Discurso proferido pela professora Flávia de Paula ... - Dom Bosco
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<strong>Discurso</strong> <strong>proferido</strong> <strong>pela</strong> <strong>professora</strong> <strong>Flávia</strong> <strong>de</strong> <strong>Paula</strong> Soares na formatura da<br />
turma do segundo semestre <strong>de</strong> 2009 em 12/03/2010.<br />
Queridas formandas, e agora colegas, da turma <strong>de</strong> 2009. Sinto-me lisonjeada<br />
por ter sido homenageada por essa turma.<br />
O que você vai ser quando crescer? Perguntamos às nossas crianças e<br />
lhes fazemos a promessa, na infância, <strong>de</strong> uma realização futura que teve<br />
início bem cedo, na família, na escola e, para as nossas formandas,<br />
culminou há cinco anos, na Faculda<strong>de</strong> <strong>Dom</strong> <strong>Bosco</strong>, quando escolheram<br />
cursar Psicologia. A nossa profissão compõe a nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
E porque escolhemos a psicologia? Segundo Freud, a saú<strong>de</strong> mental<br />
consiste na nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar e trabalhar. E a minha hipótese é a<br />
<strong>de</strong> que a psicologia, como uma das profissões da área da saú<strong>de</strong>, concilia<br />
esses dois eixos em sua essência: o amor e o trabalho. Um trabalho que<br />
consiste em olhar para o outro, escutá-lo, consi<strong>de</strong>rá-lo em sua singularida<strong>de</strong><br />
e sofrimento e ter com ele uma relação <strong>de</strong> ajuda psicológica. A nossa<br />
profissão implica em uma relação <strong>de</strong> amor com o outro. E Guimarães Rosa<br />
nos ensina: ”Qualquer amor já é um pouquinho <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, um <strong>de</strong>scanso na<br />
loucura”.<br />
Mas para cuidar do outro é preciso, antes, cuidar <strong>de</strong> si mesmo! A nossa<br />
subjetivida<strong>de</strong> é o nosso instrumento <strong>de</strong> trabalho por excelência. A psicologia<br />
compõe-se do estudo consistente <strong>de</strong> conceitos fundamentais, <strong>de</strong> técnica, <strong>de</strong><br />
orientarmo-nos frente a uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares, <strong>de</strong> iguais que po<strong>de</strong>rão<br />
reconhecer- nos como profissionais. Mas isso não é tudo, e talvez o principal<br />
consista em terapia pessoal, olhar para a própria história, implicar-se em<br />
seus posicionamentos. Encontrar em si os verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>sejos, a verda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cada um... E a maravilha e as dores <strong>de</strong> ser quem se é. Ultrapassar os<br />
medos, os fantasmas para po<strong>de</strong>rmos conduzir o outro que nos procura para<br />
se tratar, nessa travessia <strong>de</strong> aventura. Citando novamente Guimarães Rosa:<br />
“posso me escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mim?”.<br />
E além da aventura e da coragem <strong>de</strong> olharmos para nós mesmas,<br />
contamos com a dificulda<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>safios da saú<strong>de</strong> mental, e <strong>de</strong> como, por<br />
ser uma profissão recente, a psicologia ainda é confundida com sua<br />
<strong>de</strong>stinação à loucura quando, na verda<strong>de</strong>, trata do privilégio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
usufruir das possibilida<strong>de</strong>s da vida. Isto <strong>de</strong> forma mais leve e<br />
paradoxalmente mais responsável, gastando menos tempo para isso. Cabe<br />
a vocês, a partir <strong>de</strong> hoje, como a nova geração <strong>de</strong> psicólogos, abrir campo<br />
<strong>de</strong> atuação profissional, mostrar à socieda<strong>de</strong> as contribuições da nossa área<br />
<strong>de</strong> estudo, sempre repensando as certezas e abrindo-se ao novo para<br />
melhorar os ensinamentos dos mestres das tradições. E não po<strong>de</strong>mos
esquecer que somos profissionais e o trabalho é uma relação <strong>de</strong> troca<br />
mediada pelo dinheiro, que além do sustento real da nossa existência, <strong>de</strong><br />
pagar as contas e o reconhecimento profissional que ele representa, é uma<br />
moeda <strong>de</strong> troca simbólica: pagar com dinheiro em vez <strong>de</strong> pagar com<br />
sofrimento na vida. “Porque apren<strong>de</strong>r a viver é que é o viver mesmo”<br />
(Guimarães Rosa).<br />
E, para finalizar, quero relembrar as características marcantes <strong>de</strong>ssa<br />
turma <strong>de</strong> formandas <strong>de</strong> 2010: <strong>de</strong> início, uma turma <strong>de</strong>, praticamente, 50<br />
mulheres que falavam! E muito!!! Levaram broncas <strong>de</strong> mãe, e por fim, nos<br />
nossos ajustes, a boa troca: produções criativas, inteligentes e engraçadas<br />
atravessadas pelo Isso, nosso conhecido inconsciente. Hoje vocês são<br />
mulheres reivindicadoras porque exigentes consigo mesmas e com os<br />
outros, o que <strong>de</strong>fine uma postura ética <strong>de</strong>sejável. E pelo compromisso da<br />
formação, por parte da Faculda<strong>de</strong> e dos professores que a representam, que<br />
inclui a nossa preocupação amorosa <strong>de</strong> que vocês sejam boas profissionais,<br />
buscando sempre a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua formação. “Mirem e vejam: o mais<br />
importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre<br />
iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”<br />
Desejo a vocês muito boa sorte e alegria na profissão que se inicia.