revisitando a modernidade brasileira: nacionalismo e ... - Unimep
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Entre 1950 e 1954 (2.º período Vargas), a<br />
economia explicitara a necessidade de converter<br />
sua restringida indústria num processo<br />
específico de industrialização, ou seja, de<br />
instalar a indústria pesada. Nesse sentido,<br />
foram importantes os estímulos estatais diretos<br />
e indiretos para os setores de infra-estrutura,<br />
indústria de base e autopeças, esta<br />
última como o embrião da futura indústria<br />
automobilística. 38<br />
A emergência de novos atores e instituições<br />
sociais estimulava a sociedade <strong>brasileira</strong> a valorizar,<br />
de forma deslumbrada, as novidades do momento,<br />
deixando de lado as mazelas sociais ainda presentes<br />
na realidade socioeconômica nacional. Em nome do<br />
novo ignoravam-se as continuidades. De fato, no<br />
campo econômico, a partir de meados da década de<br />
50, novas iniciativas eram realizadas, mediante um<br />
bloco de investimentos reconhecido por Cardoso<br />
de Mello como uma verdadeira “onda de inovações<br />
schumpeteriana”, quer pelo salto tecnológico atingido<br />
quer pela capacidade produtiva que se ampliava<br />
à frente da demanda preexistente. 39<br />
Vale a pena evidenciar o comportamento de<br />
alguns indicadores que, a partir dos anos 30, confirmam<br />
o quanto esse período foi importante para o<br />
desenvolvimento brasileiro. 40 O Produto Interno<br />
Bruto, entre 1928 e 1955, cresceu à taxa média anual<br />
de 4,1%. Mesmo diante da crise cafeeira, o setor<br />
agropecuário cresceu a uma taxa média anual de<br />
2,6%, enquanto a demografia cresceu 2%. A<br />
industrialização, a urbanização e a diversificação das<br />
culturas de exportação exerceram forte estímulo à<br />
expansão da fronteira agrícola com a corrida para o<br />
oeste brasileiro, impactando positivamente também<br />
o setor da construção, com a elevada taxa de crescimento<br />
de 6,5% ao ano, entre 1939 e 1955. Mesmo<br />
um setor pouco expressivo como o da mineração<br />
cresceu a média anual de 3,5% nesse período. En-<br />
38 CANO, 2000, pp. 169-170.<br />
39 MELLO, 1982, p. 117.<br />
40 Vários trabalhos vêm enfatizando o avanço da industrialização desde os<br />
anos 30 pela ação política e econômica do Estado Nacional. Sobre esse<br />
aspecto, afirma Sônia Draibe: “restam, hoje, poucas dúvidas sobre o fato de<br />
que, entre 1930 e 1945, no mesmo período em que se desencadeava a primeira<br />
fase da industrialização <strong>brasileira</strong> – a industrialização restringida –,<br />
amadurecia também um projeto de industrialização pesada” (DRAIBE,<br />
1983, p. 100). Cf. também CANO, 1993.<br />
quanto o setor de serviços diminuiu a sua participação<br />
no PIB – de 60% para 53%, dado o crescimento<br />
dos demais setores –, a indústria de transformação<br />
foi a que apresentou melhores resultados: com uma<br />
taxa anual de 6,3%, sua participação no PIB saltou de<br />
12,5% para 20%. 41<br />
O que esses resultados trazem de novo não é<br />
o fato de expressar apenas a expansão industrial,<br />
mas também uma nova concepção urbana, marcada<br />
por variáveis econômicas, culturais e políticas, entre<br />
outras, “que a cada momento histórico dão uma<br />
significação e um valor específico ao meio criado<br />
pelo homem”. 42 Para Henry Lefebvre, a<br />
industrialização interfere na cidade de modo negativo,<br />
arruinando a cidade antiga. Esta passa a se locomover<br />
“para os meios de produção e para os dispositivos<br />
da exploração do trabalho social por aqueles<br />
que detêm a informação, a cultura, os próprios<br />
poderes de decisão... A racionalidade dá um salto<br />
para frente”. 43 Realmente, a racionalidade administrativa<br />
passa a reger o padrão de intervenção urbana.<br />
Abandona-se aquela orientação idealizadora da cidade<br />
e adota-se uma proposição de gerir a cidade real,<br />
agindo sobre as “distorções” advindas das “disfuncionalidades”<br />
do crescimento econômico. 44<br />
No contexto dos anos 50, entretanto, a sociedade<br />
<strong>brasileira</strong> apoiou, de modo geral, as transformações<br />
em curso, mostrando-se fascinada pelas<br />
perspectivas progressistas, “mergulhada numa visão<br />
acrítica do mercado moderno”. 45 De fato, há uma<br />
vasta análise que evidencia os problemas e contrastes<br />
dessa modernização e/ou <strong>modernidade</strong>, notadamente<br />
no seu aspecto social. Mas, evidentemente,<br />
nos anos 50, a impressão que se tinha da cidade era<br />
bem diversa da que anos mais tarde se apresentaria.<br />
Algumas análises sociais confirmam o quanto a<br />
expansão urbano-industrial desse período amorteceu<br />
paradoxalmente as tensões sociais.<br />
Esse é um aspecto importante quando se<br />
constata que o desenvolvimento econômico brasileiro<br />
tem enfrentado graves tensões sociais para se<br />
41 CANO, 1993, pp. 170-171.<br />
42 SANTOS, 1996, p. 111.<br />
43 LEFEBVRE, 1991, p. 142.<br />
44 RIBEIRO, L. & CARDOSO, A. Da cidade à nação: gênese e evolução<br />
do urbanismo no Brasil, in: RIBEIRO et al., 1996.<br />
45 ORTIZ, 1994, p. 36.<br />
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