Amostra - Editora Saraiva

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ADAPTAÇÃO
DENISE DESPEYROUX
ILUSTRAÇÃO
MIQUEL SERRATOSA
HISTÓRIAS DE POE
O ESCARAVELHO DE OURO
O MÉTODO DO DR. ALCATRÃO E DO PROFESSOR PENA
A QUEDA DA CASA DE USHER
TRADUÇÃO
ANA LUISA MARTINS

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HISTÓRIAS DE POE
Projeto e produção Parramón Ediciones, S.A.
Editora: Pilar R. Súnico
Roteiro adaptado: Denise Despeyroux
Ilustração: Miquel Serratosa
Projeto gráfico e desenho: Miquel Serratosa
Projeto da coleção: Miquel Serratosa
Publicado originalmente em setembro de 2009
por Parramón Ediciones, S.A.
© 2009 Parramón Ediciones, S.A.
Empresa do grupo Editorial Norma de América Latina
www.parramon.es
Diretor de produção: Rafael Marfil
Produção: Manel Sánchez
Pré-impressão: PACMER, S.A.
Copyright © tradução Editora Arx
Diretora editorial: Flávia Helena Dante Alves Bravin
Gerente editorial: Carla Fortino
Editora: Fabiana Medina
Assistente editorial: Carlos Renato Silva
Tradução: Ana Luisa Martins
Revisão: Cid Vale Ferreira e Christina Binato
Arte-finalização: Eduardo Amaral – Duligraf
2009
Direitos para o Brasil cedidos à Editora Arx,
um selo de Saraiva S.A. Livreiros Editores
Rua Henrique Schaumann, 270, 8º andar
CEP: 05413-010 – São Paulo – SP – Brasil
ISBN: 978-85-02-09013-2
Impresso na Espanha
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da editora original.

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O ESCARAVELHO DE OURO

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NAQUELE DIA DE
MEADOS DE
OUTUBRO FAZIA UM
FRIO POUCO USUAL
NOS INVERNOS DA
ILHA SULLIVAN.
ANTES DE O SOL SE PÔR,
SUBI POR UMA TRILHA NA
MATA ATÉ A CABANA DE
MEU AMIGO.
JÁ FAZ MUITOS ANOS DESDE QUE ME TORNEI AMIGO
ÍNTIMO DE WILLIAM LEGRAND. ELE PERTENCIA
A UMA ANTIGA FAMÍLIA HUGUENOTE QUE, EM VIRTUDE DE
UMA SÉRIE DE INFORTÚNIOS, PERDERA TODA A RIQUEZA
E FICARA REDUZIDA à MISÉRIA.
POR CAUSA DISSO, LEGRAND DEIXOU NOVA ORLEANS E
INSTALOU-SE NA ILHA SULLIVAN, NA CAROLINA DO SUL.
QUANDO O CONHECI, MORAVA NUMA PEQUENA CABANA
QUE CONSTRUÍRA PARA SI PRÓPRIO, NUMA ZONA MAIS
AFASTADA DA ILHA, E LOGO NOSSA AMIZADE CRIOU
RAÍZES, POIS LEGRAND ERA UM HOMEM INTELIGENTE E
CULTO, APESAR DE PROPENSO A CERTA MISANTROPIA
E DE TER UM TEMPERAMENTO QUE OSCILAVA ENTRE A
MELANCOLIA E O ENTUSIASMO.
FAZIA VÁRIAS SEMANAS QUE NãO O VISITAVA,
VISTO QUE NAQUELA ÉPOCA EU RESIDIA EM
CHARLESTON, A NOVE QUILÔMETROS DA ILHA.

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UM BELO FOGO CREPITAVA NA LAREIRA, O QUE FOI UMA
SURPRESA MUITO AGRADÁVEL PARA MIM.
COMO NINGUÉM ATENDEU, PROCUREI A CHAVE ONDE
SABIA QUE COSTUMAVAM ESCONDÊ-LA, ABRI A PORTA
E ENTREI.
TIREI MEU CASACO, PUXEI UMA POLTRONA PARA PERTO
DA LAREIRA E ESPEREI PACIENTEMENTE O REGRESSO DE
MEU AMIGO E DE SEU CRIADO.
ELES CHEGARAM AO ANOITECER
E FICARAM MUITO ALEGRES
AO ME VER.

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Parecia que Legrand
estava em um de seus
surtos de euforia.
Se eu soubesse que você
estava aqui! Na volta para
casa, encontrei o tenente e
emprestei-lhe o escaravelho,
de modo que você só poderá
vÊ-lo amanhÃ.
FIQUE AQUI ESTA NOITE.
ASSIM QUE AMANHECER,
MANDAREI JÚPITER PEGÁ-LO.
É a coisa mais maravilhosa
de toda a criaÇÃo!
Não! Que
disparate!
Estou falando
do escaravelho.
O quê?
O amanhecer?
O BICHO É DE OURO
MACIÇO, SINHÔ.
JURO QUE É DE
OURO MACIÇO,
POR DENTRO E EM
TODAS AS PARTES.
NUNCA VI UM
BESOURO QUE
PESASSE TANTO.
É DE OURO MACIÇO.
Meu amigo, hoje encontrei um
escaravelho de uma espécie
totalmente desconhecida.
Amanhã mesmo eu o mostrarei a
você para que me dê sua opinião.
E por que nÃo
esta noite?
É de um dourado
brilhante, aproximadamente
do tamanho
de uma noz, e tem
duas manchas de um
negro azeviche.
uma próxima à ponta
inferior, e a segunda,
um pouco mais larga,
na outra ponta. é
de um dourado tão...
BEM, SUPONHAMOS
QUE SEJA DE OURO.
ISSO É MOTIVO
PARA DEIXAR QUE
O NOSSO JANTAR
SE QUEIME?
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a cor do escaravelho justifica a
opinião de Júpiter. Nunca vi um dourado
tão brilhante. Infelizmente, não
posso mostrá-lo a você agora, mas
farei um desenho para que tenha uma
ideia da forma do inseto.
NO MOMENTO EM QUE
ELE ME ENTREGAVA O
DESENHO, OUVIU-SE
UM ESTRONDO NA
PORTA.
GRRRRRRRRRRR
QUANDO O CACHORRO
PAROU DE PULAR E
CONSEGUI EXAMINAR
O DESENHO DO MEU
AMIGO, FIQUEI
PERPLEXO.
Onde demônios
haverá um
papel?
Não importa.
Este pedaço de
pergaminho
serve.
JÚPITER ABRIU E UM ENORME CâO TERRA-NOVA, PERTENCENTE
A LEGRAND, PULOU ALEGREMENTE EM MEUS OMBROS PARA
EXPRESSAR SEU AFETO.
ESTE É UM ESCARAVELHO
MUITO ESTRANHO.
CONFESSO QUE NUNCA
VI NADA PARECIDO. EU
DIRIA QUE MAIS PARECE
UMA CAVEIRA DO QUE
UM INSETO.

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Uma caveira? Bem... sim,
pode ser que tenha esse
aspecto no papel. As
duas manchas negras
devem parecer olhos.
E a maior, abaixo, uma
boca. Mas, se observar
o desenho com atenção,
verá que não é uma
caveira, e sim um
escaravelho.
Dito isso, estendi-lhe o papel sem mais
comentários, pois não queria que se
ofendesse. Sua reação mal-humorada
sobre a questão do desenho me deixou
surpreso.
Em seguida,
pegou uma vela
e sentou-se
sobre um baú
na outra
extremidade da
sala. Ficou ali
vários minutos
examinando
minuciosamente
o desenho,
enquanto girava
o papel com
ansiedade de
um lado para
o outro.
Acho que desenhar
não é o seu forte,
Legrand. Terei de
ver o inseto para
ter uma ideia de
sua aparência.
Legrand ia jogar o papel no fogo, quando
de repente estancou. De uma hora para
outra, seu rosto adquiriu um rubor
intenso e logo depois empalideceu.
Por fim, tirou do bolso
uma carteira, meteu nela
o papel e colocou tudo
dentro de uma gaveta,
que trancou à chave.
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Eu tinha pensado
em passar a noite
na cabana, como meu
amigo convidara,
mas diante daquela
atitude tão estranha,
achei melhor
ir embora.
Legrand não
insistiu para que
eu ficasse, mas,
ao despedir-se de
mim, apertou-me a
mão com mais
efusão do que
de costume.
LOGO Pareceu recobrar a calma, mas
à medida que a noite avançava, foi ficando
cada vez mais absorto; nem meus gracejos
conseguiram provocar nele um sorriso sequer.

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Cerca de um mês depois,
durante o qual não tive
notícias de meu amigo,
eu estava em Charleston,
quando recebi a visita
inesperada de seu
criado, Júpiter.
MUITO DOENTE?
PORQUE NâO ME
DISSE ANTES?
ESTÁ DE CAMA?
Aquele besouro de
ouro que o senhor viu.
O bicho tem espinhos e
dentes, é mau, mordeu o
seu William. É por isso
que ele fala dormindo
e sonha com ouro.
Não senhor, fica
andando de um lado pro
outro o dia todo, com
uns números estranhos
escritos numa lousa,
branco como leite e de
cabeça baixa.
O Que houve,
Júpiter? Nunca vi
você tão abatido!
Como está seu amo?
O negócio do bicho,
só isso. Tenho
certeza de que o
bicho picou a cabeça
do seu William.
Fala dormindo!
Tem algum recado
do seu amo para
mim, Júpiter?
Nada bem,
sinhô. Ele diz
que não tem
nada, mas
está muito
doente, que
eu sei.
Não estou entendendo,
Júpiter. Você não faz
ideia do motivo dessa
conduta? Aconteceu
alguma coisa ruim?
Tenho, sim
senhor.
Eu trouxe
esta carta.
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Meu querido amigo,
Faz tempo que não vejo você e, desde a
última vez, tenho tido muitos motivos
para estar preocupado.
Preciso contar-lhe algo, mas não
sei se devo nem como fazê-lo.
Se não for transtorno demais,
peço-lhe que venha com
Júpiter. Gostaria de ver
você nesta noite mesmo.
Asseguro-lhe que
é por motivo da
maior importância.
Sempre seu,
William Legrand
CHEGAMOS AO CAIS E ESPANTEI-ME
AO VER, NO BARCO DE LEGRAND, UMA
FOICE E VÁRIAS PÁS APARENTEMENTE
NOVAS EM FOLHA.
Algo no tom da carta me inquietou.
Não parecia o mesmo Legrand que eu
conhecia. O que ele teria metido na
cabeça? Que assunto da maior
importância seria aquele?
TEMI QUE, POR ALGUM INFORTÚNIO, MEU
AMIGO TIVESSE PERDIDO O JUÍZO. SEM
HESITAR UM SEGUNDO, PREPAREI-ME
PARA IR COM JÚPITER.

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Mas, percebendo
que Júpiter continuava
obcecado
pelo besouro, não
quis fazer mais
perguntas.
O ESTADO DE LEGRAND PARECEU-ME MUITO INQUIETANTE E,
AO PERGUNTAR-LHE DO ESCARAVELHO, FIQUEI AINDA
MAIS PREOCUPADO.
Nada no mundo irá
me separar deste
escaravelho. Sabe que
Júpiter tinha toda razão?
Este inseto é de ouro
maciço.
ERA UM BELO ESCARAVELHO, UM ACHADO,
DO PONTO DE VISTA CIENTÍFICO. O PESO
E A COR ATÉ JUSTIFICAVAM A IDEIA DE
JÚPITER, MAS A FALTA DE SENSATEZ DO
MEU AMIGO ME DEIXAVA PERPLEXO.
Meu caro, permita que
lhe dê um conselho.
A primeira coisa
que você deve fazer
é meter-se na cama,
você necessita...
Uma forte brisa nos
levou rapidamente à
pequena enseada ao
norte do forte
Moultrie.
Após uma caminhada de cerca de três
quilômetros, chegamos à cabana por
volta das três da tarde.
O besouro vai me deixar rico.
Vai me devolver todo o
patrimônio da minha família.
Veja! Veja você mesmo!
Não estou doente.
Se quer me ajudar de
verdade, direi como
pode fazê-lo. Júpiter
e eu vamos realizar
uma expedição ao
morro. Venha
conosco.
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Essa expedição
ao morro tem
alguma coisa a
ver com o maldito
escaravelho?
MAS O QUE
VAMOS
FAZER?
SIM.
Neste caso, não
quero participar
dessa aventura
absurda.
COM O CORAåâO PESADO, DECIDI ACOMPANHAR MEU AMIGO, FAZENDO-O
PROMETER QUE, NA VOLTA, SEGUIRIA MEUS CONSELHOS COMO SE EU
FOSSE SEU MÉDICO.
Espere! Quanto
tempo isso vai
demorar?
ESSE
BICHO
MALDITO.
Então, teremos de ir
sozinhos, Júpiter e eu.
Partiremos
agora
mesmo e
estaremos
de volta
amanhã
cedo.
Você já
vai ver,
já vai ver...
CRUZAMOS A ENSEADA NUM BARQUINHO E NOS
EMBRENHAMOS POR UMA REGIâO EXTREMAMENTE
SELVAGEM E DESOLADA, ONDE NâO SE VIA RASTRO
HUMANO.