera muy distantecon respecto a la radio entre los chicos, yno tan distante en las chicas. Como vemosen el gráfico, la preferencia por la televisióntiene un gra<strong>do</strong> semejante en ambos países,pero la radio muestra u<strong>na</strong> preferencia mayoren Portugal que en España.


532 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVLa frecuencia del consumo de televisiónes también sensiblemente mayor a lafrecuencia del consumo de radio. Resultanextraños los casos en los que el consumo detelevisión no es diario, y no es extraño queno sea diario el consumo de radio. Elconsumo de radio y televisión aumenta,lógicamente, durante el fin de sema<strong>na</strong> e<strong>na</strong>mbos sexos, y son las mujeres las quemuestran un mayor consumo diario de radio.Por países, vemos que el número de horasde consumo de televisión, tanto a diario comoen fin de sema<strong>na</strong>, se encuentra equilibra<strong>do</strong>en ambos países, sien<strong>do</strong> mayor el tiempo deconsumo de radio en Portugal.A pesar de consumir mayor número dehoras de televisión que de radio, el gra<strong>do</strong>de libertad a la hora de elegir lo que seconsume es considerablemente menor en latelevisión que en la radio. Si cruzamos elgra<strong>do</strong> de libertad de elección con edades,se aprecia u<strong>na</strong> curiosa pérdida de libertadde elección entre los 14 y 15 años conrespecto al consumo de televisión. Porpaíses, parece mostrarse u<strong>na</strong> pequeñadiferencia, dan<strong>do</strong> un mayor gra<strong>do</strong> delibertad de elección en Portugal que enEspaña. Las mujeres parecen tener másposibilidades de elegir lo que escuchan enla radio, mientras que el man<strong>do</strong> a distanciadel televisor está controla<strong>do</strong> principalmentepor los varones.Los lugares de consumo de televisiónestán restringi<strong>do</strong>s al salón y la coci<strong>na</strong>, enocasiones. Sin embargo, el consumo de radiose reparte más entre los cuatro espaciospropuestos (habitación, coci<strong>na</strong>, baño y salón),si bien la habitación es el lugar de mayorconsumo de radio.Como hemos indica<strong>do</strong> en un principio,el interés de este estudio no es tanto conocerla cantidad de horas de consumo de cada unode los medios, si no obtener u<strong>na</strong> aproximació<strong>na</strong> los mo<strong>do</strong>s de consumo, a la relación delos jóvenes con cada uno de estos medios;to<strong>do</strong> ello, orienta<strong>do</strong> a recuperar algu<strong>na</strong> delas funciones de los medios, como laeducativa. Por ello, los datos que se ofrece<strong>na</strong> continuación resultan de mayor interés.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS533los medios, lo que nos puede mostrar otroaspecto de la relación de los jóvenes con estosmedios. En principio, las chicas se muestranmás activas que los chicos junto al consumode radio y televisión. Hay que destacar queel consumo de televisión absorbe toda laatención en la mayoría de los casos, conescasa diferencia entre sexos. Por el contrario,la radio se escucha, casi siempre, hacien<strong>do</strong>otras cosas.El consumo de radio es, fundamentalmente,solitario, aunque puedecompartirse con amigos o hermanos, e<strong>na</strong>lgu<strong>na</strong>s ocasiones. Sin embargo, la televisiónes un medio más comparti<strong>do</strong>; raramente seconsume en solitario cuan<strong>do</strong> existen máshermanos en la familia. Vemos estosresulta<strong>do</strong>s, agrupa<strong>do</strong>s por países.La radio es la principal compañera de lamayoría de los jóvenes, sobre to<strong>do</strong> lasmujeres, a la hora de hacer los deberes declase o estudiar. Las mujeres comparten laescucha de radio también con las tareas dela casa; lo que no ocurre en el caso de loshombres, aunque no tenemos datos queindiquen si es que los chicos realizan estetipo de tareas. También la televisión comparteel tiempo de los deberes de clase, en unporcentaje especialmente eleva<strong>do</strong> en lasmujeres. En ambos sexos, se disfruta de estemedio en el momento de las comidas. Vemoslos resulta<strong>do</strong>s agrupa<strong>do</strong>s por países y porsexos.Otro aparta<strong>do</strong> importante en este estudioes el que se refiere a las actividades que serealizan junto al consumo de cada uno de


534 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEn cuanto a los programas másescucha<strong>do</strong>s en la radio, tenien<strong>do</strong> encuenta las programaciones radiofónicas,se confirmaba que los musicales son losmás escucha<strong>do</strong>s por ambos sexos; si bienlos hombres los comparten con losdeportivos. Por países, en Portugal seescucha, casi exclusivamente música;mientras que en España, si bien losmusicales son los programas másescucha<strong>do</strong>s, también tienen presenciasignificativa otros conteni<strong>do</strong>s.Por sexos, parece que los varonesmuestran mayor inquietud por otrosconteni<strong>do</strong>s que ahora no se ofertan. E<strong>na</strong>mbos sexos, se interesan, primero porprogramas de humor, segui<strong>do</strong>s por losconcursos y las historias o relatos. Sonlos chicos los que expresan su interés porlos programas de sexo, sien<strong>do</strong>prácticamente insignificante esa propuestaen las chicas.La poca variedad en la ofertaradiofónica, especialmente para jóvenes,nos hizo incluir otras posibilidades deescucha, proponien<strong>do</strong> otros tipos deprogramas o conteni<strong>do</strong>s que les gustaríaescuchar. Vemos, por países, que en Españase muestra un mayor deseo por escucharotros conteni<strong>do</strong>s, destacan<strong>do</strong> el humor, losrelatos y los concursos; destacar tambiénla propuesta de programas sobre sexo, queno aparece en Portugal.En televisión, los programas másvistos son las series. En España, elconsumo de series está muy por encimadel de otros programas, estan<strong>do</strong> segui<strong>do</strong>spor dibujos anima<strong>do</strong>s, concursos,musicales y películas. En Portugal, sereparte más homogéneamente entre lasseries, las películas, los musicales y losinformativos.Por sexos, podemos observar que lasseries están seguidas por dibujosanima<strong>do</strong>s y deportivos, en el caso de loschicos. En el caso de las chicas, son los


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS535Por países, en Portugal el humor estásegui<strong>do</strong> por culturales y concursos,fundamentalmente. En España, el humormarca diferencias con los concursos, lashistorias, los <strong>educativo</strong>s, y más de lo queya hay. Podemos apreciar, que los televidentesportugueses solicitan con menor frecuenciaotros conteni<strong>do</strong>s de lo que lo hacen lostelespecta<strong>do</strong>res españoles.musicales, las películas y las telenovelas lasque siguen a las series. En cualquiera de loscasos, las series se diferencian sustancialmentedel resto de programas.En cuanto a lo que les gustaría ver y notienen, los chicos siguen expresan<strong>do</strong> u<strong>na</strong> mayorinquietud que las chicas por otros tipos deprogramas. El humor es el tema principal,segui<strong>do</strong> de cerca por las demás propuestas. Escuriosa la solicitud de más cantidad de losprogramas que ya existen y consumenhabitualmente. Las chicas, más conformistas conlos programas que ya existen, solicitan conteni<strong>do</strong>sde humor y concursos, principalmente.De esta forma, si tuviéramos que diseñarun programa de televisión para jóvenes entre12 y 16 años, nos encontraríamos con unpúblico bastante conformista, al que secontentaría con series, concursos y humor.Sin embargo, si pretendiéramos diseñarun programa radiofónico, deberíamos teneren cuenta un perfil de oyente que se atuviesea las siguientes características:• El consumo de radio resultasustancialmente importante en losjóvenes. Los oyentes de radio sonmayoritariamente mujeres, de 14 a 15años.• Disfrutan de la radio en solitario, ensu habitación. Por ello, tienen un muyalto gra<strong>do</strong> de libertad en la elecciónde lo que escuchan.• La escucha de los programasradiofónicos se realiza, generalmente,mientras hacen los deberes o estudian,pero también limpian<strong>do</strong>, aseán<strong>do</strong>se, etc.• Los jóvenes escuchan, casiexclusivamente música, pero lesgustaría oír programas de humor, si sonchicos; y relatos y programas culturales,si son chicas.


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538 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS539Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociaisRosa Cabecinhas 1“The pictures inside the heads of thesehuman beings, the pictures ofthemselves, of others, of their needs,purposes, and relationship, are theirpublic opinions. Those pictures whichare acted upon by groups of people,or by individuals acting in the <strong>na</strong>meof groups, are Public Opinion withcapital letters”.Walter Lippmann, 19221. IntroduçãoEm 1922, o jor<strong>na</strong>lista e a<strong>na</strong>lista políticoWalter Lippmann publica Public Opinion,uma obra que a<strong>na</strong>lisa como as pessoasconstroem as suas representações da realidadesocial e de que forma essas representaçõessão afectadas tanto por factores internoscomo externos. Segun<strong>do</strong> Lippmann,as ‘representações’ – the pictures inside theheads – funcio<strong>na</strong>m como ‘mapas’ guian<strong>do</strong>o indivíduo e ajudan<strong>do</strong>-o a lidar com informaçãocomplexa, mas também são ‘defesas’que permitem ao indivíduo proteger os seusvalores, os seus interesses, as suas ideologias,em suma, a sua posição numa rede derelações sociais. As representações não sãoo espelho da realidade, mas sim versões hipersimplificadasda realidade.As representações nunca são neutras, poisdependem mais <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que <strong>do</strong>objecto, já que este define primeiro e vêdepois:“For most part we <strong>do</strong> not first see,and then define, we define first andthen see. In the great blooming,buzzing confusion of the outer worldwe pick out what our culture hasalready defined for us, and we tendto perceive that which we havepicked out in the form stereotypedfor us by our culture” (Lippmann,1922/1961: 81)Lippmann debruça-se sobre a forma comoa cultura nos fornece os elementos para‘recortar’ a realidade em elementos significativos,conferin<strong>do</strong>-lhe nitidez, distintividade,consistência e estabilidade de significa<strong>do</strong>.O autor reflecte sobre as limitaçõeshuma<strong>na</strong>s no processamento da informação esobre a forma como os preconceitos introduzemenviesamentos <strong>na</strong> selecção, interpretação,memorização, recuperação e uso dainformação. Neste senti<strong>do</strong>, podemos considerarque esta obra de Lippmann constituium primeiro esboço de uma área de estu<strong>do</strong>hoje <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte no seio da psicologia social:a cognição social. 22. Imagens e clivagens: as funções <strong>do</strong>sestereótipos sociaisLippmann (1992/1961) é considera<strong>do</strong> ofunda<strong>do</strong>r da conceptualização contemporânea<strong>do</strong>s estereótipos e <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das suas funçõespsicossociais (e.g., Ashmore e DelBoca,1981; Marques e Paéz, 2000). O termo‘estereótipo’ já existia desde 1798, mas o seuuso corrente estava reserva<strong>do</strong> à tipografia,onde desig<strong>na</strong>va uma chapa de metal utilizadapara produzir cópias repetidas <strong>do</strong> mesmotexto (Stroebe e Insko, 1989). O termotambém já era usa<strong>do</strong> de forma esporádica <strong>na</strong>sciências sociais para denotar algo ‘fixo’ e‘rígi<strong>do</strong>’, o que se prende com a origemetimológica da palavra: stereo que, em grego,significa ‘sóli<strong>do</strong>’, ‘firme’.Por a<strong>na</strong>logia, Lippmann salientou a ‘rigidez’das imagens mentais, especialmenteaquelas que dizem respeito a grupos sociaiscom os quais temos pouco ou nenhumcontacto directo. A visão <strong>do</strong>s estereótiposcomo algo rígi<strong>do</strong> caracterizou muitos <strong>do</strong>sestu<strong>do</strong>s posteriores sobre esta temática. Noentanto, o autor não descurou a possibilidadede mudança <strong>do</strong>s estereótipos e salientouo carácter criativo da mente huma<strong>na</strong>.


540 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVLippmann conceptualizou os estereótiposcomo resultantes de um processo ‘normal’e ‘inevitável’, inerente à forma como processamosa informação, mas a maior parte<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s empíricos realiza<strong>do</strong>s até aos anoscinquenta caracterizaram os estereótiposcomo um tipo inferior de pensamento, situan<strong>do</strong>-osno <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> ‘patológico’: estesseriam projecções de fantasias indesejáveis,deslocamentos de tendências agressivas paraos membros de outros grupos, ou subprodutosde síndromes de perso<strong>na</strong>lidade associadas aoautoritarismo e intolerância (e.g., A<strong>do</strong>rno,Frenkel-Brunswick, Levison e Sanford, 1950;Rockeach, 1948). Assim, algumas das ideiasinova<strong>do</strong>ras de Lippmann foram negligenciadaspela grande maioria das investigaçõesefectuadas <strong>na</strong>s três décadas seguintes sobreestereótipos, só sen<strong>do</strong> recuperadas e amplamentedesenvolvidas a partir <strong>do</strong>s trabalhosde Bruner, Allport e Tajfel.Lippmann (1922/1961) define os estereótiposcomo imagens mentais que se interpõem,sob a forma de enviesamento, entreo indivíduo e a realidade. Segun<strong>do</strong> o autor,os estereótipos formam-se a partir <strong>do</strong> sistemade valores <strong>do</strong> indivíduo, ten<strong>do</strong> comofunção a organização e estruturação da realidade:“For the real environment is altogethertoo big, too complex, and too fleetingfor direct acquaintance. We are notequipped to deal with so muchsubtlety, so much variety, so manypermutations and combi<strong>na</strong>tions. Andalthough we have to act in thatenvironment, we have to reconstructit on a simpler model before we canma<strong>na</strong>ge with it. To traverse the worldmen must have maps of the world”(Lippmann, 1922/1961: 16)Interrogan<strong>do</strong>-se sobre os factores quecontribuiriam para o que “the pictures insideso often misleads men in their dealing withthe world outside”, Lippmann aponta limitaçõesexter<strong>na</strong>s – a censura e a falta decontacto directo – e limitações inter<strong>na</strong>s: “thistrickle of messages from the outside isaffected by the stored up images, thepreconception, and the prejudices whichinterpret, fill them out, and in their turnpowerfully direct the play of our attention,and our vision itself” (1922/1961: 16).Lippmann salienta o papel activo <strong>do</strong>indivíduo <strong>na</strong> construção <strong>do</strong>s estereótipos quesão sempre ‘selectivos’ e ‘parciais’ (1922/1961: 80). Na sua análise encontramos elementossobre as funções psicossociais <strong>do</strong>sestereótipos, que viriam a ser desenvolvidase estudadas empiricamente algumas décadasdepois por Allport (1954/1979), que ligaexplicitamente os estereótipos ao processode categorização, e por Talfel (1969) que,pela primeira vez, explicita as suas funçõescognitivas e sociais, integran<strong>do</strong>-as nummodelo explicativo das relações intergrupais.Relativamente às funções cognitivas,Lippmann (1922/1961: 81-95) salienta a‘economia de esforço’, as necessidades de‘definição’, ‘distinção’, ‘consistência’ e‘estabilidade’. No que respeita às funçõessociais, o autor enfatiza o papel <strong>do</strong>s estereótipos<strong>na</strong> ‘defesa’ <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong> indivíduo:“The systems of stereotypes may bethe core of our perso<strong>na</strong>l tradition, thedefenses of our position in society.(…) In that world people and thingshave their well-known places, and <strong>do</strong>certain expected things. We feel athome there. We fit in. We aremembers” (Lippmann, 1922/1961:95).Um <strong>do</strong>s motivos que explicaria o carácter‘fixo’ <strong>do</strong>s estereótipos seria precisamentea necessidade <strong>do</strong> indivíduo protegera sua definição da realidade:“any disturbance of the stereotypesseems like an attack upon thefoundations of the universe. It is a<strong>na</strong>ttack upon the foundations of ouruniverse, and, where big things areat stake, we <strong>do</strong> not readily admit thatthere is any distinction between ouruniverse and the universe. (…) Apattern of stereotypes is not neutral.(…) It is the guarantee of our selfrespect;it is the projection upon theworld of our own sense of our ownvalue, our own position and our ownrights. The stereotypes are, therefore,


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS541highly charged with the feelings thatare attached to them. They are thefortress of our tradition, and behindits defense we can continue to feelourselves safe in the position weoccupy” (Lippmann, 1922/1961: 96).É precisamente pelo seu papel <strong>na</strong> manutenção<strong>do</strong> sistema de valores <strong>do</strong> indivíduoe <strong>do</strong> statu quo, que os estereótipos dificilmentesão abala<strong>do</strong>s por informação incongruentecom os mesmos.“There is nothing so obdurate toeducation or to criticism as thestereotype. It stamps itself upon theevidence in the very act of securingthe evidence. (…) If what we arelooking at corresponds successfullywith what we anticipated, thestereotype is reinforced for the future(pp.98-99). (...) For when a systemof stereotypes is well fixed, ourattention is called to those facts whichsupport it, and diverted from thosewhich contradict” (Lippmann, 1922/1961: 119).Neste senti<strong>do</strong>, Lippmann faz referênciaao que posteriormente se veio a desig<strong>na</strong>rcomo ‘profecias auto-confirmatorias’ (Merton,1949/1968), amplamente demonstradas pelosestu<strong>do</strong>s em cognição social (e.g., Hamilton,1979). Quan<strong>do</strong> um membro de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>grupo age de forma contraditória ao estereótipo,Lippmann considera que, <strong>na</strong> maiorparte das vezes, este membro passa a ser vistocomo uma excepção, manten<strong>do</strong>-se o estereótipointacto. Este só é abala<strong>do</strong> se o indivíduoainda tiver alguma flexibilidade deespírito ou se a informação incongruente fordemasia<strong>do</strong> impressio<strong>na</strong>nte para ser ignorada:“If the experience contradicts thestereotype, one of two things happens.If the man is no longer plastic, or ifsome powerful interests make it highlyinconvenient to rearrange hisstereotypes, he pooh-poohs thecontradiction as an exception thatproves the rule, discredits the witness,finds a flaw somewhere, and ma<strong>na</strong>gesto forget it. But if he is still curiousand openminded, the novelty is takeninto the picture, and allowed to modifyit. Sometimes, if the incident isstriking enough, and if he has felt ageneral discomfort with hisestablished scheme, he may be shakento such an extent as to distrust allaccepted ways of looking at life”(Lippmann, 1922/1961: 100).Estes aspectos viriam a ser estuda<strong>do</strong>salgumas décadas mais tarde por Allport(1954/1979) e amplamente demonstra<strong>do</strong>s porestu<strong>do</strong>s em cognição social. O autor salientao carácter rígi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s estereótipos e o factode estes constituírem imagens demasia<strong>do</strong>‘generalizadas’ e ‘exageradas’ que descurama variabilidade <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong>s outrosgrupos e negam a sua individualidade(Lippmann, 1922/1961: 116).Este aspecto foi empiricamente demonstra<strong>do</strong>pelos estu<strong>do</strong>s sobre o efeito de acentuação– a tendência para exagerar assemelhanças entre os membros da mesmacategoria social e para acentuar as diferençasentre membros de categorias diferentes (Tajfele Wilkes, 1963) – e sobre o efeito dehomogeneidade <strong>do</strong> exogrupo – a tendênciade perceber o grupo <strong>do</strong>s outros como maishomogéneo <strong>do</strong> que o grupo de pertença(Quattrone e Jones, 1980). 3Lippmann debruçou-se ainda sobre opoder <strong>do</strong>s ‘rótulos’ e os seus efeitos nefastos<strong>na</strong> percepção das pessoas: “They are tooempty, too abstract, too inhuman” (1922/1961: 160). Na perspectiva <strong>do</strong> autor, só umalonga educação crítica permitiria aos indivíduostomarem consciência <strong>do</strong> carácterdiferi<strong>do</strong> e subjectivo da respectiva apreensãoda realidade social (p.126). Embora salientan<strong>do</strong>o papel da educação – “the supremeremedy”(p.408) – Lippmann considera osestereótipos inevitáveis:“Yet a people without prejudice, apeople with altogether neutral vision,is so unthinkable in any civilizationof which it is useful to think, that noscheme of education could be basedupon that ideal. Prejudice can bedetected, discounted, and refined, butso long as finite men must compressinto a short schooling preparation for


542 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdealing with a vast civilization, theymust carry pictures of it around withthem, and have prejudice” (1922/1961: 120).Esta concepção sobre a inevitabilidade <strong>do</strong>sestereótipos, porque inerentes ao funcio<strong>na</strong>mentocognitivo normal, só começou a sersistematicamente a<strong>na</strong>lisada pelas investigaçõesda Nova Vaga no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s estereótipos(e.g., Bruner, 1957). Outros <strong>do</strong>s aspectosenfatiza<strong>do</strong>s por Lippmann foi o facto <strong>do</strong>senso comum, <strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong>s casos, nãoprocurar infirmar as suas hipóteses, mas simconfirmá-las: “in the codes that comeunexamined from the past or bubble up fromthe caverns of the mind, the conception isnot taken as an hypothesis demanding proofor contradiction, but as a fiction acceptedwithout questions” (1922/1961: 122-123).A delimitação das condições em que osindivíduos enveredam pela confirmaçãoautomática das hipóteses ou em que encetamprocessos de infirmação das mesmas constituium aspecto central <strong>na</strong> pesquisa actualsobre os estereótipos (e.g., Snyder, 1981).Lippmann considera que as pessoas ‘ignorantes’têm maior tendência para efectuaremestas generalizações acriticamente <strong>do</strong>que as ‘cultas’, mas recorda que to<strong>do</strong>spossuímos estereótipos, uma vez que“inevitably our opinion cover a bigger space,a longer reach of time, a greater number ofthings, than we can directly observe” (1922/1961: 79). To<strong>do</strong>s os seres humanos são comoos prisioneiros da caver<strong>na</strong> de que nos falaPlatão, no Sétimo Livro da A República.3. Imagens a Preto e Branco: O poder <strong>do</strong>sestereótipos sociaisO estu<strong>do</strong> empírico <strong>do</strong>s estereótipos começoupouco depois da publicação da obrade Lippmann. Ainda <strong>na</strong> década de vinte,fortemente influencia<strong>do</strong> pela definição <strong>do</strong>sestereótipos como ‘pictures inside our heads’,Rice (1926-1927; referi<strong>do</strong> por Oakes, Haslame Turner, 1994) realizou um estu<strong>do</strong> em queapresentou aos participantes uma série defotografias de pessoas pertencentes a diferentesgrupos sociais. Estes efectuaram facilmentecorrespondências entre as fotografiase os ‘social types’ e procederam aatribuições de traços de perso<strong>na</strong>lidade, basean<strong>do</strong>-seneste processo de correspondência.Esta técnica não teve, contu<strong>do</strong>, grandesucesso <strong>na</strong> altura, só vin<strong>do</strong> a ser recuperadamuito mais tarde (Leyens et al., 1994).Durante as primeiras décadas <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><strong>do</strong>s estereótipos, a técnica mais utilizada foia lista de adjectivos (Katz e Braly, 1993).Antes de nos referirmos aos estu<strong>do</strong>s destesautores, parece-nos necessário abrir um breveparêntese a propósito de alguns estu<strong>do</strong>sclássicos sobre discrimi<strong>na</strong>ção social realiza<strong>do</strong>sno âmbito <strong>do</strong> modelo das atitudes.Numa época caracterizada por um grandefluxo migratório de grupos de origem asiáticae europeia para os EUA, Bogardus(1928) estu<strong>do</strong>u as ‘atitudes raciais’ <strong>do</strong>samericanos a partir de uma Escala de DistânciaSocial. Os participantes (americanosbrancos) deveriam indicar as suas atitudesface a diversos grupos raciais, étnicos ereligiosos (por exemplo: franceses, indianos,judeus, chineses, ingleses, negros, etc.), numaescala de sete pontos, orde<strong>na</strong><strong>do</strong>s da menordistância à maior distância social: ‘casariacom um membro deste grupo’; ‘aceitariacomo amigo íntimo’; ‘aceitaria como vizinho<strong>do</strong> la<strong>do</strong>’; ‘aceitaria como colega deescritório’; ‘aceitaria como conheci<strong>do</strong>’; ‘ape<strong>na</strong>scomo turista no país’; ‘excluí-los-ia <strong>do</strong>país’ (Lima, 1993/2000: 198).O estu<strong>do</strong> revelou que os participantesrejeitavam, sobretu<strong>do</strong>, os grupos de origemasiática e africa<strong>na</strong>, preferin<strong>do</strong> os imigrantesde origem europeia, principalmente os anglosaxónicose os nórdicos. Esta hierarquização<strong>do</strong>s grupos estava em perfeita consonânciacom os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ‘racismo científico’ realiza<strong>do</strong>sno século XIX e início <strong>do</strong> séculoXX, testemunhan<strong>do</strong> o carácter normativo <strong>do</strong>racismo nesse perío<strong>do</strong> nos EUA e <strong>na</strong> Europa.No início da década de quarenta, Hartleyefectuou um estu<strong>do</strong> sobre o preconceito emrelação a 49 grupos-alvo utilizan<strong>do</strong> a escalade Bogardus. Para além <strong>do</strong>s grupos-alvopresentes no estu<strong>do</strong> precedente, Hartley averiguouo preconceito em relação a grupospolíticos (<strong>na</strong>zis, socialistas, comunistas, etc.)e a três grupos fictícios: Da<strong>na</strong>rean, Pireneane Wallonian (1946/1969: 5).Os resulta<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res de maior distânciasocial foram obti<strong>do</strong>s pelos grupospolíticos “extremistas” (<strong>na</strong>zis, fascistas e


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS543comunistas), logo segui<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s grupos étnicosminoritários – judeus, negros, turcos,árabes, chineses, hindus, mexicanos, imigrantesda Europa de Leste (romenos, russos,lituânios, etc.), e imigrantes da EuropaMediterrânica (gregos, italianos e portugueses).Mais uma vez, os imigrantes anglosaxónicose nórdicos (irlandeses, ingleses,alemães, di<strong>na</strong>marqueses, etc.) obtiveramresulta<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res de menor distânciasocial, e o grupo de pertença foi o único aocupar o topo da escala.O aspecto mais curioso deste estu<strong>do</strong> éque os três grupos fictícios obtiveram resulta<strong>do</strong>sidênticos aos <strong>do</strong>s grupos étnicos ‘indesejáveis’,indica<strong>do</strong>res de grande distânciasocial, isto é, a simples evocação de um grupodesconheci<strong>do</strong>, logo minoritário e eventualmenteperigoso, levou os participantes arejeitar esses grupos. Estes resulta<strong>do</strong>s demonstramque o preconceito não está directamenteliga<strong>do</strong> ao nível de conhecimento <strong>do</strong>sgrupos-alvo em causa e são indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>carácter normativo da discrimi<strong>na</strong>ção socialnesta época, já que os participantes nãohesitaram em discrimi<strong>na</strong>r com base numsimples rótulo evocativo de minoria étnica.No início <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das atitudes, estavaimplícita a consonância entre atitudes ecomportamentos, pressupon<strong>do</strong>-se que asatitudes eram boas preditoras <strong>do</strong> comportamento.No entanto, o poder preditivo dasatitudes, avaliadas por questionários, foiquestio<strong>na</strong><strong>do</strong> por LaPiere, num estu<strong>do</strong> clássicosobre preconceito racial.LaPiere, um psicólogo social americanobranco, viajou pelos EUA acompanha<strong>do</strong> porum casal de chineses, bem pareci<strong>do</strong>s e bemvesti<strong>do</strong>s, muito sorridentes e com um “inglêssem pronúncia” (1934: 232). O autor foianotan<strong>do</strong> as reacções <strong>do</strong>s funcionários <strong>do</strong>sdiversos estabelecimentos hoteleiros. Nestaviagem foram recebi<strong>do</strong>s em 66 hotéis e em184 restaurantes e cafés, ten<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s sofri<strong>do</strong>uma recusa num hotel. Algum tempodepois foi enviada uma carta a cada um destesestabelecimentos, perguntan<strong>do</strong> se aceitariamchineses como clientes. Das respostas recebidas,92% eram negativas, ten<strong>do</strong> as restantesafirma<strong>do</strong> que dependeria das circunstâncias.Estes resulta<strong>do</strong>s mostraram que é possívelhaver uma manifestação de tolerância aonível comportamental e, simultaneamente,uma expressão de intolerância ao nívelatitudi<strong>na</strong>l, pelo que foram interpreta<strong>do</strong>s comoreflectin<strong>do</strong> uma inconsistência entre atitudese comportamentos (Lima, 1993/2000). Paraalém da importância deste aspecto, interessanossalientar outro: este estu<strong>do</strong> demonstraclaramente o carácter normativo da discrimi<strong>na</strong>çãoracial nos EUA nos anos 30. Nestaaltura, havia um forte preconceito contra oschineses, sen<strong>do</strong> comum os restaurantes e lojasterem uma placa à porta com a seguinteinscrição: “É proibida a entrada a cães e achineses”.A discrepância entre atitudes e comportamentosestá bem ilustrada empiricamentepor réplicas <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de LaPierre. Porexemplo, Kutner, Wilkins e Yarrow (1952)replicaram este estu<strong>do</strong> de LaPiere usan<strong>do</strong>como grupo-alvo os negros, ten<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>resulta<strong>do</strong>s idênticos. De referir, no entanto,que o estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> com três jovens,duas brancas e uma negra, “bem vestidase bem educadas” (p.649). Assim, tanto nesteestu<strong>do</strong> como no anterior, o estatuto socialpercebi<strong>do</strong> das pessoas-alvo poderá ter ti<strong>do</strong>forte impacto nos resulta<strong>do</strong>s.Apesar das críticas iniciais ao méto<strong>do</strong> dequestionário, esse foi, sem dúvida, o maispopular no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s estereótipos, pelomenos até à ‘revolução cognitiva’. O méto<strong>do</strong>mais utiliza<strong>do</strong> foi o da ‘lista de adjectivos’,desenvolvi<strong>do</strong> por Katz e Braly (1933; 1935).Os autores construíram uma lista de 84 traçosde perso<strong>na</strong>lidade, seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a partir daimprensa e da literatura da época e/ou forneci<strong>do</strong>spor uma amostra de 100 estudantesuniversitários (americanos brancos) <strong>na</strong>sdescrições de dez grupos: alemães, americanos,chineses, ingleses, irlandeses, italianos,japoneses, judeus, negros e turcos.Katz e Braly (1933) pediram a uma outraamostra de 100 estudantes universitários paraseleccio<strong>na</strong>rem os cinco traços mais típicosde cada um <strong>do</strong>s dez grupos-alvo referi<strong>do</strong>s.Não surpreendentemente para a época, os‘americanos’ (referin<strong>do</strong>-se aos americanosbrancos) foram considera<strong>do</strong>s empreende<strong>do</strong>res,inteligentes, materialistas, ambiciosos eprogressistas, enquanto os ‘negros’ foramconsidera<strong>do</strong>s supersticiosos, preguiçosos,despreocupa<strong>do</strong>s, ignorantes e musicais. Assim,ao grupo de pertença (americanos) foram


544 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVatribuídas características positivas,conso<strong>na</strong>ntes com o chama<strong>do</strong> ‘sonho americano’,enquanto que aos ‘negros’ foramatribuídas características negativas quecontrariavam os valores <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes da sociedadeamerica<strong>na</strong>, justifican<strong>do</strong> assim a suaexclusão social. Outro aspecto importanteressalta <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s: o estereótipo sobreos ‘negros’ é muito mais uniforme <strong>do</strong> queo estereótipo sobre os ‘americanos’, sen<strong>do</strong>relativamente a este grupo que existe menorconsenso entre os participantes. Assim, maisuma vez se verifica que o eleva<strong>do</strong> consenso<strong>do</strong>s estereótipos não está liga<strong>do</strong> ao maiornível de contacto com os grupos-alvo emcausa, já que os estudantes em questão tinhampouco ou nenhum contacto directo comos grupos sobre os quais havia maior consenso.Katz e Braly (1933; 1935) consideramos estereótipos como um fenómenosociocultural. Para os autores, os estereótipossão crenças transmitidas pelos agentesde socialização (família, escola, meios decomunicação social, etc.), o que explica oconsenso <strong>do</strong>s estereótipos face aos diversosgrupos sociais, a sua independência <strong>do</strong>conhecimento ‘real’ <strong>do</strong>s membros dessesgrupos e a sua dependência <strong>do</strong> contextohistórico e cultural.Uma réplica <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de Katz e Braly,realizada no início <strong>do</strong>s anos cinquenta, <strong>na</strong>mesma universidade (Gilbert, 1951), indicavaum declínio <strong>na</strong> consistência <strong>do</strong>s estereótiposface a certas minorias, nomeadamenteos ‘negros’ e os ‘judeus’. Este “fadingeffect” foi atribuí<strong>do</strong> à difusão de imagensmais tolerantes desses grupos nos mass media,a uma maior popularidade das ciênciassociais entre os estudantes e ainda ao factoda composição sociológica <strong>do</strong>s estudantes dePrinceton ser menos elitista <strong>do</strong> que a dadécada de 30.Segun<strong>do</strong> Gilbert (1951), os estudantestor<strong>na</strong>ram-se mais ‘sofistica<strong>do</strong>s’ e ‘objectivos’ten<strong>do</strong> relutância em efectuar generalizaçõesinfundadas acerca de outros grupos, o queconduziu o autor a um certo optimismo.Replicações realizadas por outros autoresnoutros locais <strong>na</strong> década de 50 pareciamconfirmar o declínio <strong>do</strong>s estereótipos, mostran<strong>do</strong>que estes não eram ‘rigí<strong>do</strong>s’, mas‘flexíveis’, isto é, sensíveis às mudanças sociaisocorridas depois da II Guerra Mundial.Contu<strong>do</strong>, uma segunda réplica <strong>do</strong> mesmoestu<strong>do</strong> <strong>na</strong> Universidade de Princeton realizadanos anos sessenta (Karlins, Coffman eWalters, 1969) produziu resulta<strong>do</strong>s quedesiludiram os psicólogos sociais. Embora oconteú<strong>do</strong> de alguns estereótipos tivessesofri<strong>do</strong> alterações e se apresentasse globalmentemais positivo, aos ‘americanos’ e aosgrupos de origem europeia continuavam aser associa<strong>do</strong>s atributos com grandedesejabilidade social, conso<strong>na</strong>ntes com osvalores da sociedade america<strong>na</strong>, enquanto queaos grupos minoritários de origem africa<strong>na</strong>e asiática continuavam a ser associa<strong>do</strong>satributos socialmente indesejáveis.Verificou-se igualmente um incremento daconsistência <strong>do</strong>s estereótipos face a algumasminorias étnicas, contrarian<strong>do</strong> a tendênciaobservada nos anos 50. Em contrapartida, oestereótipo <strong>do</strong>s ‘americanos’ foi o que apresentoumenor consistência, confirman<strong>do</strong> osresulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 30. No que respeita aoestereótipo <strong>do</strong>s ‘negros’, os autores fazem aseguinte observação:“The most dramatic and consistenttrend over then 25- years period hasbeen the more favorablecharacterization of the Negro. [...]The ‘new view’ of the Negro focuseson the term ‘musical’ (47%) andincludes ‘pleasure loving’ (26%),‘ostentatious’ (25%), and ‘happy-golucky’(27%). This image wouldappear to be more innocuous moderncounterpart of the minstrel figure,probably reflecting the success ofNegroes in the popular entertainmentworld supported by teen-age andcollegiate audiences. Certainly, theCivil Rights movement of the pastdecade has strongly influenced thepresent generation of collegestudents” (Karlins et al, 1969: 8).Mas, se a<strong>na</strong>lisarmos o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> estereótipo<strong>do</strong>s ‘negros’ à luz <strong>do</strong>s valores dasociedade ocidental, constatamos que esta‘nova visão’ <strong>do</strong>s negros corresponde mais auma mudança facial <strong>do</strong> que profunda, já quea este grupo são negadas as característicasinstrumentais necessárias para participaremno desenvolvimento e progresso da socieda-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS545de, sen<strong>do</strong>-lhes atribuídas características expressivase exóticas, o que, embora apresentan<strong>do</strong>uma conotação positiva <strong>na</strong>s camadasjuvenis, continua a retirar-lhes o estatuto depessoa adulta, responsável e com capacidadede realização. De salientar que este padrãode resulta<strong>do</strong>s continua a ser encontra<strong>do</strong> hojeem dia em estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em diversospaíses ocidentais relativamente às minoriasde origem africa<strong>na</strong> (e.g., Cabecinhas, 2002).No estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Karlins e colabora<strong>do</strong>res(1969) constatou-se, mais uma vez,que o grau de consenso <strong>do</strong>s estereótipos sobredetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo não está directamenteliga<strong>do</strong> ao grau de preconceito exibi<strong>do</strong> emrelação a esse grupo. Comparan<strong>do</strong> os seusresulta<strong>do</strong>s com os de Gilbert (1951), osautores salientam:“the apparent ‘fading’ of socialstereotypes in 1951 is not upheld asa genuine overall trend. Wheretraditio<strong>na</strong>l assignments have declinedin frequency they have, in the longrun, been replaced by others, resultingin restored stereotypes uniformity. (...)A feature of this data which is stillimpressive is the extent to which ‘new’stereotypes resemble previous ones.Para<strong>do</strong>xically enough, the changeswhich have occured stand outbecause so much has remained thesame. Uniformity and favorablenessscores correlate significantly acrossthe three generations of students. Thecollections of traits selected tocharacterize specific groups are verymuch alike from one generation to thenext, though the relative popularitiesof those traits have been thoroughlyrearranged. A great deal of changeconsists of a shift of emphasis in thealready existing picture” (Karlins etal., 1969: 14; itálico nosso).Como os autores referem, o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s‘novos estereótipos’ é mais consistente comas “atitudes mais liberais” da sociedadeamerica<strong>na</strong>, como demonstra<strong>do</strong> em diversosestu<strong>do</strong>s nos anos 60. A esse propósito, osautores citam Triandis e Vassiliou (1967:238): “it is no longer appropriate to beprejudice toward other groups”. Isso nãosignifica que o preconceito tenha desapareci<strong>do</strong>,pois, como os próprios autores salientam,alguns <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s “aretoo good to be true” (Karlins et al., 1969:11).Nesse senti<strong>do</strong>, os autores salientaram anecessidade de distinguir entre estereótipopessoal, fenómeno psicológico, e estereótiposocial, fenómeno cultural:“we may refer to a single individual’sassignments as his perso<strong>na</strong>l stereotypeand the consensual assignment of agiven population of judges as a socialstereotype. (...) The absence of atraditio<strong>na</strong>l pattern of stereotyping maynot indicate a decline of stereotypingitself, but perhaps the formation of arevised social consensus” (Karlins etal., 1969: 3; itálico no origi<strong>na</strong>l).Os resulta<strong>do</strong>s de um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> porSigall e Page (1971) são bem elucidativosdas pressões normativas que deram origemaos ‘novos racismos’. Os autorescomplementaram o uso da tradicio<strong>na</strong>l listade adjectivos com uma manipulação experimental.Numa das condições os participantesrespondiam simplesmente (condiçãocontrolo) e <strong>na</strong> outra (bogus pipeline) eraminforma<strong>do</strong>s que o experimenta<strong>do</strong>r detinhauma medida fisiológica infalível capaz demedir a atitude, uma espécie de ‘detector dementiras’. Os autores compararam os estereótipos<strong>do</strong>s participantes (americanos brancos)face aos americanos e aos negros, <strong>na</strong>sduas condições de resposta. Verificou-se que<strong>na</strong> condição bogus pipeline o estereótiporelativo aos ‘americanos’ era mais favorávele o relativo aos ‘negros’ mais desfavorável<strong>do</strong> que <strong>na</strong> condição controlo, isto é, ofavoritismo pelo grupo de pertença aumentouquan<strong>do</strong> os participantes julgavam que asua ‘verdadeira atitude’ estava a ser medidaatravés de um instrumento infalível. Sigalle Page consideram este resulta<strong>do</strong> “asrelatively distortion-free, as more honest and‘truer’ than rating-condition responses”(p.254; cita<strong>do</strong>s por Oakes et al., 1994), oque sugere que os estu<strong>do</strong>s com base <strong>na</strong> listade adjectivos, sobretu<strong>do</strong> os realiza<strong>do</strong>s a partir<strong>do</strong> momento em que se tornou contra-


546 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVnormativo discrimi<strong>na</strong>r, subestimam os estereótiposnegativos e o preconceito.Numa revisão sobre as mudanças ocorridas<strong>na</strong> expressão <strong>do</strong>s estereótipos relativamenteaos ‘negros’, Dovidio e Gaertner(1991) afirmam: “adjective checklist studies,in which respondents are asked to select traitsthat are the most typical of particular racialor ethnic categories, indicate that negativestereotypes are consistently fading” (p.202).No entanto, os autores salientam que aevolução observada no conteú<strong>do</strong> e <strong>na</strong> consistência<strong>do</strong>s estereótipos pode decorrer maisde uma maior sensibilidade às normas sociaisanti-discrimi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> que de uma verdadeiramudança nos estereótipos.No entanto, esta interpretação de carácternormativo é recusada por autores da perspectivada cognição social, que interpretamestes resulta<strong>do</strong>s estabelecen<strong>do</strong> uma claradistinção entre crenças pessoais e estereótiposculturais (e.g., Devine, 1989; Devinee Elliot, 1995).Numa ‘revisitação da triologia dePrinceton’, Devine e Elliot (1995: 1142)introduziram algumas alterações no procedimentocom vista a colmatar algumas “falhasmeto<strong>do</strong>lógicas” <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s precedentes.Parti<strong>do</strong> da lista de adjectivos de Katz e Braly(1933) efectuaram as seguintes alterações:introduziram novos adjectivos com o objectivode actualizar a referida lista (essesadjectivos foram os seguintes: “athletic,crimi<strong>na</strong>l, hostile, low intelligence, poor,rhythmic, sexually perverse, uneducated, andviolent”); os participantes responderam duasvezes à referida lista, uma vez ten<strong>do</strong> em contaas suas ‘crenças pessoais’ e outra partin<strong>do</strong><strong>do</strong>s ‘estereótipos culturais’ (efectuadas emordem contrabalançada); e, fi<strong>na</strong>lmente, osparticipantes responderam a uma “nonreactivemeasure of anti-Black attitudes” que consistia<strong>na</strong> Escala de Racismo Moderno (ModernRacism Scale) de McCo<strong>na</strong>hay (1986). Comparan<strong>do</strong>as respostas <strong>do</strong>s participantes <strong>na</strong>scondições de “stereotype assessment” e“perso<strong>na</strong>l belief assessment”, os autoressalientam:“In contrast to the commonlyespoused fading stereotypeproposition, data suggest that thereexist a consistent and negativecontemporary stereotype of Blacks(p.1139). (…) The stereotype hasremained stable through the years (inconsistency and valence, notnecessarily in specific content),whereas perso<strong>na</strong>l beliefs haveundergone a revision” (Devine eElliot, 1995: 1141).Na perspectiva <strong>do</strong>s autores, enquanto oestereótipo cultural <strong>do</strong>s ‘negros’ é consistentee muito negativo, as crenças pessoais sãomuito mais positivas, especialmente as crençaspessoais <strong>do</strong>s participantes que demonstramuma atitude favorável aos negros <strong>na</strong>Escala de Racismo Moderno (MRS). Segun<strong>do</strong>os autores, a comparação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>sobti<strong>do</strong>s pelos participantes muito e poucopreconceituosos <strong>na</strong> MRS apoia o modelodissociativo de Devine (1989), segun<strong>do</strong> o qual“high- and low-prejudiced individuals bothpossess the same stereotype of Blacks butthat the stereotype is only en<strong>do</strong>rsed by theformer group of individuals” (Devine e Elliot,1995: 1145). No entanto, em determi<strong>na</strong>dascircunstâncias (por exemplo, <strong>na</strong>s situações desobrecarga de informação) pode haver uma‘contami<strong>na</strong>ção mental’ pelos estereótipos,levan<strong>do</strong> os indivíduos não preconceituososa ser influencia<strong>do</strong>s por estes, uma vez que,ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> aprendi<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> processode socialização, estão armaze<strong>na</strong><strong>do</strong>s <strong>na</strong> memória,interferin<strong>do</strong> nos processos cognitivos<strong>do</strong>s indivíduos, a não ser que estes estejampermanentemente vigilantes a uma possível‘contami<strong>na</strong>ção mental’ e procurem evitá-laactivamente, o que exige grande esforçocognitivo e motivação.No nosso entendimento, esta interpretação,baseada <strong>na</strong> clara separação entre ‘crençaspessoais’ e ‘estereótipos culturais’ epressupon<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> os indivíduos ‘nãopreconceituosos’, em situações de grandecarga cognitiva (Devine, 1989), associammentalmente características negativas aosnegros porque sofrem uma ‘contami<strong>na</strong>çãomental’ pelos ‘esteótipos culturais’ é i<strong>na</strong>ceitável,pois não se coadu<strong>na</strong> com aconceptualização <strong>do</strong>s estereótipos sociaisenquanto ‘representações sociais’ (Moscovici,1988). 4


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS547Se os estereótipos culturais existem, masnão estão <strong>na</strong> cabeça de ninguém, ou de quaseninguém, onde se encontram então? E se nãoestão <strong>na</strong> cabeça das pessoas ‘nãopreconceituosas’ porque é que estas têm queter energia mental disponível e motivaçãopara não se deixar influenciar por eles?Na nossa perspectiva, os resulta<strong>do</strong>s dediversos estu<strong>do</strong>s indican<strong>do</strong> crenças pessoaismais positivas <strong>do</strong> que os estereótipos sociais(e.g., Devine e Elliot, 1995; Garcia-Marques,1999; Vala, Brito e Lopes, 1999) assim comoos estu<strong>do</strong>s que indicam que as pessoasgeralmente se consideram menos racistas <strong>do</strong>que a média das pessoas <strong>do</strong> seu grupo depertença (e.g., Miranda, 2001), podem serinterpreta<strong>do</strong>s como uma manifestação <strong>do</strong>efeito Primus Inter Pares (Co<strong>do</strong>l, 1975).Conhecen<strong>do</strong> as normas sociais de nãodiscrimi<strong>na</strong>ção, os indivíduos tendem a apresentar-sede forma mais conso<strong>na</strong>nte comessas normas <strong>do</strong> que os restantes membrosda sociedade em que se encontram, o queconsiste numa forma de obter distintividadepessoal através da adesão a normas socialmentevalorizadas.


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550 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS551Visibilidade e accountability: o evento <strong>do</strong> ônibus 174Rousiley C. M. Maia 1Visibilidade: a mediação e a constituiçãopública de eventosOs modelos de democracia deliberativa,os quais estabelecem um importante idealético e prático para o funcio<strong>na</strong>mento da esferapública, raramente se preocupam com oprocesso de mediatização opera<strong>do</strong> pelosmeios de comunicação. Como prática efetiva,o processo deliberativo ape<strong>na</strong>s pode tor<strong>na</strong>rsevisível – ser reconheci<strong>do</strong> e aprecia<strong>do</strong> pelocidadão comum – através <strong>do</strong>s veículos decomunicação de massa. Os meios de comunicaçãoproduzem um tipo de publicidadefraca, uma vez que expõem fenômenos,proferimentos, posições e planos para oconhecimento geral (Maia, 2002; Thompson,1995; Gomes, 1999). Isso permite produzirum tipo de conhecimento “publiciza<strong>do</strong>,compartilha<strong>do</strong> e socialmente acessível”, comoJ. Dewey (1954) influentemente escreveu.Estu<strong>do</strong>s diversos têm aponta<strong>do</strong> que aimprensa exerce, entre outras, as funções dedar visibilidade à coisa pública, a demandas<strong>do</strong> público e a setores da sociedade, servin<strong>do</strong>como uma espécie de fórum; atua ainda comoagente de vigilância e de mobilização (Norris,2000; Abreu, 2003). Desde Edmund Burke,a mídia tem si<strong>do</strong> tradicio<strong>na</strong>lmente vista comoum <strong>do</strong>s atores clássicos que promove controle<strong>na</strong> divisão de poderes, através demecanismos de “checks and balances”.Menos claro é o mo<strong>do</strong> pelo qual a mídia operacomo um fórum para o debate, constrangen<strong>do</strong>os interlocutores a seguir certas regraspragmáticas de trocas dialógicas em público,diante de uma platéia ampliada. Nesse senti<strong>do</strong>,procuro abordar a mídia não ape<strong>na</strong>scomo uma instância em que as falas <strong>do</strong>satores sociais adquirem ‘visibilidade’, i.e,tor<strong>na</strong>m-se disponíveis ao conhecimento <strong>do</strong>público em geral, mas, também, como umainstância que constrange os interlocutores aseguirem certas regras pragmáticas de trocasdialógicas em público, diante de uma platéiaampliada.Particularmente em situações problemáticas,de escândalo ou crise (envolven<strong>do</strong>matérias passíveis de regulamentação), osmeios de comunicação de massa convocamos representantes das instituições públicas aprestarem contas, a explicarem e a justificaremsuas ações diante de seus públicos.Isso permite confrontos diretos ou virtuaisentre os representantes <strong>do</strong> aparato estataladministrativo,os especialistas e os atoresda sociedade civil.Há frequentemente uma troca de visõese interpretações num processo de idas evindas, que também se ramifica para alémda oposição inicial <strong>do</strong>s enuncia<strong>do</strong>s de cadafalante. Como numa atividade dialógica,aqueles falantes que se expressam <strong>na</strong> ce<strong>na</strong>midiática podem incorporar e re-interpretaras contribuições <strong>do</strong>s outros em seus própriostermos; podem a<strong>do</strong>tar um vocabulário nãoutiliza<strong>do</strong> anteriormente, alterar o julgamentoe o próprio mo<strong>do</strong> de expressão (Bohman,2000:58). Evidentemente, esta é umaatividade que nem sempre resulta, <strong>na</strong> prática,em um diálogo aberto entre a administraçãopública e seus públicos. De tal sorte, éfundamental que as condições de possibilidade,as limitações desse processo e osobstáculos que lhe são impostos sejam identifica<strong>do</strong>se discuti<strong>do</strong>s.Neste artigo, preten<strong>do</strong> exami<strong>na</strong>r particularmenteo mo<strong>do</strong> pelo qual a mídia, diantede uma situação problema, ajuda a instaurarum processo de accountabilitity 2 , isto é, deprestação de contas, de responsabilidadepública das pessoas públicas. Para tanto,busco investigar empiricamente práticasefetivas de discurso político media<strong>do</strong>, apreendidasem sua especificidade histórica ecultural, a respeito <strong>do</strong> evento <strong>do</strong> sequestro<strong>do</strong> ônibus 174 ocorri<strong>do</strong> em 12 de junho de2000 <strong>na</strong> cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro 3 . O sequestroao ônibus criou um evento públicode notável repercussão global: foi transmiti<strong>do</strong>“ao vivo” por 4 horas ininterruptas 4 para


552 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVuma platéia estimada em 54 milhões deespecta<strong>do</strong>res, interrompeu a roti<strong>na</strong> <strong>do</strong>s larese de diversas instituições no país e motivouo pronunciamento <strong>do</strong> Presidente da República,<strong>do</strong> Gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e de diversosagentes públicos.Das diferentes dimensões de accountabilityA questão da accountability como “odever de prestar contas sobre as própriasações” ou “a obrigação de dar satisfações”é fundamental para a qualificação da democraciamoder<strong>na</strong>. Diz respeito ao requisito paraque representantes, <strong>na</strong> disposição de seuspoderes e deveres, respondam aos representa<strong>do</strong>s,dêem respostas às críticas ou demandasa eles dirigidas, e aceitem (alguma)responsabilidade por falhas ou falta de competência.No contexto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> democrático,o processo central da accountability sedá entre os cidadãos e os ocupantes <strong>do</strong>s cargospúblicos, dentre e entre as fileiras hierárquicas<strong>do</strong>s representantes oficiais, entre ospolíticos eleitos e os representantes dasinstituições burocráticas. Implica, grossomo<strong>do</strong>, em direitos de autoridade, através dainteração e da troca social. Aquele quedemanda accountability, por um la<strong>do</strong>, exigerespostas e justificações, enquanto aquele quese mantém accountable, por outro la<strong>do</strong>, aceitaresponsabilidades e dá explicações.A problemática da accountability evidenciaa tensão inter<strong>na</strong> existente entre a dimensãonormativa <strong>do</strong> sistema político democrático– relacio<strong>na</strong>da aos fins a que deve responder– e a dimensão operacio<strong>na</strong>l – relacio<strong>na</strong>daàs performances obtidas. Refere-setanto ao funcio<strong>na</strong>mento real das instituiçõespúblicas quanto à avaliação <strong>do</strong> desempenhodestas: se é condizente com os interesses eas necessidades <strong>do</strong>s cidadãos. “A força motrizpor trás de to<strong>do</strong> o sistema de“accountability”,como propõe Mulgan, “é o imperativo democráticode que as organizações <strong>do</strong> governodevem responder às demandas de representantespolíticos e <strong>do</strong> público mais amplo”(Mulgan, 2000: 559).É importante ressaltar que a dimensãonormativa não diz respeito ape<strong>na</strong>s a algumconjunto mais ou menos abstrato de valoresético-morais, o qual ficaria dependente defortes idealizações. Refere-se, também, aoconjunto de expectativas que os cidadãosproduzem acerca <strong>do</strong> sistema e de seu desempenho,enquanto um processo coletivo,marca<strong>do</strong> pela historicidade e pelasituacio<strong>na</strong>lidade de atores concretos. De talsorte, “tão ou mais importante <strong>do</strong> que odesempenho real da democracia”, comodestaca Lattman-Weltman, “é a percepção queos atores têm, ou podem ter, acerca dessedesempenho e de quanto o regime e seusmandatários respondem, prestam contas àssuas necessidades e interesses” (Lattman-Weltman, 2001:2). De mo<strong>do</strong> mais específico,diversos autores da teoria democrática e daadministração pública (Hunold, 2001;Roberts, 2002; Romzek e Dubnick, 1987)vêm mostran<strong>do</strong> que o conceito deaccountability pode des<strong>do</strong>brar-se em questõesa<strong>na</strong>líticas distintas: a) ao senso interiorde responsabilidade individual, a partir da expectativaacerca <strong>do</strong> interesse público espera<strong>do</strong>sobre determi<strong>na</strong>da atuação, o que abrangeo desempenho consciente <strong>do</strong>s deveres edas funções (accountability profissio<strong>na</strong>l oupessoal); b) à aplicação de mecanismos eméto<strong>do</strong>s diversos de ´checks and balances´para controlar as organizações públicas e asações de seus agentes (accountability comocontrole). Têm como propósito fazer com queos oficiais públicos (representantes <strong>do</strong> público)ajam de acor<strong>do</strong> com as prescriçõesnormativas e as regras legais, e, também,sejam constrangi<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> adequa<strong>do</strong>,fican<strong>do</strong> sujeitos a prestar contas, a oferecerexplicações sobre suas ações e aceitar sanções;c) ao mo<strong>do</strong> pelo qual os gover<strong>na</strong>ntesvisam atender aos desejos e às necessidades<strong>do</strong>s cidadãos e a eles dar satisfação, independentementeda existência de controleformal (accountability como“responsiveness”, a obrigação de dar satisfação);d) à dimensão presente <strong>na</strong> discussãopública, de troca dialógica entre os cidadãos,mesmo quan<strong>do</strong> não existe uma relação formalde autoridade e subordi<strong>na</strong>ção entre aspartes envolvidas <strong>na</strong> relação deaccountability (accountability como diálogo) 5(Mulgan, 2000).As ce<strong>na</strong>s <strong>do</strong> sequestro <strong>do</strong> ônibus 174desencadeiam vários mecanismos de prestaçãode contas entre as autoridades e membrosde instituições encarregadas da segurançapública – incluin<strong>do</strong> a avaliação das pressu-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS553posições das instituições, a performance dacorporação policial e as responsabilidadespessoais. Mas esclarecer por que o sequestro<strong>do</strong> ônibus 174 é um evento que demandaaccountability não é uma questão imediata.Para nossos propósitos, interessa particularmenteevidenciar a emergência e a transformaçãode disputas pela interpretação <strong>do</strong>senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> evento e o processo de prestaçãode contas instala<strong>do</strong> no próprio espaço devisibilidade midiática.A mediação de um problema complexo: oupor que o sequestro <strong>do</strong> ônibus 174 é umevento que demanda accountability?Em primeiro lugar é preciso reconhecerque a violência em ato chama a atenção <strong>do</strong>público. Se <strong>na</strong> sociedade moder<strong>na</strong> os atosde violência – a tortura, o suplício <strong>do</strong> corpo,a brutalidade enquanto exibição da forçafísica–– continuam obviamente existin<strong>do</strong>, elesocorrem geralmente longe <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong> público,da audiência em grande número. Amodernidade retirou a violência da ce<strong>na</strong>pública e expropriou a experiência da violênciada vida ordinária, como discuti<strong>do</strong> porGiddens e Foucault (Giddens, 1991;Foucault, 1987). Através da transmissão aovivo <strong>do</strong> sequestro, a violência em ato – odescontrole <strong>do</strong> sequestra<strong>do</strong>r, o uso da forçapara manter os passageiros como refénsdentro <strong>do</strong> ônibus, a sequência de ameaças– pôde ser “vista e ouvida por to<strong>do</strong>s” 6 . Issopermitiu a vivência mediada de “uma situaçãoaterroriza<strong>do</strong>ra”. Diversos pronunciamentosde pessoas comuns veicula<strong>do</strong>s <strong>na</strong> mídiaapontam que o episódio acionou lembrançasde experiências violentas vividas ou <strong>potencial</strong>menteconcebidas 7 , provocan<strong>do</strong> “terror”,“indig<strong>na</strong>ção”, desejo de “interferir nos eventos”para interromper o curso das ações oupara “fazer justiça com as próprias mãos’ 8 .“Fiquei vidra<strong>do</strong> <strong>na</strong>quela televisão,como se adiantasse... Fiquei torcen<strong>do</strong>,aflito, angustia<strong>do</strong>, para que oca<strong>na</strong>lha morresse logo e deixasseaquelas pessoas voltarem para suascasas, para suas famílias. Que pe<strong>na</strong>que não era um filme, era realidade”(comerciante)” 9“E eis que, de um instante para outro,ao chegar a minha casa depois de maisum dia cansativo de trabalho, me viajoelhada no meio de minha sala,rezan<strong>do</strong>, imploran<strong>do</strong> a Deus por misericórdia,suplican<strong>do</strong> para que aquela‘estória’ tivesse um fi<strong>na</strong>l feliz!” 10“Acho que se eu tocasse no controleremoto me bateriam, tamanha a concentraçãode to<strong>do</strong>s. E eu mesmo nãoconsegui sair da frente da TV” (gerentede uma loja de TV).“Parecia que eu estava assistin<strong>do</strong> a umfilme, mas era real” (funcionário daAssembléia Legislativa). 11As imagens da violência em ato duranteo sequestro – absolutamente corriqueiras emproduções cinematográficas – ao negarem oestatuto ficcio<strong>na</strong>l, provocam um choque. Aviolência emerge como algo que não deveriaocorrer, ela parece resvalar de uma outraordem. Ademais, a faceta mais peculiar daspráticas da violência urba<strong>na</strong> é o seu caráterdifuso, imprevisível, sem ‘lugar’ defini<strong>do</strong> nocorpo social ou no cenário amplia<strong>do</strong> da cidade(Diógenes, 2000: 55).A forte dramaticidade <strong>do</strong> episódio, contu<strong>do</strong>,não é condição suficiente para instaurarum processo de deliberação, no senti<strong>do</strong>aqui defendi<strong>do</strong>. O evento <strong>do</strong> Jardim Botânico– ocorri<strong>do</strong> em praça pública, sob osholofotes da mídia – expõe não exatamenteo infortúnio e o destino trágico <strong>do</strong>s passageiros<strong>do</strong> ônibus 174, mas, sim, o dramaurbano das metrópoles brasileiras e o riscoque acomete a to<strong>do</strong>s que precisam utilizaras calçadas e as vias públicas. Em umasociedade com um <strong>do</strong>s mais altos índices decrimi<strong>na</strong>lidade e casos hedion<strong>do</strong>s de violênciaurba<strong>na</strong> (IPEA, 2003: 89), ninguém podesentir-se ple<strong>na</strong>mente seguro ou a salvo dasbrutalidades testemunhadas através <strong>do</strong> vídeo.O evento dramatiza, assim, um problemapercebi<strong>do</strong> e refleti<strong>do</strong> pelas pesquisas deopinião 12 como um <strong>do</strong>s mais graves <strong>do</strong> país;traz para o debate público a chamada “escaladada violência urba<strong>na</strong>” e a correlataquestão da segurança pública. E, apesar <strong>do</strong>desfecho <strong>do</strong> sequestro – com a morte da refémpor tiros provoca<strong>do</strong>s pela própria polícia ea execução <strong>do</strong> sequestra<strong>do</strong>r dentro <strong>do</strong> carroda polícia a caminho da delegacia – poder


554 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVser perfeitamente identifica<strong>do</strong> como si<strong>na</strong>l <strong>do</strong>funcio<strong>na</strong>mento normal das instituições policiaise de seus mo<strong>do</strong>s operatórios – que arigor nunca funcio<strong>na</strong>ram bem – o que maisse nota <strong>na</strong> mídia é a interpretação <strong>do</strong> processocomo evidência clara de uma intensacrise institucio<strong>na</strong>l.Accountability ao público em geral: “o paísnão aguenta mais”Logo após o encerramento <strong>do</strong> sequestro,Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique, o então presidente daRepública, através de pronunciamento transmiti<strong>do</strong>em rede de televisão, interpela ostelespecta<strong>do</strong>res como parte de uma mesmacomunidade política de “to<strong>do</strong>s os brasileiros”– um de nós – que sente “um mistode pavor e indig<strong>na</strong>ção com o que estavaacontecen<strong>do</strong>” 13 .“Nós acabamos de assistir, to<strong>do</strong>sestarreci<strong>do</strong>s, durante horas, a umace<strong>na</strong> de um sequestro de uma pessoaaparentemente drogada, numa violênciaabsolutamente i<strong>na</strong>ceitável e atécerto ponto contrista<strong>do</strong> por não veruma ação mais rápida que fosse capazde evitar o desenlace fatal de umajovem absolutamente inocente. (...) Eeu, como presidente da República, nãopoderia deixar de dar uma palavraprimeiro de solidariedade à família,mas, também, ao povo sofri<strong>do</strong> dascidades <strong>do</strong> Brasil.”O presidente dá mostras de que é sensívelaos efeitos maléficos daquela “violênciaabsolutamente i<strong>na</strong>ceitável”, em termos <strong>do</strong>sofrimento humano afetan<strong>do</strong> as vítimas reaisou potenciais. Nesse senti<strong>do</strong>, a violênciadesperta um sentimento genérico de solidariedade,deriva<strong>do</strong> das obrigações éticas emorais da comunidade social, já que a segurançafísica da própria vida tende a serum valor fundamental para to<strong>do</strong>s. O própriogover<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio, após o episódio, assumeo papel implícito <strong>do</strong> outro: “Não queria estarno lugar de nenhum <strong>do</strong>s passageiros 14 .” Essameni<strong>na</strong> poderia ser minha filha 15 .” O Presidenteda República também a<strong>do</strong>ta o pontode vista <strong>do</strong> que poderia ser chama<strong>do</strong> de “umoutro generaliza<strong>do</strong>”: “há sempre uma tragédiapessoal por trás das estatísticas sobre aviolência”. “Qual de nós não sofreu,indiretamente, a ação dessa violência?” 16 .Como já aponta<strong>do</strong>, o processo de debatepúblico somente ocorre quan<strong>do</strong> há um graude sensibilidade e atenção, já instala<strong>do</strong>s nomeio social, para situações que se configuramcomo problemas que afetam a todacoletividade. De tal sorte, FHC ressalta queaquele acontecimento demanda séria atenção<strong>do</strong>s gover<strong>na</strong>ntes e da própria sociedade.“Isso impõe a to<strong>do</strong>s nós brasileirose, sobretu<strong>do</strong>, a nós, que temos responsabilidadede governo, a necessidadede uma ação conjunta, maiseficaz, para combater a violência, ocrime, a droga, porque estamos chegan<strong>do</strong>a um ponto que é i<strong>na</strong>ceitável”.Nesse senti<strong>do</strong>, a prestação de contas deFHC é direcio<strong>na</strong>da ao público, e significa,de certa forma, uma aceitação legítima daresponsabilidade <strong>do</strong>s representantes eleitos degarantir e bem comum e prover proteção esegurança pública à população. Desde asprimeiras teorias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Moderno reconhece-seque é fi<strong>na</strong>lidade mínima de umGoverno manter as condições que permitama coexistência pacífica entre grupos e indivíduos,impedin<strong>do</strong> ações violentas. Atravésda ordem jurídica, os indivíduos são expropria<strong>do</strong>sda utilização da violência para atingirseus fins, fican<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong>, como detentor<strong>do</strong> monopólio <strong>do</strong> uso legítimo da violência,com função de prover proteção pública aoscidadãos contra os custos externos à ameaçacriminosa. A polícia, como a instituição decontrole social por excelência, se encarregade prevenir ou impedir os delitos contra apessoa, contra a propriedade e contra oscostumes. Reduz, assim, o risco de morteviolenta que alarmava Thomas Hobbes egarante a ordem para os indivíduos perseguiremo próprio interesse, como desejavaAdam Smith.Por certo, a violência urba<strong>na</strong> é um problemacomplexo, sem uma terapia específicarecomendada para resolução da construçãoda ordem democrática. Estu<strong>do</strong>s contemporâneosnão buscam mais explicar a violênciaurba<strong>na</strong> numa visão linear de causa e efeitos,


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS555mas, ao invés disso, entende-se que “umconjunto de fatores desencadeiam um conjuntode dispositivos, com uma cadeia deefeitos que cruzam entre si” (Zaluar,1996:53). Fatores sócio-econômicos (a persistênciada miséria, o crescimento <strong>do</strong> desemprego<strong>na</strong>s cidades, a precariedade <strong>do</strong>ssistemas de educação, de assistência públicaou de reabilitação) reforçam os processos desegregação e exclusão social, negan<strong>do</strong> àmaioria da população os recursos básicos paraauto-realização. Ademais, numa sociedadecom forte tradição de relações hierárquicas,o princípio de igualdade – seja como igualdadeperante a lei, seja como responsabilidadecoletiva pela exclusão de classe – nãochegou propriamente a se consolidar, nemcomo ideário, nem como prática <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>de Bem-estar social (Paoli & Telles, 2000;Carvalho, 2000; Velho, 1996). A impossibilidadeda constituição de processos de reciprocidadeentre os cidadãos tende a gerarimpasses socioculturais e a irrupção da violênciadentro e entre os grupos sociais(Velho, 1996: 10; Soares, 2000).Contu<strong>do</strong>, “os representantes são responsáveispelas políticas que sustentam e tambémpelos resulta<strong>do</strong>s de tais políticas”(Gutmann & Thompson, 1996:137). Nessesenti<strong>do</strong>, FHC sustenta igualmente a expectativade ser responsável pelos outros agentesdentro <strong>do</strong> sistema político para encontraras soluções para os problemas sociais. Opresidente reafirma que, apesar <strong>do</strong>s governosestaduais serem os responsáveis diretos pelasegurança pública, as autoridades federais,“no âmbito de suas ações”, já estavam se“organizan<strong>do</strong> para impulsio<strong>na</strong>r um programade emergência”, uma vez que “a violênciaassistida … pelo Brasil obriga uma velocidademaior” 17 . Propõe, nesse âmbito, que osrepresentantes oficiais formem “um mutirãode combate à violência”, para “agir com maisenergia para coibir esses atos que são francamenteassusta<strong>do</strong>res”:“Com todas as dificuldades que existem,nós temos que nos dar as mãos:os gover<strong>na</strong><strong>do</strong>res, o presidente daRepública, as forças de segurança, asForças Armadas, no que lhes corresponde,para pôr um paradeiro a essaonda de violência que tem no crimeorganiza<strong>do</strong>, <strong>na</strong> droga, as molas fundamentais.Acho que o país nãoaguenta mais”. 18A democracia representativa configura-secomo uma cadeia de delegação decompetências de decisão, em diferentesníveis: <strong>do</strong>s eleitores aos representantes eleitos,<strong>do</strong> legislativo às agências <strong>do</strong> executivo,<strong>do</strong> executivo aos diferentes setores ministeriaiscom suas secretarias, <strong>do</strong>s chefes dediferentes departamentos executivos aosservi<strong>do</strong>res públicos. Tal cadeia de delegaçãose espelha a uma cadeia correspondente deaccountability, a qual opera <strong>na</strong> direção inversa(Strom, 2000: 267). Apesar de algumasdificuldades conceituais 19 , tal noção contribuipara mostrar os mecanismos que permitemaos mandatários fazer com que os agentespúblicos sejam responsabiliza<strong>do</strong>s (ouresponsabilizáveis), accountable ex post, peloreal funcio<strong>na</strong>mento das instituições, no sistemademocrático. Seguin<strong>do</strong> a viainstitucio<strong>na</strong>l, nota-se que o Presidente daRepública demanda que os agentes públicosvenham a dar respostas ao problema:“O governo federal entrará em contatode imediato, como já fiz hoje, como gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio de Janeiro, que<strong>na</strong>turalmente me disse que eles estavamfazen<strong>do</strong> o que lhes correspondiae eu disse que estava prepara<strong>do</strong> paraajudar no que ele necessitasse. Maseu sei que, nessas horas, depende daação direta de quem tem o coman<strong>do</strong>sobre a polícia”. 20Accountability e controle: da “melhor soluçãopossível” a uma operação “sem rumoe sem controle”O primeiro pronunciamento oficial <strong>do</strong>Gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio apresenta uma avaliaçãomais específica de “quem tem o coman<strong>do</strong>sobre a polícia”. O gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r lamenta amorte da refém e reconhece o desempenhoda polícia como satisfatório.“(…) a assessoria de imprensa deGarotinho informou que o gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r“sentiu-se alivia<strong>do</strong>” com o desfecho,que ele elogiara a atuação


556 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVenérgica da polícia e que ele haviaconsidera<strong>do</strong> que o fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> sequestrohavia si<strong>do</strong> “a melhor solução possível”21 .No dia seguinte, o gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r declara queo desfecho não agra<strong>do</strong>u nem a ele, nem aocomandante da operação e “falha foi termorri<strong>do</strong> alguém” 22 . Também o secretário desegurança pública <strong>do</strong> Rio afirma, de maneirabastante ambígua, que os policiais deixaramde corresponder ao desempenho espera<strong>do</strong>: “aação <strong>do</strong> solda<strong>do</strong> foi inoportu<strong>na</strong>, ele fez umaavaliação errada, mas se tivesse mata<strong>do</strong>Nascimento, e a moça não fosse atingidapor disparos, a ação teria si<strong>do</strong> correta” 23 .O primeiro passo para desencadearaccountability é nomear algo como umproblema (Pritchard, 2000). Não há exigênciapara explicação e justificação, a menosque alguém defi<strong>na</strong> a questão como sen<strong>do</strong> algoimpróprio, erra<strong>do</strong> ou indesejável. Se, numprimeiro momento, a morte da refém apresenta-secomo um acidente ou uma fatalidade,novas falas vêm à ce<strong>na</strong>, alteran<strong>do</strong> talquadro interpretativo. Estabelecem-sepolêmicas principalmente em torno: a) da“conturbada” negociação entre os policiaise o sequestra<strong>do</strong>r e, em particular, <strong>do</strong> tiro <strong>na</strong>hora da rendição, o qual provocou a morteda refém e b) da morte de Sandro <strong>do</strong>Nascimento, dentro <strong>do</strong> carro da polícia queo conduzia à delegacia, o que levanta ainterpretação imediata de que os policiais“executaram” o prisioneiro.Essas questões apresentam, de maneiradramática, as duas faces <strong>do</strong> problema dapolícia <strong>na</strong> ordem social democrática: (a) aeficácia <strong>na</strong> provisão da ordem, a qual envolvea concentração de poder simbólico einstrumental <strong>na</strong> organização policial; (b) arestrição ao uso <strong>do</strong> poder <strong>na</strong> produção daordem pelo policial – i.e, o uso arbitráriode poder pelos agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, nocombate ao crime (Paixão e Beato, 1997: 236;Soares, 2000: 29). A primeira polêmica podeser caracterizada como um processo informalde accountability 24 – derivada <strong>do</strong> conjuntode expectativas políticas e sociais, bemcomo das normas das organizações burocráticas,de regras de operações de segurança,e <strong>do</strong>s códigos de ética profissio<strong>na</strong>l dacorporação policial. A segunda polêmica, porsua vez, desencadeia mecanismos formais deaccountability, basea<strong>do</strong>s em controles hierárquicosda corporação policial e <strong>do</strong> judiciário.Contu<strong>do</strong>, não se pode a<strong>do</strong>tar uma ‘visãorealista’ desse processo, como se as regrasfossem claras de início, ou que operem demaneira relativamente automática. Ao invésdisso, a especificação de uma dada normae sua aplicação ou a interpretação das açõesem cada situação particular depende frequentementeda consideração de diferentes pontosde vista, envolven<strong>do</strong> a discussão entrevários atores sociais. De tal sorte, é maisadequa<strong>do</strong> conceber que diferentes tipos deaccountability são acio<strong>na</strong><strong>do</strong>s numa rede derelações, os quais encampam diferentesdemandas de ´prestação de contas´ – exercíciosde julgamento e de apuração de responsabilidades– com os quais os oficiaispúblicos precisam, <strong>na</strong> prática, lidar.No espaço de visibilidade midiática, osagentes da mídia, seguin<strong>do</strong> um procedimentoconvencio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo (Mouillaud,2002), buscam escruti<strong>na</strong>r a atuação <strong>do</strong>spoliciais durante o sequestro. Para comentaras técnicas e os procedimentos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelapolícia <strong>na</strong> operação, acio<strong>na</strong>m as vozes dediversos especialistas – profissio<strong>na</strong>is em açõestáticas de segurança, membros da corporaçãopolicial atuan<strong>do</strong> em instituições de diferentesesta<strong>do</strong>s, coronéis e delega<strong>do</strong>s. Vários estrategistase representantes superiores dacorporação policial ressaltam que o processode negociação foi–“completamente equivoca<strong>do</strong>”25 , com erros de avaliação, com usosi<strong>na</strong>dequa<strong>do</strong>s de equipamentos e confusão <strong>na</strong>soperações táticas:“o atira<strong>do</strong>r da PM carioca deu tirosconsidera<strong>do</strong>s de alto risco para suaposição (…) a arma estava um poucoabaixada e ele não tinha noção precisada direção <strong>do</strong> projétil (…). Aquilo foiuma loteria e a probabilidade de erroera muito maior que a de acerto’’. 26“Houve desencontro de informaçõese falta de um coman<strong>do</strong> centraliza<strong>do</strong>– considerada uma regra das maisrelevantes nesse tipo de situação. Apior falha <strong>na</strong> ação foi a de coman<strong>do</strong>.Uma tropa bem trei<strong>na</strong>da não admiteheroísmo individual”. 27


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS557Os discursos especializa<strong>do</strong>s proporcio<strong>na</strong>mum tipo de constrangimento particularmenteforte. Ao longo <strong>do</strong> debate, vai tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-secada vez mais consensual que a ação <strong>do</strong>spoliciais foi “desastrada”, conten<strong>do</strong> “umafalha atrás da outra”, uma “sucessão deerros” 28 . O então Ministro da Defesa afirma,em entrevista, que “o desfecho <strong>do</strong> episódiodeixou claro o despreparo <strong>do</strong>s policiaisenvolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> operação” 29 . De maneirasemelhante, o então Ministro da Justiçainterpretou o episódio como uma demonstraçãode “quanto o Brasil está desprepara<strong>do</strong>,pela ausência de técnica e competência, paraenfrentar uma situação limite (...) o que seviu no desfecho foi que não havia rumo nemcoman<strong>do</strong>” 30 .Uma vez nomea<strong>do</strong> o problema, o segun<strong>do</strong>passo <strong>do</strong> processo de accountability,segun<strong>do</strong> Prichard (2000), é apurar responsabilidades,identifican<strong>do</strong> os responsáveispelas falhas. Apurar responsabilidades eimputar culpas não são processos coincidentes.Somente quan<strong>do</strong> é possível estabelecera culpa de determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s atores constitui-sea terceira etapa da accountability, isto é, oencaminhamento da questão para um tratamentojurídico ou para outros órgãos deregulamentação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, requeren<strong>do</strong> aaplicação formal de punição ou a exigênciade retratação. Diante da caracterização daação <strong>do</strong>s policiais como i<strong>na</strong>dequada e imprudente,os membros da corporação policialsão chama<strong>do</strong>s a investigar e a avaliar as açõespraticadas (ou não praticadas), “não somenteuns diante <strong>do</strong>s outros, mas, também, diante<strong>do</strong>s cidadãos, sen<strong>do</strong> que suas justificativasprecisam apelar para o público em geral”(Gutmann & Thompson, 1996:137).Em tais circunstâncias, fica particularmenteevidente o papel que a mídia desempenhacomo instância de publicidade que constrangeos interlocutores a seguir os padrões dacomunicação pública, apresentan<strong>do</strong> argumentospassíveis de serem defendi<strong>do</strong>s em público.De tal sorte, os membros da corporaçãopolicial são chama<strong>do</strong>s a explicar suas açõesdentro de duas lógicas concorrentes – a dacorreção <strong>do</strong>s princípios pautan<strong>do</strong> seus atose, também, a das consequências desses atos.A chamada “neutralização” de Sandro foiparticularmente questio<strong>na</strong>da.“No jargão <strong>do</strong>s policiais militares ecivis fluminenses, “neutralizar” umapessoa é a mesma coisa que matá-la(…) A ordem de Quintal [secretáriode Segurança Pública <strong>do</strong> Rio] foipassada por Pentea<strong>do</strong> [comandante <strong>do</strong>BOPE] para <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Bope,que se posicio<strong>na</strong>ram embaixo <strong>do</strong>ônibus”. 31A responsabilização de agentes particularespor ações específicas depende da possibilidadede poder ou não determi<strong>na</strong>r seeles estiveram genui<strong>na</strong>mente envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>tomada de decisão sobre as ações praticadas.Ao buscar tor<strong>na</strong>r explícito aquilo que estavalatente em seus entendimentos, restrito aopequeno grupo da corporação ou sob o<strong>do</strong>mínio das práticas da instituição, os policiaismostram-se, por um la<strong>do</strong>, particularmentepreocupa<strong>do</strong>s em salientar que elesagiram em conformidade com uma regralegítima, seja a <strong>do</strong> código de conduta dacorporação, seja a <strong>do</strong> Direito. ‘’Neutralizaro sequestra<strong>do</strong>r, no caso, é uma atitude corretase houver risco de morte para as vítimas.’’ 32Por outro la<strong>do</strong>, os policiais têm dificuldadesem equacio<strong>na</strong>r as responsabilidadespessoais, ten<strong>do</strong> em vista as consequências daação, no caso concreto. Apelam, então, paraque seus interlocutores façam um exercíciomental, imagi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> desfechos alter<strong>na</strong>tivospara o caso:“Se ele [solda<strong>do</strong> Marcelo O. Santos]acertasse a cabeça <strong>do</strong> maldito virariaherói <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e o Bope continuariasen<strong>do</strong> a melhor tropa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Infelizmente, não acertou”. 33“Não tenho como responder se anegociação teria êxito caso o solda<strong>do</strong>não tivesse atira<strong>do</strong>”. 34Em diversas entrevistas 35 , o comandante<strong>do</strong> Bope reafirma que não deu ordem aossolda<strong>do</strong>s para atirar. Destaca que seus “homenssão trei<strong>na</strong><strong>do</strong>s para ter autonomia e tomardecisões” 36 . Num sistema particularmenteconfigura<strong>do</strong> para adequar-se às complexidades<strong>do</strong> conhecimento profissio<strong>na</strong>l e àscompetências técnicas peculiares, é comum


558 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque os chefes de corporações a<strong>do</strong>tem umpadrão formal de justificação, ao seremchama<strong>do</strong>s a prestar contas em instânciasexter<strong>na</strong>s à instituição. Os oficiais superiorestendem a sustentar a perspectiva de queprecisam confiar em equipes especializadase em emprega<strong>do</strong>s hábeis para proporcio<strong>na</strong>rsoluções apropriadas e que, portanto, confiamem seus subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s para fazer o melhortrabalho possível (Bomzek e Dubnick, 1987).No processo de avaliar as responsabilidadesindividuais, diversos interlocutores dacorporação buscam sustentar a inocência <strong>do</strong>spoliciais, negan<strong>do</strong> a responsabilidade daautoria da ação ou mesmo autoridade pessoalsuficiente para exercê-la. O própriocomandante <strong>do</strong> Bope declara que a negociaçãoem casos como aquele exigira “a açãode forças especiais das polícias e não <strong>do</strong>efetivo que cuida <strong>do</strong> policiamento rotineiro” 37 .Outros ressaltam que os policiais não contavamcom os recursos necessários – aparelhagemtécnica ou trei<strong>na</strong>mento qualifica<strong>do</strong>– para atingir as metas da instituição. Taispadrões de justificativa tendem a deslocar aresponsabilidade individual para os atorescoletivos, organizações e sistemas sociais,mi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a base que permite imputar responsabilidadespelas consequências da ação aagentes singulares.Outro padrão de justificativas utiliza<strong>do</strong>por membros da corporação policial baseiase<strong>na</strong> diluição das responsabilidades entreoutras autoridades <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> sistemapolítico. Ao buscar responder quem seriamos verdadeiros responsáveis por aquelaoperação “sem rumo e sem coman<strong>do</strong>”, algunsapontam que representantes de setoressuperiores <strong>do</strong> executivo exerceram umcontrole manipulativo da autoridade política,impedin<strong>do</strong> uma atuação eficiente dacorporação policial. “A PM não teve liberdadede agir porque o gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r ficou dan<strong>do</strong>‘piruada’ (palpite) por telefone” 38 . Uma notaoficial da assessoria de imprensa <strong>do</strong> Gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r<strong>do</strong> Rio, emitida logo após o encerramento<strong>do</strong> sequestro, e reproduzida em diversosem jor<strong>na</strong>is impressos, sugere que umarede de contatos 39 foi estabelecida durante osequestro:“Garotinho esteve durante to<strong>do</strong> tempoem contato direto com o secretáriode Segurança Pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,Josias Quintal, que, por sua vez, <strong>do</strong>próprio gabinete, matinha contato como comandante <strong>do</strong> Batalhão OperaçõesEspeciais (BOPE) que atuava <strong>na</strong> ce<strong>na</strong><strong>do</strong> sequestro”. 40Segun<strong>do</strong> a Folha de S. Paulo, o próprioPresidente da República teria telefo<strong>na</strong><strong>do</strong>para o Secretário de Segurança <strong>do</strong> Rio deJaneiro pedin<strong>do</strong> que os policiais lançassemgás lacrimogênio ou tomassem outra medidapara dar um desfecho rápi<strong>do</strong> ao episódio 41 .Diversos autores que tratam daaccountability <strong>na</strong> administração públicaapontam as dificuldades para assegurar aresponsabilidade pública <strong>do</strong>s agentes públicos(Hunold, 2001: 161-163; Roberts, 2002).Apesar de haver um acor<strong>do</strong> sobre a necessidadede fazer com que agentes particularesprestem contas de suas ações – como umaspecto fundamental a todas as tentativas decontrolar o poder público – há pouco consensosobre qual tipo de accountability deveprevalecer em um da<strong>do</strong> momento. Issosobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se trata de processos informaisde prestação de contas ou de apuraçãode responsabilidades profissio<strong>na</strong>is oupolíticas que contam com reduzi<strong>do</strong> <strong>potencial</strong>de controle interno ou externo (Romzek eDubnick, 1987).Homicídio dentro <strong>do</strong> camburão e longe davisibilidade públicaA morte de Sandro <strong>do</strong> Nascimento dentro<strong>do</strong> carro da polícia que deveria levá-lo àdelegacia é a segunda controvérsia importanteque se des<strong>do</strong>brou em torno <strong>do</strong> evento.Assim que o lau<strong>do</strong> da perícia médica édivulga<strong>do</strong>, afirman<strong>do</strong> que Sandro chegou aohospital já morto, por asfixia, o então gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r<strong>do</strong> Rio nomeia, de imediato, oproblema: “a polícia asfixiou o bandi<strong>do</strong>. Issoé intolerável, não tem cabimento em lugarnenhum”. 42 A interpretação de que os policiaisusaram a força de maneira ilegítima étambém apresentada pelo secretário de segurançapública <strong>do</strong> Rio: “estamos convenci<strong>do</strong>sde que foi pratica<strong>do</strong> um crime no trajetoe os cinco policiais que o acompanhavam jáestão presos no quartel <strong>do</strong> Bope e serãoindicia<strong>do</strong>s”. 43


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS559A accountability é demandada em situaçõesem que as expectativas e a coorde<strong>na</strong>çãodas ações foram rompidas. Como jáaponta<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong> Moderno detém o monopólioda violência legítima para protegeros membros da sociedade. A utilização destaviolência funcio<strong>na</strong>, como propõe H. Arendt,como o último recurso de contenção “<strong>do</strong>sindivíduos isola<strong>do</strong>s ... que se recusam a ser<strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelo consenso da maioria”(Arendt, 1985: 27). Por princípio, a violênciaque sustenta a eficácia continuada de umpoder coercitivo <strong>na</strong> produção da ordemdistingue-se da violência que alimenta umasituação de terror, pelo fato de a primeiraser mensurável e previsível, exercida demaneira discrimi<strong>na</strong>da e ponderada, ao passoque a segunda é incomensurável eimprevisível, exercida de forma cega. Ospoliciais, ao fazerem uso <strong>do</strong>s aparelhos einstrumentos da violência de maneira ilegal,obscurecem tal distinção. Convertem-se numaparelho de agressão e numa ameaça aoscidadãos que deveriam proteger.Manter a restrição legal ao arbítrio policialno uso de violência é um elementocrucial da noção de cidadania, enquantoproteção <strong>do</strong>s direitos e liberdades civis<strong>potencial</strong>mente ameaça<strong>do</strong>s pela coerção dasorganizações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.O modelo de “ordem sob lei” encontra<strong>na</strong> subordi<strong>na</strong>ção da polícia ao judiciário e<strong>na</strong> conformidade compulsória <strong>do</strong> trabalhopolicial às regras <strong>do</strong> “due process” as condiçõesque fazem da atividade policial agarantia da liberdade huma<strong>na</strong>. A vigênciaefetiva dessas condições distingue o esta<strong>do</strong>democrático <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> autoritário (Paixão eBeato, 1997:235).Longe da visibilidade pública – dentro<strong>do</strong> camburão – os instrumentos da violência,nos termos de H. Arendt, são mu<strong>do</strong>s, abdicam<strong>do</strong> uso da linguagem que caracteriza asrelações de poder baseadas <strong>na</strong> persuasão, <strong>na</strong>influência ou <strong>na</strong> legitimidade (Arendt, 1985:13). Desse mo<strong>do</strong>, a obrigação <strong>do</strong>s policiaisde justificar seus atos tor<strong>na</strong>-se mais premente,pois eles se vêm sujeitos a sofrer sançõespor suas ações impróprias, a partir de controleshierárquicos da própria corporação e<strong>do</strong> judiciário. Nota-se maior cautela por parte<strong>do</strong>s membros da corporação em tentar definira situação de maneira condizente comas normas gerais <strong>do</strong> direito (Lassiter et al,2001:54) 44 . Os chefes da corporação afirmamque os solda<strong>do</strong>s agiram em ‘legitima defesa’.Há, concomitantemente, um afastamento, dace<strong>na</strong> pública, <strong>do</strong>s policiais envolvi<strong>do</strong>s e umprogressivo silenciamento de suas vozes 45 . Osadvoga<strong>do</strong>s passam a falar por eles.“Os advoga<strong>do</strong>s da PM apresentaramuma petição à 15ª Delegacia dePolícia, solicitan<strong>do</strong> que os policiaisnão participassem da reconstituição damorte de Sandro <strong>do</strong> Nascimento. Eleargumentou que seus clientes têm odireito de ficar cala<strong>do</strong>s. (…) O advoga<strong>do</strong>afirmou que tinha orienta<strong>do</strong>seus clientes a “só falar em juízo,porque eles já tinham informa<strong>do</strong> o queaconteceu durante o depoimento”. 46Os policiais envolvi<strong>do</strong>s, ao se retiraremda ce<strong>na</strong> pública, inviabilizam a possibilidadede cooperação comunicativa, ou a) deaccountability permanente <strong>do</strong>s atores emsituação problemática e b) de engajamento<strong>na</strong> comunicação generalizada com outrosinterlocutores da esfera pública. Como sesabe, a confissão ou a expressão de atosincrimi<strong>na</strong><strong>do</strong>res de indivíduos suspeitos ouindicia<strong>do</strong>s são poderosas evidências quepodem ser usadas contra eles em processosde julgamento. Nesse senti<strong>do</strong>, várias formasde argumentação que lidam com as infraçõesse organizam a partir <strong>do</strong>s padrões de comunicaçãoque são resguarda<strong>do</strong>s por instituiçõescomo a própria lei.Interessa ressaltar que, mesmo nesse caso,a retração <strong>do</strong> espaço público não é completa.A accountability pública exige uma esferapública política em que todas as instituiçõestor<strong>na</strong>m-se sujeitas a dar respostas ao público.Buscan<strong>do</strong> esclarecer o que ocorreu dentro <strong>do</strong>camburão, os advoga<strong>do</strong>s alegam que o sequestra<strong>do</strong>rresistiu à prisão e os policiaistiveram dificuldades para imobilizá-lo, já quenão tinham algemas. Os advoga<strong>do</strong>s buscamevidências para sustentar essas proposições,e, apesar de certas incoerências 47 , reafirmamque os cincos policiais militares agiram ‘‘noestrito cumprimento <strong>do</strong> dever e em legítimadefesa”. Eles estariam, de tal forma, procuran<strong>do</strong>defender ‘‘a própria vida e também ada sociedade’’ 48 .


560 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA esfera pública se estrutura pelo diálogoaberto, permanente, entre a administraçãopública e seus públicos. Mesmo quan<strong>do</strong>informações aparentemente básicas sãobuscadas para esclarecer os fatos, tais informaçõessomente farão senti<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>quadro interpretativo e explicativo assumi<strong>do</strong>por aqueles que questio<strong>na</strong>m, poden<strong>do</strong> seraceitas ou contestadas.“Quan<strong>do</strong> a deliberação se tor<strong>na</strong> suspeitadas razões anteriormente aceitase o carácter genui<strong>na</strong>mente público desuas comunicações uns com os outros,então, eles [os interlocutores] têmnovas possibilidades: podem consideraros pontos de vista alter<strong>na</strong>tivos enovas razões e, assim, rejeitar formasinteiras de justificação; podem setor<strong>na</strong>r cientes de operações ocultas depoder, preconceito e autoridade emsuas comunicações e crenças”(Bohman, 2000:40).Estamos aqui diante de uma questãocrucial da esfera pública. A esfera públicanão tem poder de tomar decisão ou de aplicarsanções. Não obstante, um proferimentopúblico deve ser compreensível e deve responderàs objeções levantadas pelos outros.Se não, os atores podem perder o seu statuspúblico como responsáveis (accountable)diante de uma audiência infinita.“A comunicação que pressupõe algumaautoridade além da autoridade darazão pode deixar de comunicar comaqueles que não se encontram sujeitosà tal autoridade; eles podeminterpretá-la, se muito, ape<strong>na</strong>s sob aperspectiva de alguma reivindicaçãoque rejeitam” (O’Nora O’Neill citan<strong>do</strong>Bohman, 200: 39).Padrões meramente formais de justificaçãonão são suficientes, nesse caso. Suspeitasgeneralizadas colocam sob questão averacidade da afirmação de que os policiaisagiram dentro <strong>do</strong>s padrões da legalidade. Acredibilidade da enunciação é comprometidasobretu<strong>do</strong> por um sentimento ambíguocom relação à polícia, dissemi<strong>na</strong><strong>do</strong> <strong>na</strong> culturapolítica brasileira. Como aponta Souza,“A violência em relação ao público e aresistência aos mecanismos externos decontrole têm contribuí<strong>do</strong> para criar umaimagem pública da polícia como uma instituiçãode fortes interesses corporativistas,em detrimento da imagem como serviçopúblico em conformidade com preceitosdemocráticos da cidadania” (Souza,2001:157). Não só a brutalidade e os meiosextra-legais fazem parte <strong>do</strong> repertório rotineiroda polícia desde a constituição <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> moderno (Zaluar, 1999: 9), como,também, há continuidade de práticas abusivas<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da ditadura, tais como a intimidaçãoe a retaliação de suspeitos, prisões semmandato, a violação da integridade físicade detentos, etc. Estu<strong>do</strong>s apontam que taispráticas são dirigidas, sobretu<strong>do</strong>, às camadaspopulares, haven<strong>do</strong> “um grande número demortes com características de execução, entreaqueles [suspeitos] que se entregaram, aquelesque resistiram à prisão ou tentaramescapar” (Avritzer, 2002:115). Os própriosrelatórios das Ouvi<strong>do</strong>rias de Polícia de grandescidades (tais como Rio de Janeiro, BeloHorizonte e São Paulo) confirmam a gravidadeda violência abusiva em ambas aspolícias, civil e militar (Sapori & Souza,2001: 176).Se as falas da corporação policial procuramsingularizar os acontecimentos <strong>do</strong>ônibus 174 – o que é importante parareconstituir o processo de coorde<strong>na</strong>ção dasações e a delegação da tomada de decisão<strong>na</strong> cadeia de accountability dentro <strong>do</strong> sistemapolítico – os agentes da sociedade civilbuscam generalizar o ocorri<strong>do</strong>, entenden<strong>do</strong>ocomo parte de uma série de casos semelhantes.Leigos e membros de organizaçõesvoluntárias de proteção aos direitos humanos,tais como a “Amnistia Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” e“Human Rights Watch”, representantes deConselhos Comunitários de Segurança Públicaou movimentos sociais, como “Basta! Euquero paz”, “Sou da Paz” e “Viva Rio”,buscam, antes, apontar padrões recorrentesde abuso da força policial e o privilégio dajustiça corporativa, marcada pela lentidão epelo formalismo 49 . Denunciam não só adiscrepância entre as atribuições públicas daPM e o caráter semi-público <strong>do</strong>s procedimentosadministrativos rotineiros, como, também,a ineficácia <strong>do</strong>s mecanismos mesmos de


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS561accountability desta instituição. Destacam quea punição de policiais é constantementedenegada, sen<strong>do</strong> que o sistema judiciáriotor<strong>na</strong> praticamente impossível a conde<strong>na</strong>çãode policiais por crimes violentos. A representanteda organização Human Rights Watchno Brasil, por exemplo, declara que o eventose constitui em uma “possibilidade de ogoverno brasileiro se posicio<strong>na</strong>r e mudar ohistórico de impunidade <strong>do</strong> país.(…) Segun<strong>do</strong>ela, apesar <strong>do</strong> crime pratica<strong>do</strong> pelo sequestra<strong>do</strong>r,ele tinha direito à defesa <strong>na</strong>Justiça. (…) 50 .À guisa de conclusão: “um desfecho desastroso”e recursos para inovaçãoinstitucio<strong>na</strong>lA demanda para que os gover<strong>na</strong>ntes ouos representantes oficiais prestem contas,publicamente, de suas ações – no legislativo,nos tribu<strong>na</strong>is, ou <strong>na</strong> mídia – força-os aengajar-se em um tipo de diálogo com seupúblico. A mídia estende a outros de maneiramais ampla <strong>do</strong> que seria possível eminterações face-aface ou presenciais, o <strong>potencial</strong>para que os representantes tornem-seresponsáveis (answerable) (Dahl, 1985;Thompson, 1995). Quan<strong>do</strong> estendi<strong>do</strong> paraalém <strong>do</strong>s contextos de roti<strong>na</strong>, o processo deaccountability pública é medi<strong>do</strong> em termosde conquistas práticas contínuas. Está associa<strong>do</strong>a uma diversidade de mecanismos decoorde<strong>na</strong>ção, explicação e justificação, apartir de preceitos morais e legais.A mídia cria uma base reflexiva quepermite os atores sociais mudar suas formasde apresentação, interpretação e comunicaçãodiante de atores concretos <strong>do</strong> sistemapolítico, e, também, diante de uma audiênciaimplícita de cidadãos. Como vimos, expressare trocar interpretações publicamente podealterar o mo<strong>do</strong> pelo qual os agentes adquireme usam o conhecimento. Se, imediatamenteapós o fim <strong>do</strong> sequestro, o Gover<strong>na</strong><strong>do</strong>r<strong>do</strong> Rio elogiou a ação “enérgica” dapolícia e considerou que o episódio teve “omelhor desfecho possível”, tal avaliação foidrasticamente alterada:“Garotinho.... mu<strong>do</strong>u de idéia e classificou-a[a ação da polícia] como umfracasso, “um desfecho desastroso, foia pior coisa que poderia ter aconteci<strong>do</strong>”.51“Antes ele tinha uma visão, depoisexaminou os fatos, olhou as fotos emu<strong>do</strong>u de posição e classificou-acomo um fracasso e trocou a chefiada PM. Fez incontáveis reuniões.Criticou sua polícia e prometeu verbas,programas e ações especiais, alémde indenizar os parentes de Geísa”. 52A mídia não é – nem poderia ser––responsável pela cadeia de ações que segueseu curso dentro das instituições, no sistemapolítico. Obviamente, a série de demissõesda cúpula da PM seguiu pressões e negociaçõesde interesses que se dão longe davisibilidade pública. Não obstante, é inegávelque a mídia é fundamental para a constituiçãopública <strong>do</strong>s eventos – como o casoem tela – bem como para catalisar o debateamplo sobre problemas que se acumulam emcertos setores ou instituições, através <strong>do</strong>agrupamento de questio<strong>na</strong>mentos específicose da busca ativa por soluções.A análise <strong>do</strong>s padrões argumentativosapresenta<strong>do</strong>s pela corporação policial sobreo evento <strong>do</strong> ônibus 174, <strong>na</strong> mídia, evidenciauma série de obstáculos e patologias quebloqueiam a sintonização <strong>do</strong> desempenho dacorporação com os interesses públicos. Noprocesso de discussão pública, ficou evidenteo reduzi<strong>do</strong> espaço para o aparecimento <strong>do</strong>sujeito da argumentação e da negociação. Nãoque os membros da corporação policial senegassem arbitrariamente ao diálogo, mas elesficaram, <strong>na</strong> maioria das vezes, enclausura<strong>do</strong>s<strong>na</strong> repetição de regras formais, seguin<strong>do</strong>padrões convencio<strong>na</strong>is de justificação. Aoserem chama<strong>do</strong>s a prestar contas, os oficiaispúblicos, que “geralmente possuem umconhecimento completo sobre os constrangimentoslegais”, como ressalta Mulgan, “enquadramsuas políticas e decisões de mo<strong>do</strong>a se manterem dentro <strong>do</strong>s limites legaisimpostos a eles” (Mulgan, 2000: 564).Cabe indagar que tipo de accountabilitypode-se obter de agentes de instituições cujomodus operandi interno permanece nãopúblico. Particularmente no caso da políciacarioca, como define Luis Eduar<strong>do</strong> Soares,“estamos diante de um universo corporativista


562 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVfecha<strong>do</strong>, fortemente marca<strong>do</strong> por comprometimentose cumplicidades degradantes, comuma imagem pública negativa, ata<strong>do</strong> a tradiçõesautoritárias e burocratizantes, infensoao planejamento, à avaliação, refratário aocontrole externo e insensível às demandas dasociedade” (Soares, 2000: 148). Obviamente,as instituições que negligenciam os anseios<strong>do</strong> público e sistematicamente resistem àsdemandas de transformação perdem legitimidade.Isso coloca problemas para a efetividade<strong>do</strong> debate público e para os mecanismos deaccountability, considerada como o deverde atender os desejos e as necessidades <strong>do</strong>cidadão, ou como um mecanismo de controledemocrático. Ora, a accountability pressupõeexatamente a existência de uma conexãoentre o fluxo de comunicação <strong>do</strong>público e o da instituição pública. Como dizHabermas:“Durante os processos de sintonização,não pode romper-se o laço dadelegação de competências de decisão.Somente assim é possível conservaro vínculo com o público decidadãos, os quais têm o direito ese encontram <strong>na</strong> condição de perceber,identificar e tematizar publicamentea i<strong>na</strong>ceitabilidade social desistemas de funcio<strong>na</strong>mento”.(Habermas, 1997:83)Se há uma impermeabilidade permanente,por parte da instituição, aos fluxos comunicativosadvin<strong>do</strong>s da esfera pública, estesnão só deixam de resolver os problemas quepretendem resolver como, também, tor<strong>na</strong>mseinócuos para restabelecer estruturas paraa accountability política. Sabemos bem queum aparato administrativo e legal adequadamenteflexível e ajusta<strong>do</strong> aos interesses <strong>do</strong>scidadãos está longe de ser o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>desejo de indivíduos isola<strong>do</strong>s. De formafrequente, as instituições burocráticas podemnão só deixar de proporcio<strong>na</strong>r instalações earranjos legais adequa<strong>do</strong>s, corresponden<strong>do</strong>apropriadamente aos interesses públicos,como, também, desviar-se de processos desupervisão independente, e, assim, esquivarse<strong>do</strong> “dever de prestar contas”.Não obstante, é preciso perceber que,mesmo quan<strong>do</strong> a deliberação fracassa, oprocesso de troca de visões, argumentos ecríticas que se inicia fora das instituiçõesprepara o caminho para a renovação dessasmesmas instituições. Como Bohman discute,a deliberação dentro de instituiçõesmeramente re-arranja, ao invés de modificar,o conjunto de instalações, dispositivos ealter<strong>na</strong>tivas disponíveis. Quan<strong>do</strong> a deliberaçãoe o mo<strong>do</strong> “normal” de resolver problemasmostram-se bloquea<strong>do</strong>s, o público nãopode mais deliberar de mo<strong>do</strong> restrito, confi<strong>na</strong><strong>do</strong>aos desenhos institucio<strong>na</strong>is existentes.Quan<strong>do</strong> as instituições tor<strong>na</strong>m-se impermeáveisem relação à esfera pública e acomunicação é bloqueada por práticas culturaiscristalizadas ou por roti<strong>na</strong>s institucio<strong>na</strong>isirresponsáveis, os agentes críticos têmque se engajar precisamente nesse tipo dediscurso crítico para alcançar o efeito deseja<strong>do</strong>:reabrir um diálogo amplia<strong>do</strong> e trazerà to<strong>na</strong> problemas latentes da instituição parao reconhecimento público, demandan<strong>do</strong> atençãopública e nova regulamentação. Do mo<strong>do</strong>de vista normativo <strong>do</strong> sistema democrático,importa saber que constelações de poder serefletem nesses padrões de ação de determi<strong>na</strong>dasinstituições e como é possível mudálos.Como aponta Habermas, esse novo mo<strong>do</strong>de operar tem a consciência de crise, maioratenção pública, busca intensificada desoluções, tu<strong>do</strong> contribuin<strong>do</strong> numaproblematização. Nos casos em que a percepção<strong>do</strong>s conflitos e as próprias problemáticassão transformadas pelos conflitos, crescea atenção e se desencadeiam controvérsias<strong>na</strong> esfera pública, envolven<strong>do</strong> aspectosnormativos <strong>do</strong>s problemas enfoca<strong>do</strong>s(Habermas, 1997:89).Nesse senti<strong>do</strong>, a comunicação que sedesenrola nos meios de comunicação é crucial.Os agentes da mídia processam fluxoscomunicativos de origem e orientações diversas,direcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-os para um agrega<strong>do</strong>comum. Ainda que determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s atores seesquivem da comunicação aberta e transparente,no intuito de resguardar, muitas vezes,interesses corporativistas ou particularistas,precisamente por razões não-públicas e pormo<strong>do</strong>s não-públicos de atuação, a comunicaçãonão fica restrita a eles. Ao invés disso,


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS563ela se entrelaça com a fala de outros atorespolíticos da sociedade complexa ediversificada. Como vimos, os atores dasociedade civil estavam menos preocupa<strong>do</strong>sem restabelecer a coorde<strong>na</strong>ção das açõesparticulares <strong>do</strong> episódio <strong>do</strong> ônibus 174 e maisem tematizar os problemas sócio-econômicosmais amplos que levam à violência urba<strong>na</strong>e os déficits <strong>do</strong> modelo de polícia vigente.Buscam, com isso, atualizar, dentro <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> de Direito, “sensibilidades em relaçãoàs responsabilidades políticas reguladasjuridicamente” (Habermas, 1997: 89).Nesse senti<strong>do</strong>, os mecanismos de inovaçãoe os trâmites rotineiros das instituiçõespodem se ver pressio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a sofrer uma‘aceleração’.Diante das controvérsias geradas em torno<strong>do</strong> evento <strong>do</strong> ônibus 174 e da prolongadacrise de legitimidade das instituições encarregadasda segurança pública 53 , o Presidenteda República decidiu antecipar o anúncio <strong>do</strong>Plano de Segurança Nacio<strong>na</strong>l – um ambiciosoplano envolven<strong>do</strong> 124 ações, com propostase programas direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s oselos <strong>do</strong>s fluxos de justiça crimi<strong>na</strong>l 54 e comsignificativa cessão de recursos para asunidades sub-federativas. Efetivamenteimplementa<strong>do</strong> em 2000, o Plano evidenciao comprometimento <strong>do</strong> governo federal coma questão da segurança pública, que, até então,era praticamente exclusiva <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s 55 .Não se pode supor, apesar disso, efetivademocratização <strong>do</strong>s processos de inovaçãoinstitucio<strong>na</strong>l. Após 3 anos de implementação<strong>do</strong> Plano de Segurança Nacio<strong>na</strong>l, diversosestu<strong>do</strong>s têm aponta<strong>do</strong> que diagnósticos sobrecada questão em particular não foram realiza<strong>do</strong>s.Não houve debates mais amplos quepermitissem uma compreensão das vicissitudespresentes nos vários campos e, ainda, umadefinição mais precisa acerca de modelosideais de funcio<strong>na</strong>mento das instituições emque se queria intervir. Para resolver problemascomplexos, o planejamento inteligente<strong>do</strong> governo central exige mais que vontadepolítica e recursos fi<strong>na</strong>nceiros (Beato, 2001;2000:12) 56 . Programas de intervenção social,pressupon<strong>do</strong> ações multidiscipli<strong>na</strong>res einterinstitucio<strong>na</strong>is, focalizadas geograficamente,requerem a cooperação continuada dediversos atores sociais e processos de aprendizagemcoletiva, para que novas orientaçõese soluções criativas sejam alcançadas e passema guiar os projetos institucio<strong>na</strong>is e asatividades práticas.Por fim, a mídia não está obviamente livrede seus próprios obstáculos, seja no âmbitode suas organizações institucio<strong>na</strong>is, seja noâmbito de suas práticas sociais. Contu<strong>do</strong>, paraalém <strong>do</strong>s jogos de interesses de atores sociaisparticulares, que buscam controlar osfluxos e os conteú<strong>do</strong>s da comunicação, oudas estratégias visan<strong>do</strong> administrar a própriaimagem (Thompson, 1996, 2000; MaWby,2002), a visibilidade midiática é formada poruma pluralidade de agentes, sen<strong>do</strong> quenenhum ator pode constituí-la de maneiraisolada ou exclusiva. Do ponto de visanormativo, interessa identificar os obstáculosque impedem a mídia de cumprir sua funçãocomo fórum de debate pluralista <strong>na</strong>s sociedadesdemocráticas, estabelecen<strong>do</strong> plataformasque permitam a expressão de pontos devista de políticos, de representantes da sociedadecivil e de grupos de interesse, favorecen<strong>do</strong>a construção de práticasdeliberativas ampliadas. Resta saber comotor<strong>na</strong>r a mídia mais accountable.NOTA. Agradeço a Gisele Gomes deAlmeida, Bolsista de Iniciação Científica,pela preciosa colaboração <strong>na</strong> coleta e <strong>na</strong>categorização <strong>do</strong> material empírico. UniversidadeFederal de Mi<strong>na</strong>s Gerais – Depto deComunicação Social, FAFICH


564 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAbreu, Alzira. Jor<strong>na</strong>lismo cidadão. Estu<strong>do</strong>sHistóricos. Rio de Janeiro, n.31, p.25-40.A<strong>do</strong>rno, Sérgio. A Crimi<strong>na</strong>lidade Urba<strong>na</strong>Violenta no Brasil – Um recorte temático.BIB, no 35, 1 sem., 1993, pp. 3-24.Arendt, Han<strong>na</strong>h. Da Violência. Brasília:Ed. Universidade de Brasília, 1985.Avritzer, Leo<strong>na</strong>r<strong>do</strong>. Democracy andPublic space in Latin America. Princeton:Princeton University Press, 2002.Beato F., Cláudio C. Informação e desempenhopolicial. Teoria e Sociedade. Junho,2001, pp.117-150.Beato F., Cláudio C. Polícia e sociedadedemocrática. Conjuntura Política, no 17, abrilde 2000, pp.9-12.Belli, Benoni. Polícia, “tolerância zero”eexclusão social. Novos Estu<strong>do</strong>s Cebrap. No58, novembro de 2000, pp157-172.Bohman, James. Public Deliberation:Pluralism, complexity and democracy.Massachusetts: MIT Press, 2000.Carvalho, José Murilo de Cidadania noBrasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2001.Chambers, Simone. Reaso<strong>na</strong>bleDemocracy. Cornel: Cornel University Press,1996.Cohen, Joshua. Deliberation anddemocratic legitimacy. pp. 67-92 in J.Bohman and W. Rehg (eds.) DeliberativeDemocracy. Lon<strong>do</strong>n: MIT Press, 1997.Dagnino, Eveli<strong>na</strong>. Sociedade civil eespaços públicos no Brasil. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 2002.Dahl, Robert. A Preface to EconomicDemocracy. Cambridge: Polity Press, 1985.Dewey, John. The Public and itsProblems. Chicago: Swallow Press, 1954.Ekecrantz, Jan. Jour<strong>na</strong>lism’s ‘discursiveevents’ and sociopolitical change in Sweden1925-87. Media Culture & Society. Vol. 19,1009, pp. 393-412.Foucault, Michel. Vigiar e Punir.Petrópolis: Vozes, 1987.Giddens, Anthony. Modernity and selfidentity.Stanford, Stanford University Press,1991.Gomes, Wilson. Esfera pública políticae media II. pp. 201- 231 in A.A.C. Rubbimal. (eds.) Práticas Discursivas <strong>na</strong> CulturaContemporânea. São Leopol<strong>do</strong>: Unisinos,Compós. 1999.Gurevitch, M. & Blumer, G. Politicalcommunication systems and democraticvalues. In Linchenberg, J. Democracy andthe mass media. Cambridge, 1990.Gutmann, A. & Thompson, D. Thescope of accountability. In ___. Democracyand Disagreement Cambridge: HarvardUniversity Press. 1996, pp. 128-164Habermas, Jurgen. Direito e Democracia:entre faticidade e validade. Rio deJaneiro: Tempo Brasileiro, 1997.Hunold, Christian. Corporatism,Pluralism and Democracy: Towards aDeliberative Theory of BureaucraticAccountability. Gover<strong>na</strong>nce: an inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>lJour<strong>na</strong>l of Policy and Administration. Vol14, no 2, April, 2001, pp.151-167.IPEA – Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada. ‘Segurança Publica’. In ___.Políticas Sociais – Acompanhamento eAnálise. Vol 6, fev., 2003, pp.88-98.Lattman-Weltman, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>. Mídia eAccountability: Dimensões e condições daPoliarquia Midiática. 10º Encontro Anual daCompós, Brasília, GT Comunicação & Política,2001.Maia, Rousiley. Dos dilemas da visibilidademidiática para a deliberação pública.Texto apresenta<strong>do</strong> no GT Comunicação ePolítica, XII Reunião anual da Compós, 2003.Mouillaud, Maurice (org.). O Jor<strong>na</strong>l: daforma ao conteú<strong>do</strong>. Brasília. UNB, 2002.Mawby, Rob. Continuity and Change,convergence and divergence: the Police andpractice of police-media relations. Crimi<strong>na</strong>lJustice, vol 2 no 3, 2002, pp.3003-324Mulgan, Richard. Accountability: anever-expanding concept? PublicAdministration. Vol 78, no3, 2000, pp. 555-573.Neves, Bráulio de Brito. Da Câmara noBarraco à Rede Nacio<strong>na</strong>l: o Evento daFavela Naval. Belo Horizonte: UFMG.(Dissertação, Mestra<strong>do</strong> em ComunicaçãoSocial) 2000.Norris, Pippa. A Virtuous Circle ––Political Communications in PostindustrialSocieties. Cambridge: Cambridge UniversityPress. 2000.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS565Paixão, Antônio L. & Beato, F., Cláudio,C. Crimes, vítimas e policiais. Tempo Social.Vol. 3, no 1, maio de 1997, pp. 233-247.Paoli, Maria Célia & Telles, Vera da Silva.Direitos sociais: conflitos e negociações noBrasil contemporâneo. In: Alvarez, S. et al.(orgs.). Cultura e política nos movimentosociais latino-americanos. Belo Horizonte:Ed. UFMG, 2000, p.103-148.Prichard, David. The process of mediaaccountability. IN : _____ (org) Holding theMedia Accountable: Citizens, Ethics and theLaw. Bloomington: India<strong>na</strong> University Press,2000.Roberts, Nancy C. Keeping PublicOfficials Accountable through Dialogue:Resolving the Accountability Para<strong>do</strong>x. PublicAdministration Review. Nov./Dec. 2002, vol62, no6., pp.658- 669.Rocha, Rose de M. Comunicação daViolência: Desrealização e Perlaboração. In:França, V. et al. Estu<strong>do</strong>s de Comunicação– Livro <strong>do</strong> XI Compós. Porto Alegre: Suli<strong>na</strong>,2003, pp. 59-84.Rodrigues, Marta M. A. Accountability& Poder constitucio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> executivo brasileiro.Teoria Social, n. 9, 2002, pp.158-201.Romzek, Barbara S. & Melvin, J.Dubnick. Accountability and the PublicSector: Lessons from the Challenger Tragedy.Public Administration Review, vol. 47, no.3, 1987, pp. 227-38.Rondelli, Elizabeth. Imagens da violênciae práticas discursivas. In: Pereira, C. M.(org). Linguagens da Violência. Rio deJaneiro: Rocco, 2000.Sapori, Luís Flavio & Souza, SilasBar<strong>na</strong>bé. Violência Policial e cultura militar:aspectos teóricos e empíricos. Teoria eSociedade. Junho, 2001, pp.173-213.Shapiro, Ian. Optimal Deliberation? TheJour<strong>na</strong>l of Political Philosophy. Vol. 10, no.2,2002, pp.196-211.Soares, Luis E., Segurança Pública edireitos Humanos – Entrevista de LuizEduar<strong>do</strong> Soares a A<strong>do</strong>rno Sérgio. NovosEstu<strong>do</strong>s Cebrap. No 57, jul. 2000, pp.141-154.Souza, Elenice de. Organização Policiale os desafios da democracia. Teoria e Sociedade.Junho, 2001, pp.151-172.Strom, Kaare. Delegation andaccountability in parliamentary democracies.European Jour<strong>na</strong>l of Political Research, 37,261-289, 2000.Thompson, John B. The Media andModernity. Cambridge: Cambridge UP. 1995.Thompson, John B. Political Scandal:Power and visibility. Cambridge: Polity Press.2000.Velho, Gilberto. Violência, reciprocidadee desigualdade: uma perspectiva antropológica.In. Velho, G. e Alvito, M. (Orgs).Cidadania e violência. Rio de Janeiro, EditoraUFRJ, FGV, 1996.Zaluar, Alba. A globalização <strong>do</strong> crimee os limites da explicação local. In: Velho,Gilberto e Alvito, Marcos (Orgs). Cidadaniae violência. Rio de Janeiro, Editora UFRJ,FGV, 1996.Zaluar, Alba. Um debate disperso: violênciae crime no Brasil da redemocratização.São Paulo em Perspectiva, vol 12, no 3, 1999,pp.3-17._______________________________1Universidade Federal de Mi<strong>na</strong>s Gerais. Estetexto apresenta resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>do</strong> projeto depesquisa intitula<strong>do</strong> “Mídia e dimensões da deliberação”,fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong> pelo CNPq.2Dada a dificuldade em traduzir o termoaccountability de maneira precisa <strong>na</strong> línguaportuguesa, este termo vem sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> eminglês <strong>na</strong> maior parte <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre o tema(Rodrigues, 2002; Avritzer, 2002; Lattman-Weltman, 2001).32 O corpus empírico constitui-se de 128matérias jor<strong>na</strong>lísticas veiculadas entre 13/06/00 a22/06/00, assim distribuídas entre os veículos:Esta<strong>do</strong> de Mi<strong>na</strong>s: 55; Folha de São Paulo: 68;Veja: 1 (matéria com chamada <strong>na</strong> capa); Isto É:2 (matéria de capa); Época: 2 (matéria de capa).4O sequestro foi transmiti<strong>do</strong> pelas principaisredes de televisão <strong>do</strong> país e pela CNN, quedistribuiu as imagens numa cadeia mundial.5Tal noção é desenvolvida por diversosautores, tais como S. Chambers, J. Cohen, J.Fishkin, A. Gutmann, J. Dryzek e J. Habermas,que focalizam a deliberação <strong>na</strong> sociedade civil,sustentan<strong>do</strong> um modelo descentra<strong>do</strong> de deliberação,ao invés da deliberação em instituiçõesadministrativas formais.6Ao perceber a presença das câmeras de TV,o próprio sequestra<strong>do</strong>r estabelece estratégias decomunicação com o público, personifica o criminososádico e ence<strong>na</strong> dramatizações de mautratosàs vítimas. Além disso, simulou a mortede outra refém e solicitou ao grupo que demons-


566 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtrasse pânico, como esclareci<strong>do</strong> pelas vítimas emdiversas entrevistas, <strong>na</strong> mídia e no <strong>do</strong>cumentário“Ônibus 174”, de José Padilha, realiza<strong>do</strong> em 2002.718/06 – FOLHA – cotidiano – C6 .8“Na minha fantasia, eu trocava de ca<strong>na</strong>l comose estivesse ven<strong>do</strong> um filme violento, que acabariacom um ato de bravura <strong>do</strong>s mocinhos. Obandi<strong>do</strong> seria alveja<strong>do</strong> com um tiro certeiro e asvítimas acabariam salvas” (Jorge Luis de PaulaBaptista, em grupo de discussão <strong>na</strong> Internet, 18/06 – FOLHA – cotidiano – C6) 18/06 – FOLHA– cotidiano – C11).918/06 – FOLHA – cotidiano – C8.1018/06 – FOLHA – cotidiano – C8.1118/06 – FOLHA – cotidiano – C11.12Um tratamento adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> objeto exigeque se discrimine a<strong>na</strong>liticamente entre as tendênciase características das práticas delituosas, a fimde se apreender, num intervalo de um tempo, quaisas ocorrências policiais que manifestam crescimentoe retração, por cidades ou regiões, comparativamentea um perío<strong>do</strong> anterior. Os índicesde crimi<strong>na</strong>lidade urba<strong>na</strong> violenta vêm crescen<strong>do</strong>paulati<strong>na</strong>mente em termos absolutos nos anos 80e 90 e, após 1992 tal crescimento se evidenciaparticularmente <strong>na</strong> taxa de assassi<strong>na</strong>tos (IBGE,1992-1999). Os estu<strong>do</strong>s de Paixão evidenciam que,entre 1932 e 1987, as taxas médias de crime emBelo Horizonte e São Paulo decresceram substancialmenteem relação ao número total de crimese em relação a cada categoria em particular(Paixão, A<strong>do</strong>rno, 1993:4). A crimi<strong>na</strong>lidade <strong>na</strong>scapitais <strong>do</strong> sudeste tem decli<strong>na</strong><strong>do</strong> enquanto oscrimes contra a pessoa têm aumenta<strong>do</strong> em muitascapitais <strong>do</strong> Nordeste e <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> país (IPEA,2003).1314/06 – EM – política – p.8.14Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano –C3).15Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano –C4).1614/06 – EM – política – p.8.17FHC (13/06 – FOLHA – cotidiano – C2.1813/06 – FOLHA – cotidiano – C2.19A visão da democracia representativa comouma cadeia de delegação e accountability é umasimplificação em diversos aspectos. Primeiro, osagentes políticos podem ser individuais oucoletivos, assim como os “cidadãos” (principals).Atores coletivos complicam o exercício dedelegação e accountability. Segun<strong>do</strong>, os eleitores,como detentores em última instância da soberania,defrontam-se com grandes problemas decoorde<strong>na</strong>ção. Em sociedades de larga escala, elesnão podem simplesmente decidir sobre os processosde recrutamento e de supervisão <strong>do</strong>soficiais e nem instruir ativamente seus dirigentes.É nesse senti<strong>do</strong> que modelos deliberativos dedemocracia defendem que, entre os processosdesti<strong>na</strong><strong>do</strong>s a agregar preferências, as práticas dedebate coletivo são os meios legítimos para aconstrução e a defesa de interesses comuns, bemcomo a tomada de decisões que vinculam legalmenteos cidadãos.20FHC (13/06 – FOLHA – cotidiano – C2e C4; 13/06 – EM – <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l – p.7).2113/06 – FOLHA – cotidiano – C4.22Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano –C3).23Josias Quintal (14/06 - FOLHA – cotidiano– C6).24Romzek e Dubnick (1987) propõem distinguirentre diferentes formas de accountability,a partir da fonte de controle (interno ou externo)e <strong>do</strong> grau de controle exerci<strong>do</strong> sobre os agentespúblicos (alto ou reduzi<strong>do</strong>). São elas: Aaccountability burocrática – com alto <strong>potencial</strong>de controle interno – deriva-se de arranjos hierárquicosque são basea<strong>do</strong>s <strong>na</strong> supervisão e <strong>na</strong>organização de diretrizes; a accountability legal– com alto <strong>potencial</strong> de controle externo – é garantidapor arranjos contratuaiss: a accountabilityprofissio<strong>na</strong>l – com baixo controle interno – ébaseada <strong>na</strong> observância da expertise pelos paresou por grupos de trabalho, já a accountabilitypolítica – com baixo <strong>potencial</strong> de controle externo– é estabelecida pela capacidade <strong>do</strong>s representantesde prestarem contas e darem satisfações.25Presidente <strong>do</strong> Sindica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s delega<strong>do</strong>s (13/06 – FOLHA – cotidiano – C4).26Coronel da Polícia Militar de São Paulo,especialista em tiro defensivo e ações táticas.27Coronel da PM, pesquisa<strong>do</strong>r da área desegurança <strong>do</strong> Instituto de Segurança Fer<strong>na</strong>ndBraudel (21/06 – VEJA – p.44).28“Agonia... ação desastrada... e um desfechotrágico”. VEJA, 21/06/2002, p.42-43; FOLHA –cotidiano - 14/06 – C12).29Geral<strong>do</strong> Magela Quintão (16/06 – EM –política, p.5).30José Gregori (16/06 – EM – política – p.5).3114/06 - FOLHA – cotidiano – C6.32Coronel José Vicente da Silva (13/06 –FOLHA – cotidiano – C3).33Tenente coronel José Pentea<strong>do</strong> (21/06 –ISTOÉ – p.30 e 32).34Tenente coronel José Pentea<strong>do</strong> ( 14/06 –FOLHA – cotidiano – C6).35Tenente-coronel José Pentea<strong>do</strong> (14/06 –FOLHA – cotidiano – C6; 21/06 – ISTOÉ – p.30e 32).3621/06 – ISTOÉ – p.30 e 32.3713/06 – FOLHA – cotidiano – C3.38Capitão reforma<strong>do</strong> <strong>do</strong> Exército (14/06 –FOLHA – cotidiano – C12),3913/06 – FOLHA – cotidiano – C4.4013/06 – EM – <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l – p.7.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS56741Não foi detectada, <strong>na</strong>s matérias exami<strong>na</strong>das,nenhuma declaração oficial confirman<strong>do</strong> taltelefonema <strong>do</strong> Presidente.42Garotinho (14/06 – FOLHA – cotidiano –C7 e C12).4314/06 – FOLHA – cotidiano – C6.4422/07 – FOLHA – cotidiano – C5.45O solda<strong>do</strong> Marcelo Oliveira <strong>do</strong>s Santos éafasta<strong>do</strong> pelo BOPE <strong>do</strong> serviço policial por tempoindetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> encaminhan<strong>do</strong> a uma clínica,com o diagnóstico de depressão (16/06 –FOLHA – cotidiano – C3).4622/06 – FOLHA – cotidiano – C4 P54.47Um <strong>do</strong>s policiais teve o braço quebra<strong>do</strong> eos advoga<strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caso tomam essefato como evidência de que houve um embate entreos policiais e Sandro. As versões são controversas:uma advogada afirma que o conflito ocorreudentro <strong>do</strong> camburão, quan<strong>do</strong> o sequestra<strong>do</strong>r tentouapanhar a arma <strong>do</strong> policial; já outra advogadaafirma que o embate ocorreu no momento em queo policial tentava <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r o sequestra<strong>do</strong>r, aplican<strong>do</strong>-lheuma ‘‘gravata’’, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora daviatura (16/06 – EM <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l p.7; 16/06 FOLHA- cotidiano – C1).48Chaia Ramos e Daniele Braga (16/06 – EM<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l p.7 e 16/06 FOLHA – cotidiano – C1).49Em junho e julho de 2002, houve diversasmanifestações da sociedade civil demonstran<strong>do</strong> osentimento generaliza<strong>do</strong> de exaustão diante daviolência, tais como as passeatas “Morro e Asfalto”no Rio de Janeiro em 18/06, “Basta! Euquero Paz”, realizada em mais de 15 esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>país em 7/07. Alem disso, a instituição “Sou daPaz” organizou em 2000 a campanha “Basta! Euquero Paz”, em âmbito <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, atuan<strong>do</strong> em 3frentes principais: (i) promoção de debates sobreos diversos aspectos da violência, organização deencontros e consultorias com especialistas sobreo tema e com lideranças sociais representativasem to<strong>do</strong> país; (ii) desenvolvimento de ações demobilização social pelo desarmamento e controleradical <strong>do</strong> uso da arma de fogo (pelos criminosos,pela polícia e pela população em geral); (iii)valorização da polícia e desenvolvimento demecanismos de cooperação entre os sistemas desegurança pública e a sociedade civil, através deações comunitárias (http://www.soudapaz.org/campanhas/index.html).5015/06 – FOLHA – cotidiano – C1.5114/06 – EM e FOLHA – política e cotidiano– p.3 e C12.5221/06 – ISTOÉ – p.31.53“Ele (FHC) decidiu antecipar o anúncio <strong>do</strong>plano, em estu<strong>do</strong> desde o início <strong>do</strong> ano, por contada ação desastrosa da polícia no sequestro de umônibus no Rio de Janeiro” (15/06 – FOLHA -cotidiano – C5). Defenden<strong>do</strong>-se de críticas deoportunismo político, FHC afirma: “Não soudemagogo. Não há impacto que resolva o problemada segurança <strong>do</strong> cidadão; o que há é açãocontinuada” (16/06 – EM – política – p.5).54O Plano Nacio<strong>na</strong>l de Segurança Públicaapresenta propostas e programas direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s àpolícia (“Programa Segurança <strong>do</strong> Cidadão”,“Combate ao Crime Organiza<strong>do</strong>”); ao MinistérioPúblico e à justiça (com propostas deReformulação <strong>do</strong> Código Pe<strong>na</strong>l e <strong>do</strong> Código <strong>do</strong>Processo Pe<strong>na</strong>l), ao setor sócio-<strong>educativo</strong> dereabilitação (Programa de Re-inserção Social <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente em Conflito com a Lei) e <strong>do</strong> próprioSistema Penitenciário Nacio<strong>na</strong>l (ProgramaReestruturação <strong>do</strong> Sistema Penitenciário).55A execução orçamentária no âmbito <strong>do</strong>Ministério da Justiça evidencia que as aplicaçõesem programas liga<strong>do</strong>s à segurança pública aumentaramde R$ 128 milhões, em 1995, para R$ 871milhões, em 2002 (em valores reais, a preços dedezembro de 2001) (IPEA, 2003:97).56De tal sorte, os recursos acabaram sen<strong>do</strong>desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s à reprodução de modelos anterioresconstituí<strong>do</strong>s, obsoletos ou deficientes (Soares 2000,Beato, 2001, Souza 2001). O “Programa Segurança<strong>do</strong> Cidadão”, por exemplo, investiu maisde R$ 1 bilhão de 2000 a 2003, principalmente<strong>na</strong> compra de veículos e <strong>na</strong> intensificação <strong>do</strong>policiamento ostensivo, “como se o problema daspolícias no país fosse meramente a insuficiênciade recursos, mais <strong>do</strong> que o esgotamento de ummodelo policial ultrapassa<strong>do</strong>” (IPEA, 2003:98).


568 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS569“A Ponte mais vista <strong>do</strong> país”:o que se disse da cobertura jor<strong>na</strong>lística da queda da ponte de Entre-os-Rios 1Sandra Marinho 2A estória <strong>do</strong>s acontecimentosFazer o relato <strong>do</strong>s acontecimentos desencadea<strong>do</strong>spelo desabamento de parte da ponteHintze Ribeiro, <strong>na</strong> noite de 4 de Março de2001, resultaria sempre numa estória incompleta.Haveria que dar conta <strong>do</strong> trabalho daComissão de Inquérito, <strong>do</strong>s esforços dasequipas de busca, da construção da novaponte, das indemnizações, da decisão judicialde arquivar o processo, enfim, de umconjunto de factos e situações que fariam aestória da queda da ponte de Entre-os-Rios.Mas não é esse o relato que aqui nos interessa.Não nos importa descrever os acontecimentos,nem sequer avaliar a coberturaque os media deles fizeram. Queremos, sim,dar conta <strong>do</strong> que foi dito sobre a produçãojor<strong>na</strong>lística: a opinião publicada.Por isso, os limites temporais pelos quaisnos orientamos são defini<strong>do</strong>s, precisamente,pelos acontecimentos que suscitaram a produçãode notícias e o debate em torno dasorientações e características dessa produção.Sen<strong>do</strong> assim, elegemos como limites para aanálise os textos publica<strong>do</strong>s entre o dia 5 deMarço de 2001 (o dia a seguir à queda daponte) e o dia 7 de Abril de 2001, data emque foi retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> Douro o segun<strong>do</strong> carro(<strong>do</strong>s três que caíram, juntamente com oautocarro), o que perfaz aproximadamente ummês. Esta delimitação temporal émeto<strong>do</strong>lógica e orienta a pesquisa <strong>do</strong> materialpara a análise. Isto não impede que, casotivesse si<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong> um texto de reflexãoposterior, ele tivesse si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>.Posto isto, passemos aos factos principais,começan<strong>do</strong> pela noite de 4 de Marçode 2001: faltariam poucos minutos para as23h, quan<strong>do</strong> desabou a ponte Hintze Ribeiro,em Entre-os-Rios, arrastan<strong>do</strong> consigo umautocarro com 59 pessoas e três carros.Tratava-se <strong>do</strong> maior acidente ro<strong>do</strong>viárioocorri<strong>do</strong> em Portugal. As operações de resgatecomeçaram <strong>na</strong> manhã seguinte, ao sabordas condições meteorológicas e <strong>do</strong> caudal <strong>do</strong>rio. Para o local deslocou-se uma equipa <strong>do</strong>Instituto Hidrográfico, chefiada pelo comandanteAugusto Ezequiel, o homem que haveriade ser o rosto das conferências de imprensaque foram transmitidas nos telejor<strong>na</strong>is, daligação entre os técnicos e os familiares dasvítimas, enfim, o pivot da operação. Ao localafluíram, desde o primeiro dia, cente<strong>na</strong>s depopulares, jor<strong>na</strong>listas e políticos e to<strong>do</strong>s osportugueses passaram a saber o que são“so<strong>na</strong>res”, “ROV’s”, “poitas” e“magnetómetros”. O acontecimento é segui<strong>do</strong>pela imprensa inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l: CNN, SkyNews, Reuters TV, Rai Uno ou TV5 abremos seus noticiários com o relato da tragédia.O primeiro cadáver é resgata<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio Dourono dia seguinte ao <strong>do</strong> desabamento e, a 6de Março, é feito o 1.º briefing em directoa partir de Castelo de Paiva, uma estratégiade comunicação implementada para controlara informação difundida pelos meios decomunicação:“Os carros das televisões com asante<strong>na</strong>s apontadas ao céu indicavamque o país se tinha muda<strong>do</strong> em pesopara Castelo de Paiva. Ca<strong>na</strong>is de TVe rádio transmitiam em directo declaraçõesoficiais, comunica<strong>do</strong>s à imprensa,comentários ao acidente,desabafos, uma ou outra inconfidênciaapanhada <strong>na</strong> mistura explosiva eanárquica entre fontes de informaçãoe órgãos de comunicação social.(…) Declarações das entidades envolvidas<strong>na</strong>s buscas só a horas previamentedetermi<strong>na</strong>das e em conferênciade imprensa. As orientações foramdadas por um assessor <strong>do</strong> primeiroministro.António Guterres já estavaem Lisboa, mas deixou os olhos e osouvi<strong>do</strong>s em Castelo de Paiva. A partirdesse dia um novo termo entrou novocabulário diário <strong>do</strong>s portugueses,


570 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque passaram a almoçar e jantar aosom <strong>do</strong> briefing em directo de Castelode Paiva” (Ezequiel & Vieira,2002: 35,36).Um resulta<strong>do</strong> político imediato foi opedi<strong>do</strong> de demissão <strong>do</strong> então ministro <strong>do</strong>Equipamento e Obras Públicas, Jorge Coelho.Instaura-se um inquérito para apurar ascausas e responsabilidades <strong>do</strong> acidente e oGoverno decide indemnizar os familiares dasvítimas. A 7 Março, to<strong>do</strong> o país acompanhaem directo o primeiro mergulho <strong>na</strong>s águas<strong>do</strong> Douro, a primeira tentativa falhada:“Muito provavelmente foram os 20segun<strong>do</strong>s mais emocio<strong>na</strong>ntes da históriarecente da televisão portuguesa,isto apesar de <strong>na</strong>da mostrar. Afi<strong>na</strong>lquase tu<strong>do</strong> se passou debaixo de água.O mergulho foi transmiti<strong>do</strong> em directoe a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> ao pormenor por especialistasem estúdio e repórteres no local”(Ezequiel & Vieira, 2002: 43,44).Ao longo <strong>do</strong>s dias que se seguem, hácorpos a dar à costa <strong>na</strong> Galiza, intervençõesfalhadas de equipas de resgate estrangeiras,realiza-se o primeiro funeral e toma posseo Presidente da República Jorge Sampaio.Domingo, 11 de Março, é o dia marca<strong>do</strong> paravoltar a mergulhar no Douro, em busca <strong>do</strong>autocarro e das viaturas desaparecidas, maisuma tentativa que haveria de fracassar:“Os jor<strong>na</strong>listas das televisões, dasrádios e muitos outros começavam apreparar-se. O movimento <strong>na</strong>quelepequeno espaço era tal que maisparecia um desfilar de ‘formigas’atarefadas de um la<strong>do</strong> para o outro.(…) Parecia um dia de romaria. Asduas margens <strong>do</strong> rio assemelhavamsea duas bancadas, repletas de público.Fiquei muitíssimo preocupa<strong>do</strong>com a exposição a que o pessoalficaria sujeito durante as operações devalidação <strong>do</strong> eco, pois to<strong>do</strong> esseespectáculo iria aumentar ainda maisa pressão e o nervosismo a que jáestávamos submeti<strong>do</strong>s” (Ezequiel &Vieira, 2002: 43,44).Fi<strong>na</strong>lmente, a 19 de Março é localiza<strong>do</strong>o autocarro. A 1 de Abril, resgata-se aprimeira viatura e, uma sema<strong>na</strong> depois,encontra-se a segunda. No dia seguinte, a 8de Abril de 2001, as equipas de busca deixamEntre-os-Rios. Regressam a 18 de Junho, pararetirarem <strong>do</strong> Douro o terceiro carro e, <strong>do</strong>isdias depois, aban<strong>do</strong><strong>na</strong>m definitivamente olocal.O debate sobre as responsabilidades éconstante e tomam nele parte os mais diversosactores: políticos, técnicos, jor<strong>na</strong>listas ecivis. O palco das análises e contestações sãoas pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is e as transmissões,muitas em directo, das televisões. Ficou <strong>na</strong>memória de to<strong>do</strong>s a frase que mais se ouviuacerca desta matéria: “a culpa não podemorrer solteira”. Lemos, ouvimos e vimosas críticas aos políticos, às equipas de resgate,aos engenheiros da JAE, aos areeiros,mas também se avalia o papel <strong>do</strong>s órgãosde comunicação:“Muitas das cartas que recebi… traziamno desti<strong>na</strong>tário ape<strong>na</strong>s ‘ComandanteAugusto Ezequiel – Castelo dePaiva’ (…) O trabalho da comunicaçãosocial era critica<strong>do</strong> de umamaneira geral nestas cartas. Algunsescreviam revolta<strong>do</strong>s contra a constantepressão <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. Essacensura popular surpreendeu-me! Éverdade que, de certa forma, foraminconvenientes e incorrectos, se assimse pode dizer, mas também assisti amomentos de sacrifício de jor<strong>na</strong>listas,que deixavam de comer e permaneciaminfinitas horas no teatro dasoperações, só porque esperavam umainformação. Este maldizer acerca <strong>do</strong>srepórteres levou-me a reflectir sobrea forma como os meios de comunicaçãosocial estão de tal forma enraiza<strong>do</strong>sno nosso dia-a-dia que nosesquecemos <strong>do</strong> seu importante papelde intermediários entre o acontecimentoe o público” (Ezequiel & Vieira,2002: 152,153).Fizemos o relato <strong>do</strong>s acontecimentos apartir das memórias e impressões de AugustoEzequiel, comandante das operações. A sua


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS571avaliação relativamente ao comportamento<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas é, de alguma forma, representativa<strong>do</strong> discurso presente nos textos deopinião que a<strong>na</strong>lisámos: são identificadasalgumas práticas incorrectas, contu<strong>do</strong> a responsabilidademáxima não é atribuída aosjor<strong>na</strong>listas no terreno, mas sim às redacções,sen<strong>do</strong> normalmente apontadas circunstânciasatenuantes <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>isno terreno. Todavia, nem to<strong>do</strong>s escreveramsobre os mesmos assuntos, nem o tom<strong>do</strong> discurso foi igual.A avaliação da cobertura jor<strong>na</strong>lística:interlocutores, críticas e justificaçõesJá tivemos oportunidade de referir queo objectivo deste trabalho não é o de avaliara cobertura jor<strong>na</strong>lística da queda da ponte,mas sim dar conta da avaliação que foi feita,<strong>na</strong> altura <strong>do</strong>s acontecimentos, por um conjuntode indivíduos que manifestaram a suaopinião <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is. Foi já igualmentelimita<strong>do</strong> o material em análise, espaciale temporalmente: trata-se de artigos deopinião publica<strong>do</strong>s em jor<strong>na</strong>is <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is(Público, Diário de Notícias, Jor<strong>na</strong>l deNotícias e Expresso), desde a queda da ponteaté ao dia em que as equipas de buscaaban<strong>do</strong><strong>na</strong>m Entre-os-Rios.Quanto aos intervenientes, os que tomarama palavra são oriun<strong>do</strong>s de diferentesquadrantes: classe política, opinion makers,cronistas, jor<strong>na</strong>listas (com e sem responsabilidadesdirectivas) e até o próprio Sindicato<strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas. Entre outros, encontramostextos de Emídio Rangel, director daSIC; Pacheco Pereira, político e cronista <strong>do</strong>Público; Eduar<strong>do</strong> Cintra Torres, crítico detelevisão e cronista <strong>do</strong> Público; JoaquimFidalgo, então Prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Leitor <strong>do</strong> Público;Judite de Sousa, jor<strong>na</strong>lista da RTP ecronista <strong>do</strong> JN; Carlos Magno, jor<strong>na</strong>lista ecomenta<strong>do</strong>r; José Manuel Fer<strong>na</strong>ndes, director<strong>do</strong> Público; Luís Marinho e Pedro Coelho,jor<strong>na</strong>listas da SIC, ou Júlio Magalhães,jor<strong>na</strong>lista da TVI.O tom das críticas subiu de tal mo<strong>do</strong> queo então ministro da Educação, Guilhermed’Oliveira Martins, chegou mesmo a contactara RTP, SIC e TVI, “no senti<strong>do</strong> de ‘sensibilizaras televisões para usarem de contenção<strong>na</strong> cobertura noticiosa’ <strong>do</strong>s acontecimentosem Castelo de Paiva, nomeadamente noque se refere aos funerais das vítimas (Público,11 de Março de 2001). Em resulta<strong>do</strong>,as televisões haveriam de estabelecer umpacto de “auto-regulação”, critica<strong>do</strong> peloConselho Deontológico <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>sJor<strong>na</strong>listas, num comunica<strong>do</strong> de 13 de Março,classifican<strong>do</strong>-o como um “pacto de nãoagressão comercial – com a ética jor<strong>na</strong>lísticacomo refém”, já que as estações se comprometiama recuar e a conterem-se eticamente,mas só se os concorrentes também o fizessem.De uma leitura <strong>do</strong>s textos publica<strong>do</strong>s,percebe-se que o tom geral é de crítica,dirigida quase exclusivamente às transmissõestelevisivas. Por um la<strong>do</strong>, trata-se <strong>do</strong> meiode comunicação a que mais recorrem osportugueses para obter informação, o que lheconfere uma maior visibilidade, logo umamaior exposição a críticas. Por outro la<strong>do</strong>,as características de funcio<strong>na</strong>mento da televisãotambém podem limitar o trabalho <strong>do</strong>sseus profissio<strong>na</strong>is, como reconhece o director<strong>do</strong> Público, um <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas que maisobjecções colocou à cobertura da queda daponte:“Devo começar por dizer que é maisfácil <strong>na</strong> imprensa escrita. Os jor<strong>na</strong>listasda imprensa escrita, tal comonão têm de viver a prova <strong>do</strong> directo,têm tempo para se distanciar e reflectir.Podem descrever uma situação degrande intensidade sem a necessidadede a ilustrar com imagens igualmenteintensas. Podem – o que é muitoimportante – assistir a um evento semse intrometer nele com uma câmaraligada. Podem ser discretos”(Público,25 de Março de 2001).As críticas apontadas podem ser agregadasem torno de alguns vectores principais,sen<strong>do</strong> que o abuso das transmissões emdirecto é o aspecto mais aponta<strong>do</strong>, associadasaos efeitos que acarretam, nomeadamentea falta de conteú<strong>do</strong> e novidade (a “nãonotícia”),a falta de filtragem das fontes deinformação no local (to<strong>do</strong>s tinham a palavra),a repetição de imagens ou ainda o factode que “…o simples ligar das câmaras induzcom frequência comportamentos que não


572 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVteriam lugar sem a presença de holofotesacesos” (José Manuel Fer<strong>na</strong>ndes, Público, 25de Março de 2001). O tom <strong>do</strong>s reparos nãoé o mesmo. Em alguns casos, é mais contundente:“O jor<strong>na</strong>lista medeia, filtra, seleccio<strong>na</strong>o que é importante e tem o deverde evitar o voyeurismo macabro,obsessivo e degradante. Mas, aparentemente,já não há jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong>stelevisões. Há ape<strong>na</strong>s figuras ambulantes,de microfone <strong>na</strong> mão, queenchem horas de <strong>na</strong>da e fazem perguntasimbecis. E que, depois, seprecipitam, à hora <strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is, parauma tenda onde membros <strong>do</strong> Governoos substituem <strong>na</strong> missão de informar.Não são jor<strong>na</strong>listas, são pés-demicrofone”(José Manuel Fer<strong>na</strong>ndes,Público, 21 de Março de 2001).“ (…) o mo<strong>do</strong> como as televisões, emparticular a TVI, cobriram o acidenteda ponte não tem paralelo no panoramatelevisivo europeu. Ninguémimagi<strong>na</strong>, em nenhum país da Europa,que televisões generalistas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>ispossam estar 15 dias com deze<strong>na</strong>s edeze<strong>na</strong>s de horas a falar da mesmacoisa, com 90 por cento da matéria<strong>do</strong>s noticiários ocupada por umaespécie de masturbação colectiva da<strong>do</strong>r alheia“ (Pacheco Pereira, Público,15 de Março de 2001).“O choque, agora, foi que, a umdesastre típico <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong>correspondeu uma cobertura televisivaprópria de um país subdesenvolvi<strong>do</strong>e isso impressionou alguns” (FranciscoSarsfield Cabral, Público, 24 deMarço de 2001).Já Eduar<strong>do</strong> Cintra Torres assume umaposição mais moderada <strong>na</strong> crítica às transmissõestelevisivas: “A TV é má quan<strong>do</strong>, emvez de dar factos e interpretações, faz elaprópria as emoções, quan<strong>do</strong> adjectiva o quevemos e sabemos. Aconteceu poucas vezesem Entre-os-Rios” (Público, 12 de Março de2001).Se as críticas se dirigem aos profissio<strong>na</strong>isda televisão em geral, nomeadamente aosjor<strong>na</strong>listas e aos responsáveis editoriais, sãomais severas em relação aos segun<strong>do</strong>s, já queem relação aos jor<strong>na</strong>listas no terreno procura-seapontar algumas razões que podemexplicar os excessos:“(…) Mas se no terreno há profissio<strong>na</strong>isque se prestam a este tristepapel, <strong>na</strong> direcção das três televisõeshá responsáveis que não sabem dizer‘alto’. Que não suportam a perspectivade, desligan<strong>do</strong> o directo, a estaçãoperder uns pontos de ‘share’.Que não entendem que os telespecta<strong>do</strong>resjá estão enjoa<strong>do</strong>s – e quemesmo que não estivessem era seudever mostrar-lhes o resto que se passano mun<strong>do</strong>, ou no país” (José ManuelFer<strong>na</strong>ndes, Público, 21 de Março de2001).Também o Comunica<strong>do</strong> <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>sJor<strong>na</strong>listas procura identificar as circunstânciasatenuantes <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasno terreno, atribuin<strong>do</strong> a principalresponsabilidade às redacções:“(…) a primeira das causas reside <strong>na</strong>decisão editorial de manter tão prolongadamenteos directos em situaçõessem velocidade de acontecimentos quejustificasse tanto tempo de câmara oumicrofone abertos.(…) Em situações como estas… é <strong>na</strong>redacção e não no repórter que temde incidir a maior <strong>do</strong>se de responsabilidade<strong>na</strong> prevenção de erros causa<strong>do</strong>spela tensão, pelo stress e pelafalta de tema para sustentar o directo.O repórter de campo vive a obsessãotécnica de não permitir segun<strong>do</strong>s desilêncio – que, em televisão e rádio,são uma eternidade – e, quan<strong>do</strong> dápor si, já está a fazer uma perguntadisparatada ao primeiro que passa eque, no fi<strong>na</strong>l, sai agredi<strong>do</strong> <strong>na</strong> suasensibilidade”.Um <strong>do</strong>s intervenientes nos processoseditorais que toma palavra é Emídio Rangel,


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS573que transfere para a pressão da concorrência,em particular da TVI, a responsabilidade damanutenção <strong>do</strong>s directos de Entre-os-Rios:“Quero insurgir-me contra o espíritomórbi<strong>do</strong> que campeia neste país e meobriga a manter deze<strong>na</strong>s de horas deemissão feitas num lugar onde jámuito pouca coisa pode acontecer.Quero insurgir-me contra o estilosensacio<strong>na</strong>lista/terrorista da TVI, queestá a criar em Castelo de Paiva arevolta das populações contra a comunicaçãosocial porque quer fazerda tragédia de Entre-os-Rios o ‘BigBrother III’” (Emídio Rangel, Diáriode Notícias, 10 de Março de 2001).Perante a necessidade de manter os directosno ar, os jor<strong>na</strong>listas no terreno acabarampor se ver <strong>na</strong> contingência de terem de abordarpopulares e familiares das vítimas, um recursoque foi classifica<strong>do</strong> por muitos como umaexploração da <strong>do</strong>r e <strong>do</strong>s sentimentos. Esta éuma faceta apontada pelo próprio Sindicato:“Entrevistas a crianças, abordagem a pessoasdentro das suas casas, interpelação a popularesem visível esta<strong>do</strong> de comoção foramalguns <strong>do</strong>s erros profissio<strong>na</strong>is graves detecta<strong>do</strong>snestas coberturas.” O aspecto maisvisível, que tomou já o jeito de caricatura,foi, sem dúvida, a tradicio<strong>na</strong>l pergunta “Comose sente?”. Estes procedimentos foram alvode fortes críticas, como é o caso de PachecoPereira, ao referir-se à cobertura da TVI:“Quinze dias de exploração brutal da<strong>do</strong>r, sob múltiplas formas incluin<strong>do</strong>a estetização da tragédia com imagense som trata<strong>do</strong>, e o incentivo a actosespectaculares para “encher” a coberturatelevisiva – como algumas colocaçõesde flores no rio – não podemdeixar de ter um efeito muito poderosonos especta<strong>do</strong>res, que, vicia<strong>do</strong>sno consumo televisivo, não tiveramqualquer alter<strong>na</strong>tiva que não fosseficarem mergulha<strong>do</strong>s numa celebraçãoespectacular da <strong>do</strong>r” (Público, 15 deMarço de 2001).Também em relação a esta matéria,Eduar<strong>do</strong> Cintra Torres a<strong>do</strong>pta uma posiçãodiferente <strong>do</strong>s que colocam a tónica <strong>na</strong> exploração<strong>do</strong>s sentimentos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s:“os meios de massas esforçaram-se por dartoda a informação, a que deviam dar, algumaque não precisavam de dar e até uma ou outraque não deviam dar… A TV, <strong>na</strong> maioria dasvezes, tem o consentimento de quem mostrao sofrimento” (Público, 12 de Março de2001). Este é também um <strong>do</strong>s aspectosmencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s por Júlio Magalhães, um <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas que esteve em serviço <strong>na</strong> cobertura<strong>do</strong> acontecimento: “Não recorremos atruques nem, como diz a mensagem que sequer fazer passar, à exploração indevida ebrutal de quem estava a sofrer. Fizemostelevisão, não obrigámos ninguém: e, aocontrário <strong>do</strong> que foi veicula<strong>do</strong>, nunca sentiem Castelo de Paiva qualquer hostilidade”(Expresso, 7 de Abril de 2001).Outra crítica recorrente nos textos de opiniãoque fazem parte <strong>do</strong> nosso corpus de análisediz respeito à manipulação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas pelopoder político e ao aproveitamento por parte<strong>do</strong>s políticos da presença das câmaras. Nestamatéria, as atenções centraram-se <strong>na</strong>s já referidasconferências de imprensa das 20h e nosmergulhos em directo, ence<strong>na</strong>ções para “responderà voracidade das câmaras” (PachecoPereira, Público, 15 de Março de 2001). PachecoPereira é um <strong>do</strong>s que critica a “(…) cada vezmaior continuidade entre a construção <strong>do</strong> ‘show’televisivo e os comportamentos de to<strong>do</strong>s osoutros agentes, a começar pelos agentes políticos(…)”:“Outra absoluta insensatez são asconferências de imprensa das oitohoras, feitas por uma panóplia deministros e secretários de Esta<strong>do</strong>. Naverdade, (…) usam os seus poderesadministrativos para impedir a circulaçãode informação durante o dia,para serem eles a dá-la à noite, emexclusivo (…) Este tropismo para ascâmaras (…) atinge os populares,muitos <strong>do</strong>s quais não são familiaresdas vítimas, mas reclamam o seudireito de ‘ver’ as operações e deserem ouvi<strong>do</strong>s pelas televisões” (Público,15 de Março de 2001).São vários os que se insurgem contra esta“relação” entre os media e os políticos,


574 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVembora nem to<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>ptem o mesmo tom.Uns colocam a tónica <strong>na</strong>s tentativas decontrolo <strong>do</strong> poder político e outros <strong>na</strong> faltade discernimento <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas. EmídioRangel coloca-se <strong>na</strong> primeira perspectiva:“Quero insurgir-me contra as autoridades civise militares que não têm a coragem de assumirque não há condições para mergulharno rio (…) e fazem ‘teatro’ para a televisãocom mergulhos de ensaio” (Diário de Notícias,10 de Março de 2001). José ManuelFer<strong>na</strong>ndes (Público, 25 de Março de 2001)aponta o de<strong>do</strong> aos políticos, mas tambématribui responsabilidades aos jor<strong>na</strong>listas: “(…)Outra coisa é ocupar, dias a fio, longosminutos de telejor<strong>na</strong>l com explicações técnicas<strong>do</strong> que se havia passa<strong>do</strong> em Castelode Paiva no dia que termi<strong>na</strong>va, explicaçõesdadas por membros <strong>do</strong> Governo – os quais,entretanto, dificultavam o acesso directo <strong>do</strong>sjor<strong>na</strong>listas às fontes – e que podiam ter si<strong>do</strong>prestadas horas antes”, mas que, dessamaneira, não entrariam <strong>na</strong> abertura <strong>do</strong>stelejor<strong>na</strong>is. Por outro la<strong>do</strong>, afirma que “(…)verdadeiros jor<strong>na</strong>listas e responsáveis editoriaisde corpo inteiro há muito que se recusariama manter a farsa <strong>do</strong>s ‘briefings’gover<strong>na</strong>mentais em directo (…)” (Público, 21de Março de 2001).Eduar<strong>do</strong> Cintra Torres acredita que “(…)a correlação entre actividade televisiva eactividade política é total”, mas procuraevidenciar o carácter de ritual e ence<strong>na</strong>çãodas transmissões televisivas, abrin<strong>do</strong> caminhopara a perspectiva de que a televisãotambém organizou a acção política:“(…) as acções da Marinha, semprerealizadas a horas mediáticas, atingiramo zénite com os últimos mergulhos cercada hora de almoço, hora de grandeaudiência.(…) Encenou-se a presença<strong>do</strong> poder político, com o primeiroministrono local, exactamente a essahora” (Público, 17 de Março de 2001).“Foi a operação televisiva que estabeleceuo calendário da acção políticae até de alguma acção operacio<strong>na</strong>l.Transferida para a TV, a tragédia teveo que muitos especta<strong>do</strong>res, familiares,jor<strong>na</strong>listas e mirones exprimiram:a dimensão <strong>do</strong> espectáculo” (Público,12 de Março de 2001).O papel da televisão enquantopropulsio<strong>na</strong><strong>do</strong>ra da acção <strong>do</strong>s políticos, o quelhe atribui responsabilidade social, é referi<strong>do</strong>em outros textos de opinião, nomeadamentepor Júlio Magalhães: “Foram as câmaras detelevisão que nos primeiros dias deram voza familiares, amigos e populares de Castelode Paiva – que nos procuraram para mostrara revolta que lhes ia <strong>na</strong> alma. Foi a partirdessas imagens que o Governo se mobilizoue organizou <strong>na</strong>quela região” (Expresso, 7 deAbril de 2001). Opinião diferente temPacheco Pereira, que vê unicamente <strong>na</strong> buscade audiências a razão de ser <strong>do</strong> “show” deEntre-os-Rios: “… o ‘show’ televisivo nãotem qualquer papel <strong>na</strong> melhoria da coisapública em Portugal. Por duas razões, umaé que o efeito pretendi<strong>do</strong>… não é esse: éo sucesso <strong>na</strong>s audiências, sem substância outraço permanente de qualquer consciênciacívica” (Público, 15 de Março de 2001).Sublinhámos até agora as principaiscríticas que foram feitas <strong>na</strong> imprensa àcobertura televisiva da queda da ponte HintzeRibeiro. É de esperar reacções por parte <strong>do</strong>sprofissio<strong>na</strong>is em causa, sejam jor<strong>na</strong>listas noterreno ou responsáveis editoriais. Ao nível<strong>do</strong>s últimos, já referimos a opinião de EmídioRangel, que atribui as responsabilidades <strong>do</strong>sdesvios às pressões da concorrência, particularmenteda TVI. Um <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>campo jor<strong>na</strong>lístico que emitiu críticas maiscontundentes foi o director <strong>do</strong> Público, JoséManuel Fer<strong>na</strong>ndes, em particular num textointitula<strong>do</strong> “Já não há jor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong>s televisões?”(Público, 21 de Março de 2001), oqual suscitou vivas respostas, nomeadamente<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas da SIC, Luís Marinho e PedroCoelho, e de Júlio Magalhães, jor<strong>na</strong>lista daTVI, uma das estações mais visadas. Entreos jor<strong>na</strong>listas da SIC e o director <strong>do</strong> Público,geou-se uma viva “discussão” que envolveualguma troca de acusações e explicações(Público, 21 e 25 de Março).Em termos gerais, podemos dizer que nãohá desresponsabilização por parte <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasem relação aos excessos cometi<strong>do</strong>s emEntre-os-Rios. O comunica<strong>do</strong> <strong>do</strong> ConselhoDeontológico <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>listastestemunha-o, bem como a opinião de algunsprofissio<strong>na</strong>is:“Os jor<strong>na</strong>listas não podem ser vistoscomo uns ‘vampiros’. É claro que


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS575existiram erros e excessos, mas nãoterão si<strong>do</strong> voluntários e terão decorri<strong>do</strong>tão simplesmente daqueles quehoje em dia são os paradigmas dacomunicação, a saber as tecnologias”que” condicio<strong>na</strong>m a forma comopercepcio<strong>na</strong>mos a realidade e abremcaminho à hipermediatização” (Juditede Sousa, Jor<strong>na</strong>l de Notícias, 17 deMarço de 2001).“É um facto que os directos dastelevisões têm si<strong>do</strong> em excesso, dessacrítica eu também partilho, mas partirdaí para passar um atesta<strong>do</strong> de incompetênciaaos jor<strong>na</strong>listas das televisõesé uma atitude irresponsável” (PedroCoelho, Público, 25 de Março de2001).Sem escamotearem os erros cometi<strong>do</strong>s,os jor<strong>na</strong>listas defendem-se <strong>na</strong>s circunstânciasem que se desenrola o trabalho de reportagem(em directo, em condições físicas muitoexigentes, no centro de um acontecimentoonde a informação escasseia e se vivemmomentos de muita ansiedade):“Somos leva<strong>do</strong>s a valorizar uma emissãoinformativa, a cobertura de umdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> acontecimento, pela capacidadeque uma estação de televisãorevela em estar, em directo, em váriossítios ao mesmo tempo (…) Por definição,o jor<strong>na</strong>lista é uma testemunhaprofissio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> acontecimento, mas asua função de mediatiza<strong>do</strong>r de factosfica alterada com a informação emtempo real. Os factos são divulga<strong>do</strong>s<strong>na</strong> desordem de um acontecimento queestá em produção (…)(…) Os jor<strong>na</strong>listas devem garantir queimagens i<strong>na</strong>ceitáveis não sejam difundidas.Mas é importante sublinhar queno terreno, em circunstâncias difíceis,o jor<strong>na</strong>lista poderá não estar em condiçõesde proceder à necessária reflexãosobre o compromisso da sua responsabilidade”(Judite de Sousa, Jor<strong>na</strong>lde Notícias, 17 de Março de 2001).“ (…) cheguei duas horas depois <strong>do</strong>acidente, estive toda a noite sem<strong>do</strong>rmir e o dia seguinte to<strong>do</strong> ele ‘emdirecto’. Permaneci dias e dias à chuvae ao frio, em locais lamacentos, commais de 30 viagens entre o Porto eCastelo de Paiva…” (Júlio Magalhães,Expresso, 7 de Abril de 2001).Talvez a resposta mais enérgica tenha si<strong>do</strong>a de Júlio Magalhães, em reacção às observações<strong>do</strong>s vários comenta<strong>do</strong>res, mas emparticular ao já referi<strong>do</strong> texto de José ManuelFer<strong>na</strong>ndes, onde o jor<strong>na</strong>lista da TVI afirmaque “não é lícito, pois, ver os chama<strong>do</strong>sfaze<strong>do</strong>res de opinião… e até colegas deprofissão porem em causa o trabalho <strong>do</strong>sprofissio<strong>na</strong>is que estiveram desloca<strong>do</strong>s emCastelo de Paiva”. Quanto às alegadas pressõesdas redacções, esclarece ainda: “(…)nunca ninguém nos obrigou a estar ‘emdirecto’ as horas que fossem precisas – daminha redacção (…) perguntaram sempre seera possível aguentar as emissões: <strong>na</strong>da foiimposto”; “ (…) os acontecimentos editoriaisde Castelo de Paiva foram sempre comanda<strong>do</strong>spor quem estava no terreno”. Acabaem tom irónico, devolven<strong>do</strong> a crítica da“busca desenfreada de audiências”:”Há dez anos que apresento o jor<strong>na</strong>lda hora de almoço: primeiro <strong>na</strong> RTP,agora <strong>na</strong> TVI. Alguns <strong>do</strong>s críticos quetenho li<strong>do</strong> e ouvi<strong>do</strong> por estes dias nosjor<strong>na</strong>is e <strong>na</strong> rádio, já os convidei parao estúdio. Recusaram-se, mas não serecusam quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>isda noite, <strong>do</strong> ‘prime-time’: audiênciaspois então” (Expresso, 7 de Abril de2001).Joaquim Fidalgo foi um <strong>do</strong>s intervenientesque, embora tecen<strong>do</strong> duras críticas, nãodeixou de apontar uma nota positiva emrelação ao trabalho <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas e dasredacções:“Responsabilizar esta lógica global ecarregar as costas <strong>do</strong> ‘sistema’ nãopode fazer-nos esquecer que ele tambémé composto de gente concreta,de responsáveis que tomam decisões,de gestores que estimulam escolhas,de editores e jor<strong>na</strong>listas que diariamentefazem o seu trabalho e o servem


576 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVao público. E, há que dizê-lo, não sãoto<strong>do</strong>s exactamente iguais, não seguiam to<strong>do</strong>s pela mesma cartilha, nãosoçobram to<strong>do</strong>s perante a dificuldade<strong>do</strong>s desafios que se lhes colocam. Paraalém <strong>do</strong>s constrangimentos directos eindirectos em que se movem, algumespaço lhes sobra de autonomia eliberdade para, quan<strong>do</strong> seja caso,também poderem interrogar, reclamar,ou mesmo dizer ‘não’, recordan<strong>do</strong>princípios fundamentais a que estãovincula<strong>do</strong>s em nome <strong>do</strong> serviço públicoque servem à comunidade.(...) De resto, convirá não esquecerque, mesmo nestes episódios difíceisda ponte de Castelo de Paiva, tambémpor cá tivemos vários bonsexemplos, individuais e colectivos, deinformação séria, comedida,respeita<strong>do</strong>ra da dignidade das pessoasenvolvidas, e nem por isso menosviva e menos cativante. Ou seja:também é possível. Não basta ingenuamentequerer que assim seja paraque seja de facto, mas é precisocomeçar por querer.Sem mentir, claro” (Público, 18 deMarço de 2001).Pelo meio <strong>do</strong> tom geral de cinzentos, hátraços mais colori<strong>do</strong>s, recorda<strong>do</strong>s por AugustoEzequiel, o comandante das operações deresgate. Uma destas situações viveu-se no dia22 de Março quan<strong>do</strong>, <strong>na</strong> presença de umajor<strong>na</strong>lista, uma patrulha encontra um corpo,de imediato identifica<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> o <strong>do</strong>organiza<strong>do</strong>r da excursão:“Entrei em contacto com a jor<strong>na</strong>lista,expus a situação e pedi-lhe que, demomento, retivesse a informação. Ajor<strong>na</strong>lista compreendia, mas nãoqueria correr o risco de não ser a suarádio a primeira a divulgar a notícia.Chegámos a uma solução de compromisso:ela noticiaria o aparecimentode mais um corpo sem qualquer outrareferência… Este e outros problemassurgiam com alguma frequência, masa abertura com que normalmentecomunicávamos com os repórteres ea disponibilidade permanente emdivulgar os trabalhos já nos permitiaresolvê-los tranquilamente” (Ezequiel& Vieira, 2002: 134).Também a 7 de Abril, quan<strong>do</strong> é retira<strong>do</strong>um <strong>do</strong>s veículos ligeiros <strong>do</strong> Douro, se viveuma situação análoga:“A prioridade passava, como habitualmente,por avisar o pai da vítima.Encontrava-me algo ansioso pois ahora <strong>do</strong>s telejor<strong>na</strong>is aproximava-se eos repórteres não demorariam muitotempo a desconfiar das movimentaçõesdas equipas (…) Como ainda nãose tinha consegui<strong>do</strong> avisar os familiares,agradecia que não divulgassema notícia sem que esses contactosfossem feitos.Comprometi-me a informá-los logoque o pai <strong>do</strong> condutor <strong>do</strong> carro fosseavisa<strong>do</strong>. Os jor<strong>na</strong>listas, demonstran<strong>do</strong>um enorme respeito pelos familiares,aceitaram o meu pedi<strong>do</strong>”(Ezequiel & Vieira, 2002:196).A 20 de Março, num directo, o autocarroé localiza<strong>do</strong> e iça<strong>do</strong> para a margem. Hácircunstâncias que fazem interromper aemissão:“O realiza<strong>do</strong>r, senta<strong>do</strong> frente a meiadúzia de ecrãs, conseguia ver o autocarroperfeitamente. As câmaras,instaladas em várias posições, captavamo veículo em to<strong>do</strong>s os ângulos.De repente apercebe-se de algo estranhofoca<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res.Após um momento de hesitação, equan<strong>do</strong> se apercebe de um corpo seencontrava a boiar, dá indicações paraa câmara sair <strong>do</strong> ar. No monitor ondesurge a emissão fi<strong>na</strong>l podem ver-sea ruí<strong>na</strong>s da ponte, as margens cheiasde guarda-chuvas negros… No diaanterior, os três ca<strong>na</strong>is de televisãotinham acorda<strong>do</strong> transmitir de formacontida a operação de resgate. Emcausa estava a <strong>do</strong>r <strong>do</strong>s familiares ea sensibilidade <strong>do</strong> público perante umdrama à escala <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” (Ezequiel &Vieira, 2002:126).


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS577E, afi<strong>na</strong>l, parece que também a imprensa,talvez i<strong>na</strong>dvertidamente, pode cometer excessos:“Quan<strong>do</strong> vi a primeira pági<strong>na</strong> <strong>do</strong>jor<strong>na</strong>l não consegui esconder um certodesagra<strong>do</strong>. A manchete <strong>do</strong> resgatevinha ilustrada com uma fotografia <strong>do</strong>carro suspenso sobre as águas, ondeera visível parte <strong>do</strong> corpo de uma dasvítimas. Provavelmente o leitor maisdespreveni<strong>do</strong> nem repararia no pormenor,mas a situação não deixou deme provocar alguma tristeza, atéporque no dia anterior pedira aosjor<strong>na</strong>listas para serem cuida<strong>do</strong>sos.Nada podia fazer.A publicação da fotografia não foiintencio<strong>na</strong>l, lembro-me de ter comenta<strong>do</strong>o assunto com o jor<strong>na</strong>lista queescreveu a notícia e de ter concluí<strong>do</strong>que a imagem foi escolhida, simplesmente,por retratar melhor o resgate<strong>do</strong> carro” (Ezequiel & Vieira,2002:175).Foi isto, em traços gerais, o que se disseda cobertura jor<strong>na</strong>lística, melhor dizen<strong>do</strong>televisiva, da queda da ponte em Entre-os-Rios. Os discursos envolveram diversosintervenientes, a falarem de diferentes lugares,com distintas responsabilidades eenvolvimentos nos acontecimentos. Variaramentre aqueles que, como Carlos Magno,acham que, em Entre-os-Rios, “a televisãotambém se precipitou directamente no rioDouro” (JN, 17 de Março de 2001) e os que,como Júlio Magalhães, dizem: “em Castelode Paiva as televisões tiveram e têm jor<strong>na</strong>listas,não pés-de-microfone” (Expresso, 7 deAbril de 2001).Notas fi<strong>na</strong>is e linhas de análise a prosseguirO trabalho que aqui trazemos, numaprimeira abordagem aos textos de opinião,inscreve-se num projecto mais vasto, quedesenvolveremos em outras tarefas. De seguida,e ten<strong>do</strong> em conta as questões levantadas,iremos proceder a uma revisão deliteratura, com o objectivo de perceber seestas têm enquadramento <strong>na</strong> forma como sãoabordadas e discutidas pelos investiga<strong>do</strong>res,ou se, de alguma maneira, constituem pontosde ruptura. Ou seja, pretende-se saber se estecaso em estu<strong>do</strong> permite problematizar aspráticas e roti<strong>na</strong>s jor<strong>na</strong>lísticas numa perspectivade continuidade ou sob a forma de novastendências. Em simultâneo, pretendemosrealizar uma nova incursão aos textos jáa<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s, no senti<strong>do</strong> de identificar as estratégiasdiscursivas postas em acção, osmo<strong>do</strong>s de argumentação <strong>do</strong>s intervenientesno discurso.Fi<strong>na</strong>lmente, julgamos essencial revisitaras opiniões emitidas no rescal<strong>do</strong> <strong>do</strong>s acontecimentos.Na verdade, os textos de opiniãoque a<strong>na</strong>lisámos foram publica<strong>do</strong>s <strong>na</strong>ssema<strong>na</strong>s que se seguiram à queda da ponte,o que não se resume a uma opçãometo<strong>do</strong>lógica, mas deriva <strong>do</strong> facto de nãotermos encontra<strong>do</strong> textos significativosdepois <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> em análise. Ora, consideramospertinente tentar averiguar se, àdistância de três anos, os mo<strong>do</strong>s de ver semantêm. Também importa confrontar osjor<strong>na</strong>listas que estiveram a cobrir a quedada ponte (a maioria <strong>do</strong>s quais nunca expressoupublicamente a sua visão <strong>do</strong>s factos)e os responsáveis editoriais, para saber sese revêem em alguma das críticas e comoavaliam hoje o trabalho que então realizaram.Será curioso observar que, nos diasimediatamente após a queda da ponte, forampublica<strong>do</strong>s textos que elogiavam o trabalho<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas em Entre-os-Rios. Vemos,pois, com interesse a possibilidade deavaliarmos agora se há uma mudança de tomao longo <strong>do</strong> mês de Março de 2001.Naturalmente, um trabalho desta <strong>na</strong>turezaimplica limitações. Uma das mais evidentesé o facto de estarmos a cingir-nos aoscomentários feitos <strong>na</strong> imprensa escrita.Contu<strong>do</strong>, e a julgar pelo que então observámosnos outros meios, não temos razõespara crer que a avaliação e os argumentossejam substancialmente diferentes.Já nos referimos à importância deescruti<strong>na</strong>r e discutir o trabalho <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listasem sociedades democráticas com oobjectivo de melhorar a sua qualidade, o quepassa necessariamente por um público exigente.Parece-nos que este é um bom exemplodessa mais-valia, quer pelas questões queforam levantadas, quer pelos que intervieram


578 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVno debate: também os jor<strong>na</strong>listas e o Sindicatoparticiparam <strong>na</strong> discussão. Resta-nossaber se os resulta<strong>do</strong>s tiveram alguma expressãoprática ao nível da qualidade <strong>do</strong>exercício <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo em Portugal. É umadas tarefas a cumprir <strong>na</strong>s próximas fases dainvestigação.Para fi<strong>na</strong>lizar, uma breve nota. Intitulámoso nosso trabalho “A Ponte mais vista <strong>do</strong> País”,recuperan<strong>do</strong> a fórmula que foi então a<strong>do</strong>ptadapela comunicação social para referir osacontecimentos. Até hoje, terá si<strong>do</strong>, semdúvida, a ponte que mais se viu, mas, nodia 5 de Março de 2001, a informação nãofoi líder de audiências, mas sim uma telenovela:Laços de Família. Foi a novela e nãoos directos de Entre-os-Rios que deram à SICa pole-position <strong>na</strong> corrida <strong>do</strong> dia.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS579BibliografiaEzequiel, A. & Vieira, A., A Missão emCastelo de Paiva. Relato de um Participante<strong>na</strong>s Operações de Resgate, Lisboa, Caminho,2002.Artigos de ImprensaCabral, Francisco Sarsfield, Si<strong>na</strong>is deEsperança, Público, 2001, 24 de Março.Carreira Bom, João, O “poder político”<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>listas, Diário de Notícias, 2001, 18de Março.Chaparro, Carlos, A Tragédia vista pela TV:o show da <strong>do</strong>r, O Ribatejo, 2001, 8 de Março.Coelho, Pedro, Resposta Breve a umEditorial, Público, 2001, 25 de Março.Fer<strong>na</strong>ndes, José Manuel, Já não háJor<strong>na</strong>listas <strong>na</strong>s Televisões, Público, 2002, 21de Março.Fer<strong>na</strong>ndes, José Manuel, As Três QuestõesEssenciais, Público, 2002, 25 de Março.Fidalgo, Joaquim, Verdades e Mentiras,Público, 2001, 18 de Março.Fidalgo, Joaquim, “Notícias” à venda,Público, 2001, 25 de Março.Francisco, Susete, Ministro pede contenção<strong>na</strong> cobertura de Castelo de Paiva, Diáriode Notícias, 2001, 11 de Março.Francisco, Susete, Sindicato aponta“erros graves”, Diário de Notícias, 2001, 14de Março.Francisco, Susete, E o mais visto foi…a novela, Diário de Notícias, 2001, 7 de Março.Magalhães, Júlio, A TV em Castelo dePaiva, Expresso, 2001, 7 de Abril.Magno, Carlos, A ponte <strong>do</strong> dia seguinte,Diário de Notícias, 2001, 18 de Março.Marinho, Luís, Carta Aberta ao Director,Público, 2001, 25 de Março.Martins, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, A intimidade de umalágrima exige o respeito de to<strong>do</strong>s, Jor<strong>na</strong>l deNotícias, 2001, 18 de Março.Pereira, Arminda Rosa, Ética: Paivensesforam as vítimas ou os cúmplices <strong>do</strong>smedia?,Diário de Notícias, 2001, 13 de Março.Pereira, Arminda Rosa, Tiragens: Castelode Paiva aumenta circulação <strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is,Diário de Notícias, 2001, 14 de Março.Pereira, José Pacheco, O “Show” daMorte, Público, 2001, 15 de Março.Rangel, Emídio, Quero insurgir-me,Diário de Notícias, 2001, 10 de Março.Serrano, Estrela, Alarme <strong>na</strong> primeirapági<strong>na</strong>, Diário de Notícias, 2002.Sousa Tavares, Miguel, A Falta que FazUma Opinião Pública, Público, 2001, 16 deMarço.Sousa, Judite de, Informação em temporeal, Jor<strong>na</strong>l de Notícias, 2001, 17 de Março.Torres, Eduar<strong>do</strong> Cintra, Na Televisão,como uma Tragédia Grega, Público, 2001,12 de Março.Torres, Eduar<strong>do</strong> Cintra, O Fim <strong>do</strong> ActoTrágico, Público, 2001, 17 de Março.Vaz, Júlio Macha<strong>do</strong>, Lutos (I), Jor<strong>na</strong>l deNotícias, 2001, 21 de Março.Site <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Jor<strong>na</strong>listas Portugueseshttp://www.jor<strong>na</strong>listas.online.ptSite <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l Públicowww.publico.pt_______________________________1Este trabalho inscreve-se no âmbito de umestu<strong>do</strong> colectivo mais vasto, desenvolvi<strong>do</strong> ao nível<strong>do</strong> projecto Mediascópio, <strong>do</strong> CECS (Centro deEstu<strong>do</strong>s em Comunicação e Sociedade), <strong>na</strong>Universidade <strong>do</strong> Minho (projecto apoia<strong>do</strong> pelaFundação para a Ciência e Tecnologia - POCTI/COM/41888/2001).2Centro de Estu<strong>do</strong>s de Comunicação eSociedade, Universidade <strong>do</strong> Minho.


580 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS581Universidade e Mídia/A Opinião Pública In-formaçãoSimone Antoniaci Tuzzo 1A opinião pública tem mereci<strong>do</strong>, ao longo<strong>do</strong>s anos, a atenção de estudiosos das áreasda Sociologia, Filosofia, Psicologia, História,Direito, Educação, Política, Economia eda Comunicação. No caso da comunicação,especialistas, através <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>lismo, dasRelações Públicas e da Publicidade e Propaganda,procuram de forma constante responderquestões como: O que é opiniãopública? Como se forma a opinião pública?Qual a relação entre o público e as mensagensveiculadas pelos meios de comunicaçãode massa <strong>na</strong> formação da opinião pública?Os meios de comunicação de massa secaracterizam como representantes da opiniãopública? São os meios de comunicação demassa representantes da opinião públicacontemporânea, ou são somente intérpretesde uma opinião pública formada exter<strong>na</strong>mentea eles? Existem públicos que formam aopinião pública?Consideran<strong>do</strong> essas questões como algumasde nossas premissas de reflexão sobrea opinião pública, podemos ir além, pensan<strong>do</strong>:Existe de fato uma opinião pública? Seráa opinião pública a opinião de públicosespecíficos? O que é de fato a opinião públicae quem são os seus agentes de formação?Essas são ape<strong>na</strong>s algumas das maisvariadas questões que, ao longo de nossaformação acadêmica e profissio<strong>na</strong>l, <strong>na</strong> áreade Relações Públicas e à frente de Assessoriasde Comunicação, temos formula<strong>do</strong> eque nos instiga, ao longo desse tempo, arefletir sobre essa categoria, pois o quenotamos é que, a partir de cada área <strong>do</strong>conhecimento, poderia existir um infinitonúmero de questões acerca <strong>do</strong> assunto.Podemos refletir se a opinião pública éa opinião da maioria da população ou de umaminoria representativa, ou seria a opiniãopública a expressão de voz de uma parte dapopulação que consegue manifestar a suaopinião através de grupos sociais organiza<strong>do</strong>se de ca<strong>na</strong>is de comunicação capazes deatingir um número grande de pessoas dasociedade.Neste caso, temos a possibilidade derefletir sobre um processo através <strong>do</strong> qualum grupo de indivíduos, que pode expressarsuas idéias, nos mais diversos espaços, entreos quais a televisão, ou qualquer outro veículomidiático, dita o comportamento de toda asociedade, fazen<strong>do</strong> com que grande parte dapopulação passe a se comportar de maneirarelativamente homogênea através das idéiasda mídia. Mais que isso, os meios de comunicaçãode massa possibilitam à sociedadeo acesso a conteú<strong>do</strong>s que antes desconhecia,sob a ótica específica da mídia, oude forma<strong>do</strong>res de opinião que dela se utilizam.Luhmann (1978, p. 97-8) faz uma críticaao conceito clássico da opinião pública,apresentan<strong>do</strong> a idéia da tematização, colocan<strong>do</strong>que <strong>na</strong> sociedade pós-industrial: aopinião pública deve ser concebida comoestrutura temática da comunicação pública,fundada no fato de que, perante o númeroilimita<strong>do</strong> de temas que podem ser veicula<strong>do</strong>spela comunicação, a atenção <strong>do</strong> público sópode se manifestar de forma limitada; nãodeve ser concebida causalmente como efeitoproduzi<strong>do</strong> ou continuamente operante; antesdeve ser concebida funcio<strong>na</strong>lmente, comoinstrumento auxiliar de seleção realizada deuma forma contingente.A opinião pública não consiste <strong>na</strong> generalização<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das opiniões individuaisatravés das fórmulas gerais, aceitáveispor to<strong>do</strong> aquele que faça uso da razão, massim <strong>na</strong> adaptação da estrutura <strong>do</strong>s temas <strong>do</strong>processo de comunicação atrelada às necessidadesde decisão da sociedade e <strong>do</strong> seusistema. A opinião pública se forma no calorda discussão <strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> público e,para Andrade (1996), caracteriza-se por nãoser necessariamente uma opinião unânime,uma opinião da maioria; muitas vezes édiferente da opinião de qualquer elemento no


582 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpúblico; é uma opinião composta, soma devárias opiniões divergentes existentes nopúblico; está em contínuo processo de formaçãoe em direção a um consenso completo,sem nunca alcançá-lo. Enfim, no dizerde Andrade, a opinião pública não é mais<strong>do</strong> que a harmonia entre as opiniões individuais.Podemos ainda considerar, nesse processode formação da opinião pública, a existênciade grupos organiza<strong>do</strong>s, como osmovimentos sociais ou as ONGs, que constantementese articulam em torno de temasda sociedade ou sobre os temas da mídia eque podem ter suas opiniões consideradas nocampo da contra-opinião pública. Na maioriadas vezes, essas idéias representamgrupos que não possuem voz <strong>na</strong> sociedadee que não conseguem difundir, através <strong>do</strong>smeios de comunicação, seus pontos de vista,de forma a atingir uma grande parte dapopulação, quer seja por não fazerem parteda política vigente, quer seja por não despertaremo interesse da mídia.Esses grupos acabam crian<strong>do</strong> uma sociedadeperiférica de pessoas que não podemser tratadas como revolucionárias, sem importância.Um <strong>do</strong>s grandes exemplos são ospróprios cientistas que muitas vezes nãoconseguem expor seus trabalhos e suasdescobertas <strong>na</strong> área científica ou tecnológica.Muitas vezes essas pesquisas ou invençõespoderiam até transformar o próprio caminharda sociedade, mas não chegam a ser conhecidas.Sem eles, a sociedade perde a oportunidadede conhecer novas idéias e poderrefletir sobre elas.Nesse senti<strong>do</strong>, devemos entender esseconceito como um reforço à hipótese daexistência não de uma opinião pública de fato,mas de uma opinião manifestada, publicadaou conhecida socialmente, excluin<strong>do</strong> as idéiasdaqueles que não têm oportunidade de seexpressarem para a grande massa.Sobre isso, Bourdieu, em seu ensaioL’opinion publique n’existe pas, publica<strong>do</strong> nolivro Questions de sociologie (1984) de umaforma direta e extremista afirma: “A opiniãopública não existe”. O autor explica que:qualquer pesquisa de opinião supõe que to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong> pode ter uma opinião; ou colocan<strong>do</strong>de outra maneira, que a produção de umaopinião está ao alcance de to<strong>do</strong>s. Mais queisso, supõe-se que todas as opiniões têm valore se equivalem <strong>na</strong> composição da opiniãopública. Na verdade, pelo simples fato de secolocar a mesma questão a to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ficaimplícita a hipótese de que há um consensosobre os problemas, ou seja, que há umacor<strong>do</strong> sobre as questões que merecem sercolocadas. Nenhuma dessas suposições sãoevidentes.O termo “opinião pública” já se tornoualgo de <strong>do</strong>mínio público, ou seja, os meiosde comunicação de massa e indivíduos detoda ordem social utilizam o termo paradesig<strong>na</strong>r diversas situações; entre elas aspesquisas de opinião, <strong>na</strong>s quais,quantitativamente, a soma das opiniões individuaissignifica a opinião pública; o atode um grande número de pessoas saírem àsruas para chorar a morte de um í<strong>do</strong>lo; umgrupo de pessoas que se reúne para invadirum supermerca<strong>do</strong> que cobra preços acima<strong>do</strong>s estipula<strong>do</strong>s pelo governo; ou, ainda, aparticipação <strong>do</strong> público <strong>na</strong> construção da ce<strong>na</strong>fi<strong>na</strong>l de um programa televisivo.É ainda comum vermos a relação entrea formação da opinião pública e as informaçõesveiculadas pelos meios de comunicaçãode massa. Até porque, historicamente,vivemos a era da sociedade de massa, comcaracterísticas inerentes à existência de umaparato tecnológico informacio<strong>na</strong>l, impossívelde ser desconsidera<strong>do</strong> para compreensãoda formação da sociedade atual.Nesse processo há uma correlação evidenteentre a formação da opinião públicae os meios de comunicação de massa. Porém,a opinião pública é algo que antecede aexistência <strong>do</strong>s veículos de comunicação demassa e, mesmo nos dias atuais, não estáunicamente ligada à existência desses veículosou das mensagens por eles divulgadas,até porque, onde houver comunicação entreas pessoas, haverá terreno para a formaçãoda opinião pública.Opinião pública é um binômio de <strong>do</strong>míniolingüístico para toda a sociedade, porémde conhecimento para poucos. Suas aplicaçõesnos discursos cotidianos da mídia e <strong>do</strong>satores sociais nem sempre traduzem seu realsignifica<strong>do</strong>. Sua forma de construção nemsempre representa a vontade e as idéias dagrande massa.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS583A hipótese da força de uma opiniãopública diferenciada de to<strong>do</strong>s os conceitosclássicos nos leva a pensar sobre <strong>do</strong>is pólossociais: a mídia e as universidades. Issoporque os órgãos de difusão permitem queuma idéia seja exposta e disponível socialmentee, ainda que não represente a visãoda maioria da população, a forma comonormalmente a mídia expõe conceitos levagrande parte da sociedade a acreditar que sejaa visão da totalidade da sociedade, denomi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>o processo de opinião pública.Paralelamente a isso, a universidade comoorganismo de cultura, de conhecimento, deeducação formal e de desenvolvimento científico-tecnológico,apresenta-se como umespaço privilegia<strong>do</strong> de pensamento críticosobre o desenvolvimento social e de reflexãosobre os próprios meios de comunicação demassa; por outro la<strong>do</strong>, é também responsávelpela formação <strong>do</strong>s bacharéis que estarão àfrente da mídia, entre eles os Jor<strong>na</strong>listas, osRelações Públicas e os Publicitários, queestarão desenvolven<strong>do</strong> os produtos da IndústriaCultural.Ao mesmo tempo, a universidade preservauma herança de saberes secular, constantementereexami<strong>na</strong><strong>do</strong>s e atualiza<strong>do</strong>s paraserem novamente aplica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> sociedadesobre um efeito de regeneração <strong>do</strong>s saberese da memória. Na visão de Morin (2002,p.13), a universidade gera saberes e valoresque constantemente se renovam para fazerparte da mesma herança social.Por isso, ela é simultaneamente conserva<strong>do</strong>ra,regenera<strong>do</strong>ra e gera<strong>do</strong>ra. A Universidadetem uma missão e uma funçãotransecular que vão <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ao futuro porintermédio <strong>do</strong> presente; tem uma missãotrans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que conserva, porque dispõede uma autonomia que a permite efetuar estamissão, apesar <strong>do</strong> fechamento <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista das<strong>na</strong>ções moder<strong>na</strong>s.Num trabalho individual, os integrantes deuma universidade podem não chegar a serindivíduos transforma<strong>do</strong>res da sociedade deforma isolada (e nem é esse o papel dauniversidade), mas to<strong>do</strong>s que passam por umauniversidade conseguem uma transformaçãopessoal, ou seja, cada um avança a partir <strong>do</strong>ponto de consciência e reflexão adquiridaanteriormente, e isso já se configura como algoimportante para a transformação da sociedade.Numa relação de troca de valores, bens,serviços e ideologias, a universidade e a mídiase marcam pela simbiose e pela forma quepodem atuar <strong>na</strong> sociedade para a construçãode um pensamento crítico e formação daopinião pública.Uma das características deste início <strong>do</strong>novo milênio é a necessidade dereaprendermos os conceitos antes ti<strong>do</strong>s comointocáveis. A quebra de paradigmas, a própriareestruturação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em termos dealianças políticas e sociais, fazem-nos ver quea informação é algo muito importante, maso conhecimento é fundamental. A informaçãoé perecível, o conhecimento é a sustentaçãode um pensamento crítico e transforma<strong>do</strong>r.O ideal é que a informação seja usadaa serviço <strong>do</strong> conhecimento.A busca incessante de uma universidadedeve ser pela formação de indivíduos comuma boa base acadêmica e um pensar estratégicodesenvolvi<strong>do</strong>. Do contrário, estaríamosà frente de indivíduos que conhecemmuito bem a técnica, mas que, ao primeirosi<strong>na</strong>l de mudança, não saberiam se posicio<strong>na</strong>rà frente das novas realidades. O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>trabalho está dentro da vida, por isso, auniversidade não pode ser somente umatransmissora de conhecimentos, mas umespaço privilegia<strong>do</strong> de reflexão e de construçãode como os conhecimentos devem seraplica<strong>do</strong>s no cotidiano.Muitas falas colocam separadas as açõesda universidade, como se houvessem mun<strong>do</strong>sdistintos entre o trabalho e a vida. Muitasvezes a falta de preocupação com um serhumano integral transforma os conhecimentosacadêmicos em algo dissocia<strong>do</strong> daquiloque ele precisa para poder articular idéiasem ocasiões de toda ordem social.Não é suficiente termos uma práticadesenvolvida se não formos capazes derefletir sobre ela. Assim, se por um la<strong>do</strong>, oensino da técnica e a utilização das novastecnologias aproximam cada vez mais o aluno<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho, por outro la<strong>do</strong>, aconsciência da necessidade de uma reflexãosobre o ensino das técnicas é fundamental,a fim de não tor<strong>na</strong>r os alunos merosrepeti<strong>do</strong>res.“A capacidade técnica que supera oadestramento em direção à criatividade nãosó possibilita a apropriação de uma parcela


584 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmaior desse poder como, venci<strong>do</strong> o me<strong>do</strong>à liberdade, pode determi<strong>na</strong>r o seu uso emfavor da reinvenção da sociedade”. (Meditsch;Bragança, 1988, p. 34).O binômio técnica-ciência ainda não estátotalmente resolvi<strong>do</strong> <strong>na</strong> Universidade, porém,não podemos desconsiderar o fundamentalpapel que a academia representa como espaçode discussão, de questio<strong>na</strong>mento e decrítica social. É um espaço que, no Brasil,ainda é restrito a uma parcela peque<strong>na</strong> dasociedade, por problemas sociais básicosainda a serem resolvi<strong>do</strong>s. Por isso, a Universidadeé fundamental para a formação deindivíduos cada vez mais transforma<strong>do</strong>res desi e <strong>do</strong> ambiente que os cerca, assumin<strong>do</strong>a função de formação de indivíduosmultiplica<strong>do</strong>res de idéias.Assim, se afirmarmos que a opiniãopública é produzida através da consciência <strong>do</strong>sagentes sociais capazes de pensar criticamenteos processos que envolvem a coletividade,poderemos ter a Universidade como um espaçoprivilegia<strong>do</strong> de reflexão e de pesquisas.É comum encontrarmos pesquisas deopinião que tomam como objeto o recolhimentode da<strong>do</strong>s para se apurar o esta<strong>do</strong> daopinião pública, quer seja para se conhecera aceitação de um produto, uma organização,um assunto público, um político.Nessa ótica, ten<strong>do</strong> em vista que aspesquisas são feitas normalmente a partir deum grupo limita<strong>do</strong> de pessoas da sociedade(com exceções para as eleições diretas), aposição <strong>do</strong>s indivíduos pesquisa<strong>do</strong>s,selecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a partir daquilo que osidealiza<strong>do</strong>res da pesquisa desejam, e devalores que julgam significativos, serádivulgada para a grande massa, ou para ogrupo de interesse, e se caracterizará comosen<strong>do</strong> a visão da opinião pública.Essa visão, com idéia de significar aquiloque to<strong>do</strong>s pensam, será passada para a massae esta terá a tendência a absorvê-la e reproduzi-la.A hipótese da espiral <strong>do</strong> silêncioexplica esse fenômeno, mostran<strong>do</strong> que a partirdaí existirá uma tendência a silenciar-seaqueles que pensam diferentemente da idéiaapresentada como sen<strong>do</strong> unânime, fazen<strong>do</strong>com que as idéias contrárias normalmente nãosejam expostas. Esse é o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> isolamento,que tem sua base firmada <strong>na</strong>s questõespsicológicas.Para Barros Filho (1995, p. 220-223), oser humano tem horror ao isolamento opi<strong>na</strong>tivo.Sustentar uma opinião contrária àda maioria traz desconforto. Esse me<strong>do</strong> égeneraliza<strong>do</strong> e estatisticamente comprova<strong>do</strong>.O me<strong>do</strong> <strong>do</strong> isolamento será tanto maisdecisivo <strong>na</strong> tomada de posição quanto menora confiança que tiver o indivíduo <strong>na</strong> suaargumentação, que, por sua vez, é dependentede to<strong>do</strong> o conjunto de elementosconstitutivos <strong>do</strong> grau de educação, conhecimentoou politização.Outro fato a se considerar é quan<strong>do</strong> nãose faz qualquer tipo de pesquisa para seconhecer a tendência das opiniões, fazen<strong>do</strong>com que a opinião pública se forme segun<strong>do</strong>a visão de uma celebridade midiática que,a partir <strong>do</strong>s poderes de persuasão previamenteconquista<strong>do</strong>s junto ao público, terá umatendência à formação de idéias junto aos seusadmira<strong>do</strong>res e fãs.É importante destacar que, mesmo nosmeios de comunicação de massa atingin<strong>do</strong>uma imensa quantidade de públicos com suasmensagens, o fenômeno não pode ser considera<strong>do</strong>como recepção coletiva, uma recepçãode grupos, com possibilidade de discussãoe assimilação comuns. O processo derecepção é amplo, mas individualiza<strong>do</strong>,permitin<strong>do</strong> uma distância entre o significa<strong>do</strong>real de uma mensagem e a forma como éabsorvida por cada indivíduo.Colocamos em questio<strong>na</strong>mento o termo“comunicação de massa”, rotineiramenteutiliza<strong>do</strong> como algo que envolve toda a massae que, ao nosso ver, deve ser repensa<strong>do</strong>. Seconsiderarmos que comunicar pressupõe o atode duas ou mais pessoas interagirem sobreum mesmo assunto, logo, o que existe emum processo de mão única como a mídia éinformação de massa, ou mais que isso,informação para a massa.Não consideramos, contu<strong>do</strong>, que toda amassa seja passiva, até porque, acreditamosno oposto. Porém, ela não possui o poderde se comunicar no momento de transmissãode mensagens pela maioria <strong>do</strong>s meios decomunicação de massa. As exceções ficampor conta de alguns programas produzi<strong>do</strong>spelos veículos eletrônicos que contam coma participação <strong>do</strong> público, cartas de leitorespara os veículos impressos ou interações <strong>na</strong>snovas mídias como a Internet.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS585Além <strong>do</strong>s modelos acima, a comunicaçãoé algo que se dará ou não, posteriormente,a depender da possível reação que os indivíduosterão sobre o assunto proposto pelamídia, desencadean<strong>do</strong> um processo real decomunicação como as próprias teorias decomunicação propõem.A opinião pública é algo de interferênciasocial, geográfica e histórica. Algo tem queacontecer no lugar certo, no momento certoe com as pessoas certas para que se configureo caráter de opinião pública. Muitasvezes uma nova idéia pode precisar de umaoportunidade de local e de momento socialpara que venha a ser absorvida pela opiniãopública.Assim, um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> assunto ou descobertatem início, mas não adquire o formatode algo que envolve a sociedade porquesocialmente ainda não é o momento. Algocomo opinião de grupo (ou não pública) queainda não adquiriu o formato de opiniãomanifestada para poder evoluir para opiniãopública.Principalmente no tocante à ciência,fatores comerciais também são relevantes paradetermi<strong>na</strong>rem se um novo produto ou umanova droga médica deve ser lançada, consideran<strong>do</strong>-seque poderá extermi<strong>na</strong>r com umproduto já existente no merca<strong>do</strong> e causar umcaos econômico-social.Nesse senti<strong>do</strong>, num País onde grandeparte da população é a<strong>na</strong>lfabeta, conseguiruma sociedade crítica no tocante à informaçãoé um processo evolutivo. Os meios decomunicação de massa falam muito mais daprevisão <strong>do</strong> tempo ou de algo que possa sercompreendi<strong>do</strong> por pessoas de qualquer nívelde escolaridade. Os cientistas se tor<strong>na</strong>mperiféricos, quer seja pela possibilidade denão compreensão, quer seja por interesseseconômicos, políticos ou sociais da mídia.Os fatores psicológicos também têminterferência <strong>na</strong> formação da opinião pública.Segun<strong>do</strong> Goldmann (1972, p.8), “numatransmissão de informações não há ape<strong>na</strong>sum homem ou um aparelho que emite informaçõese um mecanismo que as transmite,mas também, em qualquer parte, um serhumano que as recebe.”E vai além, explican<strong>do</strong> a consciência <strong>do</strong>receptor.Essa consciência é opaca a toda uma sériede informações que não passam em razãomesmo de sua estrutura, enquanto outrasinformações passam, e outras, enfim, sópassam de maneira deformada. Muito frequentemente,<strong>na</strong> verdade, quem olha <strong>do</strong>exterior e tenta comparar o que foi emiti<strong>do</strong>com o que foi recebi<strong>do</strong> constata que ape<strong>na</strong>suma parte da emissão foi recebida e quemesmo essa parte, ao nível da recepção,adquiriu uma significação assaz diferente daque fora enviada. Trata-se aí de um fatoextremamente importante que leva especialmentea repor em discussão toda a sociologiacontemporânea <strong>na</strong> medida em que ela é maiscentrada sobre o conceito de consciência realque sobre o conceito de consciência possível.O real é a realidade que o receptorconhece a partir das possibilidades de suainterpretação. Uma mesma mensagem sofreráinterferências de recepção em cada indivíduoa partir <strong>do</strong>s valores que cada receptorjá possui.A sociedade é mutável, inconstante e deveser considerada pela sua geografia, pelo seuespaço físico, principalmente num País continentalcomo o Brasil, que agrega vários“brasis”, onde os meios de comunicação demassa normalmente desprezam o caráterregio<strong>na</strong>l de interpretação de mensagensveiculadas pela mídia.Se pensarmos <strong>na</strong> importância da reflexão<strong>do</strong>s acontecimentos sociais, por cada indivíduo,reportar-nos-emos à função das RelaçõesPúblicas como agentes de formaçãode vários núcleos sociais determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s porinstituições presta<strong>do</strong>ras de to<strong>do</strong> tipo deserviço. Os Relações Públicas sãointermedia<strong>do</strong>res entre os meios de comunicaçãode massa e as organizações, e isso éfundamental para que a sociedade possaconhecer o que se passa dentro de váriospólos de existência social, em instituiçõespúblicas ou privadas.A sociedade se constrói a partir daexistência de cada organismo social e, aomesmo tempo, as instituições precisam terconhecimento da forma como estão sen<strong>do</strong>vistas pela sociedade, precisam tambémapresentar a sua parcela de importância paraque o to<strong>do</strong> seja funcio<strong>na</strong>l. Na verdade, osRelações Públicas agem como intérpretes <strong>do</strong>s


586 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVacontecimentos de uma instituição para asociedade, usan<strong>do</strong> como ca<strong>na</strong>l os veículos decomunicação.Se considerarmos que, além <strong>do</strong>s meiosde comunicação de massa, as organizaçõessociais são representativas, <strong>na</strong> construção daopinião pública, o trabalho de RelaçõesPúblicas tor<strong>na</strong>-se muito importante.Se pensarmos no binômio “opinião pública”não como algo que é de to<strong>do</strong>s, damassa, mas como algo que se refere aospúblicos, podemos destacar a forma de vidamoder<strong>na</strong>, que constrói espaços públicosextremamente priva<strong>do</strong>s. Não é público nosenti<strong>do</strong> de livre acesso, mas no senti<strong>do</strong> dedistinção de públicos.Ainda que dentro de uma filosofia de queto<strong>do</strong>s possam vir a utilizá-los, as regras parautilização <strong>do</strong>s espaços públicos colocambarreiras para muitos indivíduos, quer sejaatravés <strong>do</strong> poder aquisitivo determi<strong>na</strong>nte parase freqüentar determi<strong>na</strong><strong>do</strong> restaurante ouparque temático, quer seja pela aparência bemcuidada, roupas da moda e o pé calça<strong>do</strong>, parase freqüentar o shopping center e as ruasdentro <strong>do</strong>s con<strong>do</strong>mínios residenciais.Tal como os espaços públicos, a inteligênciacoletiva e as novas tecnologias formamuma globalização que não agrega ato<strong>do</strong>s. A sociedade de massa ajuda a construir,cada vez mais, indivíduos distintos,grupos distintos e formas de existência distintas.A própria televisão, veículo supremo decomunicação de massa, já distingue seuspúblicos entre TV aberta e TV por assi<strong>na</strong>tura,crian<strong>do</strong> sociedades distintas. As camadasperiféricas não são mais marcadas somentepor questões geográficas, mas pelasnovas tecnologias que recriam os grupossociais.Os heróis e as celebridades da mídia sãoreafirma<strong>do</strong>s no processo. A ilusão de ser eter aquilo que não se é e não se pode terreconstrói a celebridade, como alguém quetu<strong>do</strong> tem, tu<strong>do</strong> pode e se configura comorepresentante <strong>do</strong>s fãs para o mun<strong>do</strong> nãoacessível.A mídia é responsável pela formação daopinião pública, através de suas mensagens,de seus códigos linguísticos, de suas formassublimi<strong>na</strong>res de transmissão de informaçõese pela construção e reafirmação de í<strong>do</strong>los,capazes de instigar a massa com suas interpretaçõesde fatos.A hipótese da agenda-setting trabalha oconceito de orientação das massas sobre oconteú<strong>do</strong> e a forma como algo que deve serpensa<strong>do</strong> pela sociedade, fazen<strong>do</strong> com que ascelebridades midiáticas se transformem ematores dessa posição.Relevante se pensar sobre as várias formasde construção da opinião pública. A valorização<strong>do</strong> papel da universidade e a concepçãode privilégio que possuímos comrelação aos indivíduos que frequentam auniversidade e que podem questio<strong>na</strong>r osproblemas sociais de um País onde grandeparte da população passa o dia lutan<strong>do</strong> porcondições mínimas de sobrevivência para sie para sua família. Mais que isso, a importânciada reflexão sobre a construção daopinião pública por aqueles que vivem emum País que não possui destaque no mun<strong>do</strong>globaliza<strong>do</strong>, mas que são obriga<strong>do</strong>s a pensardiariamente como aqueles que vivem nosPaíses de ponta da economia mundial paraque não se tornem ainda mais distantes deles.Por fim, tomemos como última palavraa visão de Habermas (1984: 277), quan<strong>do</strong>defende que a Opinião Pública rei<strong>na</strong>, masnão gover<strong>na</strong>. De fato, a opinião pública nãogover<strong>na</strong>, porque os públicos não atingiramum grau organiza<strong>do</strong> de imposição e pressãosobre seus direitos e suas aspirações de formaa terem voz <strong>na</strong> sociedade; mas rei<strong>na</strong>, em cadagrupo social, em cada espaço de reflexão queconsegue promover uma contra-opiniãopública, à espera de que um dia se torne umaopinião manifestada e consiga, de fato,construir uma opinião pública no senti<strong>do</strong> demanifestação das massas.A Título de ExplicaçãoNecessária se faz uma explicação sobrea opção pela grafia <strong>do</strong> título deste trabalhoe a forma como este se apresenta: Universidadee Mídia – A Opinião Pública In-Formação.O título aborda os <strong>do</strong>is principaisenfoques de construção da opinião públicaapresenta<strong>do</strong>s neste trabalho, quais sejam: ainfluência da universidade, um local dereflexão e ao mesmo tempo, um organismosocial integrante da formação <strong>do</strong>s profissi-


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS587o<strong>na</strong>is da área de comunicação <strong>do</strong>s váriosórgãos liga<strong>do</strong>s à comunicação; e a influência<strong>do</strong>s meios de comunicação, veículos deformação e propagação de valores simbólicoscontribuintes para a formação da opiniãopública, conforme exposto ao longo de to<strong>do</strong>este trabalho.No título podemos verificar ainda obinômio opinião pública, ponto central denosso estu<strong>do</strong>.In-Formação foi a opção encontrada paraelucidarmos <strong>do</strong>is aspectos:- o aspecto da mídia e da universidadecomo pólos de Informação, no senti<strong>do</strong> detransmissão de conhecimentos obti<strong>do</strong>s atravésde investigação ou instrução;- o aspecto de algo que se encontra emestágio i<strong>na</strong>caba<strong>do</strong>, ainda em construção, nosenti<strong>do</strong> de “em formação”, como algo queindica movimento em direção a uma meta,um objetivo, um ponto de chegada.A escolha se dá por acreditarmos que tantoa mídia, quanto a universidade, representamessas duas realidades para a formação da opiniãopública. In-Formação é, portanto, um neologismocria<strong>do</strong> para tematizar as circunstânciasem que se encontra a opinião pública para asduas instituições (mídia e universidade).Váli<strong>do</strong> ainda deixar claro que, apesar denão termos opta<strong>do</strong> pela utilização <strong>do</strong> prefixo“In” como forma de negação, de privação,no senti<strong>do</strong> da origem lati<strong>na</strong>, esta leituratambém fica à disposição <strong>do</strong> leitor que poderáentender a expressão “In-Formação” sob aperspectiva de “não formação” ou falta deinformação. Isso porque os objetos de estu<strong>do</strong>deste trabalho (mídia e universidade) podemadquirir um caráter de falta de informaçãoou ausência no processo de informação paraa sociedade, numa ótica de omissão deinformações que poderiam contribuir aindamais para o desenvolvimento social.


588 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAndrade, C.T de S. Dicionário profissio<strong>na</strong>lde relações públicas e comunicação.São Paulo: Summus, 1996.Barros Filho, C. de. Ética <strong>na</strong> comunicação:da informação ao receptor. São Paulo:Moder<strong>na</strong>, 1995.Bourdieu, P. Questions de sociologie.Paris: Minuite, 1984.Goldmann, L. A criação cultural <strong>na</strong>sociedade moder<strong>na</strong>. São Paulo: DifusãoEuropéia <strong>do</strong> Livro, 1972.Habermas, J. Mudança estrutural daesfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1984.Luhmann, N. Strato di diritto e sistemasociale. Nápoles: Guida, 1978.Meditsch, E.; Bragança, A. A questãocurricular: <strong>do</strong> impasse à reinvenção. In:Melo, J. M. de (Org.). Ensino da comunicaçãono Brasil: impasses e desafios. SãoPaulo: ECA/USP, 1988. p. 16-37.Morin, E.; Almeida, M. da C. de;Carvalho, E. de A. (Orgs.). Educação ecomplexidade: os sete saberes e outrosensaios. São Paulo: Cortez, 2002._______________________________1Universidade Tiradentes, em Aracaju –Sergipe.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS589Mediatização <strong>do</strong> real: consumos e estilos de vida.Contributos e reflexõesSusa<strong>na</strong> Henriques 1Nas sociedades contemporâneas os mediaassumem um papel fundamental enquantoforma de obtenção de informações e deconhecimentos acerca <strong>do</strong>s mais diversosaspectos da realidade. Trata-se de um conhecimentomedia<strong>do</strong> pelos meios de conhecimentosocial, mas em relação ao qual o público(“receptor”) tem um carácter activo. Osconsumos são um destes aspectos <strong>do</strong> realsocial a que o discurso mediatiza<strong>do</strong> dáexpressão, constituin<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s elementosdaquilo que alguns autores desig<strong>na</strong>m por“sociedade <strong>do</strong> consumo” (Baudrillard, 1995,entre outros).Neste contexto, a reflexão proposta ésobre o debate da expressão <strong>do</strong>s consumosmediada pelos meios de comunicação social.Este debate assume particular relevância nocontexto mais vasto <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> em que seinsere, já que irá permitir procurarcontextualizar e apreender os contornos da(re)formulação de estilos de vida, <strong>na</strong>s sociedadesactuais, mais concretamente emPortugal. Importa, pois, desenvolver <strong>do</strong>iseixos principais: os media <strong>na</strong> sociedade; ea multiplicidade <strong>do</strong>s consumos – enquantoconstitutivos de estilos de vida (que seapresentam como uniformizantes ou comodiferencia<strong>do</strong>res).Sobre os media <strong>na</strong> sociedadeA imagem que os meios de comunicaçãosocial transmitem da realidade correspondecada vez mais ao conhecimento que temossobre o que nos rodeia, sobre os outros esobre nós próprios. Mas num artigojor<strong>na</strong>lístico a selecção <strong>do</strong>s factos e os termosutiliza<strong>do</strong>s pressupõe uma perspectiva <strong>na</strong>abordagem desse assunto. Daqui resulta umreal mediatiza<strong>do</strong> que interage com a realidadesubjectiva inscrita <strong>na</strong> experiência decada indivíduo.Os media são, portanto, uns <strong>do</strong>s construtoresda realidade e, <strong>na</strong> medida em quenem to<strong>do</strong>s os aspectos da realidade estãopróximos, muitas concepções são construídasa partir <strong>do</strong> que estes meios nos transmitem.Ao tematizarem certos acontecimentos, aoprivilegiarem determi<strong>na</strong>das vertentes <strong>do</strong>sassuntos, em detrimento de outras, transmitemuma visão <strong>do</strong>s acontecimentos que éprodutora de efeitos cognitivos.Os mass media têm acentua<strong>do</strong> a suaomnipresença sen<strong>do</strong> uma das principais viaspara o conhecimento <strong>do</strong> exterior através dadifusão de mensagens compreensíveis paraquase toda a gente. A globalização <strong>do</strong>sprocessos, das emoções e principalmente <strong>do</strong>sfluxos e <strong>do</strong>s circuitos da informação temcomo consequência a redefinição <strong>do</strong>s intervalosde tempo e de distância <strong>na</strong> difusão dasnotícias, subverten<strong>do</strong> os conceitos de actualidade,de proximidade, de universalidadee de periodicidade, características básicas econstantes <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo. De acor<strong>do</strong> comChaparro (2001:120), só a lógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>possui “modernidade”, ou seja, a fantasiae a sedução fazem parte de um...” jor<strong>na</strong>lismohíbri<strong>do</strong> que incorpora os fundamentos dapublicidade e <strong>do</strong> entretenimento”.Paralelamente,“a humanidade tornou-se ávida deinformação e, como os consumi<strong>do</strong>resse mostram desejosos de notícias,estas foram transformadas num produto,isto é, algo que pode ser compra<strong>do</strong>e vendi<strong>do</strong>. [Neste senti<strong>do</strong>, podedizer-se que] o consumo maciço deinformação é semelhante, pelo menosno mun<strong>do</strong> industrial, à compra emlarga quantidade de produtos materiais”(Sorlin, 1997: 134).Para Santos (2000:77),“...sofremos da síndroma damediatização (...) interiorizamos alógica de uma civilização pronta para


590 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVnos oferecer um real já elabora<strong>do</strong>,pronto e confeccio<strong>na</strong><strong>do</strong> para consumoimediato e em relação ao qualsomos alheios”.Nesta perspectiva, a informação e apublicidade partilham uma lógica, que cadavez mais se aproxima: a <strong>do</strong> marketing(Henriques, 1999; McManus, 1994). Deacor<strong>do</strong> com este princípio, o “consumo <strong>do</strong>produto” – o consumo de informação – induzum realismo quotidiano tão ba<strong>na</strong>l que se tor<strong>na</strong>facilmente assimilável, provocan<strong>do</strong> umaadesão sentimental de <strong>na</strong>tureza simbólica.Significa, então, que os mass media sãoimportantes intervenientes <strong>na</strong> construção <strong>do</strong>suniversos de consumo. Assim, parte-se daideia de que se trata de práticas de consumoassociadas a formas de estar, que parecemser cada vez mais legitimadas, a diversosníveis <strong>do</strong> social, o que é visível <strong>na</strong> suaexpressão mediatizada.Para Moro (1999) to<strong>do</strong>s, independentemente<strong>do</strong>s recursos económicos que podemoster, <strong>do</strong> sexo, da idade ou da classe social,somos consumi<strong>do</strong>res. Continuamente tomamosdecisões de consumo – sobre alimentação,vestuário, transportes, lazer e outros.Estas decisões são fruto de influências inter<strong>na</strong>se exter<strong>na</strong>s ao indivíduo: exter<strong>na</strong>s quereflectem a influência <strong>do</strong>s media; inter<strong>na</strong>s quese expressam nos estilos de vida.A expressão que os meios de comunicaçãosocial traduzem <strong>do</strong>s consumos vai-sereflectin<strong>do</strong> no comportamento da sociedadeactual, através de imagens, linguagens, esquemasde comportamento, estilos de vida,estereótipos. Paolo Landi (2002) fornece umexemplo que pode ilustrar esta influência <strong>do</strong>papel <strong>do</strong>s media <strong>na</strong> criação de indivíduos“funcio<strong>na</strong>is no sistema da sociedade deconsumo”, através de algumas indicaçõesdadas pelo conteú<strong>do</strong> das mensagens que lhessão dirigidas. Nomeadamente, considerar que,não possuir um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> produto significainferioridade, margi<strong>na</strong>lização ou apressara necessidade de satisfação <strong>do</strong>s desejosde mo<strong>do</strong> imediato e facilita<strong>do</strong>.No entanto, é difícil identificar umatendência pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte nos consumos actuais.E esta dificuldade aumenta ainda mais,se considerarmos uma definição extensiva <strong>do</strong>sconsumos, encaran<strong>do</strong>-os como um tipo particularde relação expressa num da<strong>do</strong> estilode vida a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> e possível de identificar,a partir da sua imagem mediática.Sobre a multiplicidade <strong>do</strong>s consumosO fenómeno <strong>do</strong> consumo aqui considera<strong>do</strong>,concentra-se <strong>na</strong>s sociedades ocidentaiscontemporâneas e corresponde a um “mo<strong>do</strong>de actividade sistemática e de resposta globalque serve de base a to<strong>do</strong> o nosso sistemacultural” (Baudrillard, 1995: 11).O campo <strong>do</strong> consumo assume-se, pois,como uma lógica social que implica conforto,prestígio, desejo, prazer, felicidade, entreoutros, e que pressupõe uma dinâmica denecessidades e de motivações <strong>do</strong>s indivíduos.No equacio<strong>na</strong>mento da problemática <strong>do</strong>sconsumos identifica-se a existência de quatroorientações principais. A perspectiva moral<strong>do</strong>s consumos que nos remete para umaabordagem que realça os efeitos <strong>do</strong> aumento<strong>do</strong> nível de vida e da consequente generalização<strong>do</strong> acesso aos bens de consumo <strong>na</strong>“sociedade de consumo” e nos agentes sociais(Ortega y Gasset, sd.; Galanoy, 1980;Lipovetsky, 1989). Os consumos <strong>na</strong> perspectiva<strong>do</strong> marketing remetem para a melhoria<strong>do</strong> nível geral de vida, para o aumento <strong>do</strong>sníveis de formação e <strong>do</strong> acesso à informaçãoenquanto factores <strong>na</strong> origem <strong>do</strong> acréscimoda agressividade comercial com enfoque nopapel <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r no merca<strong>do</strong>, da tendênciapara a diminuição da vida útil <strong>do</strong>s bense <strong>do</strong>s meios de produção e de alteraçõesrápidas e profundas no comportamento emotivação <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res e utiliza<strong>do</strong>res(Baudrillard, 1968; Lendrevie, et all., 1993;River, Arellano & Molero, 2000). A perspectivainstitucio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s consumos remete parauma orientação mais estrutural deste fenómeno,situan<strong>do</strong>-o numa sociedade de grandeprodução que gradualmente se tem desloca<strong>do</strong>para uma sociedade orientada para o consumo(Bauman, 1992; Ritzer, 2001). Fi<strong>na</strong>lmente,a perspectiva <strong>do</strong>s consumos enquantocompetências remete para um processo deaprendizagem e formação que os consumi<strong>do</strong>restêm vin<strong>do</strong> a desenvolver em relaçãoa diversos aspectos <strong>do</strong> consumo (Elias, 1989;Giddens, 1994).De qualquer forma, os consumos implicamescolhas e estas reflectem o modelo


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS591cultural em que se inserem através <strong>do</strong> significa<strong>do</strong>que lhes é atribuí<strong>do</strong>. Estas escolhas,circulação e apropriação (que traduzem oconsumo) de bens, objectos e signos diferencia<strong>do</strong>s,constituem uma espécie de códigolinguístico da sociedade (Baudrillard, 1995).A generalização <strong>do</strong> consumo assume, paraRitzer (2000), os seguintes pressupostos. Emprimeiro lugar, uma maior quantidade de bense serviços está mais disponível <strong>do</strong> que antespara mais população. Esta disponibilidade debens e serviços depende, bastante menos <strong>do</strong>que antes, <strong>do</strong> tempo ou da localizaçãogeográfica. Consequentemente, os indivíduosconseguem obter o que querem ou precisamquase instantaneamente e de formamais cómoda. Em paralelo, também os bense os serviços têm uma qualidade mais uniformee existem mais alter<strong>na</strong>tivas económicasàqueles que são comercializa<strong>do</strong>s a preçoseleva<strong>do</strong>s. Num mun<strong>do</strong> em rápida mudançaa comparativa estabilidade e familiaridadeque os sistemas oferecem representamconforto – o que constitui outro pressupostoimportante. Fi<strong>na</strong>lmente, certos produtossão mais seguros num sistema maiscontrola<strong>do</strong> e regula<strong>do</strong> e as inovações são aquidifundidas de forma mais rápida e fácil.Estes pressupostos traduzem o processoatravés <strong>do</strong> qual a sociedade como um to<strong>do</strong>reforçou a responsabilidade de proporcio<strong>na</strong>rambientes seguros para os interesses comerciais,nos seus diversos níveis – saúde ebeleza, alimentação, educação, vestuário,transportes, lazer. No entanto, Ritzer destacao facto de que as pessoas passam grande parte<strong>do</strong> tempo de lazer em ambientes comerciais,o que contribui para o reforço <strong>do</strong> consumo.De facto, as práticas associadas aosconsumos conhecem hoje formas e usos queas distinguem das anteriores: massificaramse,ba<strong>na</strong>lizaram-se e acentuaram-se. O fortedi<strong>na</strong>mismo que caracteriza o mun<strong>do</strong> modernoé visível no ritmo da mudança social, queé mais rápi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que em qualquer outrosistema anterior. Mas também <strong>na</strong> profundidadecom que afecta as práticas sociais e osmo<strong>do</strong>s de comportamento preexistentes(Giddens, 1994).Do exposto, importa reter três níveisdistintos, mas interliga<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s consumos: oda satisfação das necessidades, estrutrais, oudas práticas simbólicas. O primeiro, dizrespeito às necessidades de sobrevivência ede conforto (ver Moro, 1999, entre outros).O segun<strong>do</strong> nível, remete para um entendimento<strong>do</strong>s consumos inscritos num determi<strong>na</strong><strong>do</strong>estádio <strong>do</strong> “processo civilizacio<strong>na</strong>l”(Elias, 1989, 1990, por exemplo). Fi<strong>na</strong>lmente,a dimensão simbólica <strong>do</strong>s consumos de“objectos-signo” enquanto expressão de estratégiasde identificação e distinção (ver porexemplo, Baudrillard, 1995). Daqui resultaque, o envolvimento <strong>do</strong>s indivíduos com oconsumo é tal que se encontra profundamenteinfiltra<strong>do</strong> <strong>na</strong> vida quotidia<strong>na</strong>. Não só <strong>na</strong>tomada de decisões a nível económico, comotambém ao nível das experiências individuaisafectan<strong>do</strong> a construção identitária, aformação de relações sociais e o enquadramento<strong>do</strong>s acontecimentos quotidianos.Assim, a circulação, compra, venda eapropriação de bens de objectos-signo diferencia<strong>do</strong>sconstituem a linguagem e o códigoatravés <strong>do</strong>s quais toda a sociedade comunica(Baudrillard, 1995). Por isso, as diferentesdinâmicas de transformação <strong>do</strong>s consumos eas tendências que elas provocam configuramum quadro diversifica<strong>do</strong> e por vezes contraditóriode estilos de vida que se inscrevemem lógicas quotidia<strong>na</strong>s de procura de bemestare de realização, de reconhecimento ede libertação. E reflectem-se numa forma denegociar as oposições entre oportunidade eperigo, liberdade e responsabilidade, prazere ordem moral.Importa aqui a ideia de que o carácterestatutário <strong>do</strong>s consumos expressa estilos devida, que são igualmente de pertença a umgrupo ou de distintividade, são ainda atributos<strong>do</strong> processo de construção identitária.Esta ideia é reforçada por Lunt e Livingstone(1996) que, tal como Weber, defendem quea cultura <strong>do</strong> consumo pode proporcio<strong>na</strong>rcondições a partir das quais a maioria daspessoas pode trabalhar a sua identidade. Istoé, este tipo de consumos tem uma relaçãodirecta com as identidades sociais ereferenciam estilos de vida que se inscrevemem lógicas quotidia<strong>na</strong>s de procura de bemestare de realização, de reconhecimento ede libertação. As diferentes dinâmicas detransformação <strong>do</strong>s consumos e as tendênciasque elas provocam, configuram um quadrodiversifica<strong>do</strong> e por vezes contraditório decondições de existência e mo<strong>do</strong>s de vida.


592 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVGiddens (1994) identifica <strong>na</strong>s sociedadesactuais um clima de indefinição em queparecem não existir possibilidadespredefinidas, todas se encontram em aberto.De acor<strong>do</strong> com Elias (1990:258-259),“perío<strong>do</strong>s como este, de transição,prestam-se particularmente à reflexão:os antigos padrões são, em parte,postos em causa, não haven<strong>do</strong> aindanovos padrões solidamente estabeleci<strong>do</strong>s.As pessoas ficam mais insegurasacerca de como orientar o seucomportamento. A própria situaçãosocial tor<strong>na</strong> o ‘comportamento’ umproblema premente. Em tais fases –e talvez ape<strong>na</strong>s em tais fases – aspessoas vêem com novos olhos muitosaspectos <strong>do</strong> comportamento que àsgerações anteriores pareciam <strong>na</strong>turais”.A condição prévia para esta situação seriao aumento <strong>do</strong>s níveis de vida e de segurança.Nesta linha, de acor<strong>do</strong> com Giddens(1975: 49), Weber defende que “os gruposde status expressam as relações envolvidasno consumo, <strong>na</strong> forma específica de estilosde vida”.O autor refere-se assim, à importância dasituação que é determi<strong>na</strong>da pelo tipo deaquisição ou utilização de bens acessíveis nomerca<strong>do</strong>:“... toda a sua existência social dependiade que ele ‘demonstrasse’ talposse. Não existe estímulo mais forte<strong>do</strong> que uma tal necessidade de autoafirmaçãono círculo <strong>do</strong>s companheiros...”(Weber, 1989: 212).O aumento <strong>do</strong>s níveis de indefinição, aque se refere Giddens, significa que asnecessárias escolhas de estilos de vida sãoplurais e envolvem possibilidades de acçãopositivas e negativas (constrangimentos) esignifica que há um questio<strong>na</strong>mento permanentee uma atitude calcula<strong>do</strong>ra face àsnoções de risco e de incerteza. Situamo-nospois, nos envolvimentos da modernidade,desig<strong>na</strong>damente <strong>na</strong>quilo que Giddens (1994)refere como os “ambientes de risco”. O riscorefere-se a perigos calcula<strong>do</strong>s em função depossibilidades futuras, mas a aceitação <strong>do</strong>risco é também um <strong>do</strong>s requisitos de excitaçãoe de aventura e fonte de energia cria<strong>do</strong>rade riqueza numa economia moder<strong>na</strong>.Podemos ilustrar com duas ordens de argumentação.Por um la<strong>do</strong>, o impacte <strong>do</strong> desenvolvimentotecnológico sobre o ambientee a saúde. Por outro la<strong>do</strong>, o caso <strong>do</strong>s consumosque envolvem um grau de instabilidadee de incerteza como o das bebidasalcoólicas e espirituosas, o de alguns programasalimentares e de dietas ou de práticasdesportivas radicais, para citar ape<strong>na</strong>s algunsexemplos.Nesta linha, os padrões de estilo de vidapodem por vezes incluir a rejeição mais oumenos deliberada de formas de comportamentoe de consumo mais vastamente difundidase a consequente a<strong>do</strong>pção activa de certo tipode práticas de consumo que se inscrevem empadrões alter<strong>na</strong>tivos de libertação e de identificação,traduzin<strong>do</strong> um escape quotidianoe envolven<strong>do</strong> alguns riscos aceites e valoriza<strong>do</strong>s– já que correr certos riscos <strong>na</strong> buscade um da<strong>do</strong> estilo de vida é aceite dentrode certos limites defini<strong>do</strong>s pelo grupo e pelocontexto.O mun<strong>do</strong> actual cria novas formas defragmentação e dispersão e por isso, a noçãode estilo de vida assume um significa<strong>do</strong>particular. Factores como a abertura da vidasocial de hoje e a pluralização <strong>do</strong>s consumos,a que os mass media dão expressão,fazem com que a escolha de um estilo devida tenha uma importância crescente <strong>na</strong>constituição da identidade pessoal e daactividade quotidia<strong>na</strong>.Sobre os consumos e os estilos de vida nosmeios de comunicação de massasEmbora partin<strong>do</strong> da distinção a<strong>na</strong>líticaapresentada, estes, <strong>na</strong> realidade, encontramseinterliga<strong>do</strong>s e importa agora referir algunsaspectos dessa interligação. Compreenderestes aspectos revela-se de particular importânciano entendimento das relações entre asmudanças sociais globais e a complexificaçãoda imagem que os media transmitem <strong>do</strong>sconsumos com reflexos nos estilos de vida<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.O aumento <strong>do</strong> controlo aos diversos níveisdas sociedades actuais expressa um padrão


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS593em que cada vez mais objectos e símbolostêm si<strong>do</strong> entendi<strong>do</strong>s como merca<strong>do</strong>rias – aesfera <strong>do</strong> lazer, as crianças, a saúde e a<strong>do</strong>ença, entre outros. Trata-se, para Landi(2002), de uma “mercantilização generalizada”que tem vin<strong>do</strong> a dar crescente visibilidadee autonomia à esfera <strong>do</strong> consumo.A realidade <strong>na</strong>s sociedades contemporâneasalterou-se em função da expansão <strong>do</strong>smedia que promovem a alteração e multiplicaçãodas instituições de socialização e adiversificação das fontes de informação(Ferin, 2002). Desta forma, os media apresentam-secomo instrumentos de ligaçãoessencial entre os indivíduos e tu<strong>do</strong> o queos rodeia. Ou seja, como “construtores darealidade”, <strong>na</strong> medida em que apresentam umaselecção parcial de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> acontecimentoem função de um conjunto de orientaçõestecnológicas e editoriais próprias decada meio (Henriques, 1999). É neste senti<strong>do</strong>que importa perceber a forma como os meiosde comunicação de massas expressam consumose estilos de vida <strong>do</strong>s indivíduos.Ao longo da transição para a estruturadas sociedades contemporâneas sempre temhavi<strong>do</strong> desigualdades no acesso ao consumo(de objectos ou simbólico). No entanto, paraalém <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> uso, importa aqui mais alógica da produção e da manipulação <strong>do</strong>ssignificantes sociais e a forma como se temacentua<strong>do</strong>, por uma certa massificação <strong>do</strong>consumo, mas muito também por acção <strong>do</strong>smedia.O processo de consumo pode assim serentendi<strong>do</strong> como um tipo de linguagem,equivalente a um código porta<strong>do</strong>r de significaçãoe comunicação. Mas também podeser entendi<strong>do</strong> como processo de classificaçãoe de diferenciação social, em que osobjectos e os signos se orde<strong>na</strong>m como valoresestatutários e susceptíveis de hierarquizar(Baudrillard, 1995). Isto é, os objectosmanipulam-se sempre como signos que distinguemo indivíduo, quer filian<strong>do</strong>-o numdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo de pertença, quer demarcan<strong>do</strong>-ode outros por referência a umadiferença de estatuto.Este carácter estatutário <strong>do</strong>s consumosexpressa estilos de vida, que são igualmentede pertença a um grupo ou de distintividade.Os padrões de estilo de vida podem igualmentetraduzir a rejeição de formas decomportamento e consumo mais generalizadasoptan<strong>do</strong> por outras <strong>do</strong>tadas de maiordistintividade.Para uma melhor definição <strong>do</strong> objecto deestu<strong>do</strong>, importa partir da hipótese genéricade que os estilos de vida se encontramrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a imagem mediática <strong>do</strong>sconsumos.Referin<strong>do</strong>-se ao aspecto <strong>do</strong> “consumismo”<strong>na</strong> comunicação, Cashmore (1994) defendeque o “one world” actual resulta da expansãodas comunicações, o que comporta aspectosvantajosos e perigos. Perigos porque encorajaas pessoas a viverem para além <strong>do</strong>s seusmeios; vantagens porque estimula a visão <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, os mapas culturais, as referências einterpretações. Neste senti<strong>do</strong>, os aspectos <strong>do</strong>quotidiano aproximam-se cada vez mais dalinguagem <strong>do</strong>s meios de comunicação demassas - a linguagem corrente, o vestuário,etc. Os meios de comunicação social demassas surgem assim como um <strong>do</strong>s elementosda sociedade e da cultura de consumosactuais (de bens, de estilos de vida, desubstâncias, etc.).É possível identificar uma linha de discursosegun<strong>do</strong> a qual a insatisfação leva aspessoas a adquirirem coisas que rapidamentese tor<strong>na</strong>m desinteressantes, e a procura denovos estímulos leva a um ciclo de consumo.Landi (2002) é um <strong>do</strong>s autores que serefere a esta relação com o consumo citan<strong>do</strong>o caso específico das crianças, chaman<strong>do</strong> aatenção para o facto de que desde os primeirosanos de vida as crianças têm quaseto<strong>do</strong>s os brinque<strong>do</strong>s possíveis. Mas, este autornota que isto resulta da função <strong>do</strong> marketingque lhes é dirigi<strong>do</strong> e que é fazer uma espéciede treino para o consumo. Assim, a Barbie,as telenovelas e as guloseimas (citan<strong>do</strong> osexemplos <strong>do</strong> autor) podem constituir oportunidadesde fuga a uma realidade menosperfeita.Esta visão da sociedade de consumo nãopode deixar perder de vista que a compra– o consumo – é o resulta<strong>do</strong> de processosde decisão através das quais o indivíduopersegue certos objectivos. Além disso, aunidade de consumo não é ape<strong>na</strong>s o indivíduoisola<strong>do</strong>, mas um grupo – familiar, oude pares – e por isso existe uma pluralidadede pessoas e de factores que afectam cadaprocesso de escolha.


594 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVO modelo de análise aqui proposto pretendeseguir sobretu<strong>do</strong> uma perspectiva queentende o consumo como um momentoimportante da produção e elaboração socialde senti<strong>do</strong> <strong>na</strong> moder<strong>na</strong> organização dassociedades. Este é expresso pelos mass mediae reflecte-se nos estilos de vida.Featherstone (1995) identifica umacomplexificação das relações que se traduzem<strong>na</strong>quilo que desig<strong>na</strong> por cultura deconsumo. Para o autor, esta complexificaçãoda cultura de consumo resulta de imagens,de bens e de signos extraí<strong>do</strong>s de diversasculturas, os quais, à medida que os fluxosde intercâmbio se intensificam, vão sen<strong>do</strong>considera<strong>do</strong>s menos distantes e mais familiares.O discurso <strong>do</strong>s meios de comunicaçãode massas traduz esta complexificação, visívelem dimensões <strong>do</strong> quotidiano como osconsumos e os estilos de vida.Neste contexto e, de acor<strong>do</strong> com asreflexões teóricas apresentadas, este estu<strong>do</strong>assenta <strong>na</strong> ideia de que os indivíduos sãoconfronta<strong>do</strong>s com certos produtos, imagense comportamentos, veicula<strong>do</strong>s pelos mediae com os quais se identificam. Esta identificaçãoencontra-se relacio<strong>na</strong>da com a autodefinição<strong>do</strong>s indivíduos e com o seu relacio<strong>na</strong>mentocom o social. E reflecte-se nosconsumos e nos estilos de vida.


OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS595BibliografiaBaudrillard, Jean, Le système des objects,Paris, Gallimard, 1968.Baudrillard, Jean, A sociedade de consumo,Lisboa, Edições 70, 1995.Bauman, Zygmunt, Intimations ofposmodernity, Londres, Routledge, 1992.Cashmore, E., ... and there was television,Londres, Routledge, 1994.Chaparro, Manuel Carlos, Linguagem<strong>do</strong>s conflitos, Coimbra, Minerva, 2001.Elias, Norbert, O processo civilizacio<strong>na</strong>l,1º e 2º volumes, Lisboa, Publicações D.Quixote, 1989 e 1990.Featherstone, Mike, O desmande da cultura– globalização, pósmodernismo e identidade,São Paulo, Studio Nobel / SESC, 1995.Ferin, Isabel, Comunicação e culturas <strong>do</strong>quotidiano, sl, Quimera, 2002.Galanoy, Terry, Charge it: inside the creditcard conspiracy, Nova Yorque, Put<strong>na</strong>m, 1980.Giddens, Anthony, A estrutura das classesdas sociedades avançadas, Rio de Janeiro,Zahar, 1975.Giddens, Anthony, Modernidade e identidadesocial, Oeiras, Celta Editora, 1994.Henriques, Susa<strong>na</strong>, O real <strong>na</strong> notícia. Adroga nos media, Tese de Mestra<strong>do</strong>, Lisboa,ISCTE, 1999.Landi, Paolo, Manual para a criação <strong>do</strong>pequeno consumi<strong>do</strong>r, Lisboa, Publicações D.Quixote, 2002.Lendrevie, Jacques; Lin<strong>do</strong>n, Denis;Dionísio, Pedro; Rodrigues, Vicente,Mercator, Lisboa, Dom Quixote, 1993.Lipovetsky, Gilles, A era <strong>do</strong> vazio,Lisboa, Relógio d’Água, 1989.Lunt, Peter; Livingstone, Sonia, “Massconsumption and perso<strong>na</strong>l identity: everydayeconomicture” em Lury, Celia,”Consumerculture, Cambridge, Polity Press, 1996,pp.232-237.McManus, J., Market-driven jour<strong>na</strong>lism– let the citizen beware?, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s daAmérica, Sage Publications, 1994.Moro, Maria Luisa, Los consumi<strong>do</strong>resdel siglo XXI, Madid, Editorial ESIC, 1999.Ortega y Gasset, A rebelião das massas,Lisboa, Relógio d’Água, 1987.Ritzer, George, Explorations in thesociology of consumption, Londres, Sage,2001.Santos, João de Almeida, Homo zappiens– o feitiço da televisão, Lisboa, Notíciaseditorial, 2000.Sorlin, Pierre, Mass media, Oeiras, CeltaEditora, 1997.Weber, Max, A ética protestante e oespírito <strong>do</strong> capitalismo, Lisboa, EditorialPresença, 1989._______________________________1CIES (Centro de Investigação e Estu<strong>do</strong>s deSociologia).


596 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO597Capítulo IVCOMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO


598 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO599ApresentaçãoEduar<strong>do</strong> Camilo 1Nesta breve introdução aos estu<strong>do</strong>s relativosà comunicação e às organizações queirão ser apresenta<strong>do</strong>s no 2º Congresso Ibérico(CCCC2004, Universidade da BeiraInterior, 24 de Abril), optámos por procedera uma sistematização - que não é exaustiva– de certas opções de estu<strong>do</strong>, ângulos deanálise e preocupações de investigação dacomunidade científica relativamente a estatemática. Certamente que poderíamos sumariaros conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s textos que integram estecapítulo. Considerámos, porém, tal tarefarelativamente desnecessária: o leitor interessa<strong>do</strong>nestes assuntos rápida e facilmenteavaliará cada ensaio a partir da leitura darespectiva introdução e conclusão.Poderemos conceber que a investigaçãosobre a comunicação corporativa se inscreveem três direcções principais: 1ª) a <strong>do</strong>smodelos e <strong>do</strong>s paradigmas; 2ª) a da análiseda especificidade das mensagens típicas e,3ª), a <strong>do</strong>s case studies.Modelos e paradigmasÉ nesta direcção de pesquisa que seinscreve a grande maioria das investigaçõesno âmbito da comunicação corporativa. Nãoobstante a sua variedade, é possível constatara recorrência de alguns ângulos de análisee de certas tendências de reflexão e deabordagem.A primeira estará relacio<strong>na</strong>da com oestu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenómeno comunicacio<strong>na</strong>l a partirde uma abordagem integrada <strong>na</strong> área dasociologia das organizações, procuran<strong>do</strong>descorti<strong>na</strong>r-se a relação entre a vida, aespecificidade, a identidade, a cultura, etc.da corporação e o estatuto da comunicação<strong>na</strong> empresa. As modalidades de gestão, asrelações de poder encontram-se reflectidas empráticas e em estruturas comunicacio<strong>na</strong>isespecíficas, absolutamente singulares. A singularidadeda comunicação corporativa é,então, explicada por critérios extracomunicacio<strong>na</strong>is,por fenómenos de transformaçãointer<strong>na</strong> e exter<strong>na</strong> inerentes aos contextosprotagoniza<strong>do</strong>s pelas sociológica. Esta perspectivapostula a existência de uma variedadeinfinita de práticas comunicacio<strong>na</strong>is: nãoé possível conceber uma única categoria decomunicação corporativa, mas uma gamamuito heterogénea e diversa de comunicações<strong>na</strong>s organizações.A segunda tendência de investigaçãopoderá ser classificada como simétrica daanterior: está relacio<strong>na</strong>da com umahipervalorização da funcio<strong>na</strong>lidade estratégica<strong>do</strong>s processos de comunicação, conceben<strong>do</strong>-osenquanto recursos que, <strong>na</strong> sua dimensãomais estrutural, se encontram à disposiçãode todas as organizações. A comunicaçãocorporativa tende a ser concebida comuma configuração abstracta de factores ou decomponentes estritamente comunicacio<strong>na</strong>is,que pode aplicar-se a qualquer realidadeinstitucio<strong>na</strong>l.É neste ângulo de análise que se inscrevemas abordagens mais lineares e abstractas<strong>do</strong> fenómeno comunicacio<strong>na</strong>l. Abstractas,porque visam criar modelos de intervençãoque sejam capazes de funcio<strong>na</strong>r e de seenquadrar em todas as situações da existênciacorporativa. Assim sen<strong>do</strong>, este paradigmanão só será útil para a promoção de produtose de serviços, mas, igualmente, para o incrementoda moral <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res ou parao relacio<strong>na</strong>mento com accionistas.Abordagens lineares porque se baseiamnuma confiança <strong>na</strong>s <strong>potencial</strong>idades funcio<strong>na</strong>isda comunicação que é consideradaexagerada. Nesta tendência de investigação,o pressuposto teórico é sempre o mesmo: acomunicação <strong>na</strong>s organizações serve semprepara alguma coisa e, nesta medida, é umapa<strong>na</strong>ceia para tu<strong>do</strong>. É útil para a gestão dastrocas de informação, para o incremento <strong>do</strong>svalores democráticos de participação laboral,mas também para a manutenção das relaçõesde poder. É igualmente importante para


600 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVinfluenciar a percepção <strong>do</strong>s públicos sobrea organização, percepção essa, que se reflecte<strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza da sua interacção: quanto maispositiva for a qualidade da percepção, maioré o empenho no âmbito da interacção.Subjacente a estas atitudes descobrem-se asteorias da comunicação de ín<strong>do</strong>le funcio<strong>na</strong>l,instrumental e, <strong>na</strong> sua perspectiva mais básica,mais elementar, as de <strong>na</strong>tureza hipodérmica,associadas já não à temática da propagandaou da publicidade, mas, desta feita, à dacomunicação <strong>na</strong>s organizações.Relativamente à terceira tendência deinvestigação no âmbito <strong>do</strong>s modelos e <strong>do</strong>sparadigmas de comunicação corporativa,consideramos que ela apresenta um valor desíntese, salientan<strong>do</strong>-se a preocupação deaproveitar o que as outras duas apresentavamde mais relevante. No que respeita àprimeira tendência, de ín<strong>do</strong>le marcadamentesociológica, há o reconhecimento da impossibilidadede se reflectir abstractamente sobrea comunicação corporativa sem a ponderaçãode um contexto de intervenção organizacio<strong>na</strong>lpara o qual terá de remeter inevitavelmente.Tor<strong>na</strong>-se, então, essencial entenderem que consiste uma organização <strong>na</strong> suasingularidade, uma conceptualização desenvolvidaa partir <strong>do</strong>s mais varia<strong>do</strong>s ângulos:desde os de ín<strong>do</strong>le antropológica, aos de<strong>na</strong>tureza sociológica e psicológica. No querespeita à segunda tendência de investigação,a que apresenta uma especificidade inerenteao <strong>do</strong>mínio das ciências da comunicação, osprincipais desafios que se apresentam, relacio<strong>na</strong>m-secom a necessidade de criar umestatuto para a comunicação corporativa, umcânone global que pondere todas as práticasde comunicação <strong>na</strong> organização (de ín<strong>do</strong>lecomercial ou corporativa, de <strong>na</strong>tureza persuasivaou informativa, inerentes à Publicidadeou às Relações Públicas) mas, ao mesmotempo, que seja suficientemente maleávelpara se particularizar, para se adequar àsmúltiplas singularidades que as empresaspodem apresentar, quer numa perspectivainter<strong>na</strong>, quer exter<strong>na</strong>. Ao invés de gerar umúnico modelo de comunicação corporativaglobal e totalizante como anteriormente, estetrabalho de síntese origi<strong>na</strong>rá vários, mas <strong>na</strong>condição deles serem configurações particularizadasde actividades comunicacio<strong>na</strong>is, deproduções de senti<strong>do</strong> corporativo com característicasestruturais e basilares.A análise da especificidade das mensagenstípicasUm relevante <strong>do</strong>mínio de investigação noâmbito das ciências da comunicação corporativaprende-se com a reflexão sobre asespecificidades das mensagens produzidaspelas organizações. Esta é uma área de estu<strong>do</strong>que tem vin<strong>do</strong> a ganhar importância. A suavalorização está relacio<strong>na</strong>da com a emergênciade análises de ín<strong>do</strong>le semiótica e linguísticarelativas à <strong>na</strong>tureza <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s,inter<strong>na</strong> e exter<strong>na</strong>mente, pelasempresas. Podem ser transmiti<strong>do</strong>s pelos maisvaria<strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>is de comunicação e suporta<strong>do</strong>spor diversas matérias expressivas: palavras,imagens, grafismos, mas, igualmente,gestos, objectos, configurações espaciais, etc..Nas organizações existe um enorme textocorporativo à espera de ser descodifica<strong>do</strong>: umtexto que remete para senti<strong>do</strong>s de ordemverbal e não verbal produzi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s reuniões,<strong>na</strong> gestão <strong>do</strong>s espaços de trabalho e deconvívio, <strong>na</strong> significação de trajectos determi<strong>na</strong><strong>do</strong>spor signos si<strong>na</strong>lécticos, etc.. Mas estetexto corporativo também se reflecte noutrasproduções de senti<strong>do</strong>. É o caso, concretamente,das que se reportam às relações <strong>do</strong>srepresentantes das organizações com os seusparceiros, relações a partir das quais seinsinuam múltiplas significações de ordemcorporativa, alguns delas alicerçadas numagestão institucio<strong>na</strong>lizada, corporativamenteortopedizada, <strong>do</strong> corpo, possibilitan<strong>do</strong> aemergência de mensagens corporativas deespecificidade cinésica (por exemplo, a gestãode uma teatralidade institucio<strong>na</strong>l), e, atémesmo, paralinguística (o reflexo de umainteriorização de um papel profissio<strong>na</strong>l einstitucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> maneira de pronunciar aspalavras). Destacamos, também, os estu<strong>do</strong>srelativos à análise das grandes produçõestextuais de <strong>na</strong>tureza iconográfica, verbal ougráfica das organizações: os filmescorporativos, os discursos <strong>do</strong>s corpos gerentes,os slogans, os símbolos e os logotipos,averiguan<strong>do</strong> a sua ambivalência semântica:por um la<strong>do</strong>, a significação explícita dasgrandes utopias corporativas, das histórias,


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO601<strong>do</strong>s valores, das regras e <strong>do</strong>s regulamentos;por outro, a evocação indiciática, das práticasquotidia<strong>na</strong>s, <strong>do</strong>s constrangimentos e das situaçõesde crise, das real politik corporativas.Embora sejam pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes as reflexõesde ín<strong>do</strong>le semântica, procuran<strong>do</strong>-se descobrirnos textos das organizações a evocação deideologias corporativas, é igualmente importanteas análises inerentes a uma dimensãopragmática. São investigações que valorizama dimensão contextual das mensagens, avalian<strong>do</strong>-asa partir de circunstâncias e deenquadramentos de produção textual produzidapela organização e fora dela, descobrin<strong>do</strong>em que medida tais mensagens podem mutuamenteinfluenciar-se numa espécie deintertextualidade corporativa. Mas também sãoestu<strong>do</strong>s que avaliam as particularidadeslocutórias, ilocutórias e perlocutórias dasmensagens organizacio<strong>na</strong>is, as circunstânciasinstitucio<strong>na</strong>is em que são produzidas e, especialmente,a maneira como os interlocutorescorporativos se apropriam delas e ‘negoceiam’dialogicamente, num processo de compreensãocorporativa, a sua gama de significaçõespossíveis e institucio<strong>na</strong>lmente pertinentes.Os case studies de ín<strong>do</strong>le organizacio<strong>na</strong>lUm terreno fértil de investigação inerenteà comunicação corporativa, são os casestudies: investigações ou análises descritivas<strong>do</strong>s processos e das práticas de comunicaçãodesenvolvidas por determi<strong>na</strong>das organizações.São modalidades de investigaçãocom certas tradições <strong>na</strong> comunidadecientífica anglo-saxónica que, <strong>na</strong> sua dimensãomais primordial, recordam-nos algunsestu<strong>do</strong>s de campo de ín<strong>do</strong>le sociológica eantropológica. Consideramos que os case--studies apresentam alguns desequilíbrios <strong>do</strong>ponto de vista da relevância epistemológicapara as ciências da comunicação, em geral,e para as da comunicação corporativa, emparticular. Alguns, <strong>na</strong>da mais são <strong>do</strong> que umsimples trabalho descritivo de um fenómenoou de um conjunto muito limita<strong>do</strong> defenómenos comunicacio<strong>na</strong>is de ín<strong>do</strong>le corporativa.Em contrapartida, existem outrasinvestigações de maior alcance e ambiçãocientífica, <strong>na</strong>s quais a situação de comunicaçãodescrita, inerente a uma instituição,serve para formular ou para verificar conceitosrelativos a certos modelos eparadigmas de comunicação e de significaçãocorporativa._______________________________1Universidade da Beira Interior. Coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>rda Sessão Temática de Comunicação e Organização.


602 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO603ApresentaçãoJosé Viegas Soares 1A Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l tem comoas demais formas de comunicação o “defeito”de existir sempre, ou seja, quer alguémpense nela e procure organizá-la, quer não,ela acontece, como se de um fenómeno<strong>na</strong>tural se tratasse, isto é, ela existe sempre.Talvez por isso, to<strong>do</strong>s os actores sociaispresentes <strong>na</strong>s organizações se consideremcapazes de a realizar, facto que tem impedi<strong>do</strong>que a mesma seja mais eficaz e eficiente,quer estas, eficácia e eficiência, sejamvistas de uma perspectiva técnico administrativaquer sejam vistas de uma perspectivamais huma<strong>na</strong> e integra<strong>do</strong>ra.Do ponto de vista da relação Gestão/Comunicação vamos normalmente confrontar-noscom o choque entre <strong>do</strong>is poderes: OPoder de Gestão versus o Poder de Comunicação,ou dito de outro mo<strong>do</strong> o poder <strong>do</strong>topo face ao poder <strong>do</strong> especialista. Um olharem re<strong>do</strong>r mostrar-nos-á com alguma regularidadeque a função comunicação éminimizada pelo poder de topo ainda que nodiscurso vira<strong>do</strong> ao exterior (e mesmo novira<strong>do</strong> para o interior) to<strong>do</strong>s falem da importânciada comunicação. São múltiplos oscasos onde o profissio<strong>na</strong>l de comunicação nãotem qualquer interferência <strong>na</strong>s decisões estratégicasque afectan<strong>do</strong> a comunicação dasorganizações, afectam a sua imagem e consequentementeos seus objectivos e os seusresulta<strong>do</strong>s organizacio<strong>na</strong>is. Ignorância sobreo que a área é ou para que serve, arrogânciade poder, falta de confiança no comunica<strong>do</strong>r?Problemática pouco estudada cientificamente,ela poderá mostrar-nos como seestruturam as profissões da comunicação. Seatentarmos em estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s noutrospaíses vamos poder constatar que oscomunica<strong>do</strong>res se agrupam normalmente emduas ou três categorias Estrategas; Gestorese Técnicos. Ainda que a realidade portuguesaseja muito pouco conhecida, um trabalhorecente desenvolvi<strong>do</strong> em Bancos mostrouclaramente que os responsáveis pela comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> sua vertente inter<strong>na</strong>,eram to<strong>do</strong>s da categoria Técnicos, istoé, executavam decisões comunicacio<strong>na</strong>istomadas por estrategas não comunica<strong>do</strong>res.Este parece ser um <strong>do</strong>s problemas senti<strong>do</strong>se vivi<strong>do</strong>s pela comunicação organizacio<strong>na</strong>l,ou seja para os profissio<strong>na</strong>is de comunicaçãofica o papel de executar enquanto que paraa gestão (onde a comunicação é muitas vezesuma referência <strong>do</strong> senso comum) ficam asresponsabilidades estratégicas, em termos decomunicação.Um <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s abordaas relações de poder (chefia/subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>)e a eficácia organizacio<strong>na</strong>l. Um ou outro temade grande importância em termos de comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l tem a ver com asnovas tecnologias (webs, mails, internets,intranets, extranets, telemóveis, etc.): Quaisas utilizações que estas tecnologias podemproporcio<strong>na</strong>r (presidentes de empresasmulti<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is com quem os emprega<strong>do</strong>spodem contactar directamente via e-mail;telemóveis que permitem localizar os estafetasem qualquer local, etc., etc.) Mas, sem dúvida,tão ou mais importante <strong>do</strong> que estas aplicaçõesfuncio<strong>na</strong>is são os efeitos que estasmesmas novas tecnologias vão produzir <strong>na</strong>sorganizações, <strong>na</strong> sua orgânica inter<strong>na</strong>, <strong>na</strong> suaestrutura, <strong>na</strong> sua cultura, nos seus sistemase nos seus modelos de comunicação.Derrick Kerckhove no seu livro A peleda cultura defende a tese, muito <strong>na</strong> linha deMcLhuan de que os novos meios electrónicossão extensões da psicologia huma<strong>na</strong>, danossa cognição. Se pensarmos em termos dememória a Internet é <strong>na</strong> realidade umamemória disponível de alguns milhões oumesmo biliões de da<strong>do</strong>s. E o que aconteceráa uma memória que fica dependente de umamáqui<strong>na</strong> e que não se trei<strong>na</strong>?Atentemos no indiscutível princípio <strong>do</strong>prazer de Freud, indiscutível quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>ao corpo humano, poderemos tremer emface destas extensões da nossa cognição. Na


604 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmesma linha, a das influências <strong>do</strong>s novosmédia <strong>na</strong> comunicação organizacio<strong>na</strong>l econsequentemente nos seus executores, quaisas modificações que os novos media produzirão<strong>na</strong> nossa visão? Se considerarmos a TV,(meio frio, no dizer de McLuhan) vemos um<strong>do</strong>mínio, o da uma visão icónica sobre umavisão gráfica que a escrita (meio quente) noshabituara ao longo de milhares de anos. Achegada <strong>do</strong>s novos meios repõe a visãográfica linear e com um senti<strong>do</strong> de percursoda esquerda para a direita, no ocidente claro.Se a escrita impressa tinha si<strong>do</strong> a responsávelpor toda a organização e burocracia eos áudio visuais nos levaram de novo paraa tribo, o que acontecerá agora com estaescrita (SMS, por exemplo) em letra de formamas etérea para não dizer virtual?Estes são quanto a nós alguns <strong>do</strong>s problemasque nos dias de hoje interessam aquem estuda e trabalha em comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l. Vejamos o que o nosso painelde comunica<strong>do</strong>res nos diz._______________________________1Escola Superior de Comunicação Social.Coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>r da Sessão Temática de Comunicaçãoe Organização <strong>do</strong> VI Lusocom.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO605Quan<strong>do</strong> falo o que quero e digo o que é precisoAdria<strong>na</strong> Gomes Moreira 1 e Maria Madale<strong>na</strong> Simão Duarte 2Unir esforços e ouvir os interessa<strong>do</strong>sCientes de que há mais tecnologia <strong>do</strong> quecapacidade em melhor utilizá-la (e a absorvêla),partimos <strong>do</strong> princípio de que devemosimplementar o que temos a mão com apreocupação constante em melhor servir-nos.Mesmo dentro <strong>do</strong>s limites regio<strong>na</strong>is, as novasferramentas desti<strong>na</strong>das a melhorar processos,aumentar eficiência e formar funcionários ea promover a interacção com clientes estãotransforman<strong>do</strong>, da noite para o dia, antigasempresas em modernos empreendimentos ecrian<strong>do</strong> novos líderes de merca<strong>do</strong>.Independente <strong>do</strong> porte ou sector deactividade, sua estratégia de operação buscarásempre a “vantagem competitiva” pois,quanto mais valor agrega<strong>do</strong> ao produto ouserviço ofereci<strong>do</strong>, mais essa vantagem seráconvenientemente alcançada. E a comunicaçãojoga nesse campo um papel fundamental:seja no senti<strong>do</strong> de promover a coesãointer<strong>na</strong> em torno da qualidade <strong>do</strong> produto,<strong>do</strong>s valores e da missão da empresa, seja notrabalho de aumentar a visibilidade públicada organização e <strong>na</strong> divulgação de seusprodutos e serviços. Num cenário globaliza<strong>do</strong>,a informação - e as formas de comunicá-laprodutivamente - revela-se uma arma poderosade gestão. Isso aplica-se tanto à comunicaçãointer<strong>na</strong> e corporativa como às acçõesde fortalecimento da imageminstitucio<strong>na</strong>l, relações com a imprensa egovernos, marketing, propaganda e promoção.Porém, como a comunicação implica emvisibilidade - o que em muitos casos podesignificar vulnerabilidade - o processo deimplantação de um projecto de comunicaçãodentro da empresa tem um caminho a seguir.O que já soou a “modismo’’ ganha aslivrarias falan<strong>do</strong> <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> “empresário <strong>do</strong>novo milénio” - um ser digital que convive,de forma pacífica, com a comunicação dentrode sua empresa. Exageros à parte, conhecimentoé diferencial, e inovação é prioridade.Trata-se de um campo de actuação em plenocrescimento, aplica<strong>do</strong> não só aos responsáveispela comunicação organizacio<strong>na</strong>l 3 bemcomo ao próprio empresário que necessita deum alto grau de adaptabilidade às novasexigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> mundial.Globalização, público mais exigente,responsabilidade social e sindicatos trabalhistas.Em tempos difíceis da economia, essessão alguns <strong>do</strong>s factores que fizeram com queas empresas atentassem para maiores investimentosem comunicação, a qual aparececomo alter<strong>na</strong>tiva. A empresa busca atingir aideal performance da comunicação fornecen<strong>do</strong>às pessoas informações correctas, no lugarcerto, no tempo exacto e <strong>na</strong> forma apropriadaem to<strong>do</strong>s os níveis, áreas e sectores.Teoricamente, aquela que não desenvolveestas funções de forma adequada tende aperder visibilidade, transparência, oportunidadesde negócios e, principalmente, clientesem <strong>potencial</strong>.Dentre os autores que discutem o assunto,Roger Cahen (1990) tem uma das maisclaras definições:“Comunicação Empresarial é umaactividade sistémica, de carácterestratégico, ligada aos mais altosescalões da empresa e que tem porobjectivos: criar - onde ainda nãoexistir ou for neutra - manter - ondejá existir - ou ainda, mudar parafavorável - onde for negativa a imagemda empresa junto a seus públicosprioritários” (1990:32)Vale ressaltar que os corpos de conceitosdestas áreas adjacentes à Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lamadureceram. À Propaganda,por exemplo, coube a responsabilidade <strong>do</strong>segmento comercial, sofistican<strong>do</strong> suamatricial ramificação ideológica. Já as RelaçõesPúblicas, estas assumiram feição decomplexo sistema de influências, crian<strong>do</strong>


606 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVsóli<strong>do</strong>s vínculos entre organização e seuspúblicos, contribuin<strong>do</strong> para manter clima defavorecimento em torno das actividadesempresariais.Como afirma<strong>do</strong> por Paulo Nassar, “asociedade e o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r tor<strong>na</strong>ram-sebastante hostis às ‘empresas a<strong>na</strong>lfabetas’,que não aprendem a escrever, ouvir,falar, se expressar e, principalmente, dialogarno ambiente em que atuam” (1995:12).A Comunicação Empresarial, anteriormentepercebida de forma errónea como um custoque não produz um retorno mensurável, hojejá é vista pela maioria como uma eficienteferramenta estratégica, e aceite como investimento,ao invés de despesa.Entretanto, ao mesmo tempo em que omun<strong>do</strong> ganha velocidade, interliga<strong>do</strong> poravançadas tecnologias de comunicação, aumentamtambém o <strong>potencial</strong> de danos provoca<strong>do</strong>spor comunicações mal feitas. A boanova era a de que os executivos podiam, seassim desejassem, conversar com os seuspúblicos (clientes, emprega<strong>do</strong>s, fornece<strong>do</strong>res)em muitos locais e ao mesmo tempo através<strong>do</strong> uso da Internet. A má notícia é que osriscos aumentaram e, que eles também, sedesprepara<strong>do</strong>s, podem ser vistos hesitantese atrapalha<strong>do</strong>s, a fazer declarações frívolas.Peter Drucker (2000) alerta que, antes dasmudanças, o empresário deve-se perguntar seelas são uma oportunidade ou uma ameaça.Há enormes vantagens em eficiência combase <strong>na</strong>s novas tecnologias, a optimização dacomunicação é ape<strong>na</strong>s uma delas. Porém,inovação é, hoje, sinónimo de mudançagerenciada. 4Deve ser ressalta<strong>do</strong> que, da mesma formaque a empresa utiliza a Intranet para oferecerinformações úteis para os funcionários, elanecessita estar preparada para extrair desseconvívio virtual, o feed-back que indicapontos de melhoria, opiniões e sugestões denovos produtos e serviços. A visão simplista<strong>do</strong> “envolvimento cognitivo” entre funcionárioe empresa deixou de ser novidade já em1927 com Elton Mayo, quan<strong>do</strong> este nosprovou que a satisfação <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> estádirectamente liga<strong>do</strong> ao reconhecimento porparte da empresa ao trabalho proporcio<strong>na</strong>lmentedispensa<strong>do</strong>. Complica<strong>do</strong>, não? Nassar(2003) lembra que não se trata de uma“caixinha de sugestões”, caracteriza<strong>do</strong> comosen<strong>do</strong> o veículo de comunicação da “informaçãoascendente” por excelência, pois vemda base da pirâmide (trabalha<strong>do</strong>res) até –supostamente – o topo (direcção e gerências).O importante é que envolva toda aorganização, seja directo, regular e, sobretu<strong>do</strong>,perso<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>.Como cita<strong>do</strong> por Mauro Salles no prefácio<strong>do</strong> livro de Nemércio Nogueira:“Se já não existe o ‘no profile’ e sea comunicação com os vários públicos- internos e externos - é cada vezmais essencial e valiosa no mun<strong>do</strong>empresarial, temos que entender queo gestor moderno, o novo empresário,o novo executivo, precisa ser umcomunica<strong>do</strong>r. Não dá mais para serape<strong>na</strong>s um profissio<strong>na</strong>l (ou um herdeiro... ) trei<strong>na</strong><strong>do</strong> em fi<strong>na</strong>nças, emtecnologia, em processos industriaise comerciais. Se não entender o papelda comunicação no seu negócio e senão fizer de seu posto ou de suamissão uma plataforma de comunicação,ele certamente vai ter dificuldades.”(Nogueira, 1999: 15)O contexto apropria<strong>do</strong>Numa empresa tradicio<strong>na</strong>lmente america<strong>na</strong>as canti<strong>na</strong>s eram o lugar mais propensoà troca de conhecimento “útil’’, é a “rádiopeão”.O que seria este conceito se aplica<strong>do</strong>virtualmente? As comunicações informaispodem ser realçadas pelo uso das tecnologiasde multimedia, como as telereuniões ou,chats e fóruns realiza<strong>do</strong>s aos montes <strong>na</strong>Internet. Dentro <strong>do</strong> ambiente corporativo, issoé aplica<strong>do</strong> através das intranets, uma maneirade usar a tecnologia de forma criativageran<strong>do</strong> a mais ampla e ágil “mídia paracomunicação’’Gestão <strong>do</strong> conhecimento contém umimportante ingrediente de gerenciamento, masnão leva a crer que é uma actividade oudiscipli<strong>na</strong> que pertença exclusivamente aosgerentes. Numa primeira tentativa de definiçãoprática, utilizamos o senso comum eadaptamos as definições de Xavier (2000)dizen<strong>do</strong> que o conhecimento tem um significa<strong>do</strong>duplo. Em um primeiro instante asso-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO607cia<strong>do</strong> ao conceito de um corpo de informaçõese que se constitui de factos, opiniões,modelos e princípios, bem como pode estarbasea<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong>s de ignorância, entendimentoe habilidade. Tal definição é, de algumamaneira, similar às distinções entre os conhecimentosexplícitos e tácitos. O primeiro,caracteriza<strong>do</strong> de forma codificada ou formal,articula<strong>do</strong> e transmiti<strong>do</strong> a indivíduos, e osegun<strong>do</strong> significan<strong>do</strong> conhecimento pessoalenraiza<strong>do</strong> <strong>na</strong> experiência individual, o queinclui crenças pessoais, perspectivas e valores.Assim, nós frequentemente encontramosuma ênfase <strong>na</strong> “organização que aprende” eoutras abordagens que reforçam ainter<strong>na</strong>lização da informação - pela experiênciae pela acção - além da criação de novosconhecimentos através da interacção.Desta forma, ten<strong>do</strong> o conhecimento notopo da escala, está caracterizada a necessidade<strong>do</strong> processamento de da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>sresultan<strong>do</strong> em suporte para determi<strong>na</strong>daacção. O conceito de conhecimento quea<strong>do</strong>ptamos é o de Jamil (2000), ou seja, umainformação processada de forma estratégica:“informação mais valiosa e, consequentemente,mais difícil de gerenciar.É valiosa precisamente porque alguémdeu à informação um contexto, umsignifica<strong>do</strong>, uma interpretação. Conhecimentoenvolve a percepção sistematizada<strong>do</strong> que existe, o aprendiza<strong>do</strong><strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e de experiênciassemelhantes às nossas, a compreensãode funcio<strong>na</strong>mento e aplicação desistemas associa<strong>do</strong>s aos nossosobjetivos e, fi<strong>na</strong>lmente, a criatividadepró-ativa”. (Jamil : 20) 5Na prática, a Gestão <strong>do</strong> Conhecimentoinclui a identificação e o mapeamento deactivos intelectuais (intangíveis) liga<strong>do</strong>s àorganização, a geração de novos conhecimentospara oferecer vantagens e tor<strong>na</strong>r acessívelgrandes quantidades de informaçõescorporativas, compartilhan<strong>do</strong> as melhorespráticas e a tecnologia que tor<strong>na</strong> possível issotu<strong>do</strong>, as denomi<strong>na</strong>das ferramentas para gestão<strong>do</strong> conhecimento.To<strong>do</strong>s os esforços por compartilhar (edissemi<strong>na</strong>r) informação e conhecimento <strong>na</strong>empresa levam à ideia de rede. Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong>seu conceito, visto que ela desempenha papelcentral, vemos <strong>na</strong> definição de Castells(1999):“Rede é um conjunto de nósinterconecta<strong>do</strong>s. Nó é o ponto no qualuma curva se entrecorta. Concretamente,o que um nó é depende <strong>do</strong> tipode redes concretas de que falamos (...)A topologia definida por redes determi<strong>na</strong>que a distância (ou intensidadee frequência da interacção) entre <strong>do</strong>ispontos (ou posições sociais) é menor(ou mais frequente, ou mais intensa),se ambos os pontos forem nós de umarede <strong>do</strong> que se não pertencerem àmesma rede. Por sua vez, dentro dedetermi<strong>na</strong>da rede, os fluxos não têmnenhuma distância, ou a mesma distânciaentre os nós” (1999:498)Castells aponta a inovação tecnológica ea transformação organizacio<strong>na</strong>l com enfoque<strong>na</strong> flexibilidade e <strong>na</strong> adaptabilidade, comocruciais para garantir a velocidade e eficiênciada reestruturação.“Pode-se afirmar que, sem a novatecnologia da informação, o capitalismoglobal tem si<strong>do</strong> uma realidademuito limitada: o gerenciamento flexívelteria si<strong>do</strong> limita<strong>do</strong> à redução depessoal, e a nova rodada de gastos,tanto em bens de capital quanto emnovos produtos para o consumi<strong>do</strong>r, nãoteria si<strong>do</strong> suficiente para compensara redução de gastos públicos. Portanto,o informacio<strong>na</strong>lismo está liga<strong>do</strong> àexpansão e ao rejuvenescimento <strong>do</strong>capitalismo, como o industrialismoestava liga<strong>do</strong> a sua constituição comomo<strong>do</strong> de produção” (1999 : 39)O uso da Intranet como veículo deComunicação Inter<strong>na</strong> oferece às organizaçõesum vasto leque de oportunidades <strong>na</strong> buscade melhor desenvolver a relação empresa/funcionário. Nas empresas que funcio<strong>na</strong>m emrede e que se autodenomi<strong>na</strong>m “organizaçõesaprendentes”, a Intranet tor<strong>na</strong>-se uma importantealiada <strong>na</strong> dissemi<strong>na</strong>ção e nocompartilhamento de informação/conhecimento.Os computa<strong>do</strong>res <strong>na</strong>s mesas de tra-


608 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVbalho são transforma<strong>do</strong>s em extensões virtuaisonde grandes e pequenos, ao usar a novaferramenta tecnológica, conduzem negóciosnum mun<strong>do</strong> on-line, onde tu<strong>do</strong> passa aacontecer <strong>na</strong> velocidade <strong>do</strong> pensamento.Definin<strong>do</strong> o que vem a ser “empresa emrede’’ de forma mais precisa, Castells afirmaser um sistema estrutura<strong>do</strong> com o propósitode alcançar objetivos específicos.“Ainda acrescentaria uma segunda característicaa<strong>na</strong>lítica, adaptada dateoria de Alain Touraine. Sob umaperspectiva evolucionária dinâmica, háuma diferença fundamental entre <strong>do</strong>istipos de organizações: organizaçõespara as quais a reprodução de seussistemas de meios transforma-se em seuobjectivo organizacio<strong>na</strong>l fundamental;e organizações <strong>na</strong>s quais os objetivose as mudanças de objetivos modelame remodelam de forma infinita a estrutura<strong>do</strong>s meios. O primeiro tipo deorganizações chamo de burocracias; osegun<strong>do</strong> de empresas’’ (1999:191)No<strong>na</strong>ka e Takeuchi (1995) atestam que acriação de conhecimento organizacio<strong>na</strong>l resultada conversão de conhecimento tácito emexplícito, em um processo “espirala<strong>do</strong>” envolven<strong>do</strong>tanto a dimensão epistomológica quantoa ontológica. Já Prahalad e Hamel (1998)utilizaram o termo “competências essenciais”para descrever as capacidades estratégicas deuma organização. Os autores acreditam que avantagem competitiva de uma empresa é frutode capacidades enraizadas que estão por trás<strong>do</strong>s produtos, às quais chamaram de “competênciasessenciais da organização”.“[...] as fontes verdadeiras de vantagemdevem ser encontradas <strong>na</strong>habilidade gerencial de consolidartecnologias e habilidades de produçãoque abrangem toda a empresa,em competências que capacitam cadanegócio individualmente a se adaptarrapidamente às mudanças de oportunidades.”(1998:62)Para eles, as competências essenciaisresultam “<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> colectivo de umaorganização, especialmente de como coorde<strong>na</strong>raptidões de produção diversa e integrarmúltiplas correntes de tecnologia.”(1998:64). Elas vão muito além da simplesharmonização de tecnologias, envolven<strong>do</strong>muitos níveis e funções da empresa e estãorelacio<strong>na</strong>das à comunicação e ao comprometimentodas pessoas ao longo de toda aorganização. Não estão nos recursos materiaisou humanos, mas <strong>na</strong>quilo que as mantêmunidas, isto é, nos padrões de coorde<strong>na</strong>ção,harmonização e aprendizagem característicada organização, bem como não diminuemcom o uso, acumulan<strong>do</strong> à medida que sãoaplicadas ou compartilhadas.Referimo-nos a tais conceitos principalmentepor apresentar a Intranet, ferramentade en<strong>do</strong>marketing, como um <strong>do</strong>s veículosideais para a dissemi<strong>na</strong>ção de conhecimentodentro da organização.Voltan<strong>do</strong> ao modelo quadrifásico deNo<strong>na</strong>ka, é possível considerar o ba atravésde uma estrutura lógica de interacção huma<strong>na</strong>,onde a inter<strong>na</strong>lização de conhecimento,seja ele de <strong>na</strong>tureza tácita ou explícita, tor<strong>na</strong>se,através de um contexto ideal – aquisugerimos a Intranet como tal - de forma acatalisar a reflexão que se transforma emacção. Os relacio<strong>na</strong>mentos dentro de um baconduzem ao surgimento de um indivíduointegra<strong>do</strong>, onde as trocas contínuas favorecema fortificação <strong>do</strong>s relacio<strong>na</strong>mentos internos,aquém de qualquer modelo predetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>fora das implicações huma<strong>na</strong>s. Osindivíduos formam o ba das equipes e essasformam o ba das organizações.En<strong>do</strong>marketing – satisfazen<strong>do</strong> a quem me vêA prática <strong>do</strong> en<strong>do</strong>marketing, como conceitua<strong>do</strong>por A<strong>na</strong>lisa Brum (1998), <strong>na</strong>sceuda necessidade de se motivar pessoas paraprogramas de mudança que começaram a serimplementa<strong>do</strong>s a partir da década de 50. Ecomo já afirma<strong>do</strong> por Nassar (1995) e agorareitera<strong>do</strong> por Brum (1998), o “homem” deveser visto como o elemento principal de to<strong>do</strong>e qualquer processo de mudança e demodernização empresarial, pois as mudanças,quan<strong>do</strong> implementadas, esbarram em formastradicio<strong>na</strong>is e conserva<strong>do</strong>ras, capazes dedesencadear um estresse organizacio<strong>na</strong>l quedificulta e impede o desenvolvimento plenode qualquer actividade.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO609Na visão de Brum (1998), o que aconteceufoi o desabamento <strong>na</strong> pirâmide organizacio<strong>na</strong>lem relação ao grau de comprometimentodas pessoas. Sabe-se que aindahoje o envolvimento maior se dá <strong>na</strong> partede cima da pirâmide (alta direcção e gerências).Sua base continua ten<strong>do</strong> envolvimentomenor, a não ser que a empresa coloque àsua disposição as informações de que necessitapara o engajamento total. E um programade en<strong>do</strong>marketing bem feito é capaz detor<strong>na</strong>r o funcionário um ser comprometi<strong>do</strong>com a nova postura da empresa e com amodernidade, cada um em sua área deactuação e através <strong>do</strong> seu trabalho.Alia<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> o trabalho de motivaçãodirigi<strong>do</strong> aos funcionários está a informaçãocoerente, clara, verdadeira, lógica, centradae bem trabalhada. Visto desta forma, a informaçãopassa a ser colocada como a maiorestratégia de aproximação empresa/funcionário.A informação oficial, dentro da empresa,é de <strong>do</strong>mínio da direcção. Cabe à direcçãoo envio, ou não, de determi<strong>na</strong>da decisãoque, mais tarde, transformada em informaçãopara a base da pirâmide. A demora noenvio desta informação pode ocasio<strong>na</strong>r o quea autora denomi<strong>na</strong> “entropia da informação”,um <strong>do</strong>s factores que desmotiva o funcionário.“A realidade e o alcance da entropiada informação, como é chama<strong>do</strong> esteprocesso, foram estuda<strong>do</strong>s pela moder<strong>na</strong>psicologia experimental. Umainformação que é transmitida de boca--em-boca, por um certo número depessoas, sofre alterações cumulativasao longo <strong>do</strong> caminho. A falta deca<strong>na</strong>is e instrumentos oficiais decomunicação inter<strong>na</strong> determi<strong>na</strong> ocenário adequa<strong>do</strong> para que a entropiada informação actue, provocan<strong>do</strong> umaopinião inter<strong>na</strong> negativa e contráriaaos objectivos da empresa” (1998:31)Quan<strong>do</strong> as denúncias de irregularidade -fantasmas <strong>do</strong>s departamentos de comunicação- parte <strong>do</strong>s próprios emprega<strong>do</strong>s, éinstaura<strong>do</strong> o caos. Fundamentadas ou não,seu poder de influência é muito maior separtissem de outros sectores da opiniãopública. Mas mesmo que este tipo de atitudenão saia <strong>do</strong>s muros da empresa, ainda emforma de boatos podem levar instituições eprodutos à ruí<strong>na</strong>.Duas estratégias básicas são relacio<strong>na</strong>dasao en<strong>do</strong>marketing segun<strong>do</strong> o trabalho deBrum (1998). A primeira foca a visão dadirecção com os propósitos e objectivos daOrganização. Um exemplo comum são osprogramas de mudança de cultura inter<strong>na</strong>, asquais visam modificar a atitude de seusfuncionários buscan<strong>do</strong> compromisso e lealdadecom os princípios da empresa. A segundaestratégia diz respeito à tarefa, focan<strong>do</strong>a comunicação de questões específicas quantoao trabalho em si. Inclui ainda a colectade opinião <strong>do</strong>s funcionários sobre maneirasde melhorar desempenho e novas formas detrabalho. Neste caso, os objectivos estãodirectamente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à eficiência <strong>do</strong>sméto<strong>do</strong>s de produção.A criação deste espírito de “inteligênciagrupal” depende da iniciativa da própriaempresa em descobrir aquilo quemotiva o funcionário. Discussões sobre oassunto <strong>na</strong>s publicações empresariais evidenciamque profissio<strong>na</strong>is especializa<strong>do</strong>sem en<strong>do</strong>marketing ainda são poucos, o trabalho,hoje, cabe aos departamentos de comunicaçãoe de recursos humanos que,juntos, já desenvolvem campanhas <strong>na</strong> área.A indústria é o segmento que maisdesenvolve trabalhos em nível de comunicaçãointer<strong>na</strong>, mesmo porque o número deemprega<strong>do</strong>s é bem maior e as negociaçõessindicais a levaram à modificação da mentalidadeinter<strong>na</strong>. A informação deste tipo decampanha também pode vir alicerçada noformação, quan<strong>do</strong> os funcionários crescemjunto com a empresa que lhes proporcio<strong>na</strong>o cenário adequa<strong>do</strong> para que possam entendera padronização <strong>do</strong>s serviços como umadecorrência de factos reais, comum àquelasque desejam voltar-se para o merca<strong>do</strong>. Sãocria<strong>do</strong>s novos ca<strong>na</strong>is de dissemi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>snovos padrões, trabalhada a imagem daempresa inter<strong>na</strong>mente, recolhidas sugestões,e contribuições <strong>do</strong>s funcionários paramelhorias inter<strong>na</strong>s relacio<strong>na</strong>das com o cumprimento<strong>do</strong>s novos padrões de serviços eda nova cultura de atendimentos propostos.Este tipo de situação é muito comum quan<strong>do</strong>as empresas procuram uma certificação dequalidade.


610 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVExomarketing – conquistan<strong>do</strong> quem meolhaAgregar valor ao negócio também é isso,pessoas felizes produzin<strong>do</strong>, pessoas felizeslucran<strong>do</strong> e pessoas felizes consumin<strong>do</strong>.“Exomarketing é, portanto, uma estratégiade comunicação exter<strong>na</strong> quese utiliza das acções e instrumentosde en<strong>do</strong>marketing como conteú<strong>do</strong>”(Brum, 1998:175)Este novo conceito <strong>na</strong>sceu <strong>do</strong>s excelentesresulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com a comunicaçãointer<strong>na</strong>. Se antes ver funcionários trabalhan<strong>do</strong>felizes e ter a produção garantida eramotivo de alívio aos executivos, por que nãoaproveitar <strong>do</strong> sucesso e mostrar ao públicoexterno quão boa é a sua empresa? Em outraspalavras, mais este recurso vem para reforçaras estratégias de marketing externo, tãoeficazes foram as acções de en<strong>do</strong>marketing.Esse modelo pode ser encontra<strong>do</strong> tambémem um grande número de anúnciosgráficos, publica<strong>do</strong>s em jor<strong>na</strong>is e revistas comchamadas de abordagem inter<strong>na</strong>, que vemcausan<strong>do</strong> a simpatia <strong>do</strong> público externo.Como exemplo podem ser cita<strong>do</strong>s o <strong>do</strong>BankBoston “Para conquistar clientes, primeiroconquistamos nossos funcionários”, oda Nestlé “Poucas empresas são sinónimosdaquilo que fazem” ou ainda o da Brasmotor“Uma organização formada por pessoasjurídicas, pessoas físicas e, sobretu<strong>do</strong>, pessoasfelizes” 6 . Cada qual com seu apelográfico, estes anúncios geralmente se apresentamcom a figura de um funcionáriodevidamente farda<strong>do</strong>, sorridente.A receita <strong>do</strong> exomarketing é simples efoi concebida no próprio dia-a-dia dasempresas que quiseram expor o que possuemde melhor em sua estrutura inter<strong>na</strong>. “Oexomarketing serve exactamente para que osempresários possam mostrar a evolução dassuas relações com o público interno” (Brum,1998:177)Neném Prancha, criatura imortal citadapelo jor<strong>na</strong>lista João Saldanha, dizia que opé<strong>na</strong>lti é tão importante que deveria ser bati<strong>do</strong>pelo presidente <strong>do</strong> clube. A comparação évalida: a comunicação empresarial é, hoje,tão fundamental que deveria envolver directamenteos presidentes das empresas. (Nassar,1995:19). Não há muito, uma grande indústriade automóveis levou a sério a afirmaçãoe colocou o seu próprio CEO (no Brasil)como “garoto propaganda” da marca. Areceita deu certo.Dantas (1996), o qual afirma que Marxem seu livro “O Capital”, não faz citaçãoou sequer tece explicações detalhadas sobreo que seria a função social das comunicaçõese seu papel social como força produtiva,explica:“O fato Marx ter basea<strong>do</strong> sua análiseda acumulação capitalista <strong>na</strong>apropriação da mais-valia da forçade trabalho simples obscureceu aimportância, ou o valor, que o capitalsempre deu à informação. Já noséculo XIII, os banqueiros e grandescomerciantes sustentavam redactoresprofissio<strong>na</strong>is <strong>na</strong>s diferentes capitais emediterrâneas para que, periodicamente,lhes enviassem relatórios sobrefatos políticos, bélicos ou comerciaisque pudessem afectar os negócios.Nesses relatórios encontra-se aorigem remota deste moderno jor<strong>na</strong>lismo”(1996:34)O <strong>na</strong>scimento da necessidade de gestão damultidão huma<strong>na</strong>. Atrela<strong>do</strong> a isso, a RevoluçãoIndustrial funde-se com o desenvolvimentodas primeiras concepções de umaciência da comunicação e, ainda, a estruturação<strong>do</strong>s espaços econômicos. Sua lógica parademonstrar a introdução da informação (oumérito) dentro da indústria capitalista fundamenta-se<strong>na</strong> saída <strong>do</strong> homem da fábrica nãopelo merecimento, mas expulso pela mecanizaçãodas linhas de montagem.A imagem clássica <strong>do</strong> trabalho no séculoXX está associada à transformação da <strong>na</strong>turezaatravés <strong>do</strong> músculo humano. A introdução<strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r no ambiente de trabalhopassa a permitir a manipulação electrónicadeste “músculo”. A perda da experiênciadirecta com a tarefa realizada tor<strong>na</strong>mais difícil para as pessoas exercer julgamentosobre ela. A imagi<strong>na</strong>ção tor<strong>na</strong>-se maisimportante que o julgamento basea<strong>do</strong> <strong>na</strong>experiência, o que desafia os procedimentos“industriais”.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO611Autores contemporâneos a tais mudanças,a exemplo de Graeml (2000) o qual defendeque o próprio computa<strong>do</strong>r tor<strong>na</strong>-se o focoda interacção <strong>do</strong> indivíduo, com recursoscentra<strong>do</strong>s nos sistemas de informação.‘’O computa<strong>do</strong>r elimi<strong>na</strong> os benefíciose os problemas liga<strong>do</strong>s ao relacio<strong>na</strong>mentoentre supervisor e o trabalha<strong>do</strong>r.O relacio<strong>na</strong>mento interpessoalpode tor<strong>na</strong>r-se menos importantepara supervisão que o acessoà informação sobre qualidade equantidade <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>.O fato de as pessoas estaremconscientes da supervisão remotapode, contu<strong>do</strong>, transformar-se em umagente inibi<strong>do</strong>r de risco, ou seja,quanto maior o controle <strong>do</strong> sistemade informação, menos estímulo àiniciativa é forneci<strong>do</strong> ao trabalha<strong>do</strong>r’’(2000:39)O autor ainda faz duas importantes considerações.A primeira sobre a necessidade deno ambiente organizacio<strong>na</strong>l, as pessoas seremeducadas a perceber que a empresa passa aesperar delas uma conduta valorizada diferenteda anterior. Assim, agilidade e competitividadevão além <strong>do</strong>s níveis hierárquicos,permitin<strong>do</strong> que as informações fluam mais rapidamentee, em contrapartida, exigin<strong>do</strong> atitudesde maior responsabilidade. O segun<strong>do</strong>alerta é de que, ten<strong>do</strong> os trabalha<strong>do</strong>res aconsciência para tomar boas decisões e participan<strong>do</strong>delas, os executivos passam decontrola<strong>do</strong>res a conselheiros, e os gerentesintermediários tendem a desaparecer nosorganogramas das empresas, fazen<strong>do</strong> com queas pirâmides hierárquicas mudem radicalmentede formato.Com o banimento definitivo <strong>do</strong>s preceitostayloristas 7 e com o estímulo para queto<strong>do</strong>s participem da tomada de decisões -desde que relacio<strong>na</strong>das com suas actividades- desenvolvem-se novos tipos de estruturas,muito mais ágeis, graças à eficiência <strong>do</strong> fluxode informações dentro da empresa. Tal estrutura,mais democrática e dignificante, porvalorizar o cérebro e não os músculos, tor<strong>na</strong>sepossível com a utilização da TI paraautomatizar processos de produção, manipulan<strong>do</strong>e gerencian<strong>do</strong> informações.Na visão de Peter Drucker (2000), um grupodenomi<strong>na</strong><strong>do</strong> “operários <strong>do</strong> conhecimento” vemsubstituin<strong>do</strong> em importância económica osgrupos sociais tradicio<strong>na</strong>is, caracterizan<strong>do</strong>-secomo “o mais poderoso <strong>na</strong>s sociedades pós--industriais”. Ele não deixa de apontar osperigos desta nova sociedade. Para ele, a“sociedade <strong>do</strong> conhecimento” pode facilmentetransformar-se num sistema onde os títulos sãomais valoriza<strong>do</strong>s que a performance e a capacidadeprodutiva. Ou então, onde os conhecimentospráticos são super valoriza<strong>do</strong>s emdetrimento da filosofia e da sabe<strong>do</strong>ria. Outrosdesafios deste novo tempo são como di<strong>na</strong>mizara produtividade <strong>do</strong>s “operários <strong>do</strong> conhecimento”e como lidar com a luta de classes entreestes e a maioria que produz de acor<strong>do</strong> comos moldes tradicio<strong>na</strong>is.Sobre o tema, declara Xavier (2000):“É impossível separar os planos decomunicação das decisões estratégiasde qualquer empresa ou organização.Os comunica<strong>do</strong>res modernosnão ficam mais passivos, aguardan<strong>do</strong>que as decisões administrativas defi<strong>na</strong>mseus passos. Portanto, surgemespaços para projectos de gestão decomunicação integrada à administraçãoe negócios, envolven<strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lismo,atendimento, desenvolvimento deprodutos, marketing, publicidade,relações públicas, comunicação visual,internet, etc.” 8www.comoissofuncio<strong>na</strong>.comConsiderada “Internet particular” ou a“prima-rica da Internet”, uma Intranet tecnicamenteé uma rede inter<strong>na</strong> baseada noprotocolo IP que se caracteriza pelo uso dastecnologias WWW. A partir de uma selecçãoprévia de utiliza<strong>do</strong>res, nela, é possíveldisponibilizar informação “on-line” de maneirainteractiva e consoante as necessidadespreestabelecidas, ou seja, podemos dizer queela fornece aos utiliza<strong>do</strong>res pági<strong>na</strong>s comconteú<strong>do</strong> restrito, desenvolvidas para usointerno. Na busca de resulta<strong>do</strong>s positivos, asua implementação tem o planeamento comoprincipal esforço. O levantamento <strong>do</strong>s requisitos,bem como a antecipação de necessidades,são a chave <strong>do</strong> sucesso da ferramenta.


612 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV“As Intranets são redes com a mesmaplataforma tecnológica da Internet,mas localizadas numa empresa ouorganização, onde o acesso está restringi<strong>do</strong>somente a determi<strong>na</strong>dasmáqui<strong>na</strong>s ou aos colabora<strong>do</strong>res efuncionários da empresa.” (Reis,2000:132).O tratamento correcto <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, de formaa transformá-lo em conhecimento e utilizaras tecnologias mais apropriadas visan<strong>do</strong>,assim, a automatização <strong>do</strong>s processos econsequentemente a diminuição <strong>do</strong>s custosrequer organização e papéis claros de umaequipe coesa. Partin<strong>do</strong> desse princípio básico,a constituição, de forma correcta, de todaa informação ligada à organização, num únicoespaço, facilita o seu manuseamento, aprendizageme memorização, levan<strong>do</strong> assim aoaumento de produtividade.Por intermédio de ligações a bases deda<strong>do</strong>s, os servi<strong>do</strong>res web fornecem toda ainformação através de um browser, ou seja,o utiliza<strong>do</strong>r da Intranet, para recolher ainformação que precisa, não necessita sabermais <strong>do</strong> que saber utilizar a Internet. Amanutenção contínua <strong>do</strong> site, bem como asmedidas de segurança que regem quem acedeaos diversos tipos de conteú<strong>do</strong>s, precisa serplaneada logo no início da implementação.Para garantir uma Intranet que nos permitafalar o que queremos e principalmentedizer o que precisamos, é necessário efectuarum levantamento das verdadeiras necessidades<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>r, ou seja, o a<strong>na</strong>lista desistemas terá de efectuar uma análise derequisitos consistente e com qualidade, quelhe permita implementar um sistema funcio<strong>na</strong>l,simples, e, sobretu<strong>do</strong>, onde a informaçãotransmitida reu<strong>na</strong> um conjunto de característicasque garantam a qualidade dessamesma informação:Uma informação precisa: correcta everdadeiraUma informação oportu<strong>na</strong>: existe nomomento e local correctoUma informação simples: de fácilcompreensãoUma informação concisa: de fácilmanipulaçãoOutro aspecto importante a consideraré a existência de um sistema de BackOfficeque permita facilmente a manutenção daIntranet. Através de formulários, sem anecessidade de formação em informática,ou em alguma linguagem de programação,pode-se inserir, ou alterar da<strong>do</strong>s da Intranet.É de salientar que em nível de segurança,só as pessoas habilitadas, mediante umnome de utiliza<strong>do</strong>r e uma palavra passe,podem efectuar a manutenção da Intranet.A verificação dessa habilitação pode serefectuada em nível da base de da<strong>do</strong>s oude uma forma simples, o servi<strong>do</strong>r webverifica se o utiliza<strong>do</strong>r pode ou não inserire alterar da<strong>do</strong>s.Um bom exemplo de BackOffice é odesenvolvi<strong>do</strong> por nós para o jor<strong>na</strong>l on-lineda UBI – Urbi@Orbi. Liga<strong>do</strong> a uma basede da<strong>do</strong>s, o formato <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l permite queo jor<strong>na</strong>lista não necessite estar apto a programarem HTML ou numa outra linguagemde programação. Facilmente, mediante aintrodução de uma palavra passe este acedeà pági<strong>na</strong>, que se encontra on-line, a qualcontém os formulários onde se introduzemos da<strong>do</strong>s relativos às noticias. Muito importanteainda é o facto de este sistema poderser acedi<strong>do</strong> de qualquer computa<strong>do</strong>r que tenhaligação à Internet. Neste caso, a ligação entreo servi<strong>do</strong>r web e o servi<strong>do</strong>r de base de da<strong>do</strong>sé efectuada mediante a linguagem de programaçãoPHP.Dentro <strong>do</strong>s limites da empresa, tu<strong>do</strong> oque circula em forma de papel pode ser“importa<strong>do</strong>” para a Intranet de forma simplese objectiva, desde catálogos de vendade produtos, recursos humanos, listas telefónicas,jor<strong>na</strong>l interno da empresa ou qualquertipo de formulários. Um bom exemplo<strong>do</strong> que foi dito é o site <strong>do</strong>s ServiçosAcadémicos da Universidade da Beira Interior- UBI, pois engloba to<strong>do</strong> o tipo de<strong>do</strong>cumentos e informações antes só disponíveisem papel, com as desvantagens queisso comportava, a exemplo da sua acumulação,deslocamento de alunos até aos serviçosacadémicos e, consequente, demora emfilas, tumultos para a obtenção de uma simplesinformação. Um <strong>do</strong>cente também já podelançar as notas <strong>do</strong>s alunos on-line, evitan<strong>do</strong>a burocracia.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO613Questio<strong>na</strong><strong>do</strong> sobre as principais diferençasentre os meios impresso e on-line daapresentação de conteú<strong>do</strong>, o jor<strong>na</strong>lista SérgioXavier (2004) 9 pontua, através de sua experiênciafrente ao sistema Interjor<strong>na</strong>l 10 , asprincipais características que diferenciam odinâmico meio digital <strong>do</strong> estático meioimpresso:Tempo Real – o meio on-line permite acessoinstantâneo a informação;Unimídia - A Internet possibilita a fusão dediversas mídias em um mesmo lugar. Tambémpode interligar bancos de informação,garantin<strong>do</strong> interactividade máxima;Hipertexto - blocos de textos interconecta<strong>do</strong>spor links;Actualização permanente – “fim da hora<strong>do</strong> fechamento” - uma característica <strong>do</strong>simpressos. Publicação simultânea à edição eflexibilidade para correcções;Acesso universal – onde houver alguémconecta<strong>do</strong>;Seletividade, interação multidirecio<strong>na</strong>lAssincronicidade – acesso atemporal;Potencialização e optimização da produçãode conteú<strong>do</strong>s - Em impressos há limite deespaço. Na web não há limites;Amplitude e seletividade – possibilidade deperso<strong>na</strong>lização;Comunicação Total – notícia, serviço,interacção, conexão com uma acção concreta.A partir da percepção <strong>do</strong> empresário danecessidade em se desenvolver sistemas decomunicação em rede, e partin<strong>do</strong> de umainfra-estrutura já existente, convém a uniãode esforços neste senti<strong>do</strong>. Partiremos <strong>do</strong>princípio de que, possui<strong>do</strong>ra de um servi<strong>do</strong>rde rede ligan<strong>do</strong> máqui<strong>na</strong>s entre as suasdiversas filiais, uma empresa requer gastosmínimos para a criação de infra-estrutura quepermita o alojamento de uma Intranet.Como servi<strong>do</strong>res de Rede, podemosescolher entre vários, tais como o Unix, Linuxe o Win<strong>do</strong>ws NT, só para citar três exemplos.Porém, é importante referir – e este éum <strong>do</strong>s principais objetivos deste trabalho- que o Linux é um sistema aberto, portantogratuito, o que diminui gastos e assegura umalinguagem consoante com a utilizada pelamaioria das empresas – o que atesta suaqualidade e aprovação.De entre os servi<strong>do</strong>res Web, tambémchama<strong>do</strong>s de servi<strong>do</strong>res HTTP (HipertextTransfer Protocol), temos também um lequede escolhas, a exemplo <strong>do</strong> Apache (para Unix)e o IIS (para Win<strong>do</strong>ws NT). Para que aIntranet atinja o seu objectivo máximo éimportante fazer a ligação a bases de da<strong>do</strong>s,mais uma vez, aqui também nos são apresentadasalgumas opções, como o PHP(Professio<strong>na</strong>l Home Page), o ASP (ActiveServer Pages), o CGI e o Java.Podemos falar um pouco mais <strong>do</strong> PHP,visto que foi utiliza<strong>do</strong> por nós em diversosprojectos, mas com características semelhantesa outras linguagens deste tipo. O PHPé uma linguagem que permite criar aplicaçõesweb dinâmicas, possibilitan<strong>do</strong> umainteracção com o utiliza<strong>do</strong>r através de formulários.O facto de ser executada no servi<strong>do</strong>rpermite que o PHP seja executa<strong>do</strong> emcomputa<strong>do</strong>res com poucos recursos deprocessamento, bastan<strong>do</strong> basicamente umbrowser.Como as aplicações PHP ficam hospedadassomente no servi<strong>do</strong>r, tor<strong>na</strong>-se assimsimples o desenvolvimento de aplicações, elimi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>uma das complexidades <strong>do</strong>s sistemascliente-servi<strong>do</strong>r, o controle da versão desoftware <strong>na</strong>s diversas estações de trabalho.Uma das mais destacadas características<strong>do</strong> PHP é interagir com uma grande quantidadede servi<strong>do</strong>res de bases de da<strong>do</strong>s(SGBD), como por exemplo, dBase,Interbase, Informix, MySQL, Oracle,PostgreSQL, Sybase, etc. Ao interagir combases de da<strong>do</strong>s, vai permitir uma maiorfuncio<strong>na</strong>lidade por parte de quem acede, poisconsoante os inputs <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res obterse-ãorespostas imediatas sob a forma depági<strong>na</strong>s HTML.Ao contrário da programação em CGIcom linguagens clássicas, como o C e oPascal, em que o código fonte é compila<strong>do</strong>num ficheiro executável, no PHP tal não énecessário, pois sen<strong>do</strong> esta linguagem integradano servi<strong>do</strong>r web, passa então a serinterpretada por esse mesmo servi<strong>do</strong>r. Nestecontexto, poderá mesmo dizer-se que o PHPé uma combi<strong>na</strong>ção de uma linguagem deprogramação com um servi<strong>do</strong>r de aplicações.Serrão e Marques (2000), ilustram bem,numa figura a interligação <strong>do</strong>s diferentes


614 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVservi<strong>do</strong>res, utilizan<strong>do</strong> a linguagem de programaçãoPHP:Figura - 1. Solicitada a pági<strong>na</strong> e introduzi<strong>do</strong>sos da<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> browser ao servi<strong>do</strong>rHTTP que, por um script PHP embebi<strong>do</strong> <strong>na</strong>pági<strong>na</strong>, dá inicio ao processamento; 2. Casoo servi<strong>do</strong>r web encontre ligações a base deda<strong>do</strong>s, estabelece-as através <strong>do</strong> PHP; 3. Osda<strong>do</strong>s pretendi<strong>do</strong>s são então envia<strong>do</strong>s pelo PHPao servi<strong>do</strong>r HTTP em formato HTML, ou processa<strong>do</strong>sconforme instruções <strong>do</strong> script; 4. Oservi<strong>do</strong>r Web envia os da<strong>do</strong>s ao browser sen<strong>do</strong>estes visualiza<strong>do</strong>s numa pági<strong>na</strong> HTML devidamenteformatada.ConclusãoA gestão <strong>do</strong> conhecimento e os esforçosem implementação de ferramentas deen<strong>do</strong>marketing supõem a estabilidade da forçade trabalho <strong>na</strong> empresa, pois dessa forma éracio<strong>na</strong>l o intercâmbio de conhecimentosentre empresa e seus trabalha<strong>do</strong>res.Tal mecanismo, aparentementesimples, cujos grandesefeitos no aumento da produtividadee qualidade são mostra<strong>do</strong>sem vários estu<strong>do</strong>s decaso publica<strong>do</strong>s em revistasespecializadas, realmente envolveuma transformação profunda<strong>na</strong>s relações trabalhistas.Mesmo que nos tornemosinsensíveis aos modismos <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> corporativo, é fácilconstatar que chegamos a ummomento da história em que esse tal decapital intelectual - junção de conhecimento,experiência, percepção da realidade e projecçãodas possibilidades futuras, tem o poderde gerar mais riqueza <strong>do</strong> que mera posse demeios de produção.A grande maioria das empresas preocupa-seem inventariar mobiliário. Ainda nãoperceberam que a sua carteira de relacio<strong>na</strong>mentose a sua capacidade de criar e inovarentram e saem pelos portões to<strong>do</strong>s os dias- muitas vezes insatisfeitos e desmotiva<strong>do</strong>s.E para reafirmar tu<strong>do</strong> o que já foi exposto,mas com ar de subtileza de conceitos,utilizamos uma verdade dita por Paulo Nassarem seu Tu<strong>do</strong> é Comunicação: “Em umambiente cínico, a comunicação empresarialé um motor sem combustível.” (2003 : 23)


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO615BibliografiaBrum, A<strong>na</strong>lisa de Medeiros. En<strong>do</strong>marketing.Porto Alegre : L&PM, 1998.Cahen, Roger. Comunicação Empresarial,a imagem como patrimônio da empresae ferramenta de marketing. 6 ed. São Paulo:Best Seller, 1990Castells, Manuel. A Sociedade em Rede.(Trad.) Roneide Venâncio Majer. (A era dainformação: Economia, Sociedade e Cultura).Volume 1. São Paulo, 1999.Dantas, Marcos. A lógica <strong>do</strong> capitalinformação. Rio de Janeiro : Contraponto,1996.Drucker, Peter. “Com um pé atrás”. In:Exame. São Paulo, 727 : 120-138, novembro,2000.Graeml, Alexandre Reis. Sistemas deInformação. São Paulo : Editora Atlas, 2000.Mattelart, Armand e Mattelart, Michèle.História das Teorias da Comunicação. 2.ed.São Paulo: Edições Loyola, 1999.Nassar, Paulo e Figueire<strong>do</strong>, Rubens. Oque é Comunicação Empresarial. São Paulo:Brasiliense, 1995. (Coleção Primeiros Passos;n 297).Nassar, Paulo. Tu<strong>do</strong> é Comunicação. SãoPaulo: Lazuli Editora, 2003Nogueira, Nemércio. Media Training:Melhoran<strong>do</strong> as relações da empresa com osjor<strong>na</strong>listas... de olho no fim da ComunicaçãoSocial. 1 ed. São Paulo: Cultura EditoresAssocia<strong>do</strong>s, 1999.No<strong>na</strong>ka, Ikujiro; Takeuchi, Hirotaka.Criação de Conhecimento <strong>na</strong> Empresa: comoas Empresas Japonesas Geram a Dinâmicada Inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1995.Prahalad, C.K. e Hamel, Gary. The corecompetence of the corporation. In: Businessclassics: fifteen key concepts for ma<strong>na</strong>gerialsucces. Boston: Harvard Business SchoolPublishing, 1998. p. 62-73.Reis, José Luís. O Marketing Perso<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>e as Tecnologias de Informação.Lisboa, Centro Atlântico, 2000.Serrão, Carlos e Marques, Joaquim.Programação com PHP. Lisboa: FCA Editorade Informática, 2000.Stewart, Thomas A. Capital Intelectual- A Nova vantagem Competitiva das Empresas.São Paulo: Cia. das Letras, 1999._______________________________1Universidade Católica Portuguesa – UCP/<strong>LabCom</strong> - Laboratório de Comunicação e Conteú<strong>do</strong>sOnline da Universidade da Beira Interior- UBI2<strong>LabCom</strong> - Laboratório de Comunicação eConteú<strong>do</strong>s Online da Universidade da BeiraInterior - UBI3Ao longo deste trabalho optamos por nosreferir à “comunicação dentro da empresa” comosen<strong>do</strong> “Comunicação Empresarial” ou “ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l”, no intuito de respeitar aliteratura tanto brasileira quanto portuguesa.4Entrevista cedida à revista EXAME edição727 - 2000:130 (Edição brasileira)5O material de estu<strong>do</strong> de George Jamil foiforneci<strong>do</strong> através de e-mail pelo próprio autor.Alguns de seus artigos podem ser consulta<strong>do</strong>s noendereço: http://www.bhnet.com.br/gljamil/artigos.html6Todas campanhas veiculadas <strong>na</strong> imprensabrasileira.7Stewart faz uma ressalva quanto aotaylorismo: “A essência <strong>do</strong> taylorismo não é ape<strong>na</strong>so trabalho duro, a repetição constante e descriçõesde cargos limitadas. O talento de Taylor foiestimular a aplicação <strong>do</strong> conhecimento e não só<strong>do</strong> chicote pela gerência: aplicar capacidadeintelectual ao trabalho complexo e encontrarformas de melhor executá-lo de forma mais simples,mais fácil e melhor. Hoje está <strong>na</strong> modadesprezar Taylor, mas é importante lembrar quea Administração Científica foi um grande avanço,não ape<strong>na</strong>s em termos de produtividade, mastambém em termos de dignidade <strong>do</strong> trabalho’’(1998:45).8Palestra proferida durante o CongressoNacio<strong>na</strong>l de Jor<strong>na</strong>listas, Salva<strong>do</strong>r (BA), setembrode 2000.9Informações fornecidas em entrevista feitaao jor<strong>na</strong>lista através de e-mail pessoal.10Sérgio Xavier desenvolveu o sistemaInterjor<strong>na</strong>l o qual dedica-se à criação e implantaçãode sistemas customiza<strong>do</strong>s para gerenciarfluxos de informações e atender necessidadesespecíficas de comunicação de peque<strong>na</strong>s e grandescorporações. O Portal Interjor<strong>na</strong>l de Notíciaspode ser acedi<strong>do</strong> no http://www.interjor<strong>na</strong>l.com.br


616 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO617Comunicação, Identidade e Imagem Corporativas:o caso da Caixa Econômica Federal, BrasilA<strong>na</strong> Regi<strong>na</strong> Barros Rego Leal 1 e Maria das Graças Targino 2PreâmbuloA Caixa Econômica Federal (CAIXA) é,hoje, o terceiro maior banco comercial <strong>do</strong>Brasil e o maior banco social da AméricaLati<strong>na</strong>. Sua atuação abrange 100% <strong>do</strong>smunicípios brasileiros e sua carteira de clientesoscila entre 25 a 27 milhões de pessoas,enquanto os beneficia<strong>do</strong>s pelas açõesda Instituição totalizam números superiores.Isto porque, a CAIXA está presente <strong>na</strong> vida<strong>do</strong>s brasileiros em muitos momentos, atravésda viabilização <strong>do</strong> sistema de abastecimentode água, pavimentação, saneamento, habitação,ou em horas difíceis, com o segurodesempregoe o Fun<strong>do</strong> de Garantia por Tempode Serviço (FGTS), ou quan<strong>do</strong> ingressam emcursos universitários, sem contar com produtose serviços bancários. Na verdade, o seutamanho e a pluralidade de áreas de atuaçãofazem da CAIXA um <strong>do</strong>s bancos maiscomplexos em termos de organograma administrativo,e, sobretu<strong>do</strong>, de modelo decomunicação. Assim, este paper relata umestu<strong>do</strong> de caso cuja pretensão limita-se aoprocesso de diagnóstico sobre a comunicação,identidade e imagem corporativas daCAIXA.A Caixa Econômica Federal e sua UnificaçãoDurante os anos <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Rei<strong>na</strong><strong>do</strong>,o Impera<strong>do</strong>r Dom Pedro II gover<strong>na</strong> o Brasilatravés <strong>do</strong> ambíguo poder Modera<strong>do</strong>r, queconcedia ao Mo<strong>na</strong>rca poderes acima <strong>do</strong>Parlamento, e que se fundamenta em basespolíticas instáveis, alter<strong>na</strong>n<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>rese liberais no poder. No entanto, o Impera<strong>do</strong>rmantém maior simpatia para com os conserva<strong>do</strong>res,o que se evidencia <strong>na</strong> permanência<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Conserva<strong>do</strong>r por um perío<strong>do</strong> duasvezes superior à quantidade de anos <strong>do</strong>sgabinetes liberais, durante o meio século queperdura o seu rei<strong>na</strong><strong>do</strong>.Ademais, outras posições também demonstrama incli<strong>na</strong>ção conserva<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>Impera<strong>do</strong>r, como a concernente ao modeloeconômico e ao sistema fi<strong>na</strong>nceiro a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>no Brasil, a partir, sobretu<strong>do</strong>, da terceiradécada de seu rei<strong>na</strong><strong>do</strong>.O merca<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>nceiro, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>século XIX, é lidera<strong>do</strong>, <strong>na</strong> Corte, por portuguesese por banqueiros favoráveis aoliberalismo econômico, como Mauá, cujaescola prioriza os princípios <strong>do</strong> capitalismoinglês. Os conserva<strong>do</strong>res, por sua vez, emsua maioria, inimigos de Mauá, lidera<strong>do</strong>s peloBarão de Uruguaia<strong>na</strong> e pelo Visconde deItaboraí, desfavoráveis à iniciativa privada noBrasil, criam a Lei No 1.083 (denomi<strong>na</strong>da deLei <strong>do</strong>s Entraves), de 22 de agosto de 1860,a qual prevê, dentre outras medidas, a instalaçãodas Caixas Econômicas <strong>do</strong> Império,com o intuito de impedir o crescimento dascasas privadas de poupança e crédito.Então, no ano seguinte, em 12 de janeiro,o Impera<strong>do</strong>r instala, oficialmente, a CaixaEconômica da Corte (Decreto No 2.723). Nodia 4 de novembro <strong>do</strong> ano de 1861, a CAIXAabre suas portas, receben<strong>do</strong>, em seu primeirodia, 10 clientes, responsáveis pelo depósitototal de 190 mil réis. Para Bueno, E. (2003),desde as cinco horas i<strong>na</strong>ugurais, a CAIXAexibiu duas tendências, ambas consolidadasao longo <strong>do</strong>s anos. Primeiro, ao atrair pessoaspobres, depositantes de quantias modestas.Segun<strong>do</strong>, dentre as 10 primeiras contas,quatro foram abertas por pais ou avós parafilhos ou netos, hábito, ainda hoje, em voga.Esses aspectos marcantes da identidadecorporativa da empresa se solidificam em seus143 anos de história, construída em sintoniacom a história <strong>do</strong> País. O relacio<strong>na</strong>mentoentre CAIXA e escravos é um bom exemplo.Doze dias após a abertura da Instituição, aescrava Margarida Luíza, pertencente aJoaquim José Madeira, abre a caderneta depoupança (No 59), ativa por três anos, atésacar 353.542 réis para comprar sua alforria.


618 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEste fato se repete algumas vezes antes dapromulgação da Lei <strong>do</strong> Ventre Livre, Lei No2.040/1871, cujo Artigo No 4 permite aoescravo a formação de um pecúlio, com baseno que lhe provier de <strong>do</strong>ações, lega<strong>do</strong>s,heranças ou de seu próprio trabalho e deeconomias, além de prever a possibilidade dealforria, para quem consiga fun<strong>do</strong>s paraindenização de seu valor. Além disto, o DecretoNo 5.153 (13 de novembro de 1873), determi<strong>na</strong>à CAIXA a obrigatoriedade de acolherdepósitos advin<strong>do</strong>s de escravos, <strong>na</strong> Corte e<strong>na</strong>s demais províncias (BUENO, E., 2003).Em 1934, Ricar<strong>do</strong> Xavier da Silveira,então presidente da Instituição, propõe aunificação das Caixas Econômicas <strong>do</strong> País,mediante a homologação da Lei No 24.246,embora tão-somente 34 anos depois, o processose concretize, ironicamente, por meio<strong>do</strong> temi<strong>do</strong> Ato Institucio<strong>na</strong>l No 5 (AI-5), queconcede ao Regime Militar vigente, poderesilimita<strong>do</strong>s sobre a <strong>na</strong>ção, suas instituições eseu povo. O Decreto No 759/1969constitui a Caixa Econômica Federal(CEF), vinculada ao Ministério daFazenda, como instituição fi<strong>na</strong>nceirasob a forma de empresa pública,<strong>do</strong>tada de perso<strong>na</strong>lidade jurídica dedireito priva<strong>do</strong>, com patrimônio próprioe autonomia administrativa.Especifica, também, as suas atividades,a saber: receber depósitos de poupança; concederempréstimos e fi<strong>na</strong>nciamentos para pessoasfísicas e jurídicas; operar no setorhabitacio<strong>na</strong>l como agente <strong>do</strong> então BancoNacio<strong>na</strong>l de Habitação (BNH); explorar, comexclusividade, os serviços de loterias (à época,com duas modalidades, Federal e Esportiva);e prestar serviços à população brasileira. Esteúltimo item permite a instalação gradativade outras ações, paulati<strong>na</strong>mente agregadas àsfunções da CAIXA.Multiplicidade de FunçõesComo decorrência, toman<strong>do</strong> comoparâmetro o ano de sua unificação, 1969, atéos dias atuais, registra-se crescimento considerávelda CAIXA, tanto em patrimônio,como em estrutura e volume de produtos eserviços disponíveis à população brasileira.Hoje, são cerca de 14 mil pontos de atendimento,distribuí<strong>do</strong>s pelo País, sob a formade agências, postos de atendimento bancário(PAB), postos de atendimento eletrônico(PAE), casas lotéricas e correspondentesbancários, denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>s CAIXA AQUI quefavoreceram a expansão da Empresa aos5.561 municípios brasileiros, em 2002.A atuação da CAIXA abrange o tripé: (a)transferências de benefícios; (b) serviçosfi<strong>na</strong>nceiros; (c) desenvolvimento urbano. Noâmbito <strong>do</strong> primeiro setor, realizam-se significativosnúmeros de atendimento ao trabalha<strong>do</strong>rbrasileiro. Da<strong>do</strong>s alusivos ao primeirotrimestre de 2002 dão conta de 33,5 milhõesde pagamentos de benefícios, soman<strong>do</strong> R$8,4 bilhões, entre pagamentos <strong>do</strong> FGTS,Seguro Desemprego, Abonos e Rendimentos<strong>do</strong> Programa de Integração Social (PIS) e osprogramas <strong>do</strong> Governo Federal, <strong>na</strong> época,Bolsa-Escola e Auxílio-Gás. Os serviçosfi<strong>na</strong>nceiros incluem em torno de 500 produtose serviços ofereci<strong>do</strong>s à sociedade em gerale aos clientes, em particular, que vão desdeos já tradicio<strong>na</strong>is poupança, penhor e habitaçãoaté fun<strong>do</strong>s de investimento, cartões decrédito, previdência privada, letras hipotecárias,fi<strong>na</strong>nciamentos e diversos empréstimos.Quanto ao desenvolvimento urbano, a Empresaatua como agente opera<strong>do</strong>r da maioriadas políticas públicas <strong>do</strong> Governo Federal emprogramas direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s para habitação parabaixa renda, saneamento, pavimentação,planejamento urbano, dentre outros.Permean<strong>do</strong> estes três setores macros, nomomento, a CAIXA desenvolve projeto deinclusão social, inicia<strong>do</strong> no governo <strong>do</strong>presidente Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, coma instalação <strong>do</strong>s correspondentes bancáriosem to<strong>do</strong> o País e, intensifica<strong>do</strong> no atualGoverno, com a Conta CAIXA AQUI ouConta Cidadã. Em dezembro de 2003, ape<strong>na</strong>sseis meses depois <strong>do</strong> lançamento, estapermitiu que um milhão de brasileiros fossembancariza<strong>do</strong>s, com a ressalva de que setrata de segmento de merca<strong>do</strong>, cujo <strong>potencial</strong>para consumo ainda não está totalmentemensura<strong>do</strong>, despertan<strong>do</strong>, então, o interesseda concorrência.Outra forma de atuação de destaque é omerca<strong>do</strong> de loterias, cujo monopólio federalé deti<strong>do</strong> pela CAIXA. Em 2001, a arrecadaçãoatinge a cifra de R$ 2,8 bilhões,distribuí<strong>do</strong>s em pagamento <strong>do</strong>s prêmios (R$


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO619879 milhões), seguridade social (R$ 529milhões) e desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao Imposto de Renda(R$ 340 milhões). Os produtos lotéricosdiversifica<strong>do</strong>s, pouco a pouco, para atenderas exigências <strong>do</strong>s diferentes estratos sociais,abrangem bilhetes de raspadinhas com prêmiosimediatos até peque<strong>na</strong>s ou grandesapostas para os prêmios da cobiçada MegaSe<strong>na</strong>. Além disto, a CAIXA atua comoincentiva<strong>do</strong>ra da cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, patroci<strong>na</strong>n<strong>do</strong>áreas, como teatro e música. Mantém,ainda, conjuntos culturais <strong>na</strong>s principaiscidades brasileiras, com calendários permanentesde atividades e desenvolvimento deprojetos, como o Criança Arteira (Brasília),que visa à inclusão cultural.Comunicação Empresarial/Organizacio<strong>na</strong>lO processo de comunicação dentro dasempresas brasileiras é relativamente recente,evoluin<strong>do</strong> <strong>na</strong>s últimas três décadas, em buscade um modelo que integre, sinergicamente,to<strong>do</strong>s os setores da empresa envolvi<strong>do</strong>s coma comunicação e com o marketing. De formasucinta, a história mostra que, <strong>na</strong> década de1970, em pleno Regime Militar, a comunicaçãoempresarial se dá de forma isolada,ou seja, os setores responsáveis pela criaçãoe manutenção da imagem das instituições,quase não se comunicam entre si. Comoresulta<strong>do</strong>, publicações inter<strong>na</strong>s, produção dereleases, organização de eventos, veiculaçãode produtos publicitários etc. desarticula<strong>do</strong>sentre si, acarretan<strong>do</strong> desperdício de tempoe dinheiro, e, principalmente, contribuin<strong>do</strong>para a desagregação <strong>do</strong>s fatores integrantesda identidade de qualquer instituição.Contu<strong>do</strong>, é ainda nos anos 70, que seesboça o perfil de uma comunicação empresarialeficiente, graças ao ingresso de profissio<strong>na</strong>isda área <strong>na</strong>s atividades inter<strong>na</strong>s dasempresas, tais como: relações públicas, jor<strong>na</strong>listase publicitários, que assumem ospostos, antes ocupa<strong>do</strong>s por pessoas com outraformação. Na década seguinte, os processoscomunicativos ganham impulso no merca<strong>do</strong>brasileiro, quan<strong>do</strong> grandes empresas e instituições<strong>do</strong> país criam setores especializa<strong>do</strong>sde comunicação, nos quais se destacam ospapéis <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>lista empresarial e <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>lde relações públicas.O processo evolutivo ocorre de tal formaque, no último decênio <strong>do</strong> século XX, acomunicação empresarial passa a ser consideradaestratégica para grande parte dasempresas atuantes no merca<strong>do</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, emsua maioria, influenciadas pela onda <strong>do</strong>marketing e <strong>do</strong>s processos de reengenharia,que invadem o merca<strong>do</strong> e ganham reflexos<strong>na</strong>s principais academias brasileiras de administração.O marketing, em termos derealidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, ultrapassa os limites daadministração e alia-se à comunicação, geran<strong>do</strong>discussões conceituais, tanto para osleigos como para os profissio<strong>na</strong>is.A este respeito, Bueno, W. (2003) acreditaque a concepção de comunicação empresarialse aprimora, ao longo <strong>do</strong> tempo,deixan<strong>do</strong> de ser tão-somente um conjunto deatividades fragmentadas, para se configurarcomo processo integra<strong>do</strong> que orienta o relacio<strong>na</strong>mentodas empresas com os seuspúblicos. Torquato (2002), no entanto, diante<strong>do</strong> processo evolutivo da área, opta porsubstituir a expressão – comunicação empresarial––,utilizada por ele mesmo, nos anos1970, pela denomi<strong>na</strong>ção – comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l –, mais abrangente e aplicávela instituições públicas, sindicatos, confederações,escolas etc. De fato, quer se utilizeuma ou outra terminologia, no contexto deuma instituição pública ou empresa, a comunicaçãoou a propagada comunicaçãointegrada de marketing assume, <strong>na</strong> realidadeatual, um conjunto de novas competências,que agregam a formação e manutenção daboa imagem, mediante a intensificação davenda de produtos e serviços.Todavia, é preciso registrar que a evoluçãono merca<strong>do</strong> não é visível ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong>comunicação. Outros fatores, como aglobalização econômica; a evolução <strong>do</strong>sprocessos de gestão; a evolução nos sistemasde vendas e distribuição face às novas tecnologias;a democratização da educação e dainformação e a divulgação <strong>do</strong> conceito decidadania concorrem para a nova postura dasorganizações. Estas se tor<strong>na</strong>m mais agressivasmerca<strong>do</strong>logicamente, mas também, maisresponsáveis e cidadãs, favorecen<strong>do</strong> aosconsumi<strong>do</strong>res e cidadãos o exercício de seusdireitos e deveres.


620 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEntão, retoman<strong>do</strong> a concepção de comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l, para Torquato (2002),ela integra quatro modalidades. A primeira,a comunicação cultural, é mensurada a partirda observação <strong>do</strong>s climas internos dasempresas, os quais refletem a cultura de cadaorganização. A comunicação administrativadiz respeito à comunicação oficial e/ouautorizada, mediante a utilização <strong>do</strong>s veículose ca<strong>na</strong>is alter<strong>na</strong>tivos defini<strong>do</strong>s pelasorganizações. A terceira modalidade, a comunicaçãosocial, envolve o jor<strong>na</strong>lismoempresarial, o trabalho de relações públicas,a publicidade, a editoração e o marketing.A última se refere ao sistema de informaçõesda instituição, onde estão os bancos de da<strong>do</strong>srelativos a produtos, serviços, clientes, eoutros.Confirman<strong>do</strong> a complexidade conceitualpresente nos termos em discussão, Pimenta(2003) separa cultura organizacio<strong>na</strong>l de climaorganizacio<strong>na</strong>l. Em sua visão, a primeira émedida pelos objetos, pelas criações e pelosvalores da empresa, visíveis nos discursos daspessoas e <strong>do</strong>s pressupostos básicos, queconferem identidade aos membros <strong>do</strong> grupo.Correspondem à maneira como as pessoaspercebem, pensam e sentem o trabalho, aempresa, a hierarquia etc. O clima organizacio<strong>na</strong>l,então, é mais intangível <strong>do</strong> que acultura, embora influencie <strong>na</strong> qualidade deprodutos e serviços. Sua percepção se dáatravés da maneira como os membros <strong>do</strong> grupotrabalham, isto é, em cooperação ou não.Essa mesma autora, no que tange àcomunicação integrada, a<strong>do</strong>ta a sigla CEMPpara definir a comunicação empresarial comoo somatório de todas as ações de comunicaçãoda empresa, resultan<strong>do</strong> em atividademultidiscipli<strong>na</strong>r. É a conjugação de méto<strong>do</strong>se técnicas de relações públicas, jor<strong>na</strong>lismo,assessoria de imprensa, propaganda, promoção,pesquisa, en<strong>do</strong>marketing e marketing.Ogden (2002), por seu turno, numa acepçãomais merca<strong>do</strong>lógica, argumenta que a comunicaçãointegrada de marketing é, em suaessência, a expansão <strong>do</strong> elemento de promoção<strong>do</strong> mix <strong>do</strong> próprio marketing. Mas, a bemda verdade, já em 1986, Kunsch defendia umalinha de ação similar a <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is autores, aoafirmar ser impossível isolar a comunicaçãoinstitucio<strong>na</strong>l e a de merca<strong>do</strong>. Defende umacomunicação integrada, que incorpore as duasatividades, forman<strong>do</strong>, o que denomi<strong>na</strong> de“composto da comunicação”.Enfim, qualquer que seja o entendimentoou a terminologia a<strong>do</strong>tada, os objetivos dacomunicação organizacio<strong>na</strong>l apregoa<strong>do</strong>s pelosautores referencia<strong>do</strong>s confluem para o quea conjuntura merca<strong>do</strong>lógica atual exige, ouseja, a integração entre o gerenciamento daimagem e a gover<strong>na</strong>nça <strong>do</strong>s processos devenda merca<strong>do</strong>lógica.Identidade e Imagem CorporativasDiante <strong>do</strong> exposto até então e <strong>do</strong>s aspectospeculiares à CAIXA apresenta<strong>do</strong>s, mesmode forma sucinta, é que se tenta traçar o seuperfil da identidade corporativa, a partir <strong>do</strong>entendimento <strong>do</strong>s processos de comunicaçãointegrada e <strong>do</strong> marketing da instituição.Sem dúvida, a identidade de qualquerorganização é construída com base em suahistória, seus valores, a qualidade de seusprodutos e serviços, seu atendimento, suaaparência e seus pontos de atuação positivose negativos. A identidade congrega o que defato é a empresa, seu caráter e sua perso<strong>na</strong>lidade.Torquato (2002: 104) enfatiza quea identidade diz respeito ao plano <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>slógicos, concretos, apreendi<strong>do</strong>s eassimila<strong>do</strong>s pelo nível <strong>do</strong> consciente. Assim,a construção de uma identidade consideravalores e critérios, tais como “[...] o foco,a essência; a capacidade de permanência;a singularidade, que preserva aespecificidade e a unicidade, que garante acoerência.”Vemos, pois, que vários são os componentesde uma identidade corporativa ediversos são os aspectos de uma identidadepessoal. Em ambos os casos, a estética ocupalugar de destaque. No caso da identidadecorporativa, a estética tem conquista<strong>do</strong> terreno,impulsio<strong>na</strong>da pela concorrência acirradaentre as organizações merca<strong>do</strong>lógicas, poisquan<strong>do</strong> a técnica se nivela, os valoressubjetivos de relacio<strong>na</strong>mento e atendimentoalia<strong>do</strong>s aos valores estéticos prevalecem,reforçan<strong>do</strong> a fala de Simonson e Schmitt(2002: 59):[...] o gerenciamento de identidadedistanciou-se no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> de suaorigem simplista em design de produ-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO621to e design gráfico, envolven<strong>do</strong>-se comquestões societárias mais abrangentes demissão e cultura corporativas. Cada vezmais a identidade é utilizada estrategicamente.A essência <strong>do</strong> gerenciamentode identidade é a criação de uma estéticacorporativa (ou de marca) que expressea “perso<strong>na</strong>lidade” da organização (ouda marca) por meio de elementos deidentidade atraentes.Enquanto isto, a imagem corporativa éo reflexo da identidade no imaginário simbólicocoletivo <strong>do</strong> público no merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,onde a empresa está inserida,compreenden<strong>do</strong> clientes, emprega<strong>do</strong>s e públicoem geral. A imagem pressupõe aapreensão de valores subjetivos exter<strong>na</strong><strong>do</strong>spela instituição em diversos momentos de suaexistência e de sua atuação. A percepção <strong>do</strong>público se dá a partir da fixação da marcaexposta por muito tempo, como também, pelaqualidade de atendimento, produtos e serviços,e, principalmente, pelas políticas empresariaisa<strong>do</strong>tadas em relação à sociedade.Exemplifican<strong>do</strong>: a empresa que desrespeita omeio ambiente ou a<strong>do</strong>ta uma política dedemissão de trabalha<strong>do</strong>res em massa possuiimagem mais negativa <strong>do</strong> que aquela queinveste parte <strong>do</strong>s lucros em projetos ambientaisou culturais. É o que Torquato (2002:162)alerta, ao afirmar ser impossível dissociar“[...] o conceito de uma entidade daimagem que se pretende para ela. Ouseja, quan<strong>do</strong> se distorce para mais oupara menos a imagem de uma entidade,gera-se uma dissonância [...]”,que, em algum momento, é percebida pelosseus clientes. Caixa – Identidade, Imagem eProcesso de Comunicação Integrada.Retoman<strong>do</strong> a história da CAIXA, é maisfácil compreender a formação da sua identidadecorporativa. Criada, em 1861, com onome de Caixa Econômica e Monte Socorro,visava receber economias populares sob agarantia <strong>do</strong> Governo, enquanto ao MonteSocorro competia emprestar recursos a jurosmódicos, sob penhor, para as classes menosfavorecidas. Poucos anos depois, em 1874,são criadas outras Caixas Econômicas <strong>na</strong>scapitais das províncias, atuan<strong>do</strong> junto àDelegacia da Fazenda Nacio<strong>na</strong>l. A seguir, noano de 1892, essas Caixas agregam o perfilde bancos comerciais, passan<strong>do</strong> de merascoletoras de depósitos e “monte de socorro”a opera<strong>do</strong>ras de empréstimos sob caução detítulos da dívida pública da União, letras ebilhetes <strong>do</strong> Tesouro Nacio<strong>na</strong>l, com garantiae assistência gover<strong>na</strong>mental. Como visto, aunificação das Caixas acontece somente em1969, e a CAIXA, hoje, atua em múltiplossetores. No tocante à composição da marcae assi<strong>na</strong>tura, a CAIXA já possuiu algumas,que retratam, como <strong>na</strong>tural, o respectivo perío<strong>do</strong>histórico. Entre 1996 a 1997, a partir<strong>do</strong> projeto de reengenharia de 1994 (Programade Racio<strong>na</strong>lização e Competitividade,PRC), responsável pela modificação <strong>do</strong>sseus processos, em to<strong>do</strong>s os níveis, aEmpresa necessitou renovar imagem, marca,logomarca, logotipo e to<strong>do</strong>s os itens estéticosda identidade corporativa, toman<strong>do</strong>como referencial os resulta<strong>do</strong>s de umapesquisa de imagem corporativa. Os principaisindicativos que fundamentam asmodificações da Empresa, não somente noque se refere à marca, mas também, à infraestruturafísica, ao modelo de gestão e atémesmo ao portfólio de produtos e serviços,vinculam-se à clientela, majoritariamente,envelhecida, a agências e postos de atendimentosem processos de atendimentos padroniza<strong>do</strong>s,a sistemas de gestão de informaçãosem comunicação entre si, ao parquede equipamentos computacio<strong>na</strong>is e a termi<strong>na</strong>iseletrônicos ultrapassa<strong>do</strong>s, a produtos eserviços não competitivos.Então, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s conti<strong>do</strong>s no Manualda Marca, ano de 1997, a escolha da palavra– CAIXA – resultou <strong>do</strong> fato de ser a maispopular e a forma mais coloquial empregadapelo público externo e interno para se referirà Instituição. Além <strong>do</strong> mais, numa felizcoincidência, é um termo que guarda váriossignifica<strong>do</strong>s vincula<strong>do</strong>s à missão da Empresa,qual seja: guardar, poupar, valor, depósito. Àépoca, também se a<strong>do</strong>tou o elemento síntesenão existente anteriormente. O X foi entãoretira<strong>do</strong> da marca, para ser usa<strong>do</strong>, separadamente,em ações de reforço ou alusão à marca,como em si<strong>na</strong>lizações de sala deautoatendimento em agências.É evidente que tu<strong>do</strong> isto conduz à transformaçãogeral da Empresa, iniciada com uma


622 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVrevisão nos processos administrativos, incluin<strong>do</strong>a área de Recursos Humanos e o Planode Cargos e Salários. A partir de então, aCAIXA passa a a<strong>do</strong>tar o incentivo à formaçãoespecializada e o processo seletivo paraascensão aos distintos cargos. Paralelamente,as diversas áreas da logística renovam to<strong>do</strong>sos pontos de venda (agências, postos deatendimento bancário e casas lotéricas, inicialmente),padronizan<strong>do</strong>-os num primeiromomento, chama<strong>do</strong> de Projeto500, responsávelpela modernização das 500 maioresagências <strong>do</strong> País, atingin<strong>do</strong>, a seguir, a rede,em sua íntegra. No segun<strong>do</strong> momento, asunidades da CAIXA passaram por mais <strong>do</strong>isou três processos de revisão de layout e demodificação de mobiliário, sempre adequan<strong>do</strong>aos novos modelos conceituais de atendimento,compatíveis com a dinâmica erealidade <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.De forma similar, a área de merca<strong>do</strong> tambémpassou por profundas mudanças. Hoje estádividida em gerenciamento da rede,gerenciamento de produtos para pessoa física,jurídica ou para esta<strong>do</strong>s e municípios, egerenciamento <strong>do</strong>s segmentos de clientes deacor<strong>do</strong> com faixas de renda e atividades. Suaatuação se dá de forma mais agressiva, coma a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> modelo de segmentação, entre 2000a 2001, perío<strong>do</strong> em que a CAIXA também a<strong>do</strong>tae expande os ca<strong>na</strong>is alter<strong>na</strong>tivos de atendimento,como termi<strong>na</strong>is de auto-atendimento, Internete casas lotéricas, buscan<strong>do</strong> direcio<strong>na</strong>r produtose serviços específicos para cada público e cadacliente. Como conseqüência <strong>do</strong>s processos orarelata<strong>do</strong>s, a comunicação e o marketing daCAIXA, antes dividi<strong>do</strong>s em duas superintendências<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, se fundem, o que ocorre, em2001, com a criação da Superintendência deMarketing Institucio<strong>na</strong>l.A SUMAI congrega, à época, as GerênciasNacio<strong>na</strong>is:(1) Gerência de Relações Institucio<strong>na</strong>is(GEREL), responsável pela política de patrocínioe marketing cultural;(2) Gerência de Marketing Corporativo(GEMAC), incumbida <strong>do</strong>s processos daidentidade corporativa no tocante às questõesestéticas de padronização em to<strong>do</strong>s osníveis, desde a comunicação inter<strong>na</strong> (cartões,placas de obra, etc.) ao portal <strong>na</strong> internet eintranet, além da realização de eventos, dentreoutras atribuições;(3) Gerência de Comunicação (GENCO),a quem compete contratar as agências depublicidade licitadas a cada biênio e negociaras campanhas solicitadas pelos diversossegmentos da Empresa;(4) Gerência de Merca<strong>do</strong> (GEMEC),encarregada <strong>do</strong> gerenciamento de pesquisasde merca<strong>do</strong> e da qualidade <strong>do</strong> atendimento,acaban<strong>do</strong> por migrar, em 2003, para a áreade merca<strong>do</strong>.No momento atual, há mais uma gerênciano âmbito da SUMAI: Gerência de Padrõese Planejamento (GPP). A Assessoria deImprensa (ASSIMP) continua atuan<strong>do</strong> paralelamenteà SUMAI, embora de forma integrada,a partir de sua vinculaçãoinstitucio<strong>na</strong>l: ambas estão subordi<strong>na</strong>das àDiretoria Colegiada e à Presidência.De fato, desde 2001, desenvolve-se umesforço concentra<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de a<strong>do</strong>tarações integradas de marketing e comunicação,o que vem conquistan<strong>do</strong> apoio das áreascitadas e mais <strong>do</strong> Cerimonial, liga<strong>do</strong> aoGabinete <strong>do</strong> Presidente. Assim, oplanejamento das atividades da CAIXA nosdiversos setores de atuação e para os diversossegmentos, norteia o planejamento daSUMAI, que procura alcançar os objetivospretendi<strong>do</strong>s. O lançamento de um produto,por exemplo, envolve inúmeras áreas e maisde uma cente<strong>na</strong> de pessoas. Compreende fasesque vão desde a pesquisa de merca<strong>do</strong> até opré-teste e desenvolvimento <strong>do</strong> produto, alémda a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s sistemas necessários para asua operacio<strong>na</strong>lização, o trei<strong>na</strong>mento <strong>do</strong>semprega<strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s da venda <strong>do</strong> produto,a sua divulgação inter<strong>na</strong> e exter<strong>na</strong>(responsabilidade das áreas de marketing ecomunicação), seja através de ca<strong>na</strong>is diretosou <strong>do</strong>s portais, seja através de peças publicitárias,seja através de patrocínio a eventos,cujos públicos constituam alvo <strong>do</strong> produto,seja através da divulgação de matérias viaASSIMP.Por exemplo, a Campanha PoupançaPremiada, entre os anos de 2001 a 2002, éum <strong>do</strong>s casos de maior sucesso das açõesintegradas de planejamento de comunicaçãoe marketing, responsáveis pela conquista deaproximadamente 14 % <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lde poupança. A Campanha consistia <strong>na</strong>premiação <strong>do</strong>s poupa<strong>do</strong>res com sal<strong>do</strong>s médiossuperiores a R$ 100,00. Os prêmios eram


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO623dividi<strong>do</strong>s em duas etapas mensais. Na primeira,cerca de 3.000 poupa<strong>do</strong>res conquistavamprêmios de R$ 1.000,00 e passavam,a concorrer aos prêmios de R$ 10 mil, R$20 mil, R$ 2 milhões e R$ 4 milhões. Oplanejamento da Campanha envolveu tantoa área <strong>do</strong> produto, como os setores decomunicação e marketing. A publicidade,orientada pela GENCO, criou peças informativaspara os emprega<strong>do</strong>s a fim de sensibilizálospara a divulgação e o convencimento daclientela.Tais peças eram renovadas, sistematicamente,ante a inserção de novos elementos<strong>na</strong> Campanha. A divulgação exter<strong>na</strong> envolveumídia eletrônica <strong>na</strong>s principais redes derádio e TV, assim como merchandising <strong>na</strong>snovelas de maior audiência <strong>na</strong> rede Globo.A ASSIMP teve atuação importante, aoalimentar os meios de comunicação comnotícias sobre a evolução da poupança inter<strong>na</strong><strong>do</strong> País, alertan<strong>do</strong> para a importância<strong>do</strong> processo, como também identifican<strong>do</strong> osbeneficia<strong>do</strong>s. Eventos foram realiza<strong>do</strong>s emtodas as regiões, de tal forma que tantoaqueles de maior abrangência, como osrealiza<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s próprias agências contribuírampara o sucesso obti<strong>do</strong>.Em suma, afirmamos que o modeloa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela CAIXA para marketing e comunicaçãovem obten<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s,embora ainda não consiga abranger to<strong>do</strong>s osaspectos da megainstituição. A evidenteexpansão da Empresa, mensurada nos lucrosde 2003, advin<strong>do</strong>s de fatores diversos, como:expansão da carteira de clientes, maior credibilidade,atuação social mais visível,confiabilidade crescente <strong>na</strong> poupança e expansão<strong>do</strong> banco da casa própria. No entanto,ao contrário <strong>do</strong>s demais bancos, cujaimagem está associada à figura masculi<strong>na</strong>,mais dura, com cobrança de juros maiorese atendimento seletivo, a CAIXA detém umaimagem femini<strong>na</strong> que conduz à sua visualizaçãocomo “a mãe <strong>do</strong> povo brasileiro”. Istoconcorre para que a população se sinta àvontade para reclamar e exigir melhoresserviços, o que contribui para que muitasquestões ligadas à sua imagem continuemimutáveis.A este respeito, pesquisa recente, contratadapela CAIXA, no primeiro semestre de2003, realizada <strong>na</strong>s maiores praças brasileiras,ao mesmo tempo em que comprova osaspectos positivos arrola<strong>do</strong>s, dentre os quais,o reconhecimento <strong>do</strong> público frente à suaatuação social, o seu papel <strong>na</strong> política dehabitação, a poupança para to<strong>do</strong>s e o empréstimopara classes desfavorecidas, medianteo penhor, também mostra pontos deconflito <strong>na</strong> imagem da Empresa. Além dereafirmar o envelhecimento da clientela,aponta problemas liga<strong>do</strong>s a grandes filas, aomau atendimento, à lentidão e ao arcaísmo<strong>do</strong>s termi<strong>na</strong>is de auto-atendimento, e o queparece mais grave, indica que seu extensoportfólio de produtos e serviços bancários,inclusive os produtos direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao setorpúblico, são pouco conheci<strong>do</strong>s.A imagem de banco social tem si<strong>do</strong>reforçada, a cada dia, que o Governo Federaldelega mais atribuições para a CAIXA. Hojeé responsável pelo pagamento <strong>do</strong>s programasde inclusão <strong>do</strong> Governo, o que conduzmilhões de pessoas a procurarem pontos deatendimento, em qualquer localidade. Contu<strong>do</strong>,com as atribuições, é premente a a<strong>do</strong>çãode novos investimentos em tecnologia epessoal, para que o atendimento dimensio<strong>na</strong><strong>do</strong>para um número X de pessoas não tenhao padrão de qualidade reduzi<strong>do</strong>, haja vistaque o número de clientes triplica, mensalmente,com a inserção de mais famílias noscadastros gover<strong>na</strong>mentais. No entanto, comoos investimentos não ocorrem com a mesmavelocidade em que se dá a adesão <strong>do</strong>s novosclientes, o atendimento não dá vazão, as filaspermanecem, e a rasura da imagem, também.De qualquer forma, a pesquisa citada levouao redirecio<strong>na</strong>mento da comunicação e <strong>do</strong>sprocessos da Empresa.A logomarca, que já passou por temascomo: (1) CAIXA, o banco da vida da gente;(2) CAIXA, aqui o Brasil acontece, desdeagosto de 2003, traz agora a expressão:CAIXA, para você e para to<strong>do</strong>s os brasileiros.O processo deve resgatar, ainda, o sloganVEM pra CAIXA você também, da décadade 1980, mas fortemente incorporada à suaimagem.Além da pesquisa, o principal fator provoca<strong>do</strong>rde mudanças <strong>na</strong> identidade e quese reflete <strong>na</strong> imagem da Instituição, foi o PPA<strong>do</strong> Governo Federal elabora<strong>do</strong> com amplaparticipação da sociedade civil em 2003, e,que provocou a necessária adequação da


624 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVCAIXA à nova conjuntura política, econômicae social <strong>do</strong> Brasil, o que foi feito atravésda elaboração <strong>do</strong> planejamento estratégico daEmpresa com a participação <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s.Esse planejamento ou o PPA CAIXAjá acarretou <strong>na</strong> mudança <strong>do</strong>s processos <strong>na</strong>megaestrutura da matriz, mudanças quedevem se estender aos pontos de venda,trazen<strong>do</strong> benefícios aos clientes.Fi<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong>Neste momento, a CAIXA, pautada pelaconjuntura de seu microambiente, e, pelastransformações <strong>do</strong> macroambiente, dentreelas, as políticas e as <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>nceiro,segun<strong>do</strong> as quais, obedecen<strong>do</strong> às orientaçõesda política monetária <strong>do</strong> atual Governo, osjuros devem ser reduzi<strong>do</strong>s, e, por conseguinte,os lucros bancários também, está revisan<strong>do</strong>muitos <strong>do</strong>s seus processos, inclusive emmarketing e comunicação. Porém, em qualquercircunstância, é utópico afirmar que alcançaráa excelência no planejamento desses <strong>do</strong>issetores, uma vez que não há como assegurarque os investimentos em logística virão a tempode atender as novas demandas da CAIXA nomerca<strong>do</strong>, melhoran<strong>do</strong> o atendimento e, portanto,a sua imagem. No entanto, com base <strong>na</strong>sdiscussões <strong>do</strong>s elementos relata<strong>do</strong>s no presentediagnóstico, e não obstante o clima deindefinições <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>nceiro brasileiro,acredita-se que o novo modelo conceitual decomunicação integrada da CAIXA agrega anecessidade de revisão permanente, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>se,essencialmente, ciclodinâmico.


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626 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO627O Marketing político encara<strong>do</strong> como agentede progressão da comunicação em política 1Antónia Cristi<strong>na</strong> Perdigão 2Com o propósito de reflectir sobre algumasdas questões que mais se impuseramnuma proposta de re-pensamento <strong>do</strong>marketing político actual, sugere-se, emprimeiro lugar, que este tem desempenha<strong>do</strong>um papel activo e importante ao nível <strong>do</strong> quese desig<strong>na</strong> por progressão da comunicaçãoem política. Nas últimas décadas, uma dassuas características <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes tem si<strong>do</strong> aimageficação (política) e contribuiu parareforçar o critério <strong>do</strong>s autores que defendemo seu, não unânime, estatuto metafórico. Emsegun<strong>do</strong> lugar, e face ao actual perío<strong>do</strong> detransição em que se insere, apresentam-sealguns si<strong>na</strong>is da sua caducidade e daconsequente necessidade de um re-investimentoético-político de mo<strong>do</strong> a que o seuespaço, em termos políticos e comunicacio<strong>na</strong>is,se possa revestir de uma nova significaçãoe contribuir para o necessáriorejuvenescimento da representação democrática.1. A Imageficação e o seu Significa<strong>do</strong> Sociale PolíticoDesig<strong>na</strong>-se por imageficação a culturacomunicacio<strong>na</strong>l que se caracteriza pelo pre<strong>do</strong>mínioda imagem sobre a palavra ou <strong>do</strong>ver sobre o pensar. Ou seja, pelo pre<strong>do</strong>mínio<strong>do</strong> pathos, entendi<strong>do</strong> como (apelo à) emoção,aos afectos e ao desejo, sobre o logosencara<strong>do</strong> no seu senti<strong>do</strong> restrito de palavra,razão ou pensamento 3 . O seu ethos, carácterou disposição (mo<strong>do</strong> de ser), parece residirprecisamente <strong>na</strong> ausência desse logos, ou, oque significa o mesmo, ter-se eclipsa<strong>do</strong> sobo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sugestivo e da atractividadeinstantânea, irreflectida e efémera.Supera<strong>do</strong> o paradigma cartesiano, é comose a cultura pós-moder<strong>na</strong> reagisse aosolipsismo <strong>do</strong> cogito através de um solipsismo<strong>do</strong> pathos. Neste senti<strong>do</strong>, a imagem nãocontém o actor social ou o actor político jáque ele é expurga<strong>do</strong> pelas várias silhuetasde si mesmo que dissimulam a suaintencio<strong>na</strong>lidade inicial. A dissemi<strong>na</strong>çãomassificada e liberalizada propõe aos actoressociais que eles se anulem como perso<strong>na</strong> faceà sua imagem e, de um mo<strong>do</strong> geral, o desafioparece ser aceite. A ubiquidade das imagensé profundamente dissimula<strong>do</strong>ra <strong>na</strong> medida emque a “presença” corresponde ao eclipse (quese impõe, mas não se diz) <strong>do</strong> logos e a umacerta subversão <strong>do</strong> ethos pelas característicasda própria dissemi<strong>na</strong>ção. O modelo da transparênciaparece dissimular inevitavelmente aopacidade <strong>do</strong> seu interior que se tornouausência de ser num contorno i<strong>na</strong>bita<strong>do</strong>.Assim entendi<strong>do</strong>, sugere-se que a suadialéctica é, então, de supressão (<strong>do</strong> logose <strong>do</strong> ethos pelo pathos) e de dissimulação(da opacidade pela transparência).Na “era” da inteligência emocio<strong>na</strong>l 4 , aimageficação encarada ape<strong>na</strong>s como culturada(s) imagem(s) representa, por si mesma,o esvaziamento da própria emoçãoempobrecida como estimulação <strong>do</strong> sentir apartir <strong>do</strong> ver, e <strong>do</strong> emocio<strong>na</strong>r a partir de umreflexo puramente condicio<strong>na</strong><strong>do</strong> aomimetismo e à repetição. O jogo <strong>do</strong> consumoprocura a emocio<strong>na</strong>lidade, não a emoção.Neste jogo, a imagem é criada para serprocurada como consumo e não tanto comoexperiência estética ou reflexiva.A ideia de imageficação política, por suavez, vem responder ao contágio generaliza<strong>do</strong><strong>do</strong> processo de imageficação enquanto fenómenoprofundamente a-crítico e a-reflexivo.As características <strong>do</strong> processo de profissio<strong>na</strong>lização<strong>do</strong> marketing político, ao longo <strong>do</strong>século XX, para ele muito contribuíram.O universo político é emblemático, a nívelhistórico, de momentos elegíveis com baseno pre<strong>do</strong>mínio da imagem sobre a palavrasem que se lhe tivesse atribuí<strong>do</strong> o epítetode imageficação ou imageficação política. Éque em nenhum desses momentos o homemse confrontou com uma tão grande ausênciade si mesmo como ser ético. O actor político


628 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVparece adaptar-se cada vez mais ao modelode cidadania consumista em que, <strong>na</strong> nossaperspectiva 5 , o cidadão parece ser secundárioem relação ao seu próprio custo. O podercomo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção parece ter-se desloca<strong>do</strong> paraa ditadura da imagem no senti<strong>do</strong> em que,como refere Manuel Castells 6 , o que édetermi<strong>na</strong>nte já nem é o estar <strong>na</strong> televisão,mas o não estar, porque o que não existe<strong>na</strong> televisão, não existe.2. O Marketing Político e a Progressão daComunicação em PolíticaIntroduzi<strong>do</strong>s os conceitos de imageficaçãoe imageficação política, propõe-se agora aideia de um caminho de interpretação daproximidade a que se passou a assistir entreestes e o marketing político moderno.Quase <strong>na</strong>da é pacífico no que diz respeitoao marketing político. A começar pelasua terminologia, a sua definição e a sua“história” 7 . O único aspecto que parece reunirconsenso e u<strong>na</strong>nimidade prende-se com a suainscrição no espaço. O conjunto <strong>do</strong>s diferentesfenómenos políticos e comunicacio<strong>na</strong>isque ele desig<strong>na</strong> tem si<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> e aceitepor to<strong>do</strong>s <strong>na</strong> sua circunscrição ao interior dasfronteiras <strong>do</strong>s países democráticos ocidentais 8 .Neste senti<strong>do</strong>, a sua emergência foi favorecidapor um espaço político 9 , e não tanto por umespaço geográfico.Em resposta a uma preocupação hermenêutica,o marketing político será, antes de mais,perspectiva<strong>do</strong> como fruto <strong>do</strong> seu contexto. Destaforma, a principal referência deixa de ser a dasua “história” para passar a ser a da suaprogressão. O que se procura não é tanto asucessão e o encadeamento <strong>do</strong>s diferentesmomentos da sua evolução, mas sim o senti<strong>do</strong>que ele teve em cada um desses momentos ea forma como cada um deles contribuiu paraa sua compreensão. Ou seja, de que mo<strong>do</strong>(s)a procura das “origens” <strong>do</strong> marketing políticonos leva ao encontro de diferentes senti<strong>do</strong>s emomentos <strong>do</strong> próprio homem <strong>na</strong> sua condiçãode ser-com-os-outros-no-mun<strong>do</strong>.Não se trata, portanto, aqui, de expor oudiscutir diferentes modelos de marketingpolítico 10 , nem os diferentes critérios quefundamentam as suas diferentes definições 11 ,nem tão pouco os diferentes tipos demarketing político que se podem admitir 12 .Neste senti<strong>do</strong>, propõe-se um des<strong>do</strong>bramentoda progressão <strong>do</strong> marketing políticoem três grandes gerações, a embrionária, ade profissio<strong>na</strong>lização e a de expansão, cadauma das quais é intermediada em relação àseguinte por um perío<strong>do</strong> de transição e recontextualização.Tão fundamental é aquiloque as distingue como o que as aproxima.Acima de tu<strong>do</strong>, é à luz desta distinção queos conceitos de imageficação e imageficaçãopolítica conquistam o seu peso e a suaimportância.2.1. Sobre a Ideia de Uma GeraçãoEmbrionária <strong>do</strong> Marketing PolíticoA admitir-se, esta primeira geração demarketing político tem início <strong>na</strong> culturaclássica e a sua influência mantém-se até àchegada da «Galáxia de Gutenberg» 13 , alturaem que o mun<strong>do</strong> ocidental entra num perío<strong>do</strong>de transição que termi<strong>na</strong> nos inícios<strong>do</strong> século XX, com o começo da geraçãoseguinte.É entendida como “embrionária” por serdurante este intervalo de tempo que emergea afirmação, o recurso e a promoção de umconjunto fundamental e decisivo de diferentestécnicas e estratégias de comunicação, emsenti<strong>do</strong> lato, que têm suporta<strong>do</strong>, manti<strong>do</strong> epromovi<strong>do</strong> a comunicação em política aolongo <strong>do</strong> tempo e que, consequentemente,estão também <strong>na</strong> base <strong>do</strong> que se designoudepois, e ainda hoje, por marketing políticomoderno.Pode dizer-se que a ideia desta geraçãose revê <strong>na</strong> tese segun<strong>do</strong> a qual o marketingpolítico sempre existiu 14 . Propõe-se a ideiade que as condições políticas e institucio<strong>na</strong>isnecessárias à existência <strong>do</strong> marketing político,o modelo democrático e os seus pressupostos,tiveram a sua primeiraconcretização <strong>na</strong> Polis grega. De facto, emtermos políticos, Ate<strong>na</strong>s representa a génese.Foi aí que, no perío<strong>do</strong> que tem início noséculo V a.C., se deu «a invenção da política»15 e teve origem tanto a ideia ocidentalda cultura 16 como a própria democraciapluralista ocidental cujo critério é a existênciade eleições livres. Este, por sua vez,pressupõe a concretização de três condições:a liberdade de candidatura, a liberdade desufrágio e a liberdade de escrutínio. Naquela


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO629altura, estas condições estavam presentes noideal de isonomia, que desig<strong>na</strong>va a igualdadeperante a lei, e de eleuteria ou igualdadepolítica cuja essência residia simultaneamente<strong>na</strong> isocratia, a igualdade de poder ou dedireito de participação, e <strong>na</strong> isogonia que sereferia à igualdade de voz ou de direito deexpressão. A este ideal subjazem já, portanto,os <strong>do</strong>is princípios democráticos fundamentais:o da maioria, que equivale ao ingressoda massa <strong>na</strong> actividade política; e o daigualdade perante a lei conducente à noçãode cidadania reconhecida como vínculosocial. Além disso, a lei, que não dispensaum ideal político de justiça, remete para aexperiência da prática política através dacriação das leis (e não ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong> seu cumprimento).Esta concepção da “gestão da vida pública”,de to<strong>do</strong>s, por to<strong>do</strong>s e para to<strong>do</strong>s,tornou inevitável a promoção e a fundamentaçãode técnicas e estratégias comunicacio<strong>na</strong>isde que temos vários testemunhos 17retoma<strong>do</strong>s e continua<strong>do</strong>s posteriormente pelacultura roma<strong>na</strong> 18 . A herança que nos ficoudeste perío<strong>do</strong> é riquíssima e mantém-se actualem inúmeros aspectos 19 . Uma parte importante<strong>do</strong> que constitui o marketing políticoactual consiste precisamente numa recuperação,adaptação e reorganização desta herançaem função <strong>do</strong> contexto moderno e pósmoderno.Do ponto de vista comunicacio<strong>na</strong>l, omedia da época era a agora e, apesar daquestão que se prende com a não abrangênciada democracia ateniense 20 , o espaço públicoera a massa composta pelos cidadãos reconheci<strong>do</strong>scomo membros da sociedade echama<strong>do</strong>s a pensar e a decidir sobre a vidapública. Assim, as exigências de um discursopúblico persuasor requeriam o ensino e aaprendizagem da sua arte (techne), <strong>na</strong>s suasdiferentes formas possíveis. Numa óptica demarketing político moderno, os sofistas queofereciam publicamente, por dinheiro, oensino de tal virtude seriam decerto considera<strong>do</strong>smarketers ou consultores políticos.Da mesma forma que se desig<strong>na</strong>ria por«media training» o facto de Demóstenestrei<strong>na</strong>r a sua oralidade pon<strong>do</strong> seixos <strong>na</strong> boca 21 .No entanto, de acor<strong>do</strong> com a concepçãogrega, qualquer uma destas situações se inserenuma teleologia da educação <strong>do</strong> espírito,<strong>na</strong> multiplicidade das suas modalidades,concebida sempre a partir da sua unidadee com base numa formação realista queassenta numa ideia geral de cultura éticopolítica.Uma das características da retórica clássicaé, por exemplo, a importância reconhecidaà imagem <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r. Contu<strong>do</strong>, apaideia 22 , impedia, pela sua <strong>na</strong>tureza própria,o desenvolvimento de um processo deimageficação. A ideia grega da formaçãohuma<strong>na</strong> pressupôs sempre a unidade entre ologos, o pathos e o ethos. A Retórica deAristóteles é o seu expoente máximo. Os trêsmeios de persuasão são claramente defini<strong>do</strong>s:as provas de argumentação com verdade(logos), as provas para despertar emoção nosouvintes (pathos) e as provas da capacidadede se ser credível que está, ou não, presenteno carácter <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r (ethos). Em conjunto,formam o raciocínio entimemático e devemser encara<strong>do</strong>s <strong>na</strong> sua inter-relação hierárquica:to<strong>do</strong>s eles são provas, ou seja, to<strong>do</strong>s eles,<strong>na</strong> sua complementaridade necessária, pressupõemem si mesmos um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> logosque os justifica e lhes dá senti<strong>do</strong>. Por estarazão, caracterizamos a dialéctica que lhesubjaze como sen<strong>do</strong> dialógica e de reconhecimento23 <strong>na</strong> medida em que a palavra e ogesto são pensa<strong>do</strong>s e agi<strong>do</strong>s no seio de umaética da intersubjectividade que, apesar depensada a partir <strong>do</strong> social, procura ir aoencontro <strong>do</strong> sujeito.Da mesma forma que impede aimageficação, esta dialéctica inviabiliza aexistência de marketização, mas não a existênciade marketing. A necessidade de alargamento<strong>do</strong>s horizontes citadinos manifestou-se<strong>na</strong> importância atribuída à entrada deAte<strong>na</strong>s no mun<strong>do</strong> inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, com a economia,o comércio e a política subsequentesàs guerras contra os Persas. Se, como refereDomingos Silva 24 , o termo “marketing” significa,numa perspectiva dinâmica, o que estárelacio<strong>na</strong><strong>do</strong> com a troca e as suas causas,origens, características, intervenientes, desenvolvimentos,consequências e repetibilidade,ele concerne decerto à actividade huma<strong>na</strong>mais antiga até porque, nesse senti<strong>do</strong>, aprimeira troca (falhada, como refere o autor)de que há notícia ocorreu no Paraíso.


630 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV2.2. A Geração de Profissio<strong>na</strong>lização <strong>do</strong>Marketing PolíticoEste perío<strong>do</strong> de desenvolvimento <strong>do</strong>marketing político colmata o perío<strong>do</strong> detransição que sucede a sua forma embrionária.Este, por sua vez, e apesar de transitório,não perde importância. É nele que surge umanova civilização: a da era tecnológica 25 . Emtraços gerais, pode dizer-se que a descobertada imprensa viria criar uma fronteira entrea cabeça e o coração. Acentuou as repercussõesda descoberta <strong>do</strong> alfabeto e caracterizouum perío<strong>do</strong> de transição entre uma culturaoral e uma cultura visual 26 . Introduziu atécnica da máqui<strong>na</strong> e as características dauniformização e da homogeneidade que seforam estenden<strong>do</strong> ao pensamento moderno(individual) e ao merca<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong>rias esua distribuição. O novo “estilo” traduzia,portanto, o eclipse da colectividade ante oindivíduo e <strong>do</strong> homem unitário ante o homemcindi<strong>do</strong>. A memória deixou de ser oúnico meio de conservar informação e osenti<strong>do</strong> literal de um texto deixou de ser oseu único senti<strong>do</strong>. A introdução da tipografia<strong>na</strong> vida social deslocou a sua estrutura tradicio<strong>na</strong>le o incremento da quantidade deinformação veio favorecer uma organizaçãovisual <strong>do</strong> conhecimento. Numa óptica demarketing político, este perío<strong>do</strong> de transiçãoculmi<strong>na</strong> no século XIX uma vez que se assistea uma certa marketização da política pela mãodas campanhas presidenciais america<strong>na</strong>s 27 .Decorri<strong>do</strong> aquele perío<strong>do</strong>, parece indiscutívelo facto de o seu arranque se ter da<strong>do</strong>nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, em funçãode circunstâncias políticas e tecnológicas maisfavoráveis. Contu<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com umcritério de profissio<strong>na</strong>lização 28 , o marketingpolítico moderno surgiu nos anos 30 (1933),no Esta<strong>do</strong> da Califórnia com a criação daprimeira sociedade especializada <strong>na</strong> organizaçãode campanhas de “moldagem” ou“fabricação” da opinião pública e a expressão“marketing político” terá si<strong>do</strong> usada pelaprimeira vez em 1956 por Stanley Kelley 29 .Segun<strong>do</strong> Michel Bongrand 30 , que tem comocritério a evolução das técnicas de comunicação,o marketing político moderno arrancouem 1936, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s daAmérica, e em 1965, em França. PhilippeMaarek 31 , por sua vez, encara-o como umprocedimento global de comunicação políticae, nesta óptica, a campanha de HarryTruman, em 1948, é apontada como a últimasem o novo procedimento comunicacio<strong>na</strong>l.Se for tida em consideração a cronologia das«idades» propostas por este último, o ano de1952, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, dáinício à infância <strong>do</strong> marketing político destasegunda geração que, em França, teria início<strong>do</strong>is anos depois. É durante esta fase deinfância que acontece o primeiro “debatedecisivo” (Kennedy/Nixon).Depois da a<strong>do</strong>lescência e da idade adulta,a campanha presidencial de Bill Clinton, em1992, trouxe mudanças visíveis <strong>na</strong> concepçãoda imagem <strong>do</strong> candidato 32 . Consideramos queesta companha, juntamente com a de 1996,encerra um ciclo de relativo apogeu quedesig<strong>na</strong>mos de maturidade <strong>do</strong> marketing políticomoderno ten<strong>do</strong> em consideração a “filosofia”desta segunda geração, a saber, a damarketização da imagem e da suplantação <strong>do</strong>poder da palavra pelo da imagem e <strong>do</strong> ícone.No caso português, temos uma sequenciaçãonecessariamente diferente uma vez que noperío<strong>do</strong> anterior a 1974 a ideia de um marketingpolítico (que sempre se estruturou com base <strong>na</strong>liberdade de informação) seria impensável faceà vigência da acção propagandística <strong>do</strong> regimepolítico de então 33 . Como chegou tardiamente,tem ainda pouco tempo de progressão e amadurecimento.A riqueza <strong>do</strong>s elementos favoráveisao seu desenvolvimento em Portugal 34 têm,segun<strong>do</strong> o critério de Marcelo Rebelo de Sousa 35 ,a sua fase de novidade (ou <strong>na</strong>scimento) e ensaiono perío<strong>do</strong> que decorreu entre 1974 e 1979 eevoluíram, por necessidade, até à sua generalização.Não o consideramos particularmentecriativo e pensamos que a globalização terácontribuí<strong>do</strong> para o di<strong>na</strong>mismo tardio <strong>do</strong>s últimosanos traduzin<strong>do</strong> uma preocupação acrescidaem “acompanhar os tempos”.Pode, então, dizer-se que de 1950 a 1980se viveu com uma concepção mais culturale política <strong>do</strong> público, <strong>do</strong>s públicos e <strong>do</strong>serviço público, e de 1980 a 2000 se assistiuà emergência de instrumentos liga<strong>do</strong>s ao factode os públicos e o público se irem tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>tanto uma merca<strong>do</strong>ria como um valor 36 . Noseu conjunto, esta segunda geração é aquipensada como geração <strong>do</strong> marketing-político-metáfora.Não por o considerarmos em simesmo uma metáfora, mas pela forma como


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO631foi assumi<strong>do</strong> culturalmente. Coadjuva<strong>do</strong> pelosmedia, com destaque para a televisão quechegou a ser «o símbolo da sociedade demassas» 37 , o marketing político foi o palco datransformação da política e <strong>do</strong> simbolismo <strong>do</strong>sactores políticos. Não só a política passou aser vista como consumo 38 , numa óptica demerca<strong>do</strong>, como também o cidadão e o eleitorpassaram ao estatuto de consumi<strong>do</strong>r, e o actorpolítico a uma espécie de produto. To<strong>do</strong>spartilham o mesmo tipo de relação com o real:a imagem. E o mesmo tipo de indistinção: entreo verdadeiro e o falso, a partir <strong>do</strong> momentoem que a imagem se tornou o próprio real 39 .Em 1993, Douglas Gomery publicou, noWilson Quarterly, o resulta<strong>do</strong> de um estu<strong>do</strong>de acor<strong>do</strong> com o qual 54% duma amostra,composta por crianças com idades compreendidasentre os quatro e os seis anos a quemperguntaram de quem gostavam mais, se <strong>do</strong>spais ou da televisão, escolheu a televisão 40 .Na linguagem de Giovanni Sartori 41 , são comcerteza «videocrianças» cujo «videoviver» éo «telever» que está a mudar a <strong>na</strong>tureza <strong>do</strong>homem: «a televisão modifica radicalmente(empobrecen<strong>do</strong>-o) o aparelho cognitivo <strong>do</strong>Homo Sapiens» 42 , <strong>na</strong> medida em que passoua dar primazia ao «Homo videns» (pathos).3. A Caducidade da Metáfora <strong>do</strong>Marketing Político e a Era da InformaçãoDe acor<strong>do</strong> com o critério que aqui foiproposto e segui<strong>do</strong>, encontramo-nos de novonum perío<strong>do</strong> particularmente importante detransição. Já não para a «Galáxia deGutenberg», mas para a «Galáxia Internet» 43<strong>na</strong> qualidade de um «novo mun<strong>do</strong> da comunicação»que possibilita, pela primeiravez, «a comunicação de muitos para muitosem tempo escolhi<strong>do</strong> e a uma escala global»44 .Na geração que fica para trás, o marketingpolítico informacio<strong>na</strong>l 45 alimentou aperso<strong>na</strong>lização da política «num mun<strong>do</strong> decriação de imagens» e foi fican<strong>do</strong> ao serviçoda ideologia <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, a saber, a«desideologia» 46 , fazen<strong>do</strong>-a passar sem pareceruma nova ideologia.A caducidade <strong>do</strong> marketing-políticometáforaadvém <strong>do</strong> facto de a política nãoser, por <strong>na</strong>tureza, e apesar <strong>do</strong> carácter público,nem um merca<strong>do</strong> nem um consumível.Durante algum tempo, as circunstânciaslegitimaram o mimetismo packaging. Nosalvores da terceira geração <strong>do</strong> marketingpolítico, uma geração de expansão, é importanteque o marketing político pós-modernotrabalhe ao encontro <strong>do</strong>s novos contextos quese aproximam, embora não seja só em matériade marketing político que se carece dumarenovação de valores. Neste perío<strong>do</strong> de transição,é indispensável uma crítica reflexiva,construída também de logos e de ethos, sobrecomunicação, cultura e política, ten<strong>do</strong> comopropósito um novo mo<strong>do</strong> de relação-com-omun<strong>do</strong>.


632 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAAVV, Inside the Mind of the Leader(Special Issue), Harvard Business Review,2004, Vol. 82(1).Achache, Gilles, Le Marketing Politique,Hermès: Cognition, Communication,Politique, Vol. 4: Le Nouvel Espace Public,Paris, CNRS Édition, 1989, pp. 103-112.Albouy, Serge, Marketing etCommunication Politique, Paris, Éditionsl’Harmattan, 1994.Arco<strong>na</strong>da, Mario H., Teoría y Técnicade la Propaganda Electoral (FormasPublicitarias), Barcelo<strong>na</strong>, ESRP – PPU, 1989.Aristóteles, Retórica, Lisboa, ImprensaNacio<strong>na</strong>l – Casa da Moeda, 1998.Aristóteles, La Poétique, Paris, Éditionsdu Seuil, 1980, [cf. para a edição portuguesa:Poética, Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l –Casa da Moeda, 1986]Baines, Paul R., Bren<strong>na</strong>n, Ross & Egan,John, “Market” Classification and PoliticalCampaigning: Some Strategic Implications,Jour<strong>na</strong>l of Political Marketing, 2003, Vol.2(2), pp. 47-66.Baines, Paul R., Marketing and PoliticalCampaigning in the US and the UK: What Canthe UK Political Parties Learn for theDevelopment of a Campaign Ma<strong>na</strong>gementProcess Model?, PhD Thesis at ManchesterSchool of Ma<strong>na</strong>gement, 2001, [disponível em:http://www.scirus.com (Consulta: 2003-03-16)].Bizzell, Patricia & Herzberg, Bruce(Eds.), The Rhetorical Tradition: Readingsfrom Classical Times to the Present (2 nd ed.),Boston and New York, Bedford/St. Martin’s,2001.Bongrand, Michel, Le MarketingPolitique (2 e éd.), Paris, P.U.F., 1993.Breton, Philippe & Proulx, Serge, AExplosão da Comunicação (1ª ed. portg.),Lisboa, Editorial Bizâncio, 1997.Cádima, Francisco R., O FenómenoTelevisivo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996.Cádima, Francisco R., Salazar, Caetanoe a Televisão Portuguesa (1ª ed.), Lisboa,Editorial Presença, 1996.Castells, Manuel, A Galáxia Internet:Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade,Lisboa, Fundação CalousteGulbenkian, 2004.Castells, Manuel, A Era da Informação:Economia, Sociedade e Cultura, Vol. II: OPoder da Identidade, Lisboa, FundaçãoCalouste Gulbenkian, 2003.Caze<strong>na</strong>ve, H., Marketing Politique, inSfez, Lucien (Ed.), Diction<strong>na</strong>ire Critique dela Communication (Vol. 2), Paris, P.U.F.,1993, pp. 1377-1392.Cícero, De Oratore, in Bizzell, Patricia& Herzberg, Bruce (Eds.), The RhetoricalTradition: Readings from Classical Timesto the Present (2 nd ed.), Boston and NewYork, Bedford/St. Martin’s, 2001, pp. 289-339.Cornelissen, Joep P., MetaphoricalReasoning and Knowledge Generation: TheCase of Political Marketing, Jour<strong>na</strong>l ofPolitical Marketing, 2002, Vol. 1(1), 193-208.Coutinho, Alexandre, Como se Faz UmPresidente (1ª ed.), Lisboa, Edições «OJor<strong>na</strong>l», 1990.David, Dominique, Quintric, Jean-Michel & Schroeder, Henri-Christian, LeMarketing Politique (1 re éd.), Paris, P.U.F.,1978.Fidalgo, António, Definição de Retóricae Cultura Grega, 2001, [disponível em: http://bocc.ubi.pt (consulta: 2003-04-23)].Górgias, Encomium of Helen, in Bizzell,Patricia & Herzberg, Bruce (Eds.), TheRhetorical Tradition: Readings from ClassicalTimes to the Present (2 nd ed.), Boston andNew York, Bedford/St. Martin’s, 2001, pp.44-46.Hegedus, Chris & Pennebaker, Da, TheWar Room [DVD], Pennebaker Associates &McEttinger Films, 1993.Holland, Patricia, The TelevisionHandbook (2 nd ed.), Lon<strong>do</strong>n and New York,Routledge, 2000.Isócrates, Anti<strong>do</strong>sis, in Bizzell, Patricia& Herzberg, Bruce (Eds.), The RhetoricalTradition: Readings from Classical Times tothe Present (2 nd ed.), Boston and New York,Bedford/St. Martin’s, 2001, pp. 75-79.Jaeger, Werner, Paideia: A Formação <strong>do</strong>Homem Grego, Lisboa, Editorial Aster, 1979.Jeudy, Henri-Pierre, Les Vertiges de laMédiation, in Bragança de Miranda, José A.& Silveira, Joel F. da (Org.), As Ciências daComunicação: Na Viragem <strong>do</strong> Século, Lisboa,Edições Século XXI, 2002, pp. 48-55.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO633Kelley, Stanley, Professio<strong>na</strong>l PublicRelations and Political Power (1 st paperbacked.), Baltimore, The Johns Hopkins Press,1966 [ed. origi<strong>na</strong>l publicada em 1956].Kotler, Philip & Kotler, Neil, PoliticalMarketing: Generating Effective Candidates,Campaigns, and Causes, in Newman, BruceI. (Ed.), Handbook of Political Marketing (1 sted.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and New Delhi,Sage Publications, 1999, pp. 3-18.Kotler, Philip, Overview of PoliticalCandidate Marketing, in Newman, Bruce I.& Sheth, Jagdish N. (Eds.), PoliticalMarketing: Readings and AnnotatedBibliography, Chicago, Illinois, AmericanMarketing Association, pp. 1-9.LaGrandeur, Kevin, Digital Images andClassical Persuasion, in Hocks, Mary E. &Kendrick, Michelle R. (Eds.), EloquentImages: Word and Image in the Age of NewMedia, Cambridge and Lon<strong>do</strong>n, MIT Press,2003.Lanham, Richard A., A Handlist ofRhetorical Terms (2 nd ed.), Berkeley, LosAngeles and Lon<strong>do</strong>n, University of CaliforniaPress, 1991.Leach, Joan, Análise Retórica, in Bauer,Martin W. & Gaskell, George, PesquisaQualitativa com Texto, Imagem e Som (2ª ed.),Petrópolis, Editora Vozes, 2003, pp. 293-318.Lees-Marshment, Jennifer, PoliticalMarketing and British Political Parties: TheParty’s Just Begun (1 st ed.), Manchester andNew York, Manchester University Press,2001.Lin<strong>do</strong>n, Denis, Le marketing politique,Paris, Dalloz, 1986.Lock, Andrew & Harris, Phill, PoliticalMarketing – Vive la Difference!, EuropeanJour<strong>na</strong>l of Marketing, 1996, Vol. 30(10/11),pp. 21-31.Luque, Teo<strong>do</strong>ro, Marketing Político: UnAnálisis del Intercambio Político (1ª ed.),Barcelo<strong>na</strong>, Editorial Ariel, 1996.Maarek, Philippe J., Marketing Políticoy Comunicación: Claves Para U<strong>na</strong> Bue<strong>na</strong>Información Política, Barcelo<strong>na</strong>, BuenosAires y México, Paidós, 1997.Maarek, Philippe J., Pour ou Contre leMarketing Politique? Elections et Television:Actes du Colloque, Valence, Crac, 1993, pp.79-83.Maarek, Philippe J., Communication etMarketing de l’Homme Politique, Paris, Litec,1992.Maltez, José A., Princípios de CiênciaPolítica: Introdução à Teoria Política (2ª ed.),Lisboa, ISCSP – UTL, 1996.Mauser, Gary A., Political Marketing: AnApproach to Campaign Strategy, New York,Praeger Publishers, 1983.McLuhan, Marshall, The GutenbergGalaxy: The Making of Typographic Man,Toronto, University of Toronto Press,1962.Newman, Bruce I., The Mass Marketingof Politics: Democracy in an Age ofManufactured Images (1 st ed.), ThousandOaks, Lon<strong>do</strong>n and New Delhi, SagePublications, 1999.Newman, Bruce I., The Marketing of thePresident: Political Campaign as CampaignStrategy (1 st ed.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong><strong>na</strong>nd New Delhi, Sage Publications, 1994.O’Shaughnessy, Nicholas J., ThePhenomenon of Political Marketing (1 st ed.),New York, St. Martin’s Press, 1990.Paquete de Oliveira, José M., A DitaduraInvisível. «Desideologia»: A ideologia<strong>do</strong>s Nossos Tempos, in II Fórum Eleitoral– Sociologia Eleitoral, Lisboa, ComissãoNacio<strong>na</strong>l de Eleições, 1993, pp. 77-90.Parisi, Francesco, Votes and Outcomes:Rethinking the Politics-like-marketsMetaphor, European Jour<strong>na</strong>l of Law andEconomics, 13, pp. 183-192.Perdigão, Antónia C., A Ética <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong><strong>na</strong> Intervenção Comunitária e Social:Os Pressupostos Filosóficos, Análise Psicológica,2003, Vol. XXI (4), pp. 485-497.Perloff, Richard M., Elite, Popular andMerchandised Politics: Historical Origins ofPresidential Campaign Marketing, inNewman, Bruce I. (Ed.), Handbook ofPolitical Marketing (1 st ed.), Thousand Oaks,Lon<strong>do</strong>n and New Delhi, Sage Publications,1999, pp. 19-40.Platão, Fedro (3ª ed.), Lisboa, GuimarãesEditores, 1986.Platão, A República (4ª ed.), Lisboa,Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.Quintiliano, Institutes of Oratory, inBizzell, Patricia & Herzberg, Bruce (Eds.),The Rhetorical Tradition: Readings from


634 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVClassical Times to the Present (2 nd ed.),Boston and New York, Bedford/St. Martin’s,2001, pp. 364-428.Rebelo de Sousa, Marcelo, Comentário,in Ruas <strong>do</strong>s Santos, Margarida, MarketingPolítico, Mem Martins, Edições Cetop, 1996,pp. 88-89.Ricœur, Paul, Parcours de laRecon<strong>na</strong>issance: Trois Études, Paris, ÉditionsStock, 2004.Ruas <strong>do</strong>s Santos, Margarida, MarketingPolítico, Mem Martins, Edições Cetop, 1996.Sabato, Larry J., The Rise of PoliticalConsultants, New York, Basic Books, 1981.Sartori, Giovanni, Homo Videns: Televisãoe Pós-pensamento (1ª ed. portg.),Lisboa, Terramar, 2000.Silva, Domingos A. B. da, Prefácio àEdição Portuguesa, in Lambin, Jean-Jacques,Marketing Estratégico (4ª ed.), Ama<strong>do</strong>ra,Editora McGraw-Hill de Portugal, 2000, pp.XXI-XXII.Stallabrass, Julian, Gargantua:Manufactured Mass Culture (1 st ed.), Lon<strong>do</strong><strong>na</strong>nd New York, Verso, 1996.Stephens, Mitchell, The Rise of the Imageand the Fall of the Word (1 st ed.), New Yorkand Oxford, Oxford University Press, 1998.Tschichold, Jan, The New Typography:A Handbook for Modern Designers (1 stpaperback ed.), Berkeley, Los Angeles andLon<strong>do</strong>n, University of California Press, 1998.Welch, Kathleen, Electric Rhetoric:Classical Rhetoric, Oralism, and a NewLiteracy, Cambridge and Lon<strong>do</strong>n, MIT Press,1999.Wolton, Dominique, Avant-Propos:Audience et Publics: Économie, Culture,Politique, Hermès: Cognition, Communication,Politique, Nº 37: L’Audience: Press, Radio,Télévision, Internet, Paris, CNRS Éditions,2004, pp. 27-34._______________________________1A presente comunicação está associada a umaTese de Doutoramento inscrita no ISCTE, <strong>na</strong>especialidade de Sociologia da Cultura e daComunicação, e foi fi<strong>na</strong>nciada pela FCT (ProgramaPRAXIS XXI) e pelo FSE no âmbito <strong>do</strong> IIIQuadro Comunitário de Apoio. Adverte-se parao facto <strong>do</strong> presente texto não corresponder <strong>na</strong>íntegra à comunicação oral apresentada no Congresso.2Instituto Superior de Psicologia Aplicada/Instituto Superior de Ciências <strong>do</strong> Trabalho e daEmpresa.3Para um aprofundamento destes termos <strong>na</strong>sua complementaridade sugere-se, por exemplo,Joan Leach, Análise Retórica, in Martin W. Bauer& George Gaskell, Pesquisa Qualitativa comTexto, Imagem e Som (2ª ed.), Petrópolis, EditoraVozes, 2003, pp. 293-318; Patricia Bizzell & BruceHerzberg (Eds.), The Rhetorical Tradition:Readings from Classical Times to the Present (2 nded.), Boston and New York, Bedford/St. Martin’s,2001; Richard A. Lanham, A Handlist of RhetoricalTerms (2 nd ed.), Berkeley, Los Angeles and Lon<strong>do</strong>n,University of California Press, 1991; WernerJaeger, Paideia: A Formação <strong>do</strong> Homem Grego,Lisboa, Editorial Aster, 1979. Para uma leituraum pouco mais detalhada sobre a concepção deethos aqui proposta sugere-se Antónia C. Perdigão,A Ética <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> <strong>na</strong> Intervenção Comunitáriae Social: Os Pressupostos Filosóficos,Análise Psicológica, 2003, Vol. XXI (4), pp. 485-497.4Para uma abordagem deste conceito <strong>na</strong> suarelação com o de liderança pode consultar-se, porexemplo, AAVV, Inside the Mind of the Leader(Special Issue), Harvard Business Review, 2004,Vol. 82(1).5Uma perspectiva que obedece ape<strong>na</strong>s a umcritério reflexivo. Neste senti<strong>do</strong>, não é aquiproposta a título de “cosmovisão”, que seriacertamente redutora, mas antes como apelo àdiscussão e troca de ideias.6Cf. A Era da Informação: Economia, Sociedadee Cultura, Vol. II: O Poder da Identidade,Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,2003.7A questão da sua legitimidade passou precisamente,sem a ela se confi<strong>na</strong>r, pela respostaà pergunta que alguns autores mantiveram, comou sem tom pejorativo, como resulta<strong>do</strong> de umapostura reticente em relação ao “novo fenómeno”da comunicação em política, a saber, «o marketingpolítico existe?» (cf. Serge Albouy, Marketing etCommunication Politique, Paris, Éditionsl’Harmattan, 1994; Denis Lin<strong>do</strong>n, Le Marketingpolitique, Paris, Dalloz, 1986).8É importante referir que, consoante separtilhe, ou não, <strong>do</strong> critério aqui proposto paraa interpretação da “história” <strong>do</strong> marketing político,assim estas fronteiras democráticas desig<strong>na</strong>ma Grécia Antiga (quan<strong>do</strong> se admite a ideia de ummarketing político em senti<strong>do</strong> clássico) ou aAmérica <strong>do</strong> Norte e a Europa ocidental (quan<strong>do</strong>nos referimos ao marketing político moderno epós-moderno). Contu<strong>do</strong>, a referência é sempre enecessariamente a de um regime democrático ea <strong>do</strong> pensamento político-filosófico que lhesubjaze.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO6359H. Caze<strong>na</strong>ve, Marketing Politique, in LucienSfez (Ed.), Diction<strong>na</strong>ire Critique de laCommunication (Vol. 2), Paris, P.U.F., 1993, pp.1377-1392.10Paul R. Baines, Ross Bren<strong>na</strong>n & John Egan,“Market” Classification and PoliticalCampaigning: Some Strategic Implications,Jour<strong>na</strong>l of Political Marketing, 2003, Vol. 2(2),pp. 47-66; Paul R. Baines, Marketing and PoliticalCampaigning in the US and the UK: What Canthe UK Political Parties Learn for theDevelopment of a Campaign Ma<strong>na</strong>gement ProcessModel?, PhD Thesis at Manchester School ofMa<strong>na</strong>gement, 2001, [disponível em: http://www.scirus.com (Consulta: 2003-03-16)]; PhilipKotler & Neil Kotler, Political Marketing:Generating Effective Candidates, Campaigns, andCauses, in Bruce I. Newman (Ed.), Handbook ofPolitical Marketing (1 st ed.), Thousand Oaks,Lon<strong>do</strong>n and New Delhi, Sage Publications, 1999,pp. 3-18; Philip Kotler, Overview of PoliticalCandidate Marketing, in Bruce I. Newman &Jagdish N. Sheth (Eds.), Political Marketing:Readings and Annotated Bibliography, Chicago,Illinois, American Marketing Association, pp. 1-9; Teo<strong>do</strong>ro Luque, Marketing Político: Un Análisisdel Intercambio Político (1ª ed.), Barcelo<strong>na</strong>,Editorial Ariel, 1996; Bruce I. Newman, TheMarketing of the President: Political Campaig<strong>na</strong>s Campaign Strategy (1 st ed.), Thousand Oaks,Lon<strong>do</strong>n and New Delhi, Sage Publications, 1994;Philippe J. Maarek, Communication et Marketingde l’Homme Politique, Paris, Litec, 1992; GaryA. Mauser, Political Marketing: An Approach toCampaign Strategy, New York, Praeger Publishers,1983; entre outros.11Joep P. Cornelissen, Metaphorical Reasoningand Knowledge Generation: The Case of PoliticalMarketing, Jour<strong>na</strong>l of Political Marketing, 2002,Vol. 1(1), 193-208; Jennifer Lees-Marshment,Political Marketing and British Political Parties:The Party’s Just Begun (1 st ed.), Manchester andNew York, Manchester University Press, 2001;Richard M. Perloff, Elite, Popular andMerchandised Politics: Historical Origins ofPresidential Campaign Marketing, in Bruce I.Newman (Ed.), Handbook of Political Marketing(1 st ed.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and New Delhi,Sage Publications, 1999, pp. 19-40; Bruce I.Newman, The Marketing of the President: PoliticalCampaign as Campaign Strategy (1 st ed.),Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and New Delhi, SagePublications, 1994; idem, The Mass Marketing ofPolitics: Democracy in an Age of ManufacturedImages (1 st ed.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and NewDelhi, Sage Publications, 1999; Philippe J. Maarek,ibidem; idem, Marketing Político y Comunicación:Claves Para U<strong>na</strong> Bue<strong>na</strong> Información Política,Barcelo<strong>na</strong>, Buenos Aires y México, Paidós, 1997;Andrew Lock & Phill Harris, Political Marketing– Vive la Difference!, European Jour<strong>na</strong>l ofMarketing, 1996, Vol. 30(10/11), pp. 21-31;Teo<strong>do</strong>ro Luque, ibidem; Margarida Ruas <strong>do</strong>sSantos, Marketing Político, Mem Martins, EdiçõesCetop, 1996; Michel Bongrand, Le MarketingPolitique (2 e éd.), Paris, P.U.F., 1993; Nicholas J.O’Shaughnessy,’The Phenomenon of PoliticalMarketing (1 st ed.), New York, St. Martin’s Press,1990; Gilles Achache, Le Marketing Politique,Hermès: Cognition, Communication, Politique,Vol. 4: Le Nouvel Espace Public, Paris, CNRSÉdition, 1989, pp. 103-112; Mario H. Arco<strong>na</strong>da,Teoría y Técnica de la Propaganda Electoral(Formas Publicitarias), Barcelo<strong>na</strong>, ESRP – PPU,1989; Denis–Lin<strong>do</strong>n, ibidem; por exemplo.12Serge Albouy, ibidem; Dominique David,Jean-Michel Quintric & Henri-Christian Schroeder,Le Marketing Politique (1 re éd.), Paris, P.U.F.,1978; por exemplo.13Marshall McLuhan, The Gutenberg Galaxy:The Making of Typographic Man, Toronto,University of Toronto Press, 1962.14Paul Baines, Marketing and PoliticalCampaigning in the US and the UK: What Canthe UK Political Parties Learn for theDevelopment of a Campaign Ma<strong>na</strong>gement ProcessModel?, PhD Thesis at Manchester School ofMa<strong>na</strong>gement, 2001; H. Caze<strong>na</strong>ve, ibidem; PhilippeJ. Maarek, Pour ou Contre le Marketing Politique?Elections et Television: Actes du Colloque,Valence, Crac, 1993, pp. 79-83; Dominique David,Jean-Michel Quintric & Henri-Christian Schroeder,ibidem.15José A. Maltez, Princípios de CiênciaPolítica: Introdução à Teoria Política (2ª ed.),Lisboa, ISCSP – UTL, 1996, pp. 166.16Cf. Werner Jaeger, ibidem.17Górgias, Encomium of Helen, in PatriciaBizzell & Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 44-46; Isócrates, Anti<strong>do</strong>sis, in Patricia Bizzell & BruceHerzberg (Eds.), ibidem, pp. 75-79; Aristóteles,Retórica, Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l – Casa daMoeda, 1998; idem, La Poétique, Paris, Éditionsdu Seuil, 1980; Platão, Fedro (3ª ed.), Lisboa,Guimarães Editores, 1986; idem, A República (4ªed.), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.Para uma abordagem mais detalhada a este respeito,sugere-se António Fidalgo, Definição deRetórica e Cultura Grega, 2001, [disponível em:http://bocc.ubi.pt (consulta: 2003-04-23)].18Cícero, De Oratore, in Patricia Bizzell &Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 289-339;Quintiliano, Institutes of Oratory, in Patricia Bizzell& Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 364-428.19Cf. Kevin LaGrandeur, Digital Images andClassical Persuasion, in Mary E. Hocks & MichelleR. Kendrick (Eds.), Eloquent Images: Word andImage in the Age of New Media, Cambridge and


636 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVLon<strong>do</strong>n, MIT Press, 2003; Kathleen Welch,Electric Rhetoric: Classical Rhetoric, Oralism, anda New Literacy, Cambridge and Lon<strong>do</strong>n, MITPress, 1999; entre outros.20Cf. António Fidalgo, ibidem.21Philippe J. Maarek, Pour ou Contre leMarketing Politique? Elections et Television: Actesdu Colloque, Valence, Crac, 1993, pp. 79-83.22A paideia é universal e desig<strong>na</strong> a educaçãono senti<strong>do</strong> escrito da palavra cujo senti<strong>do</strong> se foialargan<strong>do</strong> até englobar a kalokagathia ou formaçãoespiritual consciente que pressupunha oconjunto de todas as exigências (ideais, físicas eespirituais); cf. Werner Jaeger, ibidem.23Cf. Paul Ricœur, Parcours de laRecon<strong>na</strong>issance: Trois Études, Paris, ÉditionsStock, 2004, II-1 e 4.24Domingos A. B. da Silva, Prefácio à EdiçãoPortuguesa, in Jean-Jacques Lambin, MarketingEstratégico (4ª ed.), Ama<strong>do</strong>ra, Editora McGraw-Hill de Portugal, 2000, p. XXI.25Marshall McLuhan, ibidem; Jan Tschichold,The New Typography: A Handbook for ModernDesigners (1 st paperback ed.), Berkeley, LosAngeles and Lon<strong>do</strong>n, University of CaliforniaPress, 1998.26A respeito <strong>do</strong> que pode ser pensa<strong>do</strong>, nosnossos dias, como «cultura visual» sugere-se, porexemplo, Julian Stallabrass, Gargantua:Manufactured Mass Culture (1 st ed.), Lon<strong>do</strong>n andNew York, Verso, 1996.27Cf. Richard M. Perloff, Elite, Popular andMerchandised Politics: Historical Origins ofPresidential Campaign Marketing, in Bruce I.Newman (Ed.), Handbook of Political Marketing(1 st ed.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and New Delhi,Sage Publications, 1999, pp. 19-40.28Philippe Breton & Serge Proulx, A Explosãoda Comunicação (1ª ed. portg.), Lisboa,Editorial Bizâncio, 1997; H. Caze<strong>na</strong>ve, ibidem;Larry J. Sabato, The Rise of Political Consultants,New York, Basic Books, 1981.29Stanley Kelley, Professio<strong>na</strong>l PublicRelations and Political Power (1 st paperback ed.),Baltimore, The Johns Hopkins Press, 1966 [ed.origi<strong>na</strong>l publicada em 1956].30Ibidem.31Marketing Político y Comunicación: ClavesPara U<strong>na</strong> Bue<strong>na</strong> Información Política, Barcelo<strong>na</strong>,Buenos Aires y México, Paidós, 1997;Communication et Marketing de l’HommePolitique, Paris, Litec, 1992.32Bruce I. Newman, The Mass Marketing ofPolitics: Democracy in an Age of ManufacturedImages (1 st ed.), Thousand Oaks, Lon<strong>do</strong>n and NewDelhi, Sage Publications, 1999; Chris Hegedus &Da Pennebaker The War Room [DVD], PennebakerAssociates & McEttinger Films, 1993.33Cf. Francisco R. Cádima, Salazar, Caetanoe a Televisão Portuguesa (1ª ed.), Lisboa, EditorialPresença, 1996.34Alexandre Coutinho, Como se Faz UmPresidente (1ª ed.), Lisboa, Edições «O Jor<strong>na</strong>l», 1990.35Comentário, in Margarida Ruas <strong>do</strong>s Santos,Marketing Político, Mem Martins, Edições Cetop,1996, pp. 88-89.36Dominique Wolton, Avant-Propos: Audienceet Publics: Économie, Culture, Politique, Hermès:Cognition, Communication, Politique, Nº 37:L’Audience: Press, Radio, Télévision, Internet,Paris, CNRS Éditions, 2004, pp. 27-34.37Francisco R. Cádima, O FenómenoTelevisivo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p.15. A este respeito, sugere-se também PatriciaHolland, The Television Handbook (2 nd ed.),Lon<strong>do</strong>n and New York, Routledge, 2000.38Para uma breve referência aos pressupostosimplícitos, cf. Francesco Parisi, Votes andOutcomes: Rethinking the Politics-like-marketsMetaphor, European Jour<strong>na</strong>l of Law andEconomics, 13, pp. 183-192, por exemplo.39Henri-Pierre Jeudy, Les Vertiges de laMédiation, in José A. Bragança de Miranda &Joel F. da Silveira (Org.), As Ciências da Comunicação:Na Viragem <strong>do</strong> Século, Lisboa, EdiçõesSéculo XXI, 2002, pp. 48-55.40Mitchell Stephens, The Rise of the Imageand the Fall of the Word (1 st ed.), New York andOxford, Oxford University Press, 1998, pp. 5-6.41Homo Videns: Televisão e Pós-pensamento(1ª ed. portg.), Lisboa, Terramar, 2000.42Ibidem, p. 9.43Manuel Castells, A Galáxia Internet: Reflexõessobre Internet, Negócios e Sociedade,Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.44Ibidem, p. 16.45Idem, A Era da Informação: Economia,Sociedade e Cultura, Vol. II: O Poder da Identidade,Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.46José M.Paquete de Oliveira, A DitaduraInvisível. «Desideologia»: A ideologia <strong>do</strong>s NossosTempos, in II Fórum Eleitoral – SociologiaEleitoral, Lisboa, Comissão Nacio<strong>na</strong>l de Eleições,1993, pp. 77-90.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO637A Evolução Tecnológica e a Mudança Organizacio<strong>na</strong>lCarlos Ricar<strong>do</strong> 1A crise da modernidadeO futuro está cada vez mais no centro<strong>do</strong>s debates <strong>do</strong>s países industrializa<strong>do</strong>s avança<strong>do</strong>se o interesse crescente das oportunidadesque nos reserva é imputável à crisegeneralizada e profunda com que as sociedadesmoder<strong>na</strong>s se defrontam. No que respeitaàs organizações, esta crise embrionáriafaz-se sentir em vários planos cada vez maisinterdependentes. Por um la<strong>do</strong>, a transformação<strong>do</strong> meio ambiente das organizaçõesobriga-as a adaptar-se para sobreviver. A crisetambém se abate sobre o coração das organizaçõese destrói, de uma forma geral, osespaços organiza<strong>do</strong>s, provocan<strong>do</strong> o desaparecimentodas convenções de aprendizagemde cada organização. Por outro la<strong>do</strong>, a questãoda mudança tecnológica e das suas prováveisrepercussões não pára de aparecer no complexodiscurso sobre o futuro.A percepção da relação entre evoluçãotecnológica e mudança organizacio<strong>na</strong>l exprime-sede múltiplas maneiras, onde odeterminismo tecnológico se reveste de formasimagi<strong>na</strong>das ou subtis que influenciama maneira de pensar <strong>do</strong>s indivíduos sem queestes tenham disso consciência. Qualificar oaumento das NTIC de ‘revolução digital’, porexemplo, pode ser incisivo e marcante, masexpressões deste tipo podem ocultar asinteracções complexas, dan<strong>do</strong> a impressãosublimi<strong>na</strong>r de que a digitalização é o motorde toda a mudança. Noções como ‘organizaçãovirtual’ ilustram este ponto de vista 2 .As redes informáticas mundiais já permitemàs empresas ligar to<strong>do</strong>s os aspectosrelativos à calendarização, conteú<strong>do</strong> e difusão<strong>do</strong>s processos de desenvolvimento <strong>do</strong>sprodutos dispersos no conjunto de to<strong>do</strong> oplaneta, as quais oferecem um sistema detransporte de da<strong>do</strong>s e permitem criar umespaço virtual em que os bens e serviços sãopropostos e troca<strong>do</strong>s à escala global e noqual os indivíduos físicamente separa<strong>do</strong>s têmcapacidade de interacção e comunicação unscom os outros em tempo real, instauran<strong>do</strong>novas formas de cooperação no seio dasorganizações e entre elas.Considera-se que as inovações técnicasdecorrentes <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da investigação independentee conduzidas pela curiosidade no<strong>do</strong>mínio das ciências <strong>na</strong>turais são factoresdetermi<strong>na</strong>ntes no contexto social e ambiental.Trata-se, agora, de exami<strong>na</strong>r todas asrepercussões possíveis das tecnologias adiversos níveis, sen<strong>do</strong> o objectivo fi<strong>na</strong>l limitaras incidências negativas e maximizaros eventos considera<strong>do</strong>s desejáveis.As interacções entre evolução tecnológicae a mudança organizacio<strong>na</strong>l inibem toda acompreensão se nos contentarmos em substituirum conceito erra<strong>do</strong> por outro ou se sesubstituir o determinismo tecnológico por outraforma de determinismo social, <strong>na</strong> qual asrelações causa-efeito ou o <strong>do</strong>mínio relativo deum ou de outro elemento estejam simplesmenteinverti<strong>do</strong>s. Em definitivo, estas formas dedeterminismo reduzem-se à questão conhecidae estéril <strong>do</strong> ‘ovo e da galinha’ 3 .Factores determi<strong>na</strong>ntes da evoluçãotecnológicaCom base nos resulta<strong>do</strong>s empíricos deuma série de estu<strong>do</strong>s foi possível elaborarum quadro teórico que permita aos investiga<strong>do</strong>resdefinir os factores organizacio<strong>na</strong>is eculturais determi<strong>na</strong>ntes da evoluçãotecnológica. Do ponto de vista organizacio<strong>na</strong>lpode pôr-se em evidência vários parâmetrosque actuam sobre a evolução de novastecnologias, nomeadamente, a visãoprospectiva, a cultura organizacio<strong>na</strong>l e aaprendizagem organizacio<strong>na</strong>l.O papel da visão prospectiva 4As visões prospectivas são o reflexo dasideias relativas às futuras tecnologias partilha-


638 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdas pelas comunidades, instituições e organizaçõesenvolvidas no processo de pesquisa-desenvolvimento.Concretizam a percepçãocomum da oportunidade e aimplementação de ideias e projectos numfuturo relativamente próximo e tor<strong>na</strong>m-seassim objectivos fortes que influenciam osmecanismos de inovação, determi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> oprocesso complexo no qual estão envolvi<strong>do</strong>smúltiplos actores, ten<strong>do</strong> em vista a decisão<strong>do</strong> prosseguimento de certas escolhastecnológicas e <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no de outras.As visões prospectivas <strong>do</strong> progresso técnicoassumem uma tripla função: impõem umadirecção, facilitam a coorde<strong>na</strong>ção e agem comoforças mobiliza<strong>do</strong>ras. Desempenham um papel<strong>na</strong> orientação ao procurarem um ponto departida ao qual to<strong>do</strong>s os indivídu<strong>do</strong>s se podemreferenciar para orde<strong>na</strong>r as suas percepções,o seu raciocínio e os seus mecanismos detomada de decisão duma forma que defi<strong>na</strong> umobjectivo comum para a reflexão sobre ofuturo. Asseguram a coorde<strong>na</strong>ção das percepções,<strong>do</strong>s pensamentos e <strong>do</strong>s processos detomada de decisão, instauran<strong>do</strong> a compreensãoentre os indivíduos e as organizações,permitin<strong>do</strong> ultrapassar os quadros de referênciadivergentes e simplifican<strong>do</strong> a indispensávelcooperação entre estes <strong>do</strong>is grupos. Agemcomo uma força mobililiza<strong>do</strong>ra, <strong>na</strong> qual estãopresentes as percepções, simultaneamente no‘espírito’ e no ‘coração’ <strong>do</strong>s indivíduos 5 .O papel da cultura organizacio<strong>na</strong>lA acção que as visões prospectivasexercem sobre as inovações técnicas é, emlarga medida, condicio<strong>na</strong>da pela cultura daorganização. A cultura organizacio<strong>na</strong>l poderepresentar, simultaneamente, um trunfo euma desvantagem para o sistema. Ela procuraum sentimento de estabilidade e umaidentidade aos quais os membros da organizaçãose podem referir, igualizan<strong>do</strong> oscomportamentos, que embora eficaz nopassa<strong>do</strong>, se arrisca ser i<strong>na</strong>dapta<strong>do</strong> ou mesmotravar os esforças dispendi<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> derelevar os desafios actuais.O papel da aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l 6A aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l desempenhaum papel crucial <strong>na</strong> evolução datecnologia graças à sua capacidade de influenciara direcção e o curso da investigaçãodesenvolvimento,no seio de uma organizaçãoou numa rede de organizações. A aprendizagem,tal como se entende neste contexto,não significa uma formação técnica profissio<strong>na</strong>lou um ensino académico tradicio<strong>na</strong>l,mas a gestão de uma solução flexível ou aantecipação da mudança de uma organizaçãono seu conjunto.Esta aprendizagem encontra a sua expressãoquan<strong>do</strong>, por exemplo, uma organizaçãodecide aban<strong>do</strong><strong>na</strong>r as estratégias e os conceitosde gestão ultrapassa<strong>do</strong>s, para descobrire promover mecanismos organizacio<strong>na</strong>isnovos ou reforma<strong>do</strong>s e encoraja mo<strong>do</strong>s dereflexão inéditos. A aprendizagem organizacio<strong>na</strong>ltraduzida em imagens e constataçõesorigi<strong>na</strong>is põe em causa e transforma asestruturas e a cultura existentes.A necessidade de aprender é, presentemente,um elemento que condicio<strong>na</strong> cada vezmais o sucesso das organizações. Muitasinstauram uma cultura criada e assente emestruturas da sua própria supremacia, nummeio estável que permita fazer a previsão <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> ou de um produto, de um <strong>do</strong>míniotécnico ou de um sector particular. Asmutações aceleradas obrigam as organizaçõesa proceder a uma revisão das suas percepções,<strong>do</strong>s seus valores e <strong>do</strong> seu comportamento,a fim de poder reagir rapidamente ànova concorrência mundial. Elas devemelaborar estratégias de longo prazo queenglobem processos de produção origi<strong>na</strong>is oubens e serviços novos. Se estes processos deauto-avaliação intervêm demasia<strong>do</strong> lentamente,a organização corre o risco de ‘perder ocomboio’ <strong>do</strong> progresso técnico ou de perderadaptação ao merca<strong>do</strong> e ver-se-á talvez <strong>na</strong>impossibilidade de preservar a sua competitividade.A aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l efectuaseao nível <strong>do</strong>s indivíduos e <strong>do</strong>s grupos quemuitas vezes estão <strong>na</strong> sua origem. Todavia,esta aprendizagem não consiste ape<strong>na</strong>s numaacumulação de experiências de formaçãoindependentes, mas numa aquisição colectivade percepções ou de competências novas,o que pode, <strong>na</strong> realidade, representar ‘menos’<strong>do</strong> que a soma das aprendizagens individuaisoperadas no seio de uma organização,isto é, as percepções e as competênci-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO639as adquiridas pelos indivíduos não são todastransferidas para a organização no seu conjunto.Por outro la<strong>do</strong>, a aprendizagem organizacio<strong>na</strong>lreveste muitas vezes uma dimensão‘mais vasta’ <strong>do</strong> que a totalidade <strong>do</strong>s conhecimentospessoais angaria<strong>do</strong>s, porque combi<strong>na</strong>e amplia ao mesmo tempo os efeitos<strong>educativo</strong>s, as experiências e o saber individuais,por via <strong>do</strong>s mecanismos quotidianosde cooperação e comunicação.Imagi<strong>na</strong>r conceitos novos e explorar asinovaçõesAs estruturas necessárias para imagi<strong>na</strong>rconceitos novos e explorar ple<strong>na</strong>mente asinovações diferem duma empresa para outra,em certos casos de forma considerável. Numextremo, a investigação e o desenvolvimentoefectua<strong>do</strong>s em certas empresas estão separa<strong>do</strong>sdas tarefas correntes, de forma afavorecer ao máximo a liberdade e a criatividade.No outro extremo, podem estarintimamente associa<strong>do</strong>s ao funcio<strong>na</strong>mentoquotidiano, de maneira a assegurar apertinência <strong>do</strong>s produtos resultantes da investigaçãoaplicada.Como demonstram os exemplos seguintes,os factores descritos (visão prospectiva,cultura e aprendizagem organizacio<strong>na</strong>is)podem agir de forma permanente sobre ainteracção complexa das mutaçõestecnológicas e das mudanças organizacio<strong>na</strong>is.Aqueles exemplos têm em comum <strong>do</strong>isaspectos. Em primeiro lugar, referem-se ambosa uma forma particular de inovaçãotecnológica: as novas tecnologias da informaçãoe das comunicações (NTIC) e mais precisamentea informatização e a digitalização<strong>do</strong> meio quotidiano. Em segun<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>isexemplos explicam claramente que uma reflexão,que se exprime exclusivamente emtermos de determinismo tecnológico ou social,pode modificar ou falsear as perspectivasde desenvolvimento futuro.A perenidade da sociedade <strong>do</strong> automóvel:inovações sem mudança significativaContrariamente às visões prospectivaspróprias das organizações, a representação dasociedade <strong>do</strong> automóvel apresenta ramificaçõesmuito extensas e profundas. Não apareceisoladamente como uma organizaçãoúnica, mas vai buscar as suas raízes àsempresas da indústria automóvel, aos governose às diversas associações <strong>do</strong> ramo, assimcomo a <strong>do</strong>mínios exteriores à esfera organizacio<strong>na</strong>lcomo, por exemplo, ao comportamentoquotidiano <strong>do</strong>s condutores e às suasprojecções individuais e colectivas sobre oque é desejável e realizável.Esta visão prospectiva, em que o automóvel<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> as reflexões relativas à mobilidade,estruturou e condicionou as políticasde transporte durante décadas, poden<strong>do</strong>ser considerada como uma das representaçõestecnológicas mais conseguidas emtermos de alcance e de impacto a longo prazo.Durante muitos anos, o automóvel foi osímbolo e o indica<strong>do</strong>r de prosperidade individuale macrosocial. Apesar das tensõese das evoluções que anunciam umareestruturação da sociedade automóvel nãoestá à vista nenhuma ruptura fundamental.A visão da sociedade <strong>do</strong> automóvel disfrutahoje de uma tal omnipresença em to<strong>do</strong> omun<strong>do</strong>, que quase cada uma das organizaçõesque por ele se interessaram deixarama sua marca, encontran<strong>do</strong> a sua expressãonuma aprendizagem sistematicamentecentrada <strong>na</strong> experiência <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.O aparecimento massivo de inovaçõesresultantes da utilização de novas tecnologiassem ligação aparente com o automóvel,tem contribuí<strong>do</strong> para assegurar a sua expansãoa nível mundial. A introdução de tecnologiasda informação e de técnicas dedetecção, assim como da optoelectrónicaalimenta vivas esperanças futuras.Sobrestima-se o ganho real da eficiênciaproduzida pelos acessórios que apelam àstecnologias da informação, mas não há razãopara subestimar a sua real capacidade deresolução das principais dificuldades com quehoje se confronta a sociedade <strong>do</strong> automóvel.A telemática oferece perspectivas consideráveispara a modernização <strong>do</strong> sector <strong>do</strong>stransportes, admitin<strong>do</strong>-se que o automóvelinteligente funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> em rede seja o elementocentral da visão futura da sociedade<strong>do</strong> automóvel 7 .Ten<strong>do</strong> em conta a direcção que os avançostecnológicos estão a ter, a melhor maneirade os classificar seria falar de inovação


640 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVestrag<strong>na</strong>nte (ou estag<strong>na</strong>ção da inovação),desig<strong>na</strong>da por ‘estagnovação’ (Canzler eMarz, 1997) 8 .As inovações tecnológicas claramenteidentificadas correspondem a uma aprendizageme a uma adaptação das organizaçõesenvolvidas.O seu carácter inova<strong>do</strong>r prendesecom o funcio<strong>na</strong>mento de uma largavariedade de novas tecnologias no <strong>do</strong>mínioda informação e das comunicações, de formaa estabilizar a visão actual da sociedade <strong>do</strong>automóvel e a explorar ao máximo a estreitamargem de manobra existente. A introduçãoda rede global de transmissão de da<strong>do</strong>s <strong>na</strong>máqui<strong>na</strong> cria, no universo <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> por estavisão prospectiva, um espaço para estasinovações. No entanto, estes avançostecnológicos embatem no facto de que asinovações não serão de <strong>na</strong>tureza a pôr fimàs dificuldades, ten<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s o efeito de asafastar ou atenuar provisoriamente, permitin<strong>do</strong>a sua gestão mais eficaz. Apelar aoscomputa<strong>do</strong>res para resolver o problema <strong>do</strong>s‘engarrafamentos’ retardará o bloqueio total<strong>do</strong> sistema de transporte <strong>na</strong>s zo<strong>na</strong>s urba<strong>na</strong>s,mas não suprimirá as suas causas.A ‘estagnovação’ diminui as hipóteses deproceder a uma modernização radical, concentran<strong>do</strong>o <strong>potencial</strong> de inovação no prolongamentoda duração de vida <strong>do</strong>s conceitosactualmente <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, sem promovera elaboração de instrumentos inéditos pararesolver as dificuldades subjacentes. Quantomais esta tendência persistir, tanto mais difícilserá descobrir e explorar outras soluçõestecnológicas para aumentar a mobilidade numcontexto social e organizacio<strong>na</strong>l diferente. Oprincipal perigo da ‘estagnovação’ é ocultara relação que existe entre o adiamento deum problema e o seu agravamento, o quefavorece a atitude ingénua e passiva queconsiste em pensar ‘que as coisas se resolverão<strong>na</strong> altura necessária’.Consideran<strong>do</strong> estas estratégias de inovação,que prolongam a duração de uma visão<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte da tecnologia, por meio de umaaprendizagem incompleta e de uma alteraçãoda organização limitada, trata-se de saber sea ‘estagnovação’ é ape<strong>na</strong>s específica dasociedade automóvel ou se este fenómeno seesconde igualmente noutras acções, visan<strong>do</strong>fazer face a outras crises. É indispensávelcompreender os fundamentos da estratégia da‘estagnovação’, <strong>na</strong> medida em que esteprocesso tem incidências <strong>na</strong> visão das tecnologias,alimentan<strong>do</strong> a sua generalização umesta<strong>do</strong> de espírito prejudicial às iniciativasque visam a gestão proveitosa da crise queatinge a sociedade moder<strong>na</strong>.Por um la<strong>do</strong>, a ‘estagnovação’ favoreceum sentimento de euforia, visto que, quantomais uma inovação consegue afastar a necessidadede uma modernização, mais esteadiamento <strong>do</strong>s problemas se arrisca a sera<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> como uma solução geral. Melhoraras estruturas tradicio<strong>na</strong>is por inovaçõesincrementais parece ser ‘a’ maneira de chegarao fim das dificuldades e os actorespodem ter a impressão enga<strong>na</strong><strong>do</strong>ra de queo ‘pior já passou’ ou, pelo menos, de que<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>m a situação. Por outro la<strong>do</strong>, a‘estagnovação’ encoraja os sentimentos dedepressão. Apesar das inúmeras certezascontrárias, o facto de adiar uma modernizaçãoradical faz <strong>na</strong>scer um sentimento de malestar<strong>na</strong> população. Para os responsáveisencarrega<strong>do</strong>s de definir as orientações emmatéria de tecnologia, tor<strong>na</strong>-se cada vez maisdifícil não admitir que prosseguir uma tendêncianão constitui, a prazo, um progresso.Ao mesmo tempo, a concentração deesforços sobre o aperfeiçoamento e a generalizaçãode soluções médias desvia a atenção<strong>do</strong>s meios possíveis, ainda que difíceisde pôr em acção, para fazer face à dimensão<strong>do</strong>s problemas. A estratégia de estabilizaçãode uma situação difícil sem a corrigir e queimplica uma aprendizagem parcial no quadro<strong>do</strong>s conceitos tecnológicos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes tor<strong>na</strong>r-se-áum impasse. O sentimento de ineficáciada ‘estagnovação’ e a percepção <strong>do</strong>seu carácter irreversível são factores quecorrem o risco de alimentar a morosidade emque ela se move.Consideran<strong>do</strong> este fenómeno, perguntamosse existem outras vias que permitamexplorar as NTIC para estimular a inovaçãosocial, mais <strong>do</strong> que simplesmente a manutençãoe a reforma progressiva das aliançassociais tradicio<strong>na</strong>is. A existência de tais viasde mudança perde evidência se nos voltarmospara a área em que as inovações e asmutações técnicas e sociais simultaneamentese enolvem estreitamente e se estimulamrecíprocamente, como o caso actual da rededa Internet.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO641A inovação induzida pela cooperação entreagentes: a InternetO segun<strong>do</strong> exemplo das relações quealimentam a evolução tecnológica e a reformaorganizacio<strong>na</strong>l, ilustra a forma como asinovações tecnológicas abrem uma via paranovas formas de produção e de organizaçãoque, por sua vez, contribuem para um novoavanço das tecnologias. A Internet poderáestar <strong>na</strong> vanguarda duma visão muito diferente<strong>do</strong> trabalho e da sociedade. Esta visãoassenta numa forma de organização, <strong>na</strong>turalmenteconcebida para se difundir, que passapor uma estrutura de responsabilidade e deautoridade mais descentralizada. 9 .A tecnologia posta em acção pela Internet,aperfeiçoada inicialmente no quadro <strong>do</strong> sectorpúblico, permite acesso gratuito e livre a umavantagem apreciável, uma norma comum quepermite aplicar ple<strong>na</strong>mente uma lei económicavital, trazen<strong>do</strong> rendimentos de escalacrescentes graças às redes e ao conjuntoaberto de normas universais 10 . Comparativamentecom modelos de organização hierárquicafortemente centraliza<strong>do</strong>s, que prevalecemnos locais de trabalho, a Internet é umespaço (virtual) anárquico, extremamentedescentraliza<strong>do</strong> e desorganiza<strong>do</strong>. É um verdadeirooceano de informações, percorri<strong>do</strong>de forma não linear por hiperligações. Tor<strong>na</strong>-semuito eficaz para a troca de ideias eo estabelecimento de laços espontâneos,independentemente da distância, <strong>do</strong>s fusoshorários ou de qualquer ideia pré-concebida.A Internet demarca-se nitidamente <strong>do</strong>modelo industrial mais rígi<strong>do</strong> de produçãoe de consumo de massas, desenvolven<strong>do</strong>-senum mun<strong>do</strong> em que os bens imateriais serevestem de maior importância que os bensimobiliza<strong>do</strong>s de antigamente e em que aduplicação digital se traduz por um custo dereprodução margi<strong>na</strong>l, praticamente nulo. Damesma forma, a Internet poderá transformarum número de dispositivos institucio<strong>na</strong>is emodelos de comportamentos característicos,ao nível microeconómico, da oferta e daprocura. Do la<strong>do</strong> da oferta, começam aaparecer novas formas de organização <strong>do</strong>trabalho, de fabrico e distribuição de produtos,de entrada no merca<strong>do</strong> e de cooperação.Do la<strong>do</strong> da procura, o consumo está a tor<strong>na</strong>rseactivo.Modelos de empresas inteiramente novosforam inventa<strong>do</strong>s, a fim de explorar de formarentável estas novas condições. Os particularese as empresas recorrem à Internet nãoape<strong>na</strong>s para encontrar informações sobre osprodutos existentes, mas também para pôr emcirculação a produção de artigos que conceberam.O consumi<strong>do</strong>r assume, pouco apouco, o papel determi<strong>na</strong>nte reserva<strong>do</strong> antigamenteao produtor. Se esta alteraçãoparadigmática se confirmar, a cadeia de valorpoderá ser completamente transformadanuma série de actividades.A a<strong>do</strong>pção e a propagação de uma culturaorganizacio<strong>na</strong>l diferente necessitam deum certo intervalo de tempo. Uma verdadeiradescentralização, ultrapassan<strong>do</strong> o tele-trabalhoque vem reduzir os espaços desti<strong>na</strong><strong>do</strong>saos escritórios e as deslocações <strong>do</strong>micíliotrabalho,supõe que os indivíduos assumamresponsabilidades, desde o momento em queescolhem (<strong>na</strong> qualidade de produtor/consumi<strong>do</strong>r)os produtos preferi<strong>do</strong>s até ao momentoem que imagi<strong>na</strong>m (<strong>na</strong> qualidade de trabalha<strong>do</strong>r/dirigentede empresa) uma solução inova<strong>do</strong>raem cooperação com um cliente.Hesitamos <strong>na</strong>turalmente em renunciar àsestratégias conhecidas para obter resulta<strong>do</strong>seconómicos e sociais, para gerar riscos e paraassegurar a continuidade das actividades.Ainda que, por vezes, se trate de uma simplesquestão de percepção da maneira deencarar a mudança, um novo modelo podeser muito perturba<strong>do</strong>r. As procuras da ‘reciprocidadedinâmica’ em rede, vão muitopara além das funções de formação e dasformas de aprendizagem privilegiada pelosestabelecimentos de ensino, os escritórios ea maioria das famílias.Apesar das possibilidades oferecidas pelaInternet, é preciso ter em conta numerososobstáculos, entre os quais figura a propensãopara reintroduzir os méto<strong>do</strong>s tradicio<strong>na</strong>is,contentan<strong>do</strong>-se em transplantar os velhoshábitos para os novos. Estas tendências contraditóriassão perceptíveis em to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios,desde as empresas privadas aos organismospúblicos, que se contentam emutilizar a Internet sem modificar os hábitosde organização, até às iniciativas gover<strong>na</strong>mentaismal concebidas que impõem a aplicaçãode soluções para resolver problemas liga<strong>do</strong>sà economia <strong>do</strong> saber datadas da era industrial.


642 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA Internet prepara-se para utilização emtempo real de formas de transmissão vídeoe fixou como objectivo futuro o desenvolvimentode estruturas organizacio<strong>na</strong>is abertase de aplicações flexíveis. A cooperaçãoentre empresas concorrentes só poderá serproveitosa se a tecnologia em desenvolvimentofor concebida para prevenir os monopóliose procurar idênticas vantagens para oconjunto <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res.Ten<strong>do</strong> em conta estas considerações,numerosos si<strong>na</strong>is anunciam o aparecimentode um novo modelo de cooperação e deprodução, no qual as inovações tecnológicase a aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l serãomutuamente indispensáveis e envolvidas numprocesso de arrastamento recíproco.As estruturas de inovação divergentes:conclusõesOs exemplos sobre as estratégias deinovação <strong>na</strong> indústria automóvel e no seioda Internet deixam transparecer tendênciasdivergentes. Enquanto a evolução tecnológica<strong>na</strong> indústria automóvel se reveste de umcarácter margi<strong>na</strong>l que visa a conservação <strong>do</strong>selementos essenciais representativos da sociedadeautomóvel, a tecnologia das telecomunicaçõespassa por profundas mutações nosplanos técnico e organizacio<strong>na</strong>l, que sereferem não ape<strong>na</strong>s aos mo<strong>do</strong>s de produçãotecnológica e de coorde<strong>na</strong>ção mas tambémaos produtos em si. A ‘estagnovação’, caracterizadapelo adiamento incessante de umamodernização fundamental, opõe-se radicalmenteàs reformas tecnológicas eorganizacio<strong>na</strong>is ligadas a alterações demodelos de aprendizagem, de criação e demanutenção de novas visões revolucionáriasda tecnologia.O quadro conceptual apresenta<strong>do</strong> nãopoderá revelar as causas profundas das divergênciasobservadas <strong>na</strong>s estruturas deinovação <strong>do</strong>s sectores <strong>do</strong> automóvel e dascomunicações. Conceitos como visãoprospectiva, cultura organizacio<strong>na</strong>l e aprendizagemorganizacio<strong>na</strong>l fazem ressaltar ascondições empíricas susceptíveis de justificara diversidade <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s operatórios daevolução tecnológica.De uma forma mais geral, o quadroconceptual permite identificar modelos específicosde mudança tecnológica e relacionáloscom o meio cultural e organizacio<strong>na</strong>l. Defacto, a fusão <strong>do</strong>s aspectos tecnológicos,culturais e organizacio<strong>na</strong>is pode ser considera<strong>do</strong>como o elemento central desta abordagemconceptual. Ao estudar a forma deinteracção de um objecto técnico com ideiase percepções sociais assim como com asfi<strong>na</strong>lidades e tradições organizacio<strong>na</strong>is maisgerais, poder-se-á evitar to<strong>do</strong> o determinismotécnico e social para explicar a evoluçãotecnológica.A comparação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is exemplos fazressaltar as diferenças e as semelhanças. Os<strong>do</strong>is tipos de inovação aparecem em merca<strong>do</strong>sestabeleci<strong>do</strong>s e regulamenta<strong>do</strong>s pelospoderes públicos. A indústria automóvel e aestrutura institucio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> sector das comunicaçõesresistem às mudanças de modelosde aprendizagem e ao aparecimento de novosconceitos técnicos.Esta resistência conduz a que nos interroguemossobre os factores que facilitam aemergência de uma visão totalmente inova<strong>do</strong>rada tecnologia Internet deixan<strong>do</strong> relativamentei<strong>na</strong>lteradas as formas de organizaçãoe as culturas no sector das comunicações.Quanto à indústria automóvel comojustificar que não tenha apareci<strong>do</strong> nenhumanova visão, nem alteração radical <strong>na</strong>s formasde organização e culturas.Sem poder dar uma resposta global etotalmente satisfatória a estas questões, oscasos permitem clarificar certos aspectossusceptíveis de explicar a razão porque certasinovações tecnológicas se impõem e outrasnão. Estes aspectos referem-se aos actoresda transformação e aos fundamentos <strong>do</strong>contexto social e político no qual intervêm.Como referimos, a criação da Internet nãoresultou de organizações até então encarregadasde produzir tecnologia de transmissãointer<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. O comportamento das empresasde telecomunicações, em matéria deinovação, não foi fundamentalmente diferente<strong>do</strong> da indústria automóvel. A tradição, queconsistia em trazer para o sector melhoramentosmargi<strong>na</strong>is, foi interrompida pelaconstituição de um novo grupo deintervenientes e pelo aparecimento de umanova cultura em matéria de produção e dedesenvolvimento tecnológico.Este modeloconcorrente deve a sua vitalidade e o seu


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO643sucesso à superioridade tecnológica <strong>do</strong>s seusprodutos e ao facto de representar umaverdadeira escolha oferecida aos utiliza<strong>do</strong>res.Contrariamente às opções propostas aosconsumi<strong>do</strong>res pela indústria automóvel, quese limitam a algumas variantes (e não oferecemsubstituto para o motor de combustão),a Internet representa uma solução dealteração fundamental à escrita tradicio<strong>na</strong>l,assim como ao telefone. A expansão aceleradada World Wide Web explica-se emgrande parte pelo acolhimento favorável quelhe reservaram os consumi<strong>do</strong>res. As preferências<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res podem constituir umfactor de adesão e de eleição importante deconceitos tecnológicos revolucionários, arrastan<strong>do</strong>uma série de inovações importantes nosplanos técnico e organizacio<strong>na</strong>l. Convémreconhecer que os utiliza<strong>do</strong>res fazem parteintegrante da plêiade de actores que contribuempara a difusão das inovações socialmentedesejáveis.Um outro aspecto posto em evidência éo contexto político e social em que se inscrevemas diversas estratégias, em matériade inovação. O triunfo <strong>do</strong> modelo Internetcorresponde a uma tendência geral para adesregulamentação. A dispersão das organizaçõesmonopolistas tradicio<strong>na</strong>is de telecomunicaçõesfavorece o aparecimento defornece<strong>do</strong>res que utilizam a rede local, propon<strong>do</strong>serviços clássicos com tarifas maisvantajosas ou pon<strong>do</strong> em funcio<strong>na</strong>mento novosmeios de exploração da rede.O interesse que a sociedade demonstrapelas novas formas de comunicação e serviçosdigitais coincide com uma vontadepolítica de aligeirar a regulamentação <strong>do</strong> quepertencia anteriormente ao sector público.Estas condições não estão reunidas no sectorautomóvel, onde não existem actores influentespara propôr conceitos diferentes emmatéria de mobilidade, nem tecnologias emconcorrência, entre as quais os utiliza<strong>do</strong>respossam escolher.Estes factos, conduzem aos aspectosorganizacio<strong>na</strong>is da inovação tecnológica. Adiversidade <strong>do</strong>s esquemas de inovação ilustradapelos sectores referi<strong>do</strong>s ajuda a tomarconsciência <strong>do</strong> facto de que a inovaçãotecnológica não conduz automaticamente auma inovação organizacio<strong>na</strong>l. Reciprocamente,as inovações organizacio<strong>na</strong>is não decorremde tecnologias novas e a emergência denovos mo<strong>do</strong>s de organização não garante quesejam criadas novas tecnologias e utilizadascom sucesso.Ten<strong>do</strong> em conta a dimensão e gravidadeda crise da modernidade, as organizações nãopodem permitir a entrada em exclusividadede um <strong>potencial</strong> de inovação esperan<strong>do</strong> queo resto das inovações acabe por se materializar.Para fazer face à crise, as organizaçõesnão devem explorar os potenciais deinovação tecnológica ou organizacio<strong>na</strong>l deforma independente mas sim misturá-lossistematicamente.O <strong>potencial</strong> de inovação real das organizaçõestecnológicas e organizacio<strong>na</strong>is, atéagora insuficientemente desenvolvi<strong>do</strong>, nãoreside <strong>na</strong>s inovações tecnológicas eorganizacio<strong>na</strong>is propriamente ditas, mas sim<strong>na</strong> sua fusão, a qual representa um <strong>potencial</strong>de inovação secundário. Da aptidão paraentender este <strong>potencial</strong> e da vontade de oconcretizar dependerá o sucesso <strong>do</strong>s esforçosdesenvolvi<strong>do</strong>s pelas organizações para elaborarestratégias que visam enfrentar estascrises.Os exemplos referi<strong>do</strong>s chamam a atençãodas organizações para a existência de um tal<strong>potencial</strong> de inovação secundário mostran<strong>do</strong>claramente porque lhes é possível e necessárioligarem-se ao seu desenvolvimento,contrariamente ao aconteci<strong>do</strong> no passa<strong>do</strong>. Écerto que as organizações sofrem a tentaçãode se abster desse <strong>potencial</strong> de inovaçãofugin<strong>do</strong> às dificuldades inerentes, seguin<strong>do</strong>,por exemplo, a via da ‘estagnovação’, utilizan<strong>do</strong>as inovações tecnológicas paraestabilizar e preservar as visões prospectivas,as estruturas sociais e as estratégiasorganizacio<strong>na</strong>is tradicio<strong>na</strong>is.O exemplo da normalização da Internetmostra, no entanto, que esta atitude pode levara um impasse de forma muito rápida, quan<strong>do</strong>outras organizações mais jovens e dinâmicascombi<strong>na</strong>m as inovações tecnológica e social,apontan<strong>do</strong> caminhos novos e origi<strong>na</strong>is.Estas incursões em terreno desconheci<strong>do</strong>representam riscos, porque <strong>na</strong>da garante queencontrarão um sucesso durável, ainda quebem conseguidas. As organizações que ousamprocurar novas vias de desenvolvimentoe de crescimento podem encontrar-se emcaminhos para além <strong>do</strong>s baliza<strong>do</strong>s.


644 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA ‘estagnovação’ da indústria automóvele a capacidade de inovação <strong>do</strong> sector dastelecomunicações suscitam a questão <strong>do</strong>sensi<strong>na</strong>mento que podem ser retira<strong>do</strong>s destaanálise. Apesar da crescente concorrênciainter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que se exerce sobre as empresas,as inovações radicais são colectivamenteevitadas, porque constituem uma’‘ameaça’para todas as normas estabelecidas. Nomomento em que se inicia o século XXI, atarefa para as organizações é aperceberemsedestes limites, a fim de ultrapassarem acrise da modernidade e de se prepararem paraos novos desafios.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO645_______________________________1Instituto Português de Administração deMarketing.2Evoluções como os ‘<strong>do</strong>cumentos hipermédia’(Coy, 1994), as ‘redes informáticas abertas’(Hoffmann, 1996) e o ‘ciberespaço’ (Rheingold,1992), bem como os conceitos como ‘a simulação<strong>do</strong> universo’ (Grassmuck, 1995), mostramque é impossível ter noção das caracteristicas edirecções específicas da mudança por meio dealgumas fórmulas sedutoras que invocam adigitalização.3Os estu<strong>do</strong>s relativos aos grandes sistemastecnológicos (Joerges, 1993) e às teorias das redescomo actores (Akrich, 1992) mostram que umatese nunca apreenderá correctamente a dinâmicaespecífica da evolução em curso e atingirá simplesmenteum certo número de para<strong>do</strong>xos fundamentaise méto<strong>do</strong>s de explicação insuficientes, seape<strong>na</strong>s apresentar os aspectos sociais e técnicosdesta evolução ou, em particular, como esferasde accção independentes mais ou menos opostas(Latour, 1995).4Imagens vulgarizadas como ‘auto-estradasda informação’, ‘sociedade sem moeda’, ‘escritóriosem papel’ permitem às instituições acumularuma soma de experiências e de conhecimentoscombi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-os de forma singular e eficaz. Nãoencorajam nem favorecem uma posição em detrimentode outra, ten<strong>do</strong> por efeito fundi-los numobjectivo comum, para as cristalizar sob umaforma nova.5Imagens como ‘ofici<strong>na</strong> sem operário’ ou‘sociedade nuclear’ suscitam fortes reações emocio<strong>na</strong>is.As visões prospectivas não solicitamape<strong>na</strong>s os projectos racio<strong>na</strong>is, mas fazem igualmenteapelo aos valores profun<strong>do</strong>s da percepção,pensamento e decisão individuais. É este aspectoque explica a capacidade das visões prospectivasde despertar o interesse <strong>do</strong>s indivíduos e de oslevar a agir.6A ‘aprendizagem organizacio<strong>na</strong>l’ define-secomo a aquisição ou o estímulo colectivo daspercepções, competências estratégicas ou processosde reflexão inéditos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, para adaptaçãoàs mutações <strong>do</strong> meio exterior.7O veículo <strong>do</strong> futuro deverá comportar trêstipos de melhoramentos que atenuarão os impactosnegativos da sociedade automóvel. Em primeirolugar, os sistemas de informação colectivossobre a circulação. Em segun<strong>do</strong> lugar, o prosseguimento<strong>do</strong> desenvolvimento e introdução detecnologias da informação deverão levar à realizaçãode sistemas de informação disponíveis paraconsulta antes de empreender uma deslocação. Emterceiro lugar, prevê-se a redução <strong>do</strong>s tempos dedeslocação e <strong>do</strong> volume de circulação, através dainstituição de um sistema electrónico de tarifasde circulação ou de congestio<strong>na</strong>mento e pelapossibilidade de exploração de sistemasinteractivos.8Embora isso não signifique que os modelosde mobilidade, data<strong>do</strong>s de há várias décadas, tenhamsi<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>s ou que sejam objecto de umamodificação total ou mesmo postos em causa.9A história da génese da Internet explica comoa tecnologia de transmissão, própria desta rede,constitui o objectivo de um programa de desenvolvimentoà escala inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no qual estãoenvolvidas as grandes indústrias <strong>do</strong> sector dainformação e das comunicações. As empresas queconcorrem para o escoamento <strong>do</strong>s seus produtose para a conquista de partes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> cooperamestreita e proveitosamente quan<strong>do</strong> se trata detransportar as inovações tecnológicas para aInternet.10As palavras de ordem da Internet são:cooperação e não isolamento, alargamento e nãorestrição. Para o testemunhar observemos a súticarapidez com que os concorrentes normalmenteinconciliáveis unem os seus esforços para fazerda Internet um espaço aberto sem hiatos. Osgovernos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e as organizações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>ismantêm-se vigilantes para que a Internetse torne um terreno largamente partilha<strong>do</strong>,oferen<strong>do</strong> condições idênticas, desprovi<strong>do</strong> deobstáculos, ao comércio electrónico, ao correioelectrónicoe à livre circulação da informação.


646 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO647La integración de la comunicación comercial en la gestión corporativaDavid Alameda García 1IntroducciónTradicio<strong>na</strong>lmente las políticas decomunicación desarrolladas por las empresasy las organizaciones han veni<strong>do</strong> tratán<strong>do</strong>sede mo<strong>do</strong> independiente, como elementosaisla<strong>do</strong>s y sin coherencia entre ellas. Es porello que nos encontramos en el ámbitoempresarial con estrategias diferenciadas parala gestión de la comunicación corporativa,la comunicación inter<strong>na</strong> y la comunicacióncomercial.Si a esto le unimos que cada u<strong>na</strong> de estasestrategias comunicativas es desarrollada poráreas o departamentos diferentes (marketingse ocupa de la comunicación comercial, deproducto o de marca, la dirección decomunicación de la comunicación corporativay recursos humanos de la comunicacióninter<strong>na</strong>), nos encontramos que las empresasse relacio<strong>na</strong>n con sus públicos con u<strong>na</strong> faltade coherencia discursiva y sin la proyecciónde u<strong>na</strong> imagen única.En este senti<strong>do</strong> lo expresa Villafañe(2001:15) al referirse a que las trescomunicaciones de la empresa – de producto,corporativa e inter<strong>na</strong> – suelen responder, salvoexcepciones que también las hay, a estrategiasdiferentes, son ejecutadas por órganostambién distintos y las sinergias entre ellasson más bien escasas imposibilitan<strong>do</strong>, depaso, la existencia de un “estilo decomunicación” que identifique y diferencieal emisor de la comunicación.Este hecho responde a quehabitualmente en la gestión empresarial sehan prioriza<strong>do</strong> las políticas de marketing,fi<strong>na</strong>nzas y producción (los tangibles)relegan<strong>do</strong> a un segun<strong>do</strong> lugar las políticasde comunicación (los intangibles).Encontrán<strong>do</strong>nos en la gestión, por tanto,u<strong>na</strong> mayor preocupación por lacomunicación comercial o de productofrente a la comunicación empresarial einstitucio<strong>na</strong>l. Y, además, las visiones quehabitualmente se tienen de la comunicacióny la imagen corporativa en el área demarketing o en recursos humanos distanmucho de la más propia de la direcciónde comunicación (Villafañe, 2001:112).Pero estos méto<strong>do</strong>s clásicos delma<strong>na</strong>gement empresarial – basa<strong>do</strong>s en laproducción, el marketing, fi<strong>na</strong>nciación yadministración y que han manteni<strong>do</strong> ocupadasa las empresas intentan<strong>do</strong> establecer criteriosde diferenciación y competitividad, en laactualidad no permiten establecer diferenciascomo antaño y las empresas, se ven forzadasa encontrar nuevos sistemas que les permitanestablecer valores competitivos (Ventura,2001:172).En este senti<strong>do</strong>, lo que tratamos deesbozar en estas líneas es la presentación deu<strong>na</strong> meto<strong>do</strong>logía de trabajo que permitaencontrar esos nuevos valores competitivos,basa<strong>do</strong>s principalmente en la integración detodas las comunicaciones empresariales,proponien<strong>do</strong> para ello un único modelo degestión de la comunicación empresarial, enel que podamos ver las relaciones deinterdependencia entre la comunicacióncomercial y la comunicación corporativa yconsiderar, por tanto, la comunicacióncomercial en u<strong>na</strong> faceta integra<strong>do</strong>ra con elresto de comunicaciones de la empresa.Enfoque integral e integra<strong>do</strong> de lacomunicación. La gestión de la empresacomo un sistema corporativo globalLa crisis del sector publicitario sufridaen nuestro país a principios de los añosnoventa 2 , la fragmentación progresiva de lasaudiencias superan<strong>do</strong> los tradicio<strong>na</strong>lescriterios de segmentación del merca<strong>do</strong>, lapérdida de eficacia de la comunicación deproducto 3 , la homogeneización de las marcas 4y la aparición de un merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> porla competencia y la globalización comoconsecuencia de los procesos de


648 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdesregulación y privatización lleva<strong>do</strong>s a caboen nuestro país, provoca que las empresasy organizaciones tomen conciencia de unnuevo entorno y u<strong>na</strong> nueva realidad a la quehay ajustarse y adaptarse.Si a esto le unimos la orientación de lasempresas hacia los servicios en detrimentode lo material y tangible, nos encontramostambién con otra de las causas que conlleva<strong>na</strong> u<strong>na</strong> nueva redefinición de la empresa 5 .Las empresas, por tanto, empiezan avislumbrar que para ser competitivas no essuficiente tener buenos productos, elegirbue<strong>na</strong>s políticas de precio o decidirse porestrategias de marketing adecuadas. Sinrenunciar a ninguno de los valores anterioresque, como señala Ventura (2001:169), habíantipifica<strong>do</strong> la capacidad competitiva de lasempresas, resulta imprescindible potenciar susproductos y marcas, pero a partir de la propiaempresa. Ha llega<strong>do</strong> el momento, por lo tanto,de integrar los planteamientos de marketingy del resto de políticas funcio<strong>na</strong>les en losplanes de comunicación empresarial.En este senti<strong>do</strong> lo expresa Villafañe(1998:37) al afirmar que la empresa ha de serentendida como un sistema corporativo global,del que no puede separarse ningu<strong>na</strong> de susfunciones básicas. Estas funciones estánderivadas de los <strong>do</strong>s sistemas que componendicho sistema corporativo global. Por un la<strong>do</strong>,el sistema fuerte que está constitui<strong>do</strong> por laorganización básica de la empresa y esgestio<strong>na</strong><strong>do</strong> con políticas funcio<strong>na</strong>lestradicio<strong>na</strong>les: políticas de producción, políticasde fi<strong>na</strong>nciación y políticas de administracióny marketing. Este macrosistema de activostangibles incluye, entre otros: los productos,servicios y merca<strong>do</strong>s, las estructurasorganizativas y sus sistemas de decisión, losprocedimientos técnicos de planificación ycontrol, sus capacidades y el saber hacertecnológico y comercial.Y, por otro la<strong>do</strong>, el sistema débil, de<strong>na</strong>turaleza mucho menos tangible, que segestio<strong>na</strong> de acuer<strong>do</strong> y a partir de diversaspolíticas formales y está constitui<strong>do</strong> por tresámbitos concretos: la cultura corporativa, laidentidad corporativa y la comunicacióncorporativa. Añadien<strong>do</strong> este mismo autor, queeste conjunto de activos intangibles, debenser planifica<strong>do</strong>s y gestio<strong>na</strong><strong>do</strong>s como el restode activos empresariales.Es decir, tal como lo expresa Costa(1995:139):“La organización es vista claramentecomo un conjunto orgánico <strong>do</strong>nde todaslas piezas son interdependientes y so<strong>na</strong>fectadas por – a la vez que afecta<strong>na</strong> – las demás, a las que estánindisociablemente conectadas ydi<strong>na</strong>mizadas por múltiples retroaccionesque constituyen el equilibrio dinámicode la organización”.Por lo tanto, la nueva competitividad delas empresas va a ser la resultante del binomiosistema fuerte y débil, imponién<strong>do</strong>se elma<strong>na</strong>gement corporativo o la imagencorporativa 6 como principio de gestión en<strong>do</strong>nde ya no hay producto, ni consumo, niservicio sino u<strong>na</strong> administración de losrecursos de comunicación de la organización,sien<strong>do</strong> el objetivo de la comunicacióncorporativa “el de integrar y gestio<strong>na</strong>rsinérgicamente las diferentes formas decomunicación empresarial y en su diacronía”(Costa, 1993:57).Por ello, la comunicación deja de ser u<strong>na</strong>tarea auxiliar, utilizada comúnmente en lasfunciones de marketing y comercialización,para pasar a ser considerada u<strong>na</strong> políticaestratégica orientada directamente a crear,mantener y transmitir u<strong>na</strong> imagen positiva(Villafañe, 1999:222).En este senti<strong>do</strong> y según este nuevoprincipio de gestión que estamos vien<strong>do</strong>, elcentro de las actividades de comunicación deu<strong>na</strong> organización va ser la propia compañía.Cualquier acción que realice o no u<strong>na</strong>empresa, no solamente en el terreno de lacomunicación nos indica cómo se comporta,revela su actividad e influye en la misma(Johnsson, 1991:118). Los productos, lasmarcas, las expresiones verbales y visuales,los mensajes, los servicios, la producción, laadministración, la tecnología, los emplea<strong>do</strong>s,la publicidad y la promoción, así como lasexperiencias vividas por el público sonelementos de identidad, y por lo tanto, va<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>r en él – como señala Costa(1995:45) – sus opiniones y comportamientosen relación con la empresa.Es decir, el nuevo vector decompetitividad de las empresas va a ser lograr


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO649u<strong>na</strong> imagen diferencial en la mente de suspúblicos, se trata, como explica Costa(1993:131) de “presentar la empresa,productos y servicios como un to<strong>do</strong>, ya quela conducta global es la suma de la acción,los hechos y la comunicación”. Así tambiénlo justifica Capriotti (2001:280) al afirmarque “ya no interesa situarse en el merca<strong>do</strong>con características técnicas de los productoso servicios disponibles, sino que la ‘batalla’se libra en la búsqueda de un espacio queocupe la mente de las perso<strong>na</strong>s”.Por lo tanto, lo que tenemos que teneren cuenta es que al hablar del término imagende empresa estamos introducien<strong>do</strong> ya unnuevo concepto emergente comoconsecuencia de esta nueva mentalidad en lagestión. Lo que estamos hacien<strong>do</strong> es desplazarla atención del signo empresa al símboloempresa. Esto es, pasamos del concepto fabrilde empresa, entendida como un centro deproducción y de distribución, al de empresacomo corporación 7 , creán<strong>do</strong>se un nuevodiscurso institucio<strong>na</strong>l que expresa los valores,la ideología y la misión de la empresa.Pero el reto es aún todavía mayor, si cabe,ya que la “corporación” no sólo se presentaa sus públicos, sino que se presenta comoun actor más dentro del espacio público juntoa otras organizaciones, los medios decomunicación y la ciudadanía en general.Como señala García Perdiguero (1992:29):“La empresa va a ocupar el centro deatención de la sociedad y de la opiniónpública; está inmersa en un procesode gran complejidad en el que el éxitoo el fracaso no depende de lo esencialde la oferta de sus bienes y servicios,sino de su capacidad de competir enun ‘universo mediático’ en el queofrece permanente visibilidad y es elobjeto de la atención de unconglomera<strong>do</strong> de grupos yorganizaciones que no siempre sonfavorables a los intereses de laempresa”.En este mismo senti<strong>do</strong> lo expresa Garri<strong>do</strong>(2001:21) al afirmar que las empresas seinterrelacio<strong>na</strong>n e interactúan constantementecon su medio debi<strong>do</strong> a que es un sistemavivo y abierto establecien<strong>do</strong> vínculosconstantes con su entorno social.La integración de la comunicaciónPara llevar a cabo sus estrategias decomunicación, las organizaciones disponen dedistintas formas e instrumentos decomunicación. Así, en la figura siguientepodemos ver los diferentes instrumentoscircunscritos a sus respectivas áreas habitualesde la práctica comunicativa.Figura 1Principales áreas e instrumentos de actuación de la comunicación empresarialFuente: Elaboración propiaComunicación corporativaComunicación de la presidenciaRelaciones informativasComunicación de crisisComunicación fi<strong>na</strong>ncieraPatrocinio y mece<strong>na</strong>zgoRelaciones institucio<strong>na</strong>lesRelaciones públicasPublicidad corporativaBusiness to businessIdentidad visualLobbyingVídeo y CD corporativoPublicacionesComunicación comercialPublicidad de productoBrand marketingPromoción de ventasMarketing directo, telefónico y eninternetFuerza de ventasMerchandising y PLVPatrocinioRelaciones públicas de productoProduct placementBarteringIntranetComunicación inter<strong>na</strong>Correo electrónicoTablones informativosManual de acogidaRevista o publicación inter<strong>na</strong>Grupos de mejoraBuzón de sugerenciasReuniones no funcio<strong>na</strong>lesTeléfono de informaciónCartas al perso<strong>na</strong>lCírculos de calidad


650 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVTodas estas formas y acciones decomunicación, como hemos señala<strong>do</strong>anteriormente, responden a objetivosdiferentes, son planificadas y ejecutadas poráreas empresariales o especialistas diferentes,con mensajes diferentes y dirigidas a públicosdiferentes, ponien<strong>do</strong> de evidencia ladiversidad comunicativa que venimosdenuncian<strong>do</strong> en estas líneas. La comunicacióncorporativa tiene por protagonistafundamental a la empresa u organizacióncomo tal y, para ello, trabaja en laconstrucción de estrategias globales decomunicación con u<strong>na</strong> serie de instrumentosque ayuden a definir la imagen corporativay, como señala Hébert (1998:2), expresan<strong>do</strong>la forma que quieren ser percibidas por suspúblicos.En cambio, las técnicas de lacomunicación comercial están ligadas alproducto o marca y no a la institución comotal y su eje tradicio<strong>na</strong>l es la publicidad, perose realizan otras acciones no estrictamentepublicitarias como la realizada por la fuerzade ventas, las promociones, el marketingdirecto, el merchandising, etc. (Ventura,2001:189-190). Por último, la comunicacióninter<strong>na</strong> tiene por objeto el capital humanoy utiliza herramientas comunicativas queconsigan implicar en el proyecto empresariala to<strong>do</strong>s los miembros de la organización, escomo señalan Álvarez y Caballero(1998:112):“La encargada de di<strong>na</strong>mizar elentrama<strong>do</strong> social de la organización,<strong>do</strong>tán<strong>do</strong>la de u<strong>na</strong> filosofía de acción,y ca<strong>na</strong>liza las energías inter<strong>na</strong>s de losintegrantes de la misma para lograrmayor eficacia y competitividad”.Pero tenien<strong>do</strong> en cuenta que lacomunicación es transversal, atraviesa to<strong>do</strong>s losprocesos y es el sistema nervioso central dela organización (Costa, 2001:55), y que laempresa debe ser gestio<strong>na</strong>da como u<strong>na</strong>globalidad, se pone de manifiesto que todasestas formas distintas de comunicación debenser coordi<strong>na</strong>das, integradas y gestio<strong>na</strong>dascorporativamente – o como señala Costa(1995:136), como u<strong>na</strong> corpus orgánico – parapresentarse las organizaciones a sus públicosy a la sociedad en general con un discurso único.Se trata, por tanto, del paso hacia laintegración y ajuste entre las diferentes formasde comunicación generadas por laorganización como un to<strong>do</strong>, de tal mo<strong>do</strong>, quetodas las comunicaciones de la empresa segestionen bajo u<strong>na</strong> misma línea común,tengan un estilo unitario, armonioso eidentifica<strong>do</strong>r.Esta planificación integrada de todas lastécnicas de comunicación disponibles exigeel establecimiento de u<strong>na</strong> adecuada políticade comunicación en la que exista, comoseñala Capriotti (2001:286-287), u<strong>na</strong>coherencia, un apoyo y u<strong>na</strong> reafirmaciónmutua entre las diferentes alter<strong>na</strong>tivascomunicativas, de tal manera, que seidentifiquen las necesidades comunicativas decada uno de los públicos con los quequeremos comunicar y, en función de ellos,establecer los objetivos, el mensaje acomunicar y las acciones necesarias.Y esta integración se está llevan<strong>do</strong> a caboen la realidad empresarial, como señala<strong>na</strong>lgunos autores 8 :Partien<strong>do</strong> del concepto de corporate 9 :supone la construcción de u<strong>na</strong> identidadunificada y vertebrada para cada sujeto – laempresa o institución- con arreglo a ciertosvalores; y previa a cualquier acción decomunicación. La comunicación, desde estaperspectiva es un medio pero también es untrabajo cotidiano de to<strong>do</strong> el cuerpo de laempresa.Partien<strong>do</strong> de la compresión corporativade la comunicación: supone unificar eintegrar toda la comunicación que producela empresa. De ahí, que cobre fuerza y senti<strong>do</strong>la figura del director de comunicación situa<strong>do</strong>en coordi<strong>na</strong>ción o en un escalón ligeramentesuperior dentro de los cuadros de decisiónpara posibilitar que su posición “integra<strong>do</strong>ra”pueda ser extendida con eficacia a to<strong>do</strong>s losdepartamentos de la organización.De esta manera, la imagen de la empresay la imagen de sus productos” – quetradicio<strong>na</strong>lmente han cami<strong>na</strong><strong>do</strong> por separa<strong>do</strong>puedenir en la misma dirección, y es lacomunicación corporativa como principio degestión la que va a determi<strong>na</strong>r el resto deacciones comunicativas y engloba otrosconteni<strong>do</strong>s y acciones como la práctica delmarketing o la publicidad, la gestión de lacomunicación exter<strong>na</strong> e inter<strong>na</strong> o las


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO651relaciones con los medios. Es decir, ésta vaser, -como señala Carrascosa (1992:34) – ,“el marco que encuadra y coordi<strong>na</strong> lapublicidad, el marketing y la comunicacióninter<strong>na</strong> y exter<strong>na</strong> de u<strong>na</strong> organización”. Esdecir, en función de este principio, dirigir u<strong>na</strong>empresa va a significar también atender a losaspectos comunicativos que se planificancoordi<strong>na</strong>damente, y los responsablesempresariales, por lo tanto, van subrayar suatención sobre un conjunto de problemascomunicativos generales que son prioritariosy de cuya coordi<strong>na</strong>ción dependen las accionespublicitarias o de marketing que debenestablecerse (Be<strong>na</strong>vides, 2001:27).En este senti<strong>do</strong>, la comunicacióncomercial de la empresa, que siempre ha i<strong>do</strong>por separa<strong>do</strong>, exige hoy u<strong>na</strong> alta coherenciacon la comunicación institucio<strong>na</strong>l, ya que laimagen de la empresa, percibida por lospúblicos liga<strong>do</strong>s a lo comercial (distribui<strong>do</strong>resy otros intermediarios, prescriptores,consumi<strong>do</strong>res, compra<strong>do</strong>res, incluso losprovee<strong>do</strong>res) interviene decisivamente, e<strong>na</strong>poyo de la imagen de marca, en lasrelaciones de la demanda en to<strong>do</strong>s los niveles,lo que ratifica la necesidad ineludible de unenfoque integral e integra<strong>do</strong> de lacomunicación de la empresa (Sanz de laTajada, 1999:46).Pero este nuevo principio de gestión nosignifica desplazar a un segun<strong>do</strong> plano a lacomunicación comercial, sino que es lacomunicación corporativa la que por sucarácter globaliza<strong>do</strong>r, orienta el resto decomunicaciones. Así justifican algunosautores las razones por las cuales se imponeeste nuevo principio (Villafañe, 2000:116):En un contexto de saturación de merca<strong>do</strong>,caracteriza<strong>do</strong>, entre otros aspectos, por uneleva<strong>do</strong> nivel de indiferenciación, lacomunicación de producto se convierte casien u<strong>na</strong> “especificación técnica”, por lo quese produce un desplazamiento de recursoshacia la comunicación corporativa, que hacelas veces de “paraguas” bajo el cual se amparala comunicación de producto.El ciclo de vida de los productos es cadavez menor, frente a la perdurabilidad de lacomunicación corporativa.Si la economía se orienta hacia losservicios, es perfectamente comprensible elauge de la comunicación corporativa, habidacuenta de que los servicios no son fácilmentepublicitables bajo los esquemas tradicio<strong>na</strong>lesde la comunicación de producto.La comunicación de producto recurre cadavez más a técnicas comerciales y demarketing, perdien<strong>do</strong> carácter comunicativo.La comunicación de producto presenta elinconveniente de que no es capaz de publicitarmás que el producto concreto de que se trate,la comunicación corporativa/marca cubre todala gama de productos, lo que la hace máseficiente.La comunicación de producto adquiereto<strong>do</strong> su senti<strong>do</strong> en el marco de lacomunicación corporativa y la imagen demarca; es decir, existiría sinergia entre ellas.Sin embargo, como señala Sanz de laTajada (1999:47), la integración de lacomunicación institucio<strong>na</strong>l y de la empresacon la comunicación de marketing es amenu<strong>do</strong> difícil, como consecuencia de lasdiferentes concepciones que se practican e<strong>na</strong>mbas en la mayoría de las empresas y quese concretan sustancialmente en tres aspectos:La actuación del marketing normalmentese planifica más a corto plazo que la delma<strong>na</strong>gement.La estructura de poder en la empresa haceque no queden siempre claras lasinterpretaciones entre los responsables de lascomunicaciones de marketing y dema<strong>na</strong>gement, lo que afecta a la posibilidadpráctica de construir y aplicar u<strong>na</strong> políticaintegral de comunicación.Las aportaciones y responsabilidades deciertos tipos de comunicación (las relacionespúblicas especialmente) en la gestióncomercial o de ventas, no están claramentedefinidas, ni se aceptan en muchos casos, sibien se va toman<strong>do</strong> conciencia cada vez másclara de que es preciso hacer un esfuerzo decomprensión y abordar la estructura técnicade tal relación de influencia que se observacada vez más plausiblemente en la realidadde la empresa.La comunicación comercial en el planintegral de comunicación estratégicoPor lo tanto, para poder unificar todaslas comunicaciones de la empresa bajo u<strong>na</strong>misma línea común, se plantea la necesidadde u<strong>na</strong> plataforma estratégica de


652 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcomunicación, que como señala Regouby(1989:139), va a ser la que establezca u<strong>na</strong>relación entre objetivos, estrategias, conceptosy planes de acción, configuran<strong>do</strong> en suconjunto un <strong>do</strong>cumento de relaciones ydependencias de u<strong>na</strong> cierta utilidadconceptual.Este espacio o lugar, de origen o deencuentro, entre todas las comunicaciones quela mayor parte de los autores se han incli<strong>na</strong><strong>do</strong>por denomi<strong>na</strong>r plan integral de comunicación,es un instrumento de primer orden y quecontempla <strong>do</strong>s funciones primordiales(Ventura, 2001:210):Evitar dispersiones en las comunicacionesen lo que se refiere a la identidad.Incidir en la mayor potenciación posibleentre todas las comunicaciones de la empresa.Además, la conveniencia de construir unúnico plan integral de comunicación en laempresa, integran<strong>do</strong> imágenes de sus diferentesproductos/marcas, au<strong>na</strong>rá los enfoquesrelativos a (Sanz de la Tajada, 1999: 46-47):Por un la<strong>do</strong>, los productos y marcas dela empresa, que hay que considerarindividualmente y en el orden de prioridadesdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> por la empresa, a partir decriterios de rentabilidad comparativa,perspectivas de desarrollo futuro, etc.Por otro la<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s los públicos y, enel aspecto comercial, to<strong>do</strong>s los merca<strong>do</strong>s osegmentos de merca<strong>do</strong> que actúa la empresa,que han de ser defini<strong>do</strong>s según diversoscriterios, con expresión de la adecuaciónproducto/merca<strong>do</strong> y, en un senti<strong>do</strong> másamplio, identidad de empresa/tipo de público.En tercer lugar, la elaboración de líneasde comunicación ad hoc, coherentes entre sí,para cada conjunción producto/merca<strong>do</strong> ycada técnica de comunicación específica queintervenga. Todas ellas, en su individualidady en su cohesión, han de estar al serviciode u<strong>na</strong> comunicación propia de la empresaque potencie la imagen en los públicos enlos que coexistan diferentes productos ymarcas de la compañía y/o en los que laempresa decida asentarse sólidamente comotal (posicio<strong>na</strong>miento estratégico) frente a otrasempresas concurrentes en los mismospúblicos.Pero para poder construir un único planintegral de comunicación estratégica se hacenecesaria, como ya hemos señala<strong>do</strong>, de lagestión de la imagen y la comunicación. Endicha gestión lo más importante es la armoníade la función comunicativa en su conjunto,y esto sólo se conseguirá integran<strong>do</strong> lacomunicación en cuatro dimensiones: laorgánica, la funcio<strong>na</strong>l, la estratégica y,fi<strong>na</strong>lmente, la formal. La integración orgánicaexige un órgano central que gestione lafunción global de comunicación,independientemente de que dicho órganopueda apoyarse en unidades descentralizadasque ejecuten localmente la políticacomunicativa de la entidad 10 . La integraciónfuncio<strong>na</strong>l, en la realidad española tiene muchoque ver con la integración de esas trescomunicaciones –producto, corporativa einter<strong>na</strong>- y que, en la mayor parte de lascorporaciones, dependen de las direccionesde marketing, comunicación y RRHHrespectivamente. La integración estratégicaimplica primar en cualquier accióncomunicativa la difusión del posicio<strong>na</strong>mientoestratégico de la compañía y, en último lugar,la integración formal se conseguirá cuan<strong>do</strong>se transmita, independientemente de losconteni<strong>do</strong>s un estilo de comunicaciónidentificativo y diferencia<strong>do</strong>r (Villafañe,2001:15).En la figura siguiente representamos unmeto<strong>do</strong>logía de trabajo para poder llevar acabo esta gestión intregral e integrada de lacomunicación en las organizaciones. Se tratade u<strong>na</strong> estructura secuencial y dedependencias entre to<strong>do</strong>s los elementos yprocesos de planificación de la comunicaciónde la empresa, vien<strong>do</strong> las fases de laelaboración del plan integral decomunicación, con cada u<strong>na</strong> de las áreasestratégicas que participan en él y,fundamentalmente, la estructura de relacióne interdependencia del plan de comunicacióny del plan de marketing o comunicacióncomercial.Como podemos observar en la figuraanterior, el proceso de planificaciónestratégica 11 comienza con la identificacióny análisis de los principales puntos fuertesy débiles de la empresa, así como laidentificación de las oportunidades yame<strong>na</strong>zas provenientes del entorno. Parapoder desarrollar esta auditoria estratégicade manera eficiente, no basta con disponerde u<strong>na</strong> amplia cantidad de datos más o menos


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO653Figura 2Representación del plan integral de comunicación estratégicaFuente: Elaboración propiadispersos. Para que sean realmente eficacesy constituyan un adecua<strong>do</strong> instrumento deanálisis, es preciso reunir esta información,organizarla y valorarla de manera metódica,lo que resulta posible al contar en el senode las organizaciones con la creación dedispositivos de información e investigaciónque valoren las tendencias y suministreninformación no solamente al departamento demarketing, sino también a otras áreasempresariales y a la alta dirección 12 .La auditoría estratégica permite a la altadirección definir su proyecto empresarial enel que se incluyen la misión y objetivosestratégicos, la cultura corporativa, laspolíticas de gestión, la identificación de cadaunidad estratégica de negocio y su carterade productos/servicios.El proyecto empresarial es u<strong>na</strong> referenciapermanente, escrita y formalizada, de cómou<strong>na</strong> empresa pretende cumplir su misión(Villafañe, 1996:354). Es decir, es un<strong>do</strong>cumento “maestro” del que van a surgirlas directrices para elaborar el resto de planes,y de esta forma, como señala Ventura(2001:212), ya sea implícita o explícitamente,la misión y el proyecto van a ser el nortede toda comunicación y de to<strong>do</strong> mensaje.


654 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVA continuación se procede a detallar elplan integral de comunicación estratégicadesde la dirección de comunicación o dircom.Ésta, a nivel staff de la alta dirección, - ypartien<strong>do</strong> del proyecto empresarial- seencarga de integrar todas las unidadesestratégicas de negocio y las áreas de trabajobajo u<strong>na</strong> línea comunicativa común y presentalas directrices para el resto de planesfuncio<strong>na</strong>les y comunicaciones de la empresa.Ya es a partir de la determi<strong>na</strong>ción de esteplan integral de comunicación cuan<strong>do</strong> podemosdiseñar cada uno de los planes de comunicacióncon sus correspondientes formas e instrumentosde comunicación. La dirección de comunicaciónse encargará de diseñar el plan de comunicacióncorporativa, recursos humanos de su respectivoplan de comunicación inter<strong>na</strong> y marketing, delplan de comunicación comercial.La gestión estratégica supone convertirlos planes estratégicos en acciones para cadau<strong>na</strong> de las áreas de comunicación. Así, ladirección de comunicación se encarga de lacorporativa, recursos humanos de la inter<strong>na</strong>y la dirección de marketing de la comercial.De esta manera, estas áreas ayudan a alcanzarlos objetivos defini<strong>do</strong>s en el proyectoempresarial de u<strong>na</strong> forma coordi<strong>na</strong>da.Esta gestión implica, por tanto, unprograma de acciones que coordine a todaslas perso<strong>na</strong>s y actividades, un sistema de tomade decisiones y que las acciones de ajuste<strong>na</strong> la cultura empresarial.Y el control estratégico, por último,consiste en la medición y evaluación de losresulta<strong>do</strong>s (en cada uno de los planes decomunicación en conjunto), a<strong>na</strong>lizar lascausas de los mismos y tomar medidascorrectoras en cada u<strong>na</strong> de las fases anteriorespara asegurar el cumplimiento de losobjetivos propuestos.De este mo<strong>do</strong>, y a mo<strong>do</strong> de conclusióngeneral de lo expuesto, el plan integral decomunicación de la empresa supone larealización de cuatro actividadescaracterísticas que suponen los puntos decoherencia entre la comunicación corporativay el resto de planes, especialmente el de lacomunicación comercial. Estos puntos decohesión son 13 :La elaboración de la planificación de lacomunicación en senti<strong>do</strong> amplio, previadetermi<strong>na</strong>ción explícita de los objetivos aalcanzar sobre cada tipo de público.La propuesta de acciones concretas arealizar al respecto, combi<strong>na</strong>dasestratégicamente y estructuradas en unprograma de acción específico.La transmisión de conceptos y mensajescoherentemente con el posicio<strong>na</strong>miento de laempresa a los públicos seleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s.El establecimiento de los sistemas decontrol y evaluación de la eficacia de lasacciones de comunicación, a efectuar u<strong>na</strong> vezejecutadas en la práctica e implanta<strong>do</strong> cadauno de los planes.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO655BibliografíaAlvarez, T. y Caballero, M.: Vende<strong>do</strong>resde imagen. Los retos de los nuevos gabinetesde comunicación. Paidós, Barcelo<strong>na</strong>, 1998.Be<strong>na</strong>vides, Juan (ed.): El director decomunicación. Edipo, Madrid, 1993Carrascosa, José Luis: Comunicación.U<strong>na</strong> comunicación eficaz para el éxito enlos negocios. Ciencias de la Dirección,Madrid, 1992.Capriotti, Paul: Planificación estratégicade la imagen corporativa. Ariel, Barcelo<strong>na</strong>,1990.Costa, Joan: Reinventar la publicidad.Reflexiones desde las ciencias sociales.Fundesco, Madrid, 1993.Comunicación corporativa y revoluciónde los servicios. Ciencias Sociales, Madrid,1995.Hébert, Nicóle: La empresa y su imagen.Deusto, Bilbao, 1988.Johnsson, H.: La gestión de lacomunicación. Ciencias Sociales, Madrid,1991.Kotler, Philip et alt: Introducción almarketing. Prentice Hall, Madrid, 1999, 2ªed europea.Lucas, Antonio: La comunicación en laempresa y en las organizaciones, Bosch,Barcelo<strong>na</strong>, 1997.Regouby, Christian: La comunicaciónglobal: cómo construir la imagen de u<strong>na</strong>empresa. Gestión 2000, Barcelo<strong>na</strong>, 1989.Rei<strong>na</strong>res, Pedro y Calvo, Sergio: Gestiónde la comunicación comercial. Mc Graw Hill,Madrid, 1999.Santesmases, M.: Marketing: conceptosy estrategias. Pirámide, Madrid, 1999, 4ª ed.Sanz De La Tajada, L. Á.: Integraciónde la identidad y la imagen de la empresa.ESIC, Madrid, 1994.“Comunicaciones de la empresa con suentorno” en IPMARK, nº 514, 1-31 diciembre,1998“Comunicación institucio<strong>na</strong>l versuscomunicación comercial” en IPMARK, nº515, 1-31 enero, 1999.Villafañe, Justo: Imagen positiva. Gestiónestratégica de la imagen de las empresas.Pirámide, Madrid, 1998,Villafañe, Justo (dtor): El esta<strong>do</strong> de lapublicidad y el corporate en España. Informesanuales 1999, 2000 y 2001. Pirámide, Madrid,1999.VV.AA.: Dirección de comunicaciónempresarial e institucio<strong>na</strong>l. Gestión 2000,Barcelo<strong>na</strong>, 2001.VV.AA: Los principios del marketing.ESIC / Cuadernos Cinco Días, Madrid, 1996~VV.AA: Publicidad y merca<strong>do</strong>, Institutode Europa Occidental, Madrid, 1992._______________________________1Facultad de Comunicación. UniversidadPontificia de Salamanca.2Esta crisis más que económica fue u<strong>na</strong> crisisestructural en la que variaron las relaciones entrelos agentes del sistema publicitario y se cuestionóel papel de la agencia de publicidad. La crisishizo emerger otros procesos de comunicació<strong>na</strong>plicada con u<strong>na</strong> clara tendencia a transmitiratributos de la identidad de las empresas, endetrimento de la percepción de los atributos delos productos a audiencias cada vez másfragmentadas.3La saturación de mensajes publicitariosreferi<strong>do</strong>s a productos en los principales mediospublicitarios y el acortamiento del ciclo de vidade los productos (frente a la perdurabilidad dela comunicación corporativa) constituyen <strong>do</strong>sfactores que evidencian la innegable pérdida deeficacia de los mensajes y de las actividadescomunicativas de las empresas.4Las marcas, al igual que los productos,transmiten los mismos rasgos simbólicos.5Es lo que COSTA (1995) ha denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>la revolución de los servicios. Con esta revoluciónlas empresas empiezan a otorgar más importanciaa lo soft, al servicio como elemento dediferenciación en sus estrategias empresariales. Y,en este senti<strong>do</strong>, la comunicación corporativa esa la revolución de los servicios lo que la publicidadfue a la revolución industrial.6VILLAFAÑE (1999) entiende por imagencorporativa “la integración en la mente de suspúblicos de to<strong>do</strong>s los inputs emiti<strong>do</strong>s por u<strong>na</strong>empresa en su relación ordi<strong>na</strong>ria con ellos”. Sia<strong>na</strong>lizamos esta definición tenemos que decir, enprimer lugar, que la imagen se construye en lamente de los públicos. Es decir, que elprotagonismo en la construcción de la imagencorporativa lo tiene, en última instancia, el públicoy no la empresa. Por otro la<strong>do</strong>, se utiliza el términoinput y no el de mensaje porque engloba a u<strong>na</strong>gran diversidad de manifestaciones corporativas,muchas de ellas, sin ningu<strong>na</strong> vocacióncomunicativa. También este mismo autor nosexplica cuáles son los componentes de la imagen


656 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcorporativa. La integran tres conjuntos: 1. Elcomportamiento corporativo (comprende lasactuaciones de la empresa en el plano funcio<strong>na</strong>ly operativo de sus procesos productivos), 2. Lacultura corporativa (es la construcción social dela identidad de la organización, es decir, el mo<strong>do</strong>que tiene la organización de integrar y expresarlos atributos que la definen, o dicho de otra maneramás simple, el mo<strong>do</strong> de ser y de hacer de laorganización), y 3. La perso<strong>na</strong>lidad corporativa(es el conjunto de manifestaciones que la empresaefectúa voluntariamente con la intención deproyectar u<strong>na</strong> imagen intencio<strong>na</strong>l entre suspúblicos objetivos a través, principalmente de suidentidad visual y de su comunicación).7NEBOT, Enrique. “El director decomunicación: razones para u<strong>na</strong> utopía” enBENAVIDES, J. (ed.):”El director decomunicación”, Edipo, Madrid, 1993, p. 35. Eneste mismo senti<strong>do</strong> se expresa REGOUBY(1989:69) al afirmar que “la empresa sale de sucírculo económico, i<strong>na</strong>ccesible y frío para entraren u<strong>na</strong> nueva relación amistosa, crean<strong>do</strong> unverdadero diálogo con el consumi<strong>do</strong>r”.8BENAVIDES, J., GARCÍA, J. yRODRÍGUEZ, A.: “La publicidad y el corporateen 1998” en VILLAFAÑE, J. (dtor): El esta<strong>do</strong>de la publicidad y el corporate en España. CAVPI, Madrid, 1999, pps. 195-197.9El término corporate, de origen anglosajón,significa “to<strong>do</strong>s aquellos procesos (y no sólo losde <strong>na</strong>turaleza comunicativa) que contribuyen aforjar u<strong>na</strong> imagen de u<strong>na</strong> organización en la mentede sus públicos y de la sociedad en general” (Ibid.VILLAFAÑE, J., 1999, pps 219-227).10Este órgano central suele articularse en u<strong>na</strong>dirección de comunicación encargada de lacomunicación e imagen corporativa de lasempresas y organizaciones. Y son muchos losacadémicos y profesio<strong>na</strong>les que recomiendansituar a este departamento o unidad específicaencargada de la gestión de la comunicación enu<strong>na</strong> primera línea ejecutiva y ser partícipe enla dirección de la compañía o tenien<strong>do</strong>interlocución directa con la presidencia parapoder gestio<strong>na</strong>r toda la comunicación (Costa,2001:62).11Por planificación estratégica corporativaentendemos el proceso directivo de desarrollo ymantenimiento de un ajuste viable entre losobjetivos y recursos de la empresa y las cambiantesoportunidades del merca<strong>do</strong> (Kotler et alt.,1999:35). Este proceso de planificación y losconceptos y herramientas que la soportan favoreceun pensamiento estratégico por parte de laorganización, fuerza a la empresa a definir conprecisión sus objetivos y políticas, conduce a u<strong>na</strong>mejor coordi<strong>na</strong>ción de esfuerzos y proporcio<strong>na</strong>cifras más fáciles de controlar.12Estos sistemas se les suelen denomi<strong>na</strong>r SIM(Sistemas de Investigación e Información deMarketing) y se refieren al “conjunto deelementos, instrumentos y procedimientos paraobtener, registrar y a<strong>na</strong>lizar datos, con el fin detransformarlos en información útil para tomardecisiones en marketing” (Santesmases,1999:275).13Adapta<strong>do</strong> de Sanz de la Tajada, L.A.:“Comunicaciones de la empresa con su entorno”en IPMARK, nº 514, 1-31 diciembre, 1998, p. 90.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO657Intencio<strong>na</strong>lidade e Diferença:Uma Aproximação Fenomenológica àIntersecção Acção/Comunicação/InformaçãoFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Ilharco 1IntroduçãoEste paper apresenta uma análisefenomenológica da informação, especialmenteno que respeita à sua relação com os fenómenosacção, da<strong>do</strong>s, comunicação e conhecimento.Nesta investigação questio<strong>na</strong>-se apertinência da linearidade evolutiva, usualmenteaceite, entre da<strong>do</strong>s-informação-conhecimento.Ao investigarmos o fenómeno informaçãobaseamo-nos <strong>na</strong> ontologia desenvolvidapelo filósofo alemão MartinHeidegger (1889-1976), <strong>na</strong> sua obra Sein undZeit (1962 [1927]). Assim, interessa-nos oque a informação é-no-mun<strong>do</strong>, onde sempre--e-já cada um de nós, homem, se encontrano âmbito de uma intencio<strong>na</strong>lidade funda<strong>do</strong>ra.Conscientes, isto é, conscientes de algo(Husserl, 1982 e 1995), a intencio<strong>na</strong>lidadesurge como o fundamento primário <strong>do</strong> ser--no-mun<strong>do</strong> que somos. 2 Estas noçõesfenomenológicas – consciência e intencio<strong>na</strong>lidade– estabelecem-se antes de qualquerconsideração sobre o mun<strong>do</strong> e o sujeito; elasprecedem, por exemplo, a dicotomiacartesia<strong>na</strong> sujeito-objecto. Enquanto noçõesfunda<strong>do</strong>ras, a consciência e a intencio<strong>na</strong>lidadeestão tanto <strong>na</strong> mente <strong>do</strong> sujeito como no seucorpo, como no mun<strong>do</strong> em que ele mesmo,sujeito, está imerso (Ilharco e Intro<strong>na</strong>, 2004).Ao investigarmos fenomenologicamentea informação, tomamo-la no seu senti<strong>do</strong>fundamental: Qual a essência da informação?Quais as relações primárias <strong>do</strong> fenómenoinformação? Se assim se pudesse dizer, comoessenceia a informação? Na nossa análiseaponta-se a primazia estrutural daintencio<strong>na</strong>lidade huma<strong>na</strong>, <strong>do</strong> profissio<strong>na</strong>lconcreto, já-em-acção visan<strong>do</strong> objectivos edan<strong>do</strong> constantemente senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>.A acção, a acção-já-em-curso, surge comoo critério basilar que permite distinguir eassim relacio<strong>na</strong>r os fenómenos usualmenteaponta<strong>do</strong>s como da<strong>do</strong>s, informação, conhecimento.Esta aproximação fenomenológicanão transporta nem a linearidade nem asimplicidade de muitas das propostas correntes.Lembramos no entanto que esse facto,em si mesmo, não é argumento; <strong>na</strong>da nosdiz que as mais claras classificações sejamverdadeiras, nem que as classificações verdadeirassejam de facto as mais claras(Cartwright, 1983; Ilharco e Angell, 2004).Para além <strong>do</strong> rigor <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> fenomenológicoque utilizamos e da ontologia em queenquadramos esta investigação, defendemosque a pertinência desta análise assenta <strong>na</strong>forma intuitiva e evidente como, esperamos,ela surja ao leitor, conhece<strong>do</strong>r e familiariza<strong>do</strong>com as muitas e variadas manifestações<strong>do</strong> fenómeno informação.Ser-No-Mun<strong>do</strong>Esta investigação assenta ontologicamente<strong>na</strong> teoria fenomenológica sobre a existênciahuma<strong>na</strong> desenvolvida por Heidegger (1927,1962), este tenta descrever o mun<strong>do</strong> tal comoem qualquer tempo ou circunstância, nósmesmos, seres humanos, previamente oexperimentámos. Esse mun<strong>do</strong> prévio, essafundação primeiríssima, é o evento funda<strong>do</strong>rda experiência huma<strong>na</strong> – aquilo a que tantoas teorias empiristas como intelectualistas sereferem. O mun<strong>do</strong> tal como é, antes dequalquer reflexão sobre ele mesmo, não énunca quaisquer das teorias presentes, passadasou futuras, mas antes é o fenómenoque essas mesmas teorias pressupõem e aoqual se referem. Assim, no mun<strong>do</strong>, ou seja–sempre-e-já-no-mun<strong>do</strong>, nós mesmos, o sercuja em tradição de existência se veio desig<strong>na</strong>ra si mesmo pela palavra homem, man,homme, uomo, etc., é formalmente indica<strong>do</strong>como ser-no-mun<strong>do</strong>. Aí, no-mun<strong>do</strong>, somoso mun<strong>do</strong>aí, aizan<strong>do</strong>. Heidegger indica ohomem pela expressão alemã Dasein, literalmenteser-aí. 3No-mun<strong>do</strong>, Daseins, aizan<strong>do</strong>, somosperitos <strong>na</strong> acção no mun<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> e o


658 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVser-aí são duas distinções <strong>do</strong> fenómenoprimário, único, total e primeiro que é o serno-mun<strong>do</strong>que nós mesmos somos. Assim,no-mun<strong>do</strong> estamos já e sempre em acção.A acção é o mun<strong>do</strong> feito humano <strong>na</strong> linguagem,no significa<strong>do</strong>, <strong>na</strong> abertura <strong>do</strong> que podeser, das possibilidades que o futuro podetrazer. Para Heidegger, o homem é o ser cujaessência, isto é, no qual aquilo que maisessencialmente o define, é o seu próprio mo<strong>do</strong>de ser. O homem é o ser cujo mo<strong>do</strong> de serse constitui <strong>na</strong> sua própria essência, isto é,cuja existência é a sua essência. Essencialmenteexistin<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>, já-e-sempreenvolvi<strong>do</strong> no-mun<strong>do</strong>, reparan<strong>do</strong> e cuidan<strong>do</strong>,o homem, Dasein, é o ser à frente-de-sipróprio,sempre-e-já projectan<strong>do</strong> possibilidadespara o futuro. Nesta projecção primária,sobre a qual se alicerça o entendimento,Dasein é equiprimordialmente revela<strong>do</strong> comoo ser-atira<strong>do</strong>-no-mun<strong>do</strong>, porque essencialmenteele é também um ter-si<strong>do</strong>. Enquantoser-que-projecta, responsável por aquilo quevai ser, ele é o que é sempre-e-já com umpassa<strong>do</strong>. Assim sen<strong>do</strong> um ter-si<strong>do</strong>-nomun<strong>do</strong>,o homem cuida, preocupa-se envolve-se,porque tem que escolher face ao tempoprimordial que o futuro já-e-sempre é. Sen<strong>do</strong>essencialmente essa escolha funda<strong>do</strong>ra, umaprojecção primordial de possibilidades de ser,estas mesmas possibilidades revelam-se <strong>na</strong>snossas sempre presentes disposições, incli<strong>na</strong>ções,intenções e acções. São estas intenções,ou antes, é esta intencio<strong>na</strong>lidade defun<strong>do</strong> e funda<strong>do</strong>ra que sempre-e-já nosprojecta no-mun<strong>do</strong>, por isso no futuro. Instintivamenteagimos, fazemos, pensamos,conforme às possibilidades que o ter-si<strong>do</strong>--que-projecta que somos revela para nóspróprios. Mantemos a congruência porqueessas possibilidades são o que aprioristicamentenos mantém uni<strong>do</strong>s como o mesmo,como o ser que é para o futuro, <strong>na</strong> minzissenomun<strong>do</strong>. Dessa forma, intuitiva e instintivamenterepetimos o que para nós mesmosse revelou apropria<strong>do</strong>, que funcionou, unin<strong>do</strong>o futuro ao passa<strong>do</strong> conforme nós própriossomos para nós mesmos. Assim, no--mun<strong>do</strong>, como um ter-si<strong>do</strong> que projecta,baseamo-nos no futuro. É o futuro, enquantototalidade de possibilidades <strong>na</strong>s quais sempre-e-jáestamos envolvi<strong>do</strong>s, que é a baseontológica <strong>do</strong> ser que somos.Familiaridade e DiferençaApesar de nunca ter existi<strong>do</strong> uma definiçãode informação que implícita ou explicitamentetivesse si<strong>do</strong> universalmente aceite,a nossa época assume para si mesmo o nomede informação: sociedade da informação. Arazão aparente desse facto é a de a informaçãotecnológica – independentemente dea podermos considerar de um ponto de vistaconceptual como da<strong>do</strong>s, como informaçãopropriamente dita ou mesmo como conhecimento– se constituir hoje em dia numabase determi<strong>na</strong>nte das actividades <strong>do</strong>s homensno mun<strong>do</strong> mais desenvolvi<strong>do</strong> (Ilharco, 2004).O que é, então, a informação? O que éessencial para que a informação seja reconhecidacomo aquilo que ela é? Se assim sepudesse indicar, como essenceia a informação?Tomemos uma das teses que mais tem<strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong> a sociedade tecnológica einformacio<strong>na</strong>l contemporânea: a relação linearentre da<strong>do</strong>s, informação e conhecimento.Nesta relação a informação é a noçãocentral. Da<strong>do</strong>s, por exemplo, uma folha deExcel preenchida com siglas, números ecálculos vários, só deveria ser consideradainformação quan<strong>do</strong> adquirisse significa<strong>do</strong>. Osda<strong>do</strong>s, de acor<strong>do</strong> com este entendimento, nãotêm significa<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> esses da<strong>do</strong>s ganhamsignifica<strong>do</strong> eles passam a informação. Da<strong>do</strong>ssão “any representation such as charactersor a<strong>na</strong>log quantities to which meaning is, ormight be, assigned” (ANSIS, 1990). A contrario,os da<strong>do</strong>s são informação sem significa<strong>do</strong>.A informação é assim definida comoda<strong>do</strong>s que foram objecto de processamentode forma a serem significativos para umindivíduo numa tomada de decisão (Hicks,1993: 675) (da<strong>do</strong>s + significa<strong>do</strong> = informação).Neste entendimento as noções de informaçãoe da<strong>do</strong>s fecham-se num circulo, noqual a caracterização de cada um daquelesfenómenos depende da previa caracterização<strong>do</strong> outro; informação são da<strong>do</strong>s com significa<strong>do</strong>,e da<strong>do</strong>s são informação sem significa<strong>do</strong>.Aquela noção de informação é depoisadicio<strong>na</strong>da a noção de experiência, obten<strong>do</strong>seassim o conceito de conhecimento (informação+ experiência = conhecimento). Nestepaper mostraremos, assim o esperamos, que


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO659esta classificação é contestável, entre outrosaspectos, porque os da<strong>do</strong>s enquanto tal, ouseja to<strong>do</strong> o tipo de distinções em que estamosenvolvi<strong>do</strong>s, já têm significa<strong>do</strong>.No-mun<strong>do</strong>, imerso e agin<strong>do</strong>, um profissio<strong>na</strong>l,um técnico ou um gestor já está aestabelecer distinções. Um profissio<strong>na</strong>l habitao que é familiar e nota o que é diferente.Sempre-e-já-no-mun<strong>do</strong>, em acção – e oprofissio<strong>na</strong>l está sempre em acção não porser um profissio<strong>na</strong>l mas por ser humano…– ele depende de uma rectaguarda de entendimentoprévia no âmbito da qual detectanovas diferenças e faz novas distinções. Estassão detectadas conforme ao ter-si<strong>do</strong>-queprojectaque ele mesmo é. Assim, tanto osda<strong>do</strong>s como a informação são sempre aquiloque são numa determi<strong>na</strong>da intencio<strong>na</strong>lidade.Assim, submetemos que, em termos rigorosos,um exemplo de uma e outra noção éalgo mais complexo e contextualiza<strong>do</strong>.O mo<strong>do</strong> como os da<strong>do</strong>s têm um senti<strong>do</strong>,uma vez que foram distingui<strong>do</strong>s, isto é,destaca<strong>do</strong>s de um background, depende <strong>do</strong>momento em que se encontra / é / está aquelemesmo profissio<strong>na</strong>l, concreto, em função daprojecção que ele, sen<strong>do</strong> um ter-si<strong>do</strong>, é desi mesmo para si próprio. O senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s, por mais desliga<strong>do</strong>s que sejam daacção em que o profissio<strong>na</strong>l está envolvi<strong>do</strong>,depende essencialmente dele próprio e não<strong>do</strong> que objectivamente esses mesmos da<strong>do</strong>spoderiam ser para um observa<strong>do</strong>r.Sen<strong>do</strong>-no-mun<strong>do</strong>, habitamos o que nos éfamiliar, conforme ao que nós somos e nãoconforme a quaisquer características à-vista,Vorhanden (Heidegger, 1962) dessas terceirasentidades. A familiaridade de uma dadaentidade, física ou não, depende de a termosexperimenta<strong>do</strong> muitas e variadas vezes, emsenti<strong>do</strong> fenomenológico, isto é, visto, utiliza<strong>do</strong>,senti<strong>do</strong>, etc. Nessa experimentaçãodesenvolve-se um processo de indução nãoconsciente, o qual nos põe à vontade comaquela entidade (Schmitt, 1996: 141).A relevância daquilo que experimentámose da forma como o fizemos para o desenvolvimentode novas experiências é algo quetestemunhamos vida fora. Consideremos umexemplo comunicacio<strong>na</strong>l relativamente trivial.Por vezes quan<strong>do</strong> encontramos alguém queconhecemos, mas num local e num momentodiverso daquele em que habitualmente nosrelacio<strong>na</strong>mos com essa pessoa, como porexemplo a nossa vizinhança ou a empresaonde trabalhamos, inicialmente, podemos nãosaber bem quem é aquela pessoa que conhecemos...Este para<strong>do</strong>xo deve-se ao facto <strong>do</strong>contexto, isto é, <strong>do</strong> background, em que essapessoa habitualmente nos surge como elamesma, se ter altera<strong>do</strong> e dessa forma nãonos ser imediatamente intuitivo estabelecerquem de facto ela é; essencialmente, nãoestávamos à espera dela... 4 A alteração <strong>do</strong>background deixa necessariamente surgirdiferentes diferenças, passe o pleo<strong>na</strong>smo,porque qualquer realidade surge diversa emfunção <strong>do</strong>s critérios que utilizarmos para apenetrar, entender e classificar. Quer isto dizerque aquilo que as coisas são depende <strong>do</strong>contexto em que elas surgem, bem como <strong>do</strong>background em que nós próprios, <strong>na</strong> minzisseque somos, estamos envolvi<strong>do</strong>s e não dequalquer contexto ou background de terceiros.Não existe posição alguma fora <strong>do</strong> tersi<strong>do</strong>que somos, fora da história, a partir daqual possamos dar senti<strong>do</strong> ao que nos cerca. 5Um ser humano não ‘recebe’ da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>meio envolvente ou de qualquer outro serhumano. Dizer não assegura ouvir. Acedemosao que distinguimos no-mun<strong>do</strong> conformeao que nós mesmos essencialmente somose ao mo<strong>do</strong> como estamos a cada instante,isto é, de acor<strong>do</strong> com os nossos própriostermos, com a minzisse. Desta posiçãoontológica tor<strong>na</strong>-se clara a existência delimites à capacidade de fazer senti<strong>do</strong>, deatribuir significa<strong>do</strong>s, quer ao que nos surgede novo quer ao já conheci<strong>do</strong> <strong>na</strong>s suasmúltiplas variações. A nova distinção surgenum processo de atribuição de significa<strong>do</strong>,o que quer dizer de estabelecimento dereferências e de possibilidades. O seu significa<strong>do</strong>não é algo da<strong>do</strong>, aí fora, objectivo,constante e claro para to<strong>do</strong>s nós. Ao contrário,o significa<strong>do</strong> das coisas e <strong>do</strong>s acontecimentos,por isso, o que eles são, é algoque deve ser procura<strong>do</strong> no carácter humanode cada manifestação. O significa<strong>do</strong> de umanova distinção, a captação pelos senti<strong>do</strong>sde algo que nos surge – seja numa conversa,<strong>na</strong> leitura de um texto, ou simplesmentereflectin<strong>do</strong> – obtém assim o seu primeirosignifica<strong>do</strong> com base no contexto em que nósmesmos, individualmente, conforme ao tersi<strong>do</strong>-que-projectaque somos, somos e esta-


660 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVmos imersos. De alguma forma, por umprocesso dialéctico, algum entendimentoparcial é utiliza<strong>do</strong> para entender melhor adistinção que nos surge, como que utilizan<strong>do</strong>peças de um puzzle para tentar descobriraquilo que está em falta (Palmer, 1969: 25).Cada novo elemento, cada da<strong>do</strong> que nossurge, em rigor cada da<strong>do</strong> que nos é da<strong>do</strong>no meio em que estamos imersos, é incorpora<strong>do</strong>,apreendi<strong>do</strong>, absorvi<strong>do</strong> não objectivamente‘como aquilo que ele é’, mas comonós o tomamos ou entendemos. Isto significaque o senti<strong>do</strong> de uma diferença, oudistinção, ou da<strong>do</strong>, para uma certa pessoa,de forma a que aquela mesma diferença possaser a diferença que é, depende dessa mesmapessoa que distingue aquela mesma diferença.Deste mo<strong>do</strong>, a diferença que cada da<strong>do</strong>é para o ser humano que a distinguiu, só podeser descrita ou entendida em termosrigorosos’a posteriori, porque só depois dasua absorção, pode um terceiro, um observa<strong>do</strong>rmesmo que um auto-observa<strong>do</strong>r, testemunharo tipo de comportamentos desencadea<strong>do</strong>spor aquela mesma distinção. Assim,por exemplo, a audição de uma novacomposição musical pode contribuir paraalterar o nosso gosto musical, mas podetambém alterar o entendimento que temos <strong>do</strong>contexto mundial político e social em queestamos imersos 6 , 7 .A Intenção que Faz a DiferençaA essência da informação poderá serrevelada a partir <strong>do</strong> seu próprio nome, <strong>na</strong>palavra que aponta a coisa em causa. Ainformação é uma formação inter<strong>na</strong> ou interior.8 Este significa<strong>do</strong> assenta <strong>na</strong>s origenslati<strong>na</strong>s da palavra informação: o verbo informo(Crane, 2002; Cunha, 1982: 436, 364e 429), que juntou as expressões in e forma,para significar dar forma a uma coisa,modelar, formar, moldar, formar uma ideiasobre algo, representar, delinear, esboçar,instruir, educar, informar (Crane, 2002). Apalavra informação significa assim a imposiçãode uma forma, de uma modelação oude contornos sobre uma coisa, uma ideia, umaentidade distinguida no meio envolvente emque está e é o ser humano, a pessoa, queimpõe aquela forma. Esta imposição é in,interior, vem de dentro, da própria pessoaque é informada ou que se informa. Informação,ser informa<strong>do</strong>, é assim essa formaçãointerior, de mim para mim próprio,atribuin<strong>do</strong> uma forma, determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s contornos,a uma diferença. A pessoa ao distinguiralgo de novo, traz para si mesma, para oslimites daquilo que ela é, in-, aquela distinção,a qual, enquanto distinção, tem sempree-jáum primeiro senti<strong>do</strong>, uma primeira formaou modelação. O significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> prefixo inéprecisamente a indicação <strong>do</strong> ter-si<strong>do</strong>-queprojectaque essencialmente somos. Informaré trazer para o horizonte de significa<strong>do</strong>, <strong>do</strong>to<strong>do</strong> referencial em que cada um de nós estáimerso, algo já distingui<strong>do</strong> conforme aosnossos próprios termos, à minzisse. Os limitesno âmbito <strong>do</strong>s quais a informação formaassentam no contexto hermenêutico que acada momento cada um de nós é.Mas informação não é ape<strong>na</strong>s o in-formo,mas antes a in-form-ação. Às expressõeslati<strong>na</strong>s in e forma junta-se a expressão –ação,a qual vem <strong>do</strong> sufixo latino -ation, -atio, quesignificava acção ou processo (MW, 2004).Inform-acção é por isso a acção ou o processoque forma interiormente; é a acção quein-forma. Esta acção que informa, por suavez, pode ape<strong>na</strong>s surgir <strong>na</strong> sua diferença,significa<strong>do</strong> e carácter informativo, por isso,transformativo e fazen<strong>do</strong> a diferença, porquea própria acção é o que é ex ante, prévia,implícita e ontologicamente tida como afundação <strong>do</strong> próprio ser, <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, daexistência enquanto tal; se assim não fosse,a informação não seria um tipo de acção.Informação é um tipo de acção, uma acçãoque é o surgir da diferença que para mimpróprio faz a diferença, porque a acção, elamesma, é o que já-é, o que conta enquantobase daquilo que pode informar. A informação,a acção que informa, é desti<strong>na</strong>da, assim,desde o inicio e fundamentalmente, isto é,<strong>na</strong> sua essência indivisível, à própria acção– este é também o argumento ontológico emque esta investigação assenta.O da<strong>do</strong>, por sua vez, é como a palavraindica algo da<strong>do</strong>, gratuito. Um da<strong>do</strong> ou váriosda<strong>do</strong>s têm assim um carácter de disponibilidade,de uma presença prévia. Da<strong>do</strong>s sãoalgo que acedemos sem esforço, os da<strong>do</strong>scercam-nos e vêm ter connosco como algoque nos é da<strong>do</strong> – “os da<strong>do</strong>s abundam e sãofacilmente acessíveis” (Gleason, 2004). Como


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO661ser-no-mun<strong>do</strong>, o ser humano está sempre-ejáimerso em da<strong>do</strong>s. O da<strong>do</strong>, desta forma,de um ponto de vista conceptual, é aquiloque um indivíduo distingue no seu meioenvolvente, enquanto pura distinção.Esta análise levanta então a questão dapossível equivalência entre as noções, osconceitos, as distinções de da<strong>do</strong>s e de informação.Serão da<strong>do</strong>s e informação sinónimos?A resposta a esta pergunta, com baseno exposto até ao momento e <strong>na</strong> argumentaçãoque abaixo continuamos a desenvolver,é simultaneamente sim e não. Sim e não,porque cada um <strong>do</strong>s conceitos ou noções secoloca em níveis diferentes <strong>do</strong> envolvimento,da acção e da intencio<strong>na</strong>lidade funda<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>tersi<strong>do</strong>- que-projecta, que é o ser humano nomun<strong>do</strong>.Sim e não, porque da<strong>do</strong>s ou informação,distinções sempre e ape<strong>na</strong>s possíveispelo significa<strong>do</strong> que o mun<strong>do</strong>, que tu<strong>do</strong> nomun<strong>do</strong>essencialmente é, são originária eevidentemente assentes em alguém, num serhumano concreto” – como brilhantementesalientou Arendt (1998), no-mun<strong>do</strong>, o Homemnão existe, existem ape<strong>na</strong>s homens.O da<strong>do</strong>, a informação, a distinção, adiferença é sempre aquilo que é–para alguém;para alguém já imerso num to<strong>do</strong> referencial,que é um ter-si<strong>do</strong>, à frente dele próprio,projectan<strong>do</strong> possibilidades para o futuro,visan<strong>do</strong> algo imediato, concreto, para umoutro algo mais distante, no âmbito daapropriação de uma possibilidade de ser.Sempre-e-já-no-mun<strong>do</strong>, toda e qualquerentidade que um ser humano distinga, necessariamente,é destacada de uma retaguardade entendimento que lhe proporcio<strong>na</strong> oseu primeiro senti<strong>do</strong>, as suas referênciasiniciais. De uma perspectiva fundamental, porisso, individual – como to<strong>do</strong> o ser humanoexperimenta o mun<strong>do</strong> –, tanto os da<strong>do</strong>s comoa informação são uma formação inter<strong>na</strong>.Assim em termos rigorosos e fundamentaisnão existe diferença entre da<strong>do</strong>s e informação;ambos têm significa<strong>do</strong> porque sobressaemcontra uma retaguarda de entendimento,contra um background. No entanto, ten<strong>do</strong>presente a unidade deste fenómeno eenfatizan<strong>do</strong> que o fenómeno é conforme aele mesmo e não conforme às palavras queo indicam, devemos destacar neste ponto daanálise um outro aspecto.O ser humano é um observa<strong>do</strong>r delepróprio. Cada um de nós é essencialmentea sua própria questão. Somos auto-observa<strong>do</strong>res.Desta forma observamos o nossopróprio comportamento, o desempenho quesomos e que temos em função de reacçõesdesencadeadas enquanto imersos em da<strong>do</strong>s,assentan<strong>do</strong> no que nos é familiar e distinguin<strong>do</strong>e focan<strong>do</strong> aquilo que nos surge denovo e de diferente. Assim, de um pontode vista de um observa<strong>do</strong>r, mesmo sen<strong>do</strong> esseobserva<strong>do</strong>r um auto-observa<strong>do</strong>r, um significa<strong>do</strong>mais rigoroso da formação interior,essencial à informação, é a sua relevânciapara um da<strong>do</strong> rumo de acção já em curso,por exemplo, para um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> padrãode intencio<strong>na</strong>lidade uni<strong>do</strong> pelo que projecta<strong>do</strong> ter-si<strong>do</strong>-que-projecta que uma determi<strong>na</strong>dapessoa é. Um indivíduo relacio<strong>na</strong> o seucomportamento com a modelação de determi<strong>na</strong>dadistinção que destacou <strong>do</strong> meioenvolvente. Essa distinção é modelada peloter-si<strong>do</strong>-que-projecta, pela identidade <strong>do</strong> indivíduoem causa, a qual forma interiormenteo significa<strong>do</strong>, isto é, constitui interiormenteo tipo de referências e de possibilidadesrelevantes para o envolvimento singulardaquele indivíduo. Deste ponto de vista, adiferença, a distinção ou os da<strong>do</strong>s, podemapropriadamente ser indica<strong>do</strong>s como informação– informação porque informam aacção em que o indivíduo já está envolvi<strong>do</strong>;informação porque se trata de da<strong>do</strong>s, dediferenças, que fazem diferença para a acçãoem curso. Ao contrário da informação, ou<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s toma<strong>do</strong>s como informação, osda<strong>do</strong>s como da<strong>do</strong>s não afectam, <strong>na</strong> perspectivade um observa<strong>do</strong>r ou auto-observa<strong>do</strong>r,a acção em curso <strong>do</strong> indivíduo que os distinguiu.Os da<strong>do</strong>s podem assim ser indica<strong>do</strong>s,enquanto noção teórica, como informaçãodescontextualizada, isto é, como informaçãoque não informa, porque apesar de,de facto, informarem, eles, no entanto, nãoafectam, alteram, modelam ou formam oenvolvimento e a acção efectiva em que osujeito já está imerso.Ao contrário <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, a informaçãoconstitui o tipo de diferença cujo significa<strong>do</strong>fundamental assenta <strong>na</strong> sua <strong>na</strong>tureza futura.Informação é a diferença formada inter<strong>na</strong>menteao sujeito, conforme a ele mesmo e


662 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVnos seus próprios termos, afectan<strong>do</strong> o seucomportamento que-projecta, tal como podeser testemunha<strong>do</strong> por um observa<strong>do</strong>r ou autoobserva<strong>do</strong>r.Informação é por isso o que éessencialmente forma<strong>do</strong> e dirigi<strong>do</strong> para ofuturo. É algo que nos foi da<strong>do</strong> ou queacedemos e que de acor<strong>do</strong> com nós mesmosfaz a diferença face à possibilidade de nãonos ter si<strong>do</strong> da<strong>do</strong> ou de não ter si<strong>do</strong> acedi<strong>do</strong>.De uma perspectiva ex post, em termosfenomenológicos, devemos considerar osda<strong>do</strong>s como da<strong>do</strong>s, ofereci<strong>do</strong>s, gratuitos e ainformação como formada, constituída, desenvolvida.Estas noções essenciais sobre o fenómenoda informação em senti<strong>do</strong> lato emergemno âmbito da acção, <strong>do</strong> ser que somossempre-e-já-no-mun<strong>do</strong>, como critério primário<strong>do</strong> significa<strong>do</strong>. Desta forma um profissio<strong>na</strong>l,é os seus objectivos transpostos paraa acção, os quais a cada momento lhe sugerema distinção entre a informação e os da<strong>do</strong>s.Ou seja, para ele, profissio<strong>na</strong>l, imerso emda<strong>do</strong>s, agin<strong>do</strong>, determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s são aponta<strong>do</strong>scomo informação porque foram aquelesos da<strong>do</strong>s que fizeram a diferença noâmbito da acção, intenção, em que ele mesmojáestava envolvi<strong>do</strong>.O surgir de algo que informa é o encontrardaquilo que se está a procurar. A informaçãosão os da<strong>do</strong>s com significa<strong>do</strong> relevantepara a acção em que o profissio<strong>na</strong>l estáenvolvi<strong>do</strong>, porque alteram, completam,modificam, desenvolvem o to<strong>do</strong> referencial,a rede de relações que para ele mesmo ligaumas coisas a outras, factos a eventos, apessoas, a ideias, etc., e o faz ser o que éno-mun<strong>do</strong> no âmbito de uma intencio<strong>na</strong>lidadefunda<strong>do</strong>ra. São estas ligações e referênciasque abrem, fecham e sugerem possibilidadesque constituem o próprio significa<strong>do</strong>. Nomun<strong>do</strong>,o ser humano está-já-e-sempre projecta<strong>do</strong>sobre o futuro, avalian<strong>do</strong> possibilidadesde fazer e de ser, escolhen<strong>do</strong> certoscaminhos ou opções e aban<strong>do</strong><strong>na</strong>n<strong>do</strong> outrostantos.É nesse contexto ontológico que os da<strong>do</strong>s,como informação, fazem a diferença. Tu<strong>do</strong>,literalmente, no-mun<strong>do</strong> tem por isso significa<strong>do</strong>.Ser é ser algo. Ser é surgir, constituiruma distinção, entrar no horizonte de significa<strong>do</strong>em que o mo<strong>do</strong> de ser humano éo que é no-mun<strong>do</strong>. Os da<strong>do</strong>s, por isso, játêm significa<strong>do</strong> ou pura e simplesmente nuncateriam surgi<strong>do</strong> como da<strong>do</strong>s, como algo quenos é ofereci<strong>do</strong>, que aí está, mas que nãofaz a diferença para o tipo de acção em queestamos envolvi<strong>do</strong>s, para o tipo de projecçãoque somos. O significa<strong>do</strong> já-e-sempre é no--mun<strong>do</strong>; é o mun<strong>do</strong>. Não podemos decidiro significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, porque as coisas,as distinções surgemnos como elas já são,ora como da<strong>do</strong>s ora como informação. Assim,no-mun<strong>do</strong> não há da<strong>do</strong>s sem significa<strong>do</strong>.To<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s têm o preciso significa<strong>do</strong> combase no qual eles mesmos e enquanto tal sãodistingui<strong>do</strong>s. Tal como não captamos purosda<strong>do</strong>s sensoriais sem senti<strong>do</strong>, os quais posteriormenteteríamos que interpretar, tambémnão ouvimos puros sons sem significa<strong>do</strong>(Dreyfus, 1991: 218). Ouvimos a porta fechar-sedentro de casa e nunca uma simplessensação acústica ou ape<strong>na</strong>s um mero som(Heidegger, 1971: 26). O que primeiroouvimos não são barulhos ou sonsdescontextualiza<strong>do</strong>s, mas o avançar de umcarro ou o passar de uma mota... O ouvirum ‘puro barulho’ requer um esta<strong>do</strong> mentalmuito artificial e complica<strong>do</strong> (Heidegger,1962: 207). No-mun<strong>do</strong>, as coisas elas mesmas,<strong>na</strong> sua significância, estão muito maisperto de nós <strong>do</strong> que todas as sensações(Heidegger, 1971: 26).Quan<strong>do</strong> um profissio<strong>na</strong>l se refere a ‘da<strong>do</strong>ssem senti<strong>do</strong>’, ele está ape<strong>na</strong>s a afirmarque aquilo que lhe chegou à mão, aquilo parao qual foi chamada a sua atenção, não fazdiferença para o tipo de objectivos, de acção,em que ele já está envolvi<strong>do</strong>. Aqueles da<strong>do</strong>sou aquela informação, afi<strong>na</strong>l constituin<strong>do</strong>ape<strong>na</strong>s um conjunto de da<strong>do</strong>s, não é o queele estava e está a procurar. A contrario, estaanálise mostra que a informação, enquantotal, consiste no tipo de da<strong>do</strong>s que antecipadamentesão considera<strong>do</strong>s certos para a acçãoem curso. O senti<strong>do</strong> da informação, a suarelevância em termos de uma acção que jácorre, é algo instintivo e intuitivo para oprofissio<strong>na</strong>l, porque, sen<strong>do</strong> o projectar quetem-si<strong>do</strong> no-mun<strong>do</strong>, ele procura informar-separa algo concreto, especifico, como porexemplo para completar uma análise ou paraconcluir um relatório, e isto ten<strong>do</strong> em vista,por exemplo, ser considera<strong>do</strong> um bom profissio<strong>na</strong>l,visan<strong>do</strong> para ele mesmo e para acomunidade em que está imerso a apropri-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO663ação por si próprio de uma possibilidade deser, por exemplo, a de ser um bom directorde comunicação.No-mun<strong>do</strong> a informação é a constataçãoda diferença que determi<strong>na</strong>da diferença podefazer em determi<strong>na</strong>da situação ou envolvimento.A informação é um absorver de umsenti<strong>do</strong> de determi<strong>na</strong>das diferenças no âmbito<strong>do</strong> to<strong>do</strong> referencial que somos. A informaçãosão os da<strong>do</strong>s que o profissio<strong>na</strong>l utiliza,porque esses mesmos da<strong>do</strong>s informama sua acção. Ou seja, a informação não éa priori da<strong>do</strong>s com significa<strong>do</strong>, mas antessão da<strong>do</strong>s que têm significa<strong>do</strong> porque sãoapropria<strong>do</strong>s para o que <strong>na</strong>quele momento epara aquela pessoa é significativo, isto é, éinformativo. Desta forma, a informaçãorecebe o seu próprio nome da projecçãoprimária sobre o futuro que o ser humanoé, isto é, assenta no entendimento ontológicode base que constitui o ser-no-mun<strong>do</strong> quecada um de nós é: um escolher constante numter-si<strong>do</strong>-que-projecta.ConclusãoAs noções, conceitos ou distinções deacção, da<strong>do</strong>s, informação e significa<strong>do</strong> sãomo<strong>do</strong>s diferentes de aceder, de indicar, dedetalhar e de aproximar um mesmo fenómeno:a manifestação <strong>do</strong> ser, <strong>do</strong> que é. A análisefenomenológica apresentada, indica alguns<strong>do</strong>s contornos de um fenómeno que iniciale primariamente deve ser entendi<strong>do</strong> como umto<strong>do</strong>. Neste paper não procuramos definiçõesestritas e concisas; esse não é o objectivoda fenomenologia nem faz parte das suas possibilidades.Tentamos ape<strong>na</strong>s fenomenologicamenteindicar alguns <strong>do</strong>s contornos essenciais paraum melhor entendimento <strong>do</strong> fenómeno informação,e por isso para uma melhorclarificação das problemáticas contemporâneasque lhe estão conexas, como por exemplo,as temáticas tão actuais <strong>do</strong> conhecimento,da comunicação, <strong>do</strong>s media, da sociedadeda informação, da tecnologia de informaçãoe comunicação, etc.Este paper aponta a relevância da acção, daacção já em curso e <strong>do</strong> envolvimento em quecada um de nós já-está e de uma forma fundamentaljá-é. Isto significa que a informação,a sua riqueza e relevância <strong>na</strong> identificação depossibilidades, de oportunidades e de ameaçasnão depende de quaisquer da<strong>do</strong>s ou conjuntode da<strong>do</strong>s enquanto tais e por si só, por maisvastos e detalha<strong>do</strong>s que o sejam, mas antes queaquela mesma informação depende daintencio<strong>na</strong>lidade, das intenções e <strong>do</strong>s objectivosque o ser humano concreto é e, fundamentale decisivamente, <strong>do</strong> tipo de possibilidade de serque ele, para ele próprio, apropriou.


664 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAnsis (1990) American Natio<strong>na</strong>lStandards for Information Systems,Dictio<strong>na</strong>ry for IS, Nova Iorque.Arendt, H. (1998) The Human Condition,The University of Chicago Press, Chicago.Boland, R. (1983) “The In-Formation ofInformation Systems”, in Boland, R.J. eHirschheim, R.A. eds. Critical Issues inInformation Systems Research, John Wiley& Sons, Nova Iorque.Cairns, D. (2001) “Theory ofIntentio<strong>na</strong>lity in Husserl”, Jour<strong>na</strong>l of theBritish Society for Phenomenology, 32, 2.Cartwright, N. (1983) How The Laws ofPhysics Lie, Oxford University Press, Oxford.Crane, G. (2002) Ed. The Perseus Project,http://www.perseus.tufts.eduCunha, A. G. (1982) DicionárioEtimológico da Língua Portuguesa, 11thedição, Nova Fronteira, Rio de Janeiro.Dreyfus, H. (1991) Being-in-the-world,MIT Press, Cambridge, Massachusetts.Gadamer, H. (1975) Truth and Method,Seabury Press, Nova Iorque.Gleason, H. (2004) in entrada da palavradata, Merriam-Webster Dictio<strong>na</strong>ry http://www.m-c.comHeidegger, M. (1962) Being and Time,tr. Macquarrie, J. e Robinson, E., Blackwell,Oxford e Cambridge (EUA).Heidegger, M. (1971) Poetry, Language,Thought, trad. Hofstadter, A., Harper & Row,Nova Iorque.Hicks, J. Jr. (1993) Ma<strong>na</strong>gementInformation Systems: A User Perspective,West Publishing Company, St. Paul.Hoy, D. (1978) The Critical Circle,University of California Press, Berkeley.Husserl, E. (1982) Ideas: Generalintroduction to pure phenomenology, Allen& Unwin e Macmillan Company, Londrese Nova Iorque.Husserl, E. (1995) Cartesian Meditations:an Introduction to Phenomenology, Kluwer,Dordrecht.Ilharco, F. (2002) Information Technologyas Ontology: A PhenomenologicalInvestigation into Information Technologyand Strategy In-the-World, tese Ph. D.,Lon<strong>do</strong>n School of Economics and PoliticalScience (LSE), Londres, online no site daLSE, http://is.lse.ac.uk/research/theses/Ilharco, F. (2003) Filosofia da Informação,Universidade Católica Editora, Lisboa.Ilharco, F. (2004) A Questão Tecnológica,Principia, Lisboa.Ilharco, F. e Intro<strong>na</strong>, L. (2004)“Phenomenology, Screens and the World:A Journey Through Phenomenology withHusserl and Heidegger”, cap. in Social Theoryand Philosophy for Information Systems, ed.Mingers, J. e Willcocks, W., Wiley and Sons,Londres.Ilharco, F. e Angell, I. (2004) “Solutionis The Problem: A Story of Transitions andOpportunities”, cap. 2, The Social Study ofInformation and Communication Technology,Oxford University Press, Oxford.Intro<strong>na</strong>, L. (1997) Ma<strong>na</strong>gement,Information and Power, Macmillan, Londres.Matura<strong>na</strong>, H. e Varela, F. (1992) The Treeof Knowledge, Shambala, Boston e Londres.MW (2004) Merriam-Webster Dictio<strong>na</strong>ryhttp://www.m-c.comPalmer, R. (1969) Hermeneutics:Interpretation Theory in Schleiermacher,Dilthey, Heidegger, and Gadamer,Northwestern University Press, Evanston.Polanyi, M., (1973) Perso<strong>na</strong>l Knowledge,Routledge & Keegan Paul, Londres.Schmitt, R. (1996) “Phenomenology” inThe Encyclopaedia of Philosophy, 1996,Macmillan, Nova Iorque._______________________________1Universidade Católica Portuguesa2Para um maior detalhe deste aspecto ver,por exemplo, Cairns (2001).3A expressão Dasein, uma alter<strong>na</strong>tiva à palavrahomem, tenta abrir possibilidades de captar aessência de nós próprios. Em muitas traduçõesda obra de Heidegger, Dasein tem si<strong>do</strong> intencio<strong>na</strong>lmentedeixa<strong>do</strong> por traduzir da<strong>do</strong> o poderfenomenológico que tem demonstra<strong>do</strong>. No actualprojecto Heidegger em Portugûes, coorde<strong>na</strong><strong>do</strong> porIrene Borges-Duarte, traduz-se Dasein por aí-ser.Apesar de considerarmos a tradução feliz, nãoestamos certos que uma expressão inova<strong>do</strong>ra,como, por exemplo, aizar, não captasse em maiorprofundidade o ir sen<strong>do</strong>, o movimento, a acção,o presenciar, o mo<strong>do</strong> de um ter si<strong>do</strong> e vai ser,empresta<strong>do</strong> origi<strong>na</strong>lmente por Heidegger à expressãoDasein. Além disso, uma inovação linguística


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO665<strong>do</strong> género da que sugerimos seria consistente coma prática fenomenológica seguida por Heidegger.4Este tipo de mal-entendi<strong>do</strong>s pode mesmoser perturba<strong>do</strong>r – como o leitor já poderá pessoalmenteter constata<strong>do</strong> – por exemplo, quan<strong>do</strong>iniciamos uma conversa com alguém que sabemosconhecer, mas não fazemos ideia quem seja....e a conversa vai prosseguin<strong>do</strong>.5Este aspecto tem si<strong>do</strong> longamente investiga<strong>do</strong>sob perspectivas e no âmbito de meto<strong>do</strong>logiasvariadas e visan<strong>do</strong> objectivos diversos. No campofenomenológico, além <strong>do</strong>s textos de Heidegger,pode, por exemplo, consultar-se Gadamer (1975),Hoy (1978), Palmer (1969), Polanyi (1973),Intro<strong>na</strong> (1997), Ilharco e Intro<strong>na</strong> (2004).6Sobre este assunto ver o exemplo da audição<strong>do</strong>s Beatles pelo político russo Yavlinsky,descrito e a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong> em Ilharco (2003: 37-43).7Mesmo os da<strong>do</strong>s mais óbvios, geralmenteinquestionáveis, como por exemplo a captação dascores, possuem a marca da nossa estrutura. Asciências exactas encontraram suficiente evidênciaempírica para defender a inexistência de correlaçãoestatística relevante entre o nome que damosaos objectos colori<strong>do</strong>s e a medição das ondasreflectidas pelas cores desses mesmos objectos(Matura<strong>na</strong> e Varela, 1992: 22). No entanto, épossível correlacio<strong>na</strong>r esta<strong>do</strong>s específicos <strong>do</strong> nossosistema nervoso com a actividade linguística daatribuição concreta de da<strong>do</strong>s nomes às cores quepercepcio<strong>na</strong>mos. De uma perspectiva teóricadiferente, isto vem reforçar as implicações daontologia em que baseamos esta investigação.8“The essence of information is revealed tous in its <strong>na</strong>me. Information is an inward-forming”(Boland, 1983: 363).


666 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO667Comunicación <strong>audiovisual</strong> corporativa: Un modelo de producciónFer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Galin<strong>do</strong> RubioEl <strong>audiovisual</strong> en la acción comunicativade las organizaciones: El vídeo institucio<strong>na</strong>lPreviamente al abordaje del <strong>audiovisual</strong>corporativo como fenómeno productivo deforma aislada, es conveniente, dada la confusaterminología que se emplea en este ámbito,anclar el significa<strong>do</strong> en el que, al menos enesta comunicación, van a ser emplea<strong>do</strong>sciertos términos nucleares para la correctacomprensión del conjunto del trabajo:perso<strong>na</strong>lidad, identidad e imagen.Para iniciar este desarrollo se recoge laaportación de Carrascosa a la hora de definirlos conceptos básicos:“Perso<strong>na</strong>lidad es el conjunto decaracterísticas singulares quedistinguen a un individuo; Identidad,el mo<strong>do</strong> en el que ese individuopercibe esa perso<strong>na</strong>lidad; y,fi<strong>na</strong>lmente, Imagen, el resulta<strong>do</strong> netode la proyección de esa identidad”(Carrascosa, 1992:29).La perso<strong>na</strong>lidad de u<strong>na</strong> organización - ode ésta, entendida como un individuo, un servivo, recordan<strong>do</strong> la metáfora de BERNSTEIN(1986) – la componen el conjunto de rasgosobjetivos (sus números, sus infraestructuras,sus miembros, su sede social…) suma<strong>do</strong> alconjunto de singularidades que la hacensignificativamente peculiar con respecto alresto de organizaciones que operan en sumismo círculo, merca<strong>do</strong> o actividad. Endefinitiva, la perso<strong>na</strong>lidad responde a lapregunta, ¿quién soy en realidad?La identidad es la percepción que de símismo tiene alguien. En ella influyen lasexperiencias que, de sí misma, tiene u<strong>na</strong>organización. Para la construcción de laidentidad es necesaria la investigación paradetectar las preferencias, los gustos y lasexpectativas de to<strong>do</strong>s aquellos que componenla organización y, a partir de ahí, definir u<strong>na</strong>identidad congruente y consensuada con laforma de ser y de hacer de la organización.En esta dimensión entran en juego losaspectos emocio<strong>na</strong>les de la organización,indispensables a la hora de emitir u<strong>na</strong>valoración que responda a la pregunta ¿cómome percibo a mi mismo?El tercer concepto nuclear, la imagen, esel resulta<strong>do</strong> de proyectar la perso<strong>na</strong>lidad yla identidad en el exterior. De las expresionesde la organización se configura u<strong>na</strong> imagenen el entorno de la organización que es elequivalente a la respuesta a la cuestión ¿cómome ven los demás?El conjunto de las expresiones de laperso<strong>na</strong>lidad y la identidad que son diseñadaspor u<strong>na</strong> institución o empresa, es lo queconfigura la difusión de la imagen intencio<strong>na</strong>l,lo que la organización desea que se conviertaen el hecho referencial por el cual la sociedadtiene conocimiento de ella.Esa imagen intencio<strong>na</strong>l, u<strong>na</strong> vezproyectada, desarrolla en la mente de lospúblicos de su entorno la imagen real, quees cómo realmente se ve a la empresa enel exterior.Pues bien, habitualmente se establecendiferencias entre la imagen intencio<strong>na</strong>l y laimagen real. Estas diferencias pueden estarmotivadas por muy diferentes razones, entrelas que cabe señalar, las experienciasperso<strong>na</strong>les sesgadas positiva o negativamente;o, con mayor frecuencia, el desajuste entrelo que se dice que se es y lo que se hace.Entre el ser y el hacer.“Entre ambas conductas [el ser y elhacer] no siempre existe el coeficientesuficiente de coherencia, y éste es agrandes rasgos el factor crítico de lacredibilidad” (Costa, 1992:110).De Villafañe (1993) recogemos el conceptode Trabajo Corporativo, para referirse:


668 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV“a todas aquellas acciones de laorganización que contribuyen a quese reduzca esa diferencia entre laimagen intencio<strong>na</strong>l y la imagen real”.(Villafañe, 1993:46)Según este desarrollo, el vídeoinstitucio<strong>na</strong>l es un elemento más en el trabajocorporativo de las organizaciones para reducirlas diferencias entre imagen intencio<strong>na</strong>l eimagen real. (fig.1)Figura 1Y así lo han entendi<strong>do</strong> la gran mayoríade las organizaciones que han recurri<strong>do</strong>,tradicio<strong>na</strong>lmente, al vídeo institucio<strong>na</strong>l paramostrar sus empresas, infraestructuras…A esta acción comunicativa se le haconferi<strong>do</strong>, tradicio<strong>na</strong>lmente, u<strong>na</strong> capacidaddesmedida de modificación de laspercepciones acerca de la imagen de laorganización y u<strong>na</strong> gran eficacia informativa,probablemente heredadas de la tambiéndesmedida consideración del poder deinfluencia de la televisión en el ámbito socialy de su función informativa diaria.El vídeo institucio<strong>na</strong>l se podría definir enpalabras de Cebrián Herreros, como un vídeoque:“tiende a presentar visiones de laempresa o institución; suelen servídeos generalistas. Ofrecen unpanorama amplio de la entidad ypueden tener un destino para públicosgenerales y especializa<strong>do</strong>s. Es u<strong>na</strong>difusión de imagen apoyada en datosy muestra de la gestión y actividades.Describe cómo es la institución oempresa, sus objetivos, organizacióny funciones. Suele efectuarse unrecorri<strong>do</strong> por las secciones odepartamentos con descripción de lasactividades de cada uno, a vecesmediante la presencia de suscorrespondientes directivos”.(Cebrián, 1990:141)Sin embargo, al reflexio<strong>na</strong>rsobre el vídeo institucio<strong>na</strong>l, sucometi<strong>do</strong> y posición dentro dela cade<strong>na</strong> productiva decomunicación corporativa, susfunciones, sus efectos y suevolución, se observa que esnecesario detenerse a a<strong>na</strong>lizarel proceso comunicativotradicio<strong>na</strong>lmente entendi<strong>do</strong> y, ala luz de los hallazgos,proponer alter<strong>na</strong>tivas a lascarencias que se puedanplantear.Se observan determi<strong>na</strong>dasdisfunciones en el esquemacomunicativo (fig. 2):Desde el emisor se observacomo la organización suele encargar el vídeoa empresas exter<strong>na</strong>s (productoras), con lo quela organización pierde parte del control delmensaje.En la variable mensaje, se detecta u<strong>na</strong>pérdida de eficacia comunicativaocasio<strong>na</strong>da por la inexistencia deredundancia enfatizada por la aportación dedatos de este tipo de vídeos: cifras, nombrespropios, peculiaridades, etc.El código <strong>audiovisual</strong> a<strong>do</strong>pta un estiloinformativo, frío y distante. Lacodificación no permite la funciónrelacio<strong>na</strong>l posterior.Los ca<strong>na</strong>les tradicio<strong>na</strong>les (cine ytelevisión) están tradicio<strong>na</strong>lmente veda<strong>do</strong>s aestos productos. La tecnología empleada hastael momento – a<strong>na</strong>lógica – es anticuada, cara,lineal y difícil de actualizar.El receptor, generalmente grupal, en lagran mayoría de las ocasiones recibe el


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO669producto de forma involuntaria y, por lo tanto,en predisposición a distraerse.Figura 2Actualización del vídeo institucio<strong>na</strong>l: Elvídeo corporativo emocio<strong>na</strong>lLa evolución de los estudios decomunicación aplicada a las organizaciones secentran en considerar a las perso<strong>na</strong>s - en susvertientes intelectual y emocio<strong>na</strong>l - como elelemento diferencia<strong>do</strong>r y ventaja competitivade las empresas e instituciones, y a lacomunicación corporativa como el armoniza<strong>do</strong>rde la construcción compartida - y consensuada- de la identidad de las organizaciones.Así mismo, ven en la innovacióntecnológica u<strong>na</strong> oportunidadincuestio<strong>na</strong>ble para la extensiónde la utilidad de la comunicacióntanto en el ámbito interno comoexterno y su contribución aldesarrollo corporativo.Aquí se encuentra el ejecentral de esta comunicación,orientada al diseño de un nuevomodelo de producción <strong>audiovisual</strong>más acorde con los nuevos retosy las incipientes posibilidades del<strong>audiovisual</strong> corporativo.Se produce la siguientetransformación evolutiva delproceso comunicativo <strong>audiovisual</strong>corporativo (fig. 3):El emisor sigue tenien<strong>do</strong> como sujetopromotor de la comunicación a la organizaciónque es, invariablemente, quien intencio<strong>na</strong>lmenteinicia el proceso, aunque la reducción de costeseconómicos y la crecientefacilidad en el adiestramiento deruti<strong>na</strong>s de producción <strong>audiovisual</strong>que ha origi<strong>na</strong><strong>do</strong> la irrupción dela tecnología <strong>audiovisual</strong> digitalposibilita que numerosasorganizaciones den el pasonecesario para origi<strong>na</strong>r sus propiosmensajes <strong>audiovisual</strong>es.El mensaje cambia. En vez deofrecerse la perso<strong>na</strong>lidad de laorganización, se apuesta por latransmisión de la identidad. Loque se transmite es larepresentación del capital humanode la organización, no el quiénsomos, sino el cómo somos. Esteconteni<strong>do</strong> no se basa en la redundancia, comola información, sino que su <strong>na</strong>turaleza esemotiva, se apoya en la identificación delreceptor con las imágenes que se muestran,razón por la cual percepciones puntuales sonsuficientes para garantizar la eficaciacomunicativa del mensaje. Se hace u<strong>na</strong> renunciaexpresa a la información en la firme creenciade que, en el contexto corporativo, ésta ha desituarse en otros medios y soportes que - encomplementariedad o de forma aislada - haganfactible la redundancia de los mensajes.Figura 3


670 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVEn concordancia con el talante emocio<strong>na</strong>ldel producto, el estilo <strong>audiovisual</strong> –el códigodebeestar basa<strong>do</strong> en lenguajes expresivos yen montajes ideológicos, aleja<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong> hiloargumental <strong>na</strong>rrativo, difícil de seguir en estosproductos. Los rasgos característicos serán to<strong>do</strong>saquellos recursos que expresen con propiedadla identidad de la organización deforma coherente.La nueva era digital traeconsigo un nuevo ca<strong>na</strong>l queculmi<strong>na</strong> significativamente elproceso de búsqueda de nuevosca<strong>na</strong>les. Internet se abre comoun espacio, <strong>potencial</strong>menteglobal, para este tipo deproductos. La tecnología<strong>audiovisual</strong> digital proporcio<strong>na</strong>,por otra parte, un acercamientode las organizaciones a laproducción <strong>audiovisual</strong>,encar<strong>na</strong><strong>do</strong> en el descensotendencial de los costes deproducción y difusión, fácilactualización de los conteni<strong>do</strong>sy producción de versiones y conservación dela calidad del material produci<strong>do</strong>.Esta nueva forma de recibir el mensaje<strong>audiovisual</strong> corporativo - Internet - conllevaque, ahora, el mensaje recibi<strong>do</strong> sea individual-one man, one computer-; voluntario, cuan<strong>do</strong>el receptor ejerza su voluntad de acceder alos conteni<strong>do</strong>s de la red; y, atento, el simplehecho de la voluntariedad representa uncompromiso con la acción.Estas tres cualidades representan u<strong>na</strong> nuevade recibir el mensaje que redundaen la eficacia comunicativa.De estas alter<strong>na</strong>tivas se extraela definición del vídeocorporativo emocio<strong>na</strong>l:acumuladas por éste con respecto a lamisma, y difundi<strong>do</strong> por medios decomunicación que propicien u<strong>na</strong>recepción individual, voluntaria yatenta”.(fig. 4)Figura 4Comunicación <strong>audiovisual</strong> corporativa: Unnuevo espacio de producción <strong>audiovisual</strong>Este nuevo proceso comunicativo (fig. 5)basa su eficacia en el desarrollo de un nuevoámbito de estudio interdiscipli<strong>na</strong>r: lacomunicación <strong>audiovisual</strong> corporativa, quese sostiene sobre tres pilares: comunicacióncorporativa, lenguaje <strong>audiovisual</strong> y tecnología<strong>audiovisual</strong>.Figura 5“El vídeo corporativoemocio<strong>na</strong>l es un producto<strong>audiovisual</strong> representativo de laidentidad corporativa de laorganización, que actúa comocataliza<strong>do</strong>r de nuevos mensajescapaces de optimizar la imagenpública de la organización,conceptualiza<strong>do</strong>s a partir de lasemociones percibidas por elreceptor y de las experiencias


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO671Desde la comunicación corporativa hayque reposicio<strong>na</strong>r el mensaje. No se trataya de mostrar la perso<strong>na</strong>lidad, los datos,las infraestructuras, los medios, sino demostrar la identidad corporativa: lasperso<strong>na</strong>s, sus rostros, sus gestos, capacesde generar en el receptor emociones,sentimientos de adhesión merced a lasidentificaciones que sugiere el ver a otroen el lugar <strong>do</strong>nde podría estar uno.Se trata, en definitiva, de transmitir unmensaje que refleje el capital emocio<strong>na</strong>l queexiste en la empresa, para que, enconjunción con las experiencias perso<strong>na</strong>lesde quien recibe el mensaje, se optimice laimagen pública de la organización.Desde el lenguaje <strong>audiovisual</strong> hay querevisar el código. Si la coherencia con elmensaje supone que la transmisión de laperso<strong>na</strong>lidad obliga a un lenguaje aséptico,exento de emoción, explicativo y lineal; latransmisión del capital emocio<strong>na</strong>l exige unlenguaje <strong>audiovisual</strong> más cercano entérminos de distancia social: el emisor setiene que acercar al receptor si quiere llegara transmitir emociones.La teoría de Edward T. Hall (1959), laproxémica, es u<strong>na</strong> herramienta útil en esteaspecto para medir las distancias que sedeben establecer entre quien habla -laorganización - y quien recibe el mensaje- el público.El lenguaje <strong>audiovisual</strong> en este modelonormativo de vídeo debe heredar el aspectode quienes <strong>audiovisual</strong>izan las emocionesa diario: la publicidad y la ficcióncinematográfica. Desde la tecnología<strong>audiovisual</strong>, y desde su radical evoluciónen los últimos años hacia el mun<strong>do</strong> digital,se encuentra, por fin, un ca<strong>na</strong>l abierto aeste tipo de mensajes: Internet. La granbatalla de la era a<strong>na</strong>lógica, la difusión,termi<strong>na</strong> y vence la comunicación.Y no sólo vence en términos deproducción y difusión, sino que larevolución afecta también a la recepción.Si en épocas pasadas el vídeo institucio<strong>na</strong>lse contemplaba en u<strong>na</strong> visita guiada a laempresa, en u<strong>na</strong> sala en la que se pasabau<strong>na</strong> sola vez el producto a un públicodiverso y disperso (en afinidades yatención), la nueva época sugiere laposibilidad de producir vídeo corporativoa medida, garantizan<strong>do</strong> que quien lo recibelo hace de forma individual, atenta yvoluntaria. To<strong>do</strong> en pos de la eficaciacomunicativa del mensaje <strong>audiovisual</strong>corporativo.Se pretende, relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> estos tresámbitos de la comunicación, comenzar aconsiderar de forma conjunta este nuevoespacio para concebir el producto<strong>audiovisual</strong> corporativo de forma global. Eneste senti<strong>do</strong>, cabría hablar a partir de aquíde la comunicación <strong>audiovisual</strong> corporativacomo u<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> capaz de combi<strong>na</strong>r lostres ámbitos antes referi<strong>do</strong>s y conseguir unresulta<strong>do</strong> superior a la mera operació<strong>na</strong>ditiva de las mismas.Contraste empírico entre ele vídeoinstitucio<strong>na</strong>l y el modelo aporta<strong>do</strong>Para comprobar la validez del modeloy su eficacia se ha realiza<strong>do</strong> un estudioempírico en el cual se comparan <strong>do</strong>sproductos <strong>audiovisual</strong>es, uno de cortetradicio<strong>na</strong>l, produci<strong>do</strong> a los efectos comodenomi<strong>na</strong><strong>do</strong>r común de un estudio previosobre u<strong>na</strong> amplia muestra de vídeosinstitucio<strong>na</strong>les; y, un segun<strong>do</strong> vídeo en elque se han modifica<strong>do</strong> las variables mensajey código hacia la propuesta definida comovídeo corporativo emocio<strong>na</strong>l.Sobre el primero de los reactivos – eltradicio<strong>na</strong>l o informativo - se evaluó tantola capacidad de informar, como la deoptimizar la imagen pública de laorganización representada.Al segun<strong>do</strong> de los reactivos, elcorporativo emocio<strong>na</strong>l, que por definicióndesdeña la transmisión de información –entendida como datos -, se le exige sóloel cumplimiento de la función optimiza<strong>do</strong>rade la imagen pública de la organización.El estudio se realizó a seis gruposseleccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s al azar, en tres momentosdistintos: previamente al visio<strong>na</strong><strong>do</strong> de losreactivos (pre test), inmediatamenteposterior a ese visio<strong>na</strong><strong>do</strong> (post test) yrecuer<strong>do</strong> al cabo de un largo plazo detiempo (re test).Los principales resulta<strong>do</strong>s aporta<strong>do</strong>s porla investigación indican lo siguiente:


672 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVFigura 6a) Que el vídeo tradicio<strong>na</strong>l o informativo sólogeneró aumentos de información disponiblesignificativos (fig. 6) en las cuestiones generales,prescindibles y llamativas del cuestio<strong>na</strong>rio objetodel estudio, sin embargo, la informaciónpreviamente considerada como útil y clave, ape<strong>na</strong>saumentan tras el visio<strong>na</strong><strong>do</strong> del reactivo, sien<strong>do</strong>,incluso el valor de la útil, inferior al 5.Pasa<strong>do</strong> un tiempo en el que no ha habi<strong>do</strong>refuerzo de la información to<strong>do</strong>s los factoresdescienden significativamente, quedan<strong>do</strong> pordebajo del 5, los factores de información útil,general y clave, éste último por debajo de los3 puntos.Figura 7b) En términos de imagen (fig. 7),mientras que el vídeo tradicio<strong>na</strong>linformativo no fue capaz deaumentar significativamente laimagen de la organización (conun recorri<strong>do</strong> de 6.3 en el pre test,6.1 en el post test y de nunevo6.3 en el re test), lo cual leconfiere la consideración deinocuo a los efectos de laeficacia comunicativa, el modelopropuesto, el vídeo corporativoemocio<strong>na</strong>l, no sólo fue capaz deaumentar esa imagen pública dela organización de formasignificativa (de 6.09 a 7.51puntos), sino que, lo que es másdetermi<strong>na</strong>nte, transcurri<strong>do</strong> ellargo plazo, sin refuerzosintermedios, consolida esa posición en lamente de los receptores (7.38).ConclusionesU<strong>na</strong> vez realizada la investigación, sepuede llegar a las siguientes conclusiones:1. Sólo desde la integración en u<strong>na</strong> nuevadiscipli<strong>na</strong> -comunicación <strong>audiovisual</strong>corporativa - de los ámbitos de lacomunicación corporativa, el lenguaje<strong>audiovisual</strong> y la tecnología <strong>audiovisual</strong>, seráposible considerar el vídeo corporativo en suamplitud.2. El vídeo basa<strong>do</strong> en argumentosinformativos no genera ningún aumentosignificativo de la imagen de la organización.Sin embargo, los vídeos basa<strong>do</strong>sen la transmisión de la identidadde la organización - y con ellala representación de su capitalemocio<strong>na</strong>l -, son capaces demodificar positiva y significativamentelas percepcio-nes dequien recibe el producto.Ya que producir vídeosinstitucio<strong>na</strong>les ha si<strong>do</strong>,tradicio<strong>na</strong>lmente, u<strong>na</strong> formarecurrente de las organizacionespara informar y formar la imagende la organización, este hechosólo va a ser rentable, en términosde eficacia comunicativa, si se


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO673a<strong>do</strong>pta la postura de implicar el capitalemocio<strong>na</strong>l de la empresa en el argumento.Esto se consigue mediante un cambio en elelemento clave de la representación:sustitución de la perso<strong>na</strong>lidad por la identidad.3. Los vídeos de carácter corporativo noson capaces de transmitir información deforma eficaz. Ninguno de los modelos de lainvestigación lo hace. El emotivo, al noplanteárselo en su propósito, no genera ningú<strong>na</strong>porte significativo y útil de información.En cambio, el vídeo informativo integracomo uno de sus <strong>do</strong>s objetivos la transmisiónde datos. Este hecho no se produce de formaeficaz, ya que el aporte significativo deinformación que otorga recibir un vídeoinstitucio<strong>na</strong>l de corte informativo sitúa lainformación recibida en los niveles de loprescindible, lo general y lo llamativo,mientras que la información útil y clave,decisiva para u<strong>na</strong> toma de decisiones correcta,ape<strong>na</strong>s aumenta.4. El tiempo es un factor determi<strong>na</strong>nteen la formación de la imagen pública de lasorganizaciones. No parece tan relevante elhecho de obtener un gran resulta<strong>do</strong> puntualy efímero, propicia<strong>do</strong> por un estímulo visualo conceptual, que consolidar ese aumento.En este senti<strong>do</strong>, el comportamiento de los<strong>do</strong>s modelos contrasta<strong>do</strong>s también difiere:mientras que el vídeo institucio<strong>na</strong>l de corteinformativo clásico, no logra más que unmantenimiento de los valores de la image<strong>na</strong> largo plazo (con lo cual cabe hablar deefecto inocuo ya que no hay modificaciónen las percepciones de los públicos); el vídeoemotivo no sólo modifica las percepcionesde forma positiva, sino que, transcurri<strong>do</strong> untiempo, las consolida, es decir, las mantieneen los niveles óptimos alcanza<strong>do</strong>s en elmomento de recibir el estímulo.5. Del mismo mo<strong>do</strong>, el tiempo tambiéndetermi<strong>na</strong> el recuer<strong>do</strong> de los datos. El factortemporal agrava aún más la pérdida deeficacia de los mensajes <strong>audiovisual</strong>escorporativos informativos, ya que al no existirelementos redundantes en el tiempo que distadesde la recepción del estímulo hasta la tomade decisiones, la información útil y clave,se pierde definitivamente, mantenién<strong>do</strong>se enlos valores posteriores al reactivo lainformación prescindible, llamativa y general.6. Por tanto, el modelo propuesto renunciaexplícitamente a la información, consideran<strong>do</strong>que ésta, parte irrenunciable de lacomunicación institucio<strong>na</strong>l, debe estar adscritaa otro tipo de medios que permitan latransferencia de datos con eficacia, bien deforma aislada, bien de forma complementariacon el producto <strong>audiovisual</strong>, hecho éste queha de tener su expresión más certera en lapági<strong>na</strong> web de la organización, <strong>do</strong>nde de formahipermediática se vinculen los conteni<strong>do</strong>sinformativos de la perso<strong>na</strong>lidad: textos,gráficas, fotografías, etc., con los conteni<strong>do</strong>s<strong>audiovisual</strong>es de la identidad.7. La modificación de las percepcionesde la organización que los públicos de éstaexperimentan, ha de ser constantementea<strong>na</strong>lizada para extraer unos datos que seconvertirán en la materia prima de futurosguiones de vídeos corporativos.8. Producir <strong>audiovisual</strong>es de caráctercorporativo, sean del corte que sean, no debeser nunca fruto de la improvisación, sino deu<strong>na</strong> práctica profesio<strong>na</strong>l meditada y medida.Esa exigencia profesio<strong>na</strong>l ha de estar enmanos de los gabinetes de comunicación, yaque el vídeo ha de estar integra<strong>do</strong> en laestrategia global de comunicación, y comotal ha de estar controla<strong>do</strong> por el órgano gestorde la comunicación institucio<strong>na</strong>l, quien debedetectar, fruto de la constante investigación,a qué públicos se les puede comunicarmediante un <strong>audiovisual</strong>, y qué se puedecomunicar mediante un <strong>audiovisual</strong>. No to<strong>do</strong>vale.9. Conocer el lenguaje <strong>audiovisual</strong> y saberaplicarlo en función de la distanciaconversacio<strong>na</strong>l en la que la organizacióndesea relacio<strong>na</strong>rse con sus públicos es unfactor determi<strong>na</strong>nte del resulta<strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l de laoptimización de la imagen.En este senti<strong>do</strong>, cobra importancia la ideade que si se quieren transmitir emociones,sensaciones, ideas abstractas relacio<strong>na</strong>das conel capital emocio<strong>na</strong>l, es útil inspirarse endiscipli<strong>na</strong>s más consolidadas como el cineo la publicidad.Si la organización logra <strong>audiovisual</strong>izarcorrectamente su capital emocio<strong>na</strong>lconseguirá eficacia en los objetivos quedemande al vídeo corporativo.


674 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV10. La revolución digital ha influi<strong>do</strong> deforma decisiva en la actualización delconcepto de vídeo institucio<strong>na</strong>l, no sólo enlo que a la tecnología de la producción serefiere, sino a los entornos y condiciones derecepción.El futuro exige mejoras, exige excelencia.Y estas deben venir desde la perso<strong>na</strong>lizacióndel producto <strong>audiovisual</strong> corporativo. La ideade Thomson (2000) de hablar a cada cliente(interno o externo) en el lenguaje que entiendelo que desea oír, se fraguarán en estecontexto a partir de mejoras tecnológicas quepermitan automatizar procesos productivos<strong>audiovisual</strong>es.Por ello, producir vídeos corporativos hade tener un lugar indiscutible da<strong>do</strong> el<strong>potencial</strong> que este medio tiene para lailustración de los conceptos abstractos de losque se compone la fuerza emocio<strong>na</strong>l capazde movilizar los corazones y las mentes delos públicos de la organización.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO675BibliografiaBernstein, David (1986): La imagen dela empresa y la realidad . Ed. Plaza & Janés.Barcelo<strong>na</strong>.Carrascosa, José Luis (1992):Comunicacción. U<strong>na</strong> comunicación eficazpara el éxito en los negocios. Ciencias dela dirección. Madrid.Cebrián Herreros, Mariano (1990): Elvídeo institucio<strong>na</strong>l y empresarial en España.Ed. Ciencia y Distribución. Madrid.Costa, Joan (1992): Imagen pública. U<strong>na</strong>ingeniería social. Fundesco. Madrid.Galin<strong>do</strong> Rubio, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>: Comunicación<strong>audiovisual</strong> corporativa. Cómo <strong>audiovisual</strong>izarla identidad de las organizaciones. EdicionesUPSA. Salamanca, 2004.Hall, Edward. T. (1959): El lenguajesilencioso. Alianza editorial. Madrid.Thomson, Kevin Y Rodríguez Taro<strong>do</strong>,Almude<strong>na</strong> (2000): El capital emocio<strong>na</strong>l.Editorial ESIC. Madrid.Villafañe, Justo (1993): La imagenpositiva. Gestión estratégica de la imagende las empresas. Pirámide. Madrid.


676 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO677A Influência <strong>do</strong> Teatro no Marketing de Vendas DirectasJorge Dias de Figueire<strong>do</strong> 1A Evolução Comunicacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> TeatroO espírito dramático sempre esteve presenteno Homem, com a necessidade <strong>do</strong> jogoe a vontade de «ser outro». As manifestaçõespostas em práticas pelos primitivos tentamresponder ao «inexplicável», recorren<strong>do</strong> aosritos de magia de base imitativa, nos quaisreproduzem ce<strong>na</strong>s de caçadas ou guerras,numa comunhão colectiva, evocan<strong>do</strong> o passa<strong>do</strong>com o fim à captação de energias 2 . Comorefere Augusto Boal 3 : “No começo, sempre,em toda a parte, o teatro era uma festapopular, cantada e dançada a céu aberto.” Estaforma de expressão é vivenciada profundamentepor to<strong>do</strong>s os elementos <strong>do</strong> grupo, comuma entrega física e espiritual, em que asperso<strong>na</strong>gens fazem determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s sacrifícios,tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o corpo um amuleto capaz de captaro espírito escondi<strong>do</strong> nos seres e <strong>na</strong>s coisas.É a máscara que proporcio<strong>na</strong> essa metamorfose,encontran<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> base <strong>do</strong> mistérioteatral, fazen<strong>do</strong> cair nela o sobre<strong>na</strong>tural.Esta forma de expressão de origemmágica – religiosa ainda não será consideradateatro pelo facto das suas manifestaçõesse fundarem <strong>na</strong> ple<strong>na</strong> realidade das coisas,ausente de qualquer ficção. O teatro só surgiuquan<strong>do</strong> o público se apercebeu que a representaçãoé um fingimento, «um fazer deconta» e não uma orde<strong>na</strong>ção de um acontecimentosagra<strong>do</strong>. O público ao tomarconsciência de que ocorre uma simulação,permite ao teatro definir o seu terreno específico,fazen<strong>do</strong> a sua desconexão <strong>do</strong> ritoou pré-teatro 4 (Wunenburger cit. in Barbosa1982 : 181). A separação entre a mística eo teatro «discipli<strong>na</strong><strong>do</strong>» era inevitável devi<strong>do</strong>a uma postura mais equilibrada perante osagra<strong>do</strong>.Os gregos têm um papel preponderantenessa desmistificação, alteran<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o processocomunicacio<strong>na</strong>l, passan<strong>do</strong> as representaçõesa ter um carácter de entretenimento,em locais fecha<strong>do</strong>s, palcos defini<strong>do</strong>s, separa<strong>do</strong>s<strong>do</strong> público, e com recursos a cenários,ao serviço da ilusão dramática. O que eraaté então participativo, vivencial e interactivo,tende a tor<strong>na</strong>r-se num espectáculo visualpassivo, evoluin<strong>do</strong> num processo moroso,ten<strong>do</strong> maior ilusão, mais distância entrepúblico e actores, em salas cobertas, comacesso pago, e só ao alcance de alguns(classes abastadas).Estas mutações que se vêm processan<strong>do</strong><strong>na</strong>s diferentes formas teatrais ao longo <strong>do</strong>stempos, devem-se indubitavelmente à corelaçãocimentada entre a sociedade e opróprio teatro. Parafrasean<strong>do</strong> Guinsburg 5 , aideologia de uma obra é fruto da sociedadee sua história, porque toda a obra tem umafunção social. E o teatro mais que nenhumaoutra arte sofre essas influências, entran<strong>do</strong>em crise e renovan<strong>do</strong>-se, resultante dasalterações no contexto civilizacio<strong>na</strong>l em quese encontra. Este processo de renovação ébastante lento, exigin<strong>do</strong> um conjunto decircunstâncias muito complexo e um amadurecimentode condições culturais queimpulsionem as novas formas estéticas. Comoessas transformações são demoradas, permitema coexistência no tempo e no espaço devárias formas teatrais. Ten<strong>do</strong> por referênciao paradigma assim aduzi<strong>do</strong>, todas essascorrentes coabitam, provocan<strong>do</strong> umainterpenetração teatral, <strong>na</strong>s quais o teatro novovai, com certeza, surgir <strong>do</strong> âmago <strong>do</strong> velho,aceitan<strong>do</strong> a sua realidade social ou assumin<strong>do</strong>ajudar <strong>na</strong> sua transformação.É no século XX com grandes e rápidasalterações socio-culturais que se dá a grandeviragem <strong>na</strong> estrutura dramática tradicio<strong>na</strong>l.Apesar das influências tecnológicas (às quaisse deve o recurso a mecanismos, quer <strong>na</strong>produção, como também <strong>na</strong> divulgação destaarte), o teatro sente a necessidade de recuarno tempo, in<strong>do</strong> em busca da sua essênciaperdida. Vão surgin<strong>do</strong> diferentes vertentes deexperimentação teatral que recusam porcompleto o teatro convencio<strong>na</strong>l, a ficção, a


678 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVdivisão entre palco e plateia, e procuram acomunhão entre o público e os actores. O«teatro ritual» herda<strong>do</strong> <strong>do</strong>s primitivos énovamente reencontra<strong>do</strong> pelas exigências deuma sociedade moder<strong>na</strong> e criativa. Nessecaso, poder-se-á dizer com Pedro Barbosa, 6que “a pré-história <strong>do</strong> teatro reencontra-seassim com a sua pós - história”. O perfil <strong>do</strong>teatro moderno-interactivo vai sem dúvida aoencontro das práticas primitivas em toda asua consumação. Mas, apelidar de pós-históriaàs novas formas teatrais, implicaria sair<strong>do</strong>s parâmetros concebíveis de «teatro»,apesar da insistência de ausência de ficçãonestas formas de expressão, <strong>na</strong> qual “serecusavam a representar tradicio<strong>na</strong>lmente,recusavam a divisão entre palco e plateia,recusavam a máscara, a maquilagem, a fantasia,to<strong>do</strong> o fascínio da mentira”. 7Ainda sobre a panorâmica evolucio<strong>na</strong>l,poder-se-á constatar que o teatro é um organismosujeito às mutações civilizacio<strong>na</strong>is, eque interage com a cultura em que se encontrainseri<strong>do</strong>, de uma forma mais ou menosintervencionista. Concordan<strong>do</strong> com Luíz FranciscoRebello, 8 “o teatro é sem dúvida, a arteque mais directa e estreitamente se prende comos factores sociais, económicos e políticos <strong>do</strong>tempo da sua produção(…)”. Qualquer queseja o rumo que a sociedade tome, o teatroempenha-se <strong>na</strong> busca de novos argumentospara uma melhor interpenetração.O Teatro Moderno como Modalidade deComunicação Interactiva : Sua Influênciano Marketing de Vendas DirectasO teatro actual tem a preocupação derealizar um «espectáculo vivo», liga<strong>do</strong> directamenteà realidade social, crente num diálogoverdadeiro entre especta<strong>do</strong>res e público,acerca <strong>do</strong>s problemas mais urgentes, maiscontraditórios da vivência quotidia<strong>na</strong>. 9Patrice Pavis 10 aponta o senti<strong>do</strong> nostálgicoque o teatro europeu sente da sua origemcúltica, onde pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> o rito <strong>na</strong> vida social.Esse regresso às fontes tem em AntoninArtaud uma figura emblemática que rejeitao teatro burguês, funda<strong>do</strong> sobe o verbo, arepetição mecânica e a rentabilidade. O teatrodepois de se ter desfeito <strong>do</strong> rito e dacerimónia, procura desesperadamente reencontrar-se,mas agora através de uma formaconsciente de ritualização. O trabalho geral<strong>do</strong> teatro vivencial define-se <strong>na</strong> prática, comoum teatro unificante, fazen<strong>do</strong> com que sereú<strong>na</strong>m actor e especta<strong>do</strong>r, abolin<strong>do</strong> a distânciaespacial, e mesmo temporal. Buscauma linguagem comum a to<strong>do</strong>s, para melhordireccio<strong>na</strong>r o interesse <strong>do</strong> seu público. 11A «ce<strong>na</strong> à italia<strong>na</strong>», característica <strong>do</strong>teatro convencio<strong>na</strong>l, ou «ce<strong>na</strong> fechada», comoRoman Ingarden 12 lhe chama, impossibilitao público de participar <strong>na</strong> peça, reduzin<strong>do</strong>--o ao mero papel de observa<strong>do</strong>r impotentee distante. Ao invés, o «teatro verdadeiro»obriga a destruição desta «quarta parede» ou«parede invisível» (barreira que impossibilitaa aproximação actor-público), fundin<strong>do</strong>o palco e a sala, crian<strong>do</strong> nos actores eespecta<strong>do</strong>res a referida unificação de um sógrupo em perfeita comunhão.Da mesma forma que o teatro modernose opõe ao convencio<strong>na</strong>l, a força de vendasdistingue-se da venda tradicio<strong>na</strong>l, com aaproximação vende<strong>do</strong>r-cliente. Esta comunicaçãonão se baseia em afirmações com umúnico senti<strong>do</strong>, mas sim numa ligaçãobidireccio<strong>na</strong>l. 13 O «feed-back» facilita apossibilidade de conduzir as atitudes deacor<strong>do</strong> com as reacções <strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r e asexigências da situação <strong>na</strong> consecução <strong>do</strong>objectivo pretendi<strong>do</strong>. Uma prática coniventecom uma atitude aberta, flexível e capaz dese readaptar facilmente a qualquer situação. 14Na opinião de Noronha Cangemi, 15 podeser vantajoso o cliente sentir confiança eamizade com o vende<strong>do</strong>r, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong>mais «contactos» futuros. O «contacto»estabelece-se com maior envolvência quan<strong>do</strong>a venda proporcio<strong>na</strong> manifestações de grupo.O vende<strong>do</strong>r é «transforma<strong>do</strong>» numanfitrião ou anima<strong>do</strong>r, num ambiente deconvivialidade, assente <strong>na</strong> escuta, no calorhumano e <strong>na</strong> partilha de pontos em comum.O teatro deixa de ser uma imitação deacções ou recriações, para se tor<strong>na</strong>r numaintegração de actos, surgi<strong>do</strong>s de improviso,de acor<strong>do</strong> com o desenrolar da ce<strong>na</strong>. Nessesenti<strong>do</strong>, o teatro deveria ser um espectáculoeconoclasta, anti<strong>do</strong>gmático, criativo e absolutamentelivre, numa vivência e autenticidade,com a busca de valores nos diferentes<strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> humanoEstas modalidades <strong>do</strong> teatro interactivo,não sen<strong>do</strong> totalmente reais, são anti-ilusionis-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO679tas, pelo esforço desempenha<strong>do</strong> no encontrocom a verdade e transparência. A simbologiapassa a real com a abolição da máscara ea recusa à representação tradicio<strong>na</strong>l. Dá-seuma procura à experimentação, <strong>na</strong> medidaem que o mimetismo vai ao encontro daverosimilhança ou anti-ilusionismo. 16Segun<strong>do</strong> as palavras de Michael Beer, 17as vendas moder<strong>na</strong>s também recorrem ao anti--ilusionismo, promoven<strong>do</strong> o confronto <strong>do</strong>vende<strong>do</strong>r e cliente, com mais vivencialidade,não poden<strong>do</strong>, tal como o teatro moderno,prescindir em nenhuma das situações, de umencontro franco e verdadeiro.Além desse elemento referi<strong>do</strong>, também severifica uma inquietude nestas duas modalidadescomunicacio<strong>na</strong>is convergentes. Crian<strong>do</strong>a arte cénica, mecanismos que facilitem umaabertura ao imprevisto, tendencialmente ficaaberta uma faculdade que lhe é confi<strong>na</strong>da –a improvisação. 18 Esta, por seu turno, proporcio<strong>na</strong>uma atmosfera <strong>na</strong> qual to<strong>do</strong> o grupose sentirá à vontade, uni<strong>do</strong>s com a confiançainstalada num processo de livre incorporaçãode experiências. Os participantes preocupa<strong>do</strong>sem desvencilharem-se das influências, <strong>do</strong>spadrões pré-concebi<strong>do</strong>s, rompem com a estéticaconvencio<strong>na</strong>l, enriquecen<strong>do</strong> o seu trabalho,em favor de uma criatividade. 19A não memorização e recusa da ilusãoprevisível e esteriotipada faz da vendamoder<strong>na</strong> um encontro autêntico, enquantoaventura sempre renovada, enquanto comunicaçãodual simétrica, e não hierarquica. DavePatten 20 afirma que é a imprevisibilidade queconstitui o fascínio das vendas, de mo<strong>do</strong> aque não existem públicos iguais (até a mesmapessoa não tem sempre o mesmo comportamento)e cada cliente proporcio<strong>na</strong> um desenrolar<strong>do</strong> acto negocial de forma ímpar.O «espaço cénico» é outro elemento ater em consideração quer no teatro moderno,quer <strong>na</strong> força de vendas. To<strong>do</strong> o espaço podeser cénico, mas não há espaços iguais, ouque surtam o mesmo efeito quan<strong>do</strong> postosem prática. Na perspectiva de Peter Brook, 21cada situação é única, e para que a comunicaçãose processe da melhor forma entreactores e público, deve-se coadu<strong>na</strong>r o espaçocom to<strong>do</strong>s os elementos intervenientes noprocesso dramático.O teatro moderno adequa o seu espaçode acor<strong>do</strong> com as suas pretenções, prescindin<strong>do</strong><strong>do</strong>s cenários, das corti<strong>na</strong>s ou pano defun<strong>do</strong> e desmistifican<strong>do</strong> os mistérios e ilusões.Só um espaço assim permite um espectáculode envolvimento, facilitan<strong>do</strong> aligação entre o público e os actores.O processo interactivo no teatro moderno,que vai às suas origens («pré-teatro»)buscar a sua fundamentação, quan<strong>do</strong> praticaum «espectáculo vivo», num espaço aberto,sem barreiras, encontra <strong>na</strong>s forças de vendauma situação não muito diferente. Por suavez, o comércio actual anexa<strong>do</strong> a uma visãomais moder<strong>na</strong>, alarga o seu espaço de acção,dan<strong>do</strong> preferência a locais mais amplos, ondeto<strong>do</strong>s, de uma forma interactiva participem.Os técnicos de vendas terão que estudaro lugar adequa<strong>do</strong> aos comportamentos manifesta<strong>do</strong>spelos clientes. Os próprios locaisonde se processa o acto negocial tem influênciapsicológica no <strong>potencial</strong> compra<strong>do</strong>r. 22A expressão dramática é uma actividadeque funcio<strong>na</strong> como motivação para ambas aspráticas em apreço. O teatro moderno recorreà expressão dramática para melhor combatera apatia e o desinteresse. Esta práticadá-se numa permeabilidade <strong>do</strong> grupo, quegoza da possibilidade de permutar as suasdiversas experiências no enriquecimento daperso<strong>na</strong>lidade de cada um, a partir <strong>do</strong> convíviode to<strong>do</strong>s. 23Hoje, contrariamente a épocas anteriores,atribui-se a devida importância ao treino <strong>do</strong>svende<strong>do</strong>res, desde a modalidade mais simplesde reuniões de grupo, que intensificam odiálogo <strong>do</strong>s participantes, à mais moder<strong>na</strong>forma de interactividade criativa, que desenvolve,motiva e suscita o intercâmbio de ideias,através <strong>do</strong> jogo entre os intervenientes. 24 Comoincentivo ao moral <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r, rompem-secom todas as barreiras monóto<strong>na</strong>s edesmotivantes que possam prevalecer. Uma dasmedidas moder<strong>na</strong>s é o visio<strong>na</strong>mento de«sketches» cómicos, por parte <strong>do</strong>s vende<strong>do</strong>res,para criar boa disposição e um comportamentode êxito com o cliente. Esta actividadeé muito interessante e inova<strong>do</strong>ra, masnão tem o mesmo impacto que outras maisactivas, que unem a equipa, mobilizan<strong>do</strong> asenergias, insuflan<strong>do</strong> um espírito «luta<strong>do</strong>r» <strong>na</strong>svendas, como o «role playing», o «teatro devendas» ou o «slip writing».Um outro factor comum ao teatro modernoe ao marketing de vendas directas tem


680 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque ver com o actor/vende<strong>do</strong>r investiga<strong>do</strong>rde novos comportamentos sociais. Reportan<strong>do</strong>à intenção expressa a respeito da corelaçãoestabelecida entre o teatro e a sociedade,aferiu-se que toda a obra tem umafunção social, e o teatro mais que nenhumaoutra arte acompanha toda a evoluçãocivilizacio<strong>na</strong>l, sofren<strong>do</strong> influências e colaboran<strong>do</strong>também para a sua transformação.O teatro para se afirmar como forma criativano trabalho social, terá que <strong>na</strong>scer enquantoprovocação, levan<strong>do</strong> o actor a investigar tu<strong>do</strong>o que envolve o indivíduo e a sociedade envolvente,com a convicção de que não existeuma certeza definida, pon<strong>do</strong> a dúvida e aincerteza como princípios de reflexão. Necessariamente,o teatro participa <strong>na</strong> vida das sociedades,definin<strong>do</strong> o seu campo de acção, dita<strong>do</strong>pela procura de novos recursos expressivos. 25Na reunião das premissas para a eficácia<strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r, deverá constar, impreterivelmente,o conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em geral,o que o freguês pretende, e qual a sua razão.Esta postura faz <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r um investiga<strong>do</strong>rde novos comportamentos sociais, que tem deprestar atenção às tendências <strong>do</strong> ambiente demarketing. As mutações <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes <strong>na</strong> sociedadepodem influenciar a actuação dum produtono merca<strong>do</strong>. Nada é estático nesteambiente, por isso os «investiga<strong>do</strong>res» só terãoêxito se mantiverem uma avaliação constantedas forças gravitacio<strong>na</strong>is e reagirem às mudançasnessas forças. 26Da mesma forma que o teatro investigacomportamentos da sociedade onde se pretendeengajar, vai, a partir desse conhecimento<strong>do</strong> público receptor, utilizar a melhorestratégia para a sua formação. A envolvência<strong>do</strong> teatro e sociedade permite, como que umarelação de «causa-efeito» entre o actor investiga<strong>do</strong>r,e actor forma<strong>do</strong>r de culturas. 27O teatro sempre foi didáctico em toda asua evolução, mas o moderno, aquele que vaialém da atitude contemplativa e configura-secomo meio de comunicação e expressão cultural,responde de pronto aos anseios sociais,culturais e políticos de determi<strong>na</strong>da civilização.Artaud 28 considera que uma civilização ésinónimo de cultura, sen<strong>do</strong> o teatro modernoa pôr essa cultura-em-acção, instrumentaliza<strong>do</strong>para os fins pedagógicos pretendi<strong>do</strong>s.O marketing de vendas directas tambémdeverá ter um papel forma<strong>do</strong>r de culturas.Jean Baudrillard 29 alerta para o controlo quea mitologia baseada <strong>na</strong> sociedade de consumopode exercer sobre o indivíduo. Estefenómeno, por sua vez, provocou um sistemade marketing mais volta<strong>do</strong> para os problemassociais, chama<strong>do</strong> marketing social. 30Esta perspectiva aplica-se a ideias, causas ouacções sociais, de uma forma formativa,salvaguardan<strong>do</strong> as responsabilidades éticas esociais. Estas actividades vão no senti<strong>do</strong> demudar as atitudes, valores e comportamentos<strong>do</strong>s membros - alvo de uma sociedade, atravésda aceitação de uma ideia ou causa. 31 Daío papel influencia<strong>do</strong>r da força de vendas, quemais próximo <strong>do</strong>s clientes, poderá utilizar ocontacto co-presente, colaboran<strong>do</strong> <strong>na</strong> formaçãode uma sociedade livre de mitosincontroláveis.Da panorâmica observada nestas duasvertentes comunicacio<strong>na</strong>is, constata-se uma«coincidência» no percurso das suas políticascomunicacio<strong>na</strong>is, com uma convergêncianos seus pontos chave, ten<strong>do</strong> por base umamaior aproximação entre os intervenientes,a intensificação da referida co-presença.Parece também visível a importância queexerce o relacio<strong>na</strong>mento da cultura com oteatro e com as vendas. Pensa-se que é estainteracção que origi<strong>na</strong> mudanças nos seusprocedimentos.Actualmente, o teatro e o marketing demonstrama construção de uma referência <strong>na</strong>regularização da diversidade cultural muitovivenciada pelas manifestações de expressãodramática num processo de desenvolvimentocomunitário, estabelecen<strong>do</strong> bases para ummaior intercâmbio cultural. Mas, pensa-se quetanto o teatro moderno como o marketing devendas directas ainda não conseguiram solidificaras suas filosofias comunicacio<strong>na</strong>is.Existem presentemente muitas práticas cénicasque não vão ao encontro <strong>do</strong> público,manten<strong>do</strong> os espaços de representação vazios,assim como se encontram <strong>na</strong>s vendasinterpessoais, comportamentos que dissuademos clientes, não estan<strong>do</strong> em conformidade comas novas formas de marketing. Terá que havernecessariamente, uma maior interpenetração<strong>do</strong> teatro e marketing com o ambiente sociocultural,para uma fomentação e transmissãode valores verdadeiros e transparentes, impostospelo teatro vivencial e assimila<strong>do</strong>s pelomarketing de vendas directas.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO681BibliografiaArtaud, Antonim, O Teatro e o SeuDuplo, Lisboa, Fenda, 1989.Barbosa, Pedro, Teoria <strong>do</strong> Teatro Moderno: Axiomas e Teoremas, Porto, EdiçõesAfrontamento, 1982.Baudrillard, Jean, A sociedade de consumo,Lisboa, Edições 70, 1995.Beer, Michael, As Diversa Artes deGerenciar Vendas: Marketing eMerchandising, S. Paulo, Edições Vértice,1986.Biner, Pierre, O Living Theatre, Porto,Forja Editora, 1976.Boal, Augusto, 200 Exercícios e JogosPara o Ator e o Não-Ator Com Vontade deDizer Algo Através <strong>do</strong> Teatro, 13ª Edição,Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.Brook, Peter, O Diabo é o Aborrecimento:Conversas Sobre Teatro, 1ª Edição, Porto,Edições Asa, 1993.Cangemi, Joseph e Noronha, Mário,Marketing e Venda, Lisboa, Clássica Editora,1992.Guinsgurg, J, Netto, Teixeira Coelho eCar<strong>do</strong>so, Reni Chaves, Semiologia <strong>do</strong> Teatro/,S. Paulo, Editora Perspectiva, 1988.Ingarden, Roman, As Funções da Linguagem/,S. Paulo, Editora Perspectiva, 1978.Jacinto, Deniz, Teatro III, Porto, Lello &Irmão Editores, 1992.Machuret, Jean-Jacques, Deloche,Dominique e Dàmart, Jacques Charlot,Comerciator : Teorias e Práticas da Vida daQualidade nos Sistemas de Vendas,1ª Edição,Lisboa, Publicações D. Quixote, 1996.Mcken<strong>na</strong>, Regis, Novas Estratégias deMarketing, Lisboa, Editora Presença, 1990.Moulinier, A Direcção de Uma Força deVendas, Lisboa, Editora Presença Lda, 1991.Patten, Dave, Marketing Para a Peque<strong>na</strong>Empresa, Lisboa, Editorial Presença, 1993.Peixoto, Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong>, O Que é Teatro, S.Paulo, Editora Brasiliense, 1983.Pavis, Patrice, Diction<strong>na</strong>ire du Théâtre,Paris, Dunot, 1996.Pires, Aníbal, Marketing, Conceitos,Técnicas e Problemas de Gestão, Lisboa,Editorial Verbo, 1991.Rebelo, Luís Francisco, História <strong>do</strong>Teatro, Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l – Casa daMoeda, 1991.Silva, Arman<strong>do</strong> Sérgio, Ofici<strong>na</strong>: DoTeatro ao Te-ato, S. Paulo, Editora Perspectiva,1981.Stanton, William, Fundamentos deMarketing, 2ª Edição, S. Paulo, LivrariaPioneira Editora, 1980._______________________________1Instituto Superior Miguel Torga2Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Peixoto, O Que é Teatro, S. Paulo,Editora Brasiliense, 1983, p. 14.3Augusto Boal, 200 Exercícios e Jogos Parao Ator e o Não-Ator Com Vontade de Dizer AlgoAtravés <strong>do</strong> Teatro, 13ª Edição, Rio de Janeiro,Civilização Brasileira, 1997, p. 9.4Wunenburger, apud Pedro Barbosa, Teoria<strong>do</strong> Teatro Moderno: Axiomas e Teoremas, Porto,Edições Afrontamento, 1982, p.181.5J. Guinsgurg, Teixeira Coelho Netto e ReniChaves Car<strong>do</strong>so, Semiologia <strong>do</strong> Teatro, S. Paulo,Editora Perspectiva, 1988, p. p. 32-33.6Pedro Barbosa, op. cit., p. 93.7Arman<strong>do</strong> Sérgio Silva, Ofici<strong>na</strong>: Do Teatro aoTe-ato/, S. Paulo, Editora Perspectiva, 1981, p. 86.8Luís Francisco Rebelo, História <strong>do</strong> Teatro,Lisboa, Imprensa Nacio<strong>na</strong>l – Casa da Moeda,1991, p. 6.9Arman<strong>do</strong> Sérgio Silva, op. Cit., p. 40.10Patrice Pavis, Diction<strong>na</strong>ire du Théâtre, Paris,Dunot, 1996, p.p. 306-307.11Pierre Biner, O Living Theatre, Porto, ForjaEditora, 1976, p. 92.12Roman Ingarden, As Funções da Linguagem,S. Paulo, Editora Perspectiva, 1978, p. 158.13Moulinier, A Direcção de Uma Força deVendas, Lisboa, Editora Presença Lda, 1991, p. 258.14Joseph Cangemi e Mário Noronha,Marketing e Venda, Lisboa, Clássica Editora, 1992,p.p. 76-77.15Noronha Cangemi, op. cit., p. 110.16Arman<strong>do</strong> Sérgio Silva, op. cit,, p. 145.17Michael Beer, As Diversa Artes de GerenciarVendas: Marketing e Merchandising, S. Paulo,Edições Vértice, 1986, p.p. 134-169.18Pedro Barbosa, op. cit. p.p. 66-70.19Arman<strong>do</strong> Sérgio Silva, op. cit. p.p. 151-164.20Dave Patten, Marketing Para a Peque<strong>na</strong>Empresa/, Lisboa, Editorial Presença, 1993, p. 119.21Peter Brook, O Diabo é o Aborrecimento:Conversas Sobre Teatro, 1ª Edição, Porto, EdiçõesAsa, 1993, p. 11.22Jean-Jacques Machuret, Dominique Delochee Jacques Charlot Dàmart, Comerciator : Teorias


682 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVe Práticas da Vida da Qualidade nos Sistemasde Vendas,1ª Edição, Lisboa, Publicações D.Quixote, 1996, p. 212.23Peter Brook. op. cit. p. 44.24Moulinier, op. cit. p.260.25Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Peixoto, op. cit. p. 12, 50.26Regis Mcken<strong>na</strong>, Novas Estratégias deMarketing, Lisboa, Editora Presença, 1990, p. 31.27Deniz Jacinto, Teatro III, Porto, Lello &Irmão Editores, 1992, p. p. 14-15.28Antonim Artaud, O Teatro e o Seu Duplo,Lisboa, Fenda, 1989, p. 77.29Jean Baudrillard, A sociedade de consumo,Lisboa, Edições 70, 1995, p. 12.30William Stanton, Fundamentos deMarketing, 2ª Edição, S. Paulo, Livraria PioneiraEditora, 1980, p. 853-854.31Aníbal Pires, Marketing, Conceitos, Técnicase Problemas de Gestão, Lisboa, EditorialVerbo, 1991, p. 111.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO683Identidade e Estilo de Vida:Novos Impactos no Contexto da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lJoão Re<strong>na</strong>to Be<strong>na</strong>zzi e João Maia 1“Olha que coisa mais linda,Mais cheia de graça,É ela meni<strong>na</strong>, que vem e que passa,Num <strong>do</strong>ce balanço, a caminho <strong>do</strong>mar”. 2Na modernidade os locais precisos deatividades ditas culturais exerciam o poderou a função de demarcar e qualificar oambiente social. As referências culturaisdefiniam o sujeito como moderno e assimos lugares de circulação e de interação <strong>na</strong>cidade seriam pretensamente seguros paraclassificar o homem que circulava <strong>na</strong> vidapública. Porém, hoje, surgem indícios denovas conjunturas e gerenciamentos para seinterpretar o mun<strong>do</strong> da cultura. O sujeito quefoi caracteriza<strong>do</strong> e interpreta<strong>do</strong> pela classe,renda, etnia ou gênero cede lugar ao sujeito“desterritorializa<strong>do</strong>”. O ambiente cultural daatualidade, caracteriza<strong>do</strong> pela introdução dasnovas tecnologias, há cerca de duas décadas,e pela falência <strong>do</strong>s grandes relatos e dasinstituições culturais moder<strong>na</strong>s propicia aexistência de um sujeito sem fixidez territorialpara ser classifica<strong>do</strong> culturalmente.Estas conjunturas afetam a constituição<strong>do</strong> sujeito, suas formas de relações no tocanteao afetivo, ao consumo e às formassociais de interação organizacio<strong>na</strong>l. Afetamo que chamaremos de “estilo de vida”, istoé, a forma como que o sujeito constróiimagens sobre si e sobre as suas afiliaçõesorganizacio<strong>na</strong>is enfim, seu contexto.Objetivamos caracterizar o mo<strong>do</strong> como asrelações interacio<strong>na</strong>is se estabelecem rumoa uma construção de valores fundamentaisque possibilitam o viver em conjunto parase criar o ambiente cultural da organização.Na questão em torno <strong>do</strong> “estilo de vida”é de relevância focalizarmos a importânciadada aos valores deposita<strong>do</strong>s pelos indivíduos<strong>na</strong> formação da cultura, ou seja, os significa<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s processos interacio<strong>na</strong>is que nosremetem a pensar no campo da comunicaçãoem um contexto organizacio<strong>na</strong>l. Privilegiamseas novas percepções relativas à autoimagem<strong>do</strong>s indivíduos e seus des<strong>do</strong>bramentospara a constituição da cultura organizacio<strong>na</strong>l.Na contemporaneidade noções comovalores, atitudes, preferências, tempo, geração,nostalgia, auto-imagem são imprescindíveispara se falar <strong>na</strong> junção entre comunicação,cultura e organização. As ações <strong>do</strong>ssujeitos envolvi<strong>do</strong>s e suas percepções <strong>do</strong>contexto organizacio<strong>na</strong>l em que estão inseri<strong>do</strong>sredimensio<strong>na</strong>m a questão da relaçãosubjetividade/organização. Mais precisamentenos referimos ao sujeito e seu estatuto nouniverso da comunicação organizacio<strong>na</strong>l. Oconceito de organização aqui utiliza<strong>do</strong>,embora abrangente, foca as relações de grupono contexto empresarial.Trabalhamos especificamente sobre asquestões relacio<strong>na</strong>das à constituição edesconstrução da noção <strong>do</strong> sujeito, com focoespecífico <strong>na</strong>s formas subjetivas de se identificaremcom grupos ou segmentos e suas<strong>potencial</strong>idades de inserção organizacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>cultura contemporânea. Não perderemos devista a objetividade buscan<strong>do</strong> em determi<strong>na</strong><strong>do</strong>srecortes respostas para as nossasinquietações teóricas. Teremos interesse emmostrar especificamente nos segmentos, apartir da idade e <strong>do</strong> gênero, a importânciaque se deposita <strong>na</strong> questão cultural para aformação da imagem da organização e paravislumbrar a atitude de um sujeito possivelmentedesterritorializa<strong>do</strong>.O mun<strong>do</strong> conhece a letra da músicaGarota de Ipanema que foi reproduzida <strong>na</strong>epígrafe <strong>do</strong> texto. É um hino, não oficial,<strong>do</strong> Rio de Janeiro para qualquer cidadão <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. Um samba canção é o hino. Será essaa identidade cultural de uma cidade? Construímos,nós cariocas, a representação dacidade, através <strong>do</strong>s produtos de cultura, dessaforma maravilhada. Lugar de riqueza simbólicamaterializada <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza generosa.Generosidade da beleza da meni<strong>na</strong> caminhan-


684 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV<strong>do</strong> lentamente em direção a <strong>na</strong>tureza que éela mesma no paraíso banha<strong>do</strong> pelo mar. Esse“ethos” <strong>do</strong> carioca, sempre não oficial,encanta<strong>do</strong> se espraia em toda e qualquerassociação que se desenrola <strong>na</strong> cidade. Vitrinee exposição da cultura da preguiça produtivade quem vive no paraíso.“...Ela passava, ali no cruzamento deMontenegro e Prudente de Morais, emdemanda da praia, e nós a achávamosdemais. Do nosso posto de observação,no Veloso, enxugan<strong>do</strong> a nossacervejinha, Tom e eu emudecíamos àsua vinda maravilhosa. O ar ficavamais volátil como para facilitar-lhe odivino balanço <strong>do</strong> andar. E lá ia elatoda linda, a garota de Ipanema,desenvolven<strong>do</strong> no percurso a geometriaespacial <strong>do</strong> seu balanceio quasesamba, e cuja fórmula teria escapa<strong>do</strong>ao próprio Einstein; seria preciso umAntônio Carlos Jobim para pedir aopiano, em grande e religiosa intimidade,a revelação <strong>do</strong> seu segre<strong>do</strong>. (siteoficial da Hêlo Pinheiro – 31.03.2004)Esse é um trecho de uma declaração <strong>do</strong>Vinícius de Moraes sobre o processo decriação da música emblema da cidade. Ele“enxuga a cervejinha”, senta<strong>do</strong> com umamigo, num botequim no meio da rua praver a meni<strong>na</strong> passar lentamente, sen<strong>do</strong> chamadapela mãe <strong>na</strong>tureza e produz uma belamúsica. Esse é o estilo de vida e de produção,enraiza<strong>do</strong> no nosso mo<strong>do</strong> de ser, quese espalha pelo to<strong>do</strong> social, inclusive <strong>na</strong>sempresas. A identidade da cidade e <strong>do</strong> indivíduose misturam. Essa é a nossa questãoprimeira. Inventaram uma cidade maravilhosa.A representação está inscrita no imagináriode to<strong>do</strong>s. Foi-se construin<strong>do</strong> <strong>na</strong> literatura,no cinema, <strong>na</strong> música, nos produtosda cultura de maneira generalizada a imagemde maravilhosa <strong>na</strong> cidade, que cá pranós é fabulosa mesmo. Essa é a identidadeda cidade.Montanhas morren<strong>do</strong> <strong>na</strong> imensidão azul<strong>do</strong> mar, rios incandescentes de tãotranslúci<strong>do</strong>s, areias escaldantes servin<strong>do</strong> deborda para a floresta, gente nua, simpáticae feliz por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s, frutas exóticas,novos cheiros e sabores numa terra de purezasó encontrada em sonhos. Esse era o cenárioque Américo Vespúcio vislumbrou em 1502quan<strong>do</strong> aportou em nossas terras e quepermanece até os nossos dias. Colocou ospés <strong>na</strong> terra, batizou-a e a cidade <strong>do</strong> Rio deJaneiro ficou fadada a ser para sempre oparaíso sobre a terra.Os coloniza<strong>do</strong>res fizeram a festa. Franceses,portugueses e espanhóis lutaram,cansaram, se refestelaram e fizeram muitahistória e criança por aqui. Salve a mulata!Hoje produto de exportação. Terra depermissividade e mistura. Riqueza e beleza.Assim fomos construin<strong>do</strong> nossa identidadede cidade. Cidade maravilhosa, confusa ehíbrida. Produtiva e festiva. Terra de samba,suor e cerveja.Cidade <strong>do</strong>s superlativos. Imagi<strong>na</strong>ram ouviram o tamanho <strong>do</strong> Cristo? E <strong>do</strong> Estádiode futebol Maracanã? Da ponte Rio-Niteróicom certeza apareceu <strong>na</strong> televisão. Nemprecisamos <strong>do</strong> livro Guiness para marcarnossas grandiosidades. Elas estão expostas,gritan<strong>do</strong> aos olhos para qualquer estrangeirover. O Estádio <strong>do</strong> Maracanã foi i<strong>na</strong>ugura<strong>do</strong>em 16 de julho de 1950. E nessa época nãoprecisávamos de monumentos de grandiosidadepara expressar a nossa imagem deexagero, esse sentimento já percorria as ruasda cidade.Na construção mesmo da cidade moder<strong>na</strong>,no início <strong>do</strong> século XX, nosso PrefeitoPereira Passos queria transformar a cidadenuma Paris das Américas. Na origem a<strong>na</strong>tureza transbordan<strong>do</strong> generosidade e <strong>na</strong>idealização arquitetônica moder<strong>na</strong> a exuberânciacopiada de Paris.A partir de 1915 no centro <strong>do</strong> Rio deJaneiro, mais precisamente <strong>na</strong> Lapa, bairroboêmio até hoje, começam a surgir as casasditas suspeitas. Estava <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> <strong>na</strong>quelemomento uma Lapa de malandragem, festas,crimes sem castigos, encontros sem horamarcada. Cabarés e casinos já estavam instala<strong>do</strong>spor lá. A heterogeneidade da nossaidentidade cultural já impera sobera<strong>na</strong> <strong>na</strong>sruas da cidade. As mulheres elegantes, deacor<strong>do</strong> com o figurino europeu, desfilavampelo bairro, ao la<strong>do</strong> da dama com batonexageradamente vermelho.Desde o início <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> aefervescência cultural <strong>na</strong> noite era de espantaros cronistas da cidade. Brito Broca


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO685relembran<strong>do</strong> seu tempo de boemia assimdescreve a animação <strong>do</strong> Rio: Identidade eEstilo de Vida:“A noite era difícil conseguir umacadeira num café. O largo, quaseintransitável, fervilhava. Os cabarés,cheios. O vozerio era ouvi<strong>do</strong> à distância– to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> beben<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong>,feliz. Uma beleza.” (BROCA,1966).O Rio de Janeiro produziu grandes perso<strong>na</strong>gensque andavam <strong>na</strong> contramão dequalquer assepsia que se quisesse elaborar<strong>na</strong> imagem da cidade. Madama Satã, porexemplo, foi um desses emblemas de confusão,mistura e distúrbio. Esse perso<strong>na</strong>gemera violento, malandro e homossexual. Um<strong>do</strong>s nossos especialistas em cultura urba<strong>na</strong>carioca, Paulo Francis, assim falava:“Satã representa a própriacontracultura, que é essa que aí está,apesar de seus valores intrínsecos euniversais, nos foi imposta de forapara dentro, o que as vezes é bom,outras, não. Já Satã emergiu desseasfalto, deste clima, deste ragu culturalbrasileiro que tentamos negarinutilmente, mas que tal qual o rio<strong>do</strong> poema de Eliot, é um deus primitivo,capaz de a<strong>do</strong>rmecer, ape<strong>na</strong>s,e sempre vivo, vingativo e traiçoeiro.A sociedade urba<strong>na</strong>, de consumo, aquié puro verniz, descascan<strong>do</strong> visivelmente.Outras forças supridas, estãoaí, poderosamente latente, acumulan<strong>do</strong>impacto” (FRANCIS, 1975:151).Esse tipo de inscrição munda<strong>na</strong> de nossasrepresentações mostra que os sonhos,paixões e práticas cotidia<strong>na</strong>s se enraízamcomo vetor de sociabilidade. Essas “outrasforças supridas” formam um <strong>do</strong>s aspectosmarcantes da representação da cidade <strong>do</strong> Riode Janeiro e de seus habitantes.As histórias ba<strong>na</strong>is em forma de sociabilidadecriam a ambiência da cidade. A camaradagem,como fun<strong>do</strong> da sociabilidade, temregistro nos estu<strong>do</strong>s de redes em antropologia.A vida é a intensa e permanente trocacom o outro para formar a cidade.Para Ulf Hannerz (1980) com a análisedas redes podemos verificar como as relaçõessociais se articulam entre si e especificamentecomo os indivíduos conhecen<strong>do</strong>pessoas em comum e outras diferentes searticulam. A noção de rede é interessante parapensar a comunicação dentro das organizações<strong>na</strong> medida que servirá de suporte paraa análise <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> em conjunto cada vezmais diversifica<strong>do</strong> de estruturas sociais.Sabemos que o indivíduo possui diversospapéis que irá combi<strong>na</strong>r de acor<strong>do</strong> com assituações que podem ser diversas. Em umesquema estruto-funcio<strong>na</strong>lista podemos compreendera sociedade através <strong>do</strong>s grupospermanentes e por suas instituições. Tu<strong>do</strong> setor<strong>na</strong> mais complexo, porém, quan<strong>do</strong> introduzimosem nossas análises os comportamentosque podem se inscrever num quadroinstitucio<strong>na</strong>l, mas que podem paralelamenteintroduzir mudanças através de adaptações eestratégias. Assim, vemos que as redescobrem os grupos permanentes e as instituiçõese por outro la<strong>do</strong>, que elas cobrem outrosplanos sociais. Nestes outros planos as ligaçõessociais obedecem menos a regulamentospropriamente ditos <strong>do</strong> que a obrigaçõesimpostas pelos próprios participantes, seja osexplicitan<strong>do</strong> e de comum acor<strong>do</strong>, seja demaneira implícita com um di<strong>na</strong>mismo próprio.Podemos dizer que <strong>na</strong>s organizaçõescomplexas da contemporaneidade, devi<strong>do</strong> àscrises e instabilidades da “sociedade de risco”,para usarmos o termo de Ulrich Beck (1997),as coesões se estabelecem muito mais cimentadasnesses outros planos sociais, <strong>na</strong>quelesque criamos nos espaços de vivência cotidia<strong>na</strong>.Levamos em consideração que vivemos,depois de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> tempo, o processoda “modernização reflexiva”. Uma novaforma social está sen<strong>do</strong> elaborada <strong>na</strong> superfíciedas nossas associações. As transformaçõesestão ocorren<strong>do</strong>, <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s setoresda sociedade, de maneira silenciosa. Os riscosindividuais, sem citarmos outros riscos, sãocontrola<strong>do</strong>s pela sociedade pós-industrial. Oprocesso atual é o da autoconfrontação comto<strong>do</strong>s os efeitos da Modernidade e avançostecnológicos. A tradição, os hábitos cotidianos,os estilos de vida sedimenta<strong>do</strong>s notempo se distendem poden<strong>do</strong> criar rupturas


686 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVe fissuras no teci<strong>do</strong> social. Levan<strong>do</strong> emconsideração que a comunicação é a base paraa existência da cultura <strong>na</strong> cidade, pois éatravés e por ela que os significa<strong>do</strong>s e ossenti<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s às coisas pelo povo, circunscritoem determi<strong>na</strong>da cidade, pode-se revelarelementos constitutivos da identidade <strong>do</strong>cidadão de um lugar. A comunicação tem afunção ainda de difundir e assegurar asinformações que irão se materializar noespaço e assim ser índice de compreensãosobre a dinâmica das sociabilidades contemporâneas.Alguns elementos sensíveis podem criaro que consideramos “lugar” através <strong>do</strong>svínculos sociais apoia<strong>do</strong>s no tempo que secompartilha um mesmo território. O tempoda lentidão, que marca o território e o ritmopreguiçoso das associações munda<strong>na</strong>s, quese estabelecem cotidia<strong>na</strong>mente, são elementosque irão nortear as interpretações sobreas organizações. Essas organizações devemlevar em conta que, ao la<strong>do</strong> da velocidadeda produção moder<strong>na</strong>, existe um fluir deelementos que são cria<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s associaçõesafetuosas e diárias que não são contabilizadasno fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> mês.Se chegarmos em uma repartição pública,no Rio de Janeiro, em uma sexta-feiradepois <strong>do</strong> almoço o que podemos esperar emtermos de eficácia de atendimento? Algunsjustificaram a ineficácia <strong>na</strong> situação geral <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r esquecen<strong>do</strong> que ele faz parte deum “ethos”: o tempo de folga que estápresente em toda e qualquer associação quese estabeleça <strong>na</strong> sociedade carioca.A identidade cultural e as organizações <strong>na</strong>cidade das maravilhas: comunicação eresistência.A idéia de indivíduo é criada, como partede um grande projeto <strong>na</strong> Modernidade,sugerin<strong>do</strong> tanto unidade como fragmentaçãoconcomitantemente. Por um la<strong>do</strong> temos aunidade <strong>na</strong> estrutura <strong>do</strong> sujeito individualdiante de suas opções no mun<strong>do</strong> social emformação – integridade, rigidez de formaçãomoral e altivez – mas, ao mesmo tempo,temos a idéia de fragmentação diante <strong>do</strong>outro, <strong>na</strong> questão da alteridade, de seu grupoétnico, de sua classe social, de seu gêneroe de sua religião.Sem os radicalismos identitários, podeseromper certas cadeias e redes de subserviência<strong>do</strong> sul em relação ao norte oumesmo da periferia em relação ao centro. Aidentidade privilegiou centralidades 3 . Cartografiascentrais <strong>na</strong> modernidade são detentorasde limites de circulação. A identidadepode servir de dispositivo de imobilidade.Fazen<strong>do</strong>-se de maneira bem diversa, e mesmocomo força de resistência à centralidade quese elabora no mapa-mundi, temos as identidadesflexíveis que possibilitam e incentivama circulação de informação, signos,idéias, espíritos e morais em um da<strong>do</strong> território.Hoje se mostra importante pensar o socialem suas tramas a partir <strong>do</strong> simbólico, <strong>do</strong>imaginário espacial que fortalece a comunicaçãocirculante, privilegian<strong>do</strong> os acontecimentosque se dão de forma a respeitar ascaracterísticas culturais <strong>do</strong> local em que secompartilha o dia a dia. A questão da identidade,dessa forma, não poderá mais serconceituada de maneira orto<strong>do</strong>xa, pois semostra reflexiva e flexível, quan<strong>do</strong> respeitaas diferenças que se realizam nos embatescotidianos. Sofremos interferências inter<strong>na</strong>se exter<strong>na</strong>s, os centros perdem limites efronteiras, a periferia invade centros plurais.Nessa configuração social não é possível falarde um paradigma globalista em contraposiçãoa um outro que seja localista e extremamenteenrijeci<strong>do</strong>. Constatamos a configuração de umparadigma que se mostra calei<strong>do</strong>scópico. Oselementos que conformam o institucio<strong>na</strong>l,o convencio<strong>na</strong>l e o produtivo estarão empermanente troca com as características quecompõem o ba<strong>na</strong>l cotidiano da cultura quevive <strong>na</strong>s ruas, da nossa necessidade devagabundagem, de certa <strong>do</strong>se de malandragem.Na discussão a cerca <strong>do</strong>s impactos <strong>do</strong>snovos mo<strong>do</strong>s e estilos e vida característicosda contemporaneidade <strong>na</strong> comunicação organizacio<strong>na</strong>lcabe, primeiramente, tentardelimitar a própria concepção de comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l.Parte-se de um pressuposto que os processosde comunicação <strong>na</strong> empresa moder<strong>na</strong>são fortemente caracteriza<strong>do</strong> por sua configuraçãoem rede, com marcante reciprocidadee seus diversos mecanismos de tradução.As informações que circulam são


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO687retrabalhadas, passam pelo crivo e sãomodificadas e mesmo reconfiguradas pelosvários agentes envolvi<strong>do</strong>s, já que não seimagi<strong>na</strong> que o modelo clássico telegráficopermaneça como forma de descrever a complexidadeda comunicação <strong>na</strong> empresa contemporânea.As conversas de corre<strong>do</strong>r e osgrupos de colegas de trabalho que almoçamjuntos e os que saem para o chope após oexpediente <strong>na</strong> sexta-feira validam, criticam,aceitam, rejeitam, enfim, geram, recebem etransformam as informações que circulam <strong>na</strong>empresa em moto contínuo.No entanto, <strong>na</strong> medida em que, via deregra, a comunicação organizacio<strong>na</strong>l tambémpretende o convencimento <strong>do</strong> receptor damensagem através <strong>do</strong> discurso, para que esteúltimo produza respostas desejáveis - isto é,comportamentos adequa<strong>do</strong>s a esquemas devalidação fundamenta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cultura da organizaçãoe que contribuam positivamente <strong>na</strong>consecução de seus objetivos organizacio<strong>na</strong>is,cabe enfatizar que esse processo de circulaçãode informação tem se caracteriza<strong>do</strong> porseu caráter de compartilhamento. Deste mo<strong>do</strong>existe uma parte <strong>do</strong> processo de comunicaçãoque se encarrega <strong>do</strong>s aspectos da formaçãoda cultura da empresa, de sua dissemi<strong>na</strong>çãoe tradução a um conjunto decolabora<strong>do</strong>res. Mais especificamente é deinteresse salientar que tais processoscomunicacio<strong>na</strong>is visam dissemi<strong>na</strong>r e reforçarvalores, diretrizes e a visão <strong>do</strong> corpo dirigenteda organização por toda a organização,num esforço de convencimento <strong>do</strong> restante<strong>do</strong> corpo de colabora<strong>do</strong>res. Projetos quevisam construir ou alterar aspectos da culturada organização, gerencian<strong>do</strong> valoresinternos, aspectos <strong>do</strong> clima organizacio<strong>na</strong>l epossuem uma etapa de comunicação claramenteassentada neste pressuposto, ainda quepromova o debate, a discussão e participação<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s. Deste mo<strong>do</strong> repete-se aperspectiva taylorista em que os de menorpoder e visibilidade, os que operacio<strong>na</strong>lizamas tarefas e projetos, são manti<strong>do</strong>s distantes<strong>do</strong> processo de concepção e planejamento daagenda de ações a serem implementadas. Noentanto nosso interesse essencial, menos <strong>do</strong>que apontar as assimetrias de poder nosprocessos de decisão organizacio<strong>na</strong>l, caminhano senti<strong>do</strong> de enfatizar as barreiras emtal processo de difusão das informações. Talexclusão <strong>do</strong> processo de decisão, quer nonível estratégico, quer no nível tático ou aindano nível operacio<strong>na</strong>l, enseja resistênciasdiversas <strong>na</strong> própria ambiência <strong>do</strong> dia a diada empresa.Tais resistências são ainda intensificadaspor barreiras de <strong>na</strong>tureza sociocultural, <strong>na</strong>medida em que os múltiplos assentamentossociais presentes <strong>na</strong> sociedade brasileira sereproduzem <strong>na</strong> estrutura hierárquica de nossasorganizações. Na esfera comportamental, taisresistências são também positivamente influenciadaspela maior variedade de papéis,atitudes e valores que os trabalha<strong>do</strong>res sãoconvoca<strong>do</strong>s a inter<strong>na</strong>lizar no exercício de suasfunções. As linguagens, os símbolos e representaçõesda realidade características <strong>do</strong>sdiferentes grupos de pertença organizacio<strong>na</strong>lacabam por provocar o aumento da distânciaentre estes mun<strong>do</strong>s.Temos algumas ilustrações que denunciamnovas formatações <strong>na</strong>s associações atébem pouco tempo consideradas conserva<strong>do</strong>raspelo conjunto da sociedade. Profissõescentrais estão se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> até certo pontoperiféricas em nossos dias. Nas organizaçõesmilitares, por exemplo, oficiais e solda<strong>do</strong>salmoçam em grupos separa<strong>do</strong>s e raramentese envolvem em laços de amizade, dentro<strong>do</strong> trabalho, mas podem morar <strong>na</strong> mesmacomunidade. Oficiais não se vêem nem sesentem próximos aos solda<strong>do</strong>s, nem pretendemestender seu convívio para além <strong>do</strong>contexto <strong>do</strong> trabalho, mas o motorista queo leva ao sítio no fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong> e participa<strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s da família é aquele que almoçaao la<strong>do</strong>. A carreira militar até poucos anosmerece<strong>do</strong>ra de méritos se desgasta pelopróprio esvaziamento <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> de Esta<strong>do</strong>e Pátria. Outro exemplo <strong>do</strong> esgarçamentosofri<strong>do</strong> <strong>na</strong>s representações profissio<strong>na</strong>is tradicio<strong>na</strong>lmenterespeitáveis está nos médicos.Eles formam ainda um grupo coeso, sim etendem a se relacio<strong>na</strong>r com seus pares emorganizações hospitalares, muito embora emseu trabalho cotidiano travem intensa convivênciacom técnicos e auxiliares de enfermagem,até aí está claro. Porém, nos jor<strong>na</strong>iscariocas freqüentemente divulgam as brigasdevi<strong>do</strong> as dívidas da previdência, <strong>do</strong>s planosde saúde priva<strong>do</strong>s que pagam valores irrisóriosaos seus médicos. No Rio se tor<strong>na</strong> cadadia mais difícil depender <strong>do</strong>s hospitais


688 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVpúblicos e com isso vemos o desgaste daidentidade <strong>do</strong> médico. Ele agora briga porsalários dignos e por hospitais em melhorescondições para o atendimento da população.O médico está presente <strong>na</strong>s discussões ordinárias.Com o salário de médico onde esseprofissio<strong>na</strong>l poderá morar? Em lugares dedistinção? Com certeza ele terá que fazerparte de assembléias de con<strong>do</strong>mínios medianosem áreas não tão nobres.Parece relevante apontar também que, damesma forma em que a comunicação organizacio<strong>na</strong>lé eficaz em “vender” aos membrosda empresa os novos valores, conceitose normas de validação, ela também é instrumentoútil para a exposição de pessoas ecomportamentos desviantes para o públicoalvomais restrito, <strong>na</strong> busca da coesão deesforços, atitudes e comportamentos. Em talprocesso, as grandes diferenças de repertóriosou mapas de referência entre os indivíduosque ocupam cargos de diferentes níveis<strong>na</strong> estrutura organizacio<strong>na</strong>l somam-se àsdiferenças derivadas da identidade, tal comose insere <strong>na</strong> vida contemporânea.Em que pese a existência de um aspectoda organização e sua distribuição de podere funções de caráter formal, as evidênciasprovenientes da nova inserção da identidadecultural no contexto da vida cotidia<strong>na</strong> apontampara um fortalecimento <strong>do</strong>s vínculos de<strong>na</strong>tureza informal. Podem surgir embates ea situação comunicacio<strong>na</strong>l se tor<strong>na</strong>r caótica.Cada vez mais moldamos nossas aspiraçõesde pertença, nossos modelos de comportamento,nossos heróis e mitos organizacio<strong>na</strong>isà semelhança (e segun<strong>do</strong> uma agenda deprioridades) oriunda de nossa vida civil, longe<strong>do</strong> alcance da estrutura formal de prioridadesorganizacio<strong>na</strong>is. Cada vez mais se exigeflexibilidade, criatividade, capacidade eimprovisação para se lidar com a adversidadedentre as habilidades de capacidades <strong>do</strong>ator organizacio<strong>na</strong>l, <strong>do</strong> gerente. Tais característicasvão solicitar fundamentos e energiasindividuais que estarão fortementecalca<strong>do</strong>s em sua história de vida e nãonecessariamente em seu percurso numa organizaçãoespecífica. É importante lembrarque esse sujeito da cultura estará semprepronto para mudar de emprego ou mesmodiante da possibilidade <strong>do</strong> desemprego.Estará, portanto, dependente <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de agir,das decisões cotidia<strong>na</strong>s e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de ser,pensar e decidir que foram construí<strong>do</strong>s a partirde estilos de vida.Diferentemente de grande variedade deestu<strong>do</strong>s desta área que apontam a importânciada organização – isto é, da porção davida das pessoas que se passa no contexto<strong>do</strong> trabalho em empresas – pelos ecos queproduzem direta ou indiretamente <strong>na</strong> vida deseus colabora<strong>do</strong>res e, em seqüência, em suasfamílias e <strong>na</strong> sociedade em geral, parte dasdemandas sobre sua força de trabalho pareceestar condicio<strong>na</strong>da a fenômeno de senti<strong>do</strong>inverso: são os estilos de vida de seuscolabora<strong>do</strong>res que parecem irrigar, comqualificações preciosas, a vida <strong>na</strong> empresa.As empresas assim, nesse cenário em permanentetransformação, se relacio<strong>na</strong>rãomelhor com o lugar onde devem se instalare dialogarão com a identidade cultural <strong>do</strong>local e <strong>do</strong> povo. A linguagem <strong>do</strong> houseorgan,press-release, mesmo o jor<strong>na</strong>l murale até a intranet devem suportar as atitudes,os vocabulários, as ambiências, asdesestruturas, enfim, o estilo de vida que seestabelece <strong>na</strong> sociedade de riscos e maisespecificamente ainda com o habitante dacidade maravilhosa que pára para “enxugarsua cervejinha após o trabalho com o seuchefe imediato. Na sua repartição a suarelação pode até se estabelecer ape<strong>na</strong>s atravésde petições, cartas formais ou petições, masa produção vai se estabelecer e se fortalecerrealmente é no espaço informal <strong>do</strong> botequim.Os grupos de referência organizacio<strong>na</strong>ise, em maior intensidade, os grupos de aspiração,parecem desempenhar papel relevanteno novo mosaico de representações sociaisdescentradas <strong>na</strong> organização. Na medidaem que o indivíduo almeja pertencer eidentifica-se com determi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo, mobilizam-sesuas energias, suas capacidades, suaforça produtiva. Por outro la<strong>do</strong>, se taismecanismos de atração passam por perío<strong>do</strong>de rápidas mudanças, perden<strong>do</strong> objetividadesob o ponto de vista <strong>do</strong>s interesses da organização,o processo de mobilização <strong>do</strong>indivíduo perde tanto força quanto direção:e o seu esforço em sintonia com o conjuntoem que se insere fica comprometi<strong>do</strong>. Configura-semais um si<strong>na</strong>l rumo à resistênciafrente aos propósitos organizacio<strong>na</strong>is e maisuma fonte de desalinhamento no teci<strong>do</strong>


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO689interno a empresa. Essa situação tende a seintensificar, adicio<strong>na</strong>lmente, já que esta agendade afiliações passa a depender principalmente<strong>do</strong> crivo da reflexividade individual, mais <strong>do</strong>que das conveniências formais e de concepçãoplanejadamente produtiva da organização, etambém conta com impressio<strong>na</strong>nte grau deprovisoriedade derivada da mobilidade e variabilidade<strong>do</strong> processo de identificação.Estas conjunturas afetam a constituição<strong>do</strong> sujeito, suas formas de relações no tocanteao afetivo, ao consumo e às formassociais de interação organizacio<strong>na</strong>l. Afetamo que chamamos de “estilo de vida”, isto é,a forma como que o sujeito constrói imagenssobre si e sobre as suas afiliaçõesorganizacio<strong>na</strong>is enfim, seu contexto. Caracterizamoso mo<strong>do</strong> como as relaçõesinteracio<strong>na</strong>is se estabelecem rumo a umaconstrução de valores fundamentais quepossibilitam o viver em conjunto para se criaro ambiente cultural da organização.Privilegiam-se as novas percepções relativasà autoimagem <strong>do</strong>s indivíduos e seusdes<strong>do</strong>bramentos para a constituição da culturaorganizacio<strong>na</strong>l. Na contemporaneidadenoções como valores, atitudes, preferências,tempo, geração, nostalgia, auto-imagem sãoimprescindíveis para se falar <strong>na</strong> junção entrecomunicação, cultura e organização. As ações<strong>do</strong>s sujeitos envolvi<strong>do</strong>s e suas percepções <strong>do</strong>contexto organizacio<strong>na</strong>l em que estão inseri<strong>do</strong>sredimensio<strong>na</strong>m a questão da relaçãoindivíduo/organização. Mais precisamente nosreferimos ao sujeito e seu estatuto no universoda comunicação organizacio<strong>na</strong>l. Oconceito de organização aqui utiliza<strong>do</strong>,embora abrangente, enfoca as relações degrupo no contexto empresarial e cultural dacidade.Trabalhamos especificamente sobre asquestões relacio<strong>na</strong>das à constituição edesconstrução da noção <strong>do</strong> sujeito, com focoespecífico <strong>na</strong>s formas subjetivas de se identificaremcom grupos ou segmentos e suas<strong>potencial</strong>idades de inserção organizacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>cultura contemporânea e especificamente <strong>na</strong>identidade cultural de sua cidade.


690 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografiaAidar, Marcelo Marinho, e Alves, MárioAquino. Comunicação de massa <strong>na</strong>s organizaçõesbrasileiras. In: Prestes Motta, F. C.Caldas, M. P. (orgs). Cultura Organizacio<strong>na</strong>le Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.Barros, Olavo de. Artigo sobre o bairroda Lapa. Jor<strong>na</strong>l Última Hora, 07/07/1972.Beck, Ulrich e outros. Modernizaçãoreflexiva: política, tradição e estética <strong>na</strong>ordem social moder<strong>na</strong>. São Paulo: EditoraUniversidade Estadual Paulista, 1997.Broca, Brito. A Lapa de sempre.Gua<strong>na</strong>bara, no. 2, 1966.Francis, Paulo e outros. As grandesentrevistas <strong>do</strong> Pasquim. Rio de Janeiro:Codecri, 1975.Lopes, Antonio Herculano (org). EntreEuropa e África: a invenção <strong>do</strong> carioca. Riode Janeiro, Fundação Casa Rui Barbosa,Topbooks, 2000.Nkomo, S. M. e Cox JR, T. Diversidadee identidade <strong>na</strong>s organizações. In: Clegg, S.R. Hardy, C. e Nord, W. R.(orgs). Handbookde estu<strong>do</strong>s organizacio<strong>na</strong>is.Volume 1. SãoPaulo: Atlas, 1998._______________________________1João Re<strong>na</strong>to Be<strong>na</strong>zzi PUC/RJ. João Maiapertence à UERJ.2Garota de Ipanema. Música e letra de TomJobim e Vinicius de Moraes de 1962.3Algumas questões aqui levantadas em tornoda identidade foram desenvolvidas no curso <strong>do</strong>professor Eduar<strong>do</strong> Portela no Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Rio de Janeiro, em seu cursoModernidade e Contra-Modernidade. Segun<strong>do</strong>semestre de 2003.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO691Comunicação institucio<strong>na</strong>l em organização pública.O caso da Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro – 2001/2004Lino Martins da Silva e Sonia Virgínia Moreira 1IntroduçãoNo livro Comunicação e cultura – aexperiência cultural <strong>na</strong> era da informação,o autor chama a atenção <strong>do</strong>s leitores paraa importância de reconhecermos o que pertenceao <strong>do</strong>mínio da informação e aquilo quepode ser entendi<strong>do</strong> como experiênciacomunicacio<strong>na</strong>l. Compreender a diferençaentre informação e comunicação seria importanteporque,“apesar da planetarização da informação,assistimos hoje ao recrudescimento<strong>do</strong>s regio<strong>na</strong>lismos, <strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismose <strong>do</strong>s fundamentalismos, fenômenosque parecem resistir à forçahomogeneiza<strong>do</strong>ra da informação planetária,a promover a sua própriaordem de valores à margem daspretensões universalizantes da ordeminformativa mediática” (Rodrigues,1999: 19).Sob esse aspecto, os acontecimentos sãotanto mais informativos quanto menos previsíveise, portanto, ainda mais inespera<strong>do</strong>s.Quanto menor for a probabilidade de umacontecimento ocorrer, tanto maior será o seuvalor informativo, uma vez que“(...) a informação pertence à esferada transmissão, entre um desti<strong>na</strong><strong>do</strong>re um ou mais desti<strong>na</strong>tários, de da<strong>do</strong>sde acontecimentos, de conhecimentos.O seu objectivo é um interesse relativamenteindependente da experiênciasubjectiva daqueles que informame daqueles que são informa<strong>do</strong>s.”(Rodrigues, 1999: 27).A comunicação, diferentemente da informação,envolveria um processo que ocorreentre duas pessoas <strong>do</strong>tadas de razão e liberdade,entre si relacio<strong>na</strong>das por pertencerema um mesmo mun<strong>do</strong> cultural. Por isso, acomunicação seria um processo <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> derelativa previsibilidade.“É uma relação fundamentalmenteintersubjetiva; enraíza-se <strong>na</strong> experiênciaparticular e singular <strong>do</strong>sinterlocutores, fazen<strong>do</strong> apelo tanto àexperiência individual como à experiênciacoletiva que entendem por emcomum” (Rodrigues, 1999: 27).Comunicação, portanto, seria processo detroca simbólica, enquanto informação seriavia de mão única – da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> emissor parao receptor utilizan<strong>do</strong> algum meio como ca<strong>na</strong>lda mensagem. Dessa forma, da massa deinformação que nos chega ape<strong>na</strong>s uma peque<strong>na</strong>parte acaba por integrar a nossaexperiência ‘culturalmente pertinente’.A aplicação prática da teoriaA partir deste entendimento <strong>do</strong> quepodemos identificar como informação e comocomunicação foi desenvolvida a atividade decomunicação institucio<strong>na</strong>l a<strong>do</strong>tada pelaControla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio deJaneiro (CGM-Rio) no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong>entre 2001 e 2004. A percepção é de queos temas relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à área de controlecompõem-se de da<strong>do</strong>s informativos específicos,que para a sua circulação em espaçosrestrito (interno) e amplo (externo) inseretambém processos comunicacio<strong>na</strong>is.De um la<strong>do</strong>, a população da cidade <strong>do</strong>Rio de Janeiro e de qualquer lugar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>está informada sobre as contas municipais –uma vez que <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> oficial da CGM <strong>na</strong>Internet estão disponíveis: a prestação decontas da Prefeitura <strong>do</strong> Rio; a relação deauditorias em andamento ou concluídas; ospadrões de evolução <strong>do</strong> caixa <strong>do</strong> Tesouro;da<strong>do</strong>s sistematiza<strong>do</strong>s em um banco de informaçõesgerenciais – e sobre assuntos


692 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVcorrelatos, como a legislação pertinente àárea; tabelas de preços de merca<strong>do</strong> de gênerosalimentícios, de material hospitalar, delimpeza, etc, que servem como referência parato<strong>do</strong>s os setores da administração.Por outro la<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> público geral,segmentos da população – em especialauditores, conta<strong>do</strong>res e profissio<strong>na</strong>is queoperam no campo da administração pública– têm acesso via web a produtos específicos:o informativo bimestral Prestan<strong>do</strong> Contas, arevista-clipping bimestral <strong>na</strong> forma de <strong>do</strong>ssiêstemáticos, intitulada Fraudes & Corrupção,e as publicações quadrimestrais de ensaiosedita<strong>do</strong>s com o título de Cadernos daControla<strong>do</strong>ria, gera<strong>do</strong>s de palestras proferidaspor convida<strong>do</strong>s de diferentes áreas <strong>do</strong>conhecimento, funções e regiões <strong>do</strong> país,sempre ancoradas em temas da atualidade quese configurem como de interesse público.Entende-se, dessa forma, que a atividadede comunicação institucio<strong>na</strong>l no âmbito <strong>do</strong>poder público necessitaria dessas duas abordagenssimultâneas: informativa ecomunicacio<strong>na</strong>l. Para fora, dirigin<strong>do</strong>-se apúblicos heterogêneos, que inclui tanto ocidadão comum como o profissio<strong>na</strong>l especialistano setor. Ao a<strong>do</strong>tar tal enfoque trabalhatambém para dentro, incentivan<strong>do</strong> aparticipação da equipe técnica em eventosinternos dirigi<strong>do</strong>s para o âmbito da administraçãopública local.Ao operar a informação e a comunicaçãoem uma área carente de da<strong>do</strong>s, como é ocampo <strong>do</strong> controle no setor público brasileiro,a Controla<strong>do</strong>ria Geral atua no particular(difusão das ações de controle dascontas municipais) em sintonia com a propagação<strong>do</strong> geral (conhecimento das açõesda Prefeitura da Cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro).A Controla<strong>do</strong>ria Geral no âmbito daPrefeitura da Cidade <strong>do</strong> Rio de JaneiroO Rio de Janeiro foi o primeiro municípiobrasileiro a incluir em sua estruturaadministrativa um setor dedica<strong>do</strong> exclusivamenteao controle interno. A Controla<strong>do</strong>riaGeral <strong>do</strong> Município, criada há exatos dezanos, em dezembro de 1993, tem comofunções principais exercer o controle <strong>do</strong>ssetores contábil, fi<strong>na</strong>nceiro, orçamentário,operacio<strong>na</strong>l e patrimonial de toda a administraçãomunicipal. Para tanto observa comoeixos principais da sua atividade a legalidade,a legitimidade, a economicidade, arazoabilidade, a aplicação das subvenções ea renúncias de receitas.Assim está inserida a Controla<strong>do</strong>ria <strong>na</strong>estrutura organizacio<strong>na</strong>l da Prefeitura daCidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, cuja administraçãogeral atualmente se distribui por 24secretarias, cada uma responsável por campoespecífico de desempenho. Dependen<strong>do</strong> dassuas atribuições, algumas secretarias possuemdepartamentos vincula<strong>do</strong>s: são asautarquias, fundações e empresas públicas.Ao to<strong>do</strong>, os setores encarrega<strong>do</strong>s da execuçãode inúmeras atividades, projetos e processosde trabalho somam 50, alguns delescom órgãos descentraliza<strong>do</strong>s, como as 1.029escolas, as 468 creches e as 117 unidadesde saúde (postos e hospitais) 2 .Por reunir tal universo de atuação, aPrefeitura <strong>do</strong> Rio conta com milhares deunidades presta<strong>do</strong>ras de serviço, que por suavez representam um expressivo universo detrabalho para os técnicos da área de controle,envolvi<strong>do</strong>s em atividades de contabilidade,de auditoria e de informações consolidadasde gestão. Assim, os três vértices dasatividades de controle no município <strong>do</strong> Riode Janeiro são a Conta<strong>do</strong>ria Geral, a AuditoriaGeral e a Coorde<strong>na</strong>ção Geral de Normase Informações Gerenciais.Encarregada da prestação anual de contasda gestão municipal, a Conta<strong>do</strong>ria Geralproduz to<strong>do</strong>s os relatórios de execução orçamentáriae de gestão fiscal <strong>do</strong> Município.A Auditoria Geral avalia a eficiência com aqual são administra<strong>do</strong>s os recursos públicose os programas desenvolvi<strong>do</strong>s para atendimentoà comunidade local, com o objetivode oferecer para a administração e para oshabitantes da cidade avaliações objetivas,precisas e imparciais <strong>do</strong>s serviços e açõespresta<strong>do</strong>s pela Prefeitura.Com a inclusão da massa de da<strong>do</strong>srelativos à gestão <strong>do</strong> município no sistemade informações gerenciais, a Controla<strong>do</strong>riapretendeu permitir maior nível de delegaçãode autoridade aos administra<strong>do</strong>res públicos,sem a perda <strong>do</strong> controle e elimi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a figura<strong>do</strong> ‘<strong>do</strong>no da informação’. A implantação dessesistema teve como objetivo estimular a criatividade<strong>do</strong>s usuários e mostrar que resulta-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO693<strong>do</strong>s podem ser atingi<strong>do</strong>s tanto pela reduçãodas despesas como pela utilização eficiente<strong>do</strong>s recursos disponíveis. Para a execuçãodesta estratégia foi criada a Coorde<strong>na</strong><strong>do</strong>riaGeral de Normas e Informações Gerenciais,cuja principal atribuição é fornecer àControla<strong>do</strong>ria e aos órgãos estratégicos daPrefeitura informações gerenciais consistentese confiáveis que subsidiem o processodecisório e aprimorem os processos internospara alcançar as metas e os resulta<strong>do</strong>s almeja<strong>do</strong>s.Do ponto de vista interno, a repercussão<strong>do</strong> trabalho independente da Controla<strong>do</strong>riafoi a melhora nos procedimentos administrativosda execução orçamentária e fi<strong>na</strong>nceirae, como conseqüência, a elimi<strong>na</strong>ção de perdase desperdícios. Do ponto de vista externo,a divulgação <strong>do</strong>s relatórios e demonstrativospor meio da pági<strong>na</strong> oficial da CGM <strong>na</strong>Internet passou a constituir elemento importantede consulta para os interessa<strong>do</strong>s emfi<strong>na</strong>nças públicas e controle gover<strong>na</strong>mental.Alguns avanços <strong>do</strong> projeto de divulgaçãoinstitucio<strong>na</strong>l registram-se <strong>na</strong> maiorconscientização, por parte <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>isda área de controle, <strong>do</strong> seu verdadeiro papel.Aos poucos, estão sen<strong>do</strong> aban<strong>do</strong><strong>na</strong>das formasburocráticas de controles formais ea<strong>do</strong>tadas medidas de controle de desempenho,além da realização de auditorias baseadas<strong>na</strong> análise e <strong>na</strong> avaliação de riscos dasações administrativas e das políticas públicas.O importante passou a ser “o que nãopode dar erra<strong>do</strong>”, em lugar de “o que estáerra<strong>do</strong>”. Com isso, a expectativa é que, nofuturo, a Controla<strong>do</strong>ria seja de alguma formarecompensada por ter colabora<strong>do</strong> para atransformação de um setor público melhorem relação ao atendimento das necessidadesda sociedade.Funções de Esta<strong>do</strong> X Funções de GovernoNeste ponto tor<strong>na</strong>-se importante umdestaque: posicio<strong>na</strong>r a Controla<strong>do</strong>ria Geral<strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro <strong>na</strong> vanguardano setor público municipal a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>instrumentos de gestão estratégica e apostan<strong>do</strong>numa quebra de paradigma tem si<strong>do</strong> ameta a nortear, desde a criação da CGM em1993, a mudança de foco <strong>do</strong> controle dalegalidade para a atuação gerencial.Na função de Esta<strong>do</strong>, a forma de atuaçãodeve estar apoiada em uma meto<strong>do</strong>logiaprópria e permanente, que independa daspolíticas de governo para implementá-la oumantê-la. Por isso, no exercício dessas funçõesdeve ser observada a autonomia técnicae profissio<strong>na</strong>l caben<strong>do</strong> aos órgãos enquadra<strong>do</strong>snessa função avaliar a implementação daspolíticas de governo pelos órgãos pertinentes.Em relação à função de Governo, a formade atuar varia de acor<strong>do</strong> com as políticasadministrativas prometidas ao eleitora<strong>do</strong> pelocandidato vitorioso durante o processo deeleitoral. Neste caso, as diretrizes a serempraticadas em cada órgão de governo deverãoser aderentes à essas políticas.Neste contexto, a Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong>Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro é considerada,no âmbito da Prefeitura, uma função deEsta<strong>do</strong>. O que tor<strong>na</strong> imprescindível garantirlhea independência técnica imprescindívelpara gerar a credibilidade necessária a umórgão avalia<strong>do</strong>r. Desde o seu início, a direção<strong>do</strong>s setores liga<strong>do</strong>s à atividade-fim daControla<strong>do</strong>ria Geral tem si<strong>do</strong> exercida portécnicos integrantes <strong>do</strong> seu quadro próprio.Essa diretriz garante continuidade das açõese a imparcialidade requerida para a realizaçãode controle e avaliações.Assim, as diversas ações desenvolvidaspela Controla<strong>do</strong>ria desde a sua criação consistemem colocar o setor <strong>na</strong> vanguarda pormeio da utilização de meto<strong>do</strong>logias e instrumentosmodernos de gestão, que possibilitemampliar a atuação <strong>do</strong> controle por meioda mudança de foco. O desafio tem si<strong>do</strong> fazercom que o controle desloque sua ênfase,gradativamente, <strong>do</strong>s aspectos formais para osaspectos gerenciais, implementan<strong>do</strong> iniciativaspioneiras no âmbito municipal.Comunicação Social e ComunicaçãoInstitucio<strong>na</strong>lAinda que em anos recentes as atividadesde comunicação desenvolvidas em organizaçõespúblicas ou privadas brasileiras tenhampassa<strong>do</strong> por inúmeras transformações paraatender demandas das próprias organizaçõesou <strong>do</strong> seu respectivo público, de uma maneirageral o exercício de tarefas consideradascomo de comunicação social incluialgumas ações e práticas comuns. Entre estas


694 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVestão: o atendimento à imprensa (tanto noprovimento de informações aos jor<strong>na</strong>listasencarrega<strong>do</strong>s de cobrir aquele setor específicoda administração pública como noencaminhamento de sugestão de pautas deassuntos internos julga<strong>do</strong>s como de interessepara a coletividade); a produção <strong>do</strong> que noBrasil é chama<strong>do</strong> de house organ (publicaçõesque circulam inter<strong>na</strong>mente geralmente<strong>na</strong> forma de boletins e que, como tais, estãodirecio<strong>na</strong>das basicamente para assuntos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>sao cotidiano <strong>do</strong>s profissio<strong>na</strong>is queintegram a organização); outras atividades deroti<strong>na</strong>, como a manutenção de murais informativos,produção artesa<strong>na</strong>l de folder ecartazes, etc.A opção por uma abordagem da área decomunicação com ênfase <strong>na</strong> característicainstitucio<strong>na</strong>l representou, no caso específicoda Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio,uma experiência para adequar o conteú<strong>do</strong>(controle interno municipal) às formas dedivulgação disponíveis (impressa e digital),para além das atividades entendidas comobásicas para a comunicação social.A proposta de acrescentar da<strong>do</strong>s deconjunturas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, emespecial nos campos da economia e daadministração pública, às informações deconteú<strong>do</strong> característico (demonstraçõescontábeis, auditorias, informações gerenciais)e de serviço (tabelas de preços de merca<strong>do</strong>para produtos de consumo regular) pode serconsiderada um <strong>do</strong>s elementos que melhordefinem a atividade diferenciada <strong>na</strong>s tarefasde ‘comunicação institucio<strong>na</strong>l’, em comparaçãocom o que tradicio<strong>na</strong>lmente entendesecomo ‘comunicação social’.O desenho a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para operacio<strong>na</strong>lizaro trabalho de comunicação institucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>Controla<strong>do</strong>ria implementa<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong>compreendi<strong>do</strong> entre 2001 e 2004 atendeu aosseis pontos que seguem.1 • Identidade de conteú<strong>do</strong>:Organização e classificação de materialinformativo para divulgação via Internet, emespecial aquele relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à atividade-fimda Controla<strong>do</strong>ria recebi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s diversossetores operacio<strong>na</strong>is, como prestação decontas, auditorias e normas. A estas informaçõesacrescenta-se a seção intitulada TextosSelecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s, que se subdivide em assuntoscorrelatos: relatórios <strong>do</strong> Instituto Brasileirode Administração Municipal, textos sobrecorrupção, Lei de Responsabilidade Fiscal,análises de conjuntura, Grupos de Estu<strong>do</strong>sTécnicos, gestão <strong>do</strong> conhecimento, apresentaçõesde técnicos da CGM em eventos eca<strong>na</strong>l aberto – área criada para que profissio<strong>na</strong>isexternos possam enviar textos ouapresentações para inserção <strong>na</strong> pági<strong>na</strong>.Parte <strong>do</strong> material atualiza<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong>permanente no endereço oficial <strong>na</strong> webtambém é editada em volumes para circulaçãorestrita (caso <strong>do</strong>s Relatórios de AudiênciaPública, de fluxo contínuo, com trêsedições a cada ano) ou ampliada (como ovolume Manual de Normas e Procedimentosde Controle Interno, distribuí<strong>do</strong> entre ossetores da Controla<strong>do</strong>ria e secretarias defi<strong>na</strong>nças ou de controle de várias capitaisbrasileiras).2 • Produção editorial: mídia impressa eeletrônica- Pauta, apuração e redação <strong>do</strong> informativoPrestan<strong>do</strong> Contas. Diferente <strong>do</strong> houseorgan, a publicação tem distribuição principalmenteexter<strong>na</strong>. Por essa razão, abordatemas que sejam de interesse geral, não selimitan<strong>do</strong> à cobertura de pautas exclusivasda administração, que por sua vez tambémfazem parte <strong>do</strong> informativo, com enfoquedirecio<strong>na</strong><strong>do</strong> a públicos varia<strong>do</strong>s.- Identificação de temas, seleção denotícias e organização de recortes de materialpublica<strong>do</strong> em seis jor<strong>na</strong>is diários e duasrevistas de circulação <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, que compõema série da revista-clipping Fraudes & Corrupção,apresentada <strong>na</strong> forma de <strong>do</strong>ssiêsmonotemáticos.- Transcrição de origi<strong>na</strong>l em áudio depalestras, adaptação da linguagem oral paraa linguagem escrita, edição e revisão <strong>do</strong> textofi<strong>na</strong>l que compõe cada edição <strong>do</strong>s Cadernosda Controla<strong>do</strong>ria.- Conversão de da<strong>do</strong>s em gráficos,diagramação e editoração de relatórios resumi<strong>do</strong>sdas contas anuais <strong>do</strong> município, queresulta <strong>na</strong> série intitulada Prestação de ContasSimplificada.Interessante observar que todas as ediçõesmencio<strong>na</strong>das estão reunidas <strong>na</strong> pági<strong>na</strong>


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO695oficial da Controla<strong>do</strong>ria <strong>na</strong> web, produzidaspara circular simultaneamente <strong>na</strong>s versõesimpressa e digital.3 • Organização de eventos- Seminários da Controla<strong>do</strong>ria – deperiodicidade quadrimestral, com palestras deprofissio<strong>na</strong>is de áreas diversas, convida<strong>do</strong>spara apresentações à equipe técnica daControla<strong>do</strong>ria e representantes das secretariase empresas <strong>do</strong> município, sobre temasatuais de conjuntura geral ou econômica. Aquise identifica um diferencial da comunicaçãoinstitucio<strong>na</strong>l, em que a geração de informaçãoconstitui elemento essencial e contribuipara a formação <strong>do</strong>s técnicos da área decontrole, principais desti<strong>na</strong>tários desse tipode acesso.- Jor<strong>na</strong>da Brasileira de Controle Interno– de periodicidade eventual, a mais recentefoi realizada em dezembro de 2003 pelaControla<strong>do</strong>ria Geral em conjunto com oConselho Regio<strong>na</strong>l de Contabilidade <strong>do</strong> Riode Janeiro. O evento reuniu cerca de 400profissio<strong>na</strong>is de diversas regiões <strong>do</strong> país, deorganizações públicas e privadas. O temacentral da 5ª Jor<strong>na</strong>da, que contou a participaçãode 14 palestrantes de diferentes áreas,foi “Auditoria: uma abordageminterdiscipli<strong>na</strong>r, aspectos relevantes para osetor público”.4 • Identidade Visual: papelaria, peças dedivulgação, material de apoio, si<strong>na</strong>lizaçãoA área de comunicação produz materialinstitucio<strong>na</strong>l (apresentação gráfica emultimídia); papelaria (padronização gráficapara memoran<strong>do</strong>s, ofícios, comunica<strong>do</strong>s,cartões); peças de divulgação (cartazes, folder,cartões virtuais); apoio gráfico (desenvolvimentode modelo para relatórios, cursos);si<strong>na</strong>lização (atualização e manutenção dasplacas, painéis e avisos internos).5 • Divulgação inter<strong>na</strong> e exter<strong>na</strong>- Apresentação institucio<strong>na</strong>l: roteiro empower point com o resumo das principaisáreas de atuação da Controla<strong>do</strong>ria, em telaselaboradas a partir <strong>do</strong> material referente àControla<strong>do</strong>ria Geral que consta da pági<strong>na</strong> <strong>na</strong>Internet e de da<strong>do</strong>s sobre sistemas de controleem geral e <strong>do</strong> status <strong>do</strong> controle públicono Brasil.- Pasta própria para acondicio<strong>na</strong>r informaçõesinstitucio<strong>na</strong>is e publicações: da<strong>do</strong>ssobre a estrutura da Controla<strong>do</strong>ria (resumode cada setor), organograma e publicações(edições recentes de Prestan<strong>do</strong> Contas, Fraudes& Corrupção e Cadernos daControla<strong>do</strong>ria).6 • Edições EspeciaisParte das atividades de comunicaçãoinstitucio<strong>na</strong>l tem origem em demandas pontuais,como a edição <strong>do</strong> livro Controla<strong>do</strong>ria10 Anos, produzi<strong>do</strong> em 2003 para marcar aprimeira década <strong>do</strong> setor. As edições especiaistambém abrangem iniciativas diversasda Controla<strong>do</strong>ria, caso da edição e editoração<strong>do</strong>s A<strong>na</strong>is da Jor<strong>na</strong>da Brasileira de ControleInterno, reunin<strong>do</strong> todas as palestras <strong>do</strong> evento.Compreendem ainda a edição de produçõesinter<strong>na</strong>s para distribuição exter<strong>na</strong>, caso<strong>do</strong>s volumes Guia <strong>do</strong>s Gestores de RecursosPúblicos e Planejamento Estratégico paraPriorização das Auditorias – Auditora baseadaem risco. Os três últimos estão atualmenteem fase de produção.ConclusãoDe todas as iniciativas de comunicaçãoinstitucio<strong>na</strong>l previstas para desenvolvimentono perío<strong>do</strong> de quatro anos, duas carecem deimplementação neste momento: a versão eminglês e espanhol de seções exclusivamenteinstitucio<strong>na</strong>is da pági<strong>na</strong> <strong>na</strong> Internet (da<strong>do</strong>ssobre a controla<strong>do</strong>ria, estrutura e os textosde introdução de cada área específica –auditoria, prestação de contas, etc); e aprodução de vídeo institucio<strong>na</strong>l com dezminutos de duração, com roteiro, gravaçãoe montagem a serem desenvolvi<strong>do</strong>s pelaequipe da MultiRio, empresa municipal ligadaà Secretaria de Educação, a partir dematerial forneci<strong>do</strong> pela Controla<strong>do</strong>ria Geral.Em linhas gerais, uma evidência é a deque o formato de comunicação institucio<strong>na</strong>la<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Município<strong>do</strong> Rio de Janeiro funcio<strong>na</strong> comorecurso possível para agregar valor informativoem uma área que, por sua vez, reúneconhecimento e conteú<strong>do</strong> específicos: con-


696 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVtabilidade e administração pública. Isso foipossível, em boa parte, pela facilidade deacesso a ferramenta de grande utilidade paraos gestores públicos: a Internet.Além disso, a produção editorial quecircula em praticamente to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>sbrasileiros (aqui representa<strong>do</strong>s pelas secretariasmunicipais de controle ou de fi<strong>na</strong>nçasdas principais capitais ou cidades de grandeporte); a realização regular de palestras quetrazem para o ambiente da Controla<strong>do</strong>riatemas de interesse regio<strong>na</strong>l, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l oumesmo inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (caso da lavagem dedinheiro); a seleção de matérias publicadasem jor<strong>na</strong>is e revistas e a sua reunião em<strong>do</strong>ssiês que, organizadas tematicamente, sãofocos de interesse para o corpo técnico e parapesquisa<strong>do</strong>res, com distribuição exter<strong>na</strong>centrada principalmente em órgãos públicose universidades; e o acesso médio atual de1.130 visitantes/dia, <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> exterior,à pági<strong>na</strong> oficial <strong>na</strong> web são exemplos contribuempara fornecer uma dimensão precisa<strong>do</strong> alcance <strong>do</strong> material institucio<strong>na</strong>l produzi<strong>do</strong>e divulga<strong>do</strong> pela Controla<strong>do</strong>ria Geral<strong>do</strong> Município <strong>do</strong> Rio de Janeiro.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO697BibliografiaBrittos, Valério (org). Comunicação,informação e espaço público. Rio de Janeiro:Papel & Virtual, 2002.Eisenberg, José; Cepik, Marco (org).Internet e política, teoria e prática da democraciaeletrônica. Belo Horizonte: EditoraUFMG, 2002.Rodrigues, Adriano Duarte. Comunicaçãoe Cultura, a experiência cultural <strong>na</strong> erada informação. Lisboa: Editorial Presença,1999._______________________________1Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro/Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>do</strong> Município2Fonte: Rio Informa 2000.


698 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO699Comunicação Estratégica:Aplicação das Ideias de Dramaturgia, Tempo e NarrativasLuís Miguel Poupinha 1Estórias e Comunicação das OrganizaçõesEm certas perspectivas, a Comunicaçãodas Organizaçõees remete para uma noçãode “storytelling”, de <strong>na</strong>rrativas ou, ainda enoutro contexto conceptual, de dramaturgia,assumin<strong>do</strong> uma lógica representacio<strong>na</strong>l deliberada<strong>do</strong>s meios e <strong>do</strong>s discursos pelos quaisa existência da organização e os seus assuntossão comunica<strong>do</strong>s. Esta ideia assenta <strong>na</strong>premissa de que a acção da Comunicação Estratégica<strong>na</strong>s Organizações é, antes <strong>do</strong> mais,uma actividade de representação construídaa partir da percepção <strong>do</strong>s indivíduos acerca<strong>do</strong>s factos em seu re<strong>do</strong>r, permitin<strong>do</strong> consideraro que Weber afirma desde o princípioda Sociologia como a acção huma<strong>na</strong> orientadapelo e para o senti<strong>do</strong>.Esse storytelling é típico da actividadejor<strong>na</strong>lística e a actividade jor<strong>na</strong>lística está,em grande medida, <strong>na</strong> génese das RelaçõesPúblicas, no mo<strong>do</strong> como <strong>na</strong> modernidade asorganizações de maior escala tiveram a necessidadede definir funcio<strong>na</strong>lidadesorganizacio<strong>na</strong>is que respondessem ao adventode uma sociedade em vias de massificaçãoe que tomava contacto com a realidadecircundante em larga medida a partir <strong>do</strong>sgrandes meios de comunicação social. Estarelação entre meios e sociedade é representada<strong>na</strong>s primeiras grandes teorias da Comunicaçãode Massas pela noção de “bullettheory”, assumin<strong>do</strong> a capacidade de os meiosde comunicação estimularem directamente,pelas suas mensagens, uma massa vasta deindivíduos que então reagiriam quase deimediato e em função <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s dasmensagens compostas pelos media<strong>do</strong>res. Omodelo implica a assumpção <strong>do</strong> poder <strong>do</strong>smedia no direccio<strong>na</strong>mento das reacções <strong>do</strong>sindivíduos.Com o decorrer <strong>do</strong> tempo, e fruto tantoda pesquisa entretanto desenvolvida quantodas mudanças sociais ocorridas, a perspectivaalterou-se, mas nunca sem alterar as possibilidadesque os media têm de interferir noquotidiano das sociedades, das comunidadese <strong>do</strong>s seus membros, seja pela possibilidadede determi<strong>na</strong>r tanto os temas a considerar,seja pela possibilidade de colocar em circulaçãoconteú<strong>do</strong>s e formas que surgem da ouvão para a sociedade (teoria cultural), ideiasapresentadas tanto em perspectivasconducentes à optimização da acção comunicativaquanto da análise crítica edesconstrutiva efectuada relativamente àacção mediática.Da<strong>do</strong> esse poder da acção mediática deinterferir <strong>na</strong> sociedade e <strong>na</strong>s suas relações,foi lógico que os actores organizacio<strong>na</strong>isgerassem funções de relacio<strong>na</strong>mento com aimprensa, num da<strong>do</strong> momento (daí o valorhistórico de Ivy Lee) assim como, mais tarde,o surgimento de serviços especializa<strong>do</strong>s nessafunção: boa parte desses serviços ofereci<strong>do</strong>spor uma agência de comunicação ou por umgabinete de Relações Públicas se centram emre<strong>do</strong>r da relação com os meios de ComunicaçãoSocial: assessoria de imprensa,comunicação de crise, clipping, entre outros.Contu<strong>do</strong>, a comunicação <strong>na</strong>s organizaçõesnão se limita a essa ideia de contar a estóriapara o exterior, ou tentar que a contem pelaorganização, mas implica ainda a definição derepresentações de pen<strong>do</strong>r <strong>na</strong>rrativo para ointerior daquela. Daí os boletins internos e assuas notícias, num processo de criação oficialde uma realidade social que tem tanto de pontual(aquela notícia, aquela entrevista) como de algoem permanente construção, se tomarmos emconta uma focagem mais vasta sobre, porexemplo, to<strong>do</strong>s os textos que foram publica<strong>do</strong>sao longo de um ano no boletim interno. Depois,para além destes meios de comunicação,existem outros meios de comunicação <strong>na</strong>sorganizações que, pela sua <strong>na</strong>tureza descritiva,implicam um contar “o que foi”, “como se está”,“o que se pretendia”, “quais os obstáculos”“quais os parceiros”, “qual o méto<strong>do</strong>”: propostase relatórios de trabalho.


700 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPara além <strong>do</strong>s processos oficiais e registáveisde trabalho ou, recorren<strong>do</strong> à noção de Débray,<strong>do</strong>s vestígios relativamente fixos e duros queperduram no tempo, existe uma outra dimensãoonde as estórias circulam, em relação com adimensão <strong>na</strong>rrativa oficial da organização. Nofilme “A Comunicação Inter<strong>na</strong>”, a relação dequase confronto entre estas duas dimensões évisível no mo<strong>do</strong> como se tenta resolver o hiatoentre a versão <strong>do</strong>s acontecimentosorganizacio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>s gestores e a (s) versão (ões)<strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res, por via de um incorrecto usode meios de comunicação inter<strong>na</strong> que nãoconseguiram evitar a especulação esobreinterpretação <strong>do</strong>s acontecimentos.Nessas histórias que circulam, nessas<strong>na</strong>rrativas que se vão produzin<strong>do</strong> e reproduzin<strong>do</strong>consoante as lógicas próprias às relaçõessociais e às capacidades próprias <strong>do</strong>sindivíduos em estruturarem as versões <strong>do</strong>sseus interlocutores, os acontecimentos são<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>s e os indivíduos são representa<strong>do</strong>s,assumin<strong>do</strong> o valor de perso<strong>na</strong>gens numaacção que se vai perpetuan<strong>do</strong>, caben<strong>do</strong> a cadaum os seus papéis e a to<strong>do</strong>s os que <strong>na</strong>rrama estória uma função própria dentro de umacerta ideia de intertextualidade <strong>na</strong> rede derelações sociais no interior da organização.AssuntosDe que se fala <strong>na</strong>s organizações, para ointerior e para o exterior, seja em processosde comunicação inter<strong>na</strong>, de patrocínio, derelações com Comunicação Social, sites, emto<strong>do</strong>s os momentos? De tu<strong>do</strong>. Esse tu<strong>do</strong>implica um sistema temático que pertence aouniverso da organização. Na área de especialidadedas Relações Públicas denomi<strong>na</strong>dacomo “issues ma<strong>na</strong>gement” encontramos umaresposta para essa multiplicidade temática daorganização: a actividade desta é compostapor diversas vertentes, essas vertentes pordiversos aspectos. Para além disso, existetambém um ambiente, recorren<strong>do</strong> à teoria desistemas, ambiente esse decomponível emdiversos aspectos pela análise estratégica dagestão das organizações como, por exemplo,através da análise PEST (Factores Políticos,Económicos, Sociológicos, Tecnológicos).Dentro dessas grandes classificaçõestemáticas, existem assuntos mais específicos,assuntos esses que, <strong>na</strong> perspectiva anteriormentereferida de Issues Ma<strong>na</strong>gement, podemser de maior ou menor relevância paraa organização, consoante o impacto quepossam impor-lhe.Os assuntos, para Heath, têm um ciclode vida e esse ciclo oferece fases própriasde algo que tem vida: <strong>na</strong>scimento, crescimento,emergência, queda, <strong>do</strong>rmência, numarelação com a escala <strong>do</strong> seu impacto socialou seja, a medida em que se vão tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>públicos com referência a um universo deindivíduos aos quais eles dizem respeito. Alógica <strong>do</strong> Issues Ma<strong>na</strong>gement, que pode sertão só isso, uma lógica de trabalho, implicapois tanto a capacidade de reacção a assuntosque já assumiram impacto nos públicosda organização quanto a capacidade deantecipação e proacção da organização e <strong>do</strong>sseus actores sobre assuntos que ainda nãoo são em pleno para as audiências. Na referidaclassificação, toma-se também em conta afase <strong>do</strong>rmente, no senti<strong>do</strong> em que de algummo<strong>do</strong> a vida de um assunto tem um pontofi<strong>na</strong>l ou, pelo menos, um momento de saídadas zo<strong>na</strong>s de atenção <strong>do</strong>s públicos.Aqui, de algum mo<strong>do</strong>, destrinça-se trêstempos neste processo: o que pode ser, o quepode vir a ser e o que foi. Esta é tambéma lógica <strong>do</strong> filósofo Charles S. Peirce, nomo<strong>do</strong> como aborda os signos, entendi<strong>do</strong>scomo as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que existem paraos indivíduos. De algum mo<strong>do</strong>, a realidadeque cerca os indivíduos. Os assuntos, também.Primeiro, Segun<strong>do</strong>, Terceiro: o que podeser, o que está a ser, o que ficou estabeleci<strong>do</strong>O valor da <strong>na</strong>rratividade organizacio<strong>na</strong>lou das estórias em que a existência desta éconfigurada remete, se combi<strong>na</strong>da com as trêscategorias de Peirce: Primeidade,Secundeidade, Terceidade. Em resumo,Primeidade implica um valor de <strong>potencial</strong>idadedaquilo que Wittgenstein chama o esta<strong>do</strong>de coisas. Secundeidade remete para a noção<strong>do</strong> que se encontra a decorrer; Terceidadeé a zo<strong>na</strong> das versões estabelecidades sobreo que aconteceu, mesmo que <strong>potencial</strong>menteem mudança ao longo <strong>do</strong> tempo.Dentro desta sequência, estóriasorganizacio<strong>na</strong>is, funcio<strong>na</strong>lidade comunicati-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO701va e estrutura de assuntos a abordar nessacomposição actorial e <strong>na</strong>rrativa <strong>do</strong> viverorganizacio<strong>na</strong>l, a destrinça a partir das lógicasde Peirce permitem a estruturação dasrepresentações <strong>do</strong>s assuntos organizacio<strong>na</strong>isa três níveis, assumin<strong>do</strong>:a) uma zo<strong>na</strong> de estórias estabelecidas,visíveis nos “históricos” <strong>do</strong>s recortes daorganização;b) uma zo<strong>na</strong> de estórias em movimento,visíveis nos projectos e respectiva acção decomunicação da organização no momentopresente;c) uma zo<strong>na</strong> de estórias potenciais, relativasa:a. assuntos que façam parte da estratégiada organização e que impliquem tratamentofuturo e a planear;b. assuntos que possam estar a fazer parteou que já tenham existi<strong>do</strong> <strong>na</strong> existência<strong>na</strong>rrada da organização, mas que em algumasdas suas dimensões não estarão a fazerparte <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio público, circulan<strong>do</strong> emespaços priva<strong>do</strong>s de relação e conhecimento(como, por exemplo, assuntos em “off-therecord” ou informações que circulaçãoembora sem confirmação legal ou oficial);Nesta sequência de ideias, a organizaçãoenquanto estória oferece hipóteses potenciaisde tratamento, a partir de uma estruturaçãode trabalho que se pode basear <strong>na</strong>s seguintespremissas:a) Três dimensões da existência dasorganizações e <strong>do</strong>s seus assuntos num espaçode representações composto por diversospalcos: “media” (ou “medium” específicos),publicações organizacio<strong>na</strong>is, referências “net”e outros, segmentan<strong>do</strong> essas possibilidadesclassificatórias por critérios operacio<strong>na</strong>is(custo, assunto vs. alvo vs. meio);b) Referências de análise a partir denoções típicas da análise <strong>na</strong>rrativa, comosejam:a. Valor semântico das estórias contadas,com expressão em indica<strong>do</strong>res semânticos(por exemplo, a análise de “key words”)b. Análise e interpretação <strong>do</strong> valor públicode um assunto, tanto ao nível <strong>do</strong>passa<strong>do</strong>, quanto <strong>do</strong> presente quanto daspossibilidades futuras;c. Análise da evolução <strong>do</strong>s actores aolongo das estórias, no senti<strong>do</strong> da averiguaçãoda sua caracterização;d. Ponderação e preparação estratégica<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s como se pretende ou como podemvir a ser representa<strong>do</strong>s no futuro tanto osactores quanto os assuntos expostos <strong>na</strong>shistórias;e. Análise e interpretação da acção <strong>do</strong>s<strong>na</strong>rra<strong>do</strong>res (por exemplo, jor<strong>na</strong>listas ecomunica<strong>do</strong>res organizacio<strong>na</strong>is).Neste senti<strong>do</strong>, e nesta valorizaçãoaplicativa da acção comunicativa organizacio<strong>na</strong>la partir <strong>do</strong>s conceitos apresenta<strong>do</strong>s,verifica-se uma construção primeira daspossibilidades de uma meta-linguagem quepode permitir um mapeamento, obviamenteestratégico, <strong>do</strong> valor da organização e <strong>do</strong>sseus assuntos ao longo <strong>do</strong> tempo, estruturan<strong>do</strong>e fazen<strong>do</strong> significar uma existência aparentementedescoorde<strong>na</strong>da da <strong>na</strong>rração relativamenteaos assuntos organizacio<strong>na</strong>is atravésda perspectiva huma<strong>na</strong> primária de existênciaem relação ao tempo (Passa<strong>do</strong>, Presente,Futuro) quanto ainda da perspectivação <strong>do</strong>trabalho estratégico: análise <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>,controle e interpretação <strong>do</strong> presente, preparação<strong>do</strong> futuro.Conclusões?Perspectivada consoante apresentadaatrás, a Comunicação <strong>na</strong>s Organizações remetepara a ponderação <strong>do</strong> seu carácterconstruí<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> <strong>na</strong>rrativo, consideran<strong>do</strong>que acima de tu<strong>do</strong> se representam realidadese se contam “estórias” acerca <strong>do</strong>s seusfactos e, de mo<strong>do</strong> mais lato, <strong>do</strong>s seusassuntos, Essa <strong>na</strong>rratividade implica emalgum grau aspectos de dramaturgia organizacio<strong>na</strong>l,no senti<strong>do</strong> em que se compõemquadro de autoapresentação da organizaçãopara utilização pública, em “frontstage”,opon<strong>do</strong>-se esta noção à ideia de “backstage”,de comportamentos menos construí<strong>do</strong>s emenos direccio<strong>na</strong><strong>do</strong>s para a valorizaçãopública da organização. Deste mo<strong>do</strong>, eassumin<strong>do</strong> essas duas esferas de acçãocomunicativa das organizações (“backstage”e “frontstage”, privada e pública), relacio<strong>na</strong>-secom elas a evolução das estóriasrelativas às organizações, no mo<strong>do</strong> comotranspõem a barreira entre um la<strong>do</strong> e outro,assumin<strong>do</strong> que a dimensão pública é a daexistência oficialmente válida das versõesda realidade.


702 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVNesse senti<strong>do</strong>, a comunicação das Organizaçõesapresenta três tempos de existência<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s circulantes, toman<strong>do</strong> em contaa distinção de Peirce: um tempo Potencial, umtempo Actual, um tempo relativo às <strong>na</strong>rrativasestabelecidas, consideran<strong>do</strong> as possibilidades demutação <strong>do</strong>s assuntos e da sua circulação tanto<strong>na</strong> esfera pública quanto privada.A partir daqui, a noção de Comunicaçãoassume o valor de Comunicação Estratégica,no senti<strong>do</strong> em que se debruça sobre asrepresentações circulantes, contadas, relativasà organização e, obviamente, às crençasque lhe são relativas, ligan<strong>do</strong> ao que afirmaSoros relativamente ao valor das crenças <strong>na</strong>construção da coisa económica.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO703BibliografiaCheney, George (1992) “The CorporatePerson Represents Itself” in Toth, Elizabeth,Heath, Robert (eds.) Rhetorical and CriticalApproaches to Public Relations; Hillsdale: LEA.Goffman, Erving; A Apresentação <strong>do</strong> Eu<strong>na</strong> Vida de To<strong>do</strong>s os Dias, Lisboa: Relógiod’Água.Godet, Michel (1993) Manual deProspectiva Estratégica, Lisboa: PublicaçõesD. Quixote.Grunig, James (1984) Ma<strong>na</strong>ging PublicRelations; Hillsdale: Harcourt, BraceJovanovich.Hallahan, Kirk (2001) “The Dy<strong>na</strong>micsof Issues Activation and Response: An IssuesProcess Model”, Jour<strong>na</strong>l of Public RelationsResearch, vol. 13., n.1 27-59.Peirce, Charles S. (s.d.); Semiótica eFilosofia; S. Paulo: Cultrix.Poupinha, Luís (2000) TheatrePerspectives in Public Relations, in NIZNIK,Józef, WOLSTEHOLME, Sue (eds.) PublicRelations Education in Europe-Looking ForInspirations;Warsaw-Brussels: Ifis Publishers._______________________________1Instituto Superior de Novas Profissões.


704 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO705Cátedra Unesco/Umesp e seu papel articula<strong>do</strong>r no cenário da comunicação:desafios no século XXI 1 Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi 2IntroduçãoA Cátedra Unesco de Comunicação parao Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l está sediada <strong>na</strong>Universidade Metodista de São Paulo –Umesp -, desde o ano de 1996. Seu propósitoé estimular o intercâmbio entre a academiae os setores empresarial/profissio<strong>na</strong>l,tanto <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l como inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente.Voltada para os propósitos de formação nocontexto universitário e <strong>na</strong> prática profissio<strong>na</strong>lde pesquisa<strong>do</strong>res e estudiosos da comunicação,desenvolve suas atividades ten<strong>do</strong> porbase o tripé que caracteriza o aprendiza<strong>do</strong>,ou seja, “Ensino, Pesquisa e Extensão”. Essesfatores têm permiti<strong>do</strong> o desenvolvimento deum núcleo permanente de reflexão e açõessobre a área da Comunicação Social. Destaforma, as atividades realizadas pela CátedraUnesco/Umesp têm contribuin<strong>do</strong> para apreservação das identidades culturais <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is/regio<strong>na</strong>is.Inserida em um cenário global, pelaamplitude das ações que realiza, mas,ao mesmo tempo, tem funcio<strong>na</strong><strong>do</strong>como articula<strong>do</strong>ra e incentiva<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>sprocessos comunicacio<strong>na</strong>is ocorri<strong>do</strong>s<strong>na</strong>s micro e macro regiões <strong>do</strong> Brasile da América Lati<strong>na</strong>, reforçan<strong>do</strong> onosso perfil regio<strong>na</strong>l de desenvolvimento.A busca de respostas para questões queabrigam as diferenças entre as localidades eos constantes desafios de se constituir umespaço mais ou menos homogêneo, eleva apossibilidade de ações conjuntas e complementares<strong>na</strong>s áreas comunicacio<strong>na</strong>is, tantolocais quanto regio<strong>na</strong>is. O desafio destatransformação tem permiti<strong>do</strong> ultrapassar aspróprias fronteiras geo-culturais e visualizarum conjunto global de atividades, pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>o sentimento de cooperação e deintegração global/<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l/regio<strong>na</strong>l.É neste senti<strong>do</strong> que as ações desenvolvidaspela Cátedra Unesco/Umesp têm busca<strong>do</strong>consolidar e privilegiar o ensino, a pesquisae a extensão, valorizan<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho depesquisa e <strong>do</strong> desenvolvimento científico.As atividades de ensino realizadas pelaCátedra Unesco/Umesp têm por objetivospromover uma permanente reflexão sobre osmais importantes e atuais temas da ComunicaçãoSocial.Com o objetivo de estimular o contato<strong>do</strong>s alunos da Pós-Graduação e da Graduaçãoem Comunicação Social com outrasculturas, a Cátedra Unesco/Umesp tambémrecebe pesquisa<strong>do</strong>res de outros países, possibilitan<strong>do</strong>uma maior integração <strong>do</strong>s estudantescom a área de Comunicação Social.Essas atividades permitem a ampliação <strong>do</strong>espaço-ação e um maior conhecimento daspesquisas que estão sen<strong>do</strong> desenvolvidas emto<strong>do</strong>s os continentes.Quan<strong>do</strong> o professor José Marques deMelo recebeu da Unesco - Organização dasNações Unidas para a Educação, Ciência eCultura – a autorização para implantar noBrasil uma Cátedra de Comunicação, definiuque esse espaço teria como função básica ointercâmbio entre o mun<strong>do</strong> acadêmico e ossetores empresarial/profissio<strong>na</strong>l, bem comopropiciaria a cooperação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l nocampo da comunicação de massa. É nestesenti<strong>do</strong> que a Cátedra Unesco/Umesp vemdesenvolven<strong>do</strong> suas atividades.Existem atualmente 26 Cátedras Unesco deComunicação em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que conformamuma rede chamada Orbicom–– Word Networkof Unesco Chairs in Communication. Dessas,seis estão localizadas <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: Brasil,Colômbia, México, Uruguai, Chile e Peru.Estrutura técnica/organizacio<strong>na</strong>lA Cátedra Unesco/Umesp está instaladano campus Rudge Ramos, da UniversidadeMetodista de São Paulo, Brasil.


706 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVNa estrutura da Universidade, a Cátedraencontra-se vinculada à Reitoria da Umesp,sen<strong>do</strong> academicamente integrada ao Programade Pós-Graduação em Comunicação Social,da Faculdade de Comunicação Multimídia,interagin<strong>do</strong> também com as demais unidadesde ensino da área comunicacio<strong>na</strong>l: Faculdadede Jor<strong>na</strong>lismo e Relações Públicas e Faculdadede Publicidade, Propaganda e Turismo.O Catedrático, Prof. Dr. José Marques deMelo é <strong>do</strong>utor em Ciências da Comunicaçãoe livre-<strong>do</strong>cente em Jor<strong>na</strong>lismo pela Universidadede São Paulo, e Catedrático Unescode Comunicação da Universidade Autônomade Barcelo<strong>na</strong> (Espanha).Conta também com diversas equipes deapoio às atividades realizadas. Dentre elasdestacamos:Equipe Consultiva: Integrada por perso<strong>na</strong>lidadeslegitimadas pelas comunidadesacadêmica e profissio<strong>na</strong>l da área de ComunicaçãoSocial, das quais os Profs. Drs. IsaacEpstein e Sandra Reimão pertencem ao quadro<strong>do</strong>cente da Umesp. Os demais integrantessão pesquisa<strong>do</strong>res, profissio<strong>na</strong>is ou empresáriosvincula<strong>do</strong>s a outras instituições <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is.Triênio 2003/2006 – Prof. Dr. Belarmino CésarGuimarães da Costa – Universidade Metodistade Piracicaba - UNIMEP (Piracicaba – SP);Prof a . Dr a . Sonia Virginia Moreira – UniversidadeEstadual <strong>do</strong> Rio de Janeiro - UFRJ;Profa. Dra. Desirée Rabello – UniversidadeFederal <strong>do</strong> Espírito Santo - UFES; Jor<strong>na</strong>listaSérgio Gomes, Diretor da ONG Oboré Comunicaçõese Artes – SP; Editor AntonioCostella, Diretor da Editora Mantiqueira –Campos <strong>do</strong> Jordão – SP.Equipe Executiva: Integrada por <strong>do</strong>centes/pesquisa<strong>do</strong>res/funcionáriospertencentesao quadro permanente da instituição-sede:Diretor Titular: Prof. Dr. José Marques deMelo; Diretora Suplente – Prof a . Dr a . MariaCristi<strong>na</strong> Gobbi, Assistente Acadêmica:Damia<strong>na</strong> Rosa de Oliveira; Estagiárias: KeilaBaraçal e Larissa Di<strong>do</strong>ne.Fortalecimento acadêmicoTem mereci<strong>do</strong> nossa atenção o conhecimentoproduzi<strong>do</strong> pela Escola Latino-America<strong>na</strong>de Ciências da Comunicação -ELACOM. Neste senti<strong>do</strong> a Cátedra Unesco/Umesp através das diversas atividades querealiza e das publicações que disponibilizatem propicia<strong>do</strong> à dissemi<strong>na</strong>ção dessa produção<strong>na</strong>s universidades brasileiras, estimulan<strong>do</strong>a experimentação de novos modeloscomunicacio<strong>na</strong>is sintoniza<strong>do</strong>s com as demandasda sociedade contemporânea.Do mesmo mo<strong>do</strong> espera formar recursoshumanos e realizar pesquisas para atender àscarências pedagógicas da rede <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l defaculdades de comunicação, sensibilizan<strong>do</strong> aomesmo tempo os dirigentes/profissio<strong>na</strong>is daindústria midiática para o fortalecimento dacidadania.Demonstran<strong>do</strong> capacidade de mobilizaçãoacadêmica a Cátedra Unesco/Umesp vem fortalecen<strong>do</strong>os eixos <strong>do</strong> ensino, da pesquisa e daextensão através das diversas atividades querealiza. Ancorada no Grupo Comunicacio<strong>na</strong>l deSão Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong>, cuja abrangência extrapola oterritório universitário em que se enraíza historicamente.Buscan<strong>do</strong> ampliar esse campo deatuação foram estabelecidas diversas parceriascom outras universidades, prefeituras municipais,empresas públicas e privadas, sociedades científicas,organizações não-gover<strong>na</strong>mentais e pesquisa<strong>do</strong>resindependentes.A demonstração de nossa capacidade derealização acadêmica está bem explícita nesteartigo, quer pela variedade de atividades oupelas parcerias e publicações realizadas.Abaixo disponibilizamos uma breve descriçãodas principais atividades realizadas.Atividades EnsinoSeminários Nacio<strong>na</strong>isDentre as atividades realizadas destacamosos seminários – Unescom - Semináriode Divulgação das Pesquisas <strong>do</strong> GrupoComunicacio<strong>na</strong>l de São Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> - queaconteceram mensalmente, durante o perío<strong>do</strong>letivo, no campus da Umesp. Dedica<strong>do</strong>aos alunos de mestra<strong>do</strong>, <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> egraduan<strong>do</strong>s, as atividades contribuem para aintegração entre Graduação e Pós-Graduação,visan<strong>do</strong> estimular a iniciação, a pesquisacientífica e o conhecimento das linhas depesquisa <strong>do</strong> Programa de Pós-Graduação emComunicação da Umesp.Os temas escolhi<strong>do</strong>s nos diversos encontrosbuscaram estreitar os laços entre pesquisae atualidades, permitin<strong>do</strong> a graduan<strong>do</strong>s epós-graduan<strong>do</strong>s desenvolverem o saber


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO707midiático de forma participativa, em uma trocaconstante de conhecimentos e experiências.Deste mo<strong>do</strong> a Cátedra Unesco contribui paraa excelência <strong>na</strong> formação <strong>do</strong>s estudantes.Seminários, cursos, reuniões e workshopsinter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>isCom o objetivo de permitir o contato <strong>do</strong>salunos da Pós-graduação e da Graduação emComunicação Social com outras culturas, aCátedra Unesco/Umesp abre um espaço parareceber pesquisa<strong>do</strong>res de outros países. Essasatividades possibilitam uma maior integraçãoentre estudantes brasileiros e de outrospaíses, permitin<strong>do</strong> o conhecimento das pesquisasque estão sen<strong>do</strong> desenvolvidas nosvários continentes. Também oferece oportunidadespara a participação <strong>do</strong>s alunos emeventos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, realiza<strong>do</strong>s e/ou apoia<strong>do</strong>spela Cátedra Unesco/Umesp.Regiocom – Curso Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de Comunicaçãopara o Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>lCursos anuais de aperfeiçoamento para<strong>do</strong>centes, pesquisa<strong>do</strong>res e profissio<strong>na</strong>is, capacitan<strong>do</strong>-ospara a implementação de políticasdemocráticas de comunicação. Esseencontro, realiza<strong>do</strong> anualmente, tambémbusca estimular a presença de professoresvisitantes,oriun<strong>do</strong>s de outros países/regiões,incrementan<strong>do</strong> o intercâmbio cultural comoforma de coexistência pluralista, de solidariedadehuma<strong>na</strong> e de fortalecimento da paz.Os encontros já realiza<strong>do</strong>s foram:AnoTemática1996- I Regiocom Comunicação, Informação e Políticas Públicas1997- II Regiocom Comunicação Regio<strong>na</strong>l Comparada1998- III Regiocom Fluxos Midiáticos Regio<strong>na</strong>is no Brasil1999- IV Regiocom Rádio, Cidadania e Serviço Público2000- V Regiocom Televisão Comunitária2001- VI Regiocom Comunicação e Turismo: perspectiva para o desenvolvimento regio<strong>na</strong>l2002- VII Regiocom Mídia Local2003- VIII Regiocom Mídia Regio<strong>na</strong>l em tempo de Globalização2004- IX Regiocom Mídia Glocal: a comunicação cidade-mun<strong>do</strong>Parceria com a Revista ImprensaO espaço aberto pela revista Imprensa àpesquisa, fruto <strong>do</strong> empenho <strong>do</strong> professor JoséMarques de Melo, tem facilita<strong>do</strong> o intercâmbioe diminuí<strong>do</strong> a distância entre a teoria ea prática.Atividades de pesquisaEssas atividades objetivam promover estu<strong>do</strong>sdesti<strong>na</strong><strong>do</strong>s a diagnosticar o estágio atualde desenvolvimento da indústria da comunicaçãoe detectar o grau de sintonia partilha<strong>do</strong>em relação às demandas coletivas.Entre as pesquisas realizadas, destacamos:Pesquisas realizadasImagens Midiáticas <strong>do</strong> Natal 1996: o primeiro projeto de pesquisa realiza<strong>do</strong> pela Rede Nacio<strong>na</strong>l dePesquisa Comparativa (RNPC/N). O estu<strong>do</strong> contou com a integração de pesquisa<strong>do</strong>res de to<strong>do</strong> o Brasil.O objetivo foi desenvolver estu<strong>do</strong>s sobre os impactos globais <strong>na</strong>s identidades regio<strong>na</strong>is da culturabrasileira, através da observação de jor<strong>na</strong>is edita<strong>do</strong>s nos pólos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, nos macro-regio<strong>na</strong>is, nos pólosmeso-regio<strong>na</strong>is e micro-regio<strong>na</strong>is, além de contar com colabora<strong>do</strong>res que observaram como a televisão,o rádio, a imprensa femini<strong>na</strong>, a imprensa católica, e a imprensa evangélica tratam o assunto.Perfil da Imprensa Regio<strong>na</strong>l de São Paulo: Tratou-se de um estu<strong>do</strong> comparativo <strong>do</strong> perfil da imprensaregio<strong>na</strong>l paulista com os jor<strong>na</strong>is brasileiros de prestígio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, durante uma sema<strong>na</strong> (21 a 27 de maiode 1996).Memória das Ciências da Comunicação no Brasil: estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> sobre o perfil <strong>do</strong> cientista e astendências da comunicação existentes <strong>na</strong>s sociedades científicas, através de levantamento realiza<strong>do</strong> <strong>na</strong>Intercom e Compós. A conclusão gerou a publicação: Memória das Ciências da Comunicação no Brasil:o grupo gaúcho edita<strong>do</strong> pela EDIPUCRS, Porto Alegre.


708 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVHistórias de vida: este projeto também contempla também a reconstituição das histórias de vida de algunscientistas mais destaca<strong>do</strong>s no conjunto da comunidade científica, <strong>na</strong> área de comunicação, pertencentesa Escola Latino-america<strong>na</strong>. Trata-se de esforço empreendi<strong>do</strong> em duas etapas: a) elaboração de perfisbio-bibliográficos <strong>do</strong>s principais cientistas brasileiros da comunicação; b) coleta de depoimentos dessesprotagonistas, a maioria <strong>do</strong>s quais ainda está viva e em ple<strong>na</strong> atividade intelectual. Está em fase de ediçãoum CDRom conten<strong>do</strong> os perfis bio-bibliográficos de pesquisa<strong>do</strong>res representativos de diferentes gerações<strong>do</strong>s Grupos Comunicacio<strong>na</strong>is Paulistas, bem como o desenvolvimento da Enciclopédia <strong>do</strong> PensamentoComunicacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>.História da difusão <strong>do</strong> Pensamento Latino Americano no Brasil: o papel das revistas de ciências dacomunicação. Este esforço apontou como os pensa<strong>do</strong>res brasileiros assimilaram as idéias importadas eas transformaram em idéias inova<strong>do</strong>ras sintonizadas com as identidades mega-regio<strong>na</strong>is, inserin<strong>do</strong> se <strong>na</strong>escola latino-america<strong>na</strong> ou perfilam se como discípulos das escolas européias e norte-america<strong>na</strong>s.Imagens midiáticas <strong>do</strong> Car<strong>na</strong>val Brasileiro: a celebração popular <strong>do</strong>s 500 anos <strong>do</strong> Brasil. Realizada comuma rede de 90 pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros e de outros países, procurou estudar o mo<strong>do</strong> pelo qual aimprensa Brasileira e Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l faz a cobertura <strong>do</strong> Car<strong>na</strong>val Brasileiro, por meio de registro deinformações e análise.O Mercosul <strong>na</strong> imprensa <strong>do</strong> Mercosul: Análise da imprensa escrita <strong>na</strong> efetivaParticiparam os países: Argenti<strong>na</strong>, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.consolidação <strong>do</strong> Mercosul.Saúde <strong>na</strong> mídia: integrante da Rede Comsalud, a pesquisa investigou as bases empíricas paracompreender a complexidade da relação saúde e comunicação, e em especial de como os própriosprofissio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> setor de saúde podem ser agentes facilita<strong>do</strong>res da tarefa de comunicar a sociedade.Dicionário Bio-Bibliográfico <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res Brasileiros das Ciências da Comunicação: Procurourecolher informações num dicionário sobre vida e obra de pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>lBrasileiro, pioneiros e pesquisa<strong>do</strong>res recentes, com o objetivo de difundir e facilitar o acesso de estudantesàs informações.Enciclopédia on line <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: com os mesmos objetivos <strong>do</strong>dicionário, procura montar um guia de consulta sobre o Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano,no intuito de recolher o maior número possível de informações sobre publicações, pesquisas e resulta<strong>do</strong>s.Acervo <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano “José Marques de Melo”: trata-se de um acervo<strong>do</strong>cumental, disponível <strong>na</strong> Cátedra Unesco/Umesp, com aproximadamente 10 mil volumes entre livros,<strong>do</strong>cumentos, fitas de vídeo, revistas, fotografias, fitas, entre outros. O principal objetivo é ser um espaçode referência <strong>na</strong> pesquisa em Comunicação da e para a América Lati<strong>na</strong>.A produção acadêmica da Umesp: trata-se de inventário das dissertações de mestra<strong>do</strong> defendidas noPrograma de pós-graduação em comunicação social da Umesp, no perío<strong>do</strong> de 1981/1996. O projeto estásob a coorde<strong>na</strong>ção da prof.a. A<strong>na</strong>maria Fadul e consta <strong>do</strong> levantamento de 400 dissertações e 32 teses,defendidas até fevereiro de 2004, indexadas <strong>na</strong> base de da<strong>do</strong>s construída a partir <strong>do</strong> software microisis.A pesquisa (em fase de correção e aperfeiçoamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s relativos aos macros-descritores)servirá para classificar através <strong>do</strong>s índices <strong>do</strong>s Thesaurus da Unesco.Identidade da imprensa brasileira no limi<strong>na</strong>r <strong>do</strong> século XXI: o projeto corresponde a um estu<strong>do</strong> comparativo<strong>do</strong>s jor<strong>na</strong>is diários de prestígio <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e regio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Brasil. Trata-se de estu<strong>do</strong> comparativo entre a mídiaimpressa e digital.Festas populares como processos comunicacio<strong>na</strong>is: pesquisa realizada em 2001 pelos integrantes daRede Folkcom. Seus resulta<strong>do</strong>s foram apresenta<strong>do</strong>s durante a IV Conferência Brasileira deFolkcomunicação, realizada no campus da Universidade Federal de Mato Grosso <strong>do</strong> Sul.Perfil <strong>do</strong>s Grupos Comunicacio<strong>na</strong>is Paulistas: realizada no primeiro semestre <strong>do</strong> ano 2000 foi elabora<strong>do</strong>um mapeamento <strong>do</strong>s Grupos Comunicacio<strong>na</strong>is Paulistas, consideran<strong>do</strong> as seguintes regiões: Butantã;Perdizes: São Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong>; Barão Geral<strong>do</strong>; Avenida Paulista; Santo Amaro; Vila Clementino; Vila Maria<strong>na</strong>;Santos; Bauru; Marília; Taubaté. O resulta<strong>do</strong> destas pesquisas foi uma contribuição, através de verbetes,a ENCIPECOM – Enciclopédia <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>.O discurso comunicacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Grupo de São Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> e seus discípulos: a pesquisa tratou <strong>do</strong>s discursosda comunicação científica da Umesp a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da produção científica de mestran<strong>do</strong>s e<strong>do</strong>utoran<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Pós-Graduação em Comunicação Social.Atividades de ExtensãoAs atividades de extensão têm porobjetivos disponibilizar, integrar e realizaratividades diversas ten<strong>do</strong> como parceirosoutras instituições, de ensino e pesquisa,organismos públicos e priva<strong>do</strong>s e pesquisa<strong>do</strong>resassocia<strong>do</strong>s.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO709Redes de ComunicaçãoRede Mercomsul: criada em 1998 tem por objetivos promover atividades de cooperação e intercâmbioentre <strong>do</strong>centes, discentes e pesquisa<strong>do</strong>res, bem como entre faculdades, cursos e centros de investigaçãoda Comunicação.Rede Folkcom: grupo de pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros que tem como meta resgatar, registrar e promover afolkcomunicação como forma origi<strong>na</strong>l de comunicação e preservação da cultura. Rede FOLKCOM contacom inúmeros estudiosos que pesquisam e escrevem a respeito de usos, costumes, festas populares ede cunho religioso. A Rede edita mensalmente o Jor<strong>na</strong>l Brasileiro de Folkcomunicação.Rede Nacio<strong>na</strong>l de Pesquisa Comparada: até o momento congrega pesquisa<strong>do</strong>res das seguintesuniversidades: Universidade <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong>s Sinos, Pontifícia Universidade Católica <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,Universidade Estadual de Londri<strong>na</strong>, Universidade Federal Rural <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Universidade de SãoPaulo, Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade Federal de São João Del Rey, UniversidadeFederal de Viçosa, Universidade Federal <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Universidade Federal Rural de Per<strong>na</strong>mbuco,Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Sergipe, Universidade de Brasília eUniversidade Federal <strong>do</strong> Amazo<strong>na</strong>s.Rede Formada pelo Comitê Acadêmico: Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade Federal <strong>do</strong>Espírito Santo, Universidade Federal <strong>do</strong> Rio de Janeiro, ONG Oboré Comunicações e Artes – SP; EditoraMantiqueira – Campos <strong>do</strong> Jordão – SP.Rede Acadêmica: constituída por <strong>do</strong>centes e/ou pesquisa<strong>do</strong>res atuantes em instituições públicas,confessio<strong>na</strong>is ou particulares, que mantenham atividades de ensino/pesquisa no campo das Ciências daComunicação.Rede Profissio<strong>na</strong>l: constituída por dirigentes e/ou representantes de empresas, bem como porprofissio<strong>na</strong>is autônomos da área de Comunicação Social;Rede Comunitária: constituída pelos usuários <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>scoopera<strong>do</strong>res e participantes de projetos de interesse público.pela Cátedra, inclusive ex-alunos,Rede Comsalud: desde 1997 pesquisa<strong>do</strong>res representantes de instituições de ensino de vários paísesmontaram um protocolo de investigação para um projeto conjunto denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> COMSALUD. Este projeto<strong>na</strong>sceu da cooperação entre a OPS - Organização Pa<strong>na</strong>merica<strong>na</strong> de Saúde; da Unesco, da Felafacs eBasics que em novembro de 1995, reuniram-se <strong>na</strong> Universidade de Azuay (Cuenca,Equa<strong>do</strong>r) para discutira proposta de currículo acadêmico para periodismo em saúde. A Cátedra Unesco/Umesp representadapelo seu diretor adjunto - prof. Isaac Epstein agregou-se ao projeto motivada por fatores que vão desdea relevância da pesquisas até sua identidade com a proposta da comunicação para o desenvolvimentoregio<strong>na</strong>l. Um <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> projeto é fazer um primeiro diagnóstico da cobertura da saúde nos meiosde comunicação de diversos países, com o propósito específico de estabelecer uma linha base dacobertura e a partir daí delinear passos operativos que permitam aproveitar oportunidades detectadas eatualmente perdidas ou desaproveitadas. Participam <strong>do</strong> projeto: Universidade Autônoma Santo Domingo(Republica Dominica<strong>na</strong>; Universidade Bolivaria<strong>na</strong> (Colômbia); Universidade de Azuay (Equa<strong>do</strong>r);Universidade de Lima (Peru), Universidade da Republica Oriental <strong>do</strong> Uruguay; Universidade DiegoPortales (Chile); Universidade de Zulia (Venezuela); Universidade <strong>do</strong> Norte (Colômbia); UniversidadeMetodista de São Paulo (Brasil);Universidade Nacio<strong>na</strong>l de Cuyo (Argenti<strong>na</strong>); Universidade Nacio<strong>na</strong>lAutônoma <strong>do</strong> México e o Ministério da Saúde <strong>do</strong> Pa<strong>na</strong>má.Rede Alfre<strong>do</strong> de Carvalho para o resgate da memória e a construção da história da imprensa no Brasil:mutirão acadêmico organiza<strong>do</strong> em parceria com a Cátedra FENAJ/UFSC de Jor<strong>na</strong>lismo e o apoio deentidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is como a Associação Brasileira de Imprensa e o Instituto Histórico e Geográfico <strong>do</strong>Brasil. Essa rede deve atuar durante o perío<strong>do</strong> 2001-2008, com a fi<strong>na</strong>lidade de preparar a celebração <strong>do</strong>s200 anos da imprensa no Brasil.Eventos Nacio<strong>na</strong>is e Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>isCOMSAÚDE: CONFERÊNCIA BRASILEIRA DECOMUNICAÇÃO E SAÚDE – SÃO OBJETIVOS DESSAINICIATIVA PROPICIAR A DISCUSSÃO E O APROVEI-TAMENTO DOS RECURSOS DA COMUNICAÇÃO SO-CIAL PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE, BEM COMOREVELAR PROGRAMAS E AÇÕES DESENVOLVIDASQUE JÁ CONSEGUIRAM RESULTADOS EFETIVOS NOCAMPO.AnoTemática1998- I Comsaúde Comunicação e políticas de saúde pública1999- II Comsaúde Comunicação comunitária e saúde pública2000- III Comsaúde A importância da Comunicação <strong>na</strong> Promoção da Saúde2001– IV Comsaúde Comunicação para a Saúde da Família2002 – V ComsaúdeMídia e acidentespreventivas2003– VI Comsaúde Mídia, Mediação, Medicaçãode trabalho: da periculosidade midiática às ações2004– VII Comsaúde Mídia e alimentação: da fome à obesidade


710 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVb) Folkcom: Conferência Brasileira deFolkComunicação - tem por objetivos permitira a<strong>na</strong>lise e a interação entre as culturasregio<strong>na</strong>is e a cultura global, a partir damediação exercida pela indústria cultural. Oestu<strong>do</strong> contempla fenômenos singulares <strong>do</strong>calendário folclórico brasileiro: Natal, festasjuni<strong>na</strong>s e car<strong>na</strong>val.Ano1998- I Folkcom Folkcomunicação: discipli<strong>na</strong> científica1999- II Folkcom Folkcomunicação e cultura brasileiraTemática2000- III Folkcom Meios de comunicação, folclore e turismo2001– IV Folkcom As festas populares como processos comunicacio<strong>na</strong>is2002– VI Folkcom A imprensa <strong>do</strong> povo2003– VII Folkcom Folkmídia: difusão <strong>do</strong> Folclore pelas indústrias midiáticas2004– VIII Folkcom Folkcomunicação Política: a comunicação <strong>na</strong> cultura <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>sc) Celacom: Colóquio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobrea Escola Latino-America<strong>na</strong> de Comunicação- realiza<strong>do</strong>s anualmente no Campusda Umesp, são espaços de reflexão e debateentre a perso<strong>na</strong>lidade em estudada, outrospesquisa<strong>do</strong>res e estudantes em nível degraduação e pós-graduação. Além da promoção<strong>do</strong> evento, a Cátedra Unesco/Umespse propõe a fazer um levantamento dasobras para incorporar ao acervo bibliográfico,bem como publicar os resulta<strong>do</strong>s dareflexão.AnoTemática1997- I Celacom A trajetória comunicacio<strong>na</strong>l de Luis Ramiro Beltrán1998 - II Celacom1999 - III Celacom2000 - IV Celacom2001 – V CelacomComunicação, cultura, mediações - o percurso intelectual de Jesús Martín-BarberoGênese <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l Latino-americano: CIESPAL,ICINFORM, ININCO (o protagonismo das instituições pioneiras)Contribuições brasileiras ao Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano:Décio Pig<strong>na</strong>tari, Muniz Sodré e Sérgio CaparelliMarxismo e Cristianismo:America<strong>na</strong>smatrizes das idéias comunicacio<strong>na</strong>is Latino-2002– VI Celacom A participação da mulher nos estu<strong>do</strong>s comunicacio<strong>na</strong>is latino-americanos2003– VII Celacom Pensamento Crítico: impacto e efeitos <strong>na</strong> Comunicação Latino-America<strong>na</strong>2004– VIII Celacom Sociedade <strong>do</strong> Conhecimento: aportes latino-americanos


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO711Publicações Unesco/Umespa) Série UNESCO/UMESPIdentidades culturais latino-america<strong>na</strong>s emtempo de comunicação global - José Marquesde Melo, (org.), 1996.Identidade da imprensa brasileira no fi<strong>na</strong>l<strong>do</strong> século: das estratégias comunicacio<strong>na</strong>isaos enraizamentos culturais - José Marquesde Melo e A<strong>do</strong>lpho Queiroz, (orgs.), 1998.De Belém a Bagé: imagens midiáticas <strong>do</strong>Natal brasileiro - José Marques de Melo eWaldemar Kunsch, (orgs.), 1998.Televisão <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong> – 7 estu<strong>do</strong>s– Sandra Reimão, (org.), 2000.Mídia em Debate – José Marques deMelo, Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi, ConceiçãoSanches e Gilson J. Parisoto, (org.) 2002.b) Série A<strong>na</strong>is da Escola Latino-America<strong>na</strong>de ComunicaçãoA trajetória comunicacio<strong>na</strong>l de LuisRamiro Beltrán - José Marques de Melo eJuçara Brittes, (orgs.), 1998.Comunicação, cultura, mediações - opercurso intelectual de Jesús Martín-Barbero- José Marques de Melo e Paulo da RochaDias, (orgs.), 1999.Gênese <strong>do</strong> Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>lLatino-americano: CIESPAL, ICINFORM,ININCO (o protagonismo das instituições pioneiras)- José Marques de Melo e MariaCristi<strong>na</strong> Gobbi, (orgs.), 2000.Contribuições brasileiras ao PensamentoComunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano: DécioPig<strong>na</strong>tari, Muniz Sodré e Sérgio Capparelli– José Marques de Melo, Maria Cristi<strong>na</strong>Gobbi e Marli <strong>do</strong>s Santos, (org.), 2001.Matrizes Comunicacio<strong>na</strong>is Latino-America<strong>na</strong>s.Marxismo e Cristianismo – JoséMarques de Melo, Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi eWaldemar Luiz Kunsch, (org.), 2002.Comunicação Latino-America: oprotagonismo feminino - José Marques deMelo, Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi e Sergio Barbosa(org.), 2003.Pensamento Comunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano: da Pesquisa-Denúncia aoPragmatismo Utópico - José Marques de Meloe Maria Cristi<strong>na</strong> Gobbi (org.), 2003.c) Periódicos: Anuário UNESCO/UMESPde Comunicação Regio<strong>na</strong>l, <strong>do</strong>s anos: 1997,1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003d) CDRoms: 1) FOLKCOM - Memória dasConferência Brasileira de Folkcomunicação:1998, 1999, 2000, 2001, 2003; 2) CELACOM– Memória <strong>do</strong>s Colóquios Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is sobrea Escola Latino-America<strong>na</strong> de Comunicação:2001, 2002, 2003, 2004 e 3) COMSAÚDE –Memória das Conferências Brasileiras deComunicação e Saúde; 4) PCLA - PensamentoComunicacio<strong>na</strong>l Latino-Americano – revistadigital, volume 1, ano I, 2000.e) Série A<strong>na</strong>is da Conferência Brasileirade Comunicação e Saúde: Mídia e Saúde,organiza<strong>do</strong> pelos professores José Marquesde Melo, Isaac Epstein, Conceição Sanchese Sergio Barbosa, 2001.9. Outras publicações - ativasa) Jor<strong>na</strong>l Brasileiro de Ciências daComunicação – JBCC: Boletim sema<strong>na</strong>l, quecontém informações da área de ComunicaçãoSocial. Tem se destaca<strong>do</strong> como um ca<strong>na</strong>lde comunicação entre diversos organismose pesquisa<strong>do</strong>res da área. Sua abrangência é<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, cobrin<strong>do</strong> hoje pesquisa<strong>do</strong>res<strong>do</strong>s 5 continentes. Atualmente, éveicula<strong>do</strong> para aproximadamente 18 mil e-mails. Todas as edições estão disponíveis <strong>na</strong>home-page: www.metodista.br/unesco .b) Midi@Fórum on line: fórum de discussãosobre assuntos disponibiliza<strong>do</strong>s <strong>na</strong>média. Está disponível <strong>na</strong> home-page:www.metodista.br/unesco .c) Enciclopédia <strong>do</strong> PensamentoComunicacio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>: Publicaçãoon-line que faz um levantamento sobre a obrade pesquisa<strong>do</strong>res no campo da Comunicação eseus colabora<strong>do</strong>res, pessoas que tem ou tiveramrelevância para a construção <strong>do</strong> pensamento emComunicação <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>. Pode serconsultada em “publicações”, <strong>na</strong> pági<strong>na</strong>:www.metodista.br/unesco. Outras informaçõespelo e-mail: mcgobbi.unesco@metodista.brd) São Bern@ar<strong>do</strong>.com.br - RevistaAcadêmica <strong>do</strong> Grupo Comunicacio<strong>na</strong>l de SãoBer<strong>na</strong>r<strong>do</strong>. Veículo acadêmico, desti<strong>na</strong><strong>do</strong> aestimular o diálogo intergeracio<strong>na</strong>l, dissemi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>e divulgan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s e reflexões deautoria <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res forma<strong>do</strong>s pelo


712 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVPrograma de Pós-Graduação em ComunicaçãoSocial da Universidade Metodista de SãoPaulo. Formato: publicação semestral, abertaa inserções mensais, conten<strong>do</strong> cinco seções:a) Artigos – textos origi<strong>na</strong>is, revisa<strong>do</strong>s pelosmembros <strong>do</strong> conselho editorial; b) Comunicações– textos previamente apresenta<strong>do</strong>s emreuniões científicas e selecio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelosmembros <strong>do</strong> conselho consultivo; c) Reproduções– textos previamente publica<strong>do</strong>s ema<strong>na</strong>is, livros ou periódicos; d) Diálogosprotagoniza<strong>do</strong>s pelos integrantes <strong>do</strong> GrupoComunicacio<strong>na</strong>l de São Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> - GCSB -ou focalizan<strong>do</strong> seu pensamento e ação ee) Resenhas: Textos a<strong>na</strong>líticos sobre livros,periódicos, eventos e similares que tenhamconta<strong>do</strong> com participação de membros <strong>do</strong>Grupo Comunicacio<strong>na</strong>l de São Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> –GCSB.e) Home Page da Cátedra Unesco/Umesp:Além de manter atualiza<strong>do</strong> o espaçodisponibiliza<strong>do</strong> pela rede Orbicom, a Cátedrabrasileira divulgar sua história, projetos,eventos, produções e notícias em uma homepage criada dentro <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da UMESPno endereço www.metodista.br/unesco._______________________________1Material faz parte integrante <strong>do</strong> RelatórioUnesco/Umesp de Comunicação, referente ao anode 2003, elabora<strong>do</strong> pela professora Dra. MariaCristi<strong>na</strong> Gobbi.2Universidade Metodista de São Paulo.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO713El esta<strong>do</strong> del Corporate en la empresa extremeña:el diseño y la imagen corporativaMaria Victoria Carillo Duran e A<strong>na</strong> Castillo Díaz 1Relevancia de la imagen corporativa en elmarco empresarial actualDesde que los directivos de fuertesempresas advirtieron que la ventajadiferencial de sus organizaciones se ubicabaen u<strong>na</strong> zo<strong>na</strong> más próxima a los atributosintangibles que a los físicos comenzaron acobrar especial relevancia aspectos como lagestión del conocimiento, la culturacorporativa o la imagen corporativa. Sin dudau<strong>na</strong> serie de factores que, hasta el momento,no habían forma<strong>do</strong> parte de las decisionestrascendentales en la organización.En un principio fueron las grandescorporaciones empresariales quienes prestaro<strong>na</strong>tención a este valioso activo aunque, demanera paulati<strong>na</strong>, las pequeñas y media<strong>na</strong>sempresas comienzan a tomar conciencia dela necesidad de situar los proyectos sobreimagen e identidad corporativa entre losplanteamientos más serios y rigurososdetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s con respecto a la supervivenciay el éxito de la organización.Como advierte Paul Capriotti 2 (Capriotti,1999: 70), el proceso de formación de la imagencorporativa plantea un cambio dentro delparadigma comunicativo tradicio<strong>na</strong>l. Así, eldesti<strong>na</strong>tario adquiere un papel absolutamenteactivo, como intérprete y re-crea<strong>do</strong>r del mensajeen base a toda la información recibida acercade u<strong>na</strong> organización por medio de diversasfuentes, realizan<strong>do</strong> un proceso particular deprocesamiento y formación de esa estructuramental que es la imagen de la organización.La imagen corporativa no es sólo cuestiónde los departamentos de comunicación sinoque en ella debe estar implicada de formadirecta la gerencia o la dirección general. Porotra parte, la base de u<strong>na</strong> imagen corporativase compone de u<strong>na</strong> combi<strong>na</strong>ción adecuadade hacer y decir, aunque debe pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>rel hacer. Ningu<strong>na</strong> imagen corporativa creadasobre la base del decir se puede sostenermucho tiempo. Tampoco ningu<strong>na</strong>organización, en la época en que vivimos,puede subsistir sin comunicar sus ventajasde manera adecuada. La imagen debe basarseen la realidad corporativa y destacar suspuntos fuertes expresan<strong>do</strong>, de maneraatractiva, la identidad corporativa.La gestión de la imagen debe ser u<strong>na</strong>función del ma<strong>na</strong>gement; la imagen puederepresentar unitariamente todas lascapacidades competitivas de la empresapuesto que la gestión de la imagen estransversal, enseña todas las actuaciones dela empresa sin tener en cuenta la exclusividadde actividades que puede desarrollar laorganización en cada departamento.Antes de lanzarnos a comunicar u<strong>na</strong>imagen de empresa es imprescindible ladefinición de la imagen actual que tiene elpúblico de la empresa (si es que existe co<strong>na</strong>nterioridad) y determi<strong>na</strong>r la importancia delos elementos básicos de la identidad. Lacreación de u<strong>na</strong> estrategia de imagencomprende el conjunto de acciones que u<strong>na</strong>organización acomete para lograr u<strong>na</strong> imagenintencio<strong>na</strong>l que favorezca la consecución desus metas corporativas.Algu<strong>na</strong>s apreciaciones terminológicas:identidad, imagen, identidad visualcorporativa.Antes de seguir adelante, nos pareceoportuno hacer un alto en el camino para realizaru<strong>na</strong> serie de apreciaciones terminológicas entorno al Corporate, siguien<strong>do</strong> a Villafañe(1993,1999) 3 .En primer lugar, indicar que la identidadcorporativa de u<strong>na</strong> organización es su esencia,lo que es y no lo que parece; en este senti<strong>do</strong>no debemos confundirla con la imagen (quesería lo que parece, más que lo que es). Laidentidad corporativa es el punto en el queconvergen la historia de la organización, sucultura y su proyecto empresarial.Otro factor que entra en juego en esteconcurri<strong>do</strong> ambiente terminológico delCorporate, y que nos interesa especialmente,


714 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVen el contexto regio<strong>na</strong>l de Extremadura, esel de Identidad Visual Corporativa. Se tratade un símbolo que traduce visualmente laidentidad corporativa. En esta traducción seproduce el proceso de identificación de losatributos más característicos de la identidadde u<strong>na</strong> organización, con u<strong>na</strong> imagen visual.La interpretación simbólica implica siemprela existencia de u<strong>na</strong> serie de códigos visualesque, para satisfacer su función, deben expresarel criterio de pertenencia al que responden.Los códigos visuales en los que se basa latraducción simbólica siempre tienen algo deconvencio<strong>na</strong>les, y el carácter arbitrario irádisminuyen<strong>do</strong> a medida que crezca elconsenso en su descodificación.La identidad visual corporativa, junto ala comunicación, son las herramientas paratransmitir la perso<strong>na</strong>lidad corporativa de laorganización, debien<strong>do</strong> cumplir las siguientesfunciones:Identificación: facilitar el reconocimientode la identidad de la organización.Diferenciación: individualizar la identidadvisual y diferenciarla de las demásorganizaciones.Memoria: debe recordarse y permanecerel mayor tiempo posible en la memoria.Asociación: asegurar el vínculo entre laidentidad visual y la organización.En el panorama actual de u<strong>na</strong> regióncomo Extremadura, <strong>do</strong>nde tímidamente seempiezan a tener en cuenta los elementosrelacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s con la imagen de las empresas,es muy importante empezar por la creaciónde manuales de Identidad Visual Corporativa,con el propósito de buscar un consenso enlo que se refiere a la perso<strong>na</strong>lidad quemuestra la organización a sus públicos.Diseño e imagen corporativa en la empresaextremeñaComo sucede en muchas ocasiones,teorizamos en gran medida sobre la situaciónde empresas leja<strong>na</strong>s físicamente y somosverdaderos desconoce<strong>do</strong>res de la realidad máspróxima. Entendien<strong>do</strong> que los activosintangibles son igualmente importantes paralas empresas con independencia de sulocalización geográfica o sus dimensiones,queremos reflejar un estudio panorámico delesta<strong>do</strong> actual del interés y desarrollo por laimagen corporativa en las empresas deExtremadura.Hoy en día, sin lugar a dudas, podemosdecir que hemos pasa<strong>do</strong> de un entornocaracteriza<strong>do</strong> por la producción y lacomunicación masivas hacia la apuesta porla especialización. Los avances tecnológicosen los procesos productivos y comunicativosrequieren un tratamiento especialmentecuida<strong>do</strong>so de cada componente de laestrategia empresarial con el fin de avalaru<strong>na</strong> ventaja competitiva a la empresa.Uno de los elementos diferencia<strong>do</strong>res másaprecia<strong>do</strong>s en este merca<strong>do</strong> satura<strong>do</strong> deproductos prácticamente similares es laimagen. A través de las diferentesherramientas derivadas de la imagen laempresa y sus productos o servicios soninmediatamente identifica<strong>do</strong>s por el cliente<strong>potencial</strong> y se obtiene esa estimadadiferenciación con el resto de las compañíasy productos del sector. Este trayecto nosconduciría al concepto de marca empresa,como algo global e independiente de la<strong>na</strong>turaleza de los productos, como algo queacoge a toda la organización y que diseñasu formas de hacer y cómo se manifiesta<strong>na</strong>l exterior e interior de la empresa. Nostropezamos aquí con el concepto de Alloza,A, recogi<strong>do</strong> en Villafañe (2004) de marcaexperiencia, en <strong>do</strong>nde convergen aspectosestructurales y formales de la empresa.Casi se puede prescindir de un estudiopormenoriza<strong>do</strong> para afirmar que en el teji<strong>do</strong>empresarial extremeño ape<strong>na</strong>s existe laconciencia de la necesidad de utilizar laimagen como herramienta competitiva. Elplanteamiento del impulso de esta variableestratégica tiene su senti<strong>do</strong> más trascendentalal programarse en u<strong>na</strong> región que debeinvertir cuantiosos recursos para incrementarsu capacidad competitiva con respecto a otroslugares y regiones <strong>do</strong>nde sí se gestio<strong>na</strong> laimagen como valioso recurso para eldesarrollo institucio<strong>na</strong>l.Círculo Extremeño del Diseño: Plan deImpulso del DiseñoEn la región extremeña recientemente hainicia<strong>do</strong> su andadura u<strong>na</strong> entidad denomi<strong>na</strong>daCírculo del Diseño, que engloba aprofesio<strong>na</strong>les y académicos relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s con


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO715el diseño y la imagen empresarial, con elpropósito de estimular la gestión de la imagencorporativa en las empresas. Esta iniciativa,respaldada por la Junta de Extremadura y elGobierno español, está demostran<strong>do</strong> en sucorto periplo que las empresas de la regiónrequieren formación y concienciación sobreesta necesidad, así como instrumentos parasatisfacer estas carencias. Conscientes de laexistencia de u<strong>na</strong> debilidad en cuanto a lagestión de la imagen y el diseño corporativos,el Círculo del Diseño, propone abordar unplan que contemple todas las actuacionesnecesarias para la promoción del diseño enla Comunidad Autónoma de Extremadura, asícomo su aplicación concreta a las empresasubicadas en esta región, que se podrían servirde él como contribución al fomento de suconsolidación y competitividad.Entre los objetivos iniciales del Círculodel Diseño se establece el de realizar unproyecto en que se involucre la mayor partedel sector empresarial, hacién<strong>do</strong>les ver a losempresarios los beneficios que el diseño lespuede reportar en cuanto a la prosperidad desus capacidades competitivas. Está claro quelos objetivos de la mayoría de las empresasse orientan hacia la consecución debeneficios, no obstante hay que tener encuenta que muchas veces la principal barreraque encuentra el éxito empresarial es eldesconocimiento de los puntos débiles y nou<strong>na</strong> falta de interés por solucio<strong>na</strong>rlos.La implementación de este proyecto sesustenta en u<strong>na</strong>s fases de trabajo diferenciadasy con entidad propia y al mismo tiempocomplementarias, de mo<strong>do</strong> que contribuya<strong>na</strong> la consecución del objetivo fi<strong>na</strong>l delproyecto: el impulso del diseño en laComunidad de Extremadura._ Realización de jor<strong>na</strong>das desensibilización en diseño._ Realización de u<strong>na</strong> auditoría de imagenen u<strong>na</strong> muestra de 30 empresas de lacomunidad._ Experiencia piloto: incorporación deldiseño aplica<strong>do</strong> a la estrategia de imagencorporativa en u<strong>na</strong> muestra de empresas delsector de Turismo Rural y ActividadesComplementarias._ Guía de recursos de diseño e imagencorporativa en Extremadura.Fase I. Jor<strong>na</strong>das de Sensibilización.Esta primera etapa ha consisti<strong>do</strong> en lapuesta en marcha de acciones desensibilización sobre el sector empresarial dela Comunidad Autónoma de Extremadura.Concretamente se trata de la realización deu<strong>na</strong>s jor<strong>na</strong>das con la fi<strong>na</strong>lidad de presentary concienciar sobre los beneficios del usodel diseño y los planteamientos de imagencorporativa en la estrategia empresarial.Como elemento de apoyo fundamental secontempló la participación de empresarios ydiseña<strong>do</strong>res líderes de diversas regiones y dediversos sectores económicos quecontribuyeron aportan<strong>do</strong> su experienciapositiva al haber utiliza<strong>do</strong> el diseño. Elobjetivo persegui<strong>do</strong> es dar u<strong>na</strong> visión prácticay real de la aplicación de la imagencorporativa en proyectos empresariales e<strong>na</strong>ras a fomentar su utilización.Para mostrar cómo las empresas hanprocedi<strong>do</strong> a implementar proyectos de estetipo, el conteni<strong>do</strong> de estas jor<strong>na</strong>das obedecíaal siguiente esquema:_ Situación de partida de la empresa._ Problemática y deficiencias._ Forma de resolución: el proyecto dediseño en la empresa._ Resulta<strong>do</strong>s obteni<strong>do</strong>s.Fase II. Realización de un servicio deauditoría de imagen y diseño en u<strong>na</strong>muestra de treinta empresas de lacomunidad. Estudio de necesidades sobrediseño en la comunidad autónoma deExtremadura.En este perío<strong>do</strong> se plantea llevar a cabou<strong>na</strong> auditoría de diseño en treinta empresaspertenecientes a diferentes sectores. El estudiorecoge la información básica para a<strong>na</strong>lizarlas fortalezas y debilidades de la entidad encuanto a la utilización de esta herramienta.En función de los resulta<strong>do</strong>s extraí<strong>do</strong>s sedetermi<strong>na</strong>rán las necesidades sobre diseño eimagen corporativa en Extremadura,obtenien<strong>do</strong> un material informativo de valorpara la conformación de las futuras estrategiasa implementar en esta materia. En este senti<strong>do</strong>se lleva a cabo tanto u<strong>na</strong> investigación dela demanda existente en la Comunidad, como


716 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVde la oferta de servicios de diseño, tanto deExtremadura como de aquellas otras regionesde España que oferten servicios profesio<strong>na</strong>lesa Extremadura. A partir del examen anteriorquedará defini<strong>do</strong> el mapa de fortalezas,debilidades, ame<strong>na</strong>zas y oportunidades de laComunidad en cuanto a diseño se refiere paraconformar u<strong>na</strong> base sólida sobre la queimplantar las estrategias adecuadas.Fase III. Experiencia Piloto: Incorporacióndel diseno gráfico aplica<strong>do</strong> a la estrategiaempresarial en u<strong>na</strong> muestra de empresasdel sector de Turismo Rural y ActividadesComplementariasEsta etapa consiste en u<strong>na</strong> intervenciónen el sector del Turismo Rural y OfertaComplementaria, como sectores de gran augeen Extremadura. Se trata de incorporarestrategias vinculadas a la imagen en u<strong>na</strong>muestra de quince empresas a través de laprestación de un servicio profesio<strong>na</strong>l endiseño. El proceso de implantación de losproyectos en las compañías se conformaráen base a u<strong>na</strong> serie etapas de trabajo:- Sensibilización: realización de u<strong>na</strong>jor<strong>na</strong>da inicial.- Captación, definición del proyecto,briefing, selección del diseña<strong>do</strong>r y encargodel proyecto. U<strong>na</strong> vez se hayan determi<strong>na</strong><strong>do</strong>estas sociedades, será preciso definir elproyecto a realizar:- Diseño de marca y logotipo.- Manual de Identidad Visual Corporativa,incluyen<strong>do</strong> papelería básica.- Señalización.- Cartas de menús, listas de precios, etc.- Folleto promocio<strong>na</strong>l.- Pági<strong>na</strong> web, etc. En base a lainformación extraída se determi<strong>na</strong>rán loselementos prioritarios para el proyecto dediseño en la empresa, establecien<strong>do</strong> el tipode plan a ejecutar. A través del briefing secomunicará al diseña<strong>do</strong>r los aspectosrecogi<strong>do</strong>s en la definición del proyecto adesarrollar.- Implementación del proyecto de diseñoen las empresas seleccio<strong>na</strong>das.- Jor<strong>na</strong>da fi<strong>na</strong>l: presentación de resulta<strong>do</strong>s.Con las conclusiones de los proyectosrealiza<strong>do</strong>s y las aplicaciones de diseño gráficose realizará u<strong>na</strong> jor<strong>na</strong>da fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>ndeparticiparán tanto las propias empresas comolos diseña<strong>do</strong>res encarga<strong>do</strong>s de la realizaciónde los proyectos.- Realización de un catálogo con lasaplicaciones realizadas, compuesto por u<strong>na</strong>amplia <strong>do</strong>cumentación gráfica e informacióntanto de empresas y diseña<strong>do</strong>res, como delproceso de diseño realiza<strong>do</strong> para la empresa.Fase IV. Guía de Recursos de Diseno enExtremaduraComo actuación complementaria al“Impulso del Diseño” se prevé la edición deu<strong>na</strong> guía de recursos de diseño para laComunidad Autónoma de Extremadura. Setratará de u<strong>na</strong> guía editada en papel y queademás será preparada para ser expuesta enla web de la Junta de Extremadura, de formatal que tengan acceso a ella todas lasempresas, profesio<strong>na</strong>les y demás interesa<strong>do</strong>sen la materia.Situación actual y reflexión sobre elproyectoHasta el momento se ha implementa<strong>do</strong>la fase de sensibilización y los hechos parece<strong>na</strong>puntar a que los emprende<strong>do</strong>res extremeñosestán toman<strong>do</strong> conciencia sobre laconveniencia de incorporar la imagen y eldiseño como elementos decisivos en susplanteamientos de merca<strong>do</strong>.Lo que se pretende a largo plazo es quelos empresarios asuman <strong>na</strong>turalmente lagestión profesio<strong>na</strong>l de su imagen corporativa,desde la dirección de sus compañías. Estamosen la primera fase, pretendién<strong>do</strong>se que comoparte de esa gestión profesio<strong>na</strong>l, también secomunique.A pesar de que las inversiones encomunicación, en Extremadura al igual queen el resto de España, suelen ser entendidascomo gasto y no como inversión, cada vezexiste u<strong>na</strong> mayor conciencia sobre laimperiosa necesidad de establecermecanismos comunicativos como elementosfundamentales para la diferenciación de laoferta. Como hemos adverti<strong>do</strong> anteriormentees el desconocimiento de los puntos débileso la desconfianza a invertir en aspectos dedifícil cuantificación quienes constituyen laprincipal barrera para emprender acciones


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO717relacio<strong>na</strong>das con la difusión de la imagencorporativa. En ese senti<strong>do</strong> este proyectocontempla u<strong>na</strong> sensibilización como elementode partida hacia el colectivo empresarialextremeño. Además, el hecho de ilustrar elproceso con ejemplos reales de aplicación deldiseño a la empresa supone un incentivo alas posibles iniciativas.Del análisis del esta<strong>do</strong> de la cuestión delque hemos parti<strong>do</strong> en este <strong>do</strong>cumento podemosapreciar que el diseño es únicamente u<strong>na</strong>porción, uno de los elementos del corporateo lo que es lo mismo, un elemento gestio<strong>na</strong>blepara conseguir mejor imagen y enconsecuencia mejor reputación corporativa, ypor tanto, un planteamiento que debe sercomplementa<strong>do</strong> con u<strong>na</strong> serie de estrategiasglobales y pormenorizadas, con el objeto deconseguir esa ansiada reputación corporativa,como desideratum del comportamiento y laimagen de la empresa (Villafañe 4 , 2004).No obstante, y aunque el proyecto seencuentra aún en fase de ejecución y nopodemos extraer conclusiones generales, sinduda, el hecho de plantear este tipo deactuaciones ya denota que existe un germenfundamental que intenta despertar la apuestapor los activos intangibles en la empresa.Aunque aún queda un largo camino porrecorrer, al menos ya atisbamos ciertaconcienciación sobre la necesidad deemprender nuestra andadura por los senderosdel corporate. Hasta el momento sólo hemostransita<strong>do</strong> el primer tramo, el trayecto másvisible dentro de esos intangibles pero, sinduda, esta alerta, esta llamada de atenciónes un factor indicativo de que el corporateno es algo de interés exclusivo para lasgrandes multi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>les.A pesar de no poder trasladar lasconclusiones extraídas de este proyecto aúnen marcha entendemos que esteplanteamiento de gestión de la imagencorporativa es nuevo y sus resolucionespueden resultar enriquece<strong>do</strong>ras para otrasprovincias y países que puedan impulsarproyectos semejantes a los ya enfuncio<strong>na</strong>miento en Extremadura.


718 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVBibliografíaCapriotti, Paul.(1999): Planificaciónestratégica de la imagen corporativa, ArielComunicación, Barcelo<strong>na</strong>.Carrascosa, J.L. (1992): Comunicación.U<strong>na</strong> comunicación eficaz para el éxito en losnegocios, Ciencias de la Dirección, Madrid.Costa, Joan. (2001): Imagen corporativaen el siglo XXI, La Crujía Ediciones, BuenosAires. Proyecto Plan de Impulso del Diseñodel Círculo Extremeño del Diseño (2003)Sotelo enríquez, Carlos (2001):Introducción a la comunicación institucio<strong>na</strong>l,Ariel Comunicación, Barcelo<strong>na</strong>.Villafañe, Justo y otros (2001) (Prólogo)en Be<strong>na</strong>vides, J. Dirección de comunicaciónempresarial e institucio<strong>na</strong>l, Gestión 2000,Barcelo<strong>na</strong>.Villafañe, Justo (1993) Imagen positiva.Pirámide. Madrid.Villafañe, Justo (1999) Gestiónprofesio<strong>na</strong>l de la Imagen Corporativa.Pirámide. Madrid.Villafañe, Justo (2004) La bue<strong>na</strong>reputación. Pirámide. Madrid._______________________________1Universidad de Extremadura.2Capriotti, Paul (1999): PlanificaciónEstratégica de la Imagen Corporativa. ArielComunicación.3Villafañe, J (1993) Imagen positiva.Pirámide. Madrid. Villafañe, J (1999) Gestiónprofesio<strong>na</strong>l de la Imagen Corporativa. Pirámide.Madrid.4Villafañe, J (2004) La bue<strong>na</strong> reputación.Pirámide. Madrid.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO719El desarrollo de la competencia comunicativa de los portavocesde la organización (propuesta pragmática y retórica)Mª Isabel Reyes Moreno 1La imagen de cualquier organizaciónempresarial, social, institucio<strong>na</strong>l, académicao política se construye también a través desus portavoces y, específicamente, de susintervenciones públicas. La comunicacióncara a cara con un auditorio suele estardirigida a los stakeholders – clientes,accionistas, emplea<strong>do</strong>s y comunidad engeneral –, a los que un representante de laorganización pretende informar, persuadir,motivar o formar. En esta situación decopresencia es clave la competenciacomunicativa de quien habla, lo que nosremite fundamentalmente a recursos tanintrínsecos a la perso<strong>na</strong> como lacomunicación verbal, la kinésica, laparalingüística o la proxémica.Esta ponencia hace u<strong>na</strong> propuesta deformación, basada en la retórica y lapragmática, dirigida a desarrollar lacompetencia comunicativa de quienes realizanesta actividad.La capacidad comunicativa espatrimonio de la perso<strong>na</strong>,ella lo adquiere al socializarsey lo hace real cuan<strong>do</strong> se relacio<strong>na</strong> conotras perso<strong>na</strong>s.La imagen de u<strong>na</strong> organizaciónempresarial, social, institucio<strong>na</strong>l, académicao política se construye a través de to<strong>do</strong>s susmensajes, los delibera<strong>do</strong>s y los nocontrola<strong>do</strong>s, y a través del conjunto deconductas perso<strong>na</strong>les y corporativas llevadasa cabo por los miembros de la organización.Cuan<strong>do</strong> cualquiera de ellos habla en públicocomo medio para transmitir un mensaje sobrelos productos, el servicio, la cultura ocualquier aspecto de la compañía estáparticipan<strong>do</strong> en el proceso de creación de laimagen corporativa.Los portavoces y específicamente susintervenciones son material sensible para lospúblicos, ya sean internos, externos ointermedios. La credibilidad que ellosmanejan es, o debería ser, mayor que la quese otorga a los mensajes de un lanzamientopublicitario o mediático. El hecho de que enmuchos casos los directivos no concedan aesta cuestión la importancia debida puedeestar relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> con tres razones: lacomparecencia de un portavoz no implica laadministración de gran presupuesto, susmensajes interperso<strong>na</strong>les no transcienden algran público y, lo que a menu<strong>do</strong> es másdetermi<strong>na</strong>nte, modificar los hábitoscomunicativos de los que hablan no suponeu<strong>na</strong> tarea fácil.Mientras los responsables de marketingutilizan los medios masivos y muevenpartidas presupuestarias cuyo volumen obligaa dar cuentas sobre sus objetivos,planificación y resulta<strong>do</strong>s, los directores decomunicación luchan todavía en algunoscasos para que sus reivindicaciones sean oídascuan<strong>do</strong> se trata de mejorar la imagen queda la empresa a través de las intervencionespúblicas: transmisión del estilo corporativo,diferenciación con respecto a la competencia,mensajes bien prepara<strong>do</strong>s, implicación delauditorio a través de valores, destreza en elmanejo de la situación, capacidad en fin deobtener resulta<strong>do</strong>s que contribuyan a mejorarla imagen y la credibilidad de la organización.El camino para obtener beneficios en esteaspecto pasa, en primer lugar, por entenderlas presencias públicas como u<strong>na</strong> parte másde la estrategia comunicativa de laorganización y, en segun<strong>do</strong>, por incorporarprocesos que procuren la mejora de lacompetencia comunicativa 2 de las perso<strong>na</strong>sque desempeñan estas tareas. Por cierto, quesu número es mayor del que se cree a primeravista, como también lo es la frecuencia y latrascendencia de las comparecencias querealizan. La comunicación cara a cara conun auditorio suele estar dirigida a losstakeholders – clientes, accionistas,emplea<strong>do</strong>s y comunidad en general–, a los


720 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVque un representante de la organizaciónpretende informar, persuadir, motivar oformar. En esta situación de copresencia sonclaves recursos tan intrínsecos a la perso<strong>na</strong>como la comunicación verbal, la kinésica, laparalingüística o la proxémica.Esta ponencia plasma algu<strong>na</strong>s de lasconclusiones que forman parte de u<strong>na</strong>investigación más amplia cuyo objetivo eshacer u<strong>na</strong> propuesta de formación dirigidaa desarrollar la competencia comunicativa dequienes realizan esta actividad. Tal propuestaestá basada en la retórica y la pragmáticay su marco de referencia es la gestión dela comunicación corporativa. Esencialmentea<strong>na</strong>lizamos el hecho de hablar en público ylas posibilidades persuasivas del portavoz.1. ¿Se puede actuar sobre la competenciacomunicativa?Investigar sobre la mejora de u<strong>na</strong>habilidad implica un punto de partida: haberacepta<strong>do</strong> que es posible actuar sobre lacapacidad huma<strong>na</strong> y desarrollarla. En el casode la destreza a la que nos referimos, comoen otros ámbitos, se debate la vieja máximade si el comunica<strong>do</strong>r <strong>na</strong>ce o se hace. Sobreesta discusión consideramos el hecho de que,a partir de las condiciones propias de unindividuo normal, éste puede reforzar sucapacidad y aumentar sus posibilidades deobtener el objetivo busca<strong>do</strong>.La siguiente pregunta que surge demanera <strong>na</strong>tural es ¿cómo puede el portavozdesarrollar su capacidad comunicativa?Lograrlo implica u<strong>na</strong> <strong>do</strong>ble intervención, porun la<strong>do</strong>, en el ejercicio de la comunicaciónestratégica, por otro, en la formación delportavoz en cuestión. Tal intervenciónprovoca la necesidad de tomar decisiones entorno a aspectos que pueden agruparse en tresaparta<strong>do</strong>s:• La comparecencia: presencia o ausenciaen un espacio público concreto; quién deberepresentar a la organización en la ocasión;cuál debe ser el objetivo que se deseaalcanzar; cuál la puesta en esce<strong>na</strong>.• El mensaje: adaptación a la audiencia,determi<strong>na</strong>ción del conteni<strong>do</strong>, información quedebe aportar, estructura, apoyos técnicosdurante la intervención.• El portavoz: sus características,formación, <strong>do</strong>minio del tema, del esce<strong>na</strong>rioy de su comunicación verbal y no verbal.Para quienes, por u<strong>na</strong> u otra razón, tienenque ejercer la labor de hablar en público desdesu papel de pertenencia a u<strong>na</strong> empresa o u<strong>na</strong>institución estos aspectos cobran especialinterés, seguramente debi<strong>do</strong> a la altaimplicación perso<strong>na</strong>l que supone cadacomparecencia. Ésta es la expresión textualrecogida entre algunos portavoces:Mientras miras a la audiencia, justo antesde decir la primera palabra, tomas concienciade que representas a la empresa y al equipo,pero mucho más de que quien se la estájugan<strong>do</strong> en ese momento es uno mismo.Para los profesio<strong>na</strong>les que trabajan conlos portavoces (directores de comunicación,jefes de prensa, otros directivos o ejecutivosde la organización) es un tema controverti<strong>do</strong>ya que parte de su papel consiste en lapreparación de los mensajes e, incluso, enel asesoramiento perso<strong>na</strong>l y la evaluación delas comparecencias. Este último camposupone un terreno interesante ya que al hablaren público se manifiestan multitud de rasgosdel portavoz que, como dice Carlos E. Sluzki,Director del Mental Research Institute de PaloAlto, California,(Watzlawick, Bavelas yJackson, 1997: 13) refirién<strong>do</strong>se al hechocomunicacio<strong>na</strong>l, “pese a ser transmiti<strong>do</strong>s,aprendi<strong>do</strong>s, enseña<strong>do</strong>s, corregi<strong>do</strong>s y“recorregi<strong>do</strong>s” u<strong>na</strong> y mil veces, se danhabitualmente fuera del campo de lapercatación consciente, tal vez en su mismafrontera” 3 .En unos y otros, portavoces y asesores,pueden observarse diferentes posturas quese sitúan entre <strong>do</strong>s extremos, el de aquellosque al hablar en público considerandesdeñosamente aspectos como el control dela mirada o la organización del conteni<strong>do</strong>y el de quienes, por el contrario, ven enla forma de decir las cosas la principal causadel efecto que producen.Al margen de otras investigacionestambién interesantes y abordables en el futuro,nos concentramos en lo que bien puede serla base de partida, esto es, avanzar en elconocimiento y la formación del portavozmediante la reflexión sobre lo aporta<strong>do</strong> desdediferentes discipli<strong>na</strong>s. Dicho de manera


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO721sencilla, un mo<strong>do</strong> de mejorar la eficacia dela comunicación interperso<strong>na</strong>l de laorganización es actuar sobre la competenciade sus portavoces en lo que se refiere al<strong>do</strong>minio de la comunicación verbal/no verbaly su autocontrol.No obstante, somos conscientes de quepara conocer la figura del portavoz hay queentender, por u<strong>na</strong> parte, el contexto en el quecomunica y, por otra, cómo se articula larelación de él, como individuo, consigomismo y con el público al que habla. Dela misma forma que los investiga<strong>do</strong>res de laUniversidad invisible llegaron a la conclusiónde que aislar al individuo impide suconocimiento real, partimos de la idea de quees preciso reconstruir el proceso de suinteracción para poder después proponerformas de ampliar la competenciacomunicativa. Hablamos de la capacidad detraducir la intención del portavoz en unmensaje verbal y no verbal que contribuyaa persuadir al público. Esta destreza está portanto en relación con <strong>do</strong>s parámetros: suintención, u objetivo que busca alcanzar conla intervención, y el efecto que producerealmente, entendien<strong>do</strong> que éste no dependeen exclusiva de él.Las comparecencias públicas representancasos de comunicación interperso<strong>na</strong>l, que enel contexto organizacio<strong>na</strong>l sólo se justificanpor la posibilidad de obtener u<strong>na</strong> rentabilidad.Para comprender la manera en que el entornodetermi<strong>na</strong> la comunicación del portavoz, esdecir lo que dice y cómo es interpreta<strong>do</strong>, nosacercamos a las claves de la filosofía dellenguaje corriente de Austin, la teoría de losactos de habla de Searle, el principio decooperación de Grice, la teoría de laargumentación de Anscombre y Ducrot, lateoría de la relevancia de Sperber y Wilsony los estudios de cortesía. Aportacionespragmáticas todas ellas sobre aspectos delsenti<strong>do</strong> que dependen de factoresextralingüísticos y que, en su conjunto,representan u<strong>na</strong> manera distinta de contemplarlos fenómenos que caracterizan el empleo dellenguaje.Un miembro de la organización, asíidentifica<strong>do</strong>, habla a un público en un lugardetermi<strong>na</strong><strong>do</strong> a u<strong>na</strong> hora concreta para obteneralgo, de otra forma no se encontraría allí.Sin duda, en este contexto se cumple elcriterio de Aristóteles (Spang, 1997: 18): “undiscurso que no tiene como objetivo lapersuasión es u<strong>na</strong> contradicción en símismo” 4 . Ello nos lleva a ocuparnos de lascondiciones del lenguaje eficaz, lo quehacemos a través de la retórica (Baylon yMignot, 1997: 202), “el primer campo delsaber que se interrogó sistemáticamente sobreel lenguaje en tanto que medio decomunicación y que propuso técnicassistemáticas para hacer más eficaz la accióncomunicativa” 5 .Este campo de conocimiento ha segui<strong>do</strong>un largo recorri<strong>do</strong> desde el siglo V antes deCristo – pasan<strong>do</strong> por etapas de prestigio ydesatención – y está considera<strong>do</strong> en palabrasde Baylon y Mignot un vector esencial detransmisión de la cultura. La retórica clásicase define como el arte de hablar bien,enuncia<strong>do</strong> que incluye un senti<strong>do</strong> moral yde estilo. Hoy se estudia como (OrtegaCarmo<strong>na</strong>, 1997: 42) “la práctica y teoría deldiscurso dirigi<strong>do</strong> a producir un efecto depersuasión y convicción” 6 .Por tanto, para estudiar el intercambiocomunicativo proponemos aplicar algunossupuestos teóricos de la pragmática; paraprofundizar en la competencia comunicativaencami<strong>na</strong>da a cumplir u<strong>na</strong> función y alcanzarun objetivo determi<strong>na</strong><strong>do</strong> recurrimos a laretórica; y para comprender la figura delportavoz y las situaciones de comunicaciónque afronta estudiamos su papel en la gestiónde la comunicación corporativa.2. Actuaciones que permiten actuar sobrela competencia comunicativaPresentamos de forma esquemática nueveprincipios pragmáticos básicos para eldesarrollo de la competencia comunicativa:1º El portavoz debe elegir el lenguajecorriente a la hora de hablar en público ycomplementarlo con el lenguaje específicoque comparten los desti<strong>na</strong>tarios (Filosofía dellenguaje corriente).2º El portavoz debe dar un senti<strong>do</strong> o u<strong>na</strong>fuerza determi<strong>na</strong>da al conteni<strong>do</strong> de sumensaje en función del objetivo que persigue(Teoría de los actos de habla).3º El portavoz debe realizar u<strong>na</strong>intervención acorde con el propósito delintercambio comunicativo, esto es, cooperar


722 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVen cada situación concreta (Principio decooperación).4º U<strong>na</strong> comparecencia es un acto quepretende que el público admita u<strong>na</strong> conclusióngracias a los argumentos expuestos por elportavoz (Teoría de la argumentación).5º El portavoz debe proporcio<strong>na</strong>rinformación relevante cuan<strong>do</strong> el objetivo dela intervención es aportar información útila los desti<strong>na</strong>tarios o modificar sus creencias(Teoría de la relevancia).6º Al elegir la información más relevanteel portavoz ha de tener en cuenta la relación“esfuerzo que exige-efecto que proporcio<strong>na</strong>”(Teoría de la relevancia).7º El portavoz debe decidir si sucomunicación va a ser interaccio<strong>na</strong>l, dirigidaa mantener la relación social con el público,o transaccio<strong>na</strong>l, dirigida a transmitir u<strong>na</strong>información eficazmente, o en to<strong>do</strong> caso laprioridad que le dará a cada objetivo (Teoríade la relevancia y Estudios de cortesía).8º El portavoz debe observar la estrategiade la cortesía cuan<strong>do</strong> el objetivo de laintervención es crear, mantener, reforzar o destruirrelaciones sociales (Estudios de cortesía).9º Con el fin de proteger su imagenpública el portavoz puede aplicar las normasde la cortesía, especialmente adecuadas si sedecide llevar a cabo acciones que la ame<strong>na</strong>zan(Estudios de cortesía).De acuer<strong>do</strong> con los planteamientospragmáticos expuestos, es razo<strong>na</strong>ble asegurarla posibilidad de desarrollo de las habilidadescomunicativas de cualquier portavoz. En estesenti<strong>do</strong> la pragmática proporcio<strong>na</strong>, ademásde principios, orientaciones concretas:• Actuar sobre el <strong>do</strong>minio del lenguajecorriente y la eficacia del mensajeAustin confirma la oportunidad del lenguajedel día a día si se quiere comunicar con garantíade transmitir el mensaje y Grice estima quees posible asegurar la eficacia de la transmisióncuan<strong>do</strong> el conteni<strong>do</strong> es pertinente con lo queespera obtener el público y siempre que secontemplen las máximas de cantidad, veracidad,relación con el tema y claridad de la información(Filosofía del lenguaje corriente y Principiode cooperación).• Actuar sobre la intención (fuerzailocutiva)Para Searle se puede actuar sobre la fuerzaque el portavoz da al conteni<strong>do</strong> de su mensajea través de indica<strong>do</strong>res como la ento<strong>na</strong>cióndel emisor, el énfasis prosódico o el ordende las palabras, aspectos que pertenecen alterreno de la comunicación no verbal, laparalingüística y la estructuración delmensaje. Estos aspectos marcarán al públicoel senti<strong>do</strong> en el que deben interpretar lo queles dice el portavoz (Teoría de los actos dehabla).• Actuar sobre la habilidad deargumentarAnscombre y Ducrot, desde el terrenolingüístico, defienden que hay u<strong>na</strong>s leyesinter<strong>na</strong>s que rigen el mensaje y determi<strong>na</strong>nla estructura de los enuncia<strong>do</strong>s. El portavozpuede aprender a utilizar estas leyes paradefinir claramente su conteni<strong>do</strong> y asegurarsela adecuada interpretación por parte delpúblico (Teoría de la argumentación).• Actuar sobre la capacidad deidentificar la información relevanteSperber y Wilson recuerdan que del totalde estímulos que recibimos nos pasadesapercibi<strong>do</strong> to<strong>do</strong> lo que entendemos queno nos aporta <strong>na</strong>da; sólo procesamos u<strong>na</strong>mínima parte de la información, aquella quenos puede resultar interesante ya que refuerzanuestros pensamientos o disputa con ellos.A partir de su teoría puede afirmarse que elportavoz será más persuasivo en la medidaque aprenda a identificar la informaciónrelevante para cada público y situación, asícomo la manera relevante de presentarla, sinolvidar que tal relevancia está relacio<strong>na</strong>da conel esfuerzo que exige descodificar lainformación (Teoría de la relevancia).• Actuar sobre el nivel de conocimientodel público que atañe al mensaje delportavoz (los supuestos)Si se quiere producir un efecto en lascreencias del público, sea cambián<strong>do</strong>las oreforzán<strong>do</strong>las, resulta estratégico conocerpreviamente cuáles son esas creencias y suesta<strong>do</strong>. A pesar de la dificultad de conocerlasprovocada por los frecuentes cambios que registrael público es interesante aproximarse a sussupuestos, ya que permite además conocer losmecanismos deductivos que utiliza para inferirlo que le decimos (Teoría de la relevancia).• Actuar sobre la destreza en el uso dela cortesíaLakoff, Leech, Brown y Levinson aportanlos principios que rigen la cortesía en el


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO723lenguaje. Más allá de la recopilación denormas de comportamiento vigentes se llegaa entender que la cortesía es un factorestratégico que aumenta la capacidadpersuasiva del portavoz e influye sobre suimagen pública (Estudios de cortesía).A continuación seleccio<strong>na</strong>mos entre lasaportaciones de la retórica aquellas que serefieren más directamente a las hipótesis detrabajo que plantea esta investigación:1ª La capacidad persuasiva implicamanejar determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s recursos pero tambié<strong>na</strong>ctuar de acuer<strong>do</strong> con determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s valores(retórica griega).2ª La credibilidad del portavoz estácomprometida por lo que representa, lo quedice, lo que hace y la consideración que setiene de él (r. griega) .3ª El portavoz, como el ora<strong>do</strong>r, sedistingue por ser capaz de hablaradecuadamente para persuadir, lo quesignifica con fundamento, soltura y elegancia(r. lati<strong>na</strong>) .4ª La habilidad persuasiva que ejerza elportavoz mediante la comunicación se puedemejorar. El punto de partida son suscondiciones in<strong>na</strong>tas, que pueden desarrollarse,evolucio<strong>na</strong>r (r. lati<strong>na</strong>).5ª La eficacia del mensaje del portavozdepende de cómo lo ejecute realmente anteel público, de ahí que deba <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>rse nosólo el tema, sino la situación (r. griega, lati<strong>na</strong>y del XX).6ª Asumir la misión del portavoz,persuadir al público, puede actuar como elprincipal estímulo (r. medieval), a ello debeunirse el conocimiento de la materia y delas técnicas oratorias (r. griega y lati<strong>na</strong>).7ª Creer en lo que se está contan<strong>do</strong> yen el beneficio que proporcio<strong>na</strong> activa lacapacidad <strong>na</strong>tural de transmitir el mensajecon claridad, incluso aunque no se dispongade toda la información (r. medieval).8ª Profundizar en el conocimiento de la<strong>na</strong>turaleza huma<strong>na</strong>, autoconocimiento yconocimiento del público, permite ampliar lacapacidad persuasiva del portavoz (r. de laIlustración y del XIX).9ª La eficacia de la comunicación requiereque el portavoz sea consciente de la necesidadde coherencia entre el conteni<strong>do</strong> y laexpresión a cualquier nivel (verbal, kinésico,paralingüístico y proxémico), y del hecho deque la persuasión no es sólo u<strong>na</strong> cuestiónintelectual sino de emoción, por eso alcomunicar transmite ideas y sentimientos. (r.de la Ilustración y del XIX).10ª Persuadir, a diferencia de convencer,significa buscar un efecto en el terreno realy no sólo en el mental, esto es, lograrmodificaciones de actitud o/y comportamientodel público con respecto al asunto en cuestión.(r. del XX).11ª Persuadir es lo opuesto a imponer.Aceptar la discusión supone ponerse en elpunto de vista del interlocutor. La oratoria,tal como lo entiende la retórica clásica,implica la posibilidad de respuesta por partedel público, esto es, suscribir el juego de lalibertad de expresión. Bajo esta mentalidady en u<strong>na</strong> situación real el portavoz necesitaargumentar (r. del XX).12ª La competencia del portavoz influyeen la eficacia obtenida con la intervención,no obstante ser percibi<strong>do</strong> como un expertoen técnicas oratorias puede minimizar sucredibilidad. El público suele apreciar la<strong>na</strong>turalidad, incluso la espontaneidad (r.griega y del XX).La retórica asegura a lo largo de la historiaque se puede formar a las perso<strong>na</strong>s comoora<strong>do</strong>res, de hecho muestra caminos que lespermitan superar o al menos enfrentarse alos inconvenientes que ofrece esta actividad.Dichos caminos, que deben adaptarse al nivelde competencia de cada portavoz, se plasmanen seis líneas de trabajo:• Perfeccio<strong>na</strong>r la condiciones <strong>na</strong>turalesdel portavozEn general los maestros retóricosentienden que para hablar en público, talcomo ellos lo conciben, son precisas u<strong>na</strong>scondiciones <strong>na</strong>turales. No obstante, tambié<strong>na</strong>firman que el ora<strong>do</strong>r puede evolucio<strong>na</strong>r apartir de ellas. La formación permiteprecisamente que se amplíen los límites delos que parte.• Demostrar pasión al hablar en públicoLa actitud ante el aprendizaje es undetermi<strong>na</strong>nte para el avance. En este senti<strong>do</strong>cuan<strong>do</strong> se habla de pasión no deberíamoshacer referencia sólamente al calor que sele da a las palabras durante la intervención,sino al mo<strong>do</strong> en que el portavoz se hace cargode la preparación y de la valoración de susresulta<strong>do</strong>s.


724 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV• Aprender los conceptos y la técnicade la oratoriaLa oratoria es el arte o la técnica dehablar bien, su sistema proporcio<strong>na</strong> el ejede construcción del mensaje y sus preceptosorientan sobre la importancia de cuidarto<strong>do</strong>s los aspectos que entran en el juegode la comunicación cara a cara, persuasivapor <strong>na</strong>turaleza, de un hombre ante unpúblico.• Imitar a los que hablan bienLa observación es u<strong>na</strong> técnica de recogidade información que, u<strong>na</strong> vez procesada, puedeser realmente útil para el portavoz. Losmejores ora<strong>do</strong>res son u<strong>na</strong> fuente deaprendizaje y, aunque se trate de casos noenteramente brillantes, es muy posible quedestaquen por algún o algunos aspectos quepuedan ser aplica<strong>do</strong>s en u<strong>na</strong> próximacomparecencia del portavoz.• Practicar antes de la intervención ycomo méto<strong>do</strong> de mejoraEl trabajo previo al momento de encontrarseante el público es u<strong>na</strong> fórmula muy segura paracomprobar los aciertos y los posibles errores.Se trata de ejercitarse en la propia intervenció<strong>na</strong>ntes de ejecutarla ante el público y dereflexio<strong>na</strong>r sobre lo que proporcio<strong>na</strong> estaexperiencia, pero también de participar ensituaciones diversas que permitan experimentarel aprendizaje por la vía de la experiencia.• Escribir y leer como actividadeshabitualesQuien tiene habilidad en el uso de lapalabra escrita parte de un conocimiento queva a volcar sobre la transmisión oral. Escribirel discurso es u<strong>na</strong> manera de mejorarlo, tenerel hábito de la escritura suele proceder delde la lectura. Ambos son caminos de constantemejora del estilo y de la eficacia comunicativa.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO725BibliografíaBaylon, Ch. y Mignot, X, Lacomunicación, Madrid, Cátedra, 1996.Chomsky, Noam. Aspectos de la teoríade la sintaxis, Madrid, Aguilar, 1970.Ortega Carmo<strong>na</strong>, A., Retórica, Madrid,Fundación Canovas del Castillo, 1997, p. 42.Spang, K., Fundamentos de la retóricaliteraria y publicitaria, Pamplo<strong>na</strong>, Eunsa,1997.Watzlawick, P., Bavelas, J. B. y Jackson,D. D., Teoría de la comunicación huma<strong>na</strong>,Barcelo<strong>na</strong>, Herder, 1997._______________________________1Universidad Complutense de Madrid(Comisión de servicios en la Universidad Rey JuanCarlos hasta septiembre 2004)2El término competencia tiene su origen enla gramática generativa. Noam Chomsky se refierecon él al conocimiento que un hablante tiene desu propia lengua (N. Chomsky, Aspectos de lateoría de la sintaxis, Madrid, Aguilar, 1970).Posteriormente ha si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> por diferentesautores y discipli<strong>na</strong>s como la etnografía de lacomunicación, la lingüística y la semiótica,aportan<strong>do</strong> matices conceptuales desde los que sedefienden términos deriva<strong>do</strong>s como competencialingüística, competencia comunicativa ocompetencia pragmática. Es el de competenciacomunicativa, aporta<strong>do</strong> por los etnógrafos en lossesenta, el que más sintoniza con la categoría ala que nos referimos, ya que engloba el estudiode la comunicación verbal y la no verbal.3C. E. Sluzki, en P. Watzlawick, J. B. Bavelas,y D. D. Jackson, Teoría de la comunicaciónhuma<strong>na</strong>, Barcelo<strong>na</strong>, Herder, 1997, p. 13.4K. Spang, Fundamentos de la retóricaliteraria y publicitaria, Pamplo<strong>na</strong>, Eunsa, 1997,p. 18.5Ch. Baylon, y X. Mignot, La comunicación,Madrid, Cátedra, 1996, p. 202.6A. Ortega Carmo<strong>na</strong>, Retórica, Madrid,Fundación Canovas del Castillo, 1997, p. 42.


726 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO727O esta<strong>do</strong> da arte em Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l.1900 – 2000: um século de investigaçãoTeresa Ruão 1IntroduçãoO estu<strong>do</strong> da comunicação <strong>na</strong>s organizaçõestem-se revela<strong>do</strong> um campo de enorme<strong>potencial</strong>, pelo papel de destaque que assumiramas organizações <strong>na</strong>s sociedades contemporâneas.No entanto, o estabelecimentode uma identidade científica própria requerum percurso de afirmação progressiva, ondese cruzam as preocupações empíricas coma exigência de desenvolvimento de umamassa crítica de diferenciação teórica, capazde gerar novos conhecimentos. E a ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l tem vin<strong>do</strong> a procuraresse terreno de confirmação.Desde sempre, os estu<strong>do</strong>s <strong>na</strong> área seguiramde perto os desenvolvimentos produzi<strong>do</strong>s<strong>na</strong>s Ciências da Comunicação e nosEstu<strong>do</strong>s Organizacio<strong>na</strong>is, enfrentan<strong>do</strong> dificuldades<strong>na</strong> delimitação <strong>do</strong> seu objecto e <strong>na</strong>articulação de verdadeiras teorias da comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l. Esta é, aliás, uma dascríticas mais frequentes ao campo, a de queos investiga<strong>do</strong>res da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lforam negligentes <strong>na</strong> articulação dasinvestigações empíricas com pressupostosteóricos sustenta<strong>do</strong>s. Talvez, uma tal articulaçãosó seja possível depois de um percursode trabalho e de exploração de materialteórico e empírico, capaz de dar origem aum corpo de conhecimento solidifica<strong>do</strong>. Eisso exige tempo e depende de um conjuntode factores contextuais, como, aliás, podemosverificar quan<strong>do</strong> estudamos o <strong>na</strong>scimentode qualquer <strong>do</strong>mínio científico. A ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l parece estar ainda afazer esse percurso.Na verdade, as organizações constituemuma realidade complexa, mas absolutamentefundamental <strong>na</strong> análise social da actualidade.A comunicação organizacio<strong>na</strong>l é, por isso,ainda que recente, uma discipli<strong>na</strong> que vemdemonstran<strong>do</strong> pertinência científica. E, apesar<strong>do</strong> seu claro desenvolvimento <strong>na</strong>s últimasdécadas <strong>do</strong> século XX (sobretu<strong>do</strong> peloaumento expressivo da investigaçãoempírica), a definição <strong>do</strong> campo teórico quea caracteriza está longe de ser concluí<strong>do</strong>.Tompkins e Wanca-Thibault 2 atestam bemesta ideia, afirman<strong>do</strong> que ao entrarmos numnovo século, no momento em que as organizaçõesenfrentam um complexo ambienteglobal, os investiga<strong>do</strong>res continuam a desenvolveresforços para definir pontos de interesse,estabelecer fronteiras e encontrar pistaspara o futuro das Ciências da Comunicaçãono <strong>do</strong>mínio organizacio<strong>na</strong>l.Esta problematização <strong>do</strong> campoconceptual (teórico-meto<strong>do</strong>lógico) da discipli<strong>na</strong>de Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l constituio principal vector deste trabalho. Procurar-se-á,assim, fazer uma análise <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>actual da discipli<strong>na</strong>, a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><strong>do</strong> seu percurso histórico. Por isso, numprimeiro momento a<strong>na</strong>lisaremos o início <strong>do</strong>esforço de afirmação da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lcomo campo científico autónomo.Numa segunda fase discutiremos osprincipais quadros teóricos de investigaçãoque encontramos actualmente, como resulta<strong>do</strong>dessa evolução histórica e de umaherança multididiscipli<strong>na</strong>r. Num terceiroponto procederemos à catalogação <strong>do</strong>s temasde pesquisa <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, nos últimos anos.E termi<strong>na</strong>remos com uma reflexão sobre ofuturo da discipli<strong>na</strong>.2. Percurso histórico2.1 O perío<strong>do</strong> positivistaEmbora o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenómeno da comunicação<strong>na</strong>s organizações, em certo senti<strong>do</strong>,date da antiguidade 3 , os investiga<strong>do</strong>res tendema localizar a génese da discipli<strong>na</strong>, comocampo académico identificável, entre 1940e 1950 4 . Antes dessas datas, a literatura referesea um percurso evolutivo largo, onde sedestacam como raízes conceptuais <strong>do</strong> campo:a teoria retórica tradicio<strong>na</strong>l, as teorias dasrelações huma<strong>na</strong>s, e as primeiras teorias


728 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVorganizacio<strong>na</strong>is e de gestão. E surgem enunciadas,ainda, alianças estabelecidas comoutras discipli<strong>na</strong>s como: a Ciência da Administração,a Antropologia, a PsicologiaSocial, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Comportamento Organizacio<strong>na</strong>l,a Ciência Política, a Sócio-linguística,a Sociologia, a Retórica e até aCrítica Literária 5 . Ou seja, a emergência daComunicação Organizacio<strong>na</strong>l surge marcadapor uma herança diversa, recebida de outrasdiscipli<strong>na</strong>s científicas que cunham, até hoje,o “esta<strong>do</strong> da arte”.Os estu<strong>do</strong>s iniciais, que podemos jáclassificar como de Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l,usaram o modelo positivista quepre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>va <strong>na</strong> investigação científica emfi<strong>na</strong>is <strong>do</strong> século XIX, princípios <strong>do</strong> séculoXX. Segun<strong>do</strong> Redding e Tompkins 6 , estesprimeiros estu<strong>do</strong>s concentraram-se <strong>na</strong> análisedas questões da eficiência comunicativa,com objectivos de prescrição para as empresas.E, neste contexto, produziram-se exames,sobretu<strong>do</strong>, descritivos, onde o investiga<strong>do</strong>rse colocava como observa<strong>do</strong>r neutro <strong>do</strong>sfenómenos. Os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s, entre 1900e 1970, centraram-se em temas como acomunicação superior-subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>, as redesemergentes de comunicação e ca<strong>na</strong>is e oscomponentes <strong>do</strong> clima organizacio<strong>na</strong>l 7 . Trata-sede investigações que privilegiavam oestu<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo comunicativo e a suarelação com a eficiência organizacio<strong>na</strong>l, numaabordagem funcio<strong>na</strong>lista <strong>do</strong>s fenómenos. Etornou-se generaliza<strong>do</strong> o uso de méto<strong>do</strong>squantitativos, variáveis de análise e testeshipotético-dedutivos, suporta<strong>do</strong>s por abordagensmecanicistas, psicológicas e sistémicas.Redding e Tompkins 8 descrevem <strong>do</strong>ismomentos neste perío<strong>do</strong> de <strong>na</strong>scimento <strong>do</strong>sestu<strong>do</strong>s de Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lautónomos. O primeiro entre 1900 e 1940,corresponden<strong>do</strong> ao momento da preparaçãopara a emancipação, onde se destacam ostrabalhos sobre as competências comunicativas.E o segun<strong>do</strong>, entre 1940 e 1970, quedesig<strong>na</strong>ram de momento da identificação econsolidação, corresponden<strong>do</strong> à fase dasedimentação da “comunicação industrial ede negócio” (como foi então desig<strong>na</strong>da),enquanto discipli<strong>na</strong> científica autónoma.Neste perío<strong>do</strong> salienta-se o aparecimento depublicações especializadas no campo e o<strong>na</strong>scimento <strong>do</strong>s primeiros cursos de licenciatura.E destacam-se, ainda, duas datasparticulares: 1959 que foi denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> de “oano da cristalização”, corresponden<strong>do</strong> àcircunstância <strong>do</strong> reconhecimento académicoda área; e 1967, desig<strong>na</strong><strong>do</strong> de “ano daaceitação oficial”, marca<strong>do</strong> pela realizaçãoda primeira Conferência sobre ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l, em Hunstville-Alabama, quereuniu destaca<strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res, e permitiua produção de uma revisão sobre a pesquisarealizada 9 .Por volta da década de 60, a perspectivapositivista <strong>na</strong> investigação científica entra, noentanto, em declínio. Surgem novas argumentaçõesque põem em causa os postula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>“realismo ontológico, da objectividadeepistemológica e da axiologia livre de valores”10 típicas <strong>do</strong> positivismo clássico. Novasteorias emergem, apontan<strong>do</strong> para o facto dasobservações poderem também ser influenciadaspela posição teórica <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r. Taldeita por terra o principal argumento <strong>do</strong>spositivistas: a objectividade absoluta. Alémde colocar em causa o méto<strong>do</strong> da comprovaçãopelos senti<strong>do</strong>s. Afirmam-se, então,modelos alter<strong>na</strong>tivos de investigação, também<strong>na</strong> Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l, e emergemas perspectivas interpretativa e crítica.2.2 O Movimento InterpretativoA década de 70 vai marcar um ponto deviragem fundamental no desenvolvimento dasinvestigações em Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l.Inicia-se um novo perío<strong>do</strong>, no seupercurso de afirmação discipli<strong>na</strong>r, que ficoudesig<strong>na</strong><strong>do</strong> de momento da maturidade einovação, pelo crescimento da pesquisaempírica e pelo desenvolvimento das premissasteóricas <strong>do</strong> campo 11 .O principal vector desta mudança foi aafirmação das dimensões simbólica e expressivadas organizações nos estu<strong>do</strong>scomunicacio<strong>na</strong>is, com crescentes abordagensà questão da cultura organizacio<strong>na</strong>l 12 . Emboraos sociólogos estudassem a cultura hájá muitas décadas, os estu<strong>do</strong>s em gestão ea etnografia sugerem agora novos caminhos,que influenciam a discipli<strong>na</strong>. Sen<strong>do</strong> de referirtambém outros <strong>do</strong>mínios de interferênciacomo: a fenomenologia (de Husserl, 1964,1976; e Heidegger, 1962), o estruturalismo(de Saussure, 1915, 1966), ou mais especifi-


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO729camente a semiótica. O estruturalismo e asemiótica floresceram nos anos 60, e o seuimpacto no interpretativismo foi imediato,pelas mãos de Foucault (1969, 1972) eDerrida (1976, 1988) 13 .Um momento marcante neste perío<strong>do</strong> deviragem foi a realização da Conferência sobreAbordagens Interpretativas ao Estu<strong>do</strong> daComunicação Organizacio<strong>na</strong>l, em Alta – Utah(1981). Esta constituiu um encontro de investiga<strong>do</strong>resem Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l,<strong>na</strong> procura colectiva de alter<strong>na</strong>tivas aomodelo positivista. Uma das razões para estabusca de novas soluções estava relacio<strong>na</strong>dacom a insatisfação de muitos investiga<strong>do</strong>rescom os méto<strong>do</strong>s positivistas prevalecentes <strong>na</strong>área, e a sua visão restritiva <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sempíricos e da teoria. E uma segunda razãoligava-se à preocupação em distanciar apesquisa em Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s em gestão, <strong>na</strong> procura de umcaminho independente. E, em consequência,neste encontro afirmar-se-á a perspectivaemergente no estu<strong>do</strong> da comunicação <strong>na</strong>sorganizações: a abordagem interpretativa.Para os autores <strong>do</strong> movimentointerpretativo, as organizações deveriam serconceptualizadas como unidades de partilhade significa<strong>do</strong>s, e a comunicação a<strong>na</strong>lisadacomo um processo intrasubjectivo e socialmenteconstruí<strong>do</strong>. Estes investiga<strong>do</strong>res agregavam,assim, à Comunicação Organizacio<strong>na</strong>lpreocupações de análise das dimensõessimbólicas das organizações, que iam muitoalém <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s iniciais,centra<strong>do</strong>s no desenvolvimento de competênciaspráticas. O objectivo expresso de muitos<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s ditos interpretativos era mostrarcomo cada organização constitui uma realidadeparticular, que é socialmente produzidae desenvolvida, através de conversas, histórias,ritos, rituais e outras actividades diárias.Preocuparam-se com a questão da partilhade valores e práticas comuns, como fontesde harmonia das comunidades organizacio<strong>na</strong>is.E sugeriram a resolução de problemasde falta de senti<strong>do</strong> ou de legitimidade, pelaafirmação grupal e aculturação social 14 .Pela consideração desta tendênciainterpretativa de pesquisa, os tópicos deinvestigação mais aborda<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s revistas daespecialidade alteraram-se. A partir da décadade 80, a cultura organizacio<strong>na</strong>l e o simbolismotor<strong>na</strong>ram-se o terceiro tema maisfrequente, só antecedi<strong>do</strong> das relaçõesinterpessoais e das habilidades e estratégiascomunicativas. Tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se, também, visívela formalização <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s qualitativos depesquisa, para os quais se procurou a demonstração<strong>do</strong> seu grau de confiança e validade 15 .O campo de investigação da ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l abriu-se, assim, a novostemas, novas meto<strong>do</strong>logias e diferentesquadros teóricos. A viragem interpretativa, <strong>na</strong>década de 80, trouxe à discipli<strong>na</strong> maiorriqueza conceptual e meto<strong>do</strong>lógica.2.3 A Teoria Crítica e o Pós-ModernismoEntre 1980 e 1990, a ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l passa por um perío<strong>do</strong> de crisede legitimidade e representação, face àaplicação das teorias críticas ao seu <strong>do</strong>mínio16 . Um grupo de investiga<strong>do</strong>res, precisamenteno âmbito interpretativo, começou apôr em causa alguns <strong>do</strong>s pressupostos destatendência de pesquisa, nomeadamente alógica consensual de cultura organizacio<strong>na</strong>lunificada, sugerin<strong>do</strong> uma maior atenção aosseus pontos de fragmentação, tensão e conflito.Desta forma, alguma pesquisa foi-semoven<strong>do</strong> para uma esfera mais crítica, pelaconsideração de uma certa intençãohegemónica nos fenómenos de comunicaçãoorganizacio<strong>na</strong>l. Ora, estas alterações da linhade pensamento inicial foram conduzin<strong>do</strong> parteda investigação interpretativa para outros <strong>do</strong>istipos de discurso: o crítico e o pós-moderno.A teoria crítica é uma abordagem cominfluência transversal <strong>na</strong>s ciências sociais, quesugeriu a análise das dinâmicas de poder edas questões políticas nos estu<strong>do</strong>s de ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l. As organizaçõespassaram a ser descritas como locais políticos,onde se debatem questões de hegemoniae assimetria, mediadas pelo poder. Sen<strong>do</strong> queas diferentes formas de exercício <strong>do</strong> poder,como distorções comunicativas, roti<strong>na</strong>s,normalizações ou falsos consentimentos,produziriam efeitos negativos sobre os processosde tomada de decisão e gerariamconflitos organizacio<strong>na</strong>is. As organizações,entendidas como instituições positivas eimportantes ao desenvolvimento social, estariam,assim, sujeitas a significativas perdase ineficiência por via destas formas de poder


730 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVe <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção. E, sem pôr em causa apertinência da abordagem interpretativa, ateoria crítica passou a constituir uma formade discurso sobre a comunicação <strong>na</strong>s organizações,a par com outras tendências 17 .A abordagem pós-moder<strong>na</strong> nos estu<strong>do</strong>sem Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l, por seula<strong>do</strong>, resultou de uma radicalização da perspectivacrítica, que ganhou visibilidade <strong>na</strong>literatura organizacio<strong>na</strong>l, também nos anos90. Tal como a perspectiva crítica, os estu<strong>do</strong>sditos pós-modernos preocuparam-se coma assimetria e <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção no processo decomunicação organizacio<strong>na</strong>l, mas evitaram apredefinição de grupos e tipos de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção.Pelo contrário procuraram estudar osindivíduos margi<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s e os micro-processosde poder e resistência. A <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>çãopassou a ser entendida como situacio<strong>na</strong>l esem lugar nem origem. Mesmo as identidadesindividuais ou grupais não poderiam serfixadas nem unitárias. Neste senti<strong>do</strong>, estaabordagem afastou-se das <strong>na</strong>rrativas globais,procuran<strong>do</strong> resolver problemas de margi<strong>na</strong>lidadee supressão de conflito. Mais <strong>do</strong> quea reformulação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, os estu<strong>do</strong>s pósmodernosprocuraram mostrar a parcialidadeda realidade e os pontos escondi<strong>do</strong>s daresistência e complexidade organizacio<strong>na</strong>l.A década de 90 foi, portanto, uma fasede desenvolvimento teórico e empírico noseio da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l, pelaintegração de abordagens transversais a outros<strong>do</strong>mínios científicos.3. A<strong>na</strong>lisar o presente3.1 Os Quadros de Investigação ContemporâneosOs primeiros anos <strong>do</strong> século XXI parecemconstituir o momento de seguir o presente,acompanhan<strong>do</strong> os últimos desafios quese impõem ao campo, e que Taylor e Trujillo 18identificaram, como: a teoria crítica, o feminismo,os estu<strong>do</strong>s étnicos e o pós-modernismo.Trata-se de abordagens teóricas ou<strong>do</strong>mínios de análise de eleição da investigaçãoem Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l nosúltimos anos.Este quadro da pesquisa resultou, emgrande medida, da mudança operada emmea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX. Depois <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>positivista, e a partir de 1970, emergem novasabordagens ao fenómeno da comunicação <strong>na</strong>sorganizações, agora menos prescritivas e maisa<strong>na</strong>líticas. E o quadro de investigação passaa caracterizar-se pela coexistência de váriasmeto<strong>do</strong>logias de pesquisa e discursos teóricosno seio da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l.Num esforço de sistematizar esse quadrode investigação, Deetz 19 identificou quatrotendências visíveis nos estu<strong>do</strong>s actuais. Aprimeira desig<strong>na</strong>-a de abordagem normativa,que emerge de um repensar das posiçõespositivistas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> (opon<strong>do</strong>-se aos princípiosda objectividade absoluta, da dependênciada observação e <strong>do</strong> caminhosequencial da cumulação <strong>do</strong> saber), maspartin<strong>do</strong>, ainda assim, <strong>do</strong> pressuposto que asorganizações são algo <strong>na</strong>tural e objectivo,pelo que passíveis de previsão e controlo.A segunda seria a abordagem interpretativa,que considera que as organizações são, pelocontrário, formas subjectivas, socialmenteconstruídas pelos seus membros, deven<strong>do</strong> osestu<strong>do</strong>s em comunicação levar em consideraçãoessa característica. A terceira correspondeà abordagem crítica, que a<strong>na</strong>lisa osprocessos sociais e comunicativos que criamcondições à emergência da hegemonia <strong>na</strong>sorganizações. E, por último temos a abordagempós-modernista que desig<strong>na</strong> os estu<strong>do</strong>sem comunicação organizacio<strong>na</strong>l que sepreocupam com as assimetrias, amargi<strong>na</strong>lidade e os focos de resistênciaorganizacio-<strong>na</strong>is. E é neste quadro de programasde discurso e pesquisa que se encontrahoje a investigação em Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l,como uma herança histórica einterdiscipli<strong>na</strong>r.3.2 Os Temas Domi<strong>na</strong>ntesPara além desta catalogação das tendênciaspresentes <strong>na</strong> investigação e discurso daComunicação Organizacio<strong>na</strong>l contemporânea,existe ainda um outro caminho para aferiro “esta<strong>do</strong> da arte”: o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s tópicos maisinvestiga<strong>do</strong>s. Trata-se da compilação e catalogação<strong>do</strong>s temas mais explora<strong>do</strong>s <strong>na</strong> áreae publica<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s revistas da especialidade.Destacan<strong>do</strong> as pesquisas mais recentes,referimos o trabalho de Allen, Gotcher eSeibert 20 sobre os tópicos mais a<strong>na</strong>lisa<strong>do</strong>s emrevistas científicas <strong>do</strong> campo, entre 1980 e1991. Neste estu<strong>do</strong>, considera<strong>do</strong> como o mais


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO731exaustivo <strong>do</strong>s últimos anos, os autores referem-sea 17 áreas de análise no <strong>do</strong>mínioda comunicação <strong>na</strong>s organizações: (1) relaçõesinterpessoais; (2) competências comunicativase estratégias; (3) cultura e simbolismo;(4) fluxos e ca<strong>na</strong>is de informação; (5)poder e influência; (6) processos de tomadade decisão e resolução de problemas; (7) redesde comunicação; (8) estilos de comunicaçãoe gestão; (9) interfaces organização-ambiente;(10) tecnologia; (11) linguagem e conteú<strong>do</strong>sdas mensagens; (12) estrutura; (13)incerteza e adequação da informação; (14)grupos e eficiência organizacio<strong>na</strong>l; (15) ética;(16) pesquisa transcultural; e (17) climaorganizacio<strong>na</strong>l.Putman, Philips e Chapman 21 , por seula<strong>do</strong>, desenvolveram aquela que é desig<strong>na</strong>dacomo a revisão mais abrangente e origi<strong>na</strong>lda evolução da pesquisa em ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l. Na tentativa de organizaremos discursos produzi<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>mínio, a partir<strong>do</strong>s temas trata<strong>do</strong>s, identificaram 7 clustersmetafóricos: (1) conduta, (2) lente, (3) ligação,(4) desempenho, (5) símbolo, (6) voze (7) discurso.A metáfora da conduta identifica osestu<strong>do</strong>s em que as organizações são tratadascomo “contentores” ou ca<strong>na</strong>is de fluxos deinformação e comunicação. A ideia da lentecaracteriza os trabalhos em que a comunicaçãoé vista como um sistema perceptualque monitoriza o ambiente, filtra a informação,e desenvolve modelos de conexão. Ocluster da ligação representa as investigaçõescentradas <strong>na</strong> análise <strong>do</strong>s sistemas e redes decontacto organizacio<strong>na</strong>l. A ideia daperformance classifica as pesquisas dedicadasao estu<strong>do</strong> da forma como a comunicaçãocoorde<strong>na</strong> acções e interacções sociais. Ametáfora <strong>do</strong> símbolo é usada para catalogaros trabalhos que representam as organizações,essencialmente, como lugares onde se produzemactividades interpretativas. A vozdesig<strong>na</strong> os estu<strong>do</strong>s em que a comunicaçãoé apresentada como a expressão da própriaorganização. E, por fim, o cluster <strong>do</strong> discursointegra as pesquisas que privilegiam,<strong>na</strong> organização, os textos, diálogos, génerose outras manifestações discursivas.Como podemos constatar, a análisetemática vai de encontro ao estu<strong>do</strong> histórico,já que reflecte a consideração <strong>do</strong>s tópicosliga<strong>do</strong>s às competências comunicativas(corresponden<strong>do</strong> às preocupações iniciais <strong>do</strong>campo), mas também o estu<strong>do</strong> das linguagens,da cultura e <strong>do</strong> simbolismo (resultantes<strong>do</strong>s movimentos interpretativo, crítico e pósmoderno).Ainda que, actualmente, permaneçamas preocupações de melhorar aperformance comunicativa das organizações,caminha-se para temáticas mais políticas ecríticas.4. O futuro da discipli<strong>na</strong>Em 1989, Charles Redding, um nomeincontornável no estu<strong>do</strong> da comunicação <strong>na</strong>sorganizações, afirmava que para adivinhar ofuturo era necessário conhecer o passa<strong>do</strong> 22 .Ora esse foi o procedimento que a<strong>do</strong>ptámosneste trabalho. O que nos leva a sugerir queo futuro da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l, àsemelhança <strong>do</strong> seu percurso passa<strong>do</strong>, implicaráa convivência de vários méto<strong>do</strong>s, teoriasecléticas, pressupostos diferencia<strong>do</strong>s e,inevitavelmente, muito rigor.Como podemos constatar pela revisãoda literatura efectuada, a diversidade teóricometo<strong>do</strong>lógicaconstitui um factor defini<strong>do</strong>r<strong>do</strong> percurso histórico da Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l.A sua emergência, enquantodiscipli<strong>na</strong> diferenciada, é relativamente recente(acontecen<strong>do</strong> por volta de 1940, nos EUA)e enquadra-se no entendimento da épocasobre a comunicação huma<strong>na</strong> e, em particular,sobre o papel da comunicação <strong>na</strong>sorganizações. Neste contexto, o ponto departida para o <strong>na</strong>scimento <strong>do</strong> campo começoupor ser o estu<strong>do</strong> das necessidades práticase teóricas das organizações, como formade melhorar as suas apetências comunicativase, desta forma, desenvolver a suaperformance económica. Trata-se de umavisão, que hoje podemos considerar, algolimitada <strong>do</strong> papel da comunicação <strong>na</strong>s organizações,mas que perdurou nos primeirosestu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s (1940-1950). O grandesalto <strong>na</strong> conceptualização <strong>do</strong> campo aconteceucom o aparecimento das teorias sistémicasda organização, que reconhecem à comunicaçãoum papel fundamental.Com os estu<strong>do</strong>s sistémicos, a investigaçãoprecipita-se da metáfora da organizaçãocomo “contentora” de comunicação para asua visão como fundamental ao estu<strong>do</strong> das


732 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IVorganizações. Nessa medida, as organizaçõesdeveriam ser vistas como sistemas ondeinteragem indivíduos, que pela comunicaçãoestão activamente envolvi<strong>do</strong>s no processo decriar e recriar a sua ordem social única. Comoafirma Tompkins 23 “a comunicação constituiriaa organização”.Com esta evolução, a discipli<strong>na</strong> passa arevelar um objecto de estu<strong>do</strong> específico econsistente: o estu<strong>do</strong> da comunicação huma<strong>na</strong>em contexto organizacio<strong>na</strong>l. Consideran<strong>do</strong>-sea comunicação como um processocentral à vida da organização, e que, emborarevelan<strong>do</strong> <strong>na</strong>turais semelhanças com qualqueracto de comunicação huma<strong>na</strong>, integraria,também, particularidades resultantes <strong>do</strong> contextoem que ocorre. Assim, concordamoscom a definição de Mumby 24 para a ComunicaçãoOrganizacio<strong>na</strong>l, como o processo decriação de estruturas de significa<strong>do</strong> colectivase coorde<strong>na</strong>das, através de práticas simbólicasorientadas para atingir objectivosorganizacio<strong>na</strong>is. E seriam esses princípios,<strong>do</strong> colectivo e da orientação para aperformance organizacio<strong>na</strong>l, que tor<strong>na</strong>m ofenómeno num objecto científico particular,justifican<strong>do</strong> a afirmação discipli<strong>na</strong>r, emmea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX.Mas tal não significou a eleição de umameto<strong>do</strong>logia de estu<strong>do</strong> única ou de uma abordagemteórica unificada. Antes a discipli<strong>na</strong> secaracterizou pelo recurso a vários méto<strong>do</strong>s ediversos paradigmas teóricos, que trouxe, emparticular, das Ciências da Comunicação e <strong>do</strong>sEstu<strong>do</strong>s Organizacio<strong>na</strong>is. E, embora se discuta,ainda hoje, a identidade da discipli<strong>na</strong> deComunicação Organizacio<strong>na</strong>l, como campoautónomo <strong>do</strong> saber, tendemos a considerar quea unidade discipli<strong>na</strong>r não implica um únicométo<strong>do</strong> de pesquisa, um único nível de análise,ou uma única abordagem teórica. Talvez, sejanessa diversidade teórico-meto<strong>do</strong>lógica quereside a sua riqueza conceptual. Consideramosque a Comunicação Organizacio<strong>na</strong>l pode beneficiarda co-ocorrência de múltiplas abordagensmetateóricas e transdiscipli<strong>na</strong>res.


COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO733BibliografiaAllen, B. J., Tompkins, P. K. eBusemeyer, S., “Organizatio<strong>na</strong>lCommunication”, in Salwen e Starcks (eds.),An integrated approach to communicationtheory and research, N. J., LawrenceErlbaum, 1996, pp. 383-395.Allen, M. W., Gotcher, J. M. e Seibert,J.H., “A decade of organizatio<strong>na</strong>lcommunication research: jour<strong>na</strong>l articles1980-1991”, in S.A. Deetz (ed.),Communication Yearbook, 16, NewsburyPark, CA, Sage, 1993, pp. 252-330.Buzzanell, P. M. e Stohl, C., “TheRedding tradition of organizatio<strong>na</strong>lcommunication scholarship: W. CharlesRedding and his legacy”, CommunicationStudies, vol. 50, nº4, 1999, pp. 324 – 337.Cheney, G., “Interpreting InterpretiveResearch”, in S. R. Corman e M. S. Poole(eds.), Perspectives on Organizatio<strong>na</strong>lCommunication: finding common ground,New York, The Guilford Press, 2000, pp. 17– 45.Deetz, S., “Describing the differences i<strong>na</strong>pproaches to organization science: rethinkingBurrell and Morgan and their legacy”,Organization Science, nº 7, 1996, pp. 191-207.Deetz, S., “Conceptual foundations”, inF. M Jablin e L. L. Putman (eds.), The newhandbook of Organizatio<strong>na</strong>l Communication,Advances in Theory, Research and Methods,Thousand Oaks: Sage Publications, 2001, pp.3 - 46.Jablin, M. J. e Putman, L. L. (eds.), Thenew handbook of Organizatio<strong>na</strong>lCommunication, Advances in Theory,Research and Methods, Thousand Oaks, SagePublications, 2001.Miller, K., “Common ground from thepost-positivist perspective. From “strawperson” argument to collaborativecoexistence”, in S.R. Corman e M.S. Poole(eds.), Perspectives on Organizatio<strong>na</strong>lCommunication: finding common ground,New York, The Guilford Press, 2000, pp. 47– 67.Mumby, D., “Power and Politics”, in F.M. Jablin e L. L. Putman (eds.), The newhandbook of Organizatio<strong>na</strong>l Communication,Advances in Theory, Research and Methods,Thousand Oaks, Sage Publications, 2001, pp.585 – 623Putman, L. L., Philips, N. e Chapman,P. “Metaphors of communications an<strong>do</strong>rganization”, in S. R. Clerg, C. Hardy e W.R. Word (eds.), Handbook or Organizatio<strong>na</strong>lStudies, Thousand Oaks, Sage, 1996, pp. 375- 408.Reddind, W.C. e Tompkins, P.K.“Organizatio<strong>na</strong>l communication: past andpresent tenses”, in G. Goldhaber e G. Barnett(eds.), Handbook of Organizatio<strong>na</strong>lCommunication, New York, Ablex, 1988.Taylor, B. C. e Trujillo, N., “QualitativeResearch Methods”, in F.M Jablin e L.L.Putman (eds.), The new handbook ofOrganizatio<strong>na</strong>l Communication, Advances inTheory, Research and Methods, ThousandOaks, Sage Publications, 2001, pp. 161 – 194.Taylor, J. R., Fla<strong>na</strong>gin, A. J., Cheney, G.e Seibold, D. R. “Organizatio<strong>na</strong>l CommunicationResearch: key moments, central concepts andfuture challenges”, in W. B. Gudykunst (ed.),Communication Yearbook 24, Thousand Oaks,Sage Publications, 2001, pp. 99 – 137.Tompkins, P. K., “The functions ofcommunication in organizations”, in C.Arnold e J. Bowers (eds.), Handbook ofrhetorical and communication theory, NewYork, Allyn & Bacon, 1984, pp. 659-719.Tompkins, P. K. e Wanca-Thibault, M.,“Organizatio<strong>na</strong>l Communication, Prelude andProspects”, in F.M Jablin e L.L. Putman(eds.), The new handbook of Organizatio<strong>na</strong>lCommunication, Advances in Theory,Research and Methods, Thousand Oaks, SagePublications, 2001, pp. xvii – xxxi._______________________________1Universidade <strong>do</strong> Minho.2P.K. Tompkins e M. Wanca-Thibault,“Organizatio<strong>na</strong>l Communication, Prelude andProspects”, in F. M. Jablin e L. L. Putman (eds.),The new handbook of Organizatio<strong>na</strong>lCommunication, Advances in Theory, Researchand Methods, Thousand Oaks, Sage Publications,2001, pp. xvii – xxxi.3Cf. B. J. Allen, P. K. Tompkins e S.Busemeyer, “Organizatio<strong>na</strong>l Communication”, inSalwen e Starcks (eds.), An integrated approachto communication theory and research, New York,Lawrence Erlbaum, 1996, pp. 383-395.


734 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV4Cf. W.C. Redding e T.K. Tompkins,“Organizatio<strong>na</strong>l communication: past and presenttenses”, in G. Goldhaber e G. Barnett (eds.),Handbook of Organizatio<strong>na</strong>l Communication, NewYork, Ablex, 1988.B.C Taylor e N. Trujillo,“Qualitative Research Methods”, in F.M Jablin eL.L. Putman (eds.), The new handbook ofOrganizatio<strong>na</strong>l Communication, Advances inTheory, Research and Methods, Thousand Oaks,Sage Publications, 2001, pp. 161 – 194. M. J.Jablin e L.L. Putman, (eds.) The new handbookof Organizatio<strong>na</strong>l Communication, Advances inTheory, Research and Methods, Thousand Oaks,Sage Publications, 2001.5J.R. Taylor, A. J. Fla<strong>na</strong>gin, G. Cheney e D.R. Seibold, “Organizatio<strong>na</strong>l CommunicationResearch: key moments, central concepts andfuture challenges”, in W.B. Gudykunst (ed.),Communication Yearbook 24, Thousand Oaks,Sage Publications, 2001, pp. 99 – 137.6Ob. Cit. pág. 3.7Como atestam os trabalhos de revisão deTompkins, 1967, Redding, 1972 e Jablin, 1978,in Tompkins e Wanca-Thibault ob. cit. pág. 2.8Ob. Cit. pág. 2.9C. Redding, 1985, in Taylor e Trujillo, ob.cit. pág. 3.10K. Miller, “Common ground from the postpositivistperspective. From“‘straw person’ argumentto collaborative coexistence”, in S.R. Corman e M.S.Poole (eds.), Perspectives on Organizatio<strong>na</strong>lCommunication: finding common ground, New York,The Guilford Press, 2000, pp. 47 – 67.11Redding e Tompkins, Ob. Cit. pág. 3.12Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3.13Taylor, Fla<strong>na</strong>gin, Cheney e Seibold, ob.cit. pág. 3.14G. Cheney, “Interpreting InterpretiveResearch”, in S.R. Corman e M.S. Poole (eds.),Perspectives on Organizatio<strong>na</strong>l Communication:finding common ground, New York, The GuilfordPress, 2000, pp. 17 – 45.15Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3.16Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3.17S. Deetz, “Conceptual foundations”, in F.M. Jablin e L. L. Putman (eds.), The new handbookof Organizatio<strong>na</strong>l Communication, Advances inTheory, Research and Methods, Thousand Oaks:Sage Publications, 2001, pp. 3-46.18Ob. cit. pág. 3.19S. Deetz, “Describing the differences i<strong>na</strong>pproaches to organization science: rethinkingBurrell and Morgan and their legacy”,Organization Science, nº 7, 1996, pp. 191-207 eob. cit. pág. 8.20M. W. Allen, J.M. Gotcher, e J.H. Seibert,“A decade of organizatio<strong>na</strong>l communicationresearch: jour<strong>na</strong>l articles 1980-1991”, in S.A.Deetz (ed.), Communication Yearbook, 16,Newsbury Park, CA, Sage, 1993, pp. 252-330.21L. L. Putman, N. Philips e P. Chapman,“Metaphors of communications and organization”,in S. R. Clerg, C. Hardy e W. R. Word (eds.),Handbook or Organizatio<strong>na</strong>l Studies, ThousandOaks, Sage, 1996, pp. 375-40822P. M. Buzzanell, e C. Stohl, “The Reddingtradition of organizatio<strong>na</strong>l communicationscholarship: W. Charles Redding and his legacy”,Communication Studies, vol. 50, nº4, 1999, pp.324 – 337.23P. K. Tompkins, “The functions ofcommunication in organizations”, in C. Arnold eJ. Bowers (eds.), Handbook of rhetorical andcommunication theory, New York, Allyn & Bacon,1984, pp. 659-719.24D. Mumby, “Power and Politics”, in F. M.Jablin e L. L. Putman (eds.), The new handbookof Organizatio<strong>na</strong>l Communication, Advances inTheory, Research and Methods, Thousand Oaks,Sage Publications, 2001, pp. 585 – 623


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