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DossiÊ - comumLAB - DOSSIE - Giseli Vasconcelos

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16<br />

#Prólogo: Perigoso e divertido<br />

Arte _ hackeamento<br />

diferençA, dissenso e<br />

reProgrAmAbilidAde tecnolÓgicA<br />

DANIEL DE SOUzA NEVES HORA<br />

HAckeAmento e<br />

Produção dA diferençA<br />

1.1 cÓdigo e ruPturA<br />

As antigas sociedades de soberania manejavam<br />

máquinas simples, alavancas, roldanas, relógios;<br />

mas as sociedades disciplinares recentes tinham<br />

por equipamento máquinas energéticas, com<br />

o perigo passivo da entropia e o perigo ativo da<br />

sabotagem; as sociedades de controle operam por<br />

máquinas de uma terceira espécie, máquinas de informática<br />

e computadores, cujo perigo passivo é a<br />

interferência, e o ativo a pirataria e a introdução de<br />

vírus. GILLES DELEUZE, Conversações<br />

O ser / fala / sempre e em qualquer<br />

lugar / por meio de / toda / língua. 1<br />

JACQUES DERRIDA, Marges de la Philosophie<br />

1 São de nossa autoria as traduções para o português<br />

de citações de obras consultadas em outros idiomas.<br />

O hackeamento 2 é um conceito difundido a partir<br />

da informática, cujos sentidos diversos inspiram<br />

apropriações políticas e disputas sobre a sua legitimidade.<br />

Embora seja facilmente identificado com a invasão<br />

ilícita de computadores por meio de acesso remoto,<br />

via rede, o hackeamento significa basicamente<br />

a exploração dos limites daquilo que é previamente<br />

considerado possível ou admissível (STALLMAN,<br />

2002; RAYMOND, 2003). Para não ser confundida<br />

diretamente com o roubo ou corrupção de arquivos<br />

digitais, essa forma de experimentação costuma ser<br />

distinguida dos atos criminosos denominados como<br />

cracking, que envolvem o uso da tecnologia mas nem<br />

sempre são derivados de algum tipo de hackeamento.<br />

Essa desvinculação do hackeamento com o<br />

cracking se fundamenta em uma ética defendida pela<br />

comunidade hacker. Entre suas premissas estão a apologia<br />

do compartilhamento e da liberdade de informação<br />

(RAYMOND, 2003), que se aliam à aposta na<br />

descentralização do controle, à descrença nas autoridades,<br />

à confiança nas possibilidades de criação estética<br />

e de aprimoramento das condições de vida com<br />

ajuda da tecnologia e à disseminação desse conjunto<br />

de ideias para outras atividades culturais (LEVY, S.,<br />

2001).<br />

Apesar da adoção desses preceitos, a ética<br />

hacker, no entanto, não é suficiente para a absoluta<br />

separação entre hackeamento e cracking, sobretudo<br />

quando se colocam em discussão temas políticos<br />

como o acesso ao conhecimento, a privacidade e<br />

2 Os dicionários de língua portuguesa registram<br />

apenas o termo hacker, proveniente do inglês, que designa o<br />

“entusiasta de computador; aquele que é perito em programar<br />

e resolver problemas com o computador; pessoa que acessa<br />

sistemas computacionais ilegalmente” (HOUAISS, 2010). Na<br />

falta de aportuguesamento ou registro de derivações da palavra,<br />

adotamos a expressão hackeamento como tradução para<br />

os substantivos equivalentes à ação dos hackers (hacking) e ao<br />

seu resultado (hack). Traduzimos ainda a forma flexional to<br />

hack como hackear, verbo que teria conjugação semelhante à de<br />

recensear.

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