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As contribuições de Marcel Mauss para uma sociologia - Unifap

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AS CONTRIBUIÇÕES DE MARCEL MAUSS PARA UMA SOCIOLOGIA<br />

CRÍTICA DA FORMAÇÃO HUMANA<br />

FREITAS, Alexandre Simão <strong>de</strong>. – UFPE<br />

¢¡¤£¦¥¨§© ¢¡<br />

GT: Sociologia da Educação / n. 14<br />

Agência Financiadora: Sem Financiamento<br />

Introdução<br />

O presente texto tem como ponto <strong>de</strong> ancoragem o esforço recente das ciências<br />

sociais e h<strong>uma</strong>nas em mobilizar recursos teórico-práticos capazes <strong>de</strong> promoverem <strong>uma</strong><br />

re-apropriação crítica dos dilemas e ambivalências da nossa época. Um esforço que<br />

<strong>de</strong>riva, em gran<strong>de</strong> medida, da compreensão <strong>de</strong> que a instituição <strong>de</strong> um novo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

Estado, apoiado nos dilemas da mo<strong>de</strong>rnização suscitados pela reestruturação produtiva e<br />

pela globalização das economias, por um lado, e, a emergência <strong>de</strong> novas <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong><br />

reconhecimento político, ancorado em reinvindicações <strong>de</strong> base i<strong>de</strong>ntitária e cultural, por<br />

outro, vem provocando um <strong>de</strong>slocamento dos <strong>de</strong>bates em torno das regras e dos<br />

fundamentos do “social” (Caillé, 2003). <strong>As</strong> teorias sociais hegemônicas, ao pensar a<br />

história dos homens como a história <strong>de</strong> indivíduos atomizados e <strong>de</strong>scontextualizados<br />

terminam por permanecer aquém da experiência real dos sujeitos.<br />

Por essa razão, nas últimas décadas, a “imaginação sociológica” vem sendo<br />

<strong>de</strong>slocada <strong>para</strong> que se possa abordar os fundamentos das relações sociais, mediante<br />

ferramentas analíticas que possibilitem <strong>uma</strong> reflexão renovada da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática.<br />

Há que se ressaltar, entretanto, que a análise da experiência <strong>de</strong>mocrática não po<strong>de</strong> estar<br />

<strong>de</strong>sarticulada da reflexão em torno dos projetos <strong>de</strong> formação social e educacional dos<br />

sujeitos, <strong>uma</strong> vez que as práticas <strong>de</strong> educação <strong>para</strong> a cidadania constituem o aspecto<br />

central <strong>de</strong> qualquer projeto social e cultural que pensa modalida<strong>de</strong>s regradas <strong>de</strong><br />

socialização e geração <strong>de</strong> vínculos <strong>para</strong> a convivência no espaço público. Em outras<br />

palavras, a integração social, em um contexto <strong>de</strong>mocrático, não se faz sem “estruturas<br />

<strong>de</strong> reconhecimento recíproco” asseguradas por um processo <strong>de</strong> aprendizagem social<br />

instituinte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “formação política da vonta<strong>de</strong>” (Habermas, 1997: 308). O <strong>de</strong>bate em<br />

torno da solidarieda<strong>de</strong> social, em contextos pós-tradicionais, implica, portanto, <strong>uma</strong><br />

concepção pós-metafísica da agência racional, diferentemente das abordagens que<br />

concebem o sujeito racionalmente abstrato e fechado em si mesmo.


Por essa razão, optamos pelas ferramentas analíticas do “<strong>para</strong>digma da dádiva”<br />

(Caillé, 2002). Esse <strong>para</strong>digma permite repensar a formação <strong>para</strong> a cidadania<br />

<strong>de</strong>mocrática <strong>para</strong> além dos mo<strong>de</strong>los abstratos <strong>de</strong> emancipação. Dessa perspectiva, o<br />

presente estudo movimenta-se em um plano teórico no qual se busca explicitar as bases<br />

<strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong> ressignificação dos referenciais simbólicos com que,<br />

historicamente, tem se pensado a formação social. Mais especificamente, ao postular a<br />

centralida<strong>de</strong> da dádiva, a educação é abordada como o espaço ontológico do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que constroem os vínculos sociais.<br />

Uma reflexão vital <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento das ciências sociais, pois através<br />

da educação é possível captar os movimentos do “social” que se colocam <strong>para</strong> além da<br />

repetição contingente <strong>de</strong> um costume, pela abertura <strong>de</strong> espaço aos impulsos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

que transformam o ethos, a consciência que impõe o sentido como forma <strong>de</strong> regular a<br />

ação dos indivíduos. Nos termos do sistema da dádiva, a generalização da experiência<br />

<strong>de</strong>mocrática não po<strong>de</strong> prescindir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> disposição formativa. Formação que é<br />

entendida, aqui, como <strong>uma</strong> das faces reveladoras da instituição imaginária da socieda<strong>de</strong>.<br />

Formação H<strong>uma</strong>na e Democracia na Perspectiva do Paradigma da Dádiva<br />

A dádiva tem ocupado na literatura das ciências sociais e h<strong>uma</strong>nas um lugar que<br />

poucos objetos <strong>de</strong> estudo po<strong>de</strong>riam reivindicar. Tendo sido analisada originalmente a<br />

partir das socieda<strong>de</strong>s tribais e seus sistemas <strong>de</strong> troca (<strong>Mauss</strong>, 1974; Go<strong>de</strong>lier, 2000;<br />

Sahlins, 1979; Lévi-Strauss, 2003), a dádiva tem atraído, crescentemente, o interesse <strong>de</strong><br />

pesquisadores voltados <strong>para</strong> o estudo da solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática nas socieda<strong>de</strong>s<br />

complexas (Godbout, 1998; Bourdieu, 2001; Karsenti, 1997). O pressuposto<br />

fundamental <strong>de</strong>ssas análises permanece sendo a intuição seminal dos trabalhos <strong>de</strong><br />

<strong>Mauss</strong> (2003) <strong>de</strong> que a regra fundamental <strong>de</strong> formação e transformação das socieda<strong>de</strong>s<br />

não repousa sobre contratos, mas sobre três obrigações complementares: dar, receber e<br />

retribuir 1 . Ao examinar as formas <strong>de</strong> circulação dos bens em diferentes socieda<strong>de</strong>s,<br />

<strong>Mauss</strong> se <strong>de</strong>dicou a compreen<strong>de</strong>r o caráter livre e gratuito, mas ao mesmo tempo<br />

obrigatório e interessado, dos atos <strong>de</strong> dar, receber e retribuir.<br />

1 Com o Ensaio sobre a Dádiva, <strong>Marcel</strong> <strong>Mauss</strong> (1872-1950) consagrou-se como um dos fundadores da<br />

<strong>sociologia</strong>. Sua principal obra, publicada em 1924, foi legitimada como <strong>uma</strong> das mais importantes do<br />

século 20.<br />

2


No enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>ssas operações, reconheceu o fundamento do vínculo social<br />

(Buschini & Kalampalikis, 2001, p. 460). Refutando a noção corrente <strong>de</strong> <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong><br />

supostamente baseada na maximização dos interesses individuais, <strong>Mauss</strong> (1974)<br />

colocou em <strong>de</strong>staque o entrelaçamento entre fenômenos econômicos, morais, estéticos,<br />

religiosos e jurídicos no seio <strong>de</strong> prestações e contraprestações que se apresentam<br />

preferencialmente como atos voluntários, mas nos quais se entrevê a força obrigatória<br />

do <strong>de</strong>ver, "sob pena <strong>de</strong> guerra privada ou pública" (p. 45).<br />

"Em todas as socieda<strong>de</strong>s que nos prece<strong>de</strong>ram e que ainda nos ro<strong>de</strong>iam,<br />

e mesmo em numerosos costumes <strong>de</strong> nossa moralida<strong>de</strong> popular, não<br />

existe meio termo: confia-se ou <strong>de</strong>sconfia-se inteiramente; <strong>de</strong>por as<br />

armas e renunciar à sua magia, ou dar tudo; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a hospitalida<strong>de</strong><br />

fugaz até às filhas e bens. Foi em estados <strong>de</strong>ste gênero que os homens<br />

renunciaram a seu ensinamento e apren<strong>de</strong>ram a empenhar-se em dar e<br />

retribuir" (p. 182).<br />

Essa passagem evi<strong>de</strong>ncia que, <strong>para</strong> <strong>Mauss</strong>, a antítese do dom não é o mercado,<br />

como sustentam aqueles que estabelecem <strong>uma</strong> distinção radical entre a troca <strong>de</strong> dons e a<br />

troca <strong>de</strong> mercadorias (Polanyi, 2000). Mas a ausência <strong>de</strong> relação/vínculo. Dessa ótica, as<br />

interações sociais são movidas por razões que ultrapassam os interesses estritamente<br />

materiais. Ao invés <strong>de</strong> conceber os indivíduos como sujeitos que apenas buscam seus<br />

próprios interesses e preferências, calculadas pela sua utilida<strong>de</strong>, admite-se que os<br />

sujeitos instituem o que é justo e <strong>de</strong>sejável, tomando também por base a generosida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sinteressada. Logo, não é a submissão dos indivíduos que dá origem ao Estado, mas o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> relação, na qual os homens po<strong>de</strong>m "opor-se sem<br />

massacrar-se" (<strong>Mauss</strong>, 1974, p. 183).<br />

Estabelecendo um nexo conceitual com os problemas <strong>de</strong>correntes da dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> generalizar a cidadania, essa idéia permite explorar <strong>uma</strong> <strong>de</strong>finição política da<br />

educação como um caminho privilegiado <strong>para</strong> abordar os processos <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>de</strong>mocrática. Admite-se, assim que “a virtu<strong>de</strong> cívica exige <strong>uma</strong> <strong>de</strong>mocracia<br />

experimental no sentido <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>mocracia está associada à idéia <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

construção e <strong>de</strong> reconstrução institucional (on<strong>de</strong>) homens e mulheres são chamados a<br />

viver a <strong>de</strong>mocracia como experiência criativa cotidiana” (Farias, 2004, p. 223). Para que<br />

se possa aferir a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa idéia, <strong>para</strong> o campo social e educativo, é preciso,<br />

antes, perceber que a noção <strong>de</strong> formação não po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada univocamente com o<br />

conceito estrito <strong>de</strong> educação.<br />

3


A Idéia <strong>de</strong> Bildung no Projeto Social da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

Inicialmente, educação e formação não se confun<strong>de</strong>m. A educação (seja ela<br />

técnica ou profissional) refere-se à pre<strong>para</strong>ção do indivíduo <strong>para</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

função social, o que implica um processo <strong>de</strong> adaptação às normas, valores e símbolos <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong>. A educação implica o ensino como instituição. Mas, educar significa<br />

algo mais do que a simples transmissão <strong>de</strong> saberes. Cabe à educação pre<strong>para</strong>r não só a<br />

moral, mas também a razão <strong>de</strong> um povo. Segundo <strong>Mauss</strong> (2001), a questão é que, ao<br />

contrário das socieda<strong>de</strong>s arcaicas, nas quais educação prática e educação moral se<br />

confun<strong>de</strong>m, na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> a educação ocorre em um único meio: a escola. Desse<br />

modo, a educação passa a <strong>de</strong>signar <strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong> intencional explícita materializada em<br />

programas, métodos, técnicas e profissionais especializados.<br />

O termo formação, por sua vez, <strong>de</strong>riva da tradição alemã da Bildung,<br />

constituindo todo um legado teórico que vai <strong>de</strong> Winckelmann e Her<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> Schiller e<br />

Goethe aos irmãos Humboldt 2 . <strong>As</strong>sim como a Paidéia grega, o termo Bildung só po<strong>de</strong><br />

ser apreendido através <strong>de</strong> sua reconstituição social e histórica (Jaeger, 2001). Eis<br />

porque, <strong>de</strong> acordo com W. Bolle (1997), o francês formation e o inglês formation, por<br />

exemplo, seriam apenas reproduções mecânicas do termo, às quais não correspon<strong>de</strong>ria<br />

nenhum uso social efetivo 3 . O conceito <strong>de</strong> Bildung “começou a adquirir maior peso e<br />

vida própria em relação à educação, sempre que entraram em jogo o cuidado, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e o <strong>de</strong>sabrochar das forças psíquicas e as energias do coração e do<br />

bom gosto. Ela é autoformação e atuação viva. Não apenas <strong>de</strong> indivíduos isolados, mas<br />

<strong>de</strong> povos inteiros e mesmo da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>” (p. 17). A noção <strong>de</strong> Bildung recebeu <strong>uma</strong><br />

valoração específica, no contexto do romantismo e do i<strong>de</strong>alismo alemão, sendo<br />

apreendida como o “princípio pedagógico”, por excelência, da formação <strong>de</strong> si pelo<br />

cultivo <strong>de</strong> “bens seculares” (liberda<strong>de</strong>, autonomia, responsabilida<strong>de</strong>).<br />

2 Na introdução da sua obra Verda<strong>de</strong> e Método, Gadamer (1997) consi<strong>de</strong>ra a Bildung como o maior<br />

pensamento do século XVIII, a última elaboração literária, filosófica e pedagógica do que hoje<br />

enten<strong>de</strong>mos simplesmente por educação (p. 47).<br />

3 Em língua portuguesa, a expressão fornece um apoio parcial <strong>para</strong> o seu entendimento tal como ela<br />

aparece em obras como Formação do Brasil contemporâneo, <strong>de</strong> C. Prado, Formação Econômica do<br />

Brasil, <strong>de</strong> C. Furtado, Formação da literatura brasileira, <strong>de</strong> A. Candido e O povo brasileiro: A formação<br />

e o sentido do Brasil, <strong>de</strong> D. Ribeiro. <strong>As</strong>sim, “salvo em casos flagrantes <strong>de</strong> auto-engano <strong>de</strong>liberado, todo<br />

intelectual brasileiro minimamente atento às singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um quadro social que lhe rouba o fôlego<br />

especulativo sabe o quanto pesa a ausência <strong>de</strong> linhas evolutivas mais ou menos contínuas a que se<br />

cost<strong>uma</strong> dar o nome <strong>de</strong> formação (que) não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> encarar como a cifra <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência<br />

intelectual básica” (Arantes & Arantes, 1997, p. 12).<br />

4


O termo acabou por se enraizar na linguagem cotidiana, tendo sua construção<br />

semântica ocorrida por intermédio do imaginário social do Iluminismo. Kant, por<br />

exemplo, nas suas Reflexões sobre Educação, reafirma o Esclarecimento enquanto<br />

caracteriza a formação como processo <strong>de</strong> aprendizagem do uso das regras da razão<br />

prática. Por isso, a <strong>de</strong>scentração e a abertura crítica em relação aos objetos do mundo<br />

são <strong>de</strong>scritas como <strong>uma</strong> dinâmica formativa. Mas <strong>de</strong> acordo com Souza (2000), Hegel é<br />

quem teria "<strong>de</strong>senvolvido esse aspecto do conceito à perfeição" (p. 50). Com Hegel, a<br />

formação constitui-se como um processo complexo <strong>de</strong> auto-estranhamento, mediante<br />

<strong>uma</strong> abertura ontológica à alterida<strong>de</strong>. Pois, <strong>para</strong> ele, a razão<br />

"precisa sair <strong>de</strong> sua in<strong>de</strong>terminação inicial e exteriorizar-se, nas<br />

diferentes expressões culturais, <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r atingir o seu em-si <strong>para</strong> si<br />

no Saber absoluto. Este movimento dialético se expressa no sujeito<br />

auto-reflexivo, pelo processo formativo que, ao sair da sua<br />

in<strong>de</strong>terminação inicial, reconhece e representa os objetos culturais, via<br />

formação, até inserir a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas experiências na<br />

universalida<strong>de</strong> do todo do saber e da totalida<strong>de</strong> ética do Espírito<br />

Absoluto" (Martini, 2000, p. 166).<br />

É importante ressaltar ainda que a problematização da formação é configurada<br />

pela emergência dos Estados regidos através da fórmula do <strong>de</strong>spotismo esclarecido,<br />

on<strong>de</strong> cada súdito-cidadão recebe um tipo <strong>de</strong> formação específico <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r tornar-se<br />

útil e dar os melhores rendimentos possíveis <strong>para</strong> o sistema econômico e o bem estar<br />

social (Falcon, 1986; Markert, 1996). Era preciso convencer os soberanos <strong>de</strong> que seu<br />

po<strong>de</strong>r na formação não era apenas um direito, mas também um <strong>de</strong>ver, o que implicava<br />

um investimento maciço na organização dos sistemas <strong>de</strong> ensino. Essa compreensão<br />

permitiu produzir <strong>uma</strong> nova forma <strong>de</strong> reflexão política que incluiu a questão da<br />

formação subjetiva e a questão do Estado nacional.<br />

Nesse momento, já estava presente a configuração do utilitarismo na forma <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> nova “moralida<strong>de</strong> social” e <strong>de</strong> um “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>”, ancorado em <strong>uma</strong><br />

sensibilité pragmática (Caillé, Lazzeri e Senellart, 2004). A questão da formação passa a<br />

ser <strong>uma</strong> prerrogativa e um privilégio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas classes sociais. Em primeiro<br />

lugar, as “die Gebil<strong>de</strong>ten, como se auto-intitulam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época, as pessoas ‘bem<br />

formadas’” (Bolle, 1997, p. 18). Para essas, a formação aparece “como privilégio <strong>de</strong> um<br />

estamento e, logo mais, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> classe: o Bildungsbürgertum, a burguesia culta-e-<strong>de</strong>-<br />

posses” (I<strong>de</strong>m, p. 18).<br />

5


Idéia que vai ser ressignificada, ao longo do século XIX, passando a incorporar a<br />

alternativa da formação dos operários, como oposição e protesto contra a formação<br />

burguesa. Aqui, o processo formativo é ancorado em <strong>uma</strong> ontologia do ser social<br />

discernida estritamente na esfera do trabalho, haja vista as relações sociais que são<br />

postas em movimento pela mercadoria e seus valores <strong>de</strong> uso e <strong>de</strong> troca. Ao mesmo<br />

tempo, no âmbito político, a formação vai se se<strong>para</strong>r das ações <strong>de</strong> convencimento<br />

racional <strong>para</strong> ganhar foros <strong>de</strong> ação pública especializada, estruturada e instituída pelo<br />

sistema burocrático-legal dos Estados nacionais. Ela acaba por se reduzir a “<strong>uma</strong> das<br />

‘políticas públicas’” (Valle, 2002, p. 292). Configura-se a noção <strong>de</strong> Estado nacional<br />

educador, cujo papel consiste em construir <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> escolar capaz <strong>de</strong> produzir <strong>uma</strong><br />

“moral <strong>de</strong> Estado”, distinguindo-se educação e instrução pública.<br />

Essa compreensão perdura ao longo do século XX quando, após a experiência<br />

trágica <strong>de</strong> Auschwitz, o tema da formação h<strong>uma</strong>na readquire <strong>uma</strong> nova centralida<strong>de</strong>. Os<br />

trabalhos da Escola <strong>de</strong> Frankfurt produzem <strong>uma</strong> crítica radical ao <strong>de</strong>slumbramento face<br />

ao imaginário progressista da educação. Adorno (1995) aponta os efeitos <strong>de</strong> um<br />

processo formativo ancorado univocamente em <strong>uma</strong> estratégia <strong>de</strong> "esclarecimento da<br />

consciência" (p. 155), argumentando que <strong>para</strong> não se tornar <strong>uma</strong> experiência abstrata e<br />

<strong>de</strong>scontextualizada, a formação precisa afirmar-se no âmbito do trabalho social.<br />

Essa articulação entre trabalho e formação conduz à percepção <strong>de</strong> que o<br />

"trabalho forma", o que implica, por sua vez, <strong>de</strong>nunciar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação da<br />

subjetivida<strong>de</strong> produzida pelo trabalho alienado. Dessa ótica, a formação como processo<br />

cultural estaria sendo ameaçada. A educação apreendida como bem social utilitário<br />

estaria bloqueando as possibilida<strong>de</strong>s da experiência formativa ao provocar <strong>uma</strong><br />

regressão no plano da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e condicionando a estrutura social. A troca<br />

como princípio <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong>negaria o próprio i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência formativa,<br />

ou seja, o esforço <strong>de</strong> gerações h<strong>uma</strong>nas, pelo qual o indivíduo é elevado ao nível do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento coletivo. A educação, como bem utilitário, constitui a síntese do<br />

espírito tomado pelo caráter <strong>de</strong> fetiche da mercadoria, e a idéia <strong>de</strong> formação passaria a<br />

representar apenas a hegemonia do abstrato sobre o concreto empírico, materializada na<br />

perda da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer experiências.<br />

A única saída seria romper com a educação fornecida pelas re<strong>de</strong>s formais <strong>de</strong><br />

ensino, centradas na inserção pragmática no mundo produtivo, por <strong>uma</strong> forma<br />

alternativa <strong>de</strong> aprendizado aberto e voltado ao contato com o não-idêntico, ou seja,<br />

preservando as condições da experiência formativa no contato com o outro.<br />

6


O problema é que Adorno não explicita as condições concretas <strong>de</strong>sse novo<br />

aprendizado, ao contrário, ele não cansa <strong>de</strong> ressaltar que tanto a indústria cultural como<br />

a "educação barbarizada" invadiram o tecido social, impedindo a ruptura do círculo<br />

vicioso. Os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos por Habermas buscaram <strong>uma</strong> alternativa ao<br />

impasse gerado pelas análises <strong>de</strong> Adorno, mediante <strong>uma</strong> crítica radical ao mo<strong>de</strong>lo da<br />

formação ancorado na dialética do trabalho social. Enten<strong>de</strong>ndo que a racionalida<strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna não po<strong>de</strong> ser suprimida, mas reconstruída em novas bases, Habermas projetou<br />

<strong>uma</strong> correção das "patologias mo<strong>de</strong>rnas" (Souza, 1997), com base em um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

formação ancorado no <strong>de</strong>senvolvimento da competência comunicativa.<br />

O processo formativo, por meio da ação comunicativa, ao fazer uso <strong>de</strong><br />

pressuposições formais (inteligibilida<strong>de</strong>, veracida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong>) garantiria o<br />

reconhecimento intersubjetivo. Habermas <strong>de</strong>svincula o conceito <strong>de</strong> formação do<br />

contexto da concepção dialética da razão iluminista e o transforma em categoria<br />

dialógica <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s, operando <strong>uma</strong> <strong>de</strong>stranscen<strong>de</strong>ntalização do conceito<br />

iluminista <strong>de</strong> formação no contexto <strong>de</strong> um pensamento pós-metafísico, capaz <strong>de</strong><br />

explicitar o surgimento <strong>de</strong> novas estruturas tanto cognitivas como <strong>de</strong> cooperação social.<br />

No entanto, a formação da subjetivida<strong>de</strong> é concebida como expressão <strong>de</strong><br />

estruturas <strong>de</strong> ação universais, o que legitima a se<strong>para</strong>ção dos condicionantes da ação<br />

social. Ao fazer isso, as proposições habermasianas assumem <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong><br />

ambivalência face às proposições educacionais <strong>de</strong>rivadas das premissas vigentes nas<br />

teorias <strong>de</strong>mocráticas mo<strong>de</strong>rnas. O princípio da universalização refere-se, por exemplo,<br />

ao tratamento igual. Esse princípio, segundo ele, seria capaz <strong>de</strong> incorporar a diversida<strong>de</strong><br />

cultural, <strong>uma</strong> vez que no seu mo<strong>de</strong>lo a autonomia privada e pública são co-originárias.<br />

Haveria, então, duas formas <strong>de</strong> garantir a integração social. A primeira,<br />

propiciada pela própria cultura, pertenceria à esfera da socieda<strong>de</strong> civil. A segunda, <strong>de</strong><br />

natureza política, refere-se ao Estado e abrangeria todos os cidadãos. <strong>As</strong> regras<br />

assumidas, nessa última, criariam o vínculo comum na polis, mediante o compromisso<br />

público <strong>de</strong> alcançar a liberda<strong>de</strong> e a igualda<strong>de</strong> <strong>para</strong> todos, sem precisar eliminar as<br />

diferenças que ficam reduzidas à esfera i<strong>de</strong>ntitária.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> argumentação, sem dúvidas, dá margem a um conceito <strong>de</strong><br />

formação <strong>para</strong> a cidadania <strong>de</strong>mocrática diferente do que é formulado pelo liberalismo e<br />

pelo comunitarismo (Martini, 2002). O papel da formação <strong>de</strong>mocrática passa a ser<br />

promover opções e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ser h<strong>uma</strong>no e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, que permitam aos sujeitos<br />

não simplesmente se adaptarem, mas transformar a cultura.<br />

7


A proposta <strong>de</strong> Habermas permite localizar as instituições educativas como<br />

<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> arena <strong>de</strong> inter-relações entre sistema e mundo da vida. A escola<br />

reproduziria o caráter dual do próprio sistema social, conjugando um mo<strong>de</strong>lo duplo <strong>de</strong><br />

racionalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>smontando “a conjugação assente na meritocracia ou nas capacida<strong>de</strong>s<br />

individuais” (Estevão, 2004, p. 66). Esse tipo <strong>de</strong> explicação justifica-se na medida em<br />

que <strong>uma</strong> das premissas da teoria do agir comunicativo consiste em intuir a presença do<br />

interesse geral no interesse particular.<br />

No entanto, a forma <strong>de</strong> validar essa idéia é consi<strong>de</strong>rada insuficiente <strong>para</strong><br />

fundamentar um conceito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> pós-tradicional (Souza, 2000; Eisenberg,<br />

2003), pois o potencial <strong>para</strong> estabelecer vínculos não po<strong>de</strong> ser reduzido à noção <strong>de</strong><br />

interesse. Obviamente, sua tentativa <strong>de</strong> buscar o interesse “geral” no interesse<br />

“particular” permite questionar o privilégio <strong>para</strong>digmático das premissas do<br />

liberalismo/utilitarismo. Mas, ao mesmo tempo, sua <strong>de</strong>fesa da produção <strong>de</strong> consensos<br />

baseados na argumentação racional, como critério normativo potencializador dos<br />

processos <strong>de</strong> formação da vonta<strong>de</strong>, remete a <strong>uma</strong> solução procedimentalista que <strong>de</strong>volve<br />

seu argumento teórico a um mo<strong>de</strong>lo atomista no plano ontológico (Taylor, 2002).<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista pedagógico, sua análise dos processos formativos<br />

permanece her<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> um pensamento que não consegue abordar a ação h<strong>uma</strong>na a<br />

partir <strong>de</strong> motivações "<strong>de</strong>sinteressadas" ou "altruístas", sem reduzi-las a explicações<br />

<strong>de</strong>rivadas da eqüida<strong>de</strong>, do paternalismo e do chamado "código <strong>de</strong> honra" (Elster, 1994)<br />

ou que, simplesmente não as interprete como interiorização <strong>de</strong> princípios e normas.<br />

O <strong>para</strong>digma da dádiva, ao contrário, apreen<strong>de</strong> a eficácia dos mecanismos <strong>de</strong><br />

legitimação da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mocrática no âmbito infra-político (Chanial, 2001). Isso<br />

significa que toda ação que ocorre sem a mediação da violência po<strong>de</strong> ser interpretada<br />

como <strong>uma</strong> solução <strong>para</strong> o problema da coor<strong>de</strong>nação da ativida<strong>de</strong> dos atores, sem com<br />

isso eliminar a dimensão do antagonismo <strong>de</strong> interesses das relações sociais e sem fazer<br />

apelo ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> interiorização das normas. Com isso, a relação entre o bem e o justo<br />

é ressignificada a partir dos contextos concretos <strong>de</strong> ação. Em outros temos,<br />

"os valores orientam as concepções do bem que o ator mobilizará, e a<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> ação a partir da especificação da<br />

priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um bem naquele contexto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá necessariamente <strong>de</strong><br />

sua a<strong>de</strong>são voluntária ao valor <strong>de</strong> sua ação. Na medida em que aquela<br />

eleição do ator estiver vinculada a <strong>uma</strong> concepção universalista do<br />

bem, ele po<strong>de</strong>rá até propor normas que obriguem, mas a a<strong>de</strong>são dos<br />

8


<strong>de</strong>mais continuará <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> um consenso voluntário ao redor <strong>de</strong><br />

seu valor, e a legitimação das instituições sociais que <strong>de</strong>correm<br />

daquele consenso estará sob a permanente pressão por renovação e<br />

reafirmação" (Eisenberg, 2003, p. 145).<br />

<strong>As</strong>sim, as <strong>de</strong>mandas por justiça aparecem como <strong>uma</strong> das formas <strong>de</strong> articular as<br />

pretensões <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>, acompanhado as próprias concepções <strong>de</strong> bem compartilhadas<br />

pelos atores (Chanial, 2001). Com essa compreensão, o sistema da dádiva apresenta<br />

<strong>uma</strong> contribuição mais fecunda face aos mo<strong>de</strong>los sociais da <strong>de</strong>mocracia disponíveis,<br />

inclusive do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> <strong>uma</strong> teoria alternativa <strong>para</strong> a formação h<strong>uma</strong>na.<br />

A educação, nessa abordagem, é concebida como um bem simbólico que ao<br />

ser permutado, nas re<strong>de</strong>s sociais concretas, permite recriar, manter ou regenerar o<br />

próprio laço social, o que supõe <strong>uma</strong> visão <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia como <strong>uma</strong> pedagogia política.<br />

O termo chave é a noção <strong>de</strong> experiência que diz respeito à interação livre e obrigatória<br />

entre os seres h<strong>uma</strong>nos em seus contextos <strong>de</strong> ação. A “troca <strong>de</strong> dons” <strong>de</strong>svela que as<br />

estruturas objetivas do mundo social são “incorporadas” mediante um trabalho<br />

pedagógico efetivo, <strong>de</strong>svelando um conceito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> que funciona <strong>para</strong> além da<br />

"estima simétrica entre cidadãos juridicamente autônomos” (Honneth, 2003, p. 279).<br />

O Reencontro com um Paradigma Perdido: A Educação como Dádiva<br />

A reconstrução do pensamento <strong>de</strong> <strong>Mauss</strong> (2001), no campo educativo, abre um<br />

novo programa teórico que abrange a formulação <strong>de</strong> um conceito crítico <strong>de</strong> formação. É<br />

fato que ele não produziu <strong>uma</strong> reflexão sistemática sobre a educação. Não obstante, seu<br />

pensamento permite refletir como se processa a circulação da educação, como um bem<br />

simbólico. Em outras palavras, seu estudo sobre o funcionamento da dádiva torna<br />

visível o papel da formação como base <strong>para</strong> <strong>uma</strong> política da vida associativa que é a<br />

base da <strong>de</strong>mocratização das instituições públicas. Segundo Chanial (2001), há <strong>uma</strong><br />

relação entre a <strong>de</strong>mocracia e crescimento dos “i<strong>de</strong>ais primários”, isto é, o conjunto <strong>de</strong><br />

sentimentos concretos (<strong>de</strong> respeito, honra e solidarieda<strong>de</strong>). O próprio Estado, nessa<br />

ótica, não po<strong>de</strong> garantir as condições da cooperação a não ser quando a socieda<strong>de</strong><br />

sustenta relações <strong>de</strong>mocráticas. Pois,<br />

“se a experiência <strong>de</strong>mocrática supõe a pertinência comunitária - a<br />

primarieda<strong>de</strong> - é porque apenas as comunida<strong>de</strong>s locais, em razão<br />

principalmente das relações (...) que se tecem po<strong>de</strong>m produzir e<br />

9


transmitir as significações e os símbolos e assim dar lugar a<br />

experiências partilhadas sem as quais o ou os públicos <strong>de</strong>mocráticos<br />

não po<strong>de</strong>riam se i<strong>de</strong>ntificar e se instituir e por aí contribuir <strong>para</strong> pôr<br />

em prática as instituições políticas. São essas interações cooperativas<br />

ordinárias que geram essa "cultura primária da <strong>de</strong>mocracia” e é graças<br />

a elas que a orientação <strong>de</strong>mocrática aparece <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já nos costumes e<br />

sentimentos antes <strong>de</strong> se formalizar nas instituições (p. 15-16).<br />

Mas diferentemente das teorias do reconhecimento, o <strong>para</strong>digma da dádiva não<br />

realiza <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>alização do “mecanismo da estima simétrica” (Honneth, 2003, p. 209),<br />

ou seja, o vínculo social não precisa ser necessariamente simétrico, <strong>uma</strong> vez que viver<br />

em <strong>uma</strong> <strong>de</strong>mocracia não implica a superação do “agonismo”, ou seja, a luta entre<br />

adversários (Mouffe, 1994), “domesticando” as rivalida<strong>de</strong>s que acompanham a<br />

formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva. A “troca assimétrica” não é o que impe<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento mesmo do “social” (Sennett, 2004, p. 248-249). A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> se<br />

alimenta menos da percepção da doação, enquanto gesto/forma, e mais da “ausência <strong>de</strong><br />

retorno”, isto é, da indiferença ao que é doado na relação. É a ausência <strong>de</strong> retribuição<br />

que torna a ação social unilateral, produzindo <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> “compaixão que fere”,<br />

gerando estruturas hierárquicas que mantém o outro na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e<br />

prejudicando o “respeito próprio <strong>de</strong> quem recebe, por ‘feridas <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>’” (p. 175).<br />

A importância do pensamento <strong>de</strong> <strong>Mauss</strong> <strong>para</strong> <strong>uma</strong> teoria <strong>de</strong>mocrática da<br />

educação revela-se aqui em toda a sua clareza, pois, segundo ele, a vida social<br />

comportaria diferentes regimes <strong>de</strong> valor. Os bens que circulam no espaço social são<br />

sempre bens qualitativamente singulares, valorizados segundo padrões anti-econômicos,<br />

ou <strong>para</strong> ser mais exato: segundo padrões simbólicos. Por isso, o bem <strong>de</strong>volvido nunca<br />

tem valor igual àquele do bem inicialmente recebido. Aos diversos regimes <strong>de</strong> valor<br />

correspon<strong>de</strong>m, por sua vez, diferentes regimes <strong>de</strong> conhecimento. A formação h<strong>uma</strong>na<br />

po<strong>de</strong> ser concebida não apenas a partir da função <strong>de</strong> transmissão dos saberes<br />

historicamente acumulados, valorizados segundo sua utilida<strong>de</strong> social, mas<br />

principalmente, em função da construção dos vínculos sociais.<br />

Na perspectiva da dádiva, a socialização confun<strong>de</strong>-se com o próprio<br />

comportamento <strong>de</strong> dom, ou seja, com a experiência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> solidarieda<strong>de</strong> comunitária<br />

que não contradiz nem dissolve a afirmação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos sujeitos. Isso é possível<br />

porque a ação social movida pela dádiva constitui um fato social total (Karsenti, 1997),<br />

concretizando as tensões entre indivíduo e comunida<strong>de</strong>.<br />

10


Seus quatro condicionantes (interesse x <strong>de</strong>sinteresse, obrigação x liberda<strong>de</strong>)<br />

instauram um tipo <strong>de</strong> ação “como obrigação coletiva absoluta, mas que é flexível no seu<br />

modo <strong>de</strong> aparecimento, expansão e refluxo” (Martins, 2004, p. 79). <strong>As</strong> explicações<br />

essencialistas da socieda<strong>de</strong> e do próprio conhecimento são <strong>de</strong>slocadas <strong>para</strong> <strong>uma</strong> análise<br />

relacional. Como afirmam os maussianos (Caillé, 2002; Godbout, 1993), não há <strong>uma</strong><br />

“obrigação <strong>de</strong> dar”, mas existe o interesse <strong>de</strong> fazê-lo. Por qual motivo? Porque sem a<br />

dádiva não há ator social, <strong>uma</strong> vez que quando se trata dos laços sociais os interesses<br />

instrumentais são hierarquicamente subordinados aos interesses <strong>de</strong> forma ou <strong>de</strong><br />

apresentação <strong>de</strong> si (Taylor, 1997). O indivíduo mo<strong>de</strong>rno, nessa ótica, seria o resultado<br />

<strong>de</strong> um longo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>saprendizagem <strong>de</strong>ssa “pulsão <strong>de</strong> dom”. Na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>,<br />

apren<strong>de</strong>ríamos que a aquisição dos conhecimentos úteis à mobilida<strong>de</strong> social constitui o<br />

valor mais importante a transmitir às novas gerações 4 .<br />

A aprendizagem da (e pela) dádiva transcen<strong>de</strong> o chamado “sucesso escolar” e<br />

todos os outros “<strong>de</strong>sempenhos” e “competências”. Uma formação bem sucedida<br />

consistiria em apren<strong>de</strong>r a construir os vínculos que permitem à “socieda<strong>de</strong> perpetuar-se<br />

como socieda<strong>de</strong>, renovar-se renovando a aliança em cada geração” (Godbout, 1999, p.<br />

41). Desse modo, a principal contribuição <strong>de</strong> <strong>Mauss</strong> <strong>para</strong> a educação não se reduz a <strong>uma</strong><br />

questão metodológica. Suas análises permitem <strong>de</strong>rivar <strong>uma</strong> teoria potente da formação<br />

h<strong>uma</strong>na capaz <strong>de</strong> libertar as abordagens educativas dos i<strong>de</strong>ais abstratos da escola<br />

republicana <strong>de</strong> promoção da igualda<strong>de</strong> pela distribuição universalista do conhecimento.<br />

O i<strong>de</strong>al republicano clássico permanece preso ao círculo estreito da “socieda<strong>de</strong><br />

pedagogizada”, na qual se <strong>de</strong>termina que aquele que sabe “doe”, <strong>de</strong> forma unilateral, o<br />

seu conhecimento. O <strong>para</strong>digma da dádiva, entretanto, compreen<strong>de</strong> que a circulação da<br />

educação como bem simbólico, mediante a lógica do dom é o que <strong>de</strong>terminaria o<br />

movimento das forças propulsoras que servem <strong>de</strong> base às <strong>de</strong>mocracias.<br />

O funcionamento anti-<strong>de</strong>mocrático das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação diz respeito, antes <strong>de</strong><br />

tudo, aos problemas suscitados pela invasão dos valores utilitaristas no campo social,<br />

em geral, e no campo educacional, em particular. A educação ao ser transformada em<br />

<strong>uma</strong> mercadoria (moeda <strong>de</strong> troca), passaria a produzir sistematicamente “abismos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>” (Sennett, 2004). Como um “bem utilitário”, ela <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> circular como<br />

<strong>uma</strong> fonte <strong>de</strong> construção dos vínculos, alimentando e gerando as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais.<br />

4 Por isso, “não hesitamos em trocar um filho <strong>de</strong> colégio e separá-lo <strong>de</strong> seus amigos se o novo colégio<br />

tiver melhor reputação. Toda <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>sse tipo transmite à criança <strong>uma</strong> mensagem que <strong>de</strong>fine os valores<br />

que ‘contam’. Os vínculos são sacrificados aos bens ou, mais precisamente, os vínculos afetivos, são<br />

subordinados aos vínculos utilitários, às relações úteis <strong>para</strong> o futuro” (Godbout, 1999, p. 54).<br />

11


No entanto, ao ser abordada como um bem irredutivelmente social (Taylor,<br />

2002), como <strong>uma</strong> dádiva, a educação constitui-se como um elemento ativo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratização das relações sociais. Exatamente, por isso, a formação do indivíduo<br />

como cidadão, tem sido um dos objetivos da educação <strong>de</strong>mocrática.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista do <strong>para</strong>digma da dádiva, <strong>de</strong>mocracia e educação necessitam-<br />

se e vivificam-se reciprocamente. A educação e suas re<strong>de</strong>s atuam como nutrientes da<br />

vida <strong>de</strong>mocrática (Dabas, 2001; Chadi, 2000). A construção do espaço público<br />

comporta um processo <strong>de</strong> formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social, mediante <strong>uma</strong> socialização<br />

complexa no âmbito da cultura política. Mas se a <strong>de</strong>mocracia constitui o meio<br />

institucional <strong>para</strong> a formação e a ação dos sujeitos, o “espírito <strong>de</strong>mocrático” precisa<br />

estar presente também nas organizações encarregadas <strong>de</strong> formar os indivíduos.<br />

<strong>As</strong>sim, assegurar o acesso universal aos serviços escolares é a primeira condição<br />

<strong>para</strong> <strong>uma</strong> relação a<strong>de</strong>quada entre educação escolar e <strong>de</strong>mocracia. Não obstante, o acesso<br />

escolar, em si mesmo, não garante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização social. Fazem-se<br />

necessárias disposições, formas <strong>de</strong> ser que propiciem a incorporação mesma dos valores<br />

<strong>de</strong>mocráticos, pois a <strong>de</strong>mocratização não acontece em um vácuo. Nessa perspectiva, a<br />

legitimida<strong>de</strong> da instituição escolar na atualida<strong>de</strong> implica a realização <strong>de</strong> <strong>uma</strong> função<br />

formativa distinta da lógica transmissora <strong>de</strong> conhecimentos úteis, transformando as<br />

regras e os métodos <strong>de</strong> aprendizagem (Charlot, 2001).<br />

Tomada no sentido estrito <strong>de</strong> um “aparelho”, a escola não consegue oferecer um<br />

enquadramento a<strong>de</strong>quado <strong>para</strong> a experiência i<strong>de</strong>ntitária dos sujeitos, que são obrigados a<br />

construírem por si mesmos o sentido <strong>de</strong> suas experiências sociais, o que termina por<br />

produzir <strong>uma</strong> dissociação entre as instituições <strong>de</strong> ensino e as <strong>de</strong>mais re<strong>de</strong>s sociais<br />

encarregadas <strong>de</strong> promover a relação social com os saberes. No âmbito do sistema<br />

teórico da dádiva, essa situação po<strong>de</strong> ser compreendida pela própria natureza da<br />

instituição escolar na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Ao produzir <strong>uma</strong> cisão entre os vínculos cognitivos<br />

e os vínculos <strong>de</strong>rivados da sociabilida<strong>de</strong>, ela contribuiu <strong>para</strong> o <strong>de</strong>scolamento das esferas<br />

sociais primárias e secundárias.<br />

"Sob a orientação da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, insistiu-se tanto na importância da<br />

autonomia e da liberda<strong>de</strong> do indivíduo como ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

comunida<strong>de</strong>, alertou-se tanto sobre os perigos externos e internos que<br />

12


espreitam essas duas qualida<strong>de</strong>s dignificantes da condição h<strong>uma</strong>na,<br />

que corremos o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a importância das relações <strong>de</strong><br />

inter<strong>de</strong>pendência entre as pessoas como parte <strong>de</strong> sua natureza e como<br />

cultura necessária <strong>para</strong> a vida em comum" (Sacristán, 2002, p. 102).<br />

O que po<strong>de</strong> ser explicado pela hipertrofia da função cultural ilustradora da<br />

educação e sua busca obsessiva da extensão e do domínio utilitário do conhecimento,<br />

em <strong>de</strong>trimento da função da criação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> justa habitada por cidadãos ativos<br />

e responsáveis. Nesse cenário, observa-se um <strong>para</strong>doxo. Apesar da universalização do<br />

acesso à educação escolarizada, a socialização torna-se particularmente difícil.<br />

Como recorda <strong>Mauss</strong> (2001) das escolas mo<strong>de</strong>rnas “saem indivíduos tão<br />

idênticos quanto possível, personalida<strong>de</strong>s h<strong>uma</strong>nas do mesmo gênero – o que produz <strong>de</strong><br />

fato o individualismo mais tenso” (p. 121). Ao contrário das socieda<strong>de</strong>s arcaicas em que<br />

todos os tipos <strong>de</strong> ambientes estão encarregados <strong>de</strong> fabricar o mesmo tipo <strong>de</strong> homem<br />

singularizando-os enquanto sujeitos. Naquelas socieda<strong>de</strong>s, os esforços <strong>para</strong> “educar, no<br />

sentido pleno” pressupõem a “mistura” das pedagogias, articulando as instituições<br />

artísticas, religiosas e morais (I<strong>de</strong>m, p. 121). Em nossas culturas, inversamente,<br />

ten<strong>de</strong>mos a pensar na escola não apenas como um lugar <strong>de</strong> instrução, mas também<br />

concebemos a aprendizagem dissociada das outras dimensões educativas (morais,<br />

estéticas, religiosas, jurídicas).<br />

O resultado é um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalização que faz crescer a rejeição <strong>de</strong><br />

muitos adolescentes e jovens à escolarida<strong>de</strong>. Embora a freqüência às re<strong>de</strong>s escolares<br />

compreenda <strong>uma</strong> fase prolongada da suas vidas, elas não conseguem forjar laços entre<br />

os atores, produzindo um estranhamento entre os sujeitos envolvidos com o ciclo da<br />

doação-recepção-retribuição da educação no âmbito pedagógico. Ao não ser mais<br />

concebida como <strong>uma</strong> dádiva, a educação passa a circular como um “bem envenenado”,<br />

<strong>de</strong>struindo as bases das dádivas <strong>de</strong> transmissão nas re<strong>de</strong>s escolares e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando<br />

<strong>uma</strong> crise generalizada <strong>de</strong> confiança nas instituições educativas.<br />

Os efeitos <strong>de</strong>ssa crise são amplos e não se restringem ao universo da pedagogia<br />

(Touraine, 1988). Por conseguinte se a pretensão é construir um novo contrato social, a<br />

função da escola precisa ser repensada. Os <strong>de</strong>safios da escola obrigatória não dizem<br />

respeito apenas às competências que fazem <strong>de</strong> cada indivíduo um trabalhador,<br />

autônomo ou assalariado, mas também cidadãos autônomos e solidários. A indiferença<br />

com relação a essa última dimensão está na raiz da <strong>de</strong>sestruturação do vínculo social, da<br />

violência e das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s multiplicadas.<br />

13


É preciso, então, levar a questão da formação a sério, ressignificando o sentido<br />

social da educação como bem público, pois como “bem simbólico”, a educação carrega<br />

“algo do doador, o seu espírito”. Segundo Laniado (2004), é “este espírito que<br />

estabelece um vínculo com o outro: um compromisso, <strong>uma</strong> lealda<strong>de</strong>, um crédito futuro<br />

<strong>para</strong> a retribuição, que atravessa tempos e gerações” (p. 231). É ele que nos permite<br />

continuar acreditando nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Paidéia <strong>de</strong>mocrática na atualida<strong>de</strong>.<br />

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