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Regionais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 24 - Revista Fenacon - Edição 42 - junho de 1999 Internet & Trabalho O lúdico e conhecido clichê cinematográfico que sugere a idéia de um homem que teria ficado 20 anos em sono profundo e ao acordar se surpreende com as inovações tecnológicas do momento sempre é utilizado com sucesso. De fato, é um acontecimento tão inusitado que todos nós, ao menos uma vez, já devemos nos ter imaginado em situação semelhante. Na realidade, o que vivemos hoje é uma evolução tecnológica e de informação tão rápida que 5 anos já seriam suficientes para apavorar o “dorminhoco”, e não mais aqueles 20 de antigamente. Há quem diga que, no início do próximo milênio, a quantidade de informações novas produzidas pela humanidade dobrará a cada ano. Haja cérebro e tempo para se atualizar. Toda essa tecnologia, relativamente acessível às pessoas, traz dois sentimentos imediatos e antagônicos: conforto e medo. Saber, por exemplo, que o homem viverá mais graças à tecnologia é bastante confortável, mas saber que essa mesma tecnologia fará com que apenas 20% das pessoas serão suficientes e necessárias para se fazer no mundo tudo o que se faz hoje e mais um pouco é sem dúvida amedrontador. O que fará essa aparente massa de desempregados ? O que nos espera neste futuro que bate à porta? A velocidade com que se propagam as informações de hoje, na mídia disponível, se comparada com a realidade antiga faz parecer uma disputa entre um avião supersônico e um caramujo. A Internet é o maior exemplo dessa fácil e ágil manipulação da informação. Quando a idéia inicial da Internet foi concebida, no final da década de 60, nos Estados Unidos, a intenção de seus criadores era única e exclusivamente a de criar uma rede que propiciasse ve- Haroldo Santos Filho (*) locidade de transmissão e recepção de dados vitais que poderiam decidir a vitória de uma nação numa provável guerra ou, na pior das hipóteses, poderia salvar dados importantes ao país, transferindo-os a outros computadores ligados na rede, antes da destruição. Logo depois, com a adesão de centros de pesquisas e universidades na rede, começou-se a avaliar novas e mais nobres funções para aquela tecnologia. A mais interessante e popular dessas aplicações é, sem dúvida, a facilidade com que pessoas de todo o mundo, hoje, podem se comunicar. No campo da ciência e do desenvolvimento tecnológico, por exemplo. Se você quisesse escrever e até conversar pela Internet com algum cientista sobre a sua pesquisa, isso seria, hoje, perfeitamente factível. As pessoas acabam não sendo mais tão inacessíveis como antes. É possível, em segundos, enviar e receber imagens, gráficos, vídeos, sons, programas de computador, enfim, quase tudo. Imaginem essa ferramenta nas mãos de cientistas como Newton, Pasteur, Einstein e outros. Aonde não teriam chegado suas conclusões científicas compartilhadas? Como não poderia ser diferente, todo esse aparato tecnológico, associado a uma quase perfeita ligação mundial em rede, fez brilhar uma luz nos olhos do capitalismo. Aquele bom e velho capitalismo que apregoa, disfarçadamente ou não, mas sem a menor parcimônia, a máxima: “Uma empresa possui três objetivos, a saber: lucrar, lucrar e lucrar”. Com isso, a Internet passa a possuir mais uma forte função: a transação comercial. Segundo o instituto de pesquisa Forrester Research Inc., em 1996, o volume comercializado pela Internet , entre empresas e consumidores finais, foi de 600 milhões de dólares. Em 1997, Espírito Santo essa cifra mais do que dobrou, atingindo 1,5 bilhão de dólares. Já os negócios entre as empresas atingiram a quantia de 8 bilhões de dólares. Esse ritmo de crescimento dos negócios na grande rede é acima de tudo incontrolável e assustador. A consultoria da Price Waterhouse & Coopers prevê, para o ano 2002, negócios em torno de 430 bilhões de dólares ao ano. Uma quantia por muitos inimaginável nos dias de hoje. Seguindo ainda a linha “Nostradâmica”, pesquisas prevêem que 98% das empresas norte americanas terão sites na Internet até o ano 2000. Algumas empresas, como a Chrysler, por exemplo, estimam que 25% de suas vendas serão feitas online, do conforto da residência do consumidor. Já posso até imaginar a ampla liberdade que as pessoas poderão ter ao escolher um veículo para compra. No pedido você especificará a cor, acessórios, opcionais, detalhes de toda natureza, tipo de financiamento, taxa de juros, o banco com que preferirá trabalhar e, depois de tudo calmamente determinado e preenchido, você será capaz de ver uma fotografia exata daquele que será seu veículo em 20 dias, com direito a voltar e fazer tudo de novo caso tenha achado a cor do carro muito clara, por exemplo. Com tudo isso, vem em nossas mentes um turbilhão de questionamentos sobre o nosso futuro empreendedor. As mudanças são drásticas e extremamente rápidas. Não dá para se acostumar com a idéia antes de adotá-la. É aconselhável que se adotem nova postura e novas estratégias de mercado antes
mesmo de se acostumar com elas. O verdadeiro empreendedor de hoje já percebeu que uma enorme mudança de paradigmas se faz necessária em suas cabeças. Para não ir muito longe e seguindo o exemplo da compra daquele carro, é de se perguntar: dentro de tal modalidade de compra, para que grandes investimentos em estrutura física e visual ? Para que vendedores ? Para que tantos empregados ? Por que investir na manutenção de grandes estoques se a maioria dos pedidos será feita quase que diretamente à fábrica ? A negligência ou a atenção dada a essas mudanças poderá definir a diferença entre o empresário fracassado e o bem-sucedido. Há um tempo atrás, a classe dos analfabetos era claramente definida como aquela formada por pessoas que nem ao menos sabiam ler e escrever. Hoje nem saberia que nome dar a esses pobres infelizes. Analfabetos de nosso tempo, penso, são aqueles que não detêm o poder da informação. São aqueles que não sabem lidar com o computador e com a Internet, pelo menos como usuários finais. Nesta condição pouco visionária e muito acomodada, encontram-se vários empresários brasileiros. Verdadeiros “analfabetos do CHIP”. Não acordaram para o fato de que precisam, urgentemente, introduzir suas informações pessoais e empresariais na grande rede para que tenham condições mínimas de competitividade nos próximos e decisivos anos. Recentemente fui a uma loja de veículos com a intenção de adquirir um. Esperei dez minutos para ser atendido. O vendedor não possuía argumentos fortes ao tentar me “empurrar” os veículos que ele tinha em estoque, dizendo: “Se você quiser escolher demais, além de pagar caro, vai demorar muito para ter o seu carro. É melhor Regionais Haroldo Santos Filho (Contador, Engenheiro e Presidente do SESCON-ES) E-mail: hsf@zaz.com.br Home Page: www.haroldosantos.com.br Anúncio Exactus levar o que tem aqui”. A cada nova opção de veículo que eu sugeria, lá ia o nosso “vendedor padrão”, com a testa molhada de suor, calcular o novo preço do veículo, numa daquelas “maquininhas” do Paraguai. Depois me passou uma ficha cadastral com espaços minúsculos, que deveria ser preenchida por mim, numa famigerada máquina de escrever (que eu abomino!). Após presenciar várias lições práticas de “Como eliminar seu cliente”, desisti da compra. Agir assim no mercado altamente competitivo de hoje é quase regredir ao escambo. É uma caminhada suicida à insolvência e ao fracasso empresarial. Faz-se inevitável a pergunta: que chances de sobrevida terá uma empresa como aquela que me atendeu diante das que já entenderam o espírito dos novos tempos ?... Sem comentários! ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Revista Fenacon - Edição 42 - junho de 1999 - 25
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