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Florestan Fernandes e a contemporaneidade latino-americana

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inviabilizando tanto o fluxo interno de renda quanto o alargamento qualitativo das<br />

atividades econômicas. Por fim, a renda gerada era “utilizada” para financiar na Europa<br />

(mormente Inglaterra) o processo de acumulação primitiva de capital que engendraria a<br />

Revolução Industrial e a plena constituição do modo capitaista de produção.<br />

Grosseiramente, a economia colonial gerava excedente, mas o mesmo era, pelo<br />

estatuto colonial e pela estrutura produtiva e pelas relações de produção dele advindas,<br />

drenado para fora do país em sua maior parte e concentrado inernamente na parcela<br />

restante. Ainda, esse excedente era utilizado para dinamizar as economias européias que<br />

galgavam num processo de ampla acumulação e mudanças estruturais, enquanto reiterava<br />

as estruturas típicas da colônia internamente.<br />

É importante ressaltar esse ponto, pois constitui um dos pilares da argumentação de<br />

<strong>Florestan</strong> <strong>Fernandes</strong>, qual seja: a estagnação econômica observada na Colônia não advinha<br />

dos empreendimentos aqui estabelecidos e da incapacidade dos mesmos em gerar<br />

excedente, mas sim de como esse excedente era distribuído e utilizado em virtude do<br />

estatuto colonial.<br />

No conjunto, portanto, o contexto socioeconômico em que se projetava a<br />

grande lavoura no sistema colonial anulou, progressivamente, o ímpeto, a<br />

direção e a intensidade dos móveis capitalistas instigados pela situação de<br />

conquista e animados durante a fase pioneira da colonização. Isolado em sua<br />

unidade produtiva, tolhido pela falta de alternativas históricas e, em<br />

particular, pela inexistência de incentivos procedentes do crescimento<br />

acumulativo das empresas, o senhor de engenho acabou submergindo numa<br />

concepção de vida, do mundo e da economia que respondia exclusivamente<br />

aos determinantes tradicionalistas da dominação patrimonialista. Não só<br />

perdeu os componentes do patrimonialismo que poderiam dirigí-lo, em sua<br />

situação histórica, para novos modelos de ação econômica capitalistas;<br />

condenou tais modelos de ação, em nome de um código de honra que<br />

degradava as demais atividades econômicas e que excluía para si próprio<br />

inovações audaciosas nessa esfera (FERNANDES, 2005, p. 43).<br />

Essa constatação é de sumária importância analítica para <strong>Florestan</strong>, pois, vislumbra-<br />

se a formação do capitalismo no Brasil em novas bases. Dito de outra forma, o que<br />

demarcava o Brasil colônia não era a inexistência de móveis capitalistas, do “espírito<br />

capitalista” ou de uma atividade econômica que gerasse excedente, mas sim como estes<br />

eram “deformados” em virtude do estatuto colonial.<br />

Sob esse enfoque, então, com o rompimento do estatuto colonial os ímpetos<br />

capitalistas poderiam expandir-se juntamente com a criação de um Estado Nacional. Ainda,<br />

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