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“enquanto a língua, no seu caráter metalingüístico, po<strong>de</strong> servir, ela própria, como meio <strong>de</strong><br />
comunicação sobre si mesma, transformando-se assim n<strong>um</strong> discurso auto-reflexivo, imagens<br />
não po<strong>de</strong>m servir como meio <strong>de</strong> reflexão sobre imagens” (SANTAELLA, 1998, p. 13).<br />
Sendo assim, se a imagem não po<strong>de</strong> expressar, falar ou refletir sobre si própria, ela<br />
necessita da linguagem verbal para essa operação. Nesta metamorfose, a palavra guarda<br />
atributos imagéticos, confirmando que tanto a imagem dá origem à palavra, quanto a palavra<br />
faz suscitar a imagem, estando ambas imbricadas. Nesse sentido, a imagem apresenta “certo<br />
complexo intelectual e emocional, n<strong>um</strong> <strong>de</strong>terminado instante [...] que dá o sentido <strong>de</strong> súbita<br />
libertação; <strong>de</strong> libertação dos limites <strong>de</strong> espaço e tempo; <strong>de</strong> crescimento repentino” (POUND,<br />
1991, p. 10).<br />
O poema, pela sua composição, é <strong>um</strong> todo imagético cujo principal instr<strong>um</strong>ento<br />
gerador <strong>de</strong> imagens é a metáfora. Contudo, a imagem conspira com o som e os conceitos para<br />
dar maior plasticida<strong>de</strong> ao poema que po<strong>de</strong> ter como dominante ora <strong>um</strong>, ora outro componente.<br />
Pound usa o termo fanopéia para se referir à imagem visual no poema, e não o aplica<br />
apenas à imagem que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> da configuração poemática, mas, também, à “atribuição <strong>de</strong><br />
imagens à imaginação visual”, ou seja, aquelas suscitadas pelas metáforas (1991, p. 37). É<br />
Bosi quem nos esclarece: “pela analogia, o discurso recupera, no corpo da fala, o sabor da<br />
imagem. A analogia é responsável pelo peso da matéria que dão ao poema as metáforas e as<br />
<strong>de</strong>mais figuras” (2000, p. 38).<br />
A poesia <strong>de</strong> Eugénio <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, poeta contemporâneo português, é conhecida pelo<br />
seu alto grau <strong>de</strong> eroticida<strong>de</strong>. Muitos estudiosos já se <strong>de</strong>bruçaram sobre essa questão, porém o<br />
que nos instiga é o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>ssas imagens erotizantes, das metáforas<br />
construídas com exatidão ímpar, capazes <strong>de</strong> tornar essa poesia <strong>um</strong>a das mais belas da língua<br />
portuguesa. Sendo assim, nos propomos a <strong>um</strong>a análise <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong> seus aspectos visuais,<br />
sonoros e conceituais.<br />
II. A POESIA ERÓTICA E O EROTISMO VERBAL A<br />
Poesia erótica e a erótica verbal<br />
Ao comentar sobre sua poesia, Eugénio <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> salienta “a ascensão e <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong><br />
Eros, [que] não po<strong>de</strong> reduzir-se meramente à sexualida<strong>de</strong>” (1990, p. 287). Não é <strong>de</strong> se<br />
estranhar essa afirmação, pois, geralmente, na gran<strong>de</strong> poesia o puramente sexual é substituído<br />
pelo <strong>erótico</strong>.<br />
Octávio Paz estabelece a diferença entre o sexual e o <strong>erótico</strong> apontando, no primeiro, o<br />
fim reprodutivo e, no segundo, a indiferença com relação à reprodução (2001, p. 13). Para ele,<br />
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