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excisão a suas amigas francesas, elas ficaram horrorizadas pela violência
da intervenção e as conversas, bem depressa, se tornaram breves.
“A dor é tão forte que não se pode falar de excisão a ninguém, e
acaba-se prisioneira do silêncio.” Um sofrimento exacerbado pelo
período difícil da adolescência: “O fato de ser mutilada, de ter vergonha
de seu corpo, de ter sido possuída, é muito violento. Na adolescência,
não se sabe como abordar esse corpo, não se sabe o que fazer
dele e, pessoalmente, vivi o meu como um fardo”.
O mal-estar de Aïssata aumentou ainda mais quando encontrou
um francês que se tornaria seu marido e pai de suas três filhas. A
excisão não lhe pareceu um problema; no entanto, ele a enganou.
“Sua desculpa era que tinha necessidade de ter relações com mulheres
normais. Eu tinha vergonha, vergonha por não sentir prazer.” Uma
diferença muito difícil de viver em uma sociedade que exalta o prazer
e a sensualidade:
Acaba-se pensando que não existe um lugar
nessa sociedade onde a sexualidade é tão importante,
vivida como um jogo ao qual não se pode assistir.
Vê-se um filme, um casal fazendo amor. A moça
está radiante, feliz; digo para mim mesma que
nunca vou conhecer isso.
As relações do casal tornaram-se muito difíceis. O marido se ausentou
cada vez mais, não hesitava em humilhá-la na frente de amigos,
e as cenas se multiplicaram. Esgotada, Aïssata decidiu se divorciar, apesar
da situação muito precária. Licenciada em letras, optou por parar
de trabalhar até que suas três filhas tivessem atingido a idade escolar.
19 | o corpo reencontrado