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O conceito do político em Carl Schmitt - Curso de Filosofia - UFC

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ti<strong>do</strong> originário e passou a significar qualquer<br />

regulação ou ord<strong>em</strong> normativa, confundin<strong>do</strong>se<br />

com o <strong>conceito</strong> formal <strong>de</strong> lei (Gesetz), ou<br />

seja, <strong>de</strong> um significa<strong>do</strong> concreto e histórico<br />

para uma acepção abstrata e universal. A<br />

interpretação que o realismo <strong>político</strong> schmittiano<br />

dá a partir da relação fundante <strong>do</strong><br />

nomos, enquanto força real que atua concretamente,<br />

entre espaço e ord<strong>em</strong> concreta<br />

traz consequên cias para a questão sobre a<br />

caracterização <strong>do</strong> seu realismo <strong>político</strong>, mais<br />

precisamente, para a recusa <strong>do</strong> enquadramento<br />

normativo da política e da primazia da<br />

norma sobre as relações concretas. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> <strong>Schmitt</strong> quer fazer referência ao<br />

<strong>conceito</strong> formal <strong>de</strong> norma, ou seja, à norma<br />

abstrata ou lógica, utiliza o termo Norm ou<br />

ainda Gesetz e seus <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s.<br />

O probl<strong>em</strong>a central é o nomos articula<strong>do</strong><br />

enquanto mediação concreta e sua<br />

vinculação com o fenômeno fundamental da<br />

tomada da terra (Landnahme), resultan<strong>do</strong> daí<br />

o fenômeno <strong>de</strong> localização e or<strong>de</strong>namento<br />

(Ortung und Ordnung). Tais <strong>conceito</strong>s permit<strong>em</strong><br />

ao autor d<strong>em</strong>onstrar a estrutura espacial<br />

<strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>nação concreta e apresentar<br />

a relação originária entre ser e <strong>de</strong>ver-ser.<br />

Segun<strong>do</strong> ele, no senti<strong>do</strong> original, a palavra<br />

nomos significa a plena “imediatida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma força jurídica não atribuída por leis”<br />

(SCHMITT, 1997, p.42) <strong>em</strong> outras palavras, o<br />

nomos é “um acontecimento histórico constitutivo.”<br />

(SCHMITT, 1997, p. 42). A partir disso,<br />

<strong>Schmitt</strong> <strong>de</strong>senvolve a noção <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong><br />

histórica que dá senti<strong>do</strong> à legalida<strong>de</strong> da lei<br />

(Sobre a idéia <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> histórica <strong>em</strong><br />

<strong>Schmitt</strong>, Cf. HOFMANN, 2002, p. 189-248),<br />

pois o nomos é o processo fundamental <strong>de</strong><br />

divisão <strong>do</strong> espaço, um ato originário e concreto<br />

<strong>de</strong> localização e or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço<br />

que se configura na forma <strong>de</strong> um factum<br />

constituinte, isto é, <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r constituinte<br />

<strong>de</strong> toda e qualquer normativida<strong>de</strong>, pois, no<br />

início <strong>de</strong> qualquer ord<strong>em</strong> jurídica, “não está<br />

uma norma fundamental (Grund-Norm), mas<br />

sim uma apropriação fundamental (Grundnahme)”<br />

(SCHMITT, 1995, p. 581 e cf. ainda<br />

o ensaio “Nehmen, Teilen, Wei<strong>de</strong>n”, in: SCH-<br />

MITT, 2003, p.489-504). Compreen<strong>de</strong>r nomos<br />

como norma ou lei representa uma perda<br />

s<strong>em</strong>ântica e teórica para a compreensão da<br />

obra <strong>de</strong> <strong>Schmitt</strong>. Assim, esclareci<strong>do</strong>s os ter-<br />

172<br />

Ar g u m e n t o s , Ano 3, N°. 5 - 2011<br />

mos, serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos para a consolidação<br />

<strong>de</strong>ssa característica <strong>do</strong> realismo <strong>político</strong><br />

schmittiano, qual seja, o prima<strong>do</strong> <strong>do</strong> real, <strong>do</strong><br />

existencial sobre a norma ou o formal.<br />

V<br />

Segun<strong>do</strong> <strong>Schmitt</strong>, há um pressuposto<br />

antropológico <strong>em</strong> qualquer teoria política:<br />

todas as teorias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> po<strong>de</strong>riam ser<br />

examinadas quanto a sua antropologia<br />

e classificadas segun<strong>do</strong> o critério se<br />

pressupõ<strong>em</strong> ou não, consciente ou inconscient<strong>em</strong>ente,<br />

um ser humano ‘mau<br />

por natureza’ ou ‘bom por natureza.<br />

(SCHMITT, 2002a, p.59).<br />

De forma geral, o conflito é o fundamento<br />

<strong>do</strong> <strong>político</strong>, pois há uma conflitivida<strong>de</strong><br />

imanente na sociabilida<strong>de</strong> humana, cuja<br />

polêmica permanente lhe efetiva. Assim,<br />

po<strong>de</strong>-se afirmar com <strong>Schmitt</strong> que “todas as<br />

teorias políticas verda<strong>de</strong>iras pressupõ<strong>em</strong> o<br />

hom<strong>em</strong> como ‘mau’, isto é, consi<strong>de</strong>ram-no<br />

como um ser que não é <strong>de</strong> forma alguma nãoprobl<strong>em</strong>ático,<br />

mas ao contrário, ‘perigoso’<br />

e dinâmico” (SCHMITT, 2002a, p.61), o que<br />

confirma um pensamento especificamente<br />

<strong>político</strong> está vincula<strong>do</strong> à concepção <strong>de</strong> uma<br />

antropologia negativa, pois concordam com<br />

a natureza probl<strong>em</strong>ática da natureza humana.<br />

Assim, teorias autênticas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />

<strong>político</strong> pressupõ<strong>em</strong> o conflito como estrutura<br />

da condição <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> e a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mecanismos normativos para sua contenção,<br />

pois<br />

[...] da mesma forma que a distinção<br />

entre amigo e inimigo, o <strong>do</strong>gma teológico<br />

fundamental da pecaminosida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s homens conduz [...] a uma<br />

classificação <strong>do</strong>s homens, a uma ‘tomada<br />

<strong>de</strong> distância’ e torna impossível o otimismo<br />

indiscrimina<strong>do</strong> <strong>de</strong> um <strong>conceito</strong> geral <strong>de</strong><br />

ser humano. (SCHMITT, 2002a, p. 64).<br />

De forma geral, <strong>em</strong> formulação que<br />

engloba as características el<strong>em</strong>entares <strong>do</strong><br />

seu <strong>conceito</strong> <strong>do</strong> <strong>político</strong>, <strong>Schmitt</strong> expõe o<br />

significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> realismo <strong>político</strong> num relato<br />

preciso sobre a polêmica entre racionalismo<br />

das normas e pragmatismo <strong>político</strong>:<br />

Enquanto a crença na racionalida<strong>de</strong> e na<br />

i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu normativismo ainda for<br />

viva, nas épocas e nos povos que ainda

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