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Cartografia das livrarias do - ECA - USP

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES * DEP. DE JORNALISMO E EDITORAÇÃO<br />

<strong>Cartografia</strong> <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong><br />

CENTRO DE SÃO PAULO<br />

(1930-1970)<br />

Martin Fernan<strong>do</strong> de Araújo Gonçalves<br />

RELATÓRIO FINAL<br />

Trabalho apresenta<strong>do</strong> ao Programa de Iniciação<br />

Científica da Pró-Reitoria da <strong>USP</strong>, feito com<br />

apoio <strong>do</strong> PIBIC/CNPq<br />

(agosto/2011 a julho/2012).<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Marisa Mi<strong>do</strong>ri Deaecto<br />

São Paulo<br />

2012


<strong>Cartografia</strong> <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong><br />

CENTRO DE SÃO PAULO<br />

(1930-1970)<br />

MARTIN FERNANDO DE ARAÚJO GONÇALVES


Sumário<br />

Introdução ...............................................................................................................................4<br />

O comércio de livros no Centro de São Paulo ........................................................... 10<br />

Ascensão (1930-­‐1949) ...............................................................................................................10<br />

O Departamento de Cultura ..................................................................................................................10<br />

Instituições de ensino superior...........................................................................................................12<br />

Auge (1950-­‐1959)........................................................................................................................15<br />

Livros universitários................................................................................................................................15<br />

Best-­‐sellers...................................................................................................................................................18<br />

Centro Novo .................................................................................................................................................21<br />

Configuração <strong>das</strong> lojas.............................................................................................................................22<br />

Declínio (1960-­‐1979) .................................................................................................................25<br />

AI-­‐5 ..................................................................................................................................................................25<br />

Mudanças no centro financeiro...........................................................................................................25<br />

Outros canais de distribuição...............................................................................................................27<br />

<strong>Cartografia</strong> <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong> Centro de São Paulo.................................................... 31<br />

Conclusão .............................................................................................................................. 49<br />

Fontes e Bibliografia ......................................................................................................... 53


Mapas, gráficos e tabelas<br />

Mapa 1. Centro Velho de São Paulo, 06<br />

Mapa 2. Centro Novo de São Paulo, 07<br />

Gráfico 1. Número de <strong>livrarias</strong> no Centro de São Paulo por década; 09<br />

Gráfico 2. Distribuição <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> entre o Centro Velho e o Centro Novo<br />

de São Paulo por década, 50<br />

Tabela 1. Livrarias <strong>do</strong> Centro de São Paulo entre 1959 e 1961, 46


Introdução<br />

O OBJETIVO primordial desta pesquisa foi fazer a listagem <strong>do</strong>s estabelecimentos<br />

comerciais volta<strong>do</strong>s ao livro na região central da cidade de São Paulo entre as déca<strong>das</strong><br />

de 1930 e 1970. As <strong>livrarias</strong> foram analisa<strong>das</strong> <strong>do</strong> ponto de vista de seu público<br />

consumi<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> tipo de obra vendida.<br />

Em relação ao comércio de livros, foi no Centro que as <strong>livrarias</strong> se aglomeraram<br />

até a década de 1950, sen<strong>do</strong> por isso que se optou pela região central como foco de<br />

pesquisa. O Centro de São Paulo é divi<strong>do</strong> em duas partes: o Centro Velho e o Centro<br />

Novo. O Centro Velho é forma<strong>do</strong> pelo “triângulo histórico”, cujas pontas são forma<strong>das</strong><br />

pela Praça da Sé, o Largo São Bento e o Largo São Francisco. Conectan<strong>do</strong> os três<br />

pontos estão as ruas Sena<strong>do</strong>r Feijó, Boa Vista e Líbero Badaró. Dentro da área formada,<br />

destacam-se alguns <strong>do</strong>s pontos mais importantes: as ruas 15 de Novembro, Benjamin<br />

Constant, José Bonifácio, Quintino Bocaiúva e São Bento, além <strong>das</strong> praças <strong>do</strong> Patriarca<br />

e Antônio Pra<strong>do</strong>.<br />

Atravessan<strong>do</strong> o vale <strong>do</strong> Anhangabaú, pelos viadutos <strong>do</strong> Chá ou da Santa<br />

Efigênia, chega-se ao Centro Novo de São Paulo, que é delimita<strong>do</strong> pelas praças da<br />

República, José Gaspar, Ramos de Azeve<strong>do</strong> e o largo <strong>do</strong> Paissandu. Interligan<strong>do</strong> esses<br />

pontos estão as ruas da Consolação, Cel. Xavier de Tole<strong>do</strong>, Conselheiro Crispiniano,<br />

além <strong>das</strong> aveni<strong>das</strong> Rio Branco, Ipiranga e São Luís. Dentre algumas <strong>das</strong> vias mais<br />

importantes dessa região é possível citar as ruas 24 de Maio, Barão de Itapetininga, José<br />

de Barros, Marconi, 7 de Abril, Bráulio Gomes e a avenida São João.<br />

A divisão apontada acima, tanto <strong>do</strong> Centro Novo como <strong>do</strong> Centro Velho, é a<br />

configuração distrital <strong>do</strong>s bairros centrais. Na pesquisa ela foi usada como um foco, não<br />

como um delimita<strong>do</strong>r, o que permitiu que importantes ruas próximas fossem também<br />

estuda<strong>das</strong>. É por isso que a rua Maria Antônia, por exemplo, foi incluída no trabalho,<br />

pois as unidades de ensino superior nela presentes (a Faculdade de Filosofia da <strong>USP</strong> e a<br />

4


Universidade Mackenzie) foram de grande importância para o comércio livreiro no<br />

Centro da cidade 1 .<br />

Para listar o nome e o endereço <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> existentes no perío<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong><br />

identificar o seu público consumi<strong>do</strong>r e o tipo de produto ofereci<strong>do</strong>, recorreu-se a<br />

entrevistas e depoimentos de livreiros e de antigos frequenta<strong>do</strong>res. Além disso,<br />

pesquisamos catálogos telefônicos e guias turísticos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.<br />

1 Em quinze minutos de caminhada, os estudantes universitários chegavam à Praça da República, onde<br />

podiam adquirir seus livros de estu<strong>do</strong>. Nas palavras de Alfre<strong>do</strong> Bosi, “[...] para frequentar uma boa<br />

livraria era necessário percorrer as ruas próximas <strong>do</strong> Teatro Municipal ou chegar até o chama<strong>do</strong> Centro<br />

Velho que desembocava na Praça da Sé. Com o tempo o estudante de Letras da Faculdade de Filosofia<br />

aprendeu que poderia ir muito bem a pé da rua Maria Antônia até a Praça da República”. Alfre<strong>do</strong> Bosi,<br />

“Quem diz livraria diz refúgio”, Livro (Revista <strong>do</strong> NELE), n. 1, São Paulo, maio 2011, pp.13-18.<br />

5


Mapa 1. Centro Velho de São Paulo (fonte: Viva o Centro)<br />

6


Mapa 2. Centro Novo de São Paulo (fonte: Viva o Centro)<br />

7


Além desse primeiro objetivo, durante a pesquisa surgiu a necessidade de<br />

explicar outra questão. A partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s, é possível perceber que da década<br />

de 1930 à de 1940 há uma linha ascendente relativa ao número de <strong>livrarias</strong> no Centro de<br />

São Paulo, subin<strong>do</strong> de dezesseis para vinte e <strong>do</strong>is estabelecimentos. Desde o século XIX<br />

as <strong>livrarias</strong> paulistas concentravam-se na região central, porém, o aumento no número<br />

<strong>das</strong> lojas era bem lento. Na década de 1850 elas eram três; em cerca de vinte anos o<br />

número aumentou para cinco e, na década de 1890, existiam oito <strong>livrarias</strong> 2 . Em 1919<br />

havia apenas 35 <strong>livrarias</strong> em to<strong>do</strong> o país, estan<strong>do</strong> a maioria no Rio de Janeiro 3 . Além de<br />

relativamente abrupto, tal progresso comercial na década de 1930 é peculiar, sen<strong>do</strong><br />

analisa<strong>do</strong> como um des<strong>do</strong>bramento <strong>das</strong> mudanças observa<strong>das</strong> na capital paulista após a<br />

Revolução Constitucionalista, de 1932. O número de <strong>livrarias</strong> deu um salto ainda maior<br />

nos anos 1950, totalizan<strong>do</strong> 78 estabelecimentos – que foi o momento de maior<br />

concentração de <strong>livrarias</strong> na região central da cidade, segun<strong>do</strong> nosso levantamento. Nos<br />

anos seguintes, porém, as cifras sofreram uma queda brusca, de mo<strong>do</strong> que na década de<br />

1970 temos registro de apenas dezessete <strong>livrarias</strong> no Centro da cidade. Assim, houve a<br />

preocupação de, além <strong>do</strong> levantamento <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong>, também identificar os fatores que<br />

levaram a essa ascensão entre as déca<strong>das</strong> de 1930 e de 1940, ao pico na década de 1950,<br />

ao qual se seguiu o decréscimo nas duas déca<strong>das</strong> seguintes.<br />

2 Ver Laurence Hallewell, O livro no Brasil, São Paulo, T.A. Queiroz /Edusp, 1985, p.232 e Marisa<br />

Mi<strong>do</strong>ri Deaecto, O Império <strong>do</strong>s livros, São Paulo, Edusp; Fapesp, 2011, pp.373-376.<br />

3 Olímpio de Souza Andrade, O livro Brasileiro: progressos e problemas (1920-1971), Rio de Janeiro,<br />

Ed. Paralelo, 1974, p.29.<br />

8


Gráfico 1. Número de <strong>livrarias</strong> no Centro de São Paulo por década (fonte: levantamento <strong>do</strong> autor)<br />

A fim de compreender a conjuntura <strong>do</strong> comércio livreiro nesse perío<strong>do</strong>, foi feito<br />

o cruzamento da localização dessas <strong>livrarias</strong> com a configuração urbana da época,<br />

relacionan<strong>do</strong> a concentração de estabelecimentos em cada década com o contexto<br />

histórico <strong>do</strong> momento.<br />

Para facilitar a exposição, na primeira parte deste trabalho serão discuti<strong>do</strong>s os<br />

fatores que levaram ao aumento e ao declínio <strong>do</strong> número de <strong>livrarias</strong> no Centro de São<br />

Paulo. A segunda parte será dedicada ao levantamento <strong>do</strong>s estabelecimentos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>,<br />

apresentan<strong>do</strong> um breve histórico <strong>das</strong> lojas mais importantes da época.<br />

9


O comércio de livros no Centro de São Paulo<br />

Ascensão (1930-­‐1949)<br />

O Departamento de Cultura<br />

APÓS a derrota para Getúlio Vargas na Revolução Constitucionalista, que entre julho e<br />

outubro de 1932 transformara a cidade de São Paulo em um campo de batalha, a elite<br />

paulista procurou se renovar no campo <strong>do</strong> ensino para ser o novo centro cultural<br />

brasileiro, uma vez que deixara de ser o centro político. Em discurso de paraninfo da<br />

turma da <strong>USP</strong> de 1937, note-se, a primeira, Júlio de Mesquita Filho foi bem claro nessa<br />

posição: “Venci<strong>do</strong>s pelas armas, sabíamos perfeitamente que só pela ciência e pela<br />

perseverança no esforço voltaríamos a exercer a hegemonia que durante longas déca<strong>das</strong><br />

desfrutamos no seio da federação” 4 .<br />

Com esse objetivo foi cria<strong>do</strong>, em 1935, por alguns participantes da Semana de<br />

22, o Departamento de Cultura, ten<strong>do</strong> como primeiro diretor Mário de Andrade. Foi<br />

uma maneira de democratizar a cultura, uma “tentativa consciente”, segun<strong>do</strong> Antonio<br />

Candi<strong>do</strong>. Para tanto, seriam feitos investimentos em atividades educacionais, artísticas e<br />

culturais. Dois anos depois, em 1937, visan<strong>do</strong> à mesma meta, foi aberto o Instituto<br />

Nacional <strong>do</strong> Livro (INL), responsável pela publicação de obras raras e pela distribuição<br />

de livros subsidia<strong>do</strong>s, o que pretendia fomentar o merca<strong>do</strong> editorial.<br />

Para desenvolver o hábito da leitura entre a população, o Departamento de<br />

Cultura começou a instalar uma rede de bibliotecas na cidade. A Biblioteca Municipal –<br />

hoje Mário de Andrade –, dirigida em 1935 por Rubens Borba de Morais, era voltada<br />

para a pesquisa acadêmica e contribuiu para os estu<strong>do</strong>s de universitários recém-<br />

chega<strong>do</strong>s, sem dinheiro para adquirir to<strong>do</strong>s os livros exigi<strong>do</strong>s pelas faculdades, como foi<br />

o caso de Florestan Fernandes e Aziz Ab’Saber. O depoimento desse último professor é<br />

significativo por mostrar a importância da Biblioteca como centro cultural:<br />

4 “Discurso de paraninfo da primeira turma da FFCL da <strong>USP</strong>”, 25/01/1937. Cita<strong>do</strong> por Maria Cecília<br />

Loschiavo <strong>do</strong>s Santos, <strong>USP</strong>: Alma mater paulista, São Paulo, Edusp, s./d.<br />

10


Não poden<strong>do</strong> comprar livros porque não existiam condições socioeconômicas<br />

para tanto, tornei-me um “rato” de biblioteca, e era na Biblioteca Mário de<br />

Andrade, no início da Consolação, que eu passava boa parte <strong>das</strong> tardes de sába<strong>do</strong>.<br />

(...) Ali tomei conhecimento <strong>das</strong> conferências programa<strong>das</strong> para o auditório da<br />

biblioteca, vin<strong>do</strong> a conhecer lá, de um canto <strong>das</strong> cadeiras, figuras como Sérgio<br />

Milliet, Ronald de Carvalho, Paulo Duarte e diversos intelectuais que haviam<br />

participa<strong>do</strong> da Semana de Arte Moderna de 1922. 5<br />

O Departamento também criou a Biblioteca Infantil – atualmente Monteiro<br />

Lobato –, que apresentava atividades culturais e pedagógicas. Embora inicialmente<br />

restrita aos filhos da elite intelectual, teve grande impacto na cultura paulista por ter<br />

incentiva<strong>do</strong> os primeiros estu<strong>do</strong>s de vários jovens que se destacariam quan<strong>do</strong><br />

adultos. Nos registros da biblioteca encontram-se nomes como os <strong>do</strong>s irmãos<br />

Augusto e Harol<strong>do</strong> de Campos, de Boris Fausto e de Alfre<strong>do</strong> Bosi. No final da<br />

década de 1930, eram empresta<strong>do</strong>s cerca de 2.800 livros por mês na Biblioteca<br />

Infantil 6 .<br />

Para atender à população sem o hábito de leitura, foi desenvolvida a Biblioteca<br />

Circulante, uma caminhonete adaptada que ia para as praças e os bairros da periferia.<br />

Borba de Morais achava que essa era uma ótima maneira de divulgar as bibliotecas<br />

tradicionais, pois muitas pessoas ainda não sabiam da possibilidade de levar livros<br />

empresta<strong>do</strong>s para casa. Mário de Andrade concordava com os benefícios dessa forma de<br />

divulgação cultural: “Esse gênero de biblioteca que em vez de esperar em casa pelo<br />

público vai em busca de seu público onde ele estiver (...) destina-se a proporcionar aos<br />

frequenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s parques uma leitura imediata, dan<strong>do</strong> assim ao far-niente uma<br />

orientação cultural” 7 .<br />

To<strong>das</strong> as iniciativas <strong>do</strong> Departamento de Cultura durante a década de 1930<br />

prepararam o merca<strong>do</strong> editorial e possibilitaram o grande desenvolvimento que ele<br />

conheceria nas déca<strong>das</strong> seguintes. Antonio Candi<strong>do</strong> descreveu essas políticas de leitura<br />

5 Aziz Ab’Saber, São Paulo – Ensaios entreveros, São Paulo: Edusp /Imprensa Oficial, 2004, p.15.<br />

6 Patrícia Raffaini Tavares, Esculpin<strong>do</strong> a cultura na forma Brasil – O Departamento de Cultura de São<br />

Paulo (1935-1938), São Paulo, Humanitas, 2001, p.68.<br />

7 Idem, p.69.<br />

11


como a tentativa “de arrancá-la <strong>do</strong>s grupos privilegia<strong>do</strong>s para transformá-la em fator de<br />

humanização da maioria, através de instituições planeja<strong>das</strong>” 8 .<br />

Instituições de ensino superior<br />

O DESEJO de São Paulo por tornar-se o novo polo cultural contribuiu também para a<br />

abertura de instituições de ensino superior como a Escola Livre de Sociologia (1933), a<br />

Universidade de São Paulo (1934), a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo<br />

(1946) e a Universidade Mackenzie (1952). Segun<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s mais importantes livreiros,<br />

à época, o Departamento de Cultura e a <strong>USP</strong> foram “duas instituições inova<strong>do</strong>ras que<br />

criavam nova mentalidade e reformulavam as exigências <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r de livros” 9 .<br />

A Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), fundada em 1933 por um grupo<br />

de empresários encabeça<strong>do</strong>s por Roberto Simonsen, teve grande influência <strong>das</strong> ciências<br />

sociais norte-americanas, principalmente da Escola de Chicago. A ELSP tinha como<br />

objetivo o desenvolvimento de políticas intervencionistas a partir de pesquisas<br />

empíricas, forman<strong>do</strong> a elite dirigente que representaria os interesses paulistas 10 .<br />

A <strong>USP</strong>, criada em 1934, na verdade reuniu instituições já existentes – a<br />

Faculdade de Direito, a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina, a Escola Superior<br />

de Agricultura e a Faculdade de Farmácia e O<strong>do</strong>ntologia – em torno da nova Faculdade<br />

de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), cuja função era integrar os demais cursos em<br />

torno <strong>do</strong> espírito universitário. A partir de 1935 a FFCL trouxe diversos intelectuais da<br />

França para lecionar e pesquisar na faculdade. Entre esses estão Pierre Deffontaines,<br />

Roger Bastide, Jean Maugüé, Alfre<strong>do</strong> Bonzon, Pierre Monbeig, Fernand Braudel e<br />

Claude Lévi-Strauss. Paulo Eduar<strong>do</strong> Arantes diz que, nesse momento, “principiamos a<br />

importar, peça por peça, um Departamento Francês de Filosofia, quer dizer, juntamente<br />

com as <strong>do</strong>utrinas consumi<strong>das</strong> ao acaso <strong>do</strong>s ventos europeus e <strong>do</strong>s acha<strong>do</strong>s de livraria, a<br />

própria usina que as produzia em escala acadêmica” 11 .<br />

A FFCL passou por diversos endereços: na Alameda Glete, na avenida<br />

Brigadeiro Luís Antônio e na praça da República. Em 1949, ganhou prédio próprio na<br />

8<br />

Antonio Candi<strong>do</strong>, “Prefacio”, em Paulo Duarte, Mário de Andrade por ele mesmo, São Paulo, Hucitec,<br />

1985.<br />

9<br />

Martins – 30 anos, São Paulo, Livraria Martins, 1967, p.20.<br />

10<br />

Fernan<strong>do</strong> Limongi, “A Escola de Sociologia e Política em São Paulo”, em Sergio Miceli (org.),<br />

História <strong>das</strong> Ciências Sociais no Brasil, São Paulo, Ed. Sumaré, 2001.<br />

11<br />

Paulo Eduar<strong>do</strong> Arantes, Um Departamento Francês de ultramar, São Paulo, Paz e Terra, 1994, p.61.<br />

12


ua Maria Antônia, onde permaneceu até 1968, quan<strong>do</strong> o edifício foi incendia<strong>do</strong> durante<br />

o conflito em que alunos da <strong>USP</strong> e <strong>do</strong> Mackenzie se enfrentaram 12 .<br />

A Pontifícia Universidade Católica (PUC) foi criada em 1946, ten<strong>do</strong> um de seus<br />

campi na rua Marquês de Paranaguá, próximo à rua Maria Antônia. A PUC surgiu<br />

quan<strong>do</strong> a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” – fundada pela<br />

Ordem <strong>do</strong>s Cônegos de Santo Agostinho, em 1933 – e a Faculdade de Filosofia,<br />

Ciências e Letras de São Bento, de 1940, vinculam-se à Universidade Católica de São<br />

Paulo, fundada em 1945 13 . Apesar de a Faculdade de São Bento remontar ao curso de<br />

filosofia ofereci<strong>do</strong> pelos monges desde 1908, os professores Paulo Arantes e José<br />

Carlos Estevão afirmam que “o nascimento <strong>do</strong>s cursos de filosofia entre nós data, de<br />

fato, da fundação da Faculdade de Filosofia da <strong>USP</strong>” 14 , porque a chamada filosofia<br />

católica, nas déca<strong>das</strong> de 1930 e 1940 ainda era muito influenciada pela escolástica –<br />

fato que começaria a mudar nos anos 1950.<br />

A Universidade Mackenzie foi criada em 1952, ten<strong>do</strong> suas raízes na Escola<br />

Americana (1871) e no Colégio Protestante (1886), instala<strong>do</strong>s no Brasil por<br />

missionários americanos. A ligação com o país e a religião de origem era tão forte que<br />

até 1961 to<strong>do</strong>s os diretores dessas instituições eram protestantes americanos 15 . O<br />

Colégio Protestante, ou Mackenzie College, possuía cursos de nível superior em<br />

literatura e ciências. Seu ensino era basea<strong>do</strong> nos programas <strong>das</strong> universidades de Nova<br />

York, de mo<strong>do</strong> que o diploma era equivalente aos dessas instituições. Em 1938 o<br />

Mackenzie adaptou-se aos códigos de ensino brasileiros, alteran<strong>do</strong> seu nome para<br />

Escola de Engenharia Mackenzie. Na década seguinte, em 1947, a instituição fun<strong>do</strong>u<br />

sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, seguida pela Faculdade de Arquitetura e<br />

Urbanismo e a Faculdade de Ciências Econômicas, to<strong>das</strong> posteriormente unifica<strong>das</strong> na<br />

Universidade Mackenzie 16 – cujo prédio fica na esquina da rua Itambé com a Maria<br />

Antônia.<br />

12<br />

Maria Cecília Loschiavo <strong>do</strong>s Santos, <strong>USP</strong>: Alma mater paulista, São Paulo, Edusp, s./d., p.39.<br />

13<br />

Salma Tannus Muchail, “Um passa<strong>do</strong> revisita<strong>do</strong> – O curso de Filosofia da PUC/SP”, em Salma Tannus<br />

Muchail (org.), Um passa<strong>do</strong> revisita<strong>do</strong>: 80 anos <strong>do</strong> curso de Filosofia da PUC-SP, São Paulo, Edusc,<br />

1992.<br />

14<br />

José Carlos Estevão, “Sobre os católicos e o ensino de Filosofia em São Paulo”, em Salma Tannus<br />

Muchail (org.), op. cit.<br />

15<br />

Marcel Mendes, Mackenzie em movimento: conjunturas decisivas na história de uma instituição<br />

educacional (1957-1973), São Paulo, <strong>USP</strong>, 2005. Tese de Doutora<strong>do</strong> em História.<br />

16<br />

Idem.<br />

13


Até a década de 1930, o comércio central <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> era sustenta<strong>do</strong> em boa<br />

parte pelas obras jurídicas, e muitos estabelecimentos se concentravam ao re<strong>do</strong>r da<br />

Faculdade de Direito, no Largo São Francisco. Era o caso da Saraiva, que começou<br />

como livraria especializada na venda e na edição de obras dessa área. É importante<br />

destacar que outras lojas da época não cuidavam apenas da venda <strong>do</strong>s livros, mas eram<br />

também editoras. A filial da livraria Freitas Bastos em São Paulo, uma <strong>das</strong> maiores<br />

livraria da cidade, foi considerada na época a editora mais importante de obras jurídicas<br />

no país 17 .<br />

A elite paulista vivia uma forte influência da cultura francesa, e alguns <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos eram especializa<strong>do</strong>s em obras importa<strong>das</strong> nesse idioma. Alguns<br />

exemplos são a livraria Garraux – em funcionamento na cidade desde 1860 – e a<br />

Livraria Martins, que vendia edições de luxo francesas. A alta elite paulista também<br />

consumia obras raras e antigas, por isso o Centro contava com alfarrábios volta<strong>do</strong>s aos<br />

bibliófilos. Dentre as mais importantes temos a Gazeau, aberta em 1893, que também<br />

era sebo — foi o maior sebo da cidade nos anos 1930, com cerca de cem mil volumes<br />

empilha<strong>do</strong>s em galerias subterrâneas, próximas à Praça da Sé 18 .<br />

Os primeiros trabalhos universitários da década de 1930 mudaram o cenário,<br />

pois voltavam-se para as questões nacionais com a abordagem <strong>das</strong> ciências humanas,<br />

produzin<strong>do</strong> obras de caráter inova<strong>do</strong>r. A esse respeito Antonio Candi<strong>do</strong> diz que “só<br />

quan<strong>do</strong> o coloniza<strong>do</strong> interioriza e refaz as pressões culturais <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r, é que ele<br />

tem condições de compor uma obra nova” 19 . Era o que ocorria no país, quan<strong>do</strong> a nova<br />

geração de intelectuais formada por nomes como Caio Pra<strong>do</strong> Jr., Gilberto Freyre, Sérgio<br />

Buarque de Hollanda e Roberto Simonsen, contestavam os pensa<strong>do</strong>res canônicos da<br />

época 20 . Desse mo<strong>do</strong>, as universidades foram importantes para o desenvolvimento <strong>das</strong><br />

<strong>livrarias</strong> por darem início a um merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r ávi<strong>do</strong> por obras até então sem<br />

grande procura, como as de ciências sociais. A Livraria Martins, antes especializada em<br />

publicações de luxo francesas, em 1939 passou a ter como produto principal os livros<br />

universitários.<br />

17<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

18<br />

Idem.<br />

19<br />

Cita<strong>do</strong> por Carlos Guilherme Mota, Ideologia da cultura brasileira (1933-1974), São Paulo, Ática,<br />

1985.<br />

20 Carlos Guilherme Mota, op. cit.<br />

14


Em 1939, o professor americano Donald Pierson foi chama<strong>do</strong> pela ELSP com a<br />

missão de formar sociólogos profissionais com capacidades técnicas e práticas.<br />

Buscan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s estatísticos para o desenvolvimento de políticas públicas de<br />

desenvolvimento, o Brasil se transformou em objeto de pesquisa, resultan<strong>do</strong> em<br />

diversos trabalhos acadêmicos de interesse para o país. A ELSP, no ano de 1941, foi<br />

uma <strong>das</strong> primeiras instituições de ensino superior a desenvolver um programa de pós-<br />

graduação na área de ciências humanas, atenden<strong>do</strong> também alunos da <strong>USP</strong> 21 (as teses de<br />

<strong>do</strong>utora<strong>do</strong> uspianas só iriam aparecer na década seguinte 22 ).<br />

Apesar de sua importância no decênio anterior, até o início da década de 1940 “a<br />

rede universitária ainda não funcionava como fator de estabilização da produção<br />

intelectual” 23 e inicialmente as editoras nacionais não se preocuparam em publicar os<br />

estu<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s pelas novas instituições de ensino superior. Segun<strong>do</strong> Aziz<br />

Ab’Saber, “os membros da missão francesa da <strong>USP</strong> publicaram artigos e estu<strong>do</strong>s<br />

prévios no tradicional jornal paulista O Esta<strong>do</strong> de São Paulo” 24 . No decorrer da década<br />

de 1950, porém, tal situação se alteraria completamente.<br />

Auge (1950-­‐1959)<br />

Livros universitários<br />

EM um guia turístico da década de 1950, lê-se que “o bairro da Sé, coração e centro<br />

comercial da cidade, está [segun<strong>do</strong> o IBGE] em primeiro lugar em relação a<br />

estabelecimentos comerciais, escritórios, bancos e repartições públicas. Enorme massa<br />

popular aflui diariamente aos seus estabelecimentos” 25 . No que se refere aos<br />

estabelecimentos dedica<strong>do</strong>s ao livro, esse fato foi comprova<strong>do</strong> ao catalogarmos to<strong>das</strong> as<br />

<strong>livrarias</strong> disponíveis na lista telefônica de São Paulo <strong>do</strong> ano de 1959 26 . Dos cem<br />

estabelecimentos da capital e da região <strong>do</strong> entorno (Embu, Fazenda Santo Antônio,<br />

Guaianases, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itaquera, Oliveiras, Osasco, Perus, São<br />

Miguel Paulista, Taboão da Serra e Vila Galvão), 65 <strong>livrarias</strong> encontravam-se na região<br />

central da cidade.<br />

21<br />

Fernan<strong>do</strong> Limongi, “A Escola de Sociologia e Política em São Paulo”, em Sergio Miceli (org.),<br />

História <strong>das</strong> Ciências Sociais no Brasil, São Paulo, Ed. Sumaré, 2001.<br />

22<br />

Aziz Ab’Saber, São Paulo: Ensaios entreveros, Edusp /Imprensa Oficial, São Paulo, 2004, p.407.<br />

23<br />

Carlos Guilherme Mota, op. cit.<br />

24<br />

Aziz Ab’Saber, op. cit., p.513.<br />

25<br />

Guia turístico da cidade de São Paulo e de seus arre<strong>do</strong>res, São Paulo, Melhoramentos, [1954].<br />

26<br />

Lista de assinantes da cidade de São Paulo, São Paulo, Cia. Telefônica Brasileira, 1959.<br />

15


No caso específico <strong>do</strong> comércio livreiro, como dissemos anteriormente, estar no<br />

Centro significava estar mais próximo de um público consumi<strong>do</strong>r importante, os<br />

universitário da ELSP, da FFCL, da PUC e <strong>do</strong> Mackenzie. Ao re<strong>do</strong>r da Faculdade de<br />

Filosofia da <strong>USP</strong>, na rua Maria Antônia, instalaram-se várias <strong>livrarias</strong>, como a Pioneira,<br />

a Duas Cidades e a Francesa. Na década 1950, os primeiros alunos universitários<br />

começaram a desenvolver pesquisas acadêmicas que foram publica<strong>das</strong> em livros, assim<br />

como os trabalhos de seus professores. A Pioneira editou Florestan Fernandes e Aziz<br />

Ab’Saber; a Livraria Francesa – pela Difel, sua editora – lançou obras <strong>do</strong>s professores<br />

franceses que lecionavam na <strong>USP</strong>; e a Duas Cidades publicou livros de Antonio<br />

Candi<strong>do</strong> e de seus alunos. Desse mo<strong>do</strong>, além de leitores, as universidades também<br />

contribuíram com autores.<br />

A PUC, durante a década de 1950, esteve em um impasse, dividin<strong>do</strong>-se “entre os<br />

que preservavam a herança <strong>do</strong>gmática e aqueles que se orientaram em direção ao<br />

modelo uspiano” 27 . Isso significava que a universidade católica devia escolher entre a<br />

escolástica e a filosofia contemporânea. O belga Michel Schooyans, professor da PUC<br />

entre 1959 e 1969, buscou traçar a distinção entre teologia e filosofia, aproximan<strong>do</strong> esta<br />

<strong>das</strong> questões nacionais, dizen<strong>do</strong> que restava ainda “ao filósofo brasileiro informar-se<br />

<strong>do</strong>s grandes problemas de seu país” 28 . Dessa forma, gradativamente a PUC afastou-se<br />

da abordagem <strong>do</strong>gmática da filosofia, caminhan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> da produção acadêmica<br />

que despontava.<br />

Com resulta<strong>do</strong>s semelhantes, entre 1957 e 1973 a Universidade Mackenzie<br />

passou por um processo de nacionalização. Gradualmente o seu coman<strong>do</strong> passou <strong>do</strong><br />

Conselho de Cura<strong>do</strong>res da Mackenzie College em São Paulo, com sede em Nova York,<br />

para a Igreja Presbiteriana <strong>do</strong> Brasil 29 . Mais integrada ao país, seu foco de ensino<br />

voltou-se para as questões de âmbito nacional. Juscelino Kubitschek, em discurso de<br />

paraninfo no ano de 1961, declarou que o Mackenzie “vem participan<strong>do</strong> ativamente<br />

dessa reformulação que está imprimin<strong>do</strong> um caráter novo à fisionomia <strong>do</strong> Brasil” 30 .<br />

27 José Carlos Estevão, “Sobre os católicos e o ensino de Filosofia em São Paulo”, em Salma Tannus<br />

Muchail (org.), Um passa<strong>do</strong> revisita<strong>do</strong>: 80 anos <strong>do</strong> curso de Filosofia da RUC-SP, São Paulo, Edusc,<br />

1992.<br />

28 Cita<strong>do</strong> por José Carlos Estevão, op. cit.<br />

29 Marcel Mendes, Mackenzie em movimento: conjunturas decisivas na história de uma instituição<br />

educacional (1957-1973), São Paulo, <strong>USP</strong>, 2005. Tese de Doutora<strong>do</strong> em História.<br />

30 Cita<strong>do</strong> em Marcel Mendes, Mackenzie em movimento: conjunturas decisivas na história de uma<br />

instituição educacional (1957-1973), São Paulo, <strong>USP</strong>, 2005. Tese de Doutora<strong>do</strong> em História, p.136.<br />

16


O número de matrículas nas faculdades entre 1960 e 1972 aumentou em 983% 31<br />

e, como consequência, a demanda <strong>do</strong> público universitário aumentou. Lucien Febvre e<br />

Henri-Jean Martin, referin<strong>do</strong>-se à produção editorial <strong>do</strong> século XVI e XVIII,<br />

escreveram que “nessa época de prosperidade material, de febre intelectual, cada um se<br />

interessa por coisas <strong>do</strong> espírito e os livreiros ativos e cultos podem lançar grandes<br />

empreendimentos” 32 . Este mesmo raciocínio pode ser aplica<strong>do</strong> para São Paulo na<br />

década de 1950. A prosperidade material está relacionada com a industrialização da<br />

cidade e o fato de ter se transforma<strong>do</strong> no “maior centro gráfico editorial <strong>do</strong> país” 33 , ao<br />

passo que a febre intelectual surgiu com o desenvolvimento universitário. Os estudiosos<br />

forma<strong>do</strong>s pela FFCL não se limitavam mais a consumir livros importa<strong>do</strong>s, eles<br />

começaram também a produzir um grande número de obras relevantes. Duas <strong>das</strong><br />

correntes intelectuais mais importantes da época se concentravam nos professores<br />

Florestan Fernandes, na área de sociologia, e Antonio Candi<strong>do</strong>, na de teoria literária.<br />

Carlos Guilherme Mota diz que eles deram “o elo intelectual entre a geração <strong>do</strong>s antigos<br />

catedráticos e a nova” 34 , referin<strong>do</strong>-se, entre outros, a Octavio Ianni, Fernan<strong>do</strong> Henrique<br />

Car<strong>do</strong>so, Roberto Schwarz e Bento Pra<strong>do</strong> Jr.<br />

A livraria Duas Cidades, fundada por José Petronillo de Santa Rosa – então frei<br />

da Ordem Dominicana – inicialmente vendia obras de teologia. Mas pouco depois o<br />

padre, que era um militante de esquerda, se especializou em livros de Filosofia e<br />

Ciências Sociais. Ele também abriu uma editora e, sen<strong>do</strong> amigo de Antonio Candi<strong>do</strong>,<br />

publicou suas obras. Aproveitan<strong>do</strong> o contato com o editor, o crítico literário incentivou<br />

a publicação de seus alunos, como Roberto Schwarz, Davi Arrigucci Jr. e Walnice<br />

Nogueira Galvão 35 .<br />

Como resulta<strong>do</strong> da demanda por livros universitários, e também da oferta de<br />

novos títulos produzi<strong>do</strong>s nesse momento, algumas <strong>livrarias</strong> estabeleci<strong>das</strong> abriram filiais<br />

ou mudaram o enfoque de seus produtos, acompanhan<strong>do</strong> as novas tendências. A livraria<br />

31 Fernan<strong>do</strong> Paixão (coord.), Momentos <strong>do</strong> livro no Brasil, Ática, São Paulo, 1996, p.143.<br />

32 Lucien Febvre & Henri-Jean Martin, O aparecimento <strong>do</strong> livro, São Paulo, Unesp, 1992, p.239.<br />

33 “[...] o jornal Observa<strong>do</strong>r Econômico informava haver São Paulo se consolida<strong>do</strong> na posição de maior<br />

centro gráfico editorial <strong>do</strong> país, imprimin<strong>do</strong> 70% <strong>do</strong>s livros brasileiros.” Hernâni Donato, 100 anos da<br />

Melhoramentos: 1890-1990, São Paulo, Melhoramentos, 1990, p.105.<br />

34 Carlos Guilherme Mota, Ideologia da cultura brasileira (1933-1974), São Paulo, Ática, 1985, p.38.<br />

35 “Walnice Nogueira Galvão, frequenta<strong>do</strong>ra da loja e aluna de Candi<strong>do</strong> na década de 70, lembra-se que<br />

foi ele que lhe ‘levou pela mão’ para publicar um de seus livros pela Duas Cidades. ‘Eu mais ou menos<br />

aproximei esse pessoal’, diz o crítico em referência a seus alunos e à editora”. Rafael Cariello, “Livraria<br />

de intelectuais paulistanos chega ao fim”, Folha de S. Paulo, 26/09/2006.<br />

17


Nobel, por exemplo, instalou nos anos 1950 uma filial na rua Maria Antônia. Nessa<br />

época, a livraria Mestre Jou abriu seu departamento editorial que, para facilitar o acesso<br />

aos livros acadêmicos, passou a publicar traduções de títulos europeus. A livraria<br />

Martins, que além de vender também editava obras jurídicas, passou a trabalhar com<br />

livros de ciências humanas. Sua editora criou diversas coleções nessa área, como a<br />

“Biblioteca Histórica Brasileira”, a “Biblioteca <strong>do</strong> Pensamento Vivo” e a “Biblioteca de<br />

Ciências Sociais”.<br />

Best-sellers<br />

DURANTE a Segunda Guerra Mundial, a influência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se tornou cada<br />

vez mais presente no cenário cultural. Os livreiros, editores e gráficos da época<br />

perceberam que seus negócios poderiam lucrar nesse novo contexto. Nelson Palma<br />

Travassos, diretor da gráfica da Revista <strong>do</strong>s Tribunais, lembran<strong>do</strong>-se <strong>das</strong> consequências<br />

da Primeira Guerra – em que “a criação de novas fontes de produção, uma vez tranca<strong>do</strong>s<br />

os abastecimentos externos, transformaram o Brasil daquele tempo” – tinha certeza de<br />

que “a Segunda Guerra, que se avizinhava de mo<strong>do</strong> incontrolável, teria certamente<br />

efeitos semelhantes, quintuplica<strong>do</strong>s. Daí a convicção da necessidade de expansão da<br />

nossa indústria” 36 .<br />

Dante Moreira Leite, estudan<strong>do</strong> a psicologia <strong>do</strong> povo brasileiro, analisou o<br />

momento político e cultural desse perío<strong>do</strong>:<br />

As estatísticas <strong>das</strong> obras consulta<strong>das</strong> denunciam não somente um notável<br />

alargamento de cultura e maior variedade de tendências e ambições intelectuais,<br />

como ainda o interesse crescente pelas obras norte-americanas, sobretu<strong>do</strong> em<br />

São Paulo e Rio de Janeiro, graças à influência <strong>das</strong> ideias norte-americanas no<br />

movimento de renovação educacional, ao impulso que tomou – sobretu<strong>do</strong> depois<br />

da guerra (1939) – a política pan-americana, à penetração <strong>do</strong>s romances de<br />

autores anglo-saxônicos e à criação, em 1938, de instituições como [o Instituto<br />

Brasil-Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e a União Cultual Brasil-Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s] com o fim de<br />

facilitar a cooperação intelectual e promover, entre os <strong>do</strong>is países, um melhor<br />

36 Nelson Palma Travassos, Pequena história da empresa gráfica da Revista <strong>do</strong>s Tribunais, São Paulo,<br />

Revista <strong>do</strong>s Tribunais, 1969, pp.17-18.<br />

18


conhecimento e mútua compreensão por meio de conferências, exposições de<br />

livros americanos e outras iniciativas culturais. 37<br />

A elite paulista tentou perseverar em sua francofilia, mas a dificuldade de<br />

importar produtos europeus os encarecia de tal maneira, que isto se tornava inviável. O<br />

jornal O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, em 1948, publicou a declaração de um dirigente da<br />

Biblioteca Municipal paulista, para quem “o preço <strong>do</strong> livro francês era tão alto que<br />

impedia até as compras oficiais para as bibliotecas, e que essa situação ameaçava afastar<br />

da cultura francesa as novas gerações brasileiras” 38 .<br />

Os números mostram que, de fato, foi isso o que ocorreu. Em 1953, o Brasil<br />

importou 278.647 quilos de livros da França e 260.779 quilos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. No<br />

ano seguinte, a pre<strong>do</strong>minância se inverteu, com 333.330 quilos de títulos franceses e<br />

500.388 norte-americanos, em sua maioria paperbacks e livros de bolso 39 . Ampara<strong>do</strong>s<br />

no cinema hollywoodiano, esses livros de larga tiragem e baixo custo fizeram sucesso<br />

entre o grande público. Um bom exemplo é E o vento levou, escrito por Margareth<br />

Mitchell. O livro foi rejeita<strong>do</strong> pelas maiores editoras da época, por considerarem um<br />

risco a publicação de um título com tantas páginas sobre a Guerra Civil Americana, um<br />

assunto sem grande interresse para os brasileiros. Uma pequena editora, a Pongetti,<br />

adquiriu os direitos <strong>do</strong> livro que, depois <strong>do</strong> lançamento <strong>do</strong> filme, se tornou um best-<br />

seller 40 .<br />

Quan<strong>do</strong> os livros americanos começaram a vir para o Brasil, o gênero<br />

pre<strong>do</strong>minante era o romance (policial, de aventura, de histórias de amor), que seguia a<br />

estrutura narrativa divulgada pelo cinema. Além desses atrativos, a maior parte <strong>do</strong>s<br />

livros era traduzida pelas editoras, que já estavam pensan<strong>do</strong> em expandir seu público<br />

consumi<strong>do</strong>r 41 . Esses livros passaram a ser cada vez mais procura<strong>do</strong>s, e <strong>livrarias</strong> volta<strong>das</strong><br />

para este tipo de obra começaram a surgir na região central da cidade. Alguns<br />

estabelecimentos antigos também a<strong>do</strong>taram a nova moda. A Saraiva e a sua editora, que<br />

37<br />

Cita<strong>do</strong> por Carlos Guilherme Mota, Ideologia da cultura brasileira (1933-1974), São Paulo, Ática,<br />

1985, p.82.<br />

38<br />

Cita<strong>do</strong> por Olímpio de Souza Andrade, O livro Brasileiro: progressos e problemas, Rio de Janeiro, Ed.<br />

Paralelo, 1974, p.35.<br />

39<br />

Idem, p.37.<br />

40<br />

O livro no Brasil, Laurence Hallewell, São Paulo, T.A. Queiroz/Edusp, 1985, pp.359-360.<br />

41<br />

“[...] Os títulos americanos eram, em sua grande maioria, best-sellers volta<strong>do</strong>s ao consumo de massa,<br />

que por isso eram traduzi<strong>do</strong>s no Brasil, diferente <strong>das</strong> obras da Europa que eram comercializa<strong>das</strong> no<br />

idioma original.” Sergio Miceli, Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945), São Paulo-Rio de<br />

Janeiro, Difel, s./d., pp.77-78.<br />

19


até então eram especializa<strong>das</strong> em obras jurídicas, passaram a diversificar seus títulos em<br />

mea<strong>do</strong>s da década de 1940, editan<strong>do</strong> traduções de livros americanos. A livraria<br />

Siciliano, por outro la<strong>do</strong>, desde o seu início importava livros de bolso americanos. A<br />

livraria Cultura – que começou atenden<strong>do</strong> à colônia alemã em São Paulo – na década de<br />

1950 passou também a investir em best-sellers.<br />

A respeito <strong>do</strong>s best-sellers, Graciliano Ramos comentou que “os romances<br />

brasileiros custam uma ninharia e envelhecem nas prateleiras. Os romances franceses<br />

estão pela hora da morte e são procura<strong>do</strong>s com avidez. [...] O público tem mal gosto,<br />

prefere as choradeiras de Humberto de Campos, que está acaban<strong>do</strong> de moer a paciência<br />

nacional” 42 . Hoje, Humberto de Campos é praticamente desconheci<strong>do</strong>, mas na época ele<br />

vendia mais <strong>do</strong> que outros escritores <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, como José Lins <strong>do</strong> Rego, Rachel de<br />

Queiroz e o próprio Graciliano Ramos. Mesmo lançamentos póstumos <strong>do</strong>s romances<br />

sentimentais de Humberto de Campos se transformaram em campeões de venda, que na<br />

década de 1940 alcançou quinhentos mil exemplares vendi<strong>do</strong>s.<br />

Compara<strong>do</strong> a esse sucesso só o de Jorge Ama<strong>do</strong>, que com Gabriela, Cravo e<br />

Canela, de 1958, conseguiu vender vinte mil livros em duas semanas 43 . Grande parte da<br />

obra de Jorge Ama<strong>do</strong> foi publicada pela editora da Livraria Martins, que com o livro<br />

cita<strong>do</strong> foi capaz de inverter o percurso <strong>do</strong>s best-sellers. José de Barros Martins,<br />

proprietário da livraria, conseguiu que a obra de Jorge Ama<strong>do</strong> fosse traduzida nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. O livro foi o primeiro romance de um autor latino-americano a entrar<br />

na lista <strong>do</strong>s mais vendi<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> americano 44 .<br />

Outro exemplo de best-seller nacional é a escritora Dinah Silveira de Queiroz.<br />

Seu livro de estreia, Flora<strong>das</strong> na serra, de 1939, foi bem recebi<strong>do</strong> pelo público e<br />

ganhou uma versão cinematográfica, produzida pela então prestigiosa Companhia Vera<br />

Cruz. Porém, é de 1954 o seu livro mais conheci<strong>do</strong>, A muralha, publica<strong>do</strong> inicialmente<br />

em capítulos na revista O Cruzeiro. Lança<strong>do</strong> em forma de livro, teve várias edições,<br />

ganhan<strong>do</strong> adaptações para o rádio e a televisão. O apelo de seus romances junto ao<br />

grande público se deve ao fato de que seus “enre<strong>do</strong>s são repletos de movimento, e há<br />

várias sugestões sexuais, embora a escritora mantenha o decoro na linguagem” 45 .<br />

42<br />

Cita<strong>do</strong> em Lucila Soares, Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r 110, São Paulo, José Olympio, 2006, p.142.<br />

43<br />

O livro no Brasil, Laurence Hallewell, São Paulo, T.A. Queiroz/Edusp, 1985, p.423.<br />

44<br />

Idem, p.424.<br />

45<br />

“Dinah: best-seller nos anos 40 e 50”. Disponível em<br />

20


Nesse perío<strong>do</strong>, as maiores editoras <strong>do</strong> país tinham sua coleção voltada ao grande<br />

público. A Editora Globo, de Porto Alegre, publicava a “Coleção Amarela”, com<br />

histórias de detetive como as escritas por Agatha Christie e Raymond Chandler; e a<br />

“Coleção Universo”, com livros de aventuras. Em São Paulo, a Cia. Editora Nacional<br />

lançou a “Coleção Parato<strong>do</strong>s” e a “Terramarear”, com títulos como Capitão Blood e<br />

Tarzan. A Saraiva publicava a “Coleção Saraiva”, com biografias romancea<strong>das</strong> de<br />

personagens heroicos. A José Olympio, <strong>do</strong> Rio de Janeiro, apesar de não ter uma<br />

coleção específica nessa área, era a editora <strong>do</strong>s sucessos de Humberto de Campos.<br />

A invasão <strong>do</strong>s best-sellers fortaleceu o merca<strong>do</strong> editorial nacional, não apenas<br />

pelo aumento de ven<strong>das</strong>, mas também pelo reconhecimento <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s autores<br />

brasileiros. Para Antonio Candi<strong>do</strong>, “nos decênios de 1930 e 1940 houve uma<br />

confluência de fatores que fez <strong>do</strong> romance o gênero privilegia<strong>do</strong>, com a<br />

profissionalização (relativa) <strong>do</strong> escritor graças à indústria <strong>do</strong> livro e ao que Sergio<br />

Miceli chama de ‘substituição de importações’ no tipo de leitura no momento da entrada<br />

maciça <strong>do</strong>s padrões norte-americanos” 46 .<br />

Centro Novo<br />

UM FATO característico <strong>do</strong>s anos 1950 e <strong>do</strong> final da década anterior é que as <strong>livrarias</strong><br />

começaram a se instalar no Centro Novo da cidade. Até a década de 1930, to<strong>das</strong> as<br />

<strong>livrarias</strong> da região central de que temos registro se concentravam no Centro Velho,<br />

algumas atraí<strong>das</strong> pela Faculdade de Direito no Largo São Francisco. O auge <strong>do</strong> Centro<br />

Velho ocorreu durante os primórdios da industrialização da cidade, entre 1910 e 1940 47 .<br />

Nesse perío<strong>do</strong> a rua Direita, a rua São Bento e a Praça <strong>do</strong> Patriarca abrigavam os<br />

estabelecimentos comerciais frequenta<strong>do</strong>s pela elite paulista, como a Casa Fachada<br />

(perfumaria), o Mappin Stores (a mais importante loja de departamento da época), o<br />

Café Acadêmico e o Cine Rosário 48 .<br />

<br />

46<br />

Antonio Candi<strong>do</strong>, “Prefácio”, em Sergio Miceli, Intelectuais à brasileira, São Paulo, Cia. <strong>das</strong> Letras,<br />

2001.<br />

47<br />

Raquel Rolnick, São Paulo, 3. ed., São Paulo, Publifolha, 2009, p. 45.<br />

48<br />

Antônio Rodrigues Porto, História da cidade de São Paulo através de suas ruas, São Paulo, Carthago,<br />

1997.<br />

21


O Centro Novo deu um salto em seu desenvolvimento nas déca<strong>das</strong> seguintes à<br />

Segunda Guerra Mundial, entre 1940 e 1960 49 . Quan<strong>do</strong> ganhou prestígio, o Centro<br />

Novo atraiu o comércio de luxo, que se concentrou na Rua Marconi e na Rua Barão de<br />

Itapetininga – uma <strong>das</strong> mais elegantes de São Paulo, com estabelecimentos de alto<br />

padrão, como a Confeitaria Vienense 50 . É significativo como exemplo o caso <strong>do</strong><br />

Mappin, que se mu<strong>do</strong>u <strong>do</strong> Centro Velho para o Centro Novo, na Praça Ramos, onde se<br />

tornou uma referência no comércio paulista 51 .<br />

Segun<strong>do</strong> nosso levantamento, na década de 1950 o Centro Novo chegou a<br />

possuir 51 <strong>livrarias</strong>, enquanto que no Centro Velho havia 27 estabelecimentos. A<br />

livraria Parthenon, <strong>do</strong> bibliófilo José Mindlin, instalou-se na Barão de Itapetininga, na<br />

década de 1950. A livraria Brasiliense, de Monteiro Lobato e Caio Pra<strong>do</strong> Jr., foi<br />

inaugurada num prédio próprio, também na Barão de Itapetininga, tornan<strong>do</strong>-se a mais<br />

luxuosa da cidade. Na Rua Marconi, a Teixeira (uma <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> de maior prestígio em<br />

São Paulo, fundada em 1876) instalou sua nova loja 52 . Na mesma rua ficava a livraria<br />

Jaraguá, de Alfre<strong>do</strong> Mesquita, que era uma reprodução <strong>do</strong>s salões da elite paulista, e<br />

possuía até uma sala de chá 53 .<br />

Configuração <strong>das</strong> lojas<br />

A DIFERENÇA entre as <strong>livrarias</strong> volta<strong>das</strong> ao leitor culto e ao grande público não se<br />

limitava aos títulos vendi<strong>do</strong>s. Pela descrição <strong>do</strong>s estabelecimentos, o contraste também<br />

era visível na própria configuração <strong>das</strong> lojas. As <strong>livrarias</strong> para o grande público<br />

privilegiavam a rápida circulação, enquanto que os estabelecimentos acadêmicos<br />

prezavam a permanência <strong>do</strong> cliente. Na livraria Duas Cidades, por exemplo, havia<br />

mesas para que os clientes pudessem consultar as obras antes de comprá-las; o<br />

proprietário mesmo, Santa Rosa, “recebia a clientela, para longas conversas sobre<br />

livros” 54 . A Teixeira se assemelhava a um museu, expon<strong>do</strong> móveis e edições antigas. A<br />

livraria Freitas Bastos tinha a chamada “sala <strong>do</strong>s amigos da livraria”, onde os clientes<br />

49<br />

Raquel Rolnick, op. cit., p. 45.<br />

50<br />

Antônio Rodrigues Porto, op. cit.<br />

51<br />

Idem.<br />

52<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

53<br />

“A livraria Jaraguá é uma <strong>das</strong> últimas conquistas <strong>do</strong> grã-finismo paulista; é também uma casa de chá<br />

onde Fifi, Zezé e Carminha se encontram to<strong>das</strong> as tardes para falar de tu<strong>do</strong>, menos de livros.” Joel<br />

Silveira, A milésima segunda noite da Avenida Paulista, São Paulo, Cia. <strong>das</strong> Letras, 2003, p.4.<br />

54<br />

“Liquidação de clássicos marca o fim de livraria histórica”. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, 23/09/2006.<br />

Disponível em <br />

22


podiam fazer reuniões e consultar obras de referência. A Jaraguá, como foi dito, tinha<br />

uma sala de chá, e a livraria Brasiliense realizava em seus salões exposições de artistas<br />

europeus 55 .<br />

Existiam também aqueles estabelecimentos cheios de livros empilha<strong>do</strong>s, quase<br />

em desordem, como a livraria Gazeau, que possuía galerias subterrâneas. A livraria<br />

Ornabi tinha dez salas no Edifício <strong>das</strong> Arca<strong>das</strong> dedica<strong>das</strong> à literatura universal, num <strong>do</strong>s<br />

maiores acervos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> 56 . No caos que aparentemente reinava na maioria desses<br />

estabelecimentos, os bibliófilos usam o termo “garimpar” para se referir às horas que<br />

passavam vasculhan<strong>do</strong> entre as centenas de volumes.<br />

Amaral Vieira, diretor da editora da FVG em 1972, criticava as <strong>livrarias</strong> que<br />

apresentavam os livros sem nenhuma disposição funcional. Segun<strong>do</strong> ele, “nossas<br />

<strong>livrarias</strong>, em regra, não são instrumentos de venda de livros, mas locais onde eles são<br />

compra<strong>do</strong>s. Repetem-se nelas, na era da tecnologia e da televisão, (...) os mesmos<br />

processos de venda que tornavam famosas as antigas Francisco Alves e Garnier” 57 .<br />

Como exemplo de livraria voltada ao grande público, pode-se usar a<br />

Melhoramentos, que ao anunciar uma de suas lojas dizia seguir “princípios<br />

ergonométricos para a disposição <strong>das</strong> estantes” e que possuía a “luminosidade<br />

cientificamente indicada” 58 . A iluminação controlada servia para exibir melhor a capa<br />

<strong>do</strong>s livros, que ficavam sempre com a face voltada para o consumi<strong>do</strong>r, buscan<strong>do</strong> atrair<br />

sua atenção. Segun<strong>do</strong> o publicitário Fernan<strong>do</strong> Almada, em texto escrito na década de<br />

1970, “as editoras devem procurar obter sempre melhor exposição para seus livros nas<br />

vitrinas e nos balcões (...). A qualidade promocional da capa encontra aí o seu momento<br />

crítico. Material promocional – como cartazes, displays e folhetos – é indispensável” 59 .<br />

Apesar de ter um espaço amplo (com mais de duzentos metros quadra<strong>do</strong>s), essa<br />

disposição <strong>do</strong>s livros fazia com que um número relativamente baixo de títulos fosse<br />

55<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

56<br />

“Por essa altura, esta casa pegava o primeiro andar to<strong>do</strong>. Era o perío<strong>do</strong> áureo. Sabes que eu até<br />

imaginei-me o <strong>do</strong>no da maior livraria <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>? Sonhava com isso, é verdade. Depois nem cheguei a<br />

somar nada, nunca soube também quantos livros teria a maior livraria <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.” Cita<strong>do</strong> em “A<br />

biblioteca de Babel”, Carta Capital, 21/03/2007.<br />

57<br />

Amaral Vieira, “Redução de custos gráfico-editoriais”, em A. Magalhães, A. Houaiss et al., Editoração<br />

hoje, Rio de Janeiro, FGV, 1981.<br />

58<br />

Hernâni Donato, 100 anos da Melhoramentos: 1890-1990, São Paulo, Melhoramentos, 1990, p.127.<br />

59<br />

Fernan<strong>do</strong> Almada, “Publicidade e venda de livros”, em A. Magalhães, A. Houaiss et al., Editoração<br />

hoje, Rio de Janeiro, FGV, 1981.<br />

23


estoca<strong>do</strong> na livraria da Melhoramentos. Por isso eram privilegia<strong>do</strong>s os livros da moda,<br />

que tinham venda rápida e garantida para cobrir os altos investimentos na loja 60 .<br />

Oswal<strong>do</strong> Siciliano concordava que a iluminação era um “fator de vital<br />

importância, uma vez que faz com que o público se sinta atraí<strong>do</strong> pelo colori<strong>do</strong> da capa<br />

<strong>do</strong>s livros que, na realidade, é a principal embalagem de nosso produto”. Além disso,<br />

segun<strong>do</strong> as recomendações desse livreiro, “as prateleiras devem ser coloca<strong>das</strong> de mo<strong>do</strong><br />

a facilitar o acesso <strong>do</strong> público. Os balcões devem ter um seguimento que facilite a<br />

circulação dentro da livraria, sem impedir a sequência de exposição <strong>do</strong> produto”, tu<strong>do</strong><br />

isso para adaptar seus negócios à dinâmica da sociedade de consumo 61 . O depoimento<br />

de Siciliano é importante para ajudar a compreender a visão comercial desses<br />

proprietários volta<strong>do</strong>s ao merca<strong>do</strong> de massa, que chegava a comparar seus<br />

estabelecimentos aos hipermerca<strong>do</strong>s: “A livraria tem que se adequar aos tempos<br />

modernos, o público consumi<strong>do</strong>r tem que se sentir perfeitamente bem dentro dela. Isso é<br />

merchandising, a chave <strong>do</strong> sucesso, a chave <strong>do</strong> sucesso <strong>do</strong>s hipermerca<strong>do</strong>s” 62 .<br />

A Melhoramentos, a Saraiva e a Cultura, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> esse tipo de estratégia, foram<br />

as <strong>livrarias</strong> que mais se enriqueceram, forman<strong>do</strong> cadeias de lojas que <strong>do</strong>minam até hoje<br />

o comércio editorial. As redes de livraria, entre os anos de 1960 e 1970, já faziam o que<br />

hoje faz a Amazon e outras grandes lojas virtuais, ou seja, ca<strong>das</strong>travam os clientes e<br />

desenvolviam seu perfil a partir de suas compras, permitin<strong>do</strong> aos livreiros e editores<br />

selecionar títulos com maiores chances de sucesso. Para Roberto Cordeiro, diretor <strong>do</strong><br />

SNEL, em 1975, “é sempre bastante vantajoso ter uma livraria – melhor ainda uma<br />

cadeia – que sirva como uma espécie de laboratório, dan<strong>do</strong> o pulso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> com<br />

fidelidade e rapidez, além de permitir a coleta de da<strong>do</strong>s e informações de interesse com<br />

consequências importantes para o retorno <strong>do</strong> capital” 63 .<br />

60 Ver. Jason Epstein, O negócio <strong>do</strong> livro, Rio de Janeiro /São Paulo, Record, 2002.<br />

61 Oswal<strong>do</strong> Siciliano, “Livrarias – meios de acesso ao livro”, em José Carlos Rocha (org.), Políticas<br />

editoriais e hábitos de leitura, São Paulo, Com-Arte, 1987.<br />

62 Idem.<br />

63 Roberto Cordeiro, “Dinâmica de ven<strong>das</strong>”, em A. Magalhães, A. Houaiss et al., op. cit.<br />

24


Declínio (1960-­‐1979)<br />

AI-5<br />

A PARTIR da década de 1960, o número de <strong>livrarias</strong> no Centro de São Paulo começou a<br />

declinar, tendência que persistiu no decênio seguinte. Esse fato contrasta com os<br />

números referentes à produção editorial nacional. Entre 1969 e 1973 o número de livros<br />

impressos no Brasil aumentou em três vezes, e “o país se tornou um <strong>do</strong>s dez maiores<br />

produtores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” 64 . É necessário, portanto, analisar os fatores que afetaram<br />

negativamente as <strong>livrarias</strong> da região central de São Paulo.<br />

Um fato importante foi o golpe de Esta<strong>do</strong> em 1964, que instituiu o regime<br />

militar no Brasil. Apesar de inicialmente não sofrerem censura prévia, os livros<br />

condena<strong>do</strong>s pelos militares poderiam ser apreendi<strong>do</strong>s. A livraria Brasiliense – de<br />

Monteiro Lobato, da senhora Leandro Dupré, e <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> PCB Caio Pra<strong>do</strong> Jr. e<br />

Artur Neves – além <strong>das</strong> obras de seus proprietários, vendia também livros sobre leis<br />

trabalhistas e reforma agrária. Em 1968 a livraria enfrentou problemas com os militares,<br />

o que lhe causou grandes prejuízos porque “com a proibição de to<strong>do</strong>s os livros que de<br />

alguma forma ameaçassem o governo militar, a Brasiliense foi obrigada a queimar parte<br />

de seu estoque” 65 . Diante desse risco de prejuízo, houve uma mudança no tipo de obra<br />

publicada no país. Antes <strong>do</strong> AI-5, as listas <strong>do</strong>s livros mais vendi<strong>do</strong>s divulga<strong>das</strong> nos<br />

semanários contavam com Marx, Che Guevara, Lukács e Marcuse 66 . Após o ato<br />

institucional, a tendência <strong>do</strong>s editores foi publicar obras de menor teor político,<br />

principalmente romances norte-americanos divulga<strong>do</strong>s por Hollywood. Isso prejudicou<br />

as <strong>livrarias</strong> universitárias, em que grande parte <strong>das</strong> ven<strong>das</strong> era de livros malvistos pelos<br />

militares. Ao mesmo tempo, os estabelecimentos volta<strong>do</strong>s para o grande público foram<br />

beneficia<strong>do</strong>s por essas medi<strong>das</strong>.<br />

Mudanças no centro financeiro<br />

DURANTE a década de 1960 o preço <strong>do</strong>s imóveis no Centro de São Paulo, devi<strong>do</strong> à<br />

especulação imobiliária, chegou a níveis muito eleva<strong>do</strong>s. Além disso, o complexo viário<br />

ultrapassa<strong>do</strong> não suportava mais o trânsito nem o grande fluxo de pessoas. Os antigos<br />

64 Fernan<strong>do</strong> Paixão (coord.), Momentos <strong>do</strong> livro no Brasil, Ática, São Paulo, 1996, p.143.<br />

65 50 anos: Brasiliense – 1943-1993, São Paulo, Brasiliense, 1993, s./p.<br />

66 Fernan<strong>do</strong> Paixão (coord.), Momentos <strong>do</strong> livro no Brasil, Ática, São Paulo, 1996, p.144.<br />

25


edifícios apresentavam problemas pela degradação e não tinham a estrutura adequada<br />

para a modernização que os aparatos tecnológicos introduzi<strong>do</strong>s no país pelas<br />

multinacionais exigiam. Diante dessa situação, quan<strong>do</strong> foi construir uma nova sede, o<br />

Banco Central optou pela Avenida Paulista, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> recém-construí<strong>do</strong> MASP. Isso<br />

alterou a configuração da rede bancária na cidade, antes concentrada na região central –<br />

na rua Boa Vista, rua da Quitanda e na praça Antonio Pra<strong>do</strong>. Para Ab’Saber, “a chegada<br />

de bancos nacionais e estrangeiros na Paulista (...) mu<strong>do</strong>u o ritmo da vida urbana<br />

paulista fora <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is núcleos tradicionais, chama<strong>do</strong>s de Centro Velho” 67 . As grandes<br />

<strong>livrarias</strong> acompanharam esse movimento, e a Cultura em 1969 instalou sua loja no<br />

Conjunto Nacional 68 . Em 1970, a Siciliano abriu uma loja na rua Augusta, na região da<br />

Paulista. Em 1978, a Parthenon, dedicada às edições de luxo, mu<strong>do</strong>u-se da rua Barão de<br />

Itapetininga, no Centro Novo, para a Avenida Paulista 69 .<br />

O centro financeiro da cidade não apenas mu<strong>do</strong>u de localização, mas em parte se<br />

fragmentou entre certos bairros paulistas e alguns municípios da Grande São Paulo.<br />

Entre as déca<strong>das</strong> de 1960 e 1970, a capital paulista e as grandes cidades em seu entorno<br />

– Osasco, Taboão da Serra, Guarulhos e o ABC – pela aproximação de suas fronteiras<br />

urbanas e pelas intensas trocas de capital, configuraram-se na região metropolitana de<br />

São Paulo 70 . Em 1968 começou a funcionar o metrô paulista, idealiza<strong>do</strong> “para não<br />

acarretar grandes concentrações nos pontos nodais preexistentes no Centro da cidade e,<br />

ao mesmo tempo, desenvolver uma discreta reurbanização de áreas subcentrais” 71 . Aziz<br />

Ab´Saber nomeia essas regiões de subcentros de contato – por servirem de ligação entre<br />

a área central e a periferia –, entre os quais estão Pinheiros, Ipiranga, Santana, Penha e<br />

Lapa. Acompanhan<strong>do</strong> essa tendência, a livraria Nobel abriu filiais nas ruas Pedro<br />

Alvarenga (Itaim-Bibi), Barão <strong>do</strong> Triunfo (Brooklin) e Dep. Lacerda (Pinheiros). A<br />

Siciliano, que desde o final da década de 1950 havia instala<strong>do</strong> filiais em Osasco e Santo<br />

André 72 , em 1977 abriu uma loja no primeiro shopping <strong>do</strong> país, nos Jardins 73 .<br />

As <strong>livrarias</strong> volta<strong>das</strong> ao grande público, embala<strong>das</strong> pelos sucessos de venda,<br />

tiveram poder financeiro para acompanhar as mudanças na geografia econômica da<br />

67<br />

Aziz Ab’Saber, São Paulo: Ensaios entreveros, Edusp /Imprensa Oficial, São Paulo, 2004, p.347.<br />

68<br />

Fernan<strong>do</strong> Paixão (coord.), op. cit., p.124.<br />

69<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

70<br />

Raquel Rolnick, São Paulo, 3. ed., São Paulo, Publifolha, 2009, p.43.<br />

71<br />

Aziz Ab’Saber, op. cit., p.140.<br />

72<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

73<br />

Fernan<strong>do</strong> Paixão (coord.), Momentos <strong>do</strong> livro no Brasil, Ática, São Paulo, 1996, pp.123-124.<br />

26


cidade. Por outro la<strong>do</strong>, as <strong>livrarias</strong> acadêmicas, atingi<strong>das</strong> pela censura, viram sua<br />

situação tornar-se ainda mais difícil. Em 2006, quan<strong>do</strong> a livraria Duas Cidades fechou<br />

as portas, a viúva de seu funda<strong>do</strong>r indicou alguns <strong>do</strong>s motivos que levaram o<br />

estabelecimento à decadência. A transferência da FFCL para a Cidade Universitária, em<br />

1968, afastou potenciais consumi<strong>do</strong>res, e a própria degradação <strong>do</strong> centro contribuiu para<br />

o fechamento da loja: “Ninguém vem mais para cá. Quem nos procura hoje quer best-<br />

seller. Não foi para isso que nasceu a Duas Cidades. Não consigo vender isso” 74 .<br />

Outros canais de distribuição<br />

A MUDANÇA na geografia econômica explica em parte o êxo<strong>do</strong> <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> da região<br />

central de São Paulo. Mas, em âmbito nacional, o número desses estabelecimentos<br />

também começou a decrescer. Na década de 1950 existiam no país 1.840 <strong>livrarias</strong>; a<br />

partir de 1960 esse número diminuiu – em 1969 eram 936 <strong>livrarias</strong> –, alcançan<strong>do</strong> níveis<br />

muito baixos nos anos seguintes – havia seiscentas em 1972 e quatrocentas em 1980 75 .<br />

Isso contrasta com o progresso da produção editorial, visto que em 1972 havia mais de<br />

cinco mil editoras atuan<strong>do</strong> no país, enquanto que os escassos pontos de venda não<br />

davam conta da distribuição 76 , prejudican<strong>do</strong> a expansão <strong>do</strong> comércio de livros no<br />

merca<strong>do</strong> nacional. Jorge Carneiro, da editora Saraiva, reclamava da falta de<br />

estabelecimentos livreiros: “Os problemas da nossa editora são aparentemente simples:<br />

vender os livros. O que o Brasil precisa é de uma boa rede de <strong>livrarias</strong>” 77 .<br />

Um <strong>do</strong>s motivos dessa situação foram as políticas de leitura que, apesar de terem<br />

contribuí<strong>do</strong> para o desenvolvimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> livreiro na década de 1930, nesse<br />

momento passaram a ser considera<strong>das</strong> um entrave. O FENAME (Fun<strong>do</strong> Nacional de<br />

Material Escolar), entre 1956 e 1968 distribuiu mais de sete milhões de livros; o<br />

COLTED (Comissão <strong>do</strong> Livro Técnico e Didático) em 1969 e 1970 <strong>do</strong>ou 7,5 milhões de<br />

exemplares aos alunos de escolas públicas; o próprio INL, em trinta anos, distribuiu mais<br />

de três milhões de livros 78 . Tais cifras hoje em dia não são tão impressionantes, mas é<br />

necessário levar em conta que o merca<strong>do</strong> e a população brasileira eram<br />

74<br />

“Liquidação de clássicos marca o fim de livraria histórica”. O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, 23/09/2006.<br />

Disponível em <br />

75<br />

Laurence Hallewel, O livro no Brasil, São Paulo, T.A. Queiroz /Edusp, 1985, p.612.<br />

76<br />

Olímpio de Souza Andrade. O livro brasileiro: progressos e problemas (1920-1971). Rio de Janeiro:<br />

Ed. Paralelo, 1974, p.16.<br />

77<br />

Cita<strong>do</strong> por Edilberto Coutinho, “O livro de bolso no Brasil”, em Olympio de Sousa Andrade (org.).<br />

Editoração no Brasil, São Paulo, Com-Arte, 1971.<br />

78<br />

Olímpio de Souza Andrade, op. cit., p.102 e 104.<br />

27


consideravelmente menores que os de atualmente. Assim, a simples e massiva<br />

distribuição de livros era vista pelo Esta<strong>do</strong> como uma panaceia, como escreve Edmir<br />

Perrotti:<br />

(...) a concepção salvacionista da leitura conduz à outra: a da promoção<br />

“necessária”. Se o país não lê, deve ler, custe o que custar, pois esta é a saída para<br />

os problemas cruciais que enfrenta. Assim, pede-se a to<strong>do</strong>s os indivíduos<br />

comprometi<strong>do</strong>s com as grandes e boas causas nacionais que livrem nossa<br />

população <strong>das</strong> trevas da incultura, participan<strong>do</strong> de uma mobilização cujo objetivo<br />

é outorgar leitura às massas. 79<br />

Os programas <strong>do</strong> governo quebravam a cadeia <strong>do</strong> livro, fazen<strong>do</strong> a ponte entre os<br />

editores e o consumi<strong>do</strong>r final sem considerar a participação <strong>do</strong>s intermediários – os<br />

livreiros.<br />

Nos preâmbulos <strong>do</strong> IX Encontro de Editores, realiza<strong>do</strong> em 1978, consta que seus<br />

participantes deveriam estar “sensíveis, sobretu<strong>do</strong>, à gravidade <strong>do</strong> fato de estarem as<br />

<strong>livrarias</strong> <strong>do</strong> país atravessan<strong>do</strong> uma fase de deterioração quanto ao número e a<br />

qualidade” 80 . Em um estu<strong>do</strong> promovi<strong>do</strong> pelo Sindicato Nacional <strong>do</strong>s Editores de Livros<br />

(SNEL), é destaca<strong>do</strong> que “a comercialização é realmente um <strong>do</strong>s óbvios obstáculos à<br />

expansão da indústria <strong>do</strong> livro no Brasil”, e que este problema seria resolvi<strong>do</strong><br />

incentivan<strong>do</strong>-se o estabelecimento <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong>. Isso só seria possível, segun<strong>do</strong> o<br />

mesmo estu<strong>do</strong>, “coibin<strong>do</strong>-se, simultaneamente, a venda direta às escolas e aos<br />

intermediários não estabeleci<strong>do</strong>s” 81 . Por estes últimos, a pesquisa se refere às <strong>livrarias</strong><br />

que existiam no interior <strong>das</strong> escolas primárias e secundárias que, de acor<strong>do</strong> com o<br />

professor de direito Luiz Fracarolli, consulta<strong>do</strong> pelos editores na época, representavam<br />

um abuso, visto que tais instituições sugeririam aos alunos aqueles livros que se<br />

encontravam disponíveis nos estoques de suas próprias <strong>livrarias</strong> 82 .<br />

79 Cita<strong>do</strong> por Amanda Leal Oliveira, Cultura na fazenda – um estu<strong>do</strong> sobre a apropriação da leitura<br />

como negociação de senti<strong>do</strong>s. São Paulo, <strong>USP</strong>, 2009. Dissertação de Mestra<strong>do</strong> em Cultura e Informação,<br />

p.29.<br />

80 Cita<strong>do</strong> por Ênio Mateus Guazelli, “Tentativa de implantação da lei <strong>do</strong> livro”, em José Carlos Rocha<br />

(org.), Políticas editoriais e hábitos de leitura, São Paulo, Com-Arte, 1987.<br />

81 Arnal<strong>do</strong> Magalhães Giacomo (coor.), Uma política integrada <strong>do</strong> livro para um país em processo de<br />

desenvolvimento, CBL/SNEL, São Paulo/Rio de Janeiro, 1976, p.42.<br />

82 “Um <strong>do</strong>s mais graves problemas relativos à comercialização é a presença de <strong>livrarias</strong> no interior de<br />

escolas de 1º e 2º graus”. Idem, ibidem.<br />

28


Muitas distribui<strong>do</strong>ras, aproveitan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s descontos ofereci<strong>do</strong>s pelas editoras,<br />

passaram a vender diretamente ao consumi<strong>do</strong>r final – principalmente nas escolas.<br />

Geralmente os livreiros trabalhavam com 30% a 40% de desconto sobre o preço de<br />

capa, ao passo que para as distribui<strong>do</strong>ras essa porcentagem variava de 40% a 60% 83 .<br />

Essa diferença ocorria para que as distribui<strong>do</strong>ras, como primeiro intermediário,<br />

pudessem oferecer um produto com preços viáveis para as <strong>livrarias</strong>, e estas também<br />

tivessem uma boa parcela de lucro. No ano de 1973, <strong>do</strong> total de livros comercializa<strong>do</strong>s<br />

em São Paulo, 52,4% foram ofereci<strong>do</strong>s pelas distribui<strong>do</strong>ras; apenas 13,1% foram<br />

vendi<strong>do</strong>s em <strong>livrarias</strong> 84 . Em 1979, <strong>do</strong> total de livros vendi<strong>do</strong>s no país, 20,4% foram<br />

adquiri<strong>do</strong>s em <strong>livrarias</strong>; o governo ficou responsável pela distribuição de 17,63%, e as<br />

editoras com as distribui<strong>do</strong>ras venderam 16,53% <strong>do</strong> total 85 .<br />

Outra forma de distribuição que concorria com as <strong>livrarias</strong> era a venda em<br />

<strong>do</strong>micílio. O Clube <strong>do</strong> Livro, inicia<strong>do</strong> em 1943, ainda funcionava na década de 1960.<br />

Em 1963 o clube patrocinou um programa na televisão, em que havia entrevistas com<br />

autores e sugestões de leitura 86 . Os números provam que a estratégia teve êxito, porque<br />

entre 1948 e 1968 o Clube <strong>do</strong> Livro editou e distribuiu mais de oito milhões de<br />

exemplares, com tiragens mensais de aproximadamente 25 mil livros 87 . A W.M Jackson<br />

Co., por sua vez, vendia de porta em porta enciclopédias e coleções completas de<br />

autores consagra<strong>do</strong>s, como Macha<strong>do</strong> de Assis. No início <strong>do</strong>s anos de 1970,<br />

desconsideran<strong>do</strong> os livros didáticos, esta empresa era o canal responsável pelo maior<br />

número de ven<strong>das</strong> no merca<strong>do</strong> editorial brasileiro 88 . Em 1973 foi cria<strong>do</strong> o Círculo <strong>do</strong><br />

Livro, uma parceria entre a editora Abril e a alemã Bertelsman. Dois anos depois, o<br />

Círculo já contava com 250 mil sócios que, em 1978, chegaram a ser mais de<br />

quinhentos mil 89 .<br />

Apesar de prejudicar os negócios <strong>do</strong>s livreiros, alguns editores viam na venda<br />

em <strong>do</strong>micílio a solução para o comércio de livros no Brasil. Para Roberto Carneiro,<br />

durante a década de 1970, devi<strong>do</strong> às “características geográficas <strong>do</strong> Brasil”, à “sua ânsia<br />

83<br />

Amaral Vieira, “Redução de custos gráfico-editoriais”, em A. Magalhães, A. Houaiss et al., Editoração<br />

hoje, Rio de Janeiro, FGV, 1981.<br />

84<br />

Produção e comercialização de livros no Brasil, SNEL, Rio de Janeiro, 1975.<br />

85<br />

Laurence Hallewel, O livro no Brasil, São Paulo, T.A. Queiroz /Edusp, 1985, p.604.<br />

86<br />

John Milton, O Clube <strong>do</strong> Livro e a tradução, Bauru, Edusc, 2002, p.28.<br />

87<br />

Olímpio de Souza Andrade, O livro Brasileiro: progressos e problemas (1920-1971), Rio de Janeiro,<br />

Ed. Paralelo, 1974, p.67.<br />

88<br />

Laurence Hallewell, O livro no Brasil, São Paulo, Edusp, 2005, p.368.<br />

89<br />

Laurence Hallewell, op. cit., p.682.<br />

29


de conhecimento” e à “escassez de <strong>livrarias</strong>”, “à mala direta está reserva<strong>do</strong> um papel de<br />

cuja importância poucos se aperceberam hoje em dia” 90 .<br />

Antes de criar o Círculo <strong>do</strong> Livro, em 1965, a editora Abril passou a distribuir<br />

pelas bancas de jornal livros em fascículos, como a Bíblia mais bela <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que<br />

vendia 150 mil exemplares por caderno. Posteriormente também foram vendi<strong>das</strong><br />

coleções encaderna<strong>das</strong>, entre as quais uma <strong>das</strong> mais bem sucedi<strong>das</strong> foi Os pensa<strong>do</strong>res,<br />

que era acompanhada semanalmente por cerca de cem mil leitores 91 .<br />

As várias formas alternativas de comercializar os livros explicam por que o<br />

merca<strong>do</strong> editorial avançava, enquanto que as <strong>livrarias</strong> passavam por dificuldades. Um<br />

exemplo que ilustra bem esse contraste é o caso da Pioneira, que na década de 1970<br />

passou por problemas financeiros. Foram fecha<strong>das</strong> em 1979 to<strong>das</strong> as suas <strong>livrarias</strong>,<br />

restan<strong>do</strong> apenas a editora, bem mais lucrativa 92 .<br />

90<br />

Roberto Cordeiro, “Dinâmica de ven<strong>das</strong>”, em A. Magalhães, A. Houaiss et al., Editoração hoje, Rio de<br />

Janeiro, FGV, 1981.<br />

91<br />

Laurence Hallewell, op. cit., p.677.<br />

92<br />

Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

30


<strong>Cartografia</strong> <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong> Centro de São Paulo<br />

DURANTE a pesquisa, a fim de listar as <strong>livrarias</strong> no Centro de São Paulo entre as déca<strong>das</strong><br />

de 1930 e 1970, foram utiliza<strong>do</strong>s como base três livros: Pequeno guia histórico <strong>das</strong><br />

<strong>livrarias</strong> brasileiras e A etiqueta de livros no Brasil, ambos de Ubiratan Macha<strong>do</strong>,<br />

assim como o Guia <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, edita<strong>do</strong> pelo INL em 1943. As demais<br />

fontes bibliográficas, geralmente entrevistas e livros de memórias, estão devidamente<br />

indica<strong>das</strong> nas notas de rodapé. Foi utiliza<strong>do</strong> o DEDALUS (Banco de Da<strong>do</strong>s<br />

Bibliográficos da <strong>USP</strong>) para a análise <strong>do</strong>s catálogos <strong>das</strong> editoras liga<strong>das</strong> às <strong>livrarias</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> possível dessa forma analisar as coleções, os temas e os autores mais<br />

representativos de cada editora no perío<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>.<br />

►Agir (1950- 1961x)<br />

Rua Bráulio Gomes,125 (filial em SP)<br />

Fundada em 1944 no Rio de Janeiro por Cândi<strong>do</strong> Guinle de Paula Macha<strong>do</strong>, a<br />

matriz da livraria Agir mu<strong>do</strong>u-se para São Paulo no ano de 1950. Começou como<br />

livraria católica, mas também vendia livros de ciências humanas, que aos poucos se<br />

tornaram sua especialidade.<br />

Possuía editora própria e, apesar de privilegiar o tema religioso, não escapava da<br />

política. Isto é demonstra<strong>do</strong> por títulos como Cristianismo e democracia (1945), de<br />

Jacques Maritain; Manifesto <strong>do</strong> Episcopa<strong>do</strong> sobre o problema político e questão social<br />

no Brasil (1945); A <strong>do</strong>utrina social da Igreja: segun<strong>do</strong> as encíclicas (1946), de G.C.<br />

Ruttem; Progresso e religião: Inquérito histórico (1947), de Christopher Dawson; e<br />

Catolicismo, revolução e reação (1947), de J. Fernan<strong>do</strong> Carneiro. Além desses livros,<br />

alguns tratavam exclusivamente de política: Comunidade ou comunismo: carta aos<br />

brasileiros (1946), de Manoel Joaquim P. Velloso; e O Plano Marshall e suas prováveis<br />

repercussões econômicas na América Latina (1947).<br />

31


Na literatura, publicou O lustre (1946), segun<strong>do</strong> romance de Clarice Lispector; e<br />

Poesia liberdade (1947), de Murilo Mendes. Editou também as séries “Nossos Grandes<br />

Mortos”, com a biografia de Duque de Caxias, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Teófilo<br />

Ottoni e Jackson de Figueire<strong>do</strong>; “Temas Atuais”, sobre ciências sociais, com mais de<br />

vinte volumes; e “Obras Completas”, de autores como Alceu Amoroso Lima e Leonel<br />

Franca.<br />

A loja matriz da Livraria Agir fechou as portas em 1999, mas a filial em São<br />

Paulo provavelmente encerrou as atividades alguns anos antes. A editora Agir, porém,<br />

funciona até hoje.<br />

►Alfa (1968-197x)<br />

Rua José Bonifácio, 365<br />

Aberta em 1968, a Alfa funcionava na década de 1970, mas não foram encontra<strong>do</strong>s<br />

registros sobre a data correta de seu fechamento. Alexandre Obelenis, seu proprietário,<br />

escolheu um local afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> centro comercial para que seus clientes pudessem passar<br />

horas vasculhan<strong>do</strong> em seu sebo sem interrupções.<br />

►Annunziato (1917-194x)<br />

Rua São Bento, 397 (matriz)<br />

Praça <strong>do</strong> Patriarca<br />

Praça da Sé<br />

Rua Líbero Badaró<br />

O italiano Antonio Annunziato começou, em 1917, importan<strong>do</strong> jornais e revistas<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro e da Europa. Aos poucos, atenden<strong>do</strong> à clientela imigrante, passou a<br />

vender livros em italiano. Aparentemente o negócio teve sucesso, visto que chegou a ter<br />

três agências funcionan<strong>do</strong> ao mesmo tempo.<br />

►Brasil (1929-1961?)<br />

Rua Benjamin Constant, 123<br />

Na década de 1940 seu proprietário era Mourão de Oliveira. A livraria vendia<br />

livros novos, usa<strong>do</strong>s e aceitava pedi<strong>do</strong>s de importação. Seu estoque era de<br />

32


aproximadamente trinta mil livros, contava com nove funcionários e atendia cerca de<br />

cem fregueses diariamente.<br />

►Brasiliense (1943-1997)<br />

Rua Barão de Itapetininga, 99<br />

Fundada por Monteiro Lobato, Caio Pra<strong>do</strong> Jr., Artur Neves e a senhora Leandro<br />

Dupré, a Brasiliense atendia à elite de São Paulo. Ao inaugurar, era a maior livraria da<br />

cidade, com um amplo salão que permitia a realização de conferências e de exposições<br />

de arte.<br />

A editora Brasiliense foi criada ao mesmo tempo em que a livraria, ten<strong>do</strong> como<br />

atrativo as republicações <strong>do</strong>s sucessos de Monteiro Lobato (Obras completas, 1946) e<br />

de Caio Pra<strong>do</strong> Jr. (História econômica <strong>do</strong> Brasil, 1945). Este integrava também a<br />

coleção “Grandes Estu<strong>do</strong>s Brasilienses”.<br />

A livraria igualmente vendia livros sobre leis trabalhistas e reforma agrária,<br />

temas privilegia<strong>do</strong>s por Pra<strong>do</strong> e Neves, membros <strong>do</strong> PCB. Durante o governo militar, a<br />

livraria enfrentou problemas, como a queima de parte <strong>do</strong> seu estoque pela censura. Na<br />

década de 1970, os intelectuais e artistas da alta sociedade cederam espaço para a<br />

presença <strong>do</strong>s jovens universitários 93 que realizavam debates e comícios em favor da<br />

redemocratização <strong>do</strong> país. A livraria fechou em 1997, quan<strong>do</strong> a editora passava por<br />

problemas financeiros, apesar desta se manter ativa até hoje.<br />

►Carlos Pereira (19xx-1943?)<br />

Rua da Consolação, 49<br />

Eduar<strong>do</strong> Pereira Magalhães era o proprietário deste estabelecimento em 1943. A<br />

loja tinha cerca de 3.000 livros para venda, com <strong>do</strong>is funcionários que atendiam<br />

aproximadamente 25 clientes por dia, além <strong>das</strong> ven<strong>das</strong> por reembolso postal.<br />

►Civilização Brasileira (1938-1960?)<br />

Rua 15 de Novembro, 144 (filial em SP)<br />

93 “Na época fazia sucesso entre os bem-pensantes a livraria Brasiliense, na Barão de Itapetininga (hoje<br />

uma farmácia). Mas essa era informal à beça, bem ao gosto <strong>do</strong>s puquianos e uspianos que ali se sentiam<br />

em casa com batas, botas, jeans, camisetas, o que fosse, era a livraria intelectual <strong>do</strong>s graduan<strong>do</strong>s”.<br />

Eduar<strong>do</strong> Britto, “Livraria Duas Cidades: a despedida”. Disponível em<br />

< http://vivasp.com/texto.asp?tid=4921&sid=13><br />

33


Começou como editora no Rio de Janeiro durante a década de 1920. Seu<br />

funda<strong>do</strong>r foi Getúlio M. Costa, que nos anos 1930 se tornou sócio de Octalles<br />

Marcondes Ferreira, da Cia. Editora Nacional. Em 1938, a Civilização Brasileira abriu<br />

uma filial de sua livraria em São Paulo, cujo estoque era de 40.000 livros. Os 26<br />

funcionários atendiam, diariamente, quase quatrocentos clientes.<br />

A Civilização Brasileira começou como uma casa editorial bem eclética, com<br />

títulos como A ilusão americana (nova ed., 1933), de Eduar<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>; e O diabo branco<br />

(1934), de Tolstoi; ao la<strong>do</strong> de leituras leves como Só rin<strong>do</strong>: ane<strong>do</strong>tas e pilhérias (1934),<br />

de Cornélio Pires. Na década de 1960 ela já se firmara como uma editora acadêmica,<br />

lançan<strong>do</strong> a coleção “Documentos da História Contemporânea” — Ascensão e queda <strong>do</strong><br />

Terceiro Reich (1962), de William L. Shirer; O ciclo de Vargas (1964), de Hélio Silva;<br />

e Portugal e o fim <strong>do</strong> ultracolonialismo (1966), de Perry Anderson —, além da coleção<br />

“Retratos <strong>do</strong> Brasil” — Introdução à revolução brasileira (1963), de Nelson Werneck<br />

Sodré; Revisão crítica <strong>do</strong> cinema brasileiro (1963), de Glauber Rocha; e Raças e<br />

classes sociais no Brasil (1966), de Octavio Ianni. Esta última coleção teve mais de 160<br />

volumes.<br />

►Duas Cidades (1954-2006)<br />

Praça da Bandeira, 40, 13. o andar<br />

Rua Bento Freitas, 158 (a partir de 1967)<br />

Foi aberta por José Petronillo de Santa Cruz – conheci<strong>do</strong> também como Frei<br />

Benevenuto – em 1954. Em decorrência de seus votos religiosos, a livraria pertencia<br />

formalmente à Ordem Dominicana. Inicialmente um estabelecimento especializa<strong>do</strong> em<br />

teologia, Santa Cruz logo abriu espaço para livros de cristianismo de esquerda e de<br />

ciências humanas. Em 1967 mu<strong>do</strong>u-se para a Rua Bento Freitas, nos arre<strong>do</strong>res da<br />

Faculdade de Filosofia da <strong>USP</strong>, onde se tornou um ponto de encontro <strong>do</strong>s intelectuais da<br />

cidade, atrain<strong>do</strong> professores e estudantes universitários. Era uma livraria séria, na qual<br />

os clientes circulavam em trajes formais, “talvez pela maneira como os livros eram<br />

dispostos, ou a seleção especial que compunha o acervo da livraria” 94 .<br />

A livraria também possuía uma editora, e publicava livros de ciências sociais —<br />

Estrutura social: teoria e méto<strong>do</strong> (1955), de Julian Marias; Economia e sociedade:<br />

94 Eduar<strong>do</strong> Britto, op. cit. Disponível em <br />

34


coação, troca, <strong>do</strong>m (1961), de François Perroux; e Introdução aos existencialismos<br />

(1963), de Emmanuel Mournier — de cristianismo militante, como os <strong>do</strong> padre Louis-<br />

Joseph Lebret 95 (Manifesto por uma civilização solidária, de 1961; Drama <strong>do</strong> século<br />

XX: miséria, subdesenvolvimento, inconsciência, esperança, de 1962; e Princípios para<br />

a ação, 1965), além de autores de esquerda sem ligação com a igreja, como Henri<br />

Chambre (De Marx a Mao Tse-Tung: introdução crítica ao marxismo-leninismo,<br />

de1963). Santa Cruz, amigo de Antonio Candi<strong>do</strong>, republicou as suas obras, como Os<br />

parceiros <strong>do</strong> Rio Bonito, em 1964.<br />

Em 1987, Santa Cruz teve problemas com a Ordem Dominicana em relação à<br />

posse <strong>do</strong> estabelecimento, mas acabou fican<strong>do</strong> com a loja — graças a um abaixo-<br />

assina<strong>do</strong> <strong>do</strong>s clientes, organiza<strong>do</strong> por Antonio Candi<strong>do</strong>.<br />

►Francesa (1947- )<br />

Rua Benjamin Constant (começo de 1947)<br />

Rua Barão de Itapetininga, 275 (1947)<br />

Seus primeiros proprietários foram Paul e Juliette Monteil, um casal de<br />

franceses. Especializada em obras importa<strong>das</strong> da França, esta livraria era a que tinha o<br />

maior acervo em língua francesa no Brasil.<br />

Em 1950 abriu uma filial no Rio de Janeiro. A sede em São Paulo era<br />

frequentada por intelectuais e pelos professores franceses da <strong>USP</strong>, como Roger Bastide.<br />

Em 1960 a livraria promoveu uma tarde de autógrafos com Jean-Paul Sartre.<br />

O casal Monteil também criou uma editora, a Difusão Européia <strong>do</strong> Livro (Difel),<br />

que traduzia obras <strong>do</strong> francês volta<strong>das</strong> para as Ciências Humanas como A propaganda<br />

política (1955), de Jean-Marie Domenach; A literatura comparada (1956), de Marius-<br />

François Guyard; Doutrinas econômicas, de Joseph Lajugie; além de dar espaço para os<br />

professores franceses que lecionavam na <strong>USP</strong>, tais como Pierre Monbeig (O Brasil,<br />

1954; Novos estu<strong>do</strong>s de geografia humana brasileira, 1957) e Pierre George (Grandes<br />

merca<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,1954).<br />

95 “[...] Benevenuto Santa Cruz distribuía os livros-fonte <strong>do</strong> cristianismo de esquerda em que bebi a<br />

grandes goles, começan<strong>do</strong> pelo sóli<strong>do</strong> Guia <strong>do</strong> militante <strong>do</strong> infatigável Padre Lebret (‘que dínamo!’ dele<br />

dizia Celso Furta<strong>do</strong>), manual de ver claro para bem julgar e melhor agir”. Alfre<strong>do</strong> Bosi, “Quem diz<br />

livraria diz refúgio”, Livro (Revista <strong>do</strong> NELE), n. 1, São Paulo, maio 2001, pp. 13-18.<br />

35


Em 1973, Claudie, filha <strong>do</strong>s Monteil, assumiu a direção <strong>do</strong> estabelecimento.<br />

Hoje a responsável pela loja é Silvia Monteil, neta <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res da Livraria Francesa.<br />

►Freitas Bastos (1938-1996)<br />

Rua 15 de Novembro, 62 (filial em SP)<br />

Essa livraria surgiu em 1924, quan<strong>do</strong> Freitas Bastos comprou a livraria Leite<br />

Ribeiro, que só alterou o nome <strong>do</strong> estabelecimento em 1930. Em 1938 a Freitas Bastos<br />

instalou uma filial em São Paulo, localizada próxima à Faculdade de Direito, atenden<strong>do</strong><br />

aos estudiosos da área jurídica. Foi a maior livraria de sua época, ocupan<strong>do</strong> um prédio<br />

de três andares. Era frequentada por políticos influentes como Ulisses Guimarães e<br />

Franco Montoro, que podiam realizar reuniões nas dependências da loja.<br />

A Freitas Bastos possuía editora própria, que se especializou em obras jurídicas.<br />

Entre suas publicações estão Consolidação <strong>das</strong> leis penais (1938), de Vicente Piragibe;<br />

Dos crimes sexuais: estupro, atenta<strong>do</strong> ao pu<strong>do</strong>r, defloramento e corrupção de menores<br />

(1945), de Crisólito de Gusmão; e Emprega<strong>do</strong>r e emprega<strong>do</strong> na Justiça <strong>do</strong> Trabalho<br />

(1954), de Yara Muller Leite.<br />

A editora e a loja matriz da Freitas Bastos estão funcionan<strong>do</strong> ainda hoje, mas a<br />

filial de São Paulo foi fechada em 1996.<br />

►Garraux (1860-1935)<br />

Rua 15 de Novembro, 40 (filial em SP)<br />

Anatole Louis Garraux era funcionário da livraria Garnier, no Rio de Janeiro.<br />

Em 1860 se mu<strong>do</strong>u para São Paulo e abriu o próprio estabelecimento, “um belo edifício<br />

com fachada de mármore, ladea<strong>do</strong> por duas grandes vitrines” 96 . Os livros eram apenas<br />

um <strong>do</strong>s artigos de luxo franceses vendi<strong>do</strong>s em sua loja 97 .<br />

A Garraux tinha um departamento editorial, que na década de 1930 publicou<br />

diversos relatórios técnicos como Estatística imobiliária e ca<strong>das</strong>tro de imóveis (1931),<br />

Café: estatística de produção e comércio, 1932-1933 (1934), e Estatística industrial <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> de São Paulo: ano de 1934 (1936).<br />

96<br />

Lucila Soares, Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>r 110 – Uma história da Livraria José Olympio, São Paulo, José<br />

Olympio, 2006.<br />

97<br />

Marisa Mi<strong>do</strong>ri Deaecto, O Império <strong>do</strong>s livros, São Paulo, Edusp, 2011, p.286.<br />

36


►Gazeau (1893-1981)<br />

Praça da Sé, 40<br />

Ao comprar a Livraria Universal, da qual já era sócio, Auguste François Gazeau<br />

rebatizou a loja com seu nome. Na década de 1930 foi o maior sebo de São Paulo, com<br />

mais de cem mil volumes empilha<strong>do</strong>s em galerias subterrâneas próximas à Praça da Sé.<br />

Segun<strong>do</strong> Rubens Borba de Morais, “havia de tu<strong>do</strong> nesse sebo colossal”, mas era<br />

no porão que os bibliófilos “encontravam as edições esgota<strong>das</strong>, as curiosidades e as<br />

raridades <strong>das</strong> quais Gazeau nem se lembrava da existência” 98 .<br />

Após a morte de Auguste Gazeau, seu filho João Francisco, que já auxiliava nos<br />

negócios desde ce<strong>do</strong>, assumiu a direção da loja. Esta passou a se chamar Livraria<br />

Econômica de João Gazeau, que após passar dificuldades durante a década de 1970,<br />

fechou em 1981.<br />

►Guatapará (1937-1961)<br />

Rua Barão de Itapetininga, 112<br />

A Guatapará, propriedade de Henrique Veit, possuía um acervo de 4.000 livros,<br />

entre novos e usa<strong>do</strong>s. Aceitava pedi<strong>do</strong>s de importação e dispunha de uma oficina gráfica<br />

própria. Seus três emprega<strong>do</strong>s atendiam diariamente cerca de cinquenta clientes.<br />

►Herder (193x-195x)<br />

Rua 7 de Abril<br />

Dedicava-se a livros alemães e a obras eruditas <strong>do</strong> grego e <strong>do</strong> latim. Foi<br />

frequentada por Alfre<strong>do</strong> Bossi (“no campo <strong>do</strong>s clássicos [...] o ponto imbatível era a<br />

Livraria Herder” 99 ), e Roberto Schwarz 100 . A Herder possuía um setor editorial, que<br />

publicava títulos de filosofia e teologia — Paidéia: a formação <strong>do</strong> homem grego<br />

(1936), de Werner Jaeger; Compêndio de história da filosofia (1953), de F.J. Thonnard;<br />

e Introdução à sociologia religiosa (1955), de Nicolas Bôer.<br />

98<br />

Rubens Borba de Morais, O bibliófilo aprendiz, Brasília /São Paulo, Briquet de Lemos /Casa da<br />

Palavras, 2005, p.45.<br />

99<br />

Alfre<strong>do</strong> Bosi, “Quem diz livraria diz refúgio”, Livro (Revista <strong>do</strong> NELE), n. 1, São Paulo, maio 2011,<br />

pp. 13-18.<br />

100<br />

“Na segunda metade <strong>do</strong>s anos 50 Roberto [Schwarz] descobria, meio por acaso, na livraria Herder, os<br />

autores da Escola de Frankfurt, de que ninguém falava então.” Maria Elisa Cevasco e Milton Ohata (org.),<br />

Um crítico na periferia <strong>do</strong> capitalismo, São Paulo, Cia. <strong>das</strong> Letras, 2007, p. 340.<br />

37


►Ipiranga (19xx-1945)<br />

Rua Benjamin Constant, 141<br />

As informações sobre este estabelecimento são escassas. A livraria ficava<br />

localizada no Edifício <strong>das</strong> Arca<strong>das</strong>, na Rua Benjamin Constant. Em 1945 ela foi<br />

adquirida por Luís Oliveira Dias, que alterou o nome da loja para Ornabi (ver abaixo).<br />

►Jaraguá (1942- )<br />

Rua Marconi, 54<br />

Entre 1940 e 1945, quan<strong>do</strong> o governo de Getúlio Vargas confiscou o jornal<br />

Esta<strong>do</strong> de S. Paulo, a família Mesquita precisou buscar novos investimentos. Nessa<br />

época o teatrólogo Alfre<strong>do</strong> Mesquita, caçula <strong>do</strong> proprietário <strong>do</strong> jornal, encaminhou-se<br />

para o ramo livreiro. Em 1942 abriu a livraria Jaraguá, que era quase uma reprodução<br />

<strong>do</strong>s salões da elite paulista, contan<strong>do</strong> até com uma sala de chá:<br />

Fundamos, eu [Alfre<strong>do</strong> Mesquita] e meu sau<strong>do</strong>so amigo Roberto Meira, a<br />

Livraria Jaraguá nos moldes <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> inglesas, com uma sala de chá aos<br />

fun<strong>do</strong>s e que se tornou ponto de encontro de artistas e intelectuais — sem falar<br />

<strong>das</strong> grã-finas — não só de paulistas, mas de to<strong>do</strong> o Brasil — e, mesmo, de<br />

estrangeiros, quan<strong>do</strong> de passagem por nossa capital. 101<br />

Para publicar as obras <strong>do</strong>s colegas <strong>do</strong> meio artístico, Mesquita criou com Clóvis<br />

Graciano a editora Gaveta, com livros de temática pre<strong>do</strong>minantemente poética, como<br />

Poesias reuni<strong>das</strong> (1945), de Oswald de Andrade; Canção da partida (1945), de Jacinta<br />

Passos; e Poemas, sonetos e bala<strong>das</strong> (1946), de Vinícius de Morais.<br />

Inicialmente voltada para a elite, durante a década de 1950 a freguesia da<br />

Jaraguá foi deixan<strong>do</strong> de ser tão refinada, e em 1957 Alfre<strong>do</strong> Mesquita vendeu a<br />

propriedade. A livraria Jaraguá existe até hoje, apesar de ter se transforma<strong>do</strong> em uma<br />

loja voltada aos best-sellers e à papelaria.<br />

►José Olympio (1931-1934)<br />

Rua da Quitanda, 19A<br />

101 Cita<strong>do</strong> em O espetáculo da cultura paulista: teatro e TV em São Paulo, 1940-1950, São Paulo, Códex,<br />

2002, p.209.<br />

38


José Olympio começou como funcionário da Garraux em São Paulo, chegan<strong>do</strong> a<br />

ser sócio da loja. Em 1931 abriu uma livraria com o acervo <strong>do</strong> coleciona<strong>do</strong>r Alfre<strong>do</strong><br />

Pujol, venden<strong>do</strong> livros raros, destina<strong>do</strong>s aos bibliófilos. José Olympio já atuava como<br />

editor, publican<strong>do</strong>, entre outros títulos, Minhas memórias <strong>do</strong>s outros, de Rodrigo Otávio<br />

(1934); e Carvalhos e roseiras (1934), de Humberto de Campos. Em São Paulo a José<br />

Olympio teve vida curta, instalan<strong>do</strong>-se no Rio de Janeiro em 1934, onde se tornou um<br />

<strong>do</strong>s maiores editores <strong>do</strong> país.<br />

►Kosmos (194x-1961?)<br />

Rua Marconi, 91 e 93 (filial em SP)<br />

A Livraria Kosmos foi fundada em 1935, no Rio de Janeiro, pelos austríacos<br />

Erich Eichner e Norbert Geyerhahn. Era um estabelecimento elegante, seguin<strong>do</strong> as<br />

últimas tendências da Europa, que vendia livros novos, usa<strong>do</strong>s e obras raras – muitas<br />

destas trazi<strong>das</strong> da Áustria.<br />

Na década de 1940 foi aberta uma filial da Kosmos em São Paulo, dirigida por<br />

Stefan Geyerhahn, que assumiu após a morte <strong>do</strong> pai em 1942. A loja dispunha de um<br />

acervo com 25.000 livros, receben<strong>do</strong> diariamente cem clientes, atendi<strong>do</strong>s por treze<br />

emprega<strong>do</strong>s. Nessa época a livraria também passou a funcionar como editora, com<br />

livros técnicos como Inglês para o engenheiro civil e industrial (1940), de Herbert<br />

Martin; e Novo dicionário técnico e químico inglês-português (1941), de Adalberto<br />

Aumuller. Erich Eichner, que era fotógrafo, publicou um livro com suas imagens, Gente<br />

e terra <strong>do</strong> Brasil (1946?), além de ensaios fotográficos de outros artistas, como Viagem<br />

pelo fantástico (1971), de Boris Kossoy. O livro de Eichner fazia parte da série<br />

“Coleção de Temas Brasileiros”, que também contava com Vistas e costumes da cidade<br />

e arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Rio de Janeiro em 1819-1820 (1943), de Chamberlain; e O livro, o<br />

jornal e a tipografia no Brasil, 1500-1822 (1946), de Carlos Rizzini.<br />

►Lealdade (1913-1943?)<br />

Rua Boa Vista, 216<br />

Seu proprietário era Álvaro S. Jorge. O estabelecimento aceitava pedi<strong>do</strong>s de<br />

importação e de exportação. Tinha cerca de 100.000 exemplares no estoque, entre livros<br />

novos e obras raras. Seus oito funcionários atendiam em média cem clientes por dia.<br />

39


►Leia (1914-196x)<br />

Rua 7 de Abril, 11, lojas 5 e 7 (matriz, início da década de 1950)<br />

Rua Maria Antônia, 57<br />

Rua 7 de Abril, 176, 2.º andar<br />

Rua Xavier de Tole<strong>do</strong>, 103 (torna-se loja única em 1958)<br />

Rua Quintino Bocaiúva, 291, 2.º andar (década de 1960)<br />

Rua Asdrúbal Nascimento, 404<br />

Aberta com o nome de Livraria Cultura Italiana, em 1914, a loja <strong>do</strong> italiano<br />

Ernesto Masucci atendia essa comunidade imigrante. Em 1940 seu filho Folco Masucci<br />

assumiu o negócio, que passou a se chamar Leia (Livraria Editora Importa<strong>do</strong>ra<br />

Americana). Na década seguinte a loja tornou-se uma <strong>das</strong> maiores importa<strong>do</strong>ras de<br />

obras italianas no país, venden<strong>do</strong> também edições nacionais. Em 1957 abriu duas filiais,<br />

uma na Rua Maria Antônia – atenden<strong>do</strong> à Faculdade de Filosofia –, e outra na Rua 7 de<br />

Abril, voltada para a Faculdade de Direito. Estas duas lojas, porém, fecharam no ano<br />

seguinte.<br />

A editora, que teve início nos anos 1940, publicava obras diversas, como um<br />

livro <strong>do</strong> próprio Masucci, Dicionário de pensamentos: máximas, aforismos, para<strong>do</strong>xos,<br />

provérbios etc., de autores modernos, nacionais e estrangeiros (2. ed. 1946); ou<br />

Bartolomeu de Gusmão, inventor <strong>do</strong> aeróstato: a vida e a obra <strong>do</strong> primeiro inventor<br />

americano (1942), de Afonso de Taunay. Editou também um Dicionário italiano-<br />

português (1951), de Ferrucio Rubbiani. Na área de ciências humanas publicou História<br />

da imprensa no Brasil (1950), de Freitas Nobre; História <strong>do</strong> futebol no Brasil, 1894-<br />

1950 (1950), de Tomás Mazzoni; e o Vocabulário Filosófico (1957), de Carlos Lopes<br />

Matos. Na área jurídica editou Introdução ao direito administrativo (1954), de Carlos<br />

Schmidt de Barros Jr.; As novas diretrizes da criminologia (1957), de Gilberto de<br />

Mace<strong>do</strong>; e Noções teóricas e práticas de ciência criminal e penitenciária (1965), de<br />

Cícero de Carvalho.<br />

A editora Leia fechou em mea<strong>do</strong>s da década de 1960. Na mesma época a livraria<br />

deixou de trabalhar com livros novos, transforman<strong>do</strong>-se em sebo.<br />

►Loja <strong>do</strong> Livro Italiano (1937-1961?)<br />

Rua Xavier de Tole<strong>do</strong> (1930- 1940)<br />

40


Rua Barão de Itapetininga, 140 (1950-1960)<br />

Fundada por H. Ferraro, a loja era especializada em livros importa<strong>do</strong>s da Itália.<br />

Em 1943 seu proprietário era Humberto Ghiggino, que administrava um estoque de<br />

10.000 livros. Seus dez emprega<strong>do</strong>s atendiam quase cinquenta clientes diariamente.<br />

►Lusitana (193x-194x)<br />

Rua Riachuelo, 52<br />

Não foram encontra<strong>do</strong>s registros precisos sobre o perío<strong>do</strong> de funcionamento<br />

desta livraria. Porém há a informação de que Luís Oliveira Dias — futuro proprietário<br />

da Ornabi (ver abaixo) — trabalhou no estabelecimento entre o final da década de 1930<br />

e o início <strong>do</strong>s anos 1940.<br />

►Martins (1937-196x)<br />

Rua da Quitanda<br />

Rua 15 de Novembro, 135 (1943)<br />

Foi criada em 1937 por José de Barros Martins. Tinha dez emprega<strong>do</strong>s e um<br />

acervo de mais de 7.000 livros. Em seu endereço na rua 15 de Novembro, a Martins<br />

ficava próxima às <strong>livrarias</strong> Civilização Brasileira e Freitas Bastos, “três pontos<br />

obrigatórios para quem quisesse saber <strong>das</strong> novidades no campo <strong>do</strong> livro” 102 .<br />

Inicialmente dedicada às obras de luxo impressas na França, na década de 1940<br />

a Martins passou também a editar livros, ramo em que se tornou um <strong>do</strong>s exemplos mais<br />

prolíferos. De literatura publicou Os filhos de Candinha (1942), de Mário de Andrade;<br />

uma edição de A moreninha (1952), de Joaquim Manuel de Mace<strong>do</strong>, ilustrada por<br />

Tarsila <strong>do</strong> Amaral; as obras de Jorge Ama<strong>do</strong> — O ABC de Castro Alves (1941),<br />

Gabriela, cravo e canela (1958), Teresa Batista cansada de guerra (1972) —, e a<br />

Biblioteca de Literatura Brasileira, com os clássicos nacionais.<br />

A editora Martins também se voltou para os estudiosos de ciências humanas,<br />

editan<strong>do</strong> a coleção “Biblioteca de Ciências Sociais” — Homem: uma introdução à<br />

antropologia (1936), de Ralph Linton; Folkways: estu<strong>do</strong> sociológico <strong>do</strong>s costumes<br />

(1950), de William Sumner —; a coleção “Biblioteca Histórica Brasileira” — Viagem à<br />

Província de São Paulo (1940), de Auguste Saint-Hilaire; Viagem pitoresca e histórica<br />

102 Martins – 30 anos, São Paulo: Livraria Martins Ed., 1967, p.23.<br />

41


ao Brasil (3. ed.,1954), de Debret —; e a “Biblioteca Pensamento Vivo”, com Voltaire<br />

(1940), Jefferson (1942), José Bonifácio (1944) e Rui Barbosa (1952).<br />

►Mestre Jou (1952-1983)<br />

Praça Antônio Pra<strong>do</strong>, no edifício <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (1958)<br />

Rua Martins Fontes, 99 (década de 1960)<br />

Rua 7 de Abril, 172 (filial, década de 1970)<br />

Seu proprietário, o catalão Felipe Mestre Jou, importava obras de cunho<br />

universitário da Espanha, Argentina e México. Em 1956 abriu uma editora, que<br />

publicava livros técnicos e de humanidades, como Problemas de física geral (1962), de<br />

José W. Vasquez; História da Filosofia (1962), de Michele Federico Sciacca;<br />

Estatística (1964), de Fausto Toranzos; e Sociologia: teoria e estrutura (1964), de<br />

Robert Merton.<br />

►Nobel (1943- )<br />

Rua da Consolação, 49 (matriz, 1943)<br />

Rua Maria Antônia, 108<br />

Começou venden<strong>do</strong> artigos de papelaria e apostilas mimeografa<strong>das</strong> em 1943.<br />

Pouco depois passou a trabalhar com livros, e seu funda<strong>do</strong>r, o italiano Cláudio Milano,<br />

apostou na expansão de seu negócio. Na década de 1950, abriu uma editora de livros<br />

didáticos e passou a exercer a função de distribui<strong>do</strong>ra. Com a loja matriz na Rua da<br />

Consolação, instalou filiais na Rua Maria Antônia e nos bairros <strong>do</strong> Itaim-Bibi, Brooklin<br />

e Pinheiros. Atendia o público universitário, mas também dava espaço aos best-sellers,<br />

ramo em que se especializou na década de 1960.<br />

►Ornabi (1945-2008)<br />

Rua Benjamin Constant, 141<br />

A Ornabi (Organiza<strong>do</strong>ra Nacional de Bibliotecas) foi criada por Luís Oliveira<br />

Dias, um português que se dedicou a “garimpar obras perdi<strong>das</strong> e reapresentá-las ao<br />

público com o aval de quem reconhece seu valor” 103 . Formou um <strong>do</strong>s maiores<br />

alfarrábios <strong>do</strong> país, chegan<strong>do</strong> a ter no acervo quase quatrocentos mil livros, entre obras<br />

103 Eduar<strong>do</strong> Britto, “Sebos paulistanos II”. Disponível em <br />

42


aras e clássicos da literatura mundial. Frequentada por políticos e estadistas <strong>do</strong> governo<br />

militar, o proprietário diz que em “certa ocasião, fui convida<strong>do</strong> para ver uma biblioteca<br />

com seis mil volumes sobre sociologia. Comprei to<strong>do</strong>s, telefonei para Brasília e, às sete<br />

horas <strong>do</strong> dia seguinte, já estava à espera de abrir a loja o Golbery <strong>do</strong> Couto e Silva.<br />

Vieram Delfim Netto, Jarbas Passarinho, Ibrahim Abi-Ackel e Alfre<strong>do</strong> Buzaid.<br />

Passaram o dia aqui” 104 .<br />

►Parthenon (1946-1978)<br />

Rua Barão de Itapetininga, 40 (a partir de 1951)<br />

Fundada pelos bibliófilos José Mindlin, Cláudio Blum e Jacques Bloch, a loja<br />

seria dedicada ao comércio de obras raras. Porém, segun<strong>do</strong> Mindlin, “a livraria se<br />

revelou um péssimo negócio, pois nossa grande alegria estava na compra de bons livros,<br />

e não na venda. Assim, depois <strong>do</strong> grande prazer de abrir os pacotes, vinha a tristeza de<br />

ter de vendê-los” 105 .<br />

Em 1951 o estabelecimento passou para Álvaro Bittencourt, que começou a<br />

vender outros tipos de livro, além <strong>das</strong> edições de luxo. Em 1978, a loja mu<strong>do</strong>u-se para o<br />

novo centro financeiro de São Paulo, a avenida Paulista.<br />

►Pioneira (1948-1979)<br />

Rua 15 de Novembro, 228, 4.º andar (matriz, 1948)<br />

Maria Antônia, 380 (1954)<br />

Rua 24 de Maio, 35, 3.º andar (1958)<br />

Apesar da ascendência italiana, Enio Guazzelli trabalhava com livros de língua<br />

inglesa, já aproveitan<strong>do</strong> a influência cultural <strong>do</strong>s EUA. Vendia tanto livros técnicos e<br />

científicos, quanto livros de ficção. Em 1954 abriu uma filial na Rua Maria Antônia,<br />

aproximan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s leitores universitários, que a<strong>do</strong>taram a loja como ponto de<br />

encontro.<br />

Em 1958 fun<strong>do</strong>u a editora Pioneira, editan<strong>do</strong> livros de Florestan Fernandes,<br />

como Ensaios de sociologia geral e aplicada (1959), O negro em São Paulo (1968), e A<br />

104<br />

Cita<strong>do</strong> por Adriana Carranca, “A última página na história da Ornabi”, O Esta<strong>do</strong> de S. Paulo,<br />

29/04/2007.<br />

105<br />

“Parthenon, a loja que não dava lucro”, disponível em<br />

<br />

43


função social da guerra na sociedade tupinambá (1970); e publican<strong>do</strong> Aziz Ab’Saber<br />

com São Paulo: o chão, o clima e as águas (1968). A editora criou a coleção<br />

“Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais” que publicou Delfim Netto, com<br />

Planejamento para o desenvolvimento econômico (1966), além de clássicos como A<br />

ética protestante e o espírito <strong>do</strong> capitalismo (1967), de Max Weber<br />

Na década de 1970 a Pioneira passou por uma crise financeira, o que a fez fechar<br />

to<strong>das</strong> as suas livraria em 1979, fican<strong>do</strong> apenas com a editora.<br />

►Sal (195x-1961?)<br />

Avenida Ipiranga, 586, 9.º andar<br />

Praça da República, 180, 5.º andar<br />

A Sal vendia obras importa<strong>das</strong> da França, e Alfre<strong>do</strong> Bosi diz que nela as suas<br />

“veleidades de leitor de filosofia encontravam as coberturas sóbrias da Gallimard, da<br />

Plon, da PUF, da J. Vrin” 106 — importantes editoras francesas.<br />

►São Paulo (1950-1965?)<br />

Rua São Bento,370, 9. o andar<br />

Olin<strong>do</strong> Moura escolheu para sua loja um local discreto, no 9. o andar, porque seu<br />

público era bem restrito. Vendia edições raras e de luxo, volta<strong>das</strong> apenas aos<br />

coleciona<strong>do</strong>res e à elite intelectual de São Paulo.<br />

►Saraiva (1917- )<br />

Largo <strong>do</strong> Arouche, 5B<br />

Rua José Bonifácio, 203 (a partir de 1968)<br />

Praça da Sé (filial, 1972)<br />

Em sua livraria, Joaquim Inácio Saraiva atendia os alunos <strong>do</strong> Largo São<br />

Francisco, que o apelidaram de conselheiro Saraiva – sinal da consideração que<br />

dedicavam a ele. A editora Saraiva foi criada na mesma época em que livraria,<br />

publican<strong>do</strong> livros de direito. Em 1944 ela expandiu sua temática, lançan<strong>do</strong> livros de<br />

português, como Gramática normativa da língua portuguesa (1944), de Francisco da<br />

106 Alfre<strong>do</strong> Bosi, “Quem diz livraria diz refúgio”, Livro (Revista <strong>do</strong> NELE), n. 1, São Paulo, maio 2011,<br />

pp. 13-18.<br />

44


Silveira Bueno; a Coleção Saraiva, com romances e biografias, como O rei cavaleiro<br />

(4.º ed., 1948), de Pedro Calmon, e Ben-Hur (1948), de Lewis Wallace; além da<br />

Coleção Jabuti, apresentan<strong>do</strong> autores como José de Alencar e Paulo Setúbal.<br />

Em 1972, a Saraiva instalou na Praça da Sé a sua primeira filial. O investimento<br />

em filiais teve início quan<strong>do</strong> a livraria abriu seu capital e deixou de ser uma empresa<br />

familiar, o que resultou na rede de <strong>livrarias</strong> existente até hoje.<br />

►Siciliano (1942- )<br />

Rua José de Barros, 323<br />

Antes de abrir sua livraria, Pedro Siciliano foi distribui<strong>do</strong>r <strong>das</strong> publicações de<br />

Roberto Marinho e de Assis Chateaubriand. Após estabelecer sua loja própria, além de<br />

livros também vendia revistas e jornais. Aproveitan<strong>do</strong> o aumento da influência cultual<br />

norte-americana, Siciliano passou a importar romances <strong>do</strong>s EUA. Suas lojas seguiam as<br />

últimas tendências, com iluminação controlada para realçar a capa <strong>do</strong>s livros, anúncios<br />

de best-sellers e vende<strong>do</strong>res persuasivos. A organização interna da loja privilegiava a<br />

rápida circulação <strong>do</strong> cliente, que comprava por impulso ou influencia<strong>do</strong> pela<br />

publicidade. Na década de 1950 a Siciliano começou sua expansão, abrin<strong>do</strong> filiais em<br />

Osasco (1954) e Santo André (1957), o que deu início à sua cadeia de <strong>livrarias</strong>.<br />

►Teixeira (1876-2000)<br />

Rua Líbero Badaró, 491 (matriz, 1933-1958)<br />

Av. São João, 8 (19??-1958)<br />

Rua Marconi, 40 (1955)<br />

Criada por Antônio Maria Teixeira, em 1876, inicialmente chamava-se Grande<br />

Livraria Paulista. Nos anos de 1920 a loja passou para o dramaturgo José Vieira Pontes,<br />

que em 1933 se mu<strong>do</strong>u para a Rua Líbero Badaró, já com o nome de Livraria Teixeira.<br />

No final da década de 1950 ela chegou a ter duas filiais, uma na Avenida São João e<br />

outra na Rua Marconi. A livraria não tinha a aparência de uma loja, apresentan<strong>do</strong>-se<br />

como um espaço de promoção da arte. Expunha mobiliários, fotografias, coleções<br />

filatélicas e de livros antigos, sen<strong>do</strong> frequentada por artistas de teatro e escritores.<br />

A Teixeira possuía uma editora, que no século XIX publicava poetas como<br />

Teófilo Dias (Comédia <strong>do</strong>s deuses, 1887) e Olavo Bilac (Poesias, 1888), além de livros<br />

45


jurídicos. Sob a direção de Vieira Pontes, passou a editar obras relaciona<strong>das</strong> à<br />

dramaturgia, como Teatro, de Gomes Cardim (1929), Para ser ator (3. ed., 1936), de<br />

Eduar<strong>do</strong> Vitorinho; e a coleção Biblioteca Dramática Popular, com mais de trezentos<br />

roteiros teatrais — A honra ultrajada (1935), <strong>do</strong> próprio Vieira Pontes; O casamento <strong>do</strong><br />

Pin<strong>do</strong>ba (1937), de João Pinho; e Os filhos da canalha (1943), de Joaquim Nunes.<br />

►Tupi (195x-196x)<br />

Rua Riachuelo, 108<br />

A livraria Tupi era um <strong>do</strong>s sebos mais populares da cidade 107 . Foi criada por ex-<br />

funcionários da Gazeau, quan<strong>do</strong> estes se desligaram <strong>do</strong> antigo alfarrábio e receberam de<br />

indenização parte <strong>do</strong> acervo. Nos primeiros anos da década de 1960 a sobreloja da Tupi<br />

foi alugada por Folco Masucci, da Livraria Leia (ver acima).<br />

►Outras <strong>livrarias</strong><br />

De algumas <strong>livrarias</strong> não foram encontra<strong>das</strong> informações adicionais, a não ser o<br />

nome <strong>do</strong> estabelecimento e seu endereço. Na tabela abaixo os endereços aparecem em<br />

duas colunas, uma de acor<strong>do</strong> com a lista de assinantes da Cia. Telefônica Brasileira de<br />

1959 108 e a outra segun<strong>do</strong> a lista de assinantes de 1961 109 . Assim, é possível afirmar que<br />

pelo menos nesse intervalo de três anos as <strong>livrarias</strong> cita<strong>das</strong> nos <strong>do</strong>is guias estavam em<br />

atividade, além de acompanhar se houve mudanças de endereço.<br />

Estabelecimento Endereço (1959) Endereço (1961)<br />

24 de Maio, Livraria rua 24 de Maio, 68<br />

Acadêmica, Livraria praça Ouvi<strong>do</strong>r Pacheco e Silva, 28<br />

Advoga<strong>do</strong>s, Livraria <strong>do</strong>s rua Sena<strong>do</strong>r Feijó, 176<br />

Agência Expoente, Livraria rua Xavier de Tole<strong>do</strong>, 140<br />

Agência Penna, Livraria rua José de Barros, 337<br />

Allan Kardec, Livraria rua Riachuelo, 108 Idem<br />

Atheneu, Livraria rua Marconi, 131 Idem<br />

Bandeiras, Livraria <strong>das</strong> Praça da República, 162<br />

107<br />

Raimun<strong>do</strong> de Meneses,“As primeiras <strong>livrarias</strong> de São Paulo”, Revista <strong>do</strong> Arquivo Municipal, São<br />

Paulo, jul-dez 1970, p.217.<br />

108<br />

Lista de assinantes da cidade de São Paulo, Cia. Telefônica Brasileira, 1959.<br />

109<br />

Guia <strong>do</strong>s telefones/Guia <strong>do</strong>s assinantes, Cia. Telefônica Brasileira, 1961.<br />

46


Brasil, Livraria rua Benjamin Constant, 123 Idem<br />

Calçadense, Livraria rua 15 de Novembro, 228 Idem<br />

Catedral, Livraria rua Sena<strong>do</strong>r feijó, 46<br />

Centro, Livraria <strong>do</strong> rua Boa Vista, 245 Idem<br />

Científica, Livraria rua José de Barros, 168 Idem<br />

Correio, Livraria <strong>do</strong> avenida São João, 239 Idem<br />

Dinucci, Livraria avenida São João, 601<br />

Elite, Livraria rua 24 de Maio, 53 Idem<br />

Elro, Livraria rua José de Barros, 168<br />

Expoente, Livraria rua Xavier de Tole<strong>do</strong>, 140<br />

Francisco Alves, Livraria rua Líbero Badaró, 292<br />

Globo, Livraria <strong>do</strong> rua 7 de Abril, 252<br />

Guanabara Koogan, Livraria 24 de Maio, 207 Idem<br />

Guatapará, Livraria rua Barão de Itapetininga, 112 Idem<br />

Ibero Americano, Livro rua Conselheiro Crispiniano, 29<br />

Independente Editora, Livraria rua Líbero Badaró, 92<br />

Indiana, Livraria avenida Ipiranga, 1100<br />

Ipê, Livraria rua 7 de Abril, 111<br />

Iracema, Livraria Editora rua Riachuelo, 275<br />

Irradiante, Livraria Editora Praça da Sé, 323<br />

Italiana, Livraria rua Barão de Itapetininga, 140<br />

José Bushatsky, Livrraria Jurídica rua Riachuelo, 201<br />

Landy, Livraria rua 7 de Abril, 252<br />

Livro <strong>do</strong> Mês rua 7 de Abril, 34<br />

Livro Italiano, Loja rua Barão de Itapetininga, 140<br />

Livroluz Divulga<strong>do</strong>ra Cultural rua conselheiro Crispiniano, 58<br />

Lidico, Livraria rua José Bonifácio, 93 rua José Bonifácio, 24<br />

Livros Ilco rua Xavier de Tole<strong>do</strong>, 44<br />

Logos, Livraria Praça da Sé, 47 rua 15 de Novembro, 137<br />

Lotus, Livraria rua Capitão Salomão, 37<br />

Luso Espanhola e Brasileira, Livraria rua Barão de Itapetininga, 255<br />

Minerva Universal, Livraria rua 7 de Abril, 235<br />

Nilo, Livraria rua Barão de Itapetininga, 112 Idem<br />

Paulinas, Livraria Editora Praça da Sé, 184<br />

47


Reichmann Ernesto, Livraria rua José de Barros, 168<br />

Reuni<strong>das</strong>, Livraria Editora praça da República, 71 Idem<br />

Revival, Livraria rua Florêncio de Abreu, 36<br />

Roxy, Livraria avenida São João, 593<br />

Santos Dummont, Livraria Largo <strong>do</strong> Paissandu, 72 Idem<br />

Sérgio Uspiensky, Livraria rua Direita, 235<br />

Souza Pinto, Livraria rua Marconi, 87<br />

Stark, Livraria rua 7 de Abril, 264 rua 7 de Abril, 301<br />

Triângulo, Livraria rua Barão de Itapetininga, 255 Idem<br />

Vademecum, Livraria rua Barão de Itapetininga, 273 Idem<br />

Tabela 1. Livrarias <strong>do</strong> Centro de São Paulo entre 1959 e 1961 (fonte: Lista de assinantes da cidade de<br />

São Paulo [1959] e Guia <strong>do</strong>s telefones/Guia <strong>do</strong>s assinantes [1961])<br />

48


Conclusão<br />

O MERCADO editorial paulista entre 1930 e 1936, perío<strong>do</strong> no qual São Paulo foi palco da<br />

Revolução Constitucionalista de 1932, multiplicou-se em mais de seis vezes 110 . Essa<br />

situação aparentemente contraditória foi na verdade um <strong>do</strong>s fatores que impulsionaram<br />

a produção de livros na cidade. Isso porque a elite paulista, perceben<strong>do</strong> que perdera seu<br />

poder político, desenvolveu estratégias para criar e tornar-se detentora <strong>do</strong> novo centro<br />

cultural brasileiro. Um <strong>do</strong>s meios cria<strong>do</strong>s para alcançar tal objetivo foi a criação, em<br />

1935, <strong>do</strong> Departamento de Cultura. Este, por sua vez, instalou uma rede de bibliotecas<br />

públicas e, através <strong>do</strong> Instituto Nacional <strong>do</strong> Livro (de 1937), desenvolveu políticas de<br />

leitura e incentivou a produção editorial da cidade através de subsídios.<br />

Até a década de 1940, a cultura francesa entre a elite paulistana era muito<br />

influente. Na década de 1930, as <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong> Centro da cidade davam preferência à<br />

poesia e aos grandes clássicos da literatura, a maioria vendida em francês. Após a<br />

Segunda Guerra, a influência americana alterou o tipo de livro ofereci<strong>do</strong>, agora muito<br />

mais relaciona<strong>do</strong> ao entretenimento <strong>do</strong> que ao conhecimento. Os livreiros mais volta<strong>do</strong>s<br />

ao aspecto comercial <strong>do</strong> que ao aspecto cultural de sua profissão viram nos best-sellers<br />

um bom investimento.<br />

Assim, basicamente duas lógicas passaram a ditar a estrutura <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos. As <strong>livrarias</strong> universitárias e eruditas, por trabalharem com produtos<br />

de baixa rotatividade, optam pela relação mais eficaz entre o espaço da loja e o seu<br />

estoque – isto é, utilizam altas prateleiras, que ocupavam paredes inteiras, expon<strong>do</strong><br />

apenas a lombada <strong>do</strong>s títulos – porque caso contrário os custos fixos (como o aluguel)<br />

poderiam exceder os lucros gera<strong>do</strong>s pelas ven<strong>das</strong>. As <strong>livrarias</strong> de best-sellers, por outro<br />

la<strong>do</strong>, apresentavam poucos títulos, preferencialmente com a capa voltada para frente,<br />

em uma loja espaçosa, decorada para seduzir o compra<strong>do</strong>r. Por contar com um estoque<br />

reduzi<strong>do</strong>, para cobrirem os custos e obterem uma alta margem de lucro, esses livreiros<br />

precisam trabalhar com produtos de alta rotatividade. Através da divulgação<br />

110 Ubiratan Macha<strong>do</strong>, A etiqueta de livros no Brasil, São Paulo, Imprensa Oficial /Edusp, 2003, p.42.<br />

49


publicitária, determina<strong>do</strong>s livros escritos de acor<strong>do</strong> com fórmulas testa<strong>das</strong> tornam-se<br />

best-sellers, cujas ven<strong>das</strong> permitem a manutenção <strong>do</strong> negócio 111 .<br />

As <strong>livrarias</strong>, como qualquer outro comércio, aglomeram-se em determina<strong>das</strong><br />

regiões de acor<strong>do</strong> com as variações da geografia econômica em que estão inseri<strong>das</strong>. O<br />

Centro Velho da cidade da capital paulista, por ser o berço da cidade, abrigou as<br />

primeiras casas comerciais. No perío<strong>do</strong> abarca<strong>do</strong> por nossa pesquisa, algumas <strong>das</strong><br />

<strong>livrarias</strong> estuda<strong>das</strong> tiveram origem no século XIX, como a Garraux (de 1860) e a<br />

Teixeira (de 1876). Outras foram cria<strong>das</strong> no início <strong>do</strong> século XX, sen<strong>do</strong> possível citar as<br />

<strong>livrarias</strong> Lealdade (de 1913), juntamente com a Annunziato e a Saraiva (ambas de<br />

1917). Mas o importante é que, segun<strong>do</strong> nosso levantamento, to<strong>das</strong> as treze <strong>livrarias</strong><br />

existentes na região Central de São Paulo durante a década de 1930 concentravam-se no<br />

Centro Velho. Isso coincide com a fase da primeira industrialização de São Paulo<br />

(1910-1940), momento em que os cafeicultores paulistas passaram a investir na<br />

indústria.<br />

Gráfico 2. Distribuição <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> entre o Centro Velho e o Centro Novo de São Paulo por década<br />

(fonte: levantamento <strong>do</strong> autor)<br />

Na década de 1940, o Centro Novo e o Centro Velho empataram, com dez<br />

<strong>livrarias</strong> registra<strong>das</strong> em nosso levantamento, o que demonstrava a mudança na<br />

localização <strong>do</strong>s estabelecimentos, consequência da segunda fase da industrialização de<br />

São Paulo, ocorrida entre 1940 e 1960, quan<strong>do</strong> a atividade industrial tornou-se<br />

111 Ver. Jason Epstein, O negócio <strong>do</strong> livro, Rio de Janeiro /São Paulo, Record, 2002.<br />

50


pre<strong>do</strong>minante sobre a da cafeicultura. A valorização <strong>do</strong> Centro Novo resultou<br />

inicialmente da reforma e ampliação <strong>do</strong> viaduto <strong>do</strong> Chá, em 1938, o que facilitou o<br />

acesso à região. O Centro Novo virou o local da moda, porque tinha um projeto urbano<br />

mais moderno, com bulevares, jardins públicos, cafés, lojas elegantes e equipamentos<br />

sociais 112 . No pós-Guerra, essa região estava pronta para abrigar a nova indústria,<br />

financiada em parte pelo capital estrangeiro. Segun<strong>do</strong> nossa pesquisa, na década de<br />

1950 havia 27 <strong>livrarias</strong> no Centro Velho, e 51 estabelecimentos no Centro Novo; na<br />

década de 1960, eram 23 <strong>livrarias</strong> contra 32, respectivamente.<br />

Durante o milagre econômico brasileiro (1968-1973), perío<strong>do</strong> em que a taxa de<br />

crescimento econômico <strong>do</strong> país chegava a 11% ao ano – ten<strong>do</strong> como um de seus fatores<br />

as políticas de crédito <strong>do</strong> governo militar 113 – houve nova mudança <strong>do</strong> centro financeiro<br />

na cidade. São Paulo passava a dedicar-se cada vez mais ao setor terciário, em<br />

decorrência <strong>do</strong>s desenvolvimentos tecnológicos na comunicação e no transporte, e viu<br />

seu Centro tornar-se obsoleto. As limitações de espaço e infraestrutura, além da<br />

especulação imobiliária, impediam que os prédios mais modernos fossem construí<strong>do</strong>s<br />

na região. Desde o início da década de 1960 a Avenida Paulista vinha sen<strong>do</strong> preparada<br />

para abrigar esses novos edifícios, quan<strong>do</strong> as antigas mansões <strong>do</strong>s barões <strong>do</strong> café<br />

começaram a ser demoli<strong>das</strong>, dan<strong>do</strong> lugar aos prédios de escritórios 114 . Nesse momento,<br />

as <strong>livrarias</strong> de maior capital migraram para a Paulista ou abriram filiais ao seu re<strong>do</strong>r. Os<br />

estabelecimentos sem muitos recursos passaram por dificuldades, pela fuga <strong>do</strong>s<br />

consumi<strong>do</strong>res em potencial e pela forte concorrência <strong>das</strong> redes de <strong>livrarias</strong>. Isso explica<br />

por que, de acor<strong>do</strong> com nossos da<strong>do</strong>s, as 78 <strong>livrarias</strong> presentes na região central de São<br />

Paulo na década de 1950 reduziram-se a 55 em dez anos, chegan<strong>do</strong> a apenas dezenove<br />

estabelecimentos na década de 1970.<br />

Essa crise afetou não apenas as <strong>livrarias</strong> <strong>do</strong> Centro da capital paulista, mas<br />

também as de to<strong>do</strong> o Brasil. Com a queda no número de lojas, a situação da leitura no<br />

país foi prejudicada, pois o livro não conseguia alcançar seu público em toda a área<br />

nacional. Com isso, de maneira geral o volume <strong>das</strong> tiragens foi reduzi<strong>do</strong>, o que aumentou<br />

o preço por exemplar nas <strong>livrarias</strong>. A redução na quantidade de estabelecimentos<br />

112<br />

Raquel Rolnick, op. cit..<br />

113<br />

Veloso, F.; Villela, A. & Giambiagi, F., “Determinantes <strong>do</strong> ‘milagre’ econômico brasileiro (1968-<br />

1973)”. Disponível em<br />

< www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402008000200006#back><br />

114<br />

“Fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro”, Veja, n.419, 18/05/1976, p.50.<br />

Disponível em <br />

51


esultou da concorrência com outras formas de venda, além da execução de políticas<br />

públicas de leitura que privilegiavam a compra diretamente <strong>do</strong>s editores.<br />

Uma <strong>das</strong> principais críticas que podemos fazer à distribuição em massa, através<br />

de clubes <strong>do</strong> livro ou de livros em fascículos disponibiliza<strong>do</strong>s em bancas de jornal,<br />

refere-se ao restrito número de títulos ofereci<strong>do</strong>s para o leitor, seleciona<strong>do</strong>s pelos<br />

editores segun<strong>do</strong> o que estes acreditam ser o desejo da maioria <strong>do</strong>s compra<strong>do</strong>res. Nas<br />

grandes <strong>livrarias</strong>, cheias de anúncios publicitários volta<strong>das</strong> para os best-sellers, a<br />

escolha <strong>do</strong> leitor também é limitada, pois fica restringida aos livros da moda. No caso<br />

<strong>do</strong>s programas para abastecimento de obras nas bibliotecas e escolas públicas, a<br />

situação é ainda mais sensível, visto que o Esta<strong>do</strong> é que seleciona os livros que estarão<br />

ao alcance da população – fato grave no perío<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong> nesta pesquisa, quan<strong>do</strong> houve<br />

<strong>do</strong>is longos perío<strong>do</strong>s de governos não democráticos – o Esta<strong>do</strong> Novo (1937-1945) e o<br />

regime militar (1964-1985).<br />

Por sua vez, o livreiro tradicional – presente nas <strong>livrarias</strong> acadêmicas ou eruditas<br />

cita<strong>das</strong> nesta pesquisa – está ciente <strong>do</strong> caráter duplo de sua profissão, dividida entre o<br />

aspecto comercial e o cultural. Joaquim Inácio Saraiva, quan<strong>do</strong> seu estabelecimento<br />

ainda tinha como especialidade obras jurídicas, era chama<strong>do</strong> pelos alunos <strong>do</strong> Largo São<br />

Francisco de “conselheiro Saraiva” 115 ; Santa Cruz, da livraria Duas Cidades, dizia que<br />

“grandes livreiros são conselheiros” 116 . Tais profissionais viam o livro não como um<br />

produto qualquer a ser vendi<strong>do</strong>, mas como um objeto que exigia orientação no momento<br />

de ser escolhi<strong>do</strong> pelo compra<strong>do</strong>r. Diferentemente <strong>das</strong> sugestões <strong>das</strong> atuais <strong>livrarias</strong><br />

virtuais, basea<strong>das</strong> em programas estatísticos ou nas listas <strong>do</strong>s mais vendi<strong>do</strong>s, esses<br />

profissionais experientes conheciam seus livros e sabiam indicar as melhores opções<br />

diante <strong>das</strong> necessidades e <strong>do</strong>s gostos individuais de seus clientes. Entretanto, apesar de<br />

sua importância e de seu talento, entre as déca<strong>das</strong> de 1930 e 1970 esse tipo de livreiro<br />

foi o mais penaliza<strong>do</strong> durante os rumos toma<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> hoje avis rara.<br />

115 Ubiratan Macha<strong>do</strong>, Pequeno guia histórico <strong>das</strong> <strong>livrarias</strong> brasileiras, São Paulo, Ateliê, 2009.<br />

116 Cita<strong>do</strong> por Ana Cândida Vespucci, “Duas Cidades, mais que livros”. Disponível em<br />

<br />

52


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TRAVASSOS, Nelson Palma. Pequena história da empresa gráfica da Revista <strong>do</strong>s<br />

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