Sumário - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Sumário - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Sumário - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
- Informativo <strong>de</strong> História Antiga – Jan, Fev, Mar <strong>de</strong> 2011 – <strong>Núcleo</strong> <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> – <strong>UERJ</strong><br />
<strong>da</strong> antiga Mesopotâmia sobre os<br />
banquetes privilegia a esfera do po<strong>de</strong>r<br />
real e religioso (Joannès, 2001: 716). A<br />
partir <strong>de</strong>la sabemos <strong>da</strong> realização <strong>de</strong>stes<br />
com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> celebrar uma<br />
importante vitória militar ou a<br />
inauguração <strong>de</strong> um novo templo ou<br />
palácio.<br />
A base <strong>da</strong> alimentação eram os<br />
cereais (ceva<strong>da</strong> e trigo), legumes<br />
diversos, frutas – como a tâmara, maçã,<br />
pêra, figo, romã, uva – cogumelos, ervas<br />
condimentares, carnes <strong>de</strong> animais <strong>de</strong><br />
pequeno e médio porte: suínos, aves<br />
(codornas, passarinhos, patos, gansos,<br />
<strong>da</strong>s quais se consumiam os ovos), os<br />
animais <strong>de</strong> caça, peixes <strong>de</strong> água doce e<br />
salga<strong>da</strong>, crustáceos, mariscos e insetos,<br />
leite, manteiga e outras gorduras<br />
vegetais (sésamo e oliva), mel e<br />
produtos minerais (sal e cinzas).<br />
Consumiam mais <strong>de</strong> 20 quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
queijos, uma centena <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> sopas,<br />
cerca <strong>de</strong> 300 quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pães, on<strong>de</strong> a<br />
forma também variava (Pozzer, 2005).<br />
Além <strong>de</strong> comer, os babilônicos<br />
também bebiam! A cerveja, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
a bebi<strong>da</strong> mais popular e mais antiga na<br />
região (anterior ao III milênio a.C.), era<br />
um ingrediente fun<strong>da</strong>mental em<br />
qualquer banquete na Mesopotâmia.<br />
Esta bebi<strong>da</strong> fermenta<strong>da</strong>, à base <strong>de</strong><br />
cereais, era prepara<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong><br />
maceração e fermentação <strong>da</strong> ceva<strong>da</strong> e<br />
<strong>de</strong> tâmaras, segundo técnicas<br />
aprimora<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30 maneiras<br />
diferentes: fabricava-se cerveja branca,<br />
vermelha, clara, escura, adoça<strong>da</strong> ao mel<br />
e perfuma<strong>da</strong> com múltiplos aromas.<br />
Ao final <strong>da</strong> refeição, antes <strong>da</strong><br />
sobremesa, era realizado um brin<strong>de</strong>, que<br />
anunciava uma outra etapa, a do<br />
divertimento, com lutadores,<br />
saltimbancos, <strong>da</strong>nçarinas e músicos. Os<br />
músicos seculares tocavam nas tabernas<br />
(As tabernas eram lugares <strong>de</strong> ven<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
cerveja e <strong>de</strong> prostituição, cf. O Código <strong>de</strong><br />
Hammu-rabi § 108-111) e em<br />
celebrações sociais. Os músicos dos<br />
palácios costumavam receber rações<br />
alimentares e alguns templos mantinham<br />
escolas <strong>de</strong> música. Além disso, a música<br />
era, juntamente com a literatura, a<br />
linguagem e a matemática uma <strong>da</strong>s<br />
disciplinas básicas do ensino formal<br />
mesopotâmico. Na iconografia<br />
mesopotâmica há inúmeras referências a<br />
instrumentos musicais, que eram <strong>de</strong> três<br />
tipos: os instrumentos <strong>de</strong> cor<strong>da</strong> (harpa,<br />
lira e alaú<strong>de</strong>); <strong>de</strong> sopro (flautas simples<br />
e duplas <strong>de</strong> junco, ma<strong>de</strong>ira ou metal); e<br />
<strong>de</strong> percussão (tambores <strong>de</strong> vários<br />
tamanhos e formas) (Pozzer, 2007).<br />
A iconografia <strong>de</strong> baixos-relevos, os<br />
objetos arqueológicos e a documentação<br />
epigráfica revelam a importância social<br />
do prazer à mesa no mundo<br />
mesopotâmico. No imaginário babilônico,<br />
comer e beber juntos servia para<br />
fortalecer a amiza<strong>de</strong> entre os iguais e<br />
para reforçar as relações entre o rei e<br />
seus súditos. A partilha do alimento,<br />
mais do que a própria composição <strong>da</strong><br />
refeição, era o mais importante. O que<br />
fun<strong>da</strong>va o banquete era esta<br />
comensali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os participantes e<br />
remetia a uma <strong>da</strong>s expressões <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> básica <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(Glassner, 2003: 45). O banquete<br />
também era um ato político, ritualizado e<br />
sagrado. Com ele selavam-se acordos <strong>de</strong><br />
paz entre os homens e garantia-se a<br />
proteção divina para que a vi<strong>da</strong> na terra<br />
fosse mais próspera e mais feliz.<br />
Referências Bibliográficas<br />
BLACK, J., GEORGE, A.; POSTGATE, N. A<br />
Concise Dictionary of Akkadian.<br />
Wiesba<strong>de</strong>n: Harrassowitz Verlag, 2000.<br />
CHARPIN, D.; JOANNÈS, F.;<br />
LACKENBACHER, S.; LAFONT, B.<br />
Archives Épistolaires <strong>de</strong> Mari I/2 -<br />
Archives Royales <strong>de</strong> Mari XXVI. Paris:<br />
ERC, 1988.<br />
DRACHLINE, P.; PETIT-CASTELLI, C. A<br />
Table avec Cesar. Paris: Éditions Sand,<br />
1984.<br />
FLANDRIN, J.-L.; MONTANARI, M.<br />
História <strong>da</strong> Alimentação. Tradução <strong>de</strong><br />
Luciano V. Machado e Guilherme J. F.<br />
Teixeira. São Paulo: Estação Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
1998.<br />
GLASSNER, J.-J. La réception <strong>de</strong> l'hôte,<br />
le vivre et le couvert. Dossiers<br />
d'Archéologie. Dijon: Éditions Faton, n.<br />
280, p. 44-47, 2003.<br />
JOANNÈS, F. Dictionnaire <strong>de</strong> la<br />
Civilisation Mésopotamienne. Paris:<br />
Robet Laffont, 2001.<br />
LION, B.; MICHEL, C. Un banquet à la<br />
cour assyrienne. Dossiers<br />
d'Archéologie. Dijon: Éditions Faton, n.<br />
280, p. 24-31, 2003.<br />
POZZER, K.M.P. Uma História <strong>da</strong> Festa -<br />
culinária e música na Mesopotâmia<br />
Antiga. Textura - Revista <strong>de</strong> Letras e<br />
História. Canoas: Editora <strong>da</strong> ULBRA, n.<br />
11, p. 47-55, 2005.<br />
_____________. O Banquete do Rei e a<br />
Política nos Tempos <strong>de</strong> Paz. In:<br />
Cerqueira, F.V.; Gonçalves, A.T.; Nobre,<br />
C.K.; Silva, G.J.; Vargas, A.Z. Guerra e<br />
Paz no Mundo Antigo. Pelotas:<br />
Leeparq/UFPel, IMP, 2007. p. 139-152.<br />
Profª. Drª. Katia Maria<br />
Paim Pozzer<br />
Professora do Curso <strong>de</strong> História <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Luterana do Brasil<br />
(ULBRA), Doutora em História pela<br />
Université <strong>de</strong> Paris I – Panthéon-<br />
Sorbonne<br />
(pozzer@terra.com.br)<br />
PHILÍA - ISSN 1519-6917