08.05.2013 Views

Pseudomonas aeruginosa: Um alerta aos profissionais de saúde

Pseudomonas aeruginosa: Um alerta aos profissionais de saúde

Pseudomonas aeruginosa: Um alerta aos profissionais de saúde

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Rev Panam Infectol 2010;12(2):44-50.<br />

44<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>:<br />

<strong>Um</strong> <strong>alerta</strong> <strong>aos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: An alert to the professionals of health<br />

Hel<strong>de</strong>r Ferreira 1<br />

Eliane Raquel Peres Lala 2<br />

1 Mestre em Análises Clínicas - Bacteriologia Médica.<br />

Professor <strong>de</strong> Microbiologia. Grupo <strong>de</strong> Pesquisa<br />

em Saú<strong>de</strong> Coletiva. Departamento <strong>de</strong> Enfermagem<br />

da Universida<strong>de</strong> Estadual do Oeste do<br />

Paraná – UNIOESTE. Foz do Iguaçu, PR, Brasil.<br />

2 Mestre em Ciências da Saú<strong>de</strong> - Professora <strong>de</strong><br />

Bioestatística, Vinculada à Pós-Graduação da Universida<strong>de</strong><br />

Estadual do Oeste do Paraná – UNIOES-<br />

TE. Foz do Iguaçu, PR, Brasil.<br />

Rev Panam Infectol 2010;12(2):44-50.<br />

Conflicto <strong>de</strong> intereses: ninguno<br />

ARTÍCULO DE REVISIÓN/ARTIGO DE REVISÃO<br />

Recibido en 30/3/2009.<br />

Aceptado para publicación en 13/1/2010.<br />

Resumo<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> é a principal causa <strong>de</strong> infecções<br />

hospitalares entre os bacilos Gram-negativos não-fermentadores<br />

<strong>de</strong> glicose, acometendo principalmente pacientes imunossuprimidos.<br />

No ambiente hospitalar, as fontes <strong>de</strong> maior contaminação<br />

são os aparelhos <strong>de</strong> respiração, sistemas <strong>de</strong> hemodiálise, pias e<br />

artefatos <strong>de</strong> limpeza. A colonização <strong>de</strong> pacientes hospitalizados<br />

po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r a 50%, principalmente em pacientes internados<br />

em UTIs, que facilmente são colonizados <strong>de</strong>vido a constante<br />

exposição a procedimentos invasivos. Em pacientes com ventilação<br />

mecânica, 75% das pneumonias são causadas por bactérias<br />

Gram-negativas, e entre elas, P. <strong>aeruginosa</strong> é a primeira causa.<br />

Outras infecções hospitalares frequentemente causadas por<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> são as do trato urinário, peritonites em pacientes<br />

submetidos a diálise peritoneal, bacteremias e infecções <strong>de</strong><br />

cirurgias. As bacteremias e as septicemias ocorrem principalmente<br />

em pacientes com neoplasias, renais crônicos, diabéticos<br />

e com distúrbios cardiopulmonares, resultando em alta taxa <strong>de</strong><br />

mortalida<strong>de</strong>, que chega a 61%. A relevância <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong><br />

como um patógeno hospitalar também está associada em sua<br />

relativa resistência <strong>aos</strong> antibióticos e à suscetibilida<strong>de</strong> diminuída<br />

<strong>aos</strong> antissépticos e <strong>de</strong>sinfetantes. A prevenção e o controle da<br />

colonização e da infecção por P. <strong>aeruginosa</strong> exige o uso pru<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> antimicrobianos, a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>finitiva dos <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

às práticas <strong>de</strong> higiene das mãos, precauções criteriosas com<br />

amostras multirresistentes e a<strong>de</strong>são às técnicas <strong>de</strong> limpeza do<br />

ambiente e dos equipamentos médicos e hospitalares. Por ser a<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> um micro-organismo causador <strong>de</strong> inúmeros casos<br />

<strong>de</strong> infecção hospitalar, optou-se por um trabalho <strong>de</strong> revisão,<br />

chamando a atenção para tal micro-organismo.<br />

Palavras-chave: <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>, infecção hospitalar,<br />

revisão.<br />

Abstract<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> is the main cause of hospital infections<br />

among the Gram negative bacilli no glucose fermentor,<br />

mainly attacking immunocompromised patient. In the hospital<br />

atmosphere, the sources of larger contamination are the respi-


atory equipments, hemodialysis systems, sinks and<br />

cleaning workmanships. The hospitalized patients’<br />

colonization, can exceed to 50%, mainly in patients<br />

hospitalized in intensive care units that are colonized<br />

due to the constant exhibition to invasive procedures.<br />

In patients with mechanical ventilation, 75% of the<br />

pneumonias are caused by Gram negative bacterias,<br />

and among them, P. <strong>aeruginosa</strong> is the first cause. Other<br />

hospital infections frequently caused by P. <strong>aeruginosa</strong><br />

are those of urinary tract, peritonites in patients<br />

submitted to the dialysis peritoneal, bacteremias and<br />

surgery infections, in patients with neoplasias, renal<br />

chronic, diabetics and with Cardiopulmonary disor<strong>de</strong>r<br />

resulting in high mortality that arrives to 61%. The<br />

relevancy of P. <strong>aeruginosa</strong> as hospital pathogens is also<br />

associated with its relative resistance to the antibiotics<br />

and the low susceptibility to the antiseptic and disinfecting.<br />

The prevention and the control of colonization<br />

and infection by P. <strong>aeruginosa</strong> <strong>de</strong>mands the careful use<br />

of antimicrobial, compliance of health professionals<br />

with hand hygiene practices, discerning precautions<br />

with multirresistents samples and adhesion to the<br />

techniques of atmosphere and of the hospital medical<br />

equipments cleaning. P. <strong>aeruginosa</strong> as a microorganism<br />

cause of countless cases of hospital infections it opted<br />

for a work review, calling the attention of such a<br />

microorganism.<br />

Key words: <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>, hospital<br />

infections, review.<br />

Introdução<br />

Características gerais<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> é um importante patógeno<br />

humano que está frequentemente associado a<br />

infecções hospitalares, acometendo, principalmente,<br />

pacientes imunossuprimidos. Esta espécie bacteriana<br />

tem sido consi<strong>de</strong>rada um patógeno oportunista, uma<br />

vez que, raramente, está associada a infecções comunitárias<br />

em indivíduos imunocompetentes. (1)<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> pertence à família<br />

Pseudomonadaceae e apresenta-se na forma <strong>de</strong> bastonetes<br />

<strong>de</strong> 0,5 a 0,8 µm <strong>de</strong> largura por 1,5 a 3,0 µm<br />

<strong>de</strong> comprimento. É um bacilo Gram-negativo, aeróbio,<br />

não-esporulado, não-fermentador <strong>de</strong> glicose e móvel<br />

<strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> um flagelo polar. (2) As células <strong>de</strong><br />

P. <strong>aeruginosa</strong> po<strong>de</strong>m ser visualizadas ao microscópio<br />

como isoladas, <strong>aos</strong> pares ou em ca<strong>de</strong>ias curtas. (3)<br />

O primeiro relato <strong>de</strong>stes micro-organismos foi realizado<br />

por Luke, em 1862, com observação <strong>de</strong> pus <strong>de</strong><br />

cor azul esver<strong>de</strong>ada presente em algumas infecções<br />

purulentas. (1) Essa mesma coloração havia sido relatada<br />

por outros pesquisadores e, <strong>de</strong>vido a este fato,<br />

inicialmente foi chamada Bacillus pyocyaneus. Esta<br />

coloração po<strong>de</strong> realmente ser verificada em quadros<br />

Ferreira H, Peres Lala ER • <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: <strong>Um</strong> <strong>alerta</strong> <strong>aos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

infecciosos quando P. <strong>aeruginosa</strong> é o agente etiológico,<br />

pois esta espécie produz com maior frequência<br />

os pigmentos piocianina, <strong>de</strong> cor azul, e pioverdina<br />

(fluorescente), que dá a cor ver<strong>de</strong> brilhante característica<br />

<strong>de</strong>sta espécie. Além <strong>de</strong>sses pigmentos, algumas<br />

amostras produzem outros pigmentos hidrossolúveis,<br />

como a piorrubina <strong>de</strong> cor avermelhada e a piomelanina,<br />

<strong>de</strong> cor marrom e preto. (4,5)<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> é uma bactéria relativamente fácil<br />

<strong>de</strong> ser reconhecida em cultura, levando-se em consi<strong>de</strong>ração<br />

as características <strong>de</strong> suas colônias, a formação<br />

<strong>de</strong> pigmento e seu odor típico. Suas colônias<br />

têm variação morfológica, po<strong>de</strong>ndo ser puntiforme,<br />

gelatinosa, rugosa ou mucosa. (6) A forma mucoi<strong>de</strong><br />

ocorre <strong>de</strong>vido à produção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

um polissacarí<strong>de</strong>o extracelular, o alginato, i<strong>de</strong>ntificada<br />

em amostras clínicas <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> fibrose cística. (7)<br />

Cepas mucoi<strong>de</strong>s formam agregados <strong>de</strong> colônias mais<br />

firmes, que superam os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e que<br />

permitem maior a<strong>de</strong>rência a superfícies celulares.<br />

A composição física e química (polianiônica) da<br />

membrana externa <strong>de</strong>ste micro-organismo <strong>de</strong>monstra<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barreira à passagem <strong>de</strong> substâncias, como<br />

antibióticos e antissépticos, que precisam saturar toda<br />

a sua superfície antes da penetração, conferindo maior<br />

resistência a essas cepas. (8)<br />

A bactéria P. <strong>aeruginosa</strong> é invasiva e toxigênica.<br />

Além <strong>de</strong> sua estrutura externa e componentes da<br />

superfície celular, produz metabólitos extracelulares<br />

(elastases, proteases), que estão envolvidos na patogênese<br />

das infecções. (3)<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> po<strong>de</strong> colonizar vários tecidos, <strong>de</strong>vido<br />

principalmente à presença <strong>de</strong> fímbria e à cápsula<br />

mucoi<strong>de</strong> (alginato). A cápsula possibilita a<strong>de</strong>rência à<br />

superfície da mucosa normal, é antifagocitária e permite<br />

também a formação <strong>de</strong> microcolônias, <strong>de</strong>nominadas<br />

biofilme, que são fortemente a<strong>de</strong>ridas e recobertas por<br />

um material espesso, constituído pelo próprio alginato,<br />

lipopolissacarí<strong>de</strong>o (LPS) e proteína. (9) Em sua maioria,<br />

os biofilmes estão presentes em próteses vasculares,<br />

articulares, cateteres, drenos e nos pulmões <strong>de</strong> indivíduos<br />

acometidos por fibrose cística. (10)<br />

Em relação à invasão tecidual por P. <strong>aeruginosa</strong>,<br />

fosfatase alcalina, exoenzima S, citotoxina, elastase,<br />

exotoxina A, lipase e fosfolipase são os principais<br />

produtos extracelulares que estão relacionados a<br />

esse processo.<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> po<strong>de</strong> ser isolada <strong>de</strong> água, plantas,<br />

solo e tecidos animais e tem habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar<br />

vários substratos orgânicos como fontes <strong>de</strong> carboidrato.<br />

Esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver em diferentes ambientes<br />

a torna uma bactéria ubíqua. (3) Sua presença na água<br />

do solo contribui para que chegue <strong>aos</strong> vegetais e até<br />

ao intestino humano. Por ter predileção por locais úmi-<br />

45


Rev Panam Infectol 2010;12(2):44-50.<br />

dos, P. <strong>aeruginosa</strong> é encontrada com maior facilida<strong>de</strong><br />

em áreas do corpo humano como orofaringe, axilas,<br />

períneo e mucosa nasal, sendo o trato gastrointestinal<br />

sua principal área <strong>de</strong> colonização.<br />

Infecções causadas por <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong><br />

Segundo Carmeli et al., (11) P. <strong>aeruginosa</strong> é a principal<br />

causa <strong>de</strong> infecções hospitalares entre os bacilos<br />

Gram-negativos não-fermentadores <strong>de</strong> glicose. No ambiente<br />

hospitalar, as fontes <strong>de</strong> maior contaminação são<br />

os aparelhos <strong>de</strong> respiração, sistemas <strong>de</strong> hemodiálise,<br />

pias e artefatos <strong>de</strong> limpeza. A taxa <strong>de</strong> colonização por<br />

P. <strong>aeruginosa</strong> na mucosa e pele <strong>de</strong> pacientes hospitalizados<br />

em uso <strong>de</strong> antibióticos <strong>de</strong> amplo espectro,<br />

tratamento quimioterápico ou que utilizam mecanismo<br />

artificial <strong>de</strong> respiração po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r 50%. (5)<br />

A relevância <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> como um patógeno<br />

hospitalar também está associada em sua relativa resistência<br />

<strong>aos</strong> antibióticos e a suscetibilida<strong>de</strong> diminuída<br />

<strong>aos</strong> antissépticos e <strong>de</strong>sinfetantes. (6) Em um estudo<br />

multicêntrico, Andra<strong>de</strong> et al. (12) <strong>de</strong>monstraram que,<br />

em 21 hospitais brasileiros, cerca <strong>de</strong> 15 a 35% das<br />

amostras eram resistentes a todos os antimicrobianos<br />

disponíveis comercialmente em nosso país. As infecções<br />

causadas por P. <strong>aeruginosa</strong> variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> lesões<br />

superficiais na pele até septicemias fulminantes. (2)<br />

Relatos <strong>de</strong> redução da suscetibilida<strong>de</strong> da P. <strong>aeruginosa</strong><br />

<strong>aos</strong> antimicrobianos vêm sendo publicados no<br />

Brasil e em outros países, <strong>de</strong>stacando-se a diminuição<br />

<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>aos</strong> antibióticos <strong>de</strong> maior espectro<br />

<strong>de</strong> ação, como os carbapenêmicos e as cefalosporinas<br />

antipseudomonas, que são as principais opções<br />

terapêuticas. (12,13)<br />

As infecções por P. <strong>aeruginosa</strong> adquiridas na<br />

comunida<strong>de</strong> são raras e normalmente ten<strong>de</strong>m a ser<br />

localizadas e po<strong>de</strong>m ser associadas com água contaminada,<br />

resultando em foliculites e otites. (2) No<br />

hospital, infecções por P. <strong>aeruginosa</strong>, estão associadas<br />

principalmente a pacientes internados em Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Terapia Intensiva (UTI). Esses pacientes são facilmente<br />

colonizados <strong>de</strong>vido à constante exposição a procedimentos<br />

invasivos, como uso <strong>de</strong> cateteres, sondas,<br />

instrumentos e aparelhos auxiliares para ventilação<br />

mecânica. Em processos <strong>de</strong> infecção crônica, como<br />

o caso daqueles ocorridos em pacientes hospitalizados<br />

ou da comunida<strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> fibrose cística,<br />

esta bactéria apresenta-se normalmente na forma <strong>de</strong><br />

fenótipo mucoi<strong>de</strong>, o que favorece a sua a<strong>de</strong>rência ao<br />

epitélio do trato respiratório.<br />

Em pacientes com ventilação mecânica, 75%<br />

das pneumonias são causadas por bactérias Gramnegativas,<br />

e entre elas, P. <strong>aeruginosa</strong> é a primeira<br />

causa. (6) Entre as infecções hospitalares, a pneumonia<br />

hospitalar é uma das mais importantes causas <strong>de</strong><br />

46<br />

óbito. Dados <strong>de</strong> estudos multicêntricos mostram que<br />

a pneumonia é a infecção mais frequente nas UTIs<br />

da Europa, e a segunda infecção mais frequente nos<br />

hospitais americanos; as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> chegam<br />

a 60%. (14-16)<br />

Outras infecções hospitalares frequentemente<br />

causadas por P. <strong>aeruginosa</strong> são as do trato urinário,<br />

peritonites em pacientes submetidos a diálise peritoneal,<br />

bacteremias e infecções <strong>de</strong> cirurgias. As<br />

bacteremias e as septicemias, principalmente em<br />

pacientes com neoplasias, renais crônicos, diabéticos<br />

e com distúrbios cardiopulmonares, resultam em alta<br />

taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, que chega a 61%. (2,6) As infecções<br />

do trato urinário são capazes <strong>de</strong> provocar lesões<br />

necróticas e infartos. (6)<br />

A disseminação <strong>de</strong>sta bactéria é facilitada pela<br />

sua natureza ubíqua. (2,17) A prevenção e o controle da<br />

colonização e da infecção por P. <strong>aeruginosa</strong> exigem o<br />

uso pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> antimicrobianos, a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>finitiva dos<br />

<strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> às práticas da higiene das mãos,<br />

precauções criteriosas com amostras multirresistentes<br />

e a<strong>de</strong>são às técnicas <strong>de</strong> limpeza do ambiente e dos<br />

equipamentos médicos e hospitalares. (18)<br />

Resistência <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> <strong>aos</strong> antimicrobianos<br />

A resistência bacteriana <strong>aos</strong> agentes antimicrobianos<br />

po<strong>de</strong> ser intrínseca ou adquirida. A resistência<br />

intrínseca é uma proprieda<strong>de</strong> natural da<br />

célula bacteriana e comumente se manifesta pela<br />

diminuição da captação dos agentes ou pela produção<br />

<strong>de</strong> enzimas que inativam o agente químico. A<br />

resistência adquirida po<strong>de</strong> ser obtida pela bactéria<br />

por meio <strong>de</strong> mutações ou por processos <strong>de</strong> recombinação<br />

gênica. (19,20)<br />

As infecções por P. <strong>aeruginosa</strong> adquiridas em<br />

hospitais são marcadas por uma forte característica:<br />

a multirresistência. (21) A maioria das amostras resistentes<br />

é isolada nas UTIs, o que reflete o maior uso<br />

<strong>de</strong> antimicrobianos nesse ambiente e possivelmente<br />

a transmissão <strong>de</strong> cepas multirresistentes entre os pacientes.<br />

(22) Esses dados po<strong>de</strong>m ser confirmados através<br />

do relatório anual do sistema National Nosocomial<br />

Infections Surveillance (NNIS) <strong>de</strong> 2004, que relata<br />

a resistência a ciprofloxacina, imipenem, ceftazidima<br />

e piperacilina 1,5 a 3 vezes maior em amostras<br />

isoladas <strong>de</strong> pacientes internados em UTIs do que nas<br />

amostras <strong>de</strong> pacientes internados em enfermarias e<br />

ambulatórios. O Sentry Antimicrobial Surveillance<br />

Program (SENTRY), sistema <strong>de</strong> vigilância que monitora<br />

a resistência a antimicrobianos em várias regiões do<br />

mundo, revela que as maiores taxas <strong>de</strong> resistência, para<br />

todos os antimicrobianos, são encontradas na América<br />

Latina, seguida pela Ásia para os b-lactâmicos e pela<br />

Europa para as quinolonas. (23)


A membrana externa das bactérias Gram-negativas,<br />

assim como outras membranas biológicas, é fundamentalmente<br />

formada por uma bicamada lipídica, que<br />

apresenta pouca permeabilida<strong>de</strong> a solutos hidrolíticos,<br />

como os nutrientes. A penetração e a expulsão <strong>de</strong> compostos<br />

ocorrem por meio <strong>de</strong> canais proteicos <strong>de</strong> difusão<br />

inespecíficos, <strong>de</strong>nominados porinas. Esses canais <strong>de</strong><br />

difusão foram <strong>de</strong>tectados em todas as espécies <strong>de</strong><br />

bactérias Gram-negativas. (24)<br />

Além das porinas, são partes constituintes das<br />

membranas bacterianas outros canais <strong>de</strong> difusão<br />

constituídos por proteínas triméricas, chamadas<br />

bombas <strong>de</strong> efluxo. A bomba <strong>de</strong> efluxo é o mecanismo<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela bactéria para expelir compostos<br />

tóxicos <strong>de</strong> seu interior, incluindo-se os agentes<br />

antibacterianos. Alterações nestes canais po<strong>de</strong>rão<br />

dificultar a entrada <strong>de</strong> antibióticos. Ambos os sistemas<br />

po<strong>de</strong>m atuar em conjunto, fato muito comum<br />

em amostras <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong>, potencializando suas<br />

ações, tornando a bactéria com resistência plena a<br />

alguns antibióticos. (25-27)<br />

Entre os mecanismos envolvidos na resistência<br />

intrínseca <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> <strong>de</strong>stacam-se: 1. A produção<br />

<strong>de</strong> b-lactamases induzíveis do tipo AmpC, codificadas<br />

por genes cromossômicos que são responsáveis pela<br />

resistência a b-lactâmicos como cefalotina e ampicilina;<br />

(28) 2. Os sistemas <strong>de</strong> efluxo, os quais removem<br />

principalmente fluoroquinolonas e macrolí<strong>de</strong>os, além<br />

<strong>de</strong> corantes e <strong>de</strong>tergentes; (29) 3. A baixa permeabilida<strong>de</strong><br />

da membrana externa; ou a ausência <strong>de</strong> porinas <strong>de</strong> alta<br />

permeabilida<strong>de</strong>, resultando na diminuição da sensibilida<strong>de</strong><br />

a vários antimicrobianos, como por exemplo os<br />

carbapenéns; (30) 4. A produção <strong>de</strong> enzimas inativadoras<br />

<strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os. (31) Vários antibióticos, como<br />

algumas penicilinas, cefalosporinas, carbapenéns,<br />

monobactâmicos, aminoglicosí<strong>de</strong>os, fluoroquinolonas,<br />

além das polimixinas, conseguem vencer os mecanismos<br />

inerentes a estas bactérias e po<strong>de</strong>m ser ativos<br />

contra muitas amostras. Entretanto, os processos <strong>de</strong><br />

mutação ou aquisição <strong>de</strong> novos genes po<strong>de</strong>m levar à<br />

resistência a estes antimicrobianos.<br />

A mutação po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong> maneira natural,<br />

levando à seleção <strong>de</strong> micro-organismos mais resistentes<br />

e em P. <strong>aeruginosa</strong> estes processos ocorrem<br />

em maior velocida<strong>de</strong>, chegando a um mutante para<br />

cada 10.000 novas Unida<strong>de</strong>s Formadoras <strong>de</strong> Colônias<br />

(UFC), e o que normalmente ocorre nas outras espécies<br />

é um mutante para cada 10 9 UFC. Este fato favorece<br />

o processo adaptativo <strong>de</strong> amostras pertencentes<br />

a esta espécie. <strong>Um</strong> exemplo importante em relação<br />

ao processo <strong>de</strong> resistência mediada por mutações é a<br />

resistência <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> às quinolonas. Por meio<br />

<strong>de</strong> mutações sequenciais no genes gyrA e parC estas<br />

amostras alteram as topoisomerases, sítio <strong>de</strong> ação<br />

Ferreira H, Peres Lala ER • <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: <strong>Um</strong> <strong>alerta</strong> <strong>aos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

das quinolonas, e po<strong>de</strong>rão tornar-se resistentes tanto<br />

às fluoroquinolonas como às 8 metoxiquinolonas,<br />

dificultando a terapêutica por esta classe <strong>de</strong> droga<br />

tão importante. (28,32)<br />

Dentre os processos <strong>de</strong> recombinação gênica, o<br />

principal exemplo para P. <strong>aeruginosa</strong> é a resistência<br />

<strong>aos</strong> carbapenêmicos, resultando na maioria das vezes<br />

na produção <strong>de</strong> enzimas do tipo metalo-b-lactamase<br />

que, <strong>de</strong> modo geral, são codificadas por elementos<br />

móveis, possibilitando a sua transferência para outras<br />

espécies bacterianas. (28,32)<br />

Amostras clínicas <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> resistentes <strong>aos</strong><br />

carbapenêmicos têm sido <strong>de</strong>tectadas em várias partes<br />

do mundo e é urgente o seu controle, pois os carbapenens<br />

são as drogas <strong>de</strong> escolha para o tratamento das infecções<br />

causadas por essa espécie bacteriana. (22,28,32,33)<br />

Para estas amostras, apesar <strong>de</strong> mais tóxicas, as polimixinas<br />

têm sido utilizadas.<br />

No Brasil, P. <strong>aeruginosa</strong> apresenta taxas <strong>de</strong> resistência<br />

<strong>aos</strong> carbapenêmicos bastante elevadas,<br />

chegando a até 61,2% em alguns hospitais. (34) Também<br />

existem relatos <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong><br />

P. <strong>aeruginosa</strong> suscetível apenas a polimixina. (34)<br />

Suscetibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> a biocidas<br />

Biocida é um termo amplo adotado para aqueles<br />

agentes químicos que inativam micro-organismos.<br />

Neste grupo <strong>de</strong> compostos químicos estão incluídos<br />

os antissépticos, os <strong>de</strong>sinfetantes e os conservantes.<br />

Os biocidas são amplamente utilizados em hospitais<br />

e em outros setores da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como parte <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> infecção. Em particular,<br />

esses agentes são essenciais nos processos <strong>de</strong> prevenção<br />

e controle das infecções hospitalares. O uso<br />

contínuo <strong>de</strong> biocidas produz um processo seletivo,<br />

principalmente em ambiente hospitalar e induz o<br />

aparecimento <strong>de</strong> micro-organismos resistentes. Desse<br />

modo, a falta <strong>de</strong> padronização e o uso ina<strong>de</strong>quado<br />

<strong>de</strong>sses agentes po<strong>de</strong> dificultar tanto o controle da<br />

disseminação quanto a erradicação dos patógenos<br />

hospitalares. (35)<br />

Como na resistência a antibióticos, a resistência<br />

a biocidas po<strong>de</strong> ser intrínseca ou adquirida. (36) Na<br />

bactéria, seja antibiótico ou biocida, os mecanismos<br />

<strong>de</strong> resistência são similares, como a modificação ou<br />

inativação do antimicrobiano, diminuição da permeabilida<strong>de</strong><br />

celular e bomba <strong>de</strong> efluxo, mas a resistência<br />

intrínseca para o biocida está associada a uma enzima<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação, sendo comumente ligada à permeabilida<strong>de</strong><br />

bacteriana, e a resistência adquirida é mediada<br />

por plasmí<strong>de</strong>os. (37)<br />

<strong>Um</strong> estudo realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro por Guimarães<br />

et al., (38) com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliar a ativida<strong>de</strong><br />

bactericida <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sinfetantes contra bactérias<br />

47


Rev Panam Infectol 2010;12(2):44-50.<br />

suscetíveis e resistentes a antibióticos isoladas em<br />

hospital, <strong>de</strong>monstrou que 52% dos patógenos resistentes<br />

a antibióticos eram resistentes a quaternário<br />

<strong>de</strong> amônio. Entre as amostras estudadas, 38% apresentaram<br />

resistência a compostos fenólicos e 3 cepas<br />

Gram-negativas (P. <strong>aeruginosa</strong>, Enterobacter cloacae<br />

e Proteus mirabilis) foram resistentes a ambos os<br />

<strong>de</strong>sinfetantes. <strong>Um</strong> estudo recente, realizado com<br />

amostras clínicas <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong> multirresistentes<br />

isoladas em hospitais brasileiros, <strong>de</strong>monstrou que<br />

43% das cepas apresentavam redução da suscetibilida<strong>de</strong><br />

a um <strong>de</strong>sinfetante quaternário <strong>de</strong> amônio<br />

(hipoclorito <strong>de</strong> potássio) comumente empregado nos<br />

setores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (39)<br />

Atualmente, uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> biocidas<br />

está disponível comercialmente para ser utilizada<br />

como antisséptico, <strong>de</strong>sinfetante ou ambos. Entre esses<br />

produtos, a clorexidina tem sido amplamente utilizada<br />

no ambiente hospitalar e em serviços <strong>de</strong> odontologia.<br />

A clorexidina é provavelmente o biocida mais utilizado<br />

como antisséptico, principalmente em procedimentos<br />

<strong>de</strong> controle da microbiota das mãos e da cavida<strong>de</strong> oral.<br />

Também é utilizada, em menor escala, como <strong>de</strong>sinfetante<br />

e conservante. Este agente atua primariamente<br />

na membrana da célula bacteriana, causando extravasamento<br />

<strong>de</strong> material intracelular, além <strong>de</strong> inibir a ativida<strong>de</strong><br />

respiratória e coagular o material citoplasmático.<br />

As bactérias Gram-negativas são menos suscetíveis a<br />

clorexidina do que as Gram-positivas, em particular P.<br />

<strong>aeruginosa</strong>, que são intrinsecamente resistentes por<br />

inibir o acesso da clorexidina através da membrana<br />

externa da pare<strong>de</strong> celular. (20)<br />

A clorexidina, um biguaní<strong>de</strong>o composto com<br />

proprieda<strong>de</strong>s catiônicas, caracteriza-se pela capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir os micro-organismos por contato, é<br />

<strong>de</strong> baixa toxicida<strong>de</strong> e tem efeito residual. (40) É uma<br />

molécula estável, disponível nas formas <strong>de</strong> sais <strong>de</strong><br />

gluconato, digluconato ou acetato. O digluconato<br />

<strong>de</strong> clorexidina é a forma mais indicada, pois tem<br />

maior solubilida<strong>de</strong> em água. A clorexidina é o componente<br />

ativo mais efetivo contido nos enxaguatórios<br />

bucais utilizados para prevenir a placa <strong>de</strong>ntária e<br />

a gengivite. Quando ingerida é excretada pelas vias<br />

normais, sendo que a pequena porcentagem retida<br />

no organismo não é tóxica. (41) A ação da clorexidina<br />

é ampla, abrangendo bactérias Gram-positivas e<br />

Gram-negativas, leveduras, <strong>de</strong>rmatófitos e alguns<br />

vírus polifílicos. (42) Stickler et al. (43) relataram resistência<br />

a esse biocida e a cinco antibióticos em<br />

bactérias Gram-negativas isoladas <strong>de</strong> infecções <strong>de</strong><br />

trato urinário. Diante <strong>de</strong>sses resultados, os autores<br />

sugerem que o uso difundido <strong>de</strong> clorexidina seria<br />

responsável por selecionar cepas resistentes a<br />

antibiótico. <strong>Um</strong> outro estudo (44) <strong>de</strong>monstrou a re-<br />

48<br />

sistência a clorexidina em 84,2% das amostras <strong>de</strong><br />

P. <strong>aeruginosa</strong> isoladas <strong>de</strong> lesões, em concentração<br />

<strong>de</strong> 0,05%. Estudo realizado por Russell et al., (19)<br />

com cepas <strong>de</strong> <strong>Pseudomonas</strong> stulzeri, <strong>de</strong>monstrou<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> resistência após exposição<br />

<strong>de</strong>ste micro-organismo a concentrações crescentes<br />

<strong>de</strong> clorexidina.<br />

O tratamento local com esse antimicrobiano tem se<br />

apresentado efetivo na prevenção <strong>de</strong> infecções do trato<br />

urinário, respiratório, redução <strong>de</strong> infecções maternas e<br />

neonatais durante o parto e <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

por sepse intra-abdominal experimental. (45,46)<br />

Bondar e colaboradores, (46) com a intenção <strong>de</strong> verificar<br />

a eficácia da clorexidina como agente redutor <strong>de</strong><br />

infecção abdominal, provocaram infecção abdominal<br />

em ratos, utilizando o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ligadura e punção<br />

cecal. Cateteres intra-abdominais foram instalados<br />

nos animais para a realização do lavado peritoneal no<br />

pós-operatório. Além do grupo controle, um grupo <strong>de</strong><br />

animais foi tratado com cefoxidina e outro com Ringer<br />

lactato. Observou-se que a lavagem <strong>de</strong> clorexidina resultou<br />

em uma redução <strong>de</strong> 50% na mortalida<strong>de</strong> e em<br />

uma diminuição significativa na contagem bacteriana<br />

em comparação com o grupo controle, indicando que<br />

o lavado peritoneal no pós-operatório com clorexidina<br />

a 0,05% po<strong>de</strong> ser útil no tratamento <strong>de</strong> infecção<br />

intra-abdominal.<br />

Pe<strong>de</strong>rsen e colegas (47) observaram que a clorexidina<br />

auxilia na redução <strong>de</strong> infecções maternas e neonatais<br />

durante o parto. Realizaram uma pesquisa com o objetivo<br />

<strong>de</strong> verificar se a ducha vaginal com clorexidina<br />

reduzia a transmissão vertical <strong>de</strong> micro-organismos<br />

vaginal. Em uma investigação prévia isolaram bactérias<br />

em 78% das mulheres durante o parto, levando<br />

a transmissão vertical em 43% dos recém-nascidos.<br />

Aplicando a ducha vaginal <strong>de</strong> clorexidina a 0,2%<br />

reduziu-se a taxa <strong>de</strong> transmissão vertical em 35%;<br />

concomitantemente, foram observadas menor infecção<br />

do trato urinário materno e uma redução da morbida<strong>de</strong><br />

infecciosa precoce nos recém-nascidos, <strong>de</strong>monstrando<br />

que a ducha vaginal com clorexidina a 0,2% durante<br />

o parto po<strong>de</strong> reduzir significativamente a morbida<strong>de</strong><br />

infecciosa materna e neonatal.<br />

A pneumonia associada à ventilação mecânica<br />

(PAVM) é uma infecção frequente nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

terapia intensiva (UTI), e antissépticos bucais são utilizados<br />

preventivamente. Beraldo e Andra<strong>de</strong> (48) revisaram<br />

ensaios clínicos randomizados in<strong>de</strong>xados no Medical<br />

Literature Analysis and Retrieval System e Cumulative<br />

In<strong>de</strong>x to Nursing and Allied Health Literature sobre o<br />

uso tópico da clorexidina na prevenção da pneumonia<br />

associada à ventilação mecânica; dos artigos revisados,<br />

em sete (87,5%) a clorexidina diminuiu a colonização<br />

da orofaringe, e em quatro (50%) houve redução <strong>de</strong>


PAVM. A clorexidina parece diminuir a colonização,<br />

po<strong>de</strong>ndo reduzir a incidência da PAVM.<br />

Sem dúvida, o uso clínico dos antimicrobianos<br />

exerce papel fundamental na resistência e provavelmente<br />

é a principal causa da resistência, sobretudo<br />

a observada em hospitais, on<strong>de</strong> o uso <strong>de</strong>stas drogas<br />

é maior. Atualmente, se discutem, inclusive, as<br />

possíveis ligações entre o uso <strong>de</strong> substâncias catiônicas<br />

biocidas, tais como clorexidina, e a seleção <strong>de</strong><br />

bactérias resistentes a antimicrobianos. (20) Estudos<br />

<strong>de</strong> Chapman (49) <strong>alerta</strong>m que o seu trabalho com resistência<br />

a antibióticos e a biocidas indica que não há<br />

agente químico antimicrobiano que não possa, eventualmente,<br />

induzir resistência nos micro-organismos.<br />

Essas observações aumentam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber<br />

manejar o risco do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> resistências,<br />

assim como respon<strong>de</strong>r rapidamente a sua eventual<br />

ocorrência.<br />

Conclusão<br />

O texto indica taxas bastante elevadas <strong>de</strong> P. <strong>aeruginosa</strong><br />

resistentes a múltiplos fármacos, dificulda<strong>de</strong>s<br />

nas opções <strong>de</strong> fármacos para tratamentos combinados<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância individualizada do perfil<br />

<strong>de</strong> resistência em cada instituição. Destacam-se a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>finitiva dos <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> às práticas da higiene das mãos, precauções<br />

criteriosas com amostras multirresistentes e a<strong>de</strong>são às<br />

técnicas <strong>de</strong> limpeza do ambiente e dos equipamentos<br />

médicos e hospitalares, assim como o uso pru<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> antimicrobianos.<br />

Essas informações <strong>de</strong>vem auxiliar na adoção <strong>de</strong><br />

políticas concretas <strong>de</strong> utilização racional dos antimicrobianos,<br />

<strong>de</strong> redução da disseminação das cepas<br />

resistentes nas instituições e principalmente na mudança<br />

<strong>de</strong> condutas <strong>profissionais</strong>.<br />

Referências<br />

1. Lyczak JB, Cannon CL, Pier GB. Establishment of <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> infection: lessons from a versatile<br />

opportunist. Microbes and Infection 2000;2:1051-1060.<br />

2. Kiska DL, Gillian PH. <strong>Pseudomonas</strong>. In: Manual of<br />

Clinical Microbiology. Murray PR, Baron EJ, Pfaller MA,<br />

Jorgensen JH, Yolken RH. 8ª ed. Manual of Clinical Microbiology.<br />

American Society for Clinical Microbiology,<br />

Washington DC.<br />

3. Pollack M. <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>. In: Man<strong>de</strong>ll D.<br />

Benneths J e Dolin R. Principles and Pratice of Infectious<br />

Diseases. Churchill Livingstone, New York, 2000;2310.<br />

4. Vasil ML. <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: biology, mechanisms<br />

or virulence, epi<strong>de</strong>miology. J Pediatr 1986;108:800-805.<br />

5. Pollack M. <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>. In: Man<strong>de</strong>ll GL, Bennett<br />

JE, Dolin R (eds.). Principles and Practices of Infectious<br />

Diseases. 4 th ed. Phila<strong>de</strong>lphia, Churchill Livingstone,<br />

1995;2003.<br />

6. Gomez LC, Matia EC, Curiel AG, Diaz JP. Infecciones por<br />

<strong>Pseudomonas</strong> spp. Medicine 1998;7(78):3629-3633.<br />

Ferreira H, Peres Lala ER • <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: <strong>Um</strong> <strong>alerta</strong> <strong>aos</strong> <strong>profissionais</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

7. Gilligan PH. Microbiology of airway disease in patients with<br />

cystic fibrosis. Clin Microbiol Rev 1991;4:35-51.<br />

8. Mai GT, McCarmack JG, Seow WK, Pier GB, Jackson LA,<br />

Thong YH. Inhibition of adherence of mucoid <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> by alginase, specific monoclonal antibodies, and<br />

antibiotics. Infect Immun 1993;61:4338-43.<br />

9. Abdi-ali A, Mohammadi-mehr M, Alaei YA. Bactericidal<br />

activity of various antibiotics against biofilm-producing<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>. International Journal of Antimicrobial<br />

Agents 2006;27:196-200.<br />

10. Donlan RM. Biofilms: microbial life on surfaces. Emerg<br />

Infect Dis 2002;8:881-90.<br />

11. Carmeli Y, Troilley N, Eliopoulos GM, Samore MH. Emergence<br />

of antibiotic-resistant <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>:<br />

Comparison of risks associated with different antipseudomonal<br />

agents. Antimicrobial Agents and Chemotherapy<br />

1999;43:379-1382.<br />

12. Andra<strong>de</strong> SS, Jones RN, Gales AC, Sa<strong>de</strong>r HS. Increasing<br />

prevalence of antimicrobial resistance among <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> isolates in Latin American medical<br />

centres: 5 year report of the SENTRY Antimicrobial Surveillance<br />

Program (1997-2001). J Antimicrob Chemother<br />

2003;52:140-141.<br />

13. Van El<strong>de</strong>re J. Multicentre surveillance of <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> susceptibility patterns in nosocomial infections.<br />

J Antimicrob Chemother 2003;51:347-352.<br />

14. Sa<strong>de</strong>r HS, Men<strong>de</strong>s RE, Gales AC, Jones RN, Pfaller MA,<br />

Zoccoli C et al. Perfil <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> a antimicrobianos<br />

<strong>de</strong> bactérias isoladas do trato respiratório baixo <strong>de</strong> pacientes<br />

com pneumonia internados em hospitais brasileiros.<br />

Resultados do Programa SENTRY, 1997 e 1998. J Pneum<br />

2001;27:59-67.<br />

15. Vicent JL, Bihari DJ, Suter PM, Bruining HA, White J. The<br />

prevalence of nosocomial infection in intensive care units<br />

in Europe. Results of the European prevalence of infection<br />

in intensive care (EPIC) study. EPIC International Advisory<br />

Committee. JAMA 1995;274:639-644.<br />

16. Center for Disease Control and Prevention. Gui<strong>de</strong>lines for<br />

prevention of nosocomial pneumonia. MMWR - Morb Mortal<br />

Wkly Rep 1997;46:6-7.<br />

17. Ferrari NBM. Comparative in vitro analysis of different<br />

antimicrobial agent action/activity against <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> strains isolated from human infections. J Venom<br />

Anim Toxins Incl Trop 2003;9.<br />

18. Golgmam DA, Huskins WC. Control of nosocomial antimicrobial-resistant<br />

bacteria: a strategic priority for hospitals<br />

worldwi<strong>de</strong>. Clin Infect Dis 1997;24:139-145.<br />

19. Russell AD. Bacterial resistance to disinfectants: present<br />

knowledge and future problems. J Hosp Infect<br />

1998;43:57-68.<br />

20. Russell AD. Principles of antimicrobial activity and<br />

resistance. In: Block SS (ed.). Disinfection, sterilization,<br />

and preservation. Baltimore, Willians & Wilkins,<br />

2001;31-54.<br />

21. Sa<strong>de</strong>r HS, Pignari AC, Leme IL, Burattini MN, Tancresi<br />

R, Hollis R J et al. Epi<strong>de</strong>miologic typing of multiply<br />

drug-resistant <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> isolated from an<br />

outbreak in an intensive care unit. Diagn Microbiol Infect<br />

Dis 1993;17:13-8.<br />

22. Fridkin SK, Gaynes RP. Antimicrobial resistance in intensive<br />

care units. Clin Chest Med 1999;20:303-16.<br />

23. Gales AC, Jones RN, Turnidge J, Rennie R, Ramphal R.<br />

Characterization of <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> isolates:<br />

49


Rev Panam Infectol 2010;12(2):44-50.<br />

Occurrence rates, antimicrobial susceptibility patterns,<br />

and molecular typing in the Global SENTRY Antimicrobial<br />

Surveillance Program, 1997–1999. Clinical Infectious<br />

Diseases 2001;32(Suppl 2):146-55.<br />

24. Nikaido H. Molecular basis of bacterial outer membrane<br />

permeability revisited. Microb. Molecular Biology Reviews<br />

2003;67:593-656.<br />

25. Lomovskaya O, Lee A, Hoshino K, Ishida H, Mistry A, Warren<br />

MS et al. Use of a genetic approach to evaluate the<br />

consequences of inhibition of efflux pumps in <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong>. Antimicrobial Agents and Chemotherapy<br />

1999;43:1340-346.<br />

26. Chuanchuen R, Narasaki CT, Schweizer HP. The MexJK<br />

efflux pump of <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> requires OprM for<br />

antibiotic efflux but not for efflux of Triclosan. Journal of<br />

Bacteriology 2002;184:5036-5044.<br />

27. Cloete TE. Resistance mechanisms of bacteria to antimicrobial<br />

compounds. International Bio<strong>de</strong>terioration e<br />

Bio<strong>de</strong>gradation. 2003;51:277-282.<br />

28. Livermore DM. Beta-Lactamases in laboratory and clinical<br />

resistance. Clin Microbiol Rev 1998;557-84.<br />

29. Li X, Nikaido H, Poole K. Role of MexA, MexB, OprM in<br />

antibiotic efflux in <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>. Antimicrobial<br />

Agent Chemoth 1995;39:1948-53.<br />

30. Li XZ, Barre N, Poole K. Influence of the MexA-MexBoprM<br />

multidrug efflux system on expression of the MexC-<br />

MexD-oprJ and MexE-MexF-oprN multidrug efflux systems<br />

in <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>. J Antimicrob Chemother<br />

2000;46:885-93.<br />

31. Mingeot-Leclercq MP, Glupczynski Y, Tulkens PM. Aminoglycosi<strong>de</strong>s:<br />

activity and resistance. Antimicrob Agents<br />

Chemother 1999;43:727-37.<br />

32. Livermore DM. Multiple mechanisms of antimicrobial resistance<br />

in <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: our worst nightmare?<br />

Clin Infect Dis 2000;34:634-40.<br />

33. Gales AC, Menezes LC, Silbert S, Sa<strong>de</strong>r HS. Dissemination<br />

in distinct Brazilian regions of an epi<strong>de</strong>mic<br />

carbapenem-resistant <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> producing<br />

SPM metallo-beta-lactamase. J Antimicrob Chemother<br />

2003;52:699-702.<br />

34. Pellegrino FL, Teixeira LM, Carvalho MDMG, Aranha<br />

NS, Pinto DO, Mello Sampaio JL et al. Occurrence of a<br />

multidrug-resistant <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> clone in different<br />

hospitals in Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brazil. J Clin Microbiol<br />

2002;40:2420-2424.<br />

35. McDonnell G, Russell D. Antiseptics and disinfectants:<br />

activity, action, and resistance. Clin Microbiol Rev<br />

1999;12:147-179.<br />

36. Russell AD. Do bioci<strong>de</strong>s select for antibiotic resistance? J<br />

Pharm Pharmacol 2000:52:227-233.<br />

37. Russell AD. Plasmids and bacteria resistance to bioci<strong>de</strong>. J<br />

Apll Microbiol 1997;82:155-165.<br />

38. Guimarães MA, Tibana A, Nunes MP, Santos KRN. Disinfectant<br />

and antibiotic activities: A comparative analysis<br />

in brazilian hospital bacterial isolates. Braz J Microbiol<br />

2000;31:193-199.<br />

39. Romão CMCPA, Faria Y, Pereira LP, Asensi MD. Susceptibility<br />

of clinical isolates of multiresistant <strong>Pseudomonas</strong><br />

<strong>aeruginosa</strong> to a hospital disinfectant and molecular typing.<br />

Mem Inst Oswaldo Cruz 2005;100:541-548.<br />

40. Magariños MC, Reynaldo MB, Flores MB, Infanti AY,<br />

Castelo SM. Efeicto <strong>de</strong> clorhexidina sobre aislamientos<br />

hospitalarios <strong>de</strong> Staphylococcus aureus em diferentes con-<br />

50<br />

diciones ambientales. Revista Argentina <strong>de</strong> Microbiología<br />

2001;33:241-246.<br />

41. Silva CRG, Jorge AOC. Avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfetantes <strong>de</strong> superfície<br />

utilizados em odontologia. Pesqui Odontol Bras<br />

2002;16:107-114.<br />

42. Jones CG. Chorhrexidine: it is still the gold standard? Periodontal<br />

2000. 1997;15:55-62.<br />

43. Stickler DJ, Thomas B, Clayton JC, Chawla JA. Studies on<br />

the genetic basis of chlorhexidine resistance. Brit J Clin<br />

Proc Symp 1983;25:23-28.<br />

44. Nakahara H, Kozukue H. Isolation of chlorhexidine-resistant<br />

<strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong> from clinical lesions. J Clin Micrbiol<br />

1982;15:166-168.<br />

45. Kõljalg S, Naaber P, Mikelsaar M. Antibiotic resistance as<br />

an indicator of bacterial chlorhexidine susceptibility. Journal<br />

Hosp Infection 2002;51:106-113.<br />

46. Bondar VM, Rago CBS, Cottone FJ, Wilkerson DK,<br />

Riggs J. Chlorhexidine lavage in the treatment of experimental<br />

intra-abdominal infection. Archives Surgical<br />

2000;135.<br />

47. Pe<strong>de</strong>rsen BS, Bergan T, Hafstad A, Normann E, Grogaard J,<br />

Vangdal M. Vaginal disinfection with chlorhexidine during<br />

childbirth. International Journal of Antimicrobial Agents<br />

1999;12:245-51.<br />

48. Beraldo CC, Andra<strong>de</strong> D. Higiene bucal com clorexidina na<br />

prevenção <strong>de</strong> pneumonia associada à ventilação mecânica.<br />

J Bras Pneumol 2008;34:707-714.<br />

49. Chapman JS. Characterizing bacterial resistance to preservatives<br />

and disinfectants. Int Bio<strong>de</strong>ter Bio<strong>de</strong>gr 1998;41:241-<br />

245.<br />

50. Cavallo JD, Plesiat P, Couetdic G et al. Mechanisms of betalactam<br />

resistance in <strong>Pseudomonas</strong> <strong>aeruginosa</strong>: prevalence<br />

of OprM-overproducing strains in a French multicentre study<br />

(1997). J Antimicrob Chemother 2002;50:1039-1043.<br />

51. Giamarellou H. Prescribing gui<strong>de</strong>line for severe <strong>Pseudomonas</strong><br />

infectious. Journal Antimicrobial Chemotherapy<br />

2002;49:229-233.<br />

52. National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) System<br />

Report, data summary from January 1992 through<br />

June 2004, issued October 2004. Am J Infect Control<br />

2004;32:470-85.<br />

53. Sa<strong>de</strong>r HS, Castanheira M, Men<strong>de</strong>s RE et al. Dissemination<br />

and diversity of metallo-beta-lactamases in Latin America:<br />

report from the SENTRY Antimicrobial Surveillance Program.<br />

Int J Antimicrob Agents 2005;25:57-61.<br />

54. Sa<strong>de</strong>r HS, Sampaio JL, Zoccoli C. Jones RN. Results of the<br />

1997 SENTRY Antimicrobial Surveillance Program in Three<br />

Brazilian Medical Centers. Braz J Infect Dis 1999;3:63-79.<br />

55. Sa<strong>de</strong>r HS, Jones RN, Gales AC et al. SENTRY antimicrobial<br />

surveillance program report: Latin American and<br />

Brazilian results for 1997 through 2001. Braz J Infect Dis<br />

2004;8:25-79.<br />

Correspondência:<br />

Prof. Dr. Hel<strong>de</strong>r Ferreira<br />

Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Saú<strong>de</strong> Coletiva -<br />

Departamento <strong>de</strong> Enfermagem da Universida<strong>de</strong> Estadual<br />

do Oeste do Paraná - UNIOESTE.<br />

Foz do Iguaçu, PR, Brasil.<br />

e-mail: ferreira.hel<strong>de</strong>r@bol.com.br

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!