Visões de Império nas Vésperas do “Ultimato”. - Centro de Estudos ...
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<strong>Visões</strong> <strong>de</strong> império <strong>nas</strong> vésperas <strong>do</strong> “ultimato”<br />
como “primitivos”, à espera <strong>de</strong> serem rouba<strong>do</strong>s e mortos pelos comerciantes<br />
<strong>de</strong> marfim. Comentava-se, aliás, na novela <strong>de</strong> Conrad, que o procedimento<br />
<strong>do</strong>s Europeus em África tinha um paralelo histórico na antiga<br />
Roma, a qual invadira <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong>, para<br />
o “civilizar”. Se, no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> tal processo, se verificasse “um ou outro”<br />
atropelo à moral, respondia-se que, em ambos os casos (os Romanos da<br />
Antiguida<strong>de</strong> e os Europeus <strong>do</strong> século XIX), a “cegueira” <strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>res<br />
era própria “daqueles que enfrentam as trevas” (27) <strong>do</strong> “primitivismo”<br />
– no fun<strong>do</strong> culpa das vítimas, <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> obtusas para merecerem<br />
qualquer consi<strong>de</strong>ração. Já las Casas se lamentava, em Quinhentos, da<br />
análoga “cegueira” moral <strong>do</strong>s Portugueses em África, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>nunciava<br />
as atrocida<strong>de</strong>s cometidas pelos “<strong>de</strong>scobri<strong>do</strong>res”… (28) Na realida<strong>de</strong>,<br />
o verda<strong>de</strong>iro “coração das trevas” não residia no continente africano,<br />
mas na mente <strong>de</strong> invasores europeus sem escrúpulos, autênticos “cegos”<br />
voluntários.<br />
2.5. “SURVIVAL Of THE fITTEST”<br />
O tipo <strong>de</strong> atrocida<strong>de</strong>s cometidas em África, quer pelos comerciantes<br />
vin<strong>do</strong>s da Europa, quer pelas forças militares comandadas por europeus<br />
(<strong>nas</strong> chamadas “peque<strong>nas</strong> guerras”), era possível não só <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à absoluta<br />
superiorida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s “expedicionários” em termos <strong>de</strong> armamento mas<br />
também <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao isolamento em relação à opinião pública da metrópole.<br />
O continente europeu distava milhares <strong>de</strong> quilómetros, as comunicações<br />
com a capital metropolitana eram <strong>de</strong>ficientes, e as operações<br />
tinham geralmente lugar em lugares <strong>de</strong> difícil acesso para quem partia<br />
<strong>do</strong> litoral. De qualquer <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s, as autorida<strong>de</strong>s coloniais, ainda quan<strong>do</strong><br />
informadas <strong>do</strong>s morticínios cometi<strong>do</strong>s no interior, mostravam-se<br />
geralmente cúmplices, da<strong>do</strong> que podiam vir a beneficiar <strong>de</strong> um alargamento<br />
da influência europeia no interior, sob a forma <strong>de</strong> mais prestígio e<br />
subsídios oriun<strong>do</strong>s da metrópole. (29)<br />
27 CONRAD – O coração das trevas, p. 10.<br />
28 CASAS, Bartolomé <strong>de</strong> las – Brevíssima relação da <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> África, p. 298.<br />
29 LINDQVIST – Exterminem todas as bestas, p. 106, 160-161.<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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