OS REFORMADORES EMPRESARIAIS DA EDUCAO: - APASE
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sustentação nenhuma em pesquisa. O desenvolvimento destas áreas, embora tenha interface, não depende<br />
de uma sequência que comece por estas disciplinas. Ou teríamos que admitir que um analfabeto não teria<br />
emoção, criatividade, afetividade. Não cabe aqui a argumentação de que começamos por estas disciplinas,<br />
para depois avançarmos em direção a áreas mais complexas. Até porque, muito destas áreas são definidas<br />
nos primeiros anos de vida e de ensino.<br />
É urgente que coloquemos em dúvida, junto aos pais e junto aos formuladores de políticas, a afirmação<br />
de que nota alta em português e matemática é sinônimo de boa educação e comecemos a pensar<br />
na educação que queremos dar a nossa juventude de forma multilateral.<br />
A educação é sempre um campo em disputa. Tem uma ligação tão grande com as questões relativas<br />
à formação de mão de obra em nossa sociedade que economistas, muitas vezes escalados pelos interesses<br />
dos empresários, predominam na hora de definir os caminhos da educação. Educadores profissionais<br />
pouco são ouvidos na elaboração das políticas públicas educacionais e a mídia, em particular, abre<br />
espaço para os homens de negócio e seus representantes e muito menos para educadores.<br />
A conversa é sempre a mesma. Os educadores não são objetivos ou não têm propostas concretas.<br />
São ideólogos e não cientistas. Os reformadores empresariais procuram se contrapor dizendo que eles,<br />
sim, são objetivos e não fazem ideologia. Como se isso fosse possível, pois, não fazer ideologia já é uma<br />
opção ideológica.<br />
A educação brasileira sofre e sofrerá nos próximos anos o assédio dos reformadores empresariais.<br />
Para eles, a educação é um subsistema do aparato produtivo e nisso se resume. Para os educadores profissionais,<br />
porém, formar para o trabalho é apenas parte das tarefas educacionais. E aí está uma divergência<br />
central. Para os reformadores empresariais, os objetivos da educação se resumem em uma “matriz de<br />
referência” para se elaborar um teste que mede habilidades ou competências básicas. Um país que não<br />
sabe o que pretende com sua juventude e que tudo que pode oferecer a ela como projeto de vida é passar<br />
no ENEM, não pode ir muito longe.<br />
Portanto, se pretendemos ter um sistema educacional de qualidade, o primeiro passo é um amplo<br />
debate sobre o que entendemos por esta qualidade e qual o projeto formativo que temos a oferecer à juventude<br />
– e isso não cabe nos testes. É prudente, portanto, recusar a “objetividade” dos reformadores<br />
empresariais e formatar um projeto educacional que oriente o país para além do domínio de português e<br />
matemática.<br />
O momento atual de discussão do Plano Nacional de Educação seria ótimo para esta tarefa, mas o<br />
Governo, os políticos e até mesmo entidades representativas dos educadores querem “celeridade” na tramitação<br />
da lei. Acontece que o PNE estabelece como “projeto educacional” sair-se bem no IDEB e este<br />
foi vergonhosamente amarrado aos resultados do PISA, teste de aprendizagem conduzido por um organismo<br />
internacional a serviço dos empresários, a OCDE – Organização de Cooperação para o Desenvolvimento<br />
Econômico. Assim, fica definido nosso “projeto educacional”: os alunos devem sair-se bem na<br />
Prova Brasil (português, matemática e futuramente ciências), as escolas devem ter um bom IDEB e todos<br />
devemos ser bem avaliados aos 15 anos de idade no PISA da OCDE em português, matemática e ciências.<br />
Os equívocos deste caminho já estão bem estabelecido em países que fizeram uso dele (Heilig & Darling-<br />
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