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intelectual do que o outro: prazer edipiano (<strong>de</strong>snudar, saber, conhecer a<br />
origem e o fim) (I<strong>de</strong>m, p. 16-17).<br />
Como se observa, o texto poético é <strong>erótico</strong> pelo processo que lhe é imanente <strong>de</strong> busca,<br />
<strong>de</strong> procura. Não se trata <strong>de</strong> pornografia comunicativa, na qual tudo está à vista e às claras, ao<br />
contrário, o texto poético vai se revelando pouco a pouco e nunca se mostra por inteiro. É<br />
fantasia e imaginação que une o significante ao significado, criando algo que é e não é a coisa<br />
mesma.<br />
Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se afirmar que a poesia eugeniana é duplamente erótica, pois,<br />
além do erotismo imanente a todo texto poético, trata o tema sexual transfigurado por imagens<br />
“erotizadas”, ou seja, por imagens que são o sexual, sendo outra coisa. Tais imagens<br />
metafóricas provocam o leitor, não apenas intelectualmente como também sensivelmente, já<br />
que os sentidos funcionam como “servos da imaginação”, culminando n<strong>um</strong> ato <strong>de</strong> amor entre<br />
o leitor e o texto lido.<br />
III. UM CORPO-A-CORPO POÉTICO COM EUGÉNIO DE ANDRADE<br />
A sensualida<strong>de</strong> move a criação poética <strong>de</strong> Eugénio <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, seu erotismo convida<br />
o leitor a penetrar no corpo do poema e fazer amor com ele. Inquirido sobre seu trabalho, o<br />
poeta confi<strong>de</strong>ncia que o ato poético envolve o empenho total do seu ser e, por isso, pressupõe<br />
<strong>um</strong>a entrega (1990, p. 277).<br />
Nesse relato <strong>de</strong>lineia-se a visão <strong>de</strong> poesia não só como trabalho intelectual, mas,<br />
igualmente, instintivo. Isso se esclarece à medida que o poeta valoriza, explicitamente, o<br />
ritmo do poema, conforme suas próprias palavras:<br />
Porque ao princípio é o ritmo; <strong>um</strong> ritmo surdo, espesso, do coração ou do<br />
cosmos [...] Uma palavra <strong>de</strong> súbito brilha, e outra, e outra ainda [...] Uma<br />
música, sem nome ainda, começa a subir, qualquer coisa principia a tomar<br />
corpo e figura (Ibi<strong>de</strong>m, p. 277).<br />
Lopes vê a poesia eugeniana, mesmo sem rigi<strong>de</strong>z métrica e estrófica, “como <strong>um</strong>a<br />
espécie <strong>de</strong> música”, já que é <strong>um</strong>a composição que prima pelas “recorrências <strong>de</strong> esquemas que<br />
regem sílabas, acentos, frases, curvas melódicas, efeitos articulatórios, imagens” (1994, p.<br />
133). Ou seja, a poesia eugeniana é, fundamentalmente, ritmo.<br />
Segundo Paz, “o ritmo é <strong>um</strong> imã” e “a criação poética consiste, em gran<strong>de</strong> parte, nessa<br />
utilização do ritmo como agente <strong>de</strong> sedução [...] o ritmo provoca <strong>um</strong>a expectativa, suscita<br />
<strong>um</strong> anelo” (1982, p. 64-68. Grifos nossos). Sendo assim, o ritmo é capaz <strong>de</strong> evocar sensações<br />
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