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DossiÊ - comumLAB - DOSSIE - Giseli Vasconcelos

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sangria desatada<br />

rede [APArelHo]-:<br />

112<br />

#estamos de greve<br />

“Demarcação [mapeamento] dos locais usados pela ditadura militar para a prática de tortura em<br />

Belém do Grão Pará, rede [aparelho]-: + Corredor Polonês Atelier Cultural + quem se juntar a nós.<br />

A partir do dia 31 de março de 2009 e a qualquer momento, e continua…São lugares comuns do<br />

cotidiano da cidade, alguns transcodificados em espaços de arte e de beleza, entretanto, de suas<br />

paredes ainda ecoam gritos de torturados… A cada nova informação, demarcamos o lugar com<br />

uma mancha vermelha, mancha de alerta e de memória…” 1<br />

Dia 31 de março de 2009 comemorou-se os 45 anos do golpe militar que deu inicio a ditadura no Brasil. Em 17 de Fevereiro<br />

de 2009, foi publicado na folha de São Paulo um editorial se referindo ao Hugo Chavéz, presidente da Venezuela, como<br />

maior ditador da América do Sul, e que a ditadura no Brasil na verdade teria sido uma “Ditabranda”, haja visto o “horror”<br />

que os venezuelanos estavam passando:<br />

limites A cHávez:<br />

Apesar da vitória eleitoral do caudilho venezuelano, oposição ativa e crise do petróleo vão dificultar<br />

perpetuação no poder, o rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e<br />

contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República,<br />

estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem. Hugo Chávez venceu o referendo de domingo,<br />

a segunda tentativa de dinamitar os limites a sua permanência no poder. Como na consulta do final de 2007, a<br />

votação de anteontem revelou um país dividido. Desta vez, contudo, a discreta maioria (54,9%) favoreceu o projeto<br />

presidencial de aproximar-se do recorde de mando do ditador Fidel Castro. Outra diferença em relação ao referendo<br />

de 2007 é que Chávez, agora vitorioso, não está disposto a reapresentar a consulta popular. Agiria desse modo<br />

apenas em caso de nova derrota. Tamanha margem de arbítrio para manipular as regras do jogo é típica de regimes<br />

autoritários compelidos a satisfazer o público doméstico, e o externo, com certo nível de competição eleitoral. Mas,<br />

se as chamadas “ditabrandas”- caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois<br />

preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latinoamericano,<br />

inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito, mina as instituições<br />

e os controles democráticos por dentro, paulatinamente. Em dez anos de poder, Hugo Chávez submeteu, pouco<br />

a pouco, o Legislativo e o Judiciário aos desígnios da Presidência. Fechou o círculo de mando ao impor-se à<br />

PDVSA, a gigante estatal do petróleo. A inabilidade inicial da oposição, que em 2002 patrocinou um golpe de<br />

Estado fracassado contra Chávez e depois boicotou eleições, abriu caminho para a marcha autoritária; as receitas<br />

extraordinárias do petróleo a impulsionaram. Como num populismo de manual, o dinheiro fluiu copiosamente<br />

para as ações sociais do presidente, garantindo-lhe a base de sustentação. Nada de novo, porém, foi produzido na<br />

economia da Venezuela, tampouco na sua teia de instituições políticas; Chávez apenas a fragilizou ao concentrar<br />

poder. A política e a economia naquele país continuam simplórias -e expostas às oscilações cíclicas do preço do<br />

petróleo. O parasitismo exercido por Chávez nas finanças do petróleo e do Estado foi tão profundo que a inflação<br />

disparou na Venezuela antes mesmo da vertiginosa inversão no preço do combustível. Com a reviravolta na cotação,<br />

restam ao governo populista poucos recursos para evitar uma queda sensível e rápida no nível de consumo dos<br />

venezuelanos. Nesse contexto, e diante de uma oposição revigorada e ativa, é provável que o conforto de Hugo<br />

Chávez diminua bastante daqui para a frente, a despeito da vitória de domingo.<br />

Folha de S. Paulo - 17 de fevereiro de 2009<br />

Esta publicação revela o caráter corruptível e editável das informações nas grandes mídias, de acordo com seus próprios<br />

interesses políticos; já que um jornal, neste caso, este, um dos mais lidos do País, tem potência imensurável de formação<br />

de opinião. Dentro dessas mídias abertas e consumidas pela maioria da população brasileira, as informações passam por<br />

mecanismos de construções de verdades, e a noticia só é dada de acordo com “jogadas” políticas previamente estabelecidas,<br />

seja da oposição, seja do governo e seja ainda do setor privado que paga por publicidade. Sendo que o dinheiro é o único<br />

limite e a realidade da informação absolutamente editável.<br />

Sangria Desatada foi uma ação feita para questionar esses mecanismos, e fazer uma crítica direta a este editorial. Esta<br />

1 Anúncio publicado em http://aparelho.comumlab.org/archives/96.<br />

intervenção fez parte de um movimento artístico chamado 48h Ditadura Nunca Mais que articulou várias manifestações em<br />

território nacional em repúdio a publicação da Folha de São Paulo e à comemoração dos 45 anos do golpe.<br />

Na escala do real, isto é, nas ruas da cidade, a Rede[Aparelho]-: fez um mapeamento da tortura em Belém. Rememorando<br />

e demarcando os locais onde eram torturados os presos políticos na época da ditadura militar; com tinta sangue de Urucum,<br />

vegetal tipicamente amazônico, pintou-se em frente aos espaços onde o derramamento de sangue humano foi fato: Uma<br />

Sangria Desatada.<br />

Muitos gigas de registros fotográficos e audiovisuais foram feitos e publicados em vários sites de mídia independente,<br />

fazendo circular assim a memória histórica de um povo maltratado e que a grande mídia quis fazer esquecida. Essa<br />

intervenção é um bom exemplo de ação direta que escapa aos domínios do poder maior, atuando como Máquina de Guerra,<br />

cada vez que esses registros são acessados, logo, mantendo a memória desse período duro na história do Brasil.<br />

Bruna Suelen

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