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Florestan Fernandes e a contemporaneidade latino-americana

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Considerações Finais<br />

Ao olhar para o Brasil enquanto capitalismo dependente, em que persiste essa<br />

dualidade estrutural que permite a transferência de renda (de dentro pra fora, do trabalho<br />

para o capital, do campo para a cidade), a superexploração da força de trabalho e a<br />

dilapidação dos recursos naturais, <strong>Florestan</strong> vai buscar historicamente os processos que<br />

deram origem às especificidades do Brasil no padrão civilizatório que se tentou implantar<br />

internamente via modernização. Nesse sentido, o capitalismo dependente não se apresenta<br />

pra ele como uma economia embuída de setores arcaicos cuja eliminação resolveria os<br />

problemas de dependência e, nem faz uma análise idealista de etapas a serem cumpridas<br />

para que o país seja “verdadeiramente capitalista”.<br />

Para ele, a eclosão do mercado capitalista moderno, a expansão do capitalismo<br />

competitivo e a irrupção do capitalismo monopolista são as três fases da natureza do<br />

desenvolvimento capitalista no Brasil entre 1808 e a <strong>contemporaneidade</strong>.<br />

Com a primeira rompe-se o estatuto colonial e constitui-se o Estado nacional, mas<br />

de maneira particular, pois preserva a organização da produção agrária na grande lavoura,<br />

o escravismo, a importância das exportações, a heteronomia e assenta a dominação e a<br />

concentração de renda em novas bases. Isto é, com a autonomização política e a<br />

internalização do fluxo de renda, há uma forte distinção com o período colonial, pois,<br />

mesmo permanecendo a escravidão e a grande lavoura, essa agora tem outro papel na<br />

economia nacional e desenvolve-se o mercado interno, o setor urbano, o comércio, as<br />

iniciativas, enfim, o “espírito burguês”, e as relações de produção passam a mover-se<br />

capitalisticamente.<br />

Sumariamente, a independência política e a internalização do fluxo de renda não<br />

rompem com a dependência e algumas características típicas do período colonial, mas<br />

também não significam ausência de transformações profundas. Constitui-se um Estado<br />

nacional, a ideologia liberal passa a vigorar internamente, os centros de decisão são<br />

internalizados, há maior circulação monetária, urbanização, produção manufatureira,<br />

crescimento e especialização econômicos, diversificação das atividades, expansão do<br />

comércio, transição da dominação patrimonialista para a estamental, enfim, consolidam-se<br />

aqui todas as características típicas do capitalismo.<br />

Na segunada fase, já independente o que se assiste é a completa desarticulação do<br />

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