Elementos sobre História e Arqueologia - Câmara Municipal de ...
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (III Parte – A)<br />
http://www.cmalcacerdosal.pt/PT/Actualida<strong>de</strong>/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinete<strong>de</strong><strong>Arqueologia</strong>.aspx<br />
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Ficha Técnica<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Tema do Segundo Volume - TORRÃO DO ALENTEJO: <strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong>.<br />
Colecção Digital – <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, nº 2 (III Parte)<br />
(Para facilitar a consulta em PDF, o livro foi dividido em 3 Partes, seguindo <strong>de</strong> perto a estrutura inicial)<br />
Coor<strong>de</strong>nação – Vereação do Pelouro da Cultura<br />
Concepção: Gabinete <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> para apoio da Feira Anual do Torrão.<br />
Capa, Grafismo e Desenhos – Dos autores<br />
Cartografia elaborada pelos autores <strong>sobre</strong> bases digitais do Google Earth 2008 e do Earth Explorer<br />
5.0, da Motherplanet.com<br />
Fotografias – António Rafael Carvalho e Mário Perna<br />
Edição on-line – Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, com colaboração da Junta <strong>de</strong> Freguesia do Torrão<br />
Freguesia do Torrão; Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal, Agosto <strong>de</strong> 2008<br />
Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (III Parte – A)<br />
http://www.cmalcacerdosal.pt/PT/Actualida<strong>de</strong>/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinete<strong>de</strong><strong>Arqueologia</strong>.aspx<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Índice da III Parte (A)<br />
III Parte – Anexos (António Rafael Carvalho e A. Catarina Cabrita) 4<br />
► Monumentos da Vila do Torrão 5<br />
► Planta da Vila do Torrão: Roteiro do Património 6<br />
◄ Património Arqueológico 7<br />
● Castelos 7<br />
● Monte da Tumba 8<br />
● Ocupação Romana da Fonte Santa e Penedo Minhoto 8<br />
● Calçadinha e Ponte <strong>de</strong> Origem Romana 9<br />
● Musalla Islâmica do Torrão 9<br />
◄ O Património Religioso 12<br />
● Igreja <strong>de</strong> N ª Srª da Assunção 12<br />
● Nossa Srª da Albergaria 16<br />
● Igreja do Carmo 18<br />
◄ Conventos Religiosos 20<br />
● Convento <strong>de</strong> S. Francisco 20<br />
● Convento das Freiras Clarissas 22<br />
◄ Ermidas da Freguesia do Torrão 22<br />
● O papel das Ermidas no Espaço rural do Torrão. 22<br />
● Ermida <strong>de</strong> S. João do Azinhal 23<br />
● Ermida <strong>de</strong> S Fausto 25<br />
● Ermida <strong>de</strong> N ª S ª do Bom Sucesso 26<br />
● Ermida <strong>de</strong> S. João da Ponte 29<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Monumentos da Vila do Torrão<br />
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Para mais informações, contactar:<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Planta da Vila do Torrão:<br />
Roteiro do Património<br />
Junta <strong>de</strong> Freguesia do Torrão – freguesia.torrao@mail.telepac.pt - Tel: 265 669 245<br />
Turismo do Município <strong>de</strong> Alcácer do Sal – turismoalcacer@m-alcacerdosal.pt - Tel: 265 610 070 fax 265 610 079<br />
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◄ Património Arqueológico<br />
● Castelos<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Local on<strong>de</strong> se localiza a Torre do Deposito <strong>de</strong> Água do Torrão e origem do povoamento da<br />
actual Vila do Torrão.<br />
Os primeiros indícios <strong>de</strong> presença humana neste local, datam do Período Calcolítico e são<br />
contemporâneos da ocupação do Monte da Tumba. Mantêm a ocupação durante o Horizonte<br />
Campaniforme.<br />
Segundo João Carlos Faria, foram recolhidos junto à Igreja matriz alguns “vidros romanos”.<br />
Em contexto Medieval, terá sido construído um Castelo com muros em taipa, que entretanto<br />
<strong>de</strong>sapareceu.<br />
Os muçulmanos terão ocupado o local, contudo, os elementos cerâmicos à superfície são quase<br />
todos dos séculos XV/XVI.<br />
Em 1260 temos a notícia que estava encomendada por um cavaleiro chamado Fernando<br />
Vermu<strong>de</strong>s e poucos anos <strong>de</strong>pois, no tempo do Mestre Pedro Escacho as suas rendas ascendiam a 1 800<br />
libras.<br />
Em meados do século XIV, o castelo já tinha caído em ruína. A Or<strong>de</strong>m vai investir 2 000 libras<br />
na sua recuperação, mas o trabalho ficou incompleto, porque era necessário mais 1 000 libras.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Para um melhor enquadramento histórico do Castelo do Torrão e o seu papel para a construção<br />
da realida<strong>de</strong> actual, aconselhamos a ler o nosso artigo inserido neste volume (I Parte), <strong>de</strong>dicado à<br />
romanização e islamização do Torrão.<br />
Neste momento, não existe nenhum vestígio da estrutura militar medieval, mas vale a pena uma<br />
visita <strong>de</strong>morada ao local, por causa da paisagem magnífica e pela oportunida<strong>de</strong> em visitar a Igreja Matriz.<br />
● Monte da Tumba<br />
Povoado Pré-Histórico fortificado, que se localiza a sul da vila do Torrão. Foi objecto <strong>de</strong><br />
trabalhos arqueológicos no século passado, que mostraram a gran<strong>de</strong> importância científica do local.<br />
Datado do Período Calcolítico, apresenta uma espessa muralha e casas <strong>de</strong> planta circular com base em<br />
pedra, testemunhos do modo <strong>de</strong> vida no Torrão por volta do 2 Milénio a. C.<br />
● Ocupação Romana da Fonte Santa e Penedo Minhoto (ver artigo <strong>de</strong> João Carlos Faria e Marisol<br />
Aires Ferreira, inserido na II Parte))<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
● Calçadinha e Ponte <strong>de</strong> Origem Romana (ler o nosso trabalho <strong>sobre</strong> a resenha histórica do Torrão,<br />
inserida na I Parte <strong>de</strong>ste numero monográfico)<br />
Vestígios da estrada romana <strong>de</strong> ligação entre Salacia/Alcácer e Beja. A ponte actualmente<br />
existente não apresenta nenhum apontamento arquitectónico romano, contudo po<strong>de</strong>remos supor que a sua<br />
origem assenta numa origem romana, tendo em conta a importância do itinerário e a função que o Torrão<br />
po<strong>de</strong>ria ter como provável vicus/Al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> apoio à estrada.<br />
● Musalla Islâmica do Torrão.<br />
Temos em preparação um estudo <strong>sobre</strong> este monumento.<br />
Pela importância que tem para a história do Torrão, optamos por inserir nesta breve nota algumas<br />
imagens <strong>de</strong> satélite, permitindo <strong>de</strong>ste modo o leitor comparar o monumento do Torrão com outros <strong>de</strong><br />
natureza arquitectónica similar, que existem em Espanha e em Marrocos.<br />
Convêm frisar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já que uma Musalla não é uma mesquita.<br />
Apesar <strong>de</strong> apresentar uma linguagem arquitectónica semelhante, com um muro da Qiblah e a<br />
torre do Mihrab orientados <strong>de</strong> forma canónica, as musallas são quase sempre espaços amplos, abertos,<br />
por vezes com escassa compartimentação interna. Noutros casos po<strong>de</strong>rá resumir-se a um terreno<br />
<strong>de</strong>scampado junto a uma povoação, sem nenhuma estrutura edificada. Em contexto islâmico, todo o<br />
espaço geográfico é a<strong>de</strong>quado para rezar, por isso não é obrigatório a existência <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> apoio.<br />
As musallas, só eram<br />
utilizadas pela comunida<strong>de</strong><br />
islâmica, duas vezes por ano:<br />
- Festejar o final do<br />
Ramadão e o Nascimento da<br />
Lua Nova.<br />
Actualmente no Norte<br />
<strong>de</strong> África, tendo em conta a<br />
elevada taxa <strong>de</strong>mográfica das<br />
cida<strong>de</strong>s, são os estádios <strong>de</strong><br />
futebol que assumem a função<br />
<strong>de</strong> musalla.<br />
Reconstituição hipotética da musalla do Torrão.<br />
O Mihrab encontra-se sensivelmente orientado para o nascer do Sol durante a Primavera.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Fotografia actual do monumento, que actualmente faz parte da cerca do convento das Clarissas do Torrão<br />
Vista <strong>de</strong> satélite da Mesquita <strong>de</strong> Córdova<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Vista <strong>de</strong> satélite da musalla do Torrão.<br />
Apesar <strong>de</strong> ter uma orientação ligeiramente diferente das patentes, na Mesquita <strong>de</strong> Córdova ou na Mesquita <strong>de</strong> Ribat al-Fath,<br />
o monumento do Torrão, possui os requisitos arquitectónicos para uma estrutura <strong>de</strong>sta natureza.<br />
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◄ O Património Religioso<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Alertamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, que não preten<strong>de</strong>mos apresentar neste anexo, um estudo dos monumentos do<br />
Torrão. Queremos unicamente apresentar algumas fotografias, mais numa perspectiva <strong>de</strong> divulgação,<br />
<strong>de</strong>monstrado <strong>de</strong> uma forma clara porque vale a pena vir até ao Torrão, saborear as suas riquezas<br />
gastronómicas e conhecer melhor os seus monumentos.<br />
A Vila do Torrão po<strong>de</strong> ser comparada a um dia<strong>de</strong>ma, salpicado <strong>de</strong> jóias, que coroa uma colina<br />
que <strong>sobre</strong>ssai da paisagem envolvente.<br />
Cada pedra preciosa correspon<strong>de</strong> a um monumento ou uma casa brasonada.<br />
É natural que gran<strong>de</strong> parte do legado patrimonial que chegou até aos nossos dias, correspondam<br />
a Igrejas e a Ermidas, dada a importância que o sagrado e a protecção divina tinham nesses séculos<br />
passados.<br />
O Torrão sempre foi uma terra <strong>de</strong> gentes <strong>de</strong>votas e preocupadas pelo próximo, tanto em contexto<br />
islâmico como no cristão.<br />
O que chegou até aos nossos dias foi a sacralização dos espaços religiosos, tão necessários para<br />
darem sentido à vida, em épocas problemáticas <strong>de</strong> guerras, pestes e crises alimentares.<br />
Curiosamente, do património militar, pouco ou nada <strong>sobre</strong>viveu até hoje, a não ser a memória e um relato<br />
ou outro fixado em palavras escritas...<br />
● Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção<br />
(Antiga Igreja <strong>de</strong> Santa Maria do Torrão)<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Imponente construção, que molda a paisagem urbana do Torrão, sendo visível a vários<br />
quilómetros.<br />
Este facto não é gratuito e tem a ver com a importância que teve após a conquista do Torrão em<br />
meados do século XIII. Por alguma razão se localiza na área do antigo castelo.<br />
Durante a Ida<strong>de</strong> Média, tanto em contexto Muçulmano como no Cristão, a localização dos<br />
imóveis obe<strong>de</strong>cem a regras precisas. A sua volumetria e diálogo visual do conjunto, servem também<br />
como “marcas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r” aos habitantes e viajantes, mostrando a importância que teriam em <strong>de</strong>terminada<br />
época.<br />
O facto <strong>de</strong> o castelo ter <strong>de</strong>saparecido precocemente e <strong>de</strong> a Igreja matriz ter <strong>sobre</strong>vivido, mostra<br />
que o clero teve mais importância no Torrão que o aparelho militar aqui instalado e que após a conquista<br />
do território, começou a per<strong>de</strong>r sentido.<br />
Após a conquista <strong>de</strong>finitiva do Torrão, entre 1217 e 1225, a “mesquita” terá sido purificada e<br />
transformada em Igreja cujo orago foi atribuído a Santa Maria, como era usual na época.<br />
É <strong>de</strong> aceitar que o espaço estivesse <strong>de</strong>ntro do recinto amuralhado islâmico, o qual consistia numa<br />
muralha em taipa, como é referida nas “Memórias Paroquiais” do século XVIII.<br />
Terá sido consagrada nessa altura a Santa Maria, como era usual numa igreja localizada na se<strong>de</strong><br />
administrativa <strong>de</strong> um concelho medieval.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Segundo o estudo <strong>de</strong> Cristina Gomes Pimenta 1 , sabemos que em 1510 a igreja era chamada <strong>de</strong><br />
Santa Maria, <strong>de</strong>nominação que ainda encontramos em 1534.<br />
Em 1510 o Prior era Luís Carreira, processo da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Santiago.<br />
Tinha <strong>de</strong> Mantimento: 10 000 reais e com a tesouraria, 500 reais.<br />
Como obrigações, tinha a missa aos Domingos e festas, a cura das almas, por acordo com os<br />
beneficiados.<br />
Sancho Garcia e João Dias, aparecem como beneficiados nesse ano <strong>de</strong> 1510.<br />
Nas obrigações, figuram todas as missas e rezar as horas no coro e ajudar às missas do Prior e<br />
dar a unção e comunhão.<br />
Como confraria anexa, figura a <strong>de</strong> Nossa Senhora.<br />
Como Capelas anexas, figuram as <strong>de</strong> João Falcão, do Santo Espírito, <strong>de</strong> Madalena Fernan<strong>de</strong>s e<br />
<strong>de</strong> João Pinheiro.<br />
Segundo o mesmo estudo, (Pimenta, p. 225), para 1534, foram referenciados os seguintes<br />
elementos:<br />
Prior: Diogo Rodrigues, capelão <strong>de</strong> D. Jorge, ausente.<br />
Capelães: Manuel Carreira e Pedro Eanes, cléricos <strong>de</strong> missa do hábito <strong>de</strong> Santiago.<br />
Mantimentos: 2 moios <strong>de</strong> trigo e 1 000 reais<br />
Obrigações: missa em dias alternados com o outro capelão<br />
Confrarias anexas: <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
Capelas anexas: <strong>de</strong> João Falcão, <strong>de</strong> Santo Espírito, <strong>de</strong> Fernão Sousa Borges, <strong>de</strong> Madalena<br />
Fernan<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> João Pinheiro.<br />
Segundo as Memórias Paroquiais, referentes à Vila do Torrão e escritas em Junho 29 <strong>de</strong> 1758,<br />
pelo Prior da Matriz, Francisco Carneiro e Alves:<br />
“6. Tem Igreja Matriz, e está em um alto para a parte do poente, fora da vila, junto ao Paço do<br />
Grã Mestre Dom Jorge, a que chamam o Castelo, hoje arruinado, cercado <strong>de</strong> muro <strong>de</strong> taipa, o qual<br />
visitou Dom Rodrigo <strong>de</strong> Menesses fidalgo da Casa <strong>de</strong> Sua Mejesta<strong>de</strong>, Comendador das Comendas da vila<br />
<strong>de</strong> Cacela, e da Igreja do Salvador <strong>de</strong> Santarém, e João Fernan<strong>de</strong>s Barregão Prior <strong>de</strong> Nossa Senhora do<br />
Castelo <strong>de</strong> Alcácer, ambos visitadores, em Dezembro <strong>de</strong> mil e quinhentos sessenta, e cinco.(...)<br />
7. É o Orago da Matriz, Nossa Senhora da Assunção. Tem <strong>de</strong>z altares, o Altar Maior bem<br />
adornado, capela gran<strong>de</strong>, boa tribuna, e <strong>de</strong> Naves com colunas, como era a Igreja <strong>de</strong> São Nicolau da<br />
Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.<br />
Primeiro colateral, a Senhora da Vitória dos Brancos. O Senhor Santo António, em cuja Capela<br />
está a venerável Imagem do Senhor dos Passos. Terceira Capela do Senhor Amaro com graves quadros,<br />
pintura antiga. Quarta capela é da Senhora do rosário, Imagem venerada, e prodigiosa; <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
estatura; cuja Capela, mandou fazer o Padre Semião Fernan<strong>de</strong>s Ochoa; e Álvaro Correia <strong>de</strong> Freitas da<br />
vila <strong>de</strong> Alcácer do Sal; e servia <strong>de</strong> carueira, e fez escritura <strong>de</strong>la para a dita Senhora, que hoje se acha<br />
1 Pimenta, Maria Cristina Gomes, 2002, As Or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> Avis e <strong>de</strong> Santiago na Baixa Ida<strong>de</strong> Média: O Governo <strong>de</strong> D. Jorge, p. 225.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
com grave tribuna; bem pintada, e ornada a Capela. A Senhora com bons vestidos: que tudo se <strong>de</strong>ve à<br />
minha <strong>de</strong>voção, que tenho dito á dita Senhora dos Remédios<br />
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● Nossa Srª da Albergaria<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Provavelmente terá correspondido a uma estalagem medieval, como o seu nome indica.<br />
No século XV a estalagem foi transformada em Igreja, por iniciativa <strong>de</strong> D. Margarida <strong>de</strong> Areda.<br />
Em 1636 foi englobada na Misericórdia do Torrão por or<strong>de</strong>m do Car<strong>de</strong>al D. Henrique.<br />
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● Igreja do Carmo<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
A sua história ainda é mal conhecida. Localiza-se no edifício da actual se<strong>de</strong> da Freguesia do<br />
Torrão. Em meados do século XX foi aqui criada a Casa do Povo do Torrão.<br />
A questão que se põe é o porque <strong>de</strong> uma Igreja do Carmo na vila do Torrão!<br />
- Faria parte <strong>de</strong> um convento na vila, entretanto <strong>de</strong>saparecido?<br />
- Consistia parte <strong>de</strong> património <strong>de</strong> um convento exterior ao Torrão?<br />
- Terá sido construído por iniciativa particular?<br />
Na realida<strong>de</strong> é pouco o que sabemos <strong>de</strong>ste espaço religioso, actualmente partilhado pela se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
freguesia do Torrão, possuindo no corpo da Igreja um pólo da biblioteca municipal <strong>de</strong> Alcácer.<br />
Numa síntese, a Or<strong>de</strong>m do Carmo, nasceu da regra dada por St.º Alberto, patriarca <strong>de</strong> Jerusalém,<br />
aos Carmelitas em 1209 e aprovado pelo Papa Honório III, em 30 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1226. 2<br />
2<br />
P.ª Casimiro Vloon, (O.carm), 1983, Carmelitas. Bens. Dicionário <strong>de</strong> <strong>História</strong> da Igreja em Portugal, Direcção <strong>de</strong> António<br />
Alberto Banha <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, 2º V., p. 618-620.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Como or<strong>de</strong>m mendicante, <strong>de</strong> início não podia ter bens e viviam “ o mo<strong>de</strong>lo da Igreja primitiva”<br />
A gestão dos bens era efectuada por um fra<strong>de</strong> <strong>de</strong>signado para o efeito, que ia dando resposta às<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um. Era porem permitido a posse <strong>de</strong> animais e aves para alimentação e burros ou<br />
mulas, consoante as necessida<strong>de</strong>s.<br />
A Or<strong>de</strong>m do Carmo entrou em Portugal em 1251, com a fundação <strong>de</strong> um convento na vila <strong>de</strong><br />
Moura, num espaço doado pelos freires militares <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Jerusalém (Hospitalários).<br />
Estes vêm como padres espirituais dos Hospitalários.<br />
O gran<strong>de</strong> impulso para a expansão da Or<strong>de</strong>m em Portugal é dado por D. Nuno alvares Pereira,<br />
com a fundação do Convento do Carmo em Lisboa.<br />
Quando se <strong>de</strong>u em 1834, a extinção das Or<strong>de</strong>ns Religiosas, os seus bens foram vendidos em<br />
hasta pública.<br />
A questão que fica em aberto, pren<strong>de</strong>-se com a presença <strong>de</strong> uma Igreja do Carmo no Torrão!<br />
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◄ Conventos Religiosos<br />
● Convento <strong>de</strong> S. Francisco<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
O convento terá sido fundado no século XVI e entregue á Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Francisco. Este dado é<br />
importante porque como regra, os conventos <strong>de</strong>sta or<strong>de</strong>m são sempre construídos nos arredores do espaço<br />
urbano, junto a uma das entradas <strong>de</strong> acesso à vila.<br />
Este elemento permite <strong>de</strong>finir a dimensão da malha urbana do Torrão no início da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
Em meados do século XVIII sofreu importantes obras <strong>de</strong> remo<strong>de</strong>lação, como é visível na foto ao<br />
lado, do tecto da igreja conventual.<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
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21
● Convento das Freiras Clarissas<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Terá sido fundado em 1560 por Dª Brites Pinto. Em 1599 a Infanta D. Maria, filha <strong>de</strong> D. Manuel<br />
transformou-a em convento <strong>de</strong> Clarissas, consagrando-a a Nossa Senhora da Graça. Actualmente é<br />
proprieda<strong>de</strong> particular, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados do século XIX.<br />
É na cerca <strong>de</strong>ste convento, num espaço voltado a sul que fica localizada a musalla islâmica do<br />
Torrão<br />
◄ Ermidas da Freguesia do Torrão<br />
● O papel das Ermidas no Espaço rural do Torrão.<br />
As ermidas em contexto medieval não se resumem a espaços sagrados <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção popular,<br />
objecto <strong>de</strong> romarias sazonais ligadas aos ciclos da natureza.<br />
Numa tradição que remonta à Antiguida<strong>de</strong> Tardia, as ermidas localizadas nos arredores <strong>de</strong> uma<br />
estrutura urbana, contribuem para a <strong>de</strong>fesa espiritual/<strong>sobre</strong>natural dos seus habitantes acantonados <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> muralhas, face aos perigos da época (cercos, banditismo, guerras).<br />
Colecção - <strong>Elementos</strong> para a <strong>História</strong> do Município <strong>de</strong> Alcácer, nº 2 (III Parte – A)<br />
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TORRÃO DO ALENTEJO<br />
<strong>Elementos</strong> <strong>sobre</strong> <strong>História</strong> e <strong>Arqueologia</strong><br />
Daí a sua implantação em locais estratégicos, com boa visibilida<strong>de</strong> e as lendas <strong>de</strong> carácter militar<br />
que por vezes acompanham a sua fundação.<br />
Esta mais valia militar po<strong>de</strong>mos encontrar em textos <strong>de</strong> alguns estrategas militares do Período<br />
Mo<strong>de</strong>rno, que referem as ermidas como atalaias <strong>de</strong>fensivas que contribuem para a <strong>de</strong>fesa activa dos<br />
espaços urbanos.<br />
● Ermida <strong>de</strong> S. João dos Azinhais<br />
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Uma das jóias escondidas do património do Torrão, à sua espera.<br />
Local aprazível, surge como um oásis junto às águas da albufeira da Barragem <strong>de</strong> Vale do Gaio.<br />
Ao longe é visível o casario branco da Vila do Torrão, coroado com as torres sineiras das suas igreja.<br />
A ermida actual, é uma construção <strong>de</strong> meados do século XVII, que assenta <strong>sobre</strong> estruturas <strong>de</strong><br />
uma villae romana, que perdurou até ao Período Visigótico. Nessa Fase, nas vésperas da conquista<br />
islâmica, foi erguida uma igreja <strong>de</strong>dicada a dois mártires hispânicos, Justo e Pastor, martirizados no<br />
tempo do imperador Diocleciano. A memória <strong>de</strong> espaço sagrado foi mantida ao longo dos séculos, o que<br />
leva a supor que <strong>de</strong> alguma maneira, o espaço manteve-se como pólo <strong>de</strong> peregrinação cristão em contexto<br />
islâmico logo após a conquista no século VIII.<br />
É provável que na fase Tardo islâmica tenha havido uma apropriação da ermida paleocristã e que<br />
esta tenha sido transformada num ribat, dada a sua localização estratégica <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do Torrão.<br />
Uma pista interessante, que permite apontar para o aproveitamento militar do espaço, tem a ver<br />
com uma lenda, na qual D Afonso Henriques teria pernoitado aqui com as suas tropas.<br />
Pensamos que se trata da adaptação e cristianização da memória da utilização do espaço sagrado<br />
em contexto militar tardo islâmico.<br />
Por fim importa referir que a zona exterior do altar –mor, cuja planta e orientação sugere a<br />
existência <strong>de</strong> uma torre atalaia, apresenta dois “gigantes” em forma <strong>de</strong> torre, ambos <strong>de</strong> planta circular,<br />
dando um ar militarizado a esta ermida.<br />
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● Ermida <strong>de</strong> S Fausto<br />
TORRÃO DO ALENTEJO<br />
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Ermida localizada junto ao Torrão, na margem oposta do rio Xarrama, no alto <strong>de</strong> uma vasta<br />
colina.<br />
Em termos <strong>de</strong> implantação e provável génese, assemelha-se ao padrão <strong>de</strong>scrito para S. João dos<br />
Azinhais, contudo temos menos dados.<br />
A ermida actual foi erguida <strong>sobre</strong> uma ocupação humana <strong>de</strong> tipologia in<strong>de</strong>terminada. O orago<br />
que possui, S. Fausto parece remontar à Antiguida<strong>de</strong> Tardia, contudo a construção actualmente existente<br />
remonta a meados do século XVII.<br />
Nesta fase da Contra-Reforma, pós Concilio <strong>de</strong> Trento, assiste-se em Portugal e em Espanha, à<br />
sacralização progressiva <strong>de</strong> espaços sagrados, cristão ou não, como forma <strong>de</strong> os conquistar para a<br />
verda<strong>de</strong>ira fé.<br />
De referir que junto à ermida fica localizada os restos <strong>de</strong> uma anta pré-histórica, on<strong>de</strong> segundo a<br />
lenda terá sido encontrada uma imagem do mártires. S. fausto era o protector contra as febres, pragas e<br />
pestes.<br />
A sua posição estratégica também representou uma mais valia como atalaia para a <strong>de</strong>fesa militar<br />
do Torrão.<br />
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● Ermida <strong>de</strong> N ª S ª do Bom Sucesso<br />
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Alguns autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a sua construção por iniciativa <strong>de</strong> D. Manuel I, no início do século<br />
XVI. Na realida<strong>de</strong> pouco sabemos da história <strong>de</strong>sta ermida.<br />
A ermida localiza-se num local impar em termos <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>, permitindo um domínio do<br />
espaço circundante que entra mais no âmbito militar do que religiosos.<br />
Para sul é possível ver um conjunto <strong>de</strong> povoações, como Beja, Ferreira do Alentejo ou Odivelas.<br />
Na linha do horizonte é visível a crista da serra <strong>de</strong> Grândola e à noite, as luzes <strong>de</strong> Alcácer do Sal,<br />
querendo isto dizer que com um sistema <strong>de</strong> almenaras (utilizando fogueiras) era possível comunicar<br />
directamente com Alcácer.<br />
Por outro lado, dominamos o espaço urbano do Torrão e o acesso à ponte do Xarrama.<br />
Este é um dos raros locais localizados a norte on<strong>de</strong> é possível ver a ermida <strong>de</strong> S. João dos<br />
Azinhais. Não estamos perante uma coincidência, mas antes perante um dado importante que importa<br />
reflectir.<br />
Todo este conjunto <strong>de</strong> elementos só têm sentido, se for ao encontro da “sacralização ulterior do<br />
espaço” e à <strong>de</strong>voção que ele teria na população do Torrão em contexto Medieval.<br />
Retomando o que foi dito anteriormente, que a localização estratégica do espaço, permite um<br />
controle visual excepcional, que permite observar na linha do horizonte as serras <strong>de</strong> Grândola, Arrábida,<br />
as luzes <strong>de</strong> Alcácer, Palmela e Beja, estamos a crer que terá existido aqui ou próximo, uma atalaia, <strong>de</strong><br />
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génese provavelmente islâmica, que terá sido mantida. A persistência sagrada do espaço ao longo dos<br />
séculos, permite supor que esse posto <strong>de</strong> vigilância islâmico po<strong>de</strong>ria ter função <strong>de</strong> ribat.<br />
De notar que estes ribates po<strong>de</strong>riam resumir-se a simples torres em taipa e alvenaria, ou até<br />
mesmo em material perecível, como ma<strong>de</strong>ira ou canas.<br />
Em contexto islâmico, o que atribui o nome à estrutura, não é a função, mas sim o que as pessoas<br />
fazem nesse espaço, por isso não existe uma “norma Arquitectónica específica”, o que também explica a<br />
sua “invisibilida<strong>de</strong>” em termos <strong>de</strong> documentação histórica e arqueológica.<br />
O que prevalece é a “memória do espaço sagrado” e a <strong>de</strong>voção que as populações sentem em<br />
relação a ele, numa cumplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerações, em códigos e rituais que só os Torrenenses sabiam e<br />
praticavam<br />
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● Ermida <strong>de</strong> S. João da Ponte<br />
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Orago muito interessante atribuído a uma ponte. De facto, S. João Baptista, eremita que prefere a<br />
vida solitária e que inicia o Baptismo, é o mensageiro que prenuncia a chegada do verda<strong>de</strong>iro Messias,<br />
baptizando-o. Talvez seja essa a mensagem sagrada do espaço: - Protecção aos viajantes e comerciantes,<br />
numa altura em que o banditismo era um fenómeno endémico que assolavam as rotas comerciais.<br />
Da ermida pouco sabemos, segundo os dados actualmente existentes, terá sido construída em<br />
meados do século XVI.<br />
É notório a preocupação dos Torrenenses em relação aos comerciantes e viajantes, no <strong>de</strong>curso<br />
dos séculos. Este facto terá cimentado as <strong>de</strong>voções, como parecem serem os casos documentados da<br />
Igreja <strong>de</strong> Nª Sª da Albergaria e S. João da Ponte.<br />
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